O papel da Enfermagem no processo saúde

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O papel da Enfermagem no processo saúde
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CABRAL, J. V. B. et al. 08, nº 1, p. 60-71, JAN-JUL, 2015.
Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266)
RESÍDUOS HOSPITALARES: O PAPEL DA ENFERMAGEM NO
PROCESSO SAÚDE-DOENÇA
CABRAL, João Victor Batista 1
OLIVEIRA, Fábio Henrique Portella Corrêa de 2
SILVA, Liara Reis Ferreira da 3
SILVA, Vanessa Vasconcelos da 4
ARAÚJO, Wandi José 5
RESUMO
A questão ambiental tem assumido um papel importante na sociedade atual. Diz
respeito também à possibilidade de desfrutar uma vida saudável, uma vez que o
meio ambiente está diretamente relacionado ao processo saúde-doença. Os
trabalhadores da saúde, como por exemplo, os profissionais da enfermagem, devem
integrar essa dimensão em suas práticas. Este estudo pretende demonstrar que
uma vez que a enfermagem é responsável por maior parte da prestação da
assistência no Brasil, deve estar intimamente familiarizada com a gestão de resíduos
hospitalares. Devem também trazer esse tema na educação em saúde tanto para a
população em geral, quanto para os demais profissionais de uma unidade hospitalar,
prevenindo assim eventuais agravos à saúde. O objetivo geral deste trabalho é
analisar a importância da gestão adequada dos resíduos hospitalares que os
enfermeiros devem possuir em seu ambiente profissional. Como metodologia, foi
realizada revisão de literatura sistemática e integrativa, exploratória, de caráter qualiquantitativo, com pesquisa realizada entre Agosto de 2013 e Março de 2014, por
meio de consultas a artigos científicos através de busca nos bancos de dados. Os
resultados indicam que os problemas relacionados à gestão dos resíduos
hospitalares estão diretamente ligados à conscientização de funcionários,
enfermeiros, médicos e gerência dos estabelecimentos de saúde. Através deste
estudo, pode-se verificar que a equipe de enfermagem tem papel crucial na
promoção da saúde pública, e por isso deve estar integrada com práticas coerentes
com sua função primordial, que é prevenir novos agravos a saúde.
Palavras-chave: Enfermagem; Gestão; Hospital; Meio Ambiente; Resíduos;
1
Enfermeiro e Especialista em Terapia Intensiva pela Faculdade Redentor e Docente da FAINTVISA
- Faculdades Integradas de Vitória de Santo Antão. E-mail; [email protected].
2
Biólogo e Mestre em Biotecnologia pela UFRP - Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail:
[email protected].
3
4
Enfermeira do Centro Universitário Maurício de Nassau. E-mail: [email protected].
Enfermeira
do
Centro
Universitário
[email protected].
5
Maurício
de
Nassau.
Enfermeiro do Centro Universitário Maurício de Nassau. E-mail: [email protected].
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ABSTRACT
The envorimental question has assumed an important role at society. In fact, the
possibility to enjoy healthy life, since the environment is directly related to the healthdisease process. Thus health workers, including nursing , should integrate this
dimension into their practices. This study aims to show that once nursing is most
responsible for providing assistance in Brazil it could be intimately according to the
the management of hospital waste. This worker must bring it as a theme in health
education to the population and to other hospital professionals thus preventing any
health problems caused by waste. The general objective of this work is to analyze
the importance that nurses have the proper management of medical waste. The
methodology applied involved a systematic, integrative, exploratory and of qualiquantitative profile literature review, conducted between the months of August 2013
and March 2014, using articles selected by searching database. The survey results
indicate that problems related to the management of medical waste are directly
linked to awareness of employees, nurses, doctors and management of healthcare
facilities. This present study verified that the nursing staff plays a crucial role in health
public promotion, and so it must be integrated with practices consistent with its
primary function is to prevent new injuries to health
Keywords: Environmental; Hospital; Management; Nursing; Waste.
INTRODUÇÃO
O atual padrão global de consumismo exacerbado, associado com pequena
preocupação com o ambiente é um problema diretamente relacionado com a
ocorrência de doenças, sendo considerado um fator determinante na prevenção e
promoção de saúde. Alterações de ordem individual e de caráter coletivo estão
associadas aos subprodutos ou resultados das necessidades humanas: os resíduos
produzidos pelo homem (RIBEIRO; BERTOLOZZI, 2002).
