xxvi congresso brasileiro de humanização e pastoral da

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xxvi congresso brasileiro de humanização e pastoral da
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Informativo 12345
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do Instituto 12345
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Camiliano 12345
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de Pastoral 12345
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da Saúde 12345
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e Bioética 12345
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novembro de 2006 12345
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ANO XXIV – no 247 12345
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PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA 12345
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❒ PASTORAL
❒ BIOÉTICA
❒ HUMANIZAÇÃO
XXVI CONGRESSO BRASILEIRO
DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE
AUTOR DO TEXTO?
O
s desafios da Pastoral da Saúde diante de pessoas com deficiências” foi o tema central do
XXVI Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde promovido pela Província Camiliana
Brasileira, em parceria com o Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde — ICAPS —, com a Pastoral da
Saúde da Arquidiocese de São Paulo, com a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil — CNBB — e com
o apoio do Centro Universitário São
Camilo — São Paulo — local onde
foi sediado o evento, nos dias 2 e 3
de setembro. Estiveram presentes
mais de 650 pessoas, entre elas religiosos de todo o país, camilianos, representantes da CNBB, profissionais da saúde, leigos interessados
e agentes de Pastoral da Saúde.
“A Pastoral trabalha na sua plenitude, com o intuito de educar para
a saúde, assim prevenindo doenças.
A atuação dos agentes pastorais éde
suma importância e independe da
origem do paciente, se é proveniente da saúde pública ou privada”, explica o Dr. André Luiz de Oliveira,
Coordenador da Pastoral da Saúde
Nacional — CNBB —, que na ocasião leu aos presentes uma mensagem do Bispo Diocesano de Uberlândia, Dom José Alberto Moura, na
qual justificou sua ausência e manifestou sua alegria pelos 26 anos
de Congresso da Pastoral da Saúde
e também pelos 20 anos da Pastoral da Saúde da CNBB.
Pe. Christian de Paul de Barchifontaine, Reitor do Centro Universi-
“
tário São Camilo, falou sobre a Bioética no Brasil e o papel do Estado
em atender as necessidades básicas
de saúde da população. “Temos que
exercer nossa cidadania não só como agentes pastorais, mas também
fiscalizar e cobrar o Estado no que
desrespeita aos investimentos na
saúde”, declara.
“Deficientes no Brasil é um universo muito desconhecido do qual
ninguém quer participar. É um
quarto escuro onde ninguém quer
entrar. O grande problema é reconhecer as pessoas pela sua deficiência”. Essa foi a tônica da conferência da palestra sobre “Os desafios
da Pastoral da Saúde diante de pes-
soas com deficiências” ministrada
pelo Prof. Dr. Pe. Léo Pessini, Superintendente da União Social Camiliana, finalizada com um filme apresentado aos participantes.
Os dois dias do XXVI Congresso
Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde coordenado pelo Pe.
Anísio Baldessin foram bastante
produtivos, permeados por uma extensa programação de palestras em
torno da temática central do evento, cujos presentes interagiram com
os palestrantes por meio de debates. Além da animada banda composta depadres e seminaristas camilianos, que motivaram os participantes com cânticos e danças.
AGUARDANDO FOTO
Ano XXIV – no 247 – novembro de 2006 – BOLETIM ICAPS
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III CONGRESSO DA PASTORAL
DA SAÚDE REÚNE 200 PARTICIPANTES
NÃO TEM AUTOR?
C
erca de 200 pessoas participa-ram
do III Congresso de Pastoral da
Saúde e Evangelização, realizado em
23 e 24 de setembro pela Diocese de
Cachoeiro de Itapemirim, em parceria com o Centro Universitário São
Camilo — Espírito Santo. O evento
intitulado “Pastoral da Saúde diante
do sofrimento humano” aconteceu no
Campus I e contou com a presença
de diversos palestrantes.
O III Congresso foi aberto oficialmente pelo representante da Diocese, Pe. Joselito, o Reitor da São Camilo, Pe. João Batista Gomes de Lima, o Assessor da Reitoria e Coordenador Diocesano da Pastoral da Saúde, Pe. Américo Pinho de Cristo, e o
Provincial dos Religiosos Camilianos,
Pe. José Maria dos Santos.
O primeiro palestrante foi o Provincial dos Camilianos, Pe. José Maria dos Santos, que dissertou sobre o
tema: Formação e Espiritualidade do
agente de Pastoral da Saúde. O Provincial falou sobre a importância do
tema, ressaltando que é preciso que
o Agente Pastoral tenha uma formação adequada e espiritualidade necessária para fortalecer a sua prática, e
relatou suas experiências como enfermeiro, padre da Ordem dos Camilianos e Capelão.
