40 CURSO DE TEOLOGIA BÍBLICA INTRODUÇÃO À BÍBLIA

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40 CURSO DE TEOLOGIA BÍBLICA INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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CURSO DE TEOLOGIA BÍBLICA
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
AULA 12 – OS CÓDICES BÍBLICOS E O MANUSEIO DA BÍBLIA
1 - Definição de Arqueologia Bíblica, Bíblia e Testamento
A arqueologia bíblica é uma ciência especializada em estudos e procura de materiais e
lugares bíblicos, antes e depois dos primeiros séculos da era cristã. A região mais estudada é a Terra Santa.
Segundo o Concilio Vaticano II, "A Bíblia é o conjunto de livros que, tendo sido escritos sob
a inspiração do Espirito Santo, têm Deus como autor, e como tais foram entregues à Igreja".
A palavra Testamento (latim testamentum) traduz o grego  e o hebraico “berît”,
“aliança”, significando o fato central da salvação, a antiga Aliança do Sinai e a nova Aliança de Jesus
Cristo.
2 - Documentos mais antigos
O período de histórico da formação da Bíblia escrita situa-se entre 1200 a.C. a 100 d.C.
Provavelmente, os textos mais antigos da Bíblia são o Cântico de Débora, que se encontra no livro dos
Juízes (Jz, 5) e o relato do afogamento dos cavalos e dos cavaleiros na saída do Egito (Ex 15,(21) .
Após esta fase, num período de quase 1500 anos o Antigo e o Novo Testamento foram
copiados à mão em papiro e pergaminho. Mas nem todos os manuscritos concordam. Essas pequenas
variações requerem uma avaliação cuidadosa para determinar o que o autor realmente escreveu.
Os originais dos Evangelhos se perderam, dada a fragilidade do material usado (pele de
ovelha ou papiro). Restaram as cópias (manuscritos) antigas desses originais, que são os papiros, os
códices unciais (escritos em caracteres maiúsculos sobre pergaminho), os códices minúsculos (escritos
mais tarde em caracteres minúsculos) e os lecionários (textos para uso litúrgico).
Conhecem-se cerca de 5.236 manuscritos (cópias) do texto original grego do Novo
Testamento, comprovados como autênticos pelos especialistas. Estão assim distribuídos: 81 papiros; 266
códices maiúsculos; 2754 códices minúsculos e 2135 lecionários.
3 – Os Papirus Bíblicos
O Papiro (πάπυρος) é uma planta originária do Egito. Manufaturado, a sua fibra de mesmo nome,
foi usado predominantemente para os textos neotestamentários até o início do século IV. O mais antigo
manuscrito do Novo Testamento tem sido o Papiro P52, um pequeno fragmento do Evangelho de João,
datado da primeira metade do século segundo. Foi descoberto em 1934.
 Alguns dos principais Papiros do Novo Testamento:
P1 – Evang. – Filadélfia (EUA), sec. III;
P2 – Evang. – Florença (Itália), sec. III;
P4 – Evang. – Paris (França), sec. III;
P5 – Evang. – Londres (Inglaterra), sec. III;
P22 – Evang. – Glasgow (Inglat.), sec. III;
P46 – C. Paulinas – Dublin (Irlanda), sec. III;
P52 – Evang. – Manchester (Inglat.), ano 125;
P66 – Evang. – Vaticano, sec. II;
P75 – Evang. – Vaticano, sec. II.
P90 – Evang. – Oxford (Ingl.), ano 150.
4 – Os Códices Bíblicos
Do século IV ao XIII, o material comum passou a ser o pergaminho (membrana, feita de pele
de carneiro, cabra, bezerro ou outros animais). Os Códices (códex significa "livro") eram os manuscritos
gravados em pele animal que substituiu o rolo de pergaminho e foi substituído pelo livro. Os códices
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unciais são livros de grande formato, escritos em caracteres maiúsculos (unciais). Os principais do Antigo
e Novo Testamento são:
 ocitiániS ecidóC :10 ‫א‬: Londres, sec. IV. O N.T. está completo. Contém as epístolas de Barnabé e
uma porção do Pastor de Hermas.
 02: Códice Alexandrino: Londres, sec. V. Embora muito bem conservado, apresenta algumas
lacunas em Gênesis, I Reis, Salmos, Mateus, João e I Coríntios. O AT é da LXX. Os evangelhos
seguem o texto bizantino.
