gaia:teia e sinfonia
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gaia:teia e sinfonia
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA CATARINENSE CAMPUS SOMBRIO SEDE SANTA ROSA DO SUL CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM AGROPECUÁRIA CONCOMITANTE COM ENSINO MÉDIO Matheus de Lima Pereira GAIA:TEIA E SINFONIA Fundamentos e Aplicações em Ecologia Agrícola Relatório de Estágio Curricular Supervisionado, apresentado IFC Sombrio, Campus ao como requisito obrigatório para obtenção do título de Técnico Agrícola com Habilitação em Agropecuária. Orientador: Professora Ivete Maria Grisa Santa Rosa Do Sul, Santa Catarina Maio De 2011 anno Domnini RELATÓRIO DE ESTÁGIO GAIA:TEIA E SINFONIA Fundamentos e Aplicações em Ecologia Agrícola Matheus de Lima Pereira Orientador: Professora Ivete Maria Grisa _____________________________________ Professora Ivete Maria Grisa Santa Rosa Do Sul, Santa Catarina Maio De 2011 anno Domnini DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA 1. Nome: Centro Ecológico (Litoral) 2. Localização: Rua Padre Jorge s/nº CEP: 95568-000 Cidade: Dom Pedro de Alcântara UF: RS Tel.: (51) 36640220 Site: www.centroecologico.org.br 3. Área de atuação: Agroecologia/Educação Ambiental 4. Período: 13/11/2010 à 18/02/2011 5. Duração: 360 horas 6. Supervisor do estágio: Cristiano Motter 7. Coordenador: Laércio Ramos Meirelles e Luís Carlos Diel Raupp DEDICATÓRIA Dedico este relatório de estágio a todos aqueles jovens o bastante para contemplar, cativar-se pela beleza que é a Natureza, o Cosmo. Beleza esta expressa na Sinfonia e Teia da Vida, Gaia, voz talvez solitária no Sistema Solar. Que, doravante, todos contemplem mais e mais esta fantástica fuga cósmica! AGRADECIMENTOS Agradeço a todos aqueles que me tornaram mais fenomenal a jornada de desvendar o Cosmo, a Dança Cósmica e a Dançarina Natureza, Dança que a todo momento se reinventa. Sobretudo, é propício agradecer à Força, à Dança Cósmica que é o Cosmo, enfim à Própria Natureza em toda a sua plenitude. Em segundo lugar, é prudente agradecer a meus pais, adoráveis companheiros nesta jornada, tendo já a perscrutado desde longa data. Ivete Maria Grisa, minha orientadora de estágio, pelas aulas fantásticas de Olericultura, por sua atenção e seu bom humor; Airton Luiz Bortoluzzi, por seu inspirador brilhantismo intelectual e pelas longas conversas que tivemos nos três anos de curso técnico agrícola; Lívia Wrasse Zimmermann, grande amiga, poeta e ambientalista; Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Torres (EcoTorres); Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Três Cachoeiras (Coopet); Toda equipe do Centro Ecológico Litoral, em especial: Cristiano Motter, meu supervisor de estágio, pelo apoio e orientação durante o estágio; Nelson Bellé, um dos pioneiros em agricultura ecológica, pela inspiração e amizade; Miriam Sperb e Stella Raupp Schwanck Motter, graduanda em Pedagogia, pelo apoio e camaradagem; Daiana Mengue Lumertz , secretária do Centro Ecológico, pelo auxílio e gentileza enormes; Ana Luísa Meirelles, André Gonçalves e Laércio Ramos Meirelles, Engenheiros Agrônomos, pelo inestimável suporte; Comunidade “Sanga da Madeira”, em Passo de Torres/SC; Famílias de agricultores com as quais tive contato no decorrer do estágio, sobretudo a família Fernandes, situada em Morrinhos do Sul, e a família de Renato Leal. EPÍGRAFE “A verdadeira, a mais profunda ESPIRITUALIDADE consiste em sentir-nos parte integrante deste MARAVILHOSO E MISTERIOSO PROCESSO que caracteriza GAIA nosso planeta vivo: a FANTÁSTICA SINFONIA DA EVOLUÇÃO ORGÂNICA que nos deu origem junto com milhões de outras espécies. É sentir-nos responsáveis pela sua continuação e desdobramento” LUTZENBERGER, José Antônio Kroepf “A beleza de um ser vivo não é os átomos que vão dentro dele, mas a maneira como estes átomos estão unidos. O Cosmos também está dentro de nós, somos feitos de matéria estelar. E nós somos um modo de o Cosmos se conhecer. Acho elevador e regozijante, descobrir que vivemos em um universo que permite a evolução de máquinas moleculares tão intrincadas e sutis quanto nós.” (BOSHWELL, apud SAGAN. In Symphony of Science apud Cosmos). RESUMO Na década de 1980, no meio rural brasileiro o cenário era muito dinâmico, com impactos sócio-ambientais negativos da Revolução Verde, a distensão da ditadura militar, e a retomada das lutas sociais; cenário este oportuno para o surgimento de organizações que buscavam novas formas de desenvolvimento rural, baseadas em Agricultura Ecológica e no Associativismo. Neste âmbito, surge, em 1985, o projeto Vacaria, em uma área situada no município de Ipê. Em 1991, o projeto Vacaria passa a se denominar Centro de Agricultura Ecológica Ipê (CAE Ipê), caracterizando uma nova fase do trabalho, onde o foco passa a ser menos a unidade produtiva da instituição e mais o acompanhamento de associações de agricultores ecologistas. Em 1997, passa a se chamar Centro Ecológico Ipê, simplesmente. Neste ínterim, o trabalho se caracteriza por ir além da produção ecológica e se vincula à “ecologização” da propriedade como um todo, do indivíduo que nela trabalha e das relações sociais nas quais está inserido. Desde 1999, o Centro Ecológico também tem sede em Dom Pedro de Alcântara, RS, local onde realizei estágio para conclusão de curso técnico agrícola com habilitação em agropecuária. O Centro Ecológico atualmente atua em várias áreas de agroecologia, agricultura familiar e educação ambiental: saneamento básico ecológico; rede teia de educação ambiental, alimentação escolar ecológica; sistemas agroflorestais (SAFs) e preservação da mata atlântica; permacultura; bioconstruções; agricultura biodinâmica; quintais agroflorestais; cooperativas de consumo, cooperativas agropecuárias e associações de produtores rurais; feiras de produtos agroecológicos; fomento ao consumo de açaí da mata atlântica (Euterpe edulis) em detrimento da espécie amazônica (Euterpe macrocarpa), como forma de preservar o palmito juçara, atualmente ameaçado de extinção; fomento à industrialização de produtos agroecológicos; assessoria técnica ao produtor rural ecologista e/ou em transição; ações de cunho social em comunidades carentes na área de cidadania e educação e/ou educação ambiental, hortas agroecológicas e saneamento básico. A hipótese de Gaia – termo baseado na personificação divina mitológica grega para o planeta Terra, Gaia – ou hipótese geobioquímica – componente do movimento cultural denominado ecologia profunda, fomentado e iniciado pelo filósofo norueguês Arne Naess – formulada e apresentada, por James Lovelock, químico britânico, criador da hipótese, e Lynn Margulis; bióloga norte-americana estadunidense; coloboradora principal da mesma; considera a biosfera e os componentes físicos do Planeta Terra, atmosfera, criosfera, litosfera e hidrosfera, intimamente integrados de modo a formar um coeso sistema complexo emergente interagente, dinâmico, caótico, não-linear e autopoiético que mantém as condições climatológico-biogeoquímicas; necessárias para seu metabolismo e presentes, instavelmente, no momento de seu surgimento; harmoniosas o bastante para a manutenção homeostática de seus ciclos de retroalimentação. Embora sua comprovação experimental não seja ainda satisforiamente adequada face à totalidade dos parâmetros atuais de cientificidade da Comunidade Científica; evidências – oriundas de modelos computacionais, da teoria do Caos, da teoria dos sistemas e do paradigma da complexidade – têm produzido aceitação entusiástica por parte de alguns cientistas e/ou ambientalistas, sobretudo no âmbito da teoria e pensamento sistêmicos. Palavras-chave: Educação Ambiental; Agroecologia; Permacultura; Hipótese de Gaia; Economia Popular Solidária. Índice de ilustrações Ilustração 1: Fotografia de microscopia de hastes de Arctium sp.......................................15 Ilustração 2: Arctium sp........................................................................................................15 Ilustração 3: Fotografia de perfil de solo..............................................................................31 Ilustração 4: Perfil de solo....................................................................................................31 Ilustração 5: Ciclo hidrológico..............................................................................................39 Ilustração 6: Mecanismo de irrigação por gotejamento.......................................................41 Ilustração 7: Produção agrícola organopônica....................................................................44 Ilustração 8: Mapa etnoagronômico do Vale do México no período pré-Colombiano.........45 Ilustração 9: Fotografia de Chinampa moderno..................................................................46 Ilustração 10: Ciclo do C......................................................................................................53 Ilustração 11: Ciclo do N......................................................................................................54 Ilustração 12: Ciclo do P......................................................................................................54 Ilustração 13: Abacaxi em Quintal Agroflorestal..................................................................63 Ilustração 14: Salsa em Quintal Agroflorestal com cobertura parcial de solo.....................64 Ilustração 15: Milho (Zea mays L.) e Mandioca (Manihoti ssp) em Quintal Agroflorestal...64 Ilustração 16: Panorama geral de porção de Quintal Agroflorestal.....................................65 Ilustração 17: Sistema de saneamento básico ecológico....................................................66 Ilustração 18: Orientação das tábuas de madeira em domicílio situado em Mampituba, RS .............................................................................................................................................69 Ilustração 19: Entrada da Casa da Solidaridade propriamente dita....................................83 Ilustração 20: Captação de água da Casa da Economia Solidária. Ao fundo, canteiro em espiral...................................................................................................................................83 Ilustração 21: Área de recreação infanto-juvenil.................................................................84 Ilustração 22: Capina sobre excesso de vegetação espontânea incorporada em sistemas de compostagem in loco......................................................................................................84 Ilustração 23: “Mulching” e compostagem in loco...............................................................84 Ilustração 24: Formatos irregulares dos canteiros..............................................................85 Ilustração 25: Vegetação espontânea em excesso anteriormente à capina para utilização de massa verde em compostagem in loco..........................................................................85 Ilustração 26: Composição das paredes de pneus revestidos com barro..........................86 Ilustração 27: Porção de sistema de saneamento básico agroecológico...........................86 Ilustração 28: Porção de sistema de saneamento básico agroecológico aumentada........87 Ilustração 29: Resíduos urbanos de tratos culturais depositados em local público em compostagem in loco...........................................................................................................87 Ilustração 30: Ventilação......................................................................................................87 Ilustração 31: Canteiro contíguo à parede lateral da Casa da Solidariedade.....................88 Ilustração 32: Ampliação de porção do canteiro contíguo à Casa da Solidariedade..........88 Ilustração 33: Tijolos de solo-cimento..................................................................................88 Ilustração 34: Telha de "Tetra Pak" [sic] reciclado...............................................................89 Ilustração 35: Confecção de placas metálicas de identificação de espécimes...................94 Índice de tabelas Tabela 1: Visão de Mundo Mecanicista Usual X Ecologia Profunda...................................16 Tabela 2: Flora e pedofauna em 30cm de solo em clima temperado. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005).....................................................................................................32 Tabela 3: Massa de insumos para a produção de 100 toneladas de batatas. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005).....................................................................................................33 Tabela 4: Síntese de efeitos físicos, químicos e biológicos da matéria orgânica em agroecossistemas edáficos..................................................................................................37 Tabela 5: Influência da adubação sobre a densidade populacional de alguns animais do solo. Adaptado de VOGTMAN & WAGNER (1987) apud RÜBENSAM et al. (1962)..........38 Tabela 6: Influência de adubações diferentes sobre o edaphon (nº relativo). Adaptado de VOGTMAN & WAGNER (1987) apud MÜLLER (1962)......................................................38 Tabela 7: Aspectos produtivos de diferentes culturas em adubação verde. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005) apud ASPTA (1992)....................................................................51 Tabela 8: Materiais fertilizantes contidos no esterco e na urina de algumas espécies (em kg/ano per capita). Adaptado de MEIRELLES et al. (2005)................................................52 Tabela 9: Indicadores biológicos. Vegetação Espontânea. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005) apud PRIMAVESI (1992)..........................................................................................59 Tabela 10: Influência do déficit nutricional em incidência de patógenos. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005) apud PRIMAVESI (1989)...........................................................60 Tabela 11: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos gerais e especializados em Torres/RS................................................................................90 Tabela 12: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos gerais e especializados em Três Cachoeiras/RS................................................................91 Tabela 13: Preços de produtos agrícolas em feira "convencional" e feira ecológica, em Torres/RS.............................................................................................................................92 Sumário 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................12 2. GAIA: TEIA E SINFONIA.................................................................................................17 2.1. Educação Ambiental.....................................................................................................17 2.1.1. Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica.....................................................17 2.2. Agricultura Ecológica....................................................................................................18 2.2.1. Breve descrição.................................................................................................18 2.2.2. Ecossistemas e agroecossistemas...................................................................19 2.2.3. Termodinâmica agrícola e bioenergética..........................................................23 2.2.4. Solos..................................................................................................................30 2.2.5. Trio Ambiental Básico........................................................................................39 2.2.6. Trofobiose..........................................................................................................54 2.2.7. Fitopatologia......................................................................................................55 2.2.8. Sistemas agroflorestais.....................................................................................61 2.2.9. Saneamento Básico Agroecológico..................................................................65 2. 3. Associativismo e Economia Popular Solidária........................................................66 2.4. Permacultura e Bioconstruções................................................................................68 2.4.1. Relações espaciais na agricultura....................................................................80 2.5. Casa da Solidariedade e Sanga da Madeira............................................................83 2.6. Pesquisas desenvolvidas.........................................................................................89 2.6. 1. Pesquisa publicitário-econômica sobre comercialização de produtos agroecológicos em estabelecimentos gerais e especializados na região de Torres/RS.....................................................................................................................89 2.6.2. Efeitos ecotoxicológicos e de toxicologia humana de resíduos de agrotóxicos em alimentos...............................................................................................................92 2.6.3. Sequestro de carbono e Levantamento Fitossociológico em Sistemas Agroflorestais de Bananicultura Agroecológica...........................................................93 3. CONCLUSÃO..................................................................................................................95 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................97 5. Apêndice..........................................................................................................................99 5. 1. Apêndice 1. Lei 10831 de 23 de Dezembro de 2003, a qual dispõe sobre agricultura orgânica e dá outras providências.................................................................99 5.2. Apêndice 2. Re-enunciação sumária de conceitos, possibilidades e princípios de permacultura..................................................................................................................103 2. 5. 3. Apêndice 3. Biocidas: Ecotoxicologia e Toxicologia Humana...........................105 12 1. INTRODUÇÃO A hipótese Gaia, também denominada como hipótese biogeoquímica, é hipótese controversa em ecologia profunda que propõe que a biosfera e os componentes físicos da Terra (atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) são intimamente integrados de modo a formar um complexo sistema interagente que mantêm as condições climáticas e biogeoquímicas preferivelmente em homeostase. Originalmente proposta pelo investigador britânico James Lovelock como hipótese de resposta da Terra, ela foi renomeada conforme sugestão de seu colega, William Golding, como Hipótese de Gaia, em referência a Deusa grega suprema da Terra – Gaia. O cientista britânico, juntamente com a bióloga estadunidense Lynn Margulis analisaram pesquisas que comparavam a atmosfera da Terra com a de outros planetas, vindo a propor que é a vida da Terra que cria as condições para a sua própria sobrevivência, e não o contrário, como as teorias tradicionais sugerem. Os organismos individuais não somente se adaptam ao ambiente fisico, mas, através da sua ação conjunta nos ecossistemas, também adaptam o ambiente geoquímico segundo as suas necessidades biológicas. Desta forma,as comunidades de organismos e seus ambientes de entrada e saída desenvolvem-se em conjunto, como os ecossistemas. A química da atmosfera e o ambiente físico da terra são completamente diferentes das condições reinantes em qualquer outro planeta do sistema solar, fato este que levou à hipótese Gaia. Autopoiese ou “autopoiesis” (do grego “auto”, próprio, “poiesis”, criação) é um termo cunhado na década de 70 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para designar a capacidade de os seres vivos produzirem a si próprios. Segundo esta abordagem, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado por uma rede fechada de produções moleculares (processos), onde as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Por tanto um sistema vivo, como sistema autônomo está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo. Retroalimentação, realimentação ou “feedback”, é o nome dado ao 13 procedimento através do qual parte do sinal de saída de um sistema (ou circuito) é transferida para a entrada deste mesmo sistema, com o objetivo de diminuir, amplificar ou controlar a saída do sistema. Quando a retroalimentação diminui o nível da saída, fala-se de retroalimentação negativa, e quando a retroalimentação amplifica o nível da saída falase de retroalimentação positiva. A retroalimentação pode também ter um efeito variável (às vezes positivo, às vezes negativo) de acordo com as condições, tempo de transmissão e inércia do sistema, o que pode provocar efeitos variados (ciclos e comportamento caótico, por exemplo). A retroalimentação é um procedimento existente em diversos tipos de sistemas, sejam eles biológicos, econômicos, elétricos (circuitos), sociais ou outros. Um sistema retroalimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma saída é capaz de alterar a entrada que a gerou, e, consequentemente, a si própria. Se o sistema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto em uma malha de realimentação deve haver um certo retardo na resposta dinâmica. Esse retardo ocorre devido à uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo com variações bruscas na entrada. Isto é, ele deve possuir uma tendência de resistência a mudanças. O essencial em uma visão sistêmica de mundo e de vida é compreender elementos básicos de um sistema vivo e/ou ecossistema: Estrutura: conjunto de átomos, moléculas, organelas citoplasmáticas, células, id est, tudo que compõem o sistema, e sob certo aspecto, o próprio sistema. Há um termo usado em Filosofia que se aproxima desta definição: “matéria”. Padrão: autorganização da estrutura em padrões, que correspondem a atratores caóticos. Processo: interação entre padrão e estrutura, com mudanças recíprocas. Um dos limitantes à evolução da vida parece, pelo menos em uma análise mais superficial e trivial, a entropia. Porém, processos biológicos se apropriam da mesma a seu “favor” e são capazes de inviabilizar os efeitos destas limitações iniciais. Ora, o constante fluxo de matéria e energia dentro de um sistema dinâmico não-linear, caótico, cancela a limitação da entropia, pois a impossibilidade de realizar trabalho refere-se a quantidades fixas de energia inicial, não prevendo fornecimento relativamente constante de energia. Outra forma de cancelar esta limitação deve-se ao fato de que a excreção de metabólitos 14 e calor aumenta a entropia do meio externo. Por outro lado, os padrões de autorganização do sistema são atratores caóticos cuja natureza implica entropia. Inclusive, para organismos vivos a entropia é algo benéfico, pois propicia menos desequilíbrios. Isto pode-se compreender pela relação entre energia livre e entropia, explanada ao decorrer do presente relatório de estágio. Faz-se necessário ampliar a visão, muito comum no âmbito agrícola, de produção de culturas específicas (ainda que em policultivo) para a de produção de agroecossistemas. Auto-organização é o processo em sistemas com estruturas com muitos componentes, onde um padrão de organização da estrutura aparece espontaneamente em um sistema sem uma autoridade central ou elemento externo. Este padrão globalmente coerente aparece da interação local dos elementos constitutivos do sistema, assim a organização é atingida de modo paralelo, todos os elementos agem ao mesmo tempo, e distribuído, sem a coordenação de um elemento específico. Biocomplexidade é o estudo de comportamentos e estruturas complexos que surgem de interações não-lineares de agentes biológicos ativos, que podem dar-se em escalas desde as moleculares até as celulares e organismos vivos. Sistemas biológicos são caracterizados por propriedades emergentes. Exemplos clássicos de biocomplexidade incluem o comportamento de de motores moleculares durante a transcrição de ADN; redes celulares genéticas e metabólicas; os filamentos interativos do citoesqueleto, que permitem à célula mover-se; e a diferenciação, organização e movimento de células durante o desenvolvimento embrionário. Biomimética é a observação da Natureza, de seus modelos, sistemas, processos, e elementos para simular ou tomar por inspiração de moo a solucionar problemas humanos. Sua etimologia são as palavras gregas bios (vida), e mimesis (imitação). Outro termo, em desuso, é biônica. Os seres humanos sempre olharam a Natureza visando solucionar problemas. Um dos exemplos remotos de uso de biomimética é o estudo de pássaros para permitir o vôo humano. Outro exemplo, mais recente, é o velcro (ilustrações 1 e 2) baseado em exemplares vegetais de Arctium sp, da família Asteraceae. Outros exemplos incluem a habilidade dos cupins de manter temperatura e humidade constantes em seus cupinzeiros, mesmo com temperaturas variando entre 1,5ºC e 40ºC, em locais como a 15 África. As características dos cupinzeiros podem influenciar o design de construções. Ilustração 1: Fotografia de microscopia de hastes de Arctium sp Ilustração 2: Arctium sp Conforme WIKIMEDIA FOUNDATION (2011), “Em biologia, e especialmente em genética, epigenética é o estudo de mudanças herediárias em fenótipo ou expressão genética causada por mecanismos outros que a sequência dea ADN subjacente, daí o nome epigenética (do Grego: επί, sobre, acima). Estas alterações podem permanecer no decorrer de divisões celulares. Entretanto, não há alteração na sequência de ADN subjacente. Em vez disto, fatores não genéticos acarretam mudanças no modo como os genes do organismo comportam-se (ou 'expressam-se'). Um exemplo de alterações epigenéticas em biologia eucariótica é o processo de diferenciação celular […]. A base molecular da epigenética é complexa. Envolve modificações de ativação de certos genes, mas não a estrutura básica do DNA. Ademais, as proteínas de cromatina associadas ao ADN podem ser ativadas ou silenciadas. Isto explica porque células diferenciadas em um organismo multicelular expressam apenas os genes que são necessários para sua própria atividade. Alterações epigenéticas são preservadas quando da divisão celular. Muitas alterações epigenéticas ocorrem somente no decurso da vida do organismo de um indivíduo, mas se a mutação de ADN for oriunda em espermatozoides ou óvulos que resultam em fertilização, então algumas alterações epigenéticas são herdadas de uma geração à outra. Isto leva à questão de alterações epigenéticas em um organismo podem ou não alterar a estrutura básica do ADN, uma forma de Lamarckismo.”