A pelota e os jogos de bola à parede: - pelota

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A pelota e os jogos de bola à parede: - pelota
JOGOS TRADICIONAIS
A pelota e os jogos de bola à parede:
um patrimônio lúdico-desportivo a não perder
CAMEIRA SERRA
HENRIQUE MARTINS
PIRES VEIGA
1 — A PELOTA, AMTEPASSADO
DA PELA FRANCESA
A Pelota é um jogo movimentado, que
põe à prova o vigor, a atenção e a destreza dos seus protagonistas, homens e moços das aldeias fronteiriças da Beira Alta
e Trás-os-Montes. Há meio século, era
uma das principais actividades físicas
dos povoados raianos dos concelhos de
Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo,
Sabugal e Vila Nova de Foz Côa — per
tencentes ao distrito da Guarda — e de
Freixo de Espada à Cinta, do distrito de
Bragança.
Hoje, ao longo da vasta fronteira beirocastelhana. apenas se pratica em Escarigo, Escalhão e Almofala, (Figueira de
Castelo Rodrigo). Em todas as restantes
comunidades (1), nas últimas décadas, a
Pelota foi entrando no domínio do esquecimento, por razões que se prendem com
a sangria da emigração, as sucessivas
proibições dos párocos — que se opunham à prática do jogo contra a parede
das igrejas — e, inevitavelmente, com a
evolução tecnológica e a expansão progressiva dos desportos modernos. A imagem destes foi, paulatina mas inexoravelmente, promovida e repromovida pela rádio e televisão, fazendo surgir a concepção errônea de que as actividades lúdicodesportivas tradicionais (bem como as
restantes tradições) não passam de manifestações antiquadas e anacrônicas.
( 1) No Distrito da Guarda, a Pelota jogou-se
em Almendra (V.N. Foz Côa), Escalhão, Almofala, Escarigo (Figueira C. Rodrigo), Vale da
Mula, Vale de Coelha, s. Pedro do rio Seco
(Almeida), Vilar Maior, Lageosa da Raia, Aldeia do Bispo e Vale de Espinho (Sabugal).
170 (HORJZONTfc
A palavra pelota deriva do latim, «pile»
que significa pela (bola). A origem do jogo remonta à Idade Média e está relacionada com a «Pela Curta» (2) jogada em
França, em salas ou «trinquets». Inicialmente foi um jogo reservado exclusivamente à classe nobre mas, em meados
do séc. XV, as classes populares iniciaram também a sua prática, lutando contra a segregação racial vigente (3).
Das terras bascas a Pelota implantouse em toda a Espanha, chegando às aldeias («pueblos») fronteiriços de Castela.
Destes passou para as aldeias portuguesas da raia beiro-transmontana onde assumiu uma forma mais rudimentar mas
igualmente interessante.
2 — LOCAIS DE JOGO: AS
PAREDES DAS IGREJAS
Em Espanha, quer no País Basco, quer
na vizinha região de Castela, qualquer
«pueblo», por mais pequeno que seja,
possui o seu «fronton», parede de pedra,
tijolo ou cimento, destinado ao Jogo da
Pelota. Os frontões espanhóis medem,
em geral, 10m de altura e 16 ou mais de
largura. O campo de jogo, designado
«cancha» ou «plaza», tem um comprimento variável, consoante se destine ao
jogo com a mão nua ou com «herramienta» (luva, pala ou chistera). Em contrapartida, nas nossas aldeias raianas não
conhecemos um único frontão. Aqui, a
pelota é batida contra as paredes das
igrejas e, em casos mais raros, nas antigas escolas.
( 2) Juegos Populares e Deportes Tradicionales en Espana. Consejo Superior de Deportes.
( 3) Vide Dicionário de Jogos. Direccão de
René Alleau. Editorial Nova, Porto.
