A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar

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A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar
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A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar
dezembro/2014
A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar
Camila Moreno de Camargo e Silva [email protected]
Master em Arquitetura
Instituto de Pós-Graduação – IPOG
Campo Grande, MS, 16 de dezembro de 2013
RESUMO
A importância da iluminação no ambiente escolar tem por finalidade mostrar alguns aspectos
relevantes que a iluminação tem sobre o desempenho dos alunos e funcionários de uma escola,
revelando se a escola, objeto da pesquisa, levou em consideração em seu projeto luminotécnico a
perfeita conjunção entre iluminação natural e artificial fatores que causam enorme influência no bem
estar do ser humano, situação determinante no desenvolvimento e aprimoramento das pessoas. A
escola escolhida foi o Colégio A+, escola de ensino médio situada em Campo Grande – MS, que
segundo os proprietários tem como objetivo a busca incessante por aprovações em ENEM e em
Universidades que utilizam vestibulares tradicionais. Os resultados encontrados demonstram que a
escola em questão não primou por um projeto de iluminação exemplar. Procuramos também
ressaltar os principais aspectos de uma vida saudável que contribui definitivamente para o alto nível
de aprendizagem.
Palavras-chave: Ambiente escolar. Desempenho. Iluminação. Projeto arquitetônico.
1. Introdução
A iluminação esteve presente na história da humanidade desde tempos imemoriais, quando,
segundo Childe(1974), os primeiros hominídeos praticavam rituais fúnebres com o fogo, uma
espécie de religiosidade primitiva, antes mesmo do homem ter pleno domínio sobre as
propriedades físico-químicas do elemento.
A primeira grande revolução do Homo-erectus foi o domínio sobre o fogo adquirindo, desta
maneira, o controle sobre o ambiente , outros animais além do próprio homem. Há
divergências de como se procedeu o controle das primeiras piras, porém tende-se a acreditar
que tivemos nessa época um modelo primitivo de metodologia científica Esse modelo
provavelmente foi baseado na observação e na repetição de fenômenos naturais.
A análise desses dados permite dizer o quanto a iluminação foi e continua sendo de suma
importância na vida dos seres humanos, seja para atrair presas ou afastar predadores na era
primitiva, a chamada Pré-História, ou para iluminar as Igrejas Medievais, através de seus
vitrais. A Acrópole e o Panteão foram projetados para absorver o máximo de iluminação
natural que se podia oferecer através do Sol.
Em tal perspectiva é notável a relação que arquitetura e iluminação estabeleceram através dos
tempos. Isso pode ser comprovado observando como certas construções refletiam valores e o
modo de vida das pessoas. A arquitetura gótica exemplifica bem essa relação, a iluminação
não funcionava apenas tecnicamente, ela era um elemento consistente, um referencial do
momento histórico.
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Sabendo que a iluminação tem dois valores básicos: o funcional e o simbólico deixa-se claro
que neste contexto irá se detalhar sobre o valor funcional, embora a semiótica seja usada
como recurso explicativo em algumas ocasiões. A escolha de um valor em detrimento de
outro é puramente didático, não tendo como razão implicar em relações de superioridade de
um sobre outro.
Levando-se em conta a importância da iluminação no progresso da humanidade vamos
destacar sua aplicação no ambiente escolar. Para que o desempenho de alunos e funcionários
seja potencializado é necessário observar todos os aspectos relacionados com a aprendizagem.
Entre estes fatores está a edificação que deve proporcionar conforto ambiental, enfim um
espaço saudável para a prática educacional. Como o estímulo para novas descobertas passa
essencialmente pelos sentidos e sendo a visão tão importante ressaltamos, portanto a
iluminação como fator primordial para maximizar este desempenho. Uma boa qualidade de
vida passa necessariamente pelas condições ambientais, e um local devidamente iluminado
não só desperta as reações de todos os sentidos como torna o ambiente agradável fatores que
influenciam definitivamente nos processos da aprendizagem.
