pastagens forragens - Pastagens e Forragens

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pastagens forragens - Pastagens e Forragens
pastagens
e
forragens
Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens
19
PASTAGENS E FORRAGENS
Revista da Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens
VOLUME 19
Este número foi subsidiado pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia
Elvas
1998
AVALIADORES CONVIDADOS PARA ESTE VOLUME
David Gomes Crespo
J. M. Abreu
J. M. Neves Martins
J. Quelhas dos Santos
M. M. Tavares de Sousa
Nuno Moreira
Valdemar P. Carnide
DIRECTOR
M. M. Tavares de Sousa
CORPO DE REDACÇÃO
Noémia Farinha
Eulália Garcez
M. M. Tavares de Sousa
EDIÇÃO, REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens
A/c ENMP
Apartado 6
7350-951 ELVAS
ISSN 0870-6263
Dep. Legal n.º 12 350/86
Tiragem: 725 exemplares
PREÇO DESTE VOLUME
2.250$00
As teorias expostas no presente
volume são da inteira responsabilidade dos seus autores.
Esta revista é distribuída gratuitamente aos sócios da SPPF, devendo todos os pedidos de
aquisição ser feitos directamente para o Editor. Igualmente será objecto de permuta com
outras publicações periódicas, nacionais ou estrangeiras, de interesse para esta Sociedade.
Pastagens e Forragens
VOLUME 19
1998
S U M Á R I O
Páginas
Homenagem ao Eng.º Agrónomo David Gomes Crespo
1-3
Influência da altitude em caracteres agronómicos em germoplasma de Dactylis.
Violeta Lopes, Aida Reis
5-17
Eficiência da adubação e da repartição do azoto na produção e composição
química do milho (Zea mays l.) silagem no Entre Douro e Minho. António
Fernandes, João Costa, Nuno Moreira
19-30
Novas potencialidades para a produção forrageira na Beira Interior. L. Gusmão,
E. Bettencourt, L. Gerson, J. Lavado, F. Matos-Soares, A. Marques, M.ª João
Frazão, L. Pombal, A. Antunes
31-35
Utilização conjunta de lamas celulósicas e águas residuais urbanas na cultura do
sorgo. Efeito sobre a produção e composição mineral das plantas. S. T. Campos;
M. C. Horta-Monteiro; João Paulo Carneiro
37-49
O melhoramento das pastagens de montanha. Nuno Moreira
51-60
A utilização de pastagens e forragens e a conservação do solo. Exemplos da
erosão verificada num Solo Litólico Não Húmico de xisto mosqueado na região de
Castelo Branco. P. M. S. Lopes, J. N. P. Goulão, N. R. S. Cortez
61-71
Zonas de distribuição de cultivares de trevo subterrâneo em Portugal. Uma nova
abordagem. Noémia Farinha, Francisco Mondragão-Rodrigues, Gonçalo
Barradas, J. M. Abreu
73-80
Aplicações dos sistemas de informação geográfica em estudos sobre pastagens e
forragens. Francisco Mondragão-Rodrigues, Noémia Farinha, Gonçalo Barradas,
J. M. Abreu
81-85
Influência da silagem de Triticale em duas fases de corte, com dois níveis de
concentrado, na engorda de novilhos Mertolengos. J. M. Arranja, D. Almeida, F.
Engeitado, J. Efe Serrano
87-97
Fluxos de azoto em explorações de bovinicultura leiteira intensiva no Noroeste de
Portugal. Henrique Trindade, João Coutinho, Nuno Moreira
99-112
Valor de pastoreio das comunidades arbustivas da reserva natural da serra da
malcata. Francisco Castro Rego, Paula Cristina Cardoso Gonçalves, Sofia
Castelbranco da Silveira
113-119
Caracterização técnico-económica da produção da vitela tradicional do montado.
Sónia Isabel Simões Calção, Maria Raquel Ventura Lucas
121-134
XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, 5 a 8 de Maio de 1998. A
produção de pastagens e forragens na Beira Interior – das serras à campina. Conclusões
135-136
Perspectivas de eleição das primeiras cultivares portuguesas de trevo subterrâneo.
Noémia Farinha, M. M. Tavares de Sousa, A. M. Romano
137-144
As saponinas das forragens. Notas gerais sobre estes compostos. M. Alexandra
Oliveira, J. M. Abreu
145-157
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 1–3.
HOMENAGEM AO
ENG.º AGRÓNOMO DAVID GOMES CRESPO
O Homem que homenageamos, recentemente desligado da função púlica,
começou a sua actividade profissional na Beira Litoral, num trabalho sobre
vinhos, que serviu de relatório de fim de curso, no qual obteve a classificação
de 17 valores. Passou depois pela Junta de Colonização Interna onde trabalhou
em solos. Pouco mais tarde, em 1959, ingressou na Estação de Melhoramento
de Plantas, onde se fixou após concurso documental para admissão de Engenheiros Agrónomos, tendo ficado em 1.º lugar. Depois de passar pela Estatística e pelo Departamento de Melhoramento de Cereais é colocado a seu pedido
no Departamento de Forragens e Pastagens. Já a trabalhar neste Departamento,
é-lhe concedida uma bolsa, do British Council e do Instituto de Alta Cultura,
para realizar um estágio, na Grã-Bretanha, sobre melhoramento e experimentação de plantas forrageiras. Neste estágio, verificou quão pobre era a investigação portuguesa quando comparada com a inglesa. Deve ter-se sentido feliz por
poder aprender em instituições, de tal grandeza e com pena de não poder
desenvolver todos esses conhecimentos em Portugal, com tão pouco pessoal e
condicionalismos de toda a espécie.
Mas a força de vencer é tal que jamais para!
Consegue boas colecções, bons ensaios, o obtém resultados de tal modo
credíveis que dignificam a Instituição e o País.
Entre o material trabalhado contam-se cerca de seis mil entradas, provenientes de introduções de vinte e três países e de material espontâneo da
flora de Portugal. Também consegue estabelecer prados e colecções, um pouco por todo o País, num total de 1200 ha aproximadamente.
Mais tarde, estabeleceu ensaios de pastoreio, quer em sequeiro, quer em
regadio. Embora contra a opinião de muitos notáveis, os campos de ensaios,
denominados pelos críticos como os campos de concentração, são mantidos
durante vários anos, até à obtenção final dos resultados. Os ensaios foram de
tal modo bem conduzidos e produziram tantos e importantes resultados, que
foram considerados por muitos especialistas como um modelo de investigação.
1
Simultaneamente, são criadas todas as condições para o funcionamento
do Departamento de Forragens e Pastagens, desde a construção de estufas e
bancadas de cultura, aquisição de secadores, máquinas e outro equipamento,
ampliação das instalações, etc. Pela primeira vez se fez em Portugal a produção industrial e aplicação de inoculantes em algumas espécies de leguminosas
pratenses, nomeadamente trevo subterrâneo e luzernas.
Investigador principal em 1978 é pouco depois Assessor do Secretário
de Estado da Produção Agrícola e em 1985 vai em comissão de serviço para
a FAO, onde em 1991 atinge o nível P5 (categoria máxima), tendo aí participado em 83 missões, repartidas por 41 países.
Em Portugal participou e colaborou na organização de inúmeros colóquios e simposia, tendo coordenado um Programa Nacional de Investigação e
Desenvolvimento do Sector de Forragens e Pastagens, em colaboração com
os Serviços Regionais de Agricultura.
Participou e dirigiu diversas reuniões, congressos e outras actividades
científicas, em Portugal e no estrangeiro.
Durante a sua vida profissional, elaborou mais de quarenta trabalhos,
científicos e técnicos, que foram publicados em revistas nacionais e estrangeiras. Dada a importância destas publicações, a sua consulta é de aconselhar
a todas as pessoas ligadas ao sector agro-pecuário.
Deu aulas no Instituto Superior de Agronomia, na Universidade de Évora,
na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e na Universidade dos
Açores. Proferiu variadas palestras e conferências dirigidas a técnicos e agricultores.
Em 1978/79 organiza, dirige e lecciona um curso de 12 semanas, distribuídas por 14 meses, destinado a formar 22 engenheiros agrónomos, originários das diversas Regiões Agrárias do País, na temática de pastagens e forragens. Durante este período de tempo foi-se desenvolvendo a ideia da criação
da Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens, o que aconteceu em
1979, no fim do curso, com a realização da escritura pública no Cartório
Notarial de Elvas, em 24 de Maio de 1979, após a elaboração e discussão
dos estatutos. Assim, o Eng.º Crespo foi o arquitecto da nossa Sociedade e é
o Sócio Fundador n.º 1.
Perante um curriculum tão grandioso, a pergunta que se formula é esta:
– Como é possível fazer tanto em tão pouco tempo?
Na verdade, tal só foi possível graças ao empenhamento e elevado espí-
2
PASTAGENS E FORRAGENS 19
rito de missão com que o Eng.º David Crespo concretizava os planos de
trabalho, o que lhe acarretava, por vezes, grandes sacrifícios pessoais. A tudo
isto só tenho a acrescentar que foi sempre correcto no trato e nunca deixou
de esclarecer as pessoas que o solicitavam.
A homenagem que aqui prestamos ao Eng.º Crespo é apenas um acto
simbólico, porquanto este Homem devia ter uma homenagem a nível Nacional, pois foi sem dúvida a pessoa que mais lutou para que o Sector das
Forragens e Pastagens fosse um dos motores de Desenvolvimento do País.
Pelo que fez e pelo que nos legou jamais será esquecido, porquanto a
história nunca esquece os Homens que directa ou indirectamente contribuem
para o engrandecimento e prestígio do seu País.
Vaiamonte, 13 de Abril de 1999
António Machado Romano
PASTAGENS E FORRAGENS 19
3
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 5–17.
INFLUÊNCIA DA ALTITUDE EM CARACTERES AGRONÓMICOS
EM GERMOPLASMA DE DACTYLIS*
Violeta Lopes, Aida Reis
Estação Regional de Culturas Arvenses – Direcção Regional de Agricultura de Entre
Douro e Minho – Quinta de S. José – S. Pedro de Merelim – 4700 BRAGA
RESUMO
A espécie Dactylis glomerata L. é uma gramínea vivaz de grande expressão nos
pastos naturais por todo o País. Embora tenha grande adaptação às nossas condições
ambientais e apresente um bom valor agronómico e alimentar para os animais, há pouca
tradição na sua utilização em prados semeados. A Estação Regional de Culturas Arvenses
(ERCA) possui uma pequena colecção de germoplasma do género Dactylis, com tipos
diplóides e tetraplóides, que está em avaliação e caracterização desde 1994. Um total de 16
amostras estão a ser estudadas em microensaio com sementeira a lanço e segundo um
delineamento estatístico de blocos casualizados de quatro repetições. Os parâmetros
analisados foram a produção de matéria verde (MV) e de matéria seca (MS). Os resultados
foram sujeitos à análise de variância e à análise multivariada (componentes principais e
UPGMA). Foram, igualmente, estabelecidas regressões lineares entre a altitude e a
produção de MV e a de MS. Embora com apenas dois anos de ciclo de produção, há
indicações de que há variabilidade genética interpopulações para a capacidade produtiva e
de que o factor altitude é determinante para a expressão dessa variabilidade (a menores
cotas correspondem maiores produções de matéria verde e seca). Para estabelecer estratégias de prospecção da máxima biodiversidade e variabilidade genética do género Dactylis, no
caso do Entre Douro e Minho, parece ser importante atender à altitude.
PALAVRAS-CHAVES: Dactylis glomerata; Germoplasma; Potencial produtivo; Variabilidade genética.
ABSTRACT
Relationships between agronomic traits (yield (forage, dry matter), 1000-grain
weight and persistence) of 16 natural populations from Northwest of Portugal and altitude
of their original sites were studied. The objectives were to study the altitude influence in
*
Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Abril
de 1998.
Este trabalho foi elaborado no âmbito do Projecto PAMAF 1013 – “Colheita,
avaliação, conservação e utilização do germoplasma das espécies herbáceas da Região
Norte”, 1995-1999.
5
the yield potential and improve the model of prospecting the genetic variability. An
analysis of variance and the linear regression between yield and altitude were done. To
classify the germplasm, an analysis of principal components (ACP) and a hierarchical
clustering (UPGMA) method were applied. Populations from lowest altitude showed
better potential productive (dry matter, persistence) and great variability interpopulations.
KEY WORDS: Dactylis glomerata; Genetic variability; Germplasm; Yield potential.
1 – INTRODUÇÃO
Desde os anos trinta que o género Dactylis tem estado sob a atenção de
um grande número de investigadores (1, 5, 7, 12, 13). Os estudos contemplaram vários domínios do conhecimento, distribuindo-se pela citogenética, evolução e recursos genéticos, melhoramento e agronomia.
Lumaret (7) classifica o género Dactylis como um complexo poliplóide
natural intraespecífico.
A distribuição primária de Dactylis glomerata compreende 15 subespécies
diplóides e 3 subespécies tetraplóides. Os citotipos tetraplóides (glomerata,
hispanica, marina) têm uma larga distribuição geográfica, estendendo-se desde o litoral até às zonas montanhosas e estão associados, respectivamente,
aos climas temperados, mediterrânicos e subtropicais. As formas diplóides
são menos abundantes e existem em regiões precisas, muitas vezes em "simpatia" com os tetraplóides. Segundo os critérios morfogeográficos existem
dois grupos de diplóides: o grupo Euroásio, com 6 subespécies e o grupo
Mediterrâneo com 9 subespécies.
Vários autores (1, 2, 3, 6, 10, 13) indicam que em Portugal, atendendo à
distribuição primária das subespécies de Dactylis glomerata, se regista a existência de formas tetraplóides (glomerata, hispanica, marina, smithii e hylodes, as
duas últimas apenas na Ilha da Madeira) e de diplódes (tipo galician e lusitanica).
Mousset, nas várias expedições que realizou em Portugal, encontrou na
região de Entre Douro e Minho (EDM) sobretudo a subespécie galician e a
subespécie glomerata (4, 10).
No EDM, esta espécie é a principal gramínea, com valor forrageiro, da
maioria dos prados naturais. Este facto indica a grande adaptação da espécie
às condições ecológicas do EDM.
Estudos sobre a biodiversidade desta espécie deverão ser feitos com
vista à sua potencial integração em programas de melhoramento de plantas.
Enquadrado no Projecto PAMAF 1013, pretendeu-se estudar a influência da
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PASTAGENS E FORRAGENS 19
altitude de colheita na expressão do potencial agronómico. Considera-se que
os resultados proporcionarão indicações com interesse em futuras estratégias
de prospecção da biodiversidade na região minhota.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas dezasseis populações de Dactylis glomerata L.(panasco)
utilizando-se a cultivar Currie como testemunha. O estudo teve início em
1995 (instalação em Novembro) com o fim previsto para 1998. Os resultados
apresentados referem-se até ao fim do ciclo de exploração do ano 1997. O
delineamento estatístico seguido foi o de blocos casualizados com quatro
repetições, em microensaio (talhões não contíguos de 1 m2). A dose de sementeira foi de 7 kg/ha. O regime de aproveitamento foi o corte em verde,
simulando o pastoreio, ao longo do ciclo de produção em que o último corte
correspondeu ao estado de floração (quadro 1). Após cada corte aplicaram-se
40 unidades de azoto por hectare.
QUADRO 1 – Datas de corte e respectiva fase do ciclo vegetativo.
CICLOS DE PRODUÇÃO
1.º CICLO
2.º CICLO
DATAS
RITMO DE EXPLORAÇÃO DE CORTE
FASE DO CICLO
VEGETATIVO
Produção no ano de
instalação (A0)
13/6/96
30/8/96
início do espigamento
início da floração
Produção de Outono
Produção de Inverno
Produção ao início da
Primavera
Produção de Primavera
Produção no final da
Primavera
Produção estival
14/11/96
5/2/97
14/3/97
estado vegetativo
estado vegetativo
recrescimento vegetativo
24/4/97
23/5/97
recrescimento vegetativo
estado vegetativo/início
do espigamento
início da floração
11/7/97
Os parâmetros registados foram as produções de matéria verde (MV) e
seca (MS). Estas variáveis foram sujeitas à análise de variância com o programa MSTAT v. 3.0 (1982). Realizou-se a matriz de correlações entre os
parâmetros MV, MS, número de plantas após dois ciclos de produção (indicador da persistência do material) e alguns dados de passaporte (% de germinação da amostra à colheita, peso de 1000 grãos da amostra e altitude de
colheita) (quadro 2). Estas variáveis foram sujeitas à análise em componentes
principais (ACP) e hierarquização pelo método UPGMA (average) recorrendo
ao programa JMP Statistics and Graphics Guide v. 3.0 (1993).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
7
QUADRO 2 – Dados de passaporte.
Nº de
Colecção
População
00220
00219
00158
00228
00221
00210
00231
00215
00230
00125
00217
00213
00130
00216
00226
00223
30/95
29/95
18/94
36/95
31/95
22/95
39/95
25/95b
38/95
10/92
27/95
24/95
15/92
26/95
34/95
32/95
Local de origem
Peso de 1000
% de
grãos (g)
germinação
S. Eugénia - Braga/Barcelos
S. Vicente Bico - Sequeiros - Braga
A. Valdevez
Correlhã - P. Lima
Barqueiros - Barcelos/P. Varzim
Valdozende - S. M. Bouro/T. Bouro
Oleiros - Braga/P. Lima
Leonte - PNPG
Monte de Friastelos - S. Julião Freixo
S, Peneda - Melgaço
Vilar - T. Bouro
Caldas Gerês - PNPG
Cabreiro - A. Vald.
Campo Gerês - PNPG
Amorosa - V. Castelo
Apúlia
0,636
0,767
0,692
0,492
0,716
0,694
0,816
0,750
0,740
0,637
0,631
0,514
0,774
0,630
76,5
74,5
92,0
?
80,0
74,0
80,0
?
78,0
79,3
74,5
61,0
94,4
58,5
72,5
77,0
Altitude
(m)
79
120
160
40
50
195
90
690
220
625
260
325
60
550
39
30
3 – RESULTADOS
3.1 – Capacidade produtiva
O germoplasma em avaliação tem variabilidade interpopulações quanto à
capacidade produtiva tanto de matéria verde como de matéria seca (quadro 3,
figura 1). Aparentemente a persistência (ou n.º médio de plantas por população ao fim de 8 cortes) não afectou a produção, mas este factor será analisado do ponto de vista das componentes principais. Os resultados obtidos mostram que na região do Entre Douro e Minho o germoplasma de Dactylis tem
interesse sob o ponto de vista produtivo, tendo potencial de produção ao
nível do esperado para este género (9) e superior à testemunha.
Na figura 2 apresenta-se a evolução da produção de matéria seca por
hectare comparando germoplasma colhido em diferentes altitudes* (entre 39 m
e 79 m as populações 30, 31, 34; entre 220 m e 325 m as populações 38, 27,
24; entre 550 m e 690 m as populações 26, 10, 25). Pode-se observar que o
germoplasma em estudo mostra capacidade de produzir regularmente, embora
os picos de produção ocorram no Outono (corte 3 realizado no mês de Novem-
*
8
Conforme quadro 2.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
bro de 1996) e ao início do espigamento (corte 7 em Maio/97). O germoplasma
colhido em baixas e médias altitudes é precoce na Primavera (cortes 4 e 5 em
1997). A produção estival é significativa (corte 2 no mês de Agosto de 1996,
corte 8 efectuado em Julho/97). O material oriundo de zonas situadas em
maiores cotas é o menos produtivo ao longo dos ciclos de exploração.
QUADRO 3 – Produção de matéria verde (kg/ha), de matéria seca (kg/ha) e
persistência (n.º médio de plantas/m2) após dois ciclos de
produção (8 cortes).
População
30/95
29/95
18/94
36/95
31/95
22/95
39/95
25/95b
38/95
10/92
27/95
24/95
15/92
26/95
34/95
currie
32/95
(1)
Prod. mat. verde
(kg/ha)
19 883 ab (1)
17 832 ae
16 228 de
17 393 ae
20 099 a
18 980 ad
18 830 ad
15 373 ef
18 063 ae
11 999 g
18 784 ad
17 278 be
17 117 ce
12 708 fg
19 282 ac
8 962 h
18 160 ad
Prod. mat. seca
(kg/ha)
Persistência
(Fev. 1998)
4 038 a
3 676 ad
3 363 cd
3 512 bd
4 018 ab
3 896 ab
3 834 ac
3 200 de
3 650 ad
2 597 f
3 902 ab
3 696 ad
3 605 ad
2 751 ef
3 865 ac
1 958 g
3 677 ad
33
29
30
28
28
24
25
28
28
18
29
23
25
21
21
8
26
Diferença significativa mínima para probabilidade <0,05.
FIGURA 1 – Produção média de matéria verde e de matéria seca de populações de
D. glomerata spp. da região de Entre Douro e Minho.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
9
FIGURA 2 – Evolução da produção de matéria seca (kg/ha) ao longo de dois ciclos
produtivos.
O material estudado apresenta características de rendimento, anual e de
regularidade, e de flexibilidade de exploração que poderão ser utilizadas na
criação varietal, à semelhança do que se procurou em França. Segundo
Mousset (10), as populações do NW de Portugal mostraram características
interessantes para a selecção, destacando-se a maior duração do período
vegetativo (dormência invernal reduzida) e flexibilidade na exploração de
Primavera.
10
PASTAGENS E FORRAGENS 19
3.2 – Relação entre os dados de passaporte e o potencial produtivo
A matriz de correlação (quadro 4) mostra que a capacidade produtiva
está relacionada com a altitude de colheita (negativamente) e com o peso de
mil grãos (positivamente). A percentagem de germinação está correlacionada
com o peso de 1000 grãos, mas estes dados de passaporte não estão
correlacionados significativamente com a altitude de colheita, embora se verifique uma relação negativa.
QUADRO 4 – Coeficientes de correlação de Pearson.
Matriz de
correlações
MV
MV
MS
Povoamento
Altitute
Germinação
Peso 1000g
*** significãncia
1,0
0,984 ***
0,381
-0,719 ***
0,264
0,575 ***
MS
Povoamento
1,000
0,361
-0,650 ***
0,285
0,580 ***
1,000
-0,373
0,263
0,094
Altitude
Germinação
1,000
-0,332
-0,290
1,000
0,562 ***
Peso
1000 grãos
1,0
a 0,1%
MV/ha (kg/ha) = 0,179 – 0,55 ALTITUDE (m) + 0,244 PESO DE MIL GRÃOS (g)
R2 = 66,3%
(Equação 1)
A influência da altitude e do peso de mil grãos na produção de
matéria verde são opostos, embora o R 2 (coeficiente de regressão) não seja
muito significativo (66,3%, equação 1). A altitude tem uma influência
negativa mas as amostras com superiores pesos de mil grãos têm maiores
produções de MS.
As regressões lineares da matéria verde (figura 3) e da matéria seca
(figura 4) com a altitude mostram existir uma relação entre este factor e
ambos os parâmetros (R 2 = 78% e R2 = 76% respectivamente). As rectas
obtidas foram:
Prod. mat. verde (kg/ha) = 15 664,2 – 7,134 77 altitude (m)
Prod. mat. seca (kg/ha) = 3 170,57 – 1,246 82 altitude (m)
PASTAGENS E FORRAGENS 19
11
Nota: Média do ensaio 14 toneladas de MV por hectare.
FIGURA 3 – Comportamento do material colhido em várias altitudes – produção de matéria
verde (recta inclinada) de Dactylis glomerata spp. do EDM.
Nota: Média do ensaio abaixo das 3 toneladas por hectare.
FIGURA 4 – Resposta da produção de matéria seca (recta inclinada) em Dactylis glomerata spp.
do EDM oriundas de várias altitudes.
12
PASTAGENS E FORRAGENS 19
3.3 – Análise e classificação
Para a análise e classificação da variabilidade genética para o potencial produtivo utilizou-se o programa JMP 3.0 e os métodos de análise em
componentes principais (ACP) e de classificação. Para agrupamento do material em função do grau de similitude optou-se pelo método UPGMA
"average". Dado ter-se interesse pelas variáveis altitude e grau de persistência do material, decidiu-se apresentar os resultados para a distribuição da
variabilidade da capacidade de produção, quando são consideradas aquelas
variáveis.
Da análise em ACP (quadro 5) conclui-se que 96,59% da variabilidade
são explicados pelas duas componentes principais. A primeira componente é
definida pela produção de matéria seca e a segunda pela persistência (povoamento).
QUADRO 5 – Análise das principais componentes.
Componentes principais
Valores próprios
Percentagem
Percentagem acumulada
Vectores próprios
MS/ha
Povoamento
Altitude
1
2,25
–
75,089
2
0,64
–
21,506
0,638
-0,481
-0,601
-0,202
0,857
0,472
Da observação da figura 5, relativa à projecção das variáveis e das
populações, verifica-se como o material de maiores altitudes (8, 10 e 14) se
define pelo menor potencial produtivo e que a persistência deste germoplasma,
sob o ritmo de exploração preconizado, está mais associada a altitudes
intermédias.
Na figura 6 apresenta-se o fenograma obtido para as variáveis já
mencionadas em que os números 1, 4, 5, 7, 13, 15 e 17 se referem a
altitudes menores, os n.ºs 2, 3, 6, 9, 11 e 12 são das populações de cotas
intermédias e os n.ºs 8, 10 e 14 indicam as populações de altitudes acima
de 550 metros. Ressalta a dissemelhança entre o material de cotas acima
de 550 m e o restante, formando-se dois grupos principais. No grupo que
inclui germoplasma de cotas baixas a médias há variabilidade interpopulações.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
13
FIGURA 5 – Projecção das variáveis e das amostras nos 2 primeiros eixos.
FIGURA 6 – Fenograma relativo à classificação do germoplasma de Dactylis glomerata spp.
do EDM, para as variáveis MS/ha, altitude de colheita e persistência.
4 – DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Esta apreciação sobre a biodiversidade do germoplasma, para o potencial produtivo de Dactylis glomerata spp. do EDM, é preliminar, conforme se
conclui por comparação com outros trabalhos realizados sobre este género.
14
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Devem completar esta apreciação outros parâmetros que são elementos fundamentais para futuras utilizações em programas de melhoramento, como sejam
a resistência a doenças, o teor de açúcares solúveis (este género caracterizase pelo alto teor de proteína mas baixo teor de açúcares solúveis), a tolerância ao frio e encharcamento, a data de espigamento, alternatividade, morfologia
da folha, altura do material no momento do aproveitamento (em Abril e ao
espigamento), cor das folhas e estudos citogenéticos ( 14).
Além do mencionado, o estudo baseou-se em dados obtidos apenas em
Braga, sendo preferível as avaliações multilocal, mais se tratando de populações naturais que poderão ter menor grau de adaptação quando colocadas fora
do meio de origem. As populações com origem em maiores altitudes poderão
estar nesta situação. As condições climáticas em Braga, durante o período a
que se referem estes resultados, não estimularam o aparecimento de doenças,
impedindo a apreciação da tolerância às doenças. O mesmo ocorreu relativamente ao encharcamento. Sobre a resposta do material ao frio, os efeitos
fizeram-se sentir pontualmente e de modo reversível. O germoplasma em
avaliação apresentou-se homogéneo quanto à data de espigamento, tornando
possível a realização do corte em verde na mesma data para todas as populações. O propósito deste estudo foi obter informação que orientasse futuras
prospecções.
Dado a contagem de cromossomas não ter sido feita, nada se pode
acrescentar sobre a influência da plóidia nos resultados e se se trata das
subespécie galician, lusitanica ou da glomerata. Mousset (4, 8, 10) observou
que o material colhido na Península Ibérica é mais tardio quando oriundo de
áreas de menor influência continental, é ligeiramente mais sensível às ferrugens, sobretudo o de zonas não costeiras, e tem flexibilidade de exploração
na Primavera e boa repartição do rendimento anual. Os citotipos diplóides,
relativamente aos tetraplóides, são mais tardios, têm menor crescimento e
rendimento, são menos alternativos e são mais resistentes ao frio e à
mastigosporiose. O germoplasma do Norte de Portugal destaca-se pelo superior grau de alternatividade e por as formas diplóides terem forte afilhamento.
Atendendo às considerações de Mousset (4, 8, 12 ), estes resultados indicam que o material avaliado mostra um certo crescimento invernal, que há
diversidade interpopulações na repartição do rendimento anual e que a variabilidade para a aptidão agronómica é interessante sob o ponto de vista de
criação varietal. As populações avaliadas colhidas no interior montanhoso
(com maior influência continental) apresentaram-se com menor flexibilidade
de exploração.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
15
À semelhança de outros trabalhos (1, 5, 12, 13), também esta avaliação
preliminar sugere que as variáveis ecogeográficas têm efeito na distribuição
da biodiversidade. Na região do EDM, embora não se tenham dados relativos
ao efeito das variações climáticas sobre este germoplasma e a avaliação feita
deva ser considerada preliminar, há indício de que ocorre uma distribuição da
aptidão agronómica favorável em menores altitudes.
Como este género apresenta, em Portugal, segundo Mousset, uma
biodiversidade indicadora da existência de fluxo genético entre diplóides e
tetraplóides e entre tetraplóides diferentes, considera-se que as análises da
diversidade genética ao nível intersubespecífico e intrasubespecífico devem
constituir objectivo de estudo para melhor avaliar o interesse deste material e
melhorar a gestão dos recursos fitogenéticos nacionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – BORRILL, M. – Dactylis marina Borril, sp., nov., a natural group of related tetraploid
forms. "J. Linn. Soc.", (Bot.), 56 (368) 1961, p. 431-439.
2 – BORRILL, M. – Evolution and genetic resources in cocksfoot. "Annual Report",
Aberystwyth, Wales, Welsh Plant Breeding Station (WPBS), 1977, p. 190-209.
3 – BORRIL, M.; CARROLL, C. P. – A chromosome atlas of the genus Dactylis. Part two.
"Cytologia", vol. 33, 1967, p. 15-17.
4 – CHOSSON, J. F.; MOUSSET, C. – Caractéristiques physiologiques, morphologiques et
agronomiques d’écotypes de dactyle de la Côte Nord de l’Espagne, de Galice et du
Nord du Portugal. "Pastagens e Forragens", vol. 7, 1986, p. 27-44.
5 – GUIGNARD, G. – Dactylis glomerata ssp. Oceanica, taxon nouveau du littoral
atlantique. "Bull. Soc. Fr.", Lettres bot., (4/5) 1985, p. 341-346.
6 – JONES, K.; BORRILL, M.; CARROLL, C. P. – A chromosome atlas of genus Dactylis
L. "Cytologia", vol. 26, 1961, p. 333-343.
7 – LUMARET, R. – Cytology, genetics and evolution in the genus Dactylis. "CRC Critical
Reviews in Plant Sciences", 7 (1) 1988, p. 55-91.
8 – MOUSSET, C. – Compte rendu de la mission en Espagne et au Portugal de C.
Mousset. Lusignan, INRA, Station d'Amélioration de Plantes Fourragères, 1978, p. 1-5.
9 – MOUSSET, C. – Le dactyle, graminée fourragère d’avenir. "Bulletin Agricole des
Hautes-Pyrénées", jan. 1980, p. 6-14.
10 – MOUSSET, C. – Diversité et conservation des ressources génétiques dans le genre
Dactylis Linné. "Sauve qui peut !", (4) mars 1993, p. 25-32.
11 – MOUSSET, C. – Les graminées. In: "GALLAIS, A.; BANNEROT, H. (ed.) –
Amélioration des espèces végétales cultivées - objectifs et critères de sélection". Paris,
INRA, 1992, p. 285-299.
16
PASTAGENS E FORRAGENS 19
12 – MOUSSET, C.; GHESQUIÈRE, M.; VOLAIRE, F. – Caractérisation des populations
corses de dactyle. Etude de l’adaptation en zone méditerranéenne. "Fourrages", (130)
1992, p. 191-209.
13 – PARKER, P. F. – Studies in Dactylis. II – Natural variation, distribution and systematics
of the Dactylis smithii Link complex in Madeira and other Atlantic Islands. "The New
Phythol.", vol. 71, 1972, p. 371-378.
14 – VOLAIRE, F. – Agronomical evaluation of local populations of cocksfoot (Dactylis
glomerata L.) in Corsica. "Agricoltura Mediterranea", vol. 121, 1991, p. 263-271.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
17
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 19–30.
EFICIÊNCIA DA ADUBAÇÃO E DA REPARTIÇÃO DO AZOTO
NA PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO MILHO (ZEA
MAYS L.) SILAGEM NO ENTRE DOURO E MINHO*
António Fernandes, João Costa♦, Nuno Moreira♦
Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho – Estação Regional
de Culturas Arvenses – Qta. S. José – S. Pedro Merelim – 4700 BRAGA
♦
Departamento de Fitotecnia – Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro –
– Apartado 202 – 5001 VILA REAL CODEX
RESUMO
O incremento da produção leiteira, ocorrido no Noroeste litoral nestas últimas três
décadas, está associado ao sucesso do milho (Zea mays L.) para silagem sendo este a base
dos regimes alimentares das vacas leiteiras. No entanto, o elevado consumo de factores de
produção que está associado à cultura, nomeadamente de fertilizantes azotados, tem
conduzido a grandes perdas de azoto para fora do sistema solo-planta, originando graves
problemas de poluição, insustentáveis numa agricultura moderna, em que o respeito pelo
meio ambiente e a diminuição dos custos de produção são objectivos a atingir.
Neste contexto, instalou-se um ensaio para avaliar a eficiência da cultura a diferentes
níveis de azoto (0, 50, 100, 150, 200, 250 e 300 kg N.ha-1), e três formas de aplicação do
adubo: 1) todo em fundo; 2) 1/2 em fundo e 1/2 às 6 a 8 folhas (joelheiro); 3) aplicado 1/3
em fundo, 1/3 joelheiro e 1/3 na pré-ântese, num total de 19 tratamentos. O adubo na
forma de ureia (46 % N) foi incorporado no solo através da água de rega.
As características estudadas foram a produção de matéria seca (MS), proteína
bruta (PB), teores de cálcio (Ca), magnésio (Mg), fósforo (P) e potássio (K).
Os resultados obtidos apresentaram-se significativos com os níveis de N aplicado. A produção de MS variou entre 19,2 e 25,8 t.ha-1, a proteína bruta entre 1,29 e 1,85
t.ha-1 e os teores em Ca, P, Mg e K apresentaram valores na matéria seca (%) entre 0,15
e 0,23, 0,23 e 0,32, 0,12 e 0,15, e 1,10 e 1,37, respectivamente, dentro dos níveis em
estudo (0 e 300 kg N.ha-1).
A taxa de N recuperado pela cultura variou entre os 60 no nível de 50 kg N.ha-1 e
28% na dose de 300 kg N.ha-1, tendo sido influenciada pelas quantidades aplicadas,
matéria seca produzida e perdas de N. A repartição da fertilização azotada não
melhorou de forma significativa a eficiência da cultura.
PALAVRAS-CHAVES: Adubação azotada; Eficiência de utilização do azoto; Milho silagem.
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF, Castelo Branco, Abril
de 1998.
19
ABSTRACT
The implementation of milk production that has been taking place along the
Portuguese Littoral Northwest during the last three decades, is directly linked to the
success of maize (Zea mays L.) silage, as the basic milking cattle feed.
However, the high yielding levels generally associated with this crop, namelly
due to the high-nitrogen fertilisation, have led to big nitrogen losses leaving out of the
soil-plant system. This situation causes severe pollution problems that must be
considered intolerable in a modern agriculture where not only the lowering of
production costs should be achieved, but also an increasingly attention to the
environmental protection should be paid.
Within this reasoning framework, a yield trial complex was implanted in order to
evaluate the crop efficiency at diferent nitrogen levels (0, 50, 100,150, 200, 250 and
300 kg N.ha-1) combined with three distinct forms of nitrogen application: 1) all at
ploughing; 2) 1/2 at ploughing and the other 1/2 at 6-8 leaves stage (knees high); 3) 1/3
at ploughing, 1/3 at knees high and 1/3 at pre-anthesis stage in a total of 19 treatments.
The nitrogen was applied in the urea form through the irrigation system.
