Cartas de La Salle - Extrato Circular nº 335
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Cartas de La Salle - Extrato Circular nº 335
1 CARTAS DE SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE PRIMEIRA PARTE OS TEXTOS Extrato da Circular Nº 335 26 de janeiro de 1952 2 CARTA Nº I Janeiro de 1711 - Para o Irmão Anastásio 1. Aplique-se, caríssimo Irmão, acima de todas as coisas a ter em tudo motivos de fé para fazer bem suas ações. 2. Estou muito contente porque todo o seu objetivo e intenção é fazer a vontade de Deus. 3. Para consegui-lo, aplique-se acima de tudo a ter uma inteira submissão e a observar bem suas regras, pois é nisto especialmente que você cumprirá a vontade de Deus. 4. Entregue-se muito à oração e procure fazer todas as suas ações por espírito de oração. Quanto mais você for fiel nisto, tanto mais Deus o abençoará. 5. Entre muitas vezes dentro de si mesmo para renovar e fortificar em si a lembrança da presença de Deus. Quanto mais você procurar conservá-la, tanto mais facilidade terá para fazer bem suas ações e a cumprir bem seus deveres. 6. Estou muito feliz pela disposição que me diz encontrar-se de fazer tudo o que eu desejar de você. 7. Rogo a Deus para que lhe comunique abundantemente o espírito de seu estado e sou, em Nosso Senhor, caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 3 CARTA Nº 2 Para o Irmão Bartolomeu (Mestre de Noviços) 1. Vi, em S. Yon, que você andava com os braços pendentes com negligência. Isto é uma vergonha para um mestre de noviços que deve, em todas as coisas, ser o modelo daqueles que instrui. 2. É necessário que você caminhe pausadamente, com os braços cruzados e que não tolere que seus noviços caminhem de outra maneira. …… CARTA Nº 3 Para o Irmão Bartolomeu (Superior Geral) - Do Seminário de S. Nicolau do Chardonet, 17 de janeiro de 1718 1. O Irmão Tomás me disse que hoje iria embora, meu caríssimo Irmão. 2. Ele me pediu um recibo das rendas de você e que eu declarasse que essas rendas agora pertencem aos herdeiros da Sra. De Louvois; e alguns dias antes, tive de dar outro recibo simples. 3. Peço-lhe que não leve em conta esses dois recibos, nem um nem o outro, senão na medida em que 4 sejam de seu agrado, pois fiz uma declaração, como você exigiu de mim por ocasião de sua última viagem, por volta da festa da Conceição da Santa Virgem, pela qual declarei,, a onze de dezembro último que os quatro contratos de rendas concedidas pela cidade de Ruão, não me pertencem e que apenas prestei meu nome, mas que elas pertencem aos Irmãos das Escolas Cristãs da casa de S. Yon, no bairro de Saint-Sever, da mesma cidade e que o dinheiro para isso foi arranjado por Charles Frapet, chamado Irmão Tomás, na época, ecônomo daquela casa e depositei essa declaração por mim assinada nas mãos do Sr. Berton, Procurador deste seminário que se encarregou dela. 4. Acerca da casa de S. Yon, como você me pede minha opinião a respeito de você a comprar ou não, ou de que maneira, não leve em conta o que o Irmão Tomás lhe possa dizer ou dar a entender de minha parte ou de mim; oriente-se apenas por aquilo que lhe digo nesta carta, a saber: não posso aconselhar você a esse respeito e você deve consultar algumas pessoas mais esclarecidas do que eu, pois o negócio é de muita importância. 5. Pense nisso bem ponderadamente, visto que o negócio ainda não está terminado. 6. Não lhe aconselho tomar dinheiro emprestado para comprá-la. Contudo, não lhe digo absolutamente de não o fazer; você pode consultar outras pessoas neste assunto. 7. Acredito que o que você fizer neste assunto será bem feito. Não convém que eu participe destes ne- 5 gócios; neste assunto eu não sou nada e você, como superior, é o dono. 8. Quanto às pessoas que você me pede visitar, se quiser, eu as visitarei; isto suposto, tenha a bondade de me dizer por escrito que mo ordena como meu superior e o dos Irmãos e irei vê-las imediatamente ou no primeiro dia feriado, e lhes direi que você me mandou visitá-las. 9. Desejo-lhe um bom e feliz ano, bem como a todos os Irmãos que saúdo. 10. Sou, com muito respeito, caríssimo Irmão, seu muito humilde e muito obediente servo. De La Salle. CARTA Nº 4 Para o Irmão Bartolomeu (Superior geral) - Março de 1718 1. Estou lhe escrevendo, meu caríssimo Irmão, muito surpreso por ver o seu noviciado no estado em que se encontra: dois ou três noviços que não são formados a nada e que observam as regras como se acabassem de entrar na casa. 2. Além disso, há cinco postulantes, escravos de suas paixões e quase não têm nenhum exemplo. 3. Como o novo mestre de noviços também não é formado para seu emprego e como quase não sabe 6 o que fazer, nem o que os noviços devem fazer, ele diz que nem ele, nem os noviços têm regra alguma. 4. Não creio ter visto, pelo menos desde muitos anos, um noviciado assim na comunidade e você pensa fundar com isto novos estabelecimentos! 5. Inclusive há queixas de que os noviços que estão em Ruão não têm muito o espírito de seu estado e não se importam das coisas pequenas. 6. Por favor, trate de remediar a tudo isso o mais breve possível, pois você sabe que a consolidação do Instituto depende dos noviços bem regulares. …… 7. Estou em condições de participar dos principais exercícios como os outros, de dormir no dormitório comum e de comer como os outros no refeitório. Por favor, não se oponha a isso. 8. Estamos aguardando você em breve, pois esta casa tem necessidade de sua presença. 9. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, etc… 7 CARTA Nº 5 Para o Irmão Bartolomeu - Superior geral (Outubro de 1717 - maio 1718) … 1. Após tanto tempo ter feito muito pouca meditação, tenho a firme idéia de aplicar-me muito a isto agora, para reconhecer a vontade de Deus sobre o que eu tenha de fazer. 2. Parece-me que o que devo pedir a Deus na oração é que ele me dê a conhecer o que ele deseja que eu faça e me ponha na disposição em que ele me quer que eu esteja… CARTA Nº 6 Para Ir. Bartolomeu - Superior geral - [depois de 1717] …… Absolutamente não convém tratar com esta espécie de pessoas e menos ainda depender delas. …… (tratando dos partidários das doutrinas jansenistas) 8 CARTA Nº 7 Para Irmão Bartolomeu, Superior Geral (Depois de maio de 1717) …… Você sabe que sempre estou pronto a lhe obedecer em tudo, já que agora vivo na submissão e não fiz voto de obediência para fazer o que me agrada. CARTA Nº 8 Para Irmão Bartolomeu (Superior Geral) Se me consideram unido aos Irmãos das Escolas Cristãs, parece que minha situação atual deve reduzir-se a uma simples submissão, sem dar um passo no que lhes diz respeito, a não ser por dependência. 9 CARTA Nº 9 Para Irmão Clemente - a 26 de junho de 1706 1. Estou muito satisfeito, meu caríssimo Irmão, porque seu reumatismo está curado. Por favor, tenha cuidado de ser muito prudente e de se conformar em tudo com a vontade de Deus e principalmente estar numa submissão não só exterior mas também interior. 2. Evite cuidadosamente bater os alunos com a mão. Você sabe que isto é uma coisa proibida pelas regras. 3. Muito me alegro porque você tem um bom confessor e que ele lhe dá conselhos muito bons. Procure tirar proveito disso enquanto o tiver. 4. É de grande importância para você, se quiser tornar-se interior, ser muito mortificado de espírito e de olhos. É quase impossível que você progrida muito na virtude sem estas duas espécies de mortificações. 5. Anime-se bastante a ser indiferente na obediência. Esta é uma das coisas que lhe alcançará o maior número de graças de Deus. 10 6. É uma boa prática ler muitas vezes as regras a fim de ser absolutamente fiel a elas. Você sabe que a observância delas lhe alcançará a santificação. 7. Ter em vista a Deus em seus exercícios contribuirá ao máximo que você os faça bem. Deus não exige somente o exterior de nossas ações; ele quer que sejam feitas com disposições interiores. 8. Em seu exame particular, tome somente um defeito, por vez, e isto vários dias consecutivos. 9. Se você sabe que meios devo tomar para impedir as escolas de nossos Irmãos se destruírem, você me faria um prazer de mo fazer saber, pois é preciso fazer de modo que subsistam. 10. Creio que se devem despedir os alunos que não são assíduos e que chegam atrasados, pois tolerar uma coisa e outra é uma desordem nas escolas. 11. Nas férias veremos que poderemos fazer para você ter um Diretor. Até lá faça o que sua consciência lhe mostra ser o melhor. 12. Você não deve conformar-se com os Irmãos quanto à comida, a menos que se sinta completamente bem. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle. 11 CARTA Nº 10 Para o Irmão Dionísio - 30 de maio de 1701 1. Parece-me, caríssimo Irmão, que você não deve preocupar-se tanto de seus pensamentos que lhe vêm acerca de sua situação, pois, quanto mais se preocupar, tanto mais sofrimento lhe causarão. 2.Procure o máximo de aplicação interior quanta lhe for possível, pois somente ela é capaz de santificar-lhe as ações. 3. Faça também que a santa presença de Deus lhe seja freqüente, pois é o principal fruto da oração, mas ela lhe servirá de pouco, se não se der ao trabalho de mortificar-se e se você procurar coisas que lhe dão satisfação. 4. Não basta ter o pensamento de ir a Deus o mais perfeitamente que lhe for possível; é preciso fazê-lo de fato, e só se o faz de fato na medida em que cada um se faça violência. 5. Não me admiro de que você encontre muitas dificuldades nas regras; é o seu costume de as observar pouco que faz você achá-las assim. Se você as observasse exatamente, encontraria facilidade e gosto nelas. 6. É também pelo mesmo motivo que você sente desgosto pela santa comunhão. 7. Peço-lhe que não falte nos recreios. É uma coisa muito importante. Entendo que você passe o recreio 12 com o Irmão Cláudio enquanto deixa os dois jovens Irmãos sozinhos; isto é muito ruim. 8. Muito me alegra seu abandono a Deus e sua indiferença para qualquer lugar que seja; ela também é necessária em nossa comunidade. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 11 Para Irmão Dionísio - 8 de julho [1708] 1. Longe de mim tê-lo abandonado, meu caríssimo Irmão; se não lhe respondi, na última vez, ao mesmo tempo que aos Irmãos de Ruão, foi porque não tive tempo; aliás, há mesmo dois Irmãos aos quais não pude responder assim como a você. 2. Não é preciso comprar tecido para fazer uma batina; aqui há uma feita para você e nada lhe faltará. 3. Gostei que você tenha tirado seu pai de apuros. 4. Estou aborrecido porque o Irmão Tomás procede como você me diz. Farei de modo que ele mude de proceder neste assunto. Não é verdade que escrevi ao Irmão Tomás o que você me diz a respeito das necessidades, visto que me queixei a ele porque não fornecia o que os Irmãos precisam. 13 5. Você deveria tomar muito cuidado para não ser negligente nos exercícios. Este não é o meio de [Deus] o abençoar. Não se tem virtude sem se fazer violência e não se trata de ter apenas um verniz de virtude, a sua precisa ser sólida, e não é seguindo seus caprichos e procurando-os que alguém a adquire. 6. Gostei muito que você pratique, às vezes, as mortificações do espírito e dos sentidos, mas é preciso que você faça de modo a praticá-las na ocasião em que elas se apresentarem. 7. Seja exato no silêncio por amor a Deus. este é um dos principais pontos de regularidade. 8. Uma prática de grande utilidade é aplicar-se à presença de Deus; seja fiel a isso. 9. Nada atrairá tanto as bênçãos de Deus sobre você do que a fidelidade às coisas pequenas. 10. Acima de tudo tenha cuidado de recitar pausadamente as orações e que assim sejam recitadas na escola, pois é a atenção que se tem nas orações vocais que as torna agradáveis a Deus. 11. Procure não se impacientar com seu Irmão, fale com ele sempre com educação. 12. A oração é o sustentáculo da piedade; por isso, tenha muita aplicação nela. 13. Seja muito exato em deixar tudo e todas pessoas assim que o sino tocar. 14 14. Termine em poucas palavras com as pessoas que vêm à porta da escola, a fim de não fazer perder tempo aos alunos. 15. Seja exato em corrigi-los, mais ainda os ignorantes do que os demais. 16. É uma vergonha chamá-los com apelido injurioso. Cuide para que o respeito humano não o impeça de fazer o bem. É muito vergonhoso dar apelidos injuriosos aos alunos, isto também é um exemplo muito mau para eles. 17. Você sabe que alguém só avança na virtude na medida em que se impõe violência; por isso, tenha cuidado de fazê-la. 18. Aplique-se muito à mortificação do espírito e dos sentidos, que são, para você, de obrigação em seu estado. 19. Na advertência dos defeitos, você não deve considerar o motivo dos outros; é preciso considerar o bem que disso resulta. 20. Sem dúvida que se pode observar as regras só com duas pessoas. Gostei porque você procura ser exato nisto. Bendigo a Deus pelos bons sentimentos que ele lhe dá neste assunto. 21. A intenção que você tem em seus exercícios é boa, continue assim. 22. Um grande defeito é fazer sua leitura espiritual por curiosidade e este não é o meio de torná-la proveitosa. 15 23. Quando você julgar que está seco na oração, humilhe-se. 24. Você tem razão que as afeições particulares produzem um grande mal a uma comunidade. 25. Estou muito contente porque você tem no momento um bom número de crianças. Tenha cuidado de o manter. 26. Vigie o Irmão para que ele não golpeie os alunos com a mão. Isto é importante. 27. Rogo a Deus para que mantenha você nas boas disposições e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 12 Para o Irmão Dionisio - 1º de agosto [1708] 1. Sinto muita pena em razão dos achaques que está sofrendo conforme diz, meu caríssimo Irmão. Você deveria se empenhar para encontrar algum meio de trazer remédio a isso. 2. Você deve aplicar-se à oração, quanto lhe for possível, pois este exercício é o que atrai ordinariamente as graças sobre os outros. 16 3. Você sabe que é uma vergonha falar com raiva; abstenha-se disso. Esses guardas não tinham, acaso, razão de ver o que você estava carregando? 4. Você não deve ir a S. Yon a não ser com os outros, nos dias feriados e você não tem nada a tratar com o Irmão Hilário, nem com os outros Irmãos que lá moram. 5. Não se irrite contra ninguém, isto não é educado nem cristão. 6.Tome cuidado para não ser leviano quando vai aos recreios com os Irmãos de Ruão, isto lhes é prejudicial. 7. Você está vendo bem que trabalhar para morrer a si mesmo e à suas inclinações é um bem para você. 8. Atente sobre si mesmo para aceitar bem as humilhações que lhe vierem assim, sabendo que é Deus quem lhas envia. 9. Meu caríssimo Irmão, para ter uma verdadeira obediência é preciso estar pronto a obedecer a todos os superiores. A dificuldade que você encontra nisso vem de você não considerar a Deus neles. 10. É bom que você se aplique à sua leitura espiritual. Ela lhe será de grande proveito e principalmente para lhe ajudar a fazer bem a meditação. 11. Preste atenção sobre si mesmo para não se entregar às distrações na meditação. Elas podem virlhe por você ser exterior demais; tome cuidado nisso. 17 12. Contam por aí que alguns clérigos, que encontraram você sozinho em Ruão, disseram que você não era um Irmão, mas um leigo que andava sozinho na cidade. Se isto é verdade, você está agindo muito mal. 13. Peço-lhe que não mais vá a Ruão fora dos dias feriados; e em companhia do Irmão e direto para São Nicolau, pois fora disso você não tem nada a fazer ali. 14. Encontrei de novo sua carta de 21 de abril. 15. Você fez mal em abandonar a escola para sair atrás de uma coisa destas que me propõe e lhe peço que iso não lhe aconteça mais. 16. Quando o Irmão lhe disser ou fizer alguma coisa inconveniente, não manifeste nada de seu lado e procure dominar-se, e depois poderá escrever-me sobre essas coisas. 17. Uma coisa em que você deve trabalhar principalmente é ser fiel às inspirações que lhe vêm e quando o incitam a vencer-se; este é um sinal de que elas vêm de Deus. 18. Já que você tem ocasiões de se humilhar quando está com o Irmão Roberto na cidade, manifeste então que você as ama e não siga então o que a natureza lhe sugere, para procurar eximir-se delas. 19. Seja fiel a sempre fazer sua leitura e a deitar-se na hora. Não falte nisto, por favor; nada pode dispensá-lo e que se observe bem a regra do silêncio. 18 20. Você precisa entrar muitas vezes em si mesmo, isto o impedirá de cair em seus defeitos. 21. Você faria bem em executar a idéia que lhe veio de permanecer como numa espécie de noviciado, a fim de só entregar-se às coisas interiores, seria de grande proveito para você. 22. Fiquei muito contente porque você deseja ardentemente que a vontade de Deus se cumpra em tudo acerca de você. 23. Seja exato aos seus recreios. Não permita a presença de alguma criança durante esse tempo. Para bem observar o silêncio é preciso fazer o recreio no devido tempo. 24. É preciso que seus alunos não digam coisas inconvenientes ao Irmão. 25. Procure que seus alunos sejam pontuais para chegar na hora e que venham aos domingos e festas. 26. Não deixe de cumprir o que lhe [lhe recomendo com insistência]. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 19 CARTA Nº 13 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 23 de dezembro de [1703] 1. Em resposta a sua última carta, meu caríssimo Irmão, direi que não entendo por que você hesita tanto, depois de todas as minhas cartas. Quanto a mim, não posso urgi-lo mais. 2. É você quem deveria me urgir a mim, e se você não tem muita diligência nessa obra, coisa que não está manifestando, você nunca conseguirá nada. 3. Não pretendo que você não custe nada, mas penso e [sempre] pensei que, depois de você ter começado, eu poderia contar que depois de seis meses ou um ano quando muito, você não nos custaria mais nada. 4. Não creio que você deva se imiscuir na dispensa dos votos do Irmão Gérardo. Ele é um dos espíritos mais inconstantes que conheço e que não é próprio para o mundo e teria sido apto para ser trapista. 5. Estou muito enfadado por não tê-lo deixado ali. Ele está sempre sem saber o que quer fazer. 6. Você já me expôs a despesa que deverá fazer. Você começará quando quiser. 7. Eu lhe ajudarei em tudo o que puder, mas parece-me que, para que a empresa tenha bom êxito, é 20 preciso que ela venha de você e não de mim e que eu apenas o apóie. 8. Você sabe que já gastei quatrocentos francos em seu favor, dos quais ainda não vejo nenhum resultado. 9. Por favor, faça que isso não aconteça mais. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 14 Para Irmão Gabriel Drolin -- Paris, 13.08.1704 1. Meu caríssimo Irmão, somente faz hoje oito dias que recebi sua última de 19 de fevereiro. 2. Ao ler sua carta, não pude compreender como pôde se meter lá onde me escreveu estar então, para se ocupar com ensinar a ler e a escrever a algumas meninas e para adotar maneiras mundanas. 3. Você não deve querer economizar dinheiro ao fazer coisas totalmente contrárias a seu Instituto. 4. Você teria feito melhor e fará bem se executar, assim que receber esta carta, o que em sua última disse que lhe permitiram fazer; pois lhe peço que não faça nada, custe o que custar, que não esteja conforme a seu Instituto, senão, Deus não o abençoará. 21 5. Examine bem esse cônego que lhe falou, se é um homem em quem se possa ter confiança e se tudo o que disse a você é coisa no ar. Se este Senhor quiser escrever-me, verei de que se trata e se podemos contar com ele. 6. Quanto a você, fique onde está e faça o que me propôs. 7. Parece-me que aquele lugar da cidade onde há pobres para serem instruídos e que carecem de instrução, é ainda melhor do que estar numa casa, ainda que fosse para instruir os pobres que podem encontrar alguém para instruí-los. 8. Estou sabendo perfeitamente que o Sr. Théodon vai ficar e que a Sra. Sua mulher vai partir em breve. Ela se encarrega com prazer de comprar e mandar-lhe fazer um hábito. 9. Não sei o que valem os quarenta escudos que me disse ter recebido. Peço-lhe que me faça as contas em libras e soles da França para que entenda o seu valor. 10. A Sra. Théodon diz que vai levar um Novo Testamento em língua vulgar. Você poderia ter um tão bem quanto ela. 11. Se ela não partir tão cedo, se você quiser, eu entregarei a ela um para você, se ainda não tem. Peço-lhe não comprar nem pretender obter um em latim. 22 12. Tive receio de que foram violadas as minhas cartas. A Sra. Théodon disse que esqueceu uma delas durante três semanas ou um mês. 13. Reze muito a Deus para que ele faça de você o que lhe aprouver. 14. É preciso que você esteja bem conformado com sua santa vontade e principalmente que não faça nada sem conselho. 15. Talvez o Sr. Langlois poderia transmitir-me as cartas de você e passar-lhe as minhas. 16. Peço-lhe acima de tudo que não faça nada que seja contrário a seu Instituto. 17. Peço-lhe que, sem demora, procure residência fixa, se ainda não tem. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 15 Para Irmão Gabriel Drolin - [outubro de 1704] 1. Recebi suas três cartas, meu caríssimo Irmão, uma pelas mãos do Sr. De la Bussière, a de 9 de setembro pelo correio e a terceira, de 16 de setembro, através do pároco de S. Hipólito. 23 2. Como não conheço o valor da moeda de Roma, quando você me falar de alguma quantia em suas cartas, especifique as quantias segundo o valor da moeda da França. 3. Não sei por que você diz que foi morar lá onde está para poupar gastos, porque, onde é que consegue poupar, já que, talvez deverá continuar a fazer despesas, como se você não tivesse feito a mudança? 4. De que lhe adiantou isto desde que você está ali? 5. Não sei se é porque você tem medo de se abandonar demasiado à Providência; não pense que eu o abandonarei. 6. Estão falando que o Sr. Théodon voltará em breve de lá, não sei o que há de verdade nisso. 7. Estou enviando um bilhete para pedir a ele que dê a você cinqüenta libras para conseguir residência fixa e prover às suas necessidades em seu estabelecimento. 8. Rogo-lhe, pois, que seja sem tardar, pois, quanto mais demorar, tanto mais você envelhece e no fim, nada! 9.Quando tiver estado um ano, dois anos, numa casa, do jeito como está agora, no fim disso tudo, onde está o progresso? 10. Você tem que resolver: ou voltar ou empreender alguma coisa lá onde está. 24 11. Você receberá, sem dúvida, esta carta um pouco antes da Dedicação de São Pedro. Faça uma novena nesta intenção, desde a véspera até o fim da oitava e depois, comece alguma coisa. 12. Tenha mais confiança em Deus. 13. Pagarei, em seu lugar, os aluguéis das casas que você alugar para isso, até que a Providência provier. 14. Há cerca de dois anos que você está em Roma. É preciso resolver-se a fazer alguma coisa e viver de acordo com sua vocação. 15. Não estou disposto a fazer ou a deixar você morrer de fome. 16. O Sr. Boudon de Rethel deixou duas mil libras de renda. Ainda não posso usufruir dela porque será apenas após a morte da Senhorita, sua irmã, que tem oitenta e cinco ou oitenta e seis anos; aparentemente não precisaremos esperar muito. 17. Somos muito pobres porque o Sr. Pároco de São Sulpício nos paga muito pouco. 18. Tome muito cuidado, por favor, com esses memoriais que lhe pedem, para que não nos prejudiquem, isto é bastante arriscado. 19. Se lá onde você dá catecismo, pudesse dar aula, seria o mais acertado. 20. Quando mais cedo puder sair de lá onde está e ocupar-se conforme seu estado, tanto melhor. 21. Isto lhe peço pelo amor de Deus. 25 Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 16 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 11 de fevereiro de 1705 1. Há muito tempo, meu caríssimo Irmão, que não recebi mais notícias suas. 2. Peço-lhe que no-las envie e nos escreva por Avinhão assim: "A meu caríssimo Irmão Albert, nas escolas gratuitas, perto de Saint-Symphorien, para o Sr. De La Salle, em Avinhão". 3. Ali as escolas vão bem. Teremos ali quatro Irmãos e vamos ter uma casa para alojar 20 pessoas. 4. Três delas apresentei ao Sr. Arcebispo de Avinhão, Núncio extraordinário na França, que os recebeu muito bem e com muita bondade lhes deu sua bênção antes de partir. 5. Peço-lhe que mantenha isto em segredo e não fale disso com ninguém, mesmo peço que queime esta carta. Você conversa demais. 26 6. Não sei se você vai realizar alguma coisa lá onde está. 7. É preciso que o espírito de Deus e um grande zelo conduzam a você e parece-me que não vejo bastante nem um nem o outro em você para tamanha empresa. 8. Louvado seja Deus e que sua vontade seja feita nisto. 9. Diga-me se você continua sempre em seu emprego e se não procura mais nada. 10. Examine-se cuidadosamente se não se acostumou tanto ao espírito e às atitudes mundanos, que lhe devem causar horror, de modo que mais tarde tenha dificuldade em deixá-los. 11. Rogo a Nosso Senhor para que o cumule de seu espírito e que faça de você o que lhe aprouver. 12. Quando tiver de me escrever, escreva somente por Avinhão para que suas cartas estejam seguras e secretas. 13. Com saudações ao Sr. De la Bussière, sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 14. Peço-lhe que se informe exatamente sobre o que é o Instituto dos padres das escolas pias; quais são as regras deles, como vivem e se governam, se estão muito espalhados, se têm um Geral, qual é o poder deste, se todos são sacerdotes, se recebem 27 dinheiro. Procure saber tudo o que puder e mo comunique com detalhes, o mais que puder. CARTA Nº 17 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 27 de abril de 1705 1. Meu caríssimo Irmão, dizem que sua carta chegou no dia de Páscoa, quando eu estava fora da capital e a recebi no sábado seguinte. 2. Ela me causou grande alegria tanto porque havia muito não tinha recebido notícias suas, como porque me comunicou que, enfim, está exercendo a função de seu estado. 3. É inútil examinar em que ocasiões você falhou, visto que você não lhes prestou atenção. 4. Você fez bem ao colocar-se num bairro afastado das escolas pias. 5. Você fez bem ao continuar em casa do Sr. De la Bussière. Saúde-o de minha parte, por favor. 6. Você também fez bem ao não permanecer definitivamente na casa dele. 7. Se você tiver necessidade de alguns manuais escolares, como o das orações da escola, não sei se você os tem, fizemos uma recente reimpressão de- 28 les, poderemos facilmente enviá-los a você via Avinhão. 8. Quanto ao que você me falou a respeito daquele professor do Papa, siga o conselho do Sr. Divers. 9. Talvez seria melhor que você pedisse muito a Deus e que aguardasse uma ocasião mais favorável e que esta viesse como por si mesma. 10. Estamos muito longe de fazer o seu processo; tudo o que eu esperava com impaciência era que você fosse o que agora é. 11. Estou admirado porque você diz que nunca teve sinal de satisfação de nossa parte, visto que não há nada que eu não tenha feito e ainda estou disposto a fazer para deixá-lo contente. 12. Sei bem que você está longe de fazer o que faz o Irmão Nicolau; é justamente isto que me fez confiar tanto em você. 13. Ainda não chegou o momento de pressioná-lo tanto em Roma; basta que você tenha começado. 14. Comprou-se uma casa cômoda para nossos Irmãos em Avinhão, capaz de alojar vinte Irmãos; o vice-legado gosta deles e envia seu pajem a sua escola. 15. Eu quis enviar-lhe o Irmão que iniciou aqui, você não o quis. 16. O Sr. Arcebispo de Avinhão, que é Núncio extraordinário na França, do qual sou conhecido desde nosso estabelecimento em Avinhão, foi nomea- 29 do arcebispo de Gênova e vai partir em breve para Roma onde receberá o chapéu cardinalício. 17. Ele me disse que protegeria e prestaria serviço ao Instituto de nossos Irmãos em tudo o que pudesse e deu-lhes sua bênção antes de partirem. 18. Procure, por favor, abandonar esse espírito mundano para o qual tem bastante inclinação, entregando-se à oração e aos exercícios interiores e freqüentando pouco o mundo. Procurando ter, quanto possível, o espírito de seu Instituto, atrairá sobre si as graças de Deus com abundância. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 18 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 28 de agosto de 1705 1. Fiquei efetivamente surpreso, meu caríssimo Irmão, por não receber notícias há tanto tempo. 2. Peço-lhe que, no futuro, me escreva com mais freqüência, e parece-me conveniente que você o fizesse cada mês. 30 3. Desde que recebi suas cartas, o Irmão Michel e o Irmão Jacques faleceram de tifo, em Chartres, um depois do outro. Peço-lhe que reze por eles. 4. Fiquei bastante contente porque você não está mais preso à casa do Sr. De la Bussière, mas como e de quê é que você vive? 5. Você diz que não gosta de ficar devendo. Eu gostaria de saber se você está devendo e quanto, a quem e por quê. Nada disso você me especifica. 6. Não estou gostando nada que você ensine o latim. Você sabe perfeitamente que isto é contrário a nosso Instituto, pois é preciso ater-se sempre a seu Instituto, do contrário se perde tudo e Deus não dá sua bênção. 7. Não gosto desses "quattrini" de sábado, pois esse tipo de dinheiro, recebido dos alunos, não soa bem em nossas escolas, embora não tire proveito deles. 8. Se você precisar de um livro de orações, nós o fizemos reimprimir no ano passado com todas as rubricas necessárias. 9. Se você precisar alguns outros, podemos enviálos por Avinhão. Contudo, creio que poderemos imprimir nossos livros em Avinhão, onde estão aprovados e depois enviá-los a você. 10. Você deveria dar-me a conhecer a maneira de explicar a doutrina em Roma. 11. Nossos Irmãos de Avinhão, assim como você, me comunicam que sofrem bastante com os calores intensos. 31 12. Estou bem contente porque você agora está descansando e sem fazer nem receber visitas. 13. Tenha cuidado para aproveitar bem este tempo e de uma vantagem tão grande; aplique-se muito para abandonar as maneiras mundanas e assumir uma atitude e maneiras simples e um comportamento que manifestem o espírito de Deus. 14. No que se refere ao catecismo, sou de opinião que é conveniente e importante que você o dê em sua escola. 15. Será que é proibido a um professor dar o catecismo a seus alunos em sua própria escola? 16. Não gosto que nossos Irmãos dêem catecismo na igreja; contudo, se é proibido dá-lo na própria escola, é melhor dá-lo na igreja do que não dá-lo de nenhuma forma. 17. Quanto a mim, não gosto de me lançar para frente em coisa alguma e tampouco me lançarei em Roma mais do que em outra parte. É preciso que primeiro a Providência se lance e estou contente. 18. Quando parece que só empreendo por suas ordens, não tenho de me censurar, ao passo que, quando tomo iniciativa, sempre sou eu e não espero grandes resultados, nem Deus, em geral, derrama uma grande bênção sobre isso. 19. Falava-se que o Sr. Arcebispo de Avinhão, agora de Gênova, devia ser cardeal em breve. 20. O Sr. Bispo de Vaison pede Irmãos. Você o conhece. 32 Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 19 Para Irmão Gabriel Drolin. Paris, 4 de setembro de 1705. 1. Meu caríssimo Irmão, minha estranheza por não receber nenhuma notícia de você há cinco meses, obrigou-me a lhe escrever, endereçando a carta ao Sr. De la Bussière, com receio de que você não tenha recebido minha penúltima. 2. Eu não sabia quando o Sr. Théodon viria e não sei, se já chegou. 3. Também não sabia que você tivesse saído da casa do Sr. De la Bussière e nunca teria pensado que você saísse sem me escrever antes, pois, se hoje você não tem outro recurso do que a mim, você me deixa muito embaraçado, porque agora estou em muito piores condições para lhe ajudar do que estava no passado visto que sempre estou curto em dinheiro. 4. Coloquei nosso noviciado num bairro de Ruão, numa bonita casa que antes era ocupada por religiosas, agora nossos Irmãos mantêm as escolas de Ruão onde se encontra o Irmão Ponce, Por isso, sempre estou curto em dinheiro. 33 5. Você não devia ter feito dívidas sem antes obter meu consentimento. 6. Eu lhe disse que tudo o que você poderia aguardar de mim para se estabelecer, seria uma ajuda durante seis meses ou, quando muito, por um ano. Desde então fiz este negócio de Ruão que me deixa liso. 7. Tudo o que posso fazer por você é remeter-lhe cinqüenta francos por Avinhão pelo Sr. De Chateaublanc, tesoureiro do Papa, que ali estabeleceu nossos Irmãos em número de cinco agora e para os quais comprou uma casa. 8. Você pode informar-se, junto do arcebispo de Avinhão, onde o Sr. De Chateaublanc paga, em Roma, os proventos do Papa e quem é seu correspondente em Roma. 9. Farei para que os receba imediatamente, embora isto me deixe em apuros, pois dentro de três meses não posso pedir dinheiro adiantado, pelo contrário estarei com pagamentos atrasados. 10. Por favor, não volte a se comprometer, sem mim, pois eu ficaria muito magoado por estar em dívidas. Nunca mais as quero e nunca as quis ou tolerei em nenhuma de nossas casas e não há nada de que eu tenha mais horror: por isso não conte nunca mais sobre mim para fazer dívidas, pois não escutarei a menor proposta. 11. Em questões de despesas quero estar prevenido e não surpreendido; e nunca tome alguma iniciativa 34 ou decisão sem antes me pedir minha opinião, responderei imediatamente. 12. Acabo de receber sua carta; o correio via Avinhão é vantajoso para nós. 13. Não sei, se o Sr. Arcebispo de Avinhão, agora de Gênova, já é cardeal, como me disseram que seria ao ir a Roma. 14. Sei bem que é preferível viver em maior aperto, desprendido do mundo e alegro-me muito ao ver você nesta disposição; mas, quando se está nela, é preciso abandonar-se completamente à Providência; e quando não se tem bastante virtude nem bastante fé para tanto, é preciso tomar os meios antes de agir, do contrário não se trabalha cristã nem sensatamente. 15. De maneira alguma dê letras de câmbio a alguém sem que eu o tenha autorizado para isso, pois não as pagaria. Neste momento também não estou em condições de pagá-las, porque preciso viver dia por dia. Você receberá seu dinheiro sem câmbio. 16. Não sei o que você entende por aquilo que me diz que vai trabalhar para ver se poderá fazer algo para mim dentro de pouco. Explique-se, por favor, pois eu gostaria de ver um pouco mais claro. 17. Alegro-me muito porque seu sarampo esteja curado. 18. O Irmão Albert me comunicou a 29 de agosto que o Padre Inquisidor lhe devolveu todos os nossos livros e os aprovou todos. Vou dizer a ele que 35 lhe faça chegar dois livros de orações para a escola e para a missa assim que souber seu endereço. 19. Fizemos reimprimir as orações da escola com todas as rubricas e de modo muito útil para os professores e para os alunos. 20. Vamos abrir um estabelecimento em Marselha e quando o Irmão Albert tiver estado lá até depois da Páscoa, poderei enviá-lo a você para adiantar um pouco seus negócios se ainda não o estiverem, pois ele é feito para isso. Nos seis primeiros meses ele faria maravilhas. 21. Peça muito a Deus nesta intenção, a partir de agora até chegar o momento e para que Deus conduza nossos negócios em Roma e nos outros lugares conforme sua santa vontade. 22. Pensei que eu me tivesse explicado bastante claramente por ocasião do Natal. 23. Temos Irmãos em Dijon e em Brest; não sei se já lhe comuniquei isto. 24. Peço-lhe que vá com freqüência (à basílica de) São Pedro para (mostrar-se) muito submisso à Igreja e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 36 CARTA Nº 20 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 28 de outubro de 1705 1. Meu caríssimo Irmão, não sei se você não recebeu a carta em que respondi à sua precedente. Coloquei o endereço que você me indicou. Escrevame sempre por Avinhão. 2. Enderecei a presente ao Sr. De la Bussière para não me enganar e para maior segurança. Dê-me um outro endereço para o futuro, se este não convém, ou indique-me onde é que você está morando. 3. Você faz bem em aguardar as disposições da Providência. 4. Eu lhe disse que não me fizesse dívidas, porque não quero nem ouvir falar disto; e não espere que eu pague alguma, quer por letra de câmbio, quer por outro modo. Nunca eu quis dívidas e tampouco as quero de maneira nenhuma agora. 5. Quando tiver necessidade de alguma coisa, comunique-o a mim antes. Você sabe o que lhe falei no passado; por favor, conte com isso. 6. Você somente deveria ter deixado a casa do Sr. De la Bussière em combinação comigo e só depois de saber onde vai morar. 7. Eu lhe comuniquei o que pude fazer, é preciso levar em conta o que digo. 8. Quero ver claro no que empreendo. 37 9. Deus o tinha colocado na casa do Sr. De la Bussière; você deveria ter permanecido ali até que tivesse um emprego com o qual pudesse viver independentemente. 10. Já lhe comuniquei que eu poderia fazer-lhe chegar cinqüenta libras que se encontram em Avinhão, pelas quais provavelmente não haverá encargos a pagar. 11. Vou enviar para Avinhão alguns exemplares das orações para a escola, que fizemos imprimir com as rubricas. Dali se poderá enviar alguns a você. 12.Só visitei uma vez o Sr. Théodon, que estava adoentado. 13. Você me diz em sua última que me envia o recibo do Sr. Théodon. Contudo, não o recebi e também não estava em sua carta. 14. Seria inútil que você assinasse letras de câmbio contra mim, pois eu não as poderia pagar. 15. Sei muito bem que é vantajoso estar afastado do mundo, mas é preciso ter com que viver e antes de deixar o mundo é preciso ver onde se poderá consegui-lo. 16. Enderecei minha última simplesmente ao Sr. Santenot; veja se foi extraviada ou não. 17. Observe se Deus dá sinais de que seu trabalho lhe agrada e se a Providência lhe ajuda ou se parece que não lhe quer ajudar. 38 18. Eu gostaria de saber em que bairro você está alojado. 19. Reze por nós e creia-me, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 21 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 11 de fevereiro de 1706 1. Percebi perfeitamente, caríssimo Irmão, que você não estava bem disposto quando me escreveu a carta anterior a esta que estou respondendo, mas eu procurei não lhe dar motivo para isso. 2. Sinto-me feliz por saber por sua última que seu desgosto diminuiu; creio que terá desaparecido inteiramente quando tiver recebido minha última. 3. Você fará bem, se cobrar quanto antes possível, os cem francos que lhe enviei. 4. Acerca do que você diz eu lhe ter escrito, eu lhe escrevi em duas ocasiões diferentes: 1º no momento em que você não fazia outra coisa além de cuidar dos filhos do Sr. De la Bussière; 2º no tempo em 39 que você estava procurando uma escola e morava na casa dele. 5. No primeiro momento, sempre o estimulei a sair daquela situação, porque a considerava em desacordo com sua vocação. 6. Na segunda vez lhe escrevi que você só devia contar com minha ajuda por seis meses ou um ano ou um ano e meio, mas não passei dali, se é que cheguei a tanto. 7. Depois considerei uma disposição da Providência que o Sr. De la Bussière o tenha feito comer em casa dele, visto que eu não tinha condições de lhe ajudar e neste momento estou curto como nunca. 8. Você devia ter saído dessa ocasião providencial sem saber se ela me agradaria e se estivesse em condições de fornecer-lhe tudo e quando e durante quanto tempo, e sem que tanto eu como você tomássemos as decisões concretas sobre isso. 9. Entretanto, farei por você tudo o que me for possível, embora eu esteja muito longe de ter dinheiro neste momento, e estou devendo cerca de novecentas libras. 10. Sinto muito que você viva tão pobremente como me conta; e diga-me, por favor, o que posso fazer para remediá-lo. 11. Está vendo a situação em que me encontro, contudo, a situação em que você está me parece ser bastante atrapalhada e me dá muita pena. 40 12. Eu gostaria de saber se nada progride com você. 13. Contudo, se for preciso pagar o câmbio de Avinhão em Roma, prefiro fazer vir os cem francos para cá e pagar aqui a letra de câmbio do Sr. De la Bussière, pois assim o câmbio será de graça e você receberá o total dos cem francos. Comunique-me o que é para fazer. 14. Demorei em lhe responder porque não prestei atenção ao bilhete incluso em sua carta e porque pensei que minha última o tivesse tranqüilizado. 15. Há quinze dias temos escolas em Marselha. 16. Não deve pensar em se retirar sem que antes tenhamos tomado juntos, as devidas providências. 17. Se dentro de pouco tempo, você não puder progredir, pelo que é preciso unicamente recorrer a Deus e deixar a ele este cuidado, a direção e as oportunidades, então, durante este verão, vou tomar as medidas para não deixar cair o que foi começado e para tirar você e a mim de dificuldades. 18. Reze muito a Nosso Senhor nesta intenção e por todos os nossos negócios de agora até Pentecostes. 19. Eu soube que o Sr. Cardeal de Janson voltará à França e que o Sr. padre d'Ètrées vai ocupar o lugar dele. 20. Por favor, não escreva a toda sorte de pessoas como está fazendo. Essas trocas epistolares inúteis não nos convêm. 41 21. Uno-me a você em Nosso Senhor e sou, em seu santo amor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 22 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 16 de abril de 1706 1. Meu caríssimo Irmão, recebi suas duas últimas, uma de 23 de fevereiro, a outra de 2 de março, mas a primeira não veio através do Sr. De la Bussière, mas pelo correio francês. 2. Remeti ao Sr. Théodon a carta que você incluiu para ele. 3. Gostei muito de que você tenha bastante confiança no Pe. Divers para dizer-lhe a quem e por quê escreve cartas. 4. Custa-me acreditar que ele tenha conhecimento da carta ao governador de Calais e do assunto tratado. Abstenha-se, por favor, de cartas tão inúteis como esta. 5. Você deveria ter-me enviado a cópia de sua habilitação para ensinar sem esperar que eu o soubesse por terceiros. Obrigado por tê-la enviado junto com sua última. 42 6. Não que me desagradem as cartas que você inclui dentro das destinadas a mim; não é disto que eu quis falar. eu queria dizer que você não escrevesse nem recebesse todas essas cartas inúteis, coisa que não nos convém de nenhuma forma. 7. Dei ordem a Avinhão de pagarem a letra de câmbio do Sr. De la Bussière. 8. Vou fazer de maneira que você esteja contente comigo. 9. Temos Irmãos em Marselha desde faz pouco. Eles têm cerca de 200 alunos só numa escola. Há escolas em quatro bairros; em futuro breve, todos as terão. 10. É preciso esperar que, enquanto nossos Irmãos se aproximam sempre mais de você, Deus abençoará e aumentará por fim a escola de você. 11. Faremos tudo para fornecer-lhe os meios e, em breve, veremos o que poderá ser feito neste assunto. 12. Reze muito por nós que temos muita precisão. Nós também vamos rezar por você e vamos esforçar-nos para lhe ajudar e aliviá-lo em tudo o que for possível. Mais um pouco de paciência. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 43 CARTA Nº 23 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 12 de maio de 1706. 1. Somente ontem recebi sua carta, meu caríssimo Irmão. 2. Há três dias passei uma letra de câmbio sobre os Irmãos de Avinhão em pagamento das cem libras que você estava devendo ao Sr. De la Bussière. Estou enviando o recibo a fim de que você o entregue ao Sr. De la Bussière e conseguir o dele que você me enviará. 3. Pensei que não havia câmbio a pagar sobre essas cem libras; é um grande prejuízo cada vez. Talvez poderíamos evitá-lo ou, pelo menos, em parte; você deveria ter-me avisado antes a esse respeito. 4. Não gostei que você tenha apresentado um requerimento ao esmoler do Papa, isto não teria sido conveniente. 5. Pode acreditar no que lhe escrevi: que não o abandonarei. 6. Se você não conseguir nada, comunique-o a mim e neste caso, basta pedir ao Irmão Alberto, de Avinhão, que lhe faça chegar dez escudos; isto você não deve fazer, se conseguir alguma coisa, porque ele vai ter muita dificuldade para lhos pagar. 7. Se eu tivesse recebido sua carta quatro dias mais cedo, não teria dado esta letra de câmbio e teria 44 dado ordem a Avinhão de lhe fazer chegar o dinheiro. 8. Pensa, acaso, que eu queira deixar você morrer de fome? 9. É preciso ver como você vai se arranjar desde agora até o mês de outubro, momento em que, sem falta, farei mudanças. 10. É preciso evitar a todo custo para que os donos da casa de você a retomem. 11. Também não é conveniente que você se dirija a sua irmã. 12. O correio vai todas as semanas. Por que você não me escreve? Por que passou cinco semanas sem me escrever? 13. Por favor, não faça mais assim e não decida nada, exceto se, em casos absolutamente imprevistos, não possa esperar minha resposta. 14. Vou rezar e fazer rezar muito por você e seus negócios. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 15- Você não me enviou a data de sua habilitação. Limitou-se a colocar Datum, etc… Envie-me, por favor, o texto integral e a cópias e as assinaturas. 45 CARTA Nº 24 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 21 de junho de 1706 1. Meu caríssimo Irmão, acho que você recebeu ainda duas cartas antes da de 15 de abril. 2. Na primeira lhe comunico que dei uma letra de câmbio sobre Avinhão ao Sr. Marteau e que ele somente quis aceitar cem libras embora eu tenha insistido que aceitasse a de cento e sete libras. 3. Enviei-lhe um recibo de que ele me deu outro, aquele que eu lhe mandei entregar ao Sr. De la Bussière e obter dele um outro pelo qual você tem quitação através da soma que mandei pagar ao Sr. Marteau. 4. Falei ao Sr. de Chateaublanc para lhe enviar dez escudos. Por favor, me diga por quem e como. 5. Não sei qual é a despesa da qual se arrepende. Fique certo de que não deixarei que lhe faltem as coisas necessárias. 6. Conduza sua escola com calma, sem se precipitar. Deus não o abençoará com isso, é o que me parece. 7. Está vendo para que servem todos os seus relatórios. Não fale a Sua Santidade, estragaria tudo, será preciso tomar outras medidas. Deus nos dará os meios para tanto. 46 8. Não deixe escapar as ocasiões que puder encontrar, mas não se precipite. 9. Você me disse que somente pedia seu aluguel de escola e de quarto. De que é que você vive? Nem pense em abandonar tudo. 10. Fiquei bem satisfeito porque o Sr. Fieschi se tornou cardeal. 11. O padre de la Trémouille não é aquele padre de Noirmoutier que conheci como vigário maior em Laon, que é corcunda e que há muito tempo está em Roma? 12. Dentro de cinco ou seis meses, quando o Irmão de Avinhão vier a Roma, teremos mais chance de nos apresentar pela mediação de Mons. Fieschi que foi arcebispo de lá, sem falar de outra coisa, tanto mais que é o vice-legado de Avinhão e que é ou será o governador de Roma. 13. Mas eu não gosto de todas estas maneiras humanas de ver e elas não são as das quais se serviram os santos. 14. Você me fala como se eu fosse muito duro e como se eu não quisesse dar-lhe nada. Não sei se é porque não recebe minhas cartas. 15. A última, eu lhe mandei através do Sr. de Chateaublanc de Avinhão. 16. Eu não pensava que sua vida era tão dura quanto me conta. 47 17. O Sr. Leroy que está aqui e que me disse ter almoçado com você, me disse que você tem vinho na adega e do bom. 18. Um sacerdote bretão que obteve uma paróquia e voltou para sua terra e diz ter estado vários anos em São Sulpício e ter morado com você, está contando em sua terra que, quando ele viajou, você era diácono. Não sei o que ele quer dizer. 19. Não sei o que você quer dizer com que deu uma letra de câmbio de cento e sete libras ao Sr. De la Bussière e deu ordem que se pague minha letra de câmbio sem dizer a quem devemos endereçá-la. Explique-me o que pretende com isso. Está vendo bem o que lhe escrevi sobre isso no começo desta. 20. De Avinhão me comunicam que foi paga a letra de câmbio de Roma. Por favor, veja se não há alguma atrapalhada em tudo isso. 21. Não sei por que me diz que não lhe escreva via Marselha. Ainda não lhe escrevi por essa via. 22. Minhas cartas de Avinhão, parece-me que só lhe devem custar quatro soles uma vez que só custam isso de Roma a Avinhão. Escreva-me com freqüência. 23. Eu peço a Nosso Senhor para que ele o cumule de suas graças e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 48 CARTA Nº 25 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 26 de novembro de 1706 1. Meu caríssimo Irmão, recebi sua carta de 16 de outubro. 2. Acho que não recebi nenhuma de você desde o dia 24 de julho. Isto é muito tempo. 3.Lamento de verdade o acidente que lhe aconteceu. 4. Estou bem de acordo que tenha dado uma letra de câmbio sobre Avinhão, pois falei muitas vezes que lhe enviassem esse dinheiro. Não sei por que não o fizeram. 5. É verdade que me disseram que não se consegue fácil e comodamente fazer chegar dinheiro a Roma. Sem dúvida essa soma será enviada. 6. Você fez bem em desistir da solicitação que tinha feito para obter alguma coisa e me consolo muito porque sempre tem um bom número de alunos. Mas será que nenhum italiano lhe pergunta sobre a gratuidade de sua escola? Será que isto não faz que você seja conhecido? Ninguém lhe pergunta de que você vive? Que é que o faz manter assim a escola gratuitamente? 7. Eu não estava sabendo do processo dos padres Lazaristas. 