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1 NO 11 - 2007/1 o jornal.pmd 1 14/11/2008, 10:13 2 NO 11 - 2007/1 Retratos de uma vida virtual O impacto da internet no Br asil e no mundo Brasil Simone Avellar Era época de Guerra Fria. Estados Unidos e população que não tem acesso à internet. Ainda União Soviética viviam tensões que ameaçavam, a há muito espaço para crescer”. qualquer momento, jogar – literalmente - o mundo Em um país que possui 170 milhões pelos ares. Nesse momento, nos EUA, o conceito de habitantes, 45,65% da população já teve acesso a redes de computadores já tinha sido desenvolvido, computadores pelo menos uma vez na vida e 33,2% mas era muito frágil levando-se em consideração o já acessou a internet. O número de internautas que contexto. Até então toda a comunicação da rede possuem acesso domiciliar é de 22 milhões. passava, necessariamente, por um computador A taxa de analfabetismo no Brasil é de 13,3%. central. Se a URSS resolvesse atacar essa base, toda Entre esse grupo, constata-se que apenas 12% dos a informação seria destruída. Os Estados Unidos não analfabetos já utilizaram um computador alguma podiam correr esse risco. vez na vida e 5,67% já acessaram a internet. Em Foi nesse cenário que nasceu, em 1969, a relação às pessoas que cursaram o nível superior esse arpanet, embrião da internet que conhecemos hoje. número sobe para 93% já tendo tido contato com A arpanet foi desenvolvida pela ARPA – Advanced computadores e 86,5% com a internet. Reasearch Project Agency – e teve como grande A faixa etária entre 16 e 24 anos é a parcela novidade uma tecnologia de rede que permitia que que abriga a maior quantidade de internautas, sendo os departamentos se conectassem sem precisar que 58,83% desses jovens já acessaram a internet passar por um centro único. alguma vez. Já entre a população com mais de 60 No Brasil, a história da internet confunde-se anos apenas 3,21% já utilizou a rede. com a da Rede Nacional de Pesquisa, criada em 1989. Entre os que costumam acessar freqüentemente Seu objetivo era o de construir uma a internet, 43,39% a utilizam em casa infra-estrutura de rede internet para e 25,4% em acesso público pago, fins acadêmicos. Em 1995 aconteceu como lan houses. A maioria (69,4%) Por mês a abertura oficial da internet no utiliza a internet para fins pessoais o brasileiro Brasil, estendendo seus serviços de ou privados. Por mês o brasileiro acesso a todos os setores da acessa, em média, 57 sites e gasta acessa, em média, sociedade. praticamente um dia todo (24 horas) 57 sites e gasta Quando a internet ainda na internet. praticamente estava em processo de Em relação a Web 2.0, criada desenvolvimento, bem no seu pelo americano Tim O’reilly para um dia todo início, na década de 80, existiam definer a nova tendência da World (24 horas) mais ou menos 100.000 hosts (cada Wide Web, os brasileiros estão com na internet endereço de IP que designa um tudo: No orkut, somos a maior computador). Em 1996, já havia população cadastrada (55%). No 9.500.000 hosts e 30 milhões de Youtube, dos mais de seis milhões usuários. Hoje, no mundo todo, mais de um bilhão de vídeos armazenados, mais de dois milhões de pessoas já aderiram ao espaço virtual. pertencem à brasileiros, e no fotolog mais de 50% dos Os Estados Unidos lideram o ranking mundial logins (entre aproximadamente oito milhões e meio) como o país que possui maior número de são de brasileiros também. internautas, com 70% (210 milhões) da população A Web 2.0 pressupõe, sobretudo, a devidamente inserida no mundo virtual. O Brasil, interatividade do internauta. Defende-se a criação de nesse mesmo ranking, assume a décima posição, com um ambiente mais dinâmico, no qual os usuários 32,1 milhões de usuários. Ainda que esse número colaborem para a organização do conteúdo. Para isto, possa não parecer muito significativo, é importante a tecnologia utilizada deve ser simples, para que notar uma grande evolução no número de permita que mesmo os usuários com pouco internautas brasileiros desde origem da internet aqui conhecimento sejam capazes de publicar e absorver no país: em 1997, dois anos após a abertura oficial, informações. Entre os sites Web 2.0 podem ser citados: apenas um milhão e meio de pessoas tinham acesso Orkut, Youtube, Wikipedia, Fotolog, Apontador. contínuo à rede. Se existem 32 milhões de internautas no país, Um fator que contribuiu para a significa dizer que mais de 80% da população está popularização da internet foi a explosão das excluída dessa tecnologia. Existem diversos fatores conexões em “banda larga” ocorrida nos últimos que explicam essa exclusão e, entre as maiores anos. Banda larga é o nome utilizado para definir barreiras, está a falta de computadores em casa. as conexões com velocidade acima de 56 kbps, valor Não estar incluído, ou não ter conhecimentos máximo atingido pelas linhas analógicas (modem). da tecnologia da internet nos dias de hoje, pressupõe As tecnologias mais utilizadas para a banda larga o encontro de alguns obstáculos. Dados comprovam são a por telefonia digital, cabo e rádio. A demanda que 80% dos candidatos a estágios sem por internet em alta velocidade no Brasil aumentou conhecimentos de informática não conseguem 81% no ano de 2005 e especialistas na área emprego. Além disso, existem todos os benefícios, acreditam que esse número ainda tende a que uma pessoa sem acesso a internet perde: 72% aumentar. Eduardo Parajo, da Abranet (Associação dos serviços do Governo Federal são oferecidos pela Brasileira dos Provedores de Acesso) fala sobre o internet, sem contar com as facilidades de pesquisa assunto: “O Brasil tem mais de 30 milhões de e comodidades, como as linhas bank line que internautas. E ainda há uma grande parte da permitem o pagamento de faturas online. o jornal.pmd 2 14/11/2008, 10:13 Para acessar o NºZero não é preciso cadastro. A navegação fica por sua conta. No desafio de montar um jornal a cada semestre, com novas pautas e alunos de diferentes períodos, adotamos a Internet como base. O tema já está saturado na grande imprensa, o que nos obrigou a tentar buscar um outro olhar, uma maneira diferente de contar uma história que pode não ser inédita para o leitor. Se na Internet o espaço é ilimitado, aqui nos deparamos com o limite do papel, um limite físico para contar em um jornal o que há de mais virtual na grande rede, como o Second Life, a web-arte e os mitos que circulam via e-mail. A fórmula que encontramos foi cada um explorar uma pauta especial, para tentar fugir do senso comum. Nessa aventura vamos daqueles que fazem da Internet uma necessidade em suas vidas até os que estão na contramão deste processo: excluídos digitais e pessoas que aboliram a web de suas vidas. Nada mais apropriado, para encerrar, do que marcarmos uma continuidade nos blogs pessoais, orkuts e avatares da web. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Reitor Aloisio Teixeira ESCOLA DE COMUNICAÇÃO Direção Ivana Bentes Coordenação do Curso de Jornalismo Ana Paula Goulart Núcleo de Imprensa Elizabete Cerqueira coordenação executiva Cecília Castro programação visual número 11 - 2007/1 Informativo produzido pelos alunos da Escola de Comunicação da UFRJ Orientação acadêmica e de texto Maurício Schleder Paulo Roberto Pires Coordenação editorial André Motta Lima Coordenação gráfica e design Cecília Castro Assessoria de Imprensa Elizabete Cerqueira Apoio SG-6 PR-1 Divisão Gráfica da UFRJ Este número foi produzido com matérias elaboradas pelos alunos da disciplina Jornal Laboratório. As fotografias e ilustrações são de responsabilidade exclusiva dos alunos. Término em 10/06/2007. TIRAGEM: 1.000 exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 3 NO 11 - 2007/1 Dias inteiros sem sair da banda larga Na rotina conectada de Tiago só a namorada continua real. Mas os programas mudaram Bruno Marinho Quando se entra no quarto de Tiago Seabra Magalhães, 21 anos, o que mais chama a atenção é a estante encostada na parede oposta à janela. No móvel, um monitor tela plana, de 21 polegadas, é acompanhado pelo conjunto de duas caixas de som principais mais duas outras auxiliares que formam seu pequeno home theater, motivo de orgulho para o estudante de Engenharia de Telecomunicações. Escondido por detrás do gabinete retangular, um detalhe que faz toda a diferença: a conexão da Internet que mudou radicalmente seus hábitos de consumo. É apegado na facilidade que a Internet lhe proporcionou que Tiago conta como, conscientemente, alterou seus costumes e passou a ver a Rede não como acessório, mas sim com a salvação para a maioria de seus problemas. - A comodidade que tenho com a Internet é algo impressionante. Ela me facilita com os trabalhos da faculdade, na procura por estágios. Quando quero saber alguma coisa, alguma notícia ou informação específica, a encontro rapidamente na Internet – explica. Tiago é exemplo das várias transformações causadas pela entrada da rede mundial de computadores no cotidiano das pessoas, mas, com certeza, não é o único. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 32 milhões de brasileiros têm acesso à Internet. Quando é levado em consideração o número de pessoas que tem a disposição conexões de alta velocidade – caso no qual o jovem se enquadra -, a quantidade de usuários diminui. Atualmente, cerca de 13,5 milhões de pessoas têm a possibilidade de compartilhar arquivos de som, imagem e vídeo com extrema facilidade. Apesar do maior acesso à informação e conteúdo dos mais variados, o que mais se destaca na relação de amor de Tiago com a Internet são os novos critérios que usa no momento de decidir o que merece ser consumido. O jovem, que garante ser um amante de música – seu estilo favorito é o Rock’n Roll – não compra um CD há mais de quatro anos. Mas então, o que aconteceu? Ao acessar a pasta “Músicas” de seu computador, ele mostra centenas de arquivos no formato MP3. Isso mesmo. Desde que tem Internet banda larga (seu primeiro acesso caseiro foi em maio de 2003) Tiago passa longe das lojas de CD. - A coisa mais fácil do mundo é baixar músicas. Além dos programas específicos, no Orkut existem comunidades de todas as bandas, o que só facilita sua busca. Hoje em dia eu não o jornal.pmd 3 compraria nem o melhor CD do meu grupo musical favorito – garante. Segundo o estudante, um fator que poderia lhe levar a comprar um CD, ainda assim em condições muito especiais, seria um possível interesse no encarte do álbum. Porém, como o trabalho do produtor editorial existe na Rede à disposição de quem quiser, não há nada que o faça pegar em dinheiro quando o assunto é música em estúdio. Isso porque, quando se trata de apresentação ao vivo, Tiago ainda é partidário das tradições: – Eu não abro mão do show ao vivo. É por causa da emoção, do calor do evento. Além disso, a exibição ao vivo de uma banda internacional, por exemplo, é algo mais raro, que acontece uma vez na vida, outra na morte. Tiago é daqueles jovens que cresceram revezando brincadeiras ao ar livre com doses diárias de televisão e videogame. Na adolescência, um de seus programas favoritos sempre foi ir ao cinema com amigos e namoradas. Os ídolos da tela grande, conta, são muitos. Ele é fã do espião James Bond, das aventuras espaciais de “Star Wars”, dentre outros. Entretanto, se antes suas idas ao cinema se davam mensalmente, agora ele só sai de casa por um filme se for daqueles que realmente despertam sua atenção. A razão para isso é, mais uma vez, a facilidade de se fazer o Fones de ouvido: Tiago não incomoda ninguém com o som alto do filmes que assiste pelo PC Conexão rápida foi sinônimo de economia Há quatro anos com Internet banda larga em casa, Tiago garante que sua vida melhorou com seu uso e abuso. O que ele não sabia é o quanto essa melhoria pode ser observada no bolso de quem paga as contas. Ao serem calculadas as despesas que teria caso a rede mundial de computadores não tivesse papel tão intenso em sua vida, conclui-se que, independentemente de toda a comodidade, a conexão de alta velocidade pode ser considerada uma questão de economia para a classe média. Segundo Tiago, sua média de downloads musicais é de 15 arquivos por mês, ou, se preferir, de um CD encontrado nas lojas. Se estipularmos o preço médio de um álbum no comércio legal, a economia é de cerca de R$ 30,00. Como o estudante não compra o artigo há quatro anos, significa que, até hoje, R$1.440,00 deixaram de ser gastos com música. Quando o assunto é cinema, a economia também é grande. Tiago afirma que assiste pelo computador a uma média de cinco filmes por mês. Caso o estudante voltasse a freqüentar as salas de exibição para assistir a mesma quantidade de filmes, seus gastos seriam de R$ 85,00, considerando-se a refeição feita após a sessão e sem contar com os gastos com transporte e com a presença da namorada. Isso porque Tiago provavelmente arcaria com as despesas femininas. Na matemática da Internet, há também o lucro gerado com o cancelamento da TV por assinatura. Se fossem assinantes, Rosa e Ênnio Soares, pais de Tiago, pagariam todo mês a bagatela de R$179,90. Mais que o dobro do valor que é cobrado pela Internet banda larga: R$82,92. O casal ficou surpreso ao perceber a economia graças à Internet. - A Internet é importante porque posso ficar mais tranqüila com o Tiago dentro de casa. Além disso, tem a economia que não imaginava ser essa. Agora tenho certeza de que fiz a coisa certa ao cortar a TV por assinatura -– afirma a mãe, dona-de-casa, contando com o apoio do marido, aposentado. 14/11/2008, 10:13 download das estréias antes mesmo de entrarem em cartaz no Brasil. - A expectativa que existe quando se assiste a um filme no cinema é muito maior. A tela grande, o escuro, a gente se concentra mais. Mas eu agora tenho outras formas de lazer – disse Tiago, que também não sente falta da refeição que tradicionalmente vinha em seguida ao filme. Para ele, basta pedir por telefone a mesma comida que poderia escolher na praça de alimentação de um shopping center, por exemplo. Tiago admite que a Internet fez com que o cinema, uma das maiores opções de lazer no início de seu relacionamento com Nathália, sua atual namorada, fosse relegado a segundo plano. Por outro lado, ele garante que o programa foi substituído por idas a restaurantes e bares. Ele vai ainda mais longe ao dizer que um problema típico de namorados foi solucionado graças às seções de filmes no computador. Atualmente, nenhum dos dois precisa negociar com o parceiro quando somente um quer assistir a um lançamento, já que a falta de companhia não é problema quando a exibição acontece dentro de casa. - Agora não temos mais esse tipo de discussão. Se um não quer ver aquele filme, o outro vê pela Internet – confirma Nathália, que usa a Rede tanto quanto Tiago, e que, assim como ele, tem brilho nos olhos ao descrever as maravilhas do mundo online. Antes de instalar a Internet banda larga em seu computador, Tiago passou pela fase em que trocou a luz do dia pela escuridão providencial das lan houses e seus jogos on line. Para a alegria de seus pais, Maomé deixou de ir até a montanha depois que a montanha foi trazida para dentro de casa. O que aconteceu então no lar dos Seabra Magalhães foi uma disputa entre mídias: de um lado, a TV a cabo e as dezenas de canais que distraíam a toda a família. Do outro, a força de um veículo capaz de exercer as funções de rádio, som estéreo, aparelho de DVD e - por que não? – televisão. Certamente não é preciso dizer quem se saiu vitorioso desse duelo de titãs. - Eu ainda assisto aos canais abertos, mas não sinto nenhuma falta da TV a cabo. Na Internet você é capaz de encontrar todos os tipos de séries que você imaginar, antes de entrarem no ar aqui na TV do Brasil. Não preciso da MTV. Assisto a Videoclipes e apresentações musicais pelo youtube. Consigo ver as lutas de vale-tudo ao vivo, de graça, estando conectado. Além disso, tenho acompanhado as partidas de NBA pela Internet – enumera, numa série de vantagens que parece não ter fim. 4 NO 11 - 2007/1 Diários que podem mudar o mundo Painel sobre blogs a partir da visão dos principais blogueiros brasileiros Cizenando Cipriano Jr. Segundo estudo recente do site Technorati [www.technorati.com], nasce um blog na rede a cada segundo. Além disso, a grande maioria das ferramentas disponíveis para se criar um diário virtual são gratuitas. “É uma mídia pessoal e moderna. Seu sucesso se fundamenta na interação e na proximidade com o leitor. É tudo feito para o leitor de forma direta”. Assim Rosana Hermman, dona do Querido Leitor [www.queridoleitor.zip.net], define os blogs. O termo, que se originou da corrutela da palavra <weblog>, foi cunhado há dez anos pelo teórico americano Jorn Barger. Ele designava, inicialmente, páginas de internautas que permaneciam diariamente muitas horas on-line (ou conectados à Internet) e, deste modo, atualizavam constantemente seu conteúdo. Além disso, este grupo específico divulgava links (ligações para outros sites) e também tornava possível aos visitantes a chance de comentar o que era postado de modo instantâneo. Entretanto, ainda é discutido o pioneirismo de Barger, pois já eram detectados na rede endereços com as características semelhantes a da definição. Com a afirmação da Internet como real veículo de informação, o papel desta ferramenta se expandiu e atualmente a blogosfera, como é denominado o mundo dos blogs, tem o poder de atrair a audiência entre tantas possibilidades que a “grande rede” oferece. No Brasil, este fenômeno é patente. Desde a criação do primeiro blog em português, em março de 1998, por Nemo Nox (pseudônimo), o número de blogueiros tupiniquins aumenta e se destaca. Por exemplo, na lista das 100 personalidades mais influentes de 2007, publicada pela revista Isto É [www.terra.com.br/istoe] no início deste ano, figuram Antônio Tabet, criador e mantenedor do Kibe Loco [www.kibeloco.com.br], um dos blogs de humor mais populares da rede, e Raquel Pacheco, jovem que sob o apelido de Bruna Surfistinha [www.brunasurfistinha.com] ganhou projeção a partir do blog em que descrevia seu cotidiano como prostituta. Inicialmente, esta forma de se inserir na rede era visto com certo preconceito, pois foi logo associada à publicação de cotidianos particulares na rede e o ato de blogar foi imediatamente taxado como uma atividade adolescente, espécie de diário moderno. Com o tempo, contudo, o caráter o jornal.pmd 4 dos posts foi mudando. Passou-se a utilizar esse mecanismo para, por meio de um recorte do mundo, deter o visitante na página. Com a descoberta da internet pela mídia tradicional – mais claramente jornais e emissoras de televisão –, o blog tornou-se uma solução para a interatividade que a veiculação na rede exige das empresas que transferem suas marcas para este espaço. OS BLOGUEIROS EXISTEM A pedra fundamental de todos os blogs é o olhar particular do autor sobre a realidade. No bloco dos que adotam o humor como arma, a referência de mais sucesso é a página do (ex) publicitário Antônio Tabet – que a par- novo meio foi a transposição de sua maneira de relatar uma notícia. “A linguagem é diferente. Ainda uso o que aprendi no jornal para escrever. Não sei direito o que é isso. Estou tentando descobrir. Mas está sendo ótimo aprender”, declarou Noblat ao Observatório da Imprensa. Atualmente ele tem seu blog hospedado no site do jornal O Globo [www.oglobo. com.br] e nele mantém uma coluna semanal (publicada às segundas-feiras). Antes, sua página já fora abrigada pelo portal IG [www.ig.com.br], onde passou a receber pelas postagens, e também pelo jornal Estado de São Paulo [www.estadao.com.br]. Dez blogs par avoritos paraa se ter nos ffavoritos Não há nada mais popular e moderno na blogosfera do que a feitura de listas sobre qualquer coisa. Como qualquer blogueiro que se preze, este escriba também faz a sua, com o endereço de 10 blogs que valem a pena ser visitados, segundo minhas viagens rede. · Soninha <http://blogdasoninha.folha.blog.uol.com.br/> · Pedro Alexandre Sanches <http://pedroalexandresanches.blogspot.com> · Juca Kfouri <http://blogdojuca.blog.uol.com.br/> · Nei Lopes <http://neilopes.blogger.com.br/> · Luís Nassif <http://luisnassif.blig.ig.com.br/> · No front do Rio <http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/frontdorio/> · Blog do Tas <http://marcelotas.blog.uol.com.br/> · Jacaré Banguela <http://www.jacarebanguela.xpgplus.com.br/> · Jesus, me chicoteia! <http://www.jesusmechicoteia.com.br/> tir de uma simples vontade de compartilhar algumas piadas com e trabalho construiu, em abril de 2002, o Kibe Loco, hoje abrigado no portal Globo.com [www.globo.com], que conta com respeitáveis 200 mil visitantes únicos por dia. “Eu acredito no poder dos blogs. Mas acho que isso se restringe a setores sócio-culturais, etc.”, afirma o blogueiro. Sobre a influência no cotidiano, Tabet faz um recorte em relação a possibilidade de um post interferir na vida política do país: “A interferência na área política ainda é menor. Apesar de bons blogs que trabalham o tema, políticos ainda preferem agir de acordo com pautas de jornais, revistas e TV”. Ricardo Noblat, que construiu toda a sua carreira profissional na mídia impressa, passou a publicar na rede, em março de 2004, as notas que o tempo tornaria velhas para serem publicadas no jornal. Desde então, o Blog do Noblat [www.noblat.com.br] passou pela CPI do Mensalão e, da condição de pioneiro, tornou-se o principal observador político na internet brasileira. O jornalista conta que a maior dificuldade que encontrou de adaptação ao Formada em Física e com mestrado em Física Nuclear, Rosana teve, ainda na década de 1970, o primeiro contato com computadores. Porém, foi somente com o desenvolvimento de sua carreira como escritora e jornalista que passou a adotar a internet, nos anos 1990, como um auxiliar em seu trabalho. “Sempre acreditei no sucesso dos blogs, mesmo quando todos duvidavam disso. O meu passou a ter vida própria que independe da minha carreira em tevê. O mundo ficou bem menor com a rede”, afirma ela, atualmente redatora do programa Pânico na TV [www.paniconainterne.com.br], complementando: “O blog já é poderoso no Brasil, prova disso é o fato de que Pimenta no post dos outros... “Rankings e prêmios são besteira. Quando prestar atenção nos fatos, você parará de se ocupar com isso e voltará a fazer a única coisa que um blogueiro pode fazer para tornar seu blog realmente significativo: blogar”, destila Carlos Cardoso, do Contraditorium [www.contraditorium.com]. 