CEBs Acontecendo

Transcrição

CEBs Acontecendo
CEBs Acontecendo
24 de março de 2010 – Especial 30 Anos do Martírio de Dom Oscar Romero – Ano III
24 de março 1980 – 24 de março de 2010
30 Anos
Jubileu de Pérola
1
Romero
30
Anos
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Aos 30 anos do martírio de São Romero
Dom Pedro Casaldáliga
Celebrar um Jubileu de nosso São Romero da América
é celebrar um testemunho que nos contagia de
profecia. É assumir comprometidamente as causas, a
causa pelas quais nosso São Romero é mártir. Grande
testemunho no seguimento da Testemunha maior, a
Testemunha fiel, Jesus.
O sangue dos mártires é aquele cálice que todos/as
podemos e devemos beber. Sempre e em todas as
circunstâncias, a memória do martírio é uma memória
subversiva. Trinta anos se passaram desde aquela
Eucaristia plena na Capela do Hospital. Naquele dia
nosso santo nos escreveu: "Nós cremos na vitória da
ressurreição".
E, muitas vezes, disse, profetizando um tempo novo,
"se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho". E
com todas as ambiguidades da história em processo,
nosso São Romero está ressuscitando em El Salvador,
em Nossa América e no Mundo.
Este jubileu deve renovar em todos nós uma esperança, lúcida, crítica; porém, invencível.
"Tudo é graça", tudo é Páscoa, se entramos com todo o risco no mistério da ceia partilhada, da
cruz e da ressurreição. São Romero nos ensina e nos "cobra" que vivamos uma espiritualidade
integral, uma santidade tão mística quanto política.
Na vida diária e nos processos maiores da justiça e da paz, "com os pobres da terra", na
família, na rua, no trabalho, no movimento popular e na pastoral encarnada. Ele nos espera na
luta diária contra essa espécie de gangue monstruosa que é o capitalismo neoliberal, contra o
mercado onímodo, contra o consumismo desenfreado.
A Campanha da Fraternidade do Brasil, neste ano é ecumênica e nos recorda a palavra
contundente de Jesus: "vocês não podem servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro".
Respondendo àqueles que, na sociedade e na Igreja, tentam desmoralizar a Teologia da
Libertação, o caminhar dos pobres em comunidades, esse novo modo de ser Igreja, nosso
pastor e mártir replicava: "existe um ‘ateísmo’ mais próximo e mais perigoso para nossa Igreja:
o ateísmo do capitalismo quando os bens materiais são erigidos em ídolos e substituem a
Deus".
Fieis aos signos dos tempos, como Romero, atualizando os rostos dos pobres e as urgências
sociais e pastorais, devemos sublinhar nesse jubileu causas maiores, algumas delas
verdadeiros paradigmas. O ecumenismo e o macroecumenismo, em diálogo religioso e em
koinonia universal. Os direitos dos emigrantes contra as leis de segregação.
A solidariedade e a intersolidariedade.
A grande causa ecológica. (Precisamente nossa Agenda Latinoamericana desse ano está
dedicada à problemática ecológica, com um título desafiador: "Salvemo-nos com o Planeta"). A
integração de Nossa América. As campanhas pela paz efetiva, denunciando o crescente
militarismo e a proliferação das armas.
Urgindo sempre umas transformações eclesiais, com o protagonismo do laicato, pedido em
Santo Domingo, e a igualdade da mulher nos ministérios eclesiais. O desafio da violência
cotidiana, sobretudo na juventude, manipulada pelos meios de comunicação alienadores e pela
2
CEBs Acontecendo
epidemia mundial das drogas. Sempre e cada vez mais, quando maiores sejam os desafios,
viveremos a opção pelos pobres, a esperança "contra toda esperança".
No seguimento de Jesus, Reino adentro.
Nossa coerência será a melhor canonização de "São Romero da América, Pastor e Mártir".
30 anos do martírio de Oscar Romero
* Fernando Altemeyer Junior
Em 24 de março de 1980 um bispo é assassinado
durante o ofertório da missa enquanto celebrava a
Eucaristia em memória de dona Sarita Jorge Pinto, com
sua família e os doentes de câncer do Hospital da
Divina Providência, na capital de El Salvador, na
América Central. Seu nome é Oscar Arnulfo Romero y
Galdamez.
Com a alteração profunda da conjuntura eclesial, a
Igreja Católica não pode esquecer aquele que foi um
filho legítimo do Vaticano II, de Medellín e sobretudo
das decisões de Puebla. Este grande bispo mártir viu a
realidade dura de um povo mergulhado em uma guerra, reconheceu e assumiu seu papel
estratégico como pastor de uma Igreja perseguida, e em plena sintonia com a mensagem de
Cristo, constituiu-se em paradigma fiel do agir da Igreja feita opção pelos pobres e servidora do
Reino de Deus.
Suas últimas palavras foram premonitórias:
“unamo-nos, pois, intimamente na fé e na esperança a este momento de oração por dona
Sarita e por nós”.
Beatificação
Segundo a Agência de Notícias Zenit, a Conferência Episcopal de El Salvador (CEDES) no dia
28 de janeiro de 2010, pediu em carta ao papa Bento XVI a “rápida conclusão” do processo de
beatificação do arcebispo Oscar Arnulfo Romero.
Em sua primeira reunião anual de 2010, os bispos salvadorenhos decidiram encaminhar o
pedido em uma carta endereçada a Bento XVI. “Uma decisão importante” tomada durante a
reunião “foi a de encaminhar uma carta ao Santo Padre expressando o interesse de nossos
pastores em uma rápida conclusão do processo de beatificação de Dom Romero”, disse dom
Gregorio Rosa Chávez, bispo auxiliar de San Salvador. O arcebispo de San Salvador, dom
José Luis Escobar anunciou que a Igreja iniciará as celebrações em memória de dom Romero
com algumas jornadas de reflexões.
O atual arcebispo recomendou também aos salvadorenhos que orassem e promovessem o
“culto pessoal”, para favorecer a beatificação de dom Romero. “Gostaria de fazer um apelo à
oração”, disse ele.
“Quando alguém é beatificado, é porque esta é a vontade de Deus”.
Em coletiva à imprensa, o prelado disse que o processo estaria “em fase avançada”. Neste
contexto, pediu aos fiéis que “roguem a Deus sob a intercessão de dom Romero”, e que deem
seu testemunho de graças, favores e milagres recebidos.
3
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
O prelado disse esperar que o processo se desenvolva em um ambiente “sereno”, livre da
influência de questões políticas e sociais. “Pedimos, em diversas ocasiões, por um extremo
respeito à causa de dom Romero”, explicou. A Comissão para a Verdade, instituída para
investigar os crimes políticos cometidos durante a guerra civil salvadorenha (1980-1992),
declarou, num relatório divulgado em março de 1993, que o provável mandante do assassinato
teria sido Roberto D’Aubuisson, fundador do partido conservador de direita Alianza
Republicana Nacionalista (ARENA).
Dom Romero denunciava diariamente as injustiças contra a população e os assassinatos
políticos perpetrados pelos “esquadrões da morte” pagos pela elite salvadorenha com o apoio
do governo dos Estados Unidos, e pedira na semana anterior à sua morte que os soldados não
mais obedecessem às ordens de matar seus irmãos.
