estudo da ocorrência de tartarugas marinhas no - Ecopere-se
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estudo da ocorrência de tartarugas marinhas no - Ecopere-se
Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ ESTUDO DA OCORRÊNCIA DE TARTARUGAS MARINHAS NO COSTÃO ROCHOSO DO RATO, PARATY, RJ Bruna Elisa Alkmim1,2; Jodir Pereira da Silva1,3; Raquel Sorvilo1,4; Marina Setti Francisco1 1 [email protected] (ECOPERE-SE - Projeto Ecologia de Peixes Recifais da Região Sudeste do Brasil, Rua Herculano Couto, 430, Jd. Chapadão - Campinas – SP, CEP: 13070-123) 2 [email protected] (UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná- Campus Luiz Meneghel, Rod. BR-369 Km 54, Vila Maria, CEP 86360-000 - Bandeirantes – PR) 3 [email protected] (COTUCA - UNICAMP Rua Culto à Ciência, 177 - Bairro Botafogo - CEP:13020-060 Campinas – SP) 4 [email protected] (Centro de APTA do Pescado Marinho, Instituto de Pesca, APTA, SAA, SP. Avenida Bartolomeu de Gusmão, 192, Ponta da Praia, Santos – SP, CEP: 11030-906) ABSTRACT Marine turtles occupy a wide range of marine habitats, and many aspects of their life history have been frequently demonstrated in coastal waters, especially during the nesting season or in the feeding grounds. Sea turtles do undertake long migrations and any information on their occurrence and behavior even in the coastal waters remains unknown. The objective of this work was to identify and quantify the occurrence of marine turtles in two different observation points located at Paraty, Rio de Janeiro State. The occurrence was analyzed according to the time, site and seasons. The only species observed was Chelonia mydas, which was present in all seasons, without a significant difference between them. The turtles had a significant greater occurrence during morning periods than in the afternoon. The needs of new works dealing with this subject to answer remaining questions about occurrence and behavior of marine turtles are discussed. Keywords: behavior, conservation, marine turtles ecology. INTRODUÇÃO Segundo Musick & Limpus (1997 apud Gomes, 2007) as tartarugas marinhas existem há mais de 200 milhões de anos na Terra, época correspondente ao período Triássico. A família Cheloniidae inclui seis das sete espécies: Caretta caretta (Linnaeus, 1758), Chelonia mydas (Linnaeus, 1758), Eretmochelys imbricata (Linnaeus, 1766), Lepidochelys kempii (Garman, 1880), Lepidochelys olivacea (Eschscholtz, 1829) e Natator depressus (Garman, 1880). A família Dermochelyidae, inclui somente uma espécie, Dermochelys coriacea (Vandelli, 1761) (Bowen & Karl, 1997). Tartarugas marinhas são animais migradores de longas distâncias, estabelecendo seus nichos ecológicos em diversos ambientes marinhos e regiões geográficas distintas, ao longo das diferentes fases do seu ciclo de vida, variando de ambientes pelágicos quando filhotes para diversas áreas costeiras nas fases juvenis e adulta (Bolten, 2003, Poli, 2011). Segundo Miller (1997) normalmente, machos e fêmeas copulam no mar a distâncias variáveis da praia de desova. As fêmeas fazem ninhos e depositam os ovos na areia de praias tropicais. Após o período reprodutivo de alguns meses, as fêmeas retornam às suas áreas de alimentação e começam a reservar energia para o próximo período reprodutivo. Até o momento inexistem trabalhos sobre o estudo da caracterização do comportamento e frequência das tartarugas marinhas na região de Paraty (RJ), assim, este estudo teve como objetivo registrar a frequência de ocorrência das tartarugas marinhas na região e, com isso, fornecer subsídios científicos para as ações conservacionistas e políticas com esforços na proteção dessas espécies ameaçadas e de seus habitats. Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 2060 1 Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ MATERIAL E METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido no Costão Rochoso do Rato, em Paraty (RJ), com a utilização da técnica de censo visual a fim de registrar a frequência de ocorrência de tartarugas marinhas durante as quatro estações do ano de 2011: Verão (Janeiro), Outono (Abril), Inverno (Junho) e Primareva (Outubro). As observações se iniciaram às 7 horas e 30 minutos e finalizaram às 17 horas e foram realizadas em dois pontos ao longo do Costão Rochoso do Rato, P1 (23°03'23.79"S; 44°39'3.44"W) e P2 (23°03'23.12"S; 44°39'2.51"W), sendo este mais sombreado pela maior proximidade da Vegetação Umbrófila Densa de Mata Atlântica e ligeiramente mais abrigado (ver figura 1). As coletas dos dados foram realizadas simultaneamente por dois observadores posicionados sobre o costão para cobrirem a extensão total da área. A cada ocorrência foi também registrado o horário exato de emersão dos animais com auxilio de uma prancheta de PVC branco e um relógio digital. Para auxiliar na identificação das tartarugas avistadas, foram capturadas imagens com uma câmera Sony Cyber-shot DSC-W55 (Figura 2). Após a coleta de dados as informações foram planilhadas e a identificação das tartarugas marinhas foram utilizados os trabalhos de Lutz et al. (2003). Para fins de análise, os dados foram agrupados por pontos de observação, estações do ano e nestas, por períodos do dia, com o período da manhã compreendendo os registros realizados das 7:30 às 12:00hs, o período intermediário, compreendendo os registros efetuados das 12:00 às 14:00hs e o período da tarde compreendendo os registros efetuados das 14:00 às 17:00hs. Para viabilizar a comparação entre os diferentes períodos, o número de exemplares observados foi dividido pelo número de horas de observação (frequência relativa). As ocorrências por estações e períodos do dia foram submetidas à ANOVA (p<0,05) e teste de Tukey (p<0,05). As ocorrências por períodos e pontos foram submetidas ao teste t (p<0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO Em 38 horas de observação ocorreram 243 avistagens de tartarugas marinhas no Costão do Rato com ocorrência exclusiva da espécie Chelonia mydas. A área de estudo integra a Baia de Parati, região com temperatura constante durante o ano, pouca ou nenhuma arrebentação de ondas, tráfico de pequenas embarcações, especialmente na alta temporada, sem registro de predadores naturais e com vários pontos de crescimentos de macroalgas. Dentre essas algas destacam-se Ulva spp e Ceramium spp, encontradas em abudância no local de estudo. Estas algas encontram-se na beira do costão e nas poucas rochas presente no local, ficando expostas na maré baixa. No período de observação constatou-se o uso destas algas como alimento pelas tartarugas marinhas. A literatura disponível sobre a abundância de representante do gênero Chelonia mydas na região de Parati é inexistente ou sem acesso público. O litoral brasileiro foi monitorado de Ubatuba (SP) a Almofala (CE), demonstrando distribuição das espécies bem distinta da apresentada no litoral do Rio Grande do Sul. A espécie com maior número de registros é a tartaruga-verde, seguida pela tartaruga-oliva, tartaruga-cabeçuda, tartaruga-de-pente e, por último, como espécie mais rara, a tartaruga-de-couro (Marcovaldi & Marcovaldi, 1999). As tartarugas marinhas têm um papel importante no ciclo dos nutrientes e na estrutura da comunidade de seus habitats de alimentação. Em condições naturais, a densidade de tartarugas em áreas de alimentação é alta, tornando-as importantes predadoras e pastadoras. Todas as tartarugas são exportadoras de nutrientes dos seus habitats de alimentação. A tartaruga-verde é pastadora e produz efeitos significativos na estrutura e na ciclagem de nutrientes do ambiente (Bjorndal, 1997). As tartarugas-verdes, assim como todos os organismos, escolhem a dieta que irão trazer mais nutrientes, com o mínimo de esforço de procura e caça. Quando há um vasto campo de algas marinhas ou de gramínea, elas forrageiam principalmente daquilo, que talvez, sua flora de microorganismos esteja mais adaptada. Mas quando o alimento é limitado ou o tipo de comida é disperso uma dieta espécifica, contendo somente algas ou somente gramínea pode resultar numa grande perda de energia, o esforço para procurar e manejar o alimento pode ser maior do que a Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 2061 2 Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ energia que possa ser liberada pela digestão dos mesmos (Bjorndal, 1997). O gênero Ulva geralmente acumula o amido como substância de reserva (Joly, 1967). É um gênero de macroalga abundante na costa brasileira bem como na área de estudo. Seu crescimento é mais desenvolvido