tese final 10.11.05 - DQI
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ESTUDO QUÍMICO E FARMACOLÓGICO DE DUAS ESPÉCIES DA FAMÍLIA RUBIACEAE: Cephalanthus glabratus e Palicourea crocea Tese apresentada por Tereza Cristina Marinho Jorge ao Programa de PósGraduação em Química do Departamento de Química do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Maringá como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Química. MARINGÁ, MARÇO/2005 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ESTUDO QUÍMICO E FARMACOLÓGICO DE DUAS ESPÉCIES DA FAMÍLIA RUBIACEAE: Cephalanthus glabratus e Palicourea crocea TEREZA CRISTINA MARINHO JORGE ORIENTADORA: Profa. Dra. MARIA HELENA SARRAGIOTTO MARINGÁ, MARÇO/2005 À memória de minha mãe querida... E quem diria? À memória gloriosa de meu pai. ii AGRADECIMENTOS À Profª. Drª. Maria Helena Sarragiotto, exemplo de dedicação e profissionalismo, por ter aceitado me orientar, pela disponibilidade com que sempre me recebeu e pelos ensinamentos indispensáveis à realização deste trabalho. Ao meu marido Amaury Cezar Jorge e meus filhos Ivan Marinho Jorge e Mariana Marinho Jorge – três razões de minha vida; por terem compreendido minha ausência e me incentivado a continuar este curso. À Lilian T. Düsmann aluna do Programa de Pós-graduação e Ana Paula Ozima, acadêmica do Curso de Química e aluna do Programa de Iniciação Científica, pela colaboração nos trabalhos práticos e pelas inúmeras vezes em que realizaram mais do que o combinado. Aos colegas do Laboratório de Produtos Naturais da UEM: Isis M. Figueiredo, Anderson R. dos Santos, Maria da Conceição T. Truiti e Anelise S. Nazari Formagio, que souberam cultivar muito bem o espírito de companheirismo. À Drª Ivânia T. Schuckel, funcionária da UEM, pela realização das análises de RMN e pelo interesse que sempre demonstrou em auxiliar minhas dúvidas. À Profª. Drª. Cleuza C. da Silva, Professora de Química Orgânica do Programa de Pós-graduação, pelas sugestões e gestos de consideração. Aos professores da UEM: Profª. Drª. Maria Conceição de Souza, pela identificação botânica das plantas; Profª. Drª. Lucília M. Zamuner, Profº. Drº. Benedito Dias Prado, Profª. Drª. Ciomar A. B. Amado e Profa. Dra. Tânia Nakamura, pela realização dos ensaios biológicos. A Cleverson C. Bocca, aluno do Programa de Pós-graduação em Química, pela realização dos cálculos de estrutura eletrônica; a Rafael R. Soares, aluno do Programa de Pós-graduação em Química, pela realização dos espectros no UV–Vis; à Ana Maria A. Bareli, funcionária da UEM, pela execução das análises de massas e IV e a Moacir Torres, técnico do laboratório, pelo pronto atendimento às minhas solicitações. Aos funcionários e professores do Departamento de Química da UEM, envolvidos no Programa de Pós-graduação, pelo esforço e vontade de oferecer este curso com qualidade. À UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná e a meus colegas de trabalho que possibilitaram a realização deste curso. Ao CAPES pela bolsa de estudo concedida. iii RESUMO Palavras-chave: Palicourea crocea; Cephalanthus glabratus; estudo químico; atividade farmacológica; alcalóides; triterpenóides. O presente trabalho é parte de um projeto realizado no município de Porto Rico - PR, que visa conhecer o potencial químico e farmacológico de espécies nativas nesta região. As plantas Palicourea crocea e Cephalanthus glabratus pertencem à Família Rubiaceae e ocorrem num trecho do alto rio Paraná em Porto Rico, denominado planície alagável. Um levantamento bibliográfico sobre os gêneros Cephalanthus e Palicourea demonstrou ausência de estudos fitoquímicos sobre as espécies P. crocea e C. glabratus, que motivou a realização deste trabalho, cujos objetivos foram o seu estudo químico e a avaliação das atividades farmacológicas. O estudo fitoquímico iniciou-se com a obtenção dos extratos brutos metanólicos e a respectiva partição em solventes. As frações obtidas foram purificadas por cromatografia em coluna, cromatografia em camada delgada preparativa ou por filtração em Sephadex LH-20. O estudo químico de C. glabratus permitiu o isolamento dos alcalóides heteroioimbínicos tetraidroalstonina (Cg 4), mitrafilina (Cg 5) e uncarina “E” (Cg 9); dos triterpenos ácidos ursólico (Cg 3) e 3-O-β-Dquinovopiranosídeo-28-O-β-glucopiranosídeo quinóvico (Cg7), além do ácido clorogênico 5-O-cafeoilquínico (Cg 8) e do esteróide sitosterol (Cg 6). Da espécie vegetal P.crocea foram isolados dois alcalóides β-carbolínicos inéditos, identificados como croceaina “A” (Pc 1) e croceaina “B” (Pc 3). A substância croceaina “A” foi acetilada, utilizando-se Ac2O e produziu o respectivo derivado acetilado (Pc Ac). As estruturas das substâncias isoladas foram elucidadas com base na análise de dados iv espectroscópicas de UV, IV, EM, RMN de 1 H e de 13 C/DEPT e de técnicas bidimensionais de RMN (1H-1H COSY, HMQC e HMBC) mediante comparação com os constantes na literatura. A avaliação das atividades farmacológicas foi realizada, submetendo-se os extratos brutos das plantas aos ensaios de suscetibilidade antimicrobiana, atividade antiedematogênica, atividade moluscicida e atividade antiproliferativa. v ABSTRACT Key words: Palicourea crocea; Cephalanthus glabratus; chemical studies; pharmacological activity; alkaloids and triterpenoids. This work is part of a project developed by researchers of Botanic and Pharmacology Departments of the Universidade Estadual de Maringá. Our studies are focused on chemical and pharmacological investigation of native plant from Porto Rico – PR. In this work we report the chemical investigation and the evaluation of the antiproliferative, anti-inflammatory, molluciscidal and antimicrobial properties of Palicourea crocea and Cephalanthus glabratus species. These plants belong to the Rubiaceae family and occur in riparian vegetation of the Upper Paraná River floodplain in Porto Rico-PR. Studies reported on Cephalanthus and Palicourea describe the presence of alkaloids as bioactive and chemotaxonomically important constituents, among with other class of compounds. The importance of the compounds isolated and the absence of reports on chemical or biological studies of the plants C. glabratus and P. crocea motivated the present work. The chemical studies were carried out by the fractionation of the crude metanolic extracts by partition in solvents or by acid-basic extraction. Column chromatography on silica gel or alumina, preparative TLC and filtration in Sephadex LH-20 were used for the isolation and purification of the compounds. The chemical study of C. glabratus afforded the alkaloids tetrahydroalstonine (Cg 4), mitraphylline (Cg 5) and uncarine E (Cg 9), the triterpenoids ursolic acid (Cg 3) and 3-O-β-D-quinovopyranoside-28-O-βglucopyranoside (Cg 7), the chlorogenic acid 5-O-caffeoylquinic acid (Cg 8) and the steroid sitosterol (Cg 6). From the plant P. crocea were isolated two new β-carbolinic vi alkaloids, identified as croceaine A (Pc 1) and croceaine B (Pc 3). The isolated compound croceaine A was acetylated using Ac2O to produce the Nβ-acetylated derivative Pc Ac. The structures of isolated compounds were established by spectroscopy analysis (UV, IV, EM, NMR of 1H and 13 C, DEPT, COSY, HMQC and HMBC). The crude methanolic extracts of the P. crocea and C. glabratus species were submitted to bioassays for evaluation of their antibacterial, antifungal, antiinflammatory, molluscicidal and antiproliferative activies. vii SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ...................................................................................................xii LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................xv LISTA DE ESQUEMAS..............................................................................................xvi LISTA DE ESPECTROS ........................................................................................... xvii LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS..................................................................xx 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................1 1.1 A Família Rubiaceae............................................................................................2 1.2 O Gênero Cephalanthus .......................................................................................4 1.3 A Espécie Cephalanthus glabratus.......................................................................5 1.4 O Gênero Palicourea ............................................................................................7 1.5 A Espécie Palicourea crocea ..............................................................................11 2 OBJETIVOS ...........................................................................................................14 3 MATERIAIS E MÉTODOS .....................................................................................15 3.1 Materiais e Métodos Empregados no Estudo Químico ......................................15 3.2 Materiais e Métodos Empregados no Estudo Farmacológico............................16 3.2.1 Teste de suscetibilidade antibacteriana e antifúngica.....................................17 3.2.1.1 Teste de suscetibilidade antibacteriana........................................................17 3.2.1.2 Teste de suscetibilidade antifúngica.............................................................18 3.2.2 Teste de atividade antiedematogênica ............................................................19 3.2.3 Teste de atividade moluscicida........................................................................20 viii 3.2.4 Teste de atividade antiproliferativa ..................................................................20 4 ESTUDO QUÍMICO E FARMACOLÓGICO DE Cephalanthus glabratus .............23 4.1 Estudo Químico de Cephalanthus glabratus ......................................................23 4.1.1 Coleta e secagem da planta Cephalanthus glabratus.....................................23 4.1.2 Obtenção do extrato bruto de Cephalanthus glabratus...................................24 4.1.3 Fracionamento dos extratos brutos de Cephalanthus glabratus.....................24 4.1.3.1 Fracionamento do extrato bruto de Cephalanthus glabratus por partição em solventes .................................................................................................27 4.1.3.1.1 Estudo da fração hexânica - Cg H.............................................................28 4.1.3.1.1.1 Estudo de ppt 1.......................................................................................29 4.1.3.1.2 Estudo da fração clorofórmica - Cg C........................................................30 4.1.3.1.3 Estudo da fração acetato de etila - Cg A ...................................................33 4.1.3.1.4 Estudo da fração hidrometanólica - Cg M .................................................35 4.1.3.2 Fracionamento do extrato bruto de C. glabratus por extração ácido base...............................................................................................................37 4.1.3.2.1 Estudo da fração CHCI3 alcaloidal de Cephalanthus glabratus ................38 4.2 Resultado e Discussão do Estudo Químico de Cephalantus glabratus .............39 4.2.1 Determinação estrutural das substâncias isoladas de Cephalanthus glabratus ..........................................................................................................39 4.2.1.1 Identificação estrutural de Cg 4 ....................................................................40 4.2.1.2 Identificação estrutural de Cg 5 ....................................................................53 4.2.1.3 Identificação estrutural de Cg 9 ....................................................................71 4.2.1.4 Identificação estrutural de Cg3 .....................................................................87 4.2.1.5 Identificação estrutural de Cg 7 ....................................................................99 4.2.1.6 Identificação estrutural de Cg 6 ..................................................................110 ix 4.2.1.7 Identificação estrutural de Cg 8 ..................................................................116 4.2.1.8 Identificação estrutural de Cg 1 e Cg 2 ......................................................124 4.2.2 Ocorrência e importância taxonômica das substâncias isoladas de C. glabratus....................................................................................................127 4.2.3 Importância farmacológica das substâncias isoladas de C. glabratus..........128 4.3 Estudo Farmacológico do Extrato Bruto de C. glabratus .................................130 4.3.1 Avaliação da suscetibilidade antibacteriana e antifúngica ............................130 4.3.2 Avaliação da atividade antiedematogênica ...................................................131 4.3.3 Avaliação da atividade moluscicida ...............................................................132 4.3.4 Avaliação da atividade antiproliferativa .........................................................132 5 ESTUDO QUÍMICO E FARMACOLÓGICO DE Palicourea crocea ....................133 5.1 Parte Experimental do Estudo Químico de P. crocea ......................................133 5.1.1 Coleta e secagem da planta P. crocea..........................................................133 5.1.2 Obtenção do Extrato bruto de P. crocea .......................................................133 5.1.3 Fracionamento de P. crocea..........................................................................134 5.1.3.1 Fracionamento do extrato bruto de P. crocea ............................................136 5.1.3.1.1 Estudo das frações hexânica - Pc H e clorofórmica - Pc C.....................137 5.1.3.1.2 Estudo da fração acetato de etila - Pc A .................................................138 5.1.3.1.3 Estudo da fração hidrometanólica - Pc M................................................139 5.1.3.1.3.1 Purificação da fração MeOH:H2O - Pc M ..............................................140 5.1.3.1.3.2 Acetilação da fração MeOH:H2O - Pc M...............................................141 5.1.3.2 Fracionamento do extrato bruto de P. crocea por extração ácido-base ....142 5.1.3.2.1 Estudo da fração CHCI3, alcaloidal de P. crocea ....................................142 5.1.3.2.2 Estudo da fração CHCI3, não-alcaloidal de P. crocea.............................143 x 5.1.3.2.3 Estudo das frações aquosa e hidrometanólica de P. crocea ..................144 5.2 Resultados e Discussão do Estudo Químico de P. crocea ..............................144 5.2.1 Determinação estrutural das substâncias isoladas de Palicourea crocea ....144 5.2.1.1 Identificação estrutural de Pc 1 ..................................................................145 5.2.1.2 Identificação estrutural de Pc 2 ..................................................................168 5.2.1.3 Identificação estrutural de Pc 3 ..................................................................177 5.2.1.4 Identificação estrutural de Pc Ac .................................................................189 5.3 Estudo Farmacológico do Extrato Bruto de P. crocea......................................205 5.3.1 Avaliação da suscetibilidade antibacteriana e antifúngica ............................205 5.3.2 Avaliação da atividade antiedematogênica ...................................................206 5.3.3 Avaliação da atividade moluscicida ...............................................................207 5.3.4 Avaliação da atividade antiproliferativa .........................................................207 6 CONCLUSÃO ......................................................................................................209 7 REFERÊNCIAS....................................................................................................211 8 ANEXO: TRABALHOS PUBLICADO E SUBMETIDO.........................................218 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1: Classificação Botânica de C. glabratus, segundo Engler............................6 Tabela 2: Classificação Botânica de P. crocea, segundo Engler..............................13 Tabela 3: Dados obtidos da CC da fração hexânica – Cg H.....................................28 Tabela 4: Dados obtidos da CC de ppt 1...................................................................29 Tabela 5: Dados obtidos da CC da fração clorofórmica – Cg C, em sílica gel .........30 Tabela 6: Dados obtidos da CC da fração clorofórmica – Cg C, em alumina...........32 Tabela 7: Dados obtidos da CC da fração C2.9, em alumina ...................................33 Tabela 8: Dados obtidos da CC da fração acetato de etila – Cg A, em alumina ......34 Tabela 9: Dados obtidos da CC da fração A6, em Sephadex LH-20........................35 Tabela 10: Dados obtidos da CC da fração MeOH:H2O – Cg M, em sílica gel ........36 Tabela 11: Dados obtidos da CC da fração M3, em Sephadex LH-20 .....................37 Tabela 12: Correlações homonucleares observadas no mapa de contorno COSY de Cg 4 .........................................................................................43 Tabela 13: Dados de RMN de 13C de alcalóides heteroioimbínicos I .......................46 Tabela 14: Dados de RMN de13C de alcalóides heteroioimbínicos II .......................47 Tabela 15: Dados RMN de 13C e de 1H da tetraidroalstonina e de Cg 4 ..................48 Tabela 16: Correlações homonuclereares observadas no mapa de contorno COSY de Cg 5 .........................................................................................57 Tabela 17: Correlações heteronucleares observadas no mapa de contorno HMQC de Cg 5 .......................................................................................58 Tabela 18: Dados de RMN 1H e de 13C para mitrafilina e Cg 5 ................................63 Tabela 19: Correlações hormonucleares no mapa de contorno COSY de Cg 9 ......75 xii Tabela 20: Correlaçoes heteronucleares observadas no mapa de contorno HMQC de Cg 9 ........................................................................................76 Tabela 21: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HMBC de Cg 9......77 Tabela 22: Correlações do mapa de contorno NOESY de Cg 9...............................78 Tabela 23: Dados de RMN 1H e de 13C para uncarina E e Cg 9...............................80 Tabela 24: Correlações homonuclearesno mapa de contorno COSY de Cg 3 ........89 Tabela 25: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HETCOR de Cg 3.....................................................................................................90 Tabela 26: Dados de RMN de 13C e de 1H do ácido úrsólica e de Cg 3 ...................93 Tabela 27: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HMQC de Cg 7 ...101 Tabela 28: Correlações homonucleares observadas no mapa de contorno COSY de Cg 7 .......................................................................................102 Tabela 29: Dados de RMN 13C e de 1H para aglicona do ácido o ácido 3-Oβ-D-quinovopiranosídeo – 28-O-β-glucopiranosídeo quinóvico e de Cg 7 ...............................................................................104 Tabela 30: Dados de RMN de 13C e de 1H para as unidades glicosídicas quinovose e glucose do ácido 3-O-β-D-quinovopiranosídeo 28-O- β -glucopiranosídeo quinóvico e de Cg 7 ......................................105 Tabela 31: Dados de RMN de 13C e de 1H do β-sitosterol e de Cg 6 .....................112 Tabela 32: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Cg 8 .....118 Tabela 33: Dados de RMN de 13C e de 1H do ácido 5-O-cafeoilquínico e de Cg 8...................................................................................................119 Tabela 34: Dados de suscetibilidade antibacteriana e antifúngica .........................130 Tabela 35: Efeito da aplicação tópica do extrato bruto de C. glabratus em edema de orelha induzido por óleo de cróton .......................................131 xiii Tabela 36: Dados obtidos da CC da fração Pc H em sílica gel ..............................137 Tabela 37: Dados obtidos da CC da fração Pc A ....................................................138 Tabela 38: Dados obtidos da CC da fração A 3’, em Sephadex.............................139 Tabela 39: Dados obtidos da fração Pc M...............................................................140 Tabela 40: Dados obtidos da CC de F Ac, em sílica gel .........................................141 Tabela 41: Dados obtidos da CC da fração CHCI3 não-alcaloidal de P. crocea.....143 Tabela 42: Dados de RMN de 13C e 1H para o ácido estrictosidínico e de Pc 1.....148 Tabela 43: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HMBC de Pc 1 ....150 Tabela 44: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Pc 1 ..... 151 Tabela 45: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HETCOR de Pc 1 ...................................................................................................153 Tabela 46: Correlações heteronucleares no mapa de contorno NOESY de Pc 1 ..154 Tabela 47: Dados de RMN de 13C e de 1H da braquicerina e de Pc 1....................157 Tabela 48: Dados de RMN de 13C e de 1H de Pc 1 e Pc 2 .....................................170 Tabela 49: Dados de RMN de 13C e de 1H de Pc 1 e Pc 3 .....................................179 Tabela 50: Correlações do mapa de contorno HMQC de Pc 3 ...............................181 Tabela 51: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Pc 3......182 Tabela 52: Dados de RMN de 13C e de 1H do lialosídeo e de Pc 3 ........................183 Tabela 53: Dados de RMN de 13C e de 1H de Pc 1 e Pc Ac ...................................192 Tabela 54: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Pc Ac....193 Tabela 55: Correlações do mapa de contorno HETCOR de Pc Ac ........................194 Tabela 56: Correlações do mapa de contorno NOESY para Pc Ac........................195 Tabela 57: Dados de suscetibilidade antibacteriana e antifúngica .........................205 Tabela 58: Efeito da aplicação tópica do extrato bruto de P. crocea em edema de orelha induzido por óleo de cróton .......................................206 xiv LISTA DE FIGURAS Figura 1: Foto da espécie vegetal Cephalanthus glabratus ........................................6 Figura 2: Foto da espécie vegetal Palicourea crocea ...............................................12 Figura 3: Atividade antiproliforativa de C glabratus em células Caco-2..................129 Figura 4: Conformação de menor energia de Pc 1 e algumas correlações do Mapa de contorno NOESY ......................................................................132 Figura 5: Ensaio de atividade antiproliferativa do extrato bruto metanólico da planta P. crocea...................................................................................208 xv LISTA DE ESQUEMAS Esquema 1: Procedimento experimental geral empregado para o isolamento das substâncias de Cephalantus glabratus (1ª coleta) ...................... 25 Esquema 2: Procedimento experimental de extração ácido base empregado com Cephalanthus glabratus (2ª coleta)............................................. 26 Esquema 3: Fracionamento do extrato bruto de C. glabratus (1ª. Coleta) por partição em solventes......................................................................... 27 Esquema 4: Extração ácido – base de C. glabratus ............................................... 38 Esquema 5: Fragmentação de alcalóide oxindólico ................................................ 59 Esquema 6: Fragmentação de oxindol heteroioimbínico pentacíclico .................... 60 Esquema 7: Fragmentação de alcalóide oxindólico ................................................ 60 Esquema 8: Rota para fragmentação do ácido ursólico.......................................... 91 Esquema 9: Procedimento experimental geral empregado para o isolamento das substâncias de Palicourea crocea............................................. 135 Esquema 10: Fracionamento do extrato bruto de P. crocea por partição em solventes .................................................................................. 136 Esquema 11: Fracionamento do extrato bruto de P. crocea por extração ácido-base ...................................................................................... 142 xvi LISTA DE ESPECTROS Espectro 1: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 4.............................49 Espectro 2: Expansão do espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 4.......50 Espectro 3: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 4................51 Espectro 4: Mapa de contorno COSY de Cg 4 em CDCl3 .......................................52 Espectro 5: Espectro no UV – Vis de Cg 5 em EtOH, c=1,67.10-5 mol . L-1 .............54 Espectro 6: Espectro no IV (pastilhas de KBr) de Cg 5.............................................64 Espectro 7: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 5.............................65 Espectro 8: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 5................66 Espectro 9: Mapa de contorno COSY de Cg 5 em CDCl3 .........................................67 Espectro 10: Expansão do mapa de contorno COSY de Cg 5 em CDCl3 ................68 Espectro 11: Mapa de contorno HMQC de Cg 5 .......................................................69 Espectro 12: Espectro de massas (70 eV) de Cg 5 ..................................................70 Espectro 13: Espectro no UV – Vis de Cg 9 em EtOH, c= 1,74. 