Cinema e Deficiência: Imagens da realidade e da arte
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Cinema e Deficiência: Imagens da realidade e da arte
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA CINEMA E DEFICIÊNCIA: IMAGENS DA REALIDADE E DA ARTE SHEILA KATSURAGI Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura de Pedagogia como um dos requisitos para conclusão do curso. SÃO CARLOS NOVEMBRO 2009 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA CINEMA E DEFICIÊNCIA: IMAGENS DA REALIDADE E DA ARTE GRADE: SHEILA KATSURAGI ORIENTADORA: PROF.ª DRA. FÁTIMA ELISABETH DENARI SÃO CARLOS NOVEMBRO 2009 3 Dedico este trabalho aos meus pais, que desde o começo me incentivaram e me apoiaram nessa longa jornada. 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço aos meus pais, que estiveram ao meu lado durante todo o tempo, me fornecendo o auxilio necessário para me orientar nos momentos difíceis, e por toda dedicação e amor. Aos meus avós e tios, que estiveram do meu lado durante toda minha formação, e mesmo distantes estavam sempre me incentivando, me apoiando, e prontos para uma palavra de forca e estimulo. Agradeço também a minha orientadora Fátima Elisabeth Denari por toda atenção dispensada, por todos os momentos em que trabalhamos juntas sempre com muita dedicação e empenho, por todo tempo que ela me concedeu colaborando para a elaboração deste trabalho. E por fim, agradeço aos meus amigos, e em especial a Juliana, Márcia, Mariana, Ligia, Laís e Ana Claudia, que foram pessoas essenciais durante a faculdade, constituindo a minha segunda família, por todos os momentos alegres e tristes que compartilhamos, e por estarmos sempre juntas pra tudo, muito obrigada por fazerem parte da minha vida. 5 RESUMO O tema deficiência não é muito abordado na mídia, é difícil encontrarmos propagandas ou novelas sendo protagonizadas por pessoas portadoras de alguma deficiência, ao menos que o objetivo do programa seja mostrar essa realidade. E devido ao fato do desconhecimento e da falta de informação muitas pessoas possuem preconceitos e estereótipos formados em relação às pessoas com deficiência, pois a mídia é capaz de construir o tipo de conceito que ela desejar, sem se preocupar com as conseqüências desse ato. A mídia tem um poder muito grande de formar opiniões, por isso que este trabalho é relevante, devido ao fato de se realizar uma análise de que tipo de informação as pessoas estão recebendo em suas casas, qual a freqüência que este tema é abordado, e que tipo de preconceitos pode surgir. O objetivo desse trabalho é observar como a mídia, especificamente o cinema, se refere às pessoas com alguma deficiência, como ele aborda esse tema, e que tipo de linguagem é utilizada para tratar desse assunto. Elaborando uma análise de uma amostra de filmes que abordam algum tipo de deficiência, observando as características e a forma com que o assunto foi tratado. E dessa maneira poderemos ter uma consciência maior de como este tema esta sendo tratado com a sociedade no geral, e assim refletir sobre práticas para mudar e melhorar essa realidade. Palavras chaves: deficiência, cinema, preconceito. 6 ABSTRACT The concern of deficiency is not tackled on media, it‟s hard to find some advertisement or novel been protagonist by people with some deficiency, ate least the objective of the program is show this reality. And because the fact of the unawareness and the lack information, a lot of people have prejudice and stereotype building about people with some deficiency, because media is able to construct kind of concept she wants, with not worry about the consequence of that. The media have a big power to form opinions, it‟s because that this work is important, due to the fact of achieve a analysis about the kind of information people are receiving in their houses, what frequency this talk is broached, and what kind of prejudice can appear. The objective of this work is watch how media, specifically cinema, refers people with some deficiency, how broach this talk, and what kind of language is used for it. Elaborating a analysis about a sample of films that approach some kind of deficiency, watch features and the way this subject was treated. Therefore we can a bigger awareness about how this talk was been treated with overall society, and reflect about practices to change and improve this reality. Key words: deficiency, cinema, prejudice. 7 SUMARIO I Dedicatória II Agradecimentos III Resumo IV Abstract V Sumario VI Anexos VII Apêndice 1 Introdução 1 2 A Educação Especial no Brasil 3 3 Mídia e cinema: as imagens da deficiência 13 4 Amostra dos filmes 25 5 Comentários a guisa de encaminhamentos 56 Considerações Finais 62 Referências Bibliográficas 8 INTRODUCAO Este trabalho tem como tema a deficiência na mídia, especificamente no cinema, no que diz respeito a abordagem que esses filmes fazem em relação a essas pessoas, as linguagens utilizadas, e de que maneira essas informações estão sendo transmitidas para a sociedade. A deficiência não é um tema muito recorrente na mídia, visto que são raras as vezes que uma novela, ou uma propaganda é protagonizada por uma pessoa com alguma deficiência. Já no cinema, o numero de filmes encontrados com essa temática é um pouco maior. Por meio dos descritores “filmes sobre deficiências”, foram levantados todos os títulos relativos a filmes comerciais, na web. A partir dessa lista, contatou-se uma vídeo locadora que procedeu à seleção dos títulos. O passo seguinte foi assistir a todos os títulos disponíveis, catalogá-los e analisá-los, à luz dos referenciais da pesquisa qualitativa e descritiva. Os resultados estão brevemente descritos a seguir. O estudo tem por objetivo superar visões preconceituosas e estereotipadas em relação às pessoas com deficiência, proporcionar discussões e reflexões sobre o tema, ampliando os conhecimentos. Espera-se, como contribuição, desmistificar a deficiência, mostrando as pessoas como realmente são: com competências, potencialidades, dificuldades possíveis de serem contornadas, de forma a possibilitar que estejam verdadeiramente inseridas na sociedade, na escola, e no trabalho. O trabalho esta dividido em quatro capítulos. No primeiro temos uma breve contextualização histórica da Educação Especial no Brasil, os fatos mais importantes, a legislação existente, e o desenvolvimento dessa área no país. Já no segundo capitulo temos um breve histórico da mídia e mais especificamente do cinema, suas estruturas de funcionamento, suas atribuições, e como esses meios de comunicações podem atuar na formação de opinião. No terceiro capítulo, temos uma breve definição das deficiências (deficiência auditiva, deficiência visual, deficiência intelectual, deficiência física, e autismo.),os filmes que foram encontrados relacionados a cada uma delas, e suas respectivas sinopses. Já no quarto e último capitulo temos as análises de cada bloco de filmes relacionados com cada deficiência, na tentativa de observar a abordagem que 9 cada filme traz sobre a deficiência em questão, a linguagem utilizada, o foco principal do filme, as contribuições para o telespectador, e a formação ou não de estereótipos ou preconceitos. 10 Capitulo 1 – A Educação Especial no Brasil “Ser diferente é ser humano” As pessoas com deficiência sempre existiram em nossas sociedades, sendo mais notadas em algumas épocas do que em outras, porém estigmatizadas e alvos de preconceitos em todas elas. Nas sociedades primitivas, as pessoas que nasciam com alguma deficiência, eram abandonadas à sorte, pois apenas os mais fortes sobreviviam. Nas sociedades Greco- romanas, as crianças que nasciam com deficiência eram eliminadas, visto que a perfeição do corpo e da alma fazia parte de uma filosofia de vida; nas sociedades medievais cristãs, os deficientes passaram a ser sinônimos de pecado, devido ao fato de a Igreja considerar um “castigo divino” nascer deficiente; com a transição da sociedade feudalista para capitalista, o homem passa a ser visto como uma máquina e as pessoas deficientes, então, passam a ser portadoras de uma disfunção (BUENO 1993 e JANNUZZI, 2004). Nessa perspectiva, evidenciava-se a segregação que as pessoas com deficiência estavam submetidas, sendo que para estas sociedades a segregação era considerada a melhor forma de combater a ameaça representada por essa população. Mesmo com os avanços tecnológicos, com os estudos e com tudo que tem sido feito nessa área, na tentativa de melhorar a vida das pessoas com deficiência, o não enquadramento no padrão estabelecido pela sociedade, ainda causa muito sofrimento àqueles que não estão dentro da chamada “normalidade”. Os ditos “deficientes” estão esperando e lutando para um real respeito e para o atendimento às suas necessidades especiais. A Educação Especial tem passado, no Brasil, seguindo uma tendência internacional, por um processo de transformação visando modificar o caráter assistencialista destinado as pessoas com deficiências. No Brasil as primeiras iniciativas referentes à educação especial estão relacionadas com a fundação do “Imperial Instituto dos meninos Cegos” por Dom Pedro 11 II, no Rio de Janeiro, em 12 de Setembro de 1854, e em 1891 passou a se chamar Instituto Benjamin Constant (IBC). E em 1857, Dom Pedro II também funda o “Imperial Instituto dos Surdos-mudos”, que em 1957 passou a se chamar “Instituto Nacional de Educação dos Surdos” (INES) (MAZZOTTA, 1996). As duas instituições estavam dirigidas para a educação literária e para o ensino profissionalizante, visando a aprendizagem de ofícios, como tipografia e encadernação para os meninos cegos, tricô para as meninas cegas, sapataria, e pautação para as crianças surdas. A criação desses institutos constituiu em uma importante conquista para ao atendimento das pessoas deficientes, porém, eram poucas as crianças que tinham acesso a essas instituições, visto que a população de cegos na época era de 15.848, e de surdos era de 11.595, e apenas 35 cegos, e 17 surdos eram atendidos nessas instituições. (MAZZOTTA, 1996). Segundo Bueno (1993, p. 86) “ No período imperial alem desses institutos, iniciou-se o tratamento de deficientes mentais, no Hospital Psiquiátrico da Bahia (hoje Hospital Juliano Moreira), em 1874”. Cumpre observar, no entanto, que diferentemente dos países europeus onde iniciativas dessa natureza tiveram franco progresso, no Brasil não passaram de iniciativas isoladas e que abrangeram “... mais lesados, os que se distinguiam, se distanciavam ou pele aspecto social ou pelo comportamento divergente. Os que não o eram assim a „olho nu‟ estariam incorporados as tarefas sociais mais simples numa sociedade rural desescolarizada (JANUZZI 1985, p. 28). Após a proclamação Republica, a Educação Especial expandiu-se lentamente acompanhando o fenômeno que perpassa toda educação brasileira. Assim paulatinamente a deficiência mental (termo usado a época) assumiu a primazia da Educação Especial, quer pelo maior numero de instituições a ela dedicadas, quer pelo peso adquirido com relação à saúde – preocupação com a eugenia da raça -, e a educação – preocupação com o fracasso escolar – situações tais que perduram ate os dias de hoje. A partir da primeira metade do século XX, as instituições voltadas para o atendimento de crianças com deficiências aumentaram, especialmente a partir da criação de instituições especializadas, tais como: Serviço Medico Escolar criado em 12 1917, no estado de São Paulo dentro do Serviço de Higiene e Saúde Publica (Januzzi 1985); Pavilhão de Menores do Hospital do Juqueri, criado em São Paulo em 1923 (Pessotti, 1984), APAE, Sociedade Pestalozzi; Fundação para o Livro do Cego no Brasil, criado em São Paulo em 1946; Lar Escola São Francisco criado em 1943 em São Paulo;Associação de Assistência a Criança Defeituosa (AACD) criada em 1950, em São Paulo, atualmente designada Associação de Assistência a Criança com Deficiência. Um importante marco para e história da Educação Especial foram as diversas campanhas realizadas em prol desta causa, como a Campanha para a educação do surdo no Brasil em 1957; a Campanha Nacional de educação dos cegos em 1960 (subordinado ao Ministério de Estado de Educação e Cultura); a Campanha Nacional de educação e reabilitação de Deficientes Mentais. (MAZZOTTA, 1996) A partir de 1950 aconteceu um aumento na produção de livros escritos em Braile, com o surgimento da imprensa braile na Fundação para o Livro para o Cego no Brasil, instituída em 1946, hoje denominada de Fundação Dorina Nowil para Cegos, possibilitando uma melhor condição de estudos para os cegos. (MAZZOTTA, 1996). O percurso histórico da Educação Especial nesse período “se insere no movimento maior de reordenação do Estado brasileiro, que redundou nas reformas educacionais, trabalhistas, sanitárias e previdenciárias que tinham como objetivo impedir a participação das camadas populares nas grandes decisões nacionais.” (BUENO 1993, p. 94) Na década de 60 as iniciativas e os serviços prestados a pessoas com deficiência cresceram devido a um inventivo e maior apoio cedido pelo governo. Em 1961 aconteceu a homologação da Lei de Diretrizes e Bases 4024/61, que introduzia no sistema regular de ensino a educação da pessoa com deficiência, visando uma integração no ambiente escolar, o mais semelhante possível àquele oferecido para uma criança dita “normal”. (grifo meu). Essa integração estava baseada na idéia de que a criança com deficiência poderia ser educada até o limite de sua capacidade, pensando no fato de que a educação faria uma diferença significativa no processo de seu desenvolvimento. Na década de 70 no Brasil, começam a surgir grandes discussões em torno da integração dos deficientes na sociedade, e é neste momento que acontece a 13 institucionalização da Educação Especial em termos de planejamento de práticas públicas, com a criação do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), em 1973. (MAZZOTTA, 1996). Em 1986, com o Decreto nº 93613 de 21 de novembro, o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) foi transformado na Secretaria de Educação Especial (SESPE), posteriormente extinta. Em 1986 também foi criada a Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE). (MAZZOTTA, 1996) Em 1988, a Constituição da Republica Federativa do Brasil estabelece no artigo 208, artigo III que “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”, assegurando o atendimento educacional de pessoas que apresentam necessidades educacionais especiais (BRASIL, 1988). Em 1992 ocorreu uma reorganização dos ministérios, e dessa forma, foi criada novamente a Secretaria de Educação Especial (SEESP). (CARVALHO, 2004). Em 1994, é criado um dos mais importantes documentos que objetivam a inclusão social, a Declaração de Salamanca, a qual trata dos princípios, política e prática em Educação Especial, uma resolução das Nações Unidas a fim da igualdade de oportunidades para as pessoas portadoras de deficiência. (Bueno, 1999). A fim de reforçar a Constituição Federal, em 1996 é publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 (LDBEN 9394/96) – a qual possui um capitulo (V), destinado a educação especial, garantindo serviços de apoio especializado, na escola regular; estendendo a oferta de educação especial para o público de zero a seis anos, dentro da educação infantil; e garantia de uma educação de qualidade para os alunos portadores1 de necessidades especiais. Apesar de todas essas medidas em favor da Educação Especial, este campo, no Brasil, ainda é muito precário, mesmo com o crescimento dos últimos anos, visto que a oferta de serviços e atendimentos é muito pouca, e as verbas e os recursos financeiros destinados a essa área não é o suficiente. 