julho/dezembro - Faculdade de Medicina de Jundiaí
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Revista da Faculdade de Medicina de Jundiaí - São Paulo - Brasil ISSN 0100-2929 PERSPECTIVAS MÉDICAS Volume 20(2) - julho / dezembro 2009. ÍNDICE.....................................................................................................................................................................1 Editorial......................................................................................................................................................................2 Normas de publicação............................................................................................................................................... 3 Artigos Originais Estroma fibromuscular da próstata de camundongos NOD........................................................................................ 5 Fibromuscular stroma of the prostate of mice NOD. Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em escolares do município de Jundiaí, SP.....................................................................................10 Evaluation of the impact of an educational intervention on the occurrence of intestinal parasites in a Jundiaí school– SP. Padrão de suscetibilidade antimicrobiana de Enterobacter ssp. isolada de infecções urinárias em pacientes ambulatoriais em um hospital da cidade de Lima, Peru.......................................................................16 Antimicrobial susceptibility pattern of Enterobacter sp. isolated from urinary infections in outpatients in a hospital from Lima city, Peru. Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí-SP..........................................19 Use of alcohol and drugs by the students of Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP. Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesicouretral em diferentes faixas etárias..............................................................................................................................................26 Stereology of the fiberelastic components of the vesicourethral junction in the different ages. Avaliação do risco da exposição a ruídos aferidos no interior de automóveis..........................................................36 Evaluation of exposure risk to noise inside cars. Comunicação Curta Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 no ambulatório da Faculdade de Medicina de Jundiaí e sua associação com obesidade e hipertensão arterial.......................................................40 Socioeconomic profile of diabetes mellitus type 2 patients of Jundiaí Medical School clinics and its association with obesity and hypertension. O ensino de introdução à cirurgia nos Estados Unidos da América (EUA): informações obtidas em sítios eletrônicos................................................................................................................ 45 Teaching introduction to surgery in the United States of America (USA): information collected in the electronics sites. ISSN 0100-2929 PERSPECTIVAS MÉDICAS Órgão de publicação científica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, - Estado de São Paulo, Brasil, indexada pela Base LATINDEX. Periodicidade semestral. ÍNDICE ............................................................................................................................................................................1 Editorial ..............................................................................................................................................................................2 Normas de publicação .......................................................................................................................................................3 Artigos Originais Estroma fibromuscular da próstata de camundongos NOD ................................................................................................5 Maria Fernanda Fontão, Beatriz Jalbut Jacob, Lívia Ferraz Accorsi, Eduardo José Caldeira, César Alexandre Fabrega Carvalho. Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em escolares do município de Jundiaí, SP ...............................................................................................10 Tamara de Carvalho Haesbaert, Rafaela Henriques Lamas, Décio Farias Novaes Jr., Ariovaldo Hauck da Silva, Maria das Graças B. F. Evangelista. Padrão de suscetibilidade antimicrobiana de Enterobacter ssp. isolada de infecções urinárias em pacientes ambulatoriais em um hospital da cidade de Lima, Peru ..................................................................................16 Daniel Angel Luján Roca, Luz Milagros Luján Roca, Edgardo Mamani Huamán. Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí-SP......................................................19 Priscila de Araújo Spinelli, M F M Valente, Hélio Alvimar Lotério. Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesicouretral em diferentes faixas etárias ......................................................................................................................................................26 Marina Podadera Balota, Marina Martine Costa, Priscila de Araujo Spinelli, Marcelo Rodrigues Cunha, César Alexandre Fabrega Carvalho. Avaliação do risco da exposição a ruídos aferidos no interior de automóveis.......................................................................36 Ricardo Pompêo Bueno de Godoy, Osvaldo Vinícius Biill Primo, Fabrício Egídio Pandini, Adriana Lima Sanchez, Edmir Américo Lourenço. Comunicação Curta Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 no ambulatório da Faculdade de Medicina de Jundiaí e sua associação com obesidade e hipertensão arterial....................................................................40 Leandro Pompermayer Olivo, Ana Paula R. Giraldes, Aline D. Silveira, Eliana Tiemi Maekawa, Leandro Coppedé, Luciana F. B. Stefan, Mercia Breda Stella. O ensino de introdução à cirurgia nos Estados Unidos da América (EUA): informações obtidas em sítios eletrônicos. .........................................................................................................................45 Marcus Vinicius H. de Carvalho, Sérgio Ferreira Módena, Roberto Anania de Paula, Evaldo Marchi. Volume 20(2) jul. / dez. 2009 2 PERSPECTIVAS MÉDICAS Editor-Chefe EDITORIAL A conquista da tão sonhada INDEXAÇÃO de nosso Edmir Américo Lourenço Co-Editor Eduardo José Caldeira Corpo Editorial Paulo Vitor Atsushi Takemoto Ivan Senis Cardoso Macedo Bruno Azevedo Randi Juliana Mandato Ferragutt Juliana Nery de Souza Talarico Leandro Pompermayer Olivo Conselho Editorial Alcione Vendramin Parasitologia FMJ - Jundiaí - SP. Antonio de Castro Rodrigues Biologia Muscular - USP - Bauru - SP. Antonio Roberto Teixeira Hepatologia - FMJ - Jundiaí - SP Arnaldo Rodrigues Santos Júnior Biologia Aplicada UNESP - Jaboticabal - SP. Camila Contim Diniz de Almeida Francia Biologia da Reprodução - UNESP - Botucatu - SP. César Alexandre Fabrega Carvalho Anatomia - FMJ - Jundiaí - SP. Edmir Américo Lourenço Otorrinolaringologia - FMJ - Jundiaí - SP. Eduardo José Caldeira Anatomia - FMJ - Jundiaí - SP. Edson Aparecido Liberti Anatomia - ICB - USP - São Paulo - SP. Elaine Minatel Anatomia - IB - UNICAMP - Campinas - SP. Evanisi Teresa Palomari Eletromiografia - UNICAMP - Campinas - SP. Francisco Eduardo Martinez Biologia da Reprodução - UNESP - Botucatu - SP. Jesus Carlos Andreo Morfologia - USP - Bauru - SP. João Bosco Ramos Borges Tocoginecologia - FMJ- Jundiaí - SP. Joel Alves Lamounier Educ. Médica e Nutrição Infantil - Univ. Fed. Minas Gerais - MG. Juliana Nery de Souza Talarico Enfermagem - FMJ- Jundiaí - SP. Leonardo dos Reis Silveira Fisiologia Humana e Cultura Celular - USP - SP. Marcelo Martinez Anatomia - UFSCar, São Carlos - SP. Marcelo Rodrigues da Cunha Anatomia - FMJ, Jundiaí - SP. Maria Cristina Traldi Enfermagem - FMJ - Jundiaí - SP. Nelson Lourenço Maia Filho Obstetrícia - FMJ - Jundiaí - SP. Odaléa Maria Bruggemann Saúde da Mulher - Univ. Fed. de Sta. Catarina - SC. Progresso José Garcia Biologia Geral - UNESP - Botucatu - SP. Rodolfo Jorge Boeck Neto Cirurgia Oral - UNESP - Araraquara - SP. Sérgio Zylbersztejn Ortopedia e Traumatologia - Univ. Fed. de Ciências da Saúde - Porto Alegre - RS Solange Abrocesi Iervolino Saúde Coletiva - Instituto Superior e Centro Educ. Luterano Bom Jesus - Joinville - SC. Suzana G. Moraes Embriologia - FMJ - Jundiaí - SP. Telma Guarisi Tocoginecologia - FMJ - Jundiaí - SP. Valdemar de Freitas Anatomia - Inst. Biociências - UNESP - Botucatu - SP Wandir Antonio Schiozer Cirurgia Plástica - FMJ - Jundiaí - SP. Wilson de Mello Júnior Morfologia - UNESP - Botucatu - SP. Editores ortográfico e gráfico Edmir Américo Lourenço Eduardo José Caldeira Perspectivas Médicas, 20(2): 2-2, jul. / dez. 2009 periódico na Base LATINDEX foi para todos os colaboradores da Perspectivas Médicas motivo de imensa satisfação e a sensação de que o dever está sendo cumprido. Foi grande a magnitude desta conquista, porque ela premiou o hercúleo esforço empreendido e representou o reconhecimento de um trabalho, de uma autêntica luta de 15 anos desde sua reedição, somente agora coroada de êxito. Em nome da Comissão Editorial, agradecemos com o coração em júbilo, a todas as pessoas e Entidades que de alguma forma nos tem dado apoio e/ou contribuição científica. Edmir Américo Lourenço Editor-chefe Eduardo José Caldeira Co-Editor Perspectivas Médicas v.20(2), jul. / dez. 2009 São Paulo, Faculdade de Medicina de Jundiaí. 21x28 cm Periódico científico de áreas da Saúde da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil. ISSN 0100-2929 1. Medicina - Saúde - Periódicos Revista PERSPECTIVAS MÉDICAS O Periódico Perspectivas Médicas é o órgão de publicação científica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, S.P., com sede à Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens - Jundiaí, SP. - CEP 13202-550. Fone/Fax: (0xx11) 4587-1095. A Revista não aceita, em hipótese alguma, matéria científica paga em seu espaço editorial, embora aceite colaborações financeiras para viabilizar a continuidade de sua publicação, cedendo eventualmente espaços para anúncios relacionados à Saúde. O exemplar encontra-se na íntegra no site www.fmj.br, possibilitando "downloads" porém é proibida sua reprodução, total ou parcial, para quaisquer finalidades, sem autorização escrita e assinada pelo Editor. EXPEDIENTE Impressão: Gráfica Apollo Ltda. - Fone: 4587-5248 / 4587-8809 E-mail: [email protected] Diagramação: Thiago Alves - Editora Gráfica Apollo Jornalista responsável: Cláudia Mello - Mtb 28.835 Tiragem: 1.250 exemplares 3 NORMAS DE PUBLICAÇÃO Normas de Publicação Periódico científico oficial da Faculdade de Medicina de Jundiaí, a Revista Perspectivas Médicas tem como objetivo a apresentação de trabalhos na área experimental básica e das áreas de saúde. Os trabalhos poderão ser originais, revisões, comunicações curtas, relatos de caso, cartas ao editor e outras. Os trabalhos devem ser encaminhados ao Corpo Editorial preferencialmente na forma eletrônica através do endereço: Outras: destinada a ideias e inovações, terapêutica, normas e rotinas e atualizações, devendo seguir a estrutura de uma comunicação curta. Elementos Básicos à Publicação: Forma de apresentação dos artigos: Os artigos devem ter a seguinte formatação: folhas de tamanho A4 (210 x 297 mm), em uma coluna, com margens 2,0 cm, em fonte arial 12 e espaço duplo. Todas as páginas devem ser numeradas na borda superior direita a partir da identificação. [email protected] ou para o endereço abaixo com cópia em CD: Corpo Editorial da Revista Perspectivas Médicas Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens, Jundiaí, São Paulo, CEP: 13202-550. Tel.: (11) 4587-1095. Princípios Gerais: As normas deverão ser obedecidas com rigor para que o trabalho seja encaminhado para avaliação com vistas à sua publicação. Os trabalhos devem ser inéditos, com aprovação em Comitê de Ética em pesquisa oficial da Instituição, ainda não publicados de forma completa em outro veículo de divulgação científica. Deve enquadrar-se em uma das diferentes seções, a saber: Artigos Originais: investigação experimental básica ou clínica, contendo título (45 caracteres ou 10 palavras no máximo) e palavras-chave (ambos em português e inglês), autor(es) - máximo de seis, principal titulação e Departamento, resumo (até 250 palavras), abstract, introdução e objetivos, material e métodos, resultados, discussão e conclusões, agradecimentos e referências bibliográficas. Revisões (máximo de 3000 palavras): artigo que sumariza o conhecimento atual em determinado campo e período, devendo incluir título e palavras-chave (ambos em português e inglês), autor(es) e titulação, resumo, abstract, introdução e objetivos, materiais e métodos, resultado da pesquisa, discussão e conclusões, agradecimentos e referências bibliográficas. Comunicações Curtas (máximo de 2000 palavras): artigos práticos, curtos e objetivos incluindo aspectos pessoais, devendo seguir a estrutura de um artigo original. Relatos de Caso (máximo de 2000 palavras): relato de um caso ou de uma série de casos, com justificada razão para publicação como raridade, aspectos inusitados, evolução atípica e/ou nova terapêutica, devendo seguir a estrutura de um artigo original. Cartas ao Editor (máximo de uma lauda): perguntas, respostas, comentários e opiniões a respeito de outros artigos publicados. Título em português e inglês com no máximo 100 caracteres, contando os espaços e símbolos. Nome do autor(es) no máximo de 6 e excepcionalmente até 10 para trabalhos originais de grande monta. - Local e data, nome dos autores e respectivas assinaturas. - Seção para a qual o trabalho deverá ser avaliado e área do conhecimento. -Palavras-chave e Key words, usando os descritores em Ciências da Saúde (DeCS)e o Medical Subject Headings (MeSH) acessáveis pelos endereços: http://www.bireme.org.br, http://decs.bvs.br ou www.nlm.nih.gov. -Nome do autor(es) identificado(s) com asterisco e logo abaixo a(s) titulação(ões) e local(is) de realização do trabalho. - Artigo ainda não publicado. Relatar conflitos de interesse através do texto seguinte: Conflito de interesse - Os autores do artigo, assinados abaixo, intitulado (título completo), declaram não ter nenhum potencial conflito de interesse em relação ao presente artigo, submetido à revista Perspectivas Médicas. - Endereço completo para correspondência, incluindo telefone e e-mail. -Fonte de Financiamento. A partir da primeira página, numerá-las em sequência no canto superior direito seguindo a estrutura, a saber: -Resumo em português e inglês contendo no máximo 250 palavras, fazendo referência à essência do assunto. -Introdução e objetivos, material e métodos, resultados, discussão e conclusões, seguidos de agradecimentos e referências bibliográficas. Todas as referências citadas no corpo do texto deverão ser numeradas, entre parênteses ou colchetes e sobrescritas, por ordem de aparecimento no texto. Tabelas, Figuras e Quadros. As tabelas, figuras e quadros devem estar inseridas no texto em seu devido lugar e com a respectiva legenda, sendo que as mesmas devem ser planejadas para serem apresentadas em 8 cm ou 17 cm de largura. O título em caso de figuras(formato jpg, png ou gif) deverá ser Perspectivas Médicas, 20(2): 3-4, jul. / dez. 2009 4 colocado sob as mesmas, além da identificação da ampliação das figuras e os títulos das tabelas e quadros sobre os mesmos, devendo seguir a padronização exemplificada abaixo. Tabela 1: Comparação das médias e variâncias do consumo de proteínas e gorduras em gestantes diabéticas. Referências Bibliográficas As referências devem ser numeradas e apresentadas seguindo a ordem de inclusão no texto, segundo o estilo vancouver (http://www.icmje.org). As abreviações das revistas devem estar em conformidade com o index medicus/medline (list of journals indexed in index medicus) ou pelo site http://www.nlm.nih.gov/. É sugerido utilizar revistas indexadas. Todas as referências devem ser digitadas, separadas por vírgula, sem espaço e sobreescritas no corpo do texto e se forem citadas mais de duas referências em sequência, apenas a primeira e a última devem ser digitadas, sendo separadas por um traço (exemplo: 5-8). É sugerido que as citações de livros, resumos e home page, devam ser evitadas, e juntas não devem ultrapassar a 10% do total das referências. Os editores sugerem também a citação de artigos publicados na revista Perspectivas Médicas. Exemplos Periódicos: - Até seis autores Halpern SD, Ubel PA, Caplan AL. Solid-organ transplantation in HIV-infected patients. N Engl J Med. 2002 Jul 25;347(4):284-7. - Mais de seis Rose ME, Huerbin MB, Melick J, Marion DW, Palmer AM, Schiding JK, et al. Regulation of interstitial excitatory amino acid concentrations after cortical contusion injury. Brain Res. 2002;935(1-2):40-6. Programas e Órgãos: Diabetes Prevention Program Research Group. Hypertension, insulin, and proinsulin in participants with i m p a i re d g l u c o s e t o l e r a n c e . H y p e r t e n s i o n . 2002;40(5):679-86. Livros: Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical microbiology. 4ª ed. St. Louis: Mosby; 2002. Capítulo de Livro: Meltzer PS, Kallioniemi A, Trent JM. Chromosome alterations in human solid tumors. In: Vogelstein B, Kinzler KW, editores. The genetic basis of human cancer. New York: McGraw-Hill; 2002. p. 93-113. Tese Tannouri AJR, Silveira, P G. Campanha de prevenção do AVC": doença carotídea extracerebral na população da grande Florianópolis. [categoria]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, Curso de Medicina, Departamento de Clínica Médica; 2005. Perspectivas Médicas, 20(2): 3-4, jul. / dez. 2009 Internet: Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [periódico na Internet]. 2002 Jun [acesso em 2002 Aug 12];102(6):[aproximadamente 3 p.]. Disponível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawat ch.htm Julgamento dos Artigos: A avaliação pelos pares (peer review) será realizada em todos os trabalhos submetidos à revista Perspectivas Médicas (Perspect. Med.), tendo que atender às normas para publicação, assim como ao escopo e política editorial. Os trabalhos serão avaliados sob anonimato durante todo o processo de julgamento, cada trabalho será avaliado por dois árbitros da área para análise do mérito científico e da contribuição do estudo, em caso de dúvidas, o editor poderá solicitar a colaboração de um terceiro profissional, expert na área, que conste ou não conste do corpo de revisores. Somente serão encaminhados aos revisores os artigos que estejam rigorosamente de acordo com as normas e elementos básicos à publicação. O aceite será feito na originalidade e contribuição científica para a área. Os assessores farão sugestões gerais sobre o trabalho e decidirão se o mesmo deve ser: aprovado, aprovado com correções menores, aprovado com correções maiores ou recusado. O artigo com correções passará por novo processo de avaliação. Os pareceres serão encaminhados ao editor-chefe ou co-editor, o qual encaminhará resposta aos autores, via eletrônica com o aceite ou correções sugeridas para reformulação e prazo de entrega. Em caso de trabalhos recusados, os autores receberão os pareceres e o referido julgamento. Qualquer caso omisso será resolvido pelos editores, sempre norteados pelos comentários dos assessores. Após a aprovação do trabalho os autores receberão uma carta de aceite do artigo para publicação, sendo este em formato padrão sem custo nenhum aos autores. Direitos Autorais A revista terá todos os direitos, inclusive de tradução em todos os países signatários da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. A reprodução total ou parcial em outros periódicos deverá mencionar a fonte e dependerá da autorização prévia da revista, sendo proibida para fins comerciais. DECLARAÇÃO Anexar a declaração prévia seguinte para publicação, em caso de aprovação: “Declaramos para fins de publicação na revista Perspectivas Médicas, que o presente artigo (Título) não foi e não será publicado em outro veículo de divulgação científica até o final da apreciação pelo Corpo Editorial. Igualmente, declaramos que todas as informações apresentadas no presente artigo estão de acordo com a opinião de todos os autores”. Todos os autores deverão assinar e datar. 