The following traits were studied: dry matter (DM), crude protein (CP) and
levels of calcium (Ca), magnesium (Mg), phosphorus (P) and potassium (K)
Our data show that significant differences were obtained for different levels of
nitrogen application. Moreover, the dry matter (DM) production ranged from 19,2 to
25.8 t.ha-1, the crude protein (CP) varied from 1.29 to 1.85 (t.ha-1), and the levels of Ca,
P, Mg and K once related to dry matter reached respectively 0.15-0.23, 0.23-0.32, 0.120.15 and 1.10-1.37, for either 0 or 300 kg of N application.
The level of nitrogen recovered by the crop ranged from 60 to 28% according to
the applied doses in our study (50-300 kg.ha-1), having been influenced by the applied
quantities, the dry matter produced and N losses.
The partitioning of nitrogen application did not show to be significant in the
cropping yield efficiency.
KEY WORDS: Nitrogen fertilization; Nitrogen use efficiency; Maize silage.
1 – INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o desenvolvimento da produção leiteira no Entre
Douro e Minho foi feito com base no milho silagem, dando lugar a um
sistema de cultivo muito intensivo, nomeadamente com o recurso a uma
elevada fertilização azotada (23).
As perdas de azoto mais importantes nos ecossistemas agrícolas são a
volatilização, a desnitrificação e a lixiviação. Em muitas culturas estas perdas
podem ser minimizadas pelo fraccionamento da aplicação dos fertilizantes,
sincronizando-a com o período de maior absorção do N, para aumentar a
eficiência da sua utilização. A fertirrigação, ou mesmo a incorporação de N
na rega, geralmente na forma de ureia, em culturas de regadio, é uma prática
20
PASTAGENS E FORRAGENS 19
que reduz consideravelmente a magnitude das perdas ao veicular o N para
camadas do solo mais profundas, diminuindo a possibilidade das perdas por
volatilização sob a forma de amoníaco (1). Segundo Trindade ( 23), a incorporação pela água de rega de fertilizantes sólidos à base de ureia distribuída à
superfície do solo é um método eficaz, dada a mobilidade da ureia ser idêntica à do ião nitrato e a sua hidrólise pela urease mostrar uma fase "lag" de
um ou dois dias. Assim, ao agricultor apresentam-se duas opções: aplicar o
azoto pelo processo convencional e os riscos de lixiviação aumentarem; fazer
a fertirrigação e o azoto residual no final do ciclo poder ser elevado, sobretudo quando se sobrestimam as quantidades a aplicar nas fases finais dos
ciclos culturais (3).
A melhoria da absorção do azoto pelas plantas traduz-se também em
produções geralmente mais ricas em compostos azotados mas pode desequilibrar a proporção dos vários constituintes na planta. Por outro lado, é reconhecido que a composição mineral da forragem varia, não só com o tipo de
planta (género, espécie e cultivar) e o momento de desenvolvimento, mas
também com factores como o solo, clima e aplicação de fertilizantes azotados
(7,13). Com aplicações de azoto nítrico (N-NO3) como fonte de N na cultura
do milho, os níveis de Ca e Mg são mais elevados, ao contrário do azoto
aplicado na forma amoniacal (N-NH4), em que são favorecidos os teores de P
e S, podendo, neste caso, levar a carências nos elementos Mg e Ca ( 16).
Motivados pela necessidade de melhorar a eficiência de utilização do
azoto pela cultura do milho silagem, num conceito de agricultura sustentável,
instalou-se um ensaio de campo que permitisse avaliar a eficiência da resposta da cultura de milho a diferentes níveis de azoto e à sua repartição, bem
como a sua influência nos parâmetros da produção e composição química.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Localização e condições edafoclimáticas
O ensaio realizou-se no ano agrícola de 1997, na Estação Regional de
Culturas Arvenses (ERCA), unidade orgânica da Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho, situada em S. Pedro de Merelim, Braga.
Os resultados da análise de terra, efectuadas antes da implantação do
ensaio, apresentam-se no quadro 1.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
21
QUADRO 1 – Resultados da análise sumária do solo.
Textura
Franco-arenosa
Prof. (cm)
MO (%)
P2O5 (ppm)
K2O (ppm)
PH (H2O)
Precedente
cultural
0 - 20
3,0
40
200
6,2
Azevém
Na figura 1 podem comparar-se as precipitações e os somatórios de temperaturas (base 6 ºC) ocorridas durante o ensaio e as médias de 1984 a 1996.
Constata-se que as precipitações durante o mês de Maio foram consideravelmente superiores às médias dos últimos doze anos. No que respeita às temperaturas, estas foram mais baixas, principalmente a partir de finais de Julho (15).
FIGURA 1 – Comparação das precipitações e somatórios de temperaturas ocorridas durante
o ensaio com as médias 1984-1996, por decêndios.
2.2 – Instalação e condução do ensaio
A preparação do terreno consistiu numa lavoura a cerca de 30 cm de
profundidade, seguida de duas gradagens cruzadas feitas com grade de dentes.
A sementeira foi efectuada manualmente, deixando em cada linha sementes suficientes de modo a assegurar o povoamento pretendido de 95 000
plantas/ha, utilizando, para isso, uma largura da entrelinha de 0,7 m e 33
plantas em cada 5 m de linha. A data de sementeira foi 15 de Maio, tendo-se cultivado o híbrido simples Capitan, ciclo FAO 400. Foi aplicada uma
fertilização de fundo de 135 hg.ha-1 de P2O5, não havendo necessidade da
aplicação de K2O, segundo a análise de terra (quadro 1). O fertilizante azotado
na forma de ureia (46% N) foi aplicado segundo o delineamento previamente
definido. O controlo de infestantes foi assegurado pela aplicação do herbicida
à base das substâncias activas Alacloro+Atrazina em sementeira e na fase de
"milho joelheiro" da Atrazina + Bentazona.
22
PASTAGENS E FORRAGENS 19
A colheita realizou-se manualmente, 122 dias após a data de sementeira.
2.3 – Determinações analíticas
Após a colheita foi registada a massa verde produzida por tratamento e
recolhida uma amostra de duas plantas, que foram recortadas em pequenos
troços, para determinação dos teores de matéria seca em estufa com circulação forçada de ar a 65 ºC durante 36 horas. As amostras secas foram moídas
em moinho eléctrico, com crivo de malha de 0,8 mm de diâmetro. As determinações analíticas foram executadas na Divisão de Laboratórios da
DRAEDM, tendo sido determinados os parâmetros proteína bruta (PB =
= N × 6,25), Ca, P, Mg e K.
Para quantificar a eficiência da utilização do N (EUN) pela cultura
recorreu-se ao método das diferenças, usando a expressão (Ni-No)/Nf × 100,
onde Ni e No representam, respectivamente, o azoto exportado pela cultura
nas modalidades fertilizadas e a testemunha e o Nf representa o azoto
aplicado como fertilizante.
2.4 – Delineamento experimental e análise estatística
O ensaio foi instalado segundo combinações factoriais de níveis de azoto com repartição da aplicação do fertilizante, utilizando-se sete níveis – 0,
50, 100, 150, 200, 250, 300 kg N.ha-1 – e três formas de repartição do azoto:
1) todo em fundo; 2) 1/2 em fundo e 1/2 no estado de 6-8 folhas (joelheiro);
3) 1/3 em fundo, 1/3 joelheiro e 1/3 na pré-ântese, obtendo-se no total 19
tratamentos.
O desenho experimental utilizado consistiu em blocos casualizados em
talhões com 4 linhas de 5 m cada, com duas linhas de bordadura, separadas
entre si por 0,70 m, perfazendo uma área total de 14 m2 e uma área útil de 7
m2. Foram instaladas três repetições, separadas entre si por ruas com 1,5 m,
sendo a área total do ensaio de 780 m2.
O efeito dos tratamentos foi estimado através da análise de variância. A
significância dos valores de F calculados foi estabelecida para probabilidades
inferiores a 0,05, 0,01 e 0,001. As respostas aos tratamentos de adubação em
ensaio em termos das produções de matéria seca, proteína bruta, teores de
cálcio, fósforo, magnésio e potássio foram analisadas individualmente.
O programa estatístico utilizado para análise de variância foi o Systat 5
para Windows.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
23
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 – Repartição da fertilização azotada
A análise de variância revelou que o efeito da repartição da adubação
azotada não foi estatisticamente significativo nas características em estudo
(quadro 2).
QUADRO 2 – Efeito da repartição da adubação azotada na produção e composição química
do milho silagem.
MS
%
MS
(t.ha-1)
PB
(% na MS)
PB
(t.ha-1)
50
50 (1/2)
50 (1/3)
32,10
32,70
32,40
19,3
20,6
20,6
7,47
7,92
7,29
1,49
1,55
1,51
0,15
0,15
0,14
0,13
0,12
0,11
1,19
1,10
1,14
0,29
0,18
0,24
100
100 (1/2)
100 (1/3)
33,00
31,30
32,10
21,6
21,7
20,8
7,46
7,50
7,28
1,51
1,47
1,34
0,14
0,16
0,14
0,30
0,12
0,13
1,23
1,21
1,10
0,28
0,23
0,26
150
150 (1/2)
150 (1/3)
33,20
32,00
32,20
23,0
23,5
21,9
6,95
8,23
6,84
1,60
1,65
1,59
0,17
0,27
0,24
0,12
0,13
0,13
1,31
1,45
1,35
0,21
0,24
0,26
200
200 (1/2)
200 (1/3)
32,70
33,60
31,60
24,4
24,4
21,6
7,16
7,11
7,12
1,64
1,62
1,54
0,27
0,18
0,17
0,16
0,14
0,13
1,51
1,36
1,33
0,23
0,25
0,30
250
250 (1/2)
250 (1/3)
31,80
32,10
32,00
25,4
25,1
23,9
7,45
6,93
7,48
1,92
1,74
1,88
0,16
0,16
0,17
0,12
0,13
0,13
1,13
1,24
1,30
0,26
0,25
0,28
300
300 (1/2)
300 (1/3)
31,50
31,70
31,60
26,6
24,7
26,1
7,18
7,13
7,10
1,59
1,76
1,86
0,15
0,15
0,15
0,12
0,12
0,12
1,32
1,30
1,32
0,33
0,31
0,33
F (0,05)
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
Tratamentos
Ca
Mg
K
P
(% na MS) (% na MS) (% na MS) (% na MS)
3.2 – Influência dos níveis de adubação azotada na produção e teor
de matéria seca
Na figura 2 apresentam-se os valores médios da produção e teor de
MS para os níveis de adubação azotada em ensaio. Observa-se que as
produções de matéria seca variaram entre 19,2 e 25,8 t.ha -1 nos tratamentos
0 e 300 kg N.ha -1, respectivamente. Constatou-se uma resposta regular da
produção aos níveis crescentes de N e um decréscimo dos teores de MS
acima dos 200 kg N.ha -1 .
24
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Nas mesmas condições edafoclimáticas em ensaios de variedades de
milho silagem com aplicações de 190 kg N.ha-1 foram obtidas produções
médias de 22 t MS.ha-1 (15). Já anteriormente se haviam registado produções
de 20 t MS.ha-1 para a cultura com 250 kg N.ha-1 (17) e de 22 t.ha–1, com
aplicações de 160 a 180 kg N.ha-1 (4). Todavia, Durieux e colaboradores
verificaram que aumentando as aplicações de azoto de 112 para 168 kg.ha -1 e
de 123 para 168 kg N.ha-1, nas condições de Vermont (EUA), obtiveram
acréscimos na absorção do azoto pela cultura, sem no entanto beneficiar a
produção de matéria seca( 6).
FIGURA 2 – Efeito do azoto na produção e teor de MS do milho silagem
3.3 – Influência da adubação azotada na produção e teor de proteína bruta
O efeito clássico do aumento de proteína das forragens com a aplicação
de N ( 5, 13) também foi registado neste ensaio, com as produções a variarem
de uma forma estatisticamente significativa (P<0,001), entre 1,23 t PB.ha-1 no
tratamento 0 kg N.ha-1 (0N) e 1,83 t no tratamento 300 N, embora a produção mais elevada de 1,85 t PB.ha -1 tinha sido obtida no tratamento
250 N (figura 3).
O teor de PB variou de 6,6 a 7,6% com o mínimo no tratamento 0 N e
o máximo no tratamento 100 N. Estes valores do teor azotado estão de
acordo com os referidos por Demarquilly (5), sendo inferiores aos de outros
trabalhos (2).
O decréscimo dos teores em PB a partir do nível de adubação 100 N
poderá estar associado a um efeito de diluição, devido à continuada resposta
da produção de MS da cultura aos níveis mais elevados de fertilização. No
entanto, Humphreys (11) refere que a relação negativa entre a proteína e a
PASTAGENS E FORRAGENS 19
25
matéria seca é principalmente evidente para baixos níveis de fertilização
azotada, reflectindo-se essa variação na eficiência do uso do N na matéria
seca produzida. Efeitos deste tipo são referidos por outros autores em diferentes gramíneas (5, 13, 21).
FIGURA 3 – Efeito do azoto na produção e teor de PB do milho silagem.
3.4 – Influência da adubação azotada nos teores de Ca, P, K e Mg
Constatou-se que os teores de Ca, P, K e Mg variaram significativamente com o nível de azoto (figura 4). Assim, no que diz respeito ao teor de Ca,
este atingiu valores mais elevados nas doses de 150 e 200 N com 0,23 e
0,21, respectivamente. Ficou, no entanto, aquém dos 0,52 % considerados
mínimos para satisfazer as necessidades de conservação dos ruminantes ( 8).
Segundo Nelson (14), os baixos teores de Ca verificados no milho estão
relacionados com os menores teores de N na forma de nitratos disponíveis no
substracto.
Os teores de fósforo na forragem variaram significativamente com o
azoto, tendo sido favorecidos no tratamento 300 N com 0,32 % e atingido os
valores mais baixos com aplicações de 150 N. Todavia, de uma forma geral,
estes valores são susceptíveis de não satisfazer as necessidades alimentares
dos ruminantes (8), o que pode estar relacionado com a influência que as
condições de solo exercem na sua concentração, especialmente a reacção do
solo ácida (7, 13).
Os valores de Mg foram significativamente influenciados pela adubação
azotada, constatando-se o seu decréscimo com aplicações superiores a
200 kg.ha -1. Porém, os valores do ensaio ficaram aquém do
s níveis críticos de 0,20 (10) e de 0,15% ( 12) considerados, respectivamente, para o gado leiteiro e de engorda. Santos ( 20) refere que o Mg no
milho decresce com a fertilização azotada, embora acompanhado de um au-
26
PASTAGENS E FORRAGENS 19
mento do K. Apesar do milho ter uma capacidade de troca catiónica radicular
já relativamente elevada, o antagonismo K/Mg dever-se-á manifestar a favor
da absorção do potássio (19 ). Também Nelson (14) refere que a elevada
assimilação de potássio diminui a absorção de cálcio e magnésio, mesmo em
solos com teores elevados em carbonato de cálcio e magnésio.
Os teores de K no ensaio foram sempre muito superiores a 0,7%, valor
considerado máximo para não ocorrer um desequilíbrio na relação
K/Ca+Mg (18). As doses de azoto influenciaram significativamente os teores
de K, na forragem com o valor mais elevado no tratamento 150 N com 1,37
e o mais baixo no tratamento 50 N com 1,1%.
FIGURA 4 – Efeito da adubação azotada nos teores de Ca, P, Mg e K do milho silagem.
3.5 – Eficiência de utilização do azoto (EUN)
A eficiência da cultura para o azoto (EUN) variou entre 60 e 28%, com
taxas de utilização mais baixas nas doses de azoto acima de 100 kg N.ha-1
(figura 5). Walters e Malzer (24), em estudos semelhantes, durante dois anos,
obtiveram taxas de absorção significativamente diferentes com aplicações de
90 e 180 kg N.ha -1 na forma de ureia, com valores de EUN de 90 e 55% no
primeiro ano e 67 e 48% no segundo, respectivamente. Por outro lado, Staley
e Perry (22), em ensaios conduzidos na Virgínia (EUA), referem taxas de
recuperação para o milho de 57, 57 e 48 % para as doses de 56, 112 e 224
kg N.ha-1, respectivamente. Por seu turno, Guillard e colaboradores (9) referem que o risco de perdas de N na cultura do milho aumenta potencialmente
para quantidades de azoto superiores a 112 kg.ha-1.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
27
Os resultados obtidos no presente ensaio apontam também para a possibilidade de maiores perdas de N nos níveis mais elevados de adubação.
FIGURA 5 – Eficiência de utilização (%) aparente do N aplicado pela cultura.
4 – CONCLUSÕES
Dos resultados obtidos no ensaio conclui-se o efeito significativo das
doses crescentes de azoto (0 a 300 hg N.ha-1) nos parâmetros produção de
matéria seca e proteína bruta. As aplicações superiores a 200 kg N.ha-1 conduziram ao abaixamento dos teores de proteína e de matéria seca. A repartição da
adubação azotada não conduziu neste ensaio a resultados significativos.
Em relação à composição química, verificaram-se respostas significativas à adubação N, tendo-se observado os valores mais elevados de Ca, Mg e
K para os níveis de adubação 150-200 kg N.ha-1, enquanto que para o P tal
se verificou com o tratamento mais elevado (300 N).
A eficiência de utilização aparente do N pela cultura, para além de não
ter beneficiado com a repartição do adubo, diminuiu com as quantidades
crescentes de N, revelando-se baixa para valores acima de 100 kg N.ha-1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ruminants. "Fourrages", vol. 150, 1997, p. 171-189.
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Portugueses, designadamente através do Marcador 15 N. Tese de Doutoramento. Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, 1996.
28
PASTAGENS E FORRAGENS 19
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management practices. "Agronomy Journal", vol. 85, 1993, p. 341-347.
5 – DEMARQUILLY, C. - Fertilisation et qualité du fourrage. "Fourrages", vol. 69, 1977,
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11 – HUMPHREYS, O. – Water-soluble carbohydrates in perennial ryegrass breeding.
III – Relationships with herbage production, digestibility and crude protein contents.
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Lisboa, Publicações Europa-América, 1991.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
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20 – SANTOS, Q. – Fertilização e Poluição – Reciclagem Agro-Florestal de Resíduos
Orgânicos. Lisboa, Q. Santos, 1995.
21 – SMITH, F. – Mineral analysis of plant tissue. "Am. Revue of Plant Physiology", vol.
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22 – STALEY, E.; PERRY, H. – Maize silage utilization of fertilizer and soil nitrogen on a
hill-land ultisol relative to tillage methodology. "Agronomy Journal", vol. 87, 1995,
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23 – TRINDADE, H. – Fluxos e perdas de azoto em explorações intensivas de bovinicultura
leiteira no Noroeste de Portugal. Tese de Doutoramento. Vila Real, Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro, 1997.
24 – WALTERS, T.; MALZER, L. – Nitrogen management and nitrification inhibitor effects
on nitrogen – 15 urea. I – Yield and fertilizer use efficiency. "Soil Science Society of
America Journal", vol. 54, 1990, p. 115-122.
30
PASTAGENS E FORRAGENS 19
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 31–35.
NOVAS POTENCIALIDADES PARA A PRODUÇÃO
FORRAGEIRA NA BEIRA INTERIOR*
L. Gusmão, E. Bettencourt, L. Gerson, J. Lavado♦; F. Matos-Soares♦;
A. Marques♦; M.ª João Frazão♦; L. Pombal♦, A. Antunes♦
Estação Agronómica Nacional – 2780 OEIRAS
♦
Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior – 6000 CASTELO BRANCO
RESUMO
A existência de culturas alternativas para inclusão em sistemas produtivos de
carácter extensivo para a generalidade das áreas agrícolas, e em particular para as áreas
de menor aptidão produtiva (bastante representativas da região), é da maior relevância.
Tratando-se de culturas proteaginosas, concorrentes com a produção cerealífera (forrageira
ou não), a cultura de novas espécies de Lupinus, para além do incremento da agro-biodiversidade,
poderá vir a constituir um subsídio relevante para o restabelecimento do equilíbrio económico
da produção agro-pecuária extensiva na região (como suporte particularmente relevante
para a ovinicultura e caprinicultura), constituindo, por outro lado, uma alternativa altamente
vantajosa para o "set aside", dado o seu potencial para a indústria dos alcalóides.
O ensaio foi realizado na Herdade dos Lamaçais, num coluviossolo de textura
ligeira. Os genótipos utilizados foram escolhidos entre material melhorado na região de
Salamanca (por forma a garantir uma boa adaptação, face à proximidade edáfica e
climática com a área raiana da Beira), utilizando-se, ainda, a cultivar australiana do L.
angustifolius e uma linha do L. luteus melhorada na EAN.
Os resultados (preliminares, por se referirem a um único campo, num único ano)
apontam para:
a) competitividade do L. angustifolius, face ao L. luteus;
b) maiores potencialidades para o material melhorado sob condições climáticas
idênticas;
c) maior potencialidade produtiva das linhas 6080 (Esp.), para o L. angustifolius e
670 (Esp.), para o L. luteus.
PALAVRAS-CHAVES: Lupinus angustifolius; Lupinus luteus; Lupinus hispanicus; Adaptação; Biodiversidade agrícola; Agricultura sustentável.
ABSTRACT
The existence of alternative crops for extensive agricultural systems, particularly
in low fertility areas (which are highly representative of the region of "Beira Interior")
is of the utmost importance.
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Maio
de 1998.
31
The introduction into culture of new food legume crops, concurrent with cereals, as
is the case of the indigenous wild species of the genus Lupinus, well adapted to a large
spectrum of climatic situations prevailing along the country, will contribute to the
implementation of sustainable crop production and can be considered for the "set aside",
due to its potential for alkaloid production.
Through its recognised action on reduction of fertilisers and pesticides use, in
extensive "Australian ley farming" systems, the considered species will contribute to the
environment sustainability, without a compromise of the primary sector income, for the
great majority of the farms within the region.
Trials were performed at "Herdade dos Lamaçais" on a coluvial soil, with light
texture. Genotypes selected were chosen between material bred at the region of Salamanca
(in order to assure a good adaptation, in view of the climatic and edaphic analogy of this
region with Beira Interior). A well adapted cultivar of L. angustifolius (originated in
Australia) and an advanced line of L. luteus bred at EAN were chosen for standards.
Results (although preliminary, since they refer to only one field, during a single
year) pointed to:
a) competitiveness of L. angustifolius, face to L. luteus;
b) better potential of material bred under identical climatic conditions;
c) greater yield potential for line 6080 (Esp.), to L. angustifolius and 670 (Esp.), to L.
luteus.
KEY WORDS: Lupinus angustifolius; Lupinus luteus; Lupinus hispanicus; Adaptation;
Agrobiodiversity; Sustainable agriculture.
1 – INTRODUÇÃO
A existência de culturas alternativas para inclusão em sistemas produtivos
de carácter extensivo para a generalidade das áreas agrícolas, e em particular
para as áreas de menor aptidão produtiva (bastante representativas da região), é
da maior relevância.
Tratando-se de culturas proteaginosas concorrentes com a produção
cerealífera (forrageira ou não), a cultura de novas espécies de Lupinus poderá vir
a constituir um subsídio relevante para o restabelecimento do equilíbrio económico da produção agro-pecuária extensiva na região (como suporte particularmente
relevante para a ovinicultura e caprinicultura), constituindo, por outro lado, uma
alternativa altamente vantajosa para o "set aside", dado o seu potencial para a
indústria dos alcalóides.
Pela acção, que se lhe reconhece, na redução da utilização de adubos e
fitofármacos em sistemas produtivos extensivos, do tipo "Australian ley farming",
as culturas em estudo perspectivam-se, sem compromisso da tributação da actividade do sector primário, para um adequado equilíbrio ambiental, na grande
maioria das explorações agrícolas da Beira Interior.
32
PASTAGENS E FORRAGENS 19
O ensaio que se relata neste trabalho constitui um dos elementos de um
projecto PAMAF, que se harmoniza, em particular, com os programas comunitários, visando salvaguardar o equilíbrio ecológico sem quebra da actual
potencialidade produtiva.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi realizado na Herdade dos Lamaçais, num coluviossolo de
textura ligeira.
Os genótipos utilizados foram escolhidos entre material melhorado na
região de Salamanca (por forma a garantir uma boa adaptação, face à proximidade edáfica e climática com a área raiana da Beira), utilizando-se, ainda,
a cultivar australiana do L. angustifolius e uma linha do L. luteus melhorada
na EAN (ver quadro 1).
O ensaio foi delineado em 4 blocos completos, com casualização restrita.
QUADRO 1 - Genótipos ensaiados.
L. Luteus
L. Angustifolius
670 (Esp.) – Salamanca*
RM102B – EAN, Oeiras
cv. Lazarillo** – STAG, JCL, Salamanca
6080 (Esp.) – STAG, JCL, Salamanca
cv. yandy – Australiana
6064 (Esp.) – STAG, JCL, Salamanca
* Departamento de Pastos y Forrajes, SIA, Junta de Castilla y León.
** Cultivar resultante da segregação para o fenótipo luteus de um cruzamento de L luteus com L angustifolius.
3 – RESULTADOS
As produções unitárias nas diferentes parcelas e as médias por genótipo
e por espécie apresentam-se, em síntese, no quadro 2.
QUADRO 2 – Produções unitárias de grão (kg ha-1).
Repetições (kg ha-1)
Espécie
Lupinus luteus
Lupinus angustifolius
Genótipo
670 (Esp.)
RM102B
cv. Lazarillo
6080 (Esp.)
cv. yandy
6064 (Esp.)
I
1 043
759
776
1 130
660
905
II
832
612
441
1 187
866
773
III
847
946
744
1 212
1 081
1 144
Média (kg ha-1)
IV
1 003
849
939
814
871
Genótipo
931
792
725
1 148
855
923
Espécie
816
975*
* + 19,5 %
PASTAGENS E FORRAGENS 19
33
Um aumento médio de cerca de 20%, para o L. angustifolius, não sendo
conclusivo é, no entanto, sintomático da potencialidade desta espécie, desde
que se utilizem genótipos bem adaptados.
A presença de interacção "cv. × bloco", que se evidencia na figura 1,
propõe um modelo II de ANOVA, o qual se resume no quadro 3.
FIGURA 1 – Gráfico da interacção cultivar × repetição.
34
PASTAGENS E FORRAGENS 19
QUADRO 3 – ANOVA.
Fonte de variação
g.l.
Valor de F
Valor de P
5
18
3,829
0,0154
Genótipos
Residual
g.l. – grau de liberdade, F – teste de Snedcor, P – probabilidade.
A significância das diferenças entre modalidades, pelo teste de Fischer,
apenas se verificou para as comparações com a linha 6080 (Esp.), da espécie
L. angustifolius, tal como se pode ver no quadro 4.
QUADRO 4 – Teste de Fischer para as diferenças entre o
genótipo 6080 (Esp.) e os restantes genótipos
(diferença crítica de 222,302 kg ha-1).
Comparação
Diferença média
6080 (Esp.) vs cv. yandy
6080 (Esp.) vs 6064 (Esp.)
6080 (Esp.) vs 670 (Esp.)
6080 (Esp.) vs RM102B
6080 (Esp.) vs cv. Lazarillo
-292,500
-224,500
216,500
-356,250
-422,750
Valor de P
0,012
0,048
0,055
0,003
0,000
8*
0*
6 ns
4 **
8 ***
4 – CONCLUSÕES
Face aos resultados, é possível concluir:
· Competitividade do L. angustifolius, face ao L. luteus.
· Maiores potencialidades para o material melhorado sob condições climáticas idênticas.
· Maior potencialidade produtiva das linhas:
· 6080 (Esp.), para o L. angustifolius,
· 670 (Esp.), para o L. luteus.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
35
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 37–49.
UTILIZAÇÃO CONJUNTA DE LAMAS CELULÓSICAS
E ÁGUAS RESIDUAIS URBANAS NA CULTURA DO SORGO
EFEITO SOBRE A PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO
MINERAL DAS PLANTAS*
S. T. Campos, M. C. Horta-Monteiro, João Paulo Carneiro
Escola Superior Agrária – Quinta da Srª de Mércules – 6000 CASTELO BRANCO
RESUMO
Com o objectivo de avaliar a influência da aplicação de diferentes níveis de
lamas celulósicas e/ou água residual, com e sem cloragem, foi efectuado, num solo Pg
(pardo litólico não húmico de granito) ácido e pobre em matéria orgânica, um ensaio
em vasos com a cultura do sorgo (Sorghum vulgare var. sudanense piper Hitsh), que
decorreu na Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) entre 26 de Junho e
30 de Setembro de 1996.
Verificou-se que a água residual conduziu a aumentos significativos de
produção, enquanto que a aplicação de lamas, para qualquer nível ensaiado (0, 30, 60
t ha-1), não apresentou diferenças significativas. Relativamente à cloragem, verifica-se
um efeito depressivo que, provavelmente, se deve ao aumento de absorção de sódio e
cloretos, em detrimento de outros nutrientes essenciais às plantas. Parece, no entanto,
que o tratamento referido tende a favorecer a absorção de ferro, cobre e zinco.
PALAVRAS-CHAVES: Água residual; Cloragem; Fertilidade do solo; Irrigação; Lamas celulósicas; Poluição; Sorgo (Sorghum vulgare var. sudanense piper
Hitsh).
ABSTRACT
With the aim of evaluating the influence of the application of different levels of
pulp mill sludge and/or wastewater, with and without chlorination, into an acid and
poor in organic matter soil (cambisoil), one trial in pots was carried out, at Escola
Superior Agrária de Castelo Branco, from the 26th of June until the 30th of September
1996, using sorghum (Sorghum vulgare var. sudanense piper Hitsh).
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Maio
de 1998.
37
It was found that the wastewater lead to significant increases of production,
while the application of pulp mill sludge, for any assayed level (0, 30 and 60 t.ha-1), did
not present significant differences. Relatively to the chorination, a depressive significant
effects was found, probably due to the increase of sodium absorption and chlorides, in
detriment of other essential nutrients to the plants. However, seemed increased the iron,
copper and zinc absorption.
The application of these residues improvised the nutritional value of the
plants: wastewaters increased nitrogen, phosphorous, magnesium, sodium, zinc and
chlorides levels, while pulp mill sludge increased calcium and, in some cuts, iron,
copper and zinc levels.
KEYWORDS: Chlorination; Irrigation; Pulp mill sludge; Pollution; Soil fertility; Sorghum
vulgare var. sudanense piper Hitsh; Wastewater.
1 – INTRODUÇÃO
Os problemas inerentes às questões ambientais têm sido motivo de grandes debates a nível mundial, com a finalidade de encontrar soluções compatíveis com a necessidade de proteger os recursos naturais, garantindo simultaneamente uma qualidade de vida das populações.
A utilização de água residual pelo homem em irrigação desde há muito
que é praticada, possibilitando um aproveitamento de um recurso, cada vez
mais escasso, como factor de produção em agricultura, evitando-se deste
modo a degradação dos meios hídricos naturais, tradicionalmente utilizados
como receptores.
Também a produção de resíduos no sector da pasta de papel teve um
crescimento acentuado, nomeadamente com a adopção de sistemas de tratamento de efluentes por partes das empresas produtoras, podendo o destino de tais resíduos passar igualmente pela sua utilização como fertilizante
na agricultura. Na verdade, apresentando o nosso País solos predominantemente ácidos e pobres em matéria orgânica, a incorporação de lamas
celulósicas ao solo será vantajosa, na medida em que se trata de um
resíduo rico em matéria orgânica e cálcio, em combinações químicas de
carácter básico.
É neste contexto que surge o presente trabalho, o qual tem como principal objectivo o estudo do efeito decorrente da utilização de lamas celulósicas
como fertilizante e/ou águas residuais urbanas tratadas como água de rega
sobre a produção e composição mineral da forragem (sorgo) produzida num
solo litólico não húmico de granito.
38
PASTAGENS E FORRAGENS 19
2 – MATERIAIS E MÉTODOS
Foi efectuado um ensaio em vasos com sorgo (Sorghum vulgare var.
sudanense piper Hitsh), cultivado num solo litólico não húmico de granito,
cujas características físico-químicas principais se apresentam na tabela 1.
TABELA 1 – Principais características do solo.
Características
Solo
Textura
CE (1:10 H2O, mS cm-1)
MO (%)
pH (1:2,5 H2O)
pH (1:2,5 KCl)
P2O5 (mg kg-1)
K2O (mg kg-1)
Ca2+ [cmol(+) kg-1]
Mg2+ [cmol(+) kg-1]
K+ [cmol(+) kg-1]
Na+ [cmol(+) kg-1]
CTC [cmol(+) kg-1]
V (%)
S [cmol(+) kg-1]
Cu [mg kg-1]
Fe [mg kg-1]
Zn (%)
Cl (mg 100g-1)
franco-arenosa
50,3
0,72
5,2
4,0
50
150
0,27
0,19
0,08
0,0003
2,8
19,42
0,54
7,74
1,93
0,016
504,1
Dos valores apresentados verifica-se, em linhas gerais, que o solo utilizado no ensaio é ácido, tem um teor baixo em matéria orgânica (MO) e em
fósforo "assimilável" e alto em potássio "assimilável"; apresenta uma capacidade de troca catiónica baixa e um grau de saturação em bases também
baixo.
As lamas celulósicas utilizadas no ensaio são lamas obtidas pelo
processo de tratamento primário instalado na unidade fabril de Portucel –
Vila Velha de Ródão. Os resultados analíticos desta lama encontram-se na
tabela 2.
A água residual utilizada na rega foi água residual urbana sujeita a um
tratamento de nível secundário pelo processo das lamas activadas e proveniente da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Castelo Branco. A caracterização analítica desta água apresenta-se na tabela 3.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
39
TABELA 2 – Principais características das lamas celulósicas.
Valores
Características
Humidade (105ºC, %)
C.E. (1:10 H2O, mS cm-1)
pH (1:2,5 H2O)
MO (%)
N- NH4+ (%)
N-NKjeldhal (%MS)
P (%)
C/N
Obtidos
66,98
0,21
7,9
74
0,05
0,21
vest.
200
a)
K (%)
Ca (%)
Mg (%)
Na (%)
Cu (mg kg-1)
Fe (%)
Zn (mg kg-1)
Cl (mg 100g-1)
Máximos
0,26
5,86
0,24
0,16
14,00
0,34
91,60
74,55
b)
0,20
2,45
0,14
0,09
9,34
3,58
77,44
1000c)
2500c)
a)
Estes valores foram obtidos através de espectrofotometria de absorção atómica em chama, após mineralização
das cinzas com HCl a 5 % (INRA- Bordeaux ).
b) Estes valores foram obtidos através de espectrofotometria de absorção atómica em chama, pelo método de
solubilização em água régia com sistema fechado (3), indicado pela Portaria n.º 177/96 (6).
c) Fonte: Portaria n.º 176/96 (5).
Atendendo às características do solo (tabela 1), das lamas celulósicas (tabela 2) e da água residual (tabela 3), assim como a resultados de ensaios anteriormente realizados, foram definidas doze modalidades, distribuídas por blocos
casualizados com três repetições, em que L60, L30 e L0 correspondem à incorporação de sessenta, trinta e zero toneladas de lamas celulósicas por hectare, e
A, AD, AR, ARD correspondem, respectivamente, a água da rede pública, água
da rede pública desinfectada, água residual e água residual desinfectada.
A desinfecção da água foi efectuada com o objectivo de colocar a água
residual com uma qualidade microbiológica adequada à rega de culturas sem
restrição (7), e foi efectuada com hipoclorito de sódio de forma a obter-se,
após 30 minutos de contacto, um teor de cloro residual livre de 3 mg l-1.
Os vasos foram cheios com 6 kg de terra que foi seca ao ar e crivada
por um crivo de malha de 5 mm.
Com base nos dados analíticos do solo e da lama e, de forma a evitar,
logo à partida, a ocorrência de factores limitantes ao normal desenvolvimento
das plantas, efectuou-se uma adubação de fundo com 0,8 g de P2O5 e 0,5 g
40
PASTAGENS E FORRAGENS 19
de K2O por vaso, sob a forma de dihidrogenofosfato de potássio. Imediatamente
após a sementeira, efectuou-se uma adubação com 0,75 g de N por vaso, sob a
forma de uma solução de nitrato de amónio. Também após a realização do primeiro corte se aplicou 0,36 g de N por vaso; como a resposta a esta fertilização não
foi a esperada, procedeu-se a uma nova adubação de cobertura com 0,45 g de N.
