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PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Dissertação de Mestrado ANÁLISE EXPERIMENTAL DA CONDUTIVIDADE TÉRMIAC EM COMPÓSITOS EPÓXI/LAMA VERMELHA E POLIÉSTER/LAMA VERMELHA THAMY DE MELO DUARTE JULHO DE 2014 1 THAMY DE MELO DUARTE ANÁLISE EXPERIMENTAL DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA EM COMPÓSITOS EPÓXI/LAMA VERMELHA E POLIÉSTER/LAMA VERMELHA Dissert ação de Mest rado apresent ada ao Programa Francisco Eduardo Mourão Sabo ya de Pós-Graduação em E ngenhar ia Mecânica da UFF co mo part e dos requisit os para a obt enção do t ít ulo de Mest re em Ciências em E ngenhar ia Mecânica Or ient ador: João Marciano Laredo dos Reis, Ph. D. (PGMEC/UFF ) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE NITERÓI, 9 DE JULHO DE 2014 2 ANÁLISE EXPERIMENTAL DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA EM COMPÓSITOS EPÓXI/LAMA VERMELHA E POLIÉSTER/LAMA VERMELHA Esta Tese é parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA Área de concentração: Termociências Aprovada em sua forma final pela Banca Examinadora formada pelos professores: Prof. João Marciano Laredo dos Reis (Ph. D.) Universidade Federal Fluminense (Orientador) Prof. Maria Laura Martins Costa (Dr.) Universidade Federal Fluminense Prof. João Nazareno Nonato Quaresma (Dr.) Universidade Federal Fluminense 3 "O que importa é o grau de comprometimento envolvido numa causa, e não o número de seguidores!" Remus Lupin 4 AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais por o apoio demonstrado nesses dois anos de distância, que apesar de todas as reclamações sei que sempre estarão ao meu lado, me dando todo o amor, maniçoba e tacacá que eu precisar. Agradeço ao meu marido que a cada momento que passa tem se mostrado um excelente companheiro, me dando a força que eu preciso para alcançar meus objetivos, me segurando nos momentos mais difíceis e sendo o meu melhor amigo. Agradeço ao meu orientador João M. L. Reis, pela oportunidade ofertada, e por todo o auxilio, principalmente na confecção dos corpos de prova e realização dos ensaios e claro por todas as dicas e sugestões na escrita desse trabalho. Agradeço também a Juliana Basílio por toda a ajuda durante a realização deste trabalho, assim como todas as pessoas que direta ou indiretamente me auxiliaram para que eu conseguisse concluir esse projeto. E claro, não posso deixar de agradecer a minha filhote, por todos os carinhos exigidos nas piores horas, a todos os olhares carentes e principalmente por todas as suas horas de sono, e roncos nada discretos, enquanto eu escrevia esse trabalho. 5 RESUMO O alumínio é um dos elementos mais abundantes na crosta terrestre, tendo grande importância econômica. No entanto, sua produção global gera uma imensa quantidade de resíduos industriais, que é a lama vermelha. O armazenamento deste material pode causar sérios danos ao meio ambiente (devido ao seu alto ph), exigindo uma grande área para seu armazenamento. Assim, é necessário o desenvolvimento de tecnologias voltadas para a reutilização de lama vermelha. Neste contexto, este trabalho tem por objetivo analisar experimentalmente variações na condutividade térmica de polímeros, modificados com a adição de diferentes quantidades de lama vermelha. Para alcançar este objetivo, os compostos com 5, 10, 15, 20 e 25% de lama vermelha foram fabricados utilizando epóxi e resina de poliéster insaturado como matrizes. Os dados encontrados experimentalmente mostraram um aumento significativo da condutividade térmica efetiva, tal como a concentração de lama vermelha aumenta. Os dados experimentais são comparados com os modelos tradicionais para a previsão da condutividade térmica de materiais compósitos, que mostra que os modelos tradicionais subestimam os valores medidos exceto o modelo de aglomeração (crowding fatcor) que apresentou valores próximos aos obtidos experimentalmente. Finalmente, os compósitos foram avaliados por calorimetria diferencial de varredura (Differential Scanning Calorimetry-DSC), mas ao contrário dos resultados apresentados pelo ensaio de condutividade térmica, os resultados referentes ao DSC não apresentaram alterações significativas com o acréscimo de lama, não alterando substancialmente a temperatura de transição vítrea, em comparação aos valores obtidos pelos compósitos puros. Palavras-chave: Lama vermelha, Epóxi, Poliéster, Compósitos, Condução de calor, DSC 6 ABSTRACT Aluminum is one of the most abundant elements in the earth's crust, having great economic importance. However, its global production generates an immense amount of industrial waste, which is the red mud. The storage of this material can cause serious damage to the environment (due to its high ph), requiring a large area for storage. Thus, it is necessary to develop technologies for reusing red mud. In this context, this paper aims to examine experimentally variations in thermal conductivity of polymers, modified with the addition of different amounts of red mud. To accomplish this, compounds 5, 10, 15, 20 and 25% of red mud were fabricated using epoxy and unsaturated polyester resin as matrix. The data found experimentally showed a significant increase in the effective thermal conductivity as the concentration of red mud increases. The experimental data are compared to the traditional model for the prevision of thermal conductivity of composite materials, which shows that the traditional models underestimates the measured values except the clustering model (fatcor crowding), which showed values close to those obtained experimentally. Finally, the composites were evaluated by differential scanning calorimetry (DSC Differential Scanning Calorimetry), but unlike the results presented by testing thermal conductivity, the results related to DSC did not change significantly with the addition of mud, not substantially changing the temperature glass transition, compared to the values obtained by the pure composites. Keywords: Red Mud, Epoxy, Polyester, Composites, Heat Conduction, DSC 7 SUMÁRIO Lista de Figuras........................................................................................................... 10 Lista de Tabelas .......................................................................................................... 12 Lista de Símbolos........................................................................................................ 13 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14 1.1. Considerações Gerais ..................................................................................... 14 1.2. Revisão Bibliográfica ..................................................................................... 15 1.3. Objetivo ......................................................................................................... 16 1.4. Organização do Trabalho................................................................................ 17 2. DESCRIÇÃO ...................................................................................................... 26 2.1. Materiais Utilizados ....................................................................................... 26 2.2. Confecção dos Compósitos............................................................................ 28 3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL ............................................................... 32 3.1. Medições da Condutividade Térmica .............................................................. 32 3.1.1. Caracterização ..................................................................................... 32 3.1.2. Realização dos Testes .......................................................................... 36 3.1.3. Aumento da Condutividade Térmica ................................................... 39 3.2. Medições do DSC ......................................................................................... 40 3.2.1. Tipos de Métodos Para Medição do DSC ............................................ 40 3.2.1.1. DSC de Compensação de Energia ............................................ 40 3.2.1.2. DSC de Fluxo de Calor ............................................................. 41 8 3.2.1.3. Caracterização .......................................................................... 41 3.2.1.4. Descrição dos cadinhos ............................................................. 42 3.2.2. Realização dos Testes........................................................................... 42 4. MODELOS TEÓRICOS PARA A PREVISÃO DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA ........................................................................................................... 47 4.1. Modelos para previsão de condutividade térmica ............................................ 47 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 51 5.1. Condutividade Térmica ................................................................................. 51 5.1.1. Em Função da Temperatura .................................................................. 52 5.1.2. Comparação da Condutividade Térmica entre Matrizes Diferentes ....... 55 5.1.3. Condutividade Térmica Comparada com Diferentes Modelos Teóricos.. ................................................................................................................ 57 5.2. Temperatura de Transição Vítrea ................................................................... 59 6. CONCLUSÕES ................................................................................................... 63 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 66 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1: Lagoa de disposição de lama vermelha da Alumar (Ilha de São Luís Maranhão). ................................................................................................................. 15 Figura 1.2: A) Imagem aérea mostra a lama vermelha cobrindo as ruas de Kolontar, 165 km a oeste de Budapeste, na Hungria, B) imagem da mesma cidade após seis meses do acidente ...................................................................................................................... 17 Figura 1.3: Fluxograma e Esquema do Processo Bayer ................................................ 18 Figura 1.4: Disposição da lama vermelha no horizonte na ALUNORTE (Barcarena–PA) ................................................................................................................................... 19 Figura 2.1: A análise de XRD da lama vermelha Figura .............................................. 27 Figura 2.2: Lama vermelha utilizada na fabricação das amostras ................................. 28 Figura 2.3: Moldura utilizada na confecção das amostras ............................................ 28 Figura 2.4: Corpo de prova utilizado ........................................................................... 30 Figura 2.5: A) Cadinho utilizado no ensaio DSC, B)balança analítica e C)prensa seladora utilizadas no experimentoFigura 2.2: Lama vermelha utilizada na fabricação das amostras................................................................................................................ 