5 ARTIGO ORIGINAL Estroma fibromuscular da próstata de camundongos NOD. Fibromuscular stroma of the prostate of mice NOD. Palavras-chave: colágeno, próstata, nod. Keywords: collagen, prostate, nod. Maria Fernanda Fontão* Beatriz Jalbut Jacob* Lívia Ferraz Accorsi* Eduardo José Caldeira** Cesar Alexandre Fabrega-Carvalho*** *Aluno Bolsista do PIBIC-CNPq do curso de graduação em Medicina da FMJ, São Paulo, Brasil. ** Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia, Anatomia, Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo, Brasil. ***Departamento de Anatomia/ ICB/USP, São Paulo, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: César Alexandre Fabrega Carvalho - Departamento de Morfologia e Patologia Básica-Anatomia, FMJ - Rua Francisco Telles, 250 – Vila Arens – Jundiaí – São Paulo Cep: 13202-550 - Email: [email protected] Fonte de Financiamento: CNPq Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 13 de Maio de 2009. Artigo aceito em 29 de Outubro de 2009. RESUMO O diabetes mellitus provoca desordens metabólicas no sistema reprodutor masculino, o que tem sido motivo de estudos na tentativa de elucidar a etiologia dessas alterações. Existem diversos trabalhos que demonstram que o diabetes modifica a função sexual masculina, através de alterações morfológicas prostáticas. O estroma prostático está envolvido no desenvolvimento da mesma, daí a importância dessa região e sua correlação com a fisiopalotogia de disfunções da próstata, como a hiperplasia prostática benigna (HPB). Assim, o objetivo foi analisar a morfologia das fibras colágenas estromais e correlacioná-las a possíveis doenças prostáticas frente ao Diabetes. O complexo urogenital de camundongos diabéticos e controles foi coletado e submetido a técnicas histológicas rotineiras. As lâminas histológicas foram coradas com Picrossiriushematoxilina, analisadas e fotografadas sob luz polarizada. Após a análise observou-se que a concentração de fibras colágenas apresentou-se maior no grupo diabético. Observaram-se também diferenças em relação à disposição e conformação dessas fibras. A partir da análise dos resultados, conclui-se que o estado diabético altera a densidade e o tipo específico de fibras de colágeno. Isto provavelmente torne o estroma mais fibroso e portanto menos flexível, comprometendo as funções da parte prostática da uretra, tal como ocorre na HBP. ABSTRACT Diabetes mellitus provokes metabolic disorders in the masculine reproductive system, what it has been reason of many studies in the attempt to elucidate the etiology of these alterations. Different reports showed that diabetes modifies the masculine sexual function and the prostate architecture. Like this, the prostatic stroma is involved in these processes, demonstrating your correlation with the physiopathology of these alterations, including the benign prostate hyperplasia (BPH). Thus, the objective of this study was to analyse the morphology of collagen fibers of the stroma and correlate in with the possible prostatic illnesses in the diabetes. The urogenital complex of diabetic mice and controls mice was collected and submitted to the routine histology techniques. The blades had been stained with picrossirius-hematoxilin, analyzed and photographed under polarized light microscopy. The collagen fiber concentration presented larger in the diabetic group. Differences in relation to the disposal and conformation of these staple fibers were also observed. After analysis of the results, it can be concluded that the diabetic state modifies the density and the specific type of collagen fiber. This, probably, can lead to enlarged fribrosis of the prostate stroma. Therefore, becoming less flexible, it can compromise the functions of the prostate and urethra, for example in the BPH. INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Diabetes Mellitus é atualmente uma epidemia mundial. No ano de 2000, o número de portadores de Diabetes era de aproximadamente 177 milhões, podendo chegar a 350 milhões em 2025. Perspectivas Médicas, 20(2): 5-9, jul. / dez. 2009 6 Estroma fibromuscular da próstata de camundongos NOD. - Maria Fernanda Fontão e cols. A incidência do diabetes aumentou substancialmente nos últimos anos, atingindo cerca de 160 milhões de pessoas. Nos EUA, 6,8 % da população tem diabetes, é responsável por 2% das mortes no país. Segundo a Brazilian Society of Diabetes, no Brasil, esse número é ainda maior, com 7,6% da população acometida pela doença. O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é uma das doenças mais estudadas dentro da medicina. Os avanços na complexidade de sua patogênese, seu diagnóstico, tratamento e suas complicações são encontrados, no ano de 2008, em mais de 47 mil artigos científicos no Pubmed, uma das bases de literatura científica mais respeitada no mundo todo. Diferentes pesquisadores têm demonstrado que o diabetes provoca alterações no sistema reprodutor masculino, tanto em seres humanos como em animais de laboratório e esses estudos notificaram distúrbios sexuais em pacientes diabéticos, cuja principal evidência era impotência sexual e diminuição da fertilidade (1,2). Foi demonstrada associação significativa do diabetes com disfunção erétil e todos os aspectos da disfunção sexual, incluindo alterações na ejaculação, no ato e satisfação sexuais (3). A próstata é uma glândula sexual acessória andrógeno-dependente, que exerce um papel fundamental no processo reprodutivo. A próstata adulta normal é formada por dois compartimentos: o epitelial e o estroma fibromuscular. O epitélio secretor é simples com células colunares. O tecido estromal é constituído por terminações nervosas, vasos sanguíneos, fibras musculares, fibras colágenas, fibras elásticas e fibroblastos. O estroma prostático consiste em um complexo arranjo de células estromais e matriz extracelular, associado a fatores de crescimento, moléculas reguladoras e enzimas de remodelação, as quais provêm sinais biológicos gerais e exercem (4) influências mecânicas sobre as células epiteliais . O estroma está envolvido no desenvolvimento da próstata, na manutenção do estado funcional e nas interações parácrinas com o epitélio. A interação epitélio-estromal desempenha papel fundamental no desenvolvimento e no funcionamento da próstata adulta (5). A interdependência entre os compartimentos prostáticos depende fundamentalmente de um meio ambiente estromal e de um balanço hormonal normais (6). O aumento do tecido estromal e a diminuição do pregueamento da mucosa na próstata ventral de camundongos diabéticos pela estreptozotocina também foi evidenciado (6). Um desbalanço na interação epitélio-estromal resulta em drásticas alterações prostáticas, como o surgimento e progressão de doenças malignas e da hiperplasia prostática benigna (HPB) (7). Na literatura, existem muitos estudos mostrando que o diabetes prejudica a função sexual e modifica a morfologia prostática em animais, mas esses trabalhos não caracterizam a importância do estroma prostático Perspectivas Médicas, 20(2): 5-9, jul. / dez. 2009 e suas possíveis alterações na vigência do DM1. Assim sendo, ficou claro a partir da literatura especializada, que o estado diabético promove alterações nos diferentes sistemas orgânicos, inclusive no reprodutor masculino. Dessa forma, o presente estudo objetiva analisar a morfologia das fibras colágenas estromais e correlacioná-las a possíveis doenças prostáticas frente ao DM1. MATERIAL E MÉTODOS Animais e Procedimentos Cirúrgicos Um total de 10 camundongos, advindos do biotério da Faculdade de Medicina de Jundiaí, sendo 5 da linhagem swiss e 5 da linhagem NOD (diabético não obeso), após manifestarem o estado diabetes, foram sacrificados com CO2. Todos os procedimentos foram realizados de acordo com os princípios de ética em experimentação em animais de laboratório e do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Jundiaí. A seguir, os animais foram tricotomizados e colocados em decúbito dorsal. Logo após, seguiu-se incisão na parede abdomino-pélvica e se expôs o complexo urogenital com dissecação da próstata, glândula seminal, bexiga e uretra proximal, com auxílio de lupa cirúrgica. Procedimentos Histológicos O complexo urogenital foi fixado em formol 10% e posteriormente foram hidratados em água corrente “over night” por 24hs. Posteriormente os tecidos sofreram desidratação em uma série crescente de álcoois (álcool 80% - duas vezes, álcool absoluto–três vezes; 1 a 2 horas cada) (Reagen–Rio de Janeiro–RJ–Brasil). A seguir, o material foi diafanizado com xilol por 2 horas. Seguindo-se essa etapa, os fragmentos foram colocados em parafina a 56°C (Synth®–Diadema–SP-Brasil) por uma hora e emblocados. A seguir, o material foi seccionado em micrótomo (Lupe MRP03®-São Paulo-SP-Brasil) obtendo-se amostras com espessura de 5 micra. Posteriormente, os cortes foram colocados em lâminas albuminizadas (Vislabor–Itatiba–SP–Brasil), as quais foram levadas para estufa (Fanem–São PauloSP–Brasil) com temperatura de 60°C. Finalmente, as lâminas foram coradas com Picrossirius para evidenciar a presença das fibras colágenas no estroma prostático (Figura 1). Figura 1: Nível de secção para a confecção das lâminas histológicas: 1 Bexiga urinária, 2 - Glândula prostática, 3 - Uretra prostática, 4 - Ácinos prostáticos . 7 Estroma fibromuscular da próstata de camundongos NOD. - Maria Fernanda Fontão e cols. Estereologia A quantificação das fibras colágenas foi realizada a partir das imagens digitalizadas e expostas em computador com tela plana. Foram utilizadas 15 lâminas em cada grupo. Para a determinação quantitativa das frações de volume ocupadas pelos elementos que constituem o estroma da glândula prostática, foram contados quadriláteros contendo fibras colágenas, utilizando-se um retículo quadrilátero de integração acoplado na objetiva de 10x e de 100x do microscópio. Para o estudo morfométrico foram utilizadas medidas para determinação quantitativa das frações de volume (Vv) ocupadas pelas fibras colágenas no estroma prostático. Para a mensuração, foi utilizado um retículo de 100 pontos, sendo este uma confecção adaptada segundo a técnica morfométrica de contagem de pontos (Figura 2). As medidas foram realizadas através da contagem de quadriláteros contendo as fibras colágenas, num total de 660 campos. As frações de volume ocupadas pelas fibras colágenas em relação ao campo total foram calculadas usando-se a seguinte fórmula: Vv = p/P Vv = densidade de volume ou fração de volume (%) p = número de quadriláteros contendo fibras colágenas P = número total de quadriláteros (no caso, 6). Análise Estatística Os dados foram estudados através de média, desvio-padrão, mediana, valores mínimos e máximos. A distribuição do número de pontos e do percentual de pontos com fibras foi avaliada quanto à distribuição normal através do teste de Kolmogorov-Smirnov, e como os dados não apresentaram distribuição normal, utilizou-se o teste de Mann-Whitney para a comparação entre os grupos. O software utilizado para análise foi o SAS versão 9.02 e o nível de significância foi assumido em 5% (p < 0,05). RESULTADOS Análise da microscopia As análises dos resultados referentes à microscopia mostram a presença das fibras colágenas em todo o estroma prostático, com diferentes disposições, concentrações e volume ocupado pelas mesmas entre os grupos controle e diabético. A coloração utilizada (Picrossirius-hematoxilina) evidenciou de forma satisfatória a presença de fibras colágenas no estroma prostático. No estudo estereológico dos campos fotografados, a concentração de fibras colágenas apresentou-se maior no grupo diabético do que no grupo controle (Tabela 1). Houve diferença estatisticamente significante no número de quadriláteros com fibras colágenas entre os grupos, sendo a média do volume ocupado por essas fibras superior nos diabéticos, em relação ao grupo controle (p < 0.0001) (Figuras 3, 4 e 5). Nos campos analisados do grupo diabético, quando comparados aos do grupo controle, observou-se um espaçamento entre os ácinos prostáticos, bem como uma desorganização em sua disposição. No espaço inter-acinar, nota-se um acúmulo de fibras colágenas, as quais se apresentam tortuosas e desorganizadas, ao contrário do grupo controle, onde as fibras estão dispostas de maneira mais homogênea e organizada, de forma mais concentrada, porém em menor quantidade, como demonstrado na análise estatística. FIGURA 2: Fotomicrografia da glândula prostática de acordo com a figura 1: as intersecções das linhas em cada um dos 6 quadriláteros correspondem aos pontos, pela técnica morfométrica. TABELA 1: Demonstração dos valores da contagem, em números e porcentagem, dos pontos sobre as fibras de colágeno (densidade/área). Diabéticos n = 19 CONTROLEn=30 média desviopadrão Nº de pontos com fibras 145.0 48.8 % de pontos com fibras 22.7 7.6 mediana mín máx média 142.0 79.0 271.0 274.5 22.2 12.3 42.3 42.9 desviopadrão 64.9 10.1 mediana mín máx Valor-p 281.0 161.0 366.0 < 0.0001 43.9 25.2 57.2 < 0.0001 Teste de Mann-Whitney Perspectivas Médicas, 20(2): 5-9, jul. / dez. 2009 8 Nº de pontos com fibras Estroma fibromuscular da próstata de camundongos NOD. - Maria Fernanda Fontão e cols. 300 200 100 CONTROLE DIABÉTICOS grupo FIGURA 3: Box Plot (distribuição) do número de pontos com fibras, segundo os grupos controle e diabético. % de pontos com fibras 50.0 40.0 30.0 20.0 CONTROLE DIABÉTICOS grupo FIGURA 4: Box Plot (distribuição) do percentual de pontos com fibras, segundo os grupos controle e diabético. FIGURA 5: Fotomicrografias da glândula prostática. Controles (A e B). Diabéticos (C e D). A) Vista geral da disposição acinar. Fibras colágenas dispostas de maneira homogênea e organizada (X350). B) Em maior aumento nota-se a predominância do verde, caracterizando fibras colágenas do tipo III (X 850). C) Vista geral da disposição acinar. Fibras colágenas dispostas de modo mais concêntrico (X350). D) Em maior aumento nota-se a predominância do vermelho e amarelo, caracterizando fibras colágenas do tipo I (X 850). Perspectivas Médicas, 20(2): 5-9, jul. / dez. 2009 DISCUSSÃO e CONCLUSÕES Sabe-se que o diabetes mellitus provoca desordens metabólicas nos diferentes sistemas orgânicos, o que tem sido motivo de estudos na tentativa de elucidar a etiologia dessas alterações. Como já descrito, na literatura existem diversos trabalhos que demonstram que o diabetes modifica a função sexual masculina através de alterações morfológicas da próstata. Entretanto, poucos são os estudos que descrevem a importância do estroma prostático e seus componentes na fisiopatologia de certas doenças do aparelho reprodutor masculino. Pesquisadores demonstraram que o estado diabético induz alterações estromais que servem como um sinal indicativo de desestruturação homeostática epitélio-estromal. Modificações estruturais e quantitativas nos elementos fibrilares e musculares foram observadas no estroma prostático de camundongos diabéticos, incluindo um aumento expressivo de colágeno sobre a membrana basal. Dessa forma, além de prejudicar o processo reprodutivo, o diabetes pode eventualmente resultar na patogênese de alterações prostáticas, como a HPB (8). No presente estudo, observaram-se, à microscopia, diferenças morfológicas do estroma prostático entre os grupos controle e diabético. Nota-se que no grupo diabético, quando comparado ao grupo controle, ocorre um espaçamento entre os ácinos prostáticos, bem como uma desorganização em sua disposição. No espaço inter-acinar constatou-se um acúmulo de fibras colágenas, as quais se apresentaram tortuosas e desorganizadas, ao contrário do grupo controle, onde as fibras se dispuseram de maneira mais homogênea, organizada e de forma mais concentrada, porém em menor quantidade. Ribeiro, et al.(8) verificaram alterações histoquímicas e estruturais na próstata de camundongos NOD, como redução da área epitelial e aumento da área estromal, incluindo hipertrofia das fibras colágenas, o que corrobora com os achados do presente estudo. Além disso, descrevem uma frequência estromal significantemente aumentada nos animais diabéticos, especialmente em porções envolvendo a musculatura lisa estromal. No presente trabalho, a análise dos animais diabéticos mostrou estroma hipertrofiado, com maior frequência de fibras colágenas visível no espaço interacinar. Essas alterações estão presentes no desenvolvimento da neoplasia prostática e nos processos inflamatórios da glândula. Cagnon et al. (6) notaram tanto o aumento do tecido estromal como a diminuição do pregueamento da mucosa em animais diabéticos. Carvalho et al. (9), também observaram aumento do tecido estromal, diminuição do lúmen e diminuição do preguemento da mucosa. Para esses autores, o aumento exacerbado do estroma em camundongos diabéticos ocorreu na tentativa de fornecer suporte, impedindo a desestruturação do epitélio glandular. Diversos estudos mostram a relação entre diabetes 9 Estroma fibromuscular da próstata de camundongos NOD. - Maria Fernanda Fontão e cols. e o desenvolvimento de HPB. Eaton (10) demonstrou que os fatores de crescimento insulina-símile (IGFs) I e II são também mitógenos de células estromais da próstata. Outros estudos têm demonstrado que alterações na expressão de receptores IGFs das células estromais da próstata podem resultar no aumento da proliferação celular no estroma, e consequentemente na HPB (10-12), o que sugere que os primeiros sinais de alargamento e aumento de massa glandular vistos na HPB ocorrem primariamente no estroma, o que mostra a importância do estudo dessa região (13) . Assim sendo, conclui-se que o estado diabético induz alterações estromais que servem como um sinal indicativo de desestruturação homeostática epitélioestromal. No presente estudo, as análises, estatística e microscópica das lâminas, apontaram alterações morfológicas que o estado diabético promove na próstata, tal como alteração da densidade e o tipo específico de fibras de colágeno. Isto provavelmente torne o estroma mais fibroso e portanto menos flexível, comprometendo as funções da parte prostática da uretra, podendo interferir negativamente na fertilidade e no trato urinário baixo, pela retenção urinária. Andrologia 1977; 10(2): 127-136. 2. - Daubresse JC, et al. Pituitary-testicular axis in diabetic men with and without impotence sexual. Diabete & Metabolisme 1978; 4: 233-37. 3. - Burke JP, et al. Diabetes and sexual dysfunction: results from the olmsted county study of urinary symptoms and Health Status Among Men. The Journal of Urology 2007; 177: 1438-42. 4. - Tuxhorn JA, Ayala GE, Rowley DR. Reactive stroma in prostate cancer progression. J Urol 2001; 166: 2472-83. 5. - Cunha GR, et al. Normal and abnormal development of the male urogenital tract. Role of androgens, mesenchymal-epithelial interactions, and growth factors. J Androl 1992; 13: 465-75. 6. - Cagnon VHA, et al. Ultrastructure study of the ventral lobe of the prostate of mice with streptozotocin induced diabetes (C57bl/6j). Tissue and Cell 2000; 32(4):275-83. 7. - Hayward SW, et al. Stromal development in the ventral prostate, anterior prostate and seminal vesicle of the rat. Acta Anat 1996; 155: 94–103. 8. - Ribeiro DL, Caldeira EJ, CÂNDIDO EM, Manzato AJ, Taboga SR, Cagnon VHA. Prostatic stromal microenvironment and experimental diabetes. European Journal of Histochemistry 2006; 5:421-30. 9. - Carvalho CAF, Camargo AM, Cagnon VHA. Effects of experimental diabetes on the structure and ultrastructure of the coagulating gland of C57bl/6j. The Anatomical Record 2003; 270: 129-36. 10. - Eaton LC. Etiology and pathogenesis of benign prostatic hyperplasia. Current Opinion in Urology 2003; 13:7-10. 11. - Sarma VA, et al. Associations between diabetes and clinical markers of benign prostatic hyperplasia among community-dwelling black and white men. Diabetes Care 2008; 31:476-82. 12. - Cunha GR, et al. Role of stroma in carcinogenesis of the prostate. Differentiation 2002; 70: 473-85. 13. - Price D. Comparative aspects of the development and structure in the prostate. Natl Câncer Inst Monogr 1963; 12:1-27. Referências Bibliográficas 1. - Frenkel GP, et al. Fertility of the streptozotocin-diabetic male rat. Perspectivas Médicas, 20(2): 5-9, jul. / dez. 2009 10 ARTIGO ORIGINAL Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em escolares no município de Jundiaí, SP. Evaluation of the impact of an educational intervention on the occurrence of intestinal parasites in a Jundiaí school– SP. Palavras-chave: parasitos, helmintos, criança, prevalência, educação. Keywords: parasites, helminths, child, prevalence, education. Tamara de Carvalho Haesbaert* Rafaela Henriques Lamas* Décio Farias Novaes Júnior* Ariovaldo Hauck da Silva** Maria das Graças B. F. Evangelista*** *Alunos do 5° ano do curso de Medicina da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. ** Professor Auxiliar da FMJ, Departamento de Saúde Coletiva, Jundiaí, São Paulo, Brasil. ***Professora Doutora Adjunta da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), Departamento de Morfologia e Patologia Básica, Disciplina de Parasitologia, Jundiaí, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: Tamara de Carvalho Haesbaert - Rua Zuferey, n° 211, bloco 3, apto. 401 – Jardim Pitangueiras, SP. - CEP: 13202-420. Telefone: (11) 48163484. - E-mail: [email protected] Fonte de Financiamento: Bolsa de iniciação científica - PIBIC. Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 21 de Março de 2009. Artigo aceito em 02 de Novembro de 2009. RESUMO Considerando-se os altos índices de prevalência de enteroparasitoses em crianças, principalmente em áreas subdesenvolvidas, entre a população de níveis socioeconômicos mais baixos, com falta de saneamento básico e medidas de higiene pessoais precárias, o presente trabalho teve como objetivo estabelecer a ocorrência de parasitas e comensais intestinais em crianças de uma escola no município de Jundiaí-SP - Brasil, além de avaliar a influência de uma ação educativa sobre a ocorrência de enteroparasitoses. Foram realizadas atividades educativas teóricas e práticas com o objetivo de orientar os alunos, pais ou responsáveis acerca das parasitoses intestinais mais frequentes nesta população e dos métodos de prevenção dessas doenças. A pesquisa desenvolvida utilizou o método coproparasitológico de investigação. As amostras foram examinadas de acordo com a técnica de Hoffman, Pons e Janner. A taxa de adesão ao projeto foi de 42,4%, sendo analisadas amostras fecais de 59 crianças com uma taxa de prevalência geral de Perspectivas Médicas, 20(2): 10-15, jul. / dez. 2009 infecção de parasitos e/ou comensais de 30%. Das amostras positivas, os parasitos mais prevalentes foram: Entamoeba coli (62,5%), Giardia lamblia (33,3%), Ascaris lumbricoides (4,1%) e Endolimax nana (20,8%).Para avaliar a eficácia da intervenção educativa realizada com o grupo controle, foram comparados os índices de reinfecção dos grupos caso e controle após o tratamento, que foram respectivamente 16,1% e 14,28%. Esse resultado demonstra que a realização das medidas educativas não influenciou de forma positiva o índice de reinfecção. Conclui-se que atividades educativas são válidas, mas precisam ser integradas a um processo contínuo de educação e controle das enteroparasitoses, além de englobar a família e toda a comunidade para que exerçam uma influência positiva sobre a saúde da população. ABSTRACT Considering the high prevalence of intestinal parasites in children, especially in underdeveloped areas, among the lower socio-economic levels with lack of sanitation and poor personal hygiene measures, this study aimed to establish the occurrence of intestinal parasites and commensals in children at a school in the city of Jundiaí-SP - Brazil, in addition to assessing the influence of an educational activity on the occurrence of intestinal parasites. Theoretical and practical educational activities were performed with the objective of teaching students, parents or guardians about the most common intestinal parasites in children and methods of prevention of these diseases. The investigation method was the stool sample exam. The samples were examined according to the technique of Hoffman, Pons and Janner. The rate of adherence to the project was 42.4% and stool samples from 59 children were analyzed with an overall prevalence rate of infection of parasites and/or commensals of 30%. The intestinal parasites and commensals that were most commonly found were: Entamoeba coli (62,5%), Giardia lamblia (33,3%), Ascaris lumbricoides (4,1%) e Endolimax nana (20,8%). To evaluate the effectiveness of educational intervention performed with the control group, the rates of reinfection of the case and control groups after treatment were compared, which were respectively 16.1% and 14.28%. 