Revista Católica O Lutador

Transcrição

Revista Católica O Lutador
Entrevista [ Com Pedro de Oliveira – CF-2015: Fraternidade, Igreja e Sociedade
ANO LXXXVI / Nº 3861
FEVEREIRO / 2015
www.olutador.org.br
R$ 9,90
Alegria
da Missão
O que os Sacramentinos podem oferecer
à Nova Evangelização no contexto africano?
[ Leia! Assine! Divulgue! — facebook.com/jornalolutador —
www.olutador.org.br — 0800-031-7171
Espaço do Leitor [ Escreva,
ANO LXXXVI / Nº 3860
JANEIRO / 2015
www.olutador.org.br
Pe. Júlio Maria,
O LUTADOR
R$ 9,90
a caminho dos altares
f [ Senhores, acabei de receber a edição
de janeiro/2015, nº 3860, do novo O Lutador. Uma maravilha!!!! Lindo visual, páginas mais atraentes e o conteúdo cada
vez mais adequado ao conhecimento da
nossa religiosidade. Parabéns a toda a
equipe deste eficiente meio católico de
comunicação. Vou repetir o último parágrafo da Carta ao Leitor, que é a mensagem que transmito a todos vocês.: "Que
o Senhor continue a derramar suas bênçãos sobre O Lutador e que ele faça de
cada um de seus leitores, um verdadeiro Lutador em defesa da vida, da família e da fé".
[C arlos Alber to Re sende (Juntamente
com sua e sposa Vânia Eliz abe th de C arvalho Re sende )
Membros do movimento de casais
das Equipes de Nossa Senhora em BH
f [ Amigos do Jornal
Coragem e audácia: é isso que a Igreja
de hoje precisa, assim como todos nós,
para nos transformarmos em missionários do Senhor e anunciar o “Evangelho
da Alegria”. A revista que vocês me enviaram me fez sorrir e bater palmas. Há
muito tempo recebo o jornal O Lutador
e, desde o seminário, me entusiasmei
pelo Padre Júlio Maria ao ler sua vida e
suas obras. Parabéns! Criei a Assessoria
de Imprensa da Arquidiocese de Campinas, que depois se tornou de Comunicação, e levei até à comemoração dos 100
o Jornal A Tribuna, em meio a dificuldades financeiras, a qual chegou a ser Revista como essa que vocês apresentam
ao povo com um objetivo bem definido.
Sou padre há 51 anos, jornalista e psicopedagogo. Estudei com o Ir. Alípio Jacinto da Costa, na Universidade Católica do
Chile e pautei minha vida pelo ideal da catequese, liturgia e comunicação. A Carta
ao Leitor e o Editorial dizem muito bem
a que Vocês vieram: formar para “os valores humanos e familiares, a cidadania,
espiritualidade, liturgia e consciência social”. O Instituto dos Missionários Sacramentinos continua atualizando a Missão
com uma Revista de qualidade gráfica,
conteúdo que leva à reflexão e à ação,
numa proposta de iluminar a vida dos
cristãos e se inspirar no modelo maior
que vem sendo nosso querido Papa Francisco. Deus abençoe essa Renovação e
atualização jornalística. Sigam em frente!
[Padr e L u i z C arlos F. M a g al h ã e s
Paróquia Cristo Rei, Campinas
f [ Recebi hoje em minha casa a primeira Revista o Lutador, maravilhosa. Estão
todos de parabéns. Repassa a toda equipe redação os meus cumprimentos. E ao
senhor um abraço especial como diretor
de toda esta obra prima que é o Lutador.
Abraço.
[N e i d e
Paróquia São Francisco. BH
@ [ Saudades de
Dom Aloísio Roque Oppermann
F/reprodução
Especial [ Simpósio Julimariano: Espiritualidade, Eucaristia e Missão
Falecido a 29 de maio de 2014, sempre
escrevia para O LUTADOR. Toda segunda-feira enviava pela Internet um artigo
semanal para 62 endereços de comunicação católica. Como bispo e como arcebispo, só pensava em pastorais e na
boa imprensa.
Eis, três saudosas lembranças:
Primeira
Confidenciou-me, certa vez, ter consciência de que sua vocação sacerdotal
aconteceu porque sua mãe desde cedo
cuidou que ele sempre só tivesse ótimas
companhias para que só soubesse vivenciar a santidade cristã. Considerava muito importantes as mães para que ali, já
envie seu e-mail, comente no site e no facebook...
nas famílias, se manifestassem as vocações sacerdotais.
Segunda
Como Bispo, sabia usar de suas prerrogativas na Igreja para que fossem reconhecidos e imitados os bons exemplos de
vida cristã. Criou as importantes comissões cujos resultados, enviados a Roma,
já servem à causa de Beatificação de Nhá
Chica de Baependi, MG, e do Pe. Francisco de Paula Vitor de Três Pontas, MG.
Terceira
Só grandes almas cristãs têm a coragem
de confessar publicamente suas intimidades de consciência cristã. Em um de
seus seis livros, em “Flashes da Vida de
um Bispo”, 2008, no capítulo 14, ao expor
sua alma comentando ou a simpatia ou
a escondida dor emocional de um bispo,
ao ter que tomar uma acertada decisão
válida para todas as circunstâncias envolvidas: “...teofanias (as sinalizações da
vontade de Deus), às quais vou me referir,
estiveram presentes nos meus 25 anos
de episcopado (em 2008 )... Há minutos
de glória, dias da mais sã alegria, mas há
também dias tenebrosos, momentos de
vendavais implacáveis, e de insegurança
total. Verdadeiros dias de chumbo... como Jesus, dizia: “hora do poder das trevas (Lc 22,53)... mas, sempre, o coração
de Cristo, inesperadamente, faz surgir
uma resposta completa para uma dificuldade... Nunca tive a ousadia de provocar
o Eterno. Só tenho a coragem de pedir,
às vezes até rezando a Liturgia das Horas, com extremas dificuldades de atenção... Mas de repente é como se o Espírito dissesse: “essa frase é só para você...
é como levar um coco na moleira... A revelação divina, a Escritura produz um sinal... a paz, a força, o restabelecimento de
todos os grandes sonhos; a esperança”.
f [ "Que deliciosa surpresa ao abrir a caixa
do correio! Uma nova revista, perfeita!
Penso que saímos lucrando 100%!
Sempre gostamos muito do Jornal O Lutador, que meu pai assinava e lá se vão 22
anos que ele foi para a casa do Pai! Nem sei
quando ele começou a assinar esse Jornal.
Que tudo dê certo nessa nova caminhada. Parabéns à toda equipe.
Dom Aloísio Roque Oppermann, abnegado servidor da Igreja, em 30 anos de
bispo, ordenou 51 sacerdotes, fundou
26 paróquias e evangelizou nas Dioceses
de Ituiutaba, MG, da Campanha, MG, e
na Arquidiocese de Uberaba, MG. Exemplo de apostólica vida cristã bem vivida.
Cada jornal traz algumas quadrinhas
Tantas notícias em ricas e largas linhas
Cada tema lido proporciona alegria
Pois tudo é envolvido em sabedoria!
[C A R L O S P e D R O S O
uberaba, MG
[M A R i A J O S é g . g . F e R R e i R A – São Paulo
@ [ O Lutador
O Lutador é um interessante Jornal
Traz diversos assuntos, é especial!
É possível ler sempre do começo ao fim
E ter conhecimentos novos, assim!
Considero nos contatos fazer divulgação
Levando às pessoas tanta cura ao coração!
Entretenimento saudável e mais instrução
São benefícios que merecem boa atenção!
[zeLiA AnA SOLigO
A Messe é grande... colabore com a formação
dos futuros Missionários Sacramentinos de nossa Senhora.
Deposite qualquer quantia na conta do iMSnS
olutador [ fevereiro ] 2015 • 3 ]
banco do brasil - Agência: 0412-X
- CC: 20712-8
A Pastoral Vocacional Sacramentina agradece sua ajuda e conta com suas orações.
