caracterização dos agricultores familiares da comunidade boa sorte

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caracterização dos agricultores familiares da comunidade boa sorte
CARACTERIZAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES DA COMUNIDADE
BOA SORTE NO MUNICIPIO DE PAU D’ARCO NO SUDESTE DO PARÁ
ATRAVÉS DE DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO
Cléia Alves da Luz1
Isabel Sousa Brito1
Profª. M.Sc Maurizete da Cruz Silva2
e-mail: [email protected]
Profº Esp Andrea Margarete de Almeida Marrafon2
e-mail: [email protected]
Resumo
O presente trabalho consistiu na realização do Tempo Comunidade (TC) como um processo de
pesquisa-ação-reflexão junto à comunidade na qual os/as Educandos/as do PROCAMPO do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará –IFPA - campus Conceição do Araguaia estão
inseridos, tendo como pressuposto um diálogo de saberes nos múltiplos espaços sociais presentes na
comunidade, a exemplo de escolas, organizações sociais, etc. Buscou-se com esse estudo conhecer
e identificar os sistemas de produção dos agricultores familiares da comunidade Vila Boa
Sorte localizada no município de Pau D’arco – PA, bem como suas potencialidades e limites.
O diagnóstico do sistema de produção das famílias selecionadas realizou-se através de um
formulário previamente elaborado onde foram observadas as características sociais, culturais,
econômicos e ambientais que envolvem a família e suas atividades de sobrevivência. O
formulário foi composto por 51 questões de caráter objetivo e subjetivo. Também foi utilizado
antes da realização das entrevistas um formulário de autorização de voz e imagem concedidas
pelo entrevistado. Verificou-se que a agricultura familiar na comunidade tem como base a
subsistência da família. Segundo os entrevistados essa realidade se dá por dificuldades de
acesso ao crédito que proporcionaria a implementação de equipamentos/técnicas agrícolas.
Outro fato interessante é que mesmo diante desse entrave os agricultores conseguem
diversificar a produção, o que proporciona menos degradação dos recursos naturais em termos
de processos erosivos, menos áreas de solos descobertos, desmatamentos e pastagens não
degradadas.
PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo 1 – Sistemas de Produção 2 – Agricultura Familiar
_____________________________________________________________________________________________________
1 – Educadoras do Campo Graduandas do Programa de Licenciatura em Educação do Campo – PROCAMPO (2009) –IFPACampus Conceição do Araguaia- PA
2 – Professoras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará- IFPA Campus Conceição do Araguaia-PA Coordenadoras do Tempo Comunidade do Procampo – Turma de Conceição do Araguaia - PA – 2009/2011.– Sudeste do
Pará –
- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. Rua Couto Magalhães, Nº1649 - Setor UniversitárioConceição do Araguaia – PA CEP:68.540-000 Telefone: ( 94) 3421-1974/3421-1962
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1 – Introdução
O presente trabalho consistiu na realização do Tempo Comunidade (TC) como um
processo de pesquisa-ação-reflexão junto à comunidade na qual os/as Educandos/as do
PROCAMPO do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará –IFPA
campus Conceição do Araguaia estão inseridos, tendo como pressuposto um diálogo de
saberes nos múltiplos espaços sociais presentes na comunidade, a exemplo de escolas,
organizações sociais, etc.
Esse Tempo Comunidade foi referenciado a partir do Eixo Temático do Tempo
Acadêmico (TA), devendo nesse 2º TC inter-relaciona-se ao Eixo Espaço SocioAmbiental e Sustentabilidade do Campo. Assim, buscou-se manter um dialogo também
com a pesquisa realizada no 1º Tempo Comunidade consistindo num estudo sobre os
Sistemas de Produção e os Processos de Trabalho no âmbito da Agricultura Familiar.
A agricultura familiar no Brasil demonstra-se como uma atividade de grande
importância social, econômica e ambiental. Contudo, mesmo diante de tantas potencialidades,
possui muitas fragilidades, em especial por se constituir em um universo profundamente
heterogêneo, no que diz respeito às condições sociais e de produção, seja em termo, de
acumulação, gestão da propriedade e dos recursos naturais, colocando o pequeno produtor
rural na disputa da elevação sócio-política.