11 Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em esco... - Tamara de Carvalho Haesbaert e cols. This result shows that the implementation of educational measures did not influence in a positive manner the rate of reinfection. It can be concluded that educational activities are valid, but must be integrated to a continuous process of education and control of enteroparasitosis, and must include the family and the entire community to exert a positive influence on public health. INTRODUÇÃO Os parasitas são conhecidos da humanidade desde a Antiguidade. O papiro Ebers, datado de 1500-1600 a.C. no Egito, descreve a doença causada pelos ancilostomídeos. Moisés, que recebeu instrução médica dos sacerdotes egípcios, ditou leis sanitárias para proteção contra as pragas transmitidas por insetos e contra a carne de animal infectado. Aristóteles escreveu sobre o verme hoje conhecido como Ascaris lumbricóides. Devido ao seu pequeno tamanho, os protozoários não foram detectados até que Leewenhock inventou suas lentes de ampliação, no século XVII, permitindo que ele observasse a presença de trofozoíto de Giardia lamblia em fezes diarréicas(1). Entre as parasitoses humanas, as infecções parasitárias intestinais, apesar das melhorias realizadas em relação ao diagnóstico e tratamento, continuam endêmicas e devem merecer atenção da saúde pública(2). Neste contexto, as parasitoses intestinais são responsáveis por altos índices de morbidade, principalmente nos países em desenvolvimento, onde o crescimento populacional não é acompanhado da melhoria das condições de vida da população(1). A prevalência geralmente é alta e seu efeito é deletério, principalmente no estado nutricional de indivíduos infectados(2). As parasitoses são observadas com maior frequência nas classes salariais mais baixas e com menor grau de escolaridade, decrescendo gradativamente nas classes mais privilegiadas economicamente e com melhores níveis de instrução educacional (2-5). Apesar da alta frequência de parasitoses e da morbidade causada à população em geral, e mais especificamente à população pediátrica, ressalta-se a escassez de estudos acerca do problema, visando a um melhor dimensionamento e elaboração de medidas de combate por parte das autoridades sanitárias(6). A ocorrência de parasitoses na idade infantil, especialmente na idade escolar, consiste em um fator agravante da subnutrição, podendo levar à morbidade nutricional. Isto reflete diretamente no rendimento escolar, promovendo a incapacitação física e intelectual dos indivíduos parasitados(7). As práticas educacionais, quando bem aplicadas, levam as pessoas a adquirirem os conhecimentos para prevenção de parasitoses, alcançando objetivos propostos e evidenciando o valor da orientação pedagógica para a conscientização da população. Porém, embora haja vasta literatura sobre a importância das enteroparasitoses para a Saúde Pública, especialmente em relação a escolares, pouca atenção tem sido dada ao assunto nos programas de formação de educadores(8,9). OBJETIVOS Objetivo geral O objetivo deste trabalho é avaliar a ocorrência de enteroparasitoses em crianças de uma escola no município de Jundiaí-SP e realizar atividades educativas teóricas e práticas, orientando os alunos, pais ou responsáveis acerca das parasitoses intestinais mais frequentes nesta população e dos métodos de prevenção dessas doenças. Objetivos específicos 1. Avaliar o impacto de uma ação educativa sobre a ocorrência de enteroparasitoses em escolares do ensino fundamental; 2. Realizar levantamento coproparasitológico dos escolares; 3. Encaminhar as crianças com exame coproparasitológico positivo para o tratamento; 4. Realizar atividades educativas teóricas e práticas, orientando os escolares, pais ou responsáveis acerca das parasitoses intestinais mais frequentes; 5. Criar uma ferramenta para o fornecimento de informações epidemiológicas locais, distribuídas territorialmente, que poderão servir como guia que possibilite corrigir deficiências ou desenvolver programas de prevenção específica na comunidade. MATERIAIS E MÉTODOS Área de estudo Para a realização do projeto foi escolhida a comunidade do Jardim Santa Gertrudes em função de suas características geográficas e sociais, em especial seu relativo isolamento geográfico. População estudada A escola escolhida para a execução do trabalho foi a Escola Municipal de Educação Básica Prof. Carlos Foot Guimarães situada na rua Ângelo Bardi, n°335, Bairro Santa Gertrudes, Jundiaí-SP, pois é a única do bairro que recebe crianças da 1ª à 4ª série do ensino fundamental. Devido ao período de execução do projeto (agosto/2008 a agosto/2009), tornou-se inviável realizar o trabalho com crianças da 4ª série do ensino fundamental, pois estas, ao término do ano letivo, são transferidas para diversas escolas do bairro que possuem classes da 5ª série do ensino fundamental. Sendo assim, foram sorteadas quatro classes da 3ª série, totalizando 139 crianças, pois estas, no ano de 2009, frequentarão a 4ª série da mesma escola. Duas classes foram consideradas grupo “caso” e outras duas foram consideradas grupo “controle”. Todo o Perspectivas Médicas, 20(2): 10-15, jul. / dez. 2009 12 Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em esco... - Tamara de Carvalho Haesbaert e cols. estudo foi realizado de acordo com as normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). Desenvolvimento Para todas as crianças que participaram do projeto foi preenchida uma ficha cadastral com questões re f e re n t e s a o s d a d o s p e s s o a i s , c a r á t e r socioeconômico, familiar, médico e sanitário das famílias. Foi encaminhado previamente para os pais ou responsáveis um termo de livre consentimento informado. Os estudantes foram divididos em dois grupos (caso e c o n t ro l e ) , s e n d o re a l i z a d o s e x a m e s coproparasitológicos em todas as crianças de ambos os grupos. Para isso, foram distribuídos frascos coletores com espátula, previamente identificados, juntamente com um manual sobre normas e procedimentos para a colheita de fezes. Com o grupo caso foram realizadas atividades educativas sobre enteroparasitoses, enquanto que o segundo grupo funcionou como grupo controle. Ao fim da realização das atividades educativas, as crianças que apresentaram exame coproparasitológico positivo foram encaminhadas para tratamento. Após três meses foi feita nova coleta e análise coproparasitológica, a fim de comparar o índice de reinfecção dos dois grupos, sendo que, após as análises, os componentes desse grupo e seus pais foram convidados para participarem das mesmas atividades de educação em saúde. Exame coproparasitológico Para a coleta das amostra de fezes foram distribuídos frascos coletores com espátula, previamente identificados, juntamente com um manual sobre normas e procedimentos para a colheita de fezes. Foi decidido não adicionar aos frascos solução conservante, a fim de evitar eventuais acidentes. As amostras foram preparadas no mesmo dia da coleta no Laboratório de Parasitologia da FMJ, seguindo a técnica de Hoffman, Pons e Janner(10), que permite o encontro de ovos e larvas de helmintos e de cistos de protozoários. Foram preparadas três lâminas por amostra fecal individual e analisadas ao microscópio óptico. Atividades educativas As atividades educativas consistiram de duas etapas: 1. Palestra para as crianças Foi ministrada uma palestra para as crianças na biblioteca da escola, sobre as seguintes parasitoses: ascaridíase, giardíase, amebíase, tricuríase e ancilostomíase, sendo abordados os seguintes aspectos: morfologia, ciclo evolutivo, modos de transmissão e profilaxia. Para essa atividade, utilizamos o material didático confeccionado pelos monitores da disciplina na realização de palestras Perspectivas Médicas,20(2): 10-15, jul. / dez. 2009 sobre os mesmos temas em creches de Jundiaí e ilustrações com as amostras macroscópicas de enteroparasitas da Disciplina de Parasitologia da FMJ. 2. Atividade prática Essa atividade foi realizada no pátio da escola, que dispunha de toda estrutura necessária (mesas, cadeiras, quadro negro, pias com torneiras, recipientes de sabonete líquido, papel toalha) e consistiu na lavagem de verduras e lavagem de mãos. A dinâmica de lavagem de verduras consistiu em demonstração da lavagem pelas crianças seguida de uma demonstração do procedimento indicado como correto, seguindo o seguinte protocolo: 1. Escolher folha por folha, retirando as estragadas; 2. Lavar as folhas em água corrente,uma por vez; 3. Colocar de molho em solução contendo um litro de água e uma colher de água sanitária, por no mínimo 15 minutos; 4. Enxaguar em água potável(11). A verdura escolhida foi a couve, por ser mais resistente à lavagem e de fácil marcação com um marcador invisível (tinta invisível fluorescente Meyerman), que foi usado de maneira ilustrativa sendo comparado com a sujidade das verduras, que também é invisível a olho nu. Essa comparação foi feita expondo-se as verduras pintadas à lâmpada de luz negra, que evidencia o contraste da tinta fluorescente invisível à luz natural(1). A dinâmica de lavagem de mãos foi realizada da seguinte maneira: 1. Dois alunos receberam aplicação de tinta hidrossolúvel guache preta nas mãos; 2. Em seguida foram colocados frente a uma torneira com água corrente e sabão para lavarem as mãos. Após esta etapa, os pesquisadores também receberam aplicação de tinta hidrossolúvel guache em suas mãos e fizeram uma demonstração de como lavar as mãos corretamente, seguindo os seguintes passos: 1. Dar preferência por sabonete líquido ou, usando sabonete comum, enxaguá-lo antes e após o uso; 2. Ensaboar as mãos e friccioná-las por aproximadamente 15 segundos, em todas as suas faces, espaços entre os dedos, articulações, unhas e extremidades dos dedos; 3. Enxaguar as mãos, retirando totalmente os resíduos de sabão; 4. Se possível, enxugá-las com papel toalha descartável; 5. Fechar a torneira utilizando o papel toalha ou uma toalha. RESULTADOS Das 139 crianças convidadas para participarem do projeto, a taxa de adesão foi de 42,4% (59 crianças), totalizando 31 alunos do grupo caso e 28 alunos do grupo controle. A prevalência geral de infecção tanto de parasitos como comensais foi de 30%. A taxa de prevalência para parasitos e comensais intestinais nas 1ª e 2ª coleta foi de 21,43% e 15,2% respectivamente (Figura 1), sendo que na primeira 13 Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em esco... - Tamara de Carvalho Haesbaert e cols. coleta a maioria dos escolares (80%) estava infectada por apenas uma espécie (monoassociação) de parasita ou comensal (Figura 2) e na segunda todas as crianças (100%) apresentaram monoassociação. FIGURA 1 100,00% 80,00% 60,00% Positivos Negativos 40,00% 20,00% Das amostras de fezes da primeira coleta que apresentaram resultado positivo ao exame, nove continham o agente Entamoeba coli, cinco Giardia lamblia, cinco Endolimax nana e uma Ascaris lumbricoides. Já na segunda coleta de fezes, realizada após a intervenção educativa, foram encontradas seis amostras infectadas por Entamoeba coli e três por Giardia lamblia (Tabela 1). Ao final, analisando juntamente a primeira e segunda coleta, os parasitas encontrados em ordem decrescente de prevalência foram Entamoeba coli (62,5%), Giardia lamblia (33,3%), Ascaris lumbricoides (4,1%) e Endolimax nana (20,8%) (Figura 3). 0,00% 1°Coleta 1ª coleta 2°Coleta 2ª coleta Entamoeba coli Endolinax nana FIGURA 1: Prevalência de infecção por parasitas e comensais intestinais encontrados na 1ª e 2ª coletas. Escola Municipal de Educação Básica Prof. Carlos Foot Guimarães, Bairro Santa Gertrudes, Jundiaí-SP, 2009. Nos indivíduos infectados por duas espécies (7%) (associações entre parasito/parasito, parasito/comensal, ou comensal/comensal) a associação foi de Giardia lamblia com Endolimax nana. Nos indivíduos que apresentaram associação de três espécies (13%), a associação foi de Giardia lamblia com Endolimax nana e Entamoeba coli (Figura 2). Ascaris lumbricoides FIGURA 3: Proporção de parasitos e comensais em duas coletas de fezes, em alunos da Escola Municipal de Educação Básica Prof. Carlos Foot Guimarães, Santa Gertrudes, Jundiaí-SP, 2009. Para avaliar a eficácia da intervenção educativa realizada com o grupo controle foram comparados os índices de reinfecção dos dois grupos, que foram de 16,1% no grupo caso e 14,28% no grupo controle. A idade média da população estudada foi de 9 anos de idade. Outras variáveis analisadas estão disponíveis na (Tabela 2.) Dentre as crianças que obtiveram resultado de exame coproparasitológico positivo, 88,8% referiu ter água tratada, 66,6% relatou ter rede de esgoto e 94,4% afirmou ter acesso à coleta pública de lixo, sendo que todos os indivíduos que apresentaram exame positivo tanto na primeira quanto na segunda coleta (reinfecção), tinham acesso à saneamento básico. monoassociação triassociação Giardia lamblia biassociação FIGURA 2: Associações entre parasitos e comensais intestinais observados nas amostras de fezes de estudantes que apresentaram exame coproparasitológico positivo na primeira coleta. Escola Municipal de Educação Básica Prof. Carlos Foot Guimarães, Bairro Santa Gertrudes, Jundiaí-SP, 2009. O agente mais prevalente tanto na primeira quanto na segunda coleta foi o comensal Entamoeba coli, sendo a prevalência nas duas coletas de 60% e 66,6% respectivamente (Tabela 1). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A prevalência geral de infecção, incluindo parasitas e comensais intestinais foi de 30%. No TABELA 1: Distribuição dos parasitos e comensais intestinais segundo o agente infeccioso, observados em exames coproparasitológicos positivos da primeira e segunda coleta. Escola Municipal de Educação Básica Prof. Carlos Foot Guimarães, Bairro Santa Gertrudes, Jundiaí-SP, 2009. Espécies de parasitas e com ensais 1ª coleta 2ª coleta Nº % Nº % Entamoeba coli 9 60% 6 66,6% Giardia lamblia 5 33,3% 3 33,3% Endolimax nana 5 33,3% 0 0% Ascaris Lumbricoides 1 6,6% 0 0% Perspectivas Médicas, 20(2): 10-15, jul. / dez. 2009 14 Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em esco... - Tamara de Carvalho Haesbaert e cols. TABELA 2: Outras variáveis encontradas entre os alunos da Escola Municipal de Educação Básica Prof. Carlos Foot Guimarães, Santa Gertrudes, Jundiaí-SP, 2009. Alunos % Diarréia frequente 2 3,38 Tratamento prévio para veminoses 48 81,35 Animais domésticos 26 44,06 Lavagem de mãos antes das refeições 50 84,74 Ingestão de verduras 38 64,40 Lavagem adequada das verduras (molho em água sanitária/vinagre) 47 79,66 Água tratada 52 88,13 Rede de esgoto 49 83,05 Coleta pública de lixo 55 93,22 Rua asfaltadas 52 88,13 Atividades lúcidas em areia ou terra em parques, na rua ou na escola 32 54,23 Variável método coproparasitológico de diagnóstico utilizado no trabalho, a recomendação ideal consiste na colheita de três amostras fecais do mesmo indivíduo, em dias alternados, de modo a garantir a observação e o diagnóstico das formas parasitárias. Por razões metodológicas, esse objetivo não foi proposto, sendo esta lacuna preenchida pela execução e leitura de três lâminas por amostra fecal individual. A prevalência de enteroparasitoses encontrada em nosso trabalho foi semelhante à de outros estudos realizados no país. No estudo de Roque et al.(12) realizado em Porto Alegre a taxa de positividade encontrada foi de 36% (n=191). Outro trabalho realizado no Rio Grande do Sul, em Pelotas, obteve 37,5% de amostras positivas (n=112). No trabalho de Marinho et al.13 realizado no estado do Rio de Janeiro a prevalência foi de 33,88% (n= 1092). Villela et al.(14) obtiveram 39,8% de positividade (n= 1.661). Valores maiores e menores de índice de positividade também foram encontrados. Estudo realizado em Paracatu-MG demonstrou taxa geral de prevalência de 62% (n=209)(7). Em outro realizado em Estiva Gerbi-SP a taxa de positividade foi de 11,5% (n=930)(8). Castro et al. realizaram um trabalho em Cachoeiro do Itapemirim e foi encontrado 19,71% de positividade (n= 421)(15). Esses dados evidenciam que a falta de saneamento básico, deficiência de medidas de higiene pessoal e alimentar são problemas encontrados em diferentes regiões do país, variando conforme o local estudado. Em nosso trabalho a prevalência de protozoários, parasitas ou comensais, foi maior que a de helmintos, resultado semelhante ao encontrado por Macedo(7), Nunes et al.(16), Castro et al.(15) e Ferreira et al.(8). Nos trabalhos de Roque et al.(12) e Redante et al.(17) a prevalência foi de helmintos. O comensal mais prevalente foi a Entamoeba coli, Perspectivas Médicas, 20(2): 10-15, jul. / dez. 2009 resultado semelhante ao estudo de Macedo(7) realizado em Paracatu-MG e Ferreira(8) realizado em Estiva Gerbi-SP. Apesar de ser um organismo nãopatogênico, existe uma importância epidemiológica quando exames coproparasitológicos são positivos para esse parasita, pois seus trofozoítas e cistos eliminados nas fezes e, portanto, o modo de transmissão é o mesmo de muitos outros parasitas patogênicos como Entamoeba histolytica e Giardia lamblia. Analisando os dados epidemiológicos sobre saneamento básico, obtidos através do questionário entregue para todos os participantes, observamos que grande parte da população estudada tem acesso à água tratada (88,13%), rede de esgoto (83,05%) e coleta pública de lixo (93,22%). A análise epidemiológica da prevalência de parasitos intestinais tem uma importante relação com o grau de insalubridade do meio e saneamento básico, bem como aos hábitos de higiene da população. Os resultados obtidos em nosso estudo demonstram que o fato de grande parte da população estudada ter acesso a saneamento básico não foi suficiente para evitar a infecção por enteroparasitas. Portanto deve-se ressaltar a importância de ações educativas que ensinem a população a tomar medidas em relação à água a ser ingerida e utilizada no preparo dos alimentos, além da implementação de saneamento básico. Para avaliar a eficácia da intervenção educativa realizada com o grupo controle foram comparados os índices de reinfecção dos dois grupos, que foi de 5 crianças no grupo caso (16,1%) e 4 crianças no grupo controle (14,28%). Esse resultado demonstra que a realização das medidas educativas não influenciou de forma positiva o índice de reinfecção. Foi marcada uma reunião para a realização da palestra para os 15 Avaliação do impacto de uma intervenção educativa na ocorrência de enteroparasitoses em esco... - Tamara de Carvalho Haesbaert e cols. pais/responsáveis, que foram avisados por meio de bilhete entregue aos alunos no dia anterior à re a l i z a ç ã o d a a t i v i d a d e , p o r é m , n e n h u m pai/responsável compareceu à reunião. Acreditamos, então, que tal resultado se deu pela não participação dos pais nas atividades educativas, pois estes, além de serem responsáveis pela preparação dos alimentos em casa, também são figuras importantes no incentivo da higiene pessoal dos filhos. Conclui-se que atividades educativas são válidas, mas precisam ser integradas a um processo contínuo de educação e controle das enteroparasitoses, além de englobar a família e toda a comunidade para que exerçam uma influência positiva sobre a saúde da população. Quando bem aplicadas, as ações educativas levam as pessoas a adquirirem os conhecimentos para a prevenção de doença. Referências bibliográficas 1. - Oliveira V. Prevalência de parasitoses intestinais em crianças com encefalopatia crônica não compressiva. 2005. Trabalho de conclusão de curso – Faculdades de Ciências da Saúde, Universidade Camilo Castelo Branco, São Paulo. 2. - Pupulim ART, et al. An attemp to guide elementary a school communities to control parasitic diseases. 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Prevalência de parasitos e comensais intestinais em crianças de escolas da rede pública municipal de Paracatu –MG. Revista Brasileira de Análises Clínicas 2005; 37(4): 209-13. 8. - Ferreira GR, Andrade CFS. Alguns aspectos socioeconômicos relacionados a parasitoses intestinais e avaliação de uma intervenção educativa em escolares de Estiva Gerbi. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2005; 38(5): 402-5. 9. - Santos MG, Massara CL, Morais GS. Conhecimentos sobre helmintoses intestinais de crianças de uma escola de Minas Gerais. Revista Brasileira de Programa de Ciências 1990; 42(2):188-94. 10. - Rocha MO, Mello RT. Exame parasitológico de fezes. In: Neves DP. Parasitologia humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2005. cap.56, p.45568. 11. - Caetano MC. Manual do manipulador de alimentos, Associação Brasileira de Nutrição, disponível em: <http://www.asbran.org.br/Noticias.asp?dsid=20> acessado em 18/05/2007. 12. - Roque FC, et al. 