[ Expediente
O LUTADOR é uma publicação mensal
do Instituto dos Missionários
Sacramentinos de Nossa Senhora
Editorial
Viemos pra servir
O Lutador
ISSN 97719-83-42920-0
Fundador
Pe. Júlio Maria De Lombaerde
Superior Geral
Pe. Aureliano de Moura Lima, sdn
Diretor-Editor
Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn
Jornalista Responsável
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P)
Redatores e Noticiaristas
Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn
Frt. Henrique Cristiano, cmm
Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno
Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini
Pe. Reginaldo Manzotti
Colaboradores
Vários
Revisão
Antônio Carlos Santini
Projeto e Diagramação
Valdinei do Carmo
Assessoria de Comunicação
Melt Comunicação
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são de responsabilidade
de seus autores,
não expressam,
necessariamente,
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de olutador. ]
Igreja nasce da Missão do Pai, que envia ao mundo seu Filho pela força
do Espírito Santo. Por isso a Igreja, que nasce deste mistério trinitário, é
essencialmente missionária e, se não for missionária, deixa de ser a Igreja de Jesus Cristo. Por conseguinte, todo batizado, membro do Corpo de
Cristo que é a Igreja, deve ser, no mais profundo de si mesmo, um verdadeiro missionário.
Neste mês de fevereiro, O Lutador, desejoso de fazer avançar o
espírito missionário em meio às nossas comunidades, partilha a alegria
da presença dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora em Angola, África. Atualmente temos três missionários em Moxico, Alto Zambeze, na Diocese de Lwena: Pe. Renato Dutra Borges, Pe. João Lúcio Gomes Benfica e Pe. Odésio Magno da Silva. Cada um deles, com seus dons,
dedicação e ardor missionário, empenha sua vida a serviço do povo de
Deus naquela Igreja Particular, consciente de que a Palavra de Deus deve ultrapassar os muros da Igreja e ser capaz de ir ao encontro das pessoas na sua simplicidade e pobreza.
Trata-se de uma missão que exige esvaziar-se de si mesmo, assumir uma vida simples e ser capaz de ajudar as pessoas a reconhecerem
a presença de Deus que caminha com seu povo. Trata-se de ajudar a tornar visível, mais palpável e concreta a esperança cristã. E se, por um lado, o missionário dá um pouco de si, muito mais tem a receber desse povo de Deus. Confira o bonito testemunho, onde a ternura e a comunhão
expressam a presença de Deus no meio de seu povo.
O espírito missionário, se não cultivado e alimentado, corre o risco de esmorecer. E muitas são as tentações que podem fazer-nos a perder o ardor missionário que leva a Igreja a cumprir sua missão. Neste
sentido, nosso Papa Francisco, com ternura e firmeza, fala aos cardeais
e a toda a Igreja, alertando-nos para o cuidado que devemos ter diante
das possíveis “doenças” que podem atingir-nos, fazendo enfraquecer a
missão da Igreja no mundo.
E quando já nos vamos aproximando do tempo quaresmal, somos convidados à conversão eclesial. A Campanha da Fraternidade articula no seu tema – Fraternidade, Igreja e Sociedade – a nossa missão
de servir à humanidade. Não viemos ao mundo por acaso, nem apenas
para “curtir a vida”. Deus nos confia a missão de zelar pela vida humana
e pela vida no planeta. Não podemos nos omitir.
Ainda mais diante dos últimos atentados terroristas na França,
quando o espírito religioso deveria semear a paz e a fraternidade, somos ainda mais desafiados a cuidar da nossa “saúde missionária”. Neste número de nosso O Lutador, muitos temas e questões variadas que
se unem pelo prisma da nossa missão no mundo. Afinal, nós viemos pra
servir. E isso é pra começo de conversa.]
[i r . D e n i lso n M ar i a n o, sd n
[ Presença Sacramentina na África 6
[ olutador • revista mensal • A no L X X X V i • N º 3 8 61 • F E V E R eiro • 2 015 •
[ Papa Francisco
à Cúria Romana
Quinze tentações
10
12
31
[ Fundamentos
do direito
à água
F/reprodução
F/reprodução
[ Entrevista
Pedro de Oliveira
Fraternidade, Igreja
e Sociedade: CF-2015
F/pintura de Greg Olsen
44
Roteiros
Pastorais
Leitura Orante / G. Reflexão 32 • Catequese 34
Família 36 • Juventude 36 • Homilética 37
F/reprodução
[ Um jeito diferente
de trabalhar
14
com o povo
[ Vocação e missão
16
da família [ A morte 18
[ "Em canto"
Músicas
cifradas 21
[ Criação
e evoluão 22
[ Anselm Grün:
um monge
no Século XXI 24
[ Cerimônia
ou celebração 25
[ O leigo e os
doutores 26
[ Tudo vai bem,
Marquesa! 27
[ A sinfonia
do mundo 30
F/vaticano
F/reprodução
Sumário
[ Aproveitando
ao máximo
os alimentos 46
Capa [ Presença Sacramentina na África...
A solidão tira-te o espinho,
“Ulika ukupangaosongo,
p e . r e n at o d u t ra b or g e s , sd n — Pároco da Paróquia Santo António de Nana Candundo, Moxico, Alto Zambeze, Angola (África)
Tornar visível, palpável
e concreta a esperança cristã
A
eficácia da evangelização no continente africano mede-se pela capacidade de tornar visível, palpável e concreta a esperança cristã do Reino de Deus. É a Igreja
como manifestação visível do Corpo
de Cristo que está no mundo e para
o mundo, transformando-o em sinal
do Reino de Deus, formando a “Família de Deus”. Ao ser batizada, a pessoa
diz não à solidão, ela é mergulhada no
amor de Deus e do próximo e para o
próximo, ama e sente-se amada, acolhe e sente-se acolhida... “Este é meu
irmão, minha irmã, minha mãe, meu
pai”, são os que sopram os olhos.
Na cultura africana-angolana coexistem muitos pais, muitas mães, muitos irmãos e irmãs, todos se responsabilizam no cuidado e na ternura, quer
na proteção, quer na insegurança, na
alegria e na tristeza, na vida e na morte. É uma vivência radical da solidariedade. Ninguém canta só, ninguém
dança só, ninguém chora só.
O “individualismo” é algo incompatível com a cultura africana, onde
tudo deve ser articulado em busca de
uma coesão sempre maior de todo o
grupo. Na conversa, na dança, no canto, no nascimento, na doença, todos e
tudo estão mobilizados em favor da vitória da Vida sobre a Morte. Assegurar
esta vitória é participar da Vida Total,
numa comunhão sempre mais intensa
entre os vivos, os que já partiram – antepassados – e a inteira Criação, cuja
fonte é o próprio Deus.
Assistimos a um grande conflito
cultural entre o pessoal e o comunitário. A força da tradição remete a pessoa para o comunitário-coletivo, no risco de perder a identidade pessoal pela
massificação cultural, mas as exigên-
cias da pós-modernidade lançam as
pessoas na solidão do eu e do só meu,
com risco de supervalorizar o individual, caindo no individualismo.
A vivência cristã na África deve trabalhar num equilíbrio das relações, Eu–
Eu, Eu–Deus, Eu–Outro e Eu–Mundo.
Estas relações amadurecem a identidade pessoal e alargam a identidade
social. A vida comunitária não resolve
tudo, nem sequer a solidão, dado que,
na realidade, a solidão não é causada
pelo viver sozinho, embora estas duas
situações se sobreponham. A solidão é
mais fruto do que existe em nossa cabeça, do que o resultado de qualquer
estilo de vida.
Quando vivemos sozinhos, a vida
prega-nos mais peças na nossa cabeça, e pensamentos de desespero e impotência podem facilmente assediar a
nossa alma. Quando vivemos no medo, vivemos isolados. Com o espírito
que procede de Jesus, ousamos viver
F/ARQ. SDN
[ 6 • olutador [ fevereiro ] 2015
mas não te sopra o olho.
kawukuefelivisso”
juntos. Um dos primeiros e grandes Padres da Igreja, Tertuliano, expressou
sua sabedoria ao afirmar: “Solus christianus, nullus christianus” – o cristão
solitário não é cristão.
