TCC Dodi Leal Cênicas 2012

Transcrição

TCC Dodi Leal Cênicas 2012
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA – LICENCIATURA EM ARTES CÊNICAS
RESOLVI EXPERIMENTAR UM COLABORATIVO COM MEUS ALUNOS : A
REFERÊNCIA DE UMA PRÁTICA CÊNICA DE CRIAÇÃO NO CONTEXTO
PEDAGÓGICO DE REALIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
Douglas Tavares Borges Leal
Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia S. de Barros Pupo
São Paulo
2012
Prof. Dr. João Grandino Rodas
Reitor da Universidade de São Paulo
Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa
Diretor da Escola de Comunicações e Artes
Profa. Dra. Maria Helena Franco de Araújo Bastos
Chefe do Departamento de Artes Cênicas
Prof. Dr. José Batista Dal Farra Martins
Coordenador da Graduação em Artes Cênicas
DOUGLAS TAVARES BORGES LEAL
RESOLVI EXPERIMENTAR UM COLABORATIVO COM MEUS ALUNOS : A
REFERÊNCIA DE UMA PRÁTICA CÊNICA DE CRIAÇÃO NO CONTEXTO
PEDAGÓGICO DE REALIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
Relatório apresentado ao Departamento de
Artes Cênicas da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo como
requisito para formatura de graduação em
Licenciatura em Artes Cênicas.
Orientadora : Profa. Dra. Maria Lúcia S. de Barros Pupo
São Paulo
2012
FICHA CATALOGRÁFICA
III
Com a admiração que tenho ao casal que me gerou,
no meu primeiro nascimento, Maria e Valdevino.
V
AGRADECIMENTOS
Quero deixar registrada minha gratidão a vocês:
À minha orientadora Profa. Maria Lúcia Pupo. Acredito que a autonomia com que
levei a relação com os meus alunos não seria possível sem que houvesse no meu processo de
formação com ela uma relação de autonomia como a que tive. Quero te agradecer do fundo do
meu coração.
Aos meus professores na UQAC (Université du Québec à Chicoutimi). Sebastien
Lévesque por combinar nas suas aulas o amor, a magia e a técnica e por ajudar a me guiar
pelas paixões quando dizia “Bonne préparation et n’oubliez pas d’y trouver du plaisir...”.
Denis Chouinard por sua competência cinematográfica, por sua extrema confiança em mim
nos trabalhos de set de gravação e pelo imenso valor e contínua promoção que deu ao meu
desempenho frente às câmeras. Jean-François Caron por ser um mestre genioso, por se
permitir a uma relação pessoal fora de sala de aula e principalmente por ter feito ocasião para
que eu aproveitasse o processo de escrita do meu primeiro roteiro para estar ligado às questões
mais profundas da minha vida no sentido de investiga-las e criar novas estratégias por meio da
ficção. Pelo alto grau de aprendizado teórico-prático agradeço também aos outros professores
com quem trabalhei ou estudei durante o intercâmbio no Québec : Denis Bellemare, Jean
Chateauvert e Daniel Bilodeau (em cinema); Jean-Paul Quéinnec e Sophie Torris (em teatro);
Contanza Camelo e James Partaik (em performance).
Aos colegas de curso do BIA – Baccalauréat interdisciplinaire en arts com os quais
formei equipes de trabalho, prestei e recebi muito apoio nos estudos e nas criações artísticas :
Shannon Williamson, Maxime Girard, Caroline Beaulieu, David Gilbert, Alexandre Rufin,
Marc-André Bernier, Mathieu Chouinard e Samuel Pinel-Roy (em cinema); Valérie
Essiambre, Cynthia Bouchard, Anais Plasse, William Gagnon, Julie Bernier e Priscilla
McLeod (em teatro); Laurie Girard, Martin Lavertu, Katryne Martel e Priscilla Vaillancourt
(em artes digitais); Marisol Josée (em artes visuais).
Annette Martucci que me estimulou a formular questões criativas e desafiadoras sem
me limitar às estruturas já conhecidas.
Ao Silas e à Monica por eu saber que posso acioná-los a qualquer momento !
VI
À Sarah e à Alice, parceiras de trabalho por quem tenho muita admiração e por
estarem sensibilizadas da importância de cuidarmos da nossa relação pessoal.
À Lolita por ser minha fonte confiável de ideias revolucionárias.
À Natália Campanella pela confiança em compartilhar comigo suas questões mais
fortes e por ter me permitido estar ao seu lado e oferecer escuta quando mais precisou.
Ao Sérgio pelas condições de moradia que me possibilitaram mobilidade entre casa,
escolas, universidade e gravações e, principalmente, pelo conforto e energia que encontrei
neste espaço. Tive muito descanso, serenidade e paz do começo ao fim do processo. Ao Sushi
por ser uma força divina de amor na minha vida !
A todos que se envolveram com as aulas que ministrei nas escolas públicas neste ano.
Dentre outros, à Marina Xisto que fez uma brilhante palestra sobre vlogagem nas turmas de
oitava série do Fidelino; à Andressa Silva pelo imenso interesse em contribuir para o
crescimento e consciência de mundo dos alunos; ao Clóvis Lima por ter me dado muito
suporte concreto dentro de sala de aula e por sua incrível habilidade técnica em artes plásticas;
à Priscila Garcia e ao Leonardo Palma por terem me escolhido como professor para fazer
estágio porque “estágio com o Dodi é o mais legal”.
Aos colegas do curso de Artes Cênicas da ECA-USP com quem estudei, me envolvi
em experimentações cênicas, troquei referências, fiz parcerias. Em especial pelo carinho : que
tenho por Nádia, Tosta, Otávio, Nina R., Lívia, Anna Dulce, Biel, Marco Túlio, Natália C.,
Clóvis, Bruno, Ludmila, Felipão.
Agraciado por todos todos todos que tiveram comigo no Tome Perdão. À Leticia
Garcia sem a qual a ousadia do projeto não ganharia forma de dança. À Maria Eugênia Calixto
pelos tapas na bunda e por ter feito todo mundo rir com as posições de risco da captação de
áudio. Ao Eros Teco-Teco por se importar comigo; por ser tão alegre e festeiro ! Eu amo
vocês : Gabii, por me achar doce; Anaïs, pelo turbilhão de ideias; Karol por ser tão esforçada!;
Isa, por cuidar de mim; Milena, por sua respiração profunda; Andrew, um palhaço inteligente;
Jenniffer, pela criatividade; Kelvi, pelo senso de humor; Gustavo, pela sinceridade; Giovanna,
por focar no que tem que ser feito; Angel, por se deixar guiar pelo sonho.
VII
“Don’t do anything that isn’t play.”
Marshall Rosenberg
IX
RESUMO
Diante da percepção de que frequentar a escola é uma obrigação, a motivação para aprender é
incerta e o elo da relação professor-alunos é frágil. Essa pesquisa trata do percurso de um
professor de artes de uma escola pública estadual de São Paulo que experimenta processos
criativos com os alunos com vistas a tornar vivo o sentido de aprender. Foi a partir de um
intuito de conexão pela confiança e sinceridade que buscou-se desenvolver um caminho
criativo com as linguagens teatral e cinematográfica. Em sala de aula o professor pesquisador
supervisionou a concepção e a realização de projetos de produção de curtas-metragens de
ficção pelos alunos. Em um horário fora da grade da escola, aproximadamente quinze alunos
foram convidados a participar de um processo dirigido pelo professor. Em ambos os contextos
de criação os alunos participaram como atores além de assumir atividades ligadas ao roteiro, à
direção, à produção, à fotografia e à montagem.
Palavras-chave: Teatro-Educação, Educação Audiovisual, Ensino Público, Criação Artística.
X
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ........................................................................................................... 2
1. Escola : um ponto de partida, um ponto de encontro .................................................................. 3
2. Precisamos de sentido como de pão. Buscar clareza de sentido diante da percepção de que
frequentar a escola é uma obrigação ............................................................................................... 8
3. Aprender arte pela criação; criar cinema a partir de práticas de cena ....................................... 12
4. Aproveitar bem o tempo das aulas de artes : encontros significativos não são necessariamente
extensos. E, é libertador dizer, podemos aprender em qualquer lugar, inclusive em sala de aula !
....................................................................................................................................................... 17
5. Alunos são atores e, ao mesmo tempo, assumem funções de produção ................................... 25
6. A prática colaborativa da Célula Metabolizadora de Produção ................................................ 27
7. Expressar sonhos, visões e dores e ter perdão como resposta................................................... 38
8. Espera : isso é ballet ? Criar um filme com o corpo ................................................................. 48
9. Mutualidade em gravar e montar : ter e dar apoio para criar juntos ......................................... 53
10. Professor, daqui pra frente fazer arte é irreversível : o desabrochar das habilidades e o
fortalecimento de disposições prévias ........................................................................................... 60
11. Referências .............................................................................................................................. 63
12. Apêndice.................................................................................................................................. 65
2
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1: Alguns alunos da oitava série da EE Fidelino Figueiredo ........................................ 5
Ilustração 2: Alunos da 8C, a turma com o melhor desempenho escolar ....................................... 6
Ilustração 3: Comunicado utilizado por professores e inspetores para encaminhamento do aluno
para a direção da escola no sentido de punir as “infrações” ....................................................... 11
Ilustração 4: Os professores Dodi Leal e João Pedro Cabelo no palco da Feira Cultural ao lado
de Milena Pires de cavaleira medieval .......................................................................................... 20
Ilustração 5: Equipe do curta “A uma passante” com o repórter de televisão que os abordou
durante a gravação ........................................................................................................................ 26
Ilustração 6: Flyer de divulgação da exibição do filme Tome Perdão na Mostra de Licenciatura
do CAC. Criação visual de Jonathan Cavalcante.......................................................................... 31
Ilustração 7: Caderno de Produção mantido por Karoline Oliveira apresenta à esquerda a
autorização de direito de imagem e abaixo o projeto de direção artística para concepção dos
cenários, manchado de café. .......................................................................................................... 34
Ilustração 8: Anaïs Goedert com Dodi Leal no último dia de gravação do filme, em novembro. 35
Ilustração 9: Da esquerda para a direita Maria Eugênia Calixto, Isabelle Fraga, Anaïs Goedert,
Eros Teco-Teco e Dodi Leal. Descontraídos confraternizando no apartamento de Dodi depois de
um dia de gravação de cena do Ato III, na Praça Roosevelt. ........................................................ 36
Ilustração 10: Milena Pires conversa com Maria Eugênia Calixto depois de realizar o ato
simbólico com seu objeto – Ato III, Praça Roosevelt. ................................................................... 37
Ilustração 11: Alunos em manhã de treinamento na ONG Ação Educativa ................................. 51
Ilustração 12: No figurino do CAC-ECA-USP, da esquerda para a direita, Isabelle, Jenniffer,
Karoline e Gabii ............................................................................................................................. 53
Ilustração 13: No figurino do CAC-ECA-USP, da esquerda para a direita, Gabii, Isabelle,
Jenniffer e Dodi .............................................................................................................................. 54
Ilustração 14: No figurino do CAC-ECA-USP, Gabii e Ilustração 15: Dodi, Karoline e Gabii .. 54
Ilustração 16: Plano mergulhado na pizzaria onde se passam as cenas do Ato I do filme Tome
Perdão ............................................................................................................................................. 55
Ilustração 17: Atores posicionados para a gravação de uma cena com coreografia de pijama na
pizzaria ........................................................................................................................................... 56
Ilustração 18: No intervalo de uma gravação os atores foram dar uma volta de figurino na Rua
da Consolação ................................................................................................................................ 56
Ilustração 19: Em uma das cenas individuais do Ato I Milena está deitada em baixo de um banco
........................................................................................................................................................ 57
Ilustração 20: Um dos últimos momentos do dia de gravação no Parque do Ibirapuera. Da
esquerda para a direita : Milena, Gabii, Jenniffer e Karoline. Isabelle no fundo. ....................... 58
Ilustração 21: Roteiristas-atrizes-compositoras do filme Milena e Isabelle desfrutando intervalo
de gravações no Parque do Ibirapuera em 7 de setembro. ........................................................... 58
Ilustração 22: Jenniffer Diniz, atriz que desempenhou Jenny (a protagonista da história), fez
fotos na Praça Roosevelt para a divulgação do filme. .................................................................. 59
3
1. Escola : um ponto de partida, um ponto de encontro
Ao Dodi1 e todos os colegas que trabalharam comigo neste curta-metragem...
