191 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p
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191 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p
CRENÇAS E EXPERIENCIAS DOS ALUNOS DE LINGUA INGLESA DO IFMG OLIVEIRA, Shirlene Bemfica de Oliveira1 CARMO, Kamila Oliveira do 2 LEITE, Gabriela Maria Ferreira Leite3 OLIVEIRA, Tatiane Morandi de 4 ROSSI, Amanda Mendes de Oliveira 5 Introdução Evidências obtidas de uma série de estudos de natureza qualitativa que investigam o contexto da sala de aula apontam para a necessidade de pesquisas que envolvam os alunos de forma ativa dando-lhes voz para compreender suas expectativas e seus entendimentos do processo de aprendizagem (MICCOLI, 1996). Entendemos o contexto da sala de aula permeado por fatores institucionais, históricos e culturais que, uma vez considerados, envolvem todos os participantes como geradores e co-construtores de conhecimento, responsáveis pelo processo em que estão inseridos (SILVA, 2003). Sendo assim, na sala de aula, o conhecimento deve ser construído na interação e devem ser valorizadas as experiências anteriores, crenças, valores pessoais e coletivos do grupo, pois muitas das ações e dificuldades dos alunos podem ser explicadas a partir da compreensão de suas crenças e experiências e como estas influenciam a aprendizagem (CONCEIÇÃO, 2006, p. 189). Pesquisas que consideram a influência das crenças e dos valores pessoais no ensino e na aprendizagem de línguas surgiram nos meados dos anos 80 e trouxeram contribuições para a compreensão dos processos de aprendizagem, das expectativas e das reações dos alunos as abordagens de ensinar de seus professores. As crenças são componentes do desenvolvimento humano que influenciam na forma como conceituamos o mundo, nas nossas tomadas de decisões e na seleção das estratégias cognitivas que usamos para facilitar a recuperação e reconstrução dos processos de memória e aprendizagem (NESPOR, 1987, p. 317). Não há regras que determinem nosso sistema de crenças, mas sabemos que é uma estrutura em rede que não pode ser analisada de forma isolada (PAJARES, 1992, p. 307). Nosso sucesso ou fracasso educacional pode depender das crenças e expectativas que temos em relação às formas de aprender ou ensinar determinada área, ou seja, sobre os processos de ensino e aprendizagem. 1 Orientadora, Doutora em Estudos Línguísticos (UFMG), professora de língua inglesa, IFMG-OP - MG, e-mail: [email protected], [email protected] 2. Discente do curso Técnico em Edificações, 3o ano integrado, IFMG – Campus Ouro Preto. Bolsista de fomento interno IFMG. [email protected] 3. Discente do curso Técnico em Edificações, 3o ano integrado, IFMG – Campus Ouro Preto. Bolsista CNPq. [email protected] 4. Discente do curso Técnico em Edificações, 2o. ano integrado, IFMG – Campus Ouro Preto. Bolsista CNPq. [email protected] 5 Discente do curso Técnico em Edificações, 3o ano integrado, IFMG – Campus Ouro Preto. Bolsista CNPq. [email protected] 191 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p. 1‐352, 2011. Barcelos (2001) ao desenvolver uma pesquisa sobre as crenças dos alunos de inglês como língua estrangeira (LE), conclui que elas têm uma relação recíproca com as estratégias de aprendizagem, e esta relação pode guiar comportamentos ou ações para promover o desenvolvimento do aluno. Segundo a autora, esta correlação depende do ”background” dele, da forma de ensinar a que ele é submetido, do nível de proficiência e da motivação que ele tem em aprender a LE. Richards e Lockhart (1996, p. 52) desenvolveram um estudo em relação às crenças dos alunos. Segundo eles, as crenças de seus participantes foram influenciadas pelo contexto social de aprendizagem e, de certa forma, podem influenciar as atitudes, a motivação, as expectativas, percepções e dificuldades em se aprender uma LE. Estas crenças representam a forma como os alunos conceituam o contexto escolar, e elas podem influenciar a aprendizagem de forma positiva ou negativa. Foram identificadas crenças em relação à natureza