Quando se joga no adro da igreja, a
parede e o campo de jogo apresentam
medidas que, obviamente, diferem de local para local. Os acidentes do terreno ou
da parede fazem parte integrante do
campo de jogo: pedras salientes, piso irregular, portas ou janelas, beirais do
telhado, etc.. Em Almofala. encostados à
parede da igreja usada como frontão,
existiam três cruzeiros de pedra (vide foto). O do meio, especialmente, dificultava
sobremaneira a prática do jogo. A bola,
ressaltando destes apêndices da parede,
tomava efeitos caprichosos e trajectórias
imprevisíveis. Por tal facto, os moços da
terra tão insistentemente pediram ao pároco, que este determinou a mudança do
cruzeiro para outro local do adro.
Esta benevolência clerical é uma excepção. Efectivamente, ao longo dos
tempos, foram publicadas inúmeras disposições paroquiais proibindo o Jogo da
Pelota.
Não há dúvida que a utilização destes
frontões de recurso originava, não raras
vezes, danos nas paredes ou telhados
das igrejas, partindo os beirais ou os
vidros das janelas. Nestas cirunstâncias,
a bola ficava com freqüência «perdida»
no telhado do templo, ou «embarcava»
para um dos quintais próximos.
Em Almendra (Vila Nova de Foz Côa) a
decadência deste jogo começou há mais
de 40 anos, logo que a parede da capela
foi rebocada em carapinha. As rugosidades da parede vieram a impedir, deste
modo, o ressalto normal da bola. Em Escarigo, é o piso irregular que transmite
aos lances um resultado imponderável.
Assim, sempre que possível, os jogadores batem directamente a bola, sem permitir que ela toque o solo.
O jogo disputa-se, geralmente, entre
duas equipas de 3 ou 4 jogadores e termina aos 30 pontos (ou tentos).
A contagem dos tentos é feita por um
árbitro, o arraiador, dividindo-se o jogo —
apenas com o intuito de facilitar a contagem — em duas partes: os primeiros 15
pontos, designados os 15 de baixo ou os
15 maus e os restantes, designados os
de cima, ou bons. O arraiador procede à
contagem dos tentos, fazendo marcações, ou raias, no chão ou num papel,
consoante à contagem dos tentos, fazendo marcações, ou raias, no chão ou num
papel, consoante o número de pontos
que cada equipa vai conseguindo. Apenas «apregoa» o resultado do jogo, quando:
Igreja de Almofa/a. Parede do Jogo da Pelota
A Pelota pratica-se durante todo o ano,
mas tem a sua época áurea no Inverno, já
que o frio convida ao movimento e os sucessivos batimentos na bola não deixam
arrefecer as mãos.
Não há conhecimento que o jogo tenha
sido praticado por raparigas, dado ser um
exercício difícil, que «parte a mão». As
moças jogam, em contrapartida, outras
modalidades de bola à parede, utilizando
geralmente cantilenas que impõem os
lances e o ritmo do jogo.
Na maioria das comunidades, tinham
particular interesse os encontros de Pelota «ao desafio», entre solteiros e casados, ou entre grupos representativos de
aldeias vizinhas, muitas vezes espanholas (Bouza, Fregneda, etc.).
Quando o jogo se disputa entre equipas da mesma terra, o grupo perdedor
paga, geralmente, um copo de vinho a
cada elemento da outra equipa.
Para além de simples divertimento que
advém do convívio entre jogadores, as
principais motivações destes parecem residir na demonstração de vigor e destreza, bem como no gosto pelo exercício físico e pela competição.
21 a 22 cm de perímetro e 80 a 85 gr. de
peso. Interiormente, são constituídas por
uma esfera de borracha virgem, moldada
ao calor, embrulhada num bom pedaço
de lã. O conjunto é fortemente atacado
por fios de algodão e recoberto, por fim,
de cabedal macio. Esta camada exterior
é um atanado fino de cabedal, talhado
em 3 peças: o cinto e as meias luas.
