gaia:teia e sinfonia

Transcrição

gaia:teia e sinfonia
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
CATARINENSE
CAMPUS SOMBRIO
SEDE SANTA ROSA DO SUL
CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM
AGROPECUÁRIA CONCOMITANTE COM ENSINO MÉDIO
Matheus de Lima Pereira
GAIA:TEIA E SINFONIA
Fundamentos e Aplicações em Ecologia Agrícola
Relatório
de
Estágio
Curricular
Supervisionado,
apresentado
IFC
Sombrio,
Campus
ao
como
requisito obrigatório para obtenção
do título de Técnico Agrícola com
Habilitação em Agropecuária.
Orientador: Professora Ivete Maria Grisa
Santa Rosa Do Sul, Santa Catarina
Maio De 2011 anno Domnini
RELATÓRIO DE ESTÁGIO
GAIA:TEIA E SINFONIA
Fundamentos e Aplicações em Ecologia Agrícola
Matheus de Lima Pereira
Orientador: Professora Ivete Maria Grisa
_____________________________________
Professora Ivete Maria Grisa
Santa Rosa Do Sul, Santa Catarina
Maio De 2011 anno Domnini
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
1. Nome: Centro Ecológico (Litoral)
2. Localização:
Rua Padre Jorge s/nº
CEP: 95568-000 Cidade: Dom Pedro de Alcântara
UF: RS
Tel.: (51) 36640220
Site: www.centroecologico.org.br
3. Área de atuação: Agroecologia/Educação Ambiental
4. Período: 13/11/2010 à 18/02/2011
5. Duração: 360 horas
6. Supervisor do estágio: Cristiano Motter
7. Coordenador: Laércio Ramos Meirelles e Luís Carlos Diel Raupp
DEDICATÓRIA
Dedico este relatório de estágio a
todos aqueles jovens o bastante para
contemplar, cativar-se pela beleza que
é a Natureza, o Cosmo.
Beleza esta expressa na Sinfonia e
Teia da Vida, Gaia, voz talvez solitária
no Sistema Solar.
Que, doravante, todos contemplem
mais e mais esta fantástica fuga
cósmica!
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que me tornaram mais fenomenal a jornada de
desvendar o Cosmo, a Dança Cósmica e a Dançarina Natureza, Dança que a todo
momento se reinventa.
Sobretudo, é propício agradecer à Força, à Dança Cósmica que é o Cosmo,
enfim à Própria Natureza em toda a sua plenitude. Em segundo lugar, é prudente
agradecer a meus pais, adoráveis companheiros nesta jornada, tendo já a perscrutado
desde longa data.
Ivete Maria Grisa, minha orientadora de estágio, pelas aulas fantásticas de
Olericultura, por sua atenção e seu bom humor;
Airton Luiz Bortoluzzi, por seu inspirador brilhantismo intelectual e pelas longas
conversas que tivemos nos três anos de curso técnico agrícola;
Lívia Wrasse Zimmermann, grande amiga, poeta e ambientalista;
Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Torres (EcoTorres);
Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Três Cachoeiras
(Coopet);
Toda equipe do Centro Ecológico Litoral, em especial:
Cristiano Motter, meu supervisor de estágio, pelo apoio e orientação durante o
estágio;
Nelson Bellé, um dos pioneiros em agricultura ecológica, pela inspiração e
amizade;
Miriam Sperb e Stella Raupp Schwanck Motter, graduanda em Pedagogia, pelo
apoio e camaradagem;
Daiana Mengue Lumertz , secretária do Centro Ecológico, pelo auxílio e
gentileza enormes;
Ana Luísa Meirelles, André Gonçalves e Laércio Ramos Meirelles, Engenheiros
Agrônomos, pelo inestimável suporte;
Comunidade “Sanga da Madeira”, em Passo de Torres/SC;
Famílias de agricultores com as quais tive contato no decorrer do estágio,
sobretudo a família Fernandes, situada em Morrinhos do Sul, e a família de Renato Leal.
EPÍGRAFE
“A verdadeira, a mais profunda
ESPIRITUALIDADE
consiste em sentir-nos parte integrante deste
MARAVILHOSO E MISTERIOSO PROCESSO
que caracteriza
GAIA
nosso planeta vivo: a
FANTÁSTICA SINFONIA DA EVOLUÇÃO ORGÂNICA
que nos deu origem
junto com milhões de outras espécies.
É sentir-nos responsáveis pela sua continuação e desdobramento”
LUTZENBERGER, José Antônio Kroepf
“A beleza de um ser vivo não é os átomos que vão dentro dele, mas a maneira como
estes átomos estão unidos. O Cosmos também está dentro de nós, somos feitos de
matéria estelar. E nós somos um modo de o Cosmos se conhecer. Acho elevador e
regozijante, descobrir que vivemos em um universo que permite a evolução de máquinas
moleculares tão intrincadas e sutis quanto nós.” (BOSHWELL, apud SAGAN. In
Symphony of Science apud Cosmos).
RESUMO
Na década de 1980, no meio rural brasileiro o cenário era muito dinâmico, com impactos
sócio-ambientais negativos da Revolução Verde, a distensão da ditadura militar, e a
retomada das lutas sociais; cenário este oportuno para o surgimento de organizações que
buscavam novas formas de desenvolvimento rural, baseadas em Agricultura Ecológica e
no Associativismo. Neste âmbito, surge, em 1985, o projeto Vacaria, em uma área situada
no município de Ipê. Em 1991, o projeto Vacaria passa a se denominar Centro de
Agricultura Ecológica Ipê (CAE Ipê), caracterizando uma nova fase do trabalho, onde o
foco passa a ser menos a unidade produtiva da instituição e mais o acompanhamento de
associações de agricultores ecologistas. Em 1997, passa a se chamar Centro Ecológico
Ipê, simplesmente. Neste ínterim, o trabalho se caracteriza por ir além da produção
ecológica e se vincula à “ecologização” da propriedade como um todo, do indivíduo que
nela trabalha e das relações sociais nas quais está inserido. Desde 1999, o Centro
Ecológico também tem sede em Dom Pedro de Alcântara, RS, local onde realizei estágio
para conclusão de curso técnico agrícola com habilitação em agropecuária. O Centro
Ecológico atualmente atua em várias áreas de agroecologia, agricultura familiar e
educação ambiental: saneamento básico ecológico; rede teia de educação ambiental,
alimentação escolar ecológica; sistemas agroflorestais (SAFs) e preservação da mata
atlântica; permacultura; bioconstruções; agricultura biodinâmica; quintais agroflorestais;
cooperativas de consumo, cooperativas agropecuárias e associações de produtores
rurais; feiras de produtos agroecológicos; fomento ao consumo de açaí da mata atlântica
(Euterpe edulis) em detrimento da espécie amazônica (Euterpe macrocarpa), como forma
de preservar o palmito juçara, atualmente ameaçado de extinção; fomento à
industrialização de produtos agroecológicos; assessoria técnica ao produtor rural
ecologista e/ou em transição; ações de cunho social em comunidades carentes na área
de cidadania e educação e/ou educação ambiental, hortas agroecológicas e saneamento
básico. A hipótese de Gaia – termo baseado na personificação divina mitológica grega
para o planeta Terra, Gaia – ou hipótese geobioquímica – componente do movimento
cultural denominado ecologia profunda, fomentado e iniciado pelo filósofo norueguês Arne
Naess – formulada e apresentada, por James Lovelock, químico britânico, criador da
hipótese, e Lynn Margulis; bióloga norte-americana estadunidense; coloboradora principal
da mesma; considera a biosfera e os componentes físicos do Planeta Terra, atmosfera,
criosfera, litosfera e hidrosfera, intimamente integrados de modo a formar um coeso
sistema complexo emergente interagente, dinâmico, caótico, não-linear e autopoiético que
mantém as condições climatológico-biogeoquímicas; necessárias para seu metabolismo e
presentes, instavelmente, no momento de seu surgimento; harmoniosas o bastante para a
manutenção homeostática de seus ciclos de retroalimentação. Embora sua comprovação
experimental não seja ainda satisforiamente adequada face à totalidade dos parâmetros
atuais de cientificidade da Comunidade Científica; evidências – oriundas de modelos
computacionais, da teoria do Caos, da teoria dos sistemas e do paradigma da
complexidade – têm produzido aceitação entusiástica por parte de alguns cientistas e/ou
ambientalistas, sobretudo no âmbito da teoria e pensamento sistêmicos.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Agroecologia; Permacultura; Hipótese de Gaia;
Economia Popular Solidária.
Índice de ilustrações
Ilustração 1: Fotografia de microscopia de hastes de Arctium sp.......................................15
Ilustração 2: Arctium sp........................................................................................................15
Ilustração 3: Fotografia de perfil de solo..............................................................................31
Ilustração 4: Perfil de solo....................................................................................................31
Ilustração 5: Ciclo hidrológico..............................................................................................39
Ilustração 6: Mecanismo de irrigação por gotejamento.......................................................41
Ilustração 7: Produção agrícola organopônica....................................................................44
Ilustração 8: Mapa etnoagronômico do Vale do México no período pré-Colombiano.........45
Ilustração 9: Fotografia de Chinampa moderno..................................................................46
Ilustração 10: Ciclo do C......................................................................................................53
Ilustração 11: Ciclo do N......................................................................................................54
Ilustração 12: Ciclo do P......................................................................................................54
Ilustração 13: Abacaxi em Quintal Agroflorestal..................................................................63
Ilustração 14: Salsa em Quintal Agroflorestal com cobertura parcial de solo.....................64
Ilustração 15: Milho (Zea mays L.) e Mandioca (Manihoti ssp) em Quintal Agroflorestal...64
Ilustração 16: Panorama geral de porção de Quintal Agroflorestal.....................................65
Ilustração 17: Sistema de saneamento básico ecológico....................................................66
Ilustração 18: Orientação das tábuas de madeira em domicílio situado em Mampituba, RS
.............................................................................................................................................69
Ilustração 19: Entrada da Casa da Solidaridade propriamente dita....................................83
Ilustração 20: Captação de água da Casa da Economia Solidária. Ao fundo, canteiro em
espiral...................................................................................................................................83
Ilustração 21: Área de recreação infanto-juvenil.................................................................84
Ilustração 22: Capina sobre excesso de vegetação espontânea incorporada em sistemas
de compostagem in loco......................................................................................................84
Ilustração 23: “Mulching” e compostagem in loco...............................................................84
Ilustração 24: Formatos irregulares dos canteiros..............................................................85
Ilustração 25: Vegetação espontânea em excesso anteriormente à capina para utilização
de massa verde em compostagem in loco..........................................................................85
Ilustração 26: Composição das paredes de pneus revestidos com barro..........................86
Ilustração 27: Porção de sistema de saneamento básico agroecológico...........................86
Ilustração 28: Porção de sistema de saneamento básico agroecológico aumentada........87
Ilustração 29: Resíduos urbanos de tratos culturais depositados em local público em
compostagem in loco...........................................................................................................87
Ilustração 30: Ventilação......................................................................................................87
Ilustração 31: Canteiro contíguo à parede lateral da Casa da Solidariedade.....................88
Ilustração 32: Ampliação de porção do canteiro contíguo à Casa da Solidariedade..........88
Ilustração 33: Tijolos de solo-cimento..................................................................................88
Ilustração 34: Telha de "Tetra Pak" [sic] reciclado...............................................................89
Ilustração 35: Confecção de placas metálicas de identificação de espécimes...................94
Índice de tabelas
Tabela 1: Visão de Mundo Mecanicista Usual X Ecologia Profunda...................................16
Tabela 2: Flora e pedofauna em 30cm de solo em clima temperado. Adaptado de
MEIRELLES et al. (2005).....................................................................................................32
Tabela 3: Massa de insumos para a produção de 100 toneladas de batatas. Adaptado de
MEIRELLES et al. (2005).....................................................................................................33
Tabela 4: Síntese de efeitos físicos, químicos e biológicos da matéria orgânica em
agroecossistemas edáficos..................................................................................................37
Tabela 5: Influência da adubação sobre a densidade populacional de alguns animais do
solo. Adaptado de VOGTMAN & WAGNER (1987) apud RÜBENSAM et al. (1962)..........38
Tabela 6: Influência de adubações diferentes sobre o edaphon (nº relativo). Adaptado de
VOGTMAN & WAGNER (1987) apud MÜLLER (1962)......................................................38
Tabela 7: Aspectos produtivos de diferentes culturas em adubação verde. Adaptado de
MEIRELLES et al. (2005) apud ASPTA (1992)....................................................................51
Tabela 8: Materiais fertilizantes contidos no esterco e na urina de algumas espécies (em
kg/ano per capita). Adaptado de MEIRELLES et al. (2005)................................................52
Tabela 9: Indicadores biológicos. Vegetação Espontânea. Adaptado de MEIRELLES et al.
(2005) apud PRIMAVESI (1992)..........................................................................................59
Tabela 10: Influência do déficit nutricional em incidência de patógenos. Adaptado de
MEIRELLES et al. (2005) apud PRIMAVESI (1989)...........................................................60
Tabela 11: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos
gerais e especializados em Torres/RS................................................................................90
Tabela 12: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos
gerais e especializados em Três Cachoeiras/RS................................................................91
Tabela 13: Preços de produtos agrícolas em feira "convencional" e feira ecológica, em
Torres/RS.............................................................................................................................92
Sumário
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................12
2. GAIA: TEIA E SINFONIA.................................................................................................17
2.1. Educação Ambiental.....................................................................................................17
2.1.1. Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica.....................................................17
2.2. Agricultura Ecológica....................................................................................................18
2.2.1. Breve descrição.................................................................................................18
2.2.2. Ecossistemas e agroecossistemas...................................................................19
2.2.3. Termodinâmica agrícola e bioenergética..........................................................23
2.2.4. Solos..................................................................................................................30
2.2.5. Trio Ambiental Básico........................................................................................39
2.2.6. Trofobiose..........................................................................................................54
2.2.7. Fitopatologia......................................................................................................55
2.2.8. Sistemas agroflorestais.....................................................................................61
2.2.9. Saneamento Básico Agroecológico..................................................................65
2. 3. Associativismo e Economia Popular Solidária........................................................66
2.4. Permacultura e Bioconstruções................................................................................68
2.4.1. Relações espaciais na agricultura....................................................................80
2.5. Casa da Solidariedade e Sanga da Madeira............................................................83
2.6. Pesquisas desenvolvidas.........................................................................................89
2.6. 1. Pesquisa publicitário-econômica sobre comercialização de produtos
agroecológicos em estabelecimentos gerais e especializados na região de
Torres/RS.....................................................................................................................89
2.6.2. Efeitos ecotoxicológicos e de toxicologia humana de resíduos de agrotóxicos
em alimentos...............................................................................................................92
2.6.3. Sequestro de carbono e Levantamento Fitossociológico em Sistemas
Agroflorestais de Bananicultura Agroecológica...........................................................93
3. CONCLUSÃO..................................................................................................................95
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................97
5. Apêndice..........................................................................................................................99
5. 1. Apêndice 1. Lei 10831 de 23 de Dezembro de 2003, a qual dispõe sobre
agricultura orgânica e dá outras providências.................................................................99
5.2. Apêndice 2. Re-enunciação sumária de conceitos, possibilidades e princípios de
permacultura..................................................................................................................103
2. 5. 3. Apêndice 3. Biocidas: Ecotoxicologia e Toxicologia Humana...........................105
12
1. INTRODUÇÃO
A hipótese Gaia, também denominada como hipótese biogeoquímica, é
hipótese controversa em ecologia profunda que propõe que a biosfera e os componentes
físicos da Terra (atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) são intimamente integrados de
modo a formar um complexo sistema interagente que mantêm as condições climáticas e
biogeoquímicas
preferivelmente
em
homeostase.
Originalmente
proposta
pelo
investigador britânico James Lovelock como hipótese de resposta da Terra, ela foi
renomeada conforme sugestão de seu colega, William Golding, como Hipótese de Gaia,
em referência a Deusa grega suprema da Terra – Gaia.
O cientista britânico, juntamente com a bióloga estadunidense Lynn Margulis
analisaram pesquisas que comparavam a atmosfera da Terra com a de outros planetas,
vindo a propor que é a vida da Terra que cria as condições para a sua própria
sobrevivência, e não o contrário, como as teorias tradicionais sugerem.
Os organismos individuais não somente se adaptam ao ambiente fisico, mas,
através da sua ação conjunta nos ecossistemas, também adaptam o ambiente
geoquímico segundo as suas necessidades biológicas. Desta forma,as comunidades de
organismos e seus ambientes de entrada e saída desenvolvem-se em conjunto, como os
ecossistemas. A química da atmosfera e o ambiente físico da terra são completamente
diferentes das condições reinantes em qualquer outro planeta do sistema solar, fato este
que levou à hipótese Gaia.
Autopoiese ou “autopoiesis” (do grego “auto”, próprio, “poiesis”, criação) é um
termo cunhado na década de 70 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e
Humberto Maturana para designar a capacidade de os seres vivos produzirem a si
próprios. Segundo esta abordagem, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado
por uma rede fechada de produções moleculares (processos), onde as moléculas
produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. A
conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições
sistêmicas para a vida. Por tanto um sistema vivo, como sistema autônomo está
constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com
o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua
própria estrutura, e não por um agente externo.
Retroalimentação, realimentação
ou
“feedback”, é
o
nome
dado
ao
13
procedimento através do qual parte do sinal de saída de um sistema (ou circuito) é
transferida para a entrada deste mesmo sistema, com o objetivo de diminuir, amplificar ou
controlar a saída do sistema. Quando a retroalimentação diminui o nível da saída, fala-se
de retroalimentação negativa, e quando a retroalimentação amplifica o nível da saída falase de retroalimentação positiva. A retroalimentação pode também ter um efeito variável
(às vezes positivo, às vezes negativo) de acordo com as condições, tempo de
transmissão e inércia do sistema, o que pode provocar efeitos variados (ciclos e
comportamento caótico, por exemplo). A retroalimentação é um procedimento existente
em diversos tipos de sistemas, sejam eles biológicos, econômicos, elétricos (circuitos),
sociais ou outros.
Um sistema retroalimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que
deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma saída é capaz de
alterar a entrada que a gerou, e, consequentemente, a si própria. Se o sistema fosse
instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto em uma malha de
realimentação deve haver um certo retardo na resposta dinâmica. Esse retardo ocorre
devido à uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo com variações
bruscas na entrada. Isto é, ele deve possuir uma tendência de resistência a mudanças.
O essencial em uma visão sistêmica de mundo e de vida é compreender
elementos básicos de um sistema vivo e/ou ecossistema:
Estrutura: conjunto de átomos, moléculas, organelas citoplasmáticas, células,
id est, tudo que compõem o sistema, e sob certo aspecto, o próprio sistema. Há um termo
usado em Filosofia que se aproxima desta definição: “matéria”.
Padrão: autorganização da estrutura em padrões, que correspondem a
atratores caóticos.
Processo: interação entre padrão e estrutura, com mudanças recíprocas.
Um dos limitantes à evolução da vida parece, pelo menos em uma análise mais
superficial e trivial, a entropia. Porém, processos biológicos se apropriam da mesma a seu
“favor” e são capazes de inviabilizar os efeitos destas limitações iniciais. Ora, o constante
fluxo de matéria e energia dentro de um sistema dinâmico não-linear, caótico, cancela a
limitação da entropia, pois a impossibilidade de realizar trabalho refere-se a quantidades
fixas de energia inicial, não prevendo fornecimento relativamente constante de energia.
Outra forma de cancelar esta limitação deve-se ao fato de que a excreção de metabólitos
14
e calor aumenta a entropia do meio externo. Por outro lado, os padrões de
autorganização do sistema são atratores caóticos cuja natureza implica entropia.
Inclusive, para organismos vivos a entropia é algo benéfico, pois propicia menos
desequilíbrios. Isto pode-se compreender pela relação entre energia livre e entropia,
explanada ao decorrer do presente relatório de estágio.
Faz-se necessário ampliar a visão, muito comum no âmbito agrícola, de
produção de culturas específicas (ainda que em policultivo) para a de produção de
agroecossistemas.
Auto-organização é o processo em sistemas com estruturas com muitos
componentes, onde um padrão de organização da estrutura aparece espontaneamente
em um sistema sem uma autoridade central ou elemento externo. Este padrão
globalmente coerente aparece da interação local dos elementos constitutivos do sistema,
assim a organização é atingida de modo paralelo, todos os elementos agem ao mesmo
tempo, e distribuído, sem a coordenação de um elemento específico.
Biocomplexidade é o estudo de comportamentos e estruturas complexos que
surgem de interações não-lineares de agentes biológicos ativos, que podem dar-se em
escalas desde as moleculares até as celulares e organismos vivos. Sistemas biológicos
são
caracterizados
por
propriedades
emergentes.
Exemplos
clássicos
de
biocomplexidade incluem o comportamento de de motores moleculares durante a
transcrição de ADN; redes celulares genéticas e metabólicas; os filamentos interativos do
citoesqueleto, que permitem à célula mover-se; e a diferenciação, organização e
movimento de células durante o desenvolvimento embrionário.
Biomimética é a observação da Natureza, de seus modelos, sistemas,
processos, e elementos para simular ou tomar por inspiração de moo a solucionar
problemas humanos. Sua etimologia são as palavras gregas bios (vida), e mimesis
(imitação). Outro termo, em desuso, é biônica.
Os seres humanos sempre olharam a Natureza visando solucionar problemas.
Um dos exemplos remotos de uso de biomimética é o estudo de pássaros para permitir o
vôo humano. Outro exemplo, mais recente, é o velcro (ilustrações 1 e 2) baseado em
exemplares vegetais de Arctium sp, da família Asteraceae. Outros exemplos incluem a
habilidade dos cupins de manter temperatura e humidade constantes em seus
cupinzeiros, mesmo com temperaturas variando entre 1,5ºC e 40ºC, em locais como a
15
África. As características dos cupinzeiros podem influenciar o design de construções.
Ilustração 1: Fotografia de microscopia de
hastes de Arctium sp
Ilustração 2: Arctium sp
Conforme WIKIMEDIA FOUNDATION (2011), “Em biologia, e especialmente
em genética, epigenética é o estudo de mudanças herediárias em fenótipo ou expressão
genética causada por mecanismos outros que a sequência dea ADN subjacente, daí o
nome epigenética (do Grego: επί, sobre, acima). Estas alterações podem permanecer no
decorrer de divisões celulares.
Entretanto, não há alteração na sequência de ADN subjacente. Em vez disto,
fatores não genéticos acarretam mudanças no modo como os genes do organismo
comportam-se (ou 'expressam-se'). Um exemplo de alterações epigenéticas em biologia
eucariótica é o processo de diferenciação celular […]. A base molecular da epigenética é
complexa. Envolve modificações de ativação de certos genes, mas não a estrutura básica
do DNA.
Ademais, as proteínas de cromatina associadas ao ADN podem ser ativadas ou
silenciadas. Isto explica porque células diferenciadas em um organismo multicelular
expressam apenas os genes que são necessários para sua própria atividade. Alterações
epigenéticas são preservadas quando da divisão celular.
Muitas alterações epigenéticas ocorrem somente no decurso da vida do
organismo de um indivíduo, mas se a mutação de ADN for oriunda em espermatozoides
ou óvulos que resultam em fertilização, então algumas alterações epigenéticas são
herdadas de uma geração à outra. Isto leva à questão de alterações epigenéticas em um
organismo podem ou não alterar a estrutura básica do ADN, uma forma de
Lamarckismo.”.
16
A Ecologia Profunda foi proposta pelo filósofo norueguês Arne Naess em 1973
como uma resposta a visão dominante sobre o uso dos recursos naturais. Arne Naes se
inclui na tradição de pensamento ecológico-filosófico de Henry Thoreau, proposto em
Walden, e de Aldo Leopold, na sua Ética da Terra. Denominou de Ecologia Profunda por
demonstrar claramente a sua distinção frente ao paradigma dominante. No Brasil, nesta
mesma época, José Lutzemberger já propunha ideias semelhantes e desencadeava o
movimento ecológico brasileiro com a criação da AGAPAN 1.
O quadro a seguir, erroneamente denotado tabela, demonstra, pelo menos em
parte, as propostas de Arne Naess e as suas diferenças frente a visão de mundo
mecanicista usual.
Visão de Mundo Mecanicista Usual
Ecologia Profunda
Domínio da Natureza
Harmonia com a Natureza
Ambiente natural como
recurso para os seres humanos
Toda a Natureza tem valor intrínseco
Seres humanos são superiores
aos demais seres vivos
Igualdade entre as
diferentes espécies
Crescimento econômico e material
como base para o
crescimento humano
Objetivos materiais
a serviço de objetivos maiores de
autorrealização
Crença em amplas (por vezes tidas
como ilimitadas)
reservas de recursos
Planeta tem
recursos limitados
Progresso e soluções
baseados em alta tecnologia
Tecnologia apropriada e
ciência não dominante
Consumismo
Fazendo com o necessário e
reciclando
Comunidade nacional
centralizada
Biorregiões e
reconhecimento de
tradições das minoriais
Tabela 1: Visão de Mundo Mecanicista Usual X Ecologia Profunda
1
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural.