Há algum tempo que já havia me interessado pelo cinema. Comecei a estudar por minha
conta, com livros abandonados nas estantes de casa, vendo um filme atrás do outro, e me
aprofundando cada vez mais. Estava desesperada para dar início à minha carreira
cinematográfica, tinha acabado de voltar de Curitiba, e minhas ideias estavam a mil.
Creio que foi bem mais rápido do que eu esperava. Logo ao retornar à escola, um
professor formado em Artes Cênicas e Cinema veio substituir a aula de uma professora
(sim, você mesmo, Dodi). Confesso que quando ouvi isso, fiquei emocionada, quando
soube sobre sua formação, pois enquanto fantasiava minha futura carreira
cinematográfica, alguém dessa área, com quem poderia aprender muitas coisas,
“aparece”, e conta sobre seus trabalhos com as 8ª séries, o que me deixou muito
entusiasmada, e lógico, não poderia perder de forma alguma essa oportunidade, e a
agarrei com todas as minhas forças. Me convidei para acompanhar os trabalhos, e para
minha felicidade, fui super bem recebida por todos, assim como espero que tenham
gostado da minha presença também.
Espero ter tido um bom desempenho, e considero o de todos também, pois nunca vi uma
equipe de pessoas tão jovens dar certo como a que fiz parte. Onde todos cooperaram,
souberam superar e resolver de forma madura todos os problemas e desentendimentos
que surgiram durante o processo. O tamanho da minha gratidão por todos os envolvidos
no processo é imensurável. Não tenho palavras para conseguir descrever o tamanho do
valor que essa experiência teve para mim!
Sou eternamente grata ao Dodi que me introduziu nessa área, e tenho certeza que tudo
que aprendi botando em prática com a equipe foi tão educativo quanto ler um livro sobre
cinema, ou assistir uma palestra. Gostaria de agradecê-lo também por me apresentar
tantas pessoas incríveis, com quem descobri afinidades e poderei contar futuramente
como equipe para outros trabalhos (inclusive o Dodi), pois mostram competência, sem
deixar de ser um processo divertido e relaxante.
Espero que todos os adolescentes da próxima geração tenham tantas oportunidades
quanto nós tivemos de realizarem atividades educacionais diferentes do que costumamos
ver na escola. Acredito que esse tipo de processo faz qualquer matéria chata parecer
mais útil quando botada em prática numa situação do dia-a-dia.
Gratidão à todos que trabalharam comigo neste projeto, vocês são muitos, mas não
esquecerei de nenhum de vocês.
Anaïs Goedert2
1
Dodi Leal é o nome artístico do pesquisador Douglas Tavares Borges Leal.
Anaïs Goedert é aluna da turma 1A da Escola Estadual Fidelino de Figueiredo. No processo do grupo experimental
ela participou como fotógrafa.
2
4
Busco nesta apresentação contextualizar o quadro dos participantes da investigação
trazendo informações sobre as instituições envolvidas, o perfil dos alunos e a vontade de
desenvolvimento de um grupo experimental. No capítulo subsequente, Introdução, conduzo o
leitor no objeto a que me dedico indicando quais os sentidos da pesquisa ao pesquisador.
A Escola Estadual Fidelino Figueiredo, localizada no bairro da Santa Cecília, é o ponto de
partida deste projeto. Vinculada à Diretoria de Ensino Região Centro da Cidade de São Paulo, a
escola provê turmas de Ensino Fundamental II e Ensino Médio nos períodos matutino, vespertino
e noturno.
Nos períodos matutino e noturno há uma concentração de turmas de Ensino Médio
enquanto o período vespertino é exclusivo para turmas de Ensino Fundamental II. Essa
configuração se deve ao fato de que os alunos do Médio precisam contar com algumas horas do
dia para exercerem atividades de trabalho remunerado e estudos técnicos.
As 7 turmas de 8a série se distribuem nos três períodos, sendo que 5 delas estão no
matutino. Vindos todos do período da tarde, a maior parte dos alunos das turmas matutinas 8A,
8B, 8C, 8D e 8E já se conheciam e estudaram juntos no próprio Fidelino nos anos precedentes.
Cada turma é composta em média por 32 alunos.
Componente curricular independente desde a 5a série, a disciplina Arte é oferecida no
tempo de 2 aulas semanais em cada turma (cada aula tem o período de 50 minutos). Na
construção da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, a disciplina Arte apresenta os
seguintes territórios : processo de criação, linguagens artísticas, patrimônio cultural,
materialidade, forma-conteúdo, saberes estéticos e culturais. No âmbito das linguagens artísticas
esta proposta indica que compõem o quadro da disciplina as artes visuais, a música, o teatro, a
dança e as artes audiovisuais. Porém tanto nos materiais de apoio aos alunos e professores quanto
nos projetos pedagógicos das escolas encontram-se apenas as artes visuais, a música, o teatro e a
dança. Na maior parte das vezes, na prática, a o audiovisual aparece como um recurso de apoio
didático de ilustração de conceitos teóricos das diversas disciplinas e não como um caminho de
reflexão e de criação artística.
Como professor de Arte das turmas 8A, 8B, 8C, 8D e 8E me coloquei diante do seguinte
desafio : fazer valer os encontros matinais com esses 150 alunos, aproximadamente. Queria
5
garantir que esta ocasião teria significância, poderia marcar a aproximação deles com a arte.
Então pensei que gostaria de trabalhar com formas que eu domino e de uma forma que os
motivasse a experimentar seus próprios objetos de arte. Elaborei um projeto de aulas tendo o
audiovisual como eixo pedagógico que abrange atividades com as linguagens artes visuais,
música, teatro e dança.
Ilustração 1: Alguns alunos da oitava série da EE Fidelino Figueiredo
Ao longo do primeiro semestre de 2012 os alunos trabalharam em equipes técnicas de 5
componentes compartilhando o seguinte objetivo : elaborar um curta-metragem de ficção de 3
minutos. A proposta de tema era de livre escolha dos grupos e a adaptação de obra literária foi
indicada como possibilidade interessante a ser descoberta. Cada componente dos grupos responde
por uma função : roteiro, direção, fotografia, produção e montagem. Como regra o membros do
grupo não poderiam ser atores do próprio filme : foi então preciso convidar atores de outros
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grupos para participar. O primeiro bimestre foi dedicado à pré-produção dos projetos dos grupos,
ao conhecimento da organização produtiva dos filmes e à jogos teatrais e improvisação de cenas.
O segundo bimestre se concentrou na etapa de produção / gravação dos filmes e nas oficinas com
teatro e vídeo.
Surpreendeu-me o empenho e o alto nível de resposta de uma parcela de 10% dos alunos,
bem como sua vontade de ir além, se aprofundar, desenvolver o campo cinematográfico. Esta
porção de alunos tem uma proximidade relacional muito grande entre eles, o que entendo ter
facilitado a colaboração mútua em seus projetos de filme. Percebi que grande parte de suas
necessidades estavam relacionadas ao preparo cênico para a produção dos filmes : diante do
desafio de ter de cuidar da criação e interpretação de atores para o seu filme, a equipe técnica, por
sua vez, sentia falta de experienciar formas de teatro para ter propriedade nas indicações,
marcações.
Ilustração 2: Alunos da 8C, a turma com o melhor desempenho escolar
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Fiquei movido a ter também uma oportunidade para pensar junto com os alunos em uma
obra artística em forma de filme. No entanto me pareceu que essa ideia não cabia com as aulas
nas quais eu cumpri o papel de supervisor dos projetos deles.
Do encontro entre de nossas vontades e pela própria disposição a trabalharem juntos desta
parcela de alunos, criamos o Grupo Experimental o qual tem suas atividades paralelas às aulas.
Atualmente nos reunimos semanalmente na ONG Ação Educativa, também no bairro da Santa
Cecília. Neste projeto, no qual atuei como diretor, elaboramos um curta-metragem de ficção de
uma forma mais intensiva.
As especificidades de cada âmbito, aulas de arte e grupo experimental, serão apresentadas
neste relatório de conclusão de curso3, finalizado em novembro de 2012.
3
Advertência : este relatório teve escrita compartilhada entre o pesquisador e os próprios participantes do processo.
Para efeito de leitura deste texto, tome-se como regra geral que o sujeito do discurso é Dodi Leal. As notas de rodapé
indicarão quando a palavra esteve com outra pessoa.
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2. Precisamos de sentido como de pão. Buscar clareza de
sentido diante da percepção de que frequentar a escola é uma
obrigação
Há algo em mim que me levou a curtir a pesquisa que desenvolvi : mexeu comigo de uma
forma que quero compartilhar. Trato de assuntos que me são caros, que dizem sobre mim.
Proponho experiências que revelam preferências e cadências de percurso. Permito-me poder
expressar em primeira pessoa.
Percebo riqueza no que eu aprendi ao longo da formação artística universitária. Nela
busquei atentar-me, para além do domínio dos conteúdos, às possibilidades pedagógicas que
tinha a arte para lidar com questões que levava comigo sobre mim, sobre as relações interpessoais
e sobre as relações sociais.
Também percebo ter avançado meu conhecimento em linguagens da arte. No curso de
Licenciatura em Artes Cênicas da USP tive ocasião de, ao mesmo tempo, ampliar meu repertório
de abordagens e práticas teatrais como revisar e reafirmar as minhas já preferidas até então. No
intercâmbio no Baccalauréat interdisciplinaire en arts da UQAC (Université du Québec à
Chicoutimi) pude me encontrar com o teatro por outros pontos de vista, realizando estudos e
criações em cinema e vídeo. Muitos ânimos e combinações foram descobertos aí.
Hoje posso dizer que procurei investir na minha formação no sentido de ter
aproveitamento das situações de aprendizado para ter uma medida de doação e busca por
respostas sobre o quê, onde, e com quem eu vivia a cada instante. Penso ter tomado para mim
com gana e com discernimento o que me foi oferecido.
De fevereiro a outubro de 2012 dei aulas de artes no Ensino Fundamental II de escolas
públicas do centro de São Paulo. Provei diferentes sentimentos nesse âmbito da atuação
profissional como professor. No início fiquei instigado e com muito encorajamento porque vi aí
ocasião propícia de comunhar valores e conceitos artísticos que me enriqueceram e também de
contribuir para o desabrochar dos alunos. E atualmente me encontro dividido : confiante e
satisfeito porque já tive chance de ficar impressionado, ter retorno e perceber avanços; e, ao
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mesmo tempo, estranhado e frustrado porque gosto de construir relações em que as interações são
motivadas por uma força de vida.
É útil dizer que tenho percebido muitos de meus alunos esperarem de mim avaliações,
decisões e explicações limitadas. É comum receber pedidos estritamente relacionados a elogio, a
notas, a compensações. Também me causam espanto, não menos que os pedidos de mérito, os
pedidos de punição manifestados em solicitações explícitas de repreensão, de julgamento, de
afastamento, de desprezo.
Entendo que esta passagem de Marshall Rosenberg4 (2006, p.11, tradução livre) traduz
com lucidez minha inquietação advinda do que venho observando a respeito da expectativa de
alunos sobre os professores no contexto escolar :
Fico profundamente triste quando constato formas de aprendizado pelo constrangimento. Aos
meus olhos, é questão de constrangimento a partir do momento que um aluno estuda por medo de
ser punido, por desejo de receber uma recompensa sob forma de pontos ou notas, para escapar da
culpa ou da vergonha, ou, ainda, por ter vagamente a impressão de “dever” fazer, de ser
“obrigado”. Para mim, o fato de aprender é muito precioso para ser motivado por uma ou outra
dessas táticas constrangedoras.
