A memória de John Wesley
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A memória de John Wesley
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 300 anos do nascimento de John Wesley A memória de John Wesley: “mergulho no social”, “participação cultural” e confessionalidade The memory of John Wesley: “an immersion in social matters”, “cultural participation” and confessionality Helmut Renders Doctor Ministry pela Faculdade de Teologia da Igreja Metodista Unida – Washington - DC/EUA e mestrando em Ciências da Religião na UMESP Secretário Executivo do Centro de Estudos Wesleyanos da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista – UMESP R e s u m o Neste artigo, o autor analisa três abordagens da memória de John Wesley: a memória dos metodistas em relação a Wesley; a memória em Wesley; e a teologia de Wesley como memória cultural. Renders comenta, ainda, a importância da postura de Wesley no que diz respeito ao seu “mergulho” na realidade cultural e social de populações mais pobres. Ele explora, também, outras facetas de John Wesley, como a de teórico da educação. Unitermos: identidade, comprometimento, realidade social, realidade cultural, reforma, missão. Synopsis In this article, the author makes three approaches on the memory of John Wesley: the memory of the Methodists as regards Wesley; the memory of Wesley; and the theology of Wesley as cultural memory. Renders comments, further, the importance of Wesley’s position as regards his immersion in the cultural and social reality of the poorer people. He exploits also, other aspects of John Wesley, such as the theorist of education. Terms: identity, commitment, social reality, cultural reality, reform, mission. Resumen En este artículo, el autor analiza tres enfoques de memoria de John Wesley: la memoria de los metodistas respecto a John Wesley; la memoria en Wesley; y la teología de Wesley como memoria cultural. Renders comenta además, la importancia de la postura de Wesley en lo que atañe a su “inmersión” en la realidad cultural y social de poblaciones más pobres. Explota, inclusive, otras facetas de John Wesley, como la de teórico de la educación.. Unitermos: identidad, compromiso, realidad social, realidad cultural, reforma, misión. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 47 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Q ○ ○ ual a função da memória na vida? Quando criticado que seu olhar para trás faria dele cego num olho, Alexander Solschenizyn respondeu: “Quem não olha para trás será cego nos dois olhos”. Isso não impediu que as suas lembranças do Arquipélago Gulag fossem usadas tanto para humanizar a vida quanto para alimentar ódio e revanchismo. A memória do nosso aniversariante, John Wesley, não escapa disso. Um clássico a respeito é o estudo das interpretações do “coração aquecido” em 250 anos do metodismo1 . Faz pensar que o relato esteve em poucos momentos presente na memória do povo metodista e que a sua releitura refletiu num alto grau a espiritualidade dos intérpretes e das suas épocas 2 . Fora disso explicam-se caracterizações tão diferentes da pessoa de Wesley como “entusiasta racional”, “conservador radical”, “realista romântico” ou “revolucionário”, também pela sua tendência de construir a própria lenda3 . Com estas observações iniciais não quero desanimar, mas motivar para um diálogo qualificado sobre a nossa memória de Wesley. A data do nascimento de uma pessoa nos faz pensar em suas origens. De onde ela vem? Como representa sua época e cultura, seus grupos sociais? Como interage com seu mundo? Partindo dessa perspectiva, investigo a memória de John Wesley em três direções: a nossa memória de Wesley, a memória em Wesley e a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ teologia de Wesley como memória cultural. Baseio a primeira perspectiva na Revista de Educação do COGEIME. Como se aplicou a memória de John Wesley na discussão sobre o sistema de educação metodista? Depois, segue o papel da memória no método teológico de John Wesley segundo a discussão sobre o chamado “quadrilátero metodista”. Finalmente, menciono como a teologia de John Wesley foi influenciada pelo ambiente religioso-cultural das populações pobres. I. A memória de João Wesley na Revista do COGEIME A memória desafiante Explicam-se caracterizações tão diferentes da pessoa de Wesley também pela sua tendência de construir a própria lenda Pergunta-se até se João Wesley poderia ser considerado uma “marcade confessionalidade” no sistema educacional do metodismo brasileiro Os artigos da Revista de Educação do COGEIME refletem