Aquele, é um rectângulo com 3 cm de
largura e de comprimento igual ao perímetro da bola; estas, são dois círculos
com 7 a 8 cm de diâmetro que, após molhados e esticados sobre o «novelo» interior, assumem o feitio de calotes esféricos.
Estas peças são cozidas, de um modo
especial, sempre por fora. Primeiramente
cose-se uma das bordas do cinto a uma
das meias luas. Depois, para rematar a
obra, liga-se do mesmo modo a outra bor
da ao perímetro da segunda meia lua.
A pelota espanhola «é uma bola de borracha muito dura, feita com um produto
especial, revestida de lã e forrada com
uma espessura dupla de cabedal fino»(4).
3 — PELOTA À PORTUGUESA
E À ESPANHOLA
Nas aldeias fronteiriças do distrito da
Guarda o campo de jogo é demarcado
pelas linhas laterais que, partindo dos extremos inferiores da parede se vão alargando e a linha final, que determina a extensão do campo.
Na parede, a 1 m ou 1,20 m do solo, é
marcada a linha de saque ou risca, abaixo da qual a bola não deve bater.
As bolas utilizadas nas aldeias onde se
pratica a Pelota, ou são adquiridas em
Espanha, ou manufacturadas pelo sr.
Eduardo Madeira, sapateiro de Escalhão.
As pelotas espanholas têm um perímetro
de 20 cm e um peso de 100 gr., ao passo
que as feitas em Escalhão são um pouco
maiores, mais leves e menos duras, com
4 — DESENVOLVIMENTO DO JOGO
( 4) René Alleau. Op. Cit.
•
1. — Uma das equipas atinge os 15 de
baixo. Nestas circunstâncias se o outro
grupo tem, por exemplo, 10 tentos, o arraiador grita: — noves fora dez!
2. — A equipa mais atrasada atinge,
por sua vez, os 15 de baixo. Neste caso,
se a outra tiver, por exemplo, 8 de cima, o
arraiador proclama: — noves fora oito!
3. — As equipas perfazem o mesmo nu
mero e pontos. Em todos estes momentos, arraiador apregoa: — «parelhos!» (ou
parelhejos!) (5).
O jogo, bem como cada jogada, iniciase através do saque, que consiste num
lançamento directo da bola à parede. Nas
nossas aldeias, os jogadores atiram a bola à parede, por cima (como geralmente
se lança uma pedra) ou por baixo, saindo
a bola à cintura, num lançamento semelhante ao que os pastores muitas vezes
utilizam quando, com pedras, fazem virar
as ovelhas. Também é usado,por vezes,
o saque à espanhola. Neste, o jogador
deixa cair a bola no solo, um pouco à
frente e, após um passo de balanço,
efectua o batimento apanhando a bola
por baixo.
O saque deve ser feito atrás da raia,
linha marcada no solo, a 10 m da parede.
Se a bola, apó o ressalto da parede, bater
antes da raia, o saque é considerado nulo. Neste caso, a bola «não conta para ninguém» e o saque deverá ser repetido.
Nos encontros disputados entre equipas da mesma terra, raramente se utiliza
a raia, podendo a equipa receptora recusar o saque quando, no seu juízo, a bola
não foi lançada em boas condições. O sacador deverá, então, repetir o serviço.
( 5) «Parelhejos», do Castelhano, significa
iguais, ou seja, com o mesmo número de
pontos.
.-171
A equipa que abre o pgo. executando
o primeiro saque, é escolhida através de
moeda ao ar.
Sempre que um lance não decorra segundo as normas regulamentares, diz-se
que a bola é má ou falsa. A equipa contrária à do jogador responsável pela infracção conquista um ponto.
Uma bola é considerada má quando:
a) — a pelota bate na parede abaixo da
risca:
ti)— após o ressalto da parede, cair
para além dos limites do campo de jogo
(linhas laterais e final);
c) — a pelota «morrer» ou ficar «colada» na mão do jogador, ou seja, quando
ocorrer um tempo de espera da bola na
máo do batedor que, em vez de a bater
secamente, a conduz num movimento
mais amplo;
d) — a bola não puder ser batida e devolvida à parede, em virtude da interposição dum jogador adversário.
