A inteligência humana e a “unanimidade burra de Solomon Asch

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A inteligência humana e a “unanimidade burra de Solomon Asch
A inteligência humana e a “unanimidade burra de Solomon Asch” - O Pensador Selvagem
Escrito por José Eustáquio Diniz Alves
Dom, 18 de Novembro de 2012 00:15 -
A Terra tem cerca de 4,7 bilhões de anos. A vida no Planeta surgiu há cerca de 3,5 bilhões de
anos no período Arqueano, mas se ampliou e diversificou nos últimos 550 milhões de anos. Os
dinossauros, por exemplo, povoaram a Terra entre 250 e 65 milhões de anos atrás. Diversas
formas de vida surgiram e desapareceram, mas a riqueza da diversidade está em torno de 9
milhões de espécies atualmente. O ser humano (homo sapiens) é uma das espécies caçulas
do Planeta e adquiriu sua compleição física e mental há cerca de 200 mil anos.
Mas a despeito de ser uma espécie “caloura” na Terra, o ser humano se acha superior às
demais espécies e se considera o dono do mundo. O raciocínio e a inteligência são as armas
do poderio humano. Mesmo que de maneira heterogênea, alguns seres humanos,
especialmente os mais egoístas, simplesmente se acham no direito de dominar e explorar a
natureza e as demais espécies. Outros, mais altruístas, se consideram apenas como
“guardiães e cuidadores de toda a criação”. Em geral, a idéia de “superioridade humana” varia
de grau, mas é amplamente aceita e é um fenômeno generalizado.
Porém, a vida no planeta Terra se desenvolveu de maneira espetacular independentemente da
inteligência humana. A biodiversidade se expandiu e se contraiu de acordo com as condições
climáticas e as eras geológicas. Cada continente criou suas próprias formas de vida e cada
região possibilitou o desenvolvimento de espécies endêmicas, com suas belezas particulares.
Durante milhões de anos, a vida seguiu o seu ciclo e o resultado da evolução das espécies foi
de uma riqueza incalculável.
Todavia, o homo sapiens com sua inteligência e raciocínio instrumental conquistou todo o
Planeta, mas se importar com os direitos de existência dos ecossistemas e a estabilidade do
clima da Terra. O ser humano está criando uma nova era geológica, o Antropoceno. Nesta
nova era geológica a civilização humana cresce e ocupa todos os espaços, mas a diversidade
da vida se reduz e se restringe no espaço. No rumo atual, a inteligência humana está criando,
de maneira não antecipada, uma estrada para o ecocídio
No geral, a progressão humana tem significado regressão ambiental. Mesmo assim, a maioria
das pessoas continua louvando a inteligência humana e ignorando os danos que nossa
espécie tem causado à Mãe Terra e às demais espécies nossas parentes. Sem dúvida, a
humanidade construiu lindas obras arquetetônicas, desenvolveu a ciência, a teconologia e
criou muitos objetos de consumo que são atraentes e desejados. Mas o modelo de
desenvolvimento da humanidade não é sustentável e deveríamos questionar até que ponto
somos inteligentes, ou vivemos uma grande ilusão coletiva? Somos inteligentes ou nos
auto-enganamos? Estamos presos ao Espírito de corpo e ao comportamento de manada?
Para dar uma resposta a estas perguntas é bom recorrer ao estudo de conformidade ao grupo
de Solomon Asch, que surgiu a partir do questionamento sobre a capacidade de raciocínio
lógico diante das forças sociais que moldam as opiniões e as atitudes das pessoas. O
psicólogo Solomon Asch (1907-1996) quis mostrar com seus estudos que os indivíduos tendem
a aceitar o errado por conformidade ao grupo.
Os termos “O estudo de conformidade de Solomon Asch” ou “A unanimidade burra de Solomon
Asch” surgiram em função de experimentos onde um grupo de pessoas era mantido em uma
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sala para responder perguntas – em voz alta. Porém, do grupo, apenas uma pessoa
desconhecia as condições do teste e tinha que responder por último, enquanto os demais
participantes eram atores que estavam no experimento para dar uma resposta incorreta ou
contra o raciocínio lógico. Os resultados mostraram que o desejo de pertencer a um grupo
fizeram os indivíduos abrirem mão de suas convicções, do pensamento lógico ou da respostas
que julgavam certas. No conjunto dos experimentos, três quartos dos participantes escolheram
a alternatisva errada pelo menos uma vez, cerca de um terço erraram a maioria das respostas
e 5% dos voluntários escolheram a opção incorreta todas as vezes.
Desta forma, “A unanimidade burra de Solomon Asch” questiona a capacidade do ser humano
utilizar sua inteligência de maneira independente e racionalmente neutra. Ou seja, o desejo e a
necessidade de se integrar ao ambiente homogêneo faz com que as pessoas abram mão da
capacidade de raciocínio e passem a agir de maneira burra.
Isto é tanto mais verdade quando se considera as ideologias, as religiões, as culturas e,
principalmente, a máquina mundial de propaganda de estilos de vida consumistas. As pessoas
abrem mão dos seus princípios para copiar o padrão hegemônico de consumo. Os indivíduos
se deixam levar pelas opções da maioria e adotam as preferências induzidas pela sociedade
do espetáculo e pelo inconcisente coletivo.
Se extrapolarmos as conclusões de Solomon Asch, não é dificil imaginar que ao invés de
espécie inteligente e sábia, o ser humano simplesmente segue o efeito manada, se iludindo
com o poder do consumismo, mas continuando com um modelo econômico insustentável.
Certamente não é uma opção inteligente ignorar todas as consequências negativas da
destruição humana na era do Antropoceno.
A inteligência de Victor Frankestein criou um monstro, assim como a inteligência científica criou
a bomba atômica. A inteligência humana criou o desenvolvimento econômico e o progresso,
mas a generalização de um modelo insustentável está gerando um outro Frankestein, com
resustados que podem ser desastrosos.
Porém, nos experimentos de Solomon Asch, 25% das pessoas deram respostas consideradas
certas e não se importaram com as alternativas erradas apontadas pelo grupo majoritário.
Portanto, existe um percentual relevante de indivíduos que podem ser consideradas
independentes e não se constrangem em contrariar as respostas da maioria, permacendo fiéis
à lógica do raciocínio e das opiniões independentes da maioria.
É burrice considerar que a inteligência dá direitos excepcionais aos seres humanos, mesmo
quando seus efeitos está destruindo o único lar habitável. A maioria das pessoas –
configuradas pelas agências de propaganda e publicidade – estão seguindo o comportamento
de manada que pode resultar na destruição do Planeta. O Homo sapiens está se tornando
Homo burrus. O modelo de desenvolvimento atual tem usado a inteligência humana para
produzir grandes obras e objetos, mas, ao mesmo tempo, estimula a cequeira e a ignorância
quanto aos seus resultados ambientais. Portanto, não é inteligente seguir a “unanimidade
burra”.
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