1 “Portadores” é utilizado aqui, pois é este o termo usado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 14 É nesse contexto que os pais das crianças com deficiência, tem tido uma importância no movimento e na luta para melhores atendimentos a essa população. No Brasil, podemos observar um grande engajamento dos pais na busca e organização de instituições especializadas administradas pelos próprios pais. Como por exemplo, AMA (Associação de Amigos do Autista), ASD (Associação dos Surdos de Divinópolis), AACD( Associação de Assistência à Criança Deficiente), a Rede Saci, e a Rede Sarah. Com esse caminho traçado, podemos dizer que desde a década de 80 as pessoas com deficiência ou com necessidades especiais, se tornam sujeitos das práticas de prevenção, reabilitação, inserção no mercado de trabalho e garantia de direitos de cidadania. Nesse contexto, podemos afirmar que a história da Educação Especial é marcada por forte influência das instituições privadas de caráter assistencialista, devido à uma construção social, histórica e política. Um tema muito abordado há muito tempo, dentro da Educação Especial é a inclusão de pessoas com deficiência, na escola regular, no mercado de trabalho, na sociedade em geral. Quando pensamos em Educação Especial, a primeira idéia que nos vem à cabeça é a inclusão, termo que apareceu primeiro nas declarações, em seguida nas leis, e depois na academia, e agora tem sido muito usado, e acabou se tornando banal, de forma que podemos encontrá-lo em discursos políticos, nos programas, e na mídia. Esse tema é um assunto polêmico, de um lado temos autores como Romeu Kazumi Sassaki, Maria Teresa Eglér Mantoan, Marcos J. S. Mazzotta, e Fátima Elisabeth Denari, os quais acreditam na inclusão. Existe a idéia de que as pessoas com necessidades especiais têm o direito de estudar em classes regulares, criando um espaço rico em possibilidades de aprendizagens e experiências, para todas as crianças. E de outro lado, temos as pessoas que defendem a idéia de que as crianças com necessidades especiais precisam de ambientes próprios para o seu desenvolvimento, espaços estruturados de acordo com as suas necessidades, e profissionais especializados. A partir do momento em que a educação inclusiva se tornou algo regulamentado por uma lei especifica, surgiu um problema para a escola regular, devido ao fato da escola pública não estar preparada para receber esse tipo de clientela, tanto em termos pedagógicos, quanto em termos físicos estruturais. Não são todos os professores que são capacitados para lidar com crianças portadoras de necessidades especiais, além do fato 15 de que as salas de aulas superlotadas restringem a atenção que um professor pode dar a um aluno especial. As ações feitas por pais e educadores têm buscado a inclusão de pessoas com deficiência, ou necessidade especial, com o objetivo de proporcionar a oportunidade de um desenvolvimento completo e acesso a todos os recursos necessários. (Maciel, 2000). Os defensores da inclusão afirmam que a vivência de crianças com algum tipo de deficiência com outras de sua idade é favorável para o desenvolvimento social e educacional de ambas, além de diminuir o preconceito, visto que as crianças aprenderão a lidar com a diversidade desde pequenas. Considerando o fato de que o desenvolvimento e a inclusão não dependem exclusivamente da socialização, mas também de capacidades que preparem as pessoas, ainda que minimamente, para a vida independente. A Declaração de Salamanca aponta a escola inclusiva, mesmo afirmando que esse processo só será efetivado com o melhoramento dos sistemas de ensino, fato que se não ocorrer diminuirá as chances de se proporcionar possibilidades consolidadas de aprendizagem. Um aspecto que deve ser lembrado é o fato de alguns tipos de necessidades educativas tem a possibilidade de serem incluídas no sistema de ensino regular, e outras não. Dessa forma, os alunos que não apresentam problemas orgânicos possuem condições para serem incluídas, enquanto que os alunos que tiverem problemas orgânicos evidentes têm grandes motivos para não participarem do processo de inclusão. (Bueno, 1993) Os ideais da educação inclusiva defendem um sistema de educação eficiente para todas as pessoas, afirmando que as escolas, como sendo ambientes educativos, têm a obrigação de atender as necessidades de todos os alunos, independente das suas características físicas, psicológicas, possuindo uma deficiência ou não. Estes estudantes ocasionam uma quebra do paradigma da educação tradicional, obrigando a se criar novas maneiras de ensinar. Dessa forma a educação inclusiva pode ser vista como uma forma a mais de atender as dificuldades do processo de aprendizagem de qualquer aluno, se tornando num meio de garantir que os alunos com deficiência possuam os mesmos direitos que os outros. Todos os alunos se beneficiariam no processo de inclusão, visto que estariam sendo preparados para uma vida em comunidade, aprendendo a lidar e a respeitar as 16 diferenças, garantindo a formação real de cidadãos, isso se as condições necessárias para a inclusão fossem realmente atendidas. O ensino regular deve se constituir a partir do reflexo da sociedade, um ambiente diversificado. A sociedade é constituída por seres humanos diferentes, e a escola fazendo parte desse quadro social, deve contemplar em seus ambientes a diversidade. O elemento mais importante dentro da idéia de inclusão é o valor social que essa prática está relacionada, devido ao sentimento de integrar um grupo que a inclusão proporcionará. Já os críticos da educação inclusiva, garantem que simplesmente matricular as crianças portadoras de necessidades especiais não será o suficiente, uma vez que a escola regular tenha que promover a oportunidade de acesso e permanência, e para isso a escola deve fornecer o apoio que as crianças especiais precisam. Como acesso físico, equipamentos específicos, profissionais especializados, ambiente estruturado, todo tipo de suporte que as crianças necessitem. A escola regular deve possuir uma organização diferenciada de aprendizagem, que tenha a capacidade de fornecer o mesmo serviço que uma escola especial proporciona, e somente dessa maneira a escola regular poderá concorrer com uma escola especial. Sendo que além de garantir todo suporte especializado, também proporcionara uma gama enorme de experiências integradas com crianças da mesma idade, construindo um ambiente diversificado. (Rodrigues, 2006) Dessa forma, as escolas especiais não devem deixar de existir, visto que tem a capacidade de proporcionar recursos humanos e pedagógicos fundamentais para os alunos. (Denari, 2008). Uma política de educação inclusiva, precisa contar também com toda uma integração de pais, professores e toda a comunidade escolar que a envolve. A discussão da educação inclusiva envolve acima de tudo, o respeito pela diferença, a aceitação do fato de que ser diferente á uma característica humana. A prática inclusiva deve ser construída como uma alternativa de qualidade, a fim de constituir uma solução real para as escolas especiais. Além da inclusão na escola regular, as pessoas com deficiência também possuem uma lei que garante a inclusão no mercado de trabalho, na Constituição Federal (1998), no artigo 37º inciso VIII afirma que a lei “reservará percentual dos 17 cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios da admissão”. E também assegura a proibição de qualquer tipo de discriminação em relação ao salário, e critérios de admissão. A inserção de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência no mercado de trabalho é um fato realmente complicado, pois hoje em dia a maioria dos empregos exige níveis altos de capacitação ou especificação, além dos altos índices de desemprego que o país está vivendo. Muitas pessoas com nível superior estão desempregadas, evidenciando a precariedade de empregos na sociedade, dificultando ainda mais a inclusão de pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho. (Sassaki, 2004) A procura de emprego para pessoas portadoras de deficiência se torna ainda mias difícil, pois o preconceito na hora da admissão ainda é muito grande, primeiro pelo fato das pessoas subestimarem muito a capacidade deles, e segundo pela própria discriminação. A ignorância é um elemento decisivo para essa realidade, pois a falta de conhecimento, com certeza, gera todo esse preconceito, tornando cada vez mais distante a inclusão no mercado de trabalho, na sociedade no geral. Mesmo que a lei assegure a inclusão no mercado de trabalho, podemos notar que essa realidade está muito longe de ser atingida, uma vez que a sociedade ainda não está pronta para receber as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, estando muito impregnada de preconceitos, e com idéias estereotipadas e estigmatizadas em relação a esse assunto. Para que a inclusão no mercado de trabalho seja efetivada, é necessário que os órgãos públicos e privados assumam um compromisso com essa causa, fornecendo oportunidades para que essas pessoas conquistem seu espaço no mercado de trabalho. Além de promoverem uma qualificação dessas pessoas, garantindo uma maior possibilidade delas competirem de fato por um emprego, aumentando as suas chances profissionais. Nesse contexto, torna-se evidente a necessidade da sociedade abrir espaço para as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, e para isso o primeiro passo constitui em uma mudança de visão e pensamento em relação a essas pessoas. E uma 18 alternativa para efetivar essa mudança é a mídia, visto que é um veículo de informação muito poderoso, e grande influenciador na formação de idéias. A mídia tem representado uma forte influência na elaboração de conceitos sobre as pessoas portadoras de deficiência, pois seus ideais estão sendo transmitidos a crianças e jovens de forma imensurável, construindo uma imagem muitas vezes destorcida e preconceituosa em relação a essas pessoas.. A mídia potencializa os estereótipos ligados as pessoas portadoras de deficiência quando precisam falar deles, associando a eles a uma imagem de herói, exaltando seus feitos como se fossem coisas impossíveis, ou então caindo no convencional paternalismo. A pessoa deficiente nunca é tratada na mídia levando em consideração o seu lado humano, e sim como extraterrestre, como coitados ou como heróis. Os meios de comunicação não possibilitam ao público um contato com a pluralidade humana de uma forma natural, eles sempre usam do sensacionalismo quando tratam de deficiência. Muitos programas de TV introduzem uma visão não realista do deficiente, e podem levar a construções mistificadas sobre o assunto. Grande parte das mensagens, principalmente as vinculadas a campanhas publicitárias, apresentam ainda apelos emocionais, tendendo a gerar um sentimento de dó e piedade, como se as pessoas portadoras de deficiência fossem incapazes e desprotegidas. A dicotomia estabelecida pela mídia entre “heróis” e “coitados” colabora para a manutenção dos estereótipos, dificultando a as relações sociais entre as diferenças, sendo que a própria linguagem utilizada para se referir as pessoas portadoras de deficiência, muitas vezes é pejorativa e carregada de preconceitos. A mídia poderia ser uma grande aliada das pessoas portadoras de deficiência, uma vez que se portassem como um agente fiscalizador do Estado no cumprimento da lei, e também um instrumento de conscientização da comunidade com conceitos e informações que combatessem o preconceito. As deficiências que mais aparecem na mídia são as pessoas com deficiência visual, os que apresentam síndrome de Down, os cadeirantes, e os que fazem uso de muletas, na maioria das vezes em novelas, e programas especializados. Ultimamente, as 19 novelas têm abordado o tema da deficiência, sendo mais freqüente pessoas com Síndrome de Down e cegas. Em relação aos noticiários, não são muito freqüentes as referências às pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, geralmente aparecem em datas comemorativas, como Dia Internacional da Síndrome de Down, ou em eventos específicos. O mesmo acontece com a mídia impressa. O único meio midiático que talvez retrate a realidade das pessoas portadoras de deficiência de forma mais aceitável é o cinema. São vários os filmes que retratam o cotidiano dessas pessoas, de forma mais verídica, situando o público dos problemas vividos por eles, e também de todo preconceito que eles passam. Considerando tudo o que foi abordado aqui, os próximos capítulos constituirão em uma análise de como a mídia vem tratando da deficiência, a freqüência e a qualidade dessas aparições, como também a linguagem utilizada. 20 Capítulo 2 – Mídia e cinema: as imagens da deficiência São muitos os estudos que analisam a história da mídia no Brasil, porém estes ainda não são suficientes para nos relatar, de forma mais exata, sobre a historicidade da mídia, deixando grandes lacunas em relação ao surgimento desta, e possuindo poucas informações. Porém, o que nos importa não é desvendar o surgimento da mídia e, sim, como esta, em suas diferentes manifestações, tem afetado, positiva ou negativamente a população. Segundo o dicionário Aurélio – (Ferreira, 1995, p.433) mídia significa s.f. Qualquer suporte de difusão de informações (rádio, televisão, imprensa escrita, livro, computador, videocassete, satélite de comunicações etc.) que constitua simultaneamente um meio de expressão e um intermediário capaz de transmitir uma mensagem a um grupo; meios de comunicação, comunicação de massa. / Publicidade Atividade e departamento de uma agência especializada em selecionar e indicar os veículos de propaganda (televisão, jornal, mala-direta etc.) mais favoráveis à divulgação de determinada mensagem, de forma a atingir seu público-alvo; veiculação. // Mídia eletrônica, rádio, televisão etc. // Mídia impressa, revista, jornais, cartazes, mala-direta, folhetos etc. // Novas mídias, as que decorrem de tecnologias recentes (p. ex., a informática, os satélites de comunicações). Sendo assim, a mídia seria o veículo responsável por disseminar a informação de qualquer gênero, independentemente da qualidade e da veracidade dela e, também é capaz de transmitir conceitos e ideologias por meio de suas formas de entretenimento, e propagandas. A mídia tem um papel fundamental em relação à formação de opinião da população. Primeiro, devido ao fato de que os meios de comunicação em si têm grande abrangência no que tange ao alcance da população, principalmente no caso da televisão, a qual se tornou uma forma de comunicação de massa, visto que 90% das residências 21 brasileiras possuem, pelo menos, uma televisão (BRASIL/IBGE, 2000). E segundo porque é difícil colocar em prática o senso crítico em relação à credibilidade de suas fontes de informação. A televisão não substituiu nem o rádio, nem os jornais, nem a revista, por mais que o seu uso seja mais intenso e popularizado; ela é um meio de comunicação adicional que, além de informar os acontecimentos do Brasil e do mundo, também tem o papel de entretenimento, tendo a capacidade de transmitir diversos conceitos através da sua programação. E é nesse quesito que reside a nossa preocupação, quais são os conceitos que a mídia vem transmitindo à população em relação à deficiência? De que forma os meios de comunicação abordam a deficiência?Que tipo de linguagem é utilizada quando esta se propõe a tratar desse tema? Estas questões carregam o desafio de instigar a busca de respostas, respostas tais que possam, em contrapartida, provocar discussões e reflexões que, por sua vez, inspirem a mudança de paradigmas e de atitudes. No caso deste trabalho, algumas delas foram norteadoras desta busca. Antes de abordar-se a relação da mídia com a deficiência mais especificamente, será necessário observar a mídia mais de perto, a fim de conseguir entender o seu funcionamento e sua estrutura. A cultura da mídia está em constante mudança; as informações possuem uma fluidez gigante e livre, e o seu volume também é cada vez maior, tornando-se cada vez mais onipresente e intensa. As fronteiras