Baixar PDF - Fundação São Francisco Xavier

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Ciência e Saúde
Revista Científica do HMC
COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO/PUBLISHING COMMITTEE
DIRETORIA EXECUTIVA/Executive Directory
Luis Márcio Araújo
Administrador de empresas, Administração financeira e
MBA Executivo em Saúde
Mauro Oscar Soares Souza Lima
Médico especialista em endocrinologia e Advogado
CONSELHO EDITORIAL/Editorial Board
Alessandra Barbosa de Oliveira Andrade
MSc. Eng. Produção, Fisioterapeuta
Alexandre Silva Pinto
Médico especialista em anestesiologia, TSA/SBA
Allan Patryck Bassotto Lino
Fisioterapeuta especialista em fisioterapia com ênfase
em terapia intensiva
Ana Paula Barbosa Diniz Alves
Farmacêutica
Ana Rosa dos Santos
Médica especialista em clínica geral, alergia e imunologia
Cláudia Maria Barbosa Salles
Médica especialista em gastroenterologia
Daniel Costa Chalabi Calazans
Médico especialista em nefrologia
James Wagner Morais
Médico especialista em neurocirurgia, Membro titular da
SBN
José Adriano Ferreira
Médico especialista em coloproctologia
Juliana Bechara Almeida Sousa
Enfermeira, MBA gestão empresarial, especialista em
auditorias ONA e NIAHO/DIAS
Kesley Maria Linhares Reis
Enfermeira, especialista em Urgência e Emergência e
em Educação profissional na área da saúde.
Leonardo de Oliveira Campos
Médico especialista em neurologia
Leonardo de Oliveira Souza
Médico especialista em cirurgia cardiovascular
Leonardo Stopa Barros
Médico especialista em clínica geral
Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima
Médica especialista em pediatria, Mestranda pela USP
Lorena Araújo Vieira
Enfermeira especialista em gestão em serviços de
saúde, especialista em auditorias ONA e NIAHO/DIAS
Luciano de Souza Viana
Médico oncologista clínico, MSc, PhD
Marcelo Adriano de Assis Hudson
Médico especialista em radiologia, Membro titular CBR
Marcos Aurélio Mergh Murer
Médico especialista em hematologia e hemoterapia
Marjory Caroline Guimarães Andrade
Analista de Sistemas, MBA em Administração e
qualidade
Pedro Paulo Neves de Castro
Médico cardiologista intervencionista. Membro titular da
SBCI
Renata Pereira Guerra
Farmacêutica, bioquímica, MBA em gestão empresarial
Renato Prado Santos
Eng. Indl., Inovação e tecnologia, Black Belt
Renato Ribeiro da Cunha
Médico urologista. Membro titular da SBU
Renilton Aires Lima
Médico especialista em ginecologia e obstetrícia. MSc.
Saúde da mulher
Roberto Martins de Andrade
Fisioterapeuta especialista em gestão hospitalar
Solange Liege dos Santos Prado
Pedagoga especialista em gestão escolar
Soraya Alves Pereira
Médica especialista em otorrinolaringologia. Membro
titular da SBO.
Teresa Rodrigues Sérgio
Cirurgiã dentista bucomaxilofacial
Vera Lúcia Venâncio Gaspar
Médica pediatra, MSc em Pediatria
Vivian Ribeiro Miranda
Enfermeira, MSc. Meio Ambiente e Sustentabilidade
INFORMAÇÕES TÉCNICAS/Technical Information
Flávia Aparecida Durães Ferreira
Assistente Editorial
Frederico Pereira Martins
Design Editorial
SUMÁRIO/CONTENTS
Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste
de Minas Gerais
Socioeconomic and educational profile of Adolescent mothers in a hospital of Minas Gerais
East Region
Alice Campos Veloso, Vera Lúcia Venancio Gaspar
04
Avaliação da qualidade de vida do paciente com doença renal crônica em tratamento
hemodialítico, em Ipatinga/MG
Evaluation of patient’s quality of life with chronic kidney disease in hemodialysis treatment in
Ipatinga/MG
Aline Bussinger Maciel, Eberaldo Severiano Domingos
13
Maternidade na adolescência e as repercussões sobre a saúde do recém-nascido
Teenage pregnancy and the impacts on the newborn health
Débora Costa e Silva, Vera Lúcia Venâncio Gaspar
22
Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva
Initial treatment of femoral diaphysis fractures in adults: a restrospective analysis
Fabrício Maciel Campos Ferreira, Paulo Henrique Lemos de Moraes
30
Estudo da experiência sexual de adolescentes
Study of teenagers sexual experience
Adriana Almeida Moreira, Lais Maurício de Oliveira Almeida, Marcus Vinicius Carvalho Campos, Letícia Guimarães Carvalho
de Souza Lima
40
Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise,
em Ipatinga-MG
Clinical and epidemiological profile of diabetic nephropathy patients in hemodialysis in
Ipatinga/MG
Matheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos
46
Análise de prevalência da infecção por Helicobacter pylori em pacientes com diagnóstico
de câncer gástrico
Analysis of Helicobacter Pylori infection prevalence in patients with gastric cancer diagnosis
Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Ralph Brito Damaceno, Leonardo Stopa Barros
54
Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso
Granulomatous Amoebic Encephalitis: case report
Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Marcos Abreu Lima Cota, Tardely Duarte Magalhães, Aloísio
Bemvindo de Paula, Leonardo Stopa Barros
Normas para publicação
60
68
ARTIGO ORIGINAL
PERFIL SOCIOECONÔMICO E EDUCACIONAL DAS MÃES
ADOLESCENTES EM UM HOSPITAL DO LESTE DE MINAS GERAIS
SOCIOECONOMIC AND EDUCATIONAL PROFILE OF ADOLESCENT MOTHERS
IN A HOSPITAL OF MINAS GERAIS EAST REGION
Alice Campos Veloso1, Vera Lúcia Venancio Gaspar2
RESUMO
Objetivo: Identificar as características das mães
adolescentes, como idade, nível educacional,
conhecimento sobre educação sexual, desejo de
engravidar e o contexto social em que elas estão
inseridas. Métodos: Estudo transversal, descritivo e
quantitativo, realizado com adolescentes puérperas
internadas na maternidade de um Hospital no interior
de Minas Gerais, por meio de entrevista com a
aplicação de um questionário. A coleta de dados
aconteceu no período de setembro a dezembro de
2014. Resultados: A maior parte das pacientes
entrevistadas (93,2%) teve acesso ao hospital pelo
Sistema Único de Saúde; no momento da entrevista
81,6% afirmaram não estão estudando, e o motivo da
interrupção escolar foi a gestação, segundo 44,0%
dos casos. A maioria das adolescentes (63,1%)
relatou estar morando com o pai da criança, sendo
este referido em 51,4% como o principal provedor
1
2
ABSTRACT
Objective: To identify the adolescent mothers
aspects, such as age, educational background level,
sexual education knowledge, willingness to become
pregnant and the social context in which they are
situated. Methods: Cross-sectional, descriptive and
quantitative study carried out among adolescent
mothers admitted to the maternity of a Hospital in
Minas Gerais, by interviewing patients and filling
survey forms. Data collection occurred between
September and December 2014. Results: most
of interviewed patients (93.2%) were able to be
admitted to the hospital by the Unified Health
System; during the interview 81.6% said they were
not studying and when they were asked about the
reason of stopping attending to school, the response
“pregnancy” was reported in 44.0% of cases. Most
of adolescents (63.1%) responded they are currently
living with the child’s father, who is the main
Médica residente em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Pediatra coordenadora da residência médica em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga,
MG, Brasil.
Autor correspondente: Alice Campos Veloso
Rua Vitorino Pereira, 34, Imbaúbas, Ipatinga, MG. CEP: 35160-285. Telefone: (31) 87852212.
E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 05/03/2015
Aprovado para publicação em 19/02/2016
Revista Ciência e Saúde
4
Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas Gerais
da renda familiar. A renda mensal familiar citada por
63,0% das entrevistadas foi de até um salário-mínimo,
e 87,4% das gestantes puérperas não contribuem
financeiramente com os gastos da família. Do total
das gestantes, 88,3% eram primíparas, a maioria
havia iniciado a vida sexual aos 15 anos e 46,6% já
haviam feito uso de método anticoncepcional. Das
adolescentes, 84,5% haviam recebido orientações
sobre educação sexual, e menos da metade desejava
engravidar. Conclusão: Esses resultados mostram que
a ocorrência da gravidez na adolescência predominou
em famílias com baixo nível socioeconômico. A
divulgação de informações sobre educação sexual,
no entanto, não são consistentes, pois a maioria das
adolescentes não usa método anticoncepcional e
engravidam sem desejar.
sustainer of family income in 51.4%. The monthly
family income mentioned by 63.0% of surveyed
was up to minimum salary and 87.4% of adolescent
mothers do not financially support family expenses.
88.3% of all surveyed were pregnant for the first
time, most of them initiated their sexual life at 15
years old and 46.6% had made use of contraceptive
pills. 84.5% of the adolescent mothers had received
Palavras-chave:
Gravidez
na
adolescência.
Sexualidade. Fatores socioeconômicos.
Keywords: Teenage pregnancy. Sexuality.
Socioeconomic factors.
INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a adolescência corresponde à faixa etária
entre 10 e 19 anos.1 A adolescência é um período
da vida caracterizado por intenso desenvolvimento
físico, emocional e social, compreendendo a
transição da infância para a fase adulta. Essas
mudanças resultam, para o adolescente, em incertezas
e dificuldades em manter a mesma relação com a
família e com a sociedade, levando a transformações
de comportamento até alcançarem a sua própria
identidade.2
A ocorrência da gestação nesse período, em
que o desenvolvimento ainda não se completou
e a adolescente não atingiu a idade adulta, leva à
interrupção de algumas etapas que seriam necessárias
para o amadurecimento adequado.3
Com a gestação precoce, a fase final da adolescência
pode ser alcançada de forma desfavorável. Nesse
sentido, vivenciar esse período caracterizado como
instável e ainda imaturo, no qual os jovens devem
investir em sua formação pessoal e profissional, aliado
Revista Ciência e Saúde
sexual education guidance and less than half of
surveyed had willingness to become pregnant.
Conclusion: These results suggest that teenage
pregnancy prevailed in low socioeconomic status
families. The information disclosure about sexual
education occurs but it is not really consistent,
since most of adolescents do not use contraceptive
methods and get pregnant unintentionally.
a uma gravidez não planejada, torna-se ainda mais
complexo. Além disso, pode gerar consequências
negativas tanto para a adolescente quanto para o seu
filho.2
A gestação nessa fase da vida, muitas vezes,
está associada às condições socioeconômicas e
educacionais do núcleo familiar. Na maioria dos
casos, a família não sabe lidar com a saúde sexual, e os
adolescentes não recebem informações consistentes
sobre desenvolvimento e sexualidade. Isso os
torna vulneráveis, não só à gravidez precoce, como
também às doenças sexualmente transmissíveis. Após
a descoberta da gestação, o casamento tem sido usado
como forma de contornar o evento, no entanto, não
evita que o desenvolvimento próprio da adolescente
seja interrompido e que ela passe a assumir papéis e
5
Alice Campos Veloso, Vera Lúcia Venancio Gaspar
responsabilidades de uma pessoa adulta, o que pode
ocasionar riscos para a sua vida e a de seu filho.2
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a
gestação na adolescência ainda é uma das principais
causas de mortalidade materna e infantil, além de
contribuir para a continuação do ciclo de pobreza e
problemas de saúde.4 Sendo assim, a gravidez não
planejada pode ser considerada um problema de
saúde pública, pelo grande número de ocorrências e,
também, pelo fato de que as adolescentes puérperas
apresentam mais risco de complicações durante a
gestação e de consequências desfavoráveis para a
saúde da criança.5,8
Como exposto anteriormente, muitas vezes, a
gravidez precoce é resultado da vulnerabilidade
a que os jovens estão expostos, decorrente da falta
de estrutura familiar, do baixo nível intelectual e
consequente falta de informações das adolescentes.9
Diante disso, o presente estudo visa conhecer as
características socioeconômicas e educacionais das
mães adolescentes e de seus familiares, para que
ações educativas possam ser ampliadas, assim como
os programas preventivos de gravidez não planejada.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, descritivo e
quantitativo, realizado com adolescentes puérperas
internadas em um hospital do interior de Minas
Gerais. Para tanto, foi realizada uma pesquisa, por
meio de um questionário, elaborado especialmente
para este projeto, aplicado em adolescentes puérperas,
pelas médicas residentes em pediatria. As entrevistas
aconteceram no período de setembro a dezembro de
2014, em um ambiente individualizado, no mínimo,
24 horas após o parto.
A coleta de dados foi iniciada após a aprovação do
projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP), do Centro Universitário do Leste de Minas
Revista Ciência e Saúde
Gerais, protocolo de pesquisa número 788.530. As
pesquisadoras cumpriram as exigências éticas das
pesquisas envolvendo seres humanos.
Para o cálculo amostral, foi utilizado o programa
DIMAM 1.0, através da fórmula n= z².q.p.N/
e².(N-1)+ z².q.p, com um grau de confiança de 95%,
erro máximo permitido de 7% e uma proporção de
interesse de 24,2%, sendo a última referenciada no
Ministério da Saúde 2013, para uma população
de 360 pacientes, tendo como valor amostral 103
adolescentes. Os dados foram analisados por meio de
estatística descritiva, utilizando-se o software SPSS
19.0. As variáveis qualitativas foram descritas através
de frequência absoluta e relativa. Já as variáveis
quantitativas, estas foram descritas através de média
e desvio padrão. A técnica de amostragem utilizada
foi a probabilística aleatória simples e sistemática.
A amostra foi composta por adolescentes puérperas,
de 13 a 19 anos de idade, que concordaram em
participar da pesquisa e após assinarem o termo de
consentimento livre e esclarecido. Nos casos em que
a adolescente era menor de 18 anos, foi solicitado
que o seu representante legal assinasse o termo de
consentimento livre e esclarecido, destinado aos pais
ou responsáveis, de acordo com a Resolução 466, de
12 de dezembro de 2012. As adolescentes que não
concordaram em participar da entrevista não fizeram
parte da pesquisa.
RESULTADOS
Quanto às características pessoais e dos familiares
das 103 adolescentes participantes do estudo, 96
(93,2%) tiveram acesso à maternidade por meio da
rede pública (Sistema Único de Saúde) e 7 (6,8%)
por convênio de saúde. Do total das entrevistadas,
57 (55,4%) tinham entre 18 e 19 anos de idade e 5
(4,8%) eram menores de 15 anos. A maior parte
das adolescentes, 72 (69,0%), morava em cidades
6
Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas Gerais
adjacentes à cidade onde o hospital está localizado.
Do total das entrevistadas, 59 (57,3%) viviam
exclusivamente com o pai da criança e/ou outro filho,
sendo que 29 (49,1%) dessas jovens passaram a morar
com o companheiro após a descoberta da gestação,
constituindo um núcleo familiar independente. As
demais, 44 (42,7%) continuavam residindo, também,
com outros familiares. Os dados relativos à idade,
procedência, número de irmãos e criação encontramse na Tabela 1.
Fonte: Dados da pesquisa.
Em relação ao nível educacional, as entrevistadas
informaram que 64 (62,1%) pais e 76 (73,8%)
mães não ingressaram no ensino médio. Quanto
às adolescentes, destaca-se que, no momento da
entrevista, 84 (81,6%) das entrevistadas afirmaram
que não estavam estudando atualmente, sendo
que 37 (44,0%) relataram que a gestação motivou
a interrupção escolar, e 22 (21,3%) adolescentes
disseram que já haviam abandonado os estudos antes
da gravidez, por falta de interesse. A maioria das
jovens, 69 (82,1%) das 84, que não continuaram os
estudos durante a gestação, pretende voltar a estudar.
Vale ressaltar, ainda, que, do total das entrevistadas,
26 (25,2%) não conseguiram concluir o ensino
fundamental e 62 (60,3%) ingressaram no ensino
médio, no entanto, destas somente 26 (25,3%)
concluíram essa etapa dos estudos.
Em relação ao trabalho remunerado, um pouco mais
da metade, 53 (51,5%) das entrevistadas, relatou já ter
trabalhado. Quando questionadas sobre a contribuição
financeira familiar, a maioria das adolescentes,
90 (87,4%), informou que não participa na renda
familiar e apenas 13 (12,6%) informaram que estão
trabalhando atualmente. A maioria das participantes
não estudava nem trabalhava no momento da
entrevista, independentemente da faixa etária.
Verificou-se, ainda, que a maior parte do núcleo
familiar em que a adolescente estava inserida
apresentava baixa renda, pois 65 (63,0%) das
entrevistadas relataram renda familiar mensal de até
1 salário-mínimo, e apenas 4 (3,9%) informaram
renda maior que 5 salários-mínimos. O pai da criança
foi referido como o principal provedor de renda da
família por 53 (51,5%) das entrevistadas, seguido dos
avós maternos, 40 (38,8%) das adolescentes.
Os dados referentes à escolaridade das adolescentes,
dos seus pais e às características socioeconômicas da
família encontram-se na Tabela 2.
Revista Ciência e Saúde
7
Tabela 1 – Dados pessoais das adolescentes
Aspectos pessoais e familiares
Frequência
Percentual
13
1
1,0
14
4
3,9
15
12
11,6
16
10
9,7
17
19
18,4
18
25
24,3
19
32
31,1
Ipatinga
31
31,0
Outras cidades
72
69,0
Sim
65
63,1
Não
38
36,9
Idade das puérperas (anos)
Procedência
Mora com o pai
da criança
Número de irmãos
da adolescente
Nenhum
4
3,9
1
18
17,5
2
35
34,0
3
17
16,5
4
10
9,7
≥5
19
18,4
Sim
91
88,3
Não
12
11,7
Sim
71
68,9
Não
32
31,1
Criada pela mãe
Criada também pelo pai
Alice Campos Veloso, Vera Lúcia Venancio Gaspar
Tabela 2 – Escolaridade das adolescentes e
dos seus pais e condições socioeconômicas
Aspectos educacionais e
socioeconômicos
Frequência
Percentual
Escolaridade dos pais das
adolescentes
Ensino fundamental incompleto
51
49,5
Ensino fundamental completo
8
7,8
Ensino médio incompleto
8
7,8
13
12,6
Curso técnico
1
1,0
Ensino superior completo
1
1.0
16
15,5
5
4,8
Ensino médio completo
Não sabe informar
Analfabeto
Escolaridade das mães das
adolescentes
Ensino fundamental incompleto
66
64,1
Ensino fundamental completo
10
9,7
7
6,8
13
12,6
Curso técnico
1
1,0
Ensino superior completo
1
1,0
Não sabe informar
5
4,8
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Continuou os estudos durante a
gestação
Conclusão
Aspectos educacionais e
socioeconômicos
Frequência
Percentual
Ensino fundamental incompleto
26
25,2
Ensino fundamental completo
15
14,5
Ensino médio incompleto
36
35,0
Ensino médio completo
24
23,3
Curso técnico
1
1,0
Ensino superior incompleto
1
1,0
Sim
53
51,5
Não
50
48,5
Sim
13
12,6
Não
90
87,4
Até 1
65
63,0
2a5
34
33,0
6 a 10
3
2,9
11 a 20
1
1,0
Pai da criança
53
51,4
Escolaridade das adolescentes
Já teve trabalho remunerado
Contribui financeiramente com a
renda da família
Renda mensal da família em
salários-mínimos
Principal provedor do núcleo familiar
Sim
19
18,4
Avós maternos
40
38,8
Não
84
81,6
Avós paternos
5
4,9
Outros
5
4,9
Razão para interrupção escolar
Gestação
37
44,0
Desinteresse
22
26,2
Conclusão do ensino médio
14
16,7
Trabalho
4
4,8
Falta de vaga na escola
2
2,4
Casamento
2
2,4
Mudança de cidade
2
2,4
Expulsão da escola
1
1,1
Sim
69
82,1
Não
15
17,9
Pretende voltar a estudar
Continua
Revista Ciência e Saúde
Fonte: Dados da pesquisa.
Sobre a sexualidade, observou-se que 80 (77,7%)
adolescentes iniciaram atividade sexual com 15 anos
ou menos. Quanto aos aspectos reprodutivos, 91
(88,3%) eram primíparas, sendo que a idade de início
da vida reprodutiva variou de 13 a 19 anos, e a primeira
gestação ocorreu após os 17 anos em 56 (54,3%) das
entrevistadas. História de aborto anterior foi relatado
por 9 (8,7%) participantes, destas apenas 1 afirmou
ter provocado o aborto. Esses dados encontram-se na
Tabela 3.
8
Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas Gerais
Tabela 3 – Características da sexualidade das
adolescentes
Aspectos reprodutivos
Frequência
Percentual
1
1
1,0
5
5
4,8
14
14
13,6
29
29
28,2
31
31
30,1
11
11
10,7
7
7
6,8
5
5
4,8
Primeira
91
88,3
Segunda
10
9,7
Terceira
2
2,0
Idade na época da primeira relação
sexual
Número de gestações
Idade ao engravidar pela primeira
vez
seguida da família, 26 (22,2%), e de unidades de
saúde, 18 (15,4%) adolescentes. Destaca-se que 56
(54,4%) não gostariam de receber mais informações
sobre como evitar a gestação. Quando questionadas
se a gravidez foi planejada, 44 (42,7%) confirmaram
o desejo de engravidar. Esses dados encontram-se na
Tabela 4.
Tabela 4 – Informações sobre contracepção
Informações sobre contracepção
Frequência
Percentual
Sim
48
46,6
Não
55
53,4
Contraceptivo hormonal
40
83,3
Preservativo masculino
8
16,7
Sim
47
45,6
Não
56
54,4
Uso de método anticoncepcional
Tipo de contracepção
Uso prévio de pílula do dia seguinte
13
4
3,9
14
15
14,6
Orientação sobre educação sexual
15
14
13,6
Sim
87
84,5
16
14
13,6
16
15,5
17
25
24,3
Não
Principais fontes de informações sobre
contracepção*
18
20
19,4
Escola
62
53
19
11
10,6
Família
26
22,2
Unidade de saúde
18
15,4
Sim
9
8,7
Médicos
5
4,3
Não
94
91,3
Amigos
4
3,4
Internet
2
1,7
95
92,2
8
7,8
Sim
47
45,6
Não
56
54,4
Sim
44
42,7
Não
59
57,3
Aborto
Fonte: Dados da pesquisa.