49 8. Efetivamente pagam-se quatro soles de tarifa de Roma a Avinhão pelo correio do Papa. Isto sempre vem assinalado nas suas cartas que recebo. Mando que a presente seja enviada pelo correio do Papa, e você me dirá qual é o resultado. 9. Assegure ao Sr. Leroy que eu lhe mando saudações. 10. Eu gostaria de saber o que fez aquele bretão que o desonrou tão gravemente. Isto me daria prazer. 11. Conheço o senhor cardeal de la Trémouille, é um homem simplório, sem modos. 12. Aqui visitei aquele que foi vice-legado de Avinhão e saiu no mês de agosto. Creio que voltou a Roma. É um padre que gostava muito das nossas escolas de Avinhão. 13. Muito obrigado por me ter feito saber em pormenores a distribuição de seu tempo. 14. Reze por nós especialmente logo que receber minha carta e desde o dia de Natal até o domingo depois do ano novo, faça uma novena a São Pedro por uma necessidade particular e de importância para a comunidade. Se receber minha carta mais tarde, o que não acredito, e se começar a novena então, ela terminará mais tarde. 15. Temos uma casa perto do lugar em que mora seu irmão e onde eu o coloquei como sacristão, porque não garantia sua salvação no mundo, por ser 50 leviano demais; agora está muito ordenado e correto e vem confessar-se comigo. 16. Ordinariamente estou nesta casa, à rua SaintHonoré, porque temos as escolas de São Roque. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 26 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 1º de abril de 1707 1. Meu caríssimo Irmão, há cerca de oito dias que recebi sua carta. 2. Senti muito sua enfermidade e me alegrei muito porque Deus lhe devolveu a saúde. 3. Também eu estive por seis semanas muito indisposto e não podia caminhar, agora me sinto muito melhor. 4. Eu estava estranhando muito não receber notícias suas e isto me deixou muito preocupado. 5. Ainda não devolvi a seu cunhado o dinheiro de que me fala, mas o devolverei o mais cedo que me for possível. 51 6. É preciso aguardar ainda algum tempo. O que quero fazer é enviar um Irmão no fim deste verão, pois desejo ansiosamente procurar a você mais lazer e mais possibilidade para se aplicar à oração. 7. Contudo, não entendo o que é que o pode impedir de fazê-lo. 8. Sei perfeitamente que a maioria das cidades da Itália não são grandes nem populosas e o Sr. Bonhomme me explicou por quê. 9. Reze muito a Nosso Senhor para que abençoe sua obra. 10. O Irmão Alberto fundou ainda um outro estabelecimento em Valréas no Condado, diocese de Vaison. 11. O senhor bispo de Vaison que você conhece, gosta muito de nossos Irmãos e lhes deu sua própria casa de Valréas para alojamento. 12. O Irmão Ponce, faz pouco, fundou um estabelecimento em Mende, cidade episcopal de França, à entrada de Languedoc, onde caiu doente. 13. Reze por nós e creia-me, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 14. Sua última veio sem data. 52 CARTA Nº 27 Para Irmão Gabriel Drolin - Paris, 14 de fevereiro de 1710 1. Meu caríssimo Irmão, faz poucos dias, com alegria, recebi sua carta que me repassou seu irmão. 2. Eu lhe escrevi duas cartas: uma no mês de agosto e a outra pelo fim de novembro, as quais o Irmão Ponce me confirmou ter entregado pessoalmente ao pedestre. Eu as enderecei ambas ao Sr. De la Bussière para repassá-las a você. 3. Se não devo endereçá-las a ele, diga-o e dê-me um endereço seguro, quer diretamente a você ou a outra pessoa, mas, por favor, que não possa falhar. 4. Fiquei muito feliz porque agora você tem uma escola do Papa. É isto que eu aspirava. 5. Pedi ao Irmão Ponce que fosse visitar o Sr. bispo de Cavaillon, se estiver em casa, para o saudar de minha parte e demonstrar-lhe minha gratidão pela bondade que mostrou para com você. 6. Seria preciso fazer de modo que houvesse no futuro mais um outro Irmão com você. 53 7. Estou muito contente de que você tenha saído da casa do Sr. De la Bussière e estou escrevendo a ele para agradecer o afeto que mostrou a você e os favores que lhe prestou. Expresso a ele também que não o esquecerei e rezarei e farei rezar por ele e pela família dele. 8. Fiquei contente porque você tenha feito um retiro para procurar retomar o espírito de seu estado com maior abundância e o espírito de oração. Vou rezar para que Deus lho conceda. 9. Sei perfeitamente que é uma grande miséria estar obrigado a comunicar com o mundo e é uma felicidade que você se tenha livrado disso em grande parte. Dê um jeito para livrar-se também desses ordinandos. 10. Pode ficar certo de que não me esqueço de rezar por você. 11. Muito me alegra que você esteja em perfeita saúde. 12. Já sei que lá onde você está há bastante trabalho e me alegro que você tenha um bom número de alunos naquele lugar. 13. Sei também que lá a corrupção é grande e que é preciso muita atenção e vigilância especial sobre si para fugir dela e agradeço a Deus por ele lhe ter dado a graça de preservar você até o presente. 14. Temos Irmãos em Grenoble, em Mende e em Mâcon desde o tempo que não tenho resposta sua, quer me parecer. 54 15. Reze para que Deus abençoe nosso Instituto e creia-me em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 28 Para Irmão Gabriel Drolin - 12 de maio de 1710 1. Meu caríssimo Irmão, sua carta veio sem data. Fiquei muito feliz ao receber sua última carta. 2. Você diz que não recebeu minhas cartas além daquela de 14 de fevereiro; entretanto eu lhe direi que desde o mês de agosto último ou setembro, foi a terceira que lhe escrevi, sempre muito aflito por não receber notícias de você. 3. Senti muita pena porque a falta de receber minhas cartas, fez você se desviar da piedade. 4. Teria sido um desastre se você tivesse abandonado sua escola, já que, até o presente, parecia que Deus a queria. 5. Não há dúvida que você deveria ensinar cada dia o catecismo a seus alunos. 6. Não sei por que você diz que é difícil fazer seus alunos assistirem a missa porque está sozinho. 7. A razão forte que você me dá para ter um auxiliar é que você não é mais jovem e que é tempo de 55 formar um outro para este fim, tanto para os costumes quanto para a língua do país. 8. Entendo perfeitamente seus motivos contra, e é difícil remediar ao primeiro, em primeiro lugar porque, especialmente agora, as moedas estão muito valorizadas na França, perde-se muito com o câmbio; e visto que a época é de miséria, seria difícil fornecer qualquer coisa para garantir essa despesa. Doze "pistoles" significam aqui uma despesa de mais de vinte e quatro; mas como você diz que seria apenas por um ano, não se deverá examinar tanto o caso. 9. Não sei o que você quer dizer, que até agora você deu a impressão de ser semi-regular. Será que você mudou alguma coisa em seu hábito ou em seu exterior e em quê? Explique-me isso. 10. Sem dúvida, que quando forem dois, será preciso ambos aparecerem regulares. Seria bom que você dissesse isto ao secretário do cardeal Vigário. 11. Não sei por que você diz que lhe pagaram a "pistole" mensal só como particular e não como professor. Parece que você contou a seu irmão que as armas do Papa se encontravam sobre a porta de sua escola e que sua escola era uma das escolas do Papa. 12. Desde aquele tempo pensei que era assim e que a razão por que você mora perto dos Capuchinhos é porque sua escola se encontra naquele quarteirão. 13. Seria conveniente que você tivesse uma escola assim e a patente de habilitação. 56 14. Vou procurar enviar-lhe um auxiliar nas próximas férias; empenhe-se em tomar todas as medidas para tanto. 15. Vou enviar-lhe dois exemplares das orações para a escola. O livro pode ser encontrado em Avinhão e o Irmão Ponce poderia enviar-lhe alguns. Eu gostaria que você lhe escrevesse algumas vezes. 16. Ainda não pensei em ir a Roma e neste momento só o poderia fazer com dificuldade. 17.Não esqueço de rezar por você e pelo feliz êxito de seus trabalhos. 18. Lamento muito que você tenha sido obrigado a comunicar tanto com o mundo. Não é difícil entender que sua piedade tenha baixado por isso. Por favor, retome resolutamente a oração. 19. Com certeza alguma de suas cartas e também das minhas se eclipsaram de alguma forma. Eu tencionava escrever a algum Capuchinho para ver, se você receberia minha carta mais cedo. 20. Inclusive, faz oito dias, pedi ao Sr. Divers, que aqui veio, que escrevesse a você para dizer que eu escrevi muitas cartas e que eu estava com muita pena por não receber notícias suas. Ele me disse, há oito dias, que escreveria e que eu escrevesse diretamente a você. 21. Você fez bem em não aceitar a colocação que lhe ofereceram; isso teria levado perder tudo e você tem razão de que os trabalhos de oito anos teriam sido inúteis. 57 22. Não recebi a carta que você diz ter-me escrito durante esse tempo. 23. O que o Papa lhe dá, portanto, não passa de uma espécie de esmola. Explique-me de que se trata. 24. Disseram-me que você queria ser tonsurado; diga-me a verdade. Você bem sabe que isto é contrário às práticas de nossa comunidade. 25. Não é verdade que eu esteja falando com você pela metade; simplesmente digo as coisas como eu as penso. 25. Estou muito contente porque você tem no momento um bom número de crianças. Tenha cuidado de o manter. 26. É preciso empenhar-se para aumentar o número de seus alunos. 27. Gosto muito de que você, de tempos em tempos, vá fazer retiro na Missão. 28. Por sua precedente, você me dizia que tinha pelo menos sessenta alunos. 29. Gostei muito que você se tenha libertado de seus ordinandos; procure libertar-se, o mais cedo possível, do resto. 30. Peço a Deus que lhe dê o seu espírito e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 58 CARTA Nº 29 Para Irmão Gabriel Drolin - Marselha, 24 de agosto de [1711] 1. Meu caríssimo Irmão, estou lhe escrevendo por meio do conde Miaczinski, filho do tesoureiro-mor da Polônia, que vai a Roma com um criado de quarto, para estudar teologia. 2. Embora ele seja o primogênito da família, quer renunciar ao mundo e estudar teologia. 3. Por favor, quando ele chegar, procure-lhe uma albergue em que possa estar bem. É um senhor muito piedoso e com quem tenho uma ligação muito particular, ele poderá ser muito útil a você. 4. Escrevi a você de Avinhão. Creio que recebeu minha carta e que você me tenha respondido. 5. Em breve poderemos enviar-lhe um auxiliar, mas, por favor, não abandone o hábito de nossos Irmãos. 6. Não dê atenção, neste ponto, ao que lhe disserem os padres de Saint-Lazare. Os de Paris gostariam de destruir nossa comunidade. Tranqüilamente posso escrever-lhe isto de maneira segura. 7. Por favor, escreva-me de tempos em tempos e faça tudo para prover ao bem de nossa comunidade. 59 O Sr. conde poderá ajudar-lhe muito neste particular. 8. Conte-me exatamente como vão os seus negócios. Já que o Papa tem seis escolas em Roma, seria muito a desejar que todas elas estivessem nas mãos e sob a orientação de nossos Irmãos. 9. Faça tudo o que puder para o Sr. conde de Miaczinski. Ele lhe será útil e a nós também. 10. Acabamos de abrir escolas em Versalhes e em Boulogne-sur Mer e em Moulins. Reze para que Deus as amplie cada vez mais. 11. Peço a Nosso Senhor que cumule você de suas graças e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 12. Estou voltando para a França. 13. Comunique-me como você é recebido pelo Sr. cardeal de la Trémouille. 14. Almocei com o Sr. bispo de Cavaillon a quem agradeci as atenções que demonstrou para com você. 60 CARTA Nº 30 Para Irmão Gabriel Drolin - [Marselha, agosto de 1712] 1. Meu caríssimo Irmão, eu estava querendo visitar você e eu estava pronto para ir com um Sr. Ricordeau, cônego de uma colegial de Troyes que viajou a Roma, faz um mês, mas sobreveio, naquele momento, um negócio aqui que retardou esta viagem, pois era um negócio urgente; contudo não teve o resultado desejado. 2. Vai me ser difícil enviar-lhe um Irmão antes de ter fundado um noviciado nesta terra, o que vou fazer imediatamente, pois o povo quer pessoas desta terra em razão da diferença que há entre a língua daqui e a da França. 3. Você tem razão de não acompanhar sempre o Sr. conde. 4. Fiquei contente porque o Sr. conde lhe pagou tudo. 5. Avise-me, quando eu vier visitar você, se devo levar alguns livros para ele e por que quantia, pois não quero ficar obrigado a esperar pelo pagamento. 61 6. Assim que o noviciado estiver em condições, irei visitar você e conversaremos. 7. Respondi imediatamente a todas as suas cartas, também a referente à Certidão de batismo. Informei a você que me responderam que, para consegui-la, era preciso saber o ano e o dia do nascimento, pelo menos o ano. 8. Foi isto que lhe respondi e você deve ter recebido minha carta. Se me enviar esses dados, eu a enviarei imediatamente, pois somente o escrivão do cartório dispõe daquele registro. 9. Estou lhe enviando todos os santinhos que foi possível encontrar na casa. 10. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 11. Este Sr. Ricordeau se encontra em interdito, não sei por quê. Talvez por isso é que ele foi a Roma. Ele não me falou disto, mas pedi a você de lhe prestar serviços só porque ele me pediu. Caso ele estiver ainda em Roma, só com prudência faça alguma coisa por ele. 12. Não confiei a ele cartas para outras pessoas fora você, embora ele insistisse, pois eu não queria me criar problemas, uma vez que não conheço os negócios nem os desígnios dele. 62 CARTA Nº 31 Para Irmão Gabriel Drolin - Marselha, 16 de dezembro de 1712 1. Meu caríssimo Irmão, você não deveria ter emprestado e adiantado tanto dinheiro ao Sr. conde; isto não convém, especialmente a nós. Você até não lhe deveria ter emprestado nada. 2. Sobre isso só lhe posso dizer que a coisa está feita; você deveria consultar antes de fazer as coisas e não depois que são feitas. Se você me tivesse pedido antes, eu lhe teria respondido que não lhe emprestasse nada. 3. Esta é somente a terceira carta desde a partida do Sr. Ricordeau e respondi a todas; à primeira, pelo Sr. vigário de Saint-Martial, de Paris; à segunda, pelo correio e esta é a resposta à terceira. Respondi a todas as suas cartas desde que estou nesta região. 4. Estou pensando seriamente em lhe enviar um auxiliar, mas só poderá ser depois da Páscoa. 5. É verdade que você usa uma batina e um manto longos, como me contou o Sr. Ricordeau, que retornou pelas galeras do Papa? 6. Se isto é verdade, como é que você quer que se ajeite um auxiliar, pois ambos devem vestir de modo igual e usar o hábito da comunidade. 63 7. Conforme estão dizendo também, você usa um chapéu muito pequeno. Os padres Lazaristas não trocam de chapéu na Itália. 8. Eu gostaria muito que um companheiro lhe ajudasse a retirar você das freqüentes conversas com o mundo, e que também este recebesse a pensão do Papa. 9. Com efeito, considero o que foi iniciado em Roma como algo de importante, mas é preciso aguardar que o noviciado, que iniciei aqui há quatro meses, seja bem estabelecido, tanto para ir visitar você, quanto para lhe enviar alguém que será tirado da região daqui. 10. Quer me parecer que você não deve facilmente romper relações com o Sr. conde. 11. O Sr. Ricordeau me disse que ele lhe vendeu por seis testões um cordão de ouro que lhe custou mais de um luís de ouro. 12. Ele não é pessoa em que se possa confiar muito. Ele estava interditado. Será que ele foi reabilitado em Roma? Creio que para isso é que foi para lá. 13. Eu nem queria interessar-me por ele. Ele até ficou sentido porque eu não quis procurar-lhe cartas aqui, mas não me importei, pois ele não me queria dizer o motivo por que está indo a Roma, e eu sabia que tinha sido interditado por seu bispo que muito honro e estimo. Parece que me disseram que ele celebrou a missa aqui. 64 14. Há também um sacerdote, a quem procurei uma colocação, e que morou algum tempo conosco; este também está interditado por ter ido à guerra depois da ordenação sacerdotal; ele tem agora cinqüenta e quatro ou cinqüenta e cinco anos. 15. Caso ele pedir sua reabilitação, quer por um banqueiro, quer por si mesmo, por favor, declare aonde se deverá dirigir, que não lhe seja concedida sem serem ouvidas antes as minhas razões. 16. Pertence à diocese de Ruão. Não é bom para ele nem para a Igreja que ele seja reabilitado. Parece que se chama Sr. Celisier e é da cidade de Ruão. Trocou de nome e guardou seu nome de guerra, isto é, de São Jorge. 17. O Sr. Ricordeau me disse que um professor de uma das escolas do Papa é muito velho, que um Irmão poderia facilmente obter essa escola, e que há somente três escolas do Papa em Roma. É verdade? 18. Ele me disse também que você não tinha sequer trinta alunos e que não era assíduo em sua escola. 19. Seria bom que você fosse dar o catecismo aos pobres franceses dos dois hospitais de que me falou; neste assunto seria conveniente continuar essa prática. 20. O Sr. Ricordeau faz muito mal ao dizer que os Irmãos de Troyes chegaram a se agredir. 21. Ele disse que você somente lhe deu de comer uma vez, enquanto você me disse que o fez sete ou 65 oito vezes. Eu somente lhe dei uma vez na ida e não lhe dei na volta. Contudo, ele teria querido vir muitas vezes para cá com este fim. 22. De onde é que veio que falaram de mim à rainha da Polônia? 23. Minha vinda será adiada por muito tempo. 24. Por favor, reze muito por nós, e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 25- O Sr. Conde me pede livros e outras coisas no valor de duzentos francos; e não posso levar nem despachar nada sem segurança de receber o dinheiro ao chegar. CARTA Nº 32 Para Irmão Gabriel Drolin - De Saint-Yon, arrabalde de Ruão, 5 de dezembro de 1716. 1. Meu caríssimo Irmão, foi muito contra minha vontade que não lhe escrevi desde tanto tempo. Escrevi-lhe várias vezes sem obter resposta sua. Creio que a causa está em que interceptaram minhas cartas, bem como também as suas, como cheguei a saber. 66 2. Desde então aconteceram-me muitas coisas desagradáveis e agora estou numa casa de um arrabalde de Ruão, chamado Saint-Yon, onde está o noviciado. 3. Asseguro-lhe que sinto muita ternura e afeição para com você e que rezo muitas vezes por você. 4. Você poderá escrever-me quando quiser. Espero que o Irmão que agora está em Avinhão vai ser fiel em enviar-me as cartas de você, pois ele é muito correto e eu vou responder a todas. 5. Há cerca de dez meses, estive enfermo nesta casa em que estou faz um ano. 6. As atitudes do arcebispo de Paris causam perturbação entre os bispos. Não sei o que se pensa disso em Roma. 7. Fiquei muito feliz com a sua última, e a segurança de seu afeto e de seu bom coração me causaram muita satisfação. 8. Por favor, faça-me saber como é que vão seus negócios. 9. Nestas férias eu pensava enviar-lhe um Irmão que já esteve em Roma e que sabe um pouco de italiano e que é muito ajuizado e excelente professor; mas o empregamos em outro lugar, na certeza de que sua utilidade naquele lugar seria de grande importância. 10. Os Irmãos se preparam para fazer uma assembléia desde a Ascensão até Pentecostes, para regu- 67 lamentar muitas coisas referentes às regras e a administração do Instituto. 11. Peço-lhe que expresse seu consentimento a tudo o que for decidido nessa assembléia pelos principais Irmãos da Sociedade. 12. Suponho que você esteja continuando sempre suas escolas. Por favor, faça-me saber quantos alunos você tem. 13. Seu sobrinho veio me visitar e disse que queria ser Irmão e que foi visitar você e que você iria ser sacerdote. Como ele é muito leviano, eu o mandei para casa para pensar bem no assunto e desde então não tenho mais notícias dele. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 33 Para Irmão Huberto - 5 de maio de 1702 1. Um de seus primeiros cuidados, meu caríssimo Irmão, deveria ser aplicar-se à oração e à escola, pois estes são suas duas principais ocupações e aquelas das quais prestará a mais estrita conta a Deus. 2. Meu caríssimo Irmão, é preciso que você se deixe conduzir como uma criança obediente que não 68 tem outra coisa em vista do que obedecer e, ao obedecer, cumprir a vontade de Deus. 3. Preste bem atenção de nunca se servir destes termos: "Eu quero" ou "Eu não quero" ou "É necessário". Esses termos e essas maneiras de falar são horríveis e só podem impedir as graças de Deus que ele somente concede aos que não têm outra vontade do que a dele e só a vontade própria é que conduz ao inferno, como diz São Bernardo. 4. Quando tiver sofrimentos de espírito, declare-os a seu diretor e verá que Deus o abençoará e lhe dará a graça de os suportar por amor dele ou os fará desaparecer. 5. Cuide bem de não se deixar levar a agir por humor, pois Deus tem horror a tais ações. 6. A principal virtude a que se deve aplicar é a obediência. 7. Entregue-se muito na oração à direção de Deus e demonstre-lhe muitas vezes que somente quer o cumprimento de sua santa vontade. 8. Em seu santo amor é que sou, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 69 0 CARTA Nº 34 Para Irmão [Huberto] - Paris, 1º de junho de 1706 1. Meu caríssimo Irmão, tive muita consolação por ficar sabendo através de sua última de que você está na disposição de uma completa entrega. 2. Não sei por que você está na incerteza de sua vocação. 3. A respeito dos votos, não sou eu quem deve decidir sobre isso; sua determinação deve vir de você mesmo. Como pede minha opinião, direi que não vejo nada que possa pôr obstáculo de sua parte. 4. É preciso seguir a regra na quinta-feira, dia de feriado de manhã. 5. Nunca se deve ficar lendo durante a santa missa à qual se assiste com os alunos. 6. Não se atrapalhe com as tentações de impureza nem dos movimentos; procure pensar em outra coisa. 7. Quando, na escola, se sentir levado à impaciência, fique algum tempo sem agir e sem falar até que esse movimento tenha passado. 8. Tenha sempre uma atitude séria na escola, daí depende muito a ordem da escola. 70 9. Tenha cuidado para que se continue a falar de coisas boas nos recreios e procure que então nada se diga de inútil. 10. Tenha sempre alguma intenção de Deus em suas ações, isto é importante para realizá-las de maneira cristã. 11. Seja fiel em seguir o método na meditação. 12. Procure que o Irmão Clemente recupere bem a saúde. 13. Por favor, que não se mande fazer mais nada quer por recompensa nem por qualquer outra coisa sem ordem. 14. Você fez bem por não transmitir os recados que o Irmão Cassiano lhe deu. Todas essas visitas não se devem fazer entre nós. 15. Quando faltam apenas alguns dias para a carta do mês, não se deve escrever a não ser em caso de extrema necessidade. 16. O Irmão Roberto não deve retornar a Paris. 17. Não se deve arrumar o jardim durante o recreio a não ser quando se emprega um [dia] para regar, e neste caso o Irmão servente o pode fazer; é melhor que seja um jardineiro que arrume o jardim. 18. Não há nada que você não devia fazer para garantir que suas escolas funcionem bem, e especialmente a sua. 19. É preciso evitar cuidadosamente que os Irmãos nela conversem juntos. 71 20. Tenha a certeza de que sua alma me é muito cara e terei cuidado dela. Mas no que se refere a uma confissão geral, as razões que me propõe não são suficientes para obrigá-lo a isso. Com efeito, você não pode fazer nada melhor do que entregarse entre as mãos de seus superiores. 21. Pelo que parece você fala aos Irmãos sobre o Irmão Carlos, visto que os que não o conhecem, falam dele; isto é muito ruim. 22. As tentações de impureza que tem não devem lhe importunar o espírito. Elas não o devem impedir de comungar. 23. Proponha-me tudo o que julgar bom acerca da direção e procurarei ajudar-lhe nisso. 24. Nunca se deve levar tochas para São Martinho nem para qualquer outra parte. Se isto se fez em anos passados, ninguém me disse nem escreveu nada; informe-me quem foi o diretor durante esse tempo. 25. Não é verdade que os Irmãos serventes não fazem novenas. Se o Irmão Isidoro não fez nenhuma, que faça alguma. 26. Siga a ordem do Sr. pároco de Saint-Pierre de manter firme a vinda dos alunos na hora exata, mesmo se tiver apenas quatro, isso vale tanto para as outras classes quanto para a sua. 27. Por favor, tome cuidado para que os recreios se façam bem. Você sabe que rir levianamente nesse tempo não convém entre nós. Uma das coisas sobre 72 as quais deve velar especialmente são os recreios; você faz bem em fazer observar a regra exatamente. 28. Não quero mais do que contribuir para pôr ordem em seu interior ao dar-lhe conselhos de acordo com o que você me escreve. 29. Estão dizendo que a escola do Irmão Estêvão e a do Irmão Isidoro se destroem [sic]; por favor, preste atenção nisso. 30. Faça com que os Irmãos prestem conta de sua conduta e de sua consciência. 31. O Irmão Clemente diz que é advertido de ir ao refeitório em outro tempo para ali comer, que bebe vinho de absinto, etc… Estas não são coisas que se devem advertir na advertência dos defeitos, visto que essas coisas não se podem fazer sem ordem do diretor. 32. O trabalho não deve impedir o Irmão Isidoro de estudar seu catecismo, pois lhe é mais necessário sabê-lo do que trabalhar. Parece-me também que não é bom que ele trabalhe durante o grande recreio das quintas-feiras. 33. Faça com que sua casa se conduza exatamente na regularidade. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle. 73 CARTA Nº 35 Para Irmão Huberto - Paris, 30 de janeiro de 1708 1. Meu caríssimo Irmão, estou surpreso por você me ter escrito uma carta com data de 23, depois de me ter escrito outra no dia 19 e deverá escrever-me no começo do mês. Está vendo que se inquieta demais o espírito. 2. É verdade que não é muito agradável permanecer numa casa em que não há regularidade, mas é preciso que você procure que haja regularidade até que eu tenha meio de transferir os Irmãos. Você sabe perfeitamente que a regularidade depende em grande parte daquele que conduz. 3. É verdade que o Irmão Afonso é algumas vezes difícil, mas é preciso procurar que se torne mais dócil. Diga-me mais em particular os defeitos dele e eu farei com que ele cumpra seu dever. 4. Parece-me que você fala de maneira muito pouco prudente e muito pouco submissa e é difícil que Deus abençoe essa maneira. 5. Gostei muito que você ama a regularidade e lhe ajudarei quanto puder para a fazer observar; mas não estou em condições nem com poder para transferir antes da Páscoa. Contudo vou pensar nisso diante de Deus de agora em diante. 74 6. É um grande mal não se fazer violência para expulsar os pensamentos vagabundos que passam pela cabeça e para fazer bem a meditação. 7. Fico surpreso que depois de me pedir por sua primeira carta que quer ficar lá onde está enquanto me aprouver, o que aliás, é a melhor disposição em que você poderia estar; mas cinco dias mais tarde me escreve absolutamente o contrário. 8. Você deve ter um espírito bem inconstante. Mas como é uma tentação, deve procurar reconhecê-la e se humilhar por uma fraqueza dessas e que o conhecimento que tem dela lhe faça tomar a resolução de nunca seguir os repentes de seu espírito, o que é muito importante para você. 9. Recorra muito a Deus e verá que ele lhe ajudará tanto na questão da regularidade como da submissão e da estabilidade de seu espírito, coisas que deve se procurar com afinco e pedir a Deus com instância. 10. Eu preciso trabalhar com você e que você procure viver de modo diferente do que está vivendo e principalmente precisa melhorar na meditação e na assiduidade a seus exercícios, pois é nisto que você deve trabalhar mais e em que você não tem bastante cuidado. 11. Se for preciso ir a algum lugar, envie para lá um Irmão e fique em seu lugar nos exercícios e, na próxima carta do mês, você vai me prestar conta, sem faltar, de quantas vezes se tiver ausentado e 75 por qual motivo, pois o primeiro cuidado que deve ter quem dirige é ser o primeiro em tudo. 12. Você vai à cozinha para conversar com o Irmão Afonso. Isto gera familiaridade e causa de ele não lhe ter respeito. Você não me diz as coisas com clareza. Se for preciso ir à cozinha, mande um Irmão e fique no exercício. 13. Somente vai haver ordem em sua escola na medida em que estiver lá sem outra ocupação e sem falar. Evite cuidadosamente bater nos alunos com a mão ou com qualquer outra coisa. 14. Também é uma grande falta rir durante as refeições. Quando tiver cometido uma falta semelhante e capaz de escandalizar, será que se acusa disso? Você sabe muito bem que de acordo com a regra não deve omitir isso. 15. Não sei se vocês fazem as orações vocais tão pausadamente como aqui. Isto é importante para conseguir a atenção. 16. Se o Irmão Antonino não tem confiança em você é porque você não o conquista pela reserva, a ponderação e a regularidade que aparecem em você; isto somente pode causar o desprezo dos outros. 17. Reze muito pela regularidade de sua casa e por seus Irmãos quando eles não cumprem seu dever ou quando tiverem alguma dificuldade, para pedir a Deus as luzes necessárias para agir corretamente nessas ocasiões. 76 18. Peço a Deus que ele lhe conceda a graça de edificá-los e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 36 Para Irmão [Huberto] -18 de abril de [1708] 1. Estou respondendo a suas duas cartas, meu caríssimo Irmão, a última das quais acabo de receber. 2. Agradeço a Deus porque lhe deu a fidelidade de me declarar simplesmente a falta que cometeu ao escrever a sua mãe e ao Sr. Lalement. Você entende que a falta é grande e de péssimo exemplo você deve trabalhar para morrer ao mundo que deve estar morto para você. 3. Uma outra vez, seja exato em nada fazer sem autorização e de saída dizer simplesmente as faltas que tiver cometido. Não bata dizer-me, em geral, que cometeu algumas faltas em Guise, faltas que não cometeu em outra parte. É preciso dizer-me quais são essas faltas. 4. Se o confessor julga conveniente que você permaneça em Guise, deve ficar ali. Faltam apensas três meses até as férias, arranjaremos tudo naquele momento. 77 5. Estou bem contente de que você me diga sua opinião e ao mesmo tempo, que seja bem obediente e entregue (a Deus). 6. Diga-me, pois, em que e como você nunca foi tão irregular do que foi em Guise. 7. Por amor de Deus, tenha muito cuidado do som do sino, isto é muito importante. 8. Quer me parecer que os Irmãos não devem ir ao catecismo da paróquia nos dias de semana. 9. Por favor, cuide do silêncio em sua casa. 10. Não sei por que você é tão irregular nos recreios. Deveria tomar sumo cuidado para se corrigir disso. Você sabe perfeitamente como é importante passar bem s recreios e que é a regularidade que atrai a bênção de Deus sobre uma casa. 11. Parece-me que não é você quem deve fazer a cozinha, mas o Irmão Antonino. 12. É preciso que os exercícios não se omitam. Vocês têm poucos e poderiam fazê-los assiduamente, vocês dois e mais o Irmão Isidoro. 13. Quando se advertem pouco os defeitos, muitas vezes é sinal de que quase não existe regularidade na casa. 14. Você deve ser mais exato em repreender os Irmãos de seus defeitos. 15. Não permita que os Irmãos raciocinem nem repliquem quando se lhes manda alguma coisa. 78 16. É preciso até que os prove sobre a obediência e que os faça praticá-la bem. 17. É preciso estimular o Irmão Antonino a ser bem franco para dizer tudo simplesmente. 18. Não sei o que você chama "farce"; será que isto se compra pronto assim como os "vitelots". 19. Conquiste seus Irmãos e seja firme para que não façam sua vontade própria. 20. Que não se omita a leitura espiritual. 21. Diga-me em pormenores o que é a causa de não ter tranqüilidade de consciência. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 37 Para Irmão [Huberto] - 20 de julho de [1709] 1. O que o Sr. Binet disse ao Irmão Jacinto acerca do projeto do Sr. bispo de Chartres, S. Excia. o disse também a mim. Ele pretende nos alojar na casa de São Vicente, o que seria muito incômodo e onde nem sequer há um jardim e onde me parece que você estaria muito mal. O Irmão Jacinto diz o contrário. 79 2. Parece-me que é preciso rezar e fazer rezar seus alunos, continuando com as ladainhas pelos alunos e enviando todos os domingos e festas, nas quintasfeiras, dias feriados, dois Irmãos para comungarem em Notre-Dame, na capela da santa Virgem, na intenção de que o projeto de S. Excia. não se cumpra e que aconteça o maior bem tanto para o alojamento de vocês como para a multiplicação das escolas e dos alunos e que ninguém de sua casa se precipite neste negócio; deixe a execução para Deus. 3. Não era necessário que o Irmão Jacinto me escrevesse antes de você, nem que viesse para cá, creio. Teria bastando escrever-me. Antes da chegada dele eu já tinha escrito o que se refere ao assunto. 4. Anteontem conversei com o Sr. Pe. de Gergy que me prometeu escrever ontem mesmo ao Sr. bispo de Chartres. Se (este) pedir informações, você deve dizer que, uma vez que em breve deve vir para cá e como a coisa só é para o mês de outubro, terei a honra de lhe falar disso quando vier para cá ou para Saint-Cyr. 5. Você não agiu bem ao pedir santinhos por muito dinheiro, principalmente num ano como o presente em que não se tem pão. Por favor, não se dirija ao Irmão Atanásio para semelhantes assuntos. 6. Quanto ao que o Sr. bispo de Chartres lhe disse de que me pedem Irmãos em vários lugares, é verdade, mas trata-se de casas de dois que se quer estabelecer, o que não nos convém. Não quero casas 80 dessas, elas levariam nossa comunidade à destruição. 7. Por favor, não fique tanto tempo a falar aos Irmãos, se não tomar muito cuidado, vai perder s exercícios o que não deve acontecer. 8. Sei muito bem que se deve pedir aos Irmãos para darem conta de sua consciência, e procurar aliviarlhes as dificuldades, mas não se devem ter essas longas conversas em que muitas vezes se fala de uma quantidade de coisas exteriores, muitas vezes até prejudiciais, se não se toma cuidado. Fique atento sobre isso, pois também eu vou cuidar; este assunto é mais importante do que você pensa. 9. Nunca converse ao ir ao recreio, nem nas escadas, nem ao ir e vir dentro de casa. 10. Tanto você como todos os Irmãos devem ser advertidos de seus defeitos. Para isso, divida bem o tempo desse exercício. Durante este exercício você não deve ler, nem escrever, nem falar com alguém, nem fazer seja o que for. Durante este exercício bem como durante a acusação deve restar atenção para ouvir o que se diz. 11. Você ou o Irmão Renato deveria tomar a quarta-feira por dia de comunhão. não entendo como ambos podem abandonar a casa no mesmo dia para ir se confessar. Ele só deveria ir se confessar quando os outros também vão e você deve procurar também ir se confessar no mesmo dia em que os outros vão. Todas essas pequenas devoções particulares não convêm. 81 12. Parece-me que você procura demais as comodidades do corpo. Tome cuidado nisso, não proponha nada do que se refere ao exterior sem me tê-lo proposto antes. Isto é importante e não atenda facilmente os Irmãos no que lhe propuserem; nisto você pe muito fraco. 13. Peço a Deus para que sua casa esteja em ordem e na regularidade; trabalhe nisso. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 38 Para Irmão [Huberto] - 2 de outubro de 1710 1. Sei muito bem, meu caríssimo Irmão, que há inconveniente em que os Irmãos serventes se intrometam inteiramente no temporal, mas há outro ainda pior, que um diretor se intrometa nisso. 2. Meu caríssimo Irmão, nisso temos por demais experiência no passado. Se um diretor se torna exterior, toda sua casa está perdida, ao passo que, se um Irmão servente se perde, somente ele se perde. 3. Por exemplo, dizem que desde que você está em Chartres, não fez sequer meia hora de leitura espiritual. Que é que podem fazer seus Irmãos durante esse tempo? 82 4. Um diretor não deve sair de seus exercícios. Você não tem nada a fazer na cozinha. Aqui, que é uma casa muito grande, não é qualquer um que põe o pé na cozinha, a não ser o encarregado dos doentes; com maior razão numa casa de quatro pessoas, um diretor não deve pôr ali o pé. 5. Seus exercícios e suas escolas, eis o seu cuidado. Se você se mete em outras coisas, está indo contra a ordem de Deus. 6. É preciso que um Irmão servente fale sempre educadamente e com respeito, e é preciso obrigá-lo a isso. 7. Não é inútil dizer o que o aflige. Procuraremos remédio para isso, mas muitas vezes será inútil dizer: "Faça isto de mim". 8. É verdade que somente se tem uma alma a salvar, mas você a salvará somente em obedecendo e superando sua repugnância. 9. Você não deve sentir pesar ao repreender seus Irmãos, esta é uma de suas obrigações. Você deveria ter imposto uma boa penitência a esses dois Irmãos que assim se juntaram. 10. Seguramente, para fazer que uma casa ande na boa ordem, é preciso que o diretor e o subdiretor se entendam e estejam unidos. Vou procurar que isso aconteça. 11. Mas esses Irmãos se queixam de que você somente age por humor desde que o Irmão José foi embora. Dizem que é porque o Irmão servente tem 83 o manejo do dinheiro. Fique certo de que assim será na sua casa e em qualquer outro lugar. Se há algumas casas em que não é assim, elas são em pequeno número, não vai durar por muito tempo. 12. Não é razoável que o despenseiro tome sem pedir todo o dinheiro que lhe agrada quando sai. Ele até nem deve poder dizer: "Eu quero tanto"! Ele precisa pedir a importância que vai tomar. 13. Você deve cuidar para que se toque na hora. Isto é uma coisa muito importante principalmente quando se trata do despertar. Você não me diz se atrasou seu relógio fora do tempo marcado. 14. Por favor, seja firme para que não se fale em voz alta. E que se cumpram as regras no recreio. É tarefa sua tomar os meios e velar sobre o Irmão Norberto durante esse tempo. Você não diz a razão pela qual não estava presente no início do recreio. 15. É preciso não omitir o passeio nos dias feriados, exceto se chover. Algumas nuvens ou outras bagatelas não devem impedir o passeio. 16. O Irmão Atanásio agiu de maneira errada por ter escrito a você e a outros. Ele me perguntou se devia se desdizer e que tinha sido a paixão que o fez escrever. 17. Quer você desta maneira deixar se perderem seus Irmãos por não ter a ousadia de os repreender e deixa o Irmão Quintino fazer? Você, por sua tolerância, o coloca na situação de sair. Não deixe que ele faça o que quer que seja sem permissão. 84 18. Também não permita que o Irmão Norberto fale contra as regras nos recreios. Aliás, ele tem mais o seguinte: não procura inspirar piedade a seus alunos. 19. O Irmão Quintino somente pede para aprender a escrever; ele não o deve fazer. 20. Se o Irmão Quintino deseja emitir votos, será preciso deixá-lo fazer. Contudo, talvez seja bom prová-lo ainda um pouco. 21. Foi-me proposto enviar o Irmão Anselmo a Paris, se você não acha inconveniente nisso. Eu o acompanharei para lá. 22. É preciso obrigar o Irmão Norberto a cumprir seu dever. 23. O Irmão Quintino se queixa facilmente quando se lhe presta atenção. 24. Você não deve faltar à comunhão. você compreende bem que isto daria mau exemplo a seus Irmãos. 25. Não há dois chefes, porque, em todas as casas religiosas há um encarregado do espiritual e da direção, e um que cuida do temporal. 26. Estão muito contentes com o Irmão Jacinto, lá onde está. Você está vendo claramente que você é que é difícil e quer fazer outra coisa e não seu dever que somente é conduzir as escolas e os exercícios e vigiar sobre o Irmão servente. 85 27. O Irmão Quintino nunca se dará bem com o Irmão Norberto, mesmo que fosse apenas por um ano. 28. É preciso não deixar que o Irmão Norberto faça sua vontade. 29. Você não deve ficar ausente dos exercícios. Este é um grande defeito seu: o de estar ausente como aconteceu no passado. 30. Você não deve ensinar a ler ao Irmão Hilário. 31. Quando você viu que ele não cumpriu sua penitência, não deveria ter manifestado nada, mas pedir a Deus por ele; ficar tranqüilo e em outro momento procurar conquistá-lo e levá-lo a se acusar de sua falta e cumprir uma penitência conveniente. 32. Você age demais conforme a natureza nessas ocasiões. Esta é a causa por que Deus não abençoa o que você faz. 33. Você deseja paciência em seus Irmãos. É preciso que você a mostre em si e não que faça aparecer o humor ou a natureza nesta sorte de ocasiões. 34. Ele diz que, quando ele tem algum dinheiro, você quer que ele lho dê para comprar tudo o que agrada a você. Neste ponto você é mais difícil do que eu e os outros, e isto não está correto. 35. Ele não lhe deve dar dinheiro mas comprar tudo o que é necessário. Assim está correto. Você deve devolver-lhe o dinheiro. Se ele não comprar o que é necessário, diga-me, eu farei com que ele o compre. 86 36. Esforce-se para fazer que seus Irmãos cumpram seu dever. Você precisa agir com prudência com eles. 37. Se a maior parte de suas cartas são apressadas, será que isto é prudente? Um pouco mais de prudência e de amor de Deus seria muito bom para você. 38. Peço a Nosso Senhor que ele lhe conceda seu espírito, e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle. CARTA Nº 39 Para o Irmão Irineu - [1716] …… 1. Quando tiver imaginações sujas, se for na escola, procure ocupar-se com aquilo que está fazendo. 2. Esses pensamentos são tentações subtis do demônio; é preciso pensar no presente sem se embaraçar com o futuro. Esse projeto de voltar ao mundo para ali realizar obras boas levou vários monges a se perderem. 3. As penitências são de grande utilidade para se corrigir de seus defeitos e para progredir na virtude. 87 4. Sejam quais forem as disposições que tiver, é preciso esforçar-se para fazer atos de aceitação de ser repreendido e corrigido. Se tiver alguma dificuldade de os fazer de coração, faça-os de boca. 5. Não se incomode para fazer atos freqüentes; eles poderiam prejudicar-lhe a saúde. Uma simples vista de Deus basta de tempos em tempos. 6. Por que é que teme os dias de confissão? Deve, pelo contrário, desejá-los. 7. Abstenha-se de falar na escola. acostume-se a usar os sinais ordinários. Este é o nosso costume. 8. Quando se sentir tentado de impaciência, retenha-se e não faça nada até que o movimento tenha passado. 9. Sou, em Nosso Senhor, todo seu…… CARTA Nº 40 Para Irmão [José] - 23 de dezembro [1710] 1. Meu caríssimo Irmão, hoje ao meio-dia, recebi sua carta. 2. No sábado partirei para ir a Troyes. Não viaje de lá, aguarde-me ali. Estarei ali na segunda-feira e conversaremos juntos, sobre tudo o que se refere aos assuntos daquela cidade e sobre tudo o que você me propõe acerca dessas granjas de Reims. 88 3. Não diga a ninguém, nem sequer ao Irmão Alberto, que devo ir para lá. 4. Vou dar um jeito para que tudo acabe bem e que todos fiquem satisfeitos. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 5. Não se faça nada acerca da supressão dessas escolas até minha chegada. 6. Por favor, pague o porte desta carta ao Sr. Bourgoing. CARTA Nº 41 Para o Irmão José - 6 de fevereiro de [1711] 1. Ontem recebi suas três cartas ao mesmo tempo, meu caríssimo Irmão. Respondo à mais urgente. 2. Parece que é conveniente que o Irmão Plácido vá a Guise. 3. Estou enviando o Irmão Fabiano com o candidato de Mende para substituir o Irmão Plácido e dentro de dois ou três anos ele estará em melhores condições do que agora, de aproveitar do noviciado e ele vai ir bem na escola. 89 4. Você vai entregar o cavalo ao irmão Fabiano para o trazer aqui, na terça-feira de tarde estará em Reims. 5. O Irmão Dositeu não lhe teria escrito, se você não lhe tivesse escrito antes, assim como os Irmãos de Guise. 6. Não sei por que você está escrevendo assim aos Irmãos como bem lhe parece. Isto não é prudente. Não devem existir comunicações assim por carta de uma casa a outra, entre nós. Isto não convém. Se você quiser impedi-las, não as mantenha você mesmo. 7. Seria de desejar que o Sr. Bourgeois aprendesse a costurar e a cortar bem o cabelo; isto é importante. 8. Não sei, se um rapaz talhador de pedra foi visitar você desde minha partida. Se ele continuar a pedir admissão, é preciso esperar para depois da Páscoa, mas não devem entrar juntos. 9. Peço-lhe que dê ao Irmão Remígio o que ele precisa. Ele disse ao Irmão Tomás que precisa de lã para fazer meias que não tem, e de uma camisola. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 90 A) Obediência do Irmão José - 13 de julho de 1708 Nós, abaixo assinado, Sacerdote, Doutor em teologia, Superior dos Irmãos das Escolas Cristãs, enviamos nosso Irmão José para visitar as casas de Rethel, Guise e Reims, por isso ordenamos expressamente aos Diretores das citadas casas, receberem o citado Irmão naquele status e darem-lhe a conhecer tudo o que se passa em sua casa. Feito em Paris, a quinze de julho de mil setecentos e oito. De La Salle B) Obediência do Irmão José - 30 de julho de 1709 Nós, abaixo assinado, Sacerdote, Doutor em teologia, Superior dos Irmãos das Escolas Cristãs, enviamos nosso caríssimo Irmão José, às casas de Guise, Laon, Reims e Rethel para ali fazer a visita. E por ser verdade, assinamos estas presentes. Feito em Paris, a 30 de julho de 1709 De La Salle C) Obediência do Irmão José - 16 de novembro de 1711. Nós, abaixo assinado, Sacerdote, Doutor em teologia, Superior dos Irmãos das Escolas Cristãs, decla- 91 ramos a todos que julgamos conveniente enviar nosso caríssimo Irmão José , da citada Sociedade, para visitar as casas de Moulins, de Dijon, de Troyes, de Reims, de Rethel, de Laon, de Guise, de Calais, de Boulongne, de Ruão, de Sain-Yon, de Darnétal, de Chartres, de Versalhes e de SaintDenis, dependentes da citada Sociedade das Escolas Cristâs. Por ser verdade, assinamos as presentes. Feito em Paris, a 16 de novembro de mil setecentos e onze. De La Salle CARTA Nº 42 Para Irmão Matias - 3 de dezembro de [1706] 1. Você é o primeiro a quem escrevo este mês, meu caríssimo Irmão. 2. Não há nada que eu procure mais do que aliviar você em seus sofrimentos, mas você entende que não posso fazê-lo se não souber quais são esses sofrimentos. Não vejo quais são eles. 3. Você apenas me escreve que não se sente bem. Não sei se este é o único motivo por que me pede 92 vir a Paris ou que o envie a qualquer outro lugar. Dê-me a conhecer qual é a razão disso. 4. Você quase não me escreve nada em suas cartas. Repete uma porção de vezes uma mesma coisa que basta dizer uma vez somente. 5. Dê-me a conhecer todos os seus sofrimentos. Se forem causados porque não lhe escrevo, então escreverei cada vez que eu escrever aos Irmãos, mas, por favor, dê um jeito para que suas cartas sejam mais bem escritas e com melhor ortografia, porque quase não as consigo ler. 6. Continue a entreter-se na oração sobre os atos da preparação. Está muito bem que se aplique particularmente a se recolher interiormente e a afastar de si as distrações. 7. Você apenas me diz, como razão de o transferir, que não se adapta a Reims. Veja bem que, entre nós, é preciso adaptar-se a qualquer lugar a que se é enviado pelos seus Superiores, já que a obediência deve ser a principal regra e a maior satisfação dos Irmãos. 8. Não sei o que você quer dizer que está desgostado da maneira com que foi tratado. Explique-me isto e procurarei trazer remédio a seu mal-estar. 9. Esteja certo, caríssimo Irmão, de que somente quero o seu bem e a paz de sua alma e que sou, em Nosso Senhor, todo seu. De La Salle 93 CARTA Nº 43 Para Irmão Matias - Paris, 18 de novembro de 1707 1. Meu caríssimo Irmão, anteontem recebi sua primeira carta e hoje a outra, que me foi remetida de Ruão. Você deve sempre enviar suas cartas a Paris, seja qual for o lugar em que eu esteja. Eu lhe respondo no dia que você diz aguardar resposta a sua primeira carta. 2. Quem foi que lhe disse que Deus não pede de você seu emprego? 3. Nele você está bem, está em paz, está tranqüilo, quando permanece apoiado. Sei perfeitamente, meu caríssimo Irmão, que você precisa de apoio, mas quando o receber, estará seguro. 4. Sei como você se encontrava em Paris. 5. Acho que você está mais embaraçado de espírito do que de corpo. 6. Enquanto permanecer submisso, Deus o manterá firme. 7. Lamento que você esteja chateado. Farei tudo o que puder para o aliviar. 8. Você me pede vir a Paris, você entende que o inverno não é um tempo propício para isso. 9. Uma boa proposta é a que você me faz, a de fazer uma novena para pedir a Deus que ele o fala 94 cumprir sua vontade. Entregue-[se] bem a isso e fique de bem com F.… e ele o abençoará. 10. Não sei em que e da parte de quem foi inumana, a maneira em que foi tratado. 11. Não vejo que o que lhe fez o Irmão Ponce seja tão ruim como você o mostra. Você perturba demais o espírito, isto muito o prejudica. 12. Fique certo de que farei por você tudo o que me for possível e sou, meu caríssimo Irmão, em Nosso Senhor, todo seu. De La Salle CARTA Nº 44 Para Irmão Matias - Neste dia 30 de dezembro de [1707] 1. Não sei, meu caríssimo Irmão, por que você me escreve de maneira tão pouco conveniente e tão contrária à verdade. 2. Eu não lhe dei ocasião para tanto até hoje, pois nada fiz que não fosse para o seu bem e o transferi para o lugar em que está, somente depois de você me ter pressionado insistentemente durante muito tempo. 95 3. Em vez de contar suas mágoas a pessoas externas, diga-as ao Irmão Ponce ou escreva-as a ele, caso ele não estiver em Mende. 