Duarte Belo Viajantes Casa da Música 360º Lounge PorscheGTS

Transcrição

Duarte Belo Viajantes Casa da Música 360º Lounge PorscheGTS
A França dos
bons vinhos
e bons queijos
em Jura
Rosslyn, um dos
mistérios mais
populares da Escócia
O primeiro guia
de surf e turismo
português
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
NELSON GARRIDO ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 8216 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
DuarteBeloViajantesCasadaMúsica360ºLoungePorscheGTS
Saber apura o sabor.
11 LIVROS 11 vinhos 11 SEMANAS DE DESCONTOS
LIVRO INÉDITO
autoria
Rui Falcão
Sábado, 6 de Outubro, descubra a região vitivinícola
do Dão. Esta região vinícola, apontada como o berço da casta
Touriga Nacional, foi instituída em 1908, porém, a produção
de vinhos nos terrenos acidentados do Dão carrega consigo
um peso secular. Com os seus cerca de 376 hectares,
esta região de clima frio e chuvoso no Inverno e quente
e seco no Verão, é um testemunho de amor pelo vinho e
pela sua produção.
Neste livro, descubra o passado, o presente e as tendências
desta região, as suas principais castas, produtores e rótulos.
Explore as rotas de enoturismo e os melhores restaurantes,
que convidam a uma aventura pela região.
Na FUGAS, não perca os descontos em estadias, experiências
e produtos para a região do Dão.
Domingo, prove o vinho Quinta dos Carvalhais Colheita 2009,
com desconto de 1€ incluído no caderno do Dão.
Os saberes do Vinho. Saber apura o sabor.
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SÁBADO 6 Outubro
Cadernos do vinho: 3º volume
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Inclui cartão de desconto de 1€
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6 DE OUTUBRO
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da respectiva região
DOMINGO 7 Outubro
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Colecção de 11 livros. PVP unitário 4,90€. Preço total da colecção 53,90€. Ao Sábado entre 22 de Setembro e 1 de Dezembro de 2012. Venda de vinhos ao Domingo, entre 23 de Setembro e 2 de Dezembro de 2012. PVP do vinho exclusivos PÚBLICO.
Esta promoção não estará disponível em pontos de venda que pertençam à rede de distribuição alimentar. Seja responsável, beba com moderação. Venda interdita a menores de 16 anos. Edição limitada ao stock existente. A aquisição dos produtos implica a compra do jornal.
Na ponta da língua
Miguel Esteves Cardoso
A melhor compota é a
uvada e, sendo difícil de
encontrar, é impossível
separarmo-nos dela
O
melhor
doce português de todos é uma
compota feita só com fruta. Não
leva um só grama de açúcar.
É verdade que está quase 20
horas ao lume e que tem um
ingrediente secreto (uma fruta
dificíl de encontrar), pelo que não
apetecerá fazer em casa.
É a uvada. Comê-la é voltar à
meninice, ao prazer de enfiar um
dedo desobediente numa tigela
de marmelada recém-cozida e
deixada ao sol a secar e trazer um
pedacinho pegajoso para a boca.
Sabe a antes de Afonso Henriques,
a prazer antigo que o tempo
deveria ter levado mas, por sorte,
deixou.
A uvada que conheço é feita
pelos Doces d’Arada, na
Quinta Margem d’Arada, em
Olhalvo, perto de Alenquer.
Têm um bom site mas não
consegui falar com eles
através dos números que
lá constam.
Quem me aconselhou
a uvada foi o gastrónomo
José Rocha Lopes, dono
da Garrafeira São Pedro em
Torres Vedras (tel: 261 322
916) que conhece a senhora
inspiradíssima que faz a uvada.
É na garrafeira dele que se vende
cada tigela a 5,40 euros. Não há
maneira mais mágica de gastar
uma nota de cinco euros e duas
moedas de vinte cêntimos,
garanto-vos.
A novidade da uvada é a
antiguidade dela. É feita
apenas com mosto de
uvas. Ferve-se em fogo
lento durante horas e horas
até perder a água. Fica
então o “arrobe” ao qual se
acrescenta o tal ingrediente
secreto. Há quem faça com
maçã bravo de esmolfe mas não
é esse o ingrediente secreto da
Dona Celeste, esclareço já.
Só ela é que sabe fazer esta
uvada e é escusado tentar fazê-la
em casa. No site, espreite a cozinha
moderníssima onde é feita e ficará
logo desanimado. Felizmente, não
se trata de uma senhora idosa a
trabalhar numa pequena casa no
coração de Trás-os-Montes que só
faz uma vez por ano, por altura das
vindimas, para os amigos.
Na uvada da Dona Celeste existe
uma magnífica aliança de uma
receita antiquíssima, eximiamente
executada sem qualquer
concessão, com uma pequena
unidade de produção apoiada por
uma conhecida companhia de
vinhos.
Mosto, peros, lenha, tempo,
sabedoria e paciência: são estes
os únicos ingredientes. Nenhum
dele foi inventado nos dois últimos
milénios. Se leva muito tempo
a fazer, também dura muito
tempo. No site diz-se que a uvada
“pode ter longa duração, sendo
perfeitamente consumível ao
fim de dois, três ou mais anos,
altura em que pode ser fatiado ou
cortado aos cubos”.
A Maria João e eu rimonos sempre que lemos este
parágrafo porque a mais longa
duração que uma tigela de uvada
A novidade da uvada
é a antiguidade
dela. É feita apenas
com mosto de uvas.
Ferve-se em fogo
lento durante horas
e horas até perder a
água
atingiu entre nós foi cerca de
duas horas. É deliciosa demais
para guardar mais do que uma
semana. Só depositando uma
dúzia de tigelas num cofre préprogramado só para abrir em
2015 é que poderíamos provar
os provavelmente espantosos
cubinhos de uvada.
Aqui se vê em prática que
o tempo, só por si, é um
investimento. Uma receita dura
milénios, leva um dia inteiro
a fazer e, mesmo assim, num
“ambiente arejado e seco”, pode
durar mais de três anos.
Os ingredientes da uvada estão
todos ali ao pé da cozinha da Dona
Celeste: as vinhas e as macieiras.
Nem é preciso ir comprar um
pacote de açúcar. É incrível.
Até no meio de um pomar de
marmeleiros se alguém
quiser fazer marmelada
tem de ir buscar
açúcar.
Como se diz no
site, a uvada “é
um testemunho
de uma economia
frugal, de
tempos em que
as famílias viviam
essencialmente do
que produziam nas
suas terras”. O
açúcar só existe
há poucos séculos
e até há pouco tempo
o preço era exorbitante.
A uvada é muito mais
antiga do que o açúcar
e, dadas as tendências do tempo
presente, muito mais moderna.
As compotas portuguesas de
produção artesanal são muito,
muito boas. Não se esquecem
certos doces de ginja ou de tomate,
tal a profundidade do sabor que
deixaram nas nossas bocas.
Mas também se deve celebrar a
uvada e outros doces feitos só com
os açúcares das nossas uvas — ou
com mel. A uvada tem um sabor
misterioso, apurado e inesperado.
Basta uma colherada e fica-se
acólito toda a vida. Toda a santa
vida.
FICHA TÉCNICA Direcção Bárbara Reis Edição Sandra Silva Costa, Joana Amaral Cardoso, Aníbal Rodrigues (Motores) e Luís J. Santos (Online) Edição fotográfica Miguel Madeira, Paulo Ricca e Manuel Roberto (adjunto) Design Mark Porter,
Simon Esterson Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro e José Alves Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Praça Coronel Pacheco,
2, 4050-453 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: [email protected] . fugas.publico.pt Fugas n.º 646
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 3
Capa
Jura
O país de Pasteur
e da vaca que ri
Situado entre a Borgonha e a Suíça, o departamento
do Jura é uma caixinha de supresas, o lugar com
que sonham os amantes do turismo de natureza,
dos bons vinhos e do bom queijo. Por mais que
nos esforcemos, é difícil resumir em palavras toda
a beleza desta região do leste de França. Pedro
Garcias (texto) e Nelson Garrido ( fotos)
H
á lugares franceses que nos soam
familiares, que quase conhecemos
de tanto ouvir falar. Mas esse não é o
caso de Dole, Jura e Franche Comté.
No entanto, aquele queijinho triangular e pastoso com o simpático
nome A vaca que ri já lhe diz alguma coisa, não diz? E Pasteur, quem
nunca ouviu falar do inventor da
vacina da raiva e da pasteurização?
Os apreciadores dos bons queijos
certamente que conhecem o Comté
e as suas rodas gigantes. E quem gosta e percebe alguma coisa de vinhos
já deve ter bebido, ou pelo menos
conhece de nome, o famoso “Vin
Jaune” (vinho amarelo).
Pondo tudo em ordem: Dole
é uma das principais cidades do
Jura, um departamento da região
de Franche Comté, situada no leste da França, entre a Borgonha e
a Suíça. Pasteur, o Vin Jaune e os
queijo Comté e a Vaca que ri são
algumas das referências do Jura.
Louis Pasteur nasceu em Dole e
passou a adolescência na casa que
possuía na vizinha cidade de Arbois,
à qual regressou sempre; a principal
fábrica da Vaca que ri fica em Lonsle-Saunier, a sede do departamento;
o vinho amarelo é um dos tesouros
vinícolas da região e principal ícone
de Château-Chalon, uma belíssima
aldeia medieval suspensa sobre o
precipício; e o queijo Comté produz-se em todo o Jura. É tão bom
e famoso que gera mais receitas do
que o champanhe.
Quem visita o Jura pela primeira
vez não consegue escapar ao espanto e, logo a seguir, à interrogação.
Como é que desconhecíamos esta
fantástica região, que reúne um pouco do melhor da França, a beleza da
“campagne”, os grandes bosques,
os rios encantadores, a imponência
da montanha, o sabor inesquecível
dos grandes queijos e vinhos? Na
verdade, até há bem pouco tempo,
o Jura não era propriamente um
lugar acessível. Mas desde a Primavera que a Ryanair voa duas vezes
por semana entre o Porto e Dole.
Os voos têm andado cheios, procurados por franceses e, sobretudo,
por emigrantes. Genebra fica a uma
hora de distância de carro, Dijon a
cerca de 30 minutos.
O aeroporto de Dole, que antes
tinha funções militares, resume-se
a uma pista e uma pequena sala de
embarque com um bar. O ambiente é
rural. As pessoas colam-se à vedação
para ver aterrar e descolar os aviões.
A cidade fica a cerca de sete quilómetros de distância. Quando se aterra, é
a planura que se avista, os campos re-
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talhados e atravessados por uma ou
outra linha de água. Até Dole, cidade
medieval, pequena e muito francesa,
a paisagem é igual a tantas outras de
França. As grandes surpresas começam quando saímos de Dole a caminho do alto Jura e vamos avistando
impenetráveis bosques de carvalho,
prados bucólicos e pastoris, vinhedos
aninhados aos pés de promontórios
de calcário onde se elevam mosteiros
e até pequenas aldeias. É uma escala
fascinante, que permite imaginarmos desde o fundo dos vales o que
se esconde no alto do penhasco, ou
contemplarmos desde o alto as paisagens a perder de vista, as vinhas e os
prados que se multiplicam em torno
de aldeias e vilas muito homogéneas.
Quando nos aproximamos da
montanha — muito procurada no Inverno pelos amantes do esqui, alpino e de fundo, sobretudo —, a paisagem vai ganhando contornos ainda
mais dramáticos. Bosques admiráveis suportam grandes massas de
calcário que as águas foram talhando, criando desfiladeiros amplos e
impressionantes, por onde correm
rios cristalinos, fontes de água pura
que abastecem lagos e cascatas de
uma beleza primordial.
Ao fim de dois dias na região, já
não há forma de a esquecer. Como
dizem os “jurassiens”, o Jura não se
vê sem nos apaixonarmos. “Quem o
abandona, arrepende-se, quem parte, volta sempre.” Um dia havemos
de regressar.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 5
Capa
Jura
Jura em
dez passos
1 Dole
A cidade de Dole, uma das mais antigas de França, é a porta de entrada
no Jura, designação com origem na
cadeia de montanhas do mesmo
nome que atravessa este departamento francês e se estende, a norte
dos Alpes, por território suíço e alemão (o mesmo Jura, pela sua natureza geológica, deu também origem
ao termo “jurássico”). Não é uma
cidade muito grande, mas desfila a
imponência e a espessura histórica
de um burgo medieval bem conservado, com ruas e ruelas sinuosas,
edifícios que preservam os traços
daquela época e hotéis charmosos
de épocas posteriores. O seu lado
mais pitoresco pode ser encontrado na “velha Dole”, o núcleo original construído em torno da bonita
catedral Notre Dame e que resistiu
ao passar dos anos e às inúmeras
guerras em que a cidade se viu envolvida. Dole tem ainda o encanto
suplementar de ser atravessada pelo
Doubs, um rio que dispõe de um canal navegável com ligação ao Reno.
Foi numa pequena casa situada
mesmo junto ao canal que, em 27
de Dezembro de 1822, nasceu Louis Pasteur. Filho de um curtidor de
couro, Pasteur foi um estudante
vulgar em Química (apaixonado
pela pintura, completou os estudos
secundários em Besançon com uma
nota medíocre àquela disciplina).
Mais ou menos como Einstein em
relação à Matemática. Mas sabe-se
o que aconteceu depois. No caso de
Pasteur, a dedicação à química e à
bacteriologia deu-se após ter ingressado na Universidade de Sorbonne,
em Paris. O interesse pelas pesquisas
científicas, esse, já tinha começado
antes, em Arbois.
2 Arbois e Pasteur
Arbois, comuna vizinha de Dole, é o
coração vitícola do Jura, designando
uma das quatro apelações da região.
Habitada por menos de quatro mil
pessoas, a cidade desenvolve-se em
torno de uma pequena praça e de
um castelo do século XIII e está rodeada de vinhas, que lhe dão um encanto muito particular. É atravessada
pelo rio Cuisance, em cuja margem
direita se ergue a casa onde Louis
Pasteur viveu desde os oito anos e a
que ficou ligado até ao resto da vida.
O químico gostava tanto de Arbois
que nunca se desfez da casa, a única que possuiu em toda a sua vida e
onde regressava todos os anos para
passar férias. Agora está transformada em casa-museu, mantendo-se tal
e qual como era quando Pasteur a
habitava: as salas de leitura e de estar
com móveis simples, o singelo laboratório particular, a cama estreita e
levantada onde dormia, ligada de
forma inteligente a uma pequena
casa-de-banho.
Foi em Arbois, no contacto com
viticultores, que Pasteur se começou
a interessar pelos processos microbiológicos associados à fermentação
dos vinhos. Mas já era um doutorado
em Química e Física quando fez as
primeiras grandes descobertas que o
6 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
tornaram mundialmente famoso. Em
1856, tinha então 34 anos, Pasteur foi
desafiado a resolver um problema
que assolava uma empresa vinícola, cujos vinhos avinagravam muito
depressa. O problema estendia-se
também à indústria da cerveja. Após
várias pesquisas, Pasteur descobriu
que o problema era provocado pela
presença de microorganismos e descobriu também que esses microorganismos não resistiam às altas temperaturas. Aquecendo as bebidas entre
os 58ºC e os 75ºC e arrefecendo-as
de imediato, o químico conseguiu
resolver o problema. Tinha inventado a pasteurização.
Seguro de que a geração espontânea não existia, Pasteur protagonizou até ao resto dos seus dias outras
descobertas relevantes, como a vacina contra raiva, a cólera da galinha e
Pasteur gostava
tanto de Arbois
que nunca se
desfez da casa,
onde regressava
todos os anos para
passar férias
4 Château-Chalon
o anthrax (bactéria que dizimava os
rebanhos), tornando-se no precursor da microbiologia e da imunologia. Morreu em 1895, aos 73 anos,
tendo sido sepultado nos jardins do
Instituto que leva o seu nome e de
que foi director, em Paris.
3 Pupillin
As vinhas plantadas em suaves encostas, por entre pequenos bosques,
constituem o elemento dominante
da paisagem envolvente de Arbois.
É um cenário arrebatador que ganha
uma beleza acrescida se for contemplado de um ponto mais elevado.
Um dos melhores miradouros fica
em Pupillin, aldeia situada a três
quilómetros de Arbois e que reclama o título de “capital mundial da
Poulsard”, uma das castas tintas do
Jura (também conhecida por Plousard). Essa janela de mais de 180º
para a maior mancha vitícola da
região fica mesmo junto à estrada
e permite perceber a curiosa estratificação do Jura, cujo território se
desenvolve em amplos e admiráveis
“plateaux”. Melhor só mesmo a panorâmica ampla que se abre a partir
de Château-Chalon, um dos mais fascinantes lugares de todo o Jura.
Jura está
povoado
de lagos, a
maior parte
deles naturais
e onde se
faz turismo
balnear
(acima); na
página à
esquerda, a
casa de Louis
Pasteur
O nome tem o seu quê equívoco, remete-nos para uma casa de vinhos.
Mas Château-Chalon é uma aldeia,
por sinal uma das mais belas de
França, e também dá nome a uma
apelação de vinhos. A sua localização, mesmo sobre a falésia, conferelhe uma beleza ímpar e uma aura
quase sagrada, um lugar que imaginamos povoado de ermitas e outros religiosos. Na verdade, a aldeia
(hoje com menos de 200 habitantes) cresceu em torno de uma abadia, por entre muralhas do século
XIII, e preserva o charme medieval
que ressoa do traçado sinuoso das
suas ruas, da cor ocre e gris dos seus
edifícios, da harmonia do conjunto.
Rodeado de bosques, ChâteauChalon é a pátria do Vin Jaune, feito
a partir da casta branca Savagnin
(ver ponto 9). As vinhas, plantadas
em terrenos de marga, uma mistura de calcário e argila, estendem-se
encosta acima até junto da aldeia. A
amplitude da panorâmica é prodigiosa. Ao fundo, estende-se o belíssimo
vale do Seille, que conduz à Reculée
de Baume-Les-Messieurs, um círculo
formado pelo encontro de três vales, cujos cursos são interrompidos
por imponentes escarpas de calcário cobertas de bosques densos, de
onde se precipitam cascatas formidáveis. A beleza e isolamento do lugar
atraíram os monges beneditinos,
que construíram junto a BaumeLes-Messieurs um mosteiro que é
uma das jóias da Ordem de Cluny.
5 Lago Chalain
O Jura está povoado de lagos, a
maioria deles naturais. O maior e
um dos mais bonitos é o Lago Chalain, situado junto à comuna de
Marigny, a cerca de 30 quilómetros
da sede da região, Lons-le-Saunier,
já fora do alto Jura. Tem 2,9 quilómetros de comprimento e um quilómetro de largura. De origem glaciar,
é abastecido por vários cursos de
água de montanha. Está cercado de
vegetação frondosa e equipado com
instalações de campismo. Ao longo
das suas margens existem algumas
pequenas praias que, associadas à
exuberância da vegetação e à cor
azul-turquesa das águas, lembram
certos cenários tropicais.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 7
Capa
Jura
6 Saint Claude
Situada na confluência dos rios
Bienne e Tacon e cercada de montanhas verdejantes, a cidade parece viver suspensa sobre o vale,
ligando-se às margens através de
inúmeras pontes e passadiços. Conhecida também como “a capital do
cachimbo e do diamante” (possui
um museu sobre ambos), SaintClaude teve origem num mosteiro
que dois religiosos da região, Romain e Lupicin, fundaram no século V e do qual só restam alguns
vestígios. No século XII, de acordo
com a história da cidade, o corpo
de um monge de nome Claude que
tinha morrido há 600 anos foi encontrado incorrupto. O acontecimento começou a atrair milhares
de peregrinos ao local, que passou
a chamar-se de Saint-Claude. Hoje,
a grande atracção da cidade — a par
de alguns museus — é a belíssima
catedral de Saint Pierre, construída
entre os séculos XIV e XVIII em frente ao Mont Bayard. Uma das suas
jóias é o retábulo, obra-prima da escola renascentista. Outra é a capela
de Saint-Claude, em cujo relicário
está guardado o dedo mindinho do
monge Claude.
7 Cascatas do Hérisson
A singularidade da geografia do Jura,
feita de planaltos sobrepostos, e a
natureza calcária das suas montanhas originam fenómenos naturais
de grande beleza. Nas zonas mais
acidentadas, pequenos rios de montanha despenham-se em cascata escarpa abaixo, formando impressionantes quedas de água e cachoeiras
idílicas. As cascatas são, de resto,
um dos principais ímanes do Jura.
Há inúmeras, mas as que mais visitantes atraem são as cascatas do
Hérrisson, situadas a poucos quilómetros de distância do Lago Chalain. De uma altitude de 850 metros,
o rio Hérisson precipita-se por entre
falésias monumentais em 31 saltos,
formando ao longo da sua queda
sete cachoeiras, antes de atravessar
os lagos de Val e Chambly. Lugar de
ambiências quase religiosas, onde o
som dominante e apaziguador é o
rugido da água, as cascatas podem
ser visitadas em toda a sua extensão através de um trilho próprio. Na
base, há um serviço de apoio que
disponibiliza guias.
8 Salins-Les-Bains
No Jura, quando julgamos já ter
visto tudo, somos sempre surpreendidos com mais um cenário
natural de cortar a respiração ou
uma cidade encantadora. SalinsLes-Bains, a cerca de 15 quilómetros
de Arbois, é um desses lugares. O
seu enquadramento na paisagem é
assombroso. A cidade está situada
no fundo de um vale e é ladeada
por dois fortes pousados nas cristas
das escarpas que se elevam a prumo algumas centenas de metros.