À tarde, o padre francês, Bruno
Cadart, falou sobre o tema “Cuidados paliativos”. Por meio do próprio
testemunho, o Padre expôs sua vivência com pessoas enfermas e como foi
seu ingresso na área da saúde.
Em seguida, a Enfermeira Profa.
Jacqueline Damasceno abordou o tema “Atenção humanizadora aos portadores de necessidades especiais”, no
intuito de sensibilizar para as práticas mais humanas.
A Profª Doutora Dalza Gomes da
Silva encerrou o primeiro dia do evento. Com o tema “Uso de agrotóxicos:
porta aberta para as doenças”, a palestrante falou sobre a utilização de
agrotóxicos e seus efeitos nos seres
humanos.
No segundo e último dia do evento, com o tema “Orientações práticas
sobre terapias alternativas”, o médico
homeopata e fitoterapeuta, João Hermínio Altoé Vargas, falou sobre as
vantagens do uso das plantas medicinais para a cura e prevenção de algumas doenças.
Dando prosseguimento ao evento,
o Coordenador do Instituto Camiliano da Pastoral da Saúde, Padre Anísio Baldessin, palestrou sobre “Os desafios da Pastoral da Saúde nas dimensões: solidária, comunitária e político-institucional”. Ele falou sobre
a importância de o Agente de Pastoral da Saúde atuar com competência,
solidariedade e sensibilidade.
O Boletim ICAPS é uma publicação do
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde
e Bioética – Província Camiliana Brasileira.
Presidente: José Maria dos Santos
Conselheiros: Antônio Mendes Freitas,
Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin,
Niversindo Antônio Cherubin
Diretor-Responsável: Anísio Baldessin
Secretária: Claúdia Santana
Encerrando o Congresso, o representante da CNBB, Doutor André Luiz
de Oliveira, Coordenador Nacional da
Pastoral da Saúde, demonstrou o trabalho que está sendo desenvolvido na
Pastoral da Saúde em âmbito nacional e internacional e exortou os Agentes de Pastoral da Saúde para um serviço de atuação junto aos Conselhos
Municipais, Estaduais e Nacional.
Segundo o Provincial dos Camilianos no Brasil, Padre José Maria dos
Santos, a São Camilo apóia eventos
que trazem uma formação humana,
religiosa e psicológica para todos os
profissionais da área de saúde. Para
ele, a participação da São Camilo nesse Congresso, em especial na cidade
de Cachoeiro, tem uma grande importância, pois nesse local encontra-se
sediado um Centro Universitário que
procura somar e articular com a sociedade local o bem comum de toda a
sociedade onde esteja presente a São
Camilo.
DVD DO XXVI CONGRESSO DE PASTORAL DA SAÚDE
Informamos que já está à disposição o DVD contendo todas as palestra do XXVI Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde de 2006. Os interessados poderão adquirir o jogo completo
por R$ 80,00 ou somente a palestra que lhes interessar pelo valor de R$ 15,00.
Os temas são os seguintes: “Fraternidade e pessoas com deficiências: ganhos e desafios”, Pe. Léo
Pessini; “Doença e deficiência mental: Aspectos médicos”, Dr. Sérgio Rigonatti; “A contribuição
dos centros de reabilitação”, Dr. Paulo Potiguara; “Atividades com pessoas portadoras de deficiências”, Renata Meca e Miriam Delboni; “Testemunhos de pessoas com deficiências”, Geraldo Fonseca; “Atenção humanizada ao deficiente e doente mental — Aspectos médicos, psicológicos e pastorais”, Equipe das irmãs de São João de Deus; “Pastoral da Saúde da CNBB: 20
anos de caminhada”, Dr. André Luiz de Oliveira; “A evangelização no mundo da saúde”, Pe.
Anísio Baldessin; “Orientações práticas e legais nas terapias alternativas”, Dr. Chin An Lim;
“Agente de Pastoral de Saúde e o exercício na cidadania”, Lirce Lamounier; “A terapia da escuta
na Pastoral da Saúde, Celeste Gobbi; “Sacramento ou sacramentalismo na Pastoral da Saúde”,
Pe. Júlio Serefim Munaro.
Os interessados poderão fazer seus pedidos na secretaria do ICAPS, pelo telefone (11) 3862-7286,
ramal 3, falar com Claúdia. Pode ser feito também pela Internet [email protected]
Revisoras: Rita Lopes e Sandra G. C.
