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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Editorial ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uma simples reforma tributária A Mesmo com esse saldo bilionário a receber, a Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias (Anfip) sempre dei- Previdência ainda é acusada de ser a vilã do déficit xou clara a sua posição a favor de uma refor- público. Não se leva em conta que a arrecadação ma tributária para corrigir as profundas distorções previdenciária, em grande parte fruto do trabalho do sistema. Chegamos a um ponto em que ela se dos fiscais, continua crescendo ano a ano, remando contra a estagnação econômica. tornou não apenas necessária, mas urgente. Um argumento a mais para sustentar a defesa da Há quatro anos, a seguridade social amarga os prejuízos de uma minirreforma fiscal, feita sob en- reforma tributária está na reportagem de capa descomenda pelo governo para financiar o seu défi- ta edição. Ela detalha os efeitos do Simples um cit. Criado por meio de emenda constitucional, sem imposto criado pelo governo para atender as micro e pequenas empresas na arrecaa sempre saudável discussão com dação do INSS. Do ponto de vista a sociedade, o Fundo de EstabiliNos últimos quatro do pequeno empresário, o imposzação Fiscal (FEF) abocanha 20% anos, o Tesouro deixou to pode até representar uma condos recursos das receitas antes de repassar recursos quista, mas a sua lógica de aplicadestinadas exclusivamente para a de contribuições ção, como iremos ver, é perversa. seguridade social. sociais no valor de Ao se repartir o Simples, a meParte dessa apropriação simR$ 23,1 bilhões. nor parte vai para os cofres do plesmente desaparece nos ralos da INSS, mas é a Previdência que, no administração pública, cobrindo É muito dinheiro para futuro, terá de arcar com as apodespesas que seriam de responsaum País com tantas sentadorias dos beneficiários desbilidade do Tesouro Nacional. Daí carências se imposto. Ou seja, verifica-se, se compreende a letargia, na esfeaqui, um grave desequilíbrio entre ra governamental, para tratar da reforma tributária. O FEF transformou-se num receitas e despesas correspondentes a esse segcolchão mais do que confortável para a área eco- mento de contribuintes. Segundo cálculos do INSS, o Simples provocou no ano passado uma renúncia nômica. Levantamento feito pela Assessoria Econômica fiscal de R$ 400 milhões. Todos esses aspectos mostram a complexidade da Anfip desmonstra, de maneira inequívoca, que nos últimos quatro anos o Tesouro deixou de re- de um tema que exige de todos nós uma ampla passar recursos de contribuições sociais no valor discussão. Desde já, a Anfip prepara-se para iniciar de R$ 23,1 bilhões. É muito dinheiro para um País um ciclo de estudos em todo o País. E espera concom tantas carências. Representa nada mais do que tribuir, objetivamente, para que o Congresso Naciquatro vezes o valor da verba que o Governo cos- onal retome o debate com a sociedade sobre a retuma reservar, no Orçamento da União, para to- forma tributária. Está mais do que na hora. dos os programas de investimentos e obras no País. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 3 Cartas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ANFIP Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias Livros Prezados senhores, Agradecemos à ANFIP o material (livros e revistas) enviados a esta Coordenação através de seu Assessor de Economia e nosso aluno, Floriano Martins. O livro A Previdência ao Redor do Mundo está sendo distribuído a todos os professores do curso e, junto com as revistas, disponibilizado aos alunos para consulta. Aproveitamos a oportunidade para parabenizar esta instituição pela iniciativa e, desde já, demonstrar nosso interesse em continuar recebendo outras publicações. Professora Elisabete Simão Flausino Universidade Federal de Santa Catarina Centro Socio Econômico Curso de Especialização em Gestão Previdenciária Seguridade Finalmente foi publicada uma matéria que sempre esperei ler em nossa revista. Por uma seguridade social sustentável é a resposta que faltava às diversas publicações mentirosas sobre esse assunto. Gostaria de sugerir que essa matéria fizesse parte permanente, apenas com atualizações mensais, da home- page da Anfip. Precisamos divulgar tais números, com urgência, para os previdenciários, antes que o André Lara Resende deite e role na chilenização da nossa Previdência Social. Parabéns a todos. Magalita Guasti Miguel Pereira Rio de Janeiro Objetividade Tomei conhecimento da revista da Anfip através de uma biblioteca pública. Quero parabenizar toda a equipe pelos temas abordados de forma autêntica e objetiva. Como sou uma leitora curiosa por assuntos diversos, gostaria de passar a receber exemplares dessa tão completa e atualizada revista. Márcia Amorim Teresina-PI Aposentados Desejamos sucesso do presidente e dos seus diretores à frente dessa egrégia associação. Na oportunidade, queremos agradecer pela atenção de nos enviar a revista da Anfip, que com certeza usaremos com muita dedicação. Almerindo Pereira dos Santos Presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Brumado/BA. EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO SAPIENS COMUNICAÇÃO Publicação da Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias. Fone: (061) 327-1319 Fax: (061) 328-3532 E-mail: [email protected] EDITORES: Bartolomeu Rodrigues Mara Bergamaschi CONSELHO EDITORIAL Floriano Martins de Sá Neto (MT) Clarice do Amor Divino (DF) Margarida Lopes de Araújo (SP) Venício Faust (PR) EDITORAÇÃO ELETRÔNICA: Licurgo S. Botelho FOTOGRAFIA: Projeto Luz Permitida a reprodução total ou parcial dos textos. Pede-se citar a fonte. As matérias e artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião do Conselho Executivo da Anfip. Esta edição: 16.000 exemplares - Distribuição gratuita. 4 ○ SBN, Ed. ANFIP, Quadra 1, Bloco H, Projeção 27 - CEP 70040-907 Brasília, DF Fone: (061) 225-8113 Fax: (061) 225-6083 Telex: 61-1452 E-mail: [email protected] Home page: http//www.anfip.org.br CONSELHO EXECUTIVO Severino Cavalcante de Souza (AM) PRESIDENTE Nildo Manoel de Souza (SC) VICE-PRESIDENTE Venício Faust (PR) ASSUNTOS FISCAIS Sandra Tereza Paiva Miranda (SP) POLÍTICA DE CLASSE Rodolfo Fonseca dos Santos (SP) POLÍTICA SALARIAL José Avelino da Silva Neto (PB) SEGURIDADE SOCIAL Clarice do Amor Divino (DF) APOSENTADOS E PENSIONISTAS Margarida Lopes de Araújo (SP) CULTURA PROFISSIONAL Sérgio Guimarães C. de Pinho (MG) SERVIÇOS ASSISTENCIAIS José Américo Espíndola Pimenta (SP) ASSUNTOS JURÍDICOS Misma Rosa Suhett (ES) ADMINISTRAÇÃO Maria Salete Paz (MS) PATRIMÔNIO E CADASTRO Durval Azevedo Sousa (MA) FINANÇAS Jorge Eduardo Bandeira de Souza (AL) PLANEJAMENTO E C ONTROLE ORÇAMENTÁRIO Floriano Martins de Sá Neto (MT) COMUNICAÇÃO SOCIAL Maria Aparecida F. Paes Leme (RN) RELAÇÕES P ÚBLICAS Álvaro Sólon de França (GO) ASSUNTOS PARLAMENTARES Gilberto Nobre Cavalcante (CE) INTERASSOCIATIVA CONSELHO DE REPRESENTANTES João Alves Moreira – AC Francisco de Carvalho Melo – AL Maria do Rosário Valente Lobato – AP Nélson Santana Ribeiro – AM Luiz Antônio Gitirana – BA Gilson Ferreira de Mattos – DF Eliezer Xavier de Almeida – CE Nicéa Bof de Andrade – ES Aurora Maria Miranda Borges – GO Raymundo Luiz e Barros – MA Benedito Cerqueira Seba – MT Carlos Graciano da Silva – MS Marcos Borbonaglia da Silva – MG Ênnio Magalhães S. da Câmara – PA Dijanete de Souza Lima – PB Clea Maria da Silveira Caldas – PE João Soares da Silva Sobrinho – PI Aniceto Martins – RJ Jonilson Carvalho de Oliveira – RN Vilson Antonio Romero – RS Merian Corrêa Brasiliense – RO Parime Brasil – RR Hildebrando Alves dos Santos – SC Assunta Di Dea Bergamasco – SP Jorge Lourenço Barros – SE Rita de Cássia Felicetti de Oliveira – TO Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 12 ○ ○ ○ A onda de remédios falsificados no Brasil ainda não parou. E mesmo com as vítimas fatais do charlatanismo, ninguém até agora foi preso. ○ Remédios ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 18 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Sumário ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ao Leitor Com este número, a já tradicional revista da Anfip traz uma série de inovações. A primeira novidade está logo na capa, na qual pode-se ler com destaque Revista de Seguridade Social. Mais do que alteração da forma, essa mudança reflete a decisão da entidade de aprofundar o debate sobre temas relacionados à Previdência, saúde e assistência social. Esses assuntos mereceram, já nesta edição, tratamento privilegiado. Destacamos, dentre os vários textos jornalísticos, a reportagem especial sobre os efeitos do Simples a forma de recolhimento que permite às micro e pequenas empresas pagarem menos impostos no caixa da Previdência. Como indicavam nossos prognósticos, o Simples está provocando queda na receita. Segundo o INSS, a perda de arrecadação no ano passado foi de R$ 400 milhões. Para inaugurar a nova fase da revista da Anfip, que desponta com moderno projeto gráfico, trazemos também uma entrevista com o ministro da Previdência Social, Waldeck Ornellas. Nela, o ministro antecipa algumas das medidas que está tomando, internamente, para mudar a cara da Previdência, tornando-a eficiente e confiável. Na entrevista, Ornellas fala de alguns tabus do setor e, ao lado de uma escultura de Xangô que trouxe da Bahia, garante não ser favorável à privatização do sistema previdenciário. E o Bug do Milênio? Você sabe o que é? Quem trabalha com informática sabe que isto pode representar uma pane geral nos computadores na virada do século. O Governo está gastando milhões de reais para que essa pane não afete o pagamento de aposentadorias e outros benefícios previdenciários. Na seção de livros, apresentamos algumas dicas de lançamentos ligados à seguridade social e que podem ser úteis não apenas para os fiscais, como para o público em geral. Boa leitura. ○ 6 ○ ÍNDICE ○ Waldeck Ornellas na entrevista a Floriano Martins e ao jornalista Bartolomeu Rodrigues ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Festejado pelos empresários, o imposto Simples tem uma face perversa. Na distribuição dos recursos, quem sai perdendo é o INSS. ○ Simples ○ A Previdência já tem uma Ouvidora Como fica o Congresso Nacional depois de outubro Atualize sua biblioteca Um balanço de quatro anos do Real Você já ajustou o seu computador para o ano 2000? Indicadores da ação fiscal da Anfip Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 11 16 23 24 28 30 5 Entrevista ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Waldeck Ornellas A nova cara da Previdência Entrevista a Bartolomeu Rodrigues e Floriano Martins Q uase três anos depois de enviado à Câmara dos Deputados, o projeto de emenda constitucional da reforma da Previdência ainda espera pela aprovação do Congresso Nacional, mas o ministro Waldeck Ornellas considera alcançados os objetivos do Governo. Segundo ele, seria um crime contra o País não vê-la promulgada até o final do ano. Tão confiante está o ministro que resolveu investir na mudança de imagem e estabelecer um novo conceito para Previdência a partir de três premissas básicas: moderna, ágil e confiável. Até dezembro, estaremos de cara nova, anuncia. Não apenas por definição, mas por uma realidade imposta pelo volume de recursos do recolhimento das contribuições de trabalhadores e empresas, a Previdência representa a maior casa de seguros do Brasil. Nada mais natural, segundo o ministro, que ela adote um 6 perfil de entidade financeira voltada para o bom atendimento da sua clientela. Desse programa consta a criação de agências e postos avançados para atender aposentados e pensionistas em shoppings, sindicatos, associações e até estações de metrô, acabando com o desgastante problema das filas. Tudo muito parecido com um caixarápido de banco, mas nada que leve a acreditar que se trata de um ensaio geral para a temida privatização do sistema. Nesta entrevista à Revista de Seguridade Social, Waldeck Ornellas diz ser contra a privatização da Previdência. Também não é favorável a um modelo de capitalização, adotado em alguns países recentemente. Cerca de 80% de pensionistas e aposentados recebem um benefício inferior a dois salários mínimos, afirma. Essa população, que é maioria, deve ter O ministro Waldeck Ornellas prepara um programa de modernização gerencial e lança uma nova logomarca para a Previdência (no detalhe, abaixo) uma Previdência compulsória, universal e pública. De acordo com o ministro, nesse novo cenário, o fiscal deve ser tecnologicamente melhor aparelhado para acompanhar o ritmo de modernização das empresas. Para ele, todo o programa de mudança de imagem, que introduziu até uma nova logomarca para simbolizar a Previdência Social, está apoiado nos quadros internos, de casa. Há muito preconceito contra o servidor público, observa, mas o que vejo é o desejo de ver sua instituição fortalecida. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Revista de Seguridade Social A Previdência Social no Brasil chega ao final do século marcada por uma imagem bastante negativa, principalmente por causa das intermináveis filas nos postos e queixas das condições de atendimento. Fala-se muito em reforma hoje em dia, ao mesmo tempo em que o cidadão comum, aposentado ou pensionista, pergunta: quando este sofrimento vai ter fim se é que existe um fim para tudo isso? Ministro Waldeck Ornellas Isto vai acabar. É preciso reconhecer que nos últimos anos a Previdência fez um grande esforço, sobretudo na área de informatização, para melhorar suas práticas gerenciais e administrativas. Mas não levou o resultado disso tudo para a sociedade. Nós estamos finalmente abrindo um canal direto entre a Previdência e a sociedade. Posso citar alguns exemplos: o serviço de tele-atendimento, o PrevFone. Pelo número 0800-780191, uma ligação grátis, o cidadão de qualquer parte do Brasil pode resolver problemas, saber da tramitação de processos, do valor de benefícios, das datas de pagamentos, pode atualizar endereços e assim por diante. Já estamos atendendo 20 mil chamadas por dia. Ou seja, 20 mil atendimentos que deixam de ser feitos nos balcões dos postos e passam a ser feitos diretamente de casa. Outro ponto importante é a homepage da Previdência na Internet, que mesmo atingindo um universo limitado de pessoas algo em torno de 1,8 milhão de usuários - , significa desobstruir o atendimento direto. E finalmente o Prev-Fácil, que é um quiosque de pronto atendimento montado em sindicatos, associações, shoppings e estações de metrô. Vamos disponibilizar nesses pontos o Cadastro Nacional de Informações Sociais, ou seja, todos os vínculos empregatícios da vida do cidadão. Com Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ o Prev-Fácil a pessoa vai poder fazer o seu próprio atendimento... Revista de Seguridade Social ... como se estivesse no caixa-rápido de um banco? Waldeck Ornellas Semelhante. Mas além disso estamos montando as novas unidades de atendimento da Previdência com uma característica importante: na prática, elas estão concluindo a fusão do IAPAS ao INPS. Acabou essa história de o cidadão ficar rolando de um lugar para outro. Todas as atividades da Previdência estarão concentradas num único local e as pessoas que para ali forem terão um auto-atendimento, um pronto-atendimento ou um atendimento especializado. E tanto faz para o aposentado, o pensionista como para o contribuinte ativo, individual. Fotos: Bernadete Brasiliense/Projeto Luz “Temos que levar em conta que a Previdência é a seguradora do trabalhador. Somos a maior casa de seguros do Brasil e vamos trabalhar como entidade financeira que somos” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Estive recentemente em Pinheiros, São Paulo, onde essa experiência já está funcionando numa agência da Caixa. Ali, literalmente, estamos pondo a Previdência dentro da Caixa. Vamos fazer no futuro o mesmo com o Banco do Nordeste, com o Banco do Brasil e com os bancos privados, conforme evoluam os entendimentos e o ajuste das tecnologias necessárias. Revista de Seguridade Social Quanto tempo para tudo isso funcionar em termos de Brasil? Waldeck Ornellas Embora estejamos inicialmente criando apenas dez unidades cinco na Região Metropolitana de São Paulo e cinco na do Rio os benefícios que essas agências irão proporcionar serão imediatamente disseminados por toda a rede. As cartilhas de orientação que vamos adotar nessas agências serão logo multiplicadas e distribuídas por todo o Brasil. Mas, como meta, teremos até dezembro 47 unidades funcionando, pelo menos uma em cada Estado da Federação. Meu objetivo é fazer com que a Previdência, até lá, tenha uma cara nova para mostrar à sociedade. Vamos também levar para dentro de algumas dessas unidades os serviços do Ministério do Trabalho para que a pessoa possa tirar Carteira de Trabalho e resolver problemas do seguro-desemprego. Na verdade, essas unidades terão um selo que irá identificá-las como agências de apoio ao trabalhador. As unidades que funcionarem em shoppings obedecerão o regime de funcionamento interno, até as dez da noite, aos sábados e, em alguns casos, aos domingos. O fato de o cidadão brasileiro, por estar no mercado formal de trabalho, ser um contribuinte da Previdência, não significa que deva ter um mau atendimento. Pelo contrário. E estamos 7 Entrevista ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fotos: Bernadete Brasiliense/Projeto Luz fazendo isso por ampliados desequilíbrios socição da rede. Há um recoais impede que se im“Sou contra privatizar nhecimento, sobretudo plante uma Previdência a Previdência. O nas grandes áreas metrointeiramente de capitaGoverno não estuda politanas, de que há insulização, como ocorre em isso. A população ficiência de capacidade fíalguns países. Reconhepobre, que é maioria, sica para esse atendimenço que alguns segmendeve ter uma to. Uma vantagem dessas tos defendem uma PrePrevidência novas agências é que irevidência por capitalizacompulsória, mos desvincular as pessoção. Sou contra. O Gouniversal e pública” as dos postos. Qualquer verno não está estudanpessoa vai poder ser atendo isso, não se trata de dida. A informática nos permite isso. estabelecer a privatização da PrevidênTemos que levar em conta que a Previcia Social. Isso se chocaria inclusive com dência é a seguradora do trabalhador. o programa de melhoria de atendimenSomos a maior casa de seguros do Brato. Por outro lado, temos cerca de 80% sil e vamos trabalhar como entidade fide pensionistas e aposentados recebennanceira que somos. do um benefício inferior a dois salários mínimos. Essa população, que é a maiRevista de Seguridade Social Talvez por oria, deve ter uma Previdência compulisso muita gente suspeite que a reforma da sória, universal e pública. Previdência seja apenas o início de um processo para a privatização do sistema no fuRevista de Seguridade Social O senhor turo. Esta é a intenção do Governo? acha que a reforma da Previdência tem conWaldeck Ornellas Não é verdade. dições de ser concluída ainda este ano? Pessoalmente, entendo que o próprio Waldeck Ornellas Tenho dito e afirfato de o Brasil ser um País com profunmo mais uma vez que a Previdência já 8 teve a sua reforma aprovada. O que precisamos é confirmar três votações e aprovar a redação final para que seja promulgada. Será um crime que se cometerá contra o País se não tivermos essa emenda promulgada até o final deste ano para vigorar imediatamente. Tivemos, no ano passado, um déficit da ordem de R$ 3 bilhões. Este ano, será de mais de R$ 7 bilhões. Se não houver a reforma, em 99 será de R$ 10 bilhões. A sociedade pode continuar pagando isso? Não. É preciso, é indispensável, é fundamental fazer a reforma. Além disso, a reforma tem o forte conteúdo de justiça social. Busca tratar com eqüidade todos os brasileiros e acaba com privilégios que foram estabelecidos por leis do passado e que não se sustentam em contribuições correspondentes para o seu financiamento. Temos também de adequar a Previdência ao novo perfil demográfico da população e ao fato de a população estar vivendo mais tempo. Daí a necessidade de uma idade mínima associada a um tempo de contribuição para possibilitar que tenhamos um equilíbrio das contas. Revista de Seguridade Social Muito do que se identifica hoje como déficit tem sua origem no rombo provocado pelas retenções dos recursos da Previdência pelo Tesouro. O senhor pretende estancar essa retenção? Waldeck Ornellas Não me consta que haja essa retenção. Pelo contrário, Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ estamos recebendo transfusão do Tesouro para suprir o déficit e a emenda a esse respeito é muito clara. Ela vincula a receita tanto da folha quanto da contribuição dos empregados exclusivamente a pagamento de benefícios. A proposta do Governo é por uma vinculação de recursos para a Previdência. Os recursos arrecadados das contribuições são vinculados, única e exclusivamente, ao pagamento de benefícios. Não pode ter outro uso. Revista de Seguridade Social O que o Ministério está fazendo para cobrir o déficit atual? Waldeck Ornellas Temos recorrido ao Tesouro. Mas veja bem: como o Tesouro não tem dinheiro, é obrigado a emitir letras financeiras, o que pressiona os juros. Se os juros sobem, não há crescimento da economia. Se não há crescimento, o emprego não se expande. Logo, ninguém contribui. Fecha-se um círculo que é preciso romper. A reforma tem esse sentido. Mas estamos fazendo o nos- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ so próprio esforço. Estamos implantando agora um grande programa de monitoramento da economia para possibilitar a racionalidade na arrecadação. Há três anos se trabalha confrontando a massa salarial obtida por meio da RAIS com o volume de arrecadação da Previdência. Isso permite identificar quais os segmentos e as empresas que deixaram de recolher, total ou parcialmente. O segundo ponto é do comparativo com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. A partir de outubro, a nova guia do FGTS terá efeito declaratório para a Previdência, especificando inclusive as pessoas que trabalham em condições especiais e com direito, portanto, às aposentadorias especiais. Mas queremos monitorar tudo isso em tempo real, no pró- Axé, Xangô Baiano, o ministro Waldeck Ornellas levou para o seu gabinete a proteção dos orixás. Na foto, Xangô, um dos sete principais orixás do panteão dos deuses da mitologia africana cultuada nos candomblés da Bahia. Segurando o machado-dual (bem e mal), ele é o deus que simboliza também a Justiça. A escultura é do artista plástico Tati Moreno. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ prio mês de recolhimento identificando as empresas que eventualmente não tenham recolhido. Para isso, estamos montando um programa de trabalho que será apresentado em breve, inclusive à Anfip, a partir do monitoramento de arrecadação de 10 mil empresas na verdade, 70 % da receita divididas em 17 segmentos. Iremos sediar em Brasília 17 gerências para monitorar esses segmentos econômicos, conhecer o seu comportamento e possibilitar uma melhor maneira de relacionamento. Chegaremos, proximamente, a um relacionamento direto empresa-Previdência, on line. Os fiscais serão acionados em função dos dados que se obtenha a partir desse monitoramento. Para isso, será preciso especializar um grupo de fiscais nessas atividades econômicas. Com esse esforço, espera-se um crescimento real da ordem de 5% para a arrecadação no prazo de seis meses. Estamos também empenhados em receber a dívida ativa da Previdência. Isso é fundamental. Nas medidas adotadas, ao longo dos três últimos anos, foi possível avançar muito na parte de cobrança administrativa, dar andamento aos processos que estavam no Conselho de Recursos da Previdência e hoje há uma forte concentração na área da Procuradoria que enfrenta a questão do volume de processos na Justiça. De modo que estamos discutindo um conjunto de medidas para estimular a quitação da dívida ativa, cujos números, embora muito elevados, refletem um acúmulo de várias décadas de variações inclusive legislativas. O Ministério está com uma política muito clara de combate à evasão, à fraude e à corrupção para fazer com que a Previdência deixe de ser uma caixa preta e passe a ter uma relação mais aberta com a sociedade. 9 Entrevista ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Foto: Bernadete Brasiliense/Projeto Luz Revista de Seguridade Social Tratase de um programa novo, que vai exigir mais dos fiscais. O Ministério da Previdência, nos últimos anos, vinha praticando uma política de ampliação do quadro de fiscais com concursos anuais. O senhor pretende manter esse cronograma? Waldeck Ornellas Nos últimos anos foram admitidos, mediante concurso, cerca de 700 fiscais. Sim, nós continuaremos essa política. Vamos otimizar a utilização da nossa capacidade de fiscalização, mas vamos manter sempre essa política de ampliação, até porque há um volume muito grande de atividades disprir bem o seu papel, mas o “O programa de persas que precisam de fato é que apenas cerca de modernização está uma fiscalização caso a 300 deles dispõem de sendo executado com o caso. Todo esse procesnotebooks para trabalhar. O so de modernização tem pessoal recrutado da senhor pretende ampliar dois componentes funessa capacitação técnica? própria Previdência. damentais: de um lado, Waldeck Ornellas Digo isso porque vejo o aperfeiçoamento dos Sim. Não apenas para os que há muito processos de infra-estrufiscais, como também preconceito com o tura; de outro, a requapara os procuradores. servidor público” lificação e o treinamenComo você não tem uma to do quadro de recursos unidade da Previdência humanos. A idéia é valorizar os recurem cada município, o ideal é que os sos humanos. nossos funcionários possam trabalhar Todo esse programa, é importante com notebooks interligados com os observar, está sendo executado com o nossos computadores. Estamos nos apapessoal dos quadros da Previdência. relhando, integrando os serviços do Estamos recrutando, em diversos EstaINSS e da Dataprev para que a nossa fisdos, técnicos de acordo com as suas apcalização, a nossa Procuradoria, a nostidões, habilidades e especialidades sa área de benefício sejam instrupara compor os grupos de trabalho. mentalizadas para operar de qualquer Faço questão desse registro porque há parte do País. muito preconceito contra o servidor público. Na verdade, o que constato na Revista de Seguridade Social Outra Previdência é um quadro de recursos hupreocupação dos fiscais diz respeito à remanos com o desejo de ver as coisas se muneração, de modo que não haja um concretizarem. Com o desejo de ver a descompasso com relação aos salários dos sua instituição valorizada e fortalecida. fiscais da Receita. Como o senhor acompanha essa questão? Revista de Seguridade Social Os fisWaldeck Ornellas Recentemente cais da Previdência têm consciência de que tivemos uma revisão na gratificação de precisam estar bem aparelhados para cumtransporte, para a qual me empenhei 10 pessoalmente. A minha expectativa é por uma política homogênea entre a Receita e o INSS no que diz respeito à remuneração. Estamos trabalhando no sentido de ter uma integração, já firmamos até um protocolo, tivemos uma reunião entre a cúpula da Receita e a cúpula da Diretoria de Arrecadação e Fiscalização do INSS para essa troca de experiências, já que os métodos de atuação são os mesmos. Revista de Seguridade Social Voltando à reforma da Previdência, de que forma o senhor pretende agir no caso do sistema de isenções para as chamadas entidades filantrópicas? Até agora, pouco tem sido feito contra entidades chamadas pilantrópicas que se beneficiam dessas isenções. Waldeck Ornellas Estamos fazendo um convênio com o Ipea para que, através do Conselho Nacional de Assistência Social, sejam realizados estudos no sentido de se dimensionar e conhecer com precisão o que é o setor de assistência social e de filantropia no País. Conhecer por segmento, por atividade, o valor dessa renúncia fiscal. Existem algumas estimativas que falam de R$ 2 a R$ 2,5 bilhões. Queremos conhecer efetivamente o que é isso para saber de que forma deve ser fiscalizado. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ Demora na fila dá multa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ P ela primeira vez em sua história, o INSS multou agências bancárias que atenderam mal os aposentados e pensionistas. Foram punidas quatro agências de Minas Gerais duas do Excel, uma do Unibanco e outra do Bemge. O valor da multa R$ 2 mil correspondeu ao que o INSS devia pagar por dia a essas agências pelos serviços prestados. Apesar de manter contrato com a Febraban em que estão previstas as punições, o INSS até hoje havia se limitado a advertir o gerente da agência. O governo desembolsa R$ 0,71 para cada benefício depositado em conta corrente, além de custear os cartões eletrônicos dos segurados. Em troca, exige que os aposentados e pensionistas sejam atendidos nas agências em, no máximo, meia hora. Planos privados: melhores e piores D o ponto de vista dos médicos da área de ortopedia e traumatologia, os melhores planos de saúde são Unimed e Sul América Seguros. E os piores são Golden Cross e Amil. Esse é o resultado de pesquisa feita em maio pela empresa de marketing Markitel, prevista para se repetir a cada trimestre. Os médicos avaliaram sobretudo os seguintes aspectos: remuneração dos profissionais, atraso nos pagamentos, valor da tabela, burocracia e clientela. Alguns planos, mal colocados no ranking, questionaram os resultados. Revista dede Seguridade Revista Seguridade Social Social -- Set/Out-98 Ago/Set-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ O ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Pa n o r a m a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A Ouvidora da Previdência Foto: Bernadete Brasiliense Ministério da Previdência acaba de criar uma Ouvidoria para receber reclamações, dúvidas, sugestões e denúncias dos aposentados e pensionistas. Ouvindo o usuário, vamos fornecer subsídios para a reformulação de procedimentos e normas, além de eventualmente corrigir rumos de nossas políticas, explica a chefe do Núcleo R ○ de Ouvidoria, a fiscal do INSS Neiva Renkel Maciel (foto), servidora da Previdência há 11 anos. Pretendemos dar respostas ágeis aos dramas dos brasileiros, completa. Hoje, a Previdência recebe a cada mês cerca de cem mil telefonemas, número que só deverá crescer a partir de agora. O telefone da Ouvidoria é 0800 780191. Freio nas pilantrópicas eeleito para mais um ano à frente do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), Gilson Assis Dayrell promete manter o órgão na linha de combate contra os espertalhões que Foto: Bernadete Brasiliense tentam escapar do pagamento de contribuições previdenciárias e outros tributos devidos ao Estado obtendo registros de filantropia. Em linguagem clara, de pilantropia. Segundo Dayrell (foto), desde abril deste ano as concessões de registros estão sendo dificultadas por um decreto que visa moralizar um setor que vinha sendo alvo de muitos escândalos. Estamos fazendo um trabalho sério, junto com o INSS, para separar o joio do trigo, diz ele. Se a coisa for mesmo séria, o Governo tem muito trabalho pela frente, pois continua ainda em suspense algumas situações para lá de escandalosas, como o caso da empresa Golden Cross, cuja situação financeira recebeu recentemente uma injeção de bancos privados mas que continua com atestado de filantropia. Levantamento feito pela Revista de Seguridade Social da Anfip, edição Nº 56, de janeiro/fevereiro deste ano, apontava um número de 5.279 entidades filantrópicas no Brasil até dezembro de 1997. Veja como está a situação agora no quadro abaixo. Entidades Dez/97 Acre 5 Alagoas 31 Amapá 1 Amazonas 44 Bahia 142 Ceará 140 Distrito Federal 99 Espírito Santo 82 Goiás 104 Maranhão 38 Mato Grosso 62 M. Grosso do Sul 72 Minas 682 Pará 46 Paraíba 48 Paraná 495 Pernambuco 101 Piauí 26 Rio 490 Rio G. do Norte 43 Rio G. do Sul 621 Rondônia 13 Roraima 3 Santa Catarina 228 São Paulo 1.624 Sergipe 27 Tocantins 12 Total 5.279 Estado Fonte: CNAS ○ Entidades Julho/98 5 38 2 47 163 149 112 96 121 44 69 78 795 52 52 570 107 28 520 48 680 15 3 265 1.850 34 15 5.958 11 Saúde ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A fraude que mata Falsificar remédios no Brasil vira crime hediondo, mas isso não afasta o medo e a desconfiança das pessoas que dependem de medicação controlada O enredo que originou um dos Na dura vida real dos brasileiclássicos do cinema em preto e ros, uma das primeiras vítibranco saiu do terreno da ficção mas fatais dos criminosos foi para transformar-se, nos três últimos um bebê, tratado com um meses, em cruel realidade no Brasil. falso antibiótico, que não Imortalizado na interpretação de Orson combateu sua pneuWelles, o falsificador de remédios Harry monia. Vários idoLime, personagem central do filme brisos com diagnóstitânico O Terceiro Homem, poderia co de câncer de hoje ser considerado um bandido inpróstata, usuários gênuo, caso sua atuação fosse compade Androcur sem rada às máfias que conseguiram espaprincípio ativo, lhar pelas farmácias do País, sobretudo também faleceram. no Rio, São Paulo e Minas, mais de 50 E quase duas dezetipos de medicamentos adulterados. nas de mulheres, No filme do diretor Carol Reed, que sem condições ideais de saúde ou ditranscorre em uma Viena sob comando nheiro para ter mais um filho, engravidos aliados, depois de destroçada pela daram tomando o anticoncepcional Segunda Guerra Mundial, Harry Lime é Microvlar, feito apenas de farinha. procurado pela polícia por ter forneciMEDIDAS - A enxurrada de medicado, a peso de ouro, penimentos adulterados nas cilina falsa a hospitais. Seu farmácias, postos e hosFabricantes, amigo, o escritor Holly pitais públicos levou o vendedores e Martins, chega a Viena e governo federal a tomar funcionários de tenta provar que Harry, uma série de medidas laboratórios foram tido como morto, é inolegais e burocráticas. detidos sob suspeita. cente. Ao reconstituir a Até uma cartilha sobre o Apesar da morte vida do criminoso, o escriassunto foi lançada pelo tor é obrigado pela políMinistério da Saúde de alguns cia a ver suas vítimas: cri(veja box). O Congresso consumidores, anças com lesões provotambém agiu: o crime ninguém está preso. cadas pela meningite. de falsificação de remé12 dios foi transformado em hediondo. Pela nova lei, o crime passou a ser inafiançável. As penas variam agora entre de 8 a 15 anos de prisão, cumpridos somente em regime fechado. Mas ninguém conseguiu ainda responder a uma simples e fundamental pergunta: quem são e quantos são os Harrys Limes brasileiros? Mais uma vez, a impunidade continua sendo a resposta para os grandes escândalos do País. Fabricantes, distribuidores, farmacêuticos, vendedores de remédios e funcionários de laboratórios chegaram a ser detidos sob suspeita, mas não permanceram presos. Os mecanismos de controle e punição se mosRevista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ traram absolutamente falhos: mesmo estando no centro da fraude, a Distribuidora Ação conseguiu usar outro nome para voltar a vender, em julho, remédios para a rede de hospitais públicos de Belo Horizonte. Com a constatação de que o sistema de fiscalização em vigor é ineficiente, o ministro da Saúde, José Serra, viajou no final de julho para os Estados Unidos a fim de conhecer a estrutura de funcionamento da FDA (Food and Drug Administration), o poderoso órgão de vigilância sanitária norte-americano. A idéia de Serra é criar no Brasil algo semelhante para substituir a Secretaria de Vigilância Sanitária. Antes de viajar, Serra trocou o comando do órgão e demitiu vários funcionários por dupla militância: fiscais que eram, ao mesmo tempo, donos de farmácia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Foto: Eugênio Novaes ○ Serra: interesse em importar modelo do FDA Já o Ministério da Justiça criou, no âmbito da Polícia Federal (PF), uma Delegacia Especial de Prevenção e Repressão à Adulteração e Falsificação de Remédios. A nova delegacia tem jurisdição interestadual para poder investigar todas as etapas do mercado de medicamentos, desde a fabricação até o trans- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ porte, distribuição e venda ao consumidor. O delegado Ivan Rosa Marques, lotado na área de crimes fazendários, foi designado para o cargo. REDES - O governo já sabe que, ao lado de fraudadores de fundo de quintal, há falsificações sofisticadas, fato que levanta suspeita sobre a existência de uma verdadeira indústria de remédios ilegais: o exame de pílulas não originais do anticoncepcional Nordette, por exemplo, revelou que elas continham quase a mesma quantidade do princípio ativo encontrado no remédio verdadeiro. O governo também identificou as redes de distribuição intermediários entre os laboratórios e as farmácias como as principais responsáveis pelas fraudes. No caso do anticoncepcional Microvlar, de uso também suspenso des- Cartilha ensina como se prevenir D esde que lançou a cartilha com orientações sobre medicamentos falsificados, o telefone DisqueSaúde (0800-611997), do Ministério da Saúde, tem coletado muitas perguntas de consumidores de todo o País. Algumas delas merecem ser reproduzidas, pois constituem um verdadeiro tira-dúvidas sobre o assunto. 1 - As farmácias e drogarias são obrigadas a receber de volta os medicamentos suspeitos? Não existe uma lei clara sobre isto, tratando só de farmácias e drogarias. Mas o Código de Defesa do Consumidor prevê que qualquer pessoa que compre seja o que for, ao ficar insatisfeita, pode apresentar a nota fiscal (com o nome do medicamento e o número do lote) e exigir o dinheiro de volta. Ou um outro pro- Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 duto no mesmo valor. Se tiver problemas, ligue para o Procon local. 2 - Quem tiver algum problema de saúde por tomar remédio falso deve fazer o quê? Quem deve ser responsabilizado por isso? Deve procurar imediatamente o seu médico ou o serviço de saúde mais próximo de casa, para corrigir o tratamento. O caso deve ser denunciado à polícia e à vigilância sanitária de sua cidade, que vão investigar quem são os responsáveis diretos e indiretos pela falsificação. Não é possível acusar imediatamente o laboratório, a farmácia ou a drogaria, que às vezes também foram vítimas de criminosos falsificadores. Mas, se o fabricante, o distribuidor ou o vendedor tiverem conhecimento do caso e não tomarem providências, também serão responsabilizados. 3 - Quais os perigos de um remédio falso para a saúde do paciente? Variam muito, dependendo do tipo de falsificação. Se o medicamento tiver sido diluído ou enfraquecido, a doença que devia estar sendo tratada permanece ou piora. Em alguns casos, isso pode significar risco de vida. Mudanças na fórmula do produto aumentam as chances de intoxicação, prejudicando principalmente os rins e o fígado, no caso de medicamentos de uso permanente. Mesmo quando as drogas são legítimas, se forem cargas 13 Saúde ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de junho, o Ministério da Saúde já autorizou o laboratório Schering do Brasil a voltar a comercializá-lo. Mas para recolocar a pílula no mercado, o laboratório teve de atender a uma série de exigências: o medicamento que chega às farmácias agora tem nova embalagem, na cor azul. A do Microvlar antigo, e que foi adulterado, era verde. A nova embalagem, aprovada pelo Ministério da Saúde, traz ainda vários mecanismos de proteção para evitar a sua falsificação. O laboratório Schering do Brasil também fará uma campanha publicitária, já aprovada pela Secretaria de Vigilância Sanitária, para esclarecer os consumidores sobre o novo Microvlar. Mesmo com todas essas precauções, o secretário de Vigilância Sanitária, Gonzalo Vecina Neto, faz um alerta e um pedido à populaComo não poderia A falsificação ção. Algum facínora deixar de ser, o crescise sofisticou. pode tentar recolocar o mento das falsificações Hoje, algumas Microvlar da cartela verde remédios tem ligação quadrilhas operam de nas farmácias. Quem direta com a sonegação encontrar esse produto, fiscal, segundo constacomo grandes redes, deve entrar em contato tou a própria Associação com ramificações imediato com a VigilânBrasileira da Indústria em vários cia Sanitária. . Farmacêutica (Abifarma). laboratórios por O caso da pílula da Na avaliação da Abifartodo o País farinha, como ficou coma, o dono de farmácia nhecida a adulteração que aceita comprar sem do Microvlar, chegou ao conhecimennota fiscal do distribuidor, pensando em to público em maio deste ano, denunlevar vantagem sobre o Governo e auciado por mulheres que agora exigem mentar sua margem de lucro, está na na Justiça reparações pela gravidez verdade abrindo as portas para as quaindesejada. O Schering do Brasil aledrilhas que falsificam e roubam remégou, na época, que um lote do produdios. Os medicamentos são hoje a quinto, fabricado para testes na máquina ta carga mais roubada nas estradas brade embalagem, foi desviado quando sesileiras, causando prejuízos estimados ria incinerado e chegou às farmácias. pelo setor em R$ 5 milhões anuais. roubadas de laboratórios ou amostras grátis reembaladas pelas quadrilhas, perdem-se todas as garantias de higiene e conservação dos medicamentos. 4 - Há mais riscos de adquirir medicamentos falsos comprando envelopes avulsos, fora das caixas? Sim. Principalmente porque você não tem como conferir o número do lote, que deve ser o mesmo dentro e fora, no envelope e na caixa. 