Ao considerar os aspectos de anticoncepção, os
métodos contraceptivos foram utilizados por menos
da metade das jovens, 48 (46,6%), e o método
mais utilizado foi a contracepção hormonal, em 40
(83,3%) dos casos. Entre as entrevistadas, 47 (45,6%)
relataram já ter feito o uso de pílula do dia seguinte.
Em relação às orientações sobre educação sexual,
uma parcela expressiva 87 (84,5%) já tinha recebido
informações sobre contracepção. Como fonte de
orientação, a escola foi a mais citada, 62 (53%),
Revista Ciência e Saúde
Conhecimento sobre contracepção
Sim
Não
Gostaria de receber mais informações
sobre anticoncepção
Teve desejo de engravidar
*Uma mesma adolescente pode citar mais de uma opção de resposta.
9
Alice Campos Veloso, Vera Lúcia Venancio Gaspar
DISCUSSÃO
Nesta pesquisa, foi possível observar que, entre as
adolescentes de 13 a 19 anos, 55,4% tinham entre
18 e 19 anos de idade e 4,8% eram menores de 15
anos. Desde 1990, tem ocorrido uma diminuição nas
taxas de natalidade entre as adolescentes, entretanto,
aproximadamente 11,0% dos nascimentos, em todo
o mundo, ainda acontecem com jovens entre 15 e 19
anos de idade, sendo a maioria (95,0%) de países com
baixa e média renda.4
Diante disso, vale ressaltar que 93,2% das gestantes
tiveram acesso à internação por meio do Sistema
Único de Saúde, o que oferece informação sobre a
situação econômica das adolescentes. A gravidez
na adolescência pode estar associada ao baixo
nível socioeconômico e cultural em que as jovens
estão inseridas, sendo que a maioria das famílias
apresenta baixa renda, menor nível educacional, e as
adolescentes não exercem atividade remunerada.10
A maioria das adolescentes entrevistadas (57,3%)
morava com o companheiro, sendo que a metade
dos casais passou a morar junto após a descoberta
da gestação. Nesse sentido, a gestação é considerada
um fator desencadeante para o início de uma união
estável ou matrimônio entre os casais adolescentes.5
Entre as adolescentes, 81,6% não continuaram os
estudos durante a gravidez, e 25,2% não concluíram o
ensino fundamental. A gravidez durante a adolescência
pode levar à interrupção escolar precoce.11 Das
adolescentes que não estavam estudando atualmente,
82,1% relataram pretensão de voltar a estudar.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde,
a maternidade não planejada gera consequências
negativas para as adolescentes, levando muitas a
abandonar os estudos.4 No entanto, o abandono
escolar, em alguns casos, ocorre antes de a adolescente
engravidar, sendo a evasão escolar uma possível
condição de risco para a gestação precoce.11
Revista Ciência e Saúde
Em relação à escolaridade dos pais das adolescentes,
nota-se, também, a recorrência de baixo nível
educacional. Na atual pesquisa, apenas 1,0% dos
pais tinha ensino superior completo. Esse dado é
considerado um fator de risco para a gravidez não
planejada, visto que a família é uma importante fonte
de informações sobre saúde, principalmente sobre
sexualidade e contracepção. Por isso, os pais devem
ser esclarecidos para que possam fornecer informações
consistentes e orientações sobre educação sexual aos
filhos.12
Das adolescentes que participaram da pesquisa,
51,5% já exerceram atividade remunerada, no entanto,
apenas 12,6% contribuem financeiramente com os
gastos da família. Uma jovem com menor nível de
escolaridade tem menos oportunidades de inserção
no mercado de trabalho e melhora das condições
econômicas.10
A renda mensal familiar informada por 63,0% das
adolescentes é de até um salário-mínimo, e o principal
provedor do núcleo familiar é o pai da criança,
porém, os avós maternos foram referidos como
fonte de sustento em 38,8% dos casos. Observou-se
que a união estável, incentivada pela gestação não
planejada, não gera independência em relação aos
pais em um número significativo das adolescentes.
Estudiosos consideram que os profissionais devem ser
cautelosos no atendimento às mães adolescentes, pois
estas precisam de apoio dos profissionais de saúde e
da família, para os cuidados com o recém-nascido.5
O início da vida sexual de 77,7% das adolescentes
foi com menos de 16 anos de idade, e 32,0% destas
tiveram a primeira gestação também nessa faixa
etária. O início precoce da vida sexual tem sido
associado com a maternidade na adolescência, além
da falta de conhecimentos sobre a sexualidade e o
uso pouco frequente de anticoncepção.13 Dentre os
motivos para não se utilizar a contracepção, destaca10
Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas Gerais
se que, no momento da relação, os adolescentes não
pensam que podem engravidar, não se preocupam
com as consequências da gestação e, muitas vezes, o
companheiro se nega a usar o recurso contraceptivo.
O conhecimento desses motivos tem relevante
importância para a saúde pública no que concerne à
educação sexual e às orientações antecipadas para os
jovens.14
Das 103 adolescentes entrevistadas, menos da
metade utilizava método anticoncepcional, e 45,6%
informaram já ter utilizado a pílula do dia seguinte. O
uso desse método contraceptivo entre as jovens vem
aumentando por ser uma população que está mais
exposta à gravidez não planejada. Esse medicamento
pode ser usado em todas as idades, o entanto, somente
em caso de emergência, sendo inadequado para o uso
contínuo como método de contracepção, pois pode
causar efeitos secundários, como irregularidade do
ciclo menstrual, e, além disso, não previne as doenças
sexualmente transmissíveis.15,16
O atual estudo evidenciou que a maioria das
entrevistadas já havia recebido orientações sobre
educação sexual, sendo a escola e, em seguida, a
família as principais fontes. Dentre as adolescentes,
92,2% afirmaram saber como evitar gravidez,
isso demonstra que apenas o conhecimento das
adolescentes não é suficiente para o uso efetivo de
métodos contraceptivos e prevenção da gestação não
planejada.12
Em relação ao desejo de engravidar, observou-se
que mais da metade das adolescentes não desejavam
ter engravidado, o que pode ser justificado pela
certeza, da maioria das entrevistadas, da falta de
estrutura para constituir um novo núcleo familiar no
presente momento.10
CONCLUSÃO
A gestação na adolescência está diretamente
relacionada a ambientes em que as condições
sociais, econômicas e culturais são desfavoráveis.
A permanência das adolescentes na escola tem
importância na prevenção da gestação não planejada,
visto que o baixo nível educacional das adolescentes
puérperas, devido à evasão escolar, pode ser
considerado tanto causa como consequência da
gravidez precoce.
A identificação das características da adolescente
gestante tem fundamental importância para a
criação de políticas de educação sexual. Sugerese que a orientação sexual seja oferecida o quanto
antes às adolescentes, por meio de campanhas de
prevenção, programas de planejamento familiar e
ações educativas, que são consideradas de grande
importância para a conscientização dos jovens e
diminuição das gestações não planejadas, visto que
a sexualidade tem sido pouco debatida no ambiente
familiar.
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de fevereiro de 2015]. Disponível em http://www.who.
int/mediacentre/factsheets/fs244/en/.
12
ARTIGO ORIGINAL
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE COM DOENÇA
RENAL CRÔNICA EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO, EM IPATINGA/MG
EVALUATION OF PATIENT’S QUALITY OF LIFE WITH CHRONIC KIDNEY
DISEASE IN HEMODIALYSIS TREATMENT IN IPATINGA/MG
Aline Bussinger Maciel1, Eberaldo Severiano Domingos2
RESUMO
Introdução: Qualidade de vida é uma dimensão
que tem sido amplamente investigada na saúde da
população, independentemente da faixa etária. A
natureza progressiva da doença renal crônica gera
desequilíbrio e disfunção a longo prazo, o que leva a
limitações físicas e psicológicas, alterando a qualidade
de vida desses doentes. Objetivo: Avaliar a qualidade de
vida dos pacientes com insuficiência renal crônica em
hemodiálise, em um centro de terapia renal substitutiva.
Métodos: Trata-se de um estudo epidemiológico,
descritivo e transversal com pacientes em tratamento
hemodialítico, em um hospital da região Leste de Minas
Gerais. A qualidade de vida foi avaliada por meio do
instrumento WHOQOL-bref, da Organização Mundial
de Saúde. Resultados: pacientes com insuficiência
renal crônica apresentam redução na qualidade de vida,
principalmente no domínio geral e físico.
ABSTRACT
Introduction: Quality of life has been a subject of
growing research in population health studies field,
regardless the age range group. The forward character of chronic kidney disease creates a long term
imbalance and dysfunction, which leads to physical
and psychological limitations, compromising the
quality of life of these patients. Objective: evaluate
the quality of life of patients with chronic kidney failure in hemodialysis in a renal replacement therapy
center. Methods: This is an epidemiologic, descriptive and transversal study with patients in hemodialysis treatment at a hospital in the eastern region
of Minas Gerais. The quality of life was analyzed
through the WHOQOL-bref testing instrument of the
World Health Organization. Results: patients with
chronic renal failure have quality of life reduced,
especially in general and physical control.
Palavras-chave: Qualidade de vida. Hemodiálise.
WHOQOL-bref. Insuficiência Renal Crônica.
Keywords: Quality of life. Hemodialysis. WHOQOL-bref. Chronic Kidney Failure.
1
2
Médica residente de Clínica Médica do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Nefrologista. Preceptor de Clínica Médica no Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Autor correspondente: Aline Bussinger Maciel
Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier
Rua Copacabana, 335, Coronel Fabriciano, MG. CEP: 35170-098. Telefone: (31)89401981. E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 10/03/2015
Aprovado para publicação em 19/02/2016
Revista Ciência e Saúde
13
Aline Bussinger Maciel , Eberaldo Severiano Domingos
INTRODUÇÃO
As doenças crônicas apresentam, de modo geral,
uma história natural arrastada, caracterizando-se
por período de latência longo e curso assintomático
prolongado. Além disso, acarretam alterações
patológicas
irreversíveis,
com
consequente
incapacidade.1
A doença renal crônica (DRC) consiste em lesão
renal e perda progressiva e irreversível da função dos
rins, que, em fases mais avançadas, não conseguem
manter o equilíbrio homeostático do paciente.2
A Insuficiência Renal Crônica (IRC) é, atualmente,
um problema de saúde pública mundial. O aumento
em sua incidência decorre, principalmente, da maior
expectativa de vida da população e do aumento na
prevalência de diabetes melito, hipertensão arterial e
obesidade.3,4 O censo 2013 da Sociedade Brasileira de
Nefrologia (SBN) estimou em 100.397 o número de
pacientes em tratamento dialítico no Brasil, sendo a
faixa etária prevalente dos 19 aos 64 anos (62,6%), e
a distribuição por sexo se dá em 58% de pessoas do
sexo masculino e 42% do feminino.5
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a
qualidade de vida (QV) é a percepção da pessoa quanto
a sua posição na vida, no contexto cultural e sistemas
de valores em que ela vive, assim como quanto aos
seus objetivos, preocupações e expectativas.6 De
acordo com esses aspectos, o paciente com DRC,
submetido à hemodiálise (HD), convive com a negação
e as consequências da evolução natural da doença,
além das limitações físicas, problemas emocionais e
sociais, que repercutem em sua QV.7 O apoio social
pode servir e ser utilizado como defesa emocional
das consequências negativas durante o declínio da
condição física, ao longo do processo de adoecer.
Assim, a DRC tem impacto negativo sobre a
qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS).
Portanto, a monitorização dos indicadores de QV é
Revista Ciência e Saúde
de grande importância, pois, além de ser um aspecto
fundamental da saúde, permite demonstrar sua
relação com a morbidade e mortalidade. O tratamento
hemodialítico é responsável por um cotidiano
monótono e restrito, e as atividades dos pacientes são
limitadas após o início do tratamento, o que favorece
o sedentarismo e a deficiência funcional.
Diante disso, este estudo tem como objetivo avaliar
a percepção de qualidade de vida do paciente com
DRC, submetido a tratamento hemodialítico.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo observacional transversal,
no qual foram avaliados pacientes com insuficiência
renal crônica, submetidos à hemodiálise, em Centro
de Terapia Renal Substitutiva (CTRS) de um hospital
localizado na região Leste de Minas Gerais.
A população pesquisada foi composta por pacientes
maiores de 18 anos, portadores de IRC, em tratamento
hemodialítico há mais de três meses, que aceitaram
participar da pesquisa após assinarem o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Todos tinham
capacidade cognitiva para compreender e responder
às perguntas dos questionários.
A coleta de dados foi feita na forma de entrevista
diante da possível dificuldade dos participantes para
escrever, devido à imobilização do membro durante a
hemodiálise, déficit visual e baixo nível institucional.
Assim, quando o participante não compreendia alguma
pergunta do questionário WHOQOL-Bref, esta era
lida novamente de forma pausada. Nas perguntas
abertas, os pesquisadores registraram na íntegra as
respostas dos participantes.
Para a coleta de dados, foram aplicados dois
questionários. O primeiro era um questionário
contendo 17 perguntas, que abordavam aspectos
socioeconômicos e caracterização da amostra dos
participantes do estudo. O segundo questionário
14
Avaliação da qualidade de vida do paciente com doença renal crônica em tratamento hemodialítico, em Ipatinga/MG
aplicado e escolhido para a avaliação da qualidade
de vida foi o WHOQOL-Bref, instrumento testado
e validado em várias culturas, sob a coordenação
do World Health (OMS). O grupo de QV da OMS
desenvolveu a versão abreviada do WHOQOL-100, o
WHOQOL-Bref no ano de 1998. Este conta com 26
questões, sendo duas acerca de qualidade de vida e as
outras 24 representando cada uma das 24 facetas que
compõem o questionário original.
As questões do WHOQOL-Bref apresentam-se em
quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais
e com o meio ambiente. Essas questões têm quatro
tipos de escalas de respostas: intensidade, capacidade,
frequência e avaliação, todas graduadas em cinco
níveis. As escalas são do tipo Likert, sendo que a escala
de intensidade varia de nada a extremamente; a escala
de capacidade varia de nada a completamente; a escala
de avaliação de muito insatisfeito a muito satisfeito e
muito ruim a muito bom; e a escala de frequência de
nunca a sempre. Todas as palavras-âncoras possuem
uma pontuação de um a cinco e, para as questões de
número 3, 4 e 26, os escores são invertidos em função
de 1=5; 2=4; 3=3; 4=2 e 5=1.
O cálculo utilizado para determinação do tamanho
da amostra, com base na estimativa do total de
pacientes com insuficiência renal crônica submetidos
à hemodiálise, foi n= z².q.p.N/e².(N-1)+ z².q.p.
Utilizou-se um grau de confiança de 95%, erro máximo
permitido de 5% e uma proporção de interesse de
7,69%, sendo a última referenciada em um estudo
de qualidade de vida de pacientes com insuficiência
renal crônica submetidos a hemodiálise,8 para uma
população de 312 pacientes com insuficiência renal
crônica, tendo como valor amostral de 82 pacientes.
Os dados foram analisados empregando-se
estatística descritiva. Para análise estatística, foi
utilizado o software SPSS, versão 19.0. As variáveis
quantitativas foram descritas através de média, já
Revista Ciência e Saúde
as variáveis qualitativas foram descritas através de
frequência absoluta e relativa.
RESULTADOS
Os dados referentes às variáveis de caracterização
dos pacientes com DRC submetidos à HD, tais
como, gênero, idade, município onde reside, estado
civil, escolaridade, profissão, renda familiar, tipo
de moradia, número de pessoas que residem com o
paciente, estão demonstrados na Tabela 1.
Participaram deste estudo 82 pacientes, sendo a
maioria do sexo masculino, 53,65% dos entrevistados.
A média de idade da população estudada foi de 51,31
anos (variando de 18 a 82 anos). A maior parte dos
pacientes, 98,78%, submete-se a três sessões de
hemodiálise por semana.
Quanto à faixa etária, a maior porcentagem, 37,80%,
compreendia a faixa etária de 51 a 65 anos. Com
relação ao nível de escolaridade, observou-se que a
maior parte dos pacientes, 64,63%, possui o 1° grau
incompleto.
Tabela 1 – Distribuição da população em
estudo
Variáveis
N
%
Gênero
Masculino
44
53,65
Feminino
38
46,35
18 a 35 anos
13
15,85
36 a 50 anos
23
28,04
51 a 65 anos
31
37,80
66 anos ou mais
15
18,29
Ipatinga
29
35,37
Outros
53
64,63
Casado
46
56,09
Solteiro
31
37,80
Outros
5
6,09
Faixa Etária
Município em que reside
Estado Civil
Continua
15
Aline Bussinger Maciel , Eberaldo Severiano Domingos
Continuação
Variáveis
N
%
Escolaridade
Conclusão
Variáveis
N
%
Menos de 1 Ano
5
6,09
Tempo que o paciente possui IRC
Analfabeto
2
2,43
1° Grau Completo
9
10,97
1 a 2 Anos
5
6,09
1° Grau Incompleto
53
64,63
2 a 3 Anos
8
9,75
2° Grau Completo
13
15,85
3 a 4 Anos
3
3,65
2° Grau Incompleto
3
3,65
4 a 5 Anos
3
3,65
3° Grau Completo
0
0,00
5 ou Mais Anos
58
70,73
3° Grau Incompleto
2
2,43
Não se lembra
0
0,00
Ocupação
Tempo que o paciente faz hemodiálise
Do lar
12
14,63
Menos de 1 Ano
24
29,26
Aposentado/Licença Saúde
60
73,17
1 a 2 Anos
13
15,85
Outros
10
12,19
2 a 3 Anos
9
10,97
3 a 4 Anos
4
4,87
4 a 5 Anos
3
3,65
Renda Familiar Mensal
Menos de 1 Salário-Mínimo
2
2,43
1 a 2 Salários-Mínimos
63
76,82
5 ou Mais Anos
29
35,36
3 a 5 Salários-Mínimos
16
19,51
Não se lembra
0
0,00
1
1,21
Número de sessões por semana
1 vez
0
0,00
2 vezes
0
0,00
3 vezes
81
98,78
1
1,21
Mais de 5 Salários-Mínimos
Interferência da HD nas atividades
profissionais
Sim
70
85,36
Não
12
14,63
Interferência da HD nas atividades
de lazer
Mais de 3 vezes
Complicações durante a hemodiálise
Sim
64
78,04
Sim
60
73,17
Não
18
21,95
Não
22
26,82
Tranquilo
55
67,07
Cansado
8
9,75
15
18,29
4
4,87
Moradia
Casa Própria
63
76,82
Aluguel
12
14,63
7
8,53
Outra
Número de pessoas que residem
com o paciente
Estado emocional durante a sessão de
hemodiálise
Nervoso/Estressado
Preocupado
Outras doenças associadas
Sozinho
6
7,21
1 Pessoa
22
26,82
Sim
67
81,70
2 Pessoas
20
24,39
Não
15
18,29
3 Pessoas
23
28,04
Fonte: Dados da pesquisa.
4 Pessoas
7
8,53
5 ou Mais Pessoas
4
4,87
Continua
Revista Ciência e Saúde
16
Avaliação da qualidade de vida do paciente com doença renal crônica em tratamento hemodialítico, em Ipatinga/MG
Quando questionados acerca da renda familiar
mensal, tendo como base o salário-mínimo atual,
verificou-se que 76,82% da população tinha uma
renda de 1 a 2 salários-mínimos, enquanto 19,51%
recebiam de 3 a 5 salários-mínimos.
Conforme mostra a Tabela 1, a maior parte
dos pacientes relata que a hemodiálise interfere
nas atividades profissionais e de lazer/recreação,
respectivamente, 85,36% e 78,04%. Observa-se,
ainda, que a maioria dos pacientes tem diagnóstico
e encontram-se em hemodiálise há mais de 5 anos.
As Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6 apresentam escores
variados, que podem ser observados a seguir.
Tabela 2 – Escore Médio das facetas da
qualidade de vida geral do instrumento
WHOQOL-bref.
Nº da questão
1
2
Quão satisfeito você está
com a sua saúde?
Escore Médio Geral
Facetas do
Valor do
Domínio Físico Escore Médio
3
2,32
4
O quanto você precisa de
algum tratamento médico
para levar sua vida diária?
3,85
Revista Ciência e Saúde
3,79
16
Quão satisfeito você está
com o seu sono?
3,52
17
Quão satisfeito você está
com a sua capacidade
de desempenhar as
atividades do seu dia a
dia?
2,73
18
Quão satisfeito você está
com a sua capacidade
para o trabalho?
2,48
3,04
Tabela 4 – Escore Médio das facetas do
domínio psicológico do instrumento WHOQOLbref.
2,84
Em que medida você acha
que sua dor (física) impede
você de fazer o que você
precisa?
10
Quão bem você é capaz
de se locomover?
Facetas do
Valor do
Domínio Psicológico Escore Médio
Nº da questão
2,87
Você tem energia suficiente
para o seu dia a dia?
15
2,90
Tabela 3 – Escore Médio das facetas do
domínio físico do instrumento WHOQOL-bref.
Nº da questão
Facetas do
Valor do
Domínio Físico Escore Médio
Nº da questão
Escore Médio Geral
Facetas da
Qualidade
Valor do
de Vida Geral Escore Médio
Como você avaliaria a
sua qualidade de vida?
Tabela 3 – Escore Médio das facetas do
domínio físico do instrumento WHOQOL-bref.
5
O quanto você aproveita a
vida?
2,73
6
Em que medida você acha que
a sua vida tem sentido?
4,16
7
O quanto você consegue se
concentrar?
3,52
11
Você é capaz de aceitar sua
aparência física?
3,55
19
Quão satisfeito você está
consigo mesmo?
3,72
26
Com que frequência você tem
sentimentos negativos tais
como mau humor, desespero,
ansiedade e depressão?
2,55
Escore Médio Geral do Domínio
3,37
2,61
17
Aline Bussinger Maciel , Eberaldo Severiano Domingos
Tabela 5 – Escore Médio das facetas do
domínio relações sociais do instrumento
WHOQOL-bref.
Facetas do
Valor do
Domínio Relações Sociais Escore Médio
Nº da questão
20
Quão satisfeito você está
com suas relações pessoais
(amigos, parentes, conhecidos,
colegas)?
4,23
21
Quão satisfeito você está com
a sua vida sexual?
3,09
22
Quão satisfeito você está com
o apoio que você recebe de
seus amigos?
4,10
Escore Médio Geral do Domínio
3,81
Tabela
6 – Escore Médio das facetas do
domínio meio ambiente do instrumento
WHOQOL-bref.
Facetas do Domínio
Valor do
Meio Ambiente Escore Médio
Nº da questão
8
Quão seguro você se sente em
sua vida diária?
3,17
9
Quão saudável é o seu ambiente
físico (clima, barulho, poluição
atrativos)?
