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Do original em Inglês:
Time is running out
Reinhard Bonnke
Português – Brasil
© E-R Productions LLC 2007
ISBN 978-3-933106-64-9
Primeira Edição, 2007
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida
de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico,
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer registro informático,
sem autorização por escrito do autor e do editor.
Capa:Isabelle Brasche
Fotografia:Rob Birkbeck
Peter van den Berg
Roland Senkel
Tradução:Débora Faria de Melo
Revisão:Marta Mendes R. dos Anjos
Diagramação:Roland Senkel
E-R Productions
Caixa Postal 10360
Curitiba, PR, 80730-970
Brasil
www.e-r-productions.com
Impresso no Brasil
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índice
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Prefácio
5
Introdução
7
1 O Evangelista Relutante
15
2 O Evangelismo e o Mundo
33
3 Aprendendo com o Mestre
55
4 A Fé e o Evangelismo
75
5 Pregando um Cristo de Milagres
95
6 A Unção Para a Missão
117
7 Um Projeto Para o Evangelismo
127
8 Ação no Livro de Atos
145
9 Homens Comuns, Mensagem Extraordinária
163
10 O Evangelho e o Pecado
189
11 O Evangelismo nos Evangelhos
201
12 O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo
224
13 O Evangelismo e A Espiritualidade
241
14 Pregando Julgamento a um
Mundo Politicamente Correto
265
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PREFÁCIO
E
m Novembro de 1996, a Escola de Divindade Regent
University teve o privilégio de receber o evangelista alemão
Reinhard Bonnke, para uma série de conferências sobre a evangelização mundial. Foi-lhe pedido que se baseasse na sua perspectiva
como proeminente evangelista de cruzadas, da década anterior.
O pessoal da universidade estava com uma grande expectativa
quanto à sua pregação nessa inesquecível série de palestras, e
uma das maiores turmas na história da universidade se reuniu
no Moot Court do Robertson Hall, para ouvi-lo, por horas, em
uma pregação bastante inspirativa. À noite, depois de ensinar
por quase todo o dia, Bonnke ainda pregava na Igreja Parkway
Temple, para multidões em pé. Este livro é uma adaptação para
publicação de suas conferências históricas. Aqui ele coloca sua
visão bíblica de como alcançar as multidões para Jesus Cristo,
nesta nossa geração. O irmão Bonnke vive para o evangelismo.
Suas cruzadas africanas já reuniram até 1.6 milhão de pessoas em
um só culto. Pregações evangelísticas, seguidas por sinais e maravilhas, têm surpreendido o mundo e trazido milhões para o reino
do Senhor Jesus Cristo. Igrejas explodiram com um novo crescimento, e os poderes das trevas foram expostos e derrotados.
Minha esperança é de que este trabalho, adaptado das conferências de Reinhard Bonnke, na Escola de Divindade Regent
University, seja acolhido como um importante recurso para
futuras gerações, da mesma maneira que as conferências de
Charles G. Finney, em “Reavivamento da Religião”, inspiraram
as gerações anteriores a confiar em Deus, para um poderoso
mover do Espírito Santo.
Vinson Synan
Diretor da Escola de Divindade – Regent University
Virginia Beach – Virginia – EUA
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INTRODUÇÃO
O TEMPO É FUNDAMENTAL
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e acordo com as estatísticas, se 10.000 pessoas moram perto
da sua igreja, a cada semana quatro delas morrem. Diante
desse quadro, será que seria satisfatório, então, que somente uma
delas fosse salva a cada mês, ou mesmo a cada semana? Para
mim é impossível exagerar sobre a urgência de compartilhar as
Boas Novas, pois o trabalho mais importante na terra é pregar o
Evangelho, que também é a maior necessidade do mundo.
A situação mundial é crítica, e precisa desesperadamente do
poder transformador de Cristo; entretanto o demônio tem feito
tudo e mais um pouco para esconder esse fato de nós. E já que
suas tramas de assassinato e genocídio contra o nascimento do
nosso Salvador (ver Mateus 2.16-18) e, mais tarde, contra as evidências da Sua ressurreição, falharam, a sua única alternativa
agora é impedir a pregação do Evangelho.
Vemos que no principio Satanás usou principalmente a arma da
perseguição e da pregação de um falso evangelho; entretanto,
através dos séculos ele tem acumulado um arsenal considerável.
Uma de suas armas mais sutis e favoritas é redirecionar nossas
prioridades; ele não se importa com o quanto trabalhamos nas
nossas igrejas, contanto que o nosso trabalho nos mantenha
longe da pregação do Evangelho, que é o que causaria enormes
danos ao seu reino do mal.
Cuidado, pois podemos estudar doutrina, empenhar em companheirismo, pregar prosperidade ou ainda edificar a nossa alma,
e tudo isso sem sequer passarmos perto de cumprir a ordem
de Cristo, que é levar o Evangelho a todas as nações. Estamos
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O Tempo está se Esgotando
afundando em engano quando permitimos que “boas” atividades tirem o nosso foco desse que é o mais urgente de todos os
trabalhos. Não nos deixemos enganar!
Anseio Pelo Evangelho
Cada ser humano que ainda não tenha sido redimido anseia
pela mensagem de salvação, como um peixe na margem do rio
anseia por água. Muitos já não têm a menor esperança; têm visto
os limites da ciência, da tecnologia, da medicina, da política e
da educação e, por não verem saída, se lançam nas drogas para
esquecer – drogas, bebidas e misticismo religioso. Como o mito
de hydra, o mal cresce duas vezes mais por cada pessoa que deixamos de lado. Esse monstro precisa que o punhal da cruz de
Cristo penetre o seu coração e o destrua.
Somente o Evangelho pode curar a desgraça do mundo, e não
pregá-lo equivale a negar a um doente terminal o remédio para
a sua cura! Isaias observou: Toda cabeça está doente, e todo o coração, enfermo (Is 1.5). Algumas vezes o nosso
Cada ser humano
corpo reage e se cura sozinho; porém, o
que ainda não tenha mais comum, é precisarmos de medicasido redimido anseia mentos. Entretanto, quando falamos de
pela mensagem
salvação, não há outra alternativa de cura
de salvação,
para o homem além do poder sobrenatural
como um peixe
do Evangelho, e nossa tarefa é apresentar
na margem do rio
esse maravilhoso remédio. Agora, se o
anseia por água.
paciente decide que não quer ser curado,
ninguém vai impor-lhe a cura; nem mesmo com ameaças.
Aqueles que recusam o evangelho vão simplesmente morrer, a
menos que Deus, na Sua misericórdia, intervenha.
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A hidra era um monstro mitológico extremamente feroz, com nove cabeças;
quando uma delas era cortada, outras duas surgiam em seu lugar.
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Introdução: O tempo é fundamental
Por que a Humanidade Sofre
Uma das perguntas mais freqüentes que me fazem quando sou
entrevistado pela mídia é: “Porque Deus permite tanto sofrimento?”. Confesso que já tenho feito essa mesma pergunta, e
muitas vezes; talvez não pelas mesmas razões, mas porque sofro
muito quando vejo outros sofrendo. Então, por que Deus permite o sofrimento? Você também pode perguntar a qualquer
secretário de transportes por que ele permite acidentes nas rodovias. Sem dúvida, ele não levaria em conta a acusação implícita
nesta pergunta, mas mostraria as tão bem definidas regras de
trânsito para as estradas. E talvez ele respondesse: “Cada vez que
uma lei é violada, a pessoa coloca-se a si mesma e a outros em
perigo. Os acidentes e o sofrimento acontecem como resultado
da falta do cumprimento da lei”.
As pessoas sofrem, basicamente, por uma razão: elas escolhem
ignorar o Livro das leis de Deus, a Bíblia. E, como resultado, todas as coisas dão terrivelmente erradas. Nosso amável
Criador sabe exatamente como fomos criados e o que vai nos
ferir. Por isso, com o cuidado de um coração protetor, Ele diz:
“Você não deve fazer isso …” Os mandamentos divinos não
foram estabelecidos com o intuito de estragar o nosso divertimento; antes, são o manual de instrução do nosso Fabricante.
Deus sabe que nosso espírito não pode lidar com o pecado e
que, na realidade, somos esmagados e atormentados por nossas
próprias iniqüidades. Geralmente as pessoas não relutam em
ler o manual de instrução, antes de usar um novo eletrodoméstico, pois se preocupam em não quebrar um aparelho de
CD, ou uma nova máquina de lavar. Todavia, estranhamente
muitos não ligam se estão destruindo seu próprio espírito e
alma com o veneno do pecado.
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O Tempo está se Esgotando
Será que agora você consegue ver, de modo mais claro, a
necessidade desesperada que o ser humano tem do Evangelho,
e porque o coração de Deus clama, de maneira tão insistente e
tão urgente, para que compartilhemos a Verdade?
O Planeta Pródigo
A maior maravilha do Evangelho é o presente de uma vida de
qualidade sem igual e eterna. Outras religiões podem reivindicar possuir as respostas para a miséria dos indivíduos. Contudo,
o que o homem ganha alcançando harmonia com a natureza,
e perdendo a sua alma? Jesus oferece vida eterna, agora. Ele
disse: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda
que morra, viverá (Jo 11.25). O mundo precisa desse precioso
presente divino de vida eterna, agora. E isso é urgente!
Quando Deus fez o mundo, Ele o encheu
com uma fonte inesgotável dos mais puros
prazeres. Cada maravilha e encanto veio do
amoroso coração de Deus para Seus filhos.
E quando andamos nos Seus caminhos, o
mundo inteiro é nosso. Contudo, quando
O resistimos, impedimos o seu glorioso plano para a nossa vida
e, conseqüentemente, recusamos o que Ele tem para nós.
O Evangelho
transforma em filhos e
filhas de Deus, dignos,
a todos aqueles
que o recebem.
A raça humana alcançou brilhantismo na arte e na ciência da
aniquilação. Matança em massa de nossas crianças nas escolas;
clínicas de aborto licenciadas pelo estado; cenas de carnificina,
tanto explícitas como implícitas nas telas da televisão; devastação do meio ambiente; constante desenvolvimento de armas de
destruição em massa – enfim, tudo ao nosso redor evidencia a
destruição que o pecado causa. Nós guerreamos, odiamos e destruímos tudo o que Deus nos deu.
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Introdução: O tempo é fundamental
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E isso é o resultado de nos afastarmos de Deus. A maioria das
doenças do homem é causada por ele mesmo; entretanto, há
poder no Evangelho para reverter esse processo. A verdade nos
liberta, nos trazendo de volta à vontade do Criador, que é sempre
boa para nós. Deus ama o Seu planeta pródigo e, se voltarmos
para Ele, seremos recebidos com alegria pelo nosso amoroso Pai.
Eu Tenho Visto Isso Acontecer!
De uma maneira poderosa, notamos hoje que Deus está alcançado diversas partes do mundo com o Evangelho, dando-lhes
acesso à salvação. Tenho visto os pecadores sendo perdoados,
harmonia entre as raças, muitos crimes sendo erradicados,
casamentos sendo restaurados, famílias se unindo novamente,
homens maus se tornando santos, drogados sendo libertos,
doenças fatais e muitas outras sendo curadas, e uma dramática
redução da criminalidade sendo reportada por policiais; e tudo
isso após nossas campanhas evangelísticas. A vida das pessoas
tem sido transformada pelo poder do Evangelho! Sempre vou
me lembrar de como, no país de Burkina Faso, enorme quantidade de itens roubados, como geladeiras e outros equipamentos
domésticos, foram trazidos por pessoas arrependidas que queriam ver suas casas livres de coisas roubadas. A polícia precisou
de vários caminhões para levar embora todos aqueles itens!
E essa gloriosa cena tem se repetido em muitos outros países. O
Evangelho transforma em filhos e filhas de Deus, dignos, a todos
aqueles que o recebem. Homens, antes selvagens, estão agora
recuperados e andando como verdadeiros príncipes. Aleluia!
Que grande motivo para pregarmos o Evangelho! Será que
poderia haver algo mais emocionante, ousado e valoroso? Que
esforço em sua vida vale mais do que isso? Nada está tão em jogo
como a salvação deste mundo. Com certeza, o Senhor Jesus não
pensou que fosse perda de tempo curar os doentes e alimentar as
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multidões famintas. Ele foi perseguido por curar um homem que
tinha um braço ressequido, e do momento da cura em diante a
sua cabeça estava a prêmio. (Ver Mateus 12.10-13). Entretanto,
Jesus se compadeceu daquele homem, e o seu braço precisava ser
restaurado; assim, o Filho do Homem não se importou com o
preço que teve de pagar.
Reflexões da Realidade
Você já parou para pensar por que apreciamos tanto a música?
Quando somos tocados por alguma música inspirativa, freqüentemente recebemos um lampejo do que é eterno. A música, por
si só, sugere infinidade; entretanto, a melodia nos remete a uma
grandeza longínqua que ela não pode preencher. Essa infinidade
é o próprio Deus. E o que a música meramente sugere, nos é
dado quando recebemos a salvação através de Jesus Cristo, e
começamos a louvá-Lo.
Deus é nossa habitação natural. Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos (At 17.28). Permanecemos presos até ouvirmos
o Evangelho e obedecermos à sua mensagem; depois disso,
encontramos a Cristo. Em toda parte homens e mulheres têm
se debatido contra as prisões impostas por seu próprio materialismo e descrença; são prisioneiros de seu dinheiro. Nossa arte,
nossa poesia, nossos bonitos trabalhos são simplesmente expressões de pessoas aprisionadas que, indistintamente, se lembram
da agradável sensação trazida pela brisa, bem como da beleza
das montanhas. Enquanto acharmos que somos bons por nós
mesmos, essas impressões continuarão sendo um mero reflexo
da realidade que nos cerca. Jesus é a realidade que existe por
trás de tudo o que vemos ou fazemos; e é o Seu Evangelho que
nos liberta do cativeiro, permitindo-nos voltar à nossa essência, à
herança que nos está proposta!
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Enquanto não ouvirem a Verdade e a aceitarem, as pessoas continuarão perdidas, com o olhar fixo no horizonte, sempre distantes, procurando pelo ilusório elixir da felicidade. Os incrédulos
bebem do ressentimento, da dúvida e do ódio, mas o Espírito e a
noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede
venha, e quem quiser receba de graça a água da vida (Ap 22.17).
O modo de vida pregado no Evangelho sempre nos leva para a
frente, para o dia perfeito. Será que precisamos de alguma outra
razão para pregarmos as Boas Novas?
A Segunda Vinda
Certo dia, pouco antes de Jesus subir ao céu, quando alguns
discípulos estavam com Ele, fizeram-Lhe a seguinte pergunta:
Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Ao que
Ele respondeu:
Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai
reservou pela sua exclusiva autoridade … Ditas estas
palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma
nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com
os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois
varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes
disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as
alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá
do modo como o vistes subir (At 1.6-11).
Jesus freqüentemente conversava com Seus discípulos a respeito
do Reino e, por isso, estavam sempre Lhe fazendo perguntas.
Aqui eles estão querendo saber quando o reino de Israel seria
restaurado. O Senhor então lhes respondeu que não deviam se
preocupar com aquelas questões, e acrescentou: E sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria
e até aos confins da terra (At 1.8). Na verdade, eles estavam
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perguntando a Jesus quando Ele iria agir; e Ele devolveu-lhes a
pergunta e lhes disse o que eles deveriam fazer.
A tarefa dos discípulos era testemunhar, e não ficarem preocupados sobre as coisas da vida. Eles sabiam das profecias que tinham
lido em Daniel e em outros livros, e os anjos os lembraram que
viria o dia em que Jesus voltaria. Então eles foram e pregaram o
Evangelho, e a volta de Jesus se tornou a essência da mensagem
deles ao mundo.
Existe uma diferença entre anunciar a volta de Jesus e especular
sobre tempos e datas em que isso vai acontecer. Por mais de dois
milênios, e até hoje, centenas de predições têm sido feitas a esse
respeito. Em geral, quando as pessoas vão estudar as profecias,
costumam pegar versículos isolados e fazerem especulações.
Então criaram a Escatologia, uma ciência menor, que estuda
as profecias. Os estudiosos até mesmo planejaram e esboçaram
esquemas sobre o futuro, e expuseram em livros, de maneira
chamativa, registrando tudo em mapas e gráficos. Em 1930, um
livro intitulado: O Próximo Grande Evento do Mundo, foi escrito
sobre a vinda de Cristo. Na realidade, o próximo grande evento
do mundo foi a Segunda Grande Guerra Mundial. Esse tipo de
cálculo e análise tem servido somente para desanimar as testemunhas da Igreja, com relação ao retorno de Jesus. O clamor
que deve existir é: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! (Mt 25.6) e Eis
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29.) Nossa
constante responsabilidade até a hora da Sua volta é dar o nosso
tempo, nosso dinheiro e nosso esforço para a tarefa que Jesus
nos deu: E ser-me-eis testemunhas.
Por que estamos parados, olhando para o céu? Vamos continuar! Não podemos perder nem um minuto sequer. Jesus está
voltando!
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Capítulo 1
O EVANGELISTA RELUTANTE
C
onta-se que em algum lugar remoto deste nosso mundo
havia uma tribo que adorava a lua. A explicação que davam
para tal preferência era: “A lua brilha à noite, quando está escuro.
Mas o ridículo e velho sol brilha durante o dia, quando há abundância de luz”. Agora eu pergunto: o que poderia ser mais sem
sentido do que isto?
É claro que há luz durante o dia, e é exatamente porque o sol
está brilhando. Entretanto, há muitas partes do mundo que está
escura enquanto há claridade em alguns lugares. Acredito que eu
tenha sido como a lua, tentando iluminar alguns lugares escuros
aqui na terra. Quando Paulo pregou em Trôade, durante a noite,
e Êutico adormeceu, havia muitas lâmpadas no cenáculo onde
estávamos reunidos (At 20.8). Há muitas lâmpadas brilhando
neste mundo hoje, e isso inclui cada cristão que lê este livro.
Fomos chamados para brilhar e trazer claridade no meio de uma
geração distorcida, e não para esconder a nossa luz debaixo do
alqueire (Mt 5.15; Mc 4.21; Lc 11.33).
Algumas pessoas possuem um brilho intelectual, e falam de uma
maneira brilhante. Eu me considero um evangelista comum,
apesar de crer que o trabalho de um evangelista seja o mais importante do mundo. Meu lugar não é falando em uma universidade
ou digitando em um teclado, mas em uma plataforma, em um
campo qualquer da África. Qualquer brilhantismo que alguém
possa atribuir a mim, por causa deste livro, vem do Espírito Santo
e da Palavra de Deus. Minha esperança é a promessa encontrada
em Daniel 12.3, que diz que os que a muitos conduzirem à justiça
refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente.
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O Tempo está se Esgotando
A Mensagem de Deus Para a Igreja
As pessoas geralmente me perguntam o que Deus está falando
à igreja, e minha resposta é que Ele continua falando a mesma
coisa; ou seja: … pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16.15).
Se o próprio Jesus tomasse o meu lugar aqui nestes últimos dias,
antes do julgamento final, Ele repetiria Suas últimas palavras aos
discípulos, em Atos 1.8: Mas recebereis poder, ao descer sobre vós
o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém
como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. Até que
isso seja feito, Ele não tem nenhuma outra instrução para nós.
Alguns sugeriram que deveria haver uma espécie de moratória
na tarefa de trazer mais convertidos para a Igreja, até que ela
estivesse pronta para recebê-los. Podemos encontrar uma incoerência aqui; afinal, como podemos esperar que estejam prontos,
se não obedecemos ao Senhor quando Ele nos manda trazer os
convertidos?
Embora o treinamento espiritual e o discipulado sejam vitais,
ter como foco principal a nossa própria santidade nunca nos
fará prontos para alcançar outros com o evangelho. É óbvio que
sabemos que Jesus nos chama à santidade; todavia, alcançar o
mundo é parte da santificação, a qual não acontece somente
quando nos isolamos; a santidade requer de nós olharmos para
o perdido.
Não conheço
melhor maneira
de se desenvolver
espiritualmente do
que sair e ganhar
outros para Cristo.
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Não conheço melhor maneira de se desenvolver espiritualmente do que sair e ganhar
outros para Cristo, e quando o fazemos,
temos de ser verdadeiros. Se queremos uma
igreja viva, então nosso pensamento tem de
ser, acima de qualquer coisa, o evangelismo.
Quando a igreja subestima o evangelismo,
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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ela fica estagnada e estéril. Se o povo de Deus não tem como alvo
principal o ganhar almas para Cristo, então ele se torna apenas
ouvinte, criticando o sermão, o coral, ou julgando a liderança.
A igreja não é um restaurante, com uma gastronomia espiritual,
para agradar a um determinado tipo de paladar; é, sim, uma
cantina para trabalhadores. Não há tempo para os membros da
igreja gastarem com críticas, pois existe um trabalho a ser feito.
Um cavalo, que é treinado para trabalhar puxando uma carga,
nunca dá coices enquanto executa seu ofício.
O Objetivo da Igreja
O objetivo principal de cada culto, quer seja ele uma reunião de
oração, um estudo bíblico, uma reunião de jovens, um ensaio
de coral ou mesmo cultos de santa ceia, deveria ser evangelístico. Em muitas igrejas os visitantes não podem assistir a todas
as reuniões; e por quê? Creio que eles deveriam ser bem-vindos
a todos eles, especialmente os de santa ceia, quando os símbolos
do corpo (pão) e do vinho (sangue) são tomados. Nesses dias
deveríamos nos certificar de que a igreja estivesse cheia deles. O
cálice de vinho é o maior pregador do mundo; é como se fosse o
Evangelho ali dentro daquele recipiente; uma oportunidade para
convidar os pecadores a aceitarem o sacrifício da cruz. Algumas
igrejas têm o hábito de excluírem os visitantes dessa celebração;
que perda de oportunidade! O precioso sangue de Jesus nos
limpa de todo o pecado; será que somente os que já estão limpos
deveriam vir até à fonte?
Se uma igreja tem tentado evangelizar, mas tem falhado na sua
tentativa, então é hora para uma avaliação séria dos seus esforços. Até mesmo o trabalho da equipe responsável pelas finanças
deve ser ganhar almas para Cristo, e não dinheiro. Qualquer
fundo de reserva que a igreja possua deveria ser usado em seu
verdadeiro negócio: salvar o mundo.
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O Tempo está se Esgotando
Predestinação e Evangelismo
A controversa doutrina da Predestinação, de que Deus escolheu
de antemão a cada crente, sem levar em conta nossos esforços
evangelísticos, é um assunto de grande discussão teológica. Meu
pensamento, no entanto, é o de não atolar em teorias, mas fazer
o trabalho de evangelista. A minha resposta a essa antiga discussão é deixar de lado as polêmicas e partir para a ação.
Estando as pessoas entre os eleitos ou não, quero me certificar de
que cada homem, mulher ou criança, tenha ouvido o Evangelho.
Não vou arriscar o destino eterno de
A igreja não é um
nenhuma alma, baseado em deduções
restaurante, com uma
doutrinárias ou teorias. E não há nada no
gastronomia espiritual,
Novo Testamento dizendo que eu não devo
é, sim, uma cantina
pregar o evangelho, nem nada que nos diga
para trabalhadores.
que não devemos dar o nosso melhor para
convencer as pessoas a virem para o Reino. Por essa razão, é exatamente isso o que eu faço.
Somente quando chegarmos ao céu saberemos quantas pessoas
estarão ali. Se todos os que eu encontrar lá foram predestinados,
ótimo. Todavia, certamente não quero ninguém lá me dizendo:
“Você não tinha certeza de que eu era eleito? Por que você não
pregou o Evangelho para mim? Você achou que estava certo e
jogou com a minha alma. Sabia que nesse exato momento eu
poderia estar no inferno, e não aqui?”.
O Evangelista Relutante
Se você ler a Bíblia, começando em Gênesis, não vai encontrar
nada sobre evangelismo até chegar ao livro de Jonas. Trata-se de
um livro que será projetado pelo resto da Bíblia; ele é quase um
manual do evangelista para consulta diária.
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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Embora a maioria das pessoas esteja familiarizada com a história de Jonas, muitos, incluindo alguns cristãos, não acreditam
que ela realmente tenha acontecido; crêem que existe algo de
duvidoso nesse relato. Entretanto, Jesus e Seus contemporâneos
a consideraram como história, e não como fábula ou mesmo
parábola. E seja quem for que a tenha escrito, sabia como fazêlo. Esse pequeno livro merece nossa preciosa atenção.
O profeta Jonas viveu cerca de 800 anos antes de Cristo. Ele
foi enviado por Deus para ir à cidade de Nínive, a capital do
Império Assírio. Essa cidade ficava no rio Tigre, a 600 milhas a
leste de onde Jonas vivia. Entretanto, em vez de ir para Nínive,
Jonas comprou passagem de navio para Társis – que ficava a
oeste, na direção oposta. Ele estava desesperado para fugir da
sua obrigação, e Nínive não era, com toda a certeza, o lugar dos
seus sonhos.
Vejamos como essa história é descrita. Jonas 1.3 fala que ele foi
até Jope, onde tomou um navio e desceu para o porão (verso 5).
Quando a tempestade se abateu sobre a embarcação, os marinheiros jogaram Jonas ao mar, e ele foi parar na barriga de um
grande peixe que o engoliu. Então Jonas orou: Pois me lançaste
no profundo, … desci até aos fundamentos dos montes (Jn 2.3,6).
Quando Deus ordenou e o peixe o vomitou na praia, o texto diz
que Jonas se levantou (3.3). Obedecer ao chamado do Senhor de
ir pregar quando Deus nos manda, nos eleva, nos levanta!
Mas não sejamos tão duros com Jonas; afinal de contas, Nínive
tinha uma reputação bastante terrível. Alguns dos seus reis
foram decididamente brutais, dos piores que existiram na terra.
Eles tinham prazer em atrocidades e crueldades tão monstruosas, que até hoje ficamos chocados. Se eu fosse descrevê-los,
provavelmente o leitor não conseguiria dormir à noite. E, se
dormisse, teria motivos mais que suficientes para ter pesadelos.
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O Tempo está se Esgotando
Certamente Jonas não desejava se confrontar com aquele tipo
de homens. Como um estrangeiro poderia esperar pregar contra
eles e ainda sair vivo? Mas é claro que ele foi, e Nínive acabou
se arrependendo dos seus maus caminhos. A pregação de Jonas
parece ter surtido efeito.
Entretanto, Jonas estava perturbado com os resultados finais. O
que ele queria era que a mão de Deus pesasse sobre os ninivitas.
E quem poderia culpá-lo por isso? Ele havia advertido a cidade de
que Deus estava para destruí-la. Deus sabia da maldade daquelas
pessoas e estava ciente de que mereciam ser julgadas. Contudo a
cidade se arrependeu e Deus a poupou do Seu julgamento, pelo
menos por um tempo; menos de 200 anos depois, Nínive foi
totalmente destruída.
A Profunda Percepção de Jonas
Aqui está o real ponto na história de Jonas, que tem a ver com
todo evangelista que nunca saiu para fazer o trabalho de Deus.
Exatamente o que Jonas temia, aconteceu: ele pregou um julgamento que não veio. Aliás, Jonas nunca quis pregar contra
a cidade pela simples razão de que, se a sua pregação tivesse
sucesso, Deus mudaria sua maneira de pensar sobre julgamento!
Depois que Deus poupou a cidade, Jonas se zangou com Deus,
dizendo: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na
minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia
que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande
em benignidade, e que te arrependes do mal (Jn 4.2).
Esses versos provam que Jonas tinha uma profunda percepção do
caráter de Deus. Em todos os 39 livros do Antigo Testamento,
essa declaração feita pelo profeta se projeta como algo excepcional. Jonas sabia que o coração de Deus era sem igual; mais
do que isso, ele sabia que as misericórdias do Senhor se esten-
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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diam além das fronteiras de Israel, até o território inimigo,
alcançando, inclusive, os gentios. Poucos em Israel criam no
Senhor dessa maneira. Naquele tempo de escuridão espiritual,
somente o Espírito Santo poderia ter mostrado isso ao profeta.
De alguma forma ele sabia que Deus poderia ser tão gracioso
com os gentios quanto o era com Israel, e mesmo com os mais
pecadores da terra. Por essa razão ele foi, e por essa mesma razão
também não queria ir. Uma parte dele queria que essa malvada
nação tivesse o que merecia; contudo, ao mesmo tempo ele sabia
que Deus não age assim. Enquanto Jonas queria vingança, Deus
era, e continua sendo, um Deus de perdão.
Jonas conhecia a compaixão do coração de Deus; entretanto, ele
mesmo não a tinha dentro de si. Qualquer homem que se propõe
a falar do amor do Senhor sabe muito bem o que Jonas sabia.
Afinal, é comum que o salvo em Cristo saiba que Deus é amoroso, gracioso, misericordioso e compassivo. Todavia, será que
nós, pessoalmente, sentimos o mesmo pelo perdido? Jonas sabia
que ele não sentia. Ele decidiu pregar para a nação de Nínive
por simples obrigação ou obediência. Não existe uma falta mais
séria do que essa para um evangelista, ou para qualquer um que
pregue a Palavra de Deus. O evangelismo não consiste simplesmente em uma questão de palavras sobre o amor compassivo de
Deus, ou uma compreensão sobre teologia. O coração de um
evangelista deve ter suas batidas sincronizadas com as batidas
do coração de Deus, expressando o desejo e a compaixão do Seu
coração.
O evangelismo tem uma necessidade dupla: a verdade, e pessoas
que a reflitam. Alguns crêem que “pregar a coisa certa” é o bastante, mas não é; falta algo muito importante aqui. E é somente
o Espírito Santo quem coloca o ingrediente que falta em nosso
coração: … o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado (Rm 5.5). O amor de Deus
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O Tempo está se Esgotando
em Cristo é mais do que uma simples teologia sistemática, e precisa se tornar vivo na vida de quem o declara. A nossa pregação
pode ser ministrada por meio de línguas de fogo, se tivermos o
fogo divino ardendo em nosso interior. Você também pode ter
este fogo queimando dentro de você, basta que receba a Palavra
de Deus em você mesmo.
Jonas era um pregador e profeta raro, pois não queria prosperar naquilo que fazia. Ele tinha esperanças de que ninguém
em Nínive prestadde atenção ao que ele tinha de pregar ali.
Contudo, até mesmo o rei se alarmou sobre os seus próprios
pecados, e decidiu mudar. Se nos dispusermos a falar a Palavra
de Deus, devemos saber o que estamos fazendo. Ninguém deve
“brincar” com esse fogo poderoso.
Além de Israel: Visão Mundial Pelo Perdido
Entre os profetas do Antigo Testamento, Jonas foi o único a
sair de Israel para pregar a Palavra do Senhor abertamente nas
ruas de uma terra estrangeira. Notamos uma semelhança entre o
espírito de Jonas e Jesus, pois ele foi o único profeta com o qual
o Senhor se associou pessoalmente. O Mestre falou dele como
sendo um sinal para Israel (Mt 12.39). Jonas recebeu de Deus
um grande peso por uma cidade gentia. O próximo a carregar
esse peso foi o próprio Jesus Cristo; o Seu coração era grande o
bastante para amar a todo o Israel, e a todo o mundo gentio.
Nenhum outro profeta de Israel jamais levou a Palavra do
Senhor ao estrangeiro, exceto quando eles mesmos foram levados como prisioneiros de guerra. Lemos, nos livros de Daniel e
Ester, que na Babilônia alguns continuaram testemunhando do
Senhor, o Deus de Israel. As tribos do norte foram conquistadas
pelo Império Assírio e perderam. O Salmo 137 diz o seguinte:
Pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções … Eles
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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disseram: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. A resposta, todavia, que tiveram, foi: Como, porém, haveríamos de entoar o canto
do Senhor em terra estranha? (Vv.3,4.) E que pena foi essa decisão
que tomaram, pois aquelas canções poderiam ter apresentado o
Deus vivo ao mundo daqueles opressores.
O interesse que Deus tem por aqueles que criou é igual para
todos, mesmo para com o mais apóstata e fraco. Contudo, Jonas
não sentia o mesmo e não tinha nenhuma compaixão para com
aquele povo estrangeiro. Ele tentou fugir dos planos de Deus,
mas o Senhor já havia determinado que ele deveria ir, e mandou
a tempestade sobre o mar. Aquela tempestade era o protesto de
Deus, sem nenhuma pena, contra a atitude de Jonas.
O Todo-poderoso coagiu Jonas a fazer algo que Israel nunca
havia feito, mas que deveria: fazer o nome do Senhor conhecido
por toda a terra (Sl 67; 96; Ez 36.23). Aproximadamente durante
os seus primeiros 20 anos a Igreja Primitiva era totalmente judia.
Então, apesar de todas as suas faltas, talvez Jonas tenha sido um
dos maiores de todos os profetas.
O Evangelismo é Iniciativa de Deus
A iniciativa de salvar Nínive foi de Deus, e não de Jonas. Afinal,
o Senhor não deseja a morte de nenhum homem, mas, sim, que
todos venham ao arrependimento (2 Pe 3.9). A iniciativa para o
evangelismo é sempre de Deus e é Ele quem nos chama e equipa
para a realização desse trabalho. Também foi Ele quem concedeu uns para serem evangelistas (Ef 4.11). A princípio, Jonas agiu
por iniciativa própria, e foi em direção oposta, a oeste de Társis,
em vez de ir para o lado leste. A conseqüência dessa desobediência declarada foi uma violenta tempestade. O Senhor prometeu
abençoar e sustentar os Seus próprios planos; não há bênção
sobre os nossos, separados dos de Deus.
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O Tempo está se Esgotando
Onde, então, Jonas estava indo? Onde ficava Társis? Vários especialistas se empenharam em estudar para descobrir. A palavra
Társis está diretamente ligada ao minério derretido, prata, ouro e
estanho. Os navios de Társis carregavam tesouros, e eram conhecidos pela valiosa carga que transportavam; por isso, se tornaram
símbolo de riqueza, poder e orgulho. Para Jonas, entretanto,
Nínive representava somente sacrifício. A escolha não era muito
difícil: Nínive com suas ameaças, ou Társis, com suas riquezas?
Será que nós também somos facilmente “comprados” pela sedução da maior oferta? Será que o dinheiro é o fator decisivo em
nossa carreira? Não há como misturar Mamon e ministério. A
maior recompensa é sempre para quem trabalha mais.
Não Importa Para Onde você Fuja,
Deus Está Lá Também!
A tripulação do navio que ia para Társis não sabia que Jonas era
profeta, tampouco conhecia o seu Deus. Os marinheiros eram
pagãos, mas repreenderam ao profeta de Deus por dormir no
trabalho, no meio de uma tempestade. O mestre do navio lhe
disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca
o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não
pereçamos (Jn 1.6).
As pessoas esperam que o profeta não se cale, concordando com
ele ou não. Talvez elas não queiram adotar a moral cristã ou
o caminho do Senhor para si mesmas, embora concordem que
a moralidade deve ser praticada, só que pelos outros. E se não
pregarmos aquilo em que eles sabem que cremos, ficarão desapontados conosco. A Igreja nunca deve deixar de proclamar, em
alto e bom som, o que é certo e o que é errado.
Uma vez colocado contra a parede, Jonas admitiu quem ele
era. A tripulação estava assustada, e mesmo aterrorizada. Esses
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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homens eram novos convertidos em potencial, pois haviam
reconhecido o poder e a autoridade de Deus, e vieram a crer
Nele, apesar do fraco testemunho de Jonas: Temeram, pois, estes
homens em extremo ao Senhor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor e
fizeram votos (Jn 1.16). Aqui estava um homem que conhecia as
maravilhosas verdades sobre Deus; contudo, ainda assim, eles
tiveram de lhe perguntar quem era o seu Deus. Com Jonas a
bordo daquele navio, deveria estar claro para todos ali quem era
o seu Deus. Será que as pessoas sabem quem é o seu Deus?
É interessante notarmos que a identidade de Deus está, geralmente, ligada ao homem. Primeiramente Ele foi conhecido através de Abraão, e chamado de “o Deus de Abraão”. As primeiras
impressões sobre Deus vieram do tipo de homem que foi esse
patriarca.
Quando Jacó fugiu de casa, por causa das ameaças de seu irmão
Esaú, ele se referiu ao Senhor como sendo o Deus de seus pais,
Abraão e Isaque. Ele identificava a Deus, pela maneira como a
vida de seus pais havia sido moldada. Isso criou um sentimento
de admiração em Jacó. Então ele decidiu que um dia o Deus deles
também seria o seu (Gn 28.21). Ele não achava que isso poderia
ser realidade enquanto a sua própria vida não refletisse esse tão
grande Deus. Se o nome de Jacó era para ser associado ao Deus
de seus pais, então ele queria manter a reputação daquele Deus.
Evangelismo significa que alguém vai dizer: “Eu creio no Deus
da minha mãe”, ou “Eu creio no Deus do beltrano”, ou “… no
Deus de sicrano”. O Evangelho não pode ser apresentado em
uma caixinha; entretanto, verdadeiramente pode ser mostrado
por intermédio da vida de uma pessoa. O Evangelho é mais do
que uma fórmula para se ir para o céu quando morrer, e mais
do que um cinto de segurança; ele é vida. A essência do evangelismo é mostrar como Deus é. Jesus disse a Seus discípulos que o
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O Tempo está se Esgotando
Espírito de Deus é o espírito que dá testemunho dele (Jo 15.26).
Freqüentemente falamos de “evangelismo de poder” – sinais e
maravilhas para confirmar o Evangelho. Todavia Jesus disse que
mesmo os perversos fariam milagres, apesar de Ele nunca os ter
conhecido (Mt 7.22,23). Paulo também falou sobre a demonstração do Espírito (1 Co 2.4). É impressionante como os apóstolos manifestaram a realidade do Evangelho no seu dia-a-dia! Ele
disse aos coríntios que a vida de cada um era como uma carta
de apresentação, conhecida e lida por todos os homens (2 Co 3.2).
Quando as pessoas olharem para nós, será que elas poderão
dizer: “Então, é assim que Deus se parece?”?
O Verdadeiro Espírito do Evangelismo
O método evangelístico ensinado por Jesus era de que o recomendaríamos por meio de nossa vida, da mesma forma que com
as nossas palavras. Deveríamos ser “povo de Jesus”, ou melhor,
“povo do Evangelho de Jesus”.
Somos a luz do mundo; não há outra opção (Mt 5.14). Jonas
fugiu da presença do Senhor, mas carregava a luz na sua alma
e que, de alguma forma, brilhou. Para embarcar em Jope, ele
ocultou o seu testemunho tanto do capitão, quanto da tripulação. Entretanto, Jonas conhecia a Deus e isso foi visto pela tripulação de um navio sacudido pela tempestade, mesmo quando
ele tentou fugir do Senhor.
Jonas sabia muito bem como Deus era: sabia que Ele era gracioso.
Como ele poderia pregar julgamento sobre o povo de Nínive,
quando conhecia perfeitamente que Deus era tão bondoso e
misericordioso? Jonas sabia que o Senhor perdoaria a maldade
dos ninivitas ao primeiro sinal de arrependimento. Então, decidiu fugir da presença do Senhor (Jn 1.3). Estar diante de Deus
significava estar impregnado com a Sua graça. A atmosfera estava
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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cheia de compaixão, e Jonas não queria ser compassivo. Ele não
sabia sorrir bondosamente para monstros como os senhores de
Nínive.
Não há julgamento no evangelismo, mas Jonas sentia firmemente que Nínive merecia um pesado julgamento. Considero
a sua atitude compreensível. Os sentimentos de Jonas estão freqüentemente ecoando no livro dos Salmos (veja, por exemplo, o
Salmo 18, de 37 a 42).
Quando Jesus viajou por Samaria com Seus discípulos, Ele queria
ficar uma noite na vila. Contudo, os habitantes locais eram
hostis aos judeus, e poderiam não acomodá-los. Os discípulos
estavam gostando da experiência de usar o poder de Deus para
curar, pela autoridade que Jesus lhes havia dado. Eles sabiam
que Elias havia feito descer fogo do céu sobre os soldados que
vieram para prendê-lo (2 Re 1.8-14). Então eles propuseram fazer
o mesmo para exterminar aquela vila; afinal de contas, Deus não
havia feito aquilo com Sodoma e Gomorra? Jesus, porém, lhes
disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem
não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.
(Lc 9.55,56.).
João Batista teve uma atitude semelhante, e pregou um julgamento de fogo, com o espírito e poder de Elias, e disse: Raça
de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? E também
já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que
não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. A sua pá, ele
a tem na mão, para limpar completamente a sua eira e recolher o
trigo no seu celeiro; porém queimará a palha em fogo inextinguível.
(Lc 3.7,9,17). Esse, sim, parece o sermão inflamado de Elias, que
soa irônico quando Lucas acrescenta: E com muitas outras palavras João exortava o povo e lhe pregava as boas novas (3.18 – NVI).
Boas novas? O fogo do inferno?
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O Tempo está se Esgotando
Mais tarde João viu Jesus exercendo o seu ministério, e não viu
nenhuma chama de julgamento caindo do céu. Então ele enviou
mensageiros a Jesus para lhe perguntarem se ele havia identificado o homem errado, como sendo o Messias. Jesus mandou-os
de volta para contarem sobre as maravilhas de Deus entre os
aflitos e moribundos, e entregar a mensagem: E bem-aventurado
é aquele que não achar em mim motivo de tropeço (Lc 7.23).
O AMOR É O VERDADEIRO ESPIRITO DO
EVANGELISMO.
DEVERÍAMOS
ADVERTIR
AS
PESOOAS SOBRE O PERIGO DO INFERNO COMO SE
ELAS FOSSEM NOSSOS PRÓPRIOS FILHOS, ANDANDO
NA BEIRA DE UM VULCÃO.
Elias era o flagelo de Baal, Jezebel e seu
O Evangelho
patético marido, Acabe. Jesus, no entanto,
é mais do que uma
não veio como flagelo. Ele ofereceu as suas
fórmula para se ir para
próprias costas para serem flageladas, e
o céu quando morrer,
não as nossas. Ele nos mostrou que o seu
e mais do que um
coração estava pulsando com desejo e precinto de segurança;
ocupação infinitos por cada uma de Suas
ele é vida.
criaturas. Aliás, quanto mais afundadas no
fundo do poço as pessoas estavam, mais Ele sangrava por elas.
Eu sei que muitos estão indo para o inferno, e se me preocupo
com eles, eu deveria adverti-los. Entretanto, deveria adverti-los
como se fossem meus próprios filhos andando na beira de um
vulcão. O ódio não deve estar presente em nossos sermões, pois
a nossa missão é compaixão. Devemos sentir a ansiedade das
almas dos pecadores, que estão sendo devorados pelo inferno, e
não exultarmos de satisfação e gritar de alegria. Admoestações e
ameaças são duas coisas diferentes, e Jonas achava difícil pregar
isso; ele queria pregar a ira, mas sabia que Deus não tem prazer
na raiva, pois é longânimo.
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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A Voz do Amor
Freqüentemente penso em como seria a fisionomia de Jesus
enquanto Ele falava. Certa vez Ele pronunciou sete desgraças
contra algumas cidades (Ap 2.1-3.22). E qual foi o tom da Sua
voz? Creio que tenha sido de tristeza. Que amor encheu sua voz,
que lágrimas encheram seus olhos, mesmo quando entrou em
Jerusalém para ser rejeitado (Mt 23.37)! Poderíamos ver o Seu
coração pelo tom da Sua voz. Será que tom de voz aquele privilegiado povo ouviu?
Em Lucas 4.22 lemos que todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saiam dos lábios. Em outra
ocasião, alguns sacerdotes e fariseus mandaram soldados do
Templo para prender Jesus, mas os mesmos voltaram fascinados
e desarmados, dizendo: Jamais alguém falou como este homem
(Jo 7.46). E qual seria a expressão de Jesus quando Ele disse: Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23.34)?
Certa vez D.L. Moody, em Londres, falou a um público de
mais de mil convidados racionalistas. A reunião estava ameaçadoramente hostil; quando Moody soluçou literalmente, com
lágrimas correndo pela barba, ao implorar que eles se voltassem
para Cristo. Repentinamente aquela atmosfera ruim se quebrou
e centenas se entregaram a Cristo. Aquelas pessoas nunca mais
foram as mesmas.
Não estou aqui dizendo que o Evangelho deveria se tornar
piegas, afinal de contas, a voz de Jesus fez muito mais do que
emocionar as pessoas. A reação delas não era lágrimas mas, sim,
alegria. Ele disse a Seus discípulos que falava com a intenção de
lhes trazer paz e alegria (Jo 14.27; 15.11). Na realidade, não havia
nada de patético nas palavras de Jesus; nada que pudesse ser chamado de sentimentalismo meloso. O som do Evangelho deveria
ser triunfante, incontestável e cheio de contentamento.
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O Tempo está se Esgotando
Existe um grande contraste entre a voz de advertência de Jonas,
na perdida Nínive, bem como uma enorme distância, e a graça
e a verdade que vêm à luz por intermédio de Jesus Cristo. Nada
fala mais alto do que o amor.
Indignação Justa e Prioridades Corretas
Mais tarde Deus iria falar a Jonas usando uma planta que cresceu sobre ele, e depois secou. O profeta havia saído para fora da
cidade por um tempo, esperando para ver o que iria acontecer aos
moradores, após entregar-lhes a mensagem divina. O sol estava
muito quente, e então Jonas fez para si um abrigo. Uma planta
providenciada por Deus cresceu sobre ele para lhe dar mais proteção do calor; entretanto, durante a noite, ela secou, pois sua
raiz havia sido destruída por algum tipo de verme (Jn 4.7).
Jonas ficou simplesmente furioso. Então Deus lhe disse: É razoável essa tua ira por causa da planta? Bem, Jonas achava que fosse.
Ele justificou dizendo que sua raiva era bastante até mesmo para
morrer (verso 9). Então Deus declarou o que Ele pensava. As
últimas palavras do livro de Jonas são palavras do Senhor:
Tornou o Senhor: Tens compaixão da planta que te não
custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa
noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter
compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais
de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir
entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos
animais? (Jn 4.10-11.)
Para Jonas, a planta parecia mais importante do que a vida das
pessoas. Temos aqui uma lição para nos ensinar o que é importante para nós. O mundo está cheio de causas justas por aí, hoje
em dia. Os Estados Unidos são particularmente conhecidos
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Capítulo 1 • O Evangelista Relutante
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entre os demais países por sua poderosa influência em grandes
questões morais, tal como a preocupação com o ambiente. Os
cristãos também podem se envolver politicamente e mesmo
profissionalmente; e por que não? A questão é: o que mais nos
irrita?
É óbvio que as questões sociais, ambientais e morais não são
insignificantes para serem descartadas. Também concordo que
deveríamos nos irritar com muitas abominações perpetradas
pela sociedade moderna. Mas, e a questão da salvação eterna?
Pessoas do pró-vida lutam, e com toda a razão, pela vida de
bebês que ainda não nasceram. Entretanto, o que nós estamos
fazendo sobre os milhões de pessoas que andam pelas ruas de
nossas cidades?
Sabemos que nem todos serão pregadores ou evangelistas.
Necessitamos de pessoas que possam fazer todo o trabalho que
mantém nossa sociedade e nossas igrejas funcionando. Qualquer
que seja nossa preocupação com a vida mortal e com as questões
sociais, o chamado de Cristo para pregarmos o Evangelho a toda
criatura deve ser o nosso objetivo mais importante.
Colocando isso de outra forma, podemos ser como Jonas, cujo
problema imediato era apenas a perda da sombra que tinha sido
providenciada pela planta que agora estava morta. Será que estamos mais perturbados com a ameaça de extinção da espécie no
Atlântico Norte, do que com o perigo eterno em que se encontram os que rejeitam a Cristo?
Quando Jesus ressuscitou da morte, pouco antes de subir ao céu
Ele deu aos apóstolos um profundo ensinamento sobre o reino
de Deus (At 1.3). Eles lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo
em que restaures o reino a Israel? (v. 6). Aquela não era somente
a prioridade deles, mas também era a interpretação que tinham
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O Tempo está se Esgotando
sobre o reino de Deus (uma questão nacionalista, por exemplo).
Eles estavam interessados em tempos e estações. Jesus lhes disse:
Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai
reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia
e Samaria e até aos confins da terra (At 1.7,8).
Aquelas foram as últimas palavras de Jesus na terra. É verdade
que não é todo mundo que pode deixar seu barco de pescar,
para poder se dedicar à pesca de homens. Contudo, a Grande
Comissão deve permanecer sendo a nossa maior prioridade.
Evangelismo Futuro
O mundo pode ser evangelizado mais cedo do que muitos acreditam, mesmo que já estejamos vivendo o novo milênio. Quando
Jesus deixou este mundo, havia aqui apenas poucos milhares de
cristãos – talvez um para cada 20.000 pessoas. Entretanto, em
um período de 300 anos todo o Império Romano se tornou “oficialmente” cristão. A estimativa hoje é de que existam mais de
600 milhões de crentes nascidos de novo, o que significa um em
cada dez pessoas.
Se estivermos distraídos com outras questões, e empregarmos o
nosso tempo, dinheiro e energia em questões meramente sociais
e políticas, a propagação do Evangelho vai diminuir, e ela precisa é de aumentar. Precisamos de um máximo esforço final para
alcançar os outros nove décimos do mundo. Quando o evangelho tiver sido pregado para todo o mundo como testemunha
para todas as nações, então virá o fim (Mt 24.14).
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Capítulo 2
O EVANGELISMO
E O MUNDO
Q
uando consideramos o alcance e as ramificações da
Grande Comissão, só podemos ficar impressionados com
o fato de que ela é uma expressão do amor de Deus para com o
mundo inteiro. É por isso que, qualquer que seja a sua carreira,
o principal negócio do cristão é o Evangelismo, o qual é parte
indispensável de qualquer ministério cristão.
Haja Luz
Quando Paulo estava em Trôade, pregou até altas horas da noite
e, ao fazê-lo, um jovem chamado Êutico, que estava sentado
numa janela, adormeceu profundamente durante a prolongada
pregação, e caiu do terceiro andar. Felizmente Paulo estava lá
para restaurá-lo à vida.
Em Atos 20.8 lemos o seguinte: Havia muitas lâmpadas no cenáculo onde estávamos reunidos. Graças a Deus que hoje também
existem muitas lâmpadas no mundo. Contudo, apenas ter
as lâmpadas não basta; todas as virgens na parábola do noivo
tinham lâmpadas, porém a metade delas se apagou (Mt 25.8).
Isso não quer dizer que as lâmpadas estavam “meio apagadas”
mas, sim, totalmente sem luz. Quanto a nós, não podemos estar
meio acesos: ou brilhamos ou somos apenas sombra.
Algumas vezes fico me perguntando se entre os que se dizem
cristãos, pelo menos cinqüenta por cento o é realmente. O relato
bíblico diz que metade das virgens estava dormindo, assim como
Êutico; e veja bem o que aconteceu com ele! Pessoas que dormem
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O Tempo está se Esgotando
enquanto trabalham, aquelas cujas lâmpadas se apagaram por
não terem óleo, estão condenadas a caírem. Há muito que a
Palavra de Deus advertia: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de
entre os mortos, e Cristo te iluminará (Ef 5.14).
Se você quiser dissipar as trevas, não faz sentido discutir com
elas; simplesmente acenda a luz! Polêmicas não são um substituto apropriado da verdade e do Espírito Santo. Por mais densa
que seja a escuridão, ela não pode extinguir, sequer, a tênue luz
de uma vela.
Jesus disse que João era a lâmpada que ardia e alumiava (Jo 5.35).
Em João 1.5 e 7 lemos que a luz resplandece nas trevas e que ele
veio como testemunha para que testemunhasse da Luz. Ocorre-me
que, se a luz já estava brilhando, porque João era necessário?
Quando o sol nasce, todos nós ficamos sabendo; e não precisamos que ninguém nos diga que já é dia.
Então, o que é uma “testemunha da luz”? Se você olhar para
o céu, em noites bem claras, a lua estará brilhando. Homens
já foram à lua e sabem que ela não possui luz por si mesma.
Sabem também que, ao seu redor, não há claridade. Se o espaço
é escuro, e a lua não tem luz própria, por que ela é tão clara e
como pode nos fornecer luz? Simples: porque ela reflete o brilho
que vem do sol. Aí perguntamos: se a luz solar viaja através do
espaço para alcançar a lua, por que o espaço é tão escuro, mesmo
nos arredores da lua? Na verdade, a resposta é muito elementar.
A luz, em si mesma, é invisível, e somente é revelada quando se
choca com algum outro objeto. A maior parte do espaço é completamente vazia. Ali não existe nada para captar a luz do sol, ou
impedi-la de alcançar a lua. Na realidade, o espaço é cheio da
claridade gerada por bilhões de sóis, mesmo parecendo um breu.
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Capítulo 2 • O Evangelismo e o Mundo
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O universo está cheio de Deus. Ele é o Pai das luzes (Tg 1.17)
e toda luz vem d’Ele. Entretanto, milhões de pessoas andam
vagando por aí em profunda escuridão. E como isso é possível?
Como as pessoas podem andar em escuridão espiritual, quando
todo o universo está mergulhado na luz de Deus?
Essas pessoas não podem ver a luz das coisas invisíveis, até que
alguém pegue-a e a reflita. Os raios do sol não seriam vistos
na terra, exceto pelo fato de que eles iluPor mais densa
minam as moléculas da nossa atmosfera,
que seja a escuridão,
assim como o pó e a umidade do ar. O
ela não pode extinguir,
sol irradia luz por bilhões de quilômetros,
sequer, a tênue
e ainda assim não há vestígio dele até que
luz de uma vela.
aquela luz seja refletida. Precisamos de algo
que nos mostre que ela está lá. Sendo assim, a lua é essa testemunha da luz. Ela é a prova de que o sol está brilhando, pois ela
brilha com a claridade dele. A lua navega por todo o céu com luz
invisível, e transmite a nós o suficiente dessa luz, a fim de que
possamos ver por onde andamos.
Primeiro Timóteo 1.17 fala sobre o Rei eterno, imortal, invisível. A luz de Deus é constante, brilhante e nunca intermitente;
mas quem a vê? As pessoas andam em trevas; o fato simples e
verdadeiro é que a única luz que jamais verão, é a luz refletida.
Assim como João era uma lâmpada brilhando, uma testemunha
da Luz, assim o é cada crente. Somos ordenados a andar na luz
(1 Jo 1.7), caso contrário, não haverá luz. Um mundo espiritualmente perdido depende dos refletores de luz. Se escondermos o
Evangelho, ele continuará escondido daqueles que estão perdidos (2 Co 4. 3-6).
Gostaria de chamar a sua atenção aqui. Paulo fala que a face de
Moisés brilhava com a glória de Deus, mas ele cobriu a sua face
(2 Co 3.13). Ele era humilde, mas não foi a sua humildade que o
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fez cobrir o rosto. Foi porque a glória diminuiria, e ele sabia que
seria ruim se os supersticiosos de Israel a vissem desaparecer; eles
poderiam tirar conclusões erradas sobre a diminuição da glória.
Então, ele cobriu toda a sua face; assim eles não saberiam se ela
estava brilhando ou não.
Como diz Paulo, a luz de Deus e a Sua glória, na Era cristã,
não desaparecem (2 Co 3.18); ela é permanente. O véu foi tirado
porque não há necessidade de temer que ela desapareça depois
de um tempo. O Espírito de Deus não parece ser o que não
é, flutuando com incertezas ao nosso redor. Ele habita conosco.
Podemos andar destemidamente e com o rosto descoberto diante
do mundo, para que as pessoas possam ver a glória de Deus em
nós.
Tiago diz que toda boa dádiva … vem do alto, do Pai das luzes,
no qual não há variação ou sombra de mudança (Tg 1.17). O sol
produz uma sombra ao se virar, e a sombra se move. Esse é o
principio do relógio de sol; ou seja, como ele mantém o tempo.
Quando não há sombra é porque o sol está no seu ponto mais
alto. Deus nunca faz sombra, pois está sempre no seu ponto mais
alto, assim como nunca sai daquela posição perfeita. A luz de
Deus não cessa, não é temporária, e está sempre radiante.
Ele é a luz perpétua, a qual devemos refletir eternamente. Nossa
face não deve estar coberta, pois a Sua glória não vai passar. Nós
estamos sendo transformados de glória em glória (2 Co 3.18) – e
cada vez mais, recebemos mais dessa glória!
A Escuridão Virá Sobre Este País?
Porque eu, um evangelista, deveria ir aos Estados Unidos? Será
que já não existe mais luz ali do que na Índia, Egito ou Benin?
Sim, é verdade. Os Estados Unidos já têm o Evangelho. Parece
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Capítulo 2 • O Evangelismo e o Mundo
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que, em quase toda a esquina, existe um pináculo apontando
para o alto, como um dedo para Deus. Estou tentando levar a
luz aonde já há abundância dela? Mas, e quanto à Europa?
Lembra-se da história que contei sobre a tribo que adorava a lua?
Eles pensavam que o sol era estúpido por brilhar durante o dia já
que, nesse horário, havia abundância de luz. Eles estavam enganados porque não sabiam que essa claridade abundante durante
o dia, existia exatamente porque o sol estava brilhando.
Voltando agora para o lado espiritual, o motivo pelo qual há luz
no mundo é porque existem cristãos que têm permitido que a sua
luz brilhe. E assim também é na América. Jesus disse: Vós sois a
luz do mundo (Mt 5.14). Dessa forma, estou feliz por podermos
brilhar juntos. A luz nunca é demais; sempre podemos ter um
pouco mais. Sem os cristãos, a escuridão logo tomaria conta de
muitos países. Os não-cristãos teriam as coisas do seu jeito, mas
logo colheriam o que semearam. Sem uma luz que indique a
direção, haveria total anarquia.
Muitas pessoas, principalmente nos Estados Unidos e Europa,
se enganam achando que podem viver a vida de modo decente
sem o Cristianismo. Grande engano! Muitos deles parecem ter
se esquecido de que, no seu país, a própria idéia de decência teve
origem nos antepassados cristãos, que viviam em sua nação. O
ser humano só consegue ficar sem respirar por um curto período
de tempo; podem viver por um pouco mais sem água e comida
e, sem luz, temporariamente; mas não o pode para sempre.
Os recursos espirituais investidos em países como os Estados
Unidos, por crentes de gerações anteriores, eventualmente acabará. Afinal, não é possível viver somente dos dividendos dos
seus investimentos. Devemos ser geradores de riquezas – corretores das riquezas espirituais, das riquezas da fé.
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Muitos dos admirados filósofos gregos, se estivessem vivos hoje,
estariam atrás das grades, cumprindo pena pelo crime de pedofilia. Foi Cristo quem salvou a Europa, não Platão; e somente Ele
pode salvar os Estados Unidos e as demais nações do mundo.
As autoridades costumam dizer que o preço da liberdade é uma
constante vigilância; contudo, essa vigilância sem uma completa
dependência de Deus, falhará. A liberdade é o efeito colateral de
ser um seguidor de Cristo. Não existe efeito sem causa, e liberdade sem fé em Deus, leva à escravidão.
Muitos países que visito não têm uma tradição cristã que molde
seus planos de ação. E podemos dizer, com toda a certeza, que é
um alicerce reforçado com a fé bíblica que diferencia as nações;
se esse alicerce for abandonado, elas serão extinguidas.