Os jogadores das duas equipas dispõem-se livremente em campo, mas é
usual situarem-se próximo de cada um
O sacado/- dá inicio ao jogo atirando a
bola contra a parede. Ao ressaltar do
«frontão». um dos jogadores da outra
equipa dá seguimento ao jogo. batendo a
pelota directamente. sem a deixar tocar
no solo. ou após o solo uma única vez.
Os elementos de cada equipa têm de
bater a bola alternadamente.
Exceptuando-se o lance inicial do jogo
(em que a mão é determinada pelo processo de moeda ao ar), o saque é efectuado por qualquer dos elementos da
equipa que perdeu a jogada imediatamente anterior. Todavia, em algumas localidades, os jogadores procedem de um
modo diferente; neste caso, o saque só
muda para a outra equipa quando a primeira (que detinha odireito de servir)
conseguir 3 pontos, e assim sucessivamente.
A bola pode ser batida por uma, ou pelas duas mãos simultaneamente. As duas
mãos utilizam-se, em geral, nos casos
em que a pelota é batida próximo da parede.
5 — JOGOS INFANTIS DE
BOLA À PAREDE
Os jogos de bola à parede são. especialmente nos dias aprazíveis da Primavera e do Verão, um dos entretenimentos
preferidos pelas crianças. As rapariguinhas, sobretudo, passam horas e horas,
divertidas no tape-tape dos batimentos
da bola que, aos adultos, chega a parecer monótono e fastidioso.
Não podemos deixar de reconhecer
um grande interesse pedagógico a estes
jogos, que exigem atenção, equilíbrio,
coordenação e destreza. Mas, infelizmente , nem sempre suscitam a atenção
dos educadores e vemo-los, aqui e ali,
cair paulatinamente em desuso.
Antigamente, a bola era confeccionada
pelas próprias jogadoras, que na sua
execução punham toda a sua habilidade
e desvelo. Com um aspecto multicolor,
um toque agradável e um ressalto moderado, estas pelas, trape/ras ou carpelas
estavam, sem dúvida, calhadas para os
jogos de bola à parede.
As pelas eram feitas de um novelo de
trapos, barbas de milho ou folhedo. revestido por um conjunto de triângulos,
quadrados ou lúnulas de pano. de cores
diversas, cosidas entre si. O conteúdo da
bola (que por vezes também era de sementes ou serradura) introduzia-se por
uma abertura, apenas cosida no final. Em
vez da cobertura de trapos, utilizava-se,
amiúde, cabedal muito fino ou mesmo be
xiga de cabrito.
Passamos a descrever alguns jogos de
bola à parede. Não cabem no âmbito
deste trabalho outros jogos muito interessantes, nos quais a bola não é batida
contra a parede. Referimo-nos.por exemplo, ao Jogo da Pela (Pela ao Pêlo, Pela
ao Pelão, Pela ao Marco ou Pela à Tacoila), ao Mata ou Queima, ao Jogo dos Piques, ao Stop com Bola e ao Engana ou
Burro.
5.1 — Bola ao Ar ou Pela à Parede
Escango. Jogo da Pelota
dos elementos do outro «partido», deixando-lhes, no entanto, o «campo livre»
para a execução de cada lance, não podendo impedir, ou dificultar, a sua accão.
Se a bola bater sobre a risca marcada
na parede, a jogada é anulada, realizando-se um novo serviço, executado
pelo jogador que fez o saque imediatamente anterior.
172 HOK JZOA!T<£ |
Quando um jogador não acerta na bola, os adversários costumam dizer, dum
modo chistoso, que «tem a mão furada».
Antigamente, nas aldeias da Beira, se
a bola fosse jogada com a cabeça ou os
pés, era considerada £>oa. Porém, porque
em Espanha estes lances não são permitidos pelo regulamento, foram também interditos nos nossos povoados raianos.
