Clipping Fenep 08-09 Clipping 08/09
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Clipping Nacional de Educação Terça-feira, 08 de Setembro de 2015 Capitare Assessoria de Imprensa SHN Qd2Edifício Executive Office Tower Sala 1326 Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br O GLOBO 08/09/15 Cizânia na universidade Uma nota de desagravo ao professor Marcos Alvito corre nas redes sociais assinada por colegas, ex -alunos e alunos.Como se sabe, o Departamento de História da UFF oficiou Alvito, dando dez dias a "se retratar publicamente" das declarações publicadas no Facebook. O professor criticou o departamento por marcar memoriais de colegas em plena greve. Calma, gente... Aliás, este não é o único caso. Há também o dos 29 professores eméritos da UFRJ, que denunciaram que questões acadêmicas estariam sendo avaliadas "por instâncias de caráter sindical". A situação parece indicar um aumento do clima de tensão política no corpo docente universitário.Tomara que não. Mais uma do Frei David A Educafro, a das cotas para negros, abre hoje em São Paulo um curso de português para refugiados. Ultimamente, o país tem recebido muitos estrangeiros, principalmente haitianos. ANCELMO GOIS O GLOBO 08/09/15 MUNDO Qualidades e críticas à educação em cuba expostas na tela No país de fidel Atendendo a um "chamado da Revolução Cubana", Carmela Martínez, então com 14 anos, ingressou no magistério. Formouse pelo Sistema Makarenko (inspirado no ucraniano Anton Semyonovich Makarenko, pedagogo que se especializou no trabalho com menores abandonados, especialmente os que viviam nas ruas e realizavam pequenos crimes). O tal chamado, que duraria cinco anos, transformou-se em uma vida inteira dedicada à educação, principalmente em bairros periféricos de Havana, como o Cerro, onde se passa "Numa escola em Havana", em cartaz no Brasil. A professora Carmela do filme, totalmente inspirada nela, é a linha condutora de um dos longas mais aplaudidos recentemente em Cuba - aclamado tanto pelo jornal oficial "Gramna", quanto pela jornalista opositora Yoani Sanchéz, e com prêmios em festivais na Espanha, no México e em Nova York. E mostra os problemas reais e os méritos de um dos sistemas educacionais mais elogiados do mundo. - Para formar alguém que tenha algum futuro, é preciso ir mais além dos métodos de ensino. É preciso tê-los como seus. Se você não sabe como os alunos vivem ou como são formadas suas famílias, o que você faz é ensinar apenas. Mas eu me proponho a educar. Se não, meu trabalho fica pela metade. E essa possibilidade me foi garantida pela pedagogia cubana conta a verdadeira Carmela, em entrevista ao GLOBO. As críticas ao sistema educacional, como a rigidez do método de ensino, entre outras coisas, também estão no filme - o que talvez explique seu sucesso unânime dentro e fora do país. Em uma das cenas, quando questionada se não estaria há muito tempo na função, Carmela reage: "E os governantes deste país também não estão?" O diretor, Ernesto Darañas, não se furta a abordar este e outros temas, mesmo que de maneira branda. Dentro do cenário criado por ele, estão o filho que sustenta a casa com atividades ilegais, cuja mãe, alcoólatra, mal tem dinheiro para comer. Assim como aquele cujo pai é preso político. Além do dia a dia de um bairro periférico: - A aula de Carmela é, na realidade, uma pequena radiografia da sociedade cubana. Os problemas observados ali são os problemas de um país imerso em uma crise que dura já um quarto de século. As reformas econômicas que hoje estão acontecendo não conseguiram beneficiar nossos setores mais humildes e isso cria problemas como os de Chala (aluno problemático retratado no filme), o que pode acontecer em muitos outros lugares - avalia Darañas. - De fato, durante o amplo percurso internacional do filme, encontramos essa mesma identificação com um grupo de problemas que afetam a muitos países com culturas, sistemas políticos e níveis de desenvolvimento diferentes. Analfabetismo ZERO e salários baixos Segundo dados do governo, Cuba conta hoje com 10.350 instituições educacionais, que absorverão 1.792.800 alunos no ano letivo, que acaba de começar. O Ministério de Educação contou este ano com US$ 17,5 milhões para importação de material escolar, que é gratuito, e a reforma de 43 escolas. O ensino básico, até o 9º ano, é obrigatório e todos estudam em período integral, com duas horas para almoço. Cuba foi o primeiro país da América Latina a se declarar livre de analfabetismo e os índices de aproveitamento escolar estão entre os mais altos do mundo. Nas últimas décadas, organizações internacionais, como a Unesco, reconheceram as conquistas do país no setor. 08/09/15 Carmela, hoje com 66 anos, teve a oportunidade de conhecer os dois sistemas de ensino, antes e depois da chegada do Partido Comunista ao poder, e é só elogios ao sistema atual: - Não fui alfabetizada na época. Não fazíamos esportes na escola, não íamos a museus. Tive bons professores, mas hoje o conteúdo é mais forte. Nunca investiguei nada, não fazia pesquisas, não tinha tarefas para fazer em casa. Os pais não participavam da educação. Mas, se a formação qualificada de professores continua sendo uma das prioridades do governo de Raúl Castro, o êxodo de profissionais da educação a outras áreas, como o turismo, é visível. Os salários são mais baixos e, ao contrário de outras carreiras, onde é possível ter vários empregos, a jornada dos professores é integral. E eles ainda esperam uma reforma salarial, como a dos profissionais de saúde, que tiveram um aumento significativo no ano passado. Não por acaso, "Numa escola em Havana" provocou filas quilométricas nos cinemas pelo país. - Em Cuba não se encontra uma Carmela em cada esquina. Mas tive professores assim, meus filhos tiveram professores assim (um deles, inclusive, teve aula com a Carmela real). É importante falar sobre isso, de algo que estamos perdendo em todas as partes e da importância de devolver ao educador o papel e o reconhecimento que lhe corresponde - afirma o diretor. FOLHA DE SÃO PAULO 08/09/15 TENDÊNCIAS & DEBATES Pelo fim dos privilégios da nobreza ROBERTO FEITH Somos uma democracia na qual os que completaram curso universitário, caso sejam presos, têm direito a acomodação especial A recente decisão do Supremo de acabar com a censura às biografias não autorizadas corrigiu distorção gritante e restaurou a liberdade de expressão. Apesar desse avanço, continuamos a ser uma sociedade marcada por leis inexplicáveis, expressões de autoritarismo e atraso. Uma delas é a instituição da prisão especial, que parece ter sua raiz nos privilégios da nobreza em tempos medievais. Em pleno século 21, somos uma democracia na qual aqueles que completaram curso universitário (assim como o extenso rol de autoridades) têm o direito de, se presos, receberem acomodação especial, separada das celas nas quais estão "cidadãos comuns". A Constituição afirma que todos são iguais perante a lei. A Declaração dos Direitos do Homem e outros documentos fundacionais da democracia moderna, também. O nosso senso de justiça, idem. Tudo muito bonito e reconfortante. Mas, na realidade, assim que um indivíduo é preso no Brasil a igualdade é chutada para escanteio. Passa a valer o poder do doutor. A Constituição, tão elevada nos seus preceitos, encontra um poder maior, concreto e pragmático. Há quem atenue a injustiça e o preconceito inerentes à prisão especial observando que ela só vale até um processo transitar em julgado. É fato. Como também é fato de que mais de 70% dos presos brasileiros ainda não tiveram processos transitados em julgados. educados é o desconforto e aversão que seriam provocados pela aplicação de um critério estritamente igualitário. Nestes dias sombrios, em que nas nossas prisões milhares se amontoam sem as mínimas condições de dignidade, há quem pondere que seria inconcebível que pessoas bem educadas, pais de família fossem sujeitas à tamanha iniquidade. Essa forma de pensar não é apenas imoral. Ela não apenas viola um preceito constitucional. Ela é um dos motivos pelos quais nada, ou muito pouco, é feito para corrigir as condições às quais são submetidos os presos comuns. Também é fato que, com os embargos, recursos e incontáveis medidas protelatórias da nossa bizantina sistemática judicial, dificilmente um acusado com um bom advogado estará vivo, para não dizer preso, quando o seu processo transitar na última instância. Ou seja, a prisão especial faz toda a diferença. Vamos admitir: dificilmente o status quo vigente persistiria se advogados, jornalistas, economistas, psicólogos, empresários, deputados e outros doutores, se presos, fossem abrigados com outras centenas de detentos, amontoados em celas dilapidadas e mal cheirosas. Outro argumento usado para tentar justificar melhores condições na prisão para os mais Os mais de 600 mil presos comuns em nossas prisões, que, citando Caetano Veloso, são na 08/09/15 maioria, pobres, pretos e pardos, não têm a capacidade de mobilizar o interesse do ministro da Justiça ou de nossos deputados e senadores. Estes aprovaram recentemente um aumento salarial de 78% para o Judiciário, mas não demonstram a inclinação de alocar recursos escassos para reformar nossas prisões. Muito menos a intenção de acabar com a prisão especial e eliminar privilégio que marca o país como uma sociedade arcaica e autoritária. ROBERTO FEITH, 62, jornalista, é vice-presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livro. Foi diretor da editora Objetiva FOLHA DE SÃO PAULO 08/09/15 COTIDIANO Universidade tal como balada ROSELY SAYÃO O comportamento de avaliar algo instantaneamente, por não querer correr o risco de esperar e se frustrar, pegou Quando o aparelho celular –que permitia enviar os já não tão conhecidos torpedos– começou a se tornar popular entre os jovens, muitos comportamentos deles sofreram alterações. Parece que isso foi há muito tempo, mas é um acontecimento do passado recente, que vale a pena relembrar, porque nos ajuda a entender alguns comportamentos dos jovens no presente. Uma das grandes descobertas deles, na época, foi a de que os torpedos permitiam que eles aproveitassem melhor a vida, na visão deles. Um bom exemplo é o fato de que os grupos de jovens que se conheciam se dividiam entre as diversas baladas no final de semana. Cada grupo avaliava a frequência, a animação e tudo o mais que rolava e, de posse das informações, transmitia aos demais colegas. Dessa maneira, eles podiam se reunir logo depois no que consideravam a melhor balada da noite. Toda essa avaliação ocorria em um curto intervalo de tempo: 10, 15 minutos no local, para eles, já era o suficiente para chegar a alguma conclusão e ficar à espera dos colegas ou ir para um outro local. Bem, sabemos que uma festa pode mudar de uma hora para outra: ficar melhor ou pior, e que os motivos para avaliar uma balada como boa ou não é muito pessoal, a não ser que todo o grupo tenha o mesmo objetivo. O fato é que o comportamento de avaliar algo instantaneamente, por não querer correr o risco de esperar e se frustrar, pegou. Não só pegou, como foi transferido para outras situações totalmente diferentes. Frequentar um curso universitário, por exemplo. Há um expressivo número de jovens –e esse número está em crescimento– que escolhe um determinado curso, de acordo com seus interesses e, já no primeiro semestre, desiste. Os motivos são diversos: eles concluem que o curso não é o que eles haviam imaginado ou que é muito chato; ou conhecem na faculdade um curso que os prepara para uma outra profissão com a qual se identificam mais etc. Embora os jovens reajam de diferentes maneiras nas mais diversas situações, é possível encontrar em seu comportamento alguns pontos em comum. No caso da opção por outro curso universitário, por exemplo, há os que conseguem aproveitar o curto período na faculdade e amadurecer com isso. Escolhido um outro curso, dedicam-se a ele até o final e se comprometem com o exercício da profissão. Um outro grupo demora um pouco mais para amadurecer e realiza nova desistência em outro curso, mas consegue se encontrar na terceira, às vezes quarta, escolha. Esses jovens geralmente recebem o apoio da família –emocional e, sobretudo, financeiro– para trilhar esse percurso. Há também os que enfrentam resistência familiar e precisam terminar a faculdade. Muitos deles terminam gostando do curso; outros, nem tanto. Mas há um grupo de jovens que deve ser motivo de preocupação, tanto da família quanto da sociedade, que são os que avaliam o curso que escolheram da mesma maneira que avaliariam uma balada: rapidamente, sem querer esperar, sem se esforçar, sem resiliência alguma. Esses são os jovens que precisam de nossa ajuda para descobrir que um curso universitário é bem diferente de uma balada, não é? CORREIO BRAZILIENSE 08/09/15 EDITORIAL De volta para o passado Crise é sinônimo de oportunidade. Modelos antigos, sem condições de responder aos desafios que se apresentam, precisam ser substituídos. É aí que se abrem portas para a renovação. Não é outra a razão por que guerras estimulam saltos na medicina, na tecnologia, nos processos de produção. Passado o apuro, a nação emerge melhor — mais moderna, mais produtiva, mais sintonizada com as exigências contemporâneas. Transformar a adversidade em ocasião para avanços requer medidas acertadas. Não é, ao que tudo indica, o caminho escolhido pelo Brasil. No discurso de posse, há oito meses, a presidente Dilma Rousseff cunhou o slogan Pátria Educadora. Os quatro anos do segundo mandato dariam impulso à correção de rumos do mais grave descaminho nacional — a negligência com a educação. A promessa mereceu aplauso de aliados e opositores. Com razão. Nenhuma nação galgou os patamares do desenvolvimento com educação subdesenvolvida. Lamentavelmente, porém, as palavras não se tornaram fato. Ao contrário. O Ministério da Educação foi vítima de cortes horizontais que atingiram as demais pastas. Projetos importantes, que miram o futuro pós-crise, não escaparam da tesoura. No programa de governo, a presidente se comprometeu a investir na qualidade da educação e na ampliação do acesso ao ensino. Três iniciativas mereceram destaque. Um delas: o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Desde 2011, o Pronatec manteve ritmo de crescimento constante. Em 2014, ofereceu 3 milhões de vagas. Em 2015, o cálculo é de 1,3 milhão. Outra: o Ciência sem Fronteiras (CSF). A promessa divulgada em prosa e verso era de oferecer 100 mil bolsas até 2018. A prática, porém, mostrou cifras modestas. Em 2014, atender 42.209 estudantes no exterior exigiu o montante de R$ 3,42 bilhões. A previsão para 2015 é de R$ 3,3 bilhões. Assim, em vez de avançar, o CSF regride. A internacionalização da universidade — essencial no mundo globalizado, em que impera a sociedade do conhecimento — fica irremediavelmente comprometida. Por fim, mas não menos importante, o Fundo de Financiamento Educacional (Fies) também sofreu corte drástico. Em 2014, a rubrica contou com R$ 731 mil contra R$ 314 mil em 2015. Desde o início do ano, jovens que contavam com a ajuda governamental para pagar o curso superior viram o sonho se transformar em pesadelo. Muitos, impossibilitados de arcar com a mensalidade escolar, desistiram dos estudos. É lamentável. A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) sintetizou as consequências da iniciativa tacanha: “A saída para a crise deveria ser exatamente o contrário, a retomada do crescimento a partir do fortalecimento das universidades, do ensino técnico, do desenvolvimento humano e profissional”. Em português claro: o Brasil sairá da crise menor do que entrou. Pior: sem condições de alcançar os que continuam avançando, apesar do tsunami momentâneo. Trata-se de prova de que subdesenvolvimento não se improvisa. Cultiva-se. CORREIO BRAZILIENSE 08/09/15 OPINIÃO Deficit de credibilidade CRISTOVAM BUARQUE Professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF Em recente audiência no Senado, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira, do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), disse que o Brasil atravessou farra fiscal durante os últimos dois anos. A farra foi parte de um carnaval em que as fantasias foram fabricadas pelos marqueteiros e a bebida, servida pela equipe econômica. Os primeiros construíram mundo falso que apresentaram, durante a campanha de 2014, enganando o público e, talvez até, levando os governantes a se enganarem; com pedaladas e pacotes, os economistas cometeram irresponsabilidades fiscais para manter as ilusões das fantasias que inspiravam o círculo vicioso da ilusão carnavalesca. No período eleitoral, a presidente Dilma vestiu o Brasil com imensa fantasia, apresentada nos programas eleitorais, na qual aparecia um país sem pobreza, com imensa classe média; o présal resolveria todos os problemas; a universidade era para todos; e todos viajavam ao exterior. A campanha eleitoral, a repetição das mensagens e o desejo da sociedade de acreditar na beleza de país ilusório serviram para enganar a todos. Mas, para um observador cuidadoso, não era difícil perceber que se tratava de carnaval. Em março de 2011, um discurso no Senado alertava para os sinais de fantasia passageira nos indicadores da economia; em novembro, o discurso foi publicado com o título de “A economia está bem, mas não vai bem”, que pode ser lido virtualmente no link:http://bit.ly/ StlHCC. Apesar dos indicadores básicos positivos da economia apresentados à época, o texto alertava para sintomas que poderiam levar à crise atual: dívida pública, endividamento familiar, endividamento de empresas, taxa de juros elevada, descontrole dos gastos públicos, apagão logístico e de infraestrutura, elevada carga fiscal, inflação latente, baixa poupança agregada, desigualdade social, baixo nível educacional, gastos sociais, falta de capacidade de inovação, baixa competitividade, vulnerabilidade do setor externo, burocracia, corrupção, corporativismo, limites ecológicos, amarras constitucionais, e o otimismo equivocado dos governantes e de seus partidos. Mas, no lugar de analisar e rebater as críticas, o governo e os senadores da base governista desprezaram os alertas de pessimismo oposicionista. A realidade, lamentavelmente, é que os alertas estavam corretos. A inflação fez a classe média empobrecer, o dólar subiu para valores próximos a R$ 4, o desemprego avança a uma média de quase quatro novos desempregados por minuto, a dívida do setor público cresce R$ 2,2 milhões por minuto, desvendando a fantasia e mostrando o fracasso dos pacotes e pedaladas. O Executivo reconhece que quebrou ao enviar ao Congresso orçamento sem cobertura, com deficit primário de R$ 30,5 bilhões que, na verdade, se estima acima de R$ 100 bilhões. Diante de nós, não importa o partido, está a tarefa de reequilibrar as contas sem interromper a marcha do Brasil na construção de país desenvolvido e que atenda à população pobre. Isto esbarra, porém, na falta de credibilidade do atual governo e de toda a classe política. O governo cometeu duas irresponsabilidades: quebrar as finanças e enviar proposta orçamentária sem cobertura. Deixou ao Congresso a tarefa de baixar custos e aumentar impostos, para depois entregar o novo orçamento a um governo que não goza de credibilidade, nem mesmo entre aqueles do próprio partido e, ainda, menos na opinião pública. Para equilibrar as contas, haverá 08/09/15 tentações de reduzir programas que são necessários ao atendimento da população pobre ou à infraestrutura econômica. A população não aceitará aumento nos impostos e não perdoará corte nos programas sociais. O Congresso tem a obrigação de votar orçamento sem a leviandade daquele apresentado pelo governo, sem assumir o ônus de elevar a absurda carga fiscal, e sem reduzir os programas sociais que protegem os pobres. Mas isso não adiantará se o Executivo continuar sem