Gestão dos Custos do Ciclo de Vida.. - GEPEQ
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Gestão dos Custos do Ciclo de Vida.. - GEPEQ
IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 Gestão dos Custos do Ciclo de Vida do Produto durante seu Processo de Desenvolvimento Osvaldo Magno Freixo (UFSCar) [email protected] José Carlos de Toledo (UFSCar) [email protected] Resumo Este artigo tem como objetivo discutir o gerenciamento dos Custos do Ciclo de Vida do Produto durante o seu Processo de Desenvolvimento, identificar os requisitos mínimos necessários para que tal gerenciamento seja incorporado a esse processo, além de apresentar um conjunto de proposições destinadas à elaboração de um Modelo para Gestão desses custos. Inicialmente ressalta-se a importância do “Custo” como diferencial competitivo e como ele é afetado pelas decisões tomadas durante o desenvolvimento do produto. Discutem-se as razões para considerar a Gestão de Custos como um dos aspectos integrantes dos modelos de referência para desenvolvimento do produto e os diferentes níveis de abordagem dessa questão. Procura-se fazer uma diferenciação entre Sistemas ou Métodos de Custeio, Modelos de Estimativa de Custos e Gestão de Custos propriamente dita, ressaltando-se a qualidade da Informação, os Processos de Gestão explicitamente estabelecidos e a Capacitação de Pessoas como fatores essenciais para que a Gestão dos Custos do Ciclo de Vida do Produto de fato ocorra da maneira adequada e esperada. Palavras chave: Custos do Ciclo de Vida, Gestão de Custos, Desenvolvimento do Produto. 1. Introdução De maneira bem sucinta, pode-se dizer que o preço pago pelo consumidor na aquisição de um produto deve cobrir todos os seus custos de desenvolvimento e fabricação, além de outros esforços financeiros necessários à realização da receita de vendas (no jargão contábil, despesas). A diferença entre a receita obtida e todos os gastos efetuados pela empresa (custos ou despesas) representa o seu lucro, o qual deve atender às expectativas dos investidores, sejam sócios, acionistas, parceiros etc. Ao se falar em “Custos”, é importante tratar do “apreçamento” do produto, ou seja, a fixação de seu preço no mercado. Kotler e Armstrong (1995) dividem as estratégias de formação de preços em três classes: Fixação de Preços Baseada em Custos, Fixação de Preços Baseada no Valor e Fixação de Preços Baseada na Concorrência. O quadro 1 resume estas estratégias. Sobre elas, Cogan (1999) afirma que, com exceção de contratos baseados em custos ou de alternativas anacrônicas de comercialização como cartel ou monopólio, é o mercado quem, enfim, dita os preços dos produtos. Na sua visão, não é o custo quem, via de regra, determina o preço, mas o contrário, ou seja, fixando-se um preço máximo de mercado e uma taxa de retorno para a empresa, o resultado é um custo máximo possível de ser praticado, conhecido como “Custo Alvo” ou “Target Cost”. Assim, segundo o autor, o custo de um produto é um dos elementos que dão suporte às decisões de entrar ou permanecer no mercado, de lançar ou de retirar um produto. Em sua visão, “Custos” aparece como importante ferramenta nas decisões de caráter mercadológico, econômico e financeiro, tornando-se um diferencial competitivo para as organizações. o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 1 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 Fixação de Preços Baseada no Custo A fixação de preços é feita adicionando-se uma margem-padrão ao custo do produto. Alguns tipos de contrato prevêem esta modalidade. Ignora a demanda e a concorrência Fixação de Preços Baseada no Valor Usa a percepção dos consumidores com relação ao valor do produto. O valor e o preço do produto orientam as decisões sobre o projeto do produto. Fixação de Preços Baseada na Concorrência Os consumidores baseiam seus julgamentos sobre o valor do produto nos preços que os concorrentes cobram por produtos semelhantes. O preço pode ser fixado aos níveis da concorrência ou com intenção de suplantá-la. Quadro 1 – Estratégias para formação de preços ( KOTLER e ARMSTRONG, 1995). A literatura é repleta de trabalhos contendo afirmações de que grande parte dos custos de um produto é definida durante as fases iniciais de seu desenvolvimento. Pode-se citar, como ilustração, Crow (1997) e Weustink et al. (2000). Por esse motivo Clark e Fujimoto (1991) afirmam que modificações nos produtos devem ser feitas nestas fases iniciais pois quanto mais tardias forem as alterações mais custosas serão. De fato, promover modificações quando