MORANGUEIRO CULTIVADO EM SUBSTRATO SOB TÚNEL BAIXO
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MORANGUEIRO CULTIVADO EM SUBSTRATO SOB TÚNEL BAIXO
MORANGUEIRO CULTIVADO EM SUBSTRATO SOB TÚNEL BAIXO1 Maria Helena Fermino2, Ângela Cristina Busnello3, Alice Battistin², Bruno B. Lisboa², Bernadete Radin² RESUMO O presente trabalho foi realizado na Estação Experimental da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul, na cidade de Eldorado do Sul. Em sacolas de polietileno, dispostas sobre o solo e cobertas com túnel baixo, foram distribuídas 10 plantas de morangueiro da Cultivar Verão, em 3 repetições. Os substratos estudados foram turfa marrom in natura, pura e em misturas com cinza de casca de arroz nas proporções de 60:40, 50:50 e 40:60, volume:volume. Os substratos foram avaliados quanto à densidade úmida e seca, porosidade total, espaço de aeração e disponibilidade de água, além de valor de pH, teor total de sais solúveis e condutividade elétrica. A cultivar foi analisada quanto ao peso e número total dos frutos, número médio de frutos e peso médio dos frutos por planta, dos frutos bons e dos ruins. Para as variáveis físicas do substrato, a turfa marrom pura apresentou resultados significativamente superiores (densidade úmida e seca, porosidade total e disponibilidade de água). Da mesma forma, para as variáveis da cultivar de morangueiro (número e peso total de frutos bons e número médio de frutos bons por planta), a turfa pura apresentou valores significativamente superiores aos demais substratos. PALAVRAS-CHAVE: Fragaria x ananassa Duch.; turfa; cinza de casca de arroz; caracterização de substrato; qualidade de frutos. 1 Artigo apresentado no VII ENSub, 15-18 de setembro de 2010, Goiânia, Goiás, Brasil FEPAGRO, Rua Gonçalves Dias, 570; Porto Alegre/RS; CEP 90130-060;‖ [email protected]‖ ―[email protected]‖ ―[email protected]‖ ―[email protected] ― 3 busnelo 2 2 ABSTRACT STRAWBERRY GROWN ON SUBSTRATE UNDER LOW TUNNEL This work was done in experimental station of State Search Agropecuária do Rio Grande do Sul, in the town of Eldorado do Sul. In polythene bags, arranged on the ground and covered with tunnel were distributed 10 plants of Strawberry plant summer, 3 repetitions. The substrates studied were brown peat, pure and mixed with ricehulls ash in the proportions of 60: 40, 50: 50 and 40: 60, volume: volume. The substrates have been assessed on wet and dry density, total porosity, aeration space and availability of water, in addition to pH, total content of soluble salts and electrical conductivity. The cultivar was analysed as to fresh and dry weight of the air, weight, and the total number of fruit, average number of fruit and average weight of fruit per plant, good and bad. For physical substrate variables, pure peat Brown scored significantly higher (wet and dry density, total porosity, and availability of water). Similarly, for the variables of cultivating Strawberry (number and the total weight of fruit good and average number of good fruit per plant), peat pure has significantly superior to other substrates. KEY-WORDS: Fragaria x ananassa Duch.; peat; gray bark rice; characterization of substrate; quality of fruit. INTRODUÇÃO A importância da produção de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) deve-se a sua boa aceitação, produtividade e riqueza em vitamina C (Gusmão, 2000). No entanto, a cultura é suscetível a incidência de fungos de solo e bacteriose e recebe, conseqüentemente, excessiva aplicação de produtos químicos, sabendo-se que parte da produção chega ao mercado com resíduo (Gusmão, 2000; Fernandes Júnior, 2002). 