A memória de John Wesley

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300 anos do
nascimento de
John Wesley
A memória de John Wesley:
“mergulho no social”,
“participação cultural” e confessionalidade
The memory of John Wesley: “an immersion in social
matters”, “cultural participation” and confessionality
Helmut Renders
Doctor Ministry pela Faculdade de Teologia da Igreja Metodista Unida – Washington - DC/EUA
e mestrando em Ciências da Religião na UMESP
Secretário Executivo do Centro de Estudos Wesleyanos da Faculdade de Teologia da Igreja
Metodista – UMESP
R e s u m o
Neste artigo, o autor analisa três abordagens da memória de John Wesley: a memória dos metodistas em relação a
Wesley; a memória em Wesley; e a teologia de Wesley como memória cultural. Renders comenta, ainda, a importância da
postura de Wesley no que diz respeito ao seu “mergulho” na realidade cultural e social de populações mais pobres. Ele
explora, também, outras facetas de John Wesley, como a de teórico da educação.
Unitermos: identidade, comprometimento, realidade social, realidade cultural, reforma, missão.
Synopsis
In this article, the author makes three approaches on the memory of John Wesley: the memory of the Methodists as
regards Wesley; the memory of Wesley; and the theology of Wesley as cultural memory. Renders comments, further, the
importance of Wesley’s position as regards his immersion in the cultural and social reality of the poorer people. He
exploits also, other aspects of John Wesley, such as the theorist of education.
Terms: identity, commitment, social reality, cultural reality, reform, mission.
Resumen
En este artículo, el autor analiza tres enfoques de memoria de John Wesley: la memoria de los metodistas respecto a
John Wesley; la memoria en Wesley; y la teología de Wesley como memoria cultural. Renders comenta además, la
importancia de la postura de Wesley en lo que atañe a su “inmersión” en la realidad cultural y social de poblaciones más
pobres. Explota, inclusive, otras facetas de John Wesley, como la de teórico de la educación..
Unitermos: identidad, compromiso, realidad social, realidad cultural, reforma, misión.
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ual a função da memória na vida?
Quando criticado que seu olhar
para trás faria dele cego num olho,
Alexander Solschenizyn respondeu:
“Quem não olha para trás será cego
nos dois olhos”. Isso não impediu
que as suas lembranças do Arquipélago Gulag fossem usadas tanto para
humanizar a vida quanto para alimentar ódio e revanchismo. A memória do nosso aniversariante, John
Wesley, não escapa disso. Um clássico a respeito é o estudo das interpretações do “coração aquecido” em 250
anos do metodismo1 . Faz pensar que
o relato esteve em poucos momentos presente na memória do povo metodista e que a sua releitura refletiu
num alto grau a espiritualidade dos
intérpretes e das suas épocas 2 . Fora
disso explicam-se caracterizações tão
diferentes da pessoa de Wesley como
“entusiasta racional”, “conservador
radical”, “realista romântico” ou “revolucionário”, também pela sua tendência de construir a própria lenda3 . Com
estas observações iniciais não quero
desanimar, mas motivar para um diálogo qualificado sobre a nossa memória de Wesley.
A data do nascimento de uma
pessoa nos faz pensar em suas origens. De onde ela vem? Como representa sua época e cultura, seus grupos sociais? Como interage com seu
mundo? Partindo dessa perspectiva,
investigo a memória de John Wesley
em três direções: a nossa memória
de Wesley, a memória em Wesley e a
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teologia de Wesley como memória cultural. Baseio a primeira perspectiva na
Revista de Educação do COGEIME.
Como se aplicou a memória de John
Wesley na discussão sobre o sistema
de educação metodista? Depois, segue
o papel da memória no método teológico de John Wesley segundo a discussão sobre o chamado “quadrilátero
metodista”. Finalmente, menciono
como a teologia de John Wesley foi influenciada pelo ambiente religioso-cultural das populações pobres.
I. A memória de João Wesley
na Revista do COGEIME
A memória desafiante
Explicam-se
caracterizações tão
diferentes da pessoa
de Wesley também
pela sua tendência
de construir a
própria lenda
Pergunta-se até se João
Wesley poderia ser
considerado uma
“marcade
confessionalidade” no
sistema educacional do
metodismo brasileiro
Os artigos da Revista de Educação
do COGEIME refletem modificações da
nossa memória de John Wesley nos
últimos 20 anos. Parte-se da impressão da ausência da memória, passase pela sua intensiva exploração e
chega-se à subordinação da memória
pela experiência do cotidiano.
