Cartografia para mudança – o aparecimento de uma prática nova
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Cartografia para mudança – o aparecimento de uma prática nova
Resumo: Cartografia para mudança – o aparecimento de uma prática nova SEÇÃO DE TEMAS 1 por JON CORBETT, GIACOMO RAMBALDI, PETER KYEM, DAN WEINER, RACHEL OLSON, JULIUS MUCHEMI, MIKE McCALL e ROBERT CHAMBERS Informações Gerais A Conferência Internacional de Cartografia para Mudança sobre o Gerenciamento e a Comunicação de Informações Geográficas foi realizada no Kenya College of Communication of Technology, in Nairobi, Quênia, de 7 a 10 Setembro de 2005. A conferência reuniu 154 pessoas de 45 países e nações diferentes com experiência prática sobre a implementação do SIG Participativo (SPIG). Esses praticantes são unidos por sua convicção de que a prática de PGIS (Caixa 1) poderá ter implicações profundas para grupos marginalizados da sociedade civil: • Poderá aumentar a capacidade de gerar, gerenciar e comunicar informações geográficas; • Poderá estimular à inovação; e em última instância, • Poderá incentivar uma mudança social positiva. As ferramentas geradas e utilizadas nessa prática poderão se tornar veículos interativos para redes de trabalho, discussão, troca de informações, análise e tomada de decisões. Quando a prática de PGIS começou a se mudar do mundo não digital para o digital em meados dos anos noventa, surgiram algumas preocupações sobre a viabilidade da aplicação das ferramentas de PGIS relativamente complexas de maneira participativa. Na sua publicação intitulada ‘SIG Participativo: oportunidade ou oxímoro?’ Abbot et al (1998) identificaram e debateram os 'benefícios e problemas da abordagem participativa de SIG’. Perguntaram se os Sistemas de Informações Geográficas (GIS) podem ser utilizados por pessoas locais, ‘adequando-as para influenciar as decisões políticas pela posse e uso dos dados’ ou se ‘um “GIS participativo” seria simplesmente extrativo?’ Caixa 1: SPIG uma prática emergente O SPIG é em si uma prática emergente. É o resultado de uma fusão dos métodos de Aprendizagem e Ação Participativa – AAP (Participatory Learning and Action-PLA) e as Tecnologias de Informações Geográficas – TIG (Geographic Information Technologies – GIT). O PGIS facilita a representação dos conhecimentos de pessoas locais dos espaços por meio de mapas bidimensionais ou tridimensionais. Tais produtos cartográficos poderão ser utilizados para facilitar os processos de tomada de decisões, bem como para apoiar as comunicações e a defesa da comunidade. A prática de PGIS visa a proporcionar poder à comunidade através de aplicações adaptadas, baseadas na demanda de uso simples dessas tecnologias cartográficas. Quando praticado corretamente, o SPIG é flexível e se adapta aos diversos ambientes sócio-culturais e biofísicos. De modo comum, conta com a combinação das habilidades ‘peritas’ com os conhecimentos locais. Diferente das aplicações tradicionais de SIG, o SPIG coloca o controle de acesso e uso de dados geográficos culturalmente sensíveis nas mãos das comunidades que os geraram. Adaptado da obra de Rambaldi et al. (2005) aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 13 SEÇÃO DE TEMAS 1Corbett, Rambaldi, Kyem, Weiner, Olson, Muchemi, McCall e Chambers Caixa 2: Algumas ferramentas e métodos participativos usados na prática. Cartografia efêmera: Este método muito básico envolve o traço de mapas no chão. Os participantes utilizam matérias-primas, tais como terra, seixos, gravetos e folhas para representar a paisagem física e cultural. A cartografia de esboço é um método ligeiramente mais elaborado. Esboça-se um mapa com base na observação ou memória. Não conta com medidas exatas, tais como escala consistente ou referências geográficas. Normalmente envolve o desenho de símbolos em folhas grandes de papel para representar as características da paisagem. A cartografia de escala é um método de produção de mapas mais sofisticado, que visa a gerar dados de referências geográficas. Isso permite aos membros da comunidade desenvolver mapas de escala relativamente exata e com referências geográficas que podem ser comparados diretamente com outros mapas. . A Modelação 3D integra os conhecimentos geográficos com os dados de elevação, produzindo modelos de relevo tridimensionais autônomos, de escala e com referências geográficas. Assinalam-se no modelo as características geográficas relativas aos usos da terra e sua