Dos jogos infantis de bola à parede (6),
é o que tem maior implantação, jogandose, embora com ligeiras variantes, em
quase todas as localidades.
Como acontece com os restantes jogos
de bola à parede, são as raparigas que o
praticam com maior entusiasmo, utilizando as paredes brancas e lisas das escolas.
( 6) Outras designações do jogo: Ao Ar, À Bola, Jogo da Bola, Pelota e Bola à Parede.
O objectivo do jogo consiste em atirar,
em vezes sucessivas, a bola à parede —
acima duma determinada altura, se assim
for previamente combinado — realizando
os movimentos indicados pela cantilena.
Ao perder um lance, a jogadora cede a
bola à companheira, se forem apenas
duas participantes, ou àquela que estiver
imediatamente a seguir na ordem do jogo
pré-estabelecido. Quando uma das participantes volta a «ganhar a mão», recomeça o jogo no lance falhado anteriormente.
Considera-se vencedora aquela que
concluir, em primeiro lugar, todos os
lances do jogo.
A jogada-base consiste no lançamento
de bola à parede e sua recepção posterior, de acordo com a lenga-lenga que ser
vê de suporte rítimico ao jogo. Uma das
cantilenas mais .utilizadas no distrito da
Guarda é a seguinte:
Ao ar deitar a bola à parede e apanhála; Se lugar idem, sem mexer os pés;
Num pé com um só pé apoiado no solo;
Numa mão jogando apenas com uma das
mãos; Sem rir se sorrir «perde a mão»;
Sem falar o mesmo, no caso de falar;
Palminhas bater as palmas duas vezes
antes de apanhar a bola; Atrás e à frente
bater palmas atrás das costas e à frente;
Cruzar antes de receber a bola, vinda da
parede, deve cruzar os braços, tocando
com as mãos nos ombros; Rebolar (ou
«dombrear») fazer rodar os antebracos
um sobre o outro, antes da recepção da
bola; Revirar rodar, dando uma volta inteira antes de apanhar a bola; Beijar beijar mão antes da recepção da bola.
Em Vila Garcia, concelho da Guarda, o
jogo termina com o movimento de quedas, batimento das mãos nas coxas, airon, tocar com as mãos na cara e milhão,
levar a mão ao solo. Na Covilhã, o último
lance é o de assentar (sentar), devendo a
jogadora flectir as pernas, enquanto em
Videmonte (em plena serra da Esteia) o
jogo termina com o movimento de ajoeIhar.
5.2 — Jogo do Sete
Consiste na realização de sete séries
decrescentes de lançamentos de bola à
parede. Joga-se, tal como a modalidade
anterior, em quase todas as localidades,
embora com inúmeras diferenças, quer
no que concerne à ordenação das séries,
quer relativamente aos exercícios a realizar.
Depois de estabelecida a ordem do jogo, a primeira jogadora atira à parede,
Jogo da Bola à Parede
«perdendo a mão» sempre que falhar um
dos lances.
O sete lançar a bola à parede e recebê-la com as duas mãos — (7 vezes);
O seis atirar a bola à parede, deixando-a
ressaltar para o chão e apanhá-la de novo (6 vezes); O cinco lançar a bola à parede, fazendo-a passar por baixo de uma
perna e recebê-la (5 vezes); O quatro
idem, mas fazendo passar a bola por baixo da outra perna (4 vezes); O três atirar
a bola à parede, bater palmas e agarrá-la
novamente; O dois do mesmo modo, mas
batendo as palmas duas vezes (2 vezes);
O um lançar a bola à parede e agarrá-la
após o ressalto (1 vez) C7).
Quando uma jogadora «perde a mão»,
na vez seguinte recomeça no lance anteriormente falhado.
A vencedora é a participante que conseguir realizar mais jogos completos.