Salins-Les-Bains, como o próprio
nome indica, está ligada à produção
de sal desde a Idade Média. A exploração foi interrompida em 1962 e a
cidade passou a focar-se no turismo
termal, apostando nas qualidades
terapêuticas da água salgada. Em
2009, a Unesco classificou a grande
salina de Salins-des-Bains como Património Mundial. No mesmo ano,
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Acima, à
esquerda,
detalhe da
casa de
Pasteur;
acima, os
queijo Comté,
em forma
de roda, que
chegam a
pesar 80
quilos
foi inaugurado o Museu do Sal, uma
notável peça arquitectónica que,
por assentar nas antigas instalações
das salinas, dá a conhecer em quase
toda a sua dimensão a grande epopeia da exploração do sal no Jura,
bem longe do mar.
9 Vinho
A área de vinha no Jura, perto de
dois mil hectares, é quase ridícula
no grande mapa vitícola francês.
Mas os seus vinhos fazem as delícias
dos enófilos. A região já pertenceu à
Borgonha e há alguma familiaridade
entre as duas zonas. No entanto, os
vinhos do Jura são inimitáveis. Por
serem menos conhecidos, são também mais baratos e oferecem uma
melhor relação qualidade/preço.
A região possui quatro apelações:
Côtes du Jura, Arbois, Château-Chalon e L’Étoile. As uvas nativas são as
tintas Trousseau (que equivalerá
ao nosso Bastardo) e Poulsard (que
origina vinhos de cor semelhante
ao Pinot Noir) e a branca Savagnin.
Guia prático
respeitar a parte dos anjos, o vinho
é engarrafado em garrafas de 0,62
cl, a chamada Clavelin. Por ter sido
sujeito a um processo de oxidação
suave, o Vin Jaune pode durar uma
eternidade. Deve ser bebido entre os
15% e os 17% de álcool, de preferência a acompanhar queijos de pasta
dura, como o Comté.
10 Queijo
É possível encontrar alguns bons
vinhos tintos e espumosos no Jura,
mas são os brancos de Savagnin — e
alguns de Chardonnay, a casta mais
plantada — que valem mesmo a pena,
pela sua singularidade e excelência.
Além de belos vinhos tranquilos, a
região produz também vinhos doces
estimáveis, como o Vin de Paille (de
uvas colhidas tardiamente e secas
em palha) e o Macvin (vinho fortificado com Marc, uma espécie de
aguardente).
Mas o mais famoso, e o melhor,
é o Vin Jaune, feito unicamente de
Savagnin. A sua tipicidade reside no
aroma a nozes, amêndoas, manteiga
e especiarias e na acidez viciante.
As uvas são colhidas tardiamente
e o vinho é envelhecido em casco
durante seis anos e três meses. Durante este tempo, parte do vinho
vai-se evaporando — é a chamada
“parte dos anjos” — e o restante fica
protegido por um véu de leveduras
que se vai formando à superfície,
tal como acontece com o “Fino” em
Jerez. O que resta na barrica equivale a 62% do total do vinho e, para
Durante seis
anos e três
meses, parte
do vinho vai-se
evaporando — é a
chamada “parte
dos anjos”
Para piquenicar, o queijinho pastoso de A Vaca que ri serve e é confiável. Mas o grande queijo do Jura
é o Comté, feito com leite de vaca
das raças locais Montbéliarde e Simental. Responsável pelo maior
volume de produção de todos os
queijos que ostentam a classificação de Denominação de Origem
Protegida em França, o Comté é
um queijo de textura firme mas flexível, de gosto rico e ligeiramente
adocicado. Continua a ser elaborado praticamente da mesma maneira
desde há mil anos. As vacas seguem
rigorosos sistemas de alimentação,
beneficiando da existência de abundantes e diversificados pastos de
montanha. A tipicidade do Comté
é inconfundível, mas o seu aroma e
sabor podem sofrer pequenas variações de cooperativa para cooperativa, de acordo com o tipo de clima,
flora e terras onde as vacas pastam.
Os queijos, em forma de roda, chegam a pesar 80 quilos e são sujeitos a
um processo de maturação de vários
meses ou anos. Os melhores são os
que possuem um selo verde na casca.
Há inúmeros locais onde se pode
comprar queijo ou tomar contacto
com a tradição existente em
torno do Comté. O mais
extraordinário é o Forte
de Saint-Antoine, situado a 1100 metros de
altitude, no coração
de uma floresta da
parte alta do rio
Doubs, entre as
localidades de
Malbuisson e Métabief. Nas galerias
abobadadas deste
antigo forte militar
repousam cerca de 100
mil rodas de Comté da casa
Marcel Petite.
A Fugas viajou a convite da Ryanair e do Turismo do Jura
COMO IR
ONDE COMER
A Ryanair voa duas vezes por
semana do Porto para Dole (às
quartas e aos domingos), a partir
de 19 euros por percurso e sem
taxas opcionais.
La Ferme du père François
214 Rue Pasteur
39220 Les Rousses, France
Tel.: +33 03 84 60 34 62
Restaurante familiar situado em
Les Rousses, junto à estância com
o mesmo nome. A decoração
é um pouco esotérica, mas a
comida, de base regional, é muito
boa.
QUANDO IR
Qualquer altura é boa para visitar
o Jura. A Primavera e o Verão,
pela abundância de rios, lagos,
cachoeiras e bosques, são as
estações mais indicadas para os
amantes do turismo de natureza.
O Outono, quando as vinhas
ganham colorações de sangue e
fogo, é a época mais romântica.
E o Inverno tem como principal
chamariz a neve e a possibilidade
de praticar vários tipos de esqui.
Le Grapiot
Rue Bagier
39600 Pupillin, France
Tel.: +33 03 84 37 49 44
Boa arquitectura, grandes vinhos,
comida de alto nível. Um belo
restaurante situado numa das
mais bonitas manchas vitícolas
do Jura.
BÉLGICA
ONDE FICAR
Au Moulin des Écources
14, Allée Pont Roman
Parking de La Commanderie,
39100 Dole
+33 03 84 72 72 00
Hotel de três estrelas situado
num antigo moinho mesmo
em cima do rio Doubs. Simples
e confortável, dispõe de uma
localização soberba.
Residence Charles Sander
26 rue de la Republique
Salin-Les-Bains
Hotel simpático e acolhedor
situadom mesmo junto ao Museu
do Sul e às antigas instalações da
Grande Salina, classificada como
Património Mundial pela Unesco.
Golf Club Val d’Amour
Chemin du Golf
39100 Parcey
Tel.: +33 03 84 71 04 23
Email: [email protected]
Mergulhado num ambiente
bucólico, o hotel serve um bonito
campo de golfe de nove buracos.
Paris
Franche-Comté
Dole
SUÍÇA
Jura
OCEANO
ATLÂNTICO
e
FRANÇA
ITÁLIA
ESPANHA
O QUE COMPRAR
Queijo e vinho. Em qualquer
produtor ou cooperativa é
possível comprar queijo Comté
certificado. Em relação ao vinho,
aconselha-se a comprar Vin Jaune
na sua pátria natural, Château
Chalon, e vinhos brancos mais
jovens em Arbois e Pupillin.
Nesta aldeia, existe uma cave,
La Part des Anges, que vende os
melhores vinhos da região. De
todos, há um produtor cujo nome
merece ser memorizado: Pierre
Overnoy. Os seus vinhos batemse com os melhores da Borgonha.
E são mais baratos.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 9
Perfil
Duarte
Belo
e Vila do Conde
A terra de José Régio, por onde passaram escritores
como Camilo ou Antero de Quental, e onde hoje vive
Valter Hugo Mãe, foi também de Ruy Belo. Atraído
de Lisboa à foz do Ave pela mulher, a vila-condense
Teresa Marques, o poeta de Aquele Grande Rio
Eufrates e A Margem da Alegria escondeu o seu
coração por aqui. E o fotógrafo Duarte Belo, um dos
seus três filhos, nunca mais esqueceu este lugar.
Abel Coentrão (texto) e Adriano Miranda ( fotos)
A
bre
Aquele Grande Rio Eufrates, obra
poética inaugural de Ruy Belo (n.
1933-1978), com o poema Para dedicação de um homem. Cujos versos
finais — “É terrível ter o destino / da
onda anónima morta na praia” — parecem, premonitoriamente, pô-lo a
olhar para aqui. Nesse ano de estreia
de 1961, Belo começava uma segunda
licenciatura, em Filologia Românica,
na Faculdade de Letras da Universidade Lisboa, tendo como colega de
curso Maria Teresa Carriço Marques,
com quem haveria de casar-se em
1966, na igreja do convento de Santa
Clara, em Vila do Conde. A vila dela,
que passou a ser de ambos, e dos
três filhos, nos meses de descanso
do tempo passado na capital.
Aqui é, então, Vila do Conde. A
Praia da Senhora da Guia, mais precisamente. Onde, um dia, o banheiro resgatou das águas um poeta já
quase sem sentidos, aturdido da sua
vontade imparável de nadar. Onde,
10 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
em 1994, Duarte salvou, desse anónimo destino lamentado pelo pai
no poema, uma onda espumosa
com que abriu um dos seus livros
de fotografia, Ruy Belo — Coisas do
Silêncio. Se não foi aqui que o poeta
escreveu os seus primeiros versos,
foi aqui que o fotógrafo começou a
fotografar. Numas dessas férias, longas, com a máquina da mãe — uma
Voigtländer Vito CD, de onde saíram
quase todas as fotos conhecidas de
Ruy Belo, tiradas por Teresa.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 11
Perfil
Ao filho Duarte, esse primeiro rolo a
preto e branco haveria de lhe durar,
parcimoniosamente, até ao final do
ano de 1982. Foram as primeiras 36
fotografias de um homem, nascido
em 1968, que hoje guarda o mais vasto espólio fotográfico da paisagem
portuguesa. Ele percorreu-a toda,
freguesia a freguesia, para algumas
das suas obras. Portugal Património,
cinco anos de trabalho, para dez volumes do Círculo de Leitores, foi a
maior delas. Maior ainda só o sonho,
gigantesco, de fazer do seu Horizonte Portugal (www.horizonteportugal.
org), um sítio onde possamos encontrar imagens de um milhão de lugares deste pais que, mesmo pequeno,
tem muito para nos surpreender.
As contas do fotógrafo
Que o diga ele. Antes de se encontrar com a Fugas na praia que foi
sua e do pai, tinha passado onze
dias a percorrer o Parque Nacional
da Peneda-Gerês (PNPG), retomando lugares por onde passara há 20
anos, e de onde trouxe, ainda assim,
17 mil fotografias. Vantagens da era
do digital, elogia, lembrando que,
da primeira vez, num mesmo período de tempo no PNPG fizera 1260
fotos. As contas estão anotadas num
caderninho. Para fazer o mesmo
trabalho, Duarte Belo teria, na década de 1990, de carregar 13 quilos
e meio de rolos serra dentro. Um
inconveniente, já se vê. Mas nem
a evolução tecnológica minimiza a
12 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
dimensão da sua empreitada de nos
abrir uma janela para cada esquina
deste país.
Se o trabalho o leva a todo o lado,
os afectos levá-lo-iam mais tempo
para o único parque nacional do
país, a Peneda-Gerês. Ou para esta
curva junto à praia, ao Forte de São
João Baptista: curva que já foi de pista de corridas — e ele, que até já nem
gosta de desportos motorizados, a
recordar a entrada clandestina, para
ver os treinos, ou os exercícios fotográficos que foi fazendo, na inicialmente difícil tarefa de fixar um carro
em movimento. Não está longe da
rua Ruy Belo esta curva que, durante dezenas de anos, foi a da seca do
bacalhau, cujas ruínas, ainda visí-
veis, Duarte colou no seu Facebook
após este regresso a Vila do Conde.
Como as viu em 1997.
A antiga vila, hoje cidade, mantém muito do que conhecera. Falta-lhe, é certo, os avós maternos
de Duarte, ele de Chaves, ela de
Idanha-a-Nova, que tal como Ruy
e Teresa se cruzaram em Lisboa.
Acabaram a reinventar a doçaria
conventual vilacondense, no Salão
de Chá Doce de Santa Clara. Quando o negócio deixou de estar nas
mãos da família, Duarte guardou
objectos de trabalho da cozinha
da avó. E foi com eles, entre outras
imagens — algumas da sua “casa de
Verão”, o piso de cima, captadas
precisamente nesse seu “primei-
ro ano” de 1982, aos 14 anos — que
fez o livro Olívia e Joaquim. Uma
obra, editada pela Assírio e Alvim
em 2007, que surgiu porque, como
diria Olívia, avó e doceira, citada
pelo neto, “o trabalho quer amor”.
Em pleno centro histórico de Vila
de Conde, por cima do salão de chá,
na Rua da Igreja n.º 10, a casa dos
longos verões e dos fins-de-semana
dos anos do curso de Arquitectura
no Porto foi um “laboratório” para
o jovem fotógrafo. E uma inspiração
para o pai. Tem nas costas a matriz
quinhentista e, à frente, a Rua de
São Bento, merecedora de um poema, Esta Rua é Alegre. Que mais
parecia um meta-poema — um “falar por falar”, que “alegre sou eu”,
Recorda o som
da carpintaria
a marcar o
ambiente urbano.
Cada bota-abaixo
atraía os seus
habitantes, como
se uma parte de
si se despedisse a
caminho do mar,
e Duarte gostava
de ver a marginal
de Vila do Conde
assim, laboriosa
como escrevia Ruy Belo em Homem
de Palavra[s] (1970). Esta é uma das
mais típicas ruas da Vila do Conde,
a lembrar os idos de 500, em que
todos os quelhos não iam dar ao mar
mas ao rio, à Ribeira das Naus de
onde saíram navios para as rotas do
Brasil e da Índia.
Empurrada para um espaço próprio — certamente com melhores
condições — na margem sul do Ave,
a construção naval em madeira ainda permanecia ali, na marginal ribeirinha da cidade, nesses verões da
adolescência que o fotógrafo veio a
Vila do Conde recuperar para a Fugas. Desses tempos, recorda o som
da carpintaria a marcar o ambiente
urbano. Cada bota-abaixo atraía os
seus habitantes, como se uma parte de si de despedisse a caminho
do mar, e Duarte Gostava de ver a
marginal assim, laboriosa. Hoje, e
depois de várias intervenções de reabilitação, uma nau atraca-nos aos
tempos mais antigos e, num edifício
envidraçado, celebra-se em silêncio,
uma actividade que a penosa crises
das pescas, do outro lado do rio, vai
pondo em causa.
Um roteiro-poema
Através de Ruy, o roteiro por esta
cidade podia ser um poema. Um poema sobre um lugar onde “o vento
norte corta luas brancas no azul do
mar”, onde “o poeta solitário escolhe igreja pra casar; sobre o lugar
das “luzes a alinhar o rio à noite” —
visto certamente do miradouro do
convento de Santa Clara, hoje uma
gigantesca quase-ruína, a apodrecer
por dentro; um poema sobre o sítio
“da feira das sextas-feiras”, já sem
“gado” e sem “pó”, mas com “povo”,
ainda. A Rimar, então como hoje,
com esse verso “O lugar onde o coração se esconde”, repetido ao longo
de Portugal Sacro-Profano: Vila do
Conde, da obra Homem d Palavra[s].
Através de Duarte, o roteiro podia
ser uma colecção de imagens. Daquelas que ele há-de pôr, um destes
dias no seu Horizonte Portugal. “Gostava de dar um tratamento especial
a Vila do Conde”, confessa, prometendo levar para ali a capela que nos
guia a conversa, o paredão fronteiro,
que fotografou batido pelo mar, toda
a foz do Ave como o pai a descreveu.
“Poria também aquelas rochas” — as
mesmas em que se deixou fotografar,
estranha sensação, pelo fotógrafo
Adriano Miranda, para a Fugas. Ah, e
poria a altaneira igreja em que Ruy e
Teresa se casaram, com o aqueduto
— “intervenção fabulosa no espaço”
— a alimentar-lhe a fonte do claustro.
Um lugar antigo, granítico, belo.
A FUGAS ERROU
Na edição de 1 de Setembro da
Fugas, no perfil de Carlos Martins,
refere-se erradamente que o
australiano David Baverstock
comprou o espaço da Quinta
das Murças em 2008, onde é
produzido o vinho Assobio, e que
ali investiu 20 milhões de euros.
Na realidade a Quinta das Murças
é um projecto e investimento de
um grupo português — o Esporão.
David Baverstock é o director de
enologia do Esporão, empresa
que a 24 de Outubro de 2008
adquiriu a Quinta dos Murças e o
valor de investimento foi inferior
a dez milhões. Desde Março de
2011 que o Esporão comercializa
as marcas de vinho Assobio
DOC Douro, Quinta dos Murças
Reserva e Quinta dos Murças
Tawny 10 anos, além de um azeite
extra virgem. Aos visados, as
nossas desculpas.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 13
Viagem
Escócia
Na capela de Rosslyn,
em cada pedra
há um enigma
Há muito cortejada pelos
místicos, a Capela de Rosslyn
converteu-se num dos principais
santuários turísticos escoceses
graças ao Código Da Vinci de
Dan Brown. Quase tudo o que
circula a seu respeito é pura
fantasia, mas é mesmo verdade
que a pequena igreja ao sul
de Edimburgo dimana uma
atmosfera especial. Luís Maio
R
osslyn é uma das igrejas esculpidas
em pedra mais preciosas da Idade
Média. Os seus interiores são decorados por toda uma galeria de figuras
enigmáticas, sem óbvia conotação
cristã, uma iconografia rara e nalguns casos nunca vista noutros templos da época. Daí os rios de tinta
esotérica que especulam sobre a sua
eventual ligação com os Templários,
a Maçonaria ou o Santo Graal. Era,
porém, um sítio mais frequentado
por místicos, poetas e românticos,
até ser chamada ao Código Da Vinci
e se converter num lugar de peregrinação de massas. Hoje rivaliza com
Loch Ness no top dos mistérios mais
populares da Escócia.
O best-seller de Dan Brown foi publicado em 2003 e cenas da adaptação cinematográfica com Tom
Hanks foram aqui rodadas durante
uma semana, há dois anos. Antes
Rosslyn recebia uns 30 mil visitantes
ao ano, depois passaram a ser 120
mil, tanto que teve de sofrer uma
intervenção de um milhão de euros,
incluindo o restauro e um novo cen-
tro de interpretação. Mesmo assim,
apesar das multidões e das restrições nas visitas, o sítio continua a
exalar uma aura extraordinária,
que se torna mais vincada quando
se conjuga com a visita do vizinho
castelo de Roslin.
A cripta “secreta”
“Existe na Grã Bretanha uma capela
que contém um texto com centenas
de blocos de pedras salientes. Cada
bloco é esculpido com um símbolo,
aparentemente sem uma ordem, mas
criando um código, que os criptógrafos modernos nunca conseguiram decifrar. Mais recentemente ultra-sons
geológicos revelaram a presença de
um enorme subterrâneo abobadado,
escondido por baixo da capela. Essa
cave parece não ter entrada nem saída. Até hoje os curadores da capela
não permitiram escavações”.
A citação vem da rubrica Factos Bizarros do Código Da Vinci, integrada
no site oficial de Dan Brown (www.
danbrown.com/#/davinciCode/bizarreFacts). A existência de uma cripta
14 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
em Rosslyn veio a confirmar-se um
par de anos mais tarde, quando a capela foi fotografada em pormenor
com tecnologia scanner 3D, mas também já se sabia que no canto sul da
igreja havia uma porta que lá ia dar,
entretanto fechada. Já a presunção
de um código gravado na pedra, mais
essa outra tese sugerida no Código —
segundo a qual o nome Rosslyn declina Rose Line, pretenso meridiano
de Paris, que supostamente também
passa às portas de Edimburgo — são
pura ficção.
Dan Brown terá, no entanto, inventado muito pouco, limitando-se
a retomar no seu romance o perfume místico, decantado por uma
profusa literatura esotérica desde
meados dos anos 1950. De resto, a
extraordinária beleza do sítio, uma
vasta área de floresta à beira do canal
Roslin, onde também se integram um
castelo e um cemitério arruinados,
há séculos que inspiram admiração
e versos apaixonados, incluindo de
autores tão marcantes da língua inglesa quanto Robert Burns, William
Wordsworth e Sir Walter Scott (que
chegou a viver ali mesmo ao lado).
Rosslyn foi, na verdade, a terceira
capela edificada na propriedade da
família Sinclair, descendente de cavaleiros normandos. Havia a capela do
castelo, a do cemitério e finalmente
esta fundada por William, Príncipe
de Orkney, que a projectou como
parte de uma igreja mais ampla de
planta em cruz, chamada Collegiate
Church of St Matthew The Apostle.
As igrejas colegiais eram uma moda
na época — só na Escócia havia umas
DAVID MOIR / REUTERS
LUIS MAIO
LUIS MAIO
A aura da capela de Rosslyn é
reforçada quando as visitas são
complementadas com uma ida
ao castelo de Roslin
40 — e consistiam em ter um colégio
de padres e meninos de coro, incumbidos de diariamente sagrarem missa
e rezarem pelas almas dos proprietários e seus familiares (que nessa medida se consideravam melhor colocados para subirem aos céus).