. 16 A Ecologia Profunda foi proposta pelo filósofo norueguês Arne Naess em 1973 como uma resposta a visão dominante sobre o uso dos recursos naturais. Arne Naes se inclui na tradição de pensamento ecológico-filosófico de Henry Thoreau, proposto em Walden, e de Aldo Leopold, na sua Ética da Terra. Denominou de Ecologia Profunda por demonstrar claramente a sua distinção frente ao paradigma dominante. No Brasil, nesta mesma época, José Lutzemberger já propunha ideias semelhantes e desencadeava o movimento ecológico brasileiro com a criação da AGAPAN 1. O quadro a seguir, erroneamente denotado tabela, demonstra, pelo menos em parte, as propostas de Arne Naess e as suas diferenças frente a visão de mundo mecanicista usual. Visão de Mundo Mecanicista Usual Ecologia Profunda Domínio da Natureza Harmonia com a Natureza Ambiente natural como recurso para os seres humanos Toda a Natureza tem valor intrínseco Seres humanos são superiores aos demais seres vivos Igualdade entre as diferentes espécies Crescimento econômico e material como base para o crescimento humano Objetivos materiais a serviço de objetivos maiores de autorrealização Crença em amplas (por vezes tidas como ilimitadas) reservas de recursos Planeta tem recursos limitados Progresso e soluções baseados em alta tecnologia Tecnologia apropriada e ciência não dominante Consumismo Fazendo com o necessário e reciclando Comunidade nacional centralizada Biorregiões e reconhecimento de tradições das minoriais Tabela 1: Visão de Mundo Mecanicista Usual X Ecologia Profunda 1 Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. 17 2. GAIA: TEIA E SINFONIA 2.1. Educação Ambiental Educação ambiental é um ramo da educação cujo objetivo é a disseminação do conhecimento sobre o ambiente, a fim de ajudar à sua preservação e utilização sustentável dos seus recursos. É uma metodologia de análise que surge a partir do crescente interesse do homem em assuntos como o ambiente devido às grandes catástrofes naturais que têm assolado o mundo nas últimas décadas. No Brasil a Educação Ambiental assume uma perspectiva mais abrangente, não restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis. Mais do que um segmento da Educação, a Educação em sua complexidade e completude. A educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 – Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma: "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. A educação ambiental tenta despertar em todos a consciência de que o ser humano é parte do meio ambiente. Ela tenta superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se sentisse sempre o centro de tudo esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. 2.1.1. Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica “Leve, transparente e de aparência frágil, porém muito resistente, a estrutura da teia inspirou a proposta de qualificar grupo de quarenta professoras do litoral norte do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina para trabalhar educação ambiental nas 18 escolas públicas da região. A realização do Curso teórico-prático sobre Mata Atlântica e Questões Sócioambientais do Litoral Norte do RS, a partir de outubro de 2005, foi o ponto de partida para sua construção. Até agora foram realizados nove módulos de formação. Professoras de Morrinhos do Sul, Torres, Terra de Areia, Dom Pedro de Alcântara e Praia Grande (SC) tiveram a oportunidade de trocar experiências, reconhecer o ambiente da nossa própria região, saber sobre as tendências em educação ambiental e aplicação prática destes conhecimentos na sala de aula. Além do curso, as professoras participaram de seminários e fóruns sobre educação, visitaram a Fundação Gaia, o Parque Eólico de Osório, ecossistemas da região de Torres, os cânions do Itaimbezinho […]. Todas estas atividades somam para que as professoras possam oferecer aos estudantes, de uma forma integrada com todas as disciplinas e também permanente, as condições necessárias para compreender e respeitar o meio ambiente de um dos biomas mais ameaçados do planeta.”. (CENTRO ECOLÓGICO, 2008). A Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica vem promovendo – além de atividades pedagógicas como teatros sobre temáticas ambientais, e saídas a campo – inserção de Açaí de Mata Atlântica (Euterpe edulis), como forma de preservação desta espécie ameaçada de extinção, na merenda escolar, juntamente com outros produtos oriundos de sistemas agroflorestais e agroecológicos em geral. 2.2. Agricultura Ecológica 2.2.1. Breve descrição Em GLIESMANN et al (2010), coordenador do Grupo de Pesquisa em Agroecologia da University of California Santa Cruz (UCSC, Universidade da Califórnia Santa Cruz), agroecologia é definida como “aplicação de ecologia ao design e gestão de agroecossistemas sustentáveis”, também como “abordagem integral e sistêmica [holística] à agricultura e desenvolvimento de sistemas alimentares baseado em conhecimentos tradicionais, agricultura alternativa, e experiências com sistemas alimentares locais, relacionando ecologia, cultura, economia, e sociedade para sustentar produção agrícola, 19 ambientes saudáveis e comunidades camponesas 2 e comida viáveis.”. Segundo ALTIERI (2011), da University of California Berckeley, “agroecologia é uma disciplina científica que usa teoria ecológica para estudar, realizar design, gerenciar e avaliar sistemas agrícolas que são produtivos, mas também conservam os recursos. A pesquisa agroecológica considera interações de todos os componentes biofísicos, técnicos e socioeconômicos importantes de sistemas de fazenda e toma estes sistemas como unidades fundamentais de estudo, onde ciclos minerais, transformações de energia, processos biológicos e relações socioeconômicas são analizados como um todo em um contexto interdisciplinar. [...] Pôr tecnologias agroecológicas em prática requer inovações tecnologias, mudanças de política agrícola, mudanças socioeconômicas, mas principalmente um entendimento mais profundo das interações complexas de longo prazo entre recursos, pessoas e o ambiente. Para atingir este entendimento, a agricultura deve ser concebida como um sistema ecológico bem como um sistema socioeconômico dominado pelo homem. Uma nova referência interdisciplinar para integrar as ciências biofísicas, ecologia e ciências sociais3 é indispensável. Agroecologia provê uma referência por aplicar teoria ecológica ao manejo de agroecossistemas de acordo com recursos e realidades econômicas específicos, e por prover uma metodologia para fazer as conexões interdisciplinares requeridas.”. De modo a atingir as definições supracitadas, algumas propriedades, geralmente citadas em definições, é definá-la em primeira instância, obviamente compreendida no contexto de definições como as acima expostas, enquanto “cadeia produtiva agrícola isenta de agrotóxicos, sementes geneticamente modificadas, e fertilizantes químicos sintéticos altamente solúveis, com preocupação com a conservação do solo e demais componentes de agroecossistemas”. 2.2.2. Ecossistemas e agroecossistemas Ecossistema pode ser definido, utilizando definição usual e definição sistêmica, como sistema dinâmico não-linear e caótico, oriundo tanto da interação da biota, comunidade ou biocenose de um dado local no espaço e no tempo com fatores abióticos, não-vivos, o biótopo, suporte para o desenvolvimento desta biota; quanto da interação dos vários componentes desta biota e da interação dos vários componentes do biótopo. 2 Farming communities, em Inglês 3 No original, o termo “social sciences”, ciências sociais, é precedido por “other”, outras. 20 Cada componente da biota, é, por sua vez, também um sistema dinâmico nãolinear e caótico. Como visto anteriormente, sistemas dinâmicos não-lineares, caóticos, são definidos no âmbito de três conceitos básicos: padrão, estrutura e processo, definidos anteriormente, na Introdução. Conceitos como os de autopoiese, autorganização e retroalimentação são igualmente válidos para a descrição de um ecossistema. O conceito de processo, em um ecossistema, envolve a noção de cadeias alimentares e teias alimentares, ciclos geobioquímicos, interações entre biocenose e fatores abióticos, interações entre elementos da biocenose, interações entre fatores abióticos. Ecossistemas podem compor outros ecossistemas maiores. Considerem-se os exemplos a seguir. Um jardim é um ecossistema já que possui biocenose (flora, fauna, microbiota) e fatores abióticos (minerais, matéria orgânica em decomposição, folhas mortas, água, partículas de solo como silte, argila e areia). Porém, o solo que compõe o ecossistema jardim e que de início pode lembrar um fator abiótico (minerais no solo, matéria orgânica, silte, argila, areia) é também um ecossistema, já que há no solo fauna, flora, fungos, protozoários, bactérias, cromistas, entre outros, que relacionam-se entre si e com os fatores abióticos do solo, realizando sobre este intemperismo biológico. Se houver no jardim lagos, o raciocínio se repete, e tem-se o lago como ecossistema. Se considerado o jardim como componente de uma ilha, por exemplo, ter-se-á a ilha como ecossistema composta por entre outras coisas o ecossistema jardim. Considerando-se formações vegetais, sua biocenose e fatores abióticos, sob o aspecto de similaridade, tem-se conceito de mesma natureza que o de ecossistema, mas com magnitude superior: bioma. Bioma vem a ser um conjunto de ecossistemas em escalas consideráveis, geralmente definido a partir da noção de formações vegetais: florestas, vegetação ciliar e desertos. Assim, define-se por exemplo a formação vegetal florestal amazônica como bioma Amazônia e a formação vegetal florestal cerrado como bioma Cerrado. Há também uma série de outros conceitos baseados no de ecossistema, mas cuja magnitude é superior à deste. São eles: biorregião, ou ecorregião, e ecozona. O conjunto de todos os ecossistemas – e assim de todos os biomas, ecorregiões e ecozonas – do planeta Terra é denominado biosfera. Porém, todos estes conceitos (biosfera, bioma, ecozona, ecorregião) podem ser descritos como ecossistemas. De modo análogo, poder-se-ia definir um organismo vivo, composto por células da espécie deste organismo vivo, por células que estão dentro do organismo vivo mas são de outra 21 espécie, compondo com este uma biocenose, e também por nutrientes, dejetos, moléculas quaisquer, material genético, elementos não vivos, biótopo; de tal modo que este organismo vivo seja tomado como um ecossistema também. Agroecossistema trata-se de ecossistema, com elementos manejados pelo homem, culturas agrícolas, e cuja finalidade, foco, é a produção agrícola. Em outras palavras, é o ecossistema circundante a uma dada cultura ou espaço agrícola de policultura. Observações supracitadas pertinentes a ecossistemas, também são válidas em se tratando de agroecossistemas. Como observado na Introdução, é importante, sobretudo em agricultura ecológica, que se considere a atividade agrícola como cultivo não de uma cultura ou de outra, ou de um conjunto de culturas, mas de modo mais amplo e profundo, como cultivo de agroecossistemas. Agrobiodiversidade é definida usualmente como conjunto de seres vivos domesticados pela espécie humana componentes de um dado agroecossistema. Todavia, há uma série de indivíduos não incluídos nesta definição e que compõem um agroecossistema. Por exemplo, eles espécies nativas, tais como insetos, ainda não domesticadas, com ou sem interesse econômico. Grande parte da pesquisa feita em agrobiodiversidade pode ser considerada deficitária em certa medida, por não incluir significativamente espécies de outros reinos que não o Plantae, por exemplo, não incluir fungos com diversos usos humanos. Assim, poder-se-ia expandir a definição de agrobiodiversidade para “biodiversidade de um ou mais agroecossistemas”, diversidade da comunidade de um agroecossistema, isto é, a quantidade de cada população, o número de populações por ecossistema dentro do agroecossistema; bem como utilizar por vezes nomenclaturas como biodiversidade de um agroecossistema, conceito que tem definição equivalente à recém proposta para o termo agrobiodiversidade e que inclui o de agrobiodiversidade no âmbito da definição que lhe é usualmente conferida. Ao longo deste relatório, utilizar-se-á o termo “agrobiodiversidade” na acepção usual. O modo como a agrobiodiversidade e a biodiversidade de um agroecossistema evoluem com o tempo é determinado pelo fenômeno de sucessão ecológica atrelado a processos gênicos e epigenéticos randômicos, a fenômenos de emergência e a mecanismos de seleção natural, sexual e/ou antropogênica. Sucessão ecológica é o nome dado à sequência de biocenoses, desde a 22 colonização até a comunidade clímax, de determinado ecossistema. As espécies de cada etapa podem ser diferentes, ou conviver em estratos diferentes na comunidade clímax. Existem quatro tipos de sucessões: primárias, quando a evolução se dá a partir da rocha nua ou solo desprovido de seres vivos num local onde nunca existiu vida; secundárias, quando estas se dão após um desastre ambiental ou por ação antrópica, num local onde já existiu vida; autrotróficas, quando um ambiente, oferecendo componentes abióticos necessários, sedia o desenvolvimento de biotas autótrofas; e heterotróficas, quando um ambiente, oferecendo componentes bióticos necessários, sedia o desenvolvimento de comunidades heterotróficas. A sucessão é dividida em três fases: ecese ou comunidade pioneira, por vezes composta por extremófilos, ocupando um substrato inicial – por exemplo, a rocha matriz de um solo em seu estado primordial ou já degradada por intemperismos físicos, químicos e geológicos diversos – comunidades intermediárias ou séries que apresentam um nível maior de biodiversidade e finalmente a comunidade clímax, quando a comunidade atinge seu grau máximo de desenvolvimento de equilíbrio. Cada comunidade estabelecida neste ambiente modificará as condições físicas, e será modificada ou substituída sucessivamente, até a formação da comunidade clímax, um ecossistema completo, embora continue em permanente evolução. Ao longo da sucessão, as características da comunidade clímax vão sendo alteradas a medida que processos evolutivos e emergentes ocorrem, como anteriormente salientado. Estratos são camadas de um ecossistema com “morfofisiologia” similar, por exemplo: o estrato das ervas, o estrato dos arbustos, o estrato das copas, o estrato do mulching. Geralmente, este conceito é usado em formações vegetais, sobretudo as florestais. Pesquisadores como Airton Luiz Bortoluzzi apontam outro processo de interesse agronômico, denominado inversão da sucessão ecológica, que consiste em evolução concomitantemente “ascendente” e “descendente” [sic] a partir de um dado estrato, de uma dada biocenose, não pioneira, e característica de um estágio de sucessão ecológica. Serviços ambientais (ou serviços ecossistêmicos) são os benefícios que as pessoas retiram dos ecossistemas. Os exemplos incluem água doce, madeira, cereais, regulação do clima, proteção contra riscos naturais, controle da erosão e recreação. Analogamente, pode-se incluir nesta definição os agroecossistemas. 23 2.2.3. Termodinâmica agrícola e bioenergética Um dos elementos vitais em agricultura ecológica é o equilíbrio dos espécimes e dos ecossistemas, do ponto de vista metabólico, nutricional, e consequentemente termodinâmico. Buscam-se práticas de manejo que aumentem a entropia e diminuam a energia livre, por razões enunciadas a seguir: De acordo com PINHEIRO, NASR e LUZ (1993) apud Sivori, “desde as origens do conhecimento racional, a vida considera dois pontos de vista fundamentais. Um deles, o vitalista, entende que um ente é separável de matéria e energia; a outra concepção considera um conjunto de processos termodinâmicos com características cibernéticas.”. Atualmente, as investigações que se realizam sobre a base de uma biologia dinâmica estão intimamente relacionadas em processos físico-químicos que têm como eixo o fluxo de “matéria e energia”. PINHEIRO, NASR e LUZ (1993) afirmam que “o Primeiro Princípio da Termodinâmica ou Lei da Equivalência de energia permite expressar diferentes tipos de energia com magnitudes equivalentes. Ela diz que o total de energia sempre permanece constante num sistema quando há intercâmbio de energia entre suas partes. Este intercâmbio se expressa como um constante fluir de energia e matéria viva (assimilação) e de compostos não vivos, como açúcares e aminoácidos, e processos de decomposição (desassimilação). Todo processo implica integração e desintegração ordenadas de matéria viva, a qual se desenvolve em forma regulada, através do espaço e do tempo, entre diversas partes do organismo e entre o organismo e o meio (ambiente).”. Continua PINHEIRO, NASR e LUZ (1993) apud Silvori, “Uma das características fundamentais dos processos metabólicos celulares é a de ocorrerem com a transferência de energia. A avaliação quantitativa desses fluxos energéticos fornece informações valiosas à compreensão do metabolismo celular, colocando em bases lógicas a razão das várias transformações químicas dos alimentos no interior das células. Do ponto de vista energético, há três aspectos a serem considerados no metabolismo: 1) a natureza dos processos que promovem a “retirada” da energia contida nos alimentos; 2) a maneira pela qual a célula conserva a energia obtida; 3) como a célula mobiliza a energia armazenada para a realização do trabalho. As principais fontes de energia para a célula são os lipídeos e os carboidratos; destes, os ácidos graxos e a glicose são oxidados da seguinte forma supersimplificada: 24 G L I C O S E / Á C I D O G R A X O → C O2+H 2 O+ E N E RG I A Parte desta energia é dissipada, e cerca de 45% do total obtido é utilizado para a síntese de moléculas específicas, como o ATP, que é uma forma de armazenamento altamente disponível, através de sua hidrólise. A energia obtida pela hidrólise de ATP é então utilizada para a atividade de trabalho mecânico, trabalho elétrico,m transporte de substâncias através de membranas (trabalho osmótico), síntese de outras moléculas (trabalho químico) etc.” “Quando na planta, a luz solar, água, gás carbônico produzem alfa e beta Dglucose; esta polimeriza-se em amido ou celulose; que se transformam em álcool ou metano por meio de fermentação; que a sua vez produz pela combustão gás carbônico e água; que se queima em C+O 2 e H2O+O. Tomando a alfa e beta D glucose poderíamos quimicamente chegar ao conteúdo final de energia sem passar pelas etapas, chegando ao mesmo valor entálpico (Lei de Hess). Na agricultura estes diferentes produtos são catalizados por sistemas enzimáticos de diferentes organismos vivos, que aproveitam esta energia intermediária para si, liberando novas formas de energia. Mas devemos ressaltar que nas passagens pelos diferentes organismos vivos a energia de ativação será bem menor e as reações mais espontâneas,.quanto mais passagens por organismos vivos menor será a energia de ativação em cada uma. À medida que se processam as transformações num sistema, pode-se analisar a entalpia em cada estado e assinalar a mesma graficamente. Para conceituar energeticamente a agricultura ecológica é necessário que tenhamos também o conceito de ENTROPIA 4 (S). Quando se coloca um cubo de gelo dentro de um copo d'água, sob qualquer temperatura, sem perder energia, antes dele derreter ou congelar por influência do ambiente, haverá uma EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA e EQUIPARTIÇÃO DE ESPAÇO, em função da troca cinética de energia entre as moléculas, na busca de equilíbrio térmico. Quando ocorre a equipartição de espaço ou de energia há um aumento de entropia, logo as transformações são espontâneas. […] A manipulação adequada de três parâmetros fundamentais – ENTALPIA (H), ENERGIA LIVRE5 (G) e ENTROPIA (S) – fornece os dados necessários à análise 4 Geralmente, entropia é definida como sendo nível de desordem ou desorganização de um sistema, embora tais definições venham sofrendo contra-argumentação recentemente. Uma forma mais adequada, na opinião do autor, é definir entropia como medida da não-linearidade de um sistema ou medida do caos de um sistema, utilizando conceitos de teoria do caos e teoria sistêmica. 5 Conhecida também por energia livre de Gibbs. 