Redação: Rua Barão do Bananal, 1.125
Tel. (11) 3862-7286 ramal 3
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Periodicidade: Mensal
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Edições Loyola
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Tiragem: 3.500 exemplares
Assinatura: O valor de R$13,00 garante o
recebimento, pelo Correio, de 11 (onze) edições
(janeiro a dezembro). O pagamento deve ser
feito mediante depósito bancário em nome de
Província Camiliana Brasileira, no Banco
Bradesco, agência 0422-7, conta corrente
89407-9.
A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é
livre, solicitando-se que seja citada a fonte.
Pede-se o envio de publicações que façam a
transcrição.
Ano XXIV – no 247 – novembro de 2006 – BOLETIM ICAPS
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“TODOS OS REMÉDIOS
TÊM PREÇOS SUPERFATURADOS”
ANTÔNIO BARBOSA
O
s remédios estão mais caros
desde fins de março. O farmacêutico Antonio Barbosa, presidente do Conselho Regional de Farmácia (CRF) do Distrito Federal e coordenador do Instituto de Defesa dos
Usuários de Medicamentos (Idum),
fala nesta entrevista da ilegalidade
do novo aumento e mostra que na
verdade há motivo para redução dos
preços, e não para reajuste, e denuncia: “Não existe, hoje, nenhum medicamento no Brasil que tenha margem de lucro inferior a 500%”, afirma. “Todos os medicamentos têm
preços superfaturados.”
O novo reajuste autorizado pelo
governo, de até 5,51%, atinge 20 mil
remédios. O Idum registrou representação no Ministério Público Federal.
QUAL O ARGUMENTO
PARA O REAJUSTE?
A fórmula usada pela Câmara de
Medicamentos para justificar os aumentos não é legal. Não existe planilha. O governo já deu, no ano passado, incentivos fiscais aos laboratórios, e com isso foi anunciada uma
redução nos preços em torno de 10%.
Eles se beneficiaram e não baixaram
os preços. Em 2003, o dólar estava
em R$ 3,80, esse foi um dos argumentos dos laboratórios para quebrarem a norma que congelava o
preço e conseguir aumento substancial. Hoje, o dólar está em R$ 2,15 e
esse argumento não vale mais.
QUAL A MARGEM DE LUCRO
DOS LABORATÓRIOS?
Não existe, hoje, nenhum medicamento no Brasil que, por mais
barato que seja, tenha margem de
lucro inferior a 500%. O que referencia o preço no mercado são as patentes. Perdem a patente e mantêm o
preço: Interferom Peguilado, por
exemplo, para tratamento da hepatite C, tem custo de produção de R$ 4,
já com impostos, mas é vendido a R$
1 mil a ampola. O argumento do
laboratório é que investiu em pesquisa e precisa tirar os custos. Só que
no terceiro ano, em média, o laboratório já tira esse custo. Não há motivo
para o reajuste, pelo contrário, há
motivo para redução. De 1995 a 2005,
o aumento acumulado foi de 954%,
enquanto a inflação foi de 170% e o
do salário mínimo, 250%. Exemplos:
em novembro de 1995 o Naprix
(Libbis) custava R$ 5,22, e em dezembro de 2005, R$ 55,06, variação de
954,79%; AAS (SanofiSynthelado),
582%, Beserol (SanofiSynthelado),
783,17%; Aspirina (Bayer), 374,77%;
Gardenal (Aventis), 359,75%.
OS PREÇOS ESTÃO LIBERADOS
Há mais de dois anos os medicamentos de venda livre, que representam mais de 25% do mercado, estão
com os preços liberados, que subiram três vezes acima da inflação do
período. O mesmo com os fitoterápicos. Permitir reajuste neste momento é ato irresponsável e desumano.
Hoje, 65% dos pacientes do SUS não
têm acesso a medicamentos; 30%
das internações ocorrem porque os
pacientes retornam ao hospital em
estado mais grave: não tinha acesso
aos remédios indicados.
O QUE O CONSUMIDOR
DEVE FAZER?
É preciso que todas as farmácias
tenham listas comparativas, é uma
recomendação da OMS. Todos os
produtos com nome fantasia que tenham a mesma fórmula farmacêutica precisam ter o preço exposto, para
comparação. E essas listas também
devem ser expostas em hospitais,
centros de saúde, consultórios. Hoje,
90% dos medicamentos não têm patentes. Para cada remédio produzido há, em média, sete iguais. Mas
não há como identificar. Para se defender o paciente pode pedir três
marcas diferentes ou o genérico.
E QUANTO AOS
GENÉRICOS?
É preciso ficar atento. Genéricos
iguais são produzidos também por
laboratórios diferentes com preços
diferentes, alguns com o dobro do
preço. A diferença média atinge 30%.