Os trabalhos devem ter arrancado
por volta de 1456, mas Sir William
faleceu entretanto e o filho não quis
ou não pôde desenvolver a igreja,
limitando-se a mandar colocar um
telhado sobre a capela do coro, onde
o pai foi enterrado. Daí a exiguidade
do templo de 20 metros de comprimento, dez de largura e doze de altura. A Reforma da Igreja Escocesa
obrigou à destruição do altares e das
figuras de santos católicos, em 1560,
e obviamente ao encerramento da
capela como lugar de culto público.
Desde aí Rosslyn escapou mais ou
menos intacta aos ventos da história, sendo inclusive renovada — altar
novo, vitrais, substituição de pedras
quebradas) e reaberta em 1861 pela
Igreja Escocesa Episcopal, que nela
continua hoje a celebrar culto, apesar da crescente pressão turística.
Quebra-cabeças medieval
Rosslyn pode ser pequena, mas dá
pano para mangas. Para onde quer
que o visitante se volte descobre
esculturas fantásticas e enigmas a
condizer. Uma das atracções maiores é o supracitado conjunto de 213
caixas que se destacam de arcos e
pilares, cada um esculpido com o
seu próprio padrão. A teoria avançada por Dan Brown segundo a qual
se trata de um puzzle ainda por
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 15
Viagem
Escócia
decifrar parece muito rebuscada.
Já a equipa formada por Thomas e
Stuart Mitchell, pai e filho, investigou
a semelhança deste conjunto escultórico com os padrões produzidos
por corpos em vibração, mais conhecidos por ondas Chladni. E assim
produziram uma melodia chamada
Rosslyn Motet. É engenhoso, mas
também pouco convincente: porque
raio haviam os arquitectos medievais de gravar essa ou, na verdade,
qualquer outra melodia na pedra?
Também a peça mais famosa da
capela é um quebra-cabeças. Tratase do Pilar do Aprendiz, um dos três
que se erguem na sua ponta oriental
(são 14 no total). Cada um desses três
pilares recebeu o nome de um grau
do progresso maçónico, algures no
século XVIII, mas há qualquer coisa
que não bate certo quando o pilar
mais artisticamente elaborado não
é o do Mestre mas o do Aprendiz. A
lenda reza que o pedreiro encarregue de executar o pilar achou o desenho de tal modo complicado que primeiro quis ir a Roma ver o original,
tempo entretanto aproveitado pelo
aprendiz para realizar a obra. Resultou numa obra-prima, o que deixou
o mestre cheio de inveja, levando-o
a dar o castigo máximo ao aprendiz,
cuja cabeça rachou ao meio.
É o tipo de conto que faz sorrir
meio mundo, mas: 1 — o enredo não
era original e conheceu muitas variações entre a malta da construção do
século XVIII; 2 — o próprio pilar exibe
um apuro artístico realmente só ao
alcance de um mestre-pedreiro. Mais
pacífica é a teoria segundo a qual o
Pilar do Aprendiz é uma declinação
do mito norueguês de Yggdrasil, a
Árvore do Conhecimento, tal como
ela sustentado por um colar de dragões, de cujas bocas saem os ramos
que se vão entrelaçando em torno
da coluna. Esta semelhança parece
também reforçada pela ligação dos
Sinclair a Orkney e aos antecedentes
noruegueses desta ilha escocesa.
Muito discutidas também são as
esculturas de plantas, que foram
identificadas com milho e aloé vera,
apesar de desconhecidas na Europa
na altura da construção da capela.
Daí foi um passo até se conjecturar
que essas representações vegetais
eram uma prova de que os escoceses, em particular Henry Sinclair I,
avô de William, teria estado secretamente do outro lado do Atlântico
muito antes de Colombo lá chegar.
Os especialistas consideram, porém,
que estas esculturas são demasiado
estilizadas para justificarem conclusões tão inusitadas. Mais provável é
tratar-se de representações grosseiras ou descaracterizadas pelo tempo
de plantas bem mais familiares.
Há ainda a colecção de mais de
uma centena de Homens Verdes (cabeças de homens envolvidas por folhagem), iconografia que se sabe ter
uma raiz pré-cristã e também se encontra noutras igrejas medievais, nomeadamente na Catedral de Glasgow.
Seriam um produto da época, mas o
que mais recentemente se veio a apurar é que a colecção de Homens Verdes de Rosslyn forma uma sequência
representando o ciclo das estações
(e da vida) desde a Primavera com as
cabeças joviais e sorridentes a oriente, até ao Inverno e às cabeças-esqueleto da ponta ocidental da capela.
Tudo é (im)possível
A profusa decoração da capela justifica, mas está longe de esgotar a
16 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
É suposto a
famosa cripta,
uma galeria
subterrânea,
guardar
um tesouro
fabuloso
extraordinária reputação mística
de Rosslyn. A cripta onde ninguém
entra há séculos e um cem número
de pistas enigmáticas são tão ou mais
apelativos. Entramos no domínio do
que não se vê, ou não se pode inferir do que se vê, mas que por isso
mesmo arrasta multidões. Logo a
começar pelo tema recorrente em
todos os falatórios: a famosa cripta,
onde os Sinclair se fizeram enterrar
durante séculos, vestidos a rigor de
armas e armaduras.
É suposto a dita galeria subterrânea guardar um tesouro fabuloso,
que pode ser muitas coisas. Há uma
carta datada de 1546, enviada por
Marie de Guise, regente da Escócia e mãe da célebre Mary, Queen
of Scots, a (outro) William Sinclair,
respeitante a um “Segredo” que importa ser guardado. Podia ser uma
arca cheia de jóias que na altura se
dizia ter desaparecido do paço real
escocês, mas é esquisito a regente
falar em “Segredo” com letra maiúscula e comprometer-se a ser fiel ao
súbdito, quando era suposto ser ele
a declarar-lhe fidelidade. Seria algo
bem mais valioso, sustentam os místicos, certamente algo mais do que
riquezas materiais — qualquer coisa
como o Santo Graal, a cabeça de Jesus ou papiros secretos, revelando
detalhes da vida de Cristo.
Hipóteses que convergem na tese
de Rosslyn ter sido um bastião Templário, ordem religiosa que chegou a
ser favorecida pela coroa escocesa,
construindo o seu quartel–general
em Balantrodoch, agora Temple, a
dois passos de Rosslyn. A ordem foi
dissolvida na Escócia em 1307, mas há
quem acredite que depois disso passou à clandestinidade, guardando os
seus tesouros religiosos nas profundezas da capela vizinha. Chegados ao século XVIII, o quarto conde Sinclair foi
declarado Grande Mestre Maçon na
altura em que a Maçonaria se assumiu
publicamente na Escócia, sugerindo
que a família já detinha esse cargo em
segredo, a título hereditário. Os Sinclair seriam, portanto, o elo perdido
entre os Templários e a Maçonaria.
A febre mística tornou-se ainda
REUTERS/DAVID MOIR
Mais viagens em
fugas.publico.pt/
Guia prático
mais delirante quando, em 1982,
um trio de “especialistas” britânicos
(Baigent, Leigh e Lincoln) publicou
O Sangue de Cristo e o Santo Graal,
estabelecendo uma conexão até aí
insuspeita entre a escocesa Rosslyn
Chapel e a francesa Rennes-le-Château. A ligação reconduzia a Pierre
Plantard, auto-intitulado Saint-Clair
e líder do chamado Priorado do Sião.
Autor de um extraordinário embuste,
que começou como incentivo turístico para um hotel do sul de França, o
Priorado do Sião apresentou-se como
uma sociedade milenar, encarregue
de proteger a linhagem secreta que
teria começado na união carnal de
Jesus e Maria Madalena, passado pela dinastia Merovíngia, para chegar
finalmente a Plantard. Uma vez que
o apelido da família era o mesmo,
Rosslyn teria também sido habitada
por descendentes de Cristo e poderia
muito bem guardar o Santo Graal ou
outras preciosidades do género.
Foram estes rumores, que agitaram os circuitos místicos dos anos
1980, que Dan Brown recriou num
best-seller policial. Claro que nenhum
dos “mistérios” em causa resiste à
verificação histórica. Os Sinclair
foram Cruzados, mas não Templários e, apesar da vizinhança, não
hesitaram em denunciá-los, quando a ordem enfrentou os tribunais
escoceses. A assunção dos Sinclair
como maçons no século XVIII devese à força das circunstâncias, valendo
sobretudo um acto político destinado
à Maçonaria escocesa não perder a
face em relação à inglesa, que se lhe
antecipou na declaração pública. A
ligação a Rennes-le-Château e à descendência de Cristo não tem, por sua
vez, nem pés nem cabeça.
Resta a atmosfera especial que se
respira na secular propriedade dos
Sinclair. Na capela, mas também no
castelo de Roslin, verdadeiro cliché da
Escócia romântica, muito menos visitado do que ela (fica longe da estrada,
não há placas a indicar o caminho, o
castelo não se vê da capela). O nome
Rosslyn deriva da conjugação das palavras gaélicas para rocha e espuma
de água, devendo-se à sua localização nas imediações do rio North Esk.
Os rochedos desabaram ou foram retirados para construção, de modo
que o rio já não é tão estrondoso. Mas
o bosque que o rodeia é assim mesmo de uma beleza extraordinária.
O castelo meio arruinado emerge
dessa paisagem frondosa como uma
miragem saída de um conto de fadas. Primeiro construído em 1330,
no sítio em que uma pequena força
escocesa venceu uma enorme tropa
inglesa, o castelo foi edificado no alto
de um promontório, protegido a três
quartos por uma vala profunda. Isso
não impediu que fosse várias vezes
destruído (pelas armas, mas também
pelo fogo) e reconstruído, a aparência actual datando de finais do século
XVI. Impressiona a ponte de pedra
que lhe dá acesso sobre o abismo, a
ruína do antigo portão à entrada, o
edifício de cinco andares construído
a toda a altura do promontório, ainda
emoldurado por grossas muralhas
defensivas. Também aqui há lendas
que falam de um tesouro escondido
nas caves, guardado por uma formosa dama adormecida. Ou será verdade que um conde italiano foi lá desencantar uma preciosa história da
Escócia, desde então guardada a sete
chaves na Biblioteca do Vaticano?
O Público viajou a convite do Turismo Britânico
COMO IR
Lisboa-Edimburgo na Easyjet a
partir de 127,52€ (www.edreams.
pt). O autocarro LRT número
15 liga o centro de Edimburgo
(Princes Street — Lothian RoadBruntsfield) a Rosslyn Chapel
sete dias por semana. O trajecto
dura cerca de 45 minutos e a
frequência dos autocarros em
período diurno é de 30 minutos
(não fazer confusão com o 15A
que não vai à capela). Um táxi
cobra pelo mesmo trajecto cerca
de 25€ (lothianbuses.com).
MAIS INFORMAÇÕES
Mar do Norte
Roslin Edimburgo
IRLANDA
www.visitscotland.com
www.undiscoveredscotland.co.uk
www.roslinvillage.com
www.walkit.com
REINO UNIDO
Londres
OCEANO ATLÂNTICO
1000 km
FRANÇA
ONDE FICAR
E que tal ficar no Castelo de
Roslin? O conjunto foi restaurado
nos anos 1980, em particular,
a antiga mansão sobre o
promontório, que continua
a ser propriedade do Conde
de Rosslyn, descendente dos
Sinclair. O castelo classificado
como Monumento Antigo é agora
gerido pelo Landmark Trust, que
aluga alguns dos seus quartos.
Os preços para uma estadia de
quatro noites varia entre os 500
e os 900€ (www.landmarktrust.
org.uk/BuildingDetails/
PriceAvailability/242/Rosslyn_
Castle) . De resto há vários
alojamentos mais económicos
na aldeia de Rosslyn e arredores
(www.starstay.co.uk/midlothian/
hotels_in_and_near_roslin).
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 17
Diário da Pikitim
Volta ao mundo em família
Depois de
quarta-feira é…
quarta-feira
Não entrámos numa máquina do
tempo, mas vivemos o mesmo
dia duas vezes. Primeiro em
Samoa, depois nas ilhas Cook.
Mas a Pikitim pouco se interessou,
preferindo, em Rarotonga, brincar
no The Cook Islands Whale and
Wildlife Centre. Mesmo sem
avistarmos baleias-jubarte.
Luísa Pinto e Filipe Morato Gomes
(texto e fotos)
A
Pikitim sabe
se estamos em dias de semana ou
fim-de-semana pelo facto de lhe dizermos que tem ou não de “trabalhar” — que é como quem diz fazer
as fichas de trabalho enviadas pelos
professores da sua escola em Portugal. E, claro, há muito que sabe
que depois da segunda-feira vem a
terça, seguindo-se a quarta e logo
de seguida a quinta-feira... e por aí
fora. Mas naquela quarta-feira era
diferente.
Era o último dia passado em Samoa e quisemos avisá-la que o dia
iria ser vivido duas vezes. Que iríamos para o aeroporto já muito à
noitinha (o voo era à 01h de quinta),
que iríamos dormir no avião e que,
quando chegássemos às ilhas Cook
no dia seguinte, depois de esperarmos algumas horas no aeroporto
de Auckland, iria ser outra vez…
quarta-feira.
Poderia até parecer coisa importante, mas a Pikitim não se mostrou
minimamente interessada. A sua
reacção reteve-se noutro aspecto:
“Auckland? Isso não é na Nova Zelândia?! Vamos lá voltar de novo?
Yesssss!”. Nesse momento, muito
mais importante do que atravessar
a linha do tempo era saber se ia regressar ao país de que tanto gostou.
Infelizmente, Auckland era apenas
uma escala entre voos, mas ainda
assim tivemos de lhe responder
que sim, que iríamos voltar à Nova
Zelândia, porque as ilhas Cook também pertencem ao país, apesar de
estarem tão longe de Auckland. “Assim como a Nova Caledónia é França e os Açores são Portugal?”, res-
18 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
pondeu, perguntando. “E nas ilhas
Cook as paisagens são tão bonitas
como na Nova Zelândia?”, insistiu,
intrigada. “É isso mesmo que vamos
descobrir”, respondemos.
As paisagens não são — nem poderiam ser— iguais às da Nova Zelândia, tal a diferença geográfica
entre os dois territórios. Mas também são muito bonitas. Foi na ilha
de Rarotonga, aliás, que encontrámos as praias mais parecidas com
os bilhetes-postais imaculados que
povoam as imagens promocionais
do turismo no Pacífico Sul. Águas
incrivelmente verdes e transparentes, areias alvas e finíssimas e uma
vegetação luxuriante. E isto sem
visitar a ilha de Aitutaki, abrigo da
mais badalada lagoa do arquipélago e famosa por conquistar visualmente o viajante mais exigente,
mas demasiado antipática para o
nosso orçamento. Ainda assim, a
Pikitim estava deslumbrada com as
TUVALU
VANUATU
Tanna
Nakula
FIJI
Yasawas
Viti Levu
Île des Pins
NOVA CALEDÓNIA
SAMOA
Matautu’tai
Polinésia
(FRANÇA)
TONGA
Ilhas Cook
OCEANO PACÍFICO SUL
NOVA ZELÂNDIA
1000 km
Acompanhe o Diário da Pikitim
em www.pikitim.com
A travessia da linha do tempo
pouco impressionou a Pikitim,
mais interessada no centro
de baleias com preocupações
ambientais e ecológicas
praias que ia vendo ao longo de toda
a costa de Rarotonga, conhecidas
em duas voltas à ilha montados em
scooters alugadas.
O que mais a deslumbrou, para
além da transparência da água e da
abundância de peixinhos coloridos
foi a possibilidade de ver muitas
estrelas-do-mar “gigantes e azuis”
em lugares como o ponto Fruits of
Rarotonga, no sul da ilha, não muito
longe da turística povoação Muni.
“Posso pegar numa?”, perguntou,
sem esperar pela resposta: voltou
a colocar a máscara de snorkeling
na cara e afundou os braços sem
grandes dificuldades, já que a profundidade também era pouca. “São
duras! No mar há muito animais bonitos, não achas?”, concluiu com
simplicidade.
Pérolas como as das sereias
Apesar das praias lindas, das águas
quentes e calmas e da fauna variada,
a insaciável curiosidade da Pikitim
haveria de ser mais bem alimentada
num mini-museu do que dentro de
água. E isto porque, desde que, no
segundo dia em Avarua passámos no
The Cook Islands Whale and Wildlife
Centre, a Pikitim começou a pedir
uma paragem quase diária no “café
das baleias”. Não é um centro grande — longe disso —, mas o modesto
espólio é enorme na forma como
cativa as crianças para a problemática da preservação ambiental,
proporcionando-lhes várias actividades lúdicas e sempre educativas
em torno dos grandes cetáceos do
planeta.
Foi ao folhear os livros do Whale Centre que a Pikitim ficou a conhecer melhor as baleias-jubarte,
visitantes assíduos das águas que
banham Rarotonga, em especial
perto do porto de Avarua.
“Nas ilhas Cook não é preciso
procurar as baleias em alto-mar,
Foi na ilha de
Rarotonga que
encontrámos
as praias mais
parecidas com os
bilhetes-postais
imaculados
das imagens
promocionais
do turismo no
Pacífico Sul
são elas que nos vêm visitar”, lêse nos folhetos turísticos da cidade. Na esperança de o confirmar,
acostávamo-nos todos os dias no
alpendre da bonita casa em que
pernoitámos em Avarua, na encosta de um pequeno monte e
com visibilidade privilegiada para
o oceano. Luísa e Jam, familiares de
amigos samoanos e donos da casa
em que graciosamente nos instalamos, disseram-nos que tinham visto duas baleias na semana anterior.
Nós tivemos azar e, infelizmente,
apesar das elevadas expectativas,
não chegamos a ver baleias ao largo
de Rarotonga.
“Não faz mal, mãe. Eu também
gosto de ver as baleias no museu.
Sabes, o que eu mais gosto é daqueles ossos ernooooooooooormes da
cabeça da baleia. Elas devem ser
mesmo muito inteligentes — se têm
um cérebro daquele tamanho, só
podem ser muito inteligentes.” E
assim, todos os dias voltávamos
inevitavelmente ao Whale Centre
de Rarotonga.
Foi nesse mesmo museu que a
Pikitim viu de perto algumas “conchas”, daquelas em que “dorme a
Ariel e todas as suas irmãs” mas
que, afinal, para além de camas
de sereias nos filmes da Disney são
também “ninhos” onde se formam
pérolas. “As pérolas são jóias, mãe?”
Sim, e demoram quase um ano
e meio a crescer debaixo de água
para ficarem do tamanho com que
as vemos nas lojas. Apesar de ser
menina e gostar de colares e pulseiras, não mostrou muito interesse
pelas reconhecidas black pearls das
ilhas Cook. “Mas porque é que têm
de ser todas pretas? Gostava delas
mais coloridas, como as sereias.
Não pode haver pérolas de outras
cores?” Pode, mas noutros sítios.
“Temos de atravessar a linha do
tempo outra vez?”
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 19
Desporto
Guia
Em Portugal,
é época alta
de surf
o ano inteiro
Portugal e o surf nunca pareceram tão
apaixonados e o turismo de nicho que resulta
da sua união é interessante para a economia.
O primeiro guia das ondas portuguesas, que
lista mais de 180 spots no continente e ilhas em
português e inglês, é lançado dia 11. Os gourmets
das ondas estão a chegar? Joana Amaral Cardoso
S
urfar em Agosto em…
Tavira? Ter uma experiência paradisíaca nas remotas fajãs de São Jorge?
Descer a Avenida da Boavista em pleno Porto e fazer as ondas da Praia
Internacional? Partilhar esperas no
mar com o multicampeão Kelly Slater em Peniche ou com Tiago “Saca” Pires na sua Ericeira? Começar
na Costa de Caparica, evoluir para
Carcavelos, experimentar o cool de
Sagres e o ambiente internacional
à la Erasmus de Peniche, tiritar no
Moledo ou descobrir mais uma onda
secreta na zona Centro — o Portugal
Surf Guide, o primeiro guia de surf
português (e bilingue), lista os 183
pontos para surfar Portugal, uma
onda de cada vez.
A viagem (e por conseguinte o menos poético “turismo”) está desde
sempre ligada ao surf. A sintomática
“ride” em inglês é a viagem num tubo reluzente e azul, mas também é o
carro atulhado de pranchas, fatos e
amigos para chegar à praia, passando
pelas viagens Endless Summer de free
surfers em busca de ondas e, claro,
pelas voltas ao mundo dos surfistas
em competição. A surf trip é turismo
e o surf português tem época alta o
ano inteiro. Ou quase. “O que nos
diferencia é a acessibilidade — aterrar
em Lisboa e poder surfar logo numa
série de sítios —, a qualidade e quantidade de oferta. No limite, na península de Peniche surfa-se todos os dias
do ano, esteja o mar grande, pequeno, seja qual for o vento; e em Lisboa
diria que há 350 dias de surf por ano.
Nos Açores e na Madeira surfa-se 330,
340 dias por ano, o que é incrível”,
diz António Pedro de Sá Leal. “Fazer surf todos os dias”, evoca sorridente Francisco Cipriano — que sim,
surfou em Tavira em pleno Agosto.
E é isso que nos dá vantagem perante a concorrência europeia — sul
de França (Hossegor), País Basco espanhol (Mundaka e companhia) e as
Canárias —, defendem os surfistas e
autores do Portugal Surf Guide à conversa na Praia de Carcavelos. O areal
está deserto, um nadador-salvador
solitário espera o fim da época balnear e só mais tarde chegarão seis
rapazes e duas raparigas para testar
a subida da maré e umas ondas tímidas que podem desabrochar. Pertencem a uma escola de surf e o professor cumprimenta António Sá Leal.
