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Retratos de uma vida virtual
O impacto da internet no Br
asil e no mundo
Brasil
Simone Avellar
Era época de Guerra Fria. Estados Unidos e população que não tem acesso à internet. Ainda
União Soviética viviam tensões que ameaçavam, a há muito espaço para crescer”.
qualquer momento, jogar – literalmente - o mundo
Em um país que possui 170 milhões
pelos ares. Nesse momento, nos EUA, o conceito de habitantes, 45,65% da população já teve acesso a
redes de computadores já tinha sido desenvolvido, computadores pelo menos uma vez na vida e 33,2%
mas era muito frágil levando-se em consideração o já acessou a internet. O número de internautas que
contexto. Até então toda a comunicação da rede possuem acesso domiciliar é de 22 milhões.
passava, necessariamente, por um computador
A taxa de analfabetismo no Brasil é de 13,3%.
central. Se a URSS resolvesse atacar essa base, toda Entre esse grupo, constata-se que apenas 12% dos
a informação seria destruída. Os Estados Unidos não analfabetos já utilizaram um computador alguma
podiam correr esse risco.
vez na vida e 5,67% já acessaram a internet. Em
Foi nesse cenário que nasceu, em 1969, a relação às pessoas que cursaram o nível superior esse
arpanet, embrião da internet que conhecemos hoje. número sobe para 93% já tendo tido contato com
A arpanet foi desenvolvida pela ARPA – Advanced computadores e 86,5% com a internet.
Reasearch Project Agency – e teve como grande
A faixa etária entre 16 e 24 anos é a parcela
novidade uma tecnologia de rede que permitia que que abriga a maior quantidade de internautas, sendo
os departamentos se conectassem sem precisar que 58,83% desses jovens já acessaram a internet
passar por um centro único.
alguma vez. Já entre a população com mais de 60
No Brasil, a história da internet confunde-se anos apenas 3,21% já utilizou a rede.
com a da Rede Nacional de Pesquisa, criada em 1989.
Entre os que costumam acessar freqüentemente
Seu objetivo era o de construir uma
a internet, 43,39% a utilizam em casa
infra-estrutura de rede internet para
e 25,4% em acesso público pago,
fins acadêmicos. Em 1995 aconteceu
como lan houses. A maioria (69,4%)
Por mês
a abertura oficial da internet no
utiliza a internet para fins pessoais
o brasileiro
Brasil, estendendo seus serviços de
ou privados. Por mês o brasileiro
acesso a todos os setores da
acessa, em média, 57 sites e gasta
acessa, em média,
sociedade.
praticamente um dia todo (24 horas)
57 sites e gasta
Quando a internet ainda
na internet.
praticamente
estava
em
processo
de
Em relação a Web 2.0, criada
desenvolvimento, bem no seu
pelo americano Tim O’reilly para
um dia todo
início, na década de 80, existiam
definer a nova tendência da World
(24 horas)
mais ou menos 100.000 hosts (cada
Wide Web, os brasileiros estão com
na internet
endereço de IP que designa um
tudo: No orkut, somos a maior
computador). Em 1996, já havia
população cadastrada (55%). No
9.500.000 hosts e 30 milhões de
Youtube, dos mais de seis milhões
usuários. Hoje, no mundo todo, mais de um bilhão de vídeos armazenados, mais de dois milhões
de pessoas já aderiram ao espaço virtual.
pertencem à brasileiros, e no fotolog mais de 50% dos
Os Estados Unidos lideram o ranking mundial logins (entre aproximadamente oito milhões e meio)
como o país que possui maior número de são de brasileiros também.
internautas, com 70% (210 milhões) da população
A Web 2.0 pressupõe, sobretudo, a
devidamente inserida no mundo virtual. O Brasil, interatividade do internauta. Defende-se a criação de
nesse mesmo ranking, assume a décima posição, com um ambiente mais dinâmico, no qual os usuários
32,1 milhões de usuários. Ainda que esse número colaborem para a organização do conteúdo. Para isto,
possa não parecer muito significativo, é importante a tecnologia utilizada deve ser simples, para que
notar uma grande evolução no número de permita que mesmo os usuários com pouco
internautas brasileiros desde origem da internet aqui conhecimento sejam capazes de publicar e absorver
no país: em 1997, dois anos após a abertura oficial, informações. Entre os sites Web 2.0 podem ser citados:
apenas um milhão e meio de pessoas tinham acesso Orkut, Youtube, Wikipedia, Fotolog, Apontador.
contínuo à rede.
Se existem 32 milhões de internautas no país,
Um fator que contribuiu para a significa dizer que mais de 80% da população está
popularização da internet foi a explosão das excluída dessa tecnologia. Existem diversos fatores
conexões em “banda larga” ocorrida nos últimos que explicam essa exclusão e, entre as maiores
anos. Banda larga é o nome utilizado para definir barreiras, está a falta de computadores em casa.
as conexões com velocidade acima de 56 kbps, valor
Não estar incluído, ou não ter conhecimentos
máximo atingido pelas linhas analógicas (modem). da tecnologia da internet nos dias de hoje, pressupõe
As tecnologias mais utilizadas para a banda larga o encontro de alguns obstáculos. Dados comprovam
são a por telefonia digital, cabo e rádio. A demanda que 80% dos candidatos a estágios sem
por internet em alta velocidade no Brasil aumentou conhecimentos de informática não conseguem
81% no ano de 2005 e especialistas na área emprego. Além disso, existem todos os benefícios,
acreditam que esse número ainda tende a que uma pessoa sem acesso a internet perde: 72%
aumentar. Eduardo Parajo, da Abranet (Associação dos serviços do Governo Federal são oferecidos pela
Brasileira dos Provedores de Acesso) fala sobre o internet, sem contar com as facilidades de pesquisa
assunto: “O Brasil tem mais de 30 milhões de e comodidades, como as linhas bank line que
internautas. E ainda há uma grande parte da permitem o pagamento de faturas online.
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Para acessar o NºZero não é preciso
cadastro. A navegação fica por sua conta. No
desafio de montar um jornal a cada semestre,
com novas pautas e alunos de diferentes
períodos, adotamos a Internet como base.
O tema já está saturado na grande
imprensa, o que nos obrigou a tentar buscar
um outro olhar, uma maneira diferente de
contar uma história que pode não ser inédita
para o leitor.
Se na Internet o espaço é ilimitado, aqui
nos deparamos com o limite do papel, um
limite físico para contar em um jornal o que
há de mais virtual na grande rede, como o
Second Life, a web-arte e os mitos que
circulam via e-mail. A fórmula que
encontramos foi cada um explorar uma
pauta especial, para tentar fugir do senso
comum.
Nessa aventura vamos daqueles que
fazem da Internet uma necessidade em suas
vidas até os que estão na contramão deste
processo: excluídos digitais e pessoas que
aboliram a web de suas vidas.
Nada mais apropriado, para encerrar,
do que marcarmos uma continuidade nos
blogs pessoais, orkuts e avatares da web.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Reitor
Aloisio Teixeira
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
Direção
Ivana Bentes
Coordenação do Curso de Jornalismo
Ana Paula Goulart
Núcleo de Imprensa
Elizabete Cerqueira coordenação executiva
Cecília Castro programação visual
número 11 - 2007/1
Informativo produzido pelos alunos da Escola de
Comunicação da UFRJ
Orientação acadêmica e de texto
Maurício Schleder
Paulo Roberto Pires
Coordenação editorial
André Motta Lima
Coordenação gráfica e design
Cecília Castro
Assessoria de Imprensa
Elizabete Cerqueira
Apoio
SG-6
PR-1
Divisão Gráfica da UFRJ
Este número foi produzido com matérias elaboradas pelos
alunos da disciplina Jornal Laboratório. As fotografias e
ilustrações são de responsabilidade exclusiva dos alunos.
Término em 10/06/2007.
TIRAGEM: 1.000 exemplares
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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Dias inteiros sem sair da banda larga
Na rotina conectada de Tiago só a namorada continua real. Mas os programas mudaram
Bruno Marinho
Quando se entra no quarto de
Tiago Seabra Magalhães, 21 anos, o que
mais chama a atenção é a estante encostada na parede oposta à janela. No
móvel, um monitor tela plana, de 21
polegadas, é acompanhado pelo conjunto de duas caixas de som principais
mais duas outras auxiliares que formam seu pequeno home theater, motivo
de orgulho para o estudante de Engenharia
de
Telecomunicações.
Escondido por detrás do gabinete retangular, um detalhe que faz toda a
diferença: a conexão da Internet que
mudou radicalmente seus hábitos de
consumo.
É apegado na facilidade que a
Internet lhe proporcionou que Tiago
conta como, conscientemente, alterou
seus costumes e passou a ver a Rede não
como acessório, mas sim com a salvação para a maioria de seus problemas.
- A comodidade que tenho com a
Internet é algo impressionante. Ela me
facilita com os trabalhos da faculdade,
na procura por estágios. Quando quero
saber alguma coisa, alguma notícia ou
informação específica, a encontro rapidamente na Internet – explica.
Tiago é exemplo das várias transformações causadas pela entrada da
rede mundial de computadores no cotidiano das pessoas, mas, com certeza,
não é o único. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
32 milhões de brasileiros têm acesso à
Internet. Quando é levado em consideração o número de pessoas que tem a
disposição conexões de alta velocidade
– caso no qual o jovem se enquadra -, a
quantidade de usuários diminui. Atualmente, cerca de 13,5 milhões de
pessoas têm a possibilidade de compartilhar arquivos de som, imagem e vídeo
com extrema facilidade.
Apesar do maior acesso à informação e conteúdo dos mais variados, o que
mais se destaca na relação de amor de
Tiago com a Internet são os novos critérios que usa no momento de decidir o
que merece ser consumido. O jovem,
que garante ser um amante de música –
seu estilo favorito é o Rock’n Roll – não
compra um CD há mais de quatro anos.
Mas então, o que aconteceu? Ao acessar
a pasta “Músicas” de seu computador,
ele mostra centenas de arquivos no formato MP3. Isso mesmo. Desde que tem
Internet banda larga (seu primeiro acesso caseiro foi em maio de 2003) Tiago
passa longe das lojas de CD.
- A coisa mais fácil do mundo é
baixar músicas. Além dos programas
específicos, no Orkut existem comunidades de todas as bandas, o que só
facilita sua busca. Hoje em dia eu não
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compraria nem o melhor CD do meu
grupo musical favorito – garante.
Segundo o estudante, um fator que
poderia lhe levar a comprar um CD, ainda assim em condições muito especiais,
seria um possível interesse no encarte
do álbum. Porém, como o trabalho do
produtor editorial existe na Rede à disposição de quem quiser, não há nada que
o faça pegar em dinheiro quando o assunto é música em estúdio. Isso porque,
quando se trata de apresentação ao vivo,
Tiago ainda é partidário das tradições:
– Eu não abro mão do show ao
vivo. É por causa da emoção, do calor
do evento. Além disso, a exibição ao
vivo de uma banda internacional, por
exemplo, é algo mais raro, que acontece uma vez na vida, outra na morte.
Tiago é daqueles jovens que cresceram revezando brincadeiras ao ar livre
com doses diárias de televisão e
videogame. Na adolescência, um de
seus programas favoritos sempre foi ir
ao cinema com amigos e namoradas. Os
ídolos da tela grande, conta, são muitos. Ele é fã do espião James Bond, das
aventuras espaciais de “Star Wars”,
dentre outros. Entretanto, se antes suas
idas ao cinema se davam mensalmente, agora ele só sai de casa por um filme
se for daqueles que realmente despertam sua atenção. A razão para isso é,
mais uma vez, a facilidade de se fazer o
Fones de ouvido: Tiago não incomoda ninguém com o som alto do filmes que assiste pelo PC
Conexão rápida foi sinônimo de economia
Há quatro anos com Internet banda
larga em casa, Tiago garante que sua vida
melhorou com seu uso e abuso. O que ele
não sabia é o quanto essa melhoria pode
ser observada no bolso de quem paga as
contas. Ao serem calculadas as despesas
que teria caso a rede mundial de
computadores não tivesse papel tão
intenso em sua vida, conclui-se que,
independentemente de toda a
comodidade,
a conexão de alta
velocidade pode ser considerada uma
questão de economia para a classe média.
Segundo Tiago, sua média de
downloads musicais é de 15 arquivos por
mês, ou, se preferir, de um CD
encontrado nas lojas. Se estipularmos o
preço médio de um álbum no comércio
legal, a economia é de cerca de R$ 30,00.
Como o estudante não compra o artigo
há quatro anos, significa que, até hoje,
R$1.440,00 deixaram de ser gastos com
música.
Quando o assunto é cinema, a
economia também é grande. Tiago afirma
que assiste pelo computador a uma média
de cinco filmes por mês. Caso o estudante
voltasse a freqüentar as salas de exibição
para assistir a mesma quantidade de
filmes, seus gastos seriam de R$ 85,00,
considerando-se a refeição feita após a
sessão e sem contar com os gastos com
transporte e com a presença da namorada.
Isso porque Tiago provavelmente arcaria
com as despesas femininas.
Na matemática da Internet, há
também o lucro gerado com o
cancelamento da TV por assinatura. Se
fossem assinantes, Rosa e Ênnio Soares,
pais de Tiago, pagariam todo mês a
bagatela de R$179,90. Mais que o dobro
do valor que é cobrado pela Internet banda
larga: R$82,92. O casal ficou surpreso ao
perceber a economia graças à Internet.
- A Internet é importante porque
posso ficar mais tranqüila com o Tiago
dentro de casa. Além disso, tem a
economia que não imaginava ser essa.
Agora tenho certeza de que fiz a coisa certa
ao cortar a TV por assinatura -– afirma a
mãe, dona-de-casa, contando com o apoio
do marido, aposentado.
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download das estréias antes mesmo de
entrarem em cartaz no Brasil.
- A expectativa que existe quando
se assiste a um filme no cinema é muito
maior. A tela grande, o escuro, a gente
se concentra mais. Mas eu agora tenho
outras formas de lazer – disse Tiago, que
também não sente falta da refeição que
tradicionalmente vinha em seguida ao
filme. Para ele, basta pedir por telefone
a mesma comida que poderia escolher
na praça de alimentação de um
shopping center, por exemplo.
Tiago admite que a Internet fez
com que o cinema, uma das maiores
opções de lazer no início de seu relacionamento com Nathália, sua atual
namorada, fosse relegado a segundo
plano. Por outro lado, ele garante que
o programa foi substituído por idas a
restaurantes e bares. Ele vai ainda mais
longe ao dizer que um problema típico
de namorados foi solucionado graças
às seções de filmes no computador.
Atualmente, nenhum dos dois precisa
negociar com o parceiro quando somente um quer assistir a um lançamento,
já que a falta de companhia não é problema quando a exibição acontece
dentro de casa.
- Agora não temos mais esse tipo
de discussão. Se um não quer ver aquele filme, o outro vê pela Internet –
confirma Nathália, que usa a Rede tanto quanto Tiago, e que, assim como ele,
tem brilho nos olhos ao descrever as
maravilhas do mundo online.
Antes de instalar a Internet banda larga em seu computador, Tiago
passou pela fase em que trocou a luz
do dia pela escuridão providencial das
lan houses e seus jogos on line. Para a
alegria de seus pais, Maomé deixou de
ir até a montanha depois que a montanha foi trazida para dentro de casa. O
que aconteceu então no lar dos Seabra
Magalhães foi uma disputa entre
mídias: de um lado, a TV a cabo e as
dezenas de canais que distraíam a toda
a família. Do outro, a força de um veículo capaz de exercer as funções de
rádio, som estéreo, aparelho de DVD e
- por que não? – televisão. Certamente
não é preciso dizer quem se saiu vitorioso desse duelo de titãs.
- Eu ainda assisto aos canais abertos, mas não sinto nenhuma falta da TV
a cabo. Na Internet você é capaz de encontrar todos os tipos de séries que você
imaginar, antes de entrarem no ar aqui
na TV do Brasil. Não preciso da MTV.
Assisto a Videoclipes e apresentações
musicais pelo youtube. Consigo ver as
lutas de vale-tudo ao vivo, de graça,
estando conectado. Além disso, tenho
acompanhado as partidas de NBA pela
Internet – enumera, numa série de vantagens que parece não ter fim.
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Diários que podem mudar o mundo
Painel sobre blogs a partir da visão dos principais blogueiros brasileiros
Cizenando Cipriano Jr.
Segundo estudo recente do site
Technorati [www.technorati.com],
nasce um blog na rede a cada segundo.
Além disso, a grande maioria das ferramentas disponíveis para se criar um
diário virtual são gratuitas. “É uma
mídia pessoal e moderna. Seu sucesso
se fundamenta na interação e na proximidade com o leitor. É tudo feito para
o leitor de forma direta”. Assim Rosana
Hermman, dona do Querido Leitor
[www.queridoleitor.zip.net], define os
blogs. O termo, que se originou da
corrutela da palavra <weblog>, foi cunhado há dez anos pelo teórico
americano Jorn Barger.
Ele designava, inicialmente, páginas
de internautas que permaneciam diariamente muitas horas on-line (ou
conectados à Internet) e, deste modo,
atualizavam constantemente seu conteúdo. Além disso, este grupo
específico divulgava links (ligações
para outros sites) e também tornava
possível aos visitantes a chance de comentar o que era postado de modo
instantâneo.
Entretanto, ainda é discutido o
pioneirismo de Barger, pois já eram
detectados na rede endereços com as
características semelhantes a da
definição.
Com a afirmação da Internet como
real veículo de informação, o papel
desta ferramenta se expandiu e atualmente a blogosfera, como é
denominado o mundo dos blogs, tem o
poder de atrair a audiência entre tantas possibilidades que a “grande rede”
oferece.
No Brasil, este fenômeno é patente.
Desde a criação do primeiro blog em
português, em março de 1998, por
Nemo Nox (pseudônimo), o número de
blogueiros tupiniquins aumenta e se
destaca. Por exemplo, na lista das 100
personalidades mais influentes de 2007,
publicada pela revista Isto É
[www.terra.com.br/istoe] no início
deste ano, figuram Antônio Tabet, criador e mantenedor do Kibe Loco
[www.kibeloco.com.br], um dos blogs
de humor mais populares da rede, e
Raquel Pacheco, jovem que sob o apelido
de
Bruna
Surfistinha
[www.brunasurfistinha.com] ganhou
projeção a partir do blog em que descrevia seu cotidiano como prostituta.
Inicialmente, esta forma de se inserir na rede era visto com certo
preconceito, pois foi logo associada à
publicação de cotidianos particulares
na rede e o ato de blogar foi imediatamente taxado como uma atividade
adolescente, espécie de diário moderno. Com o tempo, contudo, o caráter
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dos posts foi mudando. Passou-se a
utilizar esse mecanismo para, por meio
de um recorte do mundo, deter o visitante na página. Com a descoberta da
internet pela mídia tradicional – mais
claramente jornais e emissoras de televisão –, o blog tornou-se uma solução
para a interatividade que a veiculação
na rede exige das empresas que transferem suas marcas para este espaço.
OS BLOGUEIROS EXISTEM
A pedra fundamental de todos os
blogs é o olhar particular do autor sobre a realidade. No bloco dos que
adotam o humor como arma, a referência de mais sucesso é a página do (ex)
publicitário Antônio Tabet – que a par-
novo meio foi a transposição de sua
maneira de relatar uma notícia.
“A linguagem é diferente. Ainda
uso o que aprendi no jornal para
escrever. Não sei direito o que é isso.
Estou tentando descobrir. Mas está
sendo ótimo aprender”, declarou
Noblat ao Observatório da Imprensa.
Atualmente ele tem seu blog
hospedado no site do jornal O Globo
[www.oglobo. com.br] e nele mantém
uma coluna semanal (publicada às
segundas-feiras). Antes, sua página já
fora abrigada pelo portal IG
[www.ig.com.br], onde passou a receber pelas postagens, e também pelo
jornal Estado de São Paulo
[www.estadao.com.br].
Dez blogs par
avoritos
paraa se ter nos ffavoritos
Não há nada mais popular e moderno na blogosfera do que a feitura de listas
sobre qualquer coisa. Como qualquer blogueiro que se preze, este escriba
também faz a sua, com o endereço de 10 blogs que valem a pena ser visitados,
segundo minhas viagens rede.
· Soninha <http://blogdasoninha.folha.blog.uol.com.br/>
· Pedro Alexandre Sanches <http://pedroalexandresanches.blogspot.com>
· Juca Kfouri <http://blogdojuca.blog.uol.com.br/>
· Nei Lopes <http://neilopes.blogger.com.br/>
· Luís Nassif <http://luisnassif.blig.ig.com.br/>
· No front do Rio <http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/frontdorio/>
· Blog do Tas <http://marcelotas.blog.uol.com.br/>
· Jacaré Banguela <http://www.jacarebanguela.xpgplus.com.br/>
· Jesus, me chicoteia! <http://www.jesusmechicoteia.com.br/>
tir de uma simples vontade de compartilhar algumas piadas com e trabalho
construiu, em abril de 2002, o Kibe
Loco, hoje abrigado no portal
Globo.com [www.globo.com], que
conta com respeitáveis 200 mil visitantes únicos por dia.