As atividades cotidianas e também as laborais, levam o ser humano a
produzir de forma direta ou indireta materiais inertes ou que não são mais utilizados,
denominados de resíduos, podendo ser sólidos, líquidos ou gasosos. Tais resíduos
oferecem riscos ao ambiente e à saúde humana, podendo ser potencializados
quando oriundos de ambientes hospitalares, tendo em vista o elevado potencial de
risco biológico de sua composição (PFÍTSCHER et al., 2007).
O aumento da procura aos serviços de saúde e consequente crescimento nos
atendimentos específicos e internamentos em hospitais, laboratórios e clínicas
associado aos déficits nas estruturas organizacionais, fez surgir à necessidade de
investigar essa relação entre doenças e geração de resíduos, permitindo a
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elaboração de projetos voltados para o tratamento dos resíduos resultantes de
processos assistenciais nesse segmento. Além disso, permitiu promover técnicas
que objetivam reduzir, reciclar e reutilizar, visando também à diminuição da
produção destes como medida preventiva de agravos à saúde.
O tratamento considerado como adequado para resíduos de saúde, deve ser
aquele que contemple condições de segurança e eficiência, verificando possíveis
alterações nas características físicas, químicas e biológicas dessa categoria de
material residual, ajustando-as aos padrões ambientais existentes.
Nesse sentido, tem-se normas como, por exemplo, a Resolução CONAMA nº
358/05 tratando o gerenciamento sob o prisma da preservação dos recursos naturais
e do ambiente, descrevendo a disposição final para os resíduos. Deste modo, a
forma correta de gerenciamento dos resíduos de materiais hospitalares pode ocorrer
através de um tratamento prévio que impeça a disseminação dos agentes
patogênicos ou outra forma de contaminação (VENTURA, et al., 2010).
Por essa razão, é fundamental que os enfermeiros saibam que suas
atividades geram resíduos, entendendo essa produção em termos quali e
quantitativos. Estes materiais, caso não tratados ou destinados adequadamente,
poderão se tornar fatores determinantes para impactar negativamente a saúde da
população, surgindo então a necessidade de uma gestão comprometida com a
prevenção desses agravos .
A grande problemática em questão é a dificuldade de se quantificar os
resíduos provenientes de cada setor, e também em ter uma equipe comprometida
com práticas coerentes com sua responsabilidade, como um cidadão profissional
(PFÍTSCHER et al., 2007)..
Alguns profissionais de saúde, no seu cotidiano de trabalho, parecem ainda
não ter percebido e incorporado a temática dos resíduos hospitalares como uma
importante questão a ser levada em conta, restringindo as práticas à assistência aos
indivíduos acometidos por agravos à saúde.
Desta forma, os trabalhadores da saúde, dentre eles os da enfermagem,
devem integrar esta dimensão em suas práticas. Para tal, torna-se necessário
compreender qual é o papel da enfermagem no processo de produção e destinação
de resíduos hospitalares para ser um diferencial que minimiza impactos na relação
ambiente-saúde-doença, uma vez que essa categoria profissional é responsável
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pela maior parte da prestação da assistência hospitalar no Brasil (RIBEIRO;
BERTOLOZZI, 2004).
O objetivo geral deste trabalho é analisar a importância da gestão adequada
dos resíduos hospitalares que os enfermeiros devem possuir em seu ambiente
profissional.
METODOLOGIA
Este estudo fundamentou-se na revisão sistemática e integrativa, de
abordagem exploratória e de caráter quali-quantitativo, que consiste na elaboração
de ampla análise literária e na promoção de discussões sobre métodos e resultados
de pesquisas. O estudo de revisão integrativa é realizado através de seis etapas:
seleção de questões para a revisão; seleção dos estudos que irão constituir a
amostra da revisão; definição das características primárias que compõem a amostra
da revisão; análise dos achados dos artigos; interpretação dos resultados; e relato
da revisão, proporcionando exame crítico dos achados (MENDES, et al., 2008;
SOUZA, ET AL., 2011). Nesta revisão, optou-se por seguir essas etapas.