3 A ocorrência de enfermidades deve-se à existência de patógenos nos solos agrícolas intensamente utilizados. Várias são as alternativas indicadas para reduzir esta ocorrência, dentre elas, a aplicação de rotação de culturas, embora seja uma prática de difícil adequação às pequenas propriedades, e a produção em sistemas hidropônicos, com ou sem substrato. Na serra gaúcha, região tradicional no cultivo de morangueiro, os produtores têm utilizado cinza de casca de arroz como substrato em sacolas ou bolsas sob estufa ou túnel baixo. No entanto, estudos sobre caracterização de substratos limitam o uso da cinza de casca de arroz pelo baixo valor da porosidade total e alta retenção de água. Desta forma, este trabalho teve por objetivo estudar o uso de uma turfa in natura, pura e em misturas com cinza da casca de arroz, em sacolas e sob túnel baixo, para produção de morangueiro. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na Estação Experimental da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul, FEPAGRO, na cidade de Eldorado do Sul, no período de 21 de junho a 02 de dezembro de 2005. Os recipientes de cultivo constavam de sacolas de polietileno branco com 2,10m de comprimento e 20cm de diâmetro, onde foram distribuídas 10 plantas de morangueiro da cultivar Verão, a cada 20cm, em 3 repetições. As sacolas foram dispostas lado a lado sobre o solo e cobertas com túnel baixo em forma de arco. Os substratos estudados foram turfa marrom in natura (T), da empresa Florestal SA, de Araranguá, Santa Catarina, como testemunha, e em misturas com cinza de casca de arroz nas proporções (T:Cinza) de 60:40, 50:50 e 40:60, volume:volume. 4 Foi utilizada uma adubação de formulação comercial, realizada via fertirrigação através de mangueiras gotejadoras que passavam por dentro das sacolas. Cada gotejador estava posicionado para ficar próximo da muda. A colheita deu-se a partir do dia 22 de setembro, duas vezes por semana, até 1º de dezembro. Os substratos foram avaliados quanto à densidade úmida e seca, porosidade total, espaço de aeração e disponibilidade de água. Todas as avaliações foram realizadas em triplicata e a análise estatística deu-se através do Programa Sigma Stat 3.2., sem transformação de dados. Para a determinação das densidades úmida e seca foi empregado o método descrito pela IN DAS Nº 17 de 21/05/2007. A determinação da Porosidade Total, Espaço de Aeração e Disponibilidade de Água foi realizada através de curvas de retenção de água nas tensões de 0, 10 e 50cm de altura de coluna de água, correspondendo às tensões de 0, 10 e 50hPa, conforme De Boodt & Verdonck (1972). * vedação do fundo dos anéis com tecido de nylon preso por um atilho de borracha e pesagem destes anéis; * preenchimento dos anéis metálicos, de 68,7 ml de capacidade, com os substratos; a quantidade deve ser calculada através da densidade dos mesmos, para garantir a uniformidade de volume; * colocação dos anéis em bandejas plásticas com água até 1/3 de sua altura, para saturação, por 24 horas; * retirada dos anéis da água; * pesagem dos anéis. O volume de água contida na amostra neste momento corresponde ao ponto zero de tensão (0 hPa), correspondendo à porosidade total; 5 * transferência dos anéis para a mesa, previamente ajustada para tensão de -10 cm de coluna de água; * permanência na mesa até atingir equilíbrio (cerca de 48 horas); * pesagem; * retorno dos anéis a mesa ajustada para tensão de -50 cm (50 hPa); * aguardar equilíbrio; * pesagem; * secagem das amostras em estufa a 65°C até peso constante (ou 48 horas), para determinação dos teores de umidade e peso da matéria seca. A construção das curvas de retenção de água foi efetuada com os valores de umidade volumétrica obtidos através dos percentuais de água retida para cada tensão. De posse destes dados, foram obtidas as seguintes características: Porosidade Total (PT): corresponde à umidade volumétrica presente nas amostras saturadas (tensão 