Sabe-se que a iluminação pode ser concebida pelo processo natural ou artificial, resta saber
qual processo é mais viável na construção de um ambiente escolar. Segundo Bertolotti(2007):
Entre os muitos fatores que influenciam os processos de aprendizagem, aqueles
relacionados com as condições ambientais têm um papel determinante. O estímulo
educacional é repassado através da percepção dos sentidos, sendo um dos mais
importantes a visão. Boas condições de iluminação favorecem o desempenho visual,
otimizando o processo. A luz natural, pela ampla composição e abrangência de seu
espectro, é mais favorável à identificação de contrastes e renderização de cores e à
percepção de formas tridimensionais. A qualidade da luz é também importante para
os olhos das crianças. Os olhos coletam e convertem, através dos nervos óticos, a luz
visível em impulsos elétricos direcionados ao cérebro. Estudos de laboratório
sugerem que fontes de luz com espectros mais amplos fornecem mais luz utilizável
pelos olhos. A luz natural fornece o mais rico espectro de luz, atenuando o esforço
implícito nas tarefas visuais.
Também existem correntes que defendem que a iluminação de um local deva ser somente a
artificial, o que de certa forma caracteriza uma falta de preocupação com a economia, o meio
ambiente e os problemas decorrentes da utilização de luz artificial. Paine(2008) demonstra ser
defensor convicto do uso desta iluminação
A luz artificial é gerada por fontes de energia não-naturais. A maioria das atividades
humanas seriam praticamente impossíveis se não existissem fontes alternativas de
luz. A vantagem dessa luz reside no fato de que ela pode ser controlada de acordo
com as vontades e as necessidades do homem. É possível monitorar adequadamente
a intensidade, a qualidade e a quantidade de luz para determinadas situações. Por
outro lado, a superexposição à luz solar tem efeitos nocivos a um organismo vivo.
Os danosos raios ultravioleta podem acarretar em doenças como câncer de pele e
cataratas, além de prejudicar também a textura da pele.
Então, o que devemos levar em consideração para um bom projeto arquitetônico de uma
escola, a iluminação natural ou a artificial?
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2. Estudo da luz
Segundo a norma NBR 5413, da Associação Brasileira de Normas Técnicas a luz é definida
como potência radiante que, estimulando o olho humano produz sensação visual, portanto só
podemos enxergar na presença de luz. Conforme define Neto (1980), “a luz é a designação
que recebe a radiação eletromagnética que ao penetrar no olho humano, acarreta uma
sensação de claridade sendo responsável pelo transporte de todas as informações visuais que
recebemos”. A luz além de ser uma onda eletromagnética é também uma onda transversal
com altíssima velocidade de propagação. A luz, por ser uma onda está sujeita aos fenômenos
da reflexão, refração e absorção.
Reflexão é o fenômeno que a luz sofre quando um raio luminoso incide em uma superfície de
separação de dois meios homogêneos e volta para o mesmo meio. A reflexão depende das
condições da superfície refletora e do ângulo de incidências dos raios de luz. Como na
reflexão a luz retorna para o mesmo que ela não altera as suas características, ou seja conserva
sua velocidade, seu comprimento de onda e a sua frequência. Podemos exemplificar com
superfícies refletoras os espelhos que utilizando-se da reflexão possibilita a formação de
imagens.
Refração ocorre quando um raio luminoso atinge a superfície de separação entre dois meios e
passa de um meio para outro alterando sua velocidade e seu comprimento de onda sem
modificar sua frequência. Ao sofrer o fenômeno da refração o raio de luz geralmente sofre
desvio em sua trajetória. Um exemplo de superfícies refratoras são as lentes, que através da
refração também estabelecem imagens de objetos colocados a sua frente.
Absorção é quando parte do raio luminoso fica retido na superfície que ele incidiu, em maior
ou menor grau, dependendo do material que é constituído cada corpo. Este fenômeno,
juntamente com a reflexão explica a visualização das cores.
A luz branca é policromática, formada por várias cores, quando ela incide sobre uma
superfície esta superfície absorve várias cores e reflete a cor que visualizamos os objetos. Por
exemplo, por que enxergamos a cor verde? É porque a superfície ao ser atingida pela luz
branca absorveu todas as outras cores e refletiu somente a cor verde.
Temos que ressaltar que estes três fenômenos são simultâneos, não ocorrem separadamente.
Quando um raio de luz atinge uma superfície parte deste raio é refletido, parte é refratado e
parte é absorvido.