Sinto-me mal porque não é este o jogo de relação que almejo construir com meus alunos.
Acredito profundamente em uma pedagogia cujo ato de aprender é um ato existencial, que serve
à vida. Pergunto-me então como garantir um aprender artístico por meio das linguagens
audiovisuais e cênicas na escola pública se elas podem ser tidas dentro de um escopo limitador ?
Ficam impressas no discurso dos produtos de criação artística as diferenças entre os que trazem
contribuições às atividades de aula a partir do que há de verdadeiro no que vivem e percebem do
mundo com aqueles que trazem contribuições motivadas por constrangimento, tendo uma
disposição incoerente de suas vontades e perspectivas de vida ?
Diante da expectativa de mérito e punição por parte de alguns de meus alunos tive
impressão que eles se colocavam constantemente em situações trágicas de ataque e defesa e
queriam me convidar para que eu fizesse parte do esquema. Levei comigo a perspectiva de
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Marshall Rosemberg é o criador da Comunicação Não-Violenta (CNV), uma proposta de comunicação que parte da
premissa que a violência é a expressão trágica de necessidades humanas não satisfeitas. Baseadas nas perspectivas de
não-violência, desenvolvimento humano e transformação respectivamente de Mohandas Gandhi, Carl Rogers e Paulo
Freire, a CNV é entendida como prática de empatia e compaixão buscando elucidar os sentimentos e necessidades
nos âmbitos de comunicação intrapessoais, interpessoais e sistêmicos.
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entrada no sistema escolar com o intuito de ampliar as chances de desenvolver a arte neste local,
estar neste lugar que é a escola. E visei então buscar caminhos de entendimento e ação nesse
contexto abrindo possibilidades de jogo, ainda que considerando algumas regras limitadoras. E
tenho consciência do caráter provisório de algumas respostas minhas a eles, bem como vi as
regras constrangedoras com muito menos seriedade do que os próprios alunos.
Como discernir uma situação em que um aluno limita as ações do professor entre mérito e
punição de outra em que é possível ver além da culpa, da obrigação, do erro, do criticismo ?
A proposição conceitual de jogos finitos e jogos infinitos feita por Carse (2003) oferece
subsídios para interpretar as interações interpessoais a partir de questionamentos sobre a escolha.
O ato de colaborar revela que sempre há a liberdade de escolha. A diferença está então na
percepção que levam os jogadores : os jogadores finitos se vêem obrigados a jogar e esperam um
resultado do qual são dependentes (podem chegar a se ver entre a vida e a morte por isso); os
jogadores infinitos são os que jogam por prazer e não por obrigação.
O jogos finitos se caracterizam por limitações no espaço, no tempo e nas regras. Pretendese neles antecipar o movimento adversário porque se trata de um esquema competitivo em que
somente um lado pode vencer. As interações nos jogos finitos parecem seguir roteiros
previamente traçados sem espaço para surpresas. Tem-se aí como objetivo derrotar o rival,
conquistar a vitória e, assim, encerrar o jogo. A guerra entre países é um exemplo paradigmático
dos jogos finitos.
Nos jogos infinitos cada parte faz suas regras. Não se sabe quando um jogo infinito
começa ou acaba porque ele não tem delimitação temporal. Os movimentos são imprevisíveis : a
cada novo lance, um novo horizonte se abre. É então mais importante o jogo que o resultado dele.
E o objetivo do jogo não é vencer, mas continuar a jogar.
Segundo o autor, os jogadores finitos parecem se ver morrer quando acaba o jogo,
enquanto que os jogadores infinitos morrem durante o jogo : “os jogadores infinitos oferecem sua
morte como uma maneira de continuar o jogo. Por esse motivo, eles não jogam pela sua vida;
eles vivem para seu jogo” (Idem, p.48).
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Ilustração 3: Comunicado utilizado por professores e inspetores para encaminhamento do aluno para a direção da
escola no sentido de punir as “infrações”
Carse pontua os elementos do poder e do vigor para qualificar a diferenciação entre os
jogos finitos e os jogos infinitos. Segundo ele, enquanto o jogador finito joga para ser poderoso, o
jogador infinito joga com vigor.
A pessoa poderosa é aquela que traz o passado para um resultado, solucionando todas as questões
não resolvidas. A pessoa vigorosa é aquela que traz o passado para o futuro, demonstrando que
nenhuma das suas questões é passível de ser resolvida. O poder se ocupa do que já aconteceu; o
vigor do que ainda está para acontecer. A quantidade de poder é finita. O vigor não pode ser
medido, porque ele é um ato de abertura e não de encerramento. O poder diz respeito à liberdade
que as pessoas têm dentro de certos limites, o vigor à liberdade que as pessoas têm com os limites.
O poder sempre será restrito a um número relativamente pequeno de pessoas selecionadas.
Qualquer indivíduo pode ser vigoroso.
O vigor é paradoxal. Não sou vigoroso porque posso obrigar outras pessoas a fazer o que eu quero
em decorrência do meu jogo com elas, e sim porque posso permitir que elas façam o que querem
durante o meu jogo com elas (Idem, p.58 e 59).
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3. Aprender arte pela criação; criar cinema a partir de práticas
de cena
Entendo como uma hipótese desta investigação que o trabalho com os procedimentos
cênicos tendo em vista a criação de filmes pode contribuir para a formação artística. Dado que me
interessa, então, a atuação pedagógica da arte no contexto escolar, procurei levantar alguns
estudos que se dedicaram à relação das linguagens audiovisuais com a educação. Pretendo que
eles podem trazer pistas para compreender o espaço da educação audiovisual na escola e as
contribuições para a aprendência da arte.
Em sua pesquisa de doutorado, entitulada Escola Audiovisual, Franco (1987) elabora
propostas de ensino utilizando linguagens audiovisuais no contexto escolar. Seu pressuposto é
que a relação cotidiana dos alunos com as mídias tem forte influência formadora e, portanto, a
escola não pode deixar de interferir. Segundo Franco, a educação formal tem papel de, por um
lado, possibilitar visão crítica entre os estudantes e professores sobre as matérias de consumo
audiovisuais veiculadas no cotidiano e, por outro lado, instaurar motivação de natureza afetiva e
estética como base de fruição e prazer na apreciação de produtos audiovisuais.
Moira (2010) fez um mapeamento de projetos de ensino do audiovisual desenvolvidos em
contextos da educação não formal no Brasil. Ela constatou que os profissionais responsáveis pela
organização de cursos e oficinas livres audiovisuais das entidades estudadas têm se voltado a
revisitar e recriar princípios filosóficos, teorias e práticas da educação. O desdobramento de seu
extenso levantamento é a indicação de que essa postura de questionamento e intervenção
pedagógica com o audiovisual tem “potencial para promover a superação de desafios crônicos do
âmbito das escolas formais (...)”.
A atualidade da questão sobre o lugar das linguagens audiovisuais na escola, em
particular o cinema, é indicado na passagem de Mogadouro (2011, p.52) transcrita a seguir, com
a qual estou de acordo porque tenho uma propensão a querer cuidar de como penso a educação,
de checar a cada momento o sentido das propostas pedagógicas que elaboro :
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Compreendemos que hoje não se questiona se o cinema deve ou não entrar na escola, mas como
deve entrar e como deve ser aplicado na escola, ajudando a formar e transformar para melhor as
crianças e jovens que por lá passam por um período de suas vidas.
Na pesquisa de Rizzo Júnior (2011) encontra-se uma proposição para a formação na
linguagem cinematográfica de professores do ensino escolar fundamental e médio. Um dos
pontos-chave de sua investida está na consideração do vasto potencial do cinema na escola em
contraste com a perspectiva de uso de receitas de aplicação do audiovisual na escola. Ele aponta a
existência de múltiplas possibilidades de invenção de ações que parecerem mais adequadas aos
professores tendo em vista a vinculação com os objetivos pedagógicos e as diferentes conexões
com os instrumentos de ensino. O autor comenta estar aí o trato com uma visão pedagógica que
privilegia a construção da autonomia e do espírito libertário.
Depreendo, então, pertinência do exercício de criação como ato pedagógico essencial para
o aprender artístico no contexto escolar. Entendo que o trabalho com as linguagens audiovisuais
na escola que cuida de considerar a sua força formativa passa pela experimentação do conceber
estético, do trato de materiais, da relação entre linguagens e da elaboração de objetos artísticos.
Por outro lado, há no teatro contemporâneo diversos exemplos que provam a relação
íntima do audiovisual e as artes cênicas. Acredito que o levantamento de considerações acerca do
uso da linguagem videográfica na encenação teatral contemporânea pode contribuir para elucidar
questões pertinentes e atualizadas da relação entre o cinema e o teatro. Creio que algumas delas
justificaram em alguma medida a realização desta pesquisa no aspecto da realização de
experiências pedagógicas com as linguagens cênicas e audiovisuais.
A projeção cinematográfica durante as funções de espetáculos cênicos vem sendo objeto
de experimentação do artista norte-americano Reid Farrington. Trechos de filmes clássicos do
cinema são exibidos em diferentes materiais que servem como tela e objeto de ação dos atores.
Suas telas se movimentam enriquecendo as possibilidades de manipulação da projeção
encontrando relações surpreendentes entre a ação do vídeo e a ação de outros elementos teatrais.
Recomendo fortemente o acesso ao vídeo de chamada do espetáculo Gin & “It”, realizado em
2009, como meio de se ter um primeiro contato com essa referência (FARRINGTON, 2012).
Desde a década de 1980, John Jesurun tem realizado espetáculos que potencializam as
possibilidades da projeção em cena. Em diálogo com a ambiência sonora e arquitetônica do
14
espaço do teatro, as telas e o que passa nelas são enormes pontos do acontecimento cênico. A
gravação ao vivo com os atores e os efeitos de vídeo geram uma qualidade de presença
determinante na concepção de seus espetáculos. Assistir o vídeo com um trecho do espetáculo
Philoktetes apresentado em Kyoto no ano de 2005 pode facilitar o entendimento das operações
cênicas realizadas por Jesurun (2012).
Heiner Goebbels tem ousado nas combinações da projeção de vídeo com os demais
elementos de cena em suas propostas de direção musical. No espetáculo Eraritjaritjaka - le
musée des phrases, de 2004, o trabalho vocal e com instrumentos de cordas preenche o grande
espaço do teatro que foi deixado pelo ator. Este, no entanto, é acompanhado por um câmera-man
ao sair do teatro. A gravação de seu percurso em um carro e depois em seu apartamento são
projetadas em cena ao vivo : há um caráter de cumplicidade do espectador com o que se vê na
tela. As ações do ator, bem como a presença sentida da câmera, compõem com harmonia seus
movimentos com relação à música que é realizada no palco. A surpresa é que, depois de muitas
voltas de carro e umas dezenas de minutos de projeção do ator em seu apartamento, ele entra em
cena no final do espetáculo indicando que tudo o que se viu na tela com relação a um espaço
exterior e supostamente diferente do teatro aconteceu ali mesmo.
Lesage (2008) aponta nesta montagem a existência de uma teatralidade desterritorializada.
O que é definidor deste conceito é a presença do aqui agora e do fora do quadro mediatizados
pelo espaço cênico. Provoca-se uma ascese do que se vê diante dos olhos : uma tela que é palco
(como se o palco tivesse uma horizontalidade bem como uma verticalidade) ou um palco que é
tela (como se a tela fosse uma extensão concreta da cenografia e da ação no espaço teatral).