TABELA 3 – Principais características da água residual.
Parâmetros
n
Média
ST (g l-1)
SVT (g l-1)
SST (g l-1)
CQO a)
BOD5 a)
CE (mS cm-1)
pH
Sulfatos a)
Bicarb. (meq l-1)
N- Org a)
N- NH4+ a)
N- NO3-+ NO2- a)
N- totala)
P a)
Ca a)
Mg a)
K a)
Na a)
Fe a)
Cu a)
Zn a)
Cl a)
Adj RNa
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
0,54
0,15
0,03
152
11
1,22
7,7
37,20
5,52
1,17
25,8
1,15
28,12
0,19
59,24
4,65
16,78
116
0,52
–
2,48
199,12
5,68
s
0,070
0,048
0,001
75,76
2,77
0,22
0,14
5,55
1,54
0,87
11,73
0,21
11,97
0,0081
29,82
1,04
4,62
14,91
0,024
–
2,14
89,26
1,39
Xmáx.
0,62
0,26
0,05
275
15
1,55
7,9
44,8
9,7
3,56
45,92
1,4
47,88
0,21
105,61
6,53
25,5
140
0,55
0,65
5,62
295,8
8,32
Xmin.
0,4
0,1
0,02
50
7
0,83
7,4
28,4
4,5
0,56
7,84
0,84
9,8
0,18
25,39
3,41
10,5
90
Vest.
Vest.
Vest.
94,85
3,86
n – número de amostras colhidas ao longo do ensaio; s – desvio-padrão; xmáx. – valor máximo obtido; xmín. – valor
mínimo obtido.
a) valores expressos em mg l-1.
A sementeira realizou-se no dia 26 de Junho de 1996. Foi efectuada manualmente, tendo-se colocado 6 sementes vaso-1, dispostas em linha com uma distância
aproximada entre elas de 3 cm e a uma profundidade de 1 cm. Foram feitos três
cortes às plantas, a 30 de Julho, a 27 de Agosto e o último corte a 30 de Setembro
de 1996, quando estas apresentavam uma altura próxima dos 50 cm. A humidade
do solo foi controlada através de um medidor de humidade do solo tipo
"Bouyoucos", e a dotação de rega baseada nestas medições de forma a manter
os vasos a 80% da capacidade de campo. A rega com água residual iniciouse a 12 de Julho.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
41
As determinações analíticas efectuadas ao solo, às águas residuais e às
lamas celulósicas foram feitas de acordo com os métodos usados no Laboratório de Solos e Fertilidade da Escola Superior Agrária de Castelo Branco.
A análise estatística dos resultados foi efectuada no programa estatístico
Statgraphics, versão 6.0, utilizando a análise múltipla de variância (ANOVA),
seguida do teste LSD (Least Significant Difference) com um intervalo de
confiança de 95%.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 – Produção de forragem
De acordo com a tabela 4, constata-se que as modalidades regadas com água
residual apresentam uma produção significativamente superior, resultado que vem
reforçar a ideia já existente sobre o bom valor fertilizante da água residual.
TABELA 4 – Valores médios da matéria seca (g) obtidos em cada corte e produção total de
matéria seca (g).
1º corte
2º corte
3º corte
MS total
Lamas (L)
L60 t ha-1
L30 t ha-1
L0 t ha-1
Significância
Modalidades
4,03 b
4,81ab
5,23a
**
16,83
16,48
16,14
ns
8,49
8,66
9,00
ns
29,36
29,94
30,38
ns
Água (A)
Residual
Rede
Significância
4,61
4,78
ns
17,75a
15,22 b
***
11,75a
5,68 b
***
34,11a
25,68 b
***
Cloragem (C)
Desinfectada
Não desinfectada
significância
4,55
4,83
ns
15,38 b
17,58a
**
7,94 b
9,49a
**
27,88
31,91
***
interacções/signif.
L×A
L×C
A×C
L×A×C
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
ns
**
ns
***
ns
*
ns
***
ns
Nota: ns – P>0,05; * P 0,05; ** P 0,01; *** P 0.001; valores seguidos da mesma letra não diferem
significativamente entre si pelo teste de LSD de comparação de médias.
Em relação à evolução da matéria seca ao longo do ensaio, pode observar-se, pela mesma tabela, que, no primeiro corte, houve uma redução significativa da produção provocada pela aplicação ao solo de níveis crescentes de
42
PASTAGENS E FORRAGENS 19
lamas. Este resultado poder-se-á atribuir à elevada razão C/N que estas lamas
apresentam, a qual poderá ser responsável por um abaixamento na disponibilidade em azoto para as plantas.
As modalidades regadas com água residual apresentam acréscimos de
produção altamente significativos no segundo e terceiro cortes, facto que se
atribui aos elementos nutritivos fornecidos à cultura.
No segundo e terceiro cortes as modalidades onde se efectuou desinfecção
apresentam produções de matéria (MS) seca significativamente mais baixas.
3.2 – Composição mineral da forragem
3.2.1 – Azoto
Através da tabela 5, observa-se que as plantas das modalidades regadas com
água residual apresentam teores em azoto significativamente superiores, nos três
cortes, comparativamente às modalidades regadas com água da rede. Tal resultado
seria já esperado, uma vez que as águas residuais são ricas neste elemento.
TABELA 5 – Teores médios de azoto Kjeldhal (%), fósforo (%) e potássio (%) obtidos na
análise de plantas, em cada corte.
Azoto Kjeldhal
Fósforo
Modalidades
1ºcorte
2ºcorte
3ºcorte
1ºcorte
Lamas (L)
L60 t ha-1
L30 t ha-1
L0 t ha-1
Significância
2,43
2,34
2,51
ns
1,51ab
1,46 b
1,57a
*
1,05a
0,99ab
0,90 b
*
0,218
0,266
0,253
ns
Água (A)
Residual
Rede
Significância
2,55a
2,31 b
**
1,75a
1,28 b
***
Cloragem (C)
Desinfectada 2,48
Não desinfectada 2,38
Significância ns
Interacções/signif.
L×A
ns
L×C
ns
A×C
ns
L×A×C
ns
Potássio
2ºcorte
3ºcorte
1ºcorte
2ºcorte
3ºcorte
0,230 b
0,197 c
0,273a
***
0,269ab
0,272a
0,259 b
*
2,85 b
2,92 b
3,42a
***
2,63a
2,32 b
2,37 b
***
2,01 b
2,26a
1,98 b
***
1,08a
0,88 b
***
0,281a 0,262a 0,294a 3,16a
0,210 b 0,204 b 0,239 b 2,97 b
*
***
***
***
2,34 b
2,54a
***
2,03 b
2,14a
*
1,55a
1,48 b
*
1,01
0,95
ns
0,251
0,240
ns
0,234
0,231
ns
0,262 b 2,98 b
0,271a 3,14a
*
***
2,37 b
2,51a
***
2,01 b
2.16a
**
ns
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns
ns
***
ns
***
ns
***
ns
ns
ns
***
ns
ns
**
ns
*
Nota: ns – P>0,05; * P 0,05; ** P 0,01; *** P 0,001; valores seguidos da mesma letra não diferem
significativamente entre si pelo teste de LSD de comparação de médias.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
43
Relativamente ao efeito das lamas celulósicas, pode-se verificar, na tabela 5,
que se observaram diferenças no segundo e terceiro cortes, verificando-se uma
tendência para um aumento do teor em azoto das plantas, com a aplicação de
níveis crescentes do resíduo. Ainda de acordo com a mesma tabela, pode-se constatar que, em relação ao terceiro corte, se está a obter um teor de azoto menos
elevado nas modalidades onde a produção foi maior, facto que poderá dever-se a
uma certa diluição do elemento em causa. Por outro lado, e como justificação do
aumento do teor de azoto com o aumento do nível de lamas aplicado, nesta altura
do ciclo das plantas não se poderá excluir, de todo, a possibilidade de ter já
ocorrido alguma mineralização da matéria orgânica das lamas.
3.2.2 – Fósforo
Considerando ainda a tabela 5, observa-se que as plantas das modalidades
regadas com água residual apresentam teores em fósforo significativamente superiores, nos três cortes, comparativamente às modalidades regadas com água da
rede. Tal resultado era já esperado, atendendo à composição da água residual.
Os resultados apresentados (produção e teor em fósforo das plantas)
mostram que a absorção de P pelas plantas diminui com o aumento do nível
de lamas aplicado, sobretudo nos primeiros cortes, o que poderá ser devido à
elevada razão C/P inicial deste resíduo.
3.2.3 – Potássio
Verificou-se, no primeiro corte, que nas modalidades em que se incorporaram lamas as plantas apresentaram teores mais baixos de potássio, provavelmente por nesta fase ter ocorrido algum antagonismo cálcio/potássio, consequência da maior riqueza das lamas no primeiro nutriente, o que terá
originado uma menor absorção de potássio.
No segundo e terceiro cortes, as modalidades regadas com água residual
apresentaram, igualmente, teores significativamente mais baixos. Admite-se
que este facto se deva, fundamentalmente, ao efeito cumulativo do sódio no
solo e, consequentemente, à sua absorção preferencial pelas plantas em relação ao elemento em causa, facto que também justificará os resultados apresentados relativamente à cloragem.
3.2.4 – Cálcio
Através da tabela 6 verifica-se que as plantas das modalidades onde se
incorporaram lamas apresentam teores significativamente superiores de cálcio,
relativamente às plantas das modalidades onde não se incorporou esse resí-
44
PASTAGENS E FORRAGENS 19
duo, facto que certamente estará relacionado com a sua composição. Na
verdade, verifica-se que, nos três cortes, as modalidades L60 e L30, apresentaram teores em cálcio superiores à L0. Destinando-se a cultura em
estudo à alimentação animal e, proporcionando a incorporação de lamas
celulósicas no solo um aumento do teor de cálcio nas plantas, poder-se-á
considerar estar perante um resíduo susceptível de contribuir, de forma
eficaz, para evitar o aparecimento da doença designada por hipocalcemia.
TABELA 6 – Teores médios de cálcio (%), magnésio (%) e sódio (mg kg-1) obtidos na
análise de plantas, em cada corte.
Cálcio
Modalidades
1ºcorte 2ºcorte 3ºcorte 1ºcorte
Magnésio
Sódio
2ºcorte 3ºcorte 1ºcorte
2ºcorte
3ºcorte
Lamas (L)
L60 t ha -1
L30 t ha-1
L0 t ha-1
significância
0,77a
0,72a
0,50 b
***
0,56a
0,53 b
0,45 c
***
Água (A)
Residual
Rede
significância
0,67
0,67
n.s.
0,48 b 0,53 b 0,25a
0,30a
0,55a
0,76a
0,23 b 0,25 b
***
***
***
***
0,26a 236,74a 1 896,81a 5 054,63a
0,25 b 56,30 b 38,60 b
52,05 b
**
***
***
***
Cloragem (C)
Desinfectada
0,67
Não desinfectada 0,67
significância
ns
0,53a
0,49 b
***
0,65
0,64
ns
0,23 b
0,25a
***
0,27
0,28
ns
0,25 b 188,14a 1 458,46a 3 971,68a
0,26a 104,89 b 476,94 b 1 134,99 b
*
***
***
**
interacções/signif.
L×A
L×C
A×C
L×A×C
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
ns
**
*
ns
*
**
ns
**
*
***
ns
***
ns
ns
ns
ns
*
0,74a
0,64 b
0,56 c
***
0,25a
0,28 b
0,24a
0,30a
0,23 b 0,25 c
***
***
0,25 b 181,45a
716,44 b 2 835,53a
0,26a 133,63 b 890,94 b 2 115,44 b
0,25 b 124,48 b 1 295,73a 2 709,04a
**
***
***
**
ns
**
***
***
***
*
***
*
***
**
***
**
Nota: ns – P>0,05; * P 0,05; ** P 0,01; *** P 0,001; valores seguidos da mesma letra não diferem
significativamente entre si pelo teste de LSD de comparação de médias.
As modalidades regadas com água residual apresentaram, no segundo
e terceiros cortes, teores de cálcio significativamente inferiores relativamente às modalidades regadas com água da rede, provavelmente devido à
absorção preferencial de sódio, em detrimento de cálcio, por parte das
plantas.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
45
3.2.5 – Magnésio
A incorporação de lamas, no primeiro corte, teve um efeito positivo na
absorção de magnésio. Já em relação ao segundo e terceiro cortes, observou-se que tal efeito se foi esbatendo, devido, provavelmente, à maior disponibilidade de cálcio que as lamas terão proporcionado.
Verifica-se, também, que as plantas das modalidades regadas com água
residual apresentaram teores de magnésio significativamente superiores, possivelmente devido à composição destas águas.
O teor em magnésio da forragem assume particular interesse devido às necessidades que os animais têm neste elemento, podendo em situações de carência
ocasionar a doença conhecida como "tetania dos pastos". Os teores apresentados
pela forragem não serão susceptíveis de ocasionar essa carência nos animais.
3.2.6 – Sódio
A rega com água residual conduziu a um aumento do teor em sódio nas
plantas, em todos os cortes. Visto as águas residuais serem ricas neste nutriente
e, sendo a planta ensaiada uma gramínea, a qual tenderá, preferencialmente, a
absorver iões monovalentes, como o sódio, tal resultado não será de surpreender.
Verifica-se ainda, através dos resultados apresentados na tabela 6, que
as modalidades em que se efectuou cloragem apresentaram, nos três cortes,
teores de sódio significativamente superiores às modalidades em que não se
efectuou tal tratamento. Admite-se que este aumento se deve à composição
do desinfectante utilizado (hipoclorito de sódio, NaClO).
3.2.7 – Ferro
Pode observar-se na tabela 7 que tanto as lamas celulósicas como as
águas residuais contribuiram, no primeiro e segundo cortes, para um aumento
do teor de ferro na planta, tendo acontecido o inverso no terceiro corte.
Em relação à cloragem, parece que a desinfecção tende a elevar os
níveis de ferro na planta, à medida que se vão sucedendo os diversos cortes.
3.2.8 – Cobre
Em relação ao teor de cobre na planta, verificou-se uma tendência
para a sua diminuição ao longo do ensaio, devendo-se tal facto, provavelmente, à ocorrência da formação de quelatos altamente estáveis com subs-
46
PASTAGENS E FORRAGENS 19
tâncias húmicas, que terão resultado da humificação das lamas celulósicas
que possa ter já ocorrido até essa fase do ensaio. A cloragem foi responsável por diferenças significativas no segundo e terceiro cortes, tendo o acréscimo do teor em cobre na planta sido favorecido pela utilização de água
desinfectada.
TABELA 7 – Teores médios de ferro (mg kg-1), cobre (mg kg-1) e zinco (%) obtidos na
análise de plantas, em cada corte.
Modalidades
1ºcorte
Ferro
Cobre
Zinco
2ºcorte 3ºcorte 1ºcorte
2ºcorte 3ºcorte 1ºcorte
2ºcorte
3ºcorte
Lamas (L)
L60 t ha-1
110,43a
123,51a
L30 t ha-1
108,79a
104,98 b 84,54 b 1,99 b
L0 t ha-1
significância
74,56 c 2,89a
1,61ab
1,30 b 38,05 b
31,92a
30,58 b
1,70a
1,40 b 41,17 b
30,03 b
37,44a
32,40a
29,90 b
91,14 b 109,66 b 110,19a
1,22 c
1,49 b
2,37a
58,71a
***
***
***
ns
***
***
107,23a
122,37a
1,97a
1,79
49,60a
34,92a
35,03a
***
*
***
Água (A)
Residual
Rede
significância
74,74 b 1,82 b
99,67 b 103,06 b 104,79a
2,25a
1,23 b
1,58
42,35 b
27,98 b
30,25 b
***
***
***
***
***
ns
***
***
***
102,42
118,61a
99,16a
1,95
1,72a
1,97a
49,88a
1,48 b
1,41 b 42,08 b
**
**
Cloragem (C)
Desinfectada
Não desinfectada 104,49
Significância
106,82 b 80,37 b 2,12
ns
***
31,52
32,00
31,38
33,27
ns
ns
ns
***
***
L×A
*
***
***
**
*
ns
ns
*
***
L×C
***
ns
*
***
***
**
ns
ns
ns
A×C
ns
**
ns
*
ns
ns
***
ns
ns
L×A×C
ns
***
**
**
***
*
**
**
ns
Interacções/signif.
Nota: ns – P>0,05; * P 0,05; ** P 0,01; *** P 0.001; valores seguidos da mesma letra não diferem
significativamente entre si pelo teste de LSD de comparação de médias.
3.2.9 – Zinco
Com a utilização de água residual, verificou-se que as plantas apresentaram teores de zinco significativamente superiores, nos três cortes, relativamente às modalidades regadas com água da rede. Pensa-se que este resultado
se deve à composição da água residual, uma vez que, dentro dos
microelementos analisados, o zinco é mais representativo.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
47
3.2.10 – Cloretos
Através da tabela 8, pode observar-se que não se verificaram diferenças
significativas no teor de cloretos nas plantas, devido à utilização de lamas
celulósicas.
A rega com água residual conduziu a um aumento, altamente significativo, do teor em cloretos nas plantas, em todos os cortes, relativamente às
modalidades regadas com água da rede, resultado que poderá ser atribuído à
sua composição.
Como já foi referido, a desinfecção da água residual foi efectuada com
hipoclorito de sódio, tendo-se, por isso, nas modalidades em que se considerou este tratamento, incorporado maior nível de cloretos. Deste modo, não
será de estranhar ter-se verificado que a cloragem tenha provocado, no segundo e terceiro cortes, a obtenção de cloretos nas plantas correspondentes às
modalidades em que não se considerou tal tratamento.
TABELA 8 – Teores médios de cloretos (mg 100g-1) obtidos
na análise de plantas, em cada corte.
Modalidades
1ºcorte
2ºcorte
3ºcorte
Lamas (L)
L60 tha-1
L30 tha-1
L0 tha-1
significância
176,55
171,70
175,73
ns
323,29
309,68
305,18
ns
150,17
140,34
147,92
ns
Água (A)
Residual
Rede
Significância
194,86a
154,46 b
***
405,49a
219,94 b
***
189,96a
102,32 b
***
Cloragem (C)
Desinfectada
Não desinfectada
Significância
167,88 b
181,44a
*
347,90a
277,53 b
***
181,92a
110,37 b
***
interacções/signif.
L×A
L×C
A×C
L×A×C
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
ns
ns
**
***
ns
Nota: ns – P>0,05; * P 0,05; ** P 0.01; *** P 0,001; valores seguidos
da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo
teste de LSD de comparação de médias.
48
PASTAGENS E FORRAGENS 19
4 – CONCLUSÕES
Verificou-se que a água residual conduziu a aumentos significativos da
produção, enquanto que a aplicação de lamas, para qualquer nível ensaiado,
não originou diferenças significativas.
Relativamente à cloragem, observou-se um efeito depressivo que, provavelmente, se terá ficado a dever ao aumento de absorção de sódio e cloretos,
em detrimento de outros nutrientes. Parece, no entanto, que a cloragem tende
a favorecer a absorção de ferro, cobre e zinco.
A aplicação destes resíduos melhorou o valor nutritivo das plantas:
– as águas residuais aumentaram os teores em azoto, fósforo, magnésio,
sódio, zinco e cloretos;
– as lamas celulósicas aumentaram os teores em cálcio e, em alguns
cortes, os teores de ferro, cobre e zinco, sem que estes micronutrientes
apresentassem teores restritivos para a alimentação animal.
BIBLIOGRAFIA
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Urbanas na Cultura do Sorgo (Sorghum vulgare var. sudanense piper Hitsh). Relatório
do Trabalho de Fim de Curso em Engenharia de Produção Agrícola. Castelo Branco,
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2 – CARNEIRO, J. P. B. – Interesse Fertilizante da Aplicação Simultânea de Lamas
Celulósicas e Estrume de Aviário. Tese de Mestrado em Nutrição Vegetal, Fertilidade
do Solo e Fertilização. Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, 1994.
3 – DIN 38 414, Deutch, Norm part 7, 1983 – Standard methods for the examination of
water, wastewater, sludge and sediments (Group 5). Digestion using Aqua Regia for
subsequent determination of the acid-soluble portion of metals.
4 – MONTEIRO, M. C. Horta – Utilização de Água Residual Urbana na Cultura de
Azevém (Lolium multiflorum Lam.). Tese de Mestrado em Nutrição Vegetal, Fertilidade
do Solo e Fertilização. Lisboa, Instituro Superior Agronomia, 1994.
5 – Portaria n.º 176/96 – D.R., II Série, n.º 230 (96-10-03).
6 – Portaria n.º 177/96 – D.R., II Série, n.º 230 (96-10-03).
7 – WORLD HEALTH ORGANISATION – Health guidelines for the use of wastewater in
agriculture and aquaculture. Geneve, Switzerland, WHO, 1989. (Report of WHO
Scientific Group, World Techni 778).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
49
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 51–60.
O MELHORAMENTO DAS PASTAGENS DE MONTANHA
Nuno Moreira
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Apartado 202 – 5001-911 VILA REAL
RESUMO
Em face da importância das pastagens de montanha na agricultura das regiões
de Trás-os-Montes e Beira Interior começa-se por referir um conjunto de ensaios e
estudos de melhoramento destas pastagens realizados e publicados no País ao longo
das últimas décadas.
Em seguida, apresentam-se exemplos de resultados de ensaios de longa duração
em pastagens de montanha, conduzidos no Reino Unido, nos quais foi testado o efeito
de diferentes combinações e intensidades técnicas de melhoramento, sublinhando-se a
possibilidade de adoptar diferentes estratégias.
Em face da importância actual das relações agricultura/ambiente, refere-se o
elevado valor ambiental e paisagístico das pastagens de montanha, e revê-se criticamente as técnicas de melhoramento com efeitos ambientais mais desvaforáveis.
Finalmente, analisa-se o apoio concedido entre nós no âmbito das medidas
agro-ambientais, em comparação com as ajudas concedidas no Reino Unido a este tipo
de pastagens nas zonas ambientalmente sensíveis, concluindo-se pela necessidade de
reforço do apoio à preservação dos nossos lameiros de montanha.
PALAVRAS-CHAVES: Lameiros; Pastagens de montanha; Melhoramento de pastagens;
Maneio de pastagens; Protecção do ambiente.
ABSTRACT
Hill pastures are an important resource for farmland activities in North and Central
East of Portugal.
This paper begins with a brief literature review of the experiments and studies
conducted in recent decades in Portugal on the hill pasture improvement.
Results of long-term effects of improvement methods on hill pastures, namely in
Scotland and Wales, are presented to show the different possibilities of intensification
and the need for a strategy.
* Conferência proferida na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Abril de
1998.
51
Considering the present importance of taking into account nature conservation in
farming activities, and the high ecological and landscape value of seminatural hill
meadows, an appreciation of environmental risks of the different improvement techniques
is then provided.
Finally an analysis of the agri-environmental regulations and incentives for hill
grasslands in Portugal is undertaken, and a comparison with the environmentally
sensitive area schemes and incentives for grassland management in the UK.
The paper concludes by stressing the need both to increase the level of incentive,
while applying further and more-demanding guidelines for grassland mangement and
nature conservation, initiatives that will be essential for hill meadows preservation in
Portugal.
KEY WORDS: Hill pastures; Hay meadows; Pasture improvement; Grassland management;
Nature conservation.
1 – INTRODUÇÃO
As pastagens de montanha, entre nós designadas também por lameiros de
montanha (26), constituem comunidades vegetais predominantemente herbáceas,
com uma pressão de cultivo e utilização (pastoreio ou corte + pastoreio) que as
condiciona, para além das condições ambientais a que estão sujeitas.
Estas pastagens constituem o principal recurso forrageiro para a pecuária
das zonas de montanha de Trás-os-Montes (20) e têm também grande importância na região da Beira Interior, em especial no maciço da Serra da Estrela, a
par das áreas baldias ou incultas, em que a vegetação arbustiva tem uma maior
representação, e de pequenas áreas das explorações dedicadas a culturas forrageiras
anuais, em especial na estação fria (nomeadamente ferrejos e azevéns).
No seu estudo geográfico sobre Trás-os-Montes Virgílio Taborda escreveu que "não é por mero acaso que os lameiros ocupam quase sempre os
solos mais férteis e são de todas as terras as mais estimadas e as de maior
preço", o que atesta bem a importância, de há muitos anos predominante,
deste recurso para a agricultura das áreas de montanha.
O facto de constituirem a base de suporte da alimentação de raças
autóctones de bovinos, como a Barrosã, a Maronesa e a Mirandesa, assim
como a sua contribuição para o sistema de produção do "queijo da Serra",
confere-lhes também um papel importante hoje em dia na preservação desta
diversidade e especificidade de produções animais.
O melhoramento destas pastagens tem sido uma preocupação de diferentes regiões de montanha da Europa ao longo de algumas décadas, nomeadamente na Suíça ( 4) e na Escócia (18), e também entre nós.
52
PASTAGENS E FORRAGENS 19
2 – ESTUDO DO MELHORAMENTO
DAS PASTAGENS DE MONTANHA EM PORTUGAL
Entre nós, na década que se seguiu ao fim da II Guerra Mundial, as
pastagens de altitude da Serra da Estrela mereceram especial atenção e estudo, a começar pelas excursões geobotânicas de Braun-Blanquet e colaboradores portugueses (3) no final dos anos quarenta, os quais se referem às "magras pastagens de gramíneas". Em 1955, Malato Beliz aborda a fitossociologia
e o melhoramento das pastagens de cervum nos "covões, naves e corrais da
Serra" e sugere um plano de estudo envolvendo o inventário, o maneio, a
aplicação de adubos e correctivos, o ensaio de adaptação de espécies melhoradas (dos géneros Lotus, Trifolium, Agrostis, Festuca e Poa) e as análises
económicas destas técnicas e dos seus resultados (2). Pereira publicou, em
1957 ( 19), resultados pormenorizados sobre a evolução da composição ao
longo do ciclo de crescimento das pastagens de cervum da Serra da Estrela, a
1500 m de altitude, concluindo nomeadamente a sua baixa produtividade, a
dominância em mais de 90% pelo Nardus stricta e a elevada quebra do valor
nutritivo com o avançar da estação de crescimento, em particular do valor
proteico.
Na década de sessenta, Dantas Barreto conduziu ensaios de fertilização
NPK e Ca em pastagens semeadas na Serra de Arga (Minho – 770 m de
altitude), obtendo respostas muito acentuadas, sobretudo do fósforo, elemento
do qual o solo de ensaio apenas apresentava vestígios ( 1). Nesta mesma
década, Teles conduziu o seu valioso trabalho de caracterização fitossociológica e química dos lameiros de Trás-os-Montes (26) onde, além da cuidada
caracterização e classificação fitossociológica destas pastagens, sugere a possibilidade do seu melhoramento, em particular através da fertilização dos que
apresentam uma melhor composição, da ressementeira no caso dos que são
dominados por espécies de reduzido valor forrageiro e através da drenagem
dos que, pelo excesso de água, sofrem grande invasão de juncos.
Na década de oitenta voltam a ser publicados resultados de ensaios de
fertilização, conduzidos por Mascarenhas Ferreira e colaboradores (8), em
que a fertilização NPK e Ca permitiu aumentar substancialmente as produções do corte de feno (em cerca de 50%), embora com reduzidos efeitos no
valor nutritivo.
Ainda nesta década, ensaios conduzidos por Raposo e colaboradores
(22, 23 ) permitiram obter respostas significativas da produção à aplicação de
fósforo e azoto, o mesmo não se verificando com a correcção calcária. Esta,
PASTAGENS E FORRAGENS 19
53
porém, permitiu uma dinâmica de vegetação favorável às leguminosas, as
quais são, por outro lado, prejudicadas pela acentuada resposta das gramíneas
à adubação azotada e mesmo à adubação fosfospotássica, quando os solos
apresentam valores baixos destes elementos (21).
Mais recentemente, foi reconhecido o elevado valor e diversidade biológica da flora destes lameiros de montanha (12). De referir ainda a publicação de duas análises e revisões sobre este tema, uma dirigida às técnicas e
estratégias de melhoramento das pastagens de montanha (17) e outra sobre a
importância actual e as perspectivas futuras dos lameiros, justificando a necessidade da sua preservação ( 20).
3 – TÉCNICAS DE MELHORAMENTO
DAS PASTAGENS DE MONTANHA
O melhoramento das pastagens de montanha deve adaptar-se a uma
estratégia global para a exploração agrícola ou para a região em causa (17). É
possível adoptar toda uma gama de técnicas ou suas combinações, com diferentes graus de intensidade, custos e resultados, como pôde ser observado
com ovinos em ensaios de longa duração conduzidos no País de Gales e na
Escócia (quadros 1, 2 e 3).
QUADRO 1 – Resultados de diferentes técnicas de melhoramento em ensaio de longa duração
(18 anos) numa pastagem de montanha no País de Gales [adaptado de (7)].
Tratamento em ensaio
Produção média
(kg MS ha-1ano-1)
Digestibilidade
média anual
"D" in vitro (%)
1 – Não utilização
1,1(1)
36,9(1)
2 – Pastoreio controlado
2,3
51,9
3 – 2 + 2,5 t/ha de fosfato Tomás cada 5 anos
2,8
58,2
4 – 3 + 5 t/ha de calcário
3,3
60,7
5 – 4 + alta pressão pastoreio
2,1
63,5
6 – 4 + 75 kg N/ha/ano
4,5
63,9
7 – 4 + 290 kg N/ha/ano
6,3
67,1
8 – 6 + corte vegetação + sementeira
5,5
70,5
9 – 6 + paraquato + sementeira
5,3
70,1
10 – 6 + lavoura + sementeira azevém perene S23
6,2
68,1
11 – 7 + lavoura + sementeira azevém perene S23
9,0
71,3
(1)
54
Produção só do 1.º ano de ensaio.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
QUADRO 2 – Resultados de diferentes técnicas de melhoramento em ensaio de longa duração
(médias de 15 anos em 3 locais) em pastagens de montanha na Escócia
[adaptado de (5 e 6)].
Produção
kg MS ha-1
N.º de dias de
pastoreio(1)
Ganhos de peso
vivo (g ov-1 d-1)
1 – Pastoreio controlado
3 860
2 250
- 18
2 – 1 + calagem
4 160
2530
26
3 – 2 + fosfato
4 220
2 530
21
4 – 3 + sobressementeira de trevo branco
4 590
3 030
61
5 – 4 + sobressementeira de azevém perene
5 170
3 640
82
Tratamentos em ensaio
(1)
Número de dias de pastoreio ovelha/ha/ano.
QUADRO 3 – Evolução dos efeitos a longo prazo (2º e 13º anos de ensaio) na produção
animal de diferentes técnicas de melhoramento de pastagens de montanha na
Escócia [adaptado de (6)].
Parâmetros
Tratamentos
Anos
1
Ingestão MO (g
ov-1dia-1)
2
3
4
5
2º
13º
1 400
1 300
1 380
1 610
1 320
1 610
1 410
1 590
1 460
1 490
Digestibilidade MO (%)
2º
13º
66
62
66
63
65
64
67
67
69
70
Ganhos peso (g ov-1dia-1)
2º
13º
56
-70
52
3
76
13
128
46
139
46
Nº de dias de pastoreio (ov ha-1)
2º
13º
2 120
1 830
2 330
2 300
2 160
2 330
2 480
3 260
3 010
3 780
Tratamentos:
1 – pastoreio controlado; 2 – 1 + calagem; 3 – 2 + P; 4 – 3 + trevo; 5 – 4 + azevém.
A primeira etapa, comum a todas as estratégias, é assegurar uma mais
eficiente utilização da produção, pois de outra forma de nada servem as
restantes técnicas, já que a insuficiente utilização da erva que cresce conduz
inevitavelmente a um ciclo de degradação (figura 1).
Esta garantia de uma utilização eficiente e equilibrada da erva que
cresce pode ser assegurada pelo manejo do pastoreio com cercas, muros ou
sebes e pela alternância do corte e pastoreio (16), tal como se verifica nos
tradicionais lameiros de feno de Trás-os-Montes (20).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
55
Consumo
insuficiente
da vegetação
(subpastoreio)
Menor valor
alimentar da
pastagem
Menor
produção
animal
Menor produção
de erva
(< fotossíntese)
Acumulação
de material
vegetal morto
Menor
reciclagem
de nutrientes
FIGURA 1 – Esquema do ciclo de degradação da pastagem devido a insuficiente utilização
(subpastoreio).
4 – PASTAGENS DE MONTANHA
E OS NOVOS DESAFIOS – PROTECÇÃO DO AMBIENTE
E SUSTENTABILIDADE SOCIOECONÓMICA
Hoje em dia já não é possível encarar o melhoramento das pastagens de
montanha apenas numa perspectiva agro-pecuária e do exclusivo interesse da
exploração. Há que ter em conta as crescentes preocupações de preservação
do ambiente e as novas medidas de política agrícola, nomeadamente as restrições e/ou ajudas relativamente à protecção do ambiente.
No caso das pastagens de montanha tem particular importância, do ponto de vista ambiental, a sua diversidade biológica, quer em termos da sua
flora (12), quer em termos de habitat para diferentes espécies de invertebrados,
pássaros e pequenos mamíferos (13).
Há técnicas de melhoramento que são consideradas como tendo efeitos
negativos apreciáveis, do ponto de vista ambiental, sem que os seus resultados, do ponto de vista da produção, sejam substanciais. Wilkins e Harvey
(27) consideram nessa situação a aplicação de herbicidas e pesticidas, a drenagem e a ressementeira. Estas últimas têm perdido adeptos na medida em
56
PASTAGENS E FORRAGENS 19
que ensaios recentes de fertilização têm permitido obter muito boas respostas
de produção de pastagens de vegetação espontânea muito diversa e em condições de solos com deficiente drenagem ( 10, 11). O mesmo defenderam Pires e
colaboradores na sua análise sobre as perspectivas dos lameiros de Trás-os-Montes (20). Efeitos negativos sensíveis na diversidade biológica são também atribuídos à antecipação ou adiamento sensível das datas de corte do
feno ( 9, 24) e à supressão do pastoreio em alternância com o corte (24, 25 ).
A fertilização, que pode ter efeitos negativos a partir de valores moderados (p. ex. 80N, 40P, 40K) (25), é, porém, uma técnica indispensável à
obtenção de boas produções (28 ), pelo que Wilkins e Harvey (27) defendem
como melhor solução a existência em cada região de uma diversidade de
situações em que algumas pastagens são sujeitas a maior intensificação, enquanto que outras, beneficiando de maiores apoios para isso, obedecerão a
regras de maneio mais restritivas e extensivas. Está neste caso o esquema de
apoio estabelecido no Reino Unido para agricultores das zonas delimitadas
como ambientalmente sensíveis (ESA's), cujas principais regras de gestão
(28) são as seguintes:
– levantar o gado pelo menos 7 semanas antes do corte de feno;
– não fazer o corte de feno (ou silagem) antes de 8 de Julho e fazê-lo
pelo menos uma vez de 5 em 5 anos já em Agosto;
– o recrescimento deve ser pastoreado;
– se o corte for para ensilagem deve ser pré-fenado;
– a fertilização (em uma só aplicação, orgânica ou mineral) não deve
exceder 25 N, 12,5 P2O5 e 12,5 K2O ha-1 ano-1;
– não aplicar chorume ou estrumes de aviário;
– não usar insecticidas ou fungicidas;
– só é permitido usar herbicidas para controlo de algumas infestantes
como por exemplo os fetos (uso localizado);
– não aplicar calcário ou outros correctivos da acidez;
– não sobrepastorear, subpastorear ou fazer pastoreio em condições de
atascamento;
– não instalar novas drenagens.