o produto não passa de um conceito, de uma idéia, é bem menos trabalhoso e envolve muito menos recursos que realizar alterações quando os projetos e processos já tenham sido definidos, quando os ferramentais já tenham sido projetados e construídos e, principalmente, quando a produção e distribuição já tenham sido iniciadas (vejam-se os casos de recall na indústria automobilística). Toledo (1994) fornece uma idéia da ordem de grandeza dos custos dessas alterações ao afirmar que se o produto estiver sendo ainda desenvolvido e uma determinada alteração custar P, essa mesma alteração custará 10 P se o produto já estiver em fase de produção e 100 P caso já tenha sido iniciada sua distribuição. Cabe ressaltar que quando se fala em custo de um produto não se deve pensar apenas em seu custo de fabricação, que é a primeira idéia de custo que vem à mente. O conceito de “Custo” deve ser estendido para as demais fases do ciclo de vida do produto. Ou seja, quando a equipe de desenvolvimento adota uma determinada solução deve ter ciência de que ela terá impactos, positivos ou negativos, não apenas no custo de fabricação desse produto mas também nos custos de operação, de manutenção e até mesmo de descarte, quando o produto não tiver mais utilidade. Lembremos dos recentes aperfeiçoamentos da legislação em relação à proteção do meio ambiente. As empresas de baterias, por exemplo, são obrigadas a recolher os produtos descartados pelos usuários e devem encontrar formas de reaproveitá-los ou, no mínimo, garantir que não contaminem o meio ambiente. Particularmente em relação às baterias de automóveis, os revendedores, que trocam as baterias dos usuários, recolhem e encaminham os produtos descartados às fábricas, os quais são quase que totalmente reciclados. O que aparentemente poderia sugerir um custo adicional com recolhimento e reciclagem acabou se mostrando uma economia de matéria-prima. Obviamente, é necessário que, ao se desenvolver o produto, seja prevista tal exigência de modo que as características de fabricação, montagem do produto etc. permitam tal reaproveitamento ao menor custo possível. Estas decisões sobre configuração do produto afetam, pois, não apenas os custos das fases de fabricação do produto como também a de descarte. Há diversas iniciativas de se adotar medidas semelhantes em relação a outros produtos, como “pneus”, por exemplo. Mais cedo ou mais tarde os fabricantes desses produtos terão a responsabilidade de recolher e dar um fim adequado às velhas carcaças que hoje abarrotam o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 2 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 lixões, córregos e rios. Esta nova responsabilidade certamente implicará em maior atenção ao desenvolvimento de novos produtos de modo a minimizar os impactos destes custos adicionais e, quem sabe, revertê-los em favor da própria empresa. Outro exemplo, talvez ainda mais contundente, da preocupação com as decisões tomadas no PDP, mas que afetam todo o ciclo de vida do produto, encontra-se na compra de um automóvel. Desconsiderando situações muito particulares, quê comprador de automóvel não se importaria com o consumo de combustível do veículo, com o preço de peças e serviços de manutenção, com a disponibilidade de rede autorizada e até com a facilidade e valor de revenda desse automóvel após determinado tempo de uso, ou seja, o custo de depreciação ? Nota-se claramente que o custo de aquisição é apenas um dos diversos componentes do que se conhece como “Custo do Ciclo de Vida - CCV” do produto, e assim como os demais, é definido em grande parte por decisões tomadas durante o seu desenvolvimento. Daí decorre a importância de uma gestão eficiente de tais custos quando o produto ainda está sendo conceituado, planejado e projetado, quando, de fato, grandes e pequenas decisões podem determinar o grau de rentabilidade do produto. No sentido de contribuir com o aprofundamento destas questões, os objetivos deste artigo são o de estabelecer uma ligação entre a Gestão de Custos e o Processo de Desenvolvimento do Produto - PDP, identificar requisitos básicos de um modelo de gestão dos custos do ciclo de vida do produto, além de propor uma estratégia para elaboração desse modelo. 