10-5 mol.L-1 ...........72 Espectro 14: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 9...........................81 Espectro 15: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 9..............82 Espectro 16: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 9..............83 Espectro 17: Mapa de contorno HMQC de Cg 9 .......................................................84 Espectro 18: Mapa de contorno HMBC de Cg 9 ......................................................85 Espectro 19: Mapa de contorno NOESY de Cg 9 .....................................................86 Espectro 20: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 3...........................94 Espectro 21: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 3..............95 Espectro 22: Mapa de contorno COSY de Cg 3 em CDCl3 .......................................96 Espectro 23: Mapa de contorno HETCOR de Cg 3 em CDCl3.................................97 xvii Espectro 24: Espectro de massas (70 eV) de Cg 3 ..................................................98 Espectro 25: Espectro de RMN de 1H (CD3OD / 300 MHz) de Cg 7.......................106 Espectro 26: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CD3OD) de Cg 7..........107 Espectro 27: Mapa de contorno HMQC de Cg 7 em CD3OD..................................108 Espectro 28: Mapa de contorno COSY de Cg 7 em CD3OD...................................109 Espectro 29: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 6.........................113 Espectro 30: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 6 .......................114 Espectro 31: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 6............115 Espectro 32: Espectro de RMN de 1H (D2O / 300 MHz) de Cg 8............................120 Espectro 33: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz, D2O) de Cg 8 ..........................121 Espectro 34: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, D2O) de Cg 8...............122 Espectro 35: Mapa de contorno COSY de Cg 8 em CD3OD...................................123 Espectro 36: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 1.........................125 Espectro 37: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 2.........................126 Espectro 38: Espectro de massas de alta resolução, ESEMAR de Pc 1................158 Espectro 39: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc 1 ......................159 Espectro 40: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 1.....................160 Espectro 41: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 1 .........161 Espectro 42: Mapa de contorno HMBC (CD3OD) de Pc 1 ......................................162 Espectro 43: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 1.......................................163 Espectro 44: Mapa de contorno HETCOR (CD3OD) de Pc 1..................................164 Espectro 45: Mapa de contorno NOESY (CD3OD) de Pc 1 ....................................165 Espectro 46: Expansão do mapa de contorno NOESY (CD3OD) de Pc 1 ..............166 Espectro 47: Curva de dicroismo circular de Pc 1...................................................167 Espectro 48: Espectro de massas de alta resolução, EMAR de Pc 2.....................171 xviii Espectro 49: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc 2 .....................172 Espectro 50: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 2 .........173 Espectro 51: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 2.......................................174 Espectro 52: Mapa de contorno HETCOR (CD3OD) de Pc 2..................................175 Espectro 53: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) do hidrocloreto de Pc 1 ...............................................................................................176 Espectro 54: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc 3 ......................184 Espectro 55: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 3 .........185 Espectro 56: Mapa de contorno HMQC (CD3OD) de Pc 3 ......................................186 Espectro 57: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 3.......................................187 Espectro 58: Expansão do mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 3 ................188 Espectro 59: Espectro no IV (pastilhas de KBr) de Pc Ac.......................................196 Espectro 60: Espectro de massas de alta resolução, ESEMAR de Pc Ac..............197 Espectro 61: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc Ac....................198 Espectro 62: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz / CD3OD) de Pc Ac ..................199 Espectro 63: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc Ac.......200 Espectro 64: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc Ac ....................................201 Espectro 65: Mapa de contorno HETCOR (CD3OD) de Pc Ac ...............................202 Espectro 66: Mapa de contorno NOESY em CD3OD de Pc Ac ..............................203 Espectro 67: Expansão do mapa de contorno NOESY em CD3OD de Pc Ac ........204 xix LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS δ Deslocamento químico (em ppm) CC Cromatografia em coluna CCD Cromatografia em camada delgada CCDP Cromatografia em camada delgada preparativa CMI Concentração mínima inibitória CMB Concentração mínima bactericida CMF Concentração mínima fungicida COSY H-H Correlation spectroscopy d Dubleto dd Duplo dubleto ddd Duplo duplo dubleto DEPT Distortionless enhancement by polarization transfer DMEM Meio de cultura para células: Meio mínimo de eagle modificado por Dulbecco DMSO Dimetilsulfóxido EM Espectroscopia de massas HETCOR Heteronuclear chemical shift correlation HMBC Heteronuclear multiple bond coherence HMQC Heteronuclear multiple quantum coherence Hz Hertz IV Infravermelho J Constante de acoplamento xx m Multipleto m/z Relação massa/carga MHz Megahertz PBS Tampão fosfato de solução salina ppm Partes por milhão RMN Ressonância magnética nuclear SBF Soro fetal bovino s Singleto q Quarteto ESEMAR Espectro de massas de alta resolução td Tripleto de dubletos TPP Marca de frascos descartáveis utilizados em cultura de células UV Ultravioleta VIS Visível xxi 1 1 INTRODUÇÃO O estudo químico de espécies vegetais tem sido contínuo tema de pesquisas devido à grande aplicação de substâncias naturais em diversas áreas, podendo-se destacar a utilização destas no campo farmacêutico e agrícola. Na área de fármacos, esse estudo teve grande desenvolvimento e, até hoje, muitas substâncias naturais são ainda utilizadas como medicamentos, na forma pura ou após transformações químicas. Embora o número de pesquisas na área de fitoquímica tenha aumentado significativamente, um levantamento mostra que somente de 15 a 17% das plantas foram estudadas do ponto de vista medicinal (SORJEATO, 1996). Da mesma forma, há relatos de que poucos estudos envolvem uma avaliação científica com o objetivo de demonstrar seu uso seguro, efeitos potenciais e efetividade (CALIXTO, 2000). Assim, o estudo químico e farmacológico de plantas medicinais, visando a obtenção de novos compostos bioativos, constitui uma linha de pesquisa de interesse na área de Produtos Naturais, e grandes esforços têm sido envidados no sentido de isolamento e da aplicação prática de produtos naturais ativos. No entanto, para que este objetivo seja atingido, o trabalho deve envolver pesquisadores de várias áreas, caracterizando-se assim como uma pesquisa de caráter multidisciplinar. O presente trabalho é parte de um projeto mais amplo que vem sendo realizado por um grupo de pesquisa do departamento de Química, em conjunto com pesquisadores das áreas de Botânica e Farmacologia da Universidade Estadual de Maringá. 2 Os estudos estão sendo concentrados em espécies nativas presentes na planície de inundação do alto rio Paraná, cuja região é considerada como área de preservação ecológica do estado, visando contribuir para a ampliação do conhecimento do potencial químico e farmacológico de tais espécies, bem como a dar suporte à classificação botânica das mesmas, com base em estudos quimiotaxionômicos. Em trabalhos anteriormente realizados, foram investigadas várias espécies de diferentes famílias presentes na região. Uma das famílias de interesse é a Rubiaceae, de grande ocorrência na região, que se caracteriza pela presença de compostos de importância farmacológica como alcalóides e iridóides, sendo estes ainda considerados marcadores quimiotaxônomicos de determinados gêneros. Algumas das espécies de Rubiaceae presentes na região, estudadas até o momento incluem as plantas Diodia brasiliensis, Machaonia brasiliensis, Psychotria leyocarpa, Randia hebecarpa e Chomelia sp. Em continuidade ao trabalho sobre plantas da planície de inundação do alto rio Paraná, região de Porto Rico, especialmente da família Rubiaceae, propôs-se um estudo químico e avaliação da atividade farmacológica das espécies Cephalanthus glabratus e Palicourea crocea. 1.1 A família Rubiaceae A família Rubiaceae ocupa o quarto lugar em diversidade de espécies entre as Angiospermas (MABBERLEY, 1997), sendo constituída por quatro subfamílias, quarenta e quatro tribos, cerca de 637 gêneros e aproximadamente 10 700 espécies (ROBBRECHT, 1988). Em sua maior parte ela é característica de regiões quentes, 3 essencialmente tropicais (BARROSO et al., 1991). A América do Sul, por exemplo, supera todas as regiões do globo terrestre, apresentando 1200 espécies. Estudos fitoquímicos realizados com espécies de Rubiacea têm mostrado grande variedade de classes e atividades biológicas entre as substâncias isoladas. Estão presentes, por exemplo, corantes como a alizarina (I), uma antraquinona obtida da espécie Rubia tinctorum (THOMSON, 1987), alcalóides notadamente antimálaricos, como a cinconidina (II) e quinina (III) isoladas de Cinchona ledgeriana (ROBBERS, 1997) e metilxantinas estimulantes do sistema nervoso central, como a cafeína (IV), que é característica do gênero Coffea (SIMÕES, 2003). OH H HO CH CH2 H N N HO C HO3S CH2 CH2 N R N (I) (II) R=H (III) R= -OCH3 CH3 N N O N N H3C O (IV) CH3 H 4 1.2 O gênero Cephalanthus O gênero Cephalanthus apresenta uma única espécie no extremo Sul do Brasil, espalhada abundantemente no Uruguai e Paraguai. Na literatura encontram-se registrados poucos estudos fitoquímicos sobre este gênero e as publicações existentes registram alcalóides indólicos, como a diidrocorinanteína, hirsutina, rincofilina, isorincofilina e N-óxido de rincofilina isolados de C. occidentalis (PHILLIPSON, 1974). N N N C2H5 H CHOCH3 CH3O2C (V) N O H CH3OOC CHOCH3 (VI) H H 7 N H N O C2H5 OCH3 H N O H CO CH 2 3 (VII) C-7 “R” (VIII) C-7 “S” - H + O N H (IX) H C 2H5 OCH3 CO2CH3 5 O estudo fitoquímico de C. spatthelliferus (LIMA, 1973) descreveu o isolamento do flavonóide 7,4’-dimetilaromandendrina-O-metilada (X) e da cumarina umbeliferona (XI), que também foi isolada da planta Palicourea demissa. OCH3 HO O H3CO OH OH HO O O O (X) (XI) 1.3 A espécie Cephalanthus glabratus A espécie Cephalanthus glabratus está incluída na tribo Naucleeae e sua classificação tem sido controvertida, se encontrando em confusão taxonômica (RAZAFIMANDIMBISON, 2002; GOH, 1985; PHILLIPSON, 1975). A tribo Naucleeae inclui dois gêneros brasileiros, sendo o Cephalanthus um deles. A planta C. glabratus (Figura 1) foi identificada por Engler (ENGLER, 1964) Tabela 1, e uma amostra está depositada no herbário da Universidade Estadual de Maringá, sob o número HNUP 2971. 6 Figura 1: Foto da espécie vegetal Cephalanthus glabratus Tabela 1: Classificação Botânica de C. glabratus, segundo Engler Espécie vegetal Classificação Cephalanthus glabratus (Spreng.) K. Schum Divisão Angiospermae Classe Dicotyledoneae Ordem Gentianales Família Rubiaceae Subfamília Cinchonoideae Tribo Naucleeae Gênero Cephalanthus Espécie Cephalanthus glabratus Buddleja glabrata Spreng e Cephalanthus sarandi Cham & Schltdl são sinonímias da espécie Cephalanthus glabratus (Spreng.) K. Schum. 7 A planta é um arbusto baixo, que cresce no Brasil, Paraguai, Uruguai e Noroeste da Argentina. É conhecida vulgarmente por “Sarandi colorado” e dela ainda não se conhece uso. 1.4 O gênero Palicourea O gênero Palicourea da Família Rubiaceae compreende cerca de 200 espécies de arbustos e pequenas árvores, distribuídas do México até o Nordeste da Argentina (TAYLOR, 1997). Schumann (1891) foi o primeiro a realizar um estudo sistemático sobre Rubiaceae, quando caracterizou o gênero Psychotria, separando-o de Palicourea. Desde então, não há consenso quanto às características mais adequadas na separação entre as espécies destes dois gêneros, considerados morfologicamente muito semelhantes (STANDLEY, 1936; STEYERMARK, 1972; TAYLOR, 1989, 1993, 1996). As espécies de Palicourea destacam-se por apresentar atividades farmacológicas associadas à presença de alcalóides indólicos muitas vezes tóxicos. Estudos com a P. domingensis resultaram no isolamento do alcalóide chimonantina (XII) (RIPPERGER, 1982) e a investigação fitoquímica da P. fendleri, além da chimonantina mostrou a presença de calicantina (XIII) (NAKANO, 1976). H N H3C CH3 H N N N N CH3 N H (XII) N N H CH3 (XIII) 8 É interessante observar que a P. fendleri, mesmo não tendo afinidade com a família Calycanthaceae, produz alcalóides como os citados acima. A calicantina também foi isolada a partir da P. alpina (WOO-MING, 1975), sendo considerada o constituinte tóxico principal da planta Calycanthus glaucu. A presença de vomifoliol (XIV) (STUART, 1975) e dos derivados do ácido fluoracético foi demonstrada no estudo fitoquímico de P. alpina. O ácido monofluracético é um dos responsáveis pela toxidez da espécie (OLIVEIRA, 1963). OH OH H O (XIV) A P. marcgravii é uma planta brasileira tóxica, conhecida como “erva de rato” que contém o palicosídeo (XV), um alcalóide indólico glicosilado (MORITA et al., 1989). H N H N CH 3 H COOR H OH O H HO CH 2 O OH O OH (XV) Experimentos com a P. marcgravii atribuem efeitos tóxicos e mortes súbitas de ruminantes a fluoracetatos e às substâncias N-metiltiramina (XVI) e 2- 9 metiltetraidro-β-carbolina (XVII) (KEMMERLING, 1996), isoladas a partir desta espécie. H N CH3 N N HO CH3 H (XVI) (XVII) Recentemente, a partir das folhas da P. adusta foi isolada uma mistura de derivados do ácido hidroxicinâmico (XVIII) e, pela primeira vez nesta espécie, o alcalóide lialosídeo (XIX) (VALVERDE et al., 1999). CO2H CH=C CN OH (XVIII) OH N N H H H HO O OH O OH O CH3OOC (XIX) A atividade anti-tumoral de espécies de Palicourea encontra-se registrada na literatura e foi atribuída à presença de alcalóides (HARTWELL, 1972). 10 O estudo fitoquímico de P. rígida - planta característica do cerrado brasileiro, conhecida vulgarmente como “gritadeira”, possibilitou o isolamento dos triterpenos 3friedelanona (XX), 30-hidroxifriedelan-3-ona (XXI), 3-β-hidroxifriedelana (XXII), além do triterpeno lupeol (XXIII) e de 3-β-glucosilsitosterol (XXIV) (BOLZANI et al., 1992). R' H H H R HO R R’ (XX) O CH3 (XXI) O CH2OH (XXII) OH H (XXIII) CH3 GluO (XXIV) O extrato bruto da espécie P. demissa mostrou atividade antiinflamatória e antiviral. Seu estudo químico levou ao isolamento de derivados do ácido benzóico, do triterpeno 3-friedelanona (XX), presente na espécie P.rígida, e das cumarinas: escopoletina (XXV), isoescopoletina (XXVI) e umbeliferona (XI) (EL SEEDI, 1999). 11 H3CO HO HO O O H3CO (XXV) O O (XXVI) Estudos recentes com a espécie Palicourea condensata possibilitaram o isolamento de um peptídeo novo - a palicoureína (XXVII) (BOKESCH, 2001), considerado o maior peptídeo macrocíclico já isolado de vegetais, cujo estudo farmacológico demonstrou inibição “in vitro” de efeitos citopáticos causados pelo vírus HIV. RNGDPTFCGETCRVIPVCTYSAALGCTCDDRSDGLCK (XXVII) G= Glicina, D= Aspartato, P= Prolina, T= Treonina, F= Fenilalanina, C= Cisteína, E= Glutamato, V= Valina, Y= Tirosina, S= Serina, A= Alanina, L= Leucina, R= Arginina e K= Lisina. 1.5 A espécie Palicourea crocea A planta P. crocea está incluída na tribo Psychotrieae, que apresenta no Brasil, grande variedade de espécies distribuídas em poucos gêneros. Esta planta é um arbusto relativamente grande, conhecido vulgarmente como cachimbo, palicourea vermelha ou palicourea amarela. Os últimos dois nomes se devem ao fato de que suas flôres podem ser vermelhas ou amarelas. Esta espécie vegetal é nativa desde o Sul do México, América Central, América do Sul até o Brasil e Paraguai. Ela 12 é rica em nutrientes, sendo fonte de alimento para pássaros e, em algumas áreas de Porto Rico, na Costa Rica, as folhas são usadas trituradas para estancar hemorragias (LABRÓN, 1977). A planta P. crocea (Figura 2) foi classificada por Engler (Engler, 1964) – Tabela 2, e uma amostra encontra-se depositada no herbário da Universidade Estadual de Maringá, sob o número HNPU 2060. Figura 2: Foto da espécie vegetal Palicourea crocea (Sw.) Roem & Schultes. 13 Tabela 2: Classificação Botânica de P. crocea, segundo Engler. Divisão Espécie vegetal Palicourea crocea (Sw.) Roen Angiospermae Classe Dicotyledoneae Ordem Gentianales Família Rubiaceae Subfamília Rubioideae Tribo Psychotrieae Gênero Palicourea Espécie Palicourea crocea Classificação Palicourea coccínea Poiteau ex DC, Psychotria crocea Sw., Palicourea reparia Benth., Palicourea croceoides Ham., Palicorea crocea DC. var. riparia (Benth.) Griseb. e Palicourea brevithyrsa Britton & Standl são sinonímias da planta Palicourea crocea (Sw.) Roem. & Schultes (CATÁLOGO de las plantas vasculares de la Argentina, 2003). 14 2 OBJETIVOS As plantas Palicourea crocea e Cephalanthus glabratus são nativas no município de Porto Rico – PR, onde existe uma área de preservação ambiental, em que um grupo de professores pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) vem realizando vários trabalhos, inclusive o de avaliar o potencial farmacológico das espécies nativas na região. Após observar-se nos gêneros Cephalanthus e Palicourea a presença freqüente de alcalóides e de várias substâncias com as mais diferentes funções, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre as espécies P. crocea e C. glabratus e constatou-se que, além da ausência de estudos fitoquímicos sobre elas, também existem, no caso do gênero Cephalanthus, problemas de classificação botânica. Estes fatos motivaram a realização do presente trabalho, que tem como objetivos: § Isolamento dos principais constituintes e dos possíveis compostos bioativos das espécies C.glabratus e P.crocea. § Identificação das estruturas dos constituintes isolados através do uso de métodos espectroscópicos. § Realização de ensaios biológicos para avaliação das atividades antimicrobiana, antiedematogênica, moluscicida e antiproliferativa das plantas em estudo. § Isolamento de marcadores químicos, quimiotaxonômico do gênero Cephalanthus. visando-se o estudo 15 3 MATERIAIS E MÉTODOS Este capítulo descreve os materiais utilizados nos estudos químicos e farmacológicos das plantas, bem como as respectivas metodologias. 3.1 Materiais e métodos empregados no estudo químico Os espectros de absorção no UV foram obtidos em espectrofotômetro UVVIS, modelo Cary 50 Scan da Varian. Os espectros de absorção no IV foram registrados em espectrofotômetro FTIR-BOMEM MB-100, em pastilhas de KBr, na região de 400 a 4000 cm-1. A referência utilizada foi o filme de poliestireno. Os espectros de massas de baixa resolução foram obtidos em equipamento SHIMADZU GC/MS, modelo QP 2000, à 70 eV, equipado com sonda para sólidos. Os espectros de massas de alta resolução (EMAR) foram obtidos em um aparelho MICROMASS, modelo Autospec M 312, (Instituto de Química, UNICAMP). Os espectros de RMN de1H e de 13 C foram obtidos em espectrômetros VARIAN, modelos Gemini 2000, BB 300 MHz e Mercury plus, BB 300 MHz (300,06 MHz para 1H e 75,46 MHz para 13 C), utilizando-se DMSO-d6, CD3OD ou CDCl3 como solventes e TMS (δ=0,0 ppm) como referência interna. A interpretação dos dados foi realizada com auxílio da técnica DEPT 135 [CH3/ CH = sinal positivo (+), CH2 = sinal negativo (-)] e DEPT 90 [CH = sinal positivo (+)], em que C quaternário = sinal zero (C0) e confirmado por dados espectroscópicos de correlações bidimensionais COSY 90, HETCOR, HMQC e HMBC. 16 As cromatografias em coluna (CC) foram realizadas em colunas de vidro, utilizando-se sílica gel 60 (70–230 mesh), da Merck, alumina ativa 90 neutra e Sephadex Lipofílico LH-20 da Sigma. As dimensões das colunas variaram de acordo com a quantidade de material empregado. As eluições foram feitas com solventes orgânicos destilados, puros ou em mistura de solventes combinados em ordem crescente de polaridade. Os frascos utilizados para recolher as frações provenientes das eluições foram de aproximadamente 40 mL. O controle das frações coletadas foi realizado por cromatografia em camada delgada analítica (CCD) e as que apresentaram Rfs semelhantes foram reunidas e concentradas em evaporador rotatório, à pressão reduzida. As placas para cromatografia em camada delgada (CCD) e cromatografia em camada delgada preparativa (CCDP) foram feitas utilizando-se sílica gel G60 e GF254, ambas da Merck, suspensas em água destilada e distribuídas em camadas de 0,25 mm ou de 1,00 mm de espessura sobre placas de vidro de 20x5 e 20x20 cm, respectivamente. As revelações das placas foram realizadas através de irradiação com lâmpada ultravioleta em 254 / 366 nm e com reveladores como o reagente de Dragendorff (revelador para alcalóides) ou H2SO4:MeOH 1:1, seguido de aquecimento em placa. 3.2 Materiais e métodos empregados no estudo farmacológico As metodologias e os materiais empregados no estudo farmacológico das plantas são descritos para a realização dos seguintes testes de atividades farmacológicas: suscetibilidade antibacteriana e antifúngica; antiedematogênica, atividade moluscicida e atividade antiproliferativa. atividade 17 3.2.1 Teste de suscetibilidade antibacteriana e antifúngica O ensaio de avaliação da atividade antimicrobiana foi realizado no Departamento de Análises Clínicas da UEM, sob coordenação do Profo. Dro. Benedito Dias Prado Filho, aplicando-se o teste de suscetibilidade para a determinação da concentração mínima inibitória (MIC). O MIC é a menor concentração de um fármaco em µg/mL, que inibe o crescimento do microrganismo. O teste de susceptibilidade é determinado através de microtitulação da menor concentração do fármaco teste sem turvação. A concentração mínima fungicida (CMF) ou bactericida (CMB) é a menor concentração do fármaco que mata 99,9% do fungo ou bactéria teste. A CMF ou CMB é determinada pela subcultura do poço “sem crescimento” em placa que contém meio Agar Saboraund para o teste fungicida e meio Müeller-Hinton para o bactericida. A atividade antibacteriana e antifúngica das amostras e dos antibióticos de referência foi estabelecida, de acordo com a concentração mínima inibitória (CMI): CMI>500µg/mL (inativa); CMI 250 e 125µg/mL (moderadamente ativa); CMI 62,5 e 31,2µg/mL (ativa); CMI 15,6µg/mL (mais ativa); CMI 7,8µg/mL (fortemente ativa). 3.2.1.1 Teste de suscetibilidade antibacteriana O teste foi realizado com o extrato metanólico das plantas e as bactérias utilizadas foram Staphylococcus aureus ATCC 25923, Bacillus subtilis ATCC 6623 e Escherichia coli ATCC 2522. Os antibióticos-controle foram penicilina, vancomicina e tetracilina. Os ensaios para avaliação da atividade antibacteriana foram realizados, 18 aplicando-se o teste de suscetibilidade, segundo as normas descritas na literatura (WAYNE, 1997). A amostra (20 mg) foi dissolvida em 1 mL de DMSO. A solução estoque da amostra foi diluída repetidamente em meio Mueller-Hinton, obtendo-se uma série de concentrações, na ordem de 1 mg para 10 µg/mL. O inóculo bacteriano foi preparado com o mesmo meio e a densidade ajustada por comparação ao tubo n° 0,5 da escala Mac Farland (1,5 x 1018 UFC/mL), e em seguida diluída a 1:100 no mesmo meio. Alíquotas de 5 µL da suspensão de bactérias foram adicionadas a cada poço da placa de microdiluição, contendo 100 µL das diluições decimais da amostra ou de antibióticos de referência. Foram utilizados, como controle, meio não inoculado (controle de esterilidade) e meio sem droga (controle negativo). As placas foram incubadas a 37°C por 24 horas. 3.2.1.2 Teste de suscetibilidade antifúngica O teste foi realizado com o extrato metanólico das plantas frente ao fungo Candida albicans, empregando-se a micostatina como antifúngico padrão (WAYNE, 1997). Para a padronização do inóculo do fungo foi utilizado 5 colônias de uma cultura de levedura em Ágar Sabouraud, em 5 mL de solução salina estéril, e comparadas com o tubo 0,5 da escala Mac Farland (1,5 x 108 UFC/mL). A suspensão do fungo foi diluída a 1:100 em água destilada (4,95 mL de água destilada + 50 µL da suspensão). Em seguida 2 mL dessa suspensão foram adicionados em 38 mL de meio RPMI-1640 (diluição 1:20). Um volume de 0,9 mL da suspensão do fungo diluída em RPMI-1640 a 1:20 foi transferido para tubos (12 x 75 19 mm) estéreis numerados de 1 a 13. No tubo 14 foi colocado somente o meio RPMI1640 diluído (controle de esterilidade). No tubo 13 (controle de crescimento – tween80) foi colocado 100 µL de tween-80 a 1%. Nos tubos de 1 a 11 foram adicionados 100 µL do extrato metanólico diluídos em série. Os tubos foram incubados à temperatura de 37°C por 24 horas. 