monitoring of citrus fruit borer with sexual pheromone

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monitoring of citrus fruit borer with sexual pheromone
ENTOMOLOGIA
MONITORAMENTO
DO BICHO-FURÃO-DOS-CITROS
COM FEROMÔNIO SEXUAL:
BASES COMPORTAMENTAIS PARA
UTILIZAÇÃO DESSA NOVA
ESTRATÉGIA
JOSÉ MAURÍCIO SIMÕES BENTO (1); EVALDO FERREIRA VILELA (2);
JOSÉ ROBERTO POSTALI PARRA (1) e WALTER SOARES LEAL (3)
RESUMO
Este artigo apresenta o padrão diário de comportamento e um novo sistema para o monitoramento do bicho-furão-dos-citros, Ecdytolopha aurantiana (Lepidoptera:
Tortricidae) em citros. O sistema é constituído de uma
armadilha tipo delta, contendo cola (sticky) mais uma pastilha com o feromônio sexual que atrai os machos da praga.
Deve-se colocar uma armadilha no terço superior da planta
cítrica, a cada 10 ha (3.000 a 3.500 plantas), sendo as avaliações semanais, para a contagem do número de machos
capturados, o que indica o nível populacional da praga
na área amostrada. Devem-se aplicar medidas de controle
por produtos químicos e/ou biológicos quando o número de
(1)
Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ-USP, 13418-900
Piracicaba (SP).
(2)
Departamento de Biologia Animal, UFV, 36570-000 Viçosa (MG).
(3)
Department of Entomology, University of California Davis, Davis-CA, 95616-8585, USA.
ARTIGO TÉCNICO
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JOSÉ MAURÍCIO SIMÕES BENTO et al.
machos coletados for superior a quatro por semana. Ensaios
preliminares em diferentes regiões no Sudeste do Brasil
demonstraram o sucesso de tal monitoramento como parte
do manejo da praga.
Termos de indexação: Ecdytolopha aurantiana, bicho-furão-dos-citros, biologia, estádios de maturação,
bioecologia, danos.
SUMMARY
MONITORING OF CITRUS FRUIT BORER
WITH SEXUAL PHEROMONE: BEHAVIORAL BASE
FOR USE OF THIS NEW APPROACH
This article shows the daily behavior pattern and a
new approach for monitoring the citrus fruit borer
Ecdytolopha aurantiana (Lepidoptera: Tortricidae) in citrus.
The system comprises a delta-type trap with stick, plus a
pellet with sexual pheromone to attract the male individuals.
One trap should be placed on the upper portion of citrus
tree canopy every 10 hectares and evaluations should be
taken weekly. The number of captured males indicates the
pest’s population level in the area sampled. The pest control using chemical/biological products should be done when
the number of males collected is greater than 4 individuals
per week. Preliminary assays in different regions of the
southern Brazil show that the monitoring is a successful tool
for pest management.
Index terms: Ecdytolopha aurantiana, citrus fruit borer,
biology, maturation stages, bioecology, damage.
1. INTRODUÇÃO
O bicho-furão-dos-citros, Ecdytolopha aurantiana (Lima)
(Lepidoptera: Tortricidae), é responsável por prejuízos anuais estimados
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em mais de 50 milhões de dólares para a citricultura brasileira
(FUNDECITRUS, 2000). Em função dessas perdas, é considerada uma
das principais pragas da cultura (PRATES e PINTO, 1991, 1995; GARCIA
et al., 1998; GARCIA e PARRA, 1999), assumindo esse “status” especialmente na década dos noventas.
Seu controle é efetuado quase que exclusivamente com o uso de
inseticidas químicos e/ou biológicos. Entretanto, não existe um método
de amostragem apropriado para indicar o melhor momento de tais aplicações. Atualmente, o mais empregado tem sido a avaliação de sintomas
visuais nos frutos, determinando a porcentagem dos atacados. Todavia,
esse método possui algumas imperfeições, a saber: (1) a fase do inseto
amostrada (lagarta) não corresponde àquela que se pretende controlar,
ou seja, o adulto ou a lagarta de primeiro ínstar; e (2) ao utilizar os
frutos danificados como parâmetro de amostragem, as lagartas que se
encontram dentro deles permanecem protegidas da ação dos produtos
aplicados, assegurando uma nova geração da praga e a perda dos frutos
já atacados.