Observando o Censo Agropecuário 2006 – IBGE verifica-se que a agricultura familiar
é que alimenta a nação produzindo mais de 70% dos alimentos consumidos pelo povo
brasileiro, mesmo com pouca terra e poucos incentivos de financiamento e crédito para
produzir. Em relação ao número de estabelecimentos da agricultura familiar e o tamanho do
território que eles ocupam 84,4% dos estabelecimentos rurais brasileiros estão dentro do perfil
“estabelecimentos da agricultura familiar”, e ficam com apenas 24,3% do território ocupado
no campo brasileiro. Os outros 15,6% dos estabelecimentos representam a agricultura “não
familiar”, ou seja, o agronegócio, que por sua vez, fica com 75,7% das áreas ocupadas
Assim, buscou-se com esse estudo conhecer e identificar os sistemas de produção dos
agricultores familiares da comunidade Vila Boa Sorte localizada no município de Pau D’arco
– PA, bem como suas potencialidades e limites.
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2 – Caracterização do municipio de Pau D’arco – PA
O município de Pau D´arco, localiza-se à margem direita do rio Araguaia, na
Mesorregião Ocidental do Tocantins, na microrregião de Araguaína, com as coordenadas
geográficas 07° 32’23’ de latitude e 49° 22’ 20’ de longitude, altitude de 143 metros.
Apresentando uma área de 1.671,42 km2, caracterizando-se pela presença do bioma
amazônico (IBGE, 2010).
Figura 01 – Mapa de localização do Município de Pau D’arco - PA.
Segundo dados do IBGE (2010), atualmente a população do município é de 6.029
sendo 3.641 população urbana e 2.388 rural, dos quais 3.176 são homens e 2.853 mulheres. A
origem do município se deve ao ciclo da borracha que no final do século XIX era explorada
no sertão do estado do Pará.
O espaço municipal é compartimentado em áreas de pastagens, seja natural (área de
cerrado) ou cultivada, que neste caso representam as áreas desmatadas e agredidas do seu
estado natural. Como todas as cidades da região possuem uma vegetação de transição entre a
mata do cerrado e floresta Amazônica, cortada por pequenos rios e córregos afluentes do rio
Pau D’arco que desemboca no rio Araguaia, com a tendência cultural de manutenção da
floresta de cerrado e derrubada das partes de mata fechada e densa, para a extração de madeira
e criação de gado. O solo é predominantemente, arenoso é pedregoso, de quartzo e
calcedônia. O clima é tropical, quente é úmido, com temperatura que varia de 20ºC a 40º C ao
longo do ano.
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3– Materiais e métodos
3.1 - A pesquisa foi dividida em duas etapas:
1ª etapa: elaboração do plano de trabalho e palestra na escola são pedro (03 de março a
22 de abril de 2010)
Essa primeira etapa consistiu da elaboração do plano de trabalho com vista a nortear o
desenvolvimento da pesquisa de campo, para tanto foi realizado: levantamento bibliográfico,
definição dos instrumentos de coleta, elaboração de um formulário para entrevistas.
Para nortear e direcionar a pesquisa nesta segunda etapa foram sugeridas as seguintes
questões:
1. Como os sujeitos do campo produzem as condições necessárias à sua existência material?
[econômica, social, cultural, ambiental].
2. Como os sistemas de produção familiares vêm sendo construídos pelos sujeitos do campo?
3. Como pensar sobre as condições atuais dos sistemas de produção dos/as educandos/as a
partir de uma abordagem que leve em conta as dimensões sociais, econômicas, culturais,
políticas e ambientais, na perspectiva da sustentabilidade dos territórios?
A partir destas questões, foi realizado um estudo amostral dos sistemas de produção de
10 (dez) famílias dos educandos/as da Escola de Ensino Fundamental São Pedro, na
Comunidade Vila Boa Sorte, do município de Pau D’arco – PA. Antes da seleção das famílias
também foi realizada uma palestra com os alunos para explica o objetivo do trabalho, sendo
na oportunidade selecionados os alunos através de sorteio e suas respectivas famílias.
2ª etapa: Atividades de Campo (02 a 20 de Maio de 2010)
Após a seleção das famílias foi orientado aos alunos para que verificassem junto as
suas famílias a possibilidade de receberem os pesquisadores em seus lotes para a realização
das entrevistas. Teve-se o cuidado para selecionar apenas as famílias que estivem atuando
(trabalhando) em seus lotes.