John Wesley, o spiritus rector do movimento metodista, aparece poucas
vezes diretamente nos títulos dos artigos. Há uma abordagem sobre ele como
estudante universitário4 e, numa publicação à parte, uma reflexão sobre
Wesley como organizador da educação5 . Pergunta-se até se John Wesley
poderia ser considerado uma “marca de
confessionalidade” no sistema educacional do metodismo brasileiro. Isso representaria mais a sua mãe, Suzana
Wesley6 . Trata se de uma pedagogia li-
1
Randy Maddox. Aldersgate Reconsidered
Reconsidered, 1990.
Bom se lembrar que o próprio João Wesley simplesmente ignorou esse momento em relatos tardios sobre a sua vida.
3
Richard P. Heitzenrater. Mirror and Memory. Reflections on Early Methodism , 1989, p. 56. O autor cita um artigo de
Frank Baker de 1974. O interesse no tema continua: John Wesley: Life, Legend and Legacy
Legacy. An International Conference at
Hulme Hall, University of Manchester 15-18 June 2003.
4
Tim Macquiban. “A Oxford de John Wesley: Metodismo e Educação”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 7, nº 13, 1998, p. 123-129.
5
Gary Martin Best. Wesley and Kingswood: 1738-1988, 250th Conversion Anniversary
Anniversary. s.l.: s.n., 1988.
6
Jorge Mesquita. “Confessionalidade: uma reflexão do passado”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 1, nº 1, 1992, p. 116.
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beral e de uma educação metodista no
Brasil, não “brasileira”. Para superar
isso, Wesley deveria ser consultado7 .
“Um projeto de sociedade e cidadão” e
“uma prática pedagógica determinada”
precisam da união no sentido do
metodismo wesleyano8 . O grande impulso para uma releitura metodista brasileira de Wesley vem do Plano para a
Vida e a Missão da Igreja Metodista9 . Em
seguida, a memória de Wesley serve
para desafiar10 , inspirar11 e defender12
a educação metodista. Ela ajuda a reafirmar um compromisso contextual13 e
a esclarecer o âmbito ético da identidade confessional14 . Essa memória de um
John Wesley concentrado no compromisso de Deus com os desfavorecidos
da sua época causa uma crise latente
sobre a distância entre o projeto original e o sistema educacional metodista
atual, que desde o seu início criou mais
espaços para as futuras elites do que
para os pobres15 .
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Recentemente desaparece a referência direta a John Wesley. “Se há
uma identidade metodista não é senão a capacidade de descobrir, amalgamar e articular eficazmente a riqueza da tradição e a prática da fé da
comunidade cristã no tempo e no
espaço” 16 . Isso já vem do Plano para
a Vida e a Missão da Igreja Metodista.
“Não há nenhuma negação da fé
metodista, mas não se trata mais de
princípios e, sim, de se buscar uma
identidade dentro desse mergulho
mais intenso na realidade social”17 .
Recentemente
desaparece a
referência direta a
João Wesley
A reserva da memória wesleyana
O “mergulho na realidade social”
e o “mergulho na memória” não se
excluem. Wesley mesmo enxergou a
sua fé de uma forma nova quando
“caiu no real” da vida cotidiana dos
excluídos da sua época. Depois fez
disso um argumento contínuo na de-
7
“O quanto essa prática é wesleyana e o quanto ela dá sinais do Reino e contribui para o crescimento do metodismo, é questão
a ser analisada”. Elias Boaventura. “Confessionalidade metodista”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 1, nº 1, 1992, p. 38-46.
8
Peri Mesquida. “Educação, cidadania e confessionalidade”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 5, nº 8, 1996, p. 109: “À glória do
Deus altíssimo e ao serviço da Igreja e da República”. Frontispício de Kingswood.
9
Ulisses de Panisset. “Marcas da confessionalidade”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 1, nº 1, 1992, p. 123-130.
10
Peri Mesquida. “Metodismo e educação no Brasil: formar elites e civilizar a nação”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 2, nº 2,
1993, p. 29-50: “... temos feito uma educação para, o que nos distancia do Evangelho e de Wesley...”. O autor destaca que a
educação wesleyana se dirigiu aos pobres, enquanto “o movimento educativo metodista nos Estados Unidos a partir de Cocke
e Asbury” se voltou para as elites.