3,79
12
Você tem dinheiro suficiente para
satisfazer as suas necessidades?
2,54
13
Quão disponível para você estão
as informações que precisa no
seu dia a dia?
3,18
14
Em que medida você tem
oportunidade de atividade de
lazer?
2,79
23
Quão satisfeito você está com as
condições do local onde mora?
3,94
24
Quão satisfeito você está com
o seu acesso aos serviços de
saúde?
3,54
25
Quão satisfeito você está com o
seu meio de transporte?
3,72
Escore Médio Geral do Domínio
Revista Ciência e Saúde
3,33
Conforme mostram as tabelas apresentadas
anteriormente, os menores escores foram encontrados
na faceta qualidade de vida geral e domínio físico.
O maior escore foi encontrado na faceta do domínio
das relações sociais.
DISCUSSÃO
A IRC e o tratamento de hemodiálise impactam a
QV de seus portadores em níveis variados, sob as
dimensões física, psicológica, social, ambiental e
geral, a partir do diagnóstico e ao longo do tempo
em que permanecem em tratamento, estando
esse impacto relacionado, também, com os dados
sociodemográficos. Como se pode observar nos
resultados, a IRC impacta a QV, principalmente de
forma negativa.
A amostra foi constituída, em sua maioria, por
participantes do sexo masculino. Esse resultado se
assemelha aos de muitos trabalhos encontrados na
literatura, que mostram o gênero masculino como
predominante nas sessões de HD.7,9,10 Esse dado
também é corroborado pelo censo de 2013, disponível
no site da Sociedade Brasileira de Nefrologia.5
Um fator que pode justificar o fato de ter mais
homens em tratamento hemodialítico do que
mulheres é que a hipertensão arterial tem maior
prevalência no sexo masculino. Essa patologia é uma
das principais causas de IRC, levando o paciente a
necessitar de terapia renal substitutiva.
A maior parte dos pacientes estudados tinha entre
51 a 65 anos de idade. Alguns estudos encontrados
na literatura verificaram que 53,1% dos pacientes
renais crônicos estudados compreendiam a faixa
etária de 36 a 55 anos;11 57,8% na faixa de 50 a 69
anos;12 26,3% estavam entre a faixa etária de 40 e
49 anos e a mesma proporção entre 50 e 59 anos;13
e 49% encontravam-se entre a faixa etária de 41 e
60 anos.14 A faixa etária média dos pacientes que
18
Avaliação da qualidade de vida do paciente com doença renal crônica em tratamento hemodialítico, em Ipatinga/MG
desenvolvem DRC é de 60 anos.
Apesar de a idade avançada ser um fator que
influencia a mortalidade, ela não deve ser um fator
que contraindique o tratamento dialítico. Dessa
forma, para compensar os efeitos negativos da idade
avançada e elevada comorbidade associada, deve ser
oferecido ao paciente cuidado individual, visando
melhorar a expectativa desse grupo etário.
Quanto ao nível de escolaridade, este é um fator
primordial, pois reflete de modo direto a assimilação
das informações recebidas. O fato de a maior
parte dos pacientes apresentarem baixo nível de
escolaridade serve de alerta aos profissionais de
saúde, para que utilizem uma linguagem simples e
acessível a esses pacientes, tanto para as orientações
quanto prevenção de complicações.
Dos 82 pacientes entrevistados, 63 disseram
receber entre 1 e 2 salários-mínimos por mês. A
baixa renda familiar mensal pode ser explicada pela
limitação laboral que a DRC pode ocasionar. Alguns
pesquisadores confirmam esses dados, segundo os
quais, a maioria dos pacientes estudados, contavam
com uma renda de 1 a 2 salários-mínimos.15 Vale
lembrar que uma renda familiar muito baixa acaba
não sendo suficiente para os gastos familiares e
outras dificuldades acabam sendo associadas, tais
como dificuldade em ter uma nutrição adequada e
gasto com medicamentos.
A interferência na realização das atividades
profissionais também ficou evidenciada neste
estudo. Considera-se de grande importância que o
profissional de saúde atente-se para a questão do
trabalho na vida do paciente com DRC, pois esta
é uma necessidade referenciada por eles, não só
pelo lado financeiro, mas, também, pela questão
social, como sentimento de ociosidade, inutilidade
e sensação de peso para a família.16
As limitações nas atividades de lazer também
Revista Ciência e Saúde
foram alvo de queixa da maior parte dos pacientes.
É importante salientar que, apesar do paciente com
IRC poder sobreviver por longos períodos devido
aos avanços do tratamento hemodialítico, isso não
significa necessariamente viver bem, já que quase
sempre existem prejuízos na participação de algumas
atividades de lazer. A QV pode estar prejudicada
devido à periodicidade do tratamento contínuo.17
As insatisfações com a capacidade para o trabalho
e a capacidade de realizar as atividades do dia a
dia ficaram evidentes na faceta do domínio físico.
Tais resultados corroboram com os achados de uma
pesquisa que afirma que a dependência contínua
do tratamento hemodialítico interfere nos estudos
e no trabalho dos pacientes, assim como a falta de
disposição e energia no dia a dia, decorrente das
complicações e sintomas dessa patologia.14
O escore médio da faceta da qualidade de vida
foi o mais baixo encontrado. A maneira de reagir à
doença difere de pessoa para pessoa, mas todos têm a
necessidade de reaprender a viver.18 A QV depende,
portanto, das expectativas e do plano de vida de cada
indivíduo. Assim, o que é uma vida de boa qualidade
para um, pode não ser para o outro.19,20
Acerca do domínio psicológico, a faceta que
apresentou menor escore, foi a de número 26. Sabese que a IRC e o tratamento hemodialítico provocam
uma sucessão de situações para o paciente renal
crônico, o que compromete não só o aspecto físico,
como também o psicológico, trazendo repercussões
sociais, familiares e pessoais. Além disso, o paciente
com DRC vivencia uma mudança brusca no seu
viver, convive com limitações e, muitas vezes,
pensamento de morte.21
Já a faceta das relações sociais apresentou o
maior escore encontrado neste estudo. As relações
com familiares e amigos são consideradas como
influenciadoras para a QV das pessoas, uma vez que
19
Aline Bussinger Maciel , Eberaldo Severiano Domingos
poder contar com a compreensão e o respeito as suas
limitações ajudará na conquista de uma melhor QV.22
Com relação ao domínio de meio ambiente, a
faceta de número 12 (recursos financeiros) foi o
menor escore encontrado. Tal aspecto corrobora o
resultado encontrado neste estudo, em que 76,82%
dos pacientes entrevistados relataram receber entre
1 e 2 salários-mínimos. O paciente com IRC em
tratamento hemodialítico se depara com perda de
emprego, com consequente diminuição da renda
familiar e dependência de Previdência Social.14
CONCLUSÃO
Este estudo permitiu caracterizar os pacientes
renais crônicos em hemodiálise. O questionário
socioeconômico e o WHOQOL-bref não
apresentaram dificuldades em sua aplicação; ambos
permitem a conclusão de que a QV da população
estudada é insatisfatória.
A IRC pode ocasionar mudanças no estilo de
vida e causar alterações físicas e comportamentais
nos nefropatas crônicos, decorrentes da condição
de doentes crônicos. A DRC e o tratamento
hemodialítico interferiram na percepção do paciente
frente ao suporte social recebido, a sua QV,
englobando limitações físicas e alterações na vida
social.
Vale destacar que, apesar da descrença e revolta
com relação ao tratamento, os indivíduos portadores
de IRC (terapia considerada inevitável e inadiável)
não podem abandonar a busca por uma qualidade de
vida melhor. Mediante tais fatos, é imprescindível
uma abordagem por uma equipe multidisciplinar
na avaliação e acompanhamento desses pacientes.
Cabe aos profissionais ajudarem o paciente a
desenvolver uma autoimagem positiva, descobrir
novas maneiras de viver dentro de suas limitações
e desenvolver um estilo de vida que lhe permita
assumir a responsabilidade por seu tratamento e sua
vida, ou seja, ser um indivíduo ativo na sociedade.
O paciente com DRC submetido à hemodiálise
terá uma melhor QV quando for informado acerca
de sua doença e tratamento, quando existir um forte
apoio familiar e um sistema de saúde eficiente. Esse
sistema deve oferecer estratégias de reabilitação ao
paciente renal crônico, para que este seja capaz de
levar uma vida ativa, produtiva e autossuficiente.
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21
ARTIGO ORIGINAL
MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E AS REPERCUSSÕES
SOBRE A SAÚDE DO RECÉM-NASCIDO
TEENAGE PREGNANCY AND THE IMPACTS ON THE NEWBORN HEALTH
Débora Costa e Silva1, Vera Lúcia Venâncio Gaspar2
RESUMO
Introdução: A adolescência é um período da vida
em que ocorrem mudanças físicas e emocionais, um
processo de transição para a vida adulta. A gestação
nesta fase apresenta peculiaridades que podem
repercutir sobre a saúde do filho da mãe adolescente.
As consequências podem ocorrer no período neonatal
e também durante o desenvolvimento da criança até
a vida adulta. O contexto socioeducacional em que
essas adolescentes estão inseridas também pode
influenciar na saúde do recém-nascido. Objetivo:
Verificar as repercussões da gestação na adolescência
sobre a saúde do recém-nascido. Método: Estudo
transversal, descritivo e quantitativo, realizado entre
os meses de setembro a dezembro de 2014, com
as adolescentes puérperas internadas no Hospital
Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier.
Para as entrevistas foram utilizados questionários
padronizados. Resultados: A maiorias das
1
2
ABSTRACT
Introduction: Adolescence is a life period when
physical and emotional changes occur, it is a transition process to adult life. Pregnancy during this
phase of life brings some peculiarities that may
affect the newborn and adolescent mother health.
These consequences may occur in the neonatal
period and also during the growth phase up to adult
life. The socio-educational status in which these
teenagers are situated can also influence on the
newborn health. Objective: Investigate the effects of
teenage pregnancy on the newborn health. Methods:
Cross-sectional, descriptive and quantitative study
that was carried out between September and December 2014, with adolescent mothers admitted to the
Hospital Márcio Cunha - FSFX. Standardized survey forms were used in the interviews. Results: Most
of teenagers had the support from the child’s father
during pregnancy and birth. In addition, they relied
Médica residente em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Pediatra coordenadora da residência médica em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga,
MG, Brasil.
Autor correspondente: Débora Costa Silva
Rua Jordânia,99, Cariru, Ipatinga, MG. CEP: 35160-120. Telefone: (31)8816-4915.
E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 01/03/2015
Aprovado para publicação em 19/02/2016
Revista Ciência e Saúde
22
Maternidade na adolescência e as repercussões sobre a saúde do recém-nascido
adolescentes recebeu apoio do pai da criança durante
a gestação e no momento do parto. Além disso, elas
contaram com a ajuda deste para educar o filho.
Apesar de a maioria dos pais serem adultos jovens,
31 (31,3%) apresentam ensino médio completo. O
estudo também mostrou que o parto normal foi o
mais frequente entre as adolescentes e que a maioria
dos filhos destas nasceu a termo, com peso adequado
para a idade gestacional e apresentou Apgar entre 8 e
10. Conclusão: O estudo mostrou pequena incidência
de repercussões negativas sobre a saúde do recémnascido no período neonatal imediato, apesar do
baixo nível de escolaridade dos pais e de a gestação
ocorrer durante a adolescência. Seria interessante
a realização de um estudo prospectivo, visando
identificar repercussões a médio e longo prazos.
on the child’s father’s help to raise him. Despite the
fact that most of parents were young adults, only 31
(31.3%) had concluded high school. The study also
revealed that natural childbirth was the most frequent kind of birth among these adolescent mothers
and that most of babies were born by in term births,
with reasonable weight for the gestational age and
showed an Apgar score between 8 and 10. Conclusion: The study revealed a low incidence of negative
impacts on newborn health in the immediate neonatal period, regardless of low educational level of
the parents and teenage pregnancy. Conducting a
prospective study in order to identify the impacts in
the medium and long terms would be relevant.
Keywords: Teenage pregnancy. Newborn. Social
public policy
Palavras-chave: Gestação na adolescência. Recémnascido. Política social.
INTRODUÇÃO
A adolescência é um importante período do
desenvolvimento humano, em que acontece a
transição da infância para a vida adulta, ocorrendo
transformações físicas e psicológicas.1 As atitudes e os
comportamentos dos adolescentes têm repercussões
na vida adulta e podem impactar as próximas
gerações.2
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica
o período da adolescência como a faixa etária entre 10
e 19 anos.3 Já, de acordo com o Estatuto da Criança
e do Adolescente, a adolescência compreende a
faixa etária entre 12 e 18 anos de idade.3 Nesta
pesquisa, adotou-se o critério da OMS para definir a
adolescência.
Nessa fase da vida, uma gravidez apresenta
consequências socioeconômicas e pode comprometer
o futuro da mãe em relação a emprego, renda e
saúde.4 Estudiosos afirmam que muitos adolescentes
Revista Ciência e Saúde
buscam o sexo como forma de prazer, devido à falta
de estímulo e de perspectiva de vida.5
Além das consequências para a saúde materna,
a gestação na adolescência também pode ter
repercussões sobre a saúde do filho. Estudo publicado
em 2010, não mostrou associação entre óbitos fetais
e a idade da puérpera, porém mostrou que o risco de
óbito neonatal e pós-neonatal é maior quanto mais
jovem é a mãe.6 A incidência de malformações, baixo
peso ao nascer e prematuridade é maior entre as
adolescentes quando comparado a mães com idade
entre 20 e 39 anos. A prematuridade e baixo peso
podem predispor a comprometimento neurológico.2
Além disso, as crianças de mães adolescentes estão
mais sujeitas à violência e à síndrome da morte súbita
infantil.7
É importante ressaltar que esses riscos não estão
relacionados somente à idade materna, mas, também,
23
Débora Costa e Silva, Vera Lúcia Venâncio Gaspar
às condições socioambientais precárias em que essas
adolescentes estão inseridas.2,8,9,10 A gestação entre as
adolescentes é mais frequente em algumas regiões,
principalmente entre a população com menor poder
aquisitivo e de baixa escolaridade, sendo considerada,
portanto, um problema social e de saúde pública.5
Frequentemente, as adolescentes interrompem os
estudos e a formação profissional devido à gravidez,
o que resulta em dificuldade de inserção no mercado
de trabalho. Isso pode levar à perpetuação da pobreza
e ter como consequência o aumento dos riscos sociais
para a puérpera e o recém-nascido.11 Quanto às
consequências para o recém-nascido, há um estudo
que mostra que um nível de escolaridade materna
maior e a participação paterna no pré-natal são
fatores de proteção para os recém-nascidos. O mesmo
estudo defende que a gravidez recorrente durante a
adolescência está associada a óbito de recém-nascidos
no período perinatal.12
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo
conhecer o perfil de saúde, ao nascer, do filho da mãe
adolescente e o contexto social em que esses recémnascidos foram gerados.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada em um hospital, localizado
no interior de Minas Gerais, no Vale do Aço, sendo a
maternidade considerada referência para as gestantes
de alto risco da região.
Foi realizado um estudo transversal, descritivo e
quantitativo, entre os meses de setembro a dezembro
de 2014, com as adolescentes puérperas internadas
nesse hospital. Para tanto, foram feitas entrevistas,
através de um questionário padronizado, elaborado
após revisão da literatura e de estudos sobre a gravidez
na adolescência. O questionário foi aplicado pelas
médicas residentes em pediatria do Hospital, após as
participantes assinarem o Termo de Consentimento
Revista Ciência e Saúde
Livre e Esclarecido. No caso de adolescente com
menos de 18 anos, foi solicitada, também, a assinatura
do responsável por esta.
Para o cálculo amostral, utilizou-se o programa
DIMAM 1.0, através da fórmula n= z².q.p.N/
e².(N-1)+ z².q.p , com um grau de confiança de 95%,
erro máximo permitido de 7% e uma proporção de
interesse de 24,2%, sendo a última referenciada no
Ministério da Saúde (2013), para uma população
de 360 pacientes, tendo como valor amostral 103
pacientes. Os dados foram analisados utilizando-se
estatística descritiva. As variáveis foram descritas
através de frequência absoluta e relativa, e a técnica
de amostragem utilizada foi probabilística aleatória
simples e sistemática.
Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP), do Centro Universitário
do Leste de Minas Gerais. O estudo foi conduzido
de acordo com a Resolução 466, de 12 de dezembro
de 2012, após aprovação do CEP, sob registro de
protocolo número 788.530.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistadas 103 puérperas em internação
hospitalar, sendo uma gestante mãe de gemelares.
Quando perguntadas sobre a participação do pai da
criança durante a gestação, 86 (83,5%) entrevistadas
responderam que tiveram a gestação acompanhada
pelo pai da criança e 17 (16,5%) disseram que não
tiveram apoio do pai da criança. Na Tabela 1, são
apresentados dados referentes à idade dos pais das
crianças, ao relacionamento entre eles, ao auxilio
na criação do recém-nascido e ao sentimento da
adolescente diante da maternidade. Uma adolescente
relatou não saber a idade do pai da criança.
Os acompanhantes das adolescentes, no momento
do parto, também são apresentados na Tabela 1. 4
adolescentes não tiveram acompanhante no momento
24
Maternidade na adolescência e as repercussões sobre a saúde do recém-nascido
do nascimento da criança, quanto às que tiveram, os
dados dos acompanhantes, também citados na tabela
1, foram os seguintes: primas (3), tias (2), sogra (2),
cunhada (1), madrasta (1) e o atual namorado (1).
Ao serem indagadas se moravam com o pai do
recém-nascido, 65 (63,1%) informaram que sim.
Entre as 24 adolescentes casadas, 13 (54,2%) casaram
após saberem da gestação.
Frequência
Percentual
Faixa etária materna (em anos)
13 a 14
5
4,9
15 a 19
98
95,1
103
100,0
15 a 19
21
20,6
20 a 24
54
52,9
25 a 30
18
17,7
9
8,8
102
100,0
Companheiro
35
34,0
Namorado
31
30,0
Marido
24
23,3
Casual
8
7,8
“Ficante”
5
4,9
103
100,0
Pai do recém-nascido
42
42,4
Mãe da adolescente
24
24,2
Avó materna
13
13,1
Irmã
6
6,1
Amiga
4
4,1
Outros
10
10,1
Total
99
100,0
Total
Faixa etária paterna (em anos)
Mais de 30
Total
Relacionamento entre os pais do
recém-nascido
Total
Acompanhante da adolescente
durante o parto
Continua
Revista Ciência e Saúde
Aspectos sociais e familiares
Frequência
Percentual
Pai do recém-nascido
50
48,5
Pai e avó materna do recémnascido
31
30,1
Avó materna
18
17,5
Avó paterna
3
2,9
Atual namorado
1
1,0
103
100,0
Felicidade
79
76,7
Tranquilidade
16
15,5
Responsabilidade
2
1,9
Ansiedade
2
1,9
Preocupação
1
1,0
Entusiasmo
1
1,0
Abençoada
1
1,0
Não acredita
1
1,0
103
100,0
Auxílio na criação do recém-nascido
Total
Tabela 1 – Aspectos sociais e familiares das
puérperas
Aspectos sociais e familiares
Conclusão
Sentimento da adolescente diante
da maternidade
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Quanto à escolaridade e profissão dos pais dos
recém-nascidos, os dados encontram-se na Tabela
2. Segundo as informações obtidas, quatro (3,9%)
adolescentes relataram não saber a escolaridade do
pai da criança. Entre os demais pais, 83 (80,6%)
trabalhavam, 17 (16,5%) não trabalhavam, uma
(1%) adolescente disse não saber se o pai do recémnascido trabalha, e 2 (1,9%) pais faleceram, ambos
assassinados por arma de fogo.
Quando as puérperas foram questionadas sobre
a profissão exercida pelo pai do recém-nascido,
várias profissões foram citadas. Três adolescentes
não souberam informar a profissão do pai da criança
(Tabela 2).
25
Débora Costa e Silva, Vera Lúcia Venâncio Gaspar
Tabela 2 – Escolaridade dos pais dos recémnascidos e a profissão paterna
Escolaridade dos pais e profissão
paterna
ao peso para a idade gestacional, boletim de Apgar no
primeiro e no quinto minuto – podem ser encontrados
na Tabela 3.
Frequência
Percentual
Ensino fundamental incompleto
26
25,2
Ensino fundamental completo
15
14,5
Ensino médio incompleto
36
35,0
Condições de nascimento do recémnascido
Ensino médio completo
24
23,3
Idade gestacional
Curso técnico
1
1,0
Ensino superior incompleto
1
103
Escolaridade das mães dos recémnascidos
Total
Frequência
Percentual
Menos de 30 semanas
3
2,9
1,0
31 a 34 semanas
1
1,0
100,0
35 a 36 semanas
5
4,8
37 a 38 semanas
27
25,9
39 a 40 semanas
49
47,1
41 semanas
19
18,3
104
100,0
1.000 a 1.499
2
1,9
1.500 a 2.499
9
8,7
2.500 a 2.999
28
26,9
3.000 a 3.999
63
60,6
Mais de 4.000
2
1,9
104
100,0
93
89,4
Escolaridade dos pais dos recémnascidos
Ensino fundamental incompleto
33
33,3
Ensino fundamental completo
10
9,9
Ensino médio incompleto
25
25,3
Ensino médio completo
24
24,2
Curso técnico
1
1,0
Curso superior completo
6
6,1
99
100,0
Total
Tabela 3 – Condições de nascimento do
recém-nascido
Profissões dos pais dos recémnascidos
Total
Peso de nascimento (em gramas)
15
18,8
Total
Montador
9
11,3
Peso para a idade gestacional
Mecânico
7
8,8
Adequado para a idade gestacional
Soldador
6
7,5
Grande para a idade gestacional
9
8,7
Pedreiro
5
6,2
Pequeno para a idade gestacional
2
1,9
Motorista
5
6,2
Total
104
100,0
Vendedor
5
6,2
Apgar no primeiro minuto
Outros
28
35,0
0a3
1
1,0
Total
80
100,0
4a7
3
2,9
8 a 10
100
96,1
Total
104
100,0
Apgar no quinto minuto
0a3
4a7
8 a 10
Total
0
2
102
104
0
1,9
98,1
100,0
Ajudante de pedreiro
Fonte: Dados da pesquisa.
Em relação às condições de nascimento dos recémnascidos, entre os neonatos, 71 (68,3%) nasceram de
parto normal e 33 (31,7%) de parto cesáreo. Nenhuma
criança nasceu com uso de fórceps ou vácuo. Os
resultados referentes à idade gestacional – peso de
nascimento, classificação do recém-nascido quanto
Revista Ciência e Saúde
Fonte: Dados da pesquisa.