25 elementar de qualquer processo que envolva transferência de energia. As relações que estes parâmetros guardam entre si, ao descreverem um dado fenômeno, encontram-se organizadas sob a forma de leis gerais, cujo estudo constitui o objeto da termodinâmica. A energia liberada numa reação química à pressão constante é a ENTALPIA da reação. Uma análise mais detalhada desta entalpia mostra que é uma energia composta que contém o componente térmico propriamente dito, a ENTROPIA, e outro componente que pode ser utilizado para a realização de trabalho, que é a ENERGIA LIVRE. Estes três parâmetros relacionam-se entre si, de acordo com a equação da Segunda Lei da Termodinâmica: d H =d G+d S T […] Na natureza, as transformações são espontâneas e sustentáveis desde que haja aumento de ENTROPIA. Uma floresta tropical úmida como a Amazônica ou o Bornéu tem sua entalpia -H-. Podemos dizer que esta floresta está em estado muito estável por ser a quase totalidade de sua energia entrópica -S-. Este ecossistema tem uma alta complexidade energética (desorganização) tendendo para o infinito obviamente com inversa capacidade de realizar trabalho pela equipartição de espaço. Ao introduzir neste ecossistema um gatilho de modificação, por exemplo, fogo ou desmatamento para fazer agricultura tropical a transformação da energia estável (S) em energia livre (G), que rapidamente dissipa-se como calor. Para manter esta agricultura produtiva, é necessário agregar periodicamente quantidades crescentes de insumos com alto conteúdo energético […]. Isto passa-se também em zonas de cerrado, temperadas e subtemperadas. O mesmo se passa com a monocultura e outras práticas que “organizam o espaço e alteram a distribuição da energia estável” triando sustentabilidade da agricultura. […]. Na agricultura ecológica, há muita ENTROPIA e pouquíssima ENERGIA LIVRE, ao passo que na convencional acontece exatamente o contrário. De um modo mais simples, pode-se dizer que as duas formas de agricultura representam duas escadas (entalpia) que permitem alcançar uma mesma altura; só que na agricultura ecológica há muito mais degraus (entropia), e na convencional há maiores espaços entre os degraus (energia livre). Obviamente, o produto final é o mesmo, mas alcançá-lo requer situações de esforço (trabalho) bastante diferentes. […] A quantidade de G em uma hexosa é praticamente total, já em seu polímero 26 amido o valor de G é menor pois uma parte deste está como S requerendo um desdobramento físico ou bioqúimico. Da mesma forma, na Agricultura Industrial os insumos utilizados formados artificial ou sinteticamente possuem altíssima G e por sua complexidade molecular anômala possuem entalpia levando a alterar o metabolismo dos indivíduos e ecossistema na sua termodinâmica. Os produtos químicos sintéticos ricos em N, S, P, na forma de anilinas, amidas ou ésteres derivados de ácidos carbâmicos, tiocarbâmicos, crisantêmicos, são usados como inseticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas. Todos esses agrotóxicos são muito ricos em energia e hidrolisam-se no interior das células, ocasionando todo tipo de reações e e desequilíbrios no metabolismo. No processo, há adsorção desregulada de ENERGIA LIVRE, nas chamadas 'reações endergônicas', que, pela sua natureza, são processos não-espontâneos. Entretanto, essas reações não ocorrem isoladamente; elas se encontram acopladas a outras suficientemente exergônicas para permitir sua ocorrência em velocidade e quantidade apreciáveis. […] A maioria das reações termodinâmico-químicas , que ocorrem nos seres vivos, teriam lugar por si só tão lentamente que seria difícil sua qualificação ou, mais ainda, praticamente impossível detectá-las. Entretanto, os seres vivos levam a cabo uma variedade de processos químicos com uma eficiência não alcançada ainda em laboratório. Este aparente paradoxo tem sua resposta no fato de que estes seres possuem numerosos catalisadores que aceleram as reações químicas próprias dos sistemas biológicos. Estes catalizadores são proteínas que receberam o nome de ENZIMAS. A agricultura industrial, com seus insumos, a cada dia mais ricos em energia livre e concentrados energeticamente, ao longo do tempo, torna a agricultura menos entrópica. […] a cada dia, vemos os que os resultados dos insumos são mais decrescentes (contrapondo à sua riqueza energética) seguindo a Lei de Leibig dos Rendimentos Decrescentes. Nos países novos, como os da América e Austrália, vemos que os resultados da agricultura industrial nas “terras virgens” se deve à alta quantidade de ENERGIA LIVRE oriunda do ecossistema anterior, e que logo é dissipada e mascarada pelos acréscimos energéticos de alta energia livre, o que faz o sistema não ser sustentável no tempo e no espaço, a não ser pela exigência de altas doses e inversão de insumos.” (PINHEIRO, NASR & LUZ, 1993). Na agricultura convencional atual, há uma série de compostos ricos em energia, id est, compostos que por hidrólise liberam grandes quantidades de energia (energia livre), convencionalmente definidas como superiores a 7000cal/mol. Exemplos 27 destes compostos são fertilizantes de alta síntese química (fosfatados altamente solúveis, por exemplo) e agrotóxicos. Os fosfatos quando não estão em forma natural, entrópica, formam produtos ou compostos de alta ressonância competitiva. Existe intensa repulsão eletrostática entre átomos de fósforo, instabilizando o composto e consequentemente aumentando sua energia. Conforme PINHEIRO, NASR & LUZ (1993), “esta tensão é aliviada quando há hidrólise, sendo acompanhada da liberação de cerca de 7500cal/mol, quando o primeiro grupo de fosfato é eliminado.”. De acordo com PINHEIRO, NASR & LUZ apud Silvori, “uma planta pode ser considerada um sistema termodinamicamente aberto, que troca matéria e energia com o meio, mas, se seu estudo se realiza tendo em conta o conjunto planta-meio, pode-se considerá-la um sistema fechado 6. Seus processos são isotérmicos e se desenvolvem à pressão constante, dirigidos pela energia livre, que está com a energia total do sistema”. No entanto, tem-se usado conceitos como “negentropia” ou “sintropia” como medidas indiretamente proporcionais à entropia e aumentando significativamente em seres vivos, o que de certo modo torna errôneo o raciocínio desenvolvido até agora. Entretanto, são possíveis alguns raciocínios que podem explanar melhor o anteriormente desenvolvido diante da recém citada concepção de sintropia/negentropia. Conforme WIKIMEDIA FOUNDATION (2011), “a negentropia, também entropia negativa ou sintropia, de um sistema vivo, é a entropia que ele exporta para manter sua própria entropia baixa, isto situa-se na intersecção entre entropia e vida. O conceito 'entropia negativa' foi introduzido por Erwin Scröndinger em seu livro 'O que é a Vida'. […]. Em 1974, Albert Szent-György propôs substituir o termo negentropia por sintropia. […]. Em 2009, Mahulikar & Herwig redefiniram negentropia de um sub-sistema ordenado dinamicamente como o déficit de entropia específico relativo ao caos do entorno. Assim negentropia tem unidades [J/kg-K] quando definida com base em entropia específica por unidade de massa, [K -1] quando definida baseada em entropia específica por unidade de energia. Em 1988, na base da definição de Shannon de entropia estatística, Mario Ludovico deu uma definição formal de sintropia, como uma medida do grau de organização interna de qualquer sistema formado por componentes em interação. De 6 Nota-se que isto equivale com uma concepção, esboçada anteriormente, de conceber organismos vivos como ecossistemas, considerando a relação entre o ecossistema planta e outros ecossistemas que estejam relacionados ao da planta. 28 acordo com esta definição, sintropia é uma quantidade complementar à entropia. […] Isto é o que argumenta-se para distinguir vida de outras formas de organização da matéria. Nesta direção, embora a dinâmica da vida possa ser argumentada como indo contra a tendência da segunda lei que afirma que a entropia de um sistema isolado tende a aumentar. Isto de modo algum invalida ou entra em conflito com esta lei, porque o princípio de que entropia só pode aumentar ou permanecer constante aplica-se apenas a sistemas fechados isolados adiabaticamente, significando que são sistemas em que calor algum pode entrar ou sair. Enquanto um sistema pode trocar tanto calor quanto matéria com seu ambiente, um aumento de entropia deste sistema é inteiramente compatível com a segunda lei. O problema da organização em sistemas vivos aumentando apesar da segunda lei é conhecido como paradoxo de Schröndinger. Em 1964, James Lovelock estava entre um grupo de cientistas ao qual foi solicitado pela NASA fazer um sistema teórico de detecção de vida para procurar vida em Marte durante a missão espacial a caminho. Quando pensou sobre este problema, Lovelock perguntou-se 'como podemos estar certos que a vida Marciana, se existir, revelar-se-á a testes baseados no estilo de vida da Terra?' Para Lovelock, a questão básica era 'O que é a vida, e como ela deve ser reconhecida?' […] O que deveria fazer-se para procurar por vida em Marte. Lovelock respondeu: Procuraria por uma redução de entropia, pois isto deve ser uma característica geral da vida.”. WIKIMEDIA FOUNDATION (2011) afirma que “apesar de entropia termodinâmica e desordem serem muitas vezes correspondentes, nem sempre o são. Algumas vezes a ordem aumenta junto com a entropia. O aumento de entropia termodinâmica pode até produzir ordem, como ordenar moléculas por seu tamanho, incluindo o próprio DNA dos seres vivos, ou partículas coloidais em soluções de eletrólitos. Mesmo em um sistema considerado para efeitos práticos fechado, regiões de baixa entropia podem se formar se eles estão separados de outros locais com alta entropia no sistema. Muitas vezes, uma ordem aperentemente surpreendente aparece naturalmente, em processos geológicos, por exemplo. A estrutura Calçada dos Gigantes (Giant's Causeway) na Irlanda do Norte consiste de grandes colunas de pedra apresentando secção reta hexagonal, dando a impressão de terem sido projetadas. Foram formadas quando o magma incandescente chegou à superfície da Terra e resfriouse. Tais tipos de ordem originando-se do caos (emergência) podem ser vistos igualmente 29 em círculos de cascalho e pedras que ocorrem naturalmente numa ilha do norte da Noruega. Pode-se discutir os processos específicos de organização das colunas e dos círculos de pedras, mas a a entropia do magma e das pedras diminuiu, ainda que a entropia de seus ambientes tenha aumentado. Ao nível microscópico ou molecular, exemplos concretos da não correspondência entre entropia e desordem são comuns: Exemplo I: A comparação da entropia de gases de diferentes massas moleculares, como o hélio e o neônio, sob iguais condições físicas, por exemplo, evidenciará que as moléculas de hélio (no caso, seus átomos isolados, pois um gás nobre), sendo de menor massa, apresentarão maiores velocidades, o que implicará numa "desordem" maior. Mas realmente a entropia do neônio será mais alta. Exemplo II. O fenômeno de fases reentrantes, que é observado em diversos cristais líquidos, em materiais com propriedades de supercondução, e até em sistemas mais convencionais, como as misturas de nicotina e água. Nestas misturas, entre diversas características, o diagrama temperatura–composição apresenta uma temperatura crítica de solução superior e outra inferior. Deste modo, em temperatura suficientemente elevada, uma mistura de nicotina e água forma uma fase homogênea. Com o abaixamento da temperatura, num espectro relativamente estreito de composições observa-se a separação em duas fases típicas, uma rica em água, e a outra rica em nicotina. Com a continuidade do resfriamento, a um dado ponto surgirá uma só fase homogênea. A separação destas duas fases sugere uma diminuição da "desordem", enquanto a segunda transformação aponta para uma "ordem". Entretanto, a entropia diminuirá continuamente ao longo de todo o processo, pois o resfriamento implica na energia ter sido continuamente retirada. Exemplo III: Cristalização em soluções sobressaturadas, quando é considerada uma solução sobressaturada num recipiente adiabático, onde, espontaneamente, deverá ocorrer a deposição de cristais do soluto. Este fenômeno sugere a diminuição da "desordem", dado que as moléculas ou íons de soluto estarão mais organizadas no cristal do que em solução. Mas sendo o sistema isolado, a entropia deverá aumentar durante o processo, como prenuncia a Segunda Lei da Termodinâmica. Esta conclusão é válida para o caso em que a cristalização seja exotérmica e a temperatura da mistura aumente durante o processo, ou no caso em que a cristalização for endotérmica e a temperatura diminua. No caso exotérmico, o aumento da temperatura da mistura justificaria o aumento 30 da entropia, em contrabalanço à perda associada à cristalização. Entretanto, no caso endotérmico, esse argumento não pode ser aplicado. Como exemplo: as soluções sobressaturadas de sulfato de sódio, resfriam com a formação do sal na forma sólida.”. “Os únicos processos necessários para ocorrer evolução, partindo já da existência da vida, são: reprodução, variabilidade hereditária e seleção. Estes processos ocorrem e são vistos o tempo todo, e nenhuma lei física, tal como a tendência do aumento da entropia termodinâmica, impediria a ocorrência deles. Conexões entre evolução e entropia já foram estudadas em profundidade, e a entropia jamais foi um impedimento à evolução. Diversos cientistas têm apresentado hipóteses que a evolução e a origem da vida tem como impulso a entropia. Alguns deles veem a informação dos organismos sujeitos à diversificação de acordo com a segunda lei da termodinâmica, com organismos buscando o preenchimento de nichos vazios como um gás em expansão em um recipiente vazio. Outros ainda propõem que sistemas complexos altamente organizados formam-se e modificam-se no tempo (evoluem) para dissipar energia (e aumentar a entropia) de forma mais eficiente.”. (WIKIMEDIA FOUNDATION, 2011). Como anteriormente mencionado, a planta (ou qualquer ser vivo) é um sistema aberto e que o sistema planta-meio é fechado. Assim, como foi salientado anteriormente, a Segunda Lei da Termodinâmica aplica-se ipsis literis ao sistema planta-meio. Definiu-se, na Introdução, que o crucial na Agricultura, especialmente em Ecologia Agrícola, é o agroecossistema. Ora, os agroecossistemas são sistemas fechados, de modo que a entropia tende a aumentar nestes sistemas. Outra informação anteriormente referenciada que deve ser salientada é o fato de que inúmeras vezes o conceito de desorganização necessita ser desvinculado do de entropia. Tais considerações entram em conflito com a afirmação anteriormente mencionada realizada por James Lovelock, já que o aumento de entropia, e não sua redução, é característica da vida do ponto de vista ecossistêmico, o que é crucial em se tratando da biosfera de um dado planeta hipoteticamente habitado por seres vivos, e utilizando-se de analogia à hipótese de Gaia, biosfera de um dado ecossistema planetário. 2.2.4. Solos Um solo possui camadas horizontais de morfologias diferentes entre si. Essas 31 camadas são chamadas de horizontes. A soma destas camadas define o perfil do solo. Basicamente um perfil de solo apresenta os horizontes, como parcialmente mostram as ilustrações 3 e 4, dispostas a seguir: I. O, horizonte orgânico do solo e bastante escuro; II. H, horizonte de constituição orgânica, superficial ou não, composto de resíduos orgânicos acumulados ou em acumulação sob condições de prolongada estagnação de água, salvo se artificialmente drenado; III. A, horizonte superficial, com bastante interferência do clima e da biomassa; IV. E, horizonte eluvial, ou seja, de exportação de material, geralmente argilas e pequenos minerais; V. B, horizonte de maior concentração de argilas, minerais oriundos de horizontes superiores (e, às vezes, de solos adjacentes); VI. C, porção de mistura de solo pouco denso com fragmentos da rocha matriz, assemelhando-se ao conceito de saprólito; VII. R ou D, rocha matriz não alterada. Ilustração 4: Perfil de solo Ilustração 3: Fotografia de perfil de solo Ao contrário do que as considerações supracitadas acerca da estrutura física 32 em relativamente grande escala do perfil de solo podem sugerir, o solo é um ecossistema, um organismo vivo, e em se tratando de solo agrícola um agroecossistema, com toda uma microbiota, fauna e flora associadas e também com as rizosferas das plantas, com as quais forma o sistema planta-solo, rizosferas estas integradas na dinâmica desta biocenose, a qual passa a ser denotada edaphon. Sendo o solo um agroecossistema está sujeito aos processos metabólicos, sistêmicos e termodinâmicos até o dado momento abordados. Um pesquisador chamado Janick mediu os seres vivos (a flora e a pedofauna) de um solo agrícola, em clima frio (temperado) nos primeiros 30cm de profundidade. Ele obteve as seguintes quantidades médias de quilogramas em cada hectare, expressas na tabela abaixo. Táxon Massa média(kg) Bactérias 500 Fungos 1500 a 2000 Actinomicetos 800 a 1500 Protozoários 200 a 400 Algas 250 a 300 Nematoides 25 a 50 Minhocas, outros vermes e Cerca de 800 insetos Total 4075 a 6050 Tabela 2: Flora e pedofauna em 30cm de solo em clima temperado. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005). Há também uma série de processos geobioquímicos abióticos que dão suporte ao edaphon. Por outro lado, a existência do edaphon, e consequentemente o caráter ecossistêmico do solo, confere ao mesmo propriedades emergentes e sistêmicas, explanadas na Introdução e no tópico sobre ecossistemas e agroecossistemas. Controversamente, tanta riqueza em termos de biodiversidade e processos geobioquímicos complexos é responsável por apenas de 2% a 5% da constituição química da planta de acordo com MEIRELLES et al. (2005), sendo a maior parte oriunda do ar e da água, conforme tabela abaixo. 33 Insumos Massa Água 95500kg Fotossíntese 4450kg Minerais do solo 50kg Total 100 toneladas Tabela 3: Massa de insumos para a produção de 100 toneladas de batatas. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005). Em contrapartida, considerável quantidade de água, em casos de manejo adequado, está presente nos solos, o que pode alterar tal valor percentual. No entanto, a importância do solo jaz na relação que possui com o trio ambiental básico abordado a seguir, composto por água, sol e nutrientes, pela qual a potencialização da vida do solo é diretamente proporcional à potencialização do trio ambiental básico. A este fato, soma-se outro: é mediante o solo que dá-se grande parte das relações das plantas com a biocenose do agroecossistema. A rizosfera das plantas exsuda substâncias diversas, entre elas ácidos orgânicos como ácido acético, butírico, cítrico, fumárico, lático, glicólico, oxálico, propiônico, tartárico, valérico; aminoácidos diversos; carboidratos como glucose, arabiose, frutose, maltose, sacarose, desoxiribose, galactose, manose, rafinose, xilose, oligossacarídeos; derivativos de ácidos nucleicos como adenina, citidina, guanina, uridina; vitaminas como biotina, colina, inositol, ácido pantotênico, piridoxina e timina; enzimas como amilase, invertase, fosfatase, protease; auxinas; glutaminas; glicosídeos; HCN; peptídeos, saponinas; ácidos fenólicos; escopaletina; CO; e álcoois. Estes exsudatos funcionam como substrato para o desenvolvimento de biofilmes microbianos, estruturas tridimensionais que porventura operam em simbiose com a rizosfera, disponibilizando assim nutrientes para a planta em troca dos exsudatos orgânicos. Também ocorre em decorrência da exsudação aderência de microbiota de organismos individuais ou em colônia aderidos à rizosfera em relações simbióticas, como micorrizas e bactérias do gênero Rhyzobium sp ou Bradirhyzobium sp e sucedâneos, nos respectivos âmbitos da disponibilização de fósforo entre outros minerais e da síntese microbiológica de N a partir de nitrogênio molecular atmosférico. Todavia, também há relações simbióticas endofíticas, com deposição de microbiota no espaço entre a parede celular e a membrana plasmática, sobremaneira no tocante a micro-organismos diazotróficos, como bactérias dos gêneros Azospirilum sp. e Azotobacter sp. 34 A presença de micorriza pode aumentar crescimento de rizosfera e absorção de nutrientes, bem como, resistência a estresse hídrico. Já foram medidos no café (Coffea arabica) aumentos de até 300% na absorção de Zn, de Cu, e de Mn. E na soja (Glycine max), incrementos de 700% na absorção de Zn, 300% na absorção de Cu e 200% na de Mn. Elas recebem comida (carboidratos) das plantas e, em troca liberam no solo muitos outros nutrientes. Há no solo germoplasma da biodiversidade do agroecossistema com ativação regulada por processos edafoclimáticos, processos de emergência, processos evolutivos e pelo mecanismo de sucessão ecológica. A partir da germinação das sementes previamente “selecionadas”, tem início, segundo MEIRELLES et al. (2005), produção de nutrientes diversos e aproveitamento dos recursos naturais incidentes sobre o agroecossistema. Nos ecossistemas onde a água e o sol chegam em grande quantidade, como é o caso no sul do Brasil, é muito importante manter o solo coberto por plantas. Elas serão as responsáveis por fazer com que estes recursos gerem vida e não destruição. Todos sabemos os malefícios que o sol e a chuva podem causar a um solo descoberto. A energia do sol e a água podem tanto propiciar desempenhos adequados da produtividade do agroecossistema como, em contrapartida, provocar erosão e compactação no solo. “Atualmente, 61% dos terrenos do mundo estão em estágios moderados e severos de degradação. Estima-se que as perdas de solo no Brasil sejam de, aproximadamente, 2,5 bilhões de toneladas (t) por ano.”.(MAPA, 2011). Com o intuito de se evitar intemperismos nocivos à produção de um agroecossistema, sobretudo os intemperismos do tipo erosão, há um conjunto de práticas, algumas complementares outras excludentes, denominadas manejo conservacionista, que embora possua enfoque em outros aspectos de proteção dos solos agrícolas, tem na erosão problemática substancial. O manejo conservacionista no tocante ao preparo do solo engloba o preparo mínimo – o qual implica redução máxima do preparo do solo, com emprego do subsolador após a colheita, sem arar, realizando o preparo do solo de semeadura com o arado de disco – e o plantio direto – baseado no não revolvimento do solo, na cobertura ininterrupta de solo seja com mulching, palhada (esta última mais comumente utilizada), outros restos culturais, camada polimérica sintética, adubação verde ou adubação morta, e na rotação de culturas. Grande parte dos agroecossistemas em produção agroecológica com manejo de solo conservacionista dá-se via preparo mínimo. O plantio direto é evidentemente 35 superior em vários aspectos, inclusive e sobremaneira ambientais, ao preparo mínimo. Porém, atualmente compõe um pacote tecnológico usualmente confundido com a essência do plantio direto e que apresenta vários problemas do ponto de vista ambiental. No entanto, o plantio direto é ideal em um manejo agroecológico de um agroecossistema, inclusive porque várias incongruências do ponto de vista metodológico em conciliar ambos foram substancialmente solucionadas, como mostram autores como DAROLT & NETO (2002), com algumas deficiências metodológicas remanescentes no controle fitossanitário de vegetação espontânea, o que no entanto será solucionado ulteriormente ao longo deste relatório. Grande parte, todavia, de produção agroecológica já está operando em sistemas sucedâneos ao de plantio direto, porém não catalogados ainda como tal, por exemplo, SAFs que em proporções menores como as de um quintal ou horta exibem não só a propriedade de não revolvimento de solo e de cobertura ininterrupta, (embora esta não seja palhada como ocorre no Sistema de Plantio Direto na Palha e sim em grande parte dos casos vegetação espontânea combinada com mulching originado por resíduos de estratos superiores), como também a propriedade de rotação de culturas. Agrotóxicos e adubos químicos sintéticos à base de petróleo altamente solúveis, ambos com elevada energia livre de Gibbs, prejudicam a vida do solo, mesmo considerando a meia-vida de substâncias e a biomineralização das mesmas no solo, já que até o cumprimento de tais critérios efeitos termodinâmicos drásticos e irreversíveis ocorreram no agroecossistema solo. Ao prejudicar a vida do solo, inviabilizam a retirada de nutrientes, e portanto a proteossíntese, crucial para os processos metabólicos dependentes de enzimas. Agrotóxicos podem diminuir a respiração, transpiração e fotossíntese das plantas, afetando sua proteossíntese e prejudicando sua resistência a patógenos. Matéria orgânica é hidrófoba com deficiência hídrica e hidrofílica após hidratada. Solos com matéria orgânica adequadamente elevada e com manejo hídrico apropriado têm sua capacidade de armazenar água aumentada. A parte efeitos elétricos, há a granulometria que independentemente do manejo hídrico atua como potencializadora, no caso da matéria orgânica, da capacidade de retenção hídrica do solo. “Solos grumosos, raízes desenvolvem-se melhor e água é bem distribuída, temperatura do solo é amena (24ºC) mesmo sob sol forte. Em solo compactado, há menos raízes e a água não infiltra deixando a planta exposta a temperatura de até 56ºC.”.”. (MEIRELLES et al., 2005 apud Guia Abril Rural, 1996). Entretanto, a granulometria também influencia 36 aspectos elétricos, pois quanto menor a granulometria, maior a superfície específica por volume disponível para reações químicas, eletroquímicas mais especificamente. A matéria orgânica melhora a vida no solo, em partes porque características supracitadas são igualmente benéficas para populações da biocenose edáfica. A população de organismos úteis associados à rizosfera aumenta, tanto em casos mais individualizados como colônias quanto em casos de biofilmes microbianos. A matéria orgânica aumenta significativamente a capacidade das raízes em absorver minerais do solo, quando se compara a solos que não foram tratados com ela. A matéria orgânica possui na sua constituição macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, escolhendo a qualidade e a quantidade. Com isso, o nível de proteossíntese aumenta. Os micronutrientes são fundamentais para a proteossíntese, tanto por fazerem parte das enzimas quanto por serem ativadores destas. Os grumos formados pela matéria orgânica aumentam a penetração das raízes e a porosidade do solo. Ademais, a matéria orgânica possui substâncias promotoras de crescimento. Todavia, é importante perceber que a matéria orgânica é apenas uma das várias substâncias húmicas existentes, o que possibilita maior exploração da complexidade geobioquímica dos agroecossistemas solos. Por outro lado, o equilíbrio, a harmonia, termodinâmico, metabólico e trófico do solo, e seus vários componentes geológicos, físicos, químicos, biológicos e climatológicos em interrelação é mais fundamental do que quantidades absolutas, pontuais, de matéria orgânica. Tal fato pode ser exemplificado pela existência, embora atualmente um tanto conturbada, da Floresta Amazônica em local com solo arenoso, com pouca matéria orgânica, embora uma intensa reciclagem da mesma ocorra, em virtude do clima equatorial e da maior cinética química decorrente, juntamente com adubação pelo vento, como por exemplo, adubação de P via ventos oriundos do Saara. O quadro a seguir sintetiza alguns efeitos da matéria orgânica abordados em primeira instância e/ou já referenciados anteriormente ao longo deste relatório, sobre os aspectos físicos, químicos e biológicos dos solos. 