Surfista há perto de 20 anos, tantos
quantos Francisco Cipriano tem de
função pública, já fez de quase tudo que o surf pode gerar: escola de
surf (uma das cerca de 150 no país) —
sim; organizar campeonato nacional
— sim; organizar campeonato internacional — sim; ter uma revista — sim.
“Sou licenciado em Filosofia e houve
um momento da minha vida em que
achei que queria fazer exactamente
o que gostava, que era surf, e desenvolvi a minha vida profissional toda
à volta disso.”
Há três anos, na vertigem dos 40,
Francisco Cipriano, hoje assessor do
secretário de Estado Adjunto da Economia e Desenvolvimento Regional,
tinha o surf (e a subida ao Kilimanjaro) como objectivos por cumprir. Já
pôs um “visto” em frente a cada um
deles na sua lista. Conheceu António
como aluno na escola de surf e mais
tarde trocavam ideias sobre o que
faltava fazer com este mar carrega-
20 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
do de potencial, abraçado por uma
terra com mais oferta cultural, dos
espectáculos à gastronomia, do património ao comércio, do que muitos
dos destinos de surf europeus. Uma
espécie de Califórnia atlântica, muito
pelo clima e pela variedade. Ao dispor de estrangeiros e de portugueses.
Surf trip dos números
O guia, que é quase um dicionário
português/inglês dos spots do surf
made in Portugal, foi em si uma surf
trip: 183 locais, Açores e Madeira
incluídos, com fotografia de/ou editada por André Carvalho, mapas,
informações sobre cada onda, acessibilidades, apoios de praia, ventos,
marés, número de pessoas na água e
conversas com shapers, surfistas, donos de hotéis, pioneiros ou sonhadores. É estranho, comenta a Fugas em
Carcavelos naquela manhã nublada
de fim de Setembro, que este seja o
primeiro inventário do género — que
é apresentado dia 11 durante a etapa
portuguesa do mundial de surf, o Rip
Curl Pro em Peniche. O surf teve um
pico de popularidade em Portugal
nos anos 1990 e outro na última década, com o mais internacional dos
surfistas profissionais portugueses,
Tiago Pires, entre os 20 primeiros
do surf mundial. Mas não, não havia
um guia total das ondas portuguesas e país adjacente, apesar de a net
compilar informação, de as câmaras
produzirem pequenos guias sobre as
“suas” praias e de as revistas de surf
fazerem a sua divulgação. Portugal
Surf Guide é agora editado pela Uzina
Books, vai custar 25€ e teve apoios
de autarquias, companhias aéreas,
cerveja, marcas de surf, bancos e
grandes empresas portuguesas, mas
também do Turismo de Portugal, dos
Francisco Cipriano e António
de Sá Leal, em Carcavelos, e
o guia que chega às livrarias
neste mês de Outubro
turismos da Madeira e dos Açores e
da Secretaria de Estado do Mar.
Francisco e António viram o potencial da natureza, Pedro Bicudo
e Ana Horta, do Instituto Superior
Técnico, estimaram o do negócio: o
seu estudo de 2009 diz que o surf pode valer perto de três mil milhões de
euros por ano ao turismo português.
São 1200 quilómetros de costa com
ondas de todos os tipos, mas António
de Sá Leal não vê nas praias futuras
“estâncias em que maciçamente se
recebem muitas pessoas”, como na
neve, ou “hipermercados de aulas de
surf”. “O surf em Portugal é interessante e deve ser explorado de forma
racional — temos todas as condições
para sermos um país destino de surf
de qualidade. Estamos longe dos
grandes centros de decisão, mas estamos no centro do surf”, argumenta
geograficamente.
“A maior parte dos surfistas do
mundo ainda não conhece Portugal,
mas Portugal é um destino conhecido
de surf. Peniche é uma onda que to-
As sete zonas do Portugal Surf Guide
HELENA COLAÇO SALAZAR
ZONA
NORTE
Matosinhos - Na região “do Porto há
mais pressão, mais gente na água, mas
amistosa”, descreve António Sá Leal
Ericeira - “Tem a especificidade de
ter o fundo de pedra nas boas ondas
e isso selecciona à partida quem vai
para lá”, diz António
CENTRO
Caparica - “Esta zona, (linha do
Estoril e Costa) concentra 90% dos
surfistas em Portugal e isso significa mais
gente dentro de água”, explica António
LISBOA
ALENTEJO
Melides - “A cultura dos sítios
reflecte-os”, diz Francisco Cipriano,
como na calma da costa alentejana
dos os surfistas conhecem por causa
do campeonato”, descreve António.
“Será que um havaiano vem para Portugal fazer férias de surf? Se calhar
não. Mas um nova-iorquino sim.”
Hoje, uma surf trip não se faz só
de um grupo dentro de uma carrinha parada sobre uma falésia. Uma
família de surfistas, miúdos incluídos, pode, como diz Francisco, ficar a dormir no Ritz, um dos mais
vetustos cinco estrelas de Lisboa, e
ir surfar a Peniche e à Costa, voltar
a Lisboa para ver um museu, ir às
compras e jantar. E o Portugal Surf
Guide pensa nessas alternativas. A estimativa do estudo de Pedro Bicudo e
Ana Horta é que cada turista-surfista
gaste uns mil euros por semana (alojamento, deslocações, alimentação
e actividades paralelas) e que o número de estrangeiros que procura as
ondas portuguesas ronde os 60 mil
por semana — o mesmo número de
praticantes portugueses em 2009, de
acordo com os académicos. Os mesmos que podem desconfiar da veraci-
dade das histórias de um surfista de
Faro, que podem desconhecer a beleza selvagem das fajãs de São Jorge.
É que este guia também é para eles,
para os surfistas portugueses que
“têm por norma viajarem para fora,
mas viajarem pouco dentro de Portugal”, como descreve António Sá Leal.
ALGARVE
Carrapateira - “No Algarve é um surf de paz”, diz
António, “uma coisa mais distendida no tempo”, completa Francisco
Segredos revelados?
Francisco e António, autocolante do
Portugal Surf Guide no carro e olho
no mar que começa a levantar espuma, sabem bem como o surf cresceu
na última década em Portugal e como a big wave da Nazaré no Guinness,
cortesia de Garrett McNamara, poderá agora trazer um punhado de
homens que cavalgam montanhas a
Portugal quando houver uma grande ondulação atlântica. Há a reserva
mundial de surf da Ericeira, os quatro Centros de Alto-Rendimento planeados para o surf (Viana do Castelo,
Aveiro, Nazaré e Peniche), as etapas
dos mundiais nos Açores ou em Peniche (que criou a marca “capital da
Fajã dos Cubres, S. Jorge - “Nos
Açores a experiência foi fantástica,
as pessoas ofereciam-me a onda,
porque eu vinha de fora”, sorri
Francisco
AÇORES
Fotos: André Carvalho e André Pontes (Madeira)
Jardim do Mar - “A sensação mais
forte que fica é a força das ondas
e, em alguns casos, o cenário de
grandes montanhas verdes”, diz
Francisco
MADEIRA
onda”). O surf está cada vez mais ligado às povoações que o apoiam em
terra e as ondas a quem as habita.
Como Carlos Valério, um dos surfistas que lhes abriu portas e ondas
para o guia e que marcou Francisco
Cipriano. “Uma pessoa que fez aquilo
que todos queremos fazer mas que
raramente temos coragem, que é chegar a um sítio — a Fajã de Santo Cristo, nos Açores — e dizer: ‘vou passar
o resto da minha vida aqui’. Vivia nas
Caldas da Rainha e decidiu mudar-se
para um sítio onde só se chega a pé
ou de Moto 4, não há estradas, não
havia água canalizada, electricidade,
rede de telemóvel. Construiu a sua
casa e vida ali. A força que o surf teve
para o mover”, suspira. “E falou-nos
daquele espaço sem medos, com um
espírito de partilha.”
Os secret spots e o localismo, a protecção regional que dá prioridade
de usufruto de uma onda a quem a
conhece e surfa há mais tempo, são
parte integrante da cultura surf. Não
é por acaso que algumas ondas ficaram de fora do Portugal Surf Guide.
António Sá Leal, que já tinha surfado
grande parte dos locais agora listados
no guia, é pragmático: “Hoje, com
o Google Earth e com uma carta de
previsão de marés percebes logo
onde podes surfar e onde não há
ondas”. Ainda assim, há sítios que
são apenas sugeridos no guia — há
“pistas, sítios mágicos” —, também
porque, por mais apetitosa que seja,
se “a onda só aparece duas vezes por
ano, as pessoas muito provavelmente não iam encontrá-la”, completa
Francisco.
O Portugal Surf Guide custou mais
de 50 mil euros a fazer e tem planos para o futuro: um site, uma app
para smartphones, um pequeno filme para festivais de cinema de surf
(Portugal teve o seu primeiro este
Verão) e uma série documental sobre as ondas portuguesas, mas também sobre a viagem de Francisco e
António. Francisco, surfista há três
anos, descobriu “que Portugal é um
destino de surf absolutamente fabuloso, com cultura de surf própria em
cada local” (ver infografia, em que se
destacam alguns spots das sete regiões em que se divide o guia). António reviu a matéria dada, conhecedor
que era de muitas destas ondas, que
agora partilhou com Francisco e com
os seus anfitriões em cada paragem,
conversando no mar.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 21
Viajantes
Francisco Sande
e Castro partiu
sem saber onde
vai dormir
É uma viagem sem datas nem
metas, mas com estimativas: será
coisa para dois anos, sempre de
mota, à volta do mundo. Marco
Vaza (texto) Pedro Cunha ( foto)
O
encontro
com a Fugas estava marcado para
logo a seguir ao almoço. Antes de
partir para os primeiros quilómetros da sua viagem de dois anos à
volta do mundo em moto, Francisco Sande e Castro almoçou com os
amigos num restaurante em Sintra.
A moto estava estacionada à porta,
Sande e Castro já estava equipado
para tirar as fotos para a Fugas com
a sua Honda Crosstourer e as chaves
estariam num dos bolsos do casaco.
Mas qual? Passaram dez minutos e a
chave apareceu, depois de ter virado o casaco do avesso. Alívio. A partida não ficaria adiada. Só leva uma
cópia da chave? Sorri. “Sim, mas se
calhar, devia pedir outra…”
Francisco Sande e Castro, 57
anos, piloto, empresário, ex-proprietário de uma editora discográfica (foi ele que editou os primeiros discos dos Delfins e dos Sétima
Legião) e jornalista ocasional, é o
primeiro português que se propõe
a dar a volta ao mundo numa moto,
uma Honda VFR 1200X Crosstourer, cedida pelos representantes
em Portugal da marca japonesa.
Vai sozinho, não podia ser de outra
maneira. Passou anos a pensar no
assunto, à espera que as estrelas
estivessem alinhadas, à espera do
momento perfeito. Que nunca chegou. “Já há uns anos que pensava
nisso. Como todos os sonhos, uma
pessoa tem tendência a pensar: ainda não é agora. Agora tenho a vida
mais ou menos arrumada e decidi
que se não fosse agora, já não era.
Claro que há coisas que me atrapalham um bocado a vida, mas se
estivesse à espera que ficasse tudo
certinho, nunca ia”, confessa Sande e Castro.
Serão mais de 70 mil quilómetros através de mais de 50 países,
um percurso planeado que poderá não seguir exactamente à risca.
“Não tenho datas nem metas estabelecidas. E não vou fazer tudo de
seguida. Com calma e sem stress”,
diz Sande e Castro, que não tem
alojamento marcado e leva tenda e
saco-cama para aqueles momentos
em que não tenha cama para dormir — e nunca irá ficar em hotéis de
cinco estrelas, a viagem já custou
demasiado (cerca de 50 mil euros,
suportados pelo próprio quase na
íntegra) para ter esses luxos.
A mota está pesada, talvez demasiado para os percursos em
terra que terá obrigatoriamente de
fazer, e por isso vai andar em alcatrão sempre que possível. Mas fora
das auto-estradas. E viajar de dia.
Nunca de noite. “Principalmente
fora da Europa é sempre muito perigoso andar à noite”, refere Sande
e Castro, que irá fazer pausas entre
longas travessias para regressar a
casa por uns dias.
Os seus primeiros destinos estão mesmo aqui ao lado. Partiu de
Sintra, em direcção à Andaluzia, e
Barcelona foi o seu destino seguinte.
22 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
Aos 57 anos, esta é
mesmo a grande
(e talvez última)
aventura de Sande
e Castro. Nem
pensa, depois de
acabar esta, fazer
algo semelhante
Primeiro vai apostar no sul da Europa, um continente que conhece
bem, depois começa a verdadeira
aventura. Turquia, seguida de Irão,
antigas repúblicas russas e Índia. Na
Ásia, um continente que pouco conhece, não irá passar pela China.
“Eles exigiam que levasse um guia
local para me acompanhar de carro
e eu achei que isso cortava o espírito
da viagem.” A Rússia vai ser outro
“gigante” por onde não vai passar.
E o Paquistão também pode levantar alguns problemas, mas Sande
e Castro diz que tem um contacto
que o está a ajudar. “Há países que
são complicados de entrar e provavelmente vou ter de ficar dois e
três dias nas fronteiras a tratar de
vistos.”
Na América, vai entrar pela costa do Pacífico, em São Francisco,
ir a Los Angeles, fazer a travessia
até à costa atlântica, descer para
Cuba, atravessar a América Central
e descer a América do Sul, visitando Brasil, Argentina e outros (mas
não todos). “Talvez a Ásia seja o que
tenha mais curiosidade de visitar.
Mas a Austrália também. Vou ficar
lá bastante tempo”, observa. Em
África, vindo da América do Sul,
vai entrar por Angola até à África
do Sul, passar pelo Botsuana, ir a
Moçambique, subir pelo Quénia,
Tanzânia e Sudão, e passar pela Líbia e Tunísia, que será a sua porta
de regresso à Europa.
Aos 57 anos, esta é mesmo a
grande (e talvez última) aventura
de Sande e Castro. Nem pensa, depois de acabar esta aventura de dois
anos, fazer algo semelhante — ele
que já fez travessias de África em
automóvel quando participou no
rali dos ralis, o Dakar (que, no ano
em que participou, saiu de Paris e
chegou à Cidade do Cabo), mas nunca em duas rodas. Dois acidentes
graves em competição no início de
carreira como piloto afastaram-no
das motos, mas são elas que lhe dá
mais prazer conduzir nestes tempos
de muitos limites. “É mais divertido
andar na estrada de moto do que de
carro. Com os limites de velocidade,
já não me dá muito gozo andar de
carro, de moto, mesmo devagar,
dá-me prazer.”
Sande e Castro sente-se mais que
preparado para a aventura. “Não
faço uma preparação física especial. Nunca fumei, sou saudável…
Quando fazia corridas de automóvel fazia ginásio, corria imenso, mas
não gostava nada de fazer exercício,
era uma obrigação. Sinto-me lindamente e espero não ter problemas.
Sei que é exigente, mas também é
por isso que vou com calma”, diz.
Estando sozinho, não vai ter de negociar horários e itinerários. Vai poder parar quando quiser, seja para
dormir, para ler o livro que leva
na bagagem — para esta primeira
porção da viagem, A Rapariga que
sonhava com uma lata de gasolina e
um fósforo, o segundo volume da
trilogia Millennium de Stieg Larsson
— ou para dormir no saco-cama à
beira da estrada. E com a chave
sempre em sítio seguro.
Dois homens,
9000
quilómetros e
nenhum motor
Não é coisa para fracos de pernas
nem espíritos timoratos: um
britânico e um norte-americano
propõem-se atravessar o Brasil
apenas com recurso a propulsão
humana — de canoa, a pé e de
bicicleta. Se conseguirem, serão os
primeiros. Luís Francisco
GUIANA
Monte Caburaí
VENEZUELA
COLÔMBIA
OCEANO ATLÂNTICO
Belém
Manaus
Recife
BRASIL
PERU
Salvador
BOLÍVIA
Brasília
Rio de Janeiro
PARAGUAI
G
areth Jones, britânico, e Aaron Chervenak, norteamericano, ambos de 31 anos, já
alcançaram o ponto mais a Norte
do território brasileiro. Só por si,
isto já é um feito, porque o monte
Caburaí (1465 metros de altitude),
no estado amazónico de Roraima, é
um local remoto, raramente visitado e localizado em pleno território
de tribos nem sempre receptivas a
visitas. Mas chegar ao Caburaí foi
apenas o prólogo da aventura: Gareth e Aaron querem ser os primeiros
a completar uma travessia Norte/Sul
do Brasil com propulsão humana.
Terão de percorrer 9000km até ao
arroio Chuí, no Rio Grande do Sul.
Esta jornada nunca antes realizada
já começou. O seu último tweet, publicado no site da expedição (http://
brazil9000.com) a 1 de Outubro confirma: “depois de uma caminhada
de 140 km, estamos finalmente na
nascente do rio Mau river. A nossa
viagem para sul através do Brasil começa”. O monte Caburaí está situado
no maciço montanhoso na fronteira
com a Guiana Francesa e a Venezuela e que culmina no monte Roraima
(Venezuela, 2810m). Foi nesta paisagem que Conan Doyle se inspirou
para o romance O Mundo Perdido.
Algures na floresta amazónica,
um marco militar assinala o ponto mais setentrional do Brasil — e
encontrá-lo revelou-se uma odisseia. Na verdade, só na viragem do
século o Caburaí passou a ocupar
o seu lugar nos livros de geografia,
depois de uma expedição levada a
cabo em 1998 ter demonstrado que
fica 84,5km mais a Norte do que o
cabo Orange, no rio Oiapoque, estado do Amapá. Este tardio processo de “autenticação” explica que a
travessia Norte/Sul do Brasil nunca
tenha sido efectuada por meios humanos — ou outros, presume-se,
porque as escassas dezenas de quilómetros de deslocação extra para
Norte implicam muitas centenas
para o interior do país, forçando o
percurso a incluir um longo troço
na Amazónia.
Gareth e Aaron pretendem completar a primeira etapa (à volta de
2500km) a bordo de uma canoa,
descendo os afluentes necessários
até darem com o curso principal
do Amazonas, que percorrerão até
à cidade de Belém, já em zona de
confluência com o Atlântico. Aí chegados, o plano é atravessar a pé a
zona da caatinga (zona árida situada
no canto Nordeste do país que ocupa 10% do território brasileiro) até
alcançarem Salvador. Progredindo
então pelo litoral, rumarão ao Rio
de Janeiro — tudo isto somado, serão
5000km a andar.
A terceira tirada (cerca de
2000km) deverá ser enfrentada
sobre rodas. Os dois aventureiros
pretendem pedalar, numa rota predominantemente litoral, do Rio de
Janeiro até ao ponto mais meridional do país, o arroio Chuí, na frontei-
São Paulo
ARGENTINA
CHILE
URUGUAI
O convívio dos
dois “é uma parte
significativa
do desafio que
enfrentamos
— como evitar
darmos em
doidos um
com o outro e
estragarmos
tudo”
Chuí
ra com o Uruguai. A “meta” estará
situada num determinado ponto do
curso de água, a 2,7km da foz.
A língua de Vinicius
Mesmo que tudo corra pelo melhor, a perspectiva é que a aventura
se estenda por mais de 15 meses. E
correr pelo melhor não é esperar
uma viagem sem incidentes: quem
embarca neste tipo de jornadas
não vai forçosamente à procura de
emoções fortes, mas as dificuldades
fazem parte do “pacote”. No caso
de Gareth e Aaron, o clima e a vida
selvagem nem são as maiores fontes
de receio. O grande problema será
lidar com os seres humanos. “Dois
tipos ocidentais”, “com material fotográfico e vídeo”, “numa canoa no
Amazonas” ou “percorrendo a pé os
subúrbios pobres das grandes cidades” fornecem “um alvo tentador”...
Os dois aventureiros não responderam ao contacto da Fugas (dispõem
de material para comunicar via satélite, mesmo na selva), mas numa
entrevista ao site Explorersweb falam
dos desafios, da preparação, da logística da expedição e do seu fascínio
pelo Brasil. Uma das ideias a reter
é que serão “muito rigorosos”: se,
por algum motivo, forem forçados
a recorrer a algum tipo de ajuda de
emergência, marcarão o ponto GPS
onde se encontravam e retomarão a
viagem a partir daí, logo que possível.
A ideia é também documentar a
expedição, em foto e vídeo, de forma a criar “um retrato do Brasil” — e
isto implicou a criação de uma rede
de amigos no país, que possa ir recolhendo as imagens recolhidas e guardando algum material que não seja
necessário nas jornadas seguintes.
Será sempre bem vinda a ajuda, não
só por razões práticas, mas também
emocionais. Uma das coisas que Gareth e Aaron mais receiam é o desgaste
provocado pelo convívio em circuito
fechado durante longos períodos de
tempo: “É uma parte significativa
do desafio que enfrentamos — como
evitar darmos em doidos um com o
outro e estragar tudo”, explicou Gareth Jones ao Explorersweb.
Mas como é que um britânico e
um norte-americano que se conheceram em 2003, em Manchester
(Gareth estudava lá e Aaron, vindo
da Califórnia, pediu para ficar no
apartamento durante uns dias e acabou por “acampar” lá durante dez
meses), decidem aventurar-se pelo
Brasil? A pergunta faz sentido, mas
temos de a recuar no tempo, porque
em 2010 os dois já tinham feito uma
longa incursão pela Amazónia, altura
em que receberam dos pescadores
locais preciosas lições de sobrevivência na zona. Foi uma espécie de
prólogo para a aventura de 2012.