da língua, a respeito dos falantes nativos da L2, a respeito das habilidades lingüísticas, do ensino, da aprendizagem de línguas, sobre o comportamento apropriado em sala de aula, a respeito do aluno e seus objetivos. Os alunos apresentam comportamentos psicológicos e cognitivos que servem como indicadores de como eles percebem, interagem e respondem ao ambiente de aprendizagem (Richards e Lockhart, 1996, p. 59). Diante deste panorama, este trabalho, um recorte da pesquisa “Formulaic sentences versus lexical bundles: aspectos linguísticos da interlíngua em corpus de aprendizes de LE” tem por objetivo fazer um diagnóstico do perfil dos aprendizes do Instituto Federal de Minas Gerais a fim de compreender melhor o contexto analisado e para servir de subsídios de ações pedagógicas. O estudo se justifica por envolver os alunos participantes e os bolsistas, trazendo-os como “parceiros da atividade de pesquisa” e dando voz para a compreensão do contexto investigado. Materiais e métodos A pesquisa foi desenvolvida em um Instituto Federal no Estado de Minas Gerais que atende ao Ensino Médio, a Graduação e a Pós-Graduação em várias áreas técnicas. Nesta investigação, participaram quatro turmas da segunda série do Ensino Médio Integrado (ano base 2010). As turmas tinham um encontro semanal (1h e 40 min.). Nas aulas, era utilizado o material didático Straight Foward Elementary, com o qual eram desenvolvidas atividades que contemplassem as habilidades de compreensão e produção oral e escrita (listening, reading, speaking and writing), além de pronúncia, gramática e vocabulário. Os dados a serem apresentados foram coletados por meio de um questionário elaborado pela pesquisadora e os bolsistas com o objetivo de investigar as habilidades e experiências com a língua inglesa dos alunos envolvidos na pesquisa. 192 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p. 1‐352, 2011. Análise e discussão dos dados O referido questionário foi aplicado em outubro de 2010 para 95 alunos com o intuito de coletar as experiências e crenças dos alunos sobre a aprendizagem a fim de, a princípio, compreender o contexto para o desenvolvimento da pesquisa cujo foco era na aquisição da LE e buscar estratégias pedagógicas. O questionário foi dividido em duas seções: uma em relação às experiências anteriores e outra em relação às experiências com a língua inglesa no instituto e em relação à motivação em aprender a língua inglesa (LI). A análise dessas experiências e crenças revelam que os alunos compreendem a relevância da LI, estão motivados a aprender, mas demandam aulas mais dinâmicas, comunicativas e prazerosas. As questões 1, 2, 3, e 4 do questionário tinham como objetivo conhecer as experiências dos alunos com a LI antes da entrada no Instituto. 89 alunos afirmaram que estudaram inglês em cursos livres em concomitância com o ensino fundamental que também oferece a disciplina. Nos depoimentos abaixo temos uma prévia das experiências anteriores dos alunos. Tive aulas de inglês no ensino fundamental, de 5ª a 8ª... tinham umas traduções, exercícios... provas, pouca conversação. Fora isso, nunca fiz aulas de inglês fora da escola. (Gabriela) Eu fiz aulas de inglês fora da escola e me ajudaram bastante, mas conquanto a escola mesmo, era muito básica. Eles trabalham muito só com a escuta e escrita, não desenvolviam muito a fala até porque muitos alunos se recusavam a falar (Alice) Fora do IFMG eu faço um curso de inglês, para poder me aperfeiçoar ainda mais. As aulas no IFMG eram muito boas, descontraídas e interessantes, e sem dúvida nenhuma, da maneira que era dada a aula, era fácil de aprender!!!!! (Danilo) Comecei a estudar a língua inglesa com 10 anos de idade, desde que eu comecei as aulas sempre foram divertidas, as aulas sempre jogos e brincadeiras que me ajudava na compreensão da língua aos 12 eu comecei a traduzir pequenas frases e a formar textos (Leidelaine) Foi perguntado aos alunos se eles têm interesse pela LI e se gostam ou não das aulas do Instituto. Pelo quadro abaixo, podemos dizer que a maioria tem interesse em aprender a LI, mas não estão totalmente satisfeitos com abordagem de ensino que estão recebendo. Percebemos também que atualmente, a maioria dos alunos somente tem contato com as aulas do Instituto (62). 