credibilidade. Não há como ter resultados positivos se não houver confiança no governo que executará o orçamento equilibrado. Seria como se os credores de uma empresa em concordata oferecessem recursos sem cobrar mudanças no comportamento e na seriedade dos diretores. Mantidos os mesmos diretores, o carnaval pode continuar e o deficit poderá, inclusive, ser ampliado ao longo do ano, apesar do esforço do Congresso. Além de salvar o Brasil, consertando o desajuste que o governo provocou, o Congresso terá que criar mecanismos que amarrem o Executivo, evitando irresponsabilidades e carnavais. CORREIO BRAZILIENSE 08/09/15 CIDADES ECONOMIA » Juventude diante da crise Os estudantes Rodrigo Alvarenga, Marina Antonelli, Gabriel Cornelio e Rebeca Amancio sentem o impacto da primeira crise política e econômica vivida pela geração da qual fazem parte Custo de vida acima do limite de tolerância e recessão afetam pessoas com menos de 30 anos, pela primeira vez. Para equilibrar as contas, a opção tem sido cortar lazer, cultura e até mesmo gastos com alimentação » CAMILA COSTA » OTÁVIO AUGUSTO O homem chega para trocar o botijão de gás e avisa: “Sorte da senhora fazer o pedido hoje, enquanto custa R$ 50. Amanhã, estará R$ 61”. A situação foi vivida na última semana por algumas donas de casa, com o aumento médio de 15% no preço do gás de cozinha. A situação guarda ainda alguma semelhança com o passado recente do país, quando a hiperinflação, nos anos da década de 1990, fazia com que os preços brincassem de saltos ornamentais. Esse diálogo, 21 anos depois do lançamento do Plano Real — que acabou com a instabilidade no custo de vida —, mostra que o país convive com duas gerações: a primeira tem entre 40 e 60 anos e não esquece as crises seguidas que viveu; a segunda, formada por jovens de até 30 anos, começa a entender o significado de inflação e recessão. Para os jovens de hoje, esta é a primeira grande crise econômica e política vivida na pele. Até então, o que se sabia de aperto financeiro vinha de casos contados pelos pais ou lidos em livros de história do Brasil. Esta crise, segundo especialistas, deve também deixar sua marca na história. Chega para essa geração em um momento decisivo, no qual se escolhe um curso superior e ingressa no mercado de trabalho. Na faixa de 18 a 24 anos, por exemplo, o desemprego é maior do que entre os adultos. Em meados deste ano, a taxa de desocupação era de 16,4%. No mesmo período de 2014, a taxa ficou em 12,3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, a tal crise financeira não abre novas vagas de estágio, deixa de contratar jovem em aprendizado, e não dá oportunidades para recémformado. Lidar com isso virou estratégia de sobrevivência para muitos deles. “Comecei uma faculdade, consegui um estágio na área, mas decidi mudar de curso. Agora, há meses, estou no estágio do curso anterior, porque não acho uma oportunidade na minha nova área. Não tenho o que fazer”, conta o estudante Rodrigo Alvarenga, 18 anos. Com a bolsa de R$ 650 que ganha com o estágio, o jovem mal passa o mês. “Há dois anos tento comprar um carro. Nunca conseguimos. O plano terá de ser adiado mais uma vez”, lamenta Rodrigo. 08/09/15 Passado Parte desses jovens ouviu relatos de pais ou avós de como eram os anos 1980 e 1990 e do que era preciso para sobreviver. Ficam assustados quando descobrem que em dia de pagamento se corria ao mercado e se comprava tudo o que fosse possível, para estocar. Uma das principais preocupações, na época, era com a perda do poder de compra. “Minha mãe me conta que os preços eram alterados dia a dia. No caso da poupança, os juros eram tão altos que foi assim que ela conseguiu comprar nossa casa. Aplicava R$ 1 mil em um dia, tinha R$ 1,5 mil no outro", relata o estudante Gabriel da Silva Cornélio, 18. Na casa de Rebeca Costa Amâncio, 18, a regra é clara: apagar as luzes. “Parece que mesmo assim não adianta. Reduzimos os gastos ali e aqui, e as contas continuam caras”, avalia. A falta de emprego entre jovens já é maior do que entre adultos Natya Zelaya, 18, lembra bem os relatos da família. Segundo ela, é inevitável comparar a crise que os pais viveram, em 1990, com a de hoje. Ela faz comparações na hora em que toma café na padaria ou compra um sapato novo. É aí que vem à lembrança quando, com R$ 1, compravam-se 10 pães na padaria. Com um pouco mais, R$ 10, por exemplo, ia-se ao shopping, lanchava e ainda dava para brincar na antiga e saudosa Divertilândia (um parque de diversões que existia em um shopping). “Comprei caneta, lapiseira, grafite e borracha, com R$ 10 não deu para pagar a conta”, observa a jovem estudante. Marina Antonelli, 18, segura os gastos com passagens e alimentação. “Preciso colocar pouca coisa no prato. Uma das formas de economizar foi reduzindo o almoço. Mas acabou que cortei de tudo”, pondera. Impactos Depois de anos de consumo fácil, custo de vida relativamente estável e expansão econômica, o Brasil entrou em um período de inflação acima do limite de tolerância, queda do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas geradas em um ano, e aumento do desemprego. Guardadas as devidas proporções, esse cenário lembra as crises dos anos 1980 e 1990, antes da implementação do Plano Real. O cenário atual, porém, não tem um único vilão. O que se vive hoje tem origem, em parte, em gastos públicos de baixa qualidade e acima do que se tinha em caixa. Na prática, quanto mais se gasta dinheiro público, mais pressão é gerada sobre a inflação. Se essas despesas são alocadas em folha de pagamento e em gastos que não geram riqueza para o país, o peso sobre o custo de vida aumenta ainda mais. A crise financeira de 2008, quando o Banco Lehman Brothers quebrou nos Estados Unidos e contaminou todo o sistema financeiro do mundo, também teve sua parcela de contribuição para os problemas brasileiros — fez o governo gastar mais sob a alegação de diminuir os impactos da crise. Posteriormente, o congelamento de tarifas públicas, decisões sobre políticas de juros, de crédito e de política fiscal, agravaram ainda mais o quadro. A Operação LavaJato, que paralisou obras em todo o país e colocou empreiteiros e políticos na cadeia, também afetou a economia. A Petrobras, uma das maiores empresas do Brasil e responsável por grande parte dos investimentos produtivos brasileiros, teve de parar projetos e abandonar outros, e milhares de pessoas foram demitidas. Segundo o economista do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF) Newton Marques, a realidade econômica tem uma história que deve ser levada em consideração. Crise é um processo (veja Cronologia). “O Brasil passou por vários planos de estabilização. Teve a primeira experiência no Plano Cruzado, mas sempre teve problemas inflacionários, desde 1900. Quando chegou João Goulart, por exemplo, o descontrole era grande. Tanto que o golpe militar foi motivado por isso. Então, foram criados vários mecanismo para que as pessoas convivessem num momento de política anti-inflacionária. E a situação, hoje, é bem diferente”, diz o especialista. Os jovens de agora passam por uma fase ruim. “Estão sofrendo mais, sim. Um empresário que tem apenas uma vaga de emprego disponível dará a um profissional 08/09/15 experiente. Sem riscos por agora”, justifica Marques. Um dos conselhos é se qualificar. Com pouca vaga, a garimpagem pelos melhores será inevitável. “Não sabemos se a recuperação do governo será em 2016 ou 2017, porque 2015 já está perdido. Pensando em viajar, trocar de carro, comprar roupa? Isso tudo terá de mudar para se adaptar, porque pode demorar e se aprofundar”, alerta o economista. Linha do tempo convergir os preços e salários para níveis mais baixos que aqueles praticados no início dos anos sessenta. 1984 Tivemos os planos cruzados, com congelamento de preços e moratória da dívida externa, e planos Feijão com Arroz do Mailson e do Bresser, na tentativa de estabilizar a economia, sem sucesso. 2008 Veio a Crise das Hipotecas Norte-Americanas em 2008, atingindo a economia mundial, e tudo piorou para todos os países (exceto a China), principalmente para os emergentes. O governo Dilma, em seu primeiro mandato, travou uma batalha econômica com queda dos investimentos, descontrole inflacionário, represamento de correção de tarifas e preços dos serviços de utilidade pública. 1994 2015 Veja pontos importantes da história econômica do país: 1821 A forte crise econômica foi um dos principais argumentos para o processo da independência do Brasil, então colônia portuguesa. 1964 Golpe militar contra o governo popular de João Goulart. Surgiu o mecanismo de correção monetária (ou indexação) para garantir parte da inflação passada e expectativa positiva de inflação futura para Somente com o Plano Real, mesmo atravessando as crises de Tailândia, Rússia e Argentina, a economia brasileira encontrou a estabilidade monetária, com base na desindexação dos preços e salários e no tripé: câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e sistema de metas de inflação. 1996 Ao fim do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, o expresidente colocou em votação o projeto que permitiria a reeleição. A medida causou, na época, forte desequilíbrio financeiro. O governo está com sérios problemas econômicos e políticos. Por um lado, a queda da atividade econômica está se agravando, com forte aumento do desemprego, crescente deficit fiscal e descontrole inflacionário. Por outro, qualquer tentativa de enviar medidas provisórias e projetos de lei ao Congresso tem colecionado derrota atrás de derrota, principalmente na Câmara dos Deputados. CORREIO BRAZILIENSE 08/09/15 CIDADES Tempo ruim, boas ideias Foi justamente na economia que jovens estudantes da Universidade de Brasília (UnB) encontraram uma forma de driblar a crise. Eles desejam vencer desafios e aprofundar os conhecimentos, para ajudar os outros a encarar esse momento do país. A Econsult, empresa júnior de economia da UnB formada pelos próprios alunos, faz análise da situação econômica para prestar consultoria. Matheus Oliveira Onorato de Araújo, 21 anos, está no 7º semestre de economia e é um dos diretores de projeto da Econsult. Com ele, são 40 integrantes. “O objetivo é fornecer serviço de qualidade para micro e pequenos empresários. Além disso, conseguimos experiência e capacitação técnica, pois temos o apoio de professores e especialistas no assunto, de nome no mercado”, explica o estudante. A crise financeira fica provada no receio dos empresários em investir. No entanto, até para aqueles que estão por dentro do problema, o reflexo é algo inevitável. “A gente sabe que pode sair da faculdade e não ter emprego, por exemplo, porque a crise chegou nessa fase. Mas as empresas juniores são uma tentativa de fomentar o empreendedorismo e tentar evitar isso. Porém, as coisas estão ruins para todo mundo”, admite. Um dos membros, João Vítor Cunha Alonso, 20, acredita que muitas vezes a crise é vista de forma amplificada, maior do que realmente é; no entanto, sente no dia a dia o impacto dela. “Para comer, está mais caro, para imprimir, para estudar, vários projetos de extensão estão sendo cortados, ou seja, dos meus 16 anos para cá, quando comecei a estudar e analisar as coisas, esta é o pior momento, economicamente falando, que estou vivendo”, reconhece o estudante. CORREIO BRAZILIENSE 08/09/15 CIDADES EDUCAÇÃO » Mais atenção aos mestres A segunda reportagem da série sobre o ensino médio no DF mostra que 75% dos professores dessa etapa educacional na rede pública têm especialização. Índice reforça que a formação docente é necessária, mas o bom desempenho do aluno depende também de outros fatores » MARIANA NIEDERAUER ESPECIAL PARA O CORREIO A formação dos professores, levantada por muitos especialistas como um dos principais problemas do ensino médio no Brasil, não aparece entre os maiores desafios na rede pública do Distrito Federal. Mais de 75% dos docentes têm curso de especialização, 13% completaram o mestrado e 1% tem doutorado. Os dados são da pesquisa O ensino médio público no Distrito Federal, feita pelo Plano Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio (Pnem) no DF, em 2014, durante o curso de formação que reuniu todos os professores dessa etapa do ensino na rede pública, cerca de 3,7 mil. Desses, 2,6 mil responderam ao questionário e 69% afirmaram trabalhar na Secretaria de Educação há mais de 10 anos. A coordenadora do estudo, Wivian Weller, vice-diretora da Faculdade de Educação da Nas aulas da professora Maria Antônia, a leitura serve de elo entre os conteúdos de gramática, redação e literatura Universidade de Brasília (FE/ UnB), destaca que o foco no DF deve ser a formação continuada em serviço. “Mesmo que o professor tenha curso superior, especialização, mestrado ou doutorado, isso não quer dizer que esses cursos sejam na área específica em que ele atua na escola”, explica Wivian. “Para além dos conteúdos específicos da área dele, há a necessidade de formação continuada para a área de uso de tecnologias e para conhecer melhor os procedimentos de avaliação, por exemplo”, elenca. O levantamento completo feito pelo Pnem será publicado em um livro no próximo ano. Os dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por Escolas 2014 corroboram os resultados da pesquisa. Entre as 10 instituições com melhores indicadores de formação docente, oito são públicas (veja quadro). O indicador registra o percentual de disciplinas que são ministradas por professores com licenciatura ou bacharelado com complementação pedagógica na mesma disciplina que leciona. Nas escolas particulares, o quadro é diferente. A maioria dos colégios com índice menor que 50% são da rede privada. Esse indicador, no entanto, não mostrou relação direta com o desempenho. As instituições com os menores indicadores alcançaram resultados melhores do que aquelas que têm mais de 90% 08/09/15 das disciplinas ministradas por professores especializados. A comparação mostra que a formação, por si só, não dá conta de explicar as diferenças de desempenho entre as escolas no Enem — principalmente entre as públicas e as privadas. “Pesquisas feitas por diversos institutos mostram que, independentemente da formação dos professores, se têm mestrado ou doutorado, as escolas podem ter performance melhor ou não. Não há uma correlação positiva”, afirma Álvaro Moreira Domingues Júnior, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares do Distrito Federal (Sinepe-DF). Ele destaca que vários fatores pesam na questão do desempenho, inclusive o socioeconômico, como mostrado ontem na primeira reportagem da série do Correio, mas nenhum deles pode ser considerado sozinho. Regulação e cuidado Na avaliação de Mauro Gleisson de Castro Evangelista, pesquisador e professor da rede pública, existem duas dimensões que precisam ser trabalhadas no Distrito Federal para se melhorar o desempenho dos professores e, consequentemente, o nível de aprendizagem dos alunos: regulação e cuidado. Por um lado, é necessário acompanhar de perto e cobrar resultados e metas dos docentes. “Grande parte das escolas está caótica, desregulada, não faz cobranças efetivas ao trabalho do professor”, relata. Por outro, a Secretaria de Educação precisa promover um trabalho mais amplo no sentido de cuidar da formação e da saúde desse profissional, além de se aproximar mais dele. “O professor ocupa, hoje, um local de vitimização. Ele vê na Secretaria de Educação um algoz e tem uma relação muito hostil com essa instituição, ao ponto de recusar tudo o que venha dela.” Uma das opções que o especialista levanta é aproveitar o próprio tempo de coordenação pedagógica — parte da carga horária de trabalho do docente reservada para aperfeiçoamento e trabalho extraclasse —, que, segundo ele, tem sido negligenciado por muitos professores da rede. Gleisson, que estudou o sofrimento psíquico do professor durante o mestrado, acredita que a escola pública vive uma crise de autoridade e de lugares. “Eu tenho ouvido muito dos professores que eles não sabem mais qual é o lugar deles, o que é ser professor”, afirma. “E, quando vou escutar o jovem, o aluno, ouço: ‘Se o professor não sabe qual é o lugar dele, como eu vou saber qual é o meu?’.” Os melhores resultados são observados quando as pessoas passam a assumir o lugar de liderança e começam a trabalhar em equipe, de acordo com o especialista. Gleisson também observa que, apesar de as taxas de formação serem altas, há um distanciamento do professor em relação à academia, o que faz com que ele reproduza o senso comum, como achar que a formação vai resolver todos os problemas e culpar a família e os alunos. “O professor é o nosso agente revolucionário. É preciso, urgente, de uma política de cuidado com esse profissional”, finaliza. Nas salas de aula da professora Maria Antônia de Sousa, 47 anos, a leitura é o ponto de partida para estudar os conteúdos de gramática, redação e escolas literárias no curto tempo de quatro horas semanais destinado à língua portuguesa. Foi depois de fazer especialização e mestrado na área que ela percebeu que a literatura poderia ser o elo entre todas as disciplinas. Atualmente, ela trabalha a obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, com os estudantes do 2º ano do ensino médio do CED 6 de Taguatinga. Apesar de estar na rede pública há 23 anos, ela começou a dar aulas na última etapa da educação básica há sete. “Depois do mestrado, decidi trabalhar com o ensino médio, porque eu queria compartilhar esse conhecimento de literatura. Achei que não fazia sentido eu me especializar numa área e não repassar isso para a sociedade.” Para ela, um dos grandes desafios dessa fase do ensino é oferecer atividades diferenciadas para atender aos diversos níveis de aprendizagem em que os alunos se encontram quando chegam. Atualização Vilmara Pereira do Carmo, diretora no Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), elenca as principais críticas com relação ao ensino médio: a grande quantidade de 08/09/15 disciplinas a serem ministradas; a falta de escolas exclusivas em regiões como Estrutural e Paranoá; e o descompasso entre a realidade que o professor encontra e o que aprende na universidade. “Os professores chegam vivendo um dilema: têm que ensinar o aluno a ser bom em fazer as provas do Enem e as do vestibular e, ao mesmo tempo, ensinar o conteúdo de forma humanizada”, destaca. A crítica se estende, segundo ela, às instituições de ensino superior como um todo, e não apenas às de Brasília, pois não existe formação específica para o ensino médio durante a licenciatura. O meio acadêmico tem mesmo negligenciado essa etapa de ensino, conforme observa a professora Wivian Weller, da UnB. “Agora, com o Pacto Nacional, ele voltou a ser mais discutido dentro da universidade”, observa. Outro fator que contribui para reavivar o debate na UnB, na avaliação de Wivian, foram o Enem e as formas de ingresso na universidade, pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS), pelo vestibular e pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), adotado recentemente pela instituição. Wivian explica que a formação acadêmica inicial é mais genérica e orientada por diretrizes nacionais. Por isso, ela reforça a importância da formação continuada, como forma de atender às demandas que surgem depois que o licenciado começa a dar aulas. “Não podemos abrir mão, nos cursos de licenciatura, de uma formação mais integral, olhando o campo das ciências humanas”, diz. “Se trabalharmos só técnicas de ensino, mas não olharmos para alguns princípios sociológicos, filosóficos e históricos da educação, vamos ter um professor que domina o conteúdo ministrado, mas que terá dificuldade para fazer uma avaliação mais aprofundada da educação”, completa. 