30 Figura 3.1: Medidor de condutividade térmica Fox-50 ................................................ 32 Figura 3.2: Diagrama esquemático do Fox-50 [46] ...................................................... 33 Figura 3.3: O Fox-50 e o trocador de calor utilizados nos testes .................................. 35 Figura 3.4: Esquema de funcionamento do efeito peltier ............................................. 35 Figura 3.5: Corpo de prova no Fox-50......................................................................... 36 10 Figura 3.6: Diagrama esquemático dos compartimentos do DSC por compensação de energia ........................................................................................................................ 40 Figura 3.7: Diagrama esquemático dos compartimentos do DSC por fluxo de calor ... 41 Figura 3.8: DSC 200F3 Maia ...................................................................................... 42 Figura 3.9: Diagrama esquemático do DSC 200F3 Maia [50] ...................................... 43 Figura 3.10: Imagem ilustrativa da instrumentação do DSC 200 F3 Maia [50] ........... 44 Figura 3.11: Na esquerda o cadinho de referência vazio e a direita o cadinho contendo a amostra, no DSC 200 F3 Maia .................................................................................... 45 Figura 5.1: Variação da condutividade térmica efetiva em função da temperatura de amostras de resinas poliéster com lama vermelha ....................................................... 53 Figura 5.2: Variação da condutividade térmica efetiva em função da temperatura de amostras de resinas epóxi com lama vermelha ............................................................ 54 Figura 5.3: Variação da condutividade térmica efetiva em função da temperatura de amostras de resinas poliéster e epóxi puras e carregadas com 25% de lama vermelha ............................................................................................................................. ......55 Fig. 5.4: Comparação dos resultados obtidos a 50ºC da intensificação térmica gerada pela adição de lama vermelha nas resinas poliéster e epóxi ............................................. ................................................................................................................................... 56 Figura 5.5: Comparação dos dados experimentais obtidos para os compósitos epóxi (A) e poliéster insaturado (B) com os modelos de condutividade térmica ........................... 58 Figura 5.6: Termograma DSC para os compósitos de resina poliéster insaturado, carregados com resíduos de lama vermelha ................................................................. 61 Figura 5.7: Termograma DSC para os compósitos de resina epóxi, carregados com resíduos de lama vermelha .......................................................................................... 62 11 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Propriedades das resinas poliéster insaturada e epóxi ................................. 26 Tabela 3.1: Especificações do equipamento LaserComp Fox-50.................................. 34 Tabela 3.2: Critérios padrão de equilíbrio térmico para o Fox-50 ................................ 37 Tabela 3.3: Curvas de calibração do perspex e policarbonato k (Wm-1 K-1) .................. 38 Tabela 3.4: Especificações do equipamento DSC 200 F3 Maia ................................... 42 Tabela 5.1: Valores de condutividade térmica experimental dos compósitos de resina poliéster e resina epóxi puras ...................................................................................... 51 Tabela 5.2: Valores de condutividade térmica experimental dos compósitos de resina poliéster ...................................................................................................................... 51 Tabela 5.3: Valores de condutividade térmica experimental dos compósitos de resina epóxi ........................................................................................................................... 52 Tabela 5.4: Aumento absoluto (e relativo) de condutividade térmica a 50ºC obtido com a adição de lama vermelha nas resinas poliéster e epóxi .............................................. 57 Tabela 5.5: Temperatura de transição vítrea (Tg) dos compósitos de lama vermelha ... .60 Tabela 5.6: Redução absoluta (e relativa) da transição vítrea obtidas com a adição de lama vermelha nas resinas poliéster e epóxi ............................................................... .60 12 LISTA DE SÍMBOLOS Nomenclatura d diâmetro do corpo de prova H espessura do corpo de prova k condutividade térmica T temperatura Símbolos Gregos 𝜇 viscosidade 𝜌 densidade 𝛼 relação entre as condutividades térmicas da partícula e da matriz ∅ fração volumétrica 𝛾 fator de aglomeração Subscritos G transição vítrea Rm compósitos de lama vermelha R resina 13 1. INTRODUÇÃO 1.1. Considerações Gerais Indústrias como siderurgia, metalurgia e produção de alumínio primário tendem a resultar em geração de grandes quantidades de resíduos, que devido ao elevado custo para o transporte, tratamento e gestão incorreta destes faz com que acabem sendo depositados, de forma inapropriada, em regiões próximas as fábricas. A existência destes resíduos se torna um problema cada vez maior do ponto de vista ambiental, devido ao seu elevado poder de toxicidade, sendo assim se vê a necessidade de estudá-los para que seja possível designar destinos que os tornem úteis para a sociedade. Com este conceito em mente, este estudo analisa um dos resíduos industriais mais presentes no mundo, que é a lama vermelha, que nada mais é do que um resíduo sólido proveniente do beneficiamento da bauxita, processo responsável pela produção de alumina (Al2O3), a lama é um material complexo, cuja composição química e mineralógica varia muito, dependendo da fonte de bauxita e dos parâmetros do processo tecnológico de produção. Normalmente, a lama vermelha retém todo o ferro, titânio e sílica presentes na bauxita, além do alumínio que não foi extraído durante o refino, combinado com o sódio sob a forma de um silicato hidratado de alumínio e sódio de natureza zeolítica [1,2]. Por vezes, óxidos de vanádio (V), gálio (Ga), fósforo (P), manganês (Mn), magnésio (Mg), zinco (Zn), tório (Th), cromo (Cr), nióbio (Nb) podem estar presentes como elementos-traço [3]. As fases minerais mais comuns são a hematita (a-Fe2O3), a goetita (a-FeOOH), a magnetita (Fe3O4), a boemita (g-AlOOH), o quartzo (SiO2), a sodalita (Na4Al3Si3 O12Cl) e a gipsita (CaSO4.2H2O), com menor presença de calcita (CaCO3) e gibisita (Al(OH)3) [3,4]. A lama vermelha em sua maioria é classificada como lama vermelha Bayer devido ao processo de produção de alumina mais utilizado (mais de 90% da alumina produzida em todo o mundo é proveniente deste processo), mas esta também pode ser classificada como lama vermelha sinterizada ou a lama vermelha proveniente dos dois métodos combinados. 14 Na literatura não há um consenso quanto à toxidade da lama, não sendo considerada particularmente tóxica [5], inclusive a Environmental Protecy Agency (EPA) não a classifica como um rejeito perigoso [6]. Mas em contrapartida alguns estudos a consideram na perigosa, uma vez que podem ser um perigo para o meio ambiente e para as populações vizinhas devido à presença de elevados percentuais de cálcio e hidróxido de sódio, assim como sua elevada alcalinidade [7]. Sendo assim a lama vermelha representa um elevado custo na produção de alumina devido aos riscos de contaminação do meio ambiente e ao seu manuseio e disposição, uma vez que esta exige uma grande área para seu armazenamento. Um exemplo disso é apresentado na Figura 1.1, que mostra a disposição de lama vermelha feita por uma indústria de alumina no Maranhão. Figura 1.1: Lagoa de disposição de lama vermelha da ALUMAR (Ilha de São Luís Maranhão). Não há um consenso geral sobre o percentual de lama vermelha gerada a partir da produção de alumina, mas em alguns estudos [4,7] foi concluído que uma fábrica típica de alumina gera de uma a duas toneladas de lama vermelha por tonelada de alumina produzida. Sendo importante ressaltar que somente a Alunorte (Alumina do Norte do 15 Brasil S.A), localizada em Barcarena, PA, produz cerca de 6,6 milhões de toneladas de alumina calcinada por ano [8]. O não armazenamento correto da lama vermelha pode gerar inúmeros transtornos como [9]: i) Contaminação da água de superfície e subterrânea por hidróxido de sódio (NaOH), ferro, e outros agentes químicos; ii) Contato direto com animais, plantas e seres humanos; iii) O vento pode carregar pó dos depósitos de lama vermelha seca, formando nuvens de poeira alcalina; iv) Impacto visual sobre uma extensa área. Ao longo dos anos diversos acidentes ocorreram com o armazenamento da lama vermelha, alguns exemplos podem ser citados, como o ocorrido no Brasil, em 2003, em Barcarena (PA), onde ocorreu um vazamento que atingiu as nascentes do rio Murucupi, havendo mudança na tonalidade das águas, com o aumento nos teores de alumínio e sódio e possível contaminação do aquífero [9]. Em São Paulo (SP) ocorreu um vazamento em 2004, de cerca de 900.000 litros de lama vermelha, que atingiu o córrego do Bugre, rio Varzão e Pirajibu, na bacia do Rio Sorocaba. Como consequência houve alteração da qualidade das águas tornando-as impróprias, além de provocar danos à fauna (morte de peixes) e à vegetação [9]. Na Jamaica, a não utilização de técnicas adequadas de disposição da lama vermelha resultou na contaminação de aproximadamente 200 milhões de m3 de águas subterrâneas. Também ocorreu a contaminação de águas superficiais, na disposição de lama vermelha em lagoas na localidade de Mont Diablo, que acarretou na contaminação das águas do lago Moneague, as quais se tornaram impróprias, devido o elevado ph [9]. Outro exemplo mais recente ocorreu na Hungria em 2010, onde uma onda de 700 mil m3 de lama vermelha cobriu cidades, matando nove pessoas, deixando outras centenas feridas com queimaduras e irritação nos olhos, ainda levou cerca de 400 moradores a deixarem a região. A Figura 1.2 A) e B) mostram uma imagem registrada no dia e de seis meses depois dessa catástrofe respectivamente. 16 Fig. 1.2: A) Imagem aérea mostra a lama vermelha cobrindo as ruas de Kolontar, 165 km a oeste de Budapeste, na Hungria, B) imagem da mesma cidade após seis meses do acidente. Visando evitar que mais tragédias como estas ocorram é de vital importância o estudo da lama vermelha para seu futuro emprego em diversos setores. Nesse conceito, este tudo vem por analisar de forma mais profunda a lama vermelha avaliando sua análise térmica, visando desse modo ajudar em utilizações futuras deste resíduo. Tendo sempre em mente que: ―Lixo é desperdiçado se você desperdiçá-lo, caso contrário, é um recurso. Recurso é desperdiçado se você ignorá-lo e não conservá-lo com melhores práticas holísticas e reduzir custos sociais‖ [10]. 