caracterização dos agricultores familiares da comunidade boa sorte
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caracterização dos agricultores familiares da comunidade boa sorte
CARACTERIZAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES DA COMUNIDADE BOA SORTE NO MUNICIPIO DE PAU D’ARCO NO SUDESTE DO PARÁ ATRAVÉS DE DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO Cléia Alves da Luz1 Isabel Sousa Brito1 Profª. M.Sc Maurizete da Cruz Silva2 e-mail: [email protected] Profº Esp Andrea Margarete de Almeida Marrafon2 e-mail: [email protected] Resumo O presente trabalho consistiu na realização do Tempo Comunidade (TC) como um processo de pesquisa-ação-reflexão junto à comunidade na qual os/as Educandos/as do PROCAMPO do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará –IFPA - campus Conceição do Araguaia estão inseridos, tendo como pressuposto um diálogo de saberes nos múltiplos espaços sociais presentes na comunidade, a exemplo de escolas, organizações sociais, etc. Buscou-se com esse estudo conhecer e identificar os sistemas de produção dos agricultores familiares da comunidade Vila Boa Sorte localizada no município de Pau D’arco – PA, bem como suas potencialidades e limites. O diagnóstico do sistema de produção das famílias selecionadas realizou-se através de um formulário previamente elaborado onde foram observadas as características sociais, culturais, econômicos e ambientais que envolvem a família e suas atividades de sobrevivência. O formulário foi composto por 51 questões de caráter objetivo e subjetivo. Também foi utilizado antes da realização das entrevistas um formulário de autorização de voz e imagem concedidas pelo entrevistado. Verificou-se que a agricultura familiar na comunidade tem como base a subsistência da família. Segundo os entrevistados essa realidade se dá por dificuldades de acesso ao crédito que proporcionaria a implementação de equipamentos/técnicas agrícolas. Outro fato interessante é que mesmo diante desse entrave os agricultores conseguem diversificar a produção, o que proporciona menos degradação dos recursos naturais em termos de processos erosivos, menos áreas de solos descobertos, desmatamentos e pastagens não degradadas. PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo 1 – Sistemas de Produção 2 – Agricultura Familiar _____________________________________________________________________________________________________ 1 – Educadoras do Campo Graduandas do Programa de Licenciatura em Educação do Campo – PROCAMPO (2009) –IFPACampus Conceição do Araguaia- PA 2 – Professoras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará- IFPA Campus Conceição do Araguaia-PA Coordenadoras do Tempo Comunidade do Procampo – Turma de Conceição do Araguaia - PA – 2009/2011.– Sudeste do Pará – - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. Rua Couto Magalhães, Nº1649 - Setor UniversitárioConceição do Araguaia – PA CEP:68.540-000 Telefone: ( 94) 3421-1974/3421-1962 2 1 – Introdução O presente trabalho consistiu na realização do Tempo Comunidade (TC) como um processo de pesquisa-ação-reflexão junto à comunidade na qual os/as Educandos/as do PROCAMPO do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará –IFPA campus Conceição do Araguaia estão inseridos, tendo como pressuposto um diálogo de saberes nos múltiplos espaços sociais presentes na comunidade, a exemplo de escolas, organizações sociais, etc. Esse Tempo Comunidade foi referenciado a partir do Eixo Temático do Tempo Acadêmico (TA), devendo nesse 2º TC inter-relaciona-se ao Eixo Espaço SocioAmbiental e Sustentabilidade do Campo. Assim, buscou-se manter um dialogo também com a pesquisa realizada no 1º Tempo Comunidade consistindo num estudo sobre os Sistemas de Produção e os Processos de Trabalho no âmbito da Agricultura Familiar. A agricultura familiar no Brasil demonstra-se como uma atividade de grande importância social, econômica e ambiental. Contudo, mesmo diante de tantas potencialidades, possui muitas