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Prevalência de parasitoses em crianças moradoras da colônia Z3, Pelotas, Trabalho de conclusão de curso – Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia, UFPEL, Rio Grande do Sul, disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/cic/2006/arquivos/CS_0106 2.rtf>, acessado em 15/01/2009. Perspectivas Médicas, 20(2): 10-15, jul. / dez. 2009 16 ARTIGO ORIGINAL Padrão de suscetibilidade antimicrobiana de Enterobacter spp. isolada de infecções urinárias em pacientes ambulatoriais em um hospital da cidade de Lima, Peru. Antimicrobial susceptibility pattern of Enterobacter sp. isolated from urinary infections in outpatients in a hospital from Lima city, Peru. Palavras-chave: enterobacter, infecção, urina. Key-words: enterobacter, infection, urine. Daniel Angel Luján Roca* Luz Milagros Luján Roca** Edgardo Mamani Huamán*** * Biólogo. Mestrando em Infectologia e Medicina Tropical da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Minas Gerais, Brasil. ** Bacharel em Ciências da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, UNMSM, Lima, Peru. *** Biólogo do Ministério da Saúde. Mestrando em Biotecnologia da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, UNMSM, Lima, Peru. Endereço para correspondência: Daniel Angel Luján Roca Rua Pedra Bonita, 1.131/ 33 - Alto Barroca, CEP 30.430-390, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Fone: (31) 3586-5870 e-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 14 de Setembro de 2009. Artigo aceito em 30 de Outubro de 2009. Fonte de Financiamento: Hospital Nacional Hipólito Unanue, Laboratório de Microbiologia, Lima, Peru. RESUMO A infecção urinária é uma das doenças mais comuns dos órgãos urinários e o Enterobacter spp. é um dos agentes etiológicos que a produzem. O objetivo deste estudo foi documentar a resistência de Enterobacter spp. a antimicrobianos comumente usados em pacientes ambulatoriais. Entre Janeiro e Dezembro do ano 2003 no laboratório de Microbiologia do Hospital Nacional Hipólito Unanue (Lima, Peru) realizou-se uma prova de suscetibilidade com o método de KirbyBauer no meio de Muller-Hinton com as recomendações do National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS), com as cepas de Enterobacter spp. isoladas de amostras de urina. Avaliaram-se 32 cepas de Enterobacter spp., 75% delas corresponderam a pacientes de sexo feminino (p > 0,05). As cepas isoladas foram mais resistentes à ampicilina (68,7%), cefalotina (65,6%) e amoxicilina/ácido clavulânico (62,5%). A gentamicina foi a que apresentou a maior suscetibilidade (81,2%). Conclui-se que as cepas de Enterobacter spp. apresentaram elevados níveis de resistência aos antimicrobianos comumente usados nesse hospital. ABSTRACT Perspectivas Médicas, 20(2): 16-18, jul. / dez. 2009 The urinary infection is one of the most commons diseases of the urinary organs and the Enterobacter sp. is one of the etiologic agents that produce it. The objective of this study was to document the resistance of Enterobacter spp. against antibiotics commonly used in outpatiens. Between January and December of 2003 in the Laboratory of Microbiology of the Hipólito Unanue National Hospital (Lima, Peru) was conducted a test of susceptibility with the Kirby-Bauer method in the middle of Muller-Hinton with the recommendations of the National Committee for Clinical Laboratory Standards to the strains of Enterobacter spp. isolated from urine. Thirty two strains of Enterobacter spp. were evaluated, 75% of them corresponded to female patients (p > 0.05). The strains isolated from inpatients were more resistant against ampicillin (68.7%), cephalotin (65.6%) and amoxicillin/clavulanic acid (62.5%). The gentamicin show the best susceptibility (81.2%). It is concluded that Enterobacter sp. strains showed high resistance rates to the commonly used antimicrobials in this hospital. INTRODUÇÃO As cepas de Enterobacter spp. são patógenos oportunistas que raramente causam enfermidade primária em humanos. Ainda assim, são frequentes colonizadoras de pacientes hospitalizados, particularmente aqueles tratados com antimicrobianos e têm sido associados a feridas, queimaduras, infecções respiratórias e do trato urinário(1). Quanto à resistência aos antimicrobianos, tem-se mencionado que o seu desenvolvimento é quase certamente uma inevitável consequência do uso clínico d e s s e s a n t i m i c ro b i a n o s ( 2 ) . N o s p a í s e s e m desenvolvimento, sugere-se que deva existir uma maior regulação em sua utilização, acompanhada de estratégias para educar a população e os médicos responsáveis por sua prescrição(3). A Enterobacter spp. demonstra resistência a diversos antimicrobianos e que vai aumentar nas cefalosporinas de terceira geração, o que é uma preocupação(4,5). Assim, o objetivo de nosso estudo, como exposto, foi o de monitorar os níveis de tal resistência frente aos antimicrobianos comumente utilizados para o tratamento dessa bactéria no Hospital Nacional Hipólito Unanue. MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizado um estudo descritivo e retrospectivo 17 Padrão de suscetibilidade antimicrobiana de Enterobacter spp. isolada de... - Daniel Angel Luján Roca e cols. nesse Hospital, situado no distrito de El Agustino, Lima, Peru, que desenvolve sua atividade como Hospital de Nível III, dispõe de 653 leitos e atende a uma população de 1.200.000 pessoas. Registraram-se os resultados em pacientes ambulatoriais no período compreendido entre 1° de Janeiro e 31 de Dezembro do ano 2003. Foi incluído só um isolamento por paciente. As amostras de urina foram processadas no laboratório de microbiologia. O isolamento foi realizado mediante uma urocultura nos meios ágar Mc Conkey e Cled, utilizando uma alça calibrada. As placas foram encubadas por 24 horas a 37 °C. A identificação de Enterobacter spp. foi efetuada segundo as considerações do Instituto Nacional de Saúde(6). A análise de susceptibilidade realizou-se mediante a técnica de Kirby-Bauer de difusão com discos, seguindo as recomendações do NCCLS(7). Foram incluídos os seguintes antimicrobianos: ampicilina (10µg), amoxicilina/ácido clavulânico (20/10µg), ceftazidima (30µg), cefalotina (30µg), ceftriaxona (30µg), gentamicina (10µg), norfloxacina (10µg) e ácido nalidíxico (30µg). Para a análise estatística, utilizou-se a prova do Qui-Quadrado. TABELA 1: Número de cepas isoladas de Enterobacter spp., segundo o gênero dos pacientes. RESULTADOS No decorrer do estudo e pesquisa foram isolados 32 cepas de Enterobacter spp. Das 32 cepas, sua maior concentração foi observada em pacientes do sexo feminino (75%), porém não houve diferença estatística de infecção segundo o sexo dos pacientes (p > 0,05) (Tabela 1). A faixa etária de 15 a 60 anos foi a mais afetada (65,6%), embora essa diferença não tenha sido significativa (p > 0,05) (Tabela 2). O percentual de resistência aos antimicrobianos nas cepas isoladas dos pacientes ambulatoriais foi o seguinte: frente aos β-lactâmicos, a saber, ampicilina (68,7%), cefalotina (65,6%) e amoxicilina/ácido clavulânico (62,5%) apresentaram-se os níveis mais elevados de resistência. Para as quinolonas de primeira e segunda geração, ácido nalidíxico e norfloxacina, também foram observadas altas taxas de resistência (40,6% e 37,5%). O aminoglicosídeo gentamicina apresentou a melhor suscetibilidade (81,2%) (Tabela 3). Constatou-se na prova do Quiquadrado, uma diferença significativa, com um valor de p<0,05. TABELA 3: Resistência antibiótica de cepas de Enterobacter spp. isoladas de pacientes ambulatoriais. DISCUSSÃO O aumento de organismos resistentes aos antimicrobianos é um grande problema de saúde pública e de particular preocupação para os hospitais(8). O aparecimento de bactérias resistentes aos antimicrobianos decorre da ação combinada do uso de antimicrobianos (que seleciona os organismos resistentes) e de sua transferência horizontal (usualmente pelas mãos dos trabalhadores de saúde e noutras vezes via objetos inanimados) (9,10). A resistência a diversas classes de antimicrobianos, incluindo as penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosídeos e fluoroquinolonas tem aumentado gradualmente entre os patógenos hospitalares Gramnegativos, indicando que há Enterobacter spp. entre eles(11). *p< 0,05 HOMENS(%) MULHERES(%) 8 (25) 24(75) p> 0,05 TABELA 2: Número de cepas isoladas de Enterobacter spp., segundo a idade dos pacientes. Idade Cepas (%) < de 15 anos 6 (18,8) 15 - 60 anos 21 (65,6) > de 60 anos 5 (15,6) p> 0,05 Antibiótico Resistência (%) Ampicilina 68,7% Amoxicilina/ácido clavulânico 62,5% Cefalotina 65,6% Ceftazidima 40,6% Ceftriaxona 25,0% Gentamicina* 18,8% Norfloxacina 37,5% Ácido nalidíxico 40,6% Enterobacter spp. pode produzir infecção do trato urinário; portanto, não é raro isolá-la em amostras de urina, principalmente em infecções recorrentes. Um estudo indicou que a frequência da recuperação dessa bactéria em amostras de urina aumentava, gradativamente, em pacientes hospitalizados durante o período de análises(12). Constatou-se também uma frequência de 3,8%(13), 4,5%(14) e 7%(15) de isolamento dessa bactéria em infecções do trato urinário. Em nosso estudo correspondente à resistência de Enterobacter spp. aos antimicrobianos nos pacientes ambulatoriais e com respeito às penicilinas, este microorganismo evidenciou uma resistência de 68,7% frente à ampicilina. Num hospital local reportou-se 100% de resistência(16) e em Washington-EUA 92%(17). Perspectivas Médicas, 20(2): 16-18, jul. / dez. 2009 18 Padrão de suscetibilidade antimicrobiana de Enterobacter spp. isolada de... - Daniel Angel Luján Roca e cols. Quanto à amoxicilina/ácido clavulânico, a bactéria apresentou 62,5% de resistência, cifra elevada considerando que o clavulanato, que é um inibidor de penicilinases, amplia sensivelmente o espectro antimicrobiano da amoxicilina. Referente às cefalosporinas, registrou-se 65,6% de resistência frente à cefalosporina de primeira geração cefalotina, percentual menor que o informado num centro médico local com 86% ( 1 8 ) . Para as cefalosporinas de terceira geração, ceftazidima e ceftriaxona, registraram-se 40,6% e 25,0% de resistência respectivamente. No México DF-México, informou-se 85% de resistência para ceftazidima(19). Constatou-se também 22% de resistência para ceftriaxona localmente(18). Esses níveis de resistência são elevados, principalmente no que diz respeito às cefalosporinas de terceira geração, as quais são recomendadas para o tratamento contra Enterobacter spp. em infecções urinárias por sua melhor atividade antimicrobiana do que as de primeira ou segunda geração(20). Em relação à quinolona norfloxacina, o resultado foi de 37,5% de resistência, valor mais alto do que o indicado em Brasília–Brasil, com 25% de resistência(21). Consideramos que a resistência encontra-se elevada, já que esses tipos de antimicrobianos geralmente oferecem melhor rendimento contra essa bactéria. Frente ao aminoglicosídeo gentamicina, a bactéria apresentou a menor resistência (18,8%). Algumas informações indicam 100% de sensibilidade(16,17). Esta m e n o r re s i s t ê n c i a c o r re s p o n d e à m e l h o r suscetibilidade que apresenta o microorganismo frente a esta classe de antimicrobianos. Relativo ao problema de resistência microbiana latino-americana, Sader(22) mencionou que a resistência vem disseminando-se principalmente nos hospitais, e no que diz respeito às bactérias que produzem βlactamases cromossômicas induzíveis (onde se encontram as espécies de Enterobacter), devem-se eleger os antimicrobianos que são menos indutores deste tipo de enzima, já que com eles a pressão seletiva será menor. Também tem sido indicado que um maior isolamento de um microorganismo favorece a aparição de organismos resistentes, o que diminui as opções para a terapia; isso ocorreu com Enterobacter spp. em EUA, onde houve um aumento em sua frequência na década do oitenta(23). Em termos gerais, as ações recomendadas para diminuir o problema da resistência microbiana incluem: a elaboração de novos antimicrobianos, um melhor controle da infecção e uma maior conservação dos agentes existentes(24). Em conclusão, Enterobacter spp. isolados dos pacientes ambulatoriais neste hospital mostraram altos níveis de resistência frente aos antimicrobianos geralmente usados no tratamento, o qual é preocupante. O conhecimento das taxas de resistência nos hospitais pode ser um guia útil no estabelecimento de estratégias para o uso racional de antimicrobianos e evitar o agravamento deste agudo problema. AGRADECIMENTOS: Perspectivas Médicas, 20(2): 16-18, jul. / dez. 2009 À Lic. Maria Geralda Fagundes Penido pela revisão do manuscrito e CAPES/PROEX. Referências bibliográficas 1. - Eisenstein B, Zaleznik D. Enterobacteriaceae. In: Mandell DaB, editor. Principles and practice of infectious diseases. 5th ed. New York, Churchill Livingstone, 2000, 3263 p. 2. - Gold HS, Moellering R. Antimicrobial – drug resistance. New Eng J Med 1996; 335 (19): 1445-53. 3. - Hart CA, Kariuki S. Antimicrobial resistance in developing countries. 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Priscila de Araujo Spinelli* Marcelo Fernandes Marques Valente** Hélio Alvimar Lotério** *Alunos do Curso de Graduação Médica da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), Jundiaí, São Paulo, Brasil. **Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: Priscila de Araujo Spinelli - Rua Professora E. F. Martins Bonilha, 221, Jardim Morumbi - Jundiaí – São Paulo - CEP: 13209-300 - Telefone: (11) 4586-7040 e-mail: [email protected] Fonte de financiamento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq. Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 13 de Setembro de 2009. Artigo aceito em 20 de Setembro de 2009. RESUMO Neste estudo transversal foram utilizados questionários anônimos para avaliar o uso de oito substâncias pelos alunos da Faculdade de Medicina de Jundiaí. O total de respostas foi 74,5% (n = 292). O uso na vida foi: álcool 95,9%, tabaco 47,4%, solventes 47,3%, maconha 35,4%, anfetamínicos 25,3%, tranquilizantes 10,3% e cocaína 2,1%. O uso nos últimos 12 meses foi: álcool 91,2%, solventes 34,6%, tabaco 25,4%, anfetamínicos 18,5%, maconha 14,8%, tranquilizantes 6,8% e cocaína 0,3%. O uso nos últimos 30 dias foi: álcool 82,5%, solventes 18,9%, tabaco 16,5%, anfetamínicos 12% e maconha 5,8%. O álcool e o tabaco foram as substâncias mais experimentadas com idade menor que 14 anos; entre 15 e 19 anos foram a maconha e os solventes; acima dos 20 anos foram os anfetamínicos e os tranquilizantes. Na vida, no último ano e no último mês, os homens foram os que mais usaram tabaco, maconha e anfetamínicos. Depois de beber 47,7% faltaram à aula, 36,1% dirigiram, 14% brigaram e 8,8% sofreram acidentes. Concluiu-se que são necessárias medidas educativas e de prevenção do uso dessas substâncias estudadas, aos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí. ABSTRACT In this transversal study, anonymous questionnaires were used to analyze the use of eight substances by the students of Jundiaí Medical School. The total of answers were 74,5% (n = 292). The lifetime use was: alcohol 95,9%, tobacco 47,4%, solvents 47,3%, cannabis 35,4%, amphetamines 25,3%, tranquillizers 10,3% e cocaine 2,1%. The use in the last 12 months was: alcohol 91,2%, solvents 34,6%, tobacco 25,4%, amphetamines 18,5%, cannabis 14,8%, tranquillizers 6,8% e cocaine 0,3%. The use in the last 30 days was: alcohol 82,5%, solvents 18,9%, tobacco 16,5%, amphetamines 12% e cannabis 5,8%. Alcohol and tobacco were the substances most used by the students with less than 14 years old; between 15 and 19 years old were cannabis and solvents; above 20 years old were amphetamines and tranquillizers. In lifetime use, in the last 12 months and in the last 30 days males were those which more used tobacco, cannabis and amphetamines. After drinking 47,7% missed classes, 36,1% drove cars, 14% fought and 8,8% suffered accidents. The conclusion was that educational and preventive measures are necessary to the students at Jundiaí Medical School. INTRODUÇÃO O uso não-médico de substâncias psicoativas por estudantes de Medicina e médicos tornou-se área de crescente interesse e preocupação para pesquisadores, instituições educacionais e associações médicas(1). Essa tendência deve-se ao fato de que o uso de tais substâncias pode prejudicar tanto a formação dos futuros médicos como a sua capacidade de identificação precoce do abuso de drogas, encaminhamento e tratamento dos pacientes com quadros de dependência ( 2 ) . Além disso, o comportamento social do médico e os cuidados com sua p r ó p r i a s a ú d e re p re s e n t a m e x e m p l o s d e comportamento para a sociedade e seu sucesso profissional encontra-se intimamente relacionado ao grau de confiança que ele é capaz de passar ao seu paciente(3). Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais, a formação do médico inclui: promover estilos de vida saudáveis, bem como cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e como médico(4). Teoricamente, esses jovens deveriam ser detentores de maior conhecimento a respeito do uso e abuso de substâncias psicoativas quando comparados à população universitária geral(5). No entanto, a maioria das escolas de Medicina não aborda essas questões adequadamente no decorrer do curso, sendo que as informações sobre alcoolismo e dependência de Perspectivas Médicas, 20(2): 19-25, jul. / dez. 2009 20 Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP - Priscila de Araujo Spinelli e cols. drogas, quando não negligenciadas, são fornecidas de modo superficial e fragmentado(2). Dessa forma, os estudantes de Medicina não estão imunes à tendência geral de crescimento do consumo de drogas(6), embora se sintam protegidos da dependência e dos efeitos deletérios do uso, embasados no conhecimento que acreditam ter(5). Os estudantes de Medicina experimentam grande estresse durante a graduação e foi demonstrado que, no início do curso médico, os estudantes têm saúde mental semelhante a estudantes de outros cursos. No decorrer do curso de Medicina essa saúde deteriora-se, resultando em altos índices de depressão. Esse fato decorre de diversos fatores como: mudança de cidade e adaptação a um ambiente novo no primeiro ano, dificuldade crescente do curso, preocupação financeira decorrente do custo das faculdades particulares, competitividade entre os alunos, contato frequente com o sofrimento e a morte, intensa carga horária e o exame de residência cada vez mais próximo(7,8). Estudantes de medicina já apontaram o estresse como um fator para o uso de substâncias psicoativas(9), no entanto, diversos autores que tentaram correlacionar essas duas variáveis não encontraram significância estatística nessa relação(10). Uma pesquisa realizada pela Escola Paulista de Medicina(11) entre 198 médicos com diagnóstico de uso nocivo ou dependência de substâncias e que estiveram em tratamento, indicou que a idade média dos indivíduos foi de 39,4 anos (desvio-padrão de 10,7 anos), o que revela que essa população encontrava-se numa idade economicamente ativa. Ainda nesta pesquisa foi demonstrado que 8,5% desses médicos tiveram problemas diversos junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM). Segundo o Conselho Médico Britânico, dois terços dos processos relativos à má prática e erro médico relacionam-se ao uso nocivo ou dependência de substâncias psicoativas. Assim, os objetivos do presente estudo foram: 1. Verificar a prevalência do consumo de álcool e outras drogas por estudantes de Medicina do 1.° ao 6.° ano da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). 2. Verificar se há diferenças de níveis de consumo entre estudantes do sexo feminino e masculino. 3. Comparar os resultados obtidos em estudos semelhantes já realizados em outras Escolas Médicas. 4. Incentivar o início de ações de informação e prevenção de consumo de substâncias psicoativas. MATERIAIS E MÉTODOS A coleta de dados foi realizada nos meses de novembro e dezembro de 2007, entre os alunos do 1.º ao 6.