30-07-2006 - Chico Ornellas

Transcrição

30-07-2006 - Chico Ornellas
do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
Mais Demi do
que Natalie
Amigo Chiquinho
Recebi, por envio de uma amiga comum, exemplar do
Diário de Mogi do dia 23 de julho. Ela me havia telefonado
antes, contando que eu teria sido personagem de uma crônica que você teria publicado no jornal, relatando um encontro
nosso em São Paulo. Duvidei; achei que era brincadeira. Fui
ver na página do jornal na internet e não encontrei a tal crônica. Aí liguei para ela, duvidando ainda mais da novidade
que me havia contado. Ela resistiu e pediu a um filho, que
estuda em São Paulo, que me trouxesse o jornal. Não acreditei! Continuo não acreditando! Você viajou!
O pior de tudo é que não posso brigar com você. Primeiro
porque não brigo com quem não vale a pena. E faz muito
tempo, desde a época do Instituto de Educação, quando você
fazia o Clássico e eu o Normal, aprendi a não brigar com
você. Você nunca teve jeito. Segundo porque, no fundo no
fundo, você não inventou nada e relatou minha experiência
com O curso de auto-estima feminina e as técnicas de striptease com absoluta precisão. O problema estava comigo, não
com você. Quem mandou em contar-lhe isso.
Mas há um reparo a fazer no seu texto. Meu marido, meu
querido e amado marido não me compara com Natalie
Portman, a stripper do "Closer". Aqui também parte da culpa é minha, que lhe contei, no café do Shopping Higienópolis,
que meu marido se lembrava sempre daquele filme em que
uma artista fazia o papel de stripper. Você foi atrás e achou o
filme "Closer", com Natalie Portman.
Na realidade, a comparação que ele faz - e muito me
envaidece - é com Demi Moore, a protagonista do filme
"Striptease", de 1996; No filme, ela tira (quase) toda a roupa, interpretando uma dançarina de strip-tease que precisa
manter a guarda de sua filha. Também estão no filme Com
Burt Reynolds, Armand Assante e Ving Rhames.
Nele, Demi Moore faz o papel de Erin, moça que perde
o emprego de secretária no FBI por causa do marido, um
pequeno golpista. Por não ter emprego, perde a custódia da
filha. Começa então a trabalhar como stripper e se vê às
voltas com o ex-marido trapalhão, um congressista tarado
e um detetive que quer ajudá-la.
Mas, deixa isso pra lá. Tudo está bem, tudo está ótimo.
Sei que não adianta pedir-lhe que não publique este e-mail.
Sei que é perda de tempo.
Com afeto
Tidika Bueno
0 bacalhau do Zé
Há uma particularidade curiosa em
Mogi das Cruzes: a sorte da Cidade com
seus quadros do Poder Judiciário. Salvo
raríssimas exceções - de todos conhecidas - Mogi sempre se deu bem com os
seus juizes. E os seus juizes também sempre se deram bem com a Cidade. E com a
carreira, do que são prova e exemplos Nelson Pinheiro Franco e Sérgio Augusto
Nigro Conceição, que chegaram à presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo e continuaram, por vocação, mantendo
estreitos laços com os amigos daqui.
em reuniões gastronômicas que ele promove - ou às quais comparece - , sempre
com um humor apurado.
Certa vez foi na Chácara de Santa Fé.
Outra foi no Restaurante do Tufy, onde Zé
Elias agendou um bacalhau. Estava impecável. O bacalhau e o Zé, sempre disposto
a relembrar passagens curiosas. Como
aquela audiência no Fórum de Mogi. Ele
era o juiz e recebeu uma das testemunhas
no processo para a oitiva de praxe. A testemunha estava enfiada na cadeira, numa pos-
O estereotipo disso chama-se José
Elias Habice, hoje desembargador do
Tribunal de Alçada e professor de Direito. Eu o conheci em 1976. Havia
então voltado à Cidade para fazer o
Diário de M o g i e ele estava recém
empossado na Comarca local. O primeiro bispo da Cidade, dom Paulo
Rolim Loureiro, havia falecido havia
alguns meses em um acidente da Avenida Sena Madureira, em São Paulo,
e a chamada "elite dirigente" reuniuse em um jantar para recepcionar, no
Clube de Campo, o novo bispo que viera de Orlândia, dom Emílio Pignoli.
No jornal, a esse tempo, eu cuidava de
manter acesa a questão de exploração do
subsolo: com decretos de lavra e liminares
judiciais, mineradoras ocupavam terrenos
de terceiros, cavocando-os e abandonando sem recuperação o que eram áreas passíveis de abrigar indústrias. Pois foi no Clube de Campo, naquele jantar clerical, que
um homem recém-entrado nos 30 abordou o jornalista recém-entrado nos 20.
"Você é o jornalista Francisco
Ornellas? Pois eu sou o dr. José Elias,
juiz de Direito. Quero lhe dizer que concordo com a posição do jornal na questão das mineradoras; mas não tenho