17
2. GAIA: TEIA E SINFONIA
2.1. Educação Ambiental
Educação ambiental é um ramo da educação cujo objetivo é a disseminação do
conhecimento sobre o ambiente, a fim de ajudar à sua preservação e utilização
sustentável dos seus recursos. É uma metodologia de análise que surge a partir do
crescente interesse do homem em assuntos como o ambiente devido às grandes
catástrofes naturais que têm assolado o mundo nas últimas décadas.
No Brasil a Educação Ambiental assume uma perspectiva mais abrangente,
não restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas
incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis. Mais do
que um segmento da Educação, a Educação em sua complexidade e completude.
A educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 –
Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma: "A educação ambiental é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de
forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não-formal.
A educação ambiental tenta despertar em todos a consciência de que o ser
humano é parte do meio ambiente. Ela tenta superar a visão antropocêntrica, que fez com
que o homem se sentisse sempre o centro de tudo esquecendo a importância da
natureza, da qual é parte integrante.
Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes
e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
2.1.1. Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica
“Leve, transparente e de aparência frágil, porém muito resistente, a estrutura
da teia inspirou a proposta de qualificar grupo de quarenta professoras do litoral norte do
Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina para trabalhar educação ambiental nas
18
escolas públicas da região.
A realização do Curso teórico-prático sobre Mata Atlântica e Questões Sócioambientais do Litoral Norte do RS, a partir de outubro de 2005, foi o ponto de partida para
sua construção. Até agora foram realizados nove módulos de formação. Professoras de
Morrinhos do Sul, Torres, Terra de Areia, Dom Pedro de Alcântara e Praia Grande (SC)
tiveram a oportunidade de trocar experiências, reconhecer o ambiente da nossa própria
região, saber sobre as tendências em educação ambiental e aplicação prática destes
conhecimentos na sala de aula.
Além do curso, as professoras participaram de seminários e fóruns sobre
educação, visitaram a Fundação Gaia, o Parque Eólico de Osório, ecossistemas da região
de Torres, os cânions do Itaimbezinho […]. Todas estas atividades somam para que as
professoras possam oferecer aos estudantes, de uma forma integrada com todas as
disciplinas e também permanente, as condições necessárias para compreender e
respeitar o meio ambiente de um dos biomas mais ameaçados do planeta.”. (CENTRO
ECOLÓGICO, 2008).
A Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica vem promovendo – além de
atividades pedagógicas como teatros sobre temáticas ambientais, e saídas a campo –
inserção de Açaí de Mata Atlântica (Euterpe edulis), como forma de preservação desta
espécie ameaçada de extinção, na merenda escolar, juntamente com outros produtos
oriundos de sistemas agroflorestais e agroecológicos em geral.
2.2. Agricultura Ecológica
2.2.1. Breve descrição
Em GLIESMANN et al (2010), coordenador do Grupo de Pesquisa em
Agroecologia da University of California Santa Cruz (UCSC, Universidade da Califórnia
Santa Cruz), agroecologia é definida como “aplicação de ecologia ao design e gestão de
agroecossistemas sustentáveis”, também como “abordagem integral e sistêmica [holística]
à agricultura e desenvolvimento de sistemas alimentares baseado em conhecimentos
tradicionais, agricultura alternativa, e experiências com sistemas alimentares locais,
relacionando ecologia, cultura, economia, e sociedade para sustentar produção agrícola,
19
ambientes saudáveis e comunidades camponesas 2 e comida viáveis.”.
Segundo ALTIERI (2011), da University of California Berckeley, “agroecologia é
uma disciplina científica que usa teoria ecológica para estudar, realizar design, gerenciar e
avaliar sistemas agrícolas que são produtivos, mas também conservam os recursos. A
pesquisa agroecológica considera interações de todos os componentes biofísicos,
técnicos e socioeconômicos importantes de sistemas de fazenda e toma estes sistemas
como unidades fundamentais de estudo, onde ciclos minerais, transformações de energia,
processos biológicos e relações socioeconômicas são analizados como um todo em um
contexto interdisciplinar. [...]
Pôr tecnologias agroecológicas em prática requer inovações tecnologias,
mudanças de política agrícola, mudanças socioeconômicas, mas principalmente um
entendimento mais profundo das interações complexas de longo prazo entre recursos,
pessoas e o ambiente. Para atingir este entendimento, a agricultura deve ser concebida
como um sistema ecológico bem como um sistema socioeconômico dominado pelo
homem. Uma nova referência interdisciplinar para integrar as ciências biofísicas, ecologia
e ciências sociais3 é indispensável. Agroecologia provê uma referência por aplicar teoria
ecológica ao manejo de agroecossistemas de acordo com recursos e realidades
econômicas específicos, e por prover uma metodologia para fazer as conexões
interdisciplinares requeridas.”.
De modo a atingir as definições supracitadas, algumas propriedades,
geralmente citadas em definições, é definá-la em primeira instância, obviamente
compreendida no contexto de definições como as acima expostas, enquanto “cadeia
produtiva agrícola isenta de agrotóxicos, sementes geneticamente modificadas, e
fertilizantes químicos sintéticos altamente solúveis, com preocupação com a conservação
do solo e demais componentes de agroecossistemas”.
2.2.2. Ecossistemas e agroecossistemas
Ecossistema pode ser definido, utilizando definição usual e definição sistêmica,
como sistema dinâmico não-linear e caótico, oriundo tanto da interação da biota,
comunidade ou biocenose de um dado local no espaço e no tempo com fatores abióticos,
não-vivos, o biótopo, suporte para o desenvolvimento desta biota; quanto da interação
dos vários componentes desta biota e da interação dos vários componentes do biótopo.
2
Farming communities, em Inglês
3
No original, o termo “social sciences”, ciências sociais, é precedido por “other”, outras.
20
Cada componente da biota, é, por sua vez, também um sistema dinâmico nãolinear e caótico. Como visto anteriormente, sistemas dinâmicos não-lineares, caóticos,
são definidos no âmbito de três conceitos básicos: padrão, estrutura e processo, definidos
anteriormente, na Introdução. Conceitos como os de autopoiese, autorganização e
retroalimentação são igualmente válidos para a descrição de um ecossistema.
O conceito de processo, em um ecossistema, envolve a noção de cadeias
alimentares e teias alimentares, ciclos geobioquímicos, interações entre biocenose e
fatores abióticos, interações entre elementos da biocenose, interações entre fatores
abióticos. Ecossistemas podem compor outros ecossistemas maiores. Considerem-se os
exemplos a seguir. Um jardim é um ecossistema já que possui biocenose (flora, fauna,
microbiota) e fatores abióticos (minerais, matéria orgânica em decomposição, folhas
mortas, água, partículas de solo como silte, argila e areia).
Porém, o solo que compõe o ecossistema jardim e que de início pode lembrar
um fator abiótico (minerais no solo, matéria orgânica, silte, argila, areia) é também um
ecossistema, já que há no solo fauna, flora, fungos, protozoários, bactérias, cromistas,
entre outros, que relacionam-se entre si e com os fatores abióticos do solo, realizando
sobre este intemperismo biológico. Se houver no jardim lagos, o raciocínio se repete, e
tem-se o lago como ecossistema. Se considerado o jardim como componente de uma
ilha, por exemplo, ter-se-á a ilha como ecossistema composta por entre outras coisas o
ecossistema jardim.
Considerando-se formações vegetais, sua biocenose e fatores abióticos, sob o
aspecto de similaridade, tem-se conceito de mesma natureza que o de ecossistema, mas
com magnitude superior: bioma. Bioma vem a ser um conjunto de ecossistemas em
escalas consideráveis, geralmente definido a partir da noção de formações vegetais:
florestas, vegetação ciliar e desertos. Assim, define-se por exemplo a formação vegetal
florestal amazônica como bioma Amazônia e a formação vegetal florestal cerrado como
bioma Cerrado. Há também uma série de outros conceitos baseados no de ecossistema,
mas cuja magnitude é superior à deste. São eles: biorregião, ou ecorregião, e ecozona. O
conjunto de todos os ecossistemas – e assim de todos os biomas, ecorregiões e
ecozonas – do planeta Terra é denominado biosfera. Porém, todos estes conceitos
(biosfera, bioma, ecozona, ecorregião) podem ser descritos como ecossistemas. De modo
análogo, poder-se-ia definir um organismo vivo, composto por células da espécie deste
organismo vivo, por células que estão dentro do organismo vivo mas são de outra
21
espécie, compondo com este uma biocenose, e também por nutrientes, dejetos,
moléculas quaisquer, material genético, elementos não vivos, biótopo; de tal modo que
este organismo vivo seja tomado como um ecossistema também.
Agroecossistema trata-se de ecossistema, com elementos manejados pelo
homem, culturas agrícolas, e cuja finalidade, foco, é a produção agrícola. Em outras
palavras, é o ecossistema circundante a uma dada cultura ou espaço agrícola de
policultura. Observações supracitadas pertinentes a ecossistemas, também são válidas
em se tratando de agroecossistemas. Como observado na Introdução, é importante,
sobretudo em agricultura ecológica, que se considere a atividade agrícola como cultivo
não de uma cultura ou de outra, ou de um conjunto de culturas, mas de modo mais amplo
e profundo, como cultivo de agroecossistemas.
Agrobiodiversidade é definida usualmente como conjunto de seres vivos
domesticados pela espécie humana componentes de um dado agroecossistema. Todavia,
há uma série de indivíduos não incluídos nesta definição e que compõem um
agroecossistema. Por exemplo, eles espécies nativas, tais como insetos, ainda não
domesticadas, com ou sem interesse econômico. Grande parte da pesquisa feita em
agrobiodiversidade pode ser considerada deficitária em certa medida, por não incluir
significativamente espécies de outros reinos que não o Plantae, por exemplo, não incluir
fungos com diversos usos humanos.
Assim,
poder-se-ia
expandir
a
definição
de
agrobiodiversidade
para
“biodiversidade de um ou mais agroecossistemas”, diversidade da comunidade de um
agroecossistema, isto é, a quantidade de cada população, o número de populações por
ecossistema dentro do agroecossistema; bem como utilizar por vezes nomenclaturas
como biodiversidade de um agroecossistema, conceito que tem definição equivalente à
recém proposta para o termo agrobiodiversidade e que inclui o de agrobiodiversidade no
âmbito da definição que lhe é usualmente conferida. Ao longo deste relatório, utilizar-se-á
o termo “agrobiodiversidade” na acepção usual.
O modo como a agrobiodiversidade e a biodiversidade de um agroecossistema
evoluem com o tempo é determinado pelo fenômeno de sucessão ecológica atrelado a
processos gênicos e epigenéticos randômicos, a fenômenos de emergência e a
mecanismos de seleção natural, sexual e/ou antropogênica.
Sucessão ecológica é o nome dado à sequência de biocenoses, desde a
22
colonização até a comunidade clímax, de determinado ecossistema. As espécies de cada
etapa podem ser diferentes, ou conviver em estratos diferentes na comunidade clímax.
Existem quatro tipos de sucessões: primárias, quando a evolução se dá a partir da rocha
nua ou solo desprovido de seres vivos num local onde nunca existiu vida; secundárias,
quando estas se dão após um desastre ambiental ou por ação antrópica, num local onde
já existiu vida; autrotróficas, quando um ambiente, oferecendo componentes abióticos
necessários, sedia o desenvolvimento de biotas autótrofas; e heterotróficas, quando um
ambiente, oferecendo componentes bióticos necessários, sedia o desenvolvimento de
comunidades heterotróficas.
A sucessão é dividida em três fases: ecese ou comunidade pioneira, por vezes
composta por extremófilos, ocupando um substrato inicial – por exemplo, a rocha matriz
de um solo em seu estado primordial ou já degradada por intemperismos físicos, químicos
e geológicos diversos – comunidades intermediárias ou séries que apresentam um nível
maior de biodiversidade e finalmente a comunidade clímax, quando a comunidade atinge
seu grau máximo de desenvolvimento de equilíbrio. Cada comunidade estabelecida neste
ambiente
modificará
as
condições
físicas,
e
será
modificada
ou
substituída
sucessivamente, até a formação da comunidade clímax, um ecossistema completo,
embora continue em permanente evolução. Ao longo da sucessão, as características da
comunidade clímax vão sendo alteradas a medida que processos evolutivos e
emergentes ocorrem, como anteriormente salientado.
Estratos são camadas de um ecossistema com “morfofisiologia” similar, por
exemplo: o estrato das ervas, o estrato dos arbustos, o estrato das copas, o estrato do
mulching. Geralmente, este conceito é usado em formações vegetais, sobretudo as
florestais.
Pesquisadores como Airton Luiz Bortoluzzi apontam outro processo de
interesse agronômico, denominado inversão da sucessão ecológica, que consiste em
evolução concomitantemente “ascendente” e “descendente” [sic] a partir de um dado
estrato, de uma dada biocenose, não pioneira, e característica de um estágio de sucessão
ecológica.
Serviços ambientais (ou serviços ecossistêmicos) são os benefícios que as
pessoas retiram dos ecossistemas. Os exemplos incluem água doce, madeira, cereais,
regulação do clima, proteção contra riscos naturais, controle da erosão e recreação.
Analogamente, pode-se incluir nesta definição os agroecossistemas.
23
2.2.3. Termodinâmica agrícola e bioenergética
Um dos elementos vitais em agricultura ecológica é o equilíbrio dos espécimes
e dos ecossistemas, do ponto de vista metabólico, nutricional, e consequentemente
termodinâmico. Buscam-se práticas de manejo que aumentem a entropia e diminuam a
energia livre, por razões enunciadas a seguir:
De acordo com PINHEIRO, NASR e LUZ (1993) apud Sivori, “desde as origens
do conhecimento racional, a vida considera dois pontos de vista fundamentais. Um deles,
o vitalista, entende que um ente é separável de matéria e energia; a outra concepção
considera um conjunto de processos termodinâmicos com características cibernéticas.”.
Atualmente, as investigações que se realizam sobre a base de uma biologia dinâmica
estão intimamente relacionadas em processos físico-químicos que têm como eixo o fluxo
de “matéria e energia”.
PINHEIRO, NASR e LUZ (1993) afirmam que “o Primeiro Princípio da
Termodinâmica ou Lei da Equivalência de energia permite expressar diferentes tipos de
energia com magnitudes equivalentes. Ela diz que o total de energia sempre permanece
constante num sistema quando há intercâmbio de energia entre suas partes. Este
intercâmbio se expressa como um constante fluir de energia e matéria viva (assimilação)
e de compostos não vivos, como açúcares e aminoácidos, e processos de decomposição
(desassimilação). Todo processo implica integração e desintegração ordenadas de
matéria viva, a qual se desenvolve em forma regulada, através do espaço e do tempo,
entre diversas partes do organismo e entre o organismo e o meio (ambiente).”.
Continua PINHEIRO, NASR e LUZ (1993)
apud Silvori, “Uma das
características fundamentais dos processos metabólicos celulares é a de ocorrerem com
a transferência de energia. A avaliação quantitativa desses fluxos energéticos fornece
informações valiosas à compreensão do metabolismo celular, colocando em bases lógicas
a razão das várias transformações químicas dos alimentos no interior das células.
Do ponto de vista energético, há três aspectos a serem considerados no
metabolismo: 1) a natureza dos processos que promovem a “retirada” da energia contida
nos alimentos; 2) a maneira pela qual a célula conserva a energia obtida; 3) como a célula
mobiliza a energia armazenada para a realização do trabalho.
As principais fontes de energia para a célula são os lipídeos e os carboidratos;
destes, os ácidos graxos e a glicose são oxidados da seguinte forma supersimplificada:
24
G L I C O S E / Á C I D O G R A X O → C O2+H 2 O+ E N E RG I A
Parte desta energia é dissipada, e cerca de 45% do total obtido é utilizado para
a síntese de moléculas específicas, como o ATP, que é uma forma de armazenamento
altamente disponível, através de sua hidrólise. A energia obtida pela hidrólise de ATP é
então utilizada para a atividade de trabalho mecânico, trabalho elétrico,m transporte de
substâncias através de membranas (trabalho osmótico), síntese de outras moléculas
(trabalho químico) etc.”
“Quando na planta, a luz solar, água, gás carbônico produzem alfa e beta Dglucose; esta polimeriza-se em amido ou celulose; que se transformam em álcool ou
metano por meio de fermentação; que a sua vez produz pela combustão gás carbônico e
água; que se queima em C+O 2 e H2O+O. Tomando a alfa e beta D glucose poderíamos
quimicamente chegar ao conteúdo final de energia sem passar pelas etapas, chegando
ao mesmo valor entálpico (Lei de Hess). Na agricultura estes diferentes produtos são
catalizados por sistemas enzimáticos de diferentes organismos vivos, que aproveitam
esta energia intermediária para si, liberando novas formas de energia. Mas devemos
ressaltar que nas passagens pelos diferentes organismos vivos a energia de ativação
será bem menor e as reações mais espontâneas,.quanto mais passagens por organismos
vivos menor será a energia de ativação em cada uma. À medida que se processam as
transformações num sistema, pode-se analisar a entalpia em cada estado e assinalar a
mesma graficamente. Para conceituar energeticamente a agricultura ecológica é
necessário que tenhamos também o conceito de ENTROPIA 4 (S). Quando se coloca um
cubo de gelo dentro de um copo d'água, sob qualquer temperatura, sem perder energia,
antes dele derreter ou congelar por influência do ambiente, haverá uma EQUIPARTIÇÃO
DE ENERGIA e EQUIPARTIÇÃO DE ESPAÇO, em função da troca cinética de energia
entre as moléculas, na busca de equilíbrio térmico. Quando ocorre a equipartição de
espaço ou de energia há um aumento de entropia, logo as transformações são
espontâneas. […]
A manipulação adequada de três parâmetros fundamentais – ENTALPIA (H),
ENERGIA LIVRE5 (G) e ENTROPIA (S) – fornece os dados necessários à análise
4
Geralmente, entropia é definida como sendo nível de desordem ou desorganização de um sistema,
embora tais definições venham sofrendo contra-argumentação recentemente. Uma forma mais
adequada, na opinião do autor, é definir entropia como medida da não-linearidade de um sistema ou
medida do caos de um sistema, utilizando conceitos de teoria do caos e teoria sistêmica.
5
Conhecida também por energia livre de Gibbs.
25
elementar de qualquer processo que envolva transferência de energia. As relações que
estes parâmetros guardam entre si, ao descreverem um dado fenômeno, encontram-se
organizadas sob a forma de leis gerais, cujo estudo constitui o objeto da termodinâmica. A
energia liberada numa reação química à pressão constante é a ENTALPIA da reação.
Uma análise mais detalhada desta entalpia mostra que é uma energia composta que
contém o componente térmico propriamente dito, a ENTROPIA, e outro componente que
pode ser utilizado para a realização de trabalho, que é a ENERGIA LIVRE.
Estes três parâmetros relacionam-se entre si, de acordo com a equação da
Segunda Lei da Termodinâmica:
d H =d G+d S T
[…] Na natureza, as transformações são espontâneas e sustentáveis desde
que haja aumento de ENTROPIA. Uma floresta tropical úmida como a Amazônica ou o
Bornéu tem sua entalpia -H-. Podemos dizer que esta floresta está em estado muito
estável por ser a quase totalidade de sua energia entrópica -S-. Este ecossistema tem
uma alta complexidade energética (desorganização) tendendo para o infinito obviamente
com inversa capacidade de realizar trabalho pela equipartição de espaço. Ao introduzir
neste ecossistema um gatilho de modificação, por exemplo, fogo ou desmatamento para
fazer agricultura tropical a transformação da energia estável (S) em energia livre (G), que
rapidamente dissipa-se como calor. Para manter esta agricultura produtiva, é necessário
agregar periodicamente quantidades crescentes de insumos com alto conteúdo
energético […]. Isto passa-se também em zonas de cerrado, temperadas e subtemperadas. O mesmo se passa com a monocultura e outras práticas que “organizam o
espaço e alteram a distribuição da energia estável” triando sustentabilidade da agricultura.
[…].
Na agricultura ecológica, há muita ENTROPIA e pouquíssima ENERGIA LIVRE,
ao passo que na convencional acontece exatamente o contrário. De um modo mais
simples, pode-se dizer que as duas formas de agricultura representam duas escadas
(entalpia) que permitem alcançar uma mesma altura; só que na agricultura ecológica há
muito mais degraus (entropia), e na convencional há maiores espaços entre os degraus
(energia livre). Obviamente, o produto final é o mesmo, mas alcançá-lo requer situações
de esforço (trabalho) bastante diferentes. […]
A quantidade de G em uma hexosa é praticamente total, já em seu polímero
26
amido o valor de G é menor pois uma parte deste está como S requerendo um
desdobramento físico ou bioqúimico. Da mesma forma, na Agricultura Industrial os
insumos utilizados formados artificial ou sinteticamente possuem altíssima G e por sua
complexidade molecular anômala possuem entalpia levando a alterar o metabolismo dos
indivíduos e ecossistema na sua termodinâmica. Os produtos químicos sintéticos ricos em
N, S, P, na forma de anilinas, amidas ou ésteres derivados de ácidos carbâmicos,
tiocarbâmicos, crisantêmicos, são usados como inseticidas, fungicidas, herbicidas,
acaricidas. Todos esses agrotóxicos são muito ricos em energia e hidrolisam-se no interior
das células, ocasionando todo tipo de reações e e desequilíbrios no metabolismo. No
processo, há adsorção desregulada de ENERGIA LIVRE, nas chamadas 'reações
endergônicas', que, pela sua natureza, são processos não-espontâneos. Entretanto,
essas reações não ocorrem isoladamente; elas se encontram acopladas a outras
suficientemente exergônicas para permitir sua ocorrência em velocidade e quantidade
apreciáveis. […] A maioria das reações termodinâmico-químicas , que ocorrem nos seres
vivos, teriam lugar por si só tão lentamente que seria difícil sua qualificação ou, mais
ainda, praticamente impossível detectá-las. Entretanto, os seres vivos levam a cabo uma
variedade de processos químicos com uma eficiência não alcançada ainda em
laboratório. Este aparente paradoxo tem sua resposta no fato de que estes seres
possuem numerosos catalisadores que aceleram as reações químicas próprias dos
sistemas biológicos. Estes catalizadores são proteínas que receberam o nome de
ENZIMAS. A agricultura industrial, com seus insumos, a cada dia mais ricos em energia
livre e concentrados energeticamente, ao longo do tempo, torna a agricultura menos
entrópica. […] a cada dia, vemos os que os resultados dos insumos são mais
decrescentes (contrapondo à sua riqueza energética) seguindo a Lei de Leibig dos
Rendimentos Decrescentes. Nos países novos, como os da América e Austrália, vemos
que os resultados da agricultura industrial nas “terras virgens” se deve à alta quantidade
de ENERGIA LIVRE oriunda do ecossistema anterior, e que logo é dissipada e mascarada
pelos acréscimos energéticos de alta energia livre, o que faz o sistema não ser
sustentável no tempo e no espaço, a não ser pela exigência de altas doses e inversão de
insumos.” (PINHEIRO, NASR & LUZ, 1993).
Na agricultura convencional atual, há uma série de compostos ricos em
energia, id est, compostos que por hidrólise liberam grandes quantidades de energia
(energia livre), convencionalmente definidas como superiores a 7000cal/mol. Exemplos
27
destes compostos são fertilizantes de alta síntese química (fosfatados altamente solúveis,
por exemplo) e agrotóxicos. Os fosfatos quando não estão em forma natural, entrópica,
formam produtos ou compostos de alta ressonância competitiva. Existe intensa repulsão
eletrostática entre átomos de fósforo, instabilizando o composto e consequentemente
aumentando sua energia. Conforme PINHEIRO, NASR & LUZ (1993), “esta tensão é
aliviada quando há hidrólise, sendo acompanhada da liberação de cerca de 7500cal/mol,
quando o primeiro grupo de fosfato é eliminado.”.
De acordo com PINHEIRO, NASR & LUZ apud Silvori, “uma planta pode ser
considerada um sistema termodinamicamente aberto, que troca matéria e energia com o
meio, mas, se seu estudo se realiza tendo em conta o conjunto planta-meio, pode-se
considerá-la um sistema fechado 6. Seus processos são isotérmicos e se desenvolvem à
pressão constante, dirigidos pela energia livre, que está com a energia total do sistema”.
No entanto, tem-se usado conceitos como “negentropia” ou “sintropia” como
medidas indiretamente proporcionais à entropia e aumentando significativamente em
seres vivos, o que de certo modo torna errôneo o raciocínio desenvolvido até agora.
Entretanto, são possíveis alguns raciocínios que podem explanar melhor o anteriormente
desenvolvido diante da recém citada concepção de sintropia/negentropia.
Conforme WIKIMEDIA FOUNDATION (2011), “a negentropia, também entropia
negativa ou sintropia, de um sistema vivo, é a entropia que ele exporta para manter sua
própria entropia baixa, isto situa-se na intersecção entre entropia e vida. O conceito
'entropia negativa' foi introduzido por Erwin Scröndinger em seu livro 'O que é a Vida'. […].
