Relação teórico-prática: a abordagem humanista no ensino superior

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Relação teórico-prática: a abordagem humanista no ensino superior
Relação teórico-prática: a abordagem
humanista no ensino superior a distância
do Centro Universitário Claretiano
Gabriela Dias Pires1
Resumo: O artigo trata da utilização da abordagem didática humanista na EAD, mais
especificamente no ensino superior do Centro Universitário Claretiano, pois na minha
prática como tutora da instituição encontro as seguintes características enfatizadas por
Freire (1979, 2007) e Rogers (1989): preocupação com as peculiaridades e experiências
de vida dos alunos, integração professor-aluno, diálogo, cooperação e colaboração, autonomia, liberdade, professor como mediador/facilitador. Procuro mostrar que para colocar em prática essa abordagem é necessária a adequação dos docentes, ou seja, é necessário
que compreendam que a relação professor-aluno vai além do campo intelectual, atingindo o campo pessoal - o aluno tem que ser visto como um todo, ou seja, compreendido
em suas dimensões bio-psico-social -, pois apenas assim cria-se um vínculo afetivo que
é extremamente importante para um processo ensino-aprendizagem significativo e de
qualidade.
Palavras-chave: EAD. Ensino superior. Relação professor-aluno. Abordagem humanista.
Orientadora: Hilda Maria G. da Silva Garcia. Doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Graduada em História pela Faculdade de História, Direito e
Serviço Social. Docente do Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP) nos cursos de graduação e pósgraduação. E-mail: <[email protected]>.
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Mestre em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Psicanálise (PUC/SP). Especialização em Docência no
Ensino Superior. Aprimoramento teórico e prático concluído em Ludoterapia (EPPA). Docente no Centro
Universitário Claretiano de Batatais (SP). E-mail: <[email protected]>.
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1. Introdução
A globalização traz mudanças sociais, políticas, econômicas, culturais e educacionais.
No âmbito educacional a rápida e constante evolução tecnológica
exige uma quebra do paradigma: a substituição do modelo tradicional de
ensino pelo modelo centrado na educação flexível, aberta, autônoma e interativa.
Tradicionalmente, a aprendizagem de informações e conceitos era
tarefa exclusiva da escola...O espaço e o tempo de ensinar eram determinados. “Ir à escola” representava um movimento, um deslocamento
até a instituição designada para a tarefa de ensinar e aprender. O “tempo da escola” também determinado, era considerado como o tempo
diário que, tradicionalmente, o homem dedicava à sua aprendizagem.
Correspondia também, na sua história de vida à época que o homem
dedicava à formação escolar. As velozes transformações tecnológicas
da atualidade impõem novos ritmos e dimensões à tarefa de ensinar
e aprender. É preciso estar em permanente estado de aprendizagem e
de adaptação ao novo. (KENSKI, 2009, p. 29-30).
Diante desse cenário, a educação a distância pode ser considerada
uma forma de adaptação das universidades ao novo, ou seja, ao mundo
globalizado. Como tutora do Ceuclar, há cinco anos, penso que não estamos mais em tempos de questionar a viabilidade ou não da utilização do
ensino a distância, mas de quebrar o paradigma e mostrar que podemos
sim fazer um trabalho pedagógico de qualidade com o uso da tecnologia.
A princípio, no meu trabalho no Centro Universitário Claretiano,
devido a minha formação em Psicologia, fui invadida por uma questão,
para mim, angustiante: “Será que é levado em consideração, no mundo
virtual, o aluno como sujeito dotado de uma história de vida, dotado de
peculiaridades, de singularidade? Se isso é levado em conta, como colocar
em prática?”. Aos poucos, ao entrar em contato com o universo da educação a distância essa angústia se aplacou totalmente, pois na prática per-
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cebo que a relação humana professor-aluno não está “perdida no mundo
virtual”, fazendo-se presente nos portfólios, listas, fórum, emails e nos
momentos dos encontros presenciais que sustentam o vínculo afetivo construído a distância.
Assim, o meu percurso na instituição evidencia que o uso da tecnologia
não provoca a substituição dos tutores, mas exige que as relações pedagógicas sejam alteradas, ou seja, os envolvidos no processo educacional, alunos e
tutores, precisam assumir novos papéis, atitudes e responsabilidades.