1.2. Revisão Bibliográfica Com o passar das décadas, as necessidades da população mundial foram se modificando exigindo produtos mais sofisticados, o que gerou uma demanda ainda maior da indústria o que consequentemente causa problemas ambientais mais drásticos, devido à necessidade de cada vez mais matéria prima para a geração destas manufaturas. 17 Mas nos últimos anos, se viu uma crescente preocupação para com o meio ambiente, dando origem a um desafio para a comunidade industrial e científica, levando-os a identificar usos produtivos para os resíduos outrora apenas desperdiçados, para que assim se evite o uso indiscriminado de matéria prima, e poluição do ambiente. O resíduo analisado neste estudo trata-se da lama vermelha, que é proveniente em sua maioria da produção de alumina através do processo Bayer, desenvolvido por Karl Josef Bayer, em 1888 [7]. As etapas do processo Bayer encontram-se ilustradas na Figura 1.3. Figura 1.3: Fluxograma e Esquema do Processo Bayer [9]. Silva Filho et al. [9] realizaram um amplo estudo sobre o processo de geração da lama vermelha através do processo Bayer, que é constituído de quatro estágios: digestão, clarificação, precipitação e calcinação. Sendo que o primeiro estágio é responsável pela moagem da bauxita juntamente com uma solução de hidróxido de sódio (NaOH), para a posterior separação da fase sólida e líquida (licor verde), em seguida se dá o processo de resfriamento do licor verde, e a alumina já precipitada é então levada para a etapa final do processo, onde é lavada para a retirada de qualquer 18 vestígio do licor e então finalmente seca. A lama vermelha nada mais é do que os resíduos insolúveis gerados durante a clarificação, sendo por vezes despejada em áreas próximas as fabricas, como mostra a Figura 1.4. Figura 1.4: Disposição da lama vermelha no horizonte da ALUNORTE (Barcarena– PA). A composição química da lama vermelha varia consideravelmente de acordo com a técnica empregada no processo de produção da alumina, da natureza da bauxita, do tempo de deposição e do grau de exposição com o ar [9]. Podendo apresentar entre outros elementos os óxidos de vanádio (V), gálio (Ga), fósforo (P), manganês (Mn), magnésio (Mg), zinco (Zn), tório (Th), cromo (Cr), nióbio (Nb), além de apresentar teores de compostos de ferro. Não a um consenso na literatura quanto à relação da lama vermelha gerada pela produção da alumina, mais se estima que esta quantia chegue até ao dobro da quantidade de alumina confeccionada, sendo produzido a cada ano cerca de 90 milhões de toneladas de lama vermelha no mundo [11]. Mediante a quantidade absurda desse resíduo gerado por ano, fica óbvia a necessidade do emprego da lama em setores, que consumam elevadas quantidades desse resíduo, para que assim essas imensas lagoas de 19 lama vermelha sejam reutilizadas e consequentemente diminuam e com o tempo venham a se extinguir. Segundo Agrawal et al. [12], a lama vermelha pode ser usada em materiais de construção, na indústria, concretos, na indústria metalúrgicas como matéria-prima de ferro e aço industrial, corante para obras, espuma de papel, micro-fertilizante e neutralizador de pesticidas na agricultura. Com o passar dos anos, cada vez mais estudos estão sendo desenvolvidos visando o emprego da lama vermelha, um exemplo disso foi a investigação realizada por Alcebíades Negrão Macêdo et al. [13] que empregou a lama vermelha na produção de blocos cerâmicos estruturais vazados, realizando uma mistura de 60% lama e 40% de argila, eles concluíram que a mistura resultante é tecnicamente viável, pois os blocos contendo lama apresentaram uma diminuição da absorção de água e um aumento da resistência à compressão, fato que pode estar relacionado ao acréscimo de elementos fundentes introduzidos pela lama vermelha. Outra investigação foi realizada por Carlos Rodrigo Costa Rossi et al. [14], que utilizaram a lama vermelha juntamente com concretos agregados como uma camada reparadora sobre a superfície de concreto expostas a ação abrasiva hidráulica. Foram utilizados agregados produzidos com 80% de lama e 20% de areia fina. Os resultados mostraram uma superioridade sobre o material de referência, apresentando uma resistência à tração 3,5%%, compressão axial simples 55% e módulo de elasticidade 89% maiores do que o material sem lama vermelha, apresentando uma altura desgastada média 14,5% inferior aos discos com seixo rolado que foi usada como referência. A revisão realizada por Sneha Samal et al. [15] reuniu várias utilizações da lama vermelha, já realizadas na Índia. Como por exemplo, a fabricação de tijolos que poder vir a consumir um percentual significativo de lama, uma vez que é a maior indústria de construção na Índia. Outro projeto apresentado na revisão foi o desenvolvimento de um cimento especial que usa uma mistura de 35% de lama vermelha, 15% de bauxita, 10% de gipsita e 4% de calcário, que gerou um cimento de elevada resistência. Por fim mostraram o experimento que classificou a lama como um absorvente eficiente para a remoção de chumbo e de crômio [3]. J.M. Rivas Mercury et al. [16] efetuaram um estudo sobre o comportamento térmico da lama vermelha visando utilizá-la como matéria prima em cerâmica tradicional como por exemplo telhas, tijolos, etc. Seus resultados demonstraram que é 20 possível a utilização deste resíduo, mas em conjunto com outras matérias primas em misturas para fabricação de materiais cerâmicos. Situação semelhante à apresentada pelo trabalho de Ernesto Batista da Silva Filho et al. [17], onde realizaram um estudo utilizando a lama como um elemento absorvente, mas está sozinha também não apresentou resultados tão interessantes, quando comparados com a lama vermelha tendo passado por processos de ativação, como por exemplo, tratamentos com ácidos, com águas ricas em íons, tratamentos térmicos ou até mesmo a combinação desses métodos. Após esses tratamentos a lama se tornou um ótimo absorvente, ocasionando a remoção do corante Remazol Black B, em até 97%. Os estudos citados anteriormente, assim como outros presentes na literatura [1821] mostram que a lama permite uma grande gama de utilizações, mas associada com algum material que a faça suprir as necessidades de cada aplicação. Neste conceito, entram os polímeros que são materias extremamente promissores para diversas utilizações, mas em contra partida possuem uma baixa condutividade térmica efetiva (0,1 e 0,6 W m -1K-1) [22], o que leva a necessidade de combiná-los com materiais inorgânicos que possuam uma melhor condutividade térmica, como carbono (C), alumínio (Al), prata (Ag) [23], silício (Si), cobre (Cu) [24]. Alguns destes elementos encontram-se, em diferentes percentuais, presentes na lama vermelha, fazendo da união destes um compósito promissor para diferentes aplicações. Os compósitos por sua vez são materiais de moldagem estrutural, gerados pela união de uma fase continua polimérica (matriz) e reforçado por uma fase dispersa (fibras). A facilidade de aplicação dos materiais compósitos faz com que sejam empregados desde produtos de alta tecnologia até em produtos do dia a dia, e é justamente esta versatilidade que faz com que diversos estudos teóricos e experimentais sejam feitos para melhor compreende-los. Na realidade o material compósito, principalmente sua condutividade térmica, vem sendo estudada por mais de um século e varias teorias foram geradas para calcular esta condutividade. Mas ainda há uma longa caminhada para entender completamente os materias compósitos e os mecanismos responsáveis pelas alterações das propriedades físicas destes. Levando então a necessidade de serem realizadas investigações mais profundas que busquem entender e prever as propriedades efetivas dos materiais compósitos. A maioria dos estudos voltados para a condutividade térmica dos compósitos é relacionada à intensificação de líquidos pela adição de nanopartículas [25-28], criando21 se então o conceito de nanofluidos. Mas a pesar da maioria dos estudos serem voltados dessa forma, a mesma intensificação térmica pode ocorrer em sólidos. Um exemplo desse estudo foi realizado por Xinwei Wang et al. [29] em que testaram um fluido contento nanopartículas de alumina (Al2O3) e de óxido de cobre (CuO), dispersas em água, fluido de bomba a vácuo, óleo de motor e etileno glicol, eles utilizaram o método de estado constante de placas paralelas, e constataram um aumento da condutividade térmica efetiva com a diminuição do tamanho das partículas (28 nm). O que pode ter ocorrido devido à força de Van der Waals, a força eletrostática ou a força estocástica (força com origem em processos não determinísticos, com origem em eventos aleatórios), essas forças atuam sobre partículas nanométricas e apesar de serem microscopias podem exercer influências significativas. Estudos realizado por Kumlutas et al. [30], verificaram que fatores como a geometria, a morfologia, a distribuição e a interação entre as partículas interferem também na condutividade térmica efetiva do material compósito gerado e não apenas a condutividade térmica de cada fase. D.C Moreira et al.[31-33] e Kim et al. [34] realizaram investigações onde foi comprovada que a condutividade térmica dos materiais nanocompósitos não depende apenas das propriedades dos componentes envolvidos na mistura, mas também é influenciada pela morfologia da fase dispersa e pelo grau de homogeneização, que por sua vez depende de uma melhor dispersão e distribuição do material de enchimento, pois caso haja aglomerados de tamanho macro ou micro o efeito a condutividade térmica resultante será inferior do que em materias nanocompósitos que conseguiram uma boa dispersão. Em outra investigação de D. C. Moreira et al. [35], envolvendo nanocompósitos, estes foram fabricados com a utilização de uma resina poliéster insaturada e nanopartículas esféricas de alumina (Al2O3) e de óxido de cobre (CuO),e através do método do fluxo de calor isolado realizaram a medição da condutividade térmica, seus resultados apresentaram um aumento de 70% da condutividade térmica efetiva, para compósitos com acréscimo de apenas 10% em volume de nanopartículas. No entanto, os valores medidos são superiores a previsão dos tradicionais modelos teóricos de Maxwell [36], Bruggeman [37], Jeffrey [38] e Davis [39] para estimar a condutividade efetiva dos materiais compostos. Estudos foram feitos visando melhor compreender o comportamento térmico de materiais compósitos, usando diversas combinações de formas, frações de volume, 22 tamanhos e orientações de partículas. Entretanto poucas análises foram feitas para as altas concentrações de fase dispersa, situação esta apresentada por este trabalho, uma vez que há a necessidade de utilizar o maior percentual possível de lama vermelha. Um problema recorrente para com os tradicionais modelos de condutividade térmica efetiva é o fato de eles serem restritos a um limite de diluição, com concentrações volumétricas que normalmente não excedem aos 15%. Seguindo uma vertente diferente J. Ordonez-Miranda et al. [40] propuseram uma nova equação, em que levaram em conta as interações entre partículas através de um fator de aglomeração, sendo esta aplicável pra baixas e altas concentrações de