Para rezar junto do presépio, como uma personagem mais

Transcrição

Para rezar junto do presépio, como uma personagem mais
Para rezar junto do presépio,
como uma personagem mais
Eu aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como
um personagem mais. Primeiro, imaginas a cena ou o mistério, que te servirá para te
recolheres e meditares. Depois, aplicas o entendimento, para considerar aquele rasgo
da vida do Mestre: o seu Coração enternecido, a sua humildade, a sua pureza, o seu
cumprimento da Vontade do Pai. Conta-lhe então o que te costuma suceder nestes
assuntos, o que se passa contigo, o que te está a acontecer. Mantém-te atento, porque
talvez Ele queira indicar-te alguma coisa: surgirão essas moções interiores, o caíres
em ti, as admoestações. Amigos de Deus, 253
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O Menino
3
Nossa Senhora
5
São José
7
Os pastores
9
Os anjos
10
A Estrela
11
Os Reis Magos
13
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2
O Menino
“E isto lhes servirá de sinal: encontrarão um menino recém-nascido envolto em paninhos e
deitado numa manjedoura”, foi este o anúncio do anjo aos pastores“
(Evangelho de S. Lucas, 2, 12)
Ao falar diante do presépio sempre procurei ver Cristo Nosso Senhor desta maneira,
envolto em paninhos sobre a palha da manjedoura, e, enquanto ainda menino e
não diz nada, vê-Lo já como doutor, como mestre. Preciso de considerá-Lo assim,
porque tenho de aprender d’Ele. E para aprender d’Ele é necessário conhecer a sua
vida: ler o Santo Evangelho, meditar no sentido divino do caminho terreno de Jesus.
Na verdade, temos de reproduzir na nossa, a vida de Cristo, conhecendo Cristo à força de
ler a Sagrada Escritura e de a meditar, à força de fazer oração, como agora estamos fazendo
diante do presépio. É preciso entender as lições que nos dá Jesus já desde menino, desde
recém-nascido, desde que os seus olhos se abriram para esta bendita terra dos homens.
Cristo que passa, 14
Natal. Escreves-me: “Unindo-me à santa espera de Maria e de José, também eu espero,
com impaciência, o Menino. Que contente hei-de ficar em Belém! Pressinto que vou
rebentar numa alegria sem limites. Ah! e, com Ele, também eu quero nascer de novo...”.
Oxalá se torne verdade esse teu querer! Sulco, 62
Quando chega o Natal, gosto de contemplar as imagens do Menino Jesus. Essas figuras
que nos mostram o Senhor tão apoucado, recordam-me que Deus nos chama, que o
Omnipotente Se quis apresentar desvalido, quis necessitar dos homens. Do berço de
Belém, Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós; reclama de nós uma vida
cristã sem hesitações, uma vida de entrega, de trabalho, de alegria. Cristo que passa, 18
Grandeza de um Menino que é Deus! O Seu Pai é o Deus que fez os Céus e a Terra, e Ele
ali está, num presépio, quia non erat eis locus in diversorio, porque não havia outro sítio
na Terra para o dono de toda a Criação! Cristo que passa, 18
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3
Jesus nasceu numa gruta em Belém, diz a Escritura, “porque não havia lugar para eles
na estalagem”.
Não me afasto da verdade teológica, se te disser que Jesus ainda está à procura de
pousada no teu coração. Forja, 274
Vai até Belém, aproxima-te do Menino, baila com Ele, diz-lhe muitas coisas vibrantes,
aperta-o contra o coração...