14/11/2008, 10:13 todos os grandes portais têm blogueiros contratados”. Autor do Pensar enlouquece, pense nisso [www.interney.net/blogs/ inagaki], onde discorre sobre temas como o amor ou os piores cantores do mundo, Alexandre Inagaki iniciou este ano uma empreitada de fôlego. Em parceria com também blogueiro Edney Souza [www.inteney.net], deu início a um novo condomínio de blogs na rede brasileira, cuja proposta é oferecer remuneração aos abrigados sob sua marca. A criação já nasceu com patrocinadores. “Blogs, em geral, são exércitos de um homem só. Estamos buscando uma maneira de congregar escribas de talento, fazer com que cada blog agregue novos leitores e ao mesmo criar um portal diferenciado de notícias, que será diariamente abastecido por textos inéditos e de qualidade”, comentou Inagaki em entrevista a Tiago Dória [www.thiagodoria.blig.ig.com.br]. O empreendimento entrou no ar em fevereiro deste ano, abarcando 21 blogs. O FUTURO DA MÍDIA DO FUTURO Tabet entende que a situação tenderá a uma acomodação natural, sem os extremismos nem de uma revolução (fase, segundo ele, já superada), nem de um apocalipse. E a permanência, no seu ponto de vista, depende muito da relação com os leitores. “Não acredito em boom e nem em declínio. Acho que a tendência é a estabilização, como colunas de jornal, etc. Alguns estão aí, já. E vão ficar. Outros aparecerão. E, claro, outros vão sumir. Os leitores são fundamentais para o blog. No meu caso, são críticos, inteligentes e gostam de colaborar. O Kibe Loco não tem cara de site pessoal. É um meio de expressão. Meu e deles”, declara o blogueiro. Já Rosana Hermann aponta para a confluência de mídias como uma maneira de manter a atualidade da ferramenta. “É certamente um mercado [o dos blogs] em expansão, que passa a integrar até streaming ao vivo, como faço agora”, diz, referindo-se a esta forma de se transmitir dados de áudio e/ ou vídeo em tempo real. Inagaki comenta a questão sob o aspecto da enormidade de infromações (a maioria fúteis) que a rede oferece: “No dilúvio de informações da Web [a rede], ter um blog é quase como jogar uma garrafa no mar em busca de alguém que a encontre”, afirma, para acrescentar: “Com o agravante de que, citando tira publicada pelo Adão Iturrusgarai, é bem provável que a garrafa que você porventura achar terá uma mensagem com a frase “enlarge your penis” ou coisa do tipo”. 5 NO 11 - 2007/1 Vida literária 2.0 Escritores e críticos quebram o pau nos comentários de blogs transformados em saraus virtuais Camila Nobrega Marcar encontro para discutir literatura virou coisa do passado. A atual rotina dos escritores, críticos e curiosos é manter-se atualizado nos principais endereços e comunidades virtuais que se propõem a discutir o tema. O número de sites e blogs destinados à literatura tem crescido muito nos últimos anos e algumas discussões seguem noite adentro, com mais de cem pessoas participando e outras centenas acompanhando, mas apenas observando. A internet hoje é o espaço que abriga os mais acalorados debates literários. O site Paralelos — onde pode-se encontrar crônicas, entrevistas e opiniões de diversos escritores —, o Todoprosa, do site nominimo.com, e os inúmeros blogs de escritores brasileiros e estrangeiros são exemplos de alguns endereços que fazem parte de listas pessoais para visitação diária. Os comentários, notícias ou entrevistas chegam a receber mais de cem respostas, críticas ou resmungos. No caso do TodoProsa, escrito pelo jornalista Sérgio Rodrigues, que é um dos editores do NoMínimo, alguns comentários são verdadeiras críticas literárias, espaço onde autores, fãs e críticos discutem os novos nomes da literatura, opinam sobre livros, matérias, e até quebram o pau. — Muitos assuntos renderam debates bastante entusiasmados e até nervosos. Nenhum deles chegou aos pés, tanto em número de comentários quanto em exaltação dos ânimos, da polêmica recente sobre o projeto Amores Expressos. Foram muitas centenas de comentários, inclusive de autores que estão participando do negócio; mas nem todos usaram seus nomes verdadeiros. — explica o jornalista Sérgio Rodrigues. O projeto Amores Expressos vai mandar 16 escritores brasileiros para diferentes cidades do mundo, de onde eles se comprometem a escrever um romance cada, que serão publicados pela editora Companhia das Letras. Para se ter uma idéia do alcance das dis- o jornal.pmd 5 cussões virtuais, uma única crítica sobre esse projeto foi publicada pelo jornalista no Todoprosa e rendeu inúmeras respostas no próprio blog, além de se estender a outros domínios na internet. Além disso, de forma surpreendente, o Todoprosa foi citado por todos os escritores entrevistados, quando perguntados sobre endereços que costumam visitar para acompanhar as opiniões e atualizações sobre literatura. aqui, até de pijama, acompanhando tudo sem ser percebida — afirma Ana Paula, que preferiu marcar a entrevista pelo MSN. Apesar disso, um importante consenso é sobre o exagero em algumas declarações demasiadamente irônicas e agressivas, como explica o jornalista e escritor Marcelo Moutinho. — Em geral, só faço comentários quando o debate realmente me parece pertinen- — Ainda tem muito exibicionismo, muita agressividade infantil. Mas a troca de opiniões é muito enriquecedora, tem gente ali que realmente entende de literatura e quer trocar figurinhas de verdade. É aí que a internet mostra esse trunfo que só ela tem de incluir o leitor na jogada. A tendência, com o Antônia Pellegrino, autora do blog “Inveja de Gato” e participante do projeto “Amores Expressos” ressalta a novidade de a discussão literária fazer parte do dia-adia das pessoas, como um dos benefícios da internet. — Acho fascinante a literatura ser alguma coisa cotidiana. Imagino o sujeito / A jovem escritora Ana Paula Maia, que mantém publicações de folhetins no blog “killingtravis” assume acompanhar as discussões quase diariamente: — Sai até pancadaria no Todoprosa e em blogs de outros escritores, centenas de comentários, ferve! Sem dúvida a internet é um dos lugares mais interessantes para se debater literatura. — E completa: — Mas eu gosto de observar o movimento, nem sempre quero falar, gosto mesmo de observar quietinha. Posso ficar te, já que as discussões chegam a extremos inacreditáveis. Mesmo assim, acredito que a rede ajudou a viabilizar novamente uma ‘vida literária’ no nosso país, conectando autores de vários cantos e possibilitando um diálogo muito interessante. — defende o escritor, que mantém o blog “Pentimento”. Os entusiastas dessa nova vida literária, agora virtual, ressaltam que nunca se pôdediscutir tantos assuntos com tanta gente ao mesmo tempo, e de modo tão natural. tempo, é que a qualidade do papo cresça em todos os blogs. - acrescenta Sérgio Rodrigues. Apesar dos exageros desmedidos, a enorme participação de pessoas que se propõem a debater literatura mostra a influência da rede no assunto. Só no orkut, a pesquisa pelo título “literatura” gera um resultado de mais de oitocentas comunidades. Aos poucos, os espaços virtuais invadem as casas de brasileiros, de uma forma mais simples e participativa. A escritora leitor / comentarista saindo do banho, postando um comentário antes do jantar — algo assim, bem banal. — E continua: — Sempre me intrigou bastante essa figura, o comentarista de blog. Eles são uma categoria; batem ponto, são fiéis, comparecem diversas vezes ao longo do dia para saber o que se passa na discussão online, muitas vezes pensam ou falam coisas interessantes, fazem amigos. É uma rede de sociabilidade fortíssima – pessoas reunidas por um mesmo interesse: literatura. Para acompanhar as discussões literárias no mundo virtual, um bom começo é visitar os sites mais acessados. Sugestões (alguns dos favoritos em números de acessos): Sites: • todoprosa.nominimo.com.br • www.paralelos.org • portalliteral.terra.com.br Blogs pessoais dos entrevistados: • www.marcelomoutinho.com.br • killingtravis.blogspot.com • invejadegato.blogger.com.br 14/11/2008, 10:13 Deixe seu comentário: OK 6 NO 11 - 2007/1 O dia em que morri na internet Nos últimos vinte anos a rede mostrou-se o meio mais eficiente para a troca rápida de informações entre pessoas de todo o mundo. Mas não são apenas notícias de cultura, futebol ou política que circulam pela Web Carolina Cabral Em meados da década de noventa, poucas pessoas poderiam prever o boom da Internet, que começava a dar seus primeiros passos, e o lugar que ela teria na vida das pessoas em todo o mundo, neste começo de século XXI. Nos dias de hoje, não é mais um luxo ou simples questão de opção uma pessoa utilizar e dominar o manuseio e serviços disponíveis na Internet, mas quase um utensílio tão necessário e “vital” quanto um carro ou telefone. Com o surgimento da World Wide Web, esse meio foi enriquecido. O conteúdo da rede ficou mais atraente, com a possibilidade de incorporar imagens e sons. Um novo sistema de localização de arquivos criou um ambiente em que cada informação tem um endereço único e pode ser encontrada por qualquer usuário da rede.Os famosos “sites” foram criados e qualquer informação, sobre qualquer assunto, em qualquer língua, pode ser encontrada em questão de segundos – claro, dependendo se sua conexão é discada ou via cabo. Verdadeiras febres como o Google e Wikipedia nos oferecem dados sobre o que quisermos, apenas digitando uma palavra-chave. Através da Internet, podemos escutar músicas que não encontramos mais em discos, álbuns que ainda não foram lançados, filmes que sequer começaram a passar nos cinemas e todo tipo de informação atualizada em tempo real. Talvez seja mais fácil saber notícias sobre a guerra do Iraque, através da Web, do que estando em Bagdá. Mas não são somente assuntos relacionados à vida em sociedade que encontramos na rede. Ou melhor, também encontramos assuntos relacionados à morte e como a morte na Internet cria casos bizarros, cômicos ou até mesmo trágicos. EXISTE VIDA APÓS A INTERNET? Um exemplo da obsessão que as pessoas têm pela morte e como isso se reflete na rede é o site www.deathclock.com, que em português significa “relógio da morte”. O visitante só precisa o jornal.pmd 6 informar sua data de nascimento, peso, altura e se é fumante, para que apágina determine o dia, mês e ano da morte do internauta. Há ainda casos mais sérios, como o do suicídio de um jovem de 16 anos, morador do de Porto Alegre, que planejou a hora e o local de sua morte e compartilhou este momento, com outras pessoas, em um fórum virtual na Internet. O jovem se suicidou em julho de das vítimas. O problema é que esta pressa “matou” muita gente que está viva.O empresário, do setor de mármore, Júlio Guidi estava no avião da Gol que caiu na floresta amazônica. Julio era capixaba, casado, tinha 39 anos, dois filhos e uma conta no orkut.. Mas não era só ele. Outro Julio Guidi, esse que não estava no vôo, acabou sendo “morto” por muita gente. O Julio Guidi, vivo, tem 21 2006, no banheiro do apartamento onde morava com os pais. O plano de suicídio já havia sido anunciado no blog que mantinha na Internet. Além do blog, ele participava de fóruns virtuais de discussão, entre eles, grupos que debatiam o suicídio. Foi em um desses fóruns que o adolescente encontrou pessoas que o incentivaram a levar adiante a idéia de se matar. Além de os participantes, darem ao jovem dicas sobre a forma considerada mais eficiente para se matar, eles acompanharam, em tempo real, o momento de sua morte. anos, é carioca, morador de Campo Grande e estudante de Direito e recebeu mais de quatro mil scraps com mesnsagens de pêsames, como: “fica com Deus”, “descanse em paz” e “que Deus te dê descanso “. Segundo Julio, no começo as mensangens eram levadas na brincadeira, mas depois de algunsdias, ele começou a se sentir muito incomodado: “– Nos primeiros dias, eu levava na sacanagem, meus amigos também entraram na “pilha” e enviavam mensagens dizendo “que saudade, Julinho”, mas depois começou a ficar macabro e não paravam de chegar centenas de “scraps” lamentando minha “morte”. Ele conta que após cinco dias, resolveu colocar uma mensagem na página inicial de seu perfil, alertando às pessoas de que não havia morrido, mas que lamentava a morte do outro Julio Guidi. Mas segundo ele, mesmo assim, as mensagens não paravam de chegar. E foi assim que ele resolveu mudar de tática: ORKUT TAMBÉM MATA Mas nada como o site de relacionamentos Orkut para gerar muita confusão na Internet com casos de pessoas que morreram. Um caso curioso foi o dos homônimos Julio Guidi. Com a divulgação da lista de passageiros que morreram no acidente do Boeing 737-800 da Gol, diversos internautas correram para o Orkut para encontrar o perfil 14/11/2008, 10:13 – Fui obrigado a deletar aquela antiga conta, ficar algum tempo sem acesso ao Orkut e só algumas semanas depois criei um novo perfil e adicionei apenas os amigos mais chegados. Mas não são somente cidadãos comuns que sofrem com esse tipo de boataria na Internet. Várias celebridades já foram “mortas” na Internet. Um caso ilustre é o do escritor Zuenir Ventura. Em outubro de 99, o jornal Estado de São Paulo veiculou uma notícia anunciando a morte do escritor em um acidente de carro, no bairro da Lagoa. Em seguida, começaram a circular correntes de email na internet, confirmando que Zuenir tinha morrido. Uma suposta empregada do jornalista teria dado a informação, logo depois desmentida por Zuenir Ventura.O próprio escritor tomou a iniciativa de ligar para algumas redações de jornais. Segundo Zuenir, o boato teria surgido a partir da ligação de um repórter para um número que já não lhe pertencia. Uma mulher que teria se identificado como sua empregada passou a informação do acidente e da morte: “– Obituários já estavam sendo feitos, colegas meus – até hoje têm uma raiva danada de mim por isso (risos) – estavam tomando cerveja no bar e foram chamados para fazer meu perfil. Tudo isso foi até muito engraçado, mas, durante duas horas, meu filho ficou achando que eu tinha morrido e eu não conseguia desmentir.” Fica de lição para os Julios, Zuenir e todos os internautas, é que todo morto da internet pode estar vivo fora dela. Orkut que mata, também dá nome a vivo Orkut Büyükkokten, engenheiro de software, de 32 anos, nascido na Turquia e criado na Alemanha, criou um dos maiores fenômenos da Internet nos últimos tempos. O Orkut é uma rede social filiada ao Google, criada em 19 de Janeiro de 2004, uma rede de relacionamento que atinge milhões de pessoas em todo o mundo. 