“Eu acredito no poder dos blogs.
Mas acho que isso se restringe a setores sócio-culturais, etc.”, afirma o
blogueiro. Sobre a influência no cotidiano, Tabet faz um recorte em relação
a possibilidade de um post interferir
na vida política do país: “A interferência na área política ainda é menor.
Apesar de bons blogs que trabalham o
tema, políticos ainda preferem agir de
acordo com pautas de jornais, revistas e TV”.
Ricardo Noblat, que construiu toda
a sua carreira profissional na mídia
impressa, passou a publicar na rede, em
março de 2004, as notas que o tempo
tornaria velhas para serem publicadas
no jornal. Desde então, o Blog do
Noblat [www.noblat.com.br] passou
pela CPI do Mensalão e, da condição
de pioneiro, tornou-se o principal observador político na internet brasileira.
O jornalista conta que a maior dificuldade que encontrou de adaptação ao
Formada em Física e com mestrado
em Física Nuclear, Rosana teve, ainda
na década de 1970, o primeiro contato
com computadores. Porém, foi somente
com o desenvolvimento de sua carreira
como escritora e jornalista que passou
a adotar a internet, nos anos 1990, como
um auxiliar em seu trabalho.
“Sempre acreditei no sucesso dos
blogs, mesmo quando todos duvidavam disso. O meu passou a ter vida
própria que independe da minha carreira em tevê. O mundo ficou bem menor
com a rede”, afirma ela, atualmente redatora do programa Pânico na TV
[www.paniconainterne.com.br],
complementando: “O blog já é poderoso no Brasil, prova disso é o fato de que
Pimenta no post dos outros...
“Rankings e prêmios são besteira.
Quando prestar atenção nos fatos,
você parará de se ocupar com isso e
voltará a fazer a única coisa que um
blogueiro pode fazer para tornar
seu blog realmente significativo:
blogar”, destila Carlos Cardoso, do
Contraditorium
[www.contraditorium.com].
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todos os grandes portais têm blogueiros
contratados”.
Autor do Pensar enlouquece, pense
nisso [www.interney.net/blogs/
inagaki], onde discorre sobre temas
como o amor ou os piores cantores do
mundo, Alexandre Inagaki iniciou este
ano uma empreitada de fôlego. Em parceria com também blogueiro Edney
Souza [www.inteney.net], deu início a
um novo condomínio de blogs na rede
brasileira, cuja proposta é oferecer remuneração aos abrigados sob sua marca. A
criação já nasceu com patrocinadores.
“Blogs, em geral, são exércitos de um
homem só. Estamos buscando uma
maneira de congregar escribas de
talento, fazer com que cada blog
agregue novos leitores e ao mesmo criar
um portal diferenciado de notícias, que
será diariamente abastecido por textos
inéditos e de qualidade”, comentou
Inagaki em entrevista a Tiago Dória
[www.thiagodoria.blig.ig.com.br]. O
empreendimento entrou no ar em
fevereiro deste ano, abarcando 21 blogs.
O FUTURO DA MÍDIA DO FUTURO
Tabet entende que a situação tenderá a uma acomodação natural, sem os
extremismos nem de uma revolução
(fase, segundo ele, já superada), nem
de um apocalipse. E a permanência, no
seu ponto de vista, depende muito da
relação com os leitores.
“Não acredito em boom e nem em
declínio. Acho que a tendência é a estabilização, como colunas de jornal, etc.
Alguns estão aí, já. E vão ficar. Outros
aparecerão. E, claro, outros vão sumir.
Os leitores são fundamentais para o
blog. No meu caso, são críticos, inteligentes e gostam de colaborar. O Kibe
Loco não tem cara de site pessoal. É um
meio de expressão. Meu e deles”, declara o blogueiro.
Já Rosana Hermann aponta para a
confluência de mídias como uma maneira de manter a atualidade da
ferramenta. “É certamente um mercado [o dos blogs] em expansão, que passa
a integrar até streaming ao vivo, como
faço agora”, diz, referindo-se a esta forma de se transmitir dados de áudio e/
ou vídeo em tempo real.
Inagaki comenta a questão sob o
aspecto da enormidade de infromações
(a maioria fúteis) que a rede oferece:
“No dilúvio de informações da Web [a
rede], ter um blog é quase como jogar
uma garrafa no mar em busca de alguém que a encontre”, afirma, para
acrescentar: “Com o agravante de que,
citando tira publicada pelo Adão
Iturrusgarai, é bem provável que a garrafa que você porventura achar terá
uma mensagem com a frase “enlarge
your penis” ou coisa do tipo”.
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Vida literária 2.0
Escritores e críticos quebram o pau nos comentários de blogs transformados em saraus virtuais
Camila Nobrega
Marcar encontro para discutir literatura virou coisa do
passado. A atual rotina dos
escritores, críticos e curiosos é
manter-se atualizado nos principais
endereços
e
comunidades virtuais que se
propõem a discutir o tema. O
número de sites e blogs destinados à literatura tem crescido
muito nos últimos anos e algumas discussões seguem noite
adentro, com mais de cem pessoas participando e outras
centenas acompanhando, mas
apenas observando.
A internet hoje é o espaço
que abriga os mais acalorados
debates literários. O site Paralelos — onde pode-se
encontrar crônicas, entrevistas
e opiniões de diversos escritores —, o Todoprosa, do site
nominimo.com, e os inúmeros
blogs de escritores brasileiros
e estrangeiros são exemplos de
alguns endereços que fazem
parte de listas pessoais para
visitação diária. Os comentários, notícias ou entrevistas
chegam a receber mais de cem
respostas, críticas ou resmungos. No caso do TodoProsa,
escrito pelo jornalista Sérgio
Rodrigues, que é um dos editores do NoMínimo, alguns
comentários são verdadeiras
críticas literárias, espaço onde
autores, fãs e críticos discutem
os novos nomes da literatura,
opinam sobre livros, matérias,
e até quebram o pau.
— Muitos assuntos renderam debates
bastante
entusiasmados e até nervosos.
Nenhum deles chegou aos pés,
tanto em número de comentários quanto em exaltação dos
ânimos, da polêmica recente
sobre o projeto Amores Expressos. Foram muitas
centenas de comentários, inclusive de autores que estão
participando do negócio; mas
nem todos usaram seus nomes
verdadeiros. — explica o jornalista Sérgio Rodrigues.
O projeto Amores Expressos vai mandar 16 escritores
brasileiros para diferentes cidades do mundo, de onde eles
se comprometem a escrever
um romance cada, que serão
publicados pela editora Companhia das Letras. Para se ter
uma idéia do alcance das dis-
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cussões virtuais, uma única
crítica sobre esse projeto foi
publicada pelo jornalista no
Todoprosa e rendeu inúmeras
respostas no próprio blog,
além de se estender a outros
domínios na internet. Além
disso, de forma surpreendente, o Todoprosa foi citado por
todos os escritores entrevistados, quando perguntados
sobre endereços que costumam visitar para acompanhar
as opiniões e atualizações sobre literatura.
aqui, até de pijama, acompanhando tudo sem ser
percebida — afirma Ana
Paula, que preferiu marcar a
entrevista pelo MSN.
Apesar disso, um importante consenso é sobre o
exagero em algumas declarações demasiadamente irônicas
e agressivas, como explica o
jornalista e escritor Marcelo
Moutinho.
— Em geral, só faço comentários quando o debate
realmente me parece pertinen-
— Ainda tem
muito
exibicionismo, muita agressividade infantil. Mas a troca
de opiniões é muito enriquecedora, tem gente ali que
realmente entende de literatura
e quer trocar figurinhas de
verdade. É aí que a internet
mostra esse trunfo que só ela
tem de incluir o leitor na
jogada. A tendência, com o
Antônia Pellegrino, autora do
blog “Inveja de Gato” e
participante do projeto “Amores Expressos” ressalta a
novidade de a discussão
literária fazer parte do dia-adia das pessoas, como um dos
benefícios da internet.
— Acho fascinante a literatura ser alguma coisa
cotidiana. Imagino o sujeito /
A jovem escritora Ana
Paula Maia, que mantém publicações de folhetins no blog
“killingtravis” assume acompanhar as discussões quase
diariamente:
— Sai até pancadaria no
Todoprosa e em blogs de outros escritores, centenas de
comentários, ferve! Sem dúvida a internet é um dos lugares
mais interessantes para se debater literatura. — E completa:
— Mas eu gosto de observar o
movimento, nem sempre quero falar, gosto mesmo de
observar quietinha. Posso ficar
te, já que as discussões chegam
a extremos inacreditáveis.
Mesmo assim, acredito que a
rede ajudou a viabilizar novamente uma ‘vida literária’ no
nosso país, conectando autores
de vários cantos e possibilitando um diálogo muito
interessante. — defende o escritor, que mantém o blog
“Pentimento”.
Os entusiastas dessa nova
vida literária, agora virtual,
ressaltam que nunca se
pôdediscutir tantos assuntos
com tanta gente ao mesmo
tempo, e de modo tão natural.
tempo, é que a qualidade do
papo cresça em todos os blogs.
- acrescenta Sérgio Rodrigues.
Apesar dos exageros
desmedidos, a enorme participação de pessoas que se
propõem a debater literatura
mostra a influência da rede no
assunto. Só no orkut, a
pesquisa
pelo
título
“literatura” gera um resultado
de mais de oitocentas
comunidades. Aos poucos, os
espaços virtuais invadem as
casas de brasileiros, de uma
forma mais simples
e
participativa. A escritora
leitor / comentarista saindo do
banho, postando um comentário antes do jantar — algo
assim, bem banal. — E continua: — Sempre me intrigou
bastante essa figura, o comentarista de blog. Eles são uma
categoria; batem ponto, são fiéis, comparecem diversas
vezes ao longo do dia para saber o que se passa na discussão
online, muitas vezes pensam
ou falam coisas interessantes,
fazem amigos. É uma rede de
sociabilidade fortíssima – pessoas reunidas por um mesmo
interesse: literatura.
Para acompanhar as discussões literárias no mundo virtual, um bom começo é visitar os sites mais acessados.
Sugestões (alguns dos favoritos em números de acessos):
Sites:
• todoprosa.nominimo.com.br
• www.paralelos.org
• portalliteral.terra.com.br
Blogs pessoais dos entrevistados:
• www.marcelomoutinho.com.br
• killingtravis.blogspot.com
• invejadegato.blogger.com.br
14/11/2008, 10:13
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OK
6
NO 11 - 2007/1
O dia em que morri na internet
Nos últimos vinte anos a rede mostrou-se o meio mais eficiente para a troca rápida de informações entre
pessoas de todo o mundo. Mas não são apenas notícias de cultura, futebol ou política que circulam pela Web
Carolina Cabral
Em meados da década de
noventa, poucas pessoas poderiam
prever o boom da Internet, que
começava a dar seus primeiros
passos, e o lugar que ela teria na vida
das pessoas em todo o mundo, neste
começo de século XXI.
Nos dias de hoje, não é mais um
luxo ou simples questão de opção
uma pessoa utilizar e dominar o
manuseio e serviços disponíveis na
Internet, mas quase um utensílio tão
necessário e “vital” quanto um carro
ou telefone.
Com o surgimento da World
Wide Web, esse meio foi
enriquecido. O conteúdo da rede
ficou mais atraente, com a
possibilidade de incorporar imagens
e sons. Um novo sistema de
localização de arquivos criou um
ambiente em que cada informação
tem um endereço único e pode ser
encontrada por qualquer usuário da
rede.Os famosos “sites” foram
criados e qualquer informação, sobre
qualquer assunto, em qualquer
língua, pode ser encontrada em
questão de segundos – claro,
dependendo se sua conexão é
discada ou via cabo.
Verdadeiras febres como o
Google e Wikipedia nos oferecem
dados sobre o que quisermos, apenas
digitando uma palavra-chave.
Através da Internet, podemos
escutar
músicas
que
não
encontramos mais em discos, álbuns
que ainda não foram lançados, filmes
que sequer começaram a passar nos
cinemas e todo tipo de informação
atualizada em tempo real. Talvez
seja mais fácil saber notícias sobre a
guerra do Iraque, através da Web,
do que estando em Bagdá.
Mas não são somente assuntos
relacionados à vida em sociedade
que encontramos na rede. Ou
melhor, também encontramos
assuntos relacionados à morte e
como a morte na Internet cria casos
bizarros, cômicos ou até mesmo
trágicos.
EXISTE VIDA APÓS A INTERNET?
Um exemplo da obsessão que as
pessoas têm pela morte e como isso
se reflete na rede é o site
www.deathclock.com, que em
português significa “relógio da
morte”. O visitante só precisa
o jornal.pmd
6
informar sua data de nascimento,
peso, altura e se é fumante, para que
apágina determine o dia, mês e ano
da morte do internauta.
Há ainda casos mais sérios, como
o do suicídio de um jovem de 16 anos,
morador do de Porto Alegre, que
planejou a hora e o local de sua morte
e compartilhou este momento, com
outras pessoas, em um fórum virtual
na Internet.
O jovem se suicidou em julho de
das vítimas. O problema é que esta
pressa “matou” muita gente que está
viva.O empresário, do setor de
mármore, Júlio Guidi estava no
avião da Gol que caiu na floresta
amazônica. Julio era capixaba,
casado, tinha 39 anos, dois filhos e
uma conta no orkut..
Mas não era só ele. Outro Julio
Guidi, esse que não estava no vôo,
acabou sendo “morto” por muita
gente. O Julio Guidi, vivo, tem 21
2006, no banheiro do apartamento
onde morava com os pais. O plano
de suicídio já havia sido anunciado
no blog que mantinha na Internet.
Além do blog, ele participava de
fóruns virtuais de discussão, entre
eles, grupos que debatiam o
suicídio. Foi em um desses fóruns
que o adolescente encontrou pessoas
que o incentivaram a levar adiante a
idéia de se matar. Além de os
participantes, darem ao jovem dicas
sobre a forma considerada mais
eficiente para se matar, eles
acompanharam, em tempo real, o
momento de sua morte.
anos, é carioca, morador de Campo
Grande e estudante de Direito e
recebeu mais de quatro mil scraps
com mesnsagens de pêsames, como:
“fica com Deus”, “descanse em paz”
e “que Deus te dê descanso “.
Segundo Julio, no começo as
mensangens eram levadas na
brincadeira, mas depois de
algunsdias, ele começou a se sentir
muito incomodado: “– Nos
primeiros dias, eu levava na
sacanagem, meus amigos também
entraram na “pilha” e enviavam
mensagens dizendo “que saudade,
Julinho”, mas depois começou a ficar
macabro e não paravam de chegar
centenas de “scraps” lamentando
minha “morte”.
Ele conta que após cinco dias,
resolveu colocar uma mensagem na
página inicial de seu perfil, alertando
às pessoas de que não havia
morrido, mas que lamentava a morte
do outro Julio Guidi. Mas segundo
ele, mesmo assim, as mensagens não
paravam de chegar. E foi assim que
ele resolveu mudar de tática:
ORKUT TAMBÉM MATA
Mas nada como o site de
relacionamentos Orkut para gerar
muita confusão na Internet com
casos de pessoas que morreram. Um
caso curioso foi o dos homônimos
Julio Guidi. Com a divulgação da
lista de passageiros que morreram
no acidente do Boeing 737-800 da
Gol, diversos internautas correram
para o Orkut para encontrar o perfil
14/11/2008, 10:13
– Fui obrigado a deletar aquela
antiga conta, ficar algum tempo sem
acesso ao Orkut e só algumas
semanas depois criei um novo perfil
e adicionei apenas os amigos mais
chegados.
Mas não são somente cidadãos
comuns que sofrem com esse tipo de
boataria na Internet. Várias
celebridades já foram “mortas” na
Internet. Um caso ilustre é o do
escritor Zuenir Ventura. Em outubro
de 99, o jornal Estado de São Paulo
veiculou uma notícia anunciando a
morte do escritor em um acidente
de carro, no bairro da Lagoa. Em
seguida, começaram a circular
correntes de email na internet,
confirmando que Zuenir tinha
morrido.
Uma suposta empregada do
jornalista teria dado a informação,
logo depois desmentida por Zuenir
Ventura.O próprio escritor tomou a
iniciativa de ligar para algumas
redações de jornais.
Segundo Zuenir, o boato teria
surgido a partir da ligação de um
repórter para um número que já não
lhe pertencia. Uma mulher que teria
se identificado como sua empregada
passou a informação do acidente e
da morte: “– Obituários já estavam
sendo feitos, colegas meus – até hoje
têm uma raiva danada de mim por
isso (risos) – estavam tomando
cerveja no bar e foram chamados
para fazer meu perfil. Tudo isso foi
até muito engraçado, mas, durante
duas horas, meu filho ficou achando
que eu tinha morrido e eu não
conseguia desmentir.”
Fica de lição para os Julios, Zuenir
e todos os internautas, é que todo
morto da internet pode estar vivo
fora dela.
Orkut que mata,
também dá nome
a vivo
Orkut Büyükkokten, engenheiro de
software, de 32 anos, nascido na
Turquia e criado na Alemanha, criou
um dos maiores fenômenos da
Internet nos últimos tempos.
O Orkut é uma rede social filiada ao
Google, criada em 19 de Janeiro de
2004, uma rede de relacionamento
que atinge milhões de pessoas em
todo o mundo.
7
NO 11 - 2007/1
Mesas virtuais, dinheiro de verdade
Pôquer online se torna fenômeno mundial e pessoas que vivem do jogo na rede é cada vez maior
Carlos Leal
Quando, em 2003, o norte-americano Chris
Moneymaker ganhou dois milhões e quinhentos mil dólares no torneio mundial de pôquer,
transmitido ao vivo pela ESPN, o pôquer online
assumia seu caráter de fenômeno mundial.
Moneymaker era mais um jogador amador da
internet que, através dos chamados “torneios
satélites” realizados na rede, teve a oportunidade de disputar o evento principal da série
mundial de pôquer (disputado na modalidade Texas Holdem), realizado
em Las Vegas todos os anos e até então jogado quase que exclusivamente
por profissionais. Os prêmios, com o
aumento do número de participantes,
tornaram-se cada vez mais altos. Milhões de pessoas passaram a
identificar a oportunidade de competir em um jogo emocionante a partir
de sua própria casa e ainda ter a
chance de se tornarem milionárias.
Nas palavras do próprio Chris
“Money Maker”, “pessoas começaram
a pensar: se esse cara pode, eu também
posso”.
O fenômeno mundial começou
a se desenhar quando foi lançado o
filme Cartas na Mesa, em 1999, no qual
Matt Damon interpretou um jovem
jogador que ambicionava sair das mesas clandestinas de Nova York e
ganhar o campeonato mundial em Las Vegas.
Porém, foi na virada do século que o pôquer explodiu. Em 2001 foram inventadas as chamadas
hole cards cams (câmeras fixadas na borda da
mesa, que mostram as cartas de cada jogador) e
a idéia foi comprada pelo Travel Chanel. Foi criado, então, o WPT (Word Poker Tour), um
torneio disputado em todo mundo entre os melhores jogadores de vários países.
Com a audiência dos torneios aumentando dia após dia, o número de jogadores dos sites
de pôquer online, que também surgiram no final da década de 90, deram um salto exponencial.
Foi isso que possibilitou o surgimento dos “torneios satélites”, através dos quais jogadores
podiam pagar inscrições baratas e, ao vencer ou
chegar entre as primeiras colocações, se classificarem para torneios ao vivo com premiações de
milhares de dólares.
No Brasil, um dos países com o maior número de usuários de internet no mundo, em sua
maioria jovens, o fenômeno do pôquer on-line
se estabeleceu rapidamente. Já existe um número significativo de jogadores brasileiros
profissionais com destaque no cenário internacional. São pessoas que passam, em média, oito
horas por dia jogando na internet e tem no jogo
o jornal.pmd
7
sua fonte exclusiva de renda. O paulista André
Akkari começou a jogar na internet em 2004 e se
tornou profissional no inicio de 2006, sendo atualmente o segundo lugar do ranking brasileiro
do site Super Poker. Akkari coleciona títulos tanto no online como no jogo ao vivo, sendo o mais
importante deles o primeiro lugar no Belagio
Cup, realizado no cassino mais famoso do mundo, em Las Vegas, no ano de 2006. Na ocasião,
derrotou mais de 160 oponentes, sendo que entre eles estavam alguns dos melhores jogadores
Momento decisivo de um torneio de pôquer online
profissionais dos EUA, num torneio que cobrava 1000 dólares de inscrição.