modificações da nossa memória de John Wesley nos últimos 20 anos. Parte-se da impressão da ausência da memória, passase pela sua intensiva exploração e chega-se à subordinação da memória pela experiência do cotidiano. John Wesley, o spiritus rector do movimento metodista, aparece poucas vezes diretamente nos títulos dos artigos. Há uma abordagem sobre ele como estudante universitário4 e, numa publicação à parte, uma reflexão sobre Wesley como organizador da educação5 . Pergunta-se até se John Wesley poderia ser considerado uma “marca de confessionalidade” no sistema educacional do metodismo brasileiro. Isso representaria mais a sua mãe, Suzana Wesley6 . Trata se de uma pedagogia li- 1 Randy Maddox. Aldersgate Reconsidered Reconsidered, 1990. Bom se lembrar que o próprio João Wesley simplesmente ignorou esse momento em relatos tardios sobre a sua vida. 3 Richard P. Heitzenrater. Mirror and Memory. Reflections on Early Methodism , 1989, p. 56. O autor cita um artigo de Frank Baker de 1974. O interesse no tema continua: John Wesley: Life, Legend and Legacy Legacy. An International Conference at Hulme Hall, University of Manchester 15-18 June 2003. 4 Tim Macquiban. “A Oxford de John Wesley: Metodismo e Educação”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 7, nº 13, 1998, p. 123-129. 5 Gary Martin Best. Wesley and Kingswood: 1738-1988, 250th Conversion Anniversary Anniversary. s.l.: s.n., 1988. 6 Jorge Mesquita. “Confessionalidade: uma reflexão do passado”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 1, nº 1, 1992, p. 116. 2 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 48 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ beral e de uma educação metodista no Brasil, não “brasileira”. Para superar isso, Wesley deveria ser consultado7 . “Um projeto de sociedade e cidadão” e “uma prática pedagógica determinada” precisam da união no sentido do metodismo wesleyano8 . O grande impulso para uma releitura metodista brasileira de Wesley vem do Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista9 . Em seguida, a memória de Wesley serve para desafiar10 , inspirar11 e defender12 a educação metodista. Ela ajuda a reafirmar um compromisso contextual13 e a esclarecer o âmbito ético da identidade confessional14 . Essa memória de um John Wesley concentrado no compromisso de Deus com os desfavorecidos da sua época causa uma crise latente sobre a distância entre o projeto original e o sistema educacional metodista atual, que desde o seu início criou mais espaços para as futuras elites do que para os pobres15 . ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Recentemente desaparece a referência direta a John Wesley. “Se há uma identidade metodista não é senão a capacidade de descobrir, amalgamar e articular eficazmente a riqueza da tradição e a prática da fé da comunidade cristã no tempo e no espaço” 16 . Isso já vem do Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista. “Não há nenhuma negação da fé metodista, mas não se trata mais de princípios e, sim, de se buscar uma identidade dentro desse mergulho mais intenso na realidade social”17 . Recentemente desaparece a referência direta a João Wesley A reserva da memória wesleyana O “mergulho na realidade social” e o “mergulho na memória” não se excluem. Wesley mesmo enxergou a sua fé de uma forma nova quando “caiu no real” da vida cotidiana dos excluídos da sua época. Depois fez disso um argumento contínuo na de- 7 “O quanto essa prática é wesleyana e o quanto ela dá sinais do Reino e contribui para o crescimento do metodismo, é questão a ser analisada”. Elias Boaventura. “Confessionalidade metodista”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 1, nº 1, 1992, p. 38-46. 8 Peri Mesquida. “Educação, cidadania e confessionalidade”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 5, nº 8, 1996, p. 109: “À glória do Deus altíssimo e ao serviço da Igreja e da República”. Frontispício de Kingswood. 9 Ulisses de Panisset. “Marcas da confessionalidade”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 1, nº 1, 1992, p. 123-130. 10 Peri Mesquida. “Metodismo e educação no Brasil: formar elites e civilizar a nação”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 2, nº 2, 1993, p. 29-50: “... temos feito uma educação para, o que nos distancia do Evangelho e de Wesley...”. O autor destaca que a educação wesleyana se dirigiu aos pobres, enquanto “o movimento educativo metodista nos Estados Unidos a partir de Cocke e Asbury” se voltou para as elites. 