Em 1974, Albert Szent-György propôs substituir o termo negentropia por sintropia. […].
Em 2009, Mahulikar & Herwig redefiniram negentropia de um sub-sistema ordenado
dinamicamente como o déficit de entropia específico relativo ao caos do entorno. Assim
negentropia tem unidades [J/kg-K] quando definida com base em entropia específica por
unidade de massa, [K -1] quando definida baseada em entropia específica por unidade de
energia.
Em 1988, na base da definição de Shannon de entropia estatística, Mario
Ludovico deu uma definição formal de sintropia, como uma medida do grau de
organização interna de qualquer sistema formado por componentes em interação. De
6
Nota-se que isto equivale com uma concepção, esboçada anteriormente, de conceber organismos vivos
como ecossistemas, considerando a relação entre o ecossistema planta e outros ecossistemas que
estejam relacionados ao da planta.
28
acordo com esta definição, sintropia é uma quantidade complementar à entropia. […] Isto
é o que argumenta-se para distinguir vida de outras formas de organização da matéria.
Nesta direção, embora a dinâmica da vida possa ser argumentada como indo contra a
tendência da segunda lei que afirma que a entropia de um sistema isolado tende a
aumentar. Isto de modo algum invalida ou entra em conflito com esta lei, porque o
princípio de que entropia só pode aumentar ou permanecer constante aplica-se apenas a
sistemas fechados isolados adiabaticamente, significando que são sistemas em que calor
algum pode entrar ou sair. Enquanto um sistema pode trocar tanto calor quanto matéria
com seu ambiente, um aumento de entropia deste sistema é inteiramente compatível com
a segunda lei. O problema da organização em sistemas vivos aumentando apesar da
segunda lei é conhecido como paradoxo de Schröndinger.
Em 1964, James Lovelock estava entre um grupo de cientistas ao qual foi
solicitado pela NASA fazer um sistema teórico de detecção de vida para procurar vida em
Marte durante a missão espacial a caminho. Quando pensou sobre este problema,
Lovelock perguntou-se 'como podemos estar certos que a vida Marciana, se existir,
revelar-se-á a testes baseados no estilo de vida da Terra?' Para Lovelock, a questão
básica era 'O que é a vida, e como ela deve ser reconhecida?' […] O que deveria fazer-se
para procurar por vida em Marte. Lovelock respondeu: Procuraria por uma redução de
entropia, pois isto deve ser uma característica geral da vida.”.
WIKIMEDIA
FOUNDATION
(2011)
afirma
que
“apesar
de
entropia
termodinâmica e desordem serem muitas vezes correspondentes, nem sempre o são.
Algumas vezes a ordem aumenta junto com a entropia. O aumento de entropia
termodinâmica pode até produzir ordem, como ordenar moléculas por seu tamanho,
incluindo o próprio DNA dos seres vivos, ou partículas coloidais em soluções de
eletrólitos. Mesmo em um sistema considerado para efeitos práticos fechado, regiões de
baixa entropia podem se formar se eles estão separados de outros locais com alta
entropia no sistema.
Muitas
vezes,
uma
ordem
aperentemente
surpreendente
aparece
naturalmente, em processos geológicos, por exemplo. A estrutura Calçada dos Gigantes
(Giant's Causeway) na Irlanda do Norte consiste de grandes colunas de pedra
apresentando secção reta hexagonal, dando a impressão de terem sido projetadas.
Foram formadas quando o magma incandescente chegou à superfície da Terra e resfriouse. Tais tipos de ordem originando-se do caos (emergência) podem ser vistos igualmente
29
em círculos de cascalho e pedras que ocorrem naturalmente numa ilha do norte da
Noruega. Pode-se discutir os processos específicos de organização das colunas e dos
círculos de pedras, mas a a entropia do magma e das pedras diminuiu, ainda que a
entropia de seus ambientes tenha aumentado.
Ao
nível
microscópico
ou
molecular,
exemplos
concretos
da
não
correspondência entre entropia e desordem são comuns:
Exemplo I: A comparação da entropia de gases de diferentes massas
moleculares, como o hélio e o neônio, sob iguais condições físicas, por exemplo,
evidenciará que as moléculas de hélio (no caso, seus átomos isolados, pois um gás
nobre), sendo de menor massa, apresentarão maiores velocidades, o que implicará numa
"desordem" maior. Mas realmente a entropia do neônio será mais alta.
Exemplo II. O fenômeno de fases reentrantes, que é observado em diversos
cristais líquidos, em materiais com propriedades de supercondução, e até em sistemas
mais convencionais, como as misturas de nicotina e água. Nestas misturas, entre diversas
características, o diagrama temperatura–composição apresenta uma temperatura crítica
de solução superior e outra inferior. Deste modo, em temperatura suficientemente
elevada, uma mistura de nicotina e água forma uma fase homogênea. Com o
abaixamento da temperatura, num espectro relativamente estreito de composições
observa-se a separação em duas fases típicas, uma rica em água, e a outra rica em
nicotina. Com a continuidade do resfriamento, a um dado ponto surgirá uma só fase
homogênea. A separação destas duas fases sugere uma diminuição da "desordem",
enquanto a segunda transformação aponta para uma "ordem". Entretanto, a entropia
diminuirá continuamente ao longo de todo o processo, pois o resfriamento implica na
energia ter sido continuamente retirada.
Exemplo III: Cristalização em soluções sobressaturadas, quando é considerada
uma solução sobressaturada num recipiente adiabático, onde, espontaneamente, deverá
ocorrer a deposição de cristais do soluto. Este fenômeno sugere a diminuição da
"desordem", dado que as moléculas ou íons de soluto estarão mais organizadas no cristal
do que em solução. Mas sendo o sistema isolado, a entropia deverá aumentar durante o
processo, como prenuncia a Segunda Lei da Termodinâmica. Esta conclusão é válida
para o caso em que a cristalização seja exotérmica e a temperatura da mistura aumente
durante o processo, ou no caso em que a cristalização for endotérmica e a temperatura
diminua. No caso exotérmico, o aumento da temperatura da mistura justificaria o aumento
30
da entropia, em contrabalanço à perda associada à cristalização. Entretanto, no caso
endotérmico, esse argumento não pode ser aplicado. Como exemplo: as soluções
sobressaturadas de sulfato de sódio, resfriam com a formação do sal na forma sólida.”.
“Os únicos processos necessários para ocorrer evolução, partindo já da
existência da vida, são: reprodução, variabilidade hereditária e seleção. Estes processos
ocorrem e são vistos o tempo todo, e nenhuma lei física, tal como a tendência do aumento
da entropia termodinâmica, impediria a ocorrência deles. Conexões entre evolução e
entropia já foram estudadas em profundidade, e a entropia jamais foi um impedimento à
evolução.
Diversos cientistas têm apresentado hipóteses que a evolução e a origem da
vida tem como impulso a entropia. Alguns deles veem a informação dos organismos
sujeitos à diversificação de acordo com a segunda lei da termodinâmica, com organismos
buscando o preenchimento de nichos vazios como um gás em expansão em um
recipiente vazio. Outros ainda propõem que sistemas complexos altamente organizados
formam-se e modificam-se no tempo (evoluem) para dissipar energia (e aumentar a
entropia) de forma mais eficiente.”. (WIKIMEDIA FOUNDATION, 2011).
Como anteriormente mencionado, a planta (ou qualquer ser vivo) é um sistema
aberto e que o sistema planta-meio é fechado. Assim, como foi salientado anteriormente,
a Segunda Lei da Termodinâmica aplica-se ipsis literis ao sistema planta-meio. Definiu-se,
na Introdução, que o crucial na Agricultura, especialmente em Ecologia Agrícola, é o
agroecossistema. Ora, os agroecossistemas são sistemas fechados, de modo que a
entropia tende a aumentar nestes sistemas. Outra informação anteriormente referenciada
que deve ser salientada é o fato de que inúmeras vezes o conceito de desorganização
necessita ser desvinculado do de entropia.
Tais considerações entram em conflito com a afirmação anteriormente
mencionada realizada por James Lovelock, já que o aumento de entropia, e não sua
redução, é característica da vida do ponto de vista ecossistêmico, o que é crucial em se
tratando da biosfera de um dado planeta hipoteticamente habitado por seres vivos, e
utilizando-se de analogia à hipótese de Gaia, biosfera de um dado ecossistema
planetário.
2.2.4. Solos
Um solo possui camadas horizontais de morfologias diferentes entre si. Essas
31
camadas são chamadas de horizontes. A soma destas camadas define o perfil do solo.
Basicamente um perfil de solo apresenta os horizontes, como parcialmente mostram as
ilustrações 3 e 4, dispostas a seguir:
I. O, horizonte orgânico do solo e bastante escuro;
II. H, horizonte de constituição orgânica, superficial ou não, composto de
resíduos orgânicos acumulados ou em acumulação sob condições de prolongada
estagnação de água, salvo se artificialmente drenado;
III. A, horizonte superficial, com bastante interferência do clima e da biomassa;
IV. E, horizonte eluvial, ou seja, de exportação de material, geralmente argilas e
pequenos minerais;
V. B, horizonte de maior concentração de argilas, minerais oriundos de
horizontes superiores (e, às vezes, de solos adjacentes);
VI. C, porção de mistura de solo pouco denso com fragmentos da rocha matriz,
assemelhando-se ao conceito de saprólito;
VII. R ou D, rocha matriz não alterada.
Ilustração 4: Perfil de solo
Ilustração 3: Fotografia de perfil de solo
Ao contrário do que as considerações supracitadas acerca da estrutura física
32
em relativamente grande escala do perfil de solo podem sugerir, o solo é um ecossistema,
um organismo vivo, e em se tratando de solo agrícola um agroecossistema, com toda
uma microbiota, fauna e flora associadas e também com as rizosferas das plantas, com
as quais forma o sistema planta-solo, rizosferas estas integradas na dinâmica desta
biocenose, a qual passa a ser denotada edaphon. Sendo o solo um agroecossistema está
sujeito aos processos metabólicos, sistêmicos e termodinâmicos até o dado momento
abordados.
Um pesquisador chamado Janick mediu os seres vivos (a flora e a pedofauna)
de um solo agrícola, em clima frio (temperado) nos primeiros 30cm de profundidade. Ele
obteve as seguintes quantidades médias de quilogramas em cada hectare, expressas na
tabela abaixo.
Táxon
Massa média(kg)
Bactérias
500
Fungos
1500 a 2000
Actinomicetos
800 a 1500
Protozoários
200 a 400
Algas
250 a 300
Nematoides
25 a 50
Minhocas,
outros
vermes
e
Cerca de 800
insetos
Total
4075 a 6050
Tabela 2: Flora e pedofauna em 30cm de solo em clima temperado. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005).
Há também uma série de processos geobioquímicos abióticos que dão suporte
ao edaphon. Por outro lado, a existência do edaphon, e consequentemente o caráter
ecossistêmico do solo, confere ao mesmo propriedades emergentes e sistêmicas,
explanadas na Introdução e no tópico sobre ecossistemas e agroecossistemas.
Controversamente,
tanta
riqueza
em
termos
de
biodiversidade
e
processos
geobioquímicos complexos é responsável por apenas de 2% a 5% da constituição
química da planta de acordo com MEIRELLES et al. (2005), sendo a maior parte oriunda
do ar e da água, conforme tabela abaixo.
33
Insumos
Massa
Água
95500kg
Fotossíntese
4450kg
Minerais do solo
50kg
Total
100 toneladas
Tabela 3: Massa de insumos para a produção de 100 toneladas de batatas. Adaptado de MEIRELLES et al.
(2005).
Em contrapartida, considerável quantidade de água, em casos de manejo
adequado, está presente nos solos, o que pode alterar tal valor percentual. No entanto, a
importância do solo jaz na relação que possui com o trio ambiental básico abordado a
seguir, composto por água, sol e nutrientes, pela qual a potencialização da vida do solo é
diretamente proporcional à potencialização do trio ambiental básico. A este fato, soma-se
outro: é mediante o solo que dá-se grande parte das relações das plantas com a
biocenose do agroecossistema.
A rizosfera das plantas exsuda substâncias diversas, entre elas ácidos
orgânicos como ácido acético, butírico, cítrico, fumárico, lático, glicólico, oxálico,
propiônico, tartárico, valérico; aminoácidos diversos; carboidratos como glucose, arabiose,
frutose,
maltose,
sacarose,
desoxiribose,
galactose,
manose,
rafinose,
xilose,
oligossacarídeos; derivativos de ácidos nucleicos como adenina, citidina, guanina, uridina;
vitaminas como biotina, colina, inositol, ácido pantotênico, piridoxina e timina; enzimas
como amilase, invertase, fosfatase, protease; auxinas; glutaminas; glicosídeos; HCN;
peptídeos, saponinas; ácidos fenólicos; escopaletina; CO; e álcoois.
Estes exsudatos funcionam como substrato para o desenvolvimento de
biofilmes microbianos, estruturas tridimensionais que porventura operam em simbiose
com a rizosfera, disponibilizando assim nutrientes para a planta em troca dos exsudatos
orgânicos. Também ocorre em decorrência da exsudação aderência de microbiota de
organismos individuais ou em colônia aderidos à rizosfera em relações simbióticas, como
micorrizas e bactérias do gênero Rhyzobium sp ou Bradirhyzobium sp e sucedâneos, nos
respectivos âmbitos da disponibilização de fósforo entre outros minerais e da síntese
microbiológica de N a partir de nitrogênio molecular atmosférico. Todavia, também há
relações simbióticas endofíticas, com deposição de microbiota no espaço entre a parede
celular e a membrana plasmática, sobremaneira no tocante a micro-organismos
diazotróficos, como bactérias dos gêneros Azospirilum sp. e Azotobacter sp.
34
A presença de micorriza pode aumentar crescimento de rizosfera e absorção
de nutrientes, bem como, resistência a estresse hídrico. Já foram medidos no café
(Coffea arabica) aumentos de até 300% na absorção de Zn, de Cu, e de Mn. E na soja
(Glycine max), incrementos de 700% na absorção de Zn, 300% na absorção de Cu e
200% na de Mn. Elas recebem comida (carboidratos) das plantas e, em troca liberam no
solo muitos outros nutrientes.
Há no solo germoplasma da biodiversidade do agroecossistema com ativação
regulada por processos edafoclimáticos, processos de emergência, processos evolutivos
e pelo mecanismo de sucessão ecológica.
A partir da germinação das sementes previamente “selecionadas”, tem início,
segundo MEIRELLES et al. (2005), produção de nutrientes diversos e aproveitamento dos
recursos naturais incidentes sobre o agroecossistema.
Nos ecossistemas onde a água e o sol chegam em grande quantidade, como é
o caso no sul do Brasil, é muito importante manter o solo coberto por plantas. Elas serão
as responsáveis por fazer com que estes recursos gerem vida e não destruição. Todos
sabemos os malefícios que o sol e a chuva podem causar a um solo descoberto. A
energia do sol e a água podem tanto propiciar desempenhos adequados da produtividade
do agroecossistema como, em contrapartida, provocar erosão e compactação no solo.
“Atualmente, 61% dos terrenos do mundo estão em estágios moderados e
severos de degradação. Estima-se que as perdas de solo no Brasil sejam de,
aproximadamente, 2,5 bilhões de toneladas (t) por ano.”.(MAPA, 2011).
Com o intuito de se evitar intemperismos nocivos à produção de um
agroecossistema, sobretudo os intemperismos do tipo erosão, há um conjunto de práticas,
algumas complementares outras excludentes, denominadas manejo conservacionista,
que embora possua enfoque em outros aspectos de proteção dos solos agrícolas, tem na
erosão problemática substancial. O manejo conservacionista no tocante ao preparo do
solo engloba o preparo mínimo – o qual implica redução máxima do preparo do solo, com
emprego do subsolador após a colheita, sem arar, realizando o preparo do solo de
semeadura com o arado de disco – e o plantio direto – baseado no não revolvimento do
solo, na cobertura ininterrupta de solo seja com mulching, palhada (esta última mais
comumente utilizada), outros restos culturais, camada polimérica sintética, adubação
verde ou adubação morta, e na rotação de culturas.
Grande parte dos agroecossistemas em produção agroecológica com manejo
de solo conservacionista dá-se via preparo mínimo. O plantio direto é evidentemente
35
superior em vários aspectos, inclusive e sobremaneira ambientais, ao preparo mínimo.
Porém, atualmente compõe um pacote tecnológico usualmente confundido com a
essência do plantio direto e que apresenta vários problemas do ponto de vista ambiental.
No entanto, o plantio direto é ideal em um manejo agroecológico de um agroecossistema,
inclusive porque várias incongruências do ponto de vista metodológico em conciliar
ambos foram substancialmente solucionadas, como mostram autores como DAROLT &
NETO (2002), com algumas deficiências metodológicas remanescentes no controle
fitossanitário de vegetação espontânea, o que no entanto será solucionado ulteriormente
ao longo deste relatório. Grande parte, todavia, de produção agroecológica já está
operando em sistemas sucedâneos ao de plantio direto, porém não catalogados ainda
como tal, por exemplo, SAFs que em proporções menores como as de um quintal ou
horta exibem não só a propriedade de não revolvimento de solo e de cobertura
ininterrupta, (embora esta não seja palhada como ocorre no Sistema de Plantio Direto na
Palha e sim em grande parte dos casos vegetação espontânea combinada com mulching
originado por resíduos de estratos superiores), como também a propriedade de rotação
de culturas.
Agrotóxicos e adubos químicos sintéticos à base de petróleo altamente
solúveis, ambos com elevada energia livre de Gibbs, prejudicam a vida do solo, mesmo
considerando a meia-vida de substâncias e a biomineralização das mesmas no solo, já
que até o cumprimento de tais critérios efeitos termodinâmicos drásticos e irreversíveis
ocorreram no agroecossistema solo. Ao prejudicar a vida do solo, inviabilizam a retirada
de nutrientes, e portanto a proteossíntese, crucial para os processos metabólicos
dependentes de enzimas. Agrotóxicos podem diminuir a
respiração, transpiração e
fotossíntese das plantas, afetando sua proteossíntese e prejudicando sua resistência a
patógenos.
Matéria orgânica é hidrófoba com deficiência hídrica e hidrofílica após
hidratada. Solos com matéria orgânica adequadamente elevada e com manejo hídrico
apropriado têm sua capacidade de armazenar água aumentada. A parte efeitos elétricos,
há
a
granulometria
que
independentemente
do
manejo
hídrico
atua
como
potencializadora, no caso da matéria orgânica, da capacidade de retenção hídrica do solo.
“Solos grumosos, raízes desenvolvem-se melhor e água é bem distribuída, temperatura
do solo é amena (24ºC) mesmo sob sol forte. Em solo compactado, há menos raízes e a
água não infiltra deixando a planta exposta a temperatura de até 56ºC.”.”. (MEIRELLES et
al., 2005 apud Guia Abril Rural, 1996). Entretanto, a granulometria também influencia
36
aspectos elétricos, pois quanto menor a granulometria, maior a superfície específica por
volume disponível para reações químicas, eletroquímicas mais especificamente.
A matéria orgânica melhora a vida no solo, em partes porque características
supracitadas são igualmente benéficas para populações da biocenose edáfica. A
população de organismos úteis associados à rizosfera aumenta, tanto em casos mais
individualizados como colônias quanto em casos de biofilmes microbianos. A matéria
orgânica aumenta significativamente a capacidade das raízes em absorver minerais do
solo, quando se compara a solos que não foram tratados com ela. A matéria orgânica
possui na sua constituição macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas,
que as plantas absorvem conforme sua necessidade, escolhendo a qualidade e a
quantidade. Com isso, o nível de proteossíntese aumenta. Os micronutrientes são
fundamentais para a proteossíntese, tanto por fazerem parte das enzimas quanto por
serem ativadores destas. Os grumos formados pela matéria orgânica aumentam a
penetração das raízes e a porosidade do solo. Ademais, a matéria orgânica possui
substâncias promotoras de crescimento.
Todavia, é importante perceber que a matéria orgânica é apenas uma das
várias substâncias húmicas existentes, o que possibilita maior exploração da
complexidade geobioquímica dos agroecossistemas solos. Por outro lado, o equilíbrio, a
harmonia, termodinâmico, metabólico e trófico do solo, e seus vários componentes
geológicos, físicos, químicos, biológicos e climatológicos em interrelação é mais
fundamental do que quantidades absolutas, pontuais, de matéria orgânica. Tal fato pode
ser exemplificado pela existência, embora atualmente um tanto conturbada, da Floresta
Amazônica em local com solo arenoso, com pouca matéria orgânica, embora uma intensa
reciclagem da mesma ocorra, em virtude do clima equatorial e da maior cinética química
decorrente, juntamente com adubação pelo vento, como por exemplo, adubação de P via
ventos oriundos do Saara.
O quadro a seguir sintetiza alguns efeitos da matéria orgânica abordados em
primeira instância e/ou já referenciados anteriormente ao longo deste relatório, sobre os
aspectos físicos, químicos e biológicos dos solos.
37
Propriedades
Físicas
diminuição
de
densidade,
melhora da estrutura (agente cimentante);
solo mais friável; aumento da capacidade
de retenção de água; aumento da infiltração
de água; aumento de drenagem; aumento
da circulação de ar no solo; redução da
variação
de
temperatura
do
solo;
amortecimento do impacto direto das gotas
de
chuva;
aumento
da
absorção
de
nutrientes; aumento da superfície específica
Químicas
aumento da CTC; aumento da
disponibilidade de nutrientes; aumento da
adsorção
de
diminuição
do
cátions;
pH;
elevação
ou
complexação
de
elementos tóxicos; recuperação de solos
salinos; aumento do poder tampão do solo;
fixação do nitrogênio do ar; fornecimento de
substâncias promotoras de crescimento
Biológicas
aumento da atividade de microorganismos;
micorrizas;
bactérias
aumento
aumento
do
gênero
da
atividade
de
atividade
de
Rhyzobium
sp;
da
aumento da atividade de minhocas
Tabela 4: Síntese de efeitos físicos, químicos e biológicos da matéria orgânica em agroecossistemas
edáficos
As duas tabelas a seguir referem-se aos efeitos da adubação sobre o edaphon.
38
Animais
Colêmbolos
Ácaros
Nematoides
Volume de solo
8cm³
8cm³
5cm³
Tratamentos
Nº
Rel.
Nº
Rel.
Nº
Rel.
Sem adubação
3,70
75,1
0,89
96,7
40
84
Esterco de curral
5,88
119,8
1,32
143,5
114,3 239,8
Esterco de curral +
NPKCa
7,93
160,9
1,27
138
117,7 246,9
NPKCa
4,93
100
0,92
100
47,7
100
NPK
4,94
100,2
1,19
129,3
ND
ND
NPCa
5,71
115,8
0,80
87
ND
ND
NKCa
3,96
80,3
0,87
95,3
ND
ND
PKCa
3,40
69,0
0,63
68,5
ND
ND
5%
1,14
23,1
0,25
27,2
22,2
46,5
1%
1,52
30,8
0,33
36,0
30,4
63,7
Nível de
significância
Tabela 5: Influência da adubação sobre a densidade populacional de alguns animais do solo. Adaptado de
VOGTMAN & WAGNER (1987) apud RÜBENSAM et al. (1962).
Nº de germinações/Nº
total (relativamente sem
adubação)
EC1
EC2 NPK
N
Sem
adubação
Bactérias
117
118
109
87
100
Formadoras de esporos
202
145
132
84
100
Decompositoras de
celulose
133
108
81
90
100
Fixadoras de N
151
121
97
71
100
168
119
78
72
100
Anaeróbicas
199
175
154
171
100
Fungos
112
118
88
106
100
Actinomicetos
118
113
86
88
100
Colêmbolos
184
108
113
96
100
Ácaros
109
102
82
106
100
Nematoides
147
135
110
109
100
Fixadoras de NO
3
Tabela 6: Influência de adubações diferentes sobre o edaphon (nº relativo). Adaptado de VOGTMAN &
WAGNER (1987) apud MÜLLER (1962).
Os tratamentos referenciados na tabela supracitada encontram-se definidos
abaixo:
EC1: Esterco de Curral I. Dose anual: 12t/ha de 1878 até 1958
39
EC2: Esterco de Curral II. Dose anual: 8t/ha de 1893 até 1952
NPK: Dose anual: (20+20/56/59 kg/ha)
2.2.5. Trio Ambiental Básico
O trio ambiental básico, composto por água, sol e nutrientes é um conjunto de
fatores diretos de influência sobre a produção e produtividade de um agroecossistema.
2.2.5.1. Água
A água cobre 70,9% da superfície da Terra, e é vital para todas as formas
conhecidas de vida. Na Terra, é encontrada principalmente em oceanos e outros
estruturas aquáticas muito extensas, com 1,6% de água abaixo de aquíferos e 0.001% no
ar, como vapor, nuvens nuvens e precipitação. Oceanos contém 97% da água de
superfície, geleiras e capas de gelo contém 2,4%, e outra água em superfície terrestre
como rios, lagos e lagoa representa 0.6%. Uma quantidade muito pequena da água da
Terra está contida em corpos biológicos e produtos manufaturados.