Na escrita do artigo, remeto-me constantemente à prática, embasando-me teoricamente em autores que falam sobre a abordagem humanista Freire (1979, 2007) e Rogers (1989) - e também em autores que abordam
a EAD - Kenski (2009), Oliveira e Villardi (2005) e Gonzales (2005).
2. Abordagem Humanista: Paulo Freire e
Carl Rogers
Para compreender a abordagem humanista, respaldei-me teoricamente nas leituras de Paulo Freire (1979, 2007) e Rogers (1989).
Destaco abaixo características importantes da abordagem desses autores.
2.1 Paulo Freire e a pedagogia libertadora:
Freire (2007) refere-se à postura do educador adotada em relação ao
educando na qual os alunos são tratados como “depositários de conteúdo”,
são “depósitos” do educador. Desse modo, critica a denominada “educação
bancária” que consiste em depositar o conhecimento na mente do aluno,
como se este fosse acrítico, afirma que a consciência bancária só forma “[...]
indivíduos medíocres, porque não há estímulo para a criação” (FREIRE,
1979, p. 17). Assim, ele discorda de qualquer proposta “[...] transmissora
de conhecimento” onde apenas um sujeito da relação professor-aluno, no
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caso o professor, sabe e transmite o saber ao aluno.
O autor fala sobre o sujeito como construtor do próprio conhecimento: ele acreditava no potencial de transformação e na capacidade do
homem intervir em seu meio. Segundo ele: “A educação, portanto, implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve
ser o sujeito da sua própria educação [...]” (FREIRE, 1979, p. 28).
A partir daí, verifica-se que Freire (2007) aborda a necessidade da
transformação da situação opressora do ensino em que o educador deixa
de manipular o educando: ambos, educador e educando são considerados
sujeitos do processo ensino-aprendizagem. Evidencia-se, então, que não
temos mais a relação líder (educador) e oprimido (educando), revelando
a existência de uma abordagem humanista, de uma educação libertadora
que se pauta em um educador que busca ser com o educando, que preza pela conciliação educador-educando, pelo companheirismo, pela
comunicação, pelo diálogo, que se preocupa em ouvir, exercitar a ética
democrática para que o aluno se constitua enquanto pessoa e cidadão.
Segundo Freire, essa abordagem só se dá por meio do diálogo, pois
com ele:
[...] se opera a superação de que resulta um novo termo: não mais
educador do educando, não mais educando do educador, mas educador-educando com educando-educador. Desta maneira, o educador
já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado,
em diálogo com o educando, que ao ser educado, também educa.
Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos... (FREIRE, 2007, p. 78-79).
Verifica-se, portanto, que o diálogo é imprescindível já que por meio
dele se dá a comunicação e o encontro dos homens. Ressalto que esse “[...]
diálogo, como encontro dos homens para a tarefa comum do saber agir,
se rompe, se seus pólos (ou um deles) perdem a humildade” (FREIRE,
2007, p. 93).
Discorrendo sobre a educação dialógica de Freire temos que:
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Se a educação é dialógica, é óbvio que o papel do professor, em
qualquer situação, é importante. Na medida em que ele dialoga com
os educandos, deve chamar a atenção destes para um outro ponto
menos claro, mais ingênuo, problematizando-os sempre. O papel do
educador não é o de “encher” o educando com “conhecimento” de
ordem técnica ou não, mas sim o de proporcionar, através da relação
dialógica educador-educando, a organização do pensamento correto
de ambos (GONZALES, 2005, p. 85-86).
Quando Gonzales (2005) nos fala acima da importância de problematizar a realidade podemos pensar no que Freire (1979, 2007) coloca
sobre a questão do compromisso do profissional da educação com a sociedade: o educando está inserido num contexto sócio-histórico-cultural
no qual constrói seu eu por meio das relações interpessoais, assim, cabe ao
profissional conhecer a realidade dele, desvelar essa realidade para conhecê-la, refletir criticamente sobre ela e recriá-la. Portanto, fica claro que
para o autor o problema da educação não é exclusivamente pedagógico,
mas envolve também questões sociais, históricas, culturais e políticas. Mas
para que o educador se comprometa com a sociedade/com o educando
precisa “[...] atuar, operar, transformar a realidade de acordo com finalidade propostas pelo homem, à qual está associada sua capacidade de refletir, que o faz um ser de práxis” (FREIRE, 1979, p. 17).