Este jogo não passa de uma variante
da Bola ao Ar, jogando-se, em algumas
( 7) Variante de Freixedas, Concelho de Pinhel.
terras, com a mesma cantilena, ou seja: o
sete — ao ar (7 vezes); o seis — sem mexer, sem rir, sem falar (6 vezes); o cinco
— com um pé (5 vezes); o quatro — batendo 2 vezes as palmas (4 vezes); o três
— atrás e à frente (3 vezes); o dois —
cruzar (2 vezes) e o um — rebolar (1
vez).
Em muitas aldeias do concelho de
Seia, o jogo denomina-se Aos Onze, devendo as participantes realizar onze séries de lançamentos da bola à parede, em
vez de sete. Noutras localidades, a jogadora, antes de apanhar a bola vinda do
ressalto, tem de tocar em diferentes
partes do corpo, previamente definidas.
5.3 — Pela às Carreiras («)
Trata-se de um jogo que já não se pratica há três ou quatro décadas. Era jogado por rapazes e raparigas da escola primária que, para o efeito, deviam munir-se
de três ou quatro pelas de pano.
( 8) Recolhido em Escarigo (Figueira de Castelo Rodrigo).
O primeiro a jogar, tomando lugar atrás
dum risco marcado no solo, atira uma das
bolas contra a parede, deixando-a rolar
até que pare. O segundo jogador procederá do mesmo modo mas tentará encarreirar a sua pela na direcção da anteriormente jogada, procurando acertar-lhe.
Se o conseguir, mata-a, isto é, conquistaa, voltando o jogo ao princípio. O que ganhou a pela, jogará em primeiro lugar na
vez seguinte. Se o lançamento do segundo jogador náo tiver êxito, jogará o 3.° e
assim sucessivamente.
Antes de cada jogada é permitido var
rer o chão, limpando com a mão as
pedras que possam alterar a trajectória
da bola.
É notória a semelhança entre esta modalidade de bola à parede e o Jogo do
Botão ou do Pique-pique (9), outrora tão
praticado por mocos e homens, mas que
presentemente está quase esquecido.
Neste jogo, um dos participantes, previamente determinado por sorteio, lança um
botão grande (ou mdeda, chapa de ferro,
anilha, cápsula de garrafa de refrigerante, óculo etc.) (10) contra a parede. O segundo jogador, do mesmo local, atirará o
botão a picar na parede, procurando que,
após o ressalto, fique a menos de um pai
mo do anteriormente jogado. Se conseguir, papa-o, ou seja, ganha-o. Em caso
negativo jogará outro elemento.
A Pela às Carreiras é ainda parecida
com uma das modalidades do Jogo do
Berlinde: o Mata. Porém, neste não é
obrigatório que a esfera seja lançada
contra a parede.
5.4 — Pela à Poça (")
É um jogo praticado por rapazes e raparigas, especialmente durante o tempo
frio. Junto a uma parede, são escavadas
tantas poças quantos os jogadores. As
poças deverão ser de pequenas dimensões, mas suficientemente largas e fundas para conter a pela. Em algumas aldeias, as pequenas covas são abertas
umas ao lado das outras. Noutras, são
dispostas em círculo ou de forma irregular.
O primeiro jogador, tomando lugar
atrás da raia — distando geralmente 5 a 6
metros das poças — atira a pela rolando
pelo solo, procurando fazê-la entrar na
sua poça. Se o conseguir, vai agarrar a
bola e corre atrás dos companheiros, ten
tando acertar-lhes com ela. Ao atingir um
deles, este é pernalizado com um ovo, ou
seja, tem de colocar uma pedrinha na rés
pectiva poça. Se, pelo contrário, não consegue acertar em nenhum dos fugitivos, o
jogador que estava de posse da bola perde a mão, entregando a pela a um
companheiro que recomeçará o jogo. No
caso de a bola entrar na poça de outro
jogador, é este que a vai recolher com a
máxima presteza, para perseguir os companheiros. Se a pela não cair em qualquer das poças, o jogador que a lançou
dará a vez ao seguinte.