fragilidades, em especial por se constituir em um universo profundamente heterogêneo, no que diz respeito às condições sociais e de produção, seja em termo, de acumulação, gestão da propriedade e dos recursos naturais, colocando o pequeno produtor rural na disputa da elevação sócio-política. Observando o Censo Agropecuário 2006 – IBGE verifica-se que a agricultura familiar é que alimenta a nação produzindo mais de 70% dos alimentos consumidos pelo povo brasileiro, mesmo com pouca terra e poucos incentivos de financiamento e crédito para produzir. Em relação ao número de estabelecimentos da agricultura familiar e o tamanho do território que eles ocupam 84,4% dos estabelecimentos rurais brasileiros estão dentro do perfil “estabelecimentos da agricultura familiar”, e ficam com apenas 24,3% do território ocupado no campo brasileiro. Os outros 15,6% dos estabelecimentos representam a agricultura “não familiar”, ou seja, o agronegócio, que por sua vez, fica com 75,7% das áreas ocupadas Assim, buscou-se com esse estudo conhecer e identificar os sistemas de produção dos agricultores familiares da comunidade Vila Boa Sorte localizada no município de Pau D’arco – PA, bem como suas potencialidades e limites. 3 2 – Caracterização do municipio de Pau D’arco – PA O município de Pau D´arco, localiza-se à margem direita do rio Araguaia, na Mesorregião Ocidental do Tocantins, na microrregião de Araguaína, com as coordenadas geográficas 07° 32’23’ de latitude e 49° 22’ 20’ de longitude, altitude de 143 metros. Apresentando uma área de 1.671,42 km2, caracterizando-se pela presença do bioma amazônico (IBGE, 2010). Figura 01 – Mapa de localização do Município de Pau D’arco - PA. Segundo dados do IBGE (2010), atualmente a população do município é de 6.029 sendo 3.641 população urbana e 2.388 rural, dos quais 3.176 são homens e 2.853 mulheres. A origem do município se deve ao ciclo da borracha que no final do século XIX era explorada no sertão do estado do Pará. O espaço municipal é compartimentado em áreas de pastagens, seja natural (área de cerrado) ou cultivada, que neste caso representam as áreas desmatadas e agredidas do seu estado natural. Como todas as cidades da região possuem uma vegetação de transição entre a mata do cerrado e floresta Amazônica, cortada por pequenos rios e córregos afluentes do rio Pau D’arco que desemboca no rio Araguaia, com a tendência cultural de manutenção da floresta de cerrado e derrubada das partes de mata fechada e densa, para a extração de madeira e criação de gado. O solo é predominantemente, arenoso é pedregoso, de quartzo e calcedônia. O clima é tropical, quente é úmido, com temperatura que varia de 20ºC a 40º C ao longo do ano. 4 3– Materiais e métodos 3.1 - A pesquisa foi dividida em duas etapas: 1ª etapa: elaboração do plano de trabalho e palestra na escola são pedro (03 de março a 22 de abril de 2010) Essa primeira etapa consistiu da elaboração do plano de trabalho com vista a nortear o desenvolvimento da pesquisa de campo, para tanto foi realizado: levantamento bibliográfico, definição dos instrumentos de coleta, elaboração de um formulário para entrevistas. Para nortear e direcionar a pesquisa nesta segunda etapa foram sugeridas as seguintes questões: 1. Como os sujeitos do campo produzem as condições necessárias à sua existência material? [econômica, social, cultural, ambiental]. 2. Como os sistemas de produção familiares vêm sendo construídos pelos sujeitos do campo? 3. Como pensar sobre as condições atuais dos sistemas de produção dos/as educandos/as a partir de uma abordagem que leve em conta as dimensões sociais, econômicas, culturais, políticas e ambientais, na perspectiva da sustentabilidade dos territórios? A partir destas questões, foi realizado um estudo amostral dos sistemas de produção de 10 (dez) famílias dos educandos/as da Escola de Ensino Fundamental São Pedro, na Comunidade Vila Boa Sorte, do município de Pau D’arco – PA. Antes da seleção das famílias também foi realizada uma palestra com os alunos para explica o objetivo do trabalho, sendo na oportunidade selecionados os alunos através de sorteio e suas respectivas famílias. 