Trata-se de um conjunto de restrições apreciáveis, recompensado pela
atribuição de um prémio de 140 libras inglesas por hectare.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
57
Entre nós, as medidas agro-ambientais estabelecem ajudas para os
lameiros, que se comparam desfavoravelmente com os montantes atribuídos a
outros sistemas forrageiros ou policulturais extensivos de menor valor ambiental e paisagístico (14, 15). Particular gravidade tem, quanto a nós, o facto
de os prémios de perda de rendimento atribuídos às superfícies agrícolas
florestadas terem valores substancialmente mais elevados, o que tem conduzido à destruição de lameiros tradicionais com vista à sua florestação, em
particular no Planalto de Miranda. Crê-se que, a exemplo do que sucede no
Reino Unido, se poderia estabelecer uma classe de compromissos mais exigentes quanto à gestão destas pastagens, atribuindo-lhes para o efeito uma
ajuda mais elevada que recompensasse a sua preservação e assegurasse os
seus efeitos ambientais e paisagísticos.
Para além destes riscos de florestação, o abandono destas pastagens pelos
agricultores, transformando-as em incultos, conduz a uma rápida invasão pela
vegetação arbustiva, com riscos acrescidos de ocorrência e propagação de fogos e com um rápido declínio do seu valor para a fauna e diminuição da
diversidade florística (27). Este risco de abandono é crescente com a tendência
de despovoamento das regiões de montanha, pelo que as medidas de apoio
agroambiental se deverão conjugar com medidas de desenvolvimento rural que
tenham em conta a sustentabilidade socioeconómica destes sistemas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PASTAGENS E FORRAGENS 19
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PASTAGENS E FORRAGENS 19
59
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Caracterização Fitossociológica e Química. "Agronomia Lusitana", 31 (1/2) 1970,
p. 5-130.
27 – WILKINS, R. J.; HARVEY, H. J. – Management options to achieve agricultural and
nature conservation objectives. In: "HAGGAR, R. J.; PEEL, S. (ed.) – Grassland
Management and nature conservation". [Reading], BGS, 1994. (Occasional Symposium
nº. 28), p. 86-94.
28 – YOUNGER, A.; SMITH, R. S. – Hay meadow management in the Pennine Dales,
Northern England. In: "HAGGAR, R. J.; PEEL, S. (ed.) – Grassland management and
nature conservation". [Reading], BGS, 1994. (Occasional Symposium n.º. 28), p. 137-143.
60
PASTAGENS E FORRAGENS 19
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 61–71.
A UTILIZAÇÃO DE PASTAGENS E FORRAGENS
E A CONSERVAÇÃO DO SOLO
EXEMPLOS DA EROSÃO VERIFICADA NUM SOLO LITÓLICO NÃO
HÚMICO DE XISTO MOSQUEADO NA REGIÃO DE CASTELO BRANCO*
P. M. S. Lopes, J. N. P. Goulão♦, N. R. S. Cortez♣
Unidade Departamental de Engenharia Rural, ♦Unidade Departamental de Fitotecnia – Escola
Superior Agrária de Castelo Branco – Apartado 19 – 6001 CASTELO BRANCO CODEX
♣
Departamento de Ciências do Ambiente – Instituto Superior de Agronomia –
– Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA CODEX
RESUMO
A erosão acelerada é um processo preocupante de degradação do solo, a nível
nacional e mundial, sendo responsável pela desertificação de extensas áreas.
Neste trabalho são apresentados os valores de escoamento e de perda de solo por
erosão hídrica, na estação experimental de erosão da Escola Superior Agrária de
Castelo Branco (ensaio em Solos Litólicos Não Húmicos de xistos mosqueados), ao
longo dos anos hidrológicos 1991-1992 a 1996-1997.
Este campo de ensaio é constituído por 18 talhões experimentais, com 6
modalidades e 3 repetições, em que se pretende comparar os efeitos de uma
monocultura cerealífera com uma rotação predominantemente forrageira (trianual),
ambas tradicionais na região, comparando-as ainda com um prado permanente de
sequeiro e com uma modalidade de solo mantido permanentemente nu através de
mobilizações realizadas segundo o maior declive.
Tem-se vindo a verificar que nos talhões onde a vegetação é mais densa e
permanente as perdas de solo são substancialmente menores que com outro tipo de
modalidade de utilzação
PALAVRAS-CHAVES: Erosão do solo; Escoamento; Perda de solo; Solos de xistos.
ABSTRACT
Accelerated soil erosion is a concerned soil degradation process, both at national
and international level, which is responsible for the desertification of large areas.
In this work are presented values of runoff and soil loss by water erosion in the
experimental soil erosion field plots in the High School of Agriculture of Castelo
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Maio
de 1998.
61
Branco (ESACB) (Portugal) – experimental field plots on soil schist – through the
hydrological years from 1991-1992 to 1996-1997.
This experimental field is composed by 18 experimental field plots, with 6
treatments and 3 repetitions, in which is intended to compare the effects of a cereal
monoculture with a three years rotation (mainly forage crops), both traditional in the
area. These treatment will be composed with a permanent grassland under rainfed
conditions and a permanent bare soil, mobilized though the higher slope.
It has been concluded that in permanent grassland plots soil losses are
considerably lower than with any other kind of soil use.
KEYWORDS: Soil erosion; Runoff; Soil loss; Schist soil.
1 – INTRODUÇÃO
A erosão do solo consiste numa perda gradual do material que constitui o
solo, através de um processo de destacamento e transporte de partículas (6, 7, 9).
Os processos erosivos apresentam um impacto negativo que resulta numa
degradação progressiva do solo. Trata-se normalmente de um processo relativamente lento, embora seja as mais das vezes acelerado pelo homem, mas
recorrente, e irreversível a curto ou médio prazo (2, 7).
Deste modo, é usual distinguir entre "erosão natural" ou "erosão geológica", a que resulta apenas da acção de factores naturais, e a "erosão acelerada" ou "erosão antrópica", que é a que resulta da actividade humana e cuja
velocidade excede consideravelmente a capacidade de regeneração do solo
através do processo de pedogénese (6).
Nas regiões de clima mediterrânico, caracterizadas por um regime de
pluviosidade irregularmente distribuída ao longo do ano e concentrada sobretudo durante o Inverno, são particularmente importantes e indissociáveis as
preocupações de conservação quer do solo, quer da água (2).
Foi, assim, objectivo deste trabalho comparar os escoamentos superficiais
originados pela água da precipitação não infiltrada no solo, bem como os carrejos
a eles associados (e as consequentes perdas de solo), para três sistemas agrícolas
distintos: a monocultura cerealífera (aqui representada pela aveia), uma rotação
forrageira (tremocilha-tremocilha-aveia) e um prado permanente de sequeiro.
2 – CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO
O presente estudo foi desenvolvido no âmbito do projecto de "Estudo da
Erosão Hídrica de Dois Solos na Região da Beira Baixa", o qual se desenrola na
estação experimental para o estudo da erosão hídrica de solos, instalada na Quinta
da Senhora de Mércules, na Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB).
62
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Esta estação, em funcionamento desde 1990, é constituída por dois conjuntos de 18 talhões, localizados sobre Solos Litólicos Não Húmicos derivados, respectivamente, de granitos e de xistos mosqueados, e tem tido por
objectivo a quantificação das perdas de solo por escoamento superficial, por
forma a permitir obter valores atribuíveis aos parâmetros R, K, C e P do
modelo USLE (Universal Soil Loss Equation) de previsão de perda de solo
(12), que possibilitem a sua aplicação ao nosso País.
O presente trabalho refere-se aos dados obtidos durante seis anos
hidrológicos, de 1991-92 a 1996-97, nos 18 talhões instalados sobre o solo
derivado de xistos.
Este solo poderá ser caracterizado por possuir um perfil do tipo Ap-Bw-C, apresentando o solum* uma espessura média de 50 cm. A textura é franco-arenosa, em toda essa espessura, e a estrutura é anisoforme subangulosa,
média e fina, fraca, condicionada certamente pelo reduzido teor de matéria
orgânica (quadro 1), correspondendo, na sua maior parte, a solos pertencentes à
série 54 (mancha 810) da Carta de Solos da Quinta da Senhora de Mércules (8).
QUADRO 1 – Proporções de matéria orgânica, areia grossa,
areia fina, limo e argila em amostras representativas de um dos solos da estação experimental de estudo de erosão da ESACB (Solo
Litólico Não Húmico de xisto mosqueado).
Horizonte
Matéria orgânica
Areia grossa
Areia fina
Limo
Argila
Ap
Bw
1,72%
36,58%
39,90%
11,08%
12,76%
0,50%
36,59%
32,60%
15,63%
15,62%
Segundo a Classificação Racional de Thornthwaite, o clima da região de
Castelo Branco poderá ser caracterizado como sub-húmido chuvoso, com grande deficiência de água no Verão, mesotérmico e com moderada concentração
estival da eficiência térmica ( 5). De acordo com a classificação de Köpen,
trata-se de um clima do tipo Csa, que se caracteriza como sendo temperado e
seco no Verão, em que 77% da precipitação anual se verificam no período
Outono-Invernal. No período de 1951-1980, a precipitação média anual foi de
* Por solum entende-se o conjunto dos horizontes A e B.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
63
821,4 mm. Durante os anos a que se refere o presente estudo foram observados valores de precipitação anual bastante inferiores a essa média em 1991-92, 1992-93 e 1994-95, mas também um valor muito mais elevado (1233 mm)
em 1995-96 (quadro 2).
QUADRO 2 – Precipitação total, número de chuvadas erosivas, precipitação em chuvadas
erosivas e respectiva percentagem em relação ao total, nos anos hidrológicos
de 1991-92 a 1996-97.
Ano
hidrológico
1991-92
1992-93
1993-94
1994-95
1995-96
1996-97
Precipitação
total(mm)
389,0
434,9
900,8
468,8
1 233,0
873,0
Número de
chuvadas
erosivas
13
14
27
16
35
28
Precipitação em
chuvadas
erosivas (mm)
294,2
295,8
744,2
309,4
1 005,6
719,0
% de precipitação em
chuvadas
erosivas
75,63
68,02
82,62
66,00
81,56
82,36
Fonte: Dados recolhidos no pluviógrafo do campo de erosão.
O número de chuvadas consideradas erosivas (chuvadas com uma precipitação total igual ou superior a 12 mm ou em que se verificou uma precipitação igual ou superior a 4 mm num período de 10 minutos) foi, naturalmente, superior nos anos de maior precipitação, tendo atingido o valor máximo
de 35 em 1995-96 (quadro 2). Nos anos mais secos o número de chuvadas
erosivas foi inferior a metade desse valor máximo e a quantidade de precipitação nessas chuvadas correspondeu a menores proporções relativamente aos
totais anuais.
3 – MATERIAL E MÉTODOS
Os talhões experimentais foram delimitados por bordaduras de chapa,
possuindo, cada um, um comprimento de 22,1 m e uma largura de 1,9 m
(delimitando uma área de 42 m²), com um declive de, aproximadamente, 9%,
correspondendo assim ao talhão-padrão definido por Wischmeier e Smith (12).
Os 18 talhões a que se refere o presente estudo foram ocupados, de
forma aleatória, pelas seguintes 4 modalidades (distribuídas pelos talhões
conforme o quadro 3):
Testemunha, solo mantido limpo de vegetação, através de mobilizações realizadas na direcção do maior declive (3 talhões).
Monocultura de Aveia (3 talhões).
64
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Prado permanente de sequeiro, constituído por uma consociação de
trevo subterrâneo, serradela e azevém bastardo (3 talhões).
Rotação trienal: Tremocilha-Tremocilha-Aveia, em que o segundo
ano de tremocilha é de ressementeira natural (ocupando, no total, 9
talhões).
QUADRO 3 – Distribuição das modalidades pelos talhões nos diferentes anos agrícolas.
Talhão
Designação
1991-92
1992-93
1993-94
1994-95
1995-96
1996-97
X1
X2
X3
X4
X5
X6
X7
X8
X9
X 10
X 11
X 12
X 13
X 14
X 15
X 16
X 17
X 18
Rotação A
Pr. seq.
Rotação B
Testemunha
Rotação C
Av. mon.
Testemunha
Testemunha
Av. mon.
Rotação A
Rotação A
Rotação B
Rotação C
Rotação B
Av. mon.
Rotação C
Pr. seq.
Pr. seq.
R2
Pr. seq.
R3
Testemunha
R1
Av. mon.
Testemunha
Testemunha
Av. mon.
R2
R2
R3
R1
R3
Av. mon.
R1
Pr. seq.
Pr. seq.
R3
Pr. seq.
R1
Testemunha
R2
Av. mon.
Testemunha
Testemunha
Av. mon.
R3
R3
R1
R2
R1
Av. mon.
R2
Pr. seq.
Pr. seq.
R1
Pr. seq.
R2
Testemunha
R3
Av. mon.
Testemunha
Testemunha
Av. mon.
R1
R1
R2
R3
R2
Av. mon.
R3
Pr. seq.
Pr. seq.
R2
Pr. seq.
R3
Testemunha
R1
Av. mon.
Testemunha
Testemunha
Av. mon.
R2
R2
R3
R1
R3
Av. mon.
R1
Pr. seq.
Pr. seq.
R3
Pr. seq.
R1
Testemunha
R2
Av. mon.
Testemunha
Testemunha
Av. mon.
R3
R3
R1
R2
R1
Av. mon.
R2
Pr. seq.
Pr. seq.
R1
Pr. seq.
R2
Testemunha
R3
Av. mon.
Testemunha
Testemunha
Av. mon.
R1
R1
R2
R3
R2
Av. mon.
R3
Pr. seq.
Pr. seq.
Av. mon. – Aveia monocultura.
Pr. seq. – Prado de sequeiro.
R1 – Rotação, 1.º ano: Aveia.
R2 – Rotação, 2.º ano: Tremocilha.
R3 – Rotação 3.º ano: Tremocilha; ressementeira natural.
Na parte inferior de cada talhão foram colocados um colector e uma
caleira metálicos, para recolher e transportar a escorrência superficial e os
materiais sólidos para um depósito. Para a eventualidade deste depósito encher, foi instalado um partidor de 9 fendas e uma caleira que transportava
1/9 da água e materiais em suspensão para um segundo depósito, tal como é
usual em dispositivos deste tipo (1). As dimensões dos depósitos eram, respectivamente, 0,69 m × 0,69 m × 0,56 m e 0,78 m × 0,78 m × 1,00 m, perfazendo as capacidades de 0,267 e 0,608 m³.
Os depósitos encontravam-se cobertos com tampas e as caleiras cobertas
com telhas, para evitar a entrada directa da chuva.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
65
As precipitações foram quantificadas através de um pluviógrafo de
báscula de 0,2 mm (Raingauge type RG1), que estava ligado a um registador
de dados (Delta Logger), ambos da marca Delta-T Devices Ltd., registando a
precipitação ocorrida em cada período de 10 minutos. Os dados armazenados
neste dispositivo foram periodicamente (quinzenalmente) transferidos para um
computador portátil.
No início de cada ano agrícola fez-se a preparação da cama de sementeira dos cereais e da tremocilha do primeiro ano e a mobilização dos talhões-testemunha.
Periodicamente procedeu-se à destruição, por mobilização manual, de
toda a vegetação espontânea nos talhões-testemunha.
Os volumes acumulados da água de escorrência superficial foram medidos
no final de cada chuvada ou conjunto de chuvadas (sempre que a quantidade
de precipitação verificada o tenha justificado), tendo-se procedido, nessas alturas, à recolha de amostras de água com o material em suspensão e sedimentos.
As amostras recolhidas foram subdivididas em duas alíquotas, uma para
secagem e determinação da quantidade total de solo arrastado pela erosão, e
outra para análise granulométrica (análises executadas no laboratório de solos
da ESACB) em que a areia grossa foi determinada por crivagem, a areia fina
por sedimentação e decantação, e o limo e a argila por pipetagem, tendo sido
as sedimentações controladas através da aplicação da lei de Stokes e a
pipetagem realizada com uma pipeta de Robinson (10).
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 – Escoamento superficial
Os valores medidos de escoamento superficial nos anos hidrológicos de
1991-92 a 1996-97 corresponderam, em todas as modalidades, a proporções
relativamente baixas (entre 1 e 8%) da precipitação total ocorrida no local
durante o mesmo período (quadro 4). Estes valores foram, de facto, bastante
mais baixos do que os referidos por Hudson (6) relativamente a solos de
textura franco-arenosa com 5 a 10% de declive (16% para pastagens e 40%
para culturas anuais). Esta diferença poderá estar relacionada com dois aspectos distintos, pois, por um lado os valores referidos correspondem à média de
6 anos, englobando um grande número de chuvadas em que o escoamento foi
nulo e, por outro lado, em grande parte dos casos as chuvadas erosivas
66
PASTAGENS E FORRAGENS 19
ocorridas durante o período de estudo foram intercaladas por períodos secos e
não corresponderam a acontecimentos pluviométricos sequenciados, pelo que,
nessas condições, tenderão a infiltrar-se maiores quantidades de água, reduzindo-se, naturalmente, as proporções de escoamento superficial, tal como é
referido por Morgan ( 7) e também por Schwab et al. (11).
QUADRO 4 – Percentagem de escoamento superficial de
água em relação à precipitação ocorrida nos
anos hidrológicos de 1991-92 a 1996-97 em
função da modalidade.
Modalidade
Média da modalidade (%) Desvio-padrão (%)
Testemunha
Monocultura de aveia
Prado de sequeiro
Rotação: Aveia
Tremocilha 1º ano
Tremocilha 2º ano
7,70
4,49
1,15
3,23
3,32
1,06
2,49
1,47
0,42
1,91
0,43
0,15
No que se refere às diferenças entre as modalidades estudadas, verificou-se que a percentagem de escoamento superficial foi mais elevada nos talhões-testemunha (7,70%), enquanto que as proporções mais baixas foram registadas
no prado permanente de sequeiro (1,15%) e no 2.º ano da tremocilha incluída
na rotação (1,06%). Este comportamento parece lógico, uma vez que estas
modalidades corresponderam a situações de cobertura permanente do solo pela
vegetação, o que terá permitido a existência de valores mais elevados de
evapotranspiração e também de infiltração de água, com a consequente diminuição do escoamento superficial.
4.2 – Perda de solo por hectare
Verificou-se que os talhões onde ocorreu a maior perda de solo foram
os talhões-testemunha, com uma perda média anual de 1 097 kg ha -1, enquanto nos talhões de prado essa perda não foi além dos 15,6 kg ha-1 e nos de
tremocilha de 2.º ano ficou pelos 29,2 kg ha -1 (quadro 5). De notar que estas
perdas de solo corresponderam apenas a, respectivamente, 1,4 e 2,7% da que
se verificou no talhão-testemunha. A modalidade monocultura de aveia foi, a
seguir à testemunha, aquela em que se verificou uma maior perda de solo
(média anual de 215,5 kg ha-1), correspondendo a cerca de 20% da que se
verificou nos talhões testemunha. Aliás, as perdas de solo verificadas na
monocultura de aveia, na tremocilha do 1.º ano e na aveia inserida na rotação
não foram significativamente diferentes.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
67
QUADRO 5 – Perdas de solo médias (kg/ha) nos anos
hidrológicos de 1991-92 a 1996-97.
Modalidade
Testemunha
Monocultura de Aveia
Prado de sequeiro
Rotação: Aveia
Tremocilha 1º ano
Tremocilha 2º ano
Perda de solo
média anual (kg/ha)
Percentagem do
talhão-testemunhas
1 097,51
215,57
15,56
159,70
174,14
29,22
100,00
19,64
1,42
14,55
15,87
2,66
As perdas médias anuais registadas estiveram bastante relacionadas com
os escoamentos superficiais (r2 = 0,86, para p = 0,007), o que não deixa de
ser natural, uma vez que a maiores volumes de escoamento tendem geralmente a corresponder maiores quantidades de carrejos, como aliás tem sido registado também por diversos outros autores ( 6, 7).
Concluiu-se, assim, que as maiores perdas de solo foram as registadas
nos talhões-testemunha, isto é, naqueles em que se procedeu a um maior
número de mobilizações do solo, de forma a mantê-lo sem qualquer tipo de
vegetação durante todo o ano; em segundo lugar, e com perdas de solo
semelhantes entre si, mas já bastante inferiores à testemunha, estiveram a
monocultura de aveia, a aveia inserida na rotação e a tremocilha de 1.º ano,
as quais, embora correspondendo a diferentes índices de cobertura do solo,
apresentaram em comum o facto de todas terem implicado apenas a realização de uma mobilização prévia do solo, antes das sementeiras; e, finalmente,
foram os talhões ocupados por prado permanente e por tremocilha de 2.º ano
(de ressementeira natural) os que apresentaram os menores valores de perda
de solo, o que nos parece indicar que, pelo menos nesta situação, a ausência
de mobilizações do solo poderá assumir um papel particularmente importante
na sua conservação. Esta possibilidade já tem sido, aliás, referida por outros
autores para condições ambientais bastante diferentes (3, 4, 7).
4.3 – Perda de solo por fracção granulométrica
A granulometria dos materiais carreados foi predominantemente fina (figura 1), com maiores percentagens de limo e argila, coincidindo com o que
tem sido verificado por outros autores, com diferentes tipos de solos (3), não
tendo sido registadas diferenças significativas entre modalidades no que se
refere às proporções de areia grossa (1,25% a 1,62%) e de areia fina (8,04%
a 11,31%).
68
PASTAGENS E FORRAGENS 19
FIGURA 1 – Percentagem de perda de solo por fracção granulométrica em função da
modalidade.
As diferenças entre modalidades apenas foram significativas nos casos
do talhão testemunha e do prado de sequeiro relativamente às restantes, tendo-se verificado no primeiro caso maiores percentagens de limo (49%) enquanto no segundo predominou a argila (72%). Estas diferenças poderão estar
relacionadas com as quantidades totais de material carreado, na medida em
que a proporção de argila é maior nas modalidade de prado permanente e de
tremocilha de 2º ano, nas quais as perdas de solo total foram menores,
enquanto a proporção de limo foi máxima na modalidade testemunha, em que
as perdas de solo também atingiram os valores mais elevados.
5 – CONCLUSÕES
Verificou-se, a partir deste estudo, que a protecção do solo proporcionada pela cobertura vegetal, em particular com a utilização de culturas pratenses
e forrageiras, foi bastante eficaz na protecção do solo contra a erosão hídrica,
nomeadamente no caso de prados permanentes ou de espécies forrageiras de
ressementeira natural, que não impliquem a realização de intensas mobilizações do solo.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
69
Verificou-se igualmente, nesses casos, um menor escoamento de água, o
que significa que houve uma maior taxa de infiltração. Assim, nos solos
cobertos com culturas forrageiras, as disponibilidades hídricas serão maiores,
e o caudal que escorre para os cursos de água será menor, o que conjugado
com a menor produção de sedimentos irá diminuir os problemas de
assoreamento de cursos de água e de barragens e a gravidade e frequência
das cheias.
No entanto, as conclusões agora apresentadas dizem respeito a um período de tempo que se considera relativamente limitado. Torna-se assim necessária a manutenção destes campos de ensaio por um período de tempo mais
prolongado, bem como a realização de estudos análogos de erosão do solo,
noutros tipos de solo, com outras culturas e noutras regiões do País.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Department of Agriculture, Subordinada ao Tema "Soil Conservation". (Não publicado).
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e Outros Modelos de Previsão. Trabalho de síntese a que se refere a alínea b) do n.º 2
do artº. 58 do Estatuto da Carreira Docente Universitária. Lisboa, Instituto Superior de
Agronomia, 1987.
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STEWART, B. A. (ed.) – Soil erosion and crop productivity". Madisson, USA,
American Society of Agronomy, Crop Science Society of America, Soil Science Society
of America, 1985, p.137-162.
4 – FRYE, W. W.; BENNETT, O. L.; BUNTLEY, G. J. – Restoration of crop productivity
on eroded or degraded soils. In: "FOLLET, R. F.; STEWART, B. A. (ed.) – Soil
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Science Society of America, Soil Science Society of America, 1985, p. 336-356.
5 – HORTA, M. C. M.; GOMES, M. F. N. – Caracterização Climatérica de Castelo
Branco. Escola Superior Agrária de Castelo Branco, 1984.
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B. T. Batsford, 1995.
7 – MORGAN, R. P. C. – Soil Erosion and Conservation. Harlow, Essex, England, Longman
Scientific & Technical, 1986.
8 – PINHEIRO, M. J. S. M. Guerra – Carta de Solos da Quinta Senhora de Mércules.
Centro de Estudos de Pedologia do IICT, Escola Superior Agrária de Castelo Branco,
1990.
70
PASTAGENS E FORRAGENS 19
9 – PORTA CASANELLAS, J. et al. – Edafologia para la Agricultura y el Medio Ambiente. Madrid, Ediciones Mundi Prensa, 1994.
10 – PÓVOAS, I.; BARRAL, M. F. – Métodos de Análise de Solos. Lisboa, Instituto de
Investigação Científica Tropical, 1992. (Comunicações, Série de Ciências Agrárias, 10).
11 – SCHWAB, G. O. et al. – Soil and Water Conservation Engineering. 4th ed. New York,
John Wiley & Sons, 1993.
12 – WISCHMEIER, W. H.; SMITH, D. D. – Predicting rainfall erosion losses – A guide to
conservation planing. Washington, DC, USDA. (Agricultural Handbook, 537).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
71
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 73–80.
ZONAS DE DISTRIBUIÇÃO DE CULTIVARES DE TREVO
SUBTERRÂNEO EM PORTUGAL
UMA NOVA ABORDAGEM*
Noémia Farinha, Francisco Mondragão-Rodrigues, Gonçalo Barradas, J. M. Abreu♦
Escola Superior Agrária de Elvas – Apartado 254 – 7350 ELVAS
♦
Instituto Superior de Agronomia – Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA CODEX
RESUMO
As pastagens semeadas à base de trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum L.
sensu latu) têm revelado boa adaptação a muitas das condições agro-ecológicas de
Portugal continental, sendo esta a espécie que lidera a venda de sementes de
leguminosas pratenses no País. A escolha das cultivares a utilizar em cada situação
deve fazer-se com base nas características que apresentam, tendo em atenção as
condições de solo e de clima do local a que se destinam. Mas, dada a falta de
informação sistematizada, a escolha das cultivares tem-se feito recorrendo, essencialmente, ao contributo dos especialistas. Com o objectivo de facilitar, e de alguma forma
sistematizar, a escolha das variedades mais adequadas a cada região, referem-se e
ilustram-se, através de casos concretos de aplicação, as potencialidades de um sistema
quantitativo e com elevada capacidade de integração de informação (Sistemas de
Informação Geográfica - SIG). Estes sistemas permitem delimitar zonas de potencial
utilização de cultivares de trevo subterrâneo, com base nas exigências edafoclimáticas.
Consideram-se as cultivares Nungarin, Geraldton, Daliak, Dalkeith, Seaton Park,
Rosedale e Clare.
PALAVRAS-CHAVES: Trevo subterrâneo; Cultivar; Adaptação; SIG.
ABSTRACT
Sown pastures based on subterranean clover (Trifolium subterraneum L. sensu
latu) have shown to be well adapted to some Portuguese agro-ecological conditions.
This species is the leader on the seed market of pasture legume crops in this country.
The appropriated cultivars for each situation must be chosen with consideration of
both, soil and climate characteristics, and the choice is often done with the help of
those who have been working in this subject for long. To help, and to some extent to
rationalize the choice, a quantitative and opened system, able to integrate ample
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera de SPPF. Castelo Branco, Abril
de 1998.
73
amounts of information, is presented. These geographical information systems (GIS)
take in consideration the soil and climate requirements assigned to each cultivar
(Nungarin, Geraldton, Daliak, Dalkeith, Seaton Park, Rosedale e Clare), and return the
corresponding utilization areas.
KEYWORDS: Subterranean clover; Cultivar; Adaptation; GIS.
1 – INTRODUÇÃO
Portugal está inserido na zona de ocorrência espontânea do trevo subterrâneo, pelo que esta espécie está naturalmente bem adaptada a muitas das
suas condições edafoclimáticas. Assim, as estimativas da potencialidade da
expansão das pastagens de sequeiro, onde o trevo subterrâneo terá um importante papel a desempenhar, são francamente optimistas (2).
As condições climáticas requeridas pelo trevo subterrâneo são, segundo
Muslera Pardo e Ratera Garcia (9), Pires ( 12) e Crespo*, aproximadamente as
seguintes : precipitação superior a 350 mm (limite árido), temperatura média
das mínimas do mês mais frio superior a 4 oC (limite frio), isotérmica de
12,5 oC para o mês mais frio (limite quente), sendo a precipitação importante
factor de produtividade, pelo menos até ao limite de 750 mm.
Quanto à adaptação edáfica das suas subespécies (ssp.), pode-se referir, de acordo com diversos autores ( 4, 6, 7, 8, 11, 16 ), o seguinte:
a) a ssp. subterraneum (S) prefere solos de textura ligeira a média
(para facilitarem o enterramento da semente) e ácidos (pH 5,5 a
7)*, não suporta quantidades elevadas de carbonatos (<15%), sendo mais frequente a Norte do Tejo;
b) a ssp. brachycalycinum (B) prefere solos moderadamente ácidos a
alcalinos, com pH entre 6 e 8*, de textura mais fina (franco-argilosos a argilosos), preferencialmente com argila de tipo
montmorilonite, que fendilhe no Verão, ou solos pedregosos, para
formarem a semente nas fendas; teor em carbonatos até 30% e é
mais frequente a Sul do Tejo;
c) a ssp. yanninicum (Y) está adaptada a solos ácidos com pH entre
5,5 e 7 e condições de má drenagem.
O trevo subterrâneo é uma espécie de domesticação recente, pelo
que as zonas de adaptação da cultura não estão tão bem delimitadas
como as de outras espécies tradicionalmente utilizadas em agricultura.
* David Crespo, comunicação pessoal (1998).
74
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Se se considerarem as condições gerais de adaptação, esta espécie pode
ocorrer em quase todo o nosso País. Contudo, quando se pensa no estabelecimento de uma pastagem, tem que atender-se a critérios como produtividade e persistência, ou seja, às condições que influenciam o bom
desenvolvimento das plantas.
A integração e sistematização da informação existente sobre a adaptação das cultivares de trevo subterrâneo mais utilizadas em Portugal será
útil, não só para agricultores, técnicos e empresas de sementes, mas também para quem tem a responsabilidade de definir estratégias a nível da
produção agrícola nacional.
O objectivo deste trabalho é delimitar, com base em exigências
edafoclimáticas, as áreas geográficas onde as cultivares de trevo subterrâneo mais utilizadas em Portugal terão melhores condições de adaptação.
Atender-se-á sobretudo às exigências de clima e de solo, aqui representadas apenas por queda pluviométrica anual, pH e tipo de solo.
2 – METODOLOGIA UTILIZADA
Procedeu-se a uma recolha de informação sobre as exigências ecológicas das cultivares de trevo subterrâneo mais utilizadas em Portugal ( 14 )
com base na bibliografia e nas informações de especialistas (quadro 1).
Adicionalmente às condições referidas no quadro 1, restringiu-se a utilização a zonas com altitude inferior a 900 m*.
Os valores utilizados (quadro 1) resultam de um compromisso entre a
bibliografia citada e a informação de base disponível em formato digital.
Assim, por exemplo, para a cultivar Clare, a bibliografia indica que ela
prefere solos com pH entre 6 e 8. Porém, como não existia este intervalo
na carta de solos, considerou-se o mais próximo aí existente (pH entre 5,6
e 7,3), pelo que foi este o adoptado no quadro 1.
A informação compilada foi tratada usando um Sistema de Informação Geográfia (SIG) da AUTODESK, o AutoCAD MAP e, como fonte de
informação de base, as seguintes cartas, à escala 1/1 000 000, do "Atlas
do Ambiente": carta de solos, segundo o esquema da FAO ( 1 ), carta de
precipitação, valores médios anuais ( 15 ) e carta de acidez e alcalinidade
dos solos ( 5 ).
* David Crespo, comunicação pessoal (1998).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
75
QUADRO 1 – Condições edafoclimáticas consideradas para simular a distribuição das
principais cultivares de trevo subterrâneo em Portugal
Cultivar e
subespécie(S ou B)
Precipitação
(mm)
Limites
de pH
Tipos de solo excluídos
Fonte de informação
Nungarin (S)
Geraldton (S)
< 500mm
5,6-7,3
regossolos, podzois e vertissolos
Crespo*,
Oram (10)
Daliak(S)
Dalkeith (S)
400-600
5,6-7,3
regossolos, podzois e vertissolos
Muslera Pardo e
Ratera Garcia (9)
Oram (10)
Seaton Park (S)
500 - 800
5,6-7,3
regossolos, podzois, e vertissolos
Francis (3),
Muslera Pardo e
Ratera Garcia (9),
Quinlivan (13)
Rosedale (B)
400 - 600
5,6-7,3
regossolos, podzois, litossolos
e planossolos
Oram (10),
Stanley et al.(16)
500-800
5,6-7,3
regossolos, podzois, litossolos
e planossolos
Muslera Pardo e
Ratera Garcia (9),
Oram (10),
Stanley et al.(16)
Clare (B)
* David Crespo, comunicação pessoal (1998).
3 – RESULTADOS
As duas subespécies de trevo subterrâneo mais utilizadas são a ssp.
subterraneum (S) e a ssp. brachycalycinum (B). A subespécie yanninicum
está bem adaptada a condições de solo ácido com pH entre 5,5 e 7 e má
drenagem ( 4, 7), sendo pouco utilizada em Portugal, pelo que não foi incluída
neste trabalho. Segundo os dados de Sampaio (14), as cultivares de trevo
subterrâneo mais utilizadas no nosso País são as seguintes: Seaton Park,
Nungarin, Clare, Dalkeith, Rosedale, Geraldton e Daliak. Por esta razão,
apesar de já existirem novas cultivares (como York, Gosse, Junnee Goulburn,
Danemark, etc.) foi sobre aquelas que se baseou este trabalho.
Na figura 1 pode-se observar que a cultivar Nungarin está melhor adaptada às zonas de menor precipitação de Trás-os-Montes, interior Alentejano e
Algarve. Esta distribuição está relaccionada com o facto de ser a cultivar
mais precoce de trevo subterrâneo, pelo que se adapta a condições de reduzida pluviosidade. Para condições de pluviosidade mais elevada, cultivares mais
tardias com maior potencial produtivo serão mais adequadas. Nesta região a
utilização das cultivares Nungarin e Geraldton terá uma importância não só
76
PASTAGENS E FORRAGENS 19
agronómica, mas também ambiental, na protecção do solo, por haver poucas
espécies e cultivares com capacidade de adaptação para se estabelecerem
nestas condições.
1a – Distribuição
de Nungarin e
Geraldton (S)
1b – Distribuição
de Daliak e
Dalkeith (S)
1d – Distribuição
de Rosedale (B).
1c – Distribuição
de Seaton Park
(S).
1e – Distribuição
de Clare (B)
FIGURA 1 – Zonagem das principais cultivares de trevo subterrâneo, efectuada com base em
exigências edafoclimáticas e recorrendo à utilização de um SIG.
As cultivares Daliak e Dalkeith são mais tardias que as Nungarin e
Geraldton e mais precoces do que a Seaton Park (10), pelo que a sua distribuição se sobrepõe, em parte, à das duas primeiras (as mais precoces) e à da
S. Park (mais tardia).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
77
Atendendo à irregularidade das condições climáticas, as cultivares mais
precoces, embora naturalmente menos produtivas, justificam-se tanto mais,
quanto maior for a probabilidade de ocorrência de precipitações limitadas.
A cultivar Seaton Park é a que tem menores restrições, à que correponde
maior área de distribuição simulada, sendo também a mais utilizada em Portugal (14). Oran (10), referindo-se à Austrália, indica que a cultivar Seaton
Park está bem adaptada a zonas com precicpitação entre 580 e 760 mm;
segundo Muslera Pardo e Ratera Garcia (9), em Espanha, a mesma cultivar
está bem adaptado a zonas com precipitação de 425 a 500 mm. Como esta é
a cultivar mais utilizada em Portugal, deveria haver trabalhos que dessem
indicações semelhantes para este País.