Os genéricos estão supercaros. Os laboratórios dão descontos perenes às
farmácias há mais de dois anos, em
média de 40%, para todos os genéricos, não-repassados ao consumidor.
É preciso uma movimentação da justiça, da defesa do consumidor para
que a lei seja cumprida.
MAS O SUS TEM
A FARMÁCIA BÁSICA…
Não há um acompanhamento
desse programa. Eles atrasam o fornecimento dos remédios e prejudicam o tratamento. De 60% a 65% das
pessoas não têm acesso.
E A FARMÁCIA POPULAR?
Não deixa de ser uma medida positiva, mas não resolve, ainda apresenta apenas 0,01% do consumo de
medicamentos. E medidas como o
fracionamento se tornam inócuas,
pois são claramente boicotadas pelos laboratórios.
QUAL SERIA A SOLUÇÃO?
É preciso uma política de medicamentos melhor, como o modelo da extinta Central de Medicamentos, que
já tinha um programa de farmácia
popular. Ela recebia das secretarias
todo o planejamento do consumo dos
medicamentos e fazia uma grande
licitação. Os medicamentos eram redistribuídos gratuitamente aos estados em embalagens da própria Ceme, com monitoramento de qualidade, do qual participavam universidades e instituições oficiais.
Sobre o autor
(no início do texto fala quem ele é. Basta assim?)
Ano XXIV – no 247 – novembro de 2006 – BOLETIM ICAPS
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DIGNIDADE HUMANA: META
AUGUSTO
não deixam de afirmar sua presença. Trata-se de um
lugar teológico, onde temos a oportunidade de ajudar
as pessoas a encontrar o sentido para sua vida. Para
isso, exige-se uma preparação adequada em relação a
certas ciências humanas relacionadas com o mundo da
saúde. Por exemplo, psicologia do doente, sociologia da
saúde, teologia da Pastoral da Saúde, entre outras.
O cansaço, no final do dia, é compreensível em todas as pessoas que trabalham num hospital, por causa da sobrecarga anímica a que estão constantemente
sujeitas. Por experiência, tenho consciência da necessidade de um suplemento de forças que ia beber num
contato quase puerilcom o Sacrário.
© J. Foxx
PRESENÇA DO CAPELÃO
JUNTO DO DOENTE
P
ara trabalhar, com espírito apostólico, no mundo
da saúde é preciso ter uma vocação especial. Em
que pesem os 37 anos (25 por encargo oficial e os restantes por opção voluntária) de doação e entrega na assistência aos doentes, familiares e profissionais, continuo ainda a pensar que esse espírito apostólico é difícil; e, em algumas situações, assalta-me a perplexidade se terei agido de modo conveniente.
De fato, o trabalho num hospital é bastante diferente do que é efetuado numa outra comunidade qualquer,
em virtude das características específicas que reveste
esta espécie de paróquia sem território que é a comunidade hospitalar. Numa paróquia normal, os que passam por ali são sempre os mesmos e possuem a fé, pelo
menos sociológica. Por um hospital passam pessoas
muito diversas em termos de educação, cultura cívica
e religiosa, mas que, mesmo num ambiente impessoal,
É quase sempre imprevisível a abordagem do outro, a relação em diálogo entre eu e o tu, o faceaface; e
existe sempre o perigo de o “tu” se tornar objeto. No
primeiro encontro com o outro, há que ter muito cuidado, porque se trata de um ser desconhecido; há que
mostrar abertura afável, a fim de suscitar a empatia
dele sobre o que vamos dizer e o modo como vamos
agir. Nesse caso, a vontade de fazer muitas perguntas
e de fornecer um certo tipo de respostas já prontas pode
cortar o diálogo e, conseqüentemente, impedir o despontar da simpatia.
Para que um diálogo seja de ajuda, deve, antes de
tudo, facilitar a compreensão. Ou seja, mais do que
explicações teóricas, o Capelão deve comunicar ao doente, à sua família, que está disposto a compreender o
seu mundo interior. Deve compreender o outro não só
racionalmente, mas com o coração. A idéia-mestra da
vida é a dignidade da pessoa humana, simbolizada no
rosto de cada um e na liberdade criadora. Por isso, a
ação deve pautar-se pela delicadeza de “andar” no interior do outro com a sensação de que estamos dentro do
nosso próprio eu.
A dificuldade que o Capelão tem, ao abordar os utentes que dão entrada no hospital em situações críticas,
é evidente no seu apostolado. A preocupação exagerada em falar de religião pode, até, bloquear o diálogo;
sobretudo, se nos apresentarmos como donos da verdade e da salvação. Se não formos capazes de sentir,
de ouvir e acreditar que o outro também tem algo a
nos ensinar, dificilmente conseguiremos estabelecer
uma relação empática. E, nos momentos difíceis, ele
precisa muito mais da nossa empatia do que da nossa
teologia.