08/09/15 O GLOBO 07/09/15 SOCIEDADE MEC ressalta que incentiva formação, mas interesse de jovens pelo magistério cai Plano de carreira e valorização da profissão poderiam melhorar cenário, dizem especilistas “A rede estadual de São Paulo perde, por semana, oito professores. A prefeitura perde três. O jovem que entra na magistratura tem um duro choque de realidade” Daniel Cara coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação Os baixos salários, a falta de reconhecimento social da profissão, as péssimas condições de trabalho e o cansaço são os fatores que mais contribuem para o desinteresse dos jovens pelo magistério, segundo especialistas. Os mesmos aspectos desestimulam os professores de longa data a permanecerem nas salas. Como reportagem do GLOBO mostrou ontem, ao longo dos próximos seis anos, cerca de 40% dos professores do ensino médio terão condições de se aposentar, de acordo com um relatório do Ministério da Educação ( MEC). O quadro fica preocupante quando constata- se que o número de formandos em cursos de licenciatura de disciplinas da educação básica vem caindo — 16% entre 2010 e 2012. — Este já é um problema sistêmico. A rede estadual de São Paulo perde, por semana, oito professores. A prefeitura perde três. O jovem que entra na magistratura tem um duro choque de realidade. Isso gera um desestímulo que, quando não o faz desistir, vai se arrastando até a aposentadoria — diz Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que defende uma melhor remuneração inicial e plano de carreira. Pesquisadora da faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Paula Louzano sinaliza que, de acordo com os dados do Censo da Educação Superior de 2013, o maior problema é atrair profissionais formados em licenciatura para a carreira no magistério. — Ser professor requer um saber específico, assim como para ser médico ou engenheiro. Mudar a percepção social de que qualquer um pode ser professor é essencial, além de uma valorização salarial e uma perspectiva de crescimento na carreira — comenta Paula. O Ministério da Educação ( MEC) ressalta que coordena estratégias voltadas à formação de professores, como o Parfor, que oferece cursos emergenciais presenciais de licenciatura; a Universidade Aberta do Brasil ( UAB), com cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada; e o Pibid, que visa a melhorar a educação básica fazendo uma ponte entre estudantes universitários e as salas de aula, mas cujos participantes chegaram a relatar atrasos no pagamento das bolsas este ano. No estado do Rio, o subsecretário de Gestão de Pessoas da Secretaria de Educação, Antoine Lousao, garante que a pasta vem se resguardando para evitar gargalos com aposentadorias de professores. Segundo ele, a rede já chegou a ter carência de 12 mil profissionais em 2010. Hoje, são 500. A redução foi possível através de políticas de valorização salarial e aumento no número de concursos. — Fazemos uma projeção de todas as possíveis aposentadorias no ano e, com base nisso, convocamos os aprovados em concursos. A falta que ainda temos se refere às áreas em que há carência de profissionais ou dificuldades geográficas — diz. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/15 POLÍTICA GOVERNO » Promessas sociais deixadas de lado Compromissos feitos por Dilma durante a campanha eleitoral sobre direitos LGBT, pauta indígena e programas educacionais não foram cumpridos até agora Marcella Fernandes Durante a campanha à reeleição, a presidente Dilma Rousseff se comprometeu com diversas demandas das áreas sociais, incluindo direitos da população LGBT, dos povos indígenas e maior atenção à educação. Após oito meses do segundo mandato, o Planalto tem feito poucos esforços para mobilizar o Legislativo em torno desses assuntos e realizou cortes nos principais programas educacionais. Os projetos de lei que criminalizam a homofobia e que reconhecem o casamento civil gay estão parados, respectivamente, nas comissões de Constituição e Justiça e na de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados desde o início do ano. Em seu programa de governo, Dilma prometeu investir na qualidade da educação e ampliar o acesso ao ensino. O texto cita o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) como forma de garantir “a formação plena da juventude brasileira”, mas o programa sofreu um corte e interrompeu o crescimento progressivo desde 2011. A previsão é de 1,3 milhão de vagas para o ano, diante de 3 milhões em 2014. O documento promete ainda mais 100 mil bolsas do Ciência Sem Fronteiras (CSF) até 2018, mas a iniciativa também foi alvo do contingenciamento. A dotação orçamentária para o ano é de R$ 3,3 bilhões. Em 2014, foram desembolsados R$ 3,42 bilhões e concedidas 42.209 bolsas. Outra ação afetada foi o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Diversas mudanças desde o fim de dezembro restringiram o acesso ao programa e fizeram com que o número de novos contratos autorizados ficassem em 314 mil, diante de 731,7 mil em 2014. É o primeiro recuo desde o início do governo Dilma. “A saída para a crise deveria ser exatamente o contrário, a retomada do crescimento a partir do fortalecimento das universidades, do ensino técnico, do desenvolvimento humano e profissional”, critica Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). De acordo com o Ministério da Educação (MEC), os gastos são escalonados para evitar cortes em ações consideradas estratégicas. Cenário político Em troca de apoio de políticos de esquerda no segundo turno, o comitê de campanha da presidente se comprometeu com o deputado Jean Wyllys (PSol-RJ), em fazer todos os esforços como governo para mobilizar a base a fim de criminalizar a homofobia e aprovar em lei o casamento civil gay, mas as propostas no Congresso não avançaram. Para o parlamentar, o cenário político desgastado e a falta de capacidade de articular a base foram determinantes. “Existe uma base que ela não consegue mobilizar. Até mesmo quando o PT tinha uma base mais sólida, não conseguiu (avançar nessas pautas)”, afirma. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, foram 194 assassinatos de LGBTs neste ano no Brasil, país com o número mais alto. O fundador da entidade e antropólogo, Luiz Mott, classifica como “estelionato eleitoral” a postura do Planalto e critica a fragilidade da atuação dos parlamentares que defendem essa bandeira. “A homofobia institucional pela omissão dos poderes não garante segurança para 20 milhões de LGBTs no país”, aponta. A Secretaria de Direitos Humanos (SDH) afirmou que “trabalha constantemente na defesa dos temas da área, monitora os processos legislativos e dialoga com os deputados”. Também em troca de apoio no segundo turno, a presidente se 07/09/15 comprometeu em dar maior atenção às reivindicações dos povos indígenas, mas o descontentamento no setor é crescente devido a falhas na demarcação de terras e ao apoio do governo ao Marco da Biodiversidade, sancionado pela presidente em maio e criticado por ambientalistas e povos tradicionais. “O governo Dilma contribui para fortalecer o processo de ataque e violação de direitos fundamentais dos povos indígenas no Brasil”, afirma Cleber Buzatto, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). De acordo com o Ministério da Justiça, “as terras ainda não demarcadas estão em regiões onde o conflito fundiário exige maior cautela”. “O governo Dilma contribui para fortalecer o processo de ataque e violação de direitos fundamentais dos povos indígenas no Brasil” Cleber Buzatto, secretário executivo do Cimi CORREIO BRAZILIENSE 07/09/15 ECONOMIA CONCURSOS » Aprendizado em família o estresse”, diz ela. Para Nilson, o método favorece a troca de estímulos. “É gratificante, para ambos, ver o esforço do outro nos estudos. Como convivemos no dia a dia, sabemos das nossas dificuldades, e o objetivo comum nos fortalece”, afirma. "É gratificante, para ambos, ver o esforço do outro nos estudos. Como convivemos no dia a dia, sabemos das nossas dificuldades, e o objetivo comum nos fortalece" Nilson Santos, servidor público, que estuda com a filha, Andressa Casos de parentes que se unem nos estudos para alcançar o sonho de ingressar no serviço público são cada vez mais comuns. Além de aumentar a motivação dos candidatos, esforço conjunto pode reforçar a assimilação do conteúdo das matérias » RODOLFO COSTA Mais do que um incentivo para estudar para concursos, a crise econômica está contribuindo para aproximar familiares em torno de um objetivo comum: conseguir o sonhado ingresso no serviço público. Pais e filhos, tios e sobrinhos estão tendo no aprendizado conjunto o reforço necessário para fixar o conteúdo obtido em sala de aula ou mesmo em casa. Em muitos casos, a busca por uma vaga no funcionalismo costuma deixar candidatos tão ansiosos que, para se concentrar, acabam se afastando de amigos e da própria família. Fazer exercícios com parentes ajuda a romper esse isolamento. E, assim como nos estudos em grupo entre colegas e amigos, contribui para a assimilação das disciplinas. Para a estudante Andressa Domingues, 21 anos, estudar com o pai, o servidor público Nilson Santos, 55, é um fator de equilíbrio emocional. “A presença dele por perto me ajuda a conter um pouco O arrocho no orçamento familiar foi um dos principais motivos de Santos para voltar a estudar. Funcionário da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Goiás, Santos diz que a estabilidade que tem como servidor não é mais motivo de satisfação. “Está tudo muito caro, e parece que a tendência é só piorar. Fui a um posto de combustíveis nesta semana e o frentista disse que a gasolina poderá ser reajustada até o fim do ano. Desse jeito, não tem bolso que aguente”, lamenta. Formada em letras desde o mês passado, Andressa perdeu o interesse pelo último emprego. “Larguei um trabalho com carteira assinada no fim de 2014 porque não conseguia vislumbrar progressão ou melhoria de salário”, afirma. Desafio Professor de educação física em um colégio do Novo Gama (GO), as dificuldades de Nilson Santos vão além do pouco tempo de estudo. “A última vez que frequentei um cursinho preparatório foi em 1992. Naquela 07/09/15 época, estava com a cabeça mais arejada, e era mais fácil absorver os conteúdos das matérias. Voltar a mergulhar nos livros agora é um grande desafio”, constata. Como só têm os fins de semana para estudar, ele e a filha usam o tempo disponível, principalmente, para realizar exercícios. “Acho que eu o ajudo a tirar dúvidas, e ele me auxilia a ser mais atenciosa a detalhes que, às vezes, passam despercebidos”, diz Andressa. Como tem mais tempo para estudar, ela diz que procura ser paciente para acompanhar o ritmo de aprendizado do pai. Dificuldades Ter companhia nos estudos –— seja familiar ou não — é ótimo para a assimilação do conteúdo, na avaliação do coordenador pedagógico do grupo Gran Cursos, André Lopes. “Se for em família é melhor ainda, porque, mesmo estudando fora, os parentes continuam, em casa, a conversar sobre o conteúdo das disciplinas. Ter um objetivo comum faz com que os candidatos cresçam muito e fiquem potencialmente mais competitivos em relação aos demais concorrentes”, avalia. Com a margem de lucro apertada, o comerciante Cleidiomar Martins, 40 anos, decidiu prestar o concurso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de olho nos salários de R$ 5.259,87 para técnico, e de R$ 7.869,09 para analista. “Se passar, vou ficar indeciso. O pensamento de todo empresário é de vencer desafios. A estabilidade, no entanto, certamente pesaria na balança”, diz ele, que estuda com o sobrinho Pedro Marcos Martins, 18. Apesar de irem às aulas do cursinho juntos, Pedro revela que o tio embarcou nos estudos mais para incentivá-lo. “Vamos à biblioteca e resolvemos questões juntos, mas ele vai mais para me motivar. Ele me ajuda dando dicas e me encoraja a estudar todos os dias”, diz ele, que está concluindo o ensino médio. “Meu sonho é passar em um concurso, pagar meu próprio curso de direito e, um dia, ser procurador.” Dicas de especialistas - É importante ter paciência. Passar em um concurso exige tempo de estudo. Poucos são os candidatos que conseguem a aprovação “de um dia para o outro”. Conheça a banca examinadora. Faça leituras estratégicas e reforce os conteúdos que mais costumam ser cobrados nas provas. Consulte obras de professores com estatísticas sobre os temas mais abordados. - Faça e refaça exercícios e provas anteriores do órgão almejado, mesmo que de bancas diferentes. Ter apenas conhecimento do conteúdo teórico não é garantia de aprovação. - Elabore um bom plano de estudos. Isso garantirá um aprendizado melhor do conteúdo e não apenas o decoreba. Crie um roteiro que permita a alternância de disciplinas para não fatigar a mente. - Cuide do corpo e da mente. Atividades físicas e alimentação saudável podem contribuir para um melhor poder de concentração. - Defina seu objetivo. Fazer todos os concursos que saem não é a melhor estratégia para entrar no serviço público. É necessário reconhecer as aptidões e focar em carreiras mais adequadas ao próprio perfil. - Os candidatos que têm menos tempo para estudo devem priorizar, principalmente, as matérias com maior peso. - É superando as dificuldades que o candidato conseguirá uma vaga no funcionalismo. Candidatos devem focar nas matérias em que têm mais dificuldade - Estudar junto pressupõe empatia entre os membros de um grupo, sejam eles familiares ou não. Por isso, é importante ter um vínculo positivo com os parceiros de estudo. - Estabeleça um planejamento das atividades em dupla ou grupo. Trace um cronograma, com encontros regulares, em dias e horários pré-determinados. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/15 ECONOMIA Disciplina é fundamental O estudo em família tem suas vantagens, desde que os envolvidos tenham empatia e uma relação de sociabilidade, observa Mário César Ferreira, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), especialista em psicologia do trabalho. “Tendencialmente, do ponto de vista mais geral, os vínculos existentes entre os membros de um grupo podem ser facilitadores do processo do aprendizado. Estudar em família pode ser positivo, desde que sejam observados alguns critérios”, destaca. mesmo ambiente. Para que o estudo seja otimizado e tenha eficácia, é preciso que se faça um planejamento entre os familiares, ainda que o tempo disponível de cada um deles seja apenas o fim de semana”, ressalta o professor. Segundo Ferreira, o resultado pode ser negativo se o excesso de intimidade e de convivência começar a prejudicar a seriedade do trabalho. “Estudar em grupo nada mais é do que trabalhar em grupo. Para fazer isso, é preciso ter regras, rotina, pontualidade, disciplina e proatividade. É necessário ter os ingredientes típicos de um ambiente de trabalho profissional”, explica. Para o coordenador pedagógico do grupo Gran Cursos, André Lopes, a diferença no grau de preparação é, normalmente, o principal obstáculo em situações que reúnem pessoas com tempos de estudo desiguais. No entanto, ele avalia que as dificuldades podem ser contornadas. “Naturalmente, um pode ser mais lento em um primeiro instante que o outro. Mas é preciso que estejam alinhados no propósito. Quem está mais avançado deve resgatar quem está atrás e fazê-lo andar mais rápido. E ser paciente é fundamental”, avalia. Sem planejamento e método, reforça o professor, o estudo em família pode comprometer os resultados. “Estudar em família ou em grupo não é apenas dividir o Diferenças Além disso, os integrantes do grupo precisam respeitar o processo pessoal de cada um na assimilação dos conhecimentos. As pessoas têm modos diferentes de guardar e organizar as informações. Essa personalização é fundamental”, reforça Ferreira. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/15 ECONOMIA Processos seletivos têm mais de 12 mil vagas em todo o país » ANTONIO TEMÓTEO Órgãos federais, estaduais e municipais têm mais de 12 mil vagas disponíveis, em todo o Brasil, para quem está interessado em ingressar no funcionalismo público. Ainda há expectativa de que mais mil vagas sejam ofertadas em certames que terão os editais publicados até o fim do ano. Nos processos seletivos abertos, há postos de níveis médio e superior, com salários que variam de R$ 2,8 mil a R$ 27,5 mil. A melhor remuneração é oferecida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que tem 27 vagas para promotor. Os interessados em disputar um desses postos, que oferece remuneração de R$ 27,5 mil, têm prazo até amanhã para se inscrever. Para se candidatar, é necessário ser bacharel em direito e ter, pelo menos, três anos de prática jurídica. A Secretaria de Políticas para Criança, Adolescente e Juventude do Distrito Federal, tem abertos 200 postos para contratação imediata e 888 para formação de cadastro de reserva, com salários que variam de R$ 3.730,22 a R$ 5242,06. A Universidade de Brasília (UnB) está em busca de professores substitutos para aulas de piano, inglês, espanhol, língua de sinais e epidemiologia. Os salários vão de R$ 2.814,01 a R$ 4.185,45. O prazo final para inscrições varia de 11 a 14 de setembro. Quem não conseguir uma vaga agora não deve desanimar. Devem ser lançados, nos próximos meses, editais para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a Agência Nacional Aviação Civil (Anac), a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a Agência Nacional de Saúde (ANS), o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e os Correios. O concurso para a Anac já recebeu o aval do Ministério do Planejamento, que autorizou a abertura de 150 vagas com salário de até R$ 12,3 mil. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/15 CIDADES EDUCAÇÃO » Como valorizar o ensino médio Senna (veja quadro). No entanto, apesar de contar com bons índices em comparação a outras unidades da Federação — 58% das escolas obtiveram notas maiores que a média nacional no Enem 2014 —, o DF nem sequer conseguiu alcançar a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para 2013, que era de 4,1. O resultado foi 4. Para este ano, o objetivo é chegar a 4,5 e, em 2021, a 5,4. Ana Maria Gusmão e Danielle Galvarros estão à frente do CEM Setor Oeste, escola pública com um dos melhores desempenhos no Enem 2014 Os dados do DF nos principais indicadores do Enem por Escolas 2014 são melhores do que a média nacional. No entanto, essa etapa educacional ainda representa um dos maiores desafios da capital, como mostra a primeira reportagem da série que aborda o tema » MARIANA NIEDERAUER ESPECIAL PARA O CORREIO Alcançar resultados melhores no ensino médio é um dos maiores desafios da educação brasileira hoje, e o cenário não é diferente no Distrito Federal. A divulgação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 por Escolas traz vários dados que ajudam a entender, para além do ranqueamento por notas, os fatores que pesam no fracasso dessa etapa do ensino. Na série de reportagens que começa hoje, o Correio mostrará o papel de gestores, professores, família e alunos para que o ensino médio cumpra a função de preparar os jovens ao caminho que eles escolherem seguir na vida adulta. No DF, a discrepância entre o desempenho da rede pública e o da rede privada é uma das menores do país, de 14%, segundo levantamento do Instituto Ayrton Outro fator que pesa no desempenho das escolas no Enem é o Indicador de Nível Socioeconômico (Inse), que leva em consideração o nível de escolaridade dos pais e a posse de bens e contratação de serviços pela família dos estudantes. Quanto mais baixo o índice, pior é o desempenho do estudante, independentemente da rede em que ele está matriculado. “O fator socioeconômico, sendo muito importante, acaba nivelando (os estudantes) em termo de aprendizagem”, avalia Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna. Em Brasília, a maioria das escolas foi classificada nas faixas média a muito alta. Mesmo assim, é possível perceber a influência do fator socioeconômico. A média das escolas com Inse muito alto é de 588 pontos no Enem, enquanto as de Inse médio ficaram com nota 489. 