cobertura usando tachas (pontos), estames (linhas) e tintas (polígonos). Ao completar o modelo, aplica-se uma grade de escala e geo-referências para facilitar a extração ou importação de dados. Os dados representados no modelo, podem ser digitalizados e marcados graficamente. Os foto-mapas são impressões de fotografias aéreas (ortofotografias) que são corrigidas geometricamente e dotadas de referências geográficas. Os mapas de ortofotografias constituem uma fonte de dados precisos, obtidos por sondagem remota, que podem ser utilizados para projetos cartográficos comunitários de grande escala. Os membros da comunidade podem delinear o uso de terras e outras características significantes em transparências sobrepostas no foto-mapa. As informações colocadas nas transparências podem ser posteriormente digitalizadas e dotadas de geo-referências. As imagens obtidas por sondagem remota estão se tornando uma alternativa cada vez mais apropriada quando podem ser fácil e livremente (ou de modo muito barato) baixadas da Web (Muller et al., 2003). Os Sistemas de Posicionamento Global (GPS) atualmente são mais acessíveis e o uso deles tem se ampliado rapidamente entre as ONGs e organizações comunitárias. O GPS é um sistema de posicionamento que utiliza satélites para indicar ao usuário sua posição exata usando um sistema de coordenadas conhecidas tal como latitude e longitude. Esta tecnologia é usada freqüentemente para a demarcação de áreas de terras onde existe disputa quanto a acesso e controle de recursos naturais. Os dados registrados são usados com freqüência para dar precisão às informações descritas em mapas esboços, mapas de escala, modelos 3D e outros métodos cartográficos comunitários que utilizam menos tecnologia. Os sistemas multimídia de informações vinculados a mapas são similares às tecnologias de SIG, mas são de compreensão e controle mais fáceis. Os conhecimentos locais são documentados por membros da comunidade por meio de vídeos digitais, fotografias digitais e texto escrito armazenados em computadores e administrados e comunicados com a interface de um mapa interativo, digital. Pode-se ter acesso às outras informações de multimídia clicando-se nas características do mapa interativo. O SIG é um sistema computadorizado projetado para coletar, armazenar, gerenciar e analisar as informações com referências sobre espaços geográficos e dados associados de atributo. Utiliza-se cada vez mais a tecnologia SIG para explorar as questões de interesse às comunidades. Nesse processo, os dados locais com referências sobre espaços, bem como os dados não relacionados a espaços, são integrados e analisados para dar apoio aos processos de discussão e tomada de decisões. O ‘SIG Móvel’ é mais bem adaptado ao uso participativo e à comunidade local visto que o software de SIG foi projetado para funcionar com computadores portáteis ou computadores laptop no campo. Adaptado da obra de Rambaldi et al. (2005) e Corbett (2005) Essas questões fundamentais ainda existem, especialmente relativas às ferramentas digitais. Mas os praticantes já tiveram mais de uma década para desenvolver e aplicar essas ferramentas, como também para continuar a exploração das ferramentas de PGIS mais antigas, não-digitais. A conferência de Cartografia para Mudança permitiu aos praticantes que trocassem suas experiências, informassem sobre os seus sucessos e fracassos, bem como identificassem as lições aprendidas durante esse período. O conteúdo desta edição é indicação da madureza da prática de SPIG. Ela já iniciou o desenvolvimento de um conjunto de éticas e metodologias eficazes que se baseiam na experiência 14 aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 de primeira-mão. Essas considerações éticas servirão de ajuda para orientar tanto os praticantes novos como os experientes a fim de assegurar que as comunidades locais tenham a capacidade de desenvolver e comunicar seus próprios dados e, finalmente , influenciar os processos maiores de tomada de decisões. Existe uma ampla gama de ferramentas e métodos que estão disponíveis aos praticantes e representantes das comunidades. Elas variam desde a cartografia de esboço de baixa tecnologia até as tecnologias avançadas geo-espaciais e de multimídia. Visto que essas ferramentas se tornam mais complexas, o uso delas envolve freqüentemente (mas nem sempre) a incorporação de muitas das Resumo: Cartografia para Mudança – o aparecimento de uma prática nova Robert Chambers