2. Adoção de modelos de gestão de custos como forma de aperfeiçoar o PDP Embora a preocupação com os impactos das decisões do PDP nos custos já esteja presente em muitas empresas, persistem ainda perguntas: respeitadas demais restrições de projeto e mercado como Qualidade, Time-to-market, Logística etc. (os chamados trade-offs), como garantir que determinada solução de projeto representa o menor Custo do Ciclo de Vida do produto ? quais as condições necessárias para que os responsáveis pelas decisões possam tomá-las com o menor grau de incerteza possível ? Certamente estas perguntas poderiam ser feitas em outro contexto que não o de Custos, e a resposta talvez pudesse, no entanto, ser a mesma: a melhoria do processo decisório passa necessariamente por um aperfeiçoamento do PDP. Para reforçar a afirmativa, ilustraremos a questão com os resultados de uma pesquisa-ação realizada no Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar. A empresa pesquisada é reconhecida como detentora de uma enorme capacidade de desenvolver produtos com alto conteúdo tecnológico, como uma empresa atualizada em relação a práticas de desenvolvimento e que investe em pesquisa. Mesmo com todas estas características a seu favor, as pessoas entrevistadas, das diversas áreas da empresa envolvidas no PDP, reconheceram várias oportunidades de melhoria de seu processo decisório sobre custos, a maioria delas relacionadas ao próprio Processo de Desenvolvimento de Produto. De forma bastante resumida, as observações dos entrevistados concentraram-se em três aspectos: a) o PDP não previa atividades explicitamente relacionadas à gestão de Custos. Ou seja, como os requisitos sobre custos do produto, estabelecidos no Plano de Negócios da empresa, deveriam chegar à Engenharia e em que grau de detalhes, de que forma deveriam ser desdobrados para sistemas e componentes e por quem ? b) onde buscar as informações (históricas ou não) sobre custos, como disponibilizá-las e garantir, ao mesmo tempo, o devido sigilo ? c) qual o perfil necessário das pessoas para que possam lidar com estas questões mais gerenciais do ponto de vista econômico-financeiro e menos técnicas do ponto de vista de Engenharia ? o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 3 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 Nessa empresa, segundo os entrevistados, não havia definição clara das responsabilidades e atividades de controle dos custos do ciclo de vida em cada uma das etapas do processo de desenvolvimento de novos produtos, em relação ao Custo Alvo (Target Cost). Também este não era desdobrado de forma conveniente a partir do Plano de Negócios da empresa, o que deixava dúvidas quanto aos limites do custo de cada conjunto, subconjunto ou componente do produto que estava sendo projetado. Informações sobre custos de peças e componentes não estavam completamente disponíveis às equipes de projeto e os líderes de times, via de regra, não possuiam formação ou treinamento adequado para lidar com questões gerenciais de custos. Apenas para projetos maduros, sobre os quais se tinha informações muito mais detalhadas e precisas, modificações eram implementadas somente depois de uma análise mais criteriosa sobre as implicações de tais alterações no custo do produto. Como então a empresa vinha alcançando sucesso ? Resposta: graças à concentração de tais decisões nas mãos de algumas poucas pessoas de grande experiência com o produto e com o ramo de negócios que, no entanto, atuavam de forma mais intensa apenas nas etapas iniciais do projeto conceitual e do planejamento do produto. Isto fazia com que as demais etapas, de projeto de engenharia, detalhamento e planejamento dos processos carecessem de suporte em relação à gestão de custos. Depois da pesquisa-ação, surgiram perspectivas de que atividades relacionadas à gestão de custos, com definição de responsabilidades e condições de passagem (tollgates) de uma etapa para a seguinte dentro do PDP, fossem incorporadas ao Processo de Desenvolvimento do Produto, com a proposição de um Modelo de Gestão de seus Custos do Ciclo de Vida. 3. Gestão de Custos e Modelos de Referência para o PDP As atividades e tarefas que compõe um processo de desenvolvimento de produto podem ser definidas, estruturadas e organizadas de muitas formas, com maior ou menor eficiência. Não existe uma única maneira de desenvolver um produto e cada empresa pode definir seu próprio processo, com características peculiares à sua cultura organizacional, segmento econômico, estratégias de desenvolvimento etc. Existem muitas pesquisas no sentido de aprimorar modelos de desenvolvimento de produto, muitas vezes com ênfase em algum dos aspectos que compõe tal empreitada. Alguns modelos focam sua atenção nas questões mais gerenciais, de controle do projeto. Outros detêm-se mais nas tarefas operacionais de desenvolvimento de Engenharia e