Desse modo, tem sido sugerida a busca de novos métodos alternativos e mais confiáveis para a amostragem de E. aurantiana. Recentemente, demonstrou-se que a amostragem de ovos e lagartas de primeiro
ínstar é inviável e de alto custo (GARCIA, 1999). Com isso, os adultos
se apresentam como a fase ideal para amostragem, visando antecipar-se
à ocorrência de surtos populacionais da praga. Embora alguns citricultores
e grandes grupos venham empregando dietas artificiais para acompanhamento do desenvolvimento biológico do bicho-furão em campo, para
determinar o momento da emergência e, conseqüentemente, a hora da
aplicação, esse método ainda tem limitações, como uma perda inicial de
frutos e a dificuldade de amostrar grandes áreas (PARRA (4)). Assim, este
artigo apresenta dados do comportamento do E. aurantiana na cultura
dos citros, e um novo método de amostragem por meio de seu feromônio
sexual, como forma de tornar o seu controle mais racional e eficiente.
(4)
Jóse Roberto Postali PARRA. Comunicação pessoal, 2001.
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JOSÉ MAURÍCIO SIMÕES BENTO et al.
2. PADRÃO DIÁRIO DE ATIVIDADE
Adultos do bicho-furão raramente são observados em campo, principalmente por três razões, a saber: (a) são pequenas mariposas, de cerca
de 17 mm de envergadura (FONSECA, 1934); (b) apresentam uma coloração predominantemente marrom-escura (ocrácea), que se mimetiza a
um pedaço de casca seca, para reduzir o ataque de inimigos naturais
(LIMA, 1927); e (c) permanecem imóveis durante boa parte do dia, o que
foi comprovado recentemente mediante estudos de comportamento da
praga, como descrito a seguir.
2.1. Atividade diurna
Por meio de marcadores fluorescentes de cores variadas para
macho e fêmea (Figura 1), BENTO et al. (2001) demonstraram que, durante o dia, as mariposas permanecem praticamente imóveis, especialmente sobre o terço inferior e mediano da copa das árvores cítricas
(Tabela 1). Do mesmo modo, foi possível determinar que elas permanecem
preferencialmente sobre as folhas (89,7%), em vez de nos frutos (1,9%),
ramos/tronco (2,0%), plantas daninhas (1,1%), ou solo (5,3%) respectivamente (Tabela 2). A baixa mobilidade durante o dia está associada,
principalmente, à busca de um refúgio para evitar a exposição às altas
temperaturas e à baixa umidade relativa, o que, segundo GARCIA (1999),
poderia reduzir a viabilidade e longevidade dos adultos de E. aurantiana.
2.2. Atividade noturna
Após o entardecer, aproximadamente 88% dos machos e 75% das
fêmeas virgens se deslocam para as folhas no terço superior da copa de
citros (Tabela 1). Esse movimento ocorre num curto período, entre as 18
e as 19h (Figura 2).
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100
80
a
80
60
40
b
40
20
20
A casalamentos (%)
60
Acasalamentos (%)
A dultos movendo-se sobre a planta (%)
Adultos movendo-se sobre a planta (%)
Figura 1. Mariposas de Ecdytolopha aurantiana com marcadores fluorescentes de cores diferentes para observação noturna de cópula (macho à direita e fêmea à esquerda). Foto Heraldo N. Oliveira (Esalq/USP)
c
0
0
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
0
2
Hora do dia (h)
Figura 2. Padrão diário de movimentação ( ) e acasalamento de adultos ( )
de Ecdytolopha aurantiana em citros. Fêmeas (--o--) e machos (--z--).