3.2.2 Teste de atividade antiedematogênica O teste de atividade antiedematogênica foi realizado no Departamento de Farmácia e Farmacologia da UEM, sob coordenação da Profa. Dra. Ciomar A. Bersani Amado, aplicando-se a técnica que utiliza o edema de orelha – modelo de inflamação tópica VAN ARMAN (1974). O edema foi induzido através da aplicação de uma substância irritante (20 ìl de óleo de Cróton na concentração de 200 ìg/orelha, diluído em uma solução de acetona/água 7:3) em ambas as faces internas das orelhas do camundongo. A concentração de 200 ìg/ore lha de óleo de Cróton é a concentração máxima ideal a ser testada, pois provoca inflamação e não degenera os tecidos da orelha. A seguir, foram administrados 20 ìl da solução do extrato bruto da planta (na dose de 2,5 mg/orelha) na superfície interna da orelha esquerda (orelha tratada). A orelha direita recebeu apenas o solvente do extrato (20 ìl do veículo). Após 6 horas, os animais foram sacrificados com éter etílico, e as orelhas foram seccionadas com um vazador de metal, em discos circulares de 6 mm de diâmetro. Estas secções foram pesadas em uma balança analítica e calculada a porcentagem de inibição da inflamação através da seguinte fórmula: % de inibição = (D-E /D) . 100 Onde: 20 D = peso da secção circular da orelha direita; E = peso da secção circular da orelha esquerda, tratada com agente irritante na presença da solução do extrato bruto da planta. 3.2.3 Teste de atividade moluscicida O teste de atividade moluscicida foi realizado no Departamento de Farmácia e Farmacologia da UEM, sob coordenação da Profa. Dra Maria Lucília Motinha Zamuner, empregando-se amostras de extrato bruto metanólico das plantas e caramujos da espécie Biomphalaria glabrata, hospedeiro intermediário do parasita Shistosoma mansoni, causador da esquistossomose. A metodologia para a avaliação da atividade moluscicida (HOSTETTMANN et al., 1982; BILIA et al., 2000) utilizou amostras de 40 mg que foram dissolvidas em 200 µL de DMSO e diluídas em 100 mL de água de aquário dos caramujos. O material foi dividido em dois béqueres, e em cada um foi colocado um caramujo com batimentos cardíacos e tamanhos apropriados. Após 24 horas, os batimentos cardíacos foram observados através de uma lupa. Um ensaio em branco (controle) foi realizado nas mesmas condições, porém sem a adição do extrato bruto metanólico. O teste é considerado positivo, quando os caramujos morrem ou demonstram alteração nos batimentos cardíacos. 3.2.4 Teste de atividade antiproliferativa A avaliação da atividade antiproliferativa do extrato bruto metanólico de C. glabratus foi realizada no laboratório de Microbiologia Aplicada aos Produtos 21 Naturais e Sintéticos do Departamento de Análises Clínicas do Centro de Ciências da Saúde da UEM, sob a responsabilidade da Profa. Dra. Tânia Nakamura. As células utilizadas foram as de carcinoma intestinal (Caco-2) cultivadas em garrafas plásticas de 75 cm2 com tampas de rosca e dispositivo para a entrada de CO2 (TPP), contendo 15 mL de DMEM (Gibco) + 10% soro bovino fetal (SBF-cultlab) + 37,5 µLde gentamicina. O meio foi trocado diariamente até que o tapete de células fosse confluente (observado em microscópio invertido) para o repique e inicio do ensaio de atividade antiproliferativa, pelo método da sulforodamina B (SKEHAN et al., 1990). Após o tapete estar completamente formado, a tripsinização das células foi realizada pelo seguinte procedimento: a monocamada de células foi lavada 3 vezes com solução salina de tampão fosfato (PBS) pH 7,2 0,01 M, estéril; 6 mL de tripsina foram adicionados e passaram a agir durante 2 a 3 ou 7 a 12 minutos em estufa 37 °C. Em seguida, neutralizou-se com com 3 mL de SBF e centrifugou-se em tubos cônicos Falcon de 15 ml durante 3 min. O pellet foi suspenso em 6 mL de DMEM (aspirado e espirado 10 X para evitar grumos de células). As células foram contadas e semeadas em placas de 96 poços, cada um contendo 100 µL de meio de cultura com 2,5 x 104 células. As placas foram incubadas em estufa com 5% CO2 à 37 ºC por 24 horas. Em seguida, adicionaram-se 100 µL de cada concentração do extrato realizando-se um controle para células (DMEM + SBF 5%). A placa foi incubada em estufa por 48 horas, retirando-se o meio e os extratos, sendo fixada com 50 µL de ácido tricloroacético (10%), mantendo-se a 4 0C por 1 hora. Em seguida, foi lavada com água corrente 5 vezes cuidadosamente, secada, adicionando-se-lhe 50 µL de Sulforodamida B e foi mantida a 4 ºC por 30 minutos ao abrigo da luz. A seguir o corante foi removido, lavando-se a placa 4 vezes com ácido acético a 1%, adicionando-se em cada poço 150 µl de 10 mM Trismabase, e sendo, finalmente 22 submetida à agitação por 15 minutos. A leitura foi feita em leitor de ELISA (Bio-Tek FL-600 Microplate Fluorescence Reader), em densidade óptica (DO) de 530 nm. A avaliação da atividade antiproliferativa do extrato bruto metanólico de P. crocea foi realizada no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrárias (CPQBA) da UNICAMP, sob a responsabilidade do Profo. Dr. João Ernesto de Carvalho e foram empregadas as seguintes linhagens celulares humanas cedidas pelo National Cancer Institute (NCI) dos EUA: melanoma (UACC.62), mamária (MCF.7), pulmonar pequena (NCI.460), leucêmica (K.562), ováriana (OVCAR), prostática (PCO.3), de cólon de útero (HT.29), renal (786.O) e mamária resistente (NCI.ADR). As células foram cultivadas em meio de cultura RPMI-1640 suplementado com 5% de soro fetal bovino inativado (SFB) sendo todos os procedimentos descritos realizados sob condições estéreis, segundo a metodologia descrita na literatura (MONKS et al., 1991). Os extratos utilizados nas concentrações de 15,6; 31,2; 62,5 e 125 µg/ mL foram adicionados em placas de 96 divisões, contendo quatro linhagems por placa. As células foram fixadas, após um período de incubação de 48 horas através de ácido tricloroacético (50%).Após 60 minutos, o ácido tricloroacético foi removido por aspiração e as placas lavadas com água corrente, secas e coradas com sulforrodamina B (SRB). O excesso de corante foi removido após 10 minutos, através de lavagem em ácido acético a 1 %. O tampão trizmabase foi utilizado para solubilizar o corante, e a leitura óptica foi realizada por leitor Elisa em 540 nm. 23 4 ESTUDO QUÍMICO E FARMACOLÓGICO DE Cephalanthus glabratus O estudo químico e farmacológico de Cephalanthus glabratus compreende a parte experimental, os resultados obtidos e respectiva discussão, além da ocorrência, importância e atividades farmacológicas das substâncias isoladas e conhecidas na literatura, bem como o estudo farmacológico do extrato bruto. 4.1 Estudo químico de Cephalanthus glabratus A parte experimental do estudo químico da espécie C.glabratus descreve a coleta e secagem da planta, obtenção do extrato bruto, extrações e fracionamentos, além do isolamento das substâncias codificadas como Cg 1, Cg 2, Cg 3, Cg 4, Cg 5, Cg 6, Cg 7, Cg 8 e Cg 9. 4.1.1 Coleta e secagem da planta Cephalanthus glabratus As folhas e galhos da planta C. glabratus foram coletados na planície de inundação do rio Paraná, região de Porto Rico–PR, em dezembro de 2001 e também em abril de 2004. A espécie vegetal foi identificada pela Profa. Dra. Maria Conceição de Souza do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Maringá. 24 As partes aéreas da planta foram secas ao ar e moídas, sendo que o material proveniente da coleta de dezembro de 2001 rendeu 135,9g e o da coleta de abril de 2004 forneceu 305,0g. 4.1.2 Obtenção do extrato bruto de Cephalanthus glabratus O material seco e moído (135,9g) proveniente da coleta de dezembro de 2001 (1a. coleta) foi extraído exaustivamente com metanol, deixando-se a amostra em maceração à temperatura ambiente. Após a evaporação do solvente, foram obtidos 14,67g de extrato bruto de C.glabratus. O material moído e seco (305,0g), proveniente da coleta de abril de 2004 (2a. coleta), foi dividido em duas partes iguais de 152,5g. Uma parte foi extraída exaustivamente com metanol, em condições idênticas às utilizadas anteriormente e, após a evaporação do solvente, foram obtidos 29,4g de extrato bruto. A outra parte foi tratada com hexano e, após secagem ao ar, foi umedecida com NH4OH, seca ao ar novamente e utilizada em extração ácido - base 4.1.3 Fracionamento dos extratos brutos de Cephalanthus glabratus O extrato bruto (1a. coleta) foi submetido à partição em solventes e as frações resultantes purificadas por cromatografia em coluna. O procedimento geral empregado para o isolamento das substâncias presentes encontra-se no Esquema 1, pág. 25. O extrato bruto (2a. coleta) foi submetido à extração ácido - base, sendo o procedimento geral descrito no Esquema 2, pág. 26. 25 Partição em Solventes Cephalanthus glabratus Folhas e galhos 135,9g Maceração em metanol Extrato Metanólico 14,67g (1) Solubilização em MeOH:H2O 1:1 (2) Extrações sucessivas em hexano, CHCl3, AcOEt e MeOH:H2O (3) Evaporação dos solventes CHCl3 CgC (3,10g) Hexano Cg H (2,94g) CC/ Sílica CC/ Sílica Cg 1 10,4 mg MeOH:H2O Cg M (4,0g) CC/ Alumina CC/ Alumina ppt- 1 Cg 4 3,4 mg CC/ Sílica Cg 2 16,9 mg AcOET Cg A (3,9g) Cg 3 10,6 mg Fração 96 Fração 47-49 CHCl3 ppt CCDP Cg 3 46,9 mg Cg 5 3,48 mg CCDP Cg 6 3,5 mg Fração 57-58 Sol. hexano ↓ Acetona Cg 5 8,3 mg Fração 63-71 CC/ Sephadex CC/ Sephadex Cg 7 7,3 mg Cg 8 23,3 mg Esquema 1: Procedimento experimental geral empregado para o isolamento das substâncias de Cephalantus glabratus (1acoleta) 46 25 26 Extração Ácido-Base 2a. Coleta C .glabratus 152,5g hexano C .glabratus (Resíduo) Extrato Hexânico (1) Umedecimento c/ NH4OH (2) Extração c/ CHCl3 (3) Extração com solução de HCl 5% Fração CHCl3 Não Alcaloidal Fração Aquosa-ácida (1) Basificação c/ NH4OH (pH 12) (2) Extração c/ CHCl3 Fração CHCl3 Alcaloidal 6,4 mg CCDP Hexano: AcOEt 50% Fração Aquosa-básica Extração c/ CHCl3 – MeOH 50% Cg 9 3,2 mg Fração CHCl3 - MeOH Fração Aquosa Esquema 2: Procedimento experimental de extração ácido base empregado com Cephalanthus glabratus (2a.coleta) 27 4.1.3.1 Fracionamento do extrato bruto de Cephalanthus glabratus por partição em solventes O extrato bruto metanólico de C.glabratus (14,67g) proveniente da primeira coleta da planta foi dissolvido em solução de MeOH:H2O 1:1 e fracionado em solventes de polaridade crescente. Este procedimento resultou nas frações hexânica (Cg H), CHCl3 (Cg C), AcOEt (Cg A), MeOH:H2O (Cg M), além dos precipitados ppt 1 e ppt 2 formados durante as extrações com hexano e CHCl3 (Esquema 3). Extrato MeOH Cephalanthus glabratus 14,67g MeOH:H2O 1:1 Solução MeOH : H2O 1:1 Extração com hexano Fração Cg H 2,94g Solução MeOH : H2O 1:1 Extração com CHCl3 ppt-1 0,53g Fração Cg C 3,10g Solução MeOH : H2O 1:1 Extração com AcOEt ppt-2 0,20g Fração Cg A 3,90g Fração Cg M 4,0g Esquema 3: Fracionamento do extrato bruto de C. glabratus (1a. Coleta) por partição em solventes. 28 4.1.3.1.1 Estudo da fração hexânica – Cg H Uma amostra da fração Cg H (1,0g) foi submetida a CC (∅ 3,0cm) em sílica gel (70,0g), utilizando-se como eluentes hexano:AcOEt, AcOEt, AcOEt:MeOH e MeOH. Foram coletadas 66 frações, que foram reunidas, após análise em CCD (Tabela 3). Tabela 3: Dados obtidos da CC da fração hexânica - Cg H Eluente Código H1 Frações reunidas 1–3 Massa (mg) 103,6 Hexano: AcOEt 20% H2 4 96,0 H3 5 27,9 H4 6 22,5 H5 7 28,2 H6 8 25,5 H7 9 21,9 H8 10 56,6 H9 11–15 124,5 H10 16–21 55,7 H11 22–23 19,9 H12 24–28 42,4 H13 29 4,4 Hexano: AcOEt 30% H14 30–33 14,6 Hexano: AcOEt 35% H15 34–35 8,4 H16 36–38 13,2 Hexano: AcOEt 45% H17 39–41 16,8 Hexano: AcOEt 60% H18 42–43 13,2 H19 44–45 13,0 AcOEt H20 46–53 38,6 AcOEt: MeOH 50% H21 54–60 154,8 MeOH H22 61–66 23,2 Hexano: AcOEt 25% Recuperou-se 92,5% do material inicial Substância Isolada (mg) Cg 1 (10,4) Cg 2 (16,9) 29 As substâncias Cg 1 (10,4mg) e Cg 2 (16,9mg) foram purificadas por CCDP em sílica gel, empregando-se hexano:AcOEt 12% e hexano:AcOEt 35%, como eluentes. As frações H1, H2, H8, H9, H10, H12 e H21 revelaram grande quantidade de clorofila, quando analisadas por CCD. As demais frações não foram estudadas devido à grande complexidade de seus perfis cromatográficos. 4.1.3.1.1.1 Estudo de ppt 1 Uma parte de ppt 1 (0,20g) foi submetido a CC (∅ 2,5cm) em sílica gel (30,0g), coletando-se 62 frações, que foram reunidas, após análise em CCD (Tabela 4). Tabela 4: Dados obtidos da CC de ppt-1 Eluente Código Frações reunidas Massa (mg) Hexano: AcOEt 25% p1 p2 p3 p4 p5 p6 p7 p8 p9 p10 p11 p12 p13 p14 p15 1–4 5–13 14–18 19–33 34–38 39–44 45–47 48 49–52 53–55 56 57–58 59 60 61-62 28,2 10,1 4,5 10,6 2,2 3,0 17,2 4,1 2,0 1,6 5,1 4,9 75,9 14,3 5,2 Hexano: AcOEt 35% Hexano: AcOEt 50% AcOEt MeOH Recuperou-se 94,45% do material inicial Substância isolada (mg) Cg 3 (10,6) 30 A fração p4 forneceu a substância pura codificada como Cg 3 (10,6mg). As demais frações foram trabalhadas de diversas formas, porém devido às suas complexidades não foi possível o isolamento de nenhuma substância. 4.1.3.1.2 Estudo da fração clorofórmica – Cg C A análise através de CCD do precipitado formado durante a extração com CHCl3 (ppt 2) mostrou um perfil cromatográfico semelhante ao de ppt 1, não sendo estudada esta fração. A fração Cg C foi dividida em duas partes e submetida a fracionamento em CC em diferentes adsorventes: sílica gel e alumina. Uma parte da fração Cg C (0,57g) foi submetida a CC (∅ 1,5 cm) contendo 20,0g de sílica gel, sendo coletadas 102 frações que foram reunidas, após análise em CCD (Tabela 5). Tabela 5: Dados obtidos da CC da fração clorofórmica – Cg C, em sílica gel Eluente Código C1.1 Frações reunidas 1–52 Massa (mg) 2,0 Hexano:CHCl3 1:1 Hexano:CHCl3 70% C1.2 53-55 1,3 C1.3 56–57 3,4 Hexano:CHCl3 80% C1.4 58–73 8,9 CHCl3 C1.5 74–95 86,6 CHCl3:MeOH 5% C1.6 96 129,5 Substância isolada (mg) Cg 4 (3,4) Cg 5 (3,48) Cg 3 (46,9) C1.7 97 163,3 C1.8 98–102 86,0 Recuperou-se 84,4% do material inicial Cg 3 (82,6) 31 A análise da fração C1.3 por CCD mostrou um composto puro com forte fluorescência sob irradiação UV em 254 e 366nm. A revelação da placa de CCD, utilizando o reagente de Dragendorff mostrou a presença provável de um alcalóide, sendo esta substância codificada como Cg 4 (3,4mg). A adição de CHCl3 às frações C1.6 e C1.7 produziu precipitados brancos (46,9mg e 82,6mg, respectivamente), que foram filtrados e analisados por CCD. A revelação com solução de MeOH:H2SO4, seguida de aquecimento, mostrou Rf iguais e a mesma coloração púrpurea para ambos os precipitados. A substância isolada apresentou Rf idêntico ao da substância obtida anteriormente da fração hexânica (Cg 3). O material sólido resultante da evaporação da água-mãe e oriundo da fração C1.6 foi analisado por CCD e submetido a CCDP (hexano:AcOEt 1:1). O procedimento resultou no isolamento do alcalóide codificado como Cg 5 (3,48 mg). As frações C1.5 e C1.8 foram trabalhadas tentando-se precipitação e através de CCDP, porém não foi possível isolar nenhuma substância devido ao perfil cromatográfico complexo destas frações. A parte restante da fração Cg C (1,9g) foi adsorvida em alumina e submetida a CC (∅ 2,5 cm) que continha 200,0g do adsorvente. Foram obtidas 101 frações, que após análise em CCD, foram reunidas de acordo com a Tabela 6. 32 Tabela 6: Dados obtidos da CC da fração clorofórmica – Cg C, em alumina Eluente Código C2.1 Frações reunidas 1-6 Massa (mg) 8,0 Hexano:CHCl3 10% Hexano:CHCl3 20% C2.2 7-10 10,2 Hexano:CHCl3 30% C2.3 11-34 4,3 Hexano:CHCl3 40% C2.4 35-46 10,9 Hexano:CHCl3 80% C2.5 47-49 11,8 Hexano:CHCl3 90% C2.6 50 51,1 C2.7 51-55 13,8 C2.8 56 3,3 CHCl3 C2.9 57-58 397,4 CHCl3:MeOH 10% C2.10 59-63 8,2 CHCl3:MeOH 20% C2.11 64-74 11,8 MeOH C-2.12 75-94 8,5 C-2.13 95-101 66,2 Substância isolada (mg) Cg 6 (3,5) Cg 5 (8,3) Recuperou-se 32,5% do material inicial. A fração C2.5 (11,8mg) foi submetida à purificação por CCDP em sílica gel (CHCl3:MeOH 2%), fornecendo a substância codificada como Cg 6 (3,5mg). Das frações C2.6 e C2.13 não se isolou nenhuma substância, embora se tenha tentado precipitação e purificação através de CCDP em sílica gel. A fração C2.9 (397,4mg) foi dissolvida em clorofórmio e a adição de hexano produziu um precipitado branco (8,3mg), que foi filtrado e analisado por CCD. A revelação, mediante utilização de reagente de Dragendorff indicou a presença de alcalóide e o valor Rf, evidenciou o isolamento de Cg 5, já isolado anteriormente. A evaporação da água-mãe da fração C2.9 originou um sólido (200mg), que foi submetido a CC (∅ 1cm) com 2g de alumina, sendo coletadas 183 frações que foram reunidas, após análise, através de CCD conforme a Tabela 7. 33 Tabela 7: Dados obtidos da CC da fração C2.9, em alumina Eluente Código C2.9.1 Frações reunidas 1-24 Massa (mg) 2,0 Hexano:CHCl3 90% Hexano:CHCl3 95% C2.9.2 25-50 4,2 C2.9.3 51-55 13,8 C2.9.4 56-62 16,1 C2.9.5 63-68 4,3 C2.9.6 69 2,1 CHCl3 C2.9.7 70-143 19,5 CHCl3:MeOH 5% C2.9.8 144 23,3 CHCl3:MeOH 10% C2.9.9 145-147 58,4 CHCl3:MeOH 15% C2.9.10 148-170 4,1 MeOH C2.9.11 180-183 4,8 Recuperou-se 66,3% do material inicial. A análise por CCD das frações C2.9.3, C2.9.4, C2.9.8 e C2.9.9 mostrou substâncias com forte fluorescência, quando submetidas à irradiação UV em 254 e 366nm. A revelação com reagente de Dragendorff indicou a presença de alcalóides e as frações foram trabalhadas tentando-se precipitação, filtração em Sephadex LH20 e CCDP em sílica, porém devido à complexidade cromatográfica destas frações não foi possível a separação de nenhuma substância pura. As demais frações não foram estudadas. 4.1.3.1.3 Estudo da fração acetato de etila – Cg A A fração acetato de etila (3,90g) foi submetida a CC (∅ 2,5 cm) com 100,0g de alumina. As 76 frações obtidas foram reunidas, após análise por CCD, conforme a Tabela 8. 34 Tabela 8: Dados obtidos da CC da fração acetato de etila – Cg A, em alumina Eluente Código A1 Frações reunidas 1-44 Massa (mg) 42,2 AcOEt:MeOH 30% AcOEt: MeOH 40% A2 45-48 32,6 AcOEt:MeOH 50% A3 49–55 302,7 AcOEt:MeOH 60% A4 56-59 67,0 AcOEt:MeOH 70% A5 60-62 10,2 AcOEt: MeOH 75% A6 63-71 180,0 MeOH A7 72 –74 29,9 MeOH: H2O 50% A8 75 37,4 A9 76 68,8 Recuperou-se 19,7% do material inicial As frações A3 e A9 foram trabalhadas tentando-se precipitação e filtração em Sephadex LH-20, mas não foi possível isolar nenhuma substância, devido à complexidade cromatográfica que estas frações apresentaram. As outras frações também mostraram um perfil cromatográfico de difícil separação e não foram estudadas. A fração A6 (180,0mg) foi purificada por filtração em Sephadex LH-20, utilizando-se H2O, MeOH:H2O e MeOH como eluentes. Coletaram-se 9 frações que foram reunidas, após análise através de CCD conforme a Tabela 9. 35 Tabela 9: Dados obtidos da CC da fração A6, em Sephadex LH-20 Eluente Código H2O A6.1 Massa (mg) 20,6 A6.2 18,8 A6.3 8,6 A6.4 8,1 A6.5 4,9 A6.6 14,4 A6.7 7,3 A6.8 2,4 A6.9 1,6 MeOH:H2O 50% MeOH:H2O 25% MeOH Substância isolada (mg) Cg 7 (7,3) Recuperou-se 86,7% do material inicial A fração A6.7 proveniente da filtração em Sephadex LH-20 possibilitou o isolamento da substância codificada como Cg 7 (7,3mg). As demais frações foram analisadas por CCD e não foram trabalhadas, devido à sua complexidade. 4.1.3.1.4 Estudo da fração hidrometanólica – Cg M Uma parte da fração MeOH:H2O – Cg M (1,52g) foi submetida a CC (∅2,5 cm), contendo em 58,0g de sílica gel. Foram coletadas 72 frações, que foram reunidas após análise em CCD, de acordo com a Tabela 10. 36 Tabela 10: Dados obtidos da CC da fração MeOH: H2O – Cg M, em sílica gel Eluente Código M1 Frações reunidas 1–2 Massa (mg) 1,2 AcOEt M2 3–15 250,0 AcOEt: MeOH 30% M3 16–20 371,6 AcOEt: MeOH 40% M4 21 12,3 AcOEt: MeOH 50% M5 22 10,8 M6 23–29 61,3 M7 30–39 130,0 M8 40–44 66,4 M9 45–55 100,0 M10 56–58 42,1 M11 60–63 14,4 MeOH M12 64–65 5,0 MeOH:H2O 20% M13 66–72 9,0 AcOEt: MeOH 85% Recuperou-se 70,7 % do material inicial. A análise por CCD das frações M2, M6, M7, M8, M9 e M10 mostrou uma mistura de substâncias que se tentou purificar através de precipitações e filtrações em Sephadex LH-20, porém devido a complexidade do perfil cromatográfico destas frações não foi possível isolar substâncias puras a partir delas. As demais frações apresentaram pouca massa e não foram estudadas, porque mostraram um perfil cromatográfico de difícil separação, após serem analisadas por CCD. A fração M3 (371,6 mg) foi submetida novamente à filtração em Sephadex LH-20, utilizando-se H2O, MeOH:H2O e MeOH como eluentes. Coletaram-se 8 frações que foram reunidas, após análise por CCD, conforme a Tabela 11. 37 Tabela 11: Dados obtidos da CC da fração M3, em Sephadex LH-20 Eluente Código Frações Massa Substância isolada reunidas (mg) (mg) H2O M3.1 1–5 152,4 H2O:MeOH 25% M3.2 6-8 133,4 M3.3 9–11 5,6 M3.4 12–19 15,3 M3.5 20–25 23,3 M3.6 26–29 7,0 H2O:MeOH 75% M3.7 30–36 13,8 MeOH M3.8 37-49 18,8 H2O:MeOH 50% Cg 8 (23,3) Recuperou-se 99,5% do material inicial A análise da fração M3.5 por CCD, mediante revelação com solução de MeOH:H2SO4 seguida de aquecimento, mostrou uma substância que estava pura e foi codificada como Cg 8 (23,3mg). As análises por CCD das demais frações revelaram um perfil cromatográfico muito complexo não sendo estas frações estudadas. 4.1.3.2 Fracionamento do extrato bruto de C. glabratus por extração ácido - base Uma parte das folhas e galhos secos e moídos provenientes da segunda coleta de C.glabratus (152,5g) foi tratada com hexano, seca, umedecida com NH4OH e novamente seca ao ar. O material vegetal obtido foi extraído com CHCl3, deixandose em maceração 24 horas à temperatura ambiente. Após filtração, repetiu -se três vezes o mesmo procedimento e o volume da solução foi reduzido, através de evaporação do solvente, à pressão reduzida. A solução clorofórmica resultante foi submetida à extração ácido - base, de acordo com o Esquema 4. 38 C.glabratus 152,5g hexano C.glabratus (Resíduo) Extrato Hexânico (1) Umedecimento c/ NH4OH (2) Extração c/ CHCl3 (3) Extração com solução de HCl 5% Fração CHCl3 Não Alcaloidal Fração Aquosa-ácida (1) Basificação c/ NH4OH (pH 12) (2) Extração c/ CHCl3 Fração CHCl3 Alcaloidal 6,4 mg Fração Aquosa-básica Fração CHCl3:MeOH Extração c/ CHCl3:MeOH 1:1 Fração Aquosa Esquema 4: Extração ácido - base de C. glabratus (2a. coleta) 4.1.3.2.1 Estudo da fração CHCl3 alcaloidal de Cephalanthus glabratus Devido ao interesse por alcalóides, apenas a fração alcaloidal do fracionamento proveniente da extração ácido – base de C.glabratus foi estudada. A fração CHCl3 alcaloidal (6,4mg) foi submetida à CCDP (Hexano:AcOEt 50%) e o procedimento possibilitou o isolamento do alcalóide codificado como Cg 9 (3,2mg). 39 4.2 Resultados e discussão do estudo químico de Cephalanthus glabratus A parte de resultados e discussão inclui a elucidação estrutural das substâncias isoladas da planta C.glabratus, cita a ocorrência destas substâncias em outras espécies vegetais, menciona suas importâncias taxonômicas e respectivas atividades farmacológicas, bem como descreve o estudo farmacológico realizado com o extrato bruto desta planta. 4.2.1 Determinação estrutural das substâncias isoladas de Cephalanthus glabratus A determinação estrutural descreve os resultados e discussões das análises realizadas para a elucidação estrutural das substâncias isoladas de C. glabratus. Os estudos revelaram a presença do alcalóide heteroioimbínico codificado como Cg 4; dos oxindóis heteroioimbínicos codificados como Cg 5 e Cg 9; dos triterpenos Cg 3, Cg 6 e Cg 7, além do ácido clorogênico Cg 8 e do material graxo Cg 1 e Cg 2. 40 4.2.1.1 Identificação estrutural de Cg 4 A substância Cg 4 foi isolada da fração CHCl3, resultante da partição em solventes do extrato bruto metanólico de C. glabratus (1a. Coleta) e foi identificada como o alcalóide tetraidroalstonina. 9 6 5 10 11 12 N H H 3 N 14 15 21 H 20 H H3CO2C 16 22 19 CH3 18 O 17 (Cg 4) A estrutura da substância Cg 4 foi elucidada através da análise dos espectros de RMN de 1H, 13 C, COSY, DEPT e comparação destes com os dados da literatura (LOUNASMA, 1980; RAIMO, 1981; WENKERT et al., 1976). RMN de 1H (Espectro 1 e 2, pág. 49 e 50) e 13C: (Espectro 3, pág. 51) dados descritos na Tabela 15, pág. 48. RMN 2D ,1H x 1H – COSY (Espectro 4, pág. 52): dados descritos na Tabela 12, pág. 43. O espectro de RMN 1H de Cg 4 (Espectro 1, pág. 49) apresentou sinais relacionados a NH em δ 7,76 e os correspondentes aos hidrogênios aromáticos de núcleo indólico em δ 7,43 (d, J=7.5 Hz, H-9); δ 7,28 (dubleto parcialmente encoberto 41 pelo solvente, H-12), δ 7,05 (ddd, J=7,5; 6,0; 1,5 Hz, H-10) e δ 7,10 (ddd, J=7,5; 6,0; 1,5 Hz, H-11). Além destes, também mostrou um dubleto em δ 1,38 (J=6,3 Hz) relacionado ao grupo CH3-18; um duplo quarteto em δ 4,48 (J=10,0; 6,0 Hz) relacionado a H-19, um singleto correspondente a H-17 em δ 7,53, e o singleto relacionado à metoxila em δ 3,73 que foram característicos de unidade secologanínica. O multipleto em δ 2,50 – 2,60 e o triplo dubleto em δ 2,93 (J=14,0; 5,7; <1) correspondente ao H-5α e H-5β, respectivamente, junto com os dubletos relacionados ao H-6 em δ 2,65 e δ 2,87, o duplo dubleto relativo a H-3 em δ 3,34 (J=10,2 Hz) e os dois duplos dubletos referentes a H-21 em δ 2,73 (J=12,0; 6,3 Hz) e δ 3,09 (J=12,0; 1,8) evidenciaram o sistema quinolizidínico, completando o esqueleto heteroioimbínico proposto. A análise do espectro de RMN de 13 C de Cg 4 (Espectro 3, pág. 51) mostrou 21 sinais e a do espectro DEPT revelou nove sinais relativos a C-H, quatro correspondentes a CH2, dois referentes a CH3 e seis de carbonos quaternários. Estes dados foram condizentes com a estrutura heteroioimbínica deste alcalóide. Os sinais de RMN de 13 C em δ 135,9 (C-2); 108,1 (C-7); 129,6 (C-8); 118,0 (C-9); 119,3 (C-10); 121,3 (C-11); 110,7 (C-12) e 135,9 (C-13) são correspondentes ao núcleo indólico. Os sinais em δ 31,3 (C-15); 38,4 (C-20); 72,4 (C-19), junto com os apresentados em δ 109,5 (C-16) e 155,7 (C-17) correspondentes à dupla ligação de um sistema carbonílico α,β-insaturado; em δ 167,9 correspondente a C=O de éster e os dois sinais em δ 18,5 (CH3-18) e em δ 51,1 relativo a metoxila, foram característicos da unidade secologanínica. Os sinais em δ 53,5 (C-5); 21,7 (C-6); 34,2 (C-14) e 56,2 (C-21) foram condizentes com os de um sistema quinolizidínico, confirmando o esqueleto heteroioimbínico proposto. 