A pesquisa foi realizada entre os meses de Agosto de 2013 e Março de 2014,
por meio de consultas a artigos científicos, publicados entre 2001 e 2013,
selecionados através de busca no banco de dados do Scientific Electronic Library
Online (SciELO) e Biblioteca Virtual em Saúde – (BVS), por meio das fontes: Centro
Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde – (LILACS) e
Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MedLine).
Os descritores utilizados na busca foram: Enfermagem; Gestão; Hospital;
Meio Ambiente; Resíduos. Os critérios de inclusão definidos para a seleção foram:
artigos publicados em língua portuguesa, disponíveis on-line de forma gratuita, com
texto completo, que retratassem a temática referente à abordagem educativa do
emprego da gestão de resíduos na prevenção de agravos à saúde, e estudos
comparativos entre esta e outras modalidades de prevenção. Excluíram-se os
estudos que relatavam o emprego de outras modalidades de gestão de resíduos,
que não os hospitalares.
A coleta dos dados guiou-se pelos critérios acima estabelecidos e pela leitura
crítica dos resumos de cada artigo e posterior leitura na íntegra, caso o estudo
apresentasse coesão com a temática proposta. Foram encontrados 80 artigos, dos
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quais 15 foram selecionados por sua relação direta com a temática do trabalho,
sendo 13 utilizados como amostra e fomento para discussão teórica.
Para a expressão dos dados dos artigos, foi elaborado instrumento (Quadro
1) que contém os seguintes itens: procedência, título do artigo, autores, ano de
publicação e considerações/temática abordada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra final desta revisão foi constituída por 13 artigos científicos,
selecionados pelos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Pode-se
evidenciar a distribuição das produções, de acordo com o ano de publicação nas
referidas bases, sendo: 01 nos anos de 2001, 2002, 2004, 2010 e 2011, 02 em 2009
e 2012, 04 em 2007, não sendo encontradas publicações nos demais anos. O que
demonstra variação não uniforme de publicações referentes à temática, sugerindo
que a mesma é abordada nos estudos brasileiros, entretanto carece de maior
enfoque para se tornar assunto comum na literatura científica. Destes, 09 estão
disponíveis no LILACS e 04 no MedLine.
Verificou-se na revisão realizada, a presença de 07 trabalhos que discutem o
papel da enfermagem e sua relação com o meio ambiente, apresentando uma
proposta que incorpora a temática e formas de apoio ao ensino para estudantes de
enfermagem, mas pouco se referia ao plano de gerenciamento de resíduos.
Das 13 publicações analisadas, foram encontradas as temáticas ambientais
globais e locais, das quais, 05 enfatizam o papel da enfermagem no
desenvolvimento de metodologias para a avaliação de riscos ambientais. Como
regra geral, notou-se a escassez de artigos mais específicos sobre a atuação destes
profissionais na produção, segregação, acondicionamento e destinação final dos
resíduos no meio em que vivemos, conforme pode ser visto no Quadro 1.
Quadro 1 - Artigos que envolvem a temática de Resíduos Hospitalares e o Papel da
Enfermagem.
Procedência
LILACS
LILACS
Título do Artigo
Autores
Reflexões Sobre a
Participação Da
Enfermagem nas
Questões Ecológicas.
Situação dos Hospitais
Quanto ao
Gerenciamento dos
RIBEIRO,
M.C.S;
BERTOLOZZI,
M.R,
PFÍTSCHER
M.P;
PFÍTSCHER.
Ano
2002
2007
Considerações/Temática
Expõe a participação da
enfermagem como crucial
na preservação do meio
ambiente.
Mostra o posicionamento
dos hospitais mediante a
temática de impacto
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MEDLINE
MEDLINE
LILACS
LILACS
LILACS
MEDLINE
LILACS
LILACS
Aspectos e Impactos
Ambientais
A Questão Ambiental
como Objeto de
Atuação da Vigilância
Sanitária: Uma Análise
da Inserção das
Enfermeira nesse
Campo.
O processo de
formação em saúde: o
saber resíduos sólidos
de serviços de saúde
em vivências práticas
Saúde, Meio Ambiente
e Risco Ambiental: Um
Desafio para a Prática
Profissional do
Enfermeiro.