2ª etapa: Atividades de Campo (02 a 20 de Maio de 2010) Após a seleção das famílias foi orientado aos alunos para que verificassem junto as suas famílias a possibilidade de receberem os pesquisadores em seus lotes para a realização das entrevistas. Teve-se o cuidado para selecionar apenas as famílias que estivem atuando (trabalhando) em seus lotes. O diagnóstico do sistema de produção das famílias selecionadas realizou-se através de um formulário previamente elaborado onde se buscou observar as características sociais, culturais, econômicos e ambientais que envolvem a família e suas atividades de sobrevivência. O formulário foi composto por 51 questões de caráter objetivo e subjetivo. Também foi utilizado antes da realização das entrevistas um formulário de autorização de voz e imagem concedidas pelo entrevistado. As visitadas a cada família foi marcada com 5 antecedência, tendo em vista a distância que precisaríamos percorrer para visitar cada lote e o tempo pouco disponível. 3.2- Área de estudo Com a ajuda dos alunos na própria escola tivemos a exata localização dos lotes de cada família a ser visitada. As visitas se deram a partir dos lotes mais distantes para as mais próximas da Vila Boas Sorte, sendo estas realizadas de moto. - Propriedades visitadas Fonte: http://maps.google.com.br/maps Acessado em 10 de maio de 2010. Durante as visitas as famílias nos receberam com muita receptividade, colaborando com muito entusiasmo no preenchimento do formulário. 6 4. Resultados e discussões Segundo Luna (2005) as informações obtidas podem ser classificadas em factuais (sexo, idade, estado civil, série que cursa, renda, religião, entre outras) e opinativas (crenças, suposições, valores, entre outras). Ao planejamos os elementos que deveriam compor o formulário para entrevista, alguns elementos factuais foram considerados permitindo que a pesquisa não ficasse limitada apenas ao conhecimento do sistema de produção adotada pela família. Após a coleta dos dados esses foram devidamente tabulados, analisados, interpretados e apresentados através de tabelas e gráficos, como apresentados a seguir. Ao observar os dados abaixo vermos que o universo das entrevistas se deu basicamente através da ótica feminina, o que torna necessário uma maior compreensão do papel da mulher no contexto agrário. Entre os agricultores familiares entrevistados verificou-se que 70% são do sexo feminino e 30% do sexo masculino, onde 70% apresentam faixa etária entre 40 e 45 anos enquanto que 30% entre 30 a 35 anos e apenas 10% acima de 45 anos, não sendo encontrado nenhum agricultor com idade abaixo dos 30 anos. Em se tratando do estado civil 60% responderam serem casados e 40% encontra-se em situação de união estável. Interessante demonstrar que dos agricultores entrevistados 50% são do estado do Pará, enquanto que 20% do estado de Goiás, 10%Tocantins, 10%Ceará e 10% do Maranhão. Para Alves et al (2008) estudos sobre a agricultura familiar, no tocante às famílias, ainda que para discutir formas de ocupação, atuação, produção ou gestão,devem passar pelo núcleo familiar, pois discutem a situação de lotes cujo trabalho vem das mãos de homens, mulheres e crianças, e é nesse contexto que os papéis sociais de homens e mulheres vão sendo pensados, vividos e questionados. Em relação ao grau de escolaridade 70% possuem apenas o Ensino Fundamental incompleto, freqüentaram somente até as primeiras séries da educação básica. Quanto à participação em entidade representativa como: Sindicatos, Associações, Partidos Políticos, 60% revelaram que não participam de nenhuma das entidades citadas, sendo pouco significativa a participação dos entrevistados em entidades representativas. Dentre os aspectos culturais mais significativos destaca-se a religiosidade, onde 80% indicaram serem católicos, sendo os evangélicos representados por apenas 20% dos entrevistados. No