11
COGEIME, ano 3, nº 3,
Omero de Freitas Borges Jr. “Confessionalidade. Uma visão da pastoral universitária”, in: Revista do COGEIME
1994, p. 94 cita Clory Trindade de Oliveira: “Wesley entendia educação como parte da obra criadora e salvadora de Deus, ao
criar o homem e a mulher à sua imagem... A educação era pois aceita e intensivamente praticada por Wesley como caminho de
libertação de ignorância e conquista dos valores de uma vida mais abundante e perfeita”. Paulo Aires Mattos: “A obra educacional da Igreja Metodista no Brasil: um sumário histórico-teológico”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 9, nº 16, 2000, p. 74: Wesley
“incorpora [...] e corrige o Idealismo” e faz a “redenção menos individualista”. “Seu ensino sobre as dimensões sociais [...] e
sua ética podem nos ajudar a desenvolver uma aproximação mais crítica do nosso ministério educacional.”
12
Rui Josgrilberg. “O que é filosofia cristã e confessionalidade no metodismo?”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 1, nº1, 1992.
p. 83: A “avaliação francamente positiva da razão desde que bem usada” representa um dos pré-requisitos de uma proposta
educacional baseados em Wesley.
13
Ely Eser Barreto César. “Educação e confessionalidade”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 6, nº11, 1997. p. 7-23. Aparece aqui
pela primeira vez a referência à cultura da América Latina.
14
B. P. Bittencourt. “Pedagogia e ética na educação metodista”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 5, nº 8, 1996. p. 147-148
relaciona a ética do docente, do conteúdo, da administração e da formação dos professores com o exemplo de Wesley.
15
Elza M. R. Zenker, Elias Boaventura, Jorge Hamilton Sampaio, Peri Mesquida. “Educação, cidadania e confessionalidade –
Debate 5”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 5, nº 8, 1996. p. 119.
16
José Míguez Bonino. “Desafio da formação ética para as instituições metodistas em relação ao próximo milênio”, in:
Revista do COGEIME
COGEIME, ano 8, nº15, 1999, p. 90.
17
Elias Boaventura. “Evolução histórica do conceito de confessionalidade no metodismo brasileiro”, in: Revista do COGEIME
COGEIME,
ano 10, nº 18, 2001, p. 15.
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fesa da sua prática e do seu acento teológico, sempre relegando que conhecia
a vida e o mundo dos desfavorecidos e
esquecidos como ninguém da sua época. Para essas pessoas, ele publicou
uma extensa bibliografia cristã, uma
ampla memória cristã acessível para
os pobres, editada em folhetos finos,
portanto, baratos. Essa memória não
era confessional ou denominacional,
porém, seletiva. A escolha se baseou
na sua contribuição para a santificação. O que poderia a nossa memória
wesleyana aproveitar disso? Primeiro, uma memória wesleyana não precisa se restringir a uma memória da
pessoa de Wesley. Ele entendeu que
a identidade do povo metodista se
constituía no diálogo com toda a cristandade. E foi mais longe ainda, quando pretendeu apreender de indígenas, na Geórgia, a viver a comunhão
de bens. Esse mergulho numa outra
realidade social, por sua fez, foi motivado pela memória bíblica da igreja primitiva. O “mergulho na realidade social” e o “mergulho na memória”
se inspiram mutuamente. As instituições metodistas representam uma
plataforma insubstituível para a Igreja na criação e no aprofundamento
da identidade confessional como
identidade em diálogo. Segundo, a
memória providenciada por Wesley
era seletiva, tinha seu eixo temático.
O que fez a diferença era que ele deixou isso transparecer. Neste ponto,
a nossa memória de Wesley nem deve
ser ingênua nem superficial. Às vezes,
as nossas perguntas não eram assuntos para Wesley. O nosso específico
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Wesley entendeu que
a identidade do povo
metodista se
constituía no diálogo
com toda cristandade
A nossa memória de
Wesley nem deve ser
ingênua nem
superficial
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problema é que essa seletividade é,
as vezes, mera falta de oportunidade. A memória de Wesley se concentra, até hoje, entre 1738 e 1755, especialmente em relação ao avivamento.
A perspectiva escolhida pelo sistema
metodista da educação, a cidadania 18 , necessita também da memória
da fase mais “sintética” da vida dele,
que veio depois. Essa perspectiva da
participação na reforma contínua da
nação faz parte da identidade metodista desde o seu início e é um assunto central de viver ou não viver
para milhões de mulheres e homens
na América Latina. Que presente de
aniversário seria um esforço comunitário do sistema de educação metodista de iniciar a tradução e edição
das obras de Wesley em português?