O que os Sacramentinos podem
oferecer à Nova Evangelização
no contexto africano?
Dizem nossas Constituições: “Nossa espiritualidade é missionário-eucarístico-mariana. Ela é inspirada no
seguimento de Jesus, o missionário do
Pai, à imitação de Maria...” (Constituições SDN nº 6.) “Uma espiritualidade
ja. Somos devedores da presença eucarística e real na história dos povos
africanos. Ter uma compreensão desta presença viva e eficaz de Jesus Eucarístico, possibilita uma segurança
no amor universal que a Igreja oferece a todo ser humano, tornando-o povo de Deus, família alargada no contexto africano.
Partilhar o amor e sacrifico é tirar
a coroa de espinhos cravada na cabeça de Jesus e da humanidade, mas não
podemos fazer tudo sozinhos, devemos
partilhar a missão de soprar os olhos
da humanidade para ver melhor e in-
[ “O que ouvimos,
o que vimos com nossos próprios olhos,
o que contemplamos
e o que nossas mãos apalparam...
Isso vos anunciamos”. (1Jo 1.3)
que se alimenta da Eucaristia é uma espiritualidade forte e missionária para
os homens – para todos e cada um –,
uma espiritualidade de amor e sacrifício que desinstala e coloca em contato
com o sofrimento do mundo. Quando
se participa da Eucaristia, Jesus Cristo
age pessoalmente e atualmente, assim
se torna natural que a pessoa eucaristizada comunique aos outros a inquietação redentora que recebe do próprio
Cristo.” (Pe. Paschoal Rangel, SDN)
A Eucaristia cria comunidade, lança a pessoa ao encontro de outros para ser e celebrar a alegria do amor de
Deus. Não há solidão eucarística, a comunhão se faz com a Igreja e pela Igre-
teragir com a cultura que nos circula
e também nos sopra os olhos.
Como Sacramentinos, somos um
pequeno rebanho, enviado para o meio
de “lobos”, de uma nova cultura, nova forma de ser e suscitar Igreja. Devem consolar-nos as palavras de São
João Crisóstomo: “Enquanto somos
ovelhas, vencemos e superamos os lobos, ainda que nos rodeiem em grande
número; mas se nos convertemos em
lobos, somos vencidos, porque perdemos a proteção do Pastor. O Pastor não apascenta lobos, mas ovelhas;
por isso ele te abandona e se afasta de
ti, porque não lhe permite manifestar
o seu poder”.
olutador [ fevereiro ] 2015 • 7 ]
Ao assumir esta missão no continente africano, estamos partilhando
de nossa pobreza e de nossa maturidade missionária, pois só é madura uma
Igreja que envia seus membros além
de suas fronteiras (a cultura é um lobo
pronto a nos devorar). Devemos, portanto, ser simples como as pombas e
prudentes como a serpente. Conhecer,
penetrar na cultura e nas estruturas sociais às apalpadelas, confiando e vivenciando a Providência do Bom Pastor.
Não estamos aqui para tirar espinhos na solidão, mas para soprar os
olhos dos que conosco partilham a vida e deixar que nossos olhos sejam purificados pelo sopro do Espírito Santo,
que sopra onde quer. Como o salmista, devemos nos perguntar: “Que é o
homem, Senhor, para que cuides dele com tanto carinho?” (Sl 8.)
Complexidade da pessoa
no continente africano
A pessoa humana na tradição africana
é uma realidade extremamente complexa, é o momento do encontro de todas as ondas de vida que percorrem o
universo material; ela traz em si a totalidade do gérmen da história, é o traço
de união entre os antepassados e as gerações futuras, traz em si a humanidade total, é homem e mulher, pai-mãefilho; sociedade, povos e nações, ela é
parceira de Deus, aquela que leva consigo a voz de toda a Criação diante do
seu Criador, aquela a quem Deus pode falar e ela responde.
Tudo aquilo que fazemos e somos
não tem razão de ser em si e por si mesmo, mas para a missão. Bem disse o Papa Francisco: “Eu sou uma missão nes-
[▶
Capa [ Presença Sacramentina na África...
[▶ ta terra, e para isso estou neste mundo”. (EG, 273.) “Por isso, é necessário
continuar a anunciar a Palavra de Jesus
Cristo que venceu a morte conferindo
à humanidade a esperança da ressurreição. Contudo, é preciso que hoje esta Palavra de Deus seja anunciada fora
dos sinais sagrados, fora dos muros da
Igreja, em lugares não institucionalizados, numa provisoriedade e projeção
abertas, na simplicidade e na pobreza.”
“A chuva cai sobre a pele do leopardo, mas não elimina as suas manchas.” A descoberta cultural de Jesus é
como esta chuva, incapaz de inundar
completamente a psique cultural tradicional da África. Numerosos africa-
a humanidade se encontra em guerra com as forças espirituais invisíveis,
contra males presentes em toda a parte.
O “dedo do diabo” deve ser extirpado,
e este ministério constitui uma parte
integrante da função da religião numa
terra de desagregação, perigo, enfermidade e pobreza. As pessoas buscam
na Igreja lugar de refúgio e de integração espiritual e social.
A missão na África tem o dever de
confrontar a problemática do mal que
impede a Vida Total da pessoa, seja o
mal preconizado como feitiços, possessões, encantos... Para que a missão
seja promissora, ela deverá estudar e
compreender não somente a história
fato e estudar esta tendência à luz do
Evangelho. A missão deve encontrar,
compreender e abrir-se à África tal como ela é; só assim se verá o coração
sanguinolento da África e conseguiremos oferecer-lhe a cura do Evangelho numa Boa Nova integral, caso contrário, será uma notícia preparada externamente.
Educação e catequese
chaves para a missão
A educação e a catequese são chaves
importantes para uma missão positiva
na África. Comprometer-se na educação intensiva e em programas de assistência à saúde nas áreas mais desfavo-
F/ARQ. SDN
[ “Por isso,
é necessário continuar
a anunciar a Palavra
de Jesus Cristo que venceu
a morte conferindo
à humanidade a esperança
da ressurreição. Contudo,
é preciso que hoje esta
Palavra de Deus seja anunciada
fora dos sinais sagrados,
fora dos muros da Igreja,
em lugares
não institucionalizados,
numa provisoriedade e
projeção abertas,
na simplicidade
e na pobreza.”
nos temem as maldições mais do que
confiam nas bênçãos, e transferem seus
“problemas” a antigas “maldições intergeracionais”. É preciso evangelizar em
profundidade a alma africana. Não podemos nos acomodar com uma evangelização de verniz.
Emergem tendências de um novo
despertar de uma experiência continental na África que vão além da consciência de Jesus Cristo, como Ele era
descrito aos africanos e como é por eles
conhecido. Surge o interesse de ver Jesus como Salvador concreto, que rompe com os jugos e realiza milagres. Esta noção deriva de antecedentes históricos de uma crença segundo a qual
e as problemáticas africanas, mas inclusive ver a existência com os olhos
dos africanos. O missionário não pode
querer tirar os espinhos na solidão. O
desejo de se libertar da escravidão, em
todas as suas formas, nunca abandonou
a psique dos africanos. Se os espíritos
malignos dominam a vida, o espinho
na carne africana, então é necessário
fazer tudo para alcançar a liberdade e
assim livrar-se dos laços do mal. Toda e
qualquer forma de servidão, espiritual ou natural, deve ser evitada, até em
nível subconsciente. Limpar os olhos
do corpo e da alma.
A teologia missionária tem necessidade de tomar conhecimento deste
[ 8 • olutador [ fevereiro ] 2015
recidas significa propagar o amor de
Cristo. As Irmãs Franciscanas de Nossa
Senhora do Amparo tem marcado esta
presença educativa e curativa, tirando
espinhos e abrindo os olhos da mente e da alma, favorecendo a vivência
concreta do amor universal de Cristo
por toda a Criação e em especial pelo
gênero humano.