“A evolução do meu jogo foi conseqüência de uma aplicação muito forte em estudos,
livros, dvd’s e no material que é oferecido na
internet de aprendizagem”. Segundo Akkari, seu
rápido crescimento no jogo só foi possível por
conta desse estudo dos conceitos ligados ao pôquer, aliado com a prática permanente que a
internet possibilita. “Com certeza, o pôquer online é uma ferramenta que faz com jogadores que
estejam em mercados distantes das centrais grandes do pôquer, como Las Vegas e Europa,
tenham acesso ao jogo de forma sustentável. Na
internet conseguimos ter uma gama muito grande de torneios (onde o jogador paga uma
inscrição pré- estabelecida e é premiado caso
chegue entre os primeiros colocados )e cash
games (jogo apostado onde uma ficha vale um
dólar) o dia inteiro, a qualquer hora. Isso facilita
muito a nossa vida”.
Atualmente existem cerca de cinqüenta mil
jogadores de pôquer on-line só no Brasil. Além
da grande participação de brasileiros em torneios na internet, existe um grande número sites,
fóruns de debate sobre o jogo e comunidades no
orkut. A maior delas, a “Poker Brasil”, reúne atu-
14/11/2008, 10:13
almente mais de trinta e três mil pessoas e dela
participam desde iniciantes até jogadores experientes. Já a comunidade “Poker Mania” tem
duas mil e trezentas pessoas e lá estão presentes
os principais jogadores do país, inclusive profissionais que enfrentam os melhores jogadores
do mundo no circuito internacional.
Rio, São Paulo, Minas Gerais, Paraná,
Goiás e Mato Grosso já têm federações organizadas e promovem eventos regularmente.
“Levou cerca de nove meses de torneios realizados até formarmos a Federação. Por
causa dela existem mais de 300 jogadores praticando ativamente na capital
do Paraná e em todo sul do país. Ela
fomentou mais de 900 jogadores que
praticam assiduamente. Esses números
nunca foram levantados de forma precisa, mas são aproximadamente estes”,
atesta Marco Marcon, presidente da Federação Paranaense de Poker. A
principal preocupação destas federações é de regulamentar o pôquer e
promover sua prática de maneira esportiva e responsável, acabando
definitivamente com a imagem
distorcida de que se trata de um jogo
de azar, clandestino e com jogadores
viciados. Segundo Marcon. aqueles que
estão começando devem procurar mesas de valores baratos e de acordo com
sua renda: “Os amadores não devem
investir no jogo mais do que aquilo que
em seu salário tem reservado para o Lazer”.
Em uma iniciativa pioneira, várias federações do Brasil organizaram o primeiro
Campeonato Brasileiro de Poker online. O evento reunirá mais de 500 jogadores que não
precisaram pagar nada para participar. Os dois
primeiros irão ganhar uma vaga para disputar o
evento principal do Word Poker Series de 2007,
que ocorre em julho em Las Vegas. Além destas
duas vagas, vários outros jogadores brasileiros
já se classificaram para o torneio através de satélites pela internet. A expectativa é de que
quando um brasileiro vença um grande torneio
internacional, o pôquer passe a ser acompanhado pelo grande publico e ganhe uma
regulamentação definitiva no Brasil.
Diferente do pôquer tradicional, no qual
cada jogador tem cinco cartas na mão, no Texas
Holdem cada um recebe duas cartas que devem
ser combinadas com outras cinco, que são abertas no centro da mesa. Esta dinâmica gera um
tipo de pôquer que, por sua agilidade, emoção,
facilidade de compreensão inicial e possibilidade quase ilimitada de jogadas e combinações, é
apontado por muitos como o jogo do século XXI.
As cartas estão na mesa, as apostas estão feitas.
Qual será o resultado?
8
NO 11 - 2007/1
Hereges da Internet resistem à conversão
Na era virtual, eles preferem aderir às relações pessoais e fugir da ‘opressão’ cibernética
Gabriel Machado
A religião cibernética não conseguiu
arrebanhá-la como sua discípula.
Sempre que diz não gostar de internet,
a atriz e produtora teatral Renata Roriz
é vista, de acordo com suas próprias
palavras, “como uma E.T.”. Os fiéis,
segundo ela, “pregam seu Evangelho”
a todo custo, tentando “convertê-la”. A
atriz faz um apelo:
- Por favor, não me descreva como
uma xiita! Só não quero que a internet
interfira em minha vida pessoal. Mas,
na área profissional, não há como
deixar de usá-la.
É o que ocorre com muitos dos seus
amigos de teatro, que passaram a
utilizá-la depois de resistir até o “último
momento”, apesar de não gostarem de
internet.
- No mundo artístico, muitas vezes a
pessoa se isola para sua produção
criativa. Foi o caso também de (JeanJacques) Rousseau e (Henry David)
Thoreau (filósofos) – justifica Renata.
Apesar de muita resistência, ela
percebe toda a força de atração da
internet e confessa:
- Sei que algum dia acabarei
capitulando.
O ator Orã Figueiredo, de 41 anos,
é outro dos hereges. Até nove meses
atrás, ele não tinha contato algum com
computador, muito menos internet.
Teve sua iniciação quando conheceu
sua namorada, jornalista, que trouxe
para sua vida o computador, mas o
tempo não lhe permite o
aprofundamento.
- A profissão de ator não me exigia a
utilização da internet. Mas agora, se
começar a usar mais, sei que tomarei
gosto. Ainda assim, não acho que a
internet vai ocupar um espaço tão
grande na minha vida. Também não me
imagino passando meu tempo de lazer
no computador – frisa.
Já o estudante da ECO/UFRJ, João
Paulo Toledo, de 20 anos, parece não
antever nenhum futuro de conversão.
Ele possui amigos de filiações
cibernéticas diversas e não se sente
prejudicado por ter abdicado da rede,
mesmo sendo diferente dos demais
jovens:
- As pessoas ficam espantadas e
falam: “Você não tem MSN?! Mas como
você fala?” O mundo agora está dentro
da internet e o Google tornou-se um
deus.
Também jovem aluno da ECO,
Arthur Ottoni, de 23 anos, apenas
acessa sites quando já sabe o que está
procurando. E utiliza o e-mail. Quanto
ao resto, faz duras críticas:
o jornal.pmd
8
- Abomino Orkut e MSN. Essas
duas formas geram uma pseudointegração entre as pessoas.
Geralmente as pessoas se surpreendem
ao saber que não tenho, mas é o tipo
da coisa que quem tem acha que não
pode ficar sem, mas não percebe que é
totalmente descartável da sua vida.
Ao contrário do que exemplificam
João e Arthur, a aposentada
Margarida Lacerda, de 67 anos, diz
que os jovens, como seus netos, não
conseguiriam viver sem a internet.
“Hoje a internet é necessária, tudo gira
em torno dela.” Já seu caso pode não
parecer tão incomum: uma senhora
A liberdade individual que deve vir em
primeiro lugar.
- Não sou contra a modernidade. As
tecnologias foram criadas para facilitar
nossas vidas, só que acabaram
dominando-as. É bom estar conectado,
mas e o lado solitário da vida? As
pessoas também têm que se voltar para
o seu interior e para a natureza.
João Paulo também não gosta do
contato mediado pelo computador e não
entende as relações que os internautas
adoram cultivar.
- O mundo virtual me incomoda.
Parece que é totalmente fictício,
totalmente fora da realidade. Talvez o
Apesar de a religião cibernética queimá-los perante a sociedade, os hereges da internet
persistem em seus credos e acusam os críticos de criarem uma nova era de Inquisição.
inativa, que não está na idade de lidar
com tecnologia. Contudo, ela foge à
expectativa:
- Trabalhei 33 anos com informática.
Os computadores ainda funcionavam
com cartões perfurados. Mas não
cheguei a pegar a internet. Cansei de
tanto mexer no computador. Já saturou.
Ainda em plena atividade, Renata
Roriz passou a ter um assistente de
produção para acessar a Web por ela,
no início de 2006, quando começou a
produção de sua primeira peça, Cora
Coralina.
- Não quero ter que mexer na
internet. Sempre que precisava no meu
trabalho, pedia ajuda para meus
amigos. O contato com a internet pode
não ser direto, mas ele sempre existe frisa.
A artista argumenta que é uma
questão de tempo e qualidade de vida.
contato pelo computador seja mais fácil,
pois não é necessário se expor.
Nesse ponto, Renata complementa,
fazendo uma analogia com seu meio
profissional: o mundo da internet seria
um teatro, em que “um bando de
fantasmas fala com outro bando.” Já Orã
destaca uma oposição entre a Web e o
teatro:
- Na internet, as pessoas se isolam
na frente de uma tela. Até a câmera
de TV filtra a nossa visão. Mas, no
teatro, a relação é real, as pessoas vão
para ver outras pessoas, para sentir
o calor humano, para interagir com
elas.
Mas é a interação que João considera
um dos fundamentos do mundo www.
E que seria a justificativa para não
gostar de internet.
- Desculpe se não consigo explicar
direito, mas é porque é algo que faz
14/11/2008, 10:13
parte da minha personalidade. Mas
acho que explica o fato de a internet
pedir à pessoa que tome atitudes o
tempo inteiro e exigir respostas. É o
mundo da agilidade, da atenção, da
ação. Eu prefiro a contemplação, o
exercício mental e criativo. Sou mais
calmo e fechado. As pessoas falam
muito hoje em dia, são verborrágicas e
muito abertas, expõem a vida sem o
menor problema. Não faz o meu estilo
– explica.
Arthur também não simpatiza com
o universo cibernético. Alega que o
Orkut e o MSN seriam “estimuladores
de vaidade”, em que as pessoas
competem para mostrar quem tem
mais amigos, sendo que o MSN ainda
geraria conversas sem conteúdo e malentendidos.
- Os dois apenas contribuem para a
construção de uma sociedade cada vez
mais individualista, perdendo o seu
essencial, que é a troca estabelecida pela
comunicação direta entre pessoas
diferentes, em detrimento do espírito
coletivo – critica.
Orã afirma que “nem com cachê”
entra em Orkut ou em chat, que levam à
violação de privacidade e constituem
uma relação “promíscua”.
Já Margarida não vê problema na
conversa on-line e percebe muitas
vantagens no uso da rede.
- Eu sei mexer na internet, sei sobre
Orkut e MSN, não estou desligada
desse mundo. Mas prefiro manter meu
estilo de vida. Já estou habituada. Para
mim, é bem melhor a relação pessoal.
Até pelo telefone não gosto de falar
muito.
Visão muito defendida por Renata
Roriz:
- O mundo exige que estejamos
acessíveis a todo minuto. Mas quero
me desconectar do mundo. Por isso,
só levo meu celular quando realmente
é necessário. Não posso ter paz nas
minhas horas de lazer, preciso sempre
pensar em trabalho?
Arthur concorda:
- Reconheço a importância do
celular, pois trabalho e tenho que ficar
constantemente disponível para ser
achado por alguém. Porém, acho que
é apenas mais uma forma de controle
da sociedade sobre o cidadão. É sem
dúvida mais um limitador das
liberdades do indivíduo.
Diante da feroz campanha de
adesão à fé cibernética, e também
tecnológica, a atriz questiona a
homogeneidade:
- A linguagem do computador é
atraente, sim, mas por que todos têm
que, necessariamente, segui-la?
9
NO 11 - 2007/1
Vendo Monk 85. Ótimo estado. Aceito proposta
Jogadores do RPG online Ragnarök negociam
seus personagens e equipamentos do jogo por dinheiro real
suficiente para encarar qualquer reincidentes são suspensos por 5 dias Emperium, ou Guerra do Emperium,
inimigo. Daí, quem não tem a e, na terceira ocorrência, o infrator é cujas batalhas têm datas e horários
A mãe ficava preocupada vendo paciência ou a habilidade para tanto banido do jogo. Os itens comprados marcados pelos servidores.
Os jogadores se organizam em
o filho jogar até tarde na internet. O acaba gostando da idéia de comprar no mercado negro também podem ser
pai ameaçou cortar a mesada: um personagem já pronto, e o confiscados, se descobertos pela Level guildas (em referência às associações
de auxílio mútuo constituídas na
“Quando tiver que batalhar o próprio pagamento é feito com dinheiro do Up!.
mundo
real.
Em
março
de
2007,
a
Level
Up!
Idade Média entre trabalhadores),
dinheiro, quero ver se vai ficar a noite
Acessórios
como
armaduras,
flagrou
e
puniu
131
jogadores
que
liderados por um mestre, o Guild
toda no computador!”. Mas para o
garoto isso não era problema, ele curativos, chapéus e até sorvete negociavam personagens ou itens, Master, que teve de encontrar (ou
estava upando o Monk... E isso poderia também estão à venda nas próprias dos quais 27 já haviam cometido a comprar) o precioso metal Emperium
lojinhas do jogo, com bonecos infração antes. Em abril, o número de para ter o direito de criar o grupo.
lhe render 300 reais.
As guildas têm como objetivo
Daniel é um jogador de mercadores encarregados das punidos caiu para 96, mas os casos de
negociações.
Ali,
tudo
deve
ser
na
reincidência
aumentaram
para
35.
conquistar
castelos, porque neles
Ragnarök, e o Monk (monge, em
moeda
fictícia
do
Ragnarök,
o
Zeny.
O
site
de
leilões
Mercado
Livre
surgem
diariamente
tesouros, poções,
inglês) é o seu personagem. Foram
dois meses e meio de dedicação até Mas o mercado parelelo não só existe, também expulsou os vendedores de cartas, equipamentos... E o castelo é
que atingisse o nível 85. Agora o como ferve. A taxa de câmbio pode “bens virtuais”. No Orkut, as mais generoso à medida que recebe
comunidades relacionadas investimentos, em Zenys, de seus
Monk está poderoso: “Ele derruba variar de R$ 5 a R$ 8 por
a essas atividades são donos, por isso também é importante
qualquer Kina 99 híbrido e já matou milhão de Zenys – uma
carta
mágica,
por
exemplo,
poucas; têm no máximo 40 para a guilda defender suas posses
um Lord 82 vit”, disse Daniel,
pode
sair
por
R$
40.
membros e quase nada para não perder os Zenys aplicados.
orgulhoso, seja lá o que isso
Os
personagens
publicam além de spams.
Em cada servidor são 20 castesignifique.
Mas não é difícil encontrar los distribuídos por 4 cidades no
O Ragnarök é um dos Role Play- podem se valorizar de
um vendedor e as continente virtual Rune-Midgard, o
ing Games online mais populares no acordo com o nível e com o
negociações continuam que significa que muitas guildas ficam
Brasil e funciona com três servidores dinheiro acumulado com
sendo feitas pela internet e sem nenhum. É na ocasião das
oficiais: Íris, Loki e Chaos – todos eles. O Monk do Daniel
ainda
tinha
40
milhões
de
mesmo por telefone. Daniel guerras que elas têm a oportunidade
gerenciados pela Level Up! Games. A
Zenys,
que,
negociados
com
mora no Piauí e estava de acesso aos tesouros. Todas as
empresa lançou o jogo no Brasil em
a
taxa
mais
baixa,
valeriam
disposto a vender para um guildas podem se enfrentar simulta2004 e em menos de um ano já tinha
cliente do Rio de Janeiro: neamente na WOE, e os jogadores se
700 mil usuários no país. Em todo o 200 reais: “Na verdade você
Monk 85
importado do Piauí
“nesse caso a gente entra articulam por softwares de mensagem
mundo, são 30 milhões de jogadores só vai pagar 100 por um
R$ 300
em contato por telefone, de voz, como o Skype, para traçar
de Ragnarök. Existem também os Monk nível 85”, ele tenta
convencer.
E
não
é
mesmo
ajusta os detalhes, eu te dou estratégias e receber ordens de
servidores independentes, mantidos
dos
mais
caros,
uma
menina
de
São
minhas
referências, RG, CPF, comando enquanto jogam.
por jovens mais entusiasmados.
Paulo
anunciou
um
Blacksmith
(ferendereço
e
etc. Aí você faz o deposito
Os grupos podem costurar
Nesses RPGs você cria um
personagem em um universo virtual reiro) nível 91 por R$ 600. Esse no banco, e eu passo a te ligar todos alianças e lutar juntos nas guerras,
e passa a interpretá-lo, sem que haja provavelmente viria com muitos os dias até a transferência. Leva uns 2 mas a guilda convidada para ajudar
ou 3 dias, no máximo. Então, quando fica proibida de pegar o castelo para
um roteiro pré-determinado. As itens.
Acontece que essas transações o dinheiro bater aqui eu passo meu si, é simplesmente uma prática
situações imprevisíveis surgem da
política, uma troca de favores.
interação com centenas (às vezes, que envolvem dinheiro de verdade registro no jogo para você”.
são
proibidas
pelas
O
jogador
também
pode
criar
As diferentes profissões são
milhares) de participantes
empresas
que
controlam
os
mais
de
um
personagem,
uma
equipe,
importantes
na guerra porque suas
que
atuam
games, porque as centenas que pode ser vendida numa espécie habilidades são complementares, um
simultaneamente naquele
de pessoas que lucram com de pacote promocional. Quatro é mais forte, outro mais rápido, outro
universo. Quando uma
os jogos não pagam direitos “chars” (do inglês, characters) de pode “curar” os ferimentos dos
multidão compartilha um
autorais – afinal, não foram funções diferentes, todos de nível companheiros.
Quando
um
mesmo jogo pela internet,
os
jogadores
que
criaram
os
superior
a
80,
estavam
anunciados
no
personagem
é
derrotado
no
ainda se aplica outra
produtos.
Como
Orkut
por
apenas
R$1.800.
Existe,
enfrentamento,
leva
preciosos
denominação:
massive
“governantes” daquele inclusive, gente que faz
minutos para voltar ao jogo.
multiplayer online RPG, ou
mundo virtual, as empresas personagens
por
As
compras
de
MMORPG.
querem cobrar uma espécie encomenda. Você pede um
Zenys, equipamentos e
Os bonequinhos têm
Blacksmith 91
de ICMS (Imposto sobre Wizard (bruxo) nível 99 e
personagens é o meio
“profissões” diferentes, que
cheio da grana
Circulação
de
Mercadorias
dali
a
uma
semana
o
rapaz
instantâneo de conseguir
determinam suas funções
R$ 600
e
prestação
de
Serviços).
te
entrega.
Os
um personagem bom o
no jogo; os iniciantes têm
O
esquema
de
equipamentos
e
a
roupa
do
suficiente pra encarar
poucas habilidades e
também
qualquer inimigo na
poucos bens. Para evoluir (ou “upar”, fiscalização, baseado no regulamento personagem
W O E; é n e g o c i a ç ã o d e
como eles dizem) é preciso realizar do jogo, prevê punições aos mal- podem ser encomendados,
poder. Por isso é tão immissões desafiadoras, como destruir comportados que podem envolver mas são cobrados à parte.
Toda essa busca por
portante que o Monk
monstros, e conquistar os itens redução de nível e confisco de Zenys.
Os
jogadores
que
são
pegos
um
personagem
forte
esteja
derrubando
mágicos que aparecem como
Wizard 99
realizando
“transação
ilegal”
ficam
acontece
porque
o
qualquer
Kina
99 híbrido
recompensa. Mas isso leva tempo –
sem acessórios
sem
acesso
ao
jogo
por
24
horas,
se
Ragnarök
gira
em
torno
da
e
j
á
t
e
n
h
a
m
a
tado um
R$ 400
são meses até que se possam adquirir
Lord 82 vit.
as melhores armas e ficar forte o forem, digamos, réus primários. Os chamada WOE – War of
Fernanda Castelo Branco
o jornal.pmd
9
14/11/2008, 10:13
10
NO 11 - 2007/1
Hackers passam a bola para os crackers
Acusados de invasões criminosas na intimidade alheia agora jogam a culpa em nos que quebram programas
Mariana Pires de Mello
Em tempos de obsessão por
segurança digital, os hackers se
tornaram os vilões da web. No senso
comum, eles são encarados como
invasores ou criminosos e seriam os
responsáveis por ataques virtuais e
quebra de licenças e senhas. Ou seja,
os
maiores
culpados
pela
vulnerabilidade digital que apavora
as grandes empresas e sistemas
financeiros que mantém bases on-line.
A palavra hacker surgiu nos
anos 50, no Massachusetts Institute of
Technology (MIT), EUA, e deriva do
termo hack, usado para definir atividades
de alta tecnologia com os quais alguns
estudantes se ocupavam. Seria alguém
que, deliberadamente, ganha acesso a
outros computadores, frequentemente
sem conhecimento ou permissão do
usuário.