Esta foi sua sentença de morte.
Testemunhos
Na Conferência de Aparecida, a Igreja Católica não traiu a memória de dom Romero em seu
serviço aos pobres. O documento final declarava solenemente: “Comprometemo-nos a
trabalhar para que a Igreja latino-americana e do Caribe continue sendo, com maior afinco,
companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive até ao martírio”.
Ao testemunhar a fé dos mártires, lembra diretamente pessoas como dom Oscar Romero, e a
Igreja que confirma com sangue a fé em Cristo. Esta Igreja sela com sangue o que assinara
com a tinta. A missão da Igreja não se cristalizou no passado. Transmitiu o legado e o atualizou
cri ativamente. Cultiva as sementes atenta aos novos sinais dos tempos, acompanhando a
‘floresta que cresce’ pela graça de Deus no meio das comunidades dos cristãos. Este era o
trabalho diário de Romero. Por isso muitas capelas e centros comunitários já levam seu nome,
à espera ansiosa de sua beatificação.
É preciso reaprender as lições de Romero e buscar proclamar sua profecia.
É preciso reatar sempre o casamento entre a Igreja e os pobres.
Se pudéssemos classificar as testemunhas recentes diríamos que temos: os santos que
assumiram a boa-notícia em sua vida (gente como dom Hélder Pessoa Câmara, dom Luciano
4
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Mendes de Almeida, dom Ivo Lorscheider e nosso querido intelectual Alceu de Amoroso Lima);
os leigos mártires (gente como Verino Sossai, de Nova Venécia, Francisco, de Pancas,
Purinha, de Linhares, Santo Dias da Silva, de São Paulo, Paulo Vinhas, de Vitória e, centenas
de mulheres e homens cristãos, do mundo rural e urbano); os sacerdotes e bispos profetas e
mártires (citamos dom Enrique Angel elli e dom Oscar Romero), e enfim, as religiosas que
misturaram seu sangue ao da terra que tanto amaram e a Deus que quiseram servir até o fim
(lembramos Dorothy Hazel, Ita Ford, Jean Donovan, Maura Clarke, Adelaide Molinari, Cleusa, e
recentemente Dorothy Stang, entre dezenas de mulheres consagradas).
Toda obra espiritual procede da missão e não da função. O lema de dom Romero bem o
exemplifica: Sentir com a Igreja. Quanto mais nos aproximarmos dos pobres e de Deus, tanto
mais fecundos seremos.
Esta foi a lição e a pregação de dom Romero. Quanto mais pobres, mais ricos. Quanto menos,
mais. Quanto mais desafios assumirmos na Igreja dos pobres, mais esperança teremos e
seremos. Quanto mais esperança, mais desafios devemos assumir. Os pedaços de pão que
um homem oferece a outro são sacramentos de comunhão.
Como disse Simone Weil em seu livro Attente de Dieu: “No amor verdadeiro, não somos nós
que amamos os sofredores em Deus, mas é Deus em nós quem ama os sofredores. Aquele
que dá pão a um esfaimado pelo amor de Deus não será agraciado pelo Cristo. Ele já terá
recebido seu salário por esse seu pensamento. O Cristo agradece àqueles que não sabem a
quem eles dão de comer” (p.111). Servir a Cristo sem saber que estamos diante d’Ele.
Sem medalhas, nem comendas. Servir pelo amor gratuito e generoso de Deus ao povo por Ele
amado. Assim viveu o arcebispo de San Salvador, como Bom Pastor. Por esta causa
fundamental morreu, e por este testemunho fiel será lembrado como fiel servo do Cristo
Salvador.
____________________________________________________________
A Igreja Católica em todo o continente da América Latina possui 425.599.389 milhões de fiéis,
reunidos em 800 dioceses, 31.530 paróquias, 104.331 centros de evangelização, coordenados
por 1.201 bispos, 66.684 sacerdotes, 10.302 diáconos permanentes, 5.484 irmãos, 129.813
irmãs e 1.350.495 catequistas.
A Igreja de El Salvador que sempre foi a razão de ser de toda a vida de dom Romero é bem
pequenina, mas, muito vigorosa em sua fé e sua fidelidade a Cristo Salvador. Ela é composta
por 5.029.704 de católicos (79,87%), nove circunscrições eclesiásticas, 12 bispos, 765
sacerdotes, dois diáconos permanentes, 70 irmãos, 1.632 irmãs e 7.534 catequistas, que se
reúnem em 828 centros de pastoral.
* Fernando Altemeyer Junior é teólogo, doutor em ciências sociais, professor nas Faculdades Claretianas, na UNISAL, na EDT e na PUC-SP.
Este artigo foi publicado na edição Novembro 2009 da revista Missões.
Fonte: Revista Missões
5
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Dom Romero, Mártir
"Tenho sido freqüentemente ameaçado de morte.
Devo dizer a eles que, como cristão, não creio na morte sem ressurreição:
se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho".
Dom Óscar A. Romero
Neste mês de março de 2010 a Igreja da América Latina
celebra os trinta anos do martírio de Dom Oscar Romero (†
1980), Arcebispo de El Salvador, assassinado pela
repressão de extrema-direita que oprimia a nação após um
execrável golpe de estado.
El Salvador tinha um governo ditatorial, que foi derrubado
por outro golpe de extrema-direita, realizado por uma "junta
governativa", composta por militares e civis, e apoiada pelos
Estados Unidos.
Como a opressão e a injustiça aumentaram, o Arcebispo
Romero se insurgiu contra esse estado de coisas, que
esmagava o povo, composto em sua maioria de pobres,
índios e pequenos lavradores. Enquanto padre, Oscar
Romero era um burocrata, homem mais de sacristias e
bibliotecas do que de uma atuação pastoral propriamente
dita.
Tanto que, por conta de seu perfil tímido e pouco combativo
é que foi designado pelo Vaticano para ser bispo, porque o
que menos as cortes romanas queriam naquele momento
era a ascensão de alguém que postulasse a causa dos
pobres e dos oprimidos, pois a Igreja da América Latina era,
em sua maioria, naquela década, aderente à Teologia da
Libertação. É curioso que a conversão de Dom Romero,
pelo menos à causa dos pobres e dos explorados - uma
classe de maioria nas terras de El Salvador - ocorreu depois
de sua nomeação para as funções de bispo.
Ele pode sentir a miséria do seu povo e violência dos
poderosos, que - como em muitos paises do Continente - matavam ou faziam desaparecer
líderes, camponeses, padres, agentes de pastoral e tantos quantos fizessem fretenir suas
vozes em defesa do povo esmagado.
Apesar de ameaças, perseguições e boicotes, o bispo tornava suas palavras, em homilias,
pregações e discursos, cada vez mais candentes, dirigidas e corajosas, denunciando tudo o
que era feito no país, como uma violação aos direitos do povo e à ética nacional.
Dom Oscar Romero revestiu-se de uma coragem profética que faltou à maioria dos bispos da
América, inclusive no Brasil, também dominado pelo tacão de uma ditadura militar, onde se
destacou o destemor de Dom Helder, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Pedro Casaldáliga, Dom
José Maria Pires e poucos outros que tiveram coragem de dizer que aquilo (prisões,
cassações, expurgos, tortura e mortes) era um crime, contrário ao projeto de Deus.