profere seu discurso aos participantes da conferência 1 Peter Kwaku Kyem, membro do comitê organizador, num painel de sessão plenária Fotografias: Johan Minnie SEÇÃO DE TEMAS ferramentas anteriores, resultado em abordagens em que várias ferramentas são utilizadas (Caixa 2). Descrição da conferência A conferência Cartografia para Mudança foi realizada durante três dias de atividades intensas. Ela incluiu 12 apresentações plenárias seguidas de debates, e 32 apresentações feitas em sessões paralelas. As apresentações foram seguidas de discussões em grupos de trabalho baseadas em tarefas e perguntas designadas. Em seguida, os resultados das discussões dos grupos de trabalho foram apresentados numa sessão plenária e debatidos ainda mais. Caixa 3: O que significa ‘boa prática’? A boa prática de SPIG deve ser cautelosa, orientada pelo usuário/enfocado no usuário e de consciência ética. O aspecto ‘participativo’ significa que a comunidade toma o maior grau possível de controle dos processos de tomada de decisões, do poder e responsabilidades administrativas durante todas as diversas etapas envolvidas. Os objetivos iniciais dos organizadores da conferência visavam a habilitar os participantes a: • Informar suas experiências e definir boas práticas para disponibilizar tecnologias de informações geográficas disponíveis a grupos marginalizados da sociedade; e • lançar o alicerce para o estabelecimento de redes regionais e centros de recursos a fim de promover e apoiar as boas práticas de SPIG. Os objetivos previstos para a conferência foram completamente realizados. Desde o Quênia até o Canadá, os participantes Indígenas e das Primeiras Nações, bem como as organizações representativas e investigadores, todos compartilharam suas experiências das iniciativas de PGIS. Os grupos de trabalho, respondendo a tarefas específicas, reuniram participantes para se envolverem na aprendizagem colaboradora sobre assuntos que incluem: • Os ambientes habilitadores de desabilitadores para SPIG, concentrando-se nas políticas e no financiamento que apóia ou debilita as chances para a boa prática. • Comunicação de experiências na prática de SPIG. Isso incluíu aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 15 1Corbett, Rambaldi, Kyem, Weiner, Olson, Muchemi, McCall e Chambers Caixa 3: Os três Pré-requisitos Transparência A transparência se refere ao tipo de comunicação necessário para a boa aplicação de SPIG. Ela implica a existência de clareza, responsabilidade, o uso de linguagem simples e compreensível, bem como procedimentos transparentes, tais como reuniões abertas. Ela respeita a necessidade das comunidades envolvidas no processo serem informadas de todas as desvantagens potenciais que poderiam ser associadas com a aplicação das ferramentas. Tempo É necessário haver, logo no início, tempo suficiente para desenvolver os relacionamentos efetivos entre os intermediários da tecnologia e as comunidades recebedoras. Isso é necessário durante a implementação a fim de maximizar os impactos positivos derivados das iniciativas de SPIG e de permitir às comunidades locais a propriedade das ferramentas. É necessário haver um reconhecimento claro da necessidade de investir o tempo adequado para isso. De modo geral, os prazos curtos impostos para cumprir os programas externos de trabalho servem para minar os projetos. Tais prazos podem também limitar as capacidades das comunidades por impedir que elas tenham compreensão adequada das tecnologias ou que explorem completamente os benefícios potenciais da aplicação e uso de tais tecnologias. Confiança A confiança se refere à relação entre os diversos grupos e indivíduos. É um ingrediente essencial para empreender o SPIG. Barbara Misztal (1996) escreve que a confiança faz com que a vida se torne previsível, cria uma sensação de comunidade, e faz com que seja mais fácil para as pessoas trabalharem juntas. A necessidade da confiança parece impor uma certa disciplina nos praticantes. Sem o comportamento ou as atitudes apropriados para o desenvolvimento dessa confiança, a prática de SPIG realmente será difícil. A Transparência e o Tempo são pré-requisitos para estabelecer a Confiança. os modos de representar os conhecimentos geográficos locais, a reivindicação de terras e o manejo de recursos, as questões relacionadas ao processo participativo e às idéias sobre como apoiar a proteção do patrimônio cultural. • O desenvolvimento da solidariedade e de uma visão comum entre os