Mas os hackers resolveram sair
em defesa própria e querem “limpar sua
ficha”. Por isso, passaram a bola para
os crackers. Segundo R.C., gerente de
rede de uma empresa de tecnologia que
se considera um hacker, “crackers
invadem para causar prejuízo ou se
apropriar de algo que não lhes
pertence”. Ele ainda acrescentou que “o
hacker invade apenas pelo desafio, não
para benefício próprio”:
– A verdade é que o grande
prazer é o desafio de conseguir fazer
uma coisa que ninguém tenha feito
antes. Existem hackers que têm honra,
que invadem apenas para se
valorizarem no grupo. (veja o
depoimento de R.C. no box ao lado).
“Cracker”, segundo a Wikipédia,
foi um termo criado em 1985 por
hackers em protesto contra o uso
indevido do termo “hacker” em
notícias de crimes digitais. “ O uso
deste termo”, continua o site, “reflete a
forte revolução contra o roubo e
vandalismo praticado pelos crackers”.
Hoje, passados mais de 20 anos, os
hackers ainda lutam para se livrar do
estigma de criminosos. Querem ser
enxergados por sua esperteza e
sagacidade. E estão empenhados nisso:
hoje, está disponível na web um grande
número de sites, com conteúdo
pedagógico elaborado por hackers, que
tentam esclarecer a diferença existente
entre hackers e crackers.
PROFISSIONALIZANDO
PARA O BEM
A homepage do Hackerteen,
em âmbito nacional, é a que mais se
destaca.
Sob
o
slogan
“profissionalizando jovens para o
bem”, o site, lançado em novembro
de 2004, é iniciativa de um projeto
o jornal.pmd
10
educacional que começou em dezembro de 2003 e durante um ano, investiu
em pesquisa e desenvolvimento.
Através de aulas on-line e, uma
vez por semana, na sede do Hackerteen,
em São Paulo, o projeto objetiva
“canalizar a energia, o tempo que o
jovem passa na frente do computador,
para ele aprender o que realmente fará a
diferença no seu futuro”, segundo as
informações da homepage.
– A maioria dos jovens no mundo
inteiro desperdiça tempo no Orkut, no
MSN e com games. É claro que aí tem
muita coisa positiva, mas pela falta de
disciplina natural do jovem e a
necessidade de uma melhor forma de
uso da tecnologia, nós criamos o
HackerTeen – ressaltou Marcelo
Marques, diretor de estratégias do
projeto.
No Hackerteen os adolescentes
aprendem a lidar com diferentes
linguagens de programação e são
R.C. contou ao
Nº ZERO uma de suas
aventur
as
aventuras
“ O grande prazer é o desafio de
conseguir fazer uma coisa que
ninguém tenha feito. Diferente do que
muitos pensam, hackers não
invadem para prejudicar ou destruir
sistemas. Em nosso ambiente, o
sucesso é muito valorizado e existem
hackers que têm honra, que invadem
sem objetivo de ter ganho, apenas
para se valorizarem no grupo. Em um
grande portal de esportes, consegui
acessar um banco de dados que
continha nomes, senhas e até
números de cartões de crédito (o site
tinha uma loja virtual). Tive acesso
aos arquivos dos servidores e a todos
os sistemas do site. Depois de uns
dias, resolvi brincar ali, pois o site
publicou notícias contra o meu time,
Flamengo. Coloquei à mostra, na
página inicial, todos os números dos
cartões de crédito (o site tem tres
milhões de visitas
desenvolvidos materiais, como gibis e diferença entre ‘hacker’ e ‘cracker’. Eles
cartilhas, que aliam diversão ao conteúdo sabem como fazer essa distinção, mas
e entretêm os jovens. Além disso, são você não deixa! Você insiste em usar o
oferecidas matérias como Segurança em termo ‘hacker’ pejorativamente. Quando
Computadores, Empreendedorismo na os repórteres tentam usar outra palavra
Internet e Ética Hacker:
ou explicar os outros significados, você
– Tivemos muitos contatos com muda, edita, corta”, diz a carta.
Hackers para saber como e o quê
O remetente ainda tentou definir
ensinar nas aulas de segurança de o hackerismo, alegou não ver problema
computação. Um deles foi o Gustavo em assumir que é um hacker e apontou
Noronha, que desenvolveu as aulas de os jornais como os principais
Python
(uma
linguagem
de responsáveis pela manipulação da
programação). Já as aulas de ética opinião púbica em relação ao termo: “Eu
foram criadas junto com o sociólogo sou um hacker. Ou seja, eu gosto de
Sérgio Amadeu, e as disponibilizamos computadores – trabalhar com eles,
gratuitamente para os alunos fazerem aprender sobre eles e escrever programas
o download de suas casas. As aulas têm inteligentes. Não há nada de vergonhoso
conteúdo relacionado a conceitos de no ‘hackerismo’ que eu faço, mas quando
ética e filmes que os jovens gostam.
conto às pessoas que sou um hacker, elas
Segundo Marcelo, uma estatís- pensam que eu estou admitindo algo
tica revelada pelo ex-diretor geral da inapropriado e perverso – porque jornais
Associação Brasileira de Inteligência como o seu empregam erradamente a
(ABIN), Mauro Marpalavra ‘hacker’,
celo,
também
dando a impressão
impulsionou
a
que ela significa
idealização
do
‘invasor’ e nada
Hackerteen: 80% dos
mais”.
crimes que ocorrem na
– Se o jornaInternet são cometilismo, seja no jornal
dos por jovens.
impresso, na TV ou
Marcelo Marques
mesmo na própria
também ressaltou que
web, tratasse os
o mercado de trabalho
hackers a partir de
está à procura desses
seu significado verFalta de segurança digital: atribuída aos hackjovens:
dadeiro, não haveria
ers, mas criada por crackers
– Há empresas
tanta confusão entre
que procuram jovens
os significados de
para trabalhar na área de Tecnologia da hacker e cracker – disse R.C.. O hacker
Informação, e são poucas as que conse- também lembrou que o jornalismo é
guem encontrar o jovem que tem um formador de opinião – Acompaconhecimento no assunto – destacou ele, nhando as notícias, as pessoas
que reforçou a meta do Hackerteen em estruturam suas idéias e pré-conceifazer com que os jovens aprendam como
tos, e à medida
proteger os dados das empresas, para
que a mesma
assim se direcionarem a um futuro na
palavra vai apaárea de tecnologia.
recendo nessas
notícias, sempre
A CULPA É DA MÍDIA
com intenção
Em seus websites, os hackers se
pejorativa, é assimostram insatisfeitos principalmente
milada
por
com o emprego errado, por parte da
leitores e espectamídia e dos veículos de comunicação,
dores”.
do termo hacker. Para eles, seu uso
Mas não
pejorativo foi o principal responsável
é toda a grande
pela “má fama” que os hackers têm hoje mídia que não sabe (ou que omite que
junto à sociedade.
sabe) a diferença entre hacker e cracker.
No site The Jargon File, há uma Marques apontou uma reportagem do
carta de desabafo de um hacker telejornal SBT Brasil, do dia 25 de agosto
destinada ao editor do jornal norte- de 2005, disponível no Youtube (www.
americano Wall Street Journal. Nela, o youtube.com/watch?v=7OLs Vlaa6-M),
hacker culpa os editores dos jornais que ele considera “a melhor” quando se
pela insistência em empregar o termo trata de estabelecer essa diferença. A recom conotação negativa, alegando que, portagem – que cobriu a Operação
mesmo que os repórteres saibam o real Pegasus, deflagrada pela Polícia Fedesignificado da palavra hacker, são eles, ral em 2005, e foi construída a partir de
os editores, que os restringem a um menino de 13 anos –, além de usar a
permanecer no erro. “A coisa mais expressão “hackers do bem”, deu detatriste é que seus repórteres sabem a lhes sobre o projeto Hackerteen.
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11
NO 11 - 2007/1
Os sem-tela ficam para trás
Ficar fora da Internet dificulta socialização e diminui oportunidade de emprego
Com uma vida diferente da de
boa parte dos jovens, que se socializam cada vez mais pela Internet e
pelos serviços que ela dispõe - como
bate papos pelo MSN Messenger e
encontros na rede através do site de
relacionamentos do Orkut - Renan
Costa Silva Júnior, de 19 anos, morador da comunidade Morro dos
Macacos, em Vila Isabel, tem acesso à rede duas vezes ao mês em
média.
Trabalhando como assistente
de cabeleireiro durante o dia e
estudando à noite, ele é privado não
apenas dos hobbies da juventude,
como também de oportunidades de
mudar de vida. Pela falta de
domínio da Internet, acaba de
perder uma vaga de emprego para
assistente de escritório. “Estou
ficando pra trás”, declara.
Seu contato escasso com a rede
de computadores, limitado às
poucas vezes que pode ir a lan houses
- quando há disponibilidade de
tempo e de dinheiro – traz
dificuldades para Renan. Na hora
de “navegar”, ele se diz perdido,
principalmente no momento das
pesquisas escolares. “Não sei fazer
pesquisas no computador; levo
séculos para achar um trabalho e
mais séculos para escrever. Não
tenho prática”, explica.
No país, enquanto 69,21% das
pessoas com rendimento mensal
igual ou superior a R$ 1801 acessam
a Internet diariamente, o número
correspondente para as que
recebem até R$ 300 por mês não
ultrapassa 20,09%, de acordo com os
cálculos do Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br). Esses
20% da população acessam a rede
geralmente no local de trabalho, na
casa de amigos, em lan houses ou em
centros de inclusão digital, que é o
caso de Maxilene Alves do
Nascimento, de 17 anos.
Aluna do programa CyberEscola, projeto desenvolvido pela
Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(ITCP/UFRJ), ela vê no domínio
dos computadores, em especial da
Internet, a chance para crescer na
vida e conseguir bons empregos.
Sempre à procura de cursos
gratuitos, tenta ultrapassar os
limites impostos por sua condição
social: “é um meio importante para
tudo e as pessoas que acessam estão
sempre à frente. Então, eu faço tudo
o que aparece, porque eu me ocupo
e me capacito mais”.
Apesar das adversidades de
morar em um bairro afastado em
Nova Iguaçu e de lidar com uma
rotina diária que lhe toma boa
parte do tempo - como cuidar de
dois irmãos mais novos e da casa
enquanto a mãe cozinha para fora,
freqüentar a escola à noite e
trabalhar como manicure para
ajudar nas despesas - ela não abre
mão da possibilidade de ser uma
internauta. “Faço cursos de
informática de terça a sexta-feira,
na parte da manhã. Não deixo de
ir porque acho que muita coisa
pode melhorar quando eu
aprender a mexer na Internet, até
mesmo a minha renda”.
Maxilene ainda vai além nos
seus planos em relação à Internet:
ela sonha em abrir uma lan house
com o namorado, podendo fazer
a manutenção das máquinas e se
responsabilizar pelo acesso à rede.
“Quando terminar o curso, vou
estar mais preparada para lidar
com o computador. É para isso
que estou me capacitando”.
No país, 90% da população
que domina as tecnologias de
comunicação e informação, em
especial a Internet, pertencem às
classes A e B. Este índice evidencia
a expansão das diferenças sociais
para a área digital e a
discrepância, cada vez maior, de
chances oferecidas para ricos e
pobres. No entanto, apesar da
escassez, Maria Santana Costa
Pena de Moraes, encontrou uma
oportunidade e agarrou-se a ela.
Paraense de 26 anos, Maria
Santana percebeu, ao vir para o Rio
de Janeiro em busca de trabalho,
que só atingiria seu objetivo se soubesse lidar com o computador:
– Vim correr atrás de uma
oportunidade, mas eu só
conseguia entregar papelzinho na
rua ou ser garçonete. Então,
percebi que me faltava algo.
Fiquei sabendo de um curso de
informática e, como não pagava
nada, entrei na fila imensa e não
desisti.
Ela se capacitou pela ONG
Comitê para Democratização da
Informática do Rio de Janeiro
(CDI), onde hoje trabalha como
auxiliar administrativa. Maria
Santana credita seu sucesso aos
conhecimentos da era digital:
– Antes de saber mexer na
Internet, me sentia excluída da sociedade. Depois que aprendi,
conquistei meu espaço. Eu acredito que a inclusão digital pode
melhorar nossa vida, nosso país,
nosso mundo.
DIGA-ME ONDE MORAS ...
... E TE DIRE
M ÉS
DIREII QUE
QUEM
0,23% - Norte
0,65% - Centro-Oeste
O acesso diário a Internet é feito, em sua maior parte,
pelos ricos. Por não disporem de conexão banda larga
– que, apesar de o preço ter caído, continua cara para
a grande maioria dos brasileiros – os pobres tendem
utilizar a rede de computadores com menor
freqüência, respeitando os horários com tarifas
reduzidas para conexões discadas (dial-up), sendo
0,89% - Nordeste
1,44% - Sul
4,42% - Sudeste
o jornal.pmd
Ilustração: Aline Arnhold
Kareen Arnhold
11
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eles de 0 a 6 horas durante a semana, a partir das 14
horas aos sábados e durante o dia todo nos domingos
e feriados.
Um mapa da quantidade de acesso diário por região
do Brasil evidencia a concentração de ricos no
Sudeste, em contrapartida à de pobres no Norte,
segundo dados da PNAD.
12
NO 11 - 2007/1
CÉSAR MAIA, BLOGUEIRO ASSUMIDO, USA
Eduardo Melido
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 24/04/2007 – 18:39
Boa tarde,
Sou Eduardo Melido Ribeiro, aluno do
6º período de jornalismo da Escola de
Comunicação da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (Eco/UFRJ).
Gostaria de fazer uma entrevista com
V. Exa. para a disciplina Jornal
Laboratório. ...
Enfim, imaginando a dificuldade de um
estudante entrevistar o prefeito do Rio,
gostaria de saber quais são as
possibilidades de lhe enviar algumas
perguntas e receber resposta nos
próximos 15 dias ou se for possível
driblarmos todas as dificuldades,
entrevistar V.Exa. pessoalmente.
Tentarei aproveitar o material que já
pesquisei na internet, mas espero contar
com suas declarações em uma
entrevista exclusiva.
Grato,
Eduardo Melido Ribeiro. EMR
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 24/04/2007 – 19:03
Eduardo,
Aguardo as perguntas por e-mail.
CM
CM, esta é a assinatura do e-mail
pessoal de César Maia (DEM).
Prefeito do Rio de Janeiro, ele é o
representante máximo dos
políticos-blogueiros, homens do
novo século que usam a Internet
como ferramenta política.
CM quebra incríveis recordes de
resposta de e-mail, parecendo que
o prefeito passa o dia inteiro na
Internet, possivelmente um milagre
para o administrador da segunda
maior metrópole brasileira.
Auto-proclamado
ouvidor,
consegui uma entrevista exclusiva
com o prefeito, na verdade, é uma
série de troca de e-mails entre
[email protected]
e
[email protected], este e-mail é
anunciado no site do prefeito como
um e-mail pessoal.
Ninguém pode confirmar se falei
mesmo com o César Maia.
Trocamos muitos e-mails desde o
o jornal.pmd
12
primeiro contato, até o fechamento
desta edição, no total, foram 21.
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 27/04/2007 – 12:26
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 27/04/2007 – 20:19
EMR: Há quanto tempo o senhor usa a
Internet?
CM: Desde 1995.
EMR: Quanto tempo o sr. usa por dia,
em quais horários?
CM: Concentradamente das 5 hs as 7hs
e das 22hs as 24s. E sempre que surge
um contato importante a fazer ou
responder. Tres vezes por dia checo as
noticias.
EMR: Quem opera o e-mail? E o blog?
CM: Sim. O ex-blog conta com 3
jovens.
EMR: O sr. lê todos os mails ou há
alguém para “filtrar” spams,
entrevistas, debates, notícias, enfim.
CM: De meus tres e-mails pessoais,
sim. Só quando estou ausente que peça
para um assessor repassar as
reclamações para os secretarios.
EMR: Quando surgiu a idéia do blog?
Quais eram suas principais razões?
CM: Surgiu em 2004 em função das
eleições presidenciais nos EUA.
EMR: Por que transformá-lo em um exblog?
CM: Para reduzir o tempo que o blog
exigia.
EMR: O senhor acha que está fazendo
o papel de jornalista ao trazer
informações em seu blog?
CM: Não. É um blog de politico.
EMR: Existe algo que o sr. acha q ficou
“devendo” a população?
CM: Nunca se completa tudo. Nem na
Finlandia.
EMR: Nos e-mails recebidos, há muitas
críticas?
CM: Há de tudo.
EMR: O sr. pretende usar a internet
como ferramenta de uma possível
campanha em 2008?
CM: Faço isso desde 1996.
EMR: Quais são seus planos para o exblog?
CM: A vida dirá. Não sei. Inauguro um
site com os mais modernos
instrumentos usados por poucos
politicos e vou continuar com os dois.
Vamos ver.
EMR: E já pensou em usar o blog/mail
como um fórum de debate de assuntos
e planos que chamassem mais atenção
da população? Tais como planos para
Políticos do século XXI descobrem
na internet uma nova forma de
atuação. No Rio de Janeiro, o
prefeito César Maia criou um blog
pessoal e em pouco tempo ganhou
destaque entre os cidadãos cariocas
e a imprensa. Mas o que tanto atrai
os internautas?
segurança e educação, por exemplo.
CM: De certa maneira isso é feito,
embora não simultaneamente.
EMR: A que o sr. atribui tanta
repercussão quando polemizou a
campanha presidencial de 2006?
CM: Talvez a falta de informação com
lastro teórico pela imprensa.
EMR: A imprensa lhe dá voz
suficiente? O blog serve além de tudo,
como uma forma de expressar algo que
não seria publicado?
CM: O suficiente. Certamente.
EMR: Aos críticos que dizem que o
prefeito do Rio não deveria ocupar-se
tanto com um blog/Internet, o que
responder?
CM: Minha jornada começa as 5 horas
e termina as 24 horas. Com tempo para
banho,....são 16 horas. A jornada de
trabalho formal são 10 horas.
CM
EMR: Já podemos combinar uma
réplica?
Grato, aguardo pacientemente suas
respostas.
Em entrevista por e-mail ao Correio
Braziliense, César comparou o
tempo gasto com o uso da Internet
com a administração da cidade: “O
e-mail multiplica por 100 a
capacidade de decidir, afinal são
300 e-mails diários, sendo que 100
são spam ou quase isso.
Basicamente recebo reclamações.
Sou um ouvidor.”
Foi o blog www.cesarmaia.
blogspot.com que potencializou o
contato do prefeito com cidadãos,
aliados, opositores e jornalistas. O
14/11/2008, 10:13
blog foi o fenômeno da blogosfera
política. Mas em novembro de 2005,
César criou o ex-blog oficial, na
verdade, o blog do prefeito passou
a ser uma lista de e-mail enviada
para as pessoas cadastradas.
César Maia não é o único a desfrutar
dos prazeres das ferramentas na
internet. O ex-governador do Rio,
Anthony Garotinho resolveu atacar
a partir de 27 de março de 2007 um
novo front, o Blog do Garotinho
www.blogdogarotinho.com.br. Lá o
desempregado político usa das
artimanhas da rede para exaltar sua
personalidade, ele conta apenas
com comentários moderados, logo,
apenas elogios são postados e as
críticas desconsideradas.
Sem tanta repercussão na imprensa
como o do desafeto, o exgovernador reforça seus ideais no
blog e resolveu partir para o ataque
contra grandes organizações, em
especial, contra a Rede Globo, a
quem acusa de ter feito uma
campanha “dolorosa e mentirosa”
contra ele próprio enquanto précandidato a Presidência.
Já as Instituições como Senado
Federal, Câmara dos Deputados,
Assembléias Estaduais, além do
Poder Judiciário e Executivo
embarcaram no boom da tecnologia
há muito mais tempo: Canais
próprios de TV, jornais e
publicações próprias e websites
modernos e atualizados. Desde
1936, os brasileiros ouvem no rádio
a “Voz do Brasil” trazendo o
noticiário oficial dos Três Poderes.
13
NO 11 - 2007/1
adaptação da charge República Pizza Bar
A WEB COMO FERRAMENTA POLÍTICA
O ex-blog do prefeito carioca
chamou atenção especial durante as
eleições 2006. Mesmo sem ser
candidato, César Maia roubou a
cena nas páginas políticas de
jornais, sites e blogs. Ele é um dos
maiores críticos da política do PT e
de Lula, e na época do Mensalão,
iniciou uma guerra no mundo
virtual: invasões de blogs, spams e
hackers nos sites dos partidos.
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 01/05/2007 – 19:25
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 01/05/2007 – 20:08
EMR: As notícias de invasão em seu
blog eram verdadeiras? Houve um
“ponto crítico”?
CM: Houve uma vez. Mas as noticias
foram sobre invasao nas caixas de
alguns assessores.
EMR: A atuação política na Internet é
fundamental para o administrador do
século XXI?
CM: Certamente.