11 COGEIME, ano 3, nº 3, Omero de Freitas Borges Jr. “Confessionalidade. Uma visão da pastoral universitária”, in: Revista do COGEIME 1994, p. 94 cita Clory Trindade de Oliveira: “Wesley entendia educação como parte da obra criadora e salvadora de Deus, ao criar o homem e a mulher à sua imagem... A educação era pois aceita e intensivamente praticada por Wesley como caminho de libertação de ignorância e conquista dos valores de uma vida mais abundante e perfeita”. Paulo Aires Mattos: “A obra educacional da Igreja Metodista no Brasil: um sumário histórico-teológico”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 9, nº 16, 2000, p. 74: Wesley “incorpora [...] e corrige o Idealismo” e faz a “redenção menos individualista”. “Seu ensino sobre as dimensões sociais [...] e sua ética podem nos ajudar a desenvolver uma aproximação mais crítica do nosso ministério educacional.” 12 Rui Josgrilberg. “O que é filosofia cristã e confessionalidade no metodismo?”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 1, nº1, 1992. p. 83: A “avaliação francamente positiva da razão desde que bem usada” representa um dos pré-requisitos de uma proposta educacional baseados em Wesley. 13 Ely Eser Barreto César. “Educação e confessionalidade”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 6, nº11, 1997. p. 7-23. Aparece aqui pela primeira vez a referência à cultura da América Latina. 14 B. P. Bittencourt. “Pedagogia e ética na educação metodista”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 5, nº 8, 1996. p. 147-148 relaciona a ética do docente, do conteúdo, da administração e da formação dos professores com o exemplo de Wesley. 15 Elza M. R. Zenker, Elias Boaventura, Jorge Hamilton Sampaio, Peri Mesquida. “Educação, cidadania e confessionalidade – Debate 5”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 5, nº 8, 1996. p. 119. 16 José Míguez Bonino. “Desafio da formação ética para as instituições metodistas em relação ao próximo milênio”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 8, nº15, 1999, p. 90. 17 Elias Boaventura. “Evolução histórica do conceito de confessionalidade no metodismo brasileiro”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 10, nº 18, 2001, p. 15. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 49 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ fesa da sua prática e do seu acento teológico, sempre relegando que conhecia a vida e o mundo dos desfavorecidos e esquecidos como ninguém da sua época. Para essas pessoas, ele publicou uma extensa bibliografia cristã, uma ampla memória cristã acessível para os pobres, editada em folhetos finos, portanto, baratos. Essa memória não era confessional ou denominacional, porém, seletiva. A escolha se baseou na sua contribuição para a santificação. O que poderia a nossa memória wesleyana aproveitar disso? Primeiro, uma memória wesleyana não precisa se restringir a uma memória da pessoa de Wesley. Ele entendeu que a identidade do povo metodista se constituía no diálogo com toda a cristandade. E foi mais longe ainda, quando pretendeu apreender de indígenas, na Geórgia, a viver a comunhão de bens. Esse mergulho numa outra realidade social, por sua fez, foi motivado pela memória bíblica da igreja primitiva. O “mergulho na realidade social” e o “mergulho na memória” se inspiram mutuamente. As instituições metodistas representam uma plataforma insubstituível para a Igreja na criação e no aprofundamento da identidade confessional como identidade em diálogo. Segundo, a memória providenciada por Wesley era seletiva, tinha seu eixo temático. O que fez a diferença era que ele deixou isso transparecer. Neste ponto, a nossa memória de Wesley nem deve ser ingênua nem superficial. Às vezes, as nossas perguntas não eram assuntos para Wesley. O nosso específico ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Wesley entendeu que a identidade do povo metodista se constituía no diálogo com toda cristandade A nossa memória de Wesley nem deve ser ingênua nem superficial ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ problema é que essa seletividade é, as vezes, mera falta de oportunidade. A memória de Wesley se concentra, até hoje, entre 1738 e 1755, especialmente em relação ao avivamento. A perspectiva escolhida pelo sistema metodista da educação, a cidadania 18 , necessita também da memória da fase mais “sintética” da vida dele, que veio depois. Essa perspectiva da participação na reforma contínua da nação faz parte da identidade metodista desde o seu início e é um assunto central de viver ou não viver para milhões de mulheres e homens na América Latina. Que presente de aniversário seria um esforço comunitário