42 O mapa de contorno COSY de Cg 4 (Espectro 4, pág. 52) apresentou correlações homonucleares condizentes com a estrutura proposta. A análise dos dados obtidos revelou correlações entre os hidrogênios aromáticos do núcleo indólico em δ 7,43 d, J=7,5 Hz, H-9 e 7,05 (ddd, J=7,5; 6,0; 1,5 Hz, H-10); 7,28 (dubleto parcialmente encoberto, H-12) e 7,10 (ddd, J=7,5; 6,0; 1,5 Hz, H-11), entre os hidrogênios da unidade secologanínica em δ 4,48 (dq, J=10,0; 6,0 Hz, H-19) e 1,38 (d, J=6,3 Hz, CH3-18); em δ 4,48 (dq, J=10,0; 6,0 Hz, H-19) e 1,68 m (H-20) e entre os hidrogênios quinolizidínicos em δ 2,87 (m, H-6) e 2,60 (m, H-5); em δ 3,34 (dd, J=10,2 Hz, H-3) e 1,51 (encoberto, H-14); em δ 3,09 (dd, J=12,0; 1,8Hz, H-21) e 2,73 (dd, 12,0; 6,3 Hz, H-21) e 1,68 (m, H-20) conforme a Tabela 12. 43 1 Tabela 12: Correlações homonucleares 1 H x H observadas no mapa de contorno COSY de Cg 4 9 6 5 10 11 12 N H H 3 N 14 15 21 H 20 19 H 17 22 no. H δ 1H multiplicidade (J em Hz) no. do H 9 7,43 d (7,5) 10 12 7,28 d parcialmente encoberto 11 19 4,48 dq (10,0; 6,0) 3 18 O 16 H3CO2C CH3 δ 1 H multiplicidade (J em Hz) 7,05 ddd (7,5; 6,0; 1,5) 7,10 ddd (7,5; 6,0; 1,5) 3,34 dd (10,2) CH3-18 20 14 1,38 d (6,3) 1,68 m 1,51 encoberto 21 3,09 dd (12,0; 1,8) 21 2,73 dd (12,0; 6,3) 6 2,87 m 5 2,6 m 20 1,68 m 21 2,73 dd (12,0; 6,3) A análise dos espectros de RMN de 1H e de 13 C de Cg 4 e a comparação com dados da literatura levou a sugerir o esqueleto de alcalóide heteroioimbínico (XXIX), análogo aos isolados do gênero Cephalanthus. 9 6 10 5 11 12 N H H 3 N 21 H 14 20 15 19 O CH3O 2C (XXIX) 16 17 18 CH3 44 Os alcalóides dessa classe (SHAMMA, 1963) apresentam 4 carbonos estereogênicos (C-3, C-15, C-19 e C-20) e 16 estereoisômeros possíveis. Entretanto, como H-15 é biogeneticamente α, o número de estereoisômeros é reduzido a 8. O substituinte CH3-18 dessa classe de substâncias pode estar nas posições α ou β e o grupo de estereoisômeros pode ser dividido. Assim, segundo a literatura, os dois grupos de estereoisômeros resultantes foram classificados da seguinte forma: normais (H-3 α; H-20 β; H-19 β ) (H-3 α; H-20β; H-19 α) pseudos (H-3β ; H-20 β; H-19 β ) (H-3β ; H-20 β; H-19 α) allos (H-3 α; H-20 α; H-19 β ) (H-3 α; H-20 α; H-19 α) epiallos (H-3 β; H-20 α; H-19 β ) (H-3β; H-20 α; H-19 α) O dubleto em δ 1,38 relacionado ao grupo CH3-18 no espectro de RMN de 1H é particularmente útil para a identificação das configurações allo e epiallo (PHILLIPSON, 1983). Estes estereoisômeros apresentam junção cis entre os anéis D/E e produzem espectros com deslocamentos químicos na região de δ 1,34-1,45 para os hidrogênios ligados a CH3-18, em contraste com os isômeros normal e pseudo com junção D/E trans e valores correspondentes a δ 0,92-1,36. O espectro de RMN de 1H de Cg 4 também mostrou um duplo dubleto em δ 3,34 (H-3) característico da configuração H-3α (allo e normal), que em geral apresentam este sinal em δ 3,33-3,49. Os isômeros que apresentam configurações H-3β (epiallo e pseudo) mostram deslocamentos químicos maiores, compreendidos entre δ 3,784,56. Embora o valor da constante de acoplamento entre H-15 e H-20 seja importante para a identificação dos estereoisômeros, não foi possível a sua observação para Cg 4. 45 A comparação dos dados de RMN de 13 C (Tabela 13 e 14, pág. 46 e 47) dos oito estereoisômeros possíveis também sugeriu a estereoquímica de um isômero allo (H-3α; H-20α; H-19β). O deslocamento químico do C-19 de Cg 4 em δ 72,4 indicou a posição de H-19 como β, uma vez que os estereoisômeros C-19 (H-19α) apresentam deslocamentos químicos maiores (examinar dados correspondentes a C-19 na Tabela 13, pág. 46). A Tabela 14, pág. 47 mostra para os estereoisômeros akuamigina e 3-iso-ajmalicina, deslocamentos químicos de C-3 (H-3β) em δ 54,5 e δ 54,2 respectivamente. O valor correspondente a C-3 em δ 59,8 para o estereoisômero ajmalicina (H-3α) está condizente com o observado para Cg 4 em δ 59,7. A comparação dos deslocamentos químicos de C-19 (em δ 72,4) de Cg 4, bem como a dos demais carbonos com os descritos para a tetraidroalstonina, um alcalóide heteroioimbínico do tipo allo mostra valores concordantes. A comparação dos dados apresentados pelos espectros de RMN de 1H e de 13 C de Cg 4 com os descritos na literatura para a tetraidroalstonina (Tabela 15, pág. 48) confirmaram a estrutura desta substância. 3 3 N N H H H 15 H3CO2C H 18 20 CH3 19 O Rauniticina Allo H-3α ; H-20α ; H-19α 2 3 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 CH3O- 134,3 58,0 52,8 21,1 107,6 127,0 117,7 119,1 121,0 110,6 135,8 32,5 29,5 107,7 154,3 19,1 76,4 34,2 53,7 168,0 51,0 N H H 3 N 18 H CH3 20 H H3CO2C 15 N H H 19 O 3-Isorauniticina Epiallo H3β ; H-20α ; H-19α N H H3CO2C 15 H 18 20 CH3 19 O Mayumbina 19-Epiajmalicina Normal H-3α ; H-20β ; H-19α 134,5 55,0 53,4 21,7 108,2 127,3 117,9 119,3 121,2 110,7 136,1 31,2 31,7 105,9 157,2 17,3 75,8 37,2 49,8 167,7 51,0 134,4 59,6 53,2 21,8 107,9 127,3 117,9 119,2 121,2 110,8 136,0 33,8 36,5 107,8 155,9 18,2 75,5 43,6 56,2 167,3 50,8 3 N H H N H 20 H H3CO2C 15 18 CH3 19 O 19-Epi-3-isoajmalicina Pseudo H-3β ; H-20α ; H-19α 132,4 53,8 50,9 16,8 107,4 127,3 117,6 119,1 121,3 111,1 135,7 31,2 30,8 107,7 155,9 18,0 75,3 43,8 46,8 167,2 50,9 Tabela 13: Dados de RMN de 13C de Alcalóides Heteroioimbínicos I (CDCl3) 46 464 9 6 5 10 2 11 12 N N 3 H 14 H H3CO 2C 21 H 15 16 20 18 CH3 19 O 17 Tetraidroalstonina Nº C Allo: H-3α ; H-20α; H-19β 2 134,4 3 52,6 5 53,3 6 21,7 7 107,6 8 126,9 9 117,8 10 119,0 11 120,9 12 110,6 13 135,8 14 34,2 15 31,2 16 109,3 17 155,5 18 18,4 19 72,3 20 38,3 21 56,0 22 167,8 CH3O51,0 N N H H H H3CO2C N CH3 N H H O Akuamigina Epiallo: H-3β ; H-20α ; H-19β 132,8 54,5 52,2 19,2 106,8 127,2 117,7 119,1 121,2 110,8 135,7 30,6 25,7 107,6 154,8 18,4 73,2 37,2 50,3 167,5 50,9 N H H3CO2C CH3 N H H H O Ajmalicina Normal: H-3α ; H-20β ; H-19β 134,0 59,8 52,7 21,3 106,4 126,6 117,3 118,4 120,5 110,6 135,9 32,1 30,1 106,5 154,5 14,5 73,3 40,2 56,2 167,3 50,6 H3CO2C CH3 O 3-Iso-Ajmalicina Cg4 Pseudo: H-3β ; H-20β ; H-19β 132,0 135,9 54,2 59,7 50,9 53,5 16,8 21,7 106,6 108,1 127,6 129,6 117,8 118,0 119,3 119,3 121,5 121,3 111,2 110,7 135,8 135,9 31,0 34,2 26,0 31,3 106,5 109,5 154,6 155,7 14,9 18,5 73,6 72,4 41,0 38,4 47,3 56,2 167,3 167,9 50,9 51,1 Tabela 14: Dados de RMN de 13C de Alcalóides Heteroioimbínicos II (CDCl3) 47 474 48 Tabela 15: Dados de RMN de 13C e de 1H da tetraidroalstonina e de Cg 4 9 6 5 10 11 N H H 12 3 N 14 15 21 H 20 19 H H3C O 2C 22 Tetraidroalstonina / CDCl3 1 δ H (J em Hz) 16 C H3 18 O 17 Cg 4 / CDCl3 1 δ H (J em Hz) N0.C 2 C 134,4 3 52,6 3,32 d (12,0) 59,7 3,34 dd (10,2) 5α 53,3 21,7 2,54 ddd (12,5; 11,0; 4,0) 2,92 ddd (12,5; 6,0; <1) 2,67 d (largo) 2,87 ddd (15; 6,0; <1 ) 53,5 β α 2,5 – 2,6 m 2,93 ddd (14,0; 5,7; <1) 2,65 d (largo) 2,87 m 6 δ 13 β δ 13 C 135,9 21,7 7 107,6 108,1 8 126,9 129,6 9 117,8 7,42 118,0 7,43 d (7,5) 119,0 a 119,3 7,05 ddd (7,5; 6,0; 1,5) a 10 7,05 11 120,9 7,10 121,3 7,10 ddd (7,5; 6,0; 1,5) 12 110,6 7,24 110,7 7,28 d (parcialmente encoberto) 13 135,8 14α 34,2 135,9 2,50 dt (12,0; 4,0) 1,52 q (12,0; 4,0) 2,76 dt (4; 0,5) β 34,2 15 31,2 16 109,3 17 155,5 7,55 d (0,5) 155,7 7,53 s 18 18,4 1,38 d (6,5) 18,5 1,38 d ( 6,3 ) 19 72,3 4,48 dq (12; 6,5) 72,4 4,48 dq (10,0; 6,0) 20 38,3 1,68 d (largo) 38,4 1,68 m 21 α 56,0 2,72 dd (12,0; 5,0) 3,08 dd (12,0; 3,0) 56,2 2,73 dd (12,0; 6,3) 3,09 dd (12,0; 1,8) β 22 167,8 CH3 O- 51,0 31,3 2,47 dt (12,5; 2,0) 1,51 (encoberto) 2,70 m 109,5 NH LOUNASMAA, M. 400 MHz 167,9 3,74 s 7,86 s (largo) 51,1 3,73 s 7,76 s (largo) 49 9 6 5 10 11 12 N H H 3 N 14 15 21 H 20 H H3CO2C 22 16 19 CH3 18 O 17 Espectro 1: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 4 49 50 9 6 5 10 11 12 N H H 3 N 14 15 21 H 20 H H3CO2C 22 16 19 CH3 18 O 17 Espectro 2: Expansão do espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 4 50 51 Espectro 3: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 4 51 52 9 6 5 10 11 12 N H H 3 N 14 15 21 H 20 H H3CO2C 22 16 19 CH3 18 O 17 Espectro 4: Mapa de contorno COSY de Cg 4 em CDCl3 52 53 4.2.1.2 Identificação estrutural de Cg 5 A substância Cg 5 foi isolada da fração CHCl3, resultante da partição em solventes do extrato bruto metanólico de C.glabratus e foi identificada como o alcalóide mitrafilina. 4 5 9 6 H 21 CH3 H 19 O N 14 7 15 17 3 10 2 11 12 O N H H 16 22CO 2CH (Cg 5) A estrutura da substância Cg 5 foi elucidada com base em dados espectroscópicos de UV, IV, RMN de 1H, de 13 C, DEPT, COSY, HMQC, EM e por comparação destes com os dados descritos na literatura para o alcalóide mitrafilina (HIROKO, 1993). UV, nm: 206, 243, 285, 280 (Espectro 5, pág. 54). IV, νmáx.KBr cm-1: 3429, 2800, 2700, 1724, 1706, 1620, 1296, 1188,1099 (Espectro 6, pág. 64). RMN de 1H, 300,06 MHz / CDCl3, δ ppm e RMN de 13C, (75,5 MHz / CDCl3), δ ppm: dados descritos na Tabela 18, pág. 63 (Espectros 7 e 8, págs. 65 e 66). 54 RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 16, pág. 57 (Espectros 9 e 10, pág. 67 e 68). RMN 2D (13C x 1H HMQC), 75,5 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 17, pág. 58 (Espectro 11, pág.69). EM m/z (int. rel. %): 368 (46,6); 351 (3,9); 223 (100,0); 130 (24,7); 69 (73,8). (Espectro 12, pág. 70). As absorções no UV de Cg 5 (Espectro 5, pág. 54) mostraram o espectro padrão de alcalóide oxindólico heteroioimbínico, apresentando, além das bandas de absorção (transições π → π*) relacionadas a éster α,β insaturado em 206 nm e sistema aromático em 243 nm, as transições n → π* em 280-285 nm, que são proibidas e se caracterizam por baixa absortividade. 0,7 206 Absorbância 0,6 0,5 0,4 243 0,3 0,2 0,1 0,0 200 280 - 285 250 300 Comprimento de onda (nm) Espectro 5: Espectro no UV – Vis de Cg 5 em EtOH, c=1,67.10-5 mol . L-1 55 O espectro de absorção no IV (Espectro 6, pág. 64) mostrou em 3429 cm-1 banda relacionada à (N -H) de indol; em 1724 e 1706 cm-1 absorções correspondentes à (C=O) de éster e amida respectivamente; em 1620 cm -1 banda referente à ligação (C=C) e em 1296, 1188 e 1099 cm -1 absorções correspondentes às ligações (C -O). O espectro de RMN de 1H de Cg 5 (Espectro 7, pág. 65) mostrou sinais correspondentes à estrutura de alcalóide oxindólico heteroioimbínico e apresentou os sinais característicos do núcleo indólico: em δ 7,20 d (J=7,8 Hz) H-9 e em δ 7,04 ddd (J=7,8; 7,8 e 1,0 Hz) H-10; em δ 7,20 ddd (J=7,8; 7,5 e 1,0 Hz) H-11 e em δ 6,85 d (J=7,5Hz) H-12. O espectro também mostrou um multipleto em δ: 2,10 correspondente aos hidrogênios H-15 e H-20; um dubleto em δ 1,87 (J=10,0 Hz) e um duplo dubleto em δ 3,18 (J=10,0 e 2,7 Hz) referentes a H-21; um duplo dubleto em δ 2,41 (J=11,1 e 2,4 Hz) relacionado a H-3 e multipletos em δ 2,51 e 3,38 relativos aos hidrogênios metilênicos H-5, além dos multipletos em δ 2,03 e 2,49 correspondentes aos hidrogênios metilênicos H-6 e dos sinais correspondentes a H14 em δ 2,31 ddd (J=11,1; 2,7; 2,7) e 1,12 (ddd parcialmente encoberto pelo sinal relativo a CH3-18). Estes dados são condizentes com um sistema indolizidínico. Além destes, foi possível observar o dubleto correspondente a H-17, relacionado a C-H em posição β à carbonila α,β insaturada em δ 7,44 (J=1,5 Hz); o duplo quarteto em δ 4,40 (J=6,6; 3,6 Hz) relacionado a H-19; o singleto referente à metoxila em δ 3,61 e o dubleto relacionado ao CH3-18 em δ 1,11 (J=6,6 Hz) que indicaram a presença da unidade secologanínica. O espectro de RMN 13 C de Cg 5 (Espectro 8, pág. 66) mostrou em δ 180,8 sinal relacionado à carbonila de lactama; em δ 55,4 sinal correspondente ao carbono 56 do tipo “spiro” C-7 e em δ 133,7; 122,8; 123,1; 128,1; 109,4 e 140,6 absorções referentes à unidade oxindólica. O espectro também apresentou em δ 54,3; 54,2; 35,0 e 28,2 sinais correspondentes a carbonos metilênicos e em δ 167,3 e 50,6 sinais relativos à carbonila e metoxila de éster que, junto aos sinais em δ 14,7 e δ 154,2 correspondentes respectivamente, ao grupo metílico (C-18) e C-H em posição β à carbonila α,β-insaturada, caracterizaram a unidade secologanínica. O mapa de contorno COSY de Cg 5 (Espectros 9 e 10, pág. 67 e 68) apresentou correlações homonucleares condizentes com a estrutura oxindólica heteroioimbínica. A análise dos dados obtidos revelou correlações entre os hidrogênios aromáticos do núcleo indólico em δ 7,20 d (J=7,8Hz) H-9 e 7,04 ddd (J=7,8; 7,8; 1,0Hz) H-10; em δ 7,20 ddd (J=7,8; 7,5; 1,0Hz) H-11 e 6,85 d (J=7,5Hz) H-12; entre os hidrogênios do esqueleto indolizidínico em δ 2,51 m H-5 e 2,03 m H-6; em δ 2,31 ddd (J=11,1; 2,7; 2,7Hz) H-14 e 2,41 dd (J=11,1; 2,4Hz) H-3; 2,31 ddd (J=11,1; 2,7; 2,7Hz) H-14 e 2,10 m H-15; 1,87 d (J=10,0Hz) H-21 e 2,10 m H-20 e entre os hidrogênios da unidade secologanínica em δ 4,40 dq (J=6,6; 3,6Hz) H-19 e 1,11 d (J=6,6Hz) CH3-18. Os dados das correlações homonucleares do mapa de contorno COSY foram relacionados na Tabela 16. 57 Tabela 16: Correlações homonucleares observadas no mapa de contorno COSY de Cg 5 4 5 9 6 H 7 12 no. H δ 1 H multiplicidade (J/Hz) N H CH 3 H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2C H3 22 no. H δ 1 H multiplicidade (J/Hz) 3 2,41 dd (11,1; 2,4) 14 α 2,31 ddd (11,1; 2,7; 2,7) 5α 2,51 m 6α 2,03 m 5α 2,51 m 6β 2,49 m 6β 2,49 m 6α 2,03 m 9 7,20 d (7,8) 10 7,04 ddd (7,8; 7,8; 1,0) 11 7,20 ddd (7,8; 7,5; 1,0) 12 6,85 d (7,5) 14 α 2,31 ddd (11,1; 2,7; 2,7) 14 β 1,12 ddd (11,1) parcialmente encoberto 15 2,10 m 14 β 1,12 ddd (11,1) parcialmente encoberto 18 1,11 d (6,6) 19 4,40 dq (6,6; 3,6) 20 2,10 m 21 α 1,87 d (10,0) 21 α 1,87 d (10,0) 21 β 3,18 dd (10,0; 2,7) A análise do mapa de contorno HMQC (Espectro 11, pág. 69) de Cg 5 mostrou as correlações entre os carbonos e os hidrogênios do núcleo oxindólico em δ 122,8 C-9 e δ 7,20 d (J=7,8Hz) H-9; em δ 123,1 C-10 e δ 7,04 ddd (J=7,8; 7,8; 1,0Hz) H-10; em δ 128,1 C-11 e δ 7,20 ddd (J=7,8; 7,5; 1,0Hz) H-11; em δ 109,4 C12 e δ 6,85 d (J=7,5Hz) H-12; os do anel indolizidínico em δ 54,3 C-5 e 35,0 C-6 relacionados respectivamente aos multipletos em δ 2,51 e 3,38 H-5; e δ 2,03 e δ 2,49 H-6, além dos sinais em δ 28,2 C-14 e δ 54,2 C-21 também correlacionados aos respectivos hidrogênios metilênico em δ 2,31 ddd (J=11,1; 2,7; 2,7Hz) e 1,12 ddd (J=11,1) H-14; e em δ 1,87 d (J=10,0Hz) e 3,18 dd (J=10,0;2,7Hz) H-21; e os da 58 unidade secologanínica em δ 154,2 C-17 e δ 7,44 d (J=1,5Hz) H-17; em δ 30,2 C-15 e 2,10 m H-15 e em δ 73,8 C-19 e 4,40 dq (J=6,6; 3.6Hz) H-19, consolidando as atribuições citadas anteriormente. Os dados do mapa de contornos HMQC estão apresentados na Tabela 17. Tabela 17: Correlações heteronucleares observadas no mapa de contorno HMQC de Cg 5 4 5 9 H 6 7 N H 12 o n . do C / H δ 13 C δ 1 H CH3 H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 16 H C O 2C H 3 22 multiplicidade (J/Hz) 3 74,5 2,41 dd (11,1; 2,4) 5α 54,3 β α 35,0 m m m m d (7,8) 9 122,8 2,51 3,38 2,03 2,49 7,20 10 123,1 7,04 ddd (7,8; 7.8; 1,0) 11 128,1 7,20 ddd (7,8; 7,5; 1,0) 12 109,4 6,85 d 14 α 28,2 ddd ddd m 6 β (7,5) 15 30,2 2,31 1,12 2,10 17 154,2 7,44 d (1,5) 18 14,7 1,11 d (6,6) 19 73,8 4,40 dq (6,6; 3,6) 20 40,4 2,10 m 21 α 54,2 β CH3-O- 50,6 1,87 3,18 3,61 d dd s β (11,1; 2,7; 2,7) (11,1) parcialmente encoberto (10,0) (10,0; 2,7) 59 O espectro de massas de Cg 5 (Espectro 12, pág. 70) confirmou a estrutura proposta, mostrando o pico relacionado ao íon molecular em m/e 368. Este dado e os obtidos dos espectros no UV, IV e RMN de 1H e 13 C são condizentes com a estrutura de alcalóide oxindólico heteroioimbínico pentacíclico. O espectro de massas de Cg 5 também mostrou um pico em m/z 351 (M+⋅ - 17) relacionado à perda de radical hidroxílico, (Esquema 5) que caracterizou a natureza oxindólica do alcalóide (BUDZIKIEWIEZ, 1964). _ N H N H N H OH OH N N H N O m/z 351 Esquema 5: Fragmentação de alcalóide oxindólico O espectro de massas de Cg 5 também apresentou pico base em m/z 223, condizente com o de alcalóides oxindólicos pentacíclicos. Este pico é derivado da porção alicíclica da molécula e aparece junto com outro sinal (M+ - correspondente à perda de CH 3 ligado ao C-19 - Esquema 6 (PHILLIPSON, 1975). 15) 60 N N H O COOCH3 O CH2 N CH2 + + N H CH3 O H3COOC O m/z 223 CH2 N + + H3COOC m/z 69 CH2 O Esquema 6: Fragmentação de oxindol heteroioimbínico pentacíclico A presença do núcleo oxindólico em Cg 5 foi também evidenciada pelo fragmento em m/e 130 (Esquema 7). CH2 N H CH2 e- O N H O m/e 130 Esquema 7: Fragmentação de alcalóide oxindólico As análises dos espectros de RMN de 1H, de 13 C, DEPT, COSY, HMQC e EM confirmaram o esqueleto oxindólico heteroioimbínico para Cg 5. 61 Os alcalóides oxindólicos heteroioimbínicos contêm 5 centros quirais (C-3; C15; C-19; C-20 e C-7) e podem apresentar teoricamente 32 estereoisômeros. Nestes oxindóis, do mesmo modo que nos alcalóides heteroioimbínicos, H-15 também é biogeneticamente α, o que restringe o número de estereoisômeros para 16. A classificação dos oxindóis heteroioimbínicos também é similar à utilizada para os alcalóides heteroioimbínicos (normal, pseudo, allo e epiallo). Os do tipo pseudo apresentam impedimento estérico no anel D e facilmente se epimerizam para a configuração normal. Na prática, o número de estereoisômeros é limitado a 12 (SHAMMA et al., 1967). Os alcalóides do tipo normal (H3-α; H-20β; H-19β) caracterizam-se pela relação trans entre os anéis C/D e D/E, apresentando no espectro de RMN de 1H sinais relacionados a H-15 em δ 2,05 - 2,2. Para Cg 5, este sinal apareceu em δ 2,10. Nos oxindóis de configuração normal o valor da constante de acoplamento entre H-15 e H-17 é de 1,3-1,9 Hz. O sinal correspondente a H-17 no espectro de RMN de 1H de Cg 5 apareceu como um dubleto, cuja constante de acoplamento foi de 1,5 Hz. Também o deslocamento químico do sinal relativo a H-3 é influenciado pela estereoquímica do C-7 (“spiro”). Assim, na configuração de oxindóis do tipo normal, o isômero com C-7 “R” mostra o sinal referente a H-3 em δ 2,3-2,4. A substância Cg 5 apresentou este sinal em δ 2,41. O isômero do tipo normal apresenta, nos espectros de RMN de 13 C, o deslocamento químico de C-3 em δ 74,0-74,5, sendo o valor observado para Cg 5 (δ 74,5) condizente com a estereoquímica proposta. A análise de todos estes dados sugeriu que a estereoquímica de Cg 5 fosse a de oxindol com configuração normal. A análise do espectro de absorção no IV (Espectro 6, pág. 64) também contribuiu para a elucidação da estereoquímica de Cg 5. Além das bandas de 62 absorção descritas anteriormente, também foi possível observar Bandas de Bohlmann (BOHLMANN, 1959). Estas bandas ocorrem na região entre 2800 – 2700 cm-1 e evidenciam o efeito do par de elétrons não-compartilhado do nitrogênio em sistemas quinolizidínicos sobre a freqüência de absorção das ligações (C-H) trans de carbonos adjacentes. Os orbitais antiligantes destas ligações são paralelos ao orbital do átomo de nitrogênio que tem os elétrons não-compartilhados. A interação entre estes orbitais fortalece a ligação (C-N), contudo enfraquece as ligações (C-H) trans, que passam a absorver em freqüências menores no infravermelho. Bohlmann deduziu que a simplicidade ou a complexidade relativa destas bandas de absorção em quinolizidinas é devida à natureza equatorial ou axial das ligações (C -H) de carbonos adjacentes ao nitrogênio. A absorção é mais complexa, quando existem pelo menos duas ligações em relação trans ao par de elétrons não-compartilhado do nitrogênio e indica a presença de hidrogênio em posição axial em carbonos adjacentes a este nitrogênio. Ao contrário, quando não há bandas de absorção nesta região, ou aparece uma absorção simples, a ligação (C-H) deve ser equatorial. A presença de Bandas de Bohlmann no espectro de absorção no infravermelho de Cg 5 indica que em carbonos adjacentes ao nitrogênio do esqueleto análogo ao quinolizidínico há ligações (C-H) trans. Esta dedução é indicativa de configuração α para H-3. O resultado das análises dos espectros de UV, IV, EM de Cg 5 e a comparação dos dados de RMN de 1H e 13 C (Tabela 18) com os descritos na literatura permitiram identificar a estrutura de Cg 5 como o alcalóide mitrafilina (HIROKO et al., 1993). 63 Tabela 18: Dados de RMN de1H e de 13C para mitrafilina e Cg 5 4 5 9 6 H 7 3 2 12 19 N 10 11 CH3 H 21 O 15 14 17 16 H O CO2CH3 22 N H Mitrafilina* 0 n . δ 13 δ C 2 3 181,3 74,5 5α 5β 6α 6β 7 8 9 54,2 55,5 133,3 122,8 10 H (JHz) / CDCl3 2,41 dd (11,1; 2,4) 2,50 m 3,39 m 2,03 m 2,49 m 35,1 Cg 5 δ 13 C 180,8 74,5 54,3 35,0 δ 1 H (JHz) / CDCl3 2,41 dd (11,1; 2,4) 2,51 m 3,38 m 2,03 m 2,49 m 7,19 d (7,8) 55,4 133,4 122,8 7,20 d (7,8) 122,4 7,03 ddd (7,8; 7,8; 0,9) 123,1 7,04 ddd (7,8; 7,8; 1,0) 11 128,0 7,18 ddd (7,8; 7,6; 0,9) 128,1 7,20 ddd (7,8; 7,5; 1,0) 12 109,7 6,89 d (7,6) 109,4 6,85 d (7,5) 13 14 α 14 β 15 140,8 28,3 30,4 2,38 ddd (11,1; 2,7; 2,4) 1,21 ddd (11,1; 11,1; 11,1) 2,10 m 16 17 106,9 154,0 18 140,6 28,2 30,2 2,31 ddd (11,1; 2,7; 2,7) 1,12 ddd (11,1) / encoberto 2,10 m 7,43 d (1,3) 106,9 154,2 7,44 d (1,5) 14,8 1,11 d (6,6) 14,7 1,11 d (6,6) 19 73,8 4,37 dq (6,6; 3,2) 73,8 4,40 dq (6,6; 3,6) 20 40,4 2,10 m 40,4 2,10 m 21α 21 β 22 54,3 1,85 dd (10,5; 10,4) 3,22 dd (10,5; 2,2) 54,2 1,87 d (10,0) 3,18 dd (10,0; 2,7) CH3 O- 167,1 50,7 NH * 1 HIROKO et al., 500 MHz. 3,58 s 7,74 s (largo) 167,3 50,6 3,61 s 64 4 5 9 6 H 7 12 N H CH3 H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2C H3 22 Espectro 6: Espectro no IV (pastilhas de KBr) de Cg 5 64 65 4 5 9 6 H 7 12 N H H 19 O N 3 10 11 21 CH 3 2 14 O 15 17 H 16 CO 2C H3 22 Espectro 7: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 5 65 4 5 9 6 H 7 3 12 N H 2 66 CH 3 H 19 O N 10 11 21 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 8: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 5 66 67 4 5 9 6 H 12 7 N H CH3 H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 9: Mapa de contorno COSY de Cg 5 em CDCl3. 67 68 4 5 9 6 H 7 12 N H CH 3 H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 10: Expansão do mapa de contorno COSY de Cg 5 em CDCl3 68 69 4 5 9 6 H 12 7 N H CH3 H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 11: Mapa de contorno HMQC de Cg 5. 69 70 4 5 9 6 H 7 12 N H CH 3 H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2C H3 22 Espectro 12: Espectro de massas (70 eV) de Cg 5 70 71 4.2.1.3 Identificação estrutural de Cg 9 A substância Cg 9 foi isolada da fração alcaloidal proveniente da extração ácido-base realizada com as folhas e galhos de C. glabratus (2a. coleta) e foi identificada como o alcalóide uncarina E. CH3 4 5 9 6 H 7 12 N H H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 (Cg 9) A estrutura de Cg 9 foi elucidada com base em dados espectroscópicos de UV, RMN de 1H, 13 C, DEPT, COSY, HMQC, HMBC, NOESY e por comparação destes com os dados descritos na literatura para Uncarina E (HIROKO et al., 1993). UV, nm:207, 245, 279, 283 (Espectro 13, pág. 72). RMN de 1H, 300,06 MHz / CDCl3, δ ppm e RMN de 13 C, 75,5 MHz / CDCl3, δ ppm : dados descritos na Tabela 23, pág. 80 (Espectros 14 e 15, pág. 81 e 82). RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 19, pág. 75 (Espectro 16, pág. 83). 72 RMN 2D (13C x 1H HMQC), 75,5 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 20, pág.76 (Espectro 17, pág. 84). RMN 2D (13C x 1H HMBC), 75,5 MHz / CDCl3: Dados descritos na Tabela 21, pág. 77 (Espectro 18, pág.85). RMN 2D (13C x 1H NOESY), 75,5 MHz / CDCl3: Dados descritos na Tabela 22, pág. 78 (Espectro 19, pág. 86). As absorções no UV de Cg 9 (Espectro 13, pág. 72) mostraram o padrão característico de alcalóide heteroioimbínico, apresentando transições π → π* em 207 nm relacionadas às duplas ligações conjugadas do grupo éster α,β insaturado, transições π → π* em 245 nm correspondentes ao grupo oxindólico e transições n → em 279-283 nm, que são proibidas e se caracterizam por baixa absortividade. 0,7 207 0,6 0,5 Absorbância * π 0,4 245 0,3 0,2 279 - 283 0,1 0,0 200 250 300 350 Comprimento de Onda (nm) Espectro 13: Espectro no UV – Vis de Cg 9 em EtOH, c= 1,74. 10-5 mol.L-1. 73 O espectro de RMN de 1H (Espectro 14, pág. 81) apresentou os sinais característicos do núcleo indólico relacionados ao H-9 em δ 7,28 (parcialmente encoberto pelo solvente); ao H-10 em δ 7,02 dd (J=7,5; 7,5 Hz); ao H-11 em δ 7,18 ddd (J=7,5; 7,5; 1,2 Hz) e ao H-12 em δ 6,83 d (J=7,5 Hz). O espectro também mostrou em δ 1,41 (J=6,3 Hz) um dubleto correspondente a CH3-18; em δ 3,60 um singleto atribuído ao grupo metoxila; em δ 7,41 singleto referente ao H-17; em δ 4,34 (J=12,6; 6,3 Hz) um duplo quarteto relativo ao H-19, originado do acoplamento com CH3-18 e também do acoplamento diaxial entre H-19 e H-20. Estes sinais foram característicos da unidade secologanínica. Além deles, também foram verificados sinais condizentes com um sistema indolizidínico, como o multipleto em δ 2,50 relacionado ao H-15 α, o singleto em δ 1,58 correspondente ao H-20 e três duplos dubletos em δ 2,54 (J=11,7; 2,7 Hz) relativo ao H-3 α acoplado diaxialmente com H14; em δ 2,41 (J=11,7; 3,6 Hz) e 3,28 (J=11,7; 1,8 Hz) referentes ao CH2-21 α e β, respectivamente . O espectro de RMN de 13 C de Cg 9 (Espectro 15, pág. 82) apresentou sinais concordantes com os da estrutura de alcalóide oxindólico heteroioimbínico, mostrando deslocamentos correspondentes ao esqueleto oxindólico em δ 57,0 (C-7) relacionado ao carbono “spiro”, em δ 180,8 (C=O) e δ 124,9 (C-9); 122,8 (C-10); 110,0 (C-11) e 109,5 (C-12). Os sinais em δ 167,8 (C=O); 110,0 (C-16) e 155,2 (C17) são relativos à carbonil a α,β-insaturada que, junto com os deslocamentos correspondentes ao carbono do grupo metila C-18 em δ 18,8; δ 72,4 (C-19); 38,1(C20) e δ 30,7 (C-15), confirmaram a unidade secologanínica. Os sinais relacionados a carbonos metilênicos em δ 54,3 (C-5); 35,0 (C-6); 30,4 (C-14) e 53,7 (C-21) junto aos 74 sinais para os carbonos metínicos em δ 71,6 (C-3); em δ 30,7 (C-15) e em δ 38,1 (C20) confirmaram a presença do esqueleto heteroioimbínico. O mapa de contorno 1 H x 1 H COSY (Espectro 16, pág. 83) mostrou correlações concordantes com a estrutura apresentada para Cg 9. Além das correlações correspondentes à unidade secologanínica entre H -19 em δ 4,34 dq (J=12,6; 6,3Hz) e H-18 em δ 1,41 d (J=6,3Hz); H-19 em δ 4,34 dq (J=12,6; 6,3Hz) e H-20 em δ 1,58 m, H-15 em δ 2,50 m e H-20 em δ 1,58 m, também foi possível observar as correlações entre os hidrogênios aromáticos H-9 em δ 7,28 (parcialmente encoberto) e H-10 em δ 7,02 dd (J=7,5; 7,5Hz); H-11 em δ 7,18 ddd (J=7,5; 7,5; 1,2Hz) e H-10 em δ 7,02 dd (J=7,5; 7,5Hz); H-11 em δ 7,18 ddd (J=7,5; 7,5; 1,2Hz) e H-12 em δ 6,83 d (J=7,5Hz). Além das correlações entre H-6 α em δ 2,0 m e H-5 α em δ 2,46 ddd (J=7,5; 7,5; 7,5) e H-5 β em δ 3,25 ddd (J= 7,5; 7,5; 2,3) verificou-se também as correlações entre os hidrogênios geminais H-14 α em δ 1,58 (encoberto) e H-14 β em δ 0,87 ddd (11,7; 11,7; 11,7), que completaram o esqueleto carbônico proposto para Cg 9 (Tabela 19, pág 75). 