Entretanto, há uma contínua reciclagem de água, ciclo hidrológico de
evapotranspiração, precipitação, escorrimento superficial e/ou infiltração, o que torna em
primeira instância a problemática hídrica solucionada em âmbito globais, não
considerando critérios como potabilidade e regularidade/simetria de distribuição. A
dinâmica da evapotranspiração é mais decisiva na determinação das propriedades locais
do ciclo hidrológico, ilustrado abaixo.
Ilustração 5: Ciclo hidrológico
O ciclo hidrológico, em uma abordagem geobioquímica e agroecológica dos
solos, entremeia-se a ciclos de nutrientes via físico-química de soluções e climatologia, e
40
a processos de evolução e gênese de solos via intemperismo e interações
geobioquímicas e edafoclimáticas dos mesmos, constituindo amplo e profundo fenômeno
sistêmico.
A presença de água líquida (relativamente límpida, potável, ao espécime) é
essencial para grande parte senão todas as formas de vida, inclusive o ser humano.
Acesso à água para beber fresca tem melhorado substancialmente nas últimas decadas
em quase toda parte do mundo. Há uma clara correlação entre segurança hídrica e PIB
per capita.
Uma importante propriedade da água é sua natureza polar. A molécula de água
forma ângulos de cerca de
2
π rad, o que lhe confere morfologia similar à tetraédrica,
3
com átomos de hidrogênio nas extremidades e oxigênio no vértice. O oxigênio é mais
eletronegativo que o hidrogênio, de modo que o lado da molécula com o átomo de
oxigênio tem uma carga negativa parcial. Um objeto com uma diferença de carga é
chamado dipolo. A região do oxigênio é parcialmente negativa e a do hidrogênio
parcialmente positiva, porque o sentido a que aponta o momento dipolar é “em direção”
ao oxigênio. As diferenças de carga fazem com que as moléculas de água sejam atraídas
umas às outras (as áreas relativamente positivas sendo atraídas pelas relativamente
negativas) e a outras moléculas polares. Esta atração contribui para as pontes de
hidrogênio, e explica muitas propriedades da água, como a ação praticamente universal
como solvente.
Grande parte da água no universo é produto de formação estelar. Quando
estrelas nascem, seu nascimento é acompanhado por um vento forte de gás e poeira em
movimento centrífugo. Quando este fluxo de material eventualmente impacta o gás
circundante, as ondas de choque criadas compressam e aquecem o gás. A água
observada é rapidamente produzida neste gás denso e quente.
Atividade de água ou aw (aqui notada por
aH
2
O
) é um conceito desenvolvido
para mensurar a intensidade com que a água se associa a vários constituintes não
aquosos. É a medida do status energético da água em um sistema. É definida como a
razão entre a pressão do vapor do líquido e a pressão do vapor d'água pura à mesma
temperatura; portanto, água pura destilada tem atividade de água exatamente igual a um.
Conforme a temperatura aumenta,
aH
2
O
tipicamente aumenta, exceto em alguns
41
produtos com sal cristalino ou açúcar. Substâncias com alta atividade de água dão
suporte a mais micro-organismos. Bactérias usualmente requerem pelo menos atividade
de água igual a 0,91, e fungos pelo menos 0,7. Analogamente ao fluxo de água por
diferença de pressão osmótica, a água flui de locais com maior atividade de água para
locais com menor atividade de água. Por exemplo, se o mel ( a H O≈0,6 ) for exposto ao
2
a H O≈0,7 ), o mel absorverá água do ar.
ar úmido (
2
Definição de aw: a H O ≡
2
p
p0
onde p é a pressão do vapor de água na
substância, e p0 é a pressão do vapor de água pura à mesma temperatura. Definição
a H O ≡l w x w onde lw é o coeficiente de atividade de água e x w é a molaridade
alternativa
2
da água em solução aquosa.
A irrigação por gotejamento, funciona como o name sugere. A água é
depositada gota a gota sobre a região do solo sob a qual encontra-se fração substancial
da rizosfera da planta. Se adequadamente manejado, pode ser o método de irrigação
mais eficiente em termos de uso de água, em decorrência da minimização da evaporação
e do escorrimento. Às vezes, combina-se irrigação por gotejamento com o trato cultural
adubação, em um processo definido como fertirrigação. Outro procedimento associado à
irrigação por gotejamento é a cobertura de solo – cobertura morta, adubação verde,
mulching, palhada, esta mais comum em sistemas de plantio direto, ou cobertura plástica,
grande maioria dos casos –, reduzindo ainda mais assim a evaporação além de propiciar
ambiente nocivo à proliferação de vegetação espontânea (em alguns contextos,
inadequada). A ilustração disposta na página seguinte exibe mecanismo de irrigação por
gotejamento.
Ilustração
6:
Mecanismo
de
irrigação
por
gotejamento
Hidroponia é um método de cultivo de plantas em meio aquoso, isoladas do
ecossistema solo, usando soluções ricas em nutrientes, geralmente na forma de
42
fertilizantes químicos sintéticos altamente solúveis e energéticos (energia livre de Gibbs),
mas que porventura pode incluir nutrientes minerais como: fosfatos “naturais”; farinhas de
rocha; preparados biodinâmicos; compostagens; turfa; recursos hídricos residuais de
sistemas aquaculturais, de saneamento básico ecológico, de esgoto devidamente tratados
sanitariamente e fitossanitariamente com ozônio e tratados também conforme outros
procedimentos mais detalhadamente descritos em VELÁSQUES et al. (2006), de
agroecossistemas aquáticos nem sempre associados a sistemas de saneamento; fontes
de micronutrientes; e/ou resíduos de biodigesor. O suporte físico do solo é substituído por
materiais como polímeros sintéticos e/ou à base de fibra de coco. A pesquisa com os
recém citados substratos “alternativos” em solução hidropônica, entretanto, ainda é
incipiente, necessitando de substanciais investimentos.
“Aquaponia é um sistema biointegrado que relaciona aquacultura em
recirculação de recursos hídricos, com produção de flores e/ou ervas. Avanços recentes
de pesquisadores e produtores transformaram aquaponia em um modelo de trabalho em
produção sustentável de alimento.”. (ATTRA, 2009).
Organoponia é um sistema de produção agroecológica urbana, principalmente
jardinagem e olericultura, desenvolvido sobretudo em Cuba, que se baseia em algumas
técnicas de hidroponia. Consiste geralmente de suportes de concreto preenchidos com
substratos e solo, com linhas de irrigação por gotejamento dispostas na superfície do
meio de crescimento. Organoponia provê acesso a oportunidades de trabalho, um
suplemento de comida fresca à comunidade, melhoramento da vizinhança e
embelezamento de áreas urbanas.
Organoponia primeiro surgiu como uma resposta da comunidade a falta de
segurança alimentar após o colapso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS). A organoponia funciona publicamente em termos de propriedade, acesso e
gerenciamento, mas substancialmente subsidiada e recebendo suporte pelo e do governo
cubano. Durante a Guerra Fria, a economia cubana baseava-se demasiadamente no
suporte da URSS. Em troca de açúcar, Cuba recebia agrotóxicos, adubos químicos
sintéticos, outros insumos agroquímicos e petróleo subsidiados. Cerca de 50 por cento da
comida de Cuba era importada. O sistema de produção agrícola de Cuba era organizado
aos moldes do estilo soviético: em alta escala, unidades coletivas de agricultura industrial.
Antes do colapso da URSS, Cuba chegou a usar mais de 1 milhão de toneladas de
fertilizantes sintéticos por ano e cerca de 35000 toneladas de agrotóxicos por ano,
43
conforme dados em WIKIMEDIA FOUNDATION (2011).
Com o colapso da URSS, Cuba perdeu seu maior parceiro em comércio e os
favoráveis subsídios comerciais que recebia, bem como o acesso à petróleo e insumos
agroquímicos. De 1989 a 1993, a economia cubana contraiu 35%. Sem o auxílio soviético,
produção doméstica agrícola caiu pela metade. Neste período, chamado em Cuba
Período Especial, a escacez alimentar agravou-se. A ingestão calórica per capita média
diária caiu de 2900 em 1989 para 1800 em 1995.
Sem comida, os cubanos aprenderam a cultivar seu próprio alimento
preferencialmente a importá-lo. Isto foi feito com fazendas privadas e milhares de parcelas
de jardim comercial urbano – e, devido à ausência de agroquímicos, a comida tornou-se
de facto agroecológica. Surgem milhares de novos fazendeiros individuais urbanos
chamados parceleros (por suas parcelos, ou parcelas). Eles formaram e desenvolveram
cooperativas do ramo agropecuário e mercados agrícolas. Estes parceleros fundaram o
suporte do Ministério Cubano de Agricultura (MINAGRI), que proveu especialistas
universitários para treinar voluntários em tecnologias agroecológicas, como produtos
fitossanitários e insetos benéficos.
Sem os fertilizantes, unidades hidropônicas da URSSS não eram mais viáveis.
Os sistemas foram então convertidos para o uso de horticultura agroecológica. As
unidades hidropônicas originais foram preenchidas com resíduos da agroindústria do
açúcar submetidos a compostagem. Assim, hidroponia tornou-se organoponia.
Cuba possui mais do que 7000 unidades de organoponia. Mais do que 200
jardins em Havana suprem seus cidadãos com mais de 90% de suas frutas e hortaliças.
Colheitas mais do que quintuplicaram de 4 a 24 quilogramas por metro quadrado entre
1994 e 1999, e atualmente cerca de 1000000 de toneladas de comida por ano é
produzida em unidades organopônicas.
Algumas unidades organopônicas são administradas por funcionários públicos,
outras por cooperativas de agricultores. Há alguma especulação sobre se o sistema
organopônico pode ser aplicado a outras nações.
Abaixo, fotografia de produção agrícola organopônica.
44
Ilustração 7: Produção agrícola organopônica
Chinampa, vocábulo oriundo da palavra Nahuatl chināmitl cujo significado é
quadrado [sic] feito de canos, é um método de agricultura Mesoamericana antiga que
usava áreas, em formato retangular, pequenas de terra arável fértil para agricultura nas
porções rasas de lagos no Vale do México. Geralmente são referenciados como jardins
flutuantes, chinampas eram ilhas artificiais que usualmente mediam 30m x 2,5m.
Geralmente, árvores como āhuexōtl (Salix bonplandiana) e āhuēhuētl (Taxodium
mucronatum) eram plantadas nos cantos para dar estabilidade ao chinampa. Chinampas
eram separados por canais largos o bastante para uma canoa passar. Estas “ilhas”
possuíam produtividades muito altas com até 3 colheitas por ano.
Abaixo, mapa etnoagronômico do Vale do México no período pré-Colombiano.
45
Ilustração 8: Mapa etnoagronômico do Vale do México
no período pré-Colombiano
Na página a seguir, fotografia de Chinampa moderno. Há nesta área de
produção agrícola, em contraposição incial à incrível sofisticação em termos de ecologia
agrícola característica da produção agrícola asteca, manejo de solos deficitário, no
tocante à cobertura de solo. Do ponto de vista etnoagronômico, tal contraposição revelase falaciosa, já que a cobertura de solo não é aspecto essencial constitutivo da agricultura
americana pré-colombiana, em específico agricultura asteca, como também não o é em
grande parte da produção agrícola mundial neste período. No entanto, fazendo-se uso de
abordagem por vezes recorrente em ciências sociais, das quais a etnoagronomia é um
exemplo, uma das propriedades de uma cultura “viva” [sic] (em outras palavras,
vivenciada pelos agregados sociais a que diz respeito) é a evolução temporal da mesma,
interagindo com outros sistemas culturais ao longo do tempo. Consoante com esta
abordagem, aponta-se novamente a supracitada contraposição, já que atualmente a
cobertura de solos é temática crucial, fundamental, no cenário agrícola mundial,
especificamente em ecologia agrícola, como foi abordado no tópico referente a solos. É
mister que se trabalhe em prol da atenuação ou, preferencialmente, erradicação deste
antagonismo, para que a sustentabilidade dos chinampas não seja inviabilizada por sua
vivência anacrônica.
46
Ilustração 9: Fotografia de Chinampa moderno
Por vezes, há agroecossistemas predominantemente ou em sua totalidade
aquáticos, desde agroecossistemas como o de culturas anuais irrigadas, como Oryza sp.,
a agroecossistemas lacustres (ou sucedâneos) ou açudes, estes geralmente sob manejo
permacultural, em se tratando de sistemas agroecológicos. A maior parte das noções
válidas em agroecossistemas terrestres (termodinâmica agrícola, trofobiose, nutrição) são
igualmente
válidas em agroecossistemas aquáticos, com algumas adaptações.
Obviamente, a agrobiodiversidade em um agroecossistema aquático deve ser constituída
em grande parte por espécies oriundas de ecossistemas aquáticos, pois o manejo tende a
ser facilitado. Entretanto, analogamente à hidroponia, agroecossistemas aquáticos com
agrobiodiversidade originalmente terrestre são igualmente viáveis, embora possa haver
algumas
dificuldades
maiores
em
relação
a
agroecossistemas aquáticos
com
agrobiodiversidade originalmente aquática.
É possível vincular agroecossistemas aquáticos a sistemas de saneamento
básico, sobretudo no setor de tratamento de dejetos; tanto da produção agrícola quanto
domésticos, ambos obviamente biodegradáveis; podendo passar por processos de
purificação e controle sanitário ulteriores, retornando a agroecossistemas e a sistemas
domésticos, ou direcionados a fontes públicas ou fontes de recurso hídrico “naturais”
como sistemas públicos de saneamento básico ou rios, lagos, lagoas, lagunas, oceanos
e/ou mares, respectivamente. Esta última possibilidade não é, em primeira instância,
recomendável quando a primeira possibilidade o for., pois a primeira possibilidade satisfaz
mais adequadamente a concepção sistêmica de seres vivos e de ecossistemas, no
escopo da ecologia agrícola, no tocante aos 4Rs: reduzir, reutilizar, reciclar e repensar.
47
2.2.5.2. Sol
“A agricultura é a arte de cultivar o sol.” (Provérbio Chinês).
Consiste de plasma quente em meio a campos magnéticos. Tem diâmtero de
cerca de 1392000km, cerca de 109 vezes o da Terra, e sua massa (cerca de 2.10 30
quilogramas, 330000 vezes a da Terra) representa 99,86% da massa total do Sistema
Solar. Quimicamente, cerca de três quartos da massa do Sol consiste de hidrogênio,
enquanto o resto é principalmente hélio. Menos de 2% consiste de elementos pesados,
incluindo oxigênio, carbono, neônio, ferro, e outros.
A classificação estelar do Sol baseado na classe espectral é G2V, sendo
informalmente designada anã amarela, com temperatura em torno de 5778K (5505°C), e
sendo uma estrela de sequência principal, ou seja, gera sua energia pela fusão nuclear de
hidrogênio em hélio. Em seu núcleo, o Sol funde 620 milhões de toneladas métricas de
hidrogênio por segundo. Uma vez tomado por astrônomos como uma estrela pequena e
relativamente insignificante, o Sol agora é tido como sendo mais brilhante do que cerca de
85% das estrelas da Via Láctea, em sua maioria composta por anãs vermelhas. A corona
quente do Sol continuamente expande-se no espaço, dando origem ao vento solar, uma
faixa de partículas carregadas eletricamente que se extende da heliopausa a cerca de
100 U.A. A bolha no meio interestelar formada pelo vento solar, a heliosfera, é a mais
larga estrutura contínua do Sistema Solar.
O Sol está atualmente viajando pela Nuvem Interestelar Local na zona da
Bolha Local, dentro da borda interna do braço de Órion-Cisne da Via Lactea. O sol orbita
o centro da Via Lactea a uma distância de aproximadamente 24000 a 26000 anos luz,
completando uma órbita no período denominado ano galático, o qual equivale a de 225 a
250 milhões de anos. Como nossa galáxia está se movendo com respeito à radiação
cósmica de fundo em micro-ondas (CMB, em Inglês) em direção à constelação de Hidra
com uma velocidade de 550km/h, a velocidade resultante do sol com respeito à radiação
cósmica de fundo é de cerca de 370km/s na direção de Crater ou Leão.
A formação do Sistema Solar tem seu início estimado em 4568 bilhões de anos
atrás, cerca de 40 anos galáticos após o Big Bang, com o colapso gravitacional de uma
pequena parte de uma nuvem molecular gigante. A maior parte da massa em colapso
agregou-se no centro, formando o Sol, enquanto o resto agregou-se em um disco
protoplanetário, a partir do qual formaram-se os planetas, planetas anões, luas,
48
asteroides, e outros corpos pequenos do Sistema Solar.
“A luz ou radiação solar é a energia eletromagnética que aciona, rege e regula
termodinamicamente os ciclos biogeoquímicos do Nitrogênio, do carbono e da água e os
fenômenos meteorológicos. É fonte nutritiva dos seres vivos” (PINHEIRO, NASR & LUZ,
1993) exceto, porém com exceção parcial, em se tratando de micro-organismos
quimiossintetizantes (tiobactérias e ferrobactérias, por exemplo) que são minoria em
termos de biodiversidade e que dependem dos ciclos de nutrientes, quase todos estes
como recém mencionado regulados pela radiação solar, e do da água, também regulado
pela radiação solar.
A radiação solar é constituída de diferentes longitudes de onda, conforme
PINHEIRO, NASR & LUZ (1993): raios ultravioleta (λ<0,36μm); raios luminosos (0,36μm
<λ<0,76μm) e raios infravermelhos (λ>0,76μm). Estes três tipos de raios, quando incidem
sob superfície enegrecida, transformam-se inteiramente em calor. Fora da atmosfera
terrestre, a intensidade calorífica da radiação solar é constante e recebe o nome de
constante solar e seu valor é 1,96calcm²/min. Nem toda a radiação incidente no limite
superior da atmosfera chega à superfície terrestre. A atmosfera constitui-se numa barreira
à radiação, produzindo diferentes fenômenos: absorção, reflexão e dispersão, entre
outros. “É extremamente importante para o setor agrícola ter noção destes valores. Numa
selva na região equatorial há sempre uma temperatura média de pouca amplitude; já num
deserto, situado na mesma latitude e altitude, ocorrem temperaturas fantasticamente altas
durante o dia e baixíssimas durante a noite. É importante refletir sobre a questão da
velocidade de reação que ocorre com a absorção de calor nos dois ambientes e suas
consequências no tempo.” (PINHEIRO, NASR & LUZ, 1993). A grandeza albedo poderia,
desta forma, ser de vital interesse para análise de um dado agroecossistema.
O autor supracitado aponta duas leis sobre a radiação solar, sejam elas Lei de
Bourguer e do Cosseno da Obliquidade:
I. Lei de Bourguer: a intensidade calorífica de uma radiação que atravessa um
meio transparente decresce em progressão geométrica, quando a massa atravessada
cresce em progressão aritmética. Como a camada atmosférica mais espessa é a do
Equador para os polos, à medida que nos aproximamos destes, a intensidade calorífica
diminui.
II. Lei do Cosseno da Obliquidade: a intensidade do calor recebido por uma
49
superfície horizontal depende da inclinação com que chegam os raios solares. Quanto
mais perpendiculares maior é a intensidade. Já quanto mais inclinados forem maior será a
superfície onde incidem; portanto, a quantidade de energia por centímetro quadrado na
superfície diminui. De acordo com a Lei do Cosseno, aplicada no Brasil, os terrenos
inclinados para o Norte são mais quentes que os demais, porque os raios chegam durante
maior período, com menor inclinação.
“[...] A quantidade de calor recebida ao ano por centímetro quadrado de solo
horizontal diminui com o aumento da latitude.” (PINHEIRO, NASR & LUZ; 1993), pois
quanto maior a latitude, maior a inclinação dos raios solares incidentes sob superfícies a
esta latitude.
Para aumentar a capacidade de um agroecossistema, sobretudo das plantas,
de aproveitar a luz solar, deve haver condições ótimas de funcionamento, isto é, estar em
condições termodinâmicas, metabólicas, adequadas. Uma possibilidade é investir na
proliferação de outras espécies (inclusive espécies componentes da biodiversidade do
agroecossistema, mas não da agrobiodiversidade do agroecossistema) trabalharem
captando energia solar. Esta energia alocada sob a forma de matéria orgânica, outras
substâncias húmicas e outros nutrientes será colocada a disposição do cultivo comercial
componente do agroecossistema. Dentre os tratos culturais envolvidos na concepção
supracitada encontra-se por exemplo, conforme MEIRELLES et al. (2005), a adubação
verde ou permitir que a vegetação espontânea do local se desenvolva temporariamente.
2.2.5.3. Nutrientes
As plantas absorvem nutrientes dentre outras maneiras na forma de íons
inorgânicos, monoatômicos ou poliatômicos, representativos de elementos químicos
minerais componentes tanto do conjunto dos metais, em maior quantidade, quanto do
conjunto dos não-metais, em menor quantidade. Esta maneira vem sendo explorada
agronomicamente desde o final do século XIX a partir do trabalho do químico agrícola
Justus von Liebig.
Trabalhos substanciais de pesquisadores como o engenheiro agrônomo Airton
Luiz Bortoluzzi, têm sido promissores no sentido de poder ampliar a concepção inicial dos
mecanismos nutricionais supracitados para englobar moléculas orgânicas como nutrientes
absorvidos pelas plantas, o que sem dúvida possibilitaria uma maior compreensão dos
processos sistêmicos envolvidos na nutrição de plantas, sobretudo em se tratando de
50
ecologia agrícola.
A análise de solos é importante para compreensão de alguns aspectos físicoquímicos, entretanto há várias limitações nas metodologias atuais como a não trivial
inclusão de vários micronutrientes, e análises que incluam aspectos bioquímicos,
edafobiológicos. Outro problema é que a disponibilidade de nutrientes é descrito de modo
deficitário pela análise de solos, já que toda a dinâmica dos ciclos de nutrientes, bem
como outros aspectos ecossistêmicos não são retratados suficientemente. Em um manejo
agroecológico, a análise de solos pode ser um parâmetro complementar, desde que se
tome consciência de suas limitações e se busque ampliar ao máximo o número de
elementos descritos pela análise de solos, mantendo-se viabilidade econômica, e desde
que sejam realizadas práticas complementares como análise da vegetação espontânea
considerando-se a sucessão vegetal e inferência do caráter físico, químico e biológico dos
solos em virtude deste estágio da sucessão ecológica e a análise de tecido foliar.
Permite-se em agroecologia, o uso moderado de adubação química mineral
não-sintética, em geral com menor energia livre de Gibbs que sucedâneos sintéticos à
base de petróleo. Por adubação química mineral não-sintética compreende-se fosfatos
naturais, farinha de rochas, calcáreo, de preferência dolomítico por apresentar tanto CaO
como MgO.
A adubação verde apresenta as vantagens de cobertura de solo, produção de
massa verde podendo esta ser incorporada no solo, estímulo da vida do solo, pela
presença da rizosfera e sua complexidade associada, decomposição da rizosfera como
fonte de nutrientes e pouco investimento em tempo, força de trabalho e insumos,
sobretudo em se tratando de adubação verde com culturas e/ou cultivares mais rústicas,
mais adaptadas ao ambiente específico e/ou autóctones. A tabela disposta na página
seguinte discorre sobre aspectos de produtividade e produção de diferentes culturas sob
sistema de adubação verde.
51
Espécie
Kg/ha de
sementes
Produção de massa Nitrogênio na biomassa
seca (kg/ha)
(kg/ha)
Aveia preta
75
4600
70
Aveia preta + 50/30
ervilhaca
5000
ND
Centeio
70
8480
68
Ervilhaca
80
3500
106
Nabo
forrageiro
15 a 20
3500
106
Crotalaria
juncea
40
9933
60
Feijão de
porco
150 a 180
7100
180
Feijão
guandu
50
13788
250
Mucuna preta 60 a 80
7287
210
Milheto
9939
ND
60
Tabela 7: Aspectos produtivos de diferentes culturas em adubação verde. Adaptado de MEIRELLES et al.
(2005) apud ASPTA (1992).
Compostagem é o conjunto de técnicas aplicadas para controlar a
decomposição de materiais orgânicos, com a finalidade de obter, no menor tempo
possível, um material estável, rico em húmus e nutrientes minerais; com atributos físicos,
químicos e biológicos superiores (sob o aspecto agronômico) àqueles encontrados na(s)
matéria(s) prima(s).