2.2 Carl Rogers e a abordagem centrada na pessoa
Carl Rogers tem formação em psicologia, desenvolve na clínica com
seus pacientes a Abordagem Centrada na Pessoa/Terapia Centrada no
Cliente. De acordo com essa abordagem:
Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para auto-compreensão e para modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e
de seu comportamento autônomo. Estes recursos podem ser ativados
se houver um clima, passível de definição, de atitudes psicológicas facilitadoras. (ROGERS, 1989).
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Ainda de acordo com essa abordagem todo ser humano é essencialmente bom e possui força interna que possibilita a resolução dos seus
problemas, mas precisa de ajuda para resolvê-los, na situação clínica essa
ajuda provém do terapeuta.
O autor verifica na prática a eficiência da Abordagem Centrada na
Pessoa/Terapia Centrada no Cliente e estende-a para a Educação. Portanto, a teoria humanista de Rogers é decorrente de sua prática em psicoterapia.
Sobre a aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa no âmbito educacional Rogers (1989, p. 79), diz :
Se considero meus clientes como pessoas dignas de confiança e basicamente capazes de se descobrirem e de guiarem suas vidas em um
ambiente que sou capaz de criar, porque não posso criar o mesmo
tipo de clima para alunos graduados e incentivar o processo da aprendizagem autodirigida?
Segundo Rogers (1989, p. 73) “[...] as experiências de vida, o clima
psicológico da sala de aula, a integração professor/tutor-aluno são fatores
importantes para a aprendizagem”. Ele também destaca a autonomia na
educação.
Rogers (1989) cita as condições fundamentais que podem ser verificadas quando a aprendizagem centrada na pessoa se desenvolve na escola,
na faculdade ou na pós-graduação:
• Precondição: necessidade de ter um “[...] líder ou uma pessoa
que é considerada como figura de autoridade numa dada situação [...]”
(ROGERS, 1989, p. 78). Segundo o teórico, temos aqui a figura do
facilitador que é essencial para que os outros aspectos que elenco baixo
se efetivem.
• O aluno e o grupo serem responsáveis pelo processo de aprendizagem:
“A pessoa facilitadora compartilha com os outros alunos [...] a responsabilidade pelo processo de aprendizagem” (ROGERS, 1989, p. 78).
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• Motivação, estimulação dos alunos pelo facilitador:
O facilitador proporciona os recursos de aprendizagem de dentro
de si mesmo e de sua própria experiência, de livros, materiais ou de
experiências da comunidade. Ele estimula os que aprendem a irem
acrescentando os recursos de que têm conhecimento ou experiência.
Ele abre pistas para recursos, que vão além das experiências do grupo
((ROGERS, 1989, p. 78).
• Levar o aluno a ter autonomia no processo ensino-aprendizagem,
assumindo as responsabilidades em relação a ele, pois ao desenvolver seu “[...] próprio programa de aprendizagem, sozinho ou
em cooperação com o outro... ele toma decisões quanto a direção
da própria aprendizagem e assume responsabilidades pelas conseqüências destas escolas” (ROGERS, 1989, p. 78).
• Proporcionar um clima facilitador de aprendizagem para que se
aprenda com o outro, na relação com o outro:
Este clima pode provir inicialmente da pessoa que é percebida como
líder. Na medida em que o processo de aprendizagem continua, esse
clima será cada vez mais proporcionado pelos participantes, uns em
relação aos outros. Aprender através dos outros torna-se tão importante quanto através de livros, filmes, experiências comunitárias ou
do facilitador (ROGERS, 1989, p. 78).
• Autodisciplina: “A disciplina necessária para alcançar os objetivos dos alunos é a autodisciplina, que será reconhecida e aceita
pelo estudante co o sendo de sua própria responsabilidade”
(ROGERS, 1989, p. 79).