Setas indicam o horário do nascer e do pôr-do-sol. Médias nos horários
de acasalamento seguidas de uma mesma letra não diferem estatisticamente ao nível de 5% pelo teste de Tukey (BENTO et al., 2001)
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Tabela 1. Proporções (porcentagem) de machos e fêmeas virgens de
Ecdytolopha aurantiana em diferentes alturas na copa de árvores cítricas durante o dia e a noite (BENTO et al., 2001)
Tratamentos
Altura das observações, m
Período
1,9-2,5/3,0
0,5-1,0
1,1-1,8
34,7
38,9
26,4
Macho .......................
Dia
..................................
Noite
1,4
10,1
88,5(1)
Fêmea virgem ..........
..................................
Dia
Noite
37,2
2,5
42,7
22,3
20,1
75,2(1)
Casais em cópula .....
Noite(2)
0,0
0,0
(1)
Inclui os casais em cópula.
(2)
100,0
Veja Figura 2, para hora.
Tabela 2. Proporções (porcentagem média) de machos e fêmeas virgens
de Ecdytolopha aurantiana por hora em diferentes locais e partes da
planta de citros durante 24 horas (BENTO et al., 2001)
Machos
Local
Fêmeas
virgens
Número
total
% média
Citros
Folhas .................
88,7
90,8
89,7
Frutos ..................
2,6
1,2
1,9
Ramos/tronco .....
1,8
2,2
2,0
Plantas daninhas ..........
0,7
1,4
1,1
Solo ............................
6,2
4,4
5,3
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Através de marcadores fluorescentes (Figura 1), pôde-se constatar
que as cópulas ocorrem exclusivamente no terço superior das plantas
(Tabela 1), cerca de uma hora após o entardecer, entre as 19 e as 20h, em
64,0% dos casos (Figura 2).
À noite, após as 20h, a movimentação e o número de cópulas são
reduzidos sensivelmente, fazendo com que as mariposas permaneçam de
novo em repouso, em especial sobre as folhas, com caminhamentos e
vôos esporádicos de curta distância, muitos dos quais associados ao término das cópulas. Aparentemente, os adultos não se alimentam, embora
esse dado necessite ser confirmado em futuros estudos, pois, em laboratório, o adulto também não se alimenta, mas necessita da umidade do
rolo dental, onde está colocada a solução de mel a 10%, fornecida, muitas vezes, como alimento para outros insetos (PARRA(5)).
Ao amanhecer, ocorre novo pico de movimentação dos insetos (Figura 2), com uma grande proporção de mariposas voando para o interior
das plantas de citros, especialmente para as folhas do terço mediano e
inferior, restabelecendo o padrão de distribuição do dia anterior.
2.3. Acasalamento
De acordo com BENTO et al. (2001), mais de 80,0% dos
acasalamentos de E. aurantiana ocorreram no terceiro e no quarto dia de
vida do inseto adulto, sendo que as cópulas duram, em média, 1h 40min,
variando entre 3min e 5h12min. O acasalamento é mediado por um
feromônio sexual emitido pelas fêmeas, e que atrai os machos a longas
distâncias, o qual foi recentemente identificado e sintetizado, e sua formulação será conhecida após sua patente e registro.
(5)
Jóse Roberto Postali PARRA. Comunicação pessoal, 2001.
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2.4. Postura
Assim como o acasalamento, a postura ocorre principalmente durante e logo após o entardecer. Segundo GARCIA (1999), mais de 56%
das posturas se dão entre as 18 e as 19h. Outro dado interessante demonstra que as fêmeas, por via de regra, colocam um único ovo por fruto,
independentemente da variedade, sendo, no campo, mais de 53% das posturas feitas entre 1,0 e 2,0 m de altura da planta cítrica.
3. COMPORTAMENTO X MANEJO
Estudos recentes relacionados ao comportamento de acasalamento
e oviposição do bicho-furão demonstraram que o horário crepuscular é
fundamental no ritmo diário da praga, especialmente o entardecer e as
duas horas subseqüentes. A diminuição da luminosidade, associada à
queda de temperatura e ao aumento da umidade relativa, características
do horário, desencadeiam uma série de eventos fisiológicos que levam
ao acasalamento e à postura. De modo geral, enquanto os machos e as
fêmeas virgens se deslocam para o terço superior da planta de citros para
acasalar, as fêmeas já acasaladas fazem a postura no terço médio da planta.