Em seu estudo entitulado Jogos do Olhar, Veloso (2008) relata os procedimentos
cinematográficos utilizados na montagem do espetáculo ISAURA S/A + 1 Experimento
Hidráulico. A investigação feita no processo com a arquitetura do espaço em que foi encenado
levou o grupo de atores a conceber cenas em que o público experienciava diferentes pontos de
vista sobre a cena, como se fossem ângulos e posições de câmera. Imagens foram criadas pelos
atores a partir de jogos de percepção do espaço, do tempo e do corpo. A montagem e a fotografia
cinematográficas foram elementos fundamentais de composição cênica deste espetáculo cujo
intuito era revelar estas operações ao espectador, um ato que sugere ativação dos modos de olhar.
15
Quis então me valer das experiências, procedimentos, perspectivas e achados destes e de
outros processos de encenação contemporâneos para ponderar meu escopo de trabalho sobre os
procedimentos cênicos das criações audiovisuais em contextos pedagógicos.
Tendo esses contextos e ideias como norte, as seguintes etapas para a pesquisa foram
traçadas na ocasião do projeto :
I - Propor caminhos para uma colaboração autêntica entre os participantes. Entendo a
colaboração como uma oferta ao grupo e vejo preciosidade no ato de receber quando algo é
ofertado de coração. Acredito que é necessário fortalecer canais de sinceridade para evitar
quaisquer ações motivadas pela impressão da obrigação, ou que almejam retorno pelo mérito e
pela punição.
II - Buscar um espaço (físico e relacional) seguro que expanda as possibilidades de jogo.
Quero que sejam garantidas condições de instalação que contribuam com mais chances de
explorar, de expressar. Aspiro o cuidado de como recebemos o que está vivo no outro, com o
intuito de gerar confiança entre todos.
III - Cotejar as contribuições de procedimentos cênicos na criação audiovisual como
modalidade de aprendência artística no contexto escolar. Quero avaliar a expansão dos
conhecimentos em arte dos participantes tendo em vista a concepção estética, o tratamento de
materiais, a relação entre linguagens e a elaboração de objetos artísticos.
IV - Relacionar os aspectos do uso da linguagem videográfica na encenação teatral
contemporânea com as observações sobre a interação pedagógica entre o cinema e o teatro.
Intento explorar a projeção como elemento de teatralidade e de intervenção nos espaços da cena.
16
V - Experimentar a criação de cenas a partir de materiais diferentes do texto. O referencial
será composto dos sonhos, das visões e das dores dos participantes. Pretendo que levantar esses
elementos da ordem do onírico e dos sentimentos contribuirá como alavanca para suscitar com
riqueza e profundidade as questões do grupo.
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4. Aproveitar bem o tempo das aulas de artes : encontros
significativos não são necessariamente extensos. E, é libertador dizer,
podemos aprender em qualquer lugar, inclusive em sala de aula !
Os processos pedagógicos objeto desta investigação acontecem em dois âmbitos, ambos
conduzidos por mim : as aulas de artes na Escola Estadual Fidelino Figueiredo e o grupo
experimental com alguns dos alunos e outros apoiadores. Neste capítulo dedico-me ao primeiro.
As aulas de artes foram dadas às 5 turmas de 8a série. Minha proposta era a de que os
alunos se organizassem em equipes para produzir curtas-metragens de ficção. Neste processo
trabalhei com jogos teatrais e procedimentos de improvisação para a cena além de promover o
contato com conceitos e procedimentos das linguagens audiovisuais. Também fiz supervisão das
criações fílmicas das equipes.
ETAPAS DO PROCESSO DAS AULAS :
1o Bimestre (fevereiro, março e abril)
○ Apresentação e integração : jogos teatrais elaborados por Augusto Boal (5
categorias)
○ Tomar conhecimento das atribuições das funções das equipes de produção de
filmes (roteirista, diretor, produtor, fotógrafo, montador)
○ Fases da produção de um filme : Pré-Produção, Produção e Pós-Produção
○ Localização das funções na linha do tempo das etapas do processo de produção
○ Pesquisa específica de um elemento dentre as atribuições de uma função
○ Proposta e regras do desafio de trabalho : composição das equipes e funções
○ Exercícios de imaginação e atos poéticos elaborados por Alejandro Jodorowsky
○ Caderno de produção - Elaboração do Documento 1 : Componentes e funções da
equipe de trabalho
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○ Tomar conhecimento do conceito de diegese no contexto das fábulas literárias e do
cinema
○ Apresentação de curtas metragens produzidos no âmbito do Projeto VAI
○ Olhar metafórico para o fazer cinematográfico. Texto : “Como fazer cinema” de
Alejandro Jodorowsky
○ Caderno de produção - Elaboração do Documento 2 : Ficha de Apresentação
(Sinopse, Criação de Dança, Criação Visual, Criação Poética e Criação Musical).
○ Expediente de ideias e orientações aos projetos de cada equipe
○ Seminários dos grupos : apresentação das ideias contidas no Documento 2
○ Elaboração do roteiro, do plano de realização, plano de produção, découpage
técnica e plano de montagem.
2o Bimestre (maio e junho)
○ Caderno de produção - Elaboração do Documento 3 : Casting
○ Palestra e exibição de vídeos sobre Vlogagem com Marina Xisto
○ Expediente de ideias e orientações aos projetos de cada equipe
○ Exibição do longa-metragem La Antena de Esteban Sapir (Argentina, 2007)
○ Levantamento das atividades realizadas em ensaios de criações artísticas em
dança, teatro, cinema e música
○ Oficina de jogos teatrais elaborados por Viola Spolin com a estagiária Cida
Conceição (espacialização, corda imaginária e dublagem simultânea)
○ Simulação do seting de filmagem e ordenação dos comandos preparatórios para as
gravações
○ Reflexão sobre as atividades nas gravações, as surpresas desagradáveis e os
prestígios de cada função de produção
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○ Exibição dos curtas-metragens produzidos e reflexão sobre a recepção
3o Bimestre (agosto e setembro)
○ Exibição de curtas-metragens do Instituto Criar de TV e Cinema
○ “Qualquer filme é um filme de ficção”. Buscar uma compreensão teórica sobre o
filme de ficção segundo Jacques Aumont.
○ Buscar uma compreensão teórica sobre a situação dramática segundo Leandro
Saraiva e Newton Cannito.
○ Definição e acordo das novas regras do projeto de criação de filmes : tempo,
composição das equipes, prazos, tema, casting, locais de gravação permitidos.
○ Levantamento de um tema por tuma. 8A : prostituição; 8B : violência na sala de
aula; 8C : crenças5; 8D : relação com os pais; 8E : investigação criminal.
○ Definição do protagonista do filme a partir de um nome e cinco características de
perfil ou comportamento.
○ Definição do objetivo principal e do obstáculo do protagonista
○ Projeto de filme a partir das seguintes definições : roteirista (local e data que se
passa a história e criação dos demais personagens e suas características); produtor
(locais de gravação e casting); diretor (cenário e figurino); fotógrafo (equipamento
e iluminação); montador (créditos e músicas).
○ Círculo de progressão dramática : definição da exposição, fato de estímulo,
objetivo principal, obstáculo, reação, peripécia 1, reação, ruptura, peripécia 2,
reação, erro, clímax e relaxamento final.
○ Feira Cultural : exibição para toda a escola dos curtas-metragens “A uma
passante” (dirigido por Gabii Callis), “Annie” (dirigido por Beatris Duraes) e
“Histórias de amor duram apenas 27 dias” (dirigido por Angel Guenz). Logo
5
Os alunos da 8C chegaram a um consenso para explicar as possibilidades do tema crenças; segundo suas próprias
palavras “algo que acredite, desde religião à criaturas, ETs, dragões, elfos, demônios, ceifeiros, deuses, super-heróis,
etc.”.
20
depois da exibição foi feito um debate com os participantes a partir de comentários
e questões de João Pedro Cabelo que também é professor de artes da escola.
○ Participação no projeto CineTela Brasil na exibição do filme Bicho de Sete
Cabeças
○ Organização de saída para assistir o filme Os Intocáveis no Espaço Itaú de Cinema
da Rua Augusta, em convênio com a escola.
○ Apoio e acompanhamento da criação de projetos de filmes documentários sobre ao
uso de drogas nas ruas em parceria com Ester, professora de ciências da escola.
Ilustração 4: Os professores Dodi Leal e João Pedro Cabelo no palco da Feira Cultural ao lado de Milena Pires de
cavaleira medieval
21
A seguir, a visão de Jenniffer Diniz6 sobre as aulas de artes no Fidelino. Ao mesmo tempo
em que relata as dificuldades, as preocupações, as surpresas e as conquistas do processo, apoia a
descrição do conteúdo e das dinâmicas de aula.
Fugindo da ideia de que aula de artes serve apenas para desenhar e conhecer cores
primárias e secundárias no começo do ano chegou o Dodi no meu colégio. Como tudo
que é novo a princípio suas propostas geraram um pouco de desconfiança em meio aos
alunos.
As aulas eram tanto teóricas, como práticas. Ele nos apresentou seu projeto e nos
ensinou como eram feitas produções audiovisuais, explicou como e o que fazia cada
função técnica em curtas-metragens, grupos foram formados respeitando a formação de
que em cada grupo deveria existir uma pessoa encarregada por cada função: roteirista,
diretor, produtor, fotógrafo e montador.
Leu e passou para nós alunos as 11 lições de como fazer cinema, por Alejandro
Jodorowsky. Nos ensinou a fazer nosso próprio plano de realização, caderno de
produção, subproduto da função, e todos esses itens foram não só usados para compor
nota , mas também no projeto de cada grupo. Além de passar teoricamente os
fundamentos e seus conhecimentos no audiovisual houveram também aulas práticas,
onde ou no pátio ou na nossa própria sala de aula, após mudarmos algumas cadeiras de
lugar, aconteceram jogos teatrais, e ensaios dos dias de gravação de nosso curta.
Com tudo isso ele conquistou a confiança de nós, alunos, que passamos a nos interessar
pelo audiovisual. Para mim foi uma experiência muito boa trabalhar com algo que
geralmente não chega as salas de aula principalmente em escolas publicas, e melhor
ainda poder ter participado da produção de nosso próprio curta metragem.
Jenniffer Diniz
Nesse mesmo sentido, escreveu Gabii Callis7 :
Primeiramente, foi explicado as diferenças entre teatro e cinema para a compreensão do
que estava por vir: a palavra ‘’curta metragem’’ era algo novo e inusitado para as turmas
6
Jenniffer Diniz é aluna da turma 8C da Escola Estadual Fidelino de Figueiredo. No processo do grupo experimental
ela participou como diretora artística e atriz.
7
Gabii Callis é aluna da turma 8C da Escola Estadual Fidelino de Figueiredo. No processo do grupo experimental
ela participou como assistente de direção e atriz.
22
da 8ª série, ainda mais poder ver que tinham capacidade de criar um curta. Em sala de
aula foi possível ter dinâmicas incrivelmente expressivas e objetivas; foi passado em
forma de texto e tópicos, funções de equipe de trabalho, ou seja, funções de produção
para a criação de um curta-metragem. Foi explicado o que era e para que existia cada
função, as quais eram: roteirista, diretor, produtor, fotografo e montador. Assim os
alunos foram divididos e organizados em grupos de cinco pessoas, cada uma com uma
função. Cada função tinha uma concepção: visual (fotografo), dança (produtor), musical
(montador), poética (diretor).
Os subprodutos de cada função: Com um caderno de produção, que é função do(a)
produtor(a), o professor (Dodi) sabia de tudo que ocorria na produção do curta
metragem em cada grupo: cronograma; dias; horários; gastos; organização; tarefas;
autorizações de filmagens; casting (como abordar os atores); materiais e equipamentos.
Já o fotografo tinha de fazer um storyboard; foi dividido entre processos de cada plano
com: cenas, falas, câmera (fixa, trêmula, ângulo). Um desenho para identificar o que
ocorreria em cada plano e, caso houvesse, um texto para identificar o que iria ter nas
falas. O montador faria planos de montagem, utilizando meios aos quais são: sequências,
efeitos, créditos, sons, áudio, vídeo. O diretor faz o plano de realização, ou seja:
figurino (cada peça de roupa); maquiagem; luz, cor (forte, luz do Sol, etc); som,
movimentos, falas, diálogos, música: como serão captados; interpretação: improvisação,
dias utilizados, técnicas, ensaiados (ou não).