Perde o jogo o elemento cuja poça
contiver mais ovos ao fim do tempo com
binado.
Em Nave de Haver (Almeida) quando o
lançador acertava na poça, gritava:
«ferme-pote! Aquele que agarrar leva
com a pela no cagote!».
Esta modalidade apresenta muitas variantes, sendo a mais significativa aquela
em que se utiliza apenas uma poça.
Neste caso, a dinâmica do jogo não se
altera, mas o jogador que for atingido pela bola, ao invés de ganhar um ovo,
perde um ponto.
Em algumas localidades, quando o jogador apanha a bola na poça, exclama:
— pára! Então, dá três saltos e, do local
alcançado, vai tentar acertar no companheiro mais próximo. Este, sem mexer os
pés, procurará esquivar o corpo.
Esta variante é parecida com outro jogo, denominado Sfop com Bola. Todavia,
neste, a pela é lançada ao ar, ao mesmo
tempo que se chama um número, correspondente a um dos jogadores. É este que
deverá ir apanhar a bola, gritando de
imediato: — Sfop/ Dará então três saltos
e procurará acertar com a pela no com
panheiro mais próximo.
5.5 — Jogo da Bola ou da Pela
( 9) Também conhecido por: Jogo do Pica,
Pina, Anilha, Jogo das Marcas, Chapinhas e
Óculo.
(10) O óculo é uma peça metálica redonda,
espécie de anilha, utilizada numa das extremidades das canelas de fiação das fábricas de
têxteis. Jogou-se muito em Longa, freguesia
do Concelho de Seia.
(11) Outros nomes do jogo: Às Pocinhas, Bola
na Poça, Jogo da Poça, Pelota e Bola às Poças.
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Uma das jogadoras lança a bola à parede, da forma previamente acordada.
Bate-a com a palma da mão o maior número de vezes possível, sem a deixar cair
no chão. Se isto sucede, termina a jogada
e entrega a bola a uma companheira que
reiniciará o jogo. A vencedora será a que
conseguir o maior número de batimentos.
Segundo Alípio da Rocha (12), «o batimento pode ser feito com uma ou as duas
mãos simultaneamente, podendo lançar
a bola o mais alto que se quiser contra a
parede, mas nunca abaixo do local que
se indicava».
Em Vascoveiro (Pinhel), cada jogo
termina aos trinta batimentos, vencendo
a jogadora que conseguir mais jogos. Na
Nave (Sabugal), há trinta anos, jogavam
duas raparigas alternadamente. A primeira, batia a bola contra a parede, acima de
uma determinada altura. Depois, sem
que a bola caísse no chão, jogava a segunda e assim sucessivamente. Quando
uma das intervenientes no jogo deixava
cair a bola, perdia um ponto.
Ainda vai sendo praticado um outro jogo curioso, denominado «Toca a fugir».
As jogadoras dispõem-se em fila, em
frente a uma parede. A primeira vai fazendo batimentos, ao mesmo tempo que
diz:
«Sem falar; Sem rir; Bater o pé; Toca a
fugir (ou «deita a fugir»).»
Quando exclama «toca a fugir», atira a
bola à parede e corre para o fim da fila. A
segunda jogadora procurará apanhar a
bola, continuando o jogo. Em Vila Garcia,
(13) as raparigas executam uma variante
idêntica (embora, neste caso, a bola não
seja batida contra a parede).
Jogam duas raparigas. Uma delas bate
três vezes a bola no chão, ao mesmo
tempo que diz: «Um, dois, três entrada!»
Uma outra modalidade semelhante é o
jogo da Pela Amarela. (u). Uma jogadora
diz:
—Ò pela amarela.
Quantos anos terá ela?
Tem um, tem dois, tem três etc.
Ao mesmo tempo que vai batendo a
bola na parede, conta o número de anos,
até a deixar cair no chão. Existem mais
cantilenas que são o suporte rítimico de
outras formas do Jogo da Bola à Parede.