As cultivares da ssp. brachycalycinum estão melhor adaptadas a solos
de textura pesada, neutros a ligeiramente alcalinos. A sua distribuição predomina no Sul e, como a cultivar Rosedale é mais precoce do que a Clare, está
melhor adaptada a condições de menor precipitação. Desta forma, as duas
cultivares são complementares em algumas áreas. Não esquecer, porém, a
influência do tipo de solo nas suas disponibilidades hídricas, o que naturalmente influencia o comportamento das variedades. Esta conjugação de factores; devido às limitações de informação digitalizada disponível, não pode ser
considerada na análise efectuada neste trabalho, tal como outras características (produção de semente ou teor de sementes duras) inerentes à própria
cultivar e que influenciam a sua persistência.
Atendendo ao quadro de utilização agrícola que se pretende para estas
cultivares, considerou-se como restrição o limite superior de 800 mm de precipitação, dado que acima deste valor existem espécies pratenses mais interessantes.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
As zonas de distribuição simuladas pela utilização do SIG dão-nos uma
boa indicação das áreas potenciais para as cultivares referidas, o que poderá
ser confirmado recorrendo a ensaios de adaptação ou a prospecção em pastagens já implantadas.
Existem populações de trevo subterrâneo espontâneas em regiões não
demarcadas nesta simulação, pelo que se deveria estimular a prospecção
destas populações naturais de modo a preservá-las enquanto recursos genéticos e a poder incluí-las em programas de melhoramento, de onde se poderão obter cultivares capazes de proporcionar maior amplitude de combinações quanto à adaptação.
78
PASTAGENS E FORRAGENS 19
As principais dificuldades encontradas na realização deste trabalho têm
essencialmente a ver com a exiguidade da informação disponível em formato
digital. Por outro lado, as exigências edafoclimáticas e as tolerâncias a alguns
factores de risco também não se encontram perfeitamente esclarecidas, pelo
que, neste contexto, se torna difícil precisar, com fiabilidade, os limites das
possibilidades de adaptação, às nossas condições, das cultivares consideradas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Eng.º David Gomes Crespo e ao Eng.º Téc.º Agr.º Francisco
José Abreu as informações pessoais que lhes facultaram sobre a capacidade de adaptaçao das
cultivares de trevo subterrâneo ao nosso País.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – CARDOSO, J. C.; BESSA, M. M. T.; MARADO, M. B. – Carta de Solos – Unidades
Pedológicas. Ed. digital. Lisboa, Direcção-Geral do Ambiente, 1971.
2 – CRESPO, D. G. – O Melhoramento de Pastagens e Forragens em Portugal. Perspectivas face à Integração Económica Europeia. "Melhoramento", 33 (1) 1994, p. 199-216.
3 – FRANCIS, C. – Report on legume collection tour of Portugal, South West Spain and
Madeira. South Perth, Western Australian Department of Agriculture, 1979.
4 – FRANCIS, C. M.; KATZNELSON, J. S. – Observations on the distribution and
ecology of subterranean clover, some other clovers, and medics in Greece and Crete.
"Aust. Pl. Introd. Rev.", vol. 12, 1977, p. 17-25.
5 – FREITAS, F. C. – Carta de Acidez e Alcalinidade dos Solos – Classes de pH em Água
Ed. digital. Lisboa, Direcção-Geral do Ambiente, 1979.
6 – GLADSTONES, J. S. – Observations on the environment and ecology of some annual
legumes in Southern Italy. "Aust. Plant Introd. Rev.", 9 (3) 1973, p. 11-29.
7 – KATZNELSON, J. – Biological flora of Israel – the subterranean clovers of Trifolium
subsect. Calycomorphum Katzn; Trifolium subterraneum L. (sensu latu). "Israel Journal
of Botany", vol. 23, 1974 p. 69-108.
8 – MORLEY, F. H. W.; KATZNELSON, J. – Colonization in Australia by Trifolium
subterraneum L. In: "The genetics of colonizing species". New York, Academic Press,
1965.
9 – MUSLERA PARDO, E.; RATERA GARCIA, C. – Praderas e forrages – produccion y
aprovechamiento. Madrid, Mundi-Prensa, 1991.
10 – ORAM, R. N. – Register of Australian herbage plant cultivars. Camberra, Australia,
CSIRO, Division of Plant Industry, Australian Herbage Plant Registration Authority, 1990.
11 – PIANO, E.; SARDARA, M.; PUSCEDDU, S. – Observations on the distribution and
ecology of subterranean clover and other annual legumes in Sardinia. "Rivista di
Agronomia", 16 (3) 1982, p. 273-283.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
79
12 – PIRE, J. M. – El trébol subterráneo en Espanha. Madrid, Ministério de Agricultura,
INSPV, 1964.
13 – QUINLIVAN, B. J. – El trébol subterraneo en el sudoeste español. Problemas de
persistencia, selección varietal y producción de semillas. "Anales INIA", Série:
Producción Vegetal, vol. 19, 1978, 27 p.
14 – SAMPAIO, J. M. M. – Comercialização de Semente Certificada. Campanha de 1995/
/96. Lisboa, ANSEME – Associação Nacional de Produtores e Comerciantes de Sementes, 1996.
15 – SERVIÇO METEOROLÓGICO NACIONAL – Carta de Precipitação – Valores Médios
Anuais para o Período 1931-60. Ed. digital. Lisboa, Direcção-Geral do Ambiente, 1974.
16 – STANLEY, M.; BEALE, P.; COOPER, J. – Rosedale sub clover. South Australia,
Department of Agriculture, 1989. (Fact Sheet FS 1/88).
80
PASTAGENS E FORRAGENS 19
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 81–85.
APLICAÇÕES DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
EM ESTUDOS SOBRE PASTAGENS E FORRAGENS *
Francisco Mondragão-Rodrigues, Noémia Farinha, Gonçalo Barradas, J. M. Abreu♦
Escola Superior Agrária de Elvas – Apartado 254 – 7350-903 ELVAS
♦
Instituto Superior de Agronomia – Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA CODEX
RESUMO
Os sistemas de informação geográfica (SIG) são instrumentos, englobados nas
novas tecnologias informáticas, que possibilitam a análise, organização e utilização de
informação geo-referenciada de natureza diversa. Sobre essa informação permitem
executar operações de pesquisa, análise e visualização gráfica. A aplicação desta
tecnologia em estudos sobre pastagens e forragens abre um vasto campo de trabalho
para responder a inúmeras questões que possam surgir. No campo das pastagens e
forragens é possível, por exemplo, com um SIG e informação de base adequada,
antecipar possíveis áreas de distribuição de determinadas espécies, com o fim de
planear e orientar expedições de recolha de germoplasma ou ainda delimitar as zonas
do País mais favoráveis à introdução de uma nova espécie forrageira. No presente
trabalho apresenta-se, como exemplo da aplicação dos SIG em estudos sobre pastagens
e forragens, a delimitação, no território continental português, das áreas de distribuição
do trevo subterrâneo e de luzernas anuais, tendo em atenção as exigências
edafoclimáticas que se lhe atribuem. Abordam-se também os aspectos relacionados
com os cuidados a ter na escolha e tratamento da informação de base e na interpretação
dos resultados.
PALAVRAS-CHAVES: SIG; Trevo subterrâneo; Luzernas anuais.
ABSTRACT
Geographical information systems (GIS), as a part of the new information
technologies, are a tool used to organize, treat and utilize a different kind of
geographical data. GIS data can be searched, analyzed and graphically displayed. The
application of GIS to pasture and forage studies is promising, as it can be used, for
example, to choose the best areas to collect germ plasm, or to introduce a certain
species or cultivar. Here, we present a particular application of the later type, the
application of GIS to select the best areas in Portugal for subterranean clover and
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF Castelo Branco, Maio
de 1998.
81
annual medics, as a function of the soil and climate requirements that are assigned to
them. Some cares that are necessary in the choice and treatment of information, and
also in the interpretation of the output, are also discussed.
KEY WORDS: GIS; Subterranean clover; Annual medics.
1 – INTRODUÇÃO
Os sistemas de informação geográfica (SIG) são aplicações informáticas
extremamente úteis, cada vez mais utilizadas em diversos campos da Ciência,
que permitem integrar informação gráfica e alfanumérica que, depois de armazenada, tratada e organizada, é susceptível de operações de pesquisa, análise e
visualização dos resultados sob a forma de mapas.
No campo das pastagens e forragens, a informação susceptível de ser
utilizada é muito diversificada, podendo integrar parâmetros como, por exemplo, tipo de solo, pH, pedregosidade, declive do terreno, altitude, precipitação,
temperatura, ocorrência de geadas, presença de coberto arbóreo, tamanho da
parcela, entre muitos outros possíveis.
Em cada estudo, a utilização de dados de vários parâmetros permite ao
SIG efectuar um cruzamento de informação, questionando simultaneamente as
diversas variáveis em análise, e fornecer resultados mais ou menos elaborados,
consoante a quantidade e qualidade da informação de base introduzida. Esta
ferramenta poderá ser utilizada, por exemplo, na localização de possíveis áreas
de distribuição de espécies silvestres, o que permitirá programar e orientar
colheitas de germoplasma; também poderá possibilitar a delimitação das áreas
mais favoráveis para determinada cultivar de uma dada espécie ou ainda
perspectivar as possíveis zonas de expansão de uma praga ou doença de uma
certa espécie pratense ou forrageira.
Neste trabalho apresenta-se, como exemplo de aplicação dos SIG, em
estudos sobre pastagens e forragens, a delimitação, no território continental
português, das possíveis áreas de distribuição do trevo subterrâneo e de luzernas
anuais, tendo em atenção apenas duas condicionantes de natureza edafoclimática
(pH do solo e queda pluviométrica anual).
2 – MATERIAL E MÉTODOS
O sistema de informação geográfica (SIG) utilizado foi o AutoCAD MAP
(versão 1.0) da AUTODESK. A fonte da informação de base foi a colecção de
cartas à escala 1/1 000 000 do "Atlas do Ambiente". Neste trabalho apenas se
utilizaram dois níveis de informação para efectuar a análise: a precipitação média
82
PASTAGENS E FORRAGENS 19
anual e o pH do solo. Os valores de ambos os parâmetros foram retirados da
página do Ministério do Ambiente presente na Internet, tendo sido utilizadas as
cartas em formato digital designadas por "Precipitação" (quantidade total – valores
médios anuais, em mm, para o período 1931-1960) e "Acidez e alcalinidade dos
solos" (classes de pH em água). De referir que no caso do pH, as classes dominantes definidas nas cartas digitais são as seguintes: inferior ou igual a 4,5; de 4,6 a
5,5; de 5,6 a 6,5; de 6,6 a 7,3; de 7,4 a 8,5. Este facto condiciona fortemente a
escolha dos valores a utilizar. Os limites ecológicos para a distribuição do trevo
subterrâneo e das luzernas anuais, utilizados a título exemplificativo, para a análise
efectuada, correspondem aos valores médios da precipitação anual e do pH do solo
mais frequentemente referidos na bibliografia, condicionados pelas classes préestabelecidas nas cartas digitais utilizadas como informação de base. Assim sendo,
utilizaram-se os seguintes valores:
• trevo subterrâneo: precipitação entre 400 e 800 mm e pH do solo entre 5,6 e
7,3;
• luzernas anuais: precipitação inferior a 800 mm e pH do solo entre 6,6 e 8,5.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
As figuras 1 e 2 apresentam as possíveis áreas de implantação do trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum L.), bem como das cultivares disponíveis de luzernas
anuais (Medicago sp.) para utilização no nosso País.
F I G U R A 1 – Possível área de implantação,
no continente português, das
cvs. disponíveis de trevo
subterrâneo.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
F I G U R A 2 – Possível àrea de implantação,
no continente português, das
cvs. disponíveis de luzernas
anuais.
83
Da observação da figura 1, respeitante à possível área de implantação
do trevo subterrâneo, ressalta que a área delimitada se aproxima bastante
daquela que seria de esperar. São indicadas como zonas mais favoráveis à
espécie, as zonas mais secas do interior de Trás-os-Montes (Terra Quente,
Planalto Mirandês, parte oriental do vale do Douro), do Sul da Beira Baixa e
do Vale do Tejo, bem como quase todo o Alentejo e o Algarve, à excepção
de algumas manchas de solos de pH mais ácido ou mais alcalino que o
imposto na análise (de 5,6 a 7,3).
Os resultados de numerosos estudos realizados no nosso País deixam
entender que a distribuição aqui apresentada para esta espécie se pode considerar aceitável. No entanto, sabendo que algumas cultivares, como por exemplo a
"Clare" e a "Rosedale", podem crescer em solos com pH igual a 8, e sabendo
ainda que, conforme referem Francis (1) e Morley e Katznelson (2), o trevo
subterrâneo se pode desenvolver em regiões onde a precipitação atinge os 1000
mm anuais, é de aceitar que a área atribuível à espécie seja ligeiramente
superior à apresentada na figura 1, podendo abarcar zonas montanhosas (até
aos 900-1000 m) do Norte e Centro do País.
No que respeita à possível área de distribuição das luzernas anuais,
apresentada na figura 2, parece demasiado restrita, circunscrevendo-se apenas
a algumas pequenas manchas de solos de pH neutro a alcalino do Sul do
País. Este resultado é fruto do limite inferior de pH considerado, demasiado
elevado (pH = 6,6) para as condições do nosso País, mas ao qual se recorre
por ser o que vem referido na bibliografia da especialidade para as cultivares
actualmente disponíveis. A alternativa seria incluir a classe de pH entre 5,6 e
6,5, por corresponder a zonas de pH onde, como é sabido, se desenvolvem
em Portugal formas espontâneas de luzernas anuais. Ficaram assim por assinalar extensas áreas do Alentejo, do litoral centro e do interior das Beiras e
de Trás-os-Montes. Portanto, será de admitir que a figura 2 não corresponde
exactamente à totalidade das possíveis áreas atribuíveis às luzernas anuais em
Portugal continental.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exemplo escolhido ilustra perfeitamente as potencialidades e, simultaneamente, as limitações dos SIG. Como é sabido, a qualidade e a fiabilidade
dos resultados depende da exactidão da informação utilizada, da escala da carta
de base e dos critérios (limites) utilizados na análise. Foi este último factor que
pesou na qualidade dos resultados apresentados no exemplo em questão.
84
PASTAGENS E FORRAGENS 19
No caso do trevo subterrâneo, uma vez que os limites "rígidos" presentes na carta de pH utilizada como base se ajustavam razoavelmente aos
limites naturais de pH da espécie, o resultado obtido foi satisfatório.
No caso das luzernas anuais esse ajustamento já não foi tão bom e, por
isso, o conhecedor destas espécies, mas não o das cultivares consideradas, tem
imediatamente a percepção de que a possível área de distribuição apresentada
é, para aquelas, substancialmente inferior à real. Ficou assim patente que os
resultados produzidos por um SIG, em estudos sobre pastagens e forragens,
devem ser sempre analisados e interpretados com cautela. Estas ferramentas
serão muito úteis em estudos nesta área do conhecimento mas, tal como em
outros campos, a qualidade dos resultados dependerá grandemente da qualidade
e fiabilidade dos dados introduzidos no SIG, da forma como este os trata, e
numa correcta apreciação dos resultados que ele fornece.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1 – FRANCIS, C. – Report on legume collection tour of Portugal, South West Spain and
Madeira. South Perth, Western Australian Department of Agriculture, 1979.
2 – MORLEY, F.H.W.; KATZNELSON, J. – Colonization in Australia by Trifolium
subterraneum L. In: "The genetics of colonizing species". New York, Academic Press,
1965, p. 269-285.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
85
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 87–97.
INFLUÊNCIA DA SILAGEM DE TRITICALE EM DUAS
FASES DE CORTE, COM DOIS NÍVEIS DE CONCENTRADO,
NA ENGORDA DE NOVILHOS MERTOLENGOS*
J. M. Arranja, D. Almeida, F. Engeitado, J. Efe Serrano
Universidade de Évora – Departamento de Fitotecnia – Apartado 94 – 7001 ÉVORA
RESUMO
Neste trabalho compararam-se silagens de triticale, variedade Borba, cortado na
fase de grão leitoso/pastoso (silagem A) e na fase de grão duro (silagem B) como base
de dietas de engorda de novilhos de raça Mertolenga. O estudo incidiu em dietas com
baixa concentração energética [1% do peso vivo (PV) de concentrado na dieta] e com
alta concentração energética (2% do PV). Determinaram-se os parâmetros químicos e
nutritivos dos alimentos utilizados nas dietas, bem como os níveis de ingestão e de
crescimento apresentados pelos novilhos.
A silagem A mostrou maior teor de proteina bruta (PB) e de matéria seca
digestível (MSD) que a silagem B, de corte mais tardio, apresentando-se ambas bem
conservadas, já que os teores de MS das forragens eram altos (32,15% para a A e
48,86% para a B). O teor de ácido láctico foi de 7,01% e 6,87% para a A e B,
respectivamente. Não se notaram diferenças significativas no ganho médio diário
(GMD) dos animais para o efeito tipo de silagem, mas verificou-se (P<0,05) para o
nível de concentrado na dieta. A silagem B, de corte na fase de grão pastoso/duro, em
dieta com 2% do PV de concentrado, originou as maiores performances animais
(1500 g/dia de ganho de peso), concluindo-se que o corte desta forragem em fase mais
tardia, apesar da menor digestibilidade revelada, não só não afectou os crescimentos
dos animais, como melhorou mesmo o GMD, devido certamente ao efeito do grão que
esta forragem já continha no momento do corte.
PALAVRAS-CHAVES: Triticale; Silagem de cereal imaturo; Bovinos mertolengos; Crescimento.
ABSTRACT
The aim of this work was to compare normal triticale forage ensiling in the milk
stage of the grain (silage A) with the same cereal ensiling in the hardness stage (whole
crop silage B). After 10 months of conservation, each silage was included in two diets
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Abril
de 1998.
87
with low [1% live weight (LW)] and high (2% LW) concentrate levels, in a total of 4
diets: A1, A2, B1 and B2). Each diet was offered to a lot of 4 "Mertolengo" steers, along
43 days, with intake and live wheight gain (LWG) controlled weekly.
Silage A had lower dry matter (DM) (30.45%) and higher crude protein (CP)
(8.07%) and digestible dry matter (DMD) (53.79%) than silage B (45.48%, 7.66% and
50.55%, respectively). The effect of the silage quality in the LWG was not significant,
but the level of concentrate in the diet does it. The diet B2 (whole triticale silage + 2% of
concentrate) resulted in the best animal performances, allowed LWG of 1,500 g day-1. In
spite of the lower DMD in the silage B, the effect of the immature grains was determinant
for the higher animal performance in this diets.
KEYWORDS: Triticale; Whole crop cereals; Triticale silage; "Mertolengo" steers.
1 – INTRODUÇÃO
A silagem de cereal imaturo, ou a "whole crop cereal silage", em língua
inglesa, é uma silagem baseada na ensilagem integral de um cereal (trigo,
cevada, triticale, etc.) num avançado estado de maturação do grão (pastoso/
duro). As técnicas de conservação são relativamente seguras, com a vantagem
de não haver efluentes, devido ao avançado estado de maturação da cultura e
ao consequente elevado teor de matéria seca (MS) na altura da ensilagem (14).
Embora relativamente recente, este tipo de silagem tem cativado cada
vez mais o interesse dos agricultores, já que, utilizando os mesmos meios
técnicos da ensilagem comum já existentes na exploração agrícola, pode aproveitar culturas cerealíferas sem qualidade para grão ou sem valor económico
que justifique a sua debulha (9).
O triticale é uma cultura que, pelos maiores rendimentos apresentados
em condições marginais (clima mediterrânico), face a outros cereais como o
trigo, centeio, aveia e cevada (5 ) (8 ) (13), se torna cada vez mais uma opção
na alimentação animal, como grão ou forragem, sendo esta utilizada em
verde, fenada ou ensilada (3) (5) ( 13).
Embora o Triticale já tenha sido objecto de estudo, química e nutritivamente ( 2 ) ( 4 ) ( 11 ), a sua utilização como cereal forrageiro necessita de
mais investigação, nomeadamente a nível do estudo de dietas baseadas
nesta forragem quando em sistemas produtivos. Face ao rápido decréscimo
do valor nutritivo da planta completa na Primavera, devido principalmente
à grande quebra na razão folhas/caule, será importante avaliar o papel que
o grão poderá ter no atenuar desse abaixamento de qualidade, nomeadamente no decréscimo da digestibilidade. Foi esse o principal objectivo
deste trabalho.
88
PASTAGENS E FORRAGENS 19
2– METODOLOGIA
A forragem utilizada foi triticale da variedade Borba, semeado no Outono de 1995 e cortado em 1996, em duas datas distintas: 13 de Maio (fase de
grão leitoso) e 6 de Junho (fase de grão pastoso/duro).
O material verde, fraccionado em partículas de 5 a 15 cm, foi ensilado,
sem qualquer aditivo, em dois silos horizontais de madeira, cobertos com
plástico e alguma terra, tendo sido previamente bem calcados com a ajuda de
tractor. Após cerca de 10 meses de conservação procedeu-se à abertura dos
silos e ao início do ensaio. Os dois tipos de silagens resultantes foram assim
denominados:
A – silagem de triticale cortado no estado de grão leitoso,
B – silagem de triticale cortado no estado de grão pastoso/duro.
Os animais utilizados foram 16 novilhos de raça Mertolenga, com um
peso vivo médio de 260 kg, divididos em quatro lotes de quatro novilhos
cada, de maneira que os pesos médios iniciais dos lotes fossem sensivelmente
iguais. Para alcançar este objectivo e havendo grande disparidade de pesos
entre os animais, cada lote foi composto por um novilho com peso corporal
superior à média, por outro inferior à média e por dois com pesos próximos
da média.
Com as duas silagens e um concentrado comercial de engorda de novilhos compuseram-se 4 dietas, destinadas a cada um dos 4 lotes de animais. A
cada lote correspondeu uma dieta diferente: A1 [silagem A + 1% do peso
vivo (PV) de concentrado diário], A2 ( silagem A + 2% do PV), B1 ( silagem
B + 1% do PV) e B2 ( silagem B + 2% do PV).
Para um correcto controlo alimentar os animais foram instalados em
boxes individuais onde, diariamente, se controlaram os alimentos distribuídos,
bem como as sobras e refugos do dia anterior. A pesagem dos animais fez-se
semanalmente, sensivelmente à mesma hora e pelo mesmo operador, para que
o erro de leitura da balança (balança mecânica) fosse minimizado. Após cada
pesagem procedeu-se ao ajuste na quantidade de concentrado a administrar
durante a semana seguinte. Nas primeiras três semanas os novilhos tiveram
um período de habituação alimentar, seguido de um período de controlo de 6
semanas, correspondente ao esgotamento dos silos.
Recolheram-se amostras de triticale verde na altura da ensilagem, de
silagem de triticale no período de controlo e de concentrado comercial de
diferentes sacos ao acaso.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
89
Para cada amostra procedeu-se à determinação da matéria seca (MS)
por secagem a 60 ºC, até peso constante, seguida de moenda em moinho de
facas com crivo de 1 mm. Numa segunda fase determinaram-se os seguintes
parâmetros: MS residual por secagem em estufa a 105 ºC, cinzas totais por
incineração em mufla a 550 ºC, fibra insolúvel em detergente neutro (NDF)
pelo método de Goering e Van Soest, proteína bruta (PB) pelo método de
Kjeldhal ( 1) (2 ) (7 ), digestibilidade da MS in vitro (MSD) pelo método de
Tilley e Terry ( 12 ). Para as silagens determinaram-se ainda, em amostras
frescas, os parâmetros fermentativos azoto amoniacal (N-NH 3) por destilação da amostra sem mineralização prévia (2 ), ácido láctico segundo Harper
e Randolph modificado por Parker (6) (10 ) e pH em solução aquosa isotónica
com potenciómetro analógico.
Estatísticamente compararam-se os valores médios das duas épocas de
corte do triticale, como forragem verde e como silagem, procedendo-se a
uma análise de variância simples para o factor "época de corte". A análise
estatística da ingestão e das características produtivas de cada grupo de
novilhos foi do tipo factorial 2 × 2, tendo em conta os efeitos "tipo de
silagem" e "nível de concentrado". A curva de regressão do crescimento de
cada grupo de novilhos foi determinada pelo método da curva mais ajustada, utilizando-se os valores médios de cada grupo para cada pesagem. Todo
o tratamento estatístico foi feito utilizando o programa SPSS for Windows,
versão 7.5.
3 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Como se pode ver no quadro 1, com o avanço na maturação da
cultura houve um aumento significativo no valor da MS e um decréscimo significativo da PB. A MSD também baixou devido, certamente, a
uma maior lenhificação do caule à medida que aumentou o estado de
maturação do triticale. O valor do NDF do triticale no estado de grão
pastoso/duro não diferiu significativamente do do estado de grão leitoso, o que não seria de esperar face ao decréscimo verificado na MSD.
A explicação estará na heterogeneidade das amostras que originaram
valores médios com desvios-padrão um pouco elevados. A maior ou
menor fracção do grão nas silagens B influiu decisivamente na qualidade analítica das amostras. A MO permaneceu praticamente igual nos
dois estados de maturação.
90
PASTAGENS E FORRAGENS 19
QUADRO 1 – Valores químicos e digestivos da forragem de triticale nas duas
épocas de corte.
Data de corte
MS (%)
MO (% da MS)
PB (% da MS)
NDF (% da MS)
MSD (% da MS)
Triticale A
13 de Maio
32,15
94,33
7,62
64,57
46,73
Triticale B
7 de Junho
48,86
94,23
6,44
65,97
40,24
P
0,000
0,708
0,008
0,075
0,000
***
ns
**
ns
***
** para p < 0,01, *** para p < 0,001, ns para não significativo.
Analisando seguidamente o quadro 2 sobre a qualidade das silagens
resultantes, após cerca de 10 meses de conservação, vê-se que a silagem B
apresenta obviamente um teor de MS bem mais elevado que a silagem A,
pois corresponde a um estado mais avançado de maturação. Os valores de PB
e MSD das duas silagens, tal como nas forragens verdes respectivas, continuam a diferir estatisticamente, reflectindo as diferenças de datas de corte. Os
mais altos valores de PB encontrados nas silagens face aos das forragens
verdes não têm aparentemente uma explicação biológica nem fermentativa
plausível. A não ser em amostras de silagem bastante inoculadas por bolores,
não haverá motivos para que o azoto bruto suba durante a ensilagem. A razão
mais provável terá sido a falta de homogeneidade entre amostras verdes e
amostras de silagem, com diferentes proporções de folhas, caules e espigas.
QUADRO 2 – Valores químicos e fermentativos da silagem de triticale nas
duas épocas de corte.
Silagem A
MS (%)
MO (% da MS)
PB (% da MS)
NDF (% da MS)
MSD (% da MS)
Ácido láctico (% da MS)
NH3 (% do Nt)
pH
30,45
91,23
8,07
62,38
53,79
7,01
11,73
3,83
Silagem B
45,48
93,17
7,66
64,56
50,55
6,87
8,95
3,99
P
0,002 **
0,010 *
0,019 *
0,157 ns
0,002 **
0,822 ns
0,000 ***
0,019 *
* para p < 0,05, ** para p < 0,01, *** para p < 0,001, ns para não significativo.
A razão entre as percentagens de MSD e de PB é geralmente apontada
como um bom indicador do equilíbrio nutritivo em alimentos fibrosos, considerando-se uma forragem equilibrada quando essa razão se situa próximo de
5,00. No presente caso, a silagem A apresentou um valor de 6,67 contra
PASTAGENS E FORRAGENS 19
91
6,60 para a silagem B, tendendo então esta silagem a ser um alimento um
pouco mais equilibrado, não sendo, no entanto, nenhuma das silagens suficientemente equilibrada para ser administrada como alimento único devido,
principalmente, ao baixo teor proteico.
O teor em NDF foi mais elevado para a silagem B, como se previu, não
havendo, contudo, diferenças significativas entre ambas.
Em termos fermentativos as duas silagens resultaram bem acidificadas,
com valores de pH inferiores a 4,0, apresentando-se a silagem A significativamente mais ácida que a B, dado o seu menor teor de MS. Contudo, para
estes valores de MS, era de esperar que as silagens fossem menos ácidas. A
produção de ácido láctico foi moderada nas duas silagens, para os 10 meses
de conservação, não diferindo significativamente entre si. Admite-se que a
produção inicial de ácido láctico tenha sido bastante mais elevada, reflectindo-se na acidez total das silagens e que, posteriormente, se tenha reconvertido,
por fermentações secundárias, em ácidos gordos voláteis não analisados.
A percentagem de N-NH3 no Ntotal foi pequena nas duas silagens, sendo
no entanto significativamente mais baixa na silagem B, talvez devido ao seu
maior teor em MS, restringindo mais a degradação da proteína por parte do
Clostridium.
O concentrado utilizado, do tipo comercial para engorda de novilhos,
apresentou os valores constantes do quadro 3, obedecendo aos padrões nutritivos usuais neste tipo de concentrado. Pela análise do quadro 4 verifica-se
que a ingestão de MS fibrosa foi influenciada somente pelo nível de concentrado, não se manifestando diferenças significativas ligadas ao efeito "tipo de
silagem". Assim, o grupo com maior ingestão de MS foi o B1 (76,63), seguido dos grupos A1 (74,23) e B2 (56,63), sendo o A2 (50,68) aquele que
apresentou a menor ingestão de MS. Algo semelhante se verificou na ingestão
de PB e MSD das silagens, para os quatro grupos. As diferenças notadas são
só influenciadas pelo nível de concentrado, não havendo diferenças estatisticamente significativas entre as duas silagens. Só quanto à ingestão de NDF
se notaram diferenças significativas, quer pelo efeito nível de concentrado,
quer pelo factor tipo de silagem. Assim, o grupo que apresentou o maior
valor de ingestão foi o B1 (52,65), seguido dos grupos A 1 (47,78) e B2
(39,15), sendo o A2 (32,45) aquele que apresentou a menor ingestão de NDF.
Analisar estatisticamente a ingestão de concentrado neste caso não faz
sentido, visto que a quantidade à disposição dos animais lhes foi imposta.
Assim, a única conclusão que se pode tirar é que o tipo de silagem não
92
PASTAGENS E FORRAGENS 19
influenciou a ingestão de concentrado, visto que, ao longo do ensaio, não se
registaram quaisquer sobras de concentrado.
QUADRO 3 – Características químicas do concentrado.
MS (%)
MO (% da MS)
MSD (% da MS
PB (% da MS)
Média
Dp
89,74
88,81
85,77
15,72
0,378
0,176
2,211
0,311
Dp: Desvio-padrão.
QUADRO 4 – Ingestão média diária de MS, PB, NDF e MSD só de alimento silagem nas
duas dietas.
Grupo
MS (g/kg PV 0,75)
PB (g/kg PV 0,75)
NDF (g/kg PV 0,75)
MSD (g/kg PV 0,75)
A1
A2
B1
B2
74,23
6,18
47,78
41,18
50,68
4,18
32,45
28,00
76,63
6,25
52,65
41,25
56,63
4,65
39,15
30,68
Nivel de significância
Silagem
ns
ns
**
ns
Concentrado
***
***
***
***
** para p<0,01, *** para p<0,001, ns para não significativo.
Não houve interacção entre os efeitos "nivel de concentrado" e "tipo de silagem".
MS – matéria seca, PB – proteina bruta, NDF – fibra neutro detergente, MSD – matéria seca digestivel in vitro.
Quando se analisam as taxas de ingestão da dieta total (silagem +
concentrado) verifica-se que os valores de ingestão de MS, PB e MSD (quadro 5) só foram diferentes significativamente entre os dois níveis de concentrado, não havendo igualmente diferenças influenciadas pelo tipo de silagem.
Assim, observou-se que houve um aumento nas quantidades totais de MS, PB
e MSD ingeridas, quando o nível de concentrado era mais elevado. Estes
valores de ingestão foram determinar os valores de ganho médio diário (GMD)
dos novilhos, como era de esperar.
QUADRO 5 – Ingestão média diária de MS, PB e MSD totais (silagem + concentrado).
Grupo
MS (g/kg PV0,75)
PB (g/kg PV0,75)
MSD (g/kg PV0,75)
A1
107,70
11,45
70,03
A2
117,10
14,65
85,18
B1
110,38
11,55
70,25
B2
123,53
15,20
88,23
Nivel de significância
Silagem
ns
ns
ns
Concentrado
**
***
***
** para p<0,01, *** para p<0,001, ns para não significativo.
Não houve interacção entre os efeitos "nivel de concentrado" e "tipo de silagem".
MS – matéria seca, PB – proteina bruta, MSD – matéria seca digestível in vitro.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
93
Analisando os valores do quadro 6 constata-se que o valor do peso
inicial médio de cada grupo não foi igual, como seria desejável, mas tal era
biologicamente difícil de conseguir.
QUADRO 6 – Crescimento médio dos novilhos mertolengos, no período de controlo.
Grupo
Peso inicial (kg)
Peso final (kg)
Variação de peso (kg)
GMD (kg/dia)
A1
266,25
314,75
48,50
1,128
A2
B1
B2
265,25
325,00
59,75
1,390
272,50
320,75
48,25
1,122
270,50
335,00
65,50
1,500
Nivel de significância
Silagem
ns
ns
ns
ns
Concentrado
ns
*
*
*
* para p<0,05, ns para não significativo.
Não houve interacção entre os efeitos "nivel de concentrado" e "tipo de silagem".
GMD – Ganho médio diário de peso vivo.
O peso final médio, embora sem diferenças estatísticas entre o tipo de
silagens, foi logicamente mais elevado nos grupos com maior nível de concentrado (335,00 kg e 325,00 kg, contra 320,75 kg e 314,75 kg, respectivamente).
A principal razão para a não significância estatística entre as silagens reside no
leque de pesos individuais que formavam cada média considerada.
Em termos de ganho médio diário (GMD), o parâmetro economicamente
mais importante, verificou-se também diferença significativa somente para o
nível de concentrado, continuando a não se verificarem diferenças para os
tipos de silagem, sendo no entanto manifesto que a silagem B apresentou
melhores resultados que a silagem A quando o nível de concentrado foi mais
elevado, sendo os valores de crescimento praticamente iguais para o nível de
concentrado mais baixo. O grupo com maior GMD foi o B2 (1,500 kg),
seguido do A2 (1,390 kg), vindo finalmente os grupos A1 (1,128 kg) e B1
(1,122 kg) com valores praticamente idênticos.
O gráfico 1 mostra as curvas reais de crescimento dos novilhos, que dão
a evolução do peso vivo médio de cada grupo ao longo do ensaio. Na fase de
habituação à dieta, os novilhos apresentaram uma esperada evolução irregular
no peso vivo, notando-se por vezes decréscimos entre pesagens, nas primeiras
duas semanas. Há que referir, no entanto, que todos os grupos entraram em
período de controlo alimentar já com evoluções constantes no seu peso vivo,
notando-se, já então, maiores acréscimos para a silagem B.
Para uma mais fácil comparação entre os vários grupos, ajustaram-se
rectas de regressão linear aos valores de crescimento de cada grupo de animais (quadro 7).
94
PASTAGENS E FORRAGENS 19
GRÁFICO 1 – Evolução do peso vivo dos quatro grupos de novilhos ao longo do ensaio.
QUADRO 7 – Equação de regressão mais ajustada para os valores médios de peso vivo de
cada grupo ao longo do período de controlo alimentar.
Grupo
A1
A2
B1
B2
Equação
y= a + b.x
a
258,93
255,21
262,96
260,00
b
r
r2
8,366
10,268
8,366
10,839
0,9928
0,9980
0,9983
0,9987
0,9856
0,9960
0,9967
0,9975
Tendo em conta o declive de cada regressão, verificou-se que só houve
diferença estatística entre o nível de concentrado, sem que se registasse diferença significativa entre as duas silagens. O grupo que apresentou o maior
índice de crescimento foi o B2 (10,839), seguido do A2 (10,268), vindo por
fim os grupos A1 e B1 (8,3661) com valores iguais.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
95
126
PASTAGENS E FORRAGENS 19
QUADRO 1 – Indicadores técnicos das explorações.
