UniFIAMFAAM Centro Universitário das Faculdades Integradas

Transcrição

UniFIAMFAAM Centro Universitário das Faculdades Integradas
UniFIAMFAAM
Centro Universitário das Faculdades
Integradas Alcântara Machado
REDAÇÃO E EXPRESSÃO ORAL I
Profa. Ana Tereza Pinto de Oliveira
JO 2º. SEMESTRE
Página
1
Fevereiro/2012
PLANO DE ENSINO: Redação e Expressão Oral I
Curso: Comunicação Social
Habilitação: Jornalismo
Disciplina: Redação e Expressão Oral I
Carga horária: 80 horas/aula
Período letivo: 1º. semestre de 2012
Ementa: Análise crítica de textos voltados ao jornalismo: reconhecimento das
informações explícitas e implícitas e o jogo da linguagem verbal (oral e escrita). Ênfase
na decodificação textual jornalística nas várias mídias e na produção textual
harmoniosa, coerente e gramaticalmente correta.
Objetivos:
Gerais: o aluno deverá ser capaz de:
• entender e valorizar a linguagem verbal, tanto na instância da produção
quanto na da recepção, como meio de organização do pensamento e
instrumento indispensável da comunicação humana;
• valorizar a leitura não apenas como atividade lúdica, mas sobretudo
como recurso de ampliação de vocabulário e de aquisição de
conhecimento.
Específicos: desenvolver no aluno as habilidades de:
• produzir textos orais e escritos de forma clara, concisa, precisa,
objetiva, criativa e correta, sabendo utilizar as possibilidades que a
língua oferece e adequando-as ao contexto sociocomunicativo;
• utilizar-se, com segurança, do instrumental normativo para comunicarse, de acordo com a situação, segundo o padrão culto.
Conteúdo:
1 – Apresentação do programa
2 – Revisão de conceitos gerais sobre texto e comunicação
3 – O texto jornalístico em mídia impressa
4 – Concordância verbal e nominal
5 – O texto jornalístico em rádio
6 – Regência verbal e nominal
7 – O texto jornalístico em televisão
8 – Crase
9 – O texto jornalístico em internet
10 – Vícios de linguagem
11 – Argumentação e persuasão
12 – Análise do livro: Linguagem e Persuasão (Adilson Citelli)
13 – Texto informativo
14 – Texto opinativo (editorial, artigo, crônica)
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15 – Aprimoramento textual: concisão
16 – Aprimoramento textual: ambiguidade
17 – Aprimoramento textual: objetividade e subjetividade
18 – Avaliação regimental
19 – Avaliação de segunda chamada
20 – Reavaliação
Nota: A ordem dos itens poderá ser alterada devido a intercorrências inerentes à atividade pedagógica.
Metodologia: Aulas teóricas e práticas, envolvendo:
- leitura e discussão de textos selecionados;
- exercícios orais e escritos;
- oficina de criação de textos;
- exercícios gramaticais.
Avaliação:
Avaliação continuada: obtida pela aplicação de diversos instrumentos de
avaliação, visando identificar o estágio de desenvolvimento do aluno e
motivá-lo a avançar no processo de aprendizagem: exercícios orais e escritos,
participação em sala de aula, resenhas, apresentação de trabalhos (3 pontos).
Avaliação regimental (7 pontos).
Bibliografia básica
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2004.
LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. São Paulo: Ática, 2006.
OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando?
Como? Onde? O quê? Por quê? São Paulo: Plêiade, 2010.
Bibliografia complementar:
ASSUMPÇÃO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. 2. ed. São
Paulo: Manole, 2006.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, F. Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1990.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1985.
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e Estilo OESP. São Paulo: Moderna, 1997.
SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto,
2005.
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O texto jornalístico
Toda produção de texto, oral ou escrito, deve levar em conta os componentes
básicos das situações discursivas em geral: quem fala, para quem fala, com que intenção
e, mediante esses elementos, como fala. De acordo com a nossa intenção, toda a
estrutura do texto se modifica: seleção do vocabulário, extensão da sentença,
organização dos parágrafos etc., pois a cada intenção corresponde um certo gênero de
linguagem.
No jornalismo distinguem-se, dois grandes gêneros: o jornalismo informativo e o
jornalismo opinativo. O fundamento dessa separação está no efeito de produção de
sentido, assim os dois grandes efeitos ideológico-discursivos em relação ao destinatário
são fazer saber e fazer crer. Ao jornalismo opinativo, que trata da valoração explícita
quanto aos acontecimentos, pertencem os gêneros editorial, comentário, artigo, ensaio,
resenha, coluna, crônica e carta; ao informativo, os gêneros nota, notícia, reportagem,
entrevista, serviço, enquete. Em linhas gerais, ao gênero opinativo pertencem a
contestação, a crítica e o questionamento; ao informativo, os relatos de experiências e
fatos.
Texto informativo
ULSAN – Quando menos esperava, o meia Ricardinho, do Corinthians, realizou seu
sonho profissional. Tornou-se o 24º jogador convocado pelo técnico Luiz Felipe
Scolari para a Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão. O corintiano substituiu o
volante, e até então capitão, Emerson, cortado por causa de uma luxação no ombro
direito. Deve chegar a Ulsan na madrugada de terça-feira, horário do Brasil. Embora
não tivesse a mesma promoção e repercussão de Romário, a ausência de Ricardinho da
lista dos atletas que estariam no Mundial foi bastante questionada. A boa fase no
Corinthians, coroada com duas importantes conquistas – o Torneio Rio-São Paulo e a
Copa do Brasil –, o colocavam como um dos nomes mais cogitados para estar na Ásia.
Pelo time do Parque São Jorge já jogou 252 vezes e marcou 63 gols. (O Estado de
S.Paulo, 3/6/2002)
Texto opinativo
A face da medicina brasileira que temos hoje é tão monstruosa que já provoca o
sentimento de que as doenças seriam menos perniciosas se ela não existisse. Esse
sentimento não tem base científica, mas o fato é que ele existe. Fala-se no mundo todo
em sistemas de saúde e política de saúde, que pressupõem, por definição,
complexidade organizacional, objetivos sociais, estratégias de execução e análise
evolutiva para eventuais correções do curso. Tudo isso sem esquecer o objetivo a ser
atingido. No Brasil, não temos sistema nem política de saúde. Não há objetivo
definido, por isso é fácil esquecê-los. Há uma complexidade desorganizacional que
atende a outros interesses. Centenas de estratégias de execução são realizadas em
microuniversos isolados, mas por não formar um todo coerente acabam antagonizandose e anulando-se.(...). No Brasil, opera-se menos da metade dos pacientes que se pode
operar, e opera-se mal. Enquanto isso, há gente que poderia ser salva, mas morre sem
conseguir sequer um diagnóstico. Não interessam ao doente que vai morrer por falta de
socorro médico as razões dessa falta. (Francisco J. de Moura Theóphilo. Veja, ed.
1346)
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A linguagem jornalística
O texto jornalístico visa narrar de maneira objetiva os acontecimentos que
devem ser compartilhados. São textos de caráter informativo, que buscam informar os
leitores sem deixar transparecer a opinião do autor. Apresentam somente os fatos de
maneira impessoal. Mas a famosa “isenção de opinião” para melhor informar o leitor/
espectador/ ouvinte muitas vezes é driblada pelo próprio autor do texto, que usa técnicas
que em jornalismo são chamadas de “notícia dirigida” ou “tendenciosa”.
O lead
O lead (na forma aportuguesada, lide) é, em jornalismo, a primeira parte de uma
notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação
básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse. Trata-se de uma expressão
inglesa que significa "guia" ou "o que vem à frente".
Na teoria do jornalismo, as seis perguntas básicas do lead devem ser respondidas
na elaboração de uma matéria: "o quê?", "quem?", "quando?", "onde?", "como?" e "por
quê?" (3Q+O+P+C). O lead, portanto, deve informar qual é o fato jornalístico noticiado
e as principais circunstâncias em que ele ocorre.
Já o lead do texto de reportagem, ou de revista, não tem a necessidade de
responder imediatamente às seis perguntas. Sua principal função é oferecer uma prévia,
como a descrição de uma imagem, do assunto a ser abordado.
O lead deve ser objetivo e pautar-se pela exatidão, linguagem clara e simples.
Isso não significa, porém, que o lead deva ser burocrático. O leitor ganha interesse pela
notícia quando o lead é bem elaborado e coerente. Em resumo: quando bem elaborado,
ele incita o leitor a ir até o final da notícia.
A técnica da pirâmide invertida
Ensinada nos cursos de jornalismo e usada como regra nas redações de jornais e
revistas informativas, a técnica da pirâmide invertida surgiu na imprensa norteamericana no século 19, sendo difundida depois pelo mundo inteiro como uma técnica
para construir-se um bom texto jornalístico. Significa, muito simplesmente, que numa
notícia, depois do lead, todas as restantes informações são dadas por ordem decrescente
de importância, de forma que, à medida que se vai descendo no
corpo da notícia, os fatos relatados se vão tornando cada vez menos essenciais. Pirâmide
invertida, porque, em sua base, aquilo que é noticiosamente mais importante encontra-se
no topo – em ordem muito distinta à que seguem, por exemplo, os estilos literários
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como a novela, o drama ou o conto, que geralmente usam uma linguagem de
desenvolvimento do enredo com começo, meio e fim, em que o final é o ápice da
narrativa.
Como é escrita a notícia?
Não existem fórmulas “amarradas”, mas sim diretrizes, que devem ser seguidas
dependendo do tamanho e complexidade do tema (não do texto, pois um bom texto
jornalístico deve ser o mais claro e elucidativo possível).
Título
Subtítulo (se houver necessidade). O subtítulo é também chamado de linha fina.
LEAD
1º parágrafo
Intertítulo (se houver necessidade)
2º parágrafo
3º parágrafo
Etc....
Quanto ao formato, o texto jornalístico pode ser dividido da seguinte forma:
Artigo – Texto interpretativo e opinativo, mais ou menos extenso, que desenvolve uma
ideia ou comenta um assunto a partir de determinada fundamentação. Geralmente é
assinado por algum articulista, ou jornalista do veículo de comunicação.
Editorial – Texto jornalístico opinativo, publicado sem assinatura e referente a assuntos
ou acontecimentos locais, nacionais ou internacionais de maior relevância. É a
“opinião” do jornal ou da revista, representa seu ponto de vista, sua ideologia e o
próprio modo de fazer jornalismo.
Entrevista – A entrevista é um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com os dados
nela obtidos, ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as declarações
são citadas entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, também
chamado "pingue-pongue". Existem dois tipos de entrevista: a de informação ou opinião
(quando se entrevista uma autoridade, um líder ou um especialista) e a de perfil (quando
se entrevista uma personalidade para mostrar como ela vive e não apenas para revelar
opiniões ou para dar informações). Existem também as entrevistas de rotina, ou de
amostragem, quando um grupo é entrevistado para a abordagem de determinado tema.
Matéria – Tudo o que é publicado, ou feito para ser publicado, por um veículo de
comunicação (jornal, revista, rádio, TV).
Notícia – Relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância para a
comunidade e de fácil compreensão pelo público.
Reportagem – Conjunto das providências necessárias à confecção de uma notícia
jornalística: cobertura, apuração, seleção dos dados, interpretação e tratamento, dentro
de determinadas técnicas e requisitos de articulação do texto jornalístico informativo. O
recurso das “grandes reportagens” (ou reportagens especiais) tem um caráter, além de
jornalístico, documental.
Esses formatos também podem variar de acordo com o público-alvo, como os
leitores dos grandes jornais e revistas e as publicações de empresa (house organs).
Adaptado de: <http://pt.scribd.com/doc/15086770/Texto-jornalistico>.
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A estrutura do texto jornalístico
Alfredina Nery
(Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u19.jhtm>)
Se a narração é o gênero de redação em que uma história é contada (seja uma
fábula ou uma crônica), com o uso de recursos como flashbacks, suspense, narrador em
primeira ou terceira pessoa, etc., a notícia é o relato do fato, com texto, geralmente,
mais simples, seco. Você vai entender como
funciona.
Você acredita que a notícia que ouvimos
no rádio, assistimos na TV, lemos no jornal
impresso ou na Internet é um fato em si ou é
uma interpretação de um fato? Antes de
responder, observe por alguns segundos a figura
reproduzida ao lado. O que você vê? Uma vaca?
Se você respondeu que sim, a sua resposta
estava quase certa. Não se trata de uma vaca,
mas de uma representação de uma vaca, não é?
Com a linguagem escrita acontece a mesma coisa: ela representa algo, como objetos,
valores, ideias. Logo, a notícia não é o fato em si, mas sim uma interpretação desse fato,
certo?
Analise a pequena notícia a seguir.
Escorpiões assustam Vila São José
Os moradores da Vila São José, no Ipiranga, estão assustados
com o grande número de escorpiões que têm sido encontrados
na região. Eles também se indignaram com a sugestão de um
técnico da Vigilância de Saúde da Subprefeitura do Ipiranga que
aconselhou a população a espalhar galinhas pelas ruas para
resolver o problema.
Os moradores acreditam que a proliferação tenha começado em
um terreno onde havia uma casa abandonada.
(Ipiranga News, 28/10 a 3/11/2004)
Assunto
Pelo assunto e pelo nome do veículo de imprensa, percebe-se que se trata de um
jornal de bairro, destinado a uma comunidade particular de leitores - os moradores do
Ipiranga, bairro da cidade de São Paulo.
A estrutura da notícia
Veja que a notícia se estruturou em apenas dois parágrafos. O primeiro –
chamado de "lide" – sintetiza os dados principais: quem, onde, o quê. Se o leitor ler
apenas esse parágrafo, já fica sabendo se quer ou se precisa continuar a ler a notícia. A
leitura de um jornal é seletiva, isto é, o leitor escolhe o que quer ler, por isso não precisa
ler tudo que está escrito no jornal para se informar. É bem diferente da leitura de outros
gêneros, como um conto, um romance, cuja leitura integral é obrigatória para sua
compreensão.
Na notícia do jornal Ipiranga News, os dados do lide são:
 quem?: os moradores da Vila São José;
 onde?: na Vila São José, bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo;
 o quê?: moradores assustados com a quantidade de escorpiões na região.
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O segundo parágrafo "expande a notícia", isto é, dá mais detalhes a respeito do
fato:
 os moradores estão indignados com a Vigilância Sanitária da Subprefeitura, que
sugere que eles criem galinhas, como forma de resolver o problema da proliferação dos
escorpiões;
 os moradores têm uma explicação para o aumento dos escorpiões: uma casa
abandonada.
Linguagem coloquial
A linguagem do jornal é, preferencialmente, coloquial (próxima à maneira como
falamos). Isso acontece intencionalmente, como forma de se aproximar e se adequar ao
leitor, ao buscar uma comunicação mais eficiente.
Outra característica da linguagem jornalística é sua tentativa de mostrar
imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja que o jornalista do Ipiranga
News pretende se mostrar imparcial, apresentando distanciamento do fato. Essa
aparência de imparcialidade é conseguida por:
 ausência de enunciados de opinião. Há fatos, acontecidos com outros e que não têm
nada a ver com o jornal, como em "Os moradores também se indignaram...";
 privilégio do uso de terceira pessoa ("os moradores", "eles");
 não uso de adjetivos que possam dar impressão de subjetividade, de interferência da
opinião do jornalista. Não se admite, por exemplo, uma notícia que fale em um
homem velho, em prédio alto, bairro distante. Para dar impressão de que os fatos são
relatados com a maior precisão possível uma notícia informa, por exemplo: homem
branco, 85 anos; prédio de doze andares; bairro da periferia da cidade de São Paulo
etc.;
 a busca de exatidão faz com que se privilegiem os verbos no modo indicativo: "estão
assustados", "têm sido encontrados", "se indignaram", "aconselham", "acreditam",
"tenha começado", "havia".
O que é notícia?
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da
Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983)
Pode-se perceber que o poema dialoga com a notícia e que o fato – a morte de
uma pessoa – poderia mesmo ser uma notícia de jornal. Mas o que Manuel Bandeira
escreve não é uma notícia, mas um poema em que mostra uma contradição da vida
brasileira: ficar famoso, para alguns, acontece somente quando isso é tragédia...
Agora, voltemos à história do escorpião.
Perigo à vista
Na bonita manhã de sol da segunda-feira, seu Joaquim, morador
mais antigo da rua Jurupá, foi comprar pão na padaria.
Encontrou-se com Dona Maria que também estava saindo para o
trabalho e foram conversando sobre os preços absurdos de tudo,
nos dias atuais. No caminho encontraram dois escorpiões, perto
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da casa abandonada, cujo dono havia morrido há muito tempo e,
porque o inventário nunca acabava, ninguém conseguia vender
ou alugar o imóvel. Esse fato foi motivo para mais conversa sobre
‘o fim dos tempos’ da vida moderna.
Dona Nenê, vizinha de seu Joaquim, quando lavava roupa, num
certo dia, também encontrou escorpiões em seu quintal. Foi um
alvoroço só… Mas o problema maior foi quando um escorpião
picou uma das filhas do seu Agenor. Ele, indignado, na volta do
hospital, chamou a Vigilância Sanitária. Os técnicos sugeriram
que uma boa forma de acabar com os escorpiões era criar
galinhas. Que fazer?
Veja que, embora o assunto seja o mesmo da notícia extraída do Ipiranga News,
não se pode considerar o texto acima uma notícia. A organização textual, por exemplo,
é muito diferente de uma notícia. Vejamos algumas diferenças.
Sequência do texto
Linguagem
Escorpiões
Do fato mais
assustam
importante para os
Vila São José detalhes
Objetiva
Procurando ser
neutra
Sequência temporal
da narrativa, cujo
Perigo à vista acontecimento
principal está diluído
no texto
Detalhada na
construção das
personagens e do
cenário. Cada
elemento ajuda a
compor o enredo.
Em uma notícia, os eventos não são ordenados por sua sequência temporal como
em uma história, ou seja, o jornalista não tem a pretensão de relatar os fatos na ordem
em que, supõe-se, ocorreram. Os eventos são apresentados pelo interesse, na perspectiva
de quem conta e, principalmente, pelo que o leitor/ouvinte/telespectador/internauta pode
considerar mais importante. É evidente que quem informa faz uma seleção prévia dos
eventos a serem destacados, relatando-os em função do evento principal e da ideologia
do jornal.
Conceito de notícia
Leia o que diz um especialista no assunto:
Notícia: relato de uma série de fatos a partir do fato mais
importante. A estrutura da notícia é lógica; o critério de
importância e interesse envolvido em sua produção é
ideológico: atende a fatores psicológicos, comportamentos
de mercado, oportunidades, etc.
(LAGE, Nilson. A estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 1993.)
Por mais que informe ser imparcial, ou que afirme traduzir com exatidão a
veracidade dos fatos, a imparcialidade absoluta numa notícia é impossível, pois o
redator tem que escolher o que vai contar – que acontecimentos, dentre outros, pode se
transformar em uma notícia que venda mais. Determinado "o quê", ainda há "o como",
isto é, como atingir o leitor de maneira mais direta, o que implica uma determinada
seleção de vocabulário, destaque para o tipo de letra, tamanho da notícia, lugar em que a
notícia vai aparecer no jornal, abordagem etc... :
É necessário compreender que o jornalismo não retrata nem cria fatos, e sim
constrói visões dos fatos. O jornal legitima uma opinião sobre os fatos, a depender de
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sua linha editorial, dos leitores que quer atingir. Nesse quadro, a notícia é uma
construção de visões e não os fatos em si.
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Do que depende o bom texto jornalístico?
Carlos Maranhão mostra seis elementos necessários para escrever boas matérias.
Marina Piedade
"O jornalista é um ser humano mais ou menos parecido com os outros. Ele é
movido por uma vontade grande de mudar o mundo e atingir a maior quantidade de
pessoas possível." Esse é o perfil que Carlos Maranhão, diretor de redação de Veja São
Paulo, apresentou aos alunos do Curso Abril na noite do dia 11/2/2008.
Ele lembrou que o profissional deve ter sensibilidade para apurar os fatos e
capacidade de escrever bem. Comentou que "grandes jornalistas são repórteres por
formação" e apontou seis itens indispensáveis para o desenvolvimento da boa escrita
jornalística:
1. Talento
Para Carlos Maranhão, é fundamental ter aptidão para a profissão. "É como
desenhar, tocar um instrumento, jogar futebol... Tem que ter jeito". Ele acredita que a
prática pode aprimorar o talento, mas não desenvolvê-lo.
2. Leitura
"Só lendo se consegue escrever bem", mencionou Maranhão. Jornais, revistas da
mesma área em que se trabalha, livros de ficção e não ficção de bons autores de língua
portuguesa são opções válidas nessa tarefa.
Ele recomendou obras de Eça de Queirós, Machado de Assis e Graciliano
Ramos. "Ensinam a estrutura do texto e ajudam a desenvolver a criatividade".
O diretor de redação acrescentou que essa tem de ser uma tarefa básica para o
jornalista. "Tem que arranjar tempo. Do mesmo jeito que se tem tempo para dormir,
tomar banho, namorar..."
3. Pesquisa
"Não se pode tratar de um assunto sem ter familiaridade com ele", pontuou
Maranhão. Além disso, uma pesquisa prévia sobre a pauta evita que se publique algo já
tenha saído na imprensa, comentou o jornalista.
4. Apuração
Dados, estudos, depoimentos... Quanto mais informações houver, melhor ficará
a matéria, de acordo com o diretor de redação.
Ele observou que a intenção não é colocar tudo no texto (muitas vezes não há
espaço para tanto), mas selecionar os aspectos mais interessantes do assunto. "Você vê
onde está a notícia na apuração, não na escrita."
5. Disposição para trabalhar
"A vida inteira escrever será um trabalho penoso. Não se escreve um texto
simples fácilmente."
Para expressar a aridez dessa tarefa, Carlos Maranhão recorreu a pensamentos de
alguns autores:
"Quem escreve fácil é o orador, que recorre a chavões" (Fernando Sabino, cronista
brasileiro).
"Escrever é um trabalho duro. Poucas palavras certas saem na primeira, segunda,
terceira tentativas" (William Zinsser, escritor norte-americano).
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"Tem de escrever, reescrever, reescrever de novo... até o relógio apitar" (Graciliano
Ramos, romancista brasileiro, sobre o tempo de fechamento que orienta o jornalista).
6. Clareza
Segundo Carlos Maranhão, texto bom é texto claro – "não importa se é
reportagem, e-mail, trabalho escolar, placa de trânsito...".
As frases curtas, a ordem direta, o uso de palavras simples e a checagem de
informações ajudam a alcançar esse atributo.
Citando o jornalista norte-americano E. B. White (autor de The elements of
style), o diretor de redação de Veja São Paulo disse que a confusão de ideias não é
apenas um distúrbio da prosa – é um distúrbio da vida.
A NOTÍCIA = 3Q + O + P + C
Grevistas bloqueiam porta da USP e param Marginal
Cerca de 300 alunos e funcionários em greve bloquearam a portaria principal da
USP ontem. Os manifestantes fecharam a entrada às 6h30 e mantiveram o bloqueio por
quatro horas. Depois, se dirigiram em passeata até o prédio da reitoria, que está ocupado
desde 8 de junho.
Às 9h, a Marginal Pinheiros parou completamente, entre a ponte da Cidade
Universitária e a Avenida Afrânio Peixoto. Por volta das 10h30, a CET registrava 32
km de lentidão na zona oeste.
O motivo do protesto de alunos e funcionários é o corte no pagamento de mais
de mil funcionários de São Paulo e Ribeirão Preto por causa da greve que começou no
dia 5 de maio. Em assembleia realizada na tarde de ontem, os grevistas decidiram
aceitar um reajuste de 5%.
INGLESA IMITA DONA FLOR
Como Dona Flor, heroína do romance de Jorge Amado, a inglesa Sarah Pilch
morava com o marido e o amante.
Traçava um no quarto e outro na sala. A brincadeira acabou em morte.
O fogo de Sarah, 27, já era conhecido da cidadezinha de Elsing, na Inglaterra.
Segundo o jornal “The Sun”, ela adorava exibir os seios para os operários que
faziam a reforma de sua casa. Um deles, Kevin Hearle, 23, recebia atenção especial.
Terminada a obra, Sarah alugou um quarto para o rapaz. A baixaria terminou quando
Kevin, num ataque de ciúmes, matou o marido de Sarah.
Andrew Pilch, o marido, trabalhava numa firma de contabilidade. O emprego o
obrigava a viajar muito. Com a casa vazia, Sarah e Kevin faziam a festa. Com o tempo,
porém, as relações entre Sarah e Andrew melhoraram. O amante ficou fulo da vida.
Um dia, Kevin estava na cozinha e ouviu o “fuck-fuck” no quarto do casal. Ele
esperou Sarah descer e disparou: “Como você tem coragem de transar com ele e me
largar aqui, descascando batatas?” Ela respondeu que era hora de Kevin ir embora. “Eu
vou, mas volto pra apagar seu marido”, gritou o amante.
Não deu outra. Uma noite, Kevin esperou Sarah sair pra trabalhar, entrou na casa
e estrangulou Andrew. O caso está sendo julgado no tribunal de Norfolk, Inglaterra.
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(Notícias Populares, 07.07.91, p.5. Apud DIAS, Ana Rosa Ferreira. O discurso da
violência: as marcas da oralidade no jornalismo popular. São Paulo: Cortez, 1996.
p.56/57)
Esta notícia do jornal Notícias Populares, além de escrita em linguagem coloquial,
muito próxima da modalidade oral da linguagem, não utiliza a estrutura da pirâmide
invertida nem responde a todas as seis perguntas do lead (observe que faltou o onde?).
Transforme-a de modo a que possa ser publicada num jornal como a Folha de S.Paulo
ou O Estado de S.Paulo.
Informações para montar notícias (nota de 1500 caracteres). Não se esqueça do
título.
A
– Cinco cachorros que pertencem ao Canil Central da Polícia Militar de São Paulo são
especializados em rastrear explosivos no Brasil. Este é o único grupo no país.
– Após oito anos de trabalho, o cachorro é doado para qualquer pessoa que tenha
condições de cuidar do cachorro.
– “É um trabalho em equipe” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante do canil da
PM
– Os nomes dos cachorros: Tarzan, Éden, Greta, Iceman e Iceberg.
– O trabalho é diferente daquele feito pelos cachorros que farejam drogas. Eles não
podem enfiar o focinho em qualquer buraco. Há o risco de fazer isso e acontecer uma
explosão.
– A técnica utilizada é a seguinte: o animal fica imóvel e aponta o focinho para o lugar
onde estaria a bomba. Daí os policiais vão até lá fazer a verificação e desmontam a
bomba.
– “Com explosivos, só se erra uma vez” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante
do canil da PM.
B
– O Metrô vai dobrar sua rede de estacionamentos próximos às estações até o fim de
2010. Setecentos e vinte mil carros por ano poderão deixar de circular pela cidade a
partir de 2011.
– O sistema E-Fácil cobra a partir de R$ 7,10 por dois bilhetes do metrô, CPTM ou
ônibus e pelo estacionamento por até 12 horas, com manobrista. Cada hora adicional
custa R$ 1.
– A zona leste vai ganhar cinco das seis novas garagens.
– Hoje há vagas em quatro estações. Até o fim de 2010, haverá em mais seis locais.
Essas garagens oferecerão 1,5 mil vagas, que serão usadas por 60 mil carros por mês.
– A forma de circulação das pessoas vai mudar na cidade e os estacionamentos ajudam
quem precisa fazer uma parte do trajeto de carro – aspas de Cristina Bastos, chefe do
departamento de negócios do Metrô.
– O cartão é recarregável e funciona como o Bilhete Único, ou seja, o usuário pode
fazer integração entre os transportes em até quatro horas.
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SELEÇÃO DE TEXTOS PARA TIPOLOGIA JORNALÍSTICA
1) Candidaturas são impugnadas depois de teste de alfabetização
da Agência Folha, em Bauru
O juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38, impugnou 20 dos 80
candidatos a prefeito e vereador das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari, na
região de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo).
A impugnação foi motivada pelo fato de os candidatos terem sido reprovados em um
teste de alfabetização realizado pelo juiz, no Fórum de Itapetininga.
Incane Filho disse que fez o texto com base na exigência contida na Lei
Complementar nº 64/90, de 1992, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que proíbe
analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos.
O juiz afirmou que convocou os 80 candidatos que disseram ter 1º grau incompleto e
mostraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas
candidaturas.
Os testes com os candidatos foram feitos individualmente. Seus nomes são mantidos
em sigilo. ''Pedi a todos que lessem e interpretassem um texto de um jornal infantil. Em
seguida, pedi que cada um redigisse um texto, expondo sua lógica'', disse.
Segundo Incane Filho, erros gramaticais não foram levados em conta. ''Apenas
observei se o candidato tem condições de entender um texto, pois uma vez eleito, ele vai
ter de trabalhar com leis e documentos.''
A assessoria de imprensa do TRE informou que o tribunal transmitiu uma
recomendação aos juízes para que ''em caso de dúvida'', façam ''um teste de
alfabetização'' nos candidatos. (Folha de S.Paulo, 19/07/96)
2) Analfabetos