37 Propriedades Físicas diminuição de densidade, melhora da estrutura (agente cimentante); solo mais friável; aumento da capacidade de retenção de água; aumento da infiltração de água; aumento de drenagem; aumento da circulação de ar no solo; redução da variação de temperatura do solo; amortecimento do impacto direto das gotas de chuva; aumento da absorção de nutrientes; aumento da superfície específica Químicas aumento da CTC; aumento da disponibilidade de nutrientes; aumento da adsorção de diminuição do cátions; pH; elevação ou complexação de elementos tóxicos; recuperação de solos salinos; aumento do poder tampão do solo; fixação do nitrogênio do ar; fornecimento de substâncias promotoras de crescimento Biológicas aumento da atividade de microorganismos; micorrizas; bactérias aumento aumento do gênero da atividade de atividade de Rhyzobium sp; da aumento da atividade de minhocas Tabela 4: Síntese de efeitos físicos, químicos e biológicos da matéria orgânica em agroecossistemas edáficos As duas tabelas a seguir referem-se aos efeitos da adubação sobre o edaphon. 38 Animais Colêmbolos Ácaros Nematoides Volume de solo 8cm³ 8cm³ 5cm³ Tratamentos Nº Rel. Nº Rel. Nº Rel. Sem adubação 3,70 75,1 0,89 96,7 40 84 Esterco de curral 5,88 119,8 1,32 143,5 114,3 239,8 Esterco de curral + NPKCa 7,93 160,9 1,27 138 117,7 246,9 NPKCa 4,93 100 0,92 100 47,7 100 NPK 4,94 100,2 1,19 129,3 ND ND NPCa 5,71 115,8 0,80 87 ND ND NKCa 3,96 80,3 0,87 95,3 ND ND PKCa 3,40 69,0 0,63 68,5 ND ND 5% 1,14 23,1 0,25 27,2 22,2 46,5 1% 1,52 30,8 0,33 36,0 30,4 63,7 Nível de significância Tabela 5: Influência da adubação sobre a densidade populacional de alguns animais do solo. Adaptado de VOGTMAN & WAGNER (1987) apud RÜBENSAM et al. (1962). Nº de germinações/Nº total (relativamente sem adubação) EC1 EC2 NPK N Sem adubação Bactérias 117 118 109 87 100 Formadoras de esporos 202 145 132 84 100 Decompositoras de celulose 133 108 81 90 100 Fixadoras de N 151 121 97 71 100 168 119 78 72 100 Anaeróbicas 199 175 154 171 100 Fungos 112 118 88 106 100 Actinomicetos 118 113 86 88 100 Colêmbolos 184 108 113 96 100 Ácaros 109 102 82 106 100 Nematoides 147 135 110 109 100 Fixadoras de NO 3 Tabela 6: Influência de adubações diferentes sobre o edaphon (nº relativo). Adaptado de VOGTMAN & WAGNER (1987) apud MÜLLER (1962). Os tratamentos referenciados na tabela supracitada encontram-se definidos abaixo: EC1: Esterco de Curral I. Dose anual: 12t/ha de 1878 até 1958 39 EC2: Esterco de Curral II. Dose anual: 8t/ha de 1893 até 1952 NPK: Dose anual: (20+20/56/59 kg/ha) 2.2.5. Trio Ambiental Básico O trio ambiental básico, composto por água, sol e nutrientes é um conjunto de fatores diretos de influência sobre a produção e produtividade de um agroecossistema. 2.2.5.1. Água A água cobre 70,9% da superfície da Terra, e é vital para todas as formas conhecidas de vida. Na Terra, é encontrada principalmente em oceanos e outros estruturas aquáticas muito extensas, com 1,6% de água abaixo de aquíferos e 0.001% no ar, como vapor, nuvens nuvens e precipitação. Oceanos contém 97% da água de superfície, geleiras e capas de gelo contém 2,4%, e outra água em superfície terrestre como rios, lagos e lagoa representa 0.6%. Uma quantidade muito pequena da água da Terra está contida em corpos biológicos e produtos manufaturados. Entretanto, há uma contínua reciclagem de água, ciclo hidrológico de evapotranspiração, precipitação, escorrimento superficial e/ou infiltração, o que torna em primeira instância a problemática hídrica solucionada em âmbito globais, não considerando critérios como potabilidade e regularidade/simetria de distribuição. A dinâmica da evapotranspiração é mais decisiva na determinação das propriedades locais do ciclo hidrológico, ilustrado abaixo. Ilustração 5: Ciclo hidrológico O ciclo hidrológico, em uma abordagem geobioquímica e agroecológica dos solos, entremeia-se a ciclos de nutrientes via físico-química de soluções e climatologia, e 40 a processos de evolução e gênese de solos via intemperismo e interações geobioquímicas e edafoclimáticas dos mesmos, constituindo amplo e profundo fenômeno sistêmico. A presença de água líquida (relativamente límpida, potável, ao espécime) é essencial para grande parte senão todas as formas de vida, inclusive o ser humano. Acesso à água para beber fresca tem melhorado substancialmente nas últimas decadas em quase toda parte do mundo. Há uma clara correlação entre segurança hídrica e PIB per capita. Uma importante propriedade da água é sua natureza polar. A molécula de água forma ângulos de cerca de 2 π rad, o que lhe confere morfologia similar à tetraédrica, 3 com átomos de hidrogênio nas extremidades e oxigênio no vértice. O oxigênio é mais eletronegativo que o hidrogênio, de modo que o lado da molécula com o átomo de oxigênio tem uma carga negativa parcial. Um objeto com uma diferença de carga é chamado dipolo. A região do oxigênio é parcialmente negativa e a do hidrogênio parcialmente positiva, porque o sentido a que aponta o momento dipolar é “em direção” ao oxigênio. As diferenças de carga fazem com que as moléculas de água sejam atraídas umas às outras (as áreas relativamente positivas sendo atraídas pelas relativamente negativas) e a outras moléculas polares. Esta atração contribui para as pontes de hidrogênio, e explica muitas propriedades da água, como a ação praticamente universal como solvente. Grande parte da água no universo é produto de formação estelar. Quando estrelas nascem, seu nascimento é acompanhado por um vento forte de gás e poeira em movimento centrífugo. Quando este fluxo de material eventualmente impacta o gás circundante, as ondas de choque criadas compressam e aquecem o gás. A água observada é rapidamente produzida neste gás denso e quente. Atividade de água ou aw (aqui notada por aH 2 O ) é um conceito desenvolvido para mensurar a intensidade com que a água se associa a vários constituintes não aquosos. É a medida do status energético da água em um sistema. É definida como a razão entre a pressão do vapor do líquido e a pressão do vapor d'água pura à mesma temperatura; portanto, água pura destilada tem atividade de água exatamente igual a um. Conforme a temperatura aumenta, aH 2 O tipicamente aumenta, exceto em alguns 41 produtos com sal cristalino ou açúcar. Substâncias com alta atividade de água dão suporte a mais micro-organismos. Bactérias usualmente requerem pelo menos atividade de água igual a 0,91, e fungos pelo menos 0,7. Analogamente ao fluxo de água por diferença de pressão osmótica, a água flui de locais com maior atividade de água para locais com menor atividade de água. Por exemplo, se o mel ( a H O≈0,6 ) for exposto ao 2 a H O≈0,7 ), o mel absorverá água do ar. ar úmido ( 2 Definição de aw: a H O ≡ 2 p p0 onde p é a pressão do vapor de água na substância, e p0 é a pressão do vapor de água pura à mesma temperatura. Definição a H O ≡l w x w onde lw é o coeficiente de atividade de água e x w é a molaridade alternativa 2 da água em solução aquosa. A irrigação por gotejamento, funciona como o name sugere. A água é depositada gota a gota sobre a região do solo sob a qual encontra-se fração substancial da rizosfera da planta. Se adequadamente manejado, pode ser o método de irrigação mais eficiente em termos de uso de água, em decorrência da minimização da evaporação e do escorrimento. Às vezes, combina-se irrigação por gotejamento com o trato cultural adubação, em um processo definido como fertirrigação. Outro procedimento associado à irrigação por gotejamento é a cobertura de solo – cobertura morta, adubação verde, mulching, palhada, esta mais comum em sistemas de plantio direto, ou cobertura plástica, grande maioria dos casos –, reduzindo ainda mais assim a evaporação além de propiciar ambiente nocivo à proliferação de vegetação espontânea (em alguns contextos, inadequada). A ilustração disposta na página seguinte exibe mecanismo de irrigação por gotejamento. Ilustração 6: Mecanismo de irrigação por gotejamento Hidroponia é um método de cultivo de plantas em meio aquoso, isoladas do ecossistema solo, usando soluções ricas em nutrientes, geralmente na forma de 42 fertilizantes químicos sintéticos altamente solúveis e energéticos (energia livre de Gibbs), mas que porventura pode incluir nutrientes minerais como: fosfatos “naturais”; farinhas de rocha; preparados biodinâmicos; compostagens; turfa; recursos hídricos residuais de sistemas aquaculturais, de saneamento básico ecológico, de esgoto devidamente tratados sanitariamente e fitossanitariamente com ozônio e tratados também conforme outros procedimentos mais detalhadamente descritos em VELÁSQUES et al. (2006), de agroecossistemas aquáticos nem sempre associados a sistemas de saneamento; fontes de micronutrientes; e/ou resíduos de biodigesor. O suporte físico do solo é substituído por materiais como polímeros sintéticos e/ou à base de fibra de coco. A pesquisa com os recém citados substratos “alternativos” em solução hidropônica, entretanto, ainda é incipiente, necessitando de substanciais investimentos. “Aquaponia é um sistema biointegrado que relaciona aquacultura em recirculação de recursos hídricos, com produção de flores e/ou ervas. Avanços recentes de pesquisadores e produtores transformaram aquaponia em um modelo de trabalho em produção sustentável de alimento.”. (ATTRA, 2009). Organoponia é um sistema de produção agroecológica urbana, principalmente jardinagem e olericultura, desenvolvido sobretudo em Cuba, que se baseia em algumas técnicas de hidroponia. Consiste geralmente de suportes de concreto preenchidos com substratos e solo, com linhas de irrigação por gotejamento dispostas na superfície do meio de crescimento. Organoponia provê acesso a oportunidades de trabalho, um suplemento de comida fresca à comunidade, melhoramento da vizinhança e embelezamento de áreas urbanas. Organoponia primeiro surgiu como uma resposta da comunidade a falta de segurança alimentar após o colapso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A organoponia funciona publicamente em termos de propriedade, acesso e gerenciamento, mas substancialmente subsidiada e recebendo suporte pelo e do governo cubano. Durante a Guerra Fria, a economia cubana baseava-se demasiadamente no suporte da URSS. Em troca de açúcar, Cuba recebia agrotóxicos, adubos químicos sintéticos, outros insumos agroquímicos e petróleo subsidiados. Cerca de 50 por cento da comida de Cuba era importada. O sistema de produção agrícola de Cuba era organizado aos moldes do estilo soviético: em alta escala, unidades coletivas de agricultura industrial. Antes do colapso da URSS, Cuba chegou a usar mais de 1 milhão de toneladas de fertilizantes sintéticos por ano e cerca de 35000 toneladas de agrotóxicos por ano, 43 conforme dados em WIKIMEDIA FOUNDATION (2011). Com o colapso da URSS, Cuba perdeu seu maior parceiro em comércio e os favoráveis subsídios comerciais que recebia, bem como o acesso à petróleo e insumos agroquímicos. De 1989 a 1993, a economia cubana contraiu 35%. Sem o auxílio soviético, produção doméstica agrícola caiu pela metade. Neste período, chamado em Cuba Período Especial, a escacez alimentar agravou-se. A ingestão calórica per capita média diária caiu de 2900 em 1989 para 1800 em 1995. Sem comida, os cubanos aprenderam a cultivar seu próprio alimento preferencialmente a importá-lo. Isto foi feito com fazendas privadas e milhares de parcelas de jardim comercial urbano – e, devido à ausência de agroquímicos, a comida tornou-se de facto agroecológica. Surgem milhares de novos fazendeiros individuais urbanos chamados parceleros (por suas parcelos, ou parcelas). Eles formaram e desenvolveram cooperativas do ramo agropecuário e mercados agrícolas. Estes parceleros fundaram o suporte do Ministério Cubano de Agricultura (MINAGRI), que proveu especialistas universitários para treinar voluntários em tecnologias agroecológicas, como produtos fitossanitários e insetos benéficos. Sem os fertilizantes, unidades hidropônicas da URSSS não eram mais viáveis. Os sistemas foram então convertidos para o uso de horticultura agroecológica. As unidades hidropônicas originais foram preenchidas com resíduos da agroindústria do açúcar submetidos a compostagem. Assim, hidroponia tornou-se organoponia. Cuba possui mais do que 7000 unidades de organoponia. Mais do que 200 jardins em Havana suprem seus cidadãos com mais de 90% de suas frutas e hortaliças. Colheitas mais do que quintuplicaram de 4 a 24 quilogramas por metro quadrado entre 1994 e 1999, e atualmente cerca de 1000000 de toneladas de comida por ano é produzida em unidades organopônicas. Algumas unidades organopônicas são administradas por funcionários públicos, outras por cooperativas de agricultores. Há alguma especulação sobre se o sistema organopônico pode ser aplicado a outras nações. Abaixo, fotografia de produção agrícola organopônica. 44 Ilustração 7: Produção agrícola organopônica Chinampa, vocábulo oriundo da palavra Nahuatl chināmitl cujo significado é quadrado [sic] feito de canos, é um método de agricultura Mesoamericana antiga que usava áreas, em formato retangular, pequenas de terra arável fértil para agricultura nas porções rasas de lagos no Vale do México. Geralmente são referenciados como jardins flutuantes, chinampas eram ilhas artificiais que usualmente mediam 30m x 2,5m. Geralmente, árvores como āhuexōtl (Salix bonplandiana) e āhuēhuētl (Taxodium mucronatum) eram plantadas nos cantos para dar estabilidade ao chinampa. Chinampas eram separados por canais largos o bastante para uma canoa passar. Estas “ilhas” possuíam produtividades muito altas com até 3 colheitas por ano. Abaixo, mapa etnoagronômico do Vale do México no período pré-Colombiano. 45 Ilustração 8: Mapa etnoagronômico do Vale do México no período pré-Colombiano Na página a seguir, fotografia de Chinampa moderno. Há nesta área de produção agrícola, em contraposição incial à incrível sofisticação em termos de ecologia agrícola característica da produção agrícola asteca, manejo de solos deficitário, no tocante à cobertura de solo. Do ponto de vista etnoagronômico, tal contraposição revelase falaciosa, já que a cobertura de solo não é aspecto essencial constitutivo da agricultura americana pré-colombiana, em específico agricultura asteca, como também não o é em grande parte da produção agrícola mundial neste período. No entanto, fazendo-se uso de abordagem por vezes recorrente em ciências sociais, das quais a etnoagronomia é um exemplo, uma das propriedades de uma cultura “viva” [sic] (em outras palavras, vivenciada pelos agregados sociais a que diz respeito) é a evolução temporal da mesma, interagindo com outros sistemas culturais ao longo do tempo. Consoante com esta abordagem, aponta-se novamente a supracitada contraposição, já que atualmente a cobertura de solos é temática crucial, fundamental, no cenário agrícola mundial, especificamente em ecologia agrícola, como foi abordado no tópico referente a solos. É mister que se trabalhe em prol da atenuação ou, preferencialmente, erradicação deste antagonismo, para que a sustentabilidade dos chinampas não seja inviabilizada por sua vivência anacrônica. 46 Ilustração 9: Fotografia de Chinampa moderno Por vezes, há agroecossistemas predominantemente ou em sua totalidade aquáticos, desde agroecossistemas como o de culturas anuais irrigadas, como Oryza sp., a agroecossistemas lacustres (ou sucedâneos) ou açudes, estes geralmente sob manejo permacultural, em se tratando de sistemas agroecológicos. A maior parte das noções válidas em agroecossistemas terrestres (termodinâmica agrícola, trofobiose, nutrição) são igualmente válidas em agroecossistemas aquáticos, com algumas adaptações. Obviamente, a agrobiodiversidade em um agroecossistema aquático deve ser constituída em grande parte por espécies oriundas de ecossistemas aquáticos, pois o manejo tende a ser facilitado. Entretanto, analogamente à hidroponia, agroecossistemas aquáticos com agrobiodiversidade originalmente terrestre são igualmente viáveis, embora possa haver algumas dificuldades maiores em relação a agroecossistemas aquáticos com agrobiodiversidade originalmente aquática. É possível vincular agroecossistemas aquáticos a sistemas de saneamento básico, sobretudo no setor de tratamento de dejetos; tanto da produção agrícola quanto domésticos, ambos obviamente biodegradáveis; podendo passar por processos de purificação e controle sanitário ulteriores, retornando a agroecossistemas e a sistemas domésticos, ou direcionados a fontes públicas ou fontes de recurso hídrico “naturais” como sistemas públicos de saneamento básico ou rios, lagos, lagoas, lagunas, oceanos e/ou mares, respectivamente. Esta última possibilidade não é, em primeira instância, recomendável quando a primeira possibilidade o for., pois a primeira possibilidade satisfaz mais adequadamente a concepção sistêmica de seres vivos e de ecossistemas, no escopo da ecologia agrícola, no tocante aos 4Rs: reduzir, reutilizar, reciclar e repensar. 47 2.2.5.2. Sol “A agricultura é a arte de cultivar o sol.” (Provérbio Chinês). Consiste de plasma quente em meio a campos magnéticos. Tem diâmtero de cerca de 1392000km, cerca de 109 vezes o da Terra, e sua massa (cerca de 2.10 30 quilogramas, 330000 vezes a da Terra) representa 99,86% da massa total do Sistema Solar. Quimicamente, cerca de três quartos da massa do Sol consiste de hidrogênio, enquanto o resto é principalmente hélio. Menos de 2% consiste de elementos pesados, incluindo oxigênio, carbono, neônio, ferro, e outros. A classificação estelar do Sol baseado na classe espectral é G2V, sendo informalmente designada anã amarela, com temperatura em torno de 5778K (5505°C), e sendo uma estrela de sequência principal, ou seja, gera sua energia pela fusão nuclear de hidrogênio em hélio. Em seu núcleo, o Sol funde 620 milhões de toneladas métricas de hidrogênio por segundo. Uma vez tomado por astrônomos como uma estrela pequena e relativamente insignificante, o Sol agora é tido como sendo mais brilhante do que cerca de 85% das estrelas da Via Láctea, em sua maioria composta por anãs vermelhas. A corona quente do Sol continuamente expande-se no espaço, dando origem ao vento solar, uma faixa de partículas carregadas eletricamente que se extende da heliopausa a cerca de 100 U.A. A bolha no meio interestelar formada pelo vento solar, a heliosfera, é a mais larga estrutura contínua do Sistema Solar. O Sol está atualmente viajando pela Nuvem Interestelar Local na zona da Bolha Local, dentro da borda interna do braço de Órion-Cisne da Via Lactea. O sol orbita o centro da Via Lactea a uma distância de aproximadamente 24000 a 26000 anos luz, completando uma órbita no período denominado ano galático, o qual equivale a de 225 a 250 milhões de anos. Como nossa galáxia está se movendo com respeito à radiação cósmica de fundo em micro-ondas (CMB, em Inglês) em direção à constelação de Hidra com uma velocidade de 550km/h, a velocidade resultante do sol com respeito à radiação cósmica de fundo é de cerca de 370km/s na direção de Crater ou Leão. A formação do Sistema Solar tem seu início estimado em 4568 bilhões de anos atrás, cerca de 40 anos galáticos após o Big Bang, com o colapso gravitacional de uma pequena parte de uma nuvem molecular gigante. A maior parte da massa em colapso agregou-se no centro, formando o Sol, enquanto o resto agregou-se em um disco protoplanetário, a partir do qual formaram-se os planetas, planetas anões, luas, 48 asteroides, e outros corpos pequenos do Sistema Solar. “A luz ou radiação solar é a energia eletromagnética que aciona, rege e regula termodinamicamente os ciclos biogeoquímicos do Nitrogênio, do carbono e da água e os fenômenos meteorológicos. É fonte nutritiva dos seres vivos” (PINHEIRO, NASR & LUZ, 1993) exceto, porém com exceção parcial, em se tratando de micro-organismos quimiossintetizantes (tiobactérias e ferrobactérias, por exemplo) que são minoria em termos de biodiversidade e que dependem dos ciclos de nutrientes, quase todos estes como recém mencionado regulados pela radiação solar, e do da água, também regulado pela radiação solar. A radiação solar é constituída de diferentes longitudes de onda, conforme PINHEIRO, NASR & LUZ (1993): raios ultravioleta (λ<0,36μm); raios luminosos (0,36μm <λ<0,76μm) e raios infravermelhos (λ>0,76μm). Estes três tipos de raios, quando incidem sob superfície enegrecida, transformam-se inteiramente em calor. Fora da atmosfera terrestre, a intensidade calorífica da radiação solar é constante e recebe o nome de constante solar e seu valor é 1,96calcm²/min. Nem toda a radiação incidente no limite superior da atmosfera chega à superfície terrestre. A atmosfera constitui-se numa barreira à radiação, produzindo diferentes fenômenos: absorção, reflexão e dispersão, entre outros. “É extremamente importante para o setor agrícola ter noção destes valores. Numa selva na região equatorial há sempre uma temperatura média de pouca amplitude; já num deserto, situado na mesma latitude e altitude, ocorrem temperaturas fantasticamente altas durante o dia e baixíssimas durante a noite. É importante refletir sobre a questão da velocidade de reação que ocorre com a absorção de calor nos dois ambientes e suas consequências no tempo.” (PINHEIRO, NASR & LUZ, 1993). A grandeza albedo poderia, desta forma, ser de vital interesse para análise de um dado agroecossistema. O autor supracitado aponta duas leis sobre a radiação solar, sejam elas Lei de Bourguer e do Cosseno da Obliquidade: I. Lei de Bourguer: a intensidade calorífica de uma radiação que atravessa um meio transparente decresce em progressão geométrica, quando a massa atravessada cresce em progressão aritmética. Como a camada atmosférica mais espessa é a do Equador para os polos, à medida que nos aproximamos destes, a intensidade calorífica diminui. II. Lei do Cosseno da Obliquidade: a intensidade do calor recebido por uma 49 superfície horizontal depende da inclinação com que chegam os raios solares. Quanto mais perpendiculares maior é a intensidade. Já quanto mais inclinados forem maior será a superfície onde incidem; portanto, a quantidade de energia por centímetro quadrado na superfície diminui. De acordo com a Lei do Cosseno, aplicada no Brasil, os terrenos inclinados para o Norte são mais quentes que os demais, porque os raios chegam durante maior período, com menor inclinação. “[...] A quantidade de calor recebida ao ano por centímetro quadrado de solo horizontal diminui com o aumento da latitude.” (PINHEIRO, NASR & LUZ; 1993), pois quanto maior a latitude, maior a inclinação dos raios solares incidentes sob superfícies a esta latitude. Para aumentar a capacidade de um agroecossistema, sobretudo das plantas, de aproveitar a luz solar, deve haver condições ótimas de funcionamento, isto é, estar em condições termodinâmicas, metabólicas, adequadas. Uma possibilidade é investir na proliferação de outras espécies (inclusive espécies componentes da biodiversidade do agroecossistema, mas não da agrobiodiversidade do agroecossistema) trabalharem captando energia solar. Esta energia alocada sob a forma de matéria orgânica, outras substâncias húmicas e outros nutrientes será colocada a disposição do cultivo comercial componente do agroecossistema. Dentre os tratos culturais envolvidos na concepção supracitada encontra-se por exemplo, conforme MEIRELLES et al. (2005), a adubação verde ou permitir que a vegetação espontânea do local se desenvolva temporariamente. 