 B: 03 Códice Vaticano: Novo Testamento, Roma, sec. IV; está escrito em grego e contém o texto
completo da Septuaginta, com exceção dos livros dos Macabeus e da Oração de Manassés. O AT é
da LXX. O N.T. É Alexandrino. Há lacunas no final da epístola aos Hebreus e no Apocalipse. O
Códice Vaticano não era conhecido pelos estudiosos textuais até 1475, quando foi catalogado na
Biblioteca do Vaticano, em Roma, pertencente à Igreja Católica Romana. Contém 759 folhas, sendo
617 no Antigo Testamento e 142 no Novo Testamento. Esse manuscrito é considerado como a melhor
cópia conhecida do Novo Testamento. É interessante notar que não incluiu Marcos 16,9-20.
 C 04: Códice Efrém rescrito: Paris, sec. V; porque o texto original foi apagado, embora tenha ficado
vestígios leves, e o material reutilizado no século XII para anotar as obras de Efraem, o sírio. O texto
bíblico foi restaurado por métodos modernos de recuperação. Nas 208 páginas recuperadas há textos
de Jó, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Cantares e quase todo o Novo
Testamento, com exceção de II Tessalonicenses e II João
 D 05: Códice Beza: Cambridge, sec. VI; escrito nas línguas grega (esquerdo) e latina (direito).
Contém os quatro evangelhos; Atos, com algumas lacunas; e uma parte de 1João.
 D2 06 Códice Claromantono: Paris, sec. VI. Em grego e latim, contém as epistolas paulinas e
material extra-canônico.
 Q Códice Korideto: Tbilisi, Geórgia, sec. 9 d.C.; trata-se de um manuscrito dos Evangelhos,
contendo 249 folhas, com 02 colunas por folha. Foi escrito provavelmente no Sinai por uma pessoa
que pouco conhecia de grego. Seus caracteres são pesados e rudes. Foi descoberto num mosteiro do
Cáucaso, está em Tbilise, na Geórgia.
 W 32 Códice Washingtoniano, USA: séc. V; uma importante descoberta do século XX. Os
evangelhos estão na ordem Mateus, João, Lucas e Marcos.
 Vulgata Latina: Sec. V; Tradução para o latim da Septuaginta e do Novo Testamento em grego. Foi
realizada pelo monge São Jerônimo a pedido do Papa Dâmaso. Ele uniu o A.T. ao N.T. na composição
atual.
 Códice Aleppo – Israel, do ano 930 d.C., é o mais antigo manuscrito da Bíblia Hebraica e o de maior
autoridade massoreta1, para os textos bíblicos e rituais judaicos. Foi produzido por Aaron ben Moses ben
Asher e usado pelo rabino e acadêmico Maimónides (1135-1204). Em 1958, o Codex Aleppo foi
contrabandeado da Síria para Jerusalém e entregue ao presidente do Estado de Israel, Ben-Zvi Izhak. Das
491 páginas do Códice Aleppo, 295 sobreviveram, e 196 foram perdidos.
5 – A Arqueologia e os Documentos de Qumran2
Entre as grandes descobertas arqueológicas do século XX estão o Papiro P52 de John
Rylands, redescoberto em 1934 na Biblioteca John Rylands em Manchester, Inglaterra, reconhecido como
o mais antigo texto escrito do Novo Testamento (125) e a Estela de Merneptah, uma coluna comemorativa,
do ano 1207 a.C., que descreve as conquistas militares do faraó Merneptah e cita Israel como um dos
inimigos do Egito no período bíblico dos juízes, provando a existência de Israel como nação. É a menção
mais antiga do nome "Israel" fora da Bíblia.
Outra descoberta importantíssima da arqueologia Bíblica foram os documentos de Qumrã ou
Manuscritos do Mar Morto, no ano de 1947, por um grupo de pastores de cabras. Os pergaminhos de
Qumrã contêm as cópias mais antigas já encontradas da Bíblia hebraica e descrevem a vida e as crenças
1
Os massoretas (‫ )המסורה‬eram escribas judeus que se dedicaram a preservar e cuidar das escrituras que constituem
o Antigo Testamento. Eles substituíram os escribas por volta do ano 500 até ao ano 1000 d.C. Foram eles que
colocaram as vogais nos textos Bíblicos.
2
Obra: 101 Perguntas Sobre Os Manuscritos Do Mar Morto. Pe. Joseph A. Fitzmyer (sj)
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da Seita dos Essênios, povo que habitava a região do Mar Morto. Estes documentos estão em exposição
no Museu Israel. Dentre estes pergaminhos estão os textos dos 66 capítulos completos do Profeta Isaías.