4. Eu o encarreguei de fazer naquela terra tudo o que for conveniente para o bem dos Irmãos. 5. Você não deveria me ter pressionado tanto para o enviar tão longe, para querer voltar tão cedo. Você entende bem que não se pode fazer voltar os Irmãos de tão longe antes da Páscoa, nem enviar outros; e que não se deve empreender viagens para se dispensar de jejuar durante a quaresma. 6. Fique certo, meu caríssimo Irmão, que, de acordo com o que me disser o Irmão Ponce, farei tudo o que for conveniente para você. Portanto, revele-lhe todas as suas mágoas e todos os pensamentos, e verá que Deus o abençoará por este meio. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão em Nosso Senhor, todo seu. De La Salle CARTA Nº 45 Para o Irmão Matias - Neste dia 13 de janeiro de [1708] 1. Parece, meu caríssimo Irmão, que você faz seus exercícios com muito pouca aplicação e muito pouco amor. Contudo, você não atrairá as graças de 96 Deus sobre si, a não ser fazendo-os com amor e da melhor maneira que lhe for possível. 2. Você me escreve de maneira apaixonada, isto não é bom, eu não lhe dei motivo para isso. 3. Se o enviei para lá onde está, foi somente depois de você me ter solicitado durante três meses que o enviasse para bem longe. 4. Quanto a seus sofrimentos, você poderá me escrever confidencialmente quantas vezes quiser, procurarei remediar. 5. Darei um jeito para que você seja levado a Deus com bondade e não com dureza e não haverá nada que não farei para procurar o seu bem e sua salvação, mas de seu lado, por favor, procure agir com mais bondade e não por humor e paixão. 6. Você faz meditação? Vai comungar? Isto é bastante difícil quando se está disposto como você está. 7. Faça meditação, meu caríssimo Irmão, e peça a Deus que sua santa vontade se cumpra em você. É o que também eu vou pedir com insistência. 8. É preciso ir a Deus, meu caríssimo Irmão, e trabalhar para você se salvar. Não abuse dos meios que Deus lhe dá para isso. 9. Dois de seus irmãos vieram para cá no domingo e me pediram que eu lhe escrevesse que você fique tranqüilo no estado em que está e que você não poderia estar melhor. 97 10. As pessoas que você visitou não o conhecem bem. 11. Vou rezar muito por você. Desejo-lhe um feliz e santo ano novo e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. [De La Salle] 12. Você me pede que eu escreva a seus pais e você mesmo lhes escreveu. Isto não está correto. CARTA Nº 46 Para o Irmão Matias - Neste dia 8 de fevereiro de [1708] 1. Sinto muitíssimo, meu caríssimo Irmão, que minhas cartas lhe causam sofrimento. Contudo não lhe escrevo nada que lho possa causar. Escrevo-lhe com a maior cordialidade que me é possível e não lhe escrevo nada que não fosse para seu bem. Assim acredito que você o deveria entender. 2. Fico muito satisfeito porque você cumpre bem seu dever, como me diz. Não o estou sabendo, embora você dizer que eu o estou sabendo. 3. Estou longe de lhe permitir escrever a seus pais, já que antes de eu responder a sua carta, seus dois irmãos vieram dizer-me que você tinha escrito duas vezes a sua mãe, que faleceu; e que a carta de você chegou a eles. Você entende que isto significa es- 98 crever antes de pedir autorização para isso, o que está completamente errado. 4. Lamento sinceramente que você não esteja bem. Mas tome cuidado de que você não esteja em parte doente de imaginação, pois você parecia sentir-se melhor em Paris do que andava dizendo. 5. Estive muito longe de pensar em fazê-lo vir a Paris. Não o autorizei a fazer uma viagem tão longa para fazê-lo voltar tão cedo. 6. Por favor, não se aflija assim com as bagatelas, como está fazendo. 7. Pensei ter-lhe contado que seus irmãos me disseram que eu dissesse a você permanecer lá onde está; que é para seu bem e a melhor coisa que você poderia fazer. Fiquei feliz porque você pensa o mesmo e porque prefere ficar lá onde está. 8. Portanto, por favor, deixe de ter fantasias e não se deixe mais dirigir por suas idéias do momento. 9. Procurarei que você esteja satisfeito com aqueles com que estiver. 10. Também procurarei, depois da Páscoa, colocálo em outro lugar e não em Mende, já que você assim deseja. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 99 CARTA Nº 47 Para o Irmão Matias - 23 de março de [1708] 1. Creio que você está tão bem quanto o pode ser, meu caríssimo Irmão, e que você deve estar contente com o Irmão que agora está com você. 2. Esforce-se, pois, a cumprir bem seu dever e a se aplicar a seus exercícios, pois estes é que o santificará e o conduzirão a Deus. 3. Tome resoluções para se tornar bem recolhido e para tomar todos os meios possíveis para isso. 4. Procure aumentar, quanto puder, o número de seus alunos. 5. Tenho certeza de que o Irmão que está com você não é rabugento e que você está contente com ele. 6. Você não tem vergonha de dizer: "Um rapaz tão bonito como você, estar em tal estado". 7. Você é muito feliz por estar no estado em que está. Estado santo e santificador, que lhe é honroso para a vida e para a salvação. 8. Você é um rapaz maravilhosamente bonito! Como é que você pode falar assim de si mesmo! São estes os termos próprios de um religioso! 9. Se não estou contente com as cartas que você escreve é porque você escreve, algumas vezes, intempestivamente. Cuide para escrever mais sensata e educadamente. 100 10. Você entende que é muito ruim ficar ressentido e guardar rancor. 11. Você também entende que é muito ruim encolerizar-se e seguir seus caprichos. Isto é mais atitude de animal do que de pessoa inteligente. 12. Tome muito cuidado para não ficar impaciente na escola, pois este não é o meio de conseguir ordem nem silêncio. 13. As réplicas prejudicam muito a submissão que você deve ter. 14. é muito mau comportamento entregar-se a tudo que lhe vem à cabeça, porque aparece cada pensamento atravessado. 15. Deixe-se guiar pela obediência e verá que Deus o abençoará. 16. Peço [a Deus] que o cumule de suas graças, e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 101 CARTA Nº 48 Para Irmão Matias - 4 de abril de [1708] 1. Estou muito satisfeito, meu caríssimo Irmão, com a boa disposição em que você está agora de permanecer em seu estado que, para você é muito santificador, e de nele cumprir bem seu dever. 2. Não posso colocar você junto do Irmão Cipriano. O Irmão Alberto não é do seu agrado. Muitas vezes você não sabe o que está pedindo. 3. Eu gostaria muito de saber se agora existe alguma coisa que impede você de permanecer na casa em que está. 4. Creio que você tem motivo de estar contente com o Irmão que agora é seu diretor, por isso acredito que Deus pede de você que fique tranqüilo, ficando com ele. Já que você me diz que eu faça tudo para o seu bem, é isso que me parece melhor. 5. Por que é que seria melhor para você que eu o transferisse o mais cedo possível? Eu não o entendo. Você está com um bom Irmão que lhe dará bom exemplo. 102 6. Você tem razão de me pedir perdão por suas cartas, pois elas, algumas vezes, foram não somente muito indiscretas, mas bem ofensivas e não sei como é que se pode escrever dessa maneira. 7. Contudo, fiz um esforço para não me ofender com elas, e de minha parte, para não ficar ressentido. 8. Você me pede ficar com bons Irmãos e você está com eles. De que é que está se queixando? Por favor, tenha um espírito uniforme, estável e submisso, pois de outra forma Deus não o abençoará. 9. Recomendo-me a suas orações durante este tempo santo e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 49 Para Irmão Matias - 13 de abril de [1708] 1. Estou muito satisfeito, meu caríssimo Irmão, com a boa disposição em que você está de permanecer de boa vontade na comunidade e procurarei ajudar-lhe ali quanto puder a suportar os desgostos. 2. Vou cuidar de que você não fique ainda muito tempo no lugar em que está, mas é preciso ainda ter paciência. 103 3. Ninguém vai incomodá-lo, eu vou cuidar disso, mas é preciso que você observe suas regras e as mesmas regras que há em outros lugares. Você entende que não deve haver diferença de uma casa à outra. 4. Estão falando de que, na casa de vocês há muita liberdade. Talvez lhe estão deixando liberdade excessiva. É preciso que você tenha a mesma regularidade que tinha quando estava em Paris. 5. Estão falando que se vai comer fora de casa. Você sabe muito bem que isto é completamente contra as regras e nunca se deve ir à casa de alguém seja quem for. 6. É preciso não só cumprir bem seu dever na escola, mas também nos demais exercícios, pois a escola sem os exercícios não anda bem. 7. Quando tiver feito seus exercícios regularmente por um pouco de tempo, já não lhe será mais penoso. É preciso fazer-se um pouco de violência durante algum tempo por amor a Deus. 8. Escreva-me se o Irmão Antônio tem uma prática diferente da normal da comunidade e que diferença há entre a prática dele e a do Irmão Ponce, mas escreva-me somente quando o Irmão Antônio me escrever. 9. Estão dizendo que os sapatos do Irmão Sebastião eram pequenos demais para ele e que se ajustam a você. Tome-os para si e nunca faça que se tenha de dizer uma coisa duas vezes. 104 10. É preciso que se faça uma calça para você, se tiver necessidade. Terei cuidado que lhe dêem tudo o que lhe é preciso. 11. Portanto, seja fiel em cumprir bem suas regras e Deus o abençoará e o cumulará com suas graças. 12. Peça-lhe que o mantenha sempre na disposição em que está de ir sempre para o lugar a que eu quiser enviá-lo. 13. Peço-lhe também que esteja sempre bem submisso a seu diretor. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 50 Para o Irmão Matias - [1708] 1. Meu caríssimo Irmão, não sei por que você me escreve tantas cartas ao mesmo tempo. Não teremos bastante dinheiro para tantas franquias de cartas. Escreva com o Irmão que o dirige, isto basta e nunca escreva sem autorização. Você entende que é preciso fazer as coisas em ordem. 2. Vou procurar transferir você em breve. 105 3. Seja, pois, observante da Regra e sensato e bem obediente pois Deus só o abençoará na medida em que você o for. 4. Por que é que você quer tomar o dejejum nas festas e domingos? 5. Em suas cartas você fala muitas vezes como uma pessoa que é pouco obediente. Por amor de Deus, tenha cuidado de adquirir mais submissão, pois ela lhe é bem necessária. 6. Estou vendo que você gosta muito de ter sua liberdade, mas, creia-me, ela lhe seria muito prejudicial. 7. É preciso ser observante da Regra e obediente. Será que o Irmão Antônio quer outra coisa além do que se exigiria de você, se você estivesse aqui? Se for assim, comunique-o, darei ordem. 8. O Irmão Antônio tem razão de não querer correr e ir de um lado ao outro na cidade. Você está vendo que isto não convém aos Irmãos. Talvez você tenha sido demasiado livre no passado. Está vendo que é preciso que você se corrija neste ponto. 9. Peço a Deus que ele lhe conceda seu espírito e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 106 CARTA Nº 51 Para o Irmão Matias - 16 de maio de [1708] 1. Para responder a suas duas cartas, eu lhe direi que escrevi ao Irmão Ponce para que vá a Mende e coloque tudo em ordem. Creio que ele o poderá transferir e levá-lo consigo. 2. Estou bem contente por vê-lo disposto a ir para onde eu quiser transferi-lo. Não estou disposto, neste momento, a colocá-lo perto de Paris nem para transferi-lo para lá. 3. Estou bem contente por você estar contente no país em que está e que, no futuro, você quer deixarme tanta satisfação quanto me causou aborrecimento. 4. Como você me pede, vou procurar que você tenha muitos alunos e que tenha a vontade de cumprir seu dever, mas, por favor, que seja tão fiel aos exercícios como à escola. 5. Estou muito contente porque você quer se esforçar para se tornar apto para tudo e que, quando me escrever, que seja para me dar conta de sua consciência; peço-lhe que seja exato nisso. 6. Não deixarei de pedir a Deus, como você me pede, para que ele o faça perseverar até o fim de seus dias. 7. Tenha a certeza de que Deus só o abençoará na medida em que for obediente. 107 8. É uma vergonha que você fique chateado com o Irmão que o dirige e que tinha raiva dele. 9. Tome cuidado de que suas distrações nas orações e meditações não provenham do fato de que você é por demais dissipado e exterior. 10. Procure entregar-se ao recolhimento e à submissão que, como você dia, lhe é muito necessária, como você escreve, vai se aplicar a isso. Estas são as principais virtudes que deve procurar adquirir. 11. Você bem sabe que se deve fazer os exercícios na casa e não ir correndo a uma cidade. Vai-se a passeio todos os dias de feriado. 12. Estou persuadido que, no futuro, você será exato e fiel em nada fazer sem autorização e que quer ser bem regular já que quer cumprir bem seu dever e que é na regularidade que ele consiste. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 13. Seus pais me pediram que eu lhe dissesse que fique tranqüilo e que não lhes escrevesse mais inutilmente e pelo correio, como fez. 108 CARTA Nº 51A Do Irmão Ponce ao Irmão Matias - Avinhão, 4 de junho de 1708. Meu caríssimo Irmão. 1. Talvez você esteja pensando que esqueci você. Não; não o esqueci, mas aguardava os momentos da Providência. 2. A presente tem por fim avisá-lo de que deve partir no sábado, dia 9 de junho, de manhã bem cedo, para ir a Villefort, no mesmo dia. Dirija-se ao "Cavalo Branco". Este está quase fora da cidade de Villefort e lá encontrará um Irmão para companheiro. 3. Deverá partir para Mende assim que o portão se abrir. São sete léguas até lá Você as percorrerá facilmente, pois os dias são longos. 4. Traga até ali um pacotinho em que estão todas as minhas cartas e outros papéis da comunidade e que deixei com o Irmão Antônio. 5. Traga também a regra da escola manuscrita em letra miúda, porque delas há duas, a que peço trazer é a que Irmão Clemente copiou em letra bem miúda. Irmão Antônio saberá de qual se trata. 109 6. Peça também ao Sr. Pe. Martineau a planta do bispado e da igreja catedral que fiz, estão em três ou quatro folhas; enfim, todos os papéis que dei a ele, junte tudo naquele embrulho, mas não abra o pacote que deixei com o Irmão Antônio. 7. Junte os citados papéis que o Sr. Pe. Martineau tem a esse embrulho e traga-o. 8. A Sra. Delafarge ainda terá a bondade de lhe dar alguns velhos panos para os envolver. 9. Creio que os Irmãos poderão facilmente chegar no dia de Corpus Christi. Assim, na sexta-feira você poderá preparar tudo. 10. Se puder, saúde de minha parte o Sr. Durant e a Sra. De Pouillac e aguardamos vocês no sábado sem falta, dia 9 de junho, lá onde lhe disse acima. 11. Se puder, saúde também o Sr. e a Sra. Laurent de minha parte e assegure-lhes meus muito humildes respeitos. 12. Não mostre a presente a ninguém, a não ser ao Sr. Padre, se você o julgar conveniente. Você nem sequer deveria dizer que está saindo. 13. Você irá de Mende a L'houstau Crematte, de lá, a Cubières, de Cubières a Laprade, de lá só há uma légua até Villefort, ela é um pouco longa. O Irmão Antônio deverá dar-lhe bastante dinheiro para sua viagem. 14. Termino assegurando-lhe que sou, aguardando sua chegada, meu caríssimo Irmão, seu muito humilde e obediente servo. 110 Irmão Ponce 15. Deixe seu capote para o Irmão Ireneu. Estou dizendo ao Irmão Antônio que lhe queira dar dez ou doze libras de toucinho, ele lho dará de bom grado. Aqui, ele custa cinco francos a libra. Você o traria até Villefort, pois o Irmão que aguarda você, tem um cavalo. 16. Se, por acaso, o Irmão não estivesse em Villefort no sábado à tarde, assista a missa no domingo e depois ponha-se a caminha para Vans e de Vans a Barjac, de Barjac a Bagnols, de Bagnols a Avinhão. Talvez o encontrará a caminho. CARTA Nº 52 Para Irmão Paulino - 25 de outubro 1. Ora essa, meu caro Irmão, com que é que você está se atrapalhando a respeito de seus pais. Acho que eles quase não pensam em você. Por que se afligir por causa deles? Deixe que façam seu trabalho e faça o seu. 2. Diga a si mesmo o que dizia Nosso Senhor, que quem olha para trás não é digno dele. 3. Alegro-me porque agora está resignado à vontade de Deus a respeito de sua escola. deus o abençoará nela em razão da sua submissão de espírito a pear de sua repugnância passada. 111 4. Estou de acordo, meu caríssimo Irmão, que faça voto por três anos. Prepare-se a isto para quando eu estiver em Ruão. 5. É preciso que você fique certo de que terá sofrimentos durante toda sua vida em qualquer lugar em que estiver. Por isso prepare-se a suportar em paz os que Deus lhe enviar no estado em que ele o colocou. 6. Por favor, tome cuidado para ser bem exato ao silêncio. Esta é uma das coisas importantes numa comunidade para a tornar regular. 7. Principalmente tome jeito com o Irmão Martiniano, pois ele é muito conversador. Não fique a sós com ele. 8. Aniquile seus desejos, por favor, quando eles procuram satisfazê-lo. Não tenha outro desejo do que contentar a Deus. é por isso que você está neste mundo e no estado em que está. 9. Você pede para ir com o Irmão Barnabé porque você o conhece. Será que você pode fazer semelhante pedido: não esta vendo que ele é inteiramente natural? Peça a Deus que ele faça sua vontade em você e por você. Este pedido será muito melhor para você. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 112 CARTA Nº 53 Para o Irmão [Roberto] - [1705] 1. Meu caríssimo Irmão, recebi sua carta. Estou muito satisfeito porque sua alma está em grande tranqüilidade. Rogo a Deus que ele a mantenha assim. 2.Também estou muito satisfeito porque me comunica a boa disposição em que se encontra de perseverar até o fim de sua vida na sociedade e esta alegria cresce muito, com o desejo que você tem de voltar ao noviciado. 3. Este é um sinal de que você tem grande desejo de progredir na virtude, o que me agrada muito. 4. É preciso amar a pobreza, meu caríssimo Irmão. Nosso Senhor foi muito pobre embora teria podido ser rico. Você deve, pois, imitar este divino modelo. 5. Parece-me que você gostaria que nada lhe faltasse para estar contente. Ora essa! quem é que não desejaria ser pobre sob essa condição? Os grandes e poderosos do mundo não abandonariam todas as suas riquezas para gozarem de uma vantagem que os tornaria mais felizes do que os príncipes e reis da terra? 6. Por favor, lembre-se de que não veio à comunidade para ter todas as comodidades e satisfações, mas para abraçar a pobreza e suas conseqüências. 113 Digo, suas conseqüências, porque não lhe serviria para nada amar a virtude, se não amar tudo o que dela depende e que lhe pode dar ocasião de a praticar. 7. Você diz que é pobre; como me agrada esta palavra! Pois dizer que você é pobre é dizer que está feliz. "Bem-aventurados vós, pobres", dizia Jesus Cristo a seus apóstolos. Digo-lhe a mesma coisa. 8. Como você é feliz! Você diz, que nunca foi tão pobre. Tanto melhor, você nunca teve tantos meios para praticar a virtude do que agora. 9. Eu poderia dizer-lhe a esse respeito o que um grande papa, certa vez, respondeu a um Jesuíta que lhe expunha a grande pobreza de sua casa, que dizia ele - nunca tinha sido tão pobre: "Tanto melhor para você - replicou ele - quanto mais pobre você for, tanto melhor será". 10. Preste atenção neste início de uma casa, para não se dissipar. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 114 CARTA Nº 54 Para o Irmão Roberto - 01 de maio de [1707] 1. Meu caríssimo Irmão, seja fiel a deixar tudo ao primeiro toque do sino e que todos sejam exatos a bater no último sinal do relógio. 2. Não é bem educado gritar atrás das mulheres e correr atrás das crianças. É preciso ter mais educação. 3. Peço-lhe que haja silêncio em sua casa. 4. Evite principalmente falar às crianças por curiosidade. 5. Não se preocupe do que se diz nas ruas e permaneça nelas recolhido. Você está obrigado a edificar o mundo. 6. O motivo por que você tem tanta secura e distrações na oração é que você é por demais exterior e conversa demais. 7. Evite ler por curiosidade. A leitura espiritual não é feita para isso, ela deve dispor à meditação. 8. Nada se ganha com entregar-se à falta de coragem. 115 9. Procure que seus alunos sejam assíduos, isto é muito importante. 10. É vergonhoso dar bofetadas a algum aluno. Evite com cuidado a impaciência. 11. Conheço o Sr. pároco e sei que ele é capaz de só dar bons conselhos. 12. Peço-lhe que tenha bons modos com seu coirmão e que haja uma prudente condução em sua casa. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 55 Para o Irmão Roberto - 2 de dezembro de [1707] 1. Meu caríssimo Irmão, você não me disse por que deixou de comungar; você me deveria ter dito o motivo. 2. Tome cuidado de não se deixar levar à impaciência nem à exaltação de ânimo. 3. É preciso ter entre vocês muita união, com os seculares, muita educação; e com os alunos, muita paciência. 4. Seja exato para se encontrar nos exercícios e a ir a nenhum lugar sem autorização. 116 5. É preciso antes perder algum exercício do que tomar o tempo da escola para se ocupar das coisas necessárias, pois não se deve desperdiçar um momento da escola. 6. Seja muito exato a falar em voz baixa na casa quando tiver de falar e que seja apenas numa verdadeira necessidade. Nunca se deve falar de longe nem de uma janela. 7. Não se fixe em pensar na escola durante a oração, cada coisa a seu tempo. 8. Esforce-se para não diminuir o número de seus alunos por meio de suas maneiras agressivas; (empenhe-se) para ensinar-lhes bem, para que não se vão embora. 9. É preciso não mudá-los de lições, se não estão capacitados. É preciso abster-se disso; do contrário não aprenderiam nada. 10. É preciso dar um jeito de comprar alguns livros contanto que sejam bons e que eu fique sabendo quais. 11. É preciso mandar fazer camisas e outra roupa se for necessário, mas é preciso me enviar um relatório da roupa que existe e de quanto precisa. 12. Não se deve receber a mínima coisa dos pais dos alunos nem dos alunos. 13. Esforcem-se para serem bem regulares e bem unidos e você seja bem respeitoso para com seu Irmão, bem como para com o mundo. 117 Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 56 Para o Irmão Roberto - 26 de fevereiro de [1708] 1. Meu caríssimo Irmão, você está vendo que pode ter escandalizado muito essa vizinha pelo fato de você ter falado com ela intempestivamente. É preciso que sempre apareça a sabedoria em suas palavras, principalmente quando você está com pessoas de fora. 2. Proceda também com muita caridade para com seu Irmão. Quando houver alguma coisa a reclamar, você o dirá ao Irmão José, para que ele restabeleça a ordem. 3. Fará bem despedir as pessoas que virem falar ao Irmão durante a leitura espiritual e a oração. 4. Evite cuidadosamente comer fora das refeições, isto é insuportável, a fome que você parece ter naquele momento é uma tentação. 5. Seja exato a bater o sino na última batida do relógio; isto é importante numa comunidade. 118 6. Tome muito cuidado para nunca mentir, esta é uma falta grande e nunca se entregue à curiosidade. Isto é muito prejudicial. 7. Talvez porque você tem alguma curiosidade, sente dificuldade em se aplicar à oração e aos demais exercícios. 8. Sua aplicação durante a missa dos alunos deve ser vigiar sobre eles. 9. Não se deixe levar a bater neles, é uma grande falta; você não saberia sobre que vigiar mais. 10. Está muito bom que você procure o progresso dos alunos para conseguir um maior número, mas também para cumprir seu dever. 11. É preciso contentar-se com iniciar a aula na hora. 12. Tenha cuidado para que a escola funcione sempre bem, tão bem com a regularidade na casa. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 119 CARTA Nº 57 Para o Irmão Roberto - 26 de abril de [1709] 1. Meu caríssimo Irmão, sem dúvida você agiu muito mal ao ter chegado às vias de fato em SaintYon: isto nunca se deve fazer e é uma vergonha entre Irmãos. Estou muito satisfeito porque tenha feito uma penitência. 2. Quando tiver de pedir alguma coisa em SaintYon, fale em voz baixa e peça as coisas de maneira educada. 3. Seja fiel a seus exercícios e a deixar tudo ao primeiro som do sino. 4. Acostume-se a sempre falar em voz baixa e de parto e não de longe, e ir prontamente à porta e dar o sinal precisamente na última batida (do relógio). 5. Aplique-se muito ao recolhimento. Veja como ele lhe é necessário. 6. Evite cuidadosamente bater os alunos, isto é uma grande falta. 7. Estou muito satisfeito porque sua casa está bem em ordem. 8. Seja fiel à obediência e a nada fazer sem licença; é isto que atrairá sobre você as bênçãos de Deus. 9. Tome cuidado para que o mundo não entre em sua casa e suporte, por amor de Deus, os desgostos que lhe fizerem os de fora. 120 10. Que necessidade você tem para escrever a sua irmã? 11. Que todos sejam exatos em deixar tudo para fazer os exercícios. 12. O Irmão não deve trabalhar no jardim. Se houver alguma coisa a fazer, você ou um jardineiro deve fazê-lo. 13. Todos sejam exatos à leitura espiritual. 14. Estou muito satisfeito porque o Irmão não sai de casa; mantenha-o nesta prática. 15. Procure ser sempre o mesmo na escola e não se deixar ir à impaciência. Não é prudente jogar a férula nos alunos, mas é uma vergonha dar-lhe tapas, especialmente na igreja. 16. Estou bem satisfeito porque você tem grande número de alunos. Seja exato em fazê-los progredir. 17. O Irmão Tomás deve dar-lhe sem raciocinar o que você precisa. Não é verdade que ele tem ordem de o mortificar, mas é preciso que você se comporte de maneira educada. 18. Entre nós, não é costume pesar o pão que os Irmãos devem comer; eles comem conforme suas necessidades. É preciso que se lhe forneça o sal que precisa. 19. Você faz bem ao conformar-se ao tempo e a sofrer de boa mente. 121 20. Estou muito satisfeito de que sua escola funcione bem e que tenha um número suficiente de alunos; tenha cuidado de os instruir bem. 21. Qual é o Irmão que deu dinheiro a um aluno para lhe conseguir cerejas e qual é o aluno? 22. Quando você souber alguma coisa contra as regras, é preciso que você me o comunique. 23. Não sei o que você pretende dizer que o Irmão compra livros para ir a Ruão. 24. Diga ao Irmão Tomás que não é necessário que os Irmãos tenham ordem para pedir o que precisam, e que é preciso que ele lhes dê. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 58 Para o Irmão Roberto - 21 de maio de [1709] 1. Você não se deve afligir por causa de seu Irmão. Deve se esforçar para viver em paz com ele. 2. Se houver alguma coisa que não vai bem, bastará que você o diga ao Irmão José quando ele estiver 122 em Ruão ou ao Irmão Bartolomeu, na ausência daquele, para que eles ponham ordem. 3. De resto seja bem fiel à obediência pois é uma virtude que você deve ter em grande estima, pois é a primeira virtude que se deve praticar em comunidade. 4. Seja exato em tocar na última batida do relógio e em sempre tocar na hora; esta é uma coisa muito importante. 5. Por favor, não demore em atender à portaria; este é um dever de porteiro. 6. Tome cuidado de não ser lerdo para se levantar pois esta é uma falta que desagrada muito a Deus. 7. Também não se entregue à curiosidade que coloca um grande obstáculo à virtude. 8. Quando for a Ruão, preste contas ao Irmão José ou ao Irmão Bartolomeu na ausência do primeiro. 9. É de muita importância que você cumpra as penitências do refeitório pois elas lhe ajudarão a se corrigir de seus defeitos. 10. Por amor de Deus, seja bem fiel à obediência. 11. O tempo é muito precioso; Deus lhe fará prestar contas do que você tiver perdido. 12. Aplique-se muito à leitura espiritual, ela lhe será muito útil para se dispor bem à oração. 13. As securas que tem na oração e na santa comunhão provêm de que você não é aplicado e que não 123 pensa nas coisas espirituais fora do tempo da oração. 14. Não se abstenha da comunhão, ela lhe é necessária. 15. Tenha muita vigilância sobre as crianças, pois só há ordem na escola na medida em que se vigia sobre os alunos e isto é o que os faz progredir. 16. Não será sua impaciência que os fará corrigir; será a vigilância e a boa conduta de você. 17. Tenha cuidado, por favor, que seja muito modestos e muito piedosos na igreja e na oração, esta é uma das primeiras coisas que você lhes deve procurar. 18. Não sei por que você diz que, se ficar doente, sua sorte seria a porta. Cuidaremos de você. 19. Você deveria prestar atenção no que escreve. Não se consegue ler suas cartas porque você não escreve três palavras em seguida e esquece várias. Preste atenção nisto no futuro. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 20. Estou muito surpreso porque você tenha tão pouca discrição de dizer ao Irmão Dionísio que eu dei ordem a você de me escrever sobre a conduta dele; isto é muito ruim. 21. Peço-lhe que uma coisa dessas não lhe aconteça mais: falar assim. Você entende bem que isto só é 124 capaz de causar perturbação no espírito dele e entre vocês dois e dele contra mim. Isto é muito mais sério do que você pensa. CARTA Nº 59 Para o Irmão [Roberto] - [1709] 1. Parece-me, meu caríssimo Irmão, que você deveria ser mais obediente e mais submisso do que é. 2. Não viemos para a vida de comunidade para negociar com quem quer que seja. Não se deve colocar condições, a submissão deve ser a regra de nossa atitude. 3. Fique certo de que Deus só o abençoará na medida em que tiver esse modo de agir. 4. Por amor de Deus, nunca faça propostas como as que fez em sua última (carta), pois elas não convêm a um obediente. 5. É verdade que é preciso confiar na graça de Deus, mas numa comunidade somente se tem graças na medida em que se tem obediência. 6. Portanto, peça a Deus uma obediência cega, nada lhe é mais necessário. 7. Escute as inspirações e não sua repugnância e suas penas. A submissão não se mostra quando não se tem repugnância, pois todo o mundo obedece 125 facilmente nessas ocasiões, mas se mostra somente quando alguém a vence. 8. Alegro-me muito que você se sente levado à virtude. A principal que você deve praticar é a submissão. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 60 Para o Irmão [Roberto] - [1709] 1. Muito me alegra, meu caríssimo Irmão, porque você saiu do estado miserável em que esteve durante tanto tempo e porque reconhece a mudança que Deus operou em você. 2. Eu lhe garanto que não tenho alegria maior do que quando chego a saber que os meus dirigidos caminham com coragem nas trilhas da justiça. 3. Peço a Deus, meu caríssimo Irmão, para que ele continue o que começou em você e agradeço porque lhe deu amor à santa virtude da mortificação. 4. Portanto, já que reconhece bem agora seus defeitos, como sua pouca obediência e observância de suas regras, etc… pense, por favor, diante de Deus nos meios de se corrigir dos mesmos. 126 5. Como você escreve que sua falta de mortificação e sua pouca submissão são a causa disto, procure tornar-se mais mortificado e mais obediente. 6. Estou muito contente pela entrega de si mesmo que mostra para que se possa dispor de você em tudo. 7. Já que está na disposição de obedecer em todas as coisas, nunca diga: "Eu quero", pois isto não são modos de uma pessoa obediente. 8. Não me é difícil acreditar que tenha repugnância em obedecer; basta que você a vença. 9. Lembre-se de que o que santifica as ações de uma pessoa de comunidade é a obediência. …… CARTA Nº 61 Para o Irmão [Roberto] - [1709] 1. Os aborrecimentos que você crê ter-me causado não me magoam absolutamente, meu caríssimo Irmão. Nada me sensibiliza neste assunto mais do que o fato de você não saber o que é bom para você. 2. Creia-me que o que melhor lhe convirá é o que a obediência lhe vai dar. 127 3. Por isso você deve prestar atenção sobre sua atitude, não só em relação a si mesmo, mas também em relação aos outros, já que não é possível que você possa agradar a Deus sem se conformar aos outros, nem que tenha a paz e a tranqüilidade de coração sem ter atenção aos outros, para os quais deve ser um motivo de edificação. 4. Por favor, peça a Deus que lhe toque o coração e o torne dócil à vontade dele. 5. Esforce-se para o contentar pelas ações, quanto a mim, também rezarei por você. 6. Peço-lhe que as mágoas que está tendo não o impeçam de fazer seu retiro e nele aprender a obedecer bem. Faça-a porque eu lhe peço. Sou, meu caríssimo Irmão, em Nosso Senhor Jesus Cristo, todo seu. De La Salle CARTA Nº 62 Para o Irmão Roberto - 3 de novembro de [1710] 1. Peço-lhe, meu caríssimo Irmão, que seja prudente e não faça nada de inconveniente. 2. Abasteceremos a sua casa da melhor maneira que nos for possível. 128 3. Peço-lhe que vá a Ruão para dizer ao Irmão Diretor que ele lhe dê o Irmão Luiz para estar com você. 4. Ele é um Irmão prudente com o qual, creio que você ficará contente. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 5. Vou escrever-lhe com mais delongas em breve; o correio me pressiona. CARTA Nº 63 Para o Irmão Severino - Paris, 13 de julho de 1706 1. Meu caríssimo Irmão, não há motivo de você atormentar seu espírito acerca do que me disse de ter caluniado uma mulher falecida. 2. Não é necessário nem conveniente que, para reparar essa calúnia, você vá ao lugar em que você a proferiu. 3. Para tanto você somente precisa seguir o conselho do Pe. Confessor, isto é, escrever ao senhor Pároco daquela paróquia para lhe pedir que diga ao marido daquela mulher que o que se disse acerca de 129 sua mulher falecida é falso e que a pessoa que lho comunica o desmente como coisa falsa. 4. Com esta condição, eu o absolvo de tudo diante de Deus. assim não se aflija mais por isso. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 64 Para o Irmão [Tomás] …… Você se queixa de que o noviciado é muito pobre. Creio que o meio do qual Deus quer se servir para os fazer subsistir é tomar crianças como pensionistas, instruí-los e educá-los bem. …… 130 CARTA Nº 65 Para o Irmão Diretor de Calais - Ruão, 28 de janeiro de 1719. 1. Não creio ter dado motivo ao Sr. Deão de Calais para afirmar que sou do número dos apelantes, meu caríssimo Irmão. 2. Nunca pensei em apelar nem em abraçar a doutrina dos apelantes ao futuro concílio. 3. Tenho demasiado respeito por nosso Santo Padre, o Papa, e submissão demasiada às decisões da Santa Sé para me não submeter. 4. Em tudo isso, quero me conformar a São Jerônimo que, numa dificuldade causada na Igreja pelos arianos que exigiam dele que admitisse em Deus três hipóstases, 1º julgou dever consultar a Cátedra de São Pedro sobre a qual sabia, disse, a Igreja está baseada e dirigindo-se o santo ao Papa Dâmaso, manifestou-lhe que, 2º se Sua Santidade lhe ordenasse reconhecer em Deus três hipóstases apesar dos inconvenientes que nisso via, não teria receio de dizer três hipóstases. Por isso, este santo terminou sua carta, 3º suplicando com insistência a Sua Santidade por Jesus crucificado, que é o Salvador do mundo, e pela Santa Trindade das pessoas divi- 131 nas numa mesma natureza, que lhe obtivessem a graça de o autorizar por uma de suas cartas a afirmar ou a negar em Deus três hipóstases. 5. Portanto o Sr. Deão ou outra pessoa não deve estar surpresa se, conformando-me a este grande Santo, tão ilustrado no que se refere à religião, eu me dou como satisfeito porque aquele que hoje está sentado sobre a Cátedra de São Pedro tenha declarado por uma Bula aceita pela quase totalidade dos bispos do mundo e tenha condenado as cento e uma proposições do livro do padre Quesnel e se, depois de uma decisão autêntica da Igreja, digo com santo Agostinho que a questão está encerrada. 6. Esta é que é minha opinião e minha disposição que nunca foi diferente e que jamais mudarei. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, seu muito humilde e dedicado servo. De La Salle, sacerdote 1. mihi cathedram Petri censui consulendam…super illam petram aedificatam Ecclesiam scio. 2. discernite, si placet, obsecro, non timebo dicere tres hypostases, si jubetis. 3. obtestor beatitudinem tuam per crucifixum mundi salutem, per homousion trinitatem, ut mihi espistolis tuis sive tacendarum sive dicendarum hypastaseôn detur auctoritas. 132 CARTA Nº 66 Anônimo [diretor] 1. Meu caríssimo Irmão, estou muito feliz por causa da boa disposição em que se encontra para trabalhar fortemente em se corrigir de seus defeitos e em se vencer. 2. Quando se apresentar a ocasião de impaciência, recorra muito a Deus. para trabalhar de seu lado para vencê-la, guarde o silêncio, não faça nada antes que essa ocasião tenha passado. 3. Humilhe-se à vista de sua fraqueza quando tiver caído em alguns defeitos. 4. Seja fiel em declará-los e fique certo de que a dificuldade que tiver em fazê-lo unida à penitência que lhe for imposta lhe ajudarão muito para se corrigir de suas faltas. 5. Tem razão ao dizer que a reflexão que faz de tempos em tempos sobre a dureza de seu estado é apenas uma enganação do demônio que procura tirar-lhe a coragem e impedir você de sofrer com amor as dificuldades que são inerentes a sua vocação. 6. Convença-se de que a felicidade do cristão consiste em fazer-se violência para sofrer todos os males que Deus envia. 133 7. Peço a Ele que lhe conceda essa graça. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 67 Anônimo [diretor] o mesmo 1. Meu caríssimo Irmão, alegro-me muito por ver a boa disposição em que está. 2. Estou bem contente de que você tenha estima por seu estado. 3. Esforce-se para conservar essa graça e faça de modo que haja entre vocês muita caridade para procurar a salvação do próximo e que tudo se fala com honestidade e boas maneiras como entre Irmãos que devem amar-se mutuamente e suportar os defeitos uns dos outros. 4. É isto que lhe atrairá as graças e bênçãos de Deus sobre si. Para tanto é preciso suportar uns aos outros. 5. Peça muito a Deus, essa paz e essa união. 6. É verdade, como você diz, que tem necessidade muito grande de caridade para se manter na paz, mas tenha certeza de que não tem menos necessidade da virtude excelente da obediência, nobre 134 produto da santa caridade, e enquanto o espírito de submissão estiver em sua comunidade, Deus sempre a abençoará. 7. Tenho um desejo tão grande como o seu de que a paz se conserve. Procure conservá-la e o Deus da paz estará com você. 8. Entendo perfeitamente, como você diz, que não há muita ordem na sua comunidade. É preciso fazer um esforço para buscar os remédios. 9. Estou muito contente porque você tem aversão aos cargos. Permaneça sempre nesses sentimentos e Deus o abençoará por esse meio. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 68 Anônimo [diretor] o mesmo 1. Não sei como você não me manifestou mais cedo a tentação que teve, meu caríssimo Irmão. Será que não sabe que a doença está meio curada quando se a revelou ao médico? 2. Veja, pois, como você é fraco depois de ter renovado o protesto de ser inteiramente de Deus. 135 3. Não é verdade que em seu estado a gente sofre sem mérito. Cada estado tem seus sofrimentos. Não se dever espanar por ter de sofrer. Isto é da ordem de Deus que quer que com isso a gente adquira méritos. 4. Pois bem! Meu caríssimo Irmão, se você tivesse sofrido o mal que lhe aconteceu da parte do Irmão…, com paciência, quantas graças de Deus não teria merecido! Portanto, tome cuidado no futuro de sofrer com paciência. 5. Se quiser ser agradável a Deus, ofereça-lhe seus sofrimentos em união com os de Jesus Cristo, nosso Senhor. 6. A inquietação que tem acerca de seus defeitos não lhe pode trazer nenhum bem. Somente é preciso pensar, diante de Deus, os meios que devem ser tomados para isso. 7. Um pouco de paciência e Deus acalmará tudo. 8. Você fica raciocinando demais. 9. Evite cuidadosamente manifestar aos outros que você está sofrendo. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 136 CARTA Nº 69 Anônimo [diretor] 1. Você deve ter muito cuidado para se corrigir de sua dissipação, meu caríssimo Irmão. Este é um defeito sobre o qual deve vigiar muito porque ele lhe é muito prejudicial. 2. Evite cuidadosamente agir por costume. Tenha mais visão de fé em suas ações do que aparenta ter. 3. Reprima os ressentimentos de pesar nas humilhações, pois elas lhe produzirão o bem, se os receber de boa vontade. 4. Esforce-se para sufocar seus sentimentos acerca do que lhe vem à cabeça e não se deixe nunca levar a raciocinar sobre o que se lhe manda fazer. 5. Seja fiel em abandonar tudo ao primeiro sinal do sino, isto é importante, bem como também em aplicar-se a sua leitura espiritual, pois ela lhe servirá muito para a oração. 6. O exame também lhe é muito necessário. 7. As distrações que tem na oração vêm de sua dissipação; portanto, destrua-a, por favor. 137 8. Não se inquiete acerca de suas confissões. Use de simplicidade neste assunto. Os sofrimentos que lhe vêm daí, assim como a respeito de suas comunhões são tentações do demônio. 9. Tome cuidado para que seus alunos rezem com piedade. 10. Nunca abandone seu lugar; não escute nenhum pretexto para isto. 11. Tenha reserva acerca dos castigos e não os aplique quando estiver emocionado pela impaciência. 12. Fale com o Irmão José acerca do que pretende fazer ler durante o dejejum. 13. É bom que entre em si mesmo para refletir sobre suas fraquezas e humilhar-se por isso. 14. Quanto mais repugnância tiver a alguma coisa, com tanto mais boa vontade deve fazê-la. 15. É bom fazer o que lhe é manado apesar da repugnância que tenha a isso. 16. Evite fazer sinais na casa, isto é uma falta séria. 17. Siga o método na santa Missa. 18. Quanto mais silêncio houver em sua escola, tanto mais ordem vai haver, por isso, procure que haja silêncio. 19. Estou de acordo que emita o voto por três anos, no dia da SS. Trindade. 138 Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 70 Anõnimo [ diretor] [1706] 1. Você deveria tomar muito cuidado, meu caríssimo Irmão, de não falar de maneira tão altiva, como me diz que fala algumas vezes. O espírito de Deus não permite falar dessa maneira. 2. É assim que sua humildade e sua bondade aparecem sempre em suas palavras. "A língua bondosa, diz o Sábio, rompe o que há de mais duro". Nada o tornará mais agradável a Deus e aos homens do que essas duas virtudes. 3. Mas, se você deve falar a seus Irmãos com humildade e bondade, não deve ter menos cuidado em se portar da mesma maneira para com os externos. É o que São Paulo exige de todos os cristãos. 4. Portanto, nunca repila alguma pessoa, isto é de péssima edificação. Pelo contrário, fale sempre de maneira conveniente, isto está muito conforme o espírito de Deus. 5. Tenha também muito cuidado de não falar com muita liberdade a seus alunos, isto tira todo respeito. 139 6. Deve evitar também as leviandades na escola, pois elas lhe causam muito prejuízo. 7. É contra nossas regras explicar o catecismo na igreja. 8. No catecismo nunca se deve admitir alguém de outro sexo. 9. Não se deve dar de beber aos alunos. 10. Você não deve pedir uma missa de São Nicolau. É preferível mandar rezar uma. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 71 Anônimo [diretor] [14 de setembro de 1709] 1. Meu caríssimo Irmão, você sabe muito bem que é preciso ter muito amor uns para com os outros e para isso, é preciso suportar-se nas falas em que a fraqueza humana nos faz cair muitas vezes. 2. Nisso é que se cumpre especialmente o preceito da caridade que deve ser grande em você. 3. É preciso amar seus Irmãos para poder repreendê-los com doçura e cordialidade, pois sem isso, a repreensão não produz ordinariamente seu fruto. 140 4. Os Irmãos precisam vencer-se para se corrigirem de seus defeitos. Também você precisa corrigir-se dos seus e dar-lhes bom exemplo. 5. Você os corrigirá ordinariamente melhor com isso do que com todas as repreensões duras que lhes poderia dar. 6. Não deve se alarmar por aqueles que caem em falta, mas, ao contrário, adverti-los de maneira cordial e animadora e sobretudo adverti-los em poucas palavras, pois isso é de conseqüência. 7. Esforce-se, por favor, para ter maneiras animadoras e faça que uma das suas principais ocupações seja a união entre seus Irmãos. 8. Peço a Deus que ele dê a você também essa união. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 72 Anônimo [diretor] [15 de setembro de 1709] 1. Meu caríssimo Irmão, preste atenção para não fazer sua leitura por curiosidade, pois esta é uma falta muito grande. 141 2. Estou bem contente porque sua leitura o encoraja. Faça-a com o máximo de aplicação que lhe for possível. 3. Ela lhe ajudará muito para a oração na qual é preciso fazer esforço para se ocupar. 4. Sua leitura espiritual mesmo contribuirá muito para se tornar muito recolhido e para o seu progresso na virtude. 5. Sinto muita alegria pelo fato de você gostar de observar suas regras. O grande amor que demonstra com isso é sinal de sua vocação. 6. Tem razão de sentir pesar porque as regras não se observam bem. Contudo, não será com sentir pesar que vai remediar a isso, mas sim com o exemplo que você der, pois você deve ser como o primeiro motor e, por sua habilidade, deve dar um jeito para que elas sejam observadas. 7. Infelizmente, será que existe alguma coisa que pareça tão difícil? Eu teria muito prazer que alguém me o comunicasse. 8. Procure ser piedoso, modesto e muito fiel à observância de suas regras. Com isso dará bom exemplo a seus Irmãos. 9. Peço a Deus que ele lhe conceda essa graça. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 142 CARTA Nº 73 Anônimo [diretor] 1. Meu caríssimo Irmão, não sei por que há tão pouca ordem em sua casa. 2. Por acaso não seria porque não guarda o silêncio? Examine-se a esse respeito. A gente se queixa de que você fala muito alto. 3. Tome, pois, cuidado de observar exatamente o silêncio. Você sabe bem que o silêncio e o recolhimento são dois meios para ser bem interior. 4. Evite absolutamente conversar nas ruas. 5. Procure caminhar sempre pausadamente. Reze o terço com muita piedade. Este é o meio de concentrar seus olhos e fixar seu espírito e principalmente atrair as graças de Deus para fazer funcionar bem sua escola. 6. Você sabe que a gente sempre se queixou de que você caminha rápido demais. 7. Teria sido mais prudente se não tivesse respondido a aquele padre que lhe falou na rua depois que você lhe disse que o Irmão José estava de volta de…… para Paris. 8. Cuide de nunca discutir com quem quer que seja, visto que isso é capaz de ofender a caridade que deve ser grande entre vocês. 143 Sou em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 74 Anônimo [diretor] 1. Procure ficar bem aplicado durante a santa missa, meu caríssimo Irmão. 2. As distrações em que uma pessoa se mantém, fazem com que não se a entende. 3. Aplique-se nela conforme o método que é prescrito na Sociedade, isto é, de maneira interior. Este é o melhor para você. Utilize-o com sentimentos de humilhação. 4. Nunca esqueça de agradecer a Deus todas as graças que lhe concede, pois a ingratidão pelos benefícios é alguma coisa que lhe é absolutamente desagradável. 5. É verdade que na diocese de Reims, a Visitação somente se celebra no dia 8. Quanto ao dia, seguese a diocese. Nós, para o ofício, seguimos o romano. Caso não tenham livros (deste ofício), mas os da diocese, façam como puderem. 6. Você tem razão de dizer que está louco pelas capelas. 144 7. Você deveria tomar muito cuidado de não se ocupar tanto das coisas exteriores. 8. Você sabe que não quero saber de todas essas capelas na escola. por isso, peço-lhe que dê aos alunos as coisas que o Irmão N…… deixou na escola. 9. Contudo, poderá deixar aquele pequeno cálice para ensinar a servir a missa. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 75 Anônimo [diretor] 1. Você compreende bem, meu caríssimo Irmão, que não deveria tão facilmente ficar penalizado a respeito das mudanças. 2. Você está vendo que o emprego em que está agora lhe convém muito mais do que o que tinha antes. 3. Tenho muita dificuldade para fazer mudanças. 4. Estou persuadido de que você poderia muito bem impedir a desordem que os alunos do Irmão……fazem na igreja e a pouca ordem que exis- 145 te na escola. por isso lhe peço que as coisas se façam como devem ser feitas. 5. Você entende que haveria indiscrição e as pessoas poderiam ficar penalizadas se eu o fizesse facilmente. 6. Sinto muito, meu caríssimo Irmão, ter viajado sem lhe dizer adeus. Mandei chamá-lo várias vezes, mas como você não apareceu, pensei que não estivesse em casa. 7. Peço-lhe que todos estejam bem na casa. Se houver alguma coisa que não vai bem, você me fará prazer de me o comunicar. 8. Procure que suas escolas funcionem bem. De minha parte farei o mais que posso para contribuir a isso. 9. Lembranças ao Irmão M…… e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 76 Anônimo [diretor] 1. Com efeito, é uma falta muito grande, meu caríssimo Irmão, o ter bebido e comido fora de casa. 146 2. Louvo a Deus por fazer que você o tenha reconhecido e o ter colocado na disposição de não mais recair nela. 3. Você entende que tudo isto é escandaloso e que é o efeito da gula ou de uma complacência covarde. 4. Por amor de Deus, procure reparar essa falta e ser bem regular. 5. Fico muito consolado porque você está um pouco [desligado], um pouco mais prudente do que era em Paris. 