Apaixonaram-se de imediato por
esses locais de “tranquilidade sem
par” e Gareth — que vive há sete anos
no Brasil, considera o Rio de Janeiro
a sua “segunda casa” e fala português
sem problemas — ganhou um aliado
na sua paixão pelo gigantesco país
sul-americano. E é por isso que, na
entrevista ao Explorersweb, quando fala dos perigos da expedição,
faz questão de salientar que os dois
“nunca tiveram problemas graves
com criminalidade” nas visitas anteriores ao Brasil e que “a simpatia das
pessoas” foi uma das razões que os
levaram a empreender esta viagem.
Ainda no campo das ilusões fica
o continente africano. Quando lhes
perguntam qual o seu destino de
sonho, Aaron fala de Madagáscar e
Gareth menciona Angola. Ele gosta
mesmo de falar português, a língua
que começou a aprender, na praia e
em bares, para poder compreender
os versos de Vinicius de Moraes nas
velhas canções que escutava.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 23
Gastronomia
O requinte da
cozinha francesa
no palco da
Casa da Música
Foie gras como se fosse trufa,
sardinhas como se fossem de
barrica e uma vitela com 50 horas
de forno. Champanhe, vinho
do Porto, queijo da serra, Bach
e Brahms. A gastronomia como
saborosa manifestação de cultura.
José Augusto Moreira (texto)
Fernando Veludo/NFactos
L
ugar de cultura e
palco privilegiado para as mais diversas manifestações culturais, a
Casa da Música não quis deixar de
fora a gastronomia no ano dedicado
à França. Foi, assim, por entre concertos, festivais e palestras, que também o restaurante e a cultura dos
fogões se assumiram como palco no
contexto da programação dedicada
ao Ano de França.
Mérito para o professor Arnaldo
Saraiva e a dinâmica cônsul Aude
de Amorim, que optaram mesmo
pela disciplina gastronómica para
abrir o ciclo de conferências “encontros (des)encontros”, dedicado
às relações entre França e Portugal.
E o título “Bon Apetit!” não poderia ser mais sugestivo. Como que a
evidenciar, logo à partida, uma das
nossas mais vincadas características
sociais: é à mesa que tudo começa,
se fazem as grandes conversas e se
assumem as decisões.
Significativo também o evidente sucesso da opção, com todas a
iniciativas a ela ligadas a registar
entusiástica afluência e a esgotar
rapidamente.
Para além da disponibilidade de
um menu cruzando produtos e especialidades dos dois países, o restaurante da Casa da Música promoveu
uma residência gastronómica, com
o chef local, Artur Gomes, a convidar o estrelado Christophe Girardot,
um dos cozinheiros de maior mérito e reconhecimento da Aquitânia.
Terra do magret de pato e do foie
gras, a região do sudoeste de França orgulha-se ainda pelas ostras de
Arcachon e tem também especiais
afinidades com o Porto através dos
vinhos de Bordéus.
Quanto às ostras, os franceses
24 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
gostam mesmo de dizer que as de
Arcachon são as melhores do mundo, mas diga-se também que nos últimos tempos temos provado umas
da ria de Aveiro (e também da ria
Formosa) que diríamos, muito à
nossa maneira: não estão mesmo
nada mal! Fresquinhas, graúdas e
na companhia dos bons espumantes ou verdes que cada vez mais
vão aparecendo, os franceses que
se entretenham lá com a supremacia
mundial que nós por cá também não
estamos mal.
E se há coisa que é considerada como uma das maiores iguarias da cozinha francesa é o foie gras. Foi precisamente com uma demonstração
de preparação desta vertente da utilização dos fígados de pato ou ganso
que tudo começou. A perfeita aliança
entre saber e sabor (savoir et saveur),
como explicou o chef Girardot.
Primeiro, numa preparação com
um tártaro de ostras (as tais de Arcachon) e molho de laranja. O es-
O maestro
Christoph König
escolheu o
romantismo de
Brahms como
companhia para
o foie, gordo e
pesado; uma
sonoridade
barroca de Bach,
mais artificial e
artística, para
o foie panado
lembrando a trufa
calope de foie é corado numa sertã
bem quente (para ganhar crosta),
sendo depois envolto numa redução de molho de soja doce. Com o
sumo e raspas de laranja e os sucos
que ficaram na frigideira faz-se um
xarope que vai regar o preparado.
Por cima coloca-se o tártaro (com
cebolinho e um azeite cítrico), coroado com umas tirinhas de casca de
laranja confitadas. Como resultado,
o aveludado do foie conjugado de
forma perfeita e equilibrada com o
doce o cítrico e o crocante. As sensações que podemos encontrar num
champanhe feito a partir de vinhos
envelhecidos em madeira, como o
Louis Roederer Brut Premier que
acasalou com esta versão do foie.
Numa segunda versão, o chef
francês optou pela busca de sensações mais marcadas pelos sabores
rurais, em contraste com a elegância e delicadeza do primeiro. O foie
gras fumado, lembrando a trufa,
com tártaro de pêssego e pimenta
timut. O fígado é moldado em bolinhas, panadas com farinha de arroz
e pão ralado misturados com um pó
negro de carvão natural (lembrando
a trufa). Às sensações de ruralidade
do panado frito junta-se a envolvência fresca do tártaro de pêssego em
cubos (vai ao frio com gelatina para ganhar consistência), conjugados
num molho com a gordura do pato
e a surpreendente pimenta timut,
que vem do Nepal. Tem um atractivo
aroma limonado que faz lembrar a
nossa erva-limão mas com incomparável envolvência e intensidade.
Para acompanhar só mesmo um
grande vinho do Porto como Adriano White Reserva, da Ramos Pinto,
Um blend de vinhos velhos, muitos
velhos e também novos, conjugando os nobres sabores de evolução
e fruta fresca com atraente brilho
rosado.
Doutro domínio mas de efeito sublime, as escolhas musicais do maestro Christoph König. A musicalidade
romântica de Brahms como companhia para o foie, gordo, pesado e redondo da primeira preparação; uma
sonoridade barroca de Bach, mais artificial e artística, para o foie panado
lembrando a trufa, tal como explicou
o maestro titular da Orquestra Sinfónica do Porto — Casa da Música.
Sabores autênticos
Apesar de ter trabalhado ao lado de
alguns dos mais prestigiados chefs
estrela e ter visto o seu trabalho à
frente do restaurante La Table de
Montesquieu (La Bréde, Gironde)
consagrado pelo famoso guia Michelin, Christophe Girardot é um
homem de aparência rural e gostos
simples e autênticos. Ficou mesmo
deliciado com uma açorda de ovas
de peixe e com as pataniscas de bacalhau que provou num restaurante
popular de Matosinhos, como confidenciou Bernard Despomadères,
o activo director da Alliance Française do Porto e um dos mentores
da iniciativa.
Para o jantar que coroou a estadia,
que preparou com o chef anfitrião,
Artur Gomes, Girardot não esqueceu
as sardinhas, produto de idêntica popularidade na sua região. Prepararam-nas ao estilo das saudosas sardinhas de barrica, desespinhadas e um
recheio com broa migada e molho de
ervas, que é uma das delicias da autoria de Artur Gomes. O refinamento
era dado pelas espinha desidratada
(bem saborosa) que acomanhava e
um creme de rúcula de claro estilo
afrancesado (natas?).
Antes, o sofisticado ovo a 64º,
servido sobre uma cama de creme
de cebola e coroado com caviar da
Aquitânia, a enquadrar o ambiente
de alta técnica culinária. O mesmo
estilo no novilho que assou durante
mais de dois dias (50 horas) a 65º.
Um corte específico apara peça (paleron), extraída transversalmente da
zona entre as costelas e o cachaço,
plena de sabor. Macia, aveludada e
mantendo a textura, acompanhou
com deliciosos gnocchi de sabor limonado que fizeram as delicias dos
comensais.
Para além de uma elaborada salada de frutos vermelhos com espuma
de arroz doce, as sobremesas juntaram também especialidades regionais como os famosos Canelés
de Bordeús e o não menos famoso
queijo da serra. Tudo conjugado
com vinhos da casa Ramos Pinto.
Agradaram especialmente os Duas
Quintas Reserva Branco 2010, pela
frescura e evidência de aromas, e
Porto 20 Anos Quinta do Bom Retiro, ao estilo dos melhores Tawny,
se bem que alguns dos outros servidos padeceram de algum desvio de
temperatura.
Além da programação específica,
a Casa da Música tem no seu restaurante uma outra destacada valência, que o Porto agradece. Para lá do
apuro e comprometimento com a
modernidade culinária, o chef Artur
Gomes cultiva uma saudável ligação
à terra e aos sabores da tradição, de
que a lista de petiscos é prova cabal. Além da carta sazonal e menus
degustação, o restaurante tem um
menu diário a preço bem convidativo (14 euros), tal como acontece
com os jantares associados aos espectáculos, que incluem a refeição
e o bilhete normalmente abaixo dos
40 euros.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 25
Gastronomia
Receitas
Mousses de
Outono, a
saber a maçã
TARTE FOLHADA DE MAÇÃ
Ingredientes
1 rolo de massa folhada
50g de gengibre em cubos
100g de açúcar
Casca de 1/2 limão
1dl de água
700g de maçãs
Preparação:
a Num tacho leve ao lume a água
com o açúcar, o gengibre cortado
em cubos e a casca de limão.
Deixe ferver até obter uma calda.
Passe por um passador e reserve.
a Descasque as maçãs em
lâminas finas. Recheie a tarteira
previamente forrada com a massa
folhada.
a Regue com a calda e distribua
por cima os cubos de gengibre.
Leve ao forno.
MOUSSE DE MAÇÃ
Ingredientes:
1/2l de moscatel colheita tardia
3 folhas de gelatina
700 g de maçã
1/2l de água
150g de açúcar
3 claras
4 folhas de gelatina
Preparação:
a Num tacho leve ao lume
o moscatel e deixe ferver até
reduzir para metade. Retire do
lume e ainda quente junte as três
folhas de gelatina previamente
hidratadas em água fria. Dissolva
bem.
a Deite um pouco desta calda no
fundo das taças de servir e leve ao
frigorifico até solidificar.
a Descasque e corte a maçã em
cubos. Coza-os com a água e o
açúcar. Triture e ainda quente,
junte as folhas de gelatina
previamente hidratadas em água
fria. Dissolva bem.
Produção e fotografia: Hugo Campos
26 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
TAÇAS DE MAÇÃS SALTEADAS
Ingredientes:
3 maçãs
80g de nozes
2 colheres de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de mel
1 colher de sopa de açúcar
Casca de 1 laranja
Casca de 1/2 limão
Canela q.b.
Natas q.b.
Preparação:
a Numa frigideira anti-aderente
derreta a manteiga e o açúcar.
Adicione as cascas dos citrinos
e frite um pouco. Junte as nozes
grosseiramente picadas, as maçãs
em cubos pequenos e frite tudo.
a Quando sentir que a maçã está
cozida junte um pouco de canela
e o mel. Envolva tudo. Sirva em
taças com um pouco de natas
batidas.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 27
Vinhos que contam histórias
Rui Falcão
Publicidade
indesejada
MIGUEL MANSO
U
m dos axiomas
mais reverenciados no mundo
da publicidade, repetido até à
exaustão por todos aqueles que
falam em publicidade de uma
forma leiga, é a velha máxima
de que toda a publicidade é
proveitosa para o anunciante,
independentemente de ela se
apresentar conotada com uma
carga positiva ou negativa. Aos
olhos de muitos o simples facto
de se comentar uma empresa
é motivo suficiente para que a
promoção seja efectiva, para que
o nome seja recordado, para que
a semente seja lançada junto dos
potenciais consumidores.
Infelizmente, e como tantas
vezes acontece na vida concreta, a
realidade encarrega-se de refutar
esta teoria tão universalmente
aceite, envolvendo algumas
marcas em processos que se
podem transformar em autênticas
maldições para a sua estratégia. A
publicidade gratuita nem sempre
é acolhida com agrado e nem
sempre é proveitosa, sobretudo
quando posiciona marcas de luxo
fora do seu contexto, fora da sua
zona de conforto, fora do seu
espaço natural.
Uma das vítimas mais
conhecidas deste enfado
mediático foi a prestigiada
marca de roupa norte-americana
Abercrombie & Fitch, uma
etiqueta indelevelmente
conotada com o sportswear com
algum status que foi subitamente
abalada nos seus alicerces
pela presença contínua num
reality show norte-americano da
cadeia de televisão MTV. Mike
Sorrentino, mais conhecido como
The Situation, o asnático pequeno
delinquente protagonista do
famoso reality show Jersey Shore
surgia com frequência nos
écrans enfarpelado em roupas
Abercrombie & Fitch, publicidade
muito mal recebida pela marca
de roupa que se ofereceu mesmo
para pagar ao elenco do reality
show para que estes não usassem
as suas roupas.
Mas o exemplo mais evidente
das consequências incómodas da
publicidade indesejada chega-nos
do vinho, mais concretamente
do universo restrito das grandes
casas de champanhe, vinho
intimamente associado ao luxo e à
celebração dos grandes momentos
da vida. Uma associação directa
entre luxo e glamour que todos
os produtores de champanhe
pretendem promover e conservar
a qualquer custo, posição de difícil
manutenção quando algumas das
marcas mais famosas da região se
viram associadas ao movimento
da cultura popular hip-hop norteamericana.
A história conta-se em duas
penadas e envolve um dos vinhos
mais lendários de Champagne,
o famosíssimo e caríssimo
champanhe Cristal da Roederer,
encomendado originalmente no
século XIX pelo Czar Alexandre
II em garrafa transparente de
28 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
cristal, vestido de rótulo dourado
e embrulhado em papel dourado
com filtro UV para protecção total
do vinho. Um champanhe de reis
e de príncipes, um champanhe de
vedetas consagradas e de artistas
famosos, de figuras públicas
e de apreciadores dedicados,
conotado com o luxo e com uma
qualidade irrepreensível.
Mas eis que essa imagem
de estatuto social construída
ao longo de muitas décadas
de publicidade controlada foi
arruinada com a súbita paixão
da cultura hip-hop por este
champanhe de embalagem
dourada, uma cultura de rua
fascinada por tudo o que seja
brilhante ou dourado, uma
cultura de imagem tumultuosa
que chega a publicitar imagens
de armas banhadas a ouro e que
subitamente elege o champanhe
Cristal a ícone desta cultura,
publicitando o champanhe em
inúmeras letras de música rap
O exemplo mais
evidente das
consequências
incómodas da
publicidade
indesejada
chega-nos
do vinho e do
universo restrito
das grandes
casas de
champanhe
e apresentando-o em infinitos
vídeos onde o champanhe Cristal
é bebido directamente da garrafa
entre outros símbolos de sucesso
material como as roupas Prada e
os automóveis Bentley.
Uma imagem e associação
que não agradou aos directores
da famosa casa e cujo mal-estar
Frederic Rouzaud, o director
executivo da Roederer, não
conseguiu esconder durante
uma longa entrevista concedida
à prestigiada revista Economist.
Quando interrogado sobre os
potenciais conflitos e danos para
a casa sobre a associação do
champanhe Cristal à cultura rap
Frederic Rouzaud respondeu
“Eis uma boa questão, mas
que podemos nós fazer? Não
podemos proibir a comunidade
rap de comprar e beber o nosso
champanhe”. Uma frase que
conseguiu exaltar a cultura
hip-hop norte-americana na sua
totalidade incitando a inúmeros
comunicados e declarações de
boicote à marca, garantindo juras
de nunca mais mencionar ou
comprar o champanhe Cristal.
Quem ganhou com a
insurreição da comunidade
rapper foi a marca de champanhe
Armand de Brignac, um
pequeníssimo e até à data quase
obscuro produtor, subsidiário da
casa Cattier, que subitamente se
viu eleito por toda uma cultura
hip-hop como novo símbolo de
estatuto social e de imagem de
luxo brilhante. Para tal contribuiu
o facto de os champanhes serem
vendidos numa garrafa metálica
que no caso do ex-líbris da casa,
o Armand de Brignac Brut Gold,
também conhecido como Ás de
Espadas, ser embrulhado numa
garrafa metálica dourada opaca
que faz as delícias de uma cultura
que aclama os dourados e as
imagens exóticas.
Uma decisão salomónica que
acabou por fazer a delícia de
duas casas, uma por se ver livre
de publicidade indesejada que
aparentemente banalizava uma
marca de luxo discreta, outra
por ter ganho uma notoriedade
e mercado que desconhecia
até então e a que dificilmente
poderia aspirar.
Vinho
Apresentação
Chá e doces
com os novos
Morgadio da
Calçada
O
pretexto era
a apresentação dos novos vinhos
Morgadio da Calçada, feitos pela
Niepoort em associação com a Casa
da Calçada, de Provesende (Sabrosa), mas na passada segunda-feira
houve mais do que isso. Houve chá
Mizudashi frio antes do Porto Branco, chá Marimo Sencha a meio da
refeição (um creme de cenoura e
uma belíssima açorda de alheira)
e interpretações de crumble de
pêssego em tartelete de amendôa
com creme inglês a acompanhar um
Porto Colheita 1999 (muito bom) e
um Porto Colheita 1954 (excelente)
na sobremesa. Não foi um almoço
excêntrico, foi antes uma “maridagem” alargada, um curioso encontro entre a arte do vinho, do chá e
da doçaria.
Dirk faz os vinhos da Casa da
Calçada desde 2004. Quanto mais
vinhos conhece e prova, mais intransigente se diz em relação aos
vinhos encorpados, densos e potentes que se fazem no Douro. O
seu gosto, mais clássico do que as
suas múltiplas experiências sugerem, aproxima-o cada vez mais de
vinhos do tipo Baga da Bairrada,
região onde a Niepoort tem já um
princípio de acordo para a compra
da totalidade do capital da Quinta
de Baixo, em Cordinhã, Cantanhede. Em Provesende e no concelho
de Sabrosa, Dirk não encontra os
solos calcários da Bairrada, mas tem
a frescura da altitude.
É a mesma frescura delicada que
se encontra, por exemplo, no chá
Mizudashi, uma das várias variedades de chá japonês que a alemã
Nina Gruntkowski comercializa em
parceria com Dirk. Jornalista freelance, Nina partilha com Dirk o gosto por chá. Um dia, ao visitarem a
única plantação de chá da Europa
Continental, no Tessin, no sul da
Suíça, ficaram a saber que a planta
do chá é a Camellia sinensis. Como o
litoral do Norte de Portugal é fértil
em camélias, sonharam logo em fazer a sua própria plantação de chá.
Testaram primeiro uma planta que
trouxeram da Suíça para o Porto
e como resistiu plantaram então,
em Julho de 2010, as primeiras 200
plantas de chá. Mas por agora ainda
só vendem o que importam.
Já Joana Quintas só vende o que
cria. Depois de se formar em Restauração e Produção Alimentar, esta
jovem de 24 anos dedicou-se à pastelaria gourmet, criando doces com
alma (a sua empresa chama-se Sweet Soul). Há uns tempos esteve na
Casa da Calçada e conheceu um dos
proprietários, Manuel Villas-Boas.
Este gostou tanto das suas criações
que a convidou a estar presente no
lançamento das últimas colheitas
de Morgadio da Calçada.
E foi assim que Dirk, Nina, Joana
e Manuel se juntaram em Provesende, na Casa da Calçada — agora também convertida ao turismo rural e
ao enoturismo —, num dia de Verão
tardio. O pretexto eram os vinhos
e, na verdade, nem o chá verde de
Nina, nem os doces de Joana os ofuscaram. Tanto os brancos de 2011
como os tintos de 2009 repetem as
excelentes impressões deixadas pelas colheitas anteriores. O Morgadio
da Calçada Branco Colheita 2001 é
um vinho pleno de frescura e finesse,
com uma mineralidade e uma pureza de sabores e aromas (cítricos e
florais) admiráveis, atributos que o
Reserva também mostra mas de forma ainda mais refinada e complexa,
tirando partido de um uso criterioso
da madeira (é um dos grandes brancos do país). Os tintos destacam-se
igualmente pela sua verticalidade
e frescura natural, em particular o
colheita, que, nesta fase, está mais
interessante do que o Reserva.
Pedro Garcias
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 29
Vinhos
Provas
a Mau
mmmmm Razoável
mmmmm Bom
mmmmm Bom Mais
mmmmm Muito Bom
mmmmm Excelente
Um (bom)
Douro filho
da crise
ENCOSTAS DO GAVIÃO TINTO 2009
mmmmm
Quinta do Couquinho, Moncorvo
Castas: Touriga Nacional,
Touriga Franca, Tinta Roriz e
Tinto Cão
Graduação: 14,5% vol
Região: Douro
Preço: 6,5€
Proposta
da semana
uando ocorre
uma crise económica, o sector dos vinhos é sempre um dos mais atingidos. Mas as
consequências não afectam toda a
gente por igual, porque, se os produtores perdem muito, já os consumidores ficam a ganhar. A queda do
consumo arrasta a queda dos preços
e quanto mais tempo durar a crise
mais baratos ficam os vinhos.
Por causa disso, o mercado interno é hoje uma caricatura do que era
há meia dúzia de anos. O que ainda
se vai vendendo são os vinhos baratos. E quando falámos em baratos,
falamos em vinhos com um preço
da ordem dos dois euros à saída da
adega. O grande fenómeno actual é
a existência de cada vez mais vinhos
de entrada de gama, vinhos acessíveis e de maior volume, os únicos
que, no contexto actual, garantem
liquidez aos produtores. Liquidez,
não lucro.