Uma linha do tempo dividida em Pré-Produção, Produção e Pós-Produção, foi necessária
e essencial para que entendêssemos em qual momento atuaria cada função. Ela foi útil
para que não houvesse conflitos entre funções e evitar que uma função não faça o que
lhe é designado.
Enquanto entendíamos o momento para atuar com nossas funções, o roteiro já começava
a ser criado! Ideias inovadoras e extraordinárias foram criando forma em cada grupo de
cada 8ª série, e em pouco tempo foi possível passar todas elas para o papel e assim
registrar como um roteiro.
‘’Como fazer cinema’’ foi o título para 11 lições como exemplo para ajudar os alunos a
compreender o que iria ser feito.
Uma explicação do que é ‘’tomada’’: em cinema e audiovisual, é um trecho de filme ou
vídeo rodado ininterruptamente; e ‘’sinopse’’: um resumo onde apresentam o tema, os
personagens, e como eles se desenvolvem durante a história de forma que convença as
pessoas à lerem história e/ou assistirem. E, para que pudéssemos por as mãos em massa,
foi dito como seria para fazer a gravação de cada plano e tomada.
Como:
Diretor: Luz
Produtor: Ok (liga a luz)
Diretor: Som
Montador: Ok (liga o microfone)
Diretor: Câmera
Fotografo: Ok (liga a câmera e a posiciona)
Diretor: Claquete
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Roteirista: Cena 1 – divisão da história Plano 1 – Storyboard, posição da câmera
Tomada 1 – quando liga e desliga a câmera
O trabalho foi uma inovação para os alunos que, de certa forma, souberam aproveitar a
oportunidade que foi lhes dada; muitas curtas metragens foram apresentadas, cada uma
com um tema curioso e diferente. Quando algumas curtas já estavam prontas, eram
repassadas para todas as 8ªs em suas devidas aulas de artes, com comentários do
professor que, assim, ajudaria os alunos que ainda estavam produzindo. Algumas delas
foram incrivelmente bem feitas e chamaram a atenção, e assim sendo, foram exibidas na
feira cultural com a participação e comentários do Dodi.
Gabii Callis
No mês de outubro de 2012 a professora titular das aulas de artes da escola retornou a seu
cargo fazendo com que eu e outra professora perdêssemos as aulas atribuídas. Os processos
infelizmente tiveram de ser interrompidos. Os alunos ficaram arrasados com a substituição e
soube por meio dos inspetores que eles gritavam por mim quando a nova professora entrava em
sala de aula. Ela nem mesmo queria voltar a dar aulas. Voltou porque tinham terminadas as
possibilidades de solicitação de dispensa médica. Voltou a dar aula por obrigação. Neste caso
todos tiveram que assumir o ônus : alunos, eu, a nova professora, a coordenação. A situação ficou
insustentável para a professora já que ela não queria dar aulas, não conseguia dispensa e também
não gostaria de perder o vínculo de trabalho. Foi então que a direção da escola a convidou para
ser mediadora de conflitos. Outra professora assumiu as aulas no início de novembro. Até hoje os
alunos me escrevem ou me dizem cara-a-cara quando nos encontramos pessoalmente :
“a gente não aguenta mais a professora nova”
“por que você não dá mais aulas pra gente?”
“a professora quer que a gente fique recortando e colando de uma revista”
“a professora nova falou que já dirigiu cinema mas ela falou que quem vai dirigir nossos
projetos é ela e não a gente mesmo como era com você”
“a professora de artes é muito nervosa e autoritária”
“você volta a dar aulas na escola no ano que vem ?”
24
Do meu ponto de vista os alunos só podem ter ficado frustrados porque não houve
nenhum cuidado das novas professoras em seguir o plano que eu comecei com eles. Mas eles
ficaram absolutamente resistentes por um outro motivo : as duas professoras novas sequer
perceberam o grau de confiança e conexão que eles tinham comigo. Elas realmente não souberam
ponderar a entrada delas com o percurso dos alunos, as conquistas que eles tiveram no processo,
e muito menos a que eles realmente gostariam de continuar a se dedicar com a minha saída da
escola.
25
5. Alunos são atores e, ao mesmo tempo, assumem funções de
produção8
Nas aulas do Dodi nas oitavas séries, com a proposta sobre criar um curta-metragem em
mente, nosso grupo de produção em sala de aula dava os primeiros passos e palavras ao roteiro.
Grupo de produção que era:
Diretora: Gabriela Callis
Produtora: Camila Costa
Roteirista: Isabelle Fraga
Fotografo: Jonathan Cavalcante
Montadora: Vanessa Oliveira
Após muito imaginar e discutir sobre o que e como seria o curta-metragem que iríamos
criar, decidimos juntos, que iríamos nos inspirar no poema de Charles Baudelaire ‘’A uma
passante’’. Só de imaginar cada plano do curta, nós sentíamos um prazer e uma emoção enorme!
E eu, só ao ver o storyboard, meu coração disparava.
Começamos a botar tudo em prática e só precisamos de um dia de gravação.
Eu, diretora, e nossa produtora, selecionamos alguns figurinos que poderiam ser usados.
A escolha inspirada em fotos do século XIX foi também inspirada através do que o poema dizia.
Já na Rua Direita de SP, que foi escolhida por ter alguns monumentos e, digamos,
vestígios do século passado, usamos um skate e até um tripé para fazer certos planos no curtametragem.
O nosso maior problema além da chuva no entardecer, foram as pessoas que passavam e
apareciam nos quadros, apesar de ter dado um ar de espontaneidade.
8
Capítulo escrito por Gabii Callis (assistente de direção e atriz), a respeito do processo de criação do filme “A uma
passante” supervisionado por Dodi Leal no quadro das aulas de artes.
26
Usamos, sem falta, o procedimento de comandos que aprendemos nas aulas do Dodi, o
que nos ajudou a manter a ordem de tomadas, e também usamos um storyboard, que foi
necessário para manter a ordem dos planos.
Muitos que passavam pela rua e nos via gravando, tentava falar com um dos participantes
para entender a situação, até que fomos entrevistados para uma noticia de TV!
Na montagem, que para ser finalizada demorou apenas uma noite, escolhemos os efeitos
preto e branco para ser mais identificado ainda com o século passado. Foi uma ótima experiência
ter feito o curta-metragem, tanto para mim, quanto para a equipe de produção.
Ilustração 5: Equipe do curta “A uma passante” com o repórter de televisão que os abordou durante a gravação
27
6. A prática colaborativa da Célula Metabolizadora de
Produção9
O grupo experimental foi formado inicialmente por 15 alunos selecionados entre as
turmas mencionadas. Pretendi desenvolver processo de imersão com propostas artísticas e
exercícios de imaginação e criatividade elaborados por Jodorowsky. Advindo do processo de
investigação coletiva de temas de interesse aos participantes, o filme foi criado contando com
minha participação como diretor.
Aproximação (maio)
○ Convite dos participantes e levantamento de disponibilidade de horários
○ Apresentação da proposta e definição do cronograma de encontros
Houve uma Célula Metabolizadora de Produção (CMP), que reuniu funções técnicas que
visaram apoiar a organização intensiva do todo do grupo. Além do diretor, ela composto por
alunos que assumem as funções de Assistente de direção, Direção artística, Coordenação de
interpretação, Roteirista 1 e Roteirista 2.
Atividades desenvolvidas em junho, julho, agosto e setembro nas CMPs
○ Organização do cronograma e definição do local de encontro para ensaios
○ Levantamento dos contatos telefônicos e endereços eletrônicos
○ Combinação de esquema de notificação sobre as datas dos ensaios
○ Orientações de criação para a Direção artística
9
Capítulo escrito por Dodi Leal e Gabii Callis
28
○ Orientações sobre o papel de apoio empático da Assistência de direção
○ Formação da Assistente de direção em Comunicação Não Violenta (CNV)
○ Compartilhar com as Roteiristas referência de roteiros musicais aprendidos com
Alex Beaupain na oficina Cinema e Música (notadamente o filme Les Chansons
d’Amour de Christophe Honoré)
○ Compartilhar com as Roteiristas, a Diretora Artística e a Assistente de Direção
referências fílmicas e de psicomagia de Alejandro Jodorowsky
○ Mapear os relatos das dores para desenvolver a escrita do roteiro
A formatação da CMP tem como ponto de referência o conceito de processo colaborativo
advindo do teatro contemporâneo. De acordo com Guinsburg (et al., 2009, p.279) ele :
(...) surge da necessidade de um novo contrato entre os criadores na busca da horizontalidade nas
relações criativas, prescindindo de qualquer hierarquia preestabelecida, seja de texto, de direção, de
interpretação ou qualquer outra. Todos os criadores envolvidos colocam experiência, conhecimento
e talento a serviço da construção do espetáculo, de tal forma que se tornam imprecisos os limites e
o alcance da atuação de cada um deles, estando a relação criativa baseada
em múltiplas
interferências.
A CMP inicialmente foi criada para que os que participavam da produção do curta
tivessem liberdade de expressão e acesso às datas de próximas gravações, as próximas ações do
grupo experimental, entre outros. Os encontros da CMP são semanalmente (cerca de uma vez por
semana), e somente quando não há disponibilidade entre atores, a CMP é adiada para a semana
seguinte.
Os participantes da CMP são:
Diretor
Assistente de direção
Diretora Artística
Produtora
29
Roteiristas
Fotógrafa
Montadora
Na CMP, usamos sempre uma pauta com tópicos que serão discutidos no decorrer do
encontro. Os assuntos abordados são:
Esclarecimento das funções de cada um;
Agendamento;
Levantamento de locais de gravação;
Concepção sobre o roteiro;
Concepção sobre a direção artística;
Casting;
Equipamentos;
CMP empática;
Mostra de licenciatura;
Clipe Bonde do Dodi Móvel;
Montagem;
Design da abertura;
Conexão entre Ato I, II e III;
Orçamento/Custos e gatos
Informes;
Preocupações
entre
subproduto de sua função);
Dia da apresentação;
a
equipe
de
produção
(sobre
os
atores,
agendamento,
30
Discussão sobre o flyer;
Orientação.
Os assuntos são abordados e todos da CMP, se quiserem, comentam e opinam sobre.
Em um dos encontros da CMP, foi discutido que a assistente de direção iria dirigir uma
das
cenas.
Houve
insegurança,
medo
de
não
conseguir
realizar
o
processo
e
não dirigir com a mesma atenção e compreensão do diretor.
As CMPs acabaram sendo um lugar onde além de discutirmos questões do filme, virou
um espaço que temos para cuidar da nossa relação.
Vários encontros acabaram com um tom de terapia, certa vez após uma dificuldade de
dirigir um ator que não estava conectado com a sua dor, e outra pessoa, por ter problemas na
atuação. Acabou virando pauta de uma CMP onde foi discutido com uma dinâmica diferente,
apelidada como ‘’CMP Empática’’, Gabii Callis (assistente de direção e atriz) e Isabelle Fraga
(roteirista e atriz), trocaram de papeis para verem o problema com outros olhos, e por isso acabou
sendo uma dinâmica curiosa, assim, puderam encontrar soluções.
As reuniões sempre têm essa preocupação de olhar de todos os pontos de vista, e além de
olharmos para pontos mínimos, cuidamos do todo com a mesma importância.
Um dos problemas que mais se repetiu, foi o de os atores confirmarem datas uns com os
outros e não com a produtora. Uma atriz chegou a ir á um local numa data errada de gravação, o
que gerou um desentendimento enorme na equipe, pois todos apontavam uma falha diferente que
poderia ter gerado o acontecido, mas tudo acabou em pizza!
É incrível a capacidade de nós compreendermos que aprendemos a respeitar um ao outro
e a tentar entender sempre.