No que se refere à aprendizagem centrada na pessoa, Rogers (1989,
p. 79), afirma:
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Neste clima que promove o crescimento, a aprendizagem é mais profunda e se desenvolve num ritmo mais rápido, sendo mais útil para
a vida e para o comportamento do aluno, do que a aprendizagem
adquirida na sala de aula tradicional. Isto acontece porque a direção
é auto-escolhida, a aprendizagem é autodidata e a pessoa como um
todo, com sentimentos e paixões tanto quanto com o intelecto, é envolvida no processo.
2.3 A Abordagem humanista na EAD do Claretiano
Na EAD do ensino superior do Ceuclar, pude compreender que há
uma educação humanista, pois na prática encontro características enfatizadas por Freire (1979, 2007) e Rogers (1989): as peculiaridades e experiências de vida dos alunos, integração professor-aluno, diálogo, cooperação e colaboração, autonomia, liberdade, professor como mediador/
facilitador.
Abordo abaixo cada um desses aspectos da educação humanista, explicando o porquê estão presentes na EAD do Claretiano.
O diálogo está presente na nossa instituição, pois os alunos e os tutores não se fecham à contribuição do outro: há troca de saberes e essa
ocorre por meio dos fóruns, portfólios e lista: nos fóruns os alunos discutem determinado assunto, contando com a intervenção do tutor para
orientar a discussão; no portfólio o tutor corrige as atividades dos alunos,
postando uma devolutiva em relação ao conteúdo; e na lista, geralmente,
há troca de mensagens entre alunos e entre alunos e professores sobre
dúvidas e informações mais gerais. Portanto, verifica-se que não há lugar
para a auto-suficiência que é incompatível com o diálogo. Podemos dizer
que há uma separação física entre aluno-tutor, aluno-aluno, mas isso não
implica a inexistência de relações e diálogo entre as pessoas.
No curso de licenciatura em Pedagogia temos recursos didáticos que
valorizam as relações democráticas, podemos ver isso:
- nos Projetos de Prática onde há pesquisas de campo: “Essas atividades se articulam com os fundamentos da prática, buscando estabelecer
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uma relação dialógica entre quem ensina e quem aprende”. (Projeto Político Pedagógico - Curso de Licenciatura em Pedagogia, p.64).
- nas discussões em grupo no dia do encontro presencial que ocorre
a Atividade Intermediária;
- no fórum discutimos determinado assunto relacionado ao conteúdo da disciplina, os alunos são os principais personagens dessa ferramenta,
pois eles trocam ideias, conteúdos entre si, contando sempre com a intervenção do tutor para orientar a discussão
-AACC (Atividades Acadêmico-Científico-Culturais):
[...] participação em oficinas, palestras e colóquios e eventos científicos como simpósios, congressos, seminários, encontros de iniciação
científica, publicações pessoais, excursões científicas, entre vários
outros. Além disso, o aluno pode participar de exposições, assistir a
filmes e ler livros pertinentes a seu curso. (CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO, s.d., p. 65).
Os nossos alunos são levados a construir o conhecimento. No Projeto
Educativo Claretiano está claro que o educador Claretiano deve estimular o desenvolvimento da capacidade criativa e do espírito reflexivo para
formarmos sujeitos críticos e reflexivos: “A educação [...] humaniza, personaliza e socializa a pessoa, preparando-a para atuar de forma crítica e responsável [...]” (PIVA et al, s.d., p.16). Mas como colocar isso em prática?
Isso é colocado em prática:
- ao orientamos nosso alunos a pesquisar, estudar, informar-se, instruir-se e não apenas “assistir aula”, limitando-se ao conteúdo que o professor transmite, pois apenas assim ele tem uma postura crítico-reflexiva,
indo além do que é ensinado pelo professor, superando a visão simplista
do conhecimento e construindo um conhecimento significativo;
- ao orientarmos os alunos a usarem adequadamente as ferramentas da SAV (fórum, portfólio, lista, material de apoio, videos), pois elas
propiciam autonomia, a construção do próprio conhecimento. Se temos
a subutilização da autonomia pelos alunos o resultado é um retrocesso,
“[...] mantendo-os presos a um determinismo técnico [...]”. (OLIVEIRA
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e VILLARDI, 2005, p. 47). Assim, vê-se que é essencial que o aluno seja
autônomo, assuma seu processo ensino-aprendizagem e seja autor do seu
próprio conhecimento.