07/09/15 O Centro de Ensino Médio Setor Oeste está entre as escolas públicas com indicador socioeconômico alto e foi uma das mais bem colocadas no Enem 2014 no DF, com média de quase 540 pontos. A diretora, Ana Maria Gusmão, e a vice, Danielle Galvarros, acreditam que um dos fatores que levam ao bom desempenho é o fato de o projeto político pedagógico ser flexível e sempre discutido com a comunidade, os professores e os alunos. “Quando começamos com o projeto, em 2008, o foco dos alunos era passar na UnB. Hoje em dia, eles buscam também outras federais, os cursos tecnológicos e as particulares, que têm corrido atrás e aberto um leque de possibilidades, que, há alguns anos, eles não tinham”, detalha Ana Maria. Ela lembra ainda que o fato de estar no Plano Piloto diferencia a escola de outras que ficam mais afastadas do centro. Também destaca a dedicação do corpo docente. “A maioria dos profissionais que temos aqui já está há muitos anos na Secretaria de Educação. Vários deles passaram pelo ensino particular e trazem outras experiências educacionais”, afirma. O maior desafio da gestão, na opinião dela, é convencer os estudantes da importância da tarefa desempenhada na escola e dar as melhores condições para os professores atuarem. “O trabalho do gestor fica camuflado no processo todo”, avalia. Criatividade Os cortes de gastos que o Governo do Distrito Federal vem anunciando desde o início do ano não pouparam a educação. A volta às aulas da rede pública atrasou três semanas este ano, duas delas devido a reparos que a Secretaria de Educação do DF (SEDF) precisou fazer nas escolas para receber os alunos. “É inegável que os problemas estruturais constituem fatores limitantes, mas não são motivo para que não avancemos”, avalia o secretário de Educação do DF, Júlio Gregório. “Nós temos que usar a criatividade. O bom gestor é forjado não no momento de bonança, mas nos de dificuldades, como os que nós estamos vivendo”, completa Gregório. A secretaria lançou, a última sexta-feira, o programa Por dentro dos exames do ensino médio, justamente com o objetivo de preparar estudantes da rede pública para provas como o Enem e o Programa de Avaliação Seriada, da Universidade de Brasília (PAS/ UnB). Esse é um exemplo, segundo o secretário, de projeto feito praticamente sem custo nenhum. Como parte da iniciativa, professores de língua portuguesa da SEDF participarão de oficinas de redação sobre o Enem e, ainda este mês, estudantes do 3º ano do ensino médio regular farão um simulado com o objetivo de se preparar para os exames oficiais. Para Álvaro Moreira Domingues Júnior, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares do Distrito Federal (Sinepe-DF), a autonomia é o principal fator que diferencia a gestão da escola pública da escola privada. “Acredito que, quanto mais descentralizada é a educação e quanto mais autonomia se conceder às instituições educacionais, mais êxito teremos na aprendizagem. A escola privada consegue esses resultados porque tem autonomia, é uma gestão voltada para metas e resultados”, afirma. Um dos dados que chama a atenção em relação às escolas privadas é o Indicador de Permanência na Escola (IPE), que mostra o percentual de participantes que cursaram as três séries do ensino médio na mesma instituição. Todas as escolas do DF com índice inferior a 20% são particulares — 12, num total de 183 ranqueadas no Enem por Escolas 2014. “O que ocorre, na maioria das vezes, é que os alunos buscam, nos últimos anos do ensino médio, escolas com histórico de bom desempenho no Enem”, justifica Álvaro. Ele destaca que o índice é importante para que se tenha uma medida real de quanto a escola influenciou no desempenho do aluno. Ele acredita que outra possível solução para essa distorção seria a implantação do Enem de maneira seriada, nos moldes do PAS, da UnB. “Você poderia ver exatamente qual escola consegue agregar ao aluno mais formação cognitiva ao longo de três anos”, conclui. 07/09/15 Ponto crítico “O ensino médio é o nosso ponto crítico, principalmente o público, porque está absolutamente desestruturado e sem planejamento”, avalia a professora Maria Márcia Sigrist Malavasi, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ela, existem diversos fatores que contribuem para esse quadro: a formação deficitária dos professores nos cursos de licenciatura e a falta de formação continuada; a desmotivação dos estudantes; a estrutura ruim dos colégios; e pais que não acompanham a vida escolar dos filhos nem se sentem acolhidos pela escola. “Como não há planejamento nacional para o ensino médio, temos uma escola desestruturada e com professores que não desejam estar lá”, resume. "É inegável que os problemas estruturais constituem fatores limitantes, mas não são motivo para que não avancemos" Júlio Gregório, secretário de Educação do DF "O ensino médio é o nosso ponto crítico, principalmente o público, porque está desestruturado e sem planejamento" Maria Márcia Sigrist Malavasi, professora da Unicamp » Leia amanhã: a formação e os desafios do professor do ensino médio 07/09/15 07/09/15 CORREIO BRAZILIENSE 07/09/15 CIDADES O JOVEM E A CRISE » O primeiro conflito institucional Principais agentes de algumas das maiores mudanças históricas, os mais novos procuram um papel no cenário atual de insatisfação com a política. Especialista ressalta que não existe um instrumento formal para eles questionarem o governo » OTÁVIO AUGUSTO » CAMILA COSTA João Vítor, Letícia e Erivan: otimistas, mas sem esperança de que problemas serão resolvidos agora Estudantes protestam em frente ao Congresso Nacional, em 2013, na onda de manifestações que tomou conta do país Em vários capítulos da história, os jovens desempenharam papel fundamental em reformas estruturais da sociedade. Um deles foi a Independência do Brasil, comemorada hoje (leia Para saber mais). Manifestações contra a ditadura militar e os protestos à época do impeachment do expresidente Fernando Collor de Mello são outros exemplos. O perfil combativo e revolucionário não é apenas uma lembrança. Hoje, o conflito entre as instituições políticas e a corrupção no governo interfere na rotina de moças e rapazes que, na última eleição, representaram 16,8% do eleitorado total do Distrito Federal. Hoje e amanhã, o Correio mostra o efeito da atual crise política e econômica na vida dos jovens e o que eles têm feito para contornar a situação. Quando a geração Y, representada por pessoas entre 18 e 21 anos, fala de política, algumas palavras se repetem: protesto, descrença, corrupção e internet. Eles vivem o primeiro conflito político-institucional. A falta de confiança no governo fica evidente nas pesquisas de opinião. Hoje, nas urnas, os jovens representam 16,8% do eleitorado total do Distrito Federal. Cerca de 380 mil votantes, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). À revelia do histórico militante na política, inclusive em fatos recentes do país (veja Memória), o grupo se mostra desesperançoso. Insatisfação O desejo é que o Brasil entre nos eixos e que a política seja reformulada, mas eles não alcançaram o posto de protagonistas dessa reforma. Além disso, sobra insatisfação e faltam propostas fundamentadas. Essa parcela da população tem sido duramente castigada pelos reflexos da crise política e econômica. O desemprego, por exemplo, afasta 32% dos jovens do mercado de trabalho no Brasil. A taxa é a mesma de países como a Espanha, que enfrenta uma severa recessão desde 2010. O conflito político não se resume a brigas partidárias. “O problema é que a política é velha e o país é novo. Vemos os mesmos nomes, as mesmas propostas e os desvios de conduta de sempre. Ser um país democrático dá trabalho”, pondera o estudante Erivan Junior, 19 anos. Muitas manifestações públicas lideradas por jovens na última década tiveram forte vinculação com mídias alternativas e novas tecnologias. Nem o território livre para o debate e organização de atos atrai a garotada. “Para haver mudança é preciso ter um propósito. Qual foi o resultado dos 07/09/15 protestos de 2013? Muita gente se mobilizou, mas não houve grandes impactos no governo”, avalia o universitário João Vítor Rodrigues, 18. O Fórum Social Mundial (FSM) realizou um levantamento global que aponta o uso da internet como principal ferramenta do jovem. “Não é mais possível renegar o uso dessas tecnologias a uma posição coadjuvante quando se trata de causas coletivas. A relação que sempre aparece nesse debate é entre o uso dessas novas tecnologias e suas ferramentas, espaços de articulação e os jovens”, detalha o documento. Quadro negativo Os adolescentes sabem que a instabilidade política não faz bem ao desenvolvimento da nação. Eles acompanham as tramas da Câmara dos Deputados, do Senado e do Palácio do Planalto de perto, mas não querem se envolver na polêmica. “Temos que ser otimistas, mas mudanças consistentes só aparecerão nas próximas gerações. Enquanto acharmos o ‘jeitinho brasileiro’ bonito, vamos estimular pequenos desvios de caráter que influenciaram os grandes líderes. Para o país mudar, a gente precisa mudar”, ressalta a estudante Letícia Dourado, 20. O cenário pessimista é esperado também por aqueles que saíram há pouco tempo das salas de aula da universidade. O professor de sociologia Thiago Souto de Andrade, 26, formou-se há um ano na Universidade de Brasília (UnB). Concluiu os estudos em instituições públicas e, hoje, dá aula no P Sul, em Ceilândia. “Não é só a classe média que sente a estagnação do país. Os mais pobres também percebem as dificuldades da falta de governabilidade e a ausência de políticas públicas”, frisa. instabilidade econômica e os conflitos políticos. De acordo com Cristiane Coelho, o pensamento é sensato. “Estamos em um momento de impasse. Há uma consciência crítica, mas ainda difusa. Eles têm uma participação tímida, mas dentro da realidade”, defende. Memória A militância do jovem ainda existe, segundo o professor, que é ex-líder estudantil. “Temos um Estado que vive em contradição, e o jovem também está confuso. Falta uma convergência de propostas fundamentadas além da sensação de indignação. Não se resolve os problemas com críticas vazias”, conclui Andrade. A socióloga e cientista política Cristiane Coelho Machado concorda com Thiago, mas ressalta a falta de instrumentos formais para os jovens questionarem o governo. “A crise de representação institucional faz com que eles procurem canais alternativos. Isso não quer dizer que não refletem sobre a problemática”, explica. Para ela, o essencial é organizar objetivos claros para fundamentar o diálogo. “As ideias estão fragmentadas por falta de instituições. Porém, os movimentos estão mais heterogêneos”, afirma. Nenhum dos jovens ouvidos pelo Correio é a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O principal argumento é que o episódio da década de 1990, com a queda de Collor, foi “traumático” e acentuou a 1821 Jovens organizam assembleias para discutir a situação do Brasil, à época colônia de Portugal. 1897 Estudantes da Faculdade de Direito da Bahia divulgam, por meio de um documento escrito, as atrocidades ocorridas em Canudos (BA). 1901 A Fundação da Federação de Estudantes Brasileiros inicia o processo de organização dos estudantes em entidades representativas. 1932 Na campanha pela Revolução Constitucionalista, a morte de quatro estudantes inspirou a revolta que eclodiu na insurreição de São Paulo contra o governo central. 1937 Criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade brasileira representativa dos estudantes universitários. 1947 A campanha “O petróleo é 07/09/15 nosso”, que destacava a luta pela autonomia brasileira na exploração do petróleo exclusivamente por uma empresa estatal nacional, é encampada por estudantes universitário. 1964 A partir da instituição da ditadura militar, os estudantes vão às ruas para protestar, mas também são responsáveis por parte da produção cultural do país. Filmes, peças de teatro, músicas, livros tiveram grande influência na época. 1984 Pais e filhos vão às ruas na campanha Diretas Já, o que forçou o Congresso a votar a favor das eleições diretas em 1989. 1992 Impeachment do ex-presidente Fernando Collor. O movimento caras-pintadas tomou as ruas contra a corrupção no governo federal. 2013 Manifestações contra a corrupção no governo e aumento de impostos, como o valor da passagem de ônibus. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/15 PARA SABER MAIS » Atuação fundamental Os jovens lusitanos abriram espaço para a possibilidade da independência ainda em 1821. Os revolucionários formaram uma espécie de Assembleia Nacional que ganhou o nome de “Cortes”. Nas entidades, as principais figuras políticas exigiam que o rei dom João VI retornasse à terra natal para que legitimasse as transformações políticas em andamento no Brasil. Temendo perder sua autoridade real, dom João voltou à Portugal naquele ano e nomeou o filho Dom Pedro I como príncipe regente do Brasil. O novo gestor baixou os impostos e equiparou as autoridades militares nacionais às lusitanas. Naturalmente, tais ações desagradaram às Cortes de Portugal, que exigiram o retorno do príncipe a Portugal e a entrega do Brasil ao controle de uma junta administrativa formada por eles. A situação ficou insustentável e a única alternativa foi se desvencilhar da nação europeia. CIDADES 09/09/15 Falta um gestor O entorno de Dilma Rousseff já percebeu: ela está bem preocupada com o desempenho de Renato Janine Ribeiro à frente do Ministério da Educação. Dias atrás, Dilma telefonou para o secretário executivo do ministério, Luiz Cláudio Costa, para tomar pé da situação do MEC. Embora seja uma grife no mundo acadêmico, Janine não quer assumir o papel de gestor. Causou preocupação a um assessor de Dilma saber que, enquanto grevistas ocupavam a frente do MEC, há duas semanas, Janine escrevia no Facebook sobre um tema que nada tinha a ver com a paralisação. RADAR Lauro Jardim 09/09/15 Números 3 vezes maior é o benefício financeiro trazido ao longo da vida pelo diploma de uma das faculdades mais disputadas dos Estados Unidos em relação às menos disputadas, segundo estudo do Instituto Brookings que analisou 850 escolas americanas 620 000 dólares, o equivalente no câmbio atual a 2,3 milhões de reais, é o "bônus" obtido durante a vida profissional por quem se formou em uma das faculdades particulares classificadas no topo do ranking 1 em cada cinco das instituições analisadas no estudo tinha cursos cujo custo para o aluno superava o ganho proporcionado por eles - ou seja, financeiramente, investir nessas faculdades não valeu a pena PANORAMA O GLOBO 06/09/15 CA PA EM SEIS ANOS, 40% DOS PROFESSORES VÃO SE APOSENTAR O GLOBO 06/09/15 O PAÍS Chamados a explicar ‘pedaladas’ culpam ex-secretário do Tesouro VINICIUS SASSINE Onze gestores ouvidos pelo TCU atribuem manobras fiscais a Arno Augustin Onze das 17 autoridades e exautoridades do governo Dilma Rousseff chamadas a se explicar sobre as “pedaladas” fiscais elegeram um culpado para os atrasos de repasses aos bancos oficiais: o ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin. O GLOBO teve acesso a todas as defesas protocoladas no Tribunal de Contas da União (TCU) por ministros, presidentes de bancos oficiais, coordenadores do Tesouro e outros gestores. A maioria jogou a responsabilidade pelo represamento dos repasses no colo de Arno, que deixou o cargo nos primeiros dias de janeiro deste ano. Três subordinados do então secretário ressaltaram nas defesas entregues que “cumpre ao secretário do Tesouro Nacional estabelecer a programação financeira mensal e anual do Tesouro Nacional”. O argumento foi utilizado pelo subsecretário de Política Fiscal do Tesouro, Marcus Pereira Aucélio; pelo coordenador-geral de Programação Financeira, Marcelo Pereira de Amorim; e pelo coordenador-geral de Operações de Crédito, Adriano Pereira de Paula. Os dois primeiros foram além e afirmaram que as liberações de recursos para o Bolsa Família “estavam relacionadas ao secretário do Tesouro Nacional” e que a responsabilização feita pelo TCU “exorbita suas competências como agente público em face às competências regimentais da STN (Secretaria do Tesouro Nacional)”. A responsabilização do ex-secretário foi feita ainda pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Já o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, informaram ao TCU ter feito sistemáticas cobranças ao Tesouro por repasses. Diante da falta de recursos, os bancos se viram obrigados a arcar com o pagamento de programas sociais como o Bolsa Família, o seguro-desemprego e o abono salarial. O TCU concluiu que a manobra serviu para melhorar artificialmente as contas públicas e enxergou uma operação de crédito nas “pedaladas”, o que infringe a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em abril, o tribunal listou 17 responsáveis pelos fatos e determinou que esses gestores deveriam se explicar. A acusação das “pedaladas” passou a integrar o processo que analisa as contas de 2014 de Dilma. A oposição planeja usar um possível parecer pela rejeição para pedir o impeachment da presidente, que ganhou mais tempo para se explicar sobre outras supostas irregularidades no processo. O esvaziamento do processo original, com uma eventual responsabilização concentrada em Arno, pode favorecer o julgamento das contas da presidente. O GLOBO 06/09/15 O PAÍS Nota do próprio Arno integra cinco defesas levadas ao TCU Ex-secretário afirma que bancos públicos não financiaram a União Na véspera da saída do cargo de secretário do Tesouro, em 30 de dezembro de 2014, Arno Augustin assinou uma nota técnica que atribui ao secretário a palavra final sobre a liberação de recursos públicos aos ministérios e demais órgãos da União. A nota foi interpretada como um gesto em que Arno assume a responsabilidade pelas “pedaladas”. Não à toa esse documento integra cinco defesas protocoladas no TCU, entre elas as do exministro Guido Mantega. O exsecretário, no entanto, afirmou em sua defesa que agiu dentro da legalidade no período em que ocupou o cargo, desde 2007. O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e seu secretárioexecutivo, Dyogo Oliveira, foram chamados pelo TCU para explicar portarias que definiram prazos para pagamentos do Tesouro ao BNDES por incentivos em linhas de crédito. As duas defesas têm o mesmo teor: “Os atos materiais de repasses de recursos ao BNDES para a concessão de subvenção econômica na modalidade de equalização de juros eram de competência da Secretaria do Tesouro Nacional e nunca foram de competência da autoridade demandada.” OPERAÇÃO DE CRÉDITO É NEGADA Outros três citados pelo TCU — o ex-ministro das Cidades Gilberto Occhi, atual ministro da Integração Nacional, e dois exsecretários — lembraram a “responsabilidade” do Tesouro em ressarcir o FGTS por conta do programa Minha Casa Minha Vida. O tribunal apontou essa falta de pagamentos — R$ 8,2 bilhões em dívidas — como uma “pedalada” e um indício de irregularidade que a presidente Dilma precisou explicar. Praticamente todas as defesas sustentam não ter existido operação de crédito na manobra fiscal. Prevalecendo esta tese, não teria havido infração à Lei de Responsabilidade Fiscal. A defesa de Arno tem 238 páginas. O documento é assinado também pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Arno sustenta a legalidade de seus atos “seja porque atendem aos ditames legais e contratuais, seja porque se colocam sob os moldes supralegais de inexigibilidade de conduta diversa”. Segundo o exsecretário, os bancos não financiaram a União e não houve operação de crédito. O GLOBO 06/09/15 SOCIEDADE Sinal de saída da escola RENATA MARIZ Estudo mostra que 40% dos professores no ensino médio poderão se aposentar até 2021 Ao longo dos próximos seis anos, cerca de 40% dos