Acredito que a democratização das
fontes da nossa memória de Wesley
seja um passo essencial para envolver o povo metodista no processo
da cidadania.
Gostaria de mencionar alguns
exemplos da reserva de memória
mais acessível. Na minha opinião,
seria um benefício para a discussão
sobre o sistema educacional metodista no Brasil incluir a memória de
um Wesley, digamos, não somente
exemplar 19 .
Wesley como teórico de educação.
Wesley escreveu sobre a educação20 .
Um reencontro com alguns desses
textos causaria provavelmente, no
mínimo, um certo constrangimento
pelas convicções expressas. O efeito
positivo dessa experiência não seriam métodos aplicáveis, mas a per-
18
Note somente que esse conceito é um conceito urbano. Veja sua adaptação na Amazônia por meio do conceito da “florestania”.
Almir Maia. “Celebração dos 250 anos de criação de Kingswood”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 7, nº 13, 1998. p. 132: “A
dedicação e o compromisso com que Wesley entregou a concepção, criação, instalação e o acompanhamento da Escola de
Kingswood foram responsáveis ... por plantar no coração de todos metodistas uma autêntica paixão pela educação”.
20
Ver Pregação 99 “Sobre a educação de crianças”.
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cepção da necessidade do desenvolvimento contínuo da pedagogia diante da temporalidade de qualquer
método ou modelo.
A reforma da nação e a reforma institucional. Para Wesley, a reforma da sociedade está vinculada à
reforma da Igreja e vice-versa. Na
sociedade brasileira, esse vínculo
íntimo entre Igreja e Estado é representado pelo concordado entre a
Igreja Católica e a nação. Não existem
poucos evangélicos – também na
Igreja Metodista – que simplesmente
gostariam de ocupar esse espaço e
alcançar isso por meio de alianças
corporativas. Falta uma análise cuidadosa do relacionamento Estado–
Igreja ou Estado–movimento na perspectiva de Wesley e do metodismo
nascente inclusive nos EUA.
Entretanto, mesmo que se defenda a separação entre a Igreja e o Estado, ficam aproximações entre os
dois que precisam ser estudadas.
Vemos isso na avizinhação das estruturas do governo e da Igreja. Isso não
é um privilégio brasileiro e não é somente um fenômeno pentecostal 21 .
Na minha terra, na Alemanha, por
exemplo, a democracia é parlamentar. A Igreja Metodista Unida na Alemanha desenvolveu um parlamentarismo eclesiástico único no mundo
metodista, com problemas únicos
também, onde, às vezes, a discussão
substitui decisões necessárias. Em
vez disso, parece-me que no metodis-
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mo brasileiro os/as bispos/as da Igreja e diretores/as de escola e os reitores das universidades têm um papel
parecido com o presidente da República. Em ambos os casos o contexto
– o cotidiano – formou fortemente as
igrejas e as suas instituições. Isso não
era diferente no passado, em que a
cultura dos trabalhadores rurais e
dos mineiros do País de Gales criou
uma igreja que, por sua vez, formou
líderes sindicais (predominante rurais) 22 . A diferença é que Wesley escolheu esse contexto dos pobres
como o referencial e construiu ao redor das necessidades dessas populações o movimento metodista. A reforma da nação buscava construir
um espaço para essas populações.
Nesse sentido, a reforma era partidária. Isso não quer dizer que
Wesley quis excluir as elites do projeto de Deus na terra. Mas afirma que
ele tinha de liderar com uma autoexclusão das elites do projeto de
Deus 23 .
Wesley dirigiu-se aos representantes seculares e eclesiásticos na
busca da reforma da nação e da Igreja 24 . O papel profético-crítico das
escolas atualmente é exercido diante da sociedade 25 e das próprias escolas, mas não diante da Igreja. O
que é uma pena, porque a Igreja poderia ampliar a sua visão com a ajuda das instituições, em vez de
apequenar as mesmas 26 . Cabe às
pastorais universitárias vigiar os pro-
Wesley dirigiu-se aos
representantes
seculares e eclesiásticos
na busca da reforma da
nação e da Igreja
A Igreja Metodista
Unida na Alemanha
desenvolveu um
parlamentarismo
eclesiástico único no
mundo metodista
21
Jean-Pierre Bastian.. La mutación religiosa de América-Latina – para una sociología del cambio social en la
periférico, 1997, p. 157.
modernidad periférico
22
Elza M. R. Zenker, Elias Boaventura, Jorge Hamilton Sampaio, Peri Mesquida. “Educação ... Debate 5”, in: Revista do
COGEIME
COGEIME, ano 5, nº 8, 1996, p. 122: “... semeamos metodismo aqui na Universidade (Metodista de Piracicaba) e nasceu PT”.