Isto vem confirmar as diferenças nos valores de GMD entre os lotes,
mostrando crescimentos significativamente mais elevados nos grupos que ingeriram 2% do peso vivo de concentrado, exibindo uma supremacia da silagem
B em relação à silagem A para este nível de suplementação. No entanto, com
um nível mais baixo de concentrado não houve supremacia de um tipo de
silagem em relação à outra.
Pode-se ainda constatar que não houve um efeito do nível de concentrado na dieta proporcional ao crescimento dos novilhos, visto que quando se
aumentou a quantidade administrada de concentrado em 100%, ou seja, de
1% para 2% do peso vivo, houve somente um aumento no GMD de 25,20%
na dieta B e de 18,85% na A. Isto, que poderia ser uma surpresa económica
não é nenhuma surpresa biológica, ou, mais concretamente, nutritiva. Mesmo
para animais desta idade, as respostas produtivas estão longe de serem lineares face a incrementos de concentração energética nas dietas.
4 – CONCLUSÕES
Pode-se concluir que o triticale tem uma boa ensilabilidade para ambas as
fases de corte, sem riscos de efluentes, visto ser ensilado com um teor de MS
acima de 30%.
Em ambas as fases de corte notou-se que as silagens resultantes eram
alimentos pouco equilibrados nutritivamente, devido aos baixos teores de PB,
necessitando pois de suplementação. Cortando mais tarde, na fase de grão
pastoso/duro, obtém-se uma maior quantidade de MS produzida.
O efeito do grão de triticale na silagem B fez-se sentir, atenuando a
menor digestibilidade da fibra nesta silagem, correspondente ao estado de
maturação mais avançado da cultura (pastoso/duro). A silagem B, com baixo
teor energético, igualou os valores de crescimento animal apresentados pela
silagem A, mas quando em dieta com mais energia originou melhores performances nos animais.
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analysis. Washington, AOAC, 1985.
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"Pastagens e Forragens", Elvas, 8 (1) 1987, p. 147-160.
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Dep. Agri., 1970. (Agricultural handbook n.º 379).
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in Denmark. In: "Whole-crop cereals". 2nd ed. Kingston, Kent, UK, Chalcombe
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silage – a review. Rosendale, Lancashire, UK, National Feed Ingredients Association,
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to oats for forage. In: "Grassland Science in Europe, Ecological Aspects of Grassland
Management". 17th European Grassland Federation Meeting, 1988, p. 855-858.
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9 – ROYO, C. et al. – Triticale and other small grain cereals for forage and grain in
Mediterranean conditions. "Grass and Forage Science", vol. 48, 1993, p. 11-17.
10 – TETLOW, R. M. – A decade of research into whole-crop cereals at Hurley. In:
"Whole-crop cereals". 2nd ed. Kingston, Kent, UK, Chalcombe Publications, 1992,
p. 1-20.
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crops. "Journal of the British Grassland Society", vol. 18, 1963, p. 104-111.
13 – VARUGHESE, G.; BARKER T.; SAARI, E. – Triticale. Mexico, CIMMYT, 1987.
14 – WELLER, R. F. – The National whole-crop cereals. In: "Whole Crop Cereals". 2nd ed.
Kingston, Kent, UK, Chalcombe Publication, 1992, p. 137-156.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
97
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 99–112.
FLUXOS DE AZOTO EM EXPLORAÇÕES DE BOVINICULTURA
LEITEIRA INTENSIVA NO NOROESTE DE PORTUGAL*
Henrique Trindade, João Coutinho♦, Nuno Moreira
Departamento de Fitotecnia e Eng.ª Rural, ♦Departamento de Edafologia
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Apartado 202 – 5001-911 VILA REAL
Resumo
A intensificação da produção vegetal e animal verificada nas explorações forrageiras
de bovinicultura leiteira causa, tal como acontece em outros sistemas agrícolas muito
intensivos, efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente envolvente devido, entre outros
factores, à utilização de elevadas doses de fertilizantes. Neste trabalho apresentam-se os
resultados referentes à avaliação, em duas explorações do Entre Douro e Minho, durante
vários anos, das entradas e saídas de azoto (N) consideradas ao nível global da exploração e
dos subsistemas animal e vegetal
As entradas anuais de N nas explorações através da aquisição de alimentos concentrados para animais e de adubos atingiram os 625 kg N por hectare de SAU, sendo até 50 %
daquele valor devidos à utilização de alimentos concentrados. As saídas de azoto através de
produtos pecuários (maioritariamente leite) atingiram os 150 kg N ha-1, valor correspondente a cerca de 20 % do N ingerido pelos animais. Embora a aplicação de chorume, efectuada
aquando da instalação das culturas, permita a reciclagem de parte do azoto excretado pelos
animais, quantidades importantes deste nutriente (≈ 210 kg N ha-1) são perdidas nos
estábulos e durante o armazenamento, principalmente por volatilização de amoníaco.
A determinação das entradas e saídas de N do solo durante dois anos (Junho/1994 a
Maio/1996) em duas parcelas sujeitas ao sistema cultural caracterizado revelou que, para
além do N proveniente do chorume (≈ 360 kg N ha-1), as culturas receberam através da
adubação até mais 300 kg N ha-1, tendo cerca de 75 % dessa quantidade sido aplicada à
cultura do milho. A exportação de N das parcelas através da produção de forragens
apresentou valores entre 340 e 400 kg N ha-1 ano-1.
A principal perda de azoto do solo ocorreu através da lixiviação de ião nitrato, em
média 245 kg N ha-1 ano-1, tendo uma das parcelas alcançado o valor de 350 kg N ha-1. Estas
perdas ocorreram maioritariamente nos meses de Outubro a Dezembro. As perdas por
volatilização de amoníaco após a distribuição de chorume nas parcelas foram mais
reduzidas, apresentando o valor máximo de 50 kg N ha-1 ano-1. Relevante é o facto de 50 a
85 % das perdas por emissão de amoníaco ocorrerem nas 10 horas seguintes à aplicação
do chorume ao solo sem incorporação.
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Maio
de 1998.
Trabalho financiado pelo projecto de investigação STRIDE B 170/92.
99
Com base nos resultados obtidos, referem-se algumas medidas que possibilitam a
redução das perdas no sistema solo-planta destas explorações, cujo estudo prossegue.
PALAVRAS-CHAVES: Azoto; Explorações leiteiras; Chorume; Lixiviação nitratos;
volatilização amoníaco; Desnitrificação; Balanço N.
Abstract
In recent decades a very intensive dairy farming system has been developed in
the Northwest region of Portugal based on two forage crops per year, maize silage and
a winter crop, and heavy nitrogen inputs through slurry and mineral fertilizers. The risk
of environmental damage associated with such an intensive system is very high. This
work shows results of a study conducted to assess the inputs and outputs of N at the
farm, field and animal system level.
Farm annual inputs of N by concentrate feeding and mineral fertilizers
reached 625 kg per hectare of cultivated land with 50% of this value being due to the
concentrate feeding. N output by animal products (mainly milk) reached 150 kg N ha-1,
value that represents 20 % of the N ingested by animals. Although slurry application to
the soil allows the recycling of part of excreted N, important amounts (≈ 210 kg N ha-1)
were lost on the stables and storage, mainly by ammonia volatilization.
Data on inputs, flows and N outputs from the soil were gathered at plots in
two representative farms over a two-year period (from June 1994 to May 1996). In
addition to the N supplied by the slurry (≈ 360 kg N ha-1) crops received mineral
fertilizer till more 300 kg N ha-1, with c.75 % of this value being applied to the maize
crop. The amounts of N removed by the crops reached values between 340 and 400 kg
N ha-1 year-1.
The main loss of N from soil occurred by nitrate leaching, averaging 245
kg N ha-1 year-1 with a maximum measured loss of 350 kg N ha-1 at a location in one
year. Those losses occurred mainly between October and December. Losses by
ammonia volatilization after slurry spreading to the soil without incorporation were
smaller, showing a maximum value of 50 kg N ha-1 year-1 and with 50 to 85 % of the
total ammonia emission occurring in the first 10 hours after slurry application.
Based on the results obtained a group of integrated measures for reducing the
losses and improving efficiency of N use in this intensive system were proposed and
discussed.
KEY WORDS: Nitrogen; Dairy Farming; Nitrate leaching; Ammonia volatilization; Cattle
slurry; Denitrification; Nitrogen balance.
1 – INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas desenvolveu-se, no Noroeste de Portugal, um sistema agropecuário muito intensivo, com base em duas culturas forrageiras anuais: o milho silagem e uma cultura intercalar de Inverno constituída por uma
ferrã, mistura de cereais praganosos e azevém, ou azevém estreme. Este
sistema caracteriza-se (8) essencialmente por:
100
PASTAGENS E FORRAGENS 19
• o efectivo pecuário ser constituído principalmente por bovinos leiteiros mantidos em estabulação permanente com encabeçamentos muito
elevados, entre as 4 e as 7 cabeças normais (CN), por hectare;
• o consumo de alimentos concentrados adquiridos ser de 0,3 a 0,4 kg
por litro de leite, a produção média por estábulo ser em geral de 5 a
7 mil litros de leite por vaca e por ano e em diversas explorações
ultrapassar os 30 mil litros ha-1 ano-1;
• as produções forrageiras unitárias serem muito elevadas, frequentemente superiores às 30 t MS ha-1 ano-1 e sendo a forragem preferencialmente destinada a ensilar.
A importância económica a nível regional, ou mesmo nacional, deste
sistema agro-pecuário é muito significativa. Segundo Rolo ( 10), no limiar dos
anos 90, nas regiões de Entre Douro e Minho (EDM) e da Beira Litoral
(BL), o Valor Acrescentado Bruto a preços de mercado (VABpm) gerado
pela actividade de produção de leite de bovino atingiu os 26 milhões de
contos, valor correspondente a 67% do VABpm da actividade em Portugal
continental e representando 7,4% do VABpm total da agricultura. Ao nível
regional, a produção de leite bovino naquele período representou cerca de 29
e 17% do VABpm total da agricultura, respectivamente na região de EDM e
da BL.
As culturas forrageiras em que assenta o sistema de bovinicultura leiteira intensiva, além da adubação mineral azotada que atinge valores compreendidos entre 200 e 300 kg N ha-1 ano-1, beneficiam ainda do azoto proveniente da aplicação de chorume, via por que são maioritariamente aproveitadas
as dejecções animais. Em geral, a distribuição de chorume nas parcelas é
efectuada aquando da instalação das culturas, podendo representar uma aplicação adicional de 400 kg N ha-1 ano-1.
A intensificação da produção vegetal e animal verificada neste sistema
agro-pecuário causa certamente efeitos prejudiciais ao meio ambiente
envolvente. O impacto ambiental da actividade será muito acentuado, em
particular no que se refere ao elemento azoto, devido às elevadas quantidades
deste nutriente utilizadas e ao seu comportamento nos solos agrícolas (4).
Atendendo à necessidade de avaliar os riscos ambientais procedeu-se à realização de um trabalho com o objectivo de quantificar as entradas, as saídas e
os fluxos de azoto ao nível global de duas explorações do EDM e dos seus
subsistemas animal e vegetal.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
101
2 – MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Determinação das entradas e saídas de azoto das explorações
através de produtos adquiridos e vendidos
As explorações onde foi realizado o trabalho experimental localizavam-se uma em Paços de Ferreira (Estação Experimental de Leite e Lacticínios,
DRAEDM) e outra em Vila Cova no concelho de Barcelos (Exploração Agro-Pecuária Casa do Rego). Nestas explorações procedeu-se à avaliação de
todas as entradas e saídas de azoto decorrentes da aquisição e venda de
produtos. Essa informação, compilada a partir de registos e da contabilidade
das empresas, foi obtida para os anos civis de 1992 a 1995 (4 anos) em
Paços de Ferreira e 1994 e 1995 (2 anos) em Vila Cova.
As entradas de azoto através de alimentos concentrados para animais
(ACA) foram calculadas utilizando a concentração de proteína inscrita nos
rótulos das embalagens dos produtos. As saídas de azoto das explorações
através de produtos pecuários foram determinadas considerando o valor de
17,2% de proteína bruta (PB) para a carne e a % PB do contraste leiteiro ou,
nos anos em que este não existia, o valor de 3,3% PB. Para a conversão em
quantidades de N dividiram-se os valores de proteína bruta pelo factor 6,25,
no caso da carne e ACA, e 6,38, no caso do leite.
2.2 – Determinação das entradas e saídas de azoto em parcelas
cultivadas
Nos dois locais de ensaio e durante dois anos, de Junho/94 a Maio/96,
efectuou-se a medição dos fluxos internos de N na exploração e numa parcela sujeita ao sistema cultural caracterizado. A dimensão da parcela utilizada
foi de 50×50 m em Paços de Ferreira e de 50×40 m em Vila Cova. Nessas
parcelas, sujeitas há vários anos ao sistema cultural caracterizado e, portanto,
onde se considera que os fluxos de N se encontram em equilíbrio, efectuaram-se as seguintes determinações:
– Taxa de mineralização de N orgânico e teor de N mineral no solo
ao longo do ano. A taxa de mineralização de N orgânico foi medida
para a camada mais superficial de solo (0-10 cm) recorrendo ao
método de incubação in situ de cilindros de solo com acetileno,
descrito por Ryden et al. (12). A duração das incubações e o intervalo entre amostragens foi de 15 dias. Este método permitiu ainda
102
PASTAGENS E FORRAGENS 19
estimar as perdas por desnitrificação, utilizando para tal a variação
dos teores de nitrato do solo durante a incubação. O teor de N
mineral foi determinado até 3 0 cm de profundidade.
– Adições de N ao solo através de deposição atmosférica e água
de rega. Para tal foram recolhidas amostras de água de precipitação e de rega, nas quais se procedeu à determinação da concentração de N. As quantidades de N adicionadas ao solo por estas vias
foram estimadas, utilizando os valores das dotações de rega e da
precipitação, com base em registos efectuados nos dois locais.
– Adição de N ao solo através de adubos e da aplicação de
chorumes. As quantidades de adubos minerais e de chorumes
aplicadas a cada parcela foram registadas. Nos chorumes procedeu-se ainda à analise laboratorial do seu teor em azoto orgânico
e mineral.
– Perdas de azoto por volatilização de amoníaco após a distribuição do chorume nas parcelas. A medição destas perdas foi
efectuada utilizando o método de balanço de massa micrometeorológico descrito por Ryden e McNeil ( 11 ). A distribuição de
chorume nas parcelas foi efectuada à instalação do milho e da
cultura de Inverno e a medição das perdas por volatilização prolongou-se por um período de 3 a 6 dias após a aplicação.
– Perdas de N por lixiviação de nitratos. Os valores foram obtidos
mediante o cálculo da quantidade de água drenada pelo solo das
parcelas e da medição da concentração de ião nitrato na água. O
último parâmetro foi determinado recorrendo à instalação de 24
cápsulas de cerâmica a 1 m de profundidade em cada local, as
quais permitiram a amostragem regular da solução do solo. Os
volumes de água drenada foram calculados diariamente através do
balanço hídrico do solo realizado com base em dados meteorológicos recolhidos em estações colocadas junto às parcelas.
– Produções vegetais e exportação de N pelas forragens. Estes
dados foram obtidos pela amostragem das culturas na altura dos
cortes e pela determinação laboratorial do teor de azoto da forragem. Para verificar a representatividade das parcelas em estudo
foram também amostradas as outras parcelas da exploração. A
cultura da época estival foi, em ambos os locais, o milho. A
cultura intercalar de Inverno foi constituída, em Paços de Ferreira,
por uma mistura de aveia e azevém anual, semeada respectiva-
PASTAGENS E FORRAGENS 19
103
mente às densidades de 100 e 15 kg ha -1 e em Vila Cova por uma
mistura de aveia, cevada e azevém anual semeada respectivamente
às densidades de 65, 100 e 15 kg ha -1. Em Paços de Ferreira foi
ainda amostrada regularmente a cultura de luzerna, que ocupava
uma área significativa da exploração. Dado esta cultura não beneficiar da aplicação de chorume a forragem produzida foi considerada como sendo adquirida ao exterior.
A descrição pormenorizada das metodologias utilizadas na medição
dos fluxos e das técnicas laboratoriais de análise de azoto nas amostras de
solo, chorume, forragens, água de rega e precipitação e água do solo pode
ser consultada em Trindade ( 13 ).
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 – Fluxos de azoto nas explorações
No quadro 1 caracterizam-se sumariamente a estrutura e a actividade
das explorações agrícolas onde decorreu o trabalho. Apresentam-se os valores
médios dos anos de 1994 e 1995, uma vez que para a mesma exploração e
entre os anos em estudo não foram observadas variações importantes nos
parâmetros avaliados. No entanto, entre si as duas explorações revelaram
pequenas diferenças. Em Vila Cova, os valores de consumo de adubos azotados
pelas culturas forrageiras e de encabeçamento animal foram superiores e os
de produção de leite por vaca inferiores aos valores verificados em Paços de
Ferreira. Estas observações parecem indicar diferenças relativamente ao nível
da produção de forragens e da produção animal, estando a primeira actividade mais intensificada em Vila Cova e a segunda em Paços de Ferreira.
A adubação mineral das culturas adicionou ao solo 195 e 300 kg N ha-1
ano respectivamente em Paços de Ferreira e em Vila Cova, tendo sido cerca
de 75 % do adubo aplicado à cultura de milho. Os bens pecuários produzidos
pelas explorações foram maioritariamente o leite, embora na exploração de
Vila Cova tenha sido efectuada com significado apreciável a recria de animais para carne.
-1
Na figura 1 apresentam-se os fluxos médios de azoto em cada exploração, expressos em kg N por hectare de SAU e por ano, elaborados com base
nas medições dos vários processos do ciclo do N efectuadas nas parcelas
experimentais e nas características e quantidades de bens adquiridos e vendi-
104
PASTAGENS E FORRAGENS 19
dos. Em Paços de Ferreira, uma parte considerável da SAU (≈ 50 %) encontrava-se ocupada com luzerna. Os cálculos foram efectuados excluindo esta
cultura e considerando a forragem por ela produzida como exterior à exploração. Portanto, os fluxos apresentados para esta exploração apenas consideram
as parcelas cultivadas com milho e cultura intercalar de Inverno.
As entradas de N nas explorações através de alimentos concentrados
para animais e de adubos atingiram 565 e 625 kg N ha-1 ano-1, respectivamente em Paços de Ferreira e em Vila Cova, incluindo no primeiro local a
entrada de N através da luzerna. Os ACA são responsáveis por cerca de 50
% das entradas de azoto nas explorações.
QUADRO 1 – Caracterização da estrutura e actividade das explorações agro-pecuárias em estudo.
SAU (ha)
Número de parcelas
Repartição da SAU (ha):
Milho silagem/cultura de Inverno
Luzerna
Paços de Ferreira
14,3
8
7,3
7,0
Adubação azotada das forragens anuais (kg N ha-1):
Milho silagem
Cultura de Inverno
Efectivos bovinos (CN):
Vacas leiteiras
Novilhos(as)
Vitelos(as)
Encabeçamento (CN ha-1)*
Produção de leite (l vaca-1 ano-1)
Alimentos adquiridos ao exterior (kg):
Leite substituição (22,5 %PB)
Concentrado para vacas (22,0 %PB)
Concentrado para novilhos(as) (15,0 %PB)
Concentrado para vitelos(as) (16,5 %PB)
Luzerna (21,5 %PB)
"Drêche" de cevada ( ≈ 4,9 %PB)
Feno
Produtos animais exportados:
Leite (l)
Carne
Vila Cova
10,2
9
10,2
–
145
50
220
80
47
14
8
30
29
8
4,3
5,8
7 360
5 660
500
000
000
000
000
–
–
880
44 000
18 000
21 000
–
80 000
12 500
100
10
3
115
346 000
15 vacas
170 000
8 vacas
30 novilhos**
*Excluídos vitelos
**Animais com 400 kg PV.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
105
* valor estimado por diferença; ** a mineralização líquida de N orgânico foi determinada apenas para a
camada de solo até 10 cm de profundidade, pelo que os valores reais de mineralização anual são superiores
aos apresentados.
FIGURA 1 – Fluxos médios anuais de azoto (Junho/94 a Maio/96, expressos em kg N ha-1)
observados na exploração agro-pecuária de Paços de Ferreira (em cima) e na
exploração agro-pecuária de Vila Cova (em baixo).
As saídas de azoto através de produtos pecuários correspondem, em
média, apenas a cerca de 20 % do N ingerido pelos animais, pelo que
quantidades apreciáveis deste elemento são recicladas internamente na exploração, através da aplicação de chorume nas parcelas (360-390 kg N ha-1 ano-1),
106
PASTAGENS E FORRAGENS 19
ou são perdidas nos estábulos e/ou durante o armazenamento (210-215 kg N
ha -1 ano-1). A eficiência de utilização de N pelos animais situou-se dentro dos
valores apresentados para vacas leiteiras (3 ). O facto do valor observado para
este parâmetro em Paços de Ferreira ser ligeiramente superior ao de Vila
Cova pode dever-se à existência nesta última de animais de recria, menos
eficientes na utilização dos nutrientes da dieta ( 3), ou ainda à menor produtividade das vacas leiteiras. O aumento da produtividade dos animais é mesmo
apontado como uma medida que permite aumentar a eficiência de utilização e
reduzir os excessos de N e o seu impacto ambiental, uma vez que nesta
situação se verifica uma redução da proporção do N total ingerido que é
utilizado para satisfação das necessidades de conservação dos animais (6).
O total de azoto adicionado anualmente ao solo em Paços de Ferreira e
em Vila Cova calculou-se ter sido, respectivamente, de 593 e 689 kg N ha-1.
A remoção através da forragem atingiu valores da ordem dos 360-390 kg N
ha -1 ano-1. A produção de matéria seca das forragens foi muito elevada, com
valores entre 18 e 24 t MS ha-1 na cultura de milho e entre 7 e 11 t MS ha-1
na cultura de Inverno.
Embora grande parte do azoto fornecido através do chorume tenha sido
na forma orgânica (entre 70 e 85 %), estas adições em conjunto com outros
resíduos e matéria orgânica do solo permitiram a manutenção de taxas de
mineralização elevadas e regulares ao longo do ano. Apenas na camada de
solo até 10 cm de profundidade foram disponibilizados, em média, durante o
período de ocupação do solo pela cultura de milho e pela cultura de Inverno,
respectivamente, 60 e 100 kg N ha-1 em Paços de Ferreira e 105 e 125 kg N
ha -1 em Vila Cova. Considerando que, nestes solos, as adições de materiais
orgânicos e o processo de decomposição se encontram em equilíbrio, então a
mineralização terá ocorrido até profundidades do solo mais elevadas do que
os 10 cm considerados neste trabalho. Weier e MacRae (14 ) verificaram que
o processo de mineralização em solos aráveis pode ocorrer com taxas significativas até profundidades superiores a 60 cm. Será portanto de esperar que as
quantidades de azoto disponibilizadas para as culturas por esta via tenham
sido mais elevadas.
Em relação às concentrações de N mineral no solo verificou-se que
predominou a forma nítrica. A concentração desta forma azotada apresentou
grandes variações ao longo do ano, ocorrendo os valores mais elevados durante a cultura de milho. As concentrações de azoto nítrico no solo, no
período em que a cultura de milho apresentava 20 a 30 cm de altura, atingiram 37 a 53 mg N-NO3- kg-1, respectivamente em Paços de Ferreira e em
PASTAGENS E FORRAGENS 19
107
Vila Cova, valores superiores aos 25 mg N-NO3- kg-1 que Magdoff et al. (5 )
referem como suficientes na camada arável (0-30 cm) para a máxima produção da cultura de milho.
3.2 – Perdas de azoto do solo
Em ambos os locais, a perda de N do solo ocorreu principalmente
através da lixiviação de nitratos, atingindo em média anualmente o valor de
153 kg N ha-1 em Paços de Ferreira e de 338 kg N ha -1 em Vila Cova. A
textura franco-arenosa dos solos e as condições climáticas da região, com
mais de 600 mm de água drenada entre Outubro e Março, tendem a promover
a lixiviação da totalidade do azoto nítrico existente no solo após a cultura do
milho, e ainda de algum do N disponibilizado por mineralização durante a
estação fria. Os valores muito mais elevados observados em Vila Cova estão
de acordo com a maior adição de N ao solo nesta localização, o que conduz
a concentrações superiores de N residual após a cultura de milho. Embora as
quantidades de azoto exportadas pela cultura de Inverno sejam importantes
(83 a 118 kg N ha-1), devido à sua instalação muito tardia no Outono esta
cultura não se revelou eficiente na absorção do N deixado no solo pela
cultura de milho. A quantidade de azoto absorvido pela cultura intercalar
antes deste ser lixiviado das camadas superiores do solo depende principalmente da data de sementeira. Por exemplo, Brinsfield e Staver (2) verificaram que uma cultura de centeio semeada no fim de Setembro ou um mês
mais tarde, em meados de Dezembro tinha assimilado respectivamente 130 e
30 kg N ha.
As perdas por volatilização de amoníaco após a distribuição de chorume
ao solo variaram entre 1,6 e 48,4 % do total de N amoniacal aplicado,
valores que correspondem, em termos absolutos, a perdas, após cada distribuição, compreendidas entre 0,3 e 31,5 kg N ha-1. Entre 50 e 82 % das
emissões totais de amoníaco verificaram-se nas 10 horas que se seguiram à
aplicação. Esta cinética de evolução das perdas por volatilização foi observada por outros autores (9 ), que referem a importância da injecção do chorume
no solo ou da sua incorporação imediata como medidas de redução efectiva
das perdas.
As perdas por desnitrificação estimaram-se em 15 e 25 kg N ha-1 ano -1,
respectivamente em Paços de Ferreira e em Vila Cova. As condições que
favorecem a desnitrificação são principalmente a existência de substratos orgânicos facilmente degradáveis, elevadas concentrações de nitratos e humidade
no solo (1). Estas condições ocorrem essencialmente durante a cultura de
108
PASTAGENS E FORRAGENS 19
milho, em momentos esporádicos após a prática da rega e de fertilizações de
cobertura, pelo que devem ter originado taxas de desnitrificação elevadas mas
durante curtos intervalos de tempo. Durante a estação chuvosa, em consequência da lixiviação, as concentrações de nitrato no solo apresentaram sempre valores baixos, pelo que as perdas por desnitrificação neste período devem ser reduzidas.
Para a redução do impacto ambiental deste sistema de exploração e
aumento da eficiência de utilização do azoto sugerem-se as seguintes medidas:
– Redução das adubações azotadas às culturas. As importantes quantidades de N que entram no sistema através dos concentrados e que
são transferidas pelo chorume para o solo são praticamente suficientes para a obtenção de elevadas produções forrageiras. As adubações
azotadas devem servir apenas de complemento e a sua necessidade
determinada em função do balanço de nutrientes, atendendo ao valor
fertilizante do chorume, ou então utilizando métodos de campo expeditos para o cálculo racional da adubação.
– A aplicação de chorume à sementeira da cultura de Inverno deve ser
evitada para não aumentar a disponibilidade de N no solo numa
época em que os riscos de lixiviação são máximos. Esta aplicação
poderia ser atrasada até aos fins do Inverno, período em que a cultura intercalar é muito mais eficiente na absorção do azoto disponível
no solo.
– Efectuar a sementeira da cultura de Inverno o mais cedo possível,
por forma a permitir que as plantas absorvam o máximo de azoto
residual após a cultura de milho. Esta prática pode levar à necessidade de aproveitamento, mais cedo no Inverno, da produção desta cultura, originando dificuldades na gestão da alimentação das vacas e a
necessidade de equacionar as espécies vegetais utilizadas neste cultivo.
– As perdas por volatilização de amoníaco após a distribuição de
chorume, embora não se tenham revelado muito importantes, podem
ser reduzidas caso se adoptem técnicas de aplicação que reduzam o
contacto do chorume com o ar, como sejam a distribuição em bandas localizadas à superfície do solo ou a incorporação mecânica (p.
ex. por gradagem) imediatamente após a sua distribuição (15). Uma
vez que o tipo de exploração considerada se situa geralmente em
regiões densamente habitadas, o uso destas técnicas, além de possibi-
PASTAGENS E FORRAGENS 19
109
litar uma acentuada redução da emissão de amoníaco, permitiria também a redução dos maus odores, facto que minimiza os potenciais
conflitos entre a actividade pecuária e as populações.
– Introdução de soluções técnicas nas instalações pecuárias que permitam a redução das perdas nos estábulos. Essas soluções abrangem o
desenho e construção do pavimento e sistema de remoção das
dejecções, tipo de fossa de armazenamento do chorume, utilização de
substâncias químicas na lavagem do pavimento e/ou sua adição ao
chorume e o controle das dietas animais (7).
4 – CONCLUSÕES
Os resultados obtidos revelam que as entradas de azoto nas explorações de
bovinicultura leiteira intensiva do Noroeste do País atingem valores muito importantes (≈ 650 kg N ha-1), permitindo uma elevada produtividade vegetal e animal,
mas conduzindo igualmente a perdas para o meio ambiente muito acentuadas, em
especial através da lixiviação de nitratos (em média 245 kg N ha-1 ano-1). A
aplicação de chorume às culturas permite a reciclagem de parte do azoto excretado
pelos animais, embora quantidades importantes do elemento sejam perdidas nos
estábulos ou durante o armazenamento (≈ 210 kg N ha-1 ano-1). Para a redução
das perdas e aumento da eficiência de utilização do N nestas explorações é
necessária a adopção integrada de medidas, nomeadamente:
a) redução das fertilizações azotadas das culturas,
b) substituição da aplicação de chorume à instalação da cultura intercalar pela aplicação em fins de Inverno,
c) sementeira da cultura intercalar o mais cedo possível,
d) utilização de técnicas que reduz, a emissão de amoníaco aquando da
aplicação de chorume ao solo,
e) utilização de técnicas que reduza a emissão de amoníaco nas instalações pecuárias.
As possibilidades e efeitos de algumas destas medidas encontram-se presentemente a ser investigadas no âmbito de um projecto PAMAF (n.º 3005).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a todos os funcionários da Estação Experimental de Leite e Lacticínios da DRAEDM, em especial ao seu Director, e ao responsável pela Exploração Agro-Pecuária Casa do Rego, Sr. José Maria Gonçalves Vila Chã, todo o apoio e facilidades concedidas na realização do trabalho experimental.
110
PASTAGENS E FORRAGENS 19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PASTAGENS E FORRAGENS 19
111
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112
PASTAGENS E FORRAGENS 19
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 113–119.
VALOR DE PASTOREIO DAS COMUNIDADES ARBUSTIVAS DA
RESERVA NATURAL DA SERRA DA MALCATA*
Francisco Castro Rego, Paula Cristina Cardoso Gonçalves♦,
Sofia Castelbranco da Silveira♦
Instituto Superior de Agronomia – Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA CODEX
♦
Reserva Natural da Serra da Malcata – Rua dos Bombeiros – 6090 PENAMACOR
RESUMO
A exploração e gestão dos matos como complemento da alimentação dos herbívoros
domésticos e o seu tradicional aproveitamento para a cama dos mesmos tem desempenhado
um papel fundamental na economia das populações rurais. Apesar do gradual abandono a
que a Reserva Natural da Serra da Malcata tem sido votada nas últimas décadas, a pastorícia
extensiva continua a ser praticada especialmente nas partes setentrional e ocidental.
O presente trabalho tem como objectivo caracterizar as diferentes formações
arbustivas desta Área Protegida e quantificar a sua potencial importância na alimentação do
gado através da determinação do valor de pastoreio de cada comunidade.
PALAVRAS-CHAVES:
Comunidade arbustiva; Reserva Natural da Serra da Malcata, Valor de
pastoreio.
ABSTRACT
The use of shrubs as a complement of the diet for domestic herbivores and their
traditional use in the pens of these farm animals have played a fundamental role in the
economy of the rural populations. Despite the gradual abandonment that Serra da
Malcata Nature Reserve has experienced over the last decades, extensive grazing is still
active in the Northern and Western parts.
This paper aims to characterise the different shrub formations of the Conservation
Area and quantify their potential importance in livestock feed by calculating the
grazing value of each community.
KEY WORDS: Shrub community; Serra da Malcata Nature Reserve; Grazing value.
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Maio
de 1998.
Este trabalho foi parcialmente financiado pelo projecto PAMAF 8178 intitulado "O
Pastoreio e o Mel nas Serras da Estrela e da Malcata. Bases Ecológicas para a
Valorização Integrada e Sustentada dos Recursos da Beira Interior".
113
1 – INTRODUÇÃO
Portugal é, por excelência, o país das "landes" (1).
É disso exemplo a Reserva Natural da Serra da Malcata, onde a profunda e milenar influência humana deixou sinais bem marcados na vegetação,
encontrando-se cerca de 50% da sua área dominados por comunidades
arbustivas (2, 9 ). Estas apresentam aspectos distintos conforme aparecem em
exposição setentrional ou meridional, em maior ou menor altitude ou consoante a composição florística das formações climácicas que as originaram (7).
Segundo Catarino (3), a pastorícia e o fogo, o derrube e o arroteamento
para os cereais foram as principais causas do desaparecimento do coberto
arbóreo – sobretudo dos cimos e das encostas menos declivosas – restringindo-o ao fundo dos barrancos e zonas menos acessíveis.
A exploração e gestão dos matos como complemento da alimentação de
ovinos, bovinos e caprinos e o seu tradicional aproveitamento para a cama
dos mesmos têm desempenhado um papel fundamental na economia das populações rurais desta região.
Apesar do gradual abandono a que esta Área Protegida tem sido votada
nas últimas décadas, a pastorícia extensiva continua a ser praticada especialmente nas partes setentrional e ocidental.
O presente trabalho tem como objectivo caracterizar as diferentes formações arbustivas da Reserva e quantificar a sua potencial importância na
alimentação do gado através da determinação do valor de pastoreio de cada
comunidade.
Este conceito, inicialmente proposto por De Vries em 1937 (6, 10), tem-se revelado uma abordagem interessante no estudo da dinâmica da vegetação
importante na alimentação dos herbívoros domésticos.
2 – ÁREA EM ESTUDO
A Reserva Natural da Serra da Malcata é constituída por um conjunto
de cumes de forma suave, orientados essencialmente na direcção nordeste-sudoeste. Distribuída pelas principais bacias hidrográficas portuguesas (Douro e Tejo), encontra-se limitada a norte pelo rio Côa e entrecortada no centro
e sul pela ribeira da Meimoa, e rio Bazágueda, respectivamente.
O relevo da zona centro-sul caracteriza-se por diferenças de cota acentuadas – de 425 a 1078 metros – e fortes pendentes virados maioritariamente a
114
PASTAGENS E FORRAGENS 19
sul e a oeste; a norte a altitude varia entre 760 e 1078 metros e apresenta em
geral vertentes expostas a norte e este, de declive menos acentuado (5).
O clima classifica-se como sendo de natureza mediterrânica com nítida
continentalidade, diversificando entre o mesomediterrânico das áreas localizadas no concelho de Penamacor e o supramediterrânico típico da região do
Sabugal ( 12).
A conjugação destas variáveis reflecte-se na vegetação climácica encontrada: a norte, mais frio e húmido, bosques supramediterrânicos de Quercus
pyrenaica (carvalho negral ou carvalho pardo das Beiras); a sul, mais quente
e seco, bosques mesomediterrânicos de Quercus rotundifolia (azinheira) e
Quercus suber (sobreiro); no centro, com características climáticas intermédias,
bosques mesomediterrânicos de Quercus pyrenaica (4, 8).
3 – METODOLOGIA
Utilizaram-se os dados de 15 transectos rectangulares de 10 m2, instalados em 1991 para o projecto "Dinâmica Natural da Vegetação", nomeadamente em:
• Comunidades dominadas por Cistus ladanifer (C1) – características
das zonas mais baixas e declivosas, de solo esquelético, das bacias
do rio Bazágueda e da ribeira da Meimoa – fortemente influenciadas
pelo clima mediterrânico – representam a etapa mais degradada do
azinhal e do sobreiral característicos desta região (4, 8).
• Comunidades dominadas por Erica umbellata (C2) – urzais de
baixo porte, concentram-se nas meias encostas soalheiras do concelho de Penamacor, sobre solos degradados e pouco profundos, constituindo um estado de avançada degradação dos sobreirais e carvalhais
mesomediterrânicos de Quercus pyrenaica ( 4, 8).