São 800 manuscritos dos quais 200 são bíblicos3.
O Manuscrito do Livro de Isaías encontrado na caverna 01 de Qumrã oferece um exemplo
da transmissão exata do texto na tradução. Acredita-se que esse manuscrito date do ano 100 a.C. Foi um
manuscrito semelhante a esse que Jesus utilizou na sinagoga da aldeia de Nazaré, quando leu a seguinte
passagem das Escrituras: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os
pobres” (Lc 4,18; Is 61,1).
Antes da descoberta dos manuscritos do Mar Morto, a mais antiga cópia hebraica de todo o
Antigo Testamento era o assim chamado texto Ben Asher, encontrado no Códice B19A da Biblioteca
Pública de Leningrado e datado de 1008 d.C, que foi usado por P. Kahle na terceira edição da Bíblia
Hebraica de Kittel, de 1937, e muitas vezes reimpresso. Já que os documentos bíblicos de Qumrã oferecem
uma forma do Antigo Testamento hebraico pelo menos mil anos mais antiga que aquele códice, seu
testemunho do texto do Antigo Testamento é precioso.
6 – Exercícios para memorização e aprofundamento
1)
2)
3)
4)
5)
6)
7)
Retomando a aula 05: Leia o texto e faça um comentário sobre a inspiração divina na Bíblia!
Retomando a aula 11: leia o texto e faça um comentário sobre a divisão e o manuseio da Bíblia!
O que é arqueologia e qual a importância da arqueologia Bíblica para o estudo da Bíblia?
Quais são e comente os documentos mais antigos da Bíblia?
Comente sobre o Papirus e cite dois (02) de grande importância para a Igreja.
Comente sobre os dois Códices Bíblicos mais importantes na vida da Igreja Católica.
Comente sobre os documentos de Qumrã e da sua importância para os estudos bíblicos!
10 – Bibliografia sobre o tema estudado
1. ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos: uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007.
2. BARRERA, J.T. A Bíblia judaica e a Bíblia cristã: introdução à história da Bíblia. Petrópolis:
Vozes, 1996.
3. BÍBLIA. Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2002.
4. BOGAERT, Pierre-Maurice; DELCOR, Matthias; JACOB, Edmond; LIPISNK, Édouard; MARTINACHARD, Robert; PONTHOT, Joseph. Dicionário enciclopédico da Bíblia. São Paulo: Loyola,
Paulinas, Paulus, Academia Cristã, 2013.
5. FITZMYER, A. Joseph: 101 Perguntas sobre os Manuscritos do Mar Morto. São Paulo, Editora
Loyola, 1997.
6. GASS, Ildo Bohn. (08 volumes): Cebi; Paulus, 2004 (Uma Introdução à Bíblia).
7. KAEFER, José Ademar. Arqueologia das terras da Bíblia. São Paulo: Paulus, 2012.
8. KONINGS, Johan. A Bíblia nas suas Origens e Hoje. 4ª edição. Petropolis: Vozes, 2002.
9. LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário Critico de Teologia. São Paulo: Paulinas-Loyola, 2004.
10. LÉON-DUFOUR, Xavier (diretor), Jean Duplacy, Augustin George, Pierre Grelot, Jacques Guillet e
Marc-François Lacan. Vocabulário de teologia bíblica. 11ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2009.
11. PONTIFÍCIA COMISSÃO BIBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. 7.ed. São Paulo: Paulinas,
2006.
12. RAYMOND E. BROWN / Joseph A. Fitzmyer / Roland E. Murphy. Novo Comentário Bíblico de
São Jerônimo. Novo Testamento e artigos sistemáticos. São Paulo: Academia Cristã, Paulus, 2011.
13. SCHLAEPFER, Carlos Frederico. A Bíblia: introdução historiográfica e literatura. Petrópolis: Vozes,
200 (Coleção Iniciação à Teologia).
14. SCHNELLE, Udo. Introdução à exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004.
Ronaldo Sabino de Pádua
3
Os mais importantes textos do Antigo Testamento de Qumran são as cópias de Isaías da Gruta 1, e as da Gruta 4
dos seguintes livros: Êxodo, Samuel, Jeremias e Daniel. Esses textos da Gruta 4 são os livros que manifestam as
variantes textuais mais notáveis e importantes.
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