Seguindo os latino-americanos na
teologia da libertação, a teologia africana da missão pode dedicar mais esforços à Doutrina Social da Igreja, dado
que os espíritos malignos nada podem
contra pessoas que se encontram num
padrão de vida mais elevado. É necessário realçar o aspecto de Jesus triun-
F/ARQ. SDN
fante e vitorioso como libertador. Salientar demasiado a teologia da Cruz
e do sofrimento não melhora muito a
situação africana. E ajudar o africano a
sentir o cristianismo como uma parte
de sua própria carne e de seu próprio
sangue, da sua alma e do seu amor. O
encontro com Jesus histórico faz romper com o jugo do mal para alcançar
um nível de vida feliz.
Como Sacramentinos, devemos viver a Eucaristia como espelho histórico
da presença de Jesus. “Nossa vida fraterna, vivida em comum, fundamenta-se na vivência do amor entre o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, modelo e fonte
geradora de fraternidade. Torna-se o
sinal que revela ao mundo o mistério
da Igreja e a presença de Deus na história.” (Constituições SDN, nº 42.) A revelação se faz por palavras e atitudes
(Dei Verbum, 4), e a Eucaristia é o maior
gesto de amor que Deus oferece à humanidade: ninguém tem maior amor
do que aquele dá a vida por seu amigo.
A presença Sacramentina na África deve pautar-se por:
– ser testemunha da Eucaristia como missão-comunhão, centro irradiador de nossas ações;
– aprofundar o conhecimento da
Palavra de Deus na catequese e nas
equipas de reflexão bíblica;
– ser presença que inquieta missionariamente nossas lideranças;
– valorizar o contato pessoal como
caminho de evangelização.
Maria, mãe de Jesus e nossa mãe,
pedimos vossa intercessão em nossas
ações missionárias, ajudai-nos a superar a tentação das decisões na solidão
individualista, abri nossos olhos para
vermos com olhos novos a cultura na
qual estamos inseridos. “Contemplamos o seu sim sem reservas a Deus, sua
solicitude pelos necessitados, sua fidelidade até a cruz, sua alegria pelas
maravilhas operadas pelo Senhor, sua
presença entre os discípulos, Senhora da Eucaristia, Rainha dos missionários.” (Constituições SDN, nº 61.) Ajudai-nos a proteger a Vida Total dos povos africanos.]
olutador [ fevereiro ] 2015 • 9 ]
Igreja hoje [ Papa Francisco à Cúria Romana...
Quinze tentações que
é necessário combater
O
Papa Francisco reuniu-se,
em 22/12/2014, com os
dirigentes e membros dos
diversos dicastérios, conselhos, escritórios, tribunais e comissões que
compõem a Cúria Romana, e os convidou a serem “um corpo que tenta,
dia após dia, ser mais vivo, mais sadio e harmonioso e mais unido entre si e com Cristo”. Com franqueza
paternal, o Santo Padre destacou as
tentações que é necessário combater.
“A Cúria é sempre chamada a melhorar e a crescer em comunhão, em
santidade e em sabedoria para realizar plenamente a sua missão. Como
todo corpo, ela também é exposta às
doenças... Eu gostaria de mencionar
algumas das mais frequentes em nossa vida de Cúria. São doenças e tentações que debilitam o nosso serviço ao
Senhor”, disse o pontífice. E, depois de
convidar a todos a fazerem um exame
de consciência, enumerou as “doenças” curiais:
1
A doença de sentir-se imortal, imune ou até indispensável, deixando
de lado os controles necessários e normais. Uma cúria que não é autocrítica,
que não se atualiza, que não tenta melhorar, é um corpo enfermo. É a doença do rico insensato, que achava que
ia viver eternamente, e também daqueles que se tornam amos e se sentem superiores a todos, em vez de se
sentirem a serviço de todos.
A doença do “martalismo” (da Marta citada no Evangelho), a doença
da excessiva atividade: daqueles que
ficam imersos no trabalho e deixam
de lado “a melhor parte”: sentar-se aos
pés de Jesus. Por isso, Jesus convidou
os seus discípulos a “descansar”, porque descuidar do necessário repouso
leva ao estresse e à agitação. O tempo
do repouso para quem completou a
sua missão é necessário, é devido e deve ser levado a sério: passar um “tempo de qualidade” com a família e respeitar as férias como um tempo para
recarregar-se espiritual e fisicamen-
2
[ 10 • olutador [ fevereiro ] 2015
te. Temos que aprender o que ensina
o Eclesiastes: há um tempo para tudo.
A doença do endurecimento mental
e espiritual: É a doença de quem, ao
longo do caminho, perde a serenidade
interior, a vivacidade e a audácia, e se
esconde nos papéis, virando uma “máquina de trabalho” e não um “homem
de Deus”. É perigoso perder a sensibilidade humana necessária para chorar
com os que choram e para nos alegrar
com os que se alegram. É a doença dos
que perdem os sentimentos de Jesus.
A doença do planejamento excessivo e do funcionalismo. Planejar como um contador. É quando o apóstolo
planeja tudo minuciosamente e acha
que, assim, as coisas efetivamente progridem, virando um contador. Caímos
nesta doença porque é sempre mais fácil e cômodo ficar na própria posição
estática e imutável. A Igreja se mostra
fiel ao Espírito Santo na medida em
que não o pretende regular nem domesticar. Ele é o frescor, a fantasia, a
inovação.
3
4
F/vaticaNo
e mulheres falsos e a viver uma mística falsa e um falso quietismo.
A doença da esquizofrenia existencial. É a doença dos que vivem uma
vida dupla, fruto da hipocrisia típica
dos medíocres e do progressivo vazio
espiritual que os títulos acadêmicos
não podem preencher. Criam, assim,
o seu próprio mundo paralelo, onde
deixam de lado tudo o que ensinam
com severidade aos outros e começam
a viver uma vida oculta e, com frequência, dissoluta.
A doença da falação, da murmuração, da fofoca. É uma doença grave
que começa com facilidade, talvez só
para conversar, mas que se apodera da
pessoa e a torna semeadora de cizânia
(como Satanás) e, em muitos casos, assassina a sangue frio a fama dos colegas e dos irmãos. É a doença das pessoas covardes que, por não terem coragem de falar na cara, falam pelas costas.
A doença de divinizar os chefes. É a doença dos que cortejam os superiores, com a esperança de
conseguir a sua benevolência. São vítimas do arrivismo e do oportunismo,
honram as pessoas, e não a Deus. São
pessoas que vivem o serviço pensando só no que têm que conseguir e não
no que têm que dar. Pessoas mesquinhas, infelizes e inspiradas só pelo seu
egoísmo fatal.
A doença da indiferença pelos
outros. É quando todo mundo
pensa só em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das relações humanas. Quando os mais capacitados não
põem os seus conhecimentos a serviço
dos colegas com menos experiência.
Quando, por ciúmes, se sente alegria
ao ver que os outros caem, em lugar de
levantá-los e animá-los.
A doença da cara de enterro. A
das pessoas rudes e sombrias
que consideram que, para serem sérias, é preciso pintar a cara de melancolia, de severidade, e tratar os outros,
especialmente os considerados inferiores, com rigidez, dureza e arrogância. Na realidade, a severidade teatral
e o pessimismo estéril são com frequ-
8
[ um
convite
a crescer
em santidade 9
para realizar
plenamente
a própria
missão 10
5
A doença da má coordenação. A não
cooperação. Quando os membros
perdem a comunhão entre si e o corpo perde a funcionalidade harmoniosa e a temperança, tornando-se
uma orquestra que faz barulho, porque os seus membros não cooperam
e não vivem o espírito de comunhão
e de equipe.
A doença do Alzheimer espiritual.
Aquela de esquecer a “história da
salvação”, a história pessoal com nosso Senhor, o “primeiro amor”. É uma
diminuição progressiva das faculdades espirituais... Vemos isto nos que
perderam a lembrança do seu encontro com o Senhor... Nos que constroem
muros ao redor de si mesmos e se tornam cada vez mais escravos dos costumes e dos ídolos que esculpiram com
as próprias mãos.