Não estou a falar de infantilidades: falo de amor! E o amor manifesta-se com factos: na
intimidade da tua alma, bem o podes abraçar! Forja, 345
Agora, diante de Jesus Menino, podemos continuar o nosso exame pessoal: estamos
decididos a procurar que a nossa vida sirva de modelo e de ensinamento aos nossos
irmãos, aos nossos iguais, os homens? Estamos decididos a ser outros Cristos? Não basta
dizê-lo com a boca. Tu - pergunto-o a cada um de vós e pergunto-o a mim mesmo - tu,
que por seres cristão estás chamado a ser outro Cristo, mereces que se repita de ti que
vieste facere et docere, fazer tudo como um filho de Deus, atento à vontade de seu Pai,
para que deste modo possas levar todas as almas a participar das coisas boas, nobres,
divinas e humanas, da Redenção? Estás a viver a vida de Cristo na tua vida de cada dia
no meio do mundo? Cristo que passa, 21
Ao entrarem na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, pondo-se de joelhos,
adoraram-no. Ajoelhemo-nos nós também diante de Jesus, do Deus escondido na
humanidade; repitamos-lhe que não queremos voltar as costas ao seu chamamento divino,
que nunca nos afastaremos dele; que arredaremos do nosso caminho tudo o que for um
estorvo para a fidelidade; que desejamos sinceramente ser dóceis às suas inspirações. Tu,
interiormente, e eu também - porque estou a fazer uma oração íntima, com um profundo
clamor silencioso - dizemos agora ao Menino que ansiamos por ser tão cumpridores como
os servos da parábola, para que também nos possa responder a nós: alegra-te servo bom
o fiel. Cristo que passa, 35
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4
Nossa Senhora
“Vede, a Virgem conceberá e dará à luz um filho a quem porá o nome de Emanuel que quer dizer
Deus connosco” (Evangelho de S. Mateus 1, 23)
Estamos no Natal. Acodem-nos à memória os diversos factos e circunstâncias que rodearam
o nascimento do Filho de Deus e o olhar detém-se na gruta de Belém, no lar de Nazaré.
Maria, José, Jesus Menino ocupam de modo muito especial o centro do nosso coração. Que
diz, que nos ensina a vida, simples e admirável ao mesmo tempo, dessa Sagrada Família?
Ao pensar nos lares cristãos, gosto de imaginá-los luminosos e alegres, como foi o da
Sagrada Família. A mensagem de Natal ressoa com toda a força: Glória a Deus no mais
alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade. Que a Paz de Cristo triunfe nos
vossos corações, escreve o Apóstolo. Paz por nos sabermos amados pelo nosso Pai, Deus,
incorporados em Cristo, protegidos pela Virgem Santa Maria, amparados por S. José. Esta
é a grande luz que ilumina as nossas vidas e que, perante as dificuldades e misérias
pessoais, nos impele a seguir animosamente para diante. Cada lar cristão deveria ser
um remanso de serenidade, em que se notassem, por cima das pequenas contrariedades
diárias, um carinho e uma tranquilidade, profundos e sinceros, fruto de uma fé real e
vivida. Amigos de Deus, 284
Agradeçamos, pois, a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo e a Santa Maria - por
cuja intercessão chegam até nós todas as bênçãos do Céu - este dom, que, a par da fé,
é o maior que o Senhor pode conceder a uma criatura: a firme determinação de alcançar
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5
a plenitude da caridade, com a convicção de que também é necessária, e não apenas
possível, a santidade no meio dos afazeres profissionais, sociais... Cristo que passa, 32
Termino repetindo umas palavras do Evangelho de hoje: ao entrarem em casa, viram o
Menino com Maria , sua Mãe. Nossa Senhora não se separa do seu Filho . Os Reis Magos
não são recebidos por um rei sentado no trono, mas por um Menino nos braços da Mãe.
Peçamos, pois, à Mãe de Deus, que é nossa Mãe, que nos prepare o caminho que conduz à
plenitude do amor: Cor Mariæ dulcissimum, iter para tutum! O seu suave coração conhece
o caminho mais seguro para encontrarmos Cristo. Cristo que passa, 38
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6
São José
“Ao despertar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu-a sua esposa”
(Evangelho de S. Mateus 1, 24)
Foi promulgado um édito de César Augusto, que manda recensear toda a gente. Para isso,
cada qual tem de ir à terra dos seus antepassados. - Como José é da casa e da família de
David, vai com a Virgem Maria, de Nazaré até à cidade chamada Belém, na Judeia (Lc II, 1-5).
E, em Belém, nasce o nosso Deus: Jesus Cristo! Não há lugar na pousada: num estábulo.