0) [Massa da amostra saturada – Massa da amostra seca (estufa)] PT = ———————————————————————————— x 100 Volume do anel (mL) Espaço de Aeração (EA): representado pela diferença obtida entre a porosidade total e a umidade volumétrica na tensão de 10 cm. [Massa da amostra saturada - Massa da amostra na tensão de 10hPa] EA = ———————————————————————————— x 100 Volume do anel (mL) Água Facilmente Disponível (AFD): volume de água encontrado entre os pontos 10 e 50 cm de tensão. Massa da amostra saturada - Massa da amostra na tensão 50hPa] AFD = ———————————————————————————— Volume do anel (mL) x 100 6 Para a determinação do valor de pH as leituras são feitas em suspensões de substrato:água deionizada na proporção de 1:2,5 (v:v), através de potenciômetro. O método consiste em: * Colocar, em becker de 100mL, 20mL da amostra (calculado segundo a densidade) e 50mL de água deionizada; * Homogeneizar as suspensões com bastão de vidro logo após a colocação da água, e depois de 30 minutos e uma hora; * Fazer a leitura com potenciômetro previamente calibrado; * Lavar o eletrodo após cada leitura com água deionizada e secar em papel toalha. Para a determinação do Teor Total de Sais Solúveis (TTSS) o método utilizado é o proposto por Rober & Schaller (1985). A condutividade do extrato, expressa como teor de KCl, determina o Teor Total de Sais Solúveis de uma suspensão de substrato:água deionizada, na proporção 1:10 (peso:volume), através dos seguintes passos: * Colocar em frasco "snap-cap", 20g de substrato e 200mL de água deionizada; * Agitar por 3 horas em agitador mecânico; * Deixar em repouso até decantação das partículas; * Havendo necessidade, proceder a filtração das suspensões com papel de filtro ou centrifugação; * Fazer leitura em condutivímetro, da condutividade elétrica do material filtrado; * Realizar uma prova em branco para ajustes devido ao uso do papel filtro; * Expressar os resultados em gramas de KCl por litro de substrato, através dos seguintes cálculos: ―X‖ x C x 56,312 x [D.úmida (kg m-³)] / 1000 TTSS (g L-¹) = —————————————————————— Volume do anel (mL) x 100 7 X = leitura do condutivímetro em Siemens x 10-4 C = constante da célula do condutivímetro = ―1‖ para aparelhos com correção automática de temperatura. 56,312 = fator de correção da temperatura à 25°C. 100.000 = fator de conversão das unidades para kg m-³ (= g L-¹). Para a determinação do valor da condutividade elétrica as leituras são feitas em suspensões de substrato:água deionizada na proporção de 1:5 (v:v). Condições da água: a 25ºC, < 0,2 mS/m (<0,002dS/m a 25ºC). A cultivar foi avaliada quanto ao peso fresco e seco da parte aérea, peso e número total dos frutos, número médio de frutos e peso médio dos frutos por planta, dos frutos bons e dos ruins. A análise estatística deu-se através do Programa Sigma Stat 3.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos resultados permite afirmar que os valores das densidades úmida e seca dos substratos estudados são significativamente diferentes. Quanto maior o teor de turfa na mistura, maior é o valor da densidade úmida e seca, sendo que o valor da densidade da turfa pura é superior aos demais (Figura 1). 8 Figura 1 - Valores de densidade úmida e seca dos substratos: turfa marrom in natura (T), pura e com cinza de casca de arroz (Cinza) em misturas na proporção de 60:40, 50:50 e 40:60 (volume:volume). Letras maiúsculas identificam diferenças estatísticas significativas nos valores da densidade úmida e letras minúsculas na densidade seca, pelo teste de Tukey a 5% (P < 0,05). Quanto à curva de liberação de água, fica evidente os valores significativamente maiores da porosidade, espaço de aeração e água facilmente disponível da turfa (T), em relação às misturas T:Cinza. A mistura 2T:3Cinza apresentou menor porosidade e menor volume de água facilmente disponível (Figura 2 e Tabela 1). 