7 NO 11 - 2007/1 Mesas virtuais, dinheiro de verdade Pôquer online se torna fenômeno mundial e pessoas que vivem do jogo na rede é cada vez maior Carlos Leal Quando, em 2003, o norte-americano Chris Moneymaker ganhou dois milhões e quinhentos mil dólares no torneio mundial de pôquer, transmitido ao vivo pela ESPN, o pôquer online assumia seu caráter de fenômeno mundial. Moneymaker era mais um jogador amador da internet que, através dos chamados “torneios satélites” realizados na rede, teve a oportunidade de disputar o evento principal da série mundial de pôquer (disputado na modalidade Texas Holdem), realizado em Las Vegas todos os anos e até então jogado quase que exclusivamente por profissionais. Os prêmios, com o aumento do número de participantes, tornaram-se cada vez mais altos. Milhões de pessoas passaram a identificar a oportunidade de competir em um jogo emocionante a partir de sua própria casa e ainda ter a chance de se tornarem milionárias. Nas palavras do próprio Chris “Money Maker”, “pessoas começaram a pensar: se esse cara pode, eu também posso”. O fenômeno mundial começou a se desenhar quando foi lançado o filme Cartas na Mesa, em 1999, no qual Matt Damon interpretou um jovem jogador que ambicionava sair das mesas clandestinas de Nova York e ganhar o campeonato mundial em Las Vegas. Porém, foi na virada do século que o pôquer explodiu. Em 2001 foram inventadas as chamadas hole cards cams (câmeras fixadas na borda da mesa, que mostram as cartas de cada jogador) e a idéia foi comprada pelo Travel Chanel. Foi criado, então, o WPT (Word Poker Tour), um torneio disputado em todo mundo entre os melhores jogadores de vários países. Com a audiência dos torneios aumentando dia após dia, o número de jogadores dos sites de pôquer online, que também surgiram no final da década de 90, deram um salto exponencial. Foi isso que possibilitou o surgimento dos “torneios satélites”, através dos quais jogadores podiam pagar inscrições baratas e, ao vencer ou chegar entre as primeiras colocações, se classificarem para torneios ao vivo com premiações de milhares de dólares. No Brasil, um dos países com o maior número de usuários de internet no mundo, em sua maioria jovens, o fenômeno do pôquer on-line se estabeleceu rapidamente. Já existe um número significativo de jogadores brasileiros profissionais com destaque no cenário internacional. São pessoas que passam, em média, oito horas por dia jogando na internet e tem no jogo o jornal.pmd 7 sua fonte exclusiva de renda. O paulista André Akkari começou a jogar na internet em 2004 e se tornou profissional no inicio de 2006, sendo atualmente o segundo lugar do ranking brasileiro do site Super Poker. Akkari coleciona títulos tanto no online como no jogo ao vivo, sendo o mais importante deles o primeiro lugar no Belagio Cup, realizado no cassino mais famoso do mundo, em Las Vegas, no ano de 2006. Na ocasião, derrotou mais de 160 oponentes, sendo que entre eles estavam alguns dos melhores jogadores Momento decisivo de um torneio de pôquer online profissionais dos EUA, num torneio que cobrava 1000 dólares de inscrição. “A evolução do meu jogo foi conseqüência de uma aplicação muito forte em estudos, livros, dvd’s e no material que é oferecido na internet de aprendizagem”. Segundo Akkari, seu rápido crescimento no jogo só foi possível por conta desse estudo dos conceitos ligados ao pôquer, aliado com a prática permanente que a internet possibilita. “Com certeza, o pôquer online é uma ferramenta que faz com jogadores que estejam em mercados distantes das centrais grandes do pôquer, como Las Vegas e Europa, tenham acesso ao jogo de forma sustentável. Na internet conseguimos ter uma gama muito grande de torneios (onde o jogador paga uma inscrição pré- estabelecida e é premiado caso chegue entre os primeiros colocados )e cash games (jogo apostado onde uma ficha vale um dólar) o dia inteiro, a qualquer hora. Isso facilita muito a nossa vida”. Atualmente existem cerca de cinqüenta mil jogadores de pôquer on-line só no Brasil. Além da grande participação de brasileiros em torneios na internet, existe um grande número sites, fóruns de debate sobre o jogo e comunidades no orkut. A maior delas, a “Poker Brasil”, reúne atu- 14/11/2008, 10:13 almente mais de trinta e três mil pessoas e dela participam desde iniciantes até jogadores experientes. Já a comunidade “Poker Mania” tem duas mil e trezentas pessoas e lá estão presentes os principais jogadores do país, inclusive profissionais que enfrentam os melhores jogadores do mundo no circuito internacional. Rio, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso já têm federações organizadas e promovem eventos regularmente. “Levou cerca de nove meses de torneios realizados até formarmos a Federação. Por causa dela existem mais de 300 jogadores praticando ativamente na capital do Paraná e em todo sul do país. Ela fomentou mais de 900 jogadores que praticam assiduamente. Esses números nunca foram levantados de forma precisa, mas são aproximadamente estes”, atesta Marco Marcon, presidente da Federação Paranaense de Poker. A principal preocupação destas federações é de regulamentar o pôquer e promover sua prática de maneira esportiva e responsável, acabando definitivamente com a imagem distorcida de que se trata de um jogo de azar, clandestino e com jogadores viciados. Segundo Marcon. aqueles que estão começando devem procurar mesas de valores baratos e de acordo com sua renda: “Os amadores não devem investir no jogo mais do que aquilo que em seu salário tem reservado para o Lazer”. Em uma iniciativa pioneira, várias federações do Brasil organizaram o primeiro Campeonato Brasileiro de Poker online. O evento reunirá mais de 500 jogadores que não precisaram pagar nada para participar. Os dois primeiros irão ganhar uma vaga para disputar o evento principal do Word Poker Series de 2007, que ocorre em julho em Las Vegas. Além destas duas vagas, vários outros jogadores brasileiros já se classificaram para o torneio através de satélites pela internet. A expectativa é de que quando um brasileiro vença um grande torneio internacional, o pôquer passe a ser acompanhado pelo grande publico e ganhe uma regulamentação definitiva no Brasil. Diferente do pôquer tradicional, no qual cada jogador tem cinco cartas na mão, no Texas Holdem cada um recebe duas cartas que devem ser combinadas com outras cinco, que são abertas no centro da mesa. Esta dinâmica gera um tipo de pôquer que, por sua agilidade, emoção, facilidade de compreensão inicial e possibilidade quase ilimitada de jogadas e combinações, é apontado por muitos como o jogo do século XXI. As cartas estão na mesa, as apostas estão feitas. Qual será o resultado? 8 NO 11 - 2007/1 Hereges da Internet resistem à conversão Na era virtual, eles preferem aderir às relações pessoais e fugir da ‘opressão’ cibernética Gabriel Machado A religião cibernética não conseguiu arrebanhá-la como sua discípula. Sempre que diz não gostar de internet, a atriz e produtora teatral Renata Roriz é vista, de acordo com suas próprias palavras, “como uma E.T.”. Os fiéis, segundo ela, “pregam seu Evangelho” a todo custo, tentando “convertê-la”. A atriz faz um apelo: - Por favor, não me descreva como uma xiita! Só não quero que a internet interfira em minha vida pessoal. Mas, na área profissional, não há como deixar de usá-la. É o que ocorre com muitos dos seus amigos de teatro, que passaram a utilizá-la depois de resistir até o “último momento”, apesar de não gostarem de internet. - No mundo artístico, muitas vezes a pessoa se isola para sua produção criativa. Foi o caso também de (JeanJacques) Rousseau e (Henry David) Thoreau (filósofos) – justifica Renata. Apesar de muita resistência, ela percebe toda a força de atração da internet e confessa: - Sei que algum dia acabarei capitulando. O ator Orã Figueiredo, de 41 anos, é outro dos hereges. Até nove meses atrás, ele não tinha contato algum com computador, muito menos internet. Teve sua iniciação quando conheceu sua namorada, jornalista, que trouxe para sua vida o computador, mas o tempo não lhe permite o aprofundamento. - A profissão de ator não me exigia a utilização da internet. Mas agora, se começar a usar mais, sei que tomarei gosto. Ainda assim, não acho que a internet vai ocupar um espaço tão grande na minha vida. Também não me imagino passando meu tempo de lazer no computador – frisa. Já o estudante da ECO/UFRJ, João Paulo Toledo, de 20 anos, parece não antever nenhum futuro de conversão. Ele possui amigos de filiações cibernéticas diversas e não se sente prejudicado por ter abdicado da rede, mesmo sendo diferente dos demais jovens: - As pessoas ficam espantadas e falam: “Você não tem MSN?! Mas como você fala?” O mundo agora está dentro da internet e o Google tornou-se um deus. Também jovem aluno da ECO, Arthur Ottoni, de 23 anos, apenas acessa sites quando já sabe o que está procurando. E utiliza o e-mail. Quanto ao resto, faz duras críticas: o jornal.pmd 8 - Abomino Orkut e MSN. Essas duas formas geram uma pseudointegração entre as pessoas. Geralmente as pessoas se surpreendem ao saber que não tenho, mas é o tipo da coisa que quem tem acha que não pode ficar sem, mas não percebe que é totalmente descartável da sua vida. Ao contrário do que exemplificam João e Arthur, a aposentada Margarida Lacerda, de 67 anos, diz que os jovens, como seus netos, não conseguiriam viver sem a internet. “Hoje a internet é necessária, tudo gira em torno dela.” Já seu caso pode não parecer tão incomum: uma senhora A liberdade individual que deve vir em primeiro lugar. - Não sou contra a modernidade. As tecnologias foram criadas para facilitar nossas vidas, só que acabaram dominando-as. É bom estar conectado, mas e o lado solitário da vida? As pessoas também têm que se voltar para o seu interior e para a natureza. João Paulo também não gosta do contato mediado pelo computador e não entende as relações que os internautas adoram cultivar. - O mundo virtual me incomoda. Parece que é totalmente fictício, totalmente fora da realidade. Talvez o Apesar de a religião cibernética queimá-los perante a sociedade, os hereges da internet persistem em seus credos e acusam os críticos de criarem uma nova era de Inquisição. inativa, que não está na idade de lidar com tecnologia. Contudo, ela foge à expectativa: - Trabalhei 33 anos com informática. Os computadores ainda funcionavam com cartões perfurados. Mas não cheguei a pegar a internet. Cansei de tanto mexer no computador. Já saturou. Ainda em plena atividade, Renata Roriz passou a ter um assistente de produção para acessar a Web por ela, no início de 2006, quando começou a produção de sua primeira peça, Cora Coralina. - Não quero ter que mexer na internet. Sempre que precisava no meu trabalho, pedia ajuda para meus amigos. O contato com a internet pode não ser direto, mas ele sempre existe frisa. A artista argumenta que é uma questão de tempo e qualidade de vida. contato pelo computador seja mais fácil, pois não é necessário se expor. Nesse ponto, Renata complementa, fazendo uma analogia com seu meio profissional: o mundo da internet seria um teatro, em que “um bando de fantasmas fala com outro bando.” Já Orã destaca uma oposição entre a Web e o teatro: - Na internet, as pessoas se isolam na frente de uma tela. Até a câmera de TV filtra a nossa visão. Mas, no teatro, a relação é real, as pessoas vão para ver outras pessoas, para sentir o calor humano, para interagir com elas. Mas é a interação que João considera um dos fundamentos do mundo www. E que seria a justificativa para não gostar de internet. - Desculpe se não consigo explicar direito, mas é porque é algo que faz 14/11/2008, 10:13 parte da minha personalidade. Mas acho que explica o fato de a internet pedir à pessoa que tome atitudes o tempo inteiro e exigir respostas. É o mundo da agilidade, da atenção, da ação. Eu prefiro a contemplação, o exercício mental e criativo. Sou mais calmo e fechado. As pessoas falam muito hoje em dia, são verborrágicas e muito abertas, expõem a vida sem o menor problema. Não faz o meu estilo – explica. Arthur também não simpatiza com o universo cibernético. Alega que o Orkut e o MSN seriam “estimuladores de vaidade”, em que as pessoas competem para mostrar quem tem mais amigos, sendo que o MSN ainda geraria conversas sem conteúdo e malentendidos. - Os dois apenas contribuem para a construção de uma sociedade cada vez mais individualista, perdendo o seu essencial, que é a troca estabelecida pela comunicação direta entre pessoas diferentes, em detrimento do espírito coletivo – critica. Orã afirma que “nem com cachê” entra em Orkut ou em chat, que levam à violação de privacidade e constituem uma relação “promíscua”. Já Margarida não vê problema na conversa on-line e percebe muitas vantagens no uso da rede. - Eu sei mexer na internet, sei sobre Orkut e MSN, não estou desligada desse mundo. Mas prefiro manter meu estilo de vida. Já estou habituada. Para mim, é bem melhor a relação pessoal. Até pelo telefone não gosto de falar muito. Visão muito defendida por Renata Roriz: - O mundo exige que estejamos acessíveis a todo minuto. Mas quero me desconectar do mundo. Por isso, só levo meu celular quando realmente é necessário. Não posso ter paz nas minhas horas de lazer, preciso sempre pensar em trabalho? Arthur concorda: - Reconheço a importância do celular, pois trabalho e tenho que ficar constantemente disponível para ser achado por alguém. Porém, acho que é apenas mais uma forma de controle da sociedade sobre o cidadão. É sem dúvida mais um limitador das liberdades do indivíduo. Diante da feroz campanha de adesão à fé cibernética, e também tecnológica, a atriz questiona a homogeneidade: - A linguagem do computador é atraente, sim, mas por que todos têm que, necessariamente, segui-la? 9 NO 11 - 2007/1 Vendo Monk 85. Ótimo estado. Aceito proposta Jogadores do RPG online Ragnarök negociam seus personagens e equipamentos do jogo por dinheiro real suficiente para encarar qualquer reincidentes são suspensos por 5 dias Emperium, ou Guerra do Emperium, inimigo. Daí, quem não tem a e, na terceira ocorrência, o infrator é cujas batalhas têm datas e horários A mãe ficava preocupada vendo paciência ou a habilidade para tanto banido do jogo. Os itens comprados marcados pelos servidores. Os jogadores se organizam em o filho jogar até tarde na internet. O acaba gostando da idéia de comprar no mercado negro também podem ser pai ameaçou cortar a mesada: um personagem já pronto, e o confiscados, se descobertos pela Level guildas (em referência às associações de auxílio mútuo constituídas na “Quando tiver que batalhar o próprio pagamento é feito com dinheiro do Up!. mundo real. Em março de 2007, a Level Up! Idade Média entre trabalhadores), dinheiro, quero ver se vai ficar a noite Acessórios como armaduras, flagrou e puniu 131 jogadores que liderados por um mestre, o Guild toda no computador!”. Mas para o garoto isso não era problema, ele curativos, chapéus e até sorvete negociavam personagens ou itens, Master, que teve de encontrar (ou estava upando o Monk... E isso poderia também estão à venda nas próprias dos quais 27 já haviam cometido a comprar) o precioso metal Emperium lojinhas do jogo, com bonecos infração antes. Em abril, o número de para ter o direito de criar o grupo. lhe render 300 reais. As guildas têm como objetivo Daniel é um jogador de mercadores encarregados das punidos caiu para 96, mas os casos de negociações. Ali, tudo deve ser na reincidência aumentaram para 35. conquistar castelos, porque neles Ragnarök, e o Monk (monge, em moeda fictícia do Ragnarök, o Zeny. O site de leilões Mercado Livre surgem diariamente tesouros, poções, inglês) é o seu personagem. Foram dois meses e meio de dedicação até Mas o mercado parelelo não só existe, também expulsou os vendedores de cartas, equipamentos... E o castelo é que atingisse o nível 85. Agora o como ferve. A taxa de câmbio pode “bens virtuais”. No Orkut, as mais generoso à medida que recebe comunidades relacionadas investimentos, em Zenys, de seus Monk está poderoso: “Ele derruba variar de R$ 5 a R$ 8 por a essas atividades são donos, por isso também é importante qualquer Kina 99 híbrido e já matou milhão de Zenys – uma carta mágica, por exemplo, poucas; têm no máximo 40 para a guilda defender suas posses um Lord 82 vit”, disse Daniel, pode sair por R$ 40. membros e quase nada para não perder os Zenys aplicados. orgulhoso, seja lá o que isso Os personagens publicam além de spams. Em cada servidor são 20 castesignifique. Mas não é difícil encontrar los distribuídos por 4 cidades no O Ragnarök é um dos Role Play- podem se valorizar de um vendedor e as continente virtual Rune-Midgard, o ing Games online mais populares no acordo com o nível e com o negociações continuam que significa que muitas guildas ficam Brasil e funciona com três servidores dinheiro acumulado com sendo feitas pela internet e sem nenhum. É na ocasião das oficiais: Íris, Loki e Chaos – todos eles. O Monk do Daniel ainda tinha 40 milhões de mesmo por telefone. Daniel guerras que elas têm a oportunidade gerenciados pela Level Up! Games. A Zenys, que, negociados com mora no Piauí e estava de acesso aos tesouros. Todas as empresa lançou o jogo no Brasil em a taxa mais baixa, valeriam disposto a vender para um guildas podem se enfrentar simulta2004 e em menos de um ano já tinha cliente do Rio de Janeiro: neamente na WOE, e os jogadores se 700 mil usuários no país. Em todo o 200 reais: “Na verdade você Monk 85 importado do Piauí “nesse caso a gente entra articulam por softwares de mensagem mundo, são 30 milhões de jogadores só vai pagar 100 por um R$ 300 em contato por telefone, de voz, como o Skype, para traçar de Ragnarök. Existem também os Monk nível 85”, ele tenta convencer. E não é mesmo ajusta os detalhes, eu te dou estratégias e receber ordens de servidores independentes, mantidos dos mais caros, uma menina de São minhas referências, RG, CPF, comando enquanto jogam. por jovens mais entusiasmados. Paulo anunciou um Blacksmith (ferendereço e etc. Aí você faz o deposito Os grupos podem costurar Nesses RPGs você cria um personagem em um universo virtual reiro) nível 91 por R$ 600. Esse no banco, e eu passo a te ligar todos alianças e lutar juntos nas guerras, e passa a interpretá-lo, sem que haja provavelmente viria com muitos os dias até a transferência. Leva uns 2 mas a guilda convidada para ajudar ou 3 dias, no máximo. Então, quando fica proibida de pegar o castelo para um roteiro pré-determinado. As itens. Acontece que essas transações o dinheiro bater aqui eu passo meu si, é simplesmente uma prática situações imprevisíveis surgem da política, uma troca de favores. interação com centenas (às vezes, que envolvem dinheiro de verdade registro no jogo para você”. são proibidas pelas O jogador também pode criar As diferentes profissões são milhares) de participantes empresas que controlam os mais de um personagem, uma equipe, importantes na guerra porque suas que atuam games, porque as centenas que pode ser vendida numa espécie habilidades são complementares, um simultaneamente naquele de pessoas que lucram com de pacote promocional. Quatro é mais forte, outro mais rápido, outro universo. Quando uma os jogos não pagam direitos “chars” (do inglês, characters) de pode “curar” os ferimentos dos multidão compartilha um autorais – afinal, não foram funções diferentes, todos de nível companheiros. Quando um mesmo jogo pela internet, os jogadores que criaram os superior a 80, estavam anunciados no personagem é derrotado no ainda se aplica outra produtos. Como Orkut por apenas R$1.800. Existe, enfrentamento, leva preciosos denominação: massive “governantes” daquele inclusive, gente que faz minutos para voltar ao jogo. multiplayer online RPG, ou mundo virtual, as empresas personagens por As compras de MMORPG. querem cobrar uma espécie encomenda. Você pede um Zenys, equipamentos e Os bonequinhos têm Blacksmith 91 de ICMS (Imposto sobre Wizard (bruxo) nível 99 e personagens é o meio “profissões” diferentes, que cheio da grana Circulação de Mercadorias dali a uma semana o rapaz instantâneo de conseguir determinam suas funções R$ 600 e prestação de Serviços). te entrega. Os um personagem bom o no jogo; os iniciantes têm O esquema de equipamentos e a roupa do suficiente pra encarar poucas habilidades e também qualquer inimigo na poucos bens. Para evoluir (ou “upar”, fiscalização, baseado no regulamento personagem W O E; é n e g o c i a ç ã o d e como eles dizem) é preciso realizar do jogo, prevê punições aos mal- podem ser encomendados, poder. Por isso é tão immissões desafiadoras, como destruir comportados que podem envolver mas são cobrados à parte. Toda essa busca por portante que o Monk monstros, e conquistar os itens redução de nível e confisco de Zenys. Os jogadores que são pegos um personagem forte esteja derrubando mágicos que aparecem como Wizard 99 realizando “transação ilegal” ficam acontece porque o qualquer Kina 99 híbrido recompensa. Mas isso leva tempo – sem acessórios sem acesso ao jogo por 24 horas, se Ragnarök gira em torno da e j á t e n h a m a tado um R$ 400 são meses até que se possam adquirir Lord 82 vit. as melhores armas e ficar forte o forem, digamos, réus primários. Os chamada WOE – War of Fernanda Castelo Branco o jornal.pmd 9 14/11/2008, 10:13 10 NO 11 - 2007/1 Hackers passam a bola para os crackers Acusados de invasões criminosas na intimidade alheia agora jogam a culpa em nos que quebram programas Mariana Pires de Mello Em tempos de obsessão por segurança digital, os hackers se tornaram os vilões da web. No senso comum, eles são encarados como invasores ou criminosos e seriam os responsáveis por ataques virtuais e quebra de licenças e senhas. Ou seja, os maiores culpados pela vulnerabilidade digital que apavora as grandes empresas e sistemas financeiros que mantém bases