Ano XXIV – no 247 – novembro de 2006 – BOLETIM ICAPS
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TA ÚLTIMA DE UM CAPELÃO
VILA-CHÃ
Nesse sentido, tenho uma devoção singular ao “Sacramento da Presença”, sem deixar de ter em conta as
outras dimensões sacramentais. Por isso, defendo que
devemos ter uma pastoral de presença, de disponibilidade constante.
Nos Estados Unidos, cada Capelão tem 100 camas.
No Canadá tem 120. Na Espanha tem 150. No caso do
hospital de Braga, dois Capelães têm cerca de 600 camas sob a sua alçada, isto é, 300 cada um, o que dificulta um bom atendimento.
Não nos consideramos onipotentes e onipresentes
para poder atender os pedidos que constantemente nos
reclamam os familiares e até alguns amigos. Por vezes, há exigências que são incompatíveis com a nossa
presença libertadora.
NÃO CEDER AO
SACRAMENTALISMO
Em certas pessoas impera ainda, e fortemente, um
tipo de sacramentalismo que nos é exigido apenas à
última hora. Mas os sacramentos têm de ser celebrados com o mínimo de dignidade e em clima de festa.
Deve evitar-se o rito litúrgico que não exprima um ato
de fé pessoal. Mais importante ainda: na celebração
dos sacramentos (Penitência, Comunhão, Unção dos
enfermos) deve-se evitar toda a aparência de magia e
de superstição.
Por princípio, tentei passar
todos os dias junto dos doentes,
fazendo uma espécie de sondagem àqueles que, na primeira
abordagem, deram mostras de
querer algo mais. Depois, voltava uma segunda vez, sem pressa e com pausa, para poder dialogar com certas pessoas que
têm necessidade de falar com
mais profundidade, ouvindo-as
com atenção e respeito.
A Pastoral adotada no hospital deve situar-se na linha de
uma medicina preventiva espiritual, e não de um “pronto-socorro” espiritual. A dimensão espiritual ajuda muito a recuperar
plenamente o doente. Por vezes,
as complicações nascem das famílias dos doentes, porque têm
enraizada a idéia de que o capelão só deve aparecer nos momen-
tos finais da vida, e a sua presença é, muitas vezes,
vista como uma fatal profecia.
É, certamente, desejável estar presente nesse momento. Por isso, é importante adotar uma medicina
espiritual preventiva e não curativa logo que o doente
entra no hospital. Da parte do Capelão, é necessário
muito tato, quando nos aproximamos dos doentes e de
seus familiares, que se encontram em situações frágeis. Há que ter em conta também as fragilidades do
Agente da Pastoral.
Finalmente, a lição que se deve retirar é a de que o
capelão não impõe nada a ninguém. Propõe a salvação
em Jesus Cristo, obedecendo ao seu preceito: “Ide,
anunciai a Boa Nova a todas as gentes”.
Se um doente não é católico e manifesta o desejo de
ser assistido religiosamente, existe o dever de chamar
o ministro da sua religião. Se o enfermo se confessa
ateu, é dever dos crentes que lidam com ele mostrar,
com o seu exemplo de bondade, que a religião não é
uma coisa alienante, mas algo de muito concreto com
implicações muito sérias na vida.
Acresce ainda que a própria situação de doente facilita e suscita o pensamento sobre a brevidade da vida
e a fragilidade de tudo quanto nos conduz ao Absoluto:
DEUS.
Augusto Vila-Chã, sj. Alguma referência deste autor???????
Ano XXIV – no 247 – novembro de 2006 – BOLETIM ICAPS
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UM SENTIDO PARA VIVER O FIM
ÂNGELO BRUSCO
A
pergunta sobre o sentido da
vida acompanha a pessoa humana ao longo de toda sua existência. Segundo Victor Frankl [psiquiatra austríaco], da resposta a essa interrogação depende a saúde psíquica e espiritual do indivíduo. Dar um
sentido à vida que se extingue significa garantir à pessoa a possibilidade de fazer da última etapa de sua
existência uma ocasião de crescimento humano e espiritual.
ESCOLHAS DIFERENCIADAS
Nem todos crêem nessa possibilidade; muitos a julgam um empreendimento difícil, mas não faltam os
que sabem realizá-la.