EMR: Quais são seus planos para o
futuro político? Alguma candidatura
em vista?
CM: Começo a pensar em 2009.
EMR: O público do seu ex-blog é
formado por simpatizantes de sua
política e jornalistas?
CM: Há todo perfil de pessoas. As
inscrições são voluntarias, em geral pelo
boca a boca ou por redes que repetem.
EMR: O que o sr. considera mais
o jornal.pmd
13
importante nos e-mails que recebe?
Seriam as reclamações, os debates?
CM: Reclamações servem como
pesquisa. Sugestões como participação.
CM
Durante as eleições, César mostrou
apoio ao candidato Geraldo
Alckmin até o momento em que o
ex-governador do Rio, Anthony
Garotinho, resolveu abraçar a
campanha tucana. Alckmin virou
alvo de Maia, que a cada dia,
lançava novas críticas em relação ao
então candidato do PSDB e
Anthony Garotinho.
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 05/10/2006 – 09:30
“1. A assessoria de Alckmin (esperase que tenha sido a assessoria)
promoveu um encontro dele com
Garotinho em SP, provavelmente pela
leitura equivocada do resultado eleitoral
no Rio (...) Avaliar o resultado
comparando Lula e Alckmin é um
equívoco de quem faz política apenas
com equações de primeiro grau.
3. Esse Ex-Blog desafia a candidatura de
Alckmin a aparecer no calçadão de
Copacabana no domingo, ao lado do
Garotinho. Recomenda-se capacete de aço.
4. (...) Acabou a força do discurso ético
da candidatura de Alckmin no cidade
do Rio de Janeiro. O eleitor vai dizer
assim: - Como diz o Lula, são todos
iguais.
7. Foi o Beijo da Morte. Um abração do
Garotinho: abraço de afogado!”
Em seus blogs, os políticos
fluminenses também aproveitam
seus espaços para criticar outros
políticos. Garotinho não cansa de
elogiar a esposa e ex-governadora
Rosinha e na coluna diária Papo de
Blog, ele comenta um determinado
tema/notícia do dia. Já, César Maia
ressalta as boas ações da prefeitura,
comenta a política nacional e
internacional e traz notícias que não
são encontradas no noticiário
convencional.
Os Partidos Políticos também vêm
aumentando sua atuação na
Internet, o PT de São Paulo hospeda
blogs de seus políticos, o
Democratas também conta com
outros políticos blogueiros e tem
um blog do partido.
PMDB, PP e PTB são alguns dos
partidos que têm políticos
blogueiros, com um diferencial em
relação aos fluminenses, todos
funcionam como páginas oficiais,
impessoais, longe da informalidade
de César Maia ou da ferocidade de
Garotinho.
Além dos sites próprios, a interação
da população chama atenção e faz
brilhar os olhos dos políticos
brasileiros, muitos com perfis no
orkut e com os partidos financiando
blogs e imóveis no Second Life,
como Democarátas, PCB e PSDB.
(veja mais da atuação política no
Second Life, na página XX)
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 08/05/2007 – 18:06
DE: [email protected]
PARA: [email protected]
DATA: 08/05/2007 – 23:11
EMR: Quais eram os outros objetivos
iniciais do blog?
CM: Controle do governo federal.
EMR: A participação de jornalistas na
troca de e-mails é constante?
CM: É intensa.
EMR: Na sua visão, o grande boom do
ex-blog foi nas eleições 2006?
CM: Continua no mesmo patamar. A
diferença é que na eleição pauta mais a
imprensa.
EMR: O sr. troca idéias com outros
políticos do DEM sobre a idéia de um
blog? Alguém já pensa em adotar a
idéia?
CM: O DEM está adotando assim como
outros parlamentares.
CM
César Maia sofre com críticas por
ser blogueiro, em resposta aos
cariocas que se preocupam com um
prefeito antenado, enquanto
assistem à degradação da cidade,
CM preferiu recorrer à matemática
em seu e-mail-entrevista: - Minha
jornada começa às 5 horas e termina
às 24 horas. Com tempo para
banho,... são 16 horas. A jornada de
trabalho formal são 10 horas.
Em nossa última troca de e-mails,
pergunto à CM o que tanto atrai em
seu ex-blog: “O fundamental é a
informação primaria, que não está
disponivel em nenhum lugar e que
é dada em primeira mão. Isso é o
que atrai. Mas para isso ela sempre
deve ser absolutamente confiavel.”
Outros prefeitos ao redor do mundo
que usam a Internet:
Com uma rápida pesquisa no Google, encontramos dois exemplos
internacionais, são o prefeito de Albuquerque, maior cidade do Novo
México, Sudoeste do Estados Unidos, no endereço http://
www.cabq.gov/blogs/mayor/ e o prefeito de Londres, Ken
Livingstone em seu blog http://www.mayor-of-london.co.uk/
blog/ .
Nestes blogs, os temas sociais são debatidos por parte da população diretamente com o prefeito, no caso americano, o modelo de
Escolas Públicas que a cidade adotaria foi pauta do blog em 2006.
No blog londrino, Ken Livingstone apresenta temas como os custos
para as Olimpíadas de 2012, o aumento de taxas, a guerra contra o
terrorismo, entre outros assuntos, além de glorificar a capital da
Inglaterra .
14/11/2008, 10:13
14
NO 11 - 2007/1
Internet leva arte de volta à Academia
Net Arte nasce de experimentações estéticas e pesquisa tecnológica nas universidades
Imagens de De vez em Nunca, trabalho da net.artista Giselle Beiguelman
Luiza Duarte
Um deserto virtual composto de
paisagens, por onde o viajante navega. Um click em determinada
superfície o transporta para um desconhecido novo ambiente. Em um dos
cenários os avatares dos diferentes
usuários podem interagir diretamente com outros, via chat. O projeto
Desertesejo de realidade virtual, desenvolvido em 3D pelo net.artita Gilbertto
Prado, explora poeticamente a extensão geográfica, rupturas temporais, a
solidão, a reinvenção constante e a
proliferação de pontos.
Imagens captadas por até 50
celulares simultaneamente disponibilizadas à manipulação na
internet, através do teclado e do
mouse. Em De Vez em Nunca, trabalho
da net.artista Giselle Beiguelman
desenvolvido em 2005, as pessoas são
convidadas a recompor a ordem dos
quadros, reeditando o filme original e
introduzindo filtros de cor sobre as
imagens.
A arte desenvolvida na ou para
a internet é conhecida como Net.art,
web art ou internet art. Assim como o
vídeo nos anos 60 proporcionou a vídeo
arte, a internet no final dos anos 90 se
tornou um meio viável para artistas
darem forma as suas idéias. Essas experiências artísticas utilizam o mais
contemporâneo dos suportes: a
internet.
PESQUISA, CONCEITUAÇÃO E
CRIAÇÃO SIMULTÂNEAS
Eles são professores universitários, pesquisadores da comunicação e
semiótica de todo o mundo, estudam
a comunicação em rede, discutem a
interatividade e fazem arte. Gilbertto
Prado é net.artista, participante do
grupo Art-Réseaux e professor do departamento de Artes Plásticas da USP.
Desertesejo foi apresentado pelo Itaú
Cultural, na 25ª Bienal de São Paulo,
Núcleo Net Arte Brasil e em outros
eventos como o 9º Prix Möbius
o jornal.pmd
14
International des Multimédias - Pequim, China, 2001.
Giselle Beiguelman é net.artista,
vencedora do Prêmio Sergio Motta de
Arte e Tecnologia, professora do Departamento de Comunicação da
PUC-SP e coordena, em parceria com
Vera Bightti, o grupo de pesquisas Net
Art: perspectivas criativas e críticas. Seus
trabalhos participaram de exposições
na 25a Bienal de São Paulo, no Museu
de Arte e Mídia na Alemanha e na
Fundação Telefônica, em Madri.
Diferente do ocorre com pintores, escultores e desenhistas que se
tornam professores por ser, muitas
vezes, a única saída para se trabalhar
com arte, no país. O net.artista não leciona porque não consegue viver da
sua arte. A pesquisa acadêmica, a produção textual e o contato com os
alunos fazem parte do processo de elaboração das obras. A ação artística
está inserida na pesquisa e a pesquisa na ação artística. Para Giselle
Beiguelman “os net.artistas são os que
pensam e problematizam a cultura de
rede”.
A russa Olia Lialina é uma
net.artista modelo, reverenciada por
seus
pares.
Criadora
da
Art.Teleportacia, primeira galeria virtual dedicada exclusivamente a esse
tipo de arte e primeira a comercializalas, ela é uma artista multimídia
premiada, formada em jornalismo,
professora universitária da Merz
Akademie Stuttgart, curadora e crítica. Roda o mundo realizando
palestras, workshops, seminários e
participando de júris. Ela é precursora na conceitualização da net.art e
referência como modo de atuação do
net.artista. Além de suas obras online
e página pessoal ela mantém uma página de apoio as suas aulas e um blog
que usa a metalinguagem para discutir com alunos questões relativas a
comunicação e novas tecnologias.
O domínio de softwares sofisticados não é pré-requisito, mas a maior
parte dos net.artistas desenvolvem
seus próprios aparatos tecnológicos e
dispositivos hi-tech, que desconstroem
imagens, jogam com textos, sons,
vídeos e produzem gráficos e desenhos.
Os net.artistas são quase todos
doutores, pesquisam, conceitualizam
e fazem arte simultaneamente, em geral, coordenam grupos de pesquisa
sobre net.art e com a ajuda de seus alunos não deixam escapar nenhuma
novidade tecnológica. Aficionados
por computadores, dependentes da
internet, um pouco por ser seu instrumento de trabalho outro tanto por
vício, paixão.
A relação do net.artista com a
universidade é bem definida por Silvia Laurentiz, pesquisadora de arte e
tecnologia e net.artista, que junto com
Gilbertto Prado coordena um grupo de
pesquisa em poéticas digitais da PUCSP, desenvolvendo trabalhos
experimentais com a participação de
professores, artistas e alunos da graduação e da pós-graduação. “Estamos
sempre em constante pesquisa, reunidos em grupos de pessoas de
diferentes formações com um interesse comum, e isto, faz com que as
pessoas se concentrem em núcleos críticos e com produção criativa, logo, as
universidades têm sido ambiente fértil e propício. Além da PUC-SP e da
USP, cito também Unesp, Senac,
Anhembi-Morumbi; sem falar em outros estados, como Brasília, Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro e
Bahia”, afirma.
A internet trouxe autonomia aos
artistas, permitindo que eles solidificassem redes em todo o mundo. Em
geral eles se conhecem pessoalmente
de congressos e bienais internacionais. Os sites pessoais, coletivos e
galerias virtuais facilitaram a realização, divulgação e comercialização de
suas obras de forma independente.
Giselle Beiguelman é uma das diretoras da Noema, primeira galeria
voltada para arte digital criada no
Second Life, um empreendimento brasileiro que propõe exposições
14/11/2008, 10:13
itinerantes em espaços reais. “A
Noema pensa e propõe um projeto
para o século XXI : inventar condições
para a criação, difusão e circulação
das obras sem transformar a obra de
arte em eufemismo de varejo, nem o
artista em outdoor ambulante de
corporações”, defende, depois de garantir que seu sonho é ter uma obra
comprada e exposta no site do Google.
POR QUE ARTE NA INTERNET?
Aparentemente recente, meganovidade para alguns, a net.art tem
trabalhos que datam de 1997, dez anos
atrás. Net.artistas brasileiros reconhecidos mundo afora são desconhecidos
para galerias, museus, críticos e centros culturais no Brasil, a grande mídia
tampouco parece os ter descoberto.
Os net.artistas falam em negação
do suporte, ou seja, a internet não seria apenas o que a tela é para a
pintura, ela seria um campo de criação de sentido. “Quando utilizo as
redes, utilizo-as como linguagem e não
apenas como um suporte. Isto traz
conseqüências importantes, pois estou
considerando que ali contém células
expressivas e de comunicação; não estou apenas passando idéias por mais
um suporte, elas nascem exatamente
da confluência entre meu pensar, e o
potencial destes meios”, define Silvia
Laurentiz.
www.Net.Art
guggenheimcollection.org
zkm.de
itaucultural.org.br/desertesejo
desvirtual.com/portfolio.htm
webbiennial.org
15
NO 11 - 2007/1
A TV pela internet:
esta comodidade é ilegal?
Mariana Esteves
Antes de sair para ir à faculdade,
Ana Elisa Vianna, de 22 anos, deixa
tudo preparado em seu computador.
Lost, 24 Horas e Jericho – três dos
seriados favoritos dela – já estão
engatilhados no seu programa torrent,
que irá baixar em cerca de 40 minutos
os últimos episódios de cada um deles.
Aninha, como gosta de ser chamada, pode ser considerada por muitos
como uma aficcionada por séries. Conhece tudo o que passa e o que já
passou no canal Sony, tem caixas e
mais caixas de DVDs de seriados de
todos os tipos. Um verdadeiro sonho
de consumo para os canais a cabo que
transmitem essas produções americanas, não fosse o fato de que, dos oito
seriados que acompanha semanalmente, apenas um ela vê pela TV.
A prática de download de séries
vem se tornando cada vez mais comum na internet. Depois do estrondo
do download e do compartilhamento
de músicas, o aumento da capacidade
dos discos rígidos e as velocidades
estelares a que as conexões chegaram
permitiram a troca que arquivos mais
pesados e complexos via web, como os
vídeos. O princípio é o mesmo, e os impactos legais também.
Há quase um ano, Aninha baixa
episódios pela internet, tática que
aprendeu com amigos. O acesso via
web aos capítulos veio cair como uma
luva para uma fã como ela, acabando
com empecilhos como horários restritos, indisponibilidade e, claro, a
ansiedade. “Comecei a baixar pela impossibilidade de ver pela TV, nos casos
em que a série não é transmitida no
país, e pela falta de tempo para assistir nos horários da televisão. Depois,
mesmo que a série venha a ser exibida, eu continuo baixando, pois sempre
estou em uma etapa mais avançada
dos capítulos e não quero esperar meses por episódios novos na TV paga”,
explica.
Para os canais a cabo e as produtoras dos seriados, o download está
virando uma questão séria, à medida
que vai conquistando mais adeptos.
Além da evidente preocupação com a
pirataria ¬– quando os arquivos baixados são gravados em DVDs e
revendidos sem autorização – os capítulos chegam à internet sem intervalos
comerciais (maior fonte de renda dos
o jornal.pmd
15
canais de TV) e passam por cima dos
caros royalties que os canais nacionais
pagam para ter direito à transmissão
das séries.
Isso torna o download ilegal?
Para Aninha, não. “Eu não considero
que o download sem fins lucrativos
seja ilegal. Baixar, gravar e revender,
é outra história”, diz. E a legislação
brasileira concorda, em partes, com
ela. Segundo o artigo 184 do Código
Penal, constitui crime oferecer, com a
intenção de lucro, produtos protegidos por direitos autorais. Já própria
Lei dos Direitos Autorais, em seu artigo 46, estabelece que a reprodução
de trechos de obras para uso privado
não é considerada infração. Fica então para a interpretação de quem
aplica a lei, a definição de “trecho”.
COMO FUNCIONA
É verdade que a maior parte dos
sites que disponibilizam episódios
inéditos de seriados o faz gratuitamente, de forma voluntária, sem
aparente incentivo, a não ser o gosto
pelo entretenimento. São verdadeiros
mutirões de fanáticos por séries que
fazem com que seja possível assistir a
um episódio de Heroes com legendas
em português, apenas um dia após
sua exibição nos EUA.
A rapidez desse processo é possível graças ao desenvolvimento e
disseminação de tecnologias sofisticadas, como programas de captura
digital de sinais de televisão e sistemas de compartilhamento de
arquivos via web. O princípio é o mesmo do vídeo-cassete, só que, ao invés
de emprestar para o seu vizinho a fita
VHS, você disponibiliza o conteúdo
para milhões de pessoas ao mesmo
tempo, na rede mundial de computadores.
Trata-se de uma atividade de
grande alcance, porém extremamente simples, de forma que qualquer um
pode participar. Para produzir legendas para os capítulos inéditos, por
exemplo, basta ser bom em inglês e
entrar em contato com alguns dos sites
que disponibilizam essas traduções,
como o www.legendas.tv . “Atualmente eu participo de uma equipe que
faz a legenda de Lost” – conta Aninha
– “Como estudante de licenciatura em
inglês, tradução é uma atividade que
me interessa e a legendagem me permite praticar.”
Os downloads rápidos e fáceis de séries de TV pela internet se popularizam cada vez mais
SUBSTITUIÇÃO DA TV?
Toda essa comodidade dos
downloads – rapidez, eficiência, horários flexíveis – pode levar a pensar que
a exibição de seriados pela TV está
com os dias contados. Mas não é bem
assim. Essa prática, apesar de estar em
expansão, depende muito de conexões
rápidas e de computadores velozes,
recursos ainda restritos a uma pequena parcela da população brasileira.
Além disso, ainda é limitado o número de pessoas que baixam episódios
pela web, se comparado ao número de
assinantes de TV a cabo que não o fazem. Bem ou mal, o download ainda é
uma atividade ligada a um público fã
mais engajado e conhecedor de
internet.
E mesmo para os canais de TV, o
download não é de todo mau. Numa
recente entrevista ao jornal Agora São
Paulo, Stefania Granito, gerente de
marketing dos canais Sony, AXN e
USA, disse acreditar que o download
ajuda da divulgação das séries. São
inúmeros os blogs e sites
especializados que acompanham passo a passo o desenvolvimento das
tramas, gerando discussões que não
seriam possíveis sem o download.
Muito se comenta na comunidade
online sobre seriados que ainda irão
estrear na TV a cabo brasileira, o que
gera um marketing viral precioso para
os canais. O caso mais recente foi o do
super aclamado Heroes, série que movimentou intensos debates na internet
antes mesmo de ser exibida pela USA,
gerando grande expectativa para a estréia.
Para muitos fãs como Aninha, se
a TV ainda quer mesmo garantir a sua
14/11/2008, 10:13
parte com a exibição de séries, ela deve
melhorar seus serviços ao invés de
condenar o download. A chave é investir na rapidez com que trazem essas
produções para a telinha, além de privilegiar as novidades do ramo e repetir
menos capítulos de seriados antigos e
temporadas velhas.
COMO BAIXAR
SUA SÉRIE FFAAVORIT
A:
VORITA:
1- Programas bittorrent, como
o Utorrent, um software de
compartilhamento de arquivos
entre usuáriosque utiliza vastos
bancos de dados disponíveis
em
sites
como
www.mininova.org
e
www.torrentspy.com.
Vantagens: arquivos fáceis de
encontrar e download rápido.
2- Sites especializados, como o
www.isfree.tv. Vantagens: não
é necessário instalar nenhum
programa.
3- Orkut. onde sérires
populares têm comunidades
movimentadas, com links para
download de episódios
recentes. Vantagens: não é
necessário instalar nenhum
programa.
4- Para o caso de seu arquivo
de vídeo vir sem legendas em
português, você poderá baixálas em www.legendas.tv ou
www.opensubtitles.org.
16
NO 11 - 2007/1
Você não lambe o selo, mas elas colam
A maioria das correntes de e-mail vai para a lixeira, mas é bom saber que algumas já atravessaram as
fronteiras do mundo virtual e foram parar em jornais e até no palácio do Itamaraty
Alice Assumpção
“Eu odeio correntes de e-mail”, porém, serviço.
vale prestar atenção a uma ressalva: esA designer de interiores Jussara
sas men-sagens noti-ciosas não se Romaguera é outra adepta confessa dessas
restringem a inverdades, “teorias da cons- mensagens eletrônicas. “Fiquei sabendo
piração” e lendas urbanas. Ao menos é o da onda do golpe de falso seqüestro por
que afirma o professor de biologia Daniel telefone antes de os jornais e revistas
Polly, que tem autoridade para falar do começarem a noticiá-la, pois recebi
assunto: guarda, há oito anos, todas as correntes com relatos de pessoas que
correntes que recebe, já tendo em seu “ar- haviam recebido esses telefonemas e
quivo” algumas centenas dessas resolveram prevenir os amigos escrevendo
mensagens eletrônie-mails que acabaram
cas. “A maioria
percorrendo
a
desses e-mails são
Internet”. Jussara,
mentirosos, mas, encontudo, admite que já
tre eles, encontro
foi
tachada
de
também informações
inconveniente. “Meu
interessantes de utifilho costuma dizer que
lidade
pública,
eu encho a caixa de
serviços, segurança e
correio de meus
curiosidades. Procufamiliares”.
ro sempre checar a
A falta de converacidade delas, em
trole sobre essas
sites especializados”
mensagens, contudo,
afirma Daniel. Como
faz com que a difusão
lembra o professor, os
indiscriminada de
internautas brasileiconteúdos falsos se soros podem recorrer
breponha à divulgação
Página de falso livro americano em
às páginas www.
dos conteúdos verdaque Brasil aparecia sem Amazônia
quatrocantos.com e
deiros.