não são mais limite para a mídia, pois seus mercados então ficando mais amplos, e isso faz com que pessoas de todas as partes consigam ver imagens oriundas de locais distintos, sendo eles próximos ou distantes (BUTCH, 2002). Até meados da década de 90 pensava-se que sete em cada dez domicílios em todo o mundo possuíam um aparelho de televisão; comparando com os números da década de 80, esses números apresentam um aumento de 100% em relação à expansão de canais, de horas assistidas, e de televisões residenciais. Dessa forma a televisão reforçou seu papel de principal meio midiático de massa. (BUTCH, 2002) 22 A televisão por satélite conseguiu aumentar a expectativa em relação à liberdade de escolha e de igualdade de acesso à informação para todos, como também o receio com a padronização, e formas mais violentas e discriminatórias de entretenimento e propaganda, podendo apresentar formas estigmatizadas de estereotipadas de retratar gêneros, grupos sócias minoritários, culturas e nações distintas. Mesmo que as formas de utilidade da mídia tenham como fundamentos o nível sociocultural da pessoa e os gostos individuais, podemos notar uma tendência de que, com o crescimento quantitativo dos conteúdos dos meios de comunicação, as preferências e estilos de vida se tornam cada vez mais decisivos em relação às influências nas opções de mídia, tornando-se mais individualizados. Apesar da individualização, a televisão continua sendo o meio de comunicação dominante possuindo todos os tipos de usuários, tanto em relação ao número, como quanto ao tempo gasto. Atualmente, todos, em qualquer lugar, assistem televisão e, esse fator, na maioria das vezes, constitui a parcela principal de seu uso da mídia. Uma observação importante que vale a pena ressaltar é o fato de a televisão, estabelecer padrões, hoje em dia um pouco contestados, mas essa forma de comunicação está sempre impondo e exprimindo padrões, tais como: padrões de beleza, de moda, de comportamento, fazendo com que idosos, crianças, minorias étnicas e lingüísticas sejam sub-representados. Uma explicação para essa situação é que a cultura da qual a mídia se apropria é aquela que possui o maior nível da hierarquia da sociedade, assumindo dessa forma, o seu peso cultural e seus valores, considerando alguns grupos sociais mais do que os outros, e deixando de lado as minorias. O uso da mídia também se dá pelo fato de atribuir aos usuários uma sensação de “inclusão” em relação às pessoas e aos acontecimentos, pois utilizando a mídia muitas vezes leva às pessoas a um acontecimento sócio real, pois os temas das novelas, documentários e notícias sempre se tornam assuntos nas conversas com amigos e familiares. Tudo que vemos, ouvimos ou lemos da mídia nos influencia de alguma forma, positivamente ou negativamente, mas certamente, algo é extraído após o uso de algum meio de comunicação. E essa é uma das razões da preocupação de pais e professores em 23 relação ao que as crianças e adolescentes estão consumindo da mídia, devido às possíveis influências nocivas que a mídia pode trazer. Os conteúdos midiáticos não são responsáveis diretos e imediatos das nossas atitudes, pois o que absorvemos da mídia geralmente fica em nosso subconsciente, a partir de uma seqüência de impressões mentais – concepções, idéias, valores sentimentos, e experiências – que se misturam com as impressões pessoais que possuímos em função da nossa própria vivência, grupo ao qual pertencemos, e a família. Portanto, a mídia não é a responsável única pela formação de conceitos e valores, e nem em relação às injustiças em relação ao gênero, grupos sociais minoritários, ou que levam ao racismo e à discriminação. Mas de fato, a mídia contribuía para que tais elementos se acentuem. Da mesma maneira, a mídia também não pode ser responsabilizada unicamente por solucionar e diminuir as lacunas em relação à informação, contudo ela pode contribuir se estiver operando nesse sentido. Cada país possui uma regulamentação especifica em relação aos conteúdos da mídia, mesmo que esta possua políticas e diretrizes próprias, muitas vezes ocorre a intervenção do Estado por meio da legislação ou recomendações. Já é normal dizermos que a mídia tem uma função central na vida contemporânea, visto que o conhecimento mais próximo que temos da realidade é formado em grande parte através dos meios de comunicação. Cada vez mais a mídia trabalha como uma expansão dos sentidos humanos. Esse fato nos indica o estreitamento das relações que ocorrem entre os indivíduos e os acontecimentos, do mesmo modo que altera as coordenadas de espaço e tempo (CHRISTOFOLETTI e MOTTA, 2008). Os meios de comunicação não tem somente apontado para os grandes acontecimentos e as transformações mundiais, mas também, tem sido responsáveis por uma parte delas. A população não apenas se deixa levar pela mídia, como reflete, se apropria ou não rejeita a sua influência. Os usuários da mídia ainda não abandonaram seu posicionamento passivo diante dos meios de comunicação, mas alguns indícios nos mostram que a relação entre eles mudou, pois a população tem reagido ao conteúdo midiático. 24 As mensagens que os meios de comunicação proporcionam são os agentes construtores da realidade em que vivemos, pois a visão que a mídia transmite geralmente é aceita como uma verdade absoluta, sem ser contestada ou criticada, dessa forma as informações começam a se transformar em fatos reais, sem se pensar que estas podem estar sendo manipuladas ou forjadas. Na sociedade moderna, a empresa cultural e informativa é um elemento importante ao desenvolvimento, e é notado por grande parte da população como um parceiro, um aliado, e não como um poder nocivo, influenciador e invasor. A visão dos indivíduos em relação à mídia é um tanto idealizada, visto que os usuários desta enxergam a função dos meios de comunicação como um favor prestado. A mídia não tem atendido as demandas da sociedade, visto que seu funcionamento é um tanto acomodado, oficialista e superficial. É necessário que a indústria cultural reflita de forma coerente os interesses coletivos, e para isso acontecer seria fundamental que o conteúdo midiático não ficasse somente sob o controle dos proprietários e dos profissionais dos meios de comunicação, ele precisa ser dividido a fim de atender as demandas coletivas. Segundo Motta (2008, p. 44): A mídia só se transformará em um espaço público democrático condizente com as exigências dos direitos e do desenvolvimento humano se as várias verdades forem tornadas públicas. Não há uma só verdade, seja ela científica, jornalística ou do senso comum. Todas as versões da verdade são relativas, nenhuma delas é absoluta. A verdade democrática só pode ser alcançada por meio do pluralismo de versões que precisam ser confrontadas e negociadas. A verdade dos fatos é obtida por meio do pluralismo, um valor universal: todos os envolvidos precisam ser ouvidos e quanto mais pontos de vista alternativos, maior o pluralismo da cobertura. A mídia só se transformará em um espaço público democrático, representativo da pluralidade da sociedade, se as várias verdades e pontos de vista antagônicos forem simultânea e permanentemente tornados públicos e acessíveis. 25 Sendo assim, o objetivo de construir uma mídia democrática só será atingido quando esta passar a se comprometer com todas as verdades, tornando-as acessíveis a todos. Nesse contexto, podemos afirmar que a mídia assume um papel determinante no campo das relações cotidianas, já que ela tem a capacidade de estabelecer padrões utilitários, ditando a moda, as regras, e formas de comportamento. A partir dessa configuração que os meios de comunicação deveriam se preocupar com o tipo de cidadãos que estão contribuindo de alguma maneira para a sua formação. Ver, olhar e observar podem ser sinônimos, mas não podem ser aplicados dessa forma quando falamos em meios de comunicação, pois é possível que apenas olhemos aos noticiários sem observar seus detalhes, ver sem enxergar de fato. A parte jornalística da mídia muitas vezes nos traz informações cristalizadas, versões coerentes com a visão dos profissionais dos meios de comunicação, podendo estar um pouco distorcidas da realidade. Como afirma Christofoletti (2008 p. 77) Os diversos olhares, as mais distintas maneiras de se projetar para as coisas, sinalizam modalidades de apreensão dos planos do real. Por isso, os campos do saber não interpretam os fenômenos igualmente; as explicações não coincidem não se cobrem. A maneira pela qual deitamos olhos sobre os objetos influência incontornavelmente nossa visão, nossa compreensão das coisas. A variedade destes olhares leva à pluralidade dos saberes, das ciências, das relações que o humano estabelece com seus pares e o meio que o cerca. A realidade é maior do que os meios de comunicação nos apresentam, afinal os profissionais da mídia podem falhar, visto que o próprio processo de transmissão de informação está submetido a lacunas, a confusões e distorções, e dessa forma, com tantas possibilidades de falhas, o resultado tem grandes chances de não corresponder ao esperado. 26 É necessário ter muita cautela ao analisar algo oriundo da mídia, visto que muitas vezes, em busca de aumentar a audiência, os meios de comunicação se utilizam do chamado “sensacionalismo” como afirmam Silva e Paulino (2008, p. 44) O sensacionalismo aponta para duas reações diametralmente opostas: a primeira, referente à intenção bem-sucedida de um emissor que deseja do seu destinatário um consumo emocionalafeitvo-catártico da informação; a segunda, a reação indignada da critica a essa conduta e que, normalmente, é uma das principais manifestações dos observatórios. A mídia tipicamente sensacionalista, em geral, não é objeto de reflexão e metalinguagem dos observatórios. Entretanto, há uma produção midiática forçosamente emotiva para todos, seja para os veículos de “linha sensacionalista”, seja para os veículos de “linha séria” de cobertura. É quando se apresentam as situações-limite: a tragédia, o crime hediondo, o fantástico, o inusitado. As situações-limite são ao mesmo tempo, provações para o ser humano e seus sentimentos, e uma oportunidade rica para a coleta de conotadores discursivos que vão denunciar a “ideologia” (linha editorial) do veículo ou de seus profissionais. Da mesma forma, tais situações também fornecem elementos de analise acerca dos distintos procedimentos técnico-ético estéticos em torno de um fato. E é nessa configuração que a abordagem de temas referentes à deficiência se insere. Pode-se notar que é considerável a freqüência em que os noticiários tratam desse tema com certo sensacionalismo, devido ao fato de que quando noticiam algo com relação às pessoas portadoras de deficiência eles transformam a informação, de maneira a tentar despertar a emoção do telespectador. Geralmente, as notícias referentes às pessoas portadoras de deficiência possuem uma conotação de piedade ou de heroísmo, visto que as informações possuem uma linguagem com o objetivo de chamar a atenção do telespectador, mascarando a notícia de fato. Dessa forma, os usuários da mídia sempre têm uma visão estigmatizada em relação à deficiência, já que os atores da notícia são retratados de maneira a vangloriar suas ações, ou então, de maneira “solidária” com a finalidade de desenvolver a piedade 27 do telespectador. Sendo assim, as pessoas portadoras de deficiência são vistos pela sociedade como heróis ou como “coitadinhos”, dignos de pena. Assistindo aos programas da televisão aberta, podemos notar que são raros os que abordam temas relacionados com as pessoas portadoras de alguma deficiência, aparecendo com maior freqüência em novelas e noticiários. Nas novelas podemos notar a presença de personagens portadores de deficiência, como por exemplo, na novel Paginas da Vida de Manoel Carlos exibida pela rede Globo em 2006, onde a filha da protagonista Helena vivida por Regina Duarte, Clara (Joana Mocarzel) era portadora de síndrome de Down. Também na novela Desejo Proibido de Walther Negrão exibida em 2007 pela rede Globo, um dos personagens era portador de Síndrome de Down, o ator Andre Varella. E na novela Caras e Bocas de Walcyr Carrasco exibida em 2009, apresenta uma personagem portadora de deficiência visual, Anita, interpretada por Danieli Haloten. Contudo, podemos notar uma presença grande desse tema no cinema, visto que é fácil encontrar filmes que contam histórias relacionadas com pessoas portadoras de deficiência. Outro elemento midiático que possui muitas abordagens em relação às pessoas portadoras de deficiência é o cinema. São vários os filmes que retratam histórias reais de personagens que possuem alguma deficiência. Fazendo parte da mídia, o cinema, assim como a maioria dos elementos midiáticos não possui uma origem definida historicamente, porém, alguns fatos e indícios históricos e arqueológicos afirmam que é remota a preocupação do homem em registrar o movimento. O desenho e as pinturas nas cavernas foram as primeiras maneiras do homem tentar representar o movimento, as formas dinâmicas do cotidiano, e da natureza, criando desse jeito uma história por meio das figuras. Pode-se dizer que o precursor do cinema é o jogo de sombras do teatro de marionetes oriental, visto que nesta representação está presente o movimento, e o dinamismo contidos no cinema. E o elemento que introduziu a ciência e posteriormente a tecnologia cinematográfica foi à experiência com a câmera escura (elaborada por Leonardo da Vinci – 1452-1519) e a 28 lanterna mágica, constituindo a ciência óptica, se configurando como um cinema rudimentar. O cinema possui mais ênfase no século XX, onde muitos acontecimentos tiravam a atenção da sociedade, como a segunda revolução industrial, da cibernética, da tecnologia, da propaganda, da comunicação em massa, etc. E o cinema está envolvido nisso tudo, como uma concretização material, ou como uma forma simbólica, se consolidando como a sétima arte, visto que o cinema está relacionado com artes mais antigas, como a pintura, a escultura, a dança, a música, o teatro, a literatura. (GRUNEWALD, 1996) O cinema seria, então, um espaço em que todas as artes podem se manifestar, visto que, por meio do cinema todas as artes têm a possibilidade de se projetar com outras dimensões, utilizando de outro suporte para ampliar seus significados. Como afirma Grünewald (1996 p.4): Lá está a pintura, na composição, nuanças e gradações de cores e formas das cenas na tela cinematográfica; a escultura, mediante a modulação do espaço operada pela câmera em movimento; a dança, com deslocamento de seres e coisas dentro do quadro, ou o da objetiva, em torno de seres e de coisas; a música, seja uma analogia, em abstrato, a fim de formular um ritmo temporal, seja como acompanhamento sonoro para auxiliar na formulação da atmosfera emocional, psicológica; a literatura, com os métodos de narração; o teatro, com os diálogos e as tensões entre as personagens. Tudo isso, sem esquecer a arquitetura, a oitava, mas a primeira de todas, em antiguidade, cuja intervenção basta ser lembrada no tocante à construção dos cenários. Porém, o cinema não se resume as artes propriamente ditas, mas também envolve o jornalismo, a educação, a política, a propaganda, e ao comércio. Podemos até dizer, que o cinema além da sétima arte, pode se constituir em uma criação industrial. O cinema tem uma característica específica que o diferencia das outras artes, ele está girando constantemente, ele está no processo do conhecimento, do transformismo e da forma em movimento. 