Tal sincronismo faz com que não haja competição de machos por fêmeas
acasaladas. Isso poderia interferir na atividade de postura dessas fêmeas
no horário, que, do ponto de vista de manejo, poderia ser indicado como
o mais adequado à aplicação de produtos químicos, pois os insetos estariam mais expostos à sua ação.
3.1. Feromônio sexual
A evidência de que o acasalamento do bicho-furão só ocorre no
terço superior da planta de citros foi fundamental para a descoberta do
feromônio sexual do inseto. Uma vez determinado o local da cópula, foi
possível realizar pesquisas com armadilhas contendo fêmeas virgens,
extratos naturais do feromônio e o próprio feromônio sexual sintético em
pastilhas (Figura 3).
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Figura 3. Detalhe de uma armadilha modelo delta com cola, contendo a pastilha com feromônio e os
machos do Ecdytolopha aurantiana capturados.
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O feromônio sexual é uma substância química emitida pelas fêmeas
para atrair os machos para o acasalamento, e pode vir a ser um componente importante para o manejo da praga nos citros, por vários motivos:
(1) É específico, ou seja, atrai unicamente os machos do bicho-furão e
não de outras espécies; (2) Como atrai o adulto, um monitoramento indica o momento adequado para o início de controle, evitando perdas; e (3)
Um monitoramento bem conduzido pode reduzir a quantidade final de
aplicações de inseticidas, tornando o controle da praga mais racional e
econômico, favorecendo, ainda, a preservação de inimigos naturais.
Obviamente, o uso do feromônio sexual do bicho-furão exigirá nova
mentalidade no seu manejo. Primeiro, a tecnologia demandará uma
confiabilidade do produtor em relação ao monitoramento da praga por
meio de armadilhas, que é a base de todo o manejo. Segundo, o produtor
terá de adotar alguns passos fundamentais para o sucesso do monitoramento, enumeradas a seguir.
3.1.1. Uma armadilha é capaz de monitorar uma área correspondente a
10 ha de citros (3.000-3.500 plantas)
Com base em estudos preliminares do raio de ação do feromônio
do bicho-furão, ou seja, a distância máxima que o feromônio pode atrair
o macho para a armadilha, e tomando-se por base resultados de pesquisa
sobre o raio de ação de insetos pertencentes à mesma família Tortricidae,
chega-se à conclusão que uma armadilha deva ser utilizada para monitorar
uma área correspondente a 10 ha de citros, o que corresponde a 3.0003.500 plantas.
3.1.2. As armadilhas devem ser colocadas no terço superior da copa de
citros, independentemente da altura da planta
Em função de os experimentos desenvolvidos por BENTO et al.
(2001) terem demonstrado que a atração e cópula do bicho-furão ocorre
unicamente no terço superior da planta de citros, a colocação das armadi-
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lhas deve seguir esse conceito básico. Experimentos posteriores demonstraram que as armadilhas no terço inferior ou mediano reduzem-lhes a
eficiência, independentemente da altura da planta.
3.1.3. As pastilhas que contêm o feromônio sexual devem ser trocadas a
cada quatro semanas (28 dias) em média
Estudos para avaliar o tempo de atração da pastilha de feromônio
sexual em condições de campo demonstraram que a eficácia das pastilhas até com 28 dias de uso foi estatisticamente igual às pastilhas mantidas
por 7 dias (Bento et al., dados não publicados) (Figura 4). Por períodos
mais longos, ou seja, 35 e 42 dias, a eficiência das capturas foi reduzida
em mais de 50%. Portanto, a troca da pastilha na armadilha deve ser
realizada a cada quatro semanas, para uma boa eficiência do sistema.