Depois da morte de seu ajudante, o jesuíta Rutillo Grande Garcia († 1977), Romero passou a
acusar frontalmente os poderes, governantes, militares e ricos, responsabilizando-os de todos
6
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
os males ocorrentes no país. Ora, depois dessa atitude de afronta ao poder político-econômica
que se julgava dono de El Salvador, os dias do pastor estavam contados.
O padre Rutillo (pronuncia-se Rutílio) fez muitas denúncias contra a situação de pobreza do
povo, a insensibilidade das elites e a violência do governo. Numa homilia proferida a 13 de
Fevereiro de 1977 (ele seria assassinado trinta dias depois), ele bradou: "A Eucaristia que
estamos celebrando hoje, alimenta este nosso ideal de uma mesa comum para todos, com um
lugar para cada um e Cristo no meio".
A 12 de Março seguinte, quando se dirigia para a sua terra natal com outros cristãos para
preparar uma festa religiosa, foi morto por militares, com uma rajada de metralhadora. Dom
Oscar Romero afirmou que foi o exemplo do padre Rutillo e a sua morte que o convenceram a
colocar-se decididamente ao lado dos pobres e dos injustiçados de El Salvador.
Um grupo de bispos latinoamericanos, em março de 1980, na cerimônia dos funerais de dom
Romero, assinou um documento que dizia:
"Três coisas admiramos e agradecemos no episcopado de dom Oscar Romero: foi, em primeiro
lugar, anunciador da fé e mestre da verdade [...]. Foi, em segundo lugar, um resoluto defensor
da justiça [...]. Em terceiro lugar, foi o amigo, o irmão, o defensor dos pobres e oprimidos, dos
camponeses, dos operários, dos que vivem nos bairros marginalizados".
A história da vida, trabalho e martírio de Oscar Arnulfo Romero Galdámez hoje faz parte da
caminhada da Igreja da América Latina, de seu martirológio e dos atos da missão cristã no
Continente.
El Salvador é o menor país da América Central, com apenas 21 mil quilômetros quadrados e
um PIB insignificante, a renda per capita é de US$ 1.045/ano, uma das piores qualidades de
vida da América Latina. Mais de 90% da população, de cerca de seis milhões de habitantes, é
constituída de mestiços.
Em 12 de maio de 1994 a Arquidiocese de San Salvador pediu permissão ao Vaticano para
iniciar o processo de canonização de Dom Oscar Romero.
O processo diocesano foi concluído em 1995 e enviado à Congregação para a Causa dos
Santos em 1997, no Vaticano, que em 2000 o transferiu à Congregação para a Doutrina da Fé
(então dirigida pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI) para que
analisasse os escritos e homilias de Dom Oscar Romero.
Terminado a análise, em 2005, o postulador da causa de canonização, Dom Vicenzo Paglia,
informou aos meios de comunicação as conclusões do estudo: "Romero não era um bispo
revolucionário, mas um homem da Igreja, do Evangelho e dos pobres". O processo seguirá
novos trâmites burocráticos, que poderão elevar oficialmente Oscar Arnulfo Romero à honra
dos altares como o primeiro santo e mártir de El Salvador.
Enquanto o processo de canonização segue em passos de tartaruga em Roma, para a
indignação de muitos cristãos, o povo salvadorenho, da América Central e de todo Mundo já
considera Romero um santo, mártir e profeta das Américas e do Mundo.
Ao seu túmulo, sob a catedral de San Salvador, acorre diariamente muita gente peregrina
agradecendo a ele graças recebidas e buscando forças e inspiração para seguir sendo
discípulo dele na luta por justiça e paz. Hoje existem, em vários pontos da América Latina,
casas de formação religiosa que homenageiam o prelado salvadorenho, como, por exemplo, o
Seminário Maior Dom Oscar Romero, de Balsas, no Maranhão.
Ao visitar o túmulo de Dom Oscar Romero, dia 16 de abril de 2009, fui tomado por uma
emoção muito grande. De repente, chegou um senhor, aparentando uns 60 anos de idade, que
de joelhos, rezava sem parar.
7
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Após uns 15 minutos de oração, quando ele se levantou, eu me aproximei dele e o
cumprimentei dizendo que era brasileiro, discípulo de Romero. Perguntei, após saudá-lo, "o
que significa Dom Oscar Romero para o senhor?"
Luiz Alonso começou a dizer: "Monsenhor Romero é um santo, um mártir, um profeta, já
reconhecido por todo o povo salvadorenho e pelo mundo todo. Somente o Vaticano ainda não
o reconheceu como santo. Venho diariamente ao túmulo de Monsenhor Romero rezar,
agradecer e renovar inspiração para seguir a luta que ele enfrentou na defesa dos pobres
perseguidos pela elite deste país.
Monsenhor era um verdadeiro pastor. Em uma perna, dava acolhida a uma pessoa que estava
chorando porque a Guarda Nacional tinha matado seu filho, na outra perna acolhia outra
pessoa que desesperada procurava um parente desaparecido. Em suas homilias, Monsenhor
era a voz dos sem voz. Ele teve a coragem de enfrentar o sistema de morte que imperava aqui
no país.
Com Romero, podemos dizer: Agora, podemos! Ele está vivo, ressuscitado no povo
salvadorenho!".
Texto de Frei Gilvander, carmelita, mestre em Exegese Bíblica, professor de Teologia Bíblica; assessor de CEBs, CPT, CEBI, SAB e Via
Campesina; e-mail: [email protected]
Discursos e Homilias de Dom Oscar Romero
Os discursos e homilias de Romero, como peças de apostolado e profecia estão gravados na
memória da Igreja e no coração do povo salvadorenho e latino-americano.
A leitura desses textos serve de mote para pregações, admoestações e inspiração para todos
que busquem a edificação espiritual.
"Irmãos, como gostaria de gravar no coração de cada um esta grande idéia: o cristianismo não
é um conjunto de verdades que se deve crer, de leis que temos que cumprir, de proibições! Isto
se torna repugnante! O cristianismo é uma pessoa, que me ama tanto, e que reclama meu
amor. O cristianismo é Cristo" (06/11/1977).
Suas pregações não eram coisas sofisticadas, cheias de palavras difíceis e intrincadas
construções teológicas.
Ele falava a linguagem simples do povo.
"Que beleza será o dia em que cada batizado compreenda que sua profissão, seu trabalho é
um trabalho sacerdotal; que assim como eu vou celebrar a missa neste altar, cada carpinteiro
celebre sua missa no banco da carpintaria, cada encarregada da colheita de folhas, cada
profissional, como médico com seu bisturi, a senhora que atende no mercado, estão exercendo
um ofício sacerdotal. Quantos motoristas sei que escutam em seus táxis, diariamente a
Palavra. Pois você, caro taxista, junto a seu volante, é um sacerdote se trabalhar com
honradez, consagrando a Deus seu carro, levando uma mensagem de paz e de amor aos
clientes que vão no seu carro" (20/11/1977)
A incoerência de muitos, ontem como hoje, lá como aqui, era denunciada de modo
contundente, numa crítica entre a disparidade do falar e do agir.
"Uma religião de missa dominical, mas de semana injusta, não agrada ao Senhor. Uma religião
de muitas rezas e tantas hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala só para
estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, mas que se esquece do clamor das
injustiças, não é verdadeiramente a Igreja do nosso divino Redentor" (04/12/1977).