º ano (n= 392) do curso de Medicina da FMJ (Número de registro SISNEP: 0012.0.141.000-08). Para a coleta de dados utilizou-se um questionário de auto-preenchimento, anônimo e não obrigatório, formulado a partir do proposto pela Organização Mundial da Saúde. Esse instrumento foi utilizado no V Levantamento Nacional Sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino nas 27 Capitais Perspectivas Médicas, 20(2): 19-25, jul. / dez. 2009 Brasileiras(12). O questionário foi composto por perguntas abrangendo o perfil dos alunos - sexo, idade, moradia, classe econômica - e o uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias das seguintes substâncias: álcool, tabaco, maconha, solventes (lança-perfume, “loló”, cola, gasolina, acetona, tinta), anfetamínicos (anorexígenos - Dualid, Hipofagin, Moderex, Inibex, Preludin, Pervitin), tranquilizantes, cocaína, crack. O questionário também abordou as idades da primeira vez de uso e questões relativas ao consumo de álcool como: tipo de bebida de preferência, locais em que bebe com maior frequência, consequências e comportamento após o uso. É importante ressaltar que o questionário abordou as prevalências de consumo e não a dependência de drogas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMJ e um termo de consentimento acompanhou cada questionário explicando os objetivos da pesquisa de forma clara e detalhada, assegurando o sigilo do processo. Os questionários foram aplicados durante o período de aulas pelo autor e co-autor, com autorização dos professores, que cederam cerca de 20 minutos da aula. Apenas os alunos do 5° ano responderam aos questionários no hospital, após o devido esclarecimento sobre a pesquisa. Os dados foram analisados pelos programas Excel e Epi Info, com utilização do Teste do Qui-quadrado e o Teste Exato de Fisher, sendo considerada significância estatística quando p<0,05. RESULTADOS Foram respondidos 292 questionários, o que correspondeu a 74,5% dos 392 alunos matriculados no curso de Medicina da FMJ no segundo semestre de 2007. O porcentual restante refere-se a alunos que: devolveram o questionário em branco, não estavam presentes no dia da entrega dos questionários ou não foram encontrados no hospital. A amostra se constituiu de 61% (n=178) do sexo feminino e 39% (n=114) do sexo masculino. A idade média foi de 22,7 anos. Com relação à moradia, 67,3% (n=191) moram em repúblicas, 9,9% (n=28) moram sozinhos, 18,3% (n=52) com os pais, 2,1% (6) com parentes, 1,4% (4) em outras cidades e 1,1% (n=3) não especificaram o tipo de moradia. Quanto ao uso de drogas na vida (Tabela 1) constatou-se que as substâncias mais utilizadas, em ordem decrescente, foram: álcool, tabaco, solvente, maconha, anfetamínicos, tranquilizantes e cocaína. Nenhum aluno referiu uso de crack. O uso nos últimos 12 meses (Tabela 1) mostrou, em ordem decrescente de consumo, o seguinte resultado: álcool, solventes, tabaco, anfetamínicos e maconha. Os tranquilizantes e a cocaína mantiveram-se como os menos consumidos, com frequências de 6,8% e 0,3%, respectivamente. Em relação ao uso nos últimos 30 dias (Tabela 2) verificouse a mesma ordem de prevalência de uso nos últimos 12 meses, com o álcool como a mais consumida, seguido de solventes, tabaco, anfetamínicos e maconha. Todos 21 Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP - Priscila de Araujo Spinelli e cols. os alunos negaram uso de cocaína nesse período. Quanto à idade do primeiro uso de cada substância, as que apresentaram maior índice de experimentação para idade menor que 14 anos de idade foram o álcool e o tabaco, com respectivamente 43% e 33,3%. Entre 15 e 19 anos de idade, as substâncias mais experimentadas foram a maconha (67,5%) e os solventes (55,8%). Acima dos 20 anos de idade, as substâncias mais experimentadas foram os anfetamínicos (66,1%) seguidos pelos tranquilizantes (64%). Não foi constatada diferença estatisticamente significante (p<0,05) para as idades médias do primeiro uso de substâncias entre os sexos masculino e feminino. De acordo com o critério da Organização Mundial da Saúde(12), classificou-se como uso frequente a utilização de qualquer droga em 6 a 19 dias dentro dos 30 dias que antecederam a pesquisa e como uso pesado a utilização em 20 dias ou mais nesse mesmo período. O uso frequente foi maior para o álcool (24,5%, n=71) e o uso pesado foi maior para o tabaco (7,9%, n=23). A comparação entre o consumo de drogas entre os sexos feminino e masculino encontra-se nas tabelas 3, 4 e 5. A partir dos resultados, foi verificado o uso de mais de uma droga nos últimos 30 dias entre um grupo de estudantes. Esses dados encontram-se resumidos nos gráficos 1 e 2. Questões relativas ao comportamento e às consequências diante do consumo de álcool demonstraram que 71,5% dos alunos já beberam até se embriagar e que depois de beber 47,7% dos alunos faltaram à aula, 36,1% dos alunos dirigiram, 14% dos alunos envolveram-se em brigas e 8,8% sofreram algum tipo de acidente. As bebidas consumidas com maior frequência são cerveja/chope (66,9%), destilados (18%), vinho (12,9%), licor (1,8%) e saquê (0,4%). Do total de respostas obtidas, 91% dos alunos bebem com maior frequência com os amigos e os locais de maior consumo são bares/ danceterias /boates com 69,1% das respostas. DISCUSSÃO e CONCLUSÕES O índice de resposta da pesquisa foi de 74,5% da população geral de estudantes do curso médico da FMJ, sendo semelhante ao obtido em outros estudos(8,9,13,14,15). No entanto, cabe ressaltar que os alunos que faltaram à Faculdade nos dias da pesquisa e, portanto, que não responderam ao questionário, talvez apresentem problemas relacionados ao uso de substâncias, já que estudantes com esses problemas tendem a faltar mais às aulas(1,16,17). Apesar da garantia do anonimato da pesquisa, os alunos podem ter omitido certas informações sobre o uso de drogas, talvez por medo de represálias e da divulgação dos dados. Entretanto, estudos de metodologia demonstraram a validade de questionários administrados anonimamente(18). Portanto, não existem motivos para achar que os dados não sejam representativos dessa população. Taxas maiores de adesão a pesquisas são obtidas quando os questionários são distribuídos e coletados durante o período de aulas(19), portanto, esse foi o método de escolha nesse trabalho (exceto para o 5° ano). Por tratar-se de um estudo de corte transversal, não foi possível afirmar se há aumento do consumo de drogas no decorrer da graduação. Para isso, é necessária a realização de um estudo prospectivo sobre o tema(10). Os alunos não foram divididos em séries para que determinada sala não fosse estigmatizada. Apesar de existirem diferenças nos métodos usados, muitas conclusões podem ser tiradas a partir da comparação deste estudo e de outros prévios. O álcool foi a substância mais consumida na vida, provavelmente devido à aceitação social e ao forte apoio ao consumo pela mídia, além de ser socialmente incentivado por familiares ou amigos, fazendo parte da rotina de festas e atividades de lazer(9). Depois do álcool, o tabaco e os solventes foram as substâncias mais consumidas na vida, resultados de acordo com os encontrados na literatura(8,9,20,21). A única diferença é que as prevalências de uso na vida de tabaco e solventes na FMJ foram bem semelhantes (47,4% e 47,3%), enquanto que nas outras faculdades a diferença entre tais prevalências foi um pouco maior. Nos últimos 12 meses o álcool continuou sendo a substância mais consumida, agora seguido pelos solventes e tabaco, resultado semelhante ao encontrado por Lemos et al. (2007)(10), mas diferente daqueles encontrados por Mesquita et al. (1995)(9) e Andrade et al. (1997)(8), que mantiveram o tabaco como a segunda substância mais consumida. Em um estudo realizado em 23 escolas de medicina dos Estados Unidos, verificou-se que os estudantes de Medicina foram os maiores consumidores de álcool quando comparados a pessoas da mesma idade. No entanto, constatou-se um consumo menor ou similar das outras substâncias entre os estudantes de medicina quando comparados à mesma população ( 1 8 ) . Verificamos que os usos na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias, de álcool, maconha e cocaína foram maiores entre os estudantes de medicina norteamericanos. O uso de tabaco foi maior entre os alunos da FMJ nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias. É preocupante a alta prevalência de uso de solventes entre estudantes universitários do Brasil, superando a maconha(10,13,20-23,., no entanto, esse consumo já é constatado antes do início da faculdade. Um levantamento nacional realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - CEBRID entre escolas do ensino fundamental e médio da rede pública nas 27 capitais brasileiras revelou que 15,5% dos estudantes fizeram uso de solventes na vida, 14,1% no último ano, 9,8% no último mês, 1,5 % uso frequente e 0,9% uso pesado. Depois do álcool e do tabaco, os solventes são as substâncias mais utilizadas pelos estudantes brasileiros(12). Esses dados enfatizam a necessidade de elaborar programas de prevenção a essa população específica, não apenas aos universitários. Um dos pesquisadores, Professor José Carlos Galduróz, acrescenta: “os solventes têm sido esquecidos pela sociedade. Quando as pessoas pensam Perspectivas Médicas, 20(2): 19-25, jul. / dez. 2009 22 Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP - Priscila de Araujo Spinelli e cols. em droga, associam à maconha e à cocaína. Os solventes são substâncias extremamente perigosas, que causam arritmia cardíaca, podendo levar à morte”(24). O uso de solventes, assim como o de maconha, é bem aceito entre os estudantes de Medicina, sendo associadas de forma inofensiva ao lazer, carnaval, festas e competições esportivas(9). A idade média encontrada para o uso de álcool pela primeira vez mostrou que uma minoria de estudantes iniciou o uso de bebidas alcoólicas após estar frequentando o curso de Medicina (apenas 5,4% dos alunos), dados também verificados por Borini et al. (1994)(3). Newbury-Birch et al. (2001)(25) também verificaram que os alunos têm contato com álcool antes do início da vida universitária, no entanto, aqueles que começaram a beber em idades mais jovens fazem uso mais pesado de álcool nos dias atuais. Após os 20 anos de idade as substâncias mais experimentadas foram os anfetamínicos e os tranquilizantes, resultados condizentes aos encontrados por Mesquita et al. (1995)(9). As mulheres estão mais predispostas ao uso de tranquilizantes, enquanto os homens ao uso de álcool, solventes, maconha e cocaína ( 8 ) . O uso de tranquilizantes na vida e nos últimos 12 meses, apesar de não ser estatisticamente significante, foi maior entre as mulheres, o que se assemelha aos resultados encontrados em outras pesquisas(10,13,26). O uso de maconha foi maior entre os homens, porém, o uso de álcool entre os homens foi significantemente maior apenas para o uso nos últimos 12 meses e o uso de solventes foi maior apenas na vida. Após o término da pesquisa, a coordenadora pedagógica e o assessor pedagógico foram informados dos resultados e mostraram-se interessados em iniciar ações de informação e prevenção de consumo de drogas junto aos estudantes da FMJ. Os levantamentos de uso de substâncias entre os estudantes de Medicina não devem ter a condição de simples documentação, mas devem servir de incentivo à elaboração de estratégia de prevenção do uso indevido de drogas. As prevalências de consumo encontradas nessa TABELA 1: Uso de drogas na vida e nos últimos 12 meses. TABELA 2: Uso de drogas nos últimos 30 dias e média de idade da primeira vez de uso. * pergunta não existente no questionário Perspectivas Médicas, 20(2): 19-25, jul. / dez. 2009 23 Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP - Priscila de Araujo Spinelli e cols. TABELA 3: Uso de drogas na vida pelos sexos masculino e feminino. *p<0,05 diferença estatisticamente significante entre homens e mulheres quanto ao uso na vida. TABELA 4: Uso de drogas nos últimos 12 meses pelos sexos masculino e feminino. * p<0,05 diferença estatisticamente significante entre homens e mulheres quanto ao uso nos últimos 12 meses. TABELA 5: Uso de drogas nos últimos 30 dias pelos sexos feminino e masculino. *p<0,05 diferença estatisticamente significante entre homens e mulheres quanto ao uso nos últimos 30 dias. Perspectivas Médicas, 20(2): 19-25, jul. / dez. 2009 24 Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP - Priscila de Araujo Spinelli e cols. 25 22,3 Consumiu álcool Não consumiu álcool 20 15 14,2 10 5 3,9 1,96 0 Anfetamínicos Solventes GRÁFICO 1: Associação de uso de álcool, anfetamínicos e solventes nos últimos 30 dias. Consumiu tabaco Não consumiu tabaco 60 50,0 50 40 39,6 30 20 12,8 10 6,6 0 Anfetamínicos GRÁFICO 2: Associação de uso de tabaco, anfetamínicos e solventes nos últimos 30 dias. Perspectivas Médicas, 20(2): 19-25, jul. / dez. 2009 Solventes 25 Consumo de álcool e drogas pelos estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP - Priscila de Araujo Spinelli e cols. pesquisa mostram a necessidade de serem identificadas as razões de consumo, o contexto em que ele ocorre, a personalidade dos envolvidos e outros fatores de risco. Este estudo teve um aspecto quantitativo e necessita ser combinado com dados qualitativos para que tenhamos uma visão mais completa do uso de drogas pelos alunos da FMJ. Frente aos resultados obtidos sugerimos algumas medidas: 1. Definir e implementar uma política de prevenção ao uso indevido de drogas, clara e divulgada a todos os integrantes da faculdade. 2. Aumentar a carga horária de aulas que abordem a utilização de substâncias psicoativas, a fim de incrementar o conhecimento dos alunos sobre os efeitos nocivos do uso de drogas e instrumentalizá-los sobre como identificar, acolher e tratar pacientes com quadros de dependência. 3. Criar um serviço eficiente de apoio psicológico ao estudante na FMJ. Com isso, todos os alunos serão ajudados: os que tiverem problemas de uso de drogas e os que estiverem com episódios de estresse, ansiedade e outros sintomas. 4. Dar continuidade ao diálogo iniciado com o Departamento Pedagógico no sentido de criar mecanismos institucionais que favoreçam ações de informação e prevenção de consumo de substâncias psicoativas. AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem a Samuel Ferreira Júnior e Sirlei Siani Morais pela análise estatística deste estudo; Maria José de Araujo Vieira pela revisão ortográfica; às bibliotecárias da FMJ Amélia Maria da Silva Ferreira, Maria José da Silva e Aiko Shibukawa pelo auxílio na pesquisa bibliográfica e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq. Referências bibliográficas 1. - Mesquita AM, Laranjeira R, Dunn J. Psychoactive drug use by medical students: a review of the national and international literature. São Paulo Med J 1997; 115(1): 1356-65. 2. Borini P, Oliveira CM, Martins MG, Guimarães RC. Conceitos, concepções etiológicas e atitudes de estudantes de medicina sobre o uso e abuso de álcool. Correlações com os padrões de uso – Parte 2. 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Key words: urethra, urinary incontinence, connective tissue. Marina Podadera Balota* Marina Martine Costa* Priscila de Araujo Spinelli* Marcelo Rodrigues Cunha** César Alexandre Fabrega-Carvalho*** * Alunas do 5º ano de graduação médica da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), Jundiaí, São Paulo, Brasil. ** Professor Adjunto da Anatomia da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. *** Professor Doutor do Departamento de Anatomia do ICB/USP, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: Cesar Alexandre Fabrega Carvalho - Rua Francisco Telles, 250 – Vila Arens, Jundiaí, São Paulo, Brasil, Cep: 13202-550 - Email: [email protected] Fonte de financiamento: CNPq. Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 29 de Outubro de 2009. Artigo aceito em 05 de Novembro de 2009. RESUMO A junção vesicouretral (JVU) é a região de transição da bexiga com a uretra e é marcada pelo óstio interno da uretra. A JVU está constituída por células musculares lisas e fibras colágenas e elásticas, sendo estas responsáveis por sua elasticidade e plasticidade. Mudanças estruturais com o envelhecimento ocorrem em todo o organismo, inclusive no trato urinário inferior. Assim, o objetivo deste trabalho foi estudar as fibras elásticas e colágenas das regiões proximal, média e distal da uretra de ratos fêmeas jovens e senis. Foram utilizadas 10 ratas, sendo 5 com 4 semanas e 5 com 56 semanas. O complexo urogenital foi obtido através da exposição, dissecação e coleta do mesmo. Após a cirurgia o material foi submetido aos procedimentos histológicos de rotina. As lâminas obtidas foram coradas com picrosirius-hematoxilina para fibras colágenas e Verhoeff para fibras elásticas e fotografadas em fotomicroscópio, com luz normal e polarizada. As fibras colágenas, principalmente dos tipos I e III, apresentaram-se em maior concentração nos animais jovens, contudo, a concentração das fibras elásticas não foi diferente entre os dois grupos estudados. Dessa forma, infere-se que esta inexistência de diferença entre o contingente elástico nas diferentes faixas etárias se traduza na não relação direta com a Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 incontinência urinária feminina. Contudo, isto permanece sem total entendimento e se faz necessário mais estudos para o entendimento da razão da significante diferença na concentração de fibras colágenas, seu envolvimento nestes resultados e na doença dos órgãos urogenitais. ABSTRACT The urethro-vesical junction (UVJ) is the transition region of the bladder and the urethra, and it is marked by the internal urethral ostium. The UVJ is constituted by smooth muscle cell, collagens and elastic fibers, and this is responsible for the elasticity and plasticity of the UVJ. Structural changes in relation with the aging occur in the all organism, also in the inferior urinary tract. Thus the aim of this work was to observe the elastic and collagens fibers in the proximal, medium and in the distal part of urethra in senile and young females rats. Ten rats were used; five animals with 4 weeks years-old and 5 with 56 weeks years-old. The urogenital complex was obtained by the exposition, and dissection of the sample. After the experimental surgery the samples were submitted to the histological procedures. The blades with the tissues were stained with picrosirius-hematoxylin, for collagens fibers, and Verhoeff procedure for elastic fibers. The samples were photographed in the photomicroscope, with normal and polarized light. The collagen fibers, mainly type I and III, were presented in bigger concentration in the young animals. However, in relation to the elastic fibers, was not observed differences between the groups. Thus, it can be concluded that the findings in relation to the elastic fibers showed a not direct relate with the feminine incontinence urinary. However, these facts remains unclear and more studies are necessary for understanding the reason of the significant differences of concentrations of collagens fibers and its involving in urogenital diseases. INTRODUÇÃO A junção vesicouretral (JVU) é a denominação que se atribui à zona de transição entre a bexiga e a uretra. Localizada no trígono da bexiga, tem relevante importância por estar relacionada com a continência urinária e por fazer parte de uma região que é responsável pela fixação e direção da bexiga urinária (1) . 27 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. As duas principais funções da JVU são o armazenamento e esvaziamento da urina, funções estas governadas por um processo complexo que envolve o encéfalo, a medula espinhal, a musculatura lisa da bexiga e a parte posterior da uretra, além da musculatura estriada do esfíncter externo (2). Dentre os elementos estruturais da JVU destacamse as fibras musculares lisas, fibras colágenas e fibras elásticas. A quantificação das fibras elásticas, pelo método de ressonância magnética, realizada na base da bexiga, JVU e uretra de cobaias (machos e fêmeas), demonstrou aumento significativo de fibras elásticas dispostas circularmente na JVU, em relação às outras duas regiões examinadas. Também foi relatado que tal disposição pode ser parcialmente responsável pela elasticidade e plasticidade da JVU além de forças oclusivas e passivas nessa região (3). Para alguns pesquisadores, o tecido fibro-elástico assumiu o papel de ser o principal fator na geração da pressão de fechamento da uretra e da JVU em repouso. Essa foi a primeira observação de Awad e Dawnie (1976) (4), que, depois de eliminarem os fatores neurais responsáveis pela pressão intrauretral, observaram uma pressão residual. Essa descoberta foi confirmada por Bump et al. (1988) (5), demonstrando que os elementos fibroelásticos apresentaram efeitos na pressão uretral com perfil equivalente ao mostrado pela camada vascular. Gosling et al. (1983) (6) sugeriram que as inúmeras fibras elásticas observadas por Lápides (1958) (7), na JVU de uretras humanas femininas, eram importantes no fornecimento de oclusões passivas para a luz da uretra. A presença de fibras elásticas na JVU e sua relevância para manter a continência foram também descritas e comentadas por Woodburne (1961) (8) . De acordo com um estudo realizado em uretras caninas na Universidade de Zürich, os componentes elásticos, associados aos musculares, são responsáveis por até 40% da manutenção da continência urinária. Para Caine (1986) (9) essas fibras contribuem de maneira indireta, auxiliando na função tônica muscular da região proximal da uretra. Hickey (1982) (10) relaciona a presença das fibras elásticas com a prevenção de danos no tecido. Experimentos realizados em animais demonstraram que essas fibras estão intimamente associadas a fibras colágenas (11). No mecanismo de continência, a matriz extracelular da uretra mostra-se essencial. As fibras elásticas e as fibras colágenas são descritas em todo trato urinário, com características funcionais e estruturais distintas. Se por um lado as fibras de colágeno conferem resistência ao tecido, por outro, as fibras elásticas são essenciais na manutenção das propriedades elásticas da matriz e responsáveis pela distensão reversível do tecido conjuntivo, exibindo deformação elástica, sendo capazes de armazenar energia para restaurar a sua configuração original (12,13) . De acordo com a Sociedade Internacional de Continência, incontinência urinária é a condição de perda involuntária de urina, objetivamente demonstrável, constituindo um problema social e higiênico. A incidência da incontinência urinária na mulher aumenta com a idade, atingindo 25% desse grupo após a menopausa (14). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 10% da população feminina mundial apresenta o problema. O Instituto Internacional de Saúde acredita que existam mais de trinta milhões de mulheres incontinentes nos EUA. No Brasil, são poucos os estudos sobre prevalência de incontinência urinária (15). Cirurgiões realizam 400.000 procedimentos por ano a fim de reconstituir a anatomia normal da pelve e do períneo feminino. Muitas dessas tentativas têm-se mostrado mal sucedidas, provavelmente porque a correlação anatômica específica ainda é pouco conhecida. Fatores de risco para incontinência urinária incluem: parto, pressão intra-abdominal elevada, cirurgia genitourinária e doenças infecciosas. Esses fatores podem alterar a arquitetura anatômica do períneo através do alargamento ou cicatriz da fáscia. De acordo com Baracat (2006) (16), a fragilidade do assoalho pélvico feminino explica porque essa doença atinge mais as mulheres. A musculatura que dá sustentação aos órgãos pélvicos femininos é mais frágil e o aparelho esfincteriano, mais delgado. Além disso, o músculo estriado, que forma um pequeno anel em volta da uretra, é mais fino e adelgaçado nas mulheres e mais espesso e forte nos homens. Consequentemente, as perdas urinárias nos homens adultos estão mais relacionadas a procedimentos cirúrgicos que envolvem a retirada da próstata e o comprometimento da inervação do esfíncter masculino. O c o r re m m u d a n ç a s e s t r u t u r a i s c o m o envelhecimento em todo o organismo, inclusive no trato urinário inferior. Chun et al. (1988) demonstraram, através de estudos experimentais, que ratos senis apresentaram aumento de 20% no peso da bexiga urinária, enquanto que a complacência diminuiu (17). Susset (1983) (18), através de evidências bioquímicas, sugeriu mudanças significativas no tecido conjuntivo de bexigas urinárias de indivíduos idosos, nas quais o conteúdo colágeno aumenta em 30%, preferencialmente no detrusor e na submucosa. Bexigas urinárias de indivíduos idosos apresentaram aglomerações eletrondensas e fibras elásticas, ambas associadas às células musculares, assim como à presença de células musculares lisas fragmentadas (19). A incontinência urinária não é uma consequência inevitável do aumento da idade, mas sim decorre de estados patológicos em que há aumento da pressão interna da bexiga acima da pressão que mantém a uretra ocluída (20). No indivíduo idoso a capacidade da bexiga, a habilidade para diferir o esvaziamento, a complacência da bexiga e uretra, pressão de fechamento uretral e a taxa de fluxo urinário são todos provavelmente reduzidos. Por outro lado, o volume urinário residual pós-esvaziamento da bexiga e a prevalência para desinibir a contração do detrusor estão aumentados, onde cada uma dessas mudanças Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 28 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. predispõe à incontinência, mas nenhuma sozinha irá desenvolvê-la ou antecipá-la (21). Assim, considerando a diferente incidência de incontinência urinária nas diferentes faixas etárias, principalmente na mulher, e o papel do tecido conjuntivo na JVU e uretra, bem como sua alteração com a idade, esse trabalho objetivou: 1.Estabelecer possíveis diferenças dos componentes fibroelásticos na JVU e porções média e distal da uretra de fêmeas jovens e senis. 2. Verificar se o processo de envelhecimento causa alterações no sistema elástico dessas regiões comparando ratas jovens e senis de um mesmo gênero. 3. Relacionar os achados com a base anatômica da continência urinária, através da tipificação e morfometria de tais componentes. MATERIAIS E MÉTODOS Animais e Procedimentos Cirúrgicos Um total de 10 ratas (Rattus norvegicus albinus), sendo 5 com 4 semanas e 5 com 56 semanas, advindos do biotério da Faculdade de Medicina de Jundiaí, foram sacrificados utilizando CO2 (de acordo com os Princípios de Ética em Experimentação Animal). A seguir, foram colocados em decúbito dorsal e seguiu-se incisão na parede abdominopélvica (Figura A) expondo o complexo urogenital (Figura B) com dissecação da bexiga e uretra (Figura C). Procedimentos Histológicos Após o procedimento cirúrgico, o complexo bexiga urinária e uretra (Figura D), de ambos os grupos, foi fixado imediatamente em solução de formol 10%, por doze horas. Após a fixação em formol, os tecidos foram transferidos para álcool 70% (Reagen®, Rio de Janeiro, RJ, Brasil). A seguir sofreram desidratação em uma série crescente de álcoois (álcool 80% - duas vezes, álcool absoluto–três vezes; 1 a 2 horas cada) (Reagen®, Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Posteriormente, o material foi diafanizado com xilol por 2 horas. Após essa etapa, os fragmentos foram colocados em parafina a 56°C (Synth®, Diadema, SP, Brasil) por uma hora e emblocados. A seguir, o material foi seccionado em micrótomo (Lupe MRP03®, São Paulo, SP, Brasil) obtendo-se amostras com espessura de 5 micra. Posteriormente, os cortes foram colocados em lâminas albuminizadas (Vislabor®, Itatiba, SP, Brasil) (Figura E) e levadas para estufa (Fanem®, São Paulo, SP, Brasil) com temperatura de 60°C. Finalmente, as lâminas foram coradas com Picrosirius-hematoxilina para fibras colágenas e com Verhoeff para fibras elásticas e posteriormente fotografadas em fotomicroscôpio (Olympus®) com luz polarizada. Estereologia Para o estudo morfométrico foram utilizadas medidas para determinação quantitativa e comparativa Figura A: Rata em decúbito dorsal, seguida de incisão na parede abdominopélvica. Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 29 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. Figura B: Vista ventral da cavidade abdominopélvica. Bexiga Urinária Junção vesicouretral Uretra Figura C: Desenho esquemático do complexo Urogenital das Ratas que Figura D: Desenho esquemático do complexo urogenital seccionado. A incluem a bexiga urinária, a uretra, a vagina e os cornos uterinos. A linha linha tracejada e o quadrilátero indicam a região do ângulo e a JVU. tracejada indica o ponto de secção para a inclusão na parafina. das frações de volume (Vv) ocupadas pelas fibras colágenas e elásticas nas JVU. Essas medidas foram realizadas através de uma ocular 10X, contendo um retículo de integração quadrilátero contendo 100 quadrados, acoplados ao microscópio de luz e objetiva de 100X. A quantificação das fibras colágenas foi realizada a partir das imagens digitalizadas e expostas em computador com tela plana, enquanto a das elásticas, foi feita ao microscópio. Fibras elásticas As medidas das densidades foram realizadas através da contagem do número total de fibras em relação à área contendo fibras no campo analisado (número de quadriláteros contendo fibras), nas áreas anteriormente propostas (JVU e porções média e distal), num total de 15 campos de cada lâmina, usando-se a seguinte fórmula: Vv= F/A, sendo: Vv= densidade F= número total de fibras elásticas A= área (número de quadriláteros contendo fibras). Fibras colágenas Para o estudo estereológico foram utilizadas medidas para determinação quantitativa das frações de volume (Vv) ocupadas pelas fibras colágenas nas porções proximal (JVU), média e distal da uretra dos animais. As medidas foram realizadas através da contagem dos pontos localizados sobre as fibras colágenas, num total de 6 campos de cada lâmina, em um total de 39 lâminas dos ratos senis e 28 lâminas dos Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 30 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. ratos jovens. As frações de volume ocupadas pelas fibras colágenas em relação ao campo total foram calculadas usando-se a seguinte fórmula: Vv = p/P, sendo: Vv = densidade de volume ou fração de volume (%) p = número de pontos sobre as fibras colágenas P = número total de pontos no campo . Metodologia Estatística Os dados foram estudados através de média e desvio-padrão. As variáveis foram analisadas em cada tipo de fibra, comparando-se os campos através de ANOVA, seguida do teste de comparações múltiplas de Tukey, dois a dois. O software utilizado para análise foi o SAS versão 9.02 e o nível de significância foi assumido em 5% (p < 0,05). A comparação entre jovens e senis, em cada tipo de fibra e campo foi realizada através do teste T de Student (por se tratar de somente duas categorias a serem comparadas: jovens e senis). RESULTADOS Resultados Macroscópicos A análise macroscópica teve início com os procedimentos cirúrgicos, podendo ser observadas as relações topográficas do complexo urogenital com estruturas adjacentes (Figura B). Foi observado que as posições anatômicas do complexo não apresentaram variações. Resultados Microscópicos A análise microscópica do complexo urogenital foi realizada através do estudo morfológico e estereológico das fibras elásticas (coradas com Verhoeff) e colágenas (coradas com picrosiriushematoxilina) presentes nas porções proximal, média e distal da uretra de 5 fêmeas jovens e 5 fêmeas senis. O estudo morfológico das fibras colágenas mostrou que estas apresentaram diferentes cores e espessuras, sendo esverdeadas quando finas (fibras colágenas tipo III) e avermelhadas quando grossas (fibras colágenas tipo I). Ratas jovens Análise Morfológica Na região proximal da uretra (JVU) foram observados ambos os tipos de fibras estudadas. As fibras elásticas apresentaram orientações longitudinal e oblíqua, principalmente junto à musculatura lisa, com aspecto mais volumoso e denso. Ficaram distribuídas em todos os campos analisados, de forma dispersa e sem organização em feixes. As fibras colágenas apresentaram distribuição em todos os campos, com predomínio de fibras avermelhadas, espessas e aglomeradas. Foi observada uma diminuição progressiva na quantidade destas e mudança em sua coloração, com surgimento de fibras Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 esverdeadas à medida que se distanciaram da JVU (Figuras E e F). Na região média da uretra também foram observados ambos os tipos de fibras, mas com diferenças morfológicas àquelas descritas acima. As fibras elásticas apresentaram-se distribuídas em todos os campos, organizadas na região próxima à luz da uretra em grandes concentrações de fibras de menor espessura. Nesta região, as fibras colágenas também apresentaram distribuição em todos os campos, porém com predomínio de fibras esverdeadas, de menor espessura e dispersas. Foi observada uma diminuição progressiva na quantidade das mesmas à medida que se aproximaram da região distal da uretra, com alteração em sua coloração, surgindo fibras avermelhadas dentre as esverdeadas (Figuras E e F). Na região distal da uretra foram observados ambos os tipos de fibras, com características morfológicas próprias. As fibras elásticas, presentes em todos os campos analisados, apresentaram-se organizadas em feixes ou lâminas ao redor da luz uretral, com características de fibras finas, longas e de menor espessura. Houve manutenção do padrão de distribuição, coloração e espessura das fibras colágenas nesta região em relação à anterior. No entanto, apresentaram-se aglomeradas no início, com diminuição progressiva da espessura e dispersão das fibras à medida que se distanciaram da região média, com surgimento de fibras avermelhadas que predominaram sobre as esverdeadas (Figuras E e F). Análise Estereológica Em relação à concentração de fibras colágenas e elásticas nas ratas jovens, não foram verificadas diferenças significativas entre os números totais e percentuais de fibras nas três regiões da uretra (Gráfico1). Ratas senis Análise Morfológica Na análise das fibras elásticas foi observado um padrão morfológico semelhante ao descrito anteriormente nas três regiões da uretra, sem alterações relevantes. Na JVU foram encontrados ambos os tipos de fibras estudadas. As fibras colágenas apresentaram colorações avermelhadas e esverdeadas, no entanto houve predomínio de fibras avermelhadas de caráter volumoso, apresentando distribuição em todos os campos analisados (Figuras E e F). Na região média da uretra também foram observados ambos os tipos de fibras, mas com diferenças morfológicas em comparação às descritas acima. Nesta região, as fibras colágenas mostraram predomínio de fibras esverdeadas, menos espessas, também distribuídas em todos os campos analisados (Figuras E e F). 31 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. 70,4 64,3 64,4 63,4 62,0 70,8 Jovens Senis PROXIMAL MÉDIO DISTAL GRÁFICO 1: Comparação do número percentual de fibras elásticas entre jovens e senis em cada região estudada da uretra. 60,0 59,3 57,8 44,3 41,9 32,0 PROXIMAL MÉDIO Jovens Senis DISTAL GRÁFICO 2: Comparação do número percentual de fibras colágenas entre jovens e senis em cada região estudada. Na região distal da uretra foram observados ambos os tipos de fibras. Quanto ao estudo das fibras colágenas, foi observada distribuição homogênea das fibras, com predomínio de fibras esverdeadas, menos espessas e dispersas (Figuras E e F). Análise Estereológica Em relação à concentração de fibras colágenas nas ratas senis, foram verificadas diferenças significativas no número total de fibras entre as três regiões estudadas (p<0.0001), sendo que a região proximal apresentou maior número de fibras (272,8 ± 36,9), seguida pelas regiões média (254.8 ± 32,5) e distal (195,1 ± 39,3). Através das comparações múltiplas dois a dois, verificou-se diferença significativa no número total de fibras entre as regiões proximal e distal (p<0.0001) e entre regiões distal e média (p=0.0004), mas não entre proximal e média (p=0,5325). Os mesmos resultados foram encontrados para os números percentuais de fibras colágenas. Em relação aos números total e percentual de fibras elásticas, não foram verificadas diferenças estatisticamente significantes entre as três regiões da uretra (p>0,05). (Gráficos 1 e 2). Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 32 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. Figura E Figura E: Coloração Verhoeff: (1A) Secção sagital demonstrando as regiões (JVU), proximal, média e distal da uretra. Ratas jovens (1B-1D) e ratas senis (1E-1G). (1B) região proximal (JVU) da uretra destacando a pequena quantidade de fibras (a). (IC) região média da uretra com fibras elásticas dispersas (b). (ID) região distal da uretra com fibras elásticas tortuosas organizadas em feixes (c). (1E) região proximal da uretra com fibras elásticas espessas (d). (1F) região média da uretra com fibras elásticas finas (e). (1G) distal da uretra com fibras elásticas finas, alongadas e em feixes (f). Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 33 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. Figura F Figura F: Coloração Picrossirius-hematoxilina: (2A) secção sagital demonstrando as regiões proximal (JVU), média e distal da uretra de rata. Ratas jovens (2B-2D) e ratas senis (2E-2G). (2B) região proximal (JVU) da uretra com equilíbrio entre fibras esverdeadas e vermelhas (a). (2C) região média da uretra com predomínio de fibras colágenas esverdeadas - tipo III (b). (2D) região distal da uretra com fibras colágenas espiraladas predominantemente esverdeadas (c). (2E) região proximal da uretra predomínio de fibras colágenas avermelhadas - tipo I (d). (2F) região média da uretra com predomínio de fibras colágena avermelhadas (e). (2G) região distal da uretra com escassas fibras colágenas esverdeadas (f). Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 34 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. Ratas jovens versus Ratas senis Análise Morfológica A comparação das fibras elásticas entre ratas jovens e senis não mostrou alterações morfológicas significativas entre os dois grupos. Quanto à comparação das fibras colágenas, verificou-se uma maior concentração de fibras na uretra de ratas jovens, em todos os campos analisados, porém, na análise comparativa da região proximal (JVU), as ratas senis apresentaram maior concentração de fibras avermelhadas e na região distal, observaram-se fibras mais alongadas e horizontalizadas nesse grupo. Análise Estereológica Durante a comparação entre ratas jovens e senis, verificou-se que existem diferenças significativas entre os números absolutos e percentuais de fibras colágenas, entre esses dois grupos (p<0,05), sendo que há uma diminuição da concentração de fibras colágenas no grupo senil nas três regiões da uretra. Já em relação às fibras elásticas, não foram verificadas diferenças significativas entre os números absoluto e percentual de fibras (p>0,05) (Gráficos 1 e 2). DISCUSSÃO e CONCLUSÕES No presente estudo, quando comparadas as fibras colágenas de ratas jovens e senis, houve diferenças em sua concentração, sendo esta maior nos exemplares jovens em todas as regiões estudadas. No entanto, comparando-se as diferentes regiões dentro de um mesmo grupo, nos animais jovens não houve diferença significativa; já nos senis, observaram-se diferenças relevantes nas concentrações dessas fibras, que se apresentaram diminuídas em todas as regiões, podendo isto ser responsável pela prevalência da incontinência urinária. Esses resultados diferem dos encontrados por Susset (1983) (18) que, através de evidências bioquímicas, sugeriu mudanças significativas no tecido conjuntivo de bexigas urinárias de indivíduos idosos, nas quais o conteúdo colágeno aumenta em 30%, preferencialmente no detrusor e na submucosa. Na pesquisa de Reisdoerfer (2007) (22), os achados da microscopia eletrônica de transmissão revelaram um aumento qualitativo no contingente do conteúdo colágeno nos animais velhos. Segundo Ulmsten et al. (1999) (23), as mudanças que ocorrem durante a menopausa geram um tecido conectivo parauretral com maiores concentrações de colágeno e com propriedades diferentes. Essas mudanças, associadas a uma diminuição da proporção proteoglicanos/colágeno, resulta em um tecido com maior habilidade de carregar peso, mas com menor elasticidade. As pesquisas atuais sobre fibras colágenas ainda são controversas, pois alguns estudos relatam haver uma associação entre redução do total de colágeno na fáscia paravaginal e incontinência urinária de stress (IUS), enquanto outros encontraram Perspectivas Médicas, 20(2): 26-35, jul. / dez. 2009 que a concentração de colágeno total está aumentada em mulheres com IUS (24). Na atual pesquisa, também se constatou não haver diferenças significativas na concentração ou na morfologia das fibras elásticas entre ratas jovens e senis nas regiões estudadas. Diversos estudos relatam alterações no sistema elástico, relativas à densidade das fibras, durante o envelhecimento. No estudo de Reisdoerfer (2007) (22) foi encontrado que a densidade linear das fibras elásticas difere entre ratos machos neonatos, adultos e velhos, havendo um aumento da densidade das fibras elásticas maduras do neonato para o adulto e uma diminuição do adulto para o velho. Esses achados condizem com o estudo de Carvalho et al. (1997) (25), que inferiu que durante o processo de envelhecimento ocorrem alterações nas fibras do sistema elástico. Em contrapartida, Paniagua et al. (1983) (13) verificaram que há um aumento de elastina com o avanço da idade, exceto na JVU, onde a densidade linear das fibras diminui nos animais velhos. O tecido conectivo, especialmente as fibras elásticas, é considerado como um importante fator contribuinte para o mecanismo de fechamento da uretra entre as micções. Awad e Downie (1976) (4) concluíram que o tecido elástico e fatores mecânicos são responsáveis por aproximadamente 40% da continência urinária. Em contraste, Tanagho et al. (1969) (26) , realizando experimentos similares, encontraram que os tecidos elástico e colágeno proporcionam resistência muito limitada ao fluxo urinário contínuo. Segundo Hickey et at. (1982) (10), é improvável que as fibras elásticas da uretra tenham um papel marcante no controle da micção, apesar da atenção que recebem. A elastina confere elasticidade aos tecidos, que é limitada pela rigidez do colágeno. Assim, apesar das fibras elásticas talvez prevenirem danos aos tecidos, elas provavelmente não restringem a performance mecânica. No estudo de Augsburger (1997) (11) concluiuse que o tecido elástico não é o principal fator contribuinte para a continência urinária. Segundo Reisdoerfer (2007) (22), as alterações que ocorrem no sistema elástico de ratos machos velhos estão associadas ao processo natural de envelhecimento que, aliadas à diminuição da tonicidade muscular, tornam o esfíncter fisiológico mais permeável, favorecendo o aparecimento da incontinência urinária. No entanto, as fibras elásticas isoladas não são responsáveis por tal doença, pois estudos verificaram que esta condição ocorre por processos urodinâmicos como deficiência ou ausência de atividade detrusora, pressão uretral incompetente, doenças sistêmicas ou psicológicas e uso de alguns medicamentos. Concluiu-se, portanto, que o sistema elástico da JVU não é um componente que determina o aparecimento da incontinência urinária no processo fisiológico de envelhecimento. 35 Estereologia dos componentes fibroelásticos da junção vesico... - Marina Podadera Balota e cols. Assim, após avaliação dos resultados pode-se observar no presente estudo, uma diferença na quantificação de fibras colágenas entre ratas jovens e senis. Embora esse dado seja relevante, não se pode considerá-lo como único fator que represente a base anatômica e funcional da incontinência urinária. Apesar dos vários artigos mencionarem a importância das fibras elásticas como base anatômica da continência urinária, não se observou, neste estudo, diferença entre os grupos. Concluiu-se, portanto, que são necessários mais estudos para compreender a razão da existência e o mecanismo de ação do eixo conjuntivo da JVU. Além disso, faz-se necessário também entender que a idade é somente um dos fatores envolvidos, pois a posição da bexiga urinária nos roedores difere dos humanos. Referências bibliográficas 1. - Stolzenburg JU, Dorschner W, Postenjak M. Sphincteric musculature of female canine urethra in comparison to woman including 3D reconstruction. Cells Tissues Organs 2005; 170(2/3):151-61. 2. - Menezes PR. Atualização em nefrologia pediátrica: distúrbios funcionais da micção na infância. J Bras 2000; 22 (2): 95-102. 3. - Dass N, Mcmurray G, Brading AF. Elastic fibres in the vesicourethral junction and urethra of the guinea pig: quantification with computerized image analysis. 