75 Tabela 19: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Cg 9 CH 3 4 5 9 6 H 7 12 o n .H δ N H 19 O N 3 10 11 H 21 2 1 H multiplicidade (J / Hz) 15 14 17 16 H O CO 2C H3 22 o n .H δ 1 H multiplicidade (J / Hz) 9 7,28 parcialmente encoberto 10 7,02 dd (7,5; 7,5) 11 7,18 ddd (7,5; 7,5; 1,2) 12 6,83 d (7,5) 10 7,02 dd (7,5; 7,5) 18 1,41 d (6,3) 20 1,58 m 19 4,34 dq (12,6; 6,3) 21 β 3,28 dd (11,7; 1,8) 21 α 2,41 dd (11,7; 3,6) 5β 3,25 ddd 6α 2,0 m 5α 2,46 ddd 6α 2,0 m 15 2,50 m 20 1,58 m 14 α 1,58 encoberto 14 β 0,87 ddd (11,7; 11,7; 11,7) A análise do mapa de contorno HMQC (Espectro 17, pág. 84) de Cg C9 mostrou as correlações entre carbonos e hidrogênios do núcleo oxindólico, do esqueleto indolizidínico e da unidade secologanínica, confirmando todas as atribuições descritas anteriormente. Os dados do mapa de contorno HMQC estão apresentados na Tabela 20, pág. 76. 76 Tabela 20: Correlações heteronucleares observadas no mapa de contorno HMQC de Cg 9 CH 3 4 5 6 9 7 3 o n .C/H δ 13 C 2 N H 12 δ H 19 O N H 10 11 21 1 15 14 17 H O 16 CO 2C H3 22 H multiplicidade (J /Hz) 3 71,6 2,54 dd (11,7; 2,7) 5 54,3 35,0 9 124,9 ddd ddd m m d (7,5; 7,5; 7,5) (7,5; 7,5; 2,3) 6 2,46 3,25 2,37 2,0 7,28 (parcial./ encoberto) 10 122,8 7,02 dd (7,5; 6,0) 11 127,9 7,18 ddd (9,0; 7,5; 1,2) 12 109,5 6,83 d (7,8) 14 30,4 30,7 s ddd m (largo) 15 1,58 0,87 2,50 17 155,2 7,41 s 18 18,8 1,41 d (6,3) 19 72,4 4,34 dq (12,6; 6,3) 20 38,1 1,58 m 21 53,7 CH3-O- 51,2 2,41 3,28 3,60 dd dd s (11,7; 3,6) (11,8; 1,8) O mapa de contorno HMBC (Espectro 18, pág. 85) para Cg 9, além das correlações heteronucleares 13 C x 1 H entre os carbonos aromáticos do núcleo indólico (C-10; C-12) e os hidrogênios (H-12; H-10), apresentou também correlações correspondentes à unidade secologanínica de C -20 com os hidrogênios metílicos 77 (CH3-18); de C-16 com o hidrogênio olefínico (H-17) e da carbonila do grupo éster (C-22) com os respectivos hidrogênios da metoxila. As correlações de C-21 com H15; de C-3 com H-5 e de C-7 com H-5 completaram o esqueleto heteroioimbinico proposto para Cg 9 (Tabela 21). Tabela 21: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HMBC de Cg 9 CH 3 4 5 9 6 H 7 12 o n .C δ 13 C N H 19 O N 3 10 11 H 21 2 15 14 17 16 H O CO 2C H3 22 δ 1 o 3 71,6 H (n . do H) / CDCl3 3,25 (H-5) β 7 57,0 3,25 (H-5) β 8 133,9 6,83 (H-12); 7,02 (H-10) 10 122,8 6,83 (H-12) 12 109,5 7,02 (H-10) 16 110,0 7,41 (H-17) 19 72,4 3,28 (H-21); 2,50 (H-15); 1,41 (CH3-18) 20 38,1 1,41 (CH3-18) 21 54,3 2,46 (H-5α); 22 167,8 3,60 (-O-CH3) O mapa de contorno NOESY de Cg 9 (Espectro 19, pág. 86) apresentou correlações entre o sinal correspondente a H-19 β em δ 4,34 e H-14 β em δ 0,87; H19 β em δ 4,34 e CH3-18 α em δ 1,41; H-21β em δ 3,28 e CH3-18 α em δ 1,41; H-5β em δ 3,25 e H-6α em δ 2,0; H-5β em δ 3,25 e H-5α em δ 2,46; H-15 em δ 2,50 e H20 em δ 1,58 Tabela 22, pág. 78). A análise dos dados do mapa de contorno NOESY de Cg 9 mostrou algumas correlações importantes, por exemplo: a 78 correlação entre H-19 β e H-14 β, sugeriu que a CH3-18 estivesse na posição α; a correlação entre H-21 β e CH3-18 α confirmou a posição β de H-19 e a correlação entre H-15 (biogeneticamente α) e H-20 sugeriu que a posição de H-20 é α. Assim, a interpretação das correlações do mapa de contorno NOESY indicaram a estereoquímica de Cg 9 como um estereoisômero do tipo allo. Tabela 22: Correlações do mapa de contorno NOESY de Cg 9 CH 3 4 5 9 6 H 7 12 o n . do H δ N H H 19 O N 3 10 11 21 2 1 H multiplicidade (J Hz) 14 O 15 17 16 H CO 2C H3 22 o δ 1 19 β 4,34 dq (12,6; 6,3) n . do H 14 β H multiplicidade (J Hz) 19 β 4,34 dq (12,6; 6,3) CH18 α 1,41 d (6,3) 21 β 3,28 dd (11,8; 1,8) CH18 α 1,41 d (6,3) 5β 3,25 ddd (7,5; 7,5; 2,3) 6α 2,0 m 5β 3,25 ddd (7,5; 7,5; 2,3) 5α 2,46 ddd (7,5; 7,5; 7,5) 15 2,50 m 20 1,58 s 5α 2,46 ddd (7,5; 7,5; 7,5) 6α 2,0 m 0,87 m A análise dos dados obtidos do mapa de contorno NOESY foi concordante com a estrutura do alcalóide uncarina E, um oxindol heteroioimbínico do tipo allo (H3α; H-20α; H-19β), que se caracteriza por relações trans entre os anéis C/D e cis entre os anéis D/E. Os deslocamentos químicos dos sinais nos espectros de RMN de 1H e de 13 C podem auxiliar na identificação entre os estereoisômeros heteroioimbínicos. O valor do deslocamento químico do sinal relativo a H-3 é utilizado na identificação da 79 estereoquímica do carbono “spiro” (C-7). Nos estereoisômeros normal e allo 7(S), o sinal correspondente a H-3 aparece em δ 2,5 –2,6 e nos isômeros 7(R) em δ 2,3 – 2,4. Cg 9 mostrou o sinal referente a H-3 em δ 2,54. O espectro de RMN de 13 C apresenta o sinal relativo a C-3 em δ 71,2 – 71,8 nos isômeros do tipo normal e allo (7S), enquanto que nos isômeros (R) os sinais aparecem em δ 74,0 – 74,5. O espectro de RMN de 13 C de Cg 9 mostrou o deslocamento químico de C-3 em δ 71,6. Nos espectros de RMN de 1H dos estereoisômeros dos tipos allo, o sinal relacionado a H-15 aparece em δ 2,4 – 2,5. A substância Cg 9 mostrou este sinal como um multipleto em δ 2,50. A análise destes dados confirmou que Cg 9 é um dos estereoisômeros heteroioimbínicos do tipo allo. A comparação dos espectros de RMN de 1H e de 13 C de Cg 9 com os publicados para a uncarina E (HIROKO et al., 1993), também conhecida como isopteropodina, mostrou dados idênticos e completou a elucidação estrutural de Cg 9 (Tabela 23, pág. 80). 80 Tabela 23: Dados de RMN de1H e de 13C para uncarina E e Cg 9 CH 3 5 9 6 H 7 12 0 n .C N H H 19 O N 14 3 10 11 21 4 2 O 15 17 16 H CO 2C H3 22 Uncarina E δ 13 C 2 3 181,2 71,2 5α 5β 6α 6β 7 8 9 54,1 34,8 56,9 133,7 124,5 10 δ 1 H (JHz) / CDCl3 2,57 dd (11,7; 2,8) 2,46 ddd (7,6; 7,6; 7,6) 3,22 ddd (7,6; 7,6; 2,4) 2,0 ddd (11,9; 7,6; 7,6) 2,39 ddd (11,9; 7,6; 2,4) Cg 9 δ 13 C 180,8 71,6 54,3 35,0 δ 1 H (JHz) / CDCl3 2,54 dd (11,7; 2,7) 2,46 ddd (7,5; 7,5; 7,5) 3,25 ddd (7,5; 7,5; 2,3) 2,0 m 2,37 m 7,27 dd (7,7; 0,7) 57,0 133,9 124,9 7,28 (parcialmente encoberto) 122,5 7,02 ddd (7,7; 7,7; 1,1) 122,8 7,02 dd (7,5; 7,5) 11 127,6 7,19 ddd (7,7; 7,7; 1,3) 127,9 7,18 ddd (7,5; 7,5; 1,2) 12 109,6 6,89 d (7,7) 109,5 6,83 d (7,5) 13 14α 14β 15 140,2 30,1 30,4 1,62 ddd (11,7; 2,8; 2,8) 0,88 ddd (11,7; 11,7; 11,7) 2,51 ddd (11,7; 2,8; 2,8) 16 17 109,9 154,9 18 140,1 30,4 30,7 1,58 (encoberto) 0,87 ddd (11,7; 11,7; 11,7) 2,50 m 7,41 s 110,0 155,2 7,41 s 18,6 1,41 d (6,2) 18,8 1,41 d (6,3) 19 72,1 4,36 dq (10,4; 6,2) 72,4 4,34 dq (12,6; 6,3) 20 37,89 1,59 m (largo) 38,1 1,58 m 21α 21β 22 53,5 2,42 dd (11,9; 3,8) 3,29 dd (11,9; 1,8) 53,7 2,41 dd; (11,7; 3,6) 3,28 dd (11,7; 1,8) CH3 O- 167,5 50,9 NH HIROKO et al.; 500 MHz 3,60 s 167,8 51,2 3,60 s 7,32 81 CH3 4 5 9 6 H 7 12 N H H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 14: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 9 81 82 CH 3 4 5 9 6 H 7 12 N H H 19 N 3 10 11 21 2 O 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 15: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 9 82 83 CH 3 4 5 9 6 H 7 12 N H H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2C H3 22 Espectro 16: Mapa de contorno COSY de Cg 9 em CDCl3 83 84 CH3 4 5 9 6 H 12 7 N H H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 17: Mapa de contorno HMQC de Cg 9. 84 85 CH3 4 5 9 6 H 12 7 N H H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 18: Mapa de contorno HMBC de Cg 9. 85 86 CH3 4 5 9 6 H 7 12 N H H 19 O N 3 10 11 21 2 14 O 15 17 H 16 CO 2CH3 22 Espectro 19: Mapa de contorno NOESY de Cg 9. 86 87 4.2.1.4 Identificação estrutural de Cg 3 A substância Cg 3 foi isolada da fração CHCl3 resultante da partição em solventes do extrato bruto metanólico de C. glabratus e também do precipitado (ppt1) formado durante a adição de hexano ao extrato bruto metanólico de C. glabratus . A substância Cg 3 foi identificada como ácido ursólico (Cg 3). 30 29 20 21 19 12 13 11 25 1 18 22 17 26 14 10 2 16 CO2H 28 15 27 3 7 4 HO 6 23 24 (Cg 3) A estrutura de Cg 3 foi elucidada com base em dados espectroscópicos de RMN de 1H, de 13 C, DEPT, COSY, HETCOR, EM e por comparação destes com os dados descritos na literatura para o ácido ursólico (JEWERS et al., 1971; BISSELS, 1974; RAZDAN et al., 1982). RMN de 1H, 300,06 MHz / CDCl3, δ ppm e RMN de 13 C, 75,5 MHz / CDCl3, δ ppm: dados descritos na Tabela 26, pág. 93 (Espectros 20 e 21, pág. 94 e 95). RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 24, pág. 89 (Espectro 22, pág. 96). 88 RMN 2D (13C x 1H HETCOR), 75,5 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 25, pág. 90. (Espectro 23, pág. 97). EM m/z (int. rel. %): 456 (1,1) [M⋅+]; 411 (1,1) [M⋅+-CO2H]; 248 (100,0); 207 (27,9); 203 (58,2) [248 – CO2H]; 189 (22,5); 133 (72,6). Espectro 24, pág. 98. O espectro de RMN de 1H de Cg 3 (Espectro 20, pág. 94) apresentou um tripleto largo em δ 5,22, correspondente ao hidrogênio olefínico H-12, um duplo dubleto em δ 3,14 relacionado ao H-3 e um dubleto em δ 2,19 correspondente ao H18. Além destes, o espectro de RMN de 1H exibiu singletos relacionados a cinco grupos de hidrogênios metílicos em δ 1,11; 0,96; 0,84 e 0,76 (H-27; H-23, H-24, H-26 e H-25); e dois dubletos em δ 0,95 e 0,87 correspondentes aos H-30 e H-29. O espectro de RMN de 13 C de Cg 3 (Espectro 21, pág. 95) revelou 30 sinais e o DEPT mostrou 7 C0, 7CH, 9 CH2 e 7 CH3. Além dos sinais de carbonos metilênicos em δ 38,1 (C-1); 27,8 (C-2); 19,4 (C-6); 34,3 (C-7); 24,3 (C-11); 29,1 (C15); 25,2 (C-16); 31,7 (C-21); 40,4 (C-22) e metílicos em δ 28,7 (CH3-23); 15,9 (CH324); 16,3 (CH3-25); 17,5 ((CH3-26); 24,0 ((CH3-27); 17,7 (CH3-28) e 21,5 (CH3-30), o espectro de RMN de 13 C também mostrou as absorções em δ 79,7 (C-3) referentes a carbono oximetínico, em δ 181,9 (C-28) correspondente à carbonila de ácido e em δ 139,8 e 127,0 (C-12 e C-13) sinais relacionados a carbonos olefínicos. O mapa de contorno 1H x1H COSY de Cg 3 (Espectro 22, pág. 96) mostrou correlações entre H-12 (δ 5,22) e H-11 (δ 1,92) ; entre H-18 (δ 2,19) e H-19 (δ 1,32 – 1,37). Além destas, foi possível identificar os valores dos deslocamentos químicos relativos a H-2 (δ 1,55), através da correlação com H-3 (δ 3,14). O mapa de contorno 89 COSY de Cg 3 também confirmou a atribuição de H-19 em δ 1,32-1,37, através da correlação com o grupo metila CH3-29 em δ 0,87. Os dados obtidos do mapa de contorno 1H x1H COSY de Cg 3 estão relacionados na Tabela 24. Tabela 24: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Cg 3 30 29 20 21 19 12 13 11 25 1 14 10 CO2H 28 15 7 4 HO 6 23 δ 16 27 3 o 22 17 26 2 n .H 18 24 1 o H multiplicidade (J / Hz) n .H δ 1 H multiplicidade (J / Hz) 12 5,22 t 11 1,92 m 3 3,14 dd (11,2; 5,1) 2 1,55 dd (9,1; 3,3) 18 2,19 d (12) 19 1,32 – 1,37 m 11 1,92 m 9 1,61 m CH3-29 0,87 d (6,3) H-19 1,32- 1,37 m CH3-30 0,95 d (4,8) H-20 1,62 m O mapa de contorno HETCOR de Cg 3 (Espectro 23, pág. 97) mostrou, além das correlações heteronucleares, 13 C x 1H (Tabela 25, pág. 90) entre os sinais em δ 79,7 (C-3) e o duplo dubleto em δ 3,14 (H-3); em δ 127,0 (C-12) e o tripleto em δ 5,22 (H-12); sete correlações entre carbonos metílicos em δ 28,7 (C-23); 15,9 (C-24); 16,3 (C-25); 17,5 (C-26); 24,0 (C-27); 17,7 (C-29); 21,5 (C-30) e os hidrogênios correspondentes em δ 0,96 (H-23 e H-24); 0,76 (H-25); 0,84 (H-26); 1,11 (H-27); 0,87 (H-29); e 0,95 (H-30), que estão de acordo com um esqueleto triterpênico, confirmando as atribuições descritas anteriormente. 90 Tabela 25: Correlações heteronucleares do mapa de contorno HETCOR de Cg 3 30 29 20 21 19 12 13 11 25 18 22 17 26 1 14 16 CO2H 28 2 10 27 3 4 HO 6 23 o n .C 1 2 3 5 10 11 12 18 19 20 22 23 24 25 26 27 29 30 δ 13 C 38,1 27,8 79,7 56,7 38,1 24,3 127,0 54,4 40,7 40,4 40,4 28,7 15,9 16,3 17,5 24,0 17,7 21,5 15 7 24 δ H (J Hz) multiplicidade 1,67 – 1,65 m 1,15 s (largo) / 1,55 dd (9,1; 3,3) 3,14 dd (11,2; 5,1) 0,76 m 1,67 – 1,65 m 1,92 m e 2,01 m 5,22 t (largo) 2,19 d (12,0) 1,37 – 1,32 m 0,95 (encoberto) 0,95 (encoberto) 0,96 s 0,96 s 0,76 s 0,84 s 1,11 s 0,87 d (6,3) 0,95 d (4,8) A análise do espectro de massas (Espectro 24, pág. 98) mostrou o pico do íon molecular em m/z 456, sugerindo um triterpeno como o ácido ursólico ou oleanólico. O pico base em m/z 248 no espectro de massas é referente à clivagem retro-Diels-Alder de oleanos ou ursanos ∆12, que possuem um grupo carboxílico e não têm hidroxilas nos anéis D e E. Além destes, o espectro de massas mostrou o padrão de fragmentação de triterpenos ∆12, descritos na literatura (OGUNKOYA, 91 1981) e os sinais em m/z 411 [M+ - CO2H] e m/z 203 [248 - COOH] confirmaram a presença do grupo carboxila (Esquema 8). E D CO 2H A Fragmentação Retro Diels Alder HO B m/z m/z 456 411 CO2H - m/z CO 2H HO m/z 248 - - CO 2H CH2 m/z 203 189 - 70 CH2 CH2 m/z HO 133 m/z 207 Esquema 8: Rota para fragmentação do ácido ursólico A análise dos dados obtidos dos espectros de RMN de 1H e 13 C indicou um esqueleto triterpênico para Cg 3, e a multiplicidade dos sinais correspondentes a H18 e dos relacionados com CH3-29 e CH3-30 determinou um triterpeno da série ursano. Se Cg 3 fosse da classe oleano, H-18 seria relacionado a um duplo dubleto, uma vez que C-19 nos oleanos é um carbono metilênico. Os dois dubletos em δ 0,87 e 0,95 relacionados aos hidrogênios metílicos H-29 e H-30, respectivamente, 92 também indicaram um esqueleto carbônico condizente com triterpenos da classe dos ursanos, já que os da série oleano apresentam sete singletos nesta região. A análise dos dados obtidos dos espectros de massas e de RMN de 1H e de 13 C de Cg 3, e dos publicados sobre o ácido ursólico (Tabela 26) confirmaram a estrutura de Cg 3. 93 Tabela 26: Dados de RMN de 13C e de 1H do ácido úrsólico e de Cg 3 30 29 20 21 19 12 13 11 25 14 2 10 27 3 HO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 C 38,8 27,3 78,8 38,8 55,4 18,4 33,0 39,6 47,5 37,0 23,3 125,5 138,0 42,0 28,2 24,3 48,1 52,8 39,1 38,8 30,7 36,7 28,2 15,5 15,7 16,7 23,6 177,7 16,9 21,2 δ 15 24 Ácido ursólico* δ CO2H 28 6 23 n .C 16 7 4 13 22 17 26 1 0 18 1 H (JHz) / piridina-d5 3,40 t 5,45 s (largo) 2,8 d (11) 1,23 s 0,87 s 1,04 s 1,01 s 1,21 s 0,93 d (5,4) 0,98 d (6,3) Cg 3 δ 13 C 38,1 27,8 79,1 39,8 56,7 19,4 34,3 39,9 48,0 38,1 24,3 127,0 139,8 43,2 29,1 25,2 48,0 54,4 40,7 40,4 31,7 40,4 28,7 15,9 16,3 17,5 24,0 181,9 17,7 21,5 δ 1 H (JHz) / CD3OD 1,15 s (largo) / 1,55 dd (9,1; 3,3) 3,14 dd (11,2; 5,1) 0,76 m 1,67 – 1,65 m 1,92 m e 2,01 m 5,22 t (largo) 2,19 d (12,0) 1,37 – 1,32 m 0,96 s 0,96 s 0,76 s 0,84 s 1,11 s 0,87 d (6,3) 0,95 d (4,8) 94 30 29 20 21 19 12 13 11 25 18 22 17 26 1 14 16 CO2H 28 2 10 27 3 15 7 4 HO 6 23 24 Espectro 20: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 3 94 95 30 29 20 21 19 12 13 11 25 18 22 17 26 1 14 16 CO2H 28 2 10 27 3 15 7 4 HO 6 23 24 Espectro 21: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 3 95 96 30 29 20 21 19 12 13 11 25 18 22 17 26 1 14 16 CO 2H 28 2 10 27 3 15 7 4 HO 6 23 24 Espectro 22: Mapa de contorno COSY de Cg 3 em CDCl3 96 97 30 29 20 21 19 12 13 11 25 18 1 14 2 10 27 3 22 17 26 16 CO2H 28 15 7 4 HO 6 23 24 Espectro 23: Mapa de contorno HETCOR de Cg 3 em CDCl3. 97 98 30 29 20 21 19 12 13 11 25 18 22 17 26 1 14 16 CO2H 28 2 10 27 3 15 7 4 HO 6 23 24 Espectro 24: Espectro de massas (70 eV) de Cg 3 98 99 4.2.1.5 Identificação estrutural de Cg 7 A substância Cg 7 foi isolada da fração AcOEt, resultante da partição em solventes do extrato bruto metanólico de C. glabratus, e foi identificada como ácido 3-O-β-D-quinovopiranosídeo-28-O-β-glucopiranosídeo quinóvico. 30 29 18 12 25 17 13 26 1 15 CO2H 3 Quinovose COOGlc 28 27 O 23 24 (Cg 7) A estrutura de Cg 7 foi determinada com base em dados espectroscópicos de RMN de 1H, 13 C, DEPT, HMQC, COSY e por comparação destes com os descritos na literatura (ARRIAGA et al., 1990; YÈPEZ et al., 1991) RMN de 1H, 300,06 MHz / CDCl3, δ ppm e RMN de 13 C, 75,5 MHz / CDCl3, δ ppm: dados descritos na Tabela 29, pág. 104 (Espectros 25 e 26, pág. 106 e 107). RMN 2D (13C x 1H HMQC), 75,5 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 27, pág. 101(Espectro 27, pág. 108). RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 28, pág. 102 (Espectro 28, pág. 109). 100 O espectro de RMN de 1H (Espectro 25, pág. 106; Tabela 29, pág. 104) apresentou sinais relacionados a seis grupos metílicos, sendo quatro singletos em δ 0,82 (H-23); δ 1,0 (H-24); δ 0,96 (H-25); δ 0,87 (H-26); e um dubleto em δ 0,90 correspondente aos H-29 e H-30, cuja presença auxiliou na caracterização de Cg 7 como triterpeno da série ursano (na série dos oleanos os sinais correspondentes aos grupos metílicos são todos singletos). Além destes, em δ 5,61 (H-12) um multipleto largo foi condizente com hidrogênio olefínico, em δ 3,09 (H-3) um duplo dubleto correspondente a hidrogênio oximetínico, em δ 2,2 (H-18) a presença de um dubleto foi característica de triterpeno da classe dos ursanos (nos oleanos H-18 corresponderia a um duplo dubleto). O espectro de RMN de 13 C de Cg 7 associado ao espectro de DEPT (Espectro 26, pág. 107) mostrou 40 sinais (8 C0, 16 CH, 9 CH2 e 7 CH3), indicando um triterpeno glicosilado. Além dos sinais de carbonos metilênicos presentes na região compreendida entre δ 62,5-19,2, as absorções em δ179,2 (C-27) e 177,9 (C28) relacionadas à carbonila; em δ 133,3 (C-13) e 130,8 (C-12) correspondentes a carbonos olefínicos, junto com os seis sinais referentes a carbonos metílicos em δ 28,4 (C-23); δ 19,2 (C-24); δ 16,9 (C-25); δ 18,2 (C-26); δ 17,0 (C-29); e δ 21,4 (C30) sugeriram um esqueleto triterpênico como o do ác. quinóvico (Tabela 29). O mapa de contorno HMQC para Cg 7 (Espectro 27, pág. 108) mostrou correlações heteronucleares 13 C x 1H (Tabela 27) entre os sinais em δ 90,7 (C-3) e o duplo dubleto em δ 3,09 (H-3); em δ 130,8 (C-12) e o multipleto em δ 5,61 (H-12); em δ 55,3 (C-18) e o dubleto em 2,27 (H-18); além das correlações entre carbonos metílicos em δ 28,4 (C-23); 19,2 (C-24); 16,9 (C-25); 18,2 (C-26); 17,0 (C-29); 21,4 (C-30) e os hidrogênios correspondentes em δ 0,82 (H-23); 1,0 (H-24); 0,96 (H-25); 0,87 (H-26); 0,90 (H-29 e H-30). 101 Tabela 27: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HMQC de Cg 7 30 29 20 18 12 11 25 1 6' H3C 4' HO HO O 5' 2' 26 14 1' O 3' COO 16 28 1'' COOH OH Glucose 24 13 DEPT 3 90,7 CH 3,09 dd (12; 4,5) 12 130,8 CH 5,61 m 18 55,3 CH 2,27 d (10,2) 23 28,4 CH3 0,82 s 24 19,2 CH3 1,0 s 25 16,9 CH3 0,96 s 26 18,2 CH3 0,87 s 29 17,0 CH3 0,90 d (5,4) 30 δ 1 H (JHz) / CD3OD 21,4 CH3 0,90 d (5,4) ’ 106,5 CH 4,26 d (7,8) ’ 2 75,9 CH 3,25 dd (6,0; 2,4) ’ 5 77,0 CH 3,20 m ’ 18,1 CH3 1,24 d (6,0) ’’ 1 95,6 CH 5,36 d (7,8) 2” 73,9 CH 3,33 m 1 6 3'' 7 27 δ C OH 2'' º NC OH 5'' 5 23 OH Quinovose O 15 8 6 22 17 4'' 6'' 13 9 10 2 3 OH 21 19 O mapa de contorno COSY (Tabela 28, Espectro 28, pág. 109) apresentou, entre outras, correlações entre o sinal em δ 5,61 (H-12) e δ 1,94 (H-11); em δ 5,36 (H-1”) e δ 3,33 (H-2”); em δ 4,26 (H-1’) e δ 3,25 (H-2’); e, em δ 2,27 (H-18) e δ 1,0 (H19). Estes dados, junto com os dados obtidos das correlações do espectro de HMQC (Tabela 27, Espectro 25, pág. 108) possibilitaram identificar os sinais 102 correspondentes ao H-11 em δ 1,94; ao H-2” em δ 3,33, ao H-2’ em δ 3,25 e ao H-19 em δ 1,0. Tabela 28: Correlações homonucleares observadas no mapa de contorno COSY de Cg 7 30 29 20 18 12 1 6' 4' HO HO o n . do H H3C 5' 2' 1' O OH Quinovose 13 14 16 O COO 28 1'' 15 8 6 3' δ 9 10 2 3 O 26 4'' 6'' 22 17 11 25 OH 21 19 COOH OH 5'' OH 2'' OH Glucose 3'' 7 27 5 23 1 24 H multiplicidade (J Hz) o n . do H δ 1 H multiplicidade (J Hz) H-12 5,61 m H-11 1,94 m H-1” 5,36 d (7,8) H-2” 3,33 m H-1’ 4,26 d (7,8) H-2’ 3,25 m H-18 2,27 d (10,2) H-19 1,0 (encoberto) A presença da unidade de açúcar em C-27 ou C-28 na aglicona foi esclarecida através do dubleto em δ 5,36 (H-1”) e pela absorção do carbono em δ 95,6 (C-1”). As unidades glicosídicas presentes na estrutura foram identificadas principalmente através dos sinais correspondentes aos carbonos anoméricos. Em δ 95,6 constatou-se o sinal referente ao carbono anomérico característico da glucose, sendo possível observar também, além do sinal relacionado ao carbono anomérico característico de quinovose em δ 106,5, a presença de um grupo metílico em δ 18,1 (CH3-6’) presente na estrutura da quinovose. Também a análise dos valores das constantes de acoplamento (J=7,8Hz) sobre os sinais correspondentes aos hidrogênios anoméricos das duas unidades glicosídicas indicou que estes estão em posições axiais, evidenciando a configuração β dos carbonos anoméricos. 103 A análise de todos os dados mencionados anteriormente, bem como a comparação entre os valores dos deslocamentos químicos de RMN de 1H e 13 C de Cg 7 com os publicados sobre o ácido 3-O-β-D-quinovopiranosídeo-28-O-βglucopiranosídeo quinóvico descritos na literatura (Tabela 29 e 30), foram concordantes e confirmaram a identificação desta substância. Tabela 29: Dados de RMN 13 C e de 1 H para aglicona do ácido 3-O-β -D- quinovopiranosídeo-28-O-β -glucopiranosídeo quinóvico e de Cg 7 104 30 29 OH OH 12 O 25 26 COO 28 H3C HO HO 0 N.C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 O 27 O OH Quinovose 23 24 ácido 3-O-β -D-quinovopiranosídeo-28-O-β * glucopiranosídeo quinóvico 13 1 δ C δ H multiplicidade (JHz) / CD3OD 39,9 26,4 90,7 40,1 56,8 19,2 38,0 40,8 48,0* 37,8 23,9 130,8 133,3 57,2 27,1 25,8 5,59 m 55,3 40,2 38,2 31,1 37,0 28,5 17,0 17,1 18,2 179,3 177,9 19,2 21,5 Dados de RMN de 2,3 d (10,5) 0,85 s 1,04 s 0,99 s 0,95 s 0,96 d 0,96 d 13 OH Glucose COOH 3 OH Cg 7 δ 13 C 40,0 26,4 90,7 39,9 56,9 19,2 37,8 40,8 48,0 38,2 23,8 130,8 133,3 57,3 27,0 25,8 40,7 55,3 40,2 37,8 31,1 37,0 28,4 19,2 16,9 18,2 179,2 177,9 17,0 21,4 1 δ 1 H multiplicidade (JHz) / CD3OD 3,09 dd (12; 4,5) 1,94 m 5,61 m (largo) 2,27 d (10,2) 1,0 (encoberto) 0,82 s 1,0 s 0,96 s 0,87 s 0,90 d (5,4) 0,90 d (5,4) C (Arriaga, 1990) e dados de RMN de H (Yépez, 1991), 250 MHZ. 105 Tabela 30: Dados de RMN de 13 C e de 1H para as unidades glicosídicas quinovose e glucose do ácido 3-O-β -D-quinovopiranosídeo-28-O-β glucopiranosídeo quinóvico e de Cg 7 30 29 OH OH 12 O 25 26 COO 28 H3C HO HO º n do C O 27 O OH Quinovose 23 24 ácido 3β -O-β -D-quinovopiranosídeo quinóvico 13 1 δ C δ H (JHz) / CD3OD 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ 106,4 76,0 78,1 71,4 77,1 18,1 1” 2” 3” 4” 5” 6” 95,6 73,9 78,7 71,2 78,6 62,5 OH Glucose COOH 3 OH Cg 7 δ 13 C Quinovose 4,31 d (7,5) 106,5 75,9 77,9 72,9 77,0 1,28 s (6) 18,1 Glucose 95,6 73,9 78,6 71,2 78,2 62,5 δ 1 H (JHz) / CD3OD 4,26 d (7,8) 3,25 m 1,24 d (6) 5,36 d (7,8) 3,33 m 106 30 29 18 12 17 25 13 26 COOGlc 1 15 CO2H 3 Quinovose 28 27 O 23 24 Espectro 25: Espectro de RMN de 1H (CD3OD / 300 MHz) de Cg 7 106 107 30 29 18 12 17 25 13 26 1 15 CO2H 3 Quinovose COOGlc 28 27 O 23 24 Espectro 26: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CD3OD) de Cg 7 107 108 30 29 18 12 17 25 13 26 1 15 CO2H 3 Quinovose COOGlc 28 27 O 23 24 Espectro 27: Mapa de contorno HMQC de Cg 7 em CD3OD. 108 109 30 29 18 12 17 25 13 26 COOGlc 1 15 CO2H 3 Quinovose 28 27 O 23 24 Espectro 28: Mapa de contorno COSY de Cg 7 em CD3OD 109 110 4.2.1.6 Identificação estrutural de Cg 6 A substância Cg 6 foi isolada da fração CHCl3 proveniente da partição em solventes do extrato bruto metanólico de C. glabratus e foi identificada como o esteróide β-sitosterol. 29 28 22 21 20 19 23 12 17 11 16 26 25 27 13 18 9 1 10 14 2 HO 24 15 8 3 5 7 6 (Cg 6) A estrutura da substância Cg 6 foi elucidada através da análise dos espectros de RMN de 1H, 13 C, DEPT e comparação destes com os dados da literatura do β- sitosterol (MATIDA et al., 1996; MAHATO, 1994). RMN de 1H, 300,06 MHz / CDCl3, δ ppm e RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CDCl3), δ ppm: dados descritos na Tabela 31, pág. 112 (Espectros 29, 30 e 31, pág. 113, 114 e 115). O espectro de RMN de 1H de Cg 6 (Espectro 29, pág. 113) mostrou um dubleto em δ 5,35 (J=5,1 Hz; H-6) característico de hidrogênio olefínico, sinais relacionados aos hidrogênios metílicos em δ 1,0 (s; CH3-21), 0,92 (d; J=6,6 Hz; CH3- 111 26), 0,85 (d; J=6,6 Hz; CH3-19), 0,83 (d; J=6,6 Hz; CH3-27), 0,81 (d; J=6,6 Hz; CH327) 0,68 (s; CH3-18) e em δ 3,51 um multipleto correspondente ao hidrogênio oximetínico de um núcleo esteroidal. O espectro de RMN de 13 C e DEPT de Cg 6 (Espectros 30 e 31, págs. 114 e 115), além dos outros sinais relacionados a um núcleo esteroidal, também mostrou em δ 140,7 (C0) e 121,7 (C-H) os sinais correspondentes a carbonos olefínicos, em δ 71,8 (C-H) sinal condizente com o de um carbono oximetínico e sinais correspondentes a seis grupos metílicos em δ 11,8; 11,9; 18,7; 19,0; 19,3 e 19,8 relacionados respectivamente aos carbonos C-18, C-19, C-21, C-26, C-27 e C-29. Os valores dos deslocamentos químicos destes e dos demais carbonos da substância Cg 6 foram comparados com os do β-sitosterol registrados na literatura e mostraram-se concordantes (Tabela 31). 