Enxerto gengival livre – técnica para aumento de gengiva aderida

Transcrição

Enxerto gengival livre – técnica para aumento de gengiva aderida
Dentistry
EDIÇÃO PORTUGUESA
16 Clínica
www.dentistry.pt
EDIÇÃO PORTUGUESA
Clínica
Enxerto gengival livre – técnica para aumento
de gengiva aderida
A periodontologia dispõe de técnicas cirúrgicas para aumentar a banda de gengiva aderida. A Dra. Célia Alves revê a técnica clássica de eleição para esse
aumento.
O
periodonto é constituído por quatro estruturas anatómicas: a gengiva, o ligamento periodontal, o osso alveolar e o cemento radicular
(Figura 1). A gengiva engloba uma porção livre que
normalmente delimita o sulco gengival e uma porção
aderida que se estende desde a gengiva livre até à linha
mucogengival. Esta linha mucogengival separa a gengiva
aderida da mucosa alveolar de revestimento. Atualmente, é pacífica a afirmação de que os limites externos da
gengiva se estendem desde a margem gengival da papila
interdentária até à junção mucogengival. A junção mucogengival pode ser localizada de várias formas:
• funcionalmente (movimentos passivos dos lábios e bochechas);
• anatomicamente (diferenças de cor e de textura das
superfícies);
• histoquimicamente (Solução iodada de Schiller – pesquisa o glicogénio armazenado no epitélio da mucosa).
Figuras 2a e 2b: Enxerto
gengival livre colhido do
palato do paciente – desenho
esquemático
Figura 1: Constituintes do periodonto
A altura máxima da gengiva aderida (em média) na maxila é de cerca de 4 a 6mm, valores esses encontrados na
região vestibular dos incisivos maxilares e lingualmente
nos molares mandibulares. Duma forma geral, a altura
da gengiva aderida em jovens e em adultos jovens está
Dra. Célia Coutinho Alves.
Licenciada em Medicina Dentária
pela FMDUP – 2000. Pós-graduação em Periodontologia
pela FMDUP – 2001. Residência
clínica 2004-Pericop. P.C. Dr. Myron Nevins,
Boston, EUA. Curso de cirurgia mucogengival em
Harvard 2004-Boston-USA. ITI Fellow. Professora
Convidada dos mestrados de Periodontologia do
ISCSN, Porto, Portugal e Universidade de Santiago
de Compostela, Espanha. Aluna de doutoramento
da Universidade de Santiago de Compostela.
Prática de Periodontologia na Clínica Medicina
Dentária Dr. Manuel Neves.
16
Figura 3: Enxerto gengival livre do palato para aumento de gengiva aderida na região dos dentes 3.1 e 4.1
a) A situação inicial apresenta o dente 4.1 com ausência total de gengiva aderida e inserção alta do freio labial inferior;
b) Preparação do leito receptor para o enxerto com incisão em espessura parcial;
c) sutura de enxerto livre epitélio-conjuntivo proveniente do palato;
d) sítio dador suturado e protegido com placa de vácuo;
e) cicatrização aos 10 dias;
f) controlo ao fim de um ano
Dentistry
Dentistry
EDIÇÃO PORTUGUESA
18 Clínica
www.dentistry.pt
Figura 4: a) Situação clínica de perda de gengiva aderida na
região dos dentes 4.2 e 4.1 associada a uma perda óssea por
periodontite crónica localizada avançada nesses dentes; b)
Preparação do leito receptor para o enxerto com incisão em
espessura parcial;
c) sutura de enxerto livre epitélio-conjuntivo proveniente do
palato;
e) cicatrização aos 10 dias;
f) controlo ao fim de dois anos
relacionada com o crescimento do processo alveolar e
com a posição dos dentes relativamente à espessura do
processo alveolar. Quando os dentes anteriores estão situados labialmente, a altura da gengiva diminui, aumentando quando os dentes estão localizados lingualmente.
A espessura da gengiva vestibular varia entre 0,5mm nos
biótipos gengivais finos e 2,5mm nos biótipos gengivais
espessos. Estes valores são normalmente inversamente
proporcionais à altura da gengiva.
A sua função é essencialmente de proteção do conjunto
dento-alveolar e é importantíssima para assegurar condições de saúde periodontal. Digamos que a gengiva aderida funciona como “cinto de segurança” em redor dum
dente, estabilizando-o e bloqueando a progressão de situações de inflamação gengival ou recessões.
Há situações clínicas, nomeadamente em pacientes com
periodonto fino, em que um posicionamento dentário
vestibularizado dentro do processo alveolar ou a inserção
alta de freios labiais contribuem para a diminuição da altura da banda de gengiva aderida e, por consequência,
a perda da sua função protectora. Diminuindo a altura
de gengiva aderida, sobretudo em periodontos finos, o
risco de inflamações marginais e consequentes recessões
gengivais aumenta.