2.2.5.3. Nutrientes As plantas absorvem nutrientes dentre outras maneiras na forma de íons inorgânicos, monoatômicos ou poliatômicos, representativos de elementos químicos minerais componentes tanto do conjunto dos metais, em maior quantidade, quanto do conjunto dos não-metais, em menor quantidade. Esta maneira vem sendo explorada agronomicamente desde o final do século XIX a partir do trabalho do químico agrícola Justus von Liebig. Trabalhos substanciais de pesquisadores como o engenheiro agrônomo Airton Luiz Bortoluzzi, têm sido promissores no sentido de poder ampliar a concepção inicial dos mecanismos nutricionais supracitados para englobar moléculas orgânicas como nutrientes absorvidos pelas plantas, o que sem dúvida possibilitaria uma maior compreensão dos processos sistêmicos envolvidos na nutrição de plantas, sobretudo em se tratando de 50 ecologia agrícola. A análise de solos é importante para compreensão de alguns aspectos físicoquímicos, entretanto há várias limitações nas metodologias atuais como a não trivial inclusão de vários micronutrientes, e análises que incluam aspectos bioquímicos, edafobiológicos. Outro problema é que a disponibilidade de nutrientes é descrito de modo deficitário pela análise de solos, já que toda a dinâmica dos ciclos de nutrientes, bem como outros aspectos ecossistêmicos não são retratados suficientemente. Em um manejo agroecológico, a análise de solos pode ser um parâmetro complementar, desde que se tome consciência de suas limitações e se busque ampliar ao máximo o número de elementos descritos pela análise de solos, mantendo-se viabilidade econômica, e desde que sejam realizadas práticas complementares como análise da vegetação espontânea considerando-se a sucessão vegetal e inferência do caráter físico, químico e biológico dos solos em virtude deste estágio da sucessão ecológica e a análise de tecido foliar. Permite-se em agroecologia, o uso moderado de adubação química mineral não-sintética, em geral com menor energia livre de Gibbs que sucedâneos sintéticos à base de petróleo. Por adubação química mineral não-sintética compreende-se fosfatos naturais, farinha de rochas, calcáreo, de preferência dolomítico por apresentar tanto CaO como MgO. A adubação verde apresenta as vantagens de cobertura de solo, produção de massa verde podendo esta ser incorporada no solo, estímulo da vida do solo, pela presença da rizosfera e sua complexidade associada, decomposição da rizosfera como fonte de nutrientes e pouco investimento em tempo, força de trabalho e insumos, sobretudo em se tratando de adubação verde com culturas e/ou cultivares mais rústicas, mais adaptadas ao ambiente específico e/ou autóctones. A tabela disposta na página seguinte discorre sobre aspectos de produtividade e produção de diferentes culturas sob sistema de adubação verde. 51 Espécie Kg/ha de sementes Produção de massa Nitrogênio na biomassa seca (kg/ha) (kg/ha) Aveia preta 75 4600 70 Aveia preta + 50/30 ervilhaca 5000 ND Centeio 70 8480 68 Ervilhaca 80 3500 106 Nabo forrageiro 15 a 20 3500 106 Crotalaria juncea 40 9933 60 Feijão de porco 150 a 180 7100 180 Feijão guandu 50 13788 250 Mucuna preta 60 a 80 7287 210 Milheto 9939 ND 60 Tabela 7: Aspectos produtivos de diferentes culturas em adubação verde. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005) apud ASPTA (1992). Compostagem é o conjunto de técnicas aplicadas para controlar a decomposição de materiais orgânicos, com a finalidade de obter, no menor tempo possível, um material estável, rico em húmus e nutrientes minerais; com atributos físicos, químicos e biológicos superiores (sob o aspecto agronômico) àqueles encontrados na(s) matéria(s) prima(s). Os principais fatores que governam o processo de compostagem são: a) Microrganismos: A conversão da matéria orgânica bruta ao estado de matéria humificada é um processo microbiológico operado por bactérias, fungos e actinomicetes. Durante a compostagem há uma sucessão de predominâncias entre as espécies envolvidas. b) Umidade: A presença de água é fundamental para o bom desenvolvimento do processo. Entretanto, a escassez ou o excesso de água pode desacelerar a compostagem. c) Aeração: A compostagem conduzida em ambiente aeróbio, além de mais rápida, não produz odores putrefatos nem proliferação de moscas. d) Temperatura: O metabolismo exotérmico dos microrganismos, durante a fermentação aeróbia, produz um rápido aquecimento da massa. Cada grupo é 52 especializado e desenvolve-se numa faixa de temperatura ótima. Promover condições para o estabelecimento da temperatura ótima para os microrganismos é fundamental. e) Relação Carbono / Nitrogênio (C/N): Os microrganismos absorvem os elementos carbono e nitrogênio numa proporção ideal. O carbono é a fonte de energia para que o nitrogênio seja assimilado na estrutura. Em geral, recomenda-se combinar fontes pobres em nitrogênio (por exemplo, casca de arroz) com ricas em nitrogênio (por exemplo, folhas verdes) de modo que a decomposição seja rápida e não haja desperdício de nitrogênio. f) Preparo prévio da matéria-prima: A granulometria é muito importante uma vez que interfere diretamente na aeração da massa original. Partículas maiores promovem melhor aeração, mas o tamanho excessivo apresenta menor exposição à decomposição e o processo será mais demorado. g) Dimensões e formas das pilhas: Quanto ao comprimento, este pode variar em função da quantidade de materiais, do tamanho do pátio e do método de aeração. Já a altura da pilha depende da largura da base. Pilhas muito altas submetem as camadas inferiores aos efeitos da compactação. Pilhas baixas perdem calor mais facilmente ou nem se aquecem o suficiente para destruir os patogênicos. O ideal é que as pilhas apresentem seção triangular, com inclinação em torno de 40 a 60 graus, com largura entre 2,5 e 3,5 metros e altura entre 1,5 e 1,8 metros. A tabela na página seguinte mostra a relação entre estercos de diversas espécies e componentes químicos nutricionais fitotecnicamente falando. Componentes Equinos Bovinos Suínos Ovinos Água 5785 13145 1324 541 Matéria seca 1715 2039 176 199 Total 7500 15184 1500 740 N 58 78,9 7,5 6,7 P2O5 23 20,6 5,3 4,3 K2O 40 93,6 5,7 6,2 Cálcio e Magnésio (MgO+CaO) 30 35,9 3 8,8 Tabela 8: Materiais fertilizantes contidos no esterco e na urina de algumas espécies (em kg/ano per capita). Adaptado de MEIRELLES et al. (2005). Vermicompostagem é o processo no qual se utilizam as minhocas para digerir a matéria orgânica, originando um adubo mais estável. Existem dois grupos de minhocas 53 que podem ser utilizadas com esta finalidade, e que podem ser reconhecidas pela cor: as vermelhas ou as acinzentadas. Compostagem de superfície é a decomposição dos materiais dispostos em vermicompostagem e/ou compostagem in loco, sobre a adubação verde ou restos de cultura, de modo que a decomposição ocorra no solo, favorecendo evolução conjunta dos micro-organismos decompositores com o próprio solo. Para que isto aconteça, é necessário que o solo esteja “vivo”, que já venha sendo manejado com base em ecologia agrícola. A vida, ou em outras palavras, a biota dos solos é que propiciará que este material seja digerido, com todas as vantagens que isto acarreta. A ilustração contida na página a seguir representa o ciclo do carbono Ilustração 10: Ciclo do C A seguir, representação do ciclo do nitrogênio ignorando aspectos como bactérias endofíticas e síntese de NO 3 via relâmpagos a partir de nitrogênio molecular atmosférico. 54 Ilustração 11: Ciclo do N Na página seguinte, a ilustração mostra o ciclo do Fósforo Ilustração 12: Ciclo do P A fixação microbiológica de nitrogênio disponível para as plantas não encontrase tão somente em Rhyzobium sp., endofíticas e sucedâneos, mas também em cianobactérias que atuam em simbiose com plantas. Tais cianobactérias são em sua maior parte dos gêneros Azolla sp. e Anabaena sp. 2.2.6. Trofobiose Proteossíntese é a síntese de macromoléculas proteicas a partir de aminoácidos (ácidos orgânicos com entre outros grupos funcionais as aminas) concatenadas em ligações químicas peptídicas. Proteólise é a análise de macromoléculas proteicas em aminoácidos via ruptura de ligações peptídicas. A proteossíntese representa um processo entrópico, ao passo que a proteólise um processo gerador de energia livre de Gibbs. Em condições de desequilíbrio fisiológico, como estresse, a relação entre proteólise e proteossíntese deixa de ser harmoniosa, surge então um desequilíbrio 55 metabólico e nutricional e, por consequência, um desequilíbrio termodinâmico. Quanto maior for a razão de proteólise sobre proteossíntese maior será a susceptibilidade da planta à incidência de patógenos, pois estando em desequlíbrio sua imunidade diminui. Por outro lado, a presença de aminoácidos e outras substâncias orgânicas solúveis possibilita maior incidência de patógenos que absorvem nutrientes melhor desta forma e em alguns casos possuem sensores de substâncias orgânicas solúveis, como aminoácidos. Em contrapartida, mecanismos de seleção natural tendem a eliminar plantas que tenham tendência a desequilibrar-se termodinamicamente. Trofobiose é o princípio elaborado por Francis Chambossou, químico do Institute Nationale de la Resérche Agronomique (INRA), Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica, que relaciona proteólise e proteossíntese à incidência de patógenos e à desequilíbrios nutricionais, metabólicos, fisiológicos e termodinâmicos. 2.2.7. Fitopatologia Patógenos de plantas são espécies ou estruturas (príons, vírus) “biológicas” fitófagas de plantas de interesse econômico que atuam de forma parasita, sobre as populações das mesmas em momento de interesse econômico e/ou agronômico, inviabilizando a produtividade do agroecossistema em níveis significativamente superiores a um dado dano econômico tomado por limite inferior. Condições para instauração de quadro clínico patológico são o triângulo patógeno x hospedeiro x condições climáticas atrelado ao triângulo tempo x temperatura x atividade de água (este último fator mais substancial em se tratando de fungos), ambos atrelados ao fator trofobiose, no sistema patógeno x hospedeiro x tempo x temperatura x atividade de água x equilíbrio termodinâmico do espécime x equilíbrio termodinâmico do agroecossistema. Conceito vital em Manejo Integrado de Pragas, o de dano econômico é essencial em manejo agroecológico de um agroecossistema por incluir o critério de viabilidade econômica de um trato cultural fitossanitário. A análise da patologia deve estar focada no agroecossistema, de tal sorte que a incidência seja considerada indicador biológico de mau manejo. Outro indicador biológico de mau manejo é a presença de vegetação espontânea em decorrência de processos de sucessão ecológica explanados no tópico Ecossistemas e 56 Agroecossistemas. Os tratamentos de populações de culturas devem ser concebidos como tratos culturais que visam fortalecer a cultura e o agroecossistema. A profilaxia deve buscar romper um ou mais dos elementos das condições para instauração de quadro clínico patológico. A erradicação da vegetação espontânea, usualmente mediante “limpeza da área”, é inviável, e inadequada se o contexto do agroecossistema como um todo for considerado, pois à medida que tenta-se erradicá-las, surgem problemas com erosão, e impedindo solo de fazer sucessão vegetal, surgem plantas mais resistentes e de manejo mais difícil diminuindo vantagens da vegetação espontânea. Tal surgimento é resposta do solo a isto, tanto pela emergência do edafoecossistema quanto pela seleção natural em processo análogo ao de superpraga. Se capinamos um solo com beldroegas, aparecem guanxumas. Se atacamos a guanuxuma, vem a milhã. Sempre vem uma planta com maior capacidade de proteger o solo. O controle fitossanitário de vegetação espontânea não é feito via eliminação sistemática mecânica mas via mudanças na qualidade do ambiente, propiciando a proliferação de espécies menos agressivas e menos competidoras com a cultura comercial; além de propiciar ao agroecossistema a chance de possuir sucessão vegetal adequada. Uma técnica promissora, que pode encontrar-se em consonância com os princípios aqui avaliados, desenvolvida por Airton Luiz Bortoluzzi, é o controle fitossanitário de vegetação espontânea via fomento à proliferação de populações alternativas de vegetação espontânea, ambas as populações autóctones ou não. Todavia, esta técnica deve constituir um contexto em que se considere também a sucessão vegetal e a inversão da sucessão vegetal, de modo que tal técnica seja complementar às discorridas neste relatório. Esta técnica por vezes caracteriza-se por consequência de um dado procedimento agrícola (adubação verde, por exemplo) empreendida visando outros processos e não por um procedimento que objetive predominantemente a execução da mesma. Solo dominado por gramíneas estoloníferas como milhã (Digitaria sanguinalis), por exemplo, encontra-se em fase em que ecossistema apresenta estrutura física deficiente, não sendo um solo solto. À medida que ocorre decomposição de planta e raízes, há incorporação significativa de matéria orgânica no solo, melhoradora da estrutura. 57 Nambiça (Raphanus raphanistrus) indica falta de disponibilidade de boro e manganês no solo. Ela tem maior capacidade de extrair estes nutrientes do solo, quando comparada à maioria das outras plantas. Sendo assim, seu papel na sucessão vegetal é o de tornar estes elementos disponíveis quando encerra seu ciclo, para que a sucessão possa seguir seu curso até chegar à vegetação clímax. Guanxuma (Sida rombifolia) indicadora de solo compactado e que possui uma raiz pivotante agressiva, capaz de fazer exatamente o trabalho de descompactação. Assim, as ervas ao mesmo tempo em que indicam um problema, são a própria solução natural para superar determinada situação. No caso do pousio, o comum é no início o solo estar degradado, com presença de vegetação espontânea similar a populações de milhã e guanxuma. Passados três ou quatro anos, vê-se outra vegetação. As sementes se esgotaram? Não, passado novo período de degradação do solo, e em novo pousio, lá estão guanxuma e milhã. Na página a seguir, encontra-se tabela com exemplos de vegetação espontânea tomados como indicadores biológicos, seguida de outra tabela, com relações entre déficits nutricionais e incidência de patógenos. 58 Nome comum Nome científico Características do solo Azedinha Oxalis oxyptera Solo argiloso, pH baixo, falta de Ca e/ou de Mo Amendoim brabo Euphorbia heteropylla Desequilíbrio de N com Cu, ausência de Mo. Beldroega Portulaca oleracea Solo bem estruturado, com umidade e matéria orgânica Capim arroz Echinochloa crusgallii Solo anaeróbico, com nutrientes “reduzidos” a substâncias tóxicas Cabelo de porco Carex ssp Solo muito exausto, com nível de Ca extremamente baixo Capim amoroso ou carrapicho Cenchrus ciliatus Solo depauperado e muito duro, pobre em Ca Caraguatá Eryngium ciliatum Planta de pastagens degradadas e com húmus ácido Carqueja Baccharis ssp Solos que retêm água estagnada na estação chuvosa, pobres em Mo. Caruru Amaranthus ssp presença de N livre (matéria orgânica) Cravo brabo Tagetes minuta Solo infestado por nematoides Dente de leão Taraxum officinalis Presença de boro Fazendeiro ou picão branco Galinsoga parviflora Solos cultivados com N suficiente, faltando Cu ou outros micronutrientes Guanxuma ou malva Sida ssp Solos muito compactados Língua de vaca Rumex ssp Excesso de N livre, terra fresca Maria mole ou berneira Senecio brasiliensis Camada estagnante em 40 a 50 cm de profundidade, falta K Mamona Ricinus communis Solo arejado, deficiente em K Nabisco ou nabo brabo Raphanus raphanistrum Solos carentes em B e Mn Papuã Brachiaria plantaginea Solo com laje superficial e falta de Zn Picão preto Bidens pilosa Solos de média fertilidade Samambaia Pteridium aquilinum Excesso de alumínio tóxico 59 Tiririca Cyperus rotundus Solos ácidos, adensados, mal drenados, possível deficiência de Mg Urtiga Urtica urens Excesso de N livre, carência em Cu Tabela 9: Indicadores biológicos. Vegetação Espontânea. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005) apud PRIMAVESI (1992). 60 Deficiência de Cultura Patógeno que aparece Ca parreira cochonilhas tomateiro podridão apical, virose “viracabeça” morango podridão feijoeiro mosca-branca (Bemisa tabaci) cevada míldio (Erysiphe graminis) trigo ferrugem (Puccinia graminis tritici e Puccinia glumarum) e míldio (Erysiphe cichoracearum) girassol míldio (Botrytis sp) couve-flor lagarta do cartucho (Spodoptera sp) milho podridão seca da espiga (Diploida zea) batata sarna (Streptomyces scabiei) melancia Oidium sp batata-doce Sarna (Streptomyces scabiei) arroz brusone (Piricularia oryzae) trigo ferrugem (Puccinia graminis tritici) cafeeiro ferrugem (Hemileia vastatrix) tomateiro infecções bacterianas acácia besouro serrador (Oncideres impluviata) aveia Infecções bacterianas trigo ferrugem (Puccinia graminis tritici) Mo e P algodoeiro lagarta rosada (Platyedra gossypiella) Mo alfafa baixa resistência Zn seringueira Oidium hevea e Phytophthora sp milho broca do colmo (Elasmopalpus lignosellus) B Cu Mg Mn Tabela 10: Influência do déficit nutricional em incidência de patógenos. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005) apud PRIMAVESI (1989). O controle fitossanitário biológico é outro trato cultural alternativo e complementar, baseado no equilíbrio biológico da taxa patógeno/hospedeiro nas teias tróficas de um dado agroecossistema. O equilíbrio biológico auxilia a manutenção das populações de patógenos em 61 níveis de dano econômico não significativo. Exemplos de equilíbrio biológico são o parasitismo do inseto coleóptero joaninha (família Coccinellidae) sobre insetos hemípteros como pulgões (superfamília Aphidoidea) e insetos dípteros como mosca das frutas (Drosophila sp e/ou família Dephritidae, família a qual pertence o gênero Anastrepha sp) e o parasitismo de populações da família Baculoviridae sobre populações de lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis). O equilíbrio biológico pode ser potencializado mediante fomento a fatores abióticos potencializadores da expressão plena da biocenose espontânea do agroecossistema e/ou – quando houver necessidade em decorrência de reiterada incidência de patógenos sobre o agroecossitema em um período significativamente curto de tempo instaurando danos econômicos significativos – mediante estímulo direto de teias tróficas ou sucedâneos no agroecossistema via introdução de populações predadoras a um dado patógeno ou conjunto de patógenos exógenas ao agroecossistema. Outros tratos culturais complementares são o denominado controle físico consistindo em procedimentos como solarização, uso de caldas, sobretudo calda bordalesa, rica em Cu, e outros micronutrientes, e de produtos de origem vegetal repelentes e/ou alelopáticos. 2.2.8. Sistemas agroflorestais Os sistemas agroflorestais baseiam-se no conceito de sucessão vegetal e no cultivo de agroecossistemas com mais de um estratos, geralmente em formações análogas a florestais. Entretanto, em localidades cujo bioma seja outra formação vegetal que não a florestal, o “sistema agroflorestal” deve adequar-se a esta formação vegetal. Por exemplo, no Cerrado, deve-se buscar adequar os agroecossistemas ao perfil de bioma, de formação vegetal, do Cerrado. A definição usual de Sistema Agroflorestal é “sistema de produção que integra em uma mesma área, ao longo do tempo, florestas em associação com cultivos agrícolas e/ou animais, buscando a melhor utilização dos recursos naturais, como a água, o solo e a luminosidade.”. Os sistemas agroflorestais são alternativas de manejo sustentável que possibilitam um melhor aproveitamento dos fatores de produção, como a força de trabalho familiar, e os recurso naturais e econômicos. Os sistemas agroflorestais integram atividades tradicionais, como a agricultura, 62 com a atividade florestal; permitem o ingresso de receitas anuais da agricultura, ao longo do tempo em que a floresta está se desenvolvendo; promovem a ocupação diversificada da força de trabalho familiar, melhorando as condições de trabalho no campo; proporcionam maior conforto térmico aos animais; contribuem para a melhoria da qualidade e o aumento da disponibilidade de água nas microbacias hidrográficas; oferecem proteção para as culturas anuais, frutíferas e pastagens contra as adversidades climáticas; contribuem para a melhoria da fertilidade e a conservação do solo; e promovem a conservação da biodiversidade e a fixação de carbono. No litoral norte do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina (AMESC, Associação dos Muncípios do Extremo Sul Catarinense), no âmbito da agroecologia, os SAFs ocorrem em Bananicultura com subprodutos silvícolas e frutícolas, sobretudo o açaí da mata atlântica, além da realização de serviços ambientais. Açaí da Mata Atlântica: fruto do palmito juçara (Euterpe edulis Martius), espécie ameaçada de extinção, sucedânea do açaí “original” oriundo da Amazônia (Euterpe macrocarpa), mas com propriedades gastronômicas e nutricionais idênticas. Tem-se estimulado o consumo de açaí da mata atlântica como alternativa de renda às famílias de bananicultores, como alimento saudável e como preservação do palmito juçara. Faz-se periodicamente colheita do açaí da mata atlântica e industrialização do mesmo. Ambos as espécies de açaí (Euterpe edulis Martius e Euterpe macrocarpa) são da família Arecaceae. Entre as espécies nativas da mata atlântica encontradas em um sistema agroflorestal de bananicultura, destacam-se: I. Louro-amarelo (Cordia alliodora): Família: Boraginaceae II. Taquara (Bambusa taquara): Família: Poaceae III. Caeté (Heliconia sp): Família: Heliconiaceae IV. Cedro (Cedrela sp): Família:Meliaceae V. Uva-do-japão (Hovenia dulcis): Família: Rhamnaceae VI. Capororoca (Myrsine sp): Família: Myrsinaceae VII. Sobragi (Colubrina glandulosa Perkins): Família: Rhamnaceae VIII. Canela Sassafrás (Ocotea odorifera): Família:Lauraceae IX. Licurana (Croton urucurana): Família: Euphorbiaceae X. Tucum (Astrocaryum vulgare): Família: Arecaceae XI. Figueira (Ficus sp): Família: Moraceae 63 XII. Vassoura (Sida sp): Família: Malvaceae XIII. Embaúba (Cecropia sp): Família: Urticaceae XIV. Bromélias (Bromelia sp): Família: Bromeliaceae Há um projeto no Centro Ecológico no âmbito de créditos de carbono com serviços ambientais em Sistemas Agroflorestais em Bananicultura Agroecológica, com medida da biodiversidade dos agroecossistemas, e do estoque de “carbono”. Outra forma de sistema agroflorestal, juntamente com conceitos permaculturais, são os quintais agroflorestais, projeto feito pelo Centro Ecológico em parceria com governo municipal em cidades como Mampituba. Tem-se horta com valor paisagístico, além de agronômico, com vários estratos e modalidades de cultura (frutíferas, anuais, olerícolas, condimentares, aromáticas e medicinais), manejadas também conforme design permacultural. Abaixo, ilustrações de sistemas agroflorestais. Ilustração 13: Abacaxi em Quintal Agroflorestal Ilustração 14: Salsa em Quintal Agroflorestal com cobertura parcial de solo 64 Ilustração 15: Milho (Zea mays L.) e Mandioca (Manihoti ssp) em Quintal Agroflorestal Ilustração 16: Panorama geral de porção de Quintal Agroflorestal 2.2.9. Saneamento Básico Agroecológico Saneamento básico agroecológico denominado por vezes saneamento básico ecológico, denotado também ecosan ou eco-san, cujo conceito é mais amplo do que o de saneamento básico agroecológico, é um processo sanitário de tratamento de dejetos produzidos por seres humanos. Objetiva oferecer sistemas aceitáveis culturalmente e sustentáveis econômica e ecologicamente, que tenham por intuito modelar ciclos hidrológicos e/ou de nutrientes, com frequência associados a agroecossistemas como descrito anteriormente no tópico referente ao elemento água do trio ambiental básico. 65 A diferença entre ambos está que no saneamento agroecológico, além de haver as propriedades do saneamento ecológico, os processos biológicos de tratamento estão integrados a agroecossistemas manejados de modo agroecológico que realizam o tratamento, sendo um mecanismo e não a finalidade do saneamento básico ecológico. Entretanto, não é recomendado o uso de saneamento básico agroecológico para dejetos com presença de resíduos de espécies químicas tóxicas, embora os mesmos possam, dependendo do caráter e da quantidade das espécies químicas tóxicas presentes, ser integrados em um sistema mais amplo que reduza a quantidade de espécies químicas tóxicas e as substitua por espécies químicas menos tóxicas via tratamento microbiológico, físico e/ou químico e depois processe os dejetos, já previamente tratados, em agroecossistemas utilizados com propósitos de saneamento básico. Outra possibilidade, complementar, é fomentar concomitantemente uso de substâncias biodegradáveis. Como subproduto do saneamento básico ecológico, encontra-se biofertilizante que pode ser destinado a agroecossistemas situados exteriormente à localização do sistema de saneamento básico ecológico, a unidades de processamento (para produção/enriquecimento de preparados biodinâmicos, biofertilizantes outros, compostos, vermicompostos, substratos, soluções hidropônicas, e sucedâneos) situados exteriormente ou contiguamente, e/ou a agroecossistemas situados in loco constituindo unidades de saneamento básico agroecológico. Dentre os sistemas de purificação dos efluentes, pode-se citar a fossa séptica, o biodigestor, o biolítico, o eletrolítico, filtro percolante, leito de evapotranspiração, máquinas vivas, lagos de decantação ou tanques solares. O importante no processo é combinar dois ou três métodos e garantir as diferentes fases do metabolismo do efluente que ora será anaeróbico, ora aeróbico. Quanto à composição dos efluentes, afirma CENTRO ECOLÓGICO (2007), “podemos dizer que 99,9% é líquido e 0,1% é sólido e divide-se em 10% gordura, 25% carboidrato e 65% proteína. Este é o cardápio dos microorganismos decompositores que irão habitar as câmaras de tratamento que por sua vez não podem permitir vazamentos, pois assim contaminam o solo num raio de até 30m.”