O diagnóstico do sistema de produção das famílias selecionadas realizou-se através de
um formulário previamente elaborado onde se buscou observar as características sociais,
culturais, econômicos e ambientais que envolvem a família e suas atividades de
sobrevivência. O formulário foi composto por 51 questões de caráter objetivo e subjetivo.
Também foi utilizado antes da realização das entrevistas um formulário de autorização de voz
e imagem concedidas pelo entrevistado. As visitadas a cada família foi marcada com
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antecedência, tendo em vista a distância que precisaríamos percorrer para visitar cada lote e o
tempo pouco disponível.
3.2- Área de estudo
Com a ajuda dos alunos na própria escola tivemos a exata localização dos lotes de cada
família a ser visitada. As visitas se deram a partir dos lotes mais distantes para as mais
próximas da Vila Boas Sorte, sendo estas realizadas de moto.
- Propriedades visitadas
Fonte: http://maps.google.com.br/maps Acessado em 10 de maio de 2010.
Durante as visitas as famílias nos receberam com muita receptividade, colaborando com
muito entusiasmo no preenchimento do formulário.
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4. Resultados e discussões
Segundo Luna (2005) as informações obtidas podem ser classificadas em factuais (sexo,
idade, estado civil, série que cursa, renda, religião, entre outras) e opinativas (crenças,
suposições, valores, entre outras). Ao planejamos os elementos que deveriam compor o
formulário para entrevista, alguns elementos factuais foram considerados permitindo que a
pesquisa não ficasse limitada apenas ao conhecimento do sistema de produção adotada pela
família. Após a coleta dos dados esses foram devidamente tabulados, analisados, interpretados
e apresentados através de tabelas e gráficos, como apresentados a seguir.
Ao observar os dados abaixo vermos que o universo das entrevistas se deu
basicamente através da ótica feminina, o que torna necessário uma maior compreensão do
papel da mulher no contexto agrário.
Entre os agricultores familiares entrevistados verificou-se que 70% são do sexo
feminino e 30% do sexo masculino, onde 70% apresentam faixa etária entre 40 e 45 anos
enquanto que 30% entre 30 a 35 anos e apenas 10% acima de 45 anos, não sendo encontrado
nenhum agricultor com idade abaixo dos 30 anos. Em se tratando do estado civil 60%
responderam serem casados e 40% encontra-se em situação de união estável. Interessante
demonstrar que dos agricultores entrevistados 50% são do estado do Pará, enquanto que 20%
do estado de Goiás, 10%Tocantins, 10%Ceará e 10% do Maranhão.
Para Alves et al (2008) estudos sobre a agricultura familiar, no tocante às famílias,
ainda que para discutir formas de ocupação, atuação, produção ou gestão,devem passar pelo
núcleo familiar, pois discutem a situação de lotes cujo trabalho vem das mãos de homens,
mulheres e crianças, e é nesse contexto que os papéis sociais de homens e mulheres vão sendo
pensados, vividos e questionados.
Em relação ao grau de escolaridade 70% possuem apenas o Ensino Fundamental
incompleto, freqüentaram somente até as primeiras séries da educação básica. Quanto à
participação em entidade representativa como: Sindicatos, Associações, Partidos Políticos,
60% revelaram que não participam de nenhuma das entidades citadas, sendo pouco
significativa a participação dos entrevistados em entidades representativas.
Dentre os aspectos culturais mais significativos destaca-se a religiosidade, onde 80%
indicaram serem católicos, sendo os evangélicos representados por apenas 20% dos
entrevistados. No que tange ao lazer 90% costumam realizar visitas aos parentes próximos,
reúnem-se em casa de amigos, vizinhos para conversarem, como apresentado na tabela 01
abaixo.
Para Teschel (2005):
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“... Essas relações de reciprocidade e de intercâmbio que ocorrem
entre os agricultores familiares, permitem a formação de redes sociais
decorrentes das conexões existentes de cada um dos membros dessas
redes com outros membros, cujas ligações podem ser por estruturas
informais das relações de reciprocidade, como o parentesco, o
compadrio, a vizinhança e amizade, e por estruturas formais, como a
igreja, o partido político, o movimento sindical, a associação, a
cooperativa, entre outros, o que demonstra a importância das
estruturas informais no processo de reprodução social do modo de
vida da agricultura familiar, com base nas relações sociais de
reciprocidade advindas das sociedades camponesas, não negando a
existência e importância para a agricultura familiar das estruturas
formais e dos processos de troca pelo intercâmbio dentro de um
sistema de produção capitalista.”