- E Sua Mãe envolve-O em paninhos e reclina-O no presépio (Lc 11, 7) . Frio. - Pobreza. Sou um escravozito de José. - Que bom é José! Trata-me como um pai a seu filho. - Até me
perdoa, se estreito o Menino entre os meus braços e fico, horas e horas, a dizer-Lhe coisas
doces e ardentes! Santo Rosário, comentário ao 3º mistério gozoso
José amou Jesus como um pai ama o seu filho, tratou-o dando-lhe tudo que de melhor
tinha. José, cuidando daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um
artesão: transmitiu-lhe o seu ofício. Por isso, os vizinhos de Nazaré falavam de Jesus
chamando-lhe indistintamente faber e fabri filius: artesão e filho do artesão. Jesus
trabalhou na oficina de José e junto de José. Como seria José, como teria actuado nele a
graça, para ser capaz de levar a cabo a tarefa de desenvolver no aspecto humano o Filho
de Deus? Cristo que passa, 55
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7
São José, Pai de Cristo, é também teu Pai e teu Senhor. - Recorre a Ele. Caminho, 559
E o nosso pensamento vai também para esse homem justo, Nosso Pai e Senhor, S. José,
que, como habitualmente, passa despercebido na cena da Epifania. Pressinto-o recolhido
em contemplação, protegendo com amor o Filho de Deus, que, ao fazer-se homem, foi
confiado à sua atenção paternal. Com a maravilhosa delicadeza de quem não vive para
si, o Santo Patriarca entrega-se com um espírito de sacrifício tão silencioso como eficaz.
Falámos hoje da vida de oração e do afã de apostolado. Queremos porventura melhor
mestre nesta matéria do que S. José? Se quereis que vos dê um conselho, dir-vos-ei - com
palavras que venho a repetir incansavelmente desde há muitos anos: Ite ad Joseph, recorrei
a S. José; ele vos mostrará caminhos concretos e meios humanos e divinos para chegar a
Jesus. E em breve ousareis, tal como ele, segurar nos braços, beijar, vestir e cuidar deste
Menino Deus que nasceu para nós. Em sinal de veneração, os Magos ofereceram a Jesus
ouro, incenso e mirra; José deu-lhe plenamente o coração jovem, cheio de amor. Cristo
que passa, 38
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8
Os pastores
“O anjo disse-lhes: Não temais. Olhai que venho anunciar-vos uma grande alegria, que será
também para todo o povo: Hoje nasceu, na cidade de David, o Salvador, que é o Cristo, Senhor”
(Evangelho de S. Lucas 2, 10-11)
Nosso Senhor dirige-se a todos os homens, para que venham ao seu encontro, para que
sejam santos. Não chama só os Reis Magos, que eram sábios e poderosos; antes disso
tinha enviado aos pastores de Belém, não simplesmente uma estrela, mas um dos seus
anjos. Mas tanto uns como outros - os pobres e os ricos, os sábios e os menos sábios - têm
de fomentar na sua alma a disposição de humildade que permite ouvir a voz de Deus.
Cristo que passa, 33
Mestra de fé! Bem-aventurada és tu, porque acreditaste! Assim a saúda Isabel, sua prima,
quando Nossa Senhora sobe à montanha para a visitar. Tinha sido maravilhoso aquele
acto de fé de Santa Maria: eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua
palavra. No nascimento de seu Filho contempla as grandezas de Deus na terra; há um
coro de Anjos e tanto os pastores como os poderosos da terra vêm adorar o Menino. Mas
depois a Sagrada Família tem de fugir para o Egipto, para escapar às intenções criminosas
de Herodes. Depois, o silêncio; trinta longos anos de vida simples, vulgar, como a de
qualquer lar, numa pequena povoação da Galileia. Amigos de Deus, 284
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9
Os anjos
“E logo apareceu junto do anjo uma multidão da milícia celeste que louvava a Deus dizendo:
Glória a Deus nas alturas e paz aos homens por Ele amados” (Evangelho de S. Lucas 2, 13-14)
Peço a Nosso Senhor que, durante a nossa permanência neste chão da terra, nunca nos
afastemos do caminhante divino. Para isso aumentemos também a nossa amizade com
os Santos Anjos da Guarda. Todos necessitamos de muita companhia: companhia do Céu
e da terra. Sejamos devotos dos Santos Anjos! A amizade é muito humana, mas também
é muito divina; tal como a nossa vida, que é divina e humana. Temos presente o que diz
Nosso Senhor? Já não vos chamo servos, mas amigos. Ensina-nos a ter confiança com os
amigos de Deus, que já moram no Céu e com as criaturas que convivem connosco, mesmo
com as que parecem afastadas de Nosso Senhor, para as atrair ao bom caminho.
Amigos de Deus, 315
A Terra e o Céu unem-se para entoar com os Anjos do Senhor: Sanctus, Sanctus, Sanctus...