Das 184
www.efarsas.com,
correntes eletrônicas
conhecidas por desmascarar falsos aler- apuradas pelo site www.quatrocantos.
tas de e-mail, para descobrir se estão com, em seus cinco anos de existência,
diante de mais uma pegadinha do mun- apenas 34 foram classificadas como verdo virtual. Nos Estados Unidos, o site dades ou meias-verdades.
www.snopes.com dá conta desse mesmo
Grandes corporações são os alvos preferenciais dessas mensagens
mentirosas. Em entrevista concedida quando ainda era assessor de imprensa do
McDonalds, Julio Menezes, da empresa de
assessoria Companhia de Notícias do Rio,
afirmou que o boato disseminado via email de que a carne dos hambúrgueres do
Livro de geografia utilizado em
escolas de segundo grau norteamericanas apresenta mapa em que a
Amazônia e o Pantanal são
denominados reservas internacionais.
Difícil encontrar um internauta que não
tenha se deparado com esse boato,
difundido por correntes de e-mail na
Internet brasileira no início do ano de
2000. Aos que acreditaram, um consolo:
dois órgãos da imprensa brasileira
também compraram a idéia. A versão
eletrônica da revista Ciência Hoje e o
Estadão publicaram o falso alarme como
verdade em maio de 2000.
Um mês depois da gafe, o
embaixador do Brasil em Washington na
época, Rubens Antônio Barbosa,
divulgou uma nota de esclarecimento
desmentindo a mensagem. O episódio,
porém, gerou um mal-estar diplomático
entre Brasil e Estados Unidos que
culminou com a publicação de uma
matéria do The New York Times, em
junho de 2002, na qual o jornalão
classificava o boato como “paranóia
nacional” brasileira.
O (mau) hábito de espalhar falsas
histórias pode ser tão antigo quanto o
próprio homem, mas há de se convir que
a Internet, sobretudo os e-mails, tornou
a vida dos linguarudos muito mais fácil.
Isso porque, com poucos cliques,
qualquer um dos 30 milhões de
internautas brasileiros que possuem
conta de e-mail pode enviar um texto
(de conteúdo verídico ou não) a dezenas
de amigos ou mesmo a toda sua lista de
contatos. Basta que alguns desses
destinatários se impressionem o
bastante com a mensagem a ponto
de reenviá-la aos mais
George Bush tem o menor QI
próximos para começar
entre
os presidentes americanos
uma corrente de e-mail.
dos
últimos
50 anos?
Antes de
Não.
Essa
é
para
ninguém achar que lambanças
aderir à comunisó
acontecem
na
imprensa
tupiniquim. Em 2001 esse
dade do Orkut
boato digital, baseado numa suposta pesquisa de um
renomado instituto americano pautou o jornal inglês
The Guardian e o neo-zelandes Southland
Times.
Livros didáticos coreanos colocam parte da China sob domínio da Coréia do Sul?
Mentira. Essa corrente circulou na Internet chinesa no início deste ano. Dizia que livros didáticos de história do ensino médio sul-coreanos
apresentavam mapas que decepavam parte do
território da China antiga, atribuindo-os à Coréia. A história, desmentida pelo jornal sul-coreano Oh My News, faz lembrar o boato que
circulou na Web brasileira em 2000, em que suposto livro didático norte americano apresenMapa de livros didáticos sultava o mapa do Brasil sem a Amazônia.
Batatinha quando nasce
espalha as ramas pelo chão?
Certo. A saber: quem tem boca vaia Roma, corro
de burro quando foge, quem não tem cão caça
como gato (ou seja, sozinho). Cuspido e escarrado
vem de esculpido em carrara, um tipo de mármore
de alta qualidade.
Condoleezza Rice é um estaleiro?
Já foi. A Chevron, multinacional de petróleo, batizou em 2001
um de seus navios petroleiros de Condoleeza Rice em
homenagem aos serviços prestados pela secretária de Estado
norte-americana, que trabalhou por uma década na empresa. As
fotos do navio que circulam na Internet, no entanto, são
montagens grosseiras. Algum engraçadinho soube da história e
falseou uma imagem para chamar mais atenção para a mensagem.
O gesto da Chevron causou desconforto para a Casa Branca e,
coreanos decepa a China: qualquer
semelhança é mera coincidência
o jornal.pmd
16
restaurante era feita de minhoca levou a
cadeia de fast food a colocar o selo “100%
carne bovina” na embalagem de seus sanduíches. Numa iniciativa semelhante, a
Coca-Cola resolveu criar a sessão “boatos
e mitos” em seu website para desmentir os
24 diferentes boatos difundidos via e-mail
a respeito de seus produtos.
Vincular nomes de marcas
famosas a supostos escândalos ou atribuir
a autoria de textos a escritores de destaque,
são, aliás, a maneira mais fácil de fazer
uma mensagem mentirosa chamar a
atenção dos internautas e varrer a Web. É
justamente por isso que tantas correntes
trazem a assinatura de Luis Fernando
Veríssimo, por exemplo. A bagunça é tanta
que já rendeu um livro. Caiu na Rede,
organizado pela jornalista Cora Rónai, traz
uma seleção de textos de Internet de autoria
erroneamente atribuída a escritores
célebres. Cora consegue corrigir algumas
injustiças, dando o devido crédito aos
verdadeiros responsáveis por alguns
desses apócrifos.
Ronaldo Vasconcellos, analista
de segurança do Centro de Atendimento a
Incidentes de Segurança da Rede Nacional
de Ensino e Pesquisa (Cais/RNP)
compara as correntes de e-mails aos
famigerados spams (mensagens
comerciais consideradas a maior praga
a Internet). “Spam e mensagens
encaminhadas em massa por amigos têm
uma característica em comum:
normalmente são indesejados”. Antes de
ler a seleção de verdades e mentiras que
colocamos abaixo, é bom prometer: não
vale copiar isto num e-mail e enviar aos
amigos, melhor deixar para fazer
esclarecimentos à moda antiga, no bocaa-boca.
14/11/2008, 10:13
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NO 11 - 2007/1
Ronda virtual: como a polícia trabalha na internet
Policiais enfrentam novos desafios diante dos crimes praticados após a expansão da rede mundial de computadores
Mauricio Costa
nacional, pois os administradores se negam a dar informações e nada está
sendo feito. O máximo que fazem é retirar a página do ar. O usuário brasileiro
deveria ter senso crítico e optar por outros sites de relacionamento”, alerta.
O obstáculo limita, mas não impede investigações. A DRCI funciona
ligada a todas as demais delegacias do
Rio de Janeiro. A atuação conjunta com
a 10ª Delegacia de Polícia, de Botafogo,
resultou na prisão em flagrante de um
menor que havia participado do assalto à ex-miss Brasil Leila Schuster.
“Recebemos uma denúncia pelo
Disque-denúncia de que o menor portava armas em sua casa. Investigamos seu
perfil no Orkut, onde ele apresentava as
armas em suas fotos. Como a 10ª DP era
a responsável pelo inquérito do roubo,
ela representou a busca e apreensão.
Tudo foi encontrado conforme constava
Pedofilia, apologia ao tráfico de armas e de drogas, ameaças, ofensas,
difamação e injúria são casos comuns
na DRCI, mas nenhum se compara aos
delitos de fraudes. As maiores ocorrências são de estelionato e de furto
mediante fraude.
Quem nunca ficou ressabiado ao
realizar compras em sites de comércio?
Este tipo de usuário é o que possui mais
chances de freqüentar a delegacia para
denunciar crimes de estelionato pela
internet. As principais vítimas são as
que fazem transações em páginas com
o mesmo propósito do MercadoLivre
ou Submarino, como afirma a delegada Sânia Burlandi.
“Falsos vendedores anunciam aparelhos tecnológicos como máquina
fotográfica, retroprojetor ou impressora. Na verdade, muitas vezes aquilo ali
é fraude. O comprador deposita uma
Foto: Pedro Veríssimo
Nada de gritos, presos algemados
ou confusão. Na recepção da Delegacia
de Repressão aos Crimes de Informática
(DRCI) a vítima mais exaltada reclama
em voz baixa. “É a segunda vez que venho aqui para tentar solucionar o
problema do meu filho. Espero que agora tudo seja resolvido”. Patrícia Araújo
da Silva, moradora de Oswaldo Cruz,
chegou com papel na mão e muita dor
de cabeça. Patrícia registrou queixa sobre fotomontagens de seu filho
publicadas no Orkut. Nas imagens, o
rosto do adolescente de 17 anos aparece em corpo de rato. Prontamente
atendida, deixa a delegacia satisfeita e
com a esperança de não precisar voltar.
A queixa de Patrícia é mais uma
na média de 25 por semana que a
DRCI recebe. O problema é que nem
todos podem ser solucionados imediatamente.
Apesar de atuar com qualquer tipo
de delito previsto no Código Penal e
realizado através da internet, a ação
policial no Orkut é restrita, como explica a delegada Sânia Burlandi.
“Quando há algum crime neste site
de relacionamento, o que nós fazemos
é pedir os dados cadastrais do criador
da página e o IP do usuário, para posterior apreensão da máquina.
Entretanto, estou aqui desde janeiro
deste ano e, mesmo enviando diversos
inquéritos para a Justiça, não recebemos resposta”, alerta.
Segundo a delegada, o problema
está no fato de o Orkut ser ligado ao
Google. Como a empresa norte-americana é hospedada fora do Brasil, o
Sânia Burlandi explica como os sites de comércio se tornaram o carro-chefe das ocorrências
trâmite é diferenciado, e o procedimento, demorado. Nos demais casos de
crimes de informática, a polícia realiza nas fotografias”, explica Sânia Burlandi. quantia na conta do suposto vendedor
Não são só assaltos e apologia ao e nunca recebe a mercadoria. Esse é o
representação judicial pedindo a quebra de sigilo de dados do usuário da tráfico que fazem parte da investigação nosso carro-chefe. O furto mediante
internet. Essa representação é encami- por Orkut e outros serviços da internet. fraude ocorre quando se subtrai um
nhada para o Ministério Público, que se Dos mais complicados, os crimes de bem de alguma pessoa utilizando fraupedofilia também recebem atenção es- de. Exemplo é a utilização de senha sem
manifesta a favor ou contra a quebra.
Portanto, se o criminoso não for pecial na DRCI. O inspetor Márcio autorização do titular para realizar
pego em flagrante, o máximo que po- Araujo lembra de um caso onde o in- transação bancária pela internet”,
enfatiza a delegada.
derá ocorrer é a retirada do ar do perfil vestigado acabou preso.
Para efetuar denúncias de fraudes
“Conseguimos chegar
ou da comunidade no
por
estelionato
na DRCI, a vítima deve
até
a
máquina
dele
e,
atraOrkut. Para o inspetor
“O Orkut se
vés da perícia, foi comparecer à delegacia e portar o comMárcio Araujo o problema
caracteriza,
verificado que era especia- provante de depósito do valor do
é motivo de vergonha nalista em comunicação por produto em conta bancária. Se o compara mim,
cional.
MSN, Yahoo prador mantiver contato com o
“É o caso mais chato
como vergonha Orkut,
Messenger para conversar vendedor por e-mail a investigação
que encontramos aqui. Finacional”
com menores. Fingindo ser deverá acelerar, isto porque é mais fácamos em um impasse
onde eles não nos infor- Inspetor Márcio Araujo menor, tinha finalidade de cil de descobrir o IP do suspeito.
Em caso de fraude de um banco
convencer suas vítimas a
mam nada e há muitas
denúncias desse serviço. Cerca de 75% tirarem as roupas diante da webcam. O para outro (exemplo da transferência
dos usuários são brasileiros e posso di- verdadeiro pedófilo não se encontra so- de dinheiro), a polícia solicita ao banco
zer que a metade desse percentual é mente no Orkut, está camuflado neste as informações necessárias sobre a mocomposta por fakes. O Orkut se carac- site e usa outros artifícios para atrair as vimentação, como horário e dia. Há
também o pedido do número do IP utiteriza, para mim, como vergonha pessoas”, lembrou.
o jornal.pmd
17
14/11/2008, 10:13
lizado. Se, por acaso, o IP corresponde
ao da Telemar, torna-se necessária a
quebra de dados do usuário da
internet. Assim, a polícia poderá descobrir, por telefone binado, o número
do responsável por aquele telefone.
Nos casos de vítimas pelo Orkut,
os policiais realizam ronda virtual, ou
seja, pesquisa pela internet, ou ainda
ouvem as vítimas que se dirigem até a
delegacia. Para registrar a ocorrência,
ela deve levar impressa a página que
contém os crimes. A DRCI também é
res-ponsável pela administração da
Delegacia Virtual. O programa passou
a integrar eletronicamente todas as
delegacias do Rio de Janeiro. As denúncias, anônimas ou não, também são
efetuadas pelo site da Delegacia Virtual. Se preferir, a vítima pode comparecer
em qualquer Delegacia de Polícia e fazer a queixa pesoalmente.
Os policiais permanecem a maioria do seu tempo dentro da delegacia,
recebendo queixas ou realizando investigações virtuais. Para buscas e
apreensões distantes do perímetro da
delegacia, o apoio do Grupo de Investigação Complementar é fundamental
para o trabalho da polícia.
“Para não retirar um policial que
está registrando alguma ocorrência e
mandá-lo para São João de Meriti, o
GIC nos dá suporte e contata os policiais mais próximos do local”, informa
Sânia Burlandi.
As vítimas podem realizar denúncias acessando o site:
www.delegaciavirtual.rj.gov.br
Tipificações Penais
investigadas pela DRCI
Calúnia; Difamação; Injúria, Ameaça;
Divulgação de segredo; Furto; Dano;
Apropriação Indébita; Este–lionato;
Violação ao direito autoral; Escárnio
por motivo de religião; Fa–
vorecimento da prostituição; Ato
obsceno; Escrito ou objeto obsceno;
Adultério; Incitação ao crime; Apologia de crime ou criminoso; Falsa
identidade; Inserção de dados falsos
em sistemas de informações; Falso
testemunho; Adulterar dados em sistemas de informações; Exercício
arbitrário das próprias razões; Jogo
de azar; Crime contra a segurança
nacional; Preconceito ou discriminação Raça-Cor-Etnia-Etc; Pedofilia;
Crime contra a propriedade industrial; Inter-ceptação de comunicações
de informática; Interceptação de email comercial ou pessoal; Crime de
lavagem de dinheiro; Crime contra
software - “Pirataria”.
18
NO 11 - 2007/1
Assim sou se lhe parece
Paula Amorim
Entrar no Orkut e se deparar com
alguém se passando por você. Esta
cena não é rara entre pessoas
conhecidas do grande público ou
mesmo seres humanos que vivem
longe dos holofotes. Os falsos orkuts
ou orkuts clonados, como alguns
gostam de chamar, são capazes de
enganar os mais desavisados e até
constranger o alvo da cybercópia.
Classificado como site de
relacionamentos, o Orkut tem como
característica a possibilidade de
permanente contato com amigos,
parentes ou pessoas que tenham
“perfis” compatíveis.
Esta
aproximação permite que fãs
alimentem o desejo de trocar
mensagens com seus ídolos. Que
adolescente não gostaria de receber
recados de Rodrigo Santoro? Pois bem,
em uma breve pesquisa encontramos
cerca de mil “Rodrigos Santoros” e
com diferentes características. Rodrigo
Santoro, o verdadeiro, não possui
orkut.
As reações por parte dos
clonados são as mais diversas. Em
recente nota em sua coluna no jornal
O Globo, Ancelmo Góes informou que
o cantor Roberto Carlos estava irritado
com o Google, atual proprietário do
site, por ainda não ter retirado os perfis
“ Roberto Carlos Braga”, “Roberto
Carlos oficial” e “Roberto Carlos. O
rei”.
Em uma destas páginas,
encontramos a descrição “Eu sou o Rei
Roberto Carlos. Para os mais íntimos,
Bebeto.
Sou
uma
pessoa
extremamente apaixonada pela vida,
e pela minha carreira, adoro cantar!”.
Mensagens apaixonadas são postadas
em sua caixa de recados e fotos de sua
carreira são exibidas em seu álbum.
Está lotado com novecentos e setenta
e quatro amigos.
Apesar da irritação, Roberto
Carlos ainda não acionou a Justiça
para investigar os autores da
falsificação. Porém, esta medida já foi
tomada por outros artistas. A atriz
Ana Paula Arósio contratou o
advogado Michel Assef para que ele
a ajude a retirar do ar uma falsa página
sua no Orkut. No falso perfil consta
que a atriz está aceitando trabalhos
por um salário-mínimo, além de estar
especificado que seu prato preferido
é buchada de bode. O autor da
difamação ainda não foi descoberto
pela Delegacia de Defraudações.
Em outro caso, o jogador de
futebol Rogério Ceni do São Paulo
o jornal.pmd
18
Falsidade ideológica
na Internet: crime
ainda sem solução
No Orkut,
proliferam
perfis de
falsos usuários
e confusão
entre
anônimos e
famosos
Futebol Clube aparece em uma página
declarando que seu maior sonho era
jogar no Corinthians, clube que já o
havia rejeitado alguns anos antes de
se tornar jogador profissional. O
jogador alguns meses atrás desmentiu
as histórias dizendo que não tem
conhecimento dessas informações e
que não faz parte do Orkut.
Até mesmo Orkut Büyükkökten,
engenheiro de software que
desenvolveu a rede social, enquanto
uma das pessoas mais conhecidas do
Orkut, teve seu perfil clonado com a
inserção
de
comunidades
homossexuais.
O Google alega que analisa
individualmente os perfis em questão
e que nos últimos meses aumentou
em mais de mil vezes a equipe de
suporte que trata dos casos de abuso
e conteúdo ilegal relatados por
usuários. Contudo, Brad Pitt, Mick
Jagger e Alanis Morissette continuam
falando em português na página da
Internet.
14/11/2008, 10:13
A lei brasileira prevê
reclusão de um a cinco anos
para os autores das “brincadeiras”. Mas a aplicação
das leis vigentes para o território da Internet ainda
tem percurso longo. Um
dos principais problemas é
que cada país possui seu
Código Penal. No Brasil, a
Constituição se estende a
todos os cidadãos de nacionalidade
brasileira,
independentemente do território onde a ação seja
cometida.
Falsidade ideológica é
crime em qualquer país,
contudo a origem do delito
e a forma de punição são
empecilhos constantes para
que os falsos perfis do
Orkut sejam retirados do ar.
O escritório brasileiro
do Google afirma que nada
pode fazer para atender às
investigações, uma vez que
dados referentes à identidade dos usuários estão
localizados nos Estados
Unidos e na Grã-Bretanha.
Porém, o des-cumprimento
das ordens judiciais pode
fazer com que seja aberto
um in-quérito policial solicitando à Justiça a apuração
das responsabilidades do
Google Brasil.
Alguns casos de
cybercópias já foram apurados e solucionados. Em
abril de 2005, a Abin (Agência
Brasileira
de
Inteligência) tirou do ar os
perfis do ministro chefe da
Secretaria de Comunicação
de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, e da
primeira-dama do Brasil,
“Marisa Letícia, ambos falsos.
19
NO 11 - 2007/1
Na trave? Viral é gol de placa da propaganda
Na internet, consumidores tornam-se ‘webcúmplices’ do marketing interativo
Pedro Veríssimo
o jornal.pmd
19
iniciativa: vender seus
produtos e fortalecer sua
marca diluindo o trabalho da divulgação no
próprio mercado consumidor, sem que ele se
sinta usado.
Para o publicitário
Antonio Pedro Tabet, administrador do blog ‘Kibeloco’,
essa interatividade é o gran-
“os consumidores
se divertem,
informam-se e se
relacionam ao
fazer essa
propaganda
disfarçada ”
diz o publicitário
Antonio Pedro Tabet
relevante ao consumidor,
geralmente é engraçado
ou inusitado. O viral deve
ser o primeiro a dar uma
informação, despertando
o desejo de compartilhá-la
nos usuários”, disse o
professor.
Outro fator que dita
o sucesso de uma campanha publicitária na
EFE/Arte de Pedro Veríssimo
Ronaldinho Gaúcho
está sentado no gramado
quando recebe um par de
chuteiras novas. Rapidamente,
dispõe-se
a
experimentá-lo. Calçadas
as ‘chuteiras de ouro’, o
craque evoca sua categoria habitual para levantar
uma bola e, em sucessivas embaixadas, conduzi-la até a entrada da
grande área. Ronaldinho
brinca com a bola e, sem
deixá-la cair, desfere um
chute em direção ao gol.