Assim, considera também que essas relações permitem entre outros aspectos
importantes como a pluriatividade e a luta organizada dos movimentos sociais representativos
da agricultura familiar, tem representado um papel fundamental para a resistência e
sobrevivência, e até mesmo, para o desenvolvimento de unidades familiares de produção
agropecuária no sistema econômico capitalista brasileiro.
Tabela 01 – Aspectos Sociais e Culturais dos Agricultores Entrevistados Na Comunidade de
Boa Sorte no Município de Pau D’arco - PA
ASPECTOS ABORDADOS
01
Sexo
02
Idade dos agricultores
03
Estado Civil
04
Estado de origem dos agricultores
05
Nível de Escolaridade
06
Número de filhos
07
Participação em entidades representativas
08
Religião
09
Lazer
PERCENTUAL DAS RESPOSTAS
Feminino = 70%
Masculino = 30%
30-35 anos = 20%
40-45 anos = 70 %
45 anos acima = 10%
Casado = 60%
União estável = 40%
Pará = 50%
Tocantins= 10%
Goiás = 20%
Maranhão = 10%
Ceará = 10%
Fundamental Incompleto = 70%
Fundamental Completo = 20%
Ensino Médio Incompleto =10%
3-4 filhos 60%
5-6 filhos = 40%
Sindicato dos Trabalhadores Rurais = 10%
Não têm participação nenhuma = 60%
Partido político = 10%
Associação = 20%
Católicas = 80%
Evangélicas = 20%
Saem p/ casa de parentes = 90%
Ficam em casa = 10%
Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo no município de Pau D’arco - PA. 2010
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As entrevistas revelaram que 60% dos entrevistados residem no município entre 10 a 20
anos e possuem as propriedades entre 6 a 13 anos, enquanto que 40% estão com o lote de 13 a
20 anos. Observou-se, no entanto que apenas 50% moram nos lote. Quando perguntados a
cerca do número de pessoas vivendo na mesma residência 60% indicaram que vivem 06
pessoas, já 20% tem de sete a oito pessoas morando sobre o mesmo teto. Todos indicaram
possuir renda entre 01 a 02 salários mínimos, tendo que complementar a renda através de
atividades fora do lote e com o auxilio da Bolsa Familiar, sendo essa renda utilizada
exclusivamente para as despesas da família. Quando os entrevistados foram questionados a
cerca da possibilidade de seus filhos permanecerem trabalhando na propriedade 90% disseram
que não querem essa vida para seus filhos, desejam que os mesmos estudem e que tenham
uma profissão.
Tabela 02 – Aspectos Econômicos dos Agricultores Entrevistados em Boa Sorte no
Município de Pau D’arco – PA
ASPECTOS ABORDADOS
PERCENTUAL DAS RESPOSTAS
Tempo que Reside no Município
10-20 anos = 60%
Mais de 20 anos = 40%
02
Tempo que possui a propriedade
6-13 anos = 60%
13-20 anos = 40%
03
Moram na propriedade
04
Pessoas que residem na mesma Casa
05
Renda Familiar
De 01 a 02 Salários = 100%
06
Complementação da Renda com ajuda do
Governo
Não tem = 10%
Bolsa Família = 90%
Profissão
Agricultor = 80%
Funcionário público = 20%
De 01 a 02 salários = 100%
01
07
Gastos da Família
08
Mora = 50%
Não mora = 50%
De 04 pessoas = 20%
De 06 pessoas = 60%
De 07 á 08 pessoas = 20%
Os pais querem que os filhos continuem Querem = 10%
na propriedade
Não querem = 90%
Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo –Pau D’arco - PA. 2010
Guilhoto et al (2005) demonstram que o setor agropecuário familiar é sempre lembrado
por sua importância na absorção de emprego e na produção de alimentos, especialmente
voltada para o autoconsumo, focalizando-se mais nas funções de caráter social do que as
econômicas, tendo em vista sua menor produtividade e incorporação tecnológica. Destaca
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ainda que a produção familiar, além de fator redutor do êxodo rural e fonte de recursos para as
famílias com menor renda, também contribui expressivamente para a geração de riqueza,
considerando a economia não só do setor agropecuário, mas do próprio país.