A periodontologia dispõe de técnicas cirúrgicas para aumentar essa banda de gengiva aderida. A técnica clássica
de eleição para esse aumento são os enxertos gengivais
livres colhidos a partir do palato do próprio paciente (Figura 2).
De acordo com Edel (1974), são recomendados três sítios dadores: palato, tuberosidade maxilar e, menos frequentemente, a crista edêntula.
Palato
A mucosa palatina constitui a principal fonte dadora de
tecido conjuntivo e epitélio, pelo fato de ser revestida
por uma camada de queratina. A área de remoção do
enxerto localiza-se entre a última rugosidade palatina e a
área do canal palatino posterior (do primeiro pré-molar
ao segundo molar). Sob o tecido epitelial encontra-se um
tecido conjuntivo bastante fibroso e denso, sendo considerado um tecido doador de melhor qualidade. Mais
profundamente encontra-se tecido adiposo (ao nível dos
pré-molares e dos caninos). Antes de ser removido o enxerto, alguns elementos anatómicos devem ser rigorosamente avaliados:
• 1º. Elementos vasculonervosos:
– localização e trajetos das artérias palatinas;
– localização e trajetos dos nervos palatinos.
• 2º. Espessura e qualidade do tecido dador.
É possível verificar a espessura disponível com uma medição, sob anestesia, por meio da sonda periodontal.
Tuberosidade
A tuberosidade possui volume bastante variável e a sua
densidade fibrosa é superior à do palato. Para que o volume mucoso nesta área seja interessante, é preciso que
o terceiro molar esteja ausente.
As indicações clássicas das técnicas de aumento gengival,
nomeadamente do enxerto gengival livre, resumem-se:
• ao controlo da inflamação gengival produzida por placa bacteriana e por microtraumatismos de repetição;
• a evitar a progressão da recessão gengival.
O fenómeno de creeping attachement associado a esta
técnica permite esperar algum recobrimento radicular
secundário, que em muitos casos pode mesmo dispensar
técnicas cirúrgicas de recobrimento radicular a posteriori (Figura 3).
Este tipo de enxertos, normalmente são descritos como
apresentando algumas desvantagens, como sejam:
# no sítio dador, a cicatrização ocorre por segunda intenção, podendo proporcionar um pós-operatório doloroso;
# após a cicatrização dos tecidos, o aspecto da mucosa
apresenta características clínicas semelhantes às da mucosa do palato (área dadora) e não igual ao das áreas
adjacentes ao enxerto.
Na tentativa de obviar estas desvantagens, a investigação
científica nesta área vem tentando arranjar substitutos
para o enxerto dador que estejam disponíveis na prateleira e que sobretudo evitem a colheita da região dadora
do paciente.
Além dum material alogénico, que é uma matriz dérmica acelular de nome comercial Alloderm® que já existe
no mercado desde 1994, mas que continua a apresentar
algumas dificuldades técnicas, sobretudo de revascularização, a indústria tem levado a investigação no sentido
de criar outras alternativas, nomeadamente xenógenas,
que possam colmatar mais essa dificuldade. Sendo assim, conto poder durante o ano de 2012 dar-vos conta
do lançamento de um novo produto desenvolvido para
substituir o tecido mole do paciente e que já tem sido
alvo de investigação clínica multicêntrica há já alguns
anos.
Mais uma vez, o futuro na periodontologia inova-se a
cada dia no sentido de nos ajudar a nós clínicos e aos
pacientes. n
Os artigos da autoria da Dr.ª Célia Alves não têm cariz científico, mas pretendem apelar para a importância dos temas
relacionados com a Periodontologia.

Documentos relacionados

Aumento de gengiva aderente utilizando o enxerto de

Aumento de gengiva aderente utilizando o enxerto de da tábua vestibular na mandíbula, originando recessões gengivais nos incisivos mandibulares, devido ao movimento de torque. Associada às recessões gengivais havia também uma perda de gengiva aderen...

Leia mais

Enxerto gengival livre - coopex

Enxerto gengival livre - coopex gengival quando comparado com outras técnicas mucogengivais, como enxerto de tecido conjuntivo e utilização de matriz dérmica acelular. Já para Silva, Casati e Sallum (2006), o enxerto gengival liv...

Leia mais

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ETIOLOGIA , CLASSIFICAÇÃO E

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ETIOLOGIA , CLASSIFICAÇÃO E 2 REVISÃO LITERÁRIA.......................................................................................................... 2.1 ETIOLOGIA.............................................................

Leia mais