Para sua surpresa, a redonda bate no travessão
e volta no peito do jogador. Ele domina, ajeita e
chuta de novo. Agora
você tem certeza de que a
bola vai entrar. Que nada,
ela volta a acertar o poste
superior e cai nos pés de
Ronaldinho. Não contente em apenas equilibrar a
bola na cabeça, o habilidoso jogador repete a
façanha de acertar as traves mais duas vezes e sai
de campo sorridente.
Quantas vezes você
indicou esse vídeo a alguém?
Ou
melhor,
quantas pessoas te enviaram
e-mails
ou
comentaram com você sobre ele? E se, mesmo
assim, você não se deparou com esse pequeno
filme na Internet, ao menos deve tê-lo visto no
Fantástico, com direito a
narração de Cid Moreira
e em pleno horário nobre
de domingo na televisão
aberta.
Estava criada a polêmica
acerca
da
veracidade do vídeo
(“Será possível acertar o
travessão quatro vezes
consecutivas?”) e, com
isso, intensificou-se o
boca a boca sobre o assunto e, conseqüen temente,
os acessos ao arquivo
que, a esta altura, já não
estava disponibilizado
somente no site da Nike,
mas nos mais diversos
portais de hospedagem de
vídeo, como o YouTube e
seus similares. Era um
viral.
E ao se discutir se o
vídeo era falso ou real,
um número cada vez maior de curiosos ou
autoproclamados ‘especialistas em montagens’,
empenhados em descobrir
falhas que indicassem
Em vídeo
divulgado pela
Nike,
Ronaldinho
Gaúcho acertou
a trave em
quatro chutes
consecutivos.
Com as imagens
espalhadas pela
Internet, o
craque se
‘multiplicou’
por todo o
mundo levando
a marca da Nike
manipulação das imag e n s o u a p e n a s á v i do s
por mostrar o vídeo aos
amigos, fizeram da campanha ‘Joga Bonito’, um
sucesso do setor de
Marketing da Nike. A fornecedora de material
esportivo do Barcelona,
clube defendido por
Ronaldinho Gaúcho, viu,
com uma simples filmagem, que, certamente, não
pesou no orçamento da
empresa, o número de
acessos a sua página na
web aumentar consideravelmente. E o melhor da
de segredo das peças de
marketing que têm seu principal meio de propagação na
Internet.
“Acho que o grande
lance é transformar o
mercado consumidor em
cúmplice. E fazer isso de
uma maneira que o mercado
não
se
sinta
utilizado. Muito pelo
contrário. Ele compra a
sua briga”, disse Tabet,
que tratou de defender a
prática:
“E isso não significa nenhum tipo de
exploração. Afinal, os
consumidores se divertem, informam-se e se
relacionam ao fazer essa
propaganda disfarçada.
O cliente lucra, o mercado lucra e o veículo lucra.
Não há perdedores,” continuou.
Para emplacar, um
viral precisa cumprir alguns
requisitos.
O
professor JC Oliveira, da
ESPM de São Paulo explicou o processo: “Nesse
modelo de Marketing, o
usuário é veículo. Para o
conteúdo de uma peça ser
‘viralizável’, tem que ser
14/11/2008, 10:13
‘grande rede’ é a maneira
como a peça é divulgada.
Propagadores de vídeos e
notícias inusitadas, blogs
famosos, como o próprio
‘Kibeloco’ de Antonio
Tabet são os principais
caminhos percorridos por
uma ação de marketing
da agência até os consumidores.
“Ter bom relacionamento com os mantenedores de blogs de alta
visitação é importante
para as agências porque
ajuda muito na divulgação
das ações”, observou.
20
NO 11 - 2007/1
O mercado fonográfico na era digital
Será o fim do CD?
Renata Leal
o jornal.pmd
20
Ilustração: Elisa Branco
A era digital chegou e caminha a passos largos. As vendas de
CDs não são mais as mesmas desde que os internautas conseguem
pegar músicas na rede. O MP3, os
celulares e todos os aparelhos eletrônicos que tocam músicas em
formato digital estão espalhados
por todos os lugares. Mesmo as gravadoras que relutaram em aceitar o
novo mercado não querem mais
perder as vendas online. O
download vem crescendo em ritmo
acelerado e promete, cada vez mais,
um futuro próspero para aqueles
que investirem. A indústria
fonográfica está se reorganizando,
o que não significa, ao menos por
enquanto, o fim dos álbuns disponíveis nas lojas.
Sinal dos novos tempos: desde
2004 a marca de premiação para
vendagem de CDs foi reduzida. No
Brasil, eram necessárias 100 mil cópias para o disco de Ouro, 250 mil
para disco de Platina e vendas acima de 1 milhão para Diamante.
Mas, esses valores caíram pela metade, apontando para um momento
de crise no mercado. A indústria
que movimentava R$ 1 bilhão e 200
milhões em 1995, em 2006, amargou
uma queda, chegando a R$ 250 milhões, retração de quase 80% em
uma década.
“Acredito que o download pago
é o negócio mais promissor do momento. O departamento de vendas
online da Universal é recente, tem
dois anos, e, de acordo com ele, é
um dos setores que mais movimenta dinheiro para a gravadora.”, diz
Gê Pinto, Diretor de Arte da Universal Music. A gravadora fez
parcerias com sites como o IMúsica,
Terra, Yahoo dentre outros e vem
fechando novas sociedades no mercado digital.
O primeiro site brasileiro de distribuição digital de música
legalizada surgiu no ano 2000 . “O
mercado naquela época ainda era
um ponto de interrogação”, afirma
um dos idealizadores do IMúsica,
Felipe Llerena.
O IMúsica, inicialmente, tinha
um banco de dados composto por
faixas de gravadoras independentes e canções fora de catálogo. Já
nesse último ano, visitado por mais
de 1 milhão de usuários mensalmente, o site pioneiro no país fez
acordos de licenciamento com mais
de 300 gravadoras e distribuidoras,
entre as quais Warner Music, EMI
Music, Deckdisc, Trama, Indie
Records e Biscoito Fino.
As gravadoras foram aos poucos
entrando no mercado. A Trama foi
a primeira no Brasil a vender faixas
avulsas por download e produzir
músicas exclusivamente para a
internet. A Biscoito Fino não ficou
para trás e também disponibiliza
em seu site, além dos CDS, músicas
que podem ser baixadas em formato MP3. Mas, de acordo com a
gravadora, por enquanto o
download no site é apenas
marketing, ainda não tem
representatividade nas vendas.
O preço de uma faixa avulsa na
internet custa a partir de R$1,99.
Caso um internauta pegue um disco inteiro acaba pagando o preço de
um CD comprado em loja.
Uma característica marcante no
consumo atual de música é o interesse por faixas individuais, em hits
do momento, e não nos álbuns na
íntegra. A Federação Internacional
da Indústria Fonográfica - IFPI divulgou uma pesquisa em 2006 em
que se estima que os downloads de
singles subiram 89%, chegando a
795 milhões.
Júnior Costa, 22 anos, estudante de administração, diz não gostar
de comprar CDs por não escutá-los
inteiros, “Eu gosto de ter no meu
computador as músicas do momento, funks, hip hop, axé, e qualquer
outro estilo que eu esteja curtindo.”
O público dos sites de venda de
música ainda não é formado por
uma faixa etária jovem. Llerena
acredita que um dos fatores princi-
14/11/2008, 10:13
pais para isso é as músicas serem
vendidas através de cartões de crédito
O estudante de economia
Henrique Vasconcelos, 22 anos, diz
pegar músicas da internet não só
pela facilidade como também por
ainda ser um produto de graça, “Os
CDs andam muito caros, não é possível sair comprando tudo o que se
quer ouvir”.
Entre as pesquisas sobre a pirataria o custo dos CDs nas lojas, em
torno de 25 e 30 reais, é uma razões
para o afastamento dos consumidores.
Segundo Felipe Llerena, um dos
conselheiros da ABMI - Associação
Brasileira de Música Independente,
o problema da pirataria é antes de
tudo uma fa lha educacional e de
consciência dos brasileiros. Cerca
de 25% da receita do IMúsica vai
para os artistas e seus representantes e quando a música é baixada de
graça, o trabalho dos músicos não é
reconhecido, diz Llerena.
Os números brasileiros de vendas
digitais ainda não são representativos em comparação a outras partes
do globo. Mas, as vendas online e
para telefones celulares foram os canais de distribuição com maior
crescimento nos últimos anos.
Há tempos já se prevê o fim dos
CDs . Mas, o Compact Disk ainda
existe, e 75% da música mundial é
comercializada através dele. A música digital, seja em computadores,
MP3 players e telefones, ainda caminha ao lado do CD. E, talvez, por
um muitos anos.
“O rumor de que o CD pode acabar é uma balela, o fato é que a
indústria do disco está fragilizada
porque o modelo “artista - gravadora - estúdio - marketing – loja”,
não é mais o único possível”, acredita Llerena.
Gê Pinto, da Universal Music,
diz preferir ir a uma loja comprar o
álbum do que ficar procurando
música na internet. “Gosto de ter o
encarte, as letras e também o prazer de entrar em um lugar, comprar
e levar um objeto.” Para Gê, o CD
sempre terá o seu espaço, ainda que
tenha que dividi-lo.
21
NO 11 - 2007/1
Mouse com pimenta: combinação excitante?
Prática cada vez mais comum na web, sexo pela Internet mexe com a imaginação
dos internautas e apimenta as conversas online
Rodrigo:
“Beijando sua boca e
mordendo seus lábios”
Maria:
“Arranhando suas
costas com as unhas”
Rodrigo:
“Encostando seu corpo
no meu e agarrando
sua cintura bem forte”
O diálogo acima é
apenas o trecho inicial de
uma conversa feita pela
Internet que chegou a níveis
bem mais extremos sem sair
do computador.
Ganhando cada vez
mais adeptos, o sexo virtual
consiste em narrar, junto
com outra pessoa, tudo o que
aconteceria caso os dois
estivessem tendo uma
relação. Trata-se de dar
margem à criatividade para
tentar excitar e ser excitado
pela pessoa que está do
outro lado do computador.
Mas tudo isso não foge do
campo da conversa.
Geralmente este tipo de
diálogo ocorre em salas de
bate-papo ou em programas
de
computador
que
permitem comunicação
imediata como, por exemplo,
o MSN Messenger. E os
praticantes
desta
modalidade
de
sexo
surpreendem
pela
heterogeneidade. Dentro
deste universo há pessoas
novas e outras mais
maduras; há diferença de
religiões, de classes sociais,
de cores, enfim, não há um
padrão que possa ser
apontado.
“Eu adoro curtir uma
badalação. Festas e boates
são comigo mesmo!”, contou
Maria.
“Prefiro o dia à noite.
Minha praia são os esportes.
Gosto de andar de bicicleta,
fazer ginástica e também de
praticar natação”, foi o que
afirmou Luciana.
o jornal.pmd
21
“Não sou de sair.
Prefiro ficar em casa. Adoro
mexer no computador”,
declarou Patrícia.
G a r a n t i n d o
privacidade com o nome
fictício, Maria trabalha como
secretária em uma firma de
advocacia. No final de abril,
completou 30 anos de idade.
Nos últimos três anos, ela
entra na Internet para ter
encontros quentes. “No
início, eu apenas entrava nas
salas de bate-papo voltadas
para este tema e ficava lendo
o que os outros escreviam.
Mas, com o tempo, as
conversas
foram
diminuindo, pois as pessoas
começaram a preferir
escrever em conversas
particulares, o que impedia
o acesso de terceiros para
leitura. Eu já estava ficando
entediada e, um dia, decidi
entrar em uma sala daquelas
como participante. Coloquei
um nome bem sensual –
‘morenarj’, ela lembra até
hoje – e comecei a conversar
com um cara. Na primeira
vez eu estive um pouco
envergonhada, mas depois a
gente acaba gostando e aí
quer sempre mais”, relatou
a secretária, que tem muito
medo de que os pais
descubram o teor de suas
conversas na Internet. “Sou
de uma família muito
católica. Não acho que estou
fazendo algo de errado, mas
sei que meus pais não iriam
gostar se descobrissem este
meu segredinho”.
Luciana é a mais velha
das três: têm 35 anos. Já é
casada e diz que a prática do
sexo pela Internet só faz
esquentar sua relação com o
marido. “Nas minhas
conversas estimulo minha
imaginação. Sempre procuro
meu marido depois para pôr
em pratica tudo aquilo que
apenas imaginei quando
estava em frente ao monitor.
Mas ele não sabe disso não.
Ficaria uma fera se
soubesse”, disse Luciana,
que
trabalha
como
professora de educação
física.
Perguntada se
não se considerava
uma adúltera por fazer sexo
virtual com outra pessoa, ela
foi bem direta em sua
resposta. “Quando faço isso
estou pensando em meu
marido, portanto, não há
traição”.
Aos 19 anos de idade,
Patrícia é a mais próxima do
estereótipo que se criou para
os adeptos do sexo virtual:
não tem o hábito de sair de
casa e muito menos um
namorado. Quando não está
na faculdade está em frente
ao computador, onde
encontra a maior parte de
seus amigos. “A cidade (Rio
de Janeiro) é muito violenta
e chata. Em frente ao
computador viajo para o
mundo todo. De lá eu posso
até arrumar um namorado.
Meus últimos casos foram
todos pela Internet”, contou
ela, que só “transa” com um
de seus amigos virtuais.
“Com qualquer um não.
Tem que me conquistar
primeiro”.
Perguntadas sobre o
que pensam a respeito da
prática do sexo pela Internet,
a maior parte das pessoas
disse que consideram uma
falta do que fazer ou falta de
vergonha na cara. Maria ao
se incomoda com este fato.
Apesar de já ter perdido uma
amiga
por causa de
seu hábito, ela continua
praticando. “Uma amiga
minha já me virou às costas
depois que lhe contei sobre
o que faço no computador.
Na época fiquei chateada,
mas hoje nem ligo mais. Para
ter agido desta forma é
porque ela não era minha
amiga”.
Já Patrícia pensa o
contrário. Ela confessa que
fica irritada quando escuta
algum comentário negativo.
“Falar mal de quem pratica
é que é uma falta do que
fazer. Tenho certeza de que,
se algum dia fizessem, iriam
gostar tanto que fariam disso
um hábito”.
Mas o que será que leva
todas estas pessoas a
buscarem nas conversas via
Internet uma fonte de prazer
e excitação? Para a sexóloga
Ana Paula Guimarães, o
sucesso deste tipo de sexo
reside na liberdade que ele
concede a nossa imaginação.
“O segredo para o sucesso
do sexo via computador é
que, graças a ele, você pode
dar asas à imaginação. Por
trás do monitor o ser
humano se sente protegido
para fazer [ou melhor, dizer]
coisas
que
ele
provavelmente não teria
coragem de fazer na
prática”.
14/11/2008, 10:13
Luciana endossa o coro
da sexóloga. “O computador
me deu a liberdade de poder
fazer tudo o que eu sempre
sonhei. É gostoso demais
ficar imaginando o que está
acontecendo e como está
acontecendo”.
Mas há pessoas que não
se contentam com apenas a
imaginação e buscam reforço
em aparatos eletrônicos
como, por exemplo, a web
cam. Através dela, os adeptos
podem ver a pessoa com
quem estão tendo a relação.
“Gosto de usar a câmera e
conversar através de
headphones. Assim posso
olhar para a pessoa com
quem estou transando e ter
uma conversa mais natural
com ela. Não dá para transar
sem ver a pessoa, sem
admirar o seu corpo”,
comentou Patrícia, que
costuma se despir diante de
seus “namorados” durante a
realização do sexo virtual.
Para Ana Paula, o uso
de câmeras descaracteriza o
sexo pela Internet. “Este tipo
de sexo é marcado pela
interatividade. Não faz
sentido você assistir ao que
a outra pessoa está fazendo.
A partir deste ponto acho
que começa a ocorrer uma
mistura entre o sexo pela
Internet e o voyeurismo.
Para este último a web já está
repleta de atrações, como
vídeos pornográficos, fotos
sensuais ou de sexo, entre
outros. Elas não estimulam a
interatividade. Logo, não
podem ser consideradas
como sexo pela Internet”.
Com câmera ou sem
câmera, o fato é que o
número dos adeptos tem
crescido. As salas de batepapo temáticas se encontram
mais cheias e já foram
criadas no mínimo quatro
comunidades no site de
relacionamentos Orkut com
o nome “Sexo pela Internet”,
sendo que a mais popular
possui cerca de 100
membros.
Rafael Oliveira
22
NO 11 - 2007/1
UMA SEGUNDA VIDA
Entenda como usar esse novo ‘jogo’
Bárbara Fernandes
Até há pouco tempo o Second Life era
tido como um ‘jogo’ curioso. Causou
estranhamento que um ‘game’ que mais
parecia uma mistura de The Sims com
salas de bate-papo pudesse gerar
dinheiro de verdade. Há até cotação
especial para o Linden Dollar (US$1,00
= L$ 267,00 em maio). Ou seja,
teoricamente os usuários estariam
brincando com dinheiro de verdade.
Porém, desde que surgiu a primeira
milionária do Second Life (SL para os
íntimos), a chinesa Anshe Chung,
passou-se a prestar mais atenção nesse
simulador de realidade (a verdadeira
denominação do SL segundo seus
membros mais xiitas). Desde então
houve a progressiva popularização do
Second Life que já conta com mais de
cinco milhões de habitantes.
Para fazer parte do SL é necessário,
primeiro, escolher o tipo de conta. Há
opções FREE ou pagando o equivalente
a US$10,00 por mês para se obter acesso
a algumas regalias como possuir
terreno. Escolhida a forma de
pagamento, basta escolher o nome do
seu personagem (avatar) e fazer o
download do jog... digo do simulador
de realidade. Assim que você se torna
usuário você pode escolher entre seis
opções de corpo (skin) para seu avatar.
Mas não se preocupe, depois você
poderá modificá-lo de quase infinitas
formas e até comprar novos tipos de
cabelo, rosto, corpo e roupa.
Inicialmente, o corpo de seu avatar será
a imagem e semelhança de bonecos
Barbie e Ken, mas é possível comprar
certos apetrechos a serem anexados.
Pode-se também, com o auxilio do
Photoshop, criar roupas, acessórios,
tatuagens, móveis e até estádios. Para
trazer o objeto criado fora do SL basta
pagar L$10. Muitos estilistas, designers
e arquitetos têm descoberto a vocação
ou ganho um dinheiro extra com suas
criações virtuais.
Todos os novatos no SL costumam
levar muito tempo para entender como
tudo funciona. Depois de meses
usando-o, é bem provável que continue
sem entender como usar a maioria dos
aparatos. Mas, isso acaba por torná-lo
mais interessante já que sempre se
aprende algo novo. Assim que se
começa a utilizar, os avatares entram
no Tutorial. Lá se aprende o básico
como as teclas para se mexer, como
alterar o corpo e a roupa do avatar, a
voar (ah se na vida real fosse assim) e
etc... É interessante notar que quem não
tem o dom para a cirurgia plástica
costuma ter um rosto com o da Cher ou
do Michael Jackson.
o jornal.pmd
22
Talvez seja mais complicado para os
novatos (também conhecidos como
n00b) se acostumarem a se comunicar
na Babel que é o second life. Há a
possibilidade de usar o Instant Message
que funciona tal como um torpedo de
celular e só a pessoa para quem você
envia a mensagem pode lê-la. Ou podese usar o chat onde tudo é dito
publicamente e quem estiver em um
raio de 50 metros lerá. Está previsto
para que em breve as conversas possam
ser ouvidas usando um sistema
semelhante ao Skype. Muitos são os que
adoram a idéia por trazer mais realismo
à comunicação, porém há quem veja
isso como um fim da fantasia de ser
outra pessoa. Outra complicação
advém de que já é difícil ler todas as
mensagens (e saber para quem são
direcionadas), imagine escutar, ainda
mais sem a ajuda do ‘history’ (histórico
onde se podem ler todas as mensagens
enviadas).
A maior parte dos movimentos dos
avatares é feito através das ‘balls’. São
bolas nas quais se clica para efetuar a
ação desejada seja dançar, sentar,
pintar entre outras. Todas essas ‘balls’
foram produzidas por usuários, mas é
necessário amplo conhecimento de
programação para criar movimentos
tão intrincados como dançar salsa.
Adquirir emprego à primeira vista
é difícil, porém, trabalhar como
dançarino (a) ou faxineiro (a) é muito
fácil. Geralmente, há uma ‘ball’
indicando que ao clicar ali ganhará x
lindens. Mas costumam ser trabalhos
apenas para iniciantes porque são
muito mal remunerados (em geral, são
realizados enquanto o usuário está
lanchando ou usando o banheiro). Há
muita oferta de emprego feita pelos
próprios usuários. Em alguns lugares,
até, foi banida a propaganda excessiva
porque fazia da ‘ilha’ uma feira. É
possível trabalhar em quase todas as
áreas: vendedor, jornalista, corretor de
imóveis e, um dos mais populares,
como acompanhante. Por mais
estranho que possa parecer, a
prostituição é um dos empregos mais
rentáveis e é legal em quase todas as
ilhas consideradas ‘maduras’.