Algo parecido com isso aconteceu no meu país, a Alemanha.
Séculos de pensamento liberal e racionalista, somados a críticas
à Bíblia, diluíram a fé cristã na minha terra natal. Fraca e instável como a água, a região não conseguiu superar as pressões
(Gn 49.4). Sob tais condições, foi fácil um regime amoral assumir. A resistência à cruel política de Hitler e do Terceiro Reich
foi insuficiente.
Na França, no século XVIII, a experiência de um estado sem
Cristo trouxe um reinado de terror, resultando na matança de
dois milhões de pessoas. A Grã-Bretanha, por sua vez, só foi
poupada desta barbárie por causa do impacto do movimento de
avivamento de Wesley e Whitefield. A Rússia, durante 70 anos
teve o ateísmo imposto severamente, e vai demorar pelo menos
mais uma geração para se recuperar.
Entretanto, talvez pior do que tudo isso sejam as crescentes
formas de Cristianismo, corrompidas, que se foram mutilando a
ponto de não serem mais reconhecidas como tal. Elas desvalori-
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Capítulo 2 • O Evangelismo e o Mundo
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zam o Evangelho com teorias incrédulas, superstições descabidas
e idolatria. E por não oferecerem a verdade, não produzem liberdade. Por onde passamos vemos que o mundo está clamando
por um evangelismo totalmente baseado no sangue de Jesus.
O Trabalho de um Evangelista
A Grande Comissão, pronunciada pelo próprio Cristo, é encontrada de várias formas nos quatro Evangelhos, bem como no
livro de Atos. Em todo o tempo a ênfase recai sobre as nações,
as multidões não salvas espalhadas pelo mundo. Encontramos,
em Mateus 28.19, o seguinte: Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações”. Marcos 16.15 diz o mesmo: Ide por todo o mundo
e pregai o Evangelho a toda criatura. João relembra o momento
mais sagrado da vida de Jesus, quando Ele falou ao Pai: Assim
como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviarei ao mundo
… para que o mundo creia que tu me enviaste (17.18,21).
Algumas pessoas consideram o evangelista um avivalista; ou
seja, alguém que, uma vez por ano, sacode a igreja para que se
desperte. Entretanto, o principal trabalho
de um evangelista é ganhar almas para A Igreja é a sociedade
responsável pela
Cristo; não é pregar para cristãos adorpropagação do
mecidos e reavivar igrejas mortas! Uma
Evangelho.
campanha evangelística não é para ser confundida com uma grande celebração da igreja. Se o ministério
do evangelista tiver como alvo os santos de Deus, ele está mal
direcionado. O dom de evangelista é dado pelo Senhor para que
aquele que o possui vá em busca dos homens e mulheres que
ainda não se converteram a Cristo.
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Evangelismo é Para Todo o Cristão
O Novo Testamento deixa bem claro que evangelizar é a função
natural de todos os que seguem a Jesus. De fato, evangelismo
é seguir a Cristo, pois foi exatamente o que Ele fez primordialmente. A fé e a sua propagação são os dois lados da mesma moeda.
O cristão não tem opção: tem de estar engajado em contar aos
outros acerca de sua fé, ou estar envolvido de alguma forma.
Sabemos que todas as religiões possuem suas obrigações sagradas. O sique (membro de uma seita hindu monoteísta, fundada
no século XVI) deve usar um turbante; os hindus devem evitar
animal gordo; os muçulmanos repetem suas orações sagradas, e os
cristãos têm a sagrada obrigação de serem testemunhas de Cristo.
Testemunhar é o “negócio” da fé cristã, e a Igreja é a sociedade
responsável pela propagação do Evangelho. Já no começo do primeiro século, as pessoas se juntavam à Igreja, com o intuito de
serem testemunhas, apesar dos riscos serem muito altos.
Paulo, mesmo antes de sua conversão sabia que, falar a outros
sobre Cristo era dever do crente; e ele perseguiu a Igreja por estar
cumprindo sua obrigação. Após a sua conversão, entretanto, o
próprio Paulo se viu em apuros por compartilhar sua fé. Como
apóstolo do Senhor, sentiu um orgulho natural e perdoável
pelo fato de Deus lhe ter confiado a pregação do evangelho. Ele
sempre falou como se isso fosse uma das mais valiosas dádivas.
O que se espera da Igreja é que ela cresça também em números. Isso está implícito e também explícito por todo o Novo
Testamento:
E como pregarão, se não forem enviados? Como está
escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas
boas! (Rm 10.15.)
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A igreja, na verdade, tinham paz por toda a Judéia,
Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no
temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número. (At 9.31.)
Nossa Visão do Mundo
Segundo o meu ponto de vista, a grande diferença entre o
hebreu e as Escrituras Sagradas, é que o Novo Testamento focaliza o mundo; já o Antigo Testamento, na sua maior parte, se
prende na decepcionante história do povo de Israel. As maiores
esperanças do povo de Deus eram estritamente nacionalistas;
suas perspectivas eram meramente para si. Contudo, no Novo
Testamento esse quadro muda. Depois de Cristo comissioná-los
a espalhar o Evangelho, os homens de Israel se tornaram viajantes do mundo, proclamando o nome de Senhor por todo lugar.
Jesus lhes disse, em João 10.16: Ainda tenho outras ovelhas, não
deste aprisco; a mim me convém conduzi-las.
Quando Jesus falava sobre a Sua missão e a da Sua Igreja,
falava sobre pastoreio e colheita; porém, falava também sobre
pesca. Certo dia, enquanto andava na beira da água, ele observou vários jovens pescadores, galileus, trabalhando. Entre eles,
Simão e André estavam lançando a rede enquanto, ali por perto,
João e Tiago remendavam as deles. Alguns eram pouco mais
que adolescentes. Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu vos farei
pescadores de homens. (Mt 4.19.)
Cristo queria atrair as pessoas para Si. Se elas eram mais parecidas com ovelhas ou com peixes, não tinha importância. E este
continua sendo o Seu grande propósito; e deveria ser o nosso
também.
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Pescando no Mar
Creio que deveríamos entender melhor o que a pesca e o mar
significavam para Israel. Os israelitas nunca foram muito entusiasmados com o mar. Eles não pescavam no Mediterrâneo mas,
sim, no minúsculo Mar da Galiléia que é, na verdade, um simples lago. Israel não tinha sua própria frota, e usava os navios de
Társis, com tripulação estrangeira, como o navio em que Jonas
embarcou em Jope.
O Antigo Testamento menciona o mar; entretanto, raramente
o retrata de modo favorável. Para os judeus, o mar era o mistério profundo; um lugar de coisas horripilantes, como o leviatã,
grande animal aquático, citado em diversos lugares na Bíblia
(Sl 74; 104.25,26; Is 27.1 – Ed. Almeida Revista e Corrigida). Ele
era uma criatura semelhante à cobra, e que se contorcia igualmente. Isaias 27.1 retrata o leviatã como uma serpente sinuosa, o
dragão do mar. O Salmo 74, por sua vez, fala dos monstros das
águas e do leviatã. Jonas foi engolido por um monstro marinho.
O apóstolo João, ao final da sua revelação (Ap 21.1), diz, como
que aliviado, que o mar já não existe.
O mar era um elemento selvagem e traiçoeiro, considerado fora
do controle humano; somente Deus poderia dominá-lo: … as
águas ficaram acima das montanhas; à tua repreensão, fugiram,
à voz do teu trovão, bateram em retirada (Sl 104.6,7). O Senhor
abriu caminho para os israelitas pelo Mar Vermelho; também, ao
Seu comando, o mar destruiu o exército egípcio (Êx 14.15-31).
O salmista falou do vento tempestuoso, que eleva as ondas do
mar, sobem até aos céus e descem até os abismos (Sl 107.25,26).
Essa passagem diz que os marinheiros andavam cambaleando
como ébrios, e perderam todo o tino (v. 27).
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O mar era considerado um lugar de morte, moradia de espíritos poderosos e assombrosos. Em Apocalipse 20.13 lemos: Deu
o mar os mortos que nele estavam. Quando os discípulos viram
Jesus andando sobre o mar, eles pensaram tratar-se de um fantasma, e ficaram aterrorizados. O vento sombrio gritava como
almas perdidas em tormento (Mt 14.26).
Esse profundo terror do mar também é expresso como sendo
uma figura das nações:
Ai do bramido dos grandes povos que bramam como
bramam os mares, e do rugido das nações que rugem
como rugem as impetuosas águas. Rugirão as nações,
como rugem as muitas águas (Is 17.12,13).
Em Salmo 2.1 lemos sobre a fúria das nações, e Jesus usou termos
semelhantes para descrevê-las em Lucas 21.25,26: Haverá sinais
no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações
em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas; haverá
homens que desmaiarão de terror.
Entretanto, apesar dos perigos existentes, Jesus chamou Seus
discípulos para serem pescadores. Ele disse: … Eu vos farei
pescadores de homens (Mt 4.19). E não seria apenas na Galiléia,
mas até aos confins da terra (At 1.8), no mar da humanidade, a
todas as nações. Esses galileus conheciam pouco do mundo, pois
nunca haviam ido para longe de sua pequena cidade pesqueira.
Eles não eram aventureiros, mas Cristo os estava enviando para
a maior de todas as aventuras empreendidas pelo homem. Eles
pescariam homens e mulheres para Cristo, nas águas selvagens
desse mundo. Era lá que os alcançariam. Esta era uma pesca em
alto mar, onde as tempestades rugem, onde os demônios estão
soltos, e onde as águas da adversidade os ameaçariam.
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Quando Jesus os chamou, mostrou a eles que Ele era o mestre
das águas. Aqueles homens eram pescadores profissionais, mas
Jesus assumiu o comando como gerente executivo do Zebedeu
& Filhos, confiscou um dos seus barcos e ensinou esses pescadores como fazer o seu trabalho. O resultado? Uma quantidade tão
grande de peixes como eles jamais haviam sonhado (Lc 5.1-11).
Certo dia os discípulos estavam indo pelo Mar da Galiléia,
quando foram pegos de surpresa por uma tempestade implacável.
Não havia nada que eles pudessem fazer, senão esperar e orar por
salvação. Então, foi quando viram Jesus andando sobre o mar.
As condições não poderiam ser piores. Acredito que o próprio
demônio havia provocado a fúria das águas; no entanto, Jesus
andava calmamente sobre as ondas. Ele não temeu o dragão das
profundezas, nem os ventos uivantes e nem os demônios que não
lhe deram folga. Porém, Jesus era o seu Mestre e os esmagou.
Repreendeu a sua fúria e, então, se afastaram como cães bem
domados que, com chicotes, deitam quietos debaixo dos pés do
dono (Mt 14.22,23).
Jesus advertiu a seus discípulos de que os estava enviando às
águas furiosas para ensinar a todas as nações. As pessoas os
matariam pensando que, com isso, estaQuando Jesus
riam tributando culto a Deus (Jo 16.2);
enviou a nós,
eles seriam como ovelhas no meio de lobos
Seus servos,
(Mt 10.16). Por isso, eles deveriam estar
a todas as nações, em
prontos a dar a sua vida por essa causa.
Sua mente
Eles nada sabiam sobre a sabedoria grega,
Ele só tinha
sobre o vasto império Romano, ou acerca
o nosso sucesso.
do que havia além dos Pilares de Hércules
(Estreito de Gibraltar). Para eles, o mundo era um oceano desconhecido, cheio de perigos; entretanto, Cristo demonstrou que
era o Mestre do céu, da terra, do mar e de tudo o que neles há e
que, por onde quer que fossem, Ele seria sempre o Senhor.
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Capítulo 2 • O Evangelismo e o Mundo
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E os discípulos fizeram como Ele havia dito – seguiram pescando
em águas tempestuosas, sob a direção do Mestre. Eles zombaram dos poderosos demônios da perseguição e desafiaram os
ventos da adversidade. Ao comando divino, lançaram suas redes
e as tiraram das turbulentas águas da humanidade: pescaram e
encheram seus barcos. Entretanto, o que tudo isso significa para
nós, atualmente?
Hoje o mundo não está menos conturbado ou menos perigoso.
Todavia, o Evangelho está avançando em todas as direções.
Como uma maré, enchendo os pequenos buracos e fendas, a
fé cristã está inundando o território do inimigo. Quando Jesus
enviou a nós, Seus servos, a todas as nações, em Sua mente Ele
só tinha o nosso sucesso. Por duas vezes o Senhor ordenou que
os discípulos lançassem suas redes (Lucas 5.1-11 e João 21.1-14). A
primeira vez foi antes da Sua ressurreição e, a segunda, depois.
A última pesca foi maior do que a primeira e, em nenhuma das
ocasiões, as redes se romperam. Podemos afirmar que isso foi
profético.
Os primeiros discípulos varreram os mares de sua época com
suas redes, e agora estamos nos aproximando do fim dos tempos.
Por todo o mundo vemos muito mais pessoas sendo ganhas para
Cristo, a cada dia, do que no dia de Pentecoste. Em uma cruzada na Libéria, em uma única reunião vimos 150.000 pessoas
respondendo ao chamado para salvação. Na Nigéria, o total
em cada cidade foi de mais de um milhão – Port Harcourt:
1.1 milhão; Calabar: 1.2 milhão e, em Aba: 1 milhão. Almas preciosas para Deus! Somente em Lagos recebemos 3.4 milhões de
cartões de decisão por Cristo, preenchidos durante os seis dias da
Campanha Evangelística do Milênio. E o fluir da graça continua
crescendo entre uma campanha evangelística e outra.
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E a Metodologia?
Encontramos, no livro de Atos, nos capítulos 25 e 26, o relato
do encontro de Paulo com o Rei Agripa, neto de Herodes, o
Grande. Face a face com esse poderoso governante, Paulo não
teve medo de se posicionar em favor do que cria. Ele disse àquele
rei: Mas, alcançando socorro de Deus, permaneço até ao dia de hoje,
dando testemunho, tanto a pequenos como a grandes (At 26.22).
Paulo não discutia métodos; apenas falava de Cristo quando
e onde podia: em sinagogas, nas margens dos rios, nas escolas
dos filósofos ao ar livre, em salas particulares, diante de grandes
multidões, em acrópoles, pelos rios e a bordo de navios. Chegou
mesmo a testemunhar para um carcereiro suicida, no meio de
um terremoto (At 16.26-34).
Os crentes são cheios de métodos sobre como alcançar homens
e mulheres para Cristo; alguns insistem que a iniciativa é puramente de Deus. Para eles é como se, repentinamente, Deus
entrasse em um determinado campo, visitasse uma área, salvasse
aqueles a quem escolhesse e, depois, fosse embora. Daí, o campo
ficaria adormecido até que outra safra estivesse pronta para a
colheita, então Ele repetiria a operação.
Para o grande pregador Charles Finney, entretanto, o avivamento acontece como e quando seguimos as regras do reavivamento. Há alguns anos as campanhas evangelísticas foram
consideradas a técnica mais eficiente para se ganhar almas para
Jesus. Infelizmente existem aqueles que só assistem e oferecem
seus criticismos, opondo-se a todo tipo de esforço estruturado.
Para eles, somente o testemunho individual é vantajoso; “o fruto
tem de ser colhido manualmente”, dizem. Esse e outros métodos, como a arte, a música, a literatura, o trabalho jovem, e o
trabalho de rua, todos têm seus defensores.
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Aliás, hoje em dia a análise dos métodos evangelísticos tornou-se
quase uma ciência. Estudamos as regras do sucesso, as melhores
práticas dos negócios, a psicologia da comunicação e a propaganda; também aprendemos a causar uma boa impressão na
televisão. Pode ser que, talvez, Deus até aprecie nossos esforços
para fazermos o trabalho adequadamente. Eu apenas me pergunto se todos os nossos seminários e estudos podem se igualar ao simples entusiasmo que Paulo demonstrou ao falar para
pequenos e grandes, quando teve oportunidade. Sua resposta é
de que o melhor dos meios é fazer: … com o fim de, por todos os
modos, salvar alguns (1 Co 9.22).
O método deve condizer com o momento. As pessoas falam
sobre aproveitar a oportunidade; entretanto penso que Paulo
fazia a oportunidade. Prego para grandes grupos de pessoas não
convertidas e creio que esse é o meu jeito; porém, em nossas
campanhas, tentamos utilizar cada ministério e cada talento.
Acredito sinceramente que o método mais eficiente é quando
cada um de nós faz o melhor, usando nossos métodos específicos
e não imitando os outros. Andamos com os nossos pés, vemos
com nossos olhos, e trabalhamos com as nossas mãos. E, acredite em mim, alguém que nunca seria alcançado de outra forma,
o será, por causa de nossa maneira peculiar de abordagem.
Whitefield nos Estados Unidos
Vamos analisar a situação do Evangelho nos Estados Unidos.
Inicialmente foi lançada uma boa fundação, a qual é evidente
até hoje. Uns 100 anos depois dos Pais da Peregrinação se fixarem onde hoje está localizado aquele país, um homem teve um
papel fundamental na fundação daquela nação. Ele não era
nenhum político mas, sim, um evangelista. Seu nome? George
Whitefield. Nascido em Gloucester, na Inglaterra, uma cidade de
2000 anos, foi lá que ele pregou o seu primeiro sermão. Ele fez
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sete viagens evangelísticas aos Estados Unidos, e morreu durante
a última delas, em 1770. A última vez que alguém o viu vivo, ele
estava pregando para um grupo de amigos, segurando uma vela
de luz oscilante. A Igreja Memorial Whitefield, em Gloucester,
tem gravada, no seu pórtico, as palavras daquele fervoroso pregador: “O amor de Cristo me constrange a levantar minha voz
como uma trombeta”.
Na praça daquela mesma cidade está, voltada para a igreja, a estátua de Robert Raikes, que também era dali. Ele abriu a primeira
escola dominical do mundo, em 1780. Esse homem de Deus
havia visto crianças nas ruas, gentias, esfarrapadas, brincando
à sombra da grande catedral de 1.400 anos, e resolveu ensinálas em um bangalô nas redondezas. E tudo isso aconteceu não
muito longe de Plymouth, onde os Pais da Peregrinação embarcaram no Mayflower, para a sua histórica viagem aos Estados
Unidos.
Perspectiva: as Nações
A perspectiva bíblica sobre evangelismo não é somente para os
indivíduos, mas para nações inteiras. Os profetas do Antigo
Testamento não fizeram missão em salões nas vielas, nem propaganda do seu ministério profético. Eles falaram a reis e governantes, com o propósito de influenciar suas políticas. Elias apareceu
diante de Acabe e assumiu o birô da meteorologia durante três
anos (1 Re 17.1; 18.1). Jonas sacudiu a mais poderosa cidade do
mundo de sua época com a sua pregação, fazendo com que o rei
tremesse sobre o trono (Jn 3.6). As visões que Daniel teve sobre
o futuro predisseram a ruína de impérios (Dn 9-11).
Mais tarde, no início da Igreja, nada foi feito às ocultas
(At 26.26). O próprio Jesus era uma figura pública com quem os
líderes da nação tinham que se relacionar. Contudo, mesmo após
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a Sua morte, os apóstolos não se aquietaram em suas pequenas
habitações, nem conduziram igrejas na vila ou clubes de jardinagem, nem apoiaram-se sobre a cerca do jardim ou ficaram mastigando palha. Eles suportaram a antipatia da grande multidão
para poderem confrontar os que ocupavam os mais altos postos
nas cidades. Quando os inimigos de Paulo não sabiam onde
ele estava, só tinham de seguir o tumulto para encontrá-lo. E
Deus preparou para que ele fosse a reis, governantes e mesmo ao
Imperador de Roma. Desde então, por toda a história, governos
e governadores não têm conseguido ignorar a Igreja.
Devemos fazer tudo para ver a mensagem de Jesus Cristo no
mais alto escalão. Enquanto o Evangelho é uma nova ordem
radical para a cidade, ele não é nada menos do que o salvador
de uma nação. Ele não é uma religião agradável de domingo à
noite, com ares de espiritualidade, ou uma psicologia de autoajuda. Não oferecemos a oração como um tranqüilizante genérico, a fim de minimizar as amarguras da vida. Também não
promovemos orações de meditação que acalmam a alma e nem
damos aulas de aeróbica espiritual. A Igreja não é simplesmente
um lugar para “os idosos fecharem seus olhos e os jovens ficarem olhando as roupas dos outros”. É um pacote de poder para
as nações, projetado para manter uma carga dinâmica sobre as
pessoas, para toda a vida.
A filosofia da Nova Era e as crenças similares simplesmente não
têm nada a oferecer comparado ao Evangelho. Seria como tentar
encobrir o sol com a luz de velas; simplesmente não funciona! O
Evangelho é bastante para todo o homem e para todo o mundo;
não é simplesmente um mapa das rodovias, deixado ao lado da
estrada para ajudar aos peregrinos solitários acharem seu próprio caminho para o céu. O Evangelho oferece uma fundação
firme como a rocha para a nossa vida. (Por que o Senhor deixou
na terra 600 milhões de pessoas nascidas de novo, ao invés de
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arrebatá-las para a glória? Simplesmente porque Ele age através de indivíduos, e os 600 milhões poderiam ganhar outros
600 milhões de amigos para Cristo nesse ano).
Deus não é um mini-Deus mas, sim, o Deus do céu e da terra,
de reis e reinos, de presidentes e repúblicas. Ele preside sobre o
destino eterno de todos nós. Isso não significa que o ministro
deve se dirigir somente a parlamentos ou trabalhar para mudanças na legislação. A igreja não é uma filial local de um partido
político. Esse é um trabalho para políticos cristãos, e não para
aqueles chamados para declarar as insondáveis riquezas de
Cristo. A função apostólica é alcançar o perdido deste mundo, e
não dirigir projetos ambientais, sociais ou questões da fauna.
Muitos pensaram que a era do evangelismo em massa havia
terminado com a Segunda Guerra Mundial. Aliás, o verdadeiro
evangelismo em massa ainda não tinha sido conhecido; estava
apenas começando com as reuniões de Billy Graham. Em 1949,
uma campanha evangelística com Tommy Hicks, na Argentina,
trouxe 400.000 pessoas em uma única reunião. E daí por diante
nasceram 148 igrejas.
O Senhor Jesus prometeu: Em verdade, em verdade vos digo que
aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras
maiores fará, porque eu vou para junto do Pai (Jo 14.12). Isso não
tem nada a ver com curas ou milagres da natureza, mas com o
real trabalho de Deus – a salvação. Hoje estamos vendo o trabalho de Cristo cumprido.
Ensino sobre Avivamento
O assunto de “avivamento” está na mente de muitos cristãos
hoje em dia. E até existem alguns eventos, os quais chamamos
de “avivamento”. É claro que esta é uma avaliação humana, pois
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Capítulo 2 • O Evangelismo e o Mundo
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quando falamos nesse tema, normalmente estamos nos referindo
a um acontecimento superior e distinto do trabalho normal do
Espírito Santo. Nós mesmos decidimos o que é avivamento e
o que não é; afinal a Bíblia não nos dá nenhum critério para
fazermos essa distinção. Aliás, a Bíblia não menciona o fato de
que algum trabalho do Espírito Santo seja raro. Nós é que, com
este propósito, criamos o nosso próprio critério de medida.
Muitos dizem que “avivamento” é uma palavra bíblica, mas
não é assim. Somos nós que identificamos um acontecimento
ou uma série deles como sendo avivamento e, então, tentamos
definir a palavra. Se não sabemos o que queremos dizer com essa
palavra, como vamos saber o que ela é? Precisamos saber sobre o
que estamos falando.
A pergunta básica é: Será que Deus tem dois níveis de ação espiritual? O trabalho normal do Espírito Santo acontece todo o
tempo e em todo o lugar. Existiria outro tipo, um poder especial
e superior que opera quando Deus realmente vem até nós? Será
que podemos aceitar duas categorias de atividade do Espírito
Santo: o poder total e o poder parcial?
Pode ter certeza de que não tenho a menor intenção de fornecer
respostas a essas perguntas. Levanto a questão apenas para mostrar um perigo em potencial: que muitos estão esperando Deus
agir, ou esperando que Ele entre em campo. Qualquer que seja
o nosso pensamento sobre avivamento, o ensino claro de Jesus é
que devemos pregar o Evangelho a toda criatura. Afinal, não há
salvação de outra forma. Aprouve a Deus salvar os que crêem pela
loucura da pregação (1 Co 1.21).
Muitos insistem em dizer que uma campanha evangelística não
é avivamento. Tudo bem, então não chamemos de avivamento;
vamos chamar do que é: apenas uma campanha. Não importa
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O Tempo está se Esgotando
do que a chamemos, contanto que as vidas estejam sendo libertas do poder do diabo e do domínio do pecado (At 26.18).
Não devemos desprezar o que está sendo feito; por outro lado,
as pessoas freqüentemente oram dizendo: “Senhor, faz isso de
novo!” Elas querem que Deus repita algum acontecimento que,
para elas, seja um exemplo a ser seguido. Elas querem repetição; entretanto, Deus não dá repetições, não importa o quanto
aplaudimos Seus feitos passados.
Se avivamento é para o crescimento da Igreja, o que vemos hoje
é algo jamais visto na história. Tenho tido o privilégio de pregar
para mais de um milhão de pessoas e de
A Igreja não é
ver, com meus próprios olhos, um milhão
simplesmente um
de convertidos em um só culto. As expelugar para
riências da Igreja Moderna, bem como
“os idosos fecharem
seus olhos e os jovens o seu crescimento, têm superado mais de
mil vezes os recordes narrados no livro dos
ficarem olhando as
roupas dos outros”.
Atos dos Apóstolos.
É um pacote de poder
para as nações,
projetado para manter
uma carga dinâmica
sobre as pessoas,
para toda a vida.
Um exemplo disso é a China, onde os cristãos já sabem que vão sofrer por causa da
sua fé. Quando o presidente Mao Tse-Tung
assumiu o governo daquele país, havia um
milhão de cristãos ali. A partir da morte
desse líder, em 1976, houve uma expansão da fé, e as últimas
estimativas são de que há mais de 120 milhões de Chineses
cristãos, apesar de as ameaças e restrições por parte do governo
continuarem.
Muito do que temos visto acontecer não se encaixa em nenhuma
fórmula teológica clássica para conversões e avivamentos. As
pessoas que amam a Jesus e estão dispostas a morrer por Ele,
como aconteceu a inúmeros seguidores de Cristo, não podem ser
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Capítulo 2 • O Evangelismo e o Mundo
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crentes inferiores. Quando vejo dezenas de milhares clamando
para receber a Cristo, em campo aberto na África, ou em um
estádio na Índia, regozijando-se com a experiência, olho para os
lados procurando por outro tipo de “avivamento” e não encontro
nenhum.
Será que podemos desprezar isso como não sendo um avivamento qualificado, pelo simples fato de que não corresponde a
nenhum modelo dos ocorridos nos séculos XVIII ou XIX?
Creio que está acontecendo um avivamento mundial. E isso é
resposta de oração, pois já se orou bastante por isso, até mesmo
em hinos; e agora ele está aqui. Na Coréia do Sul, um país
budista, 40% da população é de cristãos nascidos de novo,
incluindo um terço das forças armadas. Mas como isso pode
estar acontecendo? Através do evangelismo – de todos os tipos.
Nunca houve um verdadeiro avivamento sem a pregação do
evangelho. Já ouvimos, inúmeras vezes, que a oração precede o
avivamento; e é claro que tem de preceder, pois o povo ora todo
o tempo. Por isso, quando temos esse mover acontecendo, podemos facilmente dizer que ele é resultado de oração. Quando examinamos os relatos anteriores, vemos que os maiores avivamentos de toda a historia têm em comum o evangelismo! Quando as
pessoas saíam e pregavam o evangelho, mesmo em tempos difíceis e improváveis, Deus honrava a Sua Palavra. Freqüentemente
um extraordinário número de pessoas vinha a Cristo, estando
ouvindo a Palavra de Deus pela primeira vez.
O despertamento espiritual pode vir tanto através de uma igreja
viva, como de uma igreja morta. O Espírito do Senhor tem
absoluta liberdade para se mover neste mundo, e Ele trabalha
de incontáveis maneiras. Vamos nos deixar levar pela brisa que
sopra de Deus, independentemente de qual seja a nossa visão de
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O Tempo está se Esgotando
avivamento. Se alguém acreditar que o avivamento virá, ótimo.
Enquanto isso, Deus pode salvar milhares de almas. Seria maravilhoso a repetição de um despertamento do passado, mas os
acontecimentos de hoje têm trazido muito mais pessoas à salvação, do que qualquer outro mover já ocorrido. De fato, fazer a
nossa parte, o que pudermos, talvez prove ser o catalisador que
traz os mesmos avivamentos que muitos estão esperando.
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Capítulo 3
APRENDENDO
COM O MESTRE
A
o considerarmos assuntos tão importantes como avivamento
e evangelismo, temos muito a aprender com o próprio Jesus.
Alguns dos textos mais conhecidos usados para a pregação do
Evangelho vêm dos ensinos de Cristo registrados no evangelho
de João. Muitas pessoas os conhecem desde a infância; pelo
menos os mais velhos. Citamos, a seguir, alguns desses famosos
versos de João, que são como música que a gente nunca esquece.
Vamos nos deliciar com algumas das mais maravilhosas palavras
já escritas!
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu
nome. (1.12.)
Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (1.29.)
Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água
e do Espírito não pode entrar no reino de Deus (3.5).
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu
o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna. (3.16).
Quem nele crê não é julgado; o que não crê, já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de
Deus. (3.18.)
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O Tempo está se Esgotando
Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca
mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será
nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. (4.14.)
Sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do
mundo. (4.42.)
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele
comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela
vida do mundo é a minha carne. (6.51).
Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas
trevas; pelo contrário, terá a luz da vida. Se não crerdes
que Eu Sou, morrereis nos vossos pecados. (8.12,24.)
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Se,
pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
(8.32,36.)
Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo;
entrará, e sairá, e achará pastagem. Eu sou o bom pastor.
O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. (10.9,11.)
Esses versículos são tesouros, verdadeiras jóias preciosas do
Evangelho de João. Nada se compara à Palavra de Deus, onde
aprendemos como levar salvação ao mundo. O que eu posso
dizer, da minha própria experiência, é que um capítulo do
Evangelho de João, sozinho, é tão poderoso e estimulante,
quanto qualquer experiência de um evangelista. A Palavra de
Deus é a fonte original de toda inspiração.
Então, para o que veremos a seguir, eu vou à fonte de todos
os recursos. Como o chefe de família que Jesus descreveu em
Mateus 13.52, eu quero compartilhar tesouros velhos e novos.
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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João Batista
Creio que posso dizer, sem medo de errar, que mais sermões são
preparados com base no capítulo 3 de João, do que em qualquer
outro. Uma parte importante do texto fala sobre João Batista, o
primeiro evangelista do Novo Testamento. Ele é citado 19 vezes
nesse Evangelho.
O único objetivo que João tinha era trazer Israel de volta para
Deus. Por essa razão, o seu ministério era para a nação inteira.
O Antigo Testamento não enfatiza a idéia de conversões individuais, e João Batista foi o último profeta, por assim dizer, que
seguia o estilo do Antigo Testamento. Ele se referia aos fariseus
como um todo, como um grupo, e não lhes deu esperança de
arrependimento. Ele batizou as pessoas como indivíduos; entretanto, isso era simplesmente parte do trabalho de trazer toda a
nação em direção a Deus, cumprindo a profecia de Malaquias
(Ml 4.5,6).
A mensagem básica de João Batista era que
Nada se compara
Cristo é o Salvador de todos os homens,
à Palavra de Deus,
especialmente dos que crêem (1 Tm 4.10
onde aprendemos
– NVI). Ele convocou Israel para um novo como levar salvação
começo, um novo nascimento como nação.
ao mundo.
O profeta sabia que sua nação precisava
recuperar diante de Deus a sua posição espiritual perdida. Isaias
já havia dito exatamente o que João Batista estava dizendo: …
olhai para a rocha de que fostes cortados e para a caverna do
poço de que fostes cavados. Olhai para Abraão, vosso pai …
porque era ele único, quando eu o chamei, o abençoei e o multipliquei. (Is 51.1-2.)
João pregou: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus
(Mt 3.2). Esta era a esperança dele para Israel – ser o reino de
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O Tempo está se Esgotando
Deus. Ele falou sobre Aquele que viria, e esperava que o prometido Messias levasse a nação à vitória. Eles deveriam se preparar
para estarem prontos para recebê-Lo.
Nessa ocasião Israel havia declinado de sua primeira glória.
Todos confiavam na sua identidade nacional, e criam que, se
pertenciam a Israel, estavam seguros. Os Israelitas acreditavam
ter uma posição favorecida diante de Deus, como nação, como
se Deus fosse deles por direito de primogenitura. Esta crença
vem do Salmo 87.5,6: E com respeito a Sião se dirá: Este e aquele
nasceram nela; e o próprio Altíssimo a estabelecerá. O Senhor,
ao registrar os povos, dirá: Este nasceu lá. Era como se prova de
residência fosse passaporte para o céu. Ou seja, você era do reino
de Deus; os outros … bem, os outros teriam de passar pela
imigração.
João Batista teve de lidar com essa questão. Ele disse: e não comeceis a dizer entre vós mesmos: ‘Temos por pai a Abraão”; porque eu
vos afirmo que destas pedras Deus pode susSerá que o Evangelho citar filhos a Abraão (Mt 3.9). O machado
foi reduzido a
foi colocado à raiz da árvore, significando
promessas do tipo
a nação, árvore ancestral. Eles se vangloágua com açúcar,
riavam de serem filhos de seus pais e de
e que não mudam
Israel, mas a nação de Israel poderia ser
ninguém?
deserdada. Portanto, a mensagem de João
era: Arrependei-vos. Malaquias tinha dito que Elias converteria
o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para
que eu não venha e fira a terra com maldição. (Ml 4.6). A função
de João Batista era a mesma de Elias.
João queria que Israel começasse novamente como nação e,
para isso, tentou trazer os israelitas de volta às suas raízes. Eles
deveriam começar exatamente onde Israel começou com Moisés.
Primeiro as pessoas tinham que vir até João no deserto; pois ele
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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nunca pregara em nenhuma cidade. Segundo, eles teriam de
passar pelas águas, assim como Moisés tinha conduzido Israel
pelo Mar Vermelho. João chegou mesmo a batizar uma boa parte
da nação no rio Jordão. Passando pelas águas, a nação poderia
nascer de novo. Terceiro, os filhos de Israel teriam de recobrar
sua posição espiritual, indicando arrependimento.
Antes de continuar, deixe-me fazer um comentário sobre a Igreja
de hoje. O arrependimento deve ser um poderoso elemento na
nossa mensagem de evangelização; e João Batista não facilitava
em nada – ou o povo se arrependia, ou haveria um desastre
nacional. João era um extraordinário evangelista, o protótipo do
que todo evangelista deveria ser: destemido, intransigente quanto
ao pecado, declarando a retidão e o julgamento de Deus. Aliás,
o próprio Jesus começou o Seu ministério repetindo a mensagem
de João, que dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos
céus (Mt 4.17).
Freqüentemente a Igreja é acusada por não ter liderança moral
na terra. Diante disso, fico pensando se a pregação de retidão
e julgamento tem hoje a conotação que deveria ter. Será que o
Evangelho foi reduzido a promessas do tipo água com açúcar, e
que não mudam ninguém? Deus prometeu a Israel uma terra
onde manava leite e mel, mas a Lei foi colocada no coração
da nação para que agisse correto. O papel da Igreja deve ser
pregar o contraste entre santidade e perversidade, certo e
errado, verdade e mentira, bem e mal. Aliás, é exatamente isso
que o mundo espera de nós.
João Batista e Nicodemos
Quase a metade do terceiro capítulo de João é sobre João Batista;
porém temos de ligá-lo a Nicodemos, o homem que veio ter com
Jesus durante a noite. Nicodemos havia ouvido a mensagem de
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O Tempo está se Esgotando
João e, certamente, quase creu que ele era um profeta, e que
Israel precisava deixar seus pecados, se quisesse ser novamente a
nação poderosa e independente de outrora.
Contudo, João não fazia milagres, e Jesus fez. Nicodemos sabia
que Deus estava com Jesus, que Ele era um mestre que viera da
parte de Deus. Por isso Nicodemos foi até Ele, para entender
sobre Israel e o Reino. Sendo um dos principais de Israel, ele
buscava a verdade para a sua nação.
E Jesus, por sua vez, mostrou a realidade para ele. João ensinou
que a nação tinha que renascer passando pelas águas, exatamente
como Israel veio a existir originalmente como nação, passando
pelo Mar Vermelho e pelo rio Jordão. Jesus, todavia, disse que
o renascimento da nação requeria mais do que algo físico. Ele
disse: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus (Jo 3.5
– ênfase do autor).
Jesus falou a Nicodemos não somente como indivíduo, mas
também como um mestre em Israel. Quando falou sobre nascer
de novo, Jesus não disse “você” no singular.
A conversão
A mensagem do novo nascimento não é
deve ser resultado do somente para indivíduos, mas também para
mover do Espírito,
toda uma nação que pode renascer através
e não uma transação
da pregação do Evangelho. João 3.16 diz:
de negócios.
Porque Deus amou o mundo, e, todo aquele
A pregação no
que nele crê. O evangelho é para o mundo
Espírito Santo
produz convertidos
inteiro, e é por isso que temos a África
do Espírito.
como um alvo – um continente inteiro
lavado pelo sangue de Jesus. A África pode
escolher: ou ser lavada pelo sangue de conflitos tribais, ou pelo
sangue redentor de Jesus.
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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Profetas: Bocas de Deus
João proclamou a Palavra do Senhor para o povo de Deus, Israel.
Elias também falou a Israel – um homem pregando a cada tribo!
O que ele, ou qualquer outro profeta foi, a Igreja é hoje. Temos
de falar a todas as nações. A igreja tem um ministério profético.
Algumas pessoas afirmam ter esse ministério como se fossem
diferentes dos demais cristãos. Todavia, gostaria de dizer aqui
que todo o povo de Deus recebeu o Espírito de profecia, o
Espírito Santo (1 Co 12.13; Ap 19.10). O evangelho é profético.
E Jesus confirmou isso, quando disse: Em verdade vos digo: entre
os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista;
mas o menor no reino dos céus é maior do que ele (Mt 11.11). Aqueles
que são nascidos do Espírito, e estão no reino de Deus hoje, são
maiores do que João, porque temos a grande verdade profética do
Evangelho. Esse é o nosso chamado, a nossa responsabilidade. A
função do profeta é profetizar, da mesma maneira que o papel
das testemunhas é testemunhar. Foi o próprio Paulo quem disse:
ai de mim se não pregar o evangelho! (1 Co 9.16). Jeremias até que
tentou não profetizar, mas ele viu que as palavras de Deus eram
como fogo queimando nos seus ossos (Jr 20.9). Será que temos
a ousadia de sermos diferentes de Jonas, e não irmos dormir,
enquanto todo mundo à nossa volta está em perigo?
Fogo: o Jeito de Deus
Pregar a salvação deve ser mais do que um negócio frio, pois
conversões são produzidas no fogo. O evangelismo não é uma
operação clínica, mas algo envolvente. A conversão deve ser resultado do mover do Espírito, e não uma transação de negócios.
A pregação no Espírito Santo produz convertidos do Espírito,
e não convertidos técnicos ou teológicos. Cremos, de todo o
coração, que a resposta para esta nação não são as polêmicas ou
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O Tempo está se Esgotando
os debates, mas o coerente e brilhante testemunho de crentes
genuínos. Deixe-me lembrá-lo de que, se você quiser se livrar da
escuridão, precisa parar de argumentar e simplesmente deixar a
luz brilhar.
Lemos, em João 4, que Jesus saiu de Israel e foi para Samaria.
Ali Ele ignorou protocolos e tabus sociais, e falou diretamente
com uma mulher – uma estrangeira! Pior ainda, pediu a ela que
lhe desse de beber do seu próprio vaso, o que era considerado
uma contaminação. Afinal de contas, ela era samaritana, povo
particularmente detestado pelos judeus. Espantada por ver Jesus
Cristo quebrar toda a etiqueta social, a mulher falou com Ele, e
Cristo pôde expor a ela toda a sua vida de pecados. Ele sabia que
ela era considerada a pior mulher da cidade, mas ofereceu a ela
a água da vida. Ela veio ao poço carregando um pote de água,
mas quando Ele a despediu, ela deixou o pote para trás, e levou
todo o poço com ela – a fonte da vida. Jesus Se revelou a ela
quando Ele ainda não havia Se revelado a nenhum outro gentio
até aquela hora.
Existem mais detalhes a serem considerados aqui. Jesus disse à
mulher que fosse até à sua casa para trazer seu marido. Ela se foi,
e se o homem com quem ela vivia veio ou não, eu não sei; só sei
que ela trouxe um marido com ela! Ela voltou à sua vila dizendo:
“Venham ver um homem”. Essa senhora era muito conhecida
por seus homens, pois tinha sido mulher de uma meia dúzia
deles; e aqui estava o número sete (lembrando do que os saduceus
certa vez perguntaram a Jesus sobre sete maridos e uma esposa
– no céu, de qual deles ela seria esposa? (Veja Mateus 22.23-28).
Ninguém mais do que ela teria feito tão bem o trabalho de testemunha. “Venham ver um homem”, ela chamou, e eles vieram.
Bem, você já deve ter lido que naquele tempo os mantos dos
homens eram brancos. Então Jesus, levantando os olhos, viu essa
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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multidão vestida de branco, vindo em Sua direção, e falou aos
discípulos: Erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para
a ceifa (Jo 4.35). Essa mulher já estava trazendo os seus feixes.
Agora, vamos dar uma olhada nos versos 31 a 34:
Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam, dizendo:
Mestre, come. Mas ele lhes disse: Uma comida tenho
para comer, que vós não conheceis. Diziam, então, os
discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém
trazido o que comer?
Jesus disse a eles: A minha comida consiste em fazer a vontade
daquele que me enviou e realizar a sua obra.
Seria bom nos perguntarmos que trabalho era esse no qual Jesus
tinha mais prazer, do que comida para um homem faminto?
Evangelismo. Sempre que Jesus falou sobre a sua satisfação e alegria, deixou claro que Seu prazer era fazer a vontade de Deus. E
isso nunca era uma emoção repentina que vinha sobre Ele; mas,
sim, algo que lhe sobrevinha quando, com êxito, havia realizado
a vontade de Deus.
O discípulo não está acima do Seu Senhor; portanto, se quisermos a alegria de Cristo, devemos fazer o que Ele fez. Satisfação
para Ele não é encontrar algum prazer cristão que possa juntar-se
a algum prazer do mundo. Também não é achar entretenimento
na igreja, em vez de no mundo secular. Cristo não compete com
o mundo prometendo um equivalente religioso às ofertas que nos
chegam todos os dias; ou seja, prazer por prazer. Diferentemente
disso, o prazer de Cristo é a vontade de Deus e a sua promulgação. Nenhuma dança, nenhum concerto, nenhum filme sensacional, enfim, nenhum tipo de diversão pode competir com o
prazer de ganhar uma vida para Cristo.
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O Tempo está se Esgotando
Jesus perguntou aos discípulos: Não dizeis vós que ainda há
quatro meses até a ceifa? (Jo 4.35). Bem, certamente Seus discípulos disseram isso uma hora ou outra. Essa frase era um aforismo,
como o nosso ditado, “Roma não foi construída em um dia”.
Entretanto, a colheita da qual Ele falava
Nenhum tipo
estava diante dos Seus olhos, representada
de diversão pode
nos feixes que aquela mulher colhera. O
competir com
povo de Israel tinha a tendência de sempre
o prazer de ganhar
esperar que o trabalho de Deus pudesse ser
uma vida
feito no amanhã – amanhã viria o Reino;
para Cristo.
amanhã os samaritanos se arrependeriam;
amanhã os romanos partiriam; amanhã Deus apareceria novamente com grande poder, como fez durante a partida dos israelitas do Egito, e no Sinai, etc. Eles tinham um Deus para todos
os seus “ontens” e para todos os seus “amanhãs”; só não tinham
nada para o “hoje”.
Conhecemos muito bem essa atitude nos dias de hoje. O grande
pregador Smith Wigglesworth disse certa vez: “Não é teologia o
que quero; é AGORA-logia”. Falamos muito sobre semear, mas
pouco sobre colher, e Jesus disse que os campos estão maduros
para a colheita. Não há a menor dúvida que já ouve muitas oportunidades no passado onde vastas colheitas poderiam ter sido
feitas, mas não foram. A colheita ficou a cargo de apenas uns
poucos segadores; geralmente pregadores profissionais ou evangelistas com tempo sobrando.
Algumas vezes, no entanto, as possibilidades foram aproveitadas.
Aquele meio século após a morte de João Wesley viu uma grande
extensão do avivamento Metodista na Inglaterra; mais até do
que durante toda a vida daquele grande homem de Deus.
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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O General William Booth disse, certa vez, que no final do
período Vitoriano, qualquer pessoa poderia ficar em pé em uma
esquina, em qualquer rua, a qualquer hora, e pregar o Evangelho,
que uma multidão logo se juntaria para ouvir. Contudo, um dos
mais conhecidos evangelistas da Inglaterra tentou impedir outros
de fazerem cruzadas, pois achava que isso diminuiria o seu próprio sucesso. Ele chegou a oferecer aos evangelistas grandes e
excelentes igrejas, se eles simplesmente parassem de evangelizar.
Ele pensou, erroneamente, que a colheita duraria para sempre.
Mas o lamento registrado em Jeremias 8.20, é: Passou a sega,
findou o verão, e nós não estamos salvos. É sempre tempo de ir;
portanto, vá AGORA!
Declaração de Paulo
O capítulo 6 de 2 Coríntios talvez seja o maior capítulo já escrito
sobre evangelismo. Encontramos nessa passagem palavras desafiadoras do coração do apóstolo Paulo, o homem que introduziu
o Evangelho na Europa. Eu desejaria ter aqui espaço suficiente
para repetir palavra por palavra:
… na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas
angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no saber, na
longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor
na fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus,
pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas;
por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama,
como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos e, entretanto, bem conhecidos … pobres, mas
enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.
(2 Co 6.4-10.)
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O Tempo está se Esgotando
Considere como ele começou o capítulo:
E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também
vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus
porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te
socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo
oportuno, eis, agora, o dia da salvação); não dando nós
nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que
o ministério não seja censurado. (2 Co 6.1-3.)
Francamente, embora eu não seja um acadêmico ou um perito
grego, acredito que se traduzíssemos as palavras de Paulo para o
nosso linguajar dos nossos dias, poderíamos perder a sua paixão.
Seus sentimentos e suas experiências não são nossos, mesmo
quando temos a palavra certa. Como um evangelista, talvez, eu
tenha apenas um vislumbre do que ele realmente quis dizer.
Nessa passagem vemos que Paulo está transbordando com a
maravilhosa graça divina. O presente da graça de Deus foi tão
grande que ele se sentiu na obrigação de compartilhá-la. Paulo
sabia ser rico espiritualmente além dos sonhos de qualquer religioso que já tivesse andado sobre a terra. A pior coisa para ele
seria não compartilhá-la; não fazer seria o mesmo que receber a
graça de Deus em vão (2 Co 6.1).
Era certo receber essa graça; até mesmo os coríntios a tinham.
Eles sabiam disso e Paulo também. E funO evangelismo de
cionou para eles. Entretanto, manter essa
hoje torna possível
graça somente para eles significava que
o evangelismo
ela se perderia na areia. As pessoas devem
de amanhã.
saber dessa graça a todo custo e por todos
os meios, com a máxima energia, perseverança e com todo o
nosso poder – não importando o sofrimento.
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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Paulo disse: Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós
iso: um morreu por todos; logo, todos morreram (2 Co 5.14). A
mensagem vital é: Hoje é o dia da salvação.
Preparando o Terreno
Jesus disse a Seus discípulos: Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho (Jo 4.38).
Creio que João está dando às palavras originais de Cristo uma leve
ênfase antecipada. Até aquela hora os discípulos ainda não tinham
começado a trabalhar; não obstante, o princípio permanece: O
evangelismo de hoje torna possível o evangelismo de amanhã.
Hoje em dia o intelectualismo está em voga. Orgulhar-se – ser
esperto demais com as “coisas de Deus” – é contribuir com a
queda da nossa sociedade. Os intelectuais estão confusos, e os
que estão seguindo essa novidade devem ser conduzidos pela
mão, com gentileza e sabedoria, em direção à fé em Cristo.
Contudo, para a maioria das pessoas, devemos aprender a apreciar o imenso poder do Evangelho apenas quando é pregado de
forma original, autêntica e impetuosa. O Evangelho tem um
poder admirável e peculiar; é só ele encontrar uma abertura,
por menor que seja, que consegue alcançar o coração da pessoa.
Quando comparadas a ele, qualquer mera habilidade ou psicologia moderna da nossa parte são toscas comparações. O poder do
Evangelho não pode ser comparado com a habilidade de entender e de manipular psicologicamente uma multidão.
Mencionei, em um outro livro, que já estivemos em lugares onde
pioneiros como David Livingstone e C.T. Studd trabalharam.
Na época deles, Livingstone disse que tinha visto apenas poucos
frutos se rendendo ao Senhor, mas que outros viriam e que trariam
ainda mais luz do Evangelho, e veriam milhares de almas vindo
a Cristo. Um dos pontos altos da minha vida foi ministrar em
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O Tempo está se Esgotando
Blantyre, em Malawi, que tinha esse nome por causa da pequena
cidade escocesa, onde Livingstone nascera. Ele trabalhou muito
para Cristo, mas morreu sem ter muito o que mostrar como fruto
de seu árduo trabalho. Todavia, ele tornou possível o sucesso de
outros, e eu sou um deles. Em Blantyre, vimos 150.000 pessoas
virem a Jesus – e isso em apenas uma semana!
Minha oração é para que eu possa trabalhar de maneira aceitável, assim como Paulo coloca em 2 Coríntios 6, de modo que
qualquer que me siga, tenha condições de encontrar um solo
menos árido. Certo dia, meditando na Parábola do Semeador,
em Mateus 13, fiquei admirado com o fato de que algumas das
sementes caíram na beira da estrada, e que os pássaros vieram e
as comeram. Que beira de estrada era essa? O próprio semeador
havia semeado ali, ao andar para cima e para baixo! Enquanto
ele fazia isso, estava endurecendo o seu próprio campo, enquanto
semeava e trabalhava. Então pensei: “Deus, me ajude a não
tornar o caminho ainda mais árduo para os outros, pela maneira
como faço o que tenho de fazer.”
Bem, Jesus também preparou o terreno para outros. Pense por
um momento na mulher samaritana, no poço (Jo 4). Poucos anos
depois da ressurreição, outro evangelista, Felipe, foi até Samaria
e a encontrou aberta e pronta para o Evangelho. Havia grande
alegria naquele lugar. Jesus não fez milagres quando esteve lá,
pelo menos a Bíblia não menciona nada a esse respeito. Contudo,
quando Felipe chegou ali, seguindo os passos do Senhor, realizou muitos milagres de cura, e expulsou demônios. Jesus era um
excelente exemplo de trabalhador para se seguir. Ele certamente
poderia dizer: “Segue-me e eu vos farei pescadores de homens”
sem arruinar todo o local da pesca. Mas Ele também diz: O
ceifeiro recebe desde já a recompensa e entesoura o seu fruto para a
vida eterna (Jo 4.36). A alegria da colheita é a verdadeira alegria.
De repente, o velho hino ganha significado:
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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Confiar e obedecer,
Pois não há outra maneira
De ser feliz em Jesus:
Confiar e obedecer.
Conheço apenas duas obrigações persistentes, nas quais Cristo
nos chama a confiar e obedecer: o amor e o evangelismo. A
recompensa vem por causa do trabalho e, se você não trabalhar,
não pode aproveitá-la.
A Obrigação de Jesus
Vamos olhar novamente o texto que fala da passada de Jesus por
Samaria. Creio que o relato está resumido em João 4.4, que diz: E
era-lhe necessário atravessar a província de Samaria. O grego usa o
verbo impessoal dei, que significa “devem”, “deve necessitar”, ou
“deve”, e que é usado 105 vezes no Novo Testamento. Somente
uma vez o verbo tem o significado de necessidade física; em todos
os outros casos está implícita uma necessidade moral ou emocional. Cada vez o texto mostra que o Senhor está consciente do
que Ele tem de fazer; ou seja, uma obrigação, o propósito da Sua
estada na terra. Não se trata de uma mera necessidade física.
… era necessário que o Filho do homem sofresse muitas
coisas … (Mc 8.31).
É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de
Deus (Lc 4.43).
Importa que o Filho do homem seja levantado (Jo 3.14).
É necessário que façamos as obras daquele que me enviou
(Jo 9.4).
Era necessário ressuscitar ele dentre os mortos (Jo 20.9).
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O Tempo está se Esgotando
Para Jesus, o trabalho de salvar homens e mulheres não era mais
para ser ignorado, da mesma forma que também não o era o
fato de que Ele era um com Deus. Esse trabalho era a Sua essência. Ele não apenas salvou, mas também era a própria salvação.
Assim como o fogo está para o calor, da mesma forma Cristo
está para a salvação. Para o Senhor, o evangelismo sempre foi
um verdadeiro imperativo. Ele mesmo disse que Sua “comida”
era fazer a vontade de Deus. Mais tarde Ele disse que havia mandado Seus discípulos fazerem as coisas que Ele tinha feito.
Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os
enviarei ao mundo. (Jo 17.18.)
Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.
(Jo 20.21.)
João não mostra o dever do evangelismo da mesma maneira que
os Evangelhos sinópticos; entretanto, isso está presente em todo
o livro de João, de maneira latente e forte.
A Obrigação dos Discípulos
Os discípulos foram enviados ao mundo – um mundo que era, e
continua sendo, hostil e pecaminoso. A Igreja de hoje não deve
se preocupar apenas com o crescimento meramente numérico,
pois isso pode dar uma conotação de “pesca em aquário”. Certa
vez alguém disse que fomos chamados para
A alegria da colheita sermos pescadores de homens, e não guardas
é a verdadeira alegria.
de aquário, pescando no reservatório alheio.
De repente,
o velho hino ganha
significado.
Na América a Igreja tem uma enorme piscina
religiosa na qual pescar; na Europa, contudo,
não tem tal piscina, e existem poucos convertidos em potencial.
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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A região européia não somente se tornou extremamente secularizada, como também faz parte de sua tradição ser completamente
livre de qualquer reivindicação religiosa. Para conseguirem
ganhar uma única alma, as igrejas precisam ser extremamente
cheias de recursos e iniciativas. Os líderes trabalham duro, se
esforçam, e a maioria das sementes parece cair em solo infértil.
A maior parte da nossa sociedade, hoje, é composta por dois
grupos principais: os religiosos e os não-religiosos, e é muito difícil para o grupo de religiosos entrar de verdade no outro grupo.
Talvez eu esteja desinformado, e sinceramente espero que sim;
no entanto, algumas pessoas consideram perda de tempo tentar
alcançar o mundo ateu. Contudo, quando ouço as histórias que
contam por aí, não acho que isso seja impossível. Mesmo neste
exato momento, Deus pode estar levantando, da morte, verdadeiros Lázaros espirituais.
E mesmo sendo difícil, é nossa tarefa alcançar o coração do ateu.
Se a maioria das igrejas é meramente familiar, continuando sua
existência de pai para filho, então é melhor declararmos estado
de emergência. Deveria haver um conselho de guerra para ser
acionado nessas situações de emergência. O que precisamos,
desesperadamente, é voltarmos ao nosso propósito inicial de
evangelizar o perdido. Somos enviados ao mundo, e não somente
ao reino cristão; somos pescadores de homens, e não somente
alimentadores de ovelhas; estamos aqui para levar salvação a
todo o mundo, e não apenas para metade dele.
O mundo lá fora é um lugar perigoso; um lugar de confessores
e de mártires. A oposição que enfrentamos não é simplesmente
intelectual mas, às vezes, é também armada com revólveres,
facas, pedras, como eu já tenho visto mundo a fora. A pergunta
é, será que o mundo de matança vai superar o mundo do amor de
Jesus? E mais: estamos prontos para deixar que isso aconteça?
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O Tempo está se Esgotando
A Decepção Pode Ser Superada
Decepções virão, mas não devemos permitir que elas nos atrapalhem. Vamos voltar novamente a João 2.23-25, e ler até 3.2:
Ora, estando ele em Jerusalém pela festa da páscoa,
muitos … creram no seu nome. Mas o próprio Jesus não
confiava a eles, porque os conhecia a todos, e não necessitava de que alguém lhe desse testemunho do homem, pois
bem sabia o que havia no homem … Ora, havia entre os
fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite …
Neste mundo existem pessoas superficiais e que não merecem
a nossa confiança. Graças a Deus, porém, não são todas. Aliás,
o capítulo 1 de João termina com Jesus descrevendo a Natanael
como um Israelita em quem não havia malícia. Nicodemos
deixou de ser o homem entre os governantes em Jerusalém, para
ser fiel a Jesus, e se identificar com Ele
Assim como o fogo
depois que foi crucificado (Jo 19.39,40).
está para o calor,
Algumas sementes são semeadas, mas não
da mesma forma
dão fruto; algumas chegam a produzir um
Cristo está para
pouco, outras um pouco mais, e algumas
a salvação.
outras até dão muitos frutos. A mesma
qualidade de semente, o mesmo semeador, mas diferentes solos.
O resultado vai depender de para quem você está pregando. Em
uma cidade samaritana Jesus não obteve nenhum resultado.
Aliás, os moradores nem sequer permitiriam que Ele passasse a
noite lá. Em Sicar, porém, foi diferente.
Por mais de uma vez, na África, perdemos muito dinheiro
investindo em uma cruzada que, na última hora, foi cancelada
pelo governo. Temos visto motins como Paulo viu em Éfeso
(At 19.23-34); mas, e daí? Jesus prometeu que, no final, vamos
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Capítulo 3 • Aprendendo com o Mestre
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superar todos os reveses (1 Jo 4.4). Freqüentemente Paulo falava
sobre paciência e perseverança, virtudes necessárias para qualquer evangelista; todavia, é Deus quem as dá a nós. Jesus deu
o exemplo: Vinde após mim (Mt 4.19). Ele foi à frente, e isso
significa que alguém deve segui-Lo. Por que não você?
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Capítulo 4
A FÉ E O EVANGELISMO
S
eguir a Jesus requer fé; aliás, é impossível segui-Lo sem ela. A
Palavra diz que aquele que crê será salvo (veja Marcos 16.16),
e o evangelismo é parte vital para essa salvação. O evangelista
pode cultivar a fé no coração das pessoas; contudo, ele só consegue isso se ele próprio tiver uma fé verdadeira. A fé é algo contagiante, mas não podemos transmiti-la se não a tivermos. É como
o sarampo: você só pode contagiar outra pessoa se você mesmo
estiver infectado. Primeiro adquirimos a fé por intermédio de
alguém; depois alguém vai adquiri-la através de nós.