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Machos/armadilha/semana
Machos/armadilha/semana
a
25
20
a
a
15
a
10
b
b
35
42
5
0
7
14
21
28
Tempo(dias
(dias após
após abertura
abertura do
Tempo
dolacre)
lacre)
Figura 4. Ensaio de duração da atratividade do feromônio sexual de
Ecdytolopha aurantiana em citros por meio de pastilhas. Médias seguidas de uma mesma letra não diferem estatisticamente ao nível de
5% pelo teste de Tukey
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3.1.4. As armadilhas devem ser vistoriadas semanalmente e os machos
capturados nesse período devem ser quantificados
Pelo fato de uma pastilha de feromônio simular uma fêmea que irá
atrair o macho para cópula, deve-se considerar que essa pastilha compete
com as fêmeas na atração dos machos em condições de campo. Além
disso, em função de o período de acasalamento ser restrito a pouco mais
de duas horas diárias (sob condições climáticas adequadas), a vistoria
diária da armadilha seria injustificada e de alto custo, já que o número de
machos capturados por armadilha é relativamente pequeno (dependente
da população de inseto na área). Para tanto, a avaliação semanal tem-se mostrado a mais indicada, levando-se em conta o custo/benefício do sistema.
3.1.5. A captura de quatro machos por armadilha numa única semana
indica a necessidade de adoção de medidas de controle (produtos
químicos e/ou biológicos)
O objetivo do sistema de monitoramento por feromônio não é controlar o bicho-furão pela captura dos machos na armadilha (coleta massal),
mas servir de um indicativo da população da praga na área amostrada.
Desse modo, o número de insetos capturados durante a semana é o
parâmetro principal a ser considerado na recomendação de controle.
Para se chegar a esse número, vários aspectos foram considerados.
Além dos dados comportamentais do item anterior, alguns parâmetros
biológicos e a correlação entre a captura na armadilha e o nível de dano
na cultura também foram observados. A proporção sexual do bicho-furão
é de cerca de 1:1 (macho:fêmea) (GARCIA e PARRA, 1999); cada macho capturado, portanto, corresponde a uma fêmea livre no campo. Outro aspecto importante é que uma única fêmea possui alta capacidade
reprodutiva, chegando a produzir cerca de 200 ovos durante sua fase adulta, e que, normalmente, é colocado um único ovo por fruto (GARCIA e
PARRA, 1999). O conjunto dessas informações, associado ao relato de
outras espécies da mesma família Tortricidae (HOWELL, 1995), sugeriram que a adoção de quatro machos/armadilha/semana é o número ideal
para a tomada de decisão para o controle desta praga.
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0,6
m ed.fruto
0,5
3
0,4
0,3
2
0,2
1
0,1
0
0
0,4
Mês
B
4
M a chos / a rm a dilha
Machos/armadilha
Jun
0,3
3
0,2
2
0,1
1
0
0
Fev
M ar
M a chos / a rm a dilha
A br
M ai
Jun
Mê s
10
Machos/armadilha
Média de frutos
atacados/planta
5
M ai
M é dia de frutos a ta ca dos / pla nta
A br
Média de frutos
atacados/planta
M ar
M é dia de frutos a ta ca dos / pla nta
Fev
8
Média de frutos
atacados/planta
m ach/arm ad.
4
M a chos / a rm a dilha
Machos/armadilha
A
M é dia de frutos a ta ca dos / pla nta
0,7
5
0,4
C
0,3
6
0,2
4
0,1
2
0
0
Fev
Fev.
M ar
Março
A br
Abril
Mês
Mês
M ai
Maio
Jun .
Jun
Figura 5. Monitoramento do bicho-furão, Ecdytolopha aurantiana, por
meio de armadilhas contendo feromônio sexual em três áreas de 10
ha (A, B e C), demonstrando a captura de machos/armadilha/semana
e o número médio de frutos atacados (as setas indicam o momento de
aplicação de inseticidas). Araraquara (SP), janeiro a junho de 2000.