29 Inicialmente, é possível dizer que o filme não é uma somatória de imagens, mas sim, uma forma temporal. O sentido de uma imagem esta condicionado aquelas que a precedem no decorrer da história, e a seqüencia delas é capaz de criar uma nova realidade. Como afirma Merleau-Ponty (1996 p.30) Trata-se do privilégio da arte em demonstrar como qualquer coisa passa a ter significado, não devido a alusões, a idéias já formadas e adquiridas, mas através da disposição temporal ou espacial dos elementos. Um filme significa da mesma forma que uma coisa significa: um e outro não falam a uma inteligência isolada, porém dirigem-se a nosso poder de decifrar tacitamente o mundo e os homens e de coexistir com eles. Certo que, no decorrer comum da existência, perdemos de vista esse valor estético da menor coisa percebida. É certo também, que a forma percebida na realidade jamais é perfeita; há sempre falta de nitidez, expletividades e a impressão de um excesso de matéria. O entrecho cinematográfico tem por assim dizer, um cerne mais compacto do que o da vida real, decorre num mundo mais exato do que o mundo real. De qualquer forma, é mediante a percepção que podemos compreender a significação do cinema: um filme não é pensado e, sim, percebido. Diante disso, o cinema, assim como qualquer outro tipo de mídia, deve ser visto com cautela, analisando o que é visto sem crer que esta seja uma verdade absoluta, e ter cuidado com o que não é dito; pois os filmes dão a perceber situações que muitas vezes não paramos para refletir. O cinema lança seus efeitos através de imagens projetadas, e estas são de imediato associadas com as imagens que temos guardadas em nossas memórias, e por meio das ligações, despertam emoções de todos os tipos. O mundo cinematográfico amplia o mundo dos objetos, tanto no sentido visual, como no sentido auditivo, e principalmente aumenta e aprofunda a percepção, o cinema é a arte de jogar e brincar com o tempo (RESNAIS, 1996) 30 Ao assistir um filme. o espectador não é um elemento passivo, é alguém que usa as suas faculdades mentais para participar da interação a qual está inserido, completando os espaços do objeto com contribuições intelectuais e emocionais (XAVIER, 1991). Dessa forma, o espectador tem metade na parcela de responsabilidade por aquilo que este apreende dos filmes que assiste, visto que suas capacidades intelectuais definem o que será compreendido. O que assistimos em um filme terá um significado dependendo da experiência de cada um, visto que o cinema tem a capacidade de despertar emoções, sentimentos, criar idéias, mexer com a imaginação, gerando impressões distintas em cada pessoa. Estudar cinema é como estudar qualquer outra ciência, a qual está preocupada com o geral em vez de com o particular. Não está preocupada com filmes ou técnicas, mas sim com a própria capacidade cinemática, e este fator influencia tanto os cineastas como os espectadores. Como salienta Munsterberg (1991), é a avidez da sociedade por informação, educação e entretenimento que permite que o cinema exista, visto que a sociedade possui uma forte necessidade de se informar, de conhecer, de não estar alienado dos acontecimentos e da história. E o cinema preenche esse tipo de necessidade, pois com seus artifícios consegue informar, fornecer conhecimento histórico, e principalmente entreter. Um elemento essencial do cinema é a tecnologia, pois esta proporcionou ao mundo cinematográfico uma nova visão, impulsionado para um novo fenômeno, tornando o cinema mais atraente. Segundo Munsterberg, (1989, p.26): Assim, a história do cinema mostra uma propulsão inelutável de (estágio um) brincadeira com insignificâncias visuais para (estágio dois) o desempenho de importantes funções na sociedade, como educação e informação, e finalmente, através de sua afinidade natural com a narrativa, para seu verdadeiro domínio, (estágio três) a mente humana. 31 Nesse contexto, esse mesmo autor afirma que a mente humana não vive somente num mundo em movimento, ela organiza esse mundo por meio da propriedade da atenção. Assim um filme não é apenas um registro do movimento, mas um registro organizado da forma como a mente elabora uma realidade significativa. Além da propriedade da atenção, a mente humana recorre a outros artifícios no momento de assistir a um filme, são elas a memória, a imaginação, e uma das mais importantes, as emoções, considerada por Munsterberg (1989) o mais alto nível mental, visto que são mais completos. Assim, o cinema se configura em uma importante ferramenta de construção de conceitos e ideais, visto que ele tem a capacidade de formar opiniões enquanto entretêm, e muitas vezes as pessoas nem percebem que algum tipo de idéia está sendo elaborada no momento em que se assiste a um filme. É nesse aspecto que o cinema contribui para esta pesquisa, visto que este meio de comunicação em massa tem a capacidade de atingir e influenciar muitas pessoas com seus ideais e conceitos, e uma vez que a deficiência tem sido um tema constante no mundo cinematográfico, é interessante observar de que forma essa abordagem está ocorrendo. 32 Capítulo 3 – Amostra dos filmes Para estudo e posterior análise de como o cinema aborda a deficiência foram assistidos vinte e dois filmes; e as deficiências encontradas nos filmes foram: deficiência auditiva, deficiência visual, deficiência mental, deficiência física, autismo e Síndrome de Down, como mostra o quadro 1. Quadro 1: Tipos de deficiências abordadas pelos filmes Tipo de deficiência: Numero de filmes: Deficiência auditiva 3 Deficiência visual 5 Deficiência mental 9 Deficiência física 4 Autismo 2 Síndrome de Down 2 A deficiência pode ser definida de muitas formas distintas, podemos observar duas vertentes, uma em que os estudiosos do meio definem deficiência como algum atributo inerente à pessoa deficiente, como uma característica do seu organismo ou do seu comportamento. Do outro lado, a restrição do objeto de definição tem sido fundamentada em áreas teoricamente específicas de comprometimento. (OMOTE, 1996, p. 127). Segundo Omote (199, p. 127): A concepção da deficiência como algo que está inerentemente presente no organismo e/ou no comportamento da pessoa 33 identificada como deficiente e a sua delimitação em função de áreas supostamente distintas de comprometimento implicam automaticamente um modo especifico de se lidar com as deficiências e as pessoas deficientes. Criam-se nomes e categorias para especificar (talvez construir) diferentes tipos de deficiência, especializam-se os profissionais e serviços, e profissionalizam-se as nomenclaturas. Essa situação pode ser comprovada nos diversos produtos ligados a deficiência. Os livros que ensinam sobre as deficiências abordam algum tipo específico de deficiência ou possuem capítulos específicos para cada tipo de deficiência. Existem mais publicações relacionadas a cada tipo de deficiência do que as relacionadas com a deficiência de uma maneira geral. As organizações de deficientes, os serviços e atendimentos oferecidos são especializados por área de deficiência. Em um estudo, os autores como Verbrugge e Jette (1994), sugeriram que a deficiência fosse definida como uma lacuna entre a pessoa e o ambiente. A deficiência seria uma lacuna ente a habilidade da pessoa para certa atividade e a demanda da atividade. Dessa forma, a deficiência seria definida em relação a atividades específicas e a redução da deficiência poderia ser buscada a partir do aumento da habilidade da pessoa e/ou a redução da demanda. (OMOTE, 1996). Para Omote, a fim de se compreender o que é a deficiência não é suficiente olhar para a pessoa considerada deficiente, procurando no seu organismo ou comportamento características que possam ser identificadas como sendo a deficiência em si. É preciso olhar para o contexto em que alguém é identificado como deficiente, em qual sistema de valores, e princípios está inserido, visto que essa contextualização condicionará a forma como a pessoa deficiente será tratada. 3.1 – Filmes que abordam a Deficiência Auditiva Segundo Nielsen (1999) a deficiência auditiva pode ser definida como: “Um indivíduo que apresenta um problema de audição é considerado surdo, se a sua capacidade de audição não se revela funcional em termos de atividades do dia-a-dia. É considerado que apresenta hipoacusia, se essa capacidade é deficiente, mas ainda 34 funcional, recorrendo ou não a um aparelho auditivo. Esta deficiência não deve ser confundida com disfunções auditivas, isto é, com a incapacidade para interpretar estímulos auditivos que não resulta de perda de audição.” Fatores hereditários e ambientais são fortes determinantes na deficiência auditiva. A surdez total, condição rara, é quase sempre congênita. Os fatores genéticos podem ser causa provável de 50% de todos os casos de surdez, enquanto que a surdez parcial (entre moderada e severa) pode ser resultado de doenças no ouvido, lesões ou degeneração do aparelho auditivo em decorrência do envelhecimento. As pessoas com de deficiência auditiva geralmente utilizam-se dos sinais de libras para se comunicarem, ou também, da leitura labial. São muitos os avanços tecnológicos que tem se desenvolvido para os surdos, como as máquinas de escrever, cujos sinais se transmitem segundo um sistema eletromagnético, aumentando dessa forma a capacidade de independências destas pessoas. Os filmes assistidos que contemplavam a deficiência auditiva foram: “A música e o silêncio” dirigido por Caroline Link; “O Piano” dirigido por Jane Campion; “Querido Frankie” dirigido por Shona Auerbach. 1. Sinopse do Filme “A música e o silêncio”: Lara é a ponte de comunicação dos seus pais surdos-mudos com o mundo, em uma pequena cidade no sul da Alemanha. Ela é responsável por atender telefones, interpretar negociações, filmes e transmitir os recados de sua professora, nem sempre com muita fidelidade. Em um encontro familiar de natal, Lara revê sua tia Clarissa, uma bem sucedida clarinetista de jazz, a qual apresenta a menina o encantador universo da música. Lara se apaixona pelo som do clarinete, e sua tia lhe presenteia som o seu primeiro instrumento, incentivando a menina a seguir o caminho da música. O pai de Lara, Martin, não fica muito contente com a idéia de sua filha ir morar com Clarissa para estudar mais e prestar um exame de admissão pra um renomado conservatório de Berlim quando a menina completa 18 anos. Mesmo a contra gosto de seu pai, Lara vai para Berlim, onde conhece Tom, um professor de crianças surdasmudas. 35 Após um acidente de bicicleta, a mãe de Lara morre, fazendo com que a menina retorne a sua casa, para cuidar do pai e da irmã. Os conflitos com o pai se acentuam, pois este não compreende a paixão de Lara pela música, e isso faz com que a relação deles fique abalada. Lara decide prestar o exame mesmo assim, e com medo de perder a filha Martin comparece ao conservatório para assistir a prova da filha, e nesse momento ele diz tentar compreender melhor Lara. 2. Sinopse do filme “O Piano”: O filme conta a história de Ada, uma mulher de uns 30 anos muda desde que o pai de sua filha morreu. Ada é obrigada a se casar com um homem que seu pai arranjou, e acaba tendo que ir morar em outro país. Ada possui um bloquinho preso a uma caneta em seu pescoço, para quando sua filha não estiver por perto para traduzir seus sinais, ela escreve para se comunicar. Ada diz que sua forma de expressão é o piano. Quando ela se muda para o país de seu marido (Nova Zelândia), ela fica por um tempo sem o seu piano, visto que os ajudantes do marido dela não conseguiram transportar o piano até a casa deles. E enquanto ela não tem seu piano de volta, ela tenta encontrar formas de manifestar seus sentimentos, e uma delas é desenhando um piano na mesa da cozinha e fingindo que toca nele, enquanto a sua filha canta. Em outra tentativa, ela pede para o amigo do marido, Bainnes, para levá-la até a praia onde o seu piano está, e por lá, fica um bom tempo tocando. Nisso, Bainnes gosta muito de ouvir Ada tocar, e quando ele faz uma negociação por umas terras com o marido de Ada, ele pede o piano em troca. Quando Ada descobre isso fica muito furiosa, e por meio dos sinais traduzidos pela filha ela tenta dizer que o piano é dela. Ela concorda em dar aulas de piano para Bainnes. Durante as aulas os dois fazem um acordo, ele devolverá o piano ao fim de um numero de encontros. Porém, Ada não imaginava as reais intenções de Bainnes, e ao longo dos encontros ele começa a impor condições constrangedoras, e ela acaba se submetendo a fim de reaver seu piano. 36 Antes de terminar as aulas, Bainnes devolve o piano a Ada, pois afirma que ele gostaria que ela gostasse dele de verdade. Ada sente falta de Bainnes e vai visitá-lo, e acaba traindo seu marido com ele. O marido de Ada descobre tudo, mas não fala nada pra ela, simplesmente tranca toda casa pra ela não ir visitar Bainnes. Bainnes resolve então ir embora, e Ada como uma lembrança, tira uma tecla do seu piano e escreve que o coração dela será sempre dele, e pede a sua filha para entregar, mas a menina resolve entregar para o marido dela, e ao descobrir ele fica furioso, e a puni cortando um dos seus dedos da mão com o machado. O marido de Ada vai até casa de Bainnes a fim de matá-lo, mas chegando lá ele não consegue. No fim, Ada e sua filha vão embora do país morar com Bainnes, que faz um dedo de prata para Ada poder continuar tocando piano. E na viagem no mar, ela pede para jogar seu antigo piano fora. 3. Sinopse do filme “Querido Frankie”: O filme conta a história de Frankie, um menino de nove anos surdo que vive com a sua mãe e sua avó. Lizzie, mãe de Frankie abandonou o marido e fugiu com seu filho por motivos não declarados, e desde então ela muda de cidade, toda vez que o pai de Frankie se aproxima.Frankie segundo Lizzie, não nasceu surdo, ela diz que isso foi “um presente” do pai, e mais adiante ela afirma que o pai quase os matou, dando a entender que ele foi responsável por um acidente que causou a surdez de Frankie. Frankie não sabe muito se comunicar em libras, ele consegue ler lábios muito bem. Lizzie fingindo ser o pai de Frankie manda cartas para o menino com freqüência, mentindo sobre trabalhar num barco, e estar viajando pelo mundo. Frankie é fascinado pelas histórias que o suposto pai conta pelas cartas. Lizzie inventou um nome para o barco que o pai de Frankie estaria, e coincidentemente existe um barco com esse nome que irá para cidade deles. Frankie fica ansioso com a possibilidade de encontrar seu pai, e Lizzie desesperada por não saber o que fazer para sustentar essa mentira. Ela resolve pagar para um homem fingir ser o pai de Frankie. Frankie e seu suposto pai passam um tempo juntos, e este homem acaba se apegando ao menino, e pede para Lizzie permissão para poder passar mais tempo com 37 ele. Por fim ele precisa ir embora e se despede de Frankie, e nesse momento o menino fala e presenteia o pai com um cavalo marinho de gesso. Lizzie descobre pelo jornal que esta sendo procurada pelo verdadeiro pai de Frankie, e ao entrar em contato descobre que o ex marido está muito doente, e só tem mais alguns dias de vida, e vai visitá-lo no hospital. Ele pede para ver seu filho, e Lizzie não permite. Depois de um tempo o verdadeiro pai de Frankie morre, e Lizzie conta o fato para o filho. O filme termina com Lizzie lendo a última carta que Frankie escreveu para seu pai de mentira dizendo como as coisas estavam, e contando que seu verdadeiro pai tinha falecido, e termina a carta o chamando de amigo, e não de pai como antes. Essa cena demonstra que Frankie descobre a verdade sobre seus dois pais. 3.2 – Filmes que abordam a Deficiência Visual Segundo o Nielsen (1999) : “deficiência visual diz respeito à diminuição da capacidade de visão. Os termos visão parcial, cegueira legal, fraca visão e cegueira total são comummente usados para descrever deficiências visuais.”