26
Maternidade na adolescência e as repercussões sobre a saúde do recém-nascido
Na Tabela 4, a seguir, podem ser observados os locais
para os quais os recém-nascidos foram encaminhados
após o parto. 6 crianças foram internadas com os
seguintes diagnósticos: icterícia neonatal, asfixia
neonatal grave, pneumonia congênita, sífilis congênita,
doença da membrana hialina e taquipneia transitória
do recém-nascido.
Tabela 4 – Internação hospitalar
Internação hospitalar
Frequência
Percentual
99
95,2
Intermediária neonatal
3
2,9
UTI neonatal
2
1,9
104
100,0
Encaminhamento do recém-nascido
após o parto
Alojamento conjunto
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Entre as entrevistadas, 83,5% tiveram a gestação
acompanhada pelo pai da criança. As adolescentes
contam com a ajuda do pai e dos avós da criança
para sua criação. O fato de a adolescente apresentar
um companheiro é considerado um fator de proteção
para prematuridade.12 Em um estudo realizado com
cinco pais adolescentes, todos os entrevistados
relataram ter participado das consultas de pré-natal
e três assistiram ao parto. Todos eles afirmaram que
estavam auxiliando suas parceiras nos cuidados com
a criança.13 Os avós orientam as adolescentes quanto
a problemas frequentes entre os recém-nascidos e, em
alguns casos, são considerados como os responsáveis
pelos cuidados com a criança.14
Quando questionadas sobre o sentimento diante da
maternidade, 76,5% das puérperas disseram que se
sentiam felizes e 15,5% tranquilas. Sentimentos de
ansiedade, preocupação e responsabilidade também
foram citados. A maioria das adolescentes gestantes
apresenta sentimentos positivos diante da maternidade
e associam-na a mais independência e status social.15
Revista Ciência e Saúde
A maioria das puérperas entrevistadas (95,1%)
tem idade entre 15 e 19 anos. Entre as adolescentes,
20,4% responderam que os pais das crianças também
são adolescentes, com idade entre 15 e 19 anos.
Entretanto, há um predomínio da faixa etária de adulto
jovem, uma vez que 52,4% dos pais têm entre 20 e 24
anos. Dessa forma, a paternidade parece ocorrer mais
tardiamente do que a maternidade, isso é reforçado
por estudiosos ao defender que homens adultos que
se tornam pais do filho de uma adolescente têm menor
escolaridade e tendem a ser até 3 anos mais velhos que
a mãe da criança.7 Entre as mães adolescentes mais
jovens, é mais comum uma diferença de idade maior
em relação ao pai da criança.7 Além disso, a união
com um companheiro mais velho está relacionada
com a recorrência da gestação na adolescência.12
Em relação à escolaridade, 35% das adolescentes têm
ensino médio incompleto. Quanto à escolaridade do
pai do recém-nascido, 33,3% tem ensino fundamental
incompleto. Conhecer a escolaridade dos pais é
importante, pois o baixo nível de escolaridade destes
pode ter repercussão sobre a saúde e os cuidados do
recém-nascido.8,12,16 As adolescentes que pertencem a
classes sociais de menor poder aquisitivo geralmente
priorizam a constituição de uma família e não os
planos profissionais. Isso favorece a ocorrência da
gravidez precoce, bem como a recorrência da gestação
durante a adolescência.12
Na presente pesquisa, os pais dos recém-nascidos
trabalham, muitos de forma autônoma. Estudos
apontam que os adolescentes trabalham mais e são
os principais provedores dessas famílias, cabendo às
mães o papel de cuidadora do bebê. 17
A maioria das adolescentes mora com o pai da
criança, sendo que 23,3% relataram que são casadas.
Entre estas, mais da metade casou-se após descobrir
a gestação. Assim, o casamento ainda é uma das
consequências da gravidez na adolescência.9
27
Débora Costa e Silva, Vera Lúcia Venâncio Gaspar
Entre as 103 gestantes entrevistadas, uma foi mãe
de gemelares, 68,9% tiveram seus filhos através de
parto normal, sendo que a maioria das gestações
foi a termo. Como pode ser observado na Tabela 3,
9 recém-nascidos (8,7%) apresentaram baixo peso
ao nascer, e 2 (1,9%) muito baixo peso. A maioria
dos recém-nascidos nasceu com peso entre 3.000g
e 4.000g. Quando analisada a classificação de peso
para a idade gestacional, 89,4% dos recém-nascidos
apresentaram peso adequado para a idade gestacional.
Em Minas Gerais nasceram 42.467 filhos de mães
adolescentes em 2013. Destes, 13,4% nasceram
prematuros, 1,6% apresentaram muito baixo peso ao
nascer e 0,8% apresentaram anomalia congênita. A
maioria dos neonatos (56,9%) nasceu através de parto
vaginal.18
Um estudo multicêntrico realizado pela OMS, em
2014, mostrou que o parto normal é mais frequente
que o parto cesáreo entre as mães adolescentes.19 Há
pesquisas que relatam associação entre gestação na
adolescência, baixo peso ao nascer e prematuridade.5,7
Outros estudos mostram que a gestação na
adolescência não é um fator de risco isolado para
baixo peso ao nascer e prematuridade.8,9,10,11,16
A prematuridade e o baixo peso ao nascer estão
associados ao número de filhos prévios, número de
consultas no pré-natal e cesariana.10 Outros fatores
podem influenciar no baixo peso dessas crianças
ao nascer, como os nutricionais, época de início
do pré-natal e a estatura da adolescente.9 Variáveis
importantes como etilismo ou tabagismo, classe
socioeconômica mais baixa e o nível de escolaridade
Revista Ciência e Saúde
também devem ser levados em consideração.9
Verificou-se que 96,2% dos recém-nascidos
apresentaram Apgar entre 8-10 no primeiro minuto
e 98% no quinto minuto. Considera-se Apgar até
3, preditivo de hipóxia grave, entre 4 e 7, hipóxia
moderada e, acima de 7, ausência de hipóxia.10 Como
observado na Tabela 3, 1% dos recém-nascidos
apresentou hipóxia grave e 2,9% apresentou hipóxia
moderada no primeiro minuto de vida. No quinto
minuto, 1,9% dos recém-nascidos apresentaram
hipóxia moderada. Pesquisas mostraram que o risco
de uma criança nascida por cesariana apresentar
hipóxia grave com cinco minutos foi de 1,9 vezes
o risco daquelas que nasceram por parto normal.10
Outros fatores associados com hipóxia grave foram
o número de filhos prévios, o pequeno número de
consultas pré-natal e gênero masculino.10
CONCLUSÃO
Diversos fatores podem influenciar a saúde do filho
da mãe adolescente. Além de medidas para prevenção
da gestação na adolescência, são necessárias políticas
que ampliem o acesso dessas gestantes à consulta
pré-natal, conscientizem sobre a importância da
participação paterna durante a gestação e propiciem
melhorias na qualidade de vida.
Esses passos seriam fundamentais para diminuir a
repercussão da gestação na adolescência sobre a saúde
da criança. Embora o estudo não tenha mostrado
uma elevada incidência de repercussões negativas
para a saúde do recém-nascido no período neonatal
imediato, os efeitos adversos podem repercutir no
desenvolvimento da infância até a vida adulta.
28
Maternidade na adolescência e as repercussões sobre a saúde do recém-nascido
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29
ARTIGO ORIGINAL
TRATAMENTO INICIAL DAS FRATURAS DA DIÁFISE DO FÊMUR
EM ADULTOS: UMA ANÁLISE RETROSPECTIVA
INITIAL TREATMENT OF FEMORAL DIAPHYSIS FRACTURES IN ADULTS:
A RESTROSPECTIVE ANALYSIS
Fabrício Maciel Campos Ferreira1, Paulo Henrique Lemos de Moraes2
RESUMO
A fratura da diáfise do fêmur é uma das principais
causas de morbidade e mortalidade em pacientes
vítimas de traumatismos de alta energia. Este é um
estudo retrospectivo, com análise de prontuário
eletrônico. O objetivo é avaliar qual método de
fixação é mais eficaz no tratamento inicial das
fraturas da diáfise do fêmur: tração transesquelética
ou fixador externo. Para tanto, foram escolhidos,
aleatoriamente, 60 pacientes atendidos no Hospital
Marcio Cunha, divididos em 2 grupos de 30, de
acordo com o método de fixação utilizado. Os dados
foram analisados empregando-se estatística descritiva
e inferencial. Para análise estatística, foram utilizados
o software SPSS, versão 20.0, e o Microsoft Excel.
As variáveis quantitativas foram descritas através de
média e desvio padrão. Já as variáveis qualitativas,
estas foram descritas através de frequência absoluta e
relativa. Para verificar a associação entre as variáveis
ABSTRACT
The femoral diaphysis fracture is one of the main
causes of morbidity and mortality in patients who
are victims of high-energy trauma. This is a retrospective study based on electronic medical handbook
analysis which aimed to evaluate which method of
fixation is more effective in the initial treatment of
femoral diaphysis fracture: trans-skeletal traction or
external fixator. 60 patients were selected randomly
to be treated at Marcio Cunha Hospital, a trauma
hospital considered as reference, and they were
divided into 2 groups of 30 patients each in accordance with the fixation method used. The collected
data was analyzed based on descriptive and inferential statistics. For statistical analysis, SPSS version
20.0 and Microsoft Excel software were used. Quantitative variables were described using mean and
standard deviation, whereas qualitative variables
were described by absolute and relative frequencies.
Médico residente em ortopedia e traumatologia do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG,
Brasil.
2
Médico ortopedista do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
1
Autor correspondente: Fabrício Maciel Campos Ferreira
Av. Kyioshi Tsunawaki, no 41, Bairro das Águas, Ipatinga, MG. CEP: 35160-158. Telefone: (31) 99196 3967. E-mail:
[email protected]
Artigo recebido em 30/03/2015
Aprovado para publicação em 26/02/2016
Revista Ciência e Saúde
30
Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva
qualitativas em estudo, foi utilizado o teste quiquadrado. Aplicou-se ANOVA para comparação
das médias entre os grupos. Os resultados foram
apresentados em tabelas. O nível de significância
adotado foi de 5%, sendo considerado significativo
valor de p≤ 0,05. Os pacientes tratados com fixador
externo apresentaram, no momento da internação,
score ISS maior que o grupo da tração. Os pacientes
tratados com tração transesquelética apresentaram
maior número de complicações em comparação aos
tratados com fixador externo no grupo de pacientes
com score ISS, entre 26-40. Já o grupo de pacientes
tratados com fixador externo apresentou maior
necessidade de transfusão sanguínea e maior tempo
de espera para a fixação definitiva.
Chi-square test was used in order to investigate the
combination between qualitative variables in course.
ANOVA was used to compare means between the
groups. The results were displayed in tables. The
significance level was 5% and the value of p ≤ 0.05
was considered significant. Patients treated with
external fixator presented ISS score higher than the
group of traction at the time of admission. Patients
treated with trans-skeletal traction showed higher
number of complications when compared to the
group of patients treated with external fixator with
ISS score between 26-40. The group of patients
Palavras-chave: Fratura. Diáfise. Fêmur. Tração
transesquelética. Fixador externo.
Keywords: Fracture. Diaphysis. Fémur. Trans-Skeletal Traction. External Fixator.
INTRODUÇÃO
A fratura da diáfise do fêmur é uma das principais
causas de morbidade e mortalidade em pacientes
vítimas de traumatismos de alta energia. Sua
epidemiologia é de 3 fraturas para cada 10.000
habitantes e vem crescendo continuamente devido
ao aumento da gravidade dos traumatismos.1 Sua
traz redução da mobilidade no paciente internado,
aumentando, assim, o risco de complicações.3 Em
incidência é mais comum em homens, ocorrendo em
torno de 70%; 50,5% acometem o lado esquerdo e
80% delas são fechadas.1 Os principais mecanismos de
trauma são acidentes de trânsito, seguidos por queda
da própria altura nos idosos, acidentes com arma de
fogo e em esportes.2
A incidência de complicações e morte pode ser
diminuída por estabilização provisória imediata, com
o uso de fixador externo ou tração transesquelética
tibial.
A tração é, tradicionalmente, o método de tratamento
inicial preferido por ser uma técnica fácil, de baixo
custo e apresentar bons resultados. Porém, seu emprego
Revista Ciência e Saúde
treated with external fixator showed a higher need
for blood transfusion and longer waiting period for
final fixation.
um estudo realizado na Universidade Federal de
São Paulo, com 40 pacientes portadores de fraturas
expostas da diáfise do fêmur, todos foram estabilizados,
primariamente, com tração transesquelética, obtendose 75% de excelentes resultados e 16,2% de infecção.2
Tem-se indicado a fixação externa uniplanar lateral
como método de estabilização temporária das fraturas
diafisárias do fêmur para o controle de danos.4 Essa
opção é utilizada, principalmente, em fraturas expostas
do tipo IIIB e IIIC de Gustillo e Anderson, em fraturas
com grave contaminação do canal medular e/ou perda
da musculatura3 e em pacientes politraumatizados
graves.5
Diante do exposto, o objetivo do presente estudo é
avaliar qual método de estabilização provisória inicial
– tração transesquelética transtibial ou fixador externo
uniplanar femoral – é mais eficaz no paciente adulto
com fratura exposta da diáfise do fêmur.
31
Fabrício Maciel Campos Ferreira, Paulo Henrique Lemos de Moraes
MATERIAIS E MÉTODOS
Este é um estudo retrospectivo, com direcionamento
de uma pesquisa quantitativa, na qual foram utilizados
registros de forma sistematizada para se obter dados
num período, local e amostra determinados.
Foram avaliados os prontuários dos pacientes com
fratura da diáfise do fêmur, atendidos no serviço
de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Marcio
Cunha, nos anos de 2012 e 2013. Incluíram-se, na
pesquisa, os pacientes entre 18 e 65 anos de idade,
com fratura da diáfise do fêmur. Excluíram-se da
pesquisa os pacientes fora dessa faixa etária, os que
não foram diagnosticados na admissão com fratura da
diáfise do fêmur e os que foram submetidos a outros
tratamentos diferentes da tração transesquelética e do
fixador externo.
Assim, foram escolhidos, aleatoriamente, 60
pacientes submetidos a tratamento inicial de fratura de
fêmur com tração transesquelética ou fixador externo,
atendidos no referido pronto-socorro. Os pacientes
foram divididos, conforme o tratamento inicial, em 2
grupos: 30 submetidos à tração transesquelética e 30
submetidos a fixador externo.
Em seguida, foram colhidos os dados do prontuário
para calcular o escore ISS, que leva em consideração
as lesões provocadas em cada segmento do corpo. A
gravidade das lesões é determinada através de exame
físico, testes radiológicos, cirurgia e autópsia. As
lesões são classificadas em: leve, moderada, grave
sem risco iminente de vida, grave com risco iminente
de vida, crítica de sobrevida duvidosa e quase sempre
fatal. O ISS é calculado após a classificação dos
índices mais graves de cada uma das seis regiões do
corpo, escolhendo os três índices mais altos em regiões
diferentes (cabeça e pescoço, face, tórax, abdome,
extremidades em geral).
Esse índice pode variar de 1 a 75 pontos,
Revista Ciência e Saúde
considerando-se a idade no momento da admissão do
paciente, sexo, mecanismo de trauma e classificação
da fratura, de acordo com o grupo AO – as fraturas
tipo A são de traço simples; as fraturas tipo B possuem
um terceiro fragmento, indicando uma quantidade de
energia intermediária; as fraturas tipo C são complexas
– e a classificação de Gustillo para as fraturas expostas
– as fraturas tipo 1 apresentam exposição menor que
1cm; as fraturas tipo 2 apresentam exposição entre
1 e 10cm; as do tipo 3, exposição maior que 10cm.
As fraturas do tipo 3 subdividem-se em A, com boa
cobertura de partes moles; B, sem cobertura total de
partes moles; e C, com lesão vascular, que necessita de
reparo de lesões associadas, internação em unidade de
terapia intensiva e transfusão sanguínea, apresentando
complicações durante o tempo de internação.
O cálculo utilizado para determinação do tamanho da
amostra com base na estimativa do total de pacientes
com fratura da diáfise do fêmur no Hospital Márcio
Cunha, no período de janeiro de 2012 a dezembro de
2013, foi n= z².q.p.N/e².(N-1)+ z².q.p. Utilizou-se um
grau de confiança de 90%, erro máximo permitido de
10%, e uma proporção de interesse de 62,5%, com
uma incidência de 3% de fraturas da diáfise do fêmur1
para uma população de 296 pacientes, obtendo-se,
como valor amostral, 53 pacientes. Como os pacientes
foram divididos em 2 grupos, para igualdade numérica
entre eles, utilizaram-se, no estudo, 60 pacientes. A
técnica de amostragem adotada foi a probabilística
aleatória simples e sistemática.
Os dados foram analisados empregando-se estatística
descritiva e inferencial. Para análise estatística, foram
utilizados os softwares SPSS, versão 20.0, e Microsoft
Excel. As variáveis quantitativas foram descritas
através de média e desvio padrão. Já as variáveis
qualitativas foram descritas através de frequência
absoluta e relativa.
32
Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva
RESULTADOS
Dos 60 casos analisados neste estudo, 47 dos
pacientes eram do sexo masculino (78,3%) e 13 do
sexo feminino (21,7%); a média de idade foi de 26,9
anos, 39 pacientes (65%) na faixa etária entre 18 e 30
anos, 13 (21,7%) entre 31 e 40 anos e 8 (13,3%) entre
41 e 50 anos; o mecanismo de trauma mais prevalente
foi o acidente com moto, totalizando 34 pacientes
(56,7%), seguido pelo acidente com carro, no total
de 14 pacientes (23,3%). Em relação à classificação
AO, a maior incidência foi de fraturas do tipo A, com
número de 26 pacientes (43,3%). Quanto à exposição
do foco de fratura, 37 pacientes (61,7%) apresentaram
fratura fechada e 23 (39,3%), fratura aberta. Segundo
a classificação de Gustillo, a mais prevalente foi a
Gustillo 1, com 10 pacientes (16,7%). Esses dados são
apresentados na Tabela 1.
Conclusão
Variáveis
n.o
%
4
6,7
A
26
43,3
B
18
30,0
C
16
26,7
Não
37
61,7
Gustillo 1
10
16,7
Gustillo 2
8
13,3
Gustillo 3A
4
6,7
Bicicleta 3B
1
1,6
Sim
43
71,7
Não
17
28,3
Sim
12
20
Não
48
80
Não
19
31,7
Atropelamento
Classificação AO
Exposição óssea segundo a
classificação de Gustillo
Lesões associadas
Complicações
Tabela 1 – Idade, sexo e tipo de trauma dos
pacientes
Variáveis
n.o
%
Procedimento
Necessidade de transfusão sanguínea
Tração
30
50
1 bolsa
14
23,3
Fixador
30
50
2 bolsas
18
30,0
9
15,0
> 2 bolsas
Sexo
Masculino
47
78,3
Necessidade de internação em UTI
Feminino
13
21,7
Sim
18
30
Não
42
70
< 7 dias
19
31,7
7 - 10 dias
19
31,7
> 10 dias
22
36,6
0 - 25
25
41,7
26 - 40
19
31,7
> 40
16
26,7
Idade
18 - 30 anos
39
65,0
31 - 40 anos
13
21,7
40 - 50 anos
8
13,3
Moto
34
56,6
Carro
14
23,3
Queda da própria altura
1
1,7
Queda de altura
3
5,0
Bicicleta
4
6,7
Mecanismo de trauma
Continua
Revista Ciência e Saúde
Tempo entre fixação provisória e
fixação definitiva
Divisão de acordo com o score ISS
Fonte: Dados da pesquisa.
33
Fabrício Maciel Campos Ferreira, Paulo Henrique Lemos de Moraes
Quanto à incidência de lesões associadas, 43
pacientes (71,7%) apresentaram lesões associadas,
dentre as quais a mais prevalente foi a fratura do colo
do fêmur, em 17 pacientes (28,3%), seguida da fratura
do membro superior, em 15 pacientes (25%), como
apresentado na Tabela 2.
Tabela 2 – Incidência de lesões associadas
Lesões associadas
n.o
%
TCE
14
23,3
Trauma torácico
7
11,7
Trauma abdominal
8
13,3
Trauma de face
6
10,0
Lesão vascular
2
3,3
Fratura do membro superior
15
25,0
Fratura do colo do fêmur
17
28,3
Fratura do joelho
10
16,7
Fratura do tornozelo
13
21,7
8
13,3
Trauma pélvico
Fonte: Dados da pesquisa.
Com relação às complicações, 12 pacientes (20%)
apresentaram complicações, sendo que as mais
incidentes foram embolia e infecção, com 6 pacientes
(10%) cada uma, como apresentado na Tabela 3.
Tabela 3 – Relação de complicações em
pacientes
Complicações
n.o
%
Embolia
6
10,0
Infecção
6
10,0
TVP
3
5,0
Rabdomiólise
5
8,3
Fonte: Dados da pesquisa.
Desses pacientes com complicações, 41 necessitaram
de transfusão, sendo que 14 (23,3%) receberam 1 bolsa,
18 (15%) receberam 2 bolsas e 9 (6,7%) necessitaram
de mais de 2 bolsas. 18 pacientes (30%) necessitaram
de internação em UTI.
Com relação ao tempo entre fixação provisória e
fixação definitiva, 19 pacientes (31,7%) foram fixados
definitivamente, em menos de 7 dias, 19 (31,7%) foram
Revista Ciência e Saúde
operados entre 7 e 10 dias de internação e 22 (36,7%)
foram operados com mais de 10 dias de internação.
Para medir a gravidade no momento da internação,
utilizamos o escore ISS. Verificamos que 25
indivíduos (41,7%) apresentaram índice menor que
25, 19 (31,7%) apresentaram ISS entre 26-40 e 16
(26,7%) apresentaram escore acima de 40 pontos.
Os pacientes submetidos a tratamento com fixador
externo apresentaram escore ISS mais elevado que
os pacientes tratados com tração transesquelética
(P=0,007), como mostrado na Tabela 6.