As pessoas geralmente falam e discutem sobre o dom de evangelizar e seu real significado. Falando de maneira simples, considero esse dom como sendo uma fé “infecciosa”; ou seja, para
entusiasmarmos a outros, devemos estar entusiasmados. Voltaire,
famoso ateísta francês, disse que não cria que os cristãos eram
redimidos, porque eles não pareciam redimidos. Mensageiros
cristãos não são apenas fitas gravadas, ou simplesmente palavras;
eles são mais como “vídeos-palavras”, onde a imagem é que
conta. A Bíblia nos diz que quando Felipe foi a Samaria havia
uma grande alegria naquela cidade (At 8.8). Creio que o que fez
aquele povo se alegrar foi a fé demonstrada na vida e na pregação
de Felipe.
A Fé no Evangelho de João
É interessante a ausência da palavra fé no Evangelho de João;
é como se o apóstolo a evitasse. Mesmo nas suas três epístolas,
ela aparece somente uma vez. E isso é surpreendente porque a
palavra “fé” (do grego pistis) é encontrada 244 vezes no Novo
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O Tempo está se Esgotando
Testamento. Em vez do substantivo fé,
João escolhe usar o verbo “crer” (do grego
pisteuo). Estranhamente, os outros três
Evangelhos também não usam muito as
palavras “crer” ou “crendo” – apenas 11
vezes em Mateus, 15 em Marcos, e 9 em
Lucas – ao passo que, no livro de João, ela ocorre 100 vezes.
A fé é algo
contagiante,
mas não podemos
transmiti-la se
não a tivermos.
O conceito de fé é abstrato; “crer” descreve uma ação. Enquanto
a fé pode ser estática, crer é dinâmico. A palavra “crendo” é
muito importante no livro de João, para qualquer entendimento
de evangelismo; contudo, há uma outra palavra que deve ir junto
com ela: “testemunhando”.
É bem provável que as pessoas tentem encontrar a palavra
“evangelho” ou “evangelismo” em João; todavia, não há menção
de nenhuma delas. Novamente João escolhe um termo mais
dinâmico: o verbo “testemunhar” (do grego martureo), algumas
vezes traduzido como “testificar”. Esse verbo grego, em particular, é usado 33 vezes por João. Estas duas palavras: “crendo”
e “testemunhando” representam algo progressivo e ativo, e
não estático. Elas estão conectadas; ou seja, enquanto cremos,
testemunhamos.
João nunca trata o Evangelho como sendo uma simples doutrina, ou uma definição verbal da verdade; ele sempre se refere a
ele como algo que está acontecendo. Ele sabe que o evangelho é
verdade, pois em 2 João 9, ele diz: Todo aquele que vai além do
ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. O livro
de João foi escrito para mostrar que o Evangelho é um acontecimento dinâmico e progressivo (ver João 20.31); é verdade e luz.
Se optarem por crer em Jesus Cristo, os leitores dessa maravilhosa mensagem verão exatamente onde estão, e para onde vão.
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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Sempre que possível João usa palavras de ação. Ele fala, por
exemplo, da Verdade, como sendo algo que brilha mais e mais,
constantemente iluminando o mundo, e não como uma luz
que brilha uma vez só. Pois a verdadeira Luz, que alumia a todo
homem, estava chegando ao mundo (Jo 1.9). Na língua grega a
palavra “vinda” pode ser associada ou com “todo homem” (como
acima), ou com “verdadeira luz”, mostrando que era a verdadeira
Luz vinda ao mundo.
Outro detalhe interessante que podemos notar é que João nunca
fala sobre “conhecimento” do evangelho, ou “conhecimento”
de Deus; pelo contrário, ele fala sobre “conhecendo” – que é o
processo no qual estamos. Cristo não é alguém de quem você
ouviu, ou de quem você sabe … Ele é alguém a quem estamos
conhecendo e vivenciando aqui e agora. Ele está conosco.
Para o apóstolo João a fé é viva, não um credo ou algo que simplesmente aceitamos; tem a ver com o que fazemos. Como Smith
Wigglesworth costumava dizer: “Fé é ação”.
Uma Fé Viva
O objetivo de João era mostrar que a fé cristã é algo vivo, não
uma religião estática. Cristo é vida; crer é vida; conhecê-Lo é
vida. E as características de vida são reprodução e adaptação. A
própria Bíblia é um bom exemplo disso, pois ela é a Palavra viva,
e se reproduz na experiência humana. A palavra de Deus crescia
e se multiplicava (At 12.24); ela fala conosco e é uma força no
mundo. Alguns consideram a Palavra de Deus como sendo nada
mais do que um documento antigo que a Igreja preservou; mais
ou menos como uma peça de museu. Contudo, posso afirmar
que ela não é nada disso; é viva, e sua atuação é continua.
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O Tempo está se Esgotando
As Escrituras só estão conosco hoje porque são a Palavra de Deus
(Ro 3.2), e não simplesmente por ser um documento preservado
pela Igreja. Foi a Bíblia que preservou a Igreja, e não o contrário. Existem muitas sociedades responsáveis pela preservação de
coisas como: o meio ambiente, construções antigas, a paz, a espécie, as tradições, e daí por diante. Entretanto, graças a Deus não
temos a necessidade de uma Sociedade Para a Preservação das
Escrituras. Afinal de contas, são as coisas mortas que precisam
ser colocadas em fluídos conservantes, com poder de preservar,
não as “coisas vivas” .
Em 2 Timóteo 4.18 encontramos a palavra “preservar”: E o
Senhor me livrará de toda má obra, e me preservará para o seu
reino celestial – no original grego, porém, a palavra “sozo” já tem
o significado de “salvar”. Quer dizer, estamos salvos, não preservados. Afinal de contas, temos vida eterna! Não vamos para
o céu como múmias, ou personalidades congeladas; a pulsante
vida eterna flui dentro de nós.
Nosso Papel é Claramente Definido
O Evangelho, para ser realmente Evangelho precisa ser pregado.
Essa palavra vem do grego evangelion e significa “boas novas”.
Se você guardar uma notícia para si mesmo, ela não será notícia
de jeito nenhum, pois notícia é uma informação transmitida
em grande escala. Quando colocamos a notícia em um livro,
na prateleira, ela se torna apenas história, e o Evangelho não
é história, embora seja uma verdade histórica. O Evangelho só
acontece e se torna notícia quando é pregado. Você pode nomeálo como quiser – teologia, a Palavra, a Verdade – mas se não for
expresso com clareza, então não é boa nova, e a palavra usada
não pode ser “evangelho”. A fé, por sua vez, não é uma verdade
que pode ser contida em uma dissertação teológica, colocada na
prateleira e chamada de “o Evangelho”. É claro que a verdade
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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do Evangelho pode ser escrita, mas o Evangelho somos nós,
contando a história de Cristo, não importando qual o meio de
comunicação utilizaremos.
Somos como comissários de bordo do Evangelho (2 Co 4.1;
1 Pe 4.10), e não diretores das suas prisões. E o comissário tem
de “gastar” com os passageiros o que ele tem em seu poder, e
não guardar, como tentando proteger os bens de algum dano. A
melhor maneira de defender a fé cristã é expor o Evangelho aos
seus inimigos, pois ele é completamente capaz de lidar com eles.
Somos comissários, designados a repartir a todos as boas novas
com a generosidade de Deus. A Igreja não é uma sólida construção, que tem a intenção de manter a Verdade intocada, mas uma
“instituição filantrópica”, um centro de distribuição. Eliseu fez
com que o óleo da botija da viúva jorrasse ininterruptamente,
mas Deus nos dá um campo de óleo, um verdadeiro poço que
nunca seca.
Quando a fé e o testemunho andam juntos,
O Evangelho,
algo como uma explosão acontece. Paulo
para ser
disse que o Evangelho “é o poder de Deus” realmente Evangelho,
(Ro 1.16), e esse poder só é liberado quando precisa ser pregado.
esse Evangelho é pregado. Muitas pessoas
oram pedindo poder, mas o poder é algo latente no Evangelho;
por isso, pregue a Palavra que o poder será liberado.
Os cientistas dizem que existe em Marte, preso nas pedras,
oxigênio suficiente para restaurar a atmosfera daquele planeta.
Bem, também existe bastante “oxigênio espiritual” estocado no
Evangelho; suficiente para restaurar todo o mundo! Então, meu
conselho é: pregue o Evangelho e proclame os atos de Cristo
como catalisador, trazendo interação entre o poder do Espírito
Santo e aqueles que ouvem a mensagem. Quando Jesus for
pregado, o Espírito Santo vai agir convencendo as pessoas do
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O Tempo está se Esgotando
pecado. Todavia, tudo começa com o nosso crer, fazendo o que
devemos fazer. Vamos colocar nossa fé em ação! Preguemos a
Palavra e Deus vai agir! Essa é a dinâmica do Evangelho.
O Que é Fé Verdadeira?
Podemos descrever certas pessoas como sendo “crentes incrédulos”; elas são íntegras na doutrina, mas não confiam em Deus.
Pregam o que chamam de evangelho, mas é um evangelho sem
vida, simplesmente uma declaração da sua ortodoxia. Quando
um homem descreve a beleza de uma bela garota, o faz quase
que clinicamente. Entretanto, se ele está apaixonado por ela,
então sua descrição faz com que ela pareça uma pessoa cheia de
vida, digna de se ter um relacionamento prazeroso.
O sermão, em si mesmo, deve ser um ato de crença, em completa dependência de Deus. Durante uma pregação, a semente
que devemos semear é a verdade de Cristo; porém, sem a fé, essa
semente nunca será fecundada. A menos que o Evangelho seja
pregado com fé, ele nunca germinará, florescerá ou frutificará.
… exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi
entregue aos santos (Jd 3). E a fé tem de produzir resultados, pois
mesmo sendo muito importante, por si só não é suficiente. A fé
deve ser frutífera e gerar vida – … para que, crendo, tenhais vida
em seu nome (Jo 20.31); é um processo vivo e vibrante: você está
crendo, recebendo, conhecendo, vendo e habitando nEle.
O resultado de se crer é uma rendição vinda do próprio Deus:
uma fé contínua goza dessa entrega total da vida nas mãos do
Senhor. Jesus não disse apenas: “Eu sou o caminho e a verdade”;
Ele disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6 – ênfase
do autor). O Evangelho não é a verdade no gelo; mas sim a verdade no fogo.
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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Um perfeito exemplo da diferença entre uma fé ativa e uma passiva é a história de Davi e Golias (ver 1 Samuel 17). Os israelitas
tinham fé; eles declaravam que Jeová era Deus, e essa era uma
tremenda verdade para eles. Contudo, parece que a declaração
de fé deles no Deus Jeová não era tão séria assim, pois ela não fez
nada na vida deles.
E aqui estavam eles; todo um exército juntamente com o próprio
rei, um líder fraco e sem liderança. Eles gritaram pelo nome do Senhor e fizeram uma Eliseu fez com que
o óleo da botija
grande algazarra com as suas armas. Criam
da viúva jorrasse
que eram o povo de Deus e que Ele estava
ininterruptamente,
a seu lado; entretanto, isso estava longe de
mas Deus nos dá
ser verdade. Nenhum soldado teve a cora- um campo de óleo,
gem de sair do seu posto e ir, um a um, um verdadeiro poço
que nunca seca.
enfrentar Golias. É claro! Afinal, para fazer
isso seria necessário que a fé que professavam fosse real, uma vez que ninguém em Israel era fisicamente
semelhante a Golias; nem mesmo o rei Saul.
Davi, um menino pastor, era um forasteiro; entretanto, passou
pelo vale, chegou ali no campo de batalha, foi humilhado pelo
gigante Golias, e declarou que arrancaria a cabeça dele. E foi
exatamente isso o que ele fez. “Fé sem obras é morta”, exatamente como a Bíblia nos diz (Tg. 2.26).
O evangelismo requer um crer ativo, que pode ser resumido em
testificar, testemunhar, ver, saber e fazer; porém, precisamos
de alguns fundamentos para esse tipo de confiança audaciosa.
Crer em Deus não tem nada a ver com ser ingênuo, crédulo ou
ignorante; para termos fé, o que precisamos é colocar a Palavra
de Deus em ação. A segurança da fé é como a segurança que o
nadador precisa ter na natação – em ambas é preciso agir.
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O Tempo está se Esgotando
O Deus que Nunca Muda
A fé em Deus se baseia na fidelidade de Deus. Em Lamenta­
ções 3.22,23 lemos que a misericórdia do Senhor nunca falha,
mas se renova a cada manhã, e que grande é a Sua fidelidade.
Essas palavras são simplesmente extraordinárias! Quando
Jeremias proferiu isso ele estava sentado, olhando para Jerusalém,
que havia sido saqueada, completamente destruída, e reduzida a
um amontoado de escombros. Ele chorou sobre a cidade; entretanto, sabia que Deus era fiel e, por isso, sua fé nunca vacilou. O
Salmo 119.90 nos assegura que a fidelidade do Senhor dura por
todas as gerações.
Mas como podemos ver se Deus é mesmo fiel? A quem ou a que
Ele é fiel? O Senhor é fiel a Si mesmo. Ele sempre é o que diz
ser. Ele nunca fica decepcionado por fazer algo que não condiz
com o que Ele realmente é, pois isso simplesmente não acontece. O que Ele revelou sobre o Seu caráter condiz com o que
Ele faz, pois Deus nunca age de maneira contrária ao Seu caráter. Quando é o Senhor agindo, não existe dúvida; não haverá
espaço para dizermos: “Este não é Ele! Ele não é assim”. Afinal
de contas, qualquer coisa que Ele faça, será condizente consigo
mesmo. O nosso Deus é o que diz ser; Ele sempre cumpre com a
Sua palavra. Aliás, existem certas coisas que Ele deve fazer, se é
mesmo o Deus que Ele diz ser. A certeza das Suas promessas está
na Sua fidelidade (veja Números 23.19).
Em João, mais de uma vez Jesus declara
abertamente o que Ele deve fazer. Havia
algumas coisas que Ele tinha de fazer exatamente por ser quem Ele era. Uma delas
está registrada em 2 Timóteo 2.13, que diz
que Ele não pode negar a Si mesmo; ou seja, deve agir de acordo
com a Sua natureza. Se a Sua natureza é amor, então Ele deve
O Evangelho não
é a verdade no gelo;
mas sim a verdade
no fogo.
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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amar; se Ele é justiça, então deve ser justo. Deus só pode ser o
que Ele é: ou seja, Deus. Como ser humano que sou, devo respirar, comer e andar. Deus, contudo, deve agir, salvar e cuidar.
Desde o começo Deus revelou a Sua verdadeira identidade. Ele
disse o seguinte, a Moisés: EU SOU O QUE SOU (Êx 3.14).
Vários especialistas examinaram e discutiram a extensão dos
possíveis significados e implicações dessa declaração; as palavras
foram estudadas tanto gramática quanto teologicamente. Mas,
independentemente dessas considerações, o significado é suficientemente simples: Deus está dizendo que Ele é fiel; ou seja,
Ele é o que é e nunca mudará. Por exemplo, Ele associou o chamado que fez a Moisés ao que Ele havia dito a gerações anteriores: e lembrei-me do meu pacto … o qual fiz com Abraão, Isaque
e Jacó (Êx 6.2-5). Já havia se passado quatro séculos, e Deus não
tinha se esquecido do que havia prometido aos patriarcas. O que
Ele era, continuava sendo 400 anos mais tarde. Fazendo alusão
ao “EU SOU”, conhecido por Abraão, Ele diria a Moisés, sem
sombra de dúvida: “EU SOU O QUE SOU”.
O que o nosso Deus fez uma vez, nos dá base para saber como
ele agirá sempre, e o que Ele faz é uma expressão do Seu imutável caráter. Cada ato divino é um sinal profético de coisas que
Ele vai fazer no futuro. O próprio Deus esclarece isto: Eu sou o
SENHOR, eu não mudo; Pois eu, o Senhor, não mudo; por isso
vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos (Ml 3.6). Mesmo diante
da maior provocação possível, Ele permanece firme, pois nunca
mudará. Ele é perfeito, e ser diferente do que Ele é significaria
que isso não é verdade.
Ter fé em Deus significa confiar que Deus continua sendo o que
Ele sempre foi. Se alguma vez Ele respondeu às nossas orações,
então podemos estar certos de que Sua reação natural à oração é
respondê-la. Se Ele sempre cuidou de uma pessoa é porque Ele
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O Tempo está se Esgotando
sempre vai cuidar e, portanto, podemos deixar tudo com Ele. Se
Ele cura o sofrimento é porque Ele é o Deus que cura, e o curar
as pessoas faz parte da Sua natureza. Se Ele perdoa a alguém que
se arrepende é porque Ele é o Deus perdoador. Se Ele salva o ser
humano é porque Ele é Deus, nosso Salvador, que deseja que
todos os homens sejam salvos.
Deus Está Disposto
Deus faz o que faz porque Ele quer fazer. Já no primeiro capítulo de Gênesis encontramos Deus agindo espontaneamente.
Em nenhum momento da criação Ele foi
Deus nunca age de
forçado a fazer qualquer coisa por pressão
maneira contrária
ou obrigação. Não havia uma comissão de
ao Seu caráter.
anjos por lá, sugerindo que a luz seria uma
boa coisa, ou dizendo: “O que acha se houvesse firmamento
dividindo as águas?”.
Deus não pensou: “Bom, creio que eu tenha feito um mundo
agradável, pois, se não tivesse, não estaria certo. Afinal, as pessoas esperam que Eu faça o melhor”. Ele nunca se preocupou
com isso. Ele também não consultou a Sua consciência, ou considerou o que futuras gerações poderiam pensar, ou ainda o que
a História diria. Ele simplesmente queria criar. Era Sua vontade,
Seu desejo, Seu instinto e Seu prazer. O que Ele quer fazer é o
que Ele ama fazer. O nosso Deus não é um Deus sem paixão, e
o que Ele faz, vem do Seu coração, com generosidade e nobreza.
O Evangelho reflete o espontâneo dinamismo de Deus. Quando
Adão caiu, o Senhor não o abandonou à própria sorte, nem fez
um discurso sobre compromisso moral e seus efeitos devastadores. Deus veio para levantá-lo novamente, reabilitá-lo, tranqüilizá-lo, vestir-lhe e dar a ele um futuro. Deus é assim; e
vemos isso desde as primeiras páginas da Bíblia. Na verdade,
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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toda a Escritura é sobre isso, tanto no Antigo, como no Novo
Testamento. Desde o início vemos o total interesse de Deus pela
raça humana.
E vemos esse tema se desenrolando por todo o Antigo Testamento.
Todos os princípios que encontramos nos Evangelhos podem ser
vistos em tudo o que Deus faz em todo o Antigo Testamento.
Israel se tornou a tela na qual o Senhor pinta o quadro do Seu
caráter. Desde os primeiros capítulos de Gênesis vemos que:
1. O propósito do mundo era para o bem.
2. A criação é baseada na Sua bondade.
3. A história será formada para o bem.
4. Deus e a bondade triunfarão sobre o mal.
Deus é Revelado em Jesus
A revelação de Deus tem o seu apogeu na Pessoa de Jesus Cristo,
e é essa a nossa razão de pregar (ver João 1.18). É Ele quem revela
o Deus do Antigo Testamento. Sua surpreendente e maravilhosa
vida manifesta um Deus surpreendente e maravilhoso. Jesus
mudou a idéia das pessoas sobre Deus mostrando-lhes quem Ele
realmente era.
Deus não pode ser maior do que Ele mesmo, e Jesus nos deu a
mais alta concepção possível sobre Ele. O Senhor não está interessado nas nossas filosofias e nem em nosso raciocínio sobre Ele,
sendo eles certos ou errados. Adquirimos
O Evangelho
conhecimento a respeito do caráter de
reflete o espontâneo
Deus por intermédio de Sua maneira de dinamismo de Deus.
agir com a humanidade. Esta é a evidência
e tudo o que precisamos saber. O próprio Deus nos ama, e veio
para nos salvar. Ele quer que conheçamos a Sua glória.
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O Tempo está se Esgotando
Vemos como o Senhor é realmente quando
o contemplamos pregado na cruz; se esquecemos isso, não sabemos nada sobre Deus.
Afinal, qualquer coisa além disso é pura
especulação e não tem valor algum. Já que
Deus é infinito é possível que Ele tenha
outras facetas, mas não sabemos quais.
Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento
deixam claro que o nosso conhecimento de Deus é limitado.
O Senhor não está
interessado nas
nossas filosofias
e nem em nosso
raciocínio sobre
Ele, sendo eles
certos ou errados.
As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus,
mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos
para sempre, para que observemos todas as palavras desta
lei (Dt 29.29).
Porque agora vemos como por espelho, em enigma, …
agora conheço em parte (1 Co 13.12).
Deus deixou muito claras as suas intenções e nós interpretamos
o que Ele vai fazer baseados nos Seus feitos, os quais nos contam
sobre a Pessoa do Senhor.
A Revelação de Deus nas Escrituras
Se estamos buscando uma revelação de Deus, a Bíblia é nosso
ponto de referência. Podemos vê-la de muitas maneiras: como
o livro da salvação, o livro do Reino, ou mesmo como a Palavra
da vida. Entretanto, acima de tudo e além de todas as outras
considerações, as Escrituras são a revelação de Deus sobre quem
Ele é, o que Ele é, e o que podemos esperar dEle.
A verdadeira fé é a fé no Deus da Bíblia, e não em alguma teoria
pessoal sobre o que Deus é ou deve ser. Sabendo que Ele tem
todo o poder, as pessoas virão a Ele com uma lista de 50 pedidos
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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diferentes para Ele atender e, muitos deles, na realidade, contradizendo um ao outro! Deus, todavia, não pode contradizer a Si
mesmo, porque coerência faz parte do Seu caráter. Ele não faz
algo aqui de uma maneira e, logo em seguida, o oposto.
Uma fé verdadeira se baseia em como Deus é, e só podemos
saber isso, com segurança, por intermédio das Escrituras.
Quanto mais compreendemos a Bíblia, melhor entendemos a
Deus. E esta é uma tarefa para a vida toda. Se desejamos entender a Jesus, devemos olhar no Antigo Testamento. O que Deus
representa ali, Jesus representa no Novo Testamento e hoje. Para
entendermos o Deus do Antigo Testamento, olhe para o Jesus
do Novo Testamento; é Ele quem nos mostra a verdadeira natureza de Jeová.
Quando passamos do Antigo para o Novo Testamento, pode
acontecer de termos uma visão deferente de Deus, a menos que
tenhamos sempre em mente a eterna fidelidade dEle. Em algumas situações Ele pode mudar de tática, pois trata cada um de
maneira individual. Muitas vezes Ele se revela contra o passado
com o qual eles se familiarizam, mas suas ações são sempre em
amor e a luz da sua justiça continua brilhando mesmo através de
nuvens escuras.
A luz irradiada através do céu claro é a
mesma luz irradiada através do céu averme- A verdadeira fé é a fé
lhado, da janela suja ou de um prisma. A no Deus da Bíblia,
e não em alguma
luz que alcançou Josué era a mesma luz que
teoria pessoal
Moisés viu na sarça ardente, e a mesma que
sobre o que Deus
os apóstolos viram no dia de Pentecoste.
é ou deve ser.
É também a mesma luz que Saulo viu na
estrada de Damasco. O amor de Deus às vezes pode se manifestar em forma de cólera, ou até como julgamento, mas vai sempre
continuar sendo amor.
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O Tempo está se Esgotando
Podemos verificar que existe sempre uma perfeita unidade entre
cada revelação que Deus faz sobre Si mesmo e a Palavra. Pode
acontecer de termos de procurar enxergá-la, mas ela está lá. E
esta é a razão pela qual precisamos constantemente esquadrinhar as Escrituras, para encontrar a sua essência, a sua unidade;
a unidade infalível de Deus.
O Mesmo Ontem, Hoje e Para Sempre
A Palavra de Deus nos diz que Jesus Cristo é o mesmo ontem,
hoje e o será para sempre (Hb 13.8), porque Deus é imutável,
independentemente de tempos e situações. Só é possível termos
fé verdadeira em Deus se Ele for fiel; e se existe algo que possa
fazê-Lo mudar, então a nossa fé passa a ser uma fé limitada.
Algumas pessoas, chamadas dispensacionalistas, crêem que
o que Deus faz depende do tempo em que estamos vivendo.
Entretanto, será que podemos dizer que Deus mudou a sua
maneira de ser no decorrer do livro de Atos, passando de uma
época para outra? Esse pensamento divide a Palavra da verdade,
fazendo com que uma parte não tenha nada a ver com a outra, e
relaciona as promessas de Deus como se estivessem em compartimentos separados. De acordo com esse ponto de vista, Deus
não é sempre o mesmo de um período histórico ao outro, mas
limitado em suas ações, dependendo dos acontecimentos.
Se Deus é Deus apenas sob certas circunstâncias, então Ele não
é imutável, e os fatos fazem com que Ele mude, da mesma forma
que eles nos mudam. São os seres humanos que mudam com o
passar do tempo, não Deus; Ele é flexível, mas não é de lua. A
fidelidade de Deus não teria nenhum significado se a Sua Palavra
dependesse de tempos e estações para se cumprir. Devemos nos
lembrar de que a Sua verdade (ou fidelidade) dura por todas as
gerações.
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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Se tivermos que descobrir se recebemos ou não o Senhor na dispensação correta, nossa fé se tornará controversa e instável. E a
fé não se baseia em interpretações bíblicas, mas em tudo o que
Deus tem sido desde o início. Algumas pessoas só confiam no
Senhor de maneira parcial: dia confiam, dia não. Contudo, pelo
que podemos ver claramente na mensagem da Bíblia, a fidelidade do nosso Deus não está condicionada a calendário.
Deus e a Cura
Em Gênesis 20 lemos a primeira história de cura relatada nas
Escrituras: a história de Abraão e Abimeleque. A oração de
Abraão trouxe perdão e cura a todo o lar de Abimeleque, um
chefe filisteu. Entretanto, desde o início isso não havia sido idéia
de Abraão e, sim, de Deus. Ele falou a Abimeleque que pedisse a
Abraão que orasse para que ele fosse curado.
Essa é a maneira de Deus agir, incentivando a oração. Quando
Deus quer fazer uma obra, Ele inspira a oração. Ele inspirou
Abraão a orar, e inspirou Abimeleque a crer que a oração de
Abraão seria respondida. Este é o nosso Deus. E quando Ele
curou toda a casa de um colonizador filisteu, que era um homem
pagão, Ele se comprometeu; afinal, não poderia ser diferente.
Deus havia revelado quem Ele era, e não podia mais voltar
atrás.
Pode ser que Deus não repita Seus feitos exatamente, pois Ele
raramente Se repete; afinal, Ele tem um estoque infinito de
novas abordagens e planos. Pode ser até que Ele não cure a
todos; contudo, Ele Se mostrou como sendo Aquele que cura,
e curar é o Seu desejo. O que os feitos de Deus demonstram
é a imutabilidade do Seu coração e do Seu caráter. Ele tem o
mesmo amor, a mesma vontade que sempre teve, e Suas obras
não violam o Seu caráter.
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O Tempo está se Esgotando
Imperativo Divino
Como vimos, Deus age de acordo com o que Ele é; e sendo
Deus, Ele não pode agir de modo diferente. Se Ele é amor, deve
amar; se é Salvador, deve salvar. Ele também deve curar, porque
Ele mesmo Se revelou como sendo Aquele que cura.
Segundo o Evangelho de João, Jesus coloca a necessidade de se
nascer de novo no imperativo. Ele diz: “Você tem de nascer de
novo” (Jo 3.7). Entretanto, não podemos renascer a nós mesmos,
por isso Ele disse isso significando que Ele mesmo o faria por
nós. Somente Deus pode realizar tamanha obra. Tiago 1.18
declara: Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade … Esse renascer vem pela Palavra da verdade, o
Evangelho. Dessa forma, se o perdido precisa ouvir a Boa Nova,
então alguém deve pregá-la; afinal: como ouvirão se não há quem
pregue? (Rm 10.14.)
As pessoas precisam do Evangelho, e a
necessidade delas cria uma outra necessidade no coração de Deus: Ele precisa nos
enviar a elas com esse Evangelho. Ele sabe
que todos têm de nascer de novo, e não
pode simplesmente sentar-se em Seu trono
e cruzar os braços, sem fazer nada a respeito. Afinal de contas,
tal atitude seria o oposto de tudo o que Ele já fez. Ele conhece
nossas necessidades, e se alegra em satisfazê-las.
Existe sempre uma
perfeita unidade entre
cada revelação que
Deus faz sobre Si
mesmo e a Palavra.
Igualmente nós, se somos feitos à imagem e semelhança de
Deus, sabemos da fome no mundo, e precisamos fazer algo sobre
isso. A necessidade deles cria em nós a necessidade de ajudar ao
necessitado. Se você e eu temos abundância, então não podemos
simplesmente ficar parados, assistindo, enquanto nossos vizinhos
morrem de fome.
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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Quando Jesus disse: “Você tem de nascer de novo”, significava
que Ele também teve de dizer, quase que
As pessoas precisam
imediatamente: assim importa que o Filho
do Evangelho,
do homem seja levantado (Jo 3.14). Nossa
e a necessidade
necessidade se torna a necessidade dEle delas cria uma outra
necessidade no
de nos suprir. Durante o tempo que Jesus
coração de Deus:
viveu aqui, sempre teve a consciência da
Ele precisa nos
vontade imperativa de Deus. Ele tem de
enviar a elas com
salvar porque precisamos ser salvos. Ele
esse Evangelho.
disse: Tenho ainda outras ovelhas que devem
ser salvas – a essas também me importa conduzir (Jo 10.16).
Essa revelação de Deus se tornou a nossa base de fé e evangelismo. O Deus da Bíblia, nosso Senhor Jesus Cristo, imutável,
nunca nos decepcionará. Vamos com Ele, de mãos dadas, apresentá-Lo a este mundo cansado.
Uma Pergunta Relevante
Gostaria, porém, de lembrá-lo que a iniciativa não é nossa, mas
de Deus, pois atrás de todas as coisas está o mover do Espírito do
Senhor. A questão é se seremos ou não relevantes ao que Deus
está fazendo.
Deus deve ser o nosso centro, e não este mundo. As pessoas costumam dizer que nós, os cristãos, somos excêntricos. Um objeto
excêntrico cambaleia girando ao redor de um ponto descentralizado. A Bíblia, porém, chama a isso de “mundo”, que cambaleia
girando em torno de si mesmo; o crente, porém, está centrado
em Deus.
Quando as pessoas na Igreja falam sobre tornar o Evangelho
relevante, em geral querem dizer que precisamos mostrar que ele
tem algo em comum com o mundo da indústria, do lazer e do
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O Tempo está se Esgotando
comércio. Esses segmentos, porém, têm uma ordem invertida das
coisas. A pergunta, então, não é se a mensagem do Evangelho
pode se relacionar com este mundo mas, sim, se o mundo pode
ser relacionado à mensagem da cruz. Se não puder, ele será julgado nessa cruz. Se o Evangelho não é relevante para o mundo,
então esse mundo está sendo arrastado pela corrente, porque não
tem a âncora da Boa Nova para o segurar.
Outro comentário que ouço sempre as pessoas fazerem é que os
evangelistas estão respondendo a perguntas que o mundo não
está fazendo. Creio que isso acontece porque, pelo fato de que o
mundo tem feito as perguntas erradas, quaisquer respostas estarão igualmente erradas.
Relevância é uma questão de posição e foco. Só podemos ser
relevantes quando nos relacionamos com o que o Espírito Santo
está fazendo. É comum as pessoas nos dizerem que o nosso
ministério tem que acompanhar as mudanças; e eu concordo
que novas formas e novos métodos podem
Relevância
ser usados com sucesso para apresentar o
é uma questão de
amor salvador de Cristo às pessoas (ver
posição e foco.
1 Re 9.22). O conteúdo da nossa mensaSó podemos ser
gem, entretanto, nunca deveria mudar.
relevantes quando
Acredito que, muitas vezes, acompanhar
nos relacionamos
com o que o Espírito as mudanças deste mundo significa tornar
Santo está fazendo.
o nosso Evangelho uma outra forma de
materialismo – as engrenagens do céu estão
girando, roda sobre roda; contudo, é com o mecanismo do céu, e
não da indústria, que devemos nos preocupar. Encaixarmos-nos
neste mundo significa fazermos do Evangelho uma outra forma
de materialismo; simplesmente uma outra maneira de ganhar
muito dinheiro e aumentar os lucros. O que nos torna relevantes
não é se o Evangelho é apropriado para a situação – não vos conformeis com este mundo, como nos diz a Bíblia (Rm 12.2) – mas se
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Capítulo 4 • A Fé e o Evangelismo
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a situação corresponde com a verdade de Cristo. Aliás, o mundo
não tem nenhuma importância se não se relacionar com Deus.
Temos de colocar nossas prioridades na ordem certa. Ou entramos na corrente de revelação, que é o amor de Deus para um
mundo perdido, ou seremos arrastados para as águas estagnadas e
cheias de destroços das controvérsias e políticas da igreja. Temos
de ter a mesma prioridade que o Espírito, pois Ele foi enviado
para nos fazer testemunhas. Seu único trabalho é evidenciar o
trabalho de Jesus, e atuar na vida humana (ver João 16.9-11 e
Atos 1.8). Se queremos nos mover no Espírito, necessitamos participar desse tipo de atividade, porque é isso o que Ele faz.
Algumas pessoas que pregam sobre esse mover do Espírito parecem acreditar que são elas mesmas que movem o Espírito. E isso
não é nem um pouco bíblico: Quem guiou o Espírito do Senhor,
ou, como seu conselheiro, o ensinou? (Is 40.13). Ele não está agindo
secretamente. Ele não mudou de direção repentina e inesperadamente para ir atender uns poucos membros que fazem parte de
alguma elite espiritual. Ainda hoje encontramos Deus agindo no
meio do povo caído: o pecador, o desesperançado e os abandonados. Siga a Jesus – esta expressão é melhor do que mover no
Espírito. Siga-O e então você irá aonde Ele for, fazendo o bem e
curando a todos os oprimidos pelo diabo (At 10.38).
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Capítulo 5
PREGANDO UM
CRISTO DE MILAGRES
A
menos que captemos a revelação de Jesus como divino Filho
de Deus, nunca seremos capazes de ver todo o poder que
Ele nos dá para usarmos em nosso ministério. Existe um livro
sobre Jesus que tem um título muito interessante: O Homem que
Ninguém Conhece. E isso é uma grande verdade, pois o próprio
Senhor disse, certa vez: e ninguém conhece plenamente o Filho,
senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e
aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11.27). Creio que Jesus
está se referindo ao mistério de Deus em carne, o que vai além
da compreensão humana. Entretanto, nós podemos conhecê-Lo
como Salvador e Senhor, mesmo sem entendermos Sua infinita
grandeza.
Existem níveis diferentes de conhecimento e até podemos dizer
que conhecemos muito bem uma pessoa; porém, isso não quer
dizer que compreendemos sua natureza. Alguns maridos costumam reclamar: “Eu simplesmente não entendo minha esposa!”
Acredito sinceramente! Podemos conhecer a Deus, mas somente
na extensão em que Cristo O revela. Para a Escritura, conhecêLo é parte vital da salvação: se somos salvos, então conhecemos
a Deus (Jo 17.3).
Baseado nas palavras de Paulo, que ficaram famosas em um
antigo hino, posso dizer: “Mas eu sei em quem tenho crido”
(2 Tm 1.12). Eu O conheço e sei quem Ele é. Conhecê-Lo é vida
eterna; uma maravilha sempre revelada. E esse conhecimento é
contínuo, pois podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 3.18). Quanto mais o tempo
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O Tempo está se Esgotando
passa, mais podemos melhorar o nosso conhecimento de a Deus;
a essência do Seu caráter continua inalterada. É verdade que agora
vemos como em um espelho, obscuramente (1 Co 13.12), e ainda não
face a face; entretanto, o que Ele significa para mim é tudo.
Qual o Cristo que Pregamos?
Quando pregamos a Cristo, a pergunta que deve ser feita é: que
Cristo estamos pregando? Acima de tudo, deve ser O Cristo que
conhecemos. Eu O chamo “meu Jesus”, “meu Senhor”, “meu
Deus”. Em todo o Novo Testamento encontramos homens e
mulheres que se relacionaram com Jesus. Maria Madalena foi
uma delas. Ela abraçou Seus pés e exclamou: Raboni, que quer
dizer “meu Senhor” (Jo 20.16). Nesse mesmo capítulo, o apóstolo Tomé clamou: “Meu Senhor e meu Deus” (v. 28).
Paulo falou de Jesus com o mesmo afeto íntimo que Maria. […] e
esse viver que, agora, vivo […] eu vivo pela fé no Filho de Deus, que
me amou e Se entregou por mim (Gl 2.20). Muitos de nós podemos facilmente nos identificar com essas pessoas, com respeito
aos nossos sentimentos sobre Jesus. Alguns
A menos que
dizem coisas como: “Ele é meu Salvador”,
captemos a revelação
de Jesus como divino ou “Este é meu maravilhoso Salvador”. O
Jesus que conheço é tão maravilhoso que
Filho de Deus,
nunca seremos
qualquer coisa que eu disser sobre Ele, não
capazes de ver todo conseguirá aumentar em nada o Seu valor.
o poder que Ele nos
Ele é Aquele que morreu por mim na cruz,
dá para usarmos em
e é por isso que eu prego a Jesus Cristo crunosso ministério.
cificado (1 Co 2.2).
Entretanto, hoje existem muitos outros “cristos” que o mundo
jamais havia ouvido falar. Eles não se parecem em nada com
Aquele a quem eu reconheço, e cuja face ficou mais desfigurada
do que a de qualquer homem (Is 52.14). Aliás, pela maneira
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
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como algumas pessoas O descrevem, não consigo imaginá-Lo
como sendo o Deus de alguém. Está sempre retratado como um
cristo morto, talvez deitado no colo de Sua mãe, ou como um
bebê desamparado nos seus braços. Aquele cristo morto, pendurado em uma cruz, não é o tipo de Cristo com quem alguém
possa ter um relacionamento pessoal. Há muitas representações
de Jesus como essa e sobre as quais eu não posso usar o pronome
possessivo “meu”.
Novas teologias falam de um Cristo político, revolucionário,
liberal, humanista, histórico; falam de um Cristo de uma religião formalista (eternamente sentado, imperturbável como um
Buda), como sendo uma grande, distante e intocável divindade;
e assim por diante.
Quero lhe dizer que O Jesus que eu conheço é muito diferente
desses aí.
O meu Jesus é afetuoso e amoroso, a quem eu posso amar, e não
somente admirar como uma distante montanha ou estrela. Se
Ele fosse assim, não seria alguém a quem eu poderia chamar de
“meu Jesus”.
À Procura de um Jesus Histórico
Os recentes estudos sobre Jesus têm uma coisa em comum: eles
O despem de tudo o que é sobrenatural – Ele não nasceu de
uma virgem, não fez e não faz milagres, não teve ressurreição
física, e não subiu ao céu. Cristo foi despido, anteriormente, e
crucificado, e agora as pessoas estão tentando anular a vitória
que foi Sua morte. O Jesus que as pessoas adoravam e pelo qual
morreram era o Jesus que opera maravilhas, que as curou e fez
delas novas criaturas. Ele era o próprio milagre, nascido de uma
virgem. Ele foi crucificado, mas venceu a morte, e é a este Jesus
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O Tempo está se Esgotando
que devemos pregar. Eu não me preocupo com o que os acadêmicos dizem sobre Ele; eu O conheço, sei o que Ele é para mim
e o que Ele pode fazer por nós.
Nenhum simples mortal poderia nos salvar das chamas do
inferno. Este é um trabalho para O Deus encarnado. O Senhor
Jesus Cristo penetrou o centro do cosmos e fez infinita justiça.
Ele veio da presença do maior Juiz, apresentando os documentos
que me garantiam perdão, assinados e selados. Aquele que agiu
em dimensão tão superior não poderia ser ninguém menos do
que um Cristo de milagres.
As pessoas querem e precisam mais do que de um político revolucionário, com um evangelho social, ou mesmo de um líder
religioso com um novo sistema. Elas querem mais do que um
cristo ético, mais do que um sublime Espírito celestial; elas
querem um Cristo divino, que pode carregar nossos pecados no
Seu próprio corpo, sobre a cruz (1 Pe 2.24).
Não é apenas por meio de historiadores que ficamos sabemos do nosso Cristo. Se Flavius Josephus, famoso historiador
judeu, O menciona ou não, pouco importa. Afinal, Ele não é
um simples Jesus da História, sobre o qual os historiadores nos
contam. Durante mais de um século alguns acadêmicos tentaram retratar a Jesus como uma grande figura histórica, mas sem
o Seu lado sobrenatural. Entretanto, em seu livro A Missão do
Histórico Jesus (1910), o Dr. Albert Schweitzer jogou por terra
a idéia de que Jesus fosse somente um professor de ética. Esse
escritor não era evangélico, mas procurou por evidências sobre
este errôneo ensino, em grandes pilhas de livros. Dúzias de acadêmicos tentaram colocar o Jesus da História como sendo simplesmente um professor sem milagres. Mas, como bem observou
o Dr. Schweitzer, não houve concordância entre eles.
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
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É impossível separar Jesus da Sua divindade e dos Seus poderes
milagrosos, quando quase tudo o que sabemos dEle nos é apresentado em uma estrutura sobrenatural; se tirarmos o elemento
milagre, a história cai por terra. Curas não são incidentes, com
uma pitada de magia aqui e ali; elas são a real substância dos
Evangelhos. João, por exemplo, nos dá um livro cheio de sinais e
diz: estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome
(Jo 20.31). Imagine Jesus sem os milagre; o que sobra? O Homem
que Ninguém Conhece.
Jesus é muito mais que uma figura histórica; Ele veio de fora do
tempo e do espaço, invadiu a História e a transformou. Ele é a
chave, o ponto focal de tudo. Ou a História se relaciona a Ele,
ou ela não tem sentido. A existência de Jesus explica tudo, e nada
é adicionado sem Ele. O Senhor é o pivô de toda a criação.
Li em alguns jornais sobre os “Seminários
É impossível separar
de Jesus”, onde 43 acadêmicos não crentes,
Jesus da Sua
que se consideram especialistas no tema, divindade e dos Seus
andam decidindo o que Jesus fez e o que poderes milagrosos.
não fez, o que falou e o que não falou,
que partes dos Evangelhos podemos desprezar e quais podemos
manter com segurança. Esses “entendidos” continuam com os
mesmos joguinhos, com o mesmo raciocínio, como os acadêmicos no tempo do Dr. Schweitzer: querem tirar dos Evangelhos
tudo o que faz Jesus diferente, e depois falar que Ele não é
diferente de ninguém! Que lógica mais peculiar! Eles cancelam
qualquer evidência do milagroso como não histórico, a fim de
retratar um Jesus histórico.
Estou fazendo a “gentileza” de mencionar tais acadêmicos aqui
porque lhes foi dado uma enorme publicidade na mídia. E é
óbvio que a multidão ímpia fica encantada com os “resultados”.
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O Tempo está se Esgotando
Os membros do “Seminário de Jesus” encontraram muito pouco
sobre Ele que crêem ser verdade. Na melhor das hipóteses, O
consideram um pregador inofensivo, um pregador errante, que
por uma ou outra razão, depois de sua morte, inspirou muitas
lendas impossíveis. Aliás, estes, que se dizem autoridades, na
verdade não estão certos de nada. Um deles
Ou nós devemos
chegou ao cúmulo de dizer que acredita
crer no Cristo do
haver somente uma declaração da qual
sobrenatural,
podemos estar mais ou menos certos de
um Jesus de sinais e
atribuir a Cristo.
maravilhas,
que é o Filho de
Deus, ou não teremos
nenhuma razão
para pensar n’Ele.
É bem provável que o leitor saiba alguma
coisa sobre essa controvérsia. Eu a estou
mencionando aqui apenas por uma razão:
Ou nós devemos crer no Cristo do sobrenatural, um Jesus de sinais e maravilhas, que é o Filho de Deus,
ou não teremos nenhuma razão para pensar n’Ele. Apesar de
Sua ética ser maravilhosa e Seus ensinos transformadores, sem
o miraculoso não há dinâmica divina. E sem essa dinâmica, o
Sermão do Monte se torna uma montanha mais difícil de escalar
do que o Monte Everest.
Precisamos entender muito bem que os quatro Evangelhos são
mais do que história; também não são recordações emotivas
afetuosas. Eles são a Palavra de Deus, e foram escritos inspirados pelo Senhor, exatamente como os temos hoje. Nossa fé não
é uma fé no escuro; é claro que há uma base histórica para o
que cremos. Mas, no final, não recebemos nosso Jesus dos livros
de história, e nenhuma pesquisa história pode levá-Lo embora.
Não há, no mundo, livros como os Evangelhos, pois eles não são
simples relatórios detalhados, como poderiam ser dados sobre
Bismarck ou outro importante personagem; são revelações do
Espírito Santo a respeito de Jesus. Precisamos da bendita luz
do Espírito para entendê-las. Em outras palavras, precisamos
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
101
exatamente da mesma revelação de Pedro, que conheceu a Jesus
não pela carne e sangue, mas pelo Pai (Mt 16.17).
Os começos e os finais de cada um dos Evangelhos são notáveis. Nenhum outro livro começa ou termina como eles. O
Evangelho de Mateus começa mostrando Cristo como o Filho
de Davi, e termina com o relato de Sua ascensão a todo poder.
Marcos começa revelando Jesus como o Filho de Deus, e termina com Jesus ressurreto, indo por todos os lugares com os
Seus discípulos. Lucas começa nos apresentando Jesus como
o filho de José e Maria, e termina com
É assim que
Jesus em glória. João, por sua vez, inicia-se
reconhecemos a
apresentando Jesus como a Palavra, desde
Jesus – pelo que
o início com Deus, e termina com Jesus
Ele fez e continua
comendo na praia com os Seus discípulos.
fazendo.
Estes começos e finais somente nos mostram que temos um Cristo para pregar, que transcende a toda
vida humana. Não tem como existir fé cristã se o milagre for
descartado. Ou o nosso Evangelho é sobrenatural, ou devemos
abandoná-lo. Contudo, não o abandonaremos, pois ele produz
resultados sobrenaturais.
Jesus Hoje
O Cristo dos Evangelhos é o Cristo que precisamos. Se estamos
dispostos a pregarmos a Cristo, devemos pregar o Cristo verdadeiro, e não um diferente do registrado nos Evangelhos e em
toda a História. Se não pregamos o Jesus que cura, por exemplo,
não estamos pregando o mesmo Cristo da Bíblia. Seus milagres
são Sua identidade; o que Ele é. De maneira nenhuma a Sua
ascensão ao céu mudou o Seu caráter; Seus milagres continuam
atestando Sua identidade. Afinal, como Jesus poderia ser conhecido como o Jesus da Bíblia, se Ele não executasse mais feitos
poderosos?
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O Tempo está se Esgotando
O primeiro versículo de Atos dos Apóstolos diz: Fiz o primeiro
tratado, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e
ensinar. O uso da palavra “começou” com respeito às atividades
de Jesus indica claramente que Ele continua trabalhando hoje.
E é nesses termos que Ele é retratado em Atos dos Apóstolos.
Como mostra esse livro, o Jesus dos Evangelhos exercitou poder
no mundo físico, e não somente no reino espiritual. Se vamos
continuar a pregá-Lo como Salvador, também devemos continuar pregando a Ele como Aquele que cura.
O livro de Apocalipse nos revela que o Senhor é aquele que é, que
era, e que há de vir (1.4). Podemos conhecê-Lo como Ele sempre
foi, porque Ele continua fazendo as mesmas coisas que sempre
fez. Podemos ser capazes de reconhecer um marco geográfico
simplesmente olhando para ele. Entretanto, para reconhecermos
pessoas, temos que vê-las em ação. É assim que reconhecemos a
Jesus – pelo que Ele fez e continua fazendo. Se Ele não faz mais o
que fez um dia, como podemos ter certeza de que é Ele mesmo?
Hebreus 13.8 diz que Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente.
Muitas pessoas dizem que crêem neste versículo. Contudo, logo
mudam de idéia e falam que Ele não faz mais as coisas que costumava fazer! Citam o texto, mas depois o desqualificam como se
tivéssemos o direito de desqualificar a Palavra de Deus. Devemos
nos lembrar que, quando falamos sobre milagres e curas sobrenaturais, estamos falando daquilo que não foi incidente na vida
de Cristo. Essas manifestações milagrosas constituíram um
ministério básico de Jesus Cristo, como Pedro disse: (Ele) andou
por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do
diabo (At 10.38). Se eu conheço a Jesus, então nunca poderei
acreditar que Ele negaria as Suas misericórdias à humanidade.
Existem milhões de pessoas que confiam no Senhor, e Ele nunca
as deixará decepcionadas. A necessidade humana, hoje, é tão
grande quanto sempre foi, e Jesus nunca vai ignorar isso.
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
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O Ungido
Ao retornar à Sua cidade natal, Nazaré, depois de ser tentado
no deserto, Jesus foi ao Templo e leu um trecho de Isaías 61.1: O
Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos
cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os
oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor. (Lc 4.18,19).
Depois de ler essas palavras, Ele falou aos que estavam reunidos para ouvi-Lo: Hoje se cumpriu esta escritura aos seus ouvidos
(v. 21). Nessa ocasião tão importante, Jesus declarou ser Ele O
Ungido, o Cristo.
A unção em questão é especialmente relacionada ao Seu ministério de cura e libertação. Pedro contou a toda a casa de Cornélio
como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou
por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do
diabo, porque Deus era com ele (At 10.38).
Hoje o nosso Senhor continua sendo O Cristo, O ungido, e com
o mesmo propósito: libertar e curar os oprimidos. Sempre que
nos referimos a Ele como Cristo, usamos uma palavra código
para designar o Seu ministério de cura. Se você, amigo leitor,
não crê que Ele cura ainda hoje, então porque O chama de
Cristo? Que tipo de Cristo é esse que não cura ou não tem o
poder de curar?
Salvação, perdão, e cura física estão interligados nas Escrituras. Jesus perdoou o
pecado e tirou o julgamento opressor desse
pecado. A cura é sinal de perdão. O nome
de Jesus significa salvação dos pecados
(Mt 1.21), e o nome Cristo está intrinsecamente ligado à libertação física. Nada
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Seus milagres não são
somente ilustrações
de salvação espiritual,
mas são promessas
de que Ele vai fazer as
mesmas coisas hoje.
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O Tempo está se Esgotando
nas Escrituras me dá motivos para crêr que Jesus Cristo não
é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Aliás, é exatamente o
contrário! Seus milagres não são somente ilustrações de salvação
espiritual, mas são promessas de que Ele vai fazer as mesmas
coisas hoje. É um grande engano separar corpo e alma, e aplicar
a salvação somente à alma e não ao corpo. Salvação é para a
pessoa inteira.
A História da Igreja e o Milagroso
Gostaria de mencionar rapidamente algo sobre o Dr. Benjamin
Warfield (1851-1921), do Seminário Teológico de Princeton. Ele
foi um astuto teólogo evangélico, mas hoje é citado como um
importante defensor do “evangelho sem milagres”. Ele insistiu
que os milagres terminaram com a morte dos apóstolos.
Um dos seus principais argumentos é a história da Igreja não
ter relatos de milagres após do ano 100 d.C. Confesso que isso
me confunde um pouco. Os séculos XIX e XX são tão parte da
história da Igreja quanto o são o II e o III. A grande expansão
da Igreja se deu durante os últimos cem anos, e essa expansão
tem provado ser uma parte significativa da história da Igreja.
Entretanto, podemos afirmar que esta expansão se deu, em
grande parte, por causa da pregação de um Evangelho pleno e
cheio de milagres. Se havia falta de sinais e maravilhas antes,
não há razão para duvidar deles agora. Por que os séculos de
incredulidade devem sobrepor-se sobre o renascimento mundial
dos dias de hoje?
Além disso, não é muito sábio dizer que não houve milagres
nos séculos passados. Confesso que a história cristã não é bem
a minha área, mas muitos que leram os Pais da Igreja nos
contam que os séculos pós-apostólicos não foram desprovidos
dos milagres de curas. Afinal de contas, Jesus nunca perdeu sua
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
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compaixão pelo enfermo. Ainda que tivesse havido uma certa
pausa na operação de milagres, isso não prova nada quando as
manifestações do poder sobrenatural de Deus são tão comuns
no mundo de hoje. Certamente Jesus continua ocupado.
Quero falar um pouco sobre o que tem acontecido durante as
nossas próprias cruzadas. Temos visto Atos dos Apóstolos se
repetindo hoje; para ser sincero, mais do que repetido. Cenas
impossíveis há 2.000 anos são experiências comuns hoje, por
causa dos modernos meios de comunicação que proporcionam
uma maior acessibilidade a maiores multidões. Não somente
cegos, surdos, enfermos, mancos e possessos pelo demônio têm
sido libertos, exatamente como nos tempos apostólicos; mas
também convertidos contados aos milhares no dia de Pentecoste,
agora são contados em dezenas de milhares, mesmo centenas de
milhares, durante as cruzadas. Cada dia uns 150.000 são acrescentados à Igreja mundial, e não apenas 3.000 ou 5.000.
Quero acrescentar mais um comentário sobre o Dr. Warfield.
Aqui está um professor da Bíblia e um teólogo de grande distinção, ensinou que a Bíblia é a única fonte de doutrina. Entretanto,
revirou registros da história da Igreja, feitos pelo homem, para
decidir sobre incontestáveis verdades bíblicas. Isso me parece um
tanto contraditório. A Bíblia tem a primazia como Palavra de
Deus, inspirada, para ser usada para interpretar a História, e não
a História para interpretar a Bíblia.
Voltando à Grande Comissão
William Carey, o pai das missões modernas, desafiou os batistas do século XVIII, bem como a teologia deles. Segundo eles,
Deus salvaria aqueles a quem Ele quisesse salvar, por essa razão,
não precisávamos nos ocupar com isso. O ponto de Carey era
que, se queremos que as promessas andem junto com a Grande
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Comissão, temos de viver essa Grande Comissão. E ele estava
certo. Mas o que tem a Grande Comissão que ver com sinais e
maravilhas? Vamos analisar.
Encontramos em Mateus 28.18-20 a clássica referência da Grande Comissão, que
nos manda ir e fazermos discípulos de todas
as nações. Mas a passagem começa um
pouco antes. Jesus chegou e falou com eles,
dizendo: Toda autoridade me foi dada no
céu e na terra. Ide, portanto e fazei discípulos de todas as nações. (Ênfase do autor.). Ele enviou os discípulos
somente quando havia poder – autoridade celestial – disponível.
Não era um poder reservado para uma operação no reino puramente espiritual, mas poder na terra. Em outras palavras, poder
que traz resultados físicos.
Se queremos que
as promessas
andem junto com a
Grande Comissão,
temos de viver essa
Grande Comissão.
O texto de Marcos 16.15,17 e 18 deixa absolutamente claro que
os discípulos deveriam esperar que milagres acompanhassem a
sua tarefa.
Ele lhes disse: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura. E estes sinais seguirão aos que crêem: Em meu nome expelirão
demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se alguma
coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos
sobre os enfermos, eles ficarão curados”.
Lucas 24.47,49 nos diz que Jesus falou a seus discípulos para
esperarem por esse poder de milagre antes de saírem em missão.
Arrependimento para remissão dos pecados, deveria ser pregado
a todas as nações … E eis que sobre vós envio a promessa de meu
Pai; ficai, porém, na cidade, até que do alto sejais revestidos de
poder.
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
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O Evangelho de João nos fala claramente que, na realidade,
Jesus esperava que fizéssemos o mesmo tipo de obra que Ele
havia feito enquanto estava na terra. E não apenas as mesmas
obras, mas muito mais!
Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse
também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas;
porque eu vou para o Pai (Jo 14.12).
Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviarei ao
mundo (Jo 17.18).
Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: “Paz seja convosco; assim
como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”. E havendo
dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo”
(Jo 20.21,22).
Poder e testemunho estão definitivamente ligados em Atos 1.8,
onde Jesus diz: Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e ser-me-eis testemunhas … e até os confins da terra.
Encontramos, nas cartas dos apóstolos, uma
O milagroso
expectativa de poder semelhante, ligada à
é
uma
característica
proclamação do Evangelho. Poderíamos
essencial do reino
citar inúmeros textos, tal como as referênde Deus.
cias de Paulo à pregação: em demonstração
Se o reino
do Espírito de poder (1 Co 2.4). Se cumestá entre nós,
prirmos a Grande Comissão, temos todo
então haverá
maravilhas.
o direito de esperar que as promessas se
cumpram, e que os sinais aconteçam. Se
fizermos o que Deus pede, Ele vai fazer o que Ele diz.
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O Tempo está se Esgotando
O Reino
O sobrenatural é a evidência do reino de Deus, e onde esse Reino
está, o poder que opera milagres é visto. Isso é muito importante.
Vamos dar uma rápida olhada na questão do reino de Deus.
A grande diferença entre os tempos antes de Cristo e os tempos
depois de Cristo é a constante presença do Espírito Santo.
Certas ocasiões, o Espírito veio sobre as pessoas como relatado
no Antigo Testamento. De quando em quando, homens como
Moisés, Elias, Eliseu, Sansão e Gideão experimentaram o poder
do Espírito Santo. Os profetas também falaram de como foram
visitados, mas ninguém conheceu o batismo no Espírito Santo
até Jesus vir, e dEle fluiu a mais extraordinária sucessão de milagres que o mundo já testemunhou. Antes de Sua morte e ressurreição, Jesus disse que mandaria o Seu Espírito para estar com
os discípulos todo o tempo (Jo 14.16,17). Assim, depois do dia de
Pentecoste, o Espírito Santo passou a residir na Igreja.
Os resultados foram as grandes manifestações de poder nunca
antes vistas. Os cegos, os surdos, e os aleijados foram restaurados – fatos nunca relatados no Antigo
Pregue o Evangelho,
Testamento. Outra coisa: demônios não
e o Evangelho se
eram expulsos até Jesus (e depois Seus distornará real.
cípulos) expulsar espíritos com Sua palavra.
Isso, particularmente, se tornou evidência de grande mudança
na organização divina. Jesus disse: Mas, se é pelo dedo de Deus
que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus
(Lc 11.20). Quando o Senhor Jesus expulsava os demônios pelo
poder da Sua palavra, isso era mais que um sinal do dedo de
Deus agindo, mostrando que o Reino estava presente.
Em outras palavras, o milagroso é uma característica essencial do reino de Deus. Se o reino está entre nós, então haverá
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
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maravilhas, e se há maravilhas, é porque o Reino está entre nós.
Quando Jesus veio e os poderes do reino começaram a agir, o
reino de Cristo consolidou-se na terra. O “carimbo” de validade
do Reino são os sinais e maravilhas. Não devemos negar a ação
sobrenatural de Deus na pregação do Reino. Esses sinais e maravilhas acompanham os que crêem. Há tempos eles me acompanham na pregação da Palavra.
Gostaria de deixar aqui uma advertência. Todas as pessoas
hoje estão clamando pelo sobrenatural. Muitos estão correndo
de igreja em igreja para assistirem a convenções, conferências,
esperando ver sinais e sensações. Contudo, será que o cristianismo é simplesmente ação sobrenatural? Há muito mais no
Evangelho do que cura de pessoas. O grande trabalho de Deus
inclui salvação, edificação da igreja, e os crentes manifestando o
fruto do Espírito na sua vida, e sendo transformados dia a dia,
na semelhança de Jesus. O companheirismo entre os santos é
algo muito importante, mas se ficarmos somente vagando por ai,
procurando por sinais e maravilhas, o companheirismo não vai
significar nada. Curar os enfermos também significa partilhar
os fardos uns dos outros. Precisamos fazer o que for necessário
para conhecermos as pessoas e ajudá-las com os seus fardos.