8
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
As elites e as oligarquias sociopolíticas, sem a devida sensibilidade de aderir ao sofrimento dos
pobres, dos famintos e dos injustiçados, nunca titubeou em denegrir a atividade dos apóstolos,
nem nunca deixou de desmerecer a conduta dos profetas.
"Quando se dá pão ao faminto, nos chamam de santo; se perguntamos as causas porque o
povo tem fome, nos chamam de comunistas ateus" (15/11/1978).
"Quando nos chamarem de loucos, ainda que nos chamem de subversivos, comunistas e todas
as ofensas que assacam contra nós, sabemos que não fazem mais do que pregar o
testemunho ‘subversivo’ das bem-aventuranças, que anima a todos para proclamar que os
bem-aventurados são os pobres, bem-aventurados os sedentos de justiça, bem-aventurados
os que sofrem" (11/05/1978).
Os ricos e poderosos, nunca digeriram a assimetria de seu estado de abastança que
estabeleciam um confronto com a penúria dos pobres, famintos e marginalizados. Para eles
seria interessante que o pobre continuasse pobre, calado e sem alguém que intercedesse por
ele. As elites sociais, religiosas e oficiais sempre quiseram nos fazer crer que a pobreza é
vontade de Deus.
"Muitos desejariam que o pobre sempre dissesse que é pobre porque ‘é vontade de Deus’ ser
pobre. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Uma idéia
assim não pode ser de Deus. De Deus é a vontade que todos seus filhos sejam felizes"
(10/09/1978).
"Muitos se dizem cristãos, mas tem mais fé em seu dinheiro e em suas coisas que em Deus,
que construiu as coisas e o dinheiro" (03/06/1979).
Sentindo a opressão sobre aquele segmento da Igreja que profetizava as denúncias contra as
injustiças, Romero deu alento aos seguidores de Jesus.
"Uma Igreja que não sofre perseguições, e que está desfrutando os privilégios e o apoio da
burguesia, não é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo" (11/03/1979).
Assim como Moisés criticou as obras suntuosas dos faraós, Romero condenou a construção de
prédios, públicos e privados, que não serviam à causa de todos.
"De que servem belas estradas e aeroportos, belos prédios de muitos pisos, se estão
construídos sobre o sangue dos pobres que jamais vão desfrutar deles" (15/07/1979).
Romero nunca foi contra a riqueza.
Combateu, isto sim, a acumulação desenfreada, a ambição e aquilo que João Paulo II
denunciara a partir do encontro de Puebla (1979): a existência de ricos cada vez mais ricos à
custa de pobres cada vez mais pobres.
Aos que acusaram - como sempre sucede aos profetas - de "comunista" temos o veredicto de
Ratzinger (hoje Bento XVI) que leu todos os seus discursos, homilias e demais escritos,
tachando-os de "puro cristianismo" com absoluta fidelidade ao evangelho de Jesus.
"Não é um privilégio para a Igreja estar de bem com os poderosos. O privilégio da Igreja é este:
sentir que os pobres a sentem como sua, sentir que a Igreja vive uma dimensão na terra,
chamando a todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir da ótica dos pobres,
porque eles são unicamente bem-aventurados (17/02/80).
"Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza que consolida em muitos o valor do ‘ter’
e faz esquecer que a verdadeira grandeza é ‘ser’. Nada vale ao homem pelo que tem, mas pelo
que ele é" (04/11/1979).
9
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Apesar do caos que imperava na sociedade salvadorenha, o epíscopo-profeta tinha
esperanças numa restauração social, política e religiosa, à luz do evangelho.
"Que formoso será o dia em que uma sociedade nova, em vez de armazenar e guardar de
forma egoísta, partilhe, reparta e se doe, alegrando a todos, porque todos nos sentimos filhos
do mesmo Deus. Que outra coisa deseja a Palavra de Deus neste ambiente salvadorenho,
senão a conversão de todos para que nos sintamos irmãos" (27/01/1980).
A esperança era a tônica do seu discurso. Sobre a terra, o Reino já está misteriosamente
presente; quando o Senhor vier, atingirá a perfeição (GS 39).
"Esta é a esperança que nos alenta, todos os cristãos. Sabemos que todo o esforço por
melhorar uma sociedade, sobretudo quando está tão imersa na injustiça e no pecado, é um
esforço que Deus quer, abençoa e exige de nós" (24/04/1980)
Quando sentiu que sua atuação o colocava em rota de colisão com os poderosos
(empresários, latifundiários, banqueiros, militares) ele sentiu que seu fim estava próximo, e
sempre demonstrou que, por causa de sua fé, não temia a morte.
"Tenho sido freqüentemente ameaçado de morte. Devo dizer a eles que, como cristão, não
creio na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho".
"Digo isso sem nenhuma ostentação, mas com grande humildade. Como pastor, sou obrigado,
por mandado divino, a dar a vida por aqueles a quem amo, que são todos os salvadorenhos,
inclusive aqueles que vão me assassinar. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde agora
ofereço a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição de El Salvador".
"O martírio é uma graça de Deus, que não creio merecer, porém, se Deus aceitar o sacrifício
de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se
transformará logo em realidade".
Oscar Romero, como foi dito, não temia a morte.
Ele conhecia, pela meditação da Palavra, que este era o destino do profeta. Quanto mais
criticava a injustiça, mais era ameaçado pelos injustos.
Ele apenas lamentava a falta de apoio por parte de alguns irmãos do episcopado, que
chegaram a escrever para Roma, denunciando-o como "marxista".
Ele sabia que sua morte serviria para a libertação do povo.
"Minha morte, se aceita por Deus, que seja para a libertação do meu povo e sirva como
testemunho de esperança no futuro".
Vocês podem escrever: "se chegarem a me matar, desde já eu perdôo e abençôo aquele que o
fizer. Desta maneira se convencerão que perdem seu tempo. Um bispo morrerá, mas a Igreja
de Deus, que é o povo, nunca perecerá" (entrevista concedida ao Diário Excelsior do México,
em março de 1980, duas semanas antes de sua morte).
Como de resto em toda a América Latina de ontem e de hoje, o Judiciário era falho, moroso,
comprometido e pouco transparente.
Ele acusou a Justiça de seu país de ser parcial:
"A justiça é como as serpentes: apenas morde os descalços."
10
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Dou abaixo um fragmento da última homilia de Dom Romero, proferida na véspera de seu
assassinato.
"Frente à ordem de matar seus irmãos deve prevalecer a Lei de Deus, que afirma: Não
matarás! Ninguém deve obedecer a uma lei imoral (...). Em favor deste povo sofrido, cujos
gritos sobem ao céu de maneira sempre mais numerosa, suplico-lhes, peço-lhes, ordeno-lhes
em nome de Deus: cesse a repressão!" (23 de março de 1980).
Estas seriam as últimas palavras do bispo ao país.
Foi sua última homilia, carregada de tons proféticos, rico do mais puro conteúdo evangélico.
No dia seguinte, ele é assassinado por um franco-atirador (há quem diga que era um agente
da CIA), enquanto celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência. O
arcebispo é atingido pelo tiro no momento em que erguia o cálice com o vinho consagrado.