5 - Se um medicamento que não está na lista dos medicamentos falsificados não fizer efeito, o que devo fazer? Na dúvida, ligue para o médico, que poderá receitar outro medicamento. Em relação à suspeita sobre o produto que não funcionou, você ou o médico devem entrar em contato com o Disque Saúde (0800-611997), com o serviço de Vigilância Sanitária da cidade ou com a Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Saúde Pública, da Polícia Federal. Eles podem investigar e providenciar o teste do medicamento. 6 - Quais são os tipos mais comuns de falsificação? Elas vão desde a raspagem da frase venda proibida (no caso das amostras grátis ou medicamentos distribuídos pela rede do SUS) até a mistura dos medicamentos líqüidos com água ou outro diluidor. Também é comum a retirada de pílulas das cartelas e sua colocação em frascos, para evitar o controle de validade. Já foram encontrados casos de produtos totalmente falsos, sem efeito, feitos de substâncias baratas, como a farinha, moldadas na forma do medicamento. E também produtos diferentes do que diz o rótulo da embalagem ou em quantidade menor. 7 - Algum remédio pode ser considerado totalmente seguro? 14 Os falsificadores ganham espaço por causa do hábito brasileiro de tomar medicamentos por conta própria. Afinal, todo medicamento tem um potencial de risco: seja por doses exageradas, seja por doses menores, que só fortalecem a doença. A maioria dos medicamentos tem contra-indicações. É preciso levar em conta idade, peso, alergias e outras doenças, por exemplo. Por isso, sempre é arriscado tomar rmedicamento sem orientação médica e sem necessidade. 8 - E os medicamentos distribuídos pelos hospitais? Também são fiscalizados? Sim. Há uma série de documentos, testes e laudos que os hospitais têm que exigir antes de comprar os medicamento e que devem ser checados ao receber a encomenda; seja de laboratórios, distribuidores ou importadores. Quem não cumprir a lei pode ter o hospital fechado e ir parar na cadeia. Nas conRevista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Tudo por amor A pílula contra impotência por enquanto é um sucesso empresarial le não faz a gente se sentir novamente como aos 21 anos de idade, mas resolveu o problema. Foi o que respondeu, com os olhos brilhando e um sorriso de menino maroto, Robert Shay, um senhor de 70 anos, morador de Los Angeles, ao ser indagado sobre como estava o seu desempenho após participar dos primeiros testes clínicos do Viagra, entre 1996 e 1997. O remédio, conhecido como a nova pílula contra a impotência, surgiu recentemente como um dos maiores fenôme- “E corrências públicas para compra de medicamentos, só podem concorrer empresas licenciadas pelo Ministério da Saúde. 9 - Existe algum controle sobre o que as farmácias e drogarias compram? Sim. Elas só podem comprar medicamentos de fabricantes, distribuidoras com autorização legal para isso. O farmacêutico responsável pela loja tem obrigação de examinar todos os medicamentos comprados, fugindo dos produtos ditos de bonificação, porque estes, a princípio, são produtos suspeitos. Em caso de dúvida, a farmácia ou drogaria tem a obrigação de parar de vender o medicamento e avisar imediatamente a Vigilância Sanitária. 10 - Como se controla o que sai de laboratórios, fábricas e distribuidores? Sempre que solicitados, os fabricantes devem apresentar à Vigilância SaniRevista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ nos médico e mercadológico. Apenas na primeira semana de abril, quando do seu lançamento, a empresa norte-americana Pfizer Inc., responsável pela fabricação do produto, abocanhou 5% do mercado dos EUA. No Brasil, os números ainda não foram divulgados, mas os donos de farmácia atribuem ao Viagra o aumento no faturamento dos últimos dias e cobram das autoridades uma maior fiscalização para evitar falsificações do medicamento. E bastou que o governo baixasse normas para evitar a venda indiscriminada do produto para que aparecesse o Viagra no black, no mercado negro, com a cotação de cada pílula superando a do dólar. Independentemen- TIRA DÚVIDAS Na hora de comprar um remédio, pequenos detalhes na embalagem tornam-se importantes para identificar um produto falsificado ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ te de todas as histórias que se criaram em torno da pílula milagrosa, o fato é que o sucesso do Viagra se deve, em grande parte, à simplicidade como é administrado. Até então, os remédios contra a impotência eram injetados no pênis ou introduzidos diretamente nas vias urinárias, causando desconforto. Alguns médicos e pesquisadores, no entanto, acham necessário colocar um pouco de água fria no fogo dos mais afoitos em adquirir o Viagra sem acompanhamento de especialista. O Departamento de Fármacos e Medicamentos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), por exemplo, vem alertando para os efeitos colaterais do Viagra em pessoas que tomam medicamentos contra úlceras, gastrite e problemas graves no fígado, como câncer e cirrose. tária uma lista de distribuidores, atacadistas e varejistas autorizados a vender seus medicamentos. São obrigados a informar ao Ministério da Saúde e à polícia quais os locais onde estão sendo vendidos cada um de seus lotes, para que se possa seguir as pistas, em caso de qualquer problema. Também devem informar os nomes de seus propagandistas que recebem os produtos, em que quantidade e o número dos lotes distribuídos. Os distribuidores são obrigados a manter lista das farmácias, drogarias e hospitais aos quais venderam, especificando o número dos lotes e quantidades negociadas. Em caso de roubo de carga ou queixa de consumidores que chegue até eles, têm de comunicar o fato imediatamente à Vigilância Sanitária e à polícia. 15 Po l í t i c a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fotos: Luiz Câmara/Projeto Luz O futuro do Congresso: duas interrogações A previsão de comportamento do Congresso Nacional nos próximos meses dá margem a duas interrogações. A primeira, mais breve, refere-se à atitude, entre outubro e dezembro, dos parlamentares que não tenham sido reeleitos. A segunda, de importância definitiva para o governo, está ligada à futura composição da Câmara dos Deputados, principal terreno de embate com as oposições em torno das reformas estruturais. A cada quatro anos, o Congresso vem sendo sacudido por uma extensa renovação algo como 50% das representações estaduais na Câmara. Desta vez, a substituição promete ser menor, provavelmente em função dos altos custos das campanhas, do desinteresse nas eleições e do próprio esgotamento do processo de renovação das lideranças políticas. Ainda assim, pelo menos um terço dos atuais deputados não retornará a Brasília em 1999. Sabendo que não estarão mais no Congresso no ano que vem, como agirão os deputados? Alguns poderão procurar em plenário uma espécie de vingança contra o governo, pelo fato de 16 A composição do Congresso não vai ser muito diferente da atual. Mas o governo precisará negociar mais, se quiser tocar adiante o seu projeto de reformas não terem sido reeleitos. Outros se manterão fiéis. A aritmética desse descontentamento será muito importante para a conclusão da votação da emenda constitucional da reforma da Previdência Social, enviada de volta à Câmara pelo Senado, depois de extensas modificações no texto inicialmente aprovado pelos deputados. Três destaques ainda precisam ser apreciados pelo plenário da Câmara, antes da conclusão da votação da reforma. Um deles refere-se à criação de uma idade mínima para aposentadoria no período de transição para o novo sistema, ponto considerado fundamental pelo governo. Para manter o dispositivo, as bancadas aliadas ao Palácio do Planalto terão de garantir 308 votos em plenário e, certamente, muitos deles serão de deputados não reeleitos. O governo terá de se Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ empenhar para manter o apoio desses parlamentares e garantir a conclusão da votação da emenda constitucional, ainda que o texto agrade apenas parcialmente à equipe econômica. NOVOS DESAFIOS - A Previdência Social estará em pauta de novo no início de 1999, quando tomar posse o novo Congresso. Muito provavelmente, o governo enviará ao Legislativo uma segunda proposta de reforma previdenciária, destinada a aprofundar a atual e a projetar um equilíbrio de contas para o sistema ao longo dos próximos anos. A essa nova versão de reforma previdenciária se unirão emendas constitucionais necessárias à realização de reformas tributária e política. Adiada para 1999 por falta de consenso na base governista, a reforma tributária voltará com força total no próximo ano, trazendo ao topo do debate legislativo temas como a simplificação de impostos e a revisão do pacto federativo, com nova distribuição de encargos entre a União, os Estados e os municípios. A reforma política, que já é tema de debate na campanha eleitoral, também ganhará importância na agenda do Legislativo. Até pelas dificuldades encontradas no pleito deste ano, os parlamentares estarão interessados em promover um amplo debate, em 1999, a respeito de mudanças há muito tempo em estudo, como a implantação do voto distrital misto e para especial interesse do governo da fidelidade partidária, que pode levar um deputado ou senador a perder o mandato se agir contra determinação de seu partido ou mudar de legenda durante o mandato. Nesse ponto, ganha importância a segunda interrogação: como serão as bancadas do futuro Congresso? Como elas se comportarão nas batalhas legislativas que o governo considera Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ definitivas, em direção à aprovação de reformas? O maior determinante desse comportamento será, provavelmente, o desempenho nas urnas do presidente Fernando Henrique Cardoso. Uma eventual vitória do candidato à reeleição ao Palácio do Planalto será decisiva para a garantia de sucesso das bancadas governistas em votações de temas importantes como as reformas previdenciária, tributária e política. Os presidentes em início de mandato geralmente são bem sucedidos nas votações de seu primeiro ano de governo. Especialmente se contam com uma grande votação. O maior exemplo disso foi o ex-presidente Fernando Collor, que chegou a obter a aprovação do confisco da poupança nos primeiros meses de seu mandato. Dança das cadeiras A composição do futuro Congresso não deverá ser muito diferente da atual. Na Câmara, o PFL continuará a deter a maior bancada, seguido dos igualmente governistas PMDB, PSDB e PPB. A oposição poderá crescer, mas não o suficiente para tornar mais difícil a aprovação de emendas constitucionais. No Senado, a renovação será de apenas 27, dos 81 senadores. E a maioria favorável ao governo provavelmente se manterá. O governo precisará se preocupar menos com a quantidade de parlamentares de sua base e mais com a qualidade de seu relacionamento com esses deputados e senadores. Se for reeleito, Fernando Henrique deverá ter força política para a implantação da segunda geração de reformas. A aprovação definitiva dessas propostas dependerá, entretanto, de muita articulação política. Este ano, segundo levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o número de deputados candidatos à reeleição está sendo recorde. Dos atuais 513 deputados, 443 disputam um novo mandato, 17 concorrem a uma vaga no Senado, 12 são candidatos a vicegovernador, 7 são candidatos a Governador, 6 concorrem a Deputado Estadual, 2 são suplentes de senadores e 26 desistiram de disputar algum cargo. É o maior índice de candidatos à reeleição e o menor de desistências. 17 Tr i b u t o s ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Simples que complica C om apenas um ano e meio de vigência, o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte, mais conhecido como Simples, já provoca nas esferas governamentais e círculos empresariais uma controvérsia sobre suas reais conseqüências para a sociedade. Há quem afirme que o Simples tem duas faces: uma que realmente simplificou a situação para as empresas e outra que complicou o lado das contas do governo, notadamente da Previdência Social. Que o Simples melhorou significativamente a vida do segmento de micros e pequenas empresas (exceção às prestadoras de serviços), reduzindo sua carga tributária, desburocratizando a papelada contábil-fiscal e trazendo ao mundo formal um número expressivo de empresas e trabalhadores que atuavam na informalidade, ninguém discute. Seus 18 O impos criado par facilitar a vid das pequena empresas provoco um buraco n arrecadação d Previdência Soci Por Antonio Carlos Cam Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 to ra da as ou na da ial mpos ○ méritos são também inquestionáveis quando o assunto é nível de emprego e os salários nas empresas beneficiadas, itens que vêm mostrando ligeira ascensão em contraste com uma economia assombrada pelas estatísticas do desemprego. Mas a discussão que se coloca, e que tem crescido no governo, é gerada por um fato não menos relevante: o Simples está causando perda de arrecadação, sobretudo para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Dados do Ministério da Previdência e Assistência Social indicam que essa perda, em 1997, foi de aproximadamente R$ 400 milhões, dinheiro suficiente para pagar 250 mil benefícios no ano. A arrecadação do INSS com o Simples, em seu primeiro ano de vigência, alcançou cerca de R$ 900 milhões, quando se estima que, não fossem as distorções do sistema, sua receita poderia atingir R$ 1,3 bilhão. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Simples estão enquadradas, para efeito de recolhimento, na faixa de faturamento até R$ 60 mil, sujeitas portanto aos 3% de tributação, que é o piso do sistema. Donadon, assim como técnicos da Receita Federal ouvidos, prefeririam que fosse mantida no original a medida provisória que criou o Simples, a qual estabelecia apenas um degrau para o pagamento do imposto pelas microempresas, que era a faixa de faturamento bruto anual até R$ 120 mil, sujeita à alíquota de 5%. Se houvesse prevalecido esse princípio, na opinião dos técnicos, não ocorreria perda de receita para a Previdência, ou ela seria pouco significativa. Mas, ao converter a medida provisória para a Lei 9.317, de 6 de dezembro de 1996, o Congresso Nacional ampliou para três o número de degraus para enquadramento de microempresas. A Lei estabeleceu ainda seis faixas de enquadramento para as chamadas empresas de pequeno porte (EPP), que variam de 5,4%, DEGRAUS - E que distorções são espara faturamento de R$ 120.000,01 até tas? A principal delas, segundo avaliam os técnicos, é o estabelecimento de diR$ 240 mil, a 8,4% para aquelas que fatuversas faixas ou degraus ram R$ 720 mil a última para enquadramento das faixa para quem se beneSegundo dados do ficia do Simples. microempresas ao novo INSS, a perda de Na área empresarial, tributo a primeira prearrecadação com o a estratégia é defender a vê receita bruta anual Simples no ano de até R$ 60 mil, com manutenção das faixas passado foi de alíquota de 3%; a segunconsagradas na Lei 9.317 R$ 400 milhões. da, até R$ 90 mil, com 4%; e ainda brigar pela ampliDinheiro suficiente ação da escada, a partir e a terceira até R$ 90 mil, para pagar 250 mil de seu topo. O limite de com 5%. Essa escadinha R$ 270 mil é muito baifaz com que as empresas, benefícios utilizando-se de disposixo, afirma Joseph Couri, tivos da lei através de artifícios contápresidente do poderoso Sindicato da beis, fiquem represadas na faixa de reMicro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, que tem cerca de 600 mil emceita mais baixa, a de R$ 60 mil, para presas integrantes do Simples. pagar menos impostos, afirma o coorPLANO - O Simples foi arquitetado denador geral de Arrecadação do INSS, João Donadon. pela Secretaria da Receita Federal, estiProva disso é que cerca de 70% das mulada pelo Serviço Brasileiro de Apoio 2,1 milhões de empresas inscritas no às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 19 Tr i b u t o s ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ para reduzir a burocracia gador representa cerca No ano passado, e a carga de tributos fede 45% do total. Tanto o governo derais sobre esse segque no ano passado, enregistrou a abertura mento de empresas. Em quanto o total arrecadaalguns casos, a redução do pelo Simples ficou em de 610 mil da carga tributária chega torno de R$ 2 bilhões, o novas empresas a 70%, conforme especiaINSS participou com R$ no País. listas. O Simples engloba 940 milhões. Na repartiDesse total, 315 mil o pagamento mensal dos ção dos recursos arrecaaderiram ao seguintes tributos: Imdados das microemSimples posto de Renda Pessoa presas, cujas alíquotas Jurídica, contribuições ao gerais de tributação vaPIS/Pasep, Cofins, Contribuição Social riam de 3% a 5%, cabem ao INSS percensobre o Lucro e INSS do empregador. tuais que vão de 1,2% a 1,6%. Nesta disNo bolo da arrecadação do Simples, tribuição, segundo João Donadon, resia contribuição da Previdência do emprede outro ponto de distorção no Sim- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ples que tem levado à perda de receita da Previdência Social. Ele observa que na primeira faixa do Simples, sujeita à alíquota de 3%, enquanto 1,2% se destinam ao INSS, os outros 1,8% vão para o Cofins, cujo papel na seguridade social é por definição suplementar. Mas como pode a arrecadação da contribuição suplementar ser maior que a principal, que é o INSS?, indaga o técnico, lembrando Há dois anos, a Anfip advertiu para perda de receita A constatação de que houve renúncia fiscal da ordem de R$ 400 milhões, em prejuízo do INSS, resultante das perdas com o recolhimento do Simples sobre contribuições dos empregadores em 1997, vem apenas confirmar análises e previsões da Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias (Anfip), lançadas durante os debates que culminaram com a sanção da Lei 9.317/ 96, que regula o imposto. Em audiência pública realizada dia 27 de novembro de 1996 pela Comissão Mista do Congresso que examinou a Medida Provisória 1.526 depois convertida na lei que criou o Simples -, o então presidente da Anfip, Álvaro Sólon de França, já advertia para os riscos que a decisão im- 20 plicava para os recursos da Previdência Social. Em seu pronunciamento na Comissão Mista, Álvaro Sólon chamou a atenção, principalmente, para a insuficiência e a desatualização de dados que embasavam os argumentos oficiais e principalmente empresariais de que o Simples não traria perdas de receita para o INSS. Além de ter sido a única entidade de trabalhadores ouvida pela Comissão que discutiu a MP do Simples, a Anfip levou, na ocasião, suas análises e preocupações também ao então presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP). A Anfip fez questão de destacar, em todo o debate, a importância do Simples como instrumento desburocra- Audiência Pública no Congresso, em 1996: Maria Cota Machado, da Cobap, e os diretores da Anfip, Álvaro Sólon, Vilson Romero, Floriano Martins e Severino Cavalcante tizador e descomplicador da vida das microempresas e das empresas de pequeno porte. Mas sempre alertou, com base em análises técnicas, que o sistema, ainda mais com a diversidade de faixas de alíquotas criadas para as micro, poderia complicar a situação da Previdência Social, que afinal acabaria pagando a conta ao ter imputados mais prejuízos que benefícios com a simplificação tributária. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ que nessa faixa esta inserida a grande maioria das microempresas inscritas no Simples. Segundo levantamentos da área econômica do governo, uma das faces mais positivas do Simples, ao lado da redução da parafernália burocrática e dos impostos das micros, foi o seu efeito no aumento das contratações e na legalização de empresas e trabalhadores que operavam na informalidade, de vez que Foto: Luis Câmara/Projeto Luz A entidade revelou tenacidade também na defesa da receita das contribuições previdenciárias ao rechaçar as propostas para inclusão na Lei do Simples da prestação de serviços, notadamente das atividades de execução de obras de construção civil. Esse item chegou a ser incluído no projeto de lei de conversão, por manobra do lobby interessado, mas diante da atitude firme e da denúncia da Anfip foi eliminado na redação final. A Anfip chegou a calcular que nesse caso haveria perda de receita da ordem de R$ 1 bilhão. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ o empregador teve substancialmente reduzida sua contribuição compulsória ao INSS. A Receita Federal, por exemplo, comemora a abertura de 610 mil novas empresas ano passado (das quais 315 mil aderiram ao Simples), ao lado de um aumento de 35% no Imposto de Renda retido na fonte do pessoal empregado nas empresas beneficiárias do Simples, fato que tem compensado, inclusive, a queda na arrecadação do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas ensejada pelo sistema. Mas o otimismo da Receita não é compartilhado pela Previdência Social. E por uma razão muito comum, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ como observa o coordenador de Arrecadação do INSS, João Donadon: Sem dúvida louvável pelo seu aspecto impulsionador das contratações de mão-de-obra, ao desonerar a folha de pagamento das micro e pequenas empresas, o Simples acaba porém se revelando perverso para a Previdência. É ela quem futuramente vai ter que bancar os benefícios desses trabalhadores sem que, para isso, tenha arrecadado com o sistema o suficiente para equilibrar receitas e despesas correspondentes a esse segmento empresarial. Ao contrário, o que se tem verificado é perda de receitas. presas altamente contratadoras de Os anais daquela audiência pública mão-de-obra. A entidade volta a lanpara discutir a Medida Provisória 1.526, çar mão de suas análises, comprovarealizada na ala Nilo Coelho do Senado, damente corretas, apontando os risregistraram ainda as afirmações do secrecos que implicariam a redução de retário executivo do MPAS, José Cecchin, ceita da Previdência, sem contraparem defesa das alíquotas do imposto simtida de diminuição de suas despesas plificado, avalizando os argumentos de atuais e futuras. que o Simples traria ganhos para a arreAs primeiras previsões são de que cadação da Previdência. Cecchin foi caa inclusão dos prestadores de servitegórico ao frisar, na audiência, que era ços entre os beneficiários do Simples integralmente favorável à MP, que a seu pode significar uma perda de receita ver não traria prejuízos à receita da Preda ordem de 70% do que hoje é arrevidência. Os fatos demonstraram o acercadado. Portanto, essa to das previsões da Anfip seria uma brecha extree o equívoco das posições A inclusão dos mamente perigosa, sodo secretário-executivo prestadores de bretudo sabendo-se do do MPAS. serviços entre os potencial de fragmentaNo momento, o lobby beneficiários do ção de grandes empreda prestação de serviços Simples pode sas de serviços, como as (ver página seguinte) se significar uma de engenharia, empreirearticula novamente perda de receita teiras e sub-empreiteipara ser beneficiado pelo de até 70% ras, de construção civil Simples. Mas a Anfip está etc., que assim podem vigilante e, como ocorreu agir com intuito de se beneficiarem no debate de 1996, condena qualquer das baixas alíquotas do Simples para tentativa no sentido dessa abertura e a micro e empresas de pequeno porte. ampliação dos benefícios para essas em- 21 Tr i b u t o s ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Lobby de empresários esbarra na fiscalização A ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ sentaria perda de 70% na arrecadação dos tributos que o sistema engloba. O raciocínio do governo para vetar a proposta baseia-se no fato de que o faturamento de prestadores de serviços, sobretudo as profissões regulamentadas (médicos, dentistas, advogados, engenheiros, analistas de sistemas etc.), é composto em grande parte pela mãode-obra. Desta forma, uma redução substancial na cobrança do INSS do empregador nessa área e mesmo do Imposto de Renda, significaria uma sangria nos cofres da arrecadação federal. o contrário da Previdência, que que isso, as prestadores de serviço terireclama das perdas com o Simples, am condição de investir na abertura de os empresários se declaram animados postos de trabalho, acrescentou Pio com os primeiros efeitos da medida. Mas, Guerra. Segundo seus cálculos, a reduainda assim, não se mostram integralção de impostos pelo sistema pode chemente satisfeitos com o imposto simpligar a até 50% sobre o valor final devido ficado. Passaram a defender, principalao governo, o que se tem constituído mente, a inclusão das micros e pequenas em estímulos à formalidade de empreempresas prestadoras Foto: Bernadete Brasiliense/Projeto Luz Foto: LC Fortes/BGPress de serviços no sistema, proposta da qual a Previdência Social e a Receita Federal não querem nem ouvir falar. Outra frente de mobilização dos empresários é a que pretende sistema idêntico ao Simples nos impostos estaduais e municipais, até agora sem muito sucesso. Exibindo números segundo os quais 2 milhões e 187 mil empresas em todo o país já optaram em declarar a renda pelo siste...proposta que é combatida pelo secretário da ma Simples, que con- Pio Guerra, do Sebrae: Simples até para prestadores de serviços... Receita, Everardo Maciel sidera uma das maiosas, além de registro e contratação de res conquistas das micro e pequenas Como o principal argumento dos deempregados. empresas, o presidente do Conselho fensores da inclusão da prestação de Mas o secretário da Receita Federal, Deliberativo Nacional do Sebrae, Pio serviços no Simples é a necessidade de Everardo Maciel, com apoio integral do Guerra, sugere: Seria um estímulo enordesburocratização fiscal no setor, e não Ministério da Previdência Social, já veme à economia se as prestadoras de sera menor tributação, o governo prepara tou essa sugestão. Contudo, a idéia consviços pudessem se beneficiar das regras uma proposta alternativa. Deve sugerir ta em diversos projetos tramitando no do imposto. uma série de medidas desburocratiCongresso que pretendem alterar o sisCom o benefício do Simples, inúzantes para esse segmento empresaritema. De acordo com levantamentos premeros profissionais que atuam no meral. Mas nada de simplificação ou reduliminares da Receita, a inclusão das cado informal poderiam entrar no cirção de impostos, que é o que os empreprestadoras de serviços no Simples reprecuito oficial de arrecadação e, mais do sários buscam na verdade. 