Vejamos agora quarto princípios do Reino, de grande importância para o trabalho cristão:
1. Jesus só pode ser o que você prega que Ele é.
O primeiro desses quarto princípios contém o cerne dos outros
três; espero que isso fique entre as coisas que você vai guardar
da leitura deste livro. Jesus espera para dizermos o que Ele é.
Pregue-O como Salvador, e Ele salvará. Se você não o fizer, Ele
não o fará! Pregue-O como Aquele que cura, e Ele curará; do
contrário, Ele não poderá fazê-lo! Pregue-O como Perdoador,
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ou como o Doador da paz, e Ele então poderá ser estas coisas
para aqueles que ouvem. Pregue o Evangelho, e o Evangelho se
tornará real.
Entretanto, se você só ficar aí na sua comodidade, inclinado
sobre a sua escrivaninha, apenas passando pequenas lições de
moral, então o único milagre que vai acontecer será a cura para a
insônia, porque esse tipo de conversa, para “levantar a moral”, é
suficiente para fazer qualquer um dormir!
Se você prega um Jesus de milagres, Ele será um Jesus de milagres. O Espírito Santo só pode abençoar as verdades que você
permite que Ele abençoe. Ele não pode tornar realidade a verdade
da cura divina, se você falar apenas sobre transcendência divina.
Se, ao compartilhar a sua fé, seu assunto é sempre o inferno, isso
vai limitar o Espírito Santo. Quando você não estiver sentindo
a unção em sua pregação, talvez isso signifique que o Espírito
Santo esteja esperando para que você diga algo que Ele possa
ungir: Sua verdade, claramente comunicada.
2. A vontade soberana de Deus coopera conosco.
O Evangelho de Marcos nos fala desta verdade soberana cooperando conosco depois de o Senhor ter subido ao céu: cooperando
com eles (Mc 16.20). Falamos freqüentemente sobre a vontade
soberana de Deus; entretanto, Ele trabalha a Sua vontade soberana através dos Seus seguidores, geralmente requerendo algo de
nós em primeiro lugar. Soberania não significa surpresa; a palavra
é mal entendida e mal usada, e não aparece na Bíblia com esse
sentido. Deus é realmente nosso soberano Senhor e Deus, mas
Ele não é imprevisível. Se ainda não conheDeus pode encher
cemos a vontade de Deus, devemos procurar
tantas vasos quantos
conhecê-la, pois é nosso dever. O Salmo 103
trouxermos a Ele.
diz o seguinte: Fez notórios os seus caminhos
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a Moisés, e os seus feitos aos filhos de Israel. Se Deus fosse um Deus
imprevisível, não poderíamos ter confiança nEle. Podemos depender seguramente em Seu santo e impecável caráter.
Deus, em Sua soberania, planejou nos deixar saber seus desígnios. Ocultarei eu a Abraão o que faço? (Gn 18.17). Mas Ele faz
ainda mais do que isso. Jesus disse: Isto vos mando: que vos ameis
uns aos outros (Jo 15.17); a única condição, porém, é que permaneçamos nEle. Deus não somente falou com Abraão o que
Ele queria fazer, mas também ouviu as objeções de Abraão, e
até concordou com seus desejos, como no relato a respeito de
Sodoma e Gomorra (Gn 18.16-33). Ele também revelou Seus
segredos a Seus servos, os profetas: Certamente o Senhor Deus
não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos,
os profetas (Am 3.7).
De modo geral, aquele tempo em que Deus aparecia em cena
simplesmente para dar algum aviso a alguém, por meio dos seus
profetas, passou. Ele pode até agir dessa forma hoje, mas essa
não é a Sua maneira normal de se relacionar com seus filhos
hoje. A revelação de Deus em Seu Filho colocou um fim nesse
período de imprevisibilidade. É a Sua soberana vontade trabalhando junto com a nossa, embora a Palavra de Deus deva
sempre condicionar a nossa. É óbvio que Ele se reserva o direito
de agir independentemente, e algumas vezes Ele o faz; contudo,
geralmente provocamos a Sua ação por causa da nossa.
Talvez não haja exemplo maior desse princípio do que a vida de
William Carey, famoso missionário que dedicou sua vida pregando na Índia. Ele era um jovem pregador inglês, consumido
pelo peso da Grande Comissão de Cristo. Entretanto, na sua
época não havia ninguém saindo da Inglaterra e indo para os
campos missionários estrangeiros. Certa ocasião ele levantou-se
durante uma reunião e sugeriu a um grupo de pastores batistas
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que discutissem se a ordem dada aos apóstolos, de ensinar a todas
as nações, não se aplicava a todas as gerações. O presidente do
grupo, Elder Ryland, respondeu à sua proposta com as mesmas
palavras citadas um milhão de vezes como exemplo de um tradicionalismo teimoso e intransigente: “Jovem, sente-se! Você é um
entusiasta. Quando Deus se agrada em converter um pagão, Ele
o faz sem depender de mim ou de você”.
As idéias de Elder Ryland eram típicas do seu meio. O pensamento corrente era que Deus fazia o que quisesse sem consultar a ninguém, ou mesmo ser influenciado. Esta também era a
teoria com relação ao avivamento, de que era um ato soberano de
Deus, vindo como, quando e onde a Sua graça escolhesse, sem
aparente motivação ou razão. A crença era de que Deus visitava
determinado lugar com a salvação e salvava a quem Ele queria
salvar. Depois disso, só iria se manifestar novamente no próximo
avivamento. A resposta de Carey veio através da publicação de
um tratado, o qual mostrava que não estávamos livres da responsabilidade em relação a evangelismo e avivamento. Willian
Carey realizou o seu sonho de pregar na Índia em 1793.
Eu posso entender muito bem a frustração de Willian Carey,
pois também já fui um missionário fazendo missões do jeito tradicional. Todavia, eu queria muito alcançar mais pessoas, e mais
rápido, antes que morressem e fossem para o inferno. Era como
se estivéssemos usando tesourinha de unha para colher grandes
feixes; entretanto, sabia que precisávamos de colheitadeiras.
Naquela ocasião me disseram que o método tradicional de evangelismo era o mais adequado para se alcançar o perdido. Afinal,
já haviam tentado e testado, e decidiram que era o método mais
efetivo. Entretanto, não descansei enquanto não dei o passo que
deu início ao Cristo para todas as Nações. Foi então que vi mais
convertidos em uma única noite do que todas as missões africanas haviam visto em centenas de anos.
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3. Deus trabalha de acordo com a escala que empregamos.
Nossa medida de trabalho é a dEle.
Vamos analisar a história da viúva que tinha apenas uma botija
de óleo. Elias havia lhe dito que fosse até os seus vizinhos e arranjasse tantas vasilhas quanto pudesse. Então ela se foi e pediu
vasilhas emprestadas, e encheu a todas, até que não restou mais
nenhuma vazia. Deus pode encher tantas vasos quantos trouxermos a Ele. Ele pode salvar tantas almas, e curar tantos enfermos
quanto lhe dermos a oportunidade de salvar e curar. Ele pode ter
uma perspectiva local, ou uma perspectiva mundial.
4. Deus sempre toma a iniciativa, mas Ele espera que O sigamos.
Deus é o Capitão da nossa fé (Hb 2.10). Vamos voltar um pouco
ao Evangelho de João, onde lemos que Jesus curou algumas pessoas sem que alguém houvesse pedido especificamente. Sabemos,
entretanto, que qualquer milagre que Ele tenha feito veio de
um desejo espontâneo de Deus: … o Filho nada pode fazer de
si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o
que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai
ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz (Jo 5.19,20).
Jesus transformou água em vinho sem que
ninguém sugerisse (Jo 2.1-10); curou o servo O Evangelho de João
´o perfeito exemplo da
do homem nobre da maneira que achou
total independência
melhor e não como o nobre havia sugerido de Deus com relação
(Jo 4.46-53); curou o homem enfermo à vontade do homem.
no poço de Betesda sem que ele pedisse
(Jo 5.1-9); restaurou a vista ao cego colocando barro nos seus
olhos sem seu consentimento (Jo 9.1-7). Ele também recusou o
pedido de Marta e Maria para visitar o seu irmão doente, e veio
de acordo com o tempo do Seu Pa; ou seja, quatro dias depois
que Lázaro morrera. Ressuscitar Lázaro da morte foi idéia de
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O Tempo está se Esgotando
Jesus e de ninguém mais (Jo 11.1-44). O Evangelho de João ´o
perfeito exemplo da total independência de Deus com relação à
vontade do homem.
Sempre no começo de qualquer coisa nova que Deus faz, o Seu
pensamento é, geralmente, para Si mesmo; Seu alvo não é a promoção humana. É por isso que Jesus afirmou que se estivermos
nEle e Suas palavras estiverem em nós, Ele vai fazer tudo o que
Lhe pedirmos (Jo 15.7). Contudo, Deus apenas toma a iniciativa;
Ele não vai adiante até que primeiro nos movamos em fé. Agindo
espontaneamente e sem ser incitado, Ele mostra o que Ele é, e o
que vai fazer. Então, o Senhor nosso Deus espera que nos posicionemos e ajamos debaixo do poder daquela demonstração. É
isso o que significa agir por fé: significa que confiamos em Deus
para ser o que Ele demonstrou ser. Quando Gideão perguntou:
… e que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o senhor subir do Egito? (Jz 6.13.), ele
concluiu que Deus poderia ser novamente o que já havia sido.
Deus nunca toma parte na nossa maneira de agir, a menos que
tenhamos tomado parte no Seu agir também. Primeiro, Ele
sempre nos mostra o que Ele é, e o que Ele vai fazer. Daí por
diante, é conosco. Ele espera que aceitemos as suas dicas e que
ajamos segundo elas.
Paulo disse que ele declarou todo o desígnio de Deus (At 20.27). A
palavra usada aqui para “desígnio” também pode ser traduzida
como “vontade” ou “propósito”. Declarar todo o Seu conselho
é declarar toda a Sua vontade, ou propósito. Não poderíamos
declarar a Sua vontade se ela fosse eternamente fechada para nós,
e Deus fez exatamente o que Ele queria, quando queria, sem
nenhuma razão. Deus não age por capricho. É por isso que o
clamor do nosso coração deveria ser que conhecêssemos a boa,
agradável, e perfeita vontade de Deus (Ro 12.2).
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Capítulo 5 • Pregando um Cristo de Milagres
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Se você for declarar toda a Palavra do Senhor, todo o Seu conselho, sem riscar textos selecionados que estão fora da dispensação
atual, então você tem um Deus sobrenatural com você. Porque
Ele é Espírito, e nós somos físicos em um mundo material,
qualquer coisa que conhecemos d’Ele somente pode vir sobrenaturalmente. Não podemos pregar o verdadeiro Cristo sem o
sobrenatural.
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Capítulo 6
A UNÇÃO PARA A MISSÃO
C
rer em um Deus que faz milagres nos predispõe a termos
fé para sermos Suas testemunhas. É por isso que somos
chamados para agirmos da mesma maneira que Seus discípulos.
Quando Jesus comissionou a Seus seguidores, Ele não queria
apenas que eles fizessem algo, mas que também fossem algo
(At 1.8). Suas testemunhas são exemplos do que Ele faz. Marshall
McLuhan tornou popular a noção de que o meio é a mensagem. Realmente, os crentes são a mensagem do Evangelho! Não
possuímos somente um conhecimento intelectual de verdade
bíblica; o próprio Cristo comunica em nós uma fé que irá testificar d’Ele ao mundo.
Ninguém se torna cristão por si mesmo. Somos feitura d’Ele,
criados em Cristo Jesus para boas obras (Ef 2.10). A palavra “feitura” literalmente significa “produto”. Somos Seus produtos. A
nova pessoa que somos hoje foi criada em verdadeira justiça e
santidade (Ef 4.24).
Somos chamados para um ministério de afirmação. O Espírito
Santo que habita em nós é o Espírito da testemunha e do testemunho; e testemunhar é exatamente o seu trabalho (Jo 15.26).
O dom do Espírito não nos é dado para brincarmos de jogos de
poder; Seu poder nos molda e nos faz criaturas do Seu eterno
propósito, e não do nosso, como Efésios 1.11 deixa bem claro: …
predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade.
Também somos chamados a termos um sentido eterno de destino. O que Deus fez coloca sobre nós uma obrigação de cumprir
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O Tempo está se Esgotando
o propósito para o qual fomos formados. Nossa atitude deveria
ser a mesma de Paulo:
Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer
e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho
em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem
detença, não consultei carne e sangue (Gl 1.15,16).
Note a expressão que Paulo usa: revelar seu Filho em mim. Tão
logo Ele nasceu de Deus, fez o que nasceu para fazer. Um pássaro nasce para voar, um peixe para nadar,
Algumas
um ser humano para andar e falar, e um
pessoas têm dito,
cristão, nascido de novo, para testemunhar.
e muito
Testemunhas devem testemunhar, pois essa
corretamente, que a
é a sua natureza. Soldados não usam uniGrande Comissão
formes e são equipados com armas simplesnão é apenas uma
mente para ir a uma parada; o verdadeiro
Grande Sugestão.
É, antes de mais nada, lugar deles é no campo de batalha.
um recrutamento,
uma intimação.
É uma prioridade,
um requerimento
básico para
cada igreja.
Embora o Senhor tenha colocado o instinto de testemunhar dentro de nós, Ele
não nos força a fazê-lo; não somos robôs
programados, e Ele não é um ditador. Essa
é simplesmente uma prova da nossa amorosa submissão a Ele. Podemos escolher testemunhar ou não.
Isso é deixado a nós ou, melhor, ao nosso entendimento do que
Deus quer e à nossa consciência da difícil situação das pessoas
que estão longe do Senhor. Efésios 4.23,24 e 5.2 nos encoraja:
Vos renoveis … vos revistais do novo homem … e andai em amor.
Devemos servir porque fomos equipados para isso.
Algumas pessoas têm dito, e muito corretamente, que a Grande
Comissão não é apenas uma Grande Sugestão. É, antes de mais
nada, um recrutamento, uma intimação. É uma prioridade, um
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Capítulo 6 • A Unção Para a Missão
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requerimento básico para cada igreja. Devemos fazer a seguinte
pergunta: “Uma igreja tem o direito de existir, se ela não cumpre
o propósito para o qual existe?” A palavra de Deus para os indiferentes laodicenos é clara: porque és morno e nem és quente nem
frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca (Ap 3.16). Jesus
não disse: “Se você não se importa, e se você tem algum tempo
livre, que tal fazer algo para Mim?”. Fazer a vontade de Deus
não tem nada a ver com fazer a Ele um favor. Ser chamado para
o Seu serviço, usar a farda de Cristo, é a maior honra e o maior
orgulho que uma pessoa pode experimentar.
Há um imperativo no coração de Jesus, que é transferido para
aqueles que pertencem a Ele. Estamos aqui na terra no Seu lugar.
Ele disse: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário,
eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto,
e o vosso fruto permaneça (Jo 15.16). O nosso negócio não é ficarmos ocupados, mas, sim, testemunharmos; e isso não depende
de onde estivermos e do que estivermos fazendo. Um americano
é um americano, independente do que ele faça ou de onde ele
esteja. Ele tem de ganhar a vida, pois tem uma família para
sustentar, um negócio para dirigir e, pode até mesmo ser identificado por todo o mundo, porque ele fala inglês com sotaque
americano. Os cristãos são testemunhas de Cristo exatamente
da mesma maneira. Somos o que somos. Todo o tempo, nosso
estilo de vida e nosso “sotaque” da fé revela a quem pertencemos
– pertencemos a Cristo.
Somos Equipados Pela Unção
Somos ungidos e equipados para a tarefa para a qual Cristo
nos chamou, e essa unção é absolutamente importante. Em
1 Jo 2.20,27 lemos: E vós possuís unção que vem do Santo […] a
unção que dele recebestes permanece em vós. A palavra “unção” no
grego é chrisma, da qual temos o nome de Cristo, O Ungido.
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O Tempo está se Esgotando
Essa unção, o dom natural do Espírito Santo, é o segredo de um
verdadeiro evangelista.
Mesmo o próprio Jesus precisou receber essa unção para fazer o
bem e curar as pessoas. Agora, por que será que Jesus, o único
Filho gerado de Deus, precisa ser ungido? Porque Ele também
era carne e sangue, exatamente como nós o somos. É a unção
que toma nossa voz e nossos gestos, e adiciona a eles um toque
especial que nem o melhor ator pode imitar. Observe um artista
não convertido fazendo o papel de um pregador e pregando
em uma novela de televisão. A cena é tão artificial quanto um
boneco ventríloquo, pois lhe falta alma. A verdadeira unção de
Deus, por sua vez, quebra o jugo do pecado.
Em 1 Tessalonicenses 5.19 lemos o seguinte: Não apagueis o
Espírito. Alguns dizem que é muito fácil apagar o Espírito; particularmente eu discordo dessa afirmação, pois o Espírito não é
tão melindroso assim. O Espírito Santo é persistente, poderoso,
e trabalha dentro de nós. Ele é “O fiel”, Aquele que habita. E se
é assim, como, então, podemos apagar o Espírito? Ele nos foi
dado para nos fazer testemunhas e, se não estamos interessados
nos Seus objetivos, aí, sim, O apagamos. O que temos de fazer
é manter o brilho! Essa mesma palavra “apagar” (do grego sbennumi) foi usada pelas cinco virgens tolas, que disseram que suas
lâmpadas haviam se apagado. Nós apagamos o Espírito quando
deixamos de brilhar por cristo.
Precisamos Ser Cheios?
Existe uma importante pergunta que circula até mesmo entre os
pentecostais e que trouxe bastante controvérsia entre eles: Será
que, de vez em quando, precisamos buscar a Deus para sermos
cheios do Espírito? Algumas de nossas canções trazem essa idéia:
“Espírito do Deus vivo, vem sobre mim. Quebranta-me, molda-
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Capítulo 6 • A Unção Para a Missão
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me, enche-me, usa-me”. Quando Deus nos quebra e nos quebranta, nos molda e nos enche, com que freqüência o processo
deve ser repetido? Precisamos ser quebrados de vez em quando?
Temos de ser quebrados a cada vez que queremos ser cheios?
Esse tema já foi discutido demoradamente pelos teólogos. Os
mais capazes dentre eles chegaram até mesmo a citar os tempos
dos verbos gregos para provar os seus pontos. Eu não tenho a
pretensão de alcançar esse nível de escolástica. Minha abordagem vem de um ângulo bastante diferente – simples, mas não
simplório.
Se eu descobrisse, de repente, que me encontrava vazio do
Espírito e do poder do Senhor, certamente buscaria a Deus para
me encher novamente. Mas, como eu iria saber se estava cheio
ou não? Acredito que exista duas maneiras: primeiro, eu seria
ineficaz no meu trabalho e, segundo, eu me sentiria vazio.
A primeira evidência de impotência não é totalmente confiável,
porque há pessoas cheias do Espírito que não estão tendo muito
sucesso em semear a semente do Evangelho em terreno rochoso.
A falta de êxito e outras tensões podem
É a unção que
deixá-las desencorajadas. Elas se culpam,
toma
nossa voz
e sentem que têm de trabalhar muito
e nossos gestos,
com Deus para serem cheias. É claro que
e adiciona a eles
vão continuar inseguros quanto a estarem um toque especial
“cheios”, porque não têm como saber; a que nem o melhor
menos que experimentem um quebrantaator pode imitar.
mento repentino e espantoso. Entretanto,
êxitos – mesmo centenas ou milhares de conversões – não vão
nos dizer se estamos ou não cheios do Espírito. Então, se você
está usando esforços evangelísticos bem-sucedidos como parâmetro, e se não houve mudanças no seu índice visível de êxito
depois que você orou e jejuou, e de ter participado de retiros e
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O Tempo está se Esgotando
recebido oração com imposição de mãos, mesmo assim a única
coisa que você vai ter é uma vaga esperança de que foi cheio
novamente. Essa é uma maneira perigosa e desencorajadora de
viver.
Antes do avivamento pentecostal do século XX começar, a
esperança de sinais como resultado de se estar cheio do Espírito
era muito comum. Com a chegada do avivamento pentecostal
e carismático, línguas eram vistas como sinal. Se as pessoas
podiam falar em línguas, então elas sabiam que tinham recebido
o Espírito. Sem o sinal, as pessoas não tinham como saber [1].
Antes do avivamento pentecostal a Igreja tinha muitas canções
inspirativas e poucas realizações. As pessoas estavam sempre
orando por poder, cantando: “Chuvas de bênçãos teremos”, “Ó
enche-me Espírito”, “Queremos um outro Pentecoste”, “Avivanos, Senhor” ou “Enche o meu vaso, Senhor”. As canções, entretanto, mudaram com os pentecostais do início do século XX.
Eles cantaram, “Faz chover! Faz chover! Aguaceiro da última
chuva!”, ou “Este é o Pentecoste em minha alma!”. A minha
canção favorita é: “Ele habita, Ele habita; o Consolador habita
em mim”.
E Quanto aos Nossos Sentimentos?
Podemos até pensar que precisamos de um novo encher do
Espírito, mas como vamos saber? Analisando os nossos sentimentos, é claro! Não estamos nos sentindo cheios, mas o cristão
necessariamente se sente assim? E os sentimentos, são mesmo
importantes?
Os sentimentos são físicos ou psicológicos. Se você está cansado,
está com gripe, sofreu privações, sofreu um acidente de carro,
ou foi espancado como Paulo, é muito difícil dizer que possa se
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Capítulo 6 • A Unção Para a Missão
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sentir cheio do Espírito Santo. Sendo assim, podemos dizer que
os sentimentos simplesmente não são critério para nada. Não
posso dizer que senti que estava plenamente cheio do poder do
Espírito Santo quando o exército teve de nos proteger de uma
multidão violenta na Nigéria, em 1991.
Algumas pessoas estão sempre muito ansiosas em saber se Deus
está ou não com elas. Criam suas próprias regras, por que acham
que elas são necessárias, e depois passam os dias avaliando se
as quebraram. Ouviram a voz de Deus? Obedeceram ou não?
Saíram da vontade de Deus? Se saíram, o que aconteceu? Esse
tipo de pessoa fica o tempo todo olhando por sobre os ombros,
analisando o passado para ver se, por qualquer possibilidade,
ofenderam o Espírito Santo. Aliás, isso significa que elas nunca
estão seguras do seu relacionamento com Deus. Elas são as
mesmas pessoas que estão sempre pensando se são humildes o
suficiente, amorosas o suficiente, boas o suficiente ou se estão
orando o suficiente. Oram com esperança, mas não com fé.
Muitas dessas pessoas são vítimas de sua própria perspectiva
legalista. O perfeccionismo tem base na idéia equivocada de que,
desse lado do céu, podemos cumprir os requisitos da lei; ele não
é poder, mas orgulho. Alguns se esforçam tentando alcançar o
inatingível e buscam auto-satisfação na sua própria santidade. A
graça ocupa um lugar muito pequeno nas suas expectativas. Para
algumas, a graça não tem lugar em sua vida, a não ser para reconhecer que são salvas por meio dela. Vivem debaixo da lei que
se impuseram a si mesmas, e vêem a plenitude do Espírito como
testemunho das realizações da sua própria santidade. Existem
aquelas pessoas que oram por avivamento; contudo, conhecem
mais de 50 razões porque ele “tarda” – e todas elas têm a ver
com a qualidade do caráter cristão dos envolvidos. Quando o
avivamento tarda, elas sempre acham mais razões para justificar
a demora. É fácil: ninguém é perfeito.
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O Tempo está se Esgotando
Não há nada nas Escrituras que indique que o Espírito de Deus
pode ser espantado como um pombo assustado. Tenho uma
idéia completamente oposta. É obvio que havia faltas vergonhosas na Igreja de Corinto, mas Paulo escreveu a eles:
Sempre dou graças a Deus a vosso respeito, a propósito
da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; porque,
em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e
em todo o conhecimento; assim como o testemunho de
Cristo tem sido confirmado em vós, de maneira que não
vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de
nosso Senhor Jesus Cristo; o qual também vos confirmará
até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso
Senhor Jesus Cristo (1 Co 1.4-8).
O que é muito claro quando lemos sobre os crentes do Novo
Testamento é a sua constante confiança de que Deus estava com
eles. Aqueles primeiros crentes não eram super santos, mas nunca
pareciam duvidar de que o poder de Deus habitava neles. Eles
sabiam que eram homens e mulheres pecadores e fracos, mas
retiveram a verdade do amor e da graça de Deus. Se os cristãos
de hoje não se sentem dessa mesma maneira, isso não tem nada a
ver com o seu pobre contraste com a Igreja Primitiva. Entretanto,
tem tudo a ver com o ensino perfeccionista e legalista.
Hoje em dia as congregações são exortadas a se esforçarem para
manter a boa forma, o que é bom; entretanto, tais exortações
freqüentemente são feitas em tom severo e de crítica, produzindo
um sentimento de inferioridade espiritual entre as pessoas. Paulo
sabia muito bem quão faltosos aqueles cristãos eram, e não hesitou em dizer isso; contudo, também enfatizou o que eles eram
em Cristo. Ele os deixou com confiança em Deus, assegurandolhes de que o Espírito de Deus estava com eles.
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Capítulo 6 • A Unção Para a Missão
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Se você é batizado no Espírito Santo, por quanto tempo você
espera que essa experiência dure? Para sempre, ou acha que precisa ser batizado novamente a cada uma ou duas semanas? Se
o Espírito Santo desaparecer, você poderia
Não há nada nas
dizer que ainda está batizado no Espírito?
Escrituras que
Esse batismo significa “receber o Espírito
indique que o Espírito
Santo”; ou seja, você começou um relaciode Deus pode ser
namento permanente com o Espírito de espantado como um
Deus. Você está enchendo-se do Espírito de pombo assustado.
maneira contínua (Ef 5.18), e a única coisa
que precisa fazer é permanecer nessa experiência. É uma simples
questão de fé, e não de grandes realizações morais. Considero
muito relevante esta pergunta que Paulo fez aos gálatas:
Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas
obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos
aperfeiçoando na carne? (Gl 3.2,3).
Essa é uma estranha contradição, a qual abraçaram, de que eles
desenvolveram a sua espiritualidade por intermédio de obras da
carne!
Nunca, em toda a história, houve um sucesso evangelístico
tão grande como o dos cristãos Pentecostais Carismáticos, dos
últimos 100 anos. E qual era o segredo deles? Os evangelistas
estavam absolutamente confiantes de que Deus estava com eles,
e seus convertidos receberam a mesma garantia. Eles falaram
em línguas e, portanto, sabiam que haviam recebido o Espírito
Santo. Durante séculos a questão de terem ou não recebido o
Espírito preocupou os melhores cristãos. Agora eles sabiam que
Ele estaria sempre com eles, de maneira permanente. Não é
verdade que os adoradores carismáticos tenham procurado por
línguas; eles procuraram pelo Espírito Santo.
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O Tempo está se Esgotando
Nota
[1]. Considero a palavra carismático um termo impróprio. Eles,
na verdade, não são carismáticos (dotados); são pneumáticos
(cheios do Espírito). Línguas é uma insígnia real no topo do
mastro, para mostrar onde é a residência do Rei.
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Capítulo 7
UM PROJETO
PARA O EVANGELISMO
C
omo um arquiteto fornece o projeto de uma planta para a
construção da sua edificação, Deus também nos fornece
um projeto para o evangelismo. Trata-se de um projeto composto de métodos e princípios. Aqui, porém, vamos enfocar
principalmente os métodos. Em seguida daremos uma olhada no
tremendo discurso de Paulo, sobre os princípios do evangelismo.
E, para finalizar o capítulo, voltaremos ao tema já discutido e
faremos uma “recapitulada”.
Métodos e Princípios Bíblicos
As pessoas costumam comparar a eficácia dos métodos de evangelismo. Tendo viajado por quase todo o mundo e tido a oportunidade de ver uma variedade de métodos em uso, percebi que há
muitos fatores que devem ser levados em conta. Não obstante, se
há um texto em toda a Bíblia que fornece o princípio do evangelismo com bastante clareza, creio ser 1 Coríntios 9.22, que diz:
Fiz-me tudo para todos, com o fim de, por todos os modos, salvar
alguns.
Planejando
Costumam dizer por aí que Deus usa o homem, não métodos.
Contudo, não creio que Deus use homens que não tenham
métodos. Qualquer que seja a forma de evangelização que você
adote, se não houver um bom planejamento, seu impacto pode
diminuir ou mesmo desaparecer.
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O Tempo está se Esgotando
Acompanhando
Quando Jesus deu aos discípulos aquela segunda grande pesca,
eles sabiam quantos peixes haviam pescado – 153. Eles não
tinham apenas uma vaga idéia; Jesus lhes disse: Trazei alguns
dos peixes que acabastes de apanhar (Jo 21.10). Na primeira vez
que eles foram pescar, seguindo as instruções de Jesus, pescaram
tantos peixes que suas redes romperam e os barcos começaram a
afundar (ver Lucas 5.1-11). Aqueles pescadores não estavam esperando por tamanha bondade de Deus e, por isso, foram pegos de
surpresa. Eles não estavam preparados para trabalhar no nível de
Jesus. Contudo, na segunda vez, já estavam mais organizados e
pegaram muitos peixes.
Quando ganhamos alguém para Cristo, devemos cuidar delas
e discipulá-las, e não permitir que logo voltem para as águas
profundas do mundo. Trazei alguns dos peixes que acabastes de
apanhar. Não importa como fazemos para evangelizar; fazemos
o contato e, ao menos formalmente, as pessoas aceitam a Jesus.
Depois disso, precisamos cuidar delas.
Contato Pessoal
Evangelizar não é um negócio rotineiro, sem vida. Quando Paulo
foi a Éfeso, ele teve um certo problema com os empresários do
lugar – empresários do ramo da indústria, especialmente os que
trabalhavam com prata. Eles estavam forjando imagens da deusa
Diana e tendo uma vida excelente com os lucros. A maneira
como isso é relatado em Atos 19.26 é bastante interessante:
E estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas em
quase toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente, afirmando não serem deuses os
que são feitos por mãos humanas.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
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Gostaria que você que lê este livro tivesse condições de verificar
o grego. Alguém disse que o verbo usado aqui foi o particípio
passado, de modo que a frase “que são feitos por mãos” poderia
ser mudada para “que estão sendo feitas por mãos”, dando uma
idéia de ação contínua – deuses saindo da linha de produção
todos os dias. Essa era a religião daquelas pessoas – uma despersonalizada linha de produção de religião, com os mesmos deuses
sendo preparados a toda hora.
E isso é exatamente o que o cristianismo não é. Nosso desejo
é que, em nossas reuniões, as pessoas possam ter a oportunidade de passarem pela experiência do novo
nascimento em um caloroso ambiente de Quando ganhamos
amor. É necessário muito mais do que uma alguém para Cristo,
assinatura em uma linha pontilhada. Gosto devemos cuidar delas
e discipulá-las,
de ver os novos convertidos ajoelhados,
e não permitir que
orando abraçados a alguém por mais ou logo voltem para as
menos uma hora, enquanto a atmosfera do
águas profundas
estádio ou da igreja os envolve em louvor e
do mundo.
adoração. Novos crentes não devem nascer
mortos. Quando uma criança nasce, a primeira coisa que o
médico ou a enfermeira deve fazer é certificar-se de que ela esteja
respirando. Os novos convertidos, por sua vez, devem ser rapidamente encorajado a fazer o seu primeiro clamor a Deus – faça
com que eles, por meio da oração e do testemunho, tragam vida
a seus pulmões espirituais.
O Evangelho é uma comunicação pessoal entre as pessoas e seu
Deus. Vivemos em uma era desumana, com indivíduos reduzidos à parte do fluxo do trânsito ou a uma unidade comercial.
Você pode movimentar a sua conta bancária, comprar comida
pronta, ir ao cinema ou mesmo participar de um culto da igreja
via internet – tudo sem ter o menor contato com uma viva alma.
As relações de serviço entre as pessoas estão sendo eliminadas
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Nosso desejo é que,
em nossas reuniões,
as pessoas possam
ter a oportunidade
de passarem pela
experiência do
novo nascimento
em um caloroso
ambiente de amor.
O Tempo está se Esgotando
e transferidas para máquinas. Vejo com
horror alguns dos “avanços” tecnológicos,
os quais nos trazem para uma vida completamente automatizada, e nos impõe uma
existência de completo isolamento. Os indivíduos temem a total solidão de um futuro
frio e sem amor – e isso é tão ameaçador
quanto uma bomba nuclear. Evangelismo é
um negócio de coração para coração.
Os métodos não substituem o Evangelho pregado pelo Espírito
Santo enviado do céu (1 Pe 1.12). Os programas de crescimento
da igreja podem ser sistemas válidos para aplicar os métodos do
mundo dos negócios aos negócios da igreja. E, se for possível,
devemos aprender com a eficiência do mundo secular. Afinal de
contas, a Palavra nos fala para sermos diligentes e nos apresentarmos aprovados diante de Deus (2 Tm 2.15). Qualquer que seja o
método usado, ele precisa de poder; e poder precisa de método.
Ambos são meios de comunicar nossa dedicação e amor. O princípio que não podemos nos esquecer é que Deus usa pessoas, e
não métodos.
Em qualquer tipo de evangelismo o método utilizado deveria
levar em conta que não estamos lidando com máquinas, ou
cultivando em um campo; porém, estamos trabalhando com a
natureza humana – que não foi regenerada. Isso significa que
temos de ser flexíveis, adaptáveis e compreensivos. Não devemos
agir como se estivéssemos empurrando pessoas para dentro de
uma máquina de moer carnes – pecadores entram por um lado,
e os santos vão saindo por outro. Cada pessoa à nossa frente
é um indivíduo único; cada um com seus medos, esperanças e
reações.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
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Em nosso ministério temos o costume de treinar conselheiros
para nossas campanhas evangelísticas mais importantes. O treinamento é importante, mas sempre esperamos que aqueles que
estão sendo treinados sejam compassivos e prontos para ouvir.
Precisamos de métodos, mas os métodos devem ser humanizados, e nunca perder o toque pessoal; nunca devem ser rígidos.
A razão de Deus ter tantos filhos diferentes é porque Ele é um
Deus pessoal, e gosta que todos tenham a atenção pessoal de
alguém.
A nossa Bíblia é o manual que nos ensina a tocar as pessoas.
Ao impormos as mãos sobre os necessitados, no nome de Jesus,
nossos braços se tornam os braços de Deus e o nosso amor, o
Seu amor. A Igreja é Cristo andando nas ruas novamente, mostrando compaixão e alcançando o inalcansável; e não apenas
“objetivando um projeto de crescimento para a área”. Choramos
com os que choram e nos regozijamos com aqueles que se regozijam. O mundo dos negócios fala de “filosofia objetivada”, mas
a filosofia objetivada de Deus foi expressa pelos dois braços de
Jesus, estendidos sobre o madeiro, protegendo a humanidade
das legiões do inferno.
Abordagem Individual
Deus sabe exatamente quem você é, e tem um lugar especialmente preparado para você. Você é você. Se Deus o chamou
é porque você tem um lugar especial nos planos dEle. Não há
ninguém como você, e ninguém pode tomar o seu lugar. Se
você não fizer o que Deus pede, ninguém mais poderá fazê-lo
por você. Suas digitais são para marcar alguma área do Reino,
e é impossível trocar as impressões de outra pessoa pelas suas.
Trabalhar para Deus nos dá a oportunidade de sermos o que
realmente somos, permitindo que nossa verdadeira personalidade floresça a serviço de Deus.
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O Tempo está se Esgotando
Cada um de nós deveria fazer o trabalho de Deus à sua própria
maneira. Tenho um plano detalhado para as minhas campanhas, mas isso serve apenas para a minha abordagem e o meu
estilo. Deveríamos, pelo menos, considerar a melhor maneira
para sermos eficazes no evangelismo. Aquilo que eu considero
ser a melhor maneira para mim, pode não ser a melhor maneira
para você; contudo, se você está fazendo algo para Deus, a primeira coisa a considerar é que Deus quer usar a você, e não a um
método.
Use Métodos Condizentes com a Tarefa
Os primeiros cristãos descobriram e desenvolveram seus próprios
métodos. Jesus deixou o Seu exemplo, não um plano detalhado
de como fazermos o Seu trabalho. O Espírito Santo abençoará a
intrepidez e a capacidade no empreendimento do Evangelho.
Não encontramos nenhum método para evangelismo em qualquer lugar das Escrituras. O que os primeiros cristãos fizeram foi
aproveitar cada oportunidade que surgia. As Escrituras relatam
o que eles fizeram, mas isso não significa
Não devemos
que os métodos deles sejam ordenanças
agir como se
divinas para todos. Entretanto, há princíestivéssemos
empurrando pessoas pios espirituais por trás das suas atividades
e devemos levar tudo isso em conta.
para dentro de uma
máquina de moer
carnes – pecadores
entram por um lado,
e os santos vão
saindo por outro.
Deus nos dotou de inteligência; assim,
devemos usá-la para traçarmos caminhos
e maneiras de chegarmos até às massas de
não convertidos desta era. Isso não é simplesmente o número 1 da agenda, mas, sim o conteúdo dela. Se
cada item, incluindo “qualquer outro negócio”, não se relaciona
direta ou indiretamente com o evangelismo, então não há absolutamente nenhum negócio na agenda.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
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Repare no livro de Atos que os discípulos escolheram os métodos
que se encaixavam na oportunidade. Pedro ganhou as primeiras
almas para Jesus no dia de Pentecoste, aproveitando a oportunidade de ter ali pessoas de diferentes lugares, atraídas pelos
discípulos falando em línguas. Seu sermão serviu perfeitamente
para a ocasião, explicando sobre línguas e ressurreição, embasado nas Escrituras. Essa mensagem contém todos os elementos
do Evangelho; ele simplesmente comunicou isso usando as circunstâncias presentes como sua plataforma. Pedro e os outros
discípulos estavam tão cheios da verdade do Evangelho que eles
o introduziram com facilidade natural, em todo o tempo, todo
lugar, exatamente como se estivessem falando sobre qualquer
outra notícia atual.
Mantendo a Visão do Essencial
Cada método de evangelismo deve ter como objetivo ganhar
almas, e não somente encher igrejas. É possível superlotar uma
igreja quase que em qualquer lugar. Existem as atrações comuns
– música, teatro, jantares, programas infantis, festas típicas, aniversários, Natal, Páscoa, festivais, corais, pregadores especiais, e
grupos de rock. Além dessas, as pessoas estão sempre inventando
outras. Entretanto, se as pessoas não ouvirem a Palavra de Deus, qualquer atividade Se Deus o chamou
é porque você tem
ficará praticamente sem sentido. No Novo
um lugar especial
Testamento, nenhuma oportunidade era
nos planos dEle.
perdida. A idéia era encontrar meios para
trazer a Palavra de Deus para a mente das pessoas.
Tenho me entristecido ouvindo sobre os cultos de cura apresentados a não convertidos, mas onde, de forma alguma, houve
entrega da mensagem de salvação; somente músicas e o apelo
para ir à frente para receber oração de cura. Aparentemente
algumas pessoas pregam somente a cura sem a salvação; isso é
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O Tempo está se Esgotando
negligenciar as duas coisas, oportunidade e responsabilidade. O
Senhor disse: Pregue o evangelho e os sinais seguirão. Devemos
colocar as prioridades em ordem: a Palavra e depois os sinais.
Pedro usou um milagre de cura, em Atos 3, como uma oportunidade para evangelizar. Ele seguiu o
No Novo Testamento, exemplo de Jesus, que fez o mesmo. Aliás,
nenhuma
todo o livro de João ilustra esse procedioportunidade
mento padrão.
era perdida.
A idéia era encontrar
meios para trazer a
Palavra de Deus para
a mente das pessoas.
Em Atos 4 lemos que Pedro e João foram
presos e trazidos diante das autoridades.
Quando eles encararam a face carrancuda
dos seus interrogadores, mudaram o tom
da sua defesa para um evangelismo mais agressivo. Estevão, o
primeiro mártir cristão, aproveitou ao máximo a oportunidade
de pregar a Palavra, mesmo que seus inimigos estivessem envenenados com a idéia de matá-lo (ver Atos 7). Felipe, o evangelista, conduziu o que podemos chamar de “uma campanha de
cura” em Samaria, onde o próprio Jesus havia estado preparando
o caminho (ver Atos 8). Paulo foi para as sinagogas, onde havia
francas oportunidades para se discutir as Escrituras. Ele simplesmente se colocou entre os homens, e expôs as Escrituras.
Paulo também soube tirar vantagem das escolas de filosofia.
Naquela época eles geralmente ofereciam cursos nas ruas, ou em
outros locais abertos para reuniões, e Paulo debateu com eles
como o fez na escola de Tirano (At 19.9). Em Atenas, ele se dirigiu aos curiosos “aonde eles viviam”, como dizemos, citando os
próprios escritores (Atos 17.16-32). Ele levou o Evangelho tanto
a reis e governantes na corte, como às pessoas presas com ele;
levou, igualmente, a bordo de um navio, onde falou do seu Deus,
quando todos estavam aterrorizados por causa do naufrágio. Se
o apóstolo não podia estar, pessoalmente, em algum lugar em
particular, ele escrevia cartas.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
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Prédios de Igrejas
Não temos conhecimento se os cristãos possuíam algum prédio
de igreja naqueles primeiros tempos. Sabemos que tiveram mais
tarde, mas nem Jesus, e ao que parece, nem qualquer apóstolo,
jamais pregou num lugar de culto cristão. Eles simplesmente
íam onde as pessoas se reuniam. A primeira reunião de Paulo na
Europa foi absolutamente informal. Encontramos esse relato em
Atos 16.13:
No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde
nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos,
falamos às mulheres que para ali tinham concorrido.
Durante 20 anos, depois do Pentecoste, os cristãos mantiveram
reuniões públicas regulares nos recintos do Templo. Eles eram
conhecidos como sectários da religião judaica. Os samaritanos
nunca teriam sido salvos, se os apóstolos os tivessem meramente
convidado para o Templo para ouvir sobre Jesus, pois eles jamais
entrariam naquele lugar! Para os samaritanos era uma tradição
nacional odiar o Templo de Jerusalém, que era o que os havia
separado dos judeus como nação. O sentimento de ódio entre
judeus e samaritanos era mútuo, mas Jesus cruzou cada barreira
social e tradicional e começou um trabalho em Samaria, que
outros seguiram mais tarde.
Quando vemos a igreja como sendo o único lugar para ganharmos almas, restringimos em muito as nossas possibilidades de
testemunhar. As igrejas fazem provisão para os cristãos, e não
para os ateus. Na Alemanha, por exemplo, é constrangedor
alguém dizer que vai à igreja – é quase como se a pessoa corresse
o risco de pegar uma praga lá. Ir à igreja é considerado perigoso;
algo que leva à obsessão ou à melancolia. A maioria dos alemães
não iria a uma igreja nem mortos; aliás, esta seria a única hora
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O Tempo está se Esgotando
que eles poderiam ser vistos lá! Seria mais provável ganhar o
campeonato de futebol em uma arena de hóquei sobre o gelo,
do que ganhar a nação alemã para Cristo, dentro dos cultos das
igrejas.
Talvez a situação seja ainda pior no resto da Europa. Sei que na
Grã Bretanha a lei não permite que se façam apelos diretos, na
televisão, para que alguém se converta. Sendo assim, precisamos
encontrar outras estratégias para alcançarmos o perdido ali.
Alcançando Aqueles que Não Vão à Igreja
A Grande Comissão exige que confrontemos as pessoas com
a mensagem do Evangelho onde quer que as encontremos. O
objetivo é inclusivo – todas as nações e nações inteiras. O Novo
Testamento nunca considerou o “evangelismo na igreja”, pois
as igrejas não existiam naquela época. A situação era muito
diferente.
Atualmente o pastor de igreja se tornou um psiquiatra barato, ou
um oficial de bem estar social – aconselhando, oficiando casamentos, enterrando mortos, abençoando os bebês e assim por
diante. Nenhum apóstolo jamais funcionou como um ministro
moderno! Os primeiros apóstolos tinham somente um trabalho:
trazer o conhecimento de Cristo a cada homem e mulher, em
toda parte.
Uma importante consideração a fazer ao estimar o êxito do
ministério, é avaliar o impacto que a pregação do Evangelho tem
sobre a comunidade ou a nação. A pergunta que eu me fazia,
nos primeiros anos como missionário, era se Deus estava satisfeito de que trabalhássemos duro, e ganhássemos apenas uma
mão cheia de almas a cada ano. De alguma forma eu não podia
aceitar aquilo. Certamente Deus conhecia uma outra maneira.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
137
Eu estava frustrado. Então, certo dia saí com o meu acordeão, e
preguei para as pessoas no ponto do ônibus. Depois tentei sair
da missão, organizando um curso por correspondência sobre a
Bíblia, no qual se matricularam 50.000 pessoas. Para a maioria
dos padrões, isso teria sido considerado um empreendimento de
sucesso; entretanto, devemos julgar os nossos trabalhos não pelo
quanto estamos prosperando, mas por se vemos um máximo de
impacto na sociedade.
É um grande desafio para mim ver o que algumas pessoas estão
fazendo em alguns lugares. Elas estão estuOs primeiros
dando os problemas enraizados, tentando
apóstolos
tinham
descobrir o que está acontecendo, como
somente um trabalho:
romper com a resistência do Evangelho, e
trazer o conhecimento
como atrair a atenção desses que viram e
de Cristo a cada
ouviram, mas que continuam impassíveis.
homem e mulher,
Se aplicarmos nossa inteligência a nada,
em toda parte.
então é exatamente sobre isso que precisamos pensar. Jesus disse: … os filhos do mundo são mais hábeis na
sua própria geração do que os filhos da luz (Lc 16.8).
Apelo Popular
Será que o cristianismo consegue provocar tentação a alguém?
A maioria pode resistir a tudo, exceto à tentação! Ou será que
o pão do céu tem sido apresentado como um item não comestível e sem gosto? Na verdade, há muitas apresentações as quais
podem ser tudo, menos atrativas. Talvez eles apelem a esses com
uma veia masoquista, do tipo que se une à Legião Estrangeira
Francesa, ou acham que merecem ser punidos! Esse tipo de religião não é a de Cristo, nem tão pouco puritana. De certa forma
os puritanos se tornaram conhecidos como sendo moralistas,
sem alegria e sem humor quando, na realidade, eram pessoas
muito felizes.
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O Tempo está se Esgotando
Os seguidores de Cristo estão como que em uma procissão, com
o Príncipe da Vida como cabeça. Eram cegos, mas agora vêem;
estavam perdidos, e agora foram achados; estavam mortos, mas
agora vivem, e eles são os seguidores do Cordeiro por onde quer que
vá (ver Apocalipse 14.4). Eles seguem no Seu despertar como um
brilhante rio de luz.
Às vezes costumam chamar a minha mensagem de “evangelho
populista”. Contudo, não vejo isso como algo ruim. Para mim,
esse termo está sendo usado em contraste a ministrar com um
certo brilho acadêmico. Com relação a Jesus, a grande multidão
O ouvia com prazer (Mc 12.37), e as pessoas comuns são sempre
a grande maioria. Certa vez Abraham Lincoln disse: “O Senhor
prefere pessoas de aparência comum. É por isso que Ele faz
tantos deles”. Não há virtude em apresentar o cristianismo em
uma moldura de intelectualismo e finas artes, a menos que isso
possa nos levar a alcançar mais pessoas para Cristo.
Infelizmente, muitas pessoas confundem
sensações fortes com a presença de Deus.
Quando andam por uma catedral suntuosa
dizem sentir a presença de Deus. Aliás,
elas poderiam ter o mesmo sentimento se
o local fosse um museu, o que freqüentemente é bastante suntuoso. Entretanto, isso é apenas uma admiração pela arquitetura,
e Deus não habita em templos feitos por mãos humanas (At 7.48).
Nem todas as pessoas gostam da fina arte. Será, porém, que
somente aquelas que são mais cultas podem ser salvas? Será que
temos de gostar de Johann Sebastian Bach, ou dos cantos gregorianos para estarmos qualificados para entrar no céu? Paulo disse
que seu objetivo era por todos os meios salvar alguns (1 Co 9.22).
O Evangelho
é o poder de
Deus na boca de
qualquer pessoa.
Creio que existe uma confusão sobre isso. O ambiente do
Evangelho não é a mesma coisa que o Evangelho em si mesmo.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
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As Boas Novas podem ser pregadas por um arcebispo em uma
catedral, ou por um convertido ex-traficante de drogas, em uma
tenda. Não creio que em qualquer um desses casos tenhamos
permissão para mudar a simplicidade da mensagem. As pessoas
podem ouvir uma pregação em um linguajar mais solene possível, ou um belo discurso proferido por um arcebispo; entretanto
isso seria meramente por acaso. O Evangelho em si mesmo é a
grandeza, o poder, a majestade, e a maravilha de Deus em qualquer ocasião. Paulo disse:
Por isso, quanto a mim, estou pronto a anunciar o
evangelho também a vós outros, em Roma. Pois não me
envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para
a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e
também do grego (Rm 1.15,16).
O Evangelho é o poder de Deus na boca de qualquer pessoa.
Na África pregamos o mais puro e o mais direto Evangelho
que podemos expressar, e isso tem o mais extraordinário efeito,
tocando os corações e mentes como o frescor de uma onda
no oceano. Não sei nenhuma técnica, nenhuma psicologia de
multidão, nenhum truque, mas não deixamos faltar nada na
mensagem. Pregamos um evangelho sobre o céu, o inferno, o
arrependimento, a fé, o pecado, e o perdão.
Métodos e Princípios em 2 Coríntios
Com relação ao tema de servir ao Senhor,
O Evangelho
acredito que 2 Coríntios seja uma maraé o poder de
vilhosa fonte. O próprio Paulo enfrentou
Deus na boca de
problemas na igreja e com as pessoas que
qualquer pessoa.
querem “aparecer”. Nessa epístola encontramos tudo o que gostaríamos de saber com respeito a métodos
práticos e detalhes.
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O Tempo está se Esgotando
Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia
que nos foi feita, não desfalecemos: pelo contrário, rejeitamos as cousas que, por vergonhosas, se ocultam, não
andando com astúcia, nem adulterando a palavra de
Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo
homem, na presença de Deus (2 Co 4.1,2).
Paulo estava profundamente consciente da necessidade de que
os mensageiros de Cristo devem ser exemplos de sua própria
mensagem. E essa é a sua preocupação nesses dois versículos. Ele
está tratando especificamente das qualidades pessoais dos mensageiros de Deus. O segredo do evangelismo está no homem, e
não em alguma estranha operação mística de Deus. Mais tarde,
nessa carta, Paulo expressa essa idéia com grande riqueza de
detalhes. (Ver 2 Coríntios 6.3-13.)
• Ele descreve a si mesmo como tendo recebido misericórdia,
a qual é a maior razão para um homem evangelizar; ele quer
contar a todos sobre esse maravilhoso presente de Deus.
• Essa experiência demonstra que ele não cai fora, nem abandona a tarefa.
• Significa, ainda, que ele não vive vida dupla, de um lado pregando o Evangelho e, de outro, vivendo uma vida dupla, com
algum vergonhoso segredo.
• Ele não adultera a Palavra de Deus. O Senhor lhe deu o
Evangelho para pregar, e é isso o que ele faz – e não as suas
próprias idéias.
• Por esses meios, ele tem, pelo menos, a aprovação da consciência das pessoas. Eles podem dizer que ele é um homem de
Deus honesto.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
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Pedra de Tropeço
O pastor ou evangelista pode ser um tropeço, mais do que qualquer um, e fazer com que as pessoas tropecem e desapareçam.
Ele está na posição de fazer um grande bem ou de causar um
grande estrago.
A diferença entre um homem bem-sucedido e outro nem tanto
– seja no trabalho secular ou no ministério
A diferença
– pode ser algo insignificante. Entretanto,
entre um homem
esse algo pode gerar afeto ou desamor, bem-sucedido e outro
levando à cooperação ou à relutância em
nem tanto –
seja no trabalho
fazê-lo, motivação ou à falta dela, harmosecular ou no
nia ou discórdia. Eu poderia listar milhares
ministério –
de características peculiares pastorais, que
pode ser algo
não eram questões importantes como douinsignificante.
trina ou falha moral, que levaram muitas
pessoas a saírem da igreja.
De que adianta o evangelismo, o qual traz as pessoas a Cristo,
se os líderes fazem com que voltem novamente para o mundo?
Quem comigo não ajunta, espalha (Lc 11.23).
Paulo, todavia, tem uma alternativa: o amor (ver 1 Coríntios 13).
O amor é a garantia e o segredo da sabedoria. Onde os líderes
cristãos verdadeiramente amam as pessoas, muitas dessas falhas,
comuns entre pastores, simplesmente não ocorrem. Paulo pôde
analisar cada uma dessas falhas. Suas cartas são verdadeiros
ensinamentos sobre como tratar as pessoas e, não sobre como
repeli-las.
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O Tempo está se Esgotando
Recomendando a nós Mesmos
Paulo fala, de maneira franca, que em tudo recomendamos-nos
a nós mesmos como ministros de Deus (2 Co 6.4). Entretanto,
podemos até citar, e muito acertadamente, o versículo de
Provérbios 27.2, que diz: Seja outro o que te louve, e não a tua
boca. Contudo, o que Paulo recomenda não é que devemos nos
vangloriar. Ele não está se elogiando aqui com uma hipérbole, ou
buscando por publicidade barata. Muita “propaganda” pública
pretensiosa e exagerada desvaloriza a imagem do evangelismo.
Charles Spurgeon costumava dizer que Davi matou um leão e
um urso e nada disse sobre isso, mas alguns fazem uma verdadeira entrada triunfal quando matam um camundongo.
O apóstolo Paulo, em vez de se vangloriar com o seu sucesso,
recomenda a si mesmo pela paciência, e ela é o requisito número
1 no seu relato. Paulo suportou problemas, adversidades, angústias, prisões, revolta, trabalhos pesados, noites sem dormir, e fome
durante seu ministério, e tudo na muita paciência (2 Co 6.4,5).
Recomendando-nos a nós mesmos … na muita paciência (v.4)
está na conjugação ativa, e não passiva. Quando os problemas
chegam, as pessoas pensam que sentar-se passivamente, forçar
um sorriso e agüentar tudo é uma atitude muito espiritual.
Paulo não fez nada disso, mas procurou encontrar meios de traduzir resistência em atividade, de fazer de si mesmo um exemplo
de como manter e sustentar a graça de Deus. Ele escreveu suas
epístolas aos Efésios, Filipenses e Colossensses enquanto estava
preso em Roma. Quando teve de passar por provações físicas e
mentais, ele levantou-se, deu-lhes as boas-vindas e fez o melhor
que pôde para a glória de Deus. Ele viu as adversidades como
sendo oportunidades para demonstrar o poderoso agir de Deus
na sua própria vida.
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Capítulo 7 • Um Projeto Para o Evangelismo
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Elementos de um Verdadeiro Ministério
Em 2 Coríntios 6.6,7 Paulo descreve os elementos positivos do
verdadeiro ministério, exibindo pureza, entendimento, paciência, bondade, presença do Espírito Santo, amor sincero, falar
honesto, e o poder de Deus; tudo isso sem o uso de nenhuma
arma, exceto retidão em ambas as mãos, significando nenhuma
arrogância ou hostilidade.
Indiferença à Opinião Pública
Nos versos de 8 a 10, desse mesmo capítulo, Paulo descreve sua
indiferença a todas as reações do público e dos oficiais com
relação aos seus trabalhadores. Paulo se dispõe a julgar-se a si
mesmo; ele não aceita bajulação, é honesto consigo mesmo e
sabe o que ele é e o que não é.
Paulo tem senso de auto-crítica. Se ele passasse por um tempo
ruim na cidade, ele iria dizer, e não fingiria que tudo havia sido
maravilhoso. Ele descreveu a verdade sobre
Não somos
o seu trabalho e sobre si mesmo, e depois
chamados
a sermos
mostrou como o mundo tem uma visão
testemunhas
completamente oposta. Contudo ele contido nós mesmos,
nua firme, indiferente à glória ou à desonra.
mas para sermos
Para ele, se os relatórios são bons ou ruins,
testemunhas
é tudo a mesma coisa. Ele é franco e verdado Senhor
deiro, mas foi tratado como um impostor;
tratado como um ninguém, embora fosse famoso; tratado como
se tivesse à morte, mas continuava muito ativo; castigado, mas
não morto; entristecido, mas sempre alegre; tratado como pobre,
mas enriquecendo a muitos (agora milhões); não tendo nada,
mas possuindo tudo.
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O Tempo está se Esgotando
Na verdade, Paulo foi o supremo pioneiro do Evangelho. Deus
o escolheu para esse específico e esplendoroso privilégio, e certamente ele nos forneceu um perfeito modelo humano de servo
de Deus. Ele voltou a dizer aos Coríntios: Falamos abertamente a
vocês, coríntios, e lhes abrimos todo o nosso coração (2 Co 6.11). Para
mim isso parece expor o segredo de um dos maiores homens que
jamais viveu e serviu a Deus. As pessoas tentaram machucar seu
coração, mas ele revidou com as mãos cheias de ajuda e cura.
Se queremos causar uma boa impressão como testemunhas, isso
não será como profissional, pessoas auto-suficientes, espertas.
Não somos chamados a sermos testemunhas do nós mesmos,
mas para sermos testemunhas do Senhor, relembrando às pessoas o próprio Jesus, cujo sofrimento em nosso favor nos deixou
um exemplo a seguir. Como Pedro disse, somos “desgarrados
como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da
vossa alma (1 Pe 2.25).
Talvez, um dos melhores treinamentos em evangelismo, seria
nos afastarmos por um dia, e relacionarmos cada um dos itens
de recomendação de Paulo, em 2 Coríntios 6, paralelamente
com a nossa vida, e ver como as nossas prioridades se ordenam.
Será que temos sido verdadeiros conosco mesmos e com a nossa
comissão? Se estivermos, também o seremos com Deus. Esse é o
melhor método que qualquer um pode seguir.
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Capítulo 8
AÇÃO NO LIVRO DE ATOS
P
odemos analisar planejamentos, conversas, orações; contudo, depois de tudo, devemos agir – faça isso e evangelize.
Certa ocasião, Smith Wigglesworth estava viajando de navio e,
do seu jeito costumeiro, durante uma conversa, conseguiu impor
o seu ponto de vista entre os passageiros. Um clérigo quis dar
continuação à disputa com sua argumentação, mas a resposta de
Smith foi igualmente direta: “Os Atos dos Apóstolos só foram
escritos porque eles agiram, em vez de ficarem discutindo”.
O livro de Atos mostra uma Igreja em ação. A partir daí, podemos ganhar mais sabedoria enquanto prosseguimos com afinco.
E é por isso que gostaríamos de dar uma olhada nesse livro
nos próximos dois capítulos. Vamos começar fazendo algumas
observações básicas sobre essa magnífica obra e sobre o homem
que viveu tudo isso.