. Pode-se dizer que mais de 40 milhos de pessoas no mundo são ou totalmente cegos ou têm visão parcial. A maioria dos casos acontece em pessoa com mais de 65 anos de idade. Existem varias causas para a deficiência visual, como degeneração do globo ocular ou do nervo óptico, ou problemas nas conexões nervosas que ligam o olho ao cérebro. A cegueira normalmente é ocasionada por uma lesão ou uma doença e ninguém está protegido a este tipo de deficiência. Alguns casos de desordens visuais podem ser corrigidos com lentes adequadas, são eles a hipermetropia, a miopia e o astigmatismo. Outros problemas visuais podem ser causados devido a um funcionamento deficiente da musculatura ocular, podendo ocasionar estrabismo, heterofobia e nistagmo. As pessoas com deficiência visual podem se utilizar do sistema Braille para poderem ler e escrever. Este sistema foi criado por Louis Braille. Este método consiste em pontos em relevo dispostos regularmente em espaços de letras ou células quadrangulares que são lidos pelo tato. Podem se formar 63 caracteres distintos. 38 Os filmes assistidos que contemplavam a deficiência visual foram: “A cor do paraíso” dirigido por Majid Majidi; “Ensaio sobre a cegueira” dirigido por Fernando Meirelles; “Vermelho como o céu” dirigido por Cristiano Bortone; ”O Silêncio” dirigido por Mohsen Makhmalbalf; “Ray” dirigido por Taylor Hackford. 1. Sinopse do filme “A cor do paraíso”: O filme conta a história de Mohammad, um menino cego que depois de passar seu ano letivo em uma escola especial para crianças cegas, volta para sua casa com seu pai, sua avó e suas irmãs.Mohammad é uma criança muito ativa e curiosa, por meio do tato ele explora toda a natureza que o cerca, descobrindo a cada dia novas formas, e sempre muito atento a todos os sons que escuta. O pai de Mohammad é um viúvo, e se preocupa muito com o futuro de seu filho, visto que ele acha que Mohammad tem que aprender um ofício para poder se virar sozinho quando ele for embora. Mohammad também está preocupado com seu casamento, pois pensa que o filho pode ser um peso para sua futura esposa. Um dia quando as irmãs de Mohammad vão para escola, ele também deseja ir, no começo sua avó não deixa, mas depois acaba consentindo. Ele se sai muito bem na escola, e o professor fica admirado em ver que ele está aprendendo a mesma lição que seus alunos. Mohammad é levado, sem o consentimento de sua avó, pelo seu pai para viver em uma carpintaria, onde aprenderia o trabalho com o carpinteiro que também é cego. A avó fica muito triste com a partida de seu neto. Mohammad não gostou de ter que se afastar de sua avó e suas irmãs, e chora muito, alegando que as pessoas não gostam dele porque ele é cego, e que tudo seria diferente se ele enxergasse. Aos poucos Mohammad aprende a lidar com a madeira. Sua avó resolve sair de casa, pois não concorda com o afastamento de seu neto, mas o pai do menino implora para mãe ficar. A avó de Mohammad acaba morrendo, e por causa disso o pai dele não consegue mais se casar, pois a família da noiva acredita que não terão sorte se casando depois de um velório. O pai de Mohammad vai buscar o filho na carpintaria para voltarem pra casa, e no meio do caminho começa a chover, e a ponte em que eles 39 estavam cai, fazendo com que Mohammad caia no rio. O pai dele demora muito para ir salvá-lo, e quando ele resolve pular na água, o menino já tinha sumido. O filme termina com a cena do pai segurando o filho no colo achando que ele morreu, mas Mohammad ainda consegue mexer as mãos. 2. Sinopse do filme “Ensaio sobre a cegueira”: O filme conta a história de uma inédita epidemia de cegueira, a qual não foi encontrada explicações, muito menos a cura, em uma cidade não identificada. A epidemia é denominada de “cegueira branca”, devido ao fato da pessoa infectada enxergar somente uma superfície leitosa e branca. A primeira pessoa infectada foi um homem que estava em seu carro no meio do trânsito, e de repente parou de enxergar. Ele recebe a ajuda de um homem que o leva pra casa, e por fim, acaba roubando seu carro. O homem infectado vai ao médico, o qual não consegue diagnosticar nada, e o manda de volta pra casa. A partir de então, todos que tiveram contato com este homem, com o médico e com as pessoas que estavam no consultório são infectadas. Como uma medida preventiva do governo, todos os infectados vão para um local para ficarem em quarentena, e a mulher do médico vai junto, mesmo não tendo sido infectada. O número de pessoas contaminadas cresce, e o lugar começa a ficar pequeno para todos, e a comida se torna escassa. A mulher do médico é a única que consegue enxergar, mas só o seu marido sabe disso, e ela ajuda a todos. As pessoas que estavam em quarentena estavam recebendo instruções através de uma televisão, a qual foi quebrada por um dos infectados, e este se auto declarou o “rei” do local e que todos iriam tem que obedecer as suas ordens. Primeiramente ele solicita todos os objetos valiosos em troca de comida, e em seguida as mulheres. Na tentativa de terminar com isso, a mulher do médico mata este homem, dando inicio a uma guerra. Em uma das brigas, o local começa a pegar fogo, e a mulher do médico os leva para fora, e eles conseguem ficar livres. Ao sair na rua ela fica horrorizada com o que 40 estava acontecendo: todos estão cegos, as ruas e lugares abandonados, cadáveres sendo devorados por cachorros, sujeira, pessoas lutando pela sobrevivência. Ela consegue encontrar comidas e um lugar seguro para seu grupo, e em seguida os leva para sua casa, onde todos ficam muito alegres com um simples banho, roupas limpas e uma refeição. Na manhã seguinte, o primeiro homem que foi infectado, consegue voltar a enxergar, dando a esperança a todos de que suas visões iriam voltar. 3. Sinopse do filme “Vermelho como o céu”: O filme se passa na Itália em 1970, Mirco é um menino de dez anos apaixonado pelo cinema, que após um acidente ficou cego, e teve que ir para uma instituição especializada em crianças cegas. Mirco tem muitas dificuldades em se adaptar a sua nova condição. Na sua nova escola ele se recusa a aprender o braile criando alguns conflitos internos, e faz algumas amizades, e mexendo nas coisas guardadas na escola, ele descobre um gravador, e a partir dessa descoberta ele começa a gravar os sons junto com seus amigos. Ele realiza um trabalho sobre a natureza usando o gravador, mas o trabalho não é muito bem recebido pelo diretor da escola. Mirco conhece Francesca, a filha de uma das funcionárias da escola, que mora perto da instituição, eles ficam amigos, e se encontram muitas vezes para brincar, e andar de bicicleta pela cidade. Em um desses passeios Mirco conhece Ettore, um estudante cego que participa de protestos políticos e é ex aluno da escola de Mirco. Um dia eles e outros amigos de Mirco resolvem ir escondidos ao cinema, o qual proporcionou uma experiência muito boa para os meninos. Mirco descobre uma maneira de “enxergar” por meio dos sons, e com isso ele resolve gravar uma história, e com a ajuda de seus amigos, ele explora novos sons para representar em sua história. Quando descobertos são castigados e o diretor resolve expulsar Mirco da escola. Um professor toma partido de Mirco e seus amigos, e enfrenta o diretor da 41 escola para permitir que os alunos possam criar a sua própria apresentação, e também pela não separação das escolas para crianças cegas e não cegas. Por sua vez, Francesca se encontra com Ettore, que mobiliza a cidade e ameaça parar a metalúrgica se o Mirco não fosse readmitido. Mirco e readmitido na escola, e autorizado a apresentar sua história para os pais na apresentação de final de ano. O diretor da escola foi destituído do cargo, e algum tempo depois o governo italiano criou uma lei que integrou crianças cegas à rede pública de ensino. 4. Sinopse do filme “O Silêncio”: O filme se passa no Tadjiquistão, onde um menino cego de dez anos se fascina a cada dia com os novos sons que descobre. O seu universo é desprovido de imagens, mas rico em sons e é por isso que ele se perde todo dia a caminho do seu trabalho como afinador de instrumentos. O ruído que, no entanto, mais impressiona e amedronta o menino pobre é do senhorio batendo na sua porta para cobrar o aluguel. Todo dia a caminho do seu trabalho o menino se perde e sempre chega atrasado, pois se perde ouvindo o som dos músicos. Sua amiga sempre o aconselha a tapar os ouvidos na hora de ir para o trabalho a fim de não se perder. Todos os dias o senhorio vai cobrar o aluguel de sua mãe. O seu medo de ser despejado é revertido com originalidade para os acordes da 5a, Sinfonia de Beethoven, terminado por ser orquestrada numa sincronia de batidas de meninos forjando panelas de cobre. No fim do filme a mãe e o menino são despejados. 5. Sinopse do filme “Ray”: Nascido em Albany, Geórgia, Ray teve uma infância difícil, e aos sete anos ficou cego, após a morte acidental de seu irmão mais George, cuja culpa pelo ocorrido o perturbou por muitos anos. Um senhor do vilarejo onde morava notou o interesse de Ray pelo piano, e o ensinou a tocar o instrumento. 42 Com o esforço e a dedicação de sua mãe, Ray aprendeu a se adaptar a sua nova condição, utilizando sua audição como seus novos olhos. Depois de um tempo sua mãe percebeu que seria necessário uma escola especializada para ensinar a Ray o que ela não podia mais ensinar, e assim o menino partiu para uma escola de meninos cegos, prometendo à mãe nunca deixar que ninguém o tratasse como um alejado. Ray iniciou sua carreira tocando piano em diversas bandas, e depois de ser enganado por mulher interesseira que dizia ser sua agente, mas o roubava, Ray decide partir, e ir tocar em outra banda. Muitas pessoas tentam enganar Ray, devido ao fato dele não enxergar, muitos tentam trapacear com ele. Ray inicia um circuito pelo sudeste dos Estados Unidos, e começa a ganhar reputação. E após fechar negocio com uma gravadora, Ray grava seus discos. Ray possui um talento excepcional, e utilizando seu dom, ele compõe belas musicas, organiza seu trabalho, em pareceria com fiéis amigos. Em seguida Ray se casa com Della Bea, porém é sempre obrigado a deixar sua família em função das turnês de seus discos. Ray se consagra quando pioneiramente, incorpora o gospel, o country e o jazz, criando seu próprio estilo. Ele também marca sua história, ao lutar contra a segregação racial em casas noturnas que o lançaram como artista. Apesar de todo seu sucesso, Ray ainda tem problemas em relação a morte de seu irmão, e também em relação à revolta que este sentia por perder sua visão. E com esses problemas, Ray acaba entrando no perigoso mundo das drogas. Depois de ser pego pela polícia portando heroína, Ray é obrigado a se submeter a um tratamento em uma clinica de reabilitação. Nesse momento, o filme mostra Ray subjetivamente se encontrando com a mãe e o irmão, o qual afirma que sua morte não foi culpa de Ray, e sua mãe cobra a promessa que ele tinha feito quando criança, e diz que o filho se tornou um alejado, se referindo à sua dependência de drogas. Após esse fato, Ray nunca mais se drogou, e deu continuidade a sua incrível carreira. 3.3 – Filmes que abordam a Deficiência Intelectual 43 Segundo Luckasson et al.,(1992). “Em 1992, a Associação Americana da Deficiência Mental fez depender a definição de deficiência mental de três critérios: funcionamento intelectual avaliado em termos de QI, cujos valores se encontram abaixo da média, entre 70 e 75; limitações significativas em duas ou mais áreas do comportamento adaptativo e verificações dessas características desde a infância. O Comitê Presidencial para a Deficiência Mental afirma que 75% da população que possui deficiência mental é de zonas urbanas e rurais marcadas pela pobreza. Os fatos responsáveis por esta doença podem ser a má nutrição, doenças, intoxicação de chumbo, e cuidados médicos inapropriados relacionados com as áreas da saúde. Segundo o Nielsen (1999) todos dentre os casos de deficiência mental, 87% apresentarão uma deficiência ligeira, sendo um pouco mais lentos do que a maioria na aquisição de novos conhecimentos, os outros 13% apresentarão graves limitações no seu funcionamento. Para o Nielsen (1999): Os indivíduos cuja deficiência mental é ligeira diferem dos restantes basicamente em termos de ritmo e de grau de desenvolvimento mental. Em alguns desses casos, a deficiência em questão pode não ser evidente, até ao momento em que a criança dá pela primeira vez entrada na escola. Noutros casos, tal deficiência pode tornar-se óbvia bastante antes de a criança atingir a idade escolar. Os indivíduos cuja deficiência mental é severa ou profunda representam 5% da totalidade da população com deficiência mental (Associação para os Cidadãos com Deficiência Mental, 1987). Para além da limitação intelectual, apresentam freqüentemente outros problemas, tais como paralisia cerebral, epilepsia ou uma desordem similar, ou ainda problemas visuais ou auditivos. Os filmes assistidos que abordavam a deficiência intelectual foram: “As chaves de Casa” dirigido por Gianni Amélio; “De porta em porta” dirigido por Steven Schachte; “Forrest Gump, O contador de histórias” dirigido por Robert Zemeckis;”Nell” dirigido por Michael Apted;”Simples como amar” dirigido por Garry Marshall; “TIM, anjos de aço” dirigido por Michael Patê; “Uma lição de amor” dirigido por Jessie 44 Nelson;”Uma mente brilhante” dirigido por Ron Howard;”Ratos e Homens” dirigido por Gary Sinise. 1. Sinopse do filme “As chaves da casa”: Paolo é um garoto de 15 anos portador de deficiência mental, (presumida) e física, devido a complicações na hora do parto. Paolo é criado pelos tios, e não conhecia o pai, Gianni, até este resolver acompanhar o filho a suas viagens anuais à Berlim para realizar terapia de reabilitação. Gianni nem quis ver o filho, quando soube que a mãe tinha morrido e que a criança tinha nascido com algumas complicações. Inicialmente, Gianni não revela a Paolo que é seu pai, e os dois começam a se conhecer no trem para Berlim. Inicialmente Gianni não sabe muito bem como agir, e é Paolo que o ensina como deve lidar com as suas limitações. Pai e filho vão para um hotel em Berlim, onde a relação entre eles começa a se estreitar, e eles passam muito tempo juntos se conhecendo. Durante o tratamento, Gianni revela ser o pai de Paolo, que não demonstra muita reação ao saber. No hospital Paolo apresenta certa resistência à presença de Gianni, e este conhece Nicole, mãe de uma moça portadora de deficiência também. De inicio Gianni tem dificuldades para revelar que é o pai de Paolo, mas depois de algumas conversas significativas, nas quais Nicole mostra pra Paolo o mundo que ele está prestes a fazer parte, Gianni conta que é o pai de Paolo. Durante um evento, Gianni ao conversar com Nicole e sua filha, ele não percebe que seu filho fugiu na tentativa de voltar para as casa dos tios. Com a ajuda de Nicole e da polícia, eles encontram Paolo, e voltam para o hotel. Paolo confidencia a Gianni que tem uma “namorada” que ele não conhece e mora na Noruega, e no fim do tratamento Gianni faz uma surpresa a Paolo, o levando para conhecer a menina. No fim da viagem Gianni pergunta a Paolo se ele gostaria de ir morar com o pai, e ele diz que sim, e os dois fazem muitos planos para a nova fase de suas vidas. 