Os principais fatores que governam o processo de compostagem são:
a) Microrganismos: A conversão da matéria orgânica bruta ao estado de
matéria humificada é um processo microbiológico operado por bactérias, fungos e
actinomicetes. Durante a compostagem há uma sucessão de predominâncias entre as
espécies envolvidas.
b) Umidade: A presença de água é fundamental para o bom desenvolvimento
do processo. Entretanto, a escassez ou o excesso de água pode desacelerar a
compostagem.
c) Aeração: A compostagem conduzida em ambiente aeróbio, além de mais
rápida, não produz odores putrefatos nem proliferação de moscas.
d) Temperatura: O metabolismo exotérmico dos microrganismos, durante a
fermentação aeróbia, produz um rápido aquecimento da massa. Cada grupo é
52
especializado e desenvolve-se numa faixa de temperatura ótima. Promover condições
para o estabelecimento da temperatura ótima para os microrganismos é fundamental.
e) Relação Carbono / Nitrogênio (C/N): Os microrganismos absorvem os
elementos carbono e nitrogênio numa proporção ideal. O carbono é a fonte de energia
para que o nitrogênio seja assimilado na estrutura. Em geral, recomenda-se combinar
fontes pobres em nitrogênio (por exemplo, casca de arroz) com ricas em nitrogênio (por
exemplo, folhas verdes) de modo que a decomposição seja rápida e não haja desperdício
de nitrogênio.
f) Preparo prévio da matéria-prima: A granulometria é muito importante uma vez
que interfere diretamente na aeração da massa original. Partículas maiores promovem
melhor aeração, mas o tamanho excessivo apresenta menor exposição à decomposição e
o processo será mais demorado.
g) Dimensões e formas das pilhas: Quanto ao comprimento, este pode variar
em função da quantidade de materiais, do tamanho do pátio e do método de aeração. Já
a altura da pilha depende da largura da base. Pilhas muito altas submetem as camadas
inferiores aos efeitos da compactação. Pilhas baixas perdem calor mais facilmente ou
nem se aquecem o suficiente para destruir os patogênicos. O ideal é que as pilhas
apresentem seção triangular, com inclinação em torno de 40 a 60 graus, com largura
entre 2,5 e 3,5 metros e altura entre 1,5 e 1,8 metros.
A tabela na página seguinte mostra a relação entre estercos de diversas
espécies e componentes químicos nutricionais fitotecnicamente falando.
Componentes
Equinos
Bovinos
Suínos
Ovinos
Água
5785
13145
1324
541
Matéria seca
1715
2039
176
199
Total
7500
15184
1500
740
N
58
78,9
7,5
6,7
P2O5
23
20,6
5,3
4,3
K2O
40
93,6
5,7
6,2
Cálcio e
Magnésio
(MgO+CaO)
30
35,9
3
8,8
Tabela 8: Materiais fertilizantes contidos no esterco e na urina de algumas espécies (em kg/ano per capita).
Adaptado de MEIRELLES et al. (2005).
Vermicompostagem é o processo no qual se utilizam as minhocas para digerir
a matéria orgânica, originando um adubo mais estável. Existem dois grupos de minhocas
53
que podem ser utilizadas com esta finalidade, e que podem ser reconhecidas pela cor: as
vermelhas ou as acinzentadas.
Compostagem de superfície é a decomposição dos materiais dispostos em
vermicompostagem e/ou compostagem in loco, sobre a adubação verde ou restos de
cultura, de modo que a decomposição ocorra no solo, favorecendo evolução conjunta dos
micro-organismos decompositores com o próprio solo. Para que isto aconteça, é
necessário que o solo esteja “vivo”, que já venha sendo manejado com base em ecologia
agrícola. A vida, ou em outras palavras, a biota dos solos é que propiciará que este
material seja digerido, com todas as vantagens que isto acarreta.
A ilustração contida na página a seguir representa o ciclo do carbono
Ilustração 10: Ciclo do C
A seguir, representação do ciclo do nitrogênio ignorando aspectos como
bactérias endofíticas e síntese de NO 3 via relâmpagos a partir de nitrogênio molecular
atmosférico.
54
Ilustração 11: Ciclo do N
Na página seguinte, a ilustração mostra o ciclo do Fósforo
Ilustração 12: Ciclo do P
A fixação microbiológica de nitrogênio disponível para as plantas não encontrase tão somente em Rhyzobium sp., endofíticas e sucedâneos, mas também em
cianobactérias que atuam em simbiose com plantas. Tais cianobactérias são em sua
maior parte dos gêneros Azolla sp. e Anabaena sp.
2.2.6. Trofobiose
Proteossíntese é a síntese de macromoléculas proteicas a partir de
aminoácidos (ácidos orgânicos com entre outros grupos funcionais as aminas)
concatenadas em ligações químicas peptídicas. Proteólise é a análise de macromoléculas
proteicas em aminoácidos via ruptura de ligações peptídicas. A proteossíntese representa
um processo entrópico, ao passo que a proteólise um processo gerador de energia livre
de Gibbs. Em condições de desequilíbrio fisiológico, como estresse, a relação entre
proteólise e proteossíntese deixa de ser harmoniosa, surge então um desequilíbrio
55
metabólico e nutricional e, por consequência, um desequilíbrio termodinâmico.
Quanto maior for a razão de proteólise sobre proteossíntese maior será a
susceptibilidade da planta à incidência de patógenos, pois estando em desequlíbrio sua
imunidade diminui. Por outro lado, a presença de aminoácidos e outras substâncias
orgânicas solúveis possibilita maior incidência de patógenos que absorvem nutrientes
melhor desta forma e em alguns casos possuem sensores de substâncias orgânicas
solúveis, como aminoácidos. Em contrapartida, mecanismos de seleção natural tendem a
eliminar plantas que tenham tendência a desequilibrar-se termodinamicamente.
Trofobiose é o princípio elaborado por Francis Chambossou, químico do
Institute Nationale de la Resérche Agronomique (INRA), Instituto Nacional de Pesquisa
Agronômica, que relaciona proteólise e proteossíntese à incidência de patógenos e à
desequilíbrios nutricionais, metabólicos, fisiológicos e termodinâmicos.
2.2.7. Fitopatologia
Patógenos de plantas são espécies ou estruturas (príons, vírus) “biológicas”
fitófagas de plantas de interesse econômico que atuam de forma parasita, sobre as
populações das mesmas em momento de interesse econômico e/ou agronômico,
inviabilizando a produtividade do agroecossistema em níveis significativamente superiores
a um dado dano econômico tomado por limite inferior.
Condições para instauração de quadro clínico patológico são o triângulo
patógeno x hospedeiro x condições climáticas atrelado ao triângulo tempo x temperatura x
atividade de água (este último fator mais substancial em se tratando de fungos), ambos
atrelados ao fator trofobiose, no sistema patógeno x hospedeiro x tempo x temperatura x
atividade de água x equilíbrio termodinâmico do espécime x equilíbrio termodinâmico do
agroecossistema.
Conceito vital em Manejo Integrado de Pragas, o de dano econômico é
essencial em manejo agroecológico de um agroecossistema por incluir o critério de
viabilidade econômica de um trato cultural fitossanitário.
A análise da patologia deve estar focada no agroecossistema, de tal sorte que
a incidência seja considerada indicador biológico de mau manejo. Outro indicador
biológico de mau manejo é a presença de vegetação espontânea em decorrência de
processos
de
sucessão
ecológica
explanados
no
tópico
Ecossistemas
e
56
Agroecossistemas. Os tratamentos de populações de culturas devem ser concebidos
como tratos culturais que visam fortalecer a cultura e o agroecossistema. A profilaxia deve
buscar romper um ou mais dos elementos das condições para instauração de quadro
clínico patológico.
A erradicação da vegetação espontânea, usualmente mediante “limpeza da
área”, é inviável, e inadequada se o contexto do agroecossistema como um todo for
considerado, pois à medida que tenta-se erradicá-las, surgem problemas com erosão, e
impedindo solo de fazer sucessão vegetal, surgem plantas mais resistentes e de manejo
mais difícil diminuindo vantagens da vegetação espontânea. Tal surgimento é resposta do
solo a isto, tanto pela emergência do edafoecossistema quanto pela seleção natural em
processo análogo ao de superpraga. Se capinamos um solo com beldroegas, aparecem
guanxumas. Se atacamos a guanuxuma, vem a milhã. Sempre vem uma planta com
maior capacidade de proteger o solo.
O controle fitossanitário de vegetação espontânea não é feito via eliminação
sistemática mecânica mas via mudanças na qualidade do ambiente, propiciando a
proliferação de espécies menos agressivas e menos competidoras com a cultura
comercial; além de propiciar ao agroecossistema a chance de possuir sucessão vegetal
adequada.
Uma técnica promissora, que pode encontrar-se em consonância com os
princípios aqui avaliados, desenvolvida por Airton Luiz Bortoluzzi, é o controle
fitossanitário de vegetação espontânea via fomento à proliferação de populações
alternativas de vegetação espontânea, ambas as populações autóctones ou não. Todavia,
esta técnica deve constituir um contexto em que se considere também a sucessão vegetal
e a inversão da sucessão vegetal, de modo que tal técnica seja complementar às
discorridas neste relatório. Esta técnica por vezes caracteriza-se por consequência de um
dado procedimento agrícola (adubação verde, por exemplo) empreendida visando outros
processos e não por um procedimento que objetive predominantemente a execução da
mesma.
Solo dominado por gramíneas estoloníferas como milhã (Digitaria sanguinalis),
por exemplo, encontra-se em fase em que ecossistema apresenta estrutura física
deficiente, não sendo um solo solto. À medida que ocorre decomposição de planta e
raízes, há incorporação significativa de matéria orgânica no solo, melhoradora da
estrutura.
57
Nambiça (Raphanus raphanistrus) indica falta de disponibilidade de boro e
manganês no solo. Ela tem maior capacidade de extrair estes nutrientes do solo, quando
comparada à maioria das outras plantas. Sendo assim, seu papel na sucessão vegetal é o
de tornar estes elementos disponíveis quando encerra seu ciclo, para que a sucessão
possa seguir seu curso até chegar à vegetação clímax.
Guanxuma (Sida rombifolia) indicadora de solo compactado e que possui uma
raiz pivotante agressiva, capaz de fazer exatamente o trabalho de descompactação.
Assim, as ervas ao mesmo tempo em que indicam um problema, são a própria solução
natural para superar determinada situação.
No caso do pousio, o comum é no início o solo estar degradado, com presença
de vegetação espontânea similar a populações de milhã e guanxuma. Passados três ou
quatro anos, vê-se outra vegetação. As sementes se esgotaram? Não, passado novo
período de degradação do solo, e em novo pousio, lá estão guanxuma e milhã.
Na página a seguir, encontra-se tabela com exemplos de vegetação
espontânea tomados como indicadores biológicos, seguida de outra tabela, com relações
entre déficits nutricionais e incidência de patógenos.
58
Nome comum
Nome científico
Características do solo
Azedinha
Oxalis oxyptera
Solo argiloso, pH baixo, falta
de Ca e/ou de Mo
Amendoim brabo
Euphorbia heteropylla
Desequilíbrio de N com Cu,
ausência de Mo.
Beldroega
Portulaca oleracea
Solo bem estruturado, com
umidade e matéria orgânica
Capim arroz
Echinochloa crusgallii
Solo anaeróbico, com
nutrientes “reduzidos” a
substâncias tóxicas
Cabelo de porco
Carex ssp
Solo muito exausto, com
nível de Ca extremamente
baixo
Capim amoroso ou
carrapicho
Cenchrus ciliatus
Solo depauperado e muito
duro, pobre em Ca
Caraguatá
Eryngium ciliatum
Planta de pastagens
degradadas e com húmus
ácido
Carqueja
Baccharis ssp
Solos que retêm água
estagnada na estação
chuvosa, pobres em Mo.
Caruru
Amaranthus ssp
presença de N livre (matéria
orgânica)
Cravo brabo
Tagetes minuta
Solo infestado por
nematoides
Dente de leão
Taraxum officinalis
Presença de boro
Fazendeiro ou picão branco
Galinsoga parviflora
Solos cultivados com N
suficiente, faltando Cu ou
outros micronutrientes
Guanxuma ou malva
Sida ssp
Solos muito compactados
Língua de vaca
Rumex ssp
Excesso de N livre, terra
fresca
Maria mole ou berneira
Senecio brasiliensis
Camada estagnante em 40
a 50 cm de profundidade,
falta K
Mamona
Ricinus communis
Solo arejado, deficiente em
K
Nabisco ou nabo brabo
Raphanus raphanistrum
Solos carentes em B e Mn
Papuã
Brachiaria plantaginea
Solo com laje superficial e
falta de Zn
Picão preto
Bidens pilosa
Solos de média fertilidade
Samambaia
Pteridium aquilinum
Excesso de alumínio tóxico
59
Tiririca
Cyperus rotundus
Solos ácidos, adensados,
mal drenados, possível
deficiência de Mg
Urtiga
Urtica urens
Excesso de N livre, carência
em Cu
Tabela 9: Indicadores biológicos. Vegetação Espontânea. Adaptado de MEIRELLES et al. (2005) apud
PRIMAVESI (1992).
60
Deficiência de
Cultura
Patógeno que aparece
Ca
parreira
cochonilhas
tomateiro
podridão apical, virose “viracabeça”
morango
podridão
feijoeiro
mosca-branca (Bemisa tabaci)
cevada
míldio (Erysiphe graminis)
trigo
ferrugem (Puccinia graminis tritici e
Puccinia glumarum) e míldio
(Erysiphe cichoracearum)
girassol
míldio (Botrytis sp)
couve-flor
lagarta do cartucho (Spodoptera
sp)
milho
podridão seca da espiga (Diploida
zea)
batata
sarna (Streptomyces scabiei)
melancia
Oidium sp
batata-doce
Sarna (Streptomyces scabiei)
arroz
brusone (Piricularia oryzae)
trigo
ferrugem (Puccinia graminis tritici)
cafeeiro
ferrugem (Hemileia vastatrix)
tomateiro
infecções bacterianas
acácia
besouro serrador (Oncideres
impluviata)
aveia
Infecções bacterianas
trigo
ferrugem (Puccinia graminis tritici)
Mo e P
algodoeiro
lagarta rosada (Platyedra
gossypiella)
Mo
alfafa
baixa resistência
Zn
seringueira
Oidium hevea e Phytophthora sp
milho
broca do colmo (Elasmopalpus
lignosellus)
B
Cu
Mg
Mn
Tabela 10: Influência do déficit nutricional em incidência de patógenos. Adaptado de MEIRELLES et al.
(2005) apud PRIMAVESI (1989).
O controle fitossanitário biológico é outro trato cultural alternativo e
complementar, baseado no equilíbrio biológico da taxa patógeno/hospedeiro nas teias
tróficas de um dado agroecossistema.
O equilíbrio biológico auxilia a manutenção das populações de patógenos em
61
níveis de dano econômico não significativo. Exemplos de equilíbrio biológico são o
parasitismo do inseto coleóptero joaninha (família Coccinellidae) sobre insetos hemípteros
como pulgões (superfamília Aphidoidea) e insetos dípteros como mosca das frutas
(Drosophila sp e/ou família Dephritidae, família a qual pertence o gênero Anastrepha sp) e
o parasitismo de populações da família Baculoviridae sobre populações de lagarta-da-soja
(Anticarsia gemmatalis).
O equilíbrio biológico pode ser potencializado mediante fomento a fatores
abióticos
potencializadores
da
expressão
plena
da
biocenose
espontânea
do
agroecossistema e/ou – quando houver necessidade em decorrência de reiterada
incidência de patógenos sobre o agroecossitema em um período significativamente curto
de tempo instaurando danos econômicos significativos – mediante estímulo direto de teias
tróficas ou sucedâneos no agroecossistema via introdução de populações predadoras a
um dado patógeno ou conjunto de patógenos exógenas ao agroecossistema.
Outros tratos culturais complementares são o denominado controle físico
consistindo em procedimentos como solarização, uso de caldas, sobretudo calda
bordalesa, rica em Cu, e outros micronutrientes, e de produtos de origem vegetal
repelentes e/ou alelopáticos.
2.2.8. Sistemas agroflorestais
Os sistemas agroflorestais baseiam-se no conceito de sucessão vegetal e no
cultivo de agroecossistemas com mais de um estratos, geralmente em formações
análogas a florestais. Entretanto, em localidades cujo bioma seja outra formação vegetal
que não a florestal, o “sistema agroflorestal” deve adequar-se a esta formação vegetal.
Por exemplo, no Cerrado, deve-se buscar adequar os agroecossistemas ao perfil de
bioma, de formação vegetal, do Cerrado.
A definição usual de Sistema Agroflorestal é “sistema de produção que integra
em uma mesma área, ao longo do tempo, florestas em associação com cultivos agrícolas
e/ou animais, buscando a melhor utilização dos recursos naturais, como a água, o solo e
a luminosidade.”.
Os sistemas agroflorestais são alternativas de manejo sustentável que
possibilitam um melhor aproveitamento dos fatores de produção, como a força de trabalho
familiar, e os recurso naturais e econômicos.
Os sistemas agroflorestais integram atividades tradicionais, como a agricultura,
62
com a atividade florestal; permitem o ingresso de receitas anuais da agricultura, ao longo
do tempo em que a floresta está se desenvolvendo; promovem a ocupação diversificada
da força de trabalho familiar, melhorando as condições de trabalho no campo;
proporcionam maior conforto térmico aos animais; contribuem para a melhoria da
qualidade e o aumento da disponibilidade de água nas microbacias hidrográficas;
oferecem proteção para as culturas anuais, frutíferas e pastagens contra as adversidades
climáticas; contribuem para a melhoria da fertilidade e a conservação do solo; e
promovem a conservação da biodiversidade e a fixação de carbono.
No litoral norte do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina (AMESC,
Associação dos Muncípios do Extremo Sul Catarinense), no âmbito da agroecologia, os
SAFs ocorrem em Bananicultura com subprodutos silvícolas e frutícolas, sobretudo o açaí
da mata atlântica, além da realização de serviços ambientais.
Açaí da Mata Atlântica: fruto do palmito juçara (Euterpe edulis Martius), espécie
ameaçada de extinção, sucedânea do açaí “original” oriundo da Amazônia (Euterpe
macrocarpa), mas com propriedades gastronômicas e nutricionais idênticas. Tem-se
estimulado o consumo de açaí da mata atlântica como alternativa de renda às famílias de
bananicultores, como alimento saudável e como preservação do palmito juçara. Faz-se
periodicamente colheita do açaí da mata atlântica e industrialização do mesmo. Ambos as
espécies de açaí (Euterpe edulis Martius e Euterpe macrocarpa) são da família
Arecaceae.
Entre as espécies nativas da mata atlântica encontradas em um sistema
agroflorestal de bananicultura, destacam-se:
I. Louro-amarelo (Cordia alliodora): Família: Boraginaceae
II. Taquara (Bambusa taquara): Família: Poaceae
III. Caeté (Heliconia sp): Família: Heliconiaceae
IV. Cedro (Cedrela sp): Família:Meliaceae
V. Uva-do-japão (Hovenia dulcis): Família: Rhamnaceae
VI. Capororoca (Myrsine sp): Família: Myrsinaceae
VII. Sobragi (Colubrina glandulosa Perkins): Família: Rhamnaceae
VIII. Canela Sassafrás (Ocotea odorifera): Família:Lauraceae
IX. Licurana (Croton urucurana): Família: Euphorbiaceae
X. Tucum (Astrocaryum vulgare): Família: Arecaceae
XI. Figueira (Ficus sp): Família: Moraceae
63
XII. Vassoura (Sida sp): Família: Malvaceae
XIII. Embaúba (Cecropia sp): Família: Urticaceae
XIV. Bromélias (Bromelia sp): Família: Bromeliaceae
Há um projeto no Centro Ecológico no âmbito de créditos de carbono com
serviços ambientais em Sistemas Agroflorestais em Bananicultura Agroecológica, com
medida da biodiversidade dos agroecossistemas, e do estoque de “carbono”.
Outra
forma
de
sistema
agroflorestal,
juntamente
com
conceitos
permaculturais, são os quintais agroflorestais, projeto feito pelo Centro Ecológico em
parceria com governo municipal em cidades como Mampituba. Tem-se horta com valor
paisagístico, além de agronômico, com vários estratos e modalidades de cultura
(frutíferas, anuais, olerícolas, condimentares, aromáticas e medicinais), manejadas
também conforme design permacultural. Abaixo, ilustrações de sistemas agroflorestais.
Ilustração 13: Abacaxi em Quintal Agroflorestal
Ilustração 14: Salsa em Quintal Agroflorestal com cobertura parcial
de solo
64
Ilustração 15: Milho (Zea mays L.) e Mandioca (Manihoti
ssp) em Quintal Agroflorestal
Ilustração 16: Panorama geral de porção de Quintal
Agroflorestal
2.2.9. Saneamento Básico Agroecológico
Saneamento básico agroecológico denominado por vezes saneamento básico
ecológico, denotado também ecosan ou eco-san, cujo conceito é mais amplo do que o de
saneamento básico agroecológico, é um processo sanitário de tratamento de dejetos
produzidos por seres humanos. Objetiva oferecer sistemas aceitáveis culturalmente e
sustentáveis econômica e ecologicamente, que tenham por intuito modelar ciclos
hidrológicos e/ou de nutrientes, com frequência associados a agroecossistemas como
descrito anteriormente no tópico referente ao elemento água do trio ambiental básico.
65
A diferença entre ambos está que no saneamento agroecológico, além de
haver as propriedades do saneamento ecológico, os processos biológicos de tratamento
estão integrados a agroecossistemas manejados de modo agroecológico que realizam o
tratamento, sendo um mecanismo e não a finalidade do saneamento básico ecológico.
Entretanto, não é recomendado o uso de saneamento básico agroecológico
para dejetos com presença de resíduos de espécies químicas tóxicas, embora os
mesmos possam, dependendo do caráter e da quantidade das espécies químicas tóxicas
presentes, ser integrados em um sistema mais amplo que reduza a quantidade de
espécies químicas tóxicas e as substitua por espécies químicas menos tóxicas via
tratamento microbiológico, físico e/ou químico e depois processe os dejetos, já
previamente tratados, em agroecossistemas utilizados com propósitos de saneamento
básico. Outra possibilidade, complementar, é fomentar concomitantemente uso de
substâncias biodegradáveis.
Como subproduto do saneamento básico ecológico, encontra-se biofertilizante
que pode ser destinado a agroecossistemas situados exteriormente à localização do
sistema de saneamento básico ecológico, a unidades de processamento (para
produção/enriquecimento de preparados biodinâmicos, biofertilizantes outros, compostos,
vermicompostos,
substratos,
soluções
hidropônicas,
e
sucedâneos)
situados
exteriormente ou contiguamente, e/ou a agroecossistemas situados in loco constituindo
unidades de saneamento básico agroecológico.
Dentre os sistemas de purificação dos efluentes, pode-se citar a fossa séptica,
o biodigestor, o biolítico, o eletrolítico, filtro percolante, leito de evapotranspiração,
máquinas vivas, lagos de decantação ou tanques solares. O importante no processo é
combinar dois ou três métodos e garantir as diferentes fases do metabolismo do efluente
que ora será anaeróbico, ora aeróbico. Quanto à composição dos efluentes, afirma
CENTRO ECOLÓGICO (2007), “podemos dizer que 99,9% é líquido e 0,1% é sólido e
divide-se em 10% gordura, 25% carboidrato e 65% proteína. Este é o cardápio dos microorganismos decompositores que irão habitar as câmaras de tratamento que por sua vez
não podem permitir vazamentos, pois assim contaminam o solo num raio de até 30m.”.
Os produtos do metabolismo da microbiota, em aerobiose e em anaerobiose,
do saneamento básico a partir de nutrientes componentes do substrato efluente,
encontram-se dispostos no quadro a seguir, denotado erroneamente tabela.
66
Elemento
Aerobiose
Anaerobiose
C
CO2
CH4
H
H2O
H2
O
O2
H2O
N
NO3 (nitrato)
NH3 (amônia)
P
PO4 (fosfato)
PH3 (fosfano)
S
SO4 (sulfato)
H2S (ácido sulfídrico)
Tabela 11: Produtos do metabolismo da microbiota do saneamento básico a partir de nutrientes
componentes do substrato efluente em aerobiose e em anaerobiose. Adaptado de CENTRO ECOLÓGICO
(2007).
A ONG Centro Ecológico realiza parcerias com prefeituras estabelecendo, por
vezes concomitantemente em uma mesma área com o projeto de quintais agroflorestais
com aspectos permaculturais, saneamento básico agroecológico em comunidades rurais
carentes na região de Torres/RS, sobretudo na região de Mampituba/RS, bem como na
Casa da Solidariedade e na comunidade Sanga da Madeira.
Nestes locais, o tratamento de dejetos ocorre via passagem dos efluentes em
caixa de gordura interligada a um sistema de tratamento físico por diferença de energia
potencial gravitacional em um conjunto de fossas com filtros interligadas denominado
modelo laranjal que está sendo desenvolvido pela EPAGRI/SC, ao final do qual há um
conjunto de espécimes de Musa sp e olerícolas, por vezes disposto em morfologia
circular, sob o qual encontra-se uma camada composta por palha, capim, pau podre,
serragem, esterco, e sucedâneos (analogamente a um mulching), estando esta camada
entremeada pelo cano, o qual deve estar perfurado e com o final tampado, do final do
modelo laranjal. Havendo portanto interação geobioquímica dos resíduos finais com o
mulching e do sistema resíduos-mulching com o agroecossistema solo, sendo esta
interação geobioquímica um processo por assim dizer finalizador do sistema de
tratamento de efluentes. A ilustração concernente a sistemas de saneamento básico
agroecológico encontra-se disposta no tópico referente à Casa da Solidariedade em
Passo de Torres/SC.