professores do ensino médio terão condições de se aposentar. A estimativa, calculada em estudo inédito do Ministério da Educação (MEC) ao qual O GLOBO teve acesso, mostra a necessidade de recrutar docentes para essa etapa escolar, que já sofre com falta de profissionais formados na disciplina que lecionam. Mas a tarefa de arregimentar educadores não será fácil. A baixa remuneração e a falta de condições de trabalho geram desinteresse pelo magistério. O número de formandos em cursos de licenciatura de disciplinas da educação básica (ensinos fundamental e médio) vem caindo. Segundo o Censo do Ensino Superior de 2013, esse universo encolheu 16% de 2010 a 2012, passando de 95.550 concluintes a 80.582. E nem todos os formandos se tornam professores. O levantamento sobre aposentadorias considerou os cerca de 507 mil docentes do ensino médio, segundo o último Censo Escolar, referente a 2013. Além de 2,75% dos profissionais com mais de 60 anos na iminência de se aposentar, havia 15,28% na faixa de 50 a 59 anos que começam a ter condições de deixar a sala de aula. Soma-se a esse contingente boa parte dos 29,2% com idade entre 40 e 49 anos que atingirá nos próximos anos os critérios para pendurar as chuteiras, chegando à estimativa total de 40% de aposentáveis até 2021. Pela Constituição Federal, professores podem se aposentar cinco anos antes dos demais profissionais. No serviço público, segundo especialistas, a maioria dos docentes se aposenta assim que atinge os critérios: o requisito para homens é ter 30 anos de contribuição e 55 de idade. Para mulheres, que são 61,5% dos professores do ensino médio, basta ter 50 anos e 25 de serviço. Na iniciativa privada, não há idade mínima, apenas o mesmo tempo de contribuição exigido no setor público. — Temos uma quantidade enorme de professores do ensino médio que vão alcançar idade e tempo de aposentadoria nos próximos anos. Eles representam aproximadamente 40% do efetivo. Temos que nos preocupar com isso — disse Jesualdo Pereira Farias, secretário de Educação Superior (Sesu) do MEC, durante uma cerimônia da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), em julho. Em entrevista ao GLOBO, Farias explica que é razoável trabalhar com a expectativa de que 40%, de fato, deixem as salas de aula nos próximos seis anos, mas ele ressalta que o estudo é uma projeção baseada nos critérios de aposentadoria. — Isso mostra que teremos que aumentar o esforço na formação de professores para que não haja falta de profissionais no futuro — diz. Para fins de comparação, dados do Ministério do Planejamento indicam que cerca de 23% do funcionalismo público federal têm mais de 51 anos. Desses, 3% estão acima dos 60, idade que, aliada ao tempo de contribuição (35 anos para homens e 30 para mulheres), dá direito à aposentadoria. O percentual anual de pedidos de aposentadoria no serviço público federal não passa de 1,4% do total de servidores ativos. O secretário de Educação Superior esclarece que não há levantamentos anteriores para verificar se o volume de professores em condições de se aposentar nos próximos anos significa um ponto fora da curva. Os resultados, diz ele, mostraram que será necessário aprofundar a pesquisa para saber quantos entram e saem por ano. “JÁ LIDAMOS COM CARÊNCIA DE PROFESSORES” O estudo foi feito pelo governo 06/09/15 como parte do monitoramento da Meta 15 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê uma política nacional de formação de profissionais da educação básica, para garantir que até 2024 todos os professores tenham nível superior em curso de licenciatura na área em que atuam. Embora não faça diferenciação entre rede pública e particular, a pesquisa reflete sobretudo a realidade das escolas públicas, que respondem por 87% das matrículas do ensino médio no país, explica o secretário do MEC. A projeção está alinhada com o último levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), também com dados de 2013. A pesquisa considerou o tempo de serviço dos professores na rede pública estadual, maior responsável pelo ensino médio público no país, mas que também abrange uma parcela pequena da educação fundamental em alguns municípios. Conforme esses resultados, a aposentadoria foi classificada como “iminente” para 26% dos docentes, que à época já tinham de 21 a 25 anos de contribuição, além de 2% com condições plenas de encerrar a carreira por terem mais de 25 anos de serviço. Para o presidente do Consed, Eduardo Deschamps, os números servem de alerta: — Se você projeta esse cenário para os próximos anos, a estimativa do governo está próxima da nossa. É algo que preocupa, mas não apenas no futuro. Hoje já lidamos com uma carência imediata de professores em algumas áreas. De acordo com a secretáriageral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Marta Vanelli, existe no ensino público uma grande determinação em se aposentar assim que as condições de idade e tempo de contribuição são atingidas, devido ao desgaste da sala de aula, à baixa remuneração da categoria e à falta de um incentivo para continuar. — O professor não pensa duas vezes. As condições de trabalho são ruins e não há uma vantagem salarial. Não é como o professor de universidade, que posterga a aposentadoria para trabalhar com pesquisa, extensão — explica Marta. Embora não haja indicador exato sobre o fluxo de entrada e saída dos professores do ensino médio, em determinadas disciplinas o número de professores é muito aquém da necessidade. Física é um dos gargalos. Segundo dados do MEC, em 2013, 1.900 pessoas finalizaram o curso de licenciatura, frente aos quase 37 mil professores que lecionam essa disciplina nas escolas sem serem formados nessa área (73,2% do total). A carência não se restringe a disciplinas de exatas. Docentes sem licenciatura em Sociologia dando aula nessa disciplina representam 88% do total. A proporção chega a 78% entre os que lecionam Artes e Filosofia, por exemplo. NÚMERO DE FORMANDOS CAI MAIS EM EXATAS Analisando os dados do Censo do Ensino Superior de 2013, é possível presumir que essa situação vai se agravar no futuro. O número de estudantes se formando para se alistar nas trincheiras do ensino básico vem caindo, principalmente na área das disciplinas exatas. De 2010 a 2012, houve redução de 14% dos concluintes em Física, 13% em Biologia, 10% em Química e 21% em Matemática. Em História, por 06/09/15 outro lado, o contingente aumentou, mas apenas 1%. Em parte, essa queda pode ser explicada pelas altas taxas de evasão: só 20,5% dos graduandos terminam o curso de Física, 29,5% chegam ao fim da licenciatura em Química e 33% recebem o diploma para dar aulas de Matemática. Somente em duas disciplinas, Geografia e Artes, a taxa de sucesso é superior a 50%. — Levando-se em conta que o quadro de redução no número de concluintes já vinha sendo identificado em anos anteriores, a gente percebe que o país não reagiu ao problema — lamenta o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. — Já vivemos apagões na oferta de professores. Mas a tendência é que isso comece a ficar sistêmico, devido ao desinteresse de nossos jovens pelo magistério. Além disso, não há garantias de que os formandos de licenciaturas se encaminharão para as escolas. Cerca de 19 mil pessoas se formam anualmente em Educação Física. Mesmo assim, 15.537 professores do ensino médio que lecionam a disciplina não têm formação na área. Outras atividades, como em academias ou de personal trainer, são mais sedutoras. Doutora em Educação, Dirce Zan, coordenadora do curso de Pedagogia da Unicamp, defende a necessidade de se valorizar o magistério. — Falo pela experiência como professora das licenciaturas. O aluno recebe proposta para ingressar no mercado, muito mais atrativo que a sala de aula, e vai porque terá mais perspectivas profissionais — conta Dirce, que integra a Comissão de Formação de Professores da Unicamp Neves Ramos concorda: — O Brasil precisa de jovens dispostos a substituir os professores que estão se aposentando. Estamos num momento de crise, mas, para o país avançar, é fundamental investir na atratividade do magistério. ( Colaborou Eduardo Vanini) O GLOBO 06/09/15 SOCIEDADE O GLOBO 06/09/15 SOCIEDADE O GLOBO 06/09/15 SOCIEDADE O GLOBO 06/09/15 SOCIEDADE Colégio incentiva autonomia por meio da arte BRUNO ALFANO* Na Escola Cirandas, em Paraty, não há divisão de disciplinas, e aluno escolhe assunto para se aprofundar Um colchão espaçoso sob uma tenda feita de lençol é a sala de aula. A professora passa um toco de madeira a quem quiser falar. O grupo de crianças entre 6 e 12 anos conversa francamente. Se alguém não gostou da atitude de algum coleguinha, tem, ali, a chance de se expressar. Eles não vestem uniforme. Não têm aulas separadas de português, matemática ou outras disciplinas — apesar de aprenderem todos esses conteúdos. E duas vezes por dia têm o momento de “brincar livre”, que o nome já explica bem o que é. Esse é o modelo da Escola Comunitária Cirandas, em Paraty, onde não há divisão em disciplinas, provas, séries e o sinal de recreio é a batida de tambor tocado por um aluno. FOTOS DE RAFAEL MORAES — Aprender através da arte é mais humano, tem mais afeto — explica Mariana Benchimol, codiretora e uma das fundadoras. O colégio é um dos 30 estudos de caso que serão apresentados no encontro internacional Educação 360, realizado sexta e sábado que vem pelos jornais O GLOBO e “Extra”, em parceria com Sesc e prefeitura do Rio e apoio da TV Globo e do Canal Futura. MUITA IMAGINAÇÃO São 52 crianças que cursam o ensino fundamental na Cirandas. Os mais novos ficam focados na alfabetização, integrados num método, segundo os educadores da casa, menos “be-a-bá” e mais contextualizado. Evoluindo no aprendizado ( independentemente do tempo de estudo), passam para uma fase inicial de projetos e, mais velhos, aprofundam essa etapa intermediária. — Por meio dos projetos, os alunos aprendem as diferentes disciplinas. É um olhar integrado — explica Fabíola Guadix, codiretora que também participou da concepção da escola. Nos encontros das crianças, cartazes dão pistas do quanto a criatividade e a imaginação são valorizadas. Um deles pede calma porque há “Aprendizes de magos e feiticeiros pensando”, e outro traz um alerta: “Cuidado! Alguma coisa sempre pode explodir”. No ano passado, em um dos projetos, crianças estavam em uma das salas repletas de pufes e colchões pesquisando sobre o Universo quando um aluno novo não resistiu: perguntou quando ia começar a aula de ciências. — A gente explicou que ele estava em uma aula, que estava aprendendo de um jeito diferente do que ele estava acostumado — diz Fabíola. Cirandas abriu as portas em 2014 e, segundo Mariana, segue a filosofia “ação-reflexãoação”. As metodologias propostas podem mudar a partir da avaliação dos educadores, dos pais e até dos alunos, que são livres para apresentarem ideias e projetos. — Nosso objetivo é que a criança seja autônoma. Ela tem que confiar em suas próprias ideias para empreender — destaca Fabíola. A falta de provas não significa que os alunos não são avaliados. Em três momentos do ano, os professores fazem um relatório que aponta os progressos ou novos objetivos. — O primeiro, no começo do ano, é descritivo. O segundo, em junho, indica objetivos e competências. E o de dezembro é uma mistura dos dois — explica a diretora Mariana. AULA DE LIBERDADE Os alunos têm liberdade para mostrar os caminhos e assuntos que pretendem aprofundar — como nas aulas eletivas que fazem ao fim da tarde. No entanto, caso o professor perceba uma necessidade, pode orientar e exigir que o estudante se aplique naquele conteúdo a ser desenvolvido. — Para conquistar liberdade, é preciso ter um compromisso — 06/09/15 explica Mariana. O colégio é uma instituição privada com apoio da Fundação Oju Moran, composta por fundadores da escola, amigos e um benfeitor. Metade dos alunos paga a mensalidade integral, de R$ 950. Dos restantes, metade tem bolsa integral e a outra metade só paga 50%. Segundo Mariana, a receita não cobre todos os custos: — A Cirandas nasceu com essa ideia de diversidade social. Por isso, existe essa gradação de bolsas integrais e parciais. Mas a fundação não consegue bancar a escola por muitos anos. Nós buscamos apoio. (*Do “Extra”) FOLHA DE SÃO PAULO 06/09/15 PODER Alunos universitários pregam liberalismo Grupo Estudantes pela Liberdade reúne milhares de correligionários a favor do livre mercado e contra o estatismo Em instituições privadas, professores seguem o mesmo caminho e oferecem cursos sobre o tema FERNANDO CANZIAN DE SÃO PAULO Um grupo de estudantes de vários Estados vem promovendo, há quatro anos, a evangelização do pensamento liberal em universidades, escolas, redes sociais e em sites na internet. Em outubro, o grupo Estudantes pela Liberdade reunirá em São Paulo mais de 650 pessoas e palestrantes internacionais para difundir o pensamento liberal, na economia e na política, em um país considerado "patrimonialista, atrasado e muito dependente do Estado". A iniciativa é acompanhada por economistas e professores de universidades que não fazem parte do grupo, como a PUC-RJ e a FGV-SP. O grupo considera que escolas de segundo grau e universidades públicas estão impregnadas pelo pensamento marxista, baseado nas ideias econômicas e políticas de Karl Marx (1818-1883). No Brasil, isso seria resquício do pensamento de esquerda que dominou as universidades durante a ditadura militar (1964-1985) e que associa a direita ao período. A influência do Estado na sociedade e na economia é tida como o grande entrave ao florescimento de um liberalismo que levaria a mais economia de mercado e menos dependência e favorecimento estatal a grupos. Juliano Torres, 26, diretor do Estudantes pela Liberdade, diz que o grupo nasceu em abril de 2012 espelhado em iniciativa norteamericana. Diz ter hoje 650 lideranças, com cerca de cem estudantes por trás de cada uma. Além do seminário em outubro, o grupo realiza neste ano conferências em 21 universidades, com a ajuda de professores liberais. Torres diz que o liberalismo no Brasil é restrito à economia. E que, mesmo assim, é soterrado muitas vezes por uma visão estatizante, como no primeiro governo Dilma. Segundo ele, o grupo não se identifica com nenhum partido. "Trata-se de uma gama de 50 tons de vermelho." No campo acadêmico, Bernardo Guimarães, 42, professor da FGVSP, tomou a iniciativa pessoal de 06/09/15 ministrar cursos e palestras sobre o pensamento liberal para estudantes de segundo grau. Recentemente, fez isso com 100 alunos do colégio Bandeirantes e outros 300 de várias escolas, em auditório cedido pela FGV. Guimarães lamenta que no Brasil alunos dessa faixa só tenham contato com economia por meio de professores de história e geografia e livros "de orientação marxista". "Nos EUA e Reino Unido há economia no segundo grau. Os alunos tomam ciência de temas como formação de preços e que medidas duras no presente podem ser benéficas no futuro." Em suas aulas, ele usa exemplos do dia a dia, como o fato de taxistas de São Paulo que levam passageiros a Guarulhos não poderem pegar clientes no aeroporto na volta. "Coisas que são frutos dos privilégios que levam à ineficiência brasileira." O economista José Marcio Camargo, professor da PUC-RJ, é mais radical em seu curso de teoria do desenvolvimento econômico para alunos da graduação. Em suas aulas, diz que "alfabetizar adultos é jogar dinheiro fora", que "a ausência de desigualdade social é um desastre porque as pessoas são desiguais, pois uns são mais burros que os outros" e que "todos os países que tentaram acabar com a desigualdade viraram ditaduras". "Sempre dou o exemplo do meu filho: ele estudou economia, mas resolveu se voltar para a filosofia. Eu disse: 'Você é livre para ser feliz. Mas vai morar do outro lado do túnel (na zona norte do Rio)'." Para o italiano Adriano Gianturco, doutor em teoria política pela Universidade de Gênova e professor do Ibmec-MG, iniciativas como a do grupo Estudantes pela Liberdade ganham adesão no mundo –Brasil e República Tcheca lideram essa onda, segundo ele. "Fora da América Latina, as teorias de Marx morreram há muito. Antes, alunos e demais interessados em política e economia não tinham meios de buscar orientações diferentes, mas isso mudou com a internet." JORNAL DE BRASÍLIA 06/09/15 OPINIÃO FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 EDITORIAL Vigiar e polir A noção de vigilância não encontra adversários no campo da saúde, no qual obter informações e agir prontamente com base nelas previne epidemias e moléstias crônicas. No mundo da educação pública, porém, o conceito costuma ser abominado como óbice à criatividade e à autonomia pedagógica. Pois é de fraqueza na vigilância que padece o ensino oficial no Brasil. Se o termo incomoda, pela associação indesejável com autoritarismo, que seja substituído por "monitoramento". Ruim é deixar que a carência de dados minuciosos faça prosperar a cultura da leniência com desempenhos medíocres. Essa foi a mensagem central do Seminário Internacional de Gestão Escolar 2015, promovido pelo Instituto Unibanco e por esta Folha. Ainda que exista no país razoável conjunto de exames padronizados e bases estatísticas sobre educação, enfrentamos séria dificuldade para dar o salto que se impõe –de qualidade– após a universalização do ensino fundamental. A deficiência se faz sentir de modo agudo no ensino médio. Em 2013, meros 54% dos estudantes brasileiros terminaram esse nível com até um ano de atraso; no Chile, foram 87%. Contamos 7,2 anos de escolaridade média, contra 9,8 dos chilenos. Nossos jovens vão ficando para trás. Condenam- se a empregos subalternos e mal remunerados, por sua baixa qualificação. Não é aceitável conformarse com isso. Para enfrentar tal falência coletiva, há que aprender com as experiências bem-sucedidas noutras nações. No seminário, ganharam relevo as experiências no Reino Unido, na Austrália e na província canadense de Ontário. O denominador comum entre elas se fundamenta na adoção de um currículo unificado, como defende esta Folha. Apenas quando se tem clareza sobre o que de fato precisa ser ensinado em cada ano, em cada classe e em cada área resulta factível monitorar de perto o desempenho de cada escola, cada professor e cada aluno. Bases de dados detalhados permitiram identificar precocemente deficiências e concentrar recursos para saná-las. Passou-se a acompanhar de forma sistemática o desempenho de cada estudante, que recebia atenção especial tão logo começasse a se atrasar. Nenhum educador –pai, professor, diretor, secretário ou ministro– pode deixar de enxergar o aluno que se apaga em sala de aula. A obrigação de todos é redobrar esforços para devolver-lhe o brilho que se oculta e esmaece sob a grossa camada de desalento que cobre a educação básica no Brasil. FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 PODER Dilma diz que será difícil atingir meta do Minha Casa, Minha Vida Promessa assumida pela presidente era construir mais três milhões de unidades até 2018 unidades, em junho do ano passado, pouco antes do início da campanha eleitoral. governo irá superar rapidamente a crise econômica e pediu união da população. Agora, petista fala em conseguir contratar todos os imóveis; ela pediu união para superar crise econômica Na primeira fase do programa, foram entregues um milhão de unidades habitacionais. Na segunda, foram feitas mais 2,75 milhões de casas. "Como na sua casa, diante de dificuldade, se todo mundo ficar junto, superamos mais rápido. Não podemos voltar atrás, perder aquilo que já conquistamos. O Minha Casa, Minha Vida, o Fies, não podemos perder. É compromisso do governo. Podem ter certeza de que o país vai ficar melhor, sair desta rápido porque, se nós nos unimos, juntos somos capazes de superar este momento." WILLIAM DE LUCCA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CAMPINA