Não será propriamente o caso
deste Encostas do Gavião, segunda marca da duriense Quinta do
Couquinho. Tendo a sua criação
sido “imposta” pelas restrições actuais do mercado, é um tinto com
um preço de venda ao público de
6,50 euros, bem acima do preço da
maioria dos vinhos que se vende em
Portugal. Mas não deixa de ser um
preço atractivo. Noutros tempos,
pediriam muito mais por ele.
Tinto do Douro Superior, tem um
aroma tão intenso que parece saído de um frasco de fruta do bosque
bem doseada de pimenta. Embora
a madureza em excesso em castas
como a Touriga Nacional e a Tinta
Roriz, duas das variedades presentes no lote, tenda a deixar os vinhos
exuberantes de mais e até algo enjoativos, não chega a ser o caso, porque na boca o vinho mostra contenção, fineza, suavidade e frescura,
dissimulando e equilibrando bem
o álcool. Sendo um vinho maduro
e aromaticamente efusivo, não é
muito extraído, nem está marcado
em demasia pela madeira.
Pedro Garcias
CAZAS NOVAS BRANCO
2011
TINTO DA TALHA GRANDE
ESCOLHA 2009
QUINTA DO ESCUDIAL TINTO
2008
VALLE PRADINHOS PORTA
VELHA 2010
mmmmm
mmmmm
mmmmm
mmmmm
Cazas Novas, Baião
Castas: Avesso e Loureiro
Graduação: 13% vol
Região: Vinhos Verdes
Preço: 4,99€
Roquevalle, Redondo
Castas: Touriga Nacional e
Alicante Bouschet
Graduação: 14% vol
Região: Alentejo
Preço: 7,45€
Quinta do Escudial Vinhos, Seia
Castas: Touriga nacional, Tinta
Roriz, Alfrocheiro e Jaen
Graduação: 14% vol
Região: Dão
Preço: 6,15€
Casal de Valle Pradinhos,
Macedo de Cavaleiros
Castas: Touriga Nacional, Tinta
Roriz e outras
Graduação: 13,3% vol
Região: Trás-os-Montes
Preço: 3,99€
Uma nova marca da região dos
Vinhos Verdes, parceria entre
Carlos Coutinho, proprietário da
Quinta de Guimarães, em Baião,
Diogo Lopes e Vasco Magalhães.
O primeiro fornece uvas, o
segundo faz o vinho, o terceiro
assume a sua comercialização.
Lote de Avesso com um pouco
de Loureiro, é um branco
muito perfumado e mineral.
Tem um aroma vivo e limpo e
é bastante directo e fresco na
boca. Impressiona mais pela
verticalidade e mineralidade do
que pela estrutura e sofisticação.
Não é um branco de encher a
boca, mas sim de deixar a boca
limpa, fresca e preparada para
um novo gole. Ou seja, bebe-se
muito bem e não cansa. Uma
estreia que promete. P.G.
Tinto de perfil clássico, com
sinais de evolução que apontam
para um vinho com mais idade.
Isto poderá querer dizer que
a sua longevidade não será
muito grande, mas, por agora,
está interessante, beneficiando
dessa patine precoce. Muito
apimentado no nariz, onde
também se nota alguma “doçura”
do carvalho americano, tem um
bom volume e taninos presentes
mas redondos. Faz boa figura à
mesa, embora ganhasse com um
pouco mais de acidez. P.G.
Tinto muito frutado e fresco.
Apesar de não ter qualquer
contacto com a madeira, não cria
nenhum tipo de repulsa na prova
de boca. Os quatro anos que
já tem ajudaram a temperar os
taninos e os seus 14% de álcool
também o adamaram. Não sendo
muito complexo, bebe-se com
bastante prazer. Não cansa e tem
boa aptidão gastronómica. P.G.
Um clássico de Trás-os-Montes a
um excelente preço. É bastante
frutado, fresco e equilibrado
de álcool. Para um vinho sem
madeira e feito sobretudo de
Tinta Roriz e Touriga Nacional
seria de esperar que fosse
um pouco agressivo na boca
(devido, acima de tudo, aos
taninos difíceis da Roriz). Mas
não. O vinho é muito apetitoso
e delicado, mostrando taninos
surpreendentemente macios,
algo só possível com um bom
trabalho de enologia. P.G.
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que estão prestes a chegar ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os seus
critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada: Fugas - Vinhos em Prova, Praça Coronel Pacheco, n.º 2, 3.º 4050-453 Porto
30 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
Saber apura o sabor.
Dão
11 SEMANAS DE DESCONTOS
POUSADA DE VISEU
POUSADA DE VILA POUCA DA BEIRA
POUSADA DE MANTEIGAS
53% DESCONTO
56% DESCONTO
53% DESCONTO
Noite para 2 pessoas com pequeno-almoço.
Noite para 2 pessoas no Convento
do Desagravo com pequeno-almoço.
Noite para 2 pessoas na Pousada de
São Lourenço com pequeno-almoço.
Sujeito a reserva mediante disponibilidade até 28/12/2012.
Sujeito a reserva mediante disponibilidade até 28/12/2012.
Sujeito a reserva mediante disponibilidade até 28/12/2012.
Preço original: 190€. Preço com desconto: 89€ (IVA incluído).
Preço original: 200€. Preço com desconto: 89€ (IVA incluído).
Preço original: 190€. Preço com desconto: 89€ (IVA incluído).
Rua do Hospital, 3500-161 Viseu
TELF. 282 240 001
[email protected] www.pousadas.pt
Calçada do Convento, 3400-758 Vila Pouca da Beira
TELF. 282 240 001
[email protected]
Penhas Douradas, Manteigas
TELF. 282 240 001
[email protected]
Validade: Válido para estadias de 6 de Outubro
até 26 de Março de 2013. Excepto de 24 de Dezembro
a 1 de Janeiro
Validade: Válido para estadias de 6 de Outubro
até 26 de Março de 2013. Excepto de 24 de Dezembro
a 1 de Janeiro
Validade: Válido para estadias de 6 de Outubro
até 26 de Março de 2013. Excepto de 24 de Dezembro
a 1 de Janeiro
QUINTA DO RIO ALVA
VINHA PAZ
CASA DA PASSARELA
46% DESCONTO
10% DESCONTO
NA COMPRA DE VINHOS
50% DESCONTO EM PROVA
2 Noites para 2 pessoas em quarto duplo.
Sujeito a reserva mediante disponibilidade.
Preço original: 120€. Preço com desconto: 65€ (IVA incluído).
Largo das Moendas, 260 - 3420-178 Mouronho
TLM. 962 692 710
www.quintarioalva.net
Sujeito à disponibilidade dos produtos
em stock na loja.
Quinta da Leira, Oliveira de Barreiros
S.J. Lourosa, 3500-884 Viseu
TLM. 937 015 354
Sujeito a marcação prévia e ao mínimo de 4 pessoas.
Rua de Santo Amaro, 3
Passarela - 6290-093 Lagarinhos
N40’496701 W-7’670174
TELF. 238 486 312
[email protected]
www.oabrigodapassarela.pt
Validade: 31/12/2012
Validade: 31/12/2012
Validade: 31/01/2013, excepto períodos festivos
CASA DA PASSARELA
QUINTA DO MONDEGO
CHALÉS DE MONTANHA
15% DESCONTO EM VINHOS
50% DESCONTO PROVA
DE VINHOS
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na loja de vinhos ou para compras
de valor superior a 50€.
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Grátis garrafa de Quinta do Mondego Branco,
para quem aderir a esta promoção de prova
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Rua de Santo Amaro, 3 - Passarela
6290-093 Lagarinhos
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Sujeito a reserva e limitado ao stock existente.
Preço normal: 30€. Preço com desconto: 15€
Validade: 31/12/2012
Validade: 31/12/2012
Estrada do Mondego, Caldas da Felgueira, 3520 Nelas
[email protected] www.quintadomondego.pt
Desconto sobre a tarifa de balcão. Pagamento e reserva
directamente com o prestador do serviço mediante
disponibilidade. Não acumulável com outras ofertas ou
promoções.
Todo o ano excepto programas especiais, Natal,
Fim de Ano, Dia dos Namorados, Carnaval e Páscoa.
Estrada Nacional, 339, Penhas da Saúde,
Serra da Estrela, 6200-073 Covilhã
TELF. 275 310 300
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Validade: 31/03/2014
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HOTEL DOS CARQUEIJAIS
HOTEL DA SERRA DA ESTRELA
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OFERTA DA SEGUNDA NOITE,
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Pagamento e reserva directamente com
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Avenida Dr. Abel Larceda, 3475-031 Caramulo
TELF. 232 860 100
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Validade: 31/03/2014
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reserva directamente com o prestador do serviço
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Todo o ano excepto programas especiais, Natal,
Fim de Ano, Dia dos Namorados, Carnaval e Páscoa.
Estrada Nacional, 339,
Serra da Estrela, 6200-073 Covilhã
TELF. 275 319 120
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Estrada Nacional, 339, Penhas da Saúde
Serra da Estrela, 6200-073 Covilhã
TELF. 275 310 300
[email protected] www.turistrela.pt
Validade: 31/03/2014
Validade: 31/03/2014
QUINTA DA PALMEIRA
BY ESSENTIALS HOUSE MOMENTS VISEU
CALDAS DA FELGUEIRA - TERMAS E SPA
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NA COMPRA DA PRIMEIRA
50% DESCONTO
OFERTA DA SEGUNDA MASSAGEM
NA COMPRA DA PRIMEIRA
Quarto superior ou júnior-suite. Desconto sobre a tarifa
de balcão. Pagamento e reserva directamente com
o prestador do serviço mediante disponibilidade.
Não acumulável com outras ofertas ou promoções.
Todo o ano excepto de 15 de Junho a 15 de Setembro,
de 15 de Dezembro a 5 de Janeiro e nos feriados.
Nas Massagens Balinese ou L’Aire D’Orient.
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o prestador do serviço mediante disponibilidade.
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Rua Principal, 36, 3305-050 Cerdeira, Arganil,
TELF. 235 728 125 TLM. 911 017 455
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Quinta de São Carlos,
Rua São Miguel, 11, 3515-148 Abraveses, Viseu
TELF. 232 452 192 TLM. 963 267 229
[email protected] www.essentials.pt
Validade: 31/03/2014
Validade: 31/03/2014
Válido para a massagem localizada com óleos
essenciais ou massagem localizada de chocolate.
Pagamento e reserva directamente com o prestador
do serviço mediante disponibilidade. Não acumulável
com outras ofertas ou promoções.
Avenida António Marques, Caldas da Felgueira,
3525-201 Canas de Senhorim (Nelas, Viseu)
TELF. 232 945 000 TLM. 969 800 195
[email protected]
www.termasdafelgueira.pt
Validade: 31/03/2014
Bar aberto
Terrace Lounge 360°
Os 360°
do vinho
do Porto
Mais bares em
fugas.publico.pt
ESPAÇO PORTO CRUZ
Largo Miguel Bombarda, nº 23
4400 - 222 Vila Nova de Gaia
Tel.: 220 92 53 40/220 92 54 01
E-mail: [email protected]
www.myportocruz.com
Horário: domingo e segunda
A
travessamos as
entranhas de uma mulher de negro,
mas ainda não sabemos. Sabemos,
sim, que estamos no topo e não importa que seja apenas um quarto andar. Este é um daqueles casos em que
o nome não engana — ou não engana
muito: o Terrace Lounge 360° é terraço integral, a atmosfera é lounge e
apenas falha, por pouco, os 360° graus
de vista. E é nela que percebemos que
já só temos o Porto na cabeça. A cidade, sim, na outra margem, e o vinho,
que nos rodeia e nos trouxe até aqui.
Ou não estivéssemos no último piso
do Espaço Porto Cruz, que tem tudo
para se tornar um ícone da ribeira de
Vila Nova de Gaia (sobretudo quando
visto à noite, brilhante nos LED que o
tornam quase uma caixa de luz).
Instalado em edifício do século
XVIII e recuperação oitocentista, este
espaço tem como ambição celebrar a
cultura do vinho do Porto e ao mesmo
tempo desmistificá-lo e ao seu consumo (aperitivo ou digestivo, bebida de
sair ou de estar, à lareira ou na piscina...). Haverá melhor maneira de fazer
cumprir esses desideratos do que com
um brinde com o mais famoso vinho
português? É aí que entra o Terrace
Lounge 360°: foi pensado para final de
visita mas também tem vida autónoma, à margem dos restantes elementos que compõem esta espécie de organismo, que se quer vivo, do Espaço
Porto Cruz — se não, veja-se o horário
de funcionamento para percebermos
o outro fôlego do lounge.
Não é que falte irreverência no modo como se desdobra este espaço, que
recorre a elementos multimédia e a alguma interactividade para nos envolver num mergulho que une as raízes
ao futuro do vinho do Porto em quatro andares: aqui transcende-se o conceito de caves (que o Porto Cruz tem,
mas não abertas a visitantes) para se
aproximar mais de um centro cultural
informal, com exposições (destaque à
escultura-homenagem de Siza Vieira
ao terroir duriense), filmes e lazer (restaurante do chef Miguel Castro Silva
incluído). Mas a subversão definitiva
pode ser vista na carta de cocktails do
Terraço Lounge 360°.
das 12h30 às 19h; de terça a
quinta-feira das 12h30 às 24h;
sexta e sábado das 12h30 às
02h.
Preços: cocktails a 5€; vinho do
Porto a copo desde 1,80€; vinho
a copo desde 1,80€; espumante
desde 2€ (flûte); sangria (Cruz
Pink, vinho tinto e branco) a
2,80€ (copo); sangria de cerveja
a 2,40€ (copo); café a 1€; água a
1€; petiscos entre 1,20€ e 7,50€.
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
Esta noite
apetece-me
VOLTAR AO RUBIK
É verdade que os cocktails com vinho do Porto já não são incomuns;
contudo, aqui a criatividade foi deixada sem rédeas e sem medida. O
resultado conjura uma série de sabores aparentemente antagónicos num
mesmo copo, sem interditos: o Spicy
Pink, por exemplo, é doce e picante
(e “rosa”: laranja e chili a harmonizar com Pink Cruz, o Porto rosé “da
casa”), e, como todos, foi criado por
Paulo Ramos — depois sujeito ao crivo
de vários degustadores antes de chegar à carta de cocktails, explica Ana
Bolina, assessora do espaço. Uma que
não se quer “estagnada”, sublinha, e
que, portanto, em breve se vestirá de
32 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
sabores mais invernais. Por enquanto, porém, há Rosemary (poderia ser
um já quase prosaico Porto Tónico,
não fossem o rosmaninho, o gengibre
e a laranja a agitarem a água tónica e
o Cruz Branco), Cruz Passion (vinho
branco e maracujá) e Pink Mojito
(rosé, lima, limão e hortelã) — várias
declinações para oferecer o vinho do
Porto a degustações por novos (e velhos) públicos.
Claro que não é apenas de cocktails
que se faz este Terrace Lounge, que encontramos tranquilo sob o sol manso
de um final de tarde de Setembro. As
duas ilhas de sofás e chaises-longues,
cor bege e tamanho XL, em torno
de mesas baixas são como dois oásis
dentro deste oásis com vista. Diremos
apenas que pela frente a vista se abre
ao Porto Património da Humanidade,
aninhado na Ribeira e trepando até ser
apenas o topo da Torre dos Clérigos;
por trás, um puzzle de telhados vermelhos que são as caves do vinho do Porto; o Mosteiro da Serra do Pilar parece
estar ao alcance da mão e o teleférico
que o une ao cais de Gaia sobrevoanos rasante; a ponte D. Luís exibe-se
em toda a sua elegância, observando
os barcos que a cruzam.
Entre os encontros inesperados em
que se envolvem estes “portos” Cruz
(já falamos das sangrias?), espaço sobra para a “ortodoxia” vínica (a lista
de vinhos vai além do Porto, entre reservas, grandes reservas, colheitas especiais) a acompanhar petiscos como
requeijão com compota de abóbora
ou cordoniz de escabeche, tostadas,
presunto pata negra ou salada do mar,
rematada com sobremesas.
Voltamos à “mulher de negro”,
imagem do Porto Cruz, que estiliza o
interior do edifício. São as suas vestes
que seguimos para percorrer os interstícios o Espaço Porto Cruz com os seus
slogans que parecem ganhar vida: passamos pelo “país onde o negro é cor”
e terminamos em “todas as cores do
Douro” — no cenário e no copo.
Andreia Marques Pereira
Esteve oito meses fechado
e reabriu com múltipla
personalidade. Continua em
Alfama, na órbita de Santa
Apolónia, este Rubik (Lisboa)
que agora é café ao longo do dia,
veste-se de bar a partir das 22h
e transfigura-se em discoteca
quando o relógio passa a 1h, 1h30.
“ZAZAR”
Ao lado da Avenida dos Aliados e
a um passo da movida portuense,
o Zazá Sandwiches & Bar (Porto)
é um oásis de tranquilidade.
Oferece refeições ligeiras,
petiscos e sobremesas durante
todo o dia (de segunda a quinta
fecha às 22h, à sexta e sábado
às 24h), é pródigo em vinho a
copo e cervejas estrangeiras e a
insuspeita selecção de 30 de gins
premium merece ser descoberta.
Montra
Navegar à
vista com
um jardim
na moldura
AUSCULTADORES DE CORRIDA
Para quem não dispensa a
companhia da sua música
favorita na hora de fazer
exercício, a Infinite Connections,
representante em Portugal
da Denon, apresenta os
auscultadores de fitness AHW150. Ligação sem-fios por
Bluetooth, bateria recarregável
de sete horas e à prova de
transpiração, existem em várias
cores. www,denon.pt, 149,99€
PLANTAS NO QUADRO
São vasos minimalistas em desenho e conteúdo
— os Factory da Metaphys, criados pelo designer
japonês Chiaki Murata, permitem plantar na parte
inferior uma pequena área de relva ou plantas
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OVOS ESCULTURAIS
Elegante e divertido acessório de cozinha,
este porta-ovos em espiral de aço inoxidável
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CAIAQUE SEM FUNDO
Ou, pelo menos, parece. O mar ou a água doce ficam
sempre à vista com o caiaque transparente Molokini,
construído com um tipo de policarbonato, usado na
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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 33
Jardinagem
O desafio:
colher e
conservar
frutas
ENRIC VIVES RUBIO
Pouco calóricas,
recomendadas pela
Organização Mundial da Saúde
(400g por dia) e protagonistas
de uma alimentação saudável,
as frutas podem estar crescer
no seu quintal ou varanda e
correr o risco do desperdício.
Como conservar — e poupar.
Ana Cristina Correia
A
produção
e o consumo de “fruta da época”,
principalmente quando somos nós
que a produzimos, tem a vantagem
de ser mais barata, ter uma menor
pegada ambiental e ter um efeito
positivo na economia quer ao nível
local, quer nacional. Contudo, se a
quantidade de fruta produzida for
superior ao seu consumo torna-se
necessário proceder à sua correcta
conservação. Para se poder conservar adequadamente a fruta é necessário conhecer bem o processo geral
do seu amadurecimento, pois esta é
constituída por células vegetais que
continuam vivas após a colheita,
continuando a produzir e a consumir
energia através da respiração.
A data da colheita é importante?
A determinação do correcto estado
de maturação é determinante para se
obterem frutos de elevada qualidade.
34 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
Saber qual o destino final da fruta
ajuda na fixação da data de colheita:
as frutas destinadas ao consumo ao
natural devem ser colhidas maduras
ou ligeiramente firmes, enquanto as
que são destinadas à conservação devem ser colhidas mais firmes.
Como se classificam os frutos
quanto ao amadurecimento?
É na fase de desenvolvimento, designada por maturação, que ocorrem
diversas alterações físicas e químicas
ao nível da cor, aroma, sabor e textura que vão influenciar a qualidade
da fruta.
As mudanças ocorridas nesta fase
são desencadeadas, principalmente,
pela produção de um gás, o etileno
e, em consequência do aumento da
respiração do fruto. Este processo
ocorre mesmo após a colheita da
fruta e, está intimamente ligado
com a temperatura. Em geral, temperaturas mais elevadas aumentam a
respiração reduzindo a longevidade
da fruta.
De acordo com o comportamento fisiológico as frutas integram dois
grupos distintos:
— Um grupo, designado como “climatérico”, em que as frutas podem
ser colhidas mesmo que não estejam
completamente maduras, pois a maturação normalmente só é atingida
após a remoção dos frutos da árvore.
No entanto, não devem ser colhidas
muito jovens pois vão conduzir a
perdas significativas, principalmente do doce. Fazem parte deste grupo
a ameixa, banana, figo, kiwi, maçã,
manga, melão, pêra e pêssego.
— No outro grupo, “não climatérico”, as frutas devem permanecer na planta até atingirem o
amadurecimento completo. Estas
frutas não amadurecem depois da
colheita, não ficam mais doces e
não melhoram o sabor. Algumas
podem até apresentar uma textura
mole e mudar de cor, mas se forem
colhidas pouco doces, essa característica permanece para sempre.
Fazem parte deste grupo: cereja,
citrinos, morango, nêspera e uva.
Como evolui a qualidade da fruta?
A qualidade da fruta consumida no
estado “in natura” (em fresco) não
pode ser melhorada, mas somente
preservada durante algum tempo.
Contudo, a preservação da qualidade, assim como o período de conservação estão intimamente associados
ao comportamento fisiológico na
pós-colheita. O conhecimento dos
processos de morte dos tecidos dos
frutos possibilita uma definição do
período de conservação preservando ao máximo as suas características
originais.
Como conservar as frutas?