O juiz eleitoral de Itapetininga impugnou 20 de 80 candidatos a prefeito ou vereador
das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari (interior de São Paulo e relativamente
próximas à capital) pela simples razão de que não conseguiram ler e entender
corretamente um texto publicado em jornal infantil. E isso no Estado mais rico da
União, o que leva a imaginar o que deve ocorrer nas imensas regiões menos
desenvolvidas do país.
Isso significa que 25% dos candidatos testados foram considerados analfabetos.
Erros gramaticais não foram levados em conta, apenas a capacidade de compreensão de
um texto simples escrito.
Parece mais do que óbvio que, sem negar a conquista democrática que representou o
direito de voto para o analfabeto, para exercer funções executivas ou legislativas é
necessário pelo menos poder ler e compreender um texto. De outra forma, quem
exercerá o poder de fato será um assessor sem nenhum mandato eletivo, ou seja, ferindo
o princípio da delegação popular do poder.
Infelizmente, o Brasil está ainda muito longe de atingir os níveis minimamente
desejáveis de erradicação do analfabetismo. Em que pese o sucesso de alguns poucos
projetos isolados, o número de brasileiros que não sabem ler – e isso segundo os pouco
rígidos critérios do IBGE – é pouco inferior a 25%, ou seja, quase um quarto da
população do país.
Como indicam diversos estudos dos mais variados organismos multilaterais, o
investimento em educação é acima de tudo um investimento na melhoria das condições
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de vida do país, seja em termos de produtividade como em termos de desenvolvimento
humano.
O fato de até as pessoas que almejam cargos eletivos como prefeito ou vereador
serem incapazes de compreender o que está escrito num jornal infantil mostra o quanto
o Brasil ainda tem a fazer no campo da educação básica. Revela também o quão imatura
ainda é a jovem democracia brasileira. (Folha de S.Paulo, 22/07/96)
3) Pobre argumento – Clóvis Rossi
O argumento mais repetido em defesa do tal CFJ (Conselho Federal de
Jornalismo) diz que existem conselhos similares para advogados, médicos e outros
profissionais e, portanto, deve haver também para jornalistas. Pena que nenhum dos que
usam o argumento parou para examinar se os conselhos similares ao CFJ produziram
bons efeitos.
Não é preciso muita esperteza para perceber que os resultados não são bons, para
dizer o menos. No caso dos advogados, basta lembrar que a grande maioria dos
formados não passa no Exame da Ordem, o que significa que as escolas estão
despejando no mercado profissionais com imenso déficit de formação.
Pior ainda: alguém aí é capaz de dizer que a administração de justiça no Brasil é
minimamente eficiente, elogiável, louvável? Ou, posto de outra forma, a existência de
um conselho semelhante ao proposto CFJ nem chegou perto de defender a sociedade no
seu direito à justiça.
No caso dos médicos, já está entrando em debate a criação de um exame similar
ao feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, o que evidencia que há desconfianças
também em relação à qualidade da formação desses profissionais.
E, de novo, é escandalosamente óbvio que o direito à saúde não é exatamente
uma característica do Brasil. Ou, posto de outra forma, a sociedade não está sendo
defendida pelo fato de existir um conselho que supervisiona os médicos.
Seria preciso um grau de presunção fenomenal para supor que, no caso do
jornalismo, o CFJ faria o que os conselhos das outras profissões não fizeram ou, no
mínimo, não puderam evitar.
Tanto quanto o direito à saúde ou à justiça, o direito a uma informação veraz só
será alcançado se e quando a própria sociedade for vigorosamente atrás de cada um
deles.
Estruturas burocrático-corporativas podem até ter a melhor das intenções, mas os
fatos provam que não defendem nem os profissionais nem a sociedade.
(Folha de S. Paulo, 11/08/ 2004)
4) CRIANÇAS TAMBÉM LIDAM COM DROGAS
Menino de 5 anos disse que Polícia procurava ‘bagulho’ em sua residência
Belém
Um menino de cinco anos de idade surpreendeu a professora no mês passado ao
dizer que tinha um segredo para contar. Ela imaginou que fosse uma brincadeira e pediu
que o menino falasse.
“Sabe tia, o meu pai foi preso. A polícia chegou lá em casa e quebrou tudo, até o
meu brinquedo. Fiquei com muita raiva e queria dar um soco na polícia. Eles
procuravam o ‘bagulho’, mas não acharam. O ‘bagulho’ estava embaixo da TV, mas
eles não viram”, disse a criança.
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A professora achou que pudesse ser imaginação do aluno e perguntou se ele
havia sonhado com aquela história. O garoto, então, respondeu que não e garantiu ser
tudo verdade.
Quem toma conhecimento dessa história, até duvida da veracidade da narração.
Mas a professora garante que tem fundamento, já que conhece o histórico de vida dos
pais e também devido à riqueza de detalhes relatada pela criança. Por exemplo, quando
o menino falou que a polícia estava atrás do ‘bagulho’, a professora perguntou do que se
tratava. Para explicar, ela lembra que o menino pegou uma folha do seu caderno,
desenhou um quadradinho e disse que o ‘bagulho era um pozinho branco colocado no
meio do quadrado e depois amarrado com um fio’. Logo, a professora deduziu que o pó
ao qual o menino se referia, provavelmente, fosse cocaína.
Surpresa
A professora afirma ter ficado tão surpreendida com essa situação que não
respondeu nada ao aluno. Ela procurou a direção da escola para relatar o problema.
“Pensei em falar com a mãe dele, mas ela é muito difícil e poderia bater nele.
Então, decidi conversar com a supervisora da escola, porque temos trabalhos de
prevenção às drogas na escola, mas não para uma turma da educação infantil”, explica.
A professora lamenta que essa situação tenha ocorrido com uma criança: “Uma questão
é a família estar nesse meio (das drogas), a outra é uma criança com cinco anos
vivenciar isso. Eu fico triste, mas me acho impotente para agir e ajudá-lo”.
O caso relatado é um dos retratos da relação entre drogas e o ambiente escolar. No
entanto, o mais comum é o envolvimento direto de adolescentes com uso de
entorpecentes. Uma pesquisa feita em 2004 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas (Cebrid) ouviu 1.558 estudantes do ensino fundamental e médio
das redes municipal e estadual de Belém. De acordo com os dados levantados, 19,5%
dos estudantes de 13 a 15 anos consumiram drogas naquele ano. Não foi considerado o
uso de álcool ou tabaco.
Segundo o professor Raul Navegantes, cientista político e especialista em
violência, a escola corresponde ao contexto no qual ela se encontra. “Normalmente,
imaginamos que a escola seja um mundo isolado, onde tudo é diferente dos muros que a
separam da rua. Não é assim. A escola reproduz lá dentro o que se passa fora, na
sociedade”, ressalta. Para ele, seria muito artificial se fosse o contrário. “Estudantes
levam para dentro da escola a mesma coisa que professores levam, a mesma coisa que
os demais servidores da escola levam, ou seja, tudo aquilo que trazem da sociedade”,
explica o professor.
Preparo
Na opinião de Navegantes, as instituições de ensino devem preparar-se para
receber esse mundo de fora. Ele deixa claro que as escolas, e sobretudo o Estado,
precisam perceber que a sociedade mudou e que o ambiente escolar hoje não pode ser
igual ao de 25 anos atrás.
Ao longo desse tempo, segundo o cientista político, a mudança maior foi da
família, que era o ambiente de convívio, de acompanhamento do jovem e que fazia a
intermediação entre a infância, a adolescência e a maturidade. Com isso, ressalta
Navegantes, a família deixou de ser a maior aliada da escola e transferiu à instituição o
papel que lhe cabia. “Como os pais trabalham e não têm mais tanta dedicação à família,
a convivência familiar com o jovem desapareceu, repassando para a escola o seu papel
de orientá-lo”, destaca.
Prevenção
Em geral, os especialistas apontam que as primeiras experiências com drogas
ocorrem no ambiente escolar, por causa da relação de amizade e companheirismo que
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crianças e adolescentes mantêm entre si. Por esse motivo, ressaltam que a prevenção é a
melhor alternativa para lutar contra o uso de entorpecentes nas unidades escolares.
(O Liberal, 20/10/2008)
5) MULHERES NUAS FORA DA CAPA
BILD, o jornal mais vendido da Alemanha (4 milhões de exemplares por dia)
decidiu retirar as imagens de mulheres seminuas da primeira página. A mudança
atendeu a pedidoa das leitoras. As fotos passarão a ser estampadas na página 3 do
jornal.
6) FILME EXIBE AS RAÍZES DE SÉRGIO BUARQUE
Cassiano Elek Machado
Enviado especial da Folha ao Rio
Quase todas as acepções da palavra raiz ajudam a ilustrar o que é o filme Raízes
do Brasil, cinebiografia sobre Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) realizada por
Nelson Pereira dos Santos.
Um dos intelectuais mais robustos da terra, o historiador e sociólogo paulistano
poderia render centenas de rolos de 35 milímetros de debates sobre os desdobramentos
de sua bibliografia. Mas não é para essas folhagens que o principal cineasta em
atividade no país apontou sua câmera.
O filme, que tem pré-estreia hoje em São Paulo, na Sala Cinemateca, toma outra
“árvore” como base, a “árvore genealógica”. É por meio de depoimentos da vasta
descendência de Buarque de Holanda que Raízes do Brasil busca retratar seu
personagem.
Pereira dos Santos, 75, conta que queria mostrar aspectos pouco conhecidos (e
não desimportantes) do intelectual, considerado unanimemente um dos principais
“intérpretes do Brasil”, ao lado de Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e outro punhado
mais.
Os depoimentos dos sete filhos (Miúcha, Sérgio, Álvaro, Chico, Maria do
Carmo, Ana Maria, Maria Cristina) e da maior parte dos netos ajuda a mostrar “a parte
oculta de qualquer coisa enterrada, cravada, embutida ou fixada em outra”, como (o
dicionário) "Aurélio" (primo distante de Sérgio) define raiz.
Poucos sabem que o autor dos clássicos Visão do Paraíso (1958) e do hit Raízes
do Brasil (1936) gostava de ler o gibi Luluzinha, que ocasionalmente “puxava fumo”,
que não usava roupas marrons, que cantava tango em alemão e que “adorava fofocas”,
como afirma o filho Chico, é, Chico Buarque de Holanda (que conta história do pai
sobre uma remessa por correio do “pentelho de Duque de Caxias”).
Esses e outros tantos “temperos” do documentário não chegam a ser acessórios.
Ajudam a retratar um “germe, princípio, origem” (mais uma vez o velho “Aurélio”) do
intelectual.
Quem o explica, no filme, é o crítico Antonio Candido, que deve falar hoje na
pré-estreia. “Era um erudito inclinado à molecagem”, opina Candido, ressaltando a
consciência de Sérgio Buarque do “dever intelectual”, mas com a “qualidade da
molecagem de 22”. Mostrava que “seriedade está ligada à alegria”.
O outro lado da moeda, o aspecto “trombudo”, também sai do solo. Filhos e
netos contam como o patriarca ficava plantado ad infinitum no seu escritório, com a
cara enfiada nos fartos livros.
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Com a palavra Chico, mais uma vez. “Eu me lembro de vê-lo andando e me
surpreender que ele andasse”, recorda, com o olhar do garoto, que “passava e via aquela
pessoa com óculos na testa”.
O cantor e compositor, que diz só ter tido acesso ao escritório do pai depois dos
20 anos (acesso que era vetado a todos os outros filhos, com exceção da “queridinha”
Ana, apelidada de Baía), lembra dos livros “cobrindo tudo, fechando a janela para
sempre”.
Chico afirma que o pai “não gostava muito de criança”. O que não transparece
nos depoimentos emocionados dos netos do intelectual, cada um deles dono de um
exemplar de "Raízes do Brasil" autografado pelo “Papyotto”, como todos eles chamam
o avô.
Uma das netas, a atriz Silvia Buarque, filha de Chico, é quem dá voz ao livro
clássico do vovô.
Se a primeira parte toda do filme de Nelson Pereira dos Santos é centrada na
conversa com a família, a metade subsequente se nutre de uma cronologia alentada da
vida do biografado, toda ela entremeada por trechos de Raízes do Brasil declamados
pela atriz.
Esses 72 minutos finais (que levam o filme aos seus fartos 146 minutos) trazem
à tona outro dos sentidos cravados no fundo da terra do substantivo “raiz”.
“Essa parte do filme mostra como Sérgio foi radical, no sentido de ter sido um
intelectual que nunca fez concessões”, opina a crítica literária Beatriz Resende, que
assistiu à primeira exibição do filme, na sede da Petrobras (patrocinadora do
documentário), com o diretor do filme e familiares presentes.
Ausência mais sentida nessa “première” do filme foi sua estrela maior. Maria
Amélia, hoje com 94 anos, viúva de Sérgio, dá os depoimentos mais bonitos do
documentário. Nem a primogênita, a cantora Miúcha (corroteirista do filme), segura a
emoção. Enquanto a mãe fala na tela, na “plateia” ela chora e balbucia “Ah, mamãe”.
Como testemunha Candido, Maria Amélia esteve na raiz da força intelectual de Buarque
de Holanda, o “homem cordial”, que agora todos conhecem melhor.
O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite da Petrobras (Folha de S.Paulo,
13/08/2004)
Para saber mais: http://sergiovilasboas.com.br/ensaios/arte_do_perfil.pdf
7) Como ser feliz
Matthew Shirts
Todo sábado, logo cedo, empresto o carro da minha mulher e levo o nosso filho,
Sammy, de 8 anos, para jogar futebol na escolinha, na Lapa. Descemos a Avenida
Sumaré, atravessamos a ponte e entramos na Marginal Tietê em direção ao Rio
Pinheiros. Passamos em frente ao Estadão, por baixo da Ponte Júlio de Mesquita Neto,
e, ao avistar a gráfica da Editora Abril, indico sempre o prédio onde é impressa a revista
que edito, a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Por vezes, antes mesmo de eu
formular a frase, Sammy diz: “Já sei, papai”, meio entediado.
Sábado passado não foi diferente. Mas, ao deixar para trás a Ponte Júlio de
Mesquita, o moleque me avisou que a Avenida Pompeia estava fechada para obras
naquele dia. Saiu-se, ainda, com a seguinte recomendação:
— Você precisa se lembrar de não pegar a Pompeia na volta, papai.
— Sammy, você pode me ajudar a lembrar? — respondi.
— Não, papai.
18
— Não!? Como assim!? Por que, não, filho?
— Porque estarei pensando nos melhores momentos do meu jogo de futebol.
Tive de dar risada. Era a única reação possível da minha parte. Achei curioso
alguém, ainda mais uma criança, planejar o que pretendia pensar dali a duas horas.
Como se não bastasse, o planejamento previa um devaneio a respeito de um jogo de
futebol. Contei a história para minha mulher, Luli, ao chegar em casa. Mas ninguém deu
mais do que outra risada. Ficou nisso a história.
Até uns dias depois, quando fui ler a primeira Harvard Business Review de
2012. Para quem não sabe, é uma revista de negócios, como a EXAME. Essa edição é
dedicada à “felicidade”. Pode parecer um tema estranho ao mundo empresarial, mas há
pesquisas fascinantes na área. A chamada da capa é: “O valor da felicidade:como o
bem-estar dos empregados gera lucro”.
A pesquisa mais original relatada na HBR, como é conhecida a revista, vem
sendo feita com 15.000 pessoas em 83 países através de smartphones. O pesquisador,
Matthew Killingsworth, meu xará, pergunta em intervalos aleatórios sobre o humor dos
participantes. Cada um responde na hora em uma escala que vai de “péssimo” a “ótimo”
e diz o que está fazendo (de uma lista de 22 atividades).
O melhor humor acontece durante o sexo. Não chega a espantar, mas me
perguntei se o povo para no meio para responder à pesquisa.
O achado mais inesperado talvez seja o impacto dos devaneios no humor das
pessoas. Descobriu-se que a mente humana desvia do foco durante quase 50% do
tempo. Esses desvios, segundo o xará, tem uma influência forte sobre a felicidade. A
sugestão do pesquisador é um planejamento mental mais elaborado. “Ao acordar sábado
de manhã”, escreve, “deveria se perguntar não só ‘o que vou fazer hoje’, mas ‘o que vou
fazer com minha mente’.” Controlar seus devaneios é uma das maneiras mais eficientes
de aumentar a felicidade, afirma. Outras sugestões incluem fazer exercício
regularmente, ganhar dinheiro (até certo ponto) e, ao que parece, casar. Mas há
controvérsias a respeito deste último (não adianta trocar de marido ou mulher toda hora,
por exemplo).
O artigo me fez pensar no Sammy. Aos 8 anos, ele já faz esse planejamento
mental. Onde será que aprendeu isso? Não foi comigo, garanto.
Talvez seja um exemplo da evolução darwiniana da espécie. Sabemos que o
homem é cada vez menos violento. Talvez tenha aprendido a ser cada vez mais feliz
também.
(Vejinha São Paulo, 01/02/2012)
8) PF liga vazamento atual da Chevron ao de 2011 e vê risco de novo
acidente
Delegado de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico dá como certo o vínculo
envolvendo perfurações da Chevron; não está descartada a hipótese de que causas
naturais estejam ligadas ao vazamento no dia 4, em fenda de 800 m de comprimento
Sabrina Valle e Clarissa Thomé
O último incidente no bloco operado pela Chevron no Campo do Frade pode estar
relacionado ao vazamento de 2,4 mil barris de óleo em novembro de 2011 e
representar riscos de um novo e grande vazamento, de acordo com especialistas e
técnicos envolvidos nas investigações.
O delegado de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal, Fábio
Scliar, dá como certo o vínculo. A petroleira alega não ter encontrado relação entre os
19
dois incidentes. Porém, a hipótese de que o reservatório apresente problemas de pressão
e haja risco é uma das mais fortes possibilidades na investigação.
"Essa perfuração deve ter causado uma hecatombe em volta do poço, com uma
série de microfissuras. E o óleo está pressionando para sair", disse Scliar. Técnicos da
Agência Nacional do Petróleo (ANP), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Petrobrás também investigam a origem do
óleo que escapou, mas os relatórios não foram concluídos.
Não está descartada a possibilidade de que as borbulhas de petróleo que
surgiram no dia 4 em uma fenda de 800 metros de comprimento, a três quilômetros de
onde ocorreu o vazamento de novembro, tenham causas naturais. A Chevron diz ter
coletado apenas cinco litros de óleo.
No entanto, ganha força a hipótese de que um erro da empresa americana tenha
provocado problemas de pressão no reservatório, com o petróleo procurando agora
novos caminhos sob a terra para aflorar. Avaliações preliminares do Ibama também
apontaram para um efeito de causa e consequência. Se comprovada essa tese, há
possibilidade de condenação criminal pela Justiça, e não apenas autuações e multas por
parte do Ibama e da ANP.
"Mas seria necessário provar que houve negligência, imperícia ou imprudência,
que são os elementos formadores da culpa ou dolo", disse o advogado especialista em
Direito Ambiental Carlos Maurício Ribeiro, sócio do escritório Vieira Rezende.
Segundo Scliar, a empresa pode ter falhado ao escolher o local da perfuração. "Não me
surpreende (o vazamento). Robustece a tese de que o poço não poderia ter sido
perfurado ali, numa formação rochosa mais recente e, portanto, mais frágil", diz Scliar.
Como considera que os vazamentos estejam interligados, a PF manterá o
inquérito aberto em novembro, que está no Ministério Público para avaliação. O MP
pode posteriormente oferecer uma denúncia, que seguiria para a Justiça. A Chevron
também poderá ser autuada por não ter comunicado imediatamente a ANP sobre o
incidente, registrado inicialmente no dia 4, mas notificado quase dez dias depois.
As falhas de divulgação podem chegar a detalhes geológicos, como um
afundamento do terreno próximo ao poço, que teria sido informado ao Ibama e à ANP
depois de ter sido divulgado pela imprensa internacional.
Nova medida. O procurador da República em Campos, Eduardo Santos, responsável
pelo inquérito que apura o acidente de novembro, disse que "estuda uma nova medida"
de eventual punição à empresa, que seria pedida à Justiça. "A fenda pode ter sido
causada ou precipitada pelo excesso de pressão. Não se sabe que quantidade de óleo há
nessa rocha." A Chevron não está autorizada a perfurar novos poços nem a injetar água
no campo de Frade desde o último acidente./COLABOROU FELIPE WERNECK
20
(O Estado de S.Paulo, 17/03/2012)
17/03/2012 - 11h49 (UOL Notícias)
9)
Detectada mancha de óleo de 1km do vazamento da Chevron
Comente
Rio de Janeiro, 17 mar (EFE) – A Marinha detectou neste sábado uma tênue mancha de
óleo com cerca de um quilômetro de extensão no Oceano Atlântico, após o vazamento
anunciado na quinta-feira pela companhia petrolífera americana Chevron.
A mancha está a 130 quilômetros do litoral do estado do Rio de Janeiro, na região do
Campo de Frade, onde aconteceu o vazamento, causado por uma rachadura no fundo do
mar, atestou comunicado conjunto da Marinha, da Agência Nacional do Petróleo (ANP)
e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).
O vazamento foi identificado a três quilômetros de distância do poço da Chevron que
teve de ser selado em novembro após o vazamento de 2,4 mil barris de petróleo.
As autoridades anunciaram que no começo da próxima semana haverá uma reunião para
avaliar os danos ambientais e coordenar as ações de resposta.
O Ministério Público Federal se pronunciou na sexta-feira que pretende apresentar
denúncia penal contra os responsáveis da companhia americana pelo derramamento
desta semana e pelo de novembro.
21
A empresa já é alvo de diversas multas e enfrenta processos que pedem a cassação da
licença de operação no Brasil, além do pagamento de inúmeras indenizações.
Ao divulgar o recente derramamento, a Chevron comunicou que vai suspender
temporariamente a produção de petróleo no Campo de Frade, que fica na Bacia de
Campos, região de onde é extraído cerca de 90% do petróleo do Brasil.
Por dia, a Chevron retirava 61,5 mil barris de petróleo do Campo de Frade, que tem
reservas estimadas entre 200 e 300 milhões de barris de petróleo recuperáveis.
A companhia americana é a operadora do projeto, com 51,74% das ações. O restante é
dividido entre a Petrobras, com 30%, e o consórcio japonês Frade, com os 18,26%
restantes.
22
DISCURSO DIRETO E INDIRETO
Discurso direto: reprodução literal das palavras do entrevistado. É o caso da entrevista
pingue-pongue e da inserção (entre aspas) de declaração de alguém.
Discurso indireto: em vez de reproduzir a fala do entrevistado, o jornalista conta o que
ele disse (sem aspas), usando para isso verbos dicendi, que se distribuem em oito áreas
de significação:
1) de dizer: afirmar, declarar;
2) de perguntar: indagar, interrogar;
3) de responder: retrucar, replicar;
4) de contestar: negar, objetar;
5) de exclamar: gritar, bradar;
6) de pedir: solicitar, rogar;
7) de exortar: animar, aconselhar;
8) de ordenar: mandar, determinar.
Variar os verbos dicendi impede que o texto se torne repetitivo. Cuidado, no entanto,
com modismos. Leia uma lista de verbos dicendi sugerida por Eduardo Martins no
Manual de redação e estilo OESP, verbete DIZER.
Substitua, oralmente, os verbos dicendi nesta notícia.
McCain admite derrota eleitoral e parabeniza Obama
O senador John McCain admitiu nesta madrugada sua derrota eleitoral e
parabenizou o rival Barack Obama pela vitória na corrida pela presidência dos EUA.
Durante o discurso em Fênix, no estado do Arizona, McCain disse que o povo
americano "falou claramente", sobre a vitória de Obama. O candidato derrotado à
presidência americana disse que ligou para Obama para parabenizá-lo pela vitória.
McCain disse que Obama inspirou as pessoas, que tiveram pouca esperança
sobre seu papel nas eleições para votar, "em especial para os afro-americanos".
"A américa é uma terra que oferece oportunidade para aqueles que procuram (...) Não
há razão para os cidadãos americanos deixarem de cumprir seu papel", disse.
McCain citou a avó de Obama, que morreu na última segunda-feira: "Ela deve
estar muito orgulhosa do que o homem que ajudou a criar alcançou".
"Esses são tempos difíceis para o país, espero que todos os americanos que me
apoiaram ofereçam apoio para unir as diferenças e restaurar o nosso país, para deixálo melhor do que como o herdamos", disse McCain enquanto era vaiado pela
multidão.
Ele disse que o sentimento de desapontamento é "natural", e assumiu a culpa
pela derrota. "Lutamos o máximo que pudemos, a falha foi minha e não de vocês",
disse o senador.
McCain agradeceu a família, os filhos e os amigos pelo apoio. "As campanhas
são mais difíceis para a família, do que para o candidato", disse ao afirmar que
esperava dias de paz.
No fim do discurso, McCain agradeceu ainda a vice Sarah Palin pela
participação na campanha. "Uma voz expressiva dentro do partido, no Estado do
Alasca [onde Palin é governadora] e pela incansável dedicação à causa", disse.
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TEXTO I:
“O verbo dicendi é tão importante que, ao trocá-lo, você pode virar uma declaração pelo
avesso. Por exemplo:
“Sou inocente”, disse.
“Sou inocente”, esclareceu.
“Sou inocente”, insistiu.
“Sou inocente”, alegou.
“Sou inocente”, mentiu.
Neutro, simples e direto, o verbo dizer costuma ser o melhor na maioria dos casos. Seu
emprego constante, entretanto, deixa certos textos frios e monótonos. Para fugir da
mesmice, socorra-se na riqueza vocabular da língua portuguesa. Mas consulte o
dicionário quando tiver dúvidas sobre o sentido preciso do termo.
Escolhido o verbo, veja se ficou claro quem disse o quê. Esse cuidado elementar é
muitas vezes negligenciado.
Numa declaração mais longa, facilite a vida do leitor. Identifique o autor antes de abrir
aspas ou logo depois da primeira frase — não ao final da última.
Escreveu o jornalista Lago Burnett: “Bom jornalista é aquele que, além da informação,
possui condições de transmitir essa informação em linguagem acessível ao mercado
comprador. Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um
contato íntimo com os bons autores”.
ou
“Bom jornalista é aquele que, além da informação, possui condições de transmitir essa
informação em linguagem acessível ao mercado comprador”, escreveu o jornalista Lago
Burnett. “Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um
contato íntimo com os chamados bons autores.”
Nas declarações com duas ou três frases, dispense o segundo verbo dicendi. O último é
quase sempre redundante.
(Manual de estilo Editora Abril, p. 32 e 33)
TEXTO II:
Ao reproduzir uma declaração textual, o jornalista não deve alterar a literalidade do que
foi dito, a não ser para eliminar repetições ou palavras próprias da linguagem oral, desde
que jornalisticamente irrelevantes, ou para ordenar ideias com o objetivo de facilitar a
leitura.
Em textos noticiosos, o objetivo de reproduzir declarações é garantir o acesso do leitor
ao discurso concreto de quem declarou. Devem ser reproduzidas apenas as frases mais
importantes, expressivas e espontâneas do personagem da notícia. Não devem ser
reproduzidas ideias que possam ser melhor expostas através do discurso indireto do
jornalista*.
As declarações textuais devem ser valorizadas pela sua raridade. Quanto menos forem
usadas, mais valor terão perante o leitor. Sua importância é medida pelo inusitado que
determinada opinião possa ter na boca de uma personalidade ou pelo impacto que possa
causar junto ao público. Recomenda-se não abrir textos com declarações textuais. Deve-
24
se evitar reproduzir declarações textuais com mais de três linhas. (...) Quando houver
necessidade de chamar a atenção do leitor para algo errado ou estranho no texto
original, admite-se o uso da palavra latina sic1 entre parênteses.
(Manual Geral da Redação – Folha de S.Paulo)
Ex.: “O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou pública ontem uma posição que
havia meses manifestava apenas nos bastidores em relação às eleições municipais de
São Paulo em 2012: seu apoio à candidatura do ministro da Educação, Fernando
Haddad, para a sucessão de Gilberto Kassab. Os sinais de que Lula já iniciou a
campanha de Haddad incomodam setores do PT, que temem pelo "tratoraço" na escolha
do candidato.
"Acho que o companheiro Haddad é adequado", afirmou após ser questionado sobre seu
apoio ao ministro, para em seguida minimizar e não ferir suscetibilidades. "Foi (sic)
ministro da Educação e acho que ele está na disputa. Agora, quem vai decidir são os
delegados do PT." (Jornal da Tarde, 16 de julho de 2011)
TEXTO III:
Em princípio, os verbos mais recomendáveis para textos que envolvam declarações são
os insubstituíveis dizer, afirmar, declarar, garantir, prometer e poucos mais.
No seu lugar, podem ser usados outros, desde que com muito critério, entre os quais
acreditar, achar, julgar, admitir, esclarecer, explicar, concluir, prosseguir, etc.*
(Manual de redação e estilo – OESP)
Obs.: Veja relação dos possíveis substitutos no verbete dizer desse manual.
Observe nesta matéria a alternância dos discursos e dos verbos dicendi, o que evita
a redundância e a monotonia:
PRESIDENTE DA FUNAI CHEGA APÓS FUNERAL
Júlio Gaiger prometeu acelerar processo
de demarcação das terras dos índios pataxós
Pau Brasil — O presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Júlio Gaiger,
chegou à aldeia dos pataxós hã-hã-hães por
volta das 19 horas, uma hora depois de o
corpo do índio Galdino Jesus dos Santos ter
sido enterrado.
“Vim com o objetivo de acompanhar o
enterro, mas houve problemas técnicos com
o voo”, disse Gaiger, que chegou a Ilhéus a
bordo de um bimotor da Funai.
Ele afirmou que uma das formas de
homenagear Galdino seria “enfrentar o
problema de demarcação das terras dos
índios pataxós”.
Gaiger adiantou que poderá começar
acelerando o processo de demarcação de
1
Sic: palavra latina que significa assim, desta maneira. Palavra que se pospõe a uma citação, ou que nesta
se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para indicar que o texto original é bem assim, por errado