112 Tabela 31: Dados de RMN de 13C e de 1H do β -sitosterol e de Cg 6 28 22 21 19 23 12 17 11 16 10 8 5 14 15 7 6 * 0 N .C δ 13 C δ 27 9 1 2 3 26 25 13 18 HO 29 24 20 β -Sitosterol H (JHz) / CDCl3: CD3OD 1:1 1 1 37,2 2 29,9 3 78,2 4 39,0 5 140,6 6 122,6 5,38 d (5,1) 7 31,9 8 31,8 9 50,0 10 36,6 11 21,0 12 39,6 13 42,2 14 56,5 15 24,2 16 28,2 17 55,9 18 11,7 0,70 s 19 19,1 20 36,1 21 18,9 1,02 s 22 33,9 23 26,1 24 45,7 25 29,2 26 18,7 0,93 d (6,6) 27 19,7 0,82 d (6,3) 28 23,1 29 11,9 0,85 d (6,6) * MATIDA, A. K.; 300 MHz δ 13 C 37,2 31,6 71,8 42,2 140,7 121,7 31,8 31,8 50,1 36,4 21,0 39,7 42,2 56,0 24,2 28,2 56,7 11,8 19,3 36,1 19,0 33,9 26,0 45,8 29,1 18,7 19,8 23,0 11,9 Cg 6 1 δ H (JHz) / CDCl3 3,51 m 5,3 d (5,1) 0,68 s 0,85 d (6,6) 1,0 s 0,92 d (6,6) 0,81 d (6,6) 0,83 d (6,6) 113 28 21 22 20 19 17 16 26 25 27 13 18 9 1 10 14 2 HO 24 23 12 11 29 15 8 3 5 7 6 Espectro 29: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 6 113 114 28 21 22 20 19 17 16 26 25 27 13 18 9 1 10 14 2 HO 24 23 12 11 29 15 8 3 5 7 6 Espectro 30: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 6 114 115 28 21 22 20 19 12 17 16 26 25 27 13 18 9 1 10 14 2 HO 24 23 11 29 15 8 3 5 7 6 Espectro 31: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, CDCl3) de Cg 6 115 116 4.2.1.7 Identificação estrutural de Cg 8 A substância Cg 8 foi isolada da fração metanol:H2O, resultante da partição em solventes do extrato bruto metanólico de C. glabratus e foi identificada como ácido 5-O-cafeoilquínico. HO HO 2' 1' 3' HO 4' 1 6 O 7' 8' 9' O COOH 5 4 2 3 OH OH 6' 5' (Cg 8) A estrutura de Cg 8 foi elucidada com base em dados espectroscópicos de RMN de 1H, 13 C, DEPT, COSY e por comparação destes com os dados descritos na literatura sobre o ácido ácido 5-O-cafeoilquínico (SANTOS et al., 2004; CHEMINAT et al., 1988). RMN de 1H, 300,06 MHz / D2O, δ ppm e RMN de 13 C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD), δ ppm: dados descritos na Tabela 33, pág. 119 (Espectros 32, 33 e 34, pág. 120, 121 e 122). RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CD3OD: dados descritos na Tabela 32, pág. 118 (Espectro 32, pág 120). 117 A análise do espectro de RMN de 1H (Espectro 32) de Cg 8 revelou sinais característicos de um grupo cafeoíla devido à presença de dois dubletos em δ 7,61 (J=16,0Hz) e δ 6,35 (J=16,0Hz), relacionados aos hidrogênios olefínicos trans H-7’ e H-8’, além dos sinais correspondentes a hidrogênios aromáticos como os dubletos em δ 7,17 (J=1,8 Hz, H-2’) e 6,92 (J=8,4 Hz, H-5’) e o duplo dubleto em δ 7,09 (J= 8,1; 1,8 Hz, H-6’). O espectro de RMN de 1H também mostrou dois dubletos em δ 2,18 e 2,05 relacionados aos hidrogênios metilênicos H-2 axial e H-2 equatorial, um multipleto em δ 2,15 (H-6) e sinais referentes a três hidrogênios metínicos em δ 4,24 (d, J=3,6 Hz, H-3); em δ 3,87 (dd, J=9,0; 3,3 Hz, H-4) e em δ 5,31 (ddd, J=9,0; 9,0; 4,5, H-5) coerentes com a unidade derivada do ácido quínico e condizente com a estrutura do ácido 5-O-cafeoilquínico. A análise dos espectros de RMN de 13 C e DEPT (Espectro 33 e 34) demonstrou a presença de um grupo cafeoíla, através dos sinais em δ 129,9 (C-1’); 118,0 (C-2’); 147,2 (C-3’); 150,0 (C-4’); 119,1 (C-5’); 125,5 (C-6’); 148,9 (C-7’), 117,7 (C-8’) e 172,0 (C-9’). Os sinais em δ 40,2 (C-2); 41,3 (C-6); 73,6 (C-3); 74,0 (C-5); 75,8 (C-4), 79,7 (C-1) e 183,6 (C-7) confirmaram a unidade derivada do ácido quínico. A análise do mapa de contorno de 1H x 1H COSY (Espectro 35, Tabela 32) mostrou correlações entre H-2 e H-3; entre H-3 e H-4; entre H-4 e H-5 e entre H-5 e H-6, indicando junto com os valores dos deslocamentos químicos de RMN de 13 Ca substituição da unidade derivada do ácido quínico. Além destes, o mapa de contorno de 1H x 1H COSY apresentou correlações entre os hidrogênios aromáticos H-7’ e H5’, entre os hidrogênios olefínicos H-8’ e H-7’ e ausência de correlação com H-2’, que demonstrou a substituição dos carbonos C-1’, C-3’e C-4’do anel aromático. 118 Tabela 32: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Cg 8 HO 6 O 2' HO 1' 3' HO 4' o n .H 2 eq. δ 1 7' 8' 9' O COOH 4 5 2 3 OH OH 6' 5' 1 H multiplicidade (J / Hz) o n .H δ 1 H multiplicidade (J / Hz) 2,05 d (14,0) 3 4,24 d (3,3) 4 3,87 dd (9,0; 3,3) 3 4,24 d (3,3) 4 3,87 dd (9,0; 3,3) 5 5,31 ddd (9,0; 9,0; 4,5) 5 5,31 ddd (9,0; 9,0; 4,5) 6 2,15 m 5’ 6,92 d (8,4) 7’ 7,61 (15,9) A análise dos dados espectroscópicos de Cg 8 e a comparação com os constantes na literatura mostraram-se concordantes com os do ácido 5-Ocafeoilquínico (Tabela 33). 119 Tabela 33: Dados de RMN de 13C e de 1H do ácido 5-O-cafeoilquínico e de Cg 8 HO 6 O 2' HO 1' 9' 8' HO 4' 1 7' 3' O COOH 4 5 2 3 OH OH 6' 5' * 0 n .C δ ácido 5-O-cafeoilquínico 1 C δ H multiplicidade (JHz) /D2O 13 1 79,9 2 axial 40,2 13 C δ Cg 8 H multiplicidade (JHz) /D2O 1 79,7 2,05 d (12) 40,2 1,96 d (12) eq. 2,18 d (14) 2,05 d (14) 3 73,8 4,24 d (3,0) 73,6 4,24 d (3,3) 4 75,9 3,87 dd (10,0; 3,0) 75,8 3,87 dd (9,0; 3,3) 5 74,2 5,33 td (10,5; 10,5; 4,6) 74,0 5,31 ddd (9,0; 9,0; 4,5) 6 41,4 2,15 m 41,3 2,15 m 7 184,7 183,6 1’ 130,1 129,9 ’ 2 118,2 ’ 3 147,4 147,2 ’ 4 150,2 150,0 ’ 5 119,3 6,91 d (8,4) 119,1 6,92 d (8,4) ’ 6 125,7 7,06 d (8,2; 1,8) 125,5 7,09 dd (8,1; 1,8) ’ 7 149,2 7,60 d (15,9) 148,9 7,61 d (15,9) ’ 8 117,8 6,34 d (15,9) 117,7 6,35 d (15,9) ’ 172,3 9 * δ Santos, 300 MHz 7,15 d (1,8) 118,0 172,0 7,17 d (1,8) 120 Espectro 32: Espectro de RMN de 1H (D2O / 300 MHz) de Cg 8 120 121 Espectro 33: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz, D2O) de Cg 8 121 122 Espectro 34: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz, D2O) de Cg 8 122 123 HO 6 O HO 2' 1' 3' HO 4' 8' 6' 1 7' 9' O COOH 5 4 2 3 OH OH 5' Espectro 35: Mapa de contorno COSY de Cg 8 em CD3OD 123 124 4.2.1.8 Identificação estrutural de Cg 1 e Cg 2 As substâncias Cg 1 e Cg 2 foram isoladas da fração hexânica – Cg H proveniente da partição em solventes do extrato bruto de C. glabratus e foram incluídas neste ítem, embora suas respectivas estrutras não tenham sido elucidadas. A análise dos espectros de RMN de 1H (Espectros 36 e 37, pág. 125 e 126) mostrou sinais relacionados a hidrogênios metilênicos em δ 1,25 e metílico em δ 0,88 condizente com materiais constituídos por lipídeos, razão porque Cg 1 e Cg 2 não foram identificados. 125 Espectro 36: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 1 125 126 Espectro 37: Espectro de RMN de 1H (CDCl3 / 300 MHz) de Cg 2 126 127 4.2.2 Ocorrência e importância taxonômica das substâncias isoladas de C. glabratus Atualmente existe grande interesse pela quimiotaxonomia na classificação dos vegetais, pois a existência de um padrão comum no metabolismo secundário das plantas pode fornecer mais evidências de parentesco entre elas do que as similaridades morfológicas. No entanto, ainda são poucos os autores que levam em consideração as características químicas da planta. Os trabalhos de Cronquist (SIMÕES, 2003), por exemplo, citam a ocorrência de metabólitos secundários de cada ordem e família, mas não atribuem grande relevância a estes dados, mesmo que o padrão de distribuição de marcadores taxonômicos como os alcalóides, possa modificar os sistemas de classificação dos vegetais. O gênero Cephalanthus da família Rubiaceae é um membro da tribo Naucleeae, cuja classificação apresenta confusão taxonômica (RAZAFIMANDIMBISON, 2002). A tribo Naucleeae pode ser subdividida em seis subtribos distintas morfologicamente, porém as relações entre elas ainda não foram determinadas. No estudo químico realizado com a espécie Cephalanthus glabratus foram isolados três alcalóides: tetraidroalstonina, mitrafilina e uncarina E. A tetraidroalstonina é um alcalóidede heteroioimbínico pentacíclico muito comum no reino vegetal e está presente não só na família Rubiaceae, mas também em espécies da família Apocynaceae, como, por exemplo, Tabernaemontana cymosa (ACHENBACH, 1997); Ophiorrhiza discolor (ARBAIN, 1991), Amsonia sinensis (LIU, 1991) e Alstonia undulata (GUILLAUME, 1984). A mitrafilina também é um alcalóide heteroioimbínico pentacíclico, mas do tipo oxindólico e que também já foi isolada da espécie Canthium dicoccum (HERATH, 128 1979) da família Rubiaceae. Freqüentemente, a mitrafilina é encontrada nos gêneros Uncaria e Mitragyna (Rubiaceae), sendo que estudos fitoquímicos com as espécies Uncaria guianensis (LAUS, 2003), Uncaria attenuata (TANTIVATANA et al., 1980), Uncaria glabrata (ARBAIN, 1993) relatam o seu isolamento. Da mesma forma, estudos com as espécies Mitragyna stipulosa (HOUGHTON, 1976), Mitragyna rubrostipulata (SHELLARD, 1978) também reportam a presença deste alcalóide. A uncarina E é outro alcalóide heteroioimbínico oxindólico pentacíclico comum no perfil alcaloidal dos dois gêneros de Rubiaceae: Uncaria e Mitragyna. Estudos fitoquímicos com as espécies Uncaria tomentosa (Muhammad, 2002), Uncaria guianensis (LEE, 1999) e Mitragyna parvifolia (SHELLARD, 1968) reportam a presença de uncarina E. O isolamento dos alcalóides tetraidroalstonina, mitrafilina e uncarina E na espécie Cephalanthus glabratus representa um dado importante para o estudo taxonômico do gênero Cephalanthus e mostra com clareza a afinidade existente entre os gêneros Cephalanthus, Uncaria e Mitragyna, bem como sua inclusão na tribo Naucleeae. 4.2.3 Importância farmacológica das substâncias isoladas de Cephalanthus glabratus O estudo químico de C. glabratus resultou no isolamento dos alcalóides heteroioimbínicos: tetraidroalstonina, mitrafilina e uncarina “E”, além dos triterpenos ácido ursólico e ácido 3-O-β-D-quinovopiranosídeo-28-O-β-glucopiranosídeo quinóvico e do ácido clorogênico 5-O-cafeoilquínico. 129 Alcalóides indólicos como a tetraidroalstonina são comuns no reino vegetal e já foram associados à atividade bactericida (HERNANDEZ, 1977). Os oxindóis pentacíclicos heteroioimbínicos como a mitrafilina e uncarina “E” estão presentes freqüentemente nos gêneros Uncaria e são considerados os metabólitos bioativos das espécies U. sinensis e da U. callophylla. A utilização da planta U. sinensis como antitérmica e no tratamento de pertubações nervosas é conhecida na medicina popular (LIU et al., 1993). O emprego da espécie U. callophylla também é conhecido por apresentar atividade hipotensiva (ÚGAZ, 1971). Os triterpenos fazem parte de uma classe de compostos, cujas atividades biológicas são bem avaliadas e a literatura contém várias referências sobre suas atividades antiinflamatória e antialérgica. O ácido ursólico, por exemplo, é reconhecido por suas propriedades antiinflamatória, anti-hiperlipidêmica e hepatoprotetora envolvida com a inibição de substâncias tóxicas do sistema imunológico (LIU, 1995). Triterpenos glicosilados análogos ao ácido 3-O-β-D-quinovopiranosídeo-28-Oβ-glucopiranosídeo quinóvico isolado de C. glabratus, também foram isolados de U. guianensis cujo extrato aquoso das raízes é usado para o tratamento de câncer, artrites, diabetes e como potente agente antiinflamatório (YÈPEZ, 1991). O extrato bruto de U. tomentosa levou ao isolamento de um derivado do ácido quinóvico glicosilado na posição 7, que também demonstrou efetiva atividade antiinflamatória (SEKI et al., 1991). Os ácidos clorogênicos são constituintes do café e, também, são responsáveis por várias atividades biológicas. O ácido clorogênico isolado de C. glabratus - ácido 5-O-cafeoilquínico, por exemplo, já mostrou atividade inibitória sobre o vírus HIV-1 (KWON, 2000). 130 4.3 Estudo farmacológico do extrato bruto de C. glabratus O estudo farmacológico do extrato bruto de C. glabratus compreende os resultados das avaliações de suscetilibidade antibacteriana e antifúngica; atividade antiedematogênica, atividade moluscicida e atividade antiproliferativa. 4.3.1 Avaliação da suscetibilidade antibacteriana e antifúngica A suscetibilidade antibacteriana e antifúngica foi avaliada pelo método de microdiluição. A Tabela (34) apresenta a concentração mínima inibitória (CMI) ou concentração mínima de extrato bruto de C.glabratus dissolvido em DMSO, capaz de inibir o crescimento microbiano e concentração mínima bactericida (CMB) ou concentração mínima de extrato bruto de C.glabratus em DMSO, capaz de matar as bactérias Staphilococus aureus, Bacillus subtilis, Escherichia coli e Pseudomona aeruginosa. A Tabela 34 também mostra a concentração mínima inibitória (CMI) e concentração mínima fungicida (CMF) ou concentração mínima do extrato bruto de C.glabratus em DMSO, capaz de matar o fungo Candida albicans. Tabela 34: Dados de suscetibilidade antibacteriana e antifúngica Cephalanthus glabratus (extrato bruto dissolvido em DMSO) Microorganismo CMI mL 250 > 1000 > 1000 > 1000 µ g/ S. aureus B. subtilis E.coli P. aeruginosa Candida albicans (CMI, CMB, CMF: > 500 µg/ mL inativa; ativa; > 7,8 µg/ mL fortemente ativa) > CMB mL 500 > 1000 > 1000 > 1000 CMF µ g/ > 1000 > 1000 250 – 125 µg/ mL moderadamente ativa; > 15,6 µg/ mL 131 A análise dos dados da Tabela 34 mostrou que o extrato bruto da planta Cephalanthus glabratus não foi ativo frente a maioria dos microrganimos testados, apresentando CMI maiores do que 1000 µg/mL. A CMB de 500 µg/ mL também apresenta ausência de atividade e a CMI frente ao crescimento da bactéria S. aureus mostrou o valor de 250 µg/ mL, que não pode ser considerado expressivo. 4.3.2 Avaliação da atividade antiedematogênica A atividade antiedematogênica foi verificada através da reação inflamatória ao óleo de cróton aplicado na orelha do camundongo. A Tabela 35 mostra que a aplicação tópica de 20 µL em dose única, da solução de extrato bruto C.glabratus em acetona (2,5 mg/orelha) provocou redução significativa (p<0,05) na intensidade da resposta inflamatória. Assim, os dados indicam que a solução de extrato bruto de C. glabratus apresentou efeito antiedematogênico neste modelo experimental. Tabela 35: Efeito da aplicação tópica do extrato bruto de C. glabratus em edema de orelha induzido por óleo de cróton Tratamento Inibição (%) Controle Ä Aumento do peso da orelha (mg) 6,08 ± 0,47 Extrato bruto de C. glabratus 2,2 ± 0,57* 26,69 Óleo de cróton (200 µg/orelha) foi utilizado como agente irritante. A solução de extrato bruto em acetona foi administrada em dose única (2,5 mg/orelha). Valores representam a média ± E.P.M. de 11 a 22 camundongos. P < 0,001 comparado com o controle, ANOVA (teste de Tukey). 132 4,3.3 Avaliação da atividade moluscicida A avaliação da atividade moluscicida do extrato bruto de C.glabratus não mostrou alteração dos batimentos cardíacos dos caramujos da espécie Biomphilaria glabrata, hospedeiro intermediário do parasita Shistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Portanto, os resultados deste ensaio significam que o extrato bruto de C. glabratus não é ativo sobre o caramujo transmissor da esquistossomose. 4.3.4 Avaliação da atividade antiproliferativa A avaliação da atividade antiproliferativa do extrato bruto de C.glabratus foi realizada em culturas de células tumorais humanas Caco-2 (carcinoma intestinal). A análise dos resultados da Figura 3 mostrou inibição de crescimeto celular menor do que 50% em concentrações altas, que não representa efeito antiproliferativo. % de Inibição 100 50 38,4 27,9 8,3 10,8 11,5 0 1 10 100 1000 Concentração (µ g/ml) Figura 3: Atividade antiproliferativa de C. glabratus em células Caco-2 133 5 ESTUDO QUÍMICO E FARMACOLÓGICO DE Palicourea crocea O estudo químico e farmacológico de P.crocea compreende a parte experimental do seu estudo químico, os resultados obtidos e respectiva discussão, bem como o estudo farmacológico do extrato bruto. 5.1 Parte experimental do estudo químico de P. crocea A parte experimental do estudo químico da espécie P. crocea descreve a coleta e secagem da planta, obtenção do extrato bruto, extrações e fracionamentos. 5.1.1 Coleta e secagem da planta P. crocea As folhas e galhos da planta P. crocea foram coletados na planície de inundação do rio Paraná, região de Porto Rico–PR em dezembro de 2000. A espécie vegetal foi identificada pela Profa. Dra. Maria Conceição de Souza do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Maringá e uma exsicata foi depositada no herbário desta universidade sob o número HNPU 2060. As partes aéreas da planta foram secas ao ar e moídas, rendendo 848,3g. 5.1.2 Obtenção do extrato bruto de P.crocea O material moído (848,3g) foi extraído exaustivamente com metanol, deixando-se em maceração à temperatura ambiente. Após a evaporação do 134 solvente, foram obtidos 29,4g de extrato bruto de P.crocea, que foram divididos em duas partes: a primeira parte foi submetida à extração ácido - base e a segunda foi fracionada, utilizando-se solventes em gradiente de polaridade. 5.1.3 Fracionamento de P. crocea O Esquema 9 apresenta uma visão geral do procedimento empregado para o isolamento de substâncias presentes nas folhas e galhos de P .crocea. 135 Partição em Solventes Extrato MeOH 24,26g Fração Hexânica Pc H Fração CHCl3 Pc C Fração AcOEt Pc A Fração MeOH: H2O Pc M CC/Sílica Fração A3’ Ac2O Fração A4’ CCDP (CHCl3:MeOH 20%) CC / Sephadex Fração A3.2’ Fração A5’ Pc Ac CCDP (CHCl3:MeOH 20%) Pc 1 Pc 2 27,9mg 61,5mg CCDP (CHCl3:MeOH 20%) Pc 2 Pc 3 46,7 mg 10,2mg Esquema 9: Procedimento experimental geral empregado para o isolamento das substâncias de Palicourea crocea 135 136 5.1.3.1 Fracionamento do extrato bruto de P.crocea por partição em solventes Uma parte do extrato bruto metanólico de P. crocea (55,09g) foi dissolvida em MeOH:H2O 1:1 e fracionada por sucessivas extrações com solventes em gradiente de polaridade. O procedimento resultou nas frações hexânica - Pc H (0,47g), CHCl3 Pc C (1,79g), AcOEt – Pc A (3,20g) e MeOH:H2O – Pc M (18,80g) (Esquema 10). Extrato MeOH 24,26g MeOH:H2O 1:1 Solução MeOH:H2O 1:1 Extração com hexano Fração Pc H 0,47g Solução MeOH : H2O 1:1 Extração com CHCl3 Fração Pc C 1,79g Solução MeOH : H2O 1:1 Extração com AcOEt Fração Pc A 3,20g Fração Pc M 18,80g Esquema 10: Fracionamento do extrato bruto de P. crocea por partição em solventes 137 5.1.3.1.1 Estudo das frações hexânica – Pc H e clorofórmica – Pc C A fração hexânica - Pc H (0,47g) foi submetida à CC ( ∅ 2,5 cm) contendo 56,4g de sílica gel. As 180 frações obtidas foram reunidas, após análise por CCD, de acordo com a Tabela 36. Tabela 36: Dados obtidos da CC da fração Pc H em sílica gel Eluente Código H1’ Frações reunidas 1-3 Massa (mg) 22,6 Hexano: AcOEt 15% Hexano: AcOEt 20% H2’ 4-7 11,0 Hexano: AcOEt 35% H3’ 8-10 9,4 AcOEt H4’ 11-20 12,4 AcOEt:MeOH 50% H5’ 21-33 30,7 H6’ 34-57 34,0 H7’ 58-111 34,3 H8’ 112-165 38,4 H9’ 166-170 179,8 H10’ 171-180 10,4 MeOH Recuperou-se 81,5% do material inicial O material obtido da CC da fração Pc H apresentou muita clorofila e compostos graxos, razão pela qual estas frações não foram trabalhadas. A análise da fração CHCl3 – Pc C (1,79g) por CCD mostrou um perfil cromatográfico complexo, revelando a presença de alcalóide e vários constituintes com forte fluorescência sob luz UV. Uma parte desta fração (224,0mg) foi submetida a CCDP (CHCl3:MeOH 10%), porém após a separação das faixas, extração e evaporação dos solventes, não foi possível o isolamento de substância pura. 138 5.1.3.1.2 Estudo da fração acetato de etila – Pc A A fração acetato de etila – Pc A (3,20g) foi submetida a CC (∅2,5cm) contendo 45,4g de sílica gel. O procedimento resultou em 6 frações que foram reunidas, após análise por CCD, conforme a Tabela 37. Tabela 37: Dados obtidos da CC da fração Pc A Eluente Código A1’ Frações reunidas 01-29 Massa (mg) 122,6 CHCl3:MeOH 10% Substância isolada (mg) CHCl3:MeOH 15% A2’ 30-35 73,9 CHCl3:MeOH 20% A3’ 36-43 297,3 Pc-2 (11,6) A4’ 44-54 578,2 Pc 1 (27,9) CHCl3:MeOH 60% A5’ 55-71 233,8 Pc 2 (61,5) MeOH A6’ 72-95 203,9 Recuperou-se 47,2% do material inicial A fração A4’ (578,2mg) foi submetida a CCDP (CHCl3:MeOH 20%) e forneceu o alcalóide codificado como Pc-1 (27,9mg). A purificação das frações A3’ (297,3mg) e A5’ (233,8mg) por CCDP (CHCl3:MeOH 20%), resultou no isolamento de 11,6mg e 61,5mg, respectivamente, de outra substância codificada como Pc-2. Parte da fração A3’ (209,3mg) foi purificada em CC em Sephadex LH-20, empregando-se como fase móvel H2O, H2O:MeOH 75% e 50% e MeOH, originando 35 frações, que foram reunidas após CCD (Tabela 38). 139 Tabela 38: Dados obtidos da CC da fração A3’, em Sephadex Eluente Código Massa (mg) 40,0 Substância isolada (mg) A3.1’ Frações reunidas 1-8 H2O H2O:MeOH 75% A3.2’ 9-18 64,0 Pc 2 (35,1) A3.3’ 19-23 13,0 H2O:MeOH 50% A3.4’ 24-25 10,6 MeOH A3.5’ 26-35 40,4 Recuperou-se 80,3% do material inicial A fração A3.2’ (64,0mg) foi submetida a CCDP (CHCl3:MeOH 20%), resultando novamente no isolamento da substância Pc-2 (35,1mg). As faixas restantes das placas preparativas utilizadas na purificação das frações A3.2’ (CC, em Sephadex), A3’ e A4’ foram extraídas com MeOH, filtradas e reunidas. Sucessivas CCDP (CHCl3: MeOH 20%) do resíduo obtido após evaporação do solvente forneceram o alcalóide codificado como Pc 3 (10,2 mg). 5.1.3.1.3 Estudo da fração hidrometanólica – Pc M A análise das placas de CCD da fração MeOH:H2O - Pc M mostrou uma mistura complexa de diversos constituintes e a revelação com o reagente de Dragendorff indicou entre eles a presença de alcalóide. Assim, uma parte desta fração foi submetida a CC em sílica gel e uma amostra da mesma fração foi acetilada. 140 5.1.3.1.3.1 Purificação da fração MeOH:H2O – Pc M Uma parte da fração MeOH:H2O (6,8g) foi fracionada em CC (∅2,5cm) em sílica gel (77,0g), coletando-se 101 frações que foram reunidas, após análise através de CCD, conforme a Tabela 39. Tabela 39: Dados obtidos da fração Pc M Eluente Código M1’ Frações reunidas 1-13 Massa (mg) 34,2 CHCl3:MeOH 25% CHCl3:MeOH 30% M2’ 14-17 26,9 M3’ 18-20 31,6 M4’ 21-27 146,6 M5’ 28 22,6 M6’ 29-33 37,4 M7’ 34 63,7 CHCl3:MeOH 40% M8’ 35-65 53,0 CHCl3:MeOH 50% M9’ 66 28,1 M10’ 67-74 67,6 CHCl3:MeOH 60% M11’ 75-83 167,6 CHCl3:MeOH 70% N12’ 84 60,4 M13’ 85-87 359,9 CHCl3:MeOH 80% M14’ 88-99 409,5 MeOH M15’ 100-101 100,7 CHCl3:MeOH 35% Substância isolada (mg) Pc1 (22,6) Pc2 (63,7) Recuperou-se 23,7% do material inicial. As frações M5’ e M7’ forneceram as substâncias puras já isoladas Pc 1 (22,6mg) e Pc 2 (63,7mg). As frações que apresentaram quantidade maior de material (M4’, M11’, M13’, M14’ e M15’) foram fracionadas por CC em sílica gel, originando material polimérico e misturas de açúcares não identificados. 141 5.1.3.1.3.2 Acetilação da fração MeOH:H2O – Pc M Uma parte da fração MeOH:H2O - Pc M (1,7g) foi dissolvida em 1,0 mL de anidrido acético e permaneceu 7 horas sob agitação à tempe ratura ambiente. Extraiu-se a mistura reacional com AcOEt e a solução resultante foi lavada em água, seca com Na2SO4 e filtrada. O material sólido originado após a evaporação do solvente foi codificado como F Ac (138,7mg) e purificado por CC (∅ 1,5cm) em sílica gel (20,50g), obtendo-se 53 frações que foram reunidas, após análise por CCD, conforme a Tabela 40. Tabela 40: Dados obtidos da CC de F Ac, em sílica gel Eluente Código M2.1’ Frações reunidas 1-2 Massa (mg) 8,8 CHCl3:MeOH 10% M2.2’ 3-5 43,6 M2.3’ 6-16 9,8 M2.4’ 17-36 3,3 CHCl3:MeOH 20% M2.5’ 37-38 4,6 MeOH M2.6’ 39-53 4,2 Substância isolada (mg) Pc Ac (9,8) Recuperou-se 53,6% do material inicial. A análise da fração M2.3’ por CCD mostrou uma substância pura com fluorescência sob irradiação UV em 254 e 366nm e a revelação com reagente de Dragendorff indicou um alcalóide, que foi codificado como Pc Ac (9,8mg). 142 5.1.3.2 Fracionamento do extrato bruto de P. crocea por extração ácido-base A outra parte do extrato bruto metanólico da planta P.crocea (5,1g) foi submetida à extração ácido - base, de acordo com o Esquema 11. Extrato MeOH 5,1g Dissolução em solução de HCl 5% Extração com CHCl3 Fração CHCl3 Não Alcaloidal 4,26g Fração CHCl3 Alcaloidal 0,50g CCDP CHCl3:MeOH 15% Pc 1 30,3 mg Fração Aquosa-ácida Basificação com NH4OH (pH 12) Extração com CHCl3 Fração Aquosa-básica Extração com CHCl3:MeOH 1:1 Fração CHCl3: MeOH 0,20g Fração Aquosa 0,09g Esquema 11: Fracionamento do extrato bruto de P. crocea por extração ácidobase 5.1.3.2.1 Estudo da fração CHCl3 alcaloidal de P. crocea A análise por CCD da fração CHCl3 alcaloidal resultante do fracionamento por extração ácido – base da planta P.crocea revelou a presença de alcalóide e uma 143 amostra de 50,0mg foi submetida a CCDP (CHCl3:MeOH 15%), isolando-se o alcalóide codificado como Pc 1 (30,3mg). 5.1.3.2.2 Estudo da fração CHCl3 não-alcaloidal de P.crocea A fração CHCl3 não-alcaloidal (4,26g) proveniente da extração ácido - base do extrato bruto de P. crocea foi fracionada por CC em sílica gel (27,63g), utilizando - se solventes em gradiente crescente de polaridade, originando 9 frações, conforme a Tabela 41. Tabela 41: Dados obtidos da CC da fração CHCl3 não-alcaloidal de P. crocea Eluente Hexano: CHCl3 20 % C1’ Massa (mg) 19,2 Hexano:CHCl3 50% C2’ 67,5 Hexano:CHCl3 75 % C3’ 900,0 C4’ 73,1 CHCl3: MeOH 10 % C5’ 700,0 CHCl3: MeOH 20 % C6’ 651,4 CHCl3: MeOH 50 % C7’ 521,5 CHCl3: MeOH 75 % C8’ 137,1 C9’ 68,1 CHCl3 MeOH Frações Recuperou-se 73,6% do material inicial As frações C1’, C2’, C4’, C8’ e C9’ não foram trabalhadas, porque apresentaram um perfil cromatográfico muito complexo. As frações C3’, C5’, C6’ e C7’ foram submetidas a colunas cromatográficas em sílica gel, mas não foi possível obter substâncias puras, pela dificuldade de separação de uma mistura com perfil cromatográfico complexo, pela presença de clorofila e compostos graxos em altas concentrações. 