CENTRO ECOLÓGICO (2007) recomenda separação entre
efluentes,
denominados “águas cinzas”, oriundos de pias, chuveiros e tanques e efluentes e entre
efluentes, denominados “águas negras”, contendo fezes e urina. Quanto ao tratamento de
águas cinzas, o mesmo autor recomenda integração a agroecossistemas aquáticos com
agrobiodiversidade contendo espécies como taboa (Typha domingensis) e junco (Juncus
67
L. sp) – a estas, o autor acrescenta aguapés (Eichhornia sp), Vetiver (Viteria zizanoides L.
Nash, reclassificado como Chryzopogon zizanioides L. Roberty.) e Moringa oleifera –,
tendo seu destino conforme procedimentos descritos na página anterior, no trecho que
referencia o uso do subproduto biofertilizante.
A seguir, sistema de saneamento básico ecológico ilustrado.
Ilustração 17: Sistema de saneamento básico ecológico
2. 3. Associativismo e Economia Popular Solidária
A expressão associativismo designa, por um lado a prática social da criação e
gestão das associações (organizações providas de autonomia e de órgãos de gestão
democrática: assembleia geral, direção, conselho fiscal) e, por outro lado, a apologia ou
defesa dessa prática de associação, enquanto processo não lucrativo de livre organização
de pessoas (os sócios) para a obtenção de finalidades comuns.
O associativismo, enquanto forma de organização social, caracteriza-se pelo
seu carácter, normalmente, de voluntariado, por reunião de dois ou mais indivíduos usado
como instrumento da satisfação das necessidades individuais humanas (nas suas mais
diversas manifestações).
Cooperativismo é um movimento econômico e social, entre pessoas, em que a
cooperação baseia-se na participação dos associados, nas atividades econômicas com
vistas a atingir o bem comum e promover uma reforma social dentro do capitalismo.
Os princípios cooperativos são a base do cooperativismo. Todas as
cooperativas tomam estes princípios como base para o seu funcionamento. As
"cooperativas" que não os seguem são vulgarmente denominadas pseudocooperativas.
68
Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem,
voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e
culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente
gerida. Conceito apresentado no Congresso Centenário da Aliança Cooperativista
Internacional, em setembro de 1995, em Manchester, na Inglaterra.
Uma cooperativa pode ainda ser formada pela união de cooperativas
singulares, sendo neste caso denominada "cooperativa central" ou "cooperativa de
segundo grau". Estas visam racionalizar o uso de meios de produção (unidades
industriais ou prestação de serviços, por exemplo), em especial nas atividades com pouca
expressão em cada uma das cooperativas singulares.
Os sete princípios do cooperativismo são adesão livre e voluntária; controle
democrático
pelos
sócios;
participação
econômica
dos
sócios;
autonomia
e
independência; educação, treinamento e informação; cooperação entre cooperativas; e
preocupação com a comunidade.
A EcoTorres foi fundada em 17 de Novembro de 1999 e tem hoje 105 sócios.
Conta com um Conselho Administrativo, composto por 6 membros e Conselho fiscal, com
três membros titulares e três suplentes. Os dois conselhos são renovados a cada dois
anos. Comercializa mais de cem itens, em sua maior produzidos por grupos e
associações de agricultores ecologistas do estado do Rio Grande do Sul, de Santa
Catarina, bem como de outras regiões do país. Comercializam-se também produtos
integrais
(orgânicos
e/ou
convencionais
não-OGM),
dietéticos,
chás
e
outras
conveniências diversas. Inaugurada em 2000, a loja já ocupou quatro diferentes pontos,
sempre no centro da cidade.
De dezembro de 2006 a março de 2008, a EcoTorres ocupou um espaço na
Casa da Economia Solidária, viabilizada através do projeto Agricultura Ecológica e
Soberania Alimentar, patrocinado pela Petrobras. O objetivo da casa era dar visibilidade
aos empreendimentos de economia solidária do do litoral norte do RS e Sul de SC, assim
como de associações e grupos de outras regiões.
No momento a loja está na rua Borges de Medeiros, em frente à rádio Maristela
AM. Em dezembro, o projeto Produção de Açaí para geração de renda e preservação da
Mata Atlântica viabilizou a criação e instalação de uma fachada que destacasse tanto o
produto açaí quanto o fato de a EcoTorres comercializar produtos amigos do meio
69
ambiente.
As atividades desempenhadas na EcoTorres durante o estágio foram:
etiquetagem, pesagem e embalagem de produtos, limpeza dos locais, organização de
prateleiras, organização de verduras e transporte de compras até locais determinados por
clientes, além de processos usuais em comercialização.
2.4. Permacultura e Bioconstruções
Existe hoje uma infinidade de conhecimentos em bioconstrução, que além de
utilizar materiais ecológicos, resolve uma grande quantidade de problemas nas moradias,
principalmente ao que se refere à economia de energia e bem estar. A posição solar, a
arquitetura que otimiza a luz natural, ventilação, aquecimento e resfriamento passivo,
enfim, há várias formas de se otimizar a economia energética e o bem estar.
Algumas opções de materiais são: tijolos ecológicos, feitos de barro prensado,
construções com COB, fardos de palha e barro (excelentes para o isolamento térmico),
pau-a-pique, taipa de pilão, etc.
Para o telhado, uma boa alternativa é o chamado telhado verde, que possui
grande poder de isolamento térmico no inverno e arrefecimento por evapo-transpiração
das plantas no verão, diminuindo sensivelmente os gastos com energia para aquecimento
e resfriamento dos ambientes. As águas cinzas podem ser aproveitadas para irrigar o
telhado verde.
Aspectos por vezes tomados por triviais em processos de arquitetura e/ou
engenharia civil ocultam falácias de cunho econômico e/ou “bioconstrutivo” [sic]. Exemplo
da recém efetuada proposição encontra-se na figura disposta na página seguinte. Sua
falácia é a orientação inadequada, pois vertical; porém frequente; das tábuas de madeira.
Quando ocorrerem processos de infiltração hídrica sobre as tábuas propiciando
aceleração na decomposição do material, dever-se-ão trocar várias tábuas já que a
orientação vertical das mesmas contrapõe-se à orientação horizontal, e verticalmente
cumulativa, da infiltração hídrica por entre as fibras da madeira.
70
Ilustração 18: Orientação das tábuas de madeira em domicílio
situado em Mampituba, RS
Permacultura é um vocábulo cunhado por Bill Mollison e David Holmgren para
“sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes ou autoperpetuantes úteis ao homem. Em essência, é um ecossistema agrícola completo,
modelado sobre exemplos existentes, porém mais simples.”. (MOLLISON & HOLMGREN,
1981).
Conforme MOLLISON & HOLMGREN (1981), “reconhece-se que o cultivo
anual é parte integrante de qualquer sistema autossustentável, mas as culturas anuais só
são consideradas (exceto em pequenas passagens) como componentes do sistema total.
Pressupõe-se que o cultivo anual é parte de um sistema permacultural.
Nos centros mais primitivos de agricultura, o sudeste da Ásia e norte da
América do Sul, eram cultivadas plantas que se reproduziam vegetativamente. Eram
principalmente anuais (ou tratadas anualmente) sendo semeadas novamente quando da
colheita. Obtinham-se alimentos à base de carboidratos´, que não ocorriam em grande
quantidade em forma silvestre. A escassez de carboidratos naturais, combinada com a
pressão populacional, foi provavelmente o incentivo básico para a agricultura. No
ambiente natural a caça, o peixe, as frutas e nozes eram abundantes e forrneciam a maior
parte das necessidades alimentícias. Havia pouco incentivo para domesticar animais ou
cultivar plantas além dos carboidratos.
Com a difusão da agricultura a outras regiões, a propagação vegetativa das
plantas com elevado teor de carboidratos foi bem menos sucedida. Também os recursos
alimentares em geral eram menos abundantes. A agricultura das sementes, selecionando
espécies locais e 'ervas daninhas', dos jardins e recuperando terras imprestáveis
desenvolveu recursos nutricionais e energéticos, em resposta à falta de comida
71
abundante. Em algumas regiões, o cultivo perene foi desenvolvido, tornando-se a base de
sistemas locais de sustento. A azeitona, a uva, o figo, a nogueira e a palmeira são
exemplos disto. Os animais eram domesticados prinipalmente pelo leite. Entretanto, o
alimento silvestre ainda representava proporção considerável da dieta.
Com o aumento da população nas regiões mais favoráveis à humanidade, a
disponibilidade de comida silvestre foi reduzida. O incentivo ao cultivo e domesticação
aumentou, e muitas variedades de plantas, incluindo perenes, foram plantadas e
selecionadas. Em algumas áreas, desenvolveram-se cultivos complexos, porporcionando
todas as necessidades alimentares e outros proudtos assim como fibras e alimento para
os animais domésticos. Nos cultivos do sudeste asiático e América Central, o uso múltiplo
era a regra, mais que a exceção (fibra, veneno e amido eram obtidos da mesma
espécie).”.
“Tais sistemas oferecem o melhor modelo agrícola tradicional para uma
permacultura moderna.
Com o começo da Era Moderna (os últimos três séculos) e a disponibilidade de
novas fontes de energia (primeiro carvão, e depois o petróleo), mudanças profundas
ocorreram na agricultura. Agora torna-se possível produzir grandes quantidades de
alimento ou outro produto agrícola numa região, para consumo em outra. À parte as suas
propaladas vantagens, esta tendência levou à destruição dos ecossitemas locais
cultivados, pois os produtores iam se concentrando em umas poucas culturas lucrativas. A
economia monetarista e uma gricultura regional estável eram, e são, basicamente
incompatíveis. Interesses distantes sem nenhum empenho permanente na produtividade
da terra, colonizavam novas regiões para cultivo, e os fatores econômicos e sociais
forçavam alterações nas regiões de agricultura já estabelecida; desenvolvia-se a empresa
agrícola.
O sistema industrial baseado em fontes de energia baratas trouxe novos
métodos para a terra, possibilitando em larga escala uam faixa complexa de atividades
especializadas e práticas impossíveis nos tempos pré-industriais. O impacto do uso
intensivo de energia na terra não foi levado em consideração.
A agricultura moderna continuou a concentrar-se em sementes anuais,
fornecendo o alimento familiar ao povo, ou aqueles adequados às técnicas de produção
em massa. Entretanto, grandes energias foram aplicadas aos cultivos industriais como lã,
72
juta, algodão e borrracha, e produtos tais como chá e café tornando-se acessíveis ao
homem industrializado às expensas dos ecossistemas locais nos países pobres. Grandes
lavouras destinavam-se a alimentar os animais, com as deficiências em energia e
proteína sendo irrelevante numa sociedade de uso intensivo de energia. Cada vez mais
alimento altamente proteico como peixe era degradado para alimentar animais
domésticos.
Estas tendências continuam hoje nos países subdesenvolvidos. Nas nações
desenvolvidas, a agricultura de cada região tornou-se mais e mais simplificada, mas a
escala de produção aumentou, com mais mecanização e amalgamação. A produção de
vegetais para alimentação animal atingiu altos níveis da colheita total - a média mundial é
de
50%
da
produção
total.
O
processamento,
armazenamento,
transporte
e
comercialização da comida cresceu enormemente. O uso de pesticidas, fertilizantes
artificiais, hormônios, antibióticos, e outras substâncias químicas aumentaram com a
produção. A energia agora necessária para produzir estas colheitas em muito excede o
retorno dela em calorias.
Ao passo que a produtividade da moderna agricultura é grande (superprodução
constante exigindo sua restrição), o rendimento é outro assunto. Descobrimos que a
energia que sustenta o sistema não vem do sol via fotossíntese, como nos tempos préindustriais, mas principalmente os combustíveis fósseis via sistemas industriais. Como
Odum demonstra, as altas produtividades de hoje em dia não são devidas a métodos
eficientes nem auto-sustentáveis, mas a um elevado subsídio externo de energia.
A redução ou colapso do subsídio em energia resultará numa queda
catastrófica na produção. A base que suportava mesmo as populações pré-industriais, a
baixos padrões de vida, não existiria mais.
O atual dano causado à terra produtiva e meio ambiente em larga escala pela
agricultura energia-intensiva, ou abreviadamente, ergointensiva, em termos de exaustâo
de solo, poluição e criação de pestes resistentes não é exatamente conhecido, mas há
indicações de que é considerável, amplamente difuso e de longa duração. A extenção do
dano não se evidenciará à humanidade até que a base energética de nosso planeta,
sempre em expansão, chegue a um fim; como certamente acontecerá num furturo não
muito distante.
A reestruturação da agricultura é parte essencial de qualquer tentativa de tratar
73
com a crise ambiental com que o homem se defronta (v. "Blueprint for Survival", Bibl. 29).
Um deslocamento para uma agricultura labor-intensiva com objetivo a longo prazo de
melhor produtividade e menor consumo de energia é necessário. No entanto, os recurso e
a enegia atuais poderiam também ser devotados ao desenvolvimento de variedades
vegetais de maior variabilidade genética, como elementos de sistemas simbióticos de
baixa energia, que comporiam um ecossistema cultivado. Apenas este tipo de ação
permitirá escapar ao destino fatal da agricultura moderna, de lenta degeneração ou
colapso total, com o esgotamento dos recursos não-renováveis.
Com seus objetivos de máximo uso de recurso renováveis (p. ex., dejetos
animais), autossuficiência regional e máximo envolvimento humanoe compreensão da
produção vegetal e animla, os chineses (alicerçados em antiga tradição) parecem ser o
único povo que teve sucesso em evitar o beco sem sáida da agricultura industrializada
ocidental. Algumas das nações do terceiro mundo também estão tentando a mesma
transformação. Estas mudanças involvem uma revolução de estilo de vida e da sociedade
em geral (V. Kropotkin, Fields, Factories and Workshops) quanto a um arrozoado social
por detrás de um amplo envolvimento e na ciência de produção de alimentos.”.
(MOLLISON & HOLMGREN, 1981).
Conforme o mesmo autor “este estudo considera a possibilidade de um
reduzido subsídio em energia para a agricultura, num futuro próximo. Entretanto, a
permacultura tal como desenvolvida aqui deverá atrair mais aqueles que buscam a
independência da base de apoio industrial da agricultura convencioanl e para as cidades
que se defrontam com custos crescentes de alimentação e transporte.
Permacultura é a evolução estendida e desenvolvida de uma base de apoio
completa para o homem , além daquela desenvolvida pelas sociedades pré-industriais. O
fato de se basear na permanência serve para definí-la. À parte da prática tradicional do
pomar e outras monoculturas análogas, os sistemas permanentes de cultivos vegetais
têm sido pouco desenvolvidos. Porém, alguns autores reconheceram o potencial nãodesenvolvido das plantas perenes.
Há várias características de uma permacultura, além da essencial:
1 É possível o uso da terra em pequena escala.
2 Uso da terra intensivo, e não extensivo.
3 Diversidade nas espécies de plantas, variedades, produtividade, microclima e
74
habitat
4 Prazo longo: um processo evolucionário abarcando várias gerações
5 Os elementos integrantes do sistema são silvestres ou pouco selecionados
(animais como vegetais).
6 Possibilita a integração de agricultura, pastoreio, reflorestamento, realizando
uma verdadeira engenharia ecológica
7 Adaptável a terras marginais, pantanosas, rochosas ou inclinadas,
inadequadas a outros sistemas
A permacultura diversamente da cultura anual moderna, tem o potencial de
evolução contínua rumo a um clímax que se deseje. Os cultivos anuais são destruídos
quando da colheita e devem ser replantados, ao passo que na permacultura as plantas e
animais, usualmente de vida longa, crescem e mudam com o sistema. A sucessão de
espécies ocorre, à medida que o ecossistema se desloca rumo ao clímax. A grande
variedade de plantas, desde as grandes árvores copadas até as gramíneas, cria habitat e
diversidade de alimento, permitindo uma fauna complexa. Cada elemento serve a
diversas funções dentro do ecossistema, e cada função é comum a vários elementos.
Assim desenvolve-se um sistema de compensações automáticas, ajudando a evitar
pestes e epidemias, e as flutuações das populações têm seu número, frequência e
severidade reduzidos (p.ex., a capacidade de sustentar uam determinada espécie de
animal doméstico estabiliza-se).”.
“O solo torna-se mais complexo sem a destruição, causada pelo cultivo, da
humusfera que absorve e armazena os nutrientes (folhas e excrementos) e água, para
uso posterior pelas plantas. A humusfera, ou adubo natural, age como controle de plantas
pioneiras e reduz a lavagem, o esgotamento e a erosão, mas principalmente, abriga a
flora e a fauna em grande variedade
Num esboço simples, o ecossistema do solo é uma estratificação de três
camadas básicas:
a) Camada de mulch/resíduos, de 0,5cm a 10cm. É a camada mais complexa
do sistema, biologicamente falando, baseada na decomposição de matéria orgânica,
compreendendo folhagem, frutos, nozes, sementes, esterco e resíduos animais. A
variedade de flora e fauna bacterianas é grande, e muitas espécies são instrumentais na
75
decomposição.
Fungos
e
líquens
são
as
formas
vegetais
mais
importantes,
costumeiramente os agentes primários do decaimento. Muitas formas animais silvestres
inferiores vivem da camada de mulch, inclusive as minhocas: larvas de insetos,
escaravelhos e centopeias. Uns poucos animais superiores – assim como sapos e
lagartos – também ocorrem aqui. Há pouca matéria mineral e todo o sistema costuma ser
ácido, devido aos ácidos orgânicos. Algumas raízes das plantas alimentam-se
diretamente da camada de mulch
b) Solo superficial (2cm a 100cm): Parte mineral, parte orgânica. O material
orgânico (húmus) é altamente decomposto e disponível para alimentação de raízes de
plantas que estão principalmente no solo superficial. São comuns as associações
simbióticas de bactérias e raízes de plantas. Líquens e fungos são comuns e a população
animal é considerável, as minhocas sendo comuns. A matéria mineral é quimicamente
muito diferente da matéria original, por causa de reações químicas
c) Sub-solo (de 50cm a 1000cm): é principalmente mineral, física e
quimicamente decomposto a partir da rocha-mãe. O conteúdo orgânico é baixo. Raízes
profundas, algumas bactérias e líquens, bem como animais de tocas profundas são as
principais formas de vida, aqui.
As plantas com raízes profundas retiram água e nutrientes minerais do subsolo,
que tende a ser fonte estável desses elementos. A queda de folhas (especialmente das
espécies caducas), frutos, cascas, e outras matérias vegetais acumula a camada de
mulch, proporcionando substâncias orgânicas, principalmente carbono, mas com alguns
compostos nitrogenados e ricos em minerais. Combinados com resíduos animais e
esterco, de alto teor mineral e de nitrogênio, estes materiais fornecem os nutrientes para o
crescimento vegetal via uma série complexa de decompositores. A camada de resíduos
age como reservatório de nutrientes vegetais, segura a água e protege o solo superficial e
raízes contra mudanças microclimáticas violentas. Todo o ecossistema pode levar um
longo tempo e se desenvolver, mas uma vez estabelecido, é auto-sustentado.
A permacultura muda os processos básicos do ecossistema do solo muito
pouco. Há toda uma variedade de sistemas de raízes drenando todas as fontes de
nutrientes disponíveis. As plantas não são removidas ou cortadas em grandes números,
como nas culturas anuais, e deixa-se desenvolver uma camada espessa de resíduos
animais e vegetais, sem perturbação. A plantação de grande número de perenes, a
irrigação e o mulch, aceleram o processo de desenvolvimento do solo. O uso do mulch
76
significa que num tempo surpreendentemente curto as plantas estão crescendo em
condições análogas às de um solo evoluído naturalmente de idade considerável (50 anos
ou mais). Isso acontece especialmente se o mulch é de resíduos mistos de animal e
vegetal. Com a introdução de animais e a queda de folhas aumentada das árvores
copadas, um ecossistema profundo e altamente evoluído pode se desenvolver no solo,
em 5 a 10 anos, com materiais de base muito pobres (p.ex., argila pesada, livre de
matéria orgânica).
A construção do mulch deve ser reconhecida como um dos maiores custos
iniciais do desenvolvimento de uma permacultura. Muito embora substâncias assim como
algas marinhas, resíduos de esgoto, caules de feijão e cereais, resíduos de feno e esterco
animal sejam muito baratos, o transporte e a aplicação podem ser custosos, usualmente
na forma de trabalho. Isto por causa do grande volume ocupado por tais materiais. Por
exemplo, cargas de serragem de 20m³ não cobrem muito na criação de mulch. Máquinas
de moer usadas pelas manicipalidades para eliminar galhos podados de árvores – seriam
úties para obter mulch diretamente, usando restos da vegetação rasteira, restos de
árvores, de desmatamento, cascas. Toda e qualquer vegetação pode ser considerada
como um recurso. Nas zonas I e II, cartolina, tapetes e roupas velhas podem ser usados
como primeira camada de mulch. Tais materiais suprimem o crescimento de ervas e
estimulam a população de minhocas, ao passo que se decompõem muito rapidamente.
Um sistema com mulch pode sustentar um acúmulo denso de plantas, de árvores a
gramíneas, que de outro modo competiriam por um suprimento limitado de nutrientes.
Obviamente, tal mulch deve suprir todos os nutrientes e incluir alto teor de N-P-K
(resíduos animais) e calcáreo, ou dolomita, para equilibrar o alto teor carbônico e acidez
da maioria dos mulch orgânicos, oferecendo grande variedade de oligoelementos. Nas
zonas exteriores, em plantas individuais pode ser utilizado mulch na linha de gotejamento,
com substâncias análogas.”. (MOLLISON & HOLMGREN, 1981).
Em MOLLISON & HOLMGREN (1981), tem-se que “florestas de faia, plantadas
na Europa e alhures tornam-se sistemas produtores de mulch e seus resíduos
proporcionam matéria orgânica para solos mais pobres; analogamente, muitas das
plantas cultivadas na permacultura (o comfrey, por exemplo) proporciona nutrientes,
quando murchos, para tubérculos.
Todas as cidades têm terrenos ociosos; margens de estradas, esquinas,
gramados, jardins e quintais de casas, varandas, tetos de laje de concreto, balcões,
77
paredes e janelas na face norte. Muitos subúrbios são bem arborizados, mas as espécies
vegetais inúteis para o homem é que são envontradas nas cidades. Até parece que se
tem vergonha de qualquer plantinha útil; é como se fosse “status” cultivar só plantas
inúteis; uma forma de ostentação de riquesa. A cidade poderia, com pouca despesa,
produzir grande parte de seu alimento e ao fazê-lo, consumir muitos de seus detritos
como mulch e composto. Mas talvez o produto mais valioso de uma cidade devotada à
permacultura seria a paz de espírito; uma paranoia invade as cidades e é produto da
sensação de impotência em relação à energia e às crises futuras.
Desenvolvendo permaculturas públicas e particulares, o povo poderia ver uma
fonte de alimento aliada ao abrigo que a cidade fornece até em excesso, envolvendo-se
tarefas significativas, ajudando à própria sobrevivência [sic] e à dos outros [sic].
A ética sadia é usar toda a terra próxima da habitação como permacultura da
espécie das zonas I e II, qualquer jardim botânico demonstra a rica variedade possível,
disponível à agricultura da cidade e também poderia proporcionar sementes, conselhos e
orientação técnica. Analogamente, as autoridades municipais têm pequenos exércitos
cuidando de sistemas não-produtivos. É apenas uma questão de persuasão pública e
decisão responsável, dirigir estas atividades para espécies úteis, numa permacultura
multidimensional e multifacetada. Nada da beleza ou da variedade precisa ser sacrificado,
e um ou dois anos de tal esforço garantiria um recurso a longo prazo dentro da cidade, e
em suas fronteiras, onde transportes e custos de processamento são mínimos.
Atualmente, as cidades são “sumidouros de energia”, donde vulneráveis e
dispendiosas. Sua própria existência está em questão, num futuro de energia cara e
transporte reduzido. As cidades devem fazer alguma coisa para justificar a sua existência
e diminuir sua dependência parasítica em relação às zonas rurais. Só uns pucos
privilegiados podem abandonar as cidades, muito embora pesquisas recentes na Austrália
mostram que 80% das pessoas gostariam de fazê-lo! Nossas pesquisas na Tasmânia
mostram que, daqueles que saem das cidades, muitos têm grau universitário, a maioria é
constituído de famílias, e tem mais de 30 anos.
Esta é a espécie de gente que a cidade precisa, mas não consegue mais atrair,
dado o seu projeto irracional de hoje em dia. Qualquer indivíduo com um terreno livre na
cidade pode estabelecer uma permacultura, escolhendo as plantas mais adequadas à
situação, ou as de sua preferência pessoal.