A doença da rivalidade e da vanglória. Quando a aparência, as cores
das roupas e as insígnias de honra se
tornam o principal objetivo da vida...
É a doença que nos leva a ser homens
6
7
11
12
olutador [ fevereiro ] 2015 • 11 ]
ência os sintomas do medo e da insegurança pessoal.
A doença do acumular. Quando
o apóstolo procura encher um
vazio existencial no coração, acumulando bens materiais, não por necessidade, mas simplesmente para se sentir
seguro... O acúmulo só pesa e atrasa o
caminho, inexoravelmente.
A doença dos círculos fechados.
Pertencer ao grupo se torna mais
forte que pertencer ao Corpo e, em algumas situações, mais forte do que pertencer ao próprio Cristo. Também esta
doença começa sempre com boas intenções, mas, com o passar do tempo,
escraviza os membros e vira um câncer
que ameaça a harmonia do corpo e pode
causar muito dano, escândalos, especialmente aos nossos irmãos menores.
A doença da ganância mundana, do brilho. Quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e
o seu poder em mercadoria para conseguir benefícios mundanos ou mais
poderes. É a doença de quem procura insaciavelmente multiplicar o seu
poder e, para isso, é capaz de caluniar,
difamar e desacreditar os outros, inclusive em jornais e revistas. Naturalmente, para brilhar e mostrar-se mais
capaz que os outros.
Somos chamados, em todo o tempo do nosso serviço e da nossa existência, a viver segundo a verdade no
amor, tentando crescer em tudo diante daquele que é a Cabeça, Cristo, de
quem todo o corpo, bem entrosado,
mediante a colaboração de todas as
conjunturas, segundo a energia própria de cada membro, recebe força para
crescer de maneira a edificar a si mesmo na caridade.
Uma vez, eu li que os sacerdotes são
como os aviões: são notícia só quando
caem, mas há muitos que voam. Muitos
os criticam e poucos rezam por eles. É
uma frase muito interessante, que descreve a importância e a delicadeza do
nosso serviço sacerdotal, e quanto um
sacerdote que cai pode causar estrago
em todo o corpo da Igreja.]
13
14
15
zenit.org
Entrevista [ a pertinência da cF-2015 no
Fraternidade, Igreja
e Sociedade: CF-2015
P e D R O A . R i b e i R O D e O L i V e i R A*
O
LUTADOR: A Campanha
da Fraternidade (CF) 2015
terá como Tema: Fraternidade, Igreja e Sociedade.
Qual a pertinência deste
tema no momento social e eclesial em
que vivemos?
F/rEProdução
Pedro R. Oliveira: Dificilmente a CNBB
conseguiria encontrar tema de reflexão tão pertinente e atual quanto é o
tema da CF-2015: “Fraternidade, Igreja e Sociedade”. Isso porque, 50 anos
depois da publicação da Constituição
Pastoral Gaudium et Spes (GS) a Igreja
Católica ainda tem muito a refletir e a
avançar no modo de relacionar-se com
o mundo em que vivemos. Aquele documento, que é uma das maiores contribuições do Concílio ecumênico Vaticano II para a renovação da Igreja, foi
tão inovador, que até hoje muita gente prefere ignorá-lo para não se sentir
obrigada à profunda conversão pastoral de que fala o Documento de Aparecida. Apontarei aqui apenas um ponto, que me parece crucial: seu método.
Logo na abertura (nº 4), a GS expõe como a Igreja deve aproximar-se
do mundo atual: “é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos
tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens
acerca do sentido da vida presente e
da futura, e da relação entre ambas”.
Investigar os sinais dos tempos como ensina Jesus em tom de desafio (cf.
Mt 16,2-3): aí reside a ruptura com o
método doutrinário que busca verdades eternas para aplicá-las ao tempo
presente. É preciso fazer a leitura crítica das realidades do tempo presente
para perceber nelas os sinais das realidades futuras. Essa leitura pede uma
interpretação à luz do Evangelho para se elaborarem respostas adequadas ao momento histórico. Ora, esta
é a formulação teológica do método
ver, julgar e agir: a Igreja, guiada pelo
Evangelho, deve traçar suas linhas de
ação a partir da realidade vivida por
seus destinatários. Ou seja, ela não deve ficar a repetir suas verdades, como
faziam (e ainda fazem!) os conservadores, mas deve pautar suas relações
com o mundo atual sobre o diálogo
franco e aberto.
[ 12 • olutador [ fevereiro ] 2015
O LUTADOR: O lema desta CF é “Eu vim
para servir”. Aonde este lema quer nos
fazer chegar?
Pedro R. Oliveira: O lema é ótimo. Pena que o cartaz desvie a atenção para
o serviço litúrgico e não faça referência ao serviço a quem é socialmente
"Eu vim para
servir"
marginalizado como seria, por exemplo, a imagem do Papa ao lado de imigrantes clandestinos. De todo modo,
o lema deve despertar-nos para o serviço em áreas apontadas como prioritárias pelo Papa em sua exortação A
Alegria do Evangelho, como são a Paz
mundial (estamos na 3ª guerra mundial “em capítulos”), a acumulação da
riqueza mundial em poucas mãos, os
Direitos Humanos, especialmente dos
grupos e pessoas mais vulneráveis, ou
o aquecimento global e a crise climática (tema da próxima encíclica).
Outros campos que clamam por
uma Igreja “em saída” para servir são
apontados pela CNBB: o projeto de lei
de iniciativa popular para a Reforma
Política e a inadiável demarcação das
terras indígenas e quilombolas.
O LUTADOR: O que podemos esperar como frutos concretos desta CF?
Pedro R. Oliveira: Deve-se esperar de
uma campanha da fraternidade que
momento social e eclesial em que vivemos...
ela opere conversões, isto é, mudanças de rumo na vida das pessoas para
que atuem na transformação da realidade em que vivem. Afinal, a Igreja
não é um fim em si mesma: ela existe
em função do anúncio e da construção
do Reino de Deus. É pena que muita
gente tenha perdido essa visão missioF/rEProdução
nária de serviço ao Reino no mundo,
e tenha reduzido a missão da Igreja a
arrebanhar fiéis para participarem de
suas celebrações.
As celebrações são importantes,
sim, mas é por seus frutos que devem
ser avaliadas: se alimentam a santidade pessoal, mas não impulsionam os
fiéis a tornarem o mundo mais humano, justo e pacífico, alguma coisa está falha... Veja as celebrações da Quaresma e da Semana Santa: elas devem
fazer a memória da vida de Jesus, que
não recuou ao se ver ameaçado de
morte, e morte vergonhosa na
cruz! Participar dessas celebrações sem participar – ainda que imperfeitamente – da
missão libertadora
de Jesus, seria colocar-se como espectador, e não como discípulo e discípula que o seguem
naquela missão
na esperança da
Ressurreição.
O LUTADOR: Em
síntese, o que
mais favorece e o
que mais dificulta
abraçar as CF’s na
Igreja do Brasil?
E o que é possível
pensar do futuro das
CF’s no Brasil?
Pedro R. Oliveira: A
Campanha da Fraternidade é uma criação
brasileira. Nas Igrejas
cristãs da Europa já
existiam campanhas
quaresmais para arrecadação de fundos
de partilha com Igrejas necessitadas, mas
aqui a CF vai além da
oferta em dinheiro, ao
convocar todo o povo
a agir em favor da Jus-
olutador [ fevereiro ] 2015 • 13 ]
tiça e da Paz. Cada ano, ao definir o tema, ela aponta um problema que precisa da atenção da Igreja e da sociedade. É, portanto, um serviço de grande
valor para a humanização da sociedade brasileira, e bastaria isso para justificar todo o esforço que fazemos para
que tenham sucesso.
Embora elas toquem em pontos
que nem todo mundo gosta de lembrar – como o desemprego, o racismo,
as prisões, as drogas, os povos indígenas e outros mais – a sociedade percebe que a Igreja aponta problemas reais
que precisam ser corajosamente enfrentados, e não varridos para baixo
do tapete.