Comparando os dois grupos de pacientes tratados
com fixador externo e tração transesquelética, houve
significância estatística, tendo em vista que os
pacientes tratados com fixador externo apresentaram,
na admissão, escore ISS mais elevado que os
pacientes tratados com tração transesquelética. Em
relação à medida do escore ISS categorizada (menor
que 25, entre 26-40 e maior que 40), os dados (Tabela
4) apresentaram uma associação estatisticamente
significante (p= 0,05). Os pacientes com escore
ISS entre 26 e 40 que utilizaram tração esquelética
apresentaram mais complicações que o grupo tratado
com fixador externo. Comparando os dois grupos
em relação à necessidade de transfusão sanguínea,
pacientes nas faixas de ISS menor que 25 e maior
que 40 tratados com fixador externo necessitaram
de mais transfusão sanguínea que o grupo tratado
com tração transesquelética, sendo esses resultados
estatisticamente significantes (p= 0,007 e p= 0,000,
respectivamente).
Com relação à necessidade de UTI, não houve
associação estatisticamente significante na comparação
entre os grupos, nas diferentes faixas de escore ISS
(Tabela 4). Relativamente ao tempo entre fixação
profilática e fixação definitiva, os pacientes na faixa de
ISS acima de 40 apresentaram maior tempo de espera
para cirurgia definitiva (p= 0,026).
34
Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva
Tabela 4 – Medida do escore ISS categorizada
Tipo
Escore ISS
Variáveis
Fixador
n.
Subgrupos
Tração
o
%
Sim
2
Não
8
Sim
Não
Valor p
o
n.
%
20
2
13,3
80
13
86,7
9
90
5
33,3
1
10
10
66,7
Sim
3
30
1
6,7
Não
7
70
14
93,3
Até 7 dias
1
10
7
46,7
7-10 dias
5
50
4
26,7
> 10 dias
4
40
4
26,7
Sim
0
0
4
40
Não
9
100
6
60
Sim
8
88,9
8
80
Não
1
11,1
2
20
Complicações
0,532
Tranfusão
0 a 25
0,007*
UTI
0,159
Espera cirúrgica
Subgrupos
0,152
Complicações
0,05*
Transfusão
26 a 40
0,542
UTI
Sim
0
0
2
20
Não
9
100
8
80
Até 7 dias
4
44,4
4
40
7-10 dias
2
22,2
3
30
> 10 dias
3
33,4
3
30
Sim
4
36,4
0
0
Não
7
63,6
5
100
Sim
11
100
0
0
Não
0
0
5
100
Sim
10
90,9
2
40
Não
1
9,1
3
60
Até 7 dias
1
9,1
2
40
7 - 10 dias
2
18,2
3
60
> 10 dias
8
72,7
0
0
0,263
Espera cirúrgica
Subgrupos
0,929
Complicações
0,181
Transfusão
> 40
0,000*
UTI
0,063
Espera cirúrgica
0,063
Fonte: Dados da pesquisa.
Revista Ciência e Saúde
35
Fabrício Maciel Campos Ferreira, Paulo Henrique Lemos de Moraes
Ao comparar as médias de tempo de internação entre
os grupos dentro das várias faixas de ISS, observou-se
que não houve diferença estatisticamente significante
(p= 0,129). Dados mostrados na Tabela 5.
Tabela 5 – Médias de tempo de internação
Tipo
Fixador
Variáveis
Tração
Tempo de Internação
x±s
Escore ISS
0 a 25
26 a 40
> 40
Valor p
x±s
21,8 ± 15,5
12,4 ± 8,4
15,4 ± 7,8
21,4 ± 21,8
58,4 ± 39,2
31 ± 35,6
0,129
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 6 – Escore ISS por tipo de tratamento
Tipo
Fixador
ISS
Tração
x±s
x±s
34,9 ± 13,4
25,7 ± 12,2
Valor p
0,007*
Fonte: Dados da pesquisa.
DISCUSSÃO
As fraturas da diáfise do fêmur são observadas
em todas as faixas etárias e atribuídas a diversos
mecanismos de trauma.6 No entanto, pesquisadores1,3
mostraram, em seus estudos, que as fraturas da diáfise
do fêmur são mais prevalentes em pacientes jovens,
na faixa etária entre 18-30 anos. No presente estudo, a
faixa etária variou de 18 a 55 anos, com média de 26,9
anos, estando 39 pacientes (56,7%) na faixa etária de
18 a 30 anos. Um estudo apresentou incidência de
83% de acometimento do sexo masculino5, e outro
encontrou uma incidência, no sexo masculino, de
70%.7
Os acidentes de trânsito são a principal causa de
morte em pessoas de 15 a 29 anos de idade, com um
custo estimado em 518 bilhões de dólares por ano, no
mundo. No Brasil, as mortes aumentaram como um
todo e as mortes por acidentes de moto cresceram
consideravelmente: de 1.421, em 1996, para 14.666,
em 2011, representando 932,1% de aumento. Em
Revista Ciência e Saúde
um estudo realizado em 2010 sobre o perfil dos
acidentes motociclísticos, constatou-se que 59% dos
traumas por eles ocasionados estavam relacionados
ao sistema osteomuscular.8 Mais especificamente,
75% das fraturas da diáfise do fêmur eram produzidas
por traumas relacionados ao trânsito.9 Este estudo
mostrou que 56 pacientes (93,3%) sofreram acidentes
relacionados ao trânsito como mecanismo de trauma
associado à fratura diafisária do fêmur, sendo o mais
prevalente o acidente com moto, incidência de 56,7%.
Um estudo verificou que 78% de fraturas são resultado
de acidentes motociclísticos, 9% a atropelamentos
e 4% a quedas da própria altura.7 Nossos índices
de atropelamento e queda da própria altura foram,
respectivamente, 6,7% e 5%.
Quanto ao tipo de fratura, em uma pesquisa, 40%
de fraturas do tipo A, 20% do tipo B e 40% do tipo
C.10 Nossa observação com relação à classificação AO
foi que 43,3% apresentaram fratura do tipo A, 30% do
tipo B e 26,7% do tipo C.
36
Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva
Quanto à ocorrência de fraturas abertas, um grupo
de pesquisadores observaram 16% de fraturas abertas
em seu trabalho.7 Já outro grupo de pesquisadores, em
seu estudo sobre fraturas abertas da diáfise do fêmur,
encontraram uma incidência de 89% de fraturas do tipo
3 e 11% de fraturas do tipo 2. 5 A incidência de fratura
aberta da diáfise do fêmur é de 31%.1 A amostra do
nosso estudo mostrou 61% de fraturas abertas, sendo a
mais prevalente a classificação de Gustillo 1, com 10
pacientes (16,7%).
O índice de gravidade, classificado como anatômico,
e também conhecido como Injury Severity Score
(ISS), pode variar de 1 a 75 pontos11 e vem sendo
mundialmente utilizado para avaliação inicial dos
pacientes vítimas de politraumatismos. Em estudo
publicado em 1995, foi encontrada média de ISS de
25,4 nos pacientes com fratura da diáfise do fêmur.5
Na nossa amostra de pacientes, observamos média de
escore de 25,8, variando de 16 a 66.
Com relação às lesões associadas, é comum a
associação de outras lesões à fratura da diáfise do
fêmur por se tratar de trauma de grande energia.3
Pesquisadores mostraram, em sua série de casos,
20,6% de trauma torácico, 12,7% de fratura bilateral
da diáfise do fêmur, traumatismo craniano em
2% e traumatismo abdominal em 1,18%.4 Outros
estudiosos, por sua vez, mostraram, em seu estudo,
100% dos pacientes com lesões associadas, com
maior prevalência de associação com fraturas do
membro superior, seguidas de traumatismo craniano.10
Analisando nossa incidência de lesões associadas, 43
pacientes (71,7%) apresentaram lesões associadas,
sendo a mais prevalente a fratura do colo do fêmur, em
17 pacientes (28,3%), seguida de fratura do membro
superior, em 15 pacientes (25%).
A tração óssea através de um pino percutâneo
inserido na tíbia proximal possibilita uma força que
reduz a fratura. O objetivo imediato desse método é
Revista Ciência e Saúde
restaurar o comprimento anatômico do fêmur. Quanto
menor o tempo do decorrer da fratura até a instalação
da tração, menos peso pode ser colocado para se
conseguir uma boa redução.3,12
Nos dias atuais, houve um grande aumento no
número de pacientes com politraumatismos, devido,
principalmente, aos acidentes de trânsito.13 Esses
traumas levam não só às fraturas, mas também às
lesões, como traumatismo craniano, trauma abdominal
e torácico, sendo estes considerados, muitas vezes,
instáveis e com risco iminente de vida, necessitando
de um tratamento que estabilize suas principais lesões,
no menor tempo possível, para evitar um aumento da
sua resposta inflamatória ao trauma.14 A abordagem
ortopédica, nesses pacientes, consiste em controle
da hemorragia, manejo das lesões de partes moles e
estabilização óssea.13
O melhor método para o controle de danos é o fixador
externo, facilitando os cuidados com o paciente.13
Suas indicações incluem as fraturas graves tipo IIIB
e IIIC com grave contaminação, proporcionando
estabilização precoce, pouco invasiva,13 diminuição da
perda sanguínea e menor tempo operatório.15 Em nosso
estudo, 68% dos pacientes necessitaram de transfusão
sanguínea e encontramos significância estatística nos
grupos de pacientes com escore ISS menor que 25 e
naqueles com escore maior que 40, mostrando que os
pacientes tratados com fixador externo necessitaram
de mais transfusão sanguínea que os pacientes tratados
com tração transesquelética.
Pesquisadores relataram problemas relacionados
ao alinhamento da fratura, infecção e perda de
movimentos.17 O principal problema da fixação
externa se relaciona com os pinos, como infecção, por
exemplo.3 Em um estudo em que foi utilizado o fixador
externo como tratamento definitivo, foi constatada
uma infecção no trajeto dos pinos de 11,1%, com
um período de acompanhamento de 5 anos.5 Dentre
37
Fabrício Maciel Campos Ferreira, Paulo Henrique Lemos de Moraes
as complicações imediatas, podemos citar: choque
hipovolêmico, lesões vasculares, lesões nervosas,
síndrome compartimental e complicações pulmonares,
como a síndrome da embolia gordurosa. Como
complicações tardias, destacam-se: pseudoartroses,
consolidação viciosa, rigidez articular, osteomielite
e complicações pulmonares decorrentes do repouso
prolongado – atelectasia, pneumonia e fenômenos
tromboembólicos.13 Um estudo realizado em um
Congresso Brasileiro de Ortopedia mostrou a infecção
como complicação mais frequente, informada por
50% dos ortopedistas entrevistados, seguida por
pseudoartrose, em 38%, trombose venosa profunda,
em 30%, tromboembolismo pulmonar, em 14%, e
osteomielite, em 11%.16
Os pacientes com fratura da diáfise do fêmur exigem
cuidados durante a internação, gerando custos para
os hospitais, devido aos grandes períodos em que
permanecem internados. Um estudo realizado na
Universidade Luterana do Brasil mostrou que o tempo
de permanência hospitalar desses pacientes foi de
14,82 dias, variando entre 4 a 64 dias.2
Nossa taxa de complicações gerais foi de 20%, ao
passo que outros estudos encontraram incidência de
complicações de 35%4 e índice de infecção de 6% em
sua amostra.5 Já nosso índice de infecção, que foi a
complicação mais encontrada, foi de 10%.
Pesquisadores defendem o uso de fixador externo
em pacientes politraumatizados como princípio do
controle de danos.3,4, Esse estudo visou comparar o
Revista Ciência e Saúde
grupo de pacientes tratados com fixador externo e com
tração transesquelética, usando o escore de gravidade
ISS para nivelamento entre os grupos.
Na amostra, houve significância estatística de que os
pacientes tratados com fixador externo apresentaram,
na admissão, escores ISS de maior magnitude.
Encontramos significância estatística relacionada
a complicações no grupo de pacientes com faixa de
ISS entre 26-40: os pacientes tratados com fixador
externo apresentaram menor índice de complicações
em comparação com pacientes tratados com tração
transesquelética. Em relação ao tempo entre fixação
inicial e fixação definitiva, os pacientes na faixa de
ISS acima de 40 submetidos a tratamento com fixador
externo, estatisticamente, obtiveram mais tempo entre
os dois procedimentos cirúrgicos que os pacientes
tratados com tração transesquelética.
CONCLUSÃO
A tração transesquelética apresentou vantagem sobre
o grupo de fixadores externos, devido à evolução com
menor número de complicações. O grupo de pacientes
tratados com fixador externo apresentou mais
necessidade de transfusão sanguínea e mais tempo de
espera para cirurgia definitiva. Os dois métodos foram
equivalentes quando comparados quanto à necessidade
de internação em UTI. Para melhor comparação dos
grupos, sugerimos trabalho prospectivo e randomizado
para acompanhamento a longo prazo dos pacientes.
38
Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva
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tratadas as fraturas diafisárias fechadas do fêmur no
Brasil? Estudo transversal. Acta Ortop Bras. 2006;
14(3).
39
ARTIGO ORIGINAL
ESTUDO DA EXPERIÊNCIA SEXUAL DE ADOLESCENTES
STUDY OF TEENAGERS SEXUAL EXPERIENCE
Adriana Almeida Moreira1, Lais Maurício de Oliveira Almeida1, Marcus Vinicius Carvalho Campos1, Letícia
Guimarães Carvalho de Souza Lima2
RESUMO
Introdução: É notória a crescente erotização da
vida cotidiana, por meio de propagandas, novelas,
filmes, internet ou outras vias de comunicação. Isso
contribui para o despertar precoce da curiosidade e
da atração pelo sexo. Métodos: Estudo transversal
de base populacional exploratório, com abordagem
quantitativa. A finalidade desta pesquisa é
proporcionar visão geral, de tipo aproximativo,
acerca da sexualidade de um grupo específico de
adolescentes. Resultados: 786 adolescentes foram
pesquisados, sendo 40,6% do sexo masculino e 59,4%
do sexo feminino, com média de idade de 15,52 anos
e 15,33 anos respectivamente. 82,4% relataram saber
o que é masturbação, 52,2% sabem qual o período
fértil da mulher (36,6% masculino e 63,2% feminino).
53,9% dos entrevistados afirmam que a escola onde
estudam fornece algum método de informação sobre
a sexualidade. O início da vida sexual já aconteceu
ABSTRACT
Introduction: The expanding eroticization in the
daily life through advertisements, TV soap operas,
films, internet or other means of communication
nowadays is evident. It foments the early awakening of curiosity and sexual attraction. Methods:
Cross-sectional study based on quantitative approach survey. This research aimed to provide an
approximate kind of overview about sexuality of a
specific group of teenagers. Results: 786 teenagers
were surveyed, where 40.6% were male and 59.4%
were female, with a mean age of 15,52 and 15,33
years-old respectively. 82.4% reported their awareness about masturbation; for 52.2% woman’s fertile
period is a common knowledge (36.6% male and
63.2% female). 53.9% of students confirmed that
they are attending to a school where some sexuality
information method is provided. 37.9% of surveyed
has already initiated their sexual life. 63.1% of
Acadêmicos do curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/IMES - Univaço, Ipatinga, Minas Gerais,
Brasil.
2
Docente do curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/IMES – Univaço, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil
1
Autor correspondente: Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima
Rua Beta, no81, Bairro Castelo, Ipatinga, MG. CEP: 35160-070. Telefone: (31) 986648185. E-mail: letí[email protected]
Artigo recebido em 18/05/2016
Aprovado para publicação em 29/02/2016
Revista Ciência e Saúde
40
Estudo da experiência sexual de adolescentes
para 37,9% dos jovens. A vida sexual ativa foi
relatada por 63,1% dos adolescentes, dos quais 49,7%
referem uso contínuo de algum método contraceptivo
e 28,1% uso esporádico. O uso de preservativo no
ato sexual é considerado importante por 95,9%,
entretanto, 10,8% desses jovens alegam já terem
sido expostos à vulnerabilidade de contaminação
por doenças sexualmente transmissíveis (DSTs),
por não terem usado preservativos. Conclusão: A
gravidez e sua consequência psicofísica e social é o
tema de maior preocupação dos jovens pesquisados,
mostrando que o aporte de conhecimento a seu
respeito não gera comportamento necessário para o
desenvolvimento da vida sexual segura. As DSTs são
do conhecimento de muitos, entretanto, as doenças
existentes dentro desse grupo geraram espanto e
surpresa aos estudantes, induzindo à hipótese de elas
estarem em segundo plano de interesse para os jovens,
talvez por descrédito de que possam ser acometidos.
A promoção da saúde sexual por meio dos cuidados
com o próprio corpo requer informações adequadas,
atitudes preventivas e específicas e acesso a serviços
de saúde de boa qualidade.
Palavras-chave:
Sexualidade.
Comportamento de risco.
Keywords: Sexuality, Adolescence, Risky Behavior.
Adolescência.
INTRODUÇÃO
A adolescência é entendida como o período de
crescimento e desenvolvimento humano que ocorre
depois da infância e antes da idade adulta e compreende
a faixa etária dos 10 aos 19 anos. Representa uma
das transições críticas no ciclo da vida humana e é
caracterizada por um intenso ritmo de crescimento e
mudanças.1
Portanto, é um período de constantes flutuações
de identidade, ou seja, é uma fase de identidades
transitórias
e
circunstanciais
influenciadas,
Revista Ciência e Saúde
teenagers reported they have an active sexual life,
of which 49.7% confirmed they have continuous use
of contraceptive methods whereas 28.1% use contraceptive methods randomly. The use of condoms
is considered relevant by 95.9%, whereas 10.8% of
them reported they have already been exposed to the
vulnerability of sexually transmitted diseases (STDs)
contamination because they did not use condoms.
Conclusion: Pregnancy and its psycho-physical and
social impacts are the main concern topic of teenagers surveyed, what suggests that the knowledge acquired does not generate the expected behavior for
developing a safe sexual life. STDs are a common
knowledge for most of them, however, the existing
diseases within this group had frighten off and astonished the students, leading to the hypothesis that
STDs are in the background of interest to teenagers,
possibly for the discredit of the risk of being affected. The campaign for a healthy sexual life through a
good care of body itself requires appropriate information, preventive and specific actions, and access
to good quality of healthcare facilities.
normalmente, por modelos atuais de identificação.2
Esse período é considerado marco inicial para a
descoberta do corpo, em que as alterações estruturais
e fisiológicas, a alteração dos hormônios sexuais e a
ansiedade por novas experiências propiciam o início
da prática sexual exploratória, principalmente quando
eles já possuem alguma informação sobre o sexo.3
Entre as características mais importantes do
desenvolvimento psicológico dos adolescentes está
a busca da nova identidade. Assim, muitas vezes,
o adolescente se expõe a riscos que, por sua vez,
41
Adriana Almeida Moreira, Lais Maurício de Oliveira Almeida, Marcus Vinicius Carvalho Campos, Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima
são mais graves nessa fase, porque eles sentem-se
imortais, imunes e indestrutíveis.4
É notória a crescente erotização da vida cotidiana,
por meio de propagandas, novelas, filmes, internet
ou outras vias de comunicação, o que contribui para
o despertar precoce da curiosidade e da atração pelo
sexo. Isso coloca em destaque o lado prazeroso da
atividade sexual sem alertar, na maioria das ocasiões,
para a consequência que tal prática pode causar.
MÉTODOS
Para esta pesquisa, foi realizado um estudo
transversal de base populacional exploratório, com
abordagem quantitativa. Esse tipo de estudo tem como
objetivo buscar informações e dados atualizados para
uso em estudos e estratégias posteriores. Sua finalidade
é proporcionar visão geral, de tipo aproximativo,
acerca da sexualidade de um grupo específico de
adolescentes. O projeto deste estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética da Unileste e obedeceu aos padrões
estabelecidos pela Resolução 196/96, que trata das
Normas de Pesquisa Envolvendo os Seres Humanos.5
A população estudada é representada por
indivíduos com faixa etária entre 10 e 19 anos,
seguindo a definição de adolescência apresentada
pela Organização Mundial da Saúde.6 Para garantir
representatividade com nível de significância de 5% e
uma precisão de 5%, considerando um total de 3.154
alunos, distribuídos em 13 colégios, foi estimada uma
amostra de aproximadamente 700 alunos, que foram
pesquisados em 9 colégios.
Os centros de ensino foram selecionados
aleatoriamente, e a população do estudo foi constituída
por 786 adolescentes, estudantes do primeiro ano
do ensino médio, da cidade de Ipatinga, no estado
de Minas Gerais, sendo 40,6% do sexo masculino e
59,4% do sexo feminino, entre 14 e 19 anos de idade.
Os alunos puderam participar deste estudo mediante
Revista Ciência e Saúde
a apresentação de Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) assinado pelos responsáveis.
A abordagem do público-alvo deu-se, entre 2013 e
2014, através de dois encontros realizados dentro do
ambiente estrutural escolar de cada colégio. Devido à
possibilidade de permanecer dúvidas entre os jovens,
foi estipulada como estratégia de mais aprendizado,
assim como feito por outros pesquisadores,7 a
disponibilização de uma urna para o depósito de
dúvidas pré-palestra e foi entregue para cada aluno o
TCLE, enfatizando que, para a participação na etapa
do questionário, que iria acontecer posteriormente,
seria necessária a assinatura desse documento. A
coleta dos dados foi feita através de questionário
estruturado de múltipla escolha, autoaplicado, em
sala de aula, e de forma anônima. Os alunos que não
estavam com o TCLE assinado, no dia da palestra,
não realizaram o preenchimento do questionário.
Posteriormente, todos os alunos do 1° ano do ensino
médio foram reunidos em um espaço oferecido por
cada instituição de ensino, no qual os pesquisadores
relizaram uma palestra, com o objetivo de oferecer
informações a respeito do tema sexualidade. A
palestra foi de cunho científico, com linguagem
acessível, sobre os subtemas: anatomia reprodutora,
masturbação, menstruação, gravidez, DSTs e métodos
contraceptivos. Todos os estudantes poderiam
participar e perguntar durante a apresentação, além
disso, as dúvidas mais frequentes coletadas na urna
de perguntas foram esclarecidas.
Os dados obtidos foram digitados no programa
EpiDataEntry 3.1 e analisados no programa SPSS
15.0. Foram realizadas análises descritivas por meio
da construção de tabelas de frequência e cálculos
de medida de tendência central e variabilidade.
Para avaliação por gênero, foram realizados testes
de hipótese qui-quadrado de Pearson e T-student,
mantendo nível de significância de 5%.
42
Estudo da experiência sexual de adolescentes
RESULTADOS
Os resultados gerados pela pesquisa foram
analisados e dispostos em dados estáticos e dinâmicos,
organizados em grupos de correlação de ocorrência,
apresentados a seguir.
Do total de 786 adolescentes pesquisados, 40,6%
eram do sexo masculino e 59,4% do sexo feminino,
com média de idade de 15,52 anos e 15,33 anos
respectivamente, todos matriculados no primeiro ano
do ensino médio.