Se as frutas estão no grupo “climatérico”, estas devem ser colocadas
num recipiente à temperatura ambiente (numa fruteira, por exemplo)
misturadas com frutas do grupo não
climatérico para que o etileno produzido pelo primeiro grupo possa
amadurecer as outras frutas com
menor produção desse gás. Se as
frutas são do grupo “não climatérico”, a temperatura de conservação
deve ser mais baixa (por exemplo, no
frigorífico) para que a velocidade de
amadurecimento seja retardada.
Engenheira Agro-Industrial, Mestre
em Ciência e Tecnologia dos Alimentos
e da Associação Portuguesa de Horticultura
Plano de viagem
Quatro dias para descobrir Istambul à mesa, com aulas
de cozinha e jantar com uma família turca. Preço: 550€
com alojamento, transportes terrestres, transfer e o
acompanhamento do guia Francisco Martins. O voo ronda
os 300€ e alimentação cerca de 40€/dia. Próximas datas: 1
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o mundo encantado dos Funghi
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esta época: são dois dias com
actividades ligadas às vindimas
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jantar em hotel, almoço regional,
degustação de vinho do Porto
e participação na apanha e pisa
das uvas. O regresso ao Porto é
efectuado de comboio.
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BTT nas aldeias históricas
De 31 de Outubro a 4 de
Novembro, realiza-se mais
uma Travessia de BTT- Aldeias
Históricas, com um trajecto em
quatro etapas, que começa em
Celorico da Beira, passa por
Trancoso, Marialva, Castelo
Rodrigo, Almeida e termina em
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Lá fora
Cruzeiro fluvial na Andaluzi
Israel
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navio Belle de Cadix e durante
oito dias parta à descoberta
de dois rios: o Guadalquivir e o
Guadiana, com partida e chegada
de Sevilha e visitas a Cádiz, Jerez
de la Frontera, Alcoutim e Vila
Real de Santo António. Inclui o
cruzeiro em regime de pensão
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dupla e animação a bordo.
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dias por Telavive, Nazaré,
Galileia, Jerusalém e Belém.
Inclui passagem aérea à saída
de Lisboa, taxas, alojamento em
hotéis, onze refeições e visitas
com guia.
www.lusanova.pt
NUNO FERREIRA SANTOS
Cogumelos
na serra da Cabreira
Ar livre
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 35
Zoom
Óscares do
turismo europeu
anunciados hoje no
algarvio Conrad
E
CARLA ROSADO
Lisboa
lidera nas
nomeações
nacionais,
como city
break ou
destino
europeu,
entre outras
chegou o grande dia. Os “óscares” do turismo
europeu são anunciados hoje com
Portugal na corrida por 20 estatuetas com 17 nomeados. E o local de
entrega não poderia constituir melhor auguro: a cerimónia decorre
no novíssimo cinco estrelas algarvio Conrad, chancela exclusiva da
rede Hilton.
A liderar as estrelas nacionais do
turismo está Lisboa, que consegue repetir as cinco nomeações anteriores
para melhor destino europeu global,
destino de escapadas urbanas (city
breaks), aeroporto, porto e destino
de cruzeiros. Também em destaque
volta a estar a TAP, nomeada para
melhor companhia aérea e classe
executiva da Europa, o Turismo de
Portugal ou a Praia Dona Ana.
Na hotelaria, o Villa Joya — o
único nomeado português que
conquistou um destes prémios em
2011 e que viria a afirmar-se como
o melhor do mundo na cerimónia
global — perfaz duas nomeações:
melhores boutique hotel (que disputa com o Choupana Hills e o Hotel Quinta da Bela Vista) e boutique
resort (inclui ainda Choupana Hills,
que concorre também a hotel “verde” e resort insular — nesta categoria, com o Reid’s Palace).
Na categoria luxo, entra o Pestana Carlton (Madeira) e a lista dos
melhores hotéis design inclui o
também madeirense The Vine. Para
melhor resort concorre o Sheraton
Algarve Hotel; resort tudo incluído, o algarvio Da Balaia Club Med
e o Pestana Porto Santo; resort de
golfe, o Dona Filipa & San Lorenzo
e Hotel Quinta do Lago; resort de
reuniões, o Vila Sol; e entre os villa
resort está o Martinhal Beach.
Os World Travel Awards, organizados desde 1993, dividem-se por
dez regiões — África, América Central, América do Norte, América
do Sul, Ásia, Austrália, Caraíbas,
Europa, Médio Oriente e Oceano
Índico — com as galas de cada divisão a decorrerem ao longo do ano
e culminando numa cerimónia final
(com os prémios para os melhores
do mundo), que este ano está marcada para Dezembro em Nova Deli,
na Índia.
www.worldtravelawards.com
Lady Liberty prepara-se
para voltar ao activo
Low-cost asiática cria zona
sem crianças
Feira TT ocupa praia de
Mangualde
E clássicos mostram-se
em Matosinhos
Esta semana
na Fugas online
A Estátua da Liberdade em Ellis
Island, Nova Iorque, vai reabrir a
visitas depois de, no último ano,
ter sido vedada para obras que
visaram melhorar a segurança de
quem visita o monumento e que
custaram cerca de 27 milhões de
dólares (20,9 milhões de euros).
A partir de 28 de Outubro, data
em que Lady Liberty comemora
126 anos, devolve-se “um ícone
do século XIX para o século XXI”,
como sublinhou há um ano o
secretário norte-americano do
Interior, Ken Salazar. O público
poderá assim regressar ao
monumento e até visitar a coroa
da estátua, agora com novos
mecanismos de segurança,
nomeadamente contra
incêndios, sistema eléctrico
renovado e escadas e elevadores
a estrear. Para ter acesso à vista
da coroa será necessário, além
de marcação de visita, escalar
350 degraus. C.B.R.
www.nps.gov
www.nycgo.com
Voar livre de gritos infantis. Essa
é a proposta da companhia de
baixo-custo malaia AirAsia X,
que anunciou a intenção de
vedar o acesso a sete filas, entre
os corredores 7 e 14 (i.e., logo a
seguir aos lugares de primeira
classe), a passageiros com menos
de 12 anos, especifica a empresa
no seu site. A “zona de sossego”,
como é designada, estará
disponível a partir de Fevereiro
e sem quaisquer custos
acrescidos, avançou a AFP.
A medida não é inovadora:
também a Malaysia
Airlines restringiu, em
Junho do ano passado,
a entrada de crianças
na primeira classe dos
seus A380 na sequência
de queixas recebidas e
apesar de a companhia
ter admitido que a
medida implicaria uma
quebra nas receitas.
www.airasia.com
Trial, navegação, passeios. O
todo-o-terreno está de volta a
Mangualde para se mostrar nas
suas mais variadas vertentes. A
feira, organizada pelos clubes
Dá Gás e Rodas no Trilho com
o apoio da autarquia local, está
instalada na Praia Artificial de
Mangualde até amanhã. Mas,
além dos vários stands presentes,
há actividades programadas:
depois de ontem ter arrancado
com uma prova trial, hoje (a
partir das 12h) está previsto
um momento para apurar a
navegação e amanhã, a partir das
9h30, há passeios, tanto em todoo-terreno como em BTT.
expottmangualde.blogspot.pt
O Autoclássico — Salão do
Automóvel e Motociclo Clássico e
de Época está de volta à Exponor,
em Matosinhos, para a sua 10.ª
edição. Até amanhã, há mais
de 40 mil metros quadrados
para visitar que, repartidos
por cinco pavilhões, revelam
alguns exemplares clássicos
de automóveis e motociclos,
abrigam associações e clubes
e promovem o mercado de
peças e acessórios. Mas as
atenções deverão concentrar-se
no Motorshow, que ocupa todo
o pavilhão 5, onde também se
encontra o paddock, e em cujas
exibições participam alguns
pilotos de renome: em 2011, o
destaque foi para Miki Biasion,
antigo campeão de rali.
www.eventosmotor.com
Na espuma da festa
Munique viveu a maior das
festas de cerveja do mundo.
Veja as melhores imagens da
Oktoberfest, uma fotogaleria
onde correm uns sete milhões de
litros de cerveja...
36 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
Vai um escorpião tostadinho?
A comida que para uns é
impensável (ou mesmo ilegal),
para outras partes do mundo
é um acepipe (e petisco sine
qua non). Volta ao mundo
em 30 comidas radicais, não
aconselhável a estômagos
sensíveis.
World Travel Awards
Veja a fotogaleria e vencedores
em fugas.publico.pt
As fugas dos leitores
As 5 coisas
de que eu mais gosto...
Madrid,
Agosto
de 2012
Eu e a minha mulher voltámos
os dois a Madrid para estar, ver,
visitar Madrid. Low-cost, como
teríamos feito, mesmo sem crises.
Madrid continua a ter muito
que ver — se bem que prefiro,
vá-se lá entender porquê Londres
— pelo que começámos pelo
Palácio Real, que nos fez pensar
que alguém, no caso o actual rei,
não sabe ou não consegue deixar
o “poder” e está na fase de fazer
figuras que não se coadunam
com quem soube tao bem ajudar
Espanha a passar da ditadura para
a democracia, sem guerras.
Continuámos a pé pelo meio
de muitos turistas, espanhóis,
italianos, orientais. E fomos
passando pela Ópera, Plaza
Mayor, Porta do Sol. Pelo caminho
comprámos agua e acabámos por
fazer sanduiches que comemos
em frente ao Congresso dos
Deputados, que estão de férias.
Tínhamos dois bilhetes de
metro para turistas que nos
permitiam viajar indefinidamente
por dia, que havíamos utilizado
do aeroporto ao centro da cidade,
onde ficámos num hostal, muito
simpático, muito pequeno, muito
cómodo e limpo.
Depois um dia para museus:
o Prado fez-nos andar para
trás de 1899, vendo reis e o
cruzamento destes com tantos
outros de outras monarquias
europeias, para hipoteticamente
não se perder o sangue dito azul.
Vimos imagens belas de pintores
célebres de todo esse período.
A seguir, Museu Rainha Sofia,
que a partir de Janeiro próximo
vai contar com o ainda director
do nosso Museu de Serralves
como seu sub-director. Enorme,
arte contemporânea, e o que
mais pessoas atrai é sem duvida:
Guernica de Picasso. Havia um
grupo de orientais ávidos por
absorver cultura e conhecimento.
Guernica era a centralidade.
Saindo, a estação de Atocha,
que foi alvo de um dramático
atentado de prepotência da AlQaeda, que matou e feriu pessoas
que naquele dia viajavam de
metro e de comboio.
De louvar os centros de
informação para turistas, bem
preparados para nos ajudar. Vá-se
lá saber porquê não falo espanhol
e não arrisco o espanholês,
falo em português; se não me
entendem, uso o inglês, a minha
mulher faz o espanholês e lá nos
compreendemos. Curiosidade:
sou Amigo de Serralves, mostrei
o cartão, não faziam a mínima
ideia no Rainha Sofia onde era
Serralves, mas mesmo assim
fizeram-me 50% de desconto.
Um dia para o Escorial e Vale
dos Caídos. O primeiro bem
maior do que o nosso Convento
de Mafra, sem quartel — ainda
bem — e, lá dentro, mais bem
conservado. Também lá se deve
ter gasto dinheiro que nunca por
nunca deve poder faltar à cultura.
De seguida Vale dos Caídos,
o único local que me “tocou
imenso” nesta estada em Madrid.
Um espaço feito no interior
de uma montanha no meio
do nada, pelo ditador Franco,
supostamente em memória dos
mortos da Guerra Civil 1936-39.
Claro que a ideia foi o ditador
deixar obra a lembrá-lo, e é
deslumbrante, de tão grande e
com um forte silêncio — sente-se o
silencio, a doer —, uma excessiva
mistura entre a Igreja de Roma
— à época — e o poder de um
ditador, e tantas pessoas devem
ter morrido a construir aquele
monumento. Mas impressiona o
silêncio e faz-nos pensar no que
de muito bom por vezes o ser
humano faz, mas em tantas mais
vezes faz o mal.
Andar a pé em Madrid ou
noutro local faz-nos estar no
meio, ver tudo, sentir tudo.
O metro ajuda-nos em certas
ocasiões, quando sentimos que
já não temos 20, 30, 40, 50 anos
e algumas distâncias a pé são-nos
impróprias para a idade.
Na ida para o Escorial e Vale
dos Caídos, de camioneta, notase a crise em Espanha. Um mar
de segundas casas, fechadas,
abandonadas, à venda sem
comprador, sem dinheiro! E
espante-se ou não, o tique das
rotundas com tralha dentro não
é um privilégio de Portugal, de
Viseu ou de S. João da Madeira, lá
é igual.
E um avião “plantado” em
frente ao Ministério do Exército
do Ar, em Moncloa, fez-me
lembrar quando em trabalho
estive no Senegal — tem mais de
25 anos, uma forma estranha, de
mostrar força! Bélica!
Madrid continua a ter que ser
visitada, vale muito, aprende-se
muito, mas já se sente nas ruas,
nas caras das pessoas a crise, o
desconforto. Ruas menos limpas,
mas jardins muito bem tratados.
A Europa não pode ficar-se por
ser um museu do mundo. Seria
muito pouco.
Aproveitámos ainda, claro,
para visitar o Museu ThyssenBornemisza, com peças,
essencialmente quadros, do
século XVIII ao XX, gostei de
rever Freud, o neto do homem
da psicanálise, que representa a
mulher tão da mesma forma como
a nossa Paula Rego.
Por fim regresso a casa, sempre
low cost. Ficando sempre a
esperança de para o ano, haver
mais, para além das crises.
Augusto Küttner de Magalhães
Os textos, acompanhados preferencialmente por uma foto, devem ser enviados para [email protected]. Os relatos devem ter cerca de
2500 caracteres e as dicas de viagem cerca de 1000. A Fugas reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos,
bem como adaptá-los às suas regras estilísticas. Os melhores textos, publicados nesta página, são premiados. Esta semana com um
exemplar da colecção Arquitectos Portugueses. Mais informações em fugas.publico.pt
...em Sydney
Celso Paiva tem 29 anos, é
engenheiro civil e vive e trabalha
em Sydney há dois anos.
1
Sydney Fish Market
O Mercado do Peixe de Sydney
é o local ideal para juntar uns
amigos e comer os mais variados
tipos de pratos piscatórios.
Desde de o famoso “fish and
chips”, passando por ostras
Kilpatrick e acabando com
sashimi do mais fresquinho que
se pode arranjar. Tudo enquanto
se contempla a ponte Anzac e
se tenta afuguentar as atrevidas
gaivotas aussie.
3
Livraria Kinokuniya
É difícil encontrar livrarias em
Sydney e a Kinkuniya é quase tão
difícil de localizar como de
pronunciar. Nesta que é a única
loja na Austrália de uma cadeia
japonesa de livrarias, facilmente
se perde horas (e dólares) a
saciar os desejos literários.
Escondida no terceiro andar de
um prédio adjacente à principal
estação de comboios da cidade,
torna-se um autêntico santuário
numa zona de constante
movimento e caos urbano.
4
2
Barbecues à beira-mar
A Austrália tem a bela tradição
do churrasco na praia. Todas
as praias da cidade como
Bondi, Bronte ou Coogee têm
instalações de churrasco grátis
e à disposição de quem quiser.
Por vezes pode-se estar uma
boa meia hora à espera de uma
vaga para se assar a salsicha,
mas, tendo uma geleira cheia de
cerveja por perto, a conversa flui
entre amigos e desconhecidos e
a tarde passa num instante.
Newtown e Surry Hills
O lado mais alternativo de
Sydney. Seja na longa avenida
de King St. ou na rede de
perpendiculares e paralelas de
Surry Hills, comeca-se o dia com
um brunch num café hip, seguese para uma tarde de compras
em lojas de discos ou de roupa
em segunda mão, recupera-se
com um jantar vietnamita ou
africano mais em conta (para o
bolso australiano) para se acabar
bebendo uns copos ao som de
uma banda local.
5
Manly Ferry
A resposta de Sydney ao
cacilheiro. O barco que faz o
serviço para Manly, na costa
norte de Sydney, permite, pelo
preço de um transporte público,
ter a vista de um cruzeiro
turístico com a ponte de Sydney
Harbour e a Casa da Ópera como
elementos em destaque num
pano-de-fundo de arranha-céus
já de si impressionante.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 37
Motores
Fiat Strada 1.3 Multijet Adventure cabine dupla
Tem de haver
vida para além
do trabalho
As pick-up podem medir-se aos
palmos. A Fiat Strada, apesar
de bem parecida, é capaz de
não encher as medidas num
primeiro contacto, mas ao fim
de algum tempo deixa revelar
o que de melhor possui. Luís
Filipe Sebastião (textos) e José
Fernandes ( fotos)
A
Fiat apregoa
que a Strada nasceu para o trabalho,
mas como tem vindo a ser costume
no segmento das pick-up os seus argumentos vão mais além e também
permitem que seja usada no lazer. A
motorização 1.3 Multijet, com 95cv,
está disponível na configuração de
cabine curta, longa e dupla, e mesmo o nível de equipamento superior
Adventure ainda se faz pagar por um
valor atractivo.
A Fiat decidiu produzir a Strada
no Brasil, mercado onde a marca
italiana é bastante popular, mas
concebeu-a para o mercado global.
A versão base, designada Working,
contempla na exígua lista de equipamento da cabine curta (dois lugares)
a direcção assistida, o ABS, com distribuição electrónica da força de travagem, os encostos de cabeça ajustáveis e a roda sobressalente normal.
Isto por uns competitivos 16.980€.
A cabine dupla, além do espaço
para quatro ocupantes, acrescenta pouco mais do que as barras de
tejadilho. O nível Trekking, de cabine curta ou longa (dois lugares e
espaço adicional atrás dos bancos),
mantém a vocação de trabalho com
regulação do volante em altura e faróis de nevoeiro. No topo da gama
surge a Adventure, em cabine longa
ou dupla, que já possui ar condicionado e airbags para condutor e
passageiro.
As protecções em plástico que
envolvem a carroçaria, principalmente em torno das cavas das rodas, fazem todo o sentido da parte
de fora. Assim como as barras metálicas associadas à estrutura sobre
o tejadilho, ou os estribos junto às
rodas posteriores, para facilitar a
subida para a caixa de carga e que
lhe conferem um ar patusco e resistente. Já no interior o abuso dos
revestimentos em plásticos rijos
acaba por impor um visual demasiado austero, que pode fazer sentido
quando se pretende um veículo à
prova de todo o tipo de actividade.
O cenário pode animar um pouco
com os opcionais bancos e volante
forrados em pele (1107€).
Sob o capot, a Fiat acomodou o
seu conhecido motor 1.3 litros Multijet, com 95cv. Este turbodiesel de
quatro cilindros, muito linear na
entrega da potência às rodas dianteiras, acaba por proporcionar uma
utilização bastante prazenteira. A
transmissão manual de cinco velocidades, com uma boa repartição
das relações, contribui para tirar
um rendimento muito satisfatório,
seja em percursos citadinos, seja
38 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
BARÓMETRO
desempenho em
s Visual,
terra apesar de dispor
apenas de tracção dianteira,
motor, consumos, preço
competitivo
plásticos, desenho
t Alguns
do tablier, limitada
regulação do banco do condutor,
equipamento escasso
por caminhos no campo. O manuseamento é que podia ser mais
preciso, em especial no que toca ao
engrenar da quinta velocidade. Os
consumos, frugais, ficam-se pelos
5,5 litros por cada centena de quilómetros percorridos.
A suspensão assegura um apoio
consistente em curva, mas a carroçaria adorna. Ainda assim, nada
que assuste em demasia, mesmo
levando em conta que não está disponível a mais do que banalizada
ajuda do programa electrónico de
estabilidade (ESP). A direcção, de
bom trato, corrige com facilidade
eventuais escorregadelas da secção posterior, naturalmente mais
pronunciadas com a caixa de carga
em vazio. Os pneus de rasto misto, montados nos níveis de equipamento Trekking e Adventure,
também beneficiam a progressão
por caminhos de terra, ao mesmo
tempo que reforçam a aderência e
dão uma mãozinha extra quando
é preciso compensar trajectórias
mais fechadas. Os pisos soltos são,
aliás, onde a Strada mostra uma
notória desenvoltura, que adiciona uma pitada extra de aventura às
escapadelas da rotina diária.
A Strada Adventure parte de um
preço base de 20.831€, mas a unidade ensaiada somava à factura
mais 2521,50€ em opcionais, entre os quais a pintura metalizada
(307,50€), os retrovisores exteriores
eléctricos (184,50€) ou o tecto de
abrir manual (615€). Os bancos e o
volante em pele, também presentes, integram um pack LumberJack
(1217€), só disponível para o nível
superior de equipamento, que inclui ainda a pintura em vermelho
específico, acredite-se ou não, muito catita.
À VONTADE DO FREGUÊS
DIZ-ME POR ONDE ANDAS
EQUIPAMENTO
A tela de cobertura da caixa de
carga faz-se pagar por 307,50€
e as fivelas em plástico para
destapar e cobrir o espaço
podem não durar muito, mas que
são práticas de usar, lá isso são.
A capacidade da área de carga
varia entre 580 litros (na cabine
dupla), 800 litros (cabine longa)
e 1100 (na curta). A opção pelo
tipo de cabine deverá assim ser
ditada pelas necessidades do
tipo de transporte de carga ou
de passageiros. A altura ao solo
da caixa é de 54 centímetros e o
peso da carga útil ronda os 700
quilos. A roda sobressalente, em
tamanho normal, está arrumada
encostada à parte de trás da
cabine, do lado de fora.