78
Foi avaliado que as cidades sustentam mais floresta que as zonas rurais
desenvolvidas, e subúrbios de terrenos de ¼ de acre podem produzir 28% a mais de
alimento que as propriedades rurais circunjacentes. É um desafio à cidade ver o que se
pode fazer com seus recursos únicos. Os gramados, na maioria dos casos, são sistemas
que absorvem energia. Os edifícios com fachadas envidraçadas são estufas sem uso. Se
ao menos uma única firma encorajasse seus empregados a usar estas vantagens,
poderia haver um novo interesse no local de trabalho e as lições essenciais que todos
precisamos aprender. Os pátios da maioria dos edifícios produziriam ao menos parte do
café para o desjejum e libertaria terra do Terceiro Mundo para uma agriculturaque lhe seja
mais útil.
As janelas podem ser adaptadas, como mostrado em Abrahams (1975), para o
cultivo de sementeiras e viveiro, e claraboias amplas nos telhados voltados para o norte
também. Trepadeiras, moderadoras do calor do verão, são um cultivo especial para as
regiões quentes.
Os parques, agora gramados, poderiam ser cobertos com plantas baixas, sob
as árvores, como frutas pequenas, comfrey. Árvores frutíferas podem substituir espécies
inúteis.
Não se pretende, nem se sugere aqui que as cidades com seus parques não
apresentem um valor estético intrínseco, nem que as árvores belas e antigas sejam
removidas, exceto quando naturalmente morrerem. Mas é tempo de pensar na
substituição por espécies úteis, para que as florestas e parques estéreis possam ser
superados, e seus produtos utilizados (madeira, combustível e mulch).
Espécimes de jardineira podem ocupar lugares no concreto e no asfalto, e
mesmo pequenas covas nestes locais produzirão uma árvore grande e saudável.
As folhas e galhos cortados das permaculturas urbanas são componentes
ideais para compostagem e mulch para cultivos anuais de quintais, ou pátios de concreto
e coberturas de prédios de apartamentos. Tetos cobertos de terra (lajes) são também
isolantes, e conservam energia, além de produzir plantas alimentícias para o sustenteo da
vida.
Muito embora muitas ruas sejam arborizadas, poucas têm plantas baixas, e sob
as copas das árvores há literalmente centenads de acres de taludes não-utilizados e
áreas públicas abertas.”.
79
De acordo com o mesmo autor, “janelas e aquecedores proporcionam o calor
para secagem de produtos vegetais, para armazenamento, assim como ameixas, abricot,
pêras, maçãs e feijões. Papel de alumínio pode refletir a luz para cantos escuros, ou
espelhos quebrados. As paredes podem ser pintadas de negro, ou de branco, para servir
como captadores de luz, ou refletores. A comunicação e o intercâmbio de técnicas,
receitas, experiências e plantas via um jornalzinho possibilitam aos moradores das
cidades que se encorajem uns aos outros.
As implicaçãoes para a racionalização do consumo de energia são óbvias. O
consumo direto elimina transporte, embalgem e desperdícios por estragos diversos.
Acrescenta-se variedade à dieta e um alimento livre de poluíção química. Os muitos
jovens e o anciãos podem fazer um trablaho útil nos ecossistemas permaculturais
urbanos e os “desempregados” podem achar uma atividade útil em expandir um tal
ecossistema. Muito do que hoje é “lixo” pode ser retornado ao solo, acumulando nele
nutrientes e atenuando o desperdício hoje causado pelas cidades.
As influências educacionais são também óbvias, pois estudantes de qualquer
idade podem construir e observar um ecossistema permacultural e, ao fazê-lo
desenvolver capacitações técnicas para uso fora da escola, e idealizar métodos de
utilização do lixo, enquanto praticando a ciência da ecologia. Quase qulaquer disciplina
pode encontrar uma aplicação num ecossistema permacultural.”.
“Em qualquer sistema estabelecido para cultura perene, as ervas daninhas
devem ser antes controladas, e em zonas interiores e intensivas, ou zonas urbanas, isot
pode ser atingido pelo uso de mulch. Basicamente, o procedimento é o seguinte: Uma fina
camada de nitrogênio orgânico mais um pouco de calcáreo moído, ou dolomita devem ser
espalhados na área a ser plantada. A grama e as ervas daninhas devem ficar intocadas e
arbustos devem ser cortados e deixados no chão. Começando de uma margem livre das
ervas, assim como um caminho ou alicerces de uma casa, a área é coberta com
saquinhos, trapos, tapetes, capachos, jornais, papelão, placas de gesso quebrado, de
modo a cobrir completamente as ervas indesejáveis. Cobre-se tudo com folhas, serragem,
casca de árvore, casca de batata, casca de arroz, palha, ou qualquer cobertura
semelhante. O resultado final tem um aspecto 'limpo'.
Usa-se um balde de terra com areia para amontoar a terra em torno dos brotos
e raízes. Sementes, bulbos e brotos são enterrados individualmente, com uns dois
punhados, cada um no local desejado. Para árvores, tomateiros, ou inhames de húmus de
80
baixo , antes de colocá-los no montículo de terra. Regue bem a área antes de plantar.
Em uns poucos dias, a grama e ervas originais (quanto mais, melhor)
amarelam e caem. As minhocas começam seu trabalho, e as novas plantas se
estabelecem, e vão brotando. Não é preciso capinar. As ervas fortes que aparecem são
abafadas com papelão molhado ou cartolina, e mulch solto com que as cobre. Assim, um
sistema perene substitui outro.
[...] Todo o mulch é estendido à medida que necessário, e as anuais podem
produzir, no começo de seu desenvolvimento, entre as perenes. Trechos de serragem se
transformam em solo, depois as perenes se propagam apra substituir produções anuais, à
medida que o sistema evolui.
[...] Em áreas de baixa pluviosidade, podem ser necessários poços para
espécies que precisam de sombra e umidade, assim como abóboras e aipos, em áreas de
alta pluviosidade, tais espéicies precisam ser cultivadas em morros. Se as plantas forem
espalhadas ao acaso, em nichos, logo indicam que o tratamento é melhor para elas; o
objetivo de uma permacultura não é desenvolver um sistema de plantio em fileiras e
canteiros, mas desenvolver fronteiras e complexidade para ulteriores estudos, e
originalmente colocamos as pequenas plantas quase ao acaso, usando uma localização
cuidadosa para as espécies maiores e mais duradouras.
[...] Os resíduos de esgotos atualmente estão contaminados com metais
pesados e substâncias químicas perigosas, principalmente em resultado da eliminação
ilegal de resíduos industriasi no esgoto residencial, mas também em virtude da eliminaçõ
de de tais substâncias pelo corpo humano, pela contaminação desnecessária do ar e da
comida. O esgoto contaminado pode ser usado para cultivar plantas , mas de início seu
uso deve ser restringido a vegetais que darão combustíveis e fibras, e não alimento.
Assim com o tempo, a formação natural de mulch, a dispersão e a recuperação de metais
de sistemas de combustível, ou a desassociação da substância química por destilação
destrutiva poderá continuar até que o esgoto se torne de novo o fertilizante seguro e
valioso que foi em outras épocas. Qualquer sociedade que tem energia para trazer
alimento para dentro de si tem a energia para devolver resíduos secos para os locais de
produção de alimentos, e os custos deste transporte de volta são parte essencial dos
custos reais de energia envolvida na produção do alimento.”. (MOLLISON & HOLMGREN,
1981).
81
2.4.1. Relações espaciais na agricultura
O plano-base de zona e setor é basicamente um plano de racionalização de
energia, destinado ao melhor rendimento possível, tanto a curto como a longo prazo. O
zoneamento de dentro de casa até o horizonte é possível, tanto quanto uma boa planta de
cozinha segue um fluxograma de esforo mínimo. Assim, as zonas representam os valores
de energia inerentes ao interior do sistema, as necessidades de atenções ou controle das
plantas, a necessidade de casa por aquela planta em especial, a energia ou produto vital
fornecidos pela planta ou pela unidade.
Zoneando todas as espécies (vegetais e animais) e todas as estruturas (lagoa,
sebe, abrgios, poço) o trabalho humano no sistema é empregado com rendimento
máximo.
A divisão setorial é utilizada para o controle eficiente dos recursos energéticos
exteriores ao sistema (Sol; vento; fogo), e o fluxo destes recursos energéticos pode ser
bloqueado, canalizado ou intensificado pelo planejamento. Assim, o vento pode ser
bloqueado, dirigido a um moinho de vento, ou deixado desimpedido como refrigeração ou
aquecimento, para moderar as temperaturas. O fogo é claro, é excluído enquanto
incêndio descontrolado, mas usado como combustão controlada dentro do sistema. Podese fazer um diagrama de localização ideal para uma propriedade isolada, mas as
considerações quanto ao local real, limites de tamanho da propriedade e outras
considerações práticas, limitam essa forma “perfeita”. Basicamente, propusemos um
plano de zona e setor sobre a ecocenose: as zonas representando a intensidade do uso e
a necessidade de se visitar as culturas, os setores concernentes ao Sol, ao vento e ao
fogo, e as alturas limitadas pela necessidade de admitir o Sol no inverno para o complexo
residencial central (isto é, considerando as alterações dos círculos horários do sol e dos
ângulos deste com relação à paisagem, quando da passagem de estações da ano).
É útil considerar o sítio como um conjunto de zonas concêntricas. São elas:
Zona I: origem do sistema e centro da atividade, área rodeando a casa,
representando o uso da terra mais intensivo e controlado. Nesta zona, propagação e
criação, construção e manutenção, experimentação e observação são as características.
Contém a residência, oficina, estufa, sementeiras, horta intensiva, mas nenhum animal. A
cobertura de mulch pode ser feita continuamente e reaplicada conforme necessário.
Zona II: permacultura intensivamente cultivada. As estruturas incluem terraços,
82
paredes de pedra, sebes, lagoas e caramanchões. O uso de mulch é extensivo ou
contíguo no começo do estabelecimento, rettícula de irrigação e plantas geralmente bem
mantidas (poda, controle de pragas, controle de vegetação expontânea, caramanchões).
A plantação é densa, com poucas árvores grandes, mas com uma camada de complexa
de gramíneas e vegetação baixa, especialmente de pequenas frutas. Espécimes de
natureza marginal requerendo cuidado especial estariam nesta zona. Só as espécies das
zonas I e II seriam recomendáveis para áreas urbanas. Pássaros assim como porcos da
Índia, patos, galinhas, pombos e perdizes, poderiam ser criados soltos ou em cercados
Zona II. Os coelhos devem sofrer um controle estrito.
Zona III: permacultura forte. Os produtos são principalmente para animais,
colhidos e como forragem. Contém plantas resistentes em níveis inferiores e camada de
gramíneas ou pasto auto-perpetuante. As estruturas vegetais incluem capões de mato,
sebes e quebra-ventos. A cobertura de mulch local é orientada, a água não é
abundantemente reticulada, mas é disponível para animais. Nozes são o principal
alimento disponível diretamente das plantas. Árvores e arbustos recém-plantados são
protegidos com estacas ou grades. Os animais podem ser: gansos, galináceos, perus,
coelhos, carneiros, wallabys.
Zona IV: cultura extensiva de árvores e pasto, aberto com sebes de plantas
resistentes, frequentemtne espinhosas, para proteção. A produção de alimento que não
carne é ocasional, principalmente de árvores novas, semeadas. A madeira é um produto
derivado. Pavões, bovinos, cavalos, muares, veados e porcos seriam animais adequados.
O carneiro, o wallaby, o peru e o ganso seriam também apropriados para esta zona. Os
animais se sustentariam principalmente por si mesmos. Água, húmus e manutenção
exigiriam trabalho mínimo. Plantas novas devem ficar engradadas. Os possuns devem ser
controlados, assim como nas zonas I, II e III.
Zona V: strictu sensu, situada externamente ao sistema, podendo ser
considerada terra inculta. Uso direto: madeira e/ou caça.
2. 4.1.1. Planejamento setorial
Os setores podem ser planejados de acordo com dados locais sobre a rosa dos
ventos, disponíveis para a maioria das localidades. O conhecimento do local é
inestimável, e o histórico de incêndios, velocidade, magnitude e duração pode ser obtido
de residentes mais antigos. A vegetação sobrevivente pode indicar as espécies que
83
retardam ou sobrevivem ao “holocausto”, mas a escolha deliberada de espécies que
retardam o fogo e a cuidadosa disposição das estruturas é essencial se se objetiva um
eficaz controle de incêndios, como acontece na maioria dos climas mediterrâneos. Há
também dados sobre a elevação do sol para latitudes e localidades específicas, de modo
que a elevação de construções, caramanchões, cobertura de paredes, bem como os
materiais, acabamento de superfícies e curvatura d erparedes – podem ser usados para
aumentar, diminuir ou direcionar o calor do Sol. As represas, além de outras funções,
devem ser posicionadas para refletir o sol ou retardar o fogo. O uso eficaz da luz solar
também é garantido pela preservação de sequências escalonadas de fronteiras na
plantação global, assim como os tetos de fábricas são escalonados para permitir
iluminação máxima pelo Sol.
Plantas assim como a coprosma, com superfície foliar lisa e brilhante, podem
ser plantadas como refletores solares vivos dando uma reflexão difusa mas aumentada
para outras espécies como citros.
É uma questão de escolha pessoal e fatores locais a maneira de se executar o
planejamento setorial. Por exemplo, como se observou que gafanhotos viajam ao longo
de (não sobre) plantações lineares de árvores altas, pode ser interessante usar uma
estruturação de zonas mais sofisticada que a aqui delineada. O objetivo do planejamento
setorial é canalizar as energias externas para servir às necessidades internas e conforto
de um ecossistema e/ou agroecossistema permaculturais evoluídos.
Lagos e rios abrem possibilidade da aquacultura na ecologia geral. Uma
represa construída para a aquacultura precisa mais planejamento que um simples
reservatório de água, porque deve ter patamares sobre a água, ilhas e poços mais
profundos, sob a água. Os patamares permitem a plantação de bambus e caniços em
águas rasas; ilhas são ideais para nidificação de aves aquáticas e poços preservam os
peixes nas temperaturas extremas ou quando o sistema é drenado.
2.5. Casa da Solidariedade e Sanga da Madeira
A Casa da Solidariedade é um espaço para prática de permacultura e
bioconstrução, bem como para atividades em educação ambiental e pedagógicas em
geral sob ótica lúdica em se tratando de educação infanto-juvenil e ótica técnica em se
tratando de adultos. É destinada a atender necessidades da comunidade Sanga Madeira,
84
comunidade carente situada em Passo de Torres, Santa Catarina, localizada
contiguamente à Casa da Solidariedade. Além da Casa da Solidariedade, realizam-se
projetos de hortas agroecológicas junto aos domicílios da comunidade Sanga da Madeira.
Abaixo e nas páginas a seguir, encontram-se fotografias da Casa da
Solidariedade.
Ilustração 19: Entrada da Casa da Solidaridade
propriamente dita
Ilustração 20: Captação de água da Casa da Economia
Solidária. Ao fundo, canteiro em espiral.
85
Ilustração 21: Área de recreação infanto-juvenil
Ilustração 22: Capina sobre excesso de vegetação
espontânea
incorporada
em
sistemas
compostagem in loco
Ilustração 23: “Mulching” e compostagem in loco
de
86
Ilustração 24: Formatos irregulares dos canteiros
Ilustração 25: Vegetação espontânea em excesso anteriormente
à capina para utilização de massa verde em compostagem in
loco
87
Ilustração 26: Composição das paredes de pneus revestidos
com barro
Ilustração
27:
agroecológico
Porção
de
sistema
de
saneamento
básico
88
Ilustração 28: Porção de sistema de saneamento básico
agroecológico aumentada
Ilustração 29: Resíduos urbanos de tratos culturais
depositados em local público em compostagem in loco
Ilustração 30: Ventilação
89
Ilustração 31: Canteiro contíguo à parede lateral da Casa
da Solidariedade
Ilustração 32: Ampliação de porção do canteiro contíguo à
Casa da Solidariedade
Ilustração 33: Tijolos de solo-cimento
90
Ilustração 34: Telha de "Tetra Pak" [sic] reciclado
2.6. Pesquisas desenvolvidas
2.6. 1. Pesquisa publicitário-econômica sobre comercialização de
produtos
agroecológicos
em
estabelecimentos
gerais
e
especializados na região de Torres/RS.
Pesquisa realizada pelo autor e por Mônica Jacob Magnus, outra estagiária
também aluna do IFC Sombrio e colega de classe durante o curso técnico agrícola com
habilitação em agropecuária, acerca dos preços de produtos agroecológicos e agrícolas
convencionais em pontos de venda, gerais e especializados, nos municípios de Torres/RS
e Três Cachoeiras/RS. A pesquisa serviu de subsídio para produção de material de
marketing.
Na página a seguir, tabela contendo pesquisa em estabelecimentos gerais e
especializados em Torres/RS.
91
Produto
Nacional
Bom Rancho
EcoTorres
Mundo Orgânico
Cenoura
1,98/kg
1,49/kg
1,80/kg
1,75/kg
Batata
1,58/kg
1,59/kg
não havia
não havia
Batata orgânica
não havia
não havia
3,00/kg
3,90/kg
Alface
2,58/unidade
0,85/unidade
não havia
não havia
Alface orgânica
3,48/unidade
não havia
1,00/unidade
0,95/unidade
Tomate
2,98 /kg
1,99/kg
não havia
não havia
Tomate orgânico 11,45/kg
não havia
3,70/kg
3,95/kg
Brócolis
5,87/kg
6,00/kg
não havia
não havia
Brócolis
16,60/kg
não havia
6,00/kg
não havia
Ovos
3,38/dúzia
2,75/dúzia
não havia
não havia
Banana
3,67/kg
1,99/kg
não havia
não havia
Banana orgânica 5,96/kg
não havia
1,99/kg
1,80/kg
Polpa de açaí
não havia
15,00/kg
não havia
Molho de tomate 2,88/340 g
2,59/340 g
não havia
não havia
Molho de tomate 7,10/340 g
não havia
4,97/340 g
5,44/340g
6,58/l
não havia
não havia
não havia
9,90/l
7,5/l
Doce de banana 5,95/kg
6,22/kg
23,77/kg
não havia
Linhaça
15,90/kg
30,45/kg
7,99/kg
não havia
Granola
25,85/kg
12,29/kg
12,50/kg
12,00/kg
Mel
19,70/kg
18,50/kg
não havia
não havia
Mel orgânico
29,55/kg
não havia
12,00/kg
7,50/kg
Pão
2,48/unidade
2,09/unidade
4,50/unidade
não havia
orgânico
14,70/kg
orgânico
Suco de uva
Suco
de
9,88/ l
uva 12,96/ l
orgânico
Tabela 12: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos gerais e
especializados em Torres/RS
A tabela na página a seguir mostra os preços em estabelecimentos gerais e
especializados em Três Cachoeiras/RS
92
Produto
Bom Rancho
Ofertão
Coopet
Cenoura
1,24/kg
1,59/kg
2,21/kg
Batata
0,99/kg
0,89/kg
não havia
Batata orgânica
não havia
não havia
3,68/kg
Alface
0,90/unidade
0,95/unidade
não havia
Alface orgânica
não havia
não havia
1,18/unidade
Tomate
1,75/kg
1,95/kg
não havia
Tomate orgânico não havia
não havia
5,88/kg
Brócolis
6,00/kg
6,30/kg
não havia
Brócolis
não havia
não havia
8,85/kg
Ovos
2,59/dúzia
2,59/dúzia
4,85/dúzia
Banana
1,59/kg
1,79/kg
não havia
Banana orgânica não havia
não havia
1,94/kg
Polpa de açaí
não havia
14,70/kg
Molho de tomate 2,79/340 g
2,79/340 g
não havia
Molho de tomate não havia
não havia
4,69/340g
11,80/ L
não havia
não havia
8,76/L
Doce de banana 6,22/kg
6,50/kg
8,40/kg
Linhaça
5,40/kg
5,58/kg
10,25/kg
Granola
17,16/kg
15,60/kg
20,80/kg
Mel
15,60/kg
15,10/kg
não havia
Mel orgânico
não havia
não havia
13,23/kg
Pão
2,09/unidade
2,09/unidade
4,41/unidade
orgânico
não havia
orgânico
Suco de uva
Suco
de
7,90/ L
uva não havia
orgânico
Tabela 13: Preços de produtos "convencionais" e agroecológicos em estabelecimentos gerais e
especializados em Três Cachoeiras/RS
A tabela disposta na página a seguir mostra preços em feira convencional e na
Feira Ecológica da Lagoa do Violão, em Torres/RS.
93
Produto
Feira Ecológica
Feira Convencional
Cenoura
2,00/kg
1,50/kg
Batata
não havia
1,50/kg
Batata orgânica
não havia
não havia
Alface
não havia
0,75/unidade
Alface orgânica
1,00/unidade
não havia
Tomate
não havia
2,00/kg
Tomate orgânico
3,50/kg
não havia
Brócolis
não havia
6,65/kg
Brócolis orgânico
6,65/kg
não havia
Ovos
4,00/dúzia
2,00/dúzia
Banana
não havia
0,80/kg
Banana orgânica
1,25/kg
não havia
Polpa de açaí
10,00/kg
não havia
Molho de tomate
não havia
não havia
Molho
de
tomate 3,77/kg
não havia
orgânico
Suco de uva
não havia
8,4/L
Suco de uva orgânico 7,50/l
não havia
Doce de banana
11,30/kg
7,14/kg
Linhaça
não havia
não havia
Granola
não havia
não havia
Mel
não havia
10,00/kg
Mel orgânico
10,00/kg
não havia
Pão
3,00/unidade
não havia
Tabela 14: Preços de produtos agrícolas em feira "convencional" e feira ecológica, em Torres/RS
2.6.2. Efeitos ecotoxicológicos e de toxicologia humana de resíduos
de agrotóxicos em alimentos
Pesquisa realizada pelo autor sobre efeitos ambientais e toxicológicos
humanos de resíduos de agrotóxicos em alimentos e quantidade de resíduos de
agrotóxicos presentes em alimentos. Anexo ao relatório, na seção de apêndices,
encontra-se extrato da pesquisa realizada.
94
2.6.3. Sequestro de carbono e Levantamento Fitossociológico em
Sistemas Agroflorestais de Bananicultura Agroecológica
Componentes
anteriormente
no
do
tópico
projeto
realizado
Ecossistemas
e
pelo
Centro
Ecológico
Agroecossistemas,
o
descrito
Levantamento
Fitossociológico e o estudo de sequestro de carbono em Sistemas Agroflorestais de
Bananicultura Agroecológica podem ser considerados remanescentes de pequisas mais
complexas efetuadas em virtude da tese de doutorado em filosofia (PhD) de André Luís
Gonçalves pela Universidade de Cornell, que também avaliava eficiência energética de
sistemas agroflorestais.
Atualmente, o Levantamento Fitossociológico e o estudo de sequestro de
carbono estão vinculados a projetos de pagamento por serviços ambientais, como foi
mencionado anteriormente. Cabe lembrar que o sequestro de carbono tem seu valor
independentemente da solução da polêmica do efeito estufa antropogênico, já que
excesso de monóxido de carbono e dióxido de carbono no ar é nocivo à saúde humana e
outros seres vivos e que tais gases alteram o pH da água da chuva. Contudo, outros
gases como por exemplo à base de nitrogênio e/ou enxofre são mais “potentes” para
formação de chuva ácida. Outro fato é que o sequestro de carbono é benéfico para o
agroecossistema, já que a dinâmica da vida tende a ser potencializada no mesmo.
O
Levantamento
Fitossociológico
é
importante
para
avaliação
da
agrobiodiversidade e da biodiversidade como um todo nos agroecossistemas,
considerando-se aspectos como sucessão ecológica e teoria sistêmica.
No período em que o autor realizou estágio, as pesquisas eram feitas por
integrantes da ONG e por integrantes do Programa de Educação Tutorial do Instituto
Federal Catarinense, coordenado por André Luís Gonçalves. O trabalho de campo
consistia em demarcar trechos dos sistemas agroflorestais, tomados como parcelas de
mesma área e representativas da realidade do sistema agroflorestal e na subdivisão
destas parcelas. Os vértices da área eram demarcados com GPS. Eram obtidos quatro
dados por espécime: localização da árvore, demarcada com GPS, altura, diâmetro ao
peito e espécie. Eram utilizadas, inicialmente etiquetas metálicas para identificação das
árvores e posterior acompanhamento do sequestro de carbono e do levantamento
fitossociológico. Porém, ao longo do estágio não foi necessário utilizar estas etiquetas,
embora o autor e Mônica Jacob Magnus tenham confeccionado as mesmas, como ilustra
95
fotografia abaixo.
Ilustração 35: Confecção de placas
metálicas
espécimes
de
identificação
de
96
3. CONCLUSÃO
A vivência da sustentabilidade, da ecologia, é algo deveras crucial, sobretudo
atualmente, dando-se de maneira plena na transposição das tênues barreiras instituídas
pelo pensamento linear ocidental entre os conceitos e os objetos a que estes conceitos
dizem respeito.