144 5.1.3.2.3 Estudo das frações aquosa e hidrometanólica de P. crocea As frações aquosa e hidrometanólica provenientes da extração ácido – base do extrato bruto metanólico de P. crocea foram trabalhadas, tentando-se precipitação e filtração em Sephadex. As análises por CCD das frações resultantes mostraram uma mistura de substâncias. 5.2 Resultados e discussão do estudo químico de P. crocea Os resultados e discussão do estudo químico de P.crocea inclui a elucidação estrutural das substâncias isoladas desta planta e descreve o estudo farmacológico realizado com o respectivo extrato bruto. 5.2.1 Determinação estrutural das substâncias isoladas de Palicourea crocea A determinação estrutural descreve os resultados e discussões das análises realizadas para a elucidação estrutural das substâncias isoladas de P.crocea. Os estudos revelaram a presença de alcalóides indólicos codificados como Pc 1, Pc 2 e Pc 3. A determinação estrutural da substância Pc Ac também é apresentada. 145 5.2.1.1 Determinação estrutural de Pc 1 O alcalóide codificado como Pc 1 foi isolado como um sólido amorfo da fração alcaloidal proveniente da extração ácido base e das frações AcOEt e MeOH:H2O provenientes do fracionamento em solventes de P. crocea. 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 (Pc 1) A estrutura de Pc 1 foi identificada através da análise dos espectros de massas (ESEMAR), RMN de 1H, 13 C, DEPT, COSY, HETCOR, HMBC, NOESY, [α]D e CD. ESEMAR, m/z: 529.2256 (100) Espectro 38, pág. 158. RMN de 1H, 300,06 MHz / CD3OD, δ ppm e RMN de 13 C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD), δ ppm: dados descritos na Tabela 47, pág. 157 (Espectros 39, 40 e 41, pág. 159, 160 e 161). RMN 2D (13C x 1H HMBC), 75,5 MHz / CD3OD: Dados descritos na Tabela 43, pág. 150 (Espectro 42, pág. 162). 146 RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CD3OD: dados descritos na Tabela 44, pág 151 (Espectro 43 , pág. 163). RMN 2D (13C x 1H HETCOR), 75,5 MHz / CD3OD: dados descritos na Tabela 45, pág 153 (Espectro 44, pág 164). RMN 2D (13C x 1H NOESY), 75,5 MHz / CD3OD: Dados descritos na Tabela 46, pág. 154 (Espectros 45 e 46, págs. 165 e 166). [α]25 D –11 0(em MeOH, c=0,003 mg mg. mL-1) O espectro de massas de alta resolução, obtido por “eletrospray” - ESEMAR de Pc 1 (Espectro 38) apresentou pico em m/z 529.2256, condizente com a fórmula molecular C27H32N2O9. O espectro de RMN 1H (Espectro 39, pág. 159) apresentou sinais para quatro hidrogênios aromáticos, sendo dois dubletos em δ 7,40 (J=7,5Hz, H-9) e 7,28 (J=7,5Hz, H-12) e dois duplo tripletos em δ 7,05 (J=7,5; 1,2Hz, H-11) e 6,97 (J=7,5; 1,2Hz, H-10). Estes sinais associados aos multipletos observados em δ 3,08-3,14 (H-5) e 2,78-2,84 (H-6) são característicos da presença de um sistema tetraidro-βcarbolínico. O espectro de RMN de 1H de Pc 1 mostrou ainda singletos em δ 7,55 (H-17) e δ 3,71 (3H), típico de um grupo carbometóxi α,β-insaturado, dois dubleto de dubletos em δ 2,92 (J=15,9; 10,0; 2,7Hz) e δ 2,14 (J=15,9; 9,3; 1,0Hz,) correspondentes aos hidrogênios metilênicos H-14, além do dubleto em δ 5,16 (J=9,0Hz, H-21) e dos multipletos em δ 3,30 (H-15) e δ 2,82 (H-20). Estes sinais em conjunto com os observados na região de δ 3,07 a 3,84 e em δ 4,80 (H-anomérico) 147 sugeriram a presença de uma unidade secoiridoidal glicosilada. A unidade glicosídica foi definida como uma β-glucopiranose, através do valor da constante de acoplamento do hidrogênio anomérico em δ 4,80 (J=7,8Hz) e do deslocamento químico relacionado ao respectivo carbono anomérico em δ 100,4. O espectro de RMN de 13 C e DEPT de Pc 1 (Espectro 40 e 41, págs. 160 e 161) também mostrou sinais relacionados a carbonos aromáticos em δ 134,3 (C-2); 108,6 (C-7); 128,4 (C-8); 118,8 (C-9); 119,9 (C-10); 122,4 (C-11); 112,4 (C-12), 138,0 (C-13), além do sinal em δ 53,7 (C-3) e dos correspondentes aos carbonos metilênicos em δ 41,8 (C-5) e 22,0 (C-6) que confirmaram o esqueleto carbônico tetraidro-β-carbolínico. Além destes, os sinais em δ 37,5 (C-15); δ 112,2 (C-16); δ 153,5 (C-17); δ 49,0 (C-20); δ 98,9 (C-21) corresponderam a uma unidade secologanínica. Estas informações levaram-nos a propor inicialmente que a substância Pc 1 tratava-se de um alcalóide indólico monoterpênico glicosilado similar à aqueles comumente isolados do gênero Palicourea. A comparação dos dados de RMN de 13 C e 1H publicados para o ácido estrictosidínico (ARBAIN et al., 1993) com os obtidos para Pc 1 foi concordante para os deslocamentos químicos (δC/δH) dos sinais correspondentes ao sistema tetraidro-β-carbolínico, à unidade glicosídica e à maioria dos sinais correspondentes a unidade monoterpênica (Tabela 42). No entanto, os sinais correspondentes aos carbonos e hidrogênios do grupo vinilidênico (C-18 e C-19) da unidade monoterpênica não foram observados para Pc 1. Ao invés disto, observou-se a presença de sinais relacionados a carbono quaternário em δ 142,9 (C-19) e metínico em δ 135,1 (C-18), de ligação dupla, o que indicou uma unidade terpenoídica modificada em Pc 1. Outro indício observado no espectro, foi que H-3 apareceu como um singleto em δ 4,94 e não como o dubleto no ácido estrictosidínico. 148 Tabela 42: Dados de RMN de 13C e 1H para o ácido estrictosidínico e de Pc 1 9 6 3 12 N H H OGlc 20 15 H H3CCO2 O 17 17 H 21 Glc O O 2 N H H 12 19 16 H 11 18 N 14 5 10 5 11 6 9 10 3 19 H 20 NH 18 14 H H 15 16 CO 2C H 3 22 Nº C δ 13 C 2 3 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 130,54 52,28 43,02 19,63 107,30 127,55 119,05 120,51 123,31 112,20 138,19 35,15 15 16 17 18 34,07 113,68 153,17 118,68 19 136,25 20 45,72 21 96,57 22 175,98 -OCH3 1’ 100,35 2’ 74,74 3’ 77,99 4’ 71,81 5’ 78,72 6’ 63,11 Ác. Estrictosidínico 1 δ H multiplicidade (J Hz) / CD3OD 4,41d (11,8) 7,44 d (7,6) 7,02 dd (7,6; 7,2) 7,12 dd (8,1; 7,2) 7,30 d (8,1) 2,11 ddd (13,0; 11,8; 4,5) 2,36 dd (13,0; 13,0; 3,3) 2,97m 7,55 s 5,17 dd (10,7; 1,5; 1,0) 5,30 dd (17,4; 1,5; 1,0) 5,85 ddd (17,4; 10,7; 7,3) 2,69 ddd (9,5; 7,3; 4,5) 5,82 d (9,5) 4,81 d (7,9) 3,21 dd (9,1; 7,9) 3,42 dd (9,1; 8,9) 3,22 dd (10,5; 8,9) 3,40 ddd (10,5; 6,9; 2,0) 3,67 dd (11,7; 6,9) 4,01 dd (11,7; 2,0) δ 13 C 134,3 53,7 41,8 22,0 108,6 128,4 118,8 119,9 122,4 112,4 138,0 40,1 37,5 112,2 153,5 135,1 142,9 49,0 98,9 169,5 52,0 100,4 74,7 77,8 71,4 78,6 62,6 Pc 1 1 δ H multiplicidade (J Hz) / CD3OD 4,94 s 3,14-3,08 m 2,78-2,84 m 7,40 d (7,5) 6,97 td (7,5; 1,2) 7,05 td (7,5;1,2) 7,28 d (7,5) 2,14 ddd (15,9; 9,3;1,0) 2,92 ddd (15,9; 8,0; 2,7) 3,30 m 7,5 s (largo) 5,85 s 2,82 m 5,16 d (9,0) 3,71 s 4,80 d (7,8) 3,16 dd (9,0; 7,8) 3,36 t (9,0) 3,07 t (9,0) 3,27 m 3,58 dd (12,0; 6,6) 3,84 dd (12,0; 2,4) 149 A natureza da unidade monoterpênica foi deduzida com base na análise das correlações observadas nos mapas de contorno COSY e HMBC. As correlações observadas no mapa de contorno HMBC (Espectro 42, pág. 162, Tabela 43) de Pc 1 entre os sinais em δ 153,5 (C-17) e o multipleto em δ 3,30 (H-15); em δ 49,0 (C-20) e o singleto em δ 4,94 (H-3); em δ 98,9 (C-21) e o singleto em δ 7,5 (H-17), correspondentes à unidade secologanínica, além da correlação em δ 53,7 (C-3) e o singleto em δ 5,85 (H-18) que confirmou a presença da unidade terpênica modificada como a da estrutura proposta para Pc 1. Também foram observadas correlações entre os sinais em δ134,3 (C-2) e o multipleto em δ 2,78-2,84 (H-6); em δ 53,7 (C-3) e o multipleto em δ 3,08-3,14 (H-5); em δ 108,6 (C-7) e o dubleto em δ 7,40 (H-9); em δ 118,8 (C-9) e o duplo tripleto em δ 7,05 (H-11) e em δ 138,0 (C-13) e o dubleto em δ 7,40 (H-9), condizente com o sistema tetraidro-β-carbolínico. 150 Tabela 43: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HMBC de Pc 1 6 9 5 10 H 11 2 N H H 12 H 21 G lc O O 17 NH 3 19 H 20 18 14 H H 15 16 C O 2C H3 22 n.ºC C n.º H 2 3 134,3 53,7 3 4,94 5 6 7 41,8 22,0 108,6 6 5 6 2,78-2,84 3,08-3,14 2,78-2,84 8 128,4 9 7,40 9 10 11 12 13 118,8 119,9 122,4 112,4 138,0 10 11 12 11 6,97 7,05 7,28 7,05 14 40,1 15 37,5 15 18 20 14 3,23 5,86 2,82 2,92 16 112,2 17 15 7,53 3,23 17 18 153,5 135,1 19 142,9 14 14 20 3 2,14 2,92 2,82 4,94 20 49 21 98,9 15 21 20 15 3,23 5,16 2,82 3,23 δ 13 J2 n.º H J3 6 5 18 3 2,78 –2,84 3,08 e 3,14 5,85 4,94 9 5 3 10 12 11 12 9 10 11 9 20 7,40 3,14 e 3,08 4,94 6,97 7,28 7,05 7,28 7,40 6,97 7,05 7,40 2,82 21 18 17 14 14 15 20 3 14 14 21 3 18 17 1’ 5,16 5,85 7,5 2,14 2,92 3,30 2,82 4,94 2,14 2,92 5,16 4,94 5,85 7,5 4,80 151 Pelo mapa de contorno COSY de Pc 1 (Espectro 43, pág. 163, Tabela 44) foi possível confirmar as conectividades entre os carbonos da unidade monoterpênica proposta através das correlações observadas entre os sinais em δ 2,92 (H-14β) e δ 2,14 (H-14α); em δ 5,85 (H-18) e δ 2,92 (H-14 β); em δ 3,30 (H-15) e δ 2,92 (H-14β); em δ 3,30 (H-15) e δ 2,82 (H-20); em δ 5,16 (H-21) e δ 2,82 (H-20). Além disto, nenhuma correlação foi observada entre os hidrogênios da unidade monoterpênica e H-3. Tabela 44: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Pc 1 6 9 5 10 H 11 12 N H H 2 H 21 Glc O O 17 3 19 H 20 NH 18 14 H H 15 16 CO2CH3 22 no. H δ 1 H multiplicidade (J/Hz) no. H δ 1 H multiplicidade (J/Hz) 9 7,40 d (7,5) 10 6,97 td (7,5; 1,2) 12 7,28 d (7,5) 11 7,05 td (7,5; 1,2) 18 5,85 s 14β 2,92 ddd (15,9;8.0; 2,7) 21 5,16 d (9,0) 20 2,82 m 15 3,30 m 14β 2,92 ddd (15,9; 10.0; 2,7) 20 2,82 m 14α 2,14 ddd (15,9; 9,3; 1,0) 14β 2,92 ddd (15,9;8.0; 2,7) As correlações observadas no mapa de contorno HETCOR (Espectro 44, pág. 164, Tabela 45) permitiram a atribuição dos deslocamentos químicos de todos os hidrogênios e carbonos de Pc 1. Além de outras, foram observadas correlações entre os sinais correspondentes ao carbono metínico em δ 53,7 (C-3) e o 152 correspondente hidrogênio em δ 4,94 (s, H-3); ao carbono olefínico em δ 153,5 (C17) e o singleto em δ 7,55 (H-17); ao carbono metínico em δ 37,5 (C-15) e o multipleto em δ 3,30 (H-15); entre o sinal em δ 49,0 (C-20) e o multipleto em δ 2,82 (H-20) e entre o sinal em δ 98,9 (C-21) e o dubleto em δ 5,16 (J=9,0Hz, H-21). Outras correlações importantes foram observadas entre o carbono olefínico em δ 135,1 (C-18) e o singleto em 5,85 (H-18) e entre o carbono metilênico (C-14) e os respectivos sinais em δ 2,14 (ddd, J=15,9; 9,3; 1,0Hz, H-14) e δ 2,92 (ddd, J=15,9; 10,0; 2,7Hz, H-14). 153 Tabela 45: Correlações heteronucleares no mapa de contorno HETCOR de Pc 1 6 9 5 10 H 11 12 N H H 2 H 21 Glc O 3 19 H 20 O NH 18 14 H H 15 17 16 CO2CH3 22 º 13 DEPT 3 53,7 CH 4,94 s 5 41,8 CH2 3,14-3,08 m 6 22,0 CH2 2,78-2,84 m 9 118,8 CH 7,40 d (7,5) 10 119,9 CH 6,97 td (7,5; 1,2) 11 122,4 CH 7,05 td (7,5; 1,2) 12 112,4 CH 7,28 d (7,5) 14 40,1 CH2 N do C δ C δ H multiplicidade (J em Hz) /CD3OD α 2,14 ddd (15,9; 9,3; 1,0) β 2,92 ddd (15,9; 8,0; 2,7) 15 37,5 CH 3,30 m 17 153,5 CH 7,5 s (largo) 18 135,1 CH 5,85 s 20 49,0 CH 2,82 m 21 98,9 CH 5,16 d (9,0) -OCH3 52,0 CH3 3,71 s ’ 100,4 CH 4,80 d (7,8) ’ 2 74,7 CH 3,16 dd (9,0; 7,8) ’ 3 77,8 CH 3,36 t (9,0) 4’ 71,4 CH 3,07 t (9,0) ’ 5 78,6 CH 3,27 m ’ 62,6 CH2 3,58 dd (12,0; 6,6) 1 6 3,84 dd (12,0; 2,4) 154 A estereoquímica de Pc 1 foi determinada com base no mapa de contorno NOESY (Espectros 45 e 46, págs. 165 e 166; Tabela 46) e nos dados obtidos da curva de dicroismo circular. As correlações entre os sinais em δ 4,94 (H-3) e δ 2,82 (H-20); entre os sinais em δ 2,82 (H-20) e δ 3,30 (H-15); e entre os sinais em δ 2,82 (H-20) e δ 5,16 (H-21), no mapa de contorno NOESY, mostraram que estes hidrogênios encontram-se no mesmo lado da molécula. Uma correlação não esperada foi observada entre o sinal de H-3 (δ 4,94) e H-18 (δ 5,85). Tabela 46: Correlações heteronucleares no mapa de contorno NOESY de Pc 1 6 9 5 10 H 11 12 N H H 2 H 21 Glc O O 17 NH 3 19 H 20 18 14 H H 15 16 CO2CH3 22 no. do H H multiplicidade (J/Hz) no. do H 9 7,40 d (7,5) 10 6,97 td (7,5; 1,2) 12 7,28 d (7,5) 11 7,05 td (7,5; 1,2) 18 5,85 s 21 5,16 d (9,0) 3 4,94 s 20 3 20 1’ 20 2,82 m 4,94 s 2,82 m 4,80 d (7,8) 2,82 m 6’ 3,84 dd (12,0; 2,4) 6’ 3,58 dd (12,0; 6,6) 15 3,30 m 20 2,82 m δ 1 δ 1 H multiplicidade (J/Hz) A análise da curva CD obtida para Pc 1 (Espectro 47, pág. 167) mostrou efeito Cotton positivo na região de 230-250 nm e negativo em 290 nm, característicos de alcalóides glicosilados tetraidro-β-carbolínicos de configuração “R” em C-3 (ACHENBACH, 1997). 155 Com base neste dado e naqueles obtidos através do espectro de NOESY foram realizados estudos conformacionais, empregando-se o método ab initio HF (Hatree Fock) para a otimização da geometria da molécula e o conjunto de bases 631G*, programa Gaussian 98, para obtenção da conformação mais estável (FRISCH et al., 1998). A conformação de mais baixa energia adotada pela molécula está representada pela figura 4. Figura 4: Conformação de menor energia de Pc 1 e algumas correlações do mapa de contorno NOESY A estabilidade desta conformação provavelmente é devida à ocorrência de uma ligação de hidrogênio entre a ligação Nβ-H e o átomo de oxigênio do grupo hidroxila de C-2’ da unidade de glucose. A análise detalhada do espectro de NOESY associada com as informações obtidas através da realização de cálculos teóricos mostrou que há concordância quanto a distância calculada entre os átomos de hidrogênio (menos que 4 A°) e todas as correlações observadas no espectro de NOESY, inclusive aquela entre H-3 e H-18. 156 Um levantamento bibliográfico, utilizando o Chemical Abstract revelou que o alcalóide Pc 1 é inédito, sendo identificado neste trabalho como croceaina “A”. Recentemente foi relatado o isolamento de outro alcalóide indólico monoterpênico, chamado braquicerina e isolado de Psychotria brachyceras (KERBER et al, 2001), que também contém uma unidade terpênica similar à de Pc 1. A Tabela 47 mostra a comparação dos dados publicados de RMN de 1H e 13 C da braquicerina, com os obtidos de Pc-1. O isolamento e a elucidação estrutural destes alcalóides indólicos monoterpênicos têm importância, pois sugerem a existência de um caminho biossintético alternativo para estes metabólitos secundários. 157 Tabela 47: Dados de RMN de 13C e 1H da braquicerina e de Pc 1 H N H H 12 Glc O 2 H 21 20 O H 11 NH OH 3 19 18 H 5 10 5 11 H 14 H H Glc O N C δ C 2 3 5 130,7 54,7 41,8 6 7 8 9 10 11 12 13 14 24,4 108,3 127,7 118,9 120,2 123,2 112,3 137,4 43,5 15 16 17 18 19 20 21 22 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ 35,5 111,8 153,5 74,3 49,0 41,9 99,0 169,1 100,6 74,0 71,1 78,3 77,7 62,1 -OCH3 51,8 * KERBER, 300 MHz Braquicerina * δ H multiplicidade (J Hz)/ CD3OD 1 4,78 d (8,2) α 3,40 m β 3,69 d (5,8) 2,98 m 7,45 dd (7,7; 1,0) 7,0 dd (7,4; 7,0; 0,9) 7,13 ddd (8,1; 7,4; 1,1) 7,37 dd (8,1; 1,0) α 1,50 ddd (13,2; 12,7; 3,8) β 2,44 dd (13,2; 6,0) 3,42 m 7,53 d (1,0) 4,36 dd (8,2; 3,8) 2,71 ddd (8,2; 8,2; 5,0) 2,33 ddd (8,4; 8,2; 5,0) 4,89 d (8,4) 4,70 d (8,0) 3,18 m 3,38 m 3,24 3,36 α 3,65 d (12,0; 5,3) β 3,82 dd (12,0; 2,4) 3,72 H 21 20 3 19 H NH 18 14 H H 15 17 16 16 CO2CH3 CO2CH3 13 2 O 22 22 º N H H 12 15 17 6 9 6 9 10 δ 13 C 134,3 53,7 41,8 22,0 108,6 128,4 118,8 119,9 122,4 112,4 138,0 40,1 37,5 112,2 153,5 135,1 142,9 49,0 98,9 169,5 100,4 74,7 77,8 71,4 78,6 62,6 52,0 δ 1 Pc 1 H multiplicidade (J Hz) / CD3OD 4,94 s 3,14-3,08 m 2,78-2,84 m 7,40 d (7,5) 6,97 td (7,5; 1,2) 7,05 td (7,5;1,2) 7,28 d (7,5) 2,14 ddd (15,9; 9,3;1,0) 2,92 ddd (15,9; 8,0; 2,7) 3,30 m 7,5 s (largo) 5,85 s 2,82 m 5,16 d (9,0) 4,80 d (7,8) 3,16 dd (9,0; 7,8) 3,36 t (9,0) 3,07 t (9,0) 3,27 m 3,58 dd (12,0; 6,6) 3,84 dd (12,0; 2,4) 3,71 s 158 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 38: Espectro de massas de alta resolução, ESEMAR de Pc 1 158 159 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 39: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc 1 159 160 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 40: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 1 160 161 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 41: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 1 161 162 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 42: Mapa de contorno HMBC (CD3OD) de Pc 1. 162 163 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 43: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 1. 163 164 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 44: Mapa de contorno HETCOR (CD3OD) de Pc 1 164 165 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 45: Mapa de contorno NOESY (CD3OD) de Pc 1 165 166 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 46: Expansão do mapa de contorno NOESY (CD3OD) de Pc 1 166 167 9 6 10 5 11 NH 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 47: Curva de dicroismo circular de Pc 1 167 168 5.2.1.2 Determinação estrutural de Pc 2 O alcalóide codificado como Pc 2 foi isolado da fração não alcaloidal, proveniente da extração ácido-base e das frações AcOEt e MeOH:H2O do fracionamento em solventes do extrato bruto de P. crocea. 6 9 5 10 11 3 2 12 Glc O N H HH 21 O 17 NH Cl- 19 H 20 18 14 H 15 16 CO2CH3 22 (Pc 2) Espectro de massas de alta resolução (ESEMAR) m/z: 529.2537 (100) Espectro 48, pág. 171. RMN de 1H, 300,06 MHz / CD3OD, δ ppm e RMN de 13 C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD), δ ppm : dados descritos na Tabela 48, pág. 170 (Espectros 49 e 50, pág. 172 e 173. O espectro de massas de alta resolução (ESEMAR) de Pc-2 (Espectro 48, pág. 171) mostrou o mesmo pico consistente com a fórmula C27 H32N2O9 e a análise dos dados de RMN de 1H, 13 C, COSY e HETCOR (Espectros 49, 50, 51 e 52, págs. 172, 173, 174 e 175) indicou o mesmo esqueleto indólico monoterpênico glicosilado estabelecido para Pc 1. A divergência entre os dados relacionou-se com o 169 deslocamento químico do sinal de H-3 (em δ 4,94/ Pc 1 e em δ 5,30/ Pc 2), sugerindo diferença na configuração de C-3 (Tabela 48). Isto nos levou a sugerir que o alcalóide Pc 2 seria um epímero de Pc 1, na posição C-3. Para confirmar esta hipótese foram realizadas análises de dicroísmo circular, visando a comparação com as obtidas de Pc 1. A curva de dicroísmo circular de Pc 2 mostrou-se idêntica à de Pc 1 e, conseqüentemente, abandonou-se a hipótese de que Pc 1 e Pc 2 fossem epímeros. A diferença no valor do deslocamento de H-3 em Pc 2 foi entendida, quando esta substância foi considerada como um sal de Pc 1, formado durante os procedimentos de isolamento. A nova hipótese foi confirmada, através da comparação dos dados de RMN de 1H de Pc 2 com os do hidrocloreto de Pc 1. O espectro de RMN de 1H do hidrocloreto de Pc 1 (Espectro 53, pág. 176) foi idêntico ao de Pc 2 e o tratamento com bicarbonato de sódio converteu o sal no respectivo alcalóide livre. 170 Tabela 48: Dados de RMN de 13C e 1H de Pc 1 e Pc 2 6 9 5 10 6 9 5 10 11 12 N H H Glc O 3 2 H 21 20 O 17 NH H 19 18 H 11 2 N H HH 12 14 H H Glc O 21 15 O 16 CO2CH3 NH Cl 19 H 20 18 14 H 15 17 22 3 16 CO 2CH3 22 N 0. C δ δH C 2 3 5 6 7 8 9 134,3 53,7 41,8 22,0 108,6 128,4 118,8 10 Pc-1 (JHz) / CD3OD δ C δ Pc-2 H (JHz) / CD3OD 7,40 d (7,5) 130,8 53,7 42,1 20,2 107,9 127,6 119,2 119,9 6,97 td (7,5; 1,2) 120,4 7,02 dd (7,5; 1,0) 11 122,4 7,05 td (7,5; 1,2) 123,3 7,10 td (7,5; 1,0) 12 112,4 7,28 d (7,5) 112,4 7,32 d (7,5) 13 14 138,0 40,1 α β 15 16 17 18 37,5 112,2 153,5 135,1 19 20 142,9 49,0 21 22 1' 2' 98,9 169,5 100,4 74,7 3' 4' 5' 6' 77,8 71,4 78,6 62,6 -OCH3 52,0 4,94 s 3,14-3,08 m 2,78-2,84 m 2,14 ddd (15,9; 9,3; 1,0) 2,92 ddd (15,9; 8,0; 2,7) 3,30 m 138,3 40,5 7,5 s (largo) 5,85 sl 37,3 112,3 153,5 139,7 2,82 m 139,3 48,0 5,16 d (9,0) 4,80 d (7,8) 3,16 dd (9,0; 7,8) 3,36 t (9,0) 3,07 t (9,0) 3,27 m 3,58 dd (12,0; 6,6) 3,84 dd (12,0; 2,4) 3,71 s 99,5 169,3 101,2 74,6 77,6 70,9 78,1 61,6 51,8 5,30 s 3,50-3,70 m 3,06-2,80 m 7,42 d (7,5) 2,19 dd (16,8; 9,9) 2,93 ddd (16,8; 8,9; 1,5) 3,40m 7,5 s 6,07 sl 2,90 m 5,13 d (9,0) 4,84 d (7,8) 3.22 dd (8.7; 7.8) 3,38 t (8,7) 3,24 m 3,28 m 3,54 dd (12,0; 6,0) 3,83 dd (12,2; 2,1) 3,7 s 171 Espectro 48: Espectro de massas de alta resolução, EMAR de Pc 2 171 172 6 9 5 10 11 2 12 Glc O N H HH 21 O 17 3 NH Cl 19 H 20 18 14 H 15 16 CO2CH3 22 Espectro 49: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc 2 172 173 6 9 5 10 11 2 12 Glc O N H HH 21 O 17 3 19 H 20 - NH Cl 18 14 H 15 16 CO 2CH3 22 173 Espectro 50: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 2 174 6 9 5 10 11 2 12 Glc O N H HH 21 O 17 3 NH Cl 19 H 20 18 14 H 15 16 CO2CH3 22 Espectro 51: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 2. 174 175 6 9 5 10 11 2 12 Glc O N H HH 21 O 17 3 NH Cl 19 H 20 18 14 H 15 16 CO2CH3 22 Espectro 52: Mapa de contorno HETCOR (CD3OD) de Pc 2 175 176 6 9 5 10 11 2 12 Glc O N H HH 21 O 17 3 NH Cl 19 H 20 18 14 H 15 16 CO2CH3 22 176 Espectro 53: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) do hidrocloreto de Pc 1 177 5.2.1.3 Identificação estrutural de Pc 3 A substância Pc 3 foi obtida como um sólido amorfo isolado da fração AcOEt proveniente da partição em solventes do extrato bruto de P. crocea. 9 6 5 10 N 11 2 N H H 12 H 21 Glc O 18 H 20 14 O 17 3 19 H H 15 16 CO2 CH3 22 (Pc 3) A estrutura de Pc 3 foi proposta, espectroscópicos de ESEMAR, RMN de 1 H, através da análise de dados 13 C, DEPT, HMQC, COSY e por comparação destes com os dados obtidos de Pc 1 e os publicados para o lialosídeo (VALVERDE et al., 1999). ESEMAR, m/z: 525.3324 (100) RMN de 1H, 300,06 MHz / CD3OD, δ ppm e RMN de δ 13 C, 75,5 MHz / CD3OD, ppm: dados descritos na Tabela 52, pág. 183 (Espectros 54 e 55, págs. 184 e 185). RMN 2D (13C x 1H HMQC) 75,5 MHz / CD3OD: dados descritos na Tabela 50, pág.181 (Espectro 56, pág.186). 178 RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CD3OD: dados descritos na Tabela 51, pág. 182 (Espectro 57, pág. 187). Os dados do espectro de RMN de 1H de Pc 3 (Espectro 54, pág. 184) foram comparados com os obtidos de Pc 1 e mostraram ausência dos sinais relacionados ao H-3 e os correspondentes aos hidrogênios metilênicos H-5 e H-6. A presença dos dois dubletos em δ 8,24 (H-5) e δ 7,96 (H-6) na região correspondente a hidrogênios aromáticos, junto com os dubletos em δ 8,16 (H-9) e δ 7,61 (H-12) e os dois tripletos em δ 7,24 (H-10) e δ 7,50 (H-11) indicaram a presença do sistema β-carbolínico. Além destes, o espectro de RMN de 1 H mostrou a presença da unidade secologanínica, através dos multipletos em δ 3,50 (H-15); 3,71 (H-20); do dubleto em δ 5,50 (J=6,3Hz, H-21) e do singleto em δ 7,51 (H-17). Os sinais em δ 4,43 (d, J=7,8Hz, H-1’); 2,47 (dd, J=9,0; 7,8Hz, H-2’); 3,12 (t, J=9,0Hz, H-3’); 2,64 (t, J=9,0Hz, H-4’); 3,24 (m, H-5’) e 3,67 (dd, J=11,7; 6,6Hz, H-6’) indicaram uma unidade glicosilada e o singleto em δ 6,59 (H-18), junto com os multipletos referentes aos hidrogênios metilênicos em δ 2,64 e 3,12 (H-14) indicaram o anel ciclopentenodiidropirano na estrutura de Pc 3 (Tabela 49, pág. 179). Os dados de RMN de 13 C (Espectro 55, pág. 185) confirmaram a estrutura proposta para Pc 3, apresentando sinais correspondentes aos carbonos aromáticos em δ 141,7 (C-3); 138,0 (C-5) e 114,8 (C-6), além dos sinais em δ 138,8 (C-2); 127,2 (C-7); 122,5 (C-8); 122,7 (C-9); 120,9 (C-10); 129,6 (C-11) e 113,2 (C-12). O espectro de RMN de 13 C também apresentou sinais na região compreendida entre δ 62,8-99,9 e em δ 41,1 (C-14); 35,0 (C-15); 112,7 (C-16); 153,9 (C-17); 136,0 (C-18); 143,1 (C-19); 49,0 (C-20) e 97,1 (C-21) correspondentes a uma unidade monoterpênica glicosilada (Tabela 49). 179 Tabela 49: Dados de RMN de 13C e 1H de Pc 1 e de Pc 3 9 6 9 11 2 12 Glc O N H HH 19 H 20 21 5 11 NH 3 12 18 14 δ 13 C Pc 1 1 H (JHz) / DMSO-d6 δ 3 19 18 H 14 H H 15 16 CO2CH3 22 22 0 20 17 16 CO2CH3 N .C/H H 21 O 15 17 N 2 N H H Glc O H O 6 10 5 10 δ 13 C Pc 3 1 δ H (JHz) / CD3OD 2 3 5 134,3 53,7 41,8 4,94 s 3,08 - 3,14 m 138,8 141,7 138,0 8,24 d (5,2) 6 22,0 2,78-2,84 m 114,8 7,96 d (5,2) 7 8 9 10 108,6 128,4 118,8 119,9 7,47 d (7,5) 6,97 td (7,5; 1,2) 127,2 122,5 122,7 120,9 8,16 d (8,0) 7,24 t (8,0) 11 122,4 7,05 td (7,5; 1,2) 129,6 7,50 t (8,0) 12 13 14 112,4 138,0 40,1 7,28 d (7,5) 113,2 140,8 41,1 7,61 d (8,0) 15 16 17 18 19 20 37,5 112,2 153,5 135,1 142,9 49,0 35,0 112,7 153,9 136,0 143,1 49,0 3,50 m 21 22 1' 98,9 169,5 100,4 5,16 d (9,0) 2' α 2,14 ddd (15,9; 9,3; 1,0) β 2,92 ddd (15,9; 8,0; 2,7) 3,30 m 7,5 s (largo) 5,85 s 2,82 m α 2,64 m β 3,12 m 7,51 s 6,59 (largo) 3,71 m 5,50 d (6,3) 4,80 d (7,8) 97,1 169,5 99,9 74,7 3,16 dd (9,0; 7,8) 74,5 2,47 dd (9,0; 7,8) 3' 77,8 3,36 t (9,0) 77,6 3,12 t (9,0) 4' 5’ 71,4 78,6 3,07 t (9,0) 3,27 m 71,6 77,9 2,64 t (9,0) 3,24 m 6' 62,6 62,8 CH3-O- 52,0 3,58 dd (12,0; 6,6) 3,84 dd (12,0; 2,4) 3,71 s 3,67 dd (11,7; 6,6) 3,86 m 3,75 s 51,8 4,43 d (7,8) 180 As atribuições dos deslocamentos químicos de Pc 3 basearam-se em comparações com os dados obtidos de Pc 1 e os provenientes da análise dos mapas de contorno HMQC (Espectro 56, pág. 186) e COSY (Espectro 57, pág. 187) O mapa de contorno HMQC de Pc 3 apresentou correlações relativas aos carbonos e hidrogênios aromáticos em δ 138,0 (C-5) e 114,8 (C-6) e os respectivos dubletos em δ 8,24 (J=5,2Hz, H-5) e 7,96 (J=5,2Hz, H-6), além das correlações entre os sinais em δ 122,7 (C-9); 120,9 (C-10); 129,6 (C-11); 113,2 (C-12) e os correspondentes dubleto em δ 8,16 (J=8,0Hz, H-9); dois tripletos em δ 7,24 e 7,50 (J=8,0Hz, H-10 e H-11) e dubleto em δ 7,61 (J=8,0Hz, H-12). Além destas, foram observadas correlações entre os carbonos metilênico em δ 2,64 (C-14) e os respectivos multipletos em δ 2,64 e 3,12 (H-14); entre os carbonos metínicos em 35,0 (C-15); 153,9 (C-17); 49,0 (C-20); 97,1 (C-21) e os sinais correspondentes aos respectivos hidrogênios em δ 3,50 (m, H-15); em δ 7,51 (s, H-17); em δ 3,71 (m, H20) e em δ 5,50 (d, H-21). A unidade glucosídica foi identificada pelo valor do deslocamento químico do carbono anomérico em δ 99,9 (C-1’) correlacionado ao dubleto em δ 4,43 (J=7,8Hz, H-1’). As correlações em δ 74,5 (C-2’); 77,6 (C-3’); 71,6 (C-4’); 77,9 (C-5’); 62,8 (C-6’) e os respectivos hidrogênios em δ 2,47 (J=9,0; 7,8Hz, H-2’); 3,12 (J=9,0Hz, H-3’); 2,64 (J=9,0Hz, H-4’); 3,24 (H-5’), os sinais em δ 3,67 (J=11,7; 6,6Hz, H-6’) e o multipleto em δ 3,86 (H-6’) auxiliaram na atribuição dos deslocamentos químicos da unidade glucosídica (Tabela 50). 