27 alunos afirmaram ter contato com LI por um período superior a duas horas semanais e somente 6 deles por mais de 5 horas semanais. INTERESSE PELA LÍNGUA INGLESA AULAS DE INGLÊS NO IFMG ME INTERESSO MUITO 50 GOSTA MUITO 28 ME INTERESSO 16 MAIS OU MENOS 49 ME 20 GOSTA POUCO 15 2 DETESTA 3 INTERESSO POUCO NÃO ME INTERESSO 193 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p. 1‐352, 2011. TOTAL 95 TOTAL 95 Quadro1: interesse pela língua inglesa Percebemos pelos dados acima citados que os participantes da pesquisa estão motivados a aprender. Eles percebem uma diferença entre as aulas da escola do ensino fundamental que a caracterizam como básica e as aulas do Instituto. Os alunos foram questionados acerca das estratégias que utilizam para aprender melhor a língua inglesa. Eles apresentaram as atividades que, segundo eles, mais ajudam no aprendizado de inglês. Estas atividades foram bastante diversificadas, como mostra o gráfico 1. aula c/música vídeo/filmes leitura exercícios conversação c/professor legendas ouvindo músicas internete curso livre Gráfico 1: Atividades que ajudam no aprendizado de inglês O tipo de estratégias utilizadas pelos alunos pode interferir nas expectativas deles em relação à abordagem de ensinar do professor. Percebemos uma variedade de atividades envolvendo as diversas mídias (músicas, filmes, legendas, internet). Isso mostra uma demanda do uso da tecnologia em sala de aula para aperfeiçoar o processo de aprendizagem. É interessante observar que o número de alunos que aprendem melhor com as atividades desenvolvidas individualmente é maior do que as outras atividades. Acreditamos que o aprender para esses alunos está mais ligado ao receber (ver, ler, ouvir) do que ao produzir ou interagir. Os que afirmaram aprender através da música também é considerável e este fato pode estar relacionado à faixa etária desses alunos. Atribuímos isso as abordagens de aprendizagem que foram submetidos. Atividades envolvendo interação, como a conversação, quase não foram citadas. O curso livre foi apontado como um dos lugares propícios ao desenvolvimento deles na LE. Provavelmente, porque nesse contexto eles têm atividades que mais interativas, o número de alunos é reduzido, as aulas são dadas na língua alvo, o que facilita o desenvolvimento das habilidades de percepção e produção oral e escrita. 194 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p. 1‐352, 2011. Pesquisas mostram que, nesse contexto, há o desenvolvimento da competência comunicativa e os alunos se mostram mais interessados e participam ativamente do processo (OLIVEIRA, 2004). Os alunos foram questionados quanto à relevância de se aprender inglês. Todos responderam ser relevante aprender a LI. Percebemos pelos dados, que as justificativas são relacionadas às motivações variadas, como mostram os excertos abaixo: Bom, é importante aprender inglês porque o mundo de hoje é muito unido graças à globalização e, o inglês é a língua oficial, teoricamente você sabendo falar em inglês ou pelo menos escrever você consegue se comunicar em qualquer parte do mundo! (Diogo Queiroga) Eu acho importante aprender inglês porque nos ajuda entrar em contato com o mundo, uma vez que, está sendo uma língua mundialmente falada (Leidelaine) O inglês hoje é a língua mãe do mundo, por isso se você souber consequentemente vai estar mais dentro do mercado de trabalho e até para o dia a dia mesmo. (Alice) Aprender inglês é muito importante, ainda mais nos dias de hoje, devido à exigência do mercado de trabalho. (Danilo) Pra mim, a importância em aprender inglês, se dá pelo fato de que o inglês é a língua universal, e hoje tanto para entrar no mercado de trabalho, quanto para fazer viagens para qualquer lugar do mundo, saber inglês é fundamental (Gabriela) É grande o número de alunos