que tange ao lazer 90% costumam realizar visitas aos parentes próximos, reúnem-se em casa de amigos, vizinhos para conversarem, como apresentado na tabela 01 abaixo. Para Teschel (2005): 7 “... Essas relações de reciprocidade e de intercâmbio que ocorrem entre os agricultores familiares, permitem a formação de redes sociais decorrentes das conexões existentes de cada um dos membros dessas redes com outros membros, cujas ligações podem ser por estruturas informais das relações de reciprocidade, como o parentesco, o compadrio, a vizinhança e amizade, e por estruturas formais, como a igreja, o partido político, o movimento sindical, a associação, a cooperativa, entre outros, o que demonstra a importância das estruturas informais no processo de reprodução social do modo de vida da agricultura familiar, com base nas relações sociais de reciprocidade advindas das sociedades camponesas, não negando a existência e importância para a agricultura familiar das estruturas formais e dos processos de troca pelo intercâmbio dentro de um sistema de produção capitalista.” Assim, considera também que essas relações permitem entre outros aspectos importantes como a pluriatividade e a luta organizada dos movimentos sociais representativos da agricultura familiar, tem representado um papel fundamental para a resistência e sobrevivência, e até mesmo, para o desenvolvimento de unidades familiares de produção agropecuária no sistema econômico capitalista brasileiro. Tabela 01 – Aspectos Sociais e Culturais dos Agricultores Entrevistados Na Comunidade de Boa Sorte no Município de Pau D’arco - PA ASPECTOS ABORDADOS 01 Sexo 02 Idade dos agricultores 03 Estado Civil 04 Estado de origem dos agricultores 05 Nível de Escolaridade 06 Número de filhos 07 Participação em entidades representativas 08 Religião 09 Lazer PERCENTUAL DAS RESPOSTAS Feminino = 70% Masculino = 30% 30-35 anos = 20% 40-45 anos = 70 % 45 anos acima = 10% Casado = 60% União estável = 40% Pará = 50% Tocantins= 10% Goiás = 20% Maranhão = 10% Ceará = 10% Fundamental Incompleto = 70% Fundamental Completo = 20% Ensino Médio Incompleto =10% 3-4 filhos 60% 5-6 filhos = 40% Sindicato dos Trabalhadores Rurais = 10% Não têm participação nenhuma = 60% Partido político = 10% Associação = 20% Católicas = 80% Evangélicas = 20% Saem p/ casa de parentes = 90% Ficam em casa = 10% Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo no município de Pau D’arco - PA. 2010 8 As entrevistas revelaram que 60% dos entrevistados residem no município entre 10 a 20 anos e possuem as propriedades entre 6 a 13 anos, enquanto que 40% estão com o lote de 13 a 20 anos. Observou-se, no entanto que apenas 50% moram nos lote. Quando perguntados a cerca do número de pessoas vivendo na mesma residência 60% indicaram que vivem 06 pessoas, já 20% tem de sete a oito pessoas morando sobre o mesmo teto. Todos indicaram possuir renda entre 01 a 02 salários mínimos, tendo que complementar a renda através de atividades fora do lote e com o auxilio da Bolsa Familiar, sendo essa renda utilizada exclusivamente para as despesas da família. Quando os entrevistados foram questionados a cerca da possibilidade de seus filhos permanecerem trabalhando na propriedade 90% disseram que não querem essa vida para seus filhos, desejam que os mesmos estudem e que tenham uma profissão. Tabela 02 – Aspectos Econômicos dos Agricultores Entrevistados em Boa Sorte no Município de Pau D’arco – PA ASPECTOS ABORDADOS PERCENTUAL DAS RESPOSTAS Tempo que Reside no Município 10-20 anos = 60% Mais de 20 anos = 40% 02 Tempo que possui a propriedade 6-13 anos = 60% 13-20 anos = 40% 03 Moram na propriedade 04 Pessoas que residem na mesma Casa 05 Renda Familiar De 01 a 02 Salários = 100% 06 Complementação da Renda com ajuda do Governo Não tem = 10% Bolsa Família = 90% Profissão Agricultor = 80% Funcionário público = 20% De 01 a 02 salários = 100% 01 07 Gastos da Família 08 Mora = 50% Não mora = 50% De 04 pessoas = 20% De 06 pessoas = 60% De 07 á 08 pessoas = 20% Os pais