22 Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Últimos lançamentos da Anfip Sonegação O seminário realizado em maio, em Porto Alegre, para discutir sonegação, fraude e evasão fiscal transformou-se no primeiro volume da coleção Ciclo de Estudos. Em 77 páginas, estão resumidos depoimentos reveladores de fiscais, auditores e procuradores. Estima-se que a área previdenciária perca por ano cerca de R$ 30 bilhões. Previdência lá fora O terceiro volume da série A Previdência ao Redor do Mundo mostra como o sistema funciona nos países da Europa. Em tempos de reforma, esse estudo comparativo, editado em abril, é mais do que útil. Legislação A legislação previdenciária (benefícios e custeio), atualizada até 20 de março último, está disponível em segunda edição. Com ela, o Centro de Estudos da Seguridade Social fornece à categoria uma importante ferramenta de trabalho. Essas edições podem ser solicitadas diretamente à Anfip: SBN, Ed. Anfip, Quadra 1, Bloco H, Projeção 27. CEP 70040-907, Brasília/DF Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Biblioteca ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de a vid o N Olho neles Os candidatos devem merecer o apoio do eleitor por seus compromissos de campanha e, no caso dos que já detêm mandato, por seus votos em relação aos temas de interesse do País e da sociedade, e não por distribuição de favores, bens e até dinheiro. A escolha deve ser livre, soberana e baseada em critérios de seriedade, decência, compromisso com as causas sociais. Com essa introdução, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) está apresentando o livro-análise sobre como votaram deputados e senadores nas propostas de interesse dos assalariados. Contatos para a aquisição da obra, que também está sendo editada na forma de cartilha com a relação dos parlamentares por Estado, podem ser feitos por telefone (061) 225-9704 ou fax (061) 225-9150. Filantropia De Celso Barroso Leite, a LTR está lançando Filantropia e Contribuição Social, 136 páginas. Trata-se de uma reflexão abrangente sobre a filantropia frente à isenção a ser disciplinada por lei (atualmente, pela Lei 8.212/91, art. 25), isenção esta que é muito menor que a imunidade de que tratava a Constituição anterior. Barroso Leite é um nome consagrado por sua atuação como estudioso e pesquisador na área de Previdência Social. Coletânea Temas atuais da Previdência Social, da LTR, 317 páginas, é uma coletânea de textos organizados por Wladimir Novaes Martinez numa edição para homenagear Celso Barroso Leite. É um panorama geral com informações técnicas, conclusões objetivas e opiniões doutrinárias sobre questões imediatas do dia-a-dia da Previdência. É uma ferramenta de trabalho do juiz, procurador, advogado e chefes de recursos humanos, útil no trato dos problemas de custeio e benefícios. Reúne textos, entre outros, de Reinhold Stephanes, Amauri Mascaro do Nascimento, Ives Gandra Martins e Jarbas Passarinho. 23 PANORAMA QUATERN Preparado pela Assessoria Econômica da Anfip, o estudo abaixo, disponível também na home-page da entidade na Internet, apresenta um balanço dos quatro anos do Plano Real e seus efeitos na Previdência e seguridade social. Revela, entre outras coisas, que nesse período a Previdência foi transformada em mais uma âncora de sustentação do Real e cerca de R$ 23 bilhões deixaram de ser repassados pelo Tesouro para área de benefícios assistenciais. I Inflação acumula 71,78% em quatro anos e perde cada vez mais terreno O Plano Real chega ao seu quarto ano com uma inflação acumulada de 71,78%, segundo o INPC do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), índice inferior ao registrado no último mês (fevereiro/90) do Governo Sarney . Em quatro anos, ou seja, num período compreendido entre julho de 1994, quando a nova moeda foi implantada, a julho de 1998, a inflação acumulada é menos que o dobro dos 42% de março de 1994, quando a URV entrou em vigor. A perspectiva da inflação para 1998 é de uma taxa abaixo dos 4,34% registrados no ano passado, segundo o mesmo INPC. O acumulado do presente ano está em 1,94%, segundo a taxa média de uma cesta de índice (INPC, IPC, IGP, ICV). Se, sob o ponto de vista do combate à inflação, o Plano é vitorioso, o mesmo não se pode dizer das taxas de crescimento da economia como um todo. A redução do crescimento econômico tem sido uma das molas propulsoras da es- 24 tabilização. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que em 1997 foi de 3,0%, no presente ano não deverá chegar nos 2,0%. Enquanto que o déficit público (receitas menos despesas do Governo) ficará entre 7% e 8% do PIB. O quarto ano do Real é também o mais difícil de seu curso no aspecto social, e as barganhas políticas em ano eleitoral deixam o programa de estabilização ainda mais frágil. O Governo freou o crescimento interno nestes dois últimos anos para tentar incrementar as exportações e buscar o equilíbrio na balança comercial, que vinha apresentando déficits comprometedores para a saúde do Real. No mês de julho, a balança comercial começa a esboçar reação com o primeiro superávit em 25 meses algo próximo a US$ 100 milhões. Ao sacrificar o crescimento interno, o País se encontra na encruzilhada do desemprego, apesar da perspectiva de um reaquecimento da construção civil no segundo semestre. A estabilização monetária mostrou aos brasileiros o verdadeiro custo do dinheiro, facilitou a vida da população de renda até cinco salários mínimos e provocou um ajuste histórico de credibilidade quanto ao poder de compra da nova moeda. Hoje, é possível haver planejamento familiar da renda disponível. Esse lado da estabilização monetária é o aval positivo do Plano Real. Houve uma mudança de comportamento e a moeda passou a ter um pouco mais de valor. No entanto, também existem muitas dificuldades como veremos mais adiante. A modernização competitiva das empresas ainda causará desemprego em muitos setores distintos e o Plano não se sustentará mais com o sacrifício do não crescimento econômico interno. II Desindexação: uma poderosa arma usada contra a inflação Desindexação, ou seja, ausência de mecanismos automáticos de reajuste dos salários devido ao aumento ininter- Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ÁRIO DO PLANO REAL rupto dos preços, foi uma palavra chave na implantação do Plano Real e fundamental para impedir que a inércia da inflação continuasse a realimentar a própria inflação. Antes do Plano Real, preços e salários eram corrigidos pela inflação passada e, com isso, estabeleciase uma inflação futura sempre acima da passada. Essa falta de política salarial prejudicou os trabalhadores, já que perderam a garantia mínima da reposição salarial. Ainda que a indexação anterior não garantisse a manutenção completa do poder de compra dos salários, com a desindexação as perdas foram maiores para as camadas mais pobres da população, visto que nunca possuíram poder de fogo nas negociações entre patrões e empregados. As próprias negociações entre patrões e empregados foram alteradas de forma radical: as tensões em torno das negociações para reajustes salariais deram lugar a negociações que levaram à redução dos salários em troca da manutenção do emprego. Isso se deu pela primeira vez na história do Brasil. A desindexação teve importante papel para segurar os preços. Aumentos generalizados de preços, que antes eram ditados pelas empresas, passaram a ser perseguidos pelo Governo e pela sociedade como os possíveis vilões do Plano Real. Cada empresa foi obrigada, dessa maneira, a analisar seus custos na hora de definir preços, pondo fim à política de índices iguais de aumento, antes conduzida pelo próprio poder público. Além disso, para aumentar seu mercado consumidor com a credibilidade da nova moeda, as empresas tiveram em muitos casos de reduzir preços e custos. III Capital especulativo: um dos calos do Plano Real O Plano Real ao completar quatro anos de existência se confirmou como o mais bem sucedido plano de combate à inflação. Em contrapartida, apresenta um de seus piores momentos desde julho de 1994: a crise mundial das bolsas de valores, desencadeada pelo sudeste asiático, que culminou num ataque especulativo ao Brasil, colocou em evidência as fragilidades do plano e respingou na credibilidade da moeda e do Governo. O desequilíbrio das contas públicas o Governo gasta mais do que arrecada aumentou nos últimos meses, deixando claro que o compromisso de ajuste fiscal não passava de promessa Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 de campanha. Embora o desequilíbrio exista há décadas, antes da crise das bolsas ocorrida em outubro de 1997 o Plano Real parecia ser mais forte do que hoje o é. Com baixas taxas de inflação, já comparáveis às principais economias do mundo, e com reservas internacionais em torno de US$ 70 bilhões (situação em junho/98), tudo isso parecia significar provas da confiança dos investidores internacionais na economia brasileira. Entretanto, bastaram alguns dias de ataque especulativo dos capitais internacionais para consumir cerca de US$ 10 bilhões das reservas internacionais, ou seja, os investidores entraram numa corrida para ver quem retirava primeiro o dinheiro do País. O Governo agiu rápido: jogou as taxas básicas de juros para 43% e baixou um pacote pretensamente fiscal, em dezembro de 1997, com aumento de impostos, paralisação da produção, sob o pretexto de levantar ganhos de US$ 20 bilhões que não se confirmaram. O País passou a apresentar uma das maiores taxas de juros do mundo, tudo isso para trazer de volta o receoso capital estrangeiro. Cerca de oito meses depois da crise asiática que, aliás, continua perturbando o cenário mundial, o Brasil ainda sofre as consequências das estratosféricas taxas de juros e do aumento de impostos. A economia, que já vinha num ritmo moderado de crescimento, entrou em pane, com sucessivas quedas na produção, nas vendas, no emprego e aumento generalizado da inadimplência. As taxas de desemprego, medidas por todos os institutos de pesquisa, inclusive os do Governo, bateram recordes: 18,9%, segundo o Dieese, ou mais de 8%, segundo o IBGE. 25 PANORAMA QUATERN IV Desemprego cresce com modernização de empresas O maior calo do Governo Fernando Henrique, o desemprego, não é produto exclusivo do Plano Real, mas foi agravado por ele. Sem inflação, que impedia referências de preços justos e escondia custos desnecessários e desperdícios, as empresas foram obrigadas a se ajustarem e buscar melhorias na qualidade e na produtividade, com profunda reestruturação produtiva. A redução de pessoal foi o caminho mais utilizado para isso, conforme comprovou estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mediu os ganhos de produtividade das empresas até 1997. Esses ganhos foram, em média, de 15%, e basicamente obtidos por redução de pessoal. Além disso, essa alta taxa de produtividade não foi repassada em nenhum momento aos salários dos trabalhadores remanescentes do ajuste competitivo das empresas. E o problema do desemprego continua assustando os trabalhadores. Pesquisa da Vox Populi revelou que 60% dos brasileiros temem perder seus empregos nos próximos meses. Desde 1995, quando ficou em 4,64% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o menor índice da década, o desemprego vem crescendo nas seis maiores regiões metropolitanas do País e em março último chegou ao pico de 8,18%, medido ainda pelo IBGE. Já a taxa medida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) beirou os 19%, recorde histórico. O Governo torce por uma continuidade na queda ocorri- 26 da na taxa de abril, que chegou a 7,94%. A indústria de transformação foi um dos segmentos que mais desempregou desde 1994, com uma redução de 8,5% dos postos de trabalho. Em compensação, o setor de serviços começa a despontar como um grande empregador, com a oferta de vagas tendo crescido 15,5% desde a criação do Plano Real. Além dos ajustes que as empresas foram obrigadas a fazer com o fim da inflação, a corrida para enfrentar a concorrência de produtos importados e, no final do ano passado, com a crise no sudeste asiático que se espalhou por todo o mundo, também contribuíram para o aumento do desemprego. Nas grandes regiões metropolitanas, como São Paulo e o Rio de Janeiro, o problema se agravou por outro fenômeno surgido com o Plano Real: o deslocamento de empresas para outras regiões com mão-de-obra mais barata ou que oferecem incentivos fiscais para as indústrias se instalarem. Um outro agravante para aumentar a taxa de desemprego é o número cada vez maior de mulheres, antigas donas de casa, entrando no mercado de trabalho, demonstrando claramente a instabilidade do emprego masculino e aumentando a oferta de mão-de-obra num ambiente de demanda cada vez mais retraída. V Juros altos ampliaram dívida pública interna Ao mesmo tempo em que está acabando com a inflação, o Plano Real fez explodir a dívida pública interna. Em dezembro de 1994, essa dívida era de R$ 61,782 bilhões. Atualmente, segun- do o Banco Central, essa mesma dívida saltou para mais de R$ 290,893 bilhões (dados de junho), portanto, com um crescimento astronômico de 370,84% durante o Plano Real. Os juros altos, necessários para atrair capitais estrangeiros especulativos e manter o plano de estabilização, foram os principais responsáveis pelo crescimento explosivo da dívida pública. Mas o reconhecimento de dívidas, o saneamento de instituições financeiras públicas e o acerto de contas com os Estados também ajudaram a aumentar a dívida. Tudo isso revelou um sistema financeiro frágil, ineficaz e especulativo. O pagamento de juros atualmente já supera o percentual de 20% do total da dívida interna, ou seja, mais de R$ 50 bilhões. Os juros altos atingiram também a dívida dos Estados e Municípios, que saltou de R$ 24,916 bilhões, em dezembro de 1994, para R$ 43,407 bilhões, em junho de 1998, portanto um crescimento de 74,21% no período, segundo dados do Banco Central. Como os Estados são proibidos de emitir títulos para cobrir despesas ordinárias, o crescimento da dívida se deu única e exclusivamente por causa da política de juros altos. Além dos Estados e Municípios, o saneamento de algumas instituições bancárias, como o Banco do Brasil, a um custo de R$ 8 bilhões, foi outro fator de crescimento da dívida. Outros R$ 7 bilhões devem ser acrescidos a conta da União com o acerto dos gastos com subsídios para o álcool combustível. O Plano Real não pode mais se sustentar às custas do capital especulativo, do não crescimento econômico, dos juros altos, do desemprego e do câmbio reprimido. É preciso mudar as regras do jogo de modo a que o País consiga vencer seus traumas sociais. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ÁRIO DO PLANO REAL VI Previdência Social: mais uma âncora de sustentação do Plano Real Muito se falou, e se fala até hoje, que o Plano Real vem se sustentando às custas, principalmente, da chamada âncora cambial, que nada mais é do que o controle rígido da paridade real/dólar através de um sistema de variação mínima. Em suma, a desvalorização do Real frente ao dólar é muito pequena e em intervalos largos. Essa política favorece as importações, compromete a balança comercial mas, por outro lado, é atraente ao capital estrangeiro ao permitir uma abertura de fronteiras nunca antes ocorrida no País. Se são corretas as críticas em relação à política cambial do Governo, que segura artificialmente o valor externo da nossa moeda e ilude a população com uma suposta força do Real, também são verdadeiras as colocações que vêm sendo feitas, ainda que timidamente, sobre o papel, também de âncora, da Previdência Social na sustentação do mesmo Plano. Por trás do discurso governamental, que elegeu a Previdência Social como a vilã do déficit público e inimiga da estabilização, se esconde o verdadeiro diagnóstico, qual seja, o de que o Governo, através do Tesouro Nacional, se utiliza dos recursos oriundos da Seguridade Social, para outros fins que não aqueles definidos constitucionalmente. E nada melhor do que números para dar consistência a essa afirmação. De janeiro do ano de 1995 até junho de 1998, portanto um período que abrange quase a totalidade da vigência do Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 Plano Real, o Tesouro Nacional deixou de repassar recursos de contribuições sociais (Cofins + Lucro) no valor de R$ 23,196 bilhões, que atenderiam os benefícios assistenciais e de pouca contribuição (RMV, LOAS e Rural). Diante desse valor a receber, é inconcebível falar de déficit da Previdência Social. Fazendo uma comparação com alguns indicadores macroeconômicos, a arrecadação da Previdência cresceu, em percentuais médios históricos, mais que o Produto Interno Bruto (PIB) do País. Além disso, que já seria de enaltecer, a mesma arrecadação também cresceu, em percentuais médios históricos, mais que o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), mais que o montante do Imposto de Renda (IR), mais que o Imposto de Produtos Industrializados (IPI) e mais do que o total da receita tributária do País. São todas receitas que sinalizam a performance econômica do Brasil. Um outro dado importante, e que certamente será motivo de incredulidade, é que o valor dos juros pagos ao capital especulativo, que já passa da cifra de R$ 50 bilhões/ano, é superior ao valor gasto com benefícios do sistema previdenciário, que totalizam o quantitativo de quase 18 milhões de beneficiários em todo o País. Enquanto o País permanece estagnado, a arrecadação da Previdência, ao contrário, continua crescendo. E ela rema contra a maré econômica e social, uma vez que o desemprego vem aumentando segundo todos os levantamentos técnicos e a evasão fiscal reduz em mais de 30% a arrecadação potencial, principalmente com atividades de filantropia, cooperativas, órgãos públicos e área rural. O valor estimado dessa evasão supera os R$ 10 bilhões, ou quase 20% do atual orçamento da Previdência Social. Se o mercado de trabalho formal reduz cada vez mais o seu tamanho (representando hoje um pouco mais que um terço da População Economicamente Ativa), o que também diminui a possibilidade de melhorar ainda mais a arrecadação, o que se pode concluir é que o sistema previdenciário tem demonstrado qualidade e eficiência numa conjuntura adversa. Se o Governo tivesse uma política de empregos duradoura e reconduzisse o País na rota do crescimento econômico, certamente a Previdência Social estaria numa situação mais favorável. Portanto, não é exagero nenhum afirmar que a Previdência Social se tornou ao longo do tempo mais uma âncora de sustentação do Plano Real. O Governo, empresas consultoras formadoras de opinião e até mesmo a mídia apressada, confundem déficit com saldo a receber. Dessa maneira, contribuem para denegrir a imagem da Previdência Social junto à sociedade como um todo. Os que denigrem a imagem da Previdência se esquecem que, nas últimas décadas, já foram utilizados recursos da Seguridade Social para fins os mais distintos possíveis. Esses desvios de recursos, geralmente para financiar obras faraônicas, provocaram uma queda da liqüidez do sistema de Previdência Social, uma vez que não houve o devido retorno. Os saldos positivos da Previdência Social existentes historicamente deveriam ser aplicados em fundos consistentes, de tal maneira que, quando ocorresse uma menor arrecadação, esses fundos deveriam ser utilizados para suprir as dificuldades financeiras da própria Previdência, tal como existe em outros Países desenvolvidos. 27 Informática ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ terpretado como o primeiro dia de 1900. Nos cálculos da idade dos contribuintes, é possível imaginar o grau de confusão que isso provocaria. Uma pessoa nascida em 1970 passaria a ter, nos registros dos computadores, 70 anos de idade, em vez de 30. Para resolver isso, as principais áreas do Governo vêm trabalhando desde 1996. É o caso da Dataprev, empresa responsável pela preparação da mais extensa folha de pagamentos da América Latina. A empresa fez uma parceria com a Unisys, fornecedora de equipamentos de informática, para fazer as adaptações dos programas. Todo o trabalho inclusive a fase de testes do sistema deverá estar concluído até agosto de 1999, a um custo estimado em R$ 20 milhões. RECURSOS - O responsável na Dataprev pelo trabalho de adaptação é Gabriel Machado de Oliveira Freire, gerente do Projeto Dataprev 2000. Segundo Freire, a empresa iniciou em 96 o inventário dos sistemas que teriam de ser corrigidos, mas faltou dinheiro para continuar os traNo último segundo de 1999, computadores de todo o mundo balhos. Os recursos só foram liberados podem entrar em colapso. É o chamado Bug, que está obrigando este ano. Ele garante, entretanto, que não o governo a investir milhões para ajustar as informações previdenciárias haverá problemas para a adaptação. A Dataprev terá de corrigir 4 mil proque à primeira vista parece o 2000 deve-se, basicamente, à economia gramas e 8 milhões de linhas de códinome de uma megafesta para feita pelos fabricantes. Como até o inícomemorar a virada do milênio cio dos anos 80 os dispositivos de megos, a unidade de medida usada para é na verdade motivo de dor de cabeça mória dos computadores eram muito caos programas de computador. A emprepara todas as organizações que trabaros, os fabricantes optaram por capacisa, que também processa o recolhimento de 2 milhões de contribuintes, poslham com sistemas de computadores, tar os equipamentos a registrar apenas sui cerca de 400 técnicos envolvidos dicomo empresas e órgãos governamenos dois primeiros dígitos das datas na retamente nos trabalhos, tais. É para evitar o chamado Bug do memória, ou seja, apenas o A Dataprev está Milênio que essas organizações entra19, sem a variável crescensem contar as equipes da ram num ritmo frenético de adaptação te para quando o ano ultraUnysis. Boa parte dos 600 corrigindo 4 mil de seus programas de computador anpassasse o de 99. órgãos governamentais não programas e 8 tes da fatal virada de 1999 para o ano Isso significa que, milhões de linhas de apresenta muitos avanços nessa área. Para apressá-los, 2000. Essa operação custará centenas de quando atingir o ano 2000, códigos. Mais de o Governo transferiu do Mimilhões aos cofres públicos. o calendário dos computa400 técnicos A incapacidade da maioria dos comdores volta para 00. Como nistério da Administração trabalham na putadores com exceção dos mais nonuma viagem no tempo, 1º para a Secretaria de Assunoperação. vos de decodificar as datas a partir de de janeiro de 2000 será intos Estratégicos (SAE) e Armagedon cibernético O 28 Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O BUG DO MILÊNIO AFETA: SISTEMAS BANCÁRIOS SISTEMAS TELEFÔNICOS SISTEMAS DE GESTÃO EMPRESARIAL SISTEMAS OPERACIONAIS SISTEMAS DE NAVEGAÇÃO PLANILHAS ELETRÔNICAS Suponha que os computadores não sejam corrigidos até o último minuto de 1999. Algumas dores de cabeça que o problema pode provocar: 1 Se for feita uma ligação para o exterior no último minuto de 31 de dezembro de 1999 e você desligar um minuto depois, os computadores da companhia telefônica poderão cobrar uma chamada de 99 anos. 2 Os cálculos de aposentadoria poderão sofrer erros graves. Alguém nascido em 1930 poderia ter sua aposentadoria negada ou suspensa, pois o computador interpretaria que essa pessoa teria 30 anos ao invés de 70; ao contrário, quem tiver nascido em 1970, seria incluído no rol dos aposentados pois o computador o classificaria como septuagenário. 3 A empresa de processamento de dados contratada pelo Governo Federal para processar dados da Receita Federal ou do Comércio Exterior, por exemplo, caso não consiga completar sua adaptação ao Bug, poderá gerar informações incorretas que afetam a cobrança de impostos, o acompanhamento da arrecadação, as estastísticas do comércio exterior etc. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 4 No sistema financeiro, que iniciou a adaptação há mais tempo, o colapso pode ser geral. Os problemas vão desde o cancelamento de apólices de seguro, que seriam equivocadamente consideradas extintas, até o cálculo errado dos rendimentos de aplicações financeiras, para dar poucos exemplos. 5 Hospitais poderiam ter regis- tros de altas equivocadas e emitiriam contas absurdas para pessoas que nem sequer permaneceram um dia internadas. Pior: a falha de máquinas e equipamentos hospitalares poderá levar ao agravamento do estado de saúde do enfermo ou a sua morte. 6 Se o observatório de Greenwich não adaptar suas máquinas e programas ao Bug, poderemos ter um descompasso mundial com relação ao considerado centro do horário mundial, com repercussões não só em relação ao tempo, mas também, em relação às observações científicas dos astros. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ para a Chefia do Gabinete Civil a coordenação dos processos de conversão dos programas de computadores. A comunicação da transferência foi feita durante seminário realizado na própria SAE nos dias 20 e 21 de julho. AVANÇO - O Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), responde pela maior parte dos serviços de informática do Ministério da Fazenda. Lá, a adaptação dos programas para fugir do Bug está numa fase bem mais adiantada. O responsável pelo Projeto Ano 2000 do Serpro, Ricardo Pupo Moreno, diz que falta converter apenas 5% das 37 milhões de linhas de códigos que terão de ser adaptadas, o que deve acontecer este semestre. A partir daí, a empresa iniciará a fase de certificação dos sistemas de seus clientes, ou seja, a empresa não fará as adaptações para eles, mas irá certificar se o trabalho de conversão foi feito corretamente. Todo o trabalho de conversão está custando ao Serpro R$ 30 milhões. Além de atender a Fazenda, o Serpro faz o processamento de dados da Receita Federal e do Ministério da Administração, responsável pela preparação da folha de pagamentos dos servidores públicos federais. Também responde pelo processamento dos registros de importação e exportação brasileiras. O Banco do Brasil, que faz a maior parte da compensação de cheques do sistema bancário, também já está com o trabalho de conversão de seus programas quase concluídos. Estão sendo gastos R$ 56 milhões para alterar cerca de 100 mil programas. O Banco do Brasil foi a primeira instituição financeira a despertar para o problema. Já o Banco Central estabeleceu que, até o final deste ano, todas as instituições bancárias terão de mudar seus sistemas. Quem descumprir os prazos sofrerá punições. 29 AÇÃO FISCAL - janeiro a junho de 1998 Resultado do Primeiro Semestre cai em mais de 10,0% O Resultado da Ação Fiscal (RAF) no primeiro semestre de 1998 totalizou R$ 5,221 bilhões, significando uma queda de 11,98% em relação a mesmo período de 1997, quando totalizou R$ 5,939 bilhões. Isso resultou, em termos monetários, num decréscimo de R$ 711,68 milhões nos cofres do INSS. Apesar dessa queda, o RAF ultrapassou a meta fiscal prevista em R$ 203,00 milhões, já que esta era de R$ 5,018 bilhões. Os fiscais de contribuições previdenciárias fiscalizaram em todo o território nacional 46.668 empresas e visitaram outras 27.286. Nesse trabalho, os fiscais emitiram 14.913 Notificações Fiscais de Lançamento de Débito (NFLD), que totalizaram R$ 2,911 bilhões, representando 55,76% do total do RAF e apresentaram uma queda de 14,11% em relação ao mesmo semestre de 1997. Quanto aos recolhimentos, eles totalizaram R$ 421,38 milhões, representando 8,07% do total do RAF e apresentaram um crescimento de 3,14% em relação ao primeiro se- 30 mestre de 1997. Já com relação aos parcelamentos, foram emitidos 19.932 Confissões de Dívida Fiscal (CDF) que totalizaram R$ 1,888 bilhões, representaram 36,16% do total do RAF e apresentaram uma queda 11,50 % em relação ao mesmo semestre de 1997. O número de empresas visitadas e fiscalizadas chegou a um total de 73.954. Esse total é inferior ao verificado no primeiro semestre de 1997, que foi de 103.281, o que explica, de certa maneira, a queda no valor do RAF. A razão dessa queda se deve também à uma maior seleção e direcionamento da ação fiscal com vistas a atingir as empresas inadimplentes. Em outras palavras, mesmo com a redução do número de empresas está havendo uma melhor qualidade da ação fiscal. No ranking nacional, a região Sudeste é a líder disparada com 67,61% de participação no total do RAF. Depois vem a região Sul com 12,12%, seguida de muito perto pela região Nordeste, com 12,04%. A região Centro-Oeste aparece com 3,66% e por último vem a região Norte com apenas 3,29% do valor do Resultado da Ação Fiscal. Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 RESULTADO DA AÇÃO FISCAL (RAF) JANEIRO A JUNHO DE 1998 (EM R$ MIL NOMINAIS) UF EMPRESAS FISC FISCAL. VISIT.. AL. VISIT RECOLH. VALOR CDF QTDE. NFLD VALOR QTDE. VALOR RAF VALOR (%) AM PA AC AP RO RR TO 258 452 95 86 87 104 272 420 22 4 95 0 70 1 3.317,0 1.123,0 294,0 452,0 316,0 350,0 297,0 178 302 137 66 93 116 146 17.778,0 11.886,0 4.601,0 2.994,0 3.765,0 1.629,0 2.563,0 132 257 53 59 103 49 107 24.323,0 56.448,0 8.693,0 5.433,0 17.202,0 2.531,0 5.958,0 45.418,0 69.458,0 13.589,0 8.879,0 21.283,0 4.510,0 8.818,0 0,87 1,33 0,26 0,17 0,41 0,09 0,17 NORTE 1.354 612 6.149,0 1.038 45.216,0 760 120.588,0 171.955,0 3,29 AL BA CE MA PB PE PI RN SE 219 1.017 378 312 530 530 850 258 300 82 1.539 498 47 144 157 0 72 0 1.395,0 11.147,0 1.455,0 1.210,0 1.417,0 2.560,0 434,0 942,0 382,0 36 487 343 148 367 324 212 124 55 7.433,0 60.963,0 13.977,0 22.408,0 15.389,0 15.755,0 3.341,0 32.812,0 4.671,0 118 453 128 241 425 395 92 40 190 66.150,0 118.108,0 9.026,0 50.882,0 37.123,0 88.924,0 6.333,0 23.737,0 30.794,0 74.978,0 190.218,0 24.457,0 74.500,0 53.929,0 107.239,0 10.107,0 57.491,0 35.847,0 1,44 3,64 0,47 1,43 1,03 2,05 0,19 1,10 0,69 NORDESTE 4.394 2.539 20.942,0 2.096 176.749,0 2.082 431.077,0 628.766,0 12,04 ES MG RJ SP 611 3.234 3.971 18.256 597 3.408 3.407 10.222 22.787,0 28.140,0 33.351,0 248.757,0 349 1.748 1.734 8.189 21.887,0 92.827,0 184.740,0 996.700,0 575 1.005 1.421 5.450 40.051,0 135.308,0 411.728,0 1.380.660,0 84.725,0 256.275,0 629.819,0 2.626.118,0 1,62 4,91 12,06 49,65 SUDESTE 26.072 17.634 333.035,0 12.020 1.296.154,0 8.451 1.967.747,0 3.596.937,0 67,61 PR RS SC 2.962 8.599 1.771 2.405 513 880 25.659,0 15.289,0 7.026,0 1.875 1.772 615 161.935,0 79.265,0 41.548,0 731 1.351 825 110.112,0 109.534,0 82.268,0 297.706,0 204.088,0 130.841,0 5,70 3,91 2,51 SUL 13.332 3.798 47.974,0 4.262 282.748,0 2.907 301.914,0 632.635,0 12,12 MS GO MT DF 225 510 220 561 339 466 62 1.836 5.126,0 3.390,0 4.033,0 730,0 213 120 139 44 18.972,0 8.853,0 55.254,0 4.270,0 170 164 233 146 13.492,0 20.960,0 22.717,0 33.356,0 37.590,0 33.203,0 82.004,0 38.357,0 0,72 0,64 1,57 0,73 C.OESTE 1.516 2.703 13.279,0 516 87.349,0 713 90.525,0 191.154,0 3,66 BRASIL 46.668 27.286 421.379,0 19.932 1.888.216,0 14.913 2.911.851,0 5.221.447,0 100,00 Fonte: Coordenação Geral de Fiscalização, DAF/INSS/MPAS Notas: (1) Recolh. = Recolhimentos (2) CDF = Confissões de Dívida Fiscal (parcelamentos) (3) NFLD = Notificações Fiscais de Lançamento de Débitos (4) RAF = Recolhimentos + Parcelamentos + Notificações Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 31 FLUX O DE CAIXA - janeiro FLUXO a junho de 1998 Arrecadação continua crescendo no semestre Analisando o Fluxo de Caixa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nesse primeiro semestre de 1998, verificase, sob a ótica da Receita Total, um incremento nominal de 8,10% e um incremento real de 5,29% no total dos recebimentos em comparação com igual período de 1997. Em termos monetários, essa receita subiu de R$ 23,853 bilhões para R$ 25,785 bilhões. Quanto à principal fonte de receita da Previdência Social, qual seja a Arrecadação Bancária, observou-se que houve um incremento nominal de 3,38% e real de 0,67%, o que resultou, em termos de aumento monetário, em R$ 734,25 milhões a mais para os cofres do INSS, ou seja, de R$ 21,725 bilhões nos seis primeiros meses de 1997 para R$ 22,459 bilhões em 1998. Se somarmos à Arrecadação/Simples, que foi de R$ 381,95 milhões no período janeiro a junho de 1998, esse incremento sobe para 4,62% nominal e 1,89% real, resultando em R$ 677,75 milhões a mais, em termos monetários, e totalizando um valor de R$ 23,163 bilhões. Quanto aos repasses da União, e analisando especificamente suas principais rubricas, verificou-se uma queda significativa da Cofins, de R$ 1,154 bilhão no primeiro semestre de 1997 para apenas R$ 484,69 milhões no primeiro semestre do presente ano. Por outro lado, o comportamento da rubrica Contribuição sobre o Lucro Líquido foi, como compensação, extremamente favorável, saindo do nível zero no primeiro semestre de 1997 para os atuais R$ 676,15 milhões. FLUXO DE CAIXA CONSOLIDADO - 1998 DISCRIMINAÇÃO 1 - SALDO INICIAL JAN FEV 2.667.693 2 - TOTAL RECEBIMENTOS (A+B) 4.211.651 . Arrecadação Bancária 3.750.724 . Remuneração s/ Arrecad. Bancária 1.192 . Rendimento Aplic. Financeiras 24.886 . Resgate de Títulos e Bonificações 0 . Outros 154.613 . Empréstimos 0 SUB-TOTAL A 3.931.415 . Arrecadação / SIMPLES . Recursos Ordinários . Cota de Previdência . Cofins . Cofins/LOAS . Contribuição Plano Segurid. Social . Fundo de Estabilização Fiscal . Fundo de Estabilização Fiscal/EPU . Contribuição Social Sobre o Lucro . Concurso Prognóstico SUB-TOTAL B 3 - TOTAL DE PAGAMENTOS . Benefícios . Transferência a Terceiros . Outros 32 0 0 0 27.000 0 0 0 0 253.236 0 280.236 4.849.828 4.516.005 54.046 279.777 MAR ABR MAI 2.029.516 1.683.182 1.109.298 688.319 1998 (EM R$ MIL NOMINAIS) %S/REC ANO JUN NO ANO 622.590 2.667.693 4.243.647 4.160.484 4.375.817 4.441.657 4.351.798 25.785.054 100,00 3.713.864 3.754.099 3.734.495 3.726.111 3.780.053 22.459.346 87,10 794 703 535 908 219 4.351 0,02 38.697 24.601 51.962 33.938 45.417 219.501 0,85 0 0 0 0 0 0 0,00 28.166 61.809 26.671 33.201 51.449 355.909 1,38 0 0 0 0 0 0 0,00 3.781.521 3.841.212 3.813.663 3.794.158 3.877.138 23.039.107 89,35 127.726 0 0 57.500 0 0 26.000 0 250.900 0 462.126 90.617 24.960 0 23.560 0 7.800 40.383 105.232 26.720 0 319.272 163.652 24.960 0 150.627 0 7.800 57.280 88.297 69.538 0 562.154 142.499 24.960 0 226.000 50.000 7.800 109.700 40.020 46.520 0 647.499 179.380 27.520 0 0 0 8.600 179.919 50.001 29.240 0 474.660 703.874 102.400 0 484.687 50.000 32.000 413.282 283.550 676.154 0 2.745.947 2,73 0,40 0,00 1,88 0,19 0,12 1,60 1,10 2,62 0,00 10,65 4.589.981 4.734.368 4.796.796 4.507.386 4.720.813 28.199.172 109,36 4.025.987 4.061.757 4.117.332 4.128.479 4.097.048 24.946.608 96,75 284.351 281.603 395.759 93.801 269.653 1.379.213 5,35 279.643 391.008 283.705 285.106 354.112 1.873.351 7,27 4 - SALDO CONTA ÚNICA 0 0 0 0 0 0 0 - 5 - SALDO CONTA MOVIMENTO 0 0 0 0 0 0 0 - 1.683.182 1.109.298 688.319 622.590 253.575 155.608 - -420.979 -65.729 -369.015 -2.414.118 - 6 - SALDO NOMINAL (1+2-3) 2.029.516 7 - SALDO OPERACIONAL (2-3) -638.177 -346.334 -573.884 Revista de Seguridade Revista deSocial Seguridade - Set/Out-98 Social - Set/Out-98 Já o desempenho da Arrecadação/Simples, em particular, foi muito promissora, uma vez que teve um crescimento no semestre, tanto nominal quanto real, bastante significativo, ou seja, 69,94% e 66,28%, respectivamente, em relação a 1997. Isso, em termos monetários, significou um aumento de R$ 414,17 milhões para R$ 703,83 milhões, ou seja, R$ 289,66 milhões a mais. Sob a ótica da Despesa Total, observamos um crescimento nominal de 18,88%, e de 15,79%, em termos reais, no total dos pagamentos do INSS. Isso em valores monetários significa um aumento de R$ 23,908 bilhões par R$ 28,423 bilhões. Se analisarmos especificamente o comportamento da principal rubrica de despesa, qual seja a de Benefícios, verificamos um aumento nominal de 21,50% e real de 18,34%, no primeiro semestre de 1998 em relação ao de 1997, ou seja, pulou de R$ 20,532 bilhões para R$ 24,947 bilhões. A análise do Fluxo de Caixa confirma mais uma vez que o esforço arrecadador de todo o contingente fiscal e de servidores do INSS vem sendo prejudicado sistematicamente pelo não repasse por parte do Tesouro Nacional das dotações de Cofins e Contribuição sobre o Lucro Líquido, asseguradas constitucionalmente e contempladas no orçamento da Seguridade Social. DISCRIMINATIVO DOS PAGAMENTOS 1998 (EM R$ MIL NOMINAIS) TOTAL DE PAGAMENTOS (A+B+C) 4.849.828 %S/P AG %S/PAG ANO 4.589.981 4.734.368 4.796.796 4.507.386 4.944.806 28.423.165 100,00 A - BENEFÍCIOS 4.516.005 4.025.987 4.061.757 4.117.332 4.128.479 4.097.048 24.946.608 DISCRIMINAÇÃO B - OUTROS JAN FEV MAR ABR MAI JUN NO ANO 87,77 279.777 279.643 391.008 283.705 285.106 578.105 2.097.344 7,38 186.753 84.017 102.736 0 0 162.434 71.728 90.706 0 0 243.715 103.465 140.250 0 0 152.955 65.346 87.609 0 0 157.070 64.842 92.228 0 0 447.986 223.993 86.170 137.823 0 1.350.913 613.391 599.699 137.823 0 4,75 2,16 2,11 0,48 0,00 ADMINISTRAÇÃO Amortização e Encargos Administração e Patrimônio Material Remuneração Bancária Serviços de Terceiros Dataprev ECT Geap Fundacentro Pasep Diversos 93.024 0 1.655 3.908 745 46.112 21.041 3.356 12.264 819 1.019 2.105 117.209 0 1.953 2.332 30.712 54.403 5.035 1.310 12.530 4.000 951 3.983 147.293 0 3.244 4.180 39.093 39.722 28.071 4.928 18.458 4.000 684 4.913 130.750 0 1.698 6.924 37.130 35.084 31.703 1.366 7.000 3.518 453 5.874 128.036 0 1.831 5.507 34.235 36.602 24.224 1.414 13.969 3.950 623 5.681 130.119 0 1.311 3.181 35.890 34.446 31.189 618 11.218 4.000 559 7.707 746.431 0 11.692 26.032 177.805 246.369 141.263 12.992 75.439 20.287 4.289 30.263 2,63 0,00 0,04 0,09 0,63 0,87 0,05 0,05 0,27 0,07 0,02 0,11 C - TRANSFERÊNCIAS A TERCEIROS FNDE-Salário Educação Incra DPC / FEDP Marítimo Sefa-Fundo Aeroviário SDR-MAARA Senai Sesi Senac Sesc Sebrae Senar Sest Senat 54.046 14.982 2.650 623 1.640 635 2.682 2.894 3.710 7.814 6.457 690 5.491 3.778 284.351 94.990 18.814 1.737 2.412 3.281 18.141 22.676 22.562 44.748 42.834 3.180 5.405 3.571 281.603 93.168 18.832 1.641 2.316 3.184 18.049 22.582 22.486 44.681 42.794 3.088 5.308 3.474 395.759 61.525 16.864 1.447 2.702 3.282 33.478 42.331 46.969 90.419 84.063 3.983 5.172 3.524 93.801 61.366 18.008 1.351 2.751 3.087 0 0 0 0 0 0 4.343 2.895 269.653 78.580 18.092 1.351 2.799 3.136 17.747 23.147 23.337 46.488 43.395 2.898 5.210 3.473 1.379.213 404.611 93.260 8.150 14.620 16.605 90.097 113.630 119.064 234.150 219.543 13.839 30.929 20.715 4,85 1,42 0,33 0,03 0,05 0,06 0,32 0,40 0,82 0,82 0,77 0,05 0,11 0,07 PESSOAL a - Ativos b - Inativo c - IRRF d - Contribuição Pl. Seg. Social Revista de Seguridade Social - Set/Out-98 33 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Idéias ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ & ○ ○ Debates ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Relação servidor e ente político ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Constituconal que estabeleça limite compatível com aquele arcabouço ideal (aliás, até hoje, em razão de seu tecnicismo, desconhecido da maioria dos brasileiros). Simplificando as coisas, será válido material e juridicamente se, observada a relação entre a participação individual e social (parte patronal das empresas) própria da faixa salarial, for igual a dos demais participantes (no RGPS, de 8 e 22% para quem ganha até cerca de R$ 360,00; de 9 a 22% para quem aufere acima desse valor até R$ 540,00: desse último valor até R$ 1.080,00, de 11 a 22%). Em toda essa verberação de mútuas acusações, isso é a única coisa que interessa. Se algum recebe aposentadoria ou pensão de 200 salários mínimos e não verteu correspondente a esse patamar (ninguém nunca o fez na previdência pública), está acobertado pela legitimidade. A Previdência Social não tem entre os seus dogmas ou princípios a idéia de anarquizar a ordem social estabelecida pela hierarquia salarial. Caudatária do Direito do Trabalho ou da organização social, observando a natureza substitutiva da prestação, o benefício mensal tenta substituir os ingressos do trabalhador (cifrando essa relação ao líqüido e não ao bruto). Daí, se um servidor recebe R$ 4.000,00 e contribui securitariamente para isso, tem o direito de se aposentar com algo em torno desse valor (dependendo do tipo de benefício e do período de cotização). O período básico de cálculo dos proventos, certa carência e a própria alíquota de contribuição (menor para quem ganha menos e maior para quem ganha mais) depende, em cada caso, da relação firmada entre o servidor e o Estado. Nesse raciocínio, do ponto de vista científico, esquecendo-se de maus servidores ou péssimos entes políticos, é preciso sopesar que o dador de serviços é, também, o ente protetor. Vale dizer, quando o funcionário assume o cargo, ele cogita de certa estabilidade (agora ameaçada e ausência a ser compensada), não podendo crescer pessoal ou profissionalmente, mesmo sob o melhor dos planos de carreiras e ter de dedicar-se ao atendimento do público em tarefas, muitas vezes, árduas ou áridas. ○ Foto: Cortesia ○ A proposta de reforma da Previdência Social tinha pressupostos lógicos bastante definidos na mente do estudioso informado, e alguns deles fizeram parte da PEC nº 33-A/95. Com o passar do tempo, o seu encaminhamento deixou de ser técnico e assumiu caráter político, perdendo a tônica científica imprescindível e a matéria restou conduzida emocionalmente. Pressionados por prefeitos e governadores, com a folha de pagamento dos inativos subindo assustadoramente em relação ao orçamento, em vez de cogitar da Previdência Social do servidor no bojo da reforma administrativa, a União preferiu torná-la o leit motiv de igual desenvolvimento referente aos trabalhadores da iniciativa privada. Aí falar-se inadequadamente em direito adquirido ou privilégio, foi um passo. Na tentativa de conquistar a opinião pública era preciso uma bandeira que comunicasse facilmente. Apontar proventos elevados (em comparação com o minúsculo salário mínimo percebido por dez milhões de aposentados e pensionistas) foi a realização pessoal de alguns formadores de opinião. Na ocasião, até a Emenda Constitucional ser ultimada, era impossível perscrutar-se publicamente a natureza daqueles dois institutos, pois parecia defesa de segmentos ou reserva de mercado. Quem fizesse era alcunhado de defensor de cartório ou pessoalmente interessado. Enquanto isso, os propugnadores do desfazimento da instituição encontraram caixa de ressonância e poucos perceberam reconheça-se, em ação não orquestrada a correlatividade entre umas e outra coisa. Considerado globalmente, isto é, sob os prevalecentes aspectos jurídicos e morais, o direito adquirido escora-se na reunião legal e regular dos requisitos. Alguém auferir prestação acima e algo em torno de R$ 26.000,00 pode ser legal (obtida consoante a lei vigente, por quem já praticou o ato jurídico perfeito ou foi alcançado por sentença transitada em julgado), mas, em razão da realidade sócio-econômica nacional, do ordenamento matemático-financeiro do sistema, do princípio da solidariedade, seguramente não é legítimo. Não pode prosperar diante da Emenda ○ ○ ○ Wladimir Novaes Martinez Advogado, especialista em Previdência ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 34 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Revista de Seguridade Social - Set/Out-98