praticantes de SPIG. Isso incluiu o desenvolvimento de um meio de melhorar as redes de contato e a comunicação, a formulação de projetos de estratégias regionais para dar apoio à Prática, e à identificação da terminologia fundamental para os doadores e agências de desenvolvimento internacionais a fim de incentivar o apoio destes à prática. As diretrizes para a boa aplicação de PGIS nos diversos contextos sócio-políticos nos países em desenvolvimento são debatidas no Foro Aberto de Sistemas e Tecnologias Participativos de Informações Geográficos www.ppgis.net. Giacomo Rambaldi, 16 aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 Fotografia: Johan Minnie SEÇÃO DE TEMAS Painel da sessão plenária Conferência: Cartografia para Mudança Da esquerda para a direita: Peter Poole, Dave de Vera, Giacomo Rambaldi, Reiko Yoshida e Mike McCall Mike McCall, Robert Chambers e Jefferson Fox apresentam um resumo desses pontos de vista no seu artigo publicado nesta edição especial. Transparência, tempo e confiança Manifestaram-se nas apresentações, cartazes, seminários e discussões na conferência, vários temas importantes relativos à boa prática. Esses temas podem ser resumidos como a necessidade de considerar o PGIS como uma prática que abrange mais que a cartografia participativa, incluindo as dimensões adicionais de redes de trabalho e comunicação e o desenvolvimento dos ‘três pré-requisitos – a transparência, o tempo, e a confiança – sendo os dois primeiros as pré-condições para a terceira. A confiança foi uma expressão fundamental usada durante toda a conferência. Os mapas são potencialmente tais ferramentas poderosas. Eles têm condições de influenciar, para o bem ou o mal, os resultados dos processos de tomada de decisões. Assim, a confiança entre facilitadores externos e as pessoas locais torna-se uma condição crítica para o sucesso. Descrição desta edição especial Os artigos contidos nesta edição especial da PLA foram tirados de documentos e cartazes apresentados na conferência Cartografia para Mudança. Os autores concentraram-se em estudos de casos e experiências do mundo em desenvolvimento e das Canadian First Nations (Primeiras Nações do Canadá). Eles representam a aplicação ampla de várias abordagens e ferramentas em várias situações socioeconômicas e geográficas por praticantes que possuem grande e profunda experiência. Esperamos que estes documentos transmitam o entusiasmo e a inovação gerados durante a conferência. Esta edição especial também é particularmente oportuna visto que ela destaca e documenta o amadurecimento Resumo: Cartografia para Mudança – o aparecimento de uma prática nova Jon Corbett fala com Rahab Njoroge fora da KCCT durante a conferência Fotografia : Johan Minnie Os artigos desta edição especial estão divididos em três grupos abrangentes: • Os artigos que se concentram em oferecer um estudo de caso relativo à aplicação de uma ferramenta de SPIG específica numa situação rural; • Os artigos que se concentram na integração de ferramentas múltiplas a fim de tratar de dificuldades específicas enfrentadas por uma comunidade; e • Os artigos que são mais teóricos e associados com assuntos, incluindo considerações éticas, perigos potenciais e outras lições tiradas das experiências obtidas da aplicação das ferramentas de SPIG em longo prazo. Estudos de caso baseados em ferramentas Estudos de caso baseados em questões À medida que as práticas associadas com o SPIG se inovam e se evoluem, é interessante notar os exemplos de como se modificam e se empregam ferramentas específicas para tratar das dificuldades enfrentadas por comunidades locais e, ainda, verificar se elas têm utilidade e/ou sucesso na realização dos objetivos das comunidades. Jon Corbett e Peter Keller introduziram um sistema participativo de informações de multimídia baseado em mapas. Isto veio a ser conhecido pelos participantes nas comunidades como um Sistema de Informações de Comunidade (SIC). A prática do SPIG se desenvolve freqüentemente para abordar questões específicas enfrentadas por uma determinada comunidade. Isso significa que as várias ferramentas poderiam ser usadas juntas, ou em seqüência para resolver as questões. Craig Candler, Rachel Olson, Steven DeRoy, e Kieran Broderick documentaram a história da prática do PGIS na área do Tratado 8 da Columbia Britânica, Canadá. Os autores descreveram a gama de práticas diferentes, desde a cartografia de comunidade até o desenvolvimento e aplicação do PGIS