querem que os filhos continuem Querem = 10% na propriedade Não querem = 90% Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo –Pau D’arco - PA. 2010 Guilhoto et al (2005) demonstram que o setor agropecuário familiar é sempre lembrado por sua importância na absorção de emprego e na produção de alimentos, especialmente voltada para o autoconsumo, focalizando-se mais nas funções de caráter social do que as econômicas, tendo em vista sua menor produtividade e incorporação tecnológica. Destaca 9 ainda que a produção familiar, além de fator redutor do êxodo rural e fonte de recursos para as famílias com menor renda, também contribui expressivamente para a geração de riqueza, considerando a economia não só do setor agropecuário, mas do próprio país. Todavia Galvão et al (2005) indica que a lógica de funcionamento interno da unidade familiar de produção se apóia no equilíbrio entre o consumo e o trabalho. Trata-se de uma microeconomia particular, em que o volume de atividade é função direta do número de consumidores familiares e não do número de trabalhadores Desta forma os produtores evoluem seguindo trajetórias diferentes, podendo passar de uma categoria social a outra. Alguns estão em processo de acumulação de capital e outros em descapitalização, sendo esta diferenciação social dos produtores o resultado da dinâmica das relações de produção e trabalho em que se inserem (Guanziroli et al 2001). O processo de ocupação do solo para 50% dos entrevistados se deu a partir da aquisição pela compra da terra, 40% através da posse, enquanto que para 10% vivem no lote através do arrendamento. Verificou-se também a área das unidades familiares onde 50% dos agricultores possuem uma área em torno de 01 a 02 alqueires, 20% têm de 18 a 50 alqueires, já 30% possuem 50 a 76 alqueires, respectivamente. Quanto à maneira que esses agricultores preparam a terra para o plantio, 20% indicaram que usam do método da derrubada e queimadas e 80% esse preparo se dá através de gradagem. Nesse contexto 50% dos entrevistados indicaram deixarem em suas propriedades uma pequena área como reserva, buscando cumprir com a legislação ambiental no que diz respeito à área de reserva legal, porém os demais 50% não possuem e/ou não mantêm essa área de reserva, justificando que se obedecerem a legislação ambiental quanto a proporção determinada para reserva legal não poderão produzir, uma vez que suas propriedades são pequenas. Os sistemas de produção desse grupo de agricultores têm como base a diversificação da atividade agropecuária compreendendo o cultivo de lavouras perenes e anuais, assim como a criação de pequenos e grandes animais. Dos entrevistados 90% plantam arroz, milho, mandioca, feijão, banana. Apenas 10% indicaram que não realizar nenhum tipo de cultivo agrícola, pois prefere ocupar a terra com a criação de gado. Quanto às criações consideram o sistema de criação diversificado podendo ser observadas a criação de galinha, porco e gado. Vale salientar a que num mesmo estabelecimento, havia consórcios de culturas e criação animal. No tocante a comercialização, tanto o que é produzido no sistema de cultivo como o de criação são comercializados nas feiras livres da região e revertidos para a alimentação da família. 10 Para Dufumier (1998) apud INCRA (2008), considerar que o sistema de produção de um determinado estabelecimento agrícola pode ser definido “como uma combinação (no tempo e no espaço) dos recursos disponíveis para a obtenção das produções vegetais e animais”. Nesse contexto Sifuentes (2004) afirma também que os sistemas agrícolas seguem uma trajetória de transformação de acordo com os interesses da família e dos recursos disponíveis. Sachs (2003) considera a agricultura familiar como alavanca para o Desenvolvimento Rural, envolvendo além do acesso a terra, acesso ao conhecimento, às tecnologias apropriadas, às infra-estruturas (estradas e energia, além de água para irrigação), ao crédito e aos mercados, enfim elementos que envolvem uma abordagem