ou estranho que pareça.
25
788 hectares, determinado pela Justiça
desde dezembro do ano passado.
“Mas o processo não é automático nem há
certeza de que a decisão do juiz já tenha sido
publicada; só tomei ciência pelos próprios
índios.” Entretanto, Gaiger prometeu
analisar os aspectos jurídicos.
Críticas — O presidente da Funai criticou as
ações governamentais nas áreas de saúde e
agricultura realizadas nas terras dos pataxós e
admitiu que “é preciso rediscutir a parceria
intragovernamental”.
Ele contou que a Fundação Nacional de
Saúde furou poços na aldeia dos pataxós,
mas não trouxe tratamento de água, que hoje
é imprópria para consumo.
Júlio Gaiger disse que vai negociar com os
Ministérios da Saúde e da Agricultura “para
que haja participação mais intensa das outras
pastas”. O presidente da Funai retornou
ontem mesmo a Brasília, onde terá uma
reunião ministerial hoje.
(OESP, 23/04/97)
Observe o erro do jornalista do site da Aol:
Morre escritor Fernando Sabino aos 80 anos no Rio
RIO DE JANEIRO (Reuters) – O escritor Fernando Sabino, autor de O encontro
marcado e O grande mentecapto, morreu nesta segunda-feira em sua casa, no Rio de
Janeiro, um dia antes de completar 81 anos. O velório deve ser realizado no Cemitério
São João Batista, nesta segunda-feira, e o enterro está previsto para as 11h de terça.
Sabino esteve internado na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no bairro de
Laranjeiras, zona sul da cidade, entre os dias 24 e 27 de setembro para realizar exames
de rotina, segundo a diretora da clínica, Cláudia Azevedo. Segundo a diretora, o escritor
vinha há cerca de dois anos lutando contra um câncer de esôfago.
"Ele esteve internado na clínica por 72 horas realizando exames de rotina, mas
vinha lutando há mais de dois anos contra um câncer de esôfago", disse ela à Reuters
por telefone. Cláudia recebeu a notícia da morte do escritor por meio de uma filha dele.
Mineiro de Belo Horizonte, Sabino nasceu no dia 12 de outubro de 1923. Em 1956,
publicou o romance Encontro marcado, grande sucesso de venda que também foi
adaptado para o teatro. O escritor também teve passagens pelo jornalismo, trabalhando
no Jornal do Brasil, na rede britânica BBC e nas revistas Manchete e Cláudia.
Outra obra de repercussão do escritor foi Zélia, uma paixão, biografia publicada
em 1992 de Zélia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda no governo de Fernando
Collor de Mello.
EXERCÍCIOS
Transforme estas entrevistas em textos corridos. Não se esqueça do lead, que você
deverá extrair da própria entrevista.
26
1)
Super: Eduardo Piacsek, qual sua profissão e quanto tempo você trabalhou na
Antártida?
Eduardo: Sou físico e trabalhei lá durante três meses.
Super: Como foi seu trabalho?
Eduardo: A chegada foi traumática. O clima seco e as baixas temperaturas dificultavam
a locomoção. Qualquer descuido podia causar acidentes. Mas ficar isolado em uma ilha,
à mercê dos caprichos da natureza, foi interessante.
Super: Que tipo de pesquisa você fez?
Eduardo: Trabalhei com geomagnetismo. Eu operava equipamentos que monitoravam a
variação do campo magnético da Terra.
Super: Foi difícil ficar tão longe?
Eu me lembrava muito da minha mulher e do meu filho de 4 anos. As notícias
chegavam por telefone e a ligação custava caro. Mas a Internet amenizou a minha
estada.
(Superinteressante, novembro 1998)
2) Meu advogado é Oxalá
A Justiça do Trabalho do Amapá condenou uma empresária do estado a pagar 5 000
reais ao pai de santo Antônio Romão Batista. Ela se recusava a pagar por “serviços
espirituais” que Pai Antônio lhe teria prestado. O médium falou ao repórter Leonardo
Coutinho.
Veja – Os espíritos não o avisaram de que o senhor levaria um calote?
Fui pego de surpresa. Costumo cobrar antecipado, mas abri exceção porque essa
empresária era cliente antiga. Quando apresentei a conta, ela se recusou a pagar.
Veja – Quanto o senhor cobrou?
15 000 reais.
Veja – Tudo isso?
Há trabalhos mais caros, depende do problema que a pessoa quer resolver. No caso dela,
era um descarrego completo: limpar a empresa de coisas ruins e abrir caminhos nos
negócios.
Veja – Como o senhor provou à Justiça que fez o descarrego?
Eu incorporo uma entidade chamada Constantino Baiano Grande Chapéu de Couro. Ele
me mandou tirar fotos da empresária no terreiro.Na hora, não entendi o motivo, mas,
quando ela disse à juíza que nunca havia solicitado meus serviços, mostrei as fotos.
Veja – E isso bastou?
As fotos ajudaram. Mas também tive o testemunho de um amigo que frequenta o
terreiro e atua como meu ajudante nos trabalhos espirituais.
Veja – O senhor fez alguma mandinga para ganhar o processo?
Não precisou. Meu advogado ninguém derruba, que é Oxalá. Ele vê tudo, e viu que eu
não queria nada que não fosse meu. Não consegui os 15 000 reais que pretendia, mas
levei 5 000 reais. Já estou satisfeito. (Veja, 2/07/2008)
3) É para ajudar quem tem disfunção erétil
O prefeito do município chileno de Lo Prado, Gonzalo Navarrete, está distribuindo
Viagra aos idosos de sua cidade. Navarrete conversou com a repórter Heloisa Joly.
Veja – Por que o senhor decidiu distribuir Viagra?
Navarrete – Quero promover o conceito de idoso ativo – aquele que usa internet, pratica
esportes, tem lugares de encontro e uma vida sexual saudável.
Veja – O que é preciso fazer para ganhar Viagra?
27
Navarrete – Não vamos dar a qualquer um, mas só àqueles que precisam mesmo. O
cidadão tem de ter mais de 60 anos de idade e disfunção erétil.
Veja – Como a população recebeu essa iniciativa?
Navarrete – No início, as mulheres casadas não gostaram. O Chile é muito conservador.
Mas, quando dissemos que o remédio é para ajudar quem tem disfunção erétil nas
relações dentro do casamento, elas aprovaram. Agora, são as mais contentes com a
ideia.
Veja – Nenhum setor da sociedade reclamou?
Navarrete – Não, inclusive outros prefeitos disseram que vão copiar a medida. Você tem
de ver que há casais que estão há mais de cinco anos sem relação sexual. Precisamos
fazer algo por eles.
Veja – Quantos anos o senhor tem?
Navarrete – 51. Ainda me restam alguns anos...
Veja – O senhor já usou esse remédio?
Navarrete – Não. Mas, se um dia precisar, vou tomar. Usado em condições seguras,
funciona.
(Veja, edição 2059, ano 41, n. 18, 7 de maio de 2008, p.48)
4) Só estou fazendo o meu trabalho
O consultor de dramaturgia da Rede Record, Tiago Santiago, ganhou um desafeto 2 na
emissora. O autor Lauro César Muniz não gostou das considerações feitas por ele sobre
a sinopse de sua próxima novela e, em resposta, declarou que não segue o maniqueísmo3
defendido pelo consultor há tempos. Tiago conversou com a repórter Heloísa Joly.
Veja – Quais são suas considerações sobre a sinopse de Lauro César Muniz?
Santiago – Só estou fazendo o meu trabalho e não vou falar sobre essa polêmica, não
quero alimentá-la. Fiz considerações, como a necessidade de haver um protagonista
herói, mas isso é um assunto interno.
Veja – Suas novelas são maniqueístas?
Santiago: Não, nas minhas novelas há o herói e o vilão, mas tem gente de todo tipo no
meio deles. Minha obra não é retrógrada4 nem mexicana.
Veja – E isso atrai o público?
Santiago: Querida, isso está na psique5 humana. Tenho respeito pela obra do Lauro,
mas, com essa fórmula, conseguimos 20 pontos de audiência. É preciso atenção para
que esse sucesso continue. Ajudei a construir esse núcleo de dramaturgia..
Veja – O que você faz como consultor?
Santiago – Leio sinopses e faço considerações sobre elas. Ajudei também a intermediar
a vinda do Lauro e de outros autores para cá.
Veja – Obrigada pela atenção.
Santiago – Não quero ficar mal com o Lauro nem com os outros, sabe? Não me deixe
mal com o Lauro, por favor.
5) – Rita Lee 79 quem é? É Rita Lee de Miss Brasil 2000, ou uma outra?
– Esse disco, que não tem nome, é um material novo e tem uma diversificação muito
grande de temas. Tem uma continuidade do que eu vinha fazendo, aquela coisa
roqueira, tem muita coisa de discoteque, de que eu gosto muito e não tenho nenhum
preconceito. Tem coisa bem brasileira que introduzi: percussão brasileira dentro da
discoteque. Tem uma coisa que eu nunca fiz antes, que é uma coisa romântica, uma
2
Desafeto: Adversário, inimigo, rival.
Maniqueísmo: Doutrina que se funda em princípios opostos, bem e mal.
4
Retrógrado: Que é contrário ao progresso.
5
Psique: A alma, o espírito, a mente.
3
28
balada. Tem coisa pra criança, uma música que se chama Maria Mole, muito engraçada.
Enfim, tem vários temas e, como é o último trabalho, é o que a gente curte mais. E este
ano não vou fazer show por causa do nenê, que nasce em agosto, coincidindo com a
época do lançamento do disco. Vou fazer só televisão. Então eu não sei qual é a Rita
Lee 79. Eu não sei, porque eu gosto de todas elas. Tem um pouquinho de mim em todas.
– Para o tipo de música que você faz, e que funciona muito em apresentações ao vivo,
você não acha que ficar sem fazer shows até o final do ano pode afastar um pouco o
seu público?
– Não porque eu vou compensar fazendo televisão. Geralmente faço um disco e logo
depois o show desse disco, com o mesmo nome, inclusive. Neste eu vou transar a
penetração através de programas de televisão. Televisão você tem de saber aproveitar
legal, quer dizer, fazer aqueles programas-chave bem feitos que daí não fica distante do
público. Tenho recebido muita carta pedindo presença no Globo de Ouro, no Fantástico.
Como não vou fazer show, vou fazer uma coisa bem feita em televisão, o que eu nunca
fiz. Em televisão, geralmente, tem aquele padrão em que eles dizem: “Você vai cantar
aquela música assim, assim, assim.” Desta vez vou procurar me juntar ao pessoal, bolar
o programa junto, fazer todo cheio de baratinhos visuais, porque a televisão é visual,
né?
– Mas seu público assiste a televisão?
– Assiste, assiste. A meninada que me escreve - eu recebo muita carta do Brasil inteiro
Eles me pedem. (imitando):“Puxa, você podia fazer um Globo de Ouro pra gente ver
sua cara. Dá as caras, você não vem aqui em Belém. Faz tempo que a gente não te vê”.
Então vai compensar por esse lado. Claro que show, em matéria de prazer, é melhor.
Você chega com todo o equipamento, monta na cidade e daí faz aquele bochincho todo,
o pessoal vai ver e faz uma festa. Mas isso aí eu vou deixar para 80.
– Quando o filho já estiver ...
– (rindo) Sem mamar.
29
As máximas de Grice
Segundo o filósofo americano da linguagem Paul Grice, o princípio básico que
rege a comunicação humana é o Princípio da Cooperação, isto é, quando duas pessoas
se propõem a interagir verbalmente, normalmente irão cooperar para que a interlocução
transcorra de maneira adequada. Para isso ele postula quatro máximas:
1) máxima da quantidade: não diga nem mais nem menos do que o necessário;
2) máxima da qualidade: só diga coisas para as quais tem evidência adequada;
não diga o que sabe não ser verdadeiro;
3) máxima de relação ou relevância: diga somente o que é relevante, pertinente;
4) máxima do modo: seja claro e conciso, evitando a obscuridade e a
prolixidade.
É possível, porém, que intencionalmente quem produz a mensagem queira
infringir alguma dessas máximas, cabe então ao ouvinte/leitor tentar descobrir o motivo
da desobediência. Um exemplo dado por Grice é o seguinte: um professor universitário
escreve a um colega pedindo referência sobre a capacidade intelectual de um ex-aluno
do primeiro, pois o rapaz é candidato a uma vaga de assistente. A resposta foi: “Tem
boa letra e não costuma chegar atrasado.” O professor consultado infringiu a máxima da
relevância, pois omitiu o que era mais importante. Mas, de acordo com a máxima da
quantidade, disse o suficiente para que o colega entendesse que o candidato era fraco.
I - Escrever é a arte de cortar palavras
(Armando Nogueira)
Escrever é cortar palavras. Passei alguns anos certo de que o autor dessa
preciosa máxima era Carlos Drummond de Andrade. Até que um dia perguntei ao poeta.
Ele conhecia, mas negou que fosse dele. Confesso que fiquei desapontado. A sentença
tinha a cara do mestre Drummond cuja prosa é um exemplo de concisão.
Otto Lara Resende desconfiava que pudesse ser de um escritor mexicano a ideia
da dica preciosa. Eu, por mim, seria capaz de atribuí-la a John Ruskin, notável escritor e
crítico inglês do século passado. Se não o disse, com todas as letras, certamente foi
Ruskin quem melhor ilustrou o adágio, num conto antológico. É o caso de um feirante
de peixes num porto britânico.
O homem chega à feira e lá encontra seu compadre, arrumando os peixes num
imenso tabuleiro de madeira. Cumprimentam-se. O feirante está contente com o sucesso
do seu modesto comércio. Entrou no negócio há poucos meses e já pôde até comprar
um quadro-negro pra badalar seu produto.
Atrás do balcão, num quadro-negro, está a mensagem, escrita a giz, em letras
caprichadas: HOJE VENDO PEIXE FRESCO. Pergunta, então, ao amigo e compadre:
– Você acrescentaria mais alguma coisa?
O compadre releu o anúncio. Discreto, elogiou a caligrafia. Como o outro insistisse,
resolveu questionar. Perguntou ao feirante:
– Você já notou que todo dia é sempre hoje? – E acrescentou: – Acho
dispensável. Esta palavra está sobrando...
O feirante aceitou a ponderação: apagou o advérbio. O anúncio ficou mais
enxuto. VENDO PEIXE FRESCO.
– Se o amigo me permite – tornou o visitante –, gostaria de saber se aqui nesta
feira existe alguém dando peixe de graça. Que eu saiba, estamos numa feira. E feira é
30
sinônimo de venda. Acho desnecessário o verbo. Se a banca fosse minha, sinceramente,
eu apagaria o verbo.
O anúncio encurtou mais ainda: PEIXE FRESCO.
– Me diga uma coisa: por que apregoar que o peixe é fresco? O que traz o
freguês a uma feira, no cais do porto, é a certeza de que todo peixe, aqui, é fresco. Não
há no mundo uma feira livre que venda peixe congelado...
E lá se foi também o adjetivo. Ficou o anúncio reduzido a uma singela palavra:
PEIXE.
Mas, por pouco tempo. O compadre pondera que não deixa de ser menosprezo à
inteligência da clientela anunciar, em letras garrafais, que o produto aí exposto é peixe.
Afinal, está na cara. Até mesmo um cego percebe, pelo cheiro, que o assunto, aqui, é
pescado...
O substantivo foi apagado. O anúncio sumiu. O quadro-negro também. O
feirante vendeu tudo. Não sobrou nem a sardinha do gato. E ainda aprendeu uma
preciosa lição: escrever é cortar palavras.
(Revista Imprensa, abril 1995)
“O estilo é a arte de dizer o máximo com o mínimo de palavras.” (Jean Cocteau6)
“Você deve escrever como se estivesse mandando um telegrama internacional pago do
seu próprio bolso.” (Ernest Hemingway7)
Nada mais penoso para mim que a busca da expressão adequada, da propriedade
vocabular. Há mil maneiras de dizer uma coisa e só uma é perfeita. Para descobri-la, a
gente pode levar a vida inteira. Levei exatamente trinta anos para encontrar o final certo
da novela O bom ladrão.
Acredito que escrever seja, basicamente, cortar. Cortar o supérfluo. Eliminar
repetições, ecos, rimas, cacófatos, redundância, lugares-comuns.
Escrever, bem ou mal, é para mim cada vez mais difícil. Tenho dificuldade para
escrever até um cartão de agradecimento ou um telegrama de pêsames. Certa vez Otto
Lara Resende8 estava na redação escrevendo um artigo, quando entrou um contínuo e
viu que ele batia à máquina sem copiar nada. Então se espantou:
— Uê, doutor Otto, o senhor tem redação própria?
— É que eu sei tudo de cor — ele respondeu.
Otto é um privilegiado: além do talento literário que Deus lhe deu, tem redação
própria.
Nem por isso deixa de ser um torturado para escrever.
(Fernando Sabino)
A observação é do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Escrever é a arte de
cortar palavras”. Esta proposta de concisão tornou-se famosa, tanto entre literatos como
entre jornalistas. Muitas vezes, porém, ela serve de consolo aos ignorantes ou de
6
Jean Cocteau: foi um poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo, ator e encenador de teatro
francês. Em conjunto com outros surrealistas da sua, conseguiu conjugar com maestria os novos e velhos
códigos verbais, linguagem de encenação e tecnologias do modernismo.
7
Ernest Hemingway: fazia parte da comunidade de escritores norte-americanos expatriados em Paris,
conhecida como "geração perdida", nome inventado e popularizado por Gertrude Stein. Levando uma
vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em 1952
publica O velho e o mar, com o qual ganhou o prêmio Pulitzer (1953), considerada a sua obra-prima.
Hemingway recebeu o Nobel de Literatura de 1954.
8
Otto Lara Resende: jornalista e escritor brasileiro.
31
estímulo à preguiça. Os conceitos de concisão e objetividade não devem ser
confundidos com os de insipidez e pobreza. A frase do poeta leva-nos à meditação sobre
um dos maiores problemas enfrentados por quem escreve, seja por dever do ofício, seja
por amor da literatura: conciliar concisão com elegância, fluência com clareza,
despojamento9 da frase com riqueza de conteúdo.
(MELLO E SOUZA, Cláudio. 15 anos de história. Rio de Janeiro: TV Globo, 1984.)
EXERCÍCIOS
1) Reduza estas frases ao mínimo possível:
1) Saí em companhia de uma garota que era bonita e que era simpática.
2) O cavalo que comprei e pelo qual paguei muito dinheiro, dali uns tempos, depois que
se passaram uns dias, começou a mancar da perna esquerda.
3) As pessoas que estavam presentes na sala houveram por bem dirigir-se para a
cozinha, com a intenção de tomar o seu café; e, depois que tomaram o café, voltaram
para a sala onde estavam antes.
2) Este anúncio foi publicado na Veja - São Paulo em 17/02/93
O insuperável e insuspeito jornal Folha de S.Paulo, através de sua edição de domingo,
Folhão, em mais um dos seus grandiosos gestos, dignos dos maiores encômios, lança
mais um benefício para você, ilustríssimo aficionado do fabuloso anúncio classificado.
Trata-se de uma ideia clara, objetiva, desprovida de retórica, onde, por apenas Cr$
25.000,00, esta quantia ínfima, irrisória, de somenos importância, sim, por tão-somente
25.000 cruzeiros por palavra, você anuncia confortavelmente pelo telefone de número
222-4000, aproveitando a eficiência deste órgão da nossa imprensa, que tanto orgulho
tem dado a nós, homens que tanto procuramos fazer deste país o lugar onde ...(...)
O próprio redator da W/Brasil encarregou-se de reduzir o anúncio a sete palavras
mais o número do telefone, tente fazer o mesmo, cortando tudo o que for supérfluo.
3) Em seguida, reescreva o seguinte texto, eliminando o supérfluo e acrescentando
os dados que forem necessários (lembre-se da fórmula do lead: 3Q+O+P+C):
Vinte pessoas morreram ontem às 20.30 hs., tragicamente, em um sensacional,
espetacular e belíssimo desastre, ocorrido nos limites dentro da cidade de São Paulo,
quando dois trens se chocaram fantasmagoricamente, na estação ferroviária local, em
virtude de lamentável falha do descuidado guarda-chaves. Um dos passageiros foi
completamente decapitado e sua cabeça, ao separar-se do corpo, provocou-lhe morte
instantânea. Várias das infelizes vítimas foram transportadas para nosocômios. A
primeira de todas a ser submetida a uma melindrosa intervenção cirúrgica foi a Exma.
Sra. D. Felisberta Silva, digníssima e virtuosa dama da nossa sociedade, a quem, nesta
hora das mais trágicas e horripilantes, rendemos os tributos de nosso maior respeito. O
distintíssimo e dedicado, além de eficiente diretor da Fepasa, o Exmo. Sr. Dr.
Engenheiro M. A. Pedroso, disse que nos planos da eficiente empresa está a adoção de
equipamento automático, para que desastres assim não se repitam outras vezes. (In
ERBOLATTO, Mário. Técnicas de Codificação em Jornalismo. Rio de Janeiro: Vozes,
1981. p. 98.)
9
Despojamento: qualidade de quem é despojado, que não apresenta ornamentos ou enfeites vistosos.
32
4) Leia o texto e, em seguida, responda aos exercícios:
Você é legível?
(Roberto Raposo)
“Sempre que podemos usar vinte e cinco
palavras em vez de cinquenta para dizer a
mesma coisa, reduzimos à metade o trabalho
do leitor e conferimos maior força ao que
dizemos.”
Como você redige os seus textos? Para descrever um incêndio, diz que “numa
voragem irresistível, as labaredas tudo destruíram” ou prefere dizer simplesmente que o
“o fogo destruiu tudo”? É claro que ambas as formas são corretas, mas a primeira é
muito menos legível que a segunda. E, para todo redator, é importante ser o mais legível
possível.
O que exatamente torna um texto mais legível que outro? Muitos são os
professores de redação que aconselham aos seus alunos: construam suas frases na ordem
direta (sujeito-verbo-objeto). Evitem a voz passiva. Usem palavras curtas e frases
curtas. Imprimam interesse humano àquilo que escrevem.
Excelentes recomendações, mas quantas sílabas deve ter uma palavra “curta”? A
palavra “irresistível” é curta ou longa? Quantas palavras deve ter uma frase “curta”? O
que constituiu “interesse humano”? Há algum meio de medir a legibilidade à base
desses critérios?
Em 1951, surgiu nos Estados Unidos um livro curioso que procurava responder
essas perguntas: The art of plain talk (A arte de falar claro).
O autor era Rudolf Flesch, austríaco que emigrou para a América um ano antes
do início da Segunda Guerra Mundial e doutorou-se pela Universidade de Columbia. Ao
longo de 20 anos de pesquisas na área de problemas de redação, Flesch contribui, entre
outras coisas, para tornar mais claros e legíveis os despachos noticiosos da Associated
Press.
Flesch partiu do princípio, já muito conhecido, de que há três fatores que tornam
um texto legível e interessante: períodos curtos, palavras simples (com um mínimo de
prefixos e sufixos) e um máximo de referências pessoais. Dita assim, a coisa parece
óbvia: períodos curtos tornam o texto ágil, ventilado, gostoso de ler. Palavras
complicadas e longas, como as que encontramos com frequência em textos técnicos,
dificultam a leitura. E todo mundo gosta de ler a respeito de pessoas, especialmente
quando a narrativa vem na primeira pessoa.
A novidade introduzida por Flesch é que ele sistematizou esses dados,
organizou-os e quantificou-os em tabelas destinadas a medir o grau de legibilidade de
um texto. Por adotar critérios universais, o trabalho de Flesch é válido para qualquer
língua ocidental. Os valores produzidos pelas tabelas, porém, podem variar entre uma
língua e outra e, para melhor adaptá-las ao português, língua menos sintética que o
inglês, tivemos de fazer certas modificações. O emprego das mesmas pode levar a uma
medida bastante aproximada da simplicidade ou prolixidade de qualquer texto.
O vício da prolixidade se deve, em grande parte, à desorganização mental. O
redator começa a escrever sem ter organizado de antemão as suas ideias. E, o que é pior,
não revisa adequadamente o que escreveu. O resultado é a anticomunicação: um texto
em desordem, ideias embaralhadas em um único período, complementos fora do lugar,
palavras supérfluas, frases inteiras que poderiam ser cortadas – tudo o que faz o mais
paciente dos leitores desistir da leitura.
33
Tenho em mãos um manual de redação técnica que me diz, logo no prefácio: “É
papel do educador (...) analisar o sistema educacional e, consequentemente,
interpretando o produto daí obtido, não só detectar suas falhas, mas igualmente
estabelecer linhas gerais de ação que, através de planejamento sistemático, contínuo e
realimentável, possam minimizar as entropias sistêmicas”. Trata-se de um bom exemplo
de como não escrever. Há muitas maneiras de evitar a prolixidade, mas eu gostaria de
aconselhar o leitor a fugir dos seguintes vícios:
 MUTILAÇÃO DO VERBO
O verbo é o elemento mais importante da oração. Retornando ao exemplo do
incêndio que citei na abertura deste artigo, vale a pena ver com um “repórter” chamado
Monteiro Lobato descreveu uma velha praga, a queimada do mato. Diz ele: “[A
labareda] oscila incerta; ondeia ao vento, mas logo encorpa, cresce, avulta, tumultua e,
senhora do campo, estruge10 com infernal violência...”
Imaginemos que Lobato tivesse escrito: “De início, observam-se oscilações na
labareda, ondulações provocadas pelo vento; mas logo ela ganha corpo, vai ficando
maior, sobe num tumulto”, etc., etc. Os verbos são substituídos por substantivos; a força
das frases diminui e o texto definha.
No entanto, há quem faça isso constantemente. Quem diz “o transporte desta
máquina é fácil”, em vez de “esta máquina é fácil, de transportar”, está incidindo no
vício da mutilação do verbo. Note-se que, sempre que substituo um verbo por um
substantivo, tenho de acrescentar outros elementos à frase e usar outro verbo (pois não
há oração sem verbo) para substituir o que mutilei. O resultado é a prolixidade que
vemos diariamente: “fazer uma recomendação” em vez de “recomendar”, “tomar uma
decisão” em vez de “decidir”, etc.
 MUTILAÇÃO DE OUTROS ELEMENTOS DA FRASE
Outras vezes, é o adjetivo que sofre. Em vez de dizer que “o tempo foi muito
instável este mês”, o redator prolixo diz que “a instabilidade do tempo foi muito grande
este mês”. Nove palavras em vez de sete. Ou sacrifica o substantivo: em vez de “o total
recolhido para depósito”, fala do “total recolhido para ser depositado”. E suas frases vão
ficando cada mais compridas.
 COMPLEMENTOS FORA DO LUGAR
Li recentemente no jornal: “Firmas particulares adquiriram helicópteros que
haviam sido desativados pela polícia por 50 mil dólares”. A pergunta que logo me veio
à cabeça foi: quem pagou 50 mil dólares à polícia para desativar esses helicópteros? É
claro que o redator queria dizer que as firmas tinham adquirido por 50 mil dólares certos
helicópteros desativados pela polícia. E poderia ter feito pior, escrevendo algo como
“firmas particulares adquiriram da polícia, por 50 mil dólares, helicópteros”. Quando
você escrever, procure pôr os elementos da frase no lugar certo.
 PALAVRAS INÚTEIS
Evite o uso de expressões que podem ser substituídas por outras mais curtas ou
simplesmente eliminadas, como “no sentido de”, “com efeito”, “para fins de”, “por
sinal”, “não obstante”. Ou de palavras desnecessárias: não diga “ela é uma mulher
extremamente bonita”, e sim “ela é extremamente bonita”. Não inclua em seu texto
10
Estrugir: Fazer estremecer com estrondo; atroar; estrondear.
34
informações desnecessárias ou que possam ser induzidas do que você já disse. Evite a
negativa prolixa: há quem diga “todos eles não sabem”, em vez de “nenhum deles
sabe”. Não diga “os mapas que acompanham este relatório”, e sim “os mapas anexos”.
Não diga “há a possibilidade de que”, e sim “pode ser que”. E assim por diante.
 REFERÊNCIA ERRADA
Muito mais comum do que pode parecer é o período em que o autor começa com
um sujeito e termina com outro. Exemplo: “Achando que essa situação era intolerável,
ficou decidido que...” ou então: “Correndo pela praia de manhã, os meus pulmões
respiram melhor” (e o leitor fica imaginando o belo quadro que serão os pulmões do
autor, fazendo cooper na orla da praia em uma manhã de sol).
E há também o famigerado erro do tipo “um daqueles que é”, tão fácil de perceber, e, no
entanto, cometido tantas vezes. Quem diz “ele é um dos autores que merece meu
respeito”, em vez de “ele é um dos autores que merecem meu respeito”, não sabe
distinguir onde termina a proposição no singular e onde começa a proposição plural. Se
o pronome relativo “que” se referisse a “ele”, a frase poderia ser escrita: “ele, que
merece meu respeito, é um dos autores”, o que não tem sentido ou não é a mesma coisa.
Mas, se se refere a “autores”, como de fato se refere, o verbo tem de vir no plural.
A justificativa para tal erro – que, de repente, parece ter entrado em moda – é um
falso raciocínio. A construção “ele é um dos profetas que proclama” é supostamente
justificada pela outra: “dos profetas, ele é um que proclama”. Mas temos aqui duas
construções distintas: na primeira, o pronome relativo “que” se refere a “profetas”, na
segunda refere-se a “ele”. Ou você usa uma ou outra.
Confundir entre as duas leva o redator a confundir entre o singular e plural e
escrever coisas como “uma das mais lindas casa”, “um dos melhores aluno”, e absurdos
semelhantes.
 VOZ PASSIVA
Sempre que possível, evite a voz passiva. Não só a voz passiva é mais prolixa
(“o leite foi bebido pelo gato”, em vez de “o gato bebeu o leite”), mas, na maioria dos
casos, é simplesmente injustificada, como em “será criado pelo Departamento”, em vez
de o “Departamento criará”. Além disso, frequentemente contribui para a indefinição do
texto (como em “várias hipóteses foram aventadas11”, oração que não revela quem
aventou as hipóteses).
Neste segundo caso, aliás, a voz passiva virou norma em círculos burocráticos e
técnicos, em cuja literatura, aparentemente, ninguém faz nada. As coisas simplesmente
acontecem – contatos são “feitos”, fenômenos são “observados”, conclusões são
“apresentadas”, sem que o leitor fique sabendo quem foi o responsável por essas ações.
A voz passiva pode tornar-se uma espécie de esconderijo, às vezes muito conveniente
para o autor, mas reduz o interesse humano do texto: torna-o chato e monótono e
contribui para a prolixidade.
Em abril de 1964, a revista Materials Research and Standards, da ASTM (órgão
oficial norte-americano para testes de materiais), advertiu em editorial: “A partir deste
número, a ASTM resolveu suspender a publicação de histórias de mistério. De agora em
diante, os estudos publicados nesta revista serão redigidos de tal modo que os nossos
leitores fiquem sabendo quem pesquisou, de quem são as opiniões ventiladas, e quem
apresenta as conclusões finais”. E recomenda aos autores dos estudos: “1) Escrevam na
11
Aventar: apresentar (ideia, hipótese, possibilidade, etc.), como algo que pode vir a ser cogitado.
35
primeira pessoa. Se o autor for um só, use “eu”; se não, use “nós”. 2) Usem verbos na
voz ativa. Não digam “os espécimes foram examinados”, e sim “examinei (ou
examinamos) os espécimes”. Excelentes e sábios conselhos.
Curiosidade