Resíduos Sólidos de
Serviços de Saúde:
Uma Fotografia do
Comprometimento da
Equipe de
Enfermagem
Avaliação do
Gerenciamento de
Resíduos de Serviços
de Saúde por Meio de
Indicadores de
Desempenho.
Atuação de Auxiliares
e Técnicos de
Enfermagem no
Manejo de
Perfurocortantes: Um
Estudo Necessário.
Segregação de
Resíduos nos Serviços
de Saúde: A Educação
Ambiental em um
Hospital-Escola
A Questão Ambiental
na Promoção da
Saúde:
uma Oportunidade de
Ação Multiprofissional
sobre
Doenças Emergentes
LILACS
Gerenciamento de
Resíduos de Serviços
de Saúde: Uma
Revisão De Literatura
MEDLINE
Resíduos Sólidos de
Serviço de Saúde: Um
Estudo Sobre o
P.C, et al.
ambiental causado por RSS.
RIBEIRO,
M.C.R;
BERTOLOZZI,
M.R.
2004
Buscou verificar como as
enfermeiras tratam de
questões relativas ao meio
ambiente em sua prática
cotidiana.
2007
Define os RSS e discursa
acerca do correto manejo,
acondicionamento e
segregação desses
resíduos.
2007
Traz uma reflexão sobre o
impacto do risco ambiental
na ocorrência do processo
saúde/doença, destacando
a importância da atuação do
da enfermagem como
essencial.
2011
Mostrou a importância de
tratar com maior seriedade a
questão apresentada,
reforçando a necessidade
do acesso às orientações
adequadas.
2010
Propôs um modelo de
avaliação do gerenciamento
de RSS, com o uso de
indicadores de
desempenho.
2009
Analisou o conhecimento da
equipe de auxiliares e
técnicos de enfermagem no
manejo e segregação de
perfurocortantes.
CORRÊA, L. B.;
LUNARDI, V. L.;
CONTO, S. M.
VARGAS, L.A;
OLIVEIRA,T.F.V
.
DOI, K.M;
MOURA,
G.M.S.S.
VENTURA, K.S;
REIS, L.F.R.,
TAKAYANAGUI,
A.M.
MOURA, E.C.C;
MOUREIRA,
M.F.S;
FONSECA,
S.M.
MACEDO, L.C;
LAROCCA, L.M.
et al.
SCHMIDT, R. A.
C
NUNES, T.S.P;
GUTEMBERG,
A.C.B;
ARMANDO C.B.
et al.
CAMARGO, M.
E; MOTTA, M.
E. V; LUNELLI
2007
Avaliou o impacto do
treinamento em serviço no
manejo dos resíduos de
saúde.
2007
Relacionou a questão
ambiental com o processo
saúde-doença, buscando
prevenir o aparecimento de
patologias.
2012
Mostrou o processo de
gerenciamento dos RSS.
2009
Trouxe a definição de RSS
bem como seus riscos
potenciais para a saúde
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LILACS
Gerenciamento
M. O. et al
Conhecimento da
Equipe de
Enfermagem Sobre a
Segregação dos
Resíduos Sólidos em
Ambiente Hospitalar.
BATAGLIN,
M.G; SOUZA
M.H.T;
CAMPONOGAR
A; A S.
2012
populacional.
Propôs conhecer o que
pensam os trabalhadores de
enfermagem atuantes em
unidade de terapia intensiva
sobre a segregação de
resíduos sólidos
hospitalares
Fonte: Elaborado pelos Autores
A gestão de resíduos hospitalares é uma interface da gestão hospitalar que
sido alvo de inúmeros estudos. Ribeiro e Bertolozzi (2002), analisam a evolução do
conceito de ambiente em textos de enfermagem publicados durante as últimas
décadas, concluindo que está ocorrendo uma modificação do enfoque restrito ao
aspecto biológico, relacionado ao saneamento básico, para aspectos que incluem os
poluentes físicos e químicos. Tendo em vista a constante modificação da sociedade,
o enfermeiro deve ter ciência dessas mudanças e de como elas afetam a saúde da
população.