6. Agradeço a Deus por você ter menos problemas nos olhos do que tinha. Terei cuidado que se forneça tudo por sua enfermidade. 7. Você não me escreveu quem é que esteve doente. 8. Vigie um pouco sobre si mesmo para corrigir sua impetuosidade e procure não ser tão exterior. 9. Peço a Deus que ele lhe conceda esta graça e lhe dê um pouco menos atividade para agir. Isto não convém. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 147 CARTA Nº 77 Anônimo [diretor] 1. Você sabe perfeitamente, meu caríssimo Irmão, que uma das coisas mais importantes numa comunidade é tocar o sino exatamente na hora, especialmente para o levantar. 2. Seja exato a deixar tudo ao primeiro sinal, ao primeiro toque do sino. Você sabe que isto é uma coisa importante numa comunidade. 3. Deve-se largar tudo ao primeiro sinal do relógio para começar assim que terminar de tocar. É a esta fidelidade que Deus liga ordinariamente muitas graças. 4. O tempo da oração e da leitura nunca deve ser ocupado por outra coisa. Por amor de Deus, que nisto se seja exato e que todos os exercícios se façam precisamente na hora. 5. É também preciso fazer tudo por um princípio de regularidade. Deus só abençoará o que você fizer na medida em que tiver essa fidelidade. Quando se é pouco fiel, a gente se priva de muitas graças. 6. Portanto, peça muito a Deus essa fidelidade. Também eu a pedirei a Deus por você. 148 Sou, em Nosso Senhor e em seu santo amor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 78 Anônimo [diretor] [23 de agosto] 1. Meu caríssimo Irmão, fiquei muito penalizado pelo que lhe fizeram esses dois Irmãos. Eles, com certeza, são muito pouco submissos. 2. Vejo que, enquanto os Irmãos não se submeterem, não haverá ordem na casa de vocês. 3. Quando algum dia os Irmãos não quiserem comer, é preciso não deixá-los comer no dia seguinte. 4. No primeiro dia isto teria sido por fantasia e no dia seguinte por penitência por sua fantasia. Devese ficar muito longe de insistir para que se coma. 5. Fez muito bem por lhe ter dito que viesse jantar com os outros. 6. Também fez muito bem ao não lhe dar de comer à noite. É o que se deve fazer todas as vezes que não se quer obedecer. 7. Por isso lhe ordeno que diga ao Irmão…… que todas as vezes que tiver feito sua vontade e não se tiver sujeitado, que eu mandei que você não o deixasse comer. 149 8. Nunca se deve chegar Pa violência numa comunidade. Isto não é prudente, mas quando não se pode de outra maneira, é preciso cortar a comida. 9. Se você bebe água, nós também. Nunca deveria ter comprado cerveja. 10. Evite cuidadosamente deixar que esses dois Irmãos procedam como entendem, nem permita que não cumpram sua penitência. 11. Não sei por que estão falando que ninguém presta conta de sua consciência. 12. Não permita aos Irmãos lerem livros que não são piedosos. Isto não é nem conveniente, nem suportável. 13. Por favor, procure que haja regularidade em sua casa. 14. No dia da oitava do Santíssimo Sacramento, de manhã, se faz como em dia de festa e de tarde, como em dia feriado, exceto que não se vai passear. 15. Vigie sobre si mesmo para não se deixar levar à covardia, pois Deus concede poucas graças aos covardes; eles têm pouco resultado no que fazem. 16. Peço a Deus que o cumule de suas graças. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 150 CARTA Nº 79 Anônimo [diretor] …… Um diretor deve ter uma paciência tão grande e uma virtude tão provada que deve se considerar como a lixeira que deve receber todo o lixo da casa, isto é, que deve estar na disposição de sofrer tudo sem manifestar qualquer desgosto ou descontentamento…… CARTA Nº 80 Anônimo [diretor] [que se queixava de que os Irmãos não tinham confiança nele] …… A culpa é sua. Porque não se aplica a adquirir aquela igualdade de espírito que lhe é tão necessária? Seus Irmãos se queixam de que nunca vêem a você do mesmo jeito e dizem ordinariamente que você parece uma porta de prisão. 151 CARTA Nº 81 Anônimo [Irmão de idade] …… Pois bem! Meu caro Irmão, você então ainda quer que eu me encarregue de orientá-lo? Eu o farei com prazer; entretanto, sob a condição de que fará meu capítulo sem me lisonjear. Isto fica bem para você, pois é o mais anigo de nossos Irmãos…… CARTA Nº 82 Anônimo [inferior] 1. Acho que você, meu caríssimo Irmão, não duvida que uma virtude que lhe é muito necessária é a humildade. 2. Você está vendo que não tem verdadeira submissão de espírito. Ora essa! Meu caro Irmão, por favor, trabalhe para adquiri-la e saiba que somente se é feliz neste mundo na medida em que se tem humildade, submissão e paciência, três virtudes que são inseparáveis e que lhe são de igual necessidade. 152 3. Empenhe-se, pois, em adquiri-las e verá que na medida em que as possuir, terá tranqüilidade e satisfação em seu estado. 4. Não há nada que eu não faça para lhe aliviar o sofrimento, mas, meu caro Irmão, acredite-me, a melhor maneira de sair dele é trabalhar na aquisição das virtudes que acabo de lhe expor. 5. Contudo, parece-me, pr sua última, de que não se esforça bastante para adquiri-las. Tome cuidado, eu lhe suplico, pois nunca fará alguma coisa boa e agradável a Deus sem elas. Contudo não poderá fazer grande coisa quer dentro, quer fora, sem elas. 6. Está entendendo que foi a falta dessa virtude que o impede de comungar no dia de Reis. 7. Por amor de Deus, meu caríssimo Irmão, mude de proceder. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 83 Anônimo [inferior], o mesmo 1. Longe de se incomodar pelo fato de ser advertido de seus defeitos antigos, meu caro Irmão, você deveria, pelo contrário, louvar a Deus por isso, sem 153 cessar. Mais uma vez, empenhe-se para tirar proveito disso. 2. Aceite tudo o que se lhe disser na advertência dos defeitos. Este exercício lhe será muito útil, se souber aproveitar bem dele. 3. Que humildade é então a sua de não poder agüentar uma coisa que lhe causa uma leve confusão? 4. Agora estou vendo bem que o que você deseja, meu caríssimo Irmão. Você quer de bom grado professar que é um grande amante da humildade e que a estima muito enquanto evita a humilhação quanto lhe é possível. De que lhe servirá amar a virtude e rejeitar a pratica dela? 5. Ora essa! Você se queixa de que os outros não têm bastante caridade e não se queixa de que você não tem humildade! De que lhe servem as grandes disposições que tem para com esta virtude a não ser torná-lo ainda mais culpado diante de Deus? 6. Que não lhe aconteça, pois, queixar-se das advertências que lhe são feitas e não pense que seu Diretor tem algum ressentimento contra você. 7. Se ele é tão exato em repreender você e em impor-lhe penitências e não age da mesma forma com os outros, é que ele vê você disposto e gostaria que você progredisse mais na virtude. 8. Procure que isto seja verdade e que daqui em diante, sua especial aplicação seja alegrar-se pelas 154 repreensões e penitências que lhe forem impostas e corrigir-se de seus defeitos. 9. É nas ocasiões, que se encontram os meios para isso. Fique, pois, atento sobre si mesmo para não ficar melindrado por uma coisa que somente é um bem para você. 10. Peço a Deus que lhe conceda a graça disso e sou, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 84 Anônimo [inferior], o mesmo 1. Evite com cuidado, meu caríssimo Irmão, ficar magoado quando é advertido de seus defeitos. 2. Seja qual for a maneira em que é advertido, muito mais se falou de Nosso Senhor, de quem você faz profissão de ser o discípulo. 3. Se o for efetivamente, se alegrará por ser tratado como seu mestre que sofreu pacientemente tudo o que de injurioso se lhe disse, assim como os santos seus servos. 4. Tenha, pois, cuidado de adorar a justiça de Deus naquele que o adverte, sempre que for advertido de 155 uma forma que lhe parece ofendê-lo ou desprezálo. 5. Meu caro Irmão, você deve amar muito este exercício e considerá-lo como um meio que Deus lhe dá para fazer que abandone seus defeitos e se não houvesse outro fruto a tirar deste exercício além da humilhação, deveria amá-lo e gostar dele. 6. Evite cuidadosamente ficar magoado por suas faltas em vista da penitência que lhe poderia ser imposta em reparação delas, pois isto seria um sinal de que está procurando mais sua própria tranqüilidade e seu apetite sensual do que a Deus e você serviria a Deus como escravo. 7. Uma das coisas que lhe vai atrair as graças de Deus é fazer de bom grado as penitências que lhe forem impostas. Por favor, execute-as com amor. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 85 Anônimo [inferior] 1. Se a divina e adorável Providência quiser deixálo no estado em que se encontra, meu caríssimo Irmão, é preciso querer o que ela quer, entregar-se todo a ela. 156 2. Estamos obrigados a isso por nossa profissão e devemos continuamente adorar seus desígnios sobre nós. 3. Pois, se você deseja sair deste estado para procurar consolações, é de temer que você procura mais sua própria consolação e não tanto o Deus das consolações. 4. Você não ignora que a virtude de um religioso é a obediência. 5. Assim, se você tivesse ainda mais dificuldades, é preciso submeter-se pelo amor de Deus. 6. Está vendo, meu caríssimo Irmão, que as mágoas que está encontrando provêm da falta de submissão. 7. O que você precisa fazer nessas ocasiões para sair da dificuldade é cegar seu espírito e dizer a si mesmo: "Por obediência farei a coisa, apesar de minhas razões em contrário e minhas repugnâncias". 8. Se agir assim, em breve ficará livre de dificuldade. 9. Fiquei muito feliz porque você me escreve com muita simplicidade. 10. Procurarei ajudar-lhe em tudo o que puder, mas não basta que me diga em geral que você é irregular, é preciso dizer em quê, para que eu procure remédio. 157 11. Eu gostaria muito que você encontrasse um método. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 86 Anônimo [inferior] 1. Meu caríssimo Irmão, não sei por que você diz que se faça antes cinco quartos de hora de meditação em lugar de uma hora. Acho que a meditação se faz e se acaba em toda parte da mesma maneira. 2. Você está inquieto porque a meditação é longa demais; sinal de que lhe tem pouco amor. 3. Ah! Meu caríssimo Irmão, ela é o sustento da alma; será que você quereria negligenciá-lo? 4. Se não puder aplicar-se a um ato, aplique-se a um outro. Aplique-se a ele por reflexões no tempo de securas. 5. Mantenha-se em humildade diante de Deus em vista de seus defeitos. 158 6. A dissipação a que você se entrega é causa da dificuldade que tem em se aplicar à meditação e é sinal e conseqüência de sua desordem interior. Por isso, queira velar sobre si mesmo para se corrigir deste defeito. 7. Antes de tudo, aplique-se a conhecer bem o método de meditação em uso na Sociedade e siga-o. Não me surpreendo se tiver dificuldade em se aplicar nela, porque não o segue. 8. No momento, você tem como se aplicar a Deus, como entrar muitas vezes dentro de si mesmo. Faça-o, por favor. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 87 Anônimo [inferior] 1. Sinto muita consolação, meu caríssimo Irmão, porque ama apaixonadamente seu estado. Louvo a Deus por isso. 2. Você me pede ser o último de seus Irmãos. Veremos no futuro, se vamos poder atender seu pedido. 159 3. Você diz que muitas vezes não consegue ficar calado. Deveria se esforçar para o aprender. Saber calar no devido tempo é uma grande ciência. 4. Você diz que teme não ser bastante paciente para sofrer tudo o que é preciso sofrer. Este deve ser seu estudo diário. O silêncio e a modéstia lhe poderão procurar isso. 5. Seja muito exato no silêncio. É um dos principais pontos de regularidade sem o qual uma casa cai na desordem. 6. Talvez você dirá que tem grande desejo de observá-lo, mas que a situação em que está, de ter de responder continuamente aos que lhe fazem perguntas não lho permite. 7. Escusa frívola! Não sabe em que ocasiões deve responder e em que outras deve ficar calado? 8. Somente a caridade deve fazê-lo responder e deve guardar silêncio em qualquer outra ocasião. 9. Se um outro lhe fala, cale-se. 10. Fale sempre a seu Diretor com respeito, considerando-o como quem representa para você a pessoa de Deus. 11. Evite cuidadosamente contradizer nos recreios. Nunca se deve manifestar uma opinião contrária à de seus Irmãos. 12. Permaneça sempre nessas disposições. 160 Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 88 Anônimo [inferior] [1709] 1. Quando tiver de fazer alguma coisa, meu caríssimo Irmão, preste atenção sobre o fato de que só se é feliz neste mundo quando se fazem as coisas em vista de Deus, pr seu amor e unicamente para lhe agradar. 2. Parece que o seu amor é bem fraco; não me surpreendo, já que você diz que raramente se lembra de Deus. Ora! Como se poderia progredir na virtude do santo amor, se nunca se pensa naquele a quem se deve tudo e que deve ser o objeto de nossos pensamentos? 3. Fique, pois, certo de que, enquanto permanecer nesse estado, sempre terá repugnância de todas as virtudes. 4. Você está vendo que não está praticando nem uma sequer na secura em que se encontra. 5. Humilhe-se, pois, muito diante de Deus. Mostrelhe que está tão contente como se tivesse gosto e que procura a ele e não a seus gostos pessoais. 161 6. Quando tiver alguma mágoa, recorra a Deus, expressando-lhe que ele deve ser sua consolação, já que é refúgio para você. 7. Aplique-se a seus exercícios de tal maneira que não possa dizer que, depois de começar pelo espírito você termina pela carne, isto é, de maneira natural. 8. A mortificação é necessária para nada fazer que não seja em vista de Deus. Sou, em seu santo amor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 89 Anônimo [inferior] 1. Você sabe muito bem, meu caríssimo Irmão, como é importante seguir as inspirações que Deus lhe dá. 2. Elas são preciosas e Deus ordinariamente liga suas graças a elas. Ele não pretende concedê-las em vão. E sabe vingar-se quando não se é fiel a elas. 3. Portanto, as inspirações que Deus lhe dá são uma coisa preciosa e somente comunica suas graças na medida em que somos fiéis em segui-las. 162 4. É uma graça particular a que Deus lhe deu. É um sinal de que Deus quer que você persevere em seu estado. 5. O meio seguro que deve usar para evitar a infelicidade em que esteve pensando, é a obediência e a acusação diária. 6. Fique certo de que estas duas práticas o impedirão de sucumbir na tentação. 7. Esforce-se muito a rejeitar todos os pensamentos contrários a seu estado. 8. Escute o Espírito Santo que lhe fala no fundo de seu coração. 9. Peço a Deus que ele lhe conceda esta graça. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 90 Anônimo [inferior] 1. Aplique-se muito à presença de Deus, meu caríssimo Irmão. Considere esta prática como sua maior felicidade. 2. A reserva e a atenção sobre si mesmo devem ser bastante grandes para a garantir a você. 163 3. Elas lhe servirão de meio para se vencer nas ocasiões e lhe impedirão de fazer suas ações de modo natural, inspirando-lhe sempre o querer a vontade de Deus que é a única coisa que deve ter por objetivo. 4. Não é sem motivo que você diz que é dissipado demais, pois efetivamente você o é demais, meu caríssimo Irmão, porque o pensamento da presença de Deus lhe é tão raro e nem sequer está em você nos exercícios mais santos. 5. Por favor, trabalhe para fazer tudo o que faz em vista de Deus e por sentimentos de fé, já que este é o espírito de seu estado. 6. Lamento deveras a conjuntura em que está e participo muito da mágoa que está sentindo por estar obrigado a repelir sem cessar os pensamentos inúteis que o assaltam. 7. Mas, vou dizer-lhe que eles o assaltam desta maneira porque não cumpre seus exercícios com bastante fervor e porque emprega seu tempo em muitas coisas inúteis. 8. Portanto, eu lhe suplico em nome de Jesus Cristo, trabalhe para vencer sua negligência neste ponto, porque nada pode prejudicá-lo mais do que isto no serviço de Deus. Sou, em seu santo amor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 164 CARTA Nº 91 Anônimo [inferior] 1. Longe de mim que eu o abandone, meu caríssimo Irmão, eu estava aguardando a resposta de Mons…… no tocante a suas necessidades. É preciso ter um pouco de paciência. 2. É bem verdade que os Irmãos sejam assistidos em toda a parte num ano difícil como este. 3. Está vendo claramente que a Providência lhe ajuda. Fique certo de que ela não lhe faltará sob a condição de você servir bem a Deus. 4. A gente é contra você; parece que tudo lhe vai faltar ao mesmo tempo. Deus suscita um outro que fala em seu favor e que faz dar tudo o que você precisa. 5. Acho que não se deva cortar o dejejum. Você pode-se privar dele. Aqui se como pão de rala. Ele é servido na mesa. Também em Reims se dá meia libra em cada refeição e quatro onças no dejejum. 6. De Avinhão me dizem que todos os habitantes estão reduzidos a uma libra de pão, libra que apenas pesa 14 onças. Aos Irmãos servem-se 4 onças no dejejum e 5 onças no jantar. 7. Não lhe posso enviar santinhos. Não tenho com que comprar pão para as 40 pessoas que somos. 165 Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 92 Anônimo [inferior] [Reims, 14 de setembro] 1. Meu caríssimo Irmão, é certo que um pouco de humildade lhe faria grande bem. Você é orgulhoso demais; este é um grande mal em você. 2. Se você não se aplicar à mortificação do espírito e dos sentidos, insensivelmente decairá da virtude. 3. Fique certo que, quanto menos submissão tiver, tanto menos gosto pela prática de seu estado notará em si. 4. Não me surpreendo do que você me diz que raramente se lembra de Deus; que outro meio você quer? Você tem horror a todas as virtudes, e não pratica nenhuma. 5. Somente se pensa em Deus na medida em que se tem amor a ele. Parece que o de você é bem fraco. Se não tomar um remédio, você se perderá. 6. Você tem muita necessidade de humilhações. Aplique-se a isso de modo particular e receba-as com uma disposição de gratidão e reconhecimento. 166 7. Você adquirirá muitas graças e sufocará a natureza ao vencer as repugnâncias que tem às humilhações. 8. Peço a Deus, para que ele lhe conceda esta graça. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 93 Anônimo [inferior] [1702] 1. Você sabe bem, meu caríssimo Irmão, que entre nós não se deve ter inclinação nem humor. Por favor, aplique-se a isso. Ponha todo seu cuidado para chegar até isso. 2. Sabe que agir por humor é agir mais como animal do que como homem. 3. A mortificação é o que mais se pratica entre nós. Por isso, é preciso que você a considere como companheira inseparável. 4. Devemos estar disponíveis a receber as humilhações em espírito de simplicidade. Para tanto temos muitas ocasiões. É necessário que elas não nos pareçam coisa estranha. Devemos familiarizar-nos com elas. Sempre são boas para nós. 167 5. As penitências são pouco úteis se não forem praticadas com espírito interior. Por isso, aplique-se a fazê-las e Deus o abençoará por este meio. 6. Seja fiel em se acusar todos os dias de suas faltas no refeitório. Deus liga muitas graças a essa ação. 7. Peço a Deus que ele o cumule de graças durante este tempo santo. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 94 Anônimo [inferior] 1. As mortificações que se lhe mandam praticar são admiráveis para o fazer progredir na virtude, meu caríssimo Irmão. 2. Por isso, por amor de Deus, apegue-se a elas tanto mais que elas se referem apenas ao espírito e não fazem mal ao corpo. 3. Nessas ocasiões diga a si mesmo: "Vosso espírito mortificareis, e todos os vossos sentidos freqüentemente". Depois diga: "Meu Deus, concedei-me a graça de amar tudo o que é próprio a mortificar meu espírito", e em cada ação particular, diga: "Ó 168 meu Deus, amo esta ocasião e a acho boa porque me leva a me mortificar". 4. Estou muito satisfeito porque você tem a fidelidade de me dizer as faltas cometidas por sua última (carta). 5. Por penitência, você vai tomar duas vezes vinte chicotadas de disciplina, a partir de agora até o dia da Assunção, todas as vezes que passar junto do Irmão…, você vai lhe beijar os pés e pedir-lhe perdão contanto que não seja durante um exercício público. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 95 Anônimo [inferir] 1. Meu caríssimo Irmão, você sabe bem que, para receber os sacramentos com todas as disposições que lhe são devidas, é preciso ter muita fé e muito fervor. 2. Antes de se confessar, seja exato em fazer alguns atos de contrição. 3. Tome muito cuidado para não faltar à confissão. 169 4. A confissão e a comunhão são o que o sustentará em suas dificuldades e você deve considerar como grande felicidade comungar muitas vezes. 5. Você deve aplicar-se a corrigir seus defeitos, mas se não comungasse, seria ainda pior. 6. Não convém comungar depois de ter desobedecido. 7. Não convém abster-se dela quando se caiu por fraqueza. 8. Durante a noite, muitas vezes acontece que o demônio causa essas impurezas naturais para impedir a comunhão. por isso, acho que não convém dispensar-se dela nem jejuar por esse motivo. 9. Se houvesse comunhão todos os dias, seria possível fazê-lo, mas como o dia da comunhão é para a comunidade, não me parece que se deva mudar. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 96 Anônimo [inferior] 1. Você, meu caríssimo Irmão, deve evitar cuidadosamente deixar-se abater nos sofrimentos que tem. Ao contrário deve humilhar-se em vista de sua fra- 170 queza e recorrer a Deus em quem e por quem pode tudo. 2. Muita coragem, um pouco de generosidade lhe fará vencer todos os seus sofrimentos. Sirva-se dos tempos de fervor para se animar. Quanto mais vencer sua repugnância na mortificação, tanto mais Deus o abençoará. 3. Por amor de Deus, não se deixe abater. Isto seria sinal de que você ainda é muito fraco. 4. Tenha cuidado para não se incomodar por nada. Não é razoável nem inteligente perturbar a cabeça por pouca coisa. 5. Acabo de receber sua última na qual você me parece bastante mudado de disposição. Você se deixa abater pela primeira dificuldade que lhe vem à cabeça. 6. Não se entregue tanto a sua vivacidade. Um pouco de paciência e Deus acalmará tudo. Ele deseja garantir-lhe muitos méritos através dos sofrimentos. 7. Não faça nada sem licença. 8. Vele sobre si mesmo para se corrigir de sua prontidão. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 171 CARTA Nº 97 Anônimo [inferior] 1. Não deixo e não deixarei de pedir a Deus por você, meu caríssimo Irmão, para que ele lhe conceda firmeza em sua vocação. Com efeito, você necessita que seja ele quem o sustente. 2. Eu ficaria muito feliz se você também rezasse por mim. A gentileza com que você me escreve me comove, meu caríssimo Irmão. 3. Sou-lhe muito grato pela preocupação que teve com minha saúde. Peço a Deus que ele lha conceda plena e inteira e que o torne muito santo. 4. Para isso, é preciso que você se aplique muito à mortificação. 5. Seja muito fiel a prestar conta de consciência. Este é o que o manterá na paz e no espírito de seu estado. 6. Tome cuidado de não falar com muita liberdade com seu irmão diretor e adore a Deus na pessoa dele. 7. Você sabe que é muito mal sair sozinho e fazer alguma coisa sem licença. 172 8. Acima de tudo, aplique-se a ser bem correto e regular. Com isso dará um bom exemplo a seus Irmãos. 9. Rezo a Deus para que ele lhe conceda essa graça. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 98 Anônimo [inferior] 1. Meu caríssimo Irmão, tome muito cuidado para não se deixar dominar pela impaciência na escola. isto é muito importante e capaz de atrair a maldição de Deus sobre sua escola. 2. Este é um defeito em que se tem muita ocasião de cair. É preciso vigiar muito sobre si mesmo para não se deixar levar a isso. 3. Por amor de Deus, não dê bofetadas. Não é à força de golpes que se atraem as pessoas para bem nem para Deus. 4. Também não use um chicote. Quanto às varas, use-as somente em caso de necessidade. Coloqueas de novo em seu lugar depois de a ter usado para que não lhe aconteça servir-se delas em seus movimentos de impaciência. 173 5. Cuide muito sobre si mesmo na escola para não se deixar levar a isso. 6. É preciso fazer todos os exercícios na hora exata na escola, pois para ali manter a ordem, é preciso que tudo seja bem regulamentado. 7. Portanto, é preciso fazer tudo por um princípio de regularidade e Deus abençoará o que você fizer, se tiver essa fidelidade. Peça-a muito a Deus, também eu, vou pedi-la por você. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 99 Anônimo [inferior] 1. Meu caríssimo Irmão, você sabe muito bem quanto a leviandade na escola é prejudicial. Por isso é que deve não somente abster-se deste defeito, mas também se acusar do mesmo com fidelidade. 2. Mesmo porque você cai muitas vezes nele, deve acusar-se dele de preferência. 3. Portanto, evite cuidadosamente essas leviandades na escola e castigar sem reflexão, pois essas práticas destruiriam a ordem. 174 4. Tenha cuidado de fazer com que seu alunos aprendam bem. 5. Eu gostaria muito que as regras fossem mais bem observadas na escola e em casa, do que eram antes. 6. Não faça nada na escola sem autorização. 7. Evite cuidadosamente tomar alguma coisa dos alunos. Esta é uma falta muito grave. 8. Não faça também gritar na escola. Não dê a eles nem às mulheres, motivo de queixa. 9. Para isso é preciso tomar meios inteligentes, pois, se você os mandar para fora por gritarem, os outros também vão gritar para que também eles sejam mandados para fora. 10. Está vendo o que lhe aconteceu; os efeitos funestos que isto produz. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 100 Anônimo [inferior] 1. Você fará bem em se aplicar em dar instruções, meu caríssimo Irmão. Para dá-las bem é preciso começar com ousadia e fazê-las mal, pois no começo ninguém é hábil em nada. 175 2. Parece-me que você se aflige demais com o que somente é exterior e o que não é o fim de sua vocação, mas tão somente um meio que não diz respeito a você, mas a seus Superiores, a cuja vontade deve submeter-se. 3. Contanto que ensine a seus alunos tudo quanto sabe, fique tranqüilo neste assunto. 4. Tomara que você fosse tão hábil em aprender bem seu catecismo que é o fim de sua vocação, como você é em aprender a escrever que apenas é um meio. 5. Você sabe a necessidade que os Irmãos têm de estudar seu catecismo e que muitas vezes é a coisa que mais se negligencia. 6. A escrita é necessária; mas é certo que o catecismo é ainda mais necessário em sua profissão. 7. Esta é a primeira coisa em que você deve se ocupar, pois seu primeiro cuidado é procurar o espírito do cristianismo aos alunos. 8. Não pense tanto em sua escrita e sua aritmética; as quatro operações lhe bastam. Não é preciso tanto tempo para as aprender. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 176 CARTA Nº 101 Anônimo [inferior] 1709] [Reims, 21 de setembro de 1.Estou muito feliz, meu caríssimo Irmão, com saber de sua boa vontade. Pedirei a Deus que ele lha aumente cada vez mais. 2. Se você tem dificuldades, não deve se espantar por isso; o diabo não tem vontade alguma de deixálo em paz. 3. O remédio que encontrará para isso, será recorrer a Deus na oração e revelá-las simplesmente a seu Diretor e a mim. Por este meio você verá que Deus lhe dará a facilidade para suportá-las. 4. Seja bem regular e muito submisso e fique seguro que, por este meio, Deus lhe dará muitas graças. 5. Não deve se inquietar nem afligir pelas suas tentações. Quando vierem, entregue-se a Deus como a seu bom pai. Peça-lhe que sustente você, persuadido que não o pode fazer por si mesmo. 6. Aproxime-se com gosto aos sacramentos, neles encontrará a força que lhe é necessária para vencer as dificuldades. 7. Sufoque todos os pensamentos que lhe vêm nas orações. 8. Parece-me que, conforme os caminhos de Deus a seu respeito e os desejos que você alimentou duran- 177 te tanto tempo, Deus o chama ao estado em que se encontra. 9. Tudo o que agora você deve fazer não é examinar, mas corresponder com fidelidade a sua vocação. 10. Você só deve ter entrado em sua vocação com a disposição de ali ter que sofrer. Se fizer assim, não ficará decepcionado quando tiver alguma coisa a sofrer. 11. Aproxime-se todos os dias a Deus com tudo o que tem a sofrer para que ele faça tudo conforme sua vontade divina. 12. Rogo a Deus que ele o abençoe a fim de que não deixe você entregar-se à inconstância ao querer ora uma, ora outra coisa. 13. Quando alguém se entrega a Deus, é preciso ser mais estável e procurar somente a ele. A inconstância é sinal de que a gente escuta muito e freqüentemente os próprios pensamentos. 14. Peço a Deus para que ele lhe conceda o espírito de sua vocação. Sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle 178 CARTA Nº 102 Anônimo [inferior] 15 de maio de 1710 1. Meu caríssimo Irmão, cuide para não se comportar por sua própria cabeça; isto não convém e Deus não o abençoaria, se agisse assim. 2. Você não deveria afligir-se porque o caríssimo Irmão Diretor rasgou o que você tinha escrito; pelo que parece foi porque você o escreveu sem licença, o que nunca se deve fazer e é justo destruir a obra da vontade própria. 3. Você fez bem ao dizer suas dificuldades a seu Diretor. Seja fiel assim a dizer tudo e Deus o abençoará. 4. Vigie bem sobre si mesmo para não se deixar levar a se dissipar, pois a dissipação é muito prejudicial e resseca muito o coração. 5. Seja fiel e exato a cumprir suas penitências e a nada fazer sem autorização, pois Deus só o abençoará na medida em que você viver como quem depende. 6. Fique bem satisfeito porque é advertido de seus defeitos; este é um dos maiores bens que se lhe possa dar; considere-o como tal. 7. A presença de Deus lhe será de grande utilidade para lhe ajudar e animar a executar bem suas ações. 179 8. Muito me alegrei com que você seja facilmente aplicado na meditação. Este é o exercício que atrai as graças de Deus sobre os demais. 9. Tenha também uma aplicação especial a sua leitura espiritual que serve muito ara se dispor a fazer bem a meditação. 10. Você sabe que a sana Missa é o primeiro exercício de religião, eis porque tenha nela toda a atenção possível. 11. Não se preocupe com as ações de seus Irmãos; é a Deus que pertence o julgá-las e não a você. 12. Vigie sobre si na escola para não se deixar levar ali à impaciência, pois longe de assim nela manter a orem, ela o impede. 13. Peço a Deus que ele lhe dê o seu espírito e sou, em Nosso Senhor, meu caríssimo Irmão, todo seu. De La Salle CARTA Nº 103 Anônimo [inferior] …… 1. A dissipação e a curiosidade são um grande mal no serviço de Deus. trabalhe, pois, meu caríssimo Irmão, para restabelecer o seu interior. Você bem sabe que isto é o principal e o que mais leva a Deus. 180 2. Seus olhos são seus dois maiores inimigos. Por isso deve continuamente vigiar sobre eles para só fazê-los olhar o que a necessidade exige. 3. O maior bem que você poderia adquirir é o recolhimento e, quando o tiver adquirido, poderá dizer o que diz Salomão da Sabedoria, que todos os bens lhe advém com ele. 4. A curiosidade é uma das coisas que mais impedem a piedade. Por isso, tome cuidado e aplique-se acima de todas as coisas ao recolhimento e à presença de Deus, pois este é o meio mais próprio que poderia tomar para se tornar interior. Oh1 por amor de Deus, trabalhe nisso. 5. Está vendo os males que lhe causa a dissipação. Por isso, retenha seus olhos e sua língua. Nada lhe é tão importante do que esta prática. 6. Este meio lhe procurará ver a Deus em seus exercícios e o incitará a fazê-los bem feitos, tanto exterior quanto interiormente, pois Deus não pede somente o exterior das ações, ele quer que sejam feitas com disposições interiores. 7. Você se queixa de ter um exército de pensamentos inúteis para combater. Se você se aplicasse a ter o pensamento em Deus, não lhe seria tão fácil ter tantos inúteis. 181 CARTA Nº 104 Anônimo [inferior] …… 1. Evite cuidadosamente impacientar-se no exercício de seu ministério, este é o meio de não produzir qualquer fruto. 2. Quando se sentir excitado pela impaciência, retenha o movimento e aguarde até que tenha passado para agir, e quando se tiver deixado levar a tais impaciências como as que me conta em sua última carta, peça a seu Irmão Diretor que as castigue bem em você e sobre você mesmo; este será um bom meio para você se corrigir de um defeito tão grande. CARTA Nº 105 Anônimo [inferior] …… O espírito de fé é uma participação do espírito de Deus que reside em nós, que faz com que nos regulemos e comportemos em todas as coisas pr sentimentos e máximas que a fé nos ensina. Assim, que toda a sua ocupação seja adquiri-lo, a fim 182 de servir-se dele como de uma couraça para aparar as flechas incendiárias do demônio. …… CARTA Nº 106 Anônimo [inferior] …… Não se aflija com o futuro, entregue tudo a Deus que terá cuidado de você. …… CARTA Nº 107 Anônimo [inferior] …… 1. Por favor, procure no meio de suas enfermidades, ter um inteiro abandono à vontade de Deus, a ele é que cabe dispor de você como lhe aprouver. 2. Tome cuidado para não perder coragem diante dos sofrimentos e incômodos, esta vida está cheia delas. 3. Enquanto você é jovem deve estar disposto a aceitá-los de bom grado e utilizar, como você já fez, as máximas do Evangelho para recebê-los bem e aproveitar deles. 183 CARTA Nº 108 Anônimo [inferior] …… 1.Por favor, tenha muito gosto na observância de suas regras, pois Nosso Senhor só o abençoará na medida em que procurar observá-las com exatidão. 2. Se você me pedir um meio fácil para observá-las como se deve, direi que deve considerá-las como a vontade de Deus a seu respeito e verá que então nada lhe vai parecer difícil. 3. Entre as regras à qual deve prestar mais atenção é a de ser muito exato em nada fazer sem autorização: isto é de extrema importância. CARTA Nº 109 Anônimo [inferior] …… 1. Meu caríssimo Irmão, você me pede a decisão de uma dificuldade… 2. Sobre isto somente posso responder-lhe que os Bispos são os Chefes e eu um simples sacerdote, 184 por isso não sou juiz nesta matéria. É preciso dirigir-se ao Papa e aos Bispos para saber deles o que pensam sobre o que me está perguntando e o que julgam sobre isso. CARTA Nº 110 Anônimo [inferior] [1719] …… 1. Por amor de Deus, peço-lhe, meu caríssimo Irmão, que no futuro não pense em dirigir-se a mim em qualquer maneira que seja. 2. Você tem seus Superiores a quem deve comunicar seus problemas espirituais e temporais. 3. A partir de agora somente quero pensar em me preparar à morte que, em breve, deve separar-me de todas as criaturas. CARTA Nº 111 Ao Prefeito e aos vereadores de Château-Porcien Reims, 20 de junho de 1682 Senhores, 1. Mesmo se eu tivesse pouco interesse no que respeita a glória de Deus, eu precisaria ser muito in- 185 sensível para não me deixar comover pelos instantes pedidos do senhor deão e pela maneira insistente com que me dão a honra de lhes escrever hoje. 2. Eu, Senhores, estaria errado se não lhes enviasse alguns mestres de escola de nossa comunidade, em vista das instâncias e o ardor que me testemunham ter pela instrução e educação de seus filhos. 3. Por favor, queiram ficar persuadidos de que nada me é mais caro do que atender nisto as boas intenções dos senhores, e a partir de sábado próximo, enviarei dois mestres de escola com os quais, espero, ficarão satisfeitos para começar sua escola um dia depois da festa de São Pedro e fico-lhes extremamente agradecido por todas as gentilezas e peçolhes me acreditem, com respeito, em Nosso Senhor, Meus senhores, Seu muito humilde e obediente servidor. De La Salle, Sacerdote, cônego de Reims CARTA Nº 112 Ao Sr. Des Hayes Paris, rua Charone, bairro S. Antônio, 26 de setembro de 1704. Senhor, 186 1. Fiquei sabendo pelo Sr. Chardon, esta manhã, que o senhor havia escrito a ele para saber alguma coisa acerca de nossos Irmãos e que pedia dois deles e desejava saber o que era preciso. 2. Estou muito disposto a dar dois deles. 3. Quanto ao preço, o senhor sabe que não somos difíceis e que não poderíamos não enviar somente um. 4. Se quiser me dizer para que bairro os pede e o que pensa dar a eles, ficarei muito obrigado. 5. Creio que estaremos facilmente de acordo e se estará contente com os que vou enviar. Sou, com respeito, meu Senhor, seu humílimo e obedientíssimo servidor. De La Salle CARTA Nº 113 Ao Sr. Des Hayes Paris, 18 de novembro de 1704 Senhor, 1. Recebi ontem a carta que me fez a honra de enviar. 2. Permita-me, por favor, pedir-lhe um esclarecimento sobre uma coisa que o senhor não me havia 187 explicado, a saber, se o mestre de escola que se está pedindo estará obrigado a cantar na paróquia e ajudar o Sr. Vigário em suas funções, pois o senhor sabe bem que nossos Irmãos não exercem nem uma nem outra coisa. 3. Faça-me também o favor de me dizer mais ou menos quantas comunhões há naquele lugar nas duas paróquias e se cada paróquia tem seu mestreescola. 4. Tenho estado em Darnétal; pensei que ficasse mais longe de Ruão. 5. Fico-lhe muito obrigado por suas gentilezas e sou com respeito, Senhor, Seu humílimo e obedientíssimo servidor. De La Salle CARTA Nº 114 Ao Sr. Rigoley Paria, 10 de julho de 1705 Meu Senhor, 1. Recebi sua última quando retornei de campanha. 2. Lamento muito o incômodo que nossos Irmãos lhe causam por estarem tanto tempo alojados em sua casa e, ao mesmo tempo, fico-lhe sensivelmen- 188 te obrigado pela caridade e bondade que tem para com eles. 3. Vejo bem que este começo do estabelecimento lhe causou até agora e lhe causará ainda muita dificuldade e este é o efeito de seu zelo pela instrução das crianças tê-lo empreendido e prosseguido sua execução a pesar dos transtornos que isto lhe causou. 4. Quanto aos livros que mandei enviar para as escolas, eu não teria pensado nisso, se o Irmão Antônio não me os tivesse pedido. 5. Estou aborrecido porque isto não o deixou contente. 6. Peço o favor deixá-los ficar em Dijon até que se possa transportá-los a outra parte, se [ali] não se precise de nenhum. 7. Não sei, meu Senhor, se teve o cuidado que a casa que alugou tem duas salas contíguas uma com a outra para ali manter as escolas pois esta é uma coisa indispensável para nossos Irmãos. 8. Se o senhor tiver pensado nessa precaução, eu pediria que cuidasse disso, alugando algumas salas vizinhas até a hora de nossos Irmãos ocuparem essa casa. Sou com todo respeito e gratidão possíveis, meu Senhor, seu humílimo e obedientíssimo servidor. De La Sall 189 CARTA Nº 115 Ao senhor Gense …… 1. Fiquei sabendo com imensa alegria, o zelo que o senhor tem em manter a religião que está tão perturbada no momento neste reino. 2. O senhor gostaria que eu me unisse a si para o mesmo fim, uma vez que Deus me concedeu a graça de me empenhar nisso até o presente. 3. Não deixarei de lhe pedir com insistência que dê ao zelo de sua pessoa sua bênção e um feliz êxito para que seja como uma barreira contra tudo o que o demônio empreende no momento em que estamos para tirar a paz à Igreja. …… CARTA Nº 116 Anônimo 1. Queira desculpar, meu Senhor, que eu, embora pobre sacerdote de Saint-Yon, tome a liberdade de juntar este bilhete à carta do Irmão Bartolomeu, Superior dos Irmãos, para pedir-lhe queira fazer em favor deles o que ele toma a liberdade de lhe propor. 190 2. Estou persuadido de seu zelo e seu amor para com o que diz respeito a eles, de modo que estou certo de que o meu insignificante sufrágio não teria sido necessário e que a carta dele teria bastado, como conheço o coração do senhor. 3. Contudo, a vantagem que ele me dá de lhe renovar a continuação da perfeita estima e consideração que eu lhe tenho, é alguma coisa tão grande para mim, que lhe peço que sirva pelo menos para lho dar a conhecer e testemunhar-lhe que sou, com profundíssimo respeito, Meu Senhor, Seu humílimo e obedientíssimo servidor. De La Salle, Pobre sacerdote CARTA Nº 117 Anônimo 1. Permita-me dizer-lhe, meu Senhor, que aparentemente o informaram mal a meu respeito, quando lhe disseram que eu fazia tanto bem na Igreja e que enviava mestres para as cidades e aldeias para instruírem a juventude. 191 2. É verdade que comecei a formar Irmãos para manter gratuitamente algumas escolas, mas há muito que estou afastado da direção deles. 3. Um dos Irmãos, chamado Irmão Bartolomeu, é quem os dirige agora e que mora nesta mesma casa e que os Irmãos, mesmo os de Saint-Denis, reconhecem como seu Superior… CARTA Nº 118 A um de seus amigos cônego …… 1. Esta já é a terceira vez que pego a caneta para me dar a hora de lhe escrever desde o início deste ano, para desejar-lhe que ele seja bom e feliz. 2. Permita-me que lhe manifeste uma dor que tenho a seu respeito, porque esteve metido no interdito por seus confrades e porque se livrou dele através de juízes seculares e assim considerou a estes como superiores nas funções eclesiásticas. 3. Admiro-me porque não se fez devolver o cálice e a sobrepeliz numa cerimônia por algum juiz do tribunal eclesiástico, que tivesse o mesmo direito de lhe devolver o uso, quanto seu prelado tinha de lho dar. 4. Como é que o senhor pode reconhecer os leigos como seus juízes em matéria tão eclesiástica como nunca? Na verdade, o senhor que tem conhecimen- 192 to sobre o seu estado e não é indiferente acerca do que se refere a ele, como é que pode recorrer a uma jurisdição puramente leiga e secular? 5. Talvez me responderá que o mesmo foi feito com muitos outros; portanto, foi por respeito humano? 6. Acrescentará, penso, que foi como pressionado por seus confrades; mas o senhor entende bem que eles não têm direito a obrigá-lo a prevaricar contra os direitos da Igreja e submeter-se a uma justiça secular naquilo que não lhe compete. 7. Conheço a submissão que São Pedro e São Paulo queriam que se tivesse aos poderes temporais, mas nunca pretenderam que ela se estendesse às coisas espirituais, e quando se apela a um poder e a uma jurisdição superior, é preciso que ela o seja in eodem genere (no mesmo gênero), por aquilo que se refere puramente à competência dessa jurisdição superior e de outras, tais como o uso do cálice e da sobrepeliz, para os seculares. 8. Poder-se-ia aplicar ao caso presente, embora não absolutamente no mesmo sentido, o que diz São Paulo no capítulo sexto de sua Primeira Epístola aos Coríntios: "Quando alguém tem uma questão com seu irmão, se atreverá ele a fazer-se julgar pelos maus, isto é, os pagãos, e não pelos Santos, isto é, pelos Cristãos?" 9. Quanto a mim, teria vontade de dizer [de] algum eclesiástico que tem uma questão com seu superior eclesiástico: "Ousaria ele ser julgado por juízes 193 leigos e não eclesiásticos que são seus juízes naturais em tais questões?" "Não sabeis - acrescenta o mesmo santo Apóstolo - que os Santos serão feitos vossos juízes nos assuntos de que trata"? CARTA Nº 119 A um religioso desconhecido …… 1. A antipatia contra o próximo e o ressentimento das injúrias impedem que nossas orações cheguem a Deus. Se nossos corações estão divididos pela cólera e o ódio, é impossível conservar a união com Jesus Cristo, e assim, ao deixar de ser membro de seu corpo místico, não se pode querer que o Pai nos escute, porque não ele não reconhece em nós o Espírito de seu Filho. …… 2. (Em seguida lhe dá alguns conselhos para manter a caridade) 3. 1º Adapte-se por uma caridosa condescendência a todas as fraquezas de seu próximo e principalmente, faça-se uma lei, dissimular sua opinião sobre muitas coisas indiferentes. 4. 2º Deixe de lado toda amargura contra seu próximo seja quem for e convença-se de que ele é melhor do que você, em tudo, o que não terá dificuldade a fazer, se vigiar um pouquinho sobre si mes- 194 mo e o que lhe dará a facilidade de vencer sua repugnância. 5. 3º Procurará todos os dias as ocasiões que puder ter de prestar serviço àqueles contra os quais sente antipatia. Depois de fazer cada manhã um exame sobre este assunto, tomará resoluções que porá fielmente em prática com gentileza e humildade. 6. 4º Terá um cuidado particular de assistir aos mais fracos em suas necessidades, a pesar da repugnância natural que poderia ter; mas tudo de acordo com a ordem e as práticas regulares de sua Comunidade, e, se estiver obrigado a recusar alguma coisa, faça-o de modo que se esteja contente com a recusa. 7. 5º Procure ser cordial para com todos, falar e responder com muita gentileza e deferência, propondo-se a maneira de falar e de responder de Nosso Senhor, quando mais o maltratavam. 8. 6º Nunca dirá uma palavra sobre os defeitos ou as atitudes de seu próximo. Quando se falar disso, deverá interpretar suas ações para o lado bom, e se achar que não o pode fazer, ficará em silêncio. 9. 7º Nunca faça recair alguma falta sobre o próximo para você se eximir. Quando for ele que a cometeu e o senhor não tiver parte alguma, deve ficar contente que se creia que foi você, por espírito de caridade e de humilhação. Acostume-se a nunca se escusar, e menos ainda a se eximir à custa dos outros. 195 10. 8º Nunca se queixe dos outros em nada, se a necessidade não o obriga a isso, e quando for obrigado a fazê-lo, que não seja em forma de queixa. 11. 9º Por menos razão que lhe pareçam os outros terem em suas opiniões e desejos, quando não puder condescender a eles para observar suas regras, contente-os com palavras gentis e humildes. 12. 10º Quando lhe acontecer que contradiz alguém ou declara suas opiniões em contra do próximo, quando o perceber ao falar, você deve ficar calado e, se lhe perguntarem o motivo, deve dizer que errou ao falar assim. Você comete muitas outras faltas mais sérias sobre as quais precisa tomar cuidado, para não interpretar mal as ações dos outros. 13. 11º Você está cheio de zelo, mas não é uma boa ciência, pois quer que se repreendam os outros de suas faltas e não quer ser repreendido pelas suas próprias. Suporte os defeitos de seu próximo e interprete-os pelo lado bom. 14. 12º Por fim, deve tomar por regra nunca falar das imperfeições dos outros nem repreendê-los por isso por maiores que elas lhe pareçam. Quando vir alguém cair em algum defeito, lembre-se do que diz o Evangelho: "Tu vês uma palha no olho de teu irmão, e não percebes a trave que cobre o teu". …… 196 CARTA Nº 120 A sua sobrinha religiosa Minha caríssima sobrinha, 1. Eu tinha respondido à carta com que me honrou no dia da Ascenção, mas porque ela não pode serlhe entregue, estou lhe dando esta outra resposta. 2. Muito obrigado por me ter comunicado o dia de sua profissão e participo profundamente da alegria que você tem com isso e do ardente desejo de se consagrar inteiramente a Deus. isto significa conseguir nesta vida um antegosto da eterna. 3. Como a considero feliz por se libertar com isso dos cuidados e das dificuldades do mundo! 4. Não deixarei de unir minhas orações às suas para pedir a Deus para você a graça de fazer bem este sacrifício. 5. Eu gostaria muito poder assistir a ele, mas, duas razões me impedem. A primeira é que sou aqui o único sacerdote para ouvir a confissão de cinqüenta pessoas e temos dificuldade para ter um outro para esta casa porque ela está afastada da cidade, o que faz que atualmente não a posso abandonar. A segunda é que, como tenho um Superior, não sou dono de mim mesmo. 6. Assim peço-lhe que se contente que me una a você nessa santa ação nas mesmas disposições em que Deus lhe concederá a graça de a fazer. 197 7. Sou com muita estima e toda a afeição possível…… CARTA Nº 121 A uma religiosa …… 1. Suas regras devem servir-lhe de norma em suas ações e não o exemplo daqueles que não as observam. Se você leu bem o Sr. Trapista, ficou certamente sabendo que não é uma singularidade observar as próprias regras numa comunidade, quando várias outras pessoas não as observam. Pensem de você tudo o que quiserem, contanto que você cumpra seu dever, não se incomode absolutamente. 2. Tenha zelo contra e em si mesma e, se o tiver pelos outros, que seja unicamente dando-lhes exemplo. 3. Considere-se e faça tudo o que faria uma noviça fervorosa diante das observâncias regulares; com que cuidado, com que ardor e amor não observa ela até as menores coisas e como ela presta atenção para não omitir nenhuma? É isso o que você deve ser e o que talvez não seja. Pense nisso, por favor. 4. A covardia e os raciocínios fazem você cometer muitas faltas. De agora em diante considere suas 198 regras para você como uma explicação e uma aplicação que lhe é feita do que está contido no Evangelho. Observe-as assim. O espírito de fé a fará entrar nestes sentimentos e nesta prática. 5. Como não se deve seguir facilmente todos pensamentos que se tem de fazer alguma coisa boa, nem tomá-los levianamente como inspirações de Deus, também se deve ter um extremo afastamento de todos aqueles que levam ao relaxamento. Devese até ter um santo horror deles e, diante de uns e de outros deve, antes de se decidir, tomar conselho. Se não tiver tempo ou ocasião para isso, e se a coisa for urgente, deve-se recorrer a Deus e fazer depois com determinação e coragem e simplicidade de coração o que julgar conforme lhe aconselhariam de melhor para o momento. As oposições da natureza antes devem nos fazer empreender do que largar mão de agir. 6. Aconselho-lhe que em tudo se oriente pelas prescrições de suas regras, como a vontade de Deus e não para agradar aos homens, pois entenda que ter cuidado para que os homens não lhe tenham nada a censurar e não se importar de Deus, seria ser farisaico, hipócrita e não cristão. 