GRANDE (PB) A presidente Dilma Rousseff reconheceu nesta sexta-feira (4) que o governo federal terá dificuldade e precisará "suar a camisa" para entregar mais três milhões de moradias prometidas para a terceira etapa do programa Minha Casa Minha Vida. "Vamos deixar contratadas mais três milhões de moradias. Vai ser difícil fazer as três milhões, mas nós vamos suar a camiseta para fazê-las. Eu não digo que todas vão estar prontas, mas vão estar contratadas", afirmou a petista, na entrega de 1.948 imóveis do Minha Casa, Minha Vida em Campina Grande (PB). Dilma lançou a terceira etapa do programa habitacional que é vitrine de seu governo, com a promessa de construção de três milhões de "Estamos ao lado daqueles que mais precisam no Brasil. Nós usamos uma parte dos impostos para garantir que as pessoas tenham acesso à moradia. O governo federal, ao escolher onde gasta, escolheu o Minha Casa, Minha Vida e, com imensa dificuldade, vamos fazer todo esforço para contratar mais moradias para a população", afirmou. A presidente já havia anunciado que a terceira etapa do programa será lançada no dia 10 de setembro. A nova fase do Minha Casa, Minha Vida já perdeu 36% dos recursos previstos para este ano. Em julho, a presidente afirmara que, a despeito do momento difícil da economia o programa iria acabar ou sofrer cortes de orçamento. UNIÃO Dilma também disse que o Aliado de Dilma e do PT, o governador Ricardo Coutinho (PSB) defendeu o mandado da presidente, dizendo que eleição se discute somente em 2018 e criticando o que chamou de partidarização da crise política e econômica. "Não podemos ficar calados quando a gente vê determinados arautos, fazendo de conta que o Brasil é uma bola que se joga para um lado e para outro e o povo no meio, como se não tivesse vendo nada", disse. "Político que é político tem de defender o Brasil, não adianta ficar apenas no quanto pior, melhor." FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 PODER Petista defende criação de novas fontes de receita DE SÃO PAULO A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta sexta (4) que o governo busque novas formas de arrecadação para evitar que o país entre em "retrocesso". Dilma ainda falou, ao comentar o deficit primário de R$ 30,5 bilhões na proposta de Orçamento para 2016, que programas sociais como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Prouni e o Mais Médicos não serão cortados. Em entrevista a rádios da Paraíba, ela afirmou ainda que é preciso ter "cuidado" com a aprovação de medidas que elevam despesas obrigatórias. Segundo a presidente, obras do governo federal em execução também não serão interrompidas, mas novos projetos só serão feitos se houver receita. "Se a gente quer um Orçamento equilibrado, vamos ter de tomar algumas medidas. Uma será de gestão. Vamos enxugar mais gastos. A segunda é discutir novas fontes de receitas, se a gente quiser garantir que o país não tenha retrocesso", afirmou. Na entrevista desta sexta, Dilma afirmou que o governo ainda tem tempo para discutir o Orçamento do próximo ano. O governo ensaiou recriar a CPMF, mas desistiu diante da repercussão negativa entre políticos e empresários. Nesta semana, a presidente já pontuou que "não gosta" do tributo, mas "não afasta" a necessidade de criar novas fontes de receita. "Não queremos ficar com deficit. Nós vamos discutir com Congresso e a sociedade. Não significa que a gente vá transferir a responsabilidade para ninguém", disse a petista. "Nós vamos apontar onde a gente acha que devem ser concentradas essas receitas. A gente ainda tem mais dois meses para fazer isso", concluiu. FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 MERCADO Miriam Leitão traça quadro otimista para futuro do Brasil Em livro, jornalista analisa potenciais e desafios do país em 12 temas FILIPE OLIVEIRA DE SÃO PAULO A crise econômica, a Operação Lava Jato, o deficit do Orçamento de 2016, a devastação na Amazônia, o baixo rendimento dos alunos brasileiros em avaliações de desempenho. Essa é uma pequena amostra da lista de assuntos atuais que podem levar muitos a perguntar, desanimados: "O Brasil tem futuro"? Ao contrário do que aponta nossa conjuntura atual, a jornalista Miriam Leitão acredita que sim, o país pode se tornar um dos protagonistas do século 21. Acostumada a comentar o que vai mal no país em jornal ("O Globo"), em rádio (CBN) e em televisão (Globo News), ela dedicou quatro anos de pesquisas, viagens, entrevistas e análises de dados para explicar, no livro "História do Futuro", qual o destino possível do Brasil e o que fazer para que ele se realize. Na obra, temas relevantes para as próximas décadas são analisados em 12 capítulos. A jornalista parte das questões mais profundamente brasileiras, tratando primeiro da defesa da Amazônia e da biodiversidade, das tendências demográficas, da educação, da saúde e da economia. Conforme se avança na leitura, entra-se no mundo globalizado de hoje, da tecnologia que avança rapidamente, das cidades se tornando moradia da maior parte da população global e da necessidade de se inserir nas cadeias de produção e de comércio internacionais. O Brasil do futuro vislumbrado com otimismo por Miriam não é uma miragem ingênua ou ufanista. Ele é resultado da realização de potenciais que foram dados pela natureza, somados a avanços que o país vem acumulando com o tempo, mesmo com retrocessos que às vezes os escondem. Na apresentação do livro está a ideia principal: "Somos o primeiro país em biodiversidade do mundo. Somos o segundo maior reservatório de água doce, temos o maior potencial de energia renovável por quilômetro quadrado. Somos e seremos do reduzido grupo de países fornecedores de alimentos". No campo econômico, Miriam olha para o presente e não poupa críticas ao governo Dilma pela perda de credibilidade das contas públicas, pela disseminação de incentivos setoriais e pelo uso de preços controlados para segurar a inflação. Mas, lembra a autora, se 05/09/15 vivemos em um país em recessão, em 1990 a inflação de qualquer mês superaria a meta anual de hoje. indica a necessidade de reformas na Previdência e investimento em assistência para a população idosa. A estabilidade da moeda que veio em seguida não está ameaçada. Falta de atenção a inflação é respondida com queda de popularidade dos governantes, afirma. As análises são pontuadas por histórias de pessoas que, por suas trajetórias, apontam para o futuro, quando exemplificam a valorização do ensino pela população ou a busca por mais produtividade no campo sem agredir o ambiente, por exemplo. RISCOS Mas nada está garantido. Países podem fracassar e, no caso do Brasil, o principal risco é perder gerações pela falta de melhoras na educação. No Pisa, exame educacional cujos resultados são divulgados a cada três anos pela OCDE, o Brasil foi 58º em matemática, 59º em ciência e 55º em leitura, entre 65 países pesquisados em 2012. Outros depoimentos, porém, escancaram a dimensão de nosso atraso. O mais contundente desses é o da cardiologista Lilian Paula de Souza, que abre o capítulo sobre desigualdade. Negra, ela contou que sua cor de pele em diversas ocasiões foi uma barreira para que progredisse na carreira. Também foi vítima de racismo de pacientes. Porém mesmo nesse campo houve avanço. A universalização do ensino fundamental, negligenciada durante o regime militar, foi conquistada a passos contínuos a redemocratização. Equilibrando o que há de melhor e de pior no Brasil, o livro ajuda a olhar o horizonte que está à frente da crise atual. Entender quais são nossas capacidades e traçar objetivos é a primeira coisa a ser feita para escolher o caminho a ser seguido. O envelhecimento também deve ser motivo de mais atenção. Em 2050, podemos ter mais da metade da População Economicamente Ativa com mais de 50 anos, e o número de octagenários deve quadruplicar até lá. O cenário HISTÓRIA DO FUTURO AUTORA Miriam Leitão EDITORA Intrínseca QUANTO R$ 49,90 (496 págs.) AVALIAÇÃO muito bom FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 MERCADO Governo faz nova proposta para servidores Ministério do Planejamento, que propusera dividir reajuste em quatro anos, agora reduz oferta para dois anos Confederação diz que proposta será votada na quinta, mas que ainda tentará elevar índices; categorias fazem greve EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA O Ministério do Planejamento oficializou nesta sexta-feira (4) uma nova proposta de reajuste para os servidores federais, que estão em greve em vários setores, como INSS, Saúde e Educação. Inicialmente, o governo propôs aumento de 21,3%, divididos em quatro anos: 5,5% em 2016, 5,0% em 2017, 4,75% em 2018 e 4,5% em 2019. Agora, aceita tratar apenas dos dois primeiros anos, como queriam os servidores. Os percentuais, no entanto, continuam os mesmos: 5,5% em 2016 e 5,0% em 2017. Em nota, o ministério afirmou que as entidades sinalizaram a aceitação dos índices de reajuste e que espera fechar acordos com algumas categorias na próxima semana. O secretário-geral da Condsef, confederação que representa aproximadamente 70% dos servidores civis do Executivo, Sergio Ronaldo da Silva, afirmou que a proposta será votada na próxima quinta-feira (10) e que os servidores tentarão ainda elevar esses índices. "O governo sempre condicionava os quatro anos para avançar em outros itens da pauta. A quebra dessa barreira vai facilitar bastante para chegar a um bom termo até o fim da próxima semana." De acordo com Silva, a proposta do governo é conceder em janeiro de cada um desses dois anos um reajuste pouco superior à inflação projetada para os 12 meses seguintes. Dessa forma, não haveria repasse do índice do ano anterior, que normalmente serve de base para negociações salariais. Com isso, se evitaria o repasse dos quase 10% de aumento de preços esperados pelo próprio governo para este ano. "Vamos tentar continuar avançando na negociação para resgatar um pouco da inflação de 2015. A orientação é que as categorias continuem mobilizadas", afirmou, ao se referir aos funcionários que estão em greve, como no INSS, na Saúde e na Educação, ou realizam paralisações pontuais, como no Banco Central. O Ministério do Planejamento manteve os outros pontos da proposta. Entre eles está o reajuste de benefícios conforme a inflação do período em que ficaram congelados. O auxílioalimentação, por exemplo, subiria de R$ 373 para R$ 458 mensais. NEGOCIAÇÃO SALARIAL Qual é a nova proposta do governo Reajuste de 5,5% em 2016 e de 5,0% em 2017. A proposta inicial era de 27,3% divididos em quatro anos O que os servidores pedem 19,7% divididos em dois anos. Inicialmente pediam 27,3% em uma única parcela, com ganho real de 2% FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 COTIDIANO ENTREVISTA CELSO LAFER Financiamento da ciência passa por momento de cautela ENCERRANDO SUA GESTÃO NA FAPESP, CELSO LAFER APONTA NECESSIDADE DE PRUDÊNCIA ANTE ALTA DO DÓLAR E INCERTEZA DA ARRECADAÇÃO RICARDO MIOTO EDITOR-ADJUNTO "COTIDIANO" GIULIANA MIRANDA DE SÃO PAULO DE Presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) desde 2007, Celso Lafer passa o cargo no dia 8 para o físico José Goldemberg. O ex-ministro das Relações Exteriores e professor de direito da USP afirma que a desvalorização do real –que aumenta o custo das bolsas no exterior– e as incertezas sobre a arrecadação do Estado de São Paulo exigirão cautela do seu sucessor no financiamento de pesquisa científica. Os projetos já aprovados, porém, devem ser financiados normalmente. Na entrevista abaixo, Lafer trata ainda de casos de fraude ciência, de burocracia e da situação política do país. baliza o nosso processo decisório. Felizmente, temos um fundo, criado quando a Fapesp surgiu e que conta com o equivalente a vários anos de orçamento. Isso nos dá uma boa margem de manobra, mas é preciso ter o rigor prudencial. Tudo depende de quantos anos a crise vai levar. Folha - Quais os efeitos da crise econômica na Fapesp? Projetos de colaboração internacional, como os da área de astronomia, estão em risco? Celso Lafer - Temos bolsistas no exterior, que recebem em moeda estrangeira. Uma coisa era o dólar no começo do ano, outra agora. O mesmo vale para a importação de equipamentos de pesquisa. É escalonado, os desembolsos se dão ao longo dos anos. Isso permite lidar melhor com a situação. Mas caberá ao meu sucessor ter o devido cuidado quanto a isso. Além disso, há a questão do comportamento da arrecadação do Estado, da qual recebemos 1%. A disponibilidade maior ou menor A Fapesp tem uma limitação dos seus gastos operacionais (5% do orçamento), que servem até para proteger a Fapesp dela 05/09/15 mesma. Seria desejável que as universidades estaduais tivessem algo parecido? As folhas salariais, em alguns casos, ultrapassam 100% do orçamento. É um assunto delicado. Quando se discutiu a autonomia da universidade, o professor José Goldemberg cogitou uma certa limitação às despesas de custeio ou administrativas, mas isso não ocorreu. Depois veio, no plano mais amplo, a noção de responsabilidade fiscal. Para investir mais, é preciso buscar ainda fontes alternativas de recursos, no setor privado, junto aos antigos alunos. O orçamento do governo estadual tem limites. Mas eu nunca fui reitor de universidade, no máximo chefe de departamento. A questão é que, quando uma universidade estadual passa a gastar todo seu dinheiro em pessoal, acaba ficando refém da Fapesp para pesquisar, não? O que eu diria é que é natural que parte da pesquisa seja financiada pela própria instituição, mas é natural também que ela procure recursos adicionais nas agências de apoio à pesquisa, isso acontece no mundo todo. A Fapesp tem investido em internacionalização. O governo federal também fez, ao longo dos anos, um movimento grande com o Ciência Sem Fronteiras. Como o senhor compara as duas estratégias? A premissa do Ciência sem Fronteiras era interessante: seria bom que alunos tivessem experiência internacional. A questão é como você faz isso. O número de alunos no programa, da ordem de 100 mil, é muito grande. Não há como fazer uma seleção apropriada. Outro problema é este: para onde você vai mandar essa gente? Como é a escolha das instituições? E naturalmente você tirou recursos da pesquisa para aplicar no programa. Em matéria de eficiência de gasto, você poderia fazer muito melhor do que foi feito. A Fapesp tem bolsas no exterior. Mas com ênfase nos alunos de doutorado e pósdoutorado, pessoas que têm condições de aproveitar. Sempre de modo compatível com nossa capacidade de seleção, buscando boas universidades. Além disso, bons programas também trazem gente para cá também. O efeito de irradiação é bastante grande. Como tem se dado a investigação de casos de fraude científica por pesquisadores que recebem dinheiro da Fapesp? Inicialmente, a instituição do pesquisador avalia se houve algo errado. Depois o caso vem para a Fapesp. Se há problemas, ele perde o acesso aos nossos recursos. É uma experiência bem sucedida. Mas pode haver subnotificação e corporativismo, não? É difícil dizer se há subnotificação. Para evitar [corporativismo], há ainda uma ouvidoria na Fapesp que recebe denúncias anônimas. 05/09/15 Algumas denúncias demoraram anos até terem resposta. A preocupação nossa sempre foi evitar cometer injustiças. A palavra da Fapesp tem de ser muito ponderada. Muitos pesquisadores reclamam sobre a burocracia da Fapesp, a necessidade de preencher muitos relatórios. Naturalmente, aumentou o número de pedidos. O tempo médio de resposta é 60 dias. Houve informatização do sistema, há melhoras. A Fapesp recebe recursos públicos. Então há um conjunto de regras que precisam ser cumpridas. Não há como não fazer certos procedimentos. As universidades precisam criar centros de apoio para para que cientistas não gastem tanto tempo prestando contas. É um desperdício de tempo que o sujeito que está estudando genética tenha de ficar organizando recibos. Alguns cientistas também reclamam dos critérios de aprovação dos projetos. Olha, na Fapesp sempre se pode pedir reconsideração. Há diálogo. É perfeito? Nada é perfeito, mas é um canal. Há ainda um segundo ponto. Você conhece o livro do [filósofo americano] Thomas Kuhn sobre a estrutura das revoluções científicas? Há um determinado paradigma. O que está fora acaba rejeitado. O maior desafio é saber incorporar o que em um primeiro momento está fora do paradigma. Veja um exemplo: quando eu comecei a estudar, direito internacional era uma "perfumaria jurídica". Hoje é um assunto muito pertinente. Isso acontece em todos os campos do conhecimento. Para terminar, eu queria saber qual a análise do senhor sobre a situação política do país. A queda da popularidade é ruim, mas a perda de credibilidade é pior. Vou recorrer ao economista Frank Knight e sua distinção entre risco e incerteza. O risco você precifica, ao contrário da incerteza. A incerteza leva à paralisia. FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 SAIBA MAIS Fapesp recebe 1% dos impostos de São Paulo DE SÃO PAULO Em funcionamento desde 1961, a Fapesp é a maior agência estadual de fomento à pesquisa no Brasil. Só em 2014, investiu R$ 482,5 milhões em bolsas de estudo no país e no exterior, além de R$ 423,9 milhões para pesquisa e projetos temáticos. Considerada um dos motores da ciência em São Paulo, Estado que produz cerca de 50% da pesquisa nacional, a agência tem em sua regularidade de financiamento um de seus principais trunfos. Isso porque, segundo a constituição estadual, seu orçamento anual sempre corresponde a 1% da arrecadação total de impostos no Estado de São Paulo. A Fapesp investe tanto em pesquisa aplicada como em ciência básica, em todas as áreas, mas os maiores investimentos estão na pesquisa médica. COTIDIANO FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL ESPECIAL GESTÃO ESCOLAR O nó no ensino médio O ensino médio é a única etapa da educação brasileira que não avança em qualidade desde a década passada, o que deixa o Brasil entre os piores nos rankings mundiais. Nem alunos mais ricos conseguem desempenho satisfatório. Na rede pública, onde estão 87% dos jovens, a situação é ainda pior. A saída passa por uma gestão que coloque o aluno no centro da política do setor, apontou o Seminário Internacional Caminhos para a qualidade da educação pública: Gestão Escolar, correalizado pelo Instituto Unibanco e a Folha nos últimos dias 2 e 3, em São Paulo. No encontro, o governo brasileiro prometeu plano para certificar diretores de escola, e Goiás anunciou parceria inédita entre setor privado e rede escolar pública. O seminário apresentou experiências de êxito dos melhores sistemas educacionais do mundo, que exigiram mais a mobilização da comunidade do que recursos. No Canadá, a eficiência das escolas aumentou depois que começou a cooperação entre governo, diretores de colégio, professores e sindicatos. Na Austrália, um longo processo de discussão culminou com um currículo para a educação básica que norteia a formação dos professores e, ao estabelecer o conteúdo mínimo que todo australiano deve conhecer, ajuda os estudantes com dificuldades. No Brasil, a definição de um currículo nacional previsto em lei, mas nunca implantado, é citada como fator para resgatar o ensino médio do marasmo. FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL Encontro busca lições nos melhores sistemas de ensino Metas claras, fiscalização de escolas e acompanhamento de alunos com dificuldades são a base dos casos internacionais de sucesso que podem inspirar o Brasil DE SÃO PAULO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Na Inglaterra, há inspeção de escolas e fechamento das que não atingem metas. Na Austrália, o governo sabe a deficiência de cada aluno e sugere a solução ao professor. No Canadá, só três metas norteiam todos os programas. Pilares de três dos melhores sistemas educacionais do mundo foram apresentados