Gonzales apud Rogers (2005, p. 81-82), fala sobre a importância
de existir um ambiente propício para que o aluno seja autônomo na construção do seu conhecimento:
Rogers enfatiza os aspectos dinâmicos e ativos do ensino que reforçam
o processo de interação na aprendizagem e considera o aluno capaz de
autodirecionar-se, desde que em ambiente em ambiente propício e interessante. Portanto, é fundamental que o tutor seja capaz de utilizar
estratégias psicopedagógicas e técnicas diversificadas, bem como alternativas de previsão, conhecimento e intervenção nos âmbitos e locais
adequados.
Mas para que o aluno seja autônomo e construa seu conhecimento
o tutor precisa motivá-lo, provocá-lo, estimulá-lo para que ele atinja os
objetivos esperados. Segundo Oliveira (2005, p. 5):
[...] a interação mediada pela virtualidade, embora prescinda do contato face-a-face, mantém características fundamentais do outro tipo
de interação (presencial), como a estimulação recíproca da motivação
[...].
O professor estimula, provoca, motiva o aluno em relação ao objeto
do conhecimento ao indicar leituras, postar vídeos, auxiliar os alunos no
planejamento das atividades, promover e provocar a intercomunicação.
Dessa forma, ele articula “[...] a realidade concreta e o grupo de alunos,
suas redes de relações, visão de mundo, percepções e linguagens de modo
que possa acontecer o diálogo entre o mundo dos alunos e o campo a ser
conhecido” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 215). Segundo o
Projeto Educativo Claretiano “A motivação, a orientação e o acompanhamento que o educador claretiano realiza representam a chave para o êxito
ou fracasso na consecução dos objetivos educacionais, culturais e didáti 106
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cos (PIVA et al, s.d., p. 18).
Para exercer o fascínio dos aprendizes e mantê-los atentos, motivados
e orientados, é necessário captar sua atenção, demonstrando domínio
das ferramentas de trabalho que serão utilizadas na tutoria... O tutor, tal qual os pais, deve, dentro de suas limitações temporais, estar
pronto para ouvir, apóias e orientar o aluno quando ele solicitar. Sem
essa disponibilidade, o fio se rompe, dificultando a retomada da relação pedagógica em níveis satisfatórios. A falta de confiança no tutor,
o desamparo sofrido pelo aprendiz num determinado momento de
sua jornada, em geral causa a evasão definitiva e no desapontamento
indesejável por parte dos envolvidos no sistema educacional (GONZALES, 2005, p. 84).
Verifica-se, então, na EAD que não temos um aluno solitário, pois há
uma relação de cooperação e colaboração entre tutor e aluno/aluno aluno,
levando a transformação da informação, ou seja, ao conhecimento. Assim,
temos o aprender junto: a aprendizagem é construída coletivamente.
Para que se apreenda o conteúdo é fundamental a participação conjunta dos alunos e dos professores, sendo isso verificado no Centro Universitário Claretiano tanto no Projeto Educativo Claretiano quanto na
SAV. No Projeto Educativo Claretiano temos explicitado a relação entre
educadores e alunos onde ambos são responsáveis pelo desenvolvimento
do trabalho: “O Projeto Educativo Claretiano envolve [...] participação ativa e compartilhada entre educadores e alunos [...]” (PIVA et al , s.d., p. 6).
O contexto sócio-cultural dos alunos do EAD é considerado, há uma
preocupação dos Educadores Claretianos com a realidade dos educandos,
o Projeto Educativo Claretiano “[...] contém orientações para superar
problemas no decorrer do trabalho educativo, voltado para a realidade
específica” (PIVA et al , s.d., p. 5). Nós, professores, levamos em consideração a realidade na qual eles estão inseridos, pois confrontamos e relacionamos o conteúdo com a realidade do aluno.