Três diferentes situações permitem ilustrar essas modalidades de
confronto com a vida que se extingue. A primeira é constituída por alguns dramáticos e macabros episódios que aparecem na crônica, como
o que aconteceu recentemente num
hospital de Viena, onde algumas enfermeiras tiraram a vida de vários
idosos. os
Ao comentar esses fatos, um jornalista relacionou-os a uma certa
cultura do nosso tempo. “Toda a cultura irrefletida e hipócrita comunica todos os dias nas telas da TV que,
depois de uma certa idade, a vida
não tem mais valor, e que os velhos
e os doentes são um peso.”
A mesma mentalidade não aparece por acaso, de forma mais mórbida, na crescente busca da eutanásia, que pode ser interpretada como
uma resposta ao não sentido da dor
e da vida que se extingue?
A segunda situação está contida nestes fragmentos de um diálogo entre uma enfermeira e uma senhora idosa que vive numa casa de
repouso. As duas senhoras já se encontraram diversas vezes, e a enfermeira se dá conta de quanto a anciã está aflita por causa da perda
lenta e progressiva da visão. Em
dado momento, o diálogo toma este
rumo:
E — Então, Elisa, está melhor?
A — Bem… não me iludo. Sei que
não chegarei a suportar o que está
me acontecendo. A alegria de antes
já não posso esperar. E depois… a visão… isto de não enxergar…
E — Sim, imagino que deve ser duro
perder a visão pouco a pouco…
A — Sim, porque quando você perde
outras coisas não lhe parece tão grave… Mas isto, creio que não poderei
superar.
E — Elisa, parece-me que, mais que
perder a visão com o passar dos anos,
preocupava-a a incapacidade de enfrentar tal fato. Gostaria de ser capaz
de enfrentar esta situação e de poder
vivê-la com confiança?
A — Sim. Mas não sei como posso
superar…
E — E como vive tudo isso, Elisa?
A — Com resignação. Que posso fazer? Não posso fazer outra coisa. E é
tão insuportável.
E — (Silêncio) É muito grande a solidão que está vivendo.
A — Ah, sim. Lembre-se de mim nas
suas orações.
E — Pode ficar tranqüila. Eu, sem dúvida, o farei.
A — Reze, reze…Porque assim é muito difícil viver. E depois… Não é como
na casa da gente. Aqui você deve fazer
o que te mandam. E como somos tantas… É como se estivesse sozinha…
E — A solidão é um outro peso, Elisa…
A — E depois, quando você piora, a
enviam para lá (indica a residência dos
dependentes). Aquilo é que é triste. Lá
você morre só ao ver os outros…
E — Você não gostaria de ter de passar para o pavilhão dos dependentes?
A — Não, não! Prefiro morrer. Se não
fosse pelo fato de ser católica…
E — Sinto que, não obstante o que
você está vivendo, a sua fé a ajuda…
Os poucos lances do diálogo indicam um princípio da deterioração
do sentido da vida, devido à perda
progressiva das forças, à diminuição da capacidade física e psíquica
e à solidão. Em tais situações, também a fé pode ser ameaçada em sua
integridade.
A terceira situação, finalmente,
é indicada por uma luminosa prece de Teilhard de Chardin [padre
jesuíta]:
“Quando em meu corpo (e mais
ainda em meu espírito) os sinais
da idade começarem a deixar
suas marcas, quando se abater
sobre mim o mal que diminui ou
carrega consigo, no minuto doloroso no qual tiver consciência,
subitamente, de que estou doente ou que estou velho, sobretudo
neste último momento, quando
sentir que estou fugindo de mim
mesmo, absolutamente passivo
nas mãos das grandes forças desconhecidas que me formaram,
em todas essas horas agitadas,
faz-me compreender, ó Senhor,
que és tu (desde que minha fé seja suficientemente grande) que
afastas dolorosamente as fibras
do meu ser para penetrar até o
cerne da minha essência, e levame contigo”.
Nessas admiráveis palavras podemos identificar a atitude ideal do
homem em face da vida que se extingue.
A fé cristã conduz para a realização desse ideal. Para o que crê, de
fato, a morte é o “dia do nascimento”, o dia do nascimento para uma
nova vida, na qual a vida presente
encontra a sua plenitude.
“A vida não é tirada, mas transformada”, canta-se num dos prefácios da Missa de Finados.
O COMPROMISSO DA COMUNIDADE
Como a comunidade cristã pode
ajudar as pessoas a encontrar o sentido da vida que se extingue? Parece-me que são dois os caminhos a
percorrer.
Ano XXIV – no 247 – novembro de 2006 – BOLETIM ICAPS
Uma cultura atenta ao morrer —
É necessário criar uma nova cultura, na qual a atitude em face da morte se contraponha àquela que domina a sociedade contemporânea, em
que a morte é considerada problema. Segundo o filósofo G. Marcel, o
“problema é algo que está diante de
mim em seu conjunto; está separado de mim. É como um obstáculo que
interdita o meu caminho”.