23
Segundo os diários de Wesley, a frase “Fugir da ira de Deus” é sempre relacionada aos ricos e não aos pobres!
24
Reformar a nação, particularmente a igreja. O “Apelo para pessoas de razão e religião”, editado antes dos “Sermões”, era
dirigido aos magistrados dos municípios onde os pregadores queriam atuar.
25
Ely Eser Barreto César. “Projeto educacional percebido por uma perspectiva crítico-profética”, in: Revista do COGEIME
COGEIME,
ano 8, nº15, 1999, p. 78-82.
26
Rui Josgrilberg. “O que é filosofia cristã e confessionalidade no metodismo?”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 1, nº1, 1992, p. 84.
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cessos internos das instituições e
“os integrantes do COGEIME” devem
“viver praticando ‘ações de graça’, o
que é bem diferente de viver pela
ambição do lucro”28 . O discurso a favor da cidadania na nação nos faz
discutir até que ponto a cidadania é
promovida na Igreja e na instituição.
A escola deve discutir a missão da
Igreja no mundo e a Igreja a missão
da escola; melhor ainda, as duas têm
de debater a sua participação conjunta na missão de Deus na Terra.
O tema do poder. Não existe reforma sem discussão acerca do poder e dos interesses envolvidos. Uma
história das relações de poder do metodismo nascente ainda não foi escrita. Wesley seria certamente uma pessoa-chave, e normalmente critica-se
seu autoritarismo. Menos conhecida
é a seriedade com que Wesley motivou os participantes das conferências a falarem abertamente, responsáveis, em primeiro lugar diante de Deus
(esse espírito aberto caracterizou também as “classes” e “bands”). Lembrese que as comunidade metodistas
eram consideradas escolas de democracia para as pessoas humildes e
que, no mínimo, uma das explicações
da perda do catolicismo para o pentecostalismo no meio das classes populares é sua contínua busca de hegemonia por meio de alianças com as elites.
Quanto mais discutimos a função e o
uso do poder nos termos mais realistas possíveis dentro da Igreja e das instituições, entre as duas e diante da sociedade, mais aptos estarão os nossos
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alunos a prestarem esse serviço também na sociedade.
A pessoa do fundador . A memória de John Wesley já teve até tendências hagiográficas. A sua pessoa se
tornou um tabu e críticas foram entendidas como um iconoclasmo devastador, ameaçando a identidade
metodista – e a confessionalidade de
suas escolas. Estudos psicológicos
de John Wesley são raros29 . Esse tipo
de “preservação da memória de John
Wesley” poderia ter custos altos, porque opera com idéias irreais da pessoa humana. De qualquer forma, não
contribuiria para um projeto pedagógico que enfatiza a formação da personalidade e investe num acompanhamento em situações de crise pelas
nossas pastorais e pelos nossos serviços psicossociais. Uma maior clareza sobre as ambigüidades na vida
de John Wesley não acabaria com
seus méritos, mas nos deixaria perceber como Deus, por meio da graça, opera em “vasos de barro” renovando e usando vidas.
Uma maior clareza
sobre as ambigüidades
na vida de Wesley não
acabaria com seus
méritos, mas deixaria
perceber como Deus,
por meio da graça,
opera em “vasos de
barro” renovando e
usando vidas
II. Memória em John Wesley
A memória ocupa um espaço central no método teológico de Wesley.
A sua relevância e função é tema-chave na contínua discussão sobre o
chamado “quadrilátero metodista” –
o método teológico relacionando Bíblia, tradição, experiência e razão. A
partir de 1988, enfatizou-se a centralidade da memória bíblica como
fonte do conhecimento de Deus, cor-
27
Luis de Souza Cardoso. “Apontamentos sobre pastoral e capelania em escolas metodistas”, in: Revista do COGEIME
COGEIME, ano
10, nº 21, 2002, p. 15.
28
Luiz Carlos Ramos. “O COGEIME, Deus, o próximo e o século 21 (cf. Tito 2.12)”. In: Revista do COGEIME
COGEIME, ano 11, nº 20,
2002, p. 71.