Eu aplaudo e louvo com os anjos. Não me é difícil, porque sei que me encontro rodeado
por eles quando celebro a Santa Missa. Estão a adorar a Trindade. E sei também que, de
algum modo, intervém a Santíssima Virgem, pela íntima união que tem com a Santíssima
Trindade, porque é Mãe de Cristo, da sua Carne e do seu Sangue, Mãe de Jesus Cristo,
perfeito Deus e perfeito homem. Jesus Cristo, ao ser concebido nas entranhas de Maria
Santíssima sem intervenção de varão, mas unicamente pelo poder do Espírito Santo, tem
o mesmo sangue de sua Mãe. E é esse Sangue o que se oferece no sacrifício redentor, no
Calvário e na Santa Missa. Cristo que passa, 89
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10
A Estrela
“Ao verem a estrela encheram-se de uma imensa alegria” (Evangelho de S. Mateus 2, 10)
Se a vocação é o mais importante, se a luz da estrela vai à nossa frente, para nos orientar
no nosso caminho de amor de Deus, não é lógico ter dúvidas quando, uma vez ou outra,
a perdemos de vista. Quase sempre por nossa culpa, em certos momentos da nossa vida
interior, acontece-nos o que aconteceu na viagem dos Reis Magos: a estrela oculta-se. Já
conhecemos o esplendor divino da nossa vocação, estamos convencidos do seu carácter
definitivo, mas talvez o pó que levantamos ao caminhar – o pó das nossas misérias –
forme uma nuvem densa, que não deixa passar a luz.
Que havemos de fazer então? Seguir o exemplo daqueles homens santos: perguntar.
Herodes serviu-se da ciência para proceder de modo injusto; os Reis Magos utilizamna para fazer o bem. Mas nós, cristãos, não temos necessidade de perguntar a Herodes
ou aos sábios da Terra. Cristo deu à sua Igreja a segurança da doutrina, a corrente da
graça dos Sacramentos; e providenciou para que haja pessoas que nos orientem, que nos
conduzam, que nos recordem constantemente o caminho. Dispomos de um tesouro infinito
de ciência: a Palavra de Deus, guardada pela Igreja; a graça de Cristo que se administra
nos Sacramentos; o testemunho e o exemplo dos que vivem com retidão a nosso lado e
sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus. Cristo que passa, 34
Se a vossa consciência vos reprova por alguma falta - embora não vos pareça uma falta
grave – se tendes uma dúvida a esse respeito, recorrei ao sacramento da Penitência.
Ide ao sacerdote que vos atende, ao que sabe exigir de vós firmeza na fé, delicadeza de
alma, verdadeira fortaleza cristã. Na Igreja existe a mais completa liberdade para nos
confessarmos com qualquer sacerdote que possua as necessárias licenças eclesiásticas;
mas um cristão de vida limpa recorrerá – com liberdade! – àquele que reconhece como
bom pastor, que o pode ajudar a erguer a vista para voltar a ver no céu a estrela do
Senhor. Cristo que passa, 34
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11
Videntes autem stellam gavisi sunt gaudio magno valde, - diz o texto latino com admirável
reiteração: ao descobrir novamente a estrela, exultaram com grande alegria. E porquê
tanta alegria? Porque eles, que nunca duvidaram, recebem do Senhor a prova de que
a estrela não tinha desaparecido; deixaram de a ver sensivelmente mas tinham-na
conservado sempre na alma. Assim é a vocação cristã: se não se perde a fé, se se mantém
a esperança em Jesus Cristo que estará connosco até à consumação dos séculos, a estrela
reaparece. E, ao verificar uma vez mais a realidade da vocação, nasce em nós uma alegria
maior, que aumenta a nossa fé, a nossa esperança, o nosso amor.
Cristo que passa, 35
Os Reis Magos tiveram uma estrela; nós temos Maria, Stella Maris, Stella Orientis. No dia
de hoje, dizemos-lhe: Santa Maria, Estrela do mar, Estrela da manhã, ajuda os teus filhos.