Fabricação. Várias empresas acabam por adaptar alguns desses modelos às suas condições locais. Estes modelos de desenvolvimento servem, portanto, como ponto de partida de novas “maneiras” de desenvolver um produto e são conhecidos por modelos de referência. Assim, um modelo de referência pode dar ênfase a questões de gerenciamento ou de operação, ou a ambas. Seja qual for o enfoque, o modelo deve contemplar necessariamente a gestão dos custos. Significa dizer que, assim como há tarefas relacionadas ao dimensionamento de uma determinada peça ou subsistema, ou ao controle de configuração do produto (em que fase se encontra cada componente, se houve modificações, se tem o desenho liberado etc.), deve haver também atividades destinadas a responder se aquele subsistema tem um custo estimado dentro do que foi definido como custo máximo suportável. É necessário saber se o produto, em cada etapa de seu desenvolvimento, permite à empresa atingir seus objetivos de negócio (os lucros desejados). Da mesma forma como o projeto não pode prosseguir se determinado sistema ou componente ainda não foi desenvolvido o suficiente de modo a atingir o desempenho que dele se espera, também não pode ir adiante enquanto não se conheça os impactos de cada decisão no custo do ciclo de vida do produto de modo a garantir, dentro do grau de certeza possível em cada etapa de desenvolvimento, que os custos o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 4 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 estimados até aquele instante estejam dentro do que foi definido no plano de negócios como Custo Alvo. Se assim não for, corre-se o risco de desenvolver um produto que pode ter o desempenho técnico esperado, que seja oferecido no prazo estipulado, que possua boa logística de distribuição e manutenção mas que seja caro para o mercado a que se propõe ou que não dê à empresa o retorno esperado. Obviamente, as decisões no PDP nem sempre cabem exclusivamente à Engenharia, e geralmente não deve ser assim. Muitas escolhas envolvem questões comerciais, estruturais ou de Marketing. No entanto, é necessário que, seja qual for a base da decisão, se saiba das conseqüências em termos do Custo do Ciclo de Vida do produto, assim como se atenta para a qualidade, tempo de lançamento etc. 4. Estimativa, Apuração e Gestão de Custos no PDP Há que se fazer uma distinção importante entre “Estimativa de Custos”, “Apuração de Custos” e “Gestão de Custos”. Façamos um paralelo com uma situação do cotidiano: o planejamento de uma viagem de férias. Suponhamos que no ano passado tenham sido gastos R$ 2.000,00 com uma viagem de 1.000 km para 4 pessoas. Para este ano pretende-se realizar uma viagem de 2.000 km para 5 pessoas e seria interessante se ter uma idéia de quanto ela custará. Nas primeiras etapas desse “projeto de férias” talvez não se conheça com exatidão o itinerário e os detalhes da viagem. Neste caso, a estimativa de custos pode ser bem grosseira ao se estabelecer, por exemplo, uma proporcionalidade. Se a distância dobrou e a quantidade de pessoas aumentou em 25%, então o gasto será de aproximadamente R$ 5.000,00 (150% a mais que os gastos com a primeira viagem). Conforme a idéia amadurece, os detalhes da viagem são definidos e se conhecem mais informações acerca do itinerário, melhores aproximações podem ser feitas. Os gastos com acomodações talvez não dobrem apenas porque a distância dobrou. Os gastos com combustível, pedágio etc. não deverão ser 150% maiores apenas porque temos uma pessoa a mais na viagem, e assim outras considerações. Dessa forma, podemos chegar a números mais factíveis, algo entre R$ 4.000 e R$ 4.500, por exemplo. Quanto mais e melhores as informações sobre esta nova viagem, maior precisão teremos ao tentar avaliar seus custos. Este é um típico processo de Estimativa de Custos. Quanto à Apuração dos Custos da viagem, não há segredos. Basta somar todos os gastos incorridos durante todo o passeio e teremos o novo valor. Talvez haja dúvidas quanto ao rateio. Se imaginarmos que são 5 amigos, talvez alguns deles possam ter efetuado gastos extras com acomodações e alimentação, por exemplo. Em assim sendo, a maneira como ficou acordado que os gastos seriam distribuídos (critério de rateio) é que vai determinar o montante a ser assumido pelas pessoas individualmente. Ao final da apuração pode-se saber se a estimativa de gastos feita antes da viagem foi boa ou ruim. Trata-se da contabilidade do passeio. E quanto à Gestão de Custos ? Qual a diferença em relação aos processos de Estimativa e Apuração