“Teste a legibilidade do texto
Se lemos algo com dificuldade, o autor fracassou.
Jorge Luís Borges
Em grego, hedone. Em português, hedonismo. Numa e noutra língua, o
significado se mantém. É prazer. A sensação gostosa virou doutrina da filosofia.
Segundo ela, o prazer deve ser considerado o objetivo principal dos atos humanos.
Alguns concordam. Outros não. Mas uma coisa é certa. Ninguém gosta de
sofrer. A regra vale para a leitura. Texto difícil não tem vez. E não é de hoje.
Montaigne, no século XVI, disse com todas as letras: “Ao encontrar um trecho difícil,
deixo o livro de lado”. Por quê? “A leitura é forma de felicidade”, respondeu ele.
A observação não se restringe a livros. Engloba jornais, revistas, cartas
comerciais, redações escolares, receitas de comidas gostosas. Sem fisgar o leitor, adeus,
emprego! Adeus, nota boa! Adeus, sobremesa dos deuses! Por isso, roguemos ao
Senhor. Que Ele ilumine mentes, penas e teclados. E cada um faça a sua parte.
Como avaliar o índice de dificuldade do escrito? O assunto começou a preocupar
os americanos há uns sessenta anos. Pesquisas sobre a leitura do texto jornalístico
despertaram o interesse de professores e alunos de várias universidades. Um dos
resultados dos estudos foi o teste de legibilidade. Alberto Dines, então do Jornal do
Brasil, adaptou-o para o português.
Eis a receita:
1. Conte as palavras do parágrafo.
2. Conte as frases (cada frase termina por ponto).
3. Divida o número de palavras pelo número de frases. Assim, você terá a
média da palavra/frase do texto.
4. Some a média da palavra/frase do texto com o número de polissílabos.
5. Multiplique o resultado por 0,4 (média de letras da palavra na frase de
língua portuguesa)
6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade.
Possíveis resultados:
1 a 7: história em quadrinhos
8 a 10: excepcional
11 a 15: ótimo
16 a 19: pequena dificuldade
20 a 30: muito difícil
31 a 40: linguagem técnica
acima de 41: nebulosidade
36
Testemos o parágrafo abaixo:

“Em boca fechada não entra mosca”, diz a vovó repressora. “Quem não
erra perde a chance de acertar”, responde o neto sabido. Ele aprendeu
que, nas organizações modernas, a competição é o primeiro mandamento.
E, cada vez mais, impõe-se a necessidade de falar em público. Muitos
servidores, porém, concordam com a vovó. Estremecem só de imaginar a
hipótese de abrir a boca diante de uma plateia. Dizem que não nasceram
para os refletores. Falta-lhes vocação. A ciência prova o contrário. Falar
bem não é dom divino. Falar bem – como nadar bem, escrever bem,
saltar bem – é habilidade. Exige treino.
Confira:
1. Palavras do parágrafo: 101
2. Número de frases: 12
3. Média da palavra/frase (101 dividido por 12): 8,41
4. 8, 41 + 12 (número de polissílabos) = 20,41
5. 20,41 x 0,4 = 8,16
Resultado: legibilidade excepcional
Agora, avalie um texto seu. Pode ser uma carta, um artigo, uma reportagem.
Antes de começar, lembre-se: aplique a receita de parágrafo em parágrafo. Se o
resultado ficou acima de 15, abra o olho. Facilite a vida do leitor. Você tem dois
caminhos. Um: diminua o tamanho das frases. O outro: mande algumas proparoxítonas
dar umas voltinhas por aí. O melhor: abuse de ambos.”
(SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São
Paulo: Contexto, 2005.)
 Quando recorrer à voz passiva
Voz passiva diplomática
Embora a voz ativa seja preferível, há circunstâncias em que não é interessante
apontar o agente da ação. É o que chamamos de “passiva diplomática”, recurso utilizado
como estratégia para reduzir o impacto negativo de algumas ações.
No dia-a-dia da empresa, dizer não, apontar erros, repreender um funcionário,
contornar situações de conflito são fatos corriqueiros – o ideal seria se não
acontecessem, mas na maioria das vezes são inevitáveis. O segredo é saber como
transmitir essas informações de maneira a preservar a cordialidade que deve permear as
relações entre os vários funcionários e segmentos que compõem a empresa. Nesse caso
em particular, a voz passiva diplomática revela-se um recurso extremamente
interessante.
Exemplos de voz passiva diplomática
Em vez de
Use
A clínica não pode liberar seu exame, pois o Seu exame não pode ser liberado, pois consta um
senhor não pagou a última mensalidade.
débito em aberto ou pois a última mensalidade
não foi paga..
Segue o orçamento para o reparo da vidraça que Aqui vai o orçamento para o reparo da vidraça
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seu filho quebrou na quarta-feira.
quebrada na quarta-feira.
Marcelo vai dispensar três colaboradores a partir Três colaboradores serão dispensados a partir de
de amanhã.
amanhã.
O auditor responsável pelo levantamento Constataram-se fraudes na contabilidade da
constatou fraudes na contabilidade da empresa.
empresa.
(OLIVEIRA, Paulo Moreira de; MOTTA, Carlos Alberto Paula. Como escrever melhor.
São Paulo: Publifolha, 2000.)
EXERCÍCIOS
I- Estas frases apresentam problemas de complemento fora do lugar, encontre-os e
corrija-as:
1) Vi o sol surgir da janela do meu quarto no horizonte.
2) Durante o namoro, Carlos pediu que Maria se casasse com ele várias vezes.
3) Oferecemos um exemplar de Os Lusíadas ao professor encadernado em couro.
4) Alugam-se quartos a cavalheiros com banheiro anexo no terceiro andar.
5) Ele escreveu um ensaio sobre a literatura brasileira que não vale nada.
6) “Ele era um cãozinho insinuante”, disse um observador, “de cauda enrolada e
disposições amistosas”.
7) Na pressa, quebrou a janela para fugir com uma pedra.
II- Nestas outras frases o problema é de referência errada, corrija-o:
1) Saindo de casa, o fogão ficou aceso.
2) O telefone tocou ao entrar no quarto para apanhar a chave.
3) Passando em frente ao cinema, os cartazes me chamaram a atenção.
4) Composto de 75 crônicas, o autor mescla tropeços na língua portuguesa com
ensinamentos.
5) Dividido em 75 crônicas bem-humoradas, o autor relata as gafes dos veículos de
comunicação.
6) A osteoporose é uma doença que fragiliza os ossos, quebrando-se com facilidade.
7) Além de machucado, o contrato do jogador termina no próximo dia 8.
8) Para não ser mordido, o cão teve de ficar amarrado.
III- Estas frases apresentam circunlóquios (rodeio de palavras, que leva à
prolixidade), tente torná-las mais concisas:
1) Estas populações lançam mão, para sua sobrevivência, de arroz e feijão.
2) Mesmo quando a classe está empenhada em atividades de leitura e redação, ouve-se
um barulho incessante.
3) Foi constatado que todos os políticos não estão de acordo com as novas propostas do
governo.
38
IV- A expressão um(a) dos(das) que sempre leva o verbo para o plural. Corrija as
frases:
1) Ele foi um dos líderes sindicais que mais incentivou a greve.
2) Este foi um dos textos que mais marcou minha vida.
3) A Paulista é uma das avenidas que mais fica congestionada na hora do rush.
4) Esta escola é uma das que participará da gincana.
V- Quais erros apresentam estas frases? Corrija-as:
1) Não sem frequência, as moças encontram-se na praça.
2) O jogo foi assistido por uma plateia agitada.
3) As placas de sinalização não costumam ser obedecidas pelos motoristas.
4) Cargos de diretoria às vezes são aspirados por pessoas pouco competentes.
Leia os textos seguintes e, depois de identificar-lhes o problema fundamental,
reescreva-os:
1- O fazendeiro e piloto de aviões Carlos de Almeida Valente, que mora na cidade de
Prateados, no extremo norte do País, apontado pela Polícia Federal como um dos reis do
contrabando e transportando em seus aviões bimotores e turbinados mais de 70% das
mercadorias contrabandeadas dos Estados Unidos e Paraguai para o Brasil, terá seus
negócios financeiros investigados pela Receita Federal, que fará completa devassa nas
suas empresas.
(Manual OESP)
2- O presidente Fernando Collor, em discurso para cerca de 300 colonos do Projeto
Cujubim, núcleo de colonização do Incra situado a 200 quilômetros de Porto Velho, que
ele visitou pela manhã, determinou aos ministros da Agricultura e Reforma Agrária,
Antônio Cabrera, da Justiça, Bernardo Cabral, da Saúde, Alceni Guerra, e da InfraEstrutura, Ozires Silva, que comecem a “trabalhar duro, a partir de hoje, para a
transformação desse projeto de assentamento de colonos num projeto-modelo para o
Brasil”.
(Manual OESP)
3- TAMPA DE VIDRO COM GARANTIA
A novidade da Panex é a garantia de dois anos para o vidro da tampa da Hot Line Glass
são panelas ultramodernas, revestidas interna e externamente com o antiaderente Teflon
II, cuja tampa de vidro temperado resiste a intensas variações de temperatura indo do
fogão à geladeira sem problemas e permitindo acompanhar o cozimento sem ser
necessário destampar a panela, podendo também ser usada em máquina de lavar louças.
Quanto à embalagem foi totalmente redesenhada o que a torna excelente presente, útil e
de bom gosto.
(Gazeta de Santo Amaro)
39
APOIO
FUNCIONAL
40
CONCORDÂNCIA
A ausência de concordância – grande marca da linguagem popular – é
considerada o pecado mortal linguístico. Mas, de acordo com a sociolinguística, esse
traço gramatical da fala popular e coloquial brasileira, expresso, por exemplo, nas
seguintes frases Minhas amiga já chegou // Aqui nós trabalha muito em lugar de Minhas
amigas já chegaram // Aqui nós trabalhamos muito, são formas diferentes de dizer a
mesma coisa (variações linguísticas), que se diferenciam mais pelo seu valor social do
que linguístico. Assim o primeiro grupo é avaliado de forma negativa nos setores mais
escolarizados, mas é perfeitamente adequado nos contextos de seu uso. Lembre-se,
porém, de que o discurso jornalístico deve pautar-se pelo nível culto da linguagem,
padronizado pela gramática.
Essa marca da linguagem coloquial apareceu, em 2008, em uma propaganda de
um carro francês e quase ninguém percebeu o desvio do padrão culto. Vai chover
elogios, dizia o texto, quando o correto seria Vão chover elogios...