Tabela 1 – Nível de conhecimento em
comparação por sexo, em porcentagem (%)
Conhecimento
Feminino
Masculino
Total
Masturbação
74,5
94
82,4
Período fértil da mulher
63,2
36,1
52,2
Processo de gravidez
91,8
91,2
91,5
DSTs
69,8
57,4
64,8
Métodos contraceptivos
81,8
72,8
78
Dados obtidos usando p<0,05
Tabela 2 – Comportamento sexual em
comparação por sexo, em porcentagem (%)
Hábitos
Feminino
Masculino
Total
Masturbação
12,6
77,7
45,5
Início da vida sexual
35,5
41,4
37,9
Preservativo na sexarca
68,7
65,6
67,3
Vida sexual ativa
63,8
62,1
63,1
Uso de preservativo
48,6
51,3
49,7
Dados obtidos usando p<0,05
A pesquisa demonstrou que 53,9% dos alunos
afirmam que a escola onde estudam fornece algum
método de informação sobre a sexualidade e elegem,
como pessoas abertas ao diálogo, os amigos com
62,6%, os pais com 39% e o namorado(a) com 22,8%.
Quando questionados sobre a origem do conhecimento
sobre doenças sexualmente transmissíveis e métodos
contraceptivos relataram, como via de obtenção da
informação, a televisão, 55,6%, a escola, 54,7%,
e palestras, 51,3%. A pesquisa foi feita com a
possibilidade de marcar mais de uma opção referente
Revista Ciência e Saúde
a esses itens de obtenção de conhecimento.
A respeito de conhecimento sobre métodos
contraceptivos, em comparação com o comportamento
sexual, o nível de conhecimento influenciou apenas
parcialmente o uso de preservativo na sexarca e
durante vida sexual ativa, conforme demonstrado nas
Tabelas 1 e 2.
Foi possível perceber, ainda, discrepância entre os
dados de conhecimentos em educação sexual obtidos
nos questionários respondidos pelos alunos e as
dúvidas mais frequentes por eles apresentadas durante
a palestra. Portanto, constatou-se que o assunto
sexualidade ainda é um tabu para os adolescentes
e que ainda há uma defasagem muito grande entre
o que afirmam saber, mesmo considerando que o
questionário tenha abordado perguntas diversas das
apresentadas na urna e a extensão do conhecimento
acerca do assunto.
DISCUSSÃO
O tema sexualidade comporta uma quantidade
enorme de informações que, visivelmente, atrai a
atenção dos jovens, evidenciando um interesse de
ambos os sexos no decorrer deste trabalho.
Na puberdade, ocorre o início da busca por
conhecimentos sobre sexualidade e seu próprio
corpo, fazendo com que os adolescentes procurem
esclarecimentos e respostas no local em que se sintam
mais acolhidos. Uma grande parcela dos jovens afirma
que o colégio onde estudam fornece informações
sobre o tema, mas, ao serem questionados com
quem possuem mais espaço para diálogo, houve uma
predileção por amigos, assim como os dados achados
na literatura.8,9,10 Esse fato gera preocupação, pois
os conhecimentos podem surgir e se propagar com
informações erradas.
Quanto ao nível de conhecimento, este foi
significativo em ambos os sexos.8 No entanto,
43
Adriana Almeida Moreira, Lais Maurício de Oliveira Almeida, Marcus Vinicius Carvalho Campos, Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima
houve destaque para o sexo feminino, que detêm
superioridade de conhecimentos nos campos que
abrangem a sexualidade,11,12 perdendo apenas quando
se trata do tema masturbação, sobre o qual houve
maior nível de conhecimento e ocorrência entre o
sexo masculino, confirmando, assim, os aspectos da
construção social de sua sexualidade.13
Os jovens que estão vivenciando o início da vida
sexual caracterizam-se por vulnerabilidade às DSTs e à
gestação indesejada.14 Nesse contexto, de acordo com
a OMS, os jovens já representam 18% da população
mundial e estão em risco aumentado, sobretudo,
com epidemia do HIV/Aids,2 pois representam
a faixa etária com maior incidência de DSTs,
aproximadamente 25% de todos os diagnósticos até
os 25 anos15, associado aos altos índices de gestação
na adolescência que já configuram de 20% a 25% do
total de gestantes no país.16
Diante do exposto, é possível constatar que, embora
existam informações, estas não são suficientes para
a adoção de comportamentos protetores, e a falta
de informações básicas contribui para aumentar a
vulnerabilidade dos adolescentes.14,17
Há consenso geral sobre a necessidade e importância
dos métodos contraceptivos, mas considerável parcela
dos adolescentes acredita que não contrairá nenhum
tipo de DST – o que foi concluído devido à baixa
utilização do preservativo, 49,7% – ou que poderá
ser surpreendida por uma gravidez indesejada. Isso
expressa, mais uma vez, o senso de invulnerabilidade
próprio da fase, respaldado pelo sentimento de
Revista Ciência e Saúde
onipotência, que faz o adolescente acreditar ser imune
aos perigos, desafiar regras, crer que esteja isento das
consequências a que se expõem.18
CONCLUSÃO
O tema sexualidade, para os jovens, ainda é de
difícil abordagem entre os familiares e a escola. Essa
realidade tem como resultado uma transmissão de
conhecimentos equivocados e formação de tabus,
como foi observado durante a pesquisa. Os resultados
obtidos com os questionários demonstraram níveis de
conhecimento considerável sobre o tema sexualidade,
entretanto, com o artifício da urna de dúvidas e as
palestras, observou-se a carência de conhecimento
em relação à vida sexual saudável.
A gravidez e sua consequência psicofísica e social é
o tema de maior preocupação dos jovens pesquisados,
pois possui muitos mitos, mostrando que o aporte de
conhecimento a seu respeito não gera a segurança
necessária para o desenvolvimento da vida sexual
segura. As DSTs, tema relacionado à prática sexual
desprotegida, são do conhecimento de muitos,
entretanto, as doenças existentes dentro desse grupo
geraram espanto e surpresa aos estudantes, induzindo
à hipótese de que elas estejam em segundo plano de
interesse, talvez pelo descrédito de que possam ser
acometidos por tais doenças.
A promoção da saúde sexual, por meio dos cuidados
com o próprio corpo, requer informações adequadas,
atitudes preventivas e específicas, e acesso a serviços de
saúde de boa qualidade. Portanto, torna-se necessário
um padrão de conhecimento sobre a sexualidade.
44
Estudo da experiência sexual de adolescentes
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45
ARTIGO ORIGINAL
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM
NEFROPATIA DIABÉTICA EM HEMODIÁLISE, EM IPATINGA-MG
CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF DIABETIC
NEPHROPATHY PATIENTS IN HEMODIALYSIS IN IPATINGA/MG
Matheus de Navarro Guimarães Godinho1, Eberaldo Severiano Domingos2
RESUMO
Introdução: A nefropatia diábetica é a principal
etiologia de insuficiência renal crônica em pacientes
iniciando tratamento em hemodiálise, nos países
desenvolvidos. Sua incidência vem aumentando
e o custo do tratamento é elevado, tornando-se um
problema de saúde pública. No Brasil, existe uma
carência de dados, em âmbito nacional, sobre essa
população e suas características. Objetivo: Avaliar
o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com
nefropatia diabética em hemodiálise, em um centro
de terapia renal substitutiva, em Ipatinga-MG/
Brasil. Métodos: Estudo descritivo, transversal e
quantitativo, com uma amostra de 86 pacientes com
nefropatia diabética em hemodiálise, no qual foram
avaliadas variáveis clínicas e sociodemográficas,
obtidas através de questionário elaborado pelos
autores. Resultados: A amostra foi constituída por
86 indivíduos diabéticos com insuficiência renal
crônica, em hemodiálise, dos quais 50 (58,1%) eram
1
2
ABSTRACT
Introduction: Diabetic nephropathy is the main
etiology of chronic renal failure in patients starting
hemodialysis treatment in developed countries. Its
incidence is expanding and the costs are increasing,
becoming a public health problem. In Brazil there
is a lack of information on this population and its
aspects in national level. Objective: To evaluate the
clinical and epidemiological profile of patients with
diabetic nephropathy in hemodialysis in a renal
replacement therapy center in Ipatinga/MG, Brazil.
Methods: Descriptive, transversal and quantitative
study with a sample of 86 patients with diabetic nephropathy in hemodialysis, evaluated by clinical and
socio-demographic variables obtained through a
survey form developed by the authors. Results: The
sample consisted of 86 diabetic patients with chronic
renal failure in hemodialysis, of which 50 (58.1%)
were men, 23 (26.7%) were over 60 years-old, 73
(84.9%) were retirees, 57 (66.3%) were diabetic and
Médico residente de clínica médica do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Nefrologista. Preceptor de clínica médica no Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Autor Correspondente: Matheus de Navarro Guimarães Godinho
Hospital Márcio Cunha / Fundação São Francisco Xavier
Rua dos Caetés 320/406 - Ipatinga/MG - CEP: 35162-038. Telefone: (31)87759935. E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 30/03/2015
Aprovado para publicação em 19/02/2016
Revista Ciência e Saúde
46
Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MG
homens, 23 (26,7%) acima de 60 anos, 73 (84,9%)
aposentados, 57 (66,3%) diabéticos e hipertensos, 64
(77,1%) apresentaram hipotensão durante sessão de
hemodiálise. Conclusão: Este estudo possibilita mais
conhecimento sobre o perfil dos pacientes portadores
de uma patologia relevante para a implementação de
políticas públicas no âmbito da saúde, bem como,
para os serviços de terapia renal substitutiva e equipes
multidisciplinares que prestam assistência ao portador
de doença renal crônica.
hypertensive patients, 64 (77.1%) had hypotension
during hemodialysis session. Conclusion: This study
enables a greater knowledge of the profile of patients
with relevant conditions for implementing public
health policies as well as for renal replacement therapy services and multidisciplinary teams qualified
to provide healthcare to patients with chronic kidney
disease.
Keywords: Diabetic nephropathy. Hemodialysis.
Chronic Renal Failure.
Palavras-chave: Nefropatia diabética. Hemodiálise.
Insuficiência renal crônica.
INTRODUÇÃO
A Nefropatia Diabética (ND) é a principal causa
de Insuficiência Renal Crônica (IRC) em pacientes
iniciando tratamento em Hemodiálise (HD), nos
países desenvolvidos, representando quase 50% dos
novos casos1,2 e grande responsável pelo crescente
número de pacientes nos países em desenvolvimento.3
Dados europeus e norte-americanos mostram que sua
incidência tem aumentado, progressivamente, ao
longo dos anos.2,4
A excreção urinária de albumina (EUA), aumentada
na ausência de outras doenças renais, é o que define
a ND e sua mensuração pode ser feita por um
exame urinário.5 O curso clínico apresenta-se em
três fases evolutivas, conforme a EUA e a função
renal.6 A patogênese da ND é complexa, envolvendo
a interação de múltiplos fatores relacionados ao
distúrbio metabólico e às variáveis genéticas.7
A IRC é uma enfermidade que interfere nas
condições psicológicas do paciente, além de gerar
consequências físicas, alterar seu cotidiano e interferir
no papel desse indivíduo na sociedade em que vive.8
Nos Estados Unidos e na grande São Paulo, a HD é a
forma de tratamento mais utilizada em pacientes com
Revista Ciência e Saúde
IRC terminal secundária à ND.9
No Brasil, o número estimado de pacientes em
diálise, em 2012, foi de 97.586 pacientes, cerca de
28,5% destes eram diabéticos.4 Considerando o
crescente aumento de indivíduos portadores de IRC, a
situação representa um problema de saúde pública,10
e é relevante para o planejamento desta, pois esses
pacientes necessitam de cuidados mais complexos,
gerando mais custo, além de apresentar mais
morbidade e mortalidade.11,12,13 Nos Estados Unidos,
os custos para o tratamento dos pacientes com doença
renal terminal por diabetes mellitus (DM) excede o
valor de 9 bilhões de dólares anuais.14
Diante do exposto, o objetivo deste estudo é
caracterizar o perfil sociodemográfico do paciente com
nefropatia diabética, sob hemodiálise, em tratamento
no Centro de Terapia Renal Substitutiva do Hospital
Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, em
Ipatinga-MG/Brasil.
METODOLOGIA
Este foi um estudo descritivo, transversal e
quantitativo, com finalidade de caracterizar, por
meio de variáveis clínicas e sociodemográficas,
uma população de pacientes com insuficiência renal
47
Matheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos
crônica por nefropatia diabética, em tratamento
com hemodiálise, em um centro de terapia renal
substitutiva (CTRS), em Ipatinga-MG/Brasil.
O cálculo utilizado para determinação do tamanho
da amostra, com base na estimativa do total de
pacientes com nefropatia diabética inscritos em
tratamento hemodialítico no hospital, foi n= z².q.p.N/
e².(N-1)+ z².q.p. Utilizou-se um grau de confiança de
95%, erro máximo permitido de 5% e uma proporção
de interesse de 28,5%, sendo a última referenciada
em Censo dos Centros de Diálise do Brasil de 2012,15
para uma população de 118 pacientes diabéticos,
tendo como valor amostral 86.
Foram elegíveis pacientes com diagnóstico de
nefropatia diabética, com mais de 3 meses em
tratamento hemodialítico, visando excluir possíveis
casos de injúria renal aguda. Os pacientes eram
maiores de 18 anos, capazes de responder ao
questionário proposto, que aceitaram participar do
estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido.
Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa,
os dados foram coletados a partir de um questionário
elaborado pelos próprios pesquisadores. A entrevista
foi agendada previamente, com participação do
nefrologista de plantão no dia da coleta dos dados, em
um local privado, não interferindo na rotina habitual
do paciente.
Procedimentos que assegurassem a confidencialidade
e privacidade dos pacientes citados nos questionários
foram adotados, garantindo a não utilização das
informações em prejuízo das pessoas, inclusive em
termos de autoestima, prestígio econômico e/ou
financeiro, respeitando a autonomia da instituição.
Os parâmetros analisados foram os sociodemográficos
– sexo, faixa etária, local da residência, estado civil,
escolaridade, ocupação atual, renda mensal, convênio
para tratamento, Sistema Único de Saúde (SUS) ou
Revista Ciência e Saúde
Plano de Saúde, interferência da hemodiálise nas
atividades profissionais, no lazer ou recreação, tipo de
moradia – e clínicos – fatores de risco, comorbidades
associadas, tempo entre diagnóstico e início diálise,
tempo de diálise, história familiar para diabetes
ou doença renal crônica, complicações durante e
frequência da hemodiálise.
Os dados foram analisados empregando-se
estatística descritiva. Para análise estatística,
utilizamos o software SPSS, versão 19.0. As variáveis
quantitativas foram descritas através de média e
desvio padrão, enquanto as qualitativas, através de
frequência absoluta e relativa.
RESULTADOS
No período do estudo, 290 pacientes renais crônicos
foram informados que estavam em tratamento
hemodialítico, no serviço de terapia renal substitutiva
do Hospital Márcio Cunha/FSFX, em Ipatinga-MG/
Brasil. Foram identificados 99 pacientes diabéticos,
uma prevalência de 34,1%.
Em relação aos dados sociodemográficos, dos 86
pacientes, 50 eram do sexo masculino (58,1%) e 36
eram do sexo feminino (41,9%), a média de idade
foi de 54,4 anos, 53 pacientes (61,6%) estavam na
faixa etária entre 41 e 60 anos, 23 (26,7%) acima
dos 60 anos e 5 (5,8%) entre 31 e 40 anos, o mesmo
número estava com idades entre 18 e 30 anos. A
maioria dos pacientes residia em Ipatinga-MG,
totalizando 68 (79,1%). A prevalência de casados foi
destaque, 72 (83,7%), junto com o expressivo número
de aposentados 73 (84,9%). O tipo de convênio
mais utilizado foi o SUS, 80 (93,0%). Analfabetos
somavam 34 (39,5%), e 60 (69,8%) das famílias
sobreviviam com renda mensal entre 1 a 2 saláriosmínimos. Esses dados estão apresentados na Tabela 1.
48
Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MG
Tabela 1 – Variáveis sociodemográficas
Variáveis
n.
o
Conclusão
%
Gênero
Variáveis
n.o
%
Gênero
Masculino
50
58,1
Tipo de moradia
Feminino
36
41,9
Casa própria
76
88,4
Aluguel
10
11,6
Faixa etária
18 l---- 30 anos
05
26,7
Tipo de convênio utilizado
31 l---- 40 anos
05
5,80
Sistema Único de Saúde (SUS)
80
93,0
41 l---- 60 anos
53
61,6
Planos Privados de Saúde
06
7,00
60 ou mais anos
23
26,7
Interferência da hemodiálise na
atividade profissional
Ipatinga
68
79,1
Interferiu
00
0,00
Coronel Fabriciano
09
10,5
Não interferiu
86
100,0
Timóteo
05
5,80
Interferência da hemodiálise nas
atividades de lazer e recreação
Iapu
01
1,20
Interferiu
28
32,6
Mariélia
02
2,30
Não interferiu
58
67,4
Santana do Paraíso
01
1,20
Fonte: dados da pesquisa.
Casado
72
83,7
Solteiro
04
4,70
Viúvo
03
3,50
Separado
07
8,10
Analfabeto(a)
34
39,5
1º grau incompleto
09
10,5
1º grau completo
37
43,0
2º grau incompleto
00
0,00
2º grau completo
05
5,80
3º grau incompleto
00
0,00
3º grau completo
01
1,20
Atuando
00
0,00
Dependente de Terceiros
05
5,80
Aposentado
73
84,9
Licença Saúde
08
9,30
Município onde reside
Estado civil
Escolaridade
Profissão (ocupação)
Continua
Revista Ciência e Saúde
Analisando-se os parâmetros clínicos, é possível
notar que 23 (26,7%) apresentavam tabagismo como
fator de risco, seguido por história familiar de diabetes,
30 (34,8%), e de doença renal crônica, 10 (11,7%).
Somente 10 (11,7%) dos pacientes não indicaram
qualquer dos fatores perguntados. A prevalência
da associação entre diabetes mellitus e hipertensão
arterial sistêmica foi elevada, em 57 (66,3%) dos
participantes. O tempo médio entre a descoberta do
diagnóstico de diabetes e o início do tratamento na
hemodiálise foi de 7,4 anos. 58 (67,4%) dos pacientes
já faziam terapia de substituição renal entre 12 e 60
meses (1 a 5 anos). O tempo médio deste último foi
de 26 meses (quase 2 anos). Quase a totalidade dos
doentes, 85 (98,8%), tinham 3 sessões de terapia por
semana. Esses dados estão apresentados na Tabela 2.
49
Matheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos
Tabela 2 – Parâmetros clínicos
Variáveis
Fatores de risco para insuficiência
renal crônica
n.o
Sem fatores de risco
10
Tabagismo
%
Tabela 3 – Complicações apresentadas
durante a sessão hemodialítica
n.o
%
Sem complicações
03
3,50
11,7
Hipertensão arterial
06
7,22
23
26,7
Precordialgia
04
4,81
Etilismo
13
15,1
Vertigem
23
27,7
História familiar de diabetes
História familiar de doença renal
crônica
30
34,8
Hipotensão arterial
64
77,1
Dor abdominal
03
3,61
Cefaléia
12
14,4
Vômitos
07
8,43
03
3,61
10
11,7
Comorbidades Associadas
Hipertensão arterial
00
0,00
Câimbras
Diabetes mellitus
15
17,4
NOTA: Houve mais de uma resposta por entrevistado
Dislipidemia
00
0,00
Hipertensão arterial + diabetes mellitus
Hipertensão arterial + diabetes mellitus
+ dislipidemia
57
66,3
14
16,3
1 l---- 6 meses
10
11,6
6 l---- 12 meses
14
16,3
12 l---- 60 meses
58
67,4
60 ou mais meses
Número de sessões de hemodiálise
por semana
04
4,70
1 vez
00
0,00
2 vezes
01
1,20
3 vezes
85
98,8
4 vezes
00
0,00
Tempo de tratamento hemodialítico
Fonte: Dados da pesquisa.
As complicações durante a sessão de hemodiálise
são frequentes e poucos pacientes, 03 (3,50%),
informaram, durante a entrevista, não ter apresentado
nenhum tipo de sintoma. A queixa mais prevalente
foi hipotensão arterial, 64 (77,1%), seguido por
vertigem 23 (27,7%) e cefaleia 12 (14,4%). Deve-se
ter em consideração que foi permitido mais de uma
resposta ao tópico, por participante. Esses dados estão
apresentados na Tabela 3.
Revista Ciência e Saúde
DISCUSSÃO
A incidência e prevalência de pacientes com
insuficiência renal crônica iniciando tratamento de
hemodiálise vem crescendo progressivamente em
todo o mundo, principalmente na Europa e na região
Norte-Americana. Nessas ocorrências, a nefropatia
diabética tem um papel significativo.2 No presente
estudo, a prevalência de pacientes diabéticos em
terapia de substituição renal foi semelhante ao
encontrado na literatura. Fontes mostram que o
percentual chega próximo a 29% na região Sul do
Brasil.16 Nos Estados Unidos, em 1998, 40% dos
pacientes em diálise eram portadores de DM.17
A faixa etária teve como média 54,4 anos; mais
da metade, 53 (61,6%), encontrava-se com mais
de 40 anos. As pesquisas encontradas na literatura
verificaram que 53,1% dos nefropatas crônicos
estudados compreendiam a faixa etária de 36 a
55 anos,18 57,8% na faixa de 50 a 69 anos19 26,3%
estavam entre a faixa etária de 40 a 49 anos e a mesma
proporção entre 50 a 59 anos,20 49,0% encontravamse entre a faixa etária de 41 a 60 anos.21
Grande parte dos participantes, 68 (79,1%), reside no
município de Ipatinga ou em cidades satélites, como
50
Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MG
Coronel Fabriciano, 9 (10,5%), e Timóteo, 5 (5,80%).