Como Obter Resultados
Colocando de modo simples, se agirmos como os apóstolos,
vamos obter os mesmos resultados que eles. As pessoas, hoje,
falam sobre o livro de Atos como sendo o retrato do modelo de
avivamento; mas não foi o que aconteceu. Foram os discípulos
que fizeram isso acontecer. Eles receberam o Espírito Santo no
Cenáculo, e saíram para atear fogo no mundo.
Eles não precisaram de nenhuma experiência adicional além de
se entregarem à oração e à Palavra de Deus. Eles não ficaram
no Cenáculo aproveitando a sua experiência e tentando prolongá-la, procurando receber mais do Espírito; afinal, o Espírito
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O Tempo está se Esgotando
Santo não nos é dado para deleite próprio. Os discípulos saíram
cheios do poder divino e proclamaram a maravilhosa verdade do
que haviam recebido. Então, Deus fez a mesma coisa por onde
passavam. Pedro falou que os novos convertidos, em Samaria,
receberam o mesmo dom que os apóstolos haviam recebido no
início (At 11.15-17).
Homens de Ação
Os discípulos não só oraram e depois ficaram sentados, esperando que Deus, através de um contato direto com os incrédulos, entrasse “em campo”, convertendo o mundo, sozinho.
Era trabalho dos discípulos fazer o contato inicial; eles saíram
pelo mundo, dando oportunidade ao Espírito de poder fazer o
mesmo, através deles. Marcos 16.20 diz: … cooperando com eles
o Senhor. Aqui não diz que eles foram com
Eles saíram
o Senhor, mas que eles foram e o Senhor
pelo mundo,
foi junto.
dando oportunidade
ao Espírito de poder
fazer o mesmo,
através deles.
Se verdadeiramente seguirmos a Jesus,
Ele também nos seguirá. Deus também
se moveu quando e onde os apóstolos se
moveram. O esforço natural libera o esforço divino; e o Espírito
trabalha onde nós trabalhamos. Não é todo o trabalho de evangelismo que produz avivamento, mas nunca houve um avivamento sem houvesse evangelismo. O homem precisa do poder
de Deus e Deus precisa de mão de obra.
Aproveitando as Ferramentas ao Máximo
Os métodos apostólicos não foram escritos para nos dizer exatamente como as coisas são; afinal, eles não são sacrossantos, ou
regras e regulamentos definitivos. Entretanto podemos aprender
que os apóstolos moldaram o evangelismo às circunstâncias e
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
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à perspectiva do tempo deles. Quanto a nós, devemos fazer o
mesmo nessa nossa era de telecomunicações e internet. As pessoas de hoje pensam diferentemente das gerações anteriores. O
texto bíblico nos traz a verdade, e nosso trabalho é comunicar
essa verdade – e comunicar de maneira efetiva.
O Estilo de Vida do Rico Espiritualmente
Vamos ser sinceros: os apóstolos fizeram coisas que, geralmente,
nem sonharíamos em fazer. Por exemplo, eles lançaram sorte
para ver quem substituiria Judas Iscariotes como um dos doze
(At 1.23-26). Não conheço nenhuma denominação hoje que
ousaria seguir esse exemplo. Imagine escolher um presidente,
usando o critério de quem sair com o número maior, ou na base
do “cara ou coroa!”
A Bíblia relata que, em Jerusalém, os crentes juntaram seus
bens e gozavam de um padrão de vida igual. Entretanto, aquele
estilo de vida não funcionou muito bem, e logo foi abandonado.
Quando Paulo quis ajudar aos cristãos judeus, ele não ajuntou
recursos em outras igrejas; teve de fazer um forte apelo às igrejas
gentias, para que contribuíssem. O comUnidade não
partilhar os bens também não preveniu a
é uniformidade;
pobreza no meio dos cristãos, na Judéia.
nas Escrituras
(Provavelmente tenha sido exatamente isso unidade compreende
o que causou a pobreza!). Conheço alguns
variedade.
cristãos que até hoje estão tentando viver
em comunidade. Eles acreditam que seja o nosso modo de ver as
coisas, hoje, que diz que a tentativa da Igreja Primitiva de viver
uma vida em comum tenha fracassado.Entretanto os apóstolos
nunca disseram que um viver comum era regra dada por Deus
para todas as gerações que viriam.
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148
O Tempo está se Esgotando
Algumas pessoas imaginam que havia uma ordem divina,
compelindo os cristãos a uma dada cidade, com o propósito
de formar um único centro organizado da igreja. Contudo,
naqueles tempos não houve grupos de igrejas organizadas; pelo
menos como conhecemos hoje. Um determinado grupo na
igreja, com uma lista definida de associados, teria sido considerado um grupo rebeldes.
Quando Paulo escreveu à igreja nas cidades, ele não tinha endereço postal. Ao nomear as igrejas, ele simplesmente pensou em
todos os cristãos daquela área, de maneira geral. Talvez eles estivessem divididos em grupos, tendo o nome de um ou outro líder,
como estavam em Corinto. Mas Paulo os reconheceu, a todos,
como “a Igreja”. Naquela época as cidades eram muito pequenas,
se comparadas com a maioria das cidades de hoje. Roma tinha
uma população de apenas um milhão de habitantes, Jerusalém
somente 50.000. Os grupos se encontravam em casas, cada um
com seu próprio “ancião”. Temos visto, em nossas campanhas
evangelísticas, que os cristãos das igrejas localizadas nas cidadess onde estamos pregando, sempre aparecem para nos ajudar;
como se fôssemos um só corpo. Unidade não é uniformidade;
nas Escrituras unidade compreende variedade.
Um Deus de Variedade
Cristo suportou
a escuridão
da noite por nós.
Ele pisou no véu
da morte da eterna
escuridão do abismo.
Mas mesmo ali,
Ele irradiou a Sua
luz eterna.
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O que o homem faz é algo muito diferente
do que Deus faz. Verificando o livro de
Atos, encontramos os princípios da bênção
de Deus em ação. Esse livro relata as manifestações do Espírito Santo. Podemos apoiar
nossas expectativas hoje no que lemos, uma
vez que o que Deus fez, Ele sempre fará.
Talvez Ele o faça de maneira diferente da que
já tenha feito, exatamente como Jesus curou
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
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os enfermos de diferentes maneiras. Deus não é uma máquina
copiadora. Sua Palavra não é como um software de computador,
onde você introduz um CD nele, e a mesma coisa aparece cada
vez. Deus opera mudança, mas não muda o Seu caráter.
O nosso Deus é o Deus da variedade. Alguém pode dizer que
uma folha de carvalho seja uma folha de castanha da índia;
entretanto Deus nunca faz duas folhas de carvalho iguais. Ele
faz o mesmo tipo de coisa, mas simplesmente nunca coloca no
mercado uma cópia da linha de montagem do que Ele fez. Seus
objetivos nunca mudam, e Ele os persegue por muitos caminhos. Deus não faz um bis ou repete suas proezas; Seu negócio
é encontrar cada um de nós, onde estamos, exatamente como
encontrou as pessoas há 2.000 anos.
O Papel de Jesus
Escrevi o primeiro livro … de todas as coisas que Jesus
começou a fazer e a ensinar (At 1.1).
Conforme diz o texto, Jesus havia apenas começado a fazer as
coisas que Lucas tinha escrito em seu evangelho. O escritor nos
conta aqui que Jesus continuou fazendo-as mesmo quando foi
levado ao céu; Ele deve ter continuado trabalhando. De fato,
não temos base para dizer que Ele tenha parado. Jesus partiu
desse mundo em forma física; entretanto, deu continuidade à
Sua obra. Lemos a Palavra para sabermos como era o Seu trabalho; depois olhamos ao nosso redor e esperamos ver e experimentar – e o fazemos!
A ausência de Jesus da terra não é igual à minha, da Alemanha.
Ele continua a trabalhar com os Seus servos em qualquer lugar
que eles estejam. Sua maravilhosa promessa é: E eis que estou
convosco todos os dias, até a consumação do século (Mt 28.20).
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O Tempo está se Esgotando
Se Cristo continua realizando o Seu trabalho, então é Ele
quem deve ter a palavra final em qualquer coisa que façamos.
Ele manda os Seus servos desempenharem tarefas específicas.
Devemos sempre nos lembrar que Ele nos diz que cada um tem
de Deus o seu próprio dom (1 Co 7.7). Ninguém pode ser coisa
alguma, a menos que o Senhor o tenha escolhido. Jesus disse:
Não fostes vós que escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a
vós outros e vos designeis para que vades e deis fruto (Jo 15.16). Ele
nos adverte: Sem mim, nada podeis fazer (Jo 15.5). Obviamente
podemos pregar sem Ele – e, infelizmente, muita gente está
fazendo isso – mas, no final, nossos esforços serão em vão.
Jesus disse: É necessário que façamos as obras daquele que me
enviou [o Pai], enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém
pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo
(Jo 9.4,5). O trabalho do Pai foi a criação. Ele não criou nas
trevas, mas primeiro disse: Haja luz (Gn 1.3). Mesmo o sol e a
lua, Ele os fez na luz, e Jesus usa isso como sendo o Seu exemplo,
pois Ele é a luz do mundo, e enquanto a luz estava brilhando,
muitos milagres aconteceram. João 9 relata que, mesmo um
homem cego de nascença havia sido criado para ver.
Entretanto, a noite estava se aproximando. A noite chegaria e,
durante três dias Jesus ficaria no túmulo. Parecia que a Luz do
mundo estava apagada na escuridão daquele túmulo empoeirado. Cristo suportou a escuridão da noite por nós. Ele pisou no
véu da morte da eterna escuridão do abismo. Mas mesmo ali,
Ele irradiou a Sua luz eterna.
João, no início do seu Evangelho, escreve: A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela (Jo 1.5).
Disseram-me que João usa uma palavra que é traduzida como
“prevalecer” (do grego katalambano) duas vezes, relacionada às
trevas. O segundo exemplo aparece em João 12.35, onde lemos:
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
151
Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos alcancem.
João está dizendo que, enquanto andarmos na luz, a escuridão
não poderá prevalecer contra nós.
As trevas não podem triunfar sobre a luz. As trevas do inferno
e da morte não podem engolir a luz do céu. Nem a mais densa
das escuridões pode fazer com que a luz de uma vela irradie a
sua claridade. A morte de Jesus interrompeu tanto o Seu ensino
como o Seu ministério de cura e libertação. Desde o momento da
prisão de Cristo, até a vinda do Espírito Santo, os discípulos não
realizaram milagres de cura. Contudo, logo depois a luz brilhou
novamente e eles puderam continuar o trabalho do Mestre.
O Papel dos Discípulos
Esses, a quem Jesus envia, são Seus agentes autorizados. Todos
nós já devemos ter lido sobre ocasiões quando Jesus mandou
Seus discípulos em missões para estender Seu próprio trabalho. Em Mateus 10.1 lemos: Tendo chamado todos os seus doze
discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para
os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades. Em
Lucas 10 Ele os instruiu especificamente a curar os enfermos, e
então continuou dizendo: Eis que vos dei autoridade para pisardes
serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do
Podemos pedir
inimigo (Lc 10.19). Todavia, quando Jesus
qualquer coisa que
morreu e fez somente aparições ocasionais,
estiver de acordo
aparentemente os discípulos não realizaram com a vontade dEle.
nenhuma obra. Quando, porém, o Senhor Suas promessas não
enviou o Espírito Santo no Pentecoste, Seu
querem dizer que
Deus
está esperando
trabalho continuou através deles.
Hoje, Jesus está fisicamente ausente do
mundo, e a Igreja visível se tornou o Seu
corpo. Os crentes têm uma “procuração”
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por nossas ordens.
Ele não é o nosso
garçom à espera
em nossa mesa.
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O Tempo está se Esgotando
para agirem em Seu nome na continuação do Seu ministério,
com Seus poderosos recursos e suprimentos à disposição. Somos
Seus executivos em qualquer escritório que Ele nos designar.
Seus recursos estão lá para nos equipar, para que possamos realizar o Seu trabalho. Graças a Deus não temos de sair desarmados
e sem forças.
Jesus nos garante: Tudo o que pedirdes ao Pai, em meu nome, Ele
vo-lo concederá (Jo 16.23). Essa promessa está relacionada com
o trabalho de Deus, que promete atenção ao nosso chamado
quando obedecemos ao Seu chamado. Podemos pedir qualquer
coisa que estiver de acordo com a vontade dEle. Suas promessas
não querem dizer que Deus está esperando por nossas ordens.
Ele não é o nosso garçom à espera em nossa mesa, ou um mágico
a quem podemos chamar, bastando para isso esfregar uma lâmpada nas mãos.
Ele não prometeu encher nossa carteira ou nossa conta bancária. Ele também nunca prometeu nos fazer ricos, com anéis
brilhando nos dedos enquanto dirigimos nossos carros luxuosos.
O que pedimos deve ser para o Reino. Jesus disse que não deveríamos nos focar em coisas, mas no Reino. Por favor, não me
entenda mal; bens materiais não são piores para os cristãos do
que o são o sol ou a chuva. Todavia, eles não têm valor eterno. O
mais importante é a convicção de que bondade e misericórdia me
seguirão todos os dias da minha vida (Sl 23.6). Bondade e misericórdia, porém, só nos seguirão quando seguirmos ao Senhor.
O Nome de Jesus
Temos autoridade para desempenhar qualquer tarefa que Jesus
nos tenha confiado. Estamos autorizados a agir no Seu nome,
e nos levantarmos nesse nome (veja João 14.14 e 16.23,24).
Entretanto, esse nome não é uma fórmula, que deve ser repetida
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
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a cada vez que fizermos algo. É claro que não há nada de errado
em dizer “no nome de Jesus”; com isso estamos simplesmente
estabelecendo a base da nossa autoridade. Todavia, não adquirimos poder com isso, ou tornamos as nossas palavras milagrosas
dessa maneira. Temos poder para fazer qualquer coisa que Ele
nos confiar. Ter fé no nome de Jesus significa ter fé na Pessoa de
Jesus, e isso é suficiente.
Esse importante princípio espiritual está ilustrado na primeira
cura realizada por um dos apóstolos, registrada em Atos 3.
Pedro disse: … no nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta e
anda (At 3.6). Mais tarde, o mesmo Pedro executou atos de cura
divina usando uma abordagem diferente.
Pedro curou um paralítico, dizendo: Enéias, Jesus Cristo te cura;
levanta e faze a tua cama. O que aconteceu depois disso? O
texto conclui: E logo se levantou. (At 9.34). Jesus foi claramente
identificado como a fonte da cura, mas Pedro não usou a antiga
e repetida fórmula: “Em nome de Jesus”. Depois ele foi levado
até onde estava o corpo de Dorcas, pouco antes do enterro. Ele
a levantou da morte mesmo sem mencionar o nome de Jesus.
Primeiro ele se ajoelhou e orou e, então, voltando-se para o
corpo, e disse: Tabita, levanta. E ela abriu seus olhos, e quando
ela viu Pedro, se sentou. E qual foi o resultado? Muitos creram
no Senhor (Atos 9.40-42 – ênfase do autor). As pessoas creram
em Jesus e não em Pedro, apesar de ele não ter mencionado o
Senhor quando ele levantou Dorcas da morte. As marcas de
Jesus são inconfundíveis.
Pregue, Ensine, Cure
Os ensinamentos de Jesus podem ser resumidos nestas três ordens:
“Pregue! Ensine! Cure!” Sua autoridade cobre tanto o ensino
como a cura. Somos enviados a ensinar o que Cristo ensinou, e
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O Tempo está se Esgotando
a fazer o que Cristo fez. E fazemos isso “no nome de Jesus”; isto
é, como Seus representantes autorizados. Ele ensinou e agiu no
nome do Pai, e nós ensinamos e agimos no nome de dEle.
Algumas vezes realizamos curas no nome de Jesus, mas continuamos a pregar em nosso próprio nome. Contudo, nossa palavra
é somente uma opinião, e não fomos enviados a pregar opiniões. Declaramos a Sua Palavra, não a nossa. A autoridade que
temos está apoiada na dEle. Atos 4.2 nos fala que os apóstolos
pregaram em Jesus a ressurreição da morte. Lemos que quando
eles foram presos, os membros do conselho chamaram-nos e lhes
mandaram que não falassem absolutamente em o nome de Jesus,
tampouco ensinassem esse nome. (At 4.18).
Será que realmente apreciamos a pregação? Jesus saiu ensinando
nas sinagogas dos judeus, pregando o Evangelho do Reino, e
curando todos os tipos de males e enfermidades entre as pessoas
(Mt 4.23). O que costumamos chamar de pregação – sermão
de domingo em uma igreja, para uma determinada congregação
– é o que a Bíblia chama de “ensino”. Ensino bíblico não é um
sermão, mas a proclamação de um mensageiro.
Como embaixadores do Reino não temos o direito de impor
nossas idéias às pessoas; somente de anunciar o que o nosso Rei
deseja comunicar. O essencial em tudo isso é que somos mensageiros com autoridade para proclamar a
Como
Palavra de Deus. Nosso trabalho é anunembaixadores
ciar a verdade do Evangelho.
do Reino não
temos o direito de
impor nossas idéias
às pessoas;
somente de anunciar
o que o nosso Rei
deseja comunicar.
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Essa é novamente a razão porque Jesus
disse: Se permanecerdes em mim, e as minhas
palavras permanecerem em vós, pedireis o
que quiserdes, e vos será feito (Jo 15.7). Se
o Evangelho permanece em nós, então
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
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podemos pedir que o quisermos para proclamar isso. Se desejarmos poder, paciência, coragem, força, e sabedoria para fazer o que
Ele nos chamou para fazer, podemos pedir que receberemos.
Quando menciono autoridade, não estou dizendo que devemos gritar e desferir golpes no ar, pois isso não é demonstração de autoridade. Não faço objeção a sinais, mas autoridade é
um segredo escondido dentro do nosso coração. Ousamos nos
expressar com autoridade porque estamos profundamente convictos da sua verdade. Isso não é dogmatismo, mas confiança
de que o Espírito Santo convence os nossos ouvintes. A autoridade se apóia na fé na Palavra de Deus, e na consciência do Seu
Espírito em nós.
Executando a Palavra
É concenso de todos na igreja que devemos continuar o que Jesus
começou a ensinar. Contudo, não podemos simplesmente ensinar, e omitir as obras que Ele fez. Devemos curar, assim como
ensinar. Se não o fizermos, não haverá continuidade do ministério de Cristo, e teremos completado apenas a metade da tarefa:
Portanto ide, fazei … ensinado-os a guardar todas as coisas que
eu vos tenho mandado (Mt 28.19,20).
Não temos permissão para separar o ensino do Senhor da cura,
pois eles se completam. Ele ensinou através do que fez e disse.
Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis (Jo 10.37). A
autoridade do Seu ensino baseava-se nos Seus milagres, e Seus
milagres, no Seu ensino. Assim, se ensinamos o que Ele ensinou,
faremos o que Ele fez, ou nosso ensino se tornará apenas acadêmico. Jesus disse: outras maiores fará, porque eu vou para junto do
Pai (Jo 14.12). Ele gastou a metade do seu tempo curando. Ver
a sua morte como fim desse ministério é, simplesmente, não dar
crédito a um Cristo imutável.
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O Tempo está se Esgotando
É assim que a Igreja se torna, novamente, a manifestação de
Cristo em um mundo necessitado. Sua compaixão flui do nosso
coração, pode ser vista por intermédio do nosso olhar, e move os
nossos pés como moveu os do Senhor. Nossas mãos se tornam
Suas mãos, e nossa voz a Sua voz. Nossos braços de amor são os
únicos braços que Ele tem para usar aqui na terra. Nada podemos fazer sem Ele, e Ele não fará nada sem nós.
Verdade Viva
A verdade do Evangelho é uma verdade viva, e não uma coleção
de propostas. Algumas pessoas, porém, se referem a ela como
sendo “simples mensagem do evangelho”. Podemos examinar
uma meia dúzia de textos bíblicos, e cada um deles vai nos dizer
o mesmo: “Você é um pecador. Você vai para o inferno, Cristo
levou os seus pecados. Creia e receba o perdão, e então você irá
para o céu.” Todas essas afirmações são verdade. Outras religiões
podem comparar suas teorias a essas, mas o Evangelho não é
uma fórmula, ou um credo, ou uma lista de declarações e definições formais. ELE É PODER.
E esse Evangelho se manifesta de forma plena tanto por meio
de palavras, como por meio de ação – e não somente por meio
das nossas ações, mas por meio do trabalho do Espírito Santo.
Para ensinar o que Jesus ensinou devemos fazer o que Jesus fez.
Se pregarmos um evangelho sem milagres, estaremos mutilando
a verdade. Tiago nos encoraja a sermos praticantes da palavra
(Tg 1.22) e João nos fala para não amarmos de palavra ou de
língua, mas de fato e de verdade (1 Jo 3.18).
O resumo da moral e do ensino ético é o ensino de Jesus; entretanto, sem o elemento milagre, esse ensino fica sem vida. As
pessoas falam muito sobre princípios cristãos, mas se esquecem
de que o maior princípio de Cristo é que Ele veio trazer a vida
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
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de Deus ao mundo. O ser humano, entretanto, não entendeu
isso. Nenhum ensino moral poderia ocasionar as conversões
que vemos hoje no mundo – homens maus, feiticeiros, ladrões
e bandidos violentos se rendendo ao Senhor. Devo descansar
absolutamente no poder miraculoso da Palavra de Deus. E até
onde isso tem a ver com cura, é secundário quando comparado
ao poderoso efeito do Evangelho sobre a vida das pessoas.
A moral cristã e os milagres andam juntos; e sem a revelação
de um Deus ativo, a ética e a moral estão mortas – são apenas
legalismo frio e mecânico. Todo o ensino de Cristo era uma
revelação calorosa e viva do Pai. A Palavra diz que Jesus sempre
fez as coisas que o Pai fez (Jo 5.19), incluindo curas. Como o Pai
enviou Jesus, Jesus nos envia a nós; esse é um mandato transferido. Nosso trabalho não é simplesmente falar às pessoas para
que elas sejam amáveis e bondosas; mas ajudá-las a começar um
relacionamento com Jesus, como o que Ele tinha com o Pai – o
resto depende disso.
Mais que Intelecto
O Evangelho é muito mais do que um evangelho intelectual.
Ele provoca um efeito interno, algo muito como emoção – fogo
na alma. Quando lemos a Bíblia sem emoção, não a lemos
propriamente. Devemos permitir que a Palavra mexa conosco.
Quando a lemos com a alma, algo fala dentro de nós e diz, “Isso
é verdade”.
O evangelismo requer algo mais do que
simples conhecimento acadêmico. O
Evangelho não é algo que você pode decorar, como uma fórmula a ser memorizada.
Não é somente informação; é a voz da verdade amplificada na nossa alma.
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O Evangelho
não é algo que você
pode decorar,
como uma fórmula
a ser memorizada.
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O Tempo está se Esgotando
O cristianismo também não é meramente uma declaração de
fatos históricos ou uma lista de crenças, e Jesus não é simplesmente uma figura histórica. O Evangelho é uma força dinâmica
e doadora de vida doada, e deve ser aceita
Evangelismo não
pelo homem interior, assim como pelo inteé nada menos do que
lecto. A menos que o evangelismo toque o
Deus demonstrando o
coração das pessoas, será completamente
Seu amor às pessoas
inútil; apenas uma ortodoxia acurada. O
através de nós.
êxito da mensagem do Evangelho não se
baseia em lógica. O cristianismo não fica devendo nada à lógica
ou à filosofia grega. O ensino de Cristo anula a sabedoria desse
mundo – quer seja ela a sabedoria de Aristóteles, Platão, Buda
ou Lao Tsu.
Os antigos professores cristãos cometeram um grave erro ao
tentarem demonstrar que o cristianismo era um sistema racional. Igualmente, seus inimigos trataram o Evangelho da mesma
maneira, tentando desmenti-lo. Jesus, entretanto, não veio para
nos dar um sistema racional, mas para tocar nossa vida e nos
salvar. As pessoas nunca crerão em Deus movidas pela razão,
mas abrindo o coração à Sua voz e à iluminação divina. Cremos
no que cremos por ser a verdade, e é isso que nos move e mexe
conosco. Nossas crenças são como a música, a poesia do céu que
desafia a lógica humana. O Evangelho é amor, puro amor, e
nada menos razoável do que amor. Ele foi chamado de loucura,
mas é ele, e não a lógica, que faz com que o mundo gire.
Evangelismo não é nada menos do que Deus demonstrando o
Seu amor às pessoas através de nós. A igreja teve o seu início
com o derramar do Espírito movendo os apóstolos, bem como
as pessoas que ouviram a pregação de Pedro. Tudo o que essas
pessoas sabiam era que, sete semanas antes, haviam crucificado
a Jesus, e estavam sendo acusadas de Sua morte. Pedro tinha
estado com Jesus. Ele O adorou, O imitou e, creio, até pegou o
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
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Seu jeito de falar; entretanto, uma coisa parece clara: apesar de
ter acusado a multidão, ele não provocou-lhes a ira. Seu tom não
era hostil e ele não estava declarando guerra a eles. Talvez suas
palavras tenham sido de reprovação, mas ele falou a verdade em
amor. Essas pessoas haviam matado o seu melhor amigo, mas
ele lhes falou que Deus as havia perdoado, e que lavaria os seus
pecados.
Fico me perguntando por que a multidão aceitou a acusação de
Pedro, e creu na história de Cristo ter sido exaltado e colocado à
direita de Deus. Será que foi só porque Pedro falou? Apenas isso?
Obviamente que não; havia forças espirituais agindo. Afinal de
contas, essas revelações não eram mero dogma ou declarações.
As palavras de Pedro foram como um gancho preso na alma
daqueles ouvintes. Cristianismo é fé de coração, e não um processo intelectual.
O Espírito de Deus interpretou as palavras de Pedro para o
coração dos ouvintes. Pedro declarou que Jesus havia ressuscitado e feito Senhor e Cristo; e esse não era o conceito mais
fácil para uma mente humano assimilar e
aceitar. Todos os pregadores do Evangelho Nossa personalidade
responde ao poder
devem esperar pelo grande Intérprete. Não
que está por trás
é prudente insistir demais em seu ponto
da criação:
ou mesmo tentar amedrontar o não cono amor de Deus.
vertido; se o fizermos, vai parecer a eles
que a mensagem não tem poder. E se argumentarmos demais,
pensarão que é apenas uma questão de ponto de vista. Declare
a verdade, sem questionar, como fez Pedro; e as pessoas ficarão
alegres por acharem descanso para a sua alma.
Chegou a hora de contarmos ao mundo que o nosso universo
não é um universo científico, e que as leis da ciência contam
somente um lado da história. O mundo foi feito para o amor,
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O Tempo está se Esgotando
por amor, e fundamentado em amor, para o deleite do Filho de
Deus. A verdade não pode ser expressa através da matemática,
da mesma forma que o ser humano também não. Se uma pessoa
sabe que idade eu tenho, quanto peso e um pouco mais de informações sobre mim, não quer dizer que ela me conheça. O meu
verdadeiro eu somente aparece, de vez em quando, por meio do
que eu faço. Essa é a verdade. Talvez um lado de mim possa ser
examinado por meio de um processo racional, em laboratório,
ou por químicos e físicos; mas há muito mais do que isso. Há
uma natureza nos homens e nas mulheres que não pode ser descoberta pelo bisturi do cirurgião. Nossa personalidade responde
ao poder que está por trás da criação: o amor de Deus. Assim
fomos criados, e é por isso que o Evangelho nos impacta tão
profundamente.
Um Evangelho de Fogo
E apareceram distribuídas entre eles, línguas, como de
fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram
cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito Santo lhes concedia (At 2.3,4).
Fogo! O nosso Evangelho é um evangelho de fogo. E o fogo em
homens e mulheres significa calor, animação, energia e prazer.
Os discípulos tinham uma fé viva e positiva, adicionada a uma
pulsante energia que os fazia querer ir. Eles não eram nem possuídos e nem obcecados por Deus, mas eles ficaram em brasas
com amor e avidez.
O que aconteceu com o cristianismo moderno? Por que ele é tão
frio e calculista, sóbrio e inadequado? Será que, de repente, a
tolerância só se aplica ao puritano e sério? Nessa idade da razão,
se as pessoas deixam o zelo mostrar e falar das suas experiências
com o Senhor, o testemunho delas é ridicularizado como sendo
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Capítulo 8 • Ação no Livro de Atos
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um mero entusiasmo – dizem que são “meio” desequilibradas;
estão malucas. O mundo pode ficar louco; entretanto, a Igreja
tem que ser digna e sã. Infelizmente, com o passar das eras, a
Igreja perdeu a sua reputação de ser um lugar de fogo. O povo
de Deus aprendeu a se mostrar racional e seguro; mas o mundo
está procurando algo com o que se empolgar.
Por que o cristianismo tem de significar quietude, calma e suavidade? Por que as pessoas falam sobre oração como sua “hora
tranqüila”?. Oração não era nem um pouco um tempo de tranqüilidade em Atos dos Apóstolos! Duas vezes, pelo menos, a
oração chegou a provocar terremotos (At 4.31; 16.26). Se você
estivesse no primeiro andar da casa, quando ela começou a
tremer, com certeza você iria querer saber. Logo perguntaria: “O
que está acontecendo? O que eles estão fazendo lá em cima?”
Eles estavam apenas orando.
O mundo não pode entender o que é que gira como um vento
impetuoso e queima como fogo em nossa alma; mas eu não vou
privilegiar o mundo sufocando a minha alegria. Se eles não aprovam, então vou deixá-los experimentar por eles mesmos para que
vejam que o Senhor é bom (Sl 34.8).
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Capítulo 9
HOMENS COMUNS,
MENSAGEM
EXTRAORDINÁRIA
C
onsidero a Bíblia, com suas linhas de impressão delicada,
como as janelas de treliça que a gente vê nos países orientais. Imagino como se o Senhor estivesse de pé, atrás daquela
treliça, olhando para nós enquanto lemos. Se olharmos de perto,
veremos os Seus olhos entre as linhas. Ele está por trás da Sua
Palavra.
Mesmo que isso não seja um pedido de desculpas, gostaria de
dizer que não este livro não é um estudo acadêmico. Embora
sempre que posso, costumo prestar bastante atenção às pessoas
estudadas, e sempre ganho muito com isso, existe um outro lado
das coisas de Deus que precisamos entender; algo chamado “discernimento espiritual”.
Restringir o interesse de alguém apenas nas questões acadêmicas
é perder um aspecto muito importante da vida religiosa e que é
vital para o trabalho de Deus. Há coisas a serem ditas que não
aprendemos na sala de aula. Quase posso ouvir o Espírito dizer:
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça (Ap 2.7). Quero compartilhar
aqui algumas coisas que acredito que Deus esteja nos falando
hoje, através da Sua Palavra.
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O Tempo está se Esgotando
Evangelismo na Igreja Primitiva
Com relação ao evangelismo, o livro de Atos é o livro chave da
Bíblia, escrito para mostrar como os discípulos começaram a
cumprir a ordem de pregar o Evangelho a toda a criatura. Agora,
o que isso significou naqueles dias? Certamente eles não armaram uma tenda e fizeram propaganda em jornal ou televisão!
Vamos dar uma olhada no que Jesus queria que eles fizessem.
A Mensagem
Lembre-se de que a Igreja Primitiva estava se arriscando a fazer
algo que ninguém jamais havia feito desde o começo do mundo:
evangelizar. A palavra grega evangel significa boas novas, e os
discípulos transformaram a sua boa nova em um modo de vida.
Eles foram pioneiros de um conceito, o qual lançou os alicerces e
construiu a Igreja mundial. Eles não foram apenas os primeiros
missionários, também foram os inventores de missões.
Antes deles ninguém tinha falado sobre um assunto que valesse a
pena ou que fosse digno de ser levado a outras nações. As pessoas
tinham seus deuses, ou ídolos, mais por obrigação; esses deuses
estavam mais para parasitas problemáticos do que qualquer
outra coisa. A Baal, Apolo, Diana, não era dado qualquer tipo
de afeição. Eram considerados tiranos esquizofrênicos, alguém
que precisa ser agradado e aplacado. As autoridades de alguma
cidade não fariam nada sem, antes, reconhecer adequadamente
um ou outro deus. Afinal, se falhassem, estariam se arriscando a
trazer vingança divina sobre elas.
Os Mensageiros
Os discípulos eram homens comuns. Mas quem eles realmente
eram? Poderíamos dizer: ninguém. Aliás, eles eram simplesmente
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 165
qualquer pessoa. O que Jesus operou por intermédio deles,
poderia ter feito com qualquer um – até mesmo você ou eu.
Certamente eles não eram especiais; longe disso. Certo dia, no
início de Seu ministério, Jesus estava andando ao longo da praia
e viu alguns rapazes da região. Ele os havia encontrado antes,
mas naquela manhã os escolheu, aparentemente aleatoriamente.
Por que não? A questão não era quem eles eram, mas o que Jesus
poderia fazer por intermédio deles. É assim que sempre foi.
Lemos que antes de Jesus escolher os 12 discípulos, Ele passou
a noite em oração (Lc 6.12). Não sabemos o que, ou como Ele
orou, mas cremos que o Senhor procurou na mente do Pai, quais
daqueles setenta ou mais discípulos Ele escolheria. Será que precisava realmente disso? Precisava mesmo
A Igreja Primitiva
gastar toda uma noite para Deus lhe dar
estava
se arriscando
os doze nomes? Agora eu pergunto: Deus
a fazer algo que
deu a Ele qualquer nome? Não poderia
ninguém jamais
ser qualquer pessoa, bastando que Deus
havia feito desde
os autorizasse? Talvez Jesus estivesse, mais o começo do mundo:
uma vez, travando uma batalha para escoevangelizar.
lher segundo o coração de Deus, em vez
de segundo as qualidades humanas. Era realmente tentação não
escolher entre esse punhado da ralé, mas achar homens sábios,
homens de alto calibre e educação, homens da envergadura de
Nicodemos, José de Arimatéia ou alguns dos rabinos superiores?
Garantir o futuro de tudo o que Jesus veio para fazer, com um
punhado de jovens camponeses, inexperientes, deveria ser um
pensamento terrível!
Quando Jesus foi preso e crucificado, aqueles Doze não Lhe serviram de nenhum suporte. Todos fugiram e O abandonaram. O
chefe deles negou ter qualquer conhecimento de Jesus de Nazaré,
chegando até mesmo a jurar e amaldiçoar. E pensar que Jesus
deixou a Grande Comissão nas mãos de pessoas como essas!
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O Tempo está se Esgotando
Realmente, quando analisamos o que eles eram no começo, podemos bem pensar que todo o projeto de propagar a mensagem da
fé cristã estava arruinado. Eles não conheciam ninguém, e nem
tinham conexões com pessoas importantes. Eram ignorantes
quanto ao mundo, política, e filosofia. Naquela época os gregos se
vangloriavam da sua grande sabedoria, os romanos do seu imenso
poder; mas, e esses discípulos, o que poderia um punhado de
homens, na sua maioria camponeses ou pescadores, e sem uma
educação razoável, fazer para ganhar o mundo? Eles nem sequer
falavam direito! As diferenças eram pesadas contra eles.
Além disso, Jesus os mandou sair sem dinheiro,e lhes disse
para não pegarem emprestado com ninguém. Contudo, eles O
decepcionaram quando veio a provação. Mesmo quando Ele Se
levantou da morte, teve de repreendê-los por não crerem no que
viram. Então, como poderiam fazer com que outros cressem?
Entretanto, foram eles que viraram Jerusalém de ponta cabeça e,
mais tarde, todo o Império Romano. Surpreendente! Mas isso é
absolutamente possível com Jesus. Como nos diz as Escrituras,
a Sua força se aperfeiçoa na nossa fraqueza. Usando coisas sem
nenhum valor, Ele tem o poder de transformar em nada as coisas
que são de algum valor. Deus escolheu os menos favorecidos
para mostrar que Ele é tudo em todos.
O Senhor tem prazer em realizar coisas como essas. Vamos olhar
a história de Gideão, registrada em Juizes de 6 a 8. Ele exigiu
saber onde estava o Deus do Êxodo, com todos os Seus poderosos milagres. Então Deus se mostrou a ele derrotando um vasto
exército de árabes, e usando apenas trezentos homens que não
tinham absolutamente nenhuma arma – somente tochas, trombetas e jarros de barro! Não é um grande homem que importa,
mas se tudo o que esse homem possui está entregue nas mãos de
Deus.
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 167
A Pura Verdade
Os apóstolos foram acusados de mudar antigos costumes (ver
Atos 21.21), e foi exatamente isso o que eles fizeram. Eles sabiam
que aquele era um trabalho perigoso. O famoso filósofo Sócrates
foi sentenciado à morte por ateísmo; isto é, por não crer em
deuses. O trabalho dos apóstolos era mover uma montanha
– uma montanha de tradições e atitudes, as quais, por mais de
mil anos, haviam se tornado leis para a nação. Aliás, pregando
o Evangelho eles fizeram muito mais do que mudar maneiras e
costumes; mudaram totalmente o padrão de pensamento daqueles tempos, para penetrar no coração, alma e mente de homens e
mulheres. Doze homens ignorantes … imagine só isso!!!
Nosso trabalho não é tornar o Evangelho relevante para o mundo.
É claro que falamos ao mundo na sua própria linguagem; mas
a idéia de pregar a Palavra é interpretá-la
Garantir o futuro
para o entendimento dos ouvintes moderde
tudo o que Jesus
nos. Entretanto, a velha idéia era amoldar
veio para fazer,
o Evangelho aos padrões do mundo, para
com um punhado de
que as pessoas o aceitassem. Se o mundo jovens camponeses,
não acreditasse mais no sobrenatural, a
inexperientes,
solução era pregar um Evangelho desprodeveria ser um
vido do sobrenatural. E isso era uma trai- pensamento terrível!
ção à mensagem cristã, pois não podemos
fazer concessões! Para mudar o mundo, temos de ser diferentes
do mundo. Devemos desafiar o pensamento das pessoas. Se eles
não crêem, não podemos nos ajustar à sua incredulidade.
Os apóstolos pregaram a Cristo, e um Cristo crucificado. Nada
poderia ter assegurado mais fracasso à missão deles do que esse
fator. Afinal de contas, a crucificação era para os piores criminosos, os mais baixos dos baixos. Jesus foi colocado em uma
cruz, e ridicularizado por todos. De maneira nenhuma um Jesus
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O Tempo está se Esgotando
crucificado poderia ser a figura ideal para apelar a judeus ou gentios. Era desprezado, e rejeitado dos homens (Is 53.3). Mas aquele
era o Jesus que eles conheciam, e o único a quem pregaram.
E foi por intermédio da sua pregação que eles conquistaram o
mundo inteiro.
O mundo precisa se ajustar à Pessoa de Deus. Não podemos
pregar um deus feito à imagem desse mundo, mas o Jesus dos
Evangelhos – não algum ideal popular, mas o Jesus do Calvário.
Se O pregamos não mais que um curador, um suave, doce e
bondoso Jesus, então nós estamos ocultando a verdade. Não
podemos permitir que a nossa mensagem seja influenciada pelo
consenso público, noções humanas e nem preconceitos.
Jeremias encontrou um bando de profetas populares, que profetizaram coisas boas e agradáveis aos ouvidos do povo; e ele
disse: Ai deles (ver Jeremias 23.1-31). Pessoas que preferem não
encarar os fatos vão aprender pela maneira
Usando coisas
mais dura. Jesus é o Jesus da Bíblia, e não
sem nenhum valor,
podemos mudá-Lo para que se adeque aos
Ele tem o poder de
ideais do mundo.
transformar em nada
as coisas que são
de algum valor.
João Batista também achou o Cristo diferente das expectativas populares de Israel,
do Messias; entretanto, nem por isso Jesus mudou o seu modo
de ser. Não importa que Ele tenha desapontado a João, sua própria família ou qualquer outra pessoa. Ele era o que era e Sua
mensagem a João foi: … bem-aventurado é aquele que não se
escandalizar de mim. (Mt 11.6). Não somos moldadores ou feitores da mensagem. Paulo disse que Deus o havia encarregado do
Evangelho; ele era o seu guardador e não o seu criador. Somos
apenas comissários da verdade, e espera-se que o comissário seja
encontrado fiel (ver 1 Corintios 4.2). Um suposto Cristo, concebido como tal pelas pessoas, não teria poder para nos salvar.
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 169
O Evangelho Não é Religião
O Evangelho aboliu a religião e apresentou-nos Jesus. Sabemos
que o mundo conheceu conquistadores que invadiram terras
estrangeiras para saquear e matar seus inimigos, destruindo
muitas áreas e deixando-as desabitadas. Outros também conquistaram, mas com a intenção de forçar populações nativas a
adotar novos hábitos e novas crenças. Contudo, ninguém jamais
viajou para terras estrangeiras, enfrentando muitos riscos, simplesmente para amar as pessoas, curá-las, abençoá-las e tirá-las
da sua confusão.
Quando Paulo pregou em Atenas, os moradores daquela cidade
disseram: Parece pregador de estranhos deuses (At 17.18). Mas os
apóstolos não sugeriram apenas uma simples troca de deuses; por
exemplo, Cristo em vez de Diana. Jesus não era simplesmente
um deus diferente e mais agradável. Para a maioria dos gregos,
deuses eram somente estátuas no mercado.
O Evangelho
As pessoas lhes faziam alguma homenagem
aboliu a religião e
e depois as esqueciam. Entretanto os após- apresentou-nos Jesus.
tolos estavam pregando às nações sobre um
Deus que merecia ser amado o dia todo e jamais esquecido. O
cristianismo era um novo caminho de vida, e não alguns ritos e
cerimônias. Jesus queria fazer parte da vida das pessoas de uma
maneira que os deuses jamais poderiam.
O problema é que é muito mais fácil você executar um ritual
diante de alguma imagem, e depois continuar com a sua vida à
sua própria maneira. E esse sempre foi o pecado de Israel, que
frequentemente abandonava o Senhor. É por isso que os profetas
sempre diziam: Lembra-te do Senhor seu Deus (ver Neemias 4.14).
Os pagãos se esqueciam dos seus deuses tão logo lhes tinham
prestado algum serviço; o Senhor, entretanto, não deve ser tratado dessa forma. A essência absoluta da fé bíblica foi resumida
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O Tempo está se Esgotando
neste grande mandamento: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o
teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (ver
Mateus 22.37).
Uma Mudança de Valores
O evangelismo cristão não só desafiou a perspectiva religiosa
predominante, mas também desafiou o sistema de valores
morais existente. A mensagem de Cristo era o perdão, enquanto
o mundo antigo (e muitas culturas até hoje) considerava a vingança justa. Os cristãos falavam de uma esperança viva como
uma das três maiores qualidades da vida; porém, a esperança
para os pagãos era um sentimento fraco, mais próprio para
mulheres idosas. Os discípulos viam o derramamento de sangue
como um grande mal, mas o povo romano e o helênico se gloriavam das suas guerras e das suas conquistas.
Entre os trabalhos literários mais antigos do mundo encontramos os escritos de Homero, que contou histórias sobre a Guerra
de Tróia e sua “gloriosa” matança. A explicação do escritor para
o terrível espírito de vingança e derramamento de sangue fascinou a gregos e romanos; contudo tais práticas eram aterrorizantes para os seguidores de Cristo. A perspectiva cristã quase
que poderia confundir as pessoas daqueles tempos cruéis, pois
os apóstolos estavam mudando todos os conceitos comuns da
época, do que era admirável e nobre.
O mundo que os discípulos de Cristo deveriam enfrentar era
um mundo sem esperança; contudo isso não os fez desistir. E
se eles fizeram o que fizeram, então o que nós podemos fazer? É
óbvio que esses homens simplórios não teriam conseguido fazer
absolutamente nada, a menos que tivessem o apoio do próprio
Deus. Eles não estavam promovendo uma religião que não iria
mudar as pessoas, mas mostrando-lhes um caminho de vida que
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 171
inverteria tudo o que elas conheciam. Os discípulos estavam
defendendo uma nova ordem mundial com novos tipos de pessoas. E eles tiveram sucesso. Essa é a medida do poder de Deus
através do Espírito Santo. É isso o que o Evangelho pode fazer!
Devemos agradecer ao trabalho desses pioneiros, que enfrentaram a escuridão de um mundo pagão perdido. Eles mudaram a
cultura do mundo e tornaram o nosso trabalho bem mais fácil.
Eles também transformaram tudo, de maneira tão profunda,
que hoje podemos viver em um mundo bem diferente do que
eles enfrentaram. Jesus disse, Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros trabalharam, e vós entrastes
Os discípulos
no seu trabalho. (Jo 4.38). Esses primeiros
estavam defendendo
evangelistas prepararam o terreno para nós.
uma nova ordem
mundial com novos
As pessoas hoje costumam dizer que podem
tipos de pessoas.
E eles tiveram
viver uma “vida decente” sem nenhuma
sucesso.
crença religiosa. Talvez possam; contudo
sem o evangelismo cristão do passado, hoje Essa é a medida do
poder de Deus através
ninguém poderia saber o que é uma vida
do Espírito Santo.
decente. O conhecimento de Cristo criou
um senso de decência, e nosso evangelismo deveria, ao menos,
manter vivo esse conhecimento. As armas tornaram assustadoramente fácil matar nosso semelhante, mas somente o Evangelho
pode introduzir a misericórdia.
O Tempo do Espírito Santo
Os primeiros discípulos se lançaram para ganhar o mundo, utilizando armas nunca vistas. Eles tinham forças secretas por trás deles.
Não militamos segundo a carne. Porque as armas da
nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus,
para destruir fortalezas (2 Co 10.3,4).
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O Tempo está se Esgotando
Já mencionei aqui a vasta mudança espiritual que aconteceu com
a vinda de Cristo. E um dos primeiros a compreender isso foi
um homem cego, cuja visão fora restaurada por Jesus. Ele disse:
Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os
olhos a um cego de nascença (Jo 9.32). Ele também saberia que,
desde que o mundo começou, ninguém havia expulsado demônios nem curado surdos, febris, loucos e aleijados. Muito mais
do que isso, ninguém jamais tinha vindo com uma mensagem
que invertia totalmente as normas culturais, e transformava personalidades humanas.
A era do Espírito Santo havia chegado. Quando Jesus O enviou
ao mundo, foi como um evento cósmico, que não poderia ser
desfeito. Isso criou uma nova ordem de possibilidades, além de
tudo o que se conhecia desde os dias de Adão. Uma nova forma
de vida – vida de ressurreição – estava disponível. Os apóstolos
tinham o segredo dessa nova vida e eles saíram para demonstrar
isso; eles foram as primeiras pessoas no mundo a fazerem isso.
Creio que a Igreja está descobrindo o segredo deles mais uma
vez, como estamos vendo o livro de Atos se repetindo pelos séculos. Houve duas vezes mais conversões durante a minha vida, do
que em todo o mundo no tempo dos apóstolos.
O primeiro milagre de Pedro e João após a
ressurreição foi a cura de um aleijado, indicando a dimensão dos recursos à disposição
deles. Esse milagre foi somente um sinal de
maiores coisas que viriam, como Jesus prometera. Precisamos ensinar que o Espírito
Santo foi mandado para fazer muito mais
do que curar. Cura é apenas um dos nove dons encontrados em
1 Coríntios 12. É uma bênção muito grande podermos cuidar
de um mundo em sofrimento; contudo essa não é a maior virtude do Espírito Santo. O mais sensacional não é a grandeza
Quando Jesus O
enviou ao mundo, foi
como um
evento cósmico,
que não poderia
ser desfeito.
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 173
da manifestação divina. O acontecimento mais espetacular pode
não ter sido a maior ação de Deus. Não obstante, quando Deus
manifesta cura através de nós, o seu poder, que está sempre à
nossa disposição, é evidenciado.
Quando a eletricidade foi descoberta, isso foi considerado
pela maioria dos observadores como uma novidade divertida. Duzentos anos atrás, poucas pessoas poderiam conceber
o potencial do poder da eletricidade para dirigir indústrias, e
iluminar cidades inteiras. Quando as pessoas falam em outras
línguas, isso é um sinal do potencial do poder do Espírito Santo.
E quando Cristo expulsou os demônios pelo dedo de Deus, disse
que aquilo demonstrava que o reino de Deus estava entre eles
(Lc 11.20). Podemos obter nossa confiança por intermédio do
que Deus realmente pode fazer por meio de qualquer manifestação do Espírito. E Esse Espírito não será limitado a incidentes
isolados; ele vai permear todo o nosso ministério, se permitirmos
que Ele o faça.
As grandes obras que Cristo prometeu fazer entre nós incluíam mais do que curas físicas. E a maior delas era a de que os
discípulos seriam testemunhas. Alguns dos homens de Atenas
chamaram Paulo de tagarela, enquanto outros se convenceram
da verdade do que ele havia dito e converteram (At 17.18-34). O
testemunho dos apóstolos era pleno, cheio de convicção, promovendo milagres de conversão.
Falar sobre a mensagem do Evangelho liberara o Espírito de Deus
sobre os ouvintes. Os apóstolos já não eram mais simplesmente
homens – eram homens cheios do Espírito, e isso foi demonstrado de muitas maneiras, e não apenas por intermédio de
curas espetaculares. Quando eles oravam, as coisas aconteciam;
quando eram perseguidos, se alegravam. Quando pregavam, o
faziam em poder e demonstração do Espírito. Quando tocavam
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O Tempo está se Esgotando
os enfermos, eles eram curados. Quando eram perturbados, não
eram afligidos. Quando eram deixados perplexos, não ficavam
em desespero. Se eles estavam inseguros, eram guiados. Se eram
martirizados, o sangue deles fertilizava a semente que tinham
plantado. Se estivessem desanimados, não seriam destruídos.
Mesmo com todos os seus conflitos e lutas, os apóstolos eram
mais que vencedores (Rm 8.31-39).
Esses homens sobrepuseram os pagãos em pensamento, em
vida e em morte. Eles conheciam qual era a fonte do verdadeiro
poder. Paulo disse que ele era fortalecido com poder, mediante o
seu Espírito no homem interior (Ef 3.16). Ele se tornou um ministro segundo a graça operante do seu poder (Ef 3.7). Ele disse que
ele era fortalecido com todo o poder, segundo a força da sua glória,
em toda a perseverança e longanimidade, com alegria (Cl 1.11).
Na verdade, os apóstolos foram uma nova espécie de homo
sapiens: homens espirituais, os primeiros na terra, novas criaturas
em Cristo (2 Co 5.17). Eles não foram afetados pela oposição do
mundo como qualquer outro poderia ser. E tudo o que dissemos
sobre eles também tem sido a verdade na vida de milhares de
servos de Deus em todo o mundo.
E a mesma força está disponível a cada cristão hoje, na mesma
medida em que estava nos dias dos apóstolos. Entretanto,
independentemente do tamanho que seja a nossa necessidade,
o poder de Deus vai estar sempre à nossa disposição para nos
ajudar. Conquanto as exigências do nosso ministério sejam
grandes, o poder de Deus vai estar sempre lá na medida certa.
Note que não há tais coisas como degraus de poder – Deus não
molda o Seu poder para se encaixar no nível da nossa suposta
necessidade. Cada um de nós tem todo o poder em Cristo. Os
mesmos recursos estão disponíveis, de graça, a todos os que
servem a Deus (Jo 3.34; 1 Co 12.27).
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 175
Em nenhum lugar das Escrituras se sugere a idéia de que crescemos em poder ao crescermos em oração ou santidade. Os
discípulos não faziam parte de um grupo de elite, especial, a
quem Deus equipou de maneira privilegiadal. Eles mesmos nos
encorajaram a entender que a promessa é para todos os que estão
longe (At 2.39). Foi aí que percebi que eu era mencionado na
Bíblia, pois sou uma dessas pessoas “que estão longe”. Quando
operamos como os apóstolos fizeram – em obediência, intrepidez
e fé – então Deus opera. Citei as palavras de Jesus: Sem Mim,
nada podeis fazer (Jo 15.5), mas é Paulo quem nos dá a conclusão:
Tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4.13).
Há um dom para cada crente: fomos todos dotados para testemunhar; mas o dom vem com uma obrigação. Temos ouvido muito
sobre os dons, e muitos querem o dom de milagres. Entretanto,
o dom supremo já está dentro de cada cristão nascido de novo;
ou seja, Cristo em nós, “o dom inefável” (2 Co 9.15), fazendo de
cada um de nós testemunhas.
Como já mencionei, ser testemunha é mais do que falar. O
homem ou a mulher é a mensagem. Entretanto, devemos responder ao dom. Quando alguém tem o dom de operar milagres,
mas não prega a cruz, está tratando os
Entretanto,
negócios do Reino de uma maneira muito
o
dom
supremo
pobre. Ele está disfarçando a fonte do seu
já está dentro de cada
poder. As testemunhas são testemunhas
cristão nascido
da ressurreição de Cristo. Não testemude novo;
nhamos sobre habilidades extraordinárias,
ou seja,
experiências especiais, ou a respeito de
Cristo em nós,
nós mesmos. Testemunhamos a morte e
a ressurreição de Cristo – pela vida de Jesus, morremos para o
pecado e vivemos para justiça. Se Cristo vive, então nós também
devemos viver; e, mais cedo ou mais tarde, as pessoas deveriam
perceber isso.
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O Tempo está se Esgotando
O Julgamento e o Mundo
Quando João, Pedro e Paulo estavam perante as autoridades da
lei, e Estevão diante dos seus acusadores, houve muito pouco
discurso em sua defesa por parte deles mesmos, e poucos argumentos sobre o Evangelho em si. Eles não consideraram isso
como um tema sujeito a debate. Eles apenas sabiam que isso era
verdade, e pronto. A tarefa deles era anunciar a mensagem, e foi
isso o que fizeram. Plantaram a bandeira do Reino e desfraldaram a bandeira da cruz. Vieram como embaixadores de um
poder estrangeiro, oferecendo termos de paz. Ao se posicionarem
firmemente, eles inverteram os papéis, e colocaram as autoridades terrenas em julgamento.
O Reino do céu é o super poder exigindo rendição. Paulo disse
aos homens sábios de Atenas: Agora [Deus] notifica aos homens,
em toda parte, se arrependam (At 17.30). Os primeiros cristãos
apresentaram o Evangelho como Deus confrontando o mundo
com seu pecado. Deveríamos fazer o mesmo; e isso não é uma
escolha, mas a única alternativa. O Evangelho traz o mundo
inteiro ante o tribunal do julgamento da verdade. E onde quer
que os discípulos tenham ido, fizeram com que juízes e governadores sentissem como se estivessem indo contra essa mensagem.
E issso foi assim desde o momento em Jesus foi trazido diante de
Pôncio Pilatos. Paulo possuía tanto esse ar de verdade que realmente podia levantar seus braços acorrentados e dizer ao rei que
o julgava: Rei Agripa, acreditais nos profetas? (At 26.27). Não há
discurso exagerado quando isso é para proclamar o Evangelho.
Ele só precisa ser anunciado; Ele defende a si próprio.
Os sermões encontrados no livro de Atos não parecem muito
com debates ou controvérsias. Eles são diretos e cheios de declarações confiantes – um evangelho positivo. A frase defesa do
evangelho é encontrada em Filipenses 1.7,17, entretanto Paulo
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 177
era virtualmente um prisioneiro de guerra. Ele tinha entrado no
território do diabo como um invasor vindo do reino de Deus. A
única defesa de Paulo era que pregava o Evangelho de Cristo, e
este crucificado. Paulo não se envergonhava disso, e nunca estava
na defensiva; preferia sempre a ofensiva.
Deus não procura por defensores. A idéia é Ele nos defender.
Não podemos nos voltar para Deus, e dizer: “Senhor, não se
preocupe, eu estou aqui. Eu vou te proteger; não tenha medo!”
O Senhor não está encuralado contra a parede, e não é “pobre
Deus”; Ele não é uma causa morta. São as pessoas que morrem
e não Deus. Tampouco Deus é uma “boa causa”; são os homens
e mulheres que são a boa causa de Deus. Ele pagou por eles;
deu tudo o que Ele tinha. A melhor maneira de defender o
Evangelho é pregá-lo.
Paulo defendeu o Evangelho levando a guerra para o campo
inimigo. A sua defesa era um bom ataque: o ataque da cruz.
A prisão para ele um lugar tão bom como
Paulo defendeu
qualquer outro para levar o Evangelho. Era
o Evangelho levando
aqui que ele podia fazer o maior estrago ao
a guerra para o
príncipe desse mundo, como o prisioneiro
campo inimigo.
Sansão derrubando o templo em cima de
A sua defesa
seus inimigos. Paulo não estava preocupado era um bom ataque:
o ataque da cruz.
com motivação ou circunstância; havia
uma consideração muito mais importante:
De qualquer modo, quer por pretexto, quer por verdade, Cristo é
pregado; e nisso me alegro, sim, sempre me regozijarei (Fp 1.18). Ele
encorajou a outros crentes a adotar a sua posição: … em nada
intimidado por seus adversários (Fp 1.28).
Alguém disse que somos como advogados no tribunal tentando
ganhar um veredicto favorável para Cristo; porém, o Senhor
não está sendo julgado! Ele é o Juiz. O que as pessoas pensam
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O Tempo está se Esgotando
dEle não importa nem um pouco – exceto para elas mesmas. Se
aprovamos ou não, isso não O afeta. As pessoas que não querem
acreditar que Deus existe deveriam ter mais cuidado. Imagine se
elas nunca souberem que Ele existe! Agora pense em todos esses
incrédulos e céticos juntos em um único lugar! Eu não posso
pensar em um inferno pior do que estar cercado por pessoas
como essas. Certa vez, uma mulher, argumentando sobre Deus
com o grande escritor e historiador Thomas Carlyle, disse: “Eu
acredito no universo”. Ao que ele respondeu: “Senhora, você
deveria!” Eu preferiria ter uma divergência de opinião com 100
bilhões de estrelas da Via Láctea, que com o seu Criador.
O que Podemos Aprender?
Considero Atos capítulo 10 especial porque ele relata a conversão do primeiro ocidental, ou, mais precisamente, europeu; um
italiano, como ele seria chamado hoje. Estou certo de que você
conhece a história. Dois homens tiveram uma visão. Um estava
em Cesaréia, e o outro em Jope, distante cerca de um dia de
viagem. Cornélio, o centurião romano em Cesaréia, viu um
anjo, e este lhe falou para ir a Pedro, que diria como ele e toda
a sua casa poderiam ser salvos. Pedro também teve uma visão
de que alguém seria enviado até ele. Ambos agiram de acordo
com a sua visão. Pedro foi até Cesaréia e pregou o Evangelho,
e Cornélio e toda a sua casa se tornaram os primeiros europeus
cristãos convertidos.
As Pessoas Precisam do Evangelho
Cornélio precisava do Evangelho, mesmo sendo um homem
bom, como não se podia esperar encontrar nenhum outro naqueles dias. Ele é descrito como sendo um homem devoto, temente
a Deus – uma pessoa que cria na fé judaica. Ele contribuía generosamente para caridade e sempre orava a Deus. Em Atos 10.22,
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 179
lemos que ele era um homem justo e muito respeitado entre os
judeus. Suas ofertas e orações chamaram a atenção de Deus. E
mais ainda, ele carregou toda a sua casa, com ele, na sua religiosidade. Contudo, apesar de tudo isso, ele precisava de Jesus.