7. Por fim, querida irmã, observe sua regra e seu regulamento diário. Faça de um e de outro seu essencial. Isto valerá mais do que fazer milagres. Acima de tudo seja, por amor de Deus, tanto mais exata em tudo o que contraria mais a natureza e a faz sofrer do que aquilo que lhe agrada. 199 8. Alegro-me de que você tenha saúde para seguir a comunidade. Você deve tomar cuidado nisto, e é o que lhe desejo porque é um meio excelente para se tornar agradável a Deus, no amor de quem sou…… CARTA Nº 122 A uma religiosa …… 1. Lance-se nos braços de Deus e de sua santa Mãe para ser sustentada em sua grande fraqueza, não de maneira sensível e consoladora, mas como Deus quiser e como você o merece. A violência que se fizer nem sempre será tão grande nem longa, tanto do lado de Deus que a consolará, quanto do seu lado, pois não tem muito tempo a viver neste mundo. Mesmo se ele demorar muito, acaso seus pecados, o exemplo de Jesus Cristo, o amor de Deus, a posse de uma felicidade eterna não o merecem? 2. Apóie suas fraquezas sobre Jesus Cristo e confiese em sua bondade e ele não a deixará cair nas misérias que você tem, se sua infidelidade não derem motivo para tanto. Crie paciência, aguarde, e a consolação virá a seu tempo. 3. Todas as perturbações e mágoas que você tem são grandes meios de satisfazer a Deus pelo passado. Seja fiel a isso e creia que dará conta muito estrita do uso que fizer disso. Por favor, mantenha- 200 se firmemente pregada na Cruz de Jesus Cristo, não se despregue dela ainda que todo o inferno estrondeie; diga com ousadia que você não se separará jamais dela e que nada a poderá separar dela. Se você tomar uma resolução tão generosa, Nosso Senhor virá imediatamente em seu socorro e a sustentará com sua mão. 4. Sejamos miseráveis com satisfação porque Deus está sempre presente em sua felicidade. Isto nos deve acalmar. Arrastemos nossa pobre vida por tanto tempo quanto ele quiser, sem nos queixar a ninguém, nem mesmo a aquele que no-la pode tirar. Procuremos unicamente sua vontade. Confesso que a violência perpétua que você deve se fazer é alguma coisa muito desagradável à natureza, mas o que não se deve fazer para resgatar um paraíso perdido e para evitar um inferno merecido? Tudo deve relacionar-se com estes dois grandes objetos da eternidade. Que Deus esteja presente em seus combates e que a sujeição da natureza seja seu único recurso, e que a visita ao Santíssimo Sacramento seja o único remédio a seus sofrimentos. 5. Se a disposição em que você está é um martírio, ele também é a melhor disposição que poderia desejar, pois é a mais santificadora. Por pouco que você fosse submissa em suas dores, isto bastaria: o que é de temer é que você se manifesta a outras pessoas e não aos que a dirigem. Tome cuidado para não fazer isso. 6. Sei perfeitamente, minha querida Irmã, que você está sofrendo muito e eu participo profundamente 201 de seus sofrimentos, mas acho que você não deveria ficar tão desolada. O abandono que está sentindo só é exterior e essas trevas tão profundas em que se encontra são meios que Deus lhe proporciona para fazê-la caminhar mais seguramente a ele. Você sabe bem que quanto mais trevas e escuridão houver em sua vida, tanto mais fé terá, e também sabe que somente a fé faz a vida, e as atitudes dos que pertencem a Deus. diga muitas vezes a si mesma neste abismo: "Ainda que eu seja reprovada, farei tudo o que puder para Deus". E se de vinte obras você fizesse apenas uma boa ou pela metade boa, sempre seria o mesmo pelo amor de Deus. a humilhação será algumas vezes boa n estado em que se encontra, mas a coragem e a confiança em Deus lhe serão ainda melhores. Mais uma vez, recorra a Deus pela oração. Será que se pode irritá-lo com uma ação destas? Que este pensamento fique longe de nós, minha querida Irmã; creia-me, a oração sempre atrai alguma graça de Deus até mesmo sobre os maiores pecadores. Ela é quase seu único refúgio e mesmo se você somente ficasse diante de Deus, sem mais, a oração sempre será muito útil para você se manter firme em seus sofrimentos e para lhe ajudar a suportá-los com paciência. Quanto possível faça-a diante do Santíssimo Sacramento. Isto lhe ajudará muito a ficar tranqüila de espírito e no fundo da alma. 7. Não se deixe persuadir erradamente que foi abandonada por Deus. Pelo contrário, acredite que Deus está mais disposto do que nunca a acolhê-la entre seus braços. E à medida que o seu mal au- 202 menta, a misericórdia de Deus também se torna maior e mais abundante para com você. Ele sabe como é grande a fraqueza de você, e a graça de Deus é necessária para estabelecer e firmar em você o que sua fraqueza e sua covardia pudessem fazer perder a qualquer momento. CARTA Nº 123 A uma religiosa …… 1. Você deve persuadir-se de que a vida que leva exige de você uma humildade completamente diferente, uma renúncia ao mundo, a seu espírito e a si mesma toda outra; de maneira que o que pode parecer suportável a qualquer outra pessoa, não deve parecer a você. 2. Ao se considerar como um resto do inferno, você deveria colocar-se abaixo de todos, espantar-se de que alguém a possa agüentar e que a terra a queira suportar de bom grado. 3. Veja como você está afastada destes sentimentos; humilhe-se por se conhecer tão pouco e peça a Nosso Senhor que grave essa humildade no fundo de seu coração. 4. Você não pode cometer excesso em se humilhar, em se deixar de lado e em se aniquilar, pois este é o único meio de salvação que lhe resta. 203 5. Se, pois, você quiser fazer um grande progresso nesta virtude, observe as coisas seguintes: 6. Venha de onde vier a humilhação, receba-a como uma coisa que lhe é devida em justiça. 7. Aguarde as humilhações, a menos que Deus lhe dê um atrativo particular para procurá-las e que a ocasião para isso se apresente naturalmente. 8. Minha querida Irmã, considere tudo bom, especialmente o que mais a humilhar e mais se opuser a sua inclinação. Não há meio melhor para destruir seu fundo de orgulho do que a prática freqüente e diária das humilhações. Se você as desejar e amar para estar unida em tudo a Nosso Senhor, ele lhe proporcionará um grande número de ocasiões além das que já tem da parte de seu espírito e de seu humor. Se tiver essa fome de humilhações e de afastamento do mundo, você conseguirá levar tudo com a graça de Nosso Senhor. 9. Considere-se sempre em disposição de humilhação e humilhe-se em tudo e a respeito de todas as pessoas. Humilhe-se quando fizer sofrer as outras, considerando que é o de que capaz, e quando vir que se criticam as ações de você, convença-se de que os outros têm razão. 10. É bom que você seja depreciada publicamente para estar mais afastada do mundo e mais unida a Deus. 11. Quando for repreendida de alguma falta que não cometeu ou quando for repelida, agradeça com muita gentileza e humildade, dando mostras de 204 estar disposta a se corrigir. Você sabe bem que não merece qualquer respeito nem deferência, nem sequer qualquer aprovação. Você nem sequer merece ser ouvida; entre nesses sentimentos. 12. Você deve sempre tomar o último lugar e o mais incômodo, apesar de toda a sua repugnância que é conseqüência de seu orgulho. Sempre será uma grande vantagem para você, ser tratada como a criada das outras e é o que deveria desejar com ardor: 1º para abater seu orgulho; 2º para vencer sua covardia; 3º em razão de seus pecados cujo número e enormidade devem mantê-la debaixo dos pés de todo o mundo e especialmente de suas Irmãs. Quando estiver convencida de que não merece nada diante de Deus, exceto o desprezo, e quando considerar as criaturas como instrumentos de que sua misericórdia e sua justiça se servem ora para a elevar, ora para a abater, e que a Providência só as emprega para a salvação sua e para a glória de Deus, então será pouco afetada pelos maus tratos que se lhe poderão impor. 13. Coloque-se sempre em seu lugar, isto é, sob os pés dos demônios onde tantas vezes mereceu estar e onde talvez poderá estar para sempre. E nesta visão coloque-se sob os pés de todas as suas Irmãs sem pretender que se deva ter qualquer consideração e não dar qualquer sinal de respeito para com você. Creia que nenhuma delas há que não tenha mais virtude e mais inteligência do que você. Porque nenhuma delas mostra menos (virtude e inteligência) do que quem arrisca a eternidade como 205 você fez tantas vezes. Se puder gravar, minha caríssima Irmã, estes sentimentos em seu coração e agir de acordo, amar a abjeção, o desprezo e a rejeição das criaturas, procurar e abraçar isto como coisa que lhe é devida justamente, creio que isto será um meio eficaz e talvez único para atrair a misericórdia de Deus sobre si. CARTA Nº 124 A uma religiosa …… 1. Você somente atrairá as graças de Nosso Senhor sobre si obedecendo e submetendo-se a tudo pelo amor de Deus. 2. Deve obedecer com aniquilamento interior ao Espírito de Nosso Senhor que reside nos que têm o lugar dele, para fazer a vontade de Deus. adore muitas vezes esse espírito segundo o qual deve agir e deixar-se conduzir. 3. Seja fiel a pedir autorização para as menores isenções e não escute os argumentos de seu espírito sobre isso. A natureza nada exige com mais ardor do que sacudir o jugo da submissão. Seja fiel a isso, eu lhe suplico. 4. É natural fazer sem dificuldade o que está de acordo com nossa opinião, e fazer isto unicamente por inclinação não é obedecer. Mas fazer o que nos é mandado sem discutir, por mais contrário que 206 seja a nossa opinião ou a nossas inclinações, isto é a obediência que Deus pede de nós. 5. É preciso agir por espírito de fé na obediência para que ela seja pura. Nunca se devem examinar as intenções e os motivos que se tem para nos mandar tal coisa, mas abafar todos os raciocínios e dificuldades, agir unicamente porque nos mandam, eis a maneira de agir de agora em diante. 6. Deve fazer tudo o que for prescrito e obedecer sempre cegamente. Por maior que seja a dificuldade que sentir em fazer o que for ordenado; não deverá manifestar nada que possa conseguir-lhe uma outra ordem contrária à primeira, exceto, se achar que se trata da glória de Deus, pois nesse caso pode dizer sua opinião, contudo sem desejar que ela seja aceita. 7. Não resolva nada por si mesma, por isso ser contra a obediência e a dependência que se deve ter numa comunidade. Em tudo o que tiver de fazer deve tomar cuidado de receber a ordem de seus Superiores, e quando eles lhe disserem, prescreverem ou ordenarem alguma coisa, deve recebê-la e executá-la, sem qualquer réplica, por mais ridícula lhe parecer o que se lhe manda fazer, ou que se lhe diz, pois fique sabendo que, assim que alguém se põe a raciocinar, já não há mais obediência. Bonita perfeição essa …só gostar do que agrada! Não proceda assim, por favor, não discuta em nada, nem a respeito de ninguém. Tudo é bom diante de Deus quando a obediência o condimenta. 8. Peço a ele que a faça entrar neste espírito. 207 …… CARTA Nº 125 A uma religiosa …… 1. Lembre-se sem cessar que tudo o que tem a fazer é procurar salvar-se, já que está no mundo somente para isso, e porque o Salvador, que previu as fraquezas de você, morreu só para lhe procurar graças e meios de trabalhar nisso de maneira útil. 2 É pois preciso, primeiro que renuncie ao infeliz "que é que vão dizer", compreendendo que uma pecadora, tal como você é, não deve mais ter cuidado de sua honra e de sua reputação que perdeu diante de Deus e dos santos, e que não deveria ter outro desejo do que ser conhecida pr aquilo que é, isto é, como a abominação do Céu e da terra. 3. É preciso necessariamente que você aprenda a se conhecer melhor a si mesma do que se conhece, pois lhe digo em verdade que não conhece nem a milésima parte da enormidade de sua vida, e enquanto permanecer nessa cegueira, estará sempre na mentira e por conseguinte, afastada de Deus que é verdade… 4. Peço a Nosso Senhor que ele a torne humilde, pura e penitente. São três coisas de que você em muita precisão. Peça-lhe também todos os dias com lágrimas e gemidos, e principalmente desconfie de si mesma, colocando toda sua esperança naquele 208 que pode retirar o pobre do monturo, como diz o profeta, para o fazer sentar-se com os Príncipes de seu reino. 5. Embora naturalmente você tenha pouca disposição para a virtude, Deus a quer produzir em você por meio de seu poder e seu amor. 6. Não terá grande dificuldade para se entregar a Deus se tiver um pouco de generosidade. Espero que ele lha dará. Coragem, minha querida Irmã, um pouco de desejo de sofrer e tudo lhe será agradável e fácil. 7. Fique certa de que seu estado é de Deus e que por conseguinte, desgostar-se dele é querer opor-se à ordem de Deus. louve a Deus todos os dias por ele a ter chamado à participação nos diversos estados de sofrimentos dele e tenha grande confusão por você se mostrar infiel. 8. Não é, por acaso, um grande e muito grande negócio para você entregar-se inteiramente a Deus? parece-me que esta é a única coisa em que você deve pensar. 9. Se você procurar a Deus e não a consolação, manterá facilmente seu espírito em paz. 10. Algumas vezes, parece que Nosso Senhor dorme a nosso respeito, mas em seguida sabe despertar e nos fazer caminhar. Não se deve andar mais depressa nem de modo diferente do que ele quer e é preciso repousar quando ele o desejar. 209 11. Seria possível, minha querida Irmã, que alguma sensibilidade ou alguma ternura sejam capazes para a reter no serviço de Deus? Não quer você pertencer a ele por princípio do amor único dele? Lancese nos braços dele; ele é seu Pai e a carregará nos maus caminhos, isto é, nas tentações. 12. Não é dos homens que deve esperar a salvação, quando se dirigir a eles; é somente de Deus e talvez é a falta desse sentimento de fé porque Deus não lhe concede os socorros de que precisa. 13. Por fim, peço a Nosso Senhor que ele lhe abra os olhos cada vez mais para conhecer de um lado a profundidade do abismo de onde você saiu e do outro, a infinidade do amor que a retirou dali, para que este duplo pensamento a obrigue a lhe devolver um amor e uma fidelidade que seja proporcional aos crimes de você e ais benefícios dele. Amém! CARTA Nº 126 A uma religiosa …… 1. Que a oração lhe seja um exercício freqüente e procure encontrar nela a consolação nas securas porque ali encontrará a Deus mais puramente. Permaneça nela com fé e constância nas securas e obscuridades sem qualquer atração: este é um bom estado e muito santificador. 210 2. A oração, feita assim como eu lhe disse, a conduzirá em pouco tempo e sem outro estude à presença de Deus. 3. A oração é preferível a tudo. Depois de seu ofício divino, ela deve ser para você um ponto essencial de regra. 4. A oração de sofrimento vale mais do que qualquer outra; e, quando Deus lhe der a experiência dela, deve considerá-la como uma grande felicidade para si. Não pegue um livro durante esse tempo, não precisa dele. 5. Não se espante diante do afastamento de Deus e das securas na oração, você mesma é a causa disso. Renuncie a si mesma, faça-se violência, seja fiel ao que a graça pede de você, e aliás, por mais indigna que você seja das carícias e dos favores do Esposo das almas, ele a cumulará de tudo isso. 6. Seja tão fiel à oração na mesma medida em que sente, de um lado, Deus no íntimo de sua alma, e do outro, o demônio que faz todos os esforços para a desviar dele. 7. A oração deve ser seu principal apoio, por isso nunca falte a ela exceto quando estiver doente. Ela é que dissipará as trevas e a ignorância de seu espírito. Ponha-se no espírito de fé: você está diante de Deus, isto já é demais para você. Não se fixe nas sensibilidades, antes deve temê-las. 8. Sua oração tal como a está fazendo é boa, continue assim. Deus está presente nela e age em seu lugar. Assim basta que renuncie algumas vezes 211 com paz e tranqüilidade de coração, a todas as dificuldades e distrações que nela encontra e entreguese também a Nosso Senhor a fim de que ele venha viver em você e se torne o dono de suas paixões. 9. Você deve receber a situação em que se encontra na oração como uma penitência que Deus quer que você faça por seus pecados. Não sairá dela tão cedo; é preciso suportá-la com paciência e até com alegria. Por acaso não é bastante para uma miserável que ela saiba que está na presença de Deus? Esta é a reflexão que deve fazer de vez em quando, quer durante o dia, quer durante a oração para se esforçar a procurar um pouco de recolhimento interior ou exterior. 10. A situação em que você diz estar na oração não é ociosidade perigosa, como pensa. Contanto que tenha a Deus e que vá a ele, de que é que se preocupa? Ele não precisa de todos os esforços de você. É preciso evitar a ociosidade e também não se atrapalhar com a multidão dos atos: para você e para contentar a Deus basta para você que você esteja em sua santa presença. 11. Por fim, recorra mais uma vez à oração e permaneça nela em estado de aniquilamento e despojamento diante de Deus e tudo o que não é Deus. Peça-lhe com simplicidade de coração os meios de sair de seu estado de miséria em que está. Se não puder fazer oração, diga a Deus que não a pode e fique tranqüila; ele não a obrigará ao impossível. Ou então diga como os santos Apóstolos: "Senhor, 212 ensina-me a rezar" e depois fique aniquilada diante dele como incapaz de tudo e isto será sua oração. CARTA Nº 127 A uma religiosa …… 1. É esta espécie de silêncio que deve ser a partilha de uma alma verdadeiramente solitária e separada do amor do mundo. 2. Ela deve permanecer sentada e calada porque este é um meio de se elevar constantemente acima de si mesma e não há nada mais perigoso para ela do que deixar-se arrancar dessa conversação divina para se abaixar para os homens. …… CARTA Nº 128 A uma religiosa …… 1. É tempo de falar pouco e fazer muito. Que sua aplicação seja muito silêncio, muita humildade e muita oração, pois é isto o que Deus pede de você. 2. Por isso, você deve pensar pouco, desejar pouco e saber pouco. Este é o meio de viver contente. 3. O silêncio é uma virtude muito útil e muito necessária para adorar a Deus, para o servir em espíri- 213 to e em verdade, para resistir às tentações e para se preservar dos pecados. 4. É preciso aprender a se calar, a dissimular e a falar bem quando a necessidade o exige e para não se exceder neste, aplicar-se a observar bem as regras seguintes: 5. Não fale fora dos recreios, sem grande necessidade e, mesmo durante os recreios, fale pouco. Seu estado atual pede que seja fiel a isso. E não deve dizer uma palavra sequer sobre o que se passa, mas lembre-se que seu silêncio deve ser ar de arrogância. 6. Evite com cuidado justificar-se de nada: pelo contrário, confesse que não tem razão, contudo sem cometer uma mentira e fique calada em tudo, quando não puder falar sem se justificar. Nada vejo em você que seja ocasião de o fazer. 7. Nunca deve falar dos negócios da casa nem do que você acha que nela se faz contra a boa ordem. Contente-se com rezar nessas ocasiões e quando se falar de negócios e de coisas indiferentes, nunca diga sua opinião e isto em vista de sua pouca inteligência e discernimento. 8. Fique sempre calada nos pequenos desgostos que lhe causarem e que somente Deus seja testemunha de sua inocência. 9. Por fim, se depois de ter calado, falar do que você a muito custo tinha guardado para si, até as graças que Deus lhe teria dado, então perderá o 214 fruto de seu silêncio e deverá impor-se uma penitência por isso. CARTA Nº 129 A uma religiosa …… Fique certa de que somente progredirá no caminho do amor na medida em que for fiel a não endurecer seu coração às inspirações da graça. você conhece o que o Espírito Santo diz pela boca do profeta: "Hoje, se ouvirdes sua voz, não endureçais os vossos corações"; pois isso seria afastá-lo de você talvez para sempre…… CARTA Nº 130 A uma pessoa piedosa …… 1. A fé é o caminho pelo qual Deus quer conduzir a senhora até ele e no qual lhe será mais agradável. Talvez a natureza se revoltará com isso, mas o que importa? Não basta que a senhora conheça a Deus somente? Isto, com certeza, é melhor do que todos os outros conhecimentos dos doutores mais sábios. 215 2. Não somente este caminho de fé em que Deus a quer, é útil a você, mas também lhe é muito necessário, pois a senhora sabe bem que qualquer outro caminho tentou perdê-la e fazer perder a Deus, assim que começou a andar por ele. …… CARTA Nº 131 Para a mesma …… Este espírito de fé em que Deus a quer é o estado em que sempre viveu a Santíssima Virgem. Por isso poderá utilmente dirigir-se a ela para pedir-lhe que a conduza a Nosso Senhor por este caminho e por aquele que lhe for mais agradável. CARTA Nº 132 Para a mesma …… 1. Considere todas as coisas pelos olhos da fé. Nunca deve deixá-la seja qual for a razão. 2. Ela, num dia, lhe produzirá mais bem, mais aplicação interior, mais união a Deus e vigilância sobre si mesma do que um mês de penitência e de austeridades a que se sente tão levada. 216 3. Acredite-me, a senhora verá o efeito disso, embora talvez não o compreenda agora. 4. Mais uma vez, quanto mais entrar numa simples vista de fé, tanto mais entrará no estado de simplicidade de ação e de vida que é o estado em que Deus a quer. CARTA Nº 133 Para a mesma …… 1. Estou muito feliz, Senhora, porque agora vive melhor na paz e no espírito de fé. 2. A senhora tem razão de dizer que neste espírito se vêem as coisas de maneira completamente diferente do que quando são olhadas em si mesmas sem ir mais adiante. 217 CARTAS DE SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE SEGUNDA PARTE ESTUDO HISTÓRICO DAS CARTAS 218 Capítulo primeiro CONTEÚDO DA COLEÇÃO Cento e trinta e três cartas inteiras ou fragmentárias são conhecidas até o presente. Elas se apresentam quer como documentos autógrafos, inteiramente escritos e assinados por São João Batista de La Salle, quer como textos de cópias, recolhidas pelos biógrafos ou os discípulos do santo. Impressos ou manuscritos, esses documentos tem todos as características de autenticidade substancial, se não formal. A. CARTAS AUTÓGRAFAS Cinqüenta e uma delas podem reivindicar essa qualidade. Mas sua viagem desde a agência do correio e o transportador ao qual La Salle as confiou até os Arquivos do Instituto, muitas vezes foi complicada. Podemos seguir algumas peripécias que lhes ocorreram. Seu relato permitirá compreender por que muitas outras se perderam provavelmente para sempre. a) O conjunto mais importante que possuímos consiste em 19 cartas endereçadas entre 1703 e 1716 ao Irmão Gabriel Drolin, Irmão que La Salle tinha enviado a Roma, no início do século 18. Ao voltar à França, em 1728, trouxe consigo esses preciosos documentos que o Ir. Timóteu recolheu sem dúvida depois do falecimento, em Auxanne, do santo Irmão, a 11 de janeiro de 1733. Blain sabia da existência delas, visto que fala de uma carta que o 219 Deão do Instituto, que, em 1732, era o Ir. Drolin, conservava em sua bolsa, mas não a pode utilizar, porque várias afirmações sobre o Irmão Drolin são contraditas categoricamente por essas cartas autógrafas do Santo. O biógrafo certamente, para a história deste discípulo, teve de se contentar com documentos procurados por seus coirmãos. b) Em seguida vêm 10 carta endereçadas a certo Irmão Matias, entre 1706 e 1708. Nove delas entraram nos Arquivos somente no século 19 e a última no século 20. O Irmão Lucard, Diretor da Escola Normal de Ruão, conseguiu daí utilizar os elementos para sua Vie du Vénérable de La Salle. No Prefácio da primeira edição (1874) ele dá as circunstâncias de sua descoberta: O irmão Libório, diretor em Crest (Drôme) escreveu: "Um dia fui visitar um vigário de Pernes (Vaucluse); morava ele na casa do marquês de Cabassale. Ao visitar o local, encontramos, no sótão entre outros papéis, uma pasta de pergaminho velha que continha doze cartas escritas pelo Venerável de La Salle e uma do Irmão Ponce, visitador de Avinhão, naquela época. Este testemunho impreciso como muitas citações do Irmao Lucard, é corroborado pelo Irmão Teodoro de Jesus, antigo visitador de Avinhão. O primeiro volume do Historique du district d'Avignon que ele compôs em 1906, traz à página 200 a seguinte indicação: "No tempo do Irmão Libório, diretor da comunidade de 1850 a 1856, encontrou-se, perdida numa granja, uma pasta de marroquim, que sem dúvida pertenceu a algum antigo irmão e que continha cinco a seis cartas de nosso Bemaventurado Pai, algumas das quais foram citadas em nossos 220 Anais e que foram enviadas à Casa-Mãe onde estão sendo conservadas como relíquias preciosas". Parece que não se deve ter em conta a diminuição do número de cartas. O testemunho do Irmão Teodósio repousa sobre uma tradição oral que o documento escrito citado pelo Irmão Lucard, 32 anos mais tarde, ultrapassa em valor. A pesar de um recente pedido enviado a Pernes, não foi possível saber se os registros paroquiais conservam algum vestígio dessa descoberta. O Irmão Calisto, Assistente e Arquivista do Instituto, recebeu nove dessas cartas pela mão do Irmão Firmiliano, Assistente, em 1864. Os autos desse fato trazem o seguinte: "// cartas do Venerável J.-B. de La Salle, que ainda não foram enviadas a Roma. 25 de janeiro de 1864. "Estas cartas enviadas ao caríssimo Irmão Firmiliano, Assistente, pelo Irmão Diretor de Pernes. (Assinatura): Ir. Calisto, Assistente". A décima, conservada, talvez, pelo Irmão Libório, estava nas mão do Irmão Léandris, Assistente, em 1908. Em carta ao Irmão Vitorino, então Arquivisa de Lembecq, Irmão Teodósio de Jesus escreveu, em 25 de outubro de q908: "Sob esta prega, você encontra a cópia desta carta que o Ir. Léandris, Assistente, possui. Como a minha cópia apresenta algumas frases que parecem incorretas, queira ter a bondade de compará-la com o texto original que o prezado Irmão assistente não recusará de lhe comunicar". Este superior faleceu a 3 de julho de 1914 em Montferrand. A décima carta ao Irmão Matias 221 chega aos Arquivos em 1915 atesta o registro das cópias. c) Seis carta autênticas do Santo a um certo Irmão Roberto se encontram guardadas nos Arquivos. Somente quatro (nº 55 a 58) eram conhecidas em 1852, por ocasião do Decreto sobre os escritos atribuídos ao Venerável de La Salle. As outras duas (nº 54 e 62) apareceram nos Arquivos depois dessa data. Uma delas (nº 62) figura no "Inventaire des papiers relatifs au Vénérable de La Salle" ; era, pois, conhecida nos Arquivos antes de 1888. A segunda (nº 54) só se encontra num registro de cópias posteriores a 1896. Como é pouco provável que esses dois documentos tenham podido ser descobertos após essa data bastante recente sem que algum vestígio do fato tenha sido conservado, talvez seja preciso supor que foram extraídos da coleção na época do Processo ou se extraviaram então em outros dossiês. d) Pode-se designar como destinatário de 5 cartas autênticas do Sr. de La Salle, a um certo Irmão Huberto, embora o endereço para este nome somente figure em duas (nº 33 e 35). Como com as anteriores, várias cartas não constam do Decreto de 1852. Dois documentos somente nele estão consignados (nº 34 e 37). Um destes documentos, a carta remetida de Paris, a 1º de junho de 1706 (nº 34) traz uma indicação manuscrita muito interessante para a transmissão das cartas no século 18. No cabeçalho podese ler: "dado pelo irmão Huberto ao irmão Coren- 222 tino, a 10 de novembro de 1748, em Reims, o qual morou durante 16 meses e saiu para passar meus últimos votos que emiti a 19 de março, em 1749". Ora, uma cópia da mesma cara, com a letra do Irmão Agatão, Superior geral no fim do século 18, também guardada nos Arquivos, traz no final a nota seguinte: "endereçada ao irmão Huberto que a entregou ao irmão Corentino, depositário do original". O Irmão Corentino faleceu em Saint-Yon a 20 de abril de 1788. Portanto, somente nessa data que a carta em questão deve ter sido juntada à primeira. Irmão Huberto, por sua vez, faleceu a 29 de junho de 1759, em Marselha, pode-se supor que ele tinha conservado em seu poder várias cartas do santo Fundador, cartas que deu de presente a um amigo seu. Isto explicaria as "descobertas" das que não constam do decreto de 1852. Uma desas últimas (nº 36) teria sido enviada de Chartres ao Conselho geral do Instituto em 1867. As duas outras (nº 33 e 35) entraram na coleção em data imprecisa. O registro-cópia, ao falar da carta de 30 de janeiro de 1708, declara : "Carta do Venerável de La Salle cujo original se conserva preciosamente nos Arquivos de nosso Instituto. Ela nos foi entregue por…". O fato de se usar o termo Venerável, permite datar essa indicação como antes de 1888. A do dia 5 de maio de 1702 (nº 33), cópia da qual feita no século 18, se encontrava no verso de outra carta de La Salle endereçada ao Irmão Anastásio (nº 1) e como tal constava do inventário de 223 1852, foi de novo encontrada em 1922, nos Arquivos, entre os papéis não classificados, pelo Irmão Donato, Diretor desse departamento naquela época. e) Três cartas dirigidas a um certo Irmão Dionísio se encontram também entre as autógrafas. Duas (nº 11 e 12) estão no inventário do Processo sobre os escritos. A terceira (nº 10) chegou aos Arquivos somente em 1871, conforme atesta o Irmão Calisto, Assistente. Também com elas a caminhada foi laboriosa e sua conservação, providencial. Uma cópia da carta de 1º de julho (nº 11) da época do Irmão Agatão, também conservada nos Arquivos, especifica: "Irmão Marceau, depositário do original". No século 18 houve dois irmãos Marceau no Instituto. O primeiro, Antoine Laplace, entrou a q0 de junho de 1744 e faleceu a 22 de março de 1753. O segundo, Nicolas Vaillant, noviço em 1º de agosto de 1755, emitiu votos perpétuos em 4 de outubro de 1763. Como deputado ao Capítulo geral de 1787; ele se encontrava na ilha de Martinica em 1790. Este, sem dúvida, é o tal Irmão Marceau do qual se trata. A carta que ele guardava não pode ter saído da França, mas entregue ao Irmão Agatão e assim entrou nos Arquivos pouco antes de Revolução Francesa. De outro lado, a carta de 30 de maio de 1701 (nº 10) tem uma odisséia mais misteriosa. O registro das cópias a respeito dela diz: "Cópia de uma carta manuscrita escrita pelo Venerável e cujo 224 original foi encontrado em agosto de 1871 entre os papéis do irmão Desiré, falecido naquela época". Irmão Desiré, falecido a 24 de agosto de 1871, era o homem de confiança do Secretariado geral do Instituto. Foi designado pelos Superiores para copiar os Processos diocesanos de Paris, de Reims e de Ruão em 1835 e 1836. É de supor que os Superiores naquela ocasião lhe deram de presente a carta que foi achada entre seus papéis na rua Oudinot. Parece portanto que, antes daquela data, ela fazia parte do depósito oficial dos Arquivos. f) O Irmão José, Assistente do Superior geral em 1717 e que tinha a confiança do Fundador, deixou duas cartas autógrafas do Santo e três "Obediências" que o nomearam Visitador de certas casas do Instituto. A primeira carta (nº 40) encontrava-se nas mãos do irmão Viviano encarregado de guardar os escritos de La Salle durante a Revolução Francesa, pois lançou uma nota pessoal e a assinou. A segunda (nº 41), como duas das precedentes, também existe como manuscrito da época do Irmão Agatão, subscrita: "Irmão Afrodísio, depositário do original". Este Irmão entrou no Instituto a 20 de maio de 1760 na idade de 30 anos e emitiu a profissão perpétua a 22 de setembro de 1765. Como testemunha, assina as profissões religiosas no Registro de Saint-Yon, de 1780 a 1782. Por fim o atestado de óbito declara que faleceu em novembro de 1791 em Orléans. Pode-se supor que a carta foi então depo- 225 sitada nos Arquivos, visto que consta no decreto de 1852. g) Quatro cartas autógrafas, endereçadas a um irmão, completam o rol das cartas que se poderiam apelidar de familiares. O Sr. de La Salle envia a primeira a um certo Irmão Anastácio, em 28 de janeiro de 1711 (nº 1). A segunda é endereçada ao Irmão Bartolomeu, a 17 de janeiro de 1718 (nº 3). Parece que Blain não a conheceu porque não faz nenhuma alusão a ela, embora vária vezes cite a correspondência do Santo com seu querido discípulo e sucessor. As duas últimas, anteriores a 1710, tem como destinatário os Irmãos Paulino e Severino. Irmão Lucard diz que foram encontradas com as dez cartas ao Irmão Matias, em Pernes. Somente em 1864 entraram nos Arquivos. h) Para completar o dossiê das cartas autógrafas, é preciso por fim citar duas correspondências administrativas de La Salle. Trata-se de cartas dirigidas, em 1704, ao Sr. Des Hayes, sacerdote de Ruão, acerca da abertura de uma escola em Darnétal (nº 112 e 113). Blain conheceu estes dois documentos e foi obrigado a devolver as cartas emprestadas a seus destinatários. Quando faleceu, depois de 1733, o Sr. Des Hayes legou essas relíquias ao Ir. Timóteu, Superior geral. Contudo, só uma das cartas, a de 26 de setembro de 1704, foi citada no decreto de 1852. 226 A de 18 de novembro encontrou o caminho dos Arquivos depois de 1871, já que não consta dos Registros das cópias depois da carta reencontrada entre os papéis do Irmão Désiré. B. TEXTOS DE SEGUNDA MÃO Além dos documentos escritos e assinados pelo Fundador em pessoa e cuja autenticidade é indiscutível, existe uma série de cartas cujo teor inteiro ou fragmentário é dos mais interessantes para o conhecimento do Santo. "Sua alma luminosa nelas se projeta e deixa transparecer algumas almas de discípulos" - diz Rigault em sua História Geral do Instituto. Parece normal que se possa atribuir-lhes o mesmo valor que o das originais, pelo menos para as que foram transmitidas integralmente. Outras, pelo contrário, truncadas voluntariamente por motivos plausíveis, não nos dão a mesma segurança, contudo requerem nossa adesão maior, em razão das características internas que as tornam especificamente lassalianas. a) Textos transmitidos por extenso. Oito documentos podem ser catalogadas nesta categoria. A cópia mais antiga foi encontrada nos Arquivos Comunais da cidade Auxonne (nº 114). É uma carta que fazem parte dos textos transcritos e 227 anexados ao dossiê de fundação de nossa escola de Dijon (1705). Uma cópia autenticada pelo Irmão Rafael Vítor, Visitador do distrito de Bersançon, existe nos Arquivos do Instituto desde 1938. Em seguida temos a carta escrita pelo Fundador ao Irmão Diretor de Calais em 1719 (nº 65). Ela se encontra num folheto manuscrito do século 18, que traz uma apostila do Irmão Agatão. Como ela está mais completa do que a citada por Blain, demos preferência a este texto. O mesmo Irmão Agatão nos conservou a cópia de outra carta, endereçada a um certo Irmão Clemente (nº 9). No final dela se lê: "O Caríssimo Irmão Prudêncio de Jesus é o depositário do original". Parece que se trata do Irmão Prudêncio de Jesus (Jacques-François Daclou) que fez o noviciado em Dôle em 1760, e se tornou mais tarde Procurador geral como se deduz das duas assinaturas dele nos relatórios financeiros em 1789 e 1791. A lista dos falecidos cita seu nome na data de 23 de setembro de 1792, em Paris. Entende-se que a carta original em se poder tenha desaparecido após sua morte tão cerca do massacre dos Carmelitas, a 2 de setembro de 1792, em que o beato Irmão Salomão derramou seu sangue pela fé. Não há dúvida houve um outro Irmão Prudêncio de Jesus, contemporâneo do anterior, na província de Avinhão. Este saiu da Congregação em 1780, conforme atesta, após essa data, a subscrição manuscrita do Irmão Agatão, visto que então só havia um Irmão Prudêncio. 228 Desventura idêntica aconteceu com outra carta do Santo, endereçada provavelmente ao Irmão Huberto (nº 38), cópia da qual feita no século 18, assinala: "O original está com o Irmão Lupicínio". François-Joseph Chaufoureau, nascido a 8 de novembro de 1708 em Hary, diocese de Laon, entrou na Sociedade em 14 de fevereiro de 1732. Ele pode ter recebido diretamente do Irmão Huberto a carta original que ainda tinha consigo cerca de 50 anos mais tarde. Este Irmão Lupicínio era Diretor em Melun em 1787 como consta do Registro capitular. Depois dessa data, perdem-se vestígios dele e também da carta original. Somente a 7 de dezembro de 1783 que desapareceu dos Arquivos a vigésima carta de La Salle, conservada pelo Irmão Gabriel Drolin (nº 14). Com efeito, na cópia se lê: "Entregue ao Sr. padre de la Baume, a 7 de dezembro de 1783, pelo Revmo, Irmão Agatão, Superior geral dos Irmãos das Escolas Cristãs". Mestre Augustin Memmin Miche de la Baume, doutor da faculdade de Teologia de Paris, antigo Vigário geral da diocese de Lisieux, havia dado ao Instituto, por ata assinada a 16 de agosto de 1781, um capital destinado a uma fundação, mas do qual se reservada os juros durante sua vida. Então morava em nossas casas como sacerdote aposentado, e por ocasião de sua estada em Melun, onde deixou sua mobília, o Revmo. Irmão Agatão lhe ofereceu este precioso documento. Uma carta do Superior geral, a 24 de dezembro de 1784 ao 229 Irmão Florêncio, seu predecessor, então Diretor da casa de Avinhão, contém algumas linhas sobre este benfeitor: "O senhor padre de la Baume está menos mal, contudo pensam como certo que não se restabelecerá perfeitamente; é um corpo desgastado. Ele está sempre muito apegado a você; recomendou-me com insistência que não fique esquecido perto do senhor, …" Por que será que alguns anos mais tarde ele teria mudado de sentimentos? Um ato judicial de 4 de julho de 1787 exige a devolução do capital e por ele sabemos de seu novo endereço, rue du Colombier, em Paris. A carta autêntica do Santo desaparece com ele. A cópia desta carta (nº 111) é classificada como dirigidas ao Prefeito e aos vereadores da cidade de Chateau-Porcien. Seu original, descoberto em janeiro de 1843 pelo arcebispo de Reims, foi oferecido ao Instituto pelo prelado como homenagem. Além da cópia autenticada entregue pelo mesmo prelado, a 28 de janeiro de 1843, os Arquivos possuem um fac-símile reproduzido em litografia. O original "conservado no arcebispado", como dizia o registro das cópias, atualmente desapareceu. Este é o sentido da resposta enviada a Roma em 8 de junho de 1951 pelo Pe. Lallement, secretária de D. Marmottin, a um pedido de localização do documento. Enfim, por ordem de entrada nos Arquivos, para encerrar, as duas cópias (nº 69 e 102), cujos originais desapareceram no momento do Processo 230 de Paris, o Sr. Guibert, historiador do santo Fundador em 1900, foram encontradas ao consultar o dossiê do arcebispado. b) Textos fragmentários. Possuímos alguns extratos da correspondência do santo Fundador na grande "Vida", em dois volumes in-quarto, composta pelo cônego Blain entre 1725 e 1734; nos manuscritos do Irmão Bernard e de dom Maillefer, entre 1720 e 1724; na "vida" do Irmão Irineu, por Bertrand de Latour em 1774 e num manuscrito in-18 do mesmo século. Uma observação preliminar é necessária. Nos documentos de que se vai falar a seguir, tanto nos inéditos como nos impressos, o nome dos correspondentes do Santo não é citado. Compreendese essa supressão, pois vários deles ainda eram vivos quando esses escritos se copiavam ou editavam. É de notar que este anonimato desaparece quando a testemunha não mais existia: é o caso para o Irmão Bartolomeu, falecido em 1720 e também para o Sr. Gense, grande amigo do Sr. de La Salle, em Calais, falecido a 9 de outubro de 1719. Os hagiógrafos da época não tinham nossas exigências modernas no que se refere à autoria de textos, nem nosso cuidado pela a integridade material dos documentos. Notemos de início a contribuição dos manuscritos do Irmão Bernardo e de dom Maillefer bem como o da Vida do Irmão Irineu, que são os menos importantes. 231 O Irmão Bernardo entrou no Instituto em 1713 e recebeu dos Superiores o conjunto de memórias e documentos para esboçar a biografia de nosso Fundador. Somente nos restam as 85 primeiras páginas de seu manuscrito que só vai até 1688 e é impossível, por conseguinte, saber se utilizou amplamente no resto de seu trabalho, as cartas que lhe foram confiadas. Contudo nele se encontram dois extratos importantes. Trata-se de partes da correspondência do Santo com uma de suas penitentes, "religiosa que, durante muito tempo, dirigiu por carta", como ele diz. Como o cônego Blain, que sem dúvida teve à disposição os originais, as cita mais longamente do que o Irmão Bernard, ficamos com o texto de Blain. Dom Maillefer, sobrinho do santo Fundador, parece que compôs seu primeiro manuscrito de 1723 utilizando apenas o trabalho do Irmão Bernardo, obra que Louis de La Salle, irmão do Santo, lhe deve ter deixado por algum tempo. Ainda se possui nos Arquivos o protesto indignado do Irmão Bernardo contra o atraso, por parte deste último, em lhe devolver o manuscrito. Mas fiel a seu método cronológico, o biógrafo beneditino contenta-se com assinalar os fatos e não recorre à correspondência de seu tio. Somente é possível ressaltar em seu trabalho uma carta dirigida a um Irmão, carta que encontrou, por certo, no manuscrito do Irmão Bernardo em outro contexto e que ele cita livremente. O mesmo documento nos é conhecido por outras fontes. 232 A biografia do Irmão Irineu traz o texto de uma carta de La Salle a seu discípulo, por ocasião de início de seu trabalho docente (nº 39). Esta carta, desconhecida por Blain, tinha sido conservada preciosamente pelo destinatário. Seu biógrafo, antes de a citar junto com uma carta ao Irmão Bartolomeu, então Mestre de Noviços, declara : "Segue o extrato de algumas cartas que lhe foram escritas e que comunicou a seus noviços para os instruir, consolar, fortificar por seu exemplo. Ao apresentá-las, esperamos frutos semelhantes". O cônego Blain cita 61 textos que atribui formalmente à correspondência do santo Fundador. Quarenta e dois deles seriam extraídos de cartas dirigidas a Irmãos e dezenove outras proveriam de correspondentes alheio ao Instituto. Curioso é ver o uso quase imoderado da correspondência de La Salle, com as pessoas piedosas fora da Congregação, dirigidas pelo santo. Este é uma faceta de La Salle bastante desconhecida. Quinze cartas, algumas bem longas, apresentamnos são João Batista de La Salle como admirável diretor de almas religiosas. Alguns outros extratos provêm de cartas dirigidas a amigos, leigos ou eclesiásticos, entre os quais Blain cita nominalmente apenas o Sr. Gense, de Calais, indício de que os correspondentes viviam ainda no tempo da composição do livro. Trata-se (nº 116) de uma carta de recomendação em favor do Irmão Bartolomeu; de uma carta (nº 117) a uma pessoa de posição de Saint-Denis 233 em que recusa o título de Superior da Congregação; de uma longa epístola (nº 118) a um de seus amigos íntimos, cônego de Reims, sem dúvida, a quem censura muito francamente a atitude pouco submissa à autoridade episcopal; e por fim, a carta ao Sr. Gense (nº 115) em que o felicita pela atitude exemplar face à Constituição "Unigenitus" e dos "Apelantes". Com os 42 textos restantes, voltamos para nossa família religiosa, pois os correspondentes sempre são designados por Blain como Irmãos e o conteúdo nos revela que se trata de cartas de prestação de contas mensais que o santo Fundador tinha introduzido no Instituto, lá por 1691. Uma delas faz exceção: é o protesto enérgico que o "sacerdote romano" envia a 28 de janeiro de 1719 ao Irmão Diretor de Calais contra a inserção de seu nome na lista dos "apelantes". Uma cópia manuscrita do século 18 se encontra nos Arquivos, não dependente do texto impresso, como atestam algumas ligeiras variantes. Seis desses extratos são tirados da correspondência do Santo com o Irmão Bartolomeu; um deles (nº 2), dirigido ao Diretor dos noviços, é anterior a 1717, os cinco outros (nº 4 a 8), são dirigidos ao Superior geral por aquele que voluntariamente se tornou inferior. Humildade, regularidade, simplicidade, recolhimento, mas também solicitude paterna com a obra do Instituto, estes são os belos sentimentos do Santo que esta leitura nos revela. 234 Por fim, os 35 textos restantes podem ser divididos em três séries distintas. A primeira compreenderia três extratos reduzidos a uma ou duas frases. Parecem provir de correspondências a certos Diretores (nº 79 a 81). A segunda reuniria oito extratos um pouco mais longos. Trata-se de cartas dirigidas a alguns inferiores (nº 103 a 110). A última, a mais importante, seria formada por 24 citações com uma característica particular. Com efeito, na literatura lassaliana do século 18 não se pode encontrar nenhuma alusão aos extratos precedentes. Por isso o Cônego Blain, muito honesto, por sinal, é a única testemunha de sua autenticidade. Aliás, estes 24 textos nos são igualmente conhecidos por uma recensão contemporânea e a comparação entre os mesmos milita em favor do testemunho do historiador de Ruão. A seguir apresentamos esta recensão antes de continuar o comentário dos textos de Blain. Os Arquivos do Instituto conservam uma caderneta manuscrita, em formato in-18, com 66 páginas de caligrafia fina e bastante regular. Evidentemente trata-se de um trabalho do século 18 como indica o papel de trapos com filigrana linear, semelhante ao dos livros da época e a grafia é muito parecida com a do santo Fundador. Lamentavelmente é impossível seguir a história deste texto desde sua confecção até sua localização à rua Oudinot onde parece ter ficado esquecido antes de 1868. Com efeito, nenhuma alusão dele se encontra na correspondência do Irmão Vi- 235 vien que salvou as cartas autógrafas, nem no processo de beatificação, em que os escritos do Santo foram arrolados e minuciosamente examinados. Especialmente o decreto de 1852 não o menciona. No ano seguinte, o Revmo. Irmão Felipe publica os "Pensées du Vénérable de La Salle". Todas as suas citações são tiradas de Blain e de dez cartas autógrafas cujo texto fora reconhecido como autêntico pela Igreja. Somente um "Inventaire des papiers relatifs au Vénérable J.-B. de La Salle, instituteur des Frères des Écoles Chrétiennes" com 45 títulos traz para o nº 22 o seguinte: "Uma coleção de cartas do Venerável, copiadas, em número de 36, sobre diferentes assuntos, a maioria sem data, e outras com data de 1709". Como sua leitura é bastante difícil, o Irmão Assistente Calisto mandou fazer uma cópia num caderno rubricado por ele mesmo, a 30 de outubro de 1868, em sinal da autenticidade da cópia daquela coleção. O exame desta caderneta que chamaremos de manuscrito 22, nos leva às seguintes conclusões: = Sua capa amarelo-limão nada tem de antigo e a encadernação se reduz a um fio vermelho igual em número igual ao encontrado em dossiês do mesmo século. Disto se deduz que houve uma restauração comum feita provavelmente no mesmo tempo do Revmo. Irmão Felipe, grande provedor de documentos dos Arquivos do Instituto que ele queria bem classificados e costurados para evitar o desaparecimento das peças. 