Enfim, deve ser lembrado que as
Campanhas da Fraternidade colaboram enormemente para dar à Igreja
Católica uma boa imagem diante da
opinião pública. Se ela continua sendo uma das instituições de maior credibilidade no Brasil, não é porque faz
belas celebrações ou promove devoções de massa, mas sim, porque se mostra firme na missão profética de apontar o que vai mal na sociedade atual e
incentivar seus membros a atuarem
com a força da Fé na construção de um
mundo onde reinem a Justiça e a Paz.
Por tudo isso, tenho grande entusiasmo pelas Campanhas da Fraternidade. Às vezes o tema é mais fácil
ou atraente; outras vezes é preciso fazer esforço para deixar-se envolver por
ele e participar firmemente da Campanha da Fraternidade, mas o certo é
que a cada Campanha da Fraternidade damos mais um passo em direção
a um mundo melhor de viver. Assim,
só posso dizer: vamos lá!]
*Sociólogo, professor emérito da uFJF e Puc-Minas
F/reprodução
Bíblia [ Carreguem a minha carga e aprendam
Um jeito
diferente
de trabalhar
com o Povo
F r e i C arlos M e s t e rs , O. C arm
A
palavra “pastoral” vem de
“pastor”. Pastor é a pessoa
que cuida das ovelhas e as
conduz para verdes pastagens e águas tranquilas (Sl
23,2). Jesus se apresentava como o Bom
Pastor (Jo 10,11). De fato, o que mais
chama a atenção é a bondade e a ternura com que ele acolhia o povo, sobretudo os pobres (Mc 6,34; 8,2; 10,14;
Mt 11,28-29). Deus se fazia presente
nesta atitude de ternura acolhedora.
Jesus não só falava sobre Deus, mas
também o revelava. Comunicava algo
do que ele mesmo vivia e experimentava. Sua “pastoral” valorizava as pessoas e as estimulava a se firmarem em
Deus e a terem confiança em si mesmas.
Por exemplo, ele elogiou o escriba
quando este chegou a entender que o
amor a Deus e ao próximo eram o centro
da Lei de Deus. Jesus disse para ele: “Você não está longe do reino!” (Mc 12,34).
Animou a Jairo (Mc 5,36), confirmou a
mulher do fluxo de sangue (Mc 5,34),
encorajou o cego Bartimeu (Mc 10,4952) e o pai do menino epilético (Mc 9,2324), acolheu a moça do perfume (Lc
7,36-50), revelou o valor da esmola sem
valor da viúva (Mc 12,41-44), consolou
e curou os doentes (Mc 1,34; Mt 4,23).
Jesus era o Bom Pastor (Jo 10,11),
acolhia os pobres com muito carinho,
[ 14 • olutador [ fevereiro ] 2015
de mim...
F/reprodução
“pois eram como ovelhas sem pastor”
(Mc 6,34; 8,2). Ele os confirmava dizendo
que entendiam a mensagem do Reino
melhor do que os doutores (Mt 11,25). Jesus caminhava com o povo nas romarias
(Mc 11,1-11; Jo 5,1; 7,14), cultivava suas
devoções, esmolas, jejuns e orações (Mt
6,2,18) e, como leigo, participava das celebrações semanais na sinagoga, levantando-se para fazer as leituras (Lc 4,16).
A pastoral de Jesus irradiava sua
luz sobre os discípulos e fazia nascer
neles maior liberdade de ação frente
aos costumes religiosos da época. Eles
criavam coragem para transgredir normas caducas e antiquadas que nada tinham a ver com a fé em Deus nem com
a vida. Por exemplo, quando estavam
com fome, os discípulos colhiam espigas, mesmo em dia de sábado (Mt 12,1);
não lavavam as mãos antes de comer
(Mc 7,5); entravam nas casas dos pecadores e comiam com eles (Mc 2,1517); não faziam jejum como era costume entre os judeus (Mc 2,18).
A experiência dolorosa e desastrosa
que o povo teve dos reis de Israel e de Judá, durante os quatrocentos anos de monarquia (de 1000 a 600 antes de Cristo),
produziu um duplo efeito. De um lado,
levou os profetas a fazerem duras críticas aos reis, os “pastores de Israel”, que
não souberam tomar conta do rebanho
e pensavam só em si mesmos (Ez 34,110). De outro lado, levou o povo a esperar por um Messias que fosse realmente
um Pastor bom e fiel, a cuidar do rebanho com carinho e amor (Ez 34,14-16).
O próprio Deus chegou a prometer
pela boca do profeta: “Eu mesmo vou
procurar a ovelha que se perder,
vou trazer de volta aquela que se
desgarrar, vou curar aquela que
se machucar, e fortalecer a que
estiver fraca”. (Ez 34,16.) Esta espe-
rança realizou-se em Jesus que disse:
“Eu sou o Bom Pastor!” (Jo 10,11.) Ternura, bondade e acolhida caracterizam o
jeito de Jesus trabalhar com o povo. São
Pedro resumiu a ação pastoral de Jesus
com estas palavras: “Jesus andou por
toda parte fazendo o bem!” (At 10,38.)
Impressionam a acolhida e a bondade de Jesus para com as pessoas, sem
distinção. Por exemplo, quando os discípulos afastavam as crianças, Jesus as
acolhia e as abraçava sem se incomodar
de contrair alguma impureza legal. As
mães devem ter ficado muito contentes
(Mc 10,13-16). Outros exemplos: o jeito
de Jesus acolher o velho Zaqueu, desprezado pelo povo por ser publicano (Lc
19,1-10); a maneira como teve dó da viúva
cujo único filho tinha morrido (Lc 7,13).
A grande preocupação de Jesus era
poder aliviar a dor do povo sofrido: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo,
e eu lhes darei descanso. Carreguem a
minha carga e aprendam de mim, porolutador [ fevereiro ] 2015 • 15 ]
que sou manso e humilde de coração,
e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve”. (Mt 11,28-30.)
Como o Servo de Javé, anunciado
pelo profeta Isaías, Jesus se colocava
em oração diante de Deus para assim
poder encontrar palavras de conforto
para o povo desanimado. Ele se identificava com o Servo de Deus, cujas palavras até parecem um autorretrato de
Jesus. Dizia o Servo:
“O Senhor me concedeu o dom de
falar como seu discípulo,
para eu saber dizer uma palavra
de conforto a quem está desanimado.
Cada manhã, ele me desperta, para que eu o escute,
de ouvidos abertos, como o fazem
os discípulos.
O Senhor me abriu os ouvidos e eu
não resisti, nem voltei atrás”. (Is 50,4-5.)
O outro lado da acolhida e bondade
com os pequenos era a firmeza com que
Jesus os defendia contra os desmandos
e desvios das autoridades religiosas da
época: sacerdotes (Mc 11,15-18), fariseus e herodianos (Mc 12,13-17), saduceus (Mc 12,18-27), escribas e doutores da lei (Mt 23,1-36). Estes últimos,
em vez de ajudar o povo, o exploravam
ainda mais (Mc 12,40). Não se importavam com o sofrimento do povo e diziam que era um povo maldito (Jo 9,49).
Jesus sabia que a sua “pastoral”, a
sua maneira de acolher o povo, sobretudo os pobres, desagradava aos dirigentes religiosos da época, mas, como
o Servo de Isaías, ele não voltou atrás.
Dizia o Servo, e Jesus o confirmou:
“Ofereci minhas costas aos que me
batiam e o queixo aos que me arrancavam a barba.
Não escondi o rosto para evitar insultos e escarros.
O Senhor é a minha ajuda, por isso
estas ofensas não me desmoralizam.
Faço cara dura como pedra, sabendo que não vou ser um fracassado.
Perto de mim está quem me faz
justiça”. (Is 50,6-8.)]