Eu sei que viciados, alcoólatras, espancadores das esposas, e
criminosos precisam de Jesus; entretanto, pessoas decentes
também, como um herói de guerra. Quando Deus mandou um
anjo dizer a uma pessoa boa como Cornélio, que ele precisava
ouvir o Evangelho, podemos concluir uma única coisa: todo
mundo precisa do evangelho.
Não podemos assumir que as pessoas
conhecem o a mensagem de salvação, pois
pode ser que não. Temos um compromisso
com Cristo de fazer com que todos saibam
dEle. Uma vida correta não é evidência do
conhecimento salvador de Cristo; afinal,
um mar de ignorância espiritual nos cerca.
Os avanços em aprender são de fato progresso, mas sem fé em Deus o aumento de
conhecimento resulta em saldo negativo. O
saber ensoberbece, como a Bíblia declara em
1 Coríntios 8.1.
Quando Deus
mandou um anjo dizer
a uma pessoa boa
como Cornélio,
que ele precisava
ouvir o Evangelho,
podemos concluir
uma única coisa:
todo mundo
precisa
do evangelho.
O Senhor nos fez Seus parceiros para ensinarmos a todas as
nações e pregar a toda criatura. Cada cristão deveria aprender
evangelismo pessoal como uma habilidade especial. Não estou
falando aqui sobre treinar conselheiros para campanhas; quero
dizer treinar pessoas em como fazer contatos. Uma vez orientados, os cristãos consideram fácil apresentar o Evangelho, mesmo
a conhecidos casuais. Cada pessoa nascida de novo é chamada
pelo Senhor para ser testemunha de tempo integral. Este é um
dom que não deveríamos negligenciar.
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O Tempo está se Esgotando
O Ser Humano Proclama o Evangelho
Vamos voltar a Atos 10 e à história de Pedro e Cornélio. Você
vai perceber que havia um agente humano que foi chamado para
levar o Evangelho à casa desse europeu. O anjo disse: [Pedro] te
dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu
Por nosso
e a tua casa (At 11.14). Podemos deduzir que
intermédio,
o anjo tenha contado a Cornélio tudo sobre
Deus colocará
Jesus; entretanto a Bíblia não menciona
um fim no mal
e no arquiteto do mal, nada. O trabalho de levar o Evangelho às
o diabo.
pessoas é nosso, e não dos anjos. Acredito
E parte dessa vitória que os anjos teriam espalhado a Palavra
final é a presente
de maneira mais eficiente; mas Deus, em
ordem de pregação
Sua sabedoria, escolheu usar a Sua Igreja.
do Evangelho.
Espalhar as Boas Novas de Jesus Cristo é
privilégio nosso, e Deus pode dispor dos Seus privilégios onde e
como Ele quiser.
O plano de Deus para este mundo depende da cooperação
humana. Um dia gozaremos de um mundo justo e sem pecado,
onde Cristo reinará para todo o sempre. Graças a Deus o processo já começou. Os anjos podem impor retidão aos homens
e fazê-los abandonarem seus caminhos. Podem vir e convencer
o mundo inteiro da realidade do céu e do inferno, julgamento
e Deus, mas eles não fazem isso. Pelo contrário, Deus escolheu
as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes (1 Co 1.27).
Jesus podia ter chamado a doze legiões de anjos para livrá-Lo
da cruz (Mt 26.53), mas a cruz era o veículo que Deus havia
escolhido para trazer salvação à humanidade. Deus quer que as
pessoas se convençam do pecado e se voltem para Seu Filho,
para serem salvas. Contudo, isso deve ser pelo poder do amor,
e não por uma fé forçada ou por medo. Se Ele decidisse usar a
força Ele até poderia atingir o Seu objetivo, mas seria por meios
errados.
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 181
O Poder do Amor
Mesmo de forma um pouco mais lenta, sabemos, com certeza,
que o amor vencerá. O Evangelho é a expressão do amor, cujo
canal é o evangelista; ou seja, Deus manifestando o Seu amor
às pessoas por meio dos seus mensageiros. Os anjos executando
essa tarefa não seria a mesma coisa. A glória de Deus será de
que a batalha terá sido travada no nível humano, liderada pelo
humano Filho de Deus.
Não somos muito em nós mesmo; apenas frágeis unidades de
consciência. Se Deus não conseguisse manter este planeta em
uma temperatura absolutamente equilibrada, as pessoas logo
desapareceriam. Somos criaturas caídas, com o intelecto limitado e o caráter danificado e manchado pelo pecado; por isso
precisamos ser salvos. Entretanto, a humanidade é a chave para
o plano divino do Senhor – plano que se estende pela perspectiva desconhecida de eternidade.
Por nosso intermédio, Deus colocará um fim no mal e no arquiteto do mal, o diabo. E parte dessa vitória final é a presente
ordem de pregação do Evangelho. Aliás, essa é a parte principal
do atual plano. Os planos futuros estão além da nossa compreensão no momento; porém, a menos que assumamos a nossa parte
agora, estaremos impedindo o maravilhoso esquema de Deus.
A Necessidade
de um Evangelismo Cruz-Cultural
A conversão de Cornélio e toda a sua casa, por intermédio de
Pedro, foi um dos primeiros atos do evangelismo cruz-cultural,
e isso foi um avanço extremamente importante. Aquele acontecimento foi algo bastante singular e assombroso no mundo
daquele tempo. Entre a simples cultura judia de Pedro, e a
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O Tempo está se Esgotando
afluência sofisticada de um oficial romano, havia um abismo de
pensamentos tão extenso quanto o Grande Canyon.
Geralmente os judeus não entravam em lares gentios; entretanto
Deus deu uma visão a Pedro, que o ajudou a mudar a sua estreita
mentalidade judia, quebrando tabus e tradições (At 10.10-17).
Pedro entendeu o propósito mais amplo de Deus e, então,
quando os mensageiros chegaram à Cesaréia, ele estava preparado para ir com eles.
Esse trabalho especial de Deus na vida de Pedro aponta o caminho em direção a uma revolução mundial, a um novo tempo
em que diferenças raciais não servem para nada, a não ser para
o enriquecimento do conhecimento. Pedro tinha de se adaptar,
exatamente como Jesus, como podemos observar em Filipenses:
Pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como
usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si
mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e
morte de cruz (Fp 2.6-8).
Os servos de Deus devem procurar se identificar com as pessoas,
em qualquer lugar que Deus os mandar. Quando Ananias foi
enviado a visitar o assassino dos cristãos, Saulo de Tarso, que
havia ficado cego pela luz da glória de Cristo, se dirigiu a ele
como “irmão Saulo” (At 9.17). Esse tipo de reconciliação entre
homens era uma expressão do que Deus estava procurando
fazer para toda a humanidade. Esse foi um passo relativamente
pequeno para Ananias, ou para Pedro, mas um pulo gigantesco
para a humanidade – passo maior do que o dado por Neil
Armstrong, quando saiu do módulo lunar da Apollo 11, no dia
20 de julho de 1969, para andar na superfície da lua.
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 183
Hudson Taylor (1832-1905) não foi o primeiro missionário na
China; mas quando chegou ali, encontrou missionários cristãos mantendo aparência de europeus, vivendo em casas européias, e vestindo roupas européias. Para os chineses isso parecia uma invasão estrangeira. Então, para ser aceito pelo povo,
Taylor adotou roupas e estilo chineses. O objetivo de Paulo era
semelhante:
Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar
os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como
se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem
debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos
sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei
para Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os
que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com
os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo
para com todos, com o fim de que, por todos os modos,
salvar alguns. (1 Co 9.20-22).
Por toda a África há igrejas com aparência
inglesa, onde as pessoas cantam os hinos Ninguém determinou
como o Filho de Deus
ingleses. Por toda a América Latina há
deveria parecer. Jesus
igrejas com aparência americana, e onde
não é produto de
se cantam as canções gospel americanas. teologia sistemática.
Entretanto, recentemente as coisas começaram a mudar. Os povos dessas nações estão criando suas próprias igrejas, com suas próprias canções, e o Evangelho está se
espalhando rapidamente.
Tudo isso nos diz a mesma coisa. Quando o propósito é por
todos os meios salvar alguns, os meios para alcançar o fim são
plenamente justificados. A maior força jamais conhecida, para
operar mudanças, não foi programada para mudar as culturas,
mas para fazer o demônio sair delas.
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O Tempo está se Esgotando
A Mensagem é Toda Sobre Jesus
Vamos ver mais de perto a mensagem de salvação que o Senhor
mandou Pedro pregar a Cornélio:
Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade,
que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em
qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo
lhe é aceitável. Esta é a palavra que Deus enviou aos
filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz,
por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos. Vós
conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia,
tendo começado desde a Galiléia, depois do batismo que
João pregou: como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o
Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte,
fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo,
porque Deus era com ele; e somos testemunhas de tudo o
que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual
também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro. A
este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse
manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que
foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós
que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu
dentre os mortos; e nos mandou pregar ao povo e testificar
que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e
de mortos.Dele todos os profetas dão testemunho de que,
por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe
remissão de pecados. (At 10.34-43).
Sem dúvida, este é um resumo do discurso de Pedro, com
alguns destaques; podemos ver logo que Pedro falou somente
sobre Jesus. Política, relações nacionais, e questões sociais, as
quais agitavam as pessoas daquele tempo, sequer foram mencionadas. Pedro pregou apenas Jesus. Ele simplesmente falou
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 185
que Jesus era Senhor de tudo – e ainda é –, o verdadeiro ponto
crucial da questão.
A questão de comparação entre religiões é realmente uma
questão de contraste; não existe quase nada compatível. Vamos
tomar como exemplo os fundadores do islamismo e do budismo.
Eles professam não ser mais do que canais. Maomé falou de suas
visões; Buda falou da sua iluminação. Jesus não fez nenhum dos
dois. Ele nunca reivindicou ser profeta; apenas disse que Ele era
tudo o que eles professaram sobre ele. A verdade cristã não é uma
série de declarações, ou um código de ética, ou um programa de
observâncias religiosas. Jesus é a Verdade. Cristianismo é Cristo.
Não temos necessidade de atacarmos o islamismo ou qualquer outra religião. Não precisamos atacar o modo de vida de
qualquer pessoa, se moram no oeste, leste, norte ou sul. Tudo
o que temos a fazer é simplesmente deixar as pessoas verem,
por si mesmas, o que Jesus realmente é. Como a Bíblia coloca,
precisamos encorajá-los a “provar e ver que o SENHOR é bom”
(Sl 34.8). E Jesus sempre ganha. As pessoas não podem dizer
nada contra Ele. Ninguém tem mais poder para salvar, curar,
expulsar demônios, ou encher as pessoas de alegria. E ninguém
pode dizer como Ele é, até encontrá-Lo.
Vou colocar isso de uma outra maneira: ninguém determinou
como o Filho de Deus deveria parecer. Jesus não é produto de
teologia sistemática. Conheço muitos que dizem saber como
Jesus deveria ser e o que deveria fazer; isso é simplesmente um
absurdo. Podemos determinar padrões para a Miss Mundo ou
para o Mister Universo, mas ninguém pode ditar padrões para
Deus, ou para o Filho de Deus. Os acadêmicos que escreveram
sobre o Jesus da História é que fazem esse jogo. Primeiro, eles
fazem o seu próprio modelo ou ideal e, então, percorrem os
Evangelhos, procurando brechas onde encaixar o Jesus deles.
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O Tempo está se Esgotando
Essencialmente eles produzem a imagem dEle, e então vão à
Bíblia para ver se Ele está lá. Por aproximadamente um século
os acadêmicos procuraram por um Jesus social, que não fazia
milagres. Eles O projetaram de acordo com sua noção racional e
preconcebida, mas não conseguiram montar as peças com convicção, mesmo depois de cem anos de tentativas.
Jesus é muito grande para uma mente tão pequena como a nossa.
Ele nunca se encaixou nos padrões de qualquer livro, deixando
os acadêmicos dos Seus dias se debatendo e completamente perdidos. A rainha de Sabá se sentiu pequena diante da visão do
esplendor do estilo de vida de Salomão; ela disse: Não me foi
contado a metade (1 Re 10.7). Não chamamos Jesus de Filho de
Deus por acharmos que Ele está à altura do que pensamos que
Ele deveria ser. Qualquer verdade sobre Ele vem dEle mesmo, e
todo o Seu ser reluz essas verdades.
Nunca vou à África levando um livro de doutrinas; o que preciso ali é da Bíblia. É fácil evangelizar nas terras africanas se
fico colado ao Livro dos livros. Afinal, meu objetivo é levar as
pessoas a ter um relacionamento pessoal e dinâmico com Jesus.
Só precisamos apresentar a verdade. Os demônios fogem, doenças desaparecem, corações maldosos são limpos, e feiticeiros se
tornam santos.
Em um de seus sermões Pedro disse: Não há salvação em nenhum
outro exceto no nome de Jesus Cristo (At 4.12). Bem, até que essa
declaração seja provada como sendo falsa, é inútil debater. Se é
Ele quem salva, por que se virar para qualquer outro, ou mesmo
querer experimentar o que as outras pessoas crêem? O boxeador
Evander Holyfield e eu poderíamos organizar uma disputa de
boxe, e alguns analistas desse esporte poderiam até encontrar
algumas coisas que temos em comum: somos homens, temos
orelhas, pés, e mãos … mas qual é o valor dessas comparações
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Capítulo 9 • Homens Comuns – Mensagem Extraordinária 187
todas antes da luta, se não posso estar à altura da sua rapidez e
da sua força? É exatamente essa a questão com relação a Jesus!
Ninguém está à altura dEle.
É óbvio que podemos encontrar alguma moral e ética no hinduismo; mas será que o hinduismo salva? Ele pode lhe dar
perdão, alegria e restauração? Teria o hinduismo, o islamismo
ou o budismo um Salvador como Jesus, o Filho de Deus? Se
não, qualquer conversa é perda de tempo. Tal discussão poderia lidar apenas com questões superficiais, e não com coisas que
realmente importam. A menos que haja outro Cristo, nenhum
debate é mesmo possível.
O sermão de Pedro a Cornélio consistiu-se de três pontos
importantes:
1. Uma descrição da unção de poder de Cristo, para curar e
libertar a todos os oprimidos pelo diabo.
2. A crucificação de Jesus.
3. A ressurreição de Jesus.
Então Pedro concluiu dando o significado desses fatos chave:
Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome,
todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados (At 10.43). Se
essa mensagem não é relevante para o mundo nesse novo milênio, não consigo pensar o que poderia ser.
Note que a mensagem de Deus era parte do pacote de coisas que
realmente aconteceram; não era simplesmente uma coleção de
idéias, revelações, visões ou iluminação. O Evangelho é pragmático; Deus nunca lidou com conceitos meramente filosóficos.
Ele não fala sobre idéias abstratas da verdade e da bondade. Ele
nos enviou Jesus que é a verdade e a bondade personificadas, de
modo que podemos ver isso por nós mesmos.
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O Tempo está se Esgotando
Primeiramente precisamos conhecê-Lo pessoalmente; depois
apresentá-Lo a outros. Podemos falar sobre Ele o quanto quisermos, e se o amarmos, é isso mesmo o que faremos. Aliás, uma
vez que o conhecermos, não vamos mais conseguir ficar calados
a Seu respeito!
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Capítulo 10
O EVANGELHO E O PECADO
T
em algo que eu ainda não disse sobre o pecado: não podemos evangelizar sem encará-lo. Essa é a tragédia básica da
humanidade, e é por isso que devemos evangelizar; afinal de
contas, o mundo todo fala muito pouco sobre isso. Se ninguém
quebrasse um dos Dez Mandamentos, isso não seria notícia! O
apetite do público é aguçado pelo escândalo.
Contudo, para falar sobre pecado e evangelismo, de acordo com
Palavra de Deus, devemos primeiro entender a relação entre
o Antigo Testamento e os Evangelhos. O Antigo Testamento
moldou as pessoas que escreveram o Novo Testamento, e devemos ler os Evangelhos à luz desse fato.
O Antigo Testamento e os Evangelhos
O evangelho de Marcos começa assim:
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus
(Mc 1.1)
Considero essa uma maneira estranha de começar um livro.
Geralmente ninguém começa um livro, um artigo, ou um
sermão dizendo: “Este é o começo”. Quando você abre um livro,
por exemplo, creio que não tem nenhum problema em localizar
o início do primeiro capítulo. Todavia, Marcos não estava simplesmente declarando o óbvio ou guiando estúpidos leitores ao
começo de seu livro. O que ele estava dizendo era que esse era o
começo do Evangelho propriamente dito.
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O Tempo está se Esgotando
Em seguida, Marcos faz menção ao Antigo Testamento e começa
a citar o profeta Isaías. Sua abertura deveria ser lida assim, sem
o ponto: “O início do Evangelho … como está escrito nos profetas”. O Antigo Testamento e a revelação contida nele era, na
verdade, o início do Evangelho.
Marcos quer que entendamos que a Boa Nova de Jesus Cristo
não foi um rompante da preocupação divina. Ela sempre esteve
lá – os profetas revelaram a notícia. O que Marcos diz, nos seus
16 capítulos, tem suas raízes nas Escrituras como ele as conheceu
(por exemplo, o Antigo Testamento). Em sua carta aos Romanos,
Paulo nos diz a mesma coisa:
Ora, aquele que é poderoso para vos confirmar segundo
o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme
a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos
eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a
conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o
mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé,
entre todas as nações (Rm 16.25,26).
Isso nos leva a quatro coisas que precisamos saber sobre os
Evangelhos, pois se relacionam com a nossa missão de evangelizar o mundo:
Os Evangelhos São,
em Si Mesmos, a Fonte do Evangelho
A menos que conheçamos os Evangelhos, não poderemos conhecer a Palavra de Deus. Sem a base dos quatro evangelistas, não
sabemos do que estamos falando. Um bom vendedor não é simplesmente um leiloeiro; ele deve conhecer o que está vendendo.
Para qualquer pessoa que está evangelizando, testemunhando,
ou ensinando, o manual básico são os quatro evangelhos.
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Capítulo 10 • O Evangelho e o Pecado
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Os Evangelhos nos Apresentam Jesus,
e Ele é o Evangelho
O Evangelho não é somente perdão ou cura, ou como fazer Deus
aparecer e realizar as coisas para nós, como se fosse o gênio de
Aladim. O Evangelho também não é sobre o que a fé pode fazer
por nós; mas, sim, o que Jesus pode fazer por nós.
Tenho observado que existe um grande número de ministérios
através de vídeos, fitas, livros, etc., e todos preocupados com o
sensacional e o sobrenatural, visando criar
Se ninguém
fé para as coisas acontecerem. Olhando o
quebrasse
um dos
catálogo de fitas de áudio disponíveis de
Dez Mandamentos,
vários pregadores internacionais, notei que
isso não seria notícia!
geralmente eles têm um mesmo tema: o tra- O apetite do público
balho sobrenatural da fé. Entretanto, os prié aguçado pelo
meiros cristãos não procuraram nada desse
escândalo.
tipo; buscaram santidade e sabedoria para
ganhar o perdido – e sinais e maravilhas se seguiram. Eles não
estavam buscando poder para impressionar ou assustar, e nem
querendo receber atenção; tampouco procuravam por sinais e
sensações. O interesse deles estava no amor de Jesus, e seu objetivo era a glória de Deus e não ganhos ou vantagens próprios.
Evangelização é a Pregação da Palavra,
Pela Palavra
Existe uma infinidade de livros, artigos e sermões de fonte cristã;
entretanto, todos, quase que freqüentemente, contêm somente
o que os escritores e pregadores pensam sobre os temas – têm
pouco ou nada a ver com a Bíblia. Somos ministros da Palavra e
não refletores da moral. Muitos pregam coisas boas, interessantes
e sábias, e colocam junto suas próprias idéias e ideais; todavia,
isso pode se tornar um hábito, no qual nós facilmente caímos.
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O Tempo está se Esgotando
Ministrar a Palavra significa estar diariamente sob a influência
dela, como se fosse um amigo chegado. Significa, se possível,
reagir naturalmente ao amor dessa Palavra. Se cultivarmos o
hábito da disciplina, do estudo, da meditação e da meditação
na Palavra de Deus, teremos um ganho
Ministrar a Palavra
imenso. Sei que a maioria das pessoas não
significa estar
nasce com essa postura, mas podem ter a
diariamente sob
ajuda daqueles que têm esse dom em para influência dela,
ticular. Podemos nos alimentar do que eles
como se fosse um
provêem e, daí, alimentar o nosso rebanho.
amigo chegado
Por qualquer meio, de qualquer maneira, o
que dissermos deve ter vida na Palavra de Deus. O Salmo 104.16
nos diz que, as árvores do Senhor estão cheias de seiva, não encharcadas – simples histórias ou romances. As ilustrações deveriam
servir para ilustrar a Palavra, e não meramente entreter as pessoas. Afinal, é a Palavra que converte.
A Bíblia Inteira é o Evangelho
Fomos chamados para declarar todo o desígnio de Deus
(At 20.27), não simplesmente um conceito que chamamos de
evangelho, o qual é freqüentemente apresentado como meia
dúzia de idéias abstratas e completadas com textos para apoiálas. Somos nascidos de novo através de toda a Palavra de Deus.
Vamos dar uma olhada nas Escrituras:
Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas
de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual
vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e
toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e
cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece
eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada. (1 Pe 1.23-25).
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Capítulo 10 • O Evangelho e o Pecado
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Pedro está dizendo aqui nesses versículos que a Palavra de Deus
é o Evangelho. A tradução literal é: “O que Deus falou dura para
sempre. O que Ele disse é a mensagem do evangelho que tem
sido proclamada a você”. (Comentário da Palavra por Richard
J. Bauckham.) Devemos nos lembrar de que, para Pedro, a
Palavra de Deus era principalmente o Antigo Testamento, pois o
Novo Testamento ainda estava sendo escrito. Assim vemos que
a Palavra de Deus é o Evangelho, e que o Evangelho é a Palavra
de Deus. Os termos são intercambiáveis. O Evangelho não é um
fragmento da Bíblia mas, sim, toda ela. Os quatro Evangelhos
chegam a nós envolvidos nas páginas do Antigo Testamento.
Nossa mensagem ao mundo pagão é, portanto, entesourada
como relíquia em toda a Palavra de Deus. [1]
A Queda e a Ascensão do Homem
Gênesis 3 de 1 a 24 nos conta sobre a queda do homem. O pecado
é o elo entre o Antigo Testamento e os Evangelhos. Qualquer
livro sobre evangelismo seria incompleto
sem a discussão a respeito do pecado. O O Antigo Testamento
evangelho que pregamos é o de que Jesus nos ensina que por
trás do nosso pecado,
nos salvou do pecado. Vejo esse mal por
existe O PECADO
todo o mundo, profundamente enraizado – um instinto de pecar
na natureza humana. É como a lepra, um que nos trai a todos
vírus na corrente sanguínea. Seu sintoma é
danoso, sinistro e feio, e só desaparece quando a doença se vai.
Naamã (ver 2 Reis 5) era um dignitário da Síria; porém um dignitário enfermo, condecorado com a morte. Ele veio com um
séqüito de carruagens e bandeiras, resplandecendo com honras
militares, mas escondido debaixo do seu uniforme. Era um
homem contaminado com as purulentas feridas dos leprosos
– retrato da pompa desse mundo.
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O Tempo está se Esgotando
As pessoas até podem admitir uma falha aqui, outra ali, procurar
perdão para isso ou aquilo; mas isso não vai acontecer. É como
tentar curar as feridas de um leproso usando apenas algumas
ataduras. Não estamos falando de uma ou duas manchas, mas
de uma legião do mal. O Antigo Testamento nos ensina que por
trás do nosso pecado, existe O PECADO – um instinto de pecar
que nos trai a todos (Is 59.7,8). O pecado é uma nuvem negra
neutralizando cada boa ação nossa; um preconceito destrutivo.
Muitos já estão acostumados a confessar os pecados serem absolvidos. Entretanto a minha mensagem é mais que absolvição; é
libertação! Glória a Deus! A salvação não apenas nos; ela abre as
portas da prisão!
A natureza humana traz em si a semente da sua própria ruína.
Paulo disse que, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal
reside em mim (Rm 7.21). O Antigo Testamento é a maior exposição da falha humana jamais escrita. De Gênesis a Malaquias a
Palavra aponta para homens e mulheres, declarando-os fundamentalmente fracassados. A raça de Adão é uma raça caída; isso
é mostrado em toda a tragédia e loucura relatadas do Jardim do
Éden para frente. Não há quem faça o bem, não há nenhum sequer
(Sl 14.3).
O Evangelho, porém, vai até à raiz do problema. As pessoas pecam
por causa do que são e, por isso, precisam de uma mudança de
natureza. Elas não pecam somente algumas vezes; são pecadoras por herança. É uma verdadeira linhagem de imperfeição. A
doença, a pobreza e a ignorância são males meramente derivados.
Eles são o amargo fruto da raiz do pecado. Você não vai resolver
o problema da raiz curando, ou educando, e nem redistribuindo
riquezas. Devemos fazer o que podemos para aliviar esses problemas, mas a primeira coisa a ser lembrada é que essas mazelas são
frutos do que as pessoas são. Coisas más não acontecem simplesmente como um nevoeiro sob o mar; nós as causamos.
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Capítulo 10 • O Evangelho e o Pecado
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O problema é que dirigimos nossa vida sozinhos, quando nossa
habilitação não nos permite isso. Acidentes ocorrem como resultado da má direção; porém, a má direção acontece porque dirigimos sem uma orientação, sem um co-piloto. Muitos ímpios
se sentam no banco do motorista, e assumem a direção da vida,
mas o julgamento na corte do céu não é somente sobre alguns
pontos na nossa carteira de motorista. Durante toda a vida
de Jeremias ele contemplou a nação de Israel andando sem o
Senhor Deus, e clamou: Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao
homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os
seus passos. (Jr 10.23).
Uma excelente concordância bíblica cita mais de 800 referências
a respeito do coração do homem; dessas, 700 estão no Antigo
Testamento. Jeremias 17.9 resume isso: Enganoso é o coração, mais
do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Pecadores é o
que somos. Nosso coração é mal. Jesus disse que se a luz dos seus
olhos é treva, que grandes trevas serão! (Mt 6.23). A humanidade
é espiritualmente astigmática: o que parece certo, não é; afinal,
sem Deus temos uma visão deformada da nossa existência.
O mundo continua agindo como se todos fôssemos seres angelicais, e que só cometemos deslizes ocasionalmente. Nossa política
é sermos bons enquanto isso serve para
nosso conforto pessoal ou consciência. As A grande habilidade
de Satanás era
autoridades só podem legislar contra as
colocar “deuses”
falhas das pessoas e punir aqueles que dão
no caminho da
uma “escorregada”; porém nada podem
humanidade.
fazer para extirpar a raiz do nosso problema. O pecado é endêmico na vida humana, e esse é um vírus
que nenhum laboratório médico poderá erradicar.
Paulo clamou: Quem me livrará do corpo dessa morte? Graças a
Deus por Jesus Cristo nosso Senhor! (Rm 7.24,25). A letra de um
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O Tempo está se Esgotando
antigo hino dizia: “Sou apenas um pecador, salvo pela graça”.
Não me sinto muito à vontade em cantar isso, pois não somos
mais apenas pecadores. Os crentes agora são filhos de Deus,
redimidos, com uma nova natureza, contrária ao pecado. Talvez
até pequemos, mas não somos mais “pecadores”. Nunca veremos
os anjos, no céu, cochichando uns com os outros enquanto passamos pelo longo corredor de ouro, dizendo: “Agora eles estão
bem, mas você deveria ver como eles eram. O Senhor encobriu
tudo, você sabe”. Não viemos diante de Deus como perdoados,
mas como justificados pela fé. Devemos andar em santidade, em
glória, em Cristo. Em 1 João 3.9, lemos: Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece
nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é
nascido de Deus.
Estevão foi martirizado porque ele penetrou no coração da natureza humana. Ele disse, diante de seus algozes, que a raiz dos
problemas, a causa do pecado, era a resistência a Deus (At 7.51).
Os líderes religiosos o odiaram por confrontá-los com a verdade.
Adão e Eva não comeram simplesmente do fruto proibido; eles
também tinham um plano de independência e, por isso, procuraram fugir da face de Deus. A grande habilidade de Satanás era
colocar “deuses” no caminho da humanidade. Mas o Evangelho
atinge o demônio direto na sua jugular:
• O Evangelho não somente muda as nossas idéias, ele também
muda nosso coração.
• O Evangelho não é o poder do pensamento positivo.
• Também não é simplesmente um encorajamento para agir
como filhos de Deus.
• Não é “tudo é mente”.
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Capítulo 10 • O Evangelho e o Pecado
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• Não é subjetivo, mas objetivo.
• Não é uma adaptação psicológica, mas um milagre divino.
• Não é um Evangelho de auto-ajuda, mas um Evangelho para
o desamparado.
Para termos igrejas verdadeiramente cristãs, elas precisam ser
compostas por pessoas que foram libertas. O pior de todos os
defeitos de personalidade é o orgulho em nossa auto-suficiência
e bondade; esse é um pecado pagão. Todas as nossas justiças são
como trapos de imundícia (Is 64.6).
Muitas pessoas, às vezes, se unem à igreja porque tudo ali é “tão
bom” – pessoas amáveis, música agradável, bons programas, atividades para as crianças, multidão de amigos, reuniões sociais,
líderes amáveis, e até mesmo fé para curar. É assim mesmo que
tudo deveria ser; mas cristianismo é, primariamente, o Salvador.
Só pudemos vir a Deus quando esse Salvador nos salvou. E a
menos que passemos a responsabilidade da nossa vida para Ele,
seremos responsáveis no dia do julgamento por nossa própria
vida, nossos pecados e, particularmente, pelo pecado de rejeitar
a Cristo. Para conhecê-Lo, precisamos conhecer o Seu poder salvador. Pecadores salvos, pelo poder salvador de Cristo, formam
igrejas verdadeiras.
Os crentes nascidos de novo também estão sujeitos a pecar
também, mas há uma diferença: eles permanecem na família
de Deus. João termina sua primeira epístola com as seguintes
palavras:
Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para
morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam
para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo
que rogue (1 Jo 5.16).
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O Tempo está se Esgotando
O que ele quer dizer com isso? João está falando sobre a diferença entre o pecar enquanto estamos em Cristo, e o princípio
do pecado. Ele explicou esse princípio associando-o ao do anticristo, ou seja, negar o Senhor. Pecado é rebeldia. Efésios 2.2
descreve a humanidade como os filhos da desobediência – filhos
e filhas da grande rebelião mundial.
Até a vinda de Cristo ao mundo os pecados estavam encobertos.
Havia, porém, uma essência de alienação que nunca mudou. O
trabalho de Cristo era a reconciliação. Ele trouxe a paz e reconciliou o mundo com Deus, na cruz. Ele lidou com a rebelião,
nos fez Seus filhos, e nos trouxe de volta para casa. Embora
continuemos a pecar, isso não mais nos afasta de Deus. Se um
ladrão joga uma pedra na sua janela, ele é um criminoso. Se seu
próprio filho faz isso, ele não é.
Isso me faz lembrar da história do homem na reunião de oração.
Semana após semana ele repetia as mesmas palavra diante de
Deus, dizendo: “Senhor, limpa a minha vida, tira fora as teias”.
Finalmente, depois de ter ouviu o bastante sobre as teias de
aranha do daquele homem, um outro gritou: “Senhor! Mate a
aranha!”
As pessoas mais religiosas do Antigo Testamento falaram sobre
perdão; entretanto elas sabiam que sua
Se um ladrão
necessidade fundamental era relacionajoga uma pedra
mento com Deus. Essa é a maravilha do
na sua janela,
entendimento religioso hebreu. Os pagãos,
ele é um criminoso.
por sua vez, nunca tiveram nem a mais leve
Se seu próprio
concepção de tal coisa – e nada mudou
filho faz isso,
desde lá! Israel estava mais preocupado
ele não é.
sobre Deus estar com eles, do que com
qualquer perdão superficial para a injustiça. O Senhor estava
preparando o Seu povo para receber o Evangelho. As pessoas
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Capítulo 10 • O Evangelho e o Pecado
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judias procuravam, antes de tudo, que Deus não virasse o Seu
rosto deles. Uma vez ao ano, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote entrava na presença de Deus (Lv 16.34); quando ele saía, o
povo tinha a garantia de que Deus continuava no meio deles.
Isso, porém, era apenas uma sombra das coisas boas que estavam
por vir (Hb 10.1); a realidade veio na Pessoa de Cristo. O cristão
vem até à presença de Jesus por um novo e vivo caminho. O
Senhor Jesus disse: Eu sou o caminho (Jo 14.6). Quando a carne
do nosso Senhor Jesus foi rasgada na cruz, o véu do Templo,
em Jerusalém, também foi completamente rasgado (Lc 23.45).
O Santo dos santos continua aberto para qualquer um entrar.
Jesus, de uma vez por todas, fez a verdadeira expiação.
Ao lermos o Antigo Testamento, vemos Davi, um homem à
frente do seu tempo. Ele se agarrou ao fato de que o Senhor
Deus estava com ele. Essa era uma profunda velação e convicção. Poucos se agarraram a isso como ele o fez. E o alcance cristão dessa revelação é ainda maior. Cristo não somente perdoa,
como também nos reconcilia com Deus. Ele não traz somente
o perdão para os nossos pecados; também nos traz de volta para
Deus, nos traz para casa e coloca o Seu amor em nosso coração,
pelo Espírito Santo (Rm 5.5). Fazendo-nos amar o que odiamos
e odiar o que amamos, Ele derruba as muralhas que nos separam
de Deus. Essa gloriosa verdade está completamente fora do pensamento das outras religiões da terra; exceto no do cristianismo.
Isso é raro; é o Evangelho como ele realmente é. Ele lida com o
PECADO, não somente com os pecados.
Nota
[1]. Podemos usar as histórias do Antigo Testamento para ilustrar o Evangelho, mas não era isso o pretendido. Essas histórias
e tudo o que aí lemos falam por si mesmos. Cada uma contém
o seu próprio tema, sua própria revelação da verdade. Elas não
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O Tempo está se Esgotando
são alegorias da verdade, mas cada uma contém sua própria verdade. Não devemos ver nelas o conteúdo de algum pensamento
neotestamentário. Em vez disso, o que ocorre é que os acontecimentos do Antigo Testamento cooperam conjuntamente para a
revelação futura da verdade em Cristo.
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Capítulo 11
O EVANGELISMO
NOS EVANGELHOS
N
a maravilhosa história que Jesus contou, sobre o filho pródigo, o pai não somente perdoou a seu filho, mas também
o recebeu de volta na família. Ele poderia ter dado ao jovem
uma garantia simplesmente verbal de perdão por sua insensatez; ele não era obrigado a deixá-lo altrapassar a soleira da porta.
O pai poderia ter dito simplesmente: “Eu o perdôo; mas agora
pode voltar a cuidar dos porcos. Vou supervisionar o que você
faz”. Porém, em vez disso, correu e o beijou (Lc 15.20). (O tempo
grego do verbo usado nessa passagem significa “continuou beijando-o”). Ele trouxe o seu filho para casa, o vestiu, o alimentou,
e o reintegrou nos seus afetos. Esse é um belo exemplo de como
Deus é.
Essa garantia do amor do Pai por nós também esta lá no
Antigo Testamento, mas aparece apenas subentendido. Temos
de procurá-la, mas está bem lá, desde o princípio. No Novo
Testamento, entretanto, ela se torna uma verdade escancarada.
O princípio do pecado acaba: O pecado não terá domínio sobre
vós (Rm 6.14). Não somente um ou outro pecado, mas todo.
Podemos até mesmo ter um grande pecado, mas ele não terá
raiz, uma vez que somos salvos por Cristo. Esse é o Evangelho
que devemos levar ao mundo.
Mas como um evangelista como eu olha os quatro Evangelhos?
Para mim eles são a revelação de Deus do Seu Filho Jesus. Não
há livro no mundo como eles. Eles não nos trazem simplesmente
a história da vida de Jesus, tampouco biografias interessantes ou
histórias. Pelo menos não os vejo dessa forma. Aliás, eu creio que
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são livros especialmente inspirados pelo Espírito Santo para o
Seu próprio uso. Eles são feitos para se encaixarem em Sua mão,
como uma ferramenta feita sob medida. Ele usa os evangelhos
como uma maneira de nos mostrar o que Ele quer que saibamos
sobre Jesus. Ele pode até usar outros livros e outros meios, mas
os Evangelhos são a origem do que Ele revela sobre o Filho.
Milagres também testemunham de Cristo, mas primeiro temos
de descobrir sobre qual Cristo. O Espírito Santo abre nossa
mente ao verdadeiro Filho, através dos Evangelhos. Ele primeiramente nos deu os Evangelhos, e agora nos dá discernimento
para ver neles a glória de Cristo.
O Evangelho Segundo Mateus
O Evangelho de Mateus apresenta dois grandes temas relacionados: o reino de Deus e o Senhorio, ou autoridade de Jesus
Cristo.
O Senhorio de Jesus
A essência da mensagem da Igreja Primitiva era: Jesus é Senhor.
Milhares morreram por se atreverem a dizer isso. O que eles
diziam era que Jesus é Senhor agora, não apenas em um tempo
futuro, indefinido. Ele é Senhor. Jesus mesmo disse: Toda autoridade Me foi dada no céu e na terra (Mt 28.18).
Nunca vamos coroá-Lo pois, geralmente o maior coroa o menor,
e não o contrário. Ele pode nos entronizar, mas não podemos
colocá-Lo no trono. Não podemos escolhê-Lo como Rei, nem
Ele é eleito democraticamente. Ele está no trono por Seu próprio
direito como Criador e Salvador. Somente Ele é digno e ninguém mais.
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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Evangelismo é proclamar Jesus como Senhor. Ele pode salvar
porque é Senhor em cada dimensão, em cada esfera. O mundo
resiste mas, no final, ele tem de se render. Para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,
e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de
Deus Pai (Fp 2.10,11). Esse é o tipo de linguagem que Paulo usa
quando fala sobre ser embaixadores com uma mensagem de
reconciliação (2 Co 5.18-20).
Por duas vezes Jesus enviou seus discípulos a pregar; primeiro
os Doze (Mt 10.1) e, depois, os Setenta
(Lc 10.1). E, por meio deles, estendeu Sua como um evangelista
como eu olha os
autoridade terrena, até que suas viagens
quatro Evangelhos?
missionárias se completassem. Mais tarde, Para mim eles são a
no Dia de Pentecoste, essa autoridade revelação de Deus
entendida foi renovada e se tornou perma- do Seu Filho Jesus.
nente, alcançando todo o globo.
Paulo, em sua pregação em Atenas, disse:
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo
ele Senhor do céu e da terra […] agora, porém, notifica
aos homens que todos, em toda parte, se arrependam;
porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o
mundo com justiça, por meio de um varão que destinou
e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os
mortos (At 17.24,30,31).
A verdade ardente dos primeiros pregadores do Evangelho é:
Arrependei! Jesus é o Senhor, Seu reino assume o mundo, e Ele
está voltando para reinar como Senhor dos senhores. Beijai o
Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque
dentro em pouco se lhe inflamará a ira (Sl 2.12). Ele é Senhor,
independentemente de o mundo O aceitar ou não.
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O Tempo está se Esgotando
O Reino de Deus
A Bíblia diz que Jesus deu a Pedro as chaves do Reino (Mt 16.19).
É claro que isso não significa que ele carregou as chaves de ouro
dos portões do céu, como muitos imaginam! A chave do Reino é
o Evangelho. Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não
nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (Jo 3.3)
Pedro não foi o único de nós a quem foram dadas as chaves,
mas foi o primeiro a usá-las, no Dia de Pentecoste (At 2.14-41).
Ele também foi o primeiro a usá-las para conduzir um europeu,
Cornélio, ao Reino (At 10.48). O apóstolo Pedro escancarou os
portões para judeus e gentios.
Vamos dar uma olhada em Mateus 11.12 e 13 para entendermos
um pouco mais sobre o que isso significa:
Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é
tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele.
Porque todos os Profetas e a Lei profetizaram até João.
Sei que esse versículo é considerado uma passagem difícil, mas
uma coisa é clara: até João Batista o Reino não havia chegado.
João pregou, dizendo: Arrependei-vos,
Nunca vamos
porque está próximo o reino dos céus! (Mt 3.2).
coroá-Lo pois,
Jesus começou o Seu ministério com essa
geralmente o maior
mesma mensagem (Mt 4.17). A mensagem
coroa o menor,
do Reino são as Boas Novas tão faladas por
e não o contrário.
Mateus. Elas são novas “novas”.
O Evangelho do Reino é também a nossa mensagem. Entretanto,
ela tomou nova forma desde os acontecimentos no Calvário e na
Ressurreição. Somos filhos do Reino (Mt 13.38), proclamando a
necessidade de submissão a Cristo como Senhor e ao chamado
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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ao arrependimento, de modo que todo aquele que o faz, possa
entrar no Reino com todas as riquezas e glórias. Não somos
negociantes de doutrina. Estamos fazendoum anúncio histórico,
uma proclamação. O Evangelho proclama a Cristo como Rei!!
Como filhos de Deus, vivemos sob uma nova ordem centralizada de Cristo:
[Ele] que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança
dos santos na luz. Ele nos libertou do império das trevas
e nos transportou para o reino do Filho do seu amor
(Cl 1.12,13).
O mundo é um território ocupado por rebeldes. Houve uma
época em que todo ele viveu sob as regras satânicas e opressoras (1 Jo 5.19); porém, quando Jesus entrou na batalha, as forças
do reino de Deus começaram a se firmar. Pela primeira vez os
demônios foram expulsos obedecendo a uma ordem, como sinal
da autoridade do reino de Cristo. Agora, pela vitória final do
Senhor, desapossamos o demônio, provando que somos mais
que vencedores por meio d’Aquele que nos amou (Rm 8.37).
Evangelismo é batalha espiritual – cada vez que avançamos com
o Evangelho, fazemos as forças das trevas recuarem.
Paulo fala sobre as armas da nossa luta como sendo a Palavra de
Deus (2 Co 10.3-5; Ef 6.17). Dirigir-nos ao demônio em oração,
orando contra ele em um tipo de combate corpo a corpo, é desconhecido nas Escrituras. Temos a metáfora de Paulo, de vestir
toda a armadura de Deus; contudo, cada item – capacete, couraça,
escudo, etc. – é para proteção; exceto a espada do Espírito, que é a
Palavra de Deus (Ef 6.11-17). “Lutamos corpo a corpo” contra essas
forças espirituais (Ef 6.12), mas a Bíblia nunca diz que a oração
sozinha vai ganhar a batalha. Concordamos que a oração tem
lugar vital, mas ela nunca foi designada como uma arma ativa.
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O Tempo está se Esgotando
Não criamos o nosso próprio poder e autoridade pela oração.
Já temos autoridade em Cristo, que nos é dada através da vitória de Jesus. Lemos, em Apocalipse, que foi expulso o acusador
de nossos irmãos … Eles, pois, o venceram por causa do sangue
do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho (Ap 12.10,11).
Seremos vitoriosos pela palavra do nosso
A verdade ardente dos
testemunho, e não somente pelo testemuprimeiros pregadores
nho. A palavra do nosso testemunho, por
do Evangelho é:
sua vez, é testemunho que ativa a Palavra.
Arrependei!
Em Hebreus 4.12 lemos: Porque a palavra
de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de
dois gumes. Em outras palavras, não encontramos testemunho
eficaz na eloqüência, mas na mensagem divina.
Estamos aqui como servos do Rei, que é o Senhor do céu e
da terra. Pela Palavra de Deus, ungida pelo Espírito, podemos
pregar o Evangelho com autoridade, chamando as pessoas ao
arrependimento; temos nossa autoridade confirmada por sinais
e maravilhas. É isso que é um evangelista e é isso o que ele foi
designado a fazer. Mateus nos fornece uma fórmula clássica para
cumprirmos a Grande Comissão.
O Evangelho Segundo Marcos
O Evangelho de Marcos é muito pessoal, apesar do fato de o
autor não ser um apóstolo, e talvez nunca ter encontrado Jesus
pessoalmente. Um dos escritores da Igreja Primitiva disse que
Marcos escreveu o que ele ouviu Pedro dizer. Creio que há realmente muitas evidências de que alguém, por trás do Evangelho
de Marcos, observou Jesus de perto; alguém que O conhecia
intimamente. Marcos usa a palavra “imediatamente” com muita
freqüência. Esse aspecto do ministério de Jesus chocou Pedro,
como era de se esperar. O próprio Pedro era uma pessoa “apressada”, e logo percebeu que Jesus não ficou por aí, perambulando,
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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mas fez o que tinha de ser feito. Entretanto, havia uma diferença
entre eles: Pedro era impulsivo, ao passo que Jesus agia com perfeita sabedoria.
Mateus e Lucas começam seus livros falando sobre o nascimento de Jesus, e João fala sobre a obra
da Palavra no princípio de tudo (Jo 1.1).
A boa notícia
é pessoal:
Marcos não começa como os outros – nem
alguém
está vindo!
pastores, nem homens sábios e nem anjos.
Isso é típico de Deus.
Ele começa citando os profetas Isaías e
Ele não envia
Malaquias.
idéias às pessoas …
Ele envia as
próprias pessoas.
Ele enviou Jesus e
agora Ele nos envia.
Vimos que as Boas Novas começam no
Antigo Testamento. Os profetas, de modo
geral, falaram de transtornos males acontecendo em Israel; todavia, no meio de
todo o problema que Israel trouxe sobre si mesmo, havia as Boas
Novas:
“Consolai, consolai o meu povo”, diz o vosso Deus.
“Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo
o tempo da sua milícia, que a sua iniqüidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do SENHOR
por todos os seus pecados”. Voz do que clama no deserto:
“Preparai o caminho do SENHOR […] A glória do
SENHOR se manifestará, e toda a carne a verá, pois a
boca do SENHOR o disse.” (Is 40.1-3,5)
As Boas Novas não são algum novo ensinamento ou algum novo
dom, mas um homem – uma voz clamando no deserto – disse
que devemos preparar para a vinda do próprio Senhor. A boa
notícia é pessoal: alguém está vindo! Isso é típico de Deus. Ele
não envia idéias às pessoas … Ele envia as próprias pessoas. Ele
enviou Jesus e agora Ele nos envia.
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O Tempo está se Esgotando
O Evangelho não é apenas doutrina, mas também algo pessoal.
Fazemos com que as pessoas se tornem cristãs unido-as a Jesus,
e não a certos ensinos evangélicos; mesmo que o ensino seja
importante (Mt 18.18-20). Jesus disse: aquele que vem a mim,
de maneira nenhuma o lançarei fora (Jo 6.37). Cristianismo é
relacionamento, não um credo; daí podemos concluir que nosso
papel como evangelistas ou testemunhas, nós mesmos, como
pessoas, somos importantes. Nossa personalidade e Cristo combinam nesse trabalho.
João Batista era um profeta, e apresentou Jesus. Podemos ser
pessoas comuns, mas estamos fazendo o mesmo que João.
Evangelismo também é uma questão de personalidade – homens
e mulheres apresentando o Homem, Jesus Cristo. Qualquer que
seja o meio que usamos para comunicar o Evangelho – rádios,
jornais, fitas, televisão – de qualquer maneira há o toque pessoal.
Pode haver muito da primeira pessoa, o “eu” no que dizemos
porque o Espírito Santo ministra por intermédio de nós, para
desvendar o Jesus vivo.
A integridade – uma descrição leal da verdade em Cristo – precisa estar presente no espírito de um verdadeiro evangelista.
Esse espírito contrasta com o espírito evangelístico a que muitas
famílias estão acostumadas – tipo “fogo e enxofre”, com o dedo
ameaçador apontando para seus ouvintes e pregando às pessoas.
Marcos não tem nada disso. Ele conta a história e só. Ele deixa
o Espírito de Deus fazer o Seu próprio trabalho – não podemos
fazer por Ele. Nosso trabalho é proclamar a verdade. Quando
nós mesmos conhecemos a Jesus, nossas palavras, cheias de
sinceridade, carregarão toda a convicção necessária. Para os
intransigentes, e aqueles que não crêem em seu coração, debates
e argumentação são inúteis. Portanto, deixa Deus tomar conta.
Algumas pessoas precisam viajar por estradas acidentadas para
poderem encontrar o Senhor.
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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Apresentar o Evangelho por meio de debates ou argumentos
pode ser inútil. A fé não se baseia na lógica e nem vem por meio
da sabedoria das palavras. Se afirmamos a verdade, se sabemos a
verdade, e se conhecemos a Jesus, então, sim. “Um homem convencido contra a sua vontade, continua com a mesma opinião”,
diz o provérbio. O Evangelho de Marcos julga os leitores. Se
eles são humildes, abertos e receptivos, eles crerão; entretanto, os
orgulhosos de seus próprios interesses não crerão. Eles exigirão
provas, as quais não são dadas, exceto aos crentes. Creia e você
verá. Se uma pessoa não crer, não poderá ver a Deus, mesmo
se Ele abrir os céus e descer na sua frente (Lc 16.31; Jo 20.29).
Aliás, foi exatamente isso o que Jesus fez! Através de Marcos,
Pedro nos mostra como evangelizar: pregue a Cristo, conheça-O
melhor, testifique dEle como a Palavra diz que Ele é.
O Evangelho de Marcos foi chamado de
“paixão narrativa com um prólogo”. A cruz Quando nós mesmos
conhecemos a Jesus,
de Cristo projeta sua sombra até a metade
nossas palavras,
do livro. Não se fala muito sobre a ressur- cheias de sinceridade,
reição – somente 14 versos. É do Jesus que
carregarão toda a
andou na Galiléia e foi à cruz que Pedro convicção necessária.
se lembra. Evangelismo é isso: um homem
falando sobre um Homem a quem ele conhece e ama – Jesus, o
Homem e o Cristo.
O Evangelho Segundo Lucas
O começo do Evangelho de Lucas estabelece o tema geral e o
caráter do livro. Ele começa com um pacato casal de velhos,
Zacarias e Elisabete, considerados profundamente infelizes
porque não tinha nenhum filho. Esse casal pertencia à tribo de
sacerdotes. Para eles, não ter herdeiros era uma enorme tristeza.
Assim, para anunciar a vinda do Seu Filho, Deus abençoou esse
casal de idosos com uma criança bem ilustre, a quem chamaram
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O Tempo está se Esgotando
João Batista. A seu respeito Jesus disse que, entre os nascidos de
mulher, ninguém havia maior do que João (Lc 7.28). Minha própria impressão sobre Lucas é que ele se preocupa com as pessoas
destituídas, bem como parece focalizar bastante as pessoas ricas
e bem conhecidas, pois as vê como destituídas espiritualmente.
O Pobre Rico
A Boa Nova de Lucas é para esses que perderam a vida, os forasteiros, especialmente
aqueles que tiveram o melhor da vida aos
olhos da maioria – pessoas como Herodes e
os líderes espirituais de Israel. Na segunda
obra de Lucas, o livro de Atos, ele continua
no mesmo estilo. Paulo prega para Felix e
Agripa, e para seus cortesões reais e familiares; podemos até mesmo identificar sentimento de pena nas palavras do apóstolo.
Paulo exclama: Assim Deus permitisse que, por pouco ou por muito,
não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias (At 26.29). Esse é quase o
tema chave de Lucas e Atos: evangelismo ao rico destituído.
Lucas
se preocupa com as
pessoas destituídas,
bem como parece
focalizar bastante as
pessoas ricas e bem
conhecidas,
pois as vê como
destituídas
espiritualmente.
O evangelho de Lucas é cheio desses exemplos. Jesus encontra
um homem que tem uma questão sobre herança, uma certa
quantia que pertence a ele. Jesus lhe mostra que dinheiro pode
ser uma maldição e que ele deveria se envolver com outras coisas,
procurando a felicidade em outra direção: … porque a vida de
um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui
(Lc 12.15). Ele fala desses que querem se sentar no lugar de honra
de uma mesa de banquete, e mostra que seriam mais felizes se
sentassem em lugares menos importantes (Lc 14.8-10).
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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Jesus analisa essa questão nas seguintes histórias:
a. O pastor com cem ovelhas que está preocupado por ter perdido uma (15.4-7).
b. A mulher que tinha dez moedas, mas estava quase em pânico
porque ela havia perdido uma delas (15.8-10).
c. Um pai e dois filhos, todos afetados por posses de alguma
maneira prejudiciais: o pródigo que pensa que o dinheiro vai
lhe trazer vida; o outro filho que tem tudo, mas seu coração está imundo e se recusa a se juntar à alegria; o pai, cujo
dinheiro trouxe tanto a tristeza de perder o pródigo, como
o ressentimento do filho mais velho pela volta do pródigo
(15.11-32).
Também há a história do mendigo Lázaro e do homem rico, que
passava por ele todos os dias. Ambos morreram, mas o homem
rico foi para o inferno, implorando – tardiamente – pela ajuda
de Lázaro, que foi para o céu (16.19-31).
Jesus também mostra preocupação com o “pobre rico”. Mais
de um quarto das referencias à pobreza e ao pobre, no Novo
Testamento, são encontradas no livro de Lucas. Os pobres materialmente – aqueles que não têm dinheiro – são chamados de
abençoados, porque podem ser muito mais ricos do que pessoas
que possuem riquezas materiais. O Evangelho de Lucas traz
também o grande poema profético de Maria, a passagem que
chamamos de Magnificat:
Ele mostrou força com Seu braço;
Ele dispersou o orgulhoso na imaginação do seu coração.
Ele destronou os poderosos,
E exaltou os humildes.
Ele encheu de bens os famintos,
E o rico Ele o despediu vazio (Lc 1.51-53).
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Em Lucas 18.18-30 vemos o jovem rico que veio a Jesus perguntando como receber a vida eterna. Esse pequeno episódio termina com o jovem rico indo embora muito triste. Ele ficou com
o seu dinheiro, mas será que perdeu a sua alma? Jesus comentou
que seria quase impossível para um rico entrar no reino de Deus
– somente pela grandeza de Deus isso poderia ser feito. Isso me
traz à mente dois versículos do livro de Apocalipse. Aqui nós
encontramos um total contraste entre pobreza e prosperidade:
Estas são as palavras daquele que é o Primeiro e o Último,
estava morto, e reviveu: conheço a tua tribulação, a tua
pobreza (mas tu és rico). (Ap 2.8,9.)
Pois dizes: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa
alguma”, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável,
pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro
refinado pelo fogo para te enriqueceres. (Ap 3.17,18.)
Em Nazaré, Cristo declarou Sua missão. Ele disse: O Espírito
do Senhor está sobre mim … para pregar boas novas aos pobres
(Lc 4.18). Mas quem é o pobre? Tiago tem muito a dizer sobre
isso:
Deixe o irmão humilde na glória da sua exaltação, mas o
rico na sua humilhação … então, o homem rico passará
nas suas buscas (Tg 1.9-11).
Não escolheu Deus o pobre deste mundo para ser rico
em fé e herdar o reino o qual Ele prometeu aos que O
amam? (Tg 2.5.)
Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das
vossas desventuras, que vos sobrevirão (Tg 5.1).
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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O Deus Desses que Não Pertencem
Quando Jesus pregou em Nazaré, Sua cidade natal, Seu sermão
foi sobre dois forasteiros (Lc 4.24-27): a mulher viúva, que
fora alimentada durante a fome nos dias de Elias (1 Re 17.1-16);
e o sírio, chefe das forças armadas que fora curado de lepra
(2 Re 5.1-14). Apesar de não serem de Israel, Deus supriu as suas
necessidades.
Na época em que Jesus vivia aqui na terra, havia pouca ocupação
para os forasteiros na região dos judeus. Os vizinhos anteriores
de Jesus sofreram um ataque de cólera com a idéia de que Deus
favoreceria os não judeus, e preteriria Seu povo Israel. Lucas usa
essa história para nos dizer que Deus é o Deus daqueles a quem
Ele não pertence. Ele veio para os perdidos, para as pessoas
arrastadas pela corrente sem âncora.
O Evangelho de Lucas é um livro para o qual muitos se voltaram para encontrar apoio ao “evangelho social”. Entretanto,
Lucas realmente se posiciona à parte de questões de classe, e se
interessa pelos que, por alguma razão, sentem que perderam a
vida. Por exemplo, Lucas 8.43-48 nos conta a história de uma
mulher que tocou nas vestes de Cristo e foi curada de um fluxo
de sangue.
A constante hemorragia dessa mulher era um desastre. Deixou-a
anêmica, fraca, arquejante, e mal podendo andar. Ela também
era pobre, pois havia gasto tudo o que tinha com médicos. Por
não ter dinheiro, ela não tinha mais como se alimentar adequadamente, para compensar sua perda de força. Ela também
era considerada suja, e por causa da sua doença, todas as coisas
e todas as pessoas que ela tocava eram consideradas imundas
(Lv 15.19-30). Ela não tinha amigos e era indesejada – rejeitada
socialmente como qualquer leproso.
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O Tempo está se Esgotando
Jesus fazia itinerários sistemáticos pelas vilas e, por isso, ela sabia
que Ele estaria passando naquela região. Quando ele veio, ela
lutou entre a multidão e tocou a orla da Sua veste e foi instantaneamente curada. Ela sentiu, e Jesus
Deus é o Deus
também. Agora vem a questão toda dessa
daqueles a quem
história: o importante não foi exatamente a
Ele não pertence.
cura, mas o que aconteceu depois.
Ele veio para os
perdidos,
para as pessoas
arrastadas pela
corrente sem âncora.
Jesus perguntou quem O havia tocado.
Bom, muitos o fizeram. Poderia ter sido
pessoas importantes que também estariam
inquietas e à frente, para mais tarde se
vangloriarem de que haviam tocado no Mestre. Também havia
muitos doentes, que O seguiam de perto, esperando receber
dEle um toque pessoal, de alguma maneira, para serem curadas.
Havia ainda as pessoas constantemente apressadas que simplesmente queriam estar perto do fazedor de milagres de Nazaré.
Entretanto, naquele momento todo mundo ficou parado. Jesus
olhou ao redor – quase como se Ele estivesse acusando quem
O havia tocado. O espaço ao Seu redor se abriu, as pessoas se
afastaram como se Seus olhos procurassem a multidão.
Então aquela mulher se aproximou trêmula e amedrontada. Por
quê? Porque ela O havia tocado e sabia que a sujeira dela havia
maculado Jesus (da mesma forma que a sujeira do nosso pecado
O maculou) – Ele se fez pecado por nós (2 Co 5.21) na cruz. Agora
todos os olhos estavam sobre ela. A multidão inteira estava
em silêncio, e todo mundo se esforçando para ver quem havia
causado todo aquele alvoroço. Jesus Cristo, o Filho de Deus,
estava totalmente focado nos rejeitados – uma fração de uma
humanidade desconhecida. A solidão daquela mulher, associada
à sua doença, colocaram todo o céu em polvorosa, e, naquele
momento, era como se Deus tivesse mandado o Seu Filho ao
mundo só por causa dela. Então, veio o Seu veredicto. O mesmo
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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que um dia vai julgar as nações e pronunciar a Sua sentença
sobre poderosos impérios. O Senhor e Criador do céu e da terra
parou por um momento, e disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te
em paz.