CONCORDÂNCIA NOMINAL
 Adjetivo depois do substantivo: duas concordâncias possíveis:

masculino plural: Casaco e bolsa vermelhos

com o mais próximo: Casaco e bolsa vermelha (neste caso, corre-se o
risco de entender que só a bolsa é vermelha).
 Adjetivo antes dos substantivos: concorda com o mais próximo:
Má hora e lugar
 Substantivo modificado por mais de um adjetivo:

substantivo no plural: Os setores público e privado atenderam à
solicitação do governo.

substantivo no singular, é necessária a repetição do artigo: O setor
público e o privado atenderam à solicitação do governo.
 É necessário/ é permitido/ é proibido/ é bom:

sem artigo, não há flexão: Maça é bom para as gengivas.//
É proibido entrada de menores.

com artigo, há concordância com o substantivo:
A maça é boa para as gengivas.//
É proibida a entrada de menores.
 Meio:

numeral (=1/2): variável (meio/meia/meios/meias). Comeu meia
melancia e bebeu meio litro de água.// É meio-dia e meia (e meia hora).

advérbio (=um pouco): invariável (só há a forma meio). Elaine
estava meio bêbada. / Estavam meio bravos.
 Bastante:

pronome adjetivo (quantidade): variável (bastante/bastantes).
Temos bastantes agasalhos. (embora seja forma correta, evite)
41

advérbio (intensidade): invariável (só há a forma bastante).
Estávamos bastante tristes.
 Variáveis: anexo, incluso, mesmo, próprio, quite, leso, obrigado
As fotos anexas comprovam o delito. / Vão inclusos os recibos de compra de
material. / Elas mesmas (próprias) denunciaram o colega. / Estamos quites com o
serviço militar./ Estou quite contigo. / Foi um crime de lesa-pátria. / “Muito
obrigada”, disse a garota.
 Invariáveis: menos, pseudo, alerta (só têm essa forma)
Use menos força. / A deputada é uma pseudodemocrata. / Eu estou alerta. / Nós
estamos alerta.
 Adjetivos compostos fazem o plural com variação apenas do último
elemento: acordos sino-japoneses; cabelos castanho-escuros; políticos democratacristãos.

nos compostos indicadores de cor, nenhum elemento vai para o plural se
houver substantivo como um de seus elementos: camisas vermelho-vinho;
vestidos cor-de-rosa; carros azul-bebê;

não há variação quando, na indicação de cor, aparece apenas o
substantivo: camisas vinho; vestidos rosa; sapatos gelo;

surdo-mudo tem o plural surdos-mudos;

azul-marinho e azul-celeste não variam;

infravermelho tem plural infravermelhos, mas ultravioleta não tem plural
(raios ultravioleta)
Exercícios:
I) Preencha os espaços com a palavra indicada:
1) Comi
maçã. (meio)
2) Estava
narcotizada. (meio)
3) Acolheu-o com palavras
tortas. (meio)
4) Suas opiniões são
discutíveis. (bastante)
5) Havia
razões para confiarmos. (bastante)
6) Seguem
as listas de preço. (anexo)
7) Vão
os prontuários. (anexo)
8) As provas seguem
no processo. (incluso)
9) Tratava-se de orgulho e vaidade
.(excessivo)
10) Ventos e nuvens
afugentaram a torcida. (ameaçador)
11) É
venda de bebidas a menores. / É
a
venda de bebidas a menores. (proibido)
12) A água é
para a saúde. /Água é
para a saúde (bom)
13) É
coesão partidária para vencer a oposição. / É
a coesão dos partidos aliados para vencer a oposição. (necessário)
14) Chuva é
nesta época do ano./ Aquela chuva da semana
passada foi
para despoluir o ar. (bom)
15) Pera é
para quê?/ A pera é
para a pele.
(bom)
42
16) Elas
costuram suas roupas. (mesmo)
17) Ela
procurou o professor. (mesmo)
18) Ele estava
com o patrão. (quite)
19) – Muito
, disse ela. (obrigado)
20) Há
provas do que o previsto. (menos)
21) Era uma
representação. (pseudo)
22) O aluno destacava-se pelo raciocínio e objetividade
. (aguçado)
II) Corrija as frases cuja concordância esteja errada:
1) Temos motivos bastantes para não aceitar o trabalho.
2) A funcionária estava meia preocupada com a situação do escritório.
3) Não acredito que seja permitido sua permanência na seção.
4) É necessário dedicação para chegarmos ao cargo desejado.
5) Fiquem alertas e não deixem qualquer informação passar.
6) A moça mesmo me disse que andava meia aborrecida com a vida.
7)A declaração de bens foi mandada anexo ao processo.
8) Sabemos que é necessário a paciência para suportar a manha dessa criança.
9) Não temos razões bastantes para impugnar sua candidatura.
10) Todos os policiais estavam alertas: as torcidas estavam bastantes revoltadas com o
juiz.
11) A velhinha sorriu e disse: “Muito obrigada a todos”.
12) Os viajantes estavam meios cansados.
III) Assinale as alternativas corretas:
 (Unimes)
a) Eles se moviam meios cautelosos.
b) O relógio da igreja bateu meio-dia e meio.
c) Seus apartes eram sempre o mais pertinentes possíveis.
d) Os resultados falam por si só.
e) Chegada a sua hora e a sua vez, intimidou-se.
 (Inatel)
Fazia
elogios, embora as saudações fossem agora
enfáticas para
uns e talvez
evasivas para outros.
a) bastante/ menos/ meio
b) bastantes/ menas/ meia
c) bastante/ menos/ meia
d) bastantes/ menas/ meio
e) bastantes/ menos/ meio
 (Acafe)
Vocês estão
com a tesouraria.
As janelas
abertas deixavam entrar uma leve brisa.
Vai
à presente a relação dos livros solicitados.
As matas foram
danificadas pelo fogo.
É
a entrada de animais.
a) quite/meia/ anexa/ bastantes/ proibida
b)quites/ meia/ anexa/ bastantes/ proibida
c) quite/ meio/ anexo/ bastante/ proibido
d) quites/ meio/ anexa/ bastante/ proibida
e) quites/ meio/ anexo/ bastante/ proibido
 (Vunesp)
a) Nos treinos, os jogadores usam calções e camisetas coloridos.
b) Os juízes estão alertas durante toda a partida de futebol.
c) Os regulamentos da Fifa estão anexo no contrato dos jogadores.
43
d) A cor do uniforme da seleção brasileira é verde e amarelos.
e) As chuteiras e o apito dos juízes são importadas.
IV) Assinale a alternativa errada
a) O escritor e o mestre alemães admiravam o belo quadro.
b) Estudaram o idioma francês e o espanhol.
c) O ministro e os deputados alagoanos votaram contra o projeto.
d) As opiniões e os argumentos expostos não agradaram à plateia.
e) Considero fácil as questões e testes propostos
V) (CBMERJ-NCE)
“Mulheres e homens bonitos”. A única forma errada entre as que estão abaixo,
mantendo-se o sentido original é:
a) bonitas mulheres e homens;
b) bonitos homens e mulheres;
c) homens e mulheres bonitas;
d) homens e mulheres bonitos;
e) bonitos mulheres e homens.
VI) Passe para o plural:
1) acordo ítalo-brasileiro =
2) nação hispano-americana =
3) sapato marrom-claro =
4) tinta verde-escura =
5) fita cereja=
6) bolsa verde-abacate=
7) radiação ultravioleta=
8) casaco amarelo-ouro=
9) time rubro-negro=
44
CONCORDÂNCIA VERBAL
1) Regra geral: o verbo concorda com o sujeito (mesmo que este venha depois do
verbo.
Índices da inflação assustam consumidor.
Sobraram poucos lugares nas arquibancadas.
Aceitam-se sugestões.
Obs.: Se o sujeito é composto e vier resumido pelos pronomes indefinidos tudo, nada,
ninguém, cada um, o verbo fica no singular:
Fome, cansaço, doença, nada os deteria.
Pai, filho e avô, cada um saudou a seu modo o visitante.
2) Verbos impessoais HAVER e FAZER: sempre na 3ª pessoa do singular

Haver12: no sentido de existir, é impessoal (a impessoalidade é transmitida ao
verbo auxiliar):
Haverá festas na Bahia neste mês.
Talvez haja reclamações sobre nosso trabalho.
Poderá|
Deverá| haver festas na Bahia neste mês.
Vai|

Fazer: na indicação de tempo transcorrido ou a transcorrer ou na indicação de
fenômenos da natureza (a impessoalidade também é transmitida ao verbo
auxiliar)
Já faz 20 anos que me formei.
Em agosto vai fazer três anos que ele se casou.
Em setembro faz dias claros e frios.
3) Pronome pessoal SE1314
 partícula apassivadora: verbo concorda com o sujeito
(o verbo é sempre transitivo direto (sem preposição))
Vende-se casa. / Vendem-se casas. (Casa é vendida. / Casas são vendidas.)
Aceita-se encomenda. / Aceitam-se encomendas. (Encomenda é aceita./
Encomendas são aceitas.)
Expediu-se o documento requerido./ Expediram-se os documentos requeridos.
(O documento foi expedido./ Os documentos foram expedidos.)
12
É comum, na linguagem coloquial, usar-se o verbo ter com o sentido de haver. Dizia um outdoor: Onde
tem festa, tem Antarctica.
13
Esse ponto da concordância não é pacífico. Inúmeros linguistas contestam essa dupla classificação do
pronome se e consideram ambos como índice de indeterminação do sujeito e, portanto, não haveria
verbos no plural.
14
Esteja atento ao uso indiscriminado da partícula se:
45
Obs.: para que não haja dúvida quanto ao uso do singular ou do plural, passe a frase
para a voz passiva analítica: Alugam-se apartamentos. = Apartamentos são alugados.

índice de indeterminação do sujeito: verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular
Trata-se de problema urgente.
Trata-se de problemas urgentes.
Obs.: é impossível a transformação para a voz passiva porque os verbos são ou
intransitivos ou transitivos indiretos (estes sempre acompanhados de preposição):
Bebe-se bem aqui. / Pensa-se em reformas. / Cuida-se de idosos.
4) A maior parte, grande número de, a maioria
O verbo normal e preferentemente vai para o singular; há, no entanto, gramáticos
que aceitam o plural caso se queira destacar a ideia de conjunto.
A maior parte dos eleitores estava abismada com o resultado das urnas.
A maioria das mulheres mantém-se submissa aos maridos.
Grande número de foliões amanheceu dançando.
5) Porcentagem
 O verbo concorda com o que for expresso pela porcentagem
Um por cento dos candidatos sofriam de cirrose.
Noventa por cento da população perdeu seus bens.

Se só números representarem a porcentagem, o verbo concordará com o numeral
Naquele ano, 30% da colheita perdeu-se e 70% foram exportados.
 Se a porcentagem estiver particularizada, o verbo concorda com o numeral
Os últimos 30% do empréstimo chegarão em maio.
Esse 1% dos gastos fará diferença no final.
 Se o verbo vier antes da porcentagem, concordará com o numeral
Está perdido 1% da colheita.
Estão perdidos 30% da colheita.
6) Sujeito formado por nomes próprios que só têm plural
 se não houver artigo, o verbo fica no singular: Batatais fica no interior do estado.

com artigo, o verbo vai para o plural: Os Estados Unidos pretendem invadir o
Iraque.
Obs.: Com nomes de títulos de obras, usa-se, indiferentemente, o singular ou o plural:
Os Lusíadas é/ são a maior epopeia dos portugueses.
7) Sujeito formado por palavras no plural, mas com ideia de singular: verbo no
singular
46
Pelos ainda tem acento.
Nós é um pronome pessoal.
8) Fração: verbo concorda com o numerador da fração
Um terço dos trabalhadores não recebeu o salário de janeiro.
Dois terços da herança couberam à viúva.
9) Pronomes relativos que e quem
 Que: verbo concorda com o antecedente:

Fui eu que descobri a fórmula.
São eles que fazem a coleta do lixo.
Seremos nós que o escolheremos.
Quem: verbo concorda na 3ª pessoa do singular (alguns gramáticos aceitam a
concordância com o antecedente):
Fui eu quem descobriu a fórmula. (Fui eu quem descobri a fórmula.)
Somos nós quem faz a nação. (Somos nós quem fazemos a nação.)
10) Pronome de tratamento: verbo sempre na 3ª pessoa do singular ou plural
(assim como o pronome possessivo)
Vossa Majestade tem o apoio do seu povo.
Vossas Majestades têm o apoio do seu povo.
Vossa Senhoria cometeu um grave erro.
Vossas Senhorias cometeram um grave erro.
11) Mais de ... / menos de ... / perto de ...: verbo concorda com o numeral
Perto de 25 famílias receberam auxílio do governo.
Mais de um homem morreu.
12) Um (uma) dos (das) que...: verbo sempre no plural
Ele é um dos que mais reclamam da inflação.
13) Núcleos do sujeito composto ligados por ou
 se o ou indica exclusão, o verbo fica no singular:
Pedro ou Paulo se casará com Marta.

se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o
plural (na realidade o ou equivale a um e):
O ônibus ou o trem passam por lá.
14) Núcleos do sujeito composto ligados por nem
 se o nem indica exclusão, o verbo fica no singular:
Nem Pedro nem Paulo se casará com Marta.