descritos anteriormente ? Antes de estimar os custos da nova viagem, talvez possamos responder a algumas perguntas: a) não seria possível fazer a viagem através de uma companhia de turismo ? neste caso, estaria incluída hospedagem ? quanto isto traria de economia ou de gasto suplementar ? com esta solução, haveria economia de tempo ? e quanto ao conforto, segurança e ausência de imprevistos ? estes fatores compensariam um possível gasto a maior (trade-offs) ? b) seria possível mudar o trajeto ou utilizar hospedagens mais baratas de modo a reduzir os gastos em relação ao ano anterior ? c) e se a viagem fosse realizada em outra época ? os preços de translado e hospedagem seriam diferentes ? isto possibilitaria um tempo maior de passeio ou uma viagem mais longa, ou mais barata ? o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 5 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 A diferença entre as abordagens é que na Gestão de Custos, diferentemente da Estimativa ou da Apuração, questiona-se e aprimora-se os procedimentos e soluções adotadas anteriormente, o que pode levar a resultados melhores em relação ao projeto anterior. Se a viagem do ano anterior foi cara, e talvez sequer tenhamos consciência disto, por que repetir os mesmos passos ? Por que não buscar novas alternativas e informações ? Certamente isto poderá trazer vantagens financeiras. O exercício de imaginação que acabamos de realizar não é muito diferente do que faz uma companhia que atua com turismo, cujo serviço oferecido não deixa de ser um produto. Da mesma maneira ocorre na indústria. A Gestão dos Custos de seus novos projetos passa não apenas pelo conhecimento do que ocorreu no passado, com outros produtos, mas também pela busca de novas alternativas, pela avaliação do impacto de cada uma delas no custo do ciclo de vida do produto e pelo controle, durante o PDP, do custo estimado até cada etapa em relação ao que havia sido estipulado. Pode-se afirmar que a Gestão de Custos está presente em todo o ciclo PDCA (Planejar, Fazer, Controlar e Agir) e envolve pessoas das mais diferentes áreas da empresa, como Marketing, Finanças, Produção, Comércio e Engenharia. Por outro lado, Estimativa e Apuração fazem parte da Gestão de Custos, envolvem um número bem menor de áreas (Engenharia e Contabilidade, talvez) e nem sempre estão presentes nas etapas do ciclo PDCA (fig. 1). GESTÃO, incluindo Estimativa GESTÃO GESTÃO, incluindo Apuração A P C D GESTÃO Fig. 1 – Gestão de Custos e o ciclo PDCA. 5. Requisitos básicos para a Gestão de Custos no PDP A gestão dos custos do ciclo de vida de um produto durante o seu desenvolvimento necessita de condições básicas que permitam a sua realização. Ao longo de nossa pesquisa, as questões que se apresentam quando tratamos desse assunto resumem-se às seguintes: a) Dentro do PDP atual, quais atividades relacionam-se à gestão de custos ? São suficientes ? b) Quê informações são necessárias à execução dessas atividades ? Elas estão disponíveis ? c) Quais as fontes de tais informações ? Quais as dificuldades para sua obtenção ? d) Quais as principais dificuldades na utilização ou processamento de tais informações por aqueles que tomam decisões no PDP ? o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 6 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 Notadamente, tais questões relacionam-se a Processos (atividades, tarefas, responsabilidades), a Informações (fontes, canais de obtenção, formato) e a Capacitação de pessoal para lidar com gestão de custos. A figura 2 representa a relação entre estes elementos capazes de fornecer as condições necessárias à gestão dos custos do ciclo de vida do produto durante o PDP. PDP INFORMAÇÕES Bases de Informações Subprocesso de gestão de custos Atividades e Tarefas - Sobre a Concorrência - Dos Clientes - Sobre Regulação legal - Sobre Tecnologia - Das diversas áreas da empresa CAPACITAÇÃO DE PESSOAL Fig. 2 – Elementos essenciais à gestão do CCV. Vale lembrar um aspecto importante da Informação: não basta que ela exista, é necessário também que ela esteja disponível o mais rapidamente possível e que seja relevante e inteligível pelo seu usuário. Assim sendo, também a forma como as informações sobre custos são disponibilizadas deve atender às necessidades de quem delas faz uso, em cada uma das etapas do PDP. À medida que um projeto avança, as informações devem ser mais detalhadas. E não se trata apenas de aplicação de TI – Tecnologia da Informação. TI sozinha não garante que as informações necessárias estejam disponíveis de maneira