. Os produtos do metabolismo da microbiota, em aerobiose e em anaerobiose, do saneamento básico a partir de nutrientes componentes do substrato efluente, encontram-se dispostos no quadro a seguir, denotado erroneamente tabela. 66 Elemento Aerobiose Anaerobiose C CO2 CH4 H H2O H2 O O2 H2O N NO3 (nitrato) NH3 (amônia) P PO4 (fosfato) PH3 (fosfano) S SO4 (sulfato) H2S (ácido sulfídrico) Tabela 11: Produtos do metabolismo da microbiota do saneamento básico a partir de nutrientes componentes do substrato efluente em aerobiose e em anaerobiose. Adaptado de CENTRO ECOLÓGICO (2007). A ONG Centro Ecológico realiza parcerias com prefeituras estabelecendo, por vezes concomitantemente em uma mesma área com o projeto de quintais agroflorestais com aspectos permaculturais, saneamento básico agroecológico em comunidades rurais carentes na região de Torres/RS, sobretudo na região de Mampituba/RS, bem como na Casa da Solidariedade e na comunidade Sanga da Madeira. Nestes locais, o tratamento de dejetos ocorre via passagem dos efluentes em caixa de gordura interligada a um sistema de tratamento físico por diferença de energia potencial gravitacional em um conjunto de fossas com filtros interligadas denominado modelo laranjal que está sendo desenvolvido pela EPAGRI/SC, ao final do qual há um conjunto de espécimes de Musa sp e olerícolas, por vezes disposto em morfologia circular, sob o qual encontra-se uma camada composta por palha, capim, pau podre, serragem, esterco, e sucedâneos (analogamente a um mulching), estando esta camada entremeada pelo cano, o qual deve estar perfurado e com o final tampado, do final do modelo laranjal. Havendo portanto interação geobioquímica dos resíduos finais com o mulching e do sistema resíduos-mulching com o agroecossistema solo, sendo esta interação geobioquímica um processo por assim dizer finalizador do sistema de tratamento de efluentes. A ilustração concernente a sistemas de saneamento básico agroecológico encontra-se disposta no tópico referente à Casa da Solidariedade em Passo de Torres/SC. CENTRO ECOLÓGICO (2007) recomenda separação entre efluentes, denominados “águas cinzas”, oriundos de pias, chuveiros e tanques e efluentes e entre efluentes, denominados “águas negras”, contendo fezes e urina. Quanto ao tratamento de águas cinzas, o mesmo autor recomenda integração a agroecossistemas aquáticos com agrobiodiversidade contendo espécies como taboa (Typha domingensis) e junco (Juncus 67 L. sp) – a estas, o autor acrescenta aguapés (Eichhornia sp), Vetiver (Viteria zizanoides L. Nash, reclassificado como Chryzopogon zizanioides L. Roberty.) e Moringa oleifera –, tendo seu destino conforme procedimentos descritos na página anterior, no trecho que referencia o uso do subproduto biofertilizante. A seguir, sistema de saneamento básico ecológico ilustrado. Ilustração 17: Sistema de saneamento básico ecológico 2. 3. Associativismo e Economia Popular Solidária A expressão associativismo designa, por um lado a prática social da criação e gestão das associações (organizações providas de autonomia e de órgãos de gestão democrática: assembleia geral, direção, conselho fiscal) e, por outro lado, a apologia ou defesa dessa prática de associação, enquanto processo não lucrativo de livre organização de pessoas (os sócios) para a obtenção de finalidades comuns. O associativismo, enquanto forma de organização social, caracteriza-se pelo seu carácter, normalmente, de voluntariado, por reunião de dois ou mais indivíduos usado como instrumento da satisfação das necessidades individuais humanas (nas suas mais diversas manifestações). Cooperativismo é um movimento econômico e social, entre pessoas, em que a cooperação baseia-se na participação dos associados, nas atividades econômicas com vistas a atingir o bem comum e promover uma reforma social dentro do capitalismo. Os princípios cooperativos são a base do cooperativismo. Todas as cooperativas tomam estes princípios como base para o seu funcionamento. As "cooperativas" que não os seguem são vulgarmente denominadas pseudocooperativas. 68 Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida. Conceito apresentado no Congresso Centenário da Aliança Cooperativista Internacional, em setembro de 1995, em Manchester, na Inglaterra. Uma cooperativa pode ainda ser formada pela união de cooperativas singulares, sendo neste caso denominada "cooperativa central" ou "cooperativa de segundo grau". Estas visam racionalizar o uso de meios de produção (unidades industriais ou prestação de serviços, por exemplo), em especial nas atividades com pouca expressão em cada uma das cooperativas singulares. Os sete princípios do cooperativismo são adesão livre e voluntária; controle democrático pelos sócios; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, treinamento e informação; cooperação entre cooperativas; e preocupação com a comunidade. A EcoTorres foi fundada em 17 de Novembro de 1999 e tem hoje 105 sócios. Conta com um Conselho Administrativo, composto por 6 membros e Conselho fiscal, com três membros titulares e três suplentes. Os dois conselhos são renovados a cada dois anos. Comercializa mais de cem itens, em sua maior produzidos por grupos e associações de agricultores ecologistas do estado do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, bem como de outras regiões do país. Comercializam-se também produtos integrais (orgânicos e/ou convencionais não-OGM), dietéticos, chás e outras conveniências diversas. Inaugurada em 2000, a loja já ocupou quatro diferentes pontos, sempre no centro da cidade. De dezembro de 2006 a março de 2008, a EcoTorres ocupou um espaço na Casa da Economia Solidária, viabilizada através do projeto Agricultura Ecológica e Soberania Alimentar, patrocinado pela Petrobras. O objetivo da casa era dar visibilidade aos empreendimentos de economia solidária do do litoral norte do RS e Sul de SC, assim como de associações e grupos de outras regiões. No momento a loja está na rua Borges de Medeiros, em frente à rádio Maristela AM. Em dezembro, o projeto Produção de Açaí para geração de renda e preservação da Mata Atlântica viabilizou a criação e instalação de uma fachada que destacasse tanto o produto açaí quanto o fato de a EcoTorres comercializar produtos amigos do meio 69 ambiente. As atividades desempenhadas na EcoTorres durante o estágio foram: etiquetagem, pesagem e embalagem de produtos, limpeza dos locais, organização de prateleiras, organização de verduras e transporte de compras até locais determinados por clientes, além de processos usuais em comercialização. 2.4. Permacultura e Bioconstruções Existe hoje uma infinidade de conhecimentos em bioconstrução, que além de utilizar materiais ecológicos, resolve uma grande quantidade de problemas nas moradias, principalmente ao que se refere à economia de energia e bem estar. A posição solar, a arquitetura que otimiza a luz natural, ventilação, aquecimento e resfriamento passivo, enfim, há várias formas de se otimizar a economia energética e o bem estar. Algumas opções de materiais são: tijolos ecológicos, feitos de barro prensado, construções com COB, fardos de palha e barro (excelentes para o isolamento térmico), pau-a-pique, taipa de pilão, etc. Para o telhado, uma boa alternativa é o chamado telhado verde, que possui grande poder de isolamento térmico no inverno e arrefecimento por evapo-transpiração das plantas no verão, diminuindo sensivelmente os gastos com energia para aquecimento e resfriamento dos ambientes. As águas cinzas podem ser aproveitadas para irrigar o telhado verde. Aspectos por vezes tomados por triviais em processos de arquitetura e/ou engenharia civil ocultam falácias de cunho econômico e/ou “bioconstrutivo” [sic]. Exemplo da recém efetuada proposição encontra-se na figura disposta na página seguinte. Sua falácia é a orientação inadequada, pois vertical; porém frequente; das tábuas de madeira. Quando ocorrerem processos de infiltração hídrica sobre as tábuas propiciando aceleração na decomposição do material, dever-se-ão trocar várias tábuas já que a orientação vertical das mesmas contrapõe-se à orientação horizontal, e verticalmente cumulativa, da infiltração hídrica por entre as fibras da madeira. 70 Ilustração 18: Orientação das tábuas de madeira em domicílio situado em Mampituba, RS Permacultura é um vocábulo cunhado por Bill Mollison e David Holmgren para “sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes ou autoperpetuantes úteis ao homem. Em essência, é um ecossistema agrícola completo, modelado sobre exemplos existentes, porém mais simples.”. (MOLLISON & HOLMGREN, 1981). Conforme MOLLISON & HOLMGREN (1981), “reconhece-se que o cultivo anual é parte integrante de qualquer sistema autossustentável, mas as culturas anuais só são consideradas (exceto em pequenas passagens) como componentes do sistema total. Pressupõe-se que o cultivo anual é parte de um sistema permacultural. Nos centros mais primitivos de agricultura, o sudeste da Ásia e norte da América do Sul, eram cultivadas plantas que se reproduziam vegetativamente. Eram principalmente anuais (ou tratadas anualmente) sendo semeadas novamente quando da colheita. Obtinham-se alimentos à base de carboidratos´, que não ocorriam em grande quantidade em forma silvestre. A escassez de carboidratos naturais, combinada com a pressão populacional, foi provavelmente o incentivo básico para a agricultura. No ambiente natural a caça, o peixe, as frutas e nozes eram abundantes e forrneciam a maior parte das necessidades alimentícias. Havia pouco incentivo para domesticar animais ou cultivar plantas além dos carboidratos. Com a difusão da agricultura a outras regiões, a propagação vegetativa das plantas com elevado teor de carboidratos foi bem menos sucedida. Também os recursos alimentares em geral eram menos abundantes. A agricultura das sementes, selecionando espécies locais e 'ervas daninhas', dos jardins e recuperando terras imprestáveis desenvolveu recursos nutricionais e energéticos, em resposta à falta de comida 71 abundante. Em algumas regiões, o cultivo perene foi desenvolvido, tornando-se a base de sistemas locais de sustento. A azeitona, a uva, o figo, a nogueira e a palmeira são exemplos disto. Os animais eram domesticados prinipalmente pelo leite. Entretanto, o alimento silvestre ainda representava proporção considerável da dieta. Com o aumento da população nas regiões mais favoráveis à humanidade, a disponibilidade de comida silvestre foi reduzida. O incentivo ao cultivo e domesticação aumentou, e muitas variedades de plantas, incluindo perenes, foram plantadas e selecionadas. Em algumas áreas, desenvolveram-se cultivos complexos, porporcionando todas as necessidades alimentares e outros proudtos assim como fibras e alimento para os animais domésticos. Nos cultivos do sudeste asiático e América Central, o uso múltiplo era a regra, mais que a exceção (fibra, veneno e amido eram obtidos da mesma espécie).”. “Tais sistemas oferecem o melhor modelo agrícola tradicional para uma permacultura moderna. Com o começo da Era Moderna (os últimos três séculos) e a disponibilidade de novas fontes de energia (primeiro carvão, e depois o petróleo), mudanças profundas ocorreram na agricultura. Agora torna-se possível produzir grandes quantidades de alimento ou outro produto agrícola numa região, para consumo em outra. À parte as suas propaladas vantagens, esta tendência levou à destruição dos ecossitemas locais cultivados, pois os produtores iam se concentrando em umas poucas culturas lucrativas. A economia monetarista e uma gricultura regional estável eram, e são, basicamente incompatíveis. Interesses distantes sem nenhum empenho permanente na produtividade da terra, colonizavam novas regiões para cultivo, e os fatores econômicos e sociais forçavam alterações nas regiões de agricultura já estabelecida; desenvolvia-se a empresa agrícola. O sistema industrial baseado em fontes de energia baratas trouxe novos métodos para a terra, possibilitando em larga escala uam faixa complexa de atividades especializadas e práticas impossíveis nos tempos pré-industriais. O impacto do uso intensivo de energia na terra não foi levado em consideração. A agricultura moderna continuou a concentrar-se em sementes anuais, fornecendo o alimento familiar ao povo, ou aqueles adequados às técnicas de produção em massa. Entretanto, grandes energias foram aplicadas aos cultivos industriais como lã, 72 juta, algodão e borrracha, e produtos tais como chá e café tornando-se acessíveis ao homem industrializado às expensas dos ecossistemas locais nos países pobres. Grandes lavouras destinavam-se a alimentar os animais, com as deficiências em energia e proteína sendo irrelevante numa sociedade de uso intensivo de energia. Cada vez mais alimento altamente proteico como peixe era degradado para alimentar animais domésticos. Estas tendências continuam hoje nos países subdesenvolvidos. Nas nações desenvolvidas, a agricultura de cada região tornou-se mais e mais simplificada, mas a escala de produção aumentou, com mais mecanização e amalgamação. A produção de vegetais para alimentação animal atingiu altos níveis da colheita total - a média mundial é de 50% da produção total. O processamento, armazenamento, transporte e comercialização da comida cresceu enormemente. O uso de pesticidas, fertilizantes artificiais, hormônios, antibióticos, e outras substâncias químicas aumentaram com a produção. A energia agora necessária para produzir estas colheitas em muito excede o retorno dela em calorias. Ao passo que a produtividade da moderna agricultura é grande (superprodução constante exigindo sua restrição), o rendimento é outro assunto. Descobrimos que a energia que sustenta o sistema não vem do sol via fotossíntese, como nos tempos préindustriais, mas principalmente os combustíveis fósseis via sistemas industriais. Como Odum demonstra, as altas produtividades de hoje em dia não são devidas a métodos eficientes nem auto-sustentáveis, mas a um elevado subsídio externo de energia. A redução ou colapso do subsídio em energia resultará numa queda catastrófica na produção. A base que suportava mesmo as populações pré-industriais, a baixos padrões de vida, não existiria mais. O atual dano causado à terra produtiva e meio ambiente em larga escala pela agricultura energia-intensiva, ou abreviadamente, ergointensiva, em termos de exaustâo de solo, poluição e criação de pestes resistentes não é exatamente conhecido, mas há indicações de que é considerável, amplamente difuso e de longa duração. A extenção do dano não se evidenciará à humanidade até que a base energética de nosso planeta, sempre em expansão, chegue a um fim; como certamente acontecerá num furturo não muito distante. A reestruturação da agricultura é parte essencial de qualquer tentativa de tratar 73 com a crise ambiental com que o homem se defronta (v. "Blueprint for Survival", Bibl. 29). Um deslocamento para uma agricultura labor-intensiva com objetivo a longo prazo de melhor produtividade e menor consumo de energia é necessário. No entanto, os recurso e a enegia atuais poderiam também ser devotados ao desenvolvimento de variedades vegetais de maior variabilidade genética, como elementos de sistemas simbióticos de baixa energia, que comporiam um ecossistema cultivado. Apenas este tipo de ação permitirá escapar ao destino fatal da agricultura moderna, de lenta degeneração ou colapso total, com o esgotamento dos recursos não-renováveis. Com seus objetivos de máximo uso de recurso renováveis (p. ex., dejetos animais), autossuficiência regional e máximo envolvimento humanoe compreensão da produção vegetal e animla, os chineses (alicerçados em antiga tradição) parecem ser o único povo que teve sucesso em evitar o beco sem sáida da agricultura industrializada ocidental. Algumas das nações do terceiro mundo também estão tentando a mesma transformação. Estas mudanças involvem uma revolução de estilo de vida e da sociedade em geral (V. Kropotkin, Fields, Factories and Workshops) quanto a um arrozoado social por detrás de um amplo envolvimento e na ciência de produção de alimentos.”. (MOLLISON & HOLMGREN, 1981). Conforme o mesmo autor “este estudo considera a possibilidade de um reduzido subsídio em energia para a agricultura, num futuro próximo. Entretanto, a permacultura tal como desenvolvida aqui deverá atrair mais aqueles que buscam a independência da base de apoio industrial da agricultura convencioanl e para as cidades que se defrontam com custos crescentes de alimentação e transporte. Permacultura é a evolução estendida e desenvolvida de uma base de apoio completa para o homem , além daquela desenvolvida pelas sociedades pré-industriais. O fato de se basear na permanência serve para definí-la. À parte da prática tradicional do pomar e outras monoculturas análogas, os sistemas permanentes de cultivos vegetais têm sido pouco desenvolvidos. Porém, alguns autores reconheceram o potencial nãodesenvolvido das plantas perenes. Há várias características de uma permacultura, além da essencial: 1 É possível o uso da terra em pequena escala. 2 Uso da terra intensivo, e não extensivo. 3 Diversidade nas espécies de plantas, variedades, produtividade, microclima e 74 habitat 4 Prazo longo: um processo evolucionário abarcando várias gerações 5 Os elementos integrantes do sistema são silvestres ou pouco selecionados (animais como vegetais). 6 Possibilita a integração de agricultura, pastoreio, reflorestamento, realizando uma verdadeira engenharia ecológica 7 Adaptável a terras marginais, pantanosas, rochosas ou inclinadas, inadequadas a outros sistemas A permacultura diversamente da cultura anual moderna, tem o potencial de evolução contínua rumo a um clímax que se deseje. Os cultivos anuais são destruídos quando da colheita e devem ser replantados, ao passo que na permacultura as plantas e animais, usualmente de vida longa, crescem e mudam com o sistema. A sucessão de espécies ocorre, à medida que o ecossistema se desloca rumo ao clímax. A grande variedade de plantas, desde as grandes árvores copadas até as gramíneas, cria habitat e diversidade de alimento, permitindo uma fauna complexa. Cada elemento serve a diversas funções dentro do ecossistema, e cada função é comum a vários elementos. Assim desenvolve-se um sistema de compensações automáticas, ajudando a evitar pestes e epidemias, e as flutuações das populações têm seu número, frequência e severidade reduzidos (p.ex., a capacidade de sustentar uam determinada espécie de animal doméstico estabiliza-se).”. “O solo torna-se mais complexo sem a destruição, causada pelo cultivo, da humusfera que absorve e armazena os nutrientes (folhas e excrementos) e água, para uso posterior pelas plantas. A humusfera, ou adubo natural, age como controle de plantas pioneiras e reduz a lavagem, o esgotamento e a erosão, mas principalmente, abriga a flora e a fauna em grande variedade Num esboço simples, o ecossistema do solo é uma estratificação de três camadas básicas: a) Camada de mulch/resíduos, de 0,5cm a 10cm. É a camada mais complexa do sistema, biologicamente falando, baseada na decomposição de matéria orgânica, compreendendo folhagem, frutos, nozes, sementes, esterco e resíduos animais. A variedade de flora e fauna bacterianas é grande, e muitas espécies são instrumentais na 75 decomposição. Fungos e líquens são as formas vegetais mais importantes, costumeiramente os agentes primários do decaimento. Muitas formas animais silvestres inferiores vivem da camada de mulch, inclusive as minhocas: larvas de insetos, escaravelhos e centopeias. Uns poucos animais superiores – assim como sapos e lagartos – também ocorrem aqui. Há pouca matéria mineral e todo o sistema costuma ser ácido, devido aos ácidos orgânicos. Algumas raízes das plantas alimentam-se diretamente da camada de mulch b) Solo superficial (2cm a 100cm): Parte mineral, parte orgânica. O material orgânico (húmus) é altamente decomposto e disponível para alimentação de raízes de plantas que estão principalmente no solo superficial. São comuns as associações simbióticas de bactérias e raízes de plantas. Líquens e fungos são comuns e a população animal é considerável, as minhocas sendo comuns. A matéria mineral é quimicamente muito diferente da matéria original, por causa de reações químicas c) Sub-solo (de 50cm a 1000cm): é principalmente mineral, física e quimicamente decomposto a partir da rocha-mãe. O conteúdo orgânico é baixo. Raízes profundas, algumas bactérias e líquens, bem como animais de tocas profundas são as principais formas de vida, aqui. As plantas com raízes profundas retiram água e nutrientes minerais do subsolo, que tende a ser fonte estável desses elementos. A queda de folhas (especialmente das espécies caducas), frutos, cascas, e outras matérias vegetais acumula a camada de mulch, proporcionando substâncias orgânicas, principalmente carbono, mas com alguns compostos nitrogenados e ricos em minerais. Combinados com resíduos animais e esterco, de alto teor mineral e de nitrogênio, estes materiais fornecem os nutrientes para o crescimento vegetal via uma série complexa de decompositores. A camada de resíduos age como reservatório de nutrientes vegetais, segura a água e protege o solo superficial e raízes contra mudanças microclimáticas violentas. Todo o ecossistema pode levar um longo tempo e se desenvolver, mas uma vez estabelecido, é auto-sustentado. A permacultura muda os processos básicos do ecossistema do solo muito pouco. Há toda uma variedade de sistemas de raízes drenando todas as fontes de nutrientes disponíveis. As plantas não são removidas ou cortadas em grandes números, como nas culturas anuais, e deixa-se desenvolver uma camada espessa de resíduos animais e vegetais, sem perturbação. A plantação de grande número de perenes, a irrigação e o mulch, aceleram o processo de desenvolvimento do solo. O uso do mulch 76 significa que num tempo surpreendentemente curto as plantas estão crescendo em condições análogas às de um solo evoluído naturalmente de idade considerável (50 anos ou mais). Isso acontece especialmente se o mulch é de resíduos mistos de animal e vegetal. Com a introdução de animais e a queda de folhas aumentada das árvores copadas, um ecossistema profundo e altamente evoluído pode se desenvolver no solo, em 5 a 10 anos, com materiais de base muito pobres (p.ex., argila pesada, livre de matéria orgânica). A construção do mulch deve ser reconhecida como um dos maiores custos iniciais do desenvolvimento de uma permacultura. Muito embora substâncias assim como algas marinhas, resíduos de esgoto, caules de feijão e cereais, resíduos de feno e esterco animal sejam muito baratos, o transporte e a aplicação podem ser custosos, usualmente na forma de trabalho. Isto por causa do grande volume ocupado por tais materiais. Por exemplo, cargas de serragem de 20m³ não cobrem muito na criação de mulch. Máquinas de moer usadas pelas manicipalidades para eliminar galhos podados de árvores – seriam úties para obter mulch diretamente, usando restos da vegetação rasteira, restos de árvores, de desmatamento, cascas. Toda e qualquer vegetação pode ser considerada como um recurso. Nas zonas I e II, cartolina, tapetes e roupas velhas podem ser usados como primeira camada de mulch. Tais materiais suprimem o crescimento de ervas e estimulam a população de minhocas, ao passo que se decompõem muito rapidamente. Um sistema com mulch pode sustentar um acúmulo denso de plantas, de árvores a gramíneas, que de outro modo competiriam por um suprimento limitado de nutrientes. Obviamente, tal mulch deve suprir todos os nutrientes e incluir alto teor de N-P-K (resíduos animais) e calcáreo, ou dolomita, para equilibrar o alto teor carbônico e acidez da maioria dos mulch orgânicos, oferecendo grande variedade de oligoelementos. Nas zonas exteriores, em plantas individuais pode ser utilizado mulch na linha de gotejamento, com substâncias análogas.”