on-line. A palavra hacker surgiu nos anos 50, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA, e deriva do termo hack, usado para definir atividades de alta tecnologia com os quais alguns estudantes se ocupavam. Seria alguém que, deliberadamente, ganha acesso a outros computadores, frequentemente sem conhecimento ou permissão do usuário. Mas os hackers resolveram sair em defesa própria e querem “limpar sua ficha”. Por isso, passaram a bola para os crackers. Segundo R.C., gerente de rede de uma empresa de tecnologia que se considera um hacker, “crackers invadem para causar prejuízo ou se apropriar de algo que não lhes pertence”. Ele ainda acrescentou que “o hacker invade apenas pelo desafio, não para benefício próprio”: – A verdade é que o grande prazer é o desafio de conseguir fazer uma coisa que ninguém tenha feito antes. Existem hackers que têm honra, que invadem apenas para se valorizarem no grupo. (veja o depoimento de R.C. no box ao lado). “Cracker”, segundo a Wikipédia, foi um termo criado em 1985 por hackers em protesto contra o uso indevido do termo “hacker” em notícias de crimes digitais. “ O uso deste termo”, continua o site, “reflete a forte revolução contra o roubo e vandalismo praticado pelos crackers”. Hoje, passados mais de 20 anos, os hackers ainda lutam para se livrar do estigma de criminosos. Querem ser enxergados por sua esperteza e sagacidade. E estão empenhados nisso: hoje, está disponível na web um grande número de sites, com conteúdo pedagógico elaborado por hackers, que tentam esclarecer a diferença existente entre hackers e crackers. PROFISSIONALIZANDO PARA O BEM A homepage do Hackerteen, em âmbito nacional, é a que mais se destaca. Sob o slogan “profissionalizando jovens para o bem”, o site, lançado em novembro de 2004, é iniciativa de um projeto o jornal.pmd 10 educacional que começou em dezembro de 2003 e durante um ano, investiu em pesquisa e desenvolvimento. Através de aulas on-line e, uma vez por semana, na sede do Hackerteen, em São Paulo, o projeto objetiva “canalizar a energia, o tempo que o jovem passa na frente do computador, para ele aprender o que realmente fará a diferença no seu futuro”, segundo as informações da homepage. – A maioria dos jovens no mundo inteiro desperdiça tempo no Orkut, no MSN e com games. É claro que aí tem muita coisa positiva, mas pela falta de disciplina natural do jovem e a necessidade de uma melhor forma de uso da tecnologia, nós criamos o HackerTeen – ressaltou Marcelo Marques, diretor de estratégias do projeto. No Hackerteen os adolescentes aprendem a lidar com diferentes linguagens de programação e são R.C. contou ao Nº ZERO uma de suas aventur as aventuras “ O grande prazer é o desafio de conseguir fazer uma coisa que ninguém tenha feito. Diferente do que muitos pensam, hackers não invadem para prejudicar ou destruir sistemas. Em nosso ambiente, o sucesso é muito valorizado e existem hackers que têm honra, que invadem sem objetivo de ter ganho, apenas para se valorizarem no grupo. Em um grande portal de esportes, consegui acessar um banco de dados que continha nomes, senhas e até números de cartões de crédito (o site tinha uma loja virtual). Tive acesso aos arquivos dos servidores e a todos os sistemas do site. Depois de uns dias, resolvi brincar ali, pois o site publicou notícias contra o meu time, Flamengo. Coloquei à mostra, na página inicial, todos os números dos cartões de crédito (o site tem tres milhões de visitas desenvolvidos materiais, como gibis e diferença entre ‘hacker’ e ‘cracker’. Eles cartilhas, que aliam diversão ao conteúdo sabem como fazer essa distinção, mas e entretêm os jovens. Além disso, são você não deixa! Você insiste em usar o oferecidas matérias como Segurança em termo ‘hacker’ pejorativamente. Quando Computadores, Empreendedorismo na os repórteres tentam usar outra palavra Internet e Ética Hacker: ou explicar os outros significados, você – Tivemos muitos contatos com muda, edita, corta”, diz a carta. Hackers para saber como e o quê O remetente ainda tentou definir ensinar nas aulas de segurança de o hackerismo, alegou não ver problema computação. Um deles foi o Gustavo em assumir que é um hacker e apontou Noronha, que desenvolveu as aulas de os jornais como os principais Python (uma linguagem de responsáveis pela manipulação da programação). Já as aulas de ética opinião púbica em relação ao termo: “Eu foram criadas junto com o sociólogo sou um hacker. Ou seja, eu gosto de Sérgio Amadeu, e as disponibilizamos computadores – trabalhar com eles, gratuitamente para os alunos fazerem aprender sobre eles e escrever programas o download de suas casas. As aulas têm inteligentes. Não há nada de vergonhoso conteúdo relacionado a conceitos de no ‘hackerismo’ que eu faço, mas quando ética e filmes que os jovens gostam. conto às pessoas que sou um hacker, elas Segundo Marcelo, uma estatís- pensam que eu estou admitindo algo tica revelada pelo ex-diretor geral da inapropriado e perverso – porque jornais Associação Brasileira de Inteligência como o seu empregam erradamente a (ABIN), Mauro Marpalavra ‘hacker’, celo, também dando a impressão impulsionou a que ela significa idealização do ‘invasor’ e nada Hackerteen: 80% dos mais”. crimes que ocorrem na – Se o jornaInternet são cometilismo, seja no jornal dos por jovens. impresso, na TV ou Marcelo Marques mesmo na própria também ressaltou que web, tratasse os o mercado de trabalho hackers a partir de está à procura desses seu significado verFalta de segurança digital: atribuída aos hackjovens: dadeiro, não haveria ers, mas criada por crackers – Há empresas tanta confusão entre que procuram jovens os significados de para trabalhar na área de Tecnologia da hacker e cracker – disse R.C.. O hacker Informação, e são poucas as que conse- também lembrou que o jornalismo é guem encontrar o jovem que tem um formador de opinião – Acompaconhecimento no assunto – destacou ele, nhando as notícias, as pessoas que reforçou a meta do Hackerteen em estruturam suas idéias e pré-conceifazer com que os jovens aprendam como tos, e à medida proteger os dados das empresas, para que a mesma assim se direcionarem a um futuro na palavra vai apaárea de tecnologia. recendo nessas notícias, sempre A CULPA É DA MÍDIA com intenção Em seus websites, os hackers se pejorativa, é assimostram insatisfeitos principalmente milada por com o emprego errado, por parte da leitores e espectamídia e dos veículos de comunicação, dores”. do termo hacker. Para eles, seu uso Mas não pejorativo foi o principal responsável é toda a grande pela “má fama” que os hackers têm hoje mídia que não sabe (ou que omite que junto à sociedade. sabe) a diferença entre hacker e cracker. No site The Jargon File, há uma Marques apontou uma reportagem do carta de desabafo de um hacker telejornal SBT Brasil, do dia 25 de agosto destinada ao editor do jornal norte- de 2005, disponível no Youtube (www. americano Wall Street Journal. Nela, o youtube.com/watch?v=7OLs Vlaa6-M), hacker culpa os editores dos jornais que ele considera “a melhor” quando se pela insistência em empregar o termo trata de estabelecer essa diferença. A recom conotação negativa, alegando que, portagem – que cobriu a Operação mesmo que os repórteres saibam o real Pegasus, deflagrada pela Polícia Fedesignificado da palavra hacker, são eles, ral em 2005, e foi construída a partir de os editores, que os restringem a um menino de 13 anos –, além de usar a permanecer no erro. “A coisa mais expressão “hackers do bem”, deu detatriste é que seus repórteres sabem a lhes sobre o projeto Hackerteen. 14/11/2008, 10:13 11 NO 11 - 2007/1 Os sem-tela ficam para trás Ficar fora da Internet dificulta socialização e diminui oportunidade de emprego Com uma vida diferente da de boa parte dos jovens, que se socializam cada vez mais pela Internet e pelos serviços que ela dispõe - como bate papos pelo MSN Messenger e encontros na rede através do site de relacionamentos do Orkut - Renan Costa Silva Júnior, de 19 anos, morador da comunidade Morro dos Macacos, em Vila Isabel, tem acesso à rede duas vezes ao mês em média. Trabalhando como assistente de cabeleireiro durante o dia e estudando à noite, ele é privado não apenas dos hobbies da juventude, como também de oportunidades de mudar de vida. Pela falta de domínio da Internet, acaba de perder uma vaga de emprego para assistente de escritório. “Estou ficando pra trás”, declara. Seu contato escasso com a rede de computadores, limitado às poucas vezes que pode ir a lan houses - quando há disponibilidade de tempo e de dinheiro – traz dificuldades para Renan. Na hora de “navegar”, ele se diz perdido, principalmente no momento das pesquisas escolares. “Não sei fazer pesquisas no computador; levo séculos para achar um trabalho e mais séculos para escrever. Não tenho prática”, explica. No país, enquanto 69,21% das pessoas com rendimento mensal igual ou superior a R$ 1801 acessam a Internet diariamente, o número correspondente para as que recebem até R$ 300 por mês não ultrapassa 20,09%, de acordo com os cálculos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Esses 20% da população acessam a rede geralmente no local de trabalho, na casa de amigos, em lan houses ou em centros de inclusão digital, que é o caso de Maxilene Alves do Nascimento, de 17 anos. Aluna do programa CyberEscola, projeto desenvolvido pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ITCP/UFRJ), ela vê no domínio dos computadores, em especial da Internet, a chance para crescer na vida e conseguir bons empregos. Sempre à procura de cursos gratuitos, tenta ultrapassar os limites impostos por sua condição social: “é um meio importante para tudo e as pessoas que acessam estão sempre à frente. Então, eu faço tudo o que aparece, porque eu me ocupo e me capacito mais”. Apesar das adversidades de morar em um bairro afastado em Nova Iguaçu e de lidar com uma rotina diária que lhe toma boa parte do tempo - como cuidar de dois irmãos mais novos e da casa enquanto a mãe cozinha para fora, freqüentar a escola à noite e trabalhar como manicure para ajudar nas despesas - ela não abre mão da possibilidade de ser uma internauta. “Faço cursos de informática de terça a sexta-feira, na parte da manhã. Não deixo de ir porque acho que muita coisa pode melhorar quando eu aprender a mexer na Internet, até mesmo a minha renda”. Maxilene ainda vai além nos seus planos em relação à Internet: ela sonha em abrir uma lan house com o namorado, podendo fazer a manutenção das máquinas e se responsabilizar pelo acesso à rede. “Quando terminar o curso, vou estar mais preparada para lidar com o computador. É para isso que estou me capacitando”. No país, 90% da população que domina as tecnologias de comunicação e informação, em especial a Internet, pertencem às classes A e B. Este índice evidencia a expansão das diferenças sociais para a área digital e a discrepância, cada vez maior, de chances oferecidas para ricos e pobres. No entanto, apesar da escassez, Maria Santana Costa Pena de Moraes, encontrou uma oportunidade e agarrou-se a ela. Paraense de 26 anos, Maria Santana percebeu, ao vir para o Rio de Janeiro em busca de trabalho, que só atingiria seu objetivo se soubesse lidar com o computador: – Vim correr atrás de uma oportunidade, mas eu só conseguia entregar papelzinho na rua ou ser garçonete. Então, percebi que me faltava algo. Fiquei sabendo de um curso de informática e, como não pagava nada, entrei na fila imensa e não desisti. Ela se capacitou pela ONG Comitê para Democratização da Informática do Rio de Janeiro (CDI), onde hoje trabalha como auxiliar administrativa. Maria Santana credita seu sucesso aos conhecimentos da era digital: – Antes de saber mexer na Internet, me sentia excluída da sociedade. Depois que aprendi, conquistei meu espaço. Eu acredito que a inclusão digital pode melhorar nossa vida, nosso país, nosso mundo. DIGA-ME ONDE MORAS ... ... E TE DIRE M ÉS DIREII QUE QUEM 0,23% - Norte 0,65% - Centro-Oeste O acesso diário a Internet é feito, em sua maior parte, pelos ricos. Por não disporem de conexão banda larga – que, apesar de o preço ter caído, continua cara para a grande maioria dos brasileiros – os pobres tendem utilizar a rede de computadores com menor freqüência, respeitando os horários com tarifas reduzidas para conexões discadas (dial-up), sendo 0,89% - Nordeste 1,44% - Sul 4,42% - Sudeste o jornal.pmd Ilustração: Aline Arnhold Kareen Arnhold 11 14/11/2008, 10:13 eles de 0 a 6 horas durante a semana, a partir das 14 horas aos sábados e durante o dia todo nos domingos e feriados. Um mapa da quantidade de acesso diário por região do Brasil evidencia a concentração de ricos no Sudeste, em contrapartida à de pobres no Norte, segundo dados da PNAD. 12 NO 11 - 2007/1 CÉSAR MAIA, BLOGUEIRO ASSUMIDO, USA Eduardo Melido DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 24/04/2007 – 18:39 Boa tarde, Sou Eduardo Melido Ribeiro, aluno do 6º período de jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Eco/UFRJ). Gostaria de fazer uma entrevista com V. Exa. para a disciplina Jornal Laboratório. ... Enfim, imaginando a dificuldade de um estudante entrevistar o prefeito do Rio, gostaria de saber quais são as possibilidades de lhe enviar algumas perguntas e receber resposta nos próximos 15 dias ou se for possível driblarmos todas as dificuldades, entrevistar V.Exa. pessoalmente. Tentarei aproveitar o material que já pesquisei na internet, mas espero contar com suas declarações em uma entrevista exclusiva. Grato, Eduardo Melido Ribeiro. EMR DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 24/04/2007 – 19:03 Eduardo, Aguardo as perguntas por e-mail. CM CM, esta é a assinatura do e-mail pessoal de César Maia (DEM). Prefeito do Rio de Janeiro, ele é o representante máximo dos políticos-blogueiros, homens do novo século que usam a Internet como ferramenta política. CM quebra incríveis recordes de resposta de e-mail, parecendo que o prefeito passa o dia inteiro na Internet, possivelmente um milagre para o administrador da segunda maior metrópole brasileira. Auto-proclamado ouvidor, consegui uma entrevista exclusiva com o prefeito, na verdade, é uma série de troca de e-mails entre [email protected] e [email protected], este e-mail é anunciado no site do prefeito como um e-mail pessoal. Ninguém pode confirmar se falei mesmo com o César Maia. Trocamos muitos e-mails desde o o jornal.pmd 12 primeiro contato, até o fechamento desta edição, no total, foram 21. DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 27/04/2007 – 12:26 DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 27/04/2007 – 20:19 EMR: Há quanto tempo o senhor usa a Internet? CM: Desde 1995. EMR: Quanto tempo o sr. usa por dia, em quais horários? CM: Concentradamente das 5 hs as 7hs e das 22hs as 24s. E sempre que surge um contato importante a fazer ou responder. Tres vezes por dia checo as noticias. EMR: Quem opera o e-mail? E o blog? CM: Sim. O ex-blog conta com 3 jovens. EMR: O sr. lê todos os mails ou há alguém para “filtrar” spams, entrevistas, debates, notícias, enfim. CM: De meus tres e-mails pessoais, sim. Só quando estou ausente que peça para um assessor repassar as reclamações para os secretarios. EMR: Quando surgiu a idéia do blog? Quais eram suas principais razões? CM: Surgiu em 2004 em função das eleições presidenciais nos EUA. EMR: Por que transformá-lo em um exblog? CM: Para reduzir o tempo que o blog exigia. EMR: O senhor acha que está fazendo o papel de jornalista ao trazer informações em seu blog? CM: Não. É um blog de politico. EMR: Existe algo que o sr. acha q ficou “devendo” a população? CM: Nunca se completa tudo. Nem na Finlandia. EMR: Nos e-mails recebidos, há muitas críticas? CM: Há de tudo. EMR: O sr. pretende usar a internet como ferramenta de uma possível campanha em 2008? CM: Faço isso desde 1996. EMR: Quais são seus planos para o exblog? CM: A vida dirá. Não sei. Inauguro um site com os mais modernos instrumentos usados por poucos politicos e vou continuar com os dois. Vamos ver. EMR: E já pensou em usar o blog/mail como um fórum de debate de assuntos e planos que chamassem mais atenção da população? Tais como planos para Políticos do século XXI descobrem na internet uma nova forma de atuação. No Rio de Janeiro, o prefeito César Maia criou um blog pessoal e em pouco tempo ganhou destaque entre os cidadãos cariocas e a imprensa. Mas o que tanto atrai os internautas? segurança e educação, por exemplo. CM: De certa maneira isso é feito, embora não simultaneamente. EMR: A que o sr. atribui tanta repercussão quando polemizou a campanha presidencial de 2006? CM: Talvez a falta de informação com lastro teórico pela imprensa. EMR: A imprensa lhe dá voz suficiente? O blog serve além de tudo, como uma forma de expressar algo que não seria publicado? CM: O suficiente. Certamente. EMR: Aos críticos que dizem que o prefeito do Rio não deveria ocupar-se tanto com um blog/Internet, o que responder? CM: Minha jornada começa as 5 horas e termina as 24 horas. Com tempo para banho,....são 16 horas. A jornada de trabalho formal são 10 horas. CM EMR: Já podemos combinar uma réplica? Grato, aguardo pacientemente suas respostas. Em entrevista por e-mail ao Correio Braziliense, César comparou o tempo gasto com o uso da Internet com a administração da cidade: “O e-mail multiplica por 100 a capacidade de decidir, afinal são 300 e-mails diários, sendo que 100 são spam ou quase isso. Basicamente recebo reclamações. Sou um ouvidor.” Foi o blog www.cesarmaia. blogspot.com que potencializou o contato do prefeito com cidadãos, aliados, opositores e jornalistas. O 14/11/2008, 10:13 blog foi o fenômeno da blogosfera política. Mas em novembro de 2005, César criou o ex-blog oficial, na verdade, o blog do prefeito passou a ser uma lista de e-mail enviada para as pessoas cadastradas. César Maia não é o único a desfrutar dos prazeres das ferramentas na internet. O ex-governador do Rio, Anthony Garotinho resolveu atacar a partir de 27 de março de 2007 um novo front, o Blog do Garotinho www.blogdogarotinho.com.br. Lá o desempregado político usa das artimanhas da rede para exaltar sua personalidade, ele conta apenas com comentários moderados, logo, apenas elogios são postados e as críticas desconsideradas. Sem tanta repercussão na imprensa como o do desafeto, o exgovernador reforça seus ideais no blog e resolveu partir para o ataque contra grandes organizações, em especial, contra a Rede Globo, a quem acusa de ter feito uma campanha “dolorosa e mentirosa” contra ele próprio enquanto précandidato a Presidência. Já as Instituições como Senado Federal, Câmara dos Deputados, Assembléias Estaduais, além do Poder Judiciário e Executivo embarcaram no boom da tecnologia há muito mais tempo: Canais próprios de TV, jornais e publicações próprias e websites modernos e atualizados. Desde 1936, os brasileiros ouvem no rádio a “Voz do Brasil” trazendo o noticiário oficial dos Três Poderes. 