sistêmica. Nessa abordagem do Desenvolvimento Rural, destaca-se também a inclusão de um componente agroindustrial nas pequenas propriedades rurais, as quais poderão criar empregos não-agrícolas. Assim, também foi verificado o tipo de infra-estrutura presentes nos lotes dos agricultores entrevistados (tabela 03) onde se observou que as moradias são constituídas por estrutura de tijolos como coberturas de telhas, mas sem acabamento 40%, casa de tabua 30%, casa de adobe 30%, sendo algumas cobertas por palhas. Destas 90% já fazem uso de energia elétrica, porém com relação ao abastecimento da água, verifica-se que 50% fazem uso de poços do tipo amazonas enquanto que 50% utilizam poços artesianos públicos. Contudo 60% dos entrevistados indicaram possuírem córrego na propriedade, o que favorece para o abastecimento do sistema produtivo adotado pela família. No tocante a preservação do córrego apenas 50% considera a existência do córrego de suma importância tanto para suas criações como para o fortalecimento da fauna e flora local buscando preservar a mata ciliar. No entanto, o que se observa na região é que esse nível de consciência no que se refere a preservação e conservação do meio ambiente tem despontando lentamente,pois a concepção até então é o uso de todo potencial da terra . Na região de Pau d’ Arco as praticam agrícolas e pecuária ainda se baseiam nas queimadas e retirada da mata nativa levando rapidamente ao esgotamento e degradação da área, consequentemente ao seu abandono.Isso se dá em virtude principalmente da descapitalização dos agricultores famílias para a recuperação desses áreas. Outro aspecto observado foi o uso de insumos (fertilizantes, herbicidas, inseticidas etc.) os quais consistem numa forma para os agricultores otimizarem sua produção, 60% dos agricultores responderam fazer uso algum produto químico. O que mais preocupar, no entanto é a forma de descarte das embalagens desse lixo tóxico, pois os mesmo são queimados ou enterrados. Não bastando a aplicação desses produtos nos alimentos que serão consumidos 11 pela população, ainda restara a poluição ambiental ocasionado pelo descarte incorreto dos mesmos. Compreendemos que é urgente a mudança desse modelo de agricultura convencional por um modelo alternativo que sugere não apenas o conhecimento técnico, econômico e estrutural, mas especialmente uma postura filosófica na forma de atuar. Este último envolve a consciência do produtor de levar ao mercado alimentos mais saudáveis, utilizando dos recursos próprios da propriedade, como o adubo orgânico, que contribui para a saúde do meio ambiente, e do manejo integrado de pragas e do combate através de inimigos naturais, valorizando as plantas mais resistentes, como sugere EHLERS (1996). Tabela 03 – Aspectos de Infra-estrutura; Moradias, Energia, Água e ambientais dos Entrevistados em Boa Sorte no Município de Pau D’arco – PA. ASPECTOS ABORDADOS PERCENTUAL DAS RESPOSTAS 01 Estrutura das Residências Tijolos = 40% Tabua = 30% Adobe = 30% 02 Possui Luz Elétrica Sim = 90% Não = 10% 03 Tipo de Fornecimento de Água na residência Poços amazonas = 50% Poço artesiano público = 50% Carro, moto e Bicicleta =20% Bicicleta= 30% Moto= 20% Moto e Bicicleta = 30% Sim = 60% Não = 40% 04 Meios de Transporte da família 05 Córrego na propriedade Faz alguma coisa para preservar o 06 córrego 07 Usa produto químico 08 Lixo tóxico 09 Possuem pastagens Sim = 50% Não = 10% Fertilizante = 50% Pesticidas, inseticidas = 10% Não usa = 40% Queima = 50% Joga céu aberto =10% Sim = 50% Não = 50% Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo. Pau D’arco - PA. 2010 O gráfico 01 abaixo mostra a divisão do trabalho entre os agricultores onde 50% dos trabalhos são desenvolvidos entre marido, mulher e filhos, 20% entre marido e mulher e 30% contratam mão-de-obra. 12 Segundo Silvestro (2001) apud Silva (2010), não existe atividade econômica na qual as relações familiares tenham tanta importância quanto na agricultura. Considera que a maior parte da agricultura