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Ricardo Pompêo Bueno de Godoy* Osvaldo Vinícius Biill Primo* Fabrício Egídio Pandini** Adriana Lima Sanchez** Edmir Américo Lourenço*** *Médico ORL ex-residente da Disciplina Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina Jundiaí (FMJ). **Médico residente de 3° ano da Disciplina Otorrinolaringologia da FMJ. * * * P r o f e s s o r Ti t u l a r d a D i s c i p l i n a Otorrinolaringologia da FMJ. de de de de Endereço para correspondência: Ricardo Pompêo Bueno de Godoy – Av. Rudge, 810, apto 41 Santa Cecília, São Paulo SP CEP: 01134-000 Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 28 de Março de 2009. Artigo aceito em 12 de Novembro de 2009. RESUMO É bem frequente nos dias de hoje a permanência por diversas horas no interior de automóveis, principalmente nas grandes cidades, seja devido às grandes distâncias percorridas, seja pelos congestionamentos. Nestes momentos os condutores e passageiros estão expostos a diversos ruídos, do motor do carro, buzinas, som automotivo, entre outros. O objetivo é demonstrar os níveis de ruídos (dB NA) dentro de automóveis, em diferentes situações. O estudo se realizará através de aferições dos níveis de ruído em automóveis, primeiramente com estes desligados, depois com o motor ligado, batendose a porta e ligando-se o som do automóvel (dois ou quatro amplificadores) em música do gênero ´´pop`` na máxima intensidade, porém sem que haja distorção na qualidade sonora. O aparelho responsável pela aferição será o decibelímetro Minipa®, modelo MSL-1352C. O resultado da nossa amostra mostrou que mesmo automóveis com sonorização original de fábrica apresentam elevada intensidade de ruído sonoro. Concluímos que os níveis de ruído sonoro no interior de um automóvel pode levar a perdas auditivas dependendo do tempo ao qual o motorista e passageiros ficam expostos a tal ruído. ABSTRACT It's nowadays very much frequent staying many hours inside the cars, mainly in great cities, due to long distances or transit stops. The drivers and passengers Perspectivas Médicas, 20(2): 36-39, jul. / dez. 2009 then are exposed to many noises, as motor of the car, horns, sound and others. Objective the aim of this work is to demonstrate the sound levels inside cars, in different situations. This work pretends to measure noise levels inside cars, initially with the motor off and then with it on, after shut the door and then switch the sound with four amplificators and musics pop in maximum intensity, without distortion. The apparatus used was the decibelimeter Minipa®, modelo MSL-1352C. Results our casuistic showed that cars with original sound apparatus have high sound noise intensity. Conclusion sound level noise inside cars can cause hearing loss, depending on exposition time of drivers and passengers. INTRODUÇÃO É muito frequente na vida moderna a permanência durante horas no interior de automóveis, principalmente nas grandes cidades, seja devido às grandes distâncias percorridas, seja pelos congestionamentos. Os condutores e passageiros estão expostos a diversos ruídos, do motor do carro, buzinas, aparelhagens de som automotivo, entre outros de diferentes intensidades e durações. MATERIAIS E MÉTODOS Demonstrar os níveis de ruídos em dB NA no interior de automóveis, em diferentes situações, com a finalidade de avaliar se há risco de perda auditiva induzida por ruído. O estudo foi realizado através de aferições dos níveis de ruído no interior de quatro automóveis, sendo eles caracterizados como: Veículo A: FIAT Palio Weekend 1.6 16v APARELHO: FIAT DIGITAL STEREO (ORIGINAL) ARLEN 4 ALTO-FALANTES Diâmetro do Alto Falante: 6 polegadas Potência Máxima (PMPO): 100Watts Potência Nominal (RMS): 40Watts Frequência Ressonância: 80Hz Resposta de frequência: 50Hz a 20KHz Sensibilidade (SPL): 88dB/W/m Impedância Nominal: 4.0Ohms Veículo B: CHEVROLET Astra 2.0 Hatch Advantage 37 Avaliação do risco da exposição a ruídos aferidos no interior de automóveis. - Ricardo Pompêo Bueno de Godoy e cols. APARELHO: PIONEER DEH-4700MP BRAVOX 4 ALTO-FALANTES máxima de ruídos foram de 44,8 e 110,8 dBNA, respectivamente. Diâmetro do Alto Falante: 6 polegadas Potência Máxima (PMPO): 180Watts Potência Nominal (RMS): 60Watts Frequência Ressonância: 90Hz Resposta de frequência: 60Hz a 20KHz Sensibilidade (SPL): 95dB/W/m Impedância Nominal: 4.0Ohms DISCUSSÃO Já é bem estabelecido que 85dB é a intensidade sonora acima da qual podem ocorrer perdas auditivas, dependendo do tempo de exposição, uso ou não de equipamento de proteção individual, susceptibilidade individual e presença de outras co-morbidades. A tabela 1 mostra o tempo máximo de exposição diária permissível de acordo com o nível de ruído. De acordo com os resultados obtidos, notamos que na intensidade máxima registrada, o tempo de exposição máxima permitida é de 15 minutos. Levando-se em conta não só as grandes distâncias percorridas, mas principalmente o tempo gasto, levando-se em conta o pesado trânsito das grandes cidades, podemos ter inúmeras pessoas apresentando perda auditiva induzida por ruído, sendo tal ruído não-ocupacional, gerando mais um viés na avaliação de tais pacientes. É de suma importância o conhecimento deste fato por parte dos motoristas, fabricantes de aparelhos sonoros e inclusive pelos profissionais da saúde, para que se possa orientar e prevenir quanto a esta possibilidade pouco aventada de lesão auditiva ou seu agravamento. Lembrar que o zumbido apresenta-se como um dos primeiros sinais de perda auditiva, tornando-se um importante sinal de alerta. Adicione-se a isto, o fato de que o ruído no interior de veículos influencia e pode até mesmo definir o ritmo do motorista e assim, certas músicas podem se tornar perigosas, aumentando o risco de acidentes. Veículo C: VOLKSWAGEN Fox 1.6 Plus APARELHO: SONY CDX-R3707 4 ALTO-FALANTES BRAVOX Diâmetro do Alto Falante: 6 polegadas Potência Máxima (PMPO): 120Watts Potência Nominal (RMS): 50Watts Frequência de Ressonância: 90Hz Resposta de frequência: 60Hz a 20KHz Sensibilidade (SPL): 91dB/W/m Impedância Nominal: 4.0 Ohms Veículo D: CHEVROLET Corsa 1.0 Maxx APARELHO: SONY CDX-GT317X BOMBER 2 ALTO-FALANTES Diâmetro do Alto Falante: 6 polegadas Potência Máxima (PMPO): 100 Watts Potência Nominal (RMS): 40 Watts Frequência Ressonância: 80 (Hz) Resposta de frequência: 50Hz a 20KHz Sensibilidade (SPL): 88 dB/W/m Impedância Nominal: 4.0 Ohms Primeiramente, com os veículos desligados, depois com o motor ligado, batendo-se a porta e ligando-se a aparelhagem de som do automóvel em música do gênero “pop” na máxima intensidade, porém sem que houvesse distorção na qualidade sonora. Então foram registradas as intensidades sonoras por cerca de 10 minutos, considerando-se o tempo de duas músicas. O aparelho responsável pela aferição foi o decibelímetro Minipa®, modelo MSL-1352C. O aparelho foi calibrado de forma a registrar ruídos de 30 a 130 dBNA, operando no circuito de compensação ´´A`` e no circuito de resposta lenta (SLOW). Depois de gravados os dados, estes foram transferidos para um computador, onde tais dados já apareciam em forma de gráfico e outros indicadores já mostravam os níveis mínimo e máximo de ruído, bem como a média de ruído durante a aferição. RESULTADOS Foram obtidos traçados independentes de cada automóvel testado. Os gráficos 1 a 4 demonstram as variações de ruídos aferidos nos veículos A, B, C e D e através desses registros observou-se comparativamente que as intensidades mínima e CONCLUSÃO Existe a possibilidade do desenvolvimento de perda auditiva induzida pelo ruído emitido por aparelhagens de som automotivos originais, tendo em vista que sua intensidade máxima excede os níveis considerados seguros. Referências bibliográficas 1. Fernandes M, Morata TC. Estudo dos efeitos auditivos e extraauditivos da exposição ocupacional a ruído e vibração. Rev Bras Otorrinolaringol 2002;68(5 Pt 1):705-13. 2. ABNT 10152. Avaliação do ruído para o conforto acústico 1987. 3. Leme OLS. Estudo audiométrico comparativo entre trabalhadores de área hospitalar expostos e não-expostos a ruído. Rev Bras Otorrinolaringol 2001;67(6):837-43. 4. Corrêa Filho HR, Costa LS, Hoehne EL, Pérez MAG, Nascimento LCR, Moura EC. Perda auditiva induzida por ruído e hipertensão em condutores de ônibus. Rev Saúde Pública 2002;36(6):693-701. 5. Brasil (Ministério do Trabalho e Emprego). Portaria nº.19, de 09 de abril de 1998: estabelece diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e acompanhamento da audição em trabalhadores expostos a níveis de pressão sonora elevados. Diário Oficial da União. Brasília, 22 de abril de 1998. 6. Kwitko A. Motoristas de transporte coletivo urbano estão sujeitos a diversas doenças ocupacionais. 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Perspectivas Médicas, 20(2): 36-39, jul. / dez. 2009 17:10 17:11 Time 17:12 17:13 17:14 39 Avaliação do risco da exposição a ruídos aferidos no interior de automóveis. - Ricardo Pompêo Bueno de Godoy e cols. 130 11:06:54 98,8dB 11:10:04 101,4dB 120 110 100 dB 90 80 70 60 50 40 30 11:04 11:05 11:06 11:07 11:08 GRÁFICO 3: Intensidade de ruídos aferidos no veículo C. 130 11:09 Time 10:17:22 91,2dB 11:10 11:11 11:12 11:13 10:19:42 88,6dB 120 110 100 dB 90 80 70 60 50 40 30 10:16 10:17 GRÁFICO 4: Intensidade de ruídos aferidos no veículo D. 10:18 Time 10:19 10:20 10:21 10:22 Perspectivas Médicas, 20(2): 36-39, jul. / dez. 2009 40 COMUNICAÇÃO CURTA Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 no ambulatório da Faculdade de Medicina de Jundiaí e sua associação com obesidade e hipertensão arterial. Socioeconomic profile of diabetes mellitus type 2 patients of Jundiaí Medical School clinics and its association with obesity and hypertension. Palavras-chave: diabetes mellitus, fatores socioeconômico, obesidade, hipertensão . Key Words: diabetes mellitus, socioeconomic factors, obesity, hypertension. Leandro Pompermayer Olivo* Ana Paula R. Giraldes* Aline D. Silveira* Eliana Tiemi Maekawa* Leandro Coppedé* Luciana F. B. Stefan* Mercia Breda Stella** *Alunos do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), Jundiaí, São Paulo, Brasil. **Professora Adjunta de Bioquímica e Biofísica da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: Leandro Pompermayer Olivo - Rua Fioravante Agnello, nº 122, Valinhos, SP, CEP 13272-006 - Tel: 55-19-92018124 ou 55-19-38714014 - E-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 13 de Setembro de 2009. Artigo aceito em 11 de Outubro de 2009. RESUMO O Diabetes Mellitus (DM) é, atualmente, um dos maiores problemas de saúde pública em países em desenvolvimento, devido à sua elevada prevalência, morbidade e mortalidade. Características como obesidade e hipertensão arterial estão presentes na maioria dos pacientes portadores de DM tipo 2, sendo que sua prevalência varia dependendo de fatores genéticos e ambientais (educacionais e culturais). O prejuízo que o DM causa para os órgãos públicos em somente um ano no Brasil é de aproximadamente US$ 22.600 milhões, ou seja, um custo de quase US$ 900,00 por pessoa. Por esses motivos, foi realizado um levantamento epidemiológico associando-se o perfil socioeconômico dos pacientes diabéticos com a obesidade e a hipertensão, para adequar às medidas de saúde pública e minimizar os problemas acima citados frente ao DM. A análise da população mostrou-se como 28% do sexo masculino e 72% feminino, com idade média de 58.3±11,6 anos, sendo 70% brancos, 18% pardos, 10% negros e 1% amarelo. Quanto à classe socioeconômica, 68% pertenciam à classe C, 18% classe D, 12% classe B e 2% classe A. Na análise antropométrica, as médias foram: peso de 79±18,1Kgs, IMC de 30,4±5,7 e PA de 138,3±21,4 x 87±12,1mmHg. Os dados de antropometria permaneceram dentro do esperado para a população do sudeste brasileiro, assim como a pressão arterial. Em contrapartida, a associação do perfil socioeconômico com obesidade e hipertensão em pacientes com DM tipo 2 não revelou valores epidemiológicos válidos (não puderam ser feitas associações de obesidade e hipertensão com os dados de raça/cor, socioeconômico e grau de instrução), desestimulando essa associação. ABSTRACT The Diabetes Mellitus (DM) is a currently major public health problem in countries in development due to its high prevalence, morbidity and mortality. Characteristics such as obesity and hypertension are present in most DM type 2 patients, where its prevalence varies depending on genetic and environmental factors (educational and cultural). The loss that diabetes causes to the public health system in a single year in Brazil is approximately U.S. $ 22,600 million, a cost of almost $ 900.00 per person. For these reasons, an epidemiological survey was carried out involving up the socioeconomic profile of diabetic patients with obesity and hypertension, to adequate to public health investments and minimize the problems against the DM mentioned above. The analysis of the population proved to be 28% male and 72% female, mean age 58.3 ± 11.6 years, 70% white, 18% mulatto, 10% black and 1% yellow. As for socioeconomic class, 68% belonged to class C, 18%Class D, 12% class B and 2% Class A. The anthropometric review showed the following measures: weight of 79 ± 18.1 kg, BMI of 30.4 ± 5.7 and PA of 138.3 ± 21.4 mmHg ± 12.1 87±12,1mmHg. The data of anthropometry remained within the expected for the population of southeastern Brazil, as well as the blood pressure. In contrast, the socioeconomic profile of the association with obesity and hypertension in patients with DM2 revealed no epidemiological valid values (could not be made associations of obesity and hypertension with the data for race/color, socioeconomic and literacy), discouraged the association. INTRODUÇÃO Perspectivas Médicas, 20(2): 40-44, jul. / dez. 2009 41 Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 no ambulatório da... - Leandro Pompermayer Olivo e cols. O Diabetes Mellitus (DM) é, atualmente, um dos maiores e mais sérios problemas de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento devido à sua elevada prevalência, morbidade e mortalidade(1,2). Hoje sua prevalência vem aumentando em proporções epidêmicas devido à maior longevidade das pessoas, associada a um crescente consumo de gorduras saturadas, sedentarismo e, conseqüentemente, maior quantidade de indivíduos obesos. No mundo estima-se que existam mais de 120 milhões de casos, sendo cerca de 5 milhões no Brasil. Entre os anos de 1996 a 2005, a prevalência geral de DM variou de 2,3% a 36,2%, a de obesidade variou de 7,9% a 20,8% e a de excesso de peso (EP), de 25,7% a 51,6%(3). Em países em desenvolvimento, como o Brasil, está previsto aumento na prevalência de DM de 170% no período de 1995 a 2025(4). Características como obesidade e hipertensão estão presentes na maioria dos pacientes DM 2, sendo que sua prevalência varia dependendo de fatores genéticos e ambientais (educacionais e culturais). Cerca de 50% dos pacientes desconhecem ter esta doença por serem assintomáticos ou oligossintomáticos, apresentando mais comumente sintomas inespecíficos, como tonturas, dificuldade visual, astenia e/ou câimbras. Devido ao desconhecimento da doença, o diagnóstico é feito tardiamente (por volta de quatro a sete anos), fazendo com que as complicações micro e macrovasculares estejam presentes quando da detecção inicial da hiperglicemia (5). A associação entre DM 2 e hipertensão arterial (HA), patologias que parecem originar-se de fontes semelhantes, também é encontrada freqüentemente na prática clínica. Entre os pacientes com DM 2, a HA tem uma prevalência de, pelo menos, duas vezes maior que a observada na população não-diabética, estando presente em 30%-50% dos pacientes na ocasião do diagnóstico. A presença de HA resulta em graves conseqüências para o paciente diabético, duplicando sua mortalidade e incrementado significativamente a ocorrência de complicações micro e macrovasculares(5). Baseado nessas mortes antecipadas foi calculado o prejuízo que o DM causa para os órgãos públicos. No ano de 2000, só no Brasil, o custo anual do DM, tanto pelos custos diretos e indiretos (tratamento, hospitalização, consultas e complicações) como pela perda de população economicamente ativa, foi de aproximadamente US$ 22.600,00 milhões, ou seja, um custo de quase US$ 900,00 por pessoa (6). De tal maneira, um levantamento epidemiológico mais exato da população seria a melhor maneira de adequar às medidas de saúde pública para minimizar os problemas acima citados frente ao DM. Assim, o objetivo desse trabalho é associar o perfil sócioeconômico dos pacientes diabéticos que utilizam o ambulatório da Faculdade de Medicina de Jundiaí com a obesidade e a hipertensão. MATERIAIS E MÉTODOS Durante a coleta de dados foram entrevistados cinquenta pacientes previamente diagnosticados com DM2 no ambulatório de especialidades da Faculdade de Medicina de Jundiaí. A seleção dos pacientes foi feita de modo randômico conforme agendamento de consultas pelos próprios pacientes. Foram realizados os seguintes métodos: 1.- Identificação dos pacientes do serviço ambulatorial através de uma ficha pessoal contendo: nome, sexo, idade, raça/cor, questionário sócioeconômico e grau de instrução, todos os itens por autodeclaração (7). 2.- Aferição da pressão arterial e peso e altura para o cálculo do IMC (Índice de Massa Corpórea) para comparação com os parâmetros recomendados. A) Pressão Normal: 140/90mmHg (8). Foram considerados Normotensos aqueles que não possuíam nenhuma das pressões (sistólica e diastólica) igual ou acima dos limites estabelecidos. B) IMC: O cálculo do índice de massa corporal e comparação com o padrão internacional para avaliação do grau de obesidade através da seguinte fórmula: IMC= Peso (Altura X Altura) Em função dos valores encontrados, os pacientes foram divididos em dois grupos, por meio de uma adaptação da tabela internacional de avaliação de obesidade. Um grupo englobou os pacientes com IMC menor ou igual a 25, enquanto que no outro entraram aqueles com IMC maior de 25, considerado como início de sobrepeso. Apesar da ADA (American Diabetes Association – standarts of medical care in diabetes) (9) não estabelecer um nível ideal de IMC para ser alcançado pelos pacientes diabéticos, um valor menor que 25 kg/m² já foi definido como ideal pelo VII Joint(10). A metodologia estatística consistiu em: 1.- A prevalência de obesidade e hipertensão foi comparada através de vários fatores através dos testes de qui-quadrado ou exato de Fisher. 2.- O nível de significância de todo o trabalho foi assumido em 5% (p <0.05) e o software utilizado para análise foi o SAS versão 9.02. RESULTADOS A partir dos dados, observamos que, dos cinquenta pacientes diabéticos atendidos no ambulatório da Faculdade de Medicina de Jundiaí, 14 eram do sexo masculino (28%) e 36 (72%) do sexo feminino, com idade média de 58.3±11,6 anos. Trinta e cinco (70%) se declararam brancos, 9 (18%) pardos, 5 (10%) negros, 1 (2%) amarelo (Gráfico 1). Perspectivas Médicas, 20(2): 40-44, jul. / dez. 2009 42 Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 no ambulatório da... - Leandro Pompermayer Olivo e cols. Comparando os dados socioeconômicos e o grau de instrução foi possível caracterizar a classe econômica dos entrevistados. Trinta e quatro (68%) pertenciam à classe C, 9 (18%) à classe D, 6 (12%) à classe B2 e somente um (2%) à classe A2. Ninguém pode ser classificado como classe B1 e classe A1(7) (Gráfico 2). A média de peso encontrada foi de 79±18,1Kgs, com mínimo de 48,6 e máximo de 145Kgs. A média de altura encontrada foi de 160,8±8,57cms, com mínimo de 144 e máximo de 185cms. A média do IMC encontrada foi de 30,4±5,7, com mínimo de 19,9 e máximo de 52. Dos pacientes pesquisados, 45 (90%) tinham IMC maior que 25, caracterizando sobrepeso, sendo 71,1% pacientes do sexo feminino e 28,9% masculino. Somente cinco (10%) estavam com IMC abaixo de 25, das quais quatro eram do sexo feminino e um era do sexo masculino. A média de pressão sistólica encontrada foi de 138,3±21,4 mmHg. Com relação à diastólica, a média de pressão encontrada foi de 87±12,1mmHg. Trinta e três (66%) pacientes foram considerados hipertensos (pressão sistólica e/ou diastólica maior que TABELA 1: Descrição da amostra. Perspectivas Médicas, 20(2): 40-44, jul. / dez. 2009 o valor pré-estabelecido) e 17 (34%) possuíam pressão normal. O resumo dos dados antropométricos pode ser visto na Tabela 1. DISCUSSÃO A análise sociodemográfica pode ser analisada na tabela 2. Não puderam ser feitas associações de obesidade e hipertensão com os dados de Raça/cor, Sócio-econômico e Grau de Instrução. Somente a associação de Hipertensão com o sexo feminino teve p<0.05. Em 2007, Maso et. al. relacionaram a DM com a classe sócio-econômica do paciente. Nesse estudo, 21% dos entrevistados pertenciam às classes A e B, 37,1 à classe C e 41,9% às classes D e E (11). Neste estudo, mais específico para a realidade de Jundiaí e do ambulatório da Faculdade de Medicina, os valores encontrados foram: 2% para as classes A e B, 77% para classe C e 21% para as classes D e E. Esses dados discrepantes entre duas regiões reforçam o objetivo do trabalho de um melhor conhecimento da população para, assim, adequar melhor as políticas de saúde pública à região. CONCLUSÃO 43 Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 no ambulatório da... - Leandro Pompermayer Olivo e cols. TABELA 2: Estudo da prevalência de obesidade e hipertensão arterial segundo características sociodemográficas. GRÁFICO 1: Raça/cor da população estudada (n=50). GRÁFICO 2: Classificação socioeconômica da população estudada (n=50). Perspectivas Médicas, 20(2): 40-44, jul. / dez. 2009 44 Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 no ambulatório da... - Leandro Pompermayer Olivo e cols. Mesmo com um número pequeno de pacientes selecionados, os dados de antropometria foram significantes, pois permaneceram dentro do esperado para a população do sudeste brasileiro, assim como a pressão arterial. Em contrapartida, a associação do perfil socioeconômico com obesidade e hipertensão em p a c i e n t e s c o m D M 2 n ã o re v e l o u v a l o re s epidemiológicos válidos, desestimulando essa associação. Referências bibliográficas 1. - Nascimento R, et. al. Diabetes Mellitus Tipo 2: Fatores preditivos em população Nipo-Brasileira. Arq Bras Endocrinol Metab 2003; 47 (5): 584-92. 2. - Oliveira DS, et al. Evaluation of cardiovascular risk according to Framingham criteria in patients with type 2 diabetes. Arq Bras Endocrinol Metab 2007;51:2-8. 3. - BLOCH KV, et al. Epidemiologia dos fatores de risco para hipertensão arterial – uma revisão crítica da literatura brasileira. Rev Bras Hipertens 2006;13 (2):134-43. Perspectivas Médicas, 20(2): 40-44, jul. / dez. 2009 4. - Georg AE. Análise econômica de programa para rastreamento do diabetes mellitus no Brasil. Rev Saúde Pública 2005; 39(3):452-60. 5. - Vilar L. Endocrinologia Clinica 2ª ed. 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Cobertura, foco, fatores associados à participação e vinculação à Campanha Nacional de Detecção de Diabetes em uma cidade no Sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2007; 23(8):1877-85. 