2. Sinopse do filme “De porta em porta”: 45 O filme se passa em Portland, Oregon, em 1995. Mesmo com dificuldades de locomoção e de fala, devido a uma paralisia cerebral, Bill Porter com a ajuda e apoio de sua mãe consegue um emprego como vendedor na companhia Watkins, apesar de certa resistência inicial do gerente da empresa, pois seu emprego residiria em realizar vendas de porta em porta. Ele só consegue o emprego quando solicita ao gerente da empresa a rota mais difícil. No começo foi difícil para Bill conseguir pelo menos um minuto da atenção das pessoas para conseguir realizar suas vendas, porém após efetivar sua primeira venda para uma senhora, ele não parou mais. Ele foi conquistando a simpatia e a confiança das pessoas, fazendo com que estas se tornassem seus fiéis clientes, os quais sempre compravam os produtos da companhia Watkins. Bill recebeu um prêmio pela sua eficiência com as vendas, as quais foram as maiores do setor “porta em porta” da empresa. Ele passou mais de 40 anos de sua vida nesse emprego, e com a ajuda de sua amiga Shelly, conseguiu superar os obstáculos, pois devido às suas limitações para se locomover ficou difícil realizar a entrega dos produtos; e com o auxilio de Shelly ele conseguiu desempenhar suas tarefas com sucesso. Depois de um acidente Bill fica afastado de seu emprego, e acaba brigando com Shelly por recusar a sua ajuda. Nesse tempo um jornalista vai à casa de Bill pedir para escrever um artigo sobre ele, mas este de recusa, porém mesmo assim o jornalista publica a história de Bill. Quando Bill decide voltar ao sem emprego, o novo gerente diz que está na hora dele se aposentar, e Bill sai muito chateado da empresa, mas um dos diretores leu o artigo do jornalista sobre Bill, e depois de uma conversa com o gerente, este pede para que Bill volte para seu emprego. Shelly volta a trabalhar com Bill por meio período, e em 1998 Bill recebeu um prêmio do Conselho Nacional de Portadores de Deficiência de Comunicação. 3. Sinopse do filme “Forrest Gump, o contador de histórias”: 46 O filme conta a história de Forrest, um menino que era portador de uma deficiência mental leve, e que com o apoio da sua mãe conseguiu entrar na escola normal, visto que o diretor não queria aceitar o menino por ele ter um QI de 75, e o mandou para uma escola especial, mas sua mãe conseguiu que ele ficasse. Forrest passa o filme todo sentando em um banco, contando as histórias de sua vida. Ele começa contando como iniciou a sua amizade com Jenny, uma menina que estudava com ele. Eles foram grandes amigos por muito tempo, como Forrest falava, eles eram como pão e manteiga. Muitas pessoas chamavam Forrest de “retardado”, e de idiota, e quando lhe falavam isso, ele respondia dizendo que idiota é quem faz idiotices. Forrest se formou no colégio e foi para a faculdade, lá se tornou um ótimo jogador de futebol americano, pois ele corria muito. Forrest acabou se separando de Jenny, quando foi para o exército. Em seguida ele teve que ir para guerra do Vietnã, e lá fez grandes amigos como Bubba, e o tenente Dan. Forrest aprendeu muitas coisas na guerra, foi muito corajoso, e seguiu o conselho de Jenny para que sempre que houvesse perigo era pra ele correr, e foi assim que ele conseguiu sair vivo da guerra, e também conseguiu ajudar muitos amigos. Na guerra, Forrest ficou muito amigo de Bubba, e os dois planejavam ter um barco para pescar camarões quando tudo aquilo terminasse, mas Bubba morreu na guerra. Enquanto Forrest ficou no exército ele aprendeu a jogar ping pong, e ele ganhou muitos campeonatos. Quando Forrest saiu do exército ele recebeu uma medalha de honra ao mérito por causa da guerra do Vietnã, e em seguida foi homenageado pelo seu bom desempenho no ping pong. Ao retornar para casa, com dinheiro de uma propaganda de raquetes de ping pong, ele resolveu cumprir a promessa que havia feito a Bubba, e comprou um barco para pescar camarões. Depois de alguns obstáculos Forrest e o tenente Dan conseguiram ganhar muito dinheiro com a pesca de camarões. Forrest sentia muita falta de Jenny, e algumas vezes ela aparecia na vida dele, mas depois voltava a sumir. 47 Forrest deixou o negócio de camarões nas mãos do tenente Dan, e voltou para sua casa quando sua mãe morreu. Ele aceitou um emprego especial dado pela prefeitura para cortar a grama de graça. Jenny apareceu de novo, e dessa vez Forrest a pediu em casamento, eles ficaram juntos por algum tempo, mas ela não aceitou se casar com ele e foi embora. Quando ela o abandonou, ele ficou muito triste e começou a correr, e assim ele passou três anos da sua vida, correndo pelo país. No momento em que se cansou de correr, ele voltou pra casa, e recebeu uma carta de Jenny pedindo para ele ir visitá-la. Ele foi, e quando chegou lá, ele descobriu que ela tinha tido um filho dele, e a sua maior preocupação era se o filho era inteligente, e ele fica muito aliviado quando descobre que sim. Ela pede pra se casar com ele, e ele aceita. Jenny morre de um vírus que não tinha cura, e Forrest continua a vida, cuidando de seu filho Forrest. 4. Sinopse do filme “Nell”: Após a morte de sua mãe, Nell é encontrada pelo médico Jerry e um policial local. Inicialmente acreditam que ela seja uma mulher selvagem, mas depois de alguns contatos, Jerry percebe que ela é uma mulher de 30 anos que foi criada em uma casa na floresta pela sua mãe, a qual possuía uma das faces paralisadas, e, portanto tinha dificuldades na fala, resultando na criação de uma linguagem própria entre as duas. Jerry solicita a ajuda de Paula, outra médica, a qual primeiramente acredita que Nell deva ser internada em um hospital para ser mais bem atendida, porém Jerry é contra essa atitude, pois afirma que a floresta seja seu habitat natural. Os dois vão parar no tribunal, e fica decidido que os dois terão três meses para observarem Nell e comprovarem suas teorias. Durante esses três meses, Jerry e Paula observam Nell, e seu comportamento, e aos poucos começam a estabelecer um contato maior com ela. Gradativamente, Jerry consegue se comunicar com Nell, e com a ajuda de Paula eles descobrem os traumas de Nell e tentam ajudá-la. 48 Nesse tempo, Jerry descobre que Nell tinha uma irmã gêmea que morreu quando elas tinham 6 anos, as quais eram resultado de um estupro sofrido pela mãe das meninas. Meninos da cidade descobrem sobre Nell, e sem querer fazem com que um jornalista fique sabendo também, e dessa forma a noticia se espalha, e canais de televisão aparecem para noticiar o fato, assustando Nell, e obrigando Jerry e Paula a tirarem ela da floresta, e a colocarem num hospital. Devido ao susto, Nell para de falar, fazendo com que os médicos dos hospitais acreditem que ela tem autismo, e reforçando a idéia não mais apoiada por Paula, de que Nell precisa ficar no hospital. Jerry foge com Nell do hospital, aparecendo com ela só no dia do julgamento. Um médico do hospital dá um depoimento dizendo que Nell precisa de cuidados médicos, fazendo com que Jerry se irrite. Nell se levanta e começa a falar com o juiz, o qual pede para que Jerry interprete o que ela fala. Por fim, Nell consegue continuar vivendo em sua casa na floresta, e com a ajuda de Paula, Jerry, a filha deles e seus novos amigos dá continuidade ao seu aprendizado. 5. Sinopse do filme “Simples como amar”: O filme conta a história de Carla, uma menina com uma leve deficiência mental, que após ser graduada em uma escola especial, volta a morar com seus pais em São Francisco, EU; mas, por conta de uma proteção excessiva e sufocante de sua mãe Elisabeth, Carla foge um dia de casa, voltando para sua escola especial. Depois de uma conversa com os pais de Carla com o diretor de escola, Elisabeth percebe que precisa confiar em Carla e deixar ela livre pra viver a vida dela. Ao voltar pra casa, Carla começa a estudar em uma escola normal, e lá conhece Daniel, um menino com uma leve deficiência mental. Os dois viram grandes amigos, e logo Carla percebe que ela pode levar uma vida normal, trabalhar e morar sozinha. 49 As novas idéias de Carla não agradam muito sua mãe, mas como decisão de toda família, Carla vai morar sozinha em um apartamento. Elisabeth fica muito apreensiva com a nova situação, e tem muito medo de que sua filha não consiga se virar sozinha, mas Carla se sai muito bem. Carla e Daniel começam a namorar, e juntos eles começam a descobrir o amor. Elisabeth fica com um pouco de receio quando descobre do namoro da filha, mas depois que conhece Daniel fica mais calma. Numa comemoração de natal, toda família vai a um jantar, e Daniel acaba bebendo demais, e depois de uma declaração do cunhado de Carla sobre o casamento com sua irmã Caroline, Daniel sobe ao palco e começa a falar muitas coisas que magoam Carla, fazendo com que os dois briguem. Carla tem um forte trauma em relação as pessoas rirem dela, devido ao fato de que quando criança, seus amigos de escola riam muito dela. Daniel vai embora pra Florida, mas no meio do caminho ele resolve voltar. E durante o casamento de Caroline, ele aparece, e pede Carla em casamento. Elisabeth é totalmente contra, pois afirma que Daniel não tem condição de cuidar de Carla, e as duas brigam. Carla resolve se casar mesmo assim, e avisa a mãe que ela não precisa ajudar com os preparativos, muito menos ir ao casamento. Carla e Daniel organizam tudo sozinhos, e no dia da cerimônia, Elisabeth acaba aparecendo e fazendo as pazes com a filha. 6. Sinopse do filme “TIM, anjos de aço”: O filme conta história de Tim, um homem de 24 anos, que não sabe ler nem escrever, é um pouco devagar para entender as coisas, e por isso é tachado de retardado. Ele trabalha de ajudante de serviços gerais, e seus amigos sempre se aproveitam de sua condição. Um dia Tim via trabalhar na casa de Mary, uma mulher de meia idade que vive muito sozinha. No começo ele só limpava o jardim, mas depois começou a fazer 50 serviços gerais, não só na casa da cidade de Mary, como também na casa de praia. E foi nessa oportunidade que Tim foi à praia pela primeira vez. Os dois acabam se tornando grandes amigos, e Mary ensina Tim a ler e escrever, cativando dessa forma sua admiração, e a da família de Tim também, menos de sua irmã, que acredita que Mary também está se aproveitando da inocência de Tim. Quando a irmã de Tim avisa que vai se casar, ele fica muito triste, pois não sabe lidar com a perda, e Mary explica a ele que sua irmã não vai morrer e sim se casar, e nisso ele conta a Mary que não sabe o que é morte, e ela explica. A mãe de Tim falece depois de algum tempo, e o pai dele recorre a Mary para ajudar a lidar com Tim. Este fica muito triste com a notícia, mas com a ajuda de Mary consegue controlar a situação. Tim e Mary começam a se envolver amorosamente, para desaprovação da irmã de Tim. Tim e Mary resolvem se casar, mas é só com a morte do pai de Tim que sua irmã aceita o relacionamento dele com Mary. 7. Sinopse do filme “Uma lição de amor”: Sam é um homem com deficiência mental, que é abandonado pela mãe de sua filha Lucy. Apesar das dificuldades e dos obstáculos que Sam passa ele consegue criar sua filha com uma grande ajuda de seus amigos. Um problema surge quando Lucy atinge os setes anos, pois esta ultrapassa a idade mental de seu pai, e esse fato chama a atenção de uma assistente social que acredita que Sam não tem condições de continuar criando Lucy, e deseja mandá-la para um orfanato. Por um tempo Lucy fica na casa de seus possíveis pais adotivos, gerando uma situação muito constrangedora para todos, pois Sam fazia de tudo para ver Lucy, o que resultou em uma ordem judicial, a qual estabelecia horários para Sam ver sua filha. Numa forma de poder ver seu pai, Lucy foge de noite para poder ir à casa de seu pai e dormir lá. 51 A partir disso Sam inicia uma batalha judicial para manter a guarda de sua filha, e para isso ele conta com a ajuda de Rita, uma conceituada advogada que aceita o caso como um desafio de seus colegas profissionais. Porém depois de conhecer melhor Sam ela começa a enxergar seus problemas de outra maneira, e se empenha de fato para conseguir ganhar a causa. Por fim a mãe adotiva de Lucy assume que precisa dele para criar Lucy, e Sam também diz que precisa dela para poder cuidar de Lucy. 8. Sinopse do filme “Uma mente brilhante”: O filme conta a história de John Nash, um brilhante matemático que durante seus anos na faculdade de Princeton, ficou conhecido pela sua reconhecida inteligência e também pelo seu estranho comportamento. Nash não tinha muitos amigos, apenas seu colega de quarto, e se relacionava pouco com as pessoas, e tinha atitudes julgadas como esquisitas. Após elaborar uma importante teoria econômica, Nash conquista o respeito e a admiração das pessoas, e começa a dar aulas, contra sua vontade. Nessa época Nash conhece um espião do governo, o qual solicita a Nash a decodificação de mensagens interceptadas, fazendo com que este comece seu trabalho confidencial. Com o tempo, Nash conhece Alice, uma dedicada aluna, que posteriormente se tornaria sua esposa. Alice fica grávida, e ao tentar abandonar o serviço secreto em função da segurança de sua família, o espião o avisa que quem o matem vivo é ele, e que se ele desistir do trabalho, os russos o matarão. Alice começa a notar o estranho comportamento do marido, e quando ele volta a Princeton para dar uma palestra é surpreendido por um psiquiatra, que o leva a força para o hospital. Nash acredita que o médico é um russo que está tentando matálo. Após exames, o psiquiatra constata que Nash é esquizofrênico, fato negado por sua esposa Alice. Alice procura no escritório de Nash provas de que ele teria mesmo esse trabalho confidencial, e não encontra, acreditando então que seu Mario tem esquizofrenia. 52 Nash demora muito para aceitar a doença, e algum tempo depois ele vai pra casa e passa a tomar remédios diários para controlar suas alucinações. Uma vez que ele não consegue mais estudar, e trabalhar, ele percebe que isso é efeito do remédio e para de tomá-lo. A partir disso, Nash volta a ver o espião, e a continua com seu trabalho confidencial. Quando sua esposa percebe que ele continua com suas alucinações, ela nota que ele parou com seus remédios, e receia pela segurança de seu filho, e isso faz com que ela saia de casa. Nash volta a tomar seus remédios, e sua esposa o apóia, voltando para casa. Nash pede para retornar ao emprego, como uma forma de afastar suas alucinações, porém mesmo trabalhando, elas não param, mas ele resolve as ignorar, e dessa forma ele seguiu sua vida, e no fim de sua vida recebe um prêmio Nobel, obtendo um reconhecimento internacional, e ele dedica essa conquista a sua esposa a qual sempre foi presente e se dedicou a ele. 8. Sinopse do filme “Ratos e Homens”: George e Lennie são dois amigos que estão juntos há muito tempo, trabalhando em fazendas. Lennie possui uma deficiência mental e foi criado por sua tia desde menino, e quando esta faleceu, George passou a cuidar de Lennie. Lennie aparenta ter a idade mental de uma criança, é inocente, ingênuo e não possui maldade nenhuma, e a maioria das suas atitudes demonstra que ele tem tendência a esquecer muitas coisas, e também não tem noção de sua força. Os dois amigos são obrigados a fugir da fazenda em que trabalhavam, porque Lennie gostou muito do vestido da moça que morava lá, e quis tocá-lo, mas com essa atitude ele assustou a moça, e fez com que todos interpretassem errado a situação. Enquanto eles viajam para o novo emprego, Lennie pega um rato para cuidar, e acaba matando-o de tanto apertar, o que faz com que George jogue o rato fora, deixando Lennie triste. George diz a Lennie que se um dia ele se envolvesse em alguma encrenca novamente era pra ele se esconder em uma moita na floresta. 