181 Tabela 50: Correlações do mapa de contorno HMQC de Pc 3 9 6 5 10 11 12 N 2 N H H H 21 Glc O 20 O 3 19 18 H 14 H H 15 17 16 CO2 CH3 22 º N do C δ 13 C DEPT 5 6 9 10 11 12 14 138,0 114,8 122,7 120,9 129,6 113,2 41,1 CH CH CH CH CH CH CH2 15 17 18 20 21 35,0 153,9 136,0 49,0 97,1 51,8 99,9 74,5 77,6 71,6 77,9 62,8 CH CH CH CH CH CH3 CH CH CH CH CH CH2 -OCH3 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ δ 1 H multiplicidade (J Hz) / CD3OD 8,24 d (5,2) 7,96 d (5,2) 8,16 d (8,0) 7,24 t (8,0) 7,50 t (8,0) 7,61 d (8,0) α 2,64 m β 3,12 m 3,50 m 7,51 s 6,59 (largo) 3,71 m 5,50 d (6,3) 3,75 4,43 d (7,8) 2,47 dd (9,0; 7,8) 3,12 t (9,0) 2,64 t (9,0) 3,24 m 3,86 m No mapa de contorno COSY foram observadas correlações entre os sinais em δ 8,24 (H-5) e 7,96 (H-6); em δ 8,16 (H-9) e em δ 7,24 (H-10); em δ 7,50 (H-11) e δ 7,61 (H-12) e em δ 7,50 (H-11) com o tripleto em δ 7,24 (H-10) relativos à unidade β-carbolínica. As correlações entre os hidrogênios metilênicos H-14 em δ 3,12 e 2,64 182 e o multipleto em δ 3,50 (H-15); entre o dubleto em δ 5,50 (H-21) e o multipleto em δ 3,71 (H-20) estão de acordo com a unidade monoterpênica proposta. A partir das correlações entre os sinais em δ 4,43 (H-1’) e δ 2,47 (H-2’) e entre este e o tripleto em δ 3,12 (H-3’); e entre δ 3,67 (H-6’) e δ 3,24 (H-5’); entre δ 3,24 (H-5’) e o tripleto em δ 2,64 (H-4’) foi possível a atribuir os valores dos deslocamentos relativos aos sinais da unidade glicosidica (Tabela 51). Tabela 51: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Pc 3 9 6 5 10 N 11 12 2 N H H H 21 Glc O 20 O 17 3 19 18 H 14 H H 15 16 CO2CH3 22 o N .do H δ 1 H multiplicidade (J Hz) 5 9 11 8,24 d (5,2) 8,16 d (8,0) 7,50 t (8,0) 14β 15 3,12 m 3,50 m 21 1’ 2’ 6’ 5’ 5,50 d (6,3) 4,43 d (7,8) 2,47dd (9,0; 7,8) 3,67 dd (11,7; 6,6) 3,24 m No.do H 6 10 12 10 14α 14α 14β 20 2’ 3’ 5’ 4’ δ 1 H multiplicidade (J Hz) 7,96 d (5,2) 7,24 t (8,0) 7,61 d (8,0) 7,24 t (8,0) 2,64 m 2,64 m 3,12 m 3,71 m 2,47 dd (9,0; 7,8) 3,12 t (9,0) 3,24 m 2,64 t (9,0) Finalmente, os dados espectroscópicos de RMN de 1H e 13 C de Pc 3 foram comparados com os publicados para o lialosídeo (VALVERDE et al., 1999) – Tabela 52, um alcalóide isolado do gênero Palicourea, e mostraram-se concordantes quanto aos valores dos deslocamentos da unidade β-carbolínica. Um levantamento 183 bibliográfico sobre a estrutura proposta para Pc 3 mostrou que esta substância é inédita, sendo identificada neste trabalho como croceaina “B”. Tabela 52: Dados de RMN de 13C e 1H do lialosídeo e de Pc 3 9 9 6 10 6 5 10 5 11 11 12 18 N N H 12 19 3 14 OGlc 20 H 21 Glc O 20 O 15H H3CCO2 N 2 N H H 16 O 18 H 14 H H 15 17 17 3 19 16 CO 2 CH3 22 * 0 N .C/H δ 13 C 2 3 5 6 7 8 9 133,2 143,6 134,5 112,5 126,0 120,9 121,6 10 11 12 13 14α 119,0 127,7 118,8 140,2 32,5 β 15 16 17 18 30,1 109,8 151,7 118,7 19 20 21 22 1' 2' 3' 4' 5’ 6' 134,0 42,9 95,8 166,6 50,8 98,7 73,0 77,3 70,0 62,6 CH3-O- 52,0 VALVERDE, 600 MHz δ Lialosídeo H (JHz) / DMSO-d6 1 8,26 d (5) 7,92 d (5) 8,17 d (8) 7,21 t (8) 7,50 t (8) 7,55 d (8) 3,13 m 3,55 m 3,71 m 7,47 d (1,5) 4,75 d (17) 4,94 m 5,66 m 2,73 m 5,37 d (5) 4,56 d (8) 3,02 m 3,18 m 3,07 m 3,18 m 3,58 dd (12,0; 6,6) 3,84 dd (12,0; 2,4) 3,71 δ 13 C 138,8 141,7 138,0 114,8 127,2 122,5 122,7 120,9 129,6 113,2 140,8 41,1 35,0 112,7 153,9 136,0 143,1 49,0 97,1 169,5 99,9 74,5 77,6 71,6 77,9 62,8 51,8 Pc 3 1 δ H (JHz) / CD3OD 8,24 d (5,2) 7,96 d (5,2) 8,16 d (8,0) 7,24 t (8,0) 7,50 t (8,0) 7,61 d (8,0) 2,64 m 3,12 m 3,50 m 7,51 s 6,59 (largo) 3,71 m 5,50 d (6,3) 4,43 d (7,8) 2,47 dd (9,0; 7,8) 3,12 t (9,0) 2,64 t (9,0) 3,24 m 3,67 dd (11,7; 6,6) 3,86 m 3,75 184 9 6 5 10 N 11 12 2 N H H H 21 Glc O 20 O 17 3 19 18 H 14 H H 15 16 CO2CH3 22 Espectro 54: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc 3 184 185 9 6 5 10 11 12 2 N H H H 21 Glc O 20 O 17 N 3 19 18 H 14 H H 15 16 CO2CH3 22 Espectro 55: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc 3 185 186 9 6 5 10 N 11 12 2 N H H H 21 Glc O 20 O 17 3 19 18 H 14 H H 15 16 CO2 CH3 22 Espectro 56: Mapa de contorno HMQC (CD3OD) de Pc 3 186 187 9 6 5 10 N 11 12 2 N H H H 21 Glc O 20 O 17 3 19 18 H 14 H H 15 16 CO2CH3 22 Espectro 57: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 3. 187 188 9 6 5 10 N 11 12 2 N H H H 21 Glc O 20 O 17 3 19 18 H 14 H H 15 16 CO2CH3 22 Espectro 58: Expansão do mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc 3. 188 189 5.2.1.4 Identificação estrutural de Pc Ac A substância codificada como Pc Ac foi obtida por acetilação da fração MeOH:H2O, proveniente da partição em solventes de P. crocea, utilizando-se anidrido acético. 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 14 15 H 17 CO2CH3 (Pc Ac) A estrutura de Pc Ac foi identificada através da análise dos espectros de IV, massas (ESEMAR), RMN de 1H, 13 C, DEPT, COSY, HETCOR, NOESY e por comparação com os dados espectroscópicos obtidos de Pc 1. IV, νmáx.KBr cm-1: 3412, 1707, 1630, 1439 (Espectro 59, pág. 196). ESEMAR m/z (int. rel. %): 571.2241 [M + H]+ (100) Espectro 60, pág. 197. RMN de 1H, 300,06 MHz / CDCl3, δ ppm e RMN de 13 C, DEPT (75,5 MHz / CDCl3), δ ppm : dados descritos na Tabela 53, pág. 192 (Espectros 61, 62 e 63, pág. 198, 199 e 200). 190 RMN 2D (1H x 1H COSY), 300,06 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 54 , pág. 193 (Espectro 64, pág. 201). RMN 2D (13C x 1H HETCOR), 75,5 MHz / CDCl3: dados descritos na Tabela 55, pág. 189 (Espectro 61, pág. 194). RMN 2D (13C x 1H NOESY), 75,5 MHz / CDCl3: Dados descritos na Tabela 56, pág. 195 (Espectros 66 e 67, págs. 203 e 204). O espectro no IV de Pc-1 Ac (Espectro 59) mostrou bandas em 3412 cm-1 referente a absorções NH; em 1707 cm -1 relacionada a grupo carbonila α,β- insaturado; em 1630 banda correspondente a ligação dupla, e em 1439 cm -1 referente à unidade aromática. O espectro de massas de alta resolução (ESEMAR) de Pc Ac (Espectro 60, pág. 197) apresentou pico em m/z 529.2256, consistente com a fórmula molecular C27H32N2O9. Os dados obtidos do espectro de RMN de 1H de Pc Ac (Espectro 61) mostraram, além dos multipletos em δ 3,34-3,88 e 2,81-2,87 relacionados aos hidrogênios metilênicos (H-5) e (H-6); o singleto em δ 6,48 (H-3) e os sinais correspondentes aos hidrogênios aromáticos em δ 7,39 (d, J=7,5Hz, H-9); δ 6,95 (t, J=7,5Hz, H-10); δ 7,01 (t, J=7,5Hz, H-11) e em δ 7,36 (d, J=7,5Hz, H-12) do sistema tetraidro-β-carbolínico. A unidade secologanínica presente na estrutura de Pc Ac foi evidenciada através dos sinais relativos ao multipleto em δ 3,04 (H-15); ao singleto em δ 7,51 (H-17); ao duplo dubleto em δ 2,78 (J=8,7; 8,4, H-20) e dubleto em δ 4,95 (J=8,7Hz, H-21). Os dubletos em δ 4,81 (J=9,3Hz, H-1’); δ 3,88 (J=9,3Hz, H-2’); δ 191 4,55 (J=7,5Hz, H-3’); δ 3,55 (J=9,0Hz, H-5’), junto com os multipletos em δ 3,04 e 3,52/ 3,61 correspondentes a (H-4’) e (H-6’), mostraram a presença de uma unidade glicosídica. O singleto em δ 5,43 (H-18) e os multipletos referentes aos hidrogênios metilênicos em δ 2,05 e 2,76 (H-14) indicaram o ciclodiidropirano na estrutura de Pc Ac. Os espectros de RMN de 13 C e DEPT (Espectros 62 e 63) confirmaram a presença do sistema tetraidro-β-carbolínico, apresentando os sinais em δ 49,9 (C-3); 41,3 (C-5); 21,8 (C-6) e os correspondentes aos carbonos aromáticos do núcleo indólico em δ 131,6 (C-2); 107,8 (C-7); 126,2 (C-8); 117,8 (C-9); 119,4 (C-10); 121,9 (C-11): 111,6 (C-12) e 135,9 (C-13). O espectro de RMN de 13 C também mostrou os sinais referentes à unidade secoiridoidal em δ 35,8 (C-15); 111,2 (C-16); 151,7 (C17); 45,5 (C-20); 98,4 (C-21); 167,6 (C-22) e 52,0 (-OCH3); bem como os correspondentes aos carbonos metilênicos em δ 38,5 (C-14); metínico em δ 127,2 (C-18) e 138,9 (C-19); além dos relacionados à unidade glucosídica em δ 99,6 (C-1’); 73,2 (C-2’); 76,2 (C-3’); 68,3 (C-4’); 76,6 (C-5’) e 60,1 (C-6’). A comparação dos dados de RMN 1H e de 13 C do produto acetilado com os de Pc-1 (Tabela 53) comprovou a entrada do grupo acetil no átomo de nitrogênio do anel C (-Nβ). Os espectros de RMN 1H e de 13 C / DEPT mostraram sinais adicionais em δ 170,0 (C=O) e δH 2,10 / δC 21,1 (-NCOCH3), condizentes com a presença do grupo acetil na estrutura de Pc-1 Ac. O espectro de RMN de 1 H de Pc Ac apresentou valor diferente para o deslocamento químico do singleto relativo ao H-3 (em δ 4,94 para Pc 1 e em δ 6,48 para Pc Ac). Do mesmo modo, o espectro de 13 C também mostrou deslocamento do sinal relacionado a C-3 (em δ 53,7 para Pc 1 e em δ 49,9 para Pc Ac). 192 Tabela 53: Dados de RMN de 13C e 1H de Pc 1 e Pc Ac 6 9 5 10 11 2 3 N H HH 12 Glc O 21 O 17 NR 19 H 18 20 14 H 15 Pc-1 R = H PcAc R = Acetil 16 CO2CH3 22 0 N . H/ C δ 13 C 2 3 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 134,3 53,7 41,8 22,0 108,6 128,4 118,8 119,9 122,4 112,4 138,0 40,1 15 16 17 18 19 20 21 22 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ 37,5 112,2 153,5 135,1 142,9 49,0 98,9 169,5 100,4 74,7 77,8 71,4 78,6 62,6 -0CH3 -NCO2CH3 -NCO2CH3 52,0 δ Pc 1 H (JHz) / CD3OD 1 4,94 s 3,08 - 3,14 m 2,78-2,84 m 7,40 d (7,5) 6,97 td (7,5; 1,2) 7,05 td (7,5; 1,2) 7,28 d (7,5) α 2,14 ddd (15,9; 9,3; 1,0) β 2,92 ddd (15,9; 8,0; 2,7) 3,30 m 7,5 s (largo) 5,85 s 2,82 m 5,16 d (9,0) 4,80 d (7,8) 3,16 dd (9,0; 7,8) 3,36 t (9,0) 3,07 t (9,0) 3,27 m 3,58 dd (12,0; 6,6) 3,84 dd (12,0; 2,4) 3,71 s δ 13 C 131,6 49,9 41,3 21,8 107,8 126,2 117,8 119,4 121,9 111,6 135,9 38,5 35,8 111,2 151,7 127,2 138,9 45,5 98,4 167,6 99,6 73,2 76,2 68,3 76,6 60,1 52,0 21,1 170,0 δ Pc Ac H (JHz) / CDCl3 1 6,48 s 3,34 - 3,88 m 2,81-2,87 m 7,39 d (7,5) 6,95 t (7,5) 7,01 t (7,5)7,36 d (7,5) 2,05 m 2,76 m 3,04 m 7,51 s 5,43 s 2,78 dd (8,7; 8,4) 4,95 d (8,7) 4,81 d (9,3) 3,88 d (9,3) 4,55 d (7,5) 3,04 m 3,55 d (9,0) 3,52 m 3,61 m 3,7 s 2,10 193 A análise das correlações nos mapas de contorno COSY e HETCOR (Espectro 64 e 65, pág 201 e 202) auxiliou na atribuição dos hidrogênios e carbonos de Pc Ac. O mapa de contorno COSY mostrou, entre outras, correlações entre os hidrogênios aromáticos em δ 7,39 (H-9) e 6,95 (H-10); em δ 7,36 (H-12) e 7,01 (H11). Também foram observadas correlações correspondentes ao duplo dubleto em δ 2,78 (H-20) e 4,95 (H-21) e 2,78 (H-20) e 3,04 (H-15) da unidade secoiridoidal (Tabela 54). Tabela 54: Correlações homonucleares no mapa de contorno COSY de Pc Ac 9 6 10 5 11 N H H H H 12 GlcO 21 O n .H δ 19 H 18 20 14 15 H 17 o N Ac 3 1 CO2CH3 o H multiplicidade (J / Hz) δ n .H 1 H multiplicidade (J / Hz) 9 7,39 d (7,5) 10 6,95 t (7,5) 12 7,36 d (7,5) 11 7,01 t (7,5) 21 4,95 d (8,7) 20 2,78 dd (8,7; 8,4) 15 3,04 m 20 2,78 dd (8,7; 8,4) As correlações observadas no mapa de contorno HETCOR estão apresentadas na Tabela 55. Destaca-se aqui a correlação entre os sinais referentes ao carbono metínico em δ 49,9 (C-3) e o singleto em δ 6,48 (H-3), além da correlação entre o carbono olefínico em δ 127,2 (C-18) e o singleto em 5,43 (H-18) que auxiliaram a atribuição dos sinais relacionados com H-3 e H-18. 194 Tabela 55: Correlações do mapa de contorno HETCOR de Pc Ac 9 6 10 5 11 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 14 15 H 17 º O N C CH3 3 CO2CH3 13 DEPT 3 49,9 CH 6,48 s 5 41,3 CH2 3,34 - 3,88 m 6 21,8 CH2 2,81-2,87 m 9 117,8 CH 7,39 d (7,5) 10 119,4 CH 6,95 t (7,5) 11 121,9 CH 7,01 t (7,5) 12 111,6 CH 7,36 d (7,5) 14 38,5 CH2 2,76 m e 2,05 m 15 35,8 CH 3,04 m 17 151,7 CH 7,51 s 18 127,2 CH 5,43 s 20 45,5 CH 2,78 dd (8,7; 8,4) 21 N do C δ C δ 1 H multiplicidade (J Hz) / CDCl3 98,4 CH 4,95 d (8,7) ’ 1 99,6 CH 4,81 d (9,3) ’ 2 73,2 CH 3,88 d (9,3) ’ 3 76,2 CH 4,55 d (7,5) ’ 4 68,3 CH 3,04 m ’ 5 76,6 CH 3,55 d (9,0) ’ 6 60,1 CH2 3,52 e 3,61m -0CH3 52,0 CH3 3,70 s -NCOCH3 21,1 CH3 2,10 195 O mapa de contorno NOESY (Espectros 66 e 67, págs. 203 e 204; Tabela 56) mostrou correlações entre os sinais correspondentes aos hidrogênios aromáticos em δ 7,01 (H-11) e o dubleto em δ 7,36 (H-12) e em δ 6,48 (H-3) e o multipleto em δ 3,34-3,88 (H-5). A correlação entre o singleto em δ 6,48 (H-3) e o singleto em δ 5,43 (H-18) mostrou que H-3 e H-18 estão próximos. As correlações entre os sinais correspondentes ao H-3 em δ 6,48; ao H-20 em δ 2,78; e, ao H-21 em δ 4,95 mostraram estes hidrogênios do mesmo lado da molécula. Tabela 56: Correlações do mapa de contorno NOESY para Pc Ac. 9 6 10 5 11 N C CH3 3 N H H H H 12 GlcO 19 o δ 1 H multiplicidade (JHz) 9,21 14 15 H 17 n . do H N-H (indólico) H 18 20 21 O O CO 2CH3 o n . do H 3 12 12 5 18 20 21 11 3 7,01 t (7,5) 6,48 s 15 3,04 dd (15,9; 8,4) -NCOCH3 14β 21 4,95 d (8,7) 1’ 4,81 d (9,3) 5 20 1’ 20 3’ 2’ 3,88 d (9,3) -NCOCH3 4’ δ 1 H multiplicidade (JHz) 6,48 s 7,36 d (7,5) 7,36 d (7,5) 3,34 – 3,88 m 5,43 s 2,78 dd (8,7; 8,4) 4,95 d (8,7) 2,1 s 2,81 m 3,34 – 3,88 m 2,78 dd (8,7; 8,4) 4,81 d (9,3) 2,78 dd (8,7; 8,4) 4,44 d (7,5) 2,1 s 3,04 m 196 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 59: Espectro no IV (pastilhas de KBr) de Pc Ac 196 197 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 60: Espectro de massas de alta resolução, ESEMAR de Pc Ac 197 198 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 61: Espectro de RMN de 1H, (300 MHz / CD3OD) de Pc Ac 198 199 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 62: Espectro de RMN de 13C (75,5 MHz / CD3OD) de Pc Ac 199 200 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO 2CH3 Espectro 63: Espectro de RMN de 13C, DEPT (75,5 MHz / CD3OD) de Pc Ac 200 201 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 64: Mapa de contorno COSY (CD3OD) de Pc Ac 201 202 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO 2CH3 Espectro 65: Mapa de contorno HETCOR (CD3OD) de Pc Ac 202 203 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 66: Mapa de contorno NOESY em CD3OD de Pc Ac 203 204 9 6 10 5 11 N Ac 3 N H H H H 12 GlcO 21 O 19 H 18 20 15 14 H 17 CO2CH3 Espectro 67: Expansão do mapa de contorno NOESY em CD3OD de Pc Ac 204 205 5.3 Estudo farmacológico do extrato bruto de P. crocea O estudo farmacológico do extrato bruto de P.crocea compreende os resultados das avaliações de suscetilibidade antibacteriana e antifúngica; atividade antiedematogênica, atividade moluscicida e atividade antiproliferativa. 5.3.1 Avaliação da suscetibilidade antibacteriana e antifúngica A suscetibilidade antibacteriana e antifúngica foi avaliada pelo método de microdiluição. A Tabela 57 apresenta concentrações mínimas inibitórias (CMI) e concentrações mínimas bactericidas (CMB), do extrato bruto de P.crocea dissolvido em DMSO, ante às bactérias Staphilococus aureus, Bacillus subtilis, Escherichia coli e Pseudomona aeruginosa. A Tabela 57 também mostra concentração mínima inibitória (CMI) e concentração mínima fungicida (CMF) do extrato bruto de P crocea em DMSO, ante o fungo Candida albicans. Tabela 57: Dados de suscetibilidade antibacteriana e antifúngica Palicourea crocea (extrato bruto dissolvido em DMSO) Microorganismo CMI CMB S. aureus µ g/ mL > 1000 µ g/ mL > 1000 B. subtilis > 1000 > 1000 E.coli > 1000 > 1000 P. aeruginosa > 1000 > 1000 CMF > Candida albicans (CMI, CMB, CMF: > 500 µg/ mL inativa; ativa; > 7,8 µg/ mL fortemente ativa) > 1000 > 1000 250 – 125 µg/ mL moderadamente ativa; > 15,6 µg/ mL 206 A análise dos dados apresentados pela Tabela 57 mostrou que o extrato bruto da planta P. crocea não foi ativo diante dos microrganimos testados. A concentração mínima inibitória do extrato bruto foi maior que 1000 µg/mL para todos os casos. 5.3.2 Avaliação da atividade antiedematogênica A atividade antiedematogênica foi verificada através da reação inflamatória ao óleo de cróton aplicado na orelha de camundongo. A Tabela 58 mostra que a aplicação tópica de 20 µL em dose única, da solução de extrato bruto de P.crocea em acetona (2,5 mg/orelha) não provocou redução significativa na intensidade da resposta inflamatória. Assim, os dados indicam que o extrato bruto de P.crocea não apresentou efeito antiedematogênico neste modelo experimental. Tabela 58: Efeito da aplicação tópica do extrato bruto de P.crocea em edema de orelha induzido por óleo de cróton. Tratamento Inibição (%) Controle Ä Aumento do peso da orelha (mg) 6,08 ± 0,47 Extrato bruto de P.crocea 5,2 ± 0,33 9,08 Óleo de cróton (200 µg/orelha) foi utilizado como agente irritante. A solução de extrato bruto em acetona foi administrada em dose única (2,5 mg/orelha). Valores representam a média ± E.P.M. de 11 a 22 camundongos. P < 0,001 comparado com o controle, ANOVA (teste de Tukey). 207 5.3.3 Avaliação da atividade moluscicida A avaliação da atividade moluscicida do extrato bruto de P.crocea dissolvido em DMSO também não mostrou alteração dos batimentos cardíacos dos caramujos da espécie Biomphilaria glabrata, hospedeiro intermediário do parasita Shistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Assim, os resultados deste ensaio indicaram que o extrato bruto de P.crocea não é ativo sobre o caramujo transmissor da esquistossomose. 5.3.4 Avaliação da atividade antiproliferativa A avaliação da atividade antiproliferativa foi realizada com o extrato bruto da planta P.crocea em células tumorais humanas de melanoma (UACC.62), mamárias (MCF.7), pulmonares pequenas (NCI.460), leucêmicas (K.562), ovárianas (OVCAR), prostáticas (PCO.3), de cólon de útero (HT.29), renais (786.O) e mamárias resistentes (NCI.ADR). A análise dos dados da Figura 6 indicou diminuição do crescimento de células leucêmicas (K.562), que não se manteve em concentrações maiores de extrato bruto. Também foi observado diminuição do crescimento de células tumorais renais (768.O) e pulmonares pequenas (NCI.460), mas em concentrações altas e estes resultados não podem ser considerados como efeito antiproliferativo. 208 Ensaio 020416 - Paulicorea craccea 100 Porcentagem de Crescimento 75 50 25 0 UACC.62 MCF.7 NCI.460 K.562 OVCAR PC0.3 HT.29 786-0 NCI.ADR -25 -50 -75 -100 -3 10 0 -2 10 -1 10 0,25 0 1 10 2 10 2,5 10 25 250 Concentração (µg/mL) Figura 6: Ensaio de atividade antiproliferativa do extrato bruto metanólico da planta P. crocea 209 6 CONCLUSÃO O estudo químico das folhas e galhos da planta C.glabratus resultou no isolamento do alcalóide heteroioimbínico pentacíclico tetraidroalstonina (Cg 4), dos oxindóis heteroioimbínicos pentacíclicos mitrafilina (Cg 5) e uncarina “E” (Cg 9); dos triterpenos ácido ursólico (Cg 3) e ácido 3-O-β-D-quinovopiranosídeo-28-O-βglucopiranosídeo quinóvico (Cg7), do ácido clorogênico 5-O-cafeoilquínico (Cg 8) e do esteróide sitosterol (Cg 6). O isolamento dos alcalóides tetraidroalstonina, mitrafilina e uncarina “E” da espécie Cephalanthus glabratus é descrito pela primeira vez no gênero Cephalanthus. Os alcalóides desta classe são considerados importantes marcadores taxonômicos e constituem o perfil alcaloidal dos gêneros Uncaria e Mitragyna. O isolamento de mitrafilina e uncarina “E” em Cephalanthus revela com clareza a afinidade existente entre estes gêneros e como, na literatura, não existe uma metodologia taxonômica definida; este dado é essencial para classificação, ratificando-se esta espécie na tribo Naucleeae. Da espécie vegetal P. crocea foram isolados dois alcalóides indólicos inéditos, sendo um tetraidro-β-carbolínico (Pc 1) identificado como croceaina “A” e o outro βcarbolínico, identificado como croceaina “B” (Pc 3). Isolou-se também o alcalóide Pc 2, que se trata do hidrocloreto de Pc 1, provavelmente formado durante os procedimentos de isolamento. A substância croceaina “A” (Pc 1) foi acetilada e produziu o derivado acetilado (Pc Ac), que contribuiu para a elucidação estrutural de Pc 1, evidenciando o efeito do grupo acetil sobre o valor do deslocamento químico (δH/ δC) na posição C-3 nos espectros de RMN de 1H e de 13C. 210 Os alcalóides obtidos de P. crocea e a braquicerina, um outro alcalóide indólico monoterpênico glicosilado da mesma classe, inédito e mencionado recentemente na literatura, sugerem a existência de um caminho biossintético alternativo para estes metabólitos secundários. O estudo das atividades farmacológicas dos extratos brutos das espécies vegetais P. crocea e C. glabratus não apresentou resultados positivos para os ensaios antibacteriano, antifúngico, moluscicida e antiproliferativo. O teste de atividade antiedematogênica do extrato bruto da planta Cephalanthus glabratus foi o único que exibiu um resultado significativo, possivelmente causado pela presença dos triterpenos: ácido ursólico e ácido 3-O-βD-quinovopiranosídeo-28-O-β-glucopiranosídeo quinóvico, cujas atividades antiinflamatórias estão descritas na literatura. Com a realização deste trabalho estamos contribuindo para ampliar os conhecimentos sobre as espécies presentes na planície de inundação do alto rio Paraná, região de Porto Rico, especialmente daquelas pertencentes à grande Família Rubiaceae. Esperamos que os dados aqui descritos possam auxiliar, de alguma forma, a realização de trabalhos futuros nesta área. 211 7 REFERÊNCIAS ARRIAGA, F. J.; RUMBERO, A.; VAZQUEZ, P. Two triterpenes glycosides from Isertia Haenkeana. Phytochemistry, Oxford, v. 29, n. 1, p. 209-213, 1990. ACHENBACH, H and BENIRSCHKE, M. 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Plant material was collected in riparian vegetation of the Upper Paraná River floodplain in Porto Rico-PR, Brazil, in December 2002. A voucher specimen is deposited at the Herbarium of the Nupélia - Universidade Estadual de Maringá (HNUP 2971). 2. Previous work No reporter on the chemical investigation of Cephalanthus glabratus species was found in literature. Previous works on the genus are limited to two species. Cephalanthus occidentalis has been shown to contain the indole alkaloids isorhynchophylline and anti- isorhynchophylline N-oxide, rhynchophylline and its N-oxide, dihydrodrocorynanteine, and hirsutine (Phillipson and Hemingway, 1974). Chemical investigation on Cephalanthus spathelliferus showed the presence of umbelliferone, skimmin, 7,4’-dimethylkaempferol, and 7,4’-dimethylaromadendrin and its glucoside (Lima and Polonski, 1973). 223 3. Present study The dried leaves (136 g) of C. glabratus were extracted by maceration with MeOH. The methanolic extract (14.0 g) was dissolved in MeOH: H2O 1:1 and partitioned with n-hexane, CHCl3 and AcOEt. One part of resulting CHCl3 fraction (570.0 mg) was subjected to CC on silica gel (20 g) eluting with mixtures of increasing polarities of n-hexane:CHCl3 and CHCl3:MeOH to give 8 fractions. The fraction 3, eluted with n-hexane:CHCl3 (7:3), yielded 3.4 mg of the heteroyohimbine-type alkaloid tetrahydroalstonine (Lounasmaa and Kan, 1980). The addition of CHCl3 to the fraction eluted in CHCl3:MeOH 1:1 (fr 6, 129.5 mg) afforded 46.9 mg of a white solid identified as the triterpene ursolic acid (Mahato, 1994). Evaporation of the liquor mother gives a solid residue, which was purified on preparative TLC (silica gel, n-hexane: AcOEt 50%) to afford the oxindoles mitraphylline (3.5 mg) and uncarine E (3.8 mg) (Hiroko et al, 1993). The isolated compounds were identified by comparing their spectroscopic data (IR, MS, 1H and 13C NMR) with those reported in literature. 4. Chemotaxonomic significance The Cephalanthus genus is a member of the tribe Naucleeae, sensu lato and subtribe Cephalanthinae, sensu. Intratribal classifications and generic delimitations in Naucleeae have long been controversial and were subject of several studies. On the basis of molecular data Razafimandimbison and Bremer (2002) considered the subtribe Cephalanthinae, with only the genus Cephalanthus, as basal and sister to the rest of the Naucleeae. Oxindole alkaloids are found in Uncaria and Mitragyna, two other genera of the tribe Naucleeae and in Cephalanthus occidentalis. Mytraphilline was isolated from Uncaria guianensis (Laus and Keplingler, 2003; Carbonezi et al, 2004), U. tomentosa (Wagner et al, 1985; Muhammad et al, 2001), U. elliptica (Diyabalanage et al, 1997; Herath et al, 1979), U. glabrata (Arbain et al, 1993), U. attenuata (Tantivatana et al, 1980), U. quadrangularis (Tantivatana et al, 1979), U. orientalis (Croquelois et al, 1977), U. longiflora (Phillipson and Hemingway, 1973), U. bernaysii and U. ferrea (Johns and Lamberto, 1966), and from Mitragyna stipulosa (Lala, 1985), and M. rubrostipulata (Shellard an Lala, 1978). Uncarine E was isolated from Uncaria tomentosa (Muhammad et al, 2001), U. guianensis (Lee et al, 1999), U. glabrata (Arbain et al, 1993), U. orientalis (Croquelois et al, 1977) and Mitragyna parvifolia (Shellard et al, 1968). 224 The isolation of mitraphylline and uncarine E from Cephalanthus glabratus suggested an affinity between the genus Uncaria, Mitragyna and Cephalanthus within of the tribe Nauclaeeae. These data can to contribute to the concept of monophyly suggested by Razafimandimbison and Bremer (2002) for the genera Cephalanthus, Mitragyna and Uncaria. References Arbain D., Putri, M.M., Sargent, M.V., Syarif, M., 1993. Australian Journal of Chemistry 46, 863. Carbonezi, C. A., Hamerski, L., Flausino, O. A., Furlan, M., Bolzani, V. D., Young, M. M. C, 2004. Química Nova 27, 878. Croquelois, G., Miet, C., Poisson, J., Sevenet, T., 1977. Annales Pharmaceutiques Francaises 35, 417. Diyabalanage, T.K.K., Kumarihamy, B.M.M., Wannigama, G.P., Jayasinghe, L., Merlini, L., Scaglioni, L., 1997. Phytochemistry 45, 1731. Herath, W.H.M.W., Sultanbawa, M.U.S., Wannigama, G.P., Cave, A., 1979. Phytochemistry 18, 1385. Hiroko, S. et al, 1993. Chem. Pharm. Bull., 41, 12, 2077. Johns, S.R., Lamberto, J.A., 1966. Tetrahedron Letters 40, 4883. Lala, P.K., 1985. Fitoterapia 56, 284. Laus, G., Keplinger, K., 2003. Pyton-Annales Rei Botanicae 43, 1. Lee, K.K., Zhou, B.N., Kingston, D.G.I., 1999. 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