partículas, apresentando dessa forma previsões superiores do que as previstas pelos modelos tradicionais. Ainda envolto a análise da condução de calor de um material compósito, outro ponto importante é o estudo da temperatura de transição vítrea (T g), que consiste na temperatura de aquecimento do material a partir da qual este se torna um liquido viscoso, sendo dessa forma de vital importância conhecê-la, pois a Tg é um parâmetro importante relacionado com a caracterização de um material e pode fornecer informações muito úteis sobre o desempenho de um produto [41]. A temperatura de transição vítrea pode ser avaliada por várias técnicas e métodos um exemplo disso foi realizado por Toshikatsu Tanaka et al. [42], que mediram a T g através da espectroscopia mecânica dinâmica, e obtiveram resultados em que a transição vítrea se manteve inalterada após diferentes percentuais de nanopartículas terem sido aplicados, tendo inclusive diminuído um pouco nas amostras com teor de 7%, situação que pode estar relacionada com o grau de ligação das nanopartículas para com a matriz polimérica. Outra forma de medir a transição vítrea é através da calorimetria diferencial de varredura (DSC), que se diferencia por ser uma técnica de análise térmica que registra o fluxo de energia calorífica associado a transições nos materiais em função da temperatura, descrevendo dessa forma seu comportamento térmico. O DSC tem a condução como mecanismo predominante de transferência de calor. No padrão DSC, a Tg é definida em relação ao fluxo de calor medido, de preferência em experimentos de resfriamento [43]. Esta técnica térmica pode ser utilizada para caracterizar uma vasta gama de materiais como os polímeros, assim como outras classes comuns de materiais orgânicos 23 e inorgânicos, cristalinos ou amorfos como cerâmicas, vidros, metais e ligas, fibras e plásticos, compósitos, etc. A área de aplicação do DSC é muito abrangente, estendendo desde o domínio científico ao industrial, com particular importância nas indústrias farmacêutica, cosmética, alimentar e dos polímeros, seja na fase de investigação e desenvolvimento de um processo ou produto, seja na fase de controlo de qualidade de matérias-primas e produtos, permitindo obter informações referentes a alterações de propriedades físicas e/ou químicas. Wei Jiang et al. [44], realizaram um estudo sobre o comportamento termo-mecânico de compósitos de resinas epóxi/Al2O3, variando o teor de 1 a 4%, eles observaram na curva DSC que o pico de temperatura máxima dos compósitos foi diminuído pela adição de nano-Al2O3, resultado semelhante ao apresentado pelo compósito DGEBA/nano- Al2O3. 1.3.Objetivo A necessidade do desenvolvimento de tecnologias voltadas para a reutilização de lama vermelha é de extrema importância, neste contexto este trabalho tem por objetivo analisar experimentalmente variações na condutividade térmica de polímeros, modificados com a adição de diferentes quantidades de lama vermelha. Os dados encontrados experimentalmente foram comparados com modelos teóricos tradicionalmente utilizados. Além dos experimentos realizados para a condutividade térmica foram realizados ensaios de DSC, para compreender de forma mais ampla o desempenho dos compósitos modificados com lama vermelha, e desta forma conhecer melhor o comportamento deste material possibilitando assim definir as especificações do material de acordo com a aplicação à que se destina. 24 1.4.Organização do Texto O Capítulo 2 apresenta os materiais utilizados para a elaboração dos compósitos presentes neste estudo e suas características, assim como os procedimentos utilizados na confecção dos corpos de prova. No Capítulo 3 foi descrito os métodos experimentais utilizados para a caracterização dos materiais fabricados, o medidor de condutividade térmica utilizado é apresentado na Seção 3.1 junto com uma breve descrição do seu funcionamento, já a seção 3.2 abrange uma introdução ao método de DSC, assim como o procedimento para a obtenção da transição vítrea (Tg). O Capítulo 4 mostra os cinco modelos matemáticos usados para a previsão da condutividade térmica. No Capítulo 5 são apresentados os dados experimentais obtidos e a comparação destes resultados com os modelos de previsão para a condutividade térmica efetiva. O Capítulo 6 descreve as conclusões deste estudo assim como apresenta sugestões para trabalhos futuros. 25 2. DESCRIÇÃO 2.1. Materiais Utilizados Para a realização deste estudo foram utilizados dois polímeros distintos como matriz. Um deles foi à resina poliéster insaturada (UPR - Unsaturated Polyester Resin) Polylite 10316-10, fornecido pela Reichhold, que tem como características uma boa resistência a bolhas osmóticas e a molhabilidade das fibras. Esta resina foi pré-acelerada pelo próprio fabricante com a adição de cobalto e polimerizada a partir da adição de peróxido de metil-etil-cetona (2 phr). A outra resina empregue como matriz foi o epóxi (ER- Epoxy Resin) MD-131, oriundo da EpoxyFiber, que tem como base o éter diglicidílico de bisfenol A e um endurecedor de amina alifática, esta resina epóxi é caracterizada por uma baixa viscosidade, sendo processada com uma razão máxima de mistura para com o endurecedor de 05:01. As propriedades das resinas poliéster insaturada e epóxi fornecidas pelos respectivos fabricantes são apresentados na Tabela 2.1. Tabela 2.1 Propriedades das resinas poliéster insaturada e epóxi. Propriedade Poliéster Epóxi Viscosidade a 25℃𝜇(𝑐𝑃) 250 a 350 12000 a 13000 1090 1160 Temperatura de Distorção Térmica (º𝐶) 85 50 Resistência à flexão (𝑀𝑃𝑎) 45 60 Resistência à tração (𝑀𝑃𝑎) 40 73 Alongamento máximo (%) 1 4 Densidade 𝜌 𝐾𝑔/𝑚3 Os resíduos de lama vermelha utilizados neste estudo foram fornecidos pela ALUNORTE S/A, (Barcarena, PA) que é o maior fabricante de alumina do mundo [9]. É de consenso que a composição química da lama vermelha varia consideravelmente devido a diferentes fatores, mas por vezes considera-se que é composta principalmente por dióxido de silício (SiO2), alumina (Al2 O3), óxido férrico 26 (Fe2O3), óxido de cálcio (CaO), óxido de magnésio [MgO], dióxido de titânio (TiO2), trióxido de enxofre (SO3) com vestígios de V, Ga, P, Mn, Mg, Zn, Th, Cr e óxidos de Nb [46]. A análise XRD da lama vermelha apresentada neste estudo é mostrada na Figura 2.1. 2800 A - Anatásio S 2600 C - Calcita Gb - Gibsita Go - Goetita H - Hematita Q - Quartzo S - Sodalita 2400 2200 S 2000 H H Gb Gb 1800 G 1600 A Q H S C 1400 GA Q H H HH H SC A S A S H 1200 Intensidade (cps) 1000 800 600 400 200 10 20 30 40 50 60 70 (graus) Figura 2.1: A análise de XRD da lama vermelha. Dessa forma os compósitos utilizados neste trabalho, são provenientes da mistura, das matrizes da resina poliéster insaturada e da reina epóxi juntamente com diferentes concentrações, no caso 5%, 10%, 15%, 20% e 25% em peso de lama vermelha Figura 2.2. Sendo que o teor máximo de lama utilizado foi definido em 25% pela capacidade da mistura de escoar pelos moldes. 27 Figura 2.2: Lama vermelha utilizada na fabricação das amostras. 2.2. Confecção dos Compósitos A moldura utilizada para a preparação das amostras é apresentada na Figura 2.3, esta foi confeccionada a partir de uma placa de estanho usinada com orifícios circulares, para a acomodação das amostras, e um canal de escoamento por onde foi vertida a mistura líquida. Figura 2.3: Moldura utilizada na confecção das amostras. 28 A primeira etapa do processo para a confecção dos compósitos foi a secagem, que nada mais é do que a colocação da lama vermelha em uma estufa a temperatura de 120ºC durante 24 horas, objetivando assim a remoção da umidade, uma vez que a lama é capaz de absorver uma quantidade significativa de vapor de água a partir do ar atmosférico. A secagem é um procedimento de suma importância uma vez que o poliéster insaturado e o epóxi são polímeros hidrofóbicos. O próximo procedimento realizado foi à preparação do molde, que é composto pela moldura metálica posta de forma central, presa entre duas placas de vidro. Estes foram minuciosamente limpos após a preparação de cada grupo de amostra, para evitar a contaminação destas por resíduos deixados por experimentos anteriores. Feito isso, foi aplicado sobre as superfícies internas do molde cera desmoldante (fabricada pela Fiberglass). Após a higienização do molde este foi montado, tendo suas extremidades vedadas através do uso de massa de modelar, para evitar assim que a mistura vaza-se. O primeiro grupo de amostra confeccionado foram os corpos de prova compostos somente pelas resinas puras, utilizados como referências. Tendo sido realizada a secagem da lama vermelha, está foi adicionada a resina liquida, respeitando-se o percentual de lama para cada grupo de amostra. Os compósitos foram misturados durante cinco minutos, com o auxilio de um misturador mecânico, visando assim evitar a presença de aglomerados de lama vermelha nas amostras. O agente catalisador somente foi adicionado à mistura após a homogeneização, a amostra foi então novamente misturada, mas desta vez com a utilização de uma haste de vidro. Por fim o compósito liquido foi vertido para dentro do molde A cura dos corpos de prova ocorreu à temperatura ambiente, tendo sido desmoldados após 24 horas. Uma fina barra de material interligava os corpos de prova após o seu desmolde, gerada pela deposição da mistura nos canais de escoamento, havendo então a necessidade de seccionar esta sobra, com o auxilio de uma serra de fita. Essas barras foram guardadas e posteriormente usadas para o ensaio de DSC. Por fim foi realizado um acabamento superficial sobre os corpos de prova, que foram lixados com o auxilio de uma ferramenta rotativa de alta velocidade, objetivando de esse modo minimizar as imperfeições superficiais e geométricas, que poderiam alterar os resultados dos testes realizados devido a um aumento da resistência de contato entre a amostra e as superfícies do medidor de condutividade. 29 Para cada mistura utilizada neste trabalho, foram confeccionados quatro corpos de prova como o exemplificado na Figura 2.4. Na forma final as amostras possuíram um formato cilíndrico circular apresentando dimensões aproximadas de 51 mm de diâmetro (d) por 12 mm de espessura (H). Figura 2.4: Corpo de prova utilizado. Figura 2.5: A) Cadinho utilizado no ensaio DSC, B)balança analítica e C)prensa seladora utilizadas no experimento. As barras de interligação entre as amostras seccionadas foram utilizadas para a caracterização do ensaio de calorimetria diferencial de varredura (DSC), estas foram levemente lixadas com auxilio de uma ferramenta rotativa de alta velocidade, sobre um pequeno pedaço de papel, e o pó resultante deste processo foi depositado dentro de um cadinho de alumínio, comumente chamado de panelinha, ilustrado na Figura 2.5A. 30 Primeiro somente o cadinho foi pesado, depois este juntamente com o material foram pesados em uma balança analítica (Figura 2.5B). Essa pesagem foi realizada, pois os respectivos valores encontrados para os pesos apenas do cadinho e deste com o pó da amostra foram utilizados na calibração do equipamento empregado para o ensaio de DSC. Por fim o cadinho foi vedado através de uma prensa seladora (figura 2.5C). 