29
A exceção atual é James Fowler. Uma leitura freudiana de Wesley (contribuiu G. Elsie Harrison). Son to Susanna. The
Private Life of John Wesley
Wesley, 1938.
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rigindo o modelo original de 1972 .
Teólogos, como John B. Cobb, enfatizam a proposta original e a importância da “integridade plena da experiência e da razão (contemporânea)
lado a lado com a Escritura e com a
tradição (passado)” 31 .
Ninguém nega, porém, que a novidade no método teológico de Wesley,
em relação ao anglicanismo, era a ênfase empírica, ou seja, uma inédita
valorização da experiência humana32 .
Para a experiência religiosa, a memória tem uma função formadora no sentido de motivadora e desafiadora. Por
outro lado, a experiência pode se tornar em Wesley critério da relevância
da memória, ou seja, da doutrina ensinada pela Igreja:
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o reencontro com uma igreja supostamente viva, ágil e compromissada.
Essa ênfase na experiência tem uns
interessantes efeitos colaterais. Ela
impede que o Metodismo torne-se
fundamentalista – em relação às Escrituras – ou legalista – em relação
à lei da Igreja. Além disto, preserva
a teologia da especulação, seja na
doutrina da trindade, na soteriologia, na antropologia ou na escatologia. A memória da ação de Deus no
passado e a percepção da ação de
Deus no mundo atual estão em diálogo. A teologia metodista brasileira incluiu no quadrilátero um quinto elemento, a criação. A criação é
uma linguagem de Deus, o ser humano é Imago Dei, destinado pelo Criador e Salvador para colaborar na renovação da criação.
“Wesley assumiu que as comprovações pela escritura e pela razão não
eram decisivas em si ou por si. A opinião final se um ensaio teológico alimentaria ou impediria a santidade do coração e da vida se baseou na avaliação
experimental. Essa ênfase de Wesley ...
mostra que ele acompanhou de perto a
forma em que a teologia tinha sido desenvolvida nos primeiros séculos da igreja primitiva – em contato íntimo com a
vida cristã do dia-a-dia.”33
III. A teologia de Wesley
como memória cultural
O retorno para a
“antiga religião da
Bíblia”, como Wesley
costumava dizer, era
o reencontro com
uma igreja
supostamente viva,
ágil e compromissada
A memória é, no fundo, memória
da experiência de Deus. O retorno
para a “antiga religião da Bíblia”,
como Wesley costumava dizer, era
Além disso, há mais uma razão
profunda para, talvez, até intensificar
a nossa memória de Wesley. É o tema
da relação entre teologia, educação e
cultura. O COGEIME discutiu o assunto em 199734 e a teologia acolheu-o por
meio do projeto de uma teologia metodista do cotidiano 35 . A questão é
antiga. “As crenças pertencem à experiência humana global, a religião
[...] não pode ser separada de sua matriz cultural”36. Wesley era um teólogo profundamente enraizado no seu
30
Veja: Thomas Langford (ed). Doctrine and Theology in the United Methodist Church
Church, 1991. VVAA. Wesley and the
Quadrilateral, 1997. Donald A. D. Thorsen. The Wesleyan Quadrilateral. Scriputre, tradition, reason & experiencie as
Quadrilateral
a model of evangelical theology
theology, 1990.
31
John B. Cobb Jr. Grace and Responsibility. A Weselyan Theology for Today
Today, 1995.
32
Assim, por exemplo, Theodore Runyon. A nova criação. A teologia de Wesley hoje
hoje, 2002, p. 35: “O acréscimo da
‘experiência’ foi uma inovação metodológica significativa. Wesley introduziu explicitamente um componente empírico na
argumentação teológica antigamente dominada por um apelo a três autoridades: as Escrituras, a tradição e a razão”.
33
VVAA. Wesley and the Quadrilateral
Quadrilateral, 1997, p. 139.
34
Revista do COGEIME
COGEIME, ano 6, nº11, 1997, p. 7-23.
35
Grupo de pesquisa TEOMEB – Para uma Teologia Metodista Brasileira da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista.
36
Giovanni Filoramo e Carlo Prandi. As ciências das religiões
religiões, 1999, p. 204.