adequada. Para Goldman (2002), enquanto quase 100% dos investimentos em TI são destinados à gestão da informação estruturada, apenas 20% das decisões são tomadas com base nestas informações. A maior parte das decisões tem fundamento em informação não estruturada: artigos em revista e na Internet, troca de informações com fornecedores e clientes, avaliação de consultorias e trabalhos publicados, processos de leitura de documentos, brainstorms e estudos de planejamento, enfim, fontes inesgotáveis de informação circulante. Este fato certamente traz maior complexidade e incerteza ao processo decisório. Talvez isto explique o enorme crescimento de uma área de pesquisa chamada de “Gestão do Conhecimento”. Reforçando esta tese, Arrington (2002) afirma que as companhias procuram diretores de informação que não apenas conheçam tecnologia, mas também os negócios, a empresa e o que afeta os seus resultados finais. 6. Como elaborar um modelo de gestão de custos ? Um Modelo de Gestão de Custos não pode ser algo separado do PDP. Muitas das atividades de gestão estão intimamente ligadas ao próprio processo de desenvolvimento do produto e, pode-se dizer, compõe-se num subprocesso daquele . Assim sendo, entendemos que deve-se incorporar ao modelo de PDP existente as atividades relativas à gestão de custos. Trata-se na o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 7 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 verdade de aprimorar o modelo de PDP da empresa para que cumpra uma de suas finalidades, dentre outras igualmente importantes, que é a de garantir que o custo do ciclo de vida do produto esteja dentro dos limites estipulados no plano de negócios, sem que se comprometa outros aspectos como qualidade, tempo, logística, meio ambiente etc. E como fazer isto ? Assim como desenvolver ou adaptar um modelo de PDP não é tarefa fácil, aprimorá-lo também requer preparo e planejamento. Segundo Rozenfeld (2000), uma das grandes dificuldades de gerenciamento do PDP é a existência de visões parciais desse processo, ou seja, assim como o engenheiro possui uma visão muito particular em relação ao desenvolvimento de produtos, voltada a cálculos, desenhos etc., outros profissionais também têm suas próprias visões, comercial, de finanças, de marketing etc. Assim sendo, o ideal seria captar todas essas visões no momento de definição do Modelo de Gestão de Custos. Como já foi sustentado, as principais questões relacionadas à elaboração desse modelo referem-se a três aspectos principais: Processos, Informações e Capacitação. Assim sendo, deve-se tentar extrair das visões parciais as impressões a respeito dessas questões. Como fazêlo ? Em primeiro lugar, considera-se que o envolvimento das pessoas diretamente relacionadas ao PDP e à gestão de custos é de fundamental importância para o êxito desse trabalho. Ou seja, quem melhor pode dizer o que falta, o que é difícil e o que não funciona é quem lida com as questões gerenciais do processo no dia-a-dia. Isto não quer dizer que não seja interessante a participação de pessoas externas à empresa, na forma de consultoria ou assessoria. Ao contrário, tal participação pode ser fundamental mas deve ter foco no planejamento e condução do trabalho de pesquisa dentro da organização, com as pessoas da organização, sem a postura impositiva de apenas determinar o que deve se feito e como. Portanto, trata-se de um trabalho muito afeito às características da Pesquisa-ação (ver THIOLENT, 1997). Em segundo lugar, para que seja possível captar as melhores impressões a respeito das questões levantadas, há que se escolher convenientemente as pessoas a serem entrevistadas e definir instrumentos de diagnóstico e análise das respostas. Os entrevistados devem preferencialmente possuir atribuições de gerência dentro da empresa. Dessa forma, haverá maior chance de que as impressões e depoimentos coletados contribuam com o aprimoramento do processo de gestão de custos que é, em suma, um processo eminentemente gerencial, embora possa em determinadas etapas ser realizado por profissionais de linha. Obviamente há diversas outras preocupações estratégicas num processo de pesquisa participativa como este, tais como o de fazer com que as pessoas percebam a importância de seu engajamento no projeto, de dar notícias sobre seu andamento, ou de evidenciar resultados. Há também preocupações operacionais como a de definir a equipe de pesquisa, de elaborar questionários etc. Estes detalhes com a condução da pesquisa-ação são mais bem explorados na referência bibliográfica citada. Importante