9 Figura 2 - Curva de liberação de água dos substratos: turfa marrom in natura (T), pura e com cinza de casca de arroz (Cinza) em misturas na proporção de 60:40, 50:50 e 40:60 (volume:volume), nas tensões de 0, 10 e 50 cm de coluna de água, correspondendo a 0, 10 e 50 hPa. Tabela 1 - Valores da porosidade total (PT), espaço de aeração (EA) e água facilmente disponível (AFD) dos substratos: turfa marrom in natura (T), pura e com cinza de casca de arroz (Cinza) em misturas na proporção de 60:40, 50:50 e 40:60 (volume:volume). Substrato PT EA AFD T 0,77a 0,55a 0,42a 3T:2Cinza 0,65 b 0,41 b 0,27ab T:Cinza 0,63 bc 0,41 b 0,25ab 2T:3Cinza 0,66 c 0,38 b 0,23 b Letras na coluna identificam diferenças estatísticas significativas pelo teste de Tukey a 5% (P < 0,05). Os valores de pH, TTSS e CE são menores na turfa pura (T) e aumentam a medida que se adiciona Cinza à mistura, sendo maior na proporção 2T:3Cinza (Tabela 2). 10 Tabela 2 - Valores de pH, teor total de sais solúveis (TTSS) e condutividade elétrica (CE) dos substratos: turfa marrom in natura (T), pura e com cinza de casca de arroz (Cinza) em misturas na proporção de 60:40, 50:50 e 40:60 (volume:volume). Substrato pH (água) TTSS CE (1:10) -1 gL dS m-1 T 3,59 0,63 0,18 3T:2Cinza 4,32 0,65 0,26 T:Cinza 4,79 0,64 0,28 2T:3Cinza 5,12 0,7 0,31 A análise do número total de frutos, do peso total de frutos e do número médio de frutos / planta de morangueiro cultivado em substrato mostrou a evidente superioridade da T em relação às misturas de T:Cinza (Tabela 3), conseqüência dos valores mais adequados das suas características físicas. Tabela 3. Número total de frutos bons, peso total de frutos bons e número médio de frutos por planta de morangueiro cultivado em substratos: turfa marrom in natura (T), pura e com cinza de casca de arroz (Cinza) em misturas na proporção de 60:40, 50:50 e 40:60 (volume:volume). Substrato Nº total de frutos Peso total de frutos Nº médio de frutos/planta g T 51,7a 762,1a 5,2a 3T:2Cinza 23,7 b 360,2 b 2,4 b T:Cinza 39,0ab 549,7ab 3,9ab 2T:3Cinza 45,3ab 675,2ab 4,5ab Letras na coluna identificam diferenças estatísticas significativas pelo teste de Tukey a 5% (P < 0,05). Estes resultados divergem daqueles encontrados por Calvete (1998), quando aclimatizando morangueiro CV Campinas, em diferentes substratos, concluiu que aqueles substratos com turfa preta e cinza de casca de arroz, que apresentaram maior retenção de 11 água e menor espaço de aeração, possibilitaram maior sobrevivência, crescimento e qualidade das mudas. CONCLUSÕES Os resultados permitem concluir que a adição de cinza de casca de arroz à turfa marrom in natura reduz a densidade úmida e seca, a porosidade e a disponibilidade de água do substrato, diminuindo consequentemente, a produção de morangueiro cultivar Verão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS De BOODT M; VERDONCK O. 1972. The physical properties of the substrates in horticulture. Acta Horticulturae 26: 37-44. FERNANDES JÚNIOR, F., FURLANI, P. R., RIBEIRO, I. J. A., CARVALHO, C. R. L., 2002. Produção de frutos e estolhos so morangueiro em diferentes sistemas de cultivo em ambiente protegido. Bragantia 61: 25-34. GUSMÃO, M. T. A. de, 2000. Análise do comportamento da cultura do morangueiro (Fragaria x ananassa Duch) em condições de cultivo hidropônico. Jaboticabal:UNESP. 60p. (Dissertação de Mestrado). HOFFMANN G. 1970. Verbindliche Methoden zur Untersuchung von TKS und Gartnerischen Erden. Mitteilungen der VDLUFA 6: 129-153 KIEHL EJ. 1979. Manual de Edafologia: Relações Solo-Planta. São Paulo: CERES. 263p. RÖBER R; SCHALLER K. 1985. Pflanzenernährung im Gartenbau. Stuttgart: Ulmer. 352p.
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