Ao cair, o sangue de Cristo se mistura com o sangue do mártir, numa comunhão perfeita,
prenúncio da comunhão definitiva. O suposto mandante do crime, major Roberto D’Aubuisson,
é reconhecido como responsável, mas, como acontece em muitos lugares, ele nunca foi
punido.
Palavras de Dom Samuel Ruiz Garcia
A seguir, as palavras de Dom Samuel Ruiz Garcia, bispo emérito de San Cristóbal de Las
Casas, Chiapas, México sobre o colega assassinado.
"Dom Romero foi um bispo exemplar, porque foi um bispo dos pobres em um continente que
carrega tão cruelmente a marca da pobreza das grandes maiorias, enxertou-se entre eles,
defendeu sua causa e sofreu a mesma sorte deles: a perseguição e o martírio. Dom Romero é
o símbolo de toda uma Igreja e de um continente latino-americano, verdadeiro servo sofredor
de Yahwé, que carrega o pecado, a injustiça e a morte de nosso continente. Embora, às vezes,
o pressentíamos, seu assassinato não nos surpreendeu; seu destino não podia ser outro, pois
ele foi fiel a Jesus e se inseriu de verdade na dor de nossos povos".
Vida de Oscar Arnulfo Romero y Guadamez
Oscar Arnulfo Romero y Guadamez nasceu em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, em
El Salvador. Sua família era numerosa e pobre. Quando criança, sua saúde inspirava cuidados.
Com apenas 13 anos entrou no seminário.
Foi para Roma completar o curso de teologia com 20 anos e se ordenou sacerdote, em 1943.
Retornou a El Salvador, na função de pároco. Era um sacerdote generoso e atuante: visitava
os doentes, lecionava religião nas escolas, foi capelão do presídio; os pobres carentes faziam
fila na porta de sua casa paroquial, pedindo e recebendo ajuda. Durante 26 anos, na função de
vigário, padre Oscar Romero conheceu a miséria profunda que assolava seu pequeno país.
A maioria dos países sulamericanos, inclusive o Brasil, vivia duras experiências de cruentas
ditaduras militares, na década de 1970.
Também para El Salvador era um período de grandes conflitos. Em 1977, padre Oscar Romero
foi nomeado Arcebispo de El Salvador, chegando à capital com fama de conservador. No fundo
era um homem do povo, simples, de profunda sensibilidade para com os sofrimentos da
maioria, de firme perspicácia aliada à coragem de decisão.
11
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Em 1979, o presidente do país foi deposto por um golpe militar. A ditadura se instalou no país
e, pouco a pouco, se acirrou a violência, através de perseguições, prisões, torturas e mortes.
Reinou o caos político, econômico e institucional no país.
De janeiro a março de 1980 foram assassinados 1015 salvadorenhos. Os responsáveis
pertenciam às forças de segurança e às organizações conservadoras do regime militar
instalado no país. Nessa ocasião, dois sacerdotes foram assassinados violentamente por
defenderem os camponeses, que foram pedir abrigo em suas paróquias. Dom Romero teve
que se posicionar e, de pronto, se colocou no meio do conflito. Não para aumentá-lo, mas para
ajudar a resolvê-lo.
Esta atitude revelou o quando sua espiritualidade foi realista e o seu coração, sereno e
obediente ao Evangelho.
No dia 24 de março de 1980, Dom Romero foi fuzilado, em meio aos doentes de câncer e
enfermeiros, enquanto celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência, na
capital de El Salvador. Sua ação pastoral visava ao entendimento mútuo entre os
salvadorenhos.
Criticava duramente tanto a inércia do governo, as interferências estrangeiras, como as
injustiças praticadas pelas oligarquias da elite e dos grupos "revolucionários". O Arcebispo
Romero foi fiel a Igreja, e pagou com a vida o preço de ser discípulo de Cristo. O seu nome foi
incluído na relação dos 1015 salvadorenhos que foram assassinados, em 1980.
Sua morte serviu para alertar o país e o mundo sobre as questões de El Salvador. Se não ficou
tudo "às mil maravilhas", muita coisa foi corrigida e encaminhada para uma harmonização.
SÃO ROMERO DE AMÉRICA PASTOR E MÁRTIR
O anjo do Senhor anunciou na véspera...
O coração de El Salvador marcava
24 de março e de agonia
Tu ofertavas o Pão,
o Corpo Vivo o triturado Corpo de teu Povo:
Seu derramado Sangue vitorioso
O sangue "campesino" de teu Povo em massacre
que há de tingir em vinhos e alegria a Aurora conjurada!
E soubeste beber o duplo cálice do Altar e do Povo,
com uma só mão consagrada ao Serviço.
O anjo do Senhor anunciou na véspera
e o verbo se fez morte, outra vez, em tua morte.
Como se faz morte, cada dia, na carne desnuda de teu Povo.
E se fez vida Nova
12
Romero
30
Anos
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Em nossa velha Igreja!
Estamos outra vez em pé de Testemunho,
São Romero de América, pastor e mártir nosso!
Romero de uma Paz quase impossível,
nesta Terra em guerra.
Romero em roxa flor morada da Esperança
incólume de todo Continente Romero
desta Páscoa latino-americana.
Pobre pastor glorioso,
assassinado a soldo, a dólar, a divisa.
Como Jesus, por ordem de Império.
Pobre pastor glorioso,
abandonado por teus próprios irmãos de Báculo e de Mesa.
(As Cúrias não podiam entender-te: Nenhuma Sinagoga bem montada pode entender a Cristo)
(Poema "São Romero de América" de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia).
A vida de Dom Oscar Romero pode ser vista no vídeo "Romero", (só existe em VHS),
distribuído pela Warner.
Não deixem de ver o filme para conhecer a história desse mártir da América Latina.
É um tema rico para reflexão, meditação e despertar um sentido missionário em todos, a partir
da juventude.
Antonio Mesquita Galvão é Doutor em Teologia Moral
Dom Oscar Romero
Mártir da Igreja e ícone da luta por justiça
(Publicado no Jornal de Opinião, n. 1084 – 22 a 28 de Março/2010 - Páginas 8 e 9.)
Os 30 anos do assassinato do bispo de San Salvador são lembrados como sinais de
esperança na América Latina e no mundo
Mônica Bussinger
13
CEBs Acontecendo
Um atirador de elite do Exército salvadorenho invade a capela do Hospital da Divina
Providência (o Hospitalito, instituição que ainda cuida de pacientes com câncer) e com um tiro
certeiro interrompe a celebração da Eucaristia. Dom Oscar Arnulfo Romero, bispo de San
Salvador, tomba executado pelas forças de Direita que ainda dominavam o país, como ocorria
em toda a América Latina. Era 24 de março de 1980, tempo de quaresma.
O mundo se volta para El Salvador e o sangue do sacerdote suscita sentimentos de
indignação e revolta à opressão vivida pelo povo salvadorenho. Tem início a guerra civil que
duraria até 1992. O bispo que repetiu o gesto de Cristo, morrendo pelo seu povo e pela
coerência com o Evangelho, ao contrário do que planejaram seus opositores, não deixa o
embate político em prol da população (especialmente dos camponeses). O momento histórico
testemunha a profecia do próprio dom Oscar Romero ao afirmar: “Se me matam, ressuscitarei
na luta do povo salvadorenho”. O bispo de San Salvador torna-se então mártir da Igreja e ícone
da luta pela justiça em seu país e em toda aquela região.