3. A qualidade da iluminação
O grande dilema na hora da elaboração de um projeto arquitetônico é adotar medidas que
realmente atendam às necessidades e a finalidade da obra. Apesar de existirem normas que
regulam e preconizam o tipo de iluminação para cada ambiente, é sabido que nem sempre são
cumpridas à risca, o que muitas vezes compromete o produto final. Ainda que esse artigo não
tenha intenção de tratar esse assunto, é pertinente levar em consideração a boa relação e
afinidade que deve existir entre cliente, projetista e executor da obra. Para Barbosa (2007,
p.04):
O bom projeto de iluminação depende da boa relação entre o cliente, o arquiteto, o
projetista, o fornecedor e o executor da obra. A iluminação afeta profundamente as
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reações humanas ao ambiente e estas reações podem variar desde a visão do óbvio,
como também da beleza dramática de uma paisagem iluminada, ou da resposta
emocional provocada por um candelabro com velas em uma mesa de jantar, as
influencias provocadas na produtividade dos ocupantes de um escritório ou nas
vendas em uma loja varejo. O exercício do lighting design é fruto de uma mistura
entre as técnicas de iluminação das artes cênicas e dos métodos usados para a
iluminação de arquitetura, sendo o profissional qualificado por sua habilidade, na
intuição e na engenhosidade, em proporcionar uma iluminação de alta qualidade,
pelo menos nos projetos nos quais a aparência e a resultante no ânimo dos ocupantes
for importante.
mesmo que todas estas partes trabalhem em total harmonia existe ainda a definição do que é
uma boa qualidade de iluminação uma vez que já foram feitas várias tentativas de cálculos
para quantificar esta qualidade instituindo uma avaliação e classificação que passa
necessariamente por fatores que incluam espaços, acabamentos e atividades exercidas. De
acordo com Barbosa (2007, p.04)
Neste desafio, surgiram os “procedimentos recomendados para projeto”,
apresentados na 9ª edição do IESNA Lighting Handbook, que estão baseados,
substancialmente, no conceito de qualidade da iluminação e abrangem as convicções
e descobertas sobre a qualidade da iluminação e sua aplicação às tipologias da
edificação e as atividades exercidas nos locais. Infelizmente a obediências a esses
preceitos não é, ainda, a garantia plena de uma excelente iluminação.
Para facilitar o entendimento usamos a classificação do professor Peter Boyce, do Lighting
Research Center, no EUA, para descrever as três categorias de qualidade na iluminação:
• ILUMINAÇÃO RUIM – quando o sistema de iluminação sofre defeitos de qualidade.
• ILUMINAÇÃO IMPARCIAL – quando o sistema de iluminação não tem defeitos de
qualidade.
• ILUMINAÇÃO EXCELENTE – quando o sistema de iluminação está tecnicamente correto,
sem defeitos, e estimula os sentidos do observador, atingindo o estado da arte.
4. A luz natural
A luz natural é gerada por fontes de energias próprias é policromática e através do fenômeno
da refração divide-se em um espectro de cores. O espectro contém luz com comprimentos de
ondas mais curtos e próximos ao violeta em uma das extremidades e luz com comprimentos
de onda mais longos e próximos ao vermelho em outra. Respectivamente, esses raios são
chamados de ultravioleta e infravermelho, e não são visíveis ao olho humano. O espectro
completo da luz de fontes naturais é essencial para os seres vivos. É esse tipo que permite que
plantas e animais se desenvolvam. Exposição moderada à luz solar é saudável e benéfica ao
homem, uma vez que a luz aumenta a energia e o metabolismo, impulsiona o sistema
imunológico e ajuda a produzir vitamina D, elemento essencial ao corpo humano. Não
devemos ficar muito tempo expostos a luz solar, principalmente entre às 10h e às 16h, tal
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exposição é prejudicial à saúde, pois pode causar câncer e manchas na pele, provocando o
envelhecimento precoce da mesma.
A luz natural oferece enormes vantagens, e pode ser utilizada como estratégia para obter
maior qualidade ambiental e eficiência energética em edifícios. Dentre os pontos positivos da
luz natural, citamos alguns (MAJOROS, 1998):
- a qualidade da iluminação obtida é melhor, pois a visão humana desenvolveu-se com a luz
natural;
- a constante mudança da quantidade de luz natural é favorável, pois proporciona efeitos
estimulantes nos ambientes;
- a luz natural permite valores mais altos de iluminação, se comparados à luz elétrica; além
disso, a carga térmica gerada pela luz artificial é maior do que a da luz natural, o que nos
climas quentes representa um problema a mais;
- um bom projeto de iluminação natural pode fornecer a iluminação necessária durante
80/90% das horas de luz diária, permitindo uma enorme economia de energia em luz artificial;
- a luz natural é fornecida por fonte de energia renovável: é o uso mais evidente da energia
solar.