e as metodologias usadas. Os autores identificaram a área do Estrutura da edição especial aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 SEÇÃO DE TEMAS Fotografia : Jeroen Verplanke Vista do lado de dentro de uma das principais sessões plenárias. Conforme o método da comunidade, os conhecimentos tradicionais são documentados por membros da comunidade usando vídeo digital, gravação de sons, fotografias digitais e texto escrito, e são armazenados em computadores. Estes são administrados e comunicados através da interface de um mapa interativo. Os autores demonstraram o SIC por meio de um estudo de caso da Indonésia. Giacomo Rambaldi, Silika Tuivanuavou, Penina Namata, Paulo Vanualailai, Sukulu Rupeni, e Etika Rupeni comparam o uso da Modelação 3D Participativa (M3DP) e a cartografia participativa de ortofotografias de Fiji. Eles explicaram como a M3DP foi efetiva para apoiar o planejamento colaborador de recursos e a documentação do patrimônio cultural. Como os autores demonstraram, a M3DP mostrou-se como um meio fácil de gerar, analisar e comunicar os conhecimentos locais. Em seguida, Peter Kyem explorou o papel do SPIG na mediação e como a tecnologia pode ser usada para promover a criação de um consenso. Utilizando-se o exemplo de Kofiase na Gana Meridional, ele identificou como as aplicações do SPIG ajudaram os participantes que estavam em conflito a encontrar um jeito de chegarem a um meio-termo e superarem suas discordâncias. significante da prática de SPIG. Ela apresenta os exemplos do uso e aplicação das ferramentas antigas e aquelas da tecnologia da ponta nos contextos novos, como também de modos inovadores e animadores. Isso também representa uma metamorfose de projetos esparsos, desiguais e não relacionados, bem como de organizações e indivíduos que usam essas ferramentas para a criação de comunidade interligada e unida de praticantes. 1 17 1Corbett, Rambaldi, Kyem, Weiner, Olson, Muchemi, McCall e Chambers 18 Tratado 8 como um local crítico para aprender sobre a prática sustentada e sustentável. Tsion Lemma, Richard Sliuzas e Monika Kuffer apresentaram um exemplo de Addis Ababa, Etiópia. A prática do SPIG foi usada na tomada de decisões entre vários participantes relativas ao melhoramento dos mecanismos para monitorar as favelas. Sua abordagem incorpora informações geográficas pertinentes e detalhadas, recolhidas por meio de discussões de grupo de enfoque, observação de campo com membros da comunidade e interpretação de imagens visuais emitidas de satélite e fotografias aéreas. O documento da Sylvia Jardinet aborda a Cartografia Comunitária. Ela apresentou um exemplo do uso do SPIG e do GPS voltado à prevenção e resolução de conflitos relacionados a terras e ao acesso e uso de recursos naturais. A cooperativa de Gaspar Garcia Laviana em Telpaneca, Nicarágua, produziu um mapa com geo-referências da sua comunidade. Está disponível um arquivo público de seus bens, o qual pode ser consultado por qualquer membro da cooperativa. Pascale de Robert informou a sua experiência relativa ao apoio dado ao povo Caiapó do Brasil na realização de mapas de suas áreas de uso manejado nas terras tradicionais. Esses mapas são feitos a partir de imagens de satélite e verificados no terreno por meio de GPS. Ela descreve como o povo Caiapó tomou controle do processo, reorientando-o para produzir e usar mapas como ferramentas políticas para destacar a unidade territorial e social que o povo Caiapó deseja salientar. Julie Taylor e Carol Murphy, Simon Mayes, Elvis Mwilima, Nathaniel Nuulimba e Sandra Slater-Jones informaram sobre suas, inclusive as oportunidades e ameaças, de compor mapas dos territórios de San, Região de Caprivi da Namíbia. Eles mencionaram o potencial da prática de SPIG de expor e abordar as questões complexas e políticas de identidade, direitos e terra. Além disso, identificaram também como esses mapas podem ter múltiplas aplicações, inclusive para o fortalecimento dos direitos locais e da capacidade de manejar uma área de conservação de importância para o meio ambiente. Peter Minang e Mike McCall examinaram como o SPIG facilita o uso dos conhecimentos locais/indígenas sobre o planejamento de silvicultura comunitária para o seqüestro de carbono. O acesso aos pagamentos de serviços ambientais, tais como a mitigação de carbono exige informações técnicas extensas e caras para as bases, bem como monitoração, as quais as comunidades locais freqüentemente não possuem. Os