Todavia Galvão et al (2005) indica que a lógica de funcionamento interno da unidade
familiar de produção se apóia no equilíbrio entre o consumo e o trabalho. Trata-se de uma
microeconomia particular, em que o volume de atividade é função direta do número de
consumidores familiares e não do número de trabalhadores
Desta forma os produtores evoluem seguindo trajetórias diferentes, podendo passar de
uma categoria social a outra. Alguns estão em processo de acumulação de capital e outros em
descapitalização, sendo esta diferenciação social dos produtores o resultado da dinâmica das
relações de produção e trabalho em que se inserem (Guanziroli et al 2001).
O processo de ocupação do solo para 50% dos entrevistados se deu a partir da aquisição
pela compra da terra, 40% através da posse, enquanto que para 10% vivem no lote através do
arrendamento.
Verificou-se também a área das unidades familiares onde 50% dos agricultores possuem
uma área em torno de 01 a 02 alqueires, 20% têm de 18 a 50 alqueires, já 30% possuem 50 a
76 alqueires, respectivamente. Quanto à maneira que esses agricultores preparam a terra para
o plantio, 20% indicaram que usam do método da derrubada e queimadas e 80% esse preparo
se dá através de gradagem. Nesse contexto 50% dos entrevistados indicaram deixarem em
suas propriedades uma pequena área como reserva, buscando cumprir com a legislação
ambiental no que diz respeito à área de reserva legal, porém os demais 50% não possuem e/ou
não mantêm essa área de reserva, justificando que se obedecerem a legislação ambiental
quanto a proporção determinada para reserva legal não poderão produzir, uma vez que suas
propriedades são pequenas.
Os sistemas de produção desse grupo de agricultores têm como base a diversificação da
atividade agropecuária compreendendo o cultivo de lavouras perenes e anuais, assim como a
criação de pequenos e grandes animais. Dos entrevistados 90% plantam arroz, milho,
mandioca, feijão, banana. Apenas 10% indicaram que não realizar nenhum tipo de cultivo
agrícola, pois prefere ocupar a terra com a criação de gado. Quanto às criações consideram o
sistema de criação diversificado podendo ser observadas a criação de galinha, porco e gado.
Vale salientar a que num mesmo estabelecimento, havia consórcios de culturas e criação
animal. No tocante a comercialização, tanto o que é produzido no sistema de cultivo como o
de criação são comercializados nas feiras livres da região e revertidos para a alimentação da
família.
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Para Dufumier (1998) apud INCRA (2008), considerar que o sistema de produção de
um determinado estabelecimento agrícola pode ser definido “como uma combinação (no
tempo e no espaço) dos recursos disponíveis para a obtenção das produções vegetais e
animais”. Nesse contexto Sifuentes (2004) afirma também que os sistemas agrícolas seguem
uma trajetória de transformação de acordo com os interesses da família e dos recursos
disponíveis.
Sachs (2003) considera a agricultura familiar como alavanca para o Desenvolvimento
Rural, envolvendo além do acesso a terra, acesso ao conhecimento, às tecnologias
apropriadas, às infra-estruturas (estradas e energia, além de água para irrigação), ao crédito e
aos mercados, enfim elementos que envolvem uma abordagem sistêmica. Nessa abordagem
do Desenvolvimento Rural, destaca-se também a inclusão de um componente agroindustrial
nas pequenas propriedades rurais, as quais poderão criar empregos não-agrícolas.
Assim, também foi verificado o tipo de infra-estrutura presentes nos lotes dos
agricultores entrevistados (tabela 03) onde se observou que as moradias são constituídas por
estrutura de tijolos como coberturas de telhas, mas sem acabamento 40%, casa de tabua 30%,
casa de adobe 30%, sendo algumas cobertas por palhas. Destas 90% já fazem uso de energia
elétrica, porém com relação ao abastecimento da água, verifica-se que 50% fazem uso de
poços do tipo amazonas enquanto que 50% utilizam poços artesianos públicos. Contudo 60%
dos entrevistados indicaram possuírem córrego na propriedade, o que favorece para o
abastecimento do sistema produtivo adotado pela família. No tocante a preservação do
córrego apenas 50% considera a existência do córrego de suma importância tanto para suas
criações como para o fortalecimento da fauna e flora local buscando preservar a mata ciliar.