5. A luz artificial
A luz artificial usa fontes de energia criadas pelo homem. Com o passar dos anos a
iluminação artificial se tornou cada vez mais inseparável da edificação. Sem ela não seriam
possíveis as construções de grandes edifícios, onde a luz natural não consegue vencer a
profundidade e iluminar alguns ambientes interiores. A luz artificial também permite ao
homem utilizar as edificações à noite para dar continuidade a suas atividades. O que seriam
destas atividades se não existissem fontes que produzem luz artificial?
A luz artificial também oferece algumas vantagens que justificam a preferência por sua
instalação, pois consegue-se controlar melhor todos os parâmetros que intervém na
iluminação de um ambiente, como por exemplo:
-a potência luminosa;
-a suavidade ou dureza da luz;
-o controle da luz e das sombras;
-a direção do foco luminoso;
-temperatura de cor;
-filtragem.
6. Iluminação, saúde e desempenho
Muito se fala sobre sustentabilidade e conservação do meio ambiente, só esses fatores
serviriam para justificar a preferência por iluminação natural. Sem levarmos em conta o fator
econômico, existem pesquisas que demonstram outros benefícios trazidos pela iluminação
natural envolvendo os aspectos físicos, fisiológicos e psicológicos dos seres humanos,
traduzindo em diferentes desempenho escolares dos alunos.
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A radiação solar que nos proporciona a iluminação natural é o primeiro fator que deve ser
observado em uma edificação escolar, ela deve ser controlada para favorecer o baixo consumo
de energia elétrica, o aumento da produtividade e a saúde das pessoas. Esse controle também
tem por finalidade aumentar o desempenho visual. A luz natural se difere da luz artificial pelo
amplo espectro de luz que estabelece maior composição e abrangência tornando mais
eficiente a percepção visual em todo seu aspecto. De acordo com Bertolotti(2007):
Além disto, há que se levar em conta que a luz natural é importante para a saúde das
pessoas. A exposição à luz do sol detona uma série de processos fisiológicos que
permite ao corpo sintetizar vitamina D, um ingrediente fundamental para que o
corpo absorva cálcio, fósforo e outros minerais da dieta alimentar, fundamentais
para a boa formação dos ossos e fortalecimento dos dentes. Outro aspecto a ser
considerado é que a presença de luz natural quase sempre está associada com uma
ligação visual dos ambientes com o exterior. A variação da luz natural nas diferentes
horas do dia, condições climáticas e estações do ano é importante para marcar os
ritmos biológicos e psicológicos das pessoas.
É evidente que os benefícios da luz natural são maiores que os da luz artificial, porém
existem situações em que não é possível a utilização da luz natural. Nestes casos ela deve ser
substituída pela artificial. O avanço e o desenvolvimento da humanidade possibilitou essa
substituição, principalmente com a invenção da lâmpada elétrica que através dos tempos foi
se modernizando, tornando-se mais eficaz e de menor custo operacional.
A substituição do sol pela iluminação artificial não se deu imediatamente após a
invenção da lâmpada elétrica incandescente de Edson. O marco foi a invenção da
lâmpada fluorescente. Sua invenção forneceu níveis de iluminância suficientes, e a
custo acessíveis, para que as atividades humanas dentro dos edifícios pudessem se
desenvolver independentemente da luz natural. (BERTOLOTTI, 2007)
É certo que a utilização de luz natural se caracteriza pela grande economia de luz elétrica, mas
dentro do ambiente escolar este não é o fator principal para sua utilização uma vez que as
razões psicológicas e fisiológicas superam as econômicas. Para Garrocho (2005) “um dos
efeitos psicológicos positivos da iluminação natural é o aumento do interesse pelo local,
porque a visão humana desenvolveu-se com a luz natural. Logo, a constante mudança da
quantidade de luz natural, cores e contrastes no tempo e espaço, tornam o ambiente
naturalmente mais estimulante”, quanto mais estimulante for o ambiente melhor resultado se
obtém na relação de ensino e aprendizagem. Em termos fisiológicos destacamos a
regulamentação do ritmo circadiano que designa o período de aproximadamente um dia sobre
o qual se baseia todo o ciclo biológico do corpo humano e de qualquer outro ser vivo,
influenciado pela luz do sol e a produção de hormônios como a melatonina que induz ao sono
e à depressão, liberado em nosso organismo na ausência de luz.
