A terrível escalada da semana santa

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A terrível escalada da semana santa
18
Abril
A terrível escalada da semana santa
POSTADO POR ADMIN ÀS 20:47
A TERRIVEL ESCALADA DA SEMANA SANTA
Eduardo Hoornaert.
Escrevo estas notas na véspera de sexta-feira santa. O que piedosamente chamamos ‘semana santa’
é, quando lemos os evangelhos, na realidade uma terrível escalada de acontecimentos que envolvem
Jesus, a partir da ‘entrada triunfal’ em Jerusalém. O evangelho de Marcos conta a história num
ritmo nervoso, a partir do capítulo 11. Anota o que acontece dia após dia. Já antes, Jesus não é uma
figura desconhecida nos ambientes governamentais. Não faltam acusações que chegam aos ouvidos
das autoridades: ele não segue a lei de Moisés, não considera os ‘filhos de Abraão’, pois diz que se
pode fazer um ‘povo eleito’ com ‘pedras’, discute sobre temas que são da alçada das autoridades e
tem a incrível ousadia de insinuar que os sumos sacerdotes têm de devolver as terras que usurparam.
Eis o caso: diante da pergunta insidiosa sobre pagamento de impostos (Mc 12, 13-14), Jesus
responde primeiramente que é preciso ‘devolver (o verbo é esse) a César o que é de César’ (ou seja,
devolver o denário a César: não contém sua imagem?). Mas depois ele ataca, embora de forma
velada, a suprema autoridade religiosa da Palestina: ‘devolvam a Deus o que é de Deus’. Ora, o que
é de Deus? O livro Levítico responde: ‘a terra é de Deus’ (Lv. 25, 33). Acontece que os sumos
sacerdotes possuem as melhores terras da Palestina. Eis uma insinuação pesada, e as autoridades
compreendem que se trata. Elas se convencem de que estão diante de uma pessoa ‘perigosa’.
Mas o maior medo, em Jerusalém, provém do enorme sucesso de Jesus junto ao povo da Galileia.
Esse povo, sempre explorado pelo governo de Jerusalém (por meio dos impostos), bem que pode um
dia se voltar, ‘em nome de Jesus’, contra os que detêm o poder. Não é um medo infundado, pois o
sucesso de Jesus na Galileia é incontestável. Marcos relata em numerosos trechos do evangelho e
com abundância de detalhes que, por onde Jesus passa, aglomerações se formam. Os líderes em
Jerusalém já mandaram diversos emissários para a Galileia para ver o que se passava, mas não
conseguem reunir argumentos definitivos contra Jesus. Quando este está em Jerusalém por ocasião
das festas de Páscoa, e depois que faz sua ‘entrada’ em Jerusalém (que é na realidade uma paródia,
pois imita entradas triunfais de tropas romanas), o governo percebe que está diante de uma
oportunidade única de prendê-lo. Assim se inicia uma terrível escalada de acontecimentos, que
termina com a morte de Jesus. A partir do capítulo 11, um ritmo acelerado toma conta da prosa de
Marcos, que anota tudo. No dia após a ‘entrada triunfal’, Jesus volta ao templo (ele não dorme na
cidade, mas se hospeda em Betânia) e, com ímpeto, expulsa os cambistas. Uma ação de grande
ousadia que repercute fortemente nos meios governamentais. A partir desse momento, as coisas não
param mais. No terceiro dia acontece mais uma discussão tensa com letrados e fariseus (comento
sucessivamente Mc 11, 1-11; 11, 15-19 e 11, 27-33) e assim os atritos vão se sucedendo, dia após dia.
Jesus sabe que corre perigo iminente. No início das festividades da páscoa, depois de rezar o salmo
com seus apóstolos, ele resolve ir se esconder com eles no Monte das oliveiras (Mc 14, 26). O
evangelho de Lucas conta até que alguns dos apóstolos vão armados. Mas não adianta: as forças de
segurança, guiados por Judas, descobrem o esconderijo. Jesus é preso como um ‘bandido’ (como
afirmam os três evangelhos sinóticos: Mc 14, 48; Mt 26, 65 e Lc 22, 52). O julgamento é sumário e
Jesus acaba morrendo em cima de uma cruz, entre ‘bandidos’ (Mc 15, 27; Mt 27, 38; Lc 23, 33).