Reportagem Especial Mensagens de apoio na despedida

Transcrição

Reportagem Especial Mensagens de apoio na despedida
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ATRIBUNA VITÓRIA, ES, QUARTA-FEIRA, 01 DE MAIO DE 2013
Reportagem Especial
PERIGO NA INTERNET
Polícia investiga mensagens
Delegado disse que
e-mails e diálogos em
redes sociais estão
sendo monitorados.
Jovem de Guarapari se
enforcou no domingo
Eliane Proscholdt
Francine Spinassé
Rosimara Marinho
pós a morte de Allan Neves
Brandini, 16 anos, que se enforcou no último domingo
dentro de casa, em Guarapari, a
polícia fez uma revelação: mensagens na internet que incentivam
suicídio de outros jovens também
estão sendo investigadas.
A diferença é que Allan seguia
uma seita satânica, segundo seus
pais. O detalhe apurado até agora,
com base em relatos de parentes
do jovem, é que não existia um site
específico para essa seita.
A instigação ao suicídio era postada nas redes sociais e compartilhada por centenas de amigos virtuais de Allan, inclusive de outros
estados e do exterior.
Nos outros casos, que estão sendo rastreados pelos policiais da
Delegacia de Repressão aos Crimes Eletrônicos, não há relatos de
seita satânica.
O titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Eletrônicos,
delegado Leandro Piquet, contou
que as denúncias feitas por jovens
e por pais mostram que o incentivo ao suicídio chegava por meio de
mensagens enviadas para e-mails
das supostas vítimas e postadas
em redes sociais.
Pensando na segurança das vítimas, o delegado disse que não poderia informar mais detalhes e
nem a quantidade de denúncias.
“Posso afirmar que temos mais
de um caso. As vítimas são do Estado. Já os responsáveis pela instigação ao suicídio são daqui e de
outros estados. Por enquanto, não
temos evidências da participação
A DOR DOS PAIS
GUSTAVO FORATTINI - 29/04/2013
A
Braço cortado
Seita satânica
“Um dia cheguei em casa e Allan estava sentado na
rede, com os olhos pintados de preto e com o braço todo
cortado e o sangue pingando. Não parecia meu filho, ele
estava muito estranho.”
“Meu filho usava até as unhas e uma faca para cortar
os braços e as pernas. Acredito que ele foi incentivado
pela internet por integrantes dessa seita satânica que
infelizmente seguia.”
Beatriz Dias Neves, 38 anos, mãe de Allan Brandini
Alexssandro Brandini, 39 anos, pai de Allan
de pessoas de outros países, mas
estamos atentos e rastreando tudo.
Estamos preservando outros detalhes para a segurança de todos.”
Leandro Piquet, que também está auxiliando nas investigações da
morte de Allan, aguarda o depoimento oficial de familiares, assim
como o computador, pendrive e
celular do jovem, entre outras provas, para apurar a materialidade
dos fatos.
Com esses dados, ele poderá
chegar a supostos integrantes dessa seita satânica que podem ter in-
centivado Allan a se matar.
INQUÉRITO
O titular da Delegacia de Crimes
Contra a Vida de Guarapari, Robson Damasceno, que preside o inquérito policial instaurado ontem,
também irá averiguar as redes de
relacionamento de Allan, assim
como os conteúdos publicados
com o intuito de observar se houve
incentivo de terceiros.
Ele irá apurar ainda se o adolescente realmente estava só quando
se pendurou no puxador da janela.
ALLAN participava de seita satânica
Mensagens de apoio na despedida
Na última despedida, na manhã
de ontem, três pastores falaram
mensagens de apoio aos pais e familiares de Allan Neves Brandini.
O pai do adolescente, o técnico
em instrumentação Alexssandro
Brandini, contou que cerca de 100
pessoas foram ao sepultamento,
no cemitério Parque Paraíso, em
Guarapari.
“Nas palavras, com base no
evangelho, os pastores destacaram
REPRODUÇÃO TV TRIBUNA
FAMILIARES
E AMIGOS de
Allan durante
velório em
Guarapari:
comoção e
solidariedade
aos pais
durante o
último adeus
que não podemos nos precipitar
em julgar o caso de Allan.”
Ele disse ainda que no último
domingo à noite foi feita uma revelação em uma igreja evangélica em
Vila Velha, no momento em que os
fiéis oravam por Allan, a pedido de
um parente do jovem.
“Eles sentiram que estava acontecendo uma batalha, um confronto entre o bem e o mal. Saber das
orações e que Deus lutou pela vida
do nosso filho nos dá um conforto
imenso”, revelou o pai.
Após o enterro, a mãe de Allan, a
diarista Beatriz Dias Neves, viajou
para Minas Gerais e vai passar alguns dias com familiares. “Não
adianta ficar dentro de casa, pois
para cada canto que olho eu vejo
meu filho, e a dor aumenta, principalmente quando olho a janela e o
cômodo onde o encontrei morto.”
Alexssandro reafirmou que fez
de tudo para tentar ajudar o filho.
“Tentei por várias vezes tirá-lo
desse mundo obscuro, que é a internet. O incentivava a voltar para
a escola, coisa que ele não fazia há
dois anos. Estendemos as mãos diversas vezes, procuramos ajuda de
um psiquiatra. Foram muitos diálogos, demonstração de amor,
sempre falando sobre o evangelho,
mas de nada adianta se o jovem
não aceita ser ajudado.”
Com a voz trêmula, ele contou
que no próximo domingo pastores
iriam em sua casa orar pelo filho.
“Infelizmente, não deu tempo.”
“O Allan sempre
me chamava
para jogar”,
diz adolescente
Um estudante de 12 anos contou
que Allan Neves Brandini, 16, o
chamava para jogar no computador e que os dois estiveram juntos
brincando durante o final de semana: sábado e domingo, horas
antes do amigo se matar.
Allan e o estudante jogavam no
computador jogos como “Call of
Duty” e “Half Life”, jogos de tiro
que têm a missão de acabar com os
inimigos que estão a sua frente.
O estudante disse que Allan foi
quem o ensinou a jogar e a usar o
computador. “Ele era o meu melhor amigo. Estou muito triste com
o que aconteceu.”
Apesar da pouca idade, o estudante acredita que a morte de Allan tenha relação com a influência
dos amigos virtuais.
“Acredito que o que aconteceu
com Allan tem a ver com os amigos
que ele fez na internet. Eles cortam os braços, pintam os cabelos,
gostam de rock pesado”, contou o
estudante.
O menino disse ainda que no domingo, após jogar algumas partidas de “Half Life”, Allan foi embora da casa de sua tia, no final da
tarde, sem se despedir.
“Vou sentir muita falta dele, porque por aqui não tenho amigos
perto. É legal ter pessoas que gostam da mesma coisa que agente.
Na escola tenho amigos, mas moram todos longe.”
A avó do estudante, uma dona de
casa de 52 anos, que pediu para
seu nome não ser divulgado, contou que chegou a conversar com
Allan e que ele teria dito que estava
deprimido.
Preocupada, ela faz um apelo
aos pais. “Não deixem seus filhos
acessarem a internet sem monitorá-los, jogarem esses jogos de matar, em que um atira no outro e não
se sabem quem é amigo e quem é
inimigo. Eu acredito que a internet
tenha influenciado o Allan a fazer
isso”, disse a dona de casa.
ROSIMARA MARINHO
AMIGO de Allan junto com a avó

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