13 NO 11 - 2007/1 adaptação da charge República Pizza Bar A WEB COMO FERRAMENTA POLÍTICA O ex-blog do prefeito carioca chamou atenção especial durante as eleições 2006. Mesmo sem ser candidato, César Maia roubou a cena nas páginas políticas de jornais, sites e blogs. Ele é um dos maiores críticos da política do PT e de Lula, e na época do Mensalão, iniciou uma guerra no mundo virtual: invasões de blogs, spams e hackers nos sites dos partidos. DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 01/05/2007 – 19:25 DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 01/05/2007 – 20:08 EMR: As notícias de invasão em seu blog eram verdadeiras? Houve um “ponto crítico”? CM: Houve uma vez. Mas as noticias foram sobre invasao nas caixas de alguns assessores. EMR: A atuação política na Internet é fundamental para o administrador do século XXI? CM: Certamente. EMR: Quais são seus planos para o futuro político? Alguma candidatura em vista? CM: Começo a pensar em 2009. EMR: O público do seu ex-blog é formado por simpatizantes de sua política e jornalistas? CM: Há todo perfil de pessoas. As inscrições são voluntarias, em geral pelo boca a boca ou por redes que repetem. EMR: O que o sr. considera mais o jornal.pmd 13 importante nos e-mails que recebe? Seriam as reclamações, os debates? CM: Reclamações servem como pesquisa. Sugestões como participação. CM Durante as eleições, César mostrou apoio ao candidato Geraldo Alckmin até o momento em que o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, resolveu abraçar a campanha tucana. Alckmin virou alvo de Maia, que a cada dia, lançava novas críticas em relação ao então candidato do PSDB e Anthony Garotinho. DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 05/10/2006 – 09:30 “1. A assessoria de Alckmin (esperase que tenha sido a assessoria) promoveu um encontro dele com Garotinho em SP, provavelmente pela leitura equivocada do resultado eleitoral no Rio (...) Avaliar o resultado comparando Lula e Alckmin é um equívoco de quem faz política apenas com equações de primeiro grau. 3. Esse Ex-Blog desafia a candidatura de Alckmin a aparecer no calçadão de Copacabana no domingo, ao lado do Garotinho. Recomenda-se capacete de aço. 4. (...) Acabou a força do discurso ético da candidatura de Alckmin no cidade do Rio de Janeiro. O eleitor vai dizer assim: - Como diz o Lula, são todos iguais. 7. Foi o Beijo da Morte. Um abração do Garotinho: abraço de afogado!” Em seus blogs, os políticos fluminenses também aproveitam seus espaços para criticar outros políticos. Garotinho não cansa de elogiar a esposa e ex-governadora Rosinha e na coluna diária Papo de Blog, ele comenta um determinado tema/notícia do dia. Já, César Maia ressalta as boas ações da prefeitura, comenta a política nacional e internacional e traz notícias que não são encontradas no noticiário convencional. Os Partidos Políticos também vêm aumentando sua atuação na Internet, o PT de São Paulo hospeda blogs de seus políticos, o Democratas também conta com outros políticos blogueiros e tem um blog do partido. PMDB, PP e PTB são alguns dos partidos que têm políticos blogueiros, com um diferencial em relação aos fluminenses, todos funcionam como páginas oficiais, impessoais, longe da informalidade de César Maia ou da ferocidade de Garotinho. Além dos sites próprios, a interação da população chama atenção e faz brilhar os olhos dos políticos brasileiros, muitos com perfis no orkut e com os partidos financiando blogs e imóveis no Second Life, como Democarátas, PCB e PSDB. (veja mais da atuação política no Second Life, na página XX) DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 08/05/2007 – 18:06 DE: [email protected] PARA: [email protected] DATA: 08/05/2007 – 23:11 EMR: Quais eram os outros objetivos iniciais do blog? CM: Controle do governo federal. EMR: A participação de jornalistas na troca de e-mails é constante? CM: É intensa. EMR: Na sua visão, o grande boom do ex-blog foi nas eleições 2006? CM: Continua no mesmo patamar. A diferença é que na eleição pauta mais a imprensa. EMR: O sr. troca idéias com outros políticos do DEM sobre a idéia de um blog? Alguém já pensa em adotar a idéia? CM: O DEM está adotando assim como outros parlamentares. CM César Maia sofre com críticas por ser blogueiro, em resposta aos cariocas que se preocupam com um prefeito antenado, enquanto assistem à degradação da cidade, CM preferiu recorrer à matemática em seu e-mail-entrevista: - Minha jornada começa às 5 horas e termina às 24 horas. Com tempo para banho,... são 16 horas. A jornada de trabalho formal são 10 horas. Em nossa última troca de e-mails, pergunto à CM o que tanto atrai em seu ex-blog: “O fundamental é a informação primaria, que não está disponivel em nenhum lugar e que é dada em primeira mão. Isso é o que atrai. Mas para isso ela sempre deve ser absolutamente confiavel.” Outros prefeitos ao redor do mundo que usam a Internet: Com uma rápida pesquisa no Google, encontramos dois exemplos internacionais, são o prefeito de Albuquerque, maior cidade do Novo México, Sudoeste do Estados Unidos, no endereço http:// www.cabq.gov/blogs/mayor/ e o prefeito de Londres, Ken Livingstone em seu blog http://www.mayor-of-london.co.uk/ blog/ . Nestes blogs, os temas sociais são debatidos por parte da população diretamente com o prefeito, no caso americano, o modelo de Escolas Públicas que a cidade adotaria foi pauta do blog em 2006. No blog londrino, Ken Livingstone apresenta temas como os custos para as Olimpíadas de 2012, o aumento de taxas, a guerra contra o terrorismo, entre outros assuntos, além de glorificar a capital da Inglaterra . 14/11/2008, 10:13 14 NO 11 - 2007/1 Internet leva arte de volta à Academia Net Arte nasce de experimentações estéticas e pesquisa tecnológica nas universidades Imagens de De vez em Nunca, trabalho da net.artista Giselle Beiguelman Luiza Duarte Um deserto virtual composto de paisagens, por onde o viajante navega. Um click em determinada superfície o transporta para um desconhecido novo ambiente. Em um dos cenários os avatares dos diferentes usuários podem interagir diretamente com outros, via chat. O projeto Desertesejo de realidade virtual, desenvolvido em 3D pelo net.artita Gilbertto Prado, explora poeticamente a extensão geográfica, rupturas temporais, a solidão, a reinvenção constante e a proliferação de pontos. Imagens captadas por até 50 celulares simultaneamente disponibilizadas à manipulação na internet, através do teclado e do mouse. Em De Vez em Nunca, trabalho da net.artista Giselle Beiguelman desenvolvido em 2005, as pessoas são convidadas a recompor a ordem dos quadros, reeditando o filme original e introduzindo filtros de cor sobre as imagens. A arte desenvolvida na ou para a internet é conhecida como Net.art, web art ou internet art. Assim como o vídeo nos anos 60 proporcionou a vídeo arte, a internet no final dos anos 90 se tornou um meio viável para artistas darem forma as suas idéias. Essas experiências artísticas utilizam o mais contemporâneo dos suportes: a internet. PESQUISA, CONCEITUAÇÃO E CRIAÇÃO SIMULTÂNEAS Eles são professores universitários, pesquisadores da comunicação e semiótica de todo o mundo, estudam a comunicação em rede, discutem a interatividade e fazem arte. Gilbertto Prado é net.artista, participante do grupo Art-Réseaux e professor do departamento de Artes Plásticas da USP. Desertesejo foi apresentado pelo Itaú Cultural, na 25ª Bienal de São Paulo, Núcleo Net Arte Brasil e em outros eventos como o 9º Prix Möbius o jornal.pmd 14 International des Multimédias - Pequim, China, 2001. Giselle Beiguelman é net.artista, vencedora do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia, professora do Departamento de Comunicação da PUC-SP e coordena, em parceria com Vera Bightti, o grupo de pesquisas Net Art: perspectivas criativas e críticas. Seus trabalhos participaram de exposições na 25a Bienal de São Paulo, no Museu de Arte e Mídia na Alemanha e na Fundação Telefônica, em Madri. Diferente do ocorre com pintores, escultores e desenhistas que se tornam professores por ser, muitas vezes, a única saída para se trabalhar com arte, no país. O net.artista não leciona porque não consegue viver da sua arte. A pesquisa acadêmica, a produção textual e o contato com os alunos fazem parte do processo de elaboração das obras. A ação artística está inserida na pesquisa e a pesquisa na ação artística. Para Giselle Beiguelman “os net.artistas são os que pensam e problematizam a cultura de rede”. A russa Olia Lialina é uma net.artista modelo, reverenciada por seus pares. Criadora da Art.Teleportacia, primeira galeria virtual dedicada exclusivamente a esse tipo de arte e primeira a comercializalas, ela é uma artista multimídia premiada, formada em jornalismo, professora universitária da Merz Akademie Stuttgart, curadora e crítica. Roda o mundo realizando palestras, workshops, seminários e participando de júris. Ela é precursora na conceitualização da net.art e referência como modo de atuação do net.artista. Além de suas obras online e página pessoal ela mantém uma página de apoio as suas aulas e um blog que usa a metalinguagem para discutir com alunos questões relativas a comunicação e novas tecnologias. O domínio de softwares sofisticados não é pré-requisito, mas a maior parte dos net.artistas desenvolvem seus próprios aparatos tecnológicos e dispositivos hi-tech, que desconstroem imagens, jogam com textos, sons, vídeos e produzem gráficos e desenhos. Os net.artistas são quase todos doutores, pesquisam, conceitualizam e fazem arte simultaneamente, em geral, coordenam grupos de pesquisa sobre net.art e com a ajuda de seus alunos não deixam escapar nenhuma novidade tecnológica. Aficionados por computadores, dependentes da internet, um pouco por ser seu instrumento de trabalho outro tanto por vício, paixão. A relação do net.artista com a universidade é bem definida por Silvia Laurentiz, pesquisadora de arte e tecnologia e net.artista, que junto com Gilbertto Prado coordena um grupo de pesquisa em poéticas digitais da PUCSP, desenvolvendo trabalhos experimentais com a participação de professores, artistas e alunos da graduação e da pós-graduação. “Estamos sempre em constante pesquisa, reunidos em grupos de pessoas de diferentes formações com um interesse comum, e isto, faz com que as pessoas se concentrem em núcleos críticos e com produção criativa, logo, as universidades têm sido ambiente fértil e propício. Além da PUC-SP e da USP, cito também Unesp, Senac, Anhembi-Morumbi; sem falar em outros estados, como Brasília, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia”, afirma. A internet trouxe autonomia aos artistas, permitindo que eles solidificassem redes em todo o mundo. Em geral eles se conhecem pessoalmente de congressos e bienais internacionais. Os sites pessoais, coletivos e galerias virtuais facilitaram a realização, divulgação e comercialização de suas obras de forma independente. Giselle Beiguelman é uma das diretoras da Noema, primeira galeria voltada para arte digital criada no Second Life, um empreendimento brasileiro que propõe exposições 14/11/2008, 10:13 itinerantes em espaços reais. “A Noema pensa e propõe um projeto para o século XXI : inventar condições para a criação, difusão e circulação das obras sem transformar a obra de arte em eufemismo de varejo, nem o artista em outdoor ambulante de corporações”, defende, depois de garantir que seu sonho é ter uma obra comprada e exposta no site do Google. POR QUE ARTE NA INTERNET? Aparentemente recente, meganovidade para alguns, a net.art tem trabalhos que datam de 1997, dez anos atrás. Net.artistas brasileiros reconhecidos mundo afora são desconhecidos para galerias, museus, críticos e centros culturais no Brasil, a grande mídia tampouco parece os ter descoberto. Os net.artistas falam em negação do suporte, ou seja, a internet não seria apenas o que a tela é para a pintura, ela seria um campo de criação de sentido. “Quando utilizo as redes, utilizo-as como linguagem e não apenas como um suporte. Isto traz conseqüências importantes, pois estou considerando que ali contém células expressivas e de comunicação; não estou apenas passando idéias por mais um suporte, elas nascem exatamente da confluência entre meu pensar, e o potencial destes meios”, define Silvia Laurentiz. www.Net.Art guggenheimcollection.org zkm.de itaucultural.org.br/desertesejo desvirtual.com/portfolio.htm webbiennial.org 15 NO 11 - 2007/1 A TV pela internet: esta comodidade é ilegal? Mariana Esteves Antes de sair para ir à faculdade, Ana Elisa Vianna, de 22 anos, deixa tudo preparado em seu computador. Lost, 24 Horas e Jericho – três dos seriados favoritos dela – já estão engatilhados no seu programa torrent, que irá baixar em cerca de 40 minutos os últimos episódios de cada um deles. Aninha, como gosta de ser chamada, pode ser considerada por muitos como uma aficcionada por séries. Conhece tudo o que passa e o que já passou no canal Sony, tem caixas e mais caixas de DVDs de seriados de todos os tipos. Um verdadeiro sonho de consumo para os canais a cabo que transmitem essas produções americanas, não fosse o fato de que, dos oito seriados que acompanha semanalmente, apenas um ela vê pela TV. A prática de download de séries vem se tornando cada vez mais comum na internet. Depois do estrondo do download e do compartilhamento de músicas, o aumento da capacidade dos discos rígidos e as velocidades estelares a que as conexões chegaram permitiram a troca que arquivos mais pesados e complexos via web, como os vídeos. O princípio é o mesmo, e os impactos legais também. Há quase um ano, Aninha baixa episódios pela internet, tática que aprendeu com amigos. O acesso via web aos capítulos veio cair como uma luva para uma fã como ela, acabando com empecilhos como horários restritos, indisponibilidade e, claro, a ansiedade. “Comecei a baixar pela impossibilidade de ver pela TV, nos casos em que a série não é transmitida no país, e pela falta de tempo para assistir nos horários da televisão. Depois, mesmo que a série venha a ser exibida, eu continuo baixando, pois sempre estou em uma etapa mais avançada dos capítulos e não quero esperar meses por episódios novos na TV paga”, explica. Para os canais a cabo e as produtoras dos seriados, o download está virando uma questão séria, à medida que vai conquistando mais adeptos. Além da evidente preocupação com a pirataria ¬– quando os arquivos baixados são gravados em DVDs e revendidos sem autorização – os capítulos chegam à internet sem intervalos comerciais (maior fonte de renda dos o jornal.pmd 15 canais de TV) e passam por cima dos caros royalties que os canais nacionais pagam para ter direito à transmissão das séries. Isso torna o download ilegal? Para Aninha, não. “Eu não considero que o download sem fins lucrativos seja ilegal. Baixar, gravar e revender, é outra história”, diz. E a legislação brasileira concorda, em partes, com ela. Segundo o artigo 184 do Código Penal, constitui crime oferecer, com a intenção de lucro, produtos protegidos por direitos autorais. Já própria Lei dos Direitos Autorais, em seu artigo 46, estabelece que a reprodução de trechos de obras para uso privado não é considerada infração. Fica então para a interpretação de quem aplica a lei, a definição de “trecho”. COMO FUNCIONA É verdade que a maior parte dos sites que disponibilizam episódios inéditos de seriados o faz gratuitamente, de forma voluntária, sem aparente incentivo, a não ser o gosto pelo entretenimento. São verdadeiros mutirões de fanáticos por séries que fazem com que seja possível assistir a um episódio de Heroes com legendas em português, apenas um dia após sua exibição nos EUA. A rapidez desse processo é possível graças ao desenvolvimento e disseminação de tecnologias sofisticadas, como programas de captura digital de sinais de televisão e sistemas de compartilhamento de arquivos via web. O princípio é o mesmo do vídeo-cassete, só que, ao invés de emprestar para o seu vizinho a fita VHS, você disponibiliza o conteúdo para milhões de pessoas ao mesmo tempo, na rede mundial de computadores. Trata-se de uma atividade de grande alcance, porém extremamente simples, de forma que qualquer um pode participar. Para produzir legendas para os capítulos inéditos, por exemplo, basta ser bom em inglês e entrar em contato com alguns dos sites que disponibilizam essas traduções, como o www.legendas.tv . “Atualmente eu participo de uma equipe que faz a legenda de Lost” – conta Aninha – “Como estudante de licenciatura em inglês, tradução é uma atividade que me interessa e a legendagem me permite praticar.” Os downloads rápidos e fáceis de séries de TV pela internet se popularizam cada vez mais SUBSTITUIÇÃO DA TV? Toda essa comodidade dos downloads – rapidez, eficiência, horários flexíveis – pode levar a pensar que a exibição de seriados pela TV está com os dias contados. Mas não é bem assim. Essa prática, apesar de estar em expansão, depende muito de conexões rápidas e de computadores velozes, recursos ainda restritos a uma pequena parcela da população brasileira. Além disso, ainda é limitado o número de pessoas que baixam episódios pela web, se comparado ao número de assinantes de TV a cabo que não o fazem. Bem ou mal, o download ainda é uma atividade ligada a um público fã mais engajado e conhecedor de internet. E mesmo para os canais de TV, o download não é de todo mau. Numa recente entrevista ao jornal Agora São Paulo, Stefania Granito, gerente de marketing dos canais Sony, AXN e USA, disse acreditar que o download ajuda da divulgação das séries. São inúmeros os blogs e sites especializados que acompanham passo a passo o desenvolvimento das tramas, gerando discussões que não seriam possíveis sem o download. Muito se comenta na comunidade online sobre seriados que ainda irão estrear na TV a cabo brasileira, o que gera um marketing viral precioso para os canais. O caso mais recente foi o do super aclamado Heroes, série que movimentou intensos debates na internet antes mesmo de ser exibida pela USA, gerando grande expectativa para a estréia. Para muitos fãs como Aninha, se a TV ainda quer mesmo garantir a sua 14/11/2008, 10:13 parte com a exibição de séries, ela deve melhorar seus serviços ao invés de condenar o download. A chave é investir na rapidez com que trazem essas produções para a telinha, além de privilegiar as novidades do ramo e repetir menos capítulos de seriados antigos e temporadas velhas. COMO BAIXAR SUA SÉRIE FFAAVORIT A: VORITA: 1- Programas bittorrent, como o Utorrent, um software de compartilhamento de arquivos entre usuáriosque utiliza vastos bancos de dados disponíveis em sites como www.mininova.org e www.torrentspy.com. Vantagens: arquivos fáceis de encontrar e download rápido. 2- Sites especializados, como o www.isfree.tv. Vantagens: não é necessário instalar nenhum programa. 3- Orkut. onde sérires populares têm comunidades movimentadas, com links para download de episódios recentes. Vantagens: não é necessário instalar nenhum programa. 