31 3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL 3.1. Medições da Condutividade Térmica 3.1.1. Caracterização Os experimentos realizados para a medição da condutividade térmica foram realizados com a aplicação da técnica de medição de fluxo de calor isolado, alterado para levar em conta a resistência térmica de contato. O equipamento utilizado foi um medidor de fluxo de calor, fabricado pela LaserComp, o Fox 50 representado na Figura 3.1. Figura 3.1: Medidor de condutividade térmica Fox-50. O instrumento Fox-50 é constituído pela montagem de placas paralelas redondas protegidas com cilindros de isolamento, e um corpo que abriga todos os aparelhos eletrônicos. O instrumento responsável pela medição da condutividade térmica possui uma placa superior estacionária, e uma placa inferior, responsável pela leitura da espessura da amostra através do monitoramento da sua posição, que pode se mover para cima e para baixo através de mecanismos pneumáticos. 32 Nas superfícies das duas placas estão ligados medidores de fluxo de calor de alta potência (HFMS), que são constituídos por centenas de pequenos termopares, estes possibilitam leituras precisas da temperatura de cada placa, enquanto que os termopares externos existentes possibilitam a medição da temperatura na superfície da amostra. Na Figura 3.2 é apresentado um diagrama esquemático do instrumento medidor de fluxo de calor Fox-50. Figura 3.2: Diagrama esquemático do Fox-50 [46]. Existem dois possíveis modos de teste de condutividade térmica através do Fox-50, o modo de uma espessura e o modo de duas espessuras. No modo de uma espessura, é utilizado somente um corpo de prova, com superfícies paralelas planas e a resistência de contato é assumida ser a mesma que o valor do arquivo de calibração existente no próprio instrumento. O corpo de prova utilizado tem que ser cilíndrico circular, com um diâmetro (d) entre 51 mm e 63 mm, com espessura (H) mínima de 3 vezes o valor da condutividade termia do material (em W m°1 K°1) e máxima de 25 mm. Em contra partida no modo de duas espessuras é preciso duas amostras do mesmo material, ambas 33 com o mesmo acabamento superficial, possibilitando assim que a resistência de contato seja calculada pelo Fox-50, uma vez que se assume que a resistência de contato seja a mesma para ambas as amostras. O que permiti obter resultados mais exatos. O Fox-50 é capaz de medir as amostras em uma variação de temperatura de -10ºC a 110ºC, com um intervalo mensurável de condutividade de 0,1 a 10 W m-1 K-1. O equipamento está em conformidade com a norma ASTM C518-04 [47], e suas especificações podem ser encontradas na Tabela 3.1. Tabela 3.1: Especificações do equipamento LaserComp Fox-50 Descrição Intervalo de medição de condutividade térmica (Wm-1 K-1) Precisão (para duas espessuras) Valor 0.1 – 10 3% Temperatura máxima da placa quente 110ºC Temperatura mínima da placa fria −10ºC Estabilidade do controle de temperatura Exatidão na medição de espessura ± 0.02 ºC ± 0.025 𝑚𝑚 Tamanho máximo da amostra 63.4 𝑚𝑚 Tamanho mínimo da amostra 50 𝑚𝑚 Espessura máxima da amostra 25 𝑚𝑚 Área de medição 25𝑥25 𝑚𝑚 Um dos conceitos envolvidos na medição da condutividade térmica incidiu sobre a condução de calor em um cilindro circular reto posto entre duas placas planas paralelas e isotérmicas. As temperaturas das superfícies superior e inferior do cilindro são definas pelo usuário, sendo que estas tem que apresentar temperaturas distintas entre si, de modo que a superfície com maior temperatura é chamada de superfície quente, enquanto que a com temperatura inferior é chamada de superfície fria. Cada placa existente no Fox-50 possui um elemento peltier, que é controlado independentemente, e é o responsável por manter as temperaturas das superfícies quente e fria, por meio de um sistema de controle no qual o calor em excesso é removido por um trocador de calor acoplado ao equipamento, como mostrado na Figura 3.3. O efeito peltier consiste em um efeito térmico que ocorre quando uma corrente elétrica passa por uma junção de dois metais, o que faz com que um dos lados da junção 34 esfrie enquanto que o outro lado aquece, esse calor que circula pelo sistema deve ser removido com o auxilio de um dissipador. Este efeito depende da direção da corrente, pois trocando o sentido desta, o lado frio e o lado quente acabam também trocando entre si. A Figura 3.4 é uma ilustração do funcionamento do efeito peltier. Figura 3.3: O Fox-50 e o trocador de calor utilizados nos testes. Figura 3.4: Esquema de funcionamento do efeito peltier. 35 Parte-se do princípio de que a troca de calor que ocorre na superfície lateral com ambiente externo por convecção é regida pela lei de resfriamento de Newton, que por sua vez descreve que a quantidade de calor que flui de um corpo com temperaturas mais altas para outro corpo com temperaturas mais baixas varia em decorrência da diferença de temperatura. Considera-se que a temperatura dessa vizinhança seja a média entre as temperaturas da superfície fria e da superfície quente. Sendo que o isolamento externo tende a manter constantes as temperaturas das superfícies assim como da vizinhança. A Figura 3.5 ilustra o corpo de prova no equipamento. Figura 3.5: Corpo de prova no Fox-50 3.1.2. Realização dos Testes Para a realização dos testes de determinação da condutividade térmica o modo de uma espessura foi definido, devido às dificuldades encontradas por outros estudos que apresentam o mesmo conceito de determinação da condutividade térmica [31-33, 35], que em virtude da dificuldade de se obter o mesmo acabamento superficial para os pares de copos de prova, chegaram a obter valores negativos para a resistência térmica de contato calculada pelo equipamento 36 Na Tabela 3.2 encontram-se os parâmetros utilizados como critério de equilíbrio térmico padrão para o Fox-50, que em sua maioria são empregados para definir se foi atingido o regime permanente. Tabela 3.2: Critérios padrão de equilíbrio térmico para o Fox-50 Descrição Valor Tamanho do bloco 256 Número de estágios consecutivos em equilíbrio 12 Condição de equilíbrio de temperatura 1º𝐶 Equilíbrio das medidas de vazão de calor entre blocos Equilíbrio percentual Blocos de cálculo 200𝜇𝑉 2% 3 O primeiro critério apresentado na Tabela 3.2 refere-se ao tamanho do bloco, que por sua vez determina quantos ciclos de aquisição de dados é organizado em um único bloco, vale ressaltar que a duração de cada ciclo é de aproximadamente 0.5 segundos. O terceiro critério apresentado necessita que a placa superior assim como a placa inferior do equipamento apresente uma variação de temperatura abaixo do valor escolhido pelo usuário em 1ºC. O critério chamado de equilíbrio das medidas de vazão de calor entre blocos baseia-se em um valor absoluto e necessita que a variação dos valores medidos seja inferior a 200𝜇𝑉. O penúltimo critério por sua vez, fundamenta-se no erro relativo sendo satisfeito quando a diferença entre o fluxo de calor medido em dois blocos consecutivos é inferior a 2%. Por fim, o ultimo critério faz referência aos blocos de cálculo, definindo que estes sejam baseados nos valores medidos nos últimos três blocos e o segundo critério referente aos números de estágios consecutivos em equilíbrio garante que pelo menos 12 blocos consecutivos sejam realizados sob as condições de equilíbrio percentual. O critério de inflexão é um critério qualitativo, que deve ser alcançado após todos os critérios quantitativos citados anteriormente serem satisfeitos, este estabelece que valores medidos em blocos consecutivos sob equilíbrio percentual não podem variar em um único sentido, ou seja, sempre aumentando ou diminuindo, e até que este critério seja satisfeito o teste será prolongado, mesmo que o número mínimo de blocos consecutivos sob equilíbrio percentual já tenha sido atingido. 37 Vale ressaltar que as condições estabelecidas para a realização dos testes foram definidas visando minimizar o tempo de cada ensaio sem que ocorressem alterações nos resultados. Desse modo, os resultados apresentados neste estudo foram obtidos a partir dos critérios apresentados na Tabela 3.2, com exceção do tamanho do bloco que passou a ser 64 em vez de 256 e a diferença de temperatura entre as placas superior e inferior que passou a ser 20ºC. Para iniciar o teste primeiramente é preciso por a amostra entre as placas do equipamento, sendo que a placa superior é a superfície quente uma vez é configurada para possuir a temperatura mais elevada e a placa inferior consequentemente será a superfície fria, de modo que o fluxo de calor sai do topo e flua para baixo, a temperatura das placas é mantida constante pelo auxilio do trocador de calor apresentado na Figura 3.3. Tabela 3.3: Curvas de calibração do perspex e policarbonato k (Wm-1 K-1). T (ºC) Perspex Policarbonato −𝟏𝟎 0.184800 0.211300 𝟐𝟎 0.188500 0.223000 𝟒𝟎 0.190900 0.230000 𝟔𝟎 0.193300 0.237000 𝟕𝟎 0.194550 - 𝟖𝟎 - 0.245000 𝟏𝟎𝟎 - 0.253000 𝟏𝟏𝟎 - 0.256400 A segunda etapa consiste em definir o modo de teste a ser realizado, ou seja, de uma ou duas espessuras, assim como quais serão os pares de temperaturas em que as medidas serão obtidas. Deve-se então escolher qual será a curva de calibração que será utilizada para os cálculos. Seguindo as recomendações do fabricante a curva de calibração escolhida deve possuir valores de condutividade térmica próximos à condutividade da amostra a ser medida. Sendo que estas curvas de calibração disponíveis são fornecidas pelo próprio fabricante, e baseiam-se em materiais de condutividade térmica conhecida. Assim para a determinação da condutividade térmica efetiva dos materias avaliados neste estudo, foi selecionado o perspex para os corpos de 38 prova de resina poliéster e o policarbonato para corpos de prova de resina epóxi. Valores de condutividade térmica (em W m-1 K-1) dos dois materiais utilizados como calibração são apresentados na Tabela 3.3. Cada corpo de prova de resina poliéster foi medido a temperaturas médias de 0, 25 e 50ºC, uma vez que a curva de calibração do perspex limita a temperatura da placa quente a uma temperatura máxima de 70ºC, enquanto que os corpos de prova de resina epóxi foram medidos a temperaturas médias de 0, 25, 50 e 75ºC. 3.1.3. Aumento da Condutividade Térmica Com o objetivo de avaliar o aumento da condutividade térmica obtida a partir da adição de lama vermelha nas matrizes de poliéster e epóxi, a relação de condutividade térmica foi definida como: 𝑘∗ = 𝑘 𝑟𝑚 (4.1) 𝑘𝑟 Onde são consideradas as condutividade térmicas dos compósitos modificados com lama vermelha (𝑘𝑟𝑚 ) e da matriz (𝑘𝑟 ), mas como estes foram obtidos experimentalmente, erros de propagação devem ser levado em conta. Definindo as incertezas anteriormente mencionadas como 𝛿𝑘𝑐 e 𝛿𝑘𝑚 respectivamente, o valor atribuído foi de 3% da medida correspondente seguindo o valor da incerteza de medição informado pelo fabricante no manual do equipamento. A incerteza associada à intensificação térmica 𝛿𝑘 ∗ é dada por: 𝛿𝑘 ∗ = 𝛿𝑘 ∗ 𝛿𝑘 𝑟𝑚 𝛿𝑘𝑟𝑚 2 + 𝛿𝑘 ∗ 𝛿𝑘 𝑟 𝛿𝑘𝑟 2 = 1 𝑘𝑟 𝛿𝑘𝑐 2 + 𝑘 𝑟𝑚 𝑘 𝑟2 𝛿𝑘𝑟 2 (4.2) 39 3.2. Medições do DSC 3.2.1. Tipos de Métodos Para Medição do DSC Existem dois métodos para se obter os dados da calorimetria diferencial de varredura, o primeiro é denominado DSC de compensação de energia, e o segundo é denominado DSC de fluxo de calor. Embora os dois métodos forneçam a mesma informação, a instrumentação para os dois é fundamentalmente diferente [48]. 