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mundo. Ele plasmou um cristianismo
contextual. Para isso precisava fazer
uma releitura de costumes cristãos
fortemente enraizados na Igreja:
37
38
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Wesley era um teólogo
profundamente
enraizado no seu
mundo. Ele plasmou
um cristianismo
contextual
“Depois de tudo quanto as Escrituras
e a razão disseram, tão excessivamente plausíveis são as pretensões em
favor da religião solitária, em favor
de se porem os cristãos fora do mundo, ou, pelo menos, de se ocultarem
os cristãos que se encontrem em meio
do mundo, que necessitamos de toda
a sabedoria de Deus para percebermos o laço, e de todo o poder de Deus
para escaparmos a ele, de tal modo
são fortes as objeções que se têm engendrado contra a vida social, aberta
e ativa dos cristãos.”37
“Desenvolver, no meio do mundo, uma vida cristã social, aberta e
ativa” poderia ser considerada a
grande contribuição e o lema do Plano para a Vida e a Missão da Igreja
Metodista . A qualidade do texto se
mostra pelo fato de que até hoje a
sua releitura da memória de Wesley
não foi substituída – e isso num nível mundial. Vemos isso na análise
do relacionamento de Wesley com
os pobres, amplamente confirmado
e documentado como fator-chave da
sua teologia e sua prática. A análise
contempla até hoje aspectos teológicos e aspectos socioeconômicos.
A leitura teológica de Wesley relaciona-o com as correntes espirituais influentes da época, o catolicismo, a reforma da Europa central e a ortodoxia.
Cuidadosos observadores dessas discussões anotam as insatisfatórias tensões na tentativa de encaixar Wesley
○
A leitura teológica de
Wesley relaciona-o com
as correntes espirituais
influentes da época, o
catolicismo, a reforma
da Europa central e a
ortodoxia
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nisso, resultando, normalmente, na
conclusão de que ele teria sido, digamos, um pouco superficial – na
sua harmatologia, na sua antropologia, na sua soteriologia. Por outro
lado, há estudos sobre o impacto
socioeconomico dos irmãos Wesley
e do movimento metodista que confirmam uma grande coerência na
tentativa do compromisso social.
No entanto, esta leitura poderia
ser enriquecida por mais um elemento para compreender ainda melhor
o relacionamento entre o povo,
Wesley e a teologia metodista. Esse
elemento parte da pergunta: Como
esse povo ignorado, oprimido, excluído pela Igreja oficial manteve a sua
vida e renovou a sua esperança, antes que o avivamento chegasse até
ele? Provavelmente usou para isso
recursos culturais estabelecidos a
longo prazo. Uma das influências especialmente vitais nas regiões da Irlanda e no País de Gales, porém oprimidas e marginalizadas, era a cultura
celta. Pode-se imaginar que a obra
de uma pessoa cuja maior paixão era
servir o povo pobre e atender às
suas necessidades na base da convivência semanal deveria refletir
algo disso. E, realmente, encontramos algo que eu chamaria, por enquanto, de “afinidades” entre o ser
metodista, a cultura celta e o cristianismo celta:
Alguns desses acentos podem refletir também outras influências 38 .
Interessante é que Wesley incluiu
muitos desses aspectos na caminhada. Será que a apreciação e a rejeição de certos conceitos católicos,
protestantes ou ortodoxos por
John Wesley. “Sermão XXIV. Sobre o sermão do monte”, in: Sermões de Wesley
Wesley, v. II, 1985, p. 509-510.
A religião anglo-saxã conhecia também que as sacerdotisas e a pregação ao ar livre eram práticas da corrente radical da reforma.
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Cultura Celta
Sacerdotisas
A valorização da natureza
Valorização da vida terrestre,
da saúde física
Culto ao ar livre
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João Wesley
Papel importante das mulheres
A idéia de “Regras Gerais”,
Preferência por uma
espiritualidade organizada ordem dos pregadores, acento
na disciplina, participar da
em monastérios
Santa Ceia diariamente ou semanalmente, controle de disciplina (renovação dos “tickets”
das classes);
Paixão missionária
Paixão missionária
Teologia da nova criação
O grande interesse no livro sobre medicina natural; e cuidado para com a saúde, com a
vida física, o interesse “social”
Sinergia divino-humana
Pelágio, celta de Gales
Pregação ao ar livre
“Fugir da ira do senhor”
Ênfase no “Dia do Senhor”
Wesley não teria sua primeira origem
na sua compatibilidade com a cultura inglesa, especialmente o povo pobre? Afinal, não indica a expressão
“povo metodista” uma apreciação
tanto social como cultural?