em São Paulo, no Seminário Internacional 2015 Caminhos para a qualidade da educação pública: Gestão Escolar, correalizado por Instituto Unibanco e Folha. O objetivo do encontro, que aconteceu nos dias 2 e 3 de setembro, foi debater casos de gestão para inspirar melhorias na educação pública. Foram anunciadas no evento novas ações na educação brasileira. O Ministério da Educação criará um sistema de certificação para diretores de escolas; na rede estadual de Goiás, parte de ações administrativas das escolas ficarão a cargo da iniciativa privada. EXEMPLOS Experiências internacionais mostram que desafios brasileiros, como a construção de um currículo básico, podem ser resolvidos. A Austrália, país federativo como o Brasil, foi bem-sucedida na implementação do currículo. A partir dele, é possível monitorar o progresso de cada aluno. Em Ontário, onde o sistema educacional é descentralizado, o desafio era elevar o nível das escolas com baixo desempenho e incluir os alunos de origem social mais vulnerável, como os imigrantes. A província canadense é conhecida por ter um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Lá, foram eleitas apenas três metas: retomar a confiança no setor público; elevar o desempenho dos alunos em linguagem e matemática; e aumentar a taxa de conclusão do ensino médio. Os objetivos estão praticamente alcançados. "As crianças são o eixo central do sistema. A continuidade da democracia e o desenvolvimento da economia dependem delas", 05/09/15 disse Mary Jean Gallagher, viceministra de Educação de Ontário. Educação) da Inglaterra. PRÓXIMOS PASSOS Considerada o patinho feio da Europa na área de educação até a década de 1980, a Inglaterra começou a mudar sua trajetória ao eleger o tema como prioritário para o desenvolvimento do pais. A primeira a adotar o discurso foi Margaret Thatcher (19791990), seguida com mais ênfase pela gestão de Tony Blair (19972007). Com currículo nacional, política linha-dura de inspeção e, ao mesmo tempo, autonomia financeira e técnica para escolas, a qualidade melhorou. "Dar mais poder às escolas foi fundamental para a reflexão sobre o que funcionou" afirmou Michael Wilshaw, chefe de inspeções do Ofsted (Escritório de Padrões em Alguns desses caminhos começam a ser seguidos pelo Brasil. Com a iniciativa do MEC de certificar diretores, a ideia é fornecer parâmetros para a qualificação dos gestores. "O diretor de escola é chave para o sucesso de políticas públicas. É para contribuir com o processo de qualificação do diretor que estamos discutindo a certificação federal", disse Manoel Palacios, secretário de educação básica do MEC. Mais do que universalizar o acesso ao ensino, agora o desafio brasileiro é organizar o currículo, formar professores melhores e gerir bem a escola e a rede pública, segundo os participantes. FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL Ação já em prática no Brasil melhora a escola DE SÃO PAULO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Algumas ações já praticadas no país impulsionam o desempenho das escolas, aponta levantamento apresentado no seminário de gestão escolar por Francisco Soares, presidente do Inep (instituto de pesquisas do Ministério da Educação). O trabalho comparou escolas básicas que atendem alunos com baixo nível socioeconômico. Se o colégio funciona em apenas um turno, o corpo docente fica estável por anos e os professores têm a formação adequada, a nota da instituição na avaliação federal tende a ser 20% maior do que a obtida por escolas que não têm essas condições. As unidades que atuam em um só turno, evitam a rotatividade de professores e garantem que eles lecionem disciplinas de sua área de formação atingem, em termos absolutos, nota 4, ante 3,3 das que não têm essa situação. A escala vai de 0 a 10. A avaliação considera desempenho dos alunos em português e matemática e total de formados pelo colégio. "Onde há sucesso, há boa gestão", disse Soares na quinta (3), segundo dia de debate. Em avaliação semelhante, o superintendente-executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, disse: "A gestão harmoniza o processo e o uso dos recursos disponíveis. Permite, face a todas adversidades estruturais, um padrão mínimo de qualidade". Henriques afirmou que gestão apenas não é "solução mágica", mas uma "variável radicalmente necessária". Um exemplo que ele defende como boa prática é a criação de protocolos para ações pedagógicas nas escolas. "O mundo da pedagogia é resistente, pois a padronização inibiria a inovação. Mas, a autonomia exercida sob o vazio, sem padrões, aumenta a desigualdade", afirmou. Também no evento, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, disse que o foco do país, agora, deve ser a melhoria da qualidade da educação, após o grande crescimento das matrículas. "Isso passa pela melhora da gestão escolar e pela valorização dos professores. O equívoco é achar que uma se sobrepõe à outra ou que elas se excluem mutuamente." (FÁBIO TAKAHASHI, ANDREA VIALLI, CLÁUDIO GOLDBERG RABIN, FÁBIO MAZZITELLI E PHILIPPE SCERB) FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL 'MARY JEAN GALLAGHER VICE-MINISTRA DA EDUCAÇÃO DE ONTÁRIO União entre docentes, sindicato e governo fez nível educacional subir FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO A província canadense de Ontário conseguiu melhorar o nível de aprendizagem de praticamente todos os alunos, atingindo notas semelhantes a dos a dos melhores países nas avaliações educacionais, como a Finlândia. Um dos segredos é cooperação entre governo, diretores, docentes e sindicato, diz Mary Jean Gallagher, vice-ministra da Educação de Ontário. Apesar de alto nível socioeconômico, a província já teve de enfrentar problemas presentes na educação brasileira, como falta de engajamento e baixo desempenho dos estudantes mais pobres e dos imigrantes. A defasagem na nota desses estudantes para os demais caiu de 30% para 3%, em pouco mais de dez anos. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha por Gallagher, uma das palestrantes do seminário sobre gestão escolar. HISTÓRICO Nos anos 1970, com a geração hippie, estudantes podiam aprender o que queriam. Isso gerou críticas a partir dos anos 1990, pois os alunos se formavam com menos habilidades do que se esperava. Uma das medidas à época foi implementar a avaliação das escolas, que eram publicadas nos jornais. O efeito não foi tão positivo. Escolas se preocupavam com os resultados por um curto período e voltavam para a vida normal. SEM ÊXITO No final dos anos 1990, o governo adotou uma política de cima para baixo, fixando padrões para todas as escolas. A ideia era melhorar o padrão de leitura e matemática, mas não houve muito êxito. Em 2003, assumiu um novo governo e ele passou a tentar envolver diretores, professores e sindicatos para encontrar uma solução. Até então, ocorriam muitas greves, disputas com o governo. Foi colocado como objetivo que 85% dos alunos deveriam se formar [eram 68%]. Isso era ousado, porque envolvia todos os jovens, pobres, imigrantes. Já chegamos a 83%. SOLUÇÃO Foi criada uma agência para atuar em cooperação com diretores e professores. Os resultados de cada escola ainda são divulgados, todos podem saber se um colégio está fazendo um bom trabalho. A agência incentiva que ações que 05/09/15 estão dando certo sejam replicadas. Fazemos vídeos nas escolas com bons trabalhos e colocamos online. Também chamamos professores com bom desempenho para disseminarem boas práticas. SINDICATO JUNTO Não estamos tendo melhoria em matemática, as notas até caíram. Então chamamos o sindicato e demos verba para seminários, para chegarmos a uma solução. Estamos remodelando alguns pontos, esperamos efeito em alguns anos. VÁRIAS OPÇÕES Também incentivamos diferentes caminhos para os alunos. Havia escolas que apoiavam quem queria ir para a universidade, mas não quem desejava ser mecânico. E podemos precisar mais de encanador do que de advogado. Foram feitos programas para incentivar esses outros caminhos. Um deles permite que a escola, em troca de mais recursos, ofereça formação em alguma área da indústria. Os alunos continuam tendo conteúdos regulares, mas nos dois últimos anos, podem aprender num local de trabalho. E os professores enfatizam temas ligados à carreira. Se estão interessados em mineração, na aula de matemática pode usar exercícios relacionados à mineração. Queremos dar sentido à escola aos que estavam desmotivados. FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL Pernambuco sobe no índice nacional depois de implantar metas e bônus PATRÍCIA BRITTO DO RECIFE Definição de metas, indicadores de desempenho, bônus por resultados. O vocabulário do mundo corporativo passou a fazer parte do dia a dia do ensino público estadual de Pernambuco, que aposta no modelo empresarial para tentar melhorar a qualidade da educação. Aliado à expansão das chamadas escolas de referência com ensino em tempo integral-, esse modelo de "gestão por resultados" permitiu que o Estado tivesse o maior crescimento do país no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Entre 2005 e 2013 o Estado passou da 18ª para a 4ª posição -a nota subiu de 2,7 para 3,6. O Ideb considera as notas dos alunos em provas de português e matemática e a taxa de aprovação. Em 2011, o governo estadual passou a avaliar suas escolas com base em indicadores como frequência de alunos e professores, cumprimento de conteúdo, participação dos pais em reuniões e notas. É a partir daquele ano, quando estava em 16º, que se intensifica o salto. "Os indicadores permitem olhar detalhadamente para cada escola e estabelecer uma linha de ação específica", afirma o secretário de Educação, Fred Amancio. instituições com os piores resultados que precisam de incentivos para melhorar. "Além disso, é uma fonte de estresse permanente dos professores, porque é um gerenciamento de controle muito intenso, e a autonomia do professor fica fragilizada", diz. TEMPO INTEGRAL Assim, é possível saber, por exemplo, se muitos alunos de uma escola vão mal em matemática. Para cada indicador são atribuídas metas que, à medida que são alcançadas, geram bônus. Outra medida que ajudou a melhorar as notas dos alunos, segundo o governo, foi a ampliação das escolas de tempo integral, com professores de dedicação exclusiva. Nelas, há aulas complementares de português e matemática, e disciplinas extras, como robótica. Essa meritocracia é criticada por alguns especialistas, como Fátima Cruz, do Centro de Educação da UFPE. A experiência começou em 2005, com um projeto piloto. Hoje são 300 escolas de referência em todos as cidades. Na visão dela, são as Para a educadora Cruz, o 05/09/15 aumento do tempo é o diferencial, porque os professores se conhecem melhor. O problema, diz ela, é que as escolas integrais, que têm melhores estruturas, recebem mais investimentos do que as regulares, onde as condições de trabalho ainda são precárias. Para motivar os alunos, o governo criou em 2011 um programa de intercâmbio que seleciona aqueles com melhores notas para um semestre acadêmico no exterior. Aluno do 2º ano da escola Poeta Mauro Mota, em Jaboatão dos Guararapes, Gustavo Lopes, 16, irá para os EUA. "Quero ser jornalista e o intercâmbio vai ajudar na minha carreira. Desde que começou o programa eu vinha me preparando para isso", disse. Apesar da melhora no Ideb, profissionais da rede estadual reclamam da falta de investimento na qualificação de professores e da dificuldade para obter licenças para pós-graduação. Também relatam problemas de infraestrutura, como falta de laboratórios e salas sem ventilador. Na escola de Gustavo, por exemplo, apesar de ser de referência, não há professor formado em física para dar aulas de robótica e o laboratório de informática está desativado. FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL EXPERIÊNCIA Currículo sem pressa Modelo para o Brasil, nova estrutura curricular australiana demorou 20 anos para ser elaborada, conta professor que comandou o processo DE SÃO PAULO A elaboração de um currículo nacional da educação básica é trabalhosa e leva tempo, mas o documento é necessário para nortear toda a política da área. A avaliação é do professor Barry McGaw, que presidiu o conselho de administração do currículo australiano entre 2009 e 2015. A experiência é uma referência para o Ministério da Educação brasileiro na elaboração do currículo nacional. Como o Brasil, a Austrália é uma federação, e medidas como essa devem ser acordadas com os Estados. McGaw foi um dos palestrantes do seminário realizado nesta semana pelo Instituto Unibanco e pela Folha sobre gestão escolar. Na Austrália, a discussão começou em 1989 e o início da implementação se deu só em 2009. A seguir, McGaw conta como foi esse processo. INÍCIO A Austrália é uma federação, como o Brasil, em que há o governo federal, mas os Estados têm grande representatividade. Nosso processo de elaboração do currículo começou em 1989. Naquele momento, os representantes dos nove sistemas de educação se comprometeram em criar uma estrutura comum. Não era um currículo nacional ainda. O que queríamos era que cada Estado fizesse seu próprio currículo. IMPLEMENTAÇÃO Nas eleições federais de 2007, tanto a situação quanto a oposição, com algumas diferenças, se comprometeram com o currículo nacional. O Partido Trabalhista [de esquerda] venceu, e foi instruído o conselho nacional para a implementação do documento. Ele se inseriu numa onda de reformas na Austrália que visavam melhorar nosso capital humano. PAPEL CENTRAL Houve outras reformas ao mesmo tempo na educação, como no treinamento de professores e no financiamento. Mas o currículo é que coordena todas as reformas. Ele mostra claramente o que esperamos que as pessoas aprendam. O PROCESSO Como começar num país que tem oito currículos [seis Estados e dois territórios]? Não dissemos: vamos colocar tudo na mesa e ver o que tem comum. Dissemos: vamos começar com um papel branco e construir. Colocamos apenas o que buscávamos com o currículo: habilidades para o século 21 e expectativas de aprendizagem. E colocamos isso para discussão pública. Também montamos pequeno grupo de especialistas para definir o que deveria ser ensinado, da préescola ao ensino médio. A ordem era 'escrevam tudo em até 20 páginas. Porque quanto menos confiante você está, mais vai querer falar'. Currículo é sempre controverso. Colocamos professores à esquerda e à direita nas comissões. E funcionou bem. INSPIRAÇÃO Brasil deve deve analisar o que precisa colocar no currículo de matemática, ciência etc. Mas é ruim ir direto para a elaboração. São importantes documentos prévios, debates. Para nós isso foi importante, assim como ter uma consulta ampla. Não deve haver pressa, o processo em si é importante. (FÁBIO TAKAHASHI) FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL ANÁLISE Para avançar, país precisa fortalecer professor e melhorar administração MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO ESPECIAL PARA A FOLHA A evolução da educação brasileira tem sido tímida. Fomos bem sucedidos no processo de inclusão e expansão do atendimento das crianças até 14 anos, mas não melhoramos a qualidade do sistema. A evolução tem sido muito lenta. Estudos mostram que as nações que tiveram sucesso em melhorar a educação fizeram trajetórias semelhantes. nacional. O segredo do sucesso parece estar na gestão e no monitoramento das aprendizagens, portanto na implementação das ações essenciais ao bom funcionamento das escolas. Não existe mágica para assegurar educação de qualidade para todos. Em artigo recente, Naercio Menezes Filho [da USP e do Insper] cita uma pesquisa que avaliou o impacto da gestão sobre o aprendizado dos alunos de ensino médio em sete países, incluindo o Brasil. Em todos os casos, da Finlândia à Coreia do Sul, da Polônia ao Canadá, a qualidade da formação de professores, estimulados por carreiras que valorizem seu desempenho, é prioridade. É claro que outros fatores são importantes, mas entre os que podem ser controlados pela gestão, o professor tem o maior impacto. Ela mostra que as melhores escolas usam os resultados das avaliações para monitorar o desempenho dos alunos, têm metas definidas e disseminam as melhores praticas entre seus professores, os quais são recompensados com melhores salários. Além disso, os países também estabeleceram metas de aprendizagem, apoiaram escolas e alunos com desempenho mais fraco e definiram uma base curricular O Brasil foi capaz de construir um sistema competente de avaliação e estabelecer metas de médio e longo prazo para as escolas e sistemas de ensino. Mas enfrenta dificuldades na implementação das politicas das redes de ensino municipais e estaduais, em geral afetada pela descontinuidade e pulverização de projetos. O país não avançou na coordenação de ações que podem fortalecer a colaboração entre os três níveis de governo. Tem medo de ousar na mudança dos cursos de formação e na criação de incentivos que valorizem professores dedicados. E resiste a reformar o combalido ensino médio. Será que adianta ampliar os recursos para a educação, como prevê o Plano Nacional de Educação, sem introduzir mudanças que viabilizem uma gestão mais descentralizada, um currículo bem definido, cobrança de resultados, carreiras docentes menos corporativas e mais autonomia aos diretores de escolas na organização de suas equipes? MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO, diretora-executiva da Fundação Seade, foi presidente do Inep FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL ANÁLISE Ensino médio piora em desempenho, mas ideia de que é inútil é exagero REYNALDO FERNANDES ESPECIAL PARA A FOLHA Avaliações educacionais mostram que o ensino médio não apresenta as melhoras vistas no fundamental. Os alunos do 5º ano tiveram um avanço de 27 pontos em leitura e 34 em matemática, na avaliação nacional de aprendizagem. Isso significa que os alunos do 5º ano de 2013 obtiveram pontuação equivalente aos alunos do 7º ano de 2003. Já no ensino médio, houve recuo de 3 e 9 pontos, respectivamente. Pesquisas também têm destacado uma faixa etária crítica para a evasão escolar. O pico ocorre entre os 14 e 18 anos, a idade em que os jovens deveriam cursar o ensino médio. Estes fatos reforçam a ideia de uma crise no ensino médio: a noção de que ele traz poucos benefícios para os jovens com baixa expectativa de ingressar no ensino superior, e de que há um descompasso entre o currículo e as necessidades dos estudantes. Não há dúvidas que o ensino médio enfrenta problemas, tanto de qualidade quanto de desenho. Mas é preciso não exagerar nestes argumentos, afinal, nossos problemas educacionais não começam nesta fase e a ideia de que ela é inútil para a maioria dos jovens não condiz com as evidências. Primeiramente, o decréscimo no desempenho dos concluintes do ensino médio precisa ser mais bem estudado. É necessário reconhecer que a composição dos alunos que fazem a prova vem mudando: boa parte dos estudantes que chegam ao fim do ensino médio não alcançariam este feito há uma década. A taxa de matriculados com a idade ideal passou de 38,4% em 2001 para 55,5% em 2013, o que pode ter contribuído para prejudicar o crescimento das notas na Prova Brasil. Em segundo lugar, é bem documentado que o principal previsor da evasão é o atraso escolar. Alunos que não atrasam praticamente não deixam a escola. E uma parcela significativa das repetências é obtida ainda no fundamental. Por fim, o prêmio salarial por cursar o ensino médio é significativo. Dados da PNAD de 2013 mostram que o diferencial de renda entre indivíduos que deixaram a escola após terminarem o ensino médio e após terminarem o fundamental é de 33%. O prêmio é similar ao obtido na segunda fase do fundamental, e superior ao da primeira. Mesmo que a melhoria da qualidade do ensino e a adequação do currículo às necessidades dos