3.2.1.1. DSC de Compensação de Energia Nesta técnica a amostra e o material de referência são aquecidos por dois fornos independentes, onde a temperatura e a energia são monitoradas e geradas por filamentos de platina idênticos, atuando assim como termômetros resistivos e aquecedores. Esta técnica mantém constante o calor fornecido. Mantendo a referência e a amostra com a mesma temperatura, através de um sistema de controle que aumenta imediatamente a energia fornecida para a amostra quando o processo for endotérmico, e aumentando a energia fornecida para a referência quando o processo for exotérmico. Figura 3.6: Diagrama esquemático dos compartimentos do DSC por compensação de energia. 40 3.2.1.2. DSC de Fluxo de Calor Nesta técnica a diferença no fluxo de calor sobre a amostra e a referência é medida conforme a temperatura é aumentada ou diminuída linearmente. É usado apenas um forno, desse modo a amostra e a referência são aquecidas ou resfriadas pelo mesmo sistema de fornecimento de energia. O fluxo de calor é mensurado através dos sensores de temperatura posicionados sob cada cadinho, obtendo assim um sinal proporcional à diferença de capacidade térmica entre a amostra e a referência. Figura 3.7: Diagrama esquemático dos compartimentos do DSC por fluxo de calor. 3.2.1.3. Caracterização A análise térmica, objetivando definir a temperatura de transição vítrea (Tg) dos compostos preparados neste estudo foi medida através do equipamento de DSC da Netzsch (200 F3 Maia), apresentado na Figura 3.8, de acordo com a norma ASTM D3418 [49].Todos os termogramas foram obtidos na faixa de temperatura de 0ºC a 160ºC, com uma taxa de aquecimento de 20ºC/min sob um fluxo de nitrogênio. As especificações do equipamento de DSC encontram-se na Tabela 3.4. 41 Figura 3.8: DSC 200F3 Maia. A técnica térmica de calorimetria diferencial de varredura (DSC) utilizada neste estudo consiste em registrar o fluxo de energia calorífica absorvida ou liberada associada a transições nos materiais analisados, em função da temperatura ou do tempo, sendo, portanto um método de variação entálpica, em que a diferença de energia calorífica entre a referência (geralmente um cadinho vazio) e a sustância analisada é medida em função da temperatura, enquanto ambas são submetidas a um programa de aquecimento ou arrefecimento rigorosamente controlado pelo usuário. Fornecendo desse modo dados tanto qualitativos como quantitativos em processos endotérmicos assim como em processos exotérmicos. Tabela 3.4: Especificações do equipamento DSC 200 F3 Maia. Descrição Valores Faixa de temperatura -170ºC a 600ºC Taxas de aquecimento 0.001 K/min a 100 K/min Taxas de resfriamento 0.001 K/min a 100 K/min Sensor Sistema de fluxo de calor Faixa de medição ± 600 mW Precisão da temperatura 0.1 K Precisão entalpia <1% 42 Os principais componentes do DSC 200 F3 Maia são um forno e um sensor integrado com posições designadas para os cadinhos de amostra e referência, como mostrado no diagrama esquemático na Figura 3.9, que ilustra os sensores de fluxo de calor e de temperatura, os resistores térmicos, assim como o caminho do fluxo de calor e o sistema responsável pelo aquecimento e arrefecimento do forno. As áreas do sensor estão ou conectadas aos termopares ou fazem parte destes, o que possibilita a captação tanto da diferença de temperatura entre o lado da amostra e da referência (sinal DSC) como da temperatura absoluta destas. Figura 3.9: Diagrama esquemático do DSC 200F3 Maia [50]. Os fios de aquecimento do forno cercam toda a placa do sensor, e este arranjo consiste em uma base para um grande fluxo de calor a partir de todos os lados para a amostra assim como para o cadinho de referência, gerando desse modo um sistema estável e consequentemente apresentando resultados mais exatos. A Figura 3.10 ilustra mais detalhadamente os componentes existentes no instrumento utilizado no ensaio de DSC por fluxo de calor, apresentando também a presença do gás de purga, utilizado para substituir a atmosfera existente no forno até atingir a composição de gases desejada. 43 Figura 3.10: Imagem ilustrativa da instrumentação do DSC 200 F3 Maia [50]. 3.2.1.4. Descrição dos Cadinhos Os cadinhos utilizados no DSC devido ao seu formato são conhecidos como ―panelinha‖, são produzidos com materiais altamente condutores de calor, como platina e alumina. Por possuírem bases fortes e planas, possibilitam um excelente contato térmico entre o cadinho e o sensor, assim como baixos gradientes de temperatura. Hermeticamente selados, os cadinhos suportam pressões de até 0,2 Mpa e temperaturas de até 640°C. 3.2.2. Realização dos Testes O instrumento utilizado neste estudo foi o DSC por fluxo de calor. A primeira etapa para a realização do ensaio foi a colocação do cadinho devidamente preparado e vedado, contendo o pó obtido pelo lixamento das amostras dos compósitos modificados com os 44 diferentes teores de lama vermelha (5, 10, 15, 20 e 25%) juntamente com o cadinho de referência vazio, dentro do forno do DSC como mostra a Figura 3.11, com o auxilio de uma pinça própria para o manuseio deste, para impedir assim um contato excessivo com o cadinho, e consequentemente evitar a sua contaminação. Figura 3.11: Na esquerda o cadinho de referência vazio e a direita o cadinho contendo a amostra, no DSC 200 F3 Maia. Após fechar o instrumento corretamente, se inicia a segunda etapa da preparação para a realização do ensaio que é a definição dos parâmetros utilizados para a realização deste, através de um programa fornecido pelo próprio fabricante. Com o auxilio deste programa se define um primeiro período de estabilização do sistema, para que posteriormente se inicie um ciclo térmico preliminar de aquecimento da amostra a uma taxa de 20ºC/min a partir de, pelo menos 50ºC abaixo de 30ºC acima da temperatura de decomposição para que seja apagada a história térmica prévia da amostra [49]. Sendo necessário alterar apenas dois parâmetros para cada amostra analisada, no caso os respectivos pesos somente do cadinho, e deste juntamente com a amostra. Por fim antes de se iniciar o ensaio, é de suma importância verificar o fluxo dos gases de proteção e de purga, para que estes estejam no percentual certo (em torno de 50% do seu fluxo total), para que estes não venham a interferir nos resultados obtidos. Finalmente o programa é posto para rodar e o ensaio se inicia. 45 De acordo com a norma utilizada o ensaio é dividido em três estágios de execução distintos: O primeiro é a curva de calor, empregada para apagar toda a história térmica do processo de cura da amostra; o segundo estágio é o arrefecimento, que pode vir a ser empregado para encontrar a temperatura de cristalização; o último estágio trata de uma nova fase de aquecimento, que neste estudo é empregada para definir a temperatura de transição vítrea (t g) para cada amostra. 46 4. MODELOS TEÓRICOS PARA A PREVISÃO DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA Visando analisar os resultados experimentais obtidos para a condutividade térmica efetiva encontrada pelos corpos de prova analisadas neste estudo, foram pesquisados e empregues alguns modelos teóricos clássicos comumente usados para determinar a eficácia térmica de um sistema bifásico, composto por uma fase dispersa rodeada por uma matriz contínua. Foi empregue um quinto modelo um tanto mais moderno, para esta análise da condutividade térmica efetiva, pois uma vez que este leva em consideração a influência de um fator de aglomeração na condutividade térmica efetiva obtida pelos compósitos, seus resultados poderiam vir a ficarem mais próximos dos dados experimentais. 4.1. Modelos para Previsão de Condutividade Térmica Definindo 𝑘𝑟𝑚 como a condutividade térmica da lama vermelha e 𝑘𝑟 a condutividade térmica das matrizes de resina poliéster insaturada e da resina epóxi, a seguinte relação é definida para a facilitação dos cálculos: 𝛼= 𝑘 𝑟𝑚 𝑘𝑟 (4.1) O primeiro modelo teórico escolhido, para comparação com os dados obtidos experimentalmente, foi um dos primeiros modelos propostos para a determinação da condutividade térmica efetiva, tendo sido apresentado por volta de 1873, por James Clerk Maxwell. Este é um modelo tradicional do cálculo da condutividade térmica efetiva de partículas esféricas solidas, dispersas em uma matriz [51], este modelo foi desenvolvido para partículas relativamente grandes, mas também é aplicável a micropartículas. O Modelo proposto por Maxwell [36] baseia-se na teoria do potencial, onde se leva em consideração que forças fundamentais são provenientes de potenciais que tendem a satisfazer a equação de Laplace [52,53]. Este modelo vem a ser válido para 47 concentrações mais reduzidas de tal modo que a interação entre as partículas não são consideradas. A relação dada pelo modelo de Maxwell é dada pela equação: 𝐾𝑟𝑚 ,𝑀𝑎𝑥 = 𝛼+2+2( 𝛼−1)𝜙 𝛼+2−( 𝛼−1)𝜙 𝑘𝑟 (4.2) O segundo modelo utilizado, foi o modelo proposto por Bruggeman em 1935, que usou como base o modelo proposto por Maxwell, uma vez que ambos consideram a interação entre partículas esféricas em uma solução. Este modelo considera que o meio compósito é formado por grãos dos dois materiais constituintes, assim como descreve que sistemas nos quais o aumento significativo da razão volumétrica do material torna-o tão abundante, que as partículas passam a fundir-se, formando redes desse material [54-57]. Bruggeman [37] derivou um modelo matemático levando em conta que a fase dispersa possua diâmetro variável, o que possibilita a utilização desse modelo mesmo quando a fração da fase dispersa é muito elevada, podendo de esse modo prever a condutividade térmica efetiva para concentrações elevadas, podendo assim se aproximar bastante da realidade. O modelo de Bruggeman é baseado na seguinte relação: 𝐾𝑟𝑚 ,𝐵𝑟𝑢𝑔 = 𝑘𝑟 1 4 3𝜙 − 1 𝛼 + 2 − 3𝜙 ] + ∆ 4 (4.3) Onde o parâmetro ∆ é: ∆= 3𝜙 − 1 2 𝛼 2 + 2 − 3𝜙 2 + 2(2 + 9𝜙 − 9𝜙 2 )𝛼 (4.4) O terceiro modelo empregado neste estudo foi o modelo de Jeffrey [38], publicado em 1973 cem anos após o modelo de Maxwell, no qual este modelo se baseia. No estudo realizado por Jeffrey [38] o modelo de Maxwell é estendido de forma a calcular a condutividade térmica, de modo a basear-se na condução de calor através da suspensão estacionária, aleatória e estatisticamente homogênea de partículas esféricas numa matriz de condutividade uniforme. 