em substratos consolidados e em zonas de médiolitoral, ou seja, zona entre marés (Ohno & Mairh, 1982). A ocorrência de tartarugas marinhas apresentou médias diferentes (ANOVA, p=0,0007), sendo maior no período da manhã do que no período intermediário e da tarde (Tukey, p<0,05), mas não foi encontrada significância entre o período intermediário e da tarde (Figura 3). Na figura 4 notamos que as tartarugas ocorrem com maior frequência pela manhã (teste t, p=0,0447). Por outro lado, não há diferença entre os registros de ocorrência nos dois pontos de observação P1 e P2 (teste t, p=0,0991)(Figura 5), embora os dois pontos tenham características particulares, com o P1 mais abrigado da ação de ondas e P2 com sombreamento da Mata Atlântica após as 11 horas da manhã, e maior disponibilidade de algas. Também não existe diferença de registro de ocorrência de tartarugas marinhas entre as diferentes estações do ano (ANOVA, p=0,3719; Tukey, p>0,05) no período amostrado. Dados sobre diferenças de registros de ocorrência por períodos do dia e estações do ano aparentemente são escassos. Note-se ainda que na primavera houve redução no número de registros (figura 6), que embora não tenha atingido significância, pode estar relacionada à aproximação do período reprodutivo, no qual os indivíduos em condições de reproduzir deixariam o local, para áreas de reprodução ou próximas como as áreas já descritas do entorno de Trindade, Atol das Rocas e Fernando de Noronha (Coluchi, 2006). Contudo, são necessários novos trabalhos que considerem fatores abióticos e bióticos variados para que se explique o horário preferencial de atividade da manhã em relação à tarde. Entretanto, trabalhos sobre frequência de ocorrência de animais observados em campo são raros ou não publicados ainda, o que dificulta tecer relações que nos auxiliem na resolução de questionamentos que ainda permanecem. CONCLUSÕES À luz dos dados obtidos, concluímos que: A única espécie que ocorreu na região estudada foi Chelonia mydas e esta utiliza o costão rochoso do Rato como área de alimentação durante o ano todo; Chelonia mydas ocorre mais frequentemente no período da manhã do que no período da tarde; Novos estudos sobre a ocorrência de tartarugas marinhas baseados na observação in situ e relacionando-a a fatores abióticos e bióticos variados podem colaborar para o melhor entendimento do comportamento das tartarugas marinhas. REFERÊNCIAS Bjorndal K. A. 1997. Foraging Ecology And Nutrition Of Sea Turtles In Lutz, P. & Musick, J. (Eds.). The Biology Of Sea Turtle. CRC Press. New York, 199-231pp. Bowen, B. W.; & Karl, S. A. 1997. Population genetics, phylogeography, and molecular evolution. In: LUTZ, P. L. & MUSICK, J. A. The biology of sea turtles. 1th ed. 1. v. Florida: CRC, 29-50 pp. Bolten, A. B. 2003. Variation in Sea Turtle Life History Patterns Neritic vs. Oceanic Developmental Stages. 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Registro de imagem da ocorrência de tartaruga marinha da espécie Chelonia mydas. Figura 3. Valores médios de ocorrência de tartarugas marinhas e intervalos de confiança (95%) nos diferentes horários do período de observação. As médias diferiram significativamente quando submetidos à ANOVA (p=0,0007). As barras representam médias significativamente diferentes ao teste de Tukey (p<0,05). Figura 4. Valores médios de ocorrência de tartarugas marinhas e intervalos de confiança (95%) nos diferentes períodos de observação. As médias diferiram significativamente quando submetidos ao teste t (p=0,0447). Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 2063 4 Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO´2012 13 a 16 de novembro de 2012 Rio de Janeiro – RJ Figura 5. Valores médios de ocorrência de tartarugas marinhas e intervalos de confiança (95%) nos diferentes pontos de observação. As médias não diferiram significativamente quando submetidos ao teste t (p=0,0991). Figura 6. Valores médios de ocorrência de tartarugas marinhas e intervalos de confiança (95%) entre as diferentes estações. As médias não diferiram significativamente quando submetidos à ANOVA (p=0,3719) e nem ao teste de Tukey (p<0,05). Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) 2064 5
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