contemporânea não se apóia na separação entre negócio e família, o local de residência geralmente se confunde com o local de trabalho. Nesta unidade indissolúvel de geração de renda que é a agricultura familiar, os filhos e filhas integram-se aos processos de trabalho desde muito cedo, e aos poucos, vão assumindo as atribuições de maior importância, eles chegam à adolescência dominando não só as técnicas, mas também os principais aspectos da gestão do estabelecimento. Sendo a família o elemento básico da gestão da produção e do trabalho, a produção e a reprodução do patrimônio e das pessoas integram-se em um processo único. 50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Marido e esposa Marido, esposa Contratam mãoe filhos de-obra GRÁFICO - 01: Referente à divisão do trabalho na propriedade. Fonte: Dados obtidos com a pesquisa de campo –Pau D’arco - PA. 2010 Para Mello (s/a) a agricultura familiar é uma forma de produção através da interação entre gestão e trabalho; sendo os próprios agricultores que dirigem o processo produtivo, trabalhando com a diversificação e utilizando o trabalho familiar, eventualmente complementado pelo trabalho assalariado. De acordo com Witkoski (2007) apud Silva (2010): “O trabalhador rural e sua família, são vistos como uma fonte de trabalho e de produção de valores de uso. O trabalhador é um agente econômico e o chefe de sua família, sua propriedade é uma unidade econômica de produção de valores de uso para si e para os membros de sua família. No espaço da propriedade, o produtor rural e sua família, inseridos no mesmo ambiente social, desenvolvem um estado de ser, uma forma de agir no cotidiano, que se revela no modo quando este sujeito age, na relação entre os meios e fins cortada por uma singular visão de mundo.” 13 Com a pesquisa foi possível observar que a maioria dos agricultores da comunidade Boa Sorte ainda não tem uma produção desenvolvida capaz de suprir todas as suas necessidade e consoante a isso abastecer o mercado de produção de forma significativa. Essa situação implica para a comunidade em uma frustração levando a deseja que seus filhos não permaneçam na propriedade ou mesmo retornem para ela. O desejo dos entrevistados é possibilitar a saída dos filhos para as cidades, promovendo-lhes melhores condições de estudo e vida. 5 – Considerações finais Neste trabalho pretendeu-se mostrar o modo de vida da agricultura familiar na comunidade Boa Sorte e o sistema de produção adotado. Observou-se que a diversificação do sistema nestas unidades de produção proporciona menos degradação dos recursos naturais em termos de processos erosivos, menos áreas de solos descobertos, desmatamentos e pastagens não degradadas. Após a coleta dos dados foi realizada uma reunião de socialização com as famílias conferindo os dados e refletindo a cerca das dificuldades por eles vivenciadas e das potencialidades presentes na propriedade. Nesse contexto foram detectados alguns problemas como a relação aos produtores familiares com a Associação dos Pequenos Produtores dos quais fazem parte. Pelo fato da Associação está inadimplente junto aos órgãos de financiamento, os produtores filiados não conseguem obter recursos que permitam o desenvolvimento dos seus lotes. Assim, pela falta de credibilidade da Associação esses produtores familiares preferem não participarem ou mesmo assumirem qualquer atividade junto à mesma. Alegam também que o que produzem serve basicamente para a subsistência e ter um nível de comercialização permitindo com isso continuarem ainda na propriedade. O que ocorre frequentemente na região, em especial nas áreas de assentamentos é a reconcentração de terras. Por não conseguirem manter a sustentabilidade da familiar alguns produtores familiares vendem suas propriedades e vão morar na cidade, acreditando que iram adquirir melhores condições de vida para a família. Quando falamos de sustentabilidade é necessário que busquemos sua origem e significados. Considera-se, inicialmente, que é um termo