ressaltar que num trabalho como este, surgirão diversas frentes possíveis de atuação. Muitas vezes não é interessante atacar todas elas ao mesmo tempo sendo necessário, portanto, estabelecer prioridades. A análise das entrevistas deve permitir identificar quais as principais preocupações dos envolvidos com a gestão dos custos do produto de modo a estabelecer as primeiras ações na construção do modelo e sua implementação. Ao final, o que se busca é alguma resposta aos questionamentos já apresentados: quais devem ser as atividades de gestão de custos em cada etapa do PDP, por quem serão realizadas e como, e quê informações serão necessárias. A figura 3 representa a incorporação ao PDP do subprocesso de gestão de custos. o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 8 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 Bases de informações Etapas do PDP Subprocesso de gestão de custos Planejamento do produto Engenharia do produto Projeto do processo Atividades, responsabilidades e habilidades Revisões para mudança de etapa com utilização de modelos de estimativas adequados a cada uma delas Conceito do produto Produção Piloto Ações de Melhoria Fig. 3 – Subprocesso de Gestão de Custos, bases de informação e passagens de etapa no PDP 7. Conclusões Definir um processo de gestão dos custos do ciclo de vida não é diferente, em essência, de definir um processo de dimensionamento de cada componente do produto. No dimensionamento devemos definir quem são os responsáveis pelos cálculos e pelos desenhos, quais os métodos a serem utilizados, quais as atividades ou tarefas correspondentes e quais as informações necessárias para que, ao chegarmos a um resultado, tenhamos o maior grau de certeza possível de que as peças resistirão aos esforços a que serão submetidas e que serão possíveis de serem fabricadas e montadas, ou seja, de que a melhor alternativa foi escolhida. De maneira análoga, ao se definir um componente ou conjunto de componentes, deve-se determinar quem serão os responsáveis pela avaliação dos custos do ciclo de vida do produto decorrente dessa definição, quais os métodos de estimativa a serem utilizados, quais as atividades correspondentes e quais as informações necessárias a esse processo de modo a garantir, com o maior grau de certeza possível, que a alternativa escolhida implica no menor custo, dentro do que foi definido no plano de negócios, e sem que haja comprometimento de outros aspectos como qualidade, por exemplo. Como compor uma estrutura capaz de permitir a adequada gestão de custos dentro do PDP representa um desafio à parte. Há diversos fatores que poderão facilitar ou dificultar essa composição, tais como o grau de desenvolvimento e complexidade do próprio PDP existente, a cultura da organização e o nível de formação das pessoas na empresa, entre outros. A influência de tais fatores pode ser potencializada ou diminuída se a elaboração do Modelo de Gestão for fruto de trabalho conjunto entre um grupo de pessoas capacitadas para conduzir esse processo, externas ou internas à empresa, no sentido de convencer as pessoas da o 4 CBGDP LOPP/PPGEP/UFRGS 9 IV Congr. Bras. Gestão e Desenv. de Produtos - Gramado, RS, Brasil, 6 a 8 de out de 2003 importância do projeto e de dar evidência às ações e resultados, e um grupo de trabalho, este interno à organização, preparado para realizar todas as tarefas operacionais de promover as entrevistas e de dar apoio às ações de diagnóstico e análise das impressões coletadas. O Modelo de Gestão de Custos do Ciclo de Vida do Produto, como subprocesso do PDP, somente terá credibilidade e chance de ser implantado com sucesso se for resultado da composição das mais diversas opiniões, avaliações e sugestões de melhoria das pessoas que realmente conhecem o produto, que conhecem a organização e que conhecem o negócio. Referências ARRINGTON, R. Executivos de TI conquistam espaço. www.investews.com.br, 2002. COGAN, S. Custos e Preços – Formação e Análise. Editora Pioneira, São Paulo, 1999. CLARK, B.C. e FIJIMOTO, T. Product Development Performance: Strategy, Organization, and Management in the World Auto Industry. Harvard Business School Press, Boston, 1991. CROW, K. Product Cost Management Through Integrated Product Development. DRM Associates, 1997-A. Product Development Forum Home Page, 1999. GOLDMAM, I. De olho no Mercado da Informação Estruturada. www.aliceramos.com, coluna Softworld, 09/12/2002. KOTLER, P. e ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. 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