conhecimentos geográficos da comunidade podem ser uma aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 fonte vital de informações, mas as representações dos conhecimentos locais precisam ser traduzidas para um formato apropriado para se ter acesso aos fundos do Protocolo de Kyoto e de outros programas para a redução de emissões de carbono. Os autores exploraram o ponto até o qual o SPIG poderá aprimorar o uso dos conhecimentos locais e indígenas nos processos de certificação de carbono. Fotografia : Johan Minnie SEÇÃO DE TEMAS O organizador da conferência, Giacomo Rambaldi, profere discurso aos participantes na conferência Cartografia para Mudança. Teoria e reflexões da prática É muito fácil, ao comunicar as experiências relativas à prática do SPIG, enfocar os casos de sucesso e os praticantes serem relutantes em se envolver na reflexão crítica sobre seus próprios trabalhos. Este grupo final de documentos aborda algumas questões importantes, mas pouco discutidas, sobre os problemas perenes da prática. Essas questões incluem os perigos potenciais que poderão afetar os projetos, as preocupações relativas à precisão e as éticas da prática. Mac Chapin compartilha vasta experiência prática sobre os problemas que freqüentemente surgem nos projetos comunitários de cartografia e explica como evitá-los. De modo específico, ele aconselha o leitor a investir tempo adequado no planejamento de projetos, e salienta o papel importante dos líderes de projeto de orientar o trabalho para se ter resultado bem-sucedido. Peter Poole descreve duas estratégias para organizar os projetos de cartografia sobre posse: a participação parcial – em que a comunidade aprende a reunir os conhecimentos tradicionais por meio de entrevistas e cartografia de esboço, mas todos os aspectos computadorizados de cartografia são terceirizados – contra a participação completa em que os comunitários são treinados sobre todos os aspectos de cartografia. Ele ilustra seu artigo usando vários estudos de caso de várias partes do mundo antes de fazer perguntas importantes sobre a sustentabilidade de tais projetos. Jefferson Fox, Krisnawati Suryanata, Peter Hershock e Albertus Hadi Pramono citam várias questões éticas importantes relacionadas à adoção de tecnologias de PGIS na Ásia. Apesar de vários sucessos, eles salientam que a adoção dessas ferramentas nem sempre tem o efeito positivo desejado. Os autores mencionam várias deficiências potenciais. Eles instaram aos praticantes desenvolver a clareza essencial para a cartografia, com base numa compreensão completa tanto das conseqüências pretendidas como daquelas que provavelmente não sejam as pretendidas de certas ações. Mike McCall faz perguntas importantes sobre as questões de Resumo: Cartografia para Mudança – o aparecimento de uma prática nova 1 Rachel Olson apresenta seu documento durante uma sessão plenária principal SEÇÃO DE TEMAS relacionada à Cartografia Cultural. Eles destacam algumas lições aprendidas no meio dos Povos Indígenas e das Primeiras Nações no Canadá, na Nova Zelândia, nas Filipinas e na África Meridional conforme apresentadas numa reunião recente realizada em Cuba (Novas Perspectivas sobre a Diversidade Cultural: O Papel das Comunidades, de 7 a 10 de Fevereiro de 2006). Foram discutidas as experiências e preocupações éticas que se manifestaram na conferência Cartografia para Mudança, sendo entregues como uma contribuição para formulação da declaração da UNESCO sobre Cartografia Cultural. Fotografia : Johan Minnie Conclusão certeza e precisão da prática de SPIG. Os termos assumiram grande significado na área da aplicação mais técnica de SIG. Contudo Mike pergunta se é enganador dar uma falsa idéia da realidade indistinta e ambígua, retratando-a como exata ou precisa, especialmente quando o SPIG representa dados obtidos por metodologias participativas oriundas de interpretações locais da certeza, confiabilidade e relevância. Não houve nenhum documento apresentado na conferência que tratasse especificamente da ética na prática de SPIG. Mas a ética se manifestou em toda a conferência como uma das principais preocupações gerais dos participantes. As questões levantadas incluíam os custos de se perder o tempo das pessoas, de criar expectativas que não serão cumpridas, de criar perigos para as pessoas por meio das informações que elas revelam, da prática usada para adquirir e/ou tornar informações públicas as quais poderiam ser exploradas por pessoas externas, bem