Esta necessidade fundamental de se vivenciar a Ecologia está inserida de
modo essencial no universo agrícola onde as chamadas tecnologias verdes; aliam os
elementos tradicionais milenares dos agricultores (cultura popular) a inovações
tecnológicas das ciências ambientais e agrícolas.
Quando o homem perscrutar a essência dinâmica não-linear que é o modo
como a Natureza existe, ou, em outras palavras, processa dados; doravante, terá maiores
êxitos tecnológicos, pois terá vivenciado a grande conexão que há entre o macro e o
micro, entre todo e parte entrelaçados em uma grande rede, vendo-se não à parte mas a
parte, vendo não o todo, mas no todo.
Estamos, certamente, no despontar de uma grandiosa era, iniciada na segunda
metade do século passado, onde a Ecologia e outras áreas tratadas com importância
minúscula ao longo de boa parte da história da humanidade adquirem dimensões
fenomenais. Esta era de crise e revolução, apresenta-nos a força motriz necessária para
o progresso da relação homem-natureza, cada vez mais, humanizada, espontânea,
complexa7 e sustentável.
Neste ínterim, isto é como elemento componente deve ser destacado, e dado
maior atenção a este elemento, o foco agrícola não em ora uma cultura ou outra cultura,
mas em agroecossistemas que levem em conta ecossistemas nativos ao local e
ecossistemas oriundos de outros locais, com necessidade cada vez mais crescente de
conceber-se tais agroecossistemas como de caráter paisagístico, além de alimentar. É
dever dos profissionais no escopo agrícola perceber e defender a Vida, como dotada de
valor e sentido, significado, intrínsecos. Há neste processo, algumas limitações do tipo:
discrepâncias do reino animal em relação a demais reinos, por apresentar sistemas de
organismos específicos para gestão de dados (neurobiologia) ainda que de maneira por
vezes deveras incipiente, o que dota a sensibilidade animal, dita senciência, de cunho
7
Paradigma da Complexidade de Edgar Morin.
97
mais intenso que em outras espécies No entanto, estas pequenas alterações conceituais
não modificam substancialmente a importância da reflexão e proteção da vida que
profissões como as das áreas biológica, agrícola, médica veterinária e média humana tem
por dever e por essência.
98
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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California,
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Propriedades. Boletim Informativo. Projeto Consolidação e Ampliação dos Sistemas
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Págs. 03 e 04.
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99
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WIKIMEDIA FOUNDATION. Negentropy – Wikipedia, the Free Encyclopedia. Disponível
em html em http://en.wikipedia.org/wiki/Negentropy . Acessado em 28 de Abril de 2011, às
01h43min.
WIKIMEDIA FOUNDATION. Epigenética – Wikipédia, a Enciclopédia Livre. Disponível em
html em http://pt.wikipedia.org/wiki/Epigenética . Acessado em 03 de Maio de 2011, às
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WIKIMEDIA FOUNDATION. Organopónicos – Wikipedia, the Free Encyclopedia.
Disponível em html em htp://en.wikipedia.org/wiki/Organopónicos . Acessado em 05 de
Maio de 2011, às 3h02min.
100
5. Apêndice
5. 1. Apêndice 1. Lei 10831 de 23 de Dezembro de
2003, a qual dispõe sobre agricultura orgânica e dá
outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo
aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos
recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das
comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a
maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia nãorenovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos,
em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos
geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção
do meio ambiente.
§ 1o A finalidade de um sistema de produção orgânico é:
I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais;
II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a
recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em
que se insere o sistema de produção;
III – incrementar a atividade biológica do solo;
IV – promover um uso saudável do solo, da água e do ar, e reduzir ao
mínimo todas as formas de contaminação desses elementos que possam resultar das
práticas agrícolas;
V – manter ou incrementar a fertilidade do solo a longo prazo;
VI – a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o
emprego de recursos não-renováveis;
VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas
101
organizados localmente;
VIII – incentivar a integração entre os diferentes segmentos da cadeia
produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a regionalização da produção e
comércio desses produtos;
IX – manipular os produtos agrícolas com base no uso de métodos de
elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade orgânica e as
qualidades vitais do produto em todas as etapas.
§ 2o O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial
abrange os denominados: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico,
agroecológicos, permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos por esta
Lei.
Art. 2o Considera-se produto da agricultura orgânica ou produto orgânico,
seja ele in natura ou processado, aquele obtido em sistema orgânico de produção
agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao
ecossistema local.
Parágrafo único. Toda pessoa, física ou jurídica, responsável pela geração
de produto definido no caput deste artigo é considerada como produtor para efeito desta
Lei.
Art. 3o Para sua comercialização, os produtos orgânicos deverão ser
certificados por organismo reconhecido oficialmente, segundo critérios estabelecidos em
regulamento.
§ 1o No caso da comercialização direta aos consumidores, por parte dos
agricultores familiares, inseridos em processos próprios de organização e controle social,
previamente cadastrados junto ao órgão fiscalizador, a certificação será facultativa, uma
vez assegurada aos consumidores e ao órgão fiscalizador a rastreabilidade do produto e
o livre acesso aos locais de produção ou processamento.
§ 2o A certificação da produção orgânica de que trata o caput deste artigo,
enfocando sistemas, critérios e circunstâncias de sua aplicação, será matéria de
regulamentação desta Lei, considerando os diferentes sistemas de certificação existentes
no País.
Art. 4o A responsabilidade pela qualidade relativa às características
regulamentadas para produtos orgânicos caberá aos produtores, distribuidores,
comerciantes e entidades certificadoras, segundo o nível de participação de cada um.
102
Parágrafo único. A qualidade de que trata o caput deste artigo não exime
os agentes dessa cadeia produtiva do cumprimento de demais normas e regulamentos
que estabeleçam outras medidas relativas à qualidade de produtos e processos.
Art. 5o Os procedimentos relativos à fiscalização da produção, circulação,
armazenamento, comercialização e certificação de produtos orgânicos nacionais e
estrangeiros, serão objeto de regulamentação pelo Poder Executivo.
§ 1o A regulamentação deverá definir e atribuir as responsabilidades pela
implementação desta Lei no âmbito do Governo Federal.
§ 2o Para a execução desta Lei, poderão ser celebrados convênios,
ajustes e acordos entre órgãos e instituições da Administração Federal, Estados e Distrito
Federal.
Art. 6o Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a
infração das disposições desta Lei será apurada em processo administrativo e acarretará,
nos termos previstos em regulamento, a aplicação das seguintes sanções, isolada ou
cumulativamente:
I – advertência;
II – multa de até R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais);
III – suspensão da comercialização do produto;
IV – condenação de produtos, rótulos, embalagens e matérias-primas;
V – inutilização do produto;
VI – suspensão do credenciamento, certificação, autorização, registro ou
licença; e
VII – cancelamento do credenciamento, certificação, autorização, registro
ou licença.
Art. 7o Caberá ao órgão definido em regulamento adotar medidas
cautelares que se demonstrem indispensáveis ao atendimento dos objetivos desta Lei,
assim como dispor sobre a destinação de produtos apreendidos ou condenados na forma
de seu regulamento.
§ 1o O detentor do bem que for apreendido poderá ser nomeado seu
depositário.
§ 2o Os custos referentes a quaisquer dos procedimentos mencionados
neste artigo correrão por conta do infrator.
Art. 8o As pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que
103
produzam, transportem, comercializem ou armazenem produtos orgânicos ficam
obrigadas a promover a regularização de suas atividades junto aos órgãos competentes.
Parágrafo único. Os procedimentos de
registro, cadastramento,
licenciamento e outros mecanismos de controle deverão atender ao disposto no
regulamento desta Lei e nos demais instrumentos legais pertinentes.
Art. 9o Os insumos com uso regulamentado para a agricultura orgânica
deverão ser objeto de processo de registro diferenciado, que garanta a simplificação e
agilização de sua regularização.
Parágrafo único. Os órgãos federais competentes definirão em atos
complementares os procedimentos para a aplicabilidade do disposto no caput deste
artigo.
Art. 10. Para o atendimento de exigências relativas a medidas sanitárias e
fitossanitárias, as autoridades competentes deverão, sempre que possível, adotar
medidas compatíveis com as características e especificidades dos produtos orgânicos, de
modo a não descaracterizá-los.
Art. 11. O Poder Executivo regulamentará esta Lei, definindo as normas
técnicas para a produção orgânica e sua estrutura de gestão no âmbito da União, dos
Estados e do Distrito Federal.
§
1o A regulamentação
deverá
contemplar
a
participação
de
representantes do setor agropecuário e da sociedade civil, com reconhecida atuação em
alguma etapa da cadeia produtiva orgânica.
§ 2o A regulamentação desta Lei será revista e atualizada sempre que
necessário e, no máximo, a cada quatro anos.
Art. 12. (VETADO).
Parágrafo único. O regulamento desta Lei deverá estabelecer um prazo
mínimo de 01 (um) ano para que todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva
possam se adequar aos procedimentos que não estejam anteriormente estabelecidos por
regulamentação oficial.
Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 23 de dezembro de 2003; 182o da Independência e 115o da
República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Márcio Thomaz Bastos
104
Roberto Rodrigues
Marina Silva
5.2.
Apêndice
conceitos,
2.
Re-enunciação
possibilidades
e
sumária
princípios
de
de
permacultura
Adaptação de MOLLISON & HOLMGREN (1981).
i. O planejamento da permacultura é em primeiro lugar espacial (Zona, Setor,
Fronteira, Elevação) e em segundo lugar ecológico (Diversidade, Polivalência, Produção
de Energia);
ii. Todos os processos: planejamento, plantação, construção, cercado, controle,
direção e utilização são evolutivos, levando a estratégias novas ou alternativas, para o
planejamento futuro;
iii. O objetivo no sentido amplo é desenvolver uma síntese autossustentável de
habitação, paisagismo, vegetação e espécies animais (incluindo o homem)
iv. A energia é conservada e gerada dentro do sistema, ou dirigida e controlada
caso venha de fora;
v. Colheitas e produção diversificada em cada estação significam uma entrada
de mão-de-obra e técnicas simples, mas pode-se satisfazer a maior parte das
necessidades humanas;
vi. Os animais são aceitos (mas não obrigatórios) no projeto do sistema,
mesmo com alguma perda de produtividade, pois os animais podam e utilizam o pasto,
resíduos e produtos inacessíveis ao homem, bem como dão uma diversidade de produtos
bem característicos;
vii. Cada elemento é disposto para se obter o melhor uso de energia, e de
acordo com princípios gerais, de modo que cada estrutura e espécie servirá a duas ou
mais funções;
viii. A observação da evolução do sistema levará a ideias de como aumentar a
complexidade, estabilidade e produtividade. O controle e a observação são necessidades
permanentes;
105
ix. Conceitos assim como: terras ruins, edifícios não-utilizados, espaço vertical
não-ocupado, desemprego e lixo orgânico devem tornar-se obsoletos, especialmente nas
cidades, pois todos podem ser utilizados na produção de energia para a comunidade;
x. As cidades futuras podem ser planejadas para ser grandemente
autossuficientes e produtivas, e as cidades já existentes, alteradas segundo este fim;
xi. Toda disciplina, ofício e habilidade podem ser utilizados no planejamento,
controle e produção do sistema;
xii. Os sistemas biotécnicos podem frequentemente substituir dispositivos
mecânicos ativos para produzir energia ou modelar o ambiente das cidades e edificações;
xiii. Uma permacultura em evolução leva em consideração as preocupações do
presente, e constroi uma herança benéfica para o futuro;
xiv. O envolvimento com a permacultura provoca um enfoque filosófico e
natural do meio ambiente e seus produtos, demonstrando os valores intrínsecos de
sistemas complexos, e gera a base de uma ciência ambiental totalmente integrada;
xv. A estabilidade regional é promovida, e o comércio regional evolui, de modo
que a dependência de propriedades ou energia distantes é reduzida ou tornada
irrelevante. Assim indivíduos e grupos começam a garantir o controle sobre seus estilos
de vida e seus futuros;
xvi. Há aplicações a áreas pequenas e grandes, de dentro de casa até a
fronteira, e atividades úteis em potencial para jovens, velhos e enfermos;
xvii. Produtos e resíduos retornam ao sistema, a fertilidade cresce com o solo
acumulando complexidade e nutrientes essenciais;
xviii. A energia gerada é governada pelo rendimento do uso da energia
fotossintética, e podem ser produzidos combustíveis para sistemas móveis;
xix. Assim uma sociedade fica empenhada em produzir o essencial à sua
própria existência [...].
106
2. 5. 3. Apêndice 3. Biocidas: Ecotoxicologia e
Toxicologia Humana
BIOCIDAS E SEUS RESÍDUOS
ECOTOXICOLOGIA E TOXICOLOGIA HUMANA
Matheus de Lima Pereira
AGROTÓXICOS/BIOCIDAS (GERAL)
Estudo da Academia Americana de Pediatria demonstra que incidência de
transtorno de déficit de atenção em crianças pode estar associada a resíduos de
agrotóxicos em alimentos, como frutas, verduras e legumes. Isto se deve ao fato de
grande parte dos agrotóxicos atuarem a nível de sistema nervoso.
Fonte: Rede Globo (2010). In “Jornal Nacional – Estudo diz que agrotóxicos
podem aumentar risco de déficit de atenção e hiperatividade”. Disponível em html em
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/05/estudo-diz-que-agrotoxicos-podemaumentar-risco-de-deficit-de-atencao-em-criancas.html .
GRUPOS QUÍMICOS
I. Organofosforados:
Os agrotóxicos organofosforados reagem com enzimas que possuem resíduos
do aminoácido serina (enzimas de serina) no sítio ativo, entre elas a acetilcolinesterase,
que decompõe a acetilcolina após a transmissão do impulso nervoso de um neurônio a
outro. Ao ser decomposta, a acetilcolinesterase não pode mais decompor a acetilcolina,
que se acumula nos receptores sinápticos, impedindo as transmissões nervosas. Em
mamíferos, estes efeitos caracterizam-se principalmente por lacrimejamento, salivação,
sudorese, diarreia, tremores e distúrbios cardiorrespiratórios. Estes últimos são
decorrentes de broncoconstrição, aumento das secreções brônquicas e batimentos
cardíacos lentos, bem como de depressão do sistema nervoso central, sendo as
principais causas de morbidade e mortalidade por tais produtos.
Fonte: WIKIMEDIA FOUNDATION (2011). In “Organofosforados – Wikipédia, a
Enciclopédia Livre”. Disponível em html em http://pt.wikipedia.org/wiki/Organofosforados.
107
I.I. Lista de organofosforados:
a) Dimetoato
Culturas com resíduos: Banana (Musa sp.)
Efeitos: Sistêmico, resíduos presentes em todo o produto
Classificação toxicologica:
Maior parte dos produtos: I (Extremamente tóxico)
Agritoato 400 (NUFARM): II (Muito tóxico)
Classificação ambiental: II (Muito perigoso ao Meio Ambiente).
b) Clorpirifós
Culturas com resíduos: Tomate (Lycopersicum esculentum L.) ; Cenoura
(Daucus carotæ L.)
Classificação toxicológica:
Maior parte dos produtos: III (Medianamente tóxico).
Clorpirifós Fersol 480 EC (Fersol Indústria e Comércio Ltda.); Curinga (Milenia
Agrociências); Klorpan 480 EC; Nufos 480 EC (Cheminova Brasil Ltda.); Pitcher 480 EC
(Cheminova Brasil Ltda.); Pyrinex 480 EC (Milenia Agrociências): I (Extremamente tóxico).
Landrin Pó (Landrin Indústria e Comércio de Inseticidas Ltda.); Lorsban 10 GR
(Down Agrosciences Industrial Ltda.): IV (Pouco tóxico).
Clorpirifós 480 EC Milenia (Milenia Agrociências); Lorsban 480 GR (Down
Agrosciences Industrial Ltda.); Piritilen (Milenia Agrociências); Vexter (Down Agrosciences
Industrial Ltda.): II (Muito tóxico).
Classificação ambiental:
Maior parte dos produtos: II (Muito perigoso ao Meio Ambiente).
Clorpirifós Fersol 480 EC (Fersol Indústria e Comércio Ltda.):
I (Extremamente tóxico)
c) Metamidofós
Culturas com resíduos: Cenoura (Daucus carotæ L.); Tomate (Lycopersicum
esculentum L.)
Está proibido, depois de 2012, o uso de metamidofós, proibição baseada em
estudos científicos que relacionam o uso de metamidofós a problemas no sistema
endócrino, reprodutor, desenvolvimento embriofetal e neurotoxicidade.
O metamidofós já teve o uso banido em 37 países, dentre os quais,
destacadmente União Europeia, Estados Unidos, China, Paquistão, Indonésia, Japão,
Costa do Marfim e Samoa.
108
Fontes:
Portal Ecodebate: Cidadania e Meio Ambiente (2010). In “Agrotóxicos: Anvisa
recomenda banimento dos agrotóxicos metamidofós e tricloform”. Disponível em html em
http://www.ecodebate.com.br/2010/02/18/agrotoxicos-anvisa-recomenda-banimento-dosagrotoxicos-metamidofos-e-triclorfom/.
O ESTADÃO (2011). In “Uso do agrotóxico metamidofós será proibido até
2012”.
Disponível
em
html
em
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,uso-do-
agrotoxico-metamidofos-no-brasil-sera-proibido-ate-2012,667465,0.htm.
ANVISA (2010). In “Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos
(PARA)
–
Resultados
2009”.
Disponível
em
pdf
em
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/14318b0042f5775689429f536d6308db/Result
adosPARA2009.pdf?MOD=AJPERES
Efeitos: Em 1992, 47 incidentes de envenenamento por Metamidofós afetaram
329 pessoas em Hong Kong, no período compreendido entre junho e julho de 1987. Na
Nicarágua foram relatados 548 casos, além de intoxicações agudas causadas por
vegetais contaminados por Metamidofós. Apesar da sua baixa toxidade oral aguda, este
pesticida apresenta efeitos mutagênicos e teratogênicos.
Fonte: LIMA et al. (2001). In “Inseticida organofosforado metamidofós: aspectos
toxicológicos e analíticos”. Pesticidas: Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente.
Disponível
em
pdf
em
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/pesticidas/article/download/3132/2505.
Classificação toxicológica:
Maior parte: I (Extremamente tóxico)
Metasip (SIPGRAM ISAGRO Brasil Ltda.): II (Muito tóxico)
Classificação ambiental:
Maior parte: II (Muito perigo ao Meio Ambiente).
Strom (NUFARM Indústria Química e Farmacêutica S/A); Metafós (Milênia
Agrociências): III (Medianamente perigoso ao Meio Ambiente).
d) ditiocarbamatos
Informações sobre o impacto ambiental de ditiocarbamatos com respeito à
persistência e bioacumulação em diferentes espécies e cadeias alimentares são limitadas.
Tem-se sugerido que muitos destes compostos são rapidamente degradados em
presença de oxigênio, umidade do solo, etc., para formar um número de compostos,
alguns dos quais, por exemplo, ETU e PTU, são toxicologicamente importantes. Quando
109
certas culturas como espinafre, cenouras e batatas, são tratadas com ditiocarbamatos,
níveis elevados de ETU são encontrados após cozimento. Em geral, contudo, os níveis de
ETU estão abaixo de 0,1mg/kg de produto.
Exposição humana a ditiocarbamatos foi calculada para a população dos EUA,
considerando-se o consumo dietético de resíduos de ETU em culturas tratadas com
ditiocarbamatos. A exposição de ETU variou entre 3,65 microgramas/kg de peso vivo/dia e
0,24 microgramas/kg de peso vivo/dia (usar letra grega mi como símbolo do prefixo
micro). Uma estimativa feita para a população canadense estaria em cerca de 1
micrograma/kg de peso vivo/dia.
Fonte: International Programme on Chemical Safety (IPCS). Environmental
health criteria 78 dithiocarbamate pesticides ethelynethiourea and propylenethiourea A
general introduction.
Culturas com resíduos: Alface (Lactuca sativa L.)
II. Piretroides
No Sistema Nervoso Central e Periférico, os piretróides prolongam a abertura
dos canais de sódio da membrana celular retardando a repolarização, o que determina
paralisia nervosa.
Os piretróides são rapidamente degradados no solo e nas plantas. São muito
instáveis à luz, ar e condições alcalinas. Não são esperados resíduos em plantas e
alimentos.
A intoxicação aguda ou superdosagem é pouco freqüente, mas, pode ocorrer
devido à elevada concentração nos produtos agrícolas. A intoxicação por ingestão é rara,
provavelmente, pela rápida metabolização hepática. A absorção intestinal é pequena
assim como a absorção por pele intacta é baixa. São rapidamente excretados pela urina.
Fonte: Toxicologia Aplicada (UFRJ) (2011). In “Toxicologia Aplicada”. Disponível
em html em http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/mXII.piret.htm.
II. I. Lista de piretroides
a) Deltametrina
Culturas com resíduos: Alface (Lactuca sativa L.)
Classificação toxicológica
Maior parte dos produtos: IV (Pouco tóxico)
Decis Ultra 100 EC (BAYER); Deltaphos EC (BAYER; combinação com
triazofós, organofosforado); Keshet 25 EC (Milenia Agrociências):
I (Extremamente tóxico)
110
Decis 25 EC (BAYER); K-Obiol 25 EC (BAYER):
III (Medianamente tóxico)
Classificação ambiental:
Maior parte dos produtos: I (Extremamente perigoso ao Meio Ambiente).
K-Obiol 2P; K-Obiol 25 EC; Decis Ultra 100 EC; K-Othrine 2P: II (Muito
perigoso ao Meio Ambiente).
Decis 200 SC: III (Medianamente perigoso ao Meio Ambiente).
b) Beta-ciflutrina
Culturas com resíduos: Banana (Musa sp.)
Classificação toxicologica:
Maior parte dos produtos: II (Muito tóxico)
Em combinação com imidacloprido (neonicotinóide): III (Medianamente
perigoso ao Meio Ambiente).
Classificação ambiental:
Maior parte dos produtos: II (Muito perigoso ao Meio Ambiente)
Bulldock 125 SC (BAYER): I (Extremamente perigoso ao Meio Ambiente).
III. Benzimidazóis
a) Carbendazim
Culturas com resíduos: Alface (Lactuca sativa L.)
Efeitos: “O carbendazim apresenta pequeno efeito sobre a comunidade
microbiana do solo, porém mostrou-se letal para minhocas. É altamente tóxico para a
comunidade aquática: anfíbios (efeitos genéticos e mortalidade), plantas aquáticas
(reprodução), crustáceos (mortalidade), peixes (bioacumulação e mortalidade), fungos,
(desenvolvimento e reprodução), moluscos (intoxicação e mortalidade) e plâncton
(intoxicação, crescimento, reprodução e mortalidade) (PAN, 2006). É pouco tóxico para
pássaros e atóxico para abelhas (IPCS, 2006).
As principais vias de exposição do homem ao carbendazim envolvem a dieta e
os processos de fabricação e manuseio do produto. Os resíduos são rapidamente
eliminados em urina e fezes.”.
Fonte: COUTINHO et al. (2006). In “Carbendazim e Meio Ambiente:
Degradação e Toxidez”. Pesticidas: Revista Ecotoxicologia e Meio Ambiente. Jan/Dez
2006.
Disponível
em
pdf
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/pesticidas/article/download/7480/5349.
Classificação:
em
111
Classificação toxicológica
Maior parte dos produtos: III (Medianamente tóxico).
Proteat (MERK); Carbomax (NUFARM): IV (Pouco tóxico).
Atempla (BAYER); Derosal 500 BCS (BAYER); Derosal 500 SC (BAYER); Tema
(BAYER): II (Muito tóxico)
Classificação ambiental:
Maior parte dos produtos: III (Medianamente perigoso ao Meio Ambiente).
Bavistin (Milena Agrociência); Bendazol (Milena Agrociência); Czar (Milena
Agrociência); Derosal Plus (BAYER); Proteat (MERK); Tarkil SC (Poland Química Ltda.): II
(Muito perigoso ao meio ambiente).
V. Benzilatos
a) Bromopropilato
Não há informações suficientes
LISTA DE RESÍDUOS POR CULTURA
I. Alface (Lactuca sativa L.):
a) Ditiocarbamato
b) Carbendazim (não recomendado para a cultura)
c) Deltametrina (não recomendada para a cultura)
II. Banana (Musa sp):
a) Dimetoato (não recomendado para a cultura)
b) Beta-ciflutrina (não recomendada para a cultura)
III. Batata (Solanum tuberosum):
a) Bromopropilato (não recomendado para a cultura)
IV. Tomate (Lycopersicum esculentum):
a) Clorpirifós (recomendado apenas para tomates industriais, rasteiros)
b) Metamidofós (recomendado apenas para tomates industriais, rasteiros)
V. Cenoura (Daucus carotae L.):
a) Clorpirifós (não recomendado para a cultura)
b) Metamidofos (não recomendado para a cultura)

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