Quem considera a morte um problema tem a tendência de suprimila da própria experiência, de afastála. A morte, único acontecimento
previsível com certeza no futuro de
qualquer um, é tenazmente ignorada pela atual sociedade de futurólogos, de planejadores, de programadores e de organizadores do futuro. Obsessão constante, a morte permanece um tabu. A subtração das
crianças à experiência do negativo
(sofrimento, frustração, morte dos
familiares…) indica a enorme influência do processo de socialização
na criação de mecanismos de defesa no confronto com a morte.
A rejeição da morte repercute na
atitude para com o morrer e para com
o paciente terminal. A pessoa, hoje
em dia, está menos exposta ao espetáculo humano do morrer, que no
passado fazia parte da experiência
comum. Hoje, paradoxalmente, a televisão e os meios de comunicação social levam, antes, para dentro de casa, a face violenta e traumatizante
da morte. A maioria das pessoas morre em situações de saúde, que regulam com minuciosas prescrições as
fases do processo, visando isolar quer
o acontecimento, quer o cadáver.
O período que precede a morte é
desassocializado, como se a sociedade, afetada pela supressão da morte, se encontrasse impotente para
assumir a responsabilidade pelos
últimos instantes daqueles que morrem. Contrariamente ao que acontecia na sociedade tradicional, o paciente terminal é abandonado ao peso da solidão.
Promover uma nova cultura em
face da morte significa levar as pessoas a considerarem esse acontecimento um “mistério”.
Sempre seguindo a terminologia
de Marcel, mistério é “algo que não
está diante de mim em seu conjun-
to; faz parte de mim, nele estou implicado”. Assim compreendida, a
morte é encarada como parte da minha própria experiência, não para
ser suprida, mas antes, para ser integrada criativamente.
Os lugares para se promover essa nova cultura são aqueles em que
se dá a socialização primária e secundária, o processo pelo qual a cultura é interiorizada pelo indivíduo:
a família, a escola, a paróquia, as
instituições de saúde e os meios de
comunicação social.
É necessário propor uma educação que não se limite a refletir a sociedade, mas que vise também melhorá-la por meio da proposta de valores que ajudem a definir o sentido do viver e do morrer em termos
respeitosos da dignidade da pessoa
humana.
A ASSISTÊNCIA AOS
PACIENTES TERMINAIS
Chama a atenção o testemunho
de dois médicos, responsáveis pela
unidade de terapia do sofrimento e
do atendimento paliativo do hospital V. Buzzi, de Milão: “Podemos
afirmar que em nossa experiência
com aproximadamente 200 doentes
cancerosos, acompanhados por um
espaço que variou de uma semana
a um ano ou pouco mais, não registramos nem suicídios, nem pedidos
de eutanásia, não registramos sequer tentativas de suicídio, nem paciente algum nos pediu para ajudálo a morrer, para abreviar o período da doença”.
E acrescentam: “Observamos,
além disso, que essas pessoas por
nós acompanhadas tiveram uma
vontade grande de viver, não obstante o agravamento contínuo de
seu estado de saúde”.
Assim concluem seu depoimento
os dois médicos do hospital milanês:
“Temos consciência de haver desempenhado, também do ponto de vista
humano, o nosso papel de médicos,
sabendo que a assistência do tipo
global que oferecemos aos pacientes
e às famílias contribui para ajudálos a aceitar viver a experiência da
doença grave e da morte em vez de
rejeitá-la, e de ter ajudado antes os
sofrimentos e sentimentos de culpa”.
7
Desses eloqüentes depoimentos,
conclui-se que a qualidade da assistência prestada aos pacientes terminais desempenha um papel determinante para dar ou minar o
sentimento da vida que se extingue.
É nesse campo, acima de tudo, que
se coloca o êxito da batalha contra
a eutanásia.
RESPONSABILIDADE
DA COMUNIDADE
As instituições católicas de saúde devem dar prioridade, nas suas
escolhas, aos doentes em fase terminal, garantindo-lhes um atendimento especializado.
As comunidades paroquiais são
chamadas a assumir o encargo da
assistência aos irmãos que sofrem
e morrem, desenvolvendo iniciativas de solidariedade, grupos de visitadores voluntários em domicílio e
nas instituições de internamento.
Aos Agentes da Pastoral compete atualização do estilo de acompanhamento e de animação espiritual
mediante encontros humanos mais
profundos e celebrações litúrgicas
que tornem mais significativa a força salvadora de Cristo.