No entanto, o que se observa na região é que esse nível de consciência no que se refere a
preservação e conservação do meio ambiente tem despontando lentamente,pois a concepção
até então é o uso de todo potencial da terra . Na região de Pau d’ Arco as praticam agrícolas e
pecuária ainda se baseiam nas queimadas e retirada da mata nativa levando rapidamente ao
esgotamento e degradação da área, consequentemente ao seu abandono.Isso se dá em virtude
principalmente da descapitalização dos agricultores famílias para a recuperação desses áreas.
Outro aspecto observado foi o uso de insumos (fertilizantes, herbicidas, inseticidas etc.)
os quais consistem numa forma para os agricultores otimizarem sua produção, 60% dos
agricultores responderam fazer uso algum produto químico. O que mais preocupar, no entanto
é a forma de descarte das embalagens desse lixo tóxico, pois os mesmo são queimados ou
enterrados. Não bastando a aplicação desses produtos nos alimentos que serão consumidos
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pela população, ainda restara a poluição ambiental ocasionado pelo descarte incorreto dos
mesmos.
Compreendemos que é urgente a mudança desse modelo de agricultura convencional
por um modelo alternativo que sugere não apenas o conhecimento técnico, econômico e
estrutural, mas especialmente uma postura filosófica na forma de atuar. Este último envolve a
consciência do produtor de levar ao mercado alimentos mais saudáveis, utilizando dos recursos
próprios da propriedade, como o adubo orgânico, que contribui para a saúde do meio ambiente, e
do manejo integrado de pragas e do combate através de inimigos naturais, valorizando as plantas
mais resistentes, como sugere EHLERS (1996).
Tabela 03 – Aspectos de Infra-estrutura; Moradias, Energia, Água e ambientais dos
Entrevistados em Boa Sorte no Município de Pau D’arco – PA.
ASPECTOS ABORDADOS
PERCENTUAL DAS RESPOSTAS
01 Estrutura das Residências
Tijolos = 40%
Tabua = 30%
Adobe = 30%
02 Possui Luz Elétrica
Sim = 90%
Não = 10%
03 Tipo de Fornecimento de Água na
residência
Poços amazonas = 50%
Poço artesiano público = 50%
Carro, moto e Bicicleta =20%
Bicicleta= 30%
Moto= 20%
Moto e Bicicleta = 30%
Sim = 60%
Não = 40%
04 Meios de Transporte da família
05 Córrego na propriedade
Faz alguma coisa para preservar o
06 córrego
07
Usa produto químico
08 Lixo tóxico
09 Possuem pastagens
Sim = 50%
Não = 10%
Fertilizante = 50%
Pesticidas, inseticidas = 10%
Não usa = 40%
Queima = 50%
Joga céu aberto =10%
Sim = 50%
Não = 50%
Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo. Pau D’arco - PA. 2010
O gráfico 01 abaixo mostra a divisão do trabalho entre os agricultores onde 50% dos
trabalhos são desenvolvidos entre marido, mulher e filhos, 20% entre marido e mulher e 30%
contratam mão-de-obra.
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Segundo Silvestro (2001) apud Silva (2010), não existe atividade econômica na qual as
relações familiares tenham tanta importância quanto na agricultura. Considera que a maior
parte da agricultura contemporânea não se apóia na separação entre negócio e família, o local
de residência geralmente se confunde com o local de trabalho. Nesta unidade indissolúvel de
geração de renda que é a agricultura familiar, os filhos e filhas integram-se aos processos de
trabalho desde muito cedo, e aos poucos, vão assumindo as atribuições de maior importância,
eles chegam à adolescência dominando não só as técnicas, mas também os principais aspectos
da gestão do estabelecimento. Sendo a família o elemento básico da gestão da produção e do
trabalho, a produção e a reprodução do patrimônio e das pessoas integram-se em um processo
único.
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Marido e
esposa
Marido, esposa Contratam mãoe filhos
de-obra
GRÁFICO - 01: Referente à divisão do trabalho na propriedade.
Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo –Pau D’arco - PA. 2010
Para Mello (s/a) a agricultura familiar é uma forma de produção através da interação
entre gestão e trabalho; sendo os próprios agricultores que dirigem o processo produtivo,
trabalhando com a diversificação e utilizando o trabalho familiar, eventualmente
complementado pelo trabalho assalariado.