Os 30 anos do assassinato de dom Oscar Romero, comemorados em 24 de março de
2010, denunciam ainda a impunidade que campeia na história da América Latina. O mandante
do crime, o major Roberto D’Aubuisson, fundador do partido Aliança Republicana Nacionalista
(ARENA, de direita), que governou o país entre 1989 e 2009, morre em 1992, sem sequer
responder a processo.
Dos acordos de paz à vitória da esquerda
A Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) fundada em 1980 como
grupo guerrilheiro, passou a reunir as facções de esquerda: Forças Populares de Liberatação
Farabundo Martí (FPL), Exército Revolucionário do Povo (ERP), Resistência Nacional (RN),
Partido Comunista Salvadorenho (PCS) e Partido Revolucionário dos Trabalhadores
Centroamericanos (PRTC). O nome escolhido para a coalizão homenageia o líder comunista
Farabundo Martí, fundador e dirigente do PCS em 1930.
A antiga guerrilha converteu-se em partido político após os acordos de paz de
Chapultepec (México), que colocaram ponto final nos doze anos de uma terrível guerra civil. No
período, setenta e cinco mil pessoas foram mortas. Dados da Comissão de Verdade criada
pelas Nações Unidas, apontam que 85 por cento dos assassinatos foram cometidos pelo
Exército e esquadrões da morte, apoiados financeiramente pelos Estados Unidos e cinco por
cento pela guerrilha.
Dezessete anos depois de ter deposto as armas, a FMLN elegeu, em 15 de março de
2009, o jornalista Mauricio Funes como presidente de El salvador. De tendência socialdemocrata, ele não participou da luta armada. Em contrapartida, o vice-presidente, Salvador
Sánchez Cerén, esteve no comando da guerrilha.
A vitória da Frente varreu do poder a Aliança Republicana Nacionalista (Arena), partido
de extrema-direita fundado por Roberto d’Aubuisson (mandante do assassinato de dom Oscar
Romero). As outras duas formações conservadoras derrotadas que haviam se aliado à ARENA
eram o Partido de Conciliação Nacional (PCN), representante dos governos militares (19611976), e o Partido Democrata Cristão (no poder entre 1984 e 1989).
A aliança de partidos conservadores conduziu uma “campanha de medo”, com apoio
dos veículos de comunicação que se utilizavam da linguagem arcaica da Guerra Fria. A
estratégia, entretanto, não convenceu a população. Nas urnas, o povo consagrou a FMLN
como principal força política do país, mesmo sem ser maioria da Assembleia Nacional, ao
eleger um presidente de centro-esquerda.
A guinada no quadro político, conforme avaliam especialistas, foi alavancada pela
precária situação social. Só para se ter uma ideia da realidade local, dos 5,7 milhões de
habitantes mais de 2,5 milhões de cidadãos se viram obrigados a emigrar, em busca de
melhor sorte nos Estados Unidos. Quase metade da população vive abaixo da linha de pobreza
e 20 por cento na extrema miséria. O quadro se completa com o desemprego em massa e com
a maior taxa de homicídios do continente: 68 assassinatos por cem mil habitantes.
14
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
União nacional por um país melhor
O atual arcebispo de San Salvador, dom José Luis Escobar Alas, fez um convite à
população para que se una ao governo na luta contra a violência e, assim, impeça que o
Estado desapareça. Durante entrevista coletiva, dom Escobar afirmou que atualmente o país
ainda vive situação de violência inconcebível. Ele condenou os dois recentes massacres no
país, nos quais doze pessoas morreram e tiveram os corpos mutilados. “Não vamos perder a
fé, não vamos perder a esperança”. El Salvador encerrou 2009 com 4.365 homicídios, com
média de 12 mortes violentas por dia. Os números se aproximam dos apurados após a guerra
civil, em 1992. Este ano, as estatísticas policiais, apontam aumento no número de mortes
violentas, com a média de 13 ao dia.
A TRAJETÓRIA DE DOM OSCAR ROMERO
• 1917 – Nasce Oscar Arnulfo Romero em uma família modesta em Ciudad Barrios (El
Salvador).
• 1931– Aos 14 anos o menino Oscar ingressa no seminário, mas seis anos depois se afasta
para ajudar a família que estava com dificuldades. Passa a trabalhar nas minas de ouro com os
irmãos. Retoma os estudos e é enviado a Roma para estudar teologia.
• 1942 – Ordenado sacerdote, volta a El Salvador e assume uma paróquia do interior. Logo é
transferido para a catedral de San Miguel, onde fica por 20 anos. Sacerdote dedicado à oração
e à atividade pastoral, pobre, dedica-se a obras de caridade, mas sem engajamento
reconhecidamente social.
• 1966 – Dom Oscar assume como secretário da Conferência Episcopal de El Salvador.
• 1970 – É nomeado bispo auxiliar de San Salvador. O bispo dom Luis Chávez y Gonzalez
busca atualizar a linha pastoral de acordo com o Concílio Vaticano II e a Conferência de
Medellín. Romero não se identifica integralmente com a linha pastoral proposta, revelando-se
conservador.
• 1974 – É nomeado bispo da diocese de Santiago de Maria, em meio a um contexto político de
forte repressão, sobretudo contra as organizações camponesas.
• 1975 – A Guarda Nacional executa cinco camponeses e dom Romero celebra missa em
intenção das vítimas. Ele não faz denuncia explícita do crime, mas escreve uma carta severa
ao presidente Molina.
• 1977 – A nomeação de dom Oscar Romero como bispo de El Salvador desagrada os setores
renovadores. Mas em 12 de março é assassinado o jesuíta padre Rutílio Grande, engajado na
luta do povo e ligado a dom Oscar. Este é o momento em que ele reavalia sua posição e se
coloca corajosamente junto aos oprimidos, denunciando a repressão, a violência do Estado e a
exploração imposta ao povo pela aliança entre os setores político-militares e econômicos,
apoiada pelos Estados Unidos. O bispo denuncia também a violência da guerrilha
revolucionária. Suas homilias são transmitidas pela rádio católica dando esperança à
população e provocando a fúria dos governantes.
• 1978 – É homenageado com o título de doutor honoris causa das Universidades de
Georgetown (EUA) e de Louvain (Bélgica).
• 1979 - Em outubro, um golpe de Estado depõe o ditador Humberto Romero. Uma junta de
civis e militares assume o poder, e nesse cenário, exército e organizações paramilitares
assassinam centenas de civis (entre eles sacerdotes). A guerrilha retalia com execuções
sumárias.
• 1980 – Em 17 de fevereiro, dom Romero escreve ao presidente dos EUA, Jimmy Carter. O
bispo faz um apelo para que ele não envie ajuda militar e econômica ao governo salvadorenho,
para não financiar a repressão ao povo.
• 1980 - Na homilia de 23 de março, o bispo se dirige explicitamente aos homens do Exército,
da Guarda Nacional e da Polícia e afirma: “Frente à ordem de matar seus irmãos deve
prevalecer a Lei de Deus, que afirma: NÃO MATARÁS! Ninguém deve obedecer a uma lei
imoral (...). Em favor deste povo sofrido, cujos gritos sobem ao céu de maneira sempre mais
numerosa, suplico-lhes, peço-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus: cessem a repressão!” Estas
foram as últimas palavras do bispo ao país.