4- Para o caso de seu arquivo de vídeo vir sem legendas em português, você poderá baixálas em www.legendas.tv ou www.opensubtitles.org. 16 NO 11 - 2007/1 Você não lambe o selo, mas elas colam A maioria das correntes de e-mail vai para a lixeira, mas é bom saber que algumas já atravessaram as fronteiras do mundo virtual e foram parar em jornais e até no palácio do Itamaraty Alice Assumpção “Eu odeio correntes de e-mail”, porém, serviço. vale prestar atenção a uma ressalva: esA designer de interiores Jussara sas men-sagens noti-ciosas não se Romaguera é outra adepta confessa dessas restringem a inverdades, “teorias da cons- mensagens eletrônicas. “Fiquei sabendo piração” e lendas urbanas. Ao menos é o da onda do golpe de falso seqüestro por que afirma o professor de biologia Daniel telefone antes de os jornais e revistas Polly, que tem autoridade para falar do começarem a noticiá-la, pois recebi assunto: guarda, há oito anos, todas as correntes com relatos de pessoas que correntes que recebe, já tendo em seu “ar- haviam recebido esses telefonemas e quivo” algumas centenas dessas resolveram prevenir os amigos escrevendo mensagens eletrônie-mails que acabaram cas. “A maioria percorrendo a desses e-mails são Internet”. Jussara, mentirosos, mas, encontudo, admite que já tre eles, encontro foi tachada de também informações inconveniente. “Meu interessantes de utifilho costuma dizer que lidade pública, eu encho a caixa de serviços, segurança e correio de meus curiosidades. Procufamiliares”. ro sempre checar a A falta de converacidade delas, em trole sobre essas sites especializados” mensagens, contudo, afirma Daniel. Como faz com que a difusão lembra o professor, os indiscriminada de internautas brasileiconteúdos falsos se soros podem recorrer breponha à divulgação Página de falso livro americano em às páginas www. dos conteúdos verdaque Brasil aparecia sem Amazônia quatrocantos.com e deiros. Das 184 www.efarsas.com, correntes eletrônicas conhecidas por desmascarar falsos aler- apuradas pelo site www.quatrocantos. tas de e-mail, para descobrir se estão com, em seus cinco anos de existência, diante de mais uma pegadinha do mun- apenas 34 foram classificadas como verdo virtual. Nos Estados Unidos, o site dades ou meias-verdades. www.snopes.com dá conta desse mesmo Grandes corporações são os alvos preferenciais dessas mensagens mentirosas. Em entrevista concedida quando ainda era assessor de imprensa do McDonalds, Julio Menezes, da empresa de assessoria Companhia de Notícias do Rio, afirmou que o boato disseminado via email de que a carne dos hambúrgueres do Livro de geografia utilizado em escolas de segundo grau norteamericanas apresenta mapa em que a Amazônia e o Pantanal são denominados reservas internacionais. Difícil encontrar um internauta que não tenha se deparado com esse boato, difundido por correntes de e-mail na Internet brasileira no início do ano de 2000. Aos que acreditaram, um consolo: dois órgãos da imprensa brasileira também compraram a idéia. A versão eletrônica da revista Ciência Hoje e o Estadão publicaram o falso alarme como verdade em maio de 2000. Um mês depois da gafe, o embaixador do Brasil em Washington na época, Rubens Antônio Barbosa, divulgou uma nota de esclarecimento desmentindo a mensagem. O episódio, porém, gerou um mal-estar diplomático entre Brasil e Estados Unidos que culminou com a publicação de uma matéria do The New York Times, em junho de 2002, na qual o jornalão classificava o boato como “paranóia nacional” brasileira. O (mau) hábito de espalhar falsas histórias pode ser tão antigo quanto o próprio homem, mas há de se convir que a Internet, sobretudo os e-mails, tornou a vida dos linguarudos muito mais fácil. Isso porque, com poucos cliques, qualquer um dos 30 milhões de internautas brasileiros que possuem conta de e-mail pode enviar um texto (de conteúdo verídico ou não) a dezenas de amigos ou mesmo a toda sua lista de contatos. Basta que alguns desses destinatários se impressionem o bastante com a mensagem a ponto de reenviá-la aos mais George Bush tem o menor QI próximos para começar entre os presidentes americanos uma corrente de e-mail. dos últimos 50 anos? Antes de Não. Essa é para ninguém achar que lambanças aderir à comunisó acontecem na imprensa tupiniquim. Em 2001 esse dade do Orkut boato digital, baseado numa suposta pesquisa de um renomado instituto americano pautou o jornal inglês The Guardian e o neo-zelandes Southland Times. Livros didáticos coreanos colocam parte da China sob domínio da Coréia do Sul? Mentira. Essa corrente circulou na Internet chinesa no início deste ano. Dizia que livros didáticos de história do ensino médio sul-coreanos apresentavam mapas que decepavam parte do território da China antiga, atribuindo-os à Coréia. A história, desmentida pelo jornal sul-coreano Oh My News, faz lembrar o boato que circulou na Web brasileira em 2000, em que suposto livro didático norte americano apresenMapa de livros didáticos sultava o mapa do Brasil sem a Amazônia. Batatinha quando nasce espalha as ramas pelo chão? Certo. A saber: quem tem boca vaia Roma, corro de burro quando foge, quem não tem cão caça como gato (ou seja, sozinho). Cuspido e escarrado vem de esculpido em carrara, um tipo de mármore de alta qualidade. Condoleezza Rice é um estaleiro? Já foi. A Chevron, multinacional de petróleo, batizou em 2001 um de seus navios petroleiros de Condoleeza Rice em homenagem aos serviços prestados pela secretária de Estado norte-americana, que trabalhou por uma década na empresa. As fotos do navio que circulam na Internet, no entanto, são montagens grosseiras. Algum engraçadinho soube da história e falseou uma imagem para chamar mais atenção para a mensagem. O gesto da Chevron causou desconforto para a Casa Branca e, coreanos decepa a China: qualquer semelhança é mera coincidência o jornal.pmd 16 restaurante era feita de minhoca levou a cadeia de fast food a colocar o selo “100% carne bovina” na embalagem de seus sanduíches. Numa iniciativa semelhante, a Coca-Cola resolveu criar a sessão “boatos e mitos” em seu website para desmentir os 24 diferentes boatos difundidos via e-mail a respeito de seus produtos. Vincular nomes de marcas famosas a supostos escândalos ou atribuir a autoria de textos a escritores de destaque, são, aliás, a maneira mais fácil de fazer uma mensagem mentirosa chamar a atenção dos internautas e varrer a Web. É justamente por isso que tantas correntes trazem a assinatura de Luis Fernando Veríssimo, por exemplo. A bagunça é tanta que já rendeu um livro. Caiu na Rede, organizado pela jornalista Cora Rónai, traz uma seleção de textos de Internet de autoria erroneamente atribuída a escritores célebres. Cora consegue corrigir algumas injustiças, dando o devido crédito aos verdadeiros responsáveis por alguns desses apócrifos. Ronaldo Vasconcellos, analista de segurança do Centro de Atendimento a Incidentes de Segurança da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (Cais/RNP) compara as correntes de e-mails aos famigerados spams (mensagens comerciais consideradas a maior praga a Internet). “Spam e mensagens encaminhadas em massa por amigos têm uma característica em comum: normalmente são indesejados”. Antes de ler a seleção de verdades e mentiras que colocamos abaixo, é bom prometer: não vale copiar isto num e-mail e enviar aos amigos, melhor deixar para fazer esclarecimentos à moda antiga, no bocaa-boca. 14/11/2008, 10:13 17 NO 11 - 2007/1 Ronda virtual: como a polícia trabalha na internet Policiais enfrentam novos desafios diante dos crimes praticados após a expansão da rede mundial de computadores Mauricio Costa nacional, pois os administradores se negam a dar informações e nada está sendo feito. O máximo que fazem é retirar a página do ar. O usuário brasileiro deveria ter senso crítico e optar por outros sites de relacionamento”, alerta. O obstáculo limita, mas não impede investigações. A DRCI funciona ligada a todas as demais delegacias do Rio de Janeiro. A atuação conjunta com a 10ª Delegacia de Polícia, de Botafogo, resultou na prisão em flagrante de um menor que havia participado do assalto à ex-miss Brasil Leila Schuster. “Recebemos uma denúncia pelo Disque-denúncia de que o menor portava armas em sua casa. Investigamos seu perfil no Orkut, onde ele apresentava as armas em suas fotos. Como a 10ª DP era a responsável pelo inquérito do roubo, ela representou a busca e apreensão. Tudo foi encontrado conforme constava Pedofilia, apologia ao tráfico de armas e de drogas, ameaças, ofensas, difamação e injúria são casos comuns na DRCI, mas nenhum se compara aos delitos de fraudes. As maiores ocorrências são de estelionato e de furto mediante fraude. Quem nunca ficou ressabiado ao realizar compras em sites de comércio? Este tipo de usuário é o que possui mais chances de freqüentar a delegacia para denunciar crimes de estelionato pela internet. As principais vítimas são as que fazem transações em páginas com o mesmo propósito do MercadoLivre ou Submarino, como afirma a delegada Sânia Burlandi. “Falsos vendedores anunciam aparelhos tecnológicos como máquina fotográfica, retroprojetor ou impressora. Na verdade, muitas vezes aquilo ali é fraude. O comprador deposita uma Foto: Pedro Veríssimo Nada de gritos, presos algemados ou confusão. Na recepção da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) a vítima mais exaltada reclama em voz baixa. “É a segunda vez que venho aqui para tentar solucionar o problema do meu filho. Espero que agora tudo seja resolvido”. Patrícia Araújo da Silva, moradora de Oswaldo Cruz, chegou com papel na mão e muita dor de cabeça. Patrícia registrou queixa sobre fotomontagens de seu filho publicadas no Orkut. Nas imagens, o rosto do adolescente de 17 anos aparece em corpo de rato. Prontamente atendida, deixa a delegacia satisfeita e com a esperança de não precisar voltar. A queixa de Patrícia é mais uma na média de 25 por semana que a DRCI recebe. O problema é que nem todos podem ser solucionados imediatamente. Apesar de atuar com qualquer tipo de delito previsto no Código Penal e realizado através da internet, a ação policial no Orkut é restrita, como explica a delegada Sânia Burlandi. “Quando há algum crime neste site de relacionamento, o que nós fazemos é pedir os dados cadastrais do criador da página e o IP do usuário, para posterior apreensão da máquina. Entretanto, estou aqui desde janeiro deste ano e, mesmo enviando diversos inquéritos para a Justiça, não recebemos resposta”, alerta. Segundo a delegada, o problema está no fato de o Orkut ser ligado ao Google. Como a empresa norte-americana é hospedada fora do Brasil, o Sânia Burlandi explica como os sites de comércio se tornaram o carro-chefe das ocorrências trâmite é diferenciado, e o procedimento, demorado. Nos demais casos de crimes de informática, a polícia realiza nas fotografias”, explica Sânia Burlandi. quantia na conta do suposto vendedor Não são só assaltos e apologia ao e nunca recebe a mercadoria. Esse é o representação judicial pedindo a quebra de sigilo de dados do usuário da tráfico que fazem parte da investigação nosso carro-chefe. O furto mediante internet. Essa representação é encami- por Orkut e outros serviços da internet. fraude ocorre quando se subtrai um nhada para o Ministério Público, que se Dos mais complicados, os crimes de bem de alguma pessoa utilizando fraupedofilia também recebem atenção es- de. Exemplo é a utilização de senha sem manifesta a favor ou contra a quebra. Portanto, se o criminoso não for pecial na DRCI. O inspetor Márcio autorização do titular para realizar pego em flagrante, o máximo que po- Araujo lembra de um caso onde o in- transação bancária pela internet”, enfatiza a delegada. derá ocorrer é a retirada do ar do perfil vestigado acabou preso. Para efetuar denúncias de fraudes “Conseguimos chegar ou da comunidade no por estelionato na DRCI, a vítima deve até a máquina dele e, atraOrkut. Para o inspetor “O Orkut se vés da perícia, foi comparecer à delegacia e portar o comMárcio Araujo o problema caracteriza, verificado que era especia- provante de depósito do valor do é motivo de vergonha nalista em comunicação por produto em conta bancária. Se o compara mim, cional. MSN, Yahoo prador mantiver contato com o “É o caso mais chato como vergonha Orkut, Messenger para conversar vendedor por e-mail a investigação que encontramos aqui. Finacional” com menores. Fingindo ser deverá acelerar, isto porque é mais fácamos em um impasse onde eles não nos infor- Inspetor Márcio Araujo menor, tinha finalidade de cil de descobrir o IP do suspeito. Em caso de fraude de um banco convencer suas vítimas a mam nada e há muitas denúncias desse serviço. Cerca de 75% tirarem as roupas diante da webcam. O para outro (exemplo da transferência dos usuários são brasileiros e posso di- verdadeiro pedófilo não se encontra so- de dinheiro), a polícia solicita ao banco zer que a metade desse percentual é mente no Orkut, está camuflado neste as informações necessárias sobre a mocomposta por fakes. O Orkut se carac- site e usa outros artifícios para atrair as vimentação, como horário e dia. Há também o pedido do número do IP utiteriza, para mim, como vergonha pessoas”, lembrou. o jornal.pmd 17 14/11/2008, 10:13 lizado. Se, por acaso, o IP corresponde ao da Telemar, torna-se necessária a quebra de dados do usuário da internet. Assim, a polícia poderá descobrir, por telefone binado, o número do responsável por aquele telefone. Nos casos de vítimas pelo Orkut, os policiais realizam ronda virtual, ou seja, pesquisa pela internet, ou ainda ouvem as vítimas que se dirigem até a delegacia. Para registrar a ocorrência, ela deve levar impressa a página que contém os crimes. A DRCI também é res-ponsável pela administração da Delegacia Virtual. O programa passou a integrar eletronicamente todas as delegacias do Rio de Janeiro. As denúncias, anônimas ou não, também são efetuadas pelo site da Delegacia Virtual. Se preferir, a vítima pode comparecer em qualquer Delegacia de Polícia e fazer a queixa pesoalmente. Os policiais permanecem a maioria do seu tempo dentro da delegacia, recebendo queixas ou realizando investigações virtuais. Para buscas e apreensões distantes do perímetro da delegacia, o apoio do Grupo de Investigação Complementar é fundamental para o trabalho da polícia. “Para não retirar um policial que está registrando alguma ocorrência e mandá-lo para São João de Meriti, o GIC nos dá suporte e contata os policiais mais próximos do local”, informa Sânia Burlandi. As vítimas podem realizar denúncias acessando o site: www.delegaciavirtual.rj.gov.br Tipificações Penais investigadas pela DRCI Calúnia; Difamação; Injúria, Ameaça; Divulgação de segredo; Furto; Dano; Apropriação Indébita; Este–lionato; Violação ao direito autoral; Escárnio por motivo de religião; Fa– vorecimento da prostituição; Ato obsceno; Escrito ou objeto obsceno; Adultério; Incitação ao crime; Apologia de crime ou criminoso; Falsa identidade; Inserção de dados falsos em sistemas de informações; Falso testemunho; Adulterar dados em sistemas de informações; Exercício arbitrário das próprias razões; Jogo de azar; Crime contra a segurança nacional; Preconceito ou discriminação Raça-Cor-Etnia-Etc; Pedofilia; Crime contra a propriedade industrial; Inter-ceptação de comunicações de informática; Interceptação de email comercial ou pessoal; Crime de lavagem de dinheiro; Crime contra software - “Pirataria”. 18 NO 11 - 2007/1 Assim sou se lhe parece Paula Amorim Entrar no Orkut e se deparar com alguém se passando por você. Esta cena não é rara entre pessoas conhecidas do grande público ou mesmo seres humanos que vivem longe dos holofotes. Os falsos orkuts ou orkuts clonados, como alguns gostam de chamar, são capazes de enganar os mais desavisados e até constranger o alvo da cybercópia. Classificado como site de relacionamentos, o Orkut tem como característica a possibilidade de permanente contato com amigos, parentes ou pessoas que tenham “perfis” compatíveis. Esta aproximação permite que fãs alimentem o desejo de trocar mensagens com seus ídolos. Que adolescente não gostaria de receber recados de Rodrigo Santoro? Pois bem, em uma breve pesquisa encontramos cerca de mil “Rodrigos Santoros” e com diferentes características. Rodrigo Santoro, o verdadeiro, não possui orkut. As reações por parte dos clonados são as mais diversas. Em recente nota em sua coluna no jornal O Globo, Ancelmo Góes informou que o cantor Roberto Carlos estava irritado com o Google, atual proprietário do site, por ainda não ter retirado os perfis “ Roberto Carlos Braga”, “Roberto Carlos oficial” e “Roberto Carlos. O rei”. Em uma destas páginas, encontramos a descrição “Eu sou o Rei Roberto Carlos. Para os mais íntimos, Bebeto. Sou uma pessoa extremamente apaixonada pela vida, e pela minha carreira, adoro cantar!”. Mensagens apaixonadas são postadas em sua caixa de recados e fotos de sua carreira são exibidas em seu álbum. Está lotado com novecentos e setenta e quatro amigos. Apesar da irritação, Roberto Carlos ainda não acionou a Justiça para investigar os autores da falsificação. Porém, esta medida já foi tomada por outros artistas. A atriz Ana Paula Arósio contratou o advogado Michel Assef para que ele a ajude a retirar do ar uma falsa página sua no Orkut. No falso perfil consta que a atriz está aceitando trabalhos por um salário-mínimo, além de estar especificado que seu prato preferido é buchada de bode. O autor da difamação ainda não foi descoberto pela Delegacia de Defraudações. Em outro caso, o jogador de futebol Rogério Ceni do São Paulo o jornal.pmd 18 Falsidade ideológica na Internet: crime ainda sem solução No Orkut, proliferam perfis de falsos usuários e confusão entre anônimos e famosos Futebol Clube aparece em uma página declarando que seu maior sonho era jogar no Corinthians, clube que já o havia rejeitado alguns anos antes de se tornar jogador profissional. O jogador alguns meses atrás desmentiu as histórias dizendo que não tem conhecimento dessas informações e que não faz parte do Orkut. Até mesmo Orkut Büyükkökten, engenheiro de software que desenvolveu a rede social, enquanto uma das pessoas mais conhecidas do Orkut, teve seu perfil clonado com a inserção de comunidades homossexuais. O Google alega que analisa individualmente os perfis em questão e que nos últimos meses aumentou em mais de mil vezes a equipe de suporte que trata dos casos de abuso e conteúdo ilegal relatados por usuários. Contudo, Brad Pitt, Mick Jagger e Alanis Morissette continuam falando em português na página da Internet. 14/11/2008, 10:13 A lei brasileira prevê reclusão de um a cinco anos para os autores das “brincadeiras”. Mas a aplicação das leis vigentes para o território da Internet ainda tem percurso longo. Um dos principais problemas é que cada país possui seu Código Penal. No Brasil, a Constituição se estende a todos os cidadãos de nacionalidade brasileira, independentemente do território onde a ação seja cometida. Falsidade ideológica é crime em qualquer país, contudo a origem do delito e a forma de punição são empecilhos constantes para que os falsos perfis do Orkut sejam retirados do ar. O escritório brasileiro do Google afirma que nada pode fazer para atender às investigações, uma vez que dados referentes à identidade dos usuários estão localizados nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Porém, o des-cumprimento das ordens judiciais pode fazer com que seja aberto um in-quérito policial solicitando à Justiça a apuração das responsabilidades do Google Brasil. Alguns casos de cybercópias já foram apurados e solucionados. Em abril de 2005, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) tirou do ar os perfis do ministro chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, e da primeira-dama do Brasil, “Marisa Letícia, ambos falsos. 