alunos sejam bem-vindas, é preciso reconhecer que eles têm muito a ganhar em concluírem o ensino médio que aí está. E para isso, é importante que cheguem lá na idade correta. REYNALDO FERNANDES é economista, professor titular da USP e ex-presidente do Inep FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL Como explicar a baixa qualidade no ensino médio? As fragilidades do currículo são apontadas como causas da situação em enquete com principais atores do setor três explicações para a má qualidade do ensino. A maioria, oito, apontou o currículo como nó principal. Muitos alunos já chegam a essa fase com dificuldades. Apresentam deficiência de aprendizagem e têm mais idade que a ideal A organização dos conteúdos a serem transmitidos aos jovens foi bastante criticada. FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO As estatísticas do ensino médio brasileiro são claras: o total de jovens em escolas é insuficiente, e o aproveitamento dos que estudam é baixo. Mas os números não mostram a razão desse quadro. Para investigá-la, a reportagem da Folha consultou 12 dos principais atores da educação do país. Foram ouvidos representantes de governos, sindicatos, alunos, universidades, ONGs e indústria. Cada um podia mencionar até A legislação brasileira exige 12 matérias no ensino médio. "Além de serem muitas disciplinas obrigatórias, elas não conversam entre si", afirma Rossieli da Silva, vice-presidente do Consed, entidade que representa os secretários estaduais de Educação. "O aluno não sabe por que está aprendendo aquele conteúdo de física ou de química e, às vezes, nem o professor sabe por que está ensinando", completa. Os Estados, em essência, respondem por essa etapa da educação. Outro aspecto citado também está ligado ao currículo: é a falta de perspectiva do jovem ao cursar essa etapa. "Parece ser só uma passagem, uma preparação para a universidade. Não há motivação para levar a sério", opina Bárbara Melo, presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Seis entrevistados lembraram que alunos chegam ao ensino médio com deficiência de aprendizagem e têm mais idade que a ideal (15) por terem sido reprovados. Universidades particulares também reclamam que gastam parte do tempo e dos recursos para dar reforço a estudantes não devidamente formados no ensino básico. PRODUTIVIDADE A melhoria da qualidade da rede pública, em geral, e da educação na fase média, em 05/09/15 especial, é crucial para que o país se desenvolva mais rapidamente, ressaltam os representantes da indústria. Segundo comparação da CNI (Confederação Nacional da Indústria), são necessários cinco brasileiros para que se tenha a mesma produtividade um americano, em média. "Com baixa aprendizagem, o trabalhador brasileiro não entende instruções, não consegue se expressar na linha de produção ou encontrar soluções", diz o diretor de educação e tecnologia da confederação, Rafael Lucchesi. "Alguns acham que devemos educar para preparar mão de obra. Outros acham que temos de preparar para mão de obra, cidadania e crescimento pessoal", diz José Fernandes de Lima, membro do Conselho Nacional de Educação, explicitando uma das muitas divergências filosóficas que emperram a definição de um currículo. Há quase 20 anos entrava em vigor a lei determinando a fixação dos conteúdos a serem ensinados aos alunos do país. O que não aconteceu. Hoje o que é chamado de currículo obrigatório no Brasil é apenas a definição das matérias (13) previstas na regulamentação e linhas gerais a serem seguidas pelas escolas, sem especificação do que o estudante deve aprender. Um currículo claro mostraria o mínimo que os estudantes brasileiros deveriam aprender. Também nortearia a formação de professores. Se esse é mesmo o principal fator que compromete o ensino médio, há esperança. Neste mês, o Ministério da Educação deve apresentar documento inicial para discussão com ideia de base nacional curricular (nome formal do currículo nacional). A previsão é que o texto seja fechado em março de 2016 e, então, apreciado pelo Conselho Nacional de Educação. Paralelamente, porém, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência deve apresentar texto alternativo. O da Educação pretende definir 60% do conteúdo curricular e deixar o restante a critério das redes de ensino. A outra pasta federal deve propor algo considerado mais "ousado", com aulas de raciocínio lógico, por exemplo. A discussão deve ser intensa. Há educadores que defendem currículo flexível, permitindo ao aluno escolher o que estudar, ao menos em parte da carga horária. A Secretaria de Educação de São Paulo já ruma para essa opção. "Sou contra. Não conseguimos nem oferecer satisfatoriamente o básico ao aluno, como flexibilizar? Haverá professores suficientes?", questiona o pesquisador de educação Ocimar Alavarse, da USP, lembrando o deficit atual de docentes no país. Outra divergência é sobre o quão detalhista deve ser o currículo: define tudo o que deve ser passado em cada série, o que daria mais uniformidade no ensino, ou deixa as escolas livres para respeitar diferenças regionais? Colaborou MAZZITELLI FÁBIO FOLHA DE SÃO PAULO 05/09/15 ESPECIAL Milagres do Espírito Santo A 120 km de Vitória, cidade de Muniz Freire tem duas escolas frequentadas por filhos de agricultores que estão entre as melhores do Enem voltadas para estudantes de baixa renda BRUNO BENEVIDES ENVIADO ESPECIAL A MUNIZ FREIRE (ES) Todos os dias da semana, por volta das 18h, uma van cruza as duas ruas de terra que formam o povoado de Vieira Machado, no interior do Espírito Santo, levando os filhos adolescentes de pequenos agricultores da região. O destino é a escola estadual Maria Cândido Kneipp, –segunda colocada no último Enem entre aquelas com alunos de nível socioeconômico baixo. O distrito de Vieira Machado faz parte do município de Muniz Freire (120 km de Vitória). Uma estrada de terra liga o povoado à sede –a viagem dura uma hora. Outra escola da cidade, a Judith Viana Guedes, no distrito de Itaici (cerca de uma hora do centro do município), também foi bem no exame –foi a 18ª, entre aquelas com o mesmo perfil, nas provas objetivas (sem contar redação). As duas instituições têm perfil semelhante: são pequenas (40 alunos cada uma) e dedicadas a filhos de agricultores. Foram criadas em 2007 e dividem o espaço com escolas municipais. Pela manhã, funciona o ensino fundamental; à noite, o médio. Antes da criação das escolas, os alunos dos distritos precisavam estudar na sede do município, em Muniz Freire. Muitos acabavam abandonando o estudo. "Você pega os 40 alunos que temos hoje. Se precisassem ir até lá, apenas dois ou três conseguiriam. O resto desistiria", afirma Luciana Soares Zuim, coordenadora da Maria Cândido (com menos de cem alunos, a escola não tem diretor). Com a mudança, o transporte vai buscar os estudantes mais próximos de onde moram. "A gente trabalha na roça o dia inteiro, mas dá um jeito de vir aqui estudar. Em Muniz não daria para chegar", diz Júlio Cezar Silva,16, aluno do 2º ano do ensino médio. PEQUENOS As salas com cerca de 15 estudantes facilitam a interação, segundo as coordenadoras. "Conhecemos todos os alunos. Sabemos se alguém está feliz, triste", diz Zuim. "Quando alguém falta, eu vou até a casa falar com os pais", diz Milene Nolasco, coordenadora da Judith Viana. "Com muito aluno, não tenho como fazer isso", diz. 05/09/15 Para ilustrar a vantagem da escola menor, a professora de história Silvia de Almeida cita um projeto feito por ela e pelas docentes de português e artes. "Sentamos os três professores e fizemos um trabalho conjunto, cada um explicava a sua área", conta ela. "Em uma escola com 40 alunos por sala, é impossível". Já em Vieira Machado, há grupos de WhatsApp em que os estudantes podem tirar dúvidas com os docentes. "O problema é que poucos alunos têm celular", diz Daisa da Silva, professora de física. Um dos maiores desafios, segundo os professores, é aproximar a escola do cotidiano dos alunos, que trabalham na roça durante o dia. Para isso, são tomadas algumas medidas simples, como permitir que os estudantes cheguem mais tarde à aula durante a colheita do café, principal cultura da região. "Muitos alunos chegam achando que vão ser agricultores a vida toda. Mostramos a eles que podem ter outras opções", explica Danilo Soares, professor de química da Judith Viana. Para estimular o ingresso na faculdade, a Maria Cândido fez uma feira de profissões no primeiro semestre. Alunas do 3º ano, Gabriela Fragoso, 17, e Marinara Rizo, 18, querem fazer psicologia e arquitetura. "Vários ex-alunos já passaram no vestibular, então vamos tentar", diz Gabriela. O secretário de Educação do Espírito Santo, Haroldo Rocha, considera que a situação das duas escolas é uma "raridade" e não pode ser replicada. "Quando você tem poucos alunos, o desempenho é melhor, porque já há uma seleção", diz. "Essa não é a realidade da rede pública, é uma situação extraordinária." O ESTADO DE S. PAULO 05/09/15 METRÓPOLE 05/09/15 CORREIO BRAZILIENSE 05/09/15 OPINIÃO Sim, é possível ensinar LEONARDO MEIRELES A repórter Leilane Menezes estreou ontem uma série de três reportagens sobre escolas públicas que se destacam na defesa dos direitos humanos. São histórias sobre gênero, racismo e, amanhã, deficiência. Logo na primeira, o caso de Miguel Carvalho chama a atenção. Uma menina que não se aceitava como tal e, por isso, sofreu. Não só o sofrimento pessoal, de encontro com ele mesmo, mas também o preconceito dos outros. A “salvação” (escrevo entre aspas porque não se deve endeusar ninguém, porém Miguel tentou tirar a vida por diversas vezes) veio de um professor que decidiu tratar do assunto dentro de sala de aula. Com criatividade, coragem e responsabilidade de assumir o verdadeiro papel da profissão, seja em um colégio público ou particular. Especialista no assunto, a antropóloga Débora Diniz afirma com todas as letras: “Não falar sobre diversidade é desastroso. Falar explicitamente é não permitir que o tabu vença e afaste uma criança da escola”. Também é impedir que pessoas como Miguel desistam de viver. Para isso, Alexandre Magno, orientador do Centro de Ensino Fundamental nº1 de Planaltina, usou a Lei Maria da Penha, fez palestras, trabalhos, sessões de cinema e outras atividades para ensinar. Ele entendeu que o primeiro passo para fazer o discurso se transformar em prática era chamar a atenção dos alunos. Depois, os pais não se sentiram à vontade em ver os filhos aprendendo sobre diversidade, principalmente por motivos religiosos. A saída encontrada pelos professores foi chamá-los para entender o assunto. E os pais perceberam que saber mais significava dar uma chance à boa convivência. Eles tomaram consciência de que a responsabilidade de fazer um mundo melhor, sem crimes homofóbicos — ou qualquer outro tipo de violência —, também era deles. É em casa que a cidadania deve começar. Ensinar e formar cidadãos são razões fundamentais para a existência dos professores. É assim que deve ser enxergado o conteúdo que está além do currículo. É certo que as condições encontradas por eles, principalmente nos colégios públicos, não são as melhores. Mas não é isso que deve limitar o trabalho. A escola de Planaltina é exemplo disso. Assim como instituições no Plano Piloto, em São Sebastião e diversas cidades. O que determina o alcance desse objetivo de mudar o mundo está na vontade. E o Brasil está cheio de mestres com essa qualidade. CORREIO BRAZILIENSE 05/09/15 CIDADANIA Ceedv faz Festa das Regiões O Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (Ceedv), na 612 Sul, é uma escola pública que cuida da habilitação educacional de pessoas com deficiência visual. Para arrecadar fundos e tornar possível a construção da cobertura da área de recreação da unidade, o Ceedv promove, em 12 de setembro, um almoço beneficente. A Festa das Regiões ocorre das 11h à 15h e terá a entrada franca. Os pratos típicos de todas as regiões do país não passarão de R$ 10. Como explica a coordenadora da Educação Precoce, Adriana de Andrade Amorim, toda a comunidade escolar participará da ação. “Os ingredientes são doações da comunidade em geral. Quem quiser doar pode entrar em contato com a gente”, diz. A entrada é franca. Mais informações pelos telefones 3901-7607 e 3901-7609. CIDADES CORREIO BRAZILIENSE 05/09/15 CIDADES EDUCAÇÃO » Estratégia para passar no Enem Conheça os critérios de avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio e os pesos de cada seção da prova para ingressar na Universidade de Brasília. Professores dão dicas de como focar os estudos, independentemente do curso escolhido » Isabela Bonfim Especial para o Correio Luís Filippe Fagundes, 17 anos, quer cursar direito. Ele estuda diariamente e treina a redação nos fins de semana. “É bastante cansativo, porque quero garantir o máximo de questões possível.” Mas, quando se trata de vestibular, é preciso mais do que saber o conteúdo. Compreender o método de correção e traçar uma estratégia pode fazer toda a diferença. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a preocupação é dobrada. Além dos critérios de avaliação da prova, cada universidade estabelece pesos diferentes para o cálculo da nota final. Especialistas explicam o sistema de pontuação e como ter melhor aproveitamento da nota para ingressar na Universidade de Brasília (UnB). O estudante desenhou a própria estratégia para a prova. “Começo pelas questões em que tenho facilidade e respondo as de nível mais avançado depois”, explica Luiz Filippe. O professor Carlos Paschoal, da Rede Educacional Alub, explica que a escola ajuda os alunos a calcularem a nota necessária e a organizarem os estudos. “Montamos uma grade baseada nos conteúdos que ele tem mais dificuldades e fazemos um acompanhamento semanal”, conta. No Enem, o sistema de correção segue a Teoria de Resposta ao Item. As questões têm valores distintos, determinados de acordo com o grau de dificuldade. Nesse método, alunos que acertam o mesmo número de questões podem ter notas diferentes. César Berçott, professor do colégio Marista, especializado no sistema de avaliação do Enem, explica que não basta acertar as questões difíceis. “Se o aluno erra uma questão fácil e acerta uma difícil, o sistema entende que ele chutou a mais difícil”, explica. Nesse caso, ele perde nota por ter errado a questão fácil. “É por essa razão que fica complicado dizer quantos itens o aluno precisa acertar na prova”, justifica Berçott. Mas, para ter uma nota competitiva, que permita ao estudante ingressar na UnB, por exemplo, o professor sugere que ele acerte pelo menos 40 das 45 questões em cada seção da prova. “De 35 a 37 acertos, há uma possibilidade de entrada, dependendo do curso.” Na UnB Na última edição do Enem, a UnB foi a universidade com as maiores notas de corte do país no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). “As notas são muito altas porque a universidade disponibiliza poucas vagas”, explica o professor Berçott. No primeiro semestre de 2015, por exemplo, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ofertou 160 vagas para medicina, enquanto a UnB ofereceu apenas 18. Apenas metade das vagas da Universidade de Brasília são originárias do Enem, as restantes são disputadas por meio do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Para quem deseja ingressar na UnB, não basta apenas conhecer a prova do Enem. O edital da universidade determina pesos diferentes para as seções da prova, de acordo com a área do curso pretendido. Caso o estudante queira um curso de saúde, por exemplo, a nota das provas de matemática e ciências da natureza vale o dobro das de humanas e linguagens (veja quadro). O professor Paschoal alerta que, independentemente dos pesos, o estudante não deve abandonar nenhuma disciplina. “Quem disputa uma vaga em engenharia está muito preparado para a prova de exatas. O que vai definir a 05/09/15 aprovação é justamente a prova de humanas.” É pensando nesse diferencial que Nathália Vaz, 17 anos, organiza a grade horária. Ela quer estudar direito, curso para o qual as provas de linguagens e humanas têm maior peso, mas foca os estudos nas áreas de matemática e ciências da natureza. “Dou prioridade ao que eu tenho mais dificuldade, como matemática e física, porque nas matérias com mais peso, eu já tenho facilidade.” A seção da prova com menor peso para a UnB é a redação, que vale menos de 10% da nota final. Os professores não recomendam, entretanto, que a prova seja menosprezada. “A redação decide muitas vagas. Os alunos que conseguem a aprovação sempre têm boas notas na redação”, afirma o professor Paschoal. Ele aconselha que, além de treinar a escrita, o estudante esteja atento aos temas atuais. “É fundamental ler jornais, revistas e tudo relacionado a atualidades.” CORREIO BRAZILIENSE 05/09/15 CIDADES Protesto contra fim de isenção no PAS » BERNARDO BITTAR » MARIANA NIEDERAUDER Especial para o Correio Richard, Crislayne e Gabriella participaram de manifestação no CEM 404 Pela primeira vez em 10 anos, o Governo do Distrito Federal (GDF) não pretende pagar a inscrição dos estudantes da rede pública interessados em participar do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília. Alunos do Centro de Ensino Médio (CEM) 404, de Santa Maria, organizaram uma manifestação, ontem, durante o intervalo, em repúdio à medida. Eles prometem se mobilizar diariamente, até o último dia de inscrição, em busca da continuidade do subsídio. Em nota, a Secretaria de Educação informou não haver previsão orçamentária para o pagamento das taxas. Segundo a pasta, não existe convênio firmado com a UnB, mas os estudantes com Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal estão isentos da cobrança da taxa. Além disso, alunos do 3° ano que frequentaram a rede pública durante todo o ensino médio também não pagam. É o caso de Crislayne de Almeida, 16 anos, que conclui os estudos no fim do ano. A família dela recebe o Bolsa Família e, por isso, ela permanece isenta das taxas. A UnB foi procurada pelo Correio, mas preferiu não se pronunciar. Mesmo sem ser prejudicada, Crislayne se solidarizou com os amigos. “Algumas famílias têm mais de um filho querendo fazer a prova. É caro”, ponderou. Com faixas nas mãos, a jovem se juntou aos outros alunos do CEM 404 durante a manhã de ontem. “Aqui, um faz pelo outro. Poderia ser comigo. Eu poderia ter o futuro atrasado. Por isso, vim me manifestar.” Em 2015, 30 estudantes do colégio foram aprovados na UnB. Metade deles pelo PAS. Crislayne pretende cursar publicidade e propaganda. O Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) acredita que, caso a medida permaneça suspensa, cerca de 80 mil adolescentes matriculados na rede pública podem acabar prejudicados. “Automaticamente, o 1° e o 2° ano perdem o benefício. Alguns casos específicos se salvam, no 3° ano. Isso é injusto com os alunos”, observou o diretor Fernando Reis. E completou: “Estão tirando uma parte importante da educação, que é o ingresso desses meninos na universidade”. Os estudantes souberam do corte após passar horas em frente ao computador, tentando se inscrever no PAS. As vagas foram disponibilizadas na última terçafeira, 1° de setembro, e ficam abertas até o dia 27. “Foi uma péssima surpresa. Eu quero estudar ciência política na UnB, mas, desse jeito, não sei se vai rolar”, reclamou Richard Coatio, 17, aluno do 3º ano que não será isento da taxa de inscrição. As duas primeiras etapas ele fez de graça. E, garante, teve boas notas. “Não é justo pagar R$ 100. É meio óbvio que estudantes da rede pública não têm dinheiro.” Para o diretor do CEM 404, Ricardo Rocha, existe um interesse muito forte dos alunos em passar na UnB. “Eles são muito comprometidos. Tanto que a escola investiu boa parte do repasse mensal na compra de livros preparatórios para o PAS.” A metodologia do colégio também é baseada nas disciplinas cobradas nas provas.