53 Quando eles conseguem outro emprego, começam a fazer planos para morarem em uma fazenda própria, e o maior sonho de Lennie é cuidar de coelhos brancos. Candy, um senhor que também mora na nova fazenda possui um cachorro muito velho, e todos dizem a ele para que mate o cachorro, pois já está muito velho e sofrendo, porém Candy não tem coragem de fazer isso, e pede para que um colega faça. Candy fica chateado, pois afirma que como amigo do cachorro, ele que deveria ter acabado com seu sofrimento, e não um estranho. Lennie ganha um filhote de cachorro, e fica muito feliz com o seu novo presente, mas George diz a ele que o cachorrinho precisa ficar com a mãe ainda, pois é muito novo, mas Lennie sempre tenta levar o cachorro para o barracão deles. O filho do dono da fazenda implica muito com Lennie, e um dia sem motivo aparente começa a bater nele, e até que George mandasse, Lennie não se defendeu. No fim, Lennie acaba um pouco machucado, e quebra a mão do filho do dono da fazenda. Um dia, Lennie sem querer, acaba matando seu filhote de cachorro, e a mulher do filho do dono da fazenda aparece e começa a consolá-lo, porém George havia aconselhado a Lennie a não conversar com essa mulher, mas depois de um tempo ele se esquece disso. Durante a conversa Lennie diz à mulher que gosta de coisas macias, e ela responde dizendo que o cabelo dela é macio, e ele começa a passar a mão, ela pede para que ele a largue, e ele não obedece, ela começa a gritar, e sem querer acaba matando a moça. Todos saem à procura de Lennie com a intenção de matá-lo, e este por sua vez, vai ao esconderijo que George havia lhe falado. George o encontra, e conversam sobre o futuro, a fazenda e os coelhos brancos, e enquanto Lennie olha pra frente imaginando a vida nova, George dá um tiro em sua nuca. 54 3.4 – Filmes que abordam a deficiência física A deficiência física é definida como problemas que acontecem no cérebro ou no sistema locomotor e ocasionam em um mau funcionamento ou paralisia dos membros superiores, inferiores ou os dois. Diferentes condições motoras que acometem as pessoas, comprometendo a mobilidade, a locomoção e a coordenação motora. A deficiência física pode ser resultado de diversos fatores, como traumatismo craniano, paralisia cerebral, espinha bífida, distrofias, artrite reumatóide juvenil, fatores genéticos, virais ou bacterianos, neonatal e acidentes no geral. Os filmes que abordaram a deficiência física foram: “Frida” dirigida por Julie Taymor; “Mar Adentro” dirigido por Alejandro Amenábar; “O Fantasma da Ópera” dirigido por Joel Schumacher; “Pequeno Milagre” dirigido por Mark Steven Johnson. 1. Sinopse do filme “Frida”: Frida quando jovem sofre um acidente, ela é atropelada por um bonde e este fato acaba comprometendo a sua coluna, por um tempo ela fica sem os movimentos das pernas, e seu namorado a rejeita e a abandona. Como teve que ficar na cama por algum tempo, seu pai a presenteou com uma tela de pintura, e assim ela descobre seu promissor talento como pintora. Aos poucos ela recupera seus movimentos, e inicia sua carreira como pintora. Ela se casa com seu mentor Diego Rivera, e com um conturbado relacionamento eles seguem suas carreiras, se envolvem com movimentos políticos e revolucionários. Frida e seu marido se mudam para os Estados Unidos, mas a pintura de Diego é contestada por algumas pessoas, e eles resolvem voltar pra o México. Frida sofre muito ao descobrir que Diego a traiu com a sua irmã, e eles se separam. Um filósofo exilado de seu país é abrigado na casa do pai de Frida, e ela acaba se envolvendo com ele. Com a idade os problemas de coluna de Frida voltam, fazendo 55 com que ela fique sem seus movimentos das pernas, porém ela continua pintando seus quadros. O filme termina com uma exposição dos quadros de Frida, na qual ela não poderia comparecer por estar muito doente e não conseguir andar, mas ela vai à exposição deitada em sua cama. 2. Sinopse do filme “Mar Adentro”: O filme conta a história de Ramón, um homem de meia idade que na juventude sofreu um acidente no mar, e acabou ficando tetraplégico. Com a ajuda de seu irmão, sua cunhada, seu sobrinho e seu pai, ele passou mais de 28 anos em um quarto deitado numa cama, e a única visão do mundo que ele tinha, era a janela de seu quarto. Ramón não consegue se conformar com a sua condição, e afirma que a vida que ele está levando não é digna, e por isso deseja morrer. Ele fala que viver é um direito do ser humano, mas não uma obrigação. E para ajudá-lo a realizar seu desejo, ele conta com a ajuda de Julia, uma advogada que o auxiliará na briga com a justiça para que permitam que ele utilize da eutanásia. Ramón escolhe Júlia como advogada porque ela tem uma doença degenerativa sem cura, e ele acha que esse fato ajudará no caso. Ramón faz um vídeo para a televisão, e Rosa uma trabalhadora do vilarejo próximo a casa dele o vê na televisão, e se interessa pela história dele, e vai visitá-lo. Os dois acabam virando grandes amigos. Julia passa boa parte do tempo com Ramón, a fim de conhecê-lo melhor para poder entender melhor o caso. Nisso ela descobre uma série de poesias dele, e o convence a publicá-las. Julia passa mal, e acaba tendo que voltar ao hospital, e também perde o movimento das pernas. Ela e Ramón se comunicam por cartas durante um tempo. Ele escreve com um pincel na boca por meio de um aparelho que ele projetou, e seu pai e seu sobrinho montaram. A família de Ramón não gosta muito da idéia dele morrer, principalmente seu irmão. 56 Ao voltar a ver Ramón, Julia está muito fragilizada com a sua situação, e numa conversa, ele conta que sempre sonha com ela, e os dois acabam se beijando. Julia conta a Ramón que decidiu se suicidar, e que se ele quiser, ela o ajudaria a realizar seu grande desejo, e eles combinam que assim que o livro dele for publicado, eles efetivarão o plano. Porém, quando o livro é publicado Julia perde a coragem, e Ramón apenas recebe o livro com uma carta. Ramón e Rosa vão ao tribunal, e mais uma vez os juízes negam o pedido de Ramón. Ele explica a Rosa que só a pessoa que o amar de verdade vai ajudá-lo a morrer, e Rosa afirma que quer mostrar a ele que vale a pena viver. Depois de um tempo Rosa volta a casa de Ramón e afirma que entendeu o que ele disse com “ só quem me amar de verdade vai me ajudar”, e ela decide ajudá-lo. Com a ajuda de outros amigos, Ramón desenvolve um plano para que ninguém se comprometa com o que ele vai fazer, e finalmente ele consegue a tão almejada morte. 3. Sinopse do filme “ O Fantasma da Ópera”: Carlotta é uma conceituada cantora da companhia teatral, que é responsável pelas óperas realizadas em um imponente teatro. Temperamental, Carlotta se irrita pela ausência de um solo na nova produção da companhia e decide abandonar os ensaios. Com a estréia marcada para o mesmo dia, os novos donos do teatro não têm outra alternativa senão aceitar a sugestão de Madame Giry e escalar em seu lugar a jovem Christine Daae, que fazia parte do coral. Christine faz sucesso em sua estréia, chamando a atenção do Visconde de Chagny o novo patrocinador da companhia. O Visconde e Christine se conheceram ainda crianças, mas ele apenas a reconhece na encenação da ópera. Porém o que nem ele nem ninguém da companhia, com exceção de Madame Giry, sabem é que Christine tem um tutor misterioso, que acompanha nas sombras tudo o que acontece no teatro: o Fantasma da Ópera. O Fantasma possui uma cicatriz no rosto que o faze se esconder de tudo e de todos, este era atração de um circo, conhecido com “filho do diabo”, e com a ajuda de Madame Giry, foge do circo e passa a viver escondido no teatro, tornando-se um excelente cantor e compositor. 57 O Fantasma da ópera se apaixona por Christine, e fica muito bravo quando os administradores do teatro colocam Carlotta como a cantora principal e não Christine. Mais bravo ainda ele fica, quando ele percebe que Christine vai se casar com o Visconde. Diante disso, o Fantasma seqüestra Christine durante uma apresentação, e a leva para seu calabouço, ameaçando matar o Visconde, se ela não resolver ficar com ele. Christine beija o fantasma, mostrando a ele que sua cicatriz não a repugna, e nisso ele liberta o Visconde e ela. O Fantasma da Ópera foge do teatro que pegou fogo, depois que ele derrubou o lustre principal. 4. Sinopse do filme “Pequeno Milagre”: O filme conta a história de um menino de 12 anos que tem o tamanho de uma criança de 4 anos, Simon Birch. Simon desde que nasceu era menor do que o tamanho normal, e seus pais não foram muito receptivos a esse fato. Simon e seu melhor amigo Joe sempre estão juntos, seja nos jogos de beisebol, seja na igreja, observando as estrelas, correndo pelo bosque, nadando no lago, nas aulas de catequese, e paquerando as meninas. Simon tem a mãe de Joe como se fosse sua, pois ela o trata como se fosse seu filho, e tem atitudes que nem a mãe de Simon tem com ele, como por exemplo, fazer um suéter no inverno para Simon. Simon sempre é alvo de piadas, e chacotas pela cidade toda, mas ele parece ao ligar pra isso, e consegue lidar com as situações constrangedoras com muito bom humor. Ele e Joe conhecem o novo pretendente da mãe de Joe, Bem, um homem um tanto excêntrico e que aos poucos conquista a amizade dos meninos. Todas as semanas eles freqüentavam a igreja, e em algumas ocasiões, Simon contestava os sermões do reverendo, questionando suas falas, e ficando de castigo por causa disso. Simon acreditava fortemente que Deus tinha um propósito maior pra ele, e vive em busca de descobrir seu destino, mas acaba se metendo em grandes confusões. Em um fatídico jogo de beisebol, Simon que nunca acertava uma bola, acertou, e esta alcançou a mãe de Joe que estava andando por perto, e acabou falecendo. Joe e 58 Simon ficaram muito tristes com isso, e o fato de Simon ter jogado a bola não fez com que os meninos se afastassem. Joe fica perdido com a morte de sua mãe, pois somente ela sabia quem era seu pai, e agora ele e Simon terão que descobrir sozinhos quem é o pai de Joe. A única pista que eles têm é que o possível pai de Joe teria pegado a bola que matou a mãe de Joe. Depois de algumas tentativas frustradas eles não descobrem nada, e acabam se encrencando e são punidos tendo que participar da peça de final de ano na igreja. Simon mais uma vez se encrenca no meio da peça, tendo de ficar de castigo e não teve a permissão de ir para o retiro, e Joe vai sozinho. Na tentativa de recuperar seus cartões de beisebol que o reverendo havia confiscado, Simon acha a bola que matou a mãe de Joe, e vai atrás do amigo para contar a novidade. Simon e Bem chegam tarde, pois Joe já tinha descoberto tudo, e não gostou nem um pouco da noticia. Na volta para a cidade, o ônibus deles sofre um acidente e cai num lago, e o único que manteve a calma e conseguiu controlar as crianças foi Simon, pois o reverendo tinha desmaiado, e com muita bravura Simon consegue salvar todas as crianças. No hospital, Simon pede para Joe que divida suas figurinhas de beisebol com Bem, e depois disso avisa que tem que partir. Joe afirma que Simon o ajudou a achar seu verdadeiro pai, Bem, um grande amigo. 3.5 – Filmes que abordam o Autismo Para o Nielsen (1999, p. 38) “autismo é um problema neurológico ou cerebral que se caracteriza por um decréscimo da comunicação e das interações sociais. Uma desordem psiquiátrica em que o indivíduo se recolhe dentro de si próprio, não responde a fatores externos e exibe indiferença relativamente a outros indivíduos ou a acontecimentos exteriores a ele mesmo.”. Durante a década de 40 até os anos 60, pensava-se que uma pessoa autista possuía a vontade consciente de não participar das interações sociais, mas hoje em dia, sabe-se que esse isolamento não é produto de uma vontade ou m desejo consciente, e acontece na seqüência de alterações neurológicas e bioquímicas do cérebro. O autismo, 59 pelo que os estudos indicam, tem uma origem biológica relacionada com uma disfunção metabólica a nível cerebral. A capacidade intelectual de uma pessoa portadora de autismo geralmente está abaixo da média, e 70% destes indivíduos possuem deficiência mental, os outros 30% têm nesta área, valores médios ou acima da média. Para Nielsen (1999, p. 39): O autismo manifesta-se em todas as classes socioeconômicas, apesar de a sua prevalência parecer ser superior nas classes mais favorecidas. No entanto, tal poderá ser atribuído ao fato de as famílias cujo nível de educação é mais elevado estarem mais aptas para reconhecer comportamentos associados ao autismo e, conseqüentemente, estarem também mais preparadas para procurar apoio. Devido às diferentes definições de autismo, as estimativas quanto à sua prevalência diferem. Porém, de acordo com a Associação Médica Americana em cada 10 000 nascimentos dois a quatros indivíduos registrarão autismo. Sendo três vezes mais comum no sexo masculino do que no feminino, raramente afeta mais de uma criança em casa família. As características mais comuns do autismo, segundo Nielsen (1999) são: Dificuldades quanto ao relacionamento com pessoas, objetos ou eventos; Uso invulgar de brinquedos e objetos; Incapacidade de estabelecer interações sociais com outras crianças; Incapacidade de ter consciência dos outros; Relacionamentos em que os outros são tratados como objetos inanimados; Contato visual difícil sendo normalmente evitado; Incapacidade para receber afetividade; Intolerância a contatos físicos; 60 Dependência de rotinas e resistência a mudanças; Comportamentos compulsivos e ritualísticos; Comportamentos de auto-estimulação; Comportamentos que produzem danos físicos próprios, como bater persistentemente com a cabeça; Hiper ou hipossensibilidade a vários estímulos sensoriais; Acessos de cólera, muitas vezes sem razão aparente; Comportamentos violentos dirigidos a outros; Competências comunicativas verbais e não verbais severamente afetadas; Incapacidade para comunicar com palavras ou gestos; Vocalização não relacionadas com a fala; Repetição de palavras proferidas por outros; Repetição de expressões anteriormente ouvidas; Preocupação com as mãos. Os filmes que abordaram o autismo foram: “O enigma das cartas” dirigido por Michael Lessac e “ Rain Man” dirigido por Barry Levinson. 1. Sinopse do filme “O enigma das cartas”: Aos seis anos Sally perde seu pai em um acidente no trabalho, e depois disso ao retornarem para sua casa, Ruth, sua mãe, percebe que a filha parou de falar, porém, esta acredita que Sally esta dessa forma devido à recente perda do pai. O pai de Sally faleceu em uma escavação em ruínas maias, e quando estavam lá, um homem maia falou para menina que seu pai não tinha morrido, e sim, que tinha ido viver na lua. Ruth faz uma promessa com seus filhos de que ninguém iria chorar a morte do pai. Com o tempo Sally passa a ter um comportamento estranho, além de não falar, ela grita de forma diferente quando as coisas não estão no seu devido lugar, gosta de 61 subir em lugares altos, como no telhado da casa, em árvores e na construção de um prédio. Quando ocorre o incidente da arvore na escola, Ruth é chamada para conversar com a direção, a qual julga importante que Sally faça um acompanhamento psiquiátrico, que é negado prontamente por Ruth. O comportamento estranho continua, e mesmo com as conversas com o psiquiatra, doutor Jacob, Ruth não aceita que sua filha possa estar com autismo, dificultando o tratamento. Sally constrói um castelo de cartas de baralho, o que chama muito a atenção de Ruth e de Jacob. Após o incidente do prédio, Ruth é levada aos tribunais, pelo serviço social, e é acusada de negligencia, e para que isso não aconteça, ela precisa permitir que Sally faça o tratamento com o psiquiatra. Jacob tenta tirar Sally de sua desordem mental por meio de métodos tradicionais, não sendo muito bem sucedido. Porém, Ruth tenta de outra forma trazer sua filha de volta, ela reproduz em grande escala o castelo de cartas criado por Sally, pois Ruth acredita que sua filha está tentando chegar mais perto da lua, onde para ela, seu pai estaria. Quando Sally sobe nessa “torre”, e entende o que aconteceu de fato com seu pai, ela consegue dizer adeus, chora, e consegue voltar a falar. 2. Sinopse do filme “Rain Man”: O filme conta a história de Charlie, um homem de insensível, que após a morte de seu pai, que não vê há anos, espera receber uma milionária herança e com isso resolver seus problemas com a sua falida loja de carros. Na leitura no testamento Charlie descobre que herdou apenas um carro e umas roseiras, e que todo restante da fortuna ficou nas mãos de um beneficiário. Intrigado com o fim de sua fortuna, Charlie vai atrás desse misterioso beneficiário, e descobre que o dinheiro esta nas mãos de um diretor de uma clinica de pessoas portadoras de deficiência mental, e que ele tem um irmão que mora nesse lugar. 