De maneira geral, existem três fatores básicos de desempenho que devem ser
levados em consideração em relação às condições de iluminação em ambientes
educacionais: os níveis mínimos de iluminância: quantidade mínima de luz no plano
de trabalho que possibilite a realização das atividades pretendidas sem esforço
visual. Estes níveis estão estabelecidos na norma da ABNT – NBR 5413
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“Iluminâncias de interiores – Especificação”, para cada ambiente em que se
desenvolvem atividades educacionais, tais como salas de aula, bibliotecas,
laboratórios, áreas esportivas, a boa uniformidade da luz no ambiente: ou seja, da
distribuição uniforme dos níveis mínimos de iluminância pelo ambiente; depende
basicamente da forma, dimensões e posição das aberturas; a ausência de
ofuscamento: em relação à iluminação natural está relacionado a evitar a incidência
de luz solar direta nos planos de trabalho, por exemplo: lousas, carteiras, brinquedos.
Em relação á iluminação artificial, geralmente está associada ao excesso, a
inadequação e a pulsação intermitente da fonte de luz. Ofuscamento pode ser causa
de distração e desconforto, prejudicando as tarefas visuais. (BERTOLOTTI, 2007)
Podemos afirmar que um dos fatores que estabelece um bom desempenho escolar está
relacionado com a iluminação do ambiente, principalmente se ela for de forma natural, pois
proporciona conforto e bem estar. Um ambiente saudável aumenta o potencial de
aprendizagem.
Para relacionar saúde e bem estar é necessário que se estabeleça uma possível definição de
saúde. Segundo Rey (2006, p.131)
"Saúde é uma condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de
realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o
ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um
conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aptidões
físicas. É um estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e
psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares,
profissionais e sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas,
psicológicas ou sociais com um sentimento de bem-estar e livre do risco de doença
ou morte extemporânea. É um estado de equilíbrio entre os seres humanos e o meio
físico, biológico e social, compatível com plena atividade funcional."
Portanto, saúde e bem estar constituem um binômio que sintetiza as condições favoráveis para
uma vida saudável. Se faz necessário salientar uma parte muito interessante do conceito
exposto acima. Mesmo dentro da condição de saúde, existem tensões físicas, biológicas,
psicológicas ou sociais. O que pode diferenciar a pessoa saudável da doente é a habilidade
que se tem (ou não) para lidar com tais tensões.
Os hábitos de vida também ajudam a determinar o estado de saúde e bem estar de uma
pessoa. Se os hábitos forem adequados, o organismo será forte. Não se pode agredir ao
organismo e sim atender às suas necessidades. Como o organismo é constituído de corpo e
mente, a necessidade mais importante do corpo é ficar livre de doenças, a principal
necessidade da mente é manter o equilíbrio que possa fortalecer contra as intempéries da vida.
A integração perfeita entre corpo e mente é que nos dá prazer em viver.
Um bom projeto arquitetônico tem que levar em consideração todos os aspectos que possam
deixar seus usuários felizes e saudáveis, principalmente quando esse ambiente for uma escola,
onde se pretende uma formação integral para os alunos que precisam necessariamente estarem
motivados e de bem com a vida. Para que esse projeto seja extremamente bem concebido e
possa atender as exigências e necessidades humanas ele precisa conciliar o processo de
iluminação natural com o artificial, extraindo o máximo de vantagem que eles possam
oferecer. De acordo com Pearson, (1963, p.85)
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os espaços na escola devem ser intercomunicados para facilitar a integração, a
globalização e as atividades lúdicas e recreativas”. Sobre a iluminação que classifica
como uma exigência básica diz... “ cuidar da iluminação natural em todas as
direções e da artificial com uma instalação elétrica suficiente, fácil de manusear e
fora do alcance das crianças.