do sistema de educação metodista de iniciar a tradução e edição das obras de Wesley em português? Acredito que a democratização das fontes da nossa memória de Wesley seja um passo essencial para envolver o povo metodista no processo da cidadania. Gostaria de mencionar alguns exemplos da reserva de memória mais acessível. Na minha opinião, seria um benefício para a discussão sobre o sistema educacional metodista no Brasil incluir a memória de um Wesley, digamos, não somente exemplar 19 . Wesley como teórico de educação. Wesley escreveu sobre a educação20 . Um reencontro com alguns desses textos causaria provavelmente, no mínimo, um certo constrangimento pelas convicções expressas. O efeito positivo dessa experiência não seriam métodos aplicáveis, mas a per- 18 Note somente que esse conceito é um conceito urbano. Veja sua adaptação na Amazônia por meio do conceito da “florestania”. Almir Maia. “Celebração dos 250 anos de criação de Kingswood”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 7, nº 13, 1998. p. 132: “A dedicação e o compromisso com que Wesley entregou a concepção, criação, instalação e o acompanhamento da Escola de Kingswood foram responsáveis ... por plantar no coração de todos metodistas uma autêntica paixão pela educação”. 20 Ver Pregação 99 “Sobre a educação de crianças”. 19 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 50 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ cepção da necessidade do desenvolvimento contínuo da pedagogia diante da temporalidade de qualquer método ou modelo. A reforma da nação e a reforma institucional. Para Wesley, a reforma da sociedade está vinculada à reforma da Igreja e vice-versa. Na sociedade brasileira, esse vínculo íntimo entre Igreja e Estado é representado pelo concordado entre a Igreja Católica e a nação. Não existem poucos evangélicos – também na Igreja Metodista – que simplesmente gostariam de ocupar esse espaço e alcançar isso por meio de alianças corporativas. Falta uma análise cuidadosa do relacionamento Estado– Igreja ou Estado–movimento na perspectiva de Wesley e do metodismo nascente inclusive nos EUA. Entretanto, mesmo que se defenda a separação entre a Igreja e o Estado, ficam aproximações entre os dois que precisam ser estudadas. Vemos isso na avizinhação das estruturas do governo e da Igreja. Isso não é um privilégio brasileiro e não é somente um fenômeno pentecostal 21 . Na minha terra, na Alemanha, por exemplo, a democracia é parlamentar. A Igreja Metodista Unida na Alemanha desenvolveu um parlamentarismo eclesiástico único no mundo metodista, com problemas únicos também, onde, às vezes, a discussão substitui decisões necessárias. Em vez disso, parece-me que no metodis- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mo brasileiro os/as bispos/as da Igreja e diretores/as de escola e os reitores das universidades têm um papel parecido com o presidente da República. Em ambos os casos o contexto – o cotidiano – formou fortemente as igrejas e as suas instituições. Isso não era diferente no passado, em que a cultura dos trabalhadores rurais e dos mineiros do País de Gales criou uma igreja que, por sua vez, formou líderes sindicais (predominante rurais) 22 . A diferença é que Wesley escolheu esse contexto dos pobres como o referencial e construiu ao redor das necessidades dessas populações o movimento metodista. A reforma da nação buscava construir um espaço para essas populações. Nesse sentido, a reforma era partidária. Isso não quer dizer que Wesley quis excluir as elites do projeto de Deus na terra. Mas afirma que ele tinha de liderar com uma autoexclusão das elites do projeto de Deus 23 . Wesley dirigiu-se aos representantes seculares e eclesiásticos na busca da reforma da nação e da Igreja 24 . O papel profético-crítico das escolas atualmente é exercido diante da sociedade 25 e das próprias escolas, mas não diante da Igreja. O que é uma pena, porque a Igreja poderia ampliar a sua visão com a ajuda das instituições, em vez de apequenar as mesmas 26 . Cabe às pastorais universitárias vigiar os pro- Wesley dirigiu-se aos representantes seculares e eclesiásticos na busca da reforma da nação e da Igreja A Igreja Metodista Unida na Alemanha desenvolveu um parlamentarismo eclesiástico único no mundo metodista 21 Jean-Pierre Bastian.. La mutación religiosa de América-Latina – para una sociología del cambio social en la periférico, 1997, p. 157. modernidad periférico 22 Elza M. R. Zenker, Elias Boaventura, Jorge Hamilton Sampaio, Peri Mesquida. “Educação ... Debate 5”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 5, nº 8, 1996, p. 122: “... semeamos metodismo aqui na Universidade (Metodista de Piracicaba) e nasceu PT”. 