• Comunidades dominadas por Chamaespartium tridentatum (C3) –
encontradas pontualmente nas altitudes mais elevadas da faixa central
da Reserva, resultam geralmente da degradação de matos dominados
por Erica australis e, pontualmente, Cytisus striatus ( 4, 8).
• Comunidades dominadas por Erica australis (C4) – etapas de substituição dos bosques mesomediterrânicos de Querçus pyrenaica, são
as comunidades arbustivas mais representativas desta Área Protegida,
concentrando-se preferencialmente nas cotas superiores das partes
centro e Sul (4, 8).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
115
• Comunidades dominadas por Cytisus multiflorus (C5) – giestais
bastante abertos que se distribuem pelas vertentes viradas ao rio
Côa, domínio da floresta supramediterrânica de Quercus pyrenaica,
representam uma etapa primocolorizadora dos giestais de Cytisus
striatus ( 4, 8 ).
• Comunidades dominadas por Cytisus striatus (C6) – restringidas
aos solos mais desenvolvidos da parte setentrional da Reserva,
podem atingir portes superiores a dois metros. Segundo Lousã et
al.( 8 ), correspondem, em certas condições, à primeira etapa de
degradação dos carvalhais supramediterrânicos de Quercus
pyrenaica.
• Comunidades dominadas por Halimium alyssoides e Halimium
ocymoides (C7) – comunidades primocolonizadoras de distribuição pontual, resultam, em grande parte dos casos, da degradação
de matos de Erica australis, Cistus ladanifer e Erica australis e
mesmo Erica umbellata ( 4 ).
• Comunidades dominadas por Cistus ladanifer e Erica australis
(C8) – surgem, nas altitudes mais elevadas das zonas centro e
Sul, por degradação do solo e/ou como resultado do contacto
entre as áreas de distribuição geográfica de Quercus rotundifolia
e Quercus suber com Quercus pyrenaica ( 4, 8 ).
1 – Para a caracterização das formações arbustivas determinou-se o
valor médio da percentagem de cobertura das espécies lenhosas e do
solo nu, e da altura da espécie dominante.
2 – Para a determinação do valor de pastoreio das espécies arbustivas
efectuou-se uma recolha bibliográfica do valor de pastoreio (grazing
value) dos rebentos e folhas utilizados por ovinos e caprinos ( 6, 10 ),
complementada por observações dos autores e comunicação pessoal de
Papanastasis*.
O valor do pastoreio é calculado a partir da velocidade de crescimento, valor nutritivo, palatabilidade e digestabilidade de cada espécie e
apresenta-se geralmente sob a forma de uma escala que varia de 0 a 5
( 10 ). Os valores coligidos resumem-se no quadro 1.
* PAPANASTASIS, V. – Comunicação pessoal no âmbito do projecto "Modelling
Vegetation Dynamics and Degradation in Mediterranean Ecosystems (ModMED)".
116
PASTAGENS E FORRAGENS 19
QUADRO 1 – Valor de pastoreio das espécies arbustivas.
Espécie
Valor de pastoreio da espécie
Arbutus unedo (medronheiro)
Calluna vulgaris (torga ordinária)
Chamaespartium tridentatum (carqueja)
Cistus ladanifer (esteva)
Cistus psilosepalus
Cistus salvifolius (sargaço)
Cytisus multiflorus (giesteira branca)
Cytisus striatus (giesteira das serras)
Daphne gnidium (trovisco fêmea)
Erica australis (urze vermelha)
Erica umbellata (queiró)
Genista triacanthos (ranha lobo, tojo nudar)
Halimium alyssoides
Halimium ocymoides
Helichrysum stoechas (perpétua das areias)
Lavandula luisieri (rosmaninho)
Lavandula pedunculata (rosmaninho maior)
Phillyrea angustifolia (lentisco bastardo)
Quercus pyrenaica (carvalho negral, carvalho pardo das Beiras)
Quercus rotundifolia (azinheira)
1
2
4
1
1
1
4
4
0
2
2
1
1
1
0
0
0
3
3
3
3 – Calculou-se, de seguida, o valor de pastoreio de cada inventário
através do somatório dos produtos do valor de pastoreio da espécie pela área
de cobertura correspondente.
4 – O valor de pastoreio de cada comunidade corresponde à média dos
resultados da alínea anterior.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Da análise do quadro 2 salienta-se:
• A Comunidade 1, dominada por Cistus ladanifer e com muito solo
nu, é a que apresenta o valor de pastoreio mais baixo, seguida da
Comunidade 8 em que dominam Cistus ladanifer e Erica australis.
• Valores baixos observam-se também em situações em que a espécie
dominante tem baixo valor (Comunidade 2, com Erica umbellata)
ou em que o coberto vegetal é reduzido (Comunidade 5 com Cytisus
multiflorus).
• Valores mais elevados obtêm-se com percentagens de solo nu mais
reduzidas (Comunidade 6 com Cytisus striatus) e com espécies de
maior valor (Chamaespartium tridentatum e Halimium spp. nas Comunidades 3, 4 ou 7).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
117
QUADRO 2 – Valor médio da percentagem de cobertura das espécies lenhosas e do solo nu, e
da altura da espécie dominante em metros e o valor de pastoreio da
Comunidade (Ha - Halimium alyssoides; Ho - Halimium ocymoides; Cl Cistus ladanifer; Ea - Erica australis).
Cistus ladanifer
Phillyrea angustifolia
Quercus rotundifolia
Lavandula luisieri
Genista triacanthos
Lavandula pedunculata
Daphne gnidium
Calluna vulgaris
Erica umbellata
Chamaespartium tridentatum
Halimium alyssoides
Halimium ocymoides
Erica australis
Arbutus unedo
Cytisus multiflorus
Cistus psilosepalus
Quercus pyrenaica
Cytisus striatus
Cistus salvifolius
Helichrysum stoechas
Solo Nu
Altura da(s) Espécies
Dominante (s)
Valor de Pastoreio
da comunidade
C1
C2
40,39
3,67
0,23
2,65
2,18
0,75
0,04
3,84
0,22
1,55
8,43
C3
C4
C5
C6
0,20
0,26
C7
C8
0,79
2,68
37,33
0,06
7,11
59,18
0,98
2,53
6,45
7,29
0,01
60,10
16,40
1,32
0,96
2,94
4,07
25,24
12,99
2,24
60,87
0,16
3,50
5,99
40,15
0,48
7,07
3,22
5,26
1,93
10,91
0,98
34,80
37,28
10,43
6,46
0,65
51,07
0,36
54,50
39,34
9,43
21,18
6,93
44,68
26,23
0,85
0,47
0,48
0,88
0,61
1,06
8,89
18,73
28,44
25,74
18,90
23,81
0,26
0,01
1,81
3,24
Ha:0,36 Cl:0,88
Ho:0,42 Ea:0,76
24,14
17,47
5 – CONCLUSÕES
A quantificação do valor de pastoreio dos diferentes tipos de formações
arbustivas permitiu, por um lado, confirmar e, por outro, hierarquizar a importância desta vegetação na alimentação do gado.
As comunidades com maior valor de pastoreio, localizadas a cotas mais
elevadas (4, 8 ), são as que apresentam maior interesse, justificando a especial
incidência de pastoreio nas zonas centro e Norte da Reserva Natural da Serra
da Malcata.
As comunidades de porte mais baixo – Erica umbellata, Chamaespartium
tridentatum, Halimium alyssoides e Halimium ocymoides e Cytisus multiflorus
– correspondentes a etapas pioneiras da sucessão, parecem atingir valores de
pastoreio mais elevados em menos tempo.
118
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Destaca-se entre estas a comunidade de Chamaespartium tridentatum,
primeira etapa arbustiva de recuperação após o corte ou fogo ( 4), com o
valor mais elevado; simultaneamente, é a que parece atingir mais rapidamente
a fase de degeneração, razão pela qual a sua manutenção necessita, obrigatoriamente, de intervenções frequentes no tempo.
BIBLIOGRAFIA
1 – BLANQUET, J. Braun; SILVA, A. R. P. da; ROZEIRA, A. - Résultats de Trois
Excursions Géobotaniques à travers le Portugal Septentrional et Moyen. Landes à
Cistes et Ericacées (Cisto-lavanduletea et Calluno ulicetea). "Agron. Lusit.", 25 (3)
1964, p. 229-312.
2 – CALDEIRA, R. et al. – Análise da Estrutura da Paisagem da Reserva Natural da Serra
da Malcata. 3º. Encontro Nacional de Ecologia, Faro, 3-5 Dez. 1998.
3 – CATARINO, F. – A Vegetação da Serra da Malcata: Seu Interesse Específico e
Problemas de Conservação. "Bios", vol. 21, 1980, p. 5-9.
4 – GOMES, C. Pinto et al. – As Séries de Vegetação da Reserva Natural da Serra da
Malcata. 2º Encontro de Fitossociologia. Lisboa, 26-28 Maio 1999.
5 – GONÇALVES, P. – Contribuição para a Caracterização e Estabelecimento da Vegetação Natural Potencial da Reserva Natural da Serra da Malcata. Relatório de trabalho.
Penamacor, Reserva Natural da Serra de Malcata, 1991.
6 – LACHAUX, M.; MEURET, M.; SIMIANE, M. – Composition Chimique de Végétaux Ligneux
Pâturés en Région Méditerranéenne Française: Problèmes Posés par l'Interprétation des
Analyses. In: "La Forêt et l'Elevage en Région Méditerranéenne Française". Versailles,
Association Française pour la Production Fourragère, 1987, p. 229-270.
7 – LOUSÃ, M. F.; ROSA, M. L.; LUZ, J. P. – Serra da Malcata: Vegetação e Cartografia
(1.º Relatório de Progresso). Lisboa, ISA, Castelo Branco, Departamento de Botânica
1988. (Ciclostilado).
8 – LOUSÃ, M. F. et al. – Serra da Malcata: Vegetação e Cartografia. (Relatório Final).
Lisboa, ISA, Castelo Branco, Departamento de Botânica 1992. (Ciclostilado).
9 – PAIVA, V. et al. – Estudo da Componente Florestal da Reserva Natural da Serra da
Malcata (RNSM). Trabalho preparatório. Coimbra, Escola Superior Agrária, 1996.
10 – POISSONET, J.; POISSONET, P.; THIAULT, M. – Development of Flora, Vegetation
and Grazing Value in Experimental Plots of a Quercus coccifera Garrigue. "Vegetatio",
vol. 46, 1981, p. 93-104.
11 – REGO, F.; GONÇALVES, P.; SILVEIRA, S. – Estudo da Dinâmica da Vegetação
através de Transectos Permanentes. "Anais do Instituto Superior de Agronomia", 44
(2) 1994, p. 531-547.
12 – SILVEIRA, S. – Análise Ecológica das Comunidades Vegetais da Reserva Natural da
Serra da Malcata. Relatório de Estágio do Curso de Engenheiro Agrónomo. Lisboa,
Instituto Superior de Agronomia, 1990.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
119
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 121–134.
CARACTERIZAÇÃO TÉCNICO-ECONÓMICA DA PRODUÇÃO
DA VITELA TRADICIONAL DO MONTADO*
Sónia Isabel Simões Calção, Maria Raquel Ventura Lucas
Departamento de Gestão de Empresas – Universidade de Évora –
– Apartado 94 – 7000-083 ÉVORA CODEX
RESUMO
A valorização comercial dos produtos agro-alimentares tradicionais, que se
distinguem dos produtos similares no mercado pelo seu modo de produção particular,
proporciona uma mais-valia aos respectivos produtores e salvaguarda a genuinidade de
um recurso importante das regiões desfavorecidas e da produção extensiva aí praticada.
Com base em inquéritos realizados a treze produtores de bovinos de carne com
explorações no Alentejo, este artigo tem como objectivo caracterizar técnica e economicamente a produção de carne de "vitela tradicional do montado" e avaliar globalmente os proveitos e custos das explorações.
Os resultados indicam que, na estrutura de custos de cada uma das explorações,
são fundamentalmente os custos com a alimentação dos animais e com os juros de
capital, aqueles que têm maior peso. Quanto aos proveitos das explorações, estes
variam bastante com a idade com que os animais são vendidos e com o valor dos
subsídios a que cada uma das explorações tem direito. Pode-se contudo concluir que a
generalidade dos produtores de "vitela tradicional do montado" está dependente das
ajudas comunitárias e das ajudas nacionais para viabilizar a sua produção.
PALAVRAS-CHAVES: Vitela tradicional do montado; Alentejo; Sistema de produção; Custos e proveitos.
ABSTRACT
The commercial valuation of the traditional agro-alimentary products, which
may be distinguished from other similar products existing in the market by the
particular way produced, provides an increment on the producer`s profits and it
* Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF, Castelo Branco, Maio
de 1998.
121
safeguards the genuineness of an important resource of poor regions as well as the
extensive production practised there.
Based on inquiries made to thirteen bovine meat producers owning herds in
Alentejo, this article´s main purpose is the characterization of the "traditional veal
of montado´s" production and the global evaluation of the profits and costs
concerning herds.
The results denote that the costs with the animal feeding and with the capital
interests are, fundamentally, those which have a higher influence upon the costs'
structure of each one of the herds. Herds' profits vary a lot with the age of each
animal when sold and with the level of the subsidies that each herd is entitled to.
One can conclude that the generality of the "traditional veal of montado's"
producers is dependent on the communitary and governmental helps to viable his
prodution.
KEY WORDS: Tradicional veal of montado; Alentejo region; Livestock system; Costs and
profits.
1 – INTRODUÇÃO
No âmbito da reorientação da política agrícola comum procura-se incentivar a diversificação da produção agrícola e a promoção de produtos específicos. Apoiar a valorização comercial dos produtos tradicionais, através da
sua certificação e acreditação junto do consumidor, pelo reconhecimento e
protecção legal, ao nível nacional e comunitário, constitui um objectivo essencial da política para o sector agrícola nacional.
Para cada um dos produtos certificados é reconhecido um agrupamento
de produtores, que formula as regras de produção e comercialização e propõe
o Organismo Privado de Controlo e Certificação (OPC).
O Agrupamento de Produtores de Montemor-o-Novo, S.A. (ACOMOR),
para valorizar a carne de bovinos criados em sistema extensivo, segundo
um modo de produção tradicional, requereu o certificado comunitário de
especificidade para a "carne de bovino tradicional do montado", a qual
agrupa os nomes específicos de: "vitela tradicional do montado" (VTM),
"novilho tradicional do montado" e "vaca tradicional do montado" ( 1, 2,
3, 4 ). Este certificado – reconhecimento da especificidade do produto
pela Comunidade – assegura e comprova a especialidade tradicional garantida (ETG) dos produtos.
Neste artigo, descreve-se o processo de produção da VTM de acordo
com o definido no respectivo caderno de especificações e obrigações (1),
122
PASTAGENS E FORRAGENS 19
caracteriza-se tecnicamente a produção extensiva de bovinos de carne no
Alentejo e avaliam-se economicamente os seus proveitos e custos globais.
Para além da introdução, o artigo está organizado em mais 5 partes. Na
primeira definem-se as especificações e obrigações da produção da VTM. Na
segunda parte é feita a caracterização técnica da produção extensiva de bovinos de carne no Alentejo, nas explorações com potencialidades para a produção da VTM. Na terceira apresenta-se a metodologia utilizada para a caracterização económica. Por último, na quarta e quinta partes expõem-se,
respectivamente, os resultados obtidos e as principais conclusões relativas aos
objectivos do estudo.
2 – PRODUÇÃO DA VITELA TRADICIONAL DO MONTADO
A VTM é um produto que tem a sua origem no sistema de produção
extensiva de bovinos no Alentejo. A designação VTM foi a forma que a
ACOMOR encontrou para diferenciar este produto no mercado, tendo em conta
que existem outros produtos oriundos deste sistema. O tipo de produção da
VTM está legislado e definido no caderno das especificações e obrigações.
Neste caderno especifica-se que:
• A carne de VTM provém da desmancha de vitelas criadas segundo os
moldes tradicionais da exploração pecuária característica do montado
e abatidas entre os 6 e os 12 meses de idade. O sistema de produção
extensivo baseia-se no aproveitamento do montado de sobro e azinho,
das pastagens espontâneas e vegetação de características xerófitas
associadas a estes povoamentos arbóreos.
• O desmame das vitelas nunca ocorre antes dos 6 meses, podendo ser
fornecida ao animal, a partir dos 4 meses, uma alimentação complementar tradicional composta por erva, bolota, fenos e alimentos concentrados. Desde o desmame até à idade do abate as vitelas são
alimentadas com pastagens existentes nos montados e, quando necessário, são complementadas com forragens, agostadouros (restolhos de
culturas cerealíferas), bolota (fruto da azinheira), lande (fruto do
sobreiro) e rama proveniente da esgalha do montado. Só é permitida
a administração de concentrados energéticos e proteicos, exclusivamente vegetais, durante as fases críticas. Estes alimentos devem,
tanto quanto possível, ser produzidos na própria exploração agrícola
e, normalmente, são cereais (trigo, aveia, cevada, milho), proteagino-
PASTAGENS E FORRAGENS 19
123
sas (tremocilha e tremoço doce), bagaços de oleaginosas (soja e girassol), luzerna desidratada, polpa de citrino e destilados de milho. A
preparação e formulação destes alimentos concentrados são obrigatoriamente sujeitas a controlo do OPC. Neste caso, o OPC indigitado é
a APORMOR – Associação de Produtores de Bovinos, Ovinos e
Caprinos da região de Montemor-o-Novo.
• A utilização de substâncias interditas é absolutamente proibida, quer
seja aplicada directamente aos animais, quer seja administrada através da alimentação.
• Em relação à condução do gado, esta segue as práticas e os moldes
tradicionais deste modo de produção, sendo o encabeçamento máximo permitido de 0,5 cabeças normais (CN) por hectare e obrigatória
a existência de uma relação mínima de 10 árvores por cada CN nas
áreas forrageiras destinadas à alimentação do gado.
• Todas as vitelas provêm de animais de raças de aptidão cárnica,
explorados em linha pura ou cruzados entre si, sendo proibida a
utilização de cruzamentos com animais de aptidão leiteira. As VTM
têm de nascer e ser criadas em explorações inseridas na zona de
montado, encontrando-se as respectivas mães na região há pelo menos 3 anos.
• As explorações têm de estar classificadas num estatuto indemne ou
oficialmente indemne de qualquer doença abrangida por Planos de
Controlo e Erradicação (Brucelose, Tuberculose, Leucose, Peripneumonia Contagiosa dos Bovinos). É indispensável que todos os animais se encontrem saneados pelo Agrupamento de Defesa Sanitária
(ADS), relativo à zona da exploração, e possuam o Boletim Sanitário
Individual devidamente actualizado.
3 – CARACTERIZAÇÃO TÉCNICA
Para caracterizar técnica e economicamente a produção da VTM realizaram-se inquéritos a treze produtores de bovinos de carne, com explorações
potencialmente produtoras desta ETG, localizadas no Alentejo, que serão
identificadas de 1 a 13 para manter o respectivo anonimato.
Os efectivos de cada exploração são definidos por indicadores técnicos,
produtivos e reprodutivos, expressos no quadro 1. Estes indicadores incluem
fertilidade, mortalidade (adultos e jovens), substituição de machos e fêmeas,
124
PASTAGENS E FORRAGENS 19
relação macho/fêmeas, idade ao desmame, idade à 1ª cobrição e idade de
refugo das fêmeas e machos. O quadro 1 inclui ainda as principais épocas de
cobrição e o período de tempo que decorre entre a parição e a nova cobrição
das vacas.
Constatou-se que a maioria dos produtores escolhe como época principal
de cobrição o período de Outubro a Março. Deste modo, o desmame dos
vitelos dá-se na Primavera, altura em que a produção de pastagem é abundante (alimentação mais barata). Por outro lado, o final da época de partos
coincide com a existência de bolota, um importante suplemento alimentar
para as vacas, desde que acompanhado de matéria verde em quantidade.
Contudo, três dos produtores inquiridos preferem como época principal os
meses de Março a Maio. O período de tempo que decorre entre a parição e a
nova cobrição é normalmente de 3 meses.
O número de vitelos desmamados, produto principal das explorações,
depende da eficiência reprodutiva das fêmeas, das taxas de mortalidade dos
jovens e dos adultos.
A eficiência reprodutiva, por sua vez, é afectada pela taxa de fertilidade
(relação entre o número de vacas paridas e o número de vacas presentes à
cobrição), cujos valores rondam os 90% e são idênticos em todas as explorações.
A taxa de mortalidade dos adultos varia entre 1 e 6%. No entanto, a dos
vitelos, desmamados com 6 a 8 meses na quase totalidade das explorações, é
mais elevada e pode atingir os 10%.
A relação média macho/fêmeas é de 1 para 46. Por ano são substituídos
7 a 33% dos machos e 8 a 12% das fêmeas, embora vários produtores não
efectuem uma substituição anual do efectivo. A idade de refugo dos machos
vai dos 5 aos 8 anos, e a das fêmeas dos 8 aos 15 anos.
A idade das fêmeas à 1.ª cobrição varia entre os 18 e os 36 meses,
enquanto que a idade dos machos varia entre os 15 e os 36 meses.
A técnica reprodutiva da inseminação artificial apenas é utilizada em
duas explorações.
O método de identificação dos animais a que mais produtores recorrem
é o brinco, embora em quatro explorações utilizem igualmente a tatuagem.
O maneio higio-sanitário, semelhante em todas as explorações, consiste
em desparasitações internas e externas, vacinações periódicas e eventuais
intervenções terapêuticas, de acordo com os Agrupamentos de Defesa Sanitária relativos à zona das explorações.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
125
4 – CARACTERIZAÇÃO ECONÓMICA
A metodologia utilizada foi o método dos orçamentos, tendo sido elaborados orçamentos parciais para as actividades vegetais e pecuárias e orçamentos
gerais para cada uma das explorações. Os valores utilizados basearam-se nos
inquéritos aos produtores. Os preços, dos produtos e dos factores, e as ajudas
consideradas referem-se ao ano agrícola 1996/97.
Nesses orçamentos dividiram-se as receitas e os custos. Constituem receitas
das explorações as vendas dos produtos, principal e secundário, e os subsídios.
As vendas do produto principal correspondem aos animais, descendentes do
efectivo reprodutor das explorações, vendidos para carne. Ao número total de
vitelos desmamados são descontadas as crias das fêmeas do polvilhal e os animais mantidos para substituição do efectivo adulto. As vendas do produto secundário referem-se aos animais (vacas e touros) de refugo.
Os subsídios de que beneficia o sistema de produção extensiva de bovinos de
carne incluem o prémio às vacas aleitantes, aos bovinos machos e as indemnizações compensatórias. Uma das explorações em estudo tem direito, como criadores
de bovinos mertolengos, ao prémio à linha pura. Dentro das medidas agro-ambientais do IFADAP (Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da
Agricultura e Pescas), existe um prémio para os sistemas forrageiros extensivos.
Os custos, incluídos nos vários orçamentos, foram divididos em custos que
constituem por um lado encargos reais e por outro encargos atribuídos.
Os custos com encargos reais são os que realmente ocorrem, em consequência da produção da VTM. Estes custos foram divididos em custos com: mão-de-obra, tracção, alimentação, assistência veterinária, energia, seguros, conservações e
reparações, amortizações, gastos gerais e reserva para riscos não seguráveis
As contas da actividade pecuária apenas indicam a mão-de-obra directamente envolvida na actividade pecuária dos bovinos, uma vez que a mão-de-obra
indirecta, isto é, relacionada com as actividades intermédias, está contabilizada
no custo unitário dos alimentos auto-utilizados. Os custos com a mão-de-obra,
permanente ou eventual, incluem três componentes: o salário mensal, os encargos
sociais e o seguro de pessoal.
A tracção diz respeito ao número de horas necessárias para transportar os
alimentos conservados não pastoreados (feno, silagem, palha, concentrado, etc.) e
água ao local de alimentação dos animais.
Para diferenciar os alimentos, estes foram divididos em auto-utilizados (produzidos na exploração) e comprados ao exterior. Dentro dos alimentos auto-
PASTAGENS E FORRAGENS 19
127
-utilizados existem os alimentos principais (fenos, silagens, pastagens) e os secundários (palhas e restolhos). Os alimentos principais são valorizados ao custo
de produção, obtido através das contas de cultura para cada um dos alimentos,
enquanto que as palhas, os restolhos e outros alimentos secundários valorizam-se
ao preço de mercado. A quantidade de feno e de silagem é expressa em quilogramas de matéria verde, obtida pela multiplicação do número de hectares pela
produção de matéria verde por hectare. Para as pastagens (natural, natural melhorada, de regadio e semeada) expressa-se a quantidade em hectares, sendo o preço
unitário resultado da multiplicação entre o custo de produção por quilograma de
matéria verde e a produção de matéria verde por hectare. Os alimentos comprados são igualmente valorizados ao preço de mercado.
Os custos com a assistência veterinária são calculados de acordo com a
quota anual paga pelos produtores de bovinos ao Agrupamento de Defesa
Sanitária (ADS) ao qual estão associados.
O custo da energia tem duas componentes: a energia necessária para
retirar água dos depósitos (poços, furos, etc.) para os animais e a energia
gasta com a iluminação.
Relativamente aos seguros apenas foram levados em conta os seguros obrigatórios: Responsabilidade Civil (tractores) e Seguro Genérico Agrícola (seguro
de pessoal). Este último está integrado no custo unitário da mão-de-obra.
Os custos com as conservações e reparações das construções, dos melhoramentos fundiários e dos equipamentos são calculados multiplicando o
valor dos capitais, obtido ao custo de substituição, por uma taxa convencionada
em 2,5% para o capital fundiário e 3,5% para o capital de exploração (15). O
custo de substituição dos capitais, obtido ao preço de mercado do ano de
1996, é o valor de aquisição dos bens em estado novo.
As amortizações constituem a depreciação anual do montante de investimento efectuado baseada no valor de substituição dos capitais, tendo em
conta a sua vida útil.
Os custos com os gastos gerais representam uma majoração para possíveis erros efectuados no cálculo das despesas das explorações. Essa majoração
traduz-se pela aplicação de uma taxa de 3% sobre o valor dos custos que
originam pagamentos (15).
A reserva para riscos não seguráveis corresponde a uma provisão para
riscos não seguráveis, fixada em 3,5% do valor total dos encargos reais (15).
Os custos com encargos atribuídos representam custos de oportunidade e
de retribuição dos factores considerados próprios. Estes custos foram dividi-
128
PASTAGENS E FORRAGENS 19
dos em custos com: juros do capital próprio do empresário e remuneração do
empresário. Os juros correspondem ao incremento que um determinado capital sofre quando é aplicado durante um dado intervalo de tempo. A remuneração do empresário equivale à retribuição do trabalho directivo do empresário. Este custo é calculado a partir da aplicação de uma taxa convencionada
em 5% sobre o valor total dos custos que originam pagamentos ( 15).
5 – RESULTADOS
A estrutura de custos das explorações, obtida a partir dos resultados das
contas da actividade pecuária, está apresentada no gráfico 1 e no quadro 2.
Após uma análise detalhada da estrutura de custos constatou-se que os maiores encargos, suportados pelos produtores de bovinos de carne em sistema
extensivo, são os custos relacionados com a alimentação dos animais, em que
os alimentos auto-utilizados representam 38% dos custos totais das explorações e os alimentos comprados 10,92%, e com os juros de capital (14,96%
dos custos totais). As amortizações dos reprodutores e o trabalho especializado constituem, por sua vez, uma parcela significativa dos custos, sendo de
10, 12% e 6,61%, respectivamente. Por outro lado, as amortizações das plantações e das construções, os seguros e a assistência veterinária representam
os custos menos significativos totalizando apenas 1% dos encargos totais das
explorações.
GRÁFICO 1 – Esturura dos custos médios das explorações.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
129
130
PASTAGENS E FORRAGENS 19
QUADRO 2 – Estrutura de custos das explorações.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
131
QUADRO 2 – Estrutura de custos das explorações (continuação).
Os proveitos das explorações, representados no gráfico 2, variam bastante com a idade com que os animais são vendidos e com o valor dos subsídios
a que cada uma das explorações tem direito. As vendas do produto principal
constituem 66,7% da receita total das explorações, enquanto que as vendas
do produto secundário representam somente 3,92%. O peso dos subsídios nos
proveitos totais das explorações é de 29,4%.
GRÁFICO 2 – Proveitos das explorações.
No gráfico 3 apresentam-se os resultados globais (margens líquida e
bruta) das 13 explorações. Verifica-se que 5 explorações têm margem líquida
negativa, isto é, não pagam a totalidade dos encargos fixos, constituídos por
amortizações, remuneração do empresário, juros de capital e reserva para
riscos não seguráveis. Constatou-se que nestas explorações é significativamente maior a diferença entre o número de vacas aleitantes existentes na
exploração e o número de quotas, isto é, o número de vacas elegíveis ao
prémio à vaca aleitante. Por outro lado, muitos dos produtores possuem estruturas de produção sobredimensionadas (parques de máquinas exagerados, excesso de construções e barragens). Numa destas explorações a margem bruta
é igualmente negativa, ou seja, as receitas nem chegam para cobrir os encargos variáveis relativos à produção da VTM.
132
PASTAGENS E FORRAGENS 19
GRÁFICO 3 – Margens líquida e bruta das explorações.
6 – CONCLUSÕES
A carne de VTM, como produto que se pretende diferenciar no mercado
e característico das regiões desfavorecidas que utiliza tecnologias de produção não intensivas, enquadra-se perfeitamente nas novas linhas de política
adoptadas pela União Europeia, nomeadamente, a protecção do ambiente/
extensificação e a preservação da biodiversidade e do espaço rural.
Tecnicamente não se verificam diferenças importantes ao nível dos indicadores produtivos e reprodutivos nas várias explorações. As receitas dependem essencialmente do número de vitelos vendidos que, por sua vez, varia
com as taxas dos vários indicadores técnicos.
Economicamente os resultados das explorações indicam que a generalidade dos produtores de bovinos está bastante dependente das ajudas comunitárias e ajudas nacionais, visto que o peso dos subsídios nas receitas totais
das explorações atinge cerca de 30%. Os resultados indicam que os encargos
mais representativos se relacionam com a alimentação dos animais e com os
juros de capital, enquanto que as receitas provêm quase exclusivamente das
vendas dos animais para carne e dos subsídios.
PASTAGENS E FORRAGENS 19
133
Para terminar deve salientar-se que a certificação da carne de VTM é
uma forma singular e eficaz de conseguir uma mais valia para quem produz
e um produto de qualidade certificada para quem compra. Contudo, é notória
a necessidade de melhorias na eficiência produtiva de algumas explorações.
BIBLIOGRAFIA:
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Especificações e Obrigações da Carne de Bovino Tradicional do Montado. Motemor-o-Novo, ACOMOR, 1996.
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14 de Julho, relativo aos certificados de especificidade dos produtos agrícolas e dos
géneros alimentícios.
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4 – "Diário da República", Despacho Normativo nº 138/96, de 30 de Dezembro.
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de Carne no Alentejo. Trabalho de fim de Curso de Engenharia Zootécnica. Évora,
Universidade de Évora, 1993.
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9 – INSTITUTO DE FINANCIAMENTO E APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA E PESCAS (IFADAP). Linha Azul.
10 – INSTITUTO NACIONAL DE GARANTIA AGRÍCOLA – Ajudas Comunitárias, Regras e Informações Básicas 1996. Lisboa, INGA, 1996.
11 – JARRIGE, R – Alimentação dos Bovinos, Ovinos e Caprinos, Lisboa, Europa-América,
1988.
12 – MARTINS, José Manuel; SERRANO, J. Efe – A ensilagem. Évora, Universidade de
Évora, 1994.
13 – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA – Tabelas de Preços de Factores de Produção
Agrícola para o Ano de 1994/95. Lisboa, MA, [199-].
14 – RALO, J. A. C. – Aspectos Essenciais na Produção de Bovinos de Carne, "Vida Rural",
n.º 1586, 1994, p. 24-25.
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16 – SOLTNER, Dominique – Besoins des animaux et valeur des aliments. 20ème éd.
Angers, D. Soltner, [199-]. (Collection Sciences et Techniques Agricoles).
134
PASTAGENS E FORRAGENS 19
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 135–136.
XIX REUNIÃO DE PRIMAVERA DA SPPF
CASTELO BRANCO, 5 A 8 DE MAIO DE 1998
A PRODUÇÃO DE PASTAGENS E FORRAGENS NA BEIRA
INTERIOR – DAS SERRAS À CAMPINA
CONCLUSÕES
• As pastagens e forragens são a garantia da manutenção do equilíbrio
ecológico, em particular nas zonas com fragilidades edafoclimáticas,
de que são exemplo as zonas de montanha.
• O melhoramento das plantas forrageiras e pratenses contribuiu notavelmente, nos últimos anos, para o aumento da biodiversidade, sendo
imprescindível que esta seja posta à disposição da agricultura, para
melhorar o rendimento dos agricultores; em consequência, há necessidade de prosseguir e incrementar os apoios à experimentação, com
vista a estudar o comportamento de novas espécies e cultivares.
• Demonstrou-se que o material vegetal autóctone tem enorme importância não só para manutenção e valorização dos recursos genéticos,
mas também por permitir a obtenção de novas cultivares mais produtivas e/ou melhor adaptadas a diferentes factores bióticos e abióticos.
• A melhoria da produtividade dos sistemas agro-pecuários continua a
ser um dos grandes objectivos nacionais. É necessário desenvolver
estudos de fertilização e correcção do solo, sobretudo no sentido de
assegurar às plantas um bom nível nutricional, e investigar também os
efeitos da utilização de subprodutos agrícolas e industriais na fertilização e correcção do solo com vista à conservação do ambiente.
• Embora os efeitos poluentes provocados pelos sistemas de produção
agrícola e pecuária não sejam ainda preocupantes, há toda a necessidade de sensibilizar os agricultores, muito em especial os que utilizam sistemas mais intensivos, para a racionalização do uso dos fertilizantes azotados, por apresentarem grande risco de poluição.
135
• Uma vez mais foi reconhecida a necessidade de adequar as medidas
da PAC à realidade específica do nosso País de modo a não criar
distorções que conduzam à degradação dos nossos sistemas de produção agro-pecuários.
• Foi realçada a conveniência de estabelecer medidas políticas, de modo
a criar alternativas à utilização de culturas forrageiras para fins industriais, à semelhança do que acontece com a colza noutros países
da Comunidade.
• Verificou-se a necessidade de privilegiar sistemas de produção mais
ecológicos, que poderão evitar alguns dos problemas sanitários que
retraem o consumo alimentar e que têm reflexos na economia nacional.
• Finalmente, foi evidenciado que as pastagens têm cada vez maiores
potencialidades para a obtenção de elevadas produtividades dos ruminantes, pelo que devem ser cada vez mais valorizadas.
136
PASTAGENS E FORRAGENS 19
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 137–144.
PERSPECTIVAS DE ELEIÇÃO DAS PRIMEIRAS CULTIVARES
PORTUGUESAS DE TREVO SUBTERRÂNEO*
Noémia Farinha, M.M. Tavares de Sousa♦, A.M. Romano♦
Escola Superior Agrária de Elvas – Apartado 254 – 7350 ELVAS
♦
Estação Nacional de Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7350 ELVAS
RESUMO
Com o objectivo de obter as primeiras cultivares portuguesas de trevo subterrâneo, foi efectuada, na Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, a selecção de
genótipos a partir de populações com elevado potencial produtivo quanto a matéria
seca. Os genótipos em fase avançada de selecção, e que são objecto deste trabalho,
provêm das populações Penacova (genótipo 46), Crato (356 e 395), D. Sancho (493),
Vinhais (559) e D. Dinis (616 e 627). Utilizaram-se como testemunhas as cultivares
Seaton Park e Clare.