Os agentes de saúde católicos
são chamados a inserir os valores
cristãos no exercício da profissão,
dando uma contribuição específica
ao debate ético em relação à vida
que se extingue (terapia intensiva,
eutanásia, experimentação, verdade para o doente…).
Na elaboração dos próprios planos e estratégias, a comunidade
cristã é chamada a entrar em diálogo e colaboração com todas as forças que atuam no campo da assistência aos pacientes terminais, forças que, embora não partilhem da
mesma perspectiva religiosa, estão
animadas por uma visão positiva da
pessoa humana e de sua vida até o
último instante.
Essa é a solução contida na mensagem de amor que Cristo deixou
aos homens e que cada cristão é chamado a traduzir por meio de uma
aproximação que se torne, para o
paciente terminal, fonte de sentido
e sinal de esperança.
Ângelo Brusco é Sacerdote Camiliano, italiano e atua
como educador na área de relação pastoral de ajuda.
Ano XXIV – no 247 – novembro de 2006 – BOLETIM ICAPS
8
OBESIDADE: UM PESO NA CONSCIÊNCIA?
ANETE HANNUD ADDO
A
té recentemente, a obesidade era
considerada o simples resultado
da ingestão excessiva de calorias associada ao sedentarismo. O obeso era
considerado uma pessoa “sem força
de vontade”, recaindo sobre ele a culpa pelo seu estado.
Estudos têm demonstrado que a
herança genética pode ser muito importante na gênese da obesidade.
Stunkard [psiquiatra americano] verificou que o grau de obesidade de
crianças adotadas assemelhava-se
mais com o de seus pais biológicos do
que com seus pais adotivos.
Os mesmos autores, em outro estudo, analisaram pares de gêmeos
idênticos e identificaram um padrão
de peso muito semelhante entre eles
(discordância de 3% a 4%), mesmo entre os que não foram criados juntos.
Alguns pesquisadores chegam a
afirmar que até 70% da responsabilidade pela obesidade é da hereditariedade. Os números são provavelmente exagerados, pois, apesar do
aumento da obesidade, não se registraram mudanças genéticas significativas no mundo.
Vários estudos comprovam a influência do meio ambiente como o início da obesidade. Por exemplo, um estudo de Lerario e outros pesquisado-
res mostra que os japoneses que moram no Japão aumentam de peso
quando migram para outros países,
pois modificam sua alimentação e tornam-se mais sedentários. O mesmo
acontece com índios que saem de suas
tribos para as cidades, como mostra
a pesquisa de Ravussin.
Fatores emocionais também estão
envolvidos, como causa e conseqüência do aumento de peso. Para seu tratamento deve-se ter em conta a psicodinâmica da obesidade.
Pode-se concluir que a obesidade
resulta de uma complexa integração
entre a genética e fatores ambientais
e psicológicos, que muitas vezes estão além do controle do indivíduo.
Conforme a filosofia de trabalho de
Projeto de Atendimento ao Obeso —
PRATO — do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas de São Paulo, coordenado por Arthur Kaufman,
é necessária uma abordagem multiprofissional no tratamento da obesidade, com ênfase em mudanças de estilo de vida, de mente e corpo, focando
sempre o indivíduo e nunca a doença.
A fim de ampliar o alcance do
PRATO, foram criadas as reuniões
psicoeducacionais para obesos e familiares, que acontecem mensalmente,
são gratuitas e abertas à população
em geral. Nos encontros acontecem
palestras psicoeducativas informais
e interativas, ministradas por profissionais das diversas áreas que fazem
parte da equipe do PRATO.
A cada mês, um tema relacionado
à obesidade é abordado, com o objetivo de informar sobre o problema,
apontar tratamentos disponíveis, esclarecer dúvidas e desmistificar falsas crenças.
O grande número de pessoas que
procuram as reuniões mostra a carência da população por informações. São
muito ricas as oportunidades de troca de experiência entre os pacientes
e os profissionais de saúde.
A decisão do obeso de mudar seu
estilo de vida pode ser influenciada
pelo modo com que os profissionais o
abordam. Eles devem compreender a
complexidade dos fatores envolvidos,
sensibilizar-se com a luta constante
do paciente, tratá-lo numa linguagem
acessível e auxiliá-lo com atitudes positivas, de aceitação e suporte, sem
preconceitos.
Anete Hannud Addo, doutora em endocrinologia
pela FMUSP, médica assistente do projeto de
atendimento ao obeso — PRATO — do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde
Tel. (11) 3862-7286 ramal 3
e-mail: [email protected]
Rua Barão do Bananal, 1.125
05024-000 São Paulo, SP
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