23 Segundo os diários de Wesley, a frase “Fugir da ira de Deus” é sempre relacionada aos ricos e não aos pobres! 24 Reformar a nação, particularmente a igreja. O “Apelo para pessoas de razão e religião”, editado antes dos “Sermões”, era dirigido aos magistrados dos municípios onde os pregadores queriam atuar. 25 Ely Eser Barreto César. “Projeto educacional percebido por uma perspectiva crítico-profética”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 8, nº15, 1999, p. 78-82. 26 Rui Josgrilberg. “O que é filosofia cristã e confessionalidade no metodismo?”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 1, nº1, 1992, p. 84. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 51 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 27 cessos internos das instituições e “os integrantes do COGEIME” devem “viver praticando ‘ações de graça’, o que é bem diferente de viver pela ambição do lucro”28 . O discurso a favor da cidadania na nação nos faz discutir até que ponto a cidadania é promovida na Igreja e na instituição. A escola deve discutir a missão da Igreja no mundo e a Igreja a missão da escola; melhor ainda, as duas têm de debater a sua participação conjunta na missão de Deus na Terra. O tema do poder. Não existe reforma sem discussão acerca do poder e dos interesses envolvidos. Uma história das relações de poder do metodismo nascente ainda não foi escrita. Wesley seria certamente uma pessoa-chave, e normalmente critica-se seu autoritarismo. Menos conhecida é a seriedade com que Wesley motivou os participantes das conferências a falarem abertamente, responsáveis, em primeiro lugar diante de Deus (esse espírito aberto caracterizou também as “classes” e “bands”). Lembrese que as comunidade metodistas eram consideradas escolas de democracia para as pessoas humildes e que, no mínimo, uma das explicações da perda do catolicismo para o pentecostalismo no meio das classes populares é sua contínua busca de hegemonia por meio de alianças com as elites. Quanto mais discutimos a função e o uso do poder nos termos mais realistas possíveis dentro da Igreja e das instituições, entre as duas e diante da sociedade, mais aptos estarão os nossos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ alunos a prestarem esse serviço também na sociedade. A pessoa do fundador . A memória de John Wesley já teve até tendências hagiográficas. A sua pessoa se tornou um tabu e críticas foram entendidas como um iconoclasmo devastador, ameaçando a identidade metodista – e a confessionalidade de suas escolas. Estudos psicológicos de John Wesley são raros29 . Esse tipo de “preservação da memória de John Wesley” poderia ter custos altos, porque opera com idéias irreais da pessoa humana. De qualquer forma, não contribuiria para um projeto pedagógico que enfatiza a formação da personalidade e investe num acompanhamento em situações de crise pelas nossas pastorais e pelos nossos serviços psicossociais. Uma maior clareza sobre as ambigüidades na vida de John Wesley não acabaria com seus méritos, mas nos deixaria perceber como Deus, por meio da graça, opera em “vasos de barro” renovando e usando vidas. Uma maior clareza sobre as ambigüidades na vida de Wesley não acabaria com seus méritos, mas deixaria perceber como Deus, por meio da graça, opera em “vasos de barro” renovando e usando vidas II. Memória em John Wesley A memória ocupa um espaço central no método teológico de Wesley. A sua relevância e função é tema-chave na contínua discussão sobre o chamado “quadrilátero metodista” – o método teológico relacionando Bíblia, tradição, experiência e razão. A partir de 1988, enfatizou-se a centralidade da memória bíblica como fonte do conhecimento de Deus, cor- 27 Luis de Souza Cardoso. “Apontamentos sobre pastoral e capelania em escolas metodistas”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 10, nº 21, 2002, p. 15. 28 Luiz Carlos Ramos. “O COGEIME, Deus, o próximo e o século 21 (cf. Tito 2.12)”. In: Revista do COGEIME COGEIME, ano 11, nº 20, 2002, p. 71. 29 A exceção atual é James Fowler. Uma leitura freudiana de Wesley (contribuiu G. Elsie Harrison). Son to Susanna. The Private Life of John Wesley Wesley, 1938. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 52 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 30 rigindo o modelo original de 1972 . Teólogos, como John B. Cobb, enfatizam a proposta original e a importância da “integridade plena da experiência e da razão (contemporânea) lado a lado com a Escritura e com a tradição (passado)” 31 . Ninguém nega, porém, que a novidade no método teológico de Wesley, em relação ao anglicanismo, era a ênfase empírica, ou seja, uma inédita valorização da experiência humana32 . Para a experiência religiosa, a memória tem uma função formadora no sentido de motivadora e desafiadora. Por outro lado, a experiência pode se tornar em Wesley critério da relevância da memória, ou seja, da doutrina ensinada pela Igreja: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ o reencontro com uma igreja supostamente viva, ágil e compromissada. Essa ênfase na experiência tem uns interessantes efeitos colaterais. Ela impede que o Metodismo torne-se fundamentalista – em relação às Escrituras – ou legalista – em relação à lei da Igreja. Além disto, preserva a teologia da especulação, seja na doutrina da trindade, na soteriologia, na antropologia ou na escatologia. A memória da ação de Deus no passado e a percepção da ação de Deus no mundo atual estão em diálogo. A teologia metodista brasileira incluiu no quadrilátero um quinto elemento, a criação. A criação é uma linguagem de Deus, o ser humano é Imago Dei, destinado pelo Criador e Salvador para colaborar na renovação da criação. “Wesley assumiu que as comprovações pela escritura e pela razão não eram decisivas em si ou por si. A opinião final se um ensaio teológico alimentaria ou impediria a santidade do coração e da vida se baseou na avaliação experimental. Essa ênfase de Wesley ... mostra que ele acompanhou de perto a forma em que a teologia tinha sido desenvolvida nos primeiros séculos da igreja primitiva – em contato íntimo com a vida cristã do dia-a-dia.”33 III. A teologia de Wesley como memória cultural O retorno para a “antiga religião da Bíblia”, como Wesley costumava dizer, era o reencontro com uma igreja supostamente viva, ágil e compromissada A memória é, no fundo, memória da experiência de Deus. O retorno para a “antiga religião da Bíblia”, como Wesley costumava dizer, era Além disso, há mais uma razão profunda para, talvez, até intensificar a nossa memória de Wesley. É o tema da relação entre teologia, educação e cultura. O COGEIME discutiu o assunto em 199734 e a teologia acolheu-o por meio do projeto de uma teologia metodista do cotidiano 35 . A questão é antiga. “As crenças pertencem à experiência humana global, a religião [...] não pode ser separada de sua matriz cultural”36. Wesley era um teólogo profundamente enraizado no seu 30 Veja: Thomas Langford (ed). Doctrine and Theology in the United Methodist Church Church, 1991. VVAA. Wesley and the Quadrilateral, 1997. Donald A. D. Thorsen. The Wesleyan Quadrilateral. Scriputre, tradition, reason & experiencie as Quadrilateral a model of evangelical theology theology, 1990. 31 John B. Cobb Jr. Grace and Responsibility. A Weselyan Theology for Today Today, 1995. 32 Assim, por exemplo, Theodore Runyon. A nova criação. A teologia de Wesley hoje hoje, 2002, p. 35: “O acréscimo da ‘experiência’ foi uma inovação metodológica significativa. Wesley introduziu explicitamente um componente empírico na argumentação teológica antigamente dominada por um apelo a três autoridades: as Escrituras, a tradição e a razão”. 33 VVAA. Wesley and the Quadrilateral Quadrilateral, 1997, p. 139. 34 Revista do COGEIME COGEIME, ano 6, nº11, 1997, p. 7-23. 35 Grupo de pesquisa TEOMEB – Para uma Teologia Metodista Brasileira da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. 36 Giovanni Filoramo e Carlo Prandi. As ciências das religiões religiões, 1999, p. 204. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 53 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mundo. Ele plasmou um cristianismo contextual. Para isso precisava fazer uma releitura de costumes cristãos fortemente enraizados na Igreja: 37 38 ○ ○ ○ ○ ○ ○ Wesley era um teólogo profundamente enraizado no seu mundo. Ele plasmou um cristianismo contextual “Depois de tudo quanto as Escrituras e a razão disseram, tão excessivamente plausíveis são as pretensões em favor da religião solitária, em favor de se porem os cristãos fora do mundo, ou, pelo menos, de se ocultarem os cristãos que se encontrem em meio do mundo, que necessitamos de toda a sabedoria de Deus para percebermos o laço, e de todo o poder de Deus para escaparmos a ele, de tal modo são fortes as objeções que se têm engendrado contra a vida social, aberta e ativa dos cristãos.”37 “Desenvolver, no meio do mundo, uma vida cristã social, aberta e ativa” poderia ser considerada a grande contribuição e o lema do Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista . A qualidade do texto se mostra pelo fato de que até hoje a sua releitura da memória de Wesley não foi substituída – e isso num nível mundial. Vemos isso na análise do relacionamento de Wesley com os pobres, amplamente confirmado e documentado como fator-chave da sua teologia e sua prática. A análise contempla até hoje aspectos teológicos e aspectos socioeconômicos. A leitura teológica de Wesley relaciona-o com as correntes espirituais influentes da época, o catolicismo, a reforma da Europa central e a ortodoxia. Cuidadosos observadores dessas discussões anotam as insatisfatórias tensões na tentativa de encaixar Wesley ○ A leitura teológica de Wesley relaciona-o com as correntes espirituais influentes da época, o catolicismo, a reforma da Europa central e a ortodoxia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ nisso, resultando, normalmente, na conclusão de que ele teria sido, digamos, um pouco superficial – na sua harmatologia, na sua antropologia, na sua soteriologia. Por outro lado, há estudos sobre o impacto socioeconomico dos irmãos Wesley e do movimento metodista que confirmam uma grande coerência na tentativa do compromisso social. No entanto, esta leitura poderia ser enriquecida por mais um elemento para compreender ainda melhor o relacionamento entre o povo, Wesley e a teologia metodista. Esse elemento parte da pergunta: Como esse povo ignorado, oprimido, excluído pela Igreja oficial manteve a sua vida e renovou a sua esperança, antes que o avivamento chegasse até ele? Provavelmente usou para isso recursos culturais estabelecidos a longo prazo. Uma das influências especialmente vitais nas regiões da Irlanda e no País de Gales, porém oprimidas e marginalizadas, era a cultura celta. Pode-se imaginar que a obra de uma pessoa cuja maior paixão era servir o povo pobre e atender às suas necessidades na base da convivência semanal deveria refletir algo disso. E, realmente, encontramos algo que eu chamaria, por enquanto, de “afinidades” entre o ser metodista, a cultura celta e o cristianismo celta: Alguns desses acentos podem refletir também outras influências 38 . Interessante é que Wesley incluiu muitos desses aspectos na caminhada. Será que a apreciação e a rejeição de certos conceitos católicos, protestantes ou ortodoxos por John Wesley. “Sermão XXIV. Sobre o sermão do monte”, in: Sermões de Wesley Wesley, v. II, 1985, p. 509-510. A religião anglo-saxã conhecia também que as sacerdotisas e a pregação ao ar livre eram práticas da corrente radical da reforma. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 54 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cultura Celta Sacerdotisas A valorização da natureza Valorização da vida terrestre, da saúde física Culto ao ar livre ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ João Wesley Papel importante das mulheres A idéia de “Regras Gerais”, Preferência por uma espiritualidade organizada ordem dos pregadores, acento na disciplina, participar da em monastérios Santa Ceia diariamente ou semanalmente, controle de disciplina (renovação dos “tickets” das classes); Paixão missionária Paixão missionária Teologia da nova criação O grande interesse no livro sobre medicina natural; e cuidado para com a saúde, com a vida física, o interesse “social” Sinergia divino-humana Pelágio, celta de Gales Pregação ao ar livre “Fugir da ira do senhor” Ênfase no “Dia do Senhor” Wesley não teria sua primeira origem na sua compatibilidade com a cultura inglesa, especialmente o povo pobre? Afinal, não indica a expressão “povo metodista” uma apreciação tanto social como cultural? Acredito que John Wesley mergulhou não somente na realidade social, mas também na cultural, ou seja, na realidade cultural dos pobres. É nesse contexto que ele desenvolve a teologia da nova criação, da graça preveniente e da sinergia divino-humana. Era necessário para comunicar o evangelho para essas populações. Nessa convivência solidária o povo contribui com a sua memória popular. Criou-se, num processo mútuo, algo que costumamos designar hoje como “jeito metodista” de ser Igreja. O “mergulho na cultura” de Wesley tinha se tornado “participação na cultura”. Assim, a teologia de John Wesley poderia ser interpretada como um reflexo da memória do 39 ○ Cristianismo Celta povo da sua cultura. Wesley seria, nessa perspectiva, um teólogo do povo não somente no sentido de “para o povo” 39 mas “pelo povo”. Isso nos leva à questão da aculturação do sistema educacional metodista no Brasil. Esse aspecto me parece muito importante diante da perspectiva da sua expansão para as regiões brasileiras