A partir das leituras realizadas e da minha prática, como tutora no
Ceuclar, afirmo que para que se instale uma educação humanista na moEducação a Distância, Batatais, v. 1, n. 1, p. 97-112, jan./jun. 2011
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dalidade educação a distância precisamos, em termos de relações interpessoais, nos adequar e ter sempre em mente que por de trás das telas dos
computadores temos seres humanos.
Kenski (2009) afirma que para compreendermos o novo mundo da
educação - a educação a distância caracterizada pelas tecnologias eletrônicas e de comunicação e informação - é preciso ter sensibilidade. Na prática, aprendi que essa sensibilidade se faz presente quando vamos além do
domínio das novas tecnologias educativas, considerando o aluno na sua
dimensão humana, como uma pessoa dotada de singularidade. Segundo
Gonzales (2005, p. 81):
[...] conhecer a realidade de seus alunos em todas as dimensões (pessoal, familiar e escolar) é de fundamental importância para que, de
algum modo, ofereça possibilidades permanentes de diálogo, sabendo ouvir, sendo empático e mantendo uma atitude de cooperação, e
possa proporcionar experiências de melhoria de qualidade de vida, de
participação, de tomada de consciência e de elaboração dos próprios
projetos de vida.
Trabalho como tutora do Claretiano há cinco anos e durante esse
período recebi muitas mensagens de alunos na lista, telefonemas, solicitando ajuda não apenas quanto à dificuldade de compreensão de conteúdo, mas
também em relação a questões pessoais que, inevitavelmente, estavam prejudicando no processo ensino-aprendizagem. Como sou formada em psicologia, tenho clareza da importância de lidar com as angústias do ser humano,
penso que todos os tutores deveriam procurar lidar com essas questões, orientando os alunos para que eles tenham um melhor rendimento. Segundo
Gonzales (2005, p. 85):
Embora não seja terapeuta, o tutor precisa fundamentalmente se continente, controlando as angústias e necessidades que possam emergir
do grupo tutorado, assim como conter suas próprias angústias diante
dos sentimentos, dúvidas e outros fenômenos emergentes do dinâmico processo de ensino-aprendizagem.
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Considero que essa postura é extremamente importante para o processo ensino-aprendizagem, pois a compreensão das peculiaridades de
cada aluno é essencial: muitas vezes os alunos são prejudicados no processo ensino-aprendizagem por questões pessoais e emocionais, mas se
somos capazes de compreendê-las e orientar os alunos os mesmos podem
superá-las, envolvendo-se no processo educacional. Sendo assim, os educadores envolvidos na tutoria em EAD precisam:
[...] romper velhos paradigmas e abraçar a missão de educar sem
medo, sem o receio de se aproximar demais, de estreitar laços de afeto
e, sobretudo, sem o excessivo pudor de exercer por amor a sutil arte
de seduzir pedagogicamente e que esperam com avidez pelo saber libertados (GONZALES, 2005, p. 86).
Portanto, é “[...] essencial que o tutor exerça sua práxis em duas
direções: valorizando as necessidades do aluno tanto quanto os conteúdos
de ensino” (GONZALES, 2005, p. 81).
3. CONCLUSÃO
Na abordagem educacional a distância, é preciso que o professor encaminhe, oriente e motive o aluno, levando em conta sua dimensão biopsico-social.
Para isso, temos que buscar nas “[...] nossas fundamentações teóricas
e nas experiências vividas anteriormente as bases para iniciar o movimento
de ser esse novo professor” (KENSKI, 2009, p. 142), devendo-nos indagar constantemente sobre o nosso exercício docente, pois nossa formação
ocorre continuamente durante o percurso acadêmico:
[...] com base nos moldes teóricos estudados, vividos, aprendidos
e assumidos na prática, em todo nosso percurso acadêmico - como
aluno e professor- que vamos construindo nossos modelos, muito
particulares, de ser professor. Esse modelo permeia nossa didática em
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cursos presenciais e está presente também nas aulas virtuais (KENSKI, 2009, p. 141).
De acordo com Kenski (2009, p. 142-143), na educação a distância, ao contrário do que vulgarmente se pensa, “[...] os conhecimentos teóricos e técnicos não são as partes mais difíceis de ser aprendidas e
compreendidas, quando se ensina a distância em ambientes virtuais [...]”.