19 NO 11 - 2007/1 Na trave? Viral é gol de placa da propaganda Na internet, consumidores tornam-se ‘webcúmplices’ do marketing interativo Pedro Veríssimo o jornal.pmd 19 iniciativa: vender seus produtos e fortalecer sua marca diluindo o trabalho da divulgação no próprio mercado consumidor, sem que ele se sinta usado. Para o publicitário Antonio Pedro Tabet, administrador do blog ‘Kibeloco’, essa interatividade é o gran- “os consumidores se divertem, informam-se e se relacionam ao fazer essa propaganda disfarçada ” diz o publicitário Antonio Pedro Tabet relevante ao consumidor, geralmente é engraçado ou inusitado. O viral deve ser o primeiro a dar uma informação, despertando o desejo de compartilhá-la nos usuários”, disse o professor. Outro fator que dita o sucesso de uma campanha publicitária na EFE/Arte de Pedro Veríssimo Ronaldinho Gaúcho está sentado no gramado quando recebe um par de chuteiras novas. Rapidamente, dispõe-se a experimentá-lo. Calçadas as ‘chuteiras de ouro’, o craque evoca sua categoria habitual para levantar uma bola e, em sucessivas embaixadas, conduzi-la até a entrada da grande área. Ronaldinho brinca com a bola e, sem deixá-la cair, desfere um chute em direção ao gol. Para sua surpresa, a redonda bate no travessão e volta no peito do jogador. Ele domina, ajeita e chuta de novo. Agora você tem certeza de que a bola vai entrar. Que nada, ela volta a acertar o poste superior e cai nos pés de Ronaldinho. Não contente em apenas equilibrar a bola na cabeça, o habilidoso jogador repete a façanha de acertar as traves mais duas vezes e sai de campo sorridente. Quantas vezes você indicou esse vídeo a alguém? Ou melhor, quantas pessoas te enviaram e-mails ou comentaram com você sobre ele? E se, mesmo assim, você não se deparou com esse pequeno filme na Internet, ao menos deve tê-lo visto no Fantástico, com direito a narração de Cid Moreira e em pleno horário nobre de domingo na televisão aberta. Estava criada a polêmica acerca da veracidade do vídeo (“Será possível acertar o travessão quatro vezes consecutivas?”) e, com isso, intensificou-se o boca a boca sobre o assunto e, conseqüen temente, os acessos ao arquivo que, a esta altura, já não estava disponibilizado somente no site da Nike, mas nos mais diversos portais de hospedagem de vídeo, como o YouTube e seus similares. Era um viral. E ao se discutir se o vídeo era falso ou real, um número cada vez maior de curiosos ou autoproclamados ‘especialistas em montagens’, empenhados em descobrir falhas que indicassem Em vídeo divulgado pela Nike, Ronaldinho Gaúcho acertou a trave em quatro chutes consecutivos. Com as imagens espalhadas pela Internet, o craque se ‘multiplicou’ por todo o mundo levando a marca da Nike manipulação das imag e n s o u a p e n a s á v i do s por mostrar o vídeo aos amigos, fizeram da campanha ‘Joga Bonito’, um sucesso do setor de Marketing da Nike. A fornecedora de material esportivo do Barcelona, clube defendido por Ronaldinho Gaúcho, viu, com uma simples filmagem, que, certamente, não pesou no orçamento da empresa, o número de acessos a sua página na web aumentar consideravelmente. E o melhor da de segredo das peças de marketing que têm seu principal meio de propagação na Internet. “Acho que o grande lance é transformar o mercado consumidor em cúmplice. E fazer isso de uma maneira que o mercado não se sinta utilizado. Muito pelo contrário. Ele compra a sua briga”, disse Tabet, que tratou de defender a prática: “E isso não significa nenhum tipo de exploração. Afinal, os consumidores se divertem, informam-se e se relacionam ao fazer essa propaganda disfarçada. O cliente lucra, o mercado lucra e o veículo lucra. Não há perdedores,” continuou. Para emplacar, um viral precisa cumprir alguns requisitos. O professor JC Oliveira, da ESPM de São Paulo explicou o processo: “Nesse modelo de Marketing, o usuário é veículo. Para o conteúdo de uma peça ser ‘viralizável’, tem que ser 14/11/2008, 10:13 ‘grande rede’ é a maneira como a peça é divulgada. Propagadores de vídeos e notícias inusitadas, blogs famosos, como o próprio ‘Kibeloco’ de Antonio Tabet são os principais caminhos percorridos por uma ação de marketing da agência até os consumidores. “Ter bom relacionamento com os mantenedores de blogs de alta visitação é importante para as agências porque ajuda muito na divulgação das ações”, observou. 20 NO 11 - 2007/1 O mercado fonográfico na era digital Será o fim do CD? Renata Leal o jornal.pmd 20 Ilustração: Elisa Branco A era digital chegou e caminha a passos largos. As vendas de CDs não são mais as mesmas desde que os internautas conseguem pegar músicas na rede. O MP3, os celulares e todos os aparelhos eletrônicos que tocam músicas em formato digital estão espalhados por todos os lugares. Mesmo as gravadoras que relutaram em aceitar o novo mercado não querem mais perder as vendas online. O download vem crescendo em ritmo acelerado e promete, cada vez mais, um futuro próspero para aqueles que investirem. A indústria fonográfica está se reorganizando, o que não significa, ao menos por enquanto, o fim dos álbuns disponíveis nas lojas. Sinal dos novos tempos: desde 2004 a marca de premiação para vendagem de CDs foi reduzida. No Brasil, eram necessárias 100 mil cópias para o disco de Ouro, 250 mil para disco de Platina e vendas acima de 1 milhão para Diamante. Mas, esses valores caíram pela metade, apontando para um momento de crise no mercado. A indústria que movimentava R$ 1 bilhão e 200 milhões em 1995, em 2006, amargou uma queda, chegando a R$ 250 milhões, retração de quase 80% em uma década. “Acredito que o download pago é o negócio mais promissor do momento. O departamento de vendas online da Universal é recente, tem dois anos, e, de acordo com ele, é um dos setores que mais movimenta dinheiro para a gravadora.”, diz Gê Pinto, Diretor de Arte da Universal Music. A gravadora fez parcerias com sites como o IMúsica, Terra, Yahoo dentre outros e vem fechando novas sociedades no mercado digital. O primeiro site brasileiro de distribuição digital de música legalizada surgiu no ano 2000 . “O mercado naquela época ainda era um ponto de interrogação”, afirma um dos idealizadores do IMúsica, Felipe Llerena. O IMúsica, inicialmente, tinha um banco de dados composto por faixas de gravadoras independentes e canções fora de catálogo. Já nesse último ano, visitado por mais de 1 milhão de usuários mensalmente, o site pioneiro no país fez acordos de licenciamento com mais de 300 gravadoras e distribuidoras, entre as quais Warner Music, EMI Music, Deckdisc, Trama, Indie Records e Biscoito Fino. As gravadoras foram aos poucos entrando no mercado. A Trama foi a primeira no Brasil a vender faixas avulsas por download e produzir músicas exclusivamente para a internet. A Biscoito Fino não ficou para trás e também disponibiliza em seu site, além dos CDS, músicas que podem ser baixadas em formato MP3. Mas, de acordo com a gravadora, por enquanto o download no site é apenas marketing, ainda não tem representatividade nas vendas. O preço de uma faixa avulsa na internet custa a partir de R$1,99. Caso um internauta pegue um disco inteiro acaba pagando o preço de um CD comprado em loja. Uma característica marcante no consumo atual de música é o interesse por faixas individuais, em hits do momento, e não nos álbuns na íntegra. A Federação Internacional da Indústria Fonográfica - IFPI divulgou uma pesquisa em 2006 em que se estima que os downloads de singles subiram 89%, chegando a 795 milhões. Júnior Costa, 22 anos, estudante de administração, diz não gostar de comprar CDs por não escutá-los inteiros, “Eu gosto de ter no meu computador as músicas do momento, funks, hip hop, axé, e qualquer outro estilo que eu esteja curtindo.” O público dos sites de venda de música ainda não é formado por uma faixa etária jovem. Llerena acredita que um dos fatores princi- 14/11/2008, 10:13 pais para isso é as músicas serem vendidas através de cartões de crédito O estudante de economia Henrique Vasconcelos, 22 anos, diz pegar músicas da internet não só pela facilidade como também por ainda ser um produto de graça, “Os CDs andam muito caros, não é possível sair comprando tudo o que se quer ouvir”. Entre as pesquisas sobre a pirataria o custo dos CDs nas lojas, em torno de 25 e 30 reais, é uma razões para o afastamento dos consumidores. Segundo Felipe Llerena, um dos conselheiros da ABMI - Associação Brasileira de Música Independente, o problema da pirataria é antes de tudo uma fa lha educacional e de consciência dos brasileiros. Cerca de 25% da receita do IMúsica vai para os artistas e seus representantes e quando a música é baixada de graça, o trabalho dos músicos não é reconhecido, diz Llerena. Os números brasileiros de vendas digitais ainda não são representativos em comparação a outras partes do globo. Mas, as vendas online e para telefones celulares foram os canais de distribuição com maior crescimento nos últimos anos. Há tempos já se prevê o fim dos CDs . Mas, o Compact Disk ainda existe, e 75% da música mundial é comercializada através dele. A música digital, seja em computadores, MP3 players e telefones, ainda caminha ao lado do CD. E, talvez, por um muitos anos. “O rumor de que o CD pode acabar é uma balela, o fato é que a indústria do disco está fragilizada porque o modelo “artista - gravadora - estúdio - marketing – loja”, não é mais o único possível”, acredita Llerena. Gê Pinto, da Universal Music, diz preferir ir a uma loja comprar o álbum do que ficar procurando música na internet. “Gosto de ter o encarte, as letras e também o prazer de entrar em um lugar, comprar e levar um objeto.” Para Gê, o CD sempre terá o seu espaço, ainda que tenha que dividi-lo. 21 NO 11 - 2007/1 Mouse com pimenta: combinação excitante? Prática cada vez mais comum na web, sexo pela Internet mexe com a imaginação dos internautas e apimenta as conversas online Rodrigo: “Beijando sua boca e mordendo seus lábios” Maria: “Arranhando suas costas com as unhas” Rodrigo: “Encostando seu corpo no meu e agarrando sua cintura bem forte” O diálogo acima é apenas o trecho inicial de uma conversa feita pela Internet que chegou a níveis bem mais extremos sem sair do computador. Ganhando cada vez mais adeptos, o sexo virtual consiste em narrar, junto com outra pessoa, tudo o que aconteceria caso os dois estivessem tendo uma relação. Trata-se de dar margem à criatividade para tentar excitar e ser excitado pela pessoa que está do outro lado do computador. Mas tudo isso não foge do campo da conversa. Geralmente este tipo de diálogo ocorre em salas de bate-papo ou em programas de computador que permitem comunicação imediata como, por exemplo, o MSN Messenger. E os praticantes desta modalidade de sexo surpreendem pela heterogeneidade. Dentro deste universo há pessoas novas e outras mais maduras; há diferença de religiões, de classes sociais, de cores, enfim, não há um padrão que possa ser apontado. “Eu adoro curtir uma badalação. Festas e boates são comigo mesmo!”, contou Maria. “Prefiro o dia à noite. Minha praia são os esportes. Gosto de andar de bicicleta, fazer ginástica e também de praticar natação”, foi o que afirmou Luciana. o jornal.pmd 21 “Não sou de sair. Prefiro ficar em casa. Adoro mexer no computador”, declarou Patrícia. G a r a n t i n d o privacidade com o nome fictício, Maria trabalha como secretária em uma firma de advocacia. No final de abril, completou 30 anos de idade. Nos últimos três anos, ela entra na Internet para ter encontros quentes. “No início, eu apenas entrava nas salas de bate-papo voltadas para este tema e ficava lendo o que os outros escreviam. Mas, com o tempo, as conversas foram diminuindo, pois as pessoas começaram a preferir escrever em conversas particulares, o que impedia o acesso de terceiros para leitura. Eu já estava ficando entediada e, um dia, decidi entrar em uma sala daquelas como participante. Coloquei um nome bem sensual – ‘morenarj’, ela lembra até hoje – e comecei a conversar com um cara. Na primeira vez eu estive um pouco envergonhada, mas depois a gente acaba gostando e aí quer sempre mais”, relatou a secretária, que tem muito medo de que os pais descubram o teor de suas conversas na Internet. “Sou de uma família muito católica. Não acho que estou fazendo algo de errado, mas sei que meus pais não iriam gostar se descobrissem este meu segredinho”. Luciana é a mais velha das três: têm 35 anos. Já é casada e diz que a prática do sexo pela Internet só faz esquentar sua relação com o marido. “Nas minhas conversas estimulo minha imaginação. Sempre procuro meu marido depois para pôr em pratica tudo aquilo que apenas imaginei quando estava em frente ao monitor. Mas ele não sabe disso não. Ficaria uma fera se soubesse”, disse Luciana, que trabalha como professora de educação física. Perguntada se não se considerava uma adúltera por fazer sexo virtual com outra pessoa, ela foi bem direta em sua resposta. “Quando faço isso estou pensando em meu marido, portanto, não há traição”. Aos 19 anos de idade, Patrícia é a mais próxima do estereótipo que se criou para os adeptos do sexo virtual: não tem o hábito de sair de casa e muito menos um namorado. Quando não está na faculdade está em frente ao computador, onde encontra a maior parte de seus amigos. “A cidade (Rio de Janeiro) é muito violenta e chata. Em frente ao computador viajo para o mundo todo. De lá eu posso até arrumar um namorado. Meus últimos casos foram todos pela Internet”, contou ela, que só “transa” com um de seus amigos virtuais. “Com qualquer um não. Tem que me conquistar primeiro”. Perguntadas sobre o que pensam a respeito da prática do sexo pela Internet, a maior parte das pessoas disse que consideram uma falta do que fazer ou falta de vergonha na cara. Maria ao se incomoda com este fato. Apesar de já ter perdido uma amiga por causa de seu hábito, ela continua praticando. “Uma amiga minha já me virou às costas depois que lhe contei sobre o que faço no computador. Na época fiquei chateada, mas hoje nem ligo mais. Para ter agido desta forma é porque ela não era minha amiga”. Já Patrícia pensa o contrário. Ela confessa que fica irritada quando escuta algum comentário negativo. “Falar mal de quem pratica é que é uma falta do que fazer. Tenho certeza de que, se algum dia fizessem, iriam gostar tanto que fariam disso um hábito”. Mas o que será que leva todas estas pessoas a buscarem nas conversas via Internet uma fonte de prazer e excitação? Para a sexóloga Ana Paula Guimarães, o sucesso deste tipo de sexo reside na liberdade que ele concede a nossa imaginação. “O segredo para o sucesso do sexo via computador é que, graças a ele, você pode dar asas à imaginação. Por trás do monitor o ser humano se sente protegido para fazer [ou melhor, dizer] coisas que ele provavelmente não teria coragem de fazer na prática”. 14/11/2008, 10:13 Luciana endossa o coro da sexóloga. “O computador me deu a liberdade de poder fazer tudo o que eu sempre sonhei. É gostoso demais ficar imaginando o que está acontecendo e como está acontecendo”. Mas há pessoas que não se contentam com apenas a imaginação e buscam reforço em aparatos eletrônicos como, por exemplo, a web cam. Através dela, os adeptos podem ver a pessoa com quem estão tendo a relação. “Gosto de usar a câmera e conversar através de headphones. Assim posso olhar para a pessoa com quem estou transando e ter uma conversa mais natural com ela. Não dá para transar sem ver a pessoa, sem admirar o seu corpo”, comentou Patrícia, que costuma se despir diante de seus “namorados” durante a realização do sexo virtual. Para Ana Paula, o uso de câmeras descaracteriza o sexo pela Internet. “Este tipo de sexo é marcado pela interatividade. Não faz sentido você assistir ao que a outra pessoa está fazendo. A partir deste ponto acho que começa a ocorrer uma mistura entre o sexo pela Internet e o voyeurismo. Para este último a web já está repleta de atrações, como vídeos pornográficos, fotos sensuais ou de sexo, entre outros. Elas não estimulam a interatividade. Logo, não podem ser consideradas como sexo pela Internet”. Com câmera ou sem câmera, o fato é que o número dos adeptos tem crescido. As salas de batepapo temáticas se encontram mais cheias e já foram criadas no mínimo quatro comunidades no site de relacionamentos Orkut com o nome “Sexo pela Internet”, sendo que a mais popular possui cerca de 100 membros. Rafael Oliveira 22 NO 11 - 2007/1 UMA SEGUNDA VIDA Entenda como usar esse novo ‘jogo’ Bárbara Fernandes Até há pouco tempo o Second Life era tido como um ‘jogo’ curioso. Causou estranhamento que um ‘game’ que mais parecia uma mistura de The Sims com salas de bate-papo pudesse gerar dinheiro de verdade. Há até cotação especial para o Linden Dollar (US$1,00 = L$ 267,00 em maio). Ou seja, teoricamente os usuários estariam brincando com dinheiro de verdade. Porém, desde que surgiu a primeira milionária do Second Life (SL para os íntimos), a chinesa Anshe Chung, passou-se a prestar mais atenção nesse simulador de realidade (a verdadeira denominação do SL segundo seus membros mais xiitas). Desde então houve a progressiva popularização do Second Life que já conta com mais de cinco milhões de habitantes. Para fazer parte do SL é necessário, primeiro, escolher o tipo de conta. Há opções FREE ou pagando o equivalente a US$10,00 por mês para se obter acesso a algumas regalias como possuir terreno. Escolhida a forma de pagamento, basta escolher o nome do seu personagem (avatar) e fazer o download do jog... digo do simulador de realidade. Assim que você se torna usuário você pode escolher entre seis opções de corpo (skin) para seu avatar. Mas não se preocupe, depois você poderá modificá-lo de quase infinitas formas e até comprar novos tipos de cabelo, rosto, corpo e roupa. Inicialmente, o corpo de seu avatar será a imagem e semelhança de bonecos Barbie e Ken, mas é possível comprar certos apetrechos a serem anexados. Pode-se também, com o auxilio do Photoshop, criar roupas, acessórios, tatuagens, móveis e até estádios. Para trazer o objeto criado fora do SL basta pagar L$10. Muitos estilistas, designers e arquitetos têm descoberto a vocação ou ganho um dinheiro extra com suas criações virtuais. Todos os novatos no SL costumam levar muito tempo para entender como tudo funciona. Depois de meses usando-o, é bem provável que continue sem entender como usar a maioria dos aparatos. Mas, isso acaba por torná-lo mais interessante já que sempre se aprende algo novo. Assim que se começa a utilizar, os avatares entram no Tutorial. Lá se aprende o básico como as teclas para se mexer, como alterar o corpo e a roupa do avatar, a voar (ah se na vida real fosse assim) e etc... É interessante notar que quem não tem o dom para a cirurgia plástica costuma ter um rosto com o da Cher ou do Michael Jackson. o jornal.pmd 22 Talvez seja mais complicado para os novatos (também conhecidos como n00b) se acostumarem a se comunicar na Babel que é o second life. Há a possibilidade de usar o Instant Message que funciona tal como um torpedo de celular e só a pessoa para quem você envia a mensagem pode lê-la. Ou podese usar o chat onde tudo é dito publicamente e quem estiver em um raio de 50 metros lerá. Está previsto para que em breve as conversas possam ser ouvidas usando um sistema semelhante ao Skype. Muitos são os que adoram a idéia por trazer mais realismo à comunicação, porém há quem veja isso como um fim da fantasia de ser outra pessoa. Outra complicação advém de que já é difícil ler todas as mensagens (e saber para quem são direcionadas), imagine escutar, ainda mais sem a ajuda do ‘history’ (histórico onde se podem ler todas as mensagens enviadas). A maior parte dos movimentos dos avatares é feito através das ‘balls’. São bolas nas quais se clica para efetuar a ação desejada seja dançar, sentar, pintar entre outras. Todas essas ‘balls’ foram produzidas por usuários, mas é necessário amplo conhecimento de programação para criar movimentos tão intrincados como dançar salsa. Adquirir emprego à primeira vista é difícil, porém, trabalhar como dançarino (a) ou faxineiro (a) é muito fácil. Geralmente, há uma ‘ball’ indicando que ao clicar ali ganhará x lindens. Mas costumam ser trabalhos apenas para iniciantes porque são muito mal remunerados (em geral, são realizados enquanto o usuário está lanchando ou usando o banheiro). Há muita oferta de emprego feita pelos próprios usuários. Em alguns lugares, até, foi banida a propaganda excessiva porque fazia da ‘ilha’ uma feira. É possível trabalhar em quase todas as áreas: vendedor, jornalista, corretor de imóveis e, um dos mais populares, como acompanhante. Por mais estranho que possa parecer, a prostituição é um dos empregos mais rentáveis e é legal em quase todas as ilhas consideradas ‘maduras’. Os terrenos são chamados de ilha. Para ir de uma à outra só voando grandes distâncias ou através do método mais fácil de locomoção: o teleporte. Com ele é possível ir da Ilha Étoile, onde há uma réplica do Arco do Triunfo, à Ilha São Paulo em questão de segundos. Algumas ilhas representam tão perfeitamente a arquitetura de certas cidades que acabam por impressionar. Passear pela ilha de Amsterdã é como ter uma prévia da cidade real. Os detalhes são primorosos. Na Ilha Bahia há uma réplica virtual do pelourinho aonde até a topografia é igual. As ilhas são divididas por conteúdo maduro ou não. Isso visa evitar que adolescentes, ou pessoas que se chocam com facilidade, entrem em contato com cenas de sexo ou nudez. Empresas de renome já enxergam o potencial do Second Life. Unibanco, G1, Bradesco, Nokia e outras já puseram filiais virtuais para divulgar seus produtos. No caso do G1 se vai mais longe. Por estar ‘dentro’ do Second Life tem acesso mais fácil do que se passa lá e por isso, é um dos poucos meios de comunicação que tem produzido informações detalhadas e de forma veloz a seu respeito (sem as quais quem vos fala, Catarina DeCuir, não conseguiria produzir tal texto). Partidos políticos também têm descoberto, ainda que devagar, o SL. O pioneiro dentre os brasileiros foi o PSDB. Logo depois os Democratas fincaram um prédio na mesma ilha e, recentemente, também é possível visitar a sede virtual do PCB. Mas, a impressão que passam é de que grande parte desses ainda não sabe ao certo o que fazer lá. Quando se visita o prédio dos Democratas não se encontra uma alma viva. Tudo o que se pode fazer é recolher uma espécie de flyer sobre o partido e SÓ. Já no caso do PSDB serve como uma excelente plataforma política. O prédio é facílimo de ser encontrado em uma das principais praças da Ilha São Paulo. Lá, além de ganhar camiseta com o logo tucano, também se pode conversar com filiados e receber os projetos do partido. Infelizmente, até o momento não foi possível encontrar o PCB. Nos últimos meses houve uma maior divulgação do SL e com isso um maior afluxo de brasileiros para lá. Ilhas em que antes só se falava inglês começam a apresentar conversas em português (e portunhol). Além disso, a Ilha Brasil é uma das mais procuradas com mais de 10000 visitas por dia. Não se sabe ao certo se em breve ocorrerá com o SL o que aconteceu com o Orkut ou se outros países também despontaram por lá. Mas, o Second Life já se transformou em nova moda entre os brasileiros mais ‘antenados’. Em um protesto virtual contra o fechamento do RCTV. Com direito a carregar cartaz e usar mordaça. 