Em menor quantidade, temos doentes provenientes
de cidades mais distantes, 4 (4,7%), como Iapu,
Mariélia, Santana do Paraíso. Vale ressaltar que esses
pacientes que se deslocam dos municípios de origem
para a realização da hemodiálise tem aumentado o
tempo e o custo no tratamento, uma vez que, além
do período de permanência na clínica, gastam horas
do dia nas rodovias, sendo que muitos pacientes
necessitam, também, do transporte oferecido pela
rede pública. Um estudo para identificar empecilhos
na sequência do tratamento da hipertensão arterial de
doentes em atendimento ambulatorial mostrou que,
dos 41,2% doentes do ambulatório que consideraram
a distância do serviço de saúde como dificuldade para
continuar seu tratamento, 57,2% justificaram ser por
motivos relacionados ao número de conduções e o
tempo gasto nesse transporte.22
Quanto à variável profissão (ocupação), a
maioria, 81 (94,2%) dos entrevistados, encontravase aposentada ou com licença saúde. Essa é uma
realidade entre os portadores de insuficiência renal
crônica em tratamento hemodialítico, sendo que
a aposentadoria é considerada uma condição de
vida imposta pela doença. Nenhum participante
estava trabalhando, e 5 (5,80%) são dependentes
de terceiros, como familiares, para sobrevivência
financeira. Outras pesquisas, que também estudaram
as mesmas variáveis em pacientes renais crônicos em
hemodiálise, encontraram os mesmos resultados, ou
seja, mais ocorrência de pacientes aposentados, com
licença saúde, ou que não trabalhavam, mas todos
com valores inferiores aos citados acima: 67,5% 20
e 51,4%.21
Neste estudo, 76 (88,4%) doentes informaram ter
sua casa própria e apenas 10 (11,6%) moravam de
aluguel. Como muitos pacientes são impossibilitados
para o trabalho, pelas complicações da doença,
Revista Ciência e Saúde
diminuindo, dessa forma, a sua renda mensal, o fato
de grande parte dessa população não necessitar de
direcionar a sua renda para o pagamento de aluguel
é uma vantagem. Para o Ministério da Saúde, as
condições sociais de uma população têm peso
expressivo na determinação de seu perfil de saúde.23
O elevado número de pacientes que utiliza como
convênio o Sistema Único de Saúde (SUS), 80 (93,0%),
reflete o perfil dos pacientes que é mais encontrado
em todo o Brasil. Esse dado é destacado no Relatório
do Censo Brasileiro de Diálise Crônica 2012,15 em
que, das 255 unidades de hemodiálise participantes,
83,9% dos pacientes eram reembolsados pelo SUS.
Nenhum dos participantes alegou que a hemodiálise
interferiu em suas atividades profissionais.
Acreditamos que esse fato está relacionado, talvez,
com o início da hemodiálise, já durante o afastamento
do trabalho, seja por aposentadoria ou licença saúde.
Pode ter ocorrido por algum desvio de entendimento,
em relação à pergunta, pelos participantes. Um
pesquisador, em seu estudo, observou que 64,8%
dos pacientes mencionaram ter ocorrido alguma
interferência da doença crônica no trabalho e
atividades do lar.24
Os entrevistados, em sua maioria, 57 (66,3%),
apresentaram diabetes mellitus e hipertensão arterial
sistêmica. É importante destacar a associação entre as
duas, pois elas se interagem de forma íntima, podendo
uma ser causa ou consequência da outra. Um defeito
na função renal, quase certamente, está associado à
patogenia da HAS primária, enquanto que a IRC é a
causa mais comum de HAS secundária.25
Somente uma pequena minoria de pacientes não
relatou nenhuma complicação durante a sessão
de hemodiálise. O grande destaque fica com os
que apresentaram hipotensão arterial, 64 (77,1%).
Vertigem foi queixada por 23 (27,7%) e cefaleia
por 12 (14,4%). Autores defendem que as principais
51
Matheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos
complicações durante a realização da hemodiálise
são: hipotensão (20 a 30% das diálises), câimbras (5
a 20%), náuseas e vômitos (5 a 15%), cefaleia (5%),
dor no peito (2 a 5%), dor lombar (2 a 5%), prurido
(5%) e febre e calafrios (menos que 1%).26
CONCLUSÃO
Este estudo possibilita mais conhecimento acerca
do perfil dos pacientes portadores de uma patologia
relevante para a implementação de políticas públicas
no âmbito da saúde, assim como, para um melhor
planejamento do cuidado à saúde, contribuindo para
a melhoria das condições de vida desses pacientes.
Espera-se que as informações adquiridas a partir
dos resultados desta pesquisa sirvam como subsídio
para elaboração de estratégias e intervenções para o
controle das doenças-bases precursoras da IRC, bem
como, para os serviços de terapia renal substitutiva e
equipes multidisciplinares que prestam assistência ao
portador de doença renal crônica, no âmbito estadual.
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53
ARTIGO ORIGINAL
ANÁLISE DE PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO POR HELICOBACTER
PYLORI EM PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE CÂNCER GÁSTRICO
ANALYSIS OF HELICOBACTER PYLORI INFECTION PREVALENCE IN
PATIENTS WITH GASTRIC CANCER DIAGNOSIS
Eduardo da Costa Marçal1, Guilherme Henrique Silveira Teixeira1, Ralph Brito Damaceno2, Leonardo Stopa
Barros3
RESUMO
A Helicobacter pylori (H. pylori) adquiriu grande
importância durante as últimas décadas ao ser
reconhecido como importante patógeno que infecta
uma grande parte da população. Essa bactéria,
localizada na mucosa gástrica, induz inflamação
persistente nessa mucosa, com diferentes lesões
orgânicas em humanos, tais como gastrite crônica,
úlcera péptica e indução ao câncer gástrico. Os
fatores determinantes desses diferentes resultados
incluem a intensidade e a distribuição da inflamação
induzida pelo H. pylori. O presente estudo tem como
objetivo analisar a prevalência do H. pylori nos
pacientes portadores de câncer gástrico. Trata-se de
uma série de casos de pacientes inscritos no banco
de dados de um grande hospital filantrópico do Leste
de Minas Gerais. Para tanto, serão utilizados laudos
ABSTRACT
Helicobacter pylori (H. pylori) acquired great importance in recent decades due to the fact of being
recognized as a strong pathogen that infects a large
proportion of the population. This bacterium is situated in the gastric mucosa and it causes persistent
inflammation in this mucosa with different organic
injuries in humans such as chronic gastritis, peptic
ulcer and gastric cancer inducing. The determining
elements of these different results include inflammation intensity and distribution induced by H. pylori.
The present study aims to analyze the prevalence of
Helicobacter pylori in patients with gastric cancer. This is a cases series with patients registered
in the database of a large philanthropic hospital in
the Eastern Minas Gerais. In this regard, reports
obtained through endoscopy will be used herewith
Acadêmico de medicina da Universidade Federal de Ouro Preto.
Médico residente em Cirurgia Geral do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
3
Médico Clínico Geral Membro do corpo clínico do Hospital Márcio Cunha– Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG,
Brasil.
1
2
Autor correspondente: Ralph Brito Damaceno
Avenida Monteiro Lobato, 207/201, Cidade Nobre, Ipatinga, MG. CEP: 35192-394. Telefone: (35) 99936 2828. E-mail:
[email protected]
Artigo recebido em 01/03/2015
Aprovado para publicação em 26/02/2016
Revista Ciência e Saúde
54
Análise de prevalência da infecção por Helicobacter pylori em pacientes com diagnóstico de câncer gástrico
de estudos realizados através de endoscopia digestiva
alta, juntamente com exames anatomopatológicos do
ano 2013, com uma amostra de cerca de 90 pacientes.
Os dados serão analisados empregando-se estatística
descritiva e inferencial. As variáveis serão descritas
pela frequência absoluta e relativa.
Palavras-chave: Helicobacter pylori. Câncer
gástrico. Úlcera péptica. Endoscopia digestiva alta.
INTRODUÇÃO
A Helicobacter pylori (H. pylori ou HP) é uma
bactéria gram negativa, de forma espiralada, com
distribuição universal, que causa a infecção crônica
mais frequente em humanos. Estimam-se que 60% da
população global estejam acometidos por esse microorganismo.1
A infecção pela H. pylori ocorre em todo o mundo,
mas a prevalência varia muito entre países e grupos
populacionais dentro de um mesmo país. A H. pylori
coloniza o estômago de 50% da população nos
países desenvolvidos e cerca de 80% nos países em
desenvolvimento. A infecção é adquirida pela ingestão
da bactéria e transmitida principalmente dentro das
famílias, em que a principal fonte de transmissão é a
mãe.2
A infecção por H. pylori induz inflamação persistente
na mucosa gástrica com diferentes lesões orgânicas
em humanos, tais como gastrite crônica, úlcera
péptica e câncer gástrico. Os fatores determinantes
desses diferentes resultados incluem a intensidade e a
distribuição da inflamação induzida pela H. pylori na
mucosa gástrica.3
O câncer gástrico (CG) é uma das neoplasias mais
importantes no mundo, com significativa incidência
e mortalidade. A Helicobacter pylori (HP) tem
sido, portanto, associada à carcinogênese do câncer
gástrico, o que sugere a observação de taxas mais
Revista Ciência e Saúde
pathological examinations from 2013 with a sample of about 90 patients. The collected data will be
analyzed based on descriptive and inferential statistics. The variables will be described by absolute and
relative frequency.
Keywords: Helicobacter pylori; Gastric Cancer,
Peptic Ulcer; Endoscopy.
elevadas de infecção por HP, em pacientes com câncer
gástrico, quando comparados aos controles normais
em países ocidentais. Por outro lado, em países com
alta incidência da neoplasia, a prevalência da infecção
por HP parece ser ainda maior, ocorrendo em idades
precoces da população em geral.4
Enquanto a maioria dos indivíduos infectados pela
H. pylori permanecem assintomáticos, 10% a 20%
vão desenvolver úlcera péptica e 1% evoluirá para o
câncer gástrico.5
Portanto, este estudo visa verificar a prevalência
da H. pylori em pacientes com câncer gástrico, bem
como analisar o perfil demográfico da amostra em
questão.
REVISÃO DA LITERATURA
A bactéria H. pylori é frequentemente adquirida
na infância e pode persistir por toda a vida. A
gastrite é uma consequência em quase todos os
indivíduos infectados pela H. pylori e, apesar de
muitos hospedeiros permanecerem assintomáticos,
outros apresentam úlcera péptica ou duodenal,
adenocarcinoma gástrico e linfomas, principalmente o
linfoma MALT (Linfoma do tecido linfoide associado
à mucosa).6
A infecção por H. pylori provoca grande desconforto
em milhares de pessoas e leva à morte pelo menos
um milhão de indivíduos, anualmente, dada a sua
abrangência. Esses fatos têm sido subestimados pelas
55
Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Ralph Brito Damaceno, Leonardo Stopa Barros
autoridades de saúde pública e por especialistas em
doenças infecciosas. A infecção pela Helicobacter
pylori apresenta aumento da prevalência com a idade,
os principais fatores de riscos estão relacionados
ao baixo nível socioeconômico, e o mecanismo de
transmissão permanece desconhecido.7
A gastrite crônica, induzida pela H. pylori, aumenta
o risco para um amplo espectro de resultados clínicos,
que vão de úlcera péptica (úlcera gástrica e duodenal)
ao adenocarcinoma gástrico distal e Linfoma nãoHodgkin. Embora os fatores que determinam
essa variedade de resultados clínicos da infecção
por H. pylori não estejam bem compreendidos, o
desenvolvimento de uma resposta imune inflamatória
gástrica sustentada à infecção parece ser fundamental
para o desenvolvimento da doença. O risco maior
pode estar relacionado a diferenças na expressão
de produtos bacterianos específicos (CagA, VacA
e outros), a variações na resposta inflamatória do
hospedeiro a bactérias ou a interações específicas
entre o hospedeiro e a bactéria.8
O tratamento clínico padrão para a infecção pelo H.
pylori combina o uso de dois antibióticos, Amoxicilina
e Claritromicina, com um inibidor de bomba de
prótons, Omeprazol, Lanzoprazol ou Pantoprazol.
O Metronidazol pode substituir a Amoxicilina
em pacientes alérgicos. Em casos de resistência a
antibióticos, mudanças ainda podem ser feitas, como
a substituição da Claritromicina pela Azitromicina ou
Levofloxacina. Ou do Metronidazol por Tetraciclina,
Estreptomicina ou Rifampicina.
CÂNCER GÁSTRICO
O pico de incidência se dá, em sua maioria, em
homens por volta dos 70 anos; cerca de 65% dos
pacientes diagnosticados com câncer de estômago
têm mais de 50 anos. No Brasil, esses tumores
aparecem em terceiro lugar na incidência entre
Revista Ciência e Saúde
homens e, em quinto, entre as mulheres. No resto
do mundo, dados estatísticos revelam declínio da
incidência, especificamente nos Estados Unidos,
Inglaterra e outros países mais desenvolvidos. A alta
mortalidade é registrada, atualmente, na América
Latina, principalmente na Costa Rica, Chile e
Colômbia. Porém, o maior número de casos ocorre no
Japão, onde são encontrados 780 doentes por 100.000
habitantes.9
O câncer gástrico permanece entre os problemas mais
sérios de saúde em vários países, incluindo o Brasil.
O diagnóstico, geralmente, é feito na fase avançada
de progressão da doença, o que dificulta a eficácia dos
procedimentos e o prognóstico dos pacientes. Tornase, portanto, relevante a identificação de fatores que
possam ser utilizados como biomarcadores de risco
para essa doença.10
Estudos da mucosa gástrica, em populações de
alto risco, têm revelado uma série de lesões que,
sequencialmente, evoluiriam da condição normal
para gastrite crônica não-atrófica, em seguida, para
gastrite atrófica e metaplasia intestinal e, finalmente,
para displasia e adenocarcinoma. Portanto, a infecção
por H. pylori determina a ocorrência de inflamação
crônica da mucosa gástrica que pode persistir
por décadas e conferir risco aumentado para o
desenvolvimento gástrico.11
Araújo Filho et al. relatam que estudos
epidemiológicos e histopatológicos têm demonstrado
que pacientes com a infecção por H. pylori têm de
2 a 3 vezes mais chances de desenvolver câncer
gástrico.12
A causa é multivariada e os componentes de risco
conhecidos são de origem 1) infecciosa, como a
infecção gástrica pela Helicobacter pylori; 2) idade
avançada e gênero masculino; 3) hábitos de vida como
dieta pobre em produtos de origem vegetal, dieta
rica em sal, consumo de alimentos conservados de
56
Análise de prevalência da infecção por Helicobacter pylori em pacientes com diagnóstico de câncer gástrico
determinadas formas, como defumação ou conserva
na salga; 4) exposição à drogas, como o tabagismo;
5) associação com doenças, como gastrite crônica
atrófica, metaplasia intestinal da mucosa gástrica,
anemia perniciosa, pólipo adenomatoso do estômago,
gastrite hipertrófica gigante; e 6) história pessoal ou
familiar de algumas condições hereditárias, como o
próprio câncer e a polipose adenomatosa familiar.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma série de casos retrospectivos, com
objetivo descritivo de dados quantitativos, utilizandose registros médicos individuais e o laudo do exame
de endoscopia digestiva alta, associados a exames
anatomopatológicos realizados pelos pacientes. Os
pesquisadores envolvidos neste projeto irão analisar
essas fontes de dados de pacientes internados em
2013, em um hospital de alta complexidade do Leste
Mineiro, objetivando colher as seguintes informações:
idade, sexo, presença de câncer gástrico e infecção
por Helicobacter pylori.
O estudo será conduzido de acordo com a Resolução
466/2012, da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa
(CONEP). Os dados serão analisados empregando-se
estatística descritiva. As variáveis serão descritas pela
frequência absoluta e relativa. Foram incluídos, na
amostra, pacientes internados em 2013, no Hospital
Marcio Cunha, com diagnóstico de neoplasia gástrica
primária e pesquisa de Helicobacter Pylori. Foram
excluídos os pacientes com tumores gástricos
secundários ou metástases.
DISCUSSÃO
Durante o ano de 2013, considerando-se como
amostra inicial os pacientes internados com CID-10
C16, obtemos 87 pacientes no banco de dados do
hospital. Dessa amostra, foram excluídos 49 pacientes,
por não terem em seus registros (evolução médica,
resultado de endoscopia digestiva alta com teste da
Revista Ciência e Saúde
uréase ou exame anatomopatológico) a pesquisa da
H. pylori. Dos 38 pacientes elegíveis para o estudo, 22
são do sexo masculino (58%) e 16 do sexo feminino
(42%), como pode ser observado no Gráfico 1. Assim
como descrito na literatura, a maioria dos indivíduos
afetados pelo câncer gástrico é do sexo masculino.
Gráfico 1 – Gênero dos pacientes analisados
Análise do sexo dos pacientes portadores de câncer
gástrico
Feminino
42%
Masculino
58%
Fonte: Dados da pesquisa.
Ainda segundo a amostra, é possível afirmar que
o câncer gástrico tem maior prevalência a partir da
sexta década de vida, atingindo raramente indivíduos
com menos de 50 anos. O Gráfico 2 ilustra a faixa
etária de acometimento pela doença, no qual podemos
observar a dominância dos pacientes entre a sexta e
sétima décadas de vida (57,8%).
Em relação à presença da bactéria H. pylori na mucosa
gástrica, apenas 4 dos 38 pacientes que realizaram
pesquisa do patógeno foram positivos, perfazendo
10,52% da amostra. A relação direta de causa-efeito
entre H. pylori e câncer gástrico não é possível, apesar
de que a literatura documenta seu papel na gênese do
câncer gástrico. A bactéria não pode ser vista como
fator de risco independente para neoplasia, mas como
um cofator para o desenvolvimento desta.
57
Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Ralph Brito Damaceno, Leonardo Stopa Barros
Gráfico 2 – Faixa etária dos pacientes portadores de câncer gástrico
Homens
4,5
4
4
Mulheres
4
4
3,5
3
3
3
3
2,5
22
2
2
2
2
2 2
1,5
1
1
1
1
0,5
0
Idade
0 0
0 0
0-40
41-45
0
0
46-50
51-55
56-60
61-65
66-70
71-75
76-80
81-85
86-90
Fonte: Dados da pesquisa.
CONCLUSÃO
Apesar de inúmeros trabalhos demonstrarem a
influência da H. pylori na patogênese do câncer
gástrico, ainda não faz parte da rotina clínica de
alguns serviços a pesquisa desse agente nos pacientes
portadores de neoplasia gástrica em propedêutica.
Dos 87 pacientes internados no serviço em 2013, 4
apresentavam MALT ao exame anatomopatológico,
um tumor que pode ser tratado apenas com a
erradicação da bactéria em alguns casos. O que
evitaria gastos excessivos e exposição de pacientes
a cirurgias desnecessárias. O perfil dos pacientes
do Leste de Minas Gerais é igual ao do Brasil e do
mundo, em que a doença atinge mais homens que
mulheres e, geralmente, da sexta década de vida em
diante
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59
ARTIGO ORIGINAL
ENCEFALITE AMEBIANA GRANULOMATOSA: RELATO DE CASO
GRANULOMATOUS AMOEBIC ENCEPHALITIS: CASE REPORT
Eduardo da Costa Marçal1, Guilherme Henrique Silveira Teixeira1, Marcos Abreu Lima Cota2, Tardely Duarte
Magalhães2, Aloísio Bemvindo de Paula3, Leonardo Stopa Barros4
RESUMO
Encefalite é uma inflamação do parênquima cerebral,
associada à disfunção neurológica clinicamente
evidente, que tem entre seus agentes causais as
amebas. Estas, capazes de ocasionar a amebíase
do Sistema Nervoso Central, manifesta-se sob a
forma de meningoencefalite, abscesso ou granuloma
cerebral. Este artigo retrata a casuística clínica de
um paciente acometido pela patologia Encefalite
Amebiana Granulomatosa e tem por objetivo aventar
a discussão acerca do diagnóstico e do tratamento
dessa patologia, com o propósito de assessorar no
diagnóstico precoce e instituir mais especificidade ao
tratamento, vislumbrando aumentar a possibilidade de
êxito terapêutico, uma vez que a patologia segue um
curso geralmente fatal, o que a torna uma patologia de
grande interesse ao estudo médico.
Palavras-chave: EncefaliteAmebiana Granulomatosa.
Ameba de vida livre. Diagnóstico. Tratamento.
ABSTRACT
Encephalitis is a brain parenchyma inflammation related to neurological dysfunction clinically evident,
which has amoebas among its causal agents, able to
cause amoebiasis of Central Nervous System (CNS)
and it presents in the form of meningoencephalitis,
brain abscess or granuloma. This article describes
the clinical casuistry of a patient affected by the
Granulomatous Amoebic Encephalitis (GAE) pathology, and it aims to suggest the discussion about
diagnosis and treatment of this disease in order to
assist in early diagnosis and establish more particularities to the treatment, envisioning higher possibilities of therapeutic success, once GAE usually
follows a fatal course, which makes it as a pathology
of keen interest to medical research.
Keywords: Granulomatous Amoebic Encephalitis.
Free-living Amoeba. Diagnosis. Treatment.
Discente do curso de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto/internato hospitalar Clínica Médica Hospital Márcio
Cunha – Ipatinga/MG
2
Médico Residente – Clínica Médica do Hospital Márcio Cunha – Ipatinga/MG
3
Médico infectologista, Coordenador/Preceptor da Residência em Clínica Médica Hospital Márcio Cunha – Ipatinga/MG
4
Médico, especialista em Clínica Médica, preceptor da Residência em Clínica Médica Hospital Márcio Cunha – Ipatinga/MG
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Autor correspondente: Tardely Duarte Magalhães
Rua São Geraldo, nº 81 bloco F01 apto 106, Bairro Água Fresca, Itabira, MG. CEP: 35900-465. Telefone: (31) 99963 8194.