Pós-produção (novembro)
○ Orientações temáticas para a montagem
○ Retorno da primeira versão de montagem
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○ Avaliação do processo
○ Perspectivas de difusão do filme
○ Projeção : participação em festival e mostra
○ Confraternização
Ilustração 6: Flyer de divulgação da exibição do filme Tome Perdão na Mostra de Licenciatura do
CAC. Criação visual de Jonathan Cavalcante10.
10
Até o mês de agosto Jonathan Cavalcante estava escalado para ser ator e fotógrafo e decidiu sair do processo para
fazer um curso com vistas a ter um trabalho remunerado. A criação visual do flyer foi uma forma encontrada por
todos para reaproximá-lo do processo.
32
No início de novembro, vésperas de finalização do filme e do relatório, Gabii Callis que
até então também desempenhava a função de Montadora junto com Anaïs Goedert (até então
fotógrafa e assistente de montagem) manifestou que encontrava muitas dificuldades em seguir o
trabalho e solicitou ajuda. Nesta mesma ocasião conversávamos sobre o relatório e a importância
de também no texto nos darmos apoio e atuarmos juntos como característica colaborativa do
grupo. Então resolvemos que nesse período final do processo Dodi se dedicaria mais à montagem
e Gabii a trazer elementos escritos para o relatório final. Foi uma parceria que sustentou o grupo
com pontos de apoio que existem nele mesmo : tivemos uns aos outros.
Na reta final da montagem, Dodi descobriu sua maior afinidade com os retoques,
afinamentos, animação, efeitos de vídeo e edição de áudio. Porém diante do trabalho com a
matéria bruta da edição ficou travado. Teve uma conversa com Anaïs que já acompanhava a
Gabii, tinha interesse por montagem e, nesta ocasião, muitas ideias e disponibilidade. Anaïs é
finalmente quem recebe os créditos pela montagem de Tome Perdão.
A função de produtora também passou por modificações ao longo do processo. No
período de pré-produção Giovanna Costa ficou responsável pela produção e juntamente com o
Dodi fez o levantamento dos locais de gravação, levantamento de casting, gastos e equipamentos.
Já no mês de agosto, Giovanna ficou menos disponível porque iniciou cursos extra-curriculares e
precisava de mais tempo em casa para se dedicar às atividades da escola. Giovanna deixou a
função e continuou como atriz do curta (e seguia como aluna de Dodi nas aulas da escola).
Karoline Oliveira que já estava no processo e tem muito interesse pela função aproveitou a
oportunidade e se ofereceu para ser produtora nas fases de produção e pós-produção. No caderno
de produção que ficou aos seus cuidados reúne os seguintes documentos :
- Disponibilidade da produção e dos atores
- Pauta de gravação
- Fluxo de caixa
- Répérage (levantamento de locais de gravação)
- Equipamentos de gravação
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- Casting
- Lista de confirmação de presença para agendamento das gravações
- Funções da equipe de trabalho
- Agradecimentos
- Autorizações de direito de imagem de atores e figurantes
- Projeto de design do folder de divulgação e da abertura do filme
- Roteiro do filme
- Letra da música Bonde do Dodi Móvel
- Atas da CMP
- Projeto de desenho da Direção Artística para concepção dos cenários
- Storyboard
- Controle de continuidade
- Plano de montagem
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Ilustração 7: Caderno de Produção mantido por Karoline Oliveira apresenta à esquerda a autorização de direito de
imagem e abaixo o projeto de direção artística para concepção dos cenários, manchado de café.
No início das gravações, no mês de agosto, com o afastamento de Jonathan ficamos
desfalcados na fotografia. Neste momento se aproximaram do projeto Anaïs Goedert, Eros TecoTeco e Maria Eugênia Calixto. Anaïs tinha sido aluna do Dodi por um dia quando ele substituiu
um professor que faltou na turma dela (1A). Houve uma conexão grande entre os dois sobretudo
por conta da afinidade com o cinema. Ela já conhecia muitos dos participantes do processo e foi
natural a sua recepção na equipe. Seu grande interesse em trabalhar com cinema e, sobretudo, seu
conhecimento precoce na área a motivou a experimentar conosco a função de fotografia. E tudo
correu melhor que esperávamos.
35
Ilustração 8: Anaïs Goedert com Dodi Leal no último dia de gravação do filme, em novembro.
Eros já era amigo de Dodi e se aproximou para prestar qualquer tipo de apoio, com muita
abertura, e pediu permissão de ser acompanhado por Maria Eugênia nos ensaios. A parceria de
Eros e Eugênia em criações musicais nos inspirou a querer fazer alguma coisa juntos. A
necessidade no momento eram as funções de continuísta e captador de som. Depois de instruções
sobre continuidade do Dodi, Eros assumiu a função como se a conhecesse desde sempre. Maria
Eugênia se animou em ser captadora de som e se mostrou extremamente empenhada nesta função
e demais apoios durante as gravações.
36
Ilustração 9: Da esquerda para a direita Maria Eugênia Calixto, Isabelle Fraga, Anaïs Goedert, Eros Teco-Teco e
Dodi Leal. Descontraídos confraternizando no apartamento de Dodi depois de um dia de gravação de cena do Ato
III, na Praça Roosevelt.
37
Ilustração 10: Milena Pires conversa com Maria Eugênia Calixto depois de realizar o ato simbólico com seu objeto
– Ato III, Praça Roosevelt.
38
7. Expressar sonhos, visões e dores e ter perdão como resposta
Com o intuito de subsidiar as atividades metodológicas do grupo experimental levantei
um material para traduzir a subjetividade dos participantes. Entendo que ter tido elementos dos
sonhos, das visões e dos sentimentos do grupo como ponto de partida do processo foi compatível
com o objetivo principal da pesquisa : propor caminhos para uma colaboração autêntica entre os
participantes.
Oficina SONHOS, VISÕES E DORES (junho)
○ Jogos teatrais de integração elaborados por Augusto Boal (5 categorias);
○ Conscientização sobre os encontros : descrição das dinâmicas e compartilhamento
de sensações;
○ Aquecimentos corporais e vocais, massagem, exercícios de movimento e
respiração;
○ Dinâmicas de musicalização : leitura, intenção e projeção (material : Beira Mar
Novo - Milton Nascimento; Adaptação de um trecho poético de Terror e Miséria
no Terceiro Reich - Bertolt Brecht);
○ Oficina com Laís Queiroz11 para o levantamento de sensações de dor no corpo,
criação de ações diante de uma situação de dor e composição de ações de dor em
duplas a partir do texto Exíguo Instante;
○ Trabalho com dinâmicas de projeção de voz, diálogo cantado e coralidade;
○ Reflexão escrita sobre dores vividas : em forma de relato da situação ou das
sensações.
11
Laís Queiroz é formada em Artes Cênicas pela UFAL. É amiga de Dodi Leal desde 2009 com quem atua no
movimento de Teatro do Oprimido.
39
Exíguo Instante
Os dias vão passando sem cessar. A música parece que não toca do mesmo jeito. O rádio
e a pilha estouraram ao olvidar de uma lágrima de injustiça. Estávamos sentados na
bancada de flores das mais venenosas, sim, espinhos da carne que apodrece a cada nova
decepção. A casa treme. Espera um chamado agora. Volta. Chega e senta sozinho.
Sabe-se que só e somente será seletivo ser sábio. Mas e agora? O que fazer quando
exercer sem pecado o que se não tem? Ahh! O naustro chegou. Pronto. Agora não será
como antes, vida. Esquece asneira e vai sem parar, sem intentar.
Laís Queiroz
A seguir os comentários de Gabii Callis12 a respeito deste momento do processo (junho) :
Descrevo nosso contato em 2 etapas.
Na primeira etapa, tivemos contato com a proposta do diretor de fala canta/musica falada
e no que nosso filme levaria.
Também nessa primeira etapa, foi discutida a formação da equipe de produção.
A segunda etapa, tivemos um primeiro contato com nosso material de trabalho (nossas
dores) com a Lais, que chegou com uma proposta inovadora; foi nosso primeiro passo
para trabalhar com o tema do curta metragem: perdão.
Mentalizamos uma cena que marcou nossa vida ou mesmo alguns, imaginaram. Após
isso, reproduzimos essa cena, seja ela com falas ou não. Assim, nos juntamos em duplas
para compartilha-las.
A partir de julho recorri ao vasto arsenal da obra de Alejandro Jodorowsky porque vi aí
encontradas algumas de minhas perguntas de vida. Fico sensibilizado no contato com os objetos
artísticos elaborados por ele : quadrinhos, filmes, peças de teatro, poesias. Tenho
deslumbramento por ver a propriedade artística com que lida com elementos místicos, de
espiritualidade, do universo mitológico, do tarô, da cura.
Tenho muito apreço pelo movimento pânico, fundado pela tríade Jodorowsky, Arrabal e
Topor. Gosto de ver a coerência entre o que fizeram juntos esses homens e aquilo que vem
tocando Alejandro nos dias atuais. Trago aqui algo que escreveu em 1964 e que traduz essa
12
Gabii Callis (assistente de direção e atriz).
40
impressão de continuidade em sua obra : “O homem pânico tende à ideia-ação. Portanto, o
pensador pânico é um guerreiro, e o atleta pânico um criador espiritual.” (JODOROWSKY, 2008,
p. 45, tradução livre).
No processo do grupo experimental realizamos a criação de cenas a partir do percurso
elaborado por Jodorowsky ato poético - ato teatral - ato onírico - ato mágico - ato psicomágico. O
ato psicomágico envolve a realização de uma ação concreta com objetos no sentido de cura de
uma dor. O alto teor criativo e performático dos atos psicomágicos não deixam dúvidas de que se
trata de uma investida eminentemente artística deste grande cineasta e diretor de teatro, ainda que
se revele o caráter profundamente terapêutico dessa prática. Para que não houvesse confusão com
a terminologia de Jodorowsky preferimos chamar as ações de cura no nosso processo de ato
simbólico. Há que se ressaltar que para serem chamados atos psicomágicos há uma série de
condições; uma delas é que eles sejam recomendados pelo próprio Jodorowsky ou por outras
pessoas autorizadas por ele.
Tenho plena convicção que a riqueza de imagens elaboradas no processo de
experimentação cênica cujo subproduto foi o filme “Tome Perdão” advém da fertilidade em que
se encontravam esses jovens, de aproximadamente 14 anos, bem como do caminho
metodológico.
A seguir apresentam-se as considerações de Isabelle Fraga13 a respeito do tema de
aprofundamento do processo do grupo experimental no sentido de demonstrar por meio da
criação ficcional o procedimento do ato simbólico como assimilação do trabalho de Jodorowsky e
relacionar a pertinência do perdão na realização destes atos :
O perdão é o maior ato que livra um ser humano de tormentos, angustias ou até traumas,
no momento em que se sente sufocado, carregando a dor, o ser humano pensa em tudo
menos em como perdoar. Não sabendo que o perdão é o caminho mais fácil diria talvez
para encontrar a luz da alma, o bem, sentir as novas energias que libertarão a paz para o
corpo inteiro. Significando a clareza de dores mantidas em si próprio em lugares
alcançáveis jogadas ao universo, em que são nada mais que atos poéticos.
Usando como inspiração Alejandro Jodorowsky, chileno, cineasta, escritor, bruxo e até
curandeiro na boca de alguns. Usamos um de seus métodos a ‘’Psicomagia’’ que é o
caminho que se relaciona com a dor e o perdão. Como disse Jodorowsky em um de seus
livros “toda definição não passam de aproximações”, seu método consiste em atender
13
Isabelle Fraga é aluna da turma 8C da Escola Estadual Fidelino de Figueiredo. No processo do grupo experimental
ela participou como roteirista e atriz.
41
pessoas em sessões que podemos chamar de terapias-relâmpagos, onde o espectador de
boa vontade e ao mesmo tempo tímido, com uma pitada de critica e duvida, ouve os
conselhos, que então Jodorowsky coloca em serviço a rara energia de compaixão. Após
ouvir o espectador, ele procura um método simbólico para realizar o ato.