culturalmente diferenciadas do sul e do centro leste do país. As minhas experiências no Campus Avançado da Faculdade de Teologia em Porto Velho, hoje Instituto Metodista da Amazônia, mostram que a aculturação da pedagogia e da administração e a interação com os diversos grupos locais dependem do “mergulho na cultura”, melhor, “da participação nas culturas locais”. Nisso o “mergulho no social” continua sendo indispensável para que a cultura e as caraterísticas regionais não sejam usadas para criar novas exclusões – especialmente quan- A teologia de João Wesley poderia ser interpretada como um reflexo da memória do povo da sua cultura Assim Albert Outler que caracterizou Wesley como “folk theologian” no sentido de “dedicado ao povo e às suas necessidades”. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 55 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ do o grupo de referência seja predominantemente o grupo de migrantes. A análise deveria contemplar o sistema cultural, inclusive a sua estrutura social 40 . Isso não é uma opinião “popular”. A forte rejeição da “Festa da Dona Suzana” mostrou que é quase impossível de se imaginar, por enquanto, um Metodismo mais aculturado por parte de amplos setores da Igreja brasileira. Mas há experiências mais promissoras. Assim acontece numa igreja da periferia de Porto Velho, no Bairro Eldorado, onde o pastor e sua pastora convivem com o povo. A teologia tem de abrir caminhos, sem os quais o metodismo eclesiástico institucional no Brasil, no longo prazo, não terá futuro. O sistema metodista de educação tem alcançado uma experiência pedagógica – por exemplo sobre a educação indígena – que poderia ser refletida pela Igreja e pela teologia. Não vai ser fácil, mas é bom lembrar que o nosso aniversariante, John Wesley, precisava superar uma forte oposição eclesiástica da sua época à participação social e cultural. IV. A cultura e o social como referências do sistema educacional metodista ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Wesley. A temporalidade das nossas interpretações nos leva para um encontro contínuo com ele, sob múltiplas e sempre renovadas perspectivas. A pedagogia e a teologia de Wesley foram profundamente configuradas pelo cotidiano, pela “participação no social e na cultura”. Até hoje negligenciamos, em nossa memória de Wesley, a sua “participação cultural” e, em seguida, a cultura da América Latina presente em nosso meio metodista. Devemos nos lembrar que Wesley chegou à participação cultural pelo “mergulho” e pela luta com contra preconceitos em relação a uma participação ativa dos cristãos na sociedade, ao lado dos excluídos, na cultura popular. O que se espera é que os três, o “mergulho na cultura”, o “mergulho no social” e o “mergulho na memória” – possam ajudar a construir e renovar a identidade confessional metodista e levar a “participação social e cultural” para as pedagogias do sistema educacional metodista e para as missiologias da Igreja Metodista aculturadas aos diversos contextos deste grande país. A memória de Wesley desafia tanto a teologia como a educação metodista a abraçarem as culturas brasileiras sem neglicenciar a perspectiva social. Wesley chegou à participação cultural pelo “mergulho” e pela luta com conceitos contra uma participação ativa na sociedade É bom lembrar que o nosso aniversariante, João Wesley, precisava superar uma forte oposição eclesiástica da sua época à participação social e cultural Tentei neste artigo mostrar a contínua relevância da memória de 40 ○ Stefano Martelli. A religião na sociedade pós-moderna pós-moderna, 1995, p. 260. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 56 ○ ○ ○ Ano 12 - n0 22 - junho / 2003 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências bibliográficas BASTIAN, Jean-Pierre. La mutación religiosa de América-Latina – para una sociología del cambio social en la modernidad periférico. México: Fondo de Cultura Economia, 1997. BEST, Gary Martin. Wesley and Kingswood Kingswood:1738-1988, 250th conversion anniversary. s.l.: s.n., 1988. BITTENCOURT, B. P. “Pedagogia e ética na educação metodista”. In: Revista do COGEIME COGEIME, ano 5, nº 8, 1996. BONINO, José Míguez. “Desafio da formação ética para as instituições metodistas em relação ao próximo milênio”, in: Revista do COGEIME COGEIME, ano 8, nº15, 1999. BOAVENTURA, Elias. “Evolução histórica do conceito de confessionalidade no metodismo brasileiro”. In: Revista do COGEIME COGEIME, ano 10, nº 18, 2001. BOAVENTURA, Elias. “Confessionalidade metodista”. 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