como da prática criar conflitos e exigir precisão onde a indistinção poderia ser mais apropriada. Os participantes reconheceram a necessidade de formular uma ética prática comumente reconhecida, que servirá de ajuda para orientar a comunidade de praticantes. O documento de Giacomo Rambaldi, Robert Chambers, Mike McCall e Jefferson Fox procura compilar várias questões éticas citadas tanto durante a conferência como as discussões adicionais entre os praticantes e investigadores por diversos canais. Por último, na seção de Toque, Susanne Schnuttgen e Nigel Crawhall informaram sobre uma nova iniciativa da UNESCO Esta edição especial ajuda a desenvolver o reconhecimento de uma comunidade crescente da prática de SPIG nos países em desenvolvimento. Contém também muitos conselhos práticos, aprendidos em primeira mão, provenientes de alguns dos membros mais experientes nessa disciplina em amadurecimento. A presente edição apresenta não apenas casos de sucesso, mas também cita questões sobre onde e por que projetos podem falhar, e oferece conselhos sobre como evitar as armadilhas potenciais. Oferece conselho sábio sobre a necessidade de concentrar-se no desenvolvimento da confiança – tanto por proporcionar ao processo o tempo necessário para desenvolver essa confiança, bem como por prestar atenção à importância da transparência em todas as interações. Estamos convencidos de que esta edição especial será de grande utilidade para os praticantes, inclusive as comunidades locais e Indígenas, e também para outras organizações e indivíduos que querem praticar o SPIG. É também relevante para estudantes e pesquisadores que trabalham em campos acadêmicos associados com a prática. A conferência Cartografia para Mudança foi uma oportunidade maravilhosa para reunir as pessoas para compartilhar experiências e idéias, como também para solidificar e fomentar uma rede internacional maior de comunidades de praticantes e pesquisadores. Os Editores Convidados desta edição especial esperam que a conferência – bem como esta compilação de artigos resultantes do evento – também sejam de ajuda para ganhar reconhecimento para uma comunidade crescente de prática. aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 19 SEÇÃO DE TEMAS 1Corbett, Rambaldi, Kyem, Weiner, Olson, Muchemi, McCall e Chambers DETALHES PARA CONTATO Jon Corbett, Department of Geography, University of Victoria, PO Box 3050, Victoria, BC, CANADA, V8W 3P5. Fax: + 1 250 721 6216 Email: [email protected] Giacomo Rambaldi, Technical Centre for Agricultural and Rural Development (CTA), Wageningen, HOLANDA, Email: [email protected] Peter A Kyem, Associate Professor of Geography at Central Connecticut State University, 1615 Stanley Street, New Britain, CT 06050, EUA. Email: [email protected] Rachel Olson, Independent Researcher, 102-8408 92nd Avenue, Fort St. John, BC, V1J 6X2, CANADA. Email: [email protected] 20 Dan Wiener, Director of International Programs, Professor of Geography, West Virginia University, G-15 White Hall, P.O. Box 6214, Morgantown, WV 26506-6214, EUA. Email: [email protected]; Fax: + 1 304 293 6957 Julius Muchemi, Environmental Research Mapping and Information Systems in Africa (ERMIS), PO Box 12327 Nakuru, Gate House 3rd Floor, Rm 308, Mburu Gichua Road, Nairobi, QUÊNIA. Email: [email protected] Michael K. McCall, International Institute for Geo-Information Science and Earth Observation (ITC), P O Box 6, 7500 AA , Enschede, HOLANDA. Email: [email protected] Robert Chambers, Institute for Development Studies, University of Sussex, Brighton, BN1 9RE, REINO UNIDO. Email: [email protected] aprendizagem e ação participativas 54 abril de 2006 REFERÊNCIAS Corbett J. M. and C. P. Keller (2005). ‘An analytical framework to examine empowerment associated with participatory geographic information systems (PGIS).’ Cartographica 40/4 91-102 Rambaldi, G., Kwaku Kyem, A.P., Mbile, P., McCall, M., and Weiner, D. (2005). ‘Participatory Spatial Information Management and Communication in Developing Countries.’ Paper presented at the Mapping for Change International Conference (PGIS’05), Nairobi, Kenya, 7th–10th September 2005 Misztal, B. (1996) Trust in Modern Societies. Cambridge: Polity Press Muller D. and Wode B. (2003). Methodology for Village Mapping Using Photomaps. Social Forestry Development Project (SFDP) Song Da, Vietnam Seção de temas ESTUDOS DE CASO BASEADOS EM FERRAMENTAS 21
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