. (MOLLISON & HOLMGREN, 1981). Em MOLLISON & HOLMGREN (1981), tem-se que “florestas de faia, plantadas na Europa e alhures tornam-se sistemas produtores de mulch e seus resíduos proporcionam matéria orgânica para solos mais pobres; analogamente, muitas das plantas cultivadas na permacultura (o comfrey, por exemplo) proporciona nutrientes, quando murchos, para tubérculos. Todas as cidades têm terrenos ociosos; margens de estradas, esquinas, gramados, jardins e quintais de casas, varandas, tetos de laje de concreto, balcões, 77 paredes e janelas na face norte. Muitos subúrbios são bem arborizados, mas as espécies vegetais inúteis para o homem é que são envontradas nas cidades. Até parece que se tem vergonha de qualquer plantinha útil; é como se fosse “status” cultivar só plantas inúteis; uma forma de ostentação de riquesa. A cidade poderia, com pouca despesa, produzir grande parte de seu alimento e ao fazê-lo, consumir muitos de seus detritos como mulch e composto. Mas talvez o produto mais valioso de uma cidade devotada à permacultura seria a paz de espírito; uma paranoia invade as cidades e é produto da sensação de impotência em relação à energia e às crises futuras. Desenvolvendo permaculturas públicas e particulares, o povo poderia ver uma fonte de alimento aliada ao abrigo que a cidade fornece até em excesso, envolvendo-se tarefas significativas, ajudando à própria sobrevivência [sic] e à dos outros [sic]. A ética sadia é usar toda a terra próxima da habitação como permacultura da espécie das zonas I e II, qualquer jardim botânico demonstra a rica variedade possível, disponível à agricultura da cidade e também poderia proporcionar sementes, conselhos e orientação técnica. Analogamente, as autoridades municipais têm pequenos exércitos cuidando de sistemas não-produtivos. É apenas uma questão de persuasão pública e decisão responsável, dirigir estas atividades para espécies úteis, numa permacultura multidimensional e multifacetada. Nada da beleza ou da variedade precisa ser sacrificado, e um ou dois anos de tal esforço garantiria um recurso a longo prazo dentro da cidade, e em suas fronteiras, onde transportes e custos de processamento são mínimos. Atualmente, as cidades são “sumidouros de energia”, donde vulneráveis e dispendiosas. Sua própria existência está em questão, num futuro de energia cara e transporte reduzido. As cidades devem fazer alguma coisa para justificar a sua existência e diminuir sua dependência parasítica em relação às zonas rurais. Só uns pucos privilegiados podem abandonar as cidades, muito embora pesquisas recentes na Austrália mostram que 80% das pessoas gostariam de fazê-lo! Nossas pesquisas na Tasmânia mostram que, daqueles que saem das cidades, muitos têm grau universitário, a maioria é constituído de famílias, e tem mais de 30 anos. Esta é a espécie de gente que a cidade precisa, mas não consegue mais atrair, dado o seu projeto irracional de hoje em dia. Qualquer indivíduo com um terreno livre na cidade pode estabelecer uma permacultura, escolhendo as plantas mais adequadas à situação, ou as de sua preferência pessoal. 78 Foi avaliado que as cidades sustentam mais floresta que as zonas rurais desenvolvidas, e subúrbios de terrenos de ¼ de acre podem produzir 28% a mais de alimento que as propriedades rurais circunjacentes. É um desafio à cidade ver o que se pode fazer com seus recursos únicos. Os gramados, na maioria dos casos, são sistemas que absorvem energia. Os edifícios com fachadas envidraçadas são estufas sem uso. Se ao menos uma única firma encorajasse seus empregados a usar estas vantagens, poderia haver um novo interesse no local de trabalho e as lições essenciais que todos precisamos aprender. Os pátios da maioria dos edifícios produziriam ao menos parte do café para o desjejum e libertaria terra do Terceiro Mundo para uma agriculturaque lhe seja mais útil. As janelas podem ser adaptadas, como mostrado em Abrahams (1975), para o cultivo de sementeiras e viveiro, e claraboias amplas nos telhados voltados para o norte também. Trepadeiras, moderadoras do calor do verão, são um cultivo especial para as regiões quentes. Os parques, agora gramados, poderiam ser cobertos com plantas baixas, sob as árvores, como frutas pequenas, comfrey. Árvores frutíferas podem substituir espécies inúteis. Não se pretende, nem se sugere aqui que as cidades com seus parques não apresentem um valor estético intrínseco, nem que as árvores belas e antigas sejam removidas, exceto quando naturalmente morrerem. Mas é tempo de pensar na substituição por espécies úteis, para que as florestas e parques estéreis possam ser superados, e seus produtos utilizados (madeira, combustível e mulch). Espécimes de jardineira podem ocupar lugares no concreto e no asfalto, e mesmo pequenas covas nestes locais produzirão uma árvore grande e saudável. As folhas e galhos cortados das permaculturas urbanas são componentes ideais para compostagem e mulch para cultivos anuais de quintais, ou pátios de concreto e coberturas de prédios de apartamentos. Tetos cobertos de terra (lajes) são também isolantes, e conservam energia, além de produzir plantas alimentícias para o sustenteo da vida. Muito embora muitas ruas sejam arborizadas, poucas têm plantas baixas, e sob as copas das árvores há literalmente centenads de acres de taludes não-utilizados e áreas públicas abertas.”. 79 De acordo com o mesmo autor, “janelas e aquecedores proporcionam o calor para secagem de produtos vegetais, para armazenamento, assim como ameixas, abricot, pêras, maçãs e feijões. Papel de alumínio pode refletir a luz para cantos escuros, ou espelhos quebrados. As paredes podem ser pintadas de negro, ou de branco, para servir como captadores de luz, ou refletores. A comunicação e o intercâmbio de técnicas, receitas, experiências e plantas via um jornalzinho possibilitam aos moradores das cidades que se encorajem uns aos outros. As implicaçãoes para a racionalização do consumo de energia são óbvias. O consumo direto elimina transporte, embalgem e desperdícios por estragos diversos. Acrescenta-se variedade à dieta e um alimento livre de poluíção química. Os muitos jovens e o anciãos podem fazer um trablaho útil nos ecossistemas permaculturais urbanos e os “desempregados” podem achar uma atividade útil em expandir um tal ecossistema. Muito do que hoje é “lixo” pode ser retornado ao solo, acumulando nele nutrientes e atenuando o desperdício hoje causado pelas cidades. As influências educacionais são também óbvias, pois estudantes de qualquer idade podem construir e observar um ecossistema permacultural e, ao fazê-lo desenvolver capacitações técnicas para uso fora da escola, e idealizar métodos de utilização do lixo, enquanto praticando a ciência da ecologia. Quase qulaquer disciplina pode encontrar uma aplicação num ecossistema permacultural.”. “Em qualquer sistema estabelecido para cultura perene, as ervas daninhas devem ser antes controladas, e em zonas interiores e intensivas, ou zonas urbanas, isot pode ser atingido pelo uso de mulch. Basicamente, o procedimento é o seguinte: Uma fina camada de nitrogênio orgânico mais um pouco de calcáreo moído, ou dolomita devem ser espalhados na área a ser plantada. A grama e as ervas daninhas devem ficar intocadas e arbustos devem ser cortados e deixados no chão. Começando de uma margem livre das ervas, assim como um caminho ou alicerces de uma casa, a área é coberta com saquinhos, trapos, tapetes, capachos, jornais, papelão, placas de gesso quebrado, de modo a cobrir completamente as ervas indesejáveis. Cobre-se tudo com folhas, serragem, casca de árvore, casca de batata, casca de arroz, palha, ou qualquer cobertura semelhante. O resultado final tem um aspecto 'limpo'. Usa-se um balde de terra com areia para amontoar a terra em torno dos brotos e raízes. Sementes, bulbos e brotos são enterrados individualmente, com uns dois punhados, cada um no local desejado. Para árvores, tomateiros, ou inhames de húmus de 80 baixo , antes de colocá-los no montículo de terra. Regue bem a área antes de plantar. Em uns poucos dias, a grama e ervas originais (quanto mais, melhor) amarelam e caem. As minhocas começam seu trabalho, e as novas plantas se estabelecem, e vão brotando. Não é preciso capinar. As ervas fortes que aparecem são abafadas com papelão molhado ou cartolina, e mulch solto com que as cobre. Assim, um sistema perene substitui outro. [...] Todo o mulch é estendido à medida que necessário, e as anuais podem produzir, no começo de seu desenvolvimento, entre as perenes. Trechos de serragem se transformam em solo, depois as perenes se propagam apra substituir produções anuais, à medida que o sistema evolui. [...] Em áreas de baixa pluviosidade, podem ser necessários poços para espécies que precisam de sombra e umidade, assim como abóboras e aipos, em áreas de alta pluviosidade, tais espéicies precisam ser cultivadas em morros. Se as plantas forem espalhadas ao acaso, em nichos, logo indicam que o tratamento é melhor para elas; o objetivo de uma permacultura não é desenvolver um sistema de plantio em fileiras e canteiros, mas desenvolver fronteiras e complexidade para ulteriores estudos, e originalmente colocamos as pequenas plantas quase ao acaso, usando uma localização cuidadosa para as espécies maiores e mais duradouras. [...] Os resíduos de esgotos atualmente estão contaminados com metais pesados e substâncias químicas perigosas, principalmente em resultado da eliminação ilegal de resíduos industriasi no esgoto residencial, mas também em virtude da eliminaçõ de de tais substâncias pelo corpo humano, pela contaminação desnecessária do ar e da comida. O esgoto contaminado pode ser usado para cultivar plantas , mas de início seu uso deve ser restringido a vegetais que darão combustíveis e fibras, e não alimento. Assim com o tempo, a formação natural de mulch, a dispersão e a recuperação de metais de sistemas de combustível, ou a desassociação da substância química por destilação destrutiva poderá continuar até que o esgoto se torne de novo o fertilizante seguro e valioso que foi em outras épocas. Qualquer sociedade que tem energia para trazer alimento para dentro de si tem a energia para devolver resíduos secos para os locais de produção de alimentos, e os custos deste transporte de volta são parte essencial dos custos reais de energia envolvida na produção do alimento.”. (MOLLISON & HOLMGREN, 1981). 81 2.4.1. Relações espaciais na agricultura O plano-base de zona e setor é basicamente um plano de racionalização de energia, destinado ao melhor rendimento possível, tanto a curto como a longo prazo. O zoneamento de dentro de casa até o horizonte é possível, tanto quanto uma boa planta de cozinha segue um fluxograma de esforo mínimo. Assim, as zonas representam os valores de energia inerentes ao interior do sistema, as necessidades de atenções ou controle das plantas, a necessidade de casa por aquela planta em especial, a energia ou produto vital fornecidos pela planta ou pela unidade. Zoneando todas as espécies (vegetais e animais) e todas as estruturas (lagoa, sebe, abrgios, poço) o trabalho humano no sistema é empregado com rendimento máximo. A divisão setorial é utilizada para o controle eficiente dos recursos energéticos exteriores ao sistema (Sol; vento; fogo), e o fluxo destes recursos energéticos pode ser bloqueado, canalizado ou intensificado pelo planejamento. Assim, o vento pode ser bloqueado, dirigido a um moinho de vento, ou deixado desimpedido como refrigeração ou aquecimento, para moderar as temperaturas. O fogo é claro, é excluído enquanto incêndio descontrolado, mas usado como combustão controlada dentro do sistema. Podese fazer um diagrama de localização ideal para uma propriedade isolada, mas as considerações quanto ao local real, limites de tamanho da propriedade e outras considerações práticas, limitam essa forma “perfeita”. Basicamente, propusemos um plano de zona e setor sobre a ecocenose: as zonas representando a intensidade do uso e a necessidade de se visitar as culturas, os setores concernentes ao Sol, ao vento e ao fogo, e as alturas limitadas pela necessidade de admitir o Sol no inverno para o complexo residencial central (isto é, considerando as alterações dos círculos horários do sol e dos ângulos deste com relação à paisagem, quando da passagem de estações da ano). É útil considerar o sítio como um conjunto de zonas concêntricas. São elas: Zona I: origem do sistema e centro da atividade, área rodeando a casa, representando o uso da terra mais intensivo e controlado. Nesta zona, propagação e criação, construção e manutenção, experimentação e observação são as características. Contém a residência, oficina, estufa, sementeiras, horta intensiva, mas nenhum animal. A cobertura de mulch pode ser feita continuamente e reaplicada conforme necessário. Zona II: permacultura intensivamente cultivada. As estruturas incluem terraços, 82 paredes de pedra, sebes, lagoas e caramanchões. O uso de mulch é extensivo ou contíguo no começo do estabelecimento, rettícula de irrigação e plantas geralmente bem mantidas (poda, controle de pragas, controle de vegetação expontânea, caramanchões). A plantação é densa, com poucas árvores grandes, mas com uma camada de complexa de gramíneas e vegetação baixa, especialmente de pequenas frutas. Espécimes de natureza marginal requerendo cuidado especial estariam nesta zona. Só as espécies das zonas I e II seriam recomendáveis para áreas urbanas. Pássaros assim como porcos da Índia, patos, galinhas, pombos e perdizes, poderiam ser criados soltos ou em cercados Zona II. Os coelhos devem sofrer um controle estrito. Zona III: permacultura forte. Os produtos são principalmente para animais, colhidos e como forragem. Contém plantas resistentes em níveis inferiores e camada de gramíneas ou pasto auto-perpetuante. As estruturas vegetais incluem capões de mato, sebes e quebra-ventos. A cobertura de mulch local é orientada, a água não é abundantemente reticulada, mas é disponível para animais. Nozes são o principal alimento disponível diretamente das plantas. Árvores e arbustos recém-plantados são protegidos com estacas ou grades. Os animais podem ser: gansos, galináceos, perus, coelhos, carneiros, wallabys. Zona IV: cultura extensiva de árvores e pasto, aberto com sebes de plantas resistentes, frequentemtne espinhosas, para proteção. A produção de alimento que não carne é ocasional, principalmente de árvores novas, semeadas. A madeira é um produto derivado. Pavões, bovinos, cavalos, muares, veados e porcos seriam animais adequados. O carneiro, o wallaby, o peru e o ganso seriam também apropriados para esta zona. Os animais se sustentariam principalmente por si mesmos. Água, húmus e manutenção exigiriam trabalho mínimo. Plantas novas devem ficar engradadas. Os possuns devem ser controlados, assim como nas zonas I, II e III. Zona V: strictu sensu, situada externamente ao sistema, podendo ser considerada terra inculta. Uso direto: madeira e/ou caça. 2. 4.1.1. Planejamento setorial Os setores podem ser planejados de acordo com dados locais sobre a rosa dos ventos, disponíveis para a maioria das localidades. O conhecimento do local é inestimável, e o histórico de incêndios, velocidade, magnitude e duração pode ser obtido de residentes mais antigos. A vegetação sobrevivente pode indicar as espécies que 83 retardam ou sobrevivem ao “holocausto”, mas a escolha deliberada de espécies que retardam o fogo e a cuidadosa disposição das estruturas é essencial se se objetiva um eficaz controle de incêndios, como acontece na maioria dos climas mediterrâneos. Há também dados sobre a elevação do sol para latitudes e localidades específicas, de modo que a elevação de construções, caramanchões, cobertura de paredes, bem como os materiais, acabamento de superfícies e curvatura d erparedes – podem ser usados para aumentar, diminuir ou direcionar o calor do Sol. As represas, além de outras funções, devem ser posicionadas para refletir o sol ou retardar o fogo. O uso eficaz da luz solar também é garantido pela preservação de sequências escalonadas de fronteiras na plantação global, assim como os tetos de fábricas são escalonados para permitir iluminação máxima pelo Sol. Plantas assim como a coprosma, com superfície foliar lisa e brilhante, podem ser plantadas como refletores solares vivos dando uma reflexão difusa mas aumentada para outras espécies como citros. É uma questão de escolha pessoal e fatores locais a maneira de se executar o planejamento setorial. Por exemplo, como se observou que gafanhotos viajam ao longo de (não sobre) plantações lineares de árvores altas, pode ser interessante usar uma estruturação de zonas mais sofisticada que a aqui delineada. O objetivo do planejamento setorial é canalizar as energias externas para servir às necessidades internas e conforto de um ecossistema e/ou agroecossistema permaculturais evoluídos. Lagos e rios abrem possibilidade da aquacultura na ecologia geral. Uma represa construída para a aquacultura precisa mais planejamento que um simples reservatório de água, porque deve ter patamares sobre a água, ilhas e poços mais profundos, sob a água. Os patamares permitem a plantação de bambus e caniços em águas rasas; ilhas são ideais para nidificação de aves aquáticas e poços preservam os peixes nas temperaturas extremas ou quando o sistema é drenado. 2.5. Casa da Solidariedade e Sanga da Madeira A Casa da Solidariedade é um espaço para prática de permacultura e bioconstrução, bem como para atividades em educação ambiental e pedagógicas em geral sob ótica lúdica em se tratando de educação infanto-juvenil e ótica técnica em se tratando de adultos. É destinada a atender necessidades da comunidade Sanga Madeira, 84 comunidade carente situada em Passo de Torres, Santa Catarina, localizada contiguamente à Casa da Solidariedade. Além da Casa da Solidariedade, realizam-se projetos de hortas agroecológicas junto aos domicílios da comunidade Sanga da Madeira. Abaixo e nas páginas a seguir, encontram-se fotografias da Casa da Solidariedade. Ilustração 19: Entrada da Casa da Solidaridade propriamente dita Ilustração 20: Captação de água da Casa da Economia Solidária. Ao fundo, canteiro em espiral. 85 Ilustração 21: Área de recreação infanto-juvenil Ilustração 22: Capina sobre excesso de vegetação espontânea incorporada em sistemas compostagem in loco Ilustração 23: “Mulching” e compostagem in loco de 86 Ilustração 24: Formatos irregulares dos canteiros Ilustração 25: Vegetação espontânea em excesso anteriormente à capina para utilização de massa verde em compostagem in loco 87 Ilustração 26: Composição das paredes de pneus revestidos com barro Ilustração 27: agroecológico Porção de sistema de saneamento básico 88 Ilustração 28: Porção de sistema de saneamento básico agroecológico aumentada Ilustração 29: Resíduos urbanos de tratos culturais depositados em local público em compostagem in loco Ilustração 30: Ventilação 89 Ilustração 31: Canteiro contíguo à parede lateral da Casa da Solidariedade Ilustração 32: Ampliação de porção do canteiro contíguo à Casa da Solidariedade Ilustração 33: Tijolos de solo-cimento 90 Ilustração 34: Telha de "Tetra Pak" [sic] reciclado 2.6. Pesquisas desenvolvidas 2.6. 1. Pesquisa publicitário-econômica sobre comercialização de produtos agroecológicos em estabelecimentos gerais e especializados na região de Torres/RS. Pesquisa realizada pelo autor e por Mônica Jacob Magnus, outra estagiária também aluna do IFC Sombrio e colega de classe durante o curso técnico agrícola com habilitação em agropecuária, acerca dos preços de produtos agroecológicos e agrícolas convencionais em pontos de venda, gerais e especializados, nos municípios de Torres/RS e Três Cachoeiras/RS. A pesquisa serviu de subsídio para produção de material de marketing. Na página a seguir, tabela contendo pesquisa em estabelecimentos gerais e especializados em Torres/RS. 91 Produto Nacional Bom Rancho EcoTorres Mundo Orgânico Cenoura 1,98/kg 1,49/kg 1,80/kg 1,75/kg Batata 1,58/kg 1,59/kg não havia não havia Batata orgânica não havia não havia 3,00/kg 3,90/kg Alface 2,58/unidade 0,85/unidade não havia não havia Alface orgânica 3,48/unidade não havia 1,00/unidade 0,95/unidade Tomate 2,98 /kg 1,99/kg não havia não havia Tomate orgânico 11,45/kg não havia 3,70/kg 3,95/kg Brócolis 5,87/kg 6,00/kg não havia não havia Brócolis 16,60/kg não havia 6,00/kg não havia Ovos 3,38/dúzia 2,75/dúzia não havia não havia Banana 3,67/kg 1,99/kg não havia não havia Banana orgânica 5,96/kg não havia 1,99/kg 1,80/kg Polpa de açaí não havia 15,00/kg não havia Molho de tomate 2,88/340 g 2,59/340 g não havia não havia Molho de tomate 7,10/340 g não havia 4,97/340 g 5,44/340g 6,58/l não havia não havia não havia 9,90/l 7,5/l Doce de banana 5,95/kg 6,22/kg 23,77/kg não havia Linhaça 15,90/kg 30,45/kg 7,99/kg não havia Granola 25,85/kg 12,29/kg 12,50/kg 12,00/kg Mel 19,70/kg 18,50/kg não havia não havia Mel orgânico 29,55/kg não havia 12,00/kg 7,50/kg Pão 2,48/unidade 2,09/unidade 4,50/unidade não havia orgânico 14,70/kg orgânico Suco de uva Suco de 9,88/ l uva 12,96/ l orgânico Tabela 12: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos gerais e especializados em Torres/RS A tabela na página a seguir mostra os preços em estabelecimentos gerais e especializados em Três Cachoeiras/RS 92 Produto Bom Rancho Ofertão Coopet Cenoura 1,24/kg 1,59/kg 2,21/kg Batata 0,99/kg 0,89/kg não havia Batata orgânica não havia não havia 3,68/kg Alface 0,90/unidade 0,95/unidade não havia Alface orgânica não havia não havia 1,18/unidade Tomate 1,75/kg 1,95/kg não havia Tomate orgânico não havia não havia 5,88/kg Brócolis 6,00/kg 6,30/kg não havia Brócolis não havia não havia 8,85/kg Ovos 2,59/dúzia 2,59/dúzia 4,85/dúzia Banana 1,59/kg 1,79/kg não havia Banana orgânica não havia não havia 1,94/kg Polpa de açaí não havia 14,70/kg Molho de tomate 2,79/340 g 2,79/340 g não havia Molho de tomate não havia não havia 4,69/340g 11,80/ L não havia não havia 8,76/L Doce de banana 6,22/kg 6,50/kg 8,40/kg Linhaça 5,40/kg 5,58/kg 10,25/kg Granola 17,16/kg 15,60/kg 20,80/kg Mel 15,60/kg 15,10/kg não havia Mel orgânico não havia não havia 13,23/kg Pão 2,09/unidade 2,09/unidade 4,41/unidade orgânico não havia orgânico Suco de uva Suco de 7,90/ L uva não havia orgânico Tabela 13: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos gerais e especializados em Três Cachoeiras/RS A tabela disposta na página a seguir mostra preços em feira convencional e na Feira Ecológica da Lagoa do Violão, em Torres/RS. 93 Produto Feira Ecológica Feira Convencional Cenoura 2,00/kg 1,50/kg Batata não havia 1,50/kg Batata orgânica não havia não havia Alface não havia 0,75/unidade Alface orgânica 1,00/unidade não havia Tomate não havia 2,00/kg Tomate orgânico 3,50/kg não havia Brócolis não havia 6,65/kg Brócolis orgânico 6,65/kg não havia Ovos 4,00/dúzia 2,00/dúzia Banana não havia 0,80/kg Banana orgânica 1,25/kg não havia Polpa de açaí 10,00/kg não havia Molho de tomate não havia não havia Molho de tomate 3,77/kg não havia orgânico Suco de uva não havia 8,4/L Suco de uva orgânico 7,50/l não havia Doce de banana 11,30/kg 7,14/kg Linhaça não havia não havia Granola não havia não havia Mel não havia 10,00/kg Mel orgânico 10,00/kg não havia Pão 3,00/unidade não havia Tabela 14: Preços de produtos agrícolas em feira "convencional" e feira ecológica, em Torres/RS 2.6.2. Efeitos ecotoxicológicos e de toxicologia humana de resíduos de agrotóxicos em alimentos Pesquisa realizada pelo autor sobre efeitos ambientais e toxicológicos humanos de resíduos de agrotóxicos em alimentos e quantidade de resíduos de agrotóxicos presentes em alimentos. Anexo ao relatório, na seção de apêndices, encontra-se extrato da pesquisa realizada. 