14/11/2008, 10:13 Diário de Bordo: Catarina DeCuir -Já me congelei, caí de mais de 200 metros de altura, levei tiro; aparentemente meu avatar é imortal. -Logo que entrei houve uma pequena falha de comunicação. Um espanhol fala “tire a roupa”, mas não especifica se falava comigo ou com um alemão. Depois deixou bem claro que não era comigo. -Maconha é vendida como se fosse pamonha, aos berros e no meio da praça. -Ao mudar minha ‘skin’ percebi que, se quisesse ser fiel à minha aparência, teria, em uma escala de 0 a 100, altura igual à -2. -Já fui vendedora de camisas, faxineira, dançarina, mas descobri que a atividade mais rentável é a de cafetina. -Conheci um avatar de um inglês que adora mudar radicalmente sua aparência. Já foi japonês, robô, punk e até mendigo bêbado. -As drogas e as bebidas produzem efeito nos personagens. Aliás, a minha é bem fraca para bebida. Basta um copo de cerveja e já não consigo controlar direito seus passos. -Já participei (ou bisbilhotei) de concursos ‘exóticos’ como: melhor fantasia de super-herói, melhor bunda, melhor em jeans entre outros. -Copacabana é linda, mas toda vez que coloco os pés lá eu levo tiro e recomeça o SL. -‘Ball’ escrita ‘on hand’ NÂO quer dizer ficar de mão dada. -É bom ser mulher. Enquanto ganhamos partes íntimas de graça, homens têm que desembolsar pelo menos L$100 para algo de tamanho descente. -Surge um novo termo avatariano, digo, secondlifiano.Trata-se do furry, quem usa avatar de bicho ao invés de corpo humano. Já virou gíria para pessoas que escrevem ‘axim’. 23 NO 11 - 2007/1 Espaço aberto para os clandestinos Sites com forte conteúdo ideológico incentivam atividades ilegais Taiane Linhares Lá vai Gustavo manifestar o seu ódio à sociedade de consumo. O lugar escolhido? Uma famosa livraria em um shopping carioca. Apesar dos 36°C, Gustavo veste um casaco de bolsos grandes, já cheios de balas, canetas e incensos. Chegando à livraria dirige-se aos lançamentos. E lá está o livro “Jaulas Abertas” de Tom Regan, filósofo que prega a libertação animal. Gustavo não achou uma versão para download na internet, por isso descolou umas dicas de furto com seus amigos do Yomango.net. Não queria fazer feio na nova empreitada. Pega dois exemplares do livro, pergunta o preço ao balconista, esconde um no bolso interno do casaco, o outro volta para a prateleira. Foi seu primeiro grande furto, motivo para se orgulhar. Agora, cheio de moral, discute, em um fórum da internet, táticas para subtrair MP3 players de lojas de varejo. A Internet tornou a vida de todos mais fácil. Que outro meio proporcionaria o contato direto com guerrilheiros na frente de combate e “terroristas” presos por libertar chimpanzés de laboratório? Sites de forte conteúdo ideológico, não raramente, incitam seus usuários a praticar atividades ilegais. Para fugir à vigilância, alguns administradores hospedam seus sites em domínios no exterior. Porém, pelo enorme conteúdo disponível na web, o policiamento se torna ineficaz, passando à mão de cada usuário: – O controle na Internet é feito de forma descentralizada. Se alguém se sente ofendido por um dado conteúdo, pode recorrer a vias administrativas ou judiciais para apagá-lo. O Ministério Público também pode ser avisado através de denúncias, e iniciar um processo de retirada do site do ar – esclarece Carlos Eduardo Mendes de Azevedo, do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da UFRJ. Entre os usuários de tais páginas ainda se conserva uma opinião bastante realista sobre o assunto, pois a internet ainda não é vista como principal meio de ação revolucionária: – O ativismo tradicional, por exemplo, pode ser sim feito pela Internet, só que tende a capengar se não tomar lugar fora do “Cybermundo”. Entendo que a Internet pode servir para complementar um ativismo no mundo real – adverte Alex Silva, ecoativista e professor de História. Na Europa, um movimento que prega o roubo como forma de resistência ao estilo de vida consumista se dissipa e já o jornal.pmd 23 consegue adeptos no Brasil, o Yomango. da ALF (www.animalliberationfront. Surgido na Espanha, no ano de 2002, e com) disponibiliza guias de ação direta tendo a Internet como meio de discus- para aqueles que pretendem sair da são de táticas de furto, o Yomango é um teoria e correr os riscos da vida na movimento irreverente que, em uma gí- ilegalidade. ria espanhola, significa “eu roubo”. O Na madrugada do dia 05 de julho site esclarece aos leitores qual seria o de 2007 ativistas libertaram 121 cães que principal objetivo do Yomango, que não seriam usados como cobaias no curso é uma apologia ao roubo, mas sim uma Imersão em Treinamento de Cirurgia tentativa de entender por que as pessoas roubam. A página aponta duas hipóteses para esse fato “a pobreza em que muitos vivem e a política abusiva das multinacionais que governam o mercado e o mundo”. Segundo os idealizadores do movimento, “Yomango não é roubo, a propriedade é o roubo”. Ativistas da ALF com os animais libertados em suas ações Há orientações no site (www. yomango.net) para os que não querem Videolaparoscópica, em Anápolis (GO). consumar um ato ilícito, os chamados O grupo, que através de inscrições em “Yomango passivos”. Para praticar essa um muro se intitulou pertencente à ALF, modalidade deve-se ir a um grande su- utilizou uma bomba para desviar a permercado, encher o carrinho com atenção de policiais que estavam nas produtos perecíveis (carnes e congela- imediações. Após o disparo da bomba, dos) e depois abandoná-lo numa área os ativistas cortaram a cerca e entraram escondida da loja, de forma que seja en- no recinto. Após a ação 88 cães foram contrado apenas quando os produtos recapturados, mas uma liminar garantiu já estiverem estragados. que os animais, que seriam O potencial subversivo da Internet eutanasiados após a cirurgia, não também é posto à prova por grupos de seriam utilizados no curso. Os únicos defesa à vida animal, que segundo o relatos existentes sobre o caso de governo norte-americano, são “a ameaça Anápolis foram apurados pelo número 1 em termos de terrorismo no nutricionista e ativista George país”. Através de sites como o da Guimarães e estão no site da ong Animal Liberation Front (ALF), um Vegetarianismo Ético, Defesa dos movimento descentralizado que age Direitos Animais e Sociedade (Veddas), através de células anônimas, tornam-se www.veddas.org.br. públicas ações a favor da chamada Os ativistas da ALF têm como calibertação animal. Acreditando que racterística o rosto encapuzado, com animais não nasceram para ser isso suas identidades somente são reveexplorados pelo homem, grupos de ladas quando são presos. No site são jovens vegetarianos resgatam animais divulgados seus nomes, fotos e enderede laboratórios, granjas e outros lugares ços das penitenciárias onde eles se onde sofram risco de morte. A ALF encontram, para que simpatizantes da também defende a destruição do causa enviem cartas aos prisioneiros. O patrimônio de empresas que sobrevivem site da North American Earth Liberation da exploração de animais (laboratórios Prisoners Support Network (www. que fazem testes em animais, ecoprisoners.org) apóia ativistas nortecorporações do ramo alimentício, lojas americanos presos por se engajarem em que vendam pele, circos e rodeios). Para causas ambientais. Nele, assim como no que um ativista seja reconhecido como site da ALF, pede-se que enviem livros aos membro da ALF basta pichar o local internos e doações às suas famílias. Ouinvadido com o nome do movimento, o tros sites também divulgam ações diretas que garante a ele apoio jurídico da em defesa dos animais, como o Bite Back instituição caso algo dê errado. O site (www.directaction.info), o No 14/11/2008, 10:13 Compromise (www.nocompromise.org) e o brasileiro Ativismo.com (www. ativismo.com). Os administradores do site Ativismo.com reconhecem a importância da ALF em contexto mundial e ressaltam o crescimento de ações inspiradas no site em nosso país: – A ALF é sem dúvida um ator importante no movimento da libertação animal. Apesar de termos ações com esses objetivos desde a década de 70, a “onda” começa a se formar aqui apenas nos últimos anos, justamente quando a internet passa a fazer parte da vida do brasileiro - diz F.S., responsável pela página do Ativismo.com, que prefere não se identificar. O medo de represálias de donos de circos, promotores de rodeios e pecuaristas é uma constante ao grupo. Para evitar o envolvimento do site com o conteúdo divulgado, o Ativismo.com esclarece em sua página inicial que é contrário a “qualquer tipo de ação que desrespeite as normas jurídicas do país”, atuando apenas como órgão de comunicação do meio. Embora a divulgação de informações sobre lutas armadas não seja proibida, sites como o das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) têm o nítido objetivo de cooptar um efetivo militar. Com um conteúdo bem estruturado,a página (www.farcep.org) tem a colaboração de universitários, além de uma grande massa de artigos, entrevistas, matérias, vídeos e áudios de discursos. Através de fotografias disponibilizadas no site a guerrilha é mostrada como uma grande colônia de férias, tendo até mesmo uma área dedicada apenas às fotos das mulheres das FARC, levando ao pé da letra a instrução de que se deve “seduzir” jovens para a causa. Os álbuns de música, disponíveis para download, foram gravados pelos próprios guerrilheiros. Figuram entre eles canções como: No hay patria sin libertad, Salsa de la unidad, Charanga de la insurrección e Guerrillera. Conhecida por recrutar adolescentes, as FARC, em 2003, envolveu-se em um incidente com o Brasil. Em agosto daquele ano, Alexandre de Donato, 14 anos, fugiu de sua casa na Ilha do Governador para se juntar às FARC. Todo contato foi feito apenas pelo site. O adolescente, antes de partir, deixou um bilhete ao pai dizendo que “estava abrindo fogo ao inimigo”, mas, após uma conversa com os policiais que o resgataram em Manaus, mostrou-se decepcionado ao “descobrir que os revolucionários eram de direita”. 24 NO 11 - 2007/1 O filme livre conquista a web A cultura do vídeo na Net mudou o modo de fazer, consumir e entender cinema. Se os blockbusters dominavam o mercado de distribuição, a internet criou um espaço favorável de divulgação da produção independente Flávia Castro A distribuição audiovisual sempre esteve vinculada à necessidade da grande indústria cinematográfica, mas a cultura do compartilhamento da informação na Internet mudou esse cenário. Enquanto as grandes corporações a cada hora inventam uma nova estratégia para combater a pirataria, impulsionada principalmente pela Web, o caminho se abriu para os produtores independentes. O cineasta Bruno Vianna, por exemplo, foi o primeiro brasileiro a disponibilizar o seu longa-metragem, “Cafuné”, na web. O projeto foi premiado no concurso de desenvolvimento de roteiros do Governo do Estado do Rio, em 2002, e no concurso de longas-metragens de baixo orçamento do Ministério da Cultura em 2003, o que viabilizou a produção. Na hora de distribuir, de acordo com o diretor, eles tinham “um filme com linguagem diferenciada, nenhum elenco global e pouquíssimo apelo comercial”. Se por um lado, a pirataria gera um prejuízo anual de R$ 340 milhões no Brasil – segundo a Associação de Defesa da Propriedade Intelectual (Adepi) – por outro ela é a so- Cena do filme “Cafuné”, de Bruno Vianna (2006) o jornal.pmd 24 lução. Vianna, diretor e roteirista de “Cafuné”, pirateou o seu próprio longa-metragem, colocando-o, na íntegra, num dos mais populares programas de compartilhamento de dados (pirata) pela internet: o Emule. Só um detalhe: isso foi feito “com a benção” da distribuidora, ou seja, no mesmo dia em que o filme estreou nas salas de cinema, todo conteúdo estava disponível gratuitamente na rede. O uso da Internet, nesse caso, foi além da necessidade de espaço no mercado. “Eu quis experimentar, provocar, talvez abrir caminhos para novas maneiras de fazer cinema”, explicou o produtor. Ainda segundo Vianna, o filme “Cafuné”, que só entrou no circuito de exibição graças a um prêmio concedido pela Distribuidora Estação, saiu ganhando com a iniciativa. “Em termos de visibilidade com certeza foi excelente, já que houve muita mídia que tratavam quase que exclusivamente desse aspecto”. A Internet funcionou, portanto, como meio de distribuição e divulgação de um filme não-comercial. Mais um detalhe: além de abrir mão da possibilidade de lucrar com o seu trabalho, ele também abriu mão da propriedade intelectual da obra, ou quase isso. Com o download, são adquiridas cenas extras que podem ser editadas em um programa caseiro. Dessa forma, pode-se atuar como co-autor, criando uma nova versão para a história. Obviamente existem algumas regras nesse jogo, especificadas pelo Creative Commons, uma licença, a qual protege o direito autoral do artista ao mesmo tempo em que possibilita a livre circulação de conteúdo na rede. O contrato diz: 1) que podem ser feitas cópias do filme para distribuição não comercial; 2) que o filme pode ser manipulado. Mas exige-se, por exemplo, que o autor ganhe crédito a cada modificação. O que ele pensa sobre isso? “Se alguém alterar a narrativa e mandar pra um festival, citando o autor original, vou achar bem bacana”. Entretanto, um filme como o “Cafuné”, com pouco mais de 800 Mb, leva, em média, cinco dias para carregar em Internet Banda Larga com velocidade de 100 Mbps, e não possui alta qualidade de som e imagem. Apesar de a tecnologia Streaming ter contribuído para a distribuição virtual, já que dispensa o download de arquivos, ainda falta muito para esse formato de transmissão alcançar a eficácia de um DVD, além de esta suportar apenas filmes de curta duração. A conseqüência disso foi a criação de uma cultura da distribuição dos curtasmetragens. De qualquer tipo. Do informativo ao grotesco. Do amador ao profissional. A oportunidade de compartilhar, de experimentar, de tornar pública uma produção autoral passa a ser mais forte que a necessidade de qualidade ou intimidade com a câmera. Não é difícil entender, portanto, a popularização de sites de compartilhamento de vídeos como o You Tube, que em pouco tempo conquistou mais de cem milhões de visitas e 56 mil novos arquivos postados diariamente. Não se pode ignorar o alcance desse tipo de mídia. Tanto que a Revista “Time” concedeu ao site o título de “Melhor invenção do ano”, de 2006. De acordo com a publicação, a página participou de três revoluções na Internet. A popularização da produção caseira de vídeos, facilitada por câmeras digitais, telefones celulares e softwares de fácil manuseio. A consolidação da web 2.0, que implica na interatividade entre produtores e consumidores de conhecimento. E a revolução cultural que permite a qualquer pessoa divulgar na rede, sem censura, aquilo que produziu. Mas o espaço é bastante atrativo também para a difusão da produção profissional. O “Curta o Curta”, o mais reconhecido site de caráter comercial de exibição de curtas-metragens, tem um acervo de cem filmes on-line e é visitado por 20 mil pessoas mensalmente. O realizador do vídeo paga cerca de R$ 100 por ano para ter acesso ao serviço. Um dos coordenadores do projeto, Guilherme Withaker, diz que “o empreendimento é pura filantropia”. Ele continua explicando que “o objetivo é oferecer uma alternativa ao grave problema de distribuição cinematográfica, principalmente no Brasil”. Esse grave problema sobre o qual Withaker fala é o seguinte: entre os 143 títulos que estão atualmente inéditos ou nas fases de produção e 14/11/2008, 10:13 finalização no país, apenas 43 têm contrato de distribuição e, dessa forma, estréia assegurada, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine).Em conseqüência, a maioria das produções tem a opção de serem vistas apenas nos festivais de cinema. O que também se percebeu não ser uma má idéia. A partir daí foram criados festivais de vídeo exclusivamente para a Internet. A idéia colou e hoje são milhares de mostras de todos os tipos e com uma abrangência infinitamente maior, já que pessoas de todo o mundo podem assistir a um dos vídeos competidores. É também por isso que Guilerme Withaker vê a Internet “como o espaço mais democrático de troca de conhecimento”. Para ele, a exclusão digital não interfere na expansão do conteúdo livre. “A inclusão digital no Brasil e na maioria dos países em desenvolvimento vai acontecer através das redes de telefonia celular e da televisão digital”. Whitaker olha para o futuro da distribuição e vê a Web como o inevitável caminho à frente. “A Internet funciona como uma vitrine para o cinema: é universal, permite que o internauta decida o que quer ver, e diminui as barreiras entre o público e o criador”. Ele não sabe afirmar, contudo, se essa interatividade, e a ausência de mediadores, será intensificada ou combatida pelos grandes conglomerados e como isso afetará a produção independente. Vamos ter que esperar o final do filme.