* Arquivos cedidos pelo autor
Família [ Envolver também as diferentes instâncias
Vocação e missão da família –
J
p e . s e b as t i ão sa n t ’a n a , sd n *
á comentamos o surpreendente interesse que gerou
o Sínodo Extraordinário
dos Bispos (5 a 19/10/2014)
sobre “os desafios pastorais da família”, tanto na
Igreja quanto na sociedade. Até mesmo os bispos sinodais
se mostraram impressionados com a
grande repercussão do evento de que
foram protagonistas. Entre os vários
motivos que provocaram tamanho interesse está a certeza de que “a família
é o valor mais querido por nossos povos” – conforme atesta o Documento
de Aparecida (435).
Tão importante discussão terá continuidade no XIV Sínodo Ordinário (4
a 25/10/2015), que focará a instituição
familiar na perspectiva da vocação e
missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo. É assunto que interessa a todos.
Em diálogo constante com diversos agentes da Pastoral Familiar – leigos(as), religiosos(as), padres e bispos
–, percebo o quanto tem sido benéfico
para as comunidades cristãs o poder
acompanhar mais de perto os trabalhos sinodais sobre a família. Desnecessário dizer que o maior incentivador desse clima pro família tem sido o
Papa Francisco, em seus pronunciamentos, homilias e catequeses.
É gratificante perceber que cresce, em todos os ambientes eclesiais, a
consciência de que “a família é o caminho da Igreja” e de que “o futuro da
humanidade passa pela família”.
Envolver as instâncias eclesiais
Na reunião do Conselho do Sínodo dos
Bispos (18 e 19/11/2014), presidida pelo
Papa Francisco, para refletir o resultado
do Sínodo Extraordinário e preparar o
XIV Sínodo Ordinário, foi decidido que
o período entre as duas Assembleias é
[ Jamais se esqueça de que a crise de fé
é que trouxe a crise do matrimônio e da família;
e, como consequência, interrompeu-se com frequência
a transmissão da mesma fé dos pais para os filhos.
muito importante “para aprofundar as
temáticas e promover a discussão nas
Conferências Episcopais, encontrando os meios e os instrumentos necessários para envolver também as diferentes instâncias eclesiais na reflexão
sinodal sobre a família”.
Diante desta proposta, convido o
leitor a retomar o Relatório do Sínodo,
em sua Terceira Parte – “Perspectivas
pastorais: Anunciar o Evangelho da família hoje nos diferentes contextos”.
Conforme o Relatório, “o anúncio
do Evangelho da família constitui uma
urgência para a Nova Evangelização.
A Igreja é chamada a atuá-lo com ternura de mãe e clareza de mestra (cf. Ef
[ 16 • olutador [ fevereiro ] 2015
4,15), na fidelidade à kênosis misericordiosa de Cristo” (29). Nas grandes metrópoles ou no interior, o povo sedento fica feliz e agradecido quando lhe é
anunciada a boa nova da família cristã, a “alegria do evangelho da família”.
Testemunho alegre
dos cônjuges e das famílias
Não podemos ter medo de proclamar,
por testemunho e palavras, o bonito projeto de Deus sobre a instituição familiar.
Ao acentuar a urgência do anúncio do
Evangelho da Família, o Relatório (30)
mostra que “evangelizar é responsabilidade de todo o povo de Deus, cada qual
segundo o próprio ministério e carisma.”
eclesiais na reflexão sinodal sobre a família...
F/vaticano
– sintonia com o Sínodo 2015
É grande o destaque para o testemunho da alegria: “Sem o testemunho
alegre dos cônjuges e das famílias, igrejas domésticas, o anúncio, ainda que
correto, arrisca a ser incompreendido
ou a afogar-se no mar de palavras que
caracteriza a nossa sociedade (cf. Novo Milennio Ineunte, 50). Os padres sinodais sublinharam, várias vezes, que
as famílias católicas, em força da graça
do sacramento nupcial, são chamadas
a ser, elas mesmas, sujeitos ativos da
Pastoral Familiar”. (Idem, 30.)
Segundo o Relatório, “trata-se de
fazer a experiência de que o Evangelho
da família é alegria que ‘enche o coração e a vida inteira’, porque em Cristo
‘somos libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior e do isolamento’
(Evangelii Gaudium,1). À luz da parábola do semeador (cf. Mt 13,3), é nossa
tarefa cooperar na semeadura: o restante é obra de Deus”. (Relatório, 31.)
Conversão missionária da Igreja
O texto sinodal continua: “É por isso que se requer de toda a Igreja uma
conversão missionária: é preciso superar o anúncio meramente teórico
e desligado dos problemas reais das
pessoas. Jamais se esqueça de que a
crise de fé é que trouxe a crise do matrimônio e da família; e, como consequência, interrompeu-se com frequência a transmissão da mesma fé
dos pais para os filhos. Perante uma
fé forte, a imposição de algumas perspectivas culturais que enfraquecem
a família e o matrimônio não encontra espaço”. (Idem, 32.)
Outro aspecto a ser levado em conta é que “a conversão deve estender-se
também à linguagem, para que seja de
fato significativa. O anúncio deve fazer
experimentar que o Evangelho da família é resposta às atitudes mais profundas da pessoa humana: à sua dignidade e à plena realização na reciprocidade, na comunhão e na fecundidade. Não se trata apenas de apresentar
uma norma, mas de propor valores,
respondendo à necessidade de que isso aconteça também nos países mais
secularizados”. (Idem, 33.)
João Paulo II convidou-nos a passar de uma visão prevalentemente jurídica e naturalista dos fins do matrimônio para uma visão sempre mais personalista e transcendente, que coloca
o foco no amor e na comunhão entre
as pessoas, à imagem daquela comunhão e daquele amor que existe entre
o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A família – homem e mulher – foi criada à
olutador [ fevereiro ] 2015 • 17 ]
imagem da Trindade, para viver o amor
e a comunhão. O amor-comunhão da
Santíssima Trindade constitui a origem da pessoa humana e, ao mesmo
tempo, o seu destino último. “O amor
é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano.” (FC, 11.)
O amor do casal, assumido no amor
da Trindade, sinaliza para o mundo o
amor de Cristo pela Igreja. Dessa maneira, a graça matrimonial fecunda desde
dentro, mediante a efusão do Espírito
Santo, as relações familiares de esponsalidade, paternidade, maternidade,
filiação, fraternidade (FC, 15).
A Palavra de Deus na vida e missão
O Relatório destaca um valor que vai
crescendo no meio de muitas famílias,
conscientes de sua vocação e missão:
“a Palavra de Deus é fonte de vida e espiritualidade para a família”. Felizmente, muitas famílias vão descobrindo a
riqueza de poder começar o dia com a
iluminação da Palavra de Deus.
É bom ver o que diz o Relatório: “Toda a pastoral familiar deverá se deixar
modelar interiormente e formar membros da Igreja doméstica, mediante a
leitura orante e eclesial da Sagrada Escritura. A Palavra de Deus não é somente
uma boa notícia para a vida particular
da pessoa, mas também um critério
de julgamento e uma luz para discernir os vários desafios que os cônjuges
e as famílias enfrentam”. (Idem, 34.)
Dentro das perspectivas pastorais
apontadas pelo Relatório do Sínodo,
esperamos poder, na próxima edição,
comentar: 1) a importância do namoro e do noivado; 2) os desafios dos primeiros anos de casamento: 3) as uniões
de fato (sem o sacramento); 4) os casais divorciados e em segunda união.
Aguardem!]
* Missionário Sacramentino de Nossa Senhora,
Pároco da Paróquia de Espera Feliz, MG
F/reprodução
Catequese [ Vale a pena viver do jeito que estou
A
morte
F r e i Va n i ldo L u i z Z u g n o O FM C ap *
O
ser humano é uma criatura
de Deus. E, como em toda
criatura, a existência humana tem um começo e
um fim. Não somos eternos neste mundo... Tão certo quanto
o fato de que um dia começamos a viver, é o fato de que um dia morreremos. Nossa vida terrena vai ter um fim!
Por que, então, a morte intriga tanto? Por que tanta dificuldade em falar
da própria morte? Por que é tão difícil
encarar a morte dos outros, especialmente das pessoas que são mais próximas de nós? Por que tanto mistério ao
redor da morte se ela é um fato natural
pelo qual todos passaremos?