de origem latina: sustentare = suster, suportar; defender, proteger, favorecer, auxiliar; manter, conservar em bom estado; 14 fazer frente a e resistir (DICIONÁRIO LATIN-PORTUGUÊZ). Já o Novo Dicionário Aurélio (2004) define sustentabilidade como a qualidade de ser sustentável. Sachs (1993) indica que o termo sustentabilidade permeia cinco dimensões Sustentabilidade social: o processo deve se dar de maneira que reduza substancialmente as diferenças sociais; Sustentabilidade econômica; Sustentabilidade ecológica: compreende o uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatíveis com sua mínima deterioração;Sustentabilidade espacial/geográfica: Busca a relação mais equilibrada cidade/campo e a Sustentabilidade cultural: significa traduzir o conceito normativo de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções particulares, que respeitem as especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local. Infelizmente, o que se observa é que os conceitos de sustentabilidade ainda passam longe da realidade vivida pelos agricultores familiares dá nossa região, onde esses não conseguem se quer satisfazer as necessidades básicas de sua familiar, como também terem programas de educação que valorizem as especificidades do campo, Assistência Técnica que possibilitem não só alavancarem sua produção, quanto mais orientarem quanto a melhor forma de preservarem os recursos naturais, garantido lhes emprego, segurança social e respeito. 15 REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS ALVES Maura Ferreira e GRASSI Maria de Fátima Oliveira Mattos Gênero e geração na agricultura familiar: espaços de resistência. Relações de gênero; geração; agricultura familiar ST 17 - Instituições, representações sociais de gênero e conflitos sociais. Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder - Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008. Disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST17/Alves-Grassi_17.pdf DIAS, Mariza Souza e RIBEIRO, Dinalva Donizete. Sistemas de Produção e Níveis de Capitalização dos Agricultores Familiares de Jataí-GO. Disponível: http://www.eregeo.agbjatai.org/anais/textos/74.pdf DUFUMIER, Marc e COUTO, Vitor de Athayde. Neoprodutivismo. Caderno CRH, n.28, p.81-112. Salvador: EDUFBA, jan/jun 1998. Divisão Territorial do Brasil e Limites Territoriais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (1 de julho de 2008). Página visitada em 11 de outubro de 2008. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pau-d'Arco_(Par%C3%A1)Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Resultados do Censo 2010. Disponívelem:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/tota l_populacao_para.pdf Erildo Vicente de Oliveira – Historico do municipio de Pau D´arco. Disponivel em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/historicos_cidades/historico_conteudo.php?codmun=17163 0 EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. 1ª São Paulo: Editora São Paulo, 178 p. 1996. INCRA, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Guia Metodológico: Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários. Disponível em: http://www.incra.gov.br/_htm/serveinf/_htm/pubs.htm. Acesso em: ago. 2004. SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI: IN: BURZSZTYN, Marcel (org). Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993. SIFUENTES, J. A. M (Coord.). Sistemas de Producción Agropecuaria. Universidad de Guadalajara, Tepatitlán de Morelos, Jalisco, México. Octubre de 2004. SILVA, Sandra Helena da. e ROCHA, Sandra Damasceno da. A divisão sexual do trabalho na agricultura familiar na Amazônia: o “não trabalho feminino” Universidade Federal do Amazonas – UFAM. RELEM – Revista Eletrônica Mutações, julho –janeiro, 2010 Disponível em: http://www.relem.info/index.php/relem/article/viewFile/7/12 SCHNEIDER, Sérgio.Teoria Social, Agricultura Familiar e Pluriatividade. Revista Brasileira de Ciências Sociais – RBCS. Vol. 18 nº. 51 fevereiro/2003. Disponível em :