48 Utilizando o método de Batchelor [58], para o cálculo da média das interações entre as esferas o modelo de Jeffrey reduziu o problema para apenas as interações entre os pares de esferas. Gerando um modelo que depende dos estados da microestrutura do material e da maneira na qual os pares de esferas são distribuídas em relação um ao outro, considerando o volume de fração das partículas existentes na matriz pequeno. O modelo de Jeffrey é definido pela seguinte fórmula: 𝐾𝑟𝑚 ,𝐽𝑒𝑓 = 𝑘𝑟 1 + 3𝛽𝜙 + 𝜙 2 15𝛽 2 4 + 9 𝛼+2 𝛽 2 16 2𝛼 +3 (4.5) Onde o parâmetro 𝛽 é dado como: 𝛽= (𝛼−1) (4.6) (𝛼+2) O penúltimo modelo empregue nesse estudo foi publicado em 1986, por Davis. Este modelo assim como a maioria dos modelos antecessores utilizou como base o modelo proposto por Maxwell. No modelo de Davis [39] também foi apresentado o cálculo da condutividade térmica efetiva de um material compósito de duas fases contendo inclusões esféricas. Em seu estudo Davis [39] considera uma superfície de um corpo grande mantida a temperatura uniforme, onde um material compósito de extensão infinita com uma temperatura inferior longe do corpo aquecido, calculando desse modo a taxa de transferência de calor a partir do corpo aquecido para o material compósito. Sendo um modelo mais simples dos que seus antecessores pode ser empregue em outras aplicações. O modelo de Davis é baseado na seguinte relação: 𝐾𝑟𝑚 ,𝐷𝑎𝑣 = 𝑘𝑟 3 𝛼−1 (𝜙 2 𝑓 𝛼 +𝜙) 1−𝛼 𝜙+𝛼+2 +1 (4.7) É possível considerar 𝑓 𝛼 ≈ 0.504, quando 𝛼 >>1 , isto é, nos casos em que a condutividade térmica da fase dispersa é muito mais elevada do que a da fase contínua. 49 O último modelo utilizado para a análise dos resultados experimentais obtidos pelos corpos de prova avaliados neste estudo, foi o modelo proposto por Ordinez-Miranda et al.[40], publicado em 2013. Este modelo apresenta um grande diferencial em comparação com os modelos anteriores, ao contrário dos demais este modelo não se limita a uma concentração volumétrica inferior a 15%. Desse modo o modelo de Ordinez-Miranda et al. [40], considera a interação entre as partículas através de um fator de aglomeração, descrevendo assim a condutividade térmica efetiva de materiais compósitos com uma matriz dielétrica para frações em volume de partículas até sua fração máxima não diluída, permitindo desse modo abranger uma variedade maior de compósitos existentes. Segundo os autores as previsões deste modelo demonstraram resultados superiores aos modelos que apresentam um limite de diluição, para os compósitos que possuam altas frações volumétricas. O modelo de Ordinez-Miranda et al. é determinado pela equação: 𝑘𝑟𝑚 ,𝑂𝑟𝑑 = 𝑒𝑥𝑝 𝐶∅ 1−𝛾∅ (4.8) Em que C é uma constante arbitrária, que depende das propriedades térmicas e da geometria das partículas e da matriz e 𝛾 é o fator de aglomeração. 50 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1.Condutividade Térmica Os dados obtidos através dos ensaios realizados no Fox-50 foram agrupados em diferentes tabelas, que são apresentadas nesta seção. Os valores apresentados nestas tabelas referem-se à média da condutividade térmica, obtida através dos resultados encontrados pelas quatro amostras com a mesma concentração. Na Tabela 5.1 encontramse os dados referentes às resinas puras. Tabela 5.1: Valores de condutividade térmica experimental dos compósitos de resina poliéster e resina epóxi puras. Resina 0ºC 25ºC 50ºC 75ºC Poliéster 0.155 0.1574 0.1578 - Epóxi 0.1961 0.2007 0.1995 0.2033 Assim como nas Tabelas 5.2 e 5.3 estão os resultados obtidos para as amostras dos compósitos formados pela mistura de resina poliéster insaturada e da resina epóxi carregadas com diferentes teores de lama vermelha, respectivamente. Tabela 5.2: Valores de condutividade térmica experimental dos compósitos de resina poliéster. % Lama 0ºC 25ºC 50ºC 5 0,1609 0,1643 0,1668 10 0,1658 0,1689 0,1706 15 0,1717 0,1751 0,1775 20 0,1815 0,1853 0,1885 25 0,1894 0,1939 0,1985 51 Tabela 5.3: Valores de condutividade térmica experimental dos compósitos de resina epóxi. %Lama 0ºC 25ºC 50ºC 75ºC 5 0,1963 0,2025 0,208 0,2163 10 0,1993 0,2055 0,211 0,219 15 0,2009 0,2075 0,2167 0,2224 20 0,2153 0,2225 0,2308 0,2363 25 0,2261 0,233 0,2398 0,2528 5.1.1. Em Função da Temperatura As Figuras 5.1 e 5.2 mostram a média dos resultados da condutividade térmica em diferentes temperaturas para os compósitos de resina poliéster e epóxi, respectivamente, com 0, 5, 10, 15, 20 e 25% de fração volumétrica de lama vermelha. Naturalmente, os valores referentes a 0% de lama vermelha, correspondem às amostras de resinas puras. Com o único intuito de facilitar a identificação dos dados, os pontos correspondentes aos resultados experimentais de cada concentração de lama vermelha foram unidos através de linhas. As barras de erro exibidas apresentam as incertezas associadas com os valores de condutividade térmica. Na Figura 5.1 os valores das condutividades térmicas estão relacionados às temperaturas de 0, 25 e 50ºC, em que foram realizadas as medidas. Através deste gráfico é possível observar que a resina de poliéster insaturado pura, apresentou um aumento constante da condutividade térmica efetiva em relação às temperaturas médias medidas. De acordo com os resultados de condutividade térmica efetiva apresentada na Figura 5.1 a adição de lama vermelha nas frações volumétricas de 5 e 10% na resina poliéster, não parecem influenciar significativamente a variação da condutividade térmica em função da temperatura, uma vez que possuem valores muito próximos entre si, principalmente na temperatura de 50ºC. As maiores concentrações de lama vermelha na resina poliéster apresentaram resultados de condutividade térmica efetiva superiores às menores concentrações, 52 principalmente os teores de 20 e 25% de lama vermelha, que proporcionaram um aumento bem mais evidente da condutividade térmica em comparação as demais frações volumétricas, em função da temperatura. 0,2 25% 0,195 0,19 20% krm (W/mºC) 0,185 0,18 15% 0,175 10% 5% 0,17 0,165 0,16 0% 0,155 0,15 -5 5 15 25 35 45 55 Temperature (ºC) Figura 5.1: Variação da condutividade térmica efetiva em função da temperatura de amostras de resinas poliéster com lama vermelha. Ao contrário dos compósitos de resina poliéster, os compósitos de resina epóxi foram submetidos a 0, 25, 50 e 75 ºC, para a realização das medidas de condutividade térmica como pode ser observado na Figura 5.2. A resina epóxi pura mostrou uma aumento mais gradativo da condutividade térmica, como é possível observar através da Figura 5.2. É notório também um comportamento semelhante, das menores concentrações de lama vermelha, apresentadas tanto nos compósitos de reina poliéster como na resina epóxi, isto é, os compósitos contendo frações volumétricas de 5, 10 e 15% de lama mostraram valores de condutividade térmica efetiva próxima entre si em todas as temperaturas. Além do que estas concentrações de lama apresentaram resultados muito próximos aos da resina pura nas temperaturas de 0 e 25ºC,e apesar destes três teores terem efetuado um aumento 53 mais significativo da condutividade térmica nas temperaturas de 50 e 75ºC em comparação com a resina pura, ainda fincaram próximos entre si. Este comportamento pode significa, que para o intervalo de temperatura de 0 à 25ºC, a dependência da temperatura é negligenciável, para as frações volumétricas de 5, 10 e 15% de lama vermelha nas resinas epóxi. Em contra partida nas frações volumétricas de 20 e 25% de lama vermelha é possível observar um salto da condutividade térmica destes compósitos, principalmente a concentração de 25% de lama vermelha que obteve um aumento ainda mais evidente entre as temperaturas de 50 à 75ºC. 0,26 25% 0,25 krm (W/mºC) 0,24 20% 0,23 15% 10% 5% 0,22 0,21 0% 0,2 0,19 -5 5 15 25 35 45 55 65 75 Temperature (ºC) Figura 5.2: Variação da condutividade térmica efetiva em função da temperatura de amostras de resinas epóxi com lama vermelha. O aumento da condutividade térmica efetiva com o aumento da temperatura medida apresentada, em diferentes proporções, por todos os compósitos pode vir a ser atribuída ao calor transferido por elétrons, fótons e impurezas durante o processo térmico. 54 5.1.2. Comparação da Condutividade Térmica entre Matrizes Diferentes Os compósitos analisados neste estudo foram confeccionados com duas matrizes distintas, no caso uma matriz de resina poliéster e de resina epóxi. Na Tabela 5.1 encontram-se os valores obtidos para a condutividade térmica efetiva para as duas resinas puras nas temperaturas medidas. Vale ressaltar que os corpos de prova de resina poliéster não puderam ser medidos a 75ºC, devido a limitações dos dados do material de calibração usado, no caso o perspex. Tendo em vista esta limitação, foi escolhida a temperatura de 50ºC, para serem feitas as análises sobre a influência das matrizes diferentes, uma vez que possuírem os maiores valores de condutividade térmica Krm (W/m◦C) apresentados pela resina poliéster. 0,27 Poliester 0% 0,26 Poliéster 25% 0,25 Epóxi 0% 0,24 Epóxi 25% 0,23 0,22 0,21 0,20 0,19 0,18 0,17 0,16 0,15 -5 5 15 25 Temperatura 35 (◦C) 45 55 Figura 5.3: Variação da condutividade térmica efetiva em função da temperatura de amostras de resinas poliéster e epóxi puras e carregadas com 25% de lama vermelha. Na Figura 5.3 encontra-se o gráfico da condutividade térmica em função da temperatura, onde é possível observar os valores obtidos tanto para as resinas puras, 55 como destas carregadas com a maior fração volumétrica de lama vermelha usada neste estudo (25%). Ao avaliar o gráfico existente na Figura 5.3 fica claro que os corpos de prova de resina epóxi apresentam valores de condutividade térmica efetiva em toda a faixa de temperatura medida, superior do que os dados obtidos pela resina poliéster, tanto para a resina pura como desta carregada com lama. 1,3 Poliéster 1,25 Epóxi Krm /Kr 1,2 1,15 1,1 1,05 1 0 5 10 15 20 25 30 Fração Volumétrica (%) Figura 5.4: Comparação dos resultados obtidos a 50ºC da intensificação térmica gerada pela adição de lama vermelha nas resinas poliéster e epóxi. Visando melhor compreender a influência das matrizes sobre os resultados apresentados pelos compósitos, foi feita uma comparação da intensificação térmica (Krm/Kr) obtida com as duas resinas, com a adição de lama vermelha, como mostrado na Figura 5.4. A intensificação térmica da resina poliéster se mostrou superior a da resina epóxi, como demonstrado na Figura 5.4. Esse comportamento se assemelha a intensificação térmica de um sistema bifásico, que se mostra maior quanto menor a condutividade térmica da fase contínua [59]. 56 Tabela 5.4: Aumento absoluto (e relativo) de condutividade térmica a 50ºC obtido com a adição de lama vermelha nas resinas poliéster e epóxi. Teor de lama vermelha (%) Poliéster Epóxi 5 0,009 (5,7%) 0,0085 (4,3%) 10 0,0128 (8,1%) 0,0115 (5,8%) 15 0,0197 (12,5%) 0,0172 (8,6%) 20 0,0307 (19,5%) 0,0313 (15,7%) 25 0,0407 (25,8%) 0,0403 (20,2%) Ao avaliar somente a diferença entre a condutividade térmica dos compósitos e da matriz, pode se notar um aumento absoluto de condutividade térmica efetiva para as duas matrizes utilizadas, como demonstrado na Tabela 5.4. 5.1.3. Condutividade Térmica Comparada com Diferentes Modelos Teóricos Os resultados experimentais da condutividade térmica dos compósitos fabricados com teores de 0, 5, 10, 15, 20 e 25% de lama vermelha foram comparados com os dados obtidos a partir dos modelos de condutividade térmica. Para a confecção dos gráficos encontrados na Figura 5.5, foram plotados os valores da condutividade térmica média encontrada nas Tabelas 5.1, 5.2 e 5.3 juntamente com as estimativas dos cinco modelos de condutividade térmica usados neste estudo. Sendo que na Figura 5.5A estão os dados obtidos para a resina epóxi e na Figura 5.5B encontram-se os dados para a resina poliéster insaturado. Novamente foram usados somente os valores obtidos na temperatura de 50ºC, tanto para os compósitos de resina poliéster como de resina epóxi, uma vez que ao analisar os gráficos de condutividade térmica, na faixa de temperatura de 0 à 50ºC, os resultados obtidos nesta temperatura foram superiores aos demais. . 