94 2.6.3. Sequestro de carbono e Levantamento Fitossociológico em Sistemas Agroflorestais de Bananicultura Agroecológica Componentes anteriormente no do tópico projeto realizado Ecossistemas e pelo Centro Ecológico Agroecossistemas, o descrito Levantamento Fitossociológico e o estudo de sequestro de carbono em Sistemas Agroflorestais de Bananicultura Agroecológica podem ser considerados remanescentes de pequisas mais complexas efetuadas em virtude da tese de doutorado em filosofia (PhD) de André Luís Gonçalves pela Universidade de Cornell, que também avaliava eficiência energética de sistemas agroflorestais. Atualmente, o Levantamento Fitossociológico e o estudo de sequestro de carbono estão vinculados a projetos de pagamento por serviços ambientais, como foi mencionado anteriormente. Cabe lembrar que o sequestro de carbono tem seu valor independentemente da solução da polêmica do efeito estufa antropogênico, já que excesso de monóxido de carbono e dióxido de carbono no ar é nocivo à saúde humana e outros seres vivos e que tais gases alteram o pH da água da chuva. Contudo, outros gases como por exemplo à base de nitrogênio e/ou enxofre são mais “potentes” para formação de chuva ácida. Outro fato é que o sequestro de carbono é benéfico para o agroecossistema, já que a dinâmica da vida tende a ser potencializada no mesmo. O Levantamento Fitossociológico é importante para avaliação da agrobiodiversidade e da biodiversidade como um todo nos agroecossistemas, considerando-se aspectos como sucessão ecológica e teoria sistêmica. No período em que o autor realizou estágio, as pesquisas eram feitas por integrantes da ONG e por integrantes do Programa de Educação Tutorial do Instituto Federal Catarinense, coordenado por André Luís Gonçalves. O trabalho de campo consistia em demarcar trechos dos sistemas agroflorestais, tomados como parcelas de mesma área e representativas da realidade do sistema agroflorestal e na subdivisão destas parcelas. Os vértices da área eram demarcados com GPS. Eram obtidos quatro dados por espécime: localização da árvore, demarcada com GPS, altura, diâmetro ao peito e espécie. Eram utilizadas, inicialmente etiquetas metálicas para identificação das árvores e posterior acompanhamento do sequestro de carbono e do levantamento fitossociológico. Porém, ao longo do estágio não foi necessário utilizar estas etiquetas, embora o autor e Mônica Jacob Magnus tenham confeccionado as mesmas, como ilustra 95 fotografia abaixo. Ilustração 35: Confecção de placas metálicas espécimes de identificação de 96 3. CONCLUSÃO A vivência da sustentabilidade, da ecologia, é algo deveras crucial, sobretudo atualmente, dando-se de maneira plena na transposição das tênues barreiras instituídas pelo pensamento linear ocidental entre os conceitos e os objetos a que estes conceitos dizem respeito. Esta necessidade fundamental de se vivenciar a Ecologia está inserida de modo essencial no universo agrícola onde as chamadas tecnologias verdes; aliam os elementos tradicionais milenares dos agricultores (cultura popular) a inovações tecnológicas das ciências ambientais e agrícolas. Quando o homem perscrutar a essência dinâmica não-linear que é o modo como a Natureza existe, ou, em outras palavras, processa dados; doravante, terá maiores êxitos tecnológicos, pois terá vivenciado a grande conexão que há entre o macro e o micro, entre todo e parte entrelaçados em uma grande rede, vendo-se não à parte mas a parte, vendo não o todo, mas no todo. Estamos, certamente, no despontar de uma grandiosa era, iniciada na segunda metade do século passado, onde a Ecologia e outras áreas tratadas com importância minúscula ao longo de boa parte da história da humanidade adquirem dimensões fenomenais. Esta era de crise e revolução, apresenta-nos a força motriz necessária para o progresso da relação homem-natureza, cada vez mais, humanizada, espontânea, complexa7 e sustentável. Neste ínterim, isto é como elemento componente deve ser destacado, e dado maior atenção a este elemento, o foco agrícola não em ora uma cultura ou outra cultura, mas em agroecossistemas que levem em conta ecossistemas nativos ao local e ecossistemas oriundos de outros locais, com necessidade cada vez mais crescente de conceber-se tais agroecossistemas como de caráter paisagístico, além de alimentar. É dever dos profissionais no escopo agrícola perceber e defender a Vida, como dotada de valor e sentido, significado, intrínsecos. Há neste processo, algumas limitações do tipo: discrepâncias do reino animal em relação a demais reinos, por apresentar sistemas de organismos específicos para gestão de dados (neurobiologia) ainda que de maneira por vezes deveras incipiente, o que dota a sensibilidade animal, dita senciência, de cunho 7 Paradigma da Complexidade de Edgar Morin. 97 mais intenso que em outras espécies No entanto, estas pequenas alterações conceituais não modificam substancialmente a importância da reflexão e proteção da vida que profissões como as das áreas biológica, agrícola, médica veterinária e média humana tem por dever e por essência. 98 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTIERI, M. A. Agroecology: principles and strategies for designing sustainable farming systems. University of California, Berkeley. Disponível em html em http://www.cnr.berkely.edu/~agroeco3/principles_and_strategies.html . Acessado em 10 de Abril de 2011, às 00h25min. ATTRA. 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O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia nãorenovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente. § 1o A finalidade de um sistema de produção orgânico é: I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção; III – incrementar a atividade biológica do solo; IV – promover um uso saudável do solo, da água e do ar, e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas; V – manter ou incrementar a fertilidade do solo a longo prazo; VI – a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis; VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas 101 organizados localmente; VIII – incentivar a integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a regionalização da produção e comércio desses produtos; IX – manipular os produtos agrícolas com base no uso de métodos de elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas. § 2o O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial abrange os denominados: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológicos, permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos por esta Lei. Art. 2o Considera-se produto da agricultura orgânica ou produto orgânico, seja ele in natura ou processado, aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local. Parágrafo único. Toda pessoa, física ou jurídica, responsável pela geração de produto definido no caput deste artigo é considerada como produtor para efeito desta Lei. Art. 3o Para sua comercialização, os produtos orgânicos deverão ser certificados por organismo reconhecido oficialmente, segundo critérios estabelecidos em regulamento. § 1o No caso da comercialização direta aos consumidores, por parte dos agricultores familiares, inseridos em processos próprios de organização e controle social, previamente cadastrados junto ao órgão fiscalizador, a certificação será facultativa, uma vez assegurada aos consumidores e ao órgão fiscalizador a rastreabilidade do produto e o livre acesso aos locais de produção ou processamento. § 2o A certificação da produção orgânica de que trata o caput deste artigo, enfocando sistemas, critérios e circunstâncias de sua aplicação, será matéria de regulamentação desta Lei, considerando os diferentes sistemas de certificação existentes no País. Art. 4o A responsabilidade pela qualidade relativa às características regulamentadas para produtos orgânicos caberá aos produtores, distribuidores, comerciantes e entidades certificadoras, segundo o nível de participação de cada um. 102 Parágrafo único. A qualidade de que trata o caput deste artigo não exime os agentes dessa cadeia produtiva do cumprimento de demais normas e regulamentos que estabeleçam outras medidas relativas à qualidade de produtos e processos. Art. 5o Os procedimentos relativos à fiscalização da produção, circulação, armazenamento, comercialização e certificação de produtos orgânicos nacionais e estrangeiros, serão objeto de regulamentação pelo Poder Executivo. § 1o A regulamentação deverá definir e atribuir as responsabilidades pela implementação desta Lei no âmbito do Governo Federal. § 2o Para a execução desta Lei, poderão ser celebrados convênios, ajustes e acordos entre órgãos e instituições da Administração Federal, Estados e Distrito Federal. Art. 6o Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração das disposições desta Lei será apurada em processo administrativo e acarretará, nos termos previstos em regulamento, a aplicação das seguintes sanções, isolada ou cumulativamente: I – advertência; II – multa de até R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais); III – suspensão da comercialização do produto; IV – condenação de produtos, rótulos, embalagens e matérias-primas; V – inutilização do produto; VI – suspensão do credenciamento, certificação, autorização, registro ou licença; e VII – cancelamento do credenciamento, certificação, autorização, registro ou licença. Art. 7o Caberá ao órgão definido em regulamento adotar medidas cautelares que se demonstrem indispensáveis ao atendimento dos objetivos desta Lei, assim como dispor sobre a destinação de produtos apreendidos ou condenados na forma de seu regulamento. § 1o O detentor do bem que for apreendido poderá ser nomeado seu depositário. § 2o Os custos referentes a quaisquer dos procedimentos mencionados neste artigo correrão por conta do infrator. Art. 8o As pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que 103 produzam, transportem, comercializem ou armazenem produtos orgânicos ficam obrigadas a promover a regularização de suas atividades junto aos órgãos competentes. Parágrafo único. Os procedimentos de registro, cadastramento, licenciamento e outros mecanismos de controle deverão atender ao disposto no regulamento desta Lei e nos demais instrumentos legais pertinentes. Art. 9o Os insumos com uso regulamentado para a agricultura orgânica deverão ser objeto de processo de registro diferenciado, que garanta a simplificação e agilização de sua regularização. Parágrafo único. Os órgãos federais competentes definirão em atos complementares os procedimentos para a aplicabilidade do disposto no caput deste artigo. Art. 10. Para o atendimento de exigências relativas a medidas sanitárias e fitossanitárias, as autoridades competentes deverão, sempre que possível, adotar medidas compatíveis com as características e especificidades dos produtos orgânicos, de modo a não descaracterizá-los. Art. 11. O Poder Executivo regulamentará esta Lei, definindo as normas técnicas para a produção orgânica e sua estrutura de gestão no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal. § 1o A regulamentação deverá contemplar a participação de representantes do setor agropecuário e da sociedade civil, com reconhecida atuação em alguma etapa da cadeia produtiva orgânica. § 2o A regulamentação desta Lei será revista e atualizada sempre que necessário e, no máximo, a cada quatro anos. Art. 12. (VETADO). Parágrafo único. O regulamento desta Lei deverá estabelecer um prazo mínimo de 01 (um) ano para que todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva possam se adequar aos procedimentos que não estejam anteriormente estabelecidos por regulamentação oficial. Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 23 de dezembro de 2003; 182o da Independência e 115o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos 104 Roberto Rodrigues Marina Silva 5.2. Apêndice conceitos, 2. Re-enunciação possibilidades e sumária princípios de de permacultura Adaptação de MOLLISON & HOLMGREN (1981). i. O planejamento da permacultura é em primeiro lugar espacial (Zona, Setor, Fronteira, Elevação) e em segundo lugar ecológico (Diversidade, Polivalência, Produção de Energia); ii. Todos os processos: planejamento, plantação, construção, cercado, controle, direção e utilização são evolutivos, levando a estratégias novas ou alternativas, para o planejamento futuro; iii. O objetivo no sentido amplo é desenvolver uma síntese autossustentável de habitação, paisagismo, vegetação e espécies animais (incluindo o homem) iv. A energia é conservada e gerada dentro do sistema, ou dirigida e controlada caso venha de fora; v. Colheitas e produção diversificada em cada estação significam uma entrada de mão-de-obra e técnicas simples, mas pode-se satisfazer a maior parte das necessidades humanas; vi. Os animais são aceitos (mas não obrigatórios) no projeto do sistema, mesmo com alguma perda de produtividade, pois os animais podam e utilizam o pasto, resíduos e produtos inacessíveis ao homem, bem como dão uma diversidade de produtos bem característicos; vii. Cada elemento é disposto para se obter o melhor uso de energia, e de acordo com princípios gerais, de modo que cada estrutura e espécie servirá a duas ou mais funções; viii. A observação da evolução do sistema levará a ideias de como aumentar a complexidade, estabilidade e produtividade. O controle e a observação são necessidades permanentes; 105 ix. Conceitos assim como: terras ruins, edifícios não-utilizados, espaço vertical não-ocupado, desemprego e lixo orgânico devem tornar-se obsoletos, especialmente nas cidades, pois todos podem ser utilizados na produção de energia para a comunidade; x. As cidades futuras podem ser planejadas para ser grandemente autossuficientes e produtivas, e as cidades já existentes, alteradas segundo este fim; xi. Toda disciplina, ofício e habilidade podem ser utilizados no planejamento, controle e produção do sistema; xii. Os sistemas biotécnicos podem frequentemente substituir dispositivos mecânicos ativos para produzir energia ou modelar o ambiente das cidades e edificações; xiii. Uma permacultura em evolução leva em consideração as preocupações do presente, e constroi uma herança benéfica para o futuro; xiv. O envolvimento com a permacultura provoca um enfoque filosófico e natural do meio ambiente e seus produtos, demonstrando os valores intrínsecos de sistemas complexos, e gera a base de uma ciência ambiental totalmente integrada; xv. A estabilidade regional é promovida, e o comércio regional evolui, de modo que a dependência de propriedades ou energia distantes é reduzida ou tornada irrelevante. Assim indivíduos e grupos começam a garantir o controle sobre seus estilos de vida e seus futuros; xvi. Há aplicações a áreas pequenas e grandes, de dentro de casa até a fronteira, e atividades úteis em potencial para jovens, velhos e enfermos; xvii. Produtos e resíduos retornam ao sistema, a fertilidade cresce com o solo acumulando complexidade e nutrientes essenciais; xviii. A energia gerada é governada pelo rendimento do uso da energia fotossintética, e podem ser produzidos combustíveis para sistemas móveis; xix. Assim uma sociedade fica empenhada em produzir o essencial à sua própria existência [...]. 106 2. 5. 3. Apêndice 3. Biocidas: Ecotoxicologia e Toxicologia Humana BIOCIDAS E SEUS RESÍDUOS ECOTOXICOLOGIA E TOXICOLOGIA HUMANA Matheus de Lima Pereira AGROTÓXICOS/BIOCIDAS (GERAL) Estudo da Academia Americana de Pediatria demonstra que incidência de transtorno de déficit de atenção em crianças pode estar associada a resíduos de agrotóxicos em alimentos, como frutas, verduras e legumes. Isto se deve ao fato de grande parte dos agrotóxicos atuarem a nível de sistema nervoso. Fonte: Rede Globo (2010). In “Jornal Nacional – Estudo diz que agrotóxicos podem aumentar risco de déficit de atenção e hiperatividade”. Disponível em html em http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/05/estudo-diz-que-agrotoxicos-podemaumentar-risco-de-deficit-de-atencao-em-criancas.html . GRUPOS QUÍMICOS I. Organofosforados: Os agrotóxicos organofosforados reagem com enzimas que possuem resíduos do aminoácido serina (enzimas de serina) no sítio ativo, entre elas a acetilcolinesterase, que decompõe a acetilcolina após a transmissão do impulso nervoso de um neurônio a outro. Ao ser decomposta, a acetilcolinesterase não pode mais decompor a acetilcolina, que se acumula nos receptores sinápticos, impedindo as transmissões nervosas. Em mamíferos, estes efeitos caracterizam-se principalmente por lacrimejamento, salivação, sudorese, diarreia, tremores e distúrbios cardiorrespiratórios. Estes últimos são decorrentes de broncoconstrição, aumento das secreções brônquicas e batimentos cardíacos lentos, bem como de depressão do sistema nervoso central, sendo as principais causas de morbidade e mortalidade por tais produtos. Fonte: WIKIMEDIA FOUNDATION (2011). In “Organofosforados – Wikipédia, a Enciclopédia Livre”. Disponível em html em http://pt.wikipedia.org/wiki/Organofosforados. 107 I.I. Lista de organofosforados: a) Dimetoato Culturas com resíduos: Banana (Musa sp.) Efeitos: Sistêmico, resíduos presentes em todo o produto Classificação toxicologica: Maior parte dos produtos: I (Extremamente tóxico) Agritoato 400 (NUFARM): II (Muito tóxico) Classificação ambiental: II (Muito perigoso ao Meio Ambiente). b) Clorpirifós Culturas com resíduos: Tomate (Lycopersicum esculentum L.) ; Cenoura (Daucus carotæ L.) Classificação toxicológica: Maior parte dos produtos: III (Medianamente tóxico). Clorpirifós Fersol 480 EC (Fersol Indústria e Comércio Ltda.); Curinga (Milenia Agrociências); Klorpan 480 EC; Nufos 480 EC (Cheminova Brasil Ltda.); Pitcher 480 EC (Cheminova Brasil Ltda.); Pyrinex 480 EC (Milenia Agrociências): I (Extremamente tóxico). Landrin Pó (Landrin Indústria e Comércio de Inseticidas Ltda.); Lorsban 10 GR (Down Agrosciences Industrial Ltda.): IV (Pouco tóxico). Clorpirifós 480 EC Milenia (Milenia Agrociências); Lorsban 480 GR (Down Agrosciences Industrial Ltda.); Piritilen (Milenia Agrociências); Vexter (Down Agrosciences Industrial Ltda.): II (Muito tóxico). Classificação ambiental: Maior parte dos produtos: II (Muito perigoso ao Meio Ambiente). Clorpirifós Fersol 480 EC (Fersol Indústria e Comércio Ltda.): I (Extremamente tóxico) c) Metamidofós Culturas com resíduos: Cenoura (Daucus carotæ L.); Tomate (Lycopersicum esculentum L.) Está proibido, depois de 2012, o uso de metamidofós, proibição baseada em estudos científicos que relacionam o uso de metamidofós a problemas no sistema endócrino, reprodutor, desenvolvimento embriofetal e neurotoxicidade. O metamidofós já teve o uso banido em 37 países, dentre os quais, destacadmente União Europeia, Estados Unidos, China, Paquistão, Indonésia, Japão, Costa do Marfim e Samoa. 108 Fontes: Portal Ecodebate: Cidadania e Meio Ambiente (2010). In “Agrotóxicos: Anvisa recomenda banimento dos agrotóxicos metamidofós e tricloform”. Disponível em html em http://www.ecodebate.com.br/2010/02/18/agrotoxicos-anvisa-recomenda-banimento-dosagrotoxicos-metamidofos-e-triclorfom/. O ESTADÃO (2011). In “Uso do agrotóxico metamidofós será proibido até 2012”. Disponível em html em http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,uso-do- agrotoxico-metamidofos-no-brasil-sera-proibido-ate-2012,667465,0.htm. ANVISA (2010). In “Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) – Resultados 2009”. Disponível em pdf em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/14318b0042f5775689429f536d6308db/Result adosPARA2009.pdf?MOD=AJPERES Efeitos: Em 1992, 47 incidentes de envenenamento por Metamidofós afetaram 329 pessoas em Hong Kong, no período compreendido entre junho e julho de 1987. Na Nicarágua foram relatados 548 casos, além de intoxicações agudas causadas por vegetais contaminados por Metamidofós. Apesar da sua baixa toxidade oral aguda, este pesticida apresenta efeitos mutagênicos e teratogênicos. Fonte: LIMA et al. (2001). In “Inseticida organofosforado metamidofós: aspectos toxicológicos e analíticos”. Pesticidas: Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente. Disponível em pdf em http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/pesticidas/article/download/3132/2505. Classificação toxicológica: Maior parte: I (Extremamente tóxico) Metasip (SIPGRAM ISAGRO Brasil Ltda.): II (Muito tóxico) Classificação ambiental: Maior parte: II (Muito perigo ao Meio Ambiente). Strom (NUFARM Indústria Química e Farmacêutica S/A); Metafós (Milênia Agrociências): III (Medianamente perigoso ao Meio Ambiente). d) ditiocarbamatos Informações sobre o impacto ambiental de ditiocarbamatos com respeito à persistência e bioacumulação em diferentes espécies e cadeias alimentares são limitadas. Tem-se sugerido que muitos destes compostos são rapidamente degradados em presença de oxigênio, umidade do solo, etc., para formar um número de compostos, alguns dos quais, por exemplo, ETU e PTU, são toxicologicamente importantes. Quando 109 certas culturas como espinafre, cenouras e batatas, são tratadas com ditiocarbamatos, níveis elevados de ETU são encontrados após cozimento. Em geral, contudo, os níveis de ETU estão abaixo de 0,1mg/kg de produto. Exposição humana a ditiocarbamatos foi calculada para a população dos EUA, considerando-se o consumo dietético de resíduos de ETU em culturas tratadas com ditiocarbamatos. A exposição de ETU variou entre 3,65 microgramas/kg de peso vivo/dia e 0,24 microgramas/kg de peso vivo/dia (usar letra grega mi como símbolo do prefixo micro). Uma estimativa feita para a população canadense estaria em cerca de 1 micrograma/kg de peso vivo/dia. Fonte: International Programme on Chemical Safety (IPCS). Environmental health criteria 78 dithiocarbamate pesticides ethelynethiourea and propylenethiourea A general introduction. Culturas com resíduos: Alface (Lactuca sativa L.) II. Piretroides No Sistema Nervoso Central e Periférico, os piretróides prolongam a abertura dos canais de sódio da membrana celular retardando a repolarização, o que determina paralisia nervosa. Os piretróides são rapidamente degradados no solo e nas plantas. São muito instáveis à luz, ar e condições alcalinas. Não são esperados resíduos em plantas e alimentos. A intoxicação aguda ou superdosagem é pouco freqüente, mas, pode ocorrer devido à elevada concentração nos produtos agrícolas. A intoxicação por ingestão é rara, provavelmente, pela rápida metabolização hepática. A absorção intestinal é pequena assim como a absorção por pele intacta é baixa. São rapidamente excretados pela urina. Fonte: Toxicologia Aplicada (UFRJ) (2011). In “Toxicologia Aplicada”. Disponível em html em http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/mXII.piret.htm. II. I. Lista de piretroides a) Deltametrina Culturas com resíduos: Alface (Lactuca sativa L.) Classificação toxicológica Maior parte dos produtos: IV (Pouco tóxico) Decis Ultra 100 EC (BAYER); Deltaphos EC (BAYER; combinação com triazofós, organofosforado); Keshet 25 EC (Milenia Agrociências): I (Extremamente tóxico) 110 Decis 25 EC (BAYER); K-Obiol 25 EC (BAYER): III (Medianamente tóxico) Classificação ambiental: Maior parte dos produtos: I (Extremamente perigoso ao Meio Ambiente). K-Obiol 2P; K-Obiol 25 EC; Decis Ultra 100 EC; K-Othrine 2P: II (Muito perigoso ao Meio Ambiente). Decis 200 SC: III (Medianamente perigoso ao Meio Ambiente). b) Beta-ciflutrina Culturas com resíduos: Banana (Musa sp.) Classificação toxicologica: Maior parte dos produtos: II (Muito tóxico) Em combinação com imidacloprido (neonicotinóide): III (Medianamente perigoso ao Meio Ambiente). Classificação ambiental: Maior parte dos produtos: II (Muito perigoso ao Meio Ambiente) Bulldock 125 SC (BAYER): I (Extremamente perigoso ao Meio Ambiente). III. Benzimidazóis a) Carbendazim Culturas com resíduos: Alface (Lactuca sativa L.) Efeitos: “O carbendazim apresenta pequeno efeito sobre a comunidade microbiana do solo, porém mostrou-se letal para minhocas. É altamente tóxico para a comunidade aquática: anfíbios (efeitos genéticos e mortalidade), plantas aquáticas (reprodução), crustáceos (mortalidade), peixes (bioacumulação e mortalidade), fungos, (desenvolvimento e reprodução), moluscos (intoxicação e mortalidade) e plâncton (intoxicação, crescimento, reprodução e mortalidade) (PAN, 2006). É pouco tóxico para pássaros e atóxico para abelhas (IPCS, 2006). As principais vias de exposição do homem ao carbendazim envolvem a dieta e os processos de fabricação e manuseio do produto. Os resíduos são rapidamente eliminados em urina e fezes.”. Fonte: COUTINHO et al. (2006). In “Carbendazim e Meio Ambiente: Degradação e Toxidez”. Pesticidas: Revista Ecotoxicologia e Meio Ambiente. Jan/Dez 2006. Disponível em pdf http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/pesticidas/article/download/7480/5349. Classificação: em 111 Classificação toxicológica Maior parte dos produtos: III (Medianamente tóxico). Proteat (MERK); Carbomax (NUFARM): IV (Pouco tóxico). Atempla (BAYER); Derosal 500 BCS (BAYER); Derosal 500 SC (BAYER); Tema (BAYER): II (Muito tóxico) Classificação ambiental: Maior parte dos produtos: III (Medianamente perigoso ao Meio Ambiente). Bavistin (Milena Agrociência); Bendazol (Milena Agrociência); Czar (Milena Agrociência); Derosal Plus (BAYER); Proteat (MERK); Tarkil SC (Poland Química Ltda.): II (Muito perigoso ao meio ambiente). V. Benzilatos a) Bromopropilato Não há informações suficientes LISTA DE RESÍDUOS POR CULTURA I. Alface (Lactuca sativa L.): a) Ditiocarbamato b) Carbendazim (não recomendado para a cultura) c) Deltametrina (não recomendada para a cultura) II. Banana (Musa sp): a) Dimetoato (não recomendado para a cultura) b) Beta-ciflutrina (não recomendada para a cultura) III. Batata (Solanum tuberosum): a) Bromopropilato (não recomendado para a cultura) IV. Tomate (Lycopersicum esculentum): a) Clorpirifós (recomendado apenas para tomates industriais, rasteiros) b) Metamidofós (recomendado apenas para tomates industriais, rasteiros) V. Cenoura (Daucus carotae L.): a) Clorpirifós (não recomendado para a cultura) b) Metamidofos (não recomendado para a cultura)