Terapia da religião – Padre António Joaquim
Transcrição
Terapia da religião – Padre António Joaquim
XXVIII CONGRESSO DE MEDICINA POPULAR DE VILAR DE PERDIZES Terapia da religião A relação entre a saúde e a religião Proponho-me abordar a relação entre a saúde e a religião e a possibilidade de a fé ser também terapêutica e ajudar a superação da dor. HISTÓRIA Saúde e religião relacionam-se, antes de mais, etimologicamente SALUS – SALUTEM. O termo latino para saúde e salvação é o mesmo. Para os povos da antiguidade não se podia dissociar a saúde e a salvação e, por isso, os sacerdotes eram os que cuidavam dos enfermos e eram tratados no templo. Os egípcios são conhecidos pelas suas técnicas médicas desenvolvidas pelos sacerdotes. A religião grega sacralizou a medicina e a saúde, exemplo disso são as figuras mitológicas de Apolo, Asclépio e Hígia. Apolo, o deus do sol, da música, era também o deus da medicina, seu filho Asclépio era adorado como um médico sagrado, que por sua vez é considerado o pai de Hipócrates (460-370 a.C), o pai da medicina. Vale a pena referir também os árabes Avicena (980-1037) e Averróis (1126-1198), e o grande desenvolvimento, também na saúde, que a cultura muçulmana nos trouxe. A doença, a pobreza e tudo o que negativo acontecia eram entendidos, na cultura bíblica, como fruto do pecado e a cura como obra criadora. Jesus, no Novo Testamento, ao curar tantos doentes mostra que a doença é a negação do perdão e não qualquer castigo. Jesus quer incluir, mesmo os marginalizados pelas doenças e os abandonados: colocar o ser humano no centro. 1) “ que é mais fácil dizer ao paralítico: os teus pecados estão perdoados, ou levanta-te, pega na tua enxerga e anda? Mas para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados – disse Ele ao paralítico - pega na tua enxerga e vai para casa. Ele levantou-se, pegou na enxerga e saiu à vista de todos… São Marcos 2, 9-11 2) “Está alguém, entre vós, aflito? Recorra à oração. Está alguém contente? Cante salmos. Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A XXVIII CONGRESSO DE MEDICINA POPULAR DE VILAR DE PERDIZES oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Carta de Tiago 5,13-15) Devemos à vida monástica vários séculos de tratamento e desenvolvimento da medicina, em que só quando o corpo e a alma estão sãos é que se pode dizer que se tem saúde. Na Idade Moderna é que se começou a distanciar a espiritualidade da saúde e secularizando a medicina, começa-se a entender o corpo e a própria saúde como o resultado de uma mera interacção mecânica entre duas partes. ACTUALIDADE Estudos recentes apontam para os efeitos que a oração e a crença em Deus têm na saúde das pessoas, como sensação de paz, serenidade, conforto, evitando assim os males modernos como pânico, depressão e stress. Muitos autores estudaram e publicaram, na literatura académica e psicológica, as possíveis relações entre a religião e a saúde. Embora haja opiniões e conclusões díspares, o que ainda polemiza ainda mais o tema, observa-se uma maior tendência na aceitação que de que a fé e a religião melhoram a saúde. Sicher e seus colaboradores em 1998, publicaram um estudo com pacientes de AIDS. Constataram que no grupo de pacientes com alguma crença religiosa, havia um menor número de hospitalizações e dias de internamento e menos severidade na doença. Uma pesquisa elaborada pela universidade de Duke (EUA) comprova que pessoas que adoptam práticas religiosas apresentam uma probabilidade 40% menor de terem hipertensão arterial, são menos hospitalizadas, tendem a sofrer menos depressão nas diversas fases de tratamento e recuperação, além de terem um sistema imunológico mais fortalecido. Mario Beauregard, investigador de neurociências na Universidade de Montréal, escreve que se acumulam provas consideráveis que mostram que as experiências religiosas, espirituais e/ou místicas "estão associadas a melhor saúde física e mental". A TERAPIA DA RELIGIÃO Qualquer religião, na medida com nos coloca em relação com o divino, o perfeito, com o são, ensina a superação e dá aos seus fiéis um conjunto de estratégias a utilizar para uma maior adaptação a situações adversas. XXVIII CONGRESSO DE MEDICINA POPULAR DE VILAR DE PERDIZES Creio que a religião cristã ajuda ainda mais, sem aquele sentido de alienação ou culpabilidade divina, a reduzir a sensação de desamparo e abandono que acompanham as doenças físicas. Pode melhorar a saúde promovendo práticas saudáveis de vida, melhorando o suporte social, oferecendo conforto em situações de sofrimento tornando-se um factor psicossocial na recuperação de doenças físicas e mentais. As pessoas ao longo da história foram mostrando a ligação entre religião e saúde até quando invocam os santos com orações que visam a protecção das pessoas, outras, a cura das doenças: São Sebastião cura feridas; São Roque cura e evita pestes; São Lourenço dor de dentes; São Brás protege das enfermidades da garganta; Santa Luzia as doenças dos olhos; Santa Ágata os pulmões e vias respiratórias; São Lázaro a lepra e; São Miguel os tumores malignos e benignos… "A verdadeira dor do mundo é o desamor e a verdadeira doença é o egoísmo" José Luis Martín Descalzo "A ave canta Mesmo que se parta o ramo Porque sabe quem asas" A religião cristã é e deve ser esta ave que voa em liberdade e que apresenta a felicidade como o segredo dos cristãos. O ramo que parte é a doença que chega, a velhice, a perda de alguém que amamos mas nós cristãos temos asas… Mais estudos e pesquisas científicas de qualidade e livres de credos e valores individuais, uma maior aproximação do corpo ao espiritual, abordando a pessoa e não só a máquina, irão contribuir para o desenvolvimento da medicina. Os grandes avanços irão chegar pela pessoa e não pela química. Pe António Joaquim Pinto Dias