57 Figura 5.5: Comparação dos dados experimentais obtidos para os compósitos epóxi (A) e poliéster insaturado (B) com os modelos de condutividade térmica. 58 Ao observar a Figura 5.5 é possível notar que os modelos de Maxwell [36], Jeffrey [38], apresentaram valores muito próximos assim como o modelo de Davis [39] em todas as frações volumétricas de lama vermelha. Em contra partida o modelo de Bruggeman [37] fornece valores mais significativos de condutividade térmica à medida que a concentração de lama vermelha vai aumentando, mas ainda assim inferiores aos dados obtidos experimentalmente. O fato de esses modelos subestimarem os resultados experimentais pode estar relacionado ao fato deles não considerarem alguns parâmetros importantes na avaliação da condutividade térmica, como por exemplo, a resistência interfacial entre as partículas da lama e a matriz, e embora esta seja mais pronunciada em partículas menores, poderia ser possível que as partículas esféricas da lama vermelha possam ter formado aglomerados, o que também reduziria a resistência interfacial. Já modelo de proposto por Ordinez-Miranda et al. (crowding factor) [40], considera interações entre as partículas apresentando um fator de aglomeração, possuindo desse modo resultados que estão de acordo com os dados experimentais, não apenas para as menores concentrações como também para os maiores valores da fração volumétrica de lama vermelha, como pode ser visto na Figura 5.5. Os dados encontrados para os compósitos contendo lama vermelha são um resultado razoável, pois as partículas de ferro existentes na lama vermelha apresentam uma condutividade térmica 100 vezes maior do que as das resinas de poliéster insaturado e de epóxi puro, o que leva a uma configuração na qual a condutividade térmica do composto, torna-se fracamente dependente na condutividade das partículas. 5.2.Temperatura de Transição Vítrea A temperatura de transição vítrea (Tg) é um importante parâmetro físico empregado para caracterizar as mudanças estruturais que ocorrem durante as condições de teste [60]. Neste estudo os valores da temperatura de transição vítrea foram calculados a partir de termogramas de DSC, fornecidos pelo instrumento 200F3 Maia. A Tg é definida em relação ao fluxo de calor medido, de preferência em experimentos de resfriamento [43], que foi o método aplicado para a capitação dos dados deste estudo. 59 Na Tabela 5.5 encontram-se os dados referentes a transição vítrea dos copos de prova de resina de poliéster insaturado e de resina epóxi. Tabela 5.5: Temperatura de transição vítrea (Tg) dos compósitos de lama vermelha. Teor de lama vermelha (%) Poliéster (ºC) Epóxi (ºC) 𝟎 74.3 72.8 𝟓 71.0 69.8 𝟏𝟎 70.1 69.9 𝟏𝟓 71.2 69.3 𝟐𝟎 71.9 69.4 𝟐𝟓 72.4 69.3 Ao observar os valores apresentados na Tabela 5.6, nota-se um ligeiro decréscimo, inferior a 6%, da temperatura de transição vítrea média obtida com a adição de diferentes teores de lama vermelha, em comparação aos resultados obtidos pelas resinas puras. Tabela 5.6: Redução absoluta (e relativa) da transição vítrea obtidas com a adição de lama vermelha nas resinas poliéster e epóxi. Teor de lama vermelha (%) Poliéster (ºC) Epóxi (ºC) 𝟓 3,3 (4,44%) 3 (4,12%) 𝟏𝟎 4,2 (5,65%) 2,9 (3,98%) 𝟏𝟓 3,1(4,17%) 3,5 (4,8%) 𝟐𝟎 2,8 (3,77%) 3,4 (4,67%) 𝟐𝟓 1,9 (2,55%) 3,6 (4,95%) Na Figuras 5.6 encontra-se um termograma dos compósitos de poliéster insaturado carregados com lama vermelha, assim como na Figura 5.7 está um termograma dos compósitos de resina epóxi carregada com diferentes teores de lama, obtidos nos ensaios realizados pelo DSC 200F3 Maia. 60 Figura 5.6: Termograma DSC para os compósitos de resina poliéster insaturado, carregados com resíduos de lama vermelha. Na Figura 5.6 é possível observar que o comportamento térmico dos compósitos de poliéster não é alterado pelo teor de lama vermelha existente na matriz. Comportamento semelhante ao apresentado pelos compósitos epóxis, como é identificado na Figura 5.7, onde o comportamento térmico também não foi comprometido pela quantidade de resíduos de lama vermelha Tanto no termograma da Figura 5.6 como no da Figura 5.7, é possível observar então que com o aumento do teor de lama vermelha, ocorreu um aumento no calor necessário para originar uma mudança física estrutural.O que pode ser explicado por uma interação ineficiente entre as moléculas das resinas poliéster e epóxi com as moléculas da lama vermelha. 61 Figura 5.7: Termograma DSC para os compósitos de resina epóxi, carregados com resíduos de lama vermelha. 62 6. CONCLUSÕES É apresentado neste estudo uma pesquisa experimental sobre a condutividade térmica efetiva de materiais compósitos de matriz polimérica, produzidos com um resíduo do processo de fabricação da alumina, lama vermelha, com diferentes frações mássicas (5, 10, 15, 20 e 25%). As matrizes utilizadas foram as resinas poliéster insaturado e epóxi. Os compósitos confeccionados com os diferentes teores de lama vermelha foram cuidadosamente preparados e posteriormente analisados através de um medidor de fluxo de calor o Fox-50, onde foram realizados testes a 0, 25, 50 e 75ºC para os compósitos de resina poliéster insaturado e 0, 25 e 50ºC para os compósitos de resina epóxi, temperaturas definidas pelo material de calibração empregue para cada grupo de amostras. O outro ensaio realizado foi a calorimetria diferencial exploratória (DSC) com o auxilio de equipamento F3 Maia, para se obter a temperatura de transição vítrea. A condutividade térmica efetiva dos compósitos de lama vermelha obtida experimentalmente foi analisada sobre diferentes vertentes. A primeira análise foi em relação aos diferentes teores de lama vermelha empregues, e como o esperado a condutividade térmica efetiva aumentou com o aumento da concentração de lama vermelha. Outro aspecto avaliado foi a temperatura, e de acordo com os resultados apresentados pelos compósitos, é possível observar que a influência da temperatura na variação de condutividade térmica dos compósitos de resina poliéster com 5 e 10% em peso de fase dispersa apresentou resultados muito próximos. Os compósitos com matriz de resina epóxi apresentaram um aumento da condutividade térmica semelhante ao da matriz para as concentrações de 5, 10 e 15% em peso, nas temperaturas de 0 e 25ºC. Tanto os compósitos de matiz de resina poliéster insaturado como osde resina epóxi obtiveram um salto nos valores obtidos pela condutividade térmica efetiva em todas as temperaturas para as frações mássicas de 20 e 25% de lama vermelha. As diferentes matrizes usadas neste estudo foram outro ponto analisado para as condutividades térmicas efetivas obtidas pelos compósitos, os resultados apontaram que os valores obtidos para a condutividade térmica efetiva apresentada pela resina epóxi foram maiores em toda a faixa de temperatura medida. Sendo que todos os compósitos apresentaram um aumento absoluto da condutividade térmica efetiva para as duas 63 matrizes usadas neste estudo em comparação com os dados obtidos pelas matrizes. O maior aumento absoluto apresentado pelos compósitos de resina poliéster foi de aproximadamente de 25,8%, para os corpos de prova contendo 25% de fração mássica de lama vermelha, este mesmo percentual de lama resultou no maior aumento absoluto da condutividade térmica efetiva para as amostras de resina epóxi, no caso 20,2% de aumento absoluto. Foi observado que ao comparar os resultados da intensificação térmica obtida pelas duas resinas carregadas com lama vermelha, que os valores alcançados pela resina poliéster mostraram-se superiores ao de reina epóxi, este efeito pode ser explicado pela possível presença de bolhas nos corpos de prova de resina epóxi, além do fato que uma menor razão entre as condutividades térmicas das partículas e da matriz de resina epóxi podem ter sido responsáveis pela menor intensificação térmica observada nos compósitos dessa matriz. Os resultados obtidos experimentalmente pela condutividade térmica efetiva dos compósitos fabricados neste estudo foram comparados com quatro modelos tradicionalmente utilizados, para prever a variação das propriedades de compósitos particulados de acordo com a concentração de partículas,estes modelos não apresentaram um bom ajuste com os resultados experimentais, o que sugere que possam existir mecanismos que afetam a transferência de calor no material que não são considerados por estes modelos. Em contra partida o quinto modelo usado para a previsão da condutividade térmica efetiva, apresentou resultados que se adequaram aos valores obtidos experimentalmente pelos compósitos, o que pode ter ocorrido devido ao fato deste modelo levar em consideração o fator de aglomeração, além de ser aplicado a compósitos que possuam grandes concentrações da fase dispersa. As transições vítreas apresentada pelos compósitos modificados com os diferentes teores de lama vermelha apresentaram um leve decréscimo inferior a 6%, em comparação aos resultados obtidos pelas resinas puras, fenômeno que pode ter sido gerado pela interação ineficiente entre as moléculas da resina de poliéster insaturado e resina epóxi com as moléculas de lama vermelha. Os resultados apresentados neste estudo podem contribuir a um melhor entendimento das propriedades apresentadas pela lama vermelha, e como está pode vir a interagir com outros materiais, originando compósitos que apresentem uma combinação desejada de propriedades que possam ser utilizadas em diversas aplicações. 64 Desse modo os compósitos de lama vermelha podem vir a ter uma boa aplicação no mercado de engenharia, devido ao seu fácil manuseio e boa condutividade térmica. Para tanto é claro, se vê necessário um estudo mais abrangente sobre a lama vermelha, que envolva este resíduo juntamente com outros materiais que atuem como fase contínua, e desse modo compreender uma maior gama das propriedades macroscópicas da lama vermelha. Assim como realizar outros tipos de ensaios envolvendo os compósitos de lama vermelha, como por exemplo, ensaios que envolvam eletricidade. Com esta melhor compreensão, a lama vermelha tenderá a ser cada vez mais empregue em diversos produtos, e com o tempo vir a eliminar o armazenamento de lama vermelha no Brasil. 65 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] K. M. REESE, W. H. CUNDIFF. ―In Aluminum production the first stage is Alumina‖. Industrial and Engineering Chemistry. v. 47. n. 9, p. 1672-1680, 1955. [2] D. McCONCHIE, M. CLARK, F. DAVIES-McCONCHIE. ―New strategies for the management of bauxite refinery residues (red mud)‖. In: Proceedings of the 6th international alumina quality workshop, Brisbane, Australia, p. 327-332, 2002. 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