Como exemplos apresentamos as seguintes:
— Eu tenho um pato (lança a bola à
parede e apanha-a); Que não come
(igual); Que náo bebe (igual); Não fuma
(igual); Dá meia volta ao pato (lança a bola, dá meia volta e apanha-a); 1, 2, 3, 4
(bate quatro vezes a bola no chão).
(12) Alípio da Rocha. Monografia de ValheIhas.
(13) Informação dada por Deolinda Pissarra,
aluna da E.N.E.I.G..
(14) Recolhido em Escalhão (Figueira de Castelo Rodrigo). Também se joga nas zonas de
Seia e Mangualde.
A modalidade seguinte, muito curta e
simples, é jogada em Escalháo, por rapariguinhas a partir dos cinco anos.
— Leonor! (atira a bola à parede e
apanha-a)
Toca o tambor. (Idem).
Música! (dá meia volta antes de apanhar a bola).
5.6 — Ao Ratinho (1S)
Treino Desportivo:
um processo de
desenvolvimento
da personalidade
Os vários elementos dispõem-se em fila indiana, de costas para a parede. Um
dos jogadores, situado mais atrás e virado de frente para os outros, atira a bola
contra a parede. Quem conseguir apanhar a bola ficará a lançá-la da próxima
vez.
JORGE OLÍMPIO BENTO
6 — REQUIEM PELA PELOTA?
Preterida em favor de passatempos e
desportos que o homem rural foi também
obrigado a consumir (pelo menos visualmente), a Pelota fará ouvir, dentro de alguns anos, o seu estertor e morrerá. A
menos que queiramos reconhecer, de
facto, o seu inegável valor como patrimônio cultural e histórico e incentivemos a
sua prática nas escolas, colectividades
desportivas e, bem assim, na área do
chamado «desporto para todos». O
mesmo esforço deverá ser feito relativamente aos jogos de bola à parede, tão ao
gosto das crianças, também eles quase
agonizantes.
As máquinas electrónicas, a «prisão televisiva» e a assistência aos espectáculos desportivos serão, certamente, uma
alternativa válida para alguns. Por outro
lado, a importação do sofisticado Squash
constituirá também, por certo, uma solução para uma determinada minoria urbana.
Tal como sucedeu com o histórico Jogo
da Pela, seu antecessor glorioso, a pelota
deverá entrar, muito em breve, no domínio do total esquecimento...»
(15) Recolhido em Colmeal da Torre (Belmonte).
Carneira Serra *
Henrique Martins '
Pires Veiga "
' Licenciados em Educação Física
" Professor do Ensino Primário
Elementos da Associação Distrital de Jogos Tradicionais e do Lazer da Guarda
O desporto, outrora um domínio empírico da cultura, é hoje objecto de uma investigação multifacetada.
Com o desenvolvimento tempestuoso
da prática desportiva e sob influência das
suas exigências, formou-se rapidamente
nesta área um complexo volumoso de
conhecimentos teóricos, metodológicos e
práticos. A teoria da formação desportiva
evoluiu de uma linha metodológica empírica, característica do passado, para o nível de uma disciplina científica, nos
nossos dias. E nisto cabe um papel decisivo ao trabalho científico de descoberta
dos fundamentos e das leis do treino orientado para rendimentos desportivos elevados.
O treino desportivo afirma-se como a
forma mais racional, mais científica e eficaz da formação corporal e desportiva.
Os seus conhecimentos, leis e resultados
constituem ponto de orientação para todos os domínios da cultura corporal, da
prática desportiva.
A sistematização dos conhecimentos
acerca do desporto, sob a forma de ramo
científico, é relativamente jovem e encontra-se ainda no estádio de maturação,
ainda com muitas lacunas por preencher.
A teoria do treino desportivo é perpassada por esta linha evolutiva, até porque
representa o resultado de um desenvolvimento acelerado de conhecimentos prático-científicos no desporto e uma das
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