se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o
plural:
47
Nem Pedro nem Paulo conformaram-se com os resultados.
15) Um ou outro, nem um nem outro
 Um ou outro: verbo no singular:
Um ou outro transeunte notava a presença do cão sarnento.
 Nem um nem outro: verbo no singular ou plural:
Nem um nem outro diz / dizem a verdade.
16) Haja vista: sempre invariável e sem a preposição a
Haja vista o decreto de 13 de outubro.//
Haja vista os fatos.
17) Sujeito constituído de orações ou infinitivos: verbo no singular
Andar e nadar faz bem à saúde.
Que ela despreze e ridicularize essas virtudes já não me causa espanto.
Obs.: verbo no plural só se houver contraste entre os sujeitos ou se os sujeitos estiverem
substantivados:
Nascer e morrer fazem parte da vida. (antônimos)
O comer e o dormir em demasia alienam uma pessoa. (verbos substantivados o
comer/ o dormir)
CONCORDÂNCIA COM O VERBO SER
1) Sujeito ou predicativo são nomes de coisas: verbo concorda com o que está no
plural.
Tua vida são mentiras.
2) Sujeito ou predicativo são nomes de pessoa: verbo concorda com a pessoa.
O homem é cinzas.
Seu orgulho eram os filhos.
3) Sujeito ou predicativo é pronome pessoal: verbo concorda com pronome.
O professor sou eu.
Nós somos os culpados.
4) Indicações de hora, dia e distância: verbo concorda com predicativo.
É uma hora.
São duas horas.
É uma légua.
Até a estação de tratamento de água são 15 quilômetros.
Obs.: Hoje é 15 de novembro. ou Hoje são 15 de novembro.
5) Verbo SER fica invariável nas expressões indicativas de quantidade (é muito, é
bastante, é pouco, é suficiente, é demais):
Quinze quilos é pouco.
Três metros é suficiente.
48
Dois reais é bastante.
Um é pouco, dois é bom, três é demais.
Exercícios
I) Complete as frases com os verbos indicados:
1)
2)
3)
4)
5)
6)
7) Ontem
8) Talvez ainda
9)
10)
muitas pessoas na rua quando saímos. (haver)
haver alguns lápis sobre a mesa. (dever)
haver problemas insolúveis. (poder)
dois anos que não nos vemos. (fazer)
fazer semanas que ele não aparece. (poder)
dois meses que não chove. (fazer)
38º à sombra. (fazer)
ingressos à venda. (haver)
haver candidatos honestos. (dever)
fazer três anos que não o vejo. (dever)
II) Complete as frases com os verbos indicados:
1)
2) Não se
3)
4)
5)
6)
7) Às vezes
8)
9)
10)
-se as decisões. (comentar)
respostas para tantos problemas. (encontrar)
-se vozes no corredor. (ouvir)
-se caixas de cerveja. (beber)
-se notícias falsas. (publicar)
-se das propostas iniciais. (desconfiar)
-se de coisas estranhas. (gostar)
-se de animais abandonados. (cuidar)
-se em revoluções. (falar)
-se de comércio espúrio. (tratar)
III) Complete as frases com os verbos entre parênteses, efetuando a necessária
concordância:
1) Fugir foi o que Jair e eu
. (fazer)
2) Nem um nem outro se
a concluir o projeto. (dispor)
3) Jogos, viagens, mulheres, nada o
. (satisfazer)
4) A maioria dos brasileiros
a pena de morte. (rejeitar)
5) Mais de 100 grevistas
a fábrica. (invadir)
6) Oitenta por cento da plateia
o espetáculo. (vaiar)
7) Oitenta por cento dos espectadores
o espetáculo. (vaiar)
8) Jairo é um dos que mais
carne neste restaurante. (consumir)
9) Vossa Senhoria
agir com moderação. (dever)
10) Fui eu quem o
a desenhar. (ensinar)
11) Foi você quem
e sou eu que
ter de rezar. (pecar - ir)
12) Montes Claros
sua salvação. (representar)
13) Os Alpes
turistas de todo o mundo. (atrair)
14) Os Estados Unidos
a mídia. (dominar)
15) A criançada
uma algazarra na porta da escola. (fazer)
16) À nossa casa, frequentemente,
pessoas amigas. (chegar)
17)
alguns minutos para estancar suas lágrimas. (bastar)
49
18) Rui Reis ou Mário Pontes
a cidade. (governar)
19) Este remédio ou aquele
efeito. (fazer)
20) Setenta por cento da população
pela democracia, 20%
na
revolução armada e 1%
a volta da ditadura. (lutar - insistir - querer)
21) Um quarto da produção de soja
com a seca. (perder-se)
22) Amar e odiar
o ser humano. (caracterizar)
23) Flores ainda
acento circunflexo? (ter)
24) Você sabe onde
os Bálcãs? (ficar)
25) Um terço do nosso planeta
constituído por terra firme; dois
terços representados por água. (ser)
IV) Se existir erro de concordância, corrija:
1) A letra das composições musicais contemporâneas refletem, com nitidez, os
problemas sociais que o Brasil está enfrentando.
2) Dentro de alguns instantes será divulgado novos resultados.
3) Falta aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os agrotóxicos.
4) Persiste por muito tempo no ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas.
5) Conserta-se aparelhos de som.
6) Precisam-se de pedreiros.
7) Obedeceram-se aos severos regulamentos.
8) Promove-se festas beneficentes na minha igreja.
9) Da cidade à praia é dois quilômetros.
10) Dois metros de tecido são pouco.
11) Eram previsíveis os percalços que enfrentariam qualquer programa de estabilização.
12) Calor intenso ou frio excessivo me fazem mal.
13) Fernando Henrique ou Lula seria eleito presidente.
14) Renato ou Fernanda preencherão a vaga existente.
15) Um grito ou um tiro assustariam o animal.
16) Podiam haver bois no curral.
17) Deveriam haver muitas assombrações na vila.
18) Fazem meses que não ocorre no país fatos como aquele que até hoje nos perturbam.
19) Garotinho foi um dos governadores que queria uma reunião com o presidente.
20) O netinho eram suas maiores alegrias.
21) Os projetos apresentados pela assessoria da presidência são excelentes, hajam vista
os elogios recebidos.
22) Um quarto dos bens couberam ao menor.
23) O leite PAULISTA é processado pelo sistema UHT, que aquece o leite a uma
temperatura entre 130°C e 150°C, durante 2 a 4 segundos. Em seguida é imediatamente
resfriado a uma temperatura inferior a 32°C e depois envasado sob condições assépticas
em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas, que o protege do ar e da luz,
garantindo uma perfeita e longa conservação de suas qualidades nutritivas e naturais.
(Texto constante da embalagem do leite Paulista semidesnatado)
24) Na região de Ribeirão Preto (319 km de São Paulo), onde atua quatro das nove
concessionárias de rodovias, o número de praças de cobrança municipais vai chegar a
15 no final do ano – são 18 os autorizados pelo Estado. (Folha de S.Paulo, 24/3/2000)
25) As denúncias não suficientemente esclarecidas quanto ao comportamento ético do
ministro da Fazenda nos deixou ainda mais constrangidos, não só a mim, mas a
companheiros do governo. (apud Vestibular FGV-SP)
V) Complete as frases com o verbo SER:
50
1) A surpresa
as flores.
2) Isso
as trevas da noite.
3) Duzentos gramas
suficiente.
4) Dois anos
pouco para nos prepararmos.
5) Cinco milhões
suficiente para a campanha.
6) Esaú
as delícias da velhice de Isaac, seu pai.
7) Isso
aberrações da natureza.
8) Sua cama
umas folhas de jornal.
9) Minha vida
farrapos de pano que vou remendando dia a dia.
10) Ainda
meio-dia e meia.
11) Sua vida
só espinhos.
12) Os interessados
nós.
13) Isto
intrigas da oposição.
14) Quando
seis horas, partiremos.
VI) Assinale a alternativa correta:
1) (PUC) A crise no emprego da língua materna insere-se no contexto mais amplo das
circunstâncias culturais em que
as civilizações modernas. Numa
época em que se
todas as restrições e em que se
a todas
as normas estabelecidas, não há, seguramente, maior zelo pela linguagem.
a) vivem - cancelaram – desobedece
b) vive - cancelaram – desobedece
c) vive - cancelou – desobedece
d) vive - cancelaram – desobedecem
e) vivem - cancelaram - desobedecem
2) (PUC) Convém que se levantem os problemas, que se reflita sobre os assuntos e não
se tomem medidas apressadas.
Substituindo-se os verbos sublinhados respectivamente por falar, avaliar e pensar,
obtém-se a construção correta
a) Convém que se fale dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pense em
medidas apressadas.
b) Convém que se falem dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pensem
em medidas apressadas.
c) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pense em
medidas apressadas
d) Convém que se falem dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em
medidas apressadas.
e) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em
medidas apressadas.
3) (UFRGS) Não
críticas que se
dúvidas de que
ao projeto.
de razão as
a) resta - carecem - fez
b) resta - carece – fizeram
c) resta - carece - fez
d) restam - carecem - fizeram
e) restam - carecem - fez
4) (PUC) Urge que se
todas as recomendações, pois já
que se
os mesmos erros.
meses
51
a) façam - fazem - cometem
b) façam - faz - comete
c) faça - fazem - comete
d) façam - faz – cometem
e) faça - faz – comete
5) (Univ. Fed. BA) Toda a verdade dos fatos
revelações.
, ainda que
as
a) será apurado - doa.
b) serão apurados - doa.
c) será apurada - doam.
d) será apurado - doa.
e) serão apurada - doam.
6) (Univ. Fed. BA) O meio passa a ter sentido graças às necessidades e aspirações do
homem. Que valor
os bens materiais se não
as necessidades do
homem e se não
aspirações?
a) teria - fosse - existisse
b) teriam - fossem - existisse
c) teriam - fossem - existissem
d) teria - fossem - existissem
e) teriam - fosse - existissem
7) (UB-MG) Nas duas margens,
relva abundante; contudo, lá onde
ervas perigosas, no matagal, é que
os bois e os cavalos.
a) crescem - existem - pastavam
b) cresce - existem - pastavam
c) cresce - existe - pastava
d) cresce - existe - pastavam
e) crescem - existe – pastava
VI) Assinale a alternativa errada:
1) (Cesgranrio-RJ) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que a
forma verbal está errada:
a) Existem na atualidade diferentes tipos de inseticidas prejudiciais à saúde do homem.
b) Podem provocar sérias lesões hepáticas, os defensivos agrícolas à base de DDT.
c) Faltam aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os
agrotóxicos.
d) Persistem por muito tempo no meio ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas
clorados.
e) Possuem elevado grau de toxidade os defensivos do tipo fosforado.
2) (UB-MG) - Assinale a alternativa em que a concordância do verbo está errada:
a) Acho que devem bastar duas colheres de açúcar.
b) Vão terminar acontecendo coisas desagradáveis.
c) Eles acham que pode ficar faltando uma dúzia de ingressos.
d) De fatos como esses decorre uma grande sensação de impunidade.
e) Deve ter sobrado uns cinco reais.
52
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
Regência é o mecanismo que regula as ligações entre verbo ou nome (termos
regentes) e seus complementos (termos regidos). Como a linguagem oral é sempre mais
distendida, mais coloquial, existem (e muitas!) regências defendidas pela norma culta às
quais a oralidade (pelo menos no Brasil) não obedece. Esteja atento a elas e saiba em
que situação deverá optar por uma ou por outra.
Em questão de regência, as preposições desempenham papel importantíssimo,
por isso um dicionário de regência verbal e nominal resolve todas as dúvidas.
– Ele referiu-se ao artista plástico.
– Ele fez referência ao artista plástico.
– Fez comentários referentes ao artista plástico.
– Falou referentemente ao artista plástico.
 regência verbal
 regência nominal
 regência nominal
 regência nominal
Atenção à regência de alguns verbos15.
1 – Agradar
 transitivo direto (sem preposição) = contentar, fazer carinhos.
Agradou o patrão com flores.// Agradou o cachorro.
 transitivo indireto (rege preposição a) = satisfazer.
As medidas não agradaram ao povo (à população).
2 – Aspirar
 transitivo direto (sem preposição) = sentir o cheiro, respirar.
Eu aspiro o ar poluído.
 transitivo indireto (rege preposição a) = desejar, pretender.
Aspiramos aos mais altos postos (às mais altas honrarias).
3 – Assistir
 transitivo direto (sem preposição) = socorrer, ajudar.
O médico assiste o doente (a doente).// Dois padres assistem o moço (a moça).
 transitivo indireto (rege preposição a) = ver, presenciar.
Assisti ao debate (à novela).
4 – Atender
 complemento pessoa = transitivo direto (sem preposição) ou transitivo
indireto (rege preposição a).
Atendeu o cliente (a cliente) ou Atendeu ao cliente (à cliente).
 complemento coisa = transitivo indireto (rege preposição a).
Atendeu ao telefone e à porta ao mesmo tempo.
5 – Chegar/Ir
Regem a preposição a antes do adjunto adverbial.
Chegamos ao local. Irão à escola. Chegamos a Campinas. Foram ao jogo.
6 – Custar
No sentido de ser difícil, deve ser empregado na 3ª pessoa do singular e ter por sujeito uma oração
reduzida de infinitivo.
Custou-me conseguir passagem. // Custa a ele permanecer quieto.
15
Um bom dicionário de regência verbal e nominal resolve qualquer problema. Duas sugestões:
LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. São Paulo: Ática, 2003; embora não seja um
dicionário específico de regência, o Caldas Aulete (cujo download é gratuito) resolve a maioria dos
problemas.
53
Assim, não se diz: Custei a achar um táxi.
Mas,
Custou-me achar um táxi.
7 – Esquecer/Lembrar
 não pronominal = transitivo direto (sem preposição).
Esqueci a carteira. Lembro os fatos.
 pronominal (lembrar-se, esquecer-se) = transitivo indireto (regem preposição de).
Esqueci-me da carteira. Lembro-me dos fatos.// Esqueceram-se de mim
8 – Implicar
 transitivo direto (sem preposição) = acarretar.
O atraso implicará perda dos direitos.
(Como se vê, não se usa a preposição em)
 transitivo indireto (rege a preposição com) = ter implicância.
O velho implica com os netos.
 pronominal (implicar-se) = envolver-se em situações.
João implicou-se em negócios escusos.
9 – Obedecer/Desobedecer
Sempre transitivos indiretos, regendo a preposição a.
Ela obedece sempre aos seus instintos (às suas paixões).
João desobedece ao farol (à ordem).
10–Pagar/Perdoar
 quando o objeto refere-se a coisa = transitivo direto.
Não pagamos a conta de luz. (= objeto – coisa)
Perdoaram o seu erro. (= objeto – coisa)
 quando o objeto refere-se a pessoa = transitivo indireto (rege preposição a).
Já pagamos à empregada. (= objeto – pessoa)
Perdoamos sempre aos entes queridos. (= objeto – pessoa)
11–Preferir
Transitivo direto e indireto (rege preposição a).
Prefiro doces a salgados.
Todos preferiam o elogio à censura.
Atenção: não se usa do que, nem muito mais, mil vezes etc. Em preferir já existe o prefixo com tais
ideias. Assim, é errado dizer: Prefiro o cinema do que o teatro. / Prefiro muito mais o cravo que a
rosa.
Diga: Prefiro o cinema ao teatro. /Prefiro o cravo à rosa.
12–Proceder
 intransitivo = ter procedência, ter fundamento.
Sua reclamação não procede.
 intransitivo = provir (rege preposição de).
O avião procede de Roma.
 transitivo indireto (rege preposição a) = dar início.
O professor procedeu à chamada.
13–Querer
 transitivo direto = desejar.
Não quero este livro.
 transitivo indireto (rege preposição a) = estimar, gostar.
Quero (bem) a meu sobrinho.
14–Responder
Transitivo indireto (rege preposição a) = dar resposta.
Responda ao questionário.
54
Não respondi à carta de Paulo.
15–Simpatizar
Transitivo indireto (rege preposição com).
Simpatizo com suas ideias liberais.
Jamais se deve usá-lo pronominalmente. Assim, não se deve dizer:
Simpatizo-me com ela.
Mas
Simpatizo com ela.
16–Visar
 transitivo direto = mirar, apontar a arma.
Ele visou o animal.
 transitivo direto = passar visto, assinar.
O diretor visou os requerimentos.
 transitivo indireto (rege preposição a) = objetivar, ter em vista.
Não visamos a lucros excessivos (a nenhuma condecoração).// Visavam ao bem-estar da
população (à felicidade da população).
Carlos só visava ao poder.
17–Pronome relativo: que, quem, o/a qual, os/as quais, onde, cujo/a, cujos/as
Quando o pronome relativo funciona como complemento de um verbo, deve-se respeitar-lhe a
regência.
Gostei do filme que vi. (quem vê, vê alguma coisa (sem preposição)
a que assisti. (quem assiste, assiste a alguma coisa)
de que o crítico falara. (quem fala, fala de alguma coisa)
a que ele se opôs. (quem se opõe, opõe-se a alguma coisa)
18–Verbos com regências diferentes: é erro comum colocar-se um só complemento para verbos
com regências diferentes. Ex.: Ele entra e sai da sala a todo momento.
Há dois verbos – entrar e sair – cada qual com sua regência: entrar em // sair de. Assim a frase
correta é: Ele entrava na sala e dela saía a todo momento.
Regência Nominal
Aqui está uma pequena relação de substantivos e adjetivos acompanhados de suas preposições mais
usuais:
acessível a
acostumado a, com
afável com, para com
agradável a
alheio a, de insensível a
análogo a liberal com
ansioso de, para, por medo a, de
apto a, para natural de
aversão a, por necessário a
ávido de nocivo a
benéfico a obediência a
capacidade de, para ojeriza a, por
capaz de, para paralelo a
compatível com parco em, de
contemporâneo a, de passível de
contíguo a possível de
contrário a preferível a
55
curioso de, por prejudicial a
descontente com prestes a
desejoso de propício a
diferente de próximo a, de
entendido em relacionado com
equivalente a respeito a, com, para com
escasso de satisfeito com, de, em, por
essencial para semelhante a
fácil de sensível a
fanático por sito a
favorável a suspeito de
generoso com união a, com, de, entre
grato a útil a, para
hábil em vazio de
habituado a
horror a
versado em
idêntico a
impróprio para
indeciso em
Exercícios
I - Corrija as frases que apresentem problemas quanto à regência (lembre-se de
que o que estamos pedindo é a norma culta):
1) Assistimos um belo espetáculo.
2) O médico assistiu ao doente.
3) Preferia viajar do que trabalhar.
4) Custei a entender o sentido da frase.
5) Obedeça a sinalização
6) O juiz procedeu o julgamento.
7) Esta alternativa obedece o padrão da gramática normativa.
8) Em Cubatão, aspira-se a um ar poluído.
9) Perdoei Antônio.
10) Informei-lhe de que os documentos haviam chegado.
11) Chegando em Cuiabá, procedeu o julgamento do jogador.
12) Não esqueci os compromissos.
13) Lembrei de alguns pormenores.
14) Esqueci de seu nome.
15) Esqueceu do guarda-chuva.
16) Prefiro ser sincero do que mentir aos meus amigos.
17) Preferimos mil vezes ficar em casa do que ir no teatro.
18) O desrespeito ao regulamento implica em multa pesada.
19) Os motoristas irresponsáveis não obedecem os sinais de trânsito.
20) Há um grande número de pessoas que não entende e não se interessa por política.
II- Complete as frases com as preposições exigidas pelos verbos:
1. São filmes
que assisto com frequência. / São filmes
quais assisto com frequência.
56
2. Não vamos tocar em fatos
que já nos esquecemos. / Não vamos tocar
em fatos
quais já nos esquecemos.
3. São filmes
que as crianças gostam. / São filmes
quais
as crianças gostam.
4. Este é o cobiçado prêmio
que aspiro. / Este é o cobiçado prêmio
qual aspiro.
5. O escritor
cuja obra falei morreu ontem.
6. É este o livro
cujas personagens me referi.
7. Acataremos ordens do presidente
cuja probidade não temos o direito
de duvidar.
8. As opiniões
que me oponho são inconsistentes. / As opiniões
quais me oponho são inconsistentes.
9. Os fatos.
que me lembro ocorreram no ano passado. / Os fatos
quais me lembro ocorreram no ano passado.
10. São pessoas
quem dedico profunda estima. / São pessoas
quais dedico profunda estima.
11. O vizinho
quem desconfio usa roupas escuras./ O vizinho
qual desconfio usa roupas escuras.
12. Ele é um professor
cujas palavras confio.
13. Esta é a marca
que os esportistas confiam.
III- Junte as duas orações num só período, fazendo uso de um pronome relativo. Se
necessário, use preposições antes dos pronomes:
1. Comi uma fruta. Não lembro o nome dessa fruta.
2. Todos estão pleiteando o cargo. Nós aspiramos a ele.
3. O Brasil tem muitos eleitores semi-alfabetizados. Alguns políticos tentam agradar a
esses eleitores.
IV- Substitua os verbos grifados pelos indicados:
1) Eles queriam a segurança de suas famílias. (visar)
Eles
segurança de suas famílias.
2) Com essas medidas, ela tem por objetivo a manutenção da disciplina. (visar)
Com essas medidas, ela
manutenção da disciplina.
3) As novas medidas não satisfizeram a população. (agradar)
As novas medidas não
população.
4) Todos acataram as normas da casa. (obedecer)
Todos
normas da casa.
5) Esses patrões nunca remuneraram decentemente aqueles funcionários. ( pagar)
Esses patrões nunca
decentemente
funcionários.
6) Esta atitude resultará em prejuízo à sociedade. (implicar)
Esta atitude
prejuízo à sociedade.
7) Os que viram o debate, gostaram mais do Maluf que da Erundina. (assistir e preferir)
Os que
debate,
Maluf
Erundina.
Os que
debate,
o Maluf
Erundina.
8) A mulher tinha afeição pelo garoto. (querer)
A mulher
garoto.
9) O jogador não se esqueceu de sua origem humilde. (esquecer)
O jogador não
sua origem humilde.
57
10) As empresas que conheci são parceiras do governo. (simpatizar)
11) Desperdício de água resultará em desertificação do planeta. (implicar)
Desperdício de água
desertificação do planeta.
12) Gosto mil vezes mais de doce do que de salgado. (preferir)
13) A atitude do modelo não satisfez o empresário. (agradar)
A atitude da modelo não
empresário.
14) A propaganda a seguir mostra uma inadequação sintática.
a) Qual a inadequação aí presente?
b) Reescreva a frase de forma a eliminar a inadequação.
VI- Utilize a preposição adequada:
1) Manteve-se alheio
comentários ferinos dos adversários.
2) Ler é sempre preferível
.assistir a certos programas humorísticos.
3) Ela era devota
. Santa Rita.
4) Nutria um ódio figadal
tudo que era estrangeiro.
5) Não se tem mais respeito .
idosos.
6) Em seu romance, o escritor fez uma alusão elogiosa
sertanista.
7) Eu já me havia acostumado
calor de 40 graus.
8) O edifício, localizado
Rua das Palmeiras, será implodido.
9) Fulano de Tal, residente
Rua Tal, deve comparecer à delegacia do
bairro.
VII – Com verbos transitivos indiretos não é possível haver voz passiva. Corrija as
frases abaixo:
1) O jogo foi assistido por uma plateia agitada.
2) As placas de sinalização não costumam ser obedecidas pelos motoristas.
3) Cargos de diretoria às vezes são aspirados por pessoas pouco competentes.
58
CRASE
A crase, fenômeno diretamente ligado à regência, é a fusão de duas vogais
idênticas, normalmente o artigo feminino a/as ou pronome demonstrativo a/ as com a
preposição a.

REGRAS PRÁTICAS:

Substituir o nome feminino pelo nome masculino:
Ex.: Sentou-se à mesa (ao piano).// Pagou a dívida à funcionária. (o salário, ao funcionário). //
Refiro-me a ela (a ele).
Possibilidades
masculino
AO (prep. + artigo)
A (preposição)
O (artigo)

feminino
=
=
=
À (prep.+ artigo)  CRASE!
A (preposição)  SEM CRASE!!
A (artigo)  SEM CRASE!
Substituir “à” por “para a”, “na”, “com a”, “pela”, “da”:
Ex.: Trazia os sacos às costas (nas costas). / À entrada (na entrada) via-se uma tabuleta. /
Foi à Lapa. (para a)

Se vou à e venho da, crase há. (Vou à França, venho da França.)
Se vou a e venho de, crase pra quê? (Vou a Portugal , venho de Portugal.)
Experimente:
1) Nunca assisti a tanta miséria.
2) Deu a cada esposa uma parte da herança.
3) Falou a todas as emissoras do país.
4) Concedeu a todos os canais a mesma entrevista.
5) Fomos a uma exposição de quadros a óleo.
6) Sou sensível a tais ofensas.
7) Retornou a Brasília.
8) Retornou a seca Brasília.
9) Dois a dois foi a contagem.
10) Sentou-se a máquina e reescreveu uma a uma as páginas.
11) Foi a Escócia assim que chegou a Europa.
12) Chegamos a Fortaleza hoje cedo.
13) Chegamos a fortaleza hoje cedo.
14) Recorreu a irmã e a ela se apegou como a uma tábua de salvação.
15) Subiu a tribuna e falou as massas, incitando a população a greve, as desordens, a
desobediência a ordem federal.
59

NUNCA há crase:
 antes de palavras masculinas: a pé, a cavalo, a álcool
(porque o artigo usado seria O/OS);
 antes de verbo: a partir de hoje, contas a pagar
(porque o verbo não admite artigo);
 antes de pronomes de tratamento: a você, a V.S. Exceções: dona, senhora, senhorita
(porque antes dos pronomes de tratamento não há artigo);
 antes de pronomes em geral: a ela, a essa, a cada uma
(porque antes de pronomes, em geral, não há artigo);
 nas expressões formadas por palavras repetidas: cara a cara, face a face, frente a frente
(porque inexiste o artigo);
 com “a” + substantivo feminino plural: Dirigiu-se a pessoas estranhas. Vamos a regiões pobres
(porque esse a é uma preposição; se houvesse artigo, seria as, para acompanhar o substantivo
feminino plural = Dirigiu-se às pessoas estranhas. Vamos às regiões pobres);
 antes de nomes de cidades sem determinação: Vou a Roma. / Voltou a São Paulo. / Chegamos a
Taubaté. (porque esses nomes não aceitam artigo).
 Haverá crase se o nome da cidade vier determinado:
Vou à Roma dos Césares. /
Voltou à poluída São Paulo. / Chegamos à Taubaté de Monteiro Lobato.
Exercício
Use o acento indicativo da crase onde julgar conveniente:
1) Prefiro cinema a teatro.
2) Certas estrelas não são visíveis a olho nu.
3) Fomos a Embu a pé e voltamos a cavalo.
4) Fui a Bolonha, depois a Veneza dos belos canais.
5) Estou mais inclinado a falar do que a ouvir.
6) Tornava-se a cada hora mais afeito a essas perigosas divagações que levam um
homem a viver num mundo imaginário.
7) Ficaram frente a frente, a se olharem pensando no que dizer uma a outra.
8) Requeiro a V. Exa. a extensão dos benefícios a meus descendentes.
9) Vivemos para servir a Deus.
10) Tomou o remédio gota a gota.
11) Os bandeirantes andaram rumo a (as) regiões desconhecidas. / Os bandeirantes
andaram rumo as regiões desconhecidas
12) Entrada proibida a (as) mulheres em traje de banho. / Entrada proibida as mulheres
em traje de banho.
13) Falavam a multidões enfurecidas. / Falavam as multidões enfurecidas.
14) Refiro-me a mulheres do século XIX. / Refiro-me as mulheres do século XIX.
15) Falei a pessoas interessadas. / Falei as pessoas interessadas.
16) Refiro-me a importações, não a exportações. / Refiro-me as importações, não as
exportações.
60
17) Comprei a vista, não a prazo.

SEMPRE há crase:
 na indicação do número de horas: Às duas horas, à zero hora, à uma hora, das treze às dezesseis
horas;
 na expressão à moda de (mesmo que a expressão moda de esteja oculta): Salto à Luís XV. /
Bife à milanesa. / Gol à Pelé;
 nas expressões adverbiais femininas (menos nas de instrumento): Saí à noite. Ficou à espreita.
Saiu às pressas. (mas Escreveu a caneta, carro a gasolina, barco a vela);
 nas locuções prepositivas e conjuntivas: à força de, à roda de, à frente de // à medida que, à
proporção que.
Exercício:
1) Usava uma cabeleira a Alceu Valença. 2) Usava um bigode a Hitler. 3) A casa era
toda decorada a colonial. 4) Gosto de macarrão a bolonhesa. 5) Fez um gol a
Ronaldinho.
6) Retirou-se as escondidas. 7) Vivemos a custa de seu tio. 8) A hora do almoço, Luís
come a beça. 9) As sacudidelas partiu o velho carro que fora o primeiro a chegar a
cidade. 10) As vezes passamos alguns dias a beira-mar. 11) Estou a disposição de vocês.
12) Retirou-se as pressas do local a fim de não ser identificado. 13) Sentaram-se a
sombra das mangueiras.
14) Barco a vela / forno a lenha/ carro a gasolina / ferido a bala / escrever a tinta, a
gilete
15) A proporção que subimos, o ar se rarefaz. 16) Seu desespero aumenta a medida que
o tempo passa. 17) A força de muito observar, percebemos a avaria da máquina.
18) Cheguei a fazenda a zero hora e não a uma. 19) As nove horas as tropas estendiamse de ponta a ponta da avenida.

Casos facultativos
 Antes de nomes próprios femininos16. Ex.: Dei o livro à Rita. ou Dei o livro a Rita.
 Antes de pronomes possessivos femininos17. Ex.: O professor referiu-se a sua reportagem. ou O
professor referiu-se à sua reportagem.
 Depois da preposição até. Ex.: Fui até a estação. ou Fui até à estação.
16
Na verdade, o uso da crase não é optativo, mas obedece à presença ou não de artigo diante do nome
feminino. Assim, no Nordeste, costuma-se dizer “Maria não veio” (sem o artigo). Nesse caso, não se pode
usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro a Maria”. Mas, em São Paulo, diz-se: “A Maria não
veio” (com o artigo). Nesse caso, deve-se usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro à Maria”.
17
O mesmo ocorre com o pronome possessivo, que pode ser empregado com ou sem artigo (mas neste
caso não existem diferenças regionais).
61
Exercício
Use o acento indicativo da crase:
1) As crianças contaram a cena a Elvira.
2) Retornou a nossa casa depois de algum tempo.
3) Fomos até a chácara supervisionar o plantio das mudas de manga.
4) Enderecei a Maria do Carmo toda a correspondência.