• 1980 – Em 24 de março, dom Oscar Romero é assassinado por um franco-atirador, enquanto
reza a missa na capela do Hospital da Divina Providência.
15
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
• 1994 – Abre-se o processo de canonização de dom Romero em San Salvador.
• 1997 – O processo passa para a Congregação das Causas dos Santos em Roma.
• 2010 – Em 24 de fevereiro, 30 anos da morte de dom Oscar Romero, Organizações sociais e
religiosas apresentaram ao Parlamento salvadorenho petição para instituir 24 de março como
“Dia Nacional de dom Oscar Arnulfo Romero”.
Espiritualidade aliada ao compromisso político
O olhar do teólogo
João Batista Libânio, professor na Faculdade jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE)
Marco simbólico do continente latino-americano. Responde bem à pedagogia de Deus.
Não escolhe os grandes deste mundo, mas os pequenos para confundir os fortes. Assim, lá
vivia em El Salvador um bispo conservador que assumiu o pastoreio sob o olhar complacente e
feliz da burguesia. Homem piedoso e honesto, sim, mas preso nas malhas da tradição, tecida
por uma oligarquia impiedosa de longa data. Diante do corpo ensanguentado de Rutílio
Grande, sacerdote jesuíta (1977), promotor da libertação dos oprimidos, dom Romero modifica
radicalmente sua postura em face do Governo e urge a investigação do crime. Como este fora
perpetrado por forças do próprio Governo, tal insistência só produzia ódio contra ele. Daí para
frente o arcebispo enceta uma caminhada ao lado do povo sofrido até ser assassinado pelas
forças repressivas do Estado em 1980.
Além do testemunho maravilhoso de vida, de coragem e de entrega, dom Romero
deixou-nos magnífica coleção de homilias. Ele criou gênero próprio de pregações. Serviam
simultaneamente de informação de fatos acontecidos no país, que a rigorosa censura
escondia, e de alimento para a fé do povo simples no meio da terrível repressão e pobreza.
Transparece nelas, de modo original e corajoso, uma espiritualidade aliada a sério
compromisso político. O bispo de formação religiosa tradicional, sem perdê-la no que tem de
piedade popular, assumiu uma linguagem de ponta na linha da libertação. Esta não nasceu de
nenhuma crítica a partir da racionalidade moderna, mas da provocação que lhe veio da
realidade sofrida de seu povo.
Ele se sentia verdadeiro mediador entre a Palavra de Deus lida na celebração e a
comunidade eclesial da qual era pastor. Articulava maravilhosamente as interpelações
nascidas da Escritura com a vida das pessoas. Esta lhe oferecia o olhar crítico para compor as
homilias. Algo admirável por provir precisamente da mais alta autoridade eclesiástica do país,
onde uma Igreja durante séculos compactuara com as classes dominantes. Agora se produzia
a ruptura no espírito do Evangelho de Jesus. Bispo, ele se entendia no espírito do Concílio
Vaticano como servidor do povo de Deus.
Mostrou enorme coerência entre a autenticidade de vida e as palavras até o extremo
do martírio. Renunciara habitar luxuosa residência oferecida pela burguesia salvadorenha para
ocupar modesto quarto do hospital dos cancerosos de San Salvador. Fazia ecoar,
praticamente, a única voz de verdade e profecia naquele momento de censura rigorosa por
parte do Governo, mesmo quando ele se dera conta das ameaças de morte. Proclamava-se a
“voz dos sem voz” e não temeu cumprir tal missão. E por isso foi assassinado. Sofreu no
interior da Igreja discriminação e incompreensão. Tal solidão o acompanhou até a morte em
testemunho muito próximo ao de Jesus.
16
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Uma voz que grita, seu sangue é nossa bebida.
“São Romero da América, Pastor e Mártir”
“Se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho”
Vou arriscar-me a escrever algumas linhas sobre o nosso São Romero da América,
não sei se conseguirei, pois se trata de uma singular grandeza a vida desse bispo, profeta e
mártir de nosso povo, de nossa alma.
Estamos celebrando nesse mês o Jubileu de seu martírio. Dias antes de ser
assassinado enquanto erguia o cálice com o sangue do Mártir Maior, Jesus Cristo, d. Romero
sentenciava: “O martírio é uma graça de Deus que não creio merecer, porém, se Deus aceita o
sacrifício de minha vida, que meu sangue, então, seja semente de liberdade e sinal de que a
esperança será logo uma realidade”.
Desde as comunidades primitivas, o sangue dos mártires são sementes de liberdade
que atualizam a paixão de Cristo. Os mártires trazem a palma da vitória na mão e nos
oferecem o sangue no cálice de que todos nós devemos beber.
Lembrar de nossos mártires é lembrar o perfume que emana de sua profecia. O Reino
está entre nós. Ser mártir por causa do Reino é uma graça que poucos mereceram. A memória
do martírio é uma memória subversiva já nos lembra o bispo de São Felix do Araguaia.
Apesar das contradições de nossa história, d. Romero segue ressuscitando a vida de
seu povo - de nosso povo - Latino Americano. No início de seu ministério episcopal, d. Romero
assume uma linha conservadora de pastoral. Após sua nomeação de Arcebispo de El Salvador
nosso mártir inicia seu processo de “conversão”. Passa categoricamente a defender os pobres,
num diálogo ecumênico e universal.
“Tudo é graça, tudo é Páscoa”. Jubileu é tempo de renovação, de buscarmos o espírito
crítico, criativo e cuidador como nos aponta Leonardo Boff. Jubileu é momento impar de
renovação. Precisamos acender a lâmpada de nossa esperança.
Em nosso país estamos vivendo a Campanha da Fraternidade, que nesse ano é
Ecumênica. Lembramo-nos a palavra ardente de Jesus: “vocês não podem servir a Deus e ao
Dinheiro”. São Romero nos aponta a uma santidade tão mística quanto política. Precisamos
vencer essa “gangue monstruosa que é o capitalismo neoliberal”, e servirmos a Deus no
próximo. Só assim, então, poderemos construir o “outro mundo possível”, onde a economia
está a serviço da vida.
Num dado momento de sua entrega d. Romero não fora compreendido pelos seus
irmãos de “báculo e de mesa”. Será que alguma sinagoga bem montada e estruturada pode
17
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
compreender o Cristo? Não sei. O que sei é que d. Romero se manteve fiel no seguimento de
Jesus, Reino adentro. Seu sangue é semente de vida a brotar em nossa vida de paixão e
morte. Morte e Ressurreição no Reino futuro.
Quero terminar essa memória, lembrando uma poesia feita pelo nosso querido irmão d.
Pedro Casaldáliga que com o irmão Parkinson louva e agradece a Deus pela vida de São
Oscar da America Latina:
“Estamos outra vez em pé de testemunho,
São Romero de América, pastor e mártir nosso!
Romero de uma paz quase impossível nesta terra em guerra.
Romero em flor morada da esperança incólume de todo o Continente.
Romero da Páscoa latino-americana.
Pobre pastor glorioso, assassinado a soldo, a dólar, a divisa
O Povo te fez santo.