Como estamos falando em iluminação, saúde e desempenho é preciso salientar que a luz solar
especificamente natural, exerce um papel muito importante na nossa vida. Segundo Spenser
(1991)
a luz atinge o hipotálamo que possui vias de ligação com todos os níveis do sistema
límbico. Liga-se ao Sistema Nervoso e ao Sistema Endócrino, controlando a
maioria das funções vegetativas, endócrinas, comportamentais e emocionais do
corpo. Representa cerca de 1% da massa total do encéfalo, ou seja, é um órgão
muito pequeno, mas de importância indiscutível. Está relacionado com a regulação
da temperatura corpórea, apetite, atividade gastrintestinal, regulação hídrica,
atividade sexual e emoções. É composto por substância cinzenta, possuindo vários
núcleos e os neurônios possuem receptores moleculares para os sinais químicos que
estão circulando. O hipotálamo está intimamente relacionado com a hipófise no
comando das atividades. Ele controla a secreção hipofisária, produz ocitocina e
hormônio antidiurético, que são armazenados pela hipófise.
Outro fator que sofre influência da luminosidade é a ativação da Glândula Pineal, para Rocha
A glândula pineal está situada na parede posterior do teto do diencéfalo e tem
origem ependimária. O interesse por ela é bastante antigo sendo que seus primeiros
estudos datam de 300 anos antes de Cristo e o filósofo francês René Descarte(15961650) já se interessava pela mesma e atribuía a ela a função de ser a sede da alma. A
Glândula Pineal afeta o equilíbrio dos hormônios melatonina e serotonina
produzidos em nosso corpo. Com a diminuição da exposição à luz, a produção de
melatonina sobe e causa fadiga, com maior exposição à luz, a produção de
serotonina aumenta.
A serotonina é um neurotransmissor que atua no cérebro regulando o humor, sono, apetite,
ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade a dor, movimentos e as funções
intelectuais. Segundo Frazão: “quando a serotonina se encontra numa baixa concentração,
pode levar ao mau humor, dificuldade para dormir e vontade de comer o tempo todo”. Ele
completa, “a baixa concentração de serotonina no organismo pode levar ao aparecimento de
sintomas como”:
 mau humor de manhã;

sonolência durante o dia;

inibição do desejo sexual;
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
vontade de comer doces;

comer a toda hora;

dificuldade no aprendizado;

distúrbios de memória e de concentração;

irritabilidade;

cansaço;

ficar sem paciência facilmente.
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Exposição moderada à luz solar reduz os riscos de doenças e promove o bem-estar geral e boa
saúde. A falta de luz solar suficiente pode levar a várias doenças como depressão e transtorno
afetivo sazonal (TAS), que é um tipo de transtorno depressivo que ocorre em determinada
época do ano. A causa é desconhecida, mas acredita-se que a mudança de nível de
luminosidade possa alterar a química cerebral afetando o humor.
7. Lâmpadas Full Spectrum
No projeto arquitetônico de uma edificação escolar é extremamente prudente que se leve em
consideração a total capacidade de se aproveitar da iluminação natural, mas na incapacidade
de se utilizar desta forma de iluminação é evidente que ela tem que ser substituída pela
iluminação artificial, caso isto aconteça, para que o prejuízo seja minimizado é sensato que se
utilize as lâmpadas Full Spectrum (espectro completo).
Iluminação de espectro completo é opticamente uma iluminação artificial equilibrada ela é
uma clara e brilhante luz branca que tem um CRI (Índice de Reprodução de Cor) entre 90-100
e suporta uma temperatura entre 5000-5500 K (temperatura Kelvin). Recebeu este nome
porque reproduz o espectro da luz natural que vai da luz ultravioleta até a infravermelha. Os
Fósforos Terra Full Spectrum são usados para a fabricação de lâmpadas de espectro completo.
Lâmpadas que não atendam a estas especificações devem ser evitadas. (SMYTH)
Como a luz de espectro total se assemelha a luz natural, ela é menos estressante para a saúde
do que outro tipo de luz artificial. Assim como a luz solar natural, luzes de espectro completo
servem para reduzir os níveis de melatonina e hormônios cortisol, fazendo com que se sinta
menos stress, menos fadiga ocular, dores de cabeça e fadiga geral. Ajuda a melhorar o sistema
imunológico e diminuir os problemas de pressão sanguínea e a insônia.
Instalando lâmpadas de espectro completo em ambientes escolares busca-se o bem-estar físico
e mental dos alunos e funcionários através da redução do stress e irritabilidade aumentando
os níveis de energia e concentração. Isto naturalmente leva a um maior desempenho.
Além disso, as lâmpadas de espectro completo tem muitos outros atributos positivos. Elas são
muito duráveis, cerca de 10.000 horas, ou 417 dias, consomem muito menos energia do que
lâmpadas comuns e são ecologicamente corretas. (SMYTH)
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O processo metodológico utilizado nesse estudo de caso, constou de uma análise em sala de
aula para avaliar a integração entre iluminação artificial e natural e consequentemente na
redução de gastos com energia elétrica, que implicaria de forma direta em outros encargos da
empresa. Realizado no Colégio A+ em Campo Grande(MS) em uma sala de aula considerada
padrão levantamos os seguintes dados:
Figura 1: Layout da sala de aula
Fonte: Elaborado pela própria autora
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Figura 2: Projeto luminotécnico
Fonte: Elaborado pela própria autora
Quanto as normas estabelecidas pela ABNT, que atribui valores entre 450 lux e 500 lux, para
o ambiente considerado que é uma sala de aula, conclui-se que o projeto de iluminação
atendeu a essas normas, pois os valores registrados utilizando-se um luxímetro digital
resultaram como média um valor mínimo de 451,66 lux e um valor máximo de 482,30 lux.
Em relação ao aproveitamento da iluminação natural percebeu-se que infelizmente não houve
nenhuma preocupação em utilizar-se da luz solar para que a sala de aula fosse iluminada, o
que contraria todas as opiniões observadas nesse projeto, uma vez que ficou evidente que para
a realização de um projeto arquitetônico moderno e eficaz deve-se levar em consideração a
utilização tanto da iluminação artificial quanto a natural, principalmente em uma edificação
escolar que necessita conciliar todos os confortos para tornar o ambiente saudável
possibilitando desta forma um aumento considerável do desempenho das pessoas envolvidas
no processo. De acordo com Bertolott (2007)
existem três grandes áreas em que a iluminação interage com os seres
humanos, afetando o seu desempenho: visibilidade, saúde e estado de
espírito. Pesquisas vêm sendo feitas sobre a importância dos efeitos da
iluminação natural na saúde e no desempenho humanos. Apesar de
essa não ser uma área específica de estudo da arquitetura, considerouISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014
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se importante a sua inclusão como referência para entender as recentes
pesquisas que estão sendo feitas sobre iluminação natural em escolas.
8. Conclusão
O projeto de iluminação para salas de aula deve ser bastante criterioso para que possa
proporcionar um ambiente visual bastante próprio e agradável para a realização de tarefas
escolares, visando aumentar o desempenho na relação ensino-aprendizagem. Para tanto,
devemos observar que a iluminação de um ambiente pode ser obtida utilizando-se de duas
formas de iluminação, a natural e a artificial. O que acontece entretanto é que na maioria das
vezes os projetos de iluminação desconsideram a iluminação natural, o que torna mais
elevado os custos com energia elétrica e deixando de lado os benefícios trazidos pela luz solar
no que diz respeito ao bem estar e a saúde dos alunos. Tanto a iluminação artificial quanto a
natural, possuem características próprias com suas virtudes que devem ser exploradas ao
máximo para que uma não precise sobressair ou substituir a outra. Na verdade é plausível
concluir que um bom projeto luminotécnico deve levar em consideração as principais
vantagens de cada tipo de iluminação e otimizar cada um deles a fim de reduzir também os
custos financeiros e proporcionar mais conforto térmico, visual e energético; tornando o
ambiente salutar.
9.Referências
BARBOSA, Luís Antônio Greno. História e Conceitos de Iluminação. Material didático de
apoio à disciplina. Universidade Estácio de Sá, Pós-graduação em Projetos de Iluminação.
Rio de Janeiro, 2007.
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Anexo
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A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar
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Figura 01 – Visão geral da sala com mobiliário e equipamentos; Porta de acesso a sala de aula.
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A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar
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Figura 02 – Local do Quadro Negro e Janelas Altas com Película Fumê
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A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar
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Figura 03 – Luminárias de sobrepor para tubulares e ar condicionado
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A Importância da Iluminação no Ambiente Escolar
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Figura 04 – Distanciamento das luminárias
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