como fugir à lei".
Impressionou-me a franqueza do magistrado e a passagem nunca mais saiume da cabeça. Voltei a encontrar José
Elias, com mais freqüência, entre 1994 e
1998, então quase diariamente na Universidade Braz Cubas. E, esporadicamente,
tura que, ao juiz, pareceu desrespeitosa: a
cabeça encostada ao tampo da mesa. O
meritíssimo, em nome da liturgia do cargo,
chamou-lhe a atenção: "Componha-se". A
testemunha respondeu:
"Eu o faria doutor, se não estivesse
com a perna engessada a me obrigar a
esta desconfortável posição".
A o juiz não restou outra alternativa
senão erguer o jornal que tinha sobre a
mesa e cobrir o rosto para o inevitável
sorriso.
Década de 1970 O meritíssimo
desembargador
José Elias Habice
Filho, então juiz de
Direito em Mogi das
Cruzes, agachado à
esquerda espera
que, vassoura na
mão, o também
desembargador
Egas Dirson
Galbiatti dê um jeito
no Ginásio do
União FC, onde se
processava a
apuração de uma
eleição
Tesouro mogiano O Casarão do Chá,
aqui em foto anterior à
instalação da cobertura.
Que o protege, mas
compromete a
originalidade.
Construído pela
Sociedade Katakura
Gomei Kaisha no início
da II Guerra Mundial,
era responsável pela
industrialização do Chá
Tókio, que chegou a ser
exportado para a
Holanda e Suécia. O
negócio durou pouco e
já no final da década de
1940 não servia mais
aos propósitos para os
quais foi idealizado.
Esqueçam Natalie Portman. Nossa amiga diz que
está muito mais para Demi Moore, na foto em
cena do file "Striptease"
li;
As benzedeiras de
Mogi. Gente que
mantém tradição
secular de fé e que
segue preservando
costumes e crenças
Ela está com perto de 90 anos. Já
não enxerga mais e vive na cama, atendida por uma sobrinha neta que não se
casou. A sobrinha tem hoje 65 anos de
idade. Moram em Cabreúva, para onde
a velha senhora se mudou depois de
viver por mais de 40 anos em Mogi das
Cruzes. Há 30 anos, Madame X fez,
para O Diário de Mogi, suas primeiras previsões, utilizando as técnicas que
aprendeu com sua avó, de quem herdou também os dotes de vidente. Fala
com dificuldades e só responde às perguntas que lhe são feitas por intermédio da sobrinha neta. Insiste em ignorar terceiros.
P - A senhora se lembra de Mogi
das Cruzes?
Na falta de fiscalização, os Madame X - Não teria como escaminhões tomaram contaquecer aquela Cidade onde vivi 40 anos,
onde tive os momentos mais alegres
da Rodovia Mogi-Bertiogade
minha vida. E também minhas mainos finais de semana.
ores desilusões. Mogi das Cruzes tem
Período em que seu
a fama de ser uma péssima mãe e uma
tráfego continua proibido.ótima madrasta. Judia como ninguém
de seus filhos naturais e protege os ado-
tivos também como ninguém
P - A senhora deixou de fazer previsões?
Madame X - Deixei há muito tempo, ainda em Mogi das Cruzes. Por vários anos atendi ao pessoal de um jornal
de lá e isso me causou muitos dissabores. As pessoas pareciam não entender
que as previsões estão no universo, elas
orbitam as galáxias e gente como eu são
apenas o meio de transmiti-las. Não temos influência sobre elas, não as dominamos e muito menos torcemos para que
se tornem realidade ou não. Isso foge
de nossa competência.
P - A senhora poderia citar alguns
dos dissabores que suas previsões
provocaram?
Madame X - Lembro-me bem que,
num ano pré-eleitoral, fiz previsão sobre
o resultado das eleições e elas provocaram grande rebuliço na cidade. Logo eu,
que nunca tive título de eleitor, me vi envolvida por questões políticas que abomino. Uma outra previsão que me deixou muito triste foi quando uma senhora
da Cidade me procurou para saber como
seria seu futuro no casamento e eu lhe disse que ela seria infeliz. A senhora saiu brigando comigo. Dois meses depois, o exmarido me procurou para agradecer. Estava vivendo com a cunhada.
P - Qual a sua previsão, em relação
a Mogi das Cruzes, que se confirmou
e lhe deu crédito ainda maior?
Madame X - Foi quando eu previ, com
meses de antecedência, que a construção
da estrada Mogi-Bertioga enfrentaria sérios problemas de ordem burocrática. Nada
envolvendo recursos, mas sim a ação de
ecologistas defendendo o Parque da Serra
do Mar. E que a estrada, apesar disso, ficaria pronta na data prevista. Fiz a previsão para um engenheiro de Mogi mesmo,
que me procurou dizendo que trabalhava
na obra e que seu patrão pedira-lhe que
me ouvisse. Essa previsão me deixou muito satisfeita internamente. Mas, depois, nem
convite para a inauguração eu recebi.

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