No topo do painel de
instrumentos, visualmente
arrumadinho q.b., estão
montados três mostradores
em plástico, de desenho um
pouco duvidoso. Um deles
exibe uma bússola, algo que se
revela sempre de uma utilidade
inquestionável nos casos de
umas escapadelas por caminhos
pouco habituais. Os outros dois
consistem em inclinómetros,
laterais e longitudinais, que
permitem uma leitura dos graus
de inclinação do veículo em
percursos mais trialeiros. Tudo
muito bem conjugado numa
boa ideia, que podia ter sido
materializada através de uma
estética mais apelativa e até
mesmo prática (com sol torna-se
difícil visualizar os valores).
Segurança
ABS: Sim, com distribuição
eletrónica da força de travagem
Airbags frontais: Sim
Airbags laterais: Não
Airbags laterais traseiros: Não
Airbags de cortina: Não
Airbag de joelho para condutor:
Não
Controlo de tracção: Não
Programa Electrónico de
Estabilidade: Não
LIMITAÇÃO TÉCNICA
FICHA TÉCNICA
Mecânica
Cilindrada: 1248cc
Potência: 95cv às 4000 rpm
Binário: 200 Nm às 1500 rpm
Cilindros: 4 em linha
Válvulas: 16
Alimentação: turbodiesel de
injecção directa por conduta
comum
Tracção: dianteira
Caixa: manual de 5 velocidades
Suspensão: independente, do
tipo McPherson, com braços
oscilantes transversais e
barra estabilizadora, à frente;
eixo rígido e amortecedores
telescópicos de duplo efeito,
atrás
Direcção: pinhão e cremalheira,
com assistência hidráulica
Travões: discos à frente e
tambores atrás
Dimensões
Comprimento: 445,7 cm
Largura: 170,6 cm
Altura: 163,1 cm
Peso: 1285 kg
Pneus: 205/65 R15
Capac. depósito: n.d.
Capac. carga: 580 litros
Distância ao solo: 20 cm
Prestações
Velocidade máxima: 159 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h:
13,2s
Consumo misto: 5,3 litros/100 km
Emissões CO2: 140 g/km
Preço : 20.831€
(unidade ensaiada 23.352,50€)
*Dados do construtor
O banco do condutor não regula
em altura, limitando o conforto de
ocupantes mais altos, que podem
bater com a cabeça no tecto. Um
condicionamento que não é de
menor importância, porquanto a
possibilidade de regulação para a
frente e para trás e da inclinação
das costas do assento podem não
ser bastantes para encontrar uma
boa posição de condução. Ainda
para mais, o volante apenas pode
ser ajustado em altura, mas não
em profundidade. O acesso aos
lugares traseiros também não é
famoso; já o espaço é suficiente.
O tecto de abrir manual pode
ser um opcional a considerar
para dar mais luminosidade ao
habitáculo (indispensável sem o
ar condicionado).
BOTÃO QUE FAZ
DIFERENÇA
O botão do sistema ELD
(Electronic Locking Differential),
só disponibilizado na Strada
Adventure, está assim como que
escondido, do lado esquerdo do
volante, junto aos botões de ajuste
da altura das luzes dianteiras. O
mais natural seria que o E-Locker
estivesse posicionado no painel
central, mas, enfim, gostos não
se discutem... O mais importante
é que o comando de bloqueio
electrónico do diferencial
dianteiro constitui um auxiliar
precioso para fazer progredir a
Strada por caminhos de deficiente
aderência, o que aumenta as
capacidades fora do asfalto desta
pequena pick-up com uma alma
acima da sua aparência. O sistema
desliga-se automaticamente por
volta dos 40 km/h.
Vida a bordo
Vidros eléctricos: Sim
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim (com
alarme)
Direcção assistida: Sim
Retrovisores eléctricos: Opção
(184€)
Ar condicionado: Sim
Abertura do depósito interior:
Não
Jantes de liga leve: Sim
Rádio CD: Sim
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em
profundidade: Não
Computador de bordo: Sim
Alarme: Opção (Oferta em 2012)
Bancos dianteiros eléctricos:
Não
Estofos em pele: Opção (1107€)
Bancos aquecidos: Não
Tecto de abrir: Opção (615€)
Navegação por GPS: Não
Telefone integrado: Não
Regulador de velocidade: Não
Sensores de chuva: Não
Sensores de luminosidade: Não
Sensores de parqueamento: Não
Faróis de nevoeiro: Sim
Faróis de xénon: Não
Lava Faróis: Não
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 39
Motores
Novidades
Porsche Panamera
e Cayenne estão
mais picantes
Os tempos não estão de feição para luxos, com o prometido agravamento
fiscal. Mas seguindo o lema de que “parar é morrer”, a Porsche amplia as gamas
Panamera e Cayenne com apimentadas versões GTS. Luís Filipe Sebastião
O
Porsche Panamera representa uma opção natural
para todos aqueles que, sonhando
com os pergaminhos desportivos
do clássico 911, precisam de um
automóvel com quatro lugares. O
modelo da marca germânica reforça
os seus atributos dinâmicos com a
versão GTS (Gran Turismo Sport), a
partir do bloco 4.8 litros, que neste
caso debita 430cv.
Baseado no motor atmosférico
de oito cilindros em V montado
no Panamera S (400cv), o bloco
do GTS desenvolve mais 30cv de
potência e aproxima-se da versão
Turbo (500cv), onde o mesmo V8
é sobrealimentado por dois turbos.
O binário desta versão desportiva
também sobe 20 Nm, comparando
com o S.
Mais potente, o GTS tira também
partido da precisa e rápida transmissão automática de dupla embraiagem PDK, de sete velocidades,
com uma gestão muito linear por
sua conta, face ao pisar do acelerador, mas que pode ser refinada
através das patilhas atrás do volante
ou do comando da caixa na consola
central. Nas acelerações ou recuperações, fica a sensação de que sobra
sempre fôlego, ainda para mais com
uma entrega mais suave do que a
“força bruta” da natureza dos Turbo. O som roufenho do escape pode
ser “ampliado” mediante um botão
próprio na consola.
O pacote Sport Chrono, de origem, acrescenta aos modos Normal
e Sport uma terceira configuração,
Sport+, com adaptações específicas da forma como a força motriz
é transmitida às quatro rodas.
E conjuga-se com a eficácia do
chassis, que integra a suspensão
pneumática adaptativa, que permite rebaixar em um centímetro a
carroçaria, com o Porsche Active
Suspension Management (PASM).
É quanto basta para compensar a
oscilação e aumentar o apoio do
amortecimento em traçados sinuosos. O bom tacto da direcção ajuda
à aparente facilidade em dominar a
“fera”. O sistema de travões, usado
na versão Turbo, também ajuda à
confiança.
Em termos estéticos, o Panamera
GTS exibe alguns detalhes específicos na dianteira e na traseira, como
os faróis bi-xenon e luzes diurnas
em LED, mas não foge muito ao
visual das restantes versões. No interior predomina a qualidade geral
esperada, com destaque para os revestimentos em pele e alcântara,
materiais empregues no volante
para assegurar uma aderência extra. A capacidade de carga da mala
chega aos 445 litros, enquanto no
capítulo da segurança passiva estão
disponíveis airbags frontais, laterais
e de joelho (condutor e passageiro
da frente) e de cortina para todos
os ocupantes.
O Panamera GTS, que chega em
Novembro, começa nos 160.387€,
mas será preciso levar em conta que
o preço também fica a meio caminho entre o 4S (versão com tracção
integral, como o GTS), que custa
146.997€ e o Turbo (186.749€).
SUV talhado para o asfalto
A nova geração do Porsche Cayenne
assume-se cada vez mais como um
SUV (Sports Utility Vehicle) estradista, atirando para trás das costas a
vocação de todo-o terreno. Por
isso, a versão Gran Turismo Sport
(GTS) vem reforçar os argumentos
mecânicos, através de um aumento
de potência do bloco 4.8 litros V8
para 420cv.
A imagem exterior não engana e o
GTS apresenta uma a secção frontal
muito parecida com o Cayenne Turbo, destacando-se ainda as saias late-
PANAMERA GTS
Motor: 4806cc, 8 cilindros em V,
injecção directa a gasolina
Potência: 430cv às 6700 rpm
Binário: 520 Nm às 3500 rpm
Transmissão: integral,
automática PDK 7 velocidades.
Veloc. Máxima: 288 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,5s
Consumo médio: 10,9 l/100 km
Emissões CO2: 256 g/km
Preço: 160.387€
CAYENNE GTS
Motor: 4806cc, 8 cilindros em
V, injecção directa a gasolina
Potência: 420cv às 6500 rpm
Binário: 515 Nm às 3500 rpm
Transmissão: integral,
automática Tiptronic S de 8
velocidades.
Veloc. Máxima: 261 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 5,7s
Consumo médio: 10,7 l/100 km
Emissões CO2: 251 g/km
Preço: 131.448€
40 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
Um roadster
Mercedes
também
pode gastar
gasóleo
rais proeminentes, os guarda-lamas
salientes e o avantajado “spoiler”
traseiro que prolonga o tejadilho
com um desenho de dupla asa.
O aspecto “queque” deste SUV
que assumiu uma maior predilecção pelo asfalto, apesar de ainda
possuir atributos que lhe possibilitam progredir com uma pitada
de aventura fora dele, prolonga-se
para o interior distinto e luxuoso,
onde a qualidade de construção e
dos materiais de revestimento (pele
e alcântara em destaque) estão ao
melhor nível do emblema alemão.
Os bancos desportivos à frente, com
ajuste em altura, proporcionam uma
boa posição ao volante.
A Porsche não esconde que este
é um SUV mais vocacionado para
as performances desportivas, que
ambiciona ser mais do que uma
versão entre os Cayenne S e Turbo.
Por isso, o bloco V8, de 4,8 litros e
400cv, montado no S, viu reforçada
a potência para 420cv, repartida
pela eficiente transmissão automática Tiptronic S de oito velocidades. Motor e caixa, que integram
a função automática de paragem
e arranque (start/stop), com um
funcionamento sem mácula, foram
optimizados para não descurar as
aptidões desportivas, traduzidas no
arranque dos 0 aos 100 km/h em
5,7s. Na prática, a força transmitida às quatro rodas assegura uma
resposta pronta e possante.
O chassis, equipado com o sistema de amortecimento variável
PASM, que deixa escolher entre
a melhor solução do momento –
Comfort, Normal e Sport –, apresenta-se 2,4 centímetros mais baixo, em comparação com a altura
ao solo do Cayenne S. A direcção,
precisa, também ajuda a retirar
proveito do apoio firme e controlado em curva.
A meio caminho entre dois mundos um pouco distintos, o Cayenne GTS faz-se pagar a partir dos
131.448€, mais 16.803€ do que o S
e menos 35.607€ do que o Turbo.
A Mercedes, tal
como outras marcas
premium, também
prova que gasóleo e
carácter desportivo
não são termos
incompatíveis.
João Palma
A
s linhas imponentes transmitem potência e agressividade no bom sentido: o design
do SLK, em especial na traseira,
com dois escapes, cativa. Os 204cv
de potência e 500 Nm de binário
deste descapotável de capota rígida,
a tracção traseira, a estabilidade em
curva, a reacção rápida e precisa às
manobras do volante evidenciam o
carácter desportivo deste roadster.
E, no entanto, o SLK a diesel sentese mais como um carro normal do
que como um desportivo puro.
No caso da versão que conduzimos, o ruído percebido no habitáculo é o de uma berlina a gasóleo e não
o característico de um desportivo
puro. Tem força e responde com
rapidez e precisão às manobras do
volante, mas é uma força tranquila
– não se tem a sensação de ser um
carro nervoso que desafia o condutor a pisar o acelerador. Dir-se-ia que
não ladra, mas com performances
superiores às de muitos desportivos,
morde muito bem.
Os bancos são simultaneamente
desportivos e confortáveis e os dois
ocupantes não se sentem acanhados no habitáculo. Em contraponto
aos pedais de alumínio, a uma caixa
manual de 6 velocidades precisa e
de relações curtas, às jantes de 18
polegadas com pneus Pirelli PZero
de ultra alta performance e medidas
diferentes por eixo (225/40 ZR18 à
frente e 245/35 ZR 18 atrás), aos travões de grandes discos (ventilados
à frente), a suavidade e o conforto
da suspensão são mais apanágio de
uma limusina.
Este SLK 250 CDI, a iniciação dos
roadster da Mercedes com motor a
gasóleo, consegue ser uma coisa e o
seu oposto. Pode-se fazer uma condução desportiva e, numa estrada
sinuosa de montanha, provou as
suas potencialidades, mas, pelo
conforto que proporciona, convida
também a viagens longas (até tem
sistema de detecção de cansaço do
condutor…) ou, em especial no Verão, a uma condução calma, com
a capota recolhida, a velocidades
moderadas (a apreciar a paisagem
e o carro, numa estrada à beira-mar,
até sofremos uma buzinadela de um
automobilista mais nervoso).
Sendo desportivo, este descapotável vem dotado da tecnologia BlueEFFICIENCY (BE) para redução de
consumos e emissões, com modo de
funcionamento Eco (e dados sobre a
eficiência de condução no computador de bordo), sistema Start & Stop
(paragem e arranque automáticos
do motor) e indicador de mudança de velocidade. É como aquelas
senhoras da alta-sociedade que organizam chás de beneficência para
ajudar os pobrezinhos. Mas, como
essas senhoras, a “caridade” do SLK
250 CDI reduz-se a isso: apesar dos
apregoados 4,8 l/100 km de média
de consumos, a realidade aproximou-se dos 8,0 l/100 km. Talvez em
plano e a velocidades comedidas se
consigam fazer médias abaixo dos
6,0 l/100 km, mas nunca numa condução normal do dia-a-dia.
Apesar de medir apenas 4134 mm
de comprimento, a pouca altura
(1301 mm) e os 1801 mm de largura,
bem como o capot alongado fazem
com que este bilugar pareça maior
do que na realidade é. Porém, é fácil arranjar uma posição cómoda de
condução e a visibilidade a 360º é
excelente – quase que não se tornam
necessários os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros (opcionais) para o arrumar. No habitáculo, a qualidade dos acabamentos e
materiais estão à altura de uma marca de prestígio como é a Mercedes e
os comandos e instrumentação são
de fácil manuseamento e leitura. Um
contra é o facto de a capota só se
poder accionar com o carro parado.
Noutros descapotáveis, é possível
MERCEDES SLK
250 CDI BE*
Motor 4 cil. em linha, 16v,
2143cc, gasóleo
Potência 204cv às 4200 rpm
Binário 500 Nm
às 1600-1800/rpm
Veloc. máxima 244 km/h
Aceleração 0/100 km/h 6,5s
Consumo médio 4,8 l/100 km
Emissões CO2 124 g/km
Preço 49.950€ (unidade
ensaiada: 63.350€)
* Dados do construtor
fazê-lo a baixas velocidades.
Os puristas consideram que os
descapotáveis têm que ter capota
em lona. Porém, a capota rígida
poderá ser menos bonita, mas proporciona outro conforto acústico e
térmico. A desvantagem prática é
o espaço requerido para a alojar,
quando recolhida. No caso do SLK, a
capacidade da mala reduz-se de 335
para 250 litros. Porém, a desmentir
a argumentação falaciosa de muitas
marcas para impingirem aos clientes o kit de “reparação” de pneus
(ganhar espaço, poupar peso, etc.)
e amealharem uns trocos a custo da
segurança e conforto dos utilizadores, sob o fundo da mala encontra-se
uma roda de emergência.
Apesar de razoavelmente equipado, o preço-base deste descapotável
é uma mentira. No veículo que conduzimos, o equipamento opcional
representava um custo adicional de
13.400€. E se alguns dos opcionais,
como os estofos em pele (1900€) ou
o sistema de navegação (2050€) se
poderão considerar extras, outros
como os sensores de estacionamento (1200€), de chuva (150€) ou de
luminosidade (1400€) deveriam
ser de série num veículo deste nível. Exagerado é também o preço
da pintura metalizada (1000€). O
carro que conduzimos tinha capota de metal, mas a Mercedes, por
3250€, propõe um tecto em vidro
com transparência variável de acordo com a intensidade do sol.
FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 41
Memória fotográfica
Luís Francisco
Um atalho
que não
valeu a pena
que faço
aqui? Como é que isto me
aconteceu? Para que lado
devo avançar? São perguntas
que me vão assaltando a cada
passo trôpego pelo solo lavrado
fundo há muitos meses, agora
ressequido e invisível sob o
espesso manto do capim. São
válidas e prementes as questões,
esclareço já, porque estou aqui à
procura de comida e bebida, de
livre iniciativa e completamente
perdido. Mas há uma dúvida
que suplanta todas as outras,
enquanto me desgraço aos
repelões por uma paisagem que
não compreendo rumo a um
objectivo cuja localização, para
já, ignoro. A pergunta do milhão
de dólares é: como é que o capim
pode crescer até esta altura?
Capim, sim. Isto não é África,
mas bem podia ser. Ou, melhor
pensando, ainda bem que não
é, sob pena de dar de caras com
algum leão esfaimado de cada
vez que cambaleio para a frente
nesta inusitada selva de caules
que me dá por cima da cabeça.
Assim como assim, já me bastam
o calor, os mosquitos, o suor, as
moscas, os arranhões nas pernas,
os mosquitos, o calor, a fome, a
sede, os mosquitos, o cansaço,
o suor, as dores no pé que há
bocado acertou num calhau, as
moscas...
De onde me saiu esta selva
quase impenetrável? Olhei ao
longe e parecia uma pradaria
suave, conduzindo mais
rapidamente à estrada e ao
restaurante do que o caminho
de terra batida que traça curvas
elegantes, mas totalmente
desnecessárias, colina acima e
colina abaixo. Saí, por isso, do
caminho. Optei pelo atalho. Como
tantas vezes nos acontece na vida,
depressa me arrependi.
É nestas alturas, dizem, que
vemos a vida a andar para trás,
uma forma bem popular de aludir
ao fenómeno comummente
descrito pelas pessoas que
PEDRO CUNHA
O
Isto não
é África,
mas bem
podia ser.
Ou, melhor
pensando,
ainda bem
que não é,
sob pena
de dar de
caras com
algum leão
esfaimado
de cada
vez que
cambaleio
experimentaram situações de
morte clinica. No meu caso,
porém, ou a perspectiva de morte
está a ser claramente exagerada
ou a memória se apegou
estranhamente aos últimos 20
minutos, exactamente aqueles em
que selei esta minha triste sina.
Alguém se esqueceu de trazer o
saco com o farnel e, portanto,
era preciso um voluntário para ir
buscar comida e bebida.
Que me lembre, éramos três.
A mim cabia-me conduzir o
carro e, genericamente, liderar a
expedição — embora, em termos
práticos, isso não quisesse dizer
nada, tinha sido ideia minha
virmos à pesca. Pai é pai e não
íamos mandar o velhote buscar o
almoço... Sobrava o irmão mais
novo. Devia ter sido ele a vir, eu
voluntariei-me. Mas porquê?!
Sim, um dia de pesca sem
42 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012
carvão, entrecosto e cerveja
gelada é como sairmos com uma
rapariga para descobrirmos ao
longo da noite que ela, apesar
de ser gira à brava e não ter
namorado, é implacável adepta
do partido do Governo e adora
falar de macroeconomia... Quem
olhe de longe até pode pensar que
nos estamos a divertir, quando
na verdade a única coisa que
queremos é sair dali. Em qualquer
dos casos, impõem-se medidas
rápidas e é nestas situações que
se afirmam os verdadeiros líderes.
Foi isso que pensei quando dei o
passo em frente.
Ou nisso ou na cerveja que ia
beber ao balcão, largos minutos
antes de os outros dois poderem
molhar o bico. Não... Na verdade,
ao oferecer-me para ir buscar
comida e bebida, eu estava a
salvar todos os mancebos que
já se viram, de súbito, a dizer a
uma rapariga “Huumm, huum!”
enquanto procuram a saída de
emergência mais próxima ou o
alarme de incêndio mais acessível
a sabotagem. Isto era uma missão
humanitária.
Já agora, pormenor final nesta
crónica de fracasso, o carro estava
ali à mão. Mas achei que não valia
a pena... Ainda faltava algum
tempo para a hora do almoço e
sempre esticava as pernas. Tudo
isto é uma imbecilidade grotesca,
porque estávamos em Julho, no
Alentejo e, conforme poderá
confirmar quem tenha relógio,
“algum tempo” antes da hora do
almoço é qualquer coisa entre as
12h e as 13h. Altura em que, claro,
o sol está a pino, os bichos de
morder mordem com alma, os de
arranhar arranham à bruta e os
de chatear exercem a sua tarefa
como se não houvesse amanhã.
E, já agora, o capim está sequinho
e cortante como as frases do
ministro Vítor Gaspar.
Se vos conto esta história
é porque, naturalmente, lhe
sobrevivi. Por pouco. Depois de
pedir — e engolir — com maus
modos uma caneca de cerveja ao
balcão, dirigi-me à casa de banho
e vi-me ao espelho. Roxo de calor,
olhos raiados de vermelho, palhas
e outro diverso material vegetal
espetado no cabelo, um fio de
sangue a escorrer de um lanho na
testa, as pernas completamente
escalavradadas, imaginei que a
rapariga do balcão, mal lhe dirigi
palavra, em vez de pôr as bifanas
ao lume, tenha começado de
imediato a procurar a saída de
emergência mais próxima ou o
alarme de incêndio mais acessível
a sabotagem.