Cristo que passa, 38
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12
Os Reis
Magos
“Depois de Jesus ter nascido em Belém de Judá em tempos do rei Herodes, uns Magos chegaram
a Jerusalém vindos do Oriente perguntando: Onde está o Rei dos Judeus que nasceu? Porque
nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Evangelho de S. Mateus 2, 1-2)
Não é fácil esta meta da identificação com Cristo. Mas também não é difícil, se vivemos
de acordo com os ensinamentos do Senhor, isto é, se recorrermos diariamente à sua
Palavra, se impregnarmos a nossa vida da realidade sacramental - a Eucaristia - que Ele
nos deixou como alimento, porque o caminho do cristão é andadeiro, como diz uma antiga
canção da minha terra. Tal como os Reis Magos, descobrimos uma estrela que é luz, rumo
certo no céu da nossa alma. Cristo que passa, 32
Considerai a delicadeza com que o Senhor nos dirige este convite. Exprime-se com palavras
humanas, como um apaixonado: Eu chamei-te pelo teu nome...Tu és meu. Deus - que é
a Beleza, a Sabedoria, a Grandeza - anuncia-nos que somos seus, que fomos escolhidos
como objecto do seu amor infinito. É precisa uma vida forte de fé para não desvirtuar esta
maravilha que a Providência depõe nas nossas mãos, uma fé como a dos Reis Magos, que
nos leva a ter a certeza de que nem o deserto, nem a tormenta, nem a tranquilidade do
oásis nos impedirão de chegar à meta do presépio eterno: a vida definitiva com Deus.
Cristo que passa, 32
Narra o Evangelista que os Magos, “videntes stellam”, ao verem de novo a estrela, se
encheram de uma grande alegria.
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13
– Alegram-se, filho, com esse gozo imenso, porque fizeram o que deviam; e alegram-se
porque têm a certeza de que chegarão até ao Rei, que nunca abandona aqueles que o
procuram. Forja, 239
Jesus, que na tua Igreja Santa perseverem todos no caminho, seguindo a sua vocação
cristã, como os Magos seguiram a estrela: desprezando os conselhos de Herodes..., que
não lhes faltarão. Forja, 366
Demos-lhe, portanto, ouro: o ouro fino do espírito de desprendimento do dinheiro e dos
bens materiais. Não esqueçamos que são coisas boas, que vêm de Deus. Mas o Senhor
dispôs que as utilizemos sem deixar que o coração fique preso a elas, pelo contrário,
tirando delas proveito para bem da humanidade. Cristo que passa, 35
Oferecemos incenso: o desejo - que elevamos até ao Senhor - de levar uma vida recta,
de que se desprenda o bonus odor Christi, o perfume de Cristo. Impregnar as nossas
palavras e acções desse bonus odor é semear compreensão e amizade. Que a nossa vida
acompanhe as vidas dos restantes homens, para que ninguém se encontre ou se sinta só.
A caridade há-de ser também carinho, calor humano. (…)
Com os filhos de Deus, temos de comportar-nos como filhos de Deus: o nosso amor há-de
ser abnegado, diário, tecido de mil e um pormenores de compreensão, de sacrifício calado,
de entrega silenciosa. Este é o bonus odor Christi que arrancava uma exclamação aos que
conviviam com os primeiros cristãos: Vede como se amam!.
Não estou a falar de um ideal distante. O cristão não é um Tartarin de Tarascon, empenhado
em caçar leões onde não pode encontrá-los: nos corredores da sua própria casa. Falo, sim, da
vida quotidiana e concreta: da santificação do trabalho, das relações familiares, da amizade.
Se não somos cristãos nestas coisas, onde podemos sê-lo? O perfume do incenso deve-se
ao carvão em brasa que queima sem ostentação uma grande quantidade de grãos. Também
o bonus odor Christi se manifesta entre os homens, não como a chama espectacular de
um incêndio passageiro, mas mediante a eficácia de todo um rescaldo de virtudes: justiça,
lealdade, fidelidade, compreensão, generosidade, alegria. Cristo que passa, 36
E, com os Reis Magos, oferecemos também mirra, isto é, o sacrifício, que não deve faltar
na vida cristã. A mirra traz à nossa lembrança a Paixão do Senhor: na cruz, dão-lhe a
beber mirra misturada com vinho, e com mirra ungiram o seu corpo para a sepultura.
Mas não penseis que meditar na necessidade de sacrifício e da mortificação significa
dar uma nota de tristeza a esta festa que comemoramos alegremente no dia de hoje.
Mortificação não é pessimismo nem espírito azedo. A mortificação nada vale sem a
caridade: por isso, havemos de procurar mortificações que, além de nos manterem livres
em relação às coisas da terra, não mortifiquem os que vivem à nossa volta. O cristão não
pode ser um verdugo nem um miserável; há-de ser um homem que sabe ama com obras,
que prova o seu amor na pedra de toque da dor. Cristo que passa, 37
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