Se somos ricos ou pobres, grandes ou pequenos, os olhos do
Senhor vêem a cada um de nós como realmente somos. Ele não
precisa de que alguém lhe dê testemunho a respeito do homem,
porque ele mesmo conhece a natureza humana. (Jo 2.25). Sua
resposta às pessoas era sempre a mesma: Ele as amava. Marcos
diz que Ele amou ao jovem governante. Ele amou João, um dos
Seus discípulos mais novos, um simples pescador. As pessoas se
sentiram levadas com uma onda de amor por esse Homem, com
a Sua amabilidade acolhedora e extrovertida. Encontrá-Lo era
um momento inesquecível.
Lemos, no livro de Lucas, que em certo sábado Jesus passava
pelos milharais. Seus discípulos estavam com fome e, então,
começaram a colher algumas espigas, a debulhá-las e a comer
os grãos. Quando os fariseus viram que os discípulos estavam,
por definição, colhendo – tecnicamente trabalhando – no dia
de descanso, disseram a Jesus: Por que fazeis o que não é lícito
aos sábados? (Lc 6.2.) Lucas nos conta parte da resposta de Jesus;
entretanto Mateus gosta de citar a Escritura e conta que Jesus
também disse: Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia
quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes. Porque o
Filho do Homem é senhor do sábado. (Mt 12.7,8).
Jesus sabia que Seus discípulos estavam com fome. Porém, era
sábado e, portanto, eles não poderiam comprar ou fazer qualquer pão. Os fariseus também sabiam, mas eles não estavam
olhando a necessidade humana – somente as suas falhas. Eles
não estavam preocupados se esses homens estavam com fome,
mas, sim, com cada uma de suas regras e rituais. Jesus nos ensina
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O Tempo está se Esgotando
a olhar primeiro a necessidade do nosso irmão, em vez da sua
religiosidade (Mt 5.44-47; Lc 6.27; 10.29-37; 14.12). Jesus está
preocupado com as pessoas, não com a religião.
Jesus Cristo,
o Filho de Deus,
estava totalmente
focado nos rejeitados
– uma fração de
uma humanidade
desconhecida.
A solidão daquela
mulher, associada
à sua doença,
colocaram todo o
céu em polvorosa, e,
naquele momento,
era como se Deus
tivesse mandado o
Seu Filho ao mundo
só por causa dela.
Ele disse aos fariseus: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem
por causa do sábado (Mc 2.27). Aliás, a lei
do sábado significava uma lei de liberdade.
Como escravos no Egito, os filhos de Israel
trabalhavam sete dias por semana. Quando
eles saíram da escravidão, Deus falou aos
Israelitas para descansarem uma semana
(Êx 20.10-11; 31.15; Hb 4.3). Contudo,
através dos séculos os estudiosos de Israel
torceram o significado do sábado em uma
ordem de não trabalhar, a qual se tornou
um peso, mais do que o trabalho em si
mesmo! O sábado de descanso se tornou
uma carga pesada – pesada demais para
carregar.
Entretanto, Jesus era o defensor dos oprimidos. … e compadeceuse deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor (Mc 6.34).
Eles não tinham ninguém para defendê-los. Então, procuraram
o Senhor porque sabiam que Ele era forte o suficiente para realizar a tarefa. O momento mais memorável na nossa vida é quando
Jesus entra no nosso coração – como se fôssemos os únicos. Esse
é o dia que o mundo começa para cada um de nós; o que, naturalmente, é um grande acontecimento para os evangelistas e para
o testemunho pessoal. Se você está testemunhando para um, ou
para cem mil, a base da obra de salvação de Jesus é pessoal, um a
um. Ele trabalha com indivíduos, e cada um em especial. Cada
pessoa que Ele chama tem uma função chave nos planos futuros
e nos propósitos de Deus.
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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Lucas 8.37 nos fala de Jesus expulsando uma legião de demônios
de pessoas possessas, mas permitindo a eles entrarem em um
bando de porcos que. Por causa disso, os animais se precipitaram mar a dentro, e se afogaram.
Aqueles que estavam cuidando dos porcos fugiram apressados
e foram relatar o ocorrido no povoado e nas redondezas, e as
pessoas saíram para ver o que havia acontecido. Quando eles
vieram a Jesus, viram o homem que estava possuído pela legião
de demônios, sentado, vestido, e com a mente sã, e ficaram com
medo. Os que tinham visto isso contaram às pessoas o que havia
acontecido ao homem possesso pelo demônio – e também sobre
os porcos. Então as pessoas imploram a Jesus que deixasse a
região e fosse embora (Mc 5.14,15,17).
Surpreendente! Esses homens estavam com medo da sanidade! E
hoje vemos pessoas que também estão com medo de verdadeiros
cristãos, porque eles estão muito sãos para esse mundo louco.
Quando o homem era um lunático, eles tinham medo da sua
insanidade; agora estão com medo da sua sanidade. É, o mundo
sempre está com medo. Entretanto, o cristão verdadeiro não tem
necessidade de ter medo de coisa alguma.
Pela reação daqueles que trabalhavam com os porcos, ficou claro
que o que aconteceu com os animais foi tão importante para eles
quanto o que aconteceu com o homem. Para eles, era como se as
duas coisas estivessem ligadas. Quando os moradores da cidade
vieram, viram o homem agora liberto, sentado, vestido e com
sua “mente em ordem”. Eles ficaram com medo; talvez porque
existissem muitos possessos entre eles, na região dos gerasenos
e, se Jesus tivesse que expulsar mais demônios, eles perderiam
ainda mais porcos. Ou pode ser que, na presença de Jesus, eles
simplesmente se tornaram dolorosamente cientes da sua própria
escuridão. Qualquer que seja a razão, eles estavam desejosos de
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O Tempo está se Esgotando
ver Jesus pelas costas! Contudo, para o Senhor aquele homem
liberto tinha mais valor do que todos os porcos do mundo. Os
porcos vão às dúzias para a sujeira, mas o ser humano é uma
criatura especial, rara. Há alegria entre os
Os fariseus
anjos quando um pecador se arrepende
também sabiam,
(Lc 15.7,10).
mas eles não
estavam olhando
a necessidade
humana – somente
as suas falhas.
Quando Jesus ressuscitou da morte, não
havia um brado de triunfo ecoando entre
as primeiras palavras que Ele proferiu. Era
simplesmente a Sua voz, falando como
sempre falou, “Maria!” (Jo 20.16). Isso é evangelismo; sem disparate, agitação, psicologia de multidão, nem provocação de histeria de massa. Era Jesus colocando Suas mãos de amor, cura e
força sobre cada um de nós. Nossa maneira de evangelizar deve
ser coerente com o que Jesus fez. É assim que eu me sinto ao ler
os Evangelhos separadamente: Marcos, com o seu toque pessoal,
e Lucas, com sua preocupação com o desconhecido, o esquecido,
e o forasteiro. Evangelismo traz o perdido para perto de nós e o
faz parte da família.
O Evangelho Segundo João
Toda testemunha cristã tem dois objetivos: falar de coisas que são
reais, e demonstrá-las. Quanto mais leio o Evangelho de João,
mais claros se tornam esses objetivos. A pregação do Evangelho
faz com que esse Evangelho aconteça; Ele é um criador de novidades – você prega a Boa Nova e ela acontece.
João fala muito sobre água em seu Evangelho. Creio que todos
sabem que a água é descrita quimicamente como H2O – duas
partes de hidrogênio e uma parte de oxigênio. Dois gases.
Coloque os dois juntos em um tubo e tudo o que você terá será
gás. Os gases são invisíveis e, por isso, às vezes quase cremos
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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que eles não existem. E é essa a mesma idéia que muitos têm
a respeito do sermão – conversa, ar quente, gás. Falamos sobre
coisas que os incrédulos não podem ver e, as quais, pensam não
serem reais.
Agora, coloque uma faísca elétrica dentro da sua mistura de
hidrogênio e oxigênio; os gases imediatamente explodem e se
tornam água, e o invisível se torna visível – real. É isso também
o que acontece com relação à pregação. Você pode apresentar
as verdades do Evangelho, falar até ficar roxo, mas se não tiver
o toque do Espírito Santo, essas gloriosas verdades permanecerão escondidas, irreais e incompreensíveis aos não crentes. É o
Espírito Santo quem provê a faísca que acende as suas palavras,
e que faz com que o Evangelho, repentinamente, se torne água
da vida. Entretanto, o Evangelho não tem poder até que você o
pregue. Então, com a ajuda do Espírito de Deus, o Evangelho se
torna o poder de Deus para a salvação (Rm 1.16). E claro que a
fé também é muito necessária (Rm 4).
O Evangelho de João nos fala de Jesus conversando com uma
mulher que veio tirar água do poço que ficava na cidade de
Jericó. Jesus disse a ela: aquele, porém, que
Hoje vemos
beber da água que eu lhe der nunca mais
pessoas
que também
terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe
estão com medo de
der será nele uma fonte a jorrar para a vida
verdadeiros cristãos,
eterna (Jo 4.14). Água verdadeira. Mais
porque eles estão
tarde Ele disse a ela que os verdadeiros adomuito sãos para
radores adorariam a Deus em Espírito e em esse mundo louco.
verdade (Jo 4.23,24). Jesus estava contrastando o terreno com o espiritual, o símbolo com a substância.
Depois, os moradores da cidade disseram: … sabemos que este é
verdadeiramente o Salvador do mundo (Jo 4.42).
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O Tempo está se Esgotando
A noção de coisas reais e verdadeiras, e da realidade existente
por trás delas, é encontrada mais de uma vez nesse capítulo.
Os discípulos haviam ido comprar comida e, quando voltaram,
disseram a Jesus que comesse; porém, Ele disse: uma comida
tenho para comer, que vós não conheceis. A minha comida consiste
em fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra
(Jo 4.32,34).
Então Ele falou sobre a colheita, e usou o campo de trigo, que
estava diante deles, para simbolizar a verdadeira colheita de
almas (versos 35 e 36). Essa é uma passagem muito preciosa para
testemunhas e evangelistas, por todos os lugares. A verdadeira
colheita! Em nossas igrejas costumamos celebrar um culto de
ações de graças pela colheita, uma vez por ano. Todavia, no
céu os anjos celebram ação de graças sempre que uma alma é
resgatada.
João trabalha esse tema de realidade por
todo o seu Evangelho. A Palavra tornou-se
carne (Jo 1.14). A carne era realmente carne
– não um fantasma – mas a verdadeira
realidade era a Palavra. João queria que
seus leitores olhassem além do que seus
olhos mortais podiam ver, e captassem a
revelação do Espírito. Entretanto, a menos
que as pessoas sejam nascidas de novo, elas
não poderão ver. É somente quando elas
são novas criaturas que podem ver o Reino
(Jo 3.5). De repente ele vem, com poder e
maravilha, trazendo propósito para a nossa
vida! A realidade está além de todas as aparências terrenas. João está sempre falando da
verdadeira luz, verdadeira visão, verdadeiro pão, verdadeira água,
verdadeiro pastor, verdadeira videira – a Verdade verdadeira.
Você pode
apresentar as
verdades do
Evangelho,
falar até ficar roxo,
mas se não tiver
o toque do
Espírito Santo,
essas gloriosas
verdades
permanecerão
escondidas,
irreais e
incompreensíveis
aos não crentes.
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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Jesus disse: Eu sou o caminho e a verdade e a vida (Jo 14.6).
Verdade significa realidade, o original, o genuíno. Jesus é a realidade por trás de todas as coisas que vemos. Ele é a verdade sobre
a criação, sobre o futuro, sobre nós. João usa o mesmo tema nas
suas epístolas: o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam …
Verbo da vida (1 Jo 1.1). O físico é o disfarce do eterno. João viu
Jesus e todo mistério foi resolvido. Tudo se encaixou. A filosofia
tinha acabado.
João começa o seu Evangelho com a seguinte frase: No princípio
era o Verbo. Jesus é a realidade da qual todas as coisas vieram.
A ciência moderna ficou sem saída na tentativa de resolver o
problema da origem do universo. Afirma, com toda segurança,
sobre uma Grande Explosão, da qual o universo veio a existir.
Só que os “entendidos” não têm a menor idéia de como a “coisa”
que explodiu se originou, o que era, e de onde veio. Contudo,
sabemos que o universo foi criado, e veio de Deus. Pode até ser
que Ele tenha começado as coisas desta maneira: uma imensa
concentração de substâncias arremessadas no vazio pela Sua onipotente mão, explodindo no universo com toda a sua maravilha,
diversidade, energia e vida.
Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela
palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir
das coisas que não aparecem (Hb 11.3).
Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a
ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim
será a tua descendência (Rm 4.18).
O Antigo Testamento nos traz uma vaga idéia de um Deus onipotente adentrando a escuridão de um mundo pagão, confrontando e confundindo reis, mudando a História – o Deus que
responde por fogo. Lemos ali que Deus criou no coração das
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O Tempo está se Esgotando
pessoas um desejo pela realidade, pela substância espiritual, algo
além, acima, e fora do mundo cotidiano com seus acontecimentos costumeiros, sua ciência, razão e tudo o que é explicável. Mas
a dimensão do Espírito é um mundo de entusiasmo e satisfação.
Mas como nós entramos nele?
Chegamos na questão crucial: como fazemos com que algo
real se torne real para uma geração perdida, tateando na escuridão? Mais uma vez, pela Palavra se torJesus é a realidade
nando carne – a Palavra de Deus em nós
da qual todas as
– através do Evangelho em nossa vida, em
coisas vieram.
nosso coração e mente. Pessoas vivas com
a Palavra Viva! Evangelismo é tudo o que Deus pede de nós.
Pregue a Sua Palavra e Ele fará o resto. Repentinamente as pessoas verão.
O evangelho é a ponte! Ele faz a ligação entre o terreno
e o celestial, esse mundo e o outro mundo, o mundano
ao divino. Através disso o poder de Deus flui como uma
invisível corrente elétrica, abatendo um aparentemente
inalterado e inútil cabo. Temos, porém, este tesouro em
vasos de barro (2 Co 4.7).
Devemos construir a ponte do Evangelho com o nosso testemunho. As pessoas passam por essa milagrosa ponte em direção da
luz, do Reino, saindo da condenação para
Evangelismo
a emancipação, para a casa do Rei, para
é tudo o que Deus
a gloriosa liberdade como filhos de Deus
pede de nós.
(Rm 8.21). Os que estão cego, verão, e os
Pregue a Sua Palavra
famintos serão alimentados com o verdae Ele fará o resto.
deiro Pão. Não há outro Pão que satisfaça;
não há substituto, nem alternativa – somente um Pão, uma Água
da Vida, uma Verdade, e tudo se resume em Jesus.
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Capítulo 11 • O Evangelismo nos Evangelhos
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O caminho para se experimentar a vida espiritual não é pelo
misticismo, pela meditação transcendental, pelo jejum ou pela
privação. A espiritualidade não vem por meio de sacramentos,
ou aprendizados, ou sugestão de arquitetura da igreja, música ou
poesia. Só podemos encontrar a vida espiritual no Evangelho, a
Palavra de Deus. Não estamos pregando algo em processo, mas
uma obra já acabada, pronta para ser posta em ação. Não há a
necessidade de sacrifício. Evangelismo não é uma tarefa desesperada; é uma alegria!
Nós pregamos: … não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que
a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder
de Deus (1 Co 2.4,5). O Evangelho é um pacote de poder; uma
força de vida. Pregue-o e veja-o agir! É simples assim.
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Capítulo 12
O EVANGELISMO
NA VISÃO DO
APÓSTOLO PAULO
C
ada passagem do Novo Testamento transmite a idéia
de evangelismo. Mesmo quando Paulo dá instruções a
Timóteo e Tito, com relação ao compromisso com os líderes
das igrejas, isso é parte de toda uma estratégia evangelística.
Vamos dar uma olhada nas cartas apostólicas de Paulo, à Igreja
Primitiva.
Acredita-se que a primeira dessas cartas seja 1 Tessalonicenses.
Paulo e dois companheiros visitaram a Tessalônica pelo período
de apenas três semanas. Ali eles foram acusados falsamente,
espancados, presos e, depois, libertados. Depois disso as autoridades locais, preocupadas que eles pudessem provocar uma revolta, os aconselharam Cristianismo não é
em nada parecido
a partir. De certa forma, durante aquele
ao que se havia
tempo, muitos vieram a Cristo. Os três
pensado antes.
pioneiros fundaram uma igreja notável,
que deu continuidade ao trabalho demonstrando poder cuidar
muito bem de si mesma.
Pregando a uma Sociedade Pagã
Será que o passado “religioso”, como adoradores de ídolos, dos
tessalonicenses, os ajudou de alguma forma em sua nova vida?
Absolutamente, não. Paulo lhes escreveu:
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O Tempo está se Esgotando
Deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes dos
céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos,
Jesus, que nos livra da ira vindoura (1 Ts 1.9,10).
O Evangelho de Cristo é idéia de Deus, e não de homens. O
homem nunca será capaz de criar algo parecido com isso; podemos pregar essa mensagem com orgulho. Podemos dizer como
Paulo: Não me envergonho do evangelho (Rm 1.16). Nada do que
os pagãos creram anteriormente poderia tê-los ajudado a entender o cristianismo. Eles tiveram de olhar em outra direção e
escolher um novo caminho.
Os liberais costumam dizer que a religião pagã era um solo
fértil e, por isso, o cristianismo criou raízes tão facilmente. Eles
atribuem o crescimento do cristianismo ao pensamento grego,
tanto ou mais que à inspiração divina. Eles também sugerem
que religiões misteriosas tinham idéias semelhantes ao ensino
cristão, como o novo nascimento, por exemplo. Entretanto, cristianismo não é em nada parecido ao que se havia pensado antes.
O Evangelho não deve nada ao paganismo, embora eles possam
ter sido grandes e sábios. Os primeiros pais da Igreja fizeram uso
das idéias dos filósofos gregos para desenvolver os seus ensinamentos; mas a verdadeira Palavra de Deus é original.
As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada
em cadinho de barro, depurada sete vezes. (Sl 12.6).
Os adoradores de ídolos tinham de mudar os seus padrões de
pensamento para poderem seguir a Jesus; precisavam se tornar
novas criaturas (2 Co 5.17). O Evangelho não combinava em
nada com o que eles tinham em sua mente. As religiões pagãs
estavam entranhadas na vida social da cidade: nada era feito sem
que se ofertasse alguma coisa aos deuses, e qualquer desrespeito
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Capítulo 12 • O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo 227
a um deus local poderia ser punido até mesmo com a pena de
morte – cristãos “perigosos” tinham de prestar contas quando
pregavam a Palavra. Multidões de cristãos morreram porque não
se renderam, reconhecendo o Imperador Dioclesiano como o
“Senhor e Deus”. Parecia impossível mudar aquela cultura pagã
e as trevas se opuseram desafiadoramente à luz; entretanto os
primeiros pioneiros cristãos prevaleceram. Esse é o poder e a
glória do Evangelho.
Em contrapartida, compartilhar o Evangelho nos Estados
Unidos, na Europa e em alguns outros
Jesus havia sido
países do mundo pode parecer quase uma
crucificado e
rotina. Muitas conversões são de filhos nasexecutado como um
cidos em lares evangélicos; e somos gratos
criminoso apenas
a Deus pela existência deles. Contudo,
20 anos atrás.
existem famílias inteiras que são quase que
Isso tornou-se
completamente ignorantes com relação
o fundamento da
sua mensagem.
à Bíblia, e vivem longe de Deus. É difícil
penetrar no mundo deles. Mas, e quanto
ao mundo que os apóstolos atacaram? Não havia um cristão em
toda a Europa, ou na maioria do mundo romano!
As epístolas escritas nesses tempos estressantes – muitas até
mesmo da prisão – podem ser excelente fonte de direção e inspiração. A Igreja estava se colocando contra milhares de anos de
ateísmo, que se alastrava por toda a terra, e Paulo entrou nisso
quase sozinho. Os obstáculos eram enormes e assustadores. O
apóstolo disse que estava em Corinto com temor e grande tremor
(1 Co 2.3). Entretanto, Paulo controlou os seus sentimentos,
ou melhor, sua paixão, para que Cristo pudesse superar todas
as outras emoções (2 Co 5.14). Ele assumiu a tarefa, pregou o
Evangelho, e o futuro da Europa foi mudado. O Evangelho
demonstrou ser suficientemente capaz de vencer o desafio.
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O Tempo está se Esgotando
Isso foi evangelismo verdadeiro; um verdadeiro confronto por
Jesus Cristo. Jesus havia sido crucificado e executado como um
criminoso apenas 20 anos atrás. Isso tornou-se o fundamento da
sua mensagem – uma maneira bem improvável de impressionar
as multidões na época; contudo, a unção sobre a vida dos discípulos foi manifesta em Tessalônica e grande número de gregos
idólatras se voltaram para o Deus vivo. E isso também pode ser
feito nos dias de hoje. Ainda há uma desesperadora necessidade
do Evangelho!
Alvo: América
Podemos comparar a América com a Europa de muitas maneiras. Elas estão ligadas pela história e por muitas coisas que estão
acontecendo hoje em dia. Podemos aprender muito com cada
um desses lugares.
A América é um país abençoado. Segundo estatísticas, 50%
a 60% da população dessa nação tem algum tipo de interesse
religioso. E isto significa uma grande esperança para o mundo
inteiro. Glória a Deus por isso! A tradição religiosa é uma grande
herança nesse país. As gerações passadas lançaram os fundamentos para as pessoas com relação ao cristianismo: outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho (Jo 4.38). Como resultado,
existe um “estoque” de interesse cristão pronto e esperando para
ser “utilizado”. Um verdadeiro oceano, se comparado ao pequeno
tanque da Europa.
Entretanto, há um lado bastante perturbador nesse país pluralístico. Dezenas de milhões de americanos não estão interessados nas coisas de Deus, ou estão terrivelmente interessados em
outras formas de espiritualidade, não cristãs. Alcançar pessoas
nessa situação é uma tarefa muito difícil. Então, como as igrejas crescem ali? E as mega igrejas? Será que elas estão causando
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Capítulo 12 • O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo 229
algum prejuízo no grande número de deuses? Ou estão apenas
organizando os que já estão interessados em Cristo, em vez de
arrancar tição do fogo? (Zc 3.2).
Esses forasteiros deveriam ser o item numero 1 na agenda de
qualquer igreja – e não apenas “um outro negócio”. Será que a
igreja deveria ficar satisfeita só porque existem muitas pessoas
chegando para as reuniões? Não poderemos descansar enquanto
houver uma única pessoa não convertida! Uma grande igreja não
é um fim em si mesma, e, sim, um instrumento para o evangelismo mundial. Se a igreja se preocupa somente com seus próprios negócios, com seu quadro de membros, ela se torna uma
eficiente máquina de produzir nada além de folhas (Mc 11.13).
Uma igreja não é uma instituição, mas um ramo da videira, que
tem como finalidade dar fruto. Se o ramo
O objetivo da vida
não produz, ele vai ser eventualmente
cristã não é receber,
cortado.
receber, receber;
mas dar, dar, e dar.
As igrejas só podem estimular o crescimento usando “métodos de negócios” onde exista um “bom
mercado” e uma baixa “resistência às vendas”, o que parece ser a
situação na América do Norte. Agora é tempo de tirar proveito
da oportunidade. Técnicas comerciais, meramente, podem até
explorar as possibilidades existentes; mas o Evangelho verdadeiro
é aquele que ataca as impossibilidades. Só alcançamos o verdadeiro crescimento da igreja através do evangelismo. Aprouve a
Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação (1 Co 1.21).
Recentemente foi relatado que mais de um milhão de pessoas
foram a uma igreja na Flórida, e centenas de milhares responderam ao chamado da salvação. Isso nos diz que há uma animada e
ascendente maré de interesse espiritual. Mas qual a porcentagem
desses que vieram, têm realmente interesse em religião? Quantos
turistas cristãos vieram apenas porque ouviram que ali estava
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O Tempo está se Esgotando
acontecendo muitos milagres? Será que essa igreja cumpriu o
seu propósito de se tornar uma grande igreja? E já que cresceu,
será que pode descansar nos seus louros? Será que a igreja fez o
seu trabalho e já cumpriu a Grande Comissão? Claro que não!
E é isso o que a própria igreja admitiu prontamente. Por favor,
não me entenda mal: é bom para os cristãos terem o retorno de
outras confraternizações além do deles mesmos, mas certamente
a necessidade crucial é que a Grande Comissão de Cristo queime
em nosso coração.
Gostaria de chamar a atenção do leitor aqui. Não creio que o
propósito final do nosso ministério seja ensinar as pessoas a
como obter as coisas de Deus. Afinal, o objetivo da vida cristã
não é receber, receber, receber; mas dar, dar, e dar.
A China está vivendo um momento de reavivamento. Contudo,
os milhões que ali estão vindo a Cristo sabem muito bem que
enfrentarão muitos problemas, possivelmente prisão, por ser algo
algo totalmente desaprovado pelo governo. O cristianismo não
é uma grande e confortável poltrona, e Deus não está às nossas
ordens, aguardando para nos trazer o que pedimos. Nossa
função aqui é trazer o mundo de volta para Deus.
Evangelismo Cotidiano
O trabalho do evangelismo precisa ser contínuo, mesmo quando
parece não haver nenhum avivamento em vista. A idéia do evangelismo em si mesmo torna-se um pouco confusa, com momentos de grandes fenômenos. A menos que o evangelismo esteja
ligado a manifestações marcantes e tremendo poder espiritual,
alguns vão dizer que isso é obra da carne. Segundo a ótica de
alguns, o evangelismo pode não ser avivamento, não obstante, é
o trabalho de Deus colocado diante de nós. Isso pode ser difícil
– uma verdadeira batalha.
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Capítulo 12 • O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo 231
O evangelismo nem sempre significa grandes emoções, avivamento de fogo, multidões, maravilhas, e tudo indo muito bem.
O progresso dos apóstolos não era medido de avivamento em
avivamento. Paulo ia regularmente às sinagogas (At 17.2) e, provavelmente, seria descartado de primeira em nossa concepção.
Geralmente o trabalho deles era lento, edificando tijolo sobre
tijolo. Paulo descreveu isso dessa maneira:
… na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas
angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns (2 Co 6.4,5)
Isto não era um piquenique; era guerra: suportar as adversidades
como um bom soldado de Jesus Cristo. (2 Tm 2.3).
Voltando a 1 Tessalonicenses, Paulo fala o seguinte:
Mas, apesar de maltratados e ultrajados em Filipos …
estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso
que vos tornastes muito amados de nós. Porque, vos
recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como,
noite e dia labutando para não vivermos à custa de
nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus
… do modo por que piedosa, justa e irrepreensivelmente procedemos em relação a vós outros, que credes.
(1 Ts 2.2, 8-10.)
Naqueles dias, tal tratamento era inevitável. Para ter o privilégio de pregar o Evangelho, você tinha de colocar a sua cabeça
a prêmio por amor a Deus. É por isso que Paulo fala em
1 Tessalonicenses 3.3 que a fim de que ninguém se inquiete com
estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que estamos designados
para isto.
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O Tempo está se Esgotando
Paulo escreveu aos romanos: … esforçando-me, deste modo, por
pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não
edificar sobre fundamento alheio (Rm 15.20). Precisamos encontrar alguma maneira para chegar aos não salvos ou atraí-los
aos milhares e, então, desenvolver um programa voltado para
eles. Na Europa, muitas igrejas estão usando o Curso Alpha
– encontros somente para pessoas não religiosas. Esse também
deveria ser o foco da igreja. Evangelismo é o primeiro chamado
de Cristo e o último mandamento que Ele deu.
O apóstolo Paulo fala sobre esse assunto:
Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente
em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo
e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso
procedimento entre vós e por amor de vós. Com efeito,
vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação,
com alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes
o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia
(1 Ts 1.5-7).
Os seguidores de Paulo se tornaram líderes de outros seguidores,
e aprenderam com ele as “dicas” do trabalho. Para eles, cristianismo significava “contar aos outros”. Paulo diz que ele não
precisaria levar o Evangelho a um certo lugar, porque outros já
haviam feito isso. Mas como? Pelo testemunho pessoal dos que
foram contra a onda de idolatria nessa grande cidade. As autoridades sabiam que a propagação do Evangelho ali não havia se
dado por meio de grandes reuniões públicas, mas pelo método
boca-a-boca, embora tenha começado com os grandes esforços
evangelísticos de Paulo. Os dois métodos – pregação pública e
evangelismo pessoal – são complementares; são parte do mesmo
pacote, e de uma mesma comissão.
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Capítulo 12 • O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo 233
O importante nesse ministério é que devemos ir até às pessoas.
Afinal de contas, Deus é um Deus que deseja que cada um
receba uma atenção individual daqueles que trabalham para Ele.
Em nossas campanhas na África, freqüentemente pregamos o
Evangelho para centenas de milhares de pessoas, de uma só vez.
Entretanto, sempre planejamos um acompanhamento individual
com os convertidos.
Sabemos que um contato individual nem sempre é fácil; entretanto uma campanha em larga escala abre portas para esse tipo
de aproximação. As campanhas evangelísticas públicas quebram
o gelo e dão força para o trabalhador individual. Procuramos
planejar as campanhas de tal maneira que cada pessoa que preenche um cartão com resposta a algum tipo de chamado do
evangelismo, possa ser visitada por um outro cristão, o mais
rápido possível.
É maravilhoso pensar que Deus planeja trabalhar usando
todos os tipos de personalidades – levando o Evangelho a pessoas diferentes. Cristo deu a uma mulher
Evangelismo
samaritana imoral a mesma atenção que
é o primeiro chamado
deu a um rabino, Nicodemos, embora
de Cristo e o último
não tenha dado nenhuma atenção ao rei
mandamento
Herodes, exceto para chamá-lo de “raposa”
que Ele deu.
(Lc 13.32). Mesmo os mais insignificantes
devem ser ouvidos com o mesmo interesse espiritual, como se
fossem o chefe de uma nação. Uma alma perdida é uma tragédia, quer seja um príncipe, ou mesmo um miserável.
Cristãos Desagradáveis
Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente
em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo
e em plena convicção (1 Ts 1.5).
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O Tempo está se Esgotando
E foi assim mesmo que tudo foi feito! Paulo
pregou com poder, embora em fraqueza
humana. Ele proclamou o Cristo crucificado, ressurreto e que estava voltando. Ele
não veio fazendo demonstrações do sobrenatural, ou se vangloriando, ou tentando
levar os seus ouvintes a grandes emoções.
O poder não é para ser demonstrado, mas para ser usado. Deus
não está em um show de negócios e o Espírito Santo não é um
efeito inovador. O poder é o braço de Deus, dobrando o arco
do evangelho, e, lançando a flecha da convicção no coração dos
ouvintes.
Deus é um Deus
que deseja que cada
um receba uma
atenção individual
daqueles que
trabalham para Ele.
Os comentários de Paulo em 1 Tessalonicenses são típicos de todo
o Novo Testamento. Cada carta apostólica está imbuída com o
mesmo zelo e entusiasmo pelo perdido, e pelo compromisso da
expansão mundial da Igreja, ganhando cada geração para Cristo.
É exatamente sobre isso que as cartas de Paulo falam.
Hoje, há doutrinas que permitem aos
cristãos se sentarem e não fazerem nada.
Eles defendem, usando a própria Bíblia,
a atitude fria e casual de deixar tudo para
Deus. Eles ensinam que Deus pré-determinou que certas pessoas serão salvas e que
não podemos fazer nada para controlar a
Sua vontade soberana. (Mencionamos isso
em capítulos anteriores). Bem, eu digo enfaticamente que, independentemente do texto que as pessoas citem, tal perspectiva é
inteiramente fora do espírito do Novo Testamento. Eu não temo
contradição nesse ponto. O Novo Testamento é vibrante em atividade, e essa atividade não é fazer com que os cristãos se sintam
confortáveis. Pelo contrário: é fazê-los bastante desconfortáveis
até que levem o Evangelho a seus vizinhos.
Paulo pregou
com poder,
embora em
fraqueza humana.
Ele proclamou o
Cristo crucificado,
ressurreto e que
estava voltando.
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Capítulo 12 • O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo 235
A Conduta das Revelações de Cristo
Quando, porém, ao que … me chamou pela sua graça,
aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse
entre os gentios (Gl 1.15,16).
Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne,
vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se
entregou por mim (Gl 2.20).
Enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho (Gl 4.6).
Não existe como traduzir essas palavras desta maneira: “Deus se
agradou em revelar o Seu Filho a mim”. Positivamente tem de
ser em mim (do grego en emoi). Paulo não está falando do que ele
viu na estrada de Damasco, mas o que outros vêem na sua vida.
Uma vez que encontramos a Cristo, então, outros podem ver
Cristo em nós. Naturalmente, a razão dada de que Deus revelou
Cristo em Paulo foi para que ele o pregasse entre os gentios, que
são simplesmente cada raça à parte do povo judeu.
A palavra revelar naquele texto vem da palavra grega apocalupto,
da qual derivamos a nossa “apocalipse”. Você e eu somos revelações de Deus, em Cristo, ao mundo. Não podemos transmitir
Jesus efetivamente, por conta própria; é Deus quem fornece o
elemento principal. A vida que eu vivo, eu vivo através de Cristo
em mim. De outra forma, evangelismo seria um ideal impossível. O que somos em Cristo, não é com nossa ajuda. Eu sou
alemão, e não tenho dificuldade em ser alemão. Se você tem um
dom, ele simplesmente se mostra; se for na área da música, vai
aparecer. É a mesma coisa em ser cristão: isso vai ser evidente. Se
o Seu Filho está em nós, isso está fadado a se mostrar. Mais do
que isso, a Bíblia diz que Deus revelou Seu Filho em nós. Deus
pega o que somos e o que temos e realiza a obra.
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O Tempo está se Esgotando
Evangelismo é Deus revelando Cristo em nós, para que O preguemos entre as nações. Se isso não é evangelismo, então eu não
sei o que é. O propósito não é fazer com que as pessoas nos
admirem, como se impressionássemos com uma elegante pose
cristã. O propósito é um evangelismo que funcione. Alguma vez
já ocorreu a você de que foi assim que Saulo de Tarso se converteu? Ele assistiu a um cristão morrer, Estêvão, cuja face era
como a de anjo, que disse: Senhor, não lhes imputes este pecado
(At 7.60). Ninguém, mas ninguém mesmo jamais havia falado
assim em toda a história, até Jesus.
Sabemos que houve os mártires. O livro de Macabeus descreve
a cruel morte de sete filhos de uma mulher, mas eles morreram
desafiando, e não cheios de compaixão pelos seus perseguidores.
A lei, afinal de contas, era vingança: tratar um inimigo como
inimigo; “chame a Deus para amaldiçoá-lo”. Mas Estêvão era
um homem que tinha o Espírito de Deus nele, destruindo cada
convenção conhecida, e orando para Deus perdoar seus próprios
assassinos maliciosos, mesmo com eles vociferando, bramindo
e espumando de raiva contra ele. Isso era novo para Paulo, e
quando Cristo falou com ele na estrada de Damasco, as palavras de Estêvão continuavam incomodando em sua consciência,
surpreendendo-o.
Essa é a maneira verdadeira de se levar o Evangelho ao mundo:
Cristo em nós. O amor divino é descrito em 1 Coríntios 13; entretanto, um exemplo melhor é a vida de Cristo, que nos amou e Se
deu por nós. A melhor maneira de mostramos o amor de Deus
em Cristo, em nós, é dando-nos a nós mesmos. Podemos amar
as pessoas por conta própria, mas isso é somente amor social,
caridade, filantropia. Temos de possuir o amor divino. Somente
o Espírito de Deus em nós, nos fará doadores e não consumidores. Devemos entregar a nossa vida pelo não convertido.
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Capítulo 12 • O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo 237
Conhece o velho ditado: “O que conta é o que somos, e não o
que falamos”? Mas, o que somos? Esse é o ponto. Somos o que
está em nós (Ez 3.1-3).
Ainda me disse: “Filho do homem, come o que achares;
come este rolo, vai e fala à casa de Israel”. Então, abri
a boca, e ele me deu a comer o rolo.E me disse: “Filho
do homem, dá de comer ao teu ventre e enche as tuas
entranhas deste rolo que eu te dou”. Eu o comi, e na boca
me era doce como o mel.
O rolo de papel era a Palavra de Deus. A
Palavra deve estar em nós. Somos expressão de Cristo, cartas conhecidas e lidas
pelo homem (2 Coríntios 3.2,3). Jesus é o
Verbo que se fez carne. Ele é o Verbo vivo.
A palavra escrita se tornou viva em Cristo.
E o mesmo deveria acontecer conosco.
Jesus é o Verbo
que se fez carne.
Ele é o Verbo vivo.
A palavra escrita se
tornou viva em Cristo.
E o mesmo deveria
acontecer conosco.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (Mt 6.11).
Muitos eruditos parecem não poder entender essa parte da
Oração do Senhor. Eles comparam o grego, enquanto tratam o
pão como sendo um pão comum, e não como o Pão Verdadeiro.
Se lermos isso significando a Palavra de Deus, não há problema
com o grego ou outra língua qualquer. Existe abundância de Pão
diário para nós, mas ele não nos vem automaticamente; temos
que pedir por ele a cada dia, e, como Ezequiel, devemos abrir
nossa boca e Deus vai enchê-la. Não vamos ter nenhum pão,
a menos que Ele nos dê. Talvez conheçamos a Bíblia de cor,
mas para que ela nos sustente como alimento, deve ser nos dada
fresca. E uma vez que a recebemos, podemos repartir.
Vamos Sacudir a Ponte!
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O Tempo está se Esgotando
E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também
vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus
(2 Co 6.1).
Um amigo me contou que, certa vez, quando ele tinha 3 anos
de idade, seu pai estava empurrando um carrinho de mão, de
duas rodas, cheio de madeira e ferramentas, para um local
onde iria consertar uma casa. Seu pai o sentou no carrinho.
Contudo, depois de certo tempo o garoto ficou inquieto e pediu
para ajudar a empurrá-lo. Então, seu pai o
A grandeza da igreja colocou no chão. O fundo da carreta do
e a grandeza do
carrinho era mais alto do que o menino;
Evangelho estão no
entretanto, com determinação, o garoto
arder em seu Espírito,
colocou suas mãos em uma das pernas do
vivendo a grandeza
carro e, então, foi empurrando. Agora, a
do coração e
caminhada ficou bem mais lenta, porque
mente de Deus.
o pai tinha de diminuir o passo para dar
espaço a seu filho que era muito pequeno. Quando eles chegaram à casa, seu pai disse ao proprietário: “Meu filho me ajudou
a empurrar o carrinho!” Meu amigo disse que sentiu-se muito
orgulhoso e contente – de fato, bastante importante. Contudo,
certamente eles teriam feito o trajeto bem mais rápido, se ele não
tivesse “ajudado”!
Deus poderia fazer melhor sem a nossa “ajuda”. Provavelmente
nós mais atrapalhamos a Ele do que ajudamos, como Jesus disse:
Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.
(Lc 17.10.)
Contudo, o fato é que Deus prefere nos incluir. Na tarefa
de pregar o Evangelho, Ele não faz nada sem nós, e essa é a
maneira que Ele quer que Seu grande trabalho seja realizado.
Uma excelente passagem bíblica que considero evangelística, é
Colossences 1.24,25 que diz:
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Capítulo 12 • O Evangelismo na Visão do Apóstolo Paulo 239
Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne,
a favor do seu corpo, que é a igreja, da qual me tornei
ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus,
que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus.
Repare na maravilhosa arquitetura de alguns edifícios. Lá, as
idéias da mente humana surgem como sendo uma sinfonia no
concreto, um grande trabalho de arte. Entretanto, provavelmente
o arquiteto daquela obra nunca tenha colocado uma única pedra
ali.
A grandeza da igreja e a grandeza do Evangelho estão no arder
em seu Espírito, vivendo a grandeza do coração e mente de
Deus. Nosso privilégio é dizer que ajudamos a tornar isso real
na vida das pessoas, hoje. Contudo, não podemos reivindicar
nenhuma parte, nenhuma sugestão nesse sentido. O esquema
parece suficientemente simples agora que está revelado, mas para
torná-lo efetivo no mundo, tem de haver trabalho, sofrimento,
como Paulo disse. Somente se alguns derem a vida, é que esse
esquema poderá ser implemento. Como Oswald Chambers
sugere, recebemos de Jesus a nossa ordem de marchar.
Certa vez, quando estava na África, ouvi a história da formiga
e do elefante. Uma formiga resolveu pegar “carona” na orelha
de um elefante que estava atravessando uma ponte trêmula. A
formiga, então, disse ao elefante: “Rapaz, viu como nós fizemos
esta ponte sacudir!” Não há nada que Deus e nós não possamos
fazer juntos. Pois Teu é o reino e o poder e a glória para sempre.
Amém! (Mt 6.13.) Nosso é o trabalho, a oração, a fidelidade, a
coragem, o sacrifício. Um dia vamos compartilhar da glória de
Deus e entrar na Sua alegria.
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Capítulo 13
O EVANGELISMO
E A ESPIRITUALIDADE
A
s pessoas freqüentemente confundem os termos, pensando
que evangelismo e avivamento equivalem à mesma coisa. O
mesmo acontece com espiritualidade – a palavra produz diferentes imagens na mente das pessoas, e algumas chegam a ensinar
que avivamento depende da nossa espiritualidade – o indefinível
está subordinado ao indefinível!
Seja o que for que você e eu entendemos pelo termo “homem
espiritual”, quase todo mundo vai concordar que isso inclui um
conceito de obediência a Deus. Desde que evangelismo e testemunho são ordenados pelo Senhor, como podemos desenvolver
espiritualidade sem obediência ao Seu comando? Podemos ser
espirituais e, ao mesmo tempo, ignorar a Grande Comissão?
Algumas pessoas dizem que a Igreja tem de se acertar consigo
mesma antes de se lançar ao evangelismo. Mas como, se lançarse em um empreendimento evangelístico é exatamente se acertar
consigo mesmo?. Como vimos, a Igreja existe para testemunhar
e o Espírito Santo está presente na Igreja principalmente com
esse propósito.
Quando a Igreja concentra os seus esforços em buscar a ovelha
perdida, a qualidade da vida espiritual dessa igreja melhora. O
evangelismo tem um efeito santificador. Uma vez que os membros da igreja captam a visão de ganhar os não convertidos,
eles se tornam ansiosos por demonstrar as qualidades cristãs.
Testemunhar é algo terapêutico para as angústias da igreja, uma
vez que aquelas que estão ganhando almas não têm condição
de ter divisões, problemas, fofocas, e outras coisas do gênero.
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O Tempo está se Esgotando
No Novo Testamento, espiritualidade está sempre relacionada à
impressão que damos ao mundo. Em Mateus 5.16, por exemplo,
Jesus diz: Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que
está nos céus. Pedro usa essas palavras de Cristo na sua primeira
carta: mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos
gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de
malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a
Deus no dia da visitação (1 Pe 2.12).
A menos que um sério esforço evangelístico seja feito, a igreja
local não verá muitas conversões. Sem os frutos do evangelismo,
a inquietude vem. Na falta de novas pessoas
Quando a Igreja
respondendo ao chamado do Evangelho,
concentra os seus
sempre surgem as conversas de que
esforços em buscar a
“alguma coisa errada está acontecendo”.
ovelha perdida,
Uma igreja que tem o foco em si mesma e
a qualidade da vida
nos seus membros, se torna cada vez mais
espiritual dessa
introspectiva e tende a desenvolver um criigreja melhora.
ticismo comum. Quando a missão número
1 da Igreja Cristã é omitida da sua agenda, alguém sofrerá as
consequências.
Ganhar almas não é apenas o resultado final de ser espiritual,
mas também uma maneira de se tornar espiritual. Para começar,
nossas orações se tornam mais urgentes e objetivas, deixando de
ser apenas aquele vago “Senhor, me abençoe, abençoe a igreja
…”. Concentração no evangelismo requer planejamento prático
e trabalho duro, por parte de todo o corpo local.
O Espírito e a Carne
Somente algumas vezes o adjetivo “espiritual” é aplicado às pessoas, no Novo Testamento; em duas delas o leitor pode sentir um
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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leve toque de ironia. Por exemplo, em meio a uma repreensão à
igreja de Corinto, Paulo escreve: Se alguém se considera profeta ou
espiritual (1 Co 14.37). Talvez ele tivesse em mente aquelas pessoas que, com orgulho, reivindicam ser espirituais. Temos nossas
próprias idéias sobre o que significa ser espiritual.
Entretanto, em 1 Coríntios 2.15, Paulo
escreve: Mas quem é espiritual julga todas
as coisas. Isso ajuda. Esse era um ensino
geral de Paulo sobre viver no Espírito. Em
Gálatas ele contrasta a carne com o Espírito
e, no capítulo 5.19-21, nos provê com uma
lista de obras da carne.
Concentração no
evangelismo requer
planejamento prático
e trabalho duro,
por parte de todo
o corpo local.
Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição,
impureza, lascívia,idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas,
bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas …
Ainda nessa mesma carta, ele descreve boas obras como sendo
coisas da carne, e que não são capazes de trazer resultados eternos:
Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito,
estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? Aquele, pois,
que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós,
porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da
fé? (Gl 3.3,5).
Então, tanto a imoralidade sexual como a idolatria são obras da
carne; como o são quaisquer esforços para nos tornar perfeitos
separados da fé! Muitos, hoje, crêem que são salvos pela graça,
mas santificados pelas obras. Agem como se cressem que foram
salvos pelo poder de Deus, mas que ainda “precisam” ganhar a
entrada no céu, procurando ser perfeitos à parte do Senhor.
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O Tempo está se Esgotando
É muito difícil definir o homem espiritual, afinal de contas,
espiritualidade é uma qualidade interior. As graças da vida cristã
nos advêm de uma condição interior, embora possamos alcançar
tais graças por meio do esforço humano. Frutos reais crescem
naturalmente nos galhos; não são amarrados ali pelas mãos
humanas. Os frutos produzidos pelo homem não são frutos do
Espírito, apesar de até poderem se parecer muito com o original.
A espiritualidade produz certas qualidades, mas essas qualidades
não podem produzir espiritualidade.
As igrejas têm seus códigos, escritos ou não e, de fato, seria bom
que seus membros se reportassem uns aos outros (Ef 4.3-5, 15-21).
Naturalmente, espera-se que eles observem certas proibições: não
ir a certos lugares, não fazer certas coisas, não fumar, não beber,
não apostar em jogos de azar, não xingar, etc. Tais padrões são
bons. As pessoas deveriam representar a Igreja da maneira que
convém a Cristo; entretanto, se padrões como esses têm de ser
impostos nas pessoas como uma simples questão de disciplina
da igreja, então toda a idéia da obra do Espírito é perdida. E aí a
igreja seria legalista, em vez de espontânea. Os gálatas adotaram
padrões legalistas e estavam enfrentando dificuldades por causa
disso. Paulo os advertiu de que escolher viver sob a lei – deles ou
qualquer outro – significava cair da graça (Gl 5.4).
Conhecê-Lo é Viver
Esforços físicos não tornam as pessoas espirituais. Onde o Espírito
do Senhor está, há liberdade (1 Co 3.17). Os filhos de Deus naturalmente manifestam sua natureza divina. O Espírito Santo
os anima. Eles são dirigidos pelo Espírito, oram no Espírito,
andam no Espírito, vivem no Espírito, e cantam no Espírito. A
felicidade deles não depende de riquezas terrenas ou das circunstâncias. Quando os assuntos do reino de Deus são prioridade,
então todas as coisas entram nos eixos.
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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[É] a minha ardente expectativa e esperança de que em
nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia,
como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no
meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.Porquanto,
para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Ora, de
um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de
partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente
melhor (Fp 1.20,21,23).
O apóstolo Paulo escreveu essas palavras quando estava na
prisão onde, nos seus dias, geralmente as
condições eram tão ruins que as pessoas Os frutos produzidos
preferiam morrer – e muitos tiveram seus pelo homem não são
frutos do Espírito,
desejos satisfeitos. Mas Paulo era diferente
apesar de até
e encarou cada circunstância como sendo poderem se parecer
de Deus. Outros prisioneiros só queriam muito com o original.
ficar livres das misérias da prisão, mesmo
que para isso precisassem morrer. Paulo não queria nada mais do
que estar perto de Cristo, em qualquer lugar; na prisão ou fora
dela.
Nas palavras iniciais dessa carta aos crentes de Filipos, Paulo
agradeceu a Deus pelo seu companheirismo com eles, mas
também desejava ardentemente um relacionamento face-a face
com Cristo, o que é incomparavelmente
melhor (Fp 1.23). Entretanto, ele colocou o Paulo não queria nada
mais do que estar
bem estar dos seus irmãos antes do dele, e
perto de Cristo,
escolheu permanecer entre os vivos, porque em qualquer lugar;
isso era necessário para o progresso e gozo da na prisão ou fora dela.
fé (Fp 1.25) dos seus convertidos. Para si
mesmo, porém, tudo o que ele realmente queria era Cristo. E esse
desejo estava acima de qualquer paixão desse grande homem.
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O Tempo está se Esgotando
Esse desejo de Paulo aparece novamente, mais tarde, na mesma
carta:
[Quero] conhecer a Ele, e o poder da sua ressurreição, e a
comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele
na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha já recebido ou
tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar
aquilo para o que também fui conquistado por Cristo
Jesus (Fp 3.10-12).
Paulo era o maior de todos os evangelistas. Quando Ananias
foi mandado para rua chamada Estreita, em Damasco, para
impor as mãos sobre Paulo, e orar por ele, o Senhor lhe disse o
seguinte:
Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido
para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem
como perante os filhos de Israel;pois eu lhe mostrarei
quanto lhe importa sofrer pelo meu nome (At 9.15,16).
Esse era o trabalho para o qual Paulo fora designado. O livro de
Atos é, em grande parte, um registro da carreira evangelística
dele, tendo Roma como seu primeiro alvo. Embora a História
não tenha muitos registros sobres os fatos, sabemos que o cristianismo se espalhou rapidamente naqueles primeiros dias que
se seguiram à ressurreição de Cristo. O livro de Atos é apenas o
esboço de uma estratégia. O plano era para que a mensagem do
Evangelho fosse ouvida por reis e governantes e, eventualmente,
alcançasse o centro do mundo de então, Roma. Paulo era a flecha
chamejante de Deus, atirada de Seu arco, para atingir a cidade;
e Paulo fez isso da sua parte mais profunda – a prisão – mas, de
lá, ele feriu o coração do paganismo.
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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Apesar de saber muito bem qual era o seu chamado, no seu coração Paulo acalentava um grande desejo; e seu clamor podia ser
ouvido vez após vez: Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito,
aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus (2 Co 7.1)
Paulo disse que o maior desejo da sua vida era: … prossigo para
conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo
Jesus (Fp 3.12). Ele foi chamado como um evangelista e trabalhou como nenhum homem jamais trabalhara; entretanto afirmou que ainda não havia alcançado o que Deus tinha para ele.
Se Cristo o tivesse chamado somente para fazer evangelismo, ele
teria aceito; e teria feito muito bem. Contudo, está claro que
Paulo tinha algo mais em mente, um propósito maior, e não ser
apenas apóstolo ou evangelista.
E esse desejo maior era conhecer a Cristo. Embora não exista
um fim nesse processo, Paulo desejava conhecê-Lo sempre mais
profundamente. Paulo sabia que ainda não havia alcançado toda
a profundeza de Deus. Certamente ele conhecia Cristo intimamente, mas Deus era um objetivo eterno. Aliás, o apóstolo especificou que a única maneira de conhecer ao Senhor era Cristo
sendo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte
(Fp 1.20). Paulo queria que o poder da vida ressurreta de Cristo
fosse manifesto nele mais e mais, dia após dia, até o dia da sua
morte.
Paulo desejou: … para, de algum modo, alcançar a ressurreição
dentre os mortos (Fp 3.11). Esse desejo parece muito estranho.
Será que Paulo tinha dúvidas de que ressuscitaria? Será que ele
estava dizendo que teria de trabalhar duro para ser incluído nesse
plano? Não, ele sabia que ressuscitaria da morte de acordo com
as promessas de Deus. Aliás, Paulo expressou essa garantia nessa
mesma passagem:
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O Tempo está se Esgotando
Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao
corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele
tem de até subordinar a si todas as coisas. (Fp 3.20,21).
A ressurreição do crente é um dos ensinos mais freqüentes e
inegáveis dos apóstolos. O que Paulo estava pedindo no verso
11 era ser capaz de, cada vez mais, experimentar o poder da
ressurreição de Cristo agora, nessa vida. Ele cria que Cristo o
chamara para aproveitar a vida ressurreta, que implica mais do
que simplesmente levar o Evangelho aos gentios. Paulo conhecia
muito bem sobre a vida ressurreta de Jesus. Em Colossenses 1.29
ele testificou: para isso é que eu também me afadigo, esforçandome o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente
em mim. Ele sabia, por experiência, que havia maiores alturas
e profundidades a experimentar, e uma plenitude ainda maior
a ser alcançada. Ele havia encontrado águas para nadar, e elas
haviam criado dentro dele uma paixão por explorar as suas profundezas. Conhecer e prosseguir conhecendo a Cristo – essa é a
maior recompensa da vida.
Aliás, essa é a razão pela qual nós evangelizamos. Nosso propósito não é somente salvar almas do inferno e levá-las ao céu;
mas trazer as pessoas para dentro da dimensão da ressurreição
de Cristo. Nós não pregamos simplesmente a promessa de um
futuro céu – o melhor entre dois endereços para quando morrermos. Embora, em si, essa seja uma maravilhosa promessa,
estamos falando de um novo tipo de vida – física e espiritual
– que pode ser experimentada aqui e agora. Um crente é alguém
que não foi criado apenas para a vida terrena, mas que nasceu
de novo para uma vida no reino do Espírito, o reino de Deus.
Esse é o verdadeiro “homem espiritual” – uma nova criatura em
Cristo Jesus (2 Co 5.17).
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
249
Quando Paulo fala sobre conhecer a Cristo, isso não significa o
que pensamos quando dizemos que conhecemos nossos amigos.
Os amigos nos encorajam e nos ajudam, e a amizade é muito
preciosa; entretanto, conhecer a Cristo é
Um crente
gozar mais do que de um aperto de mão
é
alguém
que não
e uma conversa. É Cristo vivendo em nós.
foi criado apenas para
Alguns conhecem a Cristo como uma voz
a vida terrena,
do além; eles O conhecem misticamente. mas que nasceu de
Contudo, devemos conhecê-Lo de maneira novo para uma vida
dinâmica. C. S. Lewis escreveu sobre os no reino do Espírito,
o reino de Deus.
cristãos como sendo pessoas “cristianizadas”. Jesus se identificou com a nossa vida
humana para que pudéssemos nos identificar com Sua vida
divina. Nosso objetivo é sermos como Cristo – não somente em
comportamento, mas compartilhando das qualidades interiores
da Sua vida. Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
fidelidade, mansidão, domínio-próprio (Gl 5.22,23) são evidências
externas da nossa experiência interna.
Espiritualidade e o Poder
do Espírito Santo
Espiritualidade, como Paulo entendeu, significa contato de
poder com O Ressurreto; não uma experiência que acontece de
uma só vez, mas um fluir constante de poder. A verdadeira espiritualidade não é obra de um momento – um milagre brusco,
uma repentina avalanche de poder. Não chegamos de uma vez;
estamos sempre a caminho. Assim, podemos dizer que espiritualidade é um processo. D. H. Whittle, em seu hino, diz:
“Momento após momento eu tenho vida do alto”. Outro hino,
escrito por Charles Wesley, diz que somos “transformados de
glória em glória, até tomarmos o nosso lugar no céu”.
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O Tempo está se Esgotando
Gostaria de esclarecer aqui algo que parece ser a base de muita
confusão na Igreja. O poder do Espírito Santo para testemunhar é muito importante, mas nós também precisamos desse
poder para o nosso próprio benefício espiritual. Paulo gozou
desse poder no seu trabalho e também na sua vida pessoal. Ele
escreveu:
O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e
ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de
que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para
isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais
possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente
em mim. (Cl 1.28,29).
Isso se refere ao poder para o seu ministério; contudo ele também
precisou de poder para suportar a adversidade e a oposição, e
para conseguir se alegrar em cada aflição. Ele orou para que o
mesmo poder fosse dado a todos os cristãos; para os colossenses,
por exemplo:
Sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da
sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com
alegria (Cl 1.11).
Podemos ter poder para expulsar demônios
e, mesmo assim, não conseguirmos vencer
o demônio no nosso próprio coração. E
é aí que a verdadeira batalha espiritual é
travada, e não na estratosfera. Podemos
ser usados para curar o doente e, mesmo
assim, sermos destruídos pela primeira tentação que surgir em
nosso caminho.
Deus quer abençoar
a Seu povo,
dando-lhe o prazer
dos encantos da
ressurreição
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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Paulo descreveu as credenciais de um apóstolo em 2 Coríntios 12.
Ele fez referência não apenas a sinais, prodígios e poderes miraculosos (v.12), mas também a fraquezas, injúrias, necessidades,
perseguições e angústias (v.10). Qualquer pessoa pode impor as
mãos sobre os enfermos, e até mesmo as crianças têm pregado
o Evangelho. O filho pródigo teve confiança para reivindicar
e receber a sua herança, mas não teve caráter para mantê-la.
Necessitamos do poder de Deus para fortalecer o nosso caráter.
A verdadeira grandeza permanece, mesmo quando o mundo
inteiro se opõe a nós. Somente pelo poder de Deus somos capazes de vencer Satanás quando ele trama – sutil e descaradamente
– contra nós.
Deus nos salvou para nos abençoar, não somente para nos usar.
Somos Seus filhos, e não somente instrumentos adequados para
se usar por um momento e depois, descartados. Deus não nos
“utiliza”. Ele nos fez para o Seu amor, e não para o Seu proveito.
Ele nos convida para um banquete em Seus aposentos, e não
em uma oficina. Somos “a noiva de Cristo”, e não meramente o
pessoal da cozinha. Deus não deseja que sejamosescravos do trabalho, burros de carga. Ele nos coloca entre príncipes (Sl 113.8).
Paulo encoraja os novos convertidos a saírem e a alcançarem
outros com o Evangelho. Mas ele também tinha outro objetivo
em vista. Em Colossenses 2.6,7, ele diz: Ora, como recebestes
Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados e edificados
e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações
de graças. Deus quer abençoar a Seu povo, dando-lhe o prazer
dos encantos da ressurreição – liberdade, alívio e felicidade.
Trabalhar para Deus é um privilégio, mas isso não é tudo o que
há na vida cristã. Não deveríamos ficar alegres simplesmente
fazendo coisas.
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O Tempo está se Esgotando
Quando Jesus estava ministrando, encontrou multidões esperando por Ele. Os discípulos Lhe disseram: Todos te buscam! E
Ele lhes respondeu: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas,
a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim
(Mc 1.37,38). Jesus não se sobrecarregou tentando fazer tudo,
tentando agarrar todas as oportunidades. Ele andou com Deus e
deixou Deus cuidar do resultado.
Vivemos em um tempo onde “produção” é a chave do trabalho,
e isso prejudica a visão da Igreja cristã – mais trabalho, mais
oração, mais atividades, e novos projetos. Gostamos de parecer
ocupados, e não queremos que ninguém nos pegue com os pés
sobre a mesa. Por isso, pastores ficam sobrecarregados de trabalho, sob pressão, e negligenciam a esposa e a família. Não é
de se admirar que existam famílias separadas e tantos divórcios
na igreja; muitos maridos e mulheres não têm tempo um para
o outro. Certa vez alguém fez a seguinte paródia da conhecida
passagem de João 10.10: “Vim para que tenham reuniões, e as
tenham em abundância”. (Leia a passagem e compare o que Jesus
realmente disse.)
Não há uma única sugestão no Novo Testamento de que devêssemos orar buscando poder para fazer a obra de Deus. Depois de
os discípulos terem esperado dez dias para receberem o Espírito
Santo no dia de Pentecoste, começaram o seu ministério de
testemunhar. Eles tinham todo o poder que precisavam – para
sempre, a menos que entristecessem ou apagassem o Espírito.
Eles continuaram a buscar o Senhor, mas para seu próprio progresso espiritual. Não estavam procurando fazer obras maiores
ou realizar mais maravilhas; buscavam simplesmente crescer
espiritualmente.
Ninguém que trabalha para o Senhor precisa ter falta de poder.
A verdade é que a medida da nossa fé é o fator que limita, não as
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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nossas virtudes. O poder está no grau da nossa fé e não na nossa
espiritualidade. É assim com o reavivamento. Alguns já disseram
que o poder é dado na proporção do quanto de tempo gastamos
em oração. Isso é teologia de homens. Jesus disse: E, orando,
não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que
pelo seu muito falar serão ouvidos (Mt 6.7). Infelizmente, nem
sempre poderemos ver uma grande fé e uma grande espiritualidade juntas. Jesus confiou em algumas pessoas que não tinham
nenhuma espiritualidade, por causa de sua grande fé – incluindo
alguns estrangeiros que não tinham nenhum conhecimento das
verdades cristãs, ou do Deus de Israel. E foi pela fé que eles receberam grandes livramentos.
Santidade e Espiritualidade
Muitos cristãos querem ser usados por Deus, e procuram viver
uma vida santa para torná-los aptos ao serviço. Eles supõem que
a santidade vai garantir-lhes sucesso como trabalhadores cristãos
– santidade como um meio para se alcançar um fim; mas a santidade tem um fim em si mesma. Nosso motivo é ser igual a
Jesus, ou ser “algo melhor”? Nosso desejo de ser como Jesus é o
mesmo que temos de ser um pregador famoso? Semelhança com
Cristo não é apenas um degrau na escada de sucesso; é o mais
alto degrau que podemos alcançar! Sem [santidade] ninguém verá
o Senhor (Hb 12.14).
O trabalho não é o maior benefício; a santidade é, pois significa
conhecer a Jesus. Cristo nos deu essa lição na casa de Lázaro.
Marta estava servindo, preparando uma
Santidade tem um
comida primorosa para o Senhor. Tudo
fim em si mesma.
deveria estar muito bem organizado,
segundo o costume oriental. Ela impôs essa tarefa a si mesma,
esperando agradar ao Senhor; entretanto, Jesus não queria que
ela fosse Sua escrava e, sim, que conhecesse o Seu amor. Maria,
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O Tempo está se Esgotando
por sua vez, simplesmente sentou-se aos pés de Cristo, o que o
agradou mais do que toda a correria de Marta. Ele disse que
Maria escolhera a melhor parte, a qual não lhe seria tirada
(Lc 10.42).
O Antigo Testamento está cheio de homens e mulheres que fizeram grandes coisas para Deus, através do Seu poder, mas poucos
deles se tornaram santos notáveis. Não vemos muitas igrejas chamadas São Jacó, São Moisés ou São Abraão. Será que qualquer
um desses homens seria aceito no ministério hoje? Suponhamos
que Moisés tenha solicitado suas credenciais ministeriais em
uma das denominações em nossa denominação; será que ele seria
aprovado? Lembre-se, ele matou um homem (Êx 2.11,12)!
Podemos fazer um estudo interessante sobre Davi e Saul. Será
por que Deus usou a Davi e não a Saul? Ele perdoou Davi por
alguns pecados horrorosos, mas não perdoou a Saul. Algumas
pessoas têm uma simpatia oculta por Saul. Outros não lhe
mostram nenhuma simpatia. O profeta Samuel se opôs a Israel,
mesmo que a nação tinha um rei. Por 50 anos Samuel julgou a
nação como juiz, mas, quando Saul foi ungido rei, isso significou
que Samuel estava sendo colocado de lado. Por não concordar
com a idéia de um rei terreno para Israel, ele foi duro com Saul.
E o rei fracassou. Entretanto, não foi mostrada misericórdia com
ele – não como a Davi, que pecou mais gravemente.
Saul era um homem muito alto, certamente um tipo desajeitado
de homem do campo; faltava-lhe a sutileza de Davi. Ele era
inexperiente nos tortuosos corredores do poder. Saul se tornou,
insanamente, ciumento com relação a Davi. Contudo, até certo
ponto isso era compreensível. Davi era um jovem agressivo, atraente, impetuoso e popular, e Saul se sentiu ameaçado desde o
início.
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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Mas Saul era, pelo menos, um homem de moral, o que Davi certamente não era. Saul admitiu ter cometido um erro, ao passo
que Davi fez pior do que cometer um erro. Saul nunca teve de
escrever um Salmo, como a agonizante confissão de Davi, descrita no Salmo 51. Saul tinha um filho, Jônatas, que superou
em caráter a todos os traiçoeiros filhos de Davi. Saul era um
fazendeiro rústico, e não adotou ares reais e de encanto, e nunca
construiu um palácio, ou cultivou prestígios como Davi.
Deus usou Davi porque ele tinha uma fé extraordinária. Ele
compreendeu o coração de Deus e isso o impulsionou no entendimento do Altíssimo, colocando-o à frente do seu tempo. Seu
pecado abriu os seus olhos para a generosidade divina. A chave
foi que ele ousou crer em Deus, e reconhecer que o Senhor era
Rei – o Rei dos reis. Deus usou esse homem Davi da maneira
mais extraordinária possível. E mesmo quando ele matou um
homem, o Espírito Santo o inspirou a escrever um dos maiores
salmos de contrição jamais escrito. Aliás, a fé de Davi e o trabalho de Deus foram bem extraordinários durante aqueles dias
remotos, quando o conhecimento de Deus era pouco assimilado. Somente mais tarde os profetas iriam falar a esse respeito
de maneira mais completa. Davi levou a fé de Israel a alcançar
novos níveis e organizou todo o sistema de adoração. Embora o
caráter de Davi tenha sido um pouco confuso, a sua efetividade
pode ser resumida no seguinte segredo: sua fé ativa.
Como Davi, muitos grandes servos de Deus foram personagens um pouco estranhos. Jonas fugiu de Deus, tomando uma
direção oposta ao comando do Senhor. Ele foi o único profeta
desobediente na Bíblia, e o único que trouxe uma nação inteira
ao arrependimento. Sem falar em Sansão – um personagem com
um caráter incorrigível. A Bíblia é um verdadeiro registro da boa
vontade de Deus em usar homens e mulheres que consideraríamos inadequados.
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O Tempo está se Esgotando
Certa ocasião os apóstolos encontraram um homem expulsando
demônios no nome de Cristo, e o mandaram parar; entretanto
Jesus lhes disse que o deixassem continuar (Mc 9.38,39). Aquele
homem desconhecido viu que a fé no nome de Jesus era capaz de
fazer coisas maravilhosas. Igualmente, alguns hoje não parecem
ser grandes exemplares de espiritualidade cristã. Se formos olhar
bem, nem os próprios discípulos o foram; contudo há muito
tempo eles se tornarem santos, e agora procuramos imitá-los. Os
discípulos de Jesus expulsaram demônios e curaram enfermos.
Recentes acontecimentos mostram que
fazer milagres e operar grandes maravilhas
para Deus não é nenhuma garantia da virtude pessoal de ninguém. Essa é a razão
pela qual devemos buscar a Deus para que
Ele trabalhe em nós, e não apenas para
obtermos poder para servir. Talvez tenhamos poder para servir, mas sejamos um
fracasso como seguidores de Cristo; no final isso vai acabar por
arruinar o nosso testemunho. O semeador trabalha duro no solo
para obter boa colheta.
Embora o caráter
de Davi tenha sido
um pouco confuso,
a sua efetividade
pode ser resumida
no seguinte segredo:
sua fé ativa.
Jesus disse que havia aqueles que no dia do grande Julgamento
O chamariam Senhor e reivindicariam ter operado poderosas
maravilhas em Seu nome. Entretanto, Ele os mandaria embora,
como os que praticais a iniqüidade (Mt 7.23). Confesso não
entender como alguém que pratica o mal pode expulsar demônios e curar doentes, mas foi exatamente o que Jesus disse. Isso
certamente nos mostra que esse tipo de poder não vem unicamente por intermédio da santidade. Paulo disse que desejava não
ser achado na sua própria retidão, mas na que é por fé em Cristo
(Fp 3.9). Deus pode agir por meio de nós somente através da Sua
provisão de graça e misericórdia; nos coloquemos diante d’Ele
lavados e remidos pelo sangue do Cordeiro.
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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Quando eu era um jovem pastor, ouvi certa vez um idoso ministro do Evangelho orando. Ele falava com arrependimento do seu
triste fracasso. Lembro-me de que naquela ocasião fiz a seguinte
oração: “Ó Senhor, me conceda que, quando for velho, como
esse homem, eu não tenha motivos para ter de fazer esse tipo de
oração”. As tentações com as quais nos deparamos ao prosseguir
com o trabalho de Deus, são sutis e quase impostas; entretanto,
precisamos desesperadamente alcançar a santidade, para sermos
líderes e servos cristãos, qualificados. Há pouco fiz referência a
Samuel, um líder possuidor de uma integridade perfeita; mas
ele não era perfeito. Parece que ele guardava um certo rancor
contra Saul, pois sempre foi bastante implacável com relação a
ele. Samuel foi um servo do Senhor que nunca se enriqueceu
valenso-se de subornos ou abuso de poder. Ele foi um dos maiores na história de Israel.
Não precisamos esperar a vida toda para
O propósito do
nos tornarmos perfeitos em virtudes cristãs,
poder é testemunhar,
antes de sermos usados por Deus. Contudo,
mas o propósito
para o nosso próprio bem, deveríamos orar
da santidade é a
como Paulo, para conhecer a Cristo. Em própria santidade.
um sentido mais amplo, a eficácia de toda
a Igreja é afetada se os cristãos agem ou não como cristãos.
O propósito do poder é testemunhar, mas o propósito da santidade é a própria santidade. O propósito da espiritualidade, por
sua vez, é pessoal – sermos como Deus é e, então, cumprirmos
o propósito final do Senhor, Sua suprema e maior razão para
ter criado a raça humana, como determinado desde o princípio:
façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança
(Gn 1.26). Deus tem planos para cada um de nós, individualmente, não somente como Seus servos e instrumentos. Ele nos
ama, não apenas porque somos úteis a Ele. De modo geral, não
costumamos ter algum tipo de relacionamento com nossos
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O Tempo está se Esgotando
martelos e serrotes, nem Deus se relaciona conosco como se fôssemos Suas ferramentas. Ser usado por Deus é simplesmente um
dos benefícios, um privilégio de conhecer a Cristo.
A derrota dos crentes sob o ataque de Satanás é comum. Algumas
pessoas pecam abertamente e não têm a menor preocupação em
parecer que são bondosas. Outros, por outro lado, pecam às
escondidas, enquanto mantêm uma aparência de bondade. Paulo
escreveu: nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor
(1 Co 4.5). Não somos qualificados para nos apropriarmos do
julgamento do Deus onisciente. Alguns pecados são feridas de
batalhas horrorosas, em que se obteve vitória. Alguns homens
lutam com mais tentação em um dia, do que outros em um mês.
Grandes homens podem pecar de maneira grande, mas uma
pequena falha pode se tornar enorme, quando exposta através
das lentes da fama.
Vivendo em Verdadeira Confiança
Vamos considerar os exemplos do apóstolo Pedro. Ele era um
homem de ação, mas essa sua virtude era também a sua falha
– seu impulso para agir era muito freqüentemente irrefreável.
Ele falava quando não devia, era cheio de entusiasmo e autoconfiança. Quando Pedro ouviu Jesus falar sobre ser preso pelos
Seus inimigos, ele se achou um grande homem, o herói protetor
do seu Mestre (Mt 16.21,22). Assumir o papel de protetor de
Jesus é uma tarefa e tanto! Agora, falar com o Mestre para confiar nele para a Sua segurança, aí já é demais! Você pode dizer
que isso é vanglória, insolência – autoconfiança, se você preferir
… como você quiser. Entretanto, esse era Pedro.
Porém, o verdadeiro começo da auto-confiança é confiar completamente em Jesus. Perca a confiança no Senhor que mais cedo
ou mais tarde a sua arrogância vai explodir, e parecer tão trsite
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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quanto um balão murcho. Quando Jesus foi preso e provado,
Pedro se surpreendeu com a sua própria covardia. Ele se tornou
um homem esquivo, tão pequeno que as palavras de uma serva
o amedrontavam. Aí ele começou a representar, fingindo ser
apenas um dos que estavam por perto. Ele se aqueceu no fogo
com outros pagãos, e passou a portar-se como um deles, amaldiçoando, jurando e negando ter qualquer coisa a ver com Jesus
de Nazaré (Mt 26.74; Mc 14.54). Agora, para uma falha daquela
magnitude, em qualquer conferência ministerial os membros
teriam destituído a Pedro de suas funções sacerdotais, e retirado
suas credenciais de apóstolo.
Quando Jesus chamou a Pedro, Ele disse: “Segue-me”, e lhe concedeu uma grande pesca (Mt 4.19). Então, vieram três maravilhosos anos com Cristo, até que chegou a cruz. Isso derrubou Pedro;
foi uma queda de uma grande altura. Esses dias maravilhosos
com Jesus pareceram desaparecer como uma miragem. Pedro
simplesmente encolheu os ombros, e voltou para o ponto de partida, de volta ao que ele sabia: pescar. Ali, entretanto, tinha sido
o lugar onde ele havia visto Jesus pela primeira vez, e foi para lá
que Jeus voltou. O Mestre encontrou Pedro
O verdadeiro
pescando novamente – o mesmo Jesus de
começo da autoontem, hoje e eternamente. Ele operou o
confiança é confiar
mesmo milagre, a grande pesca, e, então,
completamente
Jesus disse as mesmas palavras que dissera
em Jesus.
três anos antes: “Segue-me!” (Jo 21.19).
Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Rm 11.29).
Efésios diz que Deus concedeu uns para evangelistas (Ef 4.11).
Podemos falar sobre o departamento de evangelismo da igreja ou
organização cristã, mas Deus não reconhece tais departamentos.
Ele somente reconhece a Igreja. A Igreja é o departamento de
evangelismo – toda ela. Mas evangelismo requer mais do que
evangelistas; o trabalho necessita de apóstolos, professores,
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O Tempo está se Esgotando
profetas e pastores – todos eles. Para quê? Para alimentar os
novos convertidos. Não há nada errado com cruzadas evangelísticas, mas pode haver algo muito errado depois delas. Jesus disse
a seus discípulos, na praia: … trazei alguns dos peixes que acabastes de apanhar (Jo 21.10). Não eram somente os evangelistas que
estavam incluídos naquela ordem.
Uma coisa que nos deixa alarmados nessa cena da restauração de
Pedro é que Jesus não repetiu a ele o que havia dito antes, sobre
dar a Pedro o Espírito Santo ou as chaves do Reino.
O que Ele disse foi: Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21.17).
O assunto agora não tinha mais nada a ver com pesca, mas
com ovelha. Nós comemos peixes, mas as ovelhas devem ser
alimentadas.
Os críticos da igreja têm um ditado: “Evangelistas tomam
decisões, mas Jesus disse, ‘Fazei discípulos’”. Entretanto, evangelistas não tomam decisões; são os convertidos que o fazem.
Evangelistas não fazem nada, eles simplesmente chamam a atenção para Cristo, e trabalham por uma resposta. Um evangelista
recebe respostas, mas são necessários pastores para fazer discípulos. O evangelista traz a matéria bruta,
Nós comemos peixes,
e o pastor tem de trabalhá-la. E mesmo
mas as ovelhas devem
que o evangelista desenvolva bem o seu
ser alimentadas.
ministério, fazer discípulos toma tempo e
não pode ser feito em uma cruzada de seis dias. Alguns pastores
não o conseguem em anos. Jesus gastou três anos com os Doze
e, mesmo assim, eles não eram tão maravilhosos assim. Nenhum
evangelista pode alimentar os novos convertidos na igreja;
mesmo sendo eles todos nascidos de novo e treinados nos princípios do discipulado. Se ele pudesse, pastores e professores não
seriam necessários (nem qualquer outros companheiros crentes.
Ver 1 Coríntios 12; Efésios 3.18).
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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A Igreja não escolhe e designa apóstolos, profetas, pastores, professores e evangelistas, casualmente. É o Senhor quem os escolhe.
Podemos escolher outros e perder os designados do Senhor. A
Igreja Católica rejeitou Martin Lutero. A Igreja Anglicana rejeitou João Wesley. Os Metodistas rejeitaram William Booth. Os
Batistas rejeitaram William Carey. O povo da Holiness rejeitou
William Seymour; contudo, Deus não rejeitou a nenhum deles.
Deus coloca pastores em cada igreja, de qualquer tamanho, e
todos eles são parte da liderança, como costumamos chamar
(1 Co 12.28). Eles têm o coração cheio de amor pelas pessoas,
para cuidar delas, visitá-las e orar por elas. Eles são a equipe
de enfermeiras e médicos de Deus, operando na retaguarda. A
Bíblia fala sobre pessoas sendo bem ajustado (Ef 2.21); o original
grego se refere à fixação de um osso deslocado ou quebrado. Deus
escolheu a esses líderes, e lhes deu sabedoria para aconselhar.
Pode ser que os pastores que escolhemos não tenham nenhuma
dessas características. Nossa tendência é escolher homens de
negócio, figuras populares, organizadores, gerentes, talvez generais, ou primeiro sargento. Contudo, o verdadeiro trabalho é
feito por esses de coração suave e compassivo, prontos a se esforçarem a qualquer tempo, que são – em grande parte – desconhecidos, jovem ou velho, homens ou mulheres. Eles têm o dom
de reconhecer rostos cheios de conflituosas e também possuem
uma palavra de conforto para compartilhar com os que precisam. Às vezes até têm uma palavra para alguém, mas recebem
uma palavra de sabedoria e entendem que não devem dizer nada
a ninguém, a não ser orar.
Não entendo como um evangelista pode fundar uma igreja em
apenas alguns dias, suprindo a todo o grupo de convertidos
das ruas, e qualificá-las como discípulos. O evangelismo é simplesmente o primeiro passo, não todo o processo. Um homem
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para fazer tudo isso em apenas seis dias teria de ser um tipo de
guru. E um evangelista não deve aceitar o papel de guru. Alguns
pastores têm medo de que um evangelista crie essa situação na
igreja, um medo que, tristemente, nem sempre é infundado.
A Fé Trabalha por Amor
Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência,
associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o
domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a
piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em
vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos,
nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor
Jesus Cristo (2 Pe 1.5-8).
Como já mencionei, a fé é a chave; contudo, a espiritualidade
tem de ser desenvolvida. A espiritualidade é a qualidade que será
reconhecida no céu quando receberemos a nossa recompensa, ou
o nosso status. Ela é desenvolvida durante toda a vida, vencendo,
colocando as coisas espirituais antes das carnais.
Na passagem acima, Pedro não está dizendo que uma virtude
é derivada da outra; ou seja, domínio próprio de conhecimento ou perseverança de domínio próprio. Não progredimos
de uma qualidade à outra, mas devemos ter a todas sempre
melhorando. A fé não leva, essencialmente, ao amor; antes, fé
e amor estão atrelados: a fé age por amor.
Quando Jesus restaurou a Pedro ele não disse, “Ok, você está
perdoado. Esqueça o passado, somente continue o seu trabalho”. Ele disse: Simão, filho de Jonas, você Me ama? (Jô 21.15-17).
O amor de Pedro por Cristo era a única coisa que tinha que
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Capítulo 13 • O Evangelismo e A Espiritualidade
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ser perguntada. Realmente, é isso mesmo o que conta. Ele não
vai nos perguntar quantas almas ganhamos. Ele somente vai
nos medir pelo nosso amor. Suas pergunta continua sendo:
“Você me ama?”. Bem, e o que vamos responder?
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Capítulo 14
PREGANDO JULGAMENTO
A UM MUNDO
POLITICAMENTE CORRETO
Mandou chamar Paulo e passou a ouvi-lo a respeito da
fé em Cristo Jesus. Dissertando ele acerca da justiça, do
domínio próprio e do Juízo vindouro, ficou Félix amedrontado (At 24.24,25).
P
aulo foi o primeiro missionário na Europa. Por onde ele foi,
encontrou pessoas cujas idéias eram contrárias ao Evangelho;
tinham a mente conformada a um padrão diferente. Todas as
indicações eram de que a Europa era uma terra dura e infértil,
imprópria para o plantio da semente do Evangelho. O encontro
de Paulo com Félix foi típico. Era como se o cristianismo encontrasse com o temor e a suspeita, porque ele representava uma
nova maneira de ver as coisas.
Mas o que era tão novo sobre o cristianismo? Apenas uma coisa:
ele não era simplesmente uma nova “religião”, como as demais.
Os gregos e os romanos serviam a muitos deuses, mas esses deuses
não tinham o poder para mudar a vida de ninguém. Uma pessoa
poderia praticar os ritos, fazer os sacrifícios requisitados, mas o
cristianismo era uma nova maneira de pensar – uma nova maneira
de viver. Na realidade, Félix conhecia o cristianismo como sendo
“o caminho”. Paulo estava introduzindo uma nova e revolucionária maneira de conhecer a Deus, que mudava atitudes e tudo o
mais. Uma nova forma de as pessoas viveram o dia-a-dia.
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O Tempo está se Esgotando
Mesmo que Paulo tenha sido criado de acordo com as tradições judaicas, ele foi chamado pelo próprio Jesus para pregar
o evangelho aos gentios, tanto étnica como religiosamente; os
não judeus do mundo greco-romano (At 22.21). Os gentios dos
dias de Paulo eram dedicados a muitas filosofias, bem como a
sistemas diferentes de crenças. O livro de Atos menciona especificamente as práticas da magia (8.9; 19.19), crença em deuses
clássicos (14.11), leitura de sorte e advinhação (16.16), adoração
a ídolos (17.16), filosofia estóica e epicureana (17.18) e adoração à
deusa Diana (19.27). Também larga e ativamente praticada era a
adoração ao Imperador, o culto da misteriosa religião órfica, os
ritos de fertilidade da seita Eleusiana, os oráculos de Delfos e ai
por diante. Mesmo a comunidade judaica estava dividida religiosamente. O partido dos saduceus negava importantes aspectos do
sobrenatural, enquanto os fariseus os afirmaram (Ato 23.7,8). Os
essênios, em uma tentativa de escapar do sistema mundial do mal,
implantaram comunidades ascéticas no deserto. Outros judeus se
tornaram influenciados pelo pensamento e cultura grega.
Hoje, isso é o que chamamos de sociedade pluralística. Paulo
estava levando o Evangelho às pessoas, cuja inteira educação e
perspectiva eram alheias, ou até mesmo opostas, aos princípios
básicos sobre os quais o Evangelho havia sido fundado.
Cada religião oferece o seu próprio estilo de vida superficial;
o verdadeiro cristianismo, entretanto, oferece muito mais. Por
exemplo, os clérigos muçulmanos com sua política religiosa
regulam a maneira que seus seguidores comem, lavam, vestem,
conduzem relacionamentos, oram, e vão a extremos para impor
suas regras. A Bíblia, entendida propriamente, não faz nada do
tipo. O verdadeiro cristianismo simplesmente muda os princípios da vida. Tudo se torna motivado pelo nosso amor a Cristo.
Desde o momento em que uma pessoa nasce de novo, passa a
olhar o mundo com olhos diferentes (2 Co 5.14-17).
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 267
Os cristãos sabem que o seu modo de vida choca muitas religiões
e culturas, em muitos países ao redor deles, resultando freqüentemente em perseguição aos crentes. Algumas religiões se opõem
frontalmente à cultura americana e européia; os muçulmanos
extremistas chamam a América de “O Grande Satã”. Hoje,
qualquer um que testemunhe de Cristo,
Cada religião oferece
em seu país ou no exterior, enfrenta probleo seu próprio estilo
mas para comunicar o Evangelho a grupos de vida superficial.
de diferentes credos religiosos. No meu
caso, esse é um problema diário, uma vez que prego para multidões diversas. Produzimos 185 milhões de livros e livretos em
142 línguas diferentes, na tentativa de construir pontes de acesso
aos não cristãos. Freqüentemente, o problema que enfrentamos
é que, em muitas culturas, o indivíduo se identifica muito de
perto ou pelo seu país, ou pela sua religião. Converter é quase
que um ato de traição. Isso é verdade especialmente nas nações
islâmicas, onde converter ao cristianismo atualmente leva à pena
de morte!
Entretanto, pluralismo não é mais simplesmente um problema
missionário. Desde a Segunda Grande Guerra Mundial, uma
nova situação demográfica surgiu no mundo. A Alemanha, a
França, a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e outros países sofreram mudanças significativas, inundados pelos imigrantes da Ásia
e do Oriente Médio. O Oeste teve que se ajustar, visto que as
novas culturas não se integram com as nossas tradições nativas e
cristãs. O pluralismo cria atrito e, na América, entre o aumento
da tolerância e a justeza política, adotou-se uma legislação para
atenuar a tensão.
A Quê Somos Absolutamente Contra
Atos 24.4,5 ilustra bem a abordagem de Paulo para apresentar o
Evangelho àqueles de diferentes culturas. Félix era procurador
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O Tempo está se Esgotando
da Judéia (e, portanto, sucessor de Pôncio Pilatos), mas possivelmente tenha sido escravo. Por linhagem ele era romano, mas
sua esposa, Drusila, era judia. Ele tinha algum conhecimento
do cristianismo, possivelmente através de sua esposa. É bem
interessante ver como o apóstolo apresentou o Evangelho a esses
governantes pagão.
Paulo conversou com Félix sobre basicamente quatro coisas:
1) fé em Cristo; 2) retidão; 3) domínio próprio e 4) julgamento
vindouro. Neste livro falei muito sobre três desses assuntos, e
agora chegamos ao quarto. Como deveríamos nós, como cristãos, abordar o tópico do julgamento em uma sociedade pluralística, politicamente correta?
Evangelismo ou missões, hoje, é uma rede lançada em muitas
nações, línguas, religiões, e modos de pensar. Quando os primeiros missionários modernos trabalharam na Índia e na África,
eles tentaram impor a maneira ocidental sobre os convertidos,
como se o modo de vida ocidental fosse a maneira correta. Os
primeiros missionários modernos foram principalmente os ingleses – inicialmente João Wesley foi um missionário para os índios
americanos. Eles construíram igrejas inglesas, ensinaram formas
inglesas de adoração, hinos ingleses, e providenciou roupas
inglesas para os nativos.
Paulo conversou
com Félix sobre
basicamente
quatro coisas:
1) fé em Cristo;
2) retidão;
3) domínio próprio e
4) julgamento
vindouro.
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Os primeiros missionários criaram grandes
problemas para si próprios, tentando “ocidentalizar” seus convertidos. Nessas terras
longínquas o cristianismo, uma religião
estrangeira, veio para se identificar com
o Oeste.Até hoje, em alguns lugares, ele
ainda é visto ccomo algo “importado”.
Por outro lado, Hudson Taylor cria que, a
fé em Cristo poderia expressar a si mesma
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 269
em qualquer ambiente cultural – afinal, Cristo pertence a todas
as nações. Em terras chinesas a fé em Cristo foi apresentada na
forma inglesa; entretanto, Hudson Taylor viu que aquilo era um
erro. Então, ele adotou a moda chinesa para alcançar os chineses. Esse foi o começo de tudo.
Os convertidos ao Evangelho não precisam de mudar sua cultura
nacional, exceto onde elas são culturas demoníacas, baseadas em
adoração de espíritos. Uma cultura chinesa cristã ou uma cultura
cristã indiana são tão legítimas como uma cultura ocidental. Em
qualquer caso, é um erro pensar na cultura ocidental como se
fosse completamente cristã. Por exemplo, as primeiras práticas
de democracia são pré cristãs, originadas na Grécia antiga, e não
na Bíblia. E nosso eficiente sistema de débito e crédito do Oeste,
não é especificamente cristão; entretanto, vivemos e servimos a
Deus nele.
Hoje o problema da espiritualidade está sendo atacado de várias
maneiras, por pessoas de diferentes crenças e culturas. Por exemplo, alguns tentam reconciliar a eles mesmos e suas crenças ao
Evangelho, alegando que o Evangelho não é único, e, sim, em
essência, o mesmo em todas as religiões. Dizem que se trata
apenas de uma questão de experiência pessoal. Estão tentando
provar que essa experiência, comum, é realmente a “luz interior”
que todos nós compartilhamos. Em outras palavras: não é politicamente correto reivindicar que cristianismo seja o único.
Outro método pluralístico é separar o melhor de todas as religiões e colocar junto – uma abordagem que chamamos de sincretismo. Outros preferem buscar os místicos orientais para encontrarem uma maneira de desenvolver sua consciência religiosa,
sintonizando com influências externas. Nada de credos, nada de
doutrinas, e até nada de adoração – simplesmente sentimentos
de “elevação”.
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O Tempo está se Esgotando
Na maioria dos países do mundo, a religião freqüentemente não
significa nada mais que uma experiência que vem do banco em
uma igreja – a sensação do local propriamente dita, com sua
quietude, paz, e mistério. A liturgia tem como objetivo aumetar
o mesmo efeito psicológico e, por isso, freqüentemente o sermão
é simplesmente um interlúdio com chavões e clichês.
Existe na Igreja um movimento em andamento, para que haja
um “diálogo” entre as religões estrangeiras. Costumam dizer
que há verdade em cada uma elas. Confesso que isso me preocupa. Não me importo com diálogos, se isso significar que posso
contar a alguém sobre Jesus, que também vai me contar sobre as
crenças das outras religiões; contudo, freqüentemente a idéia é
interagir e integrar. E como podemos adequar o cristianismo e
suas práticas ao budismo, islamismo, ou hinduísmo? Isso é uma
concessão mútua, mas que não é nem somente inaceitável como
também impraticável. Não há como colocar todas as religiões
em um cadinho e criar uma liga forte; isso nunca funciona. O
que teremos no final, será apenas uma sacola cheia de absurdas
bugigangas religiosas.
O cristianismo, entretanto, é uma religião dogmática; o
Evangelho possui declarações fortes que devem ser aceitas. O
cristianismo é histórico; e isso é fato. O Evangelho pode significar sentimentos, mas não pode ser reduzido a eles. Isso é
verdade, qualquer um pode ver. Pessoas morreram penduradas
em estacas, por causa da Verdade – isso não foi por sentimentos.
Devemos declarar a verdade intrepidamente, e nunca comprometê-la ou diluí-la, para não ofender os sentimentos de alguém.
Eu sei que podemos encontrar grãos de ouro na areia. Também
é possível encontrar parte de verdade mesmo em falsas crenças
(Romanos 1); todavia, nem tudo que é bom, salva, e, nem toda
verdade é a verdade salvadora. Bons conselhos palavras sábias
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 271
não trarão perdão. Jesus não veio para nos dar conselhos, ministrar conhecimentos, ou nos ensinar a encontrar nossa luz interior. Ele veio para que tenhamos VIDA, e vida em abundância.
Se todas as religiões são a mesma coisa, nós podemos também
ficar em casa; vamos deixar os muçulmanos serem muçulmanos.
Vamos deixar que os hindus, brâmanis,
Nem tudo que é
budistas, animistas, espíritas, feiticeiros
bom, salva, e, nem
– vamos deixar que fiquem como estão.
toda verdade é a
Afinal de contas, as religiões não são a verdade salvadora.
mesma coisa?! Milhões são desprezados
por suas religiões, em vez de abençoados. Freqüentemente as
práticas sagradas produzem males e atrazos de vida – a opressão da mulher, intolerância, vingança, fanatismo, e escravização de classes menos privilegiadas estão entre os resultados. O
Evangelho, por outro lado, é um poder libertador e edificante!
Onde ele é aceito, traz melhorias sociais e respeito para o menor
e o mais simples. Lembre das palavras do hino do grande Isaac
Watt: “Jesus reinará”.
As bênçãos abundam onde quer que Ele reine,
O prisioneiro salta livrando-se de suas correntes,
O fraco encontra descanso eterno,
E todos os filhos querem ser abençoados.
Há milhões esperando e esperançosos por algo mais, algo melhor
que nossos bons sentimentos. Depois de conviver 30 anos no
meio de pessoas não cristãs, sei que essas almas terrenas anseiam
por algo que só podem encontrar em Jesus Cristo. Eles querem
uma realidade mais sublime, algo mais substancioso – mais
que pompa, cerimônias, observâncias, orações e símbolos. Eles
querem uma fé que seja uma rocha no meio da tempestade.
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O Tempo está se Esgotando
As pessoas querem saber que existe justiça no mundo. Eu prego
Cristo, o Juiz de todos. Eles querem poder para superar o mal
em seu coração; eu prego que Jesus salva. Eles querem perdão
para os seus pecados; eu prego que através desse homem, Cristo
Jesus, se vos anuncia remissão de pecados por intermédio deste
[Jesus] (At 13.38). Eles querem experimentar Deus; eu prego o
batismo com o Espírito Santo enchendo-os
Jesus é a Rocha
mente, corpo e espírito. Eles querem ajuda
que garante a nossa
para suas lutas diárias, não uma religião
segurança em um
que impõe mais deveres; eu prego um
mundo à deriva.
Jesus a quem eles podem entregar sua vida,
quem vai assumir responsabilidade sobre o seu passado, o seu
presente e o seu futuro. Quem mais pode fazer tudo isso? Jesus
verdadeiramente é o único Salvador. Ele não tem nenhum rival,
nem vivo, nem morto.
Cristo não dita regras quanto ao lavar, o comer ou ao orar. Ele
muda a nossa essência. Sua sabedoria é colocada em nós, como
uma lei da natureza – nossa nova natureza em Cristo. Somos
nascidos de novo; temos genes divinos. Nosso DNA, codificado
em nossos genes, guia o crescimento e as características do nosso
corpo físico. O DNA é como uma fita gravada automaticamente,
instruindo cada célula viva a fazer o que deve ser feito. O Espírito
de Deus age como nosso DNA, desenvolvendo e guiando nosso
crescimento em Cristo.
Pregando o Evangelho
em um Mundo Pluralístico
Os apóstolos pregaram julgamento. Na verdade, esse não era
um assunto sobre o qual os pagãos gostavam muito de pensar.
Entretanto, era a verdade e os apóstolos foram mandados para
pregar a verdade. Recentemente tive a oportunidade de pregar
para centenas de milhares de mulçulmanos e hindus. Não tenho
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 273
nenhuma dificuldade em pregar o Evangelho na sua totalidade.
Prego com alegria sobre Jesus, retidão, moderação e o julgamento vindouro.
Esse Evangelho queima no coraçcão das pessoas, como uma
repentina alvorada depois da uma escuridão, depois de uma
noite sombria. Jesus é a Rocha que garante a nossa segurança em
um mundo à deriva, em um mar de incertezas. Deus não nos
abandonou tentando nos agarrar a sentimentos confusos, segurando apenas em um fio de esperança passageira. Nossa mensagem cristã a um mundo confuso é positiva, sólida e racional.
Eu não critico outras crenças. Eu não ofendo, intencionalmente,
a seguidores de outras religiões. Eu não argumento sobre religião,
e não entro em discussão sobre qual sistema de crença é certo.
Eu simplesmente apresento o glorioso Evangelho de Cristo de
maneira positiva. Se meus ouvintes acreditam que seus deuses
hindus ou mesmo Alá ou Buda podem oferecer perdão a eles,
dar-lhes poder sobre o pecado, vesti-los na retidão e dar-lhes
esperança quando são julgados, tudo bem. Deixe-os continuar
como estão; entretanto sei, e eles também sabem, que não há
nada semelhante a isso em seus credos e costumes. Somente
Jesus salva! Ninguém mais está no páreo.
Se é ética que as pessoas querem, a Palavra de Deus está completa. Nossa ética cristã vem da Bíblia; não precisamos ir ao
Alcorão ou aos mitos hindus procurando por direção. Visto
como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento [de Jesus Cristo]
(2 Pe 1.3).
Todas as religiões têm uma teoria sobre como a justiça final será
realizada. Esse é um princípio básico, e essa é a razão pela qual
Jesus falou muito sobre ele. O Senhor disse: E o Pai a ninguém
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O Tempo está se Esgotando
julga, mas ao Filho confiou todo julgamento (Jo 5.22). O julgamento está nas mãos de Jesus. Mas que mãos são essas – marcadas por um prego de ferro, são mãos de misericórdia. Aquele que
nos ama é o Juiz. Que alívio! O nome de Jesus alegra as pessoas
por todo o mundo.
Note que os apóstolos não ameaçaram as pessoas com julgamento; afinal, eles estavam pregando boas novas. Eles não
desejam causar temor. Eles não precisaram adverti-las de que,
sem Cristo, elas iriam perecer. Elas sabiam muito bem disso,
e já estavam cheias de medo sobre o que
Eles não precisaram poderia acontecer a eles, especialmente na
adverti-las de que,
morte. Muitos criam que quando morressem Cristo,
sem mergulhariam em um mundo de escuelas iriam perecer.
ridão, temido submundo, guardado por
Elas sabiam muito
um cão de três cabeças chamado Cérbero.
bem disso.
Os apóstolos sabiam que, diante da menção
da morte e de julgamento o mundo pagão se curvaria, temeroso.
Esses homens de Deus, porém, vieram trazer a mensagem da
cruz e da ressurreição, de justiça e misericórdia, no trono da
graça divina. Não há nada errado com essa gloriosa mensagem!
É uma palavra para todas as pessoas, de todas as crenças, de
todas as culturas, de todos os tempos, de todas as raças. Não
precisamos comprometer tais maravilhosas notícias. Declaramos
a verdade, os fatos, e são esses inflexíveis fatos que todo mundo
em nossa sociedade pluralística deve encarar.
Os apóstolos pregaram julgamento, não castigo eterno. Suas
epístolas e os sermões em Atos são, na sua maioria, silenciosos
nesse assunto, mas fortes no conceito de julgamento. A palavra “inferno” é mencionada apenas algumas vezes no Novo
Testamento. Ameaçar as pessoas com o inferno não tem efeito;
elas riem da idéia, caricaturada entre elas, de um inferno em
chamas, enxofre, cavernas, e demônios com calda bifurcada.
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 275
Os pregadores, no passado, descreveram uma agonia no inferno
como Deus jamais havia planejado, mesmo para a pior de Suas
criaturas. O quadro do inferno tem sido exagerado. A igreja
medieval sofreu tanto que chegou à paranóia. Um escritor
daqueles tempos disse que as crianças que não fossem batizadas
sofreriam no fogo, que iria piorando a cada século. Quem daria
ouvidos a uma coisa dessas hoje em dia?
Para pregar sobre o inferno (ou qualquer outra coisa) duas coisas
são necessárias: primeiro, devemos fornecer uma explicação
apropriada do que a Bíblia diz e, segundo, devemos como Jesus
pregou – se é que podemos. Sua voz, como tudo o que Ele fez,
era uma expressão de profundo desejo e infinito amor por todas
as Suas criações. Ele não teve nenhum prazer em adverti-las
sobre o inferno. Ele veio fazer tudo o que podia para preveni-las
de irem para lá. E Ele proferiu esses avisos com a voz partida.
Se queremos ver os mesmo resultados da pregação dos apostólicos, devemos pregar a mesma mensagem que eles pregaram. Nas
regiões sombrias onde freqüentemente prego, qualquer outro
tipo de sermão seria uma traição escandalosa do que o evangelho é, e uma traição àqueles que me ouvem. Meu evangelho é o
Evangelho de Jesus, Paulo, Pedro e todos os outros. Não importa
o que foi colocado na mente daquelas pesSe queremos ver
soas, como lavagem cerebral, o Evangelho
os mesmo resultados
é apropriado para cada situação. Ele lida
da pregação dos
com as questões da vida de todo mundo.
apostólicos,
Ele é o bisturi do cirurgião cortando fora devemos pregar a
o câncer do pecado. O Evangelho deve ser mesma mensagem
cortante, mais afiado do que espada de dois que eles pregaram.
gumes (Hb 4.12), e lida honesta e positivamente com o pecado, julgamento, retidão, a salvação da Cruz e
o poder de Deus. Essas coisas não são para serem debatidas, mas
para serem proclamadas.
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O Tempo está se Esgotando
Como Jesus Ligou a Sua Mensagem
com os Acontecimentos Finais
O julgamento era parte pesada do ensino de Jesus, e isso tornava
muito solene tudo o que Ele tinha a dizer. Algumas vezes Ele
falou sobre isso explicitamente, mas estava em sua mensagem o
tempo todo, de maneira implicita. A eternidade é sempre vista
nos ensinamentos do Senhor. Os acontecimentos finais faziam
parte do pacote. Eles estavam presentes quando Cristo falou
sobre eles, e é principalmente por intermédio de Jesus que recebemos entendimento sobre dias finais.
É surpreendente ver como a noção de julgamento permeou tudo o que Jesus falou.
Ele não veio ao mundo para que as pessoas se divertissem com o Messias; falou
diretamente sobre recompensa e castigo.
Creio que hoje, de modo geral, a Igreja
tem o hábito de amenizar essa questão do
julgamento; contudo, essa é a parte essencial dos ensinamentos de Cristo. Ele teve
grande compaixão, mas nunca maquiou a verdade. Ele falou, de
maneira direta, que o julgamento vem.
Ele teve tamanha
compaixão pelas
multidões que
além de alimentar
5.000 deles,
também os advertiu
sobre seu destino,
caso não
cressem n‘Ele.
Foi exatamente por causa desse julgamento que o Senhor veio
à terra e teve de morrer na cruz. Isso é uma realidade. Ele teve
tamanha compaixão pelas multidões que além de alimentar
5.000 deles, também os advertiu sobre seu destino, caso não
cressem n’Ele. Devemos pensar em algo mais do que pão, e confiar em Deus para nos salvar. Ninguém mais fará isso por nós.
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 277
Jesus em Julgamento
Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer:
“Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”
(Mt 4.17).
Arrependimento é a primeira coisa que ouvimos do ministério
do Senhor, e João Batista pregou essa mesma mensagem antes
dEle (Mt 3.2). Já até falaram que Jesus começou o Seu ministério
como sendo um dos discípulos de João, mas não vejo evidência
desse fato na referência bíblica.
Entretanto, a mensagem de João estava cheia de julgamento,
como a de Jesus. João usou expressões como fugir da ira vindoura (Mt 3.7) e toda árvore, pois, que não produz bom fruto é
cortada e lançada ao fogo (Mt 3.10), e a sua pá, ele a tem na mão e
limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro,
mas queimará a palha em fogo inextinguível (Mt 3.12).
Jesus usou esse tipo de advertência por todo o Seu ministério
e usou figuras de linguagem semelhantes. Tanto João Batista
quanto Jesus chamaram as pessoas ao arrependimento. Jesus,
entretanto, adicionou um novo elemento: … e crede no evangelho
(Mc 1.15). Jesus, porém, nunca ameaçou; simplesmente descreveu o que estava por acontecer, o inevitável.
Quando
Não há saída – exceto em Cristo. Ao rejeitar
Cristo nasceu,
a Jesus a iniqüidade imediatamente coloca
a eternidade ficou
uma pessoa sob a ira de Deus. Julgamento
confinada entre o
é questão de causa e efeito. Um dia o que tempo e o espaço.
fizemos será julgado. Nossos feitos vão permanecer ou cair por terra; serão lançados fora ou ficarão para
sempre como “créditos” em nossa “conta”. A Bíblia enxerga além
dos interesses e tensões diárias desse mundo, para nos mostrar
uma realidade maior – é a eternidade que importa.
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O Tempo está se Esgotando
Quando Cristo nasceu, a eternidade ficou confinada entre o
tempo e o espaço. O céu tem um acerto com a terra, e o julgamento de Deus já começou. A Bíblia revela a natureza das forças
que norteiam o destino humano. Nosso mundo temporal deve
levar em conta o eterno. O Sermão da Montanha é uma exortação para se viver todos os dias à luz das coisas por vir.
Essa verdade deveria fazer desse mundo um lugar hoje. A consciência de um julgamento futuro trará justiça agora, fazendo com
que as pessoas tenham pressa de fazer o que sabem que agrada
ao Senhor. O futuro julgamento de Deus tem efeito claro no
presente, quando pregado às pessoas.
O evangelista D. L. Moody, certa vez pregou para um grupo de
homens que estavam em greve, e foi criticado por isso. Alguns
disseram que Moody havia tomado o lado dos patrões, e que ele
estava incentivando os trabalhadores a aceitarem salários menores, porque o salário real deles lhes seria dado mais tarde, no céu.
Os críticos de Moody distorceram a mensagem do Evangelho. Se
vivemos à luz do fato de que vamos encarar o justo Juiz, vamos
lutar pelo que é justo, e não encorajar as pessoas a se sentarem
silenciosas, sob a injustiça. O Evangelho levanta as classes baixas
e lhes dá dignidade. Ele muda nações – sempre para melhor. O
Evangelho é a maior força propulsora jamais conhecida!
Jesus e a Salvação
Quando
compartilhamos
o Evangelho,
estamos falando
nada menos do
que da questão do
destino humano.
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Jesus falou de salvação, mas deixou bem
claro do que é que Deus nos salva. De nada
vale pregar que Jesus salva, se a pessoa
não está em perigo – ou se não sabe que
está em perigo. O fato de eles estarem em
perigo é a verdade que deve ser parte da
nossa pregação do Evangelho. Devemos
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 279
dizer às pessoas que a fé em Cristo vai nos resgatar do pecado,
do julgamento, e da perda eterna. Quando compartilhamos o
Evangelho, estamos falando nada menos do que da questão do
destino humano.
O Evangelho de João, por exemplo, registra dois elementos contrastantes do ensino de Cristo: promessa e advertência. Nessas
passagens seguintes, Jesus comenta do Seu poder para salvar, e o
que acontecerá se não buscarmos salvação:
Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que,
todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a
vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus (Jo 3.36).
Porque vem a hora em que todos os que se acham nos
túmulos ouvirão a Sua voz e sairão, os que tiverem feito
o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo (Jo 5.28,29).
O julgamento nunca saiu da mente de Cristo. Nessas passagens,
na segunda delas, Jesus simplesmente curou um homem que
esteve inválido por 38 anos. Milagrosamente esse homem pôde
andar pela primeira vez, em décadas; isso levou Jesus a falar de
pessoas levantando da morte para encarar a condenação! Tal
assunto parece fora de hora, mas ele ensinou muito sobre o julgamento que virá.
Por exemplo, quando Jesus ouviu que um muro havia caído e
matado 18 pessoas, e que os soldados de Pilatos também haviam
matado muitos de galileus, parece que não deu muita atenção.
Em vez disso, observou: a menos que se arrependam, todos igualmente perecerão (Lc 13.3,5). Nossa reação diante de fatos assim,
talvez seja dizer o quão triste estamos e prometer que vamos orar
pelos afligidos; para Jesus, porém, a verdadeira tragédia era o
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O Tempo está se Esgotando
pecado e falta de arrependimento. Havia um destino muito pior
para o que não se arrependesse. Jesus aproveitou que as pessoas
estavam chocadas com a maior tragédia daqueles dias, para falar
sobre a maior de todas elas: pessoas morrendo em seus pecados.
Julgamento no Evangelismo Apostólico
Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus
(Rm 14.10).
Existem muitas expressões poderosas sobre julgamento, por
todo o Novo Testamento. Apocalipse 20.11 fala do grande trono
branco do julgamento. Hebreus 9.27 diz: aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo. Quando
Paulo pregou para Félix e Drusíla, falou da justiça, do domínio
próprio e do Juízo vindouro (At 24.25). Foi um sermão muito
claro e arrojado, com poucas pessoas na congregação! Não havia
dúvida a quem Paulo se referia.
Todos os escritores do Novo Testamento declaram que pecado
traz salários amargos. Algumas pessoas más podem até parecer
que estão se divertindo mas, no final, ninguém escapa das conseqüências. Vamos morrer nos nossos pecados, a menos que nos
arrependamos e procuremos a misericórdia de Cristo. O pecado
tem que ser pago, ele exige julgamento; as duas coisas não podem
se separar. E é aí que Cristo entra e paga a nossa dívida, sofrendo
as conseqüências em nosso lugar.
As Escrituras geralmente não declaram, diretamente, que os
maus são destinados a perecer. Freqüentemente, porém, encontramos declarações de que, quem confia em Cristo, não perecerá.
Fica implícita apenas a idéia de que as pessoas que não confiam
perecerão. É claro que existem passagens que dizem que os iní-
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 281
quos e incrédulos estão sob condenação. Entretanto, freqüentemente só podemos fazer deduções. Por quê?
A razão é que Jesus Cristo veio para nos salvar da condenação. Se
recusarmos, estaremos recusando o remédio, nosso único meio
de fuga. Cristo veio para nos livrar; se O recusarmos, simplesmente vamos receber o que era para nós.
As pessoas sempre souberam que pereceriam. Jesus e os apóstolos não necessitavam falar a eles, e nem nós; todavia o Evangelho
oferece esperança, e é a resposta ao temor universal de morte e
desesperança.
Por todo o mundo romano, no tempo de Cristo, a morte era o
maior dos terrores. O pensamento corrente era de que ela significava uma sub-existência entre as sombras do submundo. As personalidades pereciam, e mesmo os homens fortes e guerreiros se
tornavam meros fantasmas – fracos, desanimados, murmurando
coisas sem sentido. Jesus disse, porém, que os que confiassem
nEle jamais teriam esse destino; antes, teriam vida eterna – uma
eternidade maravilhosa.
Nos tempos de Cristo, grande parte do povo judeu cria na vida
após a morte. A palavra grega hades referia-se ao lugar onde
ficava o morto, de modo geral – afinal, as pessoas que morriam
tinham de ficar em algum lugar. Nesse ínterim, no entanto, as
pessoas já estavam convencidas de que havia diferenças nesse
lugar além da sepultura, e falavam sobre o “seio de Abraão”
como um local especial e agradável (um tipo de “meio caminho
andado”), onde ficariam aqueles a quem Deus havia favorecido
(Lc 16.22). Quanto ao outro lado desagradável da vida após a
morte, mestres de Israel, escribas e rabinos diziam que, a menos
que as pessoas conhecessem a lei, seriam amaldiçoados (Jo 7.49).
Como podemos ver, Israel elaborou “pareceres” sobre a morte,
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O Tempo está se Esgotando
vida humana, e vida depois da morte. Eram explicações diversas
e que tinham muito pouco a ver certezas e convicções.
Fora de Israel, a idéia aceita era, “comamos, bebamos e nos
alegremos porque amanhã morreremos”. Muitos nem mesmo
criam que tinham uma alma. Por outro lado, os egípcios tinham
uma obsseção mórbida pela morte, e gastaram grandes fortunas
tentando assegurar que, de um jeito ou de outro, continuariam
sendo prósperos no mundo além.
A Bíblia nos fala que o apóstolo Paulo contendeu os estóicos,
para quem a morte significava aniquilação virtual (At 17.18).
A crença estóica era a de que, na morte, o espírito do homem
voltava para o grande oceano do espírito, como uma gota de
chuva no mar. Eles consideravam perda de tempo falar sobre a
ressurreição.
Essa é mais ou menos as expectativas dos budistas. Outros crêem
em reencarnação: a alma retorna, talvez milhares de vezes, até
que, finalmente, afunde no oceano da insignificância, sendo
liberada do peso da existência; ou seja: deixa de existir.
No Paedo de Platão, Sócrates gasta suas últimas horas tentando
argumentar o que acontecerá a ele quando a morte chegar. Ele
diz: “Nada pode prejudicar um bom homem, seja na vida ou na
morte”. Entretanto, suas últimas palavras mostram uma patética
conecção com as superstições dos seus dias; suas palavras finais
foram: “Críton, devíamos oferecer um galo a Asclépio. Cuide
disso e não se esqueça”.
Os cristãos pensam na alma como sendo eles mesmos, no
mais completo sentido da personalidade (ver, por exemplo,
Mateus 16.26; Lucas 9.25). Os anciãos gregos não tinham idéia
da alma como essência da sua personalidade, e certamente nem
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 283
da sua vida após a morte. Para eles, a alma era somente um resto
fantasmagórico. Morrer era se tornar uma coisa e não uma pessoa.
Apesar das grandes contribuições dos seus filósofos (incluindo
seus pensamentos sobre a alma), o que deixava a desejar – como
entre todos os pagãos – era bastante simples: a revelação de um
Deus vivo, que fez o homem como uma maravilhosa unidade
de espírito, alma e corpo. Essa unidade foi restaurada depois da
queda, pela obra redentora de Jesus Cristo – como evidenciado
pela Sua ressurreição e envio do Espírito Santo (ver Gênesis 2.7;
João 20.20,22; 1 Coríntios 15.45; 1 Tessalonicenses 5.23).
A promessa de Cristo é que nunca vamos perecer, pois a salvação
é a certeza da vida com Cristo após a morte, e da ressurreição
– uma visão inteiramente nova da vida e morte com relação ao
mundo antigo. O salvo está nas mãos de um poderoso Salvador
que venceu a morte. Isso significa que há Alguém nas portas
da morte, capaz de cuidar de nós. Que poderosa salvação! Que
poderoso Salvador – uma luz nas trevas, e uma rocha protetora
entre as incertezas da vida!
No Ocidente a melancolia da incerteza abate milhões, incluindo
o rico, o proeminente e o poderoso. Eles confessam estar incomodados e temerosos diante do futuro. Assim como os Bebês
Boomers* envelhecem na América, eles também têm ciência de
que estão perecendo: somos como águas derramadas na terra
que já não se podem juntar (2 Sm 14.14). Ao experimentarem
o início das doenças e do enfraquecimento, se sentem caindo
no esquecimento, apagando como a chama de uma vela. Se o
Evangelho tem algum significado, é a cura para essa mórbida
perspectiva.
Nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu
a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade,
mediante o evangelho (2 Tm 1.10).
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O Tempo está se Esgotando
O Evangelho é salvação e esperança. Não conheço nenhuma
religião ou filosofia no mundo que oferece tal esperança, e que
isso soe na alma humana como sendo verdade.
Cristo venceu a morte, e para os que crêem, ela não é mais castigo. Ao contrário: Bem-aventurados os mortos que, desde agora,
morrem no Senhor (Ap 14.13). Preciosa é aos olhos do Senhor a
morte dos Seus santos (Sl 116.15). A morte não é mais motivo de
especulação. Não vamos perecer como uma árvore apodrecendo
na terra, secando por causa do raio que lhe sobreveio durante
uma tempestade. Estamos salvos. Nós vivemos n’Ele! Aleluia!
Ao prosseguirmos na caminhada neste terceiro milênio, percebemos que o conhecimento humano tem avançado além do que
poderíamos prever, 200 anos atrás. A cada hora, em cada casa, a
tecnologia faz com que o “impossível” aconteça; mas os mesmos
velhos problemas continuam conosco: maldade, temor, críticas
e doenças.
Nos dois séculos passados, milhares de novas religiões, pequenas
e grandes, foram fundadas; contudo, nenhuma delas tem uma
resposta ao problema do pecado e do temor, e nem uma pista
sobre o julgamento de um Deus santo. Dez mil novas idéias têm
sido apresentadas para explicar o universo, mas todas falharam
em resolver a difícil situação da humanidade, que é nos salvar de
nós mesmos.
Entretanto a solução, ou melhor, Aquele que tem a solução – está
vivo e atuando em qualquer lugar que permitirmos Ele atuar: Eu
sou o Primeiro e o Último. E Aquele que vive; estive morto, mas eis
que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e
do inferno (Ap 1.17,18).
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Capítulo 14 • Pregando Julgamento a um Mundo Politicamente Correto 285
O Evangelho não falha. Ele é a revelação de Deus em Seu Filho,
Jesus Cristo. Quando olhamos para Ele, nunca ficamos decepcionados. Ele anda a passos largos através dos séculos, como o
único Salvador, e Seus pés estão firmemente plantados no novo
milênio.
Paulo queria pregar em Roma, e disse
que não se envergonharia do Evangelho,
mesmo no centro do império pagão. Eu
também sou um pregador, e não vou me
envergonhar do Evangelho, pois ele continua sendo o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê.
O Evangelho
não falha.
Ele é a revelação de
Deus em Seu Filho,
Jesus Cristo.
Uma Palavra Final
Um dia o último hino será cantado, a mensagem final pregada e
feita a última oração. O julgamento virá. Os santos de Deus – a
ovelha perdida e encontrada pelo Salvador e Senhor Jesus Cristo,
e que O seguiu para o lar – irão para a sua recompensa celestial.
E que dia maravilhoso será esse!
Será uma oportunidade sem par de encontrarmos o Mestre face
a face, apreciarmos as belezas do céu, nos regozijar no companheirismo com a família de Deus, e aprendermos um pouco
mais sobre o destino eterno. Tudo isso vai parecer tão direito,
tão oportuno, a esperança de séculos cumprida … contudo, será
muito tarde para evangelizar; não haverá ovelha perdida no céu.
Eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia
da salvação (2 Co 6.2).
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Ressuscit
ado
Ressuscitado
dentre os
Mortos
“Quando me despertei... ouvi muitas vozes...
depois vi mãos que me seguravam... eles me
diziam: ‘caixão... necrotério... 3 dias” ...
Eu não entendia!”
Pastor Daniel Ekechukwu
“Ele dizia: ‘Água... água’, então eu gritei para
que trouxessem água... Depois ele perguntou:
Onde está minha pasta... minha pasta... minha pasta...?”
Pastor Lawrence Onyeka
Esta é a impressionante história do Pastor Nigeriano Daniel Ekechukwu. Ele foi
mortalmente ferido num desastre de carro, perto da cidade de Onitsha, na Nigéria,
África, no dia 30 de Novembro de 2001. Durante o dramático trajeto para o
hospital na cidade de Owerri, ele perdeu todo indício de vida e, mais tarde, foi
declarado morto por duas equipes médicas diferentes em dois hospitais distintos.
A última produziu um informe médico autorizando o transporte do corpo para o
necrotério. Mas a esposa de Daniel recordou um versículo da Bíblia Sagrada
extraído do livro de Hebreus, capítulo 11, que diz: ‘E as mulheres recuperaram
seus maridos ressuscitados’. Ela tomou conhecimento de uma reunião na qual o
evangelista Reinhard Bonnke estaria ministrando, e compareceu nela trazendo
consigo o caixão com o corpo do Daniel.
O que segue é uma história incrível que você nunca esquecerá! ...
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Reinhard Bonnke favor visitar o nosso website na internet ou entrar em
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