236 = As folhas internas, sem página protetora, constituem quatro cadernos de 16 páginas e um caderno incompleto de 12 páginas (64 + 12), grosseiramente brochadas: as quatro últimas páginas, duas folhas frente e verso foram cortadas à tesoura exatamente na dobra. Não se pode, pois, saber se essas quatro páginas faltantes também continham cartas do santo. De maneira que o total de 36 cartas que nos restam indica por certo um mínimo: outros cadernos perdidos podem ter contido outras tantas quantas contêm os cinco cadernos conservados. = Estes 36 documentos se apresentam todos da mesma maneira. No reto de cada página, a primeira linha traz, em cursiva bastante grande, a indicação: Primeira carta, Segunda, Terceira…, seguida imediatamente por uma frase liminar que parece resumir o conteúdo da carta, assim "encoraja a progredir na virtude", "o que convém a um Irmão é a obediência, etc…". Essa frase continua na segunda linha em cursiva pequena. Então o texto da carta começa sem qualquer pontuação nem alínea até embaixo da página seguinte, formando assim um texto por folha. Em 76 páginas deveria, pois, haver 38 cartas, mas a 35ª e a 36ª ocupam cada uma duas folhas, o que poderia significar que terminavam a coleção. As 34 primeiras cartas reduzidas a duas páginas ocupam de 37 a 43 linhas cada uma, enquanto a maioria tem 39 e 40. = Entende-se que este arranjo é completamente arbitrário, pois é fácil convencer-se pelas cartas autógrafas que possuímos, que o santo Fun- 237 dador não media o comprimento de suas cartas, mas fazia mais ou menos importantes conforme as necessidades de seus correspondentes. Os textos que se conservam no manuscrito 22 são, pois, mutiladas, e podemos admitir a prióri que os originais deles provavelmente tinham maior extensão. = É preciso admirar também a perfeição técnica da cópia. Nas 76 páginas não se encontra nenhuma rasura, nenhuma palavra em entrelinhas. A caligrafia se mantém expedita até o fim mas idêntica na grafia desde a primeira até a última página. De outro lado, a ortografia é bastante falha não tem comparação com os textos do santo Fundador em que somente se encontra um único erra de uso (réponce em vez de réponse), tendo-se em vista as diferentes grafias autorizadas na época. Em especial o corte das palavras, em geral, prevista a um centímetro da margem para imitar a imprensa, não se ocupa da disposição em sílabas: assim são cortadas as palavras vo-us, po-ur, pr-ovidence, etc… Em razão desta perfeição técnica resulta, pelo que parece, que o autor do manuscrito 22, bom escrevente, copiou as cartas, não dos originais, cujo texto completo teria sido para ele causa necessária de diversas rasuras e disposições defeituosas nas duas páginas cedidas, mas de outro manuscrito que tinha a mesma apresentação. Poder-se-ia supor que este fosse menos perfeito e, por conseguinte, obra de primeira mão. A data do manuscrito 22 seria, 238 pois, bastante recente, mas o manuscrito seria boa testemunha de uma cópia direta dos originais. = Outro problema se levanta com a seguintes observação: todos os correspondentes do Santo, no manuscrito 22 são anônimas e somente um nome próprio, o do Irmão José, aparece numa carta, mas algumas datas de expedição, de lugar de origem ou de recepção foram conservadas em algumas cartas, por exemplo: 1709; Reims; Reims, 14 de setembro; De Reims, a 21 de setembro de 1709, etc… Estas indicações existira, portanto, no modelo. O fato de existirem poucos casos não tem nada de espantoso. Sabe-se que até alguns originais do santo Fundador não levam essas indicações de tempo e de lugar. Encontramo-nos, pois, diante de um manuscrito cujo fim evidente é a edificação e cujos elementos foram tirados de uma fonte já danificada no mesmo objetivo em relação com os originais. Essa opinião é confirmada pelo fato de que 19 cartas contidas nessa coleção se encontrem também em Blain e constituem justamente a matéria dos 24 extratos que assinalamos acima. O historiador insera o texto das cartas na quarta parte de sua obra: Espírito, sentimentos e virtudes, como ilustração do que afirma referente ao espírito de fé, a caridade, o zelo, etc… do servo de Deus. Ao reunir esses 24 "membra disjecta" chega-se a reconstituir 19 textos da caderneta, mas com nuances que revelam à primeira vista um outro original. 239 O cotejar alguns textos será suficiente para admitir uma diversidade de fontes. Assim, enquanto o manuscrito 22 indica nenhum destinatário nestas 36 cartas, Blain nomeia em vários de seus extratos, o receptor das cartas: "O mesmo, pensando terlhe causado algum aborrecimento" (p. 443, II vol.), "O mesmo depois de lhe revelar que a misericórdia de Deus" (p. 369). "O mesmo que, depois de lhe ter ocultado durante muito tempo uma tentação" (p. 369). Essas indicações permitem distribuir dez cartas sobre dezenove, em três destinatários. De outro lado, Blain silencia qualquer indicação de tempo e de lugar. Além disso, enquanto o manuscrito 22 reduz uma página dupla do texto original das cartas a determinado tamanho, Blain cita livremente e de acordo com seu objetivo. Ora, pela justaposição verifica-se que algumas frases novas se inserem naturalmente entre duas linhas do manuscrito 22 e por vezes mesmo são absolutamente necessárias para o sentido. Assim, na carta nº 16 do manuscrito, se lê: "Que a humildade apareça sempre em suas palavras. Nada o tornará amável a Deus e aos homens do que estas duas virtudes". O número dois não tem explicação. Mas o texto de Blain reza assim: "Assim que sua humildade e sua gentileza apareçam sempre em suas palavras. A fala amável, diz o Sábio, rompe o que há de mais duro. Nada o tornará mais agradável a Deus do que estas duas virtudes". 240 Aqui se trata da humildade e da amabilidade; as duas virtudes são enunciadas e mesmo uma passagem da Escritura, tão natural na boca do santo Fundador, é inserida entre as duas frases do manuscrito 22. a citação mostra também algumas variantes no texto, "mais agradável" em vez de "amável"; supressão de "e aos homens". Essas variantes são muito numerosas e muitas vezes bastante importantes para justificar a hipótese de outra fonte. Ora, a verificação das citações de Blain relativas às Regras, à Coleção de Pequenos Tratados, às Meditações, mostra que o historiador é escrupuloso ao reproduzir o texto integral. Só algumas vezes a terceira pessoa é substituída pela segunda quando ao convém contexto. Portanto, seria preciso preferir Blain ao copista ou compositor do manuscrito 22. Uma última observação parece útil antes de apresentar a hipótese que parece mais óbvia. Três estratos do 4º livro de Blain (pp. 368, 421, 443) iniciam com a frase liminar que se encontra no começo das cartas nº 11, 12 e 02, do manuscrito 22: "O que convém a um Irmão é a obediência", "É preciso alegrar-se com as advertências", "A caridade (e o zelo) é o sustentáculo da comunidade". Ora essas frases não fazem parte do texto e são, como é fácil de ver, simples indicações do conteúdo ou da idéia principal. Se admitimos que essas indicações foram imaginadas pelo compilador do manuscrito 22, devemos também admitir que 241 Blain teve em mãos textos que já traziam essa menção. A hipótese que, por falta de certeza histórica no caso, adotamos, é a seguinte: Quando os documentos solicitado pelos Irmãos Bartolomeu e Timóteu chegaram a SaintYon, foram confiados ao Irmão Bernardo que escreveu também no início do texto das cartas, a frase liminar tomada muitas vezes do corpo do texto e que se encontra no começo de cada carta do manuscrito 22. Não sabemos se utilizou essas cartas na quarta parte de seu trabalho que terminou em 1723, visto que somente nos chegaram as noventa e cinco primeiras páginas de seu manuscrito. No meio tempo, um Irmão, talvez o Irmão Irineu, Diretor dos noviços, cujo manuscrito assinala o zelo em recolher os textos lassalianos, pode extrair da correspondência do Santo, reunida assim providencialmente, pelo menos 36 textos que ele cortou e adaptou ao formato in-18 das cadernetas à sua disposição e que fez reproduzir por seus noviços, como era costume da época. Este formato de bolso permitia levar para toda a parte esses preciosos conselhos. Quando a coleção dos documentos foi entregue M. Blain, pelo ano de 1725, esteve a completa disposição dele e escolheu no meio dos textos o que lhe convinha, desprezando talvez as cartas de prestação de contas, de conteúdo sem muita ligação interna, e se lançou principalmente sobre as cartas de direção espiritual aos Irmãos e às pessoas piedo- 242 sas que também lhe foram fornecidas. Isto explicaria a importância dada a estas últimas que ocupam quase tanto espaço quanto os textos destinados aos Irmãos. As três frases liminares que se encontram no impresso podem ter sido causadas por uma distração de algum secretário que as inseriu no início do texto ao transcrever do original a citação. Os textos autógrafos desapareceram depois e não temos mais do que duas recensões levemente divergentes, mas cujo teor mais se aproxima ao do de Blain. Este é o que foi adotado para a edição das cartas, completado pelo manuscrito 22 nas parte faltantes. As variantes são indicadas em nota na edição completa. Para terminar, resta fazer menção das 17 cartas do manuscrito 22 cujo texto não pode ser completado por nenhuma outra recensão. Algumas delas que se dirigem evidentemente a Diretores foram classificadas sob esse título na edição. 243 Capítulo II CONSERVAÇÃO DA COLEÇÃO ENTRE 1700 E 1951 Nas páginas precedentes foram apresentados os documentos que constituem a coleção das cartas de nosso santo Fundador. Sua entrada nos Arquivos do Instituto não garante automaticamente à Congregação sua posse tranqüila, nem sua segurança material. Interessante é notar no espaço de dois séculos e meio de história as circunstâncias que permitiram formar pouco a pouco este tesouro e assegurar-lhe uma guarda suficientemente séria para permitir sua utilização moderna. Os textos citados por Blain e Bertrand de Latour (carta 39) vieram sem dificuldade pois possuímos as edições princeps desses dois autores. No que segue vai se tratar sobretudo dos textos autógrafos e das cópias manuscritas do século 18. A. NO SÉCULO 18 O testemunho do Irmão Bernardo, primeiro historiador do Santo, o de dom Maillefer e o do cônego Blain, bastam para demonstrar que os Revmos. Irmãos Bartolomeu e Timóteo se preocuparam em reunir o maior número possível de documentos autênticos do santo Fundador. "De começo deram-me grande número de memórias que eu li e reli com atenção". 244 "Como as memórias com as quais fui obrigado a formar a obra não eram bastante exatas, haverá algumas lacunas e fatos omissos". "Será preciso parar aqui, pois seria demasiado longo se quisesse fazer extratos das instruções e das cartas todas cheias de fogo que o Mestre espiritual dava e escrevia aos Irmãos para os animar à perfeição… Vamos contentar-nos com uma ou duas de suas cartas sobre este assunto". Muitos Irmãos vivos em 1720-21 se desfizeram, pois dessas cartas em favor dos historiadores de seu Pai. Estes documentos sem dúvida nunca foram devolvidos pelo cônego Blain que centralizou todas as memórias fornecidas pelos Irmãos, ou foram destruídas depois do uso. Contudo a requisição dos Superiores parece não ter sido absoluta, visto que um Irmão Roberto, diretor na época, um Irmão José, assistente, o Irmão Bartolomeu, conservaram consigo algumas cartas do Santo - pelo que os felicitamos agora. Uma circular do Revmo. Irmão Agatão, enviada de Saint-Yon, a 6 de março de 1782 pode nos dar uma idéia dessa requisição oficial: "Embora a presente já seja demasiado longa, acrescentaremos nela que vários de nossos Irmãos desejaram que recolhêssemos o que pode servir para nossa edificação comum, nas vidas dos nossos Irmãos defuntos: Timóteo, Cláudio, Raimundo e Adriano. Se quiserem ter a bondade de preparar algumas notas, cartas e memórias que puderem encontrar, queiram remetê-los aos primeiros visitadores que passarem por suas casas e faremos, se possível, o devido uso deles". Como se vê pelas expressões empregadas, deixou-se muita liberdade aos possuidores de do- 245 cumentos originais e uma reclamação contemporânea do Irmão Bernardo pode confirmar essa hipótese: "Depois da leitura de todas essas memórias, vi claramente que não eram suficientes para com elas fazer um livro tal como era desejo. Por isso fiz pressão para que se me fornecessem mais… Depois disso, resolvi começar, embora não estivesse contente com as memórias que tinha, mas vi bem que não conseguiria obter mais". Nenhum documento, a nosso conhecimento, permite seguir a sorte das cartas autênticas durante o século 18, antes da declaração do Revmo. Irmão Agatão, com data de 4 de junho de 1784: "Nós, abaixo assinados, Superior Geral do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, ao ficar sabendo que vários de nossos Irmãos e outros pedem objetos que nos restaram do Sr. de La Salle, nosso Venerável Fundador, e que havia alguma dificuldade para se defender contra suas insistências, considerando que em nossa qualidade de Superior e para corresponder à confiança que o Instituto inteiro colocou em nós, vemonos obrigados a conservar, quanto pudermos, esses preciosos restos que pertencem ao próprio corpo do mesmo Instituto, cremos dever proibir, como de fato proibimos pela presente, a todos os Irmãos, seja quais forem, tomar, dar ou deixar tomar e dar, quer por si mesmos, quer por outros, seja o que for dos restos do Sr. de La Salle, nosso Fundador, ou do que ele utilizou tais como roupa, instrumentos de penitência, ornamentos sacerdotais, caixão ou outros, sem nossa autorização expressa e por escrito ou a de nossos sucessores. Esses objetos deixados encontram-se encerrados embaixo da igreja desta casa, numa caixinha destinada para esse fim, cuja chave fica nas mãos do Irmão Sacristão, que deve vigiar pela conservação dos citados objetos". Este documento trata sobretudo da preservação dos objetos que pertenceram a nosso santo 246 Fundador e é pouco provável que as cartas então em poder do Superior geral tenham sido conservadas na casa miserável de Saint-Yon, mas indica a idéia do Irmão Agatão e seu desejo de transmitir integralmente a seus sucessores o depósito que ele mesmo havia recebido. A coleção das cartas devveu encontrar-se em Melun, na Casa generalícia. Prova disso é a cessação feita a 7 de dezembro de 1783 pelo Superior geral de uma carta do Santo dirigida ao irmão Gabriel Drolin, a um amigo do Instituto, o Sr. de la Baume. O Revmo. Irmão Agatão tinha conservado a cópia em seus dossiês. Foi provavelmente por esta proibição que, seis meses mais tarde, mandou fazer a recensão das cartas originais que alguns Irmãos possuíam, como assinalamos acima. Das seis cópias que ainda conservamos, com designação do nome do copista, do detentor do autógrafo, somente três formam o único documento que subsiste. B. NO SÉCULO 19. Ao Irmão Vivien, audacioso parisiense que se engajou na Guarda nacional por ocasião da Revolução Francesa, é que devemos a conservação deste depósito inestimável, bem como da Bula de aprovação, das Decisões manuscritas e autênticas dos Capítulos gerais, que o Revmo. Irmão Felipe cita na notícia necrológica a ele consagrada em 1842. 247 A este testemunho tardio podemos acrescentar dois textos anteriores. O primeiro está contido numa carta dirigida pelo próprio Irmão Vivien ao Irmão Tomás, Diretor da casa do SS. Menino Jesus, bairro Saint-Laurent em Paris. Da cidade de Autun ele escreve a 4 de outubro de 1820: "Em Lião entreguei todas as cartas do Sr. de La Salle, as quais fiz encadernar num grosso volume para que não se tenha a tentação de me pedir alguma delas". Em que data se procedeu a esta restituição ao centro do Instituto? As tradições divergem. Em 1803, afirma um relatório do Revmo. Irmão Felipe; a 16 de janeiro de 1869; em 1818, afirma o Irmão Assistente Antelmo num atestado de autenticidade das relíquias assinado por ele a 9 de agosto de 1868. Se os registros capitulares foram remetidos ao mesmo tempo que a correspondência do santo Fundador, o que parece verossímil, deve-se colocar essa restituição antes de 1810, data na qual se celebrou o décimo segundo Capítulo geral. Com efeito, o Registro B em que foram transcritos os relatórios dessa assembléia é o mesmo que contém as escrituras dos Capítulos de 1777 e de 1787. Todos os documentos dignos de memória que ocupam o período de 1802 a 1810 são reproduzidos pela mesma mão e sem assinatura autêntica. Aliás, visto que o Irmão Vivien atesta em sua carta de 1820 que ele fez encadernar as cartas por medida de precaução, é interessante notar que essa encadernação continha entre suas páginas de proteção um folheto em que algumas linhas da mão do Irmão Vivien levavam a 248 data de 30 de abril de 1806. Naquela época, conforme os historiadores da vida dele, esse Irmão cumulava as funções de Diretor de Reims e de Procurador geral em Lião, para o centro do Instituto. Parece muito provável que, em alguma de suas viagens ao Petit Collège tenha levado consigo esta preciosa coleção de autógrafos do Santo. Portanto, podemos propor os anos de 1806 ou 1807 a data do retorno das cartas do Sr. de La Salle aos Arquivos da Congregação. O revmo. Irmão Gerbaud, ao deixar Lião a 8 de janeiro de 1821, transferiu a sede do Instituto a Paris, arrabalde de Saint-Martin. Se deixou no Petit Collège as indumentárias do santo Fundador que o Irmão Vivien anteriormente havia levado para lá e cuja volta a Paris só acontecerá em 1847, é certo que trouxe para sua nova residência as cartas do sano Fundador. Com efeito, uma segunda peça de Arquivo, também do Irmão Vivien, atesta sua presença no arrabalde de Saint-Martin depois de 1822. O revmo. Irmão Guilherme de Jesus, eleit Superior geral a 11 de novembro de 1822, conferia a 26 do mesmo mês ao Irmão Vivien a obediência de Sub-Procurador geral do Instituto e de Subdiretor da casa do Santo Menino Jesus. O mesmo tinha sido membro do 14º Capítulo geral e assim foi provisoriamente ligado à casa generalícia. Por indicação do Superior, o novo Su-procurador organizou o catálogo dos Livros de La Salle conservados na biblioteca de Reims e que o Fundador havia doado à Congregação. 249 Nesse inventário encontramos: "As cartas do Sr. J.-B. de La Salle, recolhidas pelo Ir. Agatão e encadernadas por um irmão por medo de dispersão". Trata-se evidentemente da coleção já citada na carta de 4 de outubro de 1820 ao Irmão Tomás, coleção que o Irmão Vivien considera sempre como a obra mais preciosa de sua Biblioteca. Seu cuidado para suprimir a partir de agora qualquer possibilidade de dispersão das 43 cartas reunidas é testemunho uma experiência interessante de se ver. Além dos 37 documentos autógrafos, ele inseriu em sua coleção as seis cópias autenticadas pelo Irmão Agatão, como ainda agora podemos verificar pelas dobras desses documentos reduzidos ao formato de 15x20 da capa de marroquim vermelho que utilizou. No dorso lê-se Reflex. Chret. Trata-se, por acaso, da antiga encadernação das Réflexions chrétiennes do Pe. Cláudio de la Colombiere ou de algum dos dezoito livros com o mesmo título entre os quais salientamos a nomenclatura no dicionário de Bibliografia católica de Migne? Pouco importa para nosso assunto. Esta coleção sofreu um primeiro desmembramento por ocasião do Processo de Beatificação de nosso Fundador. Como é sabido, para essa ocasião é preciso enviar à Congregação dos Ritos todos os documentos originais que podem servir à Causa. As cartas que se encontram em Paris são mencionadas pelo Notário do Tribunal, entre as diversas produções que pôde recolher: 250 "Ao número de papéis e documentos apresentados pelo Postulador da Causa, como referentes ai Processo, encontramse muitas declarações de curas extraordinárias obtidas pela intercessão do servo de Deus, várias de suas cartas e algumas observações sobre sua vida… Esses escritos deveriam ser transcritos por ordem do Tribunal durante a presente sessão, mas em razão do longo trabalho que isto ocasionaria, o notário é autorizado a transcrever os documentos em seu escritório" (Arquivo da Postulação). O Postulador diocesano, o Pe. Daure, capelão da casa generalícia, deixou ao notário somente duas cartas do Santo sendo que o texto pode-se ler no Dossiê: "Entre as cartas do Sr. de La Salle, escolhemos duas que serão suficientes para dar a conhecer o espírito com o qual o servo de Deus guiava seus filhos". Naquele dia 12 de junho, o Instituto perdia duas cartas autógrafas das quais felizmente se encontra cópia nas peças do Processo (cartas nº 69 e 102). Completamente esquecidas na Congregação, elas foram de novo assinaladas em 1900 pelo Pe. Guibert, que pessoalmente tirou uma cópia delas nos Arquivos do Arcebispado de Paris. Não foi possível encontrar os originais. Outro desaparecimento de documentos deve situar-se antes de 1838. É a da carta encontrada em 1871 entre os papéis do Irmão Désiré, copista patenteado dos Processos. É possível que outras duas cartas foram então piedosamente subtraídas da coleção por Irmãos da casa generalícia. Em todo caso, seus possuidores tiveram de se desfazer delas em 1845, como se explicará mais adiante. O Irmão Calisto, já assistente desde o Capítulo geral anteri- 251 or, é proposto para os Arquivos em 1838 e cuidará durante mais de trinta anos do depósito a ele confiado. Terá a satisfação de o transmitir consideravelmente aumentado ao Irmão Asclepiade, seu sucessor em 1876. Contra as indicações oficiais, os escritos do santo Fundador não foram enviados a Roma ao mesmo tempo que as cópias dos Processos diocesanos. Por inadvertência, o Tribunal de Reims juntou ao seu o pacote de documentos que foram consignados à chancelaria da S. Congregação dos Ritos como diz a carta de 29 de agosto de 1844, do Irmão Nereu. As 32 cartas autênticas restantes não deixaram, pois, os Arquivos. Podia-se até aumentar o número quando, em janeiro de 1843, dom Gousset, arcebispo de Reims, descobriu uma carta escrita por nosso Santo em 1682. Onde é que se fez a descoberta? Que é que aconteceu exatamente entre sua Excelência e os Superiores? É difícil ter clareza acerca nos documentos da época. O registro das cópias autenticado pelo Irmão Calisto em 1868, traz a seguinte observação: "Em janeiro de 1843, dom Gousset, arcebispo de Reims, descobriu uma carta escrita pelo Sr. de La Salle, em 20 de junho de 1682". Mas 25 anos antes, uma primeira cópia dessa carta tinha sido enviada a nossos Arquivos: "Visto e certificado conforme ao original depositado no arcebispado de Reims", declara dom Gousset, a 28 de janeiro de 1843. Afirmação que o Irmão Assistente Calisto, arquivista do Instituto desde 1838, corrobora nestes termos: 252 "Em janeiro de 1843, fizemos presente ao Sr. Arcebispo de Reims do original desta carta. Ele nos entregou a cópia autenticada aqui acrescentada. Paris, 4 de novembro de 1844". Era, sem dúvida, um ato de cortesia para com um prelado que colocaria toda a sua influência a serviço da Causa do Venerável, e cuja intervenção feliz mostraremos adiante. A 10 de dezembro de 1843, uma carta do cardeal Lambruschini, Prefeito dos Ritos, convidava os Ordinários de Ruão, Reims e Paris a proceder a uma busca dos escritos atribuídos ao Servo de Deus. As coisas arrastaram-se por muito tempo e a 29 de agosto de 1844, o Irmão Nereu, secretário do Postulador, transmitia ao Revmo. Irmão Felipe, uma requisição do Sub-Promotor da Fé, em que o convidava a compor uma carta circular sobre o mesmo assunto ao conjunto da Congregação. O Superior executou a incumbência a 22 de outubro de 1844. Na seqüência dos avisos de falecimentos, inseriu a observação seguinte: "Enquanto a Igreja se ocupa com a beatificação de um servo de Deus, ela costuma pedir todas obras que este compôs; supondo que, dentro de pouco, talvez estejamos neste caso, rogamos queiram nos dar a conhecer tudo o que puderem possuir do Venerável de La Salle, tais como cartas, manuscritos originais de suas obras ou pelo menos as edições mais antigas. Somos de opinião que existe… 4º Certos escritos ou cartas dirigidos aos Irmãos, escritos que só temos em parte. Os que possuírem alguns deles são insistentemente rogados a no-los remeter o mais prontamente possível". 253 Algumas instruções precisas vieram de Roma a 13 de outubro de 1844 e a 4 de janeiro de 1845, comunicando que o arcebispado de Paris começaria imediatamente a constituir o dossiê. Por fim, a 15 de maio de 1845, o cônego Eugène Hiron, Pró-Secretário de dom Affre, nomeado notário apostólico para a circunstância, anunciava a visita próxima do Sr. Mourdin, cônego de Notre-Dame de Paris, delegado pelo arcebispo para a tomada em consignação dos documentos recolhidos. O Irmão Calisto não queria desfazer-se de todas essas riquezas e se contentou de, a 16 de agosto de 1845, remeter com os livros atribuídos a nosso santo, 25 cartas. Aproveitou dessa ocasião para fazer restituir dois documentos: "Creio, declarou ao côn. Mourdin, que dois de nossos Irmãos que estão aqui, também têm cada um uma carta do Venerável". Imediatamente os dois Irmãos chamados ante o tribunal eclesiástico tiveram de entregar os preciosos autógrafos. Mas as fulminações canônicas tiveram a última palavra com certeza, pois os 34 documentos, isto é, todos os autógrafos conhecidos então foram enviados a Roma a 28 de dezembro de 1845, ao mesmo tempo que uma cópia legível dessas cartas e os relatórios das três requisições diocesanas sobre os escritos. A 16 de fevereiro de 1846, o Postulador da Causa obteve da Santa Sé a nomeação de vários teólogos para o exame dos escritos. Três foram escolhidos, entre os quais um beneditino, a quem 254 coube o exame dos 34 textos autógrafos. Ele achou por bem censurar várias expressões do Santo em duas cartas endereçadas a Gabriel Drolin (nº 20 e 31), mas suas críticas foram suavizadas na conclusão que citamos: "O que é digno de nota é a maneira com que ele escrevia a vários de seus religiosos. Entrava em pormenores que podiam contribuir para o bem das casas e das escolas recentemente fundadas. Dava a seus discípulos conselhos, consolações, socorros, advertências cheios de vigor e autoridade, inspirando-lhes modéstia religiosa, extremo amor à castidade, a prática da obediência, a confiança em Deus. Escrevia muitas vezes ao fundador das escolas de Roma para o exortar à confiança em Deus e a não perder coragem diante das primeiras dificuldades, bem como a rezar ao Príncipe dos Apóstolos sobre o túmulo do mesmo e a se recomendar a ele nas penas por meio de novenas feitas com fé viva e muita devoção. Os recursos pecuniários para prover a tantas necessidades eram assaz mínimos, sempre fazia questão que sempre se observasse grande economia nas comunidades e não queria que se contratassem dívidas nem que se fizessem empréstimos. Se, pois, se excetuar o pouco que notei e se muitos outros julgarem muito justo e fácil a escusar, por bons motivos, creio que, suas intenções eram santas, como se pode ver realmente em cada página de seus livros e em cada linha de suas cartas, ele quis santificar certo número de homens e torná-los capazes de santificar a educação cristã e civil da classe pobre. Considerado sob um só ponto de vista, todo o corpo de doutrina destes livros e das cartas manuscritas, contém um senso católico e a expressão de um zelo sincero inspirado por uma virtude verdadeiramente cristã. Este zelo leva algumas vezes ao rigor; mas quem conhece a facilidade em que a natureza das crianças se inclina para o mal, este rigor lhe aparecerá como uma barreira oportuna contra as más tendências da natureza humana e não tanto um freio para uma justa liberda- 255 de. É preciso visar mais alto do que o objetivo que se quer atingir. Eis, Eminentíssimo e Reverendíssimo Príncipe e meu honorabilíssimo Senhor, minhas modestas reflexões sobre as obras muito sábias e tão piedosas do Venerável de La Salle; humildemente deposito estas reflexões diante da alta sabedoria de vossa Eminência Reverendíssima e ao me recomendar sempre a sua graça, beijo com profundo respeito a orla de sua Púrpura sagrada". Os dois outros teólogos levantaram infelizmente algumas objeções bastantes sérias sobre certos livros apresentados como escritos pelo Santo, o que levou a Sagrada Congregação, em sua sessão de 11 de setembro de 1847, a ordenar um suplemento de exame que retardou por quatro anos a conclusão da requisição. Graças à feliz intervenção do cardeal Gousset, o decreto sobre os Escritos foi por fim promulgado a 10 de janeiro de 1852. É de notar que as cartas do Santo altamente apreciadas desde o primeiro exame, tinham ficado constantemente fora da polêmica. Passaram os anos e o processo entrou a partir de então na fila para sua vez e passo a passo, enquanto as cartas autógrafas ficavam longe dos Arquivos da casa generalícia. A 12 de maio de 1860, o Irmão Calisto anuncia a descoberta de uma carta do Santo em Chartres (nº 36). Envia, a 23 de junho, um cópia autenticada pelo Arcebispo de Paris ao cardeal Prefeito dos Ritos, mas conserva temporariamente o original na Comunidade. Esta se desfez dela em 1867 em favor dos Arquivos do Instituto. 256 "Conservem preciosamente, muito preciosamente as cartas do Venerável, eu lhes peço, eu lhes suplico", escreveu ao Postulador, o Irmão Anacleto, a 8 de junho de 1861. Estes rogos insistentes do Irmão Arquivista vão pontilhar, de ora em diante, na correspondência entre Paris e Roma até que as preciosas relíquias tenham voltado ao centro do Instituto. Entre os depoimentos das testemunhas nos diversos Processos, um ou outro, depois de examinado de perto pelo Advogado do diabo, exige muitas pesquisas em Paris. Por exemplo, no processo diocesano de Ruão, notou-se que a 23ª testemunha, então com 84 anos, tinha afirmado, em 1836, que tinha visto "em mão do Sr. Pion, deão dos pároco de Ruão, uma carta do Sr. de La Salle, a quem ele venerava como um Santo e a conservava preciosamente, beijandoa com respeito como relíquia". Com isto o Promotor da Fé exige, em 1862, a apresentação desse documento que não figurava no dossiê! Então foi preciso afirmar que a testemunha, Sr. Heude, há muito falecido, não deixou papéis e que a pesquisa não podia se estender para antes da Revolução Francesa. No mesmo ano de 1862, em Roma se reclama uma carta que a 11ª testemunha do processo diocesano de Reims, o Sr. Padre Libotte, noviço no Instituto em 1812, declara ter visto nas mãos de seu Diretor de noviciado, Irmão Paulino. Este testemunho datava de 1936. Responde-se que o noviciado 257 de Langres foi transferido para a capital em 1819, que todos os seus Arquivos vieram a Paris e que por conseguinte, se há uma carta, o dossiê enviado a Roma em 1845 deve contê-la. Foi uma resposta um tanto embaraçada, mas que parece ter contentado o Promotor da Fé. É possível que se tratava de uma das duas cartas inseridas no Processo de Paris e desaparecidas como já sabemos. Em 1864, o Irmão Calisto recebe nos Arquivos do Instituto onze cartas autógrafas de La Salle, as que o Irmão Diretor de Pernes encontrou no paiol do presbitério entre 1850 e 1856. Como seu texto é bastante desconcertante em razão do caráter extravagante do destinatário, o Irmão Assistente nada comunica a Roma, aliás o processo sobre os Escritos estava terminado desde 1852. Mas a sorte das cartas manuscritas sempre em Roma inquieta o Arquivista. Algumas peças já voavam perdidas nos escritórios da Chancelaria dos Ritos, como os relatórios da consignação dos escritos em 1845, e o Irmão Calisto, em carta ao Postulador, a 4 de fevereiro de 1858, lhe recorda uma vaga promessa do passado: "Parece-me que, há três ou quatro anos, o bom irmão Anacleto de Roma me tinha prometido devolver-me as caras autógrafas do Venerável". A 8 de fevereiro, o Irmão Anacleto lhe respondia em post-scriptum: "Quero, se Deus me der vida, remeter em mãos as cartas do Venerável, conservadas livremente aqui, mas de outro lado, estariam melhor perto do sucessor deste santo Homem". 258 A 12 do mesmo mês, ele confirma seu projeto: "Quanto às cartas manuscritas enviadas à S. Congregação, elas lhe serão entregues". Com efeito, ele dirige ao cardeal Patrizi um pedido nesse sentido, prometendo deixar em troca uma cópia das mesmas cartas, e a 8 de março de 1868, lê-se no caderno que contém as minutas de sua correspondência: "Tenho rescrito retirar cartas…". Sem tardar, ele as envia a Paris e recebe em breve do Irmão Calisto, o anúncio do regresso delas aos Arquivos: "Apresso-me a acusar recepção da coleção das 34 cartas autógrafas do Venerável J.-B. de La Salle que são mencionadas no decreto sobre os escritos deste grande servo de Deus. Inútil dizer-lhe com que cuidado vamos conservá-las. Obrigado mil vezes, meu caríssimo Irmão, pelo cuidado que teve em nos devolver este precioso depósito" 17 de março de 1868. A coleção que então sobe a 44 cartas originais - dos 34 documentos do decreto excluímos as duas obediências do Irmão José - vai se enriquecer com o tempo. Em 1871, uma terceira carta endereçada ao Irmão Dionísio (nº 10) é encontrada entre os apéis do Irmão Désiré. Depois dessa data, veio uma segunda carta ao Sr. Des Hayes (nº 113). Antes de 1888, uma quinta carta ao Irmão Roberto (nº 62) é mencionada num catálogo dos papéis relativos ao Venerável. Pelo ano de 1900 aparece uma sexta carta ao Irmão Roberto (nº 54), uma quarta ao Irmão Huberto (nº 35). Em 1915, a décima carta dirigida ao Irmão Matias (nº 46) foi encontrada entre 259 os papéis do Irmão Léandris. Lá pelo ano de 1920 por fim, uma quinta carta ao Irmão Huberto (nº 33) é encontrada entre os papéis não classificados nos Arquivos do Instituto pelo Irmão Donato. Desde então os preciosos documentos conservados muito tempo na encadernação do Irmão Vivien, receberam um lugar mais digno de seu autor e mais acessível aos visitantes. Em 1948, com a anuência do Regime, as cartas autógrafas foram confiadas aos serviços especializados do Vaticano que lhes devolveram um ar de juventude e as colocaram cuidadosamente entre placas de vidro. Uma fila de vinte quadros está colocada em armários de porta corrediça. Isto agora permite consultar as relíquias sem manipular os originais ao abrigo, esperamos, de toda nova dispersão. Aliás, um microfilme foi tirado e na eventualidade de uma perda irreparável, o pensamento de nosso Pai está assegurado para todos os seus filhos. 260 CAPÍTULO III AS CARTAS EXTRAVIADAS O número de cento e trinta e três cartas conhecidas no momento presente é pouco importante relativamente ao conjunto da correspondência que nosso santo Fundador teve de manter durante sua vida, sobretudo quando se lê o que escreveu seu principal biógrafo: "Todos os Irmãos que ele mantinha reunidos junto de si para trabalhar na formação deles, mostraram-se outros homens no fim do ano. O santo homem os viu tais como os tinha desejado: interiores, recolhidos, mortificados, penitentes, de submissão e obediência cega. Ao despedi-los deu-lhes ordem de lhe escrever todos os meses para lhe dar contas de suas disposições interiores e receber conselhos. Como ele considerava essa prestação fiel de contas como o sustentáculo da regularidade dos Irmãos empregados nas escolas, recomendava-lhes muito essa correspondência e ele mesmo foi muito exato em responder. Suas cartas cheias de piedade e unção, serviam para manter no fervor os que moravam longe. O santo Sacerdote, sem limitar sua vigilância, ia todos os anos fazer a visita das escolas e aos Irmãos que as supervisionavam e examinava o progresso que uns e outros faziam" (BLAIN, I, p. 315). Esta prescrição data de outubro de 1692. ao falar das dificuldades dos irmãos por ocasião da carestia de 1709, Blain assinala um dos remédios que o Sr. de La Salle usou: "Na impossibilidade de lhes fornecer outros recursos, com quantos gemidos levava ele suas súplicas ao Pai celeste para lhe pedir que lhes desse o pão de cada dia e a graça de fazer um uso santo de sua pobreza! Todas as cartas que lhes escreveu giravam sobre estes dois pontos. Pela consolação mostra- 261 va-lhes na carestia as riquezas espirituais que nela estão contidas para os que as procuram então com olhos de fé e com o exercício da paciência." (Blain II, p. 61). A essas numerosas cartas de direção ou de encorajamento, se deveria acrescentar toda a correspondência administrativa requerida para a abertura e o funcionamento normal das escolas. Sabemos, por exemplo, que a instalação dos Irmãos na paróquia de Saint-Sulpice em Paris, exigiu entre 1683 e 1688, a troca de pelo menos dez cartas cinco das quais vieram de La Salle. Escreveu ao Sr. de Chateaublanc para a escola de Avinhão; a Mons. Colbert para a fundação de Ruão; ao bispo de Mende, ao de Saint-Omer, ao Conselho municipal de Valréas… Tão somente na correspondência com o Irmão Gabriel Drolin (nº 13 a 32), encarregado dos negócios de Roma, podem-se encontrar alusões ao menos a vinte e quatro cartas atualmente extraviadas, várias delas provavelmente pelos correios da época. La Salle se queixa disso em diversas ocasiões: "Sinto muito que a falta em receber minhas cartas lhe tenha causado diminuição da piedade… É preciso que várias de suas cartas e das minhas se tenham eclipsado de algum modo" ( carta nº 28). "Creio que minhas cartas foram interceptadas como eu soube que interceptaram algumas das suas para mim" (nº 32). Às cartas acima, se deveria acrescentar as cartas que as circunstâncias o levaram a escrever ao abade da Trapa, ao Pe. Clemente, à irmã Luíza de Parmênia, ao conde de Charmel, a seu próprio ir- 262 mão Luís, ao Pe. de la Bussière em Roma, ao Pe. Barré até, como insinua dom Maillefer: "Ele lhe escreveu qual era seu desejo e lhe pediu que expressasse a opinião dele. O santo religioso lhe respondeu sem hesitar". Por fim a carta ao Irmão Diretor de Calais (nº 65), na qual defende com coragem a honra de "sacerdote romano", bem como a carta a um cônego, seu amigo (nº 118) a quem repreende severamente a atitude incorreta diante de seu bispo, levam a adivinhar um aspeto polêmico de sua correspondência do qual infelizmente nada subsiste a não ser os dois textos citados. O jansenismo e o galicanismo tiveram nele um adversário à altura como Blain dá a entender: "(Em Marselha), esses senhores que mantinham juntos conferências em certos dias, tinham muita vontade de terem a presença do Sr. de La Salle e muitas vezes instaram com ele para que viesse. As discussões que ali se travavam absolutamente não eram de piedade. Os assuntos da época eram os temas ordinários… O Sr. de La Salle sofria muito nessas assembléias e guardava silêncio. Quando se via obrigado a falar, defendia com força tanto as verdades que eram combatidas como as pessoas que eram depreciadas, e confessava não ter sido edificado pelo que via e ouvia: lamentava o tempo perdido em altercações, invectivas, ostentação de ciência vã e sugeria que fossem substituídas essas questões curiosas, vãs e notícias que geravam os combates verbais e que interessam tanto a caridade, por conversas piedosas ou de ciência útil". Dom Maillefer, homem muito prudente, declara na Advertência que precede a vida de seu tio: 263 "Estive atento em poupar a reputação de várias pessoas meritórias que por motivos não explicados, causaram desgosto ao Sr. de La Salle". Desta luta epistolar nos fala a carta do Irmão Bartomeu a Gabriel Drolin (13 de abril de 1719): "O senhor nosso querido Pai escreveu várias carta em favor da constituição de nosso Santo Padre, o papa Clemente XI que fizeram muito bem". Cartas e instruções do Santo acerca dos pontos de doutrina tinham garantido a ortodoxia dos Irmãos ao ponto de torná-los santamente audaciosos. Irmão Bernardo que submeteu seu projeto de biografia a Luiz de La Salle, ousou resistir em 1723 ao Sr. Guyart, antigo vigário de Laon, feito cônego da catedral e cuja idade inclinava à moratória: "O cônego me fez um crime de ter falado dos problemas da época e me acusou de ter simulado e disse que ele achava que, para se tornar o livro aceitável em qualquer lugar, era preciso apenas dizer que o Sr. de La Salle tinha sido submisso às decisões da Igreja e cheio de respeito para com os sumos pontífices. Ao que respondi que eu não pensava que isto poderia bastar e que eu devia dizer em que ele tinha mostrado esse respeito e essa submissão". Quer se trate de cartas de direção, de administração ou de controvérsia, uma leitura atenta dos biógrafos permite encontrar os sinais de pelo menos 63 documentos em que o destinatário é citado e cujo texto, às vez em estilo indireto, parece ter sido conservado por um momento. Como demonstração citamos um exemplo: 264 "O Sr. de La Salle reconheceu o dedo de Deus na condução deste negócio (um processo dos mestres escrivãs de Paris em 1699) e considerou sua conclusão favorável como um favor singular da bondade divina. É assim que ele se explicou a si mesmo numa carta que escreveu a um Irmão fora da capital. Entre outras coisas pedia-lhe fizesse encerrar esse processo em favor das Escolas cristãs" (Blain I, p. 363). ***** Seriam estas mais ou menos duzentas cartas (133 conhecidas e 73 extraviadas) um décimo, um vigésimo da correspondência global do Santo? Uma avaliação mesmo sucinta parece muito difícil. Baseados no texto de Blain acima citado, suas cartas de direção devem ter sido muito numerosas; quase cada irmão podia receber pelo menos dez por ano, sendo que as duas outras previstas eram substituídas por uma prestação de contas oral por ocasião da visita e do retiro anual. Muitos indícios, porém, permitem corrigir este texto e diminuir sensivelmente o número das cartas possíveis. Antes de tudo, o fato de chamar os Irmãos de Paris ao noviciado todas as semanas, entre 1691 e 1705, devia permitir a direção oral para todos os irmãos da capital e restringir as cartas mensais aos irmãos fora da capital. Além disso, um documento interessante da época, a Regra manuscrita, chamada de 1705, ao confirmar a afirmação de Blain, acrescenta uma restrição significativa: "Todos os Irmãos escreverão, no início de cada mês, ao Superior do Instituto; poderão também escrever-lhe cada vez que julgarem ter necessidade de fazê-lo, quer para o bem de sua alma, quer por qualquer outro motivo". 265 … "No caso de uma ou várias casas estarem muito afastadas daquela em que mora o Superior do Instituto para poderem lhe escrever todos os meses, ele poderá designar um diretor de uma das casas que estejam mais próximas, ao qual todos os Irmãos dessas casas escreverão todos os meses sob a condição de todos os Irmãos dessas casas escrevam pelo menos duas vezes cada ano de seis em seis meses ao Superior do Instituto". Esta eventualidade aconteceu pelo menos desde 1703, por ocasião da fundação de Avinhão, depois das de Dijon, de Marselha, de Mende, de Grenoble, de Valrés, des Vans, etc… Este artigo é confirmado pelo Santo numa carta ao Irmão Matias (nº 44): "Em vez de contar suas aflições a pessoas externas, diga-as ao Irmão Ponce ou escreva-lhe, se não estiver em Mende. Eu o encarreguei de fazer, naquela região, tudo o que convier ao bem dos Irmãos". Entretanto várias alusões das cartas do Santo mostram sua insistência em prestarem conta cada mês, e sua correspondência com o irmão Matias, com residência em Mende em 1708, traz uma carta em janeiro, uma em fevereiro, uma em março, duas em abril e uma em maio. "Peço-lhe que, no futuro, me escreva com mais freqüência, e parece-me conveniente que você o fizesse cada mês". (nª 18) "Quando faltam apenas alguns dias para a carta do mês, não se deve escrever a não ser em caso de extrema necessidade" escreve ele a 1º de junho de 1706 (nª 34) 266 "Meu caríssimo Irmão, estou surpreso por você me ter escrito uma carta com data de 23, depois de me ter escrito outra no dia 19 e deverá escrever-me no começo do mês" nota ele ao mesmo a 30 de janeiro de 1708" (nº 35). "Meu caríssimo Irmão, não sei por que você me escreve tantas cartas ao mesmo tempo. Não teremos bastante dinheiro para tantas franquias de cartas. Escreva com o Irmão que o dirige, isto basta e nunca escreva sem autorização", declara ao Irmão Matias em abril de 1708 (nº 50). Quando o noviciado foi instalado em SaintYon em 1709, o Santo parou ali repetidas vezes, mas parece ter conservado seu domicílio em Paris como atesta a correspondência que de lá endereçou (cartas 43 e 17) e expediu da capital. Quinze cartas entre 1705 e 1709 trazem claramente a indicação: "De Paris,…". Este vai-vem entre a Normandia e a Île-de-France certamente substituiu quantidade de cartas; contudo é preciso notar que nesse período de quatro anos foram conservadas trinta e cinco cartas, isto é um quarto de toda a correspondência conhecida. Por outro lado os anos de 1711 a 1715 só nos oferecem cinco textos datados de Marselha a seu correspondente romano. É o período mais obscuro da vida de nosso Santo, período que os biógrafos mostram cheio de dificuldades suscitadas pelo caso Clément e as viagens do Fundador ao sul da França. Um estudo objetivo da vida, com abstração das conjeturas do século 19, leva a aceitar, para esses anos, o testemunho dos biógrafos, dom Maillefer e o cônego Blain. O primeiro declara: 267 "Não respondia a nenhuma das cartas que lhe vinham das outras casas de Paris e de fora da capital, de maneira que se estava muito preocupado acerca do que lhe tinha acontecido" (p. 128). …… "Não respondia às cartas que os Irmãos lhe escreviam sobre qualquer assunto, a fim de os acostumar a esquecer a ele" (p. 142). O segundo não é menos explícito: "(O Sr. de La Salle) deixava sem resposta as cartas que lhe vinham de todos os lados" (Blain II, p. 85) …… "Deixava sem resposta as cartas que recebia da parte dos Irmãos" (id. p. 107) …… "Não respondia sequer às cartas que os Irmãos lhe escreviam sobre este assunto para os acostumar a esquecê-lo inteiramente e mantê-los à distância por esse silêncio afetado" (id. p. 118). Por estes textos se pode afirmar sem dificuldade que Blain copiou dom Maillefer ou utilizou os mesmos escritos dos Irmãos. Se o trabalho do beneditino permaneceu ignorado pelo conjunto da Congregação, o mesmo não aconteceu com a obra de Blain que apareceu em 1733. Nesta época numerosos eram os Irmãos que tinham recebido cartas do santo Fundador. Ora as únicas críticas feitas ao autor se dirigem a pormenores que se podem ler numa carta aberta composta por Blain para as refutar (Blain II, no fim). 268 Ninguém lhe opõe as cartas recebidas entre 1711 e 1715 para reduzir a nada sua afirmação. Uma única alusão certa no "Abrégé de la Vie du Frère Bartélémy", afirma relações epistolares na primavera de 1713 entre De La Salle e seu substituto fiel. Ela confirma a nota que se pode ler no mesmo "Abrégé": "Antes de se eclipsar, De la Salle examinou com cuidado diante de Deus qual dos Irmãos deveria tomar seu lugar para dirigir a Sociedade. Deu ao Irmão Bartolomeu a preferência porque este reunia em si as qualidades próprias ao governo, a regularidade e a vigilância, a bondade e a firmeza, a piedade e a discrição. Tendo-o achado sólido e inabalável, revelou-lhe seu propósito; deu-lhe as instruções necessárias para manter a ordem e a regularidade e lhe ensinou a maneira em que devia se comportar em sua ausência" (Blain - Abrégé, II, p. 16). De outro lado diversos relatórios fornecidos por alguns contemporâneos parecem contraditórios na vida do Senhor de La Salle. Um deles afirma: "Não queria mais ver intercâmbio de cartas com o Irmão Bartolomeu, do qual pensava fazer parte do partido de seu adversário; e só não queria receber cartas dele para o trair por meio desta aparência de confiança" (Blain II, p. 80). enquanto um outro faz uma distinção subtil: "O Sr. de La Salle sempre manteve correspondência com o Irmão que dirigia o noviciado de Saint-Yon, persuadido de que este viveiro devia ser cultivado com cuidado" (Blain II,p.85). Podemos aqui julgar a probidade do cônego Blain que se contenta com alinhar os testemunhos fornecidos pelos Irmãos sem os discutir quando seu controle lhe escapa. Se os contemporâneos podiam 269 se explicar sem dificuldade a contradição e não censurar o biógrafo, hoje infelizmente, não estamos a par de seus motivos. Seja como for, a correspondência do Santo teve de ser reduzida desde 1711 até seu retorno a Paris em agosto de 1714. Quanto aos últimos anos de sua vida (17151719) numerosas são as afirmações do biógrafo que dão conta que nosso santo Fundador teve uma resolução firme de entregar a autoridade e a responsabilidade a seu sucessor: "O santo homem não queria sequer dirigir a casa nem presidir aos exercícios. Somente se reservou o exercício do ministério do qual não podia se descarregar sobre seus Irmãos. Celebrava-lhes a santa Missa, confessava-os e lhe dava exortações espirituais durante meia hora.aos domingos e festas. Todo o resto do tempo, mantinha-se retirada em seu quarto e entregava-se à oração à leitura da Sagrada Escritura e de livros de piedade e a compor obras espirituais para o uso particular dos seus. Este modo de vida do santo homem atrapalhava não pouco seus filhos. Estes pensavam que o tinham apenas pela metade e lamentavam sensivelmente não poderem aproveitar de todo a sua presença…" (Blain II, p. 121). Uma outra de suas cartas (nº 110) é reveladora a esse respeito: "Por amor de Deus, peço-lhe, meu caríssimo Irmão, que no futuro não pense em dirigir-se a mim em qualquer maneira que seja. Você tem seus Superiores a quem deve comunicar seus problemas espirituais e temporais. A partir de agora somente quero pensar em me preparar à morte que, em breve, deve separar-me de todas as criaturas". Por meio desta rápida olhadela sobre as principais etapas da vida de nosso Santo, é permiti- 270 do concluir que se muitas cartas, principalmente as de direção espiritual foram destruídas por seus destinatários ou extraviadas no século 18, seu número total não deve ter excessivo. As que foram conservadas atualmente nos são tanto mais preciosas e nos fazem lamentar algumas centenas, talvez duas ou três mil cartas, conforme estimativa prudente do número de cartas saídas de sua caneta. ******** 271 O CONTEÚDO DAS CARTAS INTRODUÇÃO Os primeiros biógrafos de João Batista de La Salle obtiveram de seus contemporâneos uma quantidade de relatos pessoais cujos elementos eles utilizaram para recordar a vida e as virtudes de nosso Fundador. Esses documentos desapareceram, quer porque o cônego Blain os reteve consigo depois da composição de seus dois volumes in-quarto, quer porque os primeiros Irmãos, menos preocupados do que nós em conservar simples material de uma biografia, deixaram desaparecer os papéis. Pelo menos é o que faz supor a apóstrofe indignada de Blain em sua carta-rsposta às críticas feitas a seu trabalho: "O que estes Irmãos críticos retomam é o que o Sr. de La Salle disse várias vezes e o que deixou por escrito numa Memória, vocês podem mostrá-lo a esses Irmãos preconceituosos. Que é que se responderão eles a tal autoridade? (Blain Carta ao Irmão Superior). Podemos, pois, confiar no biógrafo quando ele relata os episódios principais da vida de nosso Pai, quando mostra seu papel providencial de legislador e de fundador, quando assinala por fim as virtudes heróicas na quarta parte de sua obra. Mas os documentos inéditos formados pelas 51 cartas autógrafas, bem como os textos veneráveis tirados 272 da obra de Blain e que formam a substância das outras cartas, podem a seu modo esclarecer um pouco mais e apreciar certos aspectos da pedagogia lassaliana e nos fazer entender mais profundamente a mentalidade religiosa do homem genial que Deus nos deu como Pai e legislador. Estas são as idéias que as páginas seguintes pretendem trazer à luz. Capítulo Primeiro OS COMEÇOS DO INSTITUTO As cartas do santo Fundador exercem a função de testemunhos irrecusáveis sobre certo número de fatos históricos relativos às principais fundações de nosso Instituto. Elas corroboram, quando necessário, as afirmações dos biógrafos e são a única garantia sobre alguns pontos de fatos não mencionados por algum documento. Por exemplo, a fundação de uma escola em Château-Porcien em 1682, só vem com uma simples alusão em Blain I, p. 183, confirmada por Simon Dancourt, e até 1843 eram os únicos vestígios de uma fundação, provavelmente natimorta. A carta nº 111 dirigida pelo santo Fundador ao Prefeito e aos vereadores daquela cidade, não somente indica a data exata da abertura das aulas, mas dá o nome dos professores e seu apelido de "mestres-escola" , quando os jovens reunidos então pelo Sr. de La Salle ainda não constituíam a comunidade dos Irmãos das Escolas Cristãs: 273 Meus Senhores, Mesmo se eu tivesse pouco interesse no que respeita a glória de Deus, eu precisaria ser muito insensível para não me deixar comover pelos instantes pedidos do senhor deão e pela maneira insistente com que me dão a honra de lhes escrever hoje. Eu estaria errado, Senhores, se não lhes enviasse alguns mestres de escola de nossa comunidade, em vista das instâncias e o ardor que me testemunham ter pela instrução e educação de seus filhos. Por favor, queiram ficar persuadidos de que nada me é mais caro do que atender nisto as boas intenções dos senhores, e a partir de sábado próximo, enviarei dois mestres de escola com os quais, espero, ficarão satisfeitos para começar sua escola um dia depois da festa de São Pedro e fico-lhes extremamente agradecido por todas as gentilezas e peço-lhes me acreditem, com respeito, em Nosso Senhor, Meus senhores, Seu muito humilde e obediente servidor. De La Salle, Sacerdote, cônego de Reims Esta carta nos deixa supor pelo tom amigável e mesmo um tanto cerimonioso do Santo, que tais pedidos correspondiam perfeitamente a seus pontos de vista e que ele tinha consciência desde aquela época, da sua vocação de "Fundador". Duas outras cartas administrativas enviadas pelo Santo ao Sr. Des Hayes, em setembro e novembro de 1704, (nº 112 e 113) nos fazem assistir, de certo modo, as negociações relativas à fundação da escola de Darnétal perto de Ruão e completam felizmente a indicações de Blain. 