A hora do teu Povo te consagrou no kairós.
Os pobres te ensinaram a ler o Evangelho.
São Romero de América, pastor e mártir nosso:
ninguém há de calar tua última homilia”! Amém.
XVIII JORNADA De Oração e Jejum em memória dos missionários mártires
Na "semente lançada por Dom Romero, como por muitos outros mártires cristãos da
antiguidade e de hoje, a comunidade cristã reencontra o sentido profundo da vida segundo o
Evangelho e a coragem de uma memória ativa, capaz de continuar o caminho com uma
perspectiva melhor".
O Grupo Juvenil Missionário das Pontifícias Obras Missionárias da Itália recorda no próximo dia
24, o 30° aniversário do assassinato de Dom Oscar Arnulfo Romero. Os jovens recordam a
cada ano nessa data, todos os missionários assassinados no mundo com um Dia de Oração e
Jejum em memória dos missionários mártires.
A iniciativa chegou à sua 18ª edição e se realiza em várias dioceses do mundo e muitos
institutos religiosos recordam, através de várias iniciativas, seus missionários que derramaram
seu sangue por causa do Evangelho.
As comunidades paroquiais e de vida consagrada, seminários, noviciados, grupos engajados,
são propostos a realização da Vigília de Oração, a Via Sacra, a Adoração Eucarística sobre o
tema do dia.
18
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Entre outras indicações sugere-se a criação nas igrejas de um ângulo do martírio utilizando
uma cruz, pano vermelho, um ramo de oliveira com os nomes dos missionários e missionárias
mortos; tocar os sinos às 15h do dia 24 de março para convidar à meditação sobre o sacrifício
de Cristo de tantas mulheres e homens de boa vontade; plantar uma árvore para lembrar o
amor daqueles que deram tudo por amor.
As famílias podem acender uma vela vermelha nas janelas junto com um pano vermelho; fazer
um gesto de reconciliação entre os membros da família e os vizinhos. Oferecer a oferta do
jejum para ajudar nos projetos de solidariedade proposto este ano. Doentes e sofredores
19
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
podem oferecer seu sofrimento em memória dos missionários e missionárias mortos por causa
do Evangelho.
Os jovens são convidados a doar sangue e visitar os que estão sozinhos e oprimidos, no
hospital, clínicas e cárceres...
http://www.fides.org/aree/news/newsdet.php?idnews=17106&lan=por Ano 2009 37
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=76955
Missionarios assassinados no mundo, destes seis foram no Brasil:






Pe. Ramiro Ludeña, espanhol, assassinado a 20 de Março no Recife,
Pe. Gisley Azevedo Gomes, encontrado sem vida a 16 de Junho, Brasília.
Pe. Ruggero Ruvoletto, italiano, assassinado a 19 de Setembro em Manaus,
Pe. Evaldo Martiol, assassinado em Santa Catarina, a 26 de Setembro.
Pe. Hidalberto Henrique Guimarães, assassinado a 7 de Novembro em Maceió,
Pe. Alvino Broering, assassinado a 14 de Dezembro em Santa Catarina, Brasil.
http://www.mgm.operemissionarie.it/vis_news.php?id_art=687
Padre Ruggero, + 19/09/09
Todo o meu ser vos pertence por minha vontade, de todo o meu coração, fazei de mim o que
quiserdes...”
Carlos de Foucault
20
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Missa lembra o 30º ano da morte de dom Oscar Romero
Hoje, 24, o secretário geral da
Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), dom Dimas Lara Barbosa,
a convite da embaixadora de El Salvador
no Brasil, senhora Rina del Socorro
Rojas, celebrará uma missa solene, às
19:30h, na capela Nossa Senhora
Aparecida, sede da CNBB, em respeito
ao 30º aniversário de morte de dom
Oscar Arnulfo Romero.
O arcebispo de San Salvador foi
assassinado em 24 de março de 1980,
em plena guerra civil que vivia este país
centro-americano.
Quem foi dom Romero?
Nascido em 15 de agosto de 1917, na
Ciudad Barrios, distrito de San Miguel,
em El Salvador, Oscar Arnulfo Romero
Galdámez, mais conhecido como dom
Romero, foi o quarto arcebispo
metropolitano de San Salvador, entre os anos de 1977 e 1980.
Em Roma, ele estudou na Pontifícia Universidade Gregoriana. Ele foi ordenado sacerdote em 4
de abril de 1942. Em 25 de abril de 1970 foi nomeado bispo auxiliar de San Salvador, e em 15
de outubro de 1974, bispo de Santiago de Maria.
Dom Romero assumiu a arquidiocese de San Salvador em 3 de fevereiro de 1977 e foi
escolhido arcebispo por seu conservadorismo. Durante seu trabalho ele foi contra qualquer tipo
de violência, posição que o fez ser comparado ao líder indiano Mahatma Gandhi e ao
americano Martin Luther King. Em suas homilias dominicais ele passou a denunciar as
violências contra os direitos humanos e chegou a manifestar publicamente solidariedade pelas
vítimas da violência política que assolava o país da época, no contexto da Guerra Civil daquele
país caribenho.
“A missão da Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua Salvação”,
disse, dom Romero, em sua homilia do dia 11 de novembro de 1977. Ele foi assassinado em
24 de março de 1980 por um atirador de elite do exército salvadorenho, treinado nas Escolas
das Américas, enquanto celebrava missa. Quando se espalhou pelo mundo a notícia de seu
assassinato, houve comoção e protestos, além de pressões internacionais por reformas em El
Salvador. O papa João Paulo II o declarou servo de Deus.
Fonte: CNBB
21
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Sementes de Solidariedade
A Comunidade Ecumênica Dom Oscar Romero e o Clube de Mães dos Cotianos na cidade de
Piedade, SP, realizaram mais um Almoço Popular de R$1,00 no dia 21 de março, na sede do
Clube.
O cardápio foi: arroz, feijão ajoelhado, farofa e panqueca.
O Sangue de Dom Oscar frutificou em muitas obras e uma delas é a Comunidade Ecumênica
Dom Oscar Romero, que se coloca a serviço da Vida e da Esperança, fazendo sempre a opção
pelos pobres.
22
Romero
30
Anos
CEBs Acontecendo
Expediente
Responsável: Éder Massakasu Aono – Sorocaba
– SP - [email protected]
Colaboração
Maria Matsutacke – Jacareí – SP
Bernadete Mota – S. José dos Campos – SP
Frei Gilvander Moreira – Belo Horizonte – MG
Cleberson Ferreira – Registro – SP
Leandro Longo – Mogi Guaçú – SP
Acessem o sítio:
www.cebs-sul1.com.br
Sítios Parceiros:
www.cebs-sul1.com.br - www.cebsuai.org - www.mfcpara.org.br
http://juventudeemmissao.blogspot.com/2009/12/cebs-acontecendo.html
www.mfc.org.br.
23
Romero
30
Anos

Documentos relacionados

Celebrando os 35 anos do Martírio de Dom Oscar Romero

Celebrando os 35 anos do Martírio de Dom Oscar Romero Todos: Se me matam, ressuscitarei na luta do meu povo! Voz 3: Quero assegurar a vocês e peço suas orações para ser fiel a esta promessa: que não abandonarei meu povo, mas correrei com ele todos os ...

Leia mais