Pfítscher et al (2007), em seus estudos descrevem a importância do correto
manejo e destinação final dos resíduos, pois estes podem causar impactos
ambientais, gerando degradação em decorrência do depósito de maior volume de
resíduos que, naquele caso, poderiam ser reaproveitados.
Para a sociedade, de imediato, pode-se destacar como impacto do uso
acelerado do espaço ou área reservada para a destinação final dos resíduos, o que
esgotaria este local (por exemplo, um aterro) e exigiria outra área para tal finalidade.
Outra questão seria o fato de que, ao destinar corretamente o material descartado,
os próprios trabalhadores envolvidos no manejo dos resíduos poderiam se beneficiar
da venda de resíduos recicláveis, ou mesmo a instituição produtora desses materiais
(PFÍTSCHER et al., 2007).
O Plano de Gerenciamento de Resíduo de Serviços de Saúde (PGRSS) é
ferramenta efetiva e necessária ao manejo adequado dos resíduos hospitalares. Sua
utilização favorece ganhos e proteção às instituições, ao ambiente e a população
que não será afetada com o incorreto descarte de contaminantes nos ambientes de
convívio coletivo.
Bataglin et al. (2012), relatam que nas pesquisas ficou evidenciado certo
desconhecimento sobre a definição correta de “lixo hospitalar” e sobre os principais
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diretrizes que compõem os PGRSS (definição, segregação, acondicionamento,
transporte e destino).
O PGRSS pode ser considerado como uma etapa fundamental para que se
realize uma completa promoção da prevenção da saúde populacional, uma vez que,
ao utilizá-lo e transformá-lo num modelo a ser seguido pela instituição, o enfermeiro
estará atuando de forma definitiva no aspecto de prevenção de agravos a saúde
(BATAGLIN et a., 2012).
Esse fato pode dificultar a execução da adequada segregação dos resíduos
por parte dos trabalhadores do setor, com repercussões negativas sobre o ambiente,
uma vez que, os produtos gerados durante o processo assistencial à saúde trazem
impactos.
Além disso, não pode ser desconsiderado o aspecto econômico, já que, as
instituições de saúde têm custos para destinar, adequadamente, os diferentes tipos
de resíduos (BATAGLIN et al., 2012).
As questões relativas ao meio ambiente assumem uma relevância
fundamental na atualidade, bem como, a ação dos profissionais de enfermagem que
deve integrar-se ao processo de cuidar favorecendo uma vida saudável. Schmidt
(2007), explica que o processo saúde–doença está diretamente ligado as relações
do homem com o ambiente e a enfermagem, como a maior prestadora de
assistência, deve inserir a temática ambiental no âmbito de suas práticas. Destaca
também a importância da inserção da enfermagem, podendo ser vivenciadas
através das práticas de educação em saúde, gerenciais e assistenciais para
preservação da saúde humana.
Os profissionais de saúde devem considerar que a enfermagem precisa
demonstrar preocupação e responsabilidade no desenvolvimento de ações que
protejam o ambiente, pois este é um fator determinante para que a população tenha
qualidade de vida e com isto goze de boa saúde física, mental e social.
A esse respeito, Ribeiro e Bertolozzi (2002), ressaltam que o ambiente se
constitui como locus eminentemente físico, sem que haja uma visão mais ampla que
apreenda o ser humano e sua relação com a natureza e com a sociedade. Reitera a
ideia de que os impactos antropogênicos adversos à degradação do ambiente são
reais. Entretanto percebe-se que segundo a percepção de alguns profissionais "é
que suas ações não irão interferir no ambiente". A execução de ações que
repercutam positivamente sobre o ambiente, conservando-o, é de suma e vital
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importância para todos, e somente desta forma pode-se chegar a uma enfermagem
realmente comprometida com a saúde pública.
Camargo et al. (2009), deixam esse ponto bem claro em seu artigo, quando
descreve a enfermagem como "responsável direta pelos Resíduos dos Serviços e
Saúde (RSS)", pois é da competência do gerador de RSS, monitorar e avaliar seu
PGRSS, uma vez que o desenvolvimento de instrumentos de avaliação e controle,
incluindo a construção de indicadores claros, objetivos, auto-explicativos e
confiáveis, que permitam acompanhar a eficácia do PGRSS implantado de forma
eficaz.