62 Explicam a Charlie que seu irmão, Raymond é um autista sábio, visto que ele vive no seu próprio mundo, o qual sempre deve estar organizado da forma como ele está acostumado, e que ele tem habilidades específicas, como com os números. Charlie fica revoltado com o fato de seu irmão ter herdado toda fortuna, e resolve seqüestrá-lo da clínica, a fim de pedir ao beneficiário metade da herança em troca de devolver Raymond. Porém Charlie não imaginava como era difícil lidar com Raymond, e algumas vezes chama seu irmão de retardado, e diz para ele parar de “bancar o idiota”. A namorada de Charlie os abandona, pois acha errada a atitude dele. E Charlie passa a ter que lidar com seu irmão sozinho. Aos poucos Charlie aprende que Ray possui alguns rituais que devem ser seguidos, como dormir todos os dias às onze da noite, suas refeições nas horas certas, e assistir a determinados programas de televisão. Quando Charlie leva Ray para o aeroporto para poderem voltar para Los Angeles, Ray fala que não vai viajar de avião porque é muito perigoso, e começa a falar de todos os acidentes aéreos de todas as companhias. E ao forçar Ray a entrar no avião, ele tem uma crise, começa a gritar e a se debater, fazendo com que eles viagem de carro mesmo. Na viagem Charlie descobre o incrível talento de memorização de Ray, e resolve usar isso em um Cassino, onde eles acabam ganhando o dinheiro para Charlie pagar suas dívidas. A situação de Ray quase vai parar nos tribunais, e um medico analisa as condições de Ray, a fim de fornecer um parecer de quem seria à melhor pessoa para ter a custodia de Ray. No fim do filme, Charlie desiste da herança, e percebe que o melhor lugar para Ray é na clinica, porem Charlie promete visitar Ray sempre. 63 Capítulo 4 – Comentários a guisa de encaminhamentos Filmes que abordam a deficiência auditiva: Dos dois filmes assistidos da amostra relacionada com deficiência auditiva, um apresentava personagens que portavam a deficiência desde que nasceram, e o outro adquiriu parcialmente a deficiência após um acidente. Esses filmes mostram a relação familiar e com os grupos de pessoas com deficiência auditiva. Os filmes mostraram ao público a comunicação a partir da linguagem de sinais. No filme “A música e o silêncio” o casal é portador de deficiência auditiva, e possui duas filhas normais e a comunicação entre eles é feita por meio de gestos. Este filme mostra o cotidiano de uma família em que os pais são surdos e suas filhas são ouvintes mostrando os conflitos, as situações do dia-a-dia, e as maneiras que eles encontram para se comunicarem. “A música e o silêncio” mostra as tecnologias existentes para facilitar a vida das pessoas com deficiência auditiva, como por exemplo, o telefone que possui um visor que traduz o que está sendo dito. “A música e o silêncio” é um filme muito emocionante, devido ao fato de ele apresentar como conflito principal a aceitação do pai com o fato de sua filha desejar ser música, e durante as discussões entre os dois, muitas vezes ela acaba ofendendo o pai e dizendo que ele não a entende devido à surdez. É muito interessante para o público poder presenciar uma discussão “muda”, pois as expressões faciais e os gestos falam por si só. Neste filme, é possível observar que a filha do casal faz uma ponte de comunicação entre seus pais e a sociedade que não entende a linguagem dos sinais, visto que ela é responsável por realizar negociações bancárias, traduzir filmes, e transmitir recados. Essa situação demonstra como a nossa sociedade está despreparada para lidar com pessoas com deficiências, inclusive, auditiva. Considerando que o filme é de 1999, mesmo 10 anos depois, podemos afirmar que a situação não mudou muito, especialmente a luz do paradigma da inclusão e do aporte legal filosoficamente quase perfeito, porem de distante viabilidade na pratica. 64 No filme “Querido Frankie” é esboçada a relação entre uma mãe e seu filho com audição parcial, visto que ele utiliza um aparelho auditivo e apenas com sua mãe conversa pela linguagem de sinais. Com as outras pessoas parece que ele tem a habilidade de fazer leitura labial. Nesse filme pode-se perceber que as atitudes maternas (passar-se pelo pai do menino ao escrever cartas) são justificadas pela piedade dela em relação à condição do filho. Os filmes que abordam a deficiência auditiva são ricos em informações sobre a situação de seus personagens e mostram para o telespectador a realidade de uma pessoa surda, sem criar conceitos estereotipados e também sem perpetuar a dicotomia de herói – coitadinho das pessoas com alguma deficiência. Dentro da amostra, foram poucos os filmes que abordavam essa temática. Filmes que abordam a deficiência visual: Dos cinco filmes que contemplavam a deficiência visual dois deles apresentavam personagens que eram cegos desde que nasceram, dois adquiriram a deficiência quando crianças, e um apresenta uma epidemia fictícia. No filme “Ray”, o ator que interpretou o cantor colocava tampões nos olhos para dar mais veracidade às cenas, e esse fato colaborou muito para a sua interpretação, dando mais realidade ao filme. O filme “A cor do paraíso” e “O silencio” contam a história de dois meninos cegos que por meio da audição e do tato descobrem o mundo. Os filmes possuem cenários belos, e seus personagens os conhecem por meio do tato, e ouvindo os sons da natureza. Os filmes “Ray” e “Vermelho como o céu” contam o drama de dois meninos que ficaram cegos quando crianças e tiveram que aprender a se adaptar a sua nova condição. Esses filmes são interessantes para o público, visto que eles conseguem transmitir as dificuldades e obstáculos encontrados na fase de adaptação, e como eles conseguem superar todos eles. 65 No filme “Ray”, o telespectador pode perceber o preconceito que uma pessoa cega pode sofrer, e também diversas situações que as pessoas tentaram tirar vantagem do fato do personagem ser cego. Essa é uma história de superação, em que o personagem, apesar de suas condições, consegue se destacar no mundo da música. O filme tem uma cena em que a mãe do personagem o chama de aleijado, não por ele ser cego, e sim por ele ser dependente de drogas. “Vermelho como céu” é um filme que contempla os sons, e a audição como uma alternativa para as pessoas portadoras de deficiência visual, devido ao fato de que o personagem principal redescobre o mundo por meio dos sons, com a ajuda de um gravador. O filme “Ensaio sobre a cegueira” conta uma história fictícia sobre uma epidemia em que as pessoas contaminadas ficavam cegas do dia para a noite, e apenas uma mulher é imune a essa contaminação; portanto, esta mulher, fica responsável por ajudar os outros. O filme retrata uma situação em que as pessoas cegas, por não estarem adaptadas ao ambiente, acabam transformando o espaço em que estão vivendo em um verdadeiro caos. Os filmes que abordam a deficiência visual são em grande parte ricos de sons, visto que eles tentam demonstrar como seria essa experiência para a pessoa cega. Alguns deles, como “Ray”, apresenta a pessoa com deficiência visual como um herói. Os outros contemplam seus personagens como pessoas comuns, que tentam enfrentar as dificuldades de suas condições buscando alternativas para suprir suas necessidades. Filmes que abordam a deficiência mental: Dentre os filmes que contemplam a deficiência, os mais encontrados são filmes relacionados com pessoas portadoras de deficiência mental, na amostra, encontramos nove filmes. Todos os filmes assistidos apresentam personagens que possuem deficiência mental desde que nasceram, uns com um grau mais elevado que os outros. O único filme que o ator que interpreta o portador de deficiência mental possui de fato a 66 deficiência é “As chaves da casa”.Sheila, o garoto é o contrário: tem altas habilidades, é super inteligente pois a sequela de paralisia cerebral não afeta o cognitivo. O que acontece com freqüência é que por conta das dificuldades motoras e de locomoção e da falta de equipamentos próprios nas instituições e escolas comuns, ele é confundido com deficiente intelectual – essa é forma correta, atualmente para se referir à pessoa com def Mental Esse filme mostra ao público uma situação de aceitação, visto que o pai do menino com deficiência intelectual aceita aos poucos a realidade do filho, da mesma forma, que gradativamente aprende a lidar com a situação. O filme “Nell” retrata a tentativa de um médico de interagir com uma mulher que foi criada no meio do mato, e que não aprendeu quase nada a se comunicar, e por falta de estimulação e pela segregação , ela quase se torna uma deficiente intelectual. O filme “De porta em porta” apresenta a relação de uma pessoa com deficiência intelectual com seu ambiente de trabalho, os preconceitos sofridos inicialmente e a posterior aceitação dos envolvidos. O filme conta a história a partir de uma perspectiva heróica, na qual o personagem é mostrado como alguém que realiza o impossível, fato que não é verdade, pois as pessoas com deficiência intelectual são capazes de trabalhar. Nos filmes “Forrest Gump, O contador de histórias”, ”Ratos e Homens” e “TIM, anjos de aço”, os personagens apresentam uma leve deficiência intelectual, caracterizada por um uma lentidão de raciocínio, ingenuidade, e em alguns casos dificuldades de aprendizagem. Nesses filmes, é retratado de forma fiel, o preconceito, visto que os personagens são freqüentemente chamados de “retardados”, e “idiotas”. O filme “Forrest Gump, O contador de histórias” o personagem principal é retratado de uma maneira heróica, pelo fato dele conseguir ser bem sucedido em diversos campos profissionais. O filme “Uma mente brilhante” é muito interessante para o telespectador, devido ao fato de retratar uma relação no ambiente acadêmico, entre um professor portador de esquizofrenia e seu espaço de trabalho. A história retrata desde a descoberta da doença , a difícil a aceitação, o preconceito inicial, a subestimação de sua capacidade e todos os obstáculos que ele sofreu dentro do seu ambiente de trabalho. 67 “Nos “filmes “Uma lição de amor” e” Simples como amar”, os personagens principais tem seu amor colocado em prova devido a sua deficiência mental. No primeiro filme o pai pode perder a guarda da sua filha por ser portador de deficiência mental, e no segundo, a personagem principal tem dificuldades para provar para sua família que conseguirá morar sozinha, e se casar. Essas situações mostram para o público que ser portador de deficiência não diminui a sua capacidade de amar, e que isso não pode ser visto de forma preconceituosa. Os filmes que abordam a deficiência intelectual são geralmente perpetuadores de preconceitos e estereótipos. Filmes que abordam a deficiência física: São quatro os filmes assistidos que estão relacionados com a deficiência física, dentro deles apenas um é portador da deficiência desde que nasceram os outros adquiriram a deficiência no decorrer de suas vidas. No filme “Frida” e “O Fantasma da Ópera”, os personagens apresentam uma cicatriz, e em “Frida” ela ainda possui um problema de coluna que a deixa de cadeiras de rodas em alguns momentos do filme. Os dois filmes mostram que os personagens descobriram um talento no momento que adquiriram a deficiência, em “Frida” ela descobre seu dom para as artes visuais, e em “O Fantasma da Ópera” ele descobre seu talento para música. No filme “Pequeno Milagre” o personagem principal possui um tamanho muito menor do que o normal, e ele convive com esse fato muito bem, pois acredita que Deus reservou algo muito grande pra ele, uma espécie de missão. O menino é alvo de xingamentos, e ele é estereotipado na cidade como a “aberração”. Até mesmo a sua família o rejeita por ele ser desse jeito. Já o filme “Mar adentro” retrata a história de um homem que ficou tetraplégico quando jovem, e nunca aceitou esse fato. Ele se sente como um peso pra família, que só dá trabalho, e seu desejo o filme todo é morrer dignamente. É interessante esse filme para o telespectador, no sentido de mostrar de nem sempre as pessoas aceitam suas 68 condições. O personagem afirma que se não for para viver dignamente é melhor não viver, e passa o filme todo tentando encontrar uma forma de morrer sem que ninguém seja prejudicado. O interessante desse filme, é que o personagem sempre afirma para as pessoas que ele não quer ser digno de dó nem pena, e sim de respeito. Isso é importante para o público, para mostrar que o deficiente precisa de respeito, e não de piedade. Os filmes que contemplam a deficiência física encontrados na amostra são muito bem elaborados, e mostram para o telespectador a realidade dessas pessoas, seja na perspectiva da aceitação, ou da negação. Um fato um pouco negligenciado nos filmes foi a ausência de cenas de mostravam a dificuldades de acesso que os deficientes físicos enfrentam. Filmes que abordam o autismo: Foram encontrados na amostra dois filmes que retratavam o autismo, em um deles o personagem nasceu com autismo, e no outro adquiriu após uma situação traumática. No filme “O enigma das cartas” a relação da mãe da menina autista com o médico é bastante conflituosa, mostrando para o público a difícil aceitação dos pais quando descobrem que seus filhos são portadores de autismo. Já o filme “Rain Man” mostra a difícil relação entre irmãos, sendo que um possui autismo. O filme conta ao público de forma detalhada como é a vida de uma pessoa portadora de autismo, mostrando suas características, suas rotinas, o funcionamento e suas habilidades. São poucos os filmes que retratam o autismo, mas acredito que esses dois foram capazes de fornecer ao público as informações necessárias para a construção de um correto conceito sobre a deficiência. 69 Considerações finais A partir do que foi visto em relação a mídia, podemos concluir a grande influencia que esta pode exercer sobre as pessoas de forma geral, e conseqüentemente a produção equivocada de conceitos e ideais. Nesse contexto, os filmes que abordam algum tipo de deficiência são capazes de fornecer informações básicas sobe estas, e demonstrar de alguma maneira o cotidiano dessas pessoas, suas alternativas de adaptação, seus obstáculos e dificuldades, a suas relações com a sociedade, com o trabalho e com a escola. Os filmes que contemplam a deficiência nem sempre são muito fieis à realidade, algumas vezes muito exagerados, transformando os personagens em heróis, ou então em coitadinhos. Porém, outros filmes conseguem retratar com fidelidade as experiências das pessoas com deficiência, relatando de forma mais real o cotidiano deles. Acredito que os filmes que contam histórias verdadeiras são os que contemplam a deficiência de forma mais completa, visto que eles conseguem transmitir para o público além de noções e informações básicas sobre a deficiência, o sentimento, e as emoções, de forma mais autêntica. Os filmes que abordam algum tipo de deficiência geralmente são muito emocionantes, visto que em algumas ocasiões eles relatam a história com um pouco mais drama que o necessário, apelando para um sensacionalismo, a fim de comover mais ainda o telespectador. Não é possível fazer nenhum tipo de afirmação categórica em relação aos filmes que contemplam a deficiência, visto que foram assistidos apenas 24 filmes relacionados com a temática, uma vez que existem muitos outros títulos na área, o que foi feito aqui foi uma análise parcial, de uma amostra de filmes escolhidos aleatoriamente. E dentro dessa perspectiva podemos dizer que na amostra analisada, os filmes assistidos não perpetuam nenhum tipo de preconceito, e também não constroem conceitos errado sobre a deficiência. 70 Os filmes assistidos foram bem sucedidos no que concerne à transmissão de informações sobre a deficiência, sobre suas vidas, de forma detalhada, buscando sempre ser coerente com a realidade, e não criando nenhum tipo de visão preconceituosa. 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL. A. DEFICIÊNCIA: PRECONCEITOS E ESTEREÓTIPOS NA LITERATURA INFANTTO – JUVENIL. Em TEMAS EM EDUCAÇÃO ESPECIAL 2. São Carlos; UFSCar, 1993. BUENO, J. G. S. EDUCACAO ESPECIAL BRASILEIRA. 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