De acordo com Witkoski (2007) apud Silva (2010):
“O trabalhador rural e sua família, são vistos como uma
fonte de trabalho e de produção de valores de uso. O
trabalhador é um agente econômico e o chefe de sua
família, sua propriedade é uma unidade econômica de
produção de valores de uso para si e para os membros
de sua família. No espaço da propriedade, o produtor
rural e sua família, inseridos no mesmo ambiente social,
desenvolvem um estado de ser, uma forma de agir no
cotidiano, que se revela no modo quando este sujeito
age, na relação entre os meios e fins cortada por uma
singular visão de mundo.”
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Com a pesquisa foi possível observar que a maioria dos agricultores da comunidade Boa
Sorte ainda não tem uma produção desenvolvida capaz de suprir todas as suas necessidade e
consoante a isso abastecer o mercado de produção de forma significativa. Essa situação
implica para a comunidade em uma frustração levando a deseja que seus filhos não
permaneçam na propriedade ou mesmo retornem para ela. O desejo dos entrevistados é
possibilitar a saída dos filhos para as cidades, promovendo-lhes melhores condições de estudo
e vida.
5 – Considerações finais
Neste trabalho pretendeu-se mostrar o modo de vida da agricultura familiar na
comunidade Boa Sorte e o sistema de produção adotado. Observou-se que a diversificação do
sistema nestas unidades de produção proporciona menos degradação dos recursos naturais em
termos de processos erosivos, menos áreas de solos descobertos, desmatamentos e pastagens
não degradadas.
Após a coleta dos dados foi realizada uma reunião de socialização com as famílias
conferindo os dados e refletindo a cerca das dificuldades por eles vivenciadas e das
potencialidades presentes na propriedade.
Nesse contexto foram detectados alguns problemas como a relação aos produtores
familiares com a Associação dos Pequenos Produtores dos quais fazem parte. Pelo fato da
Associação está inadimplente junto aos órgãos de financiamento, os produtores filiados não
conseguem obter recursos que permitam o desenvolvimento dos seus lotes. Assim, pela falta
de credibilidade da Associação esses produtores familiares preferem não participarem ou
mesmo assumirem qualquer atividade junto à mesma. Alegam também que o que produzem
serve basicamente para a subsistência e ter um nível de comercialização permitindo com isso
continuarem ainda na propriedade.
O que ocorre frequentemente na região, em especial nas áreas de assentamentos é a
reconcentração de terras. Por não conseguirem manter a sustentabilidade da familiar alguns
produtores familiares vendem suas propriedades e vão morar na cidade, acreditando que iram
adquirir melhores condições de vida para a família.
Quando falamos de sustentabilidade é necessário que busquemos sua origem e
significados. Considera-se, inicialmente, que é um termo de origem latina: sustentare =
suster, suportar; defender, proteger, favorecer, auxiliar; manter, conservar em bom estado;
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fazer frente a e resistir (DICIONÁRIO LATIN-PORTUGUÊZ). Já o Novo Dicionário Aurélio
(2004) define sustentabilidade como a qualidade de ser sustentável.
Sachs (1993) indica que o termo sustentabilidade permeia cinco dimensões
Sustentabilidade social: o processo deve se dar de maneira que reduza substancialmente as
diferenças sociais; Sustentabilidade econômica; Sustentabilidade ecológica: compreende o
uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatíveis com sua mínima
deterioração;Sustentabilidade espacial/geográfica: Busca a relação mais equilibrada
cidade/campo e a Sustentabilidade cultural: significa traduzir o conceito normativo de
ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções particulares, que respeitem as
especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local.
Infelizmente, o que se observa é que os conceitos de sustentabilidade ainda passam
longe da realidade vivida pelos agricultores familiares dá nossa região, onde esses não
conseguem se quer satisfazer as necessidades básicas de sua familiar, como também terem
programas de educação que valorizem as especificidades do campo, Assistência Técnica que
possibilitem não só alavancarem sua produção, quanto mais orientarem quanto a melhor
forma de preservarem os recursos naturais, garantido lhes emprego, segurança social e
respeito.
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REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS
ALVES Maura Ferreira e GRASSI Maria de Fátima Oliveira Mattos Gênero e geração na
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