1. A morte como separação
Sentir dor diante da morte de uma pessoa querida ou sentir a possibilidade da
própria morte como separação dolorosa das pessoas que amamos, faz parte
da nossa condição humana. Passamos
nossa vida construindo relações. Dentro
da família aprendemos a querer bem
às pessoas como pais, filhos, irmãos,
tios, primos. Na sociedade, aprendemos a ser cidadãos, a nos sentirmos
responsáveis pelo destino das pessoas
que conosco partilham sonhos e esperanças. Na Igreja, aprendemos a sentir
cada irmão e cada irmã como um dom
precioso e único de Deus.
São relações que nos marcam e que,
de forma muito profunda, vão construindo a nossa própria identidade. Muito
do que nós somos, é aquilo que somos
para os outros e os outros são para nós.
As impressões que as outras pessoas
deixam em nós, carregamo-las para
toda a vida. Ninguém é sozinho nesse
mundo. Somos aquilo que somos para os outros e aquilo que os outros são
para nós. Somos seres de relações e seres em relações.
Por isso, quando alguém próximo
de nós morre, dizemos que é um pouco
[ 18 • olutador [ fevereiro ] 2015
de nós mesmos que morre, pois com
ele vão todas as convivências e projetos que juntos construímos. Ficam as
recordações, os bons momentos que
partilhamos e o bem que ajudamos a
construir. Mas fica um vazio que nunca será suprido. Por isso, a morte dói.
A insensibilidade diante da morte é sinal de uma vida vivida na superficialidade ou de relações que não alcançaram o profundo do ser humano.
Sentir a dor diante da partida definitiva
de alguém é um grande sinal de humanidade e profundidade das relações.
2. A morte como ponto final da vida
Mas há outra razão que faz com que a
morte seja um fato que tanto nos questiona: “a morte é o termo da vida terrena [...] e a lembrança da nossa condição de mortais também serve para
nos lembrar de que temos um tempo
limitado para realizar a nossa vida”.
(Catecismo da Igreja Católica, 1007.)
A morte nos lembra que o que realizamos nesta vida, está feito e não podemos voltar atrás. E o que não fizermos,
nunca mais poderemos fazer. Não há
segunda chance... A morte nos lembra
as grandezas e as limitações de nossa
existência e nos faz pensar na qualidade de nossa existência.
Pensar na morte é sempre pensar
na vida e perguntar-se: vale a pena viver
do jeito que estou vivendo? A minha vida, assim como a estou vivendo, é vida
mesmo ou é uma morte antecipada?
Como nos lembra o Catecismo da
Igreja Católica, “a morte é o fim da peregrinação terrena do homem, do tempo
de graça e misericórdia que Deus lhe
oferece para realizar a sua vida terrena
segundo o plano divino e para decidir
o seu destino último”. (1013.)
Na fé, nós cremos que, pela participação na Ressurreição de Jesus Cristo, nossa vida continua em Deus. Mas
não há possibilidade de outra vida aqui
na terra, porque a nossa vida aqui na
terra é uma só, morremos uma só vez
(cf. Hb 9,27). Por isso o mistério da vida e da morte é tão profundo e tão necessário de ser pensado.
vivendo?
3. A morte fruto do pecado
Muitos são os que morrem antes do
tempo. Em um grande número de casos, vemos claramente que a morte não
é natural, mas fruto do pecado, do egoísmo, da ganância, de ódio, de violência de todos os tipos ou, simplesmente, pela inconsciência e irresponsabilidade diante do grande dom da vida
que Deus nos concedeu.
É o tipo de morte que não só nos
coloca diante do mistério da morte humana, mas também da inaceitável iniquidade cometida pela pessoa humana. Crianças mortas antes de nascer ou
que não encontram as condições mínimas para crescer e desenvolver-se;
adolescentes e jovens que têm sua vida
ceifada pelas drogas, pela violência policial, pela irresponsabilidade no trânsito; adultos que têm sua vida encurtada pelo stress de um trabalho que não
realiza e que não é pago dignamente;
anciãos que morrem antes do tempo
e sem dignidade, abandonados pelas
suas famílias e pela sociedade... Comida envenenada por agrotóxicos, poluição, guerras, falta de atendimento médico... Às vezes, podemos dar nome ao
assassino; outras vezes, a morte é fruto do jeito como a nossa sociedade se
organiza. É o pecado social, cuja responsabilidade não cabe apenas a uma
pessoa, mas a todos nós.
4. Nossa fé na vida que vence a morte
Diante de todo tipo de morte, especialmente diante da morte injusta, nossa
fé nos lembra que, em Cristo, a morte é
transformada em vida (cf. Catecismo,
1009). Jesus, o próprio Filho de Deus,
também sofreu uma morte injusta. Ele
foi perseguido, preso, torturado e mor-
to na cruz por aqueles que não aceitavam a sua proposta de um Reino de
justiça, paz e fraternidade. Diante das
ameaças, ele não recuou, mas, em obediência à vontade do Pai de anunciar a
Boa Nova do Reino até as últimas conseqüências, tomou resolutamente o caminho de Jerusalém (cf. Lc 9,51), onde
experimentou a morte cruel e injusta.
O Pai, Deus da vida, não abandonou
Jesus à morte: “Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias da morte, porque
não era possível que ela o dominasse”.
(At 2,24.) A ressurreição de Jesus é a afirmação de que nosso Deus é o Deus da
vida, e que Ele não aceita a morte injusta.
Pelo batismo, “o cristão já morreu
com Cristo sacramentalmente para viver uma vida nova; se morremos na
graça de Cristo, a morte física consuma este morrer com Cristo e completa
assim a nossa incorporação n’Ele, no
seu ato redentor”. (Catecismo, 1010.)
5. Nosso compromisso com a vida
Por participar, através do batismo, na
Vida que vence a morte, todo cristão
é chamado a comprometer-se na luta contra todas as circunstâncias que
ameaçam a vida, seja do ser humano
ou de qualquer outra criatura. Diante
da morte, o cristão não pode ser indiferente. Nosso compromisso é com o
Deus da Vida e com todas as formas de
vida. Diante da morte injusta, brota a
indignação do cristão. E, da indignação,
somos chamados a passar para a ação,
tanto pessoal como social. Em nosso
dia a dia, podemos fazer muitos gestos
que superem a morte. E, organizandonos em grupos, podemos atuar para que
nossa sociedade deixe de ser uma sociedade de morte e passe a ser uma sociedade onde reine a vida e o Deus da vida.
Se nos colocamos no caminho da vida, com São Francisco poderemos dizer:
“Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa
irmã, a morte corporal, à qual nenhum
homem vivo pode escapar. Ai daqueles
que morrem em pecado mortal: Bem-aventurados os que ela encontrar a cumprir as tuas santíssimas vontades, porque a segunda morte não lhes fará mal”.
olutador [ fevereiro ] 2015 • 19 ]
S
ão Francisco de Assis é
exemplo de uma pessoa
que soube integrar o fato
da morte na totalidade de sua
existência. No “Cântico das Criaturas” a ele atribuído, depois de
ter louvado o Criador por tantas
maravilhas que Ele nos concede, também canta a morte como
dom de Deus. No dizer do santo, o que devemos temer não é
a morte, mas o morrer longe de
Deus, ou seja, em pecado mortal. Para os que, nesta vida, fazem a vontade de Deus, não há
nada a temer diante da morte,
porque, na verdade, ela nos abre
o caminho para o definitivo encontro com Aquele que, desde
sempre, nos espera:
Louvado sejas,
meu Senhor,
Por nossa irmã,
a Morte corporal,
Da qual homem algum
pode escapar.
Ai dos que morrerem
em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes á tua
santíssima vontade,
Porque a morte
segunda não lhes fará mal!
Para refletir:
1) Como me sinto diante da possibilidade da minha própria morte?
2) Como me sinto diante da possibilidade da morte das pessoas que amo?
3) O jeito como em nossa comunidade
e em nossa sociedade se fala e se vive