Segundo a autora a preocupação está em tentar compreender a fundamentação que orienta a prática docente, embasada teoricamente, e que reflete
na maneira como o professor pensa, age e sente no processo de ensinar.
Na minha prática docente percebi que a fundamentação teórica que
me respalda é a abordagem humanista. Ressalto que Carl Rogers (1989)
e Paulo Freire (2007, 1989) não escreveram nada específico sobre o processo ensino-aprendizagem na realidade virtual, mas a teoria deles está
presente no meu modo se ser, pensar e agir profissionalmente quando:
motivo os alunos; o estabeleço com eles uma parceria na construção do
conhecimento; propicio a autonomia/a construção do próprio conhecimento; valorizo as relações democráticas por meio dos fóruns, das atividades de prática e das discussões em grupo no dia do encontro presencial
que ocorre a atividade intermediária; preocupo-me em relacionar a teoria com a prática e com a realidade na qual estão inseridos. Atuar dessa
forma permite com que eu abra espaço para a construção da autonomia
crítica-reflexiva do aluno, tornando-o um sujeito ativo que participa da
construção do seu conhecimento.
Termino lembrando que para adotar tal postura é necessário,
como diz Gonzales (2005), ter uma sintonia afetiva com alunos, conquistar a confiança deles, ampará-los quando necessário, ser paciente, tolerante, compreender o ritmo de cada um.
A relação pedagógica conclama uma construção cotidiana. Sozinho
o aprendiz caminha vacilante, perdendo o rumo desejado. Nisso, o
tutor pode ampará-lo, conduzi-lo e encaminhá-lo. À medida que o
processo de aprendizagem se efetiva, a relação do aluno com o tutor
muda, aprofunda-se, estreitando o laço afetivo e propiciando a per-
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meabilidade educativa, uma vez que a Educação deve ser vista sempre como uma prática social ligada à formação de valores e práticas
dos indivíduos para a vida social, com possibilidade de ir em direção
a uma maior autonomia, liberdade e diferenciação. Um caminho e
uma alternativa encontrados pelo tutor em EAD para a consecução
de sua missão educativa é a sedução pedagógica (GONZALES,
2005, p. 80).
REFERÊNCIAS
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Cortez, 2002.
CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO. Projeto Político Pedagógico - Curso
de Licenciatura em Pedagogia. Claretiano: Batatais, s.d.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1979.
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GONZALES, Mathias. A arte da sedução pedagógica na tutoria em EAD. In: Fundamentos da tutoria em educação a distância. São Paulo: Avercamp, 2005.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 7. ed. Campinas: Papirus, 2009.
OLIVEIRA, Gomes. VILLARDI, Raquel. Novas tecnologias e desenvolvimento cognitivo. In: Tecnologia na educação: uma perspectiva sócio-interacionista. Rio de Janeiro:
Dunya, 2005.
PIVA, Sérgio Ibanor et al. Projeto Educativo Claretiano. Claretiano: Batatais, s.d.
ROGERS, Carl. Sobre o Poder Pessoal. São Paulo: Martins Fontes, 3. ed. 1989
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Title: Relationship theory-practice: the humanistic approach in higher education a distance from the center participate Claretiano.
Author: Gabriela Dias Pires.
Abstract: This article is about the use of the didactic approach humanist in ODL,
and more specifically in the higher education of the University Center Claretian, because
in my practice as granted custody of the institution meeting the following characteristics
emphasized by Freire (1979, 2007) and Rogers (1989): concern with the peculiarities
and life experiences of students, integrating teacher-student dialog, cooperation and collaboration, autonomy, freedom, professor as mediator/facilitator.I try to show that to
put into practice this approach is necessary to the adequacy of the teaching staff, in other
words, it is necessary to understand that the teacher-student relationship goes beyond
the intellectual field, reaching the camp staff - the student has to be seen as a whole, that
is, understood in its dimensions bio-psycho-social -, because only thus creates a bond
that is extremely important for a teaching-learning process significant and of quality.
Keywords: EAD. Higher education. Teacher-student relationship. Humanistic approach.
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Educação a Distância, Batatais, v. 1, n. 1, p. 97-112, jan./jun. 2011

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