Após dois anos de ensaio em povoamento denso, observou-se que na
produção de matéria seca se destacaram a cv. Clare e os genótipos da ENMP: 356, 493,
559, 616 e 627. Relativamente à produção de semente, os melhores genótipos foram:
395, 616, 559 e 627 da ENMP. O teor de sementes duras foi mais elevado no genótipo
616 e na cv. Seaton Park, observando-se os valores mais baixos na cv. Clare. A
regeneração, após o primeiro ano de produção, foi superior na cv. Seaton Park e no
genótipo 46, seguidos de Clare e 616.
Os resultados obtidos permitem distinguir, de entre os materiais da ENMP,
o genótipo 616 que, apesar de ter produtividade em matéria seca inferior à cv. Clare,
poderá ter maior interesse devido à maior produção de semente e ao maior teor de
sementes duras, essenciais para a persistência da pastagem nas nossas condições. Estas
características poderão conduzir à superioridade deste genótipo nos anos seguintes.
Pela produção de matéria seca e pela elevada homogeneidade e estabilidade de
características, o genótipo 493 parece também interessante. Com base nestes resultados
e nos ensaios efetuados em anos anteriores, foi proposta em 1993 a candidatura dos
genótipos 616 e 493 ao Catálogo Nacional de Variedades.
PALAVRAS-CHAVES: Trevo subterrâneo; Selecção; Caracteres agronómicos; Cultivares.
* Comunicação apresentada na XV Reunião de Primavera da SPPF. Santarém, Abril de
1994.
137
ABSTRACT
Aiming to obtain the first Portuguese varieties of subterranean clover, was
carried out, in the ENMP, the selection of genotypes from adapted populations
identified as high yielding in dry matter. The genotypes in advanced phase of selection
were originated from the following ecotypes: Penacova (genotype 46), Crato (356 and
395), D. Sancho (493), Vinhais (559) and D. Dinis (616 and 627) populations. They
had been compared with the Australian cultivars Seaton Park and Clare. After two
years trials in dense stand, it was observed that the production of dry matter, Clare and
the genotypes of the ENMP: 356, 493, 559, 616 and 627 were the best. Concerning
seed production, the best genotypes have been: 395, 616, 559, and 627 of the ENMP.
The content of hard seeds was higher in genotype 616 and cultivar Seaton Park, and
the lowest values in Clare. Regeneration, after the first year production, was upper in
Seaton Park and genotype 46, followed by Clare and 616. The results allow us to
distinguish from the materials of ENMP the genotype 616 that, although having lowest
dry matter yield than Clare, will have greater interest due to bigger seed production and
higher hard seed content, essential for the persistence of pastures in our conditions.
These features will be able to lead to the superiority of this genotype in the following
years. For the production of dry matter and the raised homogeneity of features and
stability, genotype 493 also seems to be interesting. Based in these results and the
essays done in previous years, the genotypes 616 and 493 were proposed to the
National Catalogue of Varieties in 1993.
KEY WORDS: Subterranean clover; Selection; Agronomic traits; Cultivars.
1 – INTRODUÇÃO
A contribuição do trevo subterrâneo (T. subterraneum L.) para a melhoria
dos sistemas agrícolas é muito diversificada. Esta espécie tem sido considerada
de grande interesse para a recuperação de solos degradados pela monocultura dos
cereais, para prevenir a erosão e aumentar a fertilidade do solo e a disponibilidade de alimento para os animais. Em França, em particular, tem sido dada grande
ênfase à sua utilização para a prevenção de incêndios florestais, devido ao efeito
de pára-fogos (6, 8, 9, 10). Na Austrália Ocidental, o trevo subterrâneo tem sido
utilizado para aumentar a produção de cereais devido à fixação de azoto (5).
O trevo subterrâneo é originário da região mediterrânica (11), contudo, a
quase totalidade das cultivares disponíveis nesta região são provenientes do
continente australiano, onde a espécie se naturalizou devido à introdução,
inicialmente acidental, de germoplasma proveniente da costa atlântica da Europa Ocidental e do Mediterrâneo (5).
Estudos de carácter agronómico, efectuados na Estação Nacional de
Melhoramento de Plantas (ENMP), revelaram existir, na coleção de germoplasma, populações com elevado potencial produtivo e boa adaptação ( 1, 2 ).
138
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Estes resultados foram a motivação para se iniciar um processo de selecção
genealógica para algumas destas populações, de forma a obter linhas puras
que serão testadas com o objectivo de selecionar novas cultivares de trevo
subterrâneo.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho tem por base cinco populações de T. subterraneum L. existentes numa colecção de germoplasma da ENMP (Penacova, Crato, D. Sancho,
Vinhais e D. Dinis), que mostraram ter elevado potencial produtivo em estudos
anteriormente efectuados. Utilizou-se um esquema de selecção de planta única,
tendo-se seleccionado vários genótipos das cinco populações eleitas.
Os genótipos em estudo estão em fase avançada de selecção e provêm
da população Penacova (genótipo 46), Crato (356 e 395), D. Sancho (493),
Vinhais (559) e D. Dinis (616 e 627). Utilizaram-se como testemunhas as
cvs. Seaton Park e Clare. A primeira população e a primeira cultivar pertencem à ssp. subterraneum, as restantes à ssp. brachycalycinum.
Serão referidos dois ensaios, com base nos quais se avalia o valor
agronómico. Num dos ensaios, consideraram-se parcelas de 4 m 2 dispostas
em blocos casualizados com quatro repetições. A densidade de sementeira foi
de 500 sementes/m 2 (30-40 kg/ha). Efectuou-se uma simulação do pastoreio
por corte, com intervalos de um mês, desde finais de Fevereiro até à floração.
No final do ciclo, avaliou-se a matéria seca acumulada após a floração. Estas
parcelas irão permanecer no mesmo local durante pelo menos três anos, para
observar a persistência dos genótipos em estudo.
No outro ensaio, cada genótipo foi instalado numa linha de 5 m, com as
plantas espaçadas de 0,25 m na linha e l m na entrelinha. O delineamento foi em
blocos casualizados com quatro repetições. Além da caracterização morfológica
foi avaliada a percentagem de sementes duras três meses após a maturação.
Durante este tempo, as sementes foram mantidas ao ar livre em sacos de papel.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Analisando a distribuição da matéria seca produzida, a avaliação efectuada em finais de Fevereiro mostra que a cv. Clare teve uma produção significativamente superior à dos restantes genótipos, durante o período de baixas
temperaturas, seguindo-se os genótipos da ENMP 356, 493, 616, 627 e 559
PASTAGENS E FORRAGENS 19
139
(figura 1). Outros autores confirmam que aquela cultivar tem elevada produção invernal (7, 10, 12 ), o que a torna interessante do ponto de vista da
produção de matéria seca, mas possui o inconveniente do baixo teor de
sementes duras. Os genótipos aqui apresentados foram testados num ensaio
anterior, onde alguns deles mostraram um comportamento semelhante ou ligeiramente superior em relação à cv. Clare (3). Quanto à produção total de
matéria seca, o genótipo 627 foi o mais produtivo, seguido do 493, 559, 356,
Clare e 616. A produção de matéria seca no Inverno tem contudo maior
importância em termos de selecção, por se tratar de uma época de reduzida
disponibilidade de alimento para os animais.
FIGURA 1 – Produção de matéria seca no Inverno e produção de matéria seca total.
Quanto à produção de semente, os genótipos mais produtivos foram 395,
616 e 559, da ENMP (figura 2). Este é um dos critérios chave na selecção de
trevo subterrâneo, dado que a quantidade de plântulas que regeneram a pastagem em cada ano depende grandemente da quantidade de semente produzida
no(s) ano(s) anterior(es).
O teor de sementes duras foi mais elevado no genótipo 616 e na cv.
Seaton Park, cujos valores são significativamente superiores aos dos restantes
genótipos (excepto em relação à 627 em que as diferenças são não significativas). Os valores mais baixos observaram-se na cv. Clare, em que a percentagem de sementes duras é praticamente nula. Este é outro dos critérios-chaves na selecção de trevo subterrâneo, porque se é importante uma elevada
produção de semente, é imprescindível que uma parte desta permaneça viável
no início de cada ano. O objectivo é garantir a regeneração da pastagem,
140
PASTAGENS E FORRAGENS 19
mesmo que entretanto tenham ocorrido alguns acidentes, como seja reduzida
produção de semente devida a factores externos, ou perda de semente por
germinação antecipada devida à ocorrência de chuva durante o Verão. Estes
acontecimentos não são raros entre nós, pelo que a utilização de cultivares
com baixo teor de sementes duras pode comprometer a persistência da pastagem, sobretudo se se pretende uma pastagem de tipo permanente. A baixa
dureza da semente é o principal inconveniente da cv. Clare nas nossas condições ( 4). De salientar que, devido ao facto de neste estudo as sementes terem
sido mantidas ao ar livre e não em condições controladas, a intensidade de
quebra da dureza variará consoante os anos, porque depende da amplitude da
temperatura ambiente.
FIGURA 2 – Produção de semente e teor de sementes duras.
Para se ter uma medida da persistência da pastagem, determinou-se a
densidade de plântulas que emergiram após o primeiro ano de produção
(figura 3). A melhor persistência foi observada na cv. Seaton Park e no
genótipo 46 (com quase 6000 plântulas/m 2), seguidos por Clare e 616. A
baixa densidade de plântulas observada em alguns genótipos pode ser devida
ao seu maior teor em sementes duras, que terão ficado no solo a constituir
reserva para o ano seguinte, ou à menor produção de semente. Outros factores poderão ter influência, como a morte precoce das plântulas ou o ataque
por formigas que transportam a semente para outros locais. Os resultados
obtidos permitem distinguir, de entre os materiais da ENMP, o genótipo 616
que, apesar de ter produtividade inferior à da cv. Clare, poderá ter maior
interesse devido à maior produção de semente e ao maior teor de sementes
PASTAGENS E FORRAGENS 19
141
duras, essenciais para a persistência da pastagem nas nossas condições. A
floração do genótipo 616 é ligeiramente mais tardia (mais 7 a 10 dias) do
que a da cv. Clare, sendo aquele o comportamento médio do germoplasma
nacional, observado por Crespo e Romano (2 ). Este genótipo possui ainda um
baixo teor de estrogéneos (praticamente isento de formonetina). Estas características poderão conduzir à superioridade do genótipo 616 nos anos seguintes
ao da instalação, o que já se começa a observar.
FIGURA 3 – Número de plântulas após o primeiro ano de produção
O genótipo 493 tem elevada produção de matéria seca em povoamento
denso, elevada homogeneidade e estabilidade das características morfológicas.
Quanto ao genótipo 627, apesar de ter um bom comportamento agronómico,
foi considerado mais prudente mantê-lo no programa de selecção para testar a
homogeneidade das suas características morfológicas.
Com base nestes resultados e nos ensaios efectuados nos anos anteriores, foi proposta, em 1993, a candidatura dos genótipos 616 e 493 ao Catálogo Nacional de Variedades (CNV).
4 – CONCLUSÕES
Foram avaliados sete genótipos de trevo subterrâneo, em fase avançada
de selecção, obtidos por selecção genealógica a partir de populações com
elevado potencial produtivo. Verificou-se que quanto à produção de matéria
seca, a cv. Clare é a que tem maior produtividade invernal, enquanto que o
genótipo 627 tem a maior produção total.
142
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Quanto ao teor de sementes duras destacam-se o genótipo 616 e a cv.
Seaton Park, apresentando a cv. Clare um valor praticamente nulo. Aquele
genótipo apresenta também elevada produção de semente, ainda que a do 356
seja superior. Estes são dois dos critérios mais importantes na selecção de
trevo subterrâneo.
O 616 é, dos genótipos ensaiados da ssp. brachyca1ycinum, o que apresenta maior densidade de plântulas após o primeiro ano de produção. Em
termos absolutos são contudo, a cv. Seaton Park, o genótipo 46 e a cv. Clare
que apresentam os valores superiores.
O genótipo 616, apesar de não ser o que teve produção de matéria seca
mais elevada, tem um adequado ciclo de floração, elevada produção de semente e elevado teor de sementes duras em relação à cultivar Clare, o que
lhe confere vantagem adaptativa. O genótipo 493 tem uma elevada produção
de matéria seca, elevada homogeneidade e estabilidade. Estas características,
em conjunto com outras observações já efectuadas em anos anteriores, conduziram a propor a candidatura ao CNV dos genótipos 616 (com o nome de
Davel) e 493 (Romel).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PASTAGENS E FORRAGENS 19
143
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144
PASTAGENS E FORRAGENS 19
"Pastagens e Forragens", vol. 19, 1998, p. 145–157.
AS SAPONINAS DAS FORRAGENS
NOTAS GERAIS SOBRE ESTES COMPOSTOS
M. Alexandra Oliveira, J. M. Abreu
Instituto Superior de Agronomia – Secção de Produção Animal – Tapada da Ajuda –
– 1349-017 LISBOA CODEX
RESUMO
As saponinas são glicósidos esteroidais ou triterpenóides, presentes em muitas
plantas e que, quando consumidas pelos animais, apresentam actividades biológicas
muito diversas, tanto favoráveis como desfavoráveis. No primeiro caso, as moléculas
envolvidas poderão ser potencialmente aproveitadas, não só por animais, monogástricos
ou ruminantes, como também por humanos. No segundo, porém, haverá que desenvolver estratégias de atenuação ou de defesa dos seus efeitos.
Neste trabalho abordam-se aspectos relacionados com a estrutura química das
saponinas, os factores que as afectam, os seus efeitos nas plantas e as consequências da
sua ingestão por animais. Quando pertinente, também se referem algumas consequências da sua ingestão por humanos.
Conclui-se pela necessidade de continuar os estudos, de modo a esclarecer os
mecanismos de acção destes compostos para o seu controlo e potencial utilização.
PALAVRAS-CHAVES: Saponinas; Forragens; Nutrição animal; Ruminantes; Monogástricos.
ABSTRACT
Saponins are steroidal or triterpenoid glycosides present in many plants, having
diverse biological activities, that can be advantageous or disadvantageous, when
consumed by animals. In the first case, the molecules involved may be used, not only in
domestic animals, ruminants or nonruminants, but also in men. In the second case,
however, there is a need to develop strategies to overcome their effects or to protect
animals from them.
In this work are discussed some aspects related with the chemical structure of
saponins, the factors that affect them, their effects on plants and their consequences
when ingested by animals. Some information is also given on the saponin effects in
humans.
There is still, however, a need to carry out research in order to better understand
the mechanisms of action of saponins, so as to benefit from their advantages while
avoiding their problems.
KEY WORDS: Saponins; Forages; Animal nutrition; Ruminants; Nonruminants.
145
1 – INTRODUÇÃO
Uma produção animal rendível exige uma utilização eficaz das dietas.
Na produção animal utiliza-se uma grande variedade de alimentos com diferentes origens. Muitos factores podem afectar, favorável ou desfavoravelmente, a eficiência com que eles são utilizados para satisfazer as necessidades
dos animais. A presença de factores antinutricionais, por exemplo, diminui a
eficiência de utilização dos nutrientes e a produtividade animal (21).
Dentre os factores antinutricionais, os que se encontram mais difundidos
nas partes vegetativas das plantas são os taninos e as saponinas (21), sendo
estes últimos o objecto da presente revisão.
As saponinas são substâncias referidas, desde há muito, na bibliografia
da especialidade. A natureza complexa das mesmas e a capacidade para se
ligarem fortemente a outros constituintes da planta, bem como a sua susceptibilidade à hidrólise (em particular durante os processos de isolamento e
purificação), têm dificultado os avanços no conhecimento sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas deste grupo de compostos.
O desenvolvimento de novas técnicas para fraccionamento, separação,
purificação e identificação de constituintes vegetais solúveis em água, tem
contribuído para o conhecimento da estrutura molecular destas substâncias e
para os avanços da investigação nesta área. As propriedades fisiológicas e
farmacológicas evidenciadas por saponinas isoladas sugerem a possibilidade
de utilizar estas substâncias como produtos dietéticos, farmacêuticos, medicinais e outros fins. Porém, são ainda muito fragmentados os conhecimentos
sobre a natureza, a quantidade e os efeito das saponinas em alimentação
animal e humana.
2 – ESTRUTURA QUÍMICA
As saponinas contêm uma aglicona (sapogenol, sapogenina, ...) ligada a
uma ou mais unidades de oligossacáridos (podendo assim ser mono, di ou
tridesmosídicas). É usual classificar estas substâncias em dois grandes grupos, dependendo do tipo de aglicona presente (triterpenóide ou esteroidal).
Nas plantas mais utilizadas em alimentação animal as triterpenóides são as
predominantes. A complexidade das saponinas e, por isso, a diversidade dos
seus efeitos biológicos, resulta não só da variabilidade da estrutura da aglicona
e da posição da unidade glucosídica, mas também da natureza desta última.
As agliconas estão geralmente ligadas a D-galactose, L-arabinose, L-ramnose,
146
PASTAGENS E FORRAGENS 19
D-glucose, D-xilose, D-manose e ácido D-glucorónico, alguns dos quais podem ser acetilados; comprimentos de cadeia de 2-5 unidades de sacarídeos
são muito frequentes. As cadeias oligossacarídeas são geralmente lineares,
embora também ocorram sob a forma ramificada ( 4).
No caso da luzerna, as agliconas mais comuns são as de ácido
medicagénico, hederagenina, sapogenóis do tipo soja e ácido zânico. A presença ou ausência de ácido medicagénico parece explicar a maioria das diferenças na actividade biológica das fracções de saponinas de diferentes variedades de luzerna, mas é de esperar que os tridesmósidos de ácido zânico
tenham aqui também um papel significativo ( 21).
O ácido zânico não inibe o crescimento do Trichoderma viride tendo,
por isso, sido ignorado até há relativamente pouco tempo, embora em provas
organolépticas ele tenha sido designado como o mais amargo e o mais
irritante das mucosas. Esta falta de actividade biológica deve-se à ausência
total de grupos COOH livres. No entanto, a conversão da saponina em
sapogenina, por hidrólise, leva ao desbloqueio dos grupos COOH, gerando
um composto com grande actividade biológica ( 18).
As figuras 1 e 2 mostram as estruturas das saponinas típicas de luzerna
(Medicago sativa) e da quinoa (Chenopodium quinoa), respectivamente; em
cada caso as saponinas diferem umas das outras na natureza dos radicais
(R, R 1, ...) ligados ao núcleo representado.
FIGURA 1 – Estrutura química das saponinas típicas de luzerna
(Medicago sativa)
FIGURA 2 – Estrutura química das
saponinas típicas de
quinoa (Chenopodium
quinoa).
3 – FACTORES QUE AFECTAM O TEOR DE SAPONINAS
Tem-se observado que o teor de saponinas das forragens é afectado por
diversos factores, embora, muito frequentemente, diferenças devidas aos métodos
analíticos empregados dificultem as comparações. Assim, além da espécie vege-
PASTAGENS E FORRAGENS 19
147
tal, a parte da planta considerada, a idade fisiológica e o estado de desenvolvimento são também factores importantes, tal como o são os factores ambientais e
agronómicos, de que depende o crescimento, e os tratamentos pós colheita, como
a armazenagem e o processamento. Foi demonstrado, por exemplo, que a fermentação reduz os níveis de saponinas na soja* e na luzerna (8), De acordo com
Iijima et al.**, as características de gosto indesejável (amargo e adstringente) das
saponinas da soja diminuem consideravelmente após hidrólise ácida.
Na luzerna, os teores em saponinas podem ser inferiores a 0,3% da matéria seca
(MS), nas variedades designadas doces, ou superiores a 1,5% da MS, nas linhas ricas
em saponinas (2% da MS na variedade Lahontan e superior a 3% da MS na variedade
DuPuits) (4). A parte da planta, como foi referido, também condiciona de forma
importante o teor em saponinas. Nowacka e Oleszek (16) analisaram uma variedade
de luzerna (Boja), utilizando HPLC, e encontraram valores de saponinas da ordem
dos 2,4% e 1,49% da MS nas raízes e nas partes aéreas, respectivamente, sendo o teor
de saponinas das folhas praticamente duplo do dos caules. No caso da quinoa
(Chenopodium quinoa), por exemplo, também é possível distinguir variedades doces,
semi-doces e amargas, em função do teor em saponinas (desde menos de 0,3 a mais
de 2% da MS dos grãos), conforme resultados compilados por Fenwick et al. (4).
A selecção para a característica doce levou à produção, por exemplo, de
novas variedades de luzerna com boas produções de matéria seca e com conteúdo reduzido em saponinas. A selecção para genótipos de baixo teor em
saponinas foi conduzida recorrendo a testes de efeitos biológicos, como o do
fungo Trichoderma viride, do insecto Tenebrio molitor, do peixe Lebistes
reticulatus e o da actividade hemolítica. Com estes testes foi possível obter
cultivares de qualidade superior, para alimentação animal, mantendo as características agronómicas anteriores. O melhor valor nutritivo das novas variedades
é normalmente atribuído à redução da fracção biologicamente activa das
saponinas totais***.
4 – EFEITOS NAS PLANTAS
4.1 – Alelopatia
A alelopatia é um efeito prejudicial, directo ou indirecto, causado numa
planta por um composto produzido por uma planta dadora (3).
* Kitagawa et al. (1984) citados por Fenwick et al. (4).
** Iijima et al. (1987) citados por Fenwick et al. (4).
*** Vários autores citados por Tava et al. (23).
148
PASTAGENS E FORRAGENS 19
Oleszek e Jurzysta ( 17 ) estudaram o efeito alelopático das saponinas
das raízes de luzerna (Medicago media Pers.) e do trevo violeta (Trifolium
pratense L.) no desenvolvimento das plântulas de trigo e o destino destes
compostos no ambiente do solo. A germinação das sementes e o crescimento das plântulas e de fungos foi suprimido por extractos aquosos e
alcoólicos de raízes de luzerna, indicando que os glicósidos de ácido
medicagénico são o inibidor. Raízes de luzerna em pó, adicionadas a
areia, também inibiram o crescimento do trigo. Em concentrações tão
baixas como 0,25% (m/m) o sistema radicular foi completamente destruído,
enquanto que os caules das plântulas sofreram poucos danos. As raízes de
trevo violeta causaram alguma inibição no crescimento do trigo quando
incorporadas na areia, mas o seu efeito foi muito menor do que o verificado com as raízes de luzerna ( 17 ).
A textura do solo teve uma influência importante no efeito inibidor das
raízes. A diminuição da toxicidade das raízes de luzerna, em relação ao
Trichoderma viride e às plântulas de trigo, ocorre mais rapidamente em solos
argilosos (maior adsorção dos inibidores) do que em solos arenosos, devido à
hidrólise parcial da cadeia de açúcar da aglicona, pelos microrganismos, nos
primeiros ( 17).
4.2 – Resistência a doenças
A toxicidade das saponinas para os insectos sugere que elas protegem as
plantas da predação por estes organismos. Tava e Odoardi* utilizaram misturas de saponinas parcialmente purificadas de folhas de luzerna para estudar a
actividade insecticida. Verificaram que o aumento do nível de saponinas,
adicionadas a uma dieta artificial da Lobesia botrana (Den e Schiff), causou
um aumento da mortalidade larvar. Pensou-se que a toxicidade das saponinas
seria exercida pela capacidade de formarem complexos com o colesterol, o
que tinha sido verificado pelo facto de a adição de colesterol a uma dieta
artificial ter reduzido a mortalidade das larvas. Observou-se o mesmo tipo de
efeito com outros insectos, tais como o Adoxophyes orana (F.v.R.), o Ostrinia
nubilaris (Hb.), o Tenebrio molitor e o Spodoptera littoralis. A exploração
destes resultados pode levar ao desenvolvimento de insecticidas naturais para
a protecção de culturas**.
* A. Tava e M. Odoardi (1996) citados por Sen et al. (21).
** Puszker et al. (1994) citados por Sen et al. (21).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
149
Vários ensaios utilizando ácido medicagénico e os seus glicósidos
provaram que a actividade das saponinas está muito dependente dos grupos COOH e OH livres. Foi também concluído que a funcionalidade dos
grupos hidróxilo livres na posição C3 é essencial para a actividade
antimicótica contra o Sclerotium rolfsii, Fusarium oxysporum lycopersici,
Rhizoctonia solani e Aspergillus niger. Além disso a natureza da porção
aglicona da saponina é também importante na actividade contra o T.
viride*.
5 – EFEITOS SOBRE OS ANIMAIS
5.1 – Ruminantes
5.1.1 – Timpanismo
O trabalho de Lindahl et al.** estabeleceu uma ligação entre as
saponinas e o timpanismo em ruminantes. Foram observados dois mecanismos: um efeito na contractilidade do rúmen e uma redução na tensão
superficial do seu conteúdo. Em alguns casos, os sintomas de timpanismo
em carneiros resultaram da actividade fisiológica das saponinas de luzerna,
enquanto que em outros, as propriedades de tensão superficial foram a
causa directa do fenómeno. Tanto as saponinas de suco de luzerna, como
as de outras leguminosas, reduziram a motilidade ruminal, contribuindo
para dificultar a evacuação do ingesta pela cárdia. Os resultados de Klita
et al.( 9 ), apresentados na figura 3, ilustram esse tipo de situação. A redução na tensão superficial, que causa a formação de espuma, interfere com
a eructação, contribuindo também para a acumulação excessiva de gás no
rúmen e a eventual morte do animal por asfixia (compressão do diafragma). Verificou-se que por administração intravenosa as saponinas de
luzerna são 50 a 60 vezes mais tóxicas que administradas por via oral**.
Resultados mais recentes mostram, porém, que as saponina s constituem
apenas um dos muitos factores implicados na patogénese do timpanismo
em pastagens***, havendo mesmo autores que contestam o grau de importância atribuída às saponinas na etiologia do fenómeno ( 11 ).
* W. Oleszek (1996) citados por Sen et al. (10).
** Lindahl et al. (1957) citados por Milgate e Roberts (14).
*** Oakenfull e Sidhu citados por Milgate e Roberts (14).
150
PASTAGENS E FORRAGENS 19
FIGURA 3 – Registos, com intervalos de 2 minutos, das contracções reticulares e ruminais
em carneiros: antes, 0,5 e 3 horas depois da administração de 1600 (a) e 800
(b) mg de saponinas/kg de peso vivo. [Adaptado de Klita et al. (9)]
5.1.2 – Fermentação ruminal
Lu e Jorgensen (10) mostraram que as saponinas da luzerna, parcialmente
hidrolisadas e administradas no rúmen, reduzem temporariamente o número de
protozoários, a síntese de proteína microbiana, a fermentação e a digestão dos
alimentos. Observaram, também, que não havia proporcionalidade entre a concentração de saponinas e os efeitos microbianos. Outros factores, para além das
saponinas, interferem no fenómeno, como foi demonstrado em experiências
com carneiros. Em rúmen artificial as saponinas também reduziram a síntese de
ácidos gordos de cadeia curta e de proteína microbiana.
Também Klita et al. (9) verificaram que de início as saponinas causaram
uma diminuição na população de protozoários ruminais, com aumento do afluxo
de azoto ao duodeno e diminuição da digestibilidade dos alimentos.
Esta inibição do crescimento dos protozoários, referida por diversos autores, poderá ser benéfica em ruminantes, uma vez que reduz a predação das
bactérias pelos protozoários, aumentando, em consequência, o fluxo duodenal
de proteína*. No entanto, Newbold et al. (15) verificaram que o número de
protozoários é recuperado ao fim de pouco tempo, como se pode ver na figura 4.
Estes mesmos autores opinam que não são os protozoários que se tornam resistentes mas sim, provavelmente, as bactérias que se adaptam e são capazes de
* Lindsay e Hogan (1972) e Williams e Coleman (1992) citados por Newbold et al. (15).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
151
degradar o agente antiprotozoário. Este aspecto está de acordo com os resultados
de Makkar e Becker (12) que sugerem que as saponinas de Quillaja saponaria
são degradadas pelos microrganismos do rúmen e que esta degradação é de
natureza enzimática.
FIGURA 4 – Efeito da administração de Sesbania sesban a carneiros, no número total de
bactérias viáveis no rúmen e na degradação da Selenomonas ruminantium, em
suco de rúmen, in vitro. As barras verticais representam os desvios-padrão da
média de três carneiros. [Adaptado de Newbold et al. (15)]
Baseado na hipótese anteriormente apresentada por Freeland et al. (5) em
1985, de que a presença simultânea de vários factores antinutricionais, biologicamente activos, pode atenuar os efeitos adversos individuais, Makkar et al.
(13) realizaram um estudo em que ensaiaram combinações de ácido tânico,
taninos de Shinopsis sp. e saponinas de Quillaja saponaria. Concluíram que a
redução da digestão e da digestibilidade verdadeira era aditiva quando estavam
presentes ácido tânico e saponinas. Resultados semelhantes foram obtidos quando
o ácido tânico foi substituído por taninos de Shinopsis sp., embora os efeitos,
para a mesma concentração, tenham sido mais marcados. Assim, estes autores
não confirmam a hipótese anterior, mas referem que os resultados podem,
eventualmente, ser diferentes se forem utilizados outros tipos de taninos e
saponinas, uma vez que as suas actividades biológicas estão dependentes das
suas estruturas químicas. Verificou-se, também, que a eficiência da síntese de
proteína microbiana foi maior quando estavam presentes taninos e saponinas.
152
PASTAGENS E FORRAGENS 19
5.2 – Monogástricos
5.2.1 – Depressão do crescimento
Foi observada, por exemplo, diminuição do crescimento em animais
domésticos e de laboratório com saponinas de luzerna, provavelmente devido
às características sensoriais, amargas e adstringentes, dos produtos processados. Um mecanismo que pode explicar os efeitos depressores do crescimento
pelas saponinas é a diminuição da ingestão de alimento devido a má
palatibilidade ( 1, 21). Além disso, as saponinas podem inibir a actividade dos
músculos lisos. Não há certezas sobre o significado fisiológico, mas provavelmente é reduzido. Teoricamente, as saponinas podem reduzir o peristaltismo
e, reduzindo a taxa de passagem, contribuir para a redução da ingestão de
alimento. Além disso, as saponinas podem inibir um grande número de
enzimas celulares. Outros autores verificaram que as saponinas da soja inibiam a actividade da quimotripsina e da tripsina*.
A depressão do crescimento pode também estar relacionada com a ligação das saponinas a minerais essenciais (ver ponto 5.2.4).
5.2.2 – Interacções com membranas biológicas
Sabe-se, desde há muito, que as saponinas causam a lise dos eritrócitos
in vitro. A primeira acção das saponinas membranolíticas sobre as células é o
aumento da permeabilidade da membrana plasmática, o que leva à perda do
gradiente electroquímico essencial e à destruição inevitável da célula. Apesar
das muitas evidências de que esta propriedade resulta da afinidade das
saponinas com os esteróis das membranas, os detalhes desta interacção são
ainda pouco conhecidos. Existe uma grande variação quer na actividade
hemolítica das saponinas individuais quer na susceptibilidade dos animais (4).
O efeito das saponinas sobre a mucosa intestinal foi também estudado.
As saponinas têm sido utilizadas como adjuvantes orais, de forma a melhorar
a absorção intestinal de material antigenicamente activo. A presença das
saponinas aumenta a permeabilidade das células da mucosa intestinal in vitro
através da formação de complexos saponinas-colesterol das membranas. Verificou-se que as saponinas provocam danos nas células intestinais de ratos. O
resultante aumento da taxa de renovação celular tem sido proposto como
* Vários autores citados por Atuahene et al. (1),
PASTAGENS E FORRAGENS 19
153
mais um mecanismo pelo qual as saponinas baixam os níveis plasmáticos de
colesterol; o aumento do "turnover" celular produz um aumento das perdas de
colesterol das membranas celulares. Continua por determinar se este aumento
do "turnover" celular ocorre em humanos (12).
Pensa-se que muitas saponinas se combinam com o colesterol e os
ácidos biliares no lúmen intestinal, limitando assim a sua absorção e modificando o metabolismo do colesterol*. É possível que este mecanismo também
proteja as membranas da mucosa dos efeitos membranolíticos observados in
vitro.
5.2.3 – Colesterol
Embora continue a haver alguma controvérsia, surgiram duas teorias
para o efeito das saponinas:
1) uma ligação directa do colesterol no intestino e redução na absorção, afectando assim exogenamente a produção hipercolesterolémica;
2) uma ligação dos ácidos biliares no intestino que, diminuindo a circulação enterohepática de ácidos biliares, resulta numa redução da
hipercolesterolémia endógena.
Os resultados de ensaios com humanos são, no entanto, controversos.
Há que ter em conta, também, que saponinas de diferentes espécies de plantas diferem em estrutura e podem diferir na sua capacidade para se ligarem
aos esteróis ou nos seus efeitos biológicos quando adicionadas a uma dieta
(2).
Contudo, os trabalhos feitos em relação ao efeito hipocolesterolémico
das saponinas confirmam a actividade antihipercolesterolémica, pelo menos
em animais, mas não exclui outros factores. As comparações entre ensaios
são difíceis, devido ao uso de diferentes tipos e fontes alimentares de
saponinas, o que pode ter um profundo efeito nos resultados produzidos.
5.2.4 – Minerais e amoníaco
As saponinas podem formar complexos com os minerais, o que, em
doses elevadas, pode ter um efeito negativo. A depressão de crescimento
produzida pelas raízes de luzerna pode envolver a ligação a minerais essenciais, tornando-os indisponíveis para absorção. In vitro, as saponinas das raízes
* Malinaw (1985) citado por Gee e Johnson (6).
154
PASTAGENS E FORRAGENS 19
de luzerna ligam-se ao zinco e ao ferro (24 ). Porcos alimentados com dietas
à base de luzerna apresentam níveis plasmáticos reduzidos de zinco e cálcio*,
e em ratos alimentados com saponinas de gipsofila a absorção de ferro é
reduzida ( 22).
Estas interacções dos minerais com as saponinas podem também contribuir para o efeito hipocolesterolémico observado, pelo menos, em animais. O
colesterol plasmático total não é alterado quando o fornecimento de zinco
pela dieta é adequado, e os aumentos observados com ingestões elevadas de
zinco parecem estar relacionados com a indução da deficiência em cobre. De
forma inversa, as concentrações plasmáticas de zinco podem ser alteradas
pelo colesterol da dieta e pela gordura saturada, e as interacções com o cobre
podem ser exacerbadas pela gordura saturada. Foi demonstrado que estes dois
minerais podem contribuir para o efeito hipocolesterolémico ao reduzirem a
actividade de duas enzimas envolvidas no metabolismo lipoproteico: a lipase
lipoproteica (LPL) e a lecitina colesterol acil transferase (LCAT). Assim, em
dietas deficientes em zinco estas enzimas apresentam uma actividade reduzida
(19, 20).
A adição de saponinas à dieta mostrou também ter efeitos benéficos ao
reduzir os níveis de amónia do rúmen (7) e ao aliviar os problemas postos
pela formação microbiana de amónia no intestino grosso e nos excrementos,
sendo ambos os efeitos considerados como devidos à ligação das saponinas à
amónia**. Saponinas de Yucca shidigera são já comercializada como aditivo,
em dietas de monogástricos, para fixação do amoníaco, tanto ao nível intestinal, como dos dejectos no solo.
CONCLUSÃO
Apesar do muito trabalho realizado e das convicções firmes de vários
investigadores neste campo, ainda não é possível chegar a uma conclusão
segura quanto à utilidade e importância das saponinas em nutrição animal. A
maioria das actuais incertezas parece ser devida ao facto das misturas de
saponinas terem frequentemente sido tratadas como substâncias únicas, bem
definidas. Nos estudos nutricionais, o termo saponina é frequentemente utilizado como uma definição operacional aplicada a misturas de substâncias de
pureza e estrutura química desconhecida (21).
* Pond e Yen citados por Southon et al. (22).
** Cheeke (1996) citado por Makkar e Becker (13).
PASTAGENS E FORRAGENS 19
155
É frequente encontrar, em artigos mais recentes, referências à necessidade de se efectuarem mais estudos com saponinas puras ou extractos purificados, de forma a que seja possível a comparação de resultados e, assim, a
serem esclarecidas muitas das incertezas que ainda existem no que se refere
aos efeitos e aos mecanismos de acção destes compostos. Um maior e melhor
conhecimento destes aspectos poderá levar à utilização segura das propriedades benéficas das saponinas, não só em animais mas também em humanos.
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