274 O Sr. Des Hayes, sem dúvida colega de La Salle no Seminário de São Sulpício, a 26 de setembro de 1704, através de um de seus amigos, lhe pediu dois Irmãos para assumir uma escola no arrabalde de Ruão. Como normando esperto, em seu pedido, não tinha fixado nem o lugar do estabelecimento, nem o salário exato que lhes seria dado, mas somente dizia que este último seria módico. Isto foi para o Fundador uma ocasião tão desejada de se instalar na capital da Normandia. Respondeu sem demora: Senhor, Fiquei sabendo pelo Sr. Chardon, esta manhã, que o senhor havia escrito a ele para saber alguma coisa acerca de nossos Irmãos e que pedia dois deles e desejava saber o que era preciso. Estou muito disposto a dar dois deles. Quanto ao preço, o senhor sabe que não somos difíceis e que não poderíamos não enviar somente um. Se quiser me dizer para que bairro os pede e o que pensa dar a eles, ficarei muito obrigado. Creio que estaremos facilmente de acordo e se estará contente com os que vou enviar. Sou, com respeito, meu Senhor, seu humílimo e obedientíssimo servidor. De La Salle É uma carta de negócios no sentido próprio do termo. O prudente filho da Champanha responde ao espertalhão normando. Nada de cumprimentos como aos vereadores de Château-Porcien, mas pe- 275 dido de explicitação referente ao lugar e ao salário, certeza de moderação na questão financeira e satisfação para seus empregadores. A resposta desejada se fez esperar até o dia 17 de novembro. De acordo com Blain II, p. 15, o Sr. Des Hayes o decepciona quanto ao lugar que pretendia. Trata-se de substituir, não em Ruão, mas em Darnétal, arrabalde populoso distante uma légua da cidade, um mestre-escola falecido, cujo salário não ultrapassavam 50 escudos por ano. Uma só escola reunia os meninos das duas paróquias do lugar, Saint-Pierre de Carville e Saint-Ouen de Longpaon. Se o parco salário não sustou o Fundador que de ordinário pede 100 escudos por Irmão, a questão do lugar o atormenta. Anteriormente, talvez na época de seu Seminário, tinha estado em Darnétal, para visitar sua parenta, a Sra. De Maillefer ou o Pe. Barré, fundador das Irmãs da Providência, mantêm a escola para as meninas. Ele receia que naquela vila, bastante afastada de Ruão, consultando suas recordações, seus Irmãos estariam muito isolados e principalmente sujeitos a trabalhos extra-escolares que lhe custaram a fundação de Château-Porcien. Em sua resposta clara e minuciosa, a 18 de novembro, mostra-se a intransigência do Santo, certo de seu modo de agir e de sua graça de Fundador, bem como de sua preocupação com a pura ortodoxia dos dois vigários da vila, acerca da santa comunhão, pedra de toque do jansenismo reinante: 276 Senhor, Recebi ontem a carta que me fez a honra de enviar. Permita-me, por favor, pedir-lhe um esclarecimento sobre uma coisa que o senhor não me havia explicado, a saber, se o mestre de escola que se está pedindo estará obrigado a cantar na paróquia e ajudar o Sr. Vigário em suas funções, pois o senhor sabe bem que nossos Irmãos não exercem nem uma nem outra coisa. Faça-me também o favor de me dizer mais ou menos quantas comunhões há naquele lugar nas duas paróquias e se cada paróquia tem seu mestre-escola. Tenho estado em Darnétal; pensei que ficasse mais longe de Ruão. Fico-lhe muito obrigado por suas gentilezas e sou com respeito, Senhor, Seu humílimo e obedientíssimo servidor. De La Salle Uma quarta carta administrativa acerca da fundação de Dijon revela que os benfeitores dos Irmãos desejavam ser tratados como pessoas importantes. La Salle conhece o ambiente um tanto rigoroso e muito digno da magistratura e a carta (nº 114) dirigida ao Sr. Rigoley, primeiro Presidente da Câmara das Contas e Secreário dos Estados de Burgonha, revela a delicadez do Santo quando trata essas questões de fundação, mas também sua firmeza quando se trata de costumes cujo uso já foram sancionados pelo tempo: Meu Senhor, Recebi sua última quando retornei de campanha. Lamento muito o incômodo que nossos Irmãos lhe causam por estarem tanto tempo alojados em sua casa e, ao mesmo 277 tempo, fico-lhe sensivelmente obrigado pela caridade e bondade que tem para com eles. Vejo bem que este começo do estabelecimento lhe causou até agora e lhe causará ainda muita dificuldade e este é o efeito de seu zelo pela instrução das crianças tê-lo empreendido e prosseguido sua execução a pesar dos transtornos que isto lhe causou. Quanto aos livros que mandei enviar para as escolas, eu não teria pensado nisso, se o Irmão Antônio não me os tivesse pedido. Estou aborrecido porque isto não o deixou contente. Peço o favor deixá-los ficar em Dijon até que se possa transportá-los a outra parte, se [ali] não se precise de nenhum. Não sei, meu Senhor, se teve o cuidado que a casa que alugou tem duas salas contíguas uma com a outra para ali manter as escolas pois esta é uma coisa indispensável para nossos Irmãos. Se o senhor tiver pensado nessa precaução, eu pediria que cuidasse disso, alugando algumas salas vizinhas até a hora de nossos Irmãos ocuparem essa casa. Sou com todo respeito e gratidão possíveis, meu Senhor, seu humílimo e obedientíssimo servidor. De La Salle Além destas quatro cartas cujo tema principal se refere a uma fundação, grande número de outras dirigidas as seus religiosos contêm explicitações de data, referências a dificuldades de organização que os historiadores modernos recolheram com cuidado para completar o dossiê das escolas. Uma carta nos (nº 37) conta, por exemplo, as dificuldades levantadas em Chartres em 1709 por uma modificação do local em que os Irmãos estariam sujeitos a sofrer e a solução proposta pelo Santo. Existem meios humanos: 278 "conversei com o Sr. Pe. de Gergy que me prometeu escrever ontem mesmo ao Sr. bispo de Chartres". Principalmente existe a oração e a confiança em Deus: "Parece-me que é preciso rezar e fazer rezar seus alunos, continuando com as ladainhas pelos alunos e enviando todos os domingos e festas, nas quintas-feiras, dias feriados, dois Irmãos para comungarem em Notre-Dame, na capela da santa Virgem, na intenção de que o projeto de S. Excia. não se cumpra e que aconteça o maior bem tanto para o alojamento de vocês como para a multiplicação das escolas e dos alunos e que ninguém de sua casa se precipite neste negócio; deixe a execução para Deus". No referente a Troyes, uma carta do Santo ao Irmão José, visitador das Escolas de Champanha (nº 40) nos mostra a decisão do Fundador e sua discrição quando problemas administrativos podiam perturbar a calma de uma comunidade: "Não diga a ninguém, nem sequer ao Irmão Alberto, que devo ir para lá. Vou dar um jeito para que tudo acabe bem e que todos fiquem satisfeitos". Essa discrição, aliás, parece que o fez passar em silêncio qualquer alusão aos negócios do Instituto na maioria das cartas dirigidas a certos inferiores. O Santo nelas fala com cada um somente do que se refere a ele e aplica o primeiro preceito que fez inserir em sua Regra: "Não falará do que aconteceu em nenhuma das casas do Instituto, nem dos negócios administrativos da casa em que está, nem do proceder de nenhum dos diretores do Instituto" (Regra manuscrita de 1705 - Do silêncio). 279 É preciso contudo notar uma exceção, e ela é importante, porque, graças a ela, o historiados das origens lassalianas pode reconstituir a marcha de várias fundações: é a correspondência com Gabriel Drolin, seu discípulo enviado a Roma em 1702. Vinte cartas (nº 13 a 32) nos foram conservadas em que se misturam conselhos de perfeição e orientações oportunas, numerosas alusões às fundações francesas para comunicar de alguma forma todas as alegrias da família a seu isolado filho. Pouco a pouco as fundações de Avinhão, de Marselha, de Paris, Saint-Roch, de Valréas e de Mende, de Grenoble, de Alais, de Mâcon, de Versalhes, de Boulogne-sur-Mer e de Moulins, são comunicadas ao correspondente em longes terras, com pormenores que podem interessá-lo acerca das pessoas e das obras. Fala da habilidade do Irmão Alberto que teve bom resultado em Avinhão, em Marselha, em Valréas; do Irmão Ponce, que iniciou a escola de Mende e mais tarde supervisiona as escolas do sul. Avinhão se torna no pensamento do Fundador a segunda capital de seu Instituto. É lá que mandará imprimir seus livros, aprovados sem restrições pela Inquisição Pontifícia; é lá que ele indicou seu endereço postal para as cartas que vem de Roma; é lá que estabelece seu substituto para o sul da França. Tudo, pormenores que somente as cartas puderam revelar com uma precisão minuciosa tão de acordo com o espírito de nossa época. 280 Mas sobretudo a correspondência com Gabriel Drolin nos informa diretamente sobre as dificuldades que a missão do emissário lassalista encontrou no centro do catolicismo. Os biógrafos, dom Maillefer e o cônego Blain, foram muito breves acerca deste assunto, pois o Irmão Gabriel ainda vivia quando escreveram e, por modéstia e por prudência também, o principal ator foi muito reservado para se manifestar à posteridade. A correspondência de seu Pai nos faz assistir ano por ano as lutas penosas, os dissabores repetidos, as contradições desanimadoras que o religioso superou somente com o auxílio constante do Santo e sua total obediência às orientações dele. Um capítulo deste teor só podia escrever-se depois da morte do corajoso Irmão. Os biógrafos de século 19 e 20 e os de hoje tentaram lançar plena luz sobre algumas respostas do Santo a algumas cartas extraviadas, que deviam ter sido emocionantes até as lágrimas. Também a delicadeza de S. João Batista de La Salle se manifesta nelas em toda a sua grandeza. Ele mesmo, às voltas com perseguições, sobreudo desde 1702, com desacertos com o Pe. de la Chétardie, mais tarde com os tribunais criminais no caso Clément, ferido em seu coração pela defecção de seus principais discípulos, ou a morte inopinada de seus bons irmãos, ele não segrega uma palavra sequer sobre isso, em sua correspondência com o Irmão Gabriel. Declara: " Somos muito pobres porque o Sr. Pároco de São Sulpício nos paga muito pouco" (nº 15), para se desculpar de não poder enviar-lhe dinheiro. Fala da saída do irmão Nicolau Vuyart (nº 281 17) sem dúvida para responder a uma pergunta feita pelo Irmão Gabriel, seu companheiro do voto heróico em 1691: " Sei bem que você está longe de fazer o que faz o Irmão Nicolau; é justamente isto que me fez confiar tanto em você" (nº 17). Recomenda às orações dele dois Irmãos falecidos em Chartres, conhecidos provavelmente por ele, quando a mesma epidemia levou outros quatro. Pede desculpa pelo atraso em sua correspondência, devido a uma doença: " Também eu estive seis semanas muito indisposto e não podia caminhar, agora me sinto muito melhor" (nº 26). Lamenta uma indiscrição do cônego Ricordeau de Troyes a qual deu a entender erradamente a alguns Irmãos daquela cidade: " O Sr. Ricordeau faz muito mal ao dizer que os Irmãos de Troyes chegaram a se agredir" (nº 31). Poucas coisas são estas na verdade e que testemunham o extraordinário domínio de si que nosso Fundador possuía. Como não tinha outro confidente, pois seus inferiores entre 1700 e 1715, época desta correspondência, são todos de outra geração, por isso o Santo parece ter conservado para si somente todos os tormentos que a vocação de Fundador traz consigo sem os fazer transparecer a quem quer que seja. Estas alusões a alguns Irmãos dos quais La Salle fala com seu correspondente romano nos levam a tocar no segundo aspecto do valor histórico das cartas. Não somente as fundações, as dificuldades dos inícios e o funcionamento das escolas nos são um pouco melhor conhecidos pela leitura das 282 mesmas, mas também algumas silhuetas de irmãos aparecem a nossos olhos entre os que foram nossos ancestrais no Instituto. Sem dúvida Blain se encarregou, para a edificação comum, de contar em seqüência da Vida do Senhor de La Salle, a vida e a santa morte de vários de seus discípulos, a começar pelo Irmão Bartolomeu, seu primeiro sucessor. Assim conhecemos também o Irmão José, visitador e depois Assistente do Superior geral, o Irmão Paris, o Irmão João Henrique, o Irmão Domingos, o Irmão Luiz e o Irmão Estanislau. Ao longo dos dois volumes inquarto desfilam também algumas belas figuras de irmãos, os Irmãos Burlete, Maurício, João Francisco, Henrique l'Heureux, falecidos na flor da idade nos primeiros tempos do Instituto; outros, geralmente anônimos, são o objeto da execração do biógrafo, e sob as perífrases, podemos adivinhar o Irmão Nicolau Vuyart e Ponce; mas os trânsfugas e os revoltados facilmente fazem a Blain esquecer aqueles homens de boa vontade que se ofereceram ao Sr. de La Salle para a obra das escolas, que deram do seu melhor, se dedicaram silenciosamente e faleceram "conhecidos somente de Deus". Apenas alude uma ou duas vezes a essa "turba magna" de pequenos que permaneceram fiéis apesar das dificuldades que o digno cônego se contenta com julgar mas falou deles: "Este grupinho de eleitos alcançou o número de 35 que perseveraram com uma coragem invencível numa casa (Vaugirard) que foi o centro da pobreza, da penitência, da humilhação e da mortificação. 283 O que fazia sentir o dedo de Deus foi que desse número havia somente dois que eram pobres. Os outros eram bastante remediados e podiam viver felizes em seu estado, mas o bom exemplo e o fervor lhe fazia encontrar gosto numa casa que apenas apresentava horrores à natureza e repulsa da parte do mundo" (p. 325); "Contentamo-nos a contar muito resumidamente a vida de alguns, embora houvesse um grande número que eram bastante parecidos e que não mereceriam talvez menos que se lhes fizessem elogios: exceto muito poucos dos quais vamos narrar as desgraças e as mortes funestas, quase todos os outros que faleceram desde o estabelecimento, em número de mais ou menos cem, em recompensa de sua vida consagrada à instrução cristã da juventude pobre, tiveram uma morte suave, tranqüila e santa… Assim todos esses Irmãos, embora na maioria falecidos com menos de trinta anos, foram recompensados por uma morte preciosa e que dava inveja de morrer" (p. 99). Este elogio global dispensou o biógrafo de entrar nos pormenores: aliás, não era seu fim ao escrever a vida do santo Fundador. Mas as cartas do Sr. de La Salle, sabendo ou não quais eram os destinatários, são reveladoras do meio social de onde La Salle buscou seus colaboradores. A primeira geração desapareceu depressa. É a geração dos "amadores" dos quais nosso Santo declara em sua Memória: "Se eu tivesse acreditado que o cuidado de pura caridade que tomava dos mestres-escola me obrigaria algum momento a morar com eles, eu o teria abandonado; pois como naturalmente eu colocaria abaixo do meu criado de quarto aqueles que me vi obrigado a contratar nas escolas, principalmente no início, o simples pensamento de ter de viver com eles me teria sido insuportável" (Blain I, p. 169). 284 Se os jovens que se apresentaram a ele a partir de 1691 sabiam que se comprometiam a uma vida de trabalho e de desprezo, merecendo assim pelo menos nossa estima por sua coragem e abnegação, então não é menos verdade que sua sociedade deve ter sido penosa para um sacerdote acostumado às delicadezas de um homem honrado de seu tempo. Os Irmãos de 1734, sem dúvida, não se sentiram lisonjeados quando leram na vida de seu Pai: "Ele venceu tão perfeitamente a oposição que podia sentir diante da rusticidade de uns, da leviandade de outros, o zelo indiscreto destes, os modos repentinos deste outros, a inteligência reduzida de alguns, o mau humor de alguns, a falta de limpeza e vários e as faltas de todos, a ponto de parecer que não notava nenhum defeito neles…Desculpava-os quando seu dever de Superior e o zelo da ordem e da disciplina podiam lhe permitir fazê-lo" (Blain II, p. 387) . Contudo é o que um grande número de observações nas cartas de direção dão a entender e às vezes pormenorizam de maneira muito pitoresca. Todavia é difícil fazer um julgamento de conjunto sobre os companheiros de nosso santo Fundador, pois nossa documentação continua com lacunas, quer devido ao tempo, quer devido aos destinatários, dos quais uma dúzia é conhecida mas muitos são anônimos. Uma leitura atenta destas cartas nos torna muito simpáticos os homens que as receberam e, mesmo se o contexto ou os registros oficiais dão a conhecer uma época de desânimo que termina por abandonar o Instituto, é preciso admitir pelo menos que seu encontro com um santo os marcou para sempre. 285 Dos treze correspondentes conhecidos, nove faleceram certamente na Congregação, a data e o lugar da morte estão consignados nos registros mortuários. Quanto aos quatro outros, nenhum documento pode atestar a perseverança deles, pois os nomes não constam dos registros oficiais, feitos em data bastante tardia com somente os presentes na hora. É possível que os Irmãos Dionísio (Denis) (cartas nº 10 a 120 e Severino (Nº 63), tenham falecido antes de 1714, data provável da compilação do registro, porque os que vão tomar o nome deles só entrarão no Instituto em 1715 e 1716. Quanto aos dois outros, os Irmãos Matias (nº 42 a 51) e Paulino (nº 52), deixaram seus nomes desde 1710, o que leva a pensar que foram secularizados. Parece certo para o primeiro deles, em vista do tom de sua correspondência com La Salle; quanto ao segundo, trata-se do Irmão Paulino de Marselha (cf. nº 52). Mas nestas cartas, o santo Fundador fala nominalmente de trinta e quatro outros irmãos que tiveram problemas com os correspondentes dele. Portanto como por ricochete podemos ajuizar-lhes as atitudes e sua atividade. Encontram-se alusões ao falecimento de dezenove deles no Obituário do século 18; parece haver certeza da desistência de cinco outros, os Irmãos Estêvão,Gerardo Drolin, Nicolau Vuyart, Norberto e Ponce; a sorte dos últimos é desconhecida, seus nomes foram omitidos na Relação Nominal já indicado. Contudo daí não se pode tirar uma prova decisiva de infidelidade, pois dois deles, os Irmãos Alberto e René que em 1717 como Diretores constam no processo verbal 286 da visita do Irmão Bartolomeu; e um terceiro, o Irmão Isidoro, é nomeado em 1714 numa carta do próprio Irmão Bartolomeu ao pároco de Mende. Com exceção dos Irmãos Bartolomeu, José, Tomás, Irineu e Timóteu, dos quais a Histoire Générale de l'Insttitut conservou os nomes, todos os outros fazem parte dos humildes que, pelo menos, tiveram a felicidade de estarem próximos do Fundador, e a proporção dos que perseveraram, 28 certos e 12 possíveis sobre 47, testemunham evidentemente em favor de sua boa vontade e de sua docilidade ao ensinamento do Pai. Sob este ponto de vista, a leitura das Cartas de S. João Batista de La Salle é encorajadora pois os conselhos que nelas se encontram, as advertências paternais que nelas se adivinham, ainda hoje se dirigem, mutatis mutandis, aos Irmãos de nosso tempo; e se as dificuldades não desanimaram nossos predecessores no caminho do bem, elas também não nos devem assustar a nós que seguimos as mesmas leis e temos o mesmo ideal como a mesma recompensa. Interessantes para o historiador dos inícios de nossa Congregação, estas cartas também o são, embora em grau menor, para a história geral. Sem dúvida não se pode, no conjunto das alusões, encontrar nenhum documento de alusões à vida política do país, mas a vida da Igreja nelas ocupa um lugar que não é de subestimar. Como já notamos acima ao falar das cartas extraviadas, a questão da ortodoxia católica deve ter sido tratada em muita 287 correspondência; disso testemunha a carta ao Irmão Diretor de Calais (nº 65) e uma outra a um cônego seu amigo (nº 118). As cartas ao Irmão Gabriel Drolin também trazem alusões bem precisas acerca de pessoas de destaque no mundo eclesiástico, legado do Papa, embaixador da França, dignitários …Elas mostram que nosso Pai não se desinteressava pela vida religiosa de sua época. Segue as promoções cardinalícias (nº 17), conhece de antemão as nomeações (nº 18), às vezes se engana devido a uma informação falsa (nº 21), pesquisa junto com seu correspondente sobre a opinião em Roma (nº 32), fala de certos bispos como de amigos particulares (nº 29) e descreve tal pessoa numa forma que hoje chamaríamos de bastante franca (nº 24,25). Várias cartas do mesmo Irmão manifestam verdadeira solicitude pela moralidade do clero. Quer se trate de um cônego de Troyes, do qual o Irmao Gabriel deve desconfiar (nº 30), quer de um pároco bretão a retornar de Roma onde viveu às custas de seu hospedeiro (nº 24), quer de um sacerdote de Ruão (nº 31) a absolvição do interdito do qual pretende impedir por motivos pessoais, reconhecemos, por essa atitude incomum, um fervoroso discípulo de Olier, de Barré, de Bourdoise e de Roland, santamente exigente da perfeição clerical. Enfim, para quem se interessa pelas minúcias da história, existe material a recolher em determinadas cartas. Ficamos sabendo das dificuldades dos correios, das rivalidades entre o correio da 288 França e o correio papal, da diferença de tarifa e do freqüente extravio de correspondência. Percebe-se que o câmbio de moedas era uma operação tão difícil naquele tempo como é hoje, que o empréstimo de dinheiro, especialmente por parte dos ricos, significa não poucas vezes uma perda garantida, etc. Nelas se nos contam certos costumes litúrgicos que, na França, se opunham aos costumes galicanos do ofício romano, certos hábitos provinciais, como os procedimentos da procissão na cidade de Troyes, a missa de São Nicolau… Ou que se trate da cozinha, do enxoval, da roupa íntima, ou da jardinagem, humildes detalhes em que se interessa nosso santo, as observações judiciosas, os conselhos considerados ainda interessantes como evocação de tempos revolutos que nossos primeiros Irmãos viveram nos alvores do século 18. 289 Capítulo II CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA ESPIRITUALIDADE DE LA SALLE ATRAVÉS DE SUA CORRESPONDÊNCIA As cartas do santo Fundador, a sua utilidade histórica incontestável, acrescentam um interesse moral muito especial para seus discípulos. Esta correspondência, formada em grande parte por cartas de direção espiritual, coloca em plena luz o pensamento íntimo de nosso Pai sobre numerosos temas de nossa vida religiosa e profissional. Observações, conselhos, censuras até, ainda têm valor de atualidade, pois, se as condições de vida puderam mudar em dois séculos e meio, os métodos de santificação propostos no começo de século 18 aos primeiros Irmãos do Instituto são os mesmos que a santa Igreja sancionou com sua autoridade em 1987 como em 1725. Contudo não se deve procurar nelas um código completo de perfeição lassaliana. Por suas obras ascéticas e pedagógicas nosso santo Fundador não nos deixa nada a desejar sobre esse ponto. Somente o pensamento de saber perdidas para sempre várias de suas instruções das quais Blain nos conservou alguns fragmentos pode despertar em nós o pesar de não conhecermos nosso Pai tão intimamente quanto quiséramos. As poucas cartas de direção que foram conservadas trazem felizmente uma pequena compensação. 290 Enquanto suas obras: Meditações, Método de meditação, Coleção de Pequenos Tratados, Deveres de um Cristão, etc.…têm um alcance geral e não permitem adivinhar a comunhão de alma entre o Santo e seus discípulos, suas cartas, ao contrário, são testemunhos diretos de uma afeição paternal para com tal ou qual de seus Irmãos em particular, de uma solicitude com expressão variada conforme a posição social do destinatário. A este título, podese dividi-las em três grupos bem distintos: os Irmãos Diretores, dos quais La Salle dizia que o Instituto estava entre as mãos deles (Blain II, p. 145); os Irmãos inferiores; e o discípulo romano Gabriel Drolin, cujo isolamento meritório conhecemos. Ao lado destes grupos lassalianos é preciso colocar o das pessoas que se dirigiram a nosso Pai para serem dirigidas ou pedir-lhe conselhos. As cartas de nº 119 a 133 extraídas da Vida do Santo, revelam sua atitude para com essas almas religiosas. A seguir, algumas notas sobre esses grupos. A. CARTAS AOS IRMÃOS DIRETORES Para quem se aproxima sem preparação da correspondência do Santo, as frases curtas, sem ligação entre elas, o estilo sem requinte, o deixariam um pouco desorientado. Não se vê a seqüência lógica dessas observações sucessivas, dessas ordens sem comentário, dessas fórmulas que retornam a cada passo: "Não se deve…", "Tenha cuidado", "Você deve", etc. Também o texto, em pouco tem- 291 po, esgota a capacidade de atenção do leitor moderno e o efeito espiritual é exíguo. Para apreciar esta correspondência em seu verdadeiro valor, é preciso tomá-la pelo que é: não um meio literário de transmitir o pensamento sobre tal tema de espiritualidade como as "Cartas de Blaise Pascal a um Provinciano", ou uma troca de gentilezas entre intelectuais, à maneira das cartas do século das luzes, mas simplesmente respostas de um Superior de Congregação às cartas mensais de seus discípulos sobre temas minuciosamente previstos. A Regra do Irmão Diretor de uma casa do Instituto, enviada manuscrita pelo Revmo. Irmão Bartolomeu às diversas comunidades em 1717, portanto em vida de La Salle, prescrevia no artigo 25: "Dará conta exata e completa ao Irmão Superior do Instituto nos primeiros dias de cada mês, acerca das receitas e despesas de sua casa no mês anterior; e cada dois meses somente, a começar do mês de outubro, dará conta de sua conduta tanto interior como exterior e em seguida, de sua atuação como diretor, conforme os dois diretórios organizados para esse fim, e dará também conta de dois meses, um deles a começar do mês de novembro sobre o que se refere à conduta das escolas e dos Irmão em particular, e nos meses em que der contas da conduta de cada Irmão em particular, ele terá cuidado que todos os Irmãos que dirige prestem contas de suas dificuldades e de toda a sua conduta tanto interior quanto exterior, conforme a ordem do diretório organizado para esse fim" (Exemplar conservado nos Arquivos do Instituto). Estas orientações se encontram na mesma regra impressa depois do capítulo de 1734 com 292 algumas modificações pelo Revmo. Irmão Timóteu e declarada expressamente "composta pelo Sr. J. B. de La Salle, Fundador dos Irmãos das Escolas Cristãs". Elas estão plenamente conformes à mentalidade do Santo, filho de magistrado, acostumado a regulamentar todas as questões de acordo com dados de um código bem preciso. Assim, pois, de acordo com as intenções do santo Fundador, o Irmão diretor em outubro devia prestar contas de sua conduta como Superior religioso e como pessoa privada, e tinha de acrescentar suas observações sobre a regularidade de sua casa. Em novembro, devia contentar-se de falar de sua escola, mas fazia o capítulo dos Irmãos de sua comunidade. Como nesse mesmo mês, cada Irmão escrevia também ao Superior sobre sua própria conduta, era fácil para este último confrontar os testemunhos e dar a cada um os conselhos apropriados. Em dezembro e janeiro, a mesma ordem retornava e assim por diante durante inteiro. Contudo é preciso observar que cada mês, o Irmão diretor devia juntar o levantamento das receitas e despesas de sua casa. Uma única alusão a isto se encontra em nossas Cartas (nº 55) e sobre um ponto bem preciso que será comentado em seu lugar. Tal engrenagem de relacionamentos ainda não estava perfeitamente a ponto entre 1700 e 1710, como mostram as cartas conservadas, ois as respostas do Fundador, às vezes, tocam na mesma carta a temas que, conforme o plano traçado acima, deveriam ter sido tratados em correspondências 293 diferentes, mas se torna evidente que já naquela época estavam em uso os questionários. Com a prestação de contas de seu discípulo, o Santo podia dar uma resposta breve sem alusões até, ao tema tratado que seu inferior conhecia muito bem. Ora, felizmente, possuímos ainda dois exemplares contemporâneos desses questionários. A Coleção de Pequenos Tratados de 1711, cujo texto em alguns pontos, em especial as setenta primeiras páginas, são anteriores de cerca de dez anos, traz na página 31 a 37: "Os assuntos sobre os quais é preciso examinar-se para prestar contas de sua Consciência". Trata-se de vinte e um grupos de perguntas que o Irmão diretor tinha o direito de fazer na prestação de contas semanal. Bem depressa, pelo que parece, elas foram divididas em quatro semanas; um vestígio disto, muito retocado, se encontra no fim do "Recueil" atual. Depois da tabela de matérias do Recueil de 1711, pode-se ler: "DIRETÓRIO pelo qual cada Irmão deve prestar conta de sua conduta ao Irmão Superior do Instituto, no início dos meses de fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro" A denominação de "Irmão Superior" leva a datar essa nomenclatura para depois de 1717, mas seu texto quase idêntico ao dos vinte e um artigos de 1700. Algumas perguntas foram subdivididas, outras, ajuntadas. O conjunto forma trinta e um temas de prestação de contas, cuja minuciosa preci- 294 são espanta um pouco. Isto se pode julgar pelo extrato seguinte que trata da acusação diária: "X. Se se acusou todos os dias de suas faltas, se de todas, se com simplicidade e como diante de Deus, se com algumas outras disposições, quais foram, se boas, se más e quais, se tem repugnância a essa ação, se é voluntária ou não, se a seguiu, se foi muitas vezes, se foi raramente, mais ou menos quantas vezes desde sua última carta". Interessante é notar que as expressões empregadas pelo santo Fundador em suas respostas se encontram às vezes textualmente nesses artigos, o que é prova inequívoca de seu emprego habitual para essa correspondência mensal. Fora alguns parágrafos como a advertência, a acusação, o mesmo esquema podia servir para o Irmão diretor em sua prestação como pessoa privada ao Superior. Enfim, no que se refere mais especialmente aos deveres de seu cargo, relativamente a sua comunidade, à administração, à escola e à regularidade e à conduta de seus Irmãos, o diretor de uma casa tinha à sua disposição cinco outros memorandos do tempo do Revmo. Irmão Timóteu: 1º memorando: de sua conduta como Diretor (18 artigos), 2º memorando: contas das receitas e despesas da casa (7 artigos), 3º memorando: contas das escolas (3 artigos), 4º memorando: conta de cada um dos Irmãos em particular (4 artigos), 295 5º memorando: contas referentes à regularidade (6 artigos). Estes interrogatórios minuciosos englobavam o conjunto da Regra e se referiam exclusivamente a seus deveres de chefe. Por conseguinte, encontrar em alguma das cartas do Santo uma alusão precisa a um de seus pontos basta para denunciar a identidade do destinatário: um Irmão diretor; um inferior, salvo em casos excepcionais, não tinha de tratar de administração da escola ou da comunidade. Um inferior numa comunidade podia ser responsável de uma escola de quarteirão, como em Laon e Ruão. As prestações de contas nesse caso entravam no memorando nº 3. Ver a carta nº 9. Nisto grande número de expressões encontradas na correspondência do Santo se encontram no texto dos Memorandos e manifestam que sua antiguidade pelo menos substancial. Será que o conteúdo das cartas segue servilmente a ordem dos parágrafos, tal como ela se apresenta no texto impresso? Claro que não; e por várias razões. O correspondente tinha toda a liberdade de saltar os textos que não tinham interesse imediato para ele e sem dúvida também podia pôr em evidência aquilo para o qual desejava resposta. Tinha autorização de acrescentar o que lhe parecia bom e solicitar todos os conselhos desejados. As cartas de La Salle conservam portanto uma certa individualidade na apresentação e muita variedade nos temas tratados. Mas o que poderia parecer a um leitor desavisado uma seqüência desordenada de 296 frases, agora se torna um texto pensado e revelador do pensamento de nosso Pai, pois, se a matéria lhe é imposta pela carta de seu dirigido, só ele é juiz do conselho a dar, da insistência a fazer sobre este ou aquele ponto falho, ou da observação sugerida por outra carta para o maior bem de seu discípulo. Conhecendo agora o que o Santo desejava ver observado especialmente pelos Irmãos diretores, visto que os obrigava a prestar contas regulares, será mais fácil notar os pontos sobre os quais insistia, quer que a observância deles tenha sido defeituosa em seus correspondentes, quer que pessoalmente as considere de primeira importância para a boa ordem das comunidades. Silêncio. Segundo S. João Batista de La Salle, um dever importante do Irmão diretor é fazer observar o silêncio, não falar em voz alta quando há necessidade de falar. Nisto ele insiste em nove cartas, por exemplo, garantindo ao Irmão Huberto: "Por favor, cuide do silêncio em sua casa" (nº 36) ao Irmão Roberto: "Seja muito exato a falar em voz baixa na casa quando tiver de falar e que seja apenas numa verdadeira necessidade. Nunca se deve falar de longe nem de uma janela" (nº 55). a um outro diretor: " Meu caríssimo Irmão, não sei por que há tão pouca ordem em sua casa. Por acaso não seria porque não guarda o silêncio? Examine-se a esse respeito. A gente se queixa de que você fala muito alto" (nº 73). 297 Observância da regra. Por sete vezes ele volta sobre a necessidade de observar até os pontos mínimos de regularidade: "Nada atrairá tanto as bênçãos de Deus sobre você do que a fidelidade às coisas pequenas" (nº 11). "Vejo que, enquanto os Irmãos não se submeterem, não haverá ordem na casa de vocês (nº 78). "Conquiste seus Irmãos e seja firme para que não façam sua vontade própria (nº 36). Pontualidade aos exercícios. Esta regularidade interior será obtida pela grande pontualidade aos exercícios. Sete vezes ele insiste na necessidade de deixar tudo ao primeiro sinal da campainha: "Seja muito exato em deixar tudo e todas pessoas assim que o sino tocar" (nº 11). "Seja exato a deixar tudo ao primeiro sinal, ao primeiro toque do sino. Você sabe que isto é uma coisa importante numa comunidade. Deve-se largar tudo ao primeiro sinal do relógio para começar assim que terminar de tocar. É a esta fidelidade que Deus liga ordinariamente muitas graças" (nº 77). Presença do Irmão diretor. A presença do Diretor é indispensável durante os recreios e os exercícios. O santo Fundador repete isto por cinco vezes: "Peço-lhe que não falte nos recreios. É uma coisas muito importante. Entendo que você passe o recreio com o Irmão Cláudio enquanto deixa os dois jovens Irmãos sozinhos; isto é muito ruim (nº 10. "Se for preciso ir a algum lugar, envie para lá um Irmão e fique em seu lugar nos exercícios e, na próxima carta do mês, você vai me prestar conta, sem faltar, de quantas vezes se 298 tiver ausentado e por qual motivo, pois o primeiro cuidado que deve ter quem dirige é ser o primeiro em tudo (nº 35). Por isso também não lhe agrada - e o declara pelo menos cinco vezes - que o Irmão Diretor se ausente da cidade, portanto, que abandone por algum tempo sua comunidade. A solicitude pelos Irmãos de quem está encarregado deve até desaconselhar o manter correspondência com outros: "Peço-lhe que não mais vá a Ruão fora dos dias feriados; e em companhia do Irmão e direto para São Nicolau, pois fora disso você não tem nada a fazer ali" (nº 12). "Não sei por que você está escrevendo assim aos Irmãos como bem lhe parece. Isto não é prudente. Não devem existir comunicações assim por carta de uma casa a outra, entre nós. Isto não convém. Se você quiser impedi-las, não as mantenha você mesmo" (nº 41). La Salle engloba na mesma reprovação as visitas passivas e repreende os Irmãos diretores que se familiarizam com pessoas externas: "Tome cuidado para que o mundo não entre em sua casa e suporte, por amor de Deus, os desgostos que lhe fizerem os de fora" (nº 57). "Com efeito, é uma falta muito grande, meu caríssimo Irmão, o ter bebido e comido fora de casa. Louvo a Deus por fazer que você o tenha reconhecido e o ter colocado na disposição de não mais recair nela. Você entende que tudo isto é escandaloso e que é o efeito da gula ou de uma complacência covarde. Por amor de Deus, procure reparar essa falta e ser bem regular" (nº 76). Caridade. Inteiramente entregue a sua comunidade, o Irmão diretor poderá manifestar sua caridade para com eles, seu zelo no progresso deles na virtude: 299 "Proceda também com muita caridade para com seu Irmão. Quando houver alguma coisa a reclamar, você o dirá ao Irmão José, para que ele restabeleça a ordem" (nº 56). "Porque não se aplica a adquirir aquela igualdade de espírito que lhe é tão necessária? Seus Irmãos se queixam de que nunca vêem a você do mesmo jeito e dizem ordinariamente que você parece uma porta de prisão" (nº80). Direção espiritual. Graças à prestação semanal de contas conforme o Diretório, ele os guiará seguramente para Deus. Neste assunto, La Salle previne seus correspondentes contra a profusão de palavras inúteis: "Por favor, não fique tanto tempo a falar aos Irmãos, se não tomar muito cuidado, vai perder s exercícios o que não deve acontecer. Sei muito bem que se deve pedir aos Irmãos para darem conta de sua consciência e procurar aliviar-lhes as dificuldades, mas não se deve ter essas longas conversas em que muitas vezes se fala de uma quantidade de coisas exteriores, muitas vezes até prejudiciais, se não se toma cuidado. Fique atento sobre isso, pois também eu vou cuidar; este assunto é mais importante do que você pensa" (nº 37). Uniformidade na comunidade. Insistindo em seguida na perfeita uniformidade de vida que estabiliza a comunidade, o Santo quer esta ao par das autorizações particulares: "Não permita aos Irmãos lerem livros que não são piedosos. Isto não é nem conveniente, nem suportável" (nº 78). Quando se tornou inferior do Irmão Bartolomeu, nosso Pai pretende ser tratado como todos os outros: "Estou em condições de participar dos principais exercícios como os outros, de dormir no dormitório comum e de 300 comer como os outros no refeitório. Por favor, não se oponha a isso" (nº 4). Em seguida, pelo menos em três cartas dirigidas aos Irmãos diretores foram encontradas observações relativas ao espírito de fé e à obediência, ao bom exemplo, à limpeza da casa e ao horário particular do Irmão ecônomo. Depois alude por duas vezes às saídas dos Irmãos, quer que todas sejam acompanhadas e por fim trata ocasionalmente, como parece, do uso regular do dinheiro do qual o Irmão diretor somente é administrador. Como se vê, todas as observações assinaladas aqui por ordem de importância numérica das citações, não constituem um corpo de doutrina, mas os pontos fundamentais que, pela experiência, o santo Fundador julgava mais úteis a recordar a seus Irmãos diretores. O segundo memorando relativo à prestação de contas das receitas e despesas nada consta nas cartas a não ser uma proibição capital que também se encontra na Regra de 1705: "Não se deve receber a mínima coisa dos pais dos alunos nem dos alunos" (nº 55). A boa situação das escolas é na mente de nosso Fundador esta bênção divina que é o número dos alunos. No terceiro memorando encontra-se a seguinte pergunta: "Qual é o número de alunos em cada classe, se eles se ausentam ou se chegam facilmente atrasados à escola". 301 Em cinco cartas La Salle insiste sobre a necessidade de assegurar a assiduidade: "Procure que seus alunos sejam assíduos, isto é muito importante" (nº 54). "Esforce-se para não diminuir o número de seus alunos por meio de suas maneiras agressivas; (empenhe-se) para ensinarlhes bem, para que não se vão embora" (nº 55). "Estou muito contente porque você tem no momento um bom número de crianças. Tenha cuidado de o manter" (nº 11). Dever do Irmão diretor é estar à frente de sua escola no momento exato e o Irmão Dionísio recebe uma repreensão por ter estado ausente: "Você fez mal em abandonar a escola para sair atrás de uma coisa destas que me propõe e lhe peço que iso não lhe aconteça mais" (nº 12). Por fim, a qualidade de Diretor coloca em relação com os pais dos alunos. Isto não o autoriza a perder tempo. O mesmo Irmão Dionísio tem que ouvir o seguinte: "Termine em poucas palavras com as pessoas que vêm à porta da escola, a fim de não fazer perder tempo aos alunos" (nº 11). Outras observações a respeito da escola, mas agora comuns a inferiores e superiores, podem ser encontradas nesta correspondência. Voltaremos a isto no artigo consagrado aos simples irmãos mestres de escola. Da mesma forma o quarto memorando relativo à conduta pessoal do Irmão diretor com relação à Regra comum se confunde sensivelmente com o Diretório dos inferiores. Falaremos disto no comen- 302 tário das cartas a estes últimos. Todavia um anexo a este memorando se intitula: "Depois prestará contas de cada um dos Irmãos em particular". Sobre o cumprimento desta prescrição, encontra-se um eco em duas cartas dirigidas ao Irmão Huberto: "É verdade que não é muito agradável permanecer numa casa em que não há regularidade, mas é preciso que você procure que haja regularidade até que eu tenha meio de transferir os Irmãos… É verdade que o Irmão Afonso é algumas vezes difícil, mas é preciso procurar que se torne mais dócil" (nº 35). "Também não permita que o Irmão Norberto fale contra as regras nos recreios… O Irmão Quintino se queixa facilmente quando se lhe presta atenção…Você não deve ensinar a ler ao Irmão Hilário" (nº 38). O mesmo eco se encontra também em várias cartas a inferiores, onde o Santo declara: "Estão falando de que, na casa de vocês há muita liberdade. Talvez lhe estão deixando liberdade excessiva. É preciso que você tenha a mesma regularidade que tinha quando estava em Paris. Estão falando que se vai comer fora de casa. Você sabe muito bem que isto é completamente contra as regras e nunca se deve ir à casa de alguém seja quem for" (nº 49). "Principalmente tome jeito com o Irmão Martiniano, pois ele é muito conversador. Não fique a sós com ele" (nº 52). O quinto memorando enfim, que se ocupa da regularidade em geral, revela em nosso santo Fundador um cuidado muito acentuado para assegurar em suas comunidades o máximo de espírito religioso pela observância dos exercícios diários, pelo uso regular da advertência e da acusação e 303 pelo uso freqüente dos sacramentos. Considera até o passeio semanal como um meio de assegurar essa regularidade e exige de seus Diretores uma prestação de contas exata deste exercício: "Por amor de Deus, tenha muito cuidado do som do sino, isto é muito importante. "Meu caríssimo Irmão, seja fiel a deixar tudo ao primeiro toque do sino e que todos sejam exatos a bater no último sinal do relógio" (nº 54). "Quando se adverte pouco os defeitos, muitas vezes é sinal de que quase não existe regularidade na casa" (nº 36). "É preciso não omitir o passeio nos dias feriados, exceto se chover. Algumas nuvens ou outras bagatelas não devem impedir o passeio" (nº 37). "Você ou o Irmão Renato deveria tomar a quarta-feira por dia de comunhão. não entendo como ambos podem abandonar a casa no mesmo dia para ir se confessar. Ele só deveria ir se confessar quando os outros também vão e você deve procurar também ir se confessar no mesmo dia em que os outros vão. Todas essas pequenas devoções particulares não convêm" (nº 37). Esta rápida relação de temas abordados pelo Santo em sua correspondência com os Irmãos diretores de suas casas permite agora fazer-se uma idéia do ideal do Superior conforme S. João Batista de La Salle. Guarda vigilante mas paternal da regularidade em sua comunidade, responsável diante de Deus pelas almas de seus Irmãos como dos alunos que enchem sua escola, ele mesmo à frente de todos na observância e na uniformidade, assim foram os Irmãos Clemente, Dionísio, Huberto, José, Ro- 304 berto e outros de cuja correspondência utilizamos alguns extratos. Às qualidades de governo cujo valor o Fundador se esforça para aumentar por seus conselhos se juntam algumas qualidades religiosas que são comuns a eles e a seus inferiores. As cartas de S. João Batista de La Salle, sob este ponto de vista, também são reveladoras do fervor religioso que animava nossas primeira casas sob a direção do Servo de Deus. A perseverança de boa parte dos correspondentes do Santo é a garantia de sua boa vontade num gênero de vida que a seus contemporâneos era igual ao dos trapistas em generosidade e severidade (Blain I, p. 324). B. CARTAS AOS INFERIORES Sob esta nomenclatura colocamos não só os textos que se apresentam efetivamente como destinadas aos simples Irmãos, mas também as endereçadas aos Irmãos diretores, enquanto os conselhos dados nelas se referem ao cumprimento da Regra comum. É muito provável que as correspondências mensais dos inferiores não devia conter cada vez os trinta e um artigos previstos no Diretório, mas somente os que, na opinião deles, pareciam pedir uma observação de seu Pai ou um conselho apropriado. Isto explicaria por que certas cartas tiradas do manuscrito 22 parecem ter um tema principal: oração, 305 renúncia, obediência…, que contrasta com a multiplicidade das observações de pormenores consignados nas cartas autógrafas. Salientam-se também nesta correspondência algumas alusões a questões estranhas ao próprio Diretório, o que leva a supor certa amplitude diante desse formulário. Aqui, mais do que nos documentos administrativos ou mesmo nas orientações de bom governo já assinaladas, sente-se toda a afeição do santo Fundador para com seus discípulos, seu desejo intenso de vê-los fervorosos no serviço de Deus, sua compaixão para com suas fraquezas e sua condescendência verdadeiramente paternal na repetição que nos pode parecer fastidiosa, dos mesmos conselhos em termos por vezes quase idênticos. Para simplicidade da exposição, classificamos os trinta e um artigos sob oito títulos que constituem ainda agora o plano de conjunto de uma prestação de contas aos Superiores maiores, tendose em conta as disposições do decreto Quemadmodum sobre este assunto e de sua codificação no Direito Canônico. Saúde. Ela interessava a nosso santo Fundador que conhecia toda a importância dela para a função educativa: "Estou muito satisfeito, meu caríssimo Irmão, porque seu reumatismo está curado. Por favor, tenha cuidado de ser muito prudente… Você não deve conformar-se com os Irmãos quanto à comida, a menos que se sinta completamente bem" (nº 9). "Sinto muita pena em razão dos achaques que está sofrendo conforme diz, meu caríssimo Irmão. Você deveria se em- 306 penhar para encontrar algum meio de trazer remédio a isso (nº 12). "Lamento sinceramente que você não esteja bem. Mas tome cuidado de que você não esteja em parte doente de imaginação, pois você parecia sentir-se melhor em Paris do que andava dizendo" (nº 46). "Agradeço a Deus por você ter menos problemas nos olhos do que tinha. Terei cuidado que se forneça tudo por sua enfermidade" (nº 76). Abertura de alma. Quase todas as cartas aludem diretamente às dificuldades e tentações às quais os Irmãos estão expostos. Com bondade e compaixão, o bom samaritano cura as feridas e encoraja na luta diária. Descobre as tentações contra a vocação: "Parece-me, caríssimo Irmão, que você não deve preocupar-se tanto de seus pensamentos que lhe vêm acerca de sua situação, pois, quanto mais se preocupar, tanto mais sofrimento lhe causarão" (nº 10). "Esses pensamentos são tentações subtis do demônio; é preciso pensar no presente sem se embaraçar com o futuro. Esse projeto de voltar ao mundo para ali realizar obras boas levou vários monges a se perderem" (nº 39). "Parece-me que, conforme os caminhos de Deus a seu respeito e os desejos que você alimentou durante tanto tempo, Deus o chama ao estado em que se encontra. Tudo o que agora você deve fazer não é examinar, mas corresponder com fidelidade a sua vocação" (nº 101). Tranqüiliza as consciências timoratas na luta para preservar a santa virtude: "Não se atrapalhe com as tentações de impureza nem dos movimentos; procure pensar em outra coisa" (nº 34). 