Casos especiais 1
 casa ( no sentido de lar):
 sem determinação, não há crase. Ex.: Voltou a casa./ Chegamos a casa cedo.
 se houver determinação, haverá crase:Ex.: Chegamos à casa do reitor./ Fui à casa de Irene.
 terra:
 há crase se o sentido for de pátria, planeta.
Ex.: Voltaram à terra prometida./ A nave voltou à Terra.
Não há crase, quando terra se opuser a mar ou ar (isto é, quando se opuser a a bordo). Ex.:
Os tripulantes desceram a terra.
 distância:
 se a distância não estiver determinada, não haverá crase. Ex.: A distância, não se enxergava o
avião./ Ensino a distância
 só há crase se a distância vier determinada. Ex.: No zoológico os animais são mantidos à
distância de cem metros.
Exercício
1) Os animais pastavam a distância.
2) Voltou a casa do amigo tarde da noite.
3) Os animais pastavam a distância de trinta metros.
4) Era doloroso voltar a terra dos meus avós.
5) Depois do cruzeiro, os turistas desceram a terra.
6) A noite estava clara por isso os namorados foram aquela praia distante ver a chegada
dos pescadores, que voltavam a terra.

Casos especiais 2
 aquele (s), aquela (s), aquilo: Sempre que o termo regente exigir preposição, haverá crase. Ex.:
Refiro-me àqueles livros. Prefiro isto àquilo.
 a que / à que – regra prática: se com o antecedente masculino ocorrer ao, haverá crase no
feminino; se com o antecedente masculino ocorrer a, não haverá crase no feminino. O mesmo
acontece com a qual e as quais. Ex.:
Não gostei da garota a que você se referiu.// Não gostei da garota à qual você se referiu.
62
(do garoto) a que
Houve uma sugestão anterior à que você deu.
(um palpite)
ao que
(do garoto) ao qual
Exercício
Coloque o acento indicativo da crase onde julgar conveniente:
1) As crianças contaram a mãe a cena a que assistiram.
2) As crianças contaram a Elvira a cena a qual assistiram.
3) Os congressistas comemoraram a decisão a que a haviam chegado.
4) Os congressistas comemoraram a decisão a qual haviam chegado.
5) Esta entrevista é igual a que li ontem.
6) A cidade a que iremos possui praias a que só poderemos chegar a pé.
7) A cidade a qual iremos possui praias as quais só poderemos chegar a pé.
8) A faculdade a que aspirava era uma utopia.
9) A faculdade a qual aspirava era uma utopia.
10) Esta é a casa a que me referi.
11) Esta é a casa a qual me referi.
12) Esta roupa é semelhante a que comprei ontem.
13) A circunstância a que nos referimos é estranha.
14) A circunstância a qual nos referimos é estranha.
15) São normas a que todos devem obedecer.
16) São normas as quais todos devem obedecer.
17) A excursão a que iremos custará caro.
18) A excursão a qual iremos custará caro.
19) Esta é a pesquisa a que dedico mais tempo.
20) A caneta que comprei é idêntica a que você tem.
21) São penas semelhantes as que se aplicavam na Idade Média.
22) As prendas são semelhantes as que foram sorteadas ontem.
23) Estavam a poucos metros da clareira a que foram ter por um atalho aberto a foice.
24) Estavam a poucos metros da clareira a qual foram ter por um atalho aberto a foice.
25) Aqui estão duas opções. Escolha a que mais lhe agradar.
26) Eram duas moças, a que mais me agradava era a morena.
27) Hoje muitas pessoas sofrem de doenças graves; o médico referiu-se as que são
acometidas de câncer.
63
DEFEITOS DO TEXTO (VÍCIOS DE LINGUAGEM)
Contra as qualidades do texto (clareza, concisão, correção, elegância) operam os
defeitos, também catalogados como vícios de linguagem. São eles:
 Barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com
a norma culta. Eles ocorrem na:
√ grafia: analizar por analisar.
√ pronúncia: rúbrica por rubrica.
√ morfologia: deteu por deteve.
√ semântica: O iminente jurista presidiu a seção. (por eminente e sessão)
√ estrangeirismo: utilização desnecessária de termos em outras línguas: delivery,
sale/off, mise-en-scène em lugar de entrega em domicílio, liquidação, encenação.
 Solecismo: é representado por qualquer erro de sintaxe:
√ de concordância: Fazem anos que não o vejo. (por faz)
√ de regência: Esqueceram de mim. (por esqueceram-se de mim ou esqueceramme)
√ de colocação: Não coloque-a aqui. (por não a coloque)
 Arcaísmo:
consiste no emprego de palavras ou construções antigas, que já
caíram em desuso.
√ antanho (por passado)
 Preciosismo: é o exagero na linguagem, em prejuízo da naturalidade e clareza
da frase.
Isso é colóquio flácido para acalentar bovino. (por Isso é conversa mole para boi
dormir.)
 Cacofonia: é representada por qualquer sequência silábica que provoque som
desagradável: A boca dela é enorme.
A cacofonia compreende:
√ cacófato: o encontro de sílabas forma palavra obscena ou escatológica . Foi
eleita miss Java.// Nunca gaste todo seu dinheiro.
√ eco: repetição de terminações iguais, sobretudo na língua oral. Frequentemente o
presidente sente dor de dente, quando viaja ao Oriente.// O hospital municipal de
Jaboticabal vai mal.
√ colisão: repetição de consoantes iguais ou semelhantes. O monstro medonho
mede mais ou menos um metro e meio.
√ hiato: sequência ininterrupta de vogais. Ou eu o ouço, ou eu o ignoro.
 Ambiguidade: é o duplo sentido decorrente da construção defeituosa da frase.
O cachorro do meu vizinho morreu.
O guarda deteve o suspeito em sua casa.
64
 Redundância, pleonasmo vicioso ou tautologia: consiste na
repetição desnecessária de informação.
O cantor usava brinco nas duas orelhas.
Há muitos anos atrás...
Não quero que isto se repita outras vezes.
 Obscuridade:
falta de clareza devido, por exemplo, a períodos
excessivamente longos, linguagem rebuscada, má pontuação, desconhecimento da
crase.
Uma construção defeituosa muito corrente é a que usa verbos no gerúndio, particípio e
infinitivo. Como essas formas nominais frequentemente omitem o sujeito, o sujeito da
oração seguinte serve para as duas, o que pode provocar a obscuridade, como nesta
frase:
Passeando pela rua, o caminhão atropelou o menino.
Como o gerúndio passeando não tem sujeito, automaticamente, acredita-se que o sujeito
da oração seguinte (caminhão) funcione como seu também. Para “consertar” a frase,
bastaria mudar o sujeito da oração principal: Passeando pela rua, o menino foi
atropelado pelo caminhão. Ou desdobrar a oração reduzida de gerúndio: Quando o
menino passeava pela rua, o caminhão o atropelou.
Exercícios
I) Identifique os vícios de linguagem e corrija-os:
1) Amanhã irão fazer vinte anos que me formei.// Fazem duas horas que espero pelo
resultado.// Neste mês farão dois anos que ela morreu.
2) O carnet já estava quitado.// Conversavam à luz de um abat-jour lilás.// Meu week
end foi maravilhoso.
3) As empresas sofreram prejuízos vultuosos.// Os policiais só entrarão aqui com um
mandato de prisão.// Fomos taxados de vagabundos pelos assessores do prefeito.//
Produtos perecíveis. Tráfico permitido. (cartaz no vidro traseiro de uma kombi, que lhe
permitiria circular durante o rodízio)
4) Meu pai sofre de alopecia androgênica.
6) Meu irmão deu um tropeção, caiu no chão e machucou a mão.
7) Compre um refrigerante e ganhe grátis um copo.
9) Eu vi o desmoronamento do barracão.
10) Envie-me já o catálogo de vendas.
11) A oncocercose é uma doença típica de comunidades primitivas. Não foi
desenvolvido ainda nenhum medicamento ou tratamento que possibilite o
restabelecimento da visão. Após ser picado pelo mosquito, o parasita (agente da
doença) cai na circulação sanguínea e passa a provocar irritações oculares até a perda
total da visão. (Folha de S.Paulo, 02/11/90)
12) O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em novembro
passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no mesmo
bandejão em que era servido aos soldados americanos. (Veja, 09/01/91)
65
13) As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A
decisão atende a uma portaria de dezembro de 91, do Juizado de Menores, que proíbe
que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de
18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios
sem a companhia ou autorização dos pais. (Folha Sudoeste, 06/06/92)
14) Os estudantes que pretendem ingressar na Unicamp, no próximo vestibular,
concordam com o decreto do governo. Estão reclamando, apenas, que a Universidade
de Campinas está exigindo a leitura de um livro que entrará no exame inexistente no
Brasil: A confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro. (Istoé Senhor, 14/09/88)
15) “Meu filho mais moço é o João Manoel Joinville de Carvalho Machado, do meu
casamento com a Eliane, que é uma mulher doce e encantadora, que mora em Los
Angeles, tem 20 anos e que faz curso superior de cinema.”(trecho de entrevista com
Juarez Machado em A Notícia, Joinville, 27/02/98)
16) Mando-lhe um cão pelo meu motorista que tem as orelhas cortadas e marcas nas
patas.
17) Mulher atacada por cão vai processar seu dono.
18) O ministro da Fazenda qualificou os compradores de motos que pagavam ágio aos
revendedores de ignorantes.
19) A fábrica garante o produto contra todos os defeitos de fabricação, exceto os
decorrentes de uso indevido.
20) Estas populações lançam mão18, para sua sobrevivência, de arroz e feijão.
21) Mesmo quando a classe está empenhada em atividades de leitura e redação, ouve-se
um barulho incessante.
22) Foi constatado que todos os políticos não estão de acordo com as novas propostas
do governo.
23) Não sem frequência, as moças encontram-se na praça.
24) É preciso que se criem novas alternativas para o combate à violência que assola a
sociedade.
25) Crianças que recebem leite materno frequentemente são mais sadias.
II) Desfaça a ambiguidade ou duplo sentido:
1) Família quer proteger os filhos dos criminosos.
2) O mutirão contra a violência da polícia não produziu o feito esperado.
3) Antes de mudar-se para o Rio, o trabalho do meu pai obrigava-o a constantes viagens
pelo Brasil.
4) Saindo de casa, o fogão ficou aceso.
5) O telefone tocou ao entrar no quarto para apanhar a chave.
6) Comparadas com suas primas europeias, os enxames de abelhas africanas têm dez
vezes mais indivíduos.
7) Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes que estava sobre a cama.
8) Olhando do alto do Corcovado, a Baía de Guanabara é um espetáculo deslumbrante.
9) Além de machucado, o contrato do jogador termina no próximo dia 8.
10) A osteoporose é uma doença que fragiliza os ossos, quebrando-se com facilidade.
11) Osama bin Laden foi encontrado enforcado por dois jornalistas da CNN na noite de
quarta-feira.
18
Lançar mão de: servir-se, utilizar-se, valer-se de. Seu contrário é abrir mão de: desistir de.
66
BIBLIOGRAFIA
ASSUMPÇÃO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. 2. ed. São
Paulo: Manole, 2006.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua
portuguesa.
São
Paulo:
ABL,
2009.
Disponível
em:
<http://www.academia.org/vocabularioortografico>.
CALDAS AULETE. Dicionário digital. Globo.com (download gratuito).
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 1995.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5.
ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2009.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, F. Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1990.
GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna. 26. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.
BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de radiojornalismo. 2. ed.
Rio de Janeiro: Campus, 2003.
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e Estilo OESP. São Paulo: O Estado de S.
Paulo, 1997.
OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando?
Como? Onde? O quê? Por quê? São Paulo: Plêiade, 2010.
SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto,
2005.
67
APÊNDICE
O contexto do erro
Usar variedade linguística inadequada numa frase confusa pode ser um tropeço de
português mais impróprio do que problemas de grafia, regência ou concordância
José Luiz Fiorin
A revista Veja publicou o seguinte texto: "Depois de assinar laudos de
reconhecimento de voz dos escândalos provocados por grampos telefônicos, o
foneticista Ricardo Molina ganhou alguma notoriedade e uma série de novos clientes.
Da relação de suas tarefas recentes, incluem-se análises de fitas enviadas por
empresas que investigam a conduta de funcionários e de maridos desconfiados de
traição" (28/8/2001, p. 30).
Da forma como está redigido esse texto, o sentido é que as empresas investigam tanto
a conduta de funcionários quanto a de maridos desconfiados de traição. Na verdade,
porém, o que se quer dizer é que "empresas que investigam a conduta de
funcionários, bem como maridos desconfiados de traição, enviam fitas para serem
analisadas". Observe que o texto está escrito de maneira inadequada, provocando uma
ambiguidade.
O erro linguístico não se esgota, como pretendem alguns, na adequação ou
inadequação da variedade utilizada à situação de comunicação ou ao gênero que está
sendo empregado: por exemplo, o uso de uma variedade popular num gênero em que
se exige a norma culta, como o texto acadêmico, ou o uso de termos chulos numa
situação de comunicação em que sua utilização causa estranheza e constrangimento.
É preciso considerar que há realizações linguísticas que, por descuido ou por falsa
análise realizada pelo falante, contrariam as regras de organização do sistema
linguístico ou não cumprem adequadamente a função de comunicar. Esses fatos são
sentidos principalmente na escrita. Com base em sugestões de Francisco Platão
Savioli, vejamos quais são esses tipos de "erros".
1 – Frases ou períodos truncados
É a produção de frases em que faltam termos essenciais (como o predicado) ou
períodos compostos por subordinação em que não aparece a oração principal. Esses
erros prejudicam a comunicação, pois o leitor fica sem saber o que quis dizer quem
escreveu a frase.
a) Já houve o tempo da moreninha, da loirinha e agora chegou a vez da ruivinha. A
cor do cabelo, no entanto, faz pouca diferença, pois a fórmula para conquistar jovens
plateias com um interesse maior em sexo do que em música. O segredo do sucesso na
música pop é um rostinho – e corpinho – feminino bonito e bem sensual (Folha de
S.Paulo, 17/9/1989, apud Unicamp 89).
b) Embora as enchentes, todos os anos, continuem a destruir cidades inteiras em
regiões do Nordeste, provocando prejuízos que chegam a milhões de reais.
68
No segundo parágrafo do primeiro exemplo, a oração iniciada por pois não tem
predicado. Por isso, não se sabe o que se quer dizer sobre a "fórmula para conquistar
jovens plateias". No segundo caso, não há oração principal: a primeira, iniciada por
embora, é subordinada adverbial concessiva; a segunda é subordinada adverbial
temporal reduzida de gerúndio; por essa razão, não se sabe exatamente o que o
falante queria dizer.
2 – Violações de relações discursivas
Ou seja, de relações entre partes ou segmentos do texto, como o uso de conectores
argumentativos inadequados, de enunciados ambíguos etc.
a) Proteja a entrada dos intrusos (Texto publicitário).
b) Diafragma
Como funciona: insere-se um anel de borracha na vagina para cobrir a entrada do
colo do útero, que deve ser retirado cerca de dez horas após o contacto sexual
(Folheto informativo).
c) Há milhões de pessoas que passam fome no país. Por isso, o governo restringirá as
verbas para programas sociais.
No primeiro caso, temos um enunciado ambíguo. Ele anuncia um dispositivo de
segurança para portões. Mas pode dar a entender que, com ele, tanto se pode impedir
a entrada de intrusos quanto proteger os intrusos, enquanto entram. No segundo, o
pronome relativo que tanto pode referir-se à expressão anel de borracha quanto a
útero, o que significa que não se sabe o que deve ser retirado dez horas após o
contacto sexual. No terceiro, o uso da conjunção conclusiva não cabe no contexto.
Deveria ser usada uma adversativa, como mas, ou uma concessiva, como embora.
3 – Erros de ortografia
A ortografia é o conjunto de convenções que rege a grafia das palavras. Essas
convenções, no caso brasileiro, resultam de normas oficiais, que são coercitivas para
todos os falantes.
Gosta de fama de "bad boy" (garoto mal) e faz tudo o que pode para mantê-la (Folha
de S.Paulo, 11/6/1995, 4-5).
O adjetivo é grafado com u (mau) e o advérbio com l (mal); na frase mau é adjetivo.
A questão da correção não se reduz, como se vê, ao problema da adequação ou
inadequação dos usos à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo
empregado. Há outras impropriedades: frases ou períodos truncados, violações de
relações discursivas e erros de ortografia. Analisemos agora outros tipos de
incorreções que se cometem ao produzir um texto: a hipercorreção, a falsa análise do
enunciado, a falsa analogia, a impropriedade lexical.
69
4 – Falsa análise do enunciado
É aquele erro cometido por uma análise inadequada da frase, quando se atribui a uma
palavra ou expressão uma função sintática que ela não exerce, quando se estabelecem
relações sintáticas inexistentes, quando se realizam analogias improcedentes dentro
do período. Vejamos alguns exemplos:
a) Vai chover multas na volta do feriado (Folha da Tarde, 31/12/1992, 1).
b) Pode-se argumentar, é certo, que eram previsíveis os percalços que enfrentariam
qualquer programa de estabilização (...) necessário no Brasil (Folha de S.Paulo,
7/10/1990, apud Unicamp 91).
No primeiro caso, atribui-se à palavra multas, que é o sujeito, a função de objeto
direto e, por conseguinte, não se realiza a concordância. A frase correta seria Vão
chover multas na volta do feriado. No segundo, considera-se que o pronome relativo
que, que retoma o substantivo percalços, tem a função de sujeito e não de objeto
direto e faz-se a concordância do verbo com o antecedente (percalços) e não com o
verdadeiro sujeito qualquer programa de estabilização.
Muitas vezes, também a hipercorreção resulta de uma falsa análise do enunciado. A
diferença, no entanto, é que aquela acaba resultando, para quem a pratica, numa regra
de uso: por exemplo, o verbo fazer indicando tempo passado nunca é usado
impessoalmente. Diz-se sempre fazem muitos dias.
5 – Falsas analogias
São as formas criadas por analogia com as regularidades da língua ou pelo
estabelecimento de correspondências não existentes entre certas formas da língua.
Diferentemente do caso anterior, não se trata aqui de relações indevidas estabelecidas
entre termos no interior de um período, mas da falsa pressuposição de simetrias na
língua.
a) [Os astecas] não só conheciam o banho de vapor, tão prezado na Europa, como
mantiam o hábito de banhar-se diariamente (Superinteressante, out. 92, apud
Unicamp 93).
b) O governo interviu muito na economia nestes últimos anos.
Usa-se mantiam no lugar de mantinham, porque se faz a seguinte analogia: se comer
faz a 3ª pessoa do pretérito imperfeito do indicativo comiam, prender faz prendiam,
então manter faz mantiam. Utiliza-se interviu por interveio, porque se realiza a
seguinte correlação: se partir tem, para a 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do
indicativo, a forma partiu, dormir tem dormiu, então intervir tem interviu.
6 – Impropriedades lexicais
É o uso de palavra com significado que ela não tem, mas se atribui a ela
indevidamente, em geral por uma semelhança fônica muito acentuada com o termo
70
que seria adequado.
"A luxúria de Moscou tem seu contraponto no silêncio do mosteiro Donskoi, criado
no fim do século 16. É um conjunto arquitetônico elegante e modesto" (O Estado de
S.Paulo, 30/5/1995, G 10)
Luxúria não significa "luxo", mas "sensualidade".
Os erros ou inadequações de linguagem não têm todos o mesmo efeito: uns
prejudicam a compreensão do texto, como em casos de ambiguidade; outros
comprometem a imagem do enunciador; outros, principalmente, os que denominamos
erros por imposição da tradição de ensino (violação de normas que a escola ensina),
nem sequer são percebidos, pois já fazem parte da norma culta real. É o caso, por
exemplo, de dizer Maria namora com Pedro em lugar de Maria namora Pedro.
No caso abaixo, veja-se como o erro linguístico compromete o enunciador, criando
dele uma imagem desfavorável:
"Legenda estampada na tela da TV Gazeta anteontem, na abertura do horário locado
pela Igreja Universal do Reino de Deus, às 20 horas: 'Ex-mãe de encosto desvenda
mistério no semitério'. Sim! Cemitério com "S" só pode ser um mistério. E se nem as
certezas do plano terreno, como a gramática, a Igreja Universal consegue acertar,
como desvendar tais mistérios espirituais?" (O Estado de S.Paulo, 11/03/2004, p. D6)
Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11199>.
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