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Para comprovar esse número, ensaios foram desenvolvidos em áreas
de 60 a 120 ha, em várias regiões do Sudeste do Brasil: três no Estado de
São Paulo (Araraquara, Gavião Peixoto e Mogi-Guaçu) e uma no Sul de
Minas Gerais (Frutal). Além de quantificar, semanalmente, a captura de
machos do bicho-furão, correlacionou-se o nível de dano nos frutos
(número médio de frutos atacados por planta, ou a porcentagem de frutos
atacados) na área amostrada. Dados preliminares de cinco meses de
monitoramento, fevereiro a junho de 2000 (BENTO et al., dados não publicados), demonstraram a eficiência desse método para manter a população da praga abaixo do nível de dano econômico. Na região de
Araraquara, adotando-se o sistema, o número médio máximo de frutos
atacados foi de 0,2 fruto/planta durante todo o período amostrado. A média
geral foi de 0,1 fruto atacado/planta (Figura 5). Na região do Sul de Minas Gerais, a porcentagem média máxima de frutos atacados foi de 1%
dos frutos/área e a média geral de 0,6% dos frutos atacados/área. Embora
o monitoramento ainda continue em andamento, o sistema tem-se mostrado adequado para reduzir o número de aplicações na área total, com
diminuição dos custos e perdas de frutos atacados e conseqüente aumento nos ganhos de produção.
3.1.6. Reconhecimento de que o inseto capturado se trata realmente do
bicho-furão
Em virtude de o número de machos capturados na armadilha por
semana ser relativamente baixo para a tomada de decisão de medidas de
controle, é necessário um correto reconhecimento da mariposa do bicho-furão. Assim, um erro de interpretação dessa informação pode levar a
uma amostragem malfeita e, conseqüentemente, a falhas de controle, seja
pela recomendação desnecessária de um produto, o que poderá causar
desequilíbrios, seja pela não-recomendação de químicos, que poderá levar a grandes perdas. Essa observação é importante, pois, embora o
feromônio seja específico, eventualmente, outras mariposas podem ser
atraídas, confundindo a amostragem.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A adoção das medidas descritas nos itens 3.1.1 a 3.1.6 é fundamental para o sucesso do sistema de monitoramento do bicho-furão-dos-citros, E. aurantiana. Entretanto, a maior vantagem do feromônio sexual
é indicar o nível populacional da praga na área amostrada, sugerindo
apenas a aplicação de produtos químicos quando for atingido o nível de
controle (quatro machos/armadilha/semana). Essa informação, por si só,
permite ao produtor reduzir sensivelmente o número de aplicações de
inseticidas na cultura de citros, pois, muitas das aplicações eram feitas
de forma preventiva ou em momentos inadequados.
Outra grande utilidade do sistema de monitoramento por feromônio
é que, uma vez constatado o limite de quatro machos/armadilha/semana,
a aplicação de inseticidas se concentra exclusivamente na área amostrada
(10 ha ou 3.000 a 3.500 plantas), reduzindo a aplicação em outras áreas
onde não há risco de dano econômico da praga, evitando o gasto desnecessário de produtos e reduzindo os custos.
Essas medidas, definindo a época de controle, são fundamentais
para evitar explosões populacionais da praga.
AGRADECIMENTOS
Ao Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), pelo suporte
financeiro ao programa de pesquisa com o bicho-furão-dos-citros.
REFERÊNCIAS
BENTO, J.M.S.; PARRA, J.R.P.; VILELA, E.F.; WALDER, J.M.; LEAL, W.L.
Sexual behavior and daily activity of citrus borer moth Ecdytolopha aurantiana
(Lepidoptera: Tortricidae). Journal of Chemical Ecology, 2001. No prelo.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 351-366, 2001
366
JOSÉ MAURÍCIO SIMÕES BENTO et al.
FONSECA, J.P.da. Combate a lagarta das laranjas Gymnandrosoma aurantianum
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GARCIA, M.S. Bioecologia e potencial de controle biológico de Ecdytolopha
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GARCIA, M.S.; PARRA, J.R.P. Comparação de dietas artificiais, com fontes
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