sudharma, garab dorje e a virtude da coragem

Transcrição

sudharma, garab dorje e a virtude da coragem
SUDHARMA, GARAB DORJE E A
VIRTUDE DA CORAGEM
(Luiz Guilherme Marques)
Tudo começou quando a princesa
Sudharma, filha de um rei de um pequeno
reinado que ficava próximo da Índia, sem que a
consultassem, foi destinada à vida de
sacerdotisa budista.
Inconformada com o autoritarismo
paterno, pois queria casar e ter filhos, como
todas as moças, resolveu que deveria ser mãe e
assim o fez.
Ao nascer do seu ventre um menino,
preocuparam-se seus pais em justificar esse
fato inesperado perante a classe sacerdotal e os
súditos.
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Foi pensada, como solução, uma estória
um tanto absurda de que a jovem mãe tinha
atirado a criança ao fogo e saído em
atendimento à sua rotina diária, mas, quando
retornou, o bebê estava brincando nas cinzas.
Essa estória foi impingida ao povo crédulo e
confiante nos milagres que se dizia
acontecerem aos sacerdotes e à família real.
Assim, criou-se a versão de que o menino se
tratava de um ser iluminado.
Realmente, Garab Dorje, à medida que foi
crescendo, demonstrava uma inteligência e
uma sabedoria muito acima da média.
De tal forma era supordotado que, em
diálogos e debates sobre temas filosóficos e
religiosos, convencia muitos mestres do valor
das suas ideias inovadoras, que consistiam,
sobretudo, no autoconhecimento e no
autoaprimoramento interior, ao invés do
simples cumprimento de rituais e formalidades
tão do agrado dos seus contemporâneos
budistas.
Realmente,
até
hoje
há
quem
simplesmente cumpra as regras exteriores, em
qualquer das inúmeras formas de crença
religiosa
ou
filosófica,
mas
continua
estacionário na parte moral e na parte
espiritual.
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Essas pessoas costumam passar a vida
inteira estagnadas na mesmice e representam
apenas meras repetidoras de atos mecanizados.
Muitas delas não são más, todavia
prejudicam a si próprias, pois perdem
excelentes oportunidades de se aprimorarem.
Para dizer a verdade, a maioria dos
adeptos das correntes religiosas ou filosóficas
fica desse jeito, por comodismo ou
conveniência, quando não por disfarçada
hipocrisia.
Grande parte das suas ideias renovadoras
ele deveu às orientações de sua mãe, a qual
sempre foi avessa à repetição de rituais sem a
correspectiva vibração da alma durante a
realização desses rituais e sem a mudança
interior para melhor.
Foi ela quem, principalmente, ensinou o
filho a ser autêntico, corajoso e realmente
interessado em tornar-se um homem de bem e
isso se refletiu na ideologia do futuro mestre
Garab Dorje, o qual é muito respeitado até hoje
pela
sua
grande
contribuição
ao
aperfeiçoamento do Budismo.
Maiores detalhes os prezados leitores
poderão encontrar nas obras especializadas do
Budismo Tibetano, mas a nota que
apresentamos servirá como referência para
uma primeira incursão nas lições de Garab
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Dorje, que, na verdade, era discípulo de sua
sábia e corajosa genitora, a qual não foi
reconhecida como mestra por causa do
universal
machismo,
que
muito
tem
prejudicado a humanidade.
Falamos bastante no mestre, mas agora
compete-nos tecer alguns comentários a mais
sobre sua mãe e sua conduta.
Alguém perguntará: a atitude de
Sudharma não deve ser interpretada como
incentivo à rebeldia, à falta de respeito aos
pais?
Esse é o ponto de vista dos conservadores
e parece ser o que a maioria dos budistas adota.
Mas, “ocidentalizando” a interpretação da
desobediência da jovem, temos a considerar
que sua coragem em assumir a direção da
própria vida, mostrou a dignidade que o ser
humano tem e da qual não deve abrir mão.
Não se sentindo vocacionada para a vida
sacerdotal, escolheu a maternidade e o
casamento, o que merece respeito, pois trata-se
da vida segundo as Leis da Natureza.
O celibato é uma anomalia, imposta por
várias correntes religiosas e que tem dado
péssimos resultados, inclusive gerando graves
estados psicológicos patológicos.
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Preferiram os historiadores budistas
inventar uma falsa verdade a contar a
verdadeira história de Sudharma.
Pura hipocrisia, que, aliás, é a opção da
maioria dos religiosos.
Sudharma, em realidade, contribuiu
muito para o progresso da humanidade, uma
vez que ensinou, com o próprio exemplo, a
adoção das regras da Natureza, dentre as quais
está a da ligação afetiva ao sexo oposto.
Mesmo se seu filho não tivesse sido um
grande mestre, Sudharma, por si própria,
mereceria figurar no rol dos mestres budistas,
caso lhe escrevessem a biografia real, sem
retoques.
Aliás, uma coisa que se pode notar no
Budismo, apesar de todos os seus méritos, é
que, no geral, ainda discrimina as mulheres.
Muito estranha essa postura, que devemos
comentar com a seguinte expressão: sem
comentários.
Escrevemos este artigo para, de forma
indireta, incentivar a coragem dos bons, como
ela foi, pois a covardia e a omissão são as
grandes responsáveis pelo mundo nebuloso que
hoje temos, fruto muito mais da covardia e
omissão dos bons do que da ousadia dos maus.
Glória àquela mulher valente, que hoje
tiramos do fundo do baú da História, para
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servir de exemplo às pessoas do século XXI,
que assistem trêmulas à derrocada dos valores
morais e espirituais imposta pelos elementos
mais desclassificados do planeta.
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