307 "Quando tiver imaginações sujas, se for na escola, procure ocupar-se com aquilo que está fazendo" (nº 39). Contudo não pretende que a vida religiosa seja isenta de sofrimentos e suas observações a esse respeito sempre ainda são atuais: "Nada se ganha com entregar-se à falta de coragem" (nº 54). "Você, meu caríssimo Irmão, deve evitar cuidadosamente deixar-se abater nos sofrimentos que tem. Ao contrário deve humilhar-se em vista de sua fraqueza e recorrer a Deus em quem e por quem pode tudo. Muita coragem, um pouco de generosidade lhe fará vencer todos os seus sofrimentos. Sirvase dos tempos de fervor para se animar... Não é razoável nem inteligente perturbar a cabeça por pouca coisa" (nº 96). Por fim é preciso notar que La Salle pretende deixar a Deus a alta direção de seus discípulos e sempre tem muita atenção para as inspirações da graça: "Não basta ter o pensamento de ir a Deus o mais perfeitamente que lhe for possível; é preciso fazê-lo de fato, e só se o faz de fato na medida em que cada um se faça violência" (nº 10). "Você sabe muito bem, meu caríssimo Irmão, como é importante seguir as inspirações que Deus lhe dá. Elas são preciosas e Deus ordinariamente liga suas graças a elas. Ele não pretende concedê-las em vão. E sabe vingar-se quando não se é fiel a elas. Portanto, as inspirações que Deus lhe dá são uma coisa preciosa e somente comunica suas graças na medida em que somos fiéis em segui-las" (nº 89). Renúncia. Amor às mortificações, aceitação das penitências impostas, busca das humilhações, das rejeições e dos desprezos, advertência dos 308 defeitos, acusação diária, estes são os temas principais que o Diretório enumera nos artigos 6 a 10. La Salle encoraja seus discípulos na luta espiritual não somente pelo admirável exemplo de sua vida, mas também por sua correspondência: "É de grande importância para você, se quiser tornar-se interior, ser muito mortificado de espírito e de olhos. É quase impossível que você progrida muito na virtude sem estas duas espécies de mortificações" (nº 9). "Na advertência dos defeitos, você não deve considerar o motivo dos outros; é preciso considerar o bem que disso resulta" (nº 11). "Você está vendo bem que trabalhar para morrer a si mesmo e à suas inclinações é um bem para você" (nº 12). "Se você não se aplicar à mortificação do espírito e dos sentidos, insensivelmente decairá da virtude" (nº 92). "Você adquirirá muitas graças e sufocará a natureza ao vencer as repugnâncias que tem às humilhações" (nº 92). Obediência. Três artigos no Diretório são consagrados a esta virtude e à atitude de deferência filial que o Irmão deve ter perante a autoridade. Nosso santo Fundador, grande devoto da obediência, retorna com insistência sobre a submissão em quase todas as suas cartas: "Anime-se bastante a ser indiferente na obediência. Esta é uma das coisas que lhe alcançará o maior número de graças de Deus" nº 9). "Meu caríssimo Irmão, para ter uma verdadeira obediência é preciso estar pronto a obedecer a todos os superiores. A dificuldade que você encontra nisso vem de você não considerar a Deus neles" (nº 12). 309 "Deixe-se guiar pela obediência e verá que Deus o abençoará" (nº 47). "Fique certo que, quanto menos submissão tiver, tanto menos gosto pela prática de seu estado notará em si" (nº 92). Exercícios de comunidade. Em seqüência lógica que vai desde a estima para com as regras, a prática do silêncio, o recolhimento, a leitura espiritual, o exame particular, até o exercício da meditação, a expansão da vida interior, são João Batista de La Salle dirige seus discípulos na ascese religiosa que o levará à posse de Deus, único Bem. Seguem algumas reflexões provocadas pelas humildes confissões de seus correspondentes. Nisto ele se mostra encorajador, compassivo, enérgico quando o bem de seu discípulo o exige: "É uma boa prática ler muitas vezes as regras a fim de ser absolutamente fiel a elas. Você sabe que a observância delas lhe alcançará a santificação" (nº 9). "Portanto, seja fiel em cumprir bem suas regras e Deus o abençoará e o cumulará com suas graças" (nº 49). "Por favor, tome cuidado para ser bem exato ao silêncio. Esta é uma das coisas importantes numa comunidade para a tornar regular" (nº 52). "Entre muitas vezes dentro de si mesmo para renovar e fortificar em si a lembrança da presença de Deus. Quanto mais você procurar conservá-la, tanto mais facilidade terá para fazer bem suas ações e a cumprir bem seus deveres" (nº 1). "Aplique-se muito à presença de Deus, meu caríssimo Irmão. Considere esta prática como sua maior felicidade" (nº 90). "Tenha sempre alguma intenção de Deus em suas ações, isto é importante para realizá-las de maneira cristã" (nº 34). 310 "Parece, meu caríssimo Irmão, que você faz seus exercícios com muito pouca aplicação e muito pouco amor. Contudo, você não atrairá as graças de Deus sobre si, a não ser fazendo-os com amor e da melhor maneira que lhe for possível" (nº 45). "Evite ler por curiosidade. A leitura espiritual não é feita para isso, ela deve dispor à meditação" (nº 54). "Sua leitura espiritual mesmo contribuirá muito para se tornar muito recolhido e para o seu progresso na virtude" (nº 72). "Em seu exame particular, tome somente um defeito por vez e isto vários dias consecutivos" (nº 9). "Eu preciso trabalhar com você e que você procure viver de modo diferente do que está vivendo e principalmente precisa melhorar na meditação e na assiduidade a seus exercícios, pois é nisto que você deve trabalhar mais e em que você não tem bastante cuidado" (nº 35). "Meu caríssimo Irmão, não sei por que você diz que se faça antes cinco quartos de hora de meditação em lugar de uma hora. Acho que a meditação se faz e se acaba em toda parte da mesma maneira. Você está inquieto porque a meditação é longa demais; sinal de que lhe tem pouco amor. Ah! Meu caríssimo Irmão, ela é o sustento da alma; será que você quereria negligenciá-lo?" (nº 86). Sacramentos. A recepção freqüente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, como a assistência recolhida à santa missa retornam muitas vezes nas caras de nosso Santo. O Diretório revela a esse respeito algumas preocupações do Fundador sobre a escolha de um bom confessor, sobre a regularidade um pouco surpreendente para nosso tempo, na recepção da santa comunhão: 311 "Muito me alegro porque você tem um bom confessor e que ele lhe dá conselhos muito bons. Procure tirar proveito disso enquanto o tiver" (nº 9). "Por que é que teme os dias de confissão? Deve, pelo contrário, desejá-los" (nº 39). "Meu caríssimo Irmão, você não me disse por que deixou de comungar; você me deveria ter dito o motivo" (nº 55). " Não se abstenha da comunhão, ela lhe é necessária" (nº 58). "A confissão e a comunhão são o que o sustentará em suas dificuldades e você deve considerar como grande felicidade comungar muitas vezes. Você deve aplicar-se a corrigir seus defeitos, mas se não comungasse, seria ainda pior" (nº 95). "Siga o método na santa Missa" (nº 69). "Procure ficar bem aplicado durante a santa missa, meu caríssimo Irmão. As distrações em que uma pessoa se mantém, fazem com que não se a entende. Aplique-se nela conforme o método que é prescrito na Sociedade, isto é, de maneira interior. Este é o melhor para você. Utilize-o com sentimentos de humilhação" (nº 74). Caridade. Como na santificação do indivíduo, La Salle trabalha na santificação da comunidade pelo exercício da caridade e da supressão de qualquer exclusivismo: "Esforce-se para conservar essa graça e faça de modo que haja entre vocês muita caridade para procurar a salvação do próximo e que tudo se fala com honestidade e boas maneiras como entre Irmãos que devem amar-se mutuamente e suportar os defeitos uns dos outros" (nº 67). "Cuide de nunca discutir com quem quer que seja, visto que isso é capaz de ofender a caridade que deve ser grande entre vocês" (nº 73). 312 "Você tem razão que as afeições particulares produzem um grande mal a uma comunidade" (nº 11). Dever de estado. Se, com os Irmãos diretores, o santo Fundador se limitou às questões de administração escolar: assiduidade, mudança de classe, visitas, etc… com os inferiores entra em detalhes das obrigações do dever de estado e as numerosas alusões que faz nesta matéria mostram bem a importância que ligava a isso. Não se pense, contudo, que se encontrem nas cartas longos comentários sobre a arte de ensinar, nem sequer sobre os pequenos procederes da profissão. Com efeito, a primeira edição do Guia das Escolas data de 1720, um ano depois da morte do Santo. O Irmão Timóteu fez atribuir a idéia, o plano e até a maior parte dele a São João Batista de La Salle: "Redigiu por escrito tudo aquilo que julgou útil para atingir essa finalidade, escrevendo um GUIA DA ESCOLA que ele vos exortou a ler e reler para nele aprenderdes o que vos fosse mais útil" (Guia, Carta aos Irmãos). Alguns textos manuscritos circulavam em vida de La Salle. A Biblioteca Nacional de Paris possui um exemplar com data de 1706; os Arquivos Departamentais de Vaucluse guardam um extrato importante intitulado: "Regra do formador de novos mestres". Uma carta do Irmão Ponce ao Irmão Matias nos revelam que todas as casas, talvez todos os Irmãos, tinham então alguma texto a sua disposição: 313 "Traga também a regra da escola manuscrita em letra miúda, porque delas há duas, a que peço trazer é a que Irmão Clemente copiou em letra bem miúda. Irmão Antônio saberá de qual se trata" (nº 51A). O texto da regra de 1705 aliás é formal: "Ensinarão também a ortografia e a aritmética, tudo como está expresso e conforme a ordem que está prescrita na primeira parte do guia das Escolas" (Regra manuscrita). Era portanto inútil para o santo Fundador fazer de suas cartas de direção algum tratado de pedagogia "ex professo". Era suficiente recordar, quando preciso, por meio de uma observação apropriada, por um conselho de experiência, tal ou qual manifestação de desordem que a prestação de contas de seu correspondente ou uma alusão mais direta de seu Irmão diretor deixavam adivinhar. A isto se reduz praticamente a parte propriamente pedagógica nas cartas do Santo. Mas vale a pena salientá-la, pois ela permite sublinhar os temas essenciais sobre os quais nosso Pai insiste junto de seus discípulos, tão pouco preparados, por vezes, por sua educação pessoal para conduzir uma classe. Também será muito consolador verificar que para La Salle, o exercício da escola é um verdadeiro meio de santificação que ele coloca no mesmo plano que os exercícios religiosos. Encontra-se nelas uma confirmação do que diz muitas vezes o texto dos Pequenos Tratados: "Não façais nenhuma diferença entre os negócios própris de vosso estado e o negócio da vossa salvação e da vossa perfeição. Ficai persuadidos de que nuca operareis melhr vossa salvação nem adquirireis tanta perfeição do que desem- 314 penhando-vos bem dos deveres do vosso estado, contanto que o façais em vista da ordem de Deus" (PT, p. 183 - ed. Bras.). São João Batista de La Salle ousou dizer ao Irmão Roberto: "É preciso antes perder algum exercício do que tomar o tempo da escola para se ocupar das coisas necessárias, pois não se deve desperdiçar um momento da escola" (nº 55). Contudo é preciso ressaltar que esta orientação do Santo foi dirigida a um discípulo cuja seriedade ele bem conhecia. Uma carta de direção em que respondia a um caso individual não poderia ser invocada como regra geral de procedimento. Aliás, a um outro discípulo, Irmão Matias, mais levado à atividade profissional do que à ascese religiosa, o Santo vai escrever: "É preciso não só cumprir bem seu dever na escola, mas também nos demais exercícios, pois a escola sem os exercícios não anda bem" (nº 49). Submissão às prescrições do Guia. La Salle pede a seus discípulos, em primeiro lugar que sejam exatos observantes das regras prescritas para a escola, regras que seus correspondentes conhecem bem: "Seja exato em corrigi-los, mais ainda os ignorantes do que os demais" (nº 11). "Tenha sempre uma atitude séria na escola, daí depende muito a ordem da escola" (nº 34). "Tenha sempre uma atitude séria na escola, daí depende muito a ordem da escola" (nº 39). 315 "Tenha muita vigilância sobre as crianças, pois só há ordem na escola na medida em que se vigia sobre os alunos e isto é o que os faz progredir" (nº 58). Ensino profano e religioso. Insiste no dever de fazer os alunos progredirem na leitura e na escrita, mas declara que o cuidado de lhes procurar a piedade é ainda mais necessário: "Está muito bom que você procure o progresso dos alunos para conseguir um maior número, mas também para cumprir seu dever" (nº 56). "Tome cuidado para que seus alunos rezem com piedade" (nº 69). "Sua aplicação durante a missa dos alunos deve ser vigiar sobre eles" (nº 56). "Tenha cuidado, por favor, que seja muito modestos e muito piedosos na igreja e na oração, esta é uma das primeiras coisas que você lhes deve procurar" (nº 58). "Você fará bem em se aplicar em dar instruções, meu caríssimo Irmão. Para dá-las bem é preciso começar com ousadia e fazê-las mal, pois no começo ninguém é hábil em nada" (nº 100). Repressão. La Salle trata igualmente em várias cartas do modo de repressão nas escolas. Os castigos corporais então estavam em uso corrente e até sancionado pelas mais altas autoridades. São João Batista de La Salle parece ter-se oposto, por princípio, a esta maneira de educar. A regra de 1705 é explícita neste assunto: "Tomarão um cuidado muito particular de nunca tocar nem bater nenhum aluno com a mão ou com o pé, e de não os repelir nem empurrar rudemente" (Regra manuscrita) 316 A fraqueza humana obrigou o santo Fundador a retomar várias vezes este tema da igualdade de humor em suas cartas: "Evite cuidadosamente bater os alunos com a mão. Você sabe que isto é uma coisa proibida pelas regras" nº 9). "É uma vergonha chamá-los com apelido injurioso" (nº 11). "Não será sua impaciência que os fará corrigir; será a vigilância e a boa conduta de você" (nº 58). "Não é à força de golpes que se atraem as pessoas para bem nem para Deus. Também não use um chicote. Quanto às varas, use-as somente em caso de necessidade. Coloque-as de novo em seu lugar depois de a ter usado para que não lhe aconteça servir-se delas em seus movimentos de impaciência" (nº 98). "Não faça também gritar na escola. Não dê a eles nem às mulheres, motivo de queixa. Para isso é preciso tomar meios inteligentes, pois, se você os mandar para fora por gritarem, os outros também vão gritar para que também eles sejam mandados para fora" (nº 99). Estas poucas citações não esgotam o conteúdo das cartas mas bastam para despertar o interesse religioso e profissional. Sua leitura amorosa e até sua meditação agradecida permitirá aos discípulos de um grande Santo aproximarem-se um pouco mais de seu pensamento e de seu coração e por conseguinte comungarem melhor o ideal religioso de educador de que nosso Fundador é precursor na santa Igreja. 317 C. CARTAS AO IRMÃO GABRIEL DROLIN As vinte cartas do Santo a seu discípulo na longínqua Roma devem ser classificadas à parte em razão de sua fisionomia própria, que lhes dá um interesse especial sob o ponto de vista da direção espiritual. O objetivo do Fundador tinha estado na origem de constituir imediatamente uma comunidade na Cidade eterna, comunidade reduzida sem dúvida à mais simples expressão, porque estaria composta somente de dois Irmãos: os irmãos Gabriel e Gerardo, mas o começo estaria garantido. Se o irmão Gerardo tivesse ficado em Roma, teriam tido algumas cartas quanto à direção semelhantes às que acabam de ser apresentadas. Teria havido Diretor e inferior, exercícios comunitários, suporte fraterno, escola, etc. Mas a Providência ao permitir a falta de coragem do antigo trapista e seu retorno à França, modificou profundamente a situação do Irmão Gabriel. Na impossibilidade de fornecer um substituto e em razão mesmo das dificuldades materiais encontradas por seu discípulo em Roma, o santo Fundador viu-se obrigado a deixá-lo sozinho por longos anos. O desejo de acabar com uma situação que julgava anormal e perigosa contudo não lhe faltava. Pelo menos doze vezes volta em suas cartas sobre sua intenção de enviar um auxiliar ao irmão isolado para assegurar essa vida comunitária que considera como essencial. Mas como era um homem sobrena- 318 tural, aceita as disposições divinas, fica esperando a hora e procura dirigir seu discípulo na caminhada especial permitida por Deus. Ele descobre nisso uma "disposição da Providência" segundo a bela expressão, várias vezes saída de sua pena. Esta direção individual que La Salle quis assegurar a seu discípulo distante tinha se tornado tanto mais difícil porque a única ligação entre eles era a correspondência muito espaçada devido à distância. As condições precárias de vida em que o Irmão Gabriel teve de se debater entre 1702 e 1712 não podiam ser bem compreendidas em Paris e isto explica certas expressões do Santo que suspeitava de negligência lá onde de fato só havia pobreza e abandono. O que o santo Fundador deseja antes de tudo é que seu discípulo seja fiel em escrever-lhe regularmente, já que essa correspondência era o sinal exterior de sua fidelidade à comunidade e a seus votos: "Peço-lhe que, no futuro, me escreva com mais freqüência, e parece-me conveniente que você o fizesse cada mês" (nº 18). "O correio vai todas as semanas. Por que você não me escreve? Por que passou cinco semanas sem me escrever?" (nº 23). Dever de estado. Pretende que o Irmão Gabriel se aproxime o máximo possível da vida de seu estado, isto é, que dê aula a crianças pobres. Isto explica sua insistência reiterada durante os primeiros anos: 319 "Direi que não entendo por que você hesita tanto, depois de todas as minhas cartas" (nº 13). "Há cerca de dois anos que você está em Roma. É preciso resolver-se a fazer alguma coisa e viver de acordo com sua vocação" (nº 15). "Você não deve querer economizar dinheiro ao fazer coisas totalmente contrárias a seu Instituto" (nº 14). Enquanto seu correspondente não lhe tiver escrito de que se ocupa de crianças pobres, o Santo lhe relembra seu dever, mas que alegria estoura quando recebe a carta de 27 de abril de 1705: "Ela me causou grande alegria tanto porque havia muito não tinha recebido notícias suas, como porque me comunicou que, enfim, está exercendo a função de seu estado" (nº 17). Isto é para ele uma garantia de perseverança na vocação, por isso volta sem cessar a isso e insiste no catecismo a qualquer preço: "Não gosto que nossos Irmãos dêem catecismo na igreja; contudo, se é proibido dá-lo na própria escola, é melhor dá-lo na igreja do que não dá-lo de nenhuma forma" (nº 18). "e me consolo muito porque sempre tem um bom número de alunos. Mas será que nenhum italiano lhe pergunta sobre a gratuidade de sua escola?" (nº 25). "Seria bom que você fosse dar o catecismo aos pobres franceses dos dois hospitais de que me falou; neste assunto seria conveniente continuar essa prática" (nº 31). Abandono à Providência. Esta era a virtude dominante do Santo de acordo com a opinião de seus contemporâneos: "O Sr. Baüin deu a entender que o que mais admirava era o perfeito abandono (de La Salle) à divina Providência e sua resignação sem reserva diante do bel prazer de Deus; estava 320 disposto a encarar com olhar tranqüilo o desmoronamento de sua obra" (Blain I, p. 330). Na 4ª pare de seu trabalho, Blain volta nos seguintes termos: "Cremos ter o direito de dizer que o abandono à divina Providência e o desapego de todas as coisas são o caráter próprio do Sr. de La Salle. Neste juízo conformamo-nos ao de uma pessoa santa que, ao se lhe rogar pusesse por escrito o que sabia das virtudes do Fundador dos Irmãos, respondeu que, embora o Servo de Deus tenha sido modelo perfeito e exemplo sempre eloqüente de todas as virtudes, seu desapego de todas as coisas e sua heróica confiança em Deus pareciam ser seu caráter próprio" (Blain II, p. 255). Essa atitude de alma se reflete evidentemente na correspondência do Santo com seu discípulo que por sua vez passa por dificuldades de fundação: suas expressões são atenuadas todavia. Ora, parece contar muito com um homem e sua iniciativa, principalmente nos inícios: "Quanto a mim, não posso urgi-lo mais. É você quem deveria me urgir a mim, e se você não tem muita diligência nessa obra, coisa que não está manifestando, você nunca conseguirá nada" (nº 13). "Não sei se é porque você tem medo de se abandonar demasiado à Providência; não pense que eu o abandonarei" (nº 15). Outra vez ele o previne contra toda iniciativa prematura: "Talvez seria melhor que você pedisse muito a Deus e que aguardasse uma ocasião mais favorável e que esta viesse como por si mesma" (nº 17). "Sei bem que é preferível viver em maior aperto, desprendido do mundo e alegro-me muito ao ver você nesta disposi- 321 ção; mas, quando se está nela, é preciso abandonar-se completamente à Providência; e quando não se tem bastante virtude nem bastante fé para tanto, é preciso tomar os meios antes de agir, do contrário não se trabalha cristã nem sensatamente" (nº 19). Por isso, que edificação a nossa quando lemos a esse respeito a expressão de uma das raras expansões da alma de nosso Pai: "Quanto a mim, não gosto de me lançar para frente em coisa alguma e tampouco me lançarei em Roma mais do que em outra parte. É preciso que primeiro a Providência se lance e estou contente. Quando parece que só empreendo por suas ordens, não tenho de me censurar, ao passo que, quando tomo iniciativa, sempre sou eu e não espero grandes resultados, nem Deus, em geral, derrama uma grande bênção sobre isso" nº 18). Humildade, confiança, abandono pode-se entrever essas virtudes latentes que fizeram a heroicidade da vida de La Salle. Fuga do mundo e retiro. A seu discípulo, forçado pelas circunstâncias a freqüentar a sociedade francesa de Roma, dá os conselhos mais pertinentes em vista de sua situação: "Examine-se cuidadosamente se não se acostumou tanto ao espírito e às atitudes mundanos, que lhe devem causar horror, de modo que mais tarde tenha dificuldade em deixálos" (nº 16). "Procure, por favor, abandonar esse espírito mundano para o qual tem bastante inclinação, entregando-se à oração e aos exercícios interiores e freqüentando pouco o mundo. Procurando ter, quanto possível, o espírito de seu Instituto, atrairá sobre si as graças de Deus com abundância" (nº 17). 322 "Lamento muito que você tenha sido obrigado a comunicar tanto com o mundo. Não é difícil entender que sua piedade tenha baixado por isso. Por favor, retome resolutamente a oração" (nº 28). O retiro permitirá ao Irmão Gabriel recolher-se e entregar-se à oração: "O que quero fazer é enviar um Irmão no fim deste verão, pois desejo ansiosamente procurar a você mais lazer e mais possibilidade para se aplicar à oração" (nº 26). "Fiquei contente porque você tenha feito um retiro para procurar retomar o espírito de seu estado com maior abundância e o espírito de oração. Vou rezar para que Deus lho conceda" (nº 27). Observações diversas. As cartas de seu correspondente romano esclarecem o Santo acerca de diferentes aspectos da situação daquele; alguns conselhos apropriados chegam sem tardar ao Irmão Gabriel: nos Estados Pontifícios é proibido ler a Bíblia em língua vulgar e sem dúvida, o Irmão pediu a seu Superior a autorização de a ler em latim. A isso se opõe um ponto da regra: "Até mesmo não será permitido a ninguém ler algum livro em latim, nem dizer uma palavra sequer de latim sem uma necessidade absoluta e indispensável por ordem do Irmão diretor" (Regra manuscrita de 1705). La Salle opõe a esta alegação o exemplo de uma francesa: "A Sra. Théodon diz que vai levar um Novo Testamento em língua vulgar. Você poderia ter um tão bem quanto ela. Se ela não partir tão cedo, se você quiser, eu entregarei a ela um para você, se ainda não tem. Peço-lhe não comprar nem pretender obter um em latim" (nº 14). 323 Enfim, preocupado com a uniformidade em sua Congregação, o Santo censura gentilmente o pobre exilado por certas licenças que ele se permitiu a respeito do vestir: "Será que você mudou alguma coisa em seu hábito ou em seu exterior e em quê? Explique-me isso" (nº 28). "É verdade que você usa uma batina e um manto longos, como me contou o Sr. Ricordeau? Conforme estão dizendo também, você usa um chapéu muito pequeno" (nº 31). Essas alusões que poderíamos multiplicar, mostram a solicitude do Fundador para com este membro distante, deão de sua Congregação para com quem as famosas promessas de 1691 o mantêm ligado. Sob esta direção espiritual muito flexível, em que o Pai se contenta com perguntar o que seu discípulo pode cumprir, em que lhe relembra simples mas constantemente os deveres essenciais da vida religiosa em que fez votos perpétuos, nada há que de artificial nem de político. A melhor recompensa que obteve na terra foi a perseverança do Irmão, hesitante por vezes, pois o coirmão esperado nunca vinha, mas sempre com coragem e por fim vencedor. O Santo podia escrever-lhe, depois de um penoso silêncio de quatro anos: "Asseguro-lhe que sinto muita ternura e afeição para com você e que rezo muitas vezes por você… Fiquei muito feliz com a sua última, e a segurança de seu afeto e de seu bom coração me causaram muita satisfação" (nº 32). A boa vontade do discípulo, a oração e a afeição sobrenatural do Pai acabaram por vencer 324 todas as dificuldades e esta fundação romana é a única que atualmente ainda tem ligações diretas com a origem de nossa sociedade. As poucas citações podem ser suficientes para fazer apreciar todo o interesse da correspondência entre o Santo e o Irmão Gabriel. Ela não só tem um valor histórico incontestável, mas as orientações dadas por La Salle, ao revelarem as idéiasforça de sua espiritualidade, permitem fazer uma idéia mais exata da personalidade humana e sobrenatural forte de nosso santo Fundador. D. CARTAS A PESSOAS RELIGIOSAS Se o cônego Blain não nos tivesse conservado uma quinzena de cartas de direção a pessoas religiosas, fora do Instituto, nos veríamos reduzidos a conjeturas sobre um aspecto muito particular da influência de nosso santo Fundador. Como estamos acostumados, com razão aliás, a agarrá-lo só para nós, pode nos parecer estranho que S. João Batista de La Salle tenha tido outras ocupações além da fundação de suas comunidades ou a direção espiritual de seus Irmãos. Contudo é preciso render-nos à evidência dos textos e admitir que a atividade do Servo de Deus ultrapassa o círculo das escolas. Como todos os santos sacerdotes do século 17, ele foi cioso da honra sacerdotal e um estudo sobre seu apostolado junto dos ministros do Senhor, esquematizado em Blain I, seria revelador 325 neste assunto e colocaria nosso Fundador em bom lugar na série dos grandes apóstolos do clero. Sejanos suficiente aqui citar dois textos de seu biógrafo e algumas frases de uma carta a um cônego, seu amigo: "Uma ocasião em que o jovem ministro do Senhor fez rebentar seu zelo foi contra um eclesiástico de mau exemplo, que provocara a crítica dos mundanos e fornecera abundante assunto para mexericos a essa gente ociosa, cuja profissão é falar mal dos outros e nunca tem a coragem de decidir em favor da devoção. Depois de ter procurado por todos os modos imagináveis de bondade para o fazer entrar em si a esse homem que sempre estava fora por uma dissipação… ,o sr. de La Salle, por fim armou seu zelo e fez sentir ao culpado os aguilhões da caridade, mas em segredo, por receio de o exasperar e escandalizar. Como a repreensão secreta não fosse mais eficaz do que os conselhos, o piedoso cônego pensou que era preciso torná-lo público para evitar a ocasião de escândalo, se não podia converter o escandaloso. Se não teve bom resultado neste segundo intento, conseguiu-o no primeiro, porque repreendeu o incorrigível em público e com tanta veemência que o obrigou a mudar de cidade pois não queria mudar de vida" (Blain I, p. 133). "Um… pecador também lhe deve a conversão a Deus. Ele saiu do exército e tinha sido soldado embora fosse subdiácono. Como não era para recitar o Ofício divino, mas para se descarregar dele e levar uma vida devassa que tinha tomado essa decisão, esqueceu seu breviário esquecendo o que ele era e o que devia a Deus e à Igreja, para não mais se lembrar que a liberdade que se tomava de ser mau na impunidade. Por este caráter de impiedade pode-se julgar o trabalho que custou ao Sr. de La Salle a conversão deste profano desertor do estado eclesiástico; mas por fim conseguiu e a morte que não estava longe, pareceu selar e assegurar a conversão; assim faleceu em Rethel em santas disposições" (Blain II, p. 345). 326 A um de seus amigos, sem dúvida um cônego de Reims, o Santo escreve: "Permita-me que lhe manifeste uma dor que tenho a seu respeito, porque esteve metido no interdito por seus confrades e porque se livrou dele através de juízes seculares e assim considerou a estes como superiores nas funções eclesiásticas. …… Na verdade, o senhor que tem conhecimento sobre o seu estado e não é indiferente acerca do que se refere a ele, como é que pode recorrer a uma jurisdição puramente leiga e secular?" (nº 118) Mas seu zelo sacerdotal como sua ciência teológica devia tornar-se útil para diversas almas de boa vontade, sedentas de verdade e de direção sobrenatural. Honrado com a confiança dos srs. Bispos que sempre lhe concederam poderes muito extensos para a confissão, ele foi por algum tempo confessor e diretor titular de pelo menos várias comunidades religiosas e de senhoras da nobreza. Sem dúvida, assegura seu biógrafo, isto foi contra sua vontade e a passagem quase não merece ser citada: "Em Reims unia a direção da Comunidade das filhas órfãs com uma quantidade de senhoras de notória piedade que vinham de tempos em tempos visitá-lo na casa dos Irmãos para lhe darem conta de sua consciência, mas satisfeitas com os sábios conselhos dele, voltavam pesarosas por não terem conseguido a bênção dele, embora se tivessem lançado de joelhos no limiar da porta com muita humildade e suplicassem que lhes lhe concedesse uma graça ligada a seu caráter. Nunca puderam dobrá-lo neste ponto…por pretexto de sua recusa dizia que só dava sua bênção no altar. 327 …Embora somente tenha aceito a direção de pequeno número de almas de elite, entre as quais sua própria irmã, e havia um grande número que o teriam gostado… É sabido que as devotas exigem muito tempo e bastante precaução da parte de um sacerdote para isso; elas lhe roubam muito tempo a pesar de sua atenção. As mulheres têm a ciência de dizer pouca coisa em muitas palavras e sempre têm alguma coisa a dizer quando encontram alguém disposto a escutá-las. Em geral só estão contentes com um Diretor quando este as deixa falar muito e converse tanto quanto elas. Há poucas que querem receber um com conselho em poucas palavras. Por isso, um homem cioso de seu tempo e muito ocupado é do agrado das mulheres piedosas que, com muito lazer, têm o talento de entreter longo tempo um confessor e que são mais curiosas de obter informações sobre a virtude do que praticar o que sabem… Persuadido de que tinha ordinariamente pouco a ganhar e muito tempo a perder na direção das devotas, sentindo também por experiência que a direção de uma só o ocupava mais do que a de vários de seus Irmãos, concluiu que devia deixar esse ministério para pessoas que sentisse atrativo para tanto e que têm mais tempo e que não têm nada de melhor a fazer" (Blain I, pp. 272 e 273). De fato Blain somente nos conservou alguns extratos de quatro cartas (nº 130 a 133) endereçadas à mesma pessoa piedosa. É preciso supor contudo que esta não foi a única correspondente do Santo. As religiosas pelo menos tiveram melhor audiência de nosso Fundador. Onze cartas ou fragmentos de cartas (nº 119 a 129) chegaram até nós através dos biógrafos do homem de Deus. entre as destinatárias houve sem dúvida as Filhas da Cruz, as Dominicanas de Paris, várias das quais se colocaram sob sua direção desde 1703. Uma religiosa da Congregação de Nossa Senhora de Reims, irmã 328 Francisca da Santa Inês, cujo nome civil era Jeanne-Remiette de La Salle, sobrinha do Santo, recebeu, por ocasião de sua profissão religiosa, a 13 de junho de 1718, a carta tão paternal e tão edificante que Blain cita por extenso. Belo testemunho de humildade, obediência, desapego e também de santa afeição familiar que nosso Santo nos dá no declínio de sua vida: "Eu gostaria muito poder assistir a ele, mas, duas razões me impedem. A primeira é que sou aqui o único sacerdote para ouvir a confissão de cinqüenta pessoas e temos dificuldade para ter um outro para esta casa porque ela está afastada da cidade, o que faz que atualmente não a posso abandonar. A segunda é que, como tenho um Superior, não sou dono de mim mesmo" (nº 120). A leitura das cartas de direção dirigidas pelo santo Fundador às religiosas pode desnortear à primeira vista. Nas cartas dirigidas aos Irmãos, seu estilo é direto e despojado de qualquer preocupação literária; mas às religiosas, ao contrário, escreve frases buriladas, cheias de subordinadas explicativas, as idéias sucedem-se em ordem e lógica, em suma, parece que estamos diante de um outro temperamento, outra caneta. Esta primeira impressão, em tempos passados, levou os biógrafos do Santo a lançar suspeita sobre os textos impressos na obra de Blain: "Achei que não era meu dever trazer nesta história diversas cartas, máximas e regulamentos de vida que Blain atribui ao Venerável, pois a autenticidade desses diversos fragmentos não me pareceu bastante comprovada…" (Silvan: Vida do Venerável… 1852). 329 Se o Revmo. Irmão Felipe em seu livro "Pensamentos do Venerável de La Salle" cita largamente passagens, teve o cuidado de modificar levemente o texto para suprimir dele toda alusão às destinatárias. Mas a leitura atenta desses documentos confirma, em nossa opinião, sua atribuição a S. João Batista de La Salle, pois os temas tratados são os que ele tinha muito a peito e o mesmo estilo se encontra em suas Meditações e em suas outras obras. É preciso atentar também que estas catas de direção às religiosas não podiam ter o caráter de uma resposta à prestação de contas mensal de seus inferiores. A regra dos mosteiros era diferente e diferentes eram as necessidades espirituais das monjas. O fato de La Salle se tenha adaptado perfeitamente a essa forma de direção é normal num sacerdote tão bem dotado humanamente e tão aberto à influência da graça. Assim ele fala da caridade numa comunidade: "A aversão contra o próximo e o ressentimento das injúrias impedem que nossas orações cheguem a Deus. Se nossos corações estão divididos pela cólera e o ódio, é impossível conservar a união com Jesus Cristo, e assim, ao deixar de ser membro de seu corpo místico, não se pode querer que o Pai nos escute, porque não ele não reconhece em nós o Espírito de seu Filho.… Procure ser cordial para com todos, falar e responder com muita gentileza e deferência, propondo-se a maneira de falar e de responder de Nosso Senhor, quando mais o maltratavam. …Quando lhe acontecer que contradiz alguém ou declara suas opiniões em contra do próximo, quando o perceber ao falar, você deve ficar calado e, se lhe per- 330 guntarem o motivo, deve dizer que errou ao falar assim" (nº 119). A respeito da observância religiosa, declara: "Considere-se e faça tudo o que faria uma noviça fervorosa diante das observâncias regulares; com que cuidado, com que ardor e amor não observa ela até as menores coisas e como ela presta atenção para não omitir nenhuma? É isso o que você deve ser e o que talvez não seja. Pense nisso, por favor. …Aconselho-lhe que em tudo se oriente pelas prescrições de suas regras, como a vontade de Deus e não para agradar aos homens, pois entenda que ter cuidado para que os homens não lhe tenham nada a censurar e não se importar de Deus, seria ser farisaico, hipócrita e não cristão. …Por fim, querida irmã, observe sua regra e seu regulamento diário. Faça de um e de outro seu essencial. Isto valerá mais do que fazer milagres" (nº 121). O espírito de fé, a obediência são para ele os meios indispensáveis de santificação: "É natural fazer sem dificuldade o que está de acordo com nossa opinião, e fazer isto unicamente por inclinação não é obedecer. Mas fazer o que nos é mandado sem discutir, por mais contrário que seja a nossa opinião ou a nossas inclinações, isto é a obediência que Deus pede de nós. É preciso agir por espírito de fé na obediência para que ela seja pura. …Assim que alguém se põe a raciocinar, já não há mais obediência" (nº 124). Quando fala do abandono a Deus sua virtude dominante segundo seus contemporâneos, tornase inexaurível: "Lance-se nos braços de Deus e de sua santa Mãe para ser sustentada em sua grande fraqueza, não de maneira sensível e consoladora, mas como Deus quiser e como você o merece. Apóie suas fraquezas sobre Jesus Cristo e confie-se em sua bondade 331 Por favor, mantenha-se firmemente pregada na Cruz de Jesus Cristo, não se despregue dela Sejamos miseráveis com satisfação porque Deus está sempre permanece em sua felicidade. Isto nos deve acalmar. Arrastemos nossa pobre vida por tanto tempo quanto ele quiser, sem nos queixar a ninguém, nem mesmo a aquele que no-la pode tirar. Procuremos unicamente sua vontade" (nº 122). Oração e silêncio andam a par em sua espiritualidade. Os conselhos que dá são preciosa lembrança: "A oração é preferível a tudo. Depois de seu ofício divino, ela deve ser para você um ponto essencial de regra. A oração deve ser seu principal apoio, por isso nunca falte a ela exceto quando estiver doente. Ela é que dissipará as trevas e a ignorância de seu espírito. Ponha-se no espírito de fé: você está diante de Deus" (nº 126). "Que sua aplicação seja muito silêncio, muita humildade e muita oração, pois é isto o que Deus pede de você" (nº 128). Estes poucos pensamentos têm um cunho lassaliano que não devemos subestimar. Oxalá a meditação deles nos estimule a um conhecimento mais pessoal destes veneráveis documentos que no século 21 conservam toda sua força sobrenatural com que a graça divina os animou por intermédio de São João Batista de La Salle, nosso Fundador e Pai. ******** 332 333 INDÍCE Carta Nº Página 1 - Ao Irmão Anastásio..........................................2 2 – Ao Irmão Bartolomeu......................................3 3 – Ao Irmão Bartolomeu......................................3 4 – Ao Irmão Bartolomeu......................................5 5 – Ao Irmão Bartolomeu......................................7 6 – Ao Irmão Bartolomeu......................................7 7 – Ao Irmão Bartolomeu......................................8 8 – Ao Irmão Bartolomeu......................................8 9 – Ao Irmão Clemente.........................................9 10 – Ao Irmão Dionísio........................................11 11 – Ao Irmão Dionísio........................................12 12 – Ao Irmão Dionísio........................................15 13 – Ao Irmão Gabriel Drolin...............................19 14 – Ao Irmão Gabriel Drolin...............................20 15 – Ao Irmão Gabriel Drolin...............................22 16 – Ao Irmão Gabriel Drolin...............................25 17 – Ao Irmão Gabriel Drolin...............................27 18 – Ao Irmão Gabriel Drolin...............................29 19 - Ao Irmão Dionsio..........................................32 20 - Ao Irmão Dionsio..........................................36 21 - Ao Irmão Dionísio.........................................38 22 - Ao Irmão Dionísio.........................................41 23 - Ao Irmão Dionísio.........................................43 24 - Ao Irmão Dionísio.........................................45 25 - Ao Irmão Dionísio.........................................48 26 - Ao Irmão Dionísio.........................................50 27 - Ao Irmão Dionísio.........................................52 334 28 - Ao Irmão Dionísio.........................................54 29 - Ao Irmão Dionísio.........................................58 30 - Ao Irmão Dionísio.........................................60 31 - Ao Irmão Dionísio.........................................62 32 - Ao Irmão Dionísio.........................................65 33 - Ao Irmão Huberto .........................................67 34 – Ao Irmão Huberto.........................................69 35 – Ao Irmão Huberto.........................................73 36 - Ao Irmão Huberto..........................................76 37 - Ao Irmão Huberto..........................................78 38 – Ao Irmão Huberto.........................................81 39 – Ao Irmão Irineu............................................86 40 – Ao Irmão José...............................................87 41 – Ao Irmão José...............................................88 42 – Ao Irmão Matias...........................................91 43 - Ao Irmão Matias...........................................93 44 - Ao Irmão Matias...........................................94 45 - Ao Irmão Matias...........................................95 46 - Ao Irmão Matias...........................................97 47 - Ao Irmão Matias...........................................99 48 - Ao Irmão Matias..........................................101 49 - Ao Irmão Matias..........................................102 50 - Ao Irmão Matias......................................... 104 51 - Ao Irmão Matias..........................................106 51ª - Do Irmão Ponce ao Irmão Matias...............108 52 – Ao Irmão Paulino........................................110 53 – Ao Irmão Roberto.......................................112 54 - Ao Irmão Roberto........................................114 55 - Ao Irmão Roberto........................................115 56 - Ao Irmão Roberto........................................117 57 - Ao Irmão Roberto........................................119 58 - Ao Irmão Roberto........................................121 335 59 - Ao Irmão Roberto........................................124 60 - Ao Irmão Roberto........................................125 61 - Ao Irmão Roberto........................................126 62 - Ao Irmão Roberto........................................127 63 – Ao Irmão Severino......................................128 64 – Ao Irmão Tomás.........................................129 65 – Ao Ir. Diretor de Calais...............................130 66 – A um anônimo diretor.................................132 67 - A um anônimo diretor..................................133 68 - A um anônimo diretor..................................134 69 - A um anônimo diretor..................................136 70 - A um anônimo diretor..................................138 71 - A um anônimo diretor..................................139 72 - A um anônimo diretor..................................140 73 - A um anônimo diretor..................................142 74 - A um anônimo diretor..................................143 75 - A um anônimo diretor..................................144 76 - A um anônimo diretor..................................145 77 - A um anônimo diretor..................................147 78 - A um anônimo diretor..................................148 79 - A um anônimo diretor..................................150 80 - A um anônimo diretor..................................150 81 – A um Irmão ancião......................................151 82 – A um Irmão anônimo inferior.....................151 83 – Ao mesmo Irmão inferior............................152 84 – Ao mesmo Irmão inferior............................154 85 – A um Irmão inferior anônimo.....................155 86 - A um Irmão inferior anônimo.....................157 87 - A um Irmão inferior anônimo.....................158 88 - A um Irmão inferior anônimo.....................160 89 - A um Irmão inferior anônimo.....................161 90 - A um Irmão inferior anônimo.....................162 336 91 - A um Irmão inferior anônimo.....................164 92 - A um Irmão inferior anônimo.....................165 93 - A um Irmão inferior anônimo.....................166 94 - A um Irmão inferior anônimo.....................167 95 - A um Irmão inferior anônimo.....................168 96 - A um Irmão inferior anônimo.....................169 97 - A um Irmão inferior anônimo.....................171 98 - A um Irmão inferior anônimo.....................172 99 - A um Irmão inferior anônimo.....................173 100 - A um Irmão inferior anônimo...................174 101 - A um Irmão inferior anônimo...................176 102 - A um Irmão inferior anônimo...................178 103 - A um Irmão inferior anônimo...................179 104 - A um Irmão inferior anônimo...................181 105 - A um Irmão inferior anônimo...................181 106 - A um Irmão inferior anônimo...................182 107 - A um Irmão inferior anônimo...................182 108 - A um Irmão inferior anônimo...................183 109 - A um Irmão inferior anônimo...................183 110 - A um Irmão inferior anônimo...................184 111 – Ao Prefeiro de Château-Porcien...............184 112 – Ao Sr. Des Hayes......................................185 113 – Ao Sr. Des Hayes......................................186 114 – Ao Sr. Rigoley...........................................187 115 – Ao Sr. Gense.............................................189 116 – A um anônimo..........................................189 117 – A um anônimo..........................................190 118 – A um cônego, seu amigo..........................191 119 – A uma religiosa.........................................193 120 – A sua sobrinha religiosa............................196 121 – A uma religiosa.........................................197 122 – A uma religiosa.........................................199 337 123 - A uma religiosa.........................................202 124 - A uma religiosa.........................................205 125 - A uma religiosa.........................................207 126 - A uma religiosa.........................................209 127 - A uma religiosa.........................................212 128 - A uma religiosa.........................................212 129 - A uma religiosa.........................................214 130 – A uma pessoa piedosa..............................214 131 – À mesma...................................................215 132 - À mesma....................................................215 133 - À mesma....................................................216 Estudo Histórico das Cartas................................217 Capítulo I: Conteúdo da Coleção........................218 Cartas autógrafas.....................................218 Cartas de segunda mão............................226 Capítulo II: Conservação da Coleção.................243 No século 18...........................................243 No século 19...........................................246 Capítulo III: Cartas extraviadas..........................260 Conteúdo das Cartas...........................................271 Capítulo I: Os começos do Instituto...................271 Capítulo II: Espiritualidade de La Salle.............289 Aos Irmãos Diretores………………….290 Aos Irmãos Inferiores…………………..304 Ao Irmão Gabriel Drolin………………317 Às pessoas religiosas…………………..324
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