que acredita que o conhecimento da mesma é uma necessidade prática. Esses alunos querem aprender inglês por motivos instrumentais, ou seja, eles podem ampliar a visão de mundo, aumentar as chances de arrumar um bom emprego e utilizar o aprendizado como ferramenta para auxiliar na leitura de textos. Muitos dos entrevistados também têm uma motivação integrativa para aprender a língua inglesa, ou seja, para conversar, para ouvir músicas, viajar, ou até mesmo mudar para o exterior. Outros estudos mostram resultados semelhantes no que diz respeito ao conhecimento de inglês ser uma ponte para um futuro melhor, ou para a ascensão social. Nesse sentido, “aqueles que não sabem inglês estão fora do mundo” (ZOLIN-VESZ, 2003, p. 33). Isso reforça a analogia global x local proposta por (DIAS; ASSIS-PETERSON, 2006, p. 115), em que o inglês é a ferramenta para se alcançar o global e a diferença é lida como carência. Conclusões Os resultados desta investigação demonstraram que os alunos estão interessados em aprender a língua inglesa. As crenças sobre a aprendizagem da LI pelos alunos aqui analisados demonstra que eles vêem a 195 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p. 1‐352, 2011. importância de estudar a LI e, estão motivados a aprender o idioma. A maioria dos alunos conceitua o Instituto como um contexto propício à aprendizagem da LI. A língua inglesa, para os alunos, é vista tanto como um veículo que os leva para o mundo profissional e pessoal quanto uma ferramenta para a ascensão social. Com certeza essas crenças guiam as estratégias de aprendizagem da LI, o comportamento dos alunos apropriado em sala de aula e seus objetivos. Bibliografia BARCELOS, A. M. Metodologia de pesquisa das crenças sobre aprendizagem de línguas: estado da arte. In: Revista Brasileira de Lingüística Aplicada. Belo Horizonte: ALAB. Associação de Lingüística Aplicada do Brasil, v.1, nº1. 2001, p.71-92. CONCEIÇÃO, M. P. Experiências de Aprendizagem: reflexões sobre o ensino de língua estrangeira no contexto escolar brasileiro. Revista Brasileira de Lingüística Aplicada, Belo Horizonte: UFMG, n. 6, vol. 2, 2006, p. 185-206. DIAS, M. H. M.; ASSIS-PETERSON, A. A. O Inglês na Escola Pública: vozes de pais e alunos. Polifonia n. 12, vol. 2, 2006, p. 107-128. MICCOLI, L. S. Refletindo sobre o processo de aprendizagem: um estudo coparativo. In: PAIVA, V. L. O. (Org.) Ensino de Língua Inglesa: Reflexões e experiencias. SP. Pontes, 1996. NESPOR, J. The role of beliefs in the practice of teaching. Journal of curriculum studies, v.19, n.4, p.317328, 1987. NISBETT, R. ROSS, L. Human inferences: Strategies and shortcomings of social judgments. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1980. In: JOHNSON, K. E. The emerging beliefs and instructional practices of Preservice English as a second language Teachers. Teaching & Teacher Education, Great Britain, Elsevier Science. v. 10, n.4, p.439-452, 1994. OLIVEIRA, S. B. Compreendendo o processo interacional na sala de aula de língua inglesa: visões de professores e alunos. 2004. 163 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Faculdade de Letras. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004. PAJARES, M. F. Teachers’ beliefs and educational research: cleaning up a messy construct. Review of Education Research, v.62, n.3, p.307-332, 1992. RICHARDS, J. & LOCKHART C. Reflective Teaching in Second Language Classrooms. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. SILVA, S. R. E. Experiências e Valores Socioculturais na Sala de Aula de LE. Trabalho apresentado no XVII ENPULI – Florianópolis 9 de abril de 2003. Anais... XVII ENPULI – Florianópolis, 2003. ZOLIN-VESZ, F. Reconsiderações sobre o ensino e a aprendizagem da língua inglesa no contexto escolar de mato grosso. In: Revista Norteamentos Disponível em:*projetos.unemat- net.br/revista_norteamentos/arquivos/004/.../03.pdf Acesso em 20/08/2011. 196 Anais da Semana de Ciência e Tecnologia, Ouro Preto, v. 3, p. 1‐352, 2011.
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