Acredito que John Wesley mergulhou não somente na realidade social,
mas também na cultural, ou seja, na
realidade cultural dos pobres. É nesse contexto que ele desenvolve a teologia da nova criação, da graça preveniente e da sinergia divino-humana.
Era necessário para comunicar o
evangelho para essas populações.
Nessa convivência solidária o povo
contribui com a sua memória popular. Criou-se, num processo mútuo,
algo que costumamos designar hoje
como “jeito metodista” de ser Igreja.
O “mergulho na cultura” de Wesley
tinha se tornado “participação na
cultura”. Assim, a teologia de John
Wesley poderia ser interpretada
como um reflexo da memória do
39
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Cristianismo Celta
povo da sua cultura. Wesley seria,
nessa perspectiva, um teólogo do
povo não somente no sentido de
“para o povo” 39 mas “pelo povo”.
Isso nos leva à questão da aculturação do sistema educacional metodista no Brasil. Esse aspecto me
parece muito importante diante da
perspectiva da sua expansão para as
regiões brasileiras culturalmente diferenciadas do sul e do centro leste
do país. As minhas experiências no
Campus Avançado da Faculdade de
Teologia em Porto Velho, hoje Instituto Metodista da Amazônia, mostram que a aculturação da pedagogia e da administração e a interação
com os diversos grupos locais dependem do “mergulho na cultura”, melhor, “da participação nas culturas
locais”. Nisso o “mergulho no social”
continua sendo indispensável para
que a cultura e as caraterísticas regionais não sejam usadas para criar novas exclusões – especialmente quan-
A teologia de João
Wesley poderia ser
interpretada como
um reflexo da
memória do povo da
sua cultura
Assim Albert Outler que caracterizou Wesley como “folk theologian” no sentido de “dedicado ao povo e às suas necessidades”.
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do o grupo de referência seja predominantemente o grupo de migrantes.
A análise deveria contemplar o sistema cultural, inclusive a sua estrutura social 40 . Isso não é uma opinião
“popular”. A forte rejeição da “Festa
da Dona Suzana” mostrou que é quase impossível de se imaginar, por enquanto, um Metodismo mais aculturado por parte de amplos setores da
Igreja brasileira. Mas há experiências mais promissoras. Assim acontece numa igreja da periferia de Porto Velho, no Bairro Eldorado, onde o
pastor e sua pastora convivem com
o povo. A teologia tem de abrir caminhos, sem os quais o metodismo eclesiástico institucional no Brasil, no
longo prazo, não terá futuro. O sistema metodista de educação tem alcançado uma experiência pedagógica –
por exemplo sobre a educação indígena – que poderia ser refletida pela
Igreja e pela teologia. Não vai ser fácil, mas é bom lembrar que o nosso
aniversariante, John Wesley, precisava superar uma forte oposição eclesiástica da sua época à participação
social e cultural.
IV. A cultura e o social
como referências do sistema
educacional metodista
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Wesley. A temporalidade das nossas
interpretações nos leva para um encontro contínuo com ele, sob múltiplas e sempre renovadas perspectivas. A pedagogia e a teologia de
Wesley foram profundamente configuradas pelo cotidiano, pela “participação no social e na cultura”.
Até hoje negligenciamos, em nossa
memória de Wesley, a sua “participação cultural” e, em seguida, a cultura da América Latina presente em
nosso meio metodista. Devemos
nos lembrar que Wesley chegou à
participação cultural pelo “mergulho” e pela luta com contra preconceitos em relação a uma participação ativa dos cristãos na sociedade,
ao lado dos excluídos, na cultura
popular.
O que se espera é que os três, o
“mergulho na cultura”, o “mergulho
no social” e o “mergulho na memória” – possam ajudar a construir e renovar a identidade confessional metodista e levar a “participação social
e cultural” para as pedagogias do sistema educacional metodista e para
as missiologias da Igreja Metodista
aculturadas aos diversos contextos
deste grande país. A memória de
Wesley desafia tanto a teologia como
a educação metodista a abraçarem as
culturas brasileiras sem neglicenciar
a perspectiva social.
Wesley chegou à
participação cultural
pelo “mergulho” e
pela luta com
conceitos contra uma
participação ativa na
sociedade
É bom lembrar que o
nosso aniversariante,
João Wesley,
precisava superar
uma forte oposição
eclesiástica da sua
época à participação
social e cultural
Tentei neste artigo mostrar a
contínua relevância da memória de
40
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Stefano Martelli. A religião na sociedade pós-moderna
pós-moderna, 1995, p. 260.
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