E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 02/12/2015
Aprovado para publicação em 26/02/2016
Revista Ciência e Saúde
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Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso
INTRODUÇÃO
Encefalite é uma inflamação do parênquima cerebral
associada à disfunção neurológica clinicamente
evidente, cuja causa primacial é infecciosa, sendo os
vírus e bactérias responsáveis por cerca de 90% dos
casos.1 Ainda que raro, as amebas também podem ser
identificadas como causadoras de encefalite e amebíase
do Sistema Nervoso Central (SNC) manifestandose sob a forma de meningoencefalite, abscesso ou
granuloma cerebral, conforme o tipo de ameba, o
estado imunitário do hospedeiro e as circunstâncias
da infecção.2 Dentre as espécies de amebas capazes de
propiciar a encefalite, estão a Entamoeba histolytica
e as Amebas de Vida Livre (AVLs), sendo as últimas
concernentes a um grupo de protozoários amplamente
dispersos no ambiente, isolados na água, no solo ou
no ar.2,3
A Encefalite Amebiana Granulomatosa (EAG) é uma
infecção ainda mais rara do SNC, com aproximadamente
150 casos descritos em todo o mundo.4,5 Causada por
amebas dos gêneros Acanthamoeba, Balamuthia
mandrillaris, e Sappinia diploidea, a EAG possui um
curso clínico inespecífico, compreendendo cefaleias,
com periodicidade semanal, durante meses, sinais/
déficits neurológicos focais (paresia/plegia/ataxia/
paralisia de nervos cranianos), coma e morte.2 Existe,
ainda, outra espécie de AVL, a Naegleria fowleri,
capaz de causar diferente acometimento do SNC, a
meningoencefalite amebiana primária.2
O período de incubação da ameba é desconhecido,
e a causa da morte correlaciona-se ao aumento da
pressão intracraniana e a destruição do parênquima
cerebral.5,6 O diagnóstico é complexo, pois, no
ambiente do SNC, há necessidade de técnicas mais
invasivas e a doença possui rápida progressão, além
de existir uma quantidade maior de diagnósticos
diferenciais diante da inespecificidade clínica na qual
se apresenta.5,7 A evolução de EAG é quase sempre
Revista Ciência e Saúde
fatal, uma vez que o tratamento farmacológico é
incerto diante da dificuldade do diagnóstico, o que o
torna, muitas vezes, tardio e, ainda, pela dificuldade
de identificação da espécie amebiana.5
Relatos de casos de sobreviventes à infecção por
AVLs sugerem apenas a associação de algumas drogas
(antibacterianos, antifúngicos, antiparasitários) no
tratamento, entretanto, ainda sem total evidência da
eficácia dessas drogas na cura.5,8 Não existem drogas
específicas para o tratamento direcionado à infecção
por AVLs.8
O presente estudo teve por objetivo retratar a
história clínica de um paciente acometido por
Encefalite Amebiana Granulomatosa e aventar a
discussão acerca do diagnóstico e do tratamento
dessa patologia, com o propósito de assessorar no
diagnóstico precoce e instituir mais especificidade ao
tratamento, vislumbrando aumentar a possibilidade
de êxito terapêutico.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo qualitativo, retrospectivo e
descritivo, abordando um caso clínico de um paciente
acometido por Encefalite Amebiana Granulomatosa
e admitido pela unidade de urgência clínica de um
hospital de grande porte do Leste de Minas Gerais, em
abril/2014. A abordagem inicial dos pesquisadores,
em relação ao paciente, transcorreu durante internação
deste, na enfermaria de neurocirurgia e clínica
médica do referido hospital, em que os pesquisadores
presenciaram a evolução na conduta e no quadro
clínico do paciente.
A coleta dos dados foi realizada em maio/2015,
exclusivamente pelos pesquisadores, por intermédio
da análise das informações transcritas em prontuário
eletrônico do paciente, preservando o sigilo das
informações. Ressalta-se que o acesso aos dados do
prontuário médico deu-se após a aprovação do projeto
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Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Marcos Abreu Lima Cota, Tardely Duarte Magalhães, Aloísio Bemvindo de Paula, Leonardo Stopa Barros
de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos e a anuência da família do paciente,
através da assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Foram investigados aspectos como biotipo, história
pregressa das condições de saúde, quadro clínico na
admissão e evolução clínica do paciente, resultados
de exames laboratoriais e de imagem e do tratamento
medicamentoso realizado.
RELATO DE CASO
Paciente de 62 anos, sexo masculino, cor parda,
casado, aposentado, evangélico, natural e procedente
de Ipatinga-MG, evoluindo, há aproximadamente
45 dias, com paresia em membro inferior esquerdo,
de aparecimento súbito e rápida progressão para
paraplegia em dimídio esquerdo, sem relato de febre
ou sintomas gerais de emagrecimento, inapetência,
hiporexia. O paciente apresentou-se ao exame clínico
da admissão em regular estado geral, consciente, sem
alterações no exame cardiopulmonar; era marcante
a existência de lesão cutânea em região dorsal,
eritematosa, com bordas elevadas e infiltradas, bem
delimitada e sem alteração de sensibilidade.
Na história pregressa, o relato de familiares aponta
a existência de hanseníase, tratada durante 12 meses,
com alta por cura. Todavia, após término do tratamento,
surgiu nova lesão cutânea cujas características foram
descritas previamente. Negava etilismo, tabagismo ou
uso de substâncias ilícitas.
O estudo histológico da referida lesão dermatológica,
realizado antes da internação, evidenciou dermatite
crônica perivascular profunda, com intensa
plasmocitose e focos de reação granulomatosa.
A derme exibia moderado infiltrado inflamatório
linfoplasmo-histiocitário perivascular, além de
proliferação fibrovascular com raras células gigantes
multinucleadas e edema, não sendo observados
Revista Ciência e Saúde
granulomas ou alterações de epidermotropismo.
Aventou-se a hipótese de lesão sifilítica associada
aos déficits neurológicos apresentados pelo paciente,
direcionando a conduta médica para o tratamento
da patologia como neurossífilis, permanecendo,
entretanto, sem melhora do quadro.
A análise dos exames complementares laboratoriais,
realizados após a admissão hospitalar – como
hemograma, função renal, função hepática, eletrólitos
e radiografia de tórax –, evidenciaram resultados dentro
dos padrões de normalidade, assim como as sorologias
anti-HIV tipo 1/2, VDRL, FTaABs, HBsAG e AntiHCV. A eletroneuromiografia de membros inferiores
não apresentou alterações, enquanto a Ressonância
Nuclear Magnética (RNM) da coluna tóraco-lombar,
representado pelas Figuras 1 e 2, a seguir, evidenciou
espessamento e heterogeneidade da medula espinhal,
com marcado hipersinal em T2, nos níveis de D6 a
D9, a esclarecer.
Figura 1 – Ressonância Nuclear Magnética da
Coluna tóraco-lombar
Evidência de espessamento e heterogeneidade da medula espinhal, com marcado
hipersinal em T2, nos níveis de D6 a D9.
Fonte: Dados da pesquisa.
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Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso
Figura 2 – Ressonância Nuclear Magnética da
Coluna tóraco-lombar
Figura 4 – RNM do crânio ponderada em T1,
corte axial
Evidência de espessamento e heterogeneidade da medula espinhal, com marcado
hipersinal em T2, no nível de D8.
Fonte: Dados da pesquisa.
A RNM do encéfalo, representada nas Figuras 3, 4,
5 e 6, revela múltiplas lesões passivas de realce pelo
gadolínio, de contornos mal definidos, apresentando
efeito de massa e edema distribuídas pelo encéfalo, as
maiores nos lobos frontais, medindo cerca de 2,3 x 1,9
cm, à direita, e 2,2 x 1,8 cm à esquerda.
Evidencia lesão com hipossinal envolvendo a substância branca e cinzenta do lobo
frontal direito.
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 5 – RNM do crânio ponderada em T2,
corte sagital
Figura 3 – RNM do crânio ponderada em T2,
corte sagital
Evidencia lesão com hipersinal heterogêneo envolvendo a substância branca e o
córtex do lobo frontal.
Fonte: Dados da pesquisa.
Revista Ciência e Saúde
Evidencia Lesão com hipersinal heterogêneo envolvendo a substância branca e o
córtex do lobo frontal.
Fonte: Dados da pesquisa.
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Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Marcos Abreu Lima Cota, Tardely Duarte Magalhães, Aloísio Bemvindo de Paula, Leonardo Stopa Barros
Figura 6 – RNM do crânio ponderada em T1,
corte axial
Figura 7 – RNM do crânio – Difusão. Corte
axial
Evidencia lesão com hipossinal T1 no lobo frontal esquerdo.
Fonte: Dados da pesquisa.
As lesões apresentam restrição à difusão livre da água.
Fonte: Dados da pesquisa.
A análise do líquido cefalorraquidiano (LCR)
apresentou aspecto turvo, xantocrômico, com
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leucócitos/mm³
(100%
mononucleares);
101 hemácias/mm³; hipoglicorraquia, 154 mg
proteínas/dl; cloretos 108 mEq/L e imunologia sem
anormalidades. O paciente foi submetido à ressecção
da lesão medular com coleta de material para exame
anatomo-patológico que apenas evidenciou processo
inflamatório crônico.
Com o rápido progresso da sintomatologia
neurológica e rebaixamento do nível de consciência,
houve necessidade de ventilação mecânica invasiva e
cuidados em unidade de terapia intensiva (UTI), sendo
realizada coleta de material da lesão cerebral para
análise microbiológica e histológica, além de nova
RNM cerebral (vide Figuras. 7, 8 e 9). Notadamente,
observa-se expansão das lesões cerebrais com
destruição importante do tecido nervoso.
Figura 8 – RNM do crânio – FLAIR. Corte axial
Revista Ciência e Saúde
Lesões com hipersinal T2 e importante edema perilesional, condicionando
efeito de massa e colabamento parcial do ventrículo lateral esquerdo.
Fonte: Dados da pesquisa.
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Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso
Figura 9 – RNM do crânio ponderada em T1,
com gadolínio
Lesões localizadas na alta convexidade, com realce predominantemente
periférico pelo meio de contraste e exercendo efeito de massa.
Fonte: Dados da pesquisa.
Diante
da
evolução
clínica-neurológica
extremamente desfavorável, juntamente com
resultados de culturas – quais sejam hemoculturas,
urocultura e cultura de tecido cerebral negativa –,
vários esquemas de antimicrobianos, como penicilina
cristalina
endovenosa,
piperacilina/tazobactan,
vancomicina,
sulfametoxazol/trimetropim,
metronidazol e fluconazol, foram usados durante o
tratamento, enquanto aguardava-se o resultado oficial
do estudo histológico do tecido cerebral.
Após 44 dias de internação hospitalar, o paciente
evoluiu para óbito. Somente após 30 dias do
desfecho fatal foi recebido laudo oficial do estudo
anatomopatológico do tecido cerebral, no qual foram
observadas extensas áreas de necrose permeadas
de reação histiocitária, notando-se denso infiltrado
inflamatório linfoplasmo-histiocitário perivascular
com formação de granulomas; foram identificadas
estruturas arredondadas, PAS-positivas, nucleadas,
Revista Ciência e Saúde
sugestivas de cistos/trofozoítos de ameba.
DISCUSSÃO
Atualmente, as infecções do SNC por amebas,
principalmente as de vida livre, têm apresentado
grande importância, uma vez que são de diagnóstico
bastante difícil, além de apresentarem altas taxas de
letalidade.5,9 As espécies amebianas relacionadas
à lesão neurológicas são a E. histolytica e as AVLs,
abrangendo Naegleria fowleri, Acanthamoeba ssp,
Balamuthia mandrillaris e Sappinia pedata.5,6,10
Durante muito tempo, o estudo das AVLs esteve
restrito ao campo da zoologia, entretanto, Fowler e
Carter, em 1965, na Austrália, e Butt, nos Estados
Unidos, em 1966, relataram os primeiros casos de
meningoencefalite fatal humana associada a esses
microorganismos.11
O abscesso cerebral é uma rara complicação
da infecção por E. histolytica, a despeito da alta
prevalência desse agente em infecções sintomática ou
não, em diversos países do mundo.2
Duas síndromes clínicas de infecção do SNC
estão associadas com amebas de vida livre:
Meningoencefalite Amebiana Primária (MAP),
causada por Naegleria fowleri, e a Encefalite Amebiana
Granulomatosa (EAG) causadas por Acanthamoeba
spp, Balamuthia mandrillaris, e Sappinia diploidea.5
O gênero Acanthamoeba, além de causar EAG,
pode, também, evoluir com lesões cutâneas, infecções
renais, pulmonares e da nasofaringe em indivíduos
imunocomprometidos, já nos imunocompetentes
a Acanthamoeba pode causar ceratites.4,5,12 A
Balamuthia mandrillaris, uma AVL relativamente
próxima da Acanthamoeba, é responsável por causar
uma forma fatal de EAG, especialmente em indivíduos
imunocompetentes. Ademais, essa AVL pode causar
infecções de pele, caracterizada por lesão em placa,
não ulcerada, sem anestesia local e, ainda, lesões
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Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Marcos Abreu Lima Cota, Tardely Duarte Magalhães, Aloísio Bemvindo de Paula, Leonardo Stopa Barros
pulmonares.4,5,13 Outra espécie de AVL, a Naegleria
fowleri, causa a MAP de maneira não oportunista
em crianças e adultos jovens saudáveis.4,5 Por fim, as
AVLs do gênero Sappinia possuem apenas um caso
relatado na literatura de EAG em humanos, com
provável infecção adquirida por via inalatória.5,14
Ao realizar um paralelo entre a evolução
clínica apresentada pelo paciente e as citações de
estudiosos,2 observa-se uma patologia de evolução
lenta, com lesões de pele recorrentes até a evolução
para acometimento do SNC e, a partir daí, rápida
progressão. O reconhecimento precoce da lesão de
pele pode facilitar o diagnóstico e tratamento das
infecções por AVLs, antes do envolvimento do SNC.5
É possível, no relatado caso,5,7 que, no ambiente do
SNC, a investigação é muito mais desafiadora devido
a um diagnóstico diferencial mais amplo, de técnicas
mais invasivas, e pela rápida progressão da doença.
Como no caso apresentado, outros estudiosos
descrevem que, após o envolvimento do SNC, o
estudo de LCR caracteriza-se por uma punção lombar
hemorrágica, com predomínio linfocítico, elevação na
concentração de proteínas e concentração de glicose
normal ou baixa, não sendo estas características
patognomônicas para infecções do SNC por amebas.5
A detecção de AVLs no LCR é difícil e, apesar do bom
aproveitamento da reação em cadeia de polimerase
(PCR) para tal fim, seu uso é condicionado a uma alta
suspeita clínica e disponibilidade do método. PCR
em tempo real, no LCR, pode proporcionar resultado
em cinco horas, embora este não esteja disponível em
muitas áreas.5,7,10,15
O método rotineiramente utilizado para identificação
de AVLs é a cultura no ágar não nutriente 1,5%,
preparado com uma suspensão de Eschericia Coli
termolisada por 10 dias. Pode também ser usado
meio de ágar,16 infusão de soja e microcultivo em
meio de Pavlova modificado.17 Posteriormente, a
Revista Ciência e Saúde
identificação das espécies cultivadas no meio é feita
por critérios microscópicos de Page, que incluem
movimentos, tamanhos dos cistos e dos trofozoítos,
tempo de contração de vacúolos contráteis, presença
de acantopódios, aspectos morfológicos dos cistos e
dos trofozoítos.18 Amebas do gênero Naegleria devem
ser submetidas, ainda, ao teste da flagelação por ser a
única espécie a possuir essa característica.11
Nota-se, também, com o presente estudo que, como
descrito em pesquia12, apesar de atualmente o método
mais adequado para correta taxonomia ser a PCR,
tanto essa reação como as culturas específicas para
AVLs são pouco disponíveis e praticamente restritos a
instituições de pesquisa. Logo, o manejo no contexto
de atendimento clínico hospitalar deve ser baseado na
suspeita clínica e exclusão de outras causas.5
O estudo anatomopatológico do tecido cerebral
sugere encefalite amebiana granulomatosa devido à
identificação de estruturas compatíveis com cistos/
trofozoítos de ameba, não podendo afirmar a espécie
causadora por dificuldade na identificação. Apesar de
não ter sido realizada cultura direcionada para AVLs
ou PCR, no LCR ou tecido cerebral, por dificuldade
de acesso a esses métodos diagnósticos, se observadas
as descrições de alguns dos pesquisadores deste
estudo2,4,5,13 acerca da evolução clínica das infecções
por AVLs, pode-se inferir que, provavelmente, trata-se
de uma Encefalite Amebiana Granulomatosa, causada
por ameba de vida livre. Ainda segundo estudos, a EAG
pode ser causada por Acanthamoeba spp, Balamuthia
mandrillaris ou Sappinia diploidea, e os gêneros
que cursam com lesão de pele similar à apresentada
pelo paciente em estudo são Acanthamoeba spp,
Balamuthia mandrillaris.5
Ao confrontar os estudos2,3,5,7,15 com a evolução clínica
do paciente, os exames laboratoriais, as imagens de
RNM obtidas e o estudo anatomopatológico do tecido
cerebral, pode-se caracterizar o presente caso como
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Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso
Encefalite Amebiana Granulomatosa, provavelmente
causada por Acanthamoeba spp ou Balamuthia
mandrillaris.
O tratamento para as infecções do SNC causadas
por AVLs é incerto, a experiência se baseia em
um número limitado de relatos de casos. O uso de
múltiplas drogas, por um período prolongado, é
garantido, e sobreviventes foram tratados com a
associação de pentamidina, 5-flucitosina, fluconazol,
macrolídeo (claritromicina ou azitromicina), mais um
dos seguintes: sulfadiazina, miltefosina, tioridazina,
ou anfotericina B lipossomal.5,19 Já o tratamento para
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Revista Ciência e Saúde
as infecções do SNC causadas por E. histolytica
baseia-se no uso de metronidazol endovenoso, por um
período prolongado.5,20
Sendo assim, uma alta suspeita clínica se faz
necessária para o diagnóstico mais precoce da
Encefalite Amebiana, uma vez que a evolução dessa
patologia é quase sempre devastadora, e os exames
padrão ouro para o diagnóstico são de difícil acesso
na prática clínica. A terapêutica ainda é uma grande
incerteza, e mais estudos podem contribuir para
elaboração de melhores estratégias.
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Revista Ciência e Saúde
Key words
Versão em inglês das mesmas palavras-chave
selecionadas a partir dos DeCS.
DEFINIÇÕES E CONTEÚDOS DAS SEÇÕES:
Introdução
Deverá apresentar o problema gerador da questão de
pesquisa, a justificativa e o objetivo do estudo, nesta
ordem.
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Métodos
Deverá conter a descrição do desenho do estudo,
a descrição da população estudada, dos métodos
empregados, incluindo, quando pertinente, o cálculo do
tamanho da amostra, a amostragem, os procedimentos
de coleta dos dados, as variáveis estudadas com
suas respectivas categorias, os procedimentos de
processamento e análise dos dados; quando se tratar
de estudo envolvendo seres humanos ou animais,
devem estar contempladas as considerações éticas
pertinentes (ver seção Ética na pesquisa envolvendo
seres humanos).
Resultados
Síntese dos resultados encontrados, podendo
considerar tabelas e figuras, desde que autoexplicativas
(ver o item Tabelas e Figuras destas Instruções).
Discussão
Comentários sobre os resultados, suas implicações
e limitações; confrontação do estudo com outras
publicações e literatura científica de relevância para
o tema. Esta seção deverá iniciar, preferencialmente,
com um parágrafo contendo a síntese dos principais
achados do estudo, e finalizar com as conclusões
e implicações dos resultados para os serviços ou
políticas de saúde.
Referências
Para a citação das referências no texto, deve-se utilizar
o sistema numérico; os números devem ser grafados
em sobrescrito, sem parênteses, imediatamente após a
passagem do texto em que é feita a citação, separados
entre si por vírgulas; em caso de números sequenciais
de referências, separá-los por um hífen, enumerando
apenas a primeira e a última referência do intervalo
sequencial de citação (exemplo: 7,10-16); devem vir
após a seção Contribuição dos autores. As referências
deverão ser listadas segundo a ordem de citação no
Revista Ciência e Saúde
texto; em cada referência, deve-se listar até os seis
primeiros autores, seguidos da expressão et al. para os
demais; os títulos de periódicos deverão ser grafados
de forma abreviada; títulos de livros e nomes de
editoras deverão constar por extenso; as citações são
limitadas a 30. Para artigos de revisão sistemática e
metanálise, não há limite de citações, e o manuscrito
fica condicionado ao limite de palavras definidas
nestas Instruções.
Tabelas e figuras
Artigos originais e de revisão deverão conter até 6
tabelas e/ou figuras, no total. As figuras e as tabelas
devem ser colocadas ao final do artigo (quando
possível) ou em arquivos separados, por ordem de
citação no texto, sempre em formato editável. Os
títulos das tabelas e das figuras devem ser concisos e
evitar o uso de abreviaturas ou siglas; estas, quando
indispensáveis, deverão ser descritas por extenso em
legendas ao pé da própria tabela ou figura. Tabelas,
quadros (estes, classificados e intitulados como
figuras), organogramas e fluxogramas devem ser
apresentados em meio eletrônico, preferencialmente,
no formato padrão do Microsoft Word; gráficos,
mapas, fotografias e demais imagens devem ser
apresentados nos formatos EPS, JPG, BMP ou TIFF,
no modo CMYK, em uma única cor (preto) ou em
escala de cinza.
Uso de siglas
Recomenda-se evitar o uso de siglas ou acrônimos
não usuais. O uso de siglas ou acrônimos só deve
ser empregado quando estes forem consagrados na
literatura, prezando-se pela clareza do manuscrito.
Siglas ou acrônimos de até três letras devem ser
escritos com letras maiúsculas (exemplos: DOU;
USP; OIT). Na primeira citação no texto, os acrônimos
desconhecidos devem ser escritos por extenso,
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acompanhados da sigla entre parênteses. Siglas e
abreviaturas compostas apenas por consoantes devem
ser escritas em letras maiúsculas. Siglas com quatro
letras ou mais devem ser escritas em maiúsculas
se cada uma delas for pronunciada separadamente
(exemplos: INSS; IBGE). Siglas com quatro letras
ou mais e que formarem uma palavra, ou seja, que
incluam vogais e consoantes, devem ser escritas
apenas com a inicial maiúscula (exemplo: DataSUS;
Sinan). Siglas que incluam letras maiúsculas e
minúsculas originalmente devem ser escritas como
foram criadas (exemplo: CNPq). Para as siglas
estrangeiras, recomenda-se a correspondente tradução
em português, se universalmente aceita; ou seu uso
na forma original, se não houver correspondência
em português, ainda que o nome por extenso – em
português – não corresponda à sigla.
Submissão dos artigos
A submissão dos artigos deverá ser feita via site
www.fsfx.com.br/revistacientifica
Endereço para correspondência
Hospital Márcio Cunha - Núcleo de Ensino e
Pesquisa.
Av. Kiyoshi Tsunawaki, nº 40 Bairro das Águas,
Ipatinga/MG, Brasil. CEP: 35160-158. Telefone: (31)
3830-5037
Análise e Aceitação dos Trabalhos
Os artigos serão avaliados em duas etapas, segundo
os critérios de originalidade, relevância do tema,
consistência teórica/metodológica e contribuição
para o conhecimento na área. Na primeira etapa será
realizada uma análise prévia pelo corpo editorial da
revista para verificar se o produto se enquadra dentro
das linhas editoriais da mesma, e na segunda etapa
será realizado o envio do artigo para, no mínimo, dois
avaliadores que, utilizando o sistema blind review,
procederão à análise. Depois de aprovado, o texto
passará por aconselhamento editorial, normalização,
revisão ortográfica e gramatical.
Direitos Autorais
Não haverá pagamento a título de direitos autorais
ou qualquer outra remuneração em espécie pela
publicação de trabalhos na Revista.
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