45 COMUNICAÇÃO CURTA O ensino de introdução à cirurgia nos Estados Unidos da América (EUA): informações obtidas em sítios eletrônicos. Teaching introduction to surgery in the United States of America (USA): Information collected in the electronics sites. Palavras-chave: ensino, cirurgia, programas de treinamento. Key words: teaching, surgery, training program. Marcus Vinicius H. de Carvalho* Sérgio Ferreira Módena** Roberto Anania de Paula*** Evaldo Marchi**** *Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. **Professor Assistente do Departamento de Cirurgia da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. ***Professor Titular de Cirurgia do Departamento de Cirurgia da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. ****Professor Associado do Departamento de Cirurgia da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: Evaldo Marchi - Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). Rua Francisco Telles, 250 – B. Vila Arens, Jundiaí, São Paulo. CEP: 13202550 - e-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. Não existem conflitos de interesse. Artigo recebido em 05 de agosto de 2009. Artigo aceito em 26 de novembro de 2009. RESUMO O presente trabalho, com o intuito de atualização, apresenta informações sobre a maneira como é realizado o ensino de introdução à cirurgia e técnica operatória nas escolas de medicina dos EUA. As informações foram obtidas através dos sítios eletrônicos das escolas de medicina daquele país, procurando responder às seguintes questões: há uma disciplina separada para o ensino de introdução à cirurgia e técnica operatória?; Qual o tempo disponível para o ensino de introdução a cirurgia e à técnica cirúrgica?; Quais são os temas abordados na aulas práticas e nas teóricas?; Quais são as táticas de ensino usadas nas aulas práticas? A partir dos resultados, pode-se concluir que: não há uma disciplina individualizada para o ensino de introdução à cirurgia e técnica operatória e os conhecimentos são transmitidos em um estágio de oito semanas em enfermaria, em salas de emergência e centro cirúrgico, sendo que em algumas escolas há um treinamento em laboratório em suturas e nós cirúrgicos. Os temas abordados tanto nas aulas teóricas quanto nas práticas são semelhantes aos das escolas médicas brasileiras. O método usado é o do ensino baseado em resolução de problemas e não há indícios de que sejam usados altos recursos tecnológicos para apoio ao ensino. ABSTRACT The present study, has the purpose of updating the authors acquired information about the manner that the introductory learning of surgery and operative technique are taught in the United States of America's schools of medicine. The necessary informations were obtained by medicine schools web sites in order to try to answer the following questions: is there a special subject of introductory learning of surgery and operative technique?; whish is the time employed to teach the introductory learning of the surgery and operative technique?; which are the topics approached in practical and in theoretic classes? After observe the results, the conclusions are: there is not a special subject to teach the introductory learning of surgery and operative technique and the knowledge is transmitted in an eight week staging in surgical nursery, in emergency rooms and in operation rooms, but in some medicine schools there are also training in knots and sutures in laboratories. The topics approached in theoretic classes are similar to those taught in the Brazilian medical schools. The learning method is based on problem based-learning and there is no evidence that sophisticated technology resources are used as support. INTRODUÇÃO Ensino O ensino da disciplina de introdução à cirurgia e técnica operatória tem sido remodelado devido às tendências que limitam o uso de animais que eram habitualmente usados nas aulas práticas e à incorporação de novos procedimentos considerados imprescindíveis ao cirurgião de hoje (por exemplo, videocirurgia). Também houve mudanças no comportamento social, principalmente no que tange à proibição do uso de cães para o treinamento de técnicas operatórias. Assim, os cães que chegavam aos laboratórios de Perspectivas Médicas, 20(2): 45-50, jul. / dez. 2009 46 O ensino de introdução à cirurgia nos Estados Unidos da América (EUA)... - Marcus Vinicius H. de Carvalho e cols. técnica operatória praticamente a custo zero tiveram que ser substituídos por suínos ou manequins, mas o custo se elevou muito. Para se ter uma idéia da repercussão disto, lembramos o fato de que o ensino de cirurgia aos estudantes e residentes na Universidade de Stanford custa aproximadamente 20 milhões de dólares ao ano (1). Face a essas mudanças e com o objetivo de fazer uma atualização nas táticas de ensino de introdução à cirurgia e técnica operatória, procuramos conhecer através deste estudo o que tem sido feito atualmente nas escolas de medicina dos EUA. Para atingir esse objetivo utilizamos informações disponíveis na Internet, pela impossibilidade do estudo in loco nas várias escolas americanas embasados no fato de que outros artigos publicados em revistas conceituadas também foram fundamentados somente em informações eletrônicas (2). Breves considerações sobre o ensino voltado para a Medicina O ensino de introdução à cirurgia e técnica operatória também se insere dentro das táticas pedagógicas usadas em qualquer parte do mundo. Basicamente o ensino pode ser feito de duas maneiras: ensino baseado em aulas (“LBL-Lecture Based Learning”) em um extremo e ensino baseado em resolução de problemas em outro extremo (“PBLProblem Based Learning”). Ensino baseado em aulas-“LBL” Consiste em informações absorvidas principalmente em aulas, conferências ou seminários. Esse método é aquele que vinha sendo usado antes da introdução do método “PBL”. É dada ênfase aos conhecimentos das disciplinas pré-clínicas anatomia, fisiologia, farmacologia e bioquímica. O método “LBL” tem sido criticado por facilitar muito os estudantes, não os preparando para a educação médica continuada necessária para o futuro. A cada dia fica mais clara a necessidade de atualizações face ao desenvolvimento atual e muito veloz das ciências e segundo alguns, o método “LBL” não prepararia o acadêmico para saber se atualizar. Além disso, esse método pode sobrecarregar os estudantes com informações não inteiramente relevantes para a prática profissional (3). Ensino Baseado em Problemas-“PBL” O Ensino Baseado em Problemas “PBL” vem da filosofia educacional do educador francês Célestin Freinet publicada em 1920 e usada largamente em outras áreas além da medicina. Esse método se refere ao processo e não apenas a um evento específico. Deve ser conduzido por um experiente facilitador ou tutor. A um grupo de estudantes selecionados é dado um problema e um tempo para que eles tragam a solução. Os alunos estudam o caso clínico, definem qual é o problema, elaboram possibilidades para solução e elegem a melhor solução. Para chegar à solução do problema os estudantes têm que fazer estudos Perspectivas Médicas, 20(2): 45-50, jul. / dez. 2009 individuais, assistir aulas e seminários e participar das visitas aos casos internados como forma de ganhar conhecimentos para elaborar a solução do problema. O método “PBL” não exclui as aulas e conferências, apenas enfatiza que o estudante pode decidir quais as aulas ou conferências que preenchem os objetivos do seu aprendizado ao invés de absorver passivamente as informações (3). A crítica ao “PBL” é que esse método promove um aprendizado incompleto particularmente em anatomia e em ciências médicas básicas. Isto pode interferir principalmente no aprendizado de cirurgia, onde os conhecimentos de anatomia são extremamente importantes (3). Breves considerações sobre o ensino médico nos EUA O curso nas escolas de medicina americanas, dura quatro anos, mas a admissão é feita após a conclusão de outros quatro anos no 'college' ou universidade. Os dois primeiros anos são compostos principalmente de ensino em salas de aula e os dois últimos anos primariamente constam de rodízio nas clínicas, quando os estudantes são introduzidos na prática de cuidar dos pacientes. Após completar o curso médico os estudantes recebem o título de doutor em medicina, mas para exercer a profissão o recém-formado necessita ainda completar a residência médica por um período de três a sete anos. Aqueles que desejam se subespecializar têm ainda que passar por uma experiência supervisionada de mais dois a três anos (“fellowship”) (4) . MATERIAIS E MÉTODOS Para encontrar informações sobre os assuntos abordados e sobre o método de ensino para introduzir os estudantes de medicina à cirurgia e à técnica operatória nas escolas de medicina dos EUA foram utilizados sites de busca, principalmente a ferramenta de busca do Google (www.google.com.br)(5). O Google é um buscador de fácil acesso e o que traz o maior número de endereços eletrônicos relacionados às palavras-chave, quando comparado com outros sítios de busca. Além disso, o Google possui um sistema de hierarquização dos sítios encontrados, de maneira que vem nos primeiros lugares os endereços mais importantes e mais prováveis para a busca pretendida. Assim, para se obter as informações pretendidas, utilizamos as seguintes palavras-chave: teaching surgical technique & introduction to surgery school of medicine usa in third year; surgical clerkship medicine usa; core curriculum third year clerkship. Apesar de criteriosa busca, obtivemos dados consistentes em 17 sítios de escolas médicas de forma direta ou indireta, ou seja, dados relacionados às faculdade de medicina. Nestes sítios, nos quais constavam informações sobre Ensino de Introdução à Cirurgia e à Técnica Operatória, procuramos obter as respostas às seguintes perguntas: 1. Há uma disciplina separada, especial, somente 47 O ensino de introdução à cirurgia nos Estados Unidos da América (EUA)... - Marcus Vinicius H. de Carvalho e cols. para o ensino de introdução à cirurgia? 2. Quanto tempo é gasto para o ensino de introdução à cirurgia e técnica operatória? 3. Quais os temas teóricos abordados e ministrados e de que maneira essas informações são transmitidas? 4. As aulas práticas são dadas de que maneira? Somente em laboratórios ou os estudantes já são introduzidos às atividades cirúrgicas de enfermaria, pronto-socorro e salas de operações? 5. Quais os assuntos abordados em aulas práticas? 6. Quais as táticas usadas para o ensino de temas práticos? Uso de suínos? Cadáveres de animais? Manequins? Material sintético? RESULTADOS Os autores puderam constatar que não há uma disciplina individualizada para o ensino de técnica operatória nas escolas de medicina dos EUA. Os estudantes são introduzidos às noções iniciais de cirurgia através de um estágio de oito semanas que consta de uma imersão nas atividades de enfermaria e de ambulatório de pacientes da cirurgia geral e no centro cirúrgico. O objetivo desse estágio é que os estudantes aprendam a fazer história clínica, exame físico dirigido e interpretação dos exames dos pacientes internados para tratamento operatório, além de ensiná-los a circular no ambiente cirúrgico. Esse estágio é feito em pequenos grupos de estudantes. Nesse mesmo estágio, algumas escolas de medicina dão um treinamento em laboratório em suturas e nós cirúrgicos. Em outras escolas não há este treinamento de laboratório e os alunos aprendem suturas e nós cirúrgicos durante as operações de cirurgia geral. Esse estágio introdutório é seguido por outro estágio de oito QUADRO I* Assuntos mais frequentemente abordados nas escolas de medicina dos EUA no estágio de Introdução à Cirurgia Pneumotórax, Drenagem Torácica (Alabama, Cornell, Duke, Indiana, Jacksonville, Maryland, N. York) Sutura e Nós cirúrgicos (Alabama, Hopkins, Maryland, N.York, Temple, Nevada) Trauma e Reanimação (Cornell, Indiana, Jacksonville, Maryland, Washington) Acesso Venoso e Cateter Venoso Central (Alabama, Cornell, Duke, Hopkins, Indiana) Abdome Agudo (Cornell, Jacksonville, Maryland, Nevada, Washington) Cuidados com as Feridas (Duke, Hopkins, Jacksonville, Maryland) Cuidados Críticos no Paciente Cirúrgico/Pós-Operatório (Duke, Kentucky, Nevada) Doença Hépato-Biliar/Icterícia (Jacsonville, Maryland) Intubação/Ventilação Mecânica (Alabama, Cornell) Choque (Jacksonville, Maryland) Laparoscopia/Videocirurgia (N.York, Temple) Sondagem Gástrica e Vesical (Alabama, Hopkins) Nutrição e Cirurgia (Indiana, North Dakota) Infecção e Sepse (Jacksonville, Maryland) Cuidados com Ostomias (Alabama, Indiana) Hemorragia Digestiva (Jacksonville, Washington) *Os sítios das escolas de medicina citadas estão relacionados em ordem alfabética e de citação nas Referências bibliográficas. Perspectivas Médicas, 20(2): 45-50, jul. / dez. 2009 48 O ensino de introdução à cirurgia nos Estados Unidos da América (EUA)... - Marcus Vinicius H. de Carvalho e cols. semanas com rodízio nas cirurgias especializadas. Pelas informações obtidas, os conhecimentos teóricos são transmitidos principalmente em reuniões para resolver problemas em pequenos grupos duas vezes por semana (método “PBL”). Entretanto, há também aulas tradicionais uma vez por semana. No Quadro I estão colocados os assuntos que foram mais frequentemente citados no currículo das faculdades de medicina americanas nas aulas. Os autores observaram que várias escolas médicas adotam de um a dois livros-texto de cirurgia e instruem os alunos a estudarem o assunto nesses livros antes das aulas. Com relação ao ensino da técnica operatória encontramos informação que em algumas escolas de medicina há um treinamento em laboratório, abordando suturas e nós cirúrgicos. Em outras escolas não há este treinamento de laboratório e os alunos aprendem suturas e nós cirúrgicos durante as operações de cirurgia geral. Neste estágio inicial do estudante em cirurgia eles são colocados em setores que realizam as operações mais simples e comuns (“bread and butter general surgery”). Com relação às aulas práticas no laboratório os autores quiseram saber como está sendo ensinada a realização de suturas e nós cirúrgicos nas escolas americanas: usam partes de cadáveres de animais como tórax de aves ou língua de bovino (como nas escolas de medicina do Brasil) ou usam material sintético?; apresentam a sonda nasogástrica ou a sonda de Folley para os alunos ou fazem os procedimentos em manequins?; ou, ainda, não há explicações em manequins e o ensino é do tipo “aprender fazendo”? Entretanto, essas informações não puderam ser obtidas satisfatoriamente. Todas as faculdades de medicina têm a preocupação de mostrar aos alunos que o exercício da cirurgia tem que ser feito com altruísmo (respeito ao paciente, senso de compaixão e honestidade na proposição do tratamento cirúrgico explicando ao paciente, inclusive, outras alternativas de tratamento, por exemplo, tratamento via videocirurgia, tratamento endoscópico, etc). Os autores notaram que as escolas de medicina dos EUA dão uma ênfase especial a esses aspectos (consta no currículo de todas as faculdades informações demonstrando que as instituições procuram logo no início do estágio enfocar com veemência essas questões éticas). Várias faculdades inclusive citam em seu sítio que essas questões acima, são observadas pelos professores em cada estudante que passa pelo estágio para nota de avaliação desses estudantes (Quadro II). A avaliação dos alunos é feita considerando os conhecimentos médicos, habilidade do aluno nas relações interpessoais, capacidade de utilizar os conhecimentos das ciências (disciplinas) básicas e a capacidade desses alunos em relacioná-los com o quadro clínico do paciente, além da atitude altruísta durante o estágio (Quadro II). DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Com relação aos assuntos teóricos abordados lá, Perspectivas Médicas, 20(2): 45-50, jul. / dez. 2009 eles são bastante parecidos com os abordados nas nossas escolas de medicina no que tange a introdução a cirurgia. Pelas informações obtidas, os conhecimentos teóricos são transmitidos principalmente em reuniões, por resolver problemas em pequenos grupos (método “PBL”). Com relação ao ensino prático de técnica operatória os autores imaginaram que nos EUA, país conhecido por tecnologia avançada, houvesse em todas as faculdades de medicina grande quantidade de recursos audiovisuais, de informática, manequins, etc. Entretanto, a julgar pelas informações obtidas nos sítios das faculdades de medicina isso não é o habitual, sendo que em algumas escolas médicas nem há ensino de suturas e nós cirúrgicos em laboratório, tendo os alunos que aprender isso durante as cirurgias de pacientes, similar ao observado em instituições consideradas de ponta em ensino médico (1). Por outro lado, há grande possibilidade de contato supervisionado do aluno com o paciente, pois há um grande número de hospitais afiliados às escolas médicas, de modo que os estudantes podem ser distribuídos pelos vários hospitais(3). A avaliação dos alunos é feita considerando os conhecimentos médicos, habilidade nas relações interpessoais, capacidade de utilizar os conhecimentos das ciências (disciplinas) básicas e a capacidade desses alunos em relacioná-los com o quadro clínico do paciente, além da atitude altruísta durante o estágio. Assim, baseado nestes achados, pode-se concluir que o método mais usado é o do ensino baseado em resolução de problemas e que de certa forma há uma semelhança entre os assuntos teóricos abordados nas faculdades de medicina americanas e nas faculdades brasileiras, não havendo também indícios de que sejam usados altos recursos tecnológicos para apoio ao ensino (6-17). Nos EUA, existe também no currículo médico de várias escolas um curso de suturas e nós cirúrgicos em várias faculdades de medicina, sendo que em algumas delas os estudantes já são introduzidos a participar das operações como auxiliares e, assim, aprendem de maneira direta as técnicas de escovação, paramentação, técnica estéril e suturas. Assim, a maneira americana de ensino com este treino para resolver problemas (método “PBL”) pode ser uma ferramenta de ensino muito útil também para nós. Além disso, a ênfase dada nas escolas americanas no exercício da cirurgia com altruísmo e profissionalismo, aspectos considerados para nota de avaliação do aluno, na opinião dos autores deve ser praticada aqui. Estes resultados nos permitem ponderar sobre as características positivas entre os dois métodos de ensino citados neste estudo. É importante ressaltar que os autores se embasaram no ensino médico americano, pelo fato de que a cirurgia naquele país é considerada uma ciência muito avançada. Além disso, ressaltamos que não houve por parte dos autores a intenção de recomendar a transferência do método americano de introdução à cirurgia para as escolas brasileiras. Os autores acham que, conhecendo o método de ensino em países avançados, podemos propiciar valiosas 49 O ensino de introdução à cirurgia nos Estados Unidos da América (EUA)... - Marcus Vinicius H. de Carvalho e cols. QUADRO II Objetivos do estágio em introdução à cirurgia nas Escolas dos EUA com relação ao altruísmo. Ao final do estágio os alunos devem estar aptos para demonstrar: Compaixão no tratamento dos pacientes e respeito à privacidade e dignidade deles; Honestidade e integridade em todas interações com os pacientes e suas famílias; Entendimento e respeito às críticas e contribuições feitas por outros profissionais envolvidos no tratamento como anestesiologistas, radiologistas intervencionistas, intensivistas, enfermagem, etc; Habilidade para trabalhar com esses profissionais de maneira colaborativa; Compromisso nas responsabilidades, incluindo preparação das discussões clínicas, preparação das visitas, pontualidade e responsabilidade no cumprimento das tarefas; Maturidade emocional e apropriada para resolver situações de conflito. mudanças no currículo médico brasileiro, incrementando a qualidade do ensino, o que poderá certamente também diminuir o número de erros médicos e processos contra médicos. 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Armando Antico Filho, FMJ, Jundiaí - SP. Ary Domingos do Amaral, FMJ, Jundiaí - SP. Augusto Dutra Junior, FMJ, Jundiaí - SP. Ayrton Cássio Fratezi, FMJ, Jundiaí - SP. Célia Martins Campanaro, FMJ, Jundiaí - SP. Clóvis Antônio Lopes Pinto, FMJ, Jundiaí - SP. Dagoberto Telles Coimbra, FMJ, Jundiaí - SP. Edna M. Cappi Maia, FMJ, Jundiaí - SP. Emilio Telesi Junior, FMJ, Jundiaí - SP. Evaldo Marchi, FMJ, Jundiaí - SP. Fernando Claret Alcadipani, FMJ, Jundiaí - SP. Flávio Alterthum, FMJ, Jundiaí - SP. Francisco G. Alcântara, FMJ, Jundiaí - SP. Hélio A. Lotério, FMJ, Jundiaí - SP. Ikurou Fujimura, FMJ, Jundiaí - SP. Itibagi Rocha Machado, FMJ, Jundiaí - SP. Jalma Jurado, FMJ, Jundiaí - SP. José Carlos Figueiredo Brito, FMJ, Jundiaí - SP. José Carlos Pereira Junior, FMJ, Jundiaí - SP. José Eduardo Martinelli, FMJ, Jundiaí - SP. José Hugo de Lins Pessoa, FMJ, Jundiaí - SP. Lenir Mathias, FMJ, Jundiaí - SP. Lia Mara Rossi Ferragut, FMJ, Jundiaí - SP. Luciano Gonçalves Nina, FMJ, Jundiaí - SP. Luiz P.W.C. Vasconcelos, FMJ, Jundiaí - SP. Marco Antonio Dias, FMJ, Jundiaí - SP. Marco Antonio Herculano, FMJ, Jundiaí - SP. Maria das Graças B. F. Evangelista, FMJ, Jundiaí - SP. Marta B.C. De Sartori, FMJ, Jundiaí - SP. Paulo Rowilson Cunha, FMJ, Jundiaí - SP. Reinaldo V.B. Miranda, FMJ, Jundiaí - SP. Ricardo Porto Tedesco, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Anania de Paula, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Focaccia, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Teixeira, FMJ, Jundiaí - SP. Rodrigo Paupério S. de Camargo, FMJ, Jundiaí - SP. Rogério Bonassi Machado, FMJ, Jundiaí - SP. Saulo Duarte Passos, FMJ, Jundiaí - SP. Sérgio Gemignani, FMJ, Jundiaí - SP. Simone Naomi Isuka, FMJ, Jundiaí - SP. Zuleica Caulada Benedetti, FMJ, Jundiaí - SP. Perspectivas Médicas, 20(2): 45-50, jul. / dez. 2009