Os terrenos são chamados de ilha.
Para ir de uma à outra só voando
grandes distâncias ou através do
método mais fácil de locomoção: o
teleporte. Com ele é possível ir da Ilha
Étoile, onde há uma réplica do Arco do
Triunfo, à Ilha São Paulo em questão
de segundos. Algumas ilhas
representam tão perfeitamente a
arquitetura de certas cidades que
acabam por impressionar. Passear pela
ilha de Amsterdã é como ter uma
prévia da cidade real. Os detalhes são
primorosos. Na Ilha Bahia há uma
réplica virtual do pelourinho aonde até
a topografia é igual. As ilhas são
divididas por conteúdo maduro ou não.
Isso visa evitar que adolescentes, ou
pessoas que se chocam com facilidade,
entrem em contato com cenas de sexo
ou nudez.
Empresas de renome já enxergam o
potencial do Second Life. Unibanco, G1,
Bradesco, Nokia e outras já puseram
filiais virtuais para divulgar seus
produtos. No caso do G1 se vai mais
longe. Por estar ‘dentro’ do Second Life
tem acesso mais fácil do que se passa
lá e por isso, é um dos poucos meios de
comunicação que tem produzido
informações detalhadas e de forma
veloz a seu respeito (sem as quais quem
vos fala, Catarina DeCuir, não
conseguiria produzir tal texto).
Partidos políticos também têm
descoberto, ainda que devagar, o SL.
O pioneiro dentre os brasileiros foi o
PSDB. Logo depois os Democratas
fincaram um prédio na mesma ilha e,
recentemente, também é possível
visitar a sede virtual do PCB. Mas, a
impressão que passam é de que grande
parte desses ainda não sabe ao certo o
que fazer lá. Quando se visita o prédio
dos Democratas não se encontra uma
alma viva. Tudo o que se pode fazer é
recolher uma espécie de flyer sobre o
partido e SÓ. Já no caso do PSDB serve
como uma excelente plataforma
política. O prédio é facílimo de ser
encontrado em uma das principais
praças da Ilha São Paulo. Lá, além de
ganhar camiseta com o logo tucano,
também se pode conversar com filiados
e receber os projetos do partido.
Infelizmente, até o momento não foi
possível encontrar o PCB.
Nos últimos meses houve uma maior
divulgação do SL e com isso um maior
afluxo de brasileiros para lá. Ilhas em
que antes só se falava inglês começam
a apresentar conversas em português
(e portunhol). Além disso, a Ilha Brasil
é uma das mais procuradas com mais
de 10000 visitas por dia. Não
se sabe ao certo se em breve
ocorrerá com o SL o que
aconteceu com o Orkut ou se
outros
países
também
despontaram por lá. Mas, o
Second Life já se transformou
em nova moda entre os
brasileiros mais ‘antenados’.
Em um protesto virtual contra o
fechamento do RCTV. Com direito
a carregar cartaz e usar mordaça.
14/11/2008, 10:13
Diário de Bordo:
Catarina DeCuir
-Já me congelei, caí de mais de 200
metros de altura, levei tiro;
aparentemente meu avatar é imortal.
-Logo que entrei houve uma pequena
falha de comunicação. Um espanhol
fala “tire a roupa”, mas não especifica
se falava comigo ou com um alemão.
Depois deixou bem claro que não era
comigo.
-Maconha é vendida como se fosse
pamonha, aos berros e no meio da
praça.
-Ao mudar minha ‘skin’ percebi que,
se quisesse ser fiel à minha aparência,
teria, em uma escala de 0 a 100, altura
igual à -2.
-Já fui vendedora de camisas,
faxineira, dançarina, mas descobri
que a atividade mais rentável é a de
cafetina.
-Conheci um avatar de um inglês que
adora mudar radicalmente sua
aparência. Já foi japonês, robô, punk
e até mendigo bêbado.
-As drogas e as bebidas produzem
efeito nos personagens. Aliás, a
minha é bem fraca para bebida. Basta
um copo de cerveja e já não consigo
controlar direito seus passos.
-Já participei (ou bisbilhotei) de
concursos ‘exóticos’ como: melhor
fantasia de super-herói, melhor
bunda, melhor em jeans entre outros.
-Copacabana é linda, mas toda vez
que coloco os pés lá eu levo tiro e
recomeça o SL.
-‘Ball’ escrita ‘on hand’ NÂO quer
dizer ficar de mão dada.
-É bom ser mulher. Enquanto
ganhamos partes íntimas de graça,
homens têm que desembolsar pelo
menos L$100 para algo de tamanho
descente.
-Surge um novo termo avatariano,
digo, secondlifiano.Trata-se do furry,
quem usa avatar de bicho ao invés
de corpo humano. Já virou gíria para
pessoas que escrevem ‘axim’.
23
NO 11 - 2007/1
Espaço aberto para os clandestinos
Sites com forte conteúdo ideológico incentivam atividades ilegais
Taiane Linhares
Lá vai Gustavo manifestar o seu
ódio à sociedade de consumo. O lugar
escolhido? Uma famosa livraria em um
shopping carioca. Apesar dos 36°C,
Gustavo veste um casaco de bolsos grandes, já cheios de balas, canetas e incensos.
Chegando à livraria dirige-se aos lançamentos. E lá está o livro “Jaulas Abertas”
de Tom Regan, filósofo que prega a libertação animal. Gustavo não achou
uma versão para download na internet,
por isso descolou umas dicas de furto
com seus amigos do Yomango.net. Não
queria fazer feio na nova empreitada.
Pega dois exemplares do livro, pergunta o preço ao balconista, esconde um no
bolso interno do casaco, o outro volta
para a prateleira. Foi seu primeiro grande furto, motivo para se orgulhar. Agora,
cheio de moral, discute, em um fórum
da internet, táticas para subtrair MP3
players de lojas de varejo.
A Internet tornou a vida de todos
mais fácil. Que outro meio proporcionaria o contato direto com guerrilheiros na
frente de combate e “terroristas” presos
por libertar chimpanzés de laboratório?
Sites de forte conteúdo ideológico, não
raramente, incitam seus usuários a praticar atividades ilegais. Para fugir à
vigilância, alguns administradores hospedam seus sites em domínios no
exterior. Porém, pelo enorme conteúdo
disponível na web, o policiamento se
torna ineficaz, passando à mão de cada
usuário:
– O controle na Internet é feito de
forma descentralizada. Se alguém se
sente ofendido por um dado conteúdo,
pode recorrer a vias administrativas ou
judiciais para apagá-lo. O Ministério
Público também pode ser avisado através de denúncias, e iniciar um processo
de retirada do site do ar – esclarece
Carlos Eduardo Mendes de Azevedo, do
Núcleo de Computação Eletrônica
(NCE) da UFRJ.
Entre os usuários de tais páginas
ainda se conserva uma opinião bastante realista sobre o assunto, pois a internet
ainda não é vista como principal meio
de ação revolucionária:
– O ativismo tradicional, por exemplo, pode ser sim feito pela Internet, só
que tende a capengar se não tomar lugar fora do “Cybermundo”. Entendo que
a Internet pode servir para complementar um ativismo no mundo real – adverte
Alex Silva, ecoativista e professor de
História.
Na Europa, um movimento que prega o roubo como forma de resistência ao
estilo de vida consumista se dissipa e já
o jornal.pmd
23
consegue adeptos no Brasil, o Yomango. da ALF (www.animalliberationfront.
Surgido na Espanha, no ano de 2002, e com) disponibiliza guias de ação direta
tendo a Internet como meio de discus- para aqueles que pretendem sair da
são de táticas de furto, o Yomango é um teoria e correr os riscos da vida na
movimento irreverente que, em uma gí- ilegalidade.
ria espanhola, significa “eu roubo”. O
Na madrugada do dia 05 de julho
site esclarece aos leitores qual seria o de 2007 ativistas libertaram 121 cães que
principal objetivo do Yomango, que não seriam usados como cobaias no curso
é uma apologia ao roubo, mas sim uma Imersão em Treinamento de Cirurgia
tentativa de entender por que as
pessoas roubam. A
página aponta duas
hipóteses para esse
fato “a pobreza em
que muitos vivem e
a política abusiva
das multinacionais
que governam o
mercado e o mundo”. Segundo os
idealizadores do
movimento,
“Yomango não é
roubo, a propriedade é o roubo”.
Ativistas da ALF com os animais libertados em suas ações
Há orientações
no site (www.
yomango.net) para os que não querem Videolaparoscópica, em Anápolis (GO).
consumar um ato ilícito, os chamados O grupo, que através de inscrições em
“Yomango passivos”. Para praticar essa um muro se intitulou pertencente à ALF,
modalidade deve-se ir a um grande su- utilizou uma bomba para desviar a
permercado, encher o carrinho com atenção de policiais que estavam nas
produtos perecíveis (carnes e congela- imediações. Após o disparo da bomba,
dos) e depois abandoná-lo numa área os ativistas cortaram a cerca e entraram
escondida da loja, de forma que seja en- no recinto. Após a ação 88 cães foram
contrado apenas quando os produtos recapturados, mas uma liminar garantiu
já estiverem estragados.
que os animais, que seriam
O potencial subversivo da Internet eutanasiados após a cirurgia, não
também é posto à prova por grupos de seriam utilizados no curso. Os únicos
defesa à vida animal, que segundo o relatos existentes sobre o caso de
governo norte-americano, são “a ameaça Anápolis foram apurados pelo
número 1 em termos de terrorismo no nutricionista e ativista George
país”. Através de sites como o da Guimarães e estão no site da ong
Animal Liberation Front (ALF), um Vegetarianismo Ético, Defesa dos
movimento descentralizado que age Direitos Animais e Sociedade (Veddas),
através de células anônimas, tornam-se www.veddas.org.br.
públicas ações a favor da chamada
Os ativistas da ALF têm como calibertação animal. Acreditando que racterística o rosto encapuzado, com
animais não nasceram para ser isso suas identidades somente são reveexplorados pelo homem, grupos de ladas quando são presos. No site são
jovens vegetarianos resgatam animais divulgados seus nomes, fotos e enderede laboratórios, granjas e outros lugares ços das penitenciárias onde eles se
onde sofram risco de morte. A ALF encontram, para que simpatizantes da
também defende a destruição do causa enviem cartas aos prisioneiros. O
patrimônio de empresas que sobrevivem site da North American Earth Liberation
da exploração de animais (laboratórios Prisoners Support Network (www.
que fazem testes em animais, ecoprisoners.org) apóia ativistas nortecorporações do ramo alimentício, lojas americanos presos por se engajarem em
que vendam pele, circos e rodeios). Para causas ambientais. Nele, assim como no
que um ativista seja reconhecido como site da ALF, pede-se que enviem livros aos
membro da ALF basta pichar o local internos e doações às suas famílias. Ouinvadido com o nome do movimento, o tros sites também divulgam ações diretas
que garante a ele apoio jurídico da em defesa dos animais, como o Bite Back
instituição caso algo dê errado. O site (www.directaction.info),
o
No
14/11/2008, 10:13
Compromise (www.nocompromise.org) e
o brasileiro Ativismo.com (www.
ativismo.com).
Os administradores do site
Ativismo.com reconhecem a importância da ALF em contexto mundial e
ressaltam o crescimento de ações inspiradas no site em nosso país:
– A ALF é sem dúvida um ator importante no movimento da libertação
animal. Apesar de termos ações com esses objetivos desde a década de 70, a
“onda” começa a se formar aqui apenas
nos últimos anos, justamente quando a
internet passa a fazer parte da vida do
brasileiro - diz F.S., responsável pela
página do Ativismo.com, que prefere
não se identificar.
O medo de represálias de donos de
circos, promotores de rodeios e
pecuaristas é uma constante ao grupo.
Para evitar o envolvimento do site com o
conteúdo divulgado, o Ativismo.com
esclarece em sua página inicial que é
contrário a “qualquer tipo de ação que
desrespeite as normas jurídicas do
país”, atuando apenas como órgão de
comunicação do meio.
Embora a divulgação de informações sobre lutas armadas não seja
proibida, sites como o das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –
Exército do Povo (FARC-EP) têm o nítido objetivo de cooptar um efetivo militar.
Com um conteúdo bem estruturado,a
página (www.farcep.org) tem a colaboração de universitários, além de uma
grande massa de artigos, entrevistas,
matérias, vídeos e áudios de discursos.
Através de fotografias disponibilizadas
no site a guerrilha é mostrada como uma
grande colônia de férias, tendo até mesmo uma área dedicada apenas às fotos
das mulheres das FARC, levando ao pé
da letra a instrução de que se deve “seduzir” jovens para a causa. Os álbuns
de música, disponíveis para download,
foram gravados pelos próprios guerrilheiros. Figuram entre eles canções
como: No hay patria sin libertad, Salsa
de la unidad, Charanga de la
insurrección e Guerrillera.
Conhecida por recrutar adolescentes,
as FARC, em 2003, envolveu-se em um incidente com o Brasil. Em agosto daquele
ano, Alexandre de Donato, 14 anos, fugiu
de sua casa na Ilha do Governador para se
juntar às FARC. Todo contato foi feito apenas pelo site. O adolescente, antes de partir,
deixou um bilhete ao pai dizendo que “estava abrindo fogo ao inimigo”, mas, após
uma conversa com os policiais que o resgataram em Manaus, mostrou-se
decepcionado ao “descobrir que os revolucionários eram de direita”.
24
NO 11 - 2007/1
O filme livre conquista a web
A cultura do vídeo na Net mudou o modo de fazer, consumir e entender cinema. Se os blockbusters dominavam
o mercado de distribuição, a internet criou um espaço favorável de divulgação da produção independente
Flávia Castro
A distribuição audiovisual sempre esteve
vinculada à necessidade da
grande indústria cinematográfica, mas a cultura do
compartilhamento da informação na Internet mudou esse
cenário. Enquanto as grandes
corporações a cada hora inventam uma nova estratégia
para combater a pirataria, impulsionada principalmente
pela Web, o caminho se abriu
para os produtores independentes.
O cineasta Bruno Vianna,
por exemplo, foi o primeiro
brasileiro a disponibilizar o
seu
longa-metragem,
“Cafuné”, na web. O projeto
foi premiado no concurso de
desenvolvimento de roteiros
do Governo do Estado do Rio,
em 2002, e no concurso de longas-metragens de baixo
orçamento do Ministério da
Cultura em 2003, o que
viabilizou a produção. Na hora
de distribuir, de acordo com o
diretor, eles tinham “um filme
com linguagem diferenciada,
nenhum elenco global e
pouquíssimo apelo comercial”.
Se por um lado, a pirataria gera um prejuízo anual de
R$ 340 milhões no Brasil – segundo a Associação de Defesa
da Propriedade Intelectual
(Adepi) – por outro ela é a so-
Cena do filme “Cafuné”, de Bruno
Vianna (2006)
o jornal.pmd
24
lução. Vianna, diretor e
roteirista de “Cafuné”, pirateou
o seu próprio longa-metragem,
colocando-o, na íntegra, num
dos mais populares programas
de compartilhamento de dados
(pirata) pela internet: o Emule.
Só um detalhe: isso foi feito “com a benção” da
distribuidora, ou seja, no mesmo dia em que o filme estreou
nas salas de cinema, todo conteúdo estava disponível
gratuitamente na rede. O uso
da Internet, nesse caso, foi
além da necessidade de espaço no mercado. “Eu quis
experimentar, provocar, talvez
abrir caminhos para novas
maneiras de fazer cinema”,
explicou o produtor.
Ainda segundo Vianna, o
filme “Cafuné”, que só entrou
no circuito de exibição graças
a um prêmio concedido pela
Distribuidora Estação, saiu ganhando com a iniciativa. “Em
termos de visibilidade com
certeza foi excelente, já que
houve muita mídia que tratavam quase que exclusivamente
desse aspecto”. A Internet funcionou, portanto, como meio
de distribuição e divulgação de
um filme não-comercial.
Mais um detalhe: além de
abrir mão da possibilidade de
lucrar com o seu trabalho, ele
também abriu mão da propriedade intelectual da obra, ou
quase isso. Com o download,
são adquiridas cenas extras
que podem ser editadas em um
programa caseiro. Dessa forma, pode-se atuar como
co-autor, criando uma nova
versão para a história.
Obviamente existem algumas regras nesse jogo,
especificadas pelo Creative
Commons, uma licença, a qual
protege o direito autoral do artista ao mesmo tempo em que
possibilita a livre circulação de
conteúdo na rede. O contrato
diz: 1) que podem ser feitas cópias do filme para distribuição
não comercial; 2) que o filme
pode ser manipulado. Mas exige-se, por exemplo, que o autor
ganhe crédito a cada modificação. O que ele pensa sobre
isso? “Se alguém alterar a narrativa e mandar pra um festival,
citando o autor original, vou
achar bem bacana”.
Entretanto, um filme
como o “Cafuné”, com pouco
mais de 800 Mb, leva, em média, cinco dias para carregar
em Internet Banda Larga com
velocidade de 100 Mbps, e não
possui alta qualidade de som
e imagem. Apesar de a
tecnologia Streaming ter contribuído para a distribuição
virtual, já que dispensa o
download de arquivos, ainda
falta muito para esse formato
de transmissão alcançar a eficácia de um DVD, além de esta
suportar apenas filmes de curta duração.
A conseqüência disso foi
a criação de uma cultura da
distribuição dos curtasmetragens. De qualquer tipo.
Do informativo ao grotesco.
Do amador ao profissional. A
oportunidade de compartilhar,
de experimentar, de tornar pública uma produção autoral
passa a ser mais forte que a necessidade de qualidade ou
intimidade com a câmera.
Não é difícil entender,
portanto, a popularização de
sites de compartilhamento de
vídeos como o You Tube, que
em pouco tempo conquistou
mais de cem milhões de visitas e 56 mil novos arquivos
postados diariamente. Não se
pode ignorar o alcance desse
tipo de mídia. Tanto que a Revista “Time” concedeu ao site
o título de “Melhor invenção
do ano”, de 2006.
De acordo com a publicação, a página participou de três
revoluções na Internet. A
popularização da produção
caseira de vídeos, facilitada
por câmeras digitais, telefones
celulares e softwares de fácil
manuseio. A consolidação da
web 2.0, que implica na
interatividade entre produtores e consumidores de
conhecimento. E a revolução
cultural que permite a qualquer pessoa divulgar na rede,
sem censura, aquilo que produziu.
Mas o espaço é bastante
atrativo também para a difusão da produção profissional.
O “Curta o Curta”, o mais reconhecido site de caráter
comercial de exibição de curtas-metragens, tem um acervo
de cem filmes on-line e é visitado por 20 mil pessoas
mensalmente. O realizador do
vídeo paga cerca de R$ 100 por
ano para ter acesso ao serviço.
Um dos coordenadores
do projeto, Guilherme
Withaker, diz que “o empreendimento é pura filantropia”.
Ele continua explicando que “o
objetivo é oferecer uma alternativa ao grave problema de
distribuição cinematográfica,
principalmente no Brasil”.
Esse grave problema sobre o qual Withaker fala é o
seguinte: entre os 143 títulos
que estão atualmente inéditos
ou nas fases de produção e
14/11/2008, 10:13
finalização no país, apenas 43
têm contrato de distribuição e,
dessa forma, estréia assegurada, segundo dados da Agência
Nacional
do
Cinema
(Ancine).Em conseqüência, a
maioria das produções tem a
opção de serem vistas apenas
nos festivais de cinema.
O que também se percebeu não ser uma má idéia. A
partir daí foram criados festivais de vídeo exclusivamente
para a Internet. A idéia colou
e hoje são milhares de mostras
de todos os tipos e com uma
abrangência infinitamente
maior, já que pessoas de todo
o mundo podem assistir a um
dos vídeos competidores.
É também por isso que
Guilerme Withaker vê a
Internet “como o espaço mais
democrático de troca de conhecimento”. Para ele, a
exclusão digital não interfere
na expansão do conteúdo livre. “A inclusão digital no
Brasil e na maioria dos países
em desenvolvimento vai acontecer através das redes de
telefonia celular e da televisão
digital”.
Whitaker olha para o futuro da distribuição e vê a Web
como o inevitável caminho à
frente. “A Internet funciona
como uma vitrine para o cinema: é universal, permite que o
internauta decida o que quer
ver, e diminui as barreiras entre o público e o criador”. Ele
não sabe afirmar, contudo, se
essa interatividade, e a ausência de mediadores, será
intensificada ou combatida
pelos grandes conglomerados
e como isso afetará a produção independente. Vamos ter
que esperar o final do filme.