O fator mais importante na continuidade do Plano de Gerenciamento de
Resíduos é a persistência dos profissionais, uma vez que a mudança de paradigma
é um processo longo e difícil (MOURA et al., 2009).
Cabe aos enfermeiros tornar isso tema das educações continuadas e trazer
suas práticas para o ambiente onde esses resíduos são gerados. Por isso, enfatizase a importância do enfermeiro gestor consciente de suas atribuições.
Cabe a essa categoria também participar de comitês e órgãos de
representação que estejam associadas com a questão de coleta e destinação de
resíduos sólidos a nível municipal, estadual e federal. A atual Política Nacional de
Resíduos Sólidos - PNRS, descreve o sistema de responsabilidade compartilhada e
a necessidade da participação dos diversos segmentos da sociedade na elaboração
de projetos para minimizar impactos ambientais que advém sobre coleta,
armazenamento e destinação final de resíduos (VENTURA; et al., 2010).
Dessa forma, pode-se concluir que a proposta de ter um PGRSS adaptado à
realidade hospitalar de cada região, somada ao comprometimento da equipe de
enfermagem é parte de uma equação que gera resultados positivos para que se
tenha a promoção da saúde e prevenção, evitando impactos ambientais
relacionados ao incorreto manejo/descarte dos RSS.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cuidado com o ambiente é uma questão social que pode influenciar a saúde
humana de forma positiva ou não, de maneira individual ou coletiva, direta ou
indiretamente. O presente estudo aponta a interação entre saúde e ambiente como
parte de uma complexa relação entre Estado, natureza e sociedade.
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É dessa relação marcada por grandes paradigmas e até mesmo contradições,
que surgem alguns dos graves riscos ambientais observados atualmente. Os
resíduos hospitalares são considerados um dos grandes problemas da saúde
coletiva hoje, já que afetam a qualidade de vida da população e, consequentemente,
sua saúde.
Deve-se refletir também sobre a complexidade do processo saúde-doença no
atual contexto, onde a sociedade adotou um modelo de desenvolvimento capitalista
que tem impactado quantitativa e qualitativamente a condição de saúde da
população.
Fica evidente que essas relações têm nas políticas públicas a possibilidade
de modificar o conflito que emerge das próprias contradições entre saúde e
ambiente. Existe uma larga história de omissão do Estado perante esses dois
aspectos, fundamentais para a própria manutenção e preservação da vida em todos
seus estágios. Essa ausência se traduz em um conflito socioambiental progressivo
ao longo do tempo, que parece hoje chegar a limites insustentáveis.
O enfrentamento da questão ambiental pressupõe uma intervenção
interdisciplinar e intersetorial onde todos os setores da sociedade sejam coresponsáveis no processo, na tomada de decisões e nos resultados de dita
intervenção. Por sua vez, isso exige mais sensibilidade e responsabilidade em
relação à degradação ambiental e seus efeitos sobre os seres vivos, o que deve
envolver, além do cumprimento da legislação em vigor, uma ampla discussão e
conscientização através de ações de educação ambiental em todos os níveis.
Discutir a questão ambiental, os riscos ambientais e seus efeitos sobre a
saúde da população e os problemas gerados pela destinação dos RSS é
fundamental para recriar e remodelar práticas do setor saúde. Nesse contexto, podese dizer que o profissional de enfermagem, ao incorporar uma postura crítica e
comprometida com a questão ambiental, se torna um fator muito importante na
proposição e concretização das mudanças necessárias para garantir um futuro
melhor para esta e as próximas gerações.
Um modelo gesto para o perfil profissional de enfermagem que seja
comprometido com essas questões representa uma forma consciente de seu papel
na sociedade, tornando-se peça-chave e garantindo informação acessível para sua
equipe e comunidade/hospital o qual integra, visando não somente o bem estar dos
pacientes já doentes, mas de pacientes em potencial de risco.
http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 70
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Por isso, é extremamente relevante trazer a tona essa discussão sobre a
forma de gerenciamento de resíduos hospitalares, desde a sua formação até a sua
destinação final, permitindo promover a saúde pública e prevenindo impactos
ambientais e sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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