A Psicomagia apoia-se fundamentalmente sobre o principio de que o inconsciente, aceita
o símbolo e a metáfora como fatos reais. Para o inconsciente, agir sobre uma fotografia
(se for o caso), um tumulo, uma peça de roupa ou qualquer outro objeto íntimo (um
detalhe pode representar o todo), é o mesmo que agir sobre a pessoa real. A única
maneira de se livrar de algo é realizando a tal... Mas, isso pode ser feito
metaforicamente.
Começamos a criação da ficção a partir daí, o processo e escrita girou em torno dessa
magia crédula, com pequenas reuniões de roteiro optando para a melhor forma de
representação teatral e cinéfila.
Contendo doze atores e um contexto diferenciado para cada personagem, se tornando
real, pois os atores trouxeram suas próprias experiências dolorosas que mantinham
guardados. Dodi o diretor, mantendo todos compreendidos da situação retirou o processo
da história que iria ser feita para o curta-metragem.
A história começa com uma reunião de amigos em uma pizzaria, até que um respectivo
telefone toca na mesa, Jenny atende ao telefone e recebe uma noticia que deixa-a
totalmente abalada, saindo assim as pressas. Começando a cantar e dançar dando ao
filme um aspecto musical, as cenas seguintes são composta pelos seguintes personagens
que sucessivamente atendem ao telefone em lugares diversos, assim mantendo uma
conexão com a dor. No ato II já surge mais clareza da dor simultânea que podemos notar
no ato I, os personagens em dupla representam sua dor por formas de movimentos e
musicas cada um em um local referente e relacionado ao clima.
O ato III já bem diferenciado ao aspecto dos anteriores é o ápice, é o momento da
realização do ato simbólico onde os personagens, compreende e pega seu objeto que já
estava relacionado a sua dor muito antes de tudo começar, entra então em contato com
todo sentimento e energia ali presente e procura em alguém uma conexão não antes
feita.
A última versão do roteiro de “Tome Perdão”, elaborado por Isabelle Fraga e Milena
Pires14, é apresentada integralmente a seguir :
14
Isabelle Fraga é aluna da turma 8A da Escola Estadual Fidelino de Figueiredo. No processo do grupo experimental
ela participou como roteirista e atriz.
42
“Tome Perdão”
Escrito por Isabelle Fraga e Milena Pires
ATO I ONDE O SOL NEM SEMPRE BRILHA
Cena 1
Mesa de bilhar começo da festa , jogo rolando descontração total!
Cena 2
- Festa
Todos envolvidos em suas conversas, compartilhando histórias de cada dia da semana, outros
falando bobagem, típico de festas.
Até que o telefone toca, a musica e o barulho ao redor cessam, Jenny atende o telefone segurando
o colar que leva envolvido em seu pescoço com uma noticia que deixa todos surpresos
principalmente Jenny que então começa a demonstrar o tom de abalada, nada mais normal para
um ser humano que acabou de receber uma noticia que toca em suas feridas passadas.
ELISA
- o que foi jenny?
jenny se dirige ao corredor e mergulha à porta.
Corre e quando para segura o colar (meio ofegante) todos começam a cantar:
(DURANTE A MUSICA JENNY DANÇA)
JENNY
-DÓI SABER QUE NUNCA MAIS VOU TE VER.
ISA
- EU NÃO SEI EXATAMENTE O QUE SINTO.
TALVEZ ISSO EXPLIQUE TUDO.
43
TAÍS
- ENTRE VICE E VERSAS VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI, MAS EU TE SINTO PRESENTE.
CRISTINA
-SEUS ATOS NÃO FORAM CAPAZEZ DE ACABAR COM A MINHA ESPERANÇA.
TODOS
- ENTENDE ISSO?
NICOLAS
- O MUNDO CONTINUA GIRANDO E TUDO SE RELACIONA.
VOCÊ ESTÁ EM MEU PASSADO, EM MEU PASSADO NUNCA TE ESQUECI.
TODOS
- ENTENDE ISSO?
ELISA
- NÓS, NÓS VIVEMOS METADE DE DIA
E NÓS, NÓS VIVEMOS METADE DE NOITE
MILENA
- NOSSA MUSICA NÃO TOCA COMO ANTES, MAS EU NÃO SINTO A TUA
AUSÊNCIA.ENGANADA PELA ROTINA.
TODOS
- ENTENDE ISSO?
JENNY
- AMOR, PERDA, MORTE, SAUDADE, PISCINA DE CIMENTO EM EBULIÇÃO.
FELIPE
- EU NÃO ESTOU DOENTE, NÃO ESTOU TUDO IRA PASSAR, PASSARÁ.
PÁSSARO QUE SENTA E COMEÇA A ESPERAR.
44
CENA 3- Cristina está olhando para toda a sua dor que esta representada pelo seu objeto e então
atende o telefone.
CENA 4- Felipe está em um canto qualquer, com toda a angustia do seu objeto ao lado e atende o
telefone.
CENA 5- Elisa está com seu objeto diante dos olhos também e logo após atende o telefone.
CENA 6- Nicolas observa com os olhos apertados o objeto que representa sua dor e atende o
telefone.
CENA 7- Milena também está com objeto e com olhos de cautela, e atende o telefone que se
encontra no mesmo banco.
CENA 8- Taís vê o seu objeto com os olhos abalados e atende o telefone.
CENA 9- Isa então avista seu obejeto ao lado com os olhos de nada mais que dor, o telefone toca
e assim atende.
CENA 10- Angel com seu objeto e logo atendo o telefone.
CENA 11- Kelvi brinca com o objeto relembrando cada detalhe da dor e em seguida atende o
telefone.
Cena 12
Quanto todos desligam o telefone começam a expressar toda sua dor por movimentos corporais
eis então que se encontram.
Ato II
45
CENA 1
Isa e Taís
CENA 2
Milena e Felipe
CENA 3
Elisa e Cristina
CENA 4
Jenny e Nicolas
Cena 5
Kelvi e Angel
Cena 6
Todos no parquet descobrem objetos e roupas mágicas, se vestem e cantam.
Jenny
Hi
Walk, not stand to stay here longer!
I don’t remember the last time.
or just do not want to remember and continue.
sam um wah wah wah
Wah wah wahhh
Wait, I'm now being called
46
Music doesn't seem to play as the same
Will not forget hurt, without forgiving
Waiting with you I can see forward
todos
Hi
Walk, not stand to stay here longer!
I don’t remember the last time.
or just do not want to remember and continue.
sam um wah wah wah
Wah wah wahhh
ATO III
CENA 1
Jenny esta deitada em um banco da cidade grande, quando um pai de santo a puxa pela mão e á
entrega uma carta do seu tarot
CENA 2
Jenny sai andando e se depara com uma barraca de paz onde encontra vários objetos em sua
bancada
Elisa passa na barraca jenny estende a mão e entrega o objeto a ela q realiza o ato simbólico
enquanto jenny á observa
CENA 3
Taís por sua vez recebe seu objeto de jenny e realiza seu ato simbólico, jenny a observa também.
CENA 4
Jenny entrega o objeto á Isa, que realiza o seu ato enquanto jenny ainda á olha.
CENA 5
Felipe recebe seu objeto de Jenny como aconteceu com os outros . Realiza o seu ato simbólico .
Jenny o observa de longe.
47
CENA 6
Kelvi recebe seu objeto das mãos de Jenny e realiza o seu ato. Jenny o observa também.
CENA 7
O objeto de Milena é entregue á ela pelas mãos de Jenny. Milena realiza o ato simbólico. Jenny á
observa.
CENA 8
Angel passa pela barraca de paz e recebe seu objeto de Jenny. Realiza o seu ato simbólico e se
sente mais leve após tal ato. Jenny á observa.
CENA 9
Cristina passa em frente a barraca e Jenny se apresa ao estender seu objeto á ela, Cristina realiza
seu ato simbólico e Jenny vê de longe.
CENA 10
Nicolas recebe o seu objeto, realiza o ato simbólico e Jenny o observa também.
CENA 11
Jenny após observar todos os atos, sente-se “alegre” e a fim de se perdoar, enquanto caminha por
uma rua inundada de pessoas, tira seu colar do pescoço e realiza o seu ato simbólico.
48
8. Espera : isso é ballet ? Criar um filme com o corpo
O interesse a respeito de processos que envolvem o teatro e o cinema, compartilhado com
Letícia Araújo15, levou-me a convidá-la para estar conosco no processo. Durante as duas
primeiras semanas de julho meus alunos tiveram um treinamento corporal com ela. Foi um
processo de confiança mútua : ela viu que eu tinha muita confiança nos meus alunos para
promover esse espaço de trabalho com ela e, ao mesmo tempo, ela passou a ter muita confiança
em mim justamente por eu abrir esse espaço para ela num processo tão importante para mim.
Acompanhei de perto todo o percurso anotando, participando dos exercícios ou fazendo
comentários no sentido de apoiar a condução de Leticia e a compreensão das instruções pelos
alunos. As atividades foram desenvolvidas a partir de dinâmicas de treinamento corporal com
influência da dança-teatro. Pina Bausch foi a principal referente deste trabalho.
Atividades intensivas de preparação corporal (julho)
○ Oficina de duas semanas conduzida por Leticia Araújo
○ Desenvolver
exercicios
de
improvisação
de
cena
a
partir
dos
temas/situações/relações trabalhadas em junho.
○ Experimentação e retorno das práticas para as propostas do roteiro
Planejamento do Treinamento (Dodi e Leticia)
Segunda-feira 02-07
Conhecer o corpo pelo movimento e contato de articulações, músculos e ossos
- massagem em dupla
- sobe-desce decupado
- sobe-desce tempo marcado
15
Letícia Araújo é aluna do segundo ano do curso de Licenciatura em Artes Cênicas da ECA-USP. Leticia participa
do LAPETT - Laboratório de Pesquisa e Estudos em Tanztheater na mesma instituição.
49
Terça-feira 03-07
- Treinamento
- Texto
- Escrita automática
- Sequência desdobrada com o texto
- Composição em grupos
(Pedir que tragam um objeto que represente uma dor)
Quarta-feira 04-07
- Treinamento
- Roda dos objetos
- Observação de gestos e vocalidades
- Criar uma sequencia com mote nas histórias
Quinta-feira 05-07
- Treinamento
- Pesquisa com os objetos (peso, textura, movimento)
- Cena núcleo para o roteiro. Objeto e movimento. Apresentação na rua.
- Ato simbólico com os objetos
Segunda-feira 09-07
ensaio remarcado
50
Terça-feira 10-07
- Treinamento + recuperar sequência
- Dinâmica de encontros pelo olhar
- Contar a história em duplas
- Transmitir pro grupo as sensações e a história
* registro das roteiristas sobre as histórias
Quarta-feira 11-07
- Treinamento
- Exercício das 4 direções + uma fala de cada um + falas espontâneas
* registro das roteiristas sobre as falas espontâneas
- Praticar a sequência
- Criação de cenas em duplas a partir das sequências (usando objetos, usando os registros textuais
das roteiristas). Objetivo : manifestação mútua das dores
Quinta-feira 12-07
- Treinamento
- Escolha de local
- Ensaio nos locais
A seguir o relato de Gabii Callis16 a respeito do processo de treinamento corporal com a
Leticia :
Quando nosso treinamento de dança-teatro começou intensamente, ele veio como
justificativa a todo nosso trabalho, pois começamos a nos expressar com o corpo e a
sentir nossos movimentos. Nos encontros, nós criávamos e reproduzíamos coreografias
que diziam muito sobre nosso sentimento do momento e o espaço em que estávamos em
contato. Além disso, nós descobríamos o corpo com o tato, e através disso, tivemos mais
contato com a nossa dor.
Depois de sentirmos todo o processo, tivemos que relacionar nossa dor com um objeto:
que estava presente na dor, que tivéssemos um apego e não quiséssemos nos livrar.
16
Gabii Callis atuou como assistente de direção e atriz no processo experimental. Para escrever o relato do
treinamento contou com o apoio de Karoline Oliveira (produtora e atriz) e Milena Pires (roteirista e atriz).
51
Agora que tínhamos nossa dor em um meio material, tivemos uma dinâmica onde
caminhamos pelo centro em horário comercial e, a proposta era: observar os
movimentos e falar das pessoas que passavam apressadas e tentar ver a dor delas através
disso. Ao fim, montamos uma coreografia em cima do que vimos que entrou para o
filme.
Em um dos encontros, nos dividimos para compartilhar nossos objetos: entrega-lo a uma
pessoa do grupo. Foi a primeira vez que nos sentimos a vontade para falar abertamente
da dor. Poderíamos ou não, contar sobre ela. Porém, além de tudo, havia um critério: a
pessoa só poderia aceitar o objetivo se sentisse algo em relação a dor que viria com ele.
Após todo esse processo, os participantes relataram um bem estar e uma leveza no
corpo, ganhamos uma amizade e também serviu para fortalecer laços e a resolver mal
entendidos, como por exemplo, Karoline e Gabriela que não se gostavam e nem se
entendiam, porém hoje, graças a todos esses encontros, foi estabelecido uma grande
amizade.
Ilustração 11: Alunos em manhã de treinamento na ONG Ação Educativa
A seguir o relato de Letícia Araújo17 a respeito de sua participação no processo :
17
Trata-se de um e-mail enviado à Sayonara Pereira, professora do Departamento de Artes Cênicas da USP e
coordenadora do LAPETT, no dia 12 de julho, último dia de treinamento em que fizemos um encontro estendido, de
6 horas aproximadamente. Nesta mensagem, Letícia comenta como foi para seu envolvimento mencionando que se
impressionou com o impacto que teve com os alunos.
52
Queria aproveitar tbm pra compartilhar com você uma experiencia muiiito legal que tive
durante essas duas primeiras semanas de férias. Um amigo do cac que está se formando,
me convidou para participar do tcc dele, que consiste em fazer um curta metragem com
adolescentes de 14 anos. A minha funçao durante essas duas semanas era dar um
treinamento corporal e trabalhar também com os temas do curta. E foi simplesmente
incrivel!!
Procurei trabalhar com eles a dança-teatro. Fiz uma primeira parte onde aquecíamos,
entao trabalhei algumas sequencias, e na parte criativa do encontro dava-lhes um
estimulo pra criar sequencias ou desdobrar alguma outra. Em um dos nossos encontros
fomos a rua, onde observaram os gestos e propuseram uma sequencia em cima do que
viram. Fiquei muito impressionada. Propuseram coisas muito divertidas e interessantes.
Além da forma com que me receberam e receberam meu trabalho e minhas propostas.
Hoje finalizamos o trabalho e discutimos um pouco como foi tudo, como chegou pra
eles isso, e estavam muito contentes, perceberam diferença no corpo, descobriram partes
do corpo e quais são seus próprios limites. Uma das meninas disse que ia abaixar pra
pegar o controle e fazia isso derretendo e contando em oito , e a outra disse que ficava
sentindo a brisa enquanto tomava banho , heheeh e estavam empolgados compartilhando
com a mãe, a tia, o irmão, e buscavam "organizar" o corpo ... achei tao divertido e fiquei
mt feliz com isso. São adolescentes que não tem nem muito contato com o teatro e nem
com a dança, mas que se dispuseram pro trabalho e procuraram crescer com ele. Por ver
tbm que por essas duas semanas foi possivel deixar algo pra eles que fizesse diferença
em suas vidas. enfim .. hehe ;)
53
9. Mutualidade em gravar e montar : ter e dar apoio para criar
juntos18
Dodi, nosso diretor, conhecia a filha da dona de uma pizzaria que, assim que soube do
curta metragem que estava a ser feito, ofereceu o local da pizzaria para gravações. Mesmo após
essa oportunidade, continuamos a procurar mais opções de locais para gravação, porém no final
escolhemos o local oferecido pela amiga do Dodi.
Antes mesmo das gravações, discutimos com a diretora artística, numa CMP, o figurino
dos atores. Após uma longa conversa com várias ideias e opções em mente, escolhemos algo que,
particularmente, acho que chama atenção: pijamas! Logo feito a escolha, fomos na ECA USP
selecionar alguns pijamas que poderiam ser usados. A diretora artística e outros atores também
disponibilizaram pijamas.
Ilustração 12: No figurino do CAC-ECA-USP, da esquerda para a direita, Isabelle, Jenniffer, Karoline e Gabii
18
Capítulo escrito por Gabii Callis (assistente de direção e atriz).
54
Ilustração 13: No figurino do CAC-ECA-USP, da esquerda para a direita, Gabii, Isabelle, Jenniffer e Dodi
Ilustração 14: No figurino do CAC-ECA-USP, Gabii e Ilustração 15: Dodi, Karoline e Gabii
55
No primeiro dia de gravação19, todos os atores foram para a pizzaria escolher o pijama
que usaram, e, nesse dia também, foi feita a compra da claquete que ficou sendo uma lousa. O
primeiro dia foi mais usado para testes e ensaios.
Logo nas gravações, surgiram diversos problemas, como câmera sem bateria,
as vezes policiais iam pra comer na pizzaria e conversavam muito alto, a dona da pizzaria as
vezes nos interrompia pois se preocupava com o espaço e o horário, foi difícil marcar algumas
gravações por alguns atores não irem, atores passando frio, objetos perdidos, atores atrasados, a
falta de storyboard e atores que esqueciam seus objetos do ato simbólico.
Ilustração 16: Plano mergulhado na pizzaria onde se passam as cenas do Ato I do filme Tome Perdão
19
Passamos um mês e meio (de agosto a meados de setembro) gravando nas tardes de terças-feiras na pizzaria Italia
na Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 241, Vila Buarque.
56
Ilustração 17: Atores posicionados para a gravação de uma cena com coreografia de pijama na pizzaria
Ilustração 18: No intervalo de uma gravação os atores foram dar uma volta de figurino na Rua da Consolação
57
Ilustração 19: Em uma das cenas individuais do Ato I Milena está deitada em baixo de um banco
Nas gravações no Ibirapuera, houve um desentendido com um rapaz que quis tocar no
violão da Milena enquanto estava alterado, o que, consequentemente, interrompeu as gravações e
acabou gerando discussões que envolveram o diretor e a assistente de direção, que precisavam do
espaço, tempo e som para prosseguir a gravação. Porém, após uma longa conversa entre a
assistente de direção e o rapaz, ele aceitou se retirar.
58
Ilustração 20: Um dos últimos momentos do dia de gravação no Parque do Ibirapuera. Da esquerda para a direita :
Milena, Gabii, Jenniffer e Karoline. Isabelle no fundo.
Ilustração 21: Roteiristas-atrizes-compositoras do filme Milena e Isabelle desfrutando intervalo de gravações no
Parque do Ibirapuera em 7 de setembro.
59
As gravações não foram rígidas em questão dos horários; a equipe curtia e aproveitava
cada momento que passava, não só como uma equipe de produção, como também como amigos.
A relação do diretor com a assistente de direção foi bem precisa e liberal ao mesmo
tempo: além de termos bastante parceria nas gravações, como por exemplo, a assistente dizer os
comandos (luz, câmera, som e claquete), e em um dos dias de gravação em que o diretor estaria
ausente, ela assumiu todo o papel de direção, que apesar de ter tido muita insegurança, foi
bastante encorajada um pouco antes da data para gravação, com o apoio de atores e da equipe de
produção.
No Ato 3, nas gravações na Roosevelt, ao qual os atores precisavam de alguém para fazer
o ato simbólico, e, assim, a assistente de direção falava com as pessoas em que eles (atores) se
identificavam; foi uma pequena forma de apoio da direção com os atores.
Ilustração 22: Jenniffer Diniz, atriz que desempenhou Jenny (a protagonista da história), fez fotos na Praça
Roosevelt para a divulgação do filme.
60
10. Professor, daqui pra frente fazer arte é irreversível : o
desabrochar das habilidades e o fortalecimento de disposições
prévias
Finalizo esse texto com o título do capítulo com teor auto-explicativo. Não tenho dúvidas
de que mexeu com todos as minhas aulas no Fidelino e que a experiência com a arte foi para
muitos dos alunos a primeira significativa de suas vidas. No grupo experimental criei um espaço
em que pudemos ter a segurança e a autonomia necessárias para desenvolver um processo
artístico com temas profundos para os participantes. Percebo o imenso aproveitamento do
processo por parte daqueles que já tinham conhecido para si o sentido do fazer artístico mas não
haviam tido ainda oportunidade de criar em grupo de forma sistematizada, com orientação de um
diretor, sustentados por vários meses e com expectativa de elaboração de uma obra artística
bonita e alinhada aos seus valores.
Tivemos imenso prazer, curtimos muito ! Prova disso é o projeto Bonde do Dodi Móvel
que ainda está por ser realizado. Anaïs, criadora da letra da música que embalou o trajeto dos
atores em algumas gravações comenta :
A ideia do “Bonde do Dodi Móvel” surgiu na brincadeira, quando voltávamos de uma
gravação, todos amontoados no carro do Dodi, cantando músicas de todos os gêneros, e
eu ironicamente sugeri que fizéssemos um funk que representasse a situação em que
estávamos.
No dia seguinte, em casa, sem nada pra fazer, lembrei-me desta conversa e decidi
escrever a letra. Apresentei para o pessoal, que adorou e logo quis gravar um clipe da
música.
A letra não sofreu alterações, mas ganhou diversas versões em outros idiomas, como o
francês, que decidimos incluir como um “mix” na música.
Infelizmente, não sobrou tempo para gravarmos antes da finalização do curta o clipe do
“Bonde do Dodi Móvel”. Mas a ideia, além de ser super legal, mostra os momentos de
descontração de nossa equipe, e reflete como foi divertido fazer parte deste trabalho.
61
A versão original do Bonde do Dodi Móvel segue :
Bonde do Dodi Móvel – vem pra sétima arte !
por Anaïs Goedert
Essa é a produção
Que chegô pra abalá
Com o Dodi dirigindo
Vamo tê que trabalha
Pôe o pijaminha
E tenta atuá
Faz o que o Dodi pede
A Anaïs vai te filmar
(refrão)
Então vem! vem!
Pódi fazer parti
Filma um curtinha
Da sétima arte
Então vem! vem!
Vem pro Dodimóvel
Não tem muito espaço
Mas vem que você pode
62
Destaco que grande parte do sucesso do processo do grupo experimental deve-se à
qualidade da relação pessoal estabelecida entre todos. Na contramão de um enfoque produtivo,
priorizamos a conexão e cuidamos uns dos outros. Além do fortalecimento das relações já
existentes antes do processo, o grupo gera como fruto não apenas o filme e seus subprodutos mas
uma sensação poderosa de que estamos e queremos continuar nos dedicando àquilo que mais
gostamos.
63
11. Referências
ARRABAL, Fernando. El pánico - Manifiesto para el tercer milenio. Zaragoza : Libros del
Innombrable, 2008.
AUMONT, Jacques. A Estética do Filme. Campinas : Papirus, 1995.
CARSE, James P. Jogos finitos e infinitos - a vida como jogo e possibilidade. Rio de Janeiro :
Nova Era, 2003.
FARRINGTON, Reid. Reid Farrington: Gin &"It". (O vídeo está disponível no endereço :
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12. Apêndice
DVD com quatro filmes :
- A uma passante, dirigido por Gabii Callis no quadro das aulas de artes do Fidelino;
- Histórias de amor duram apenas 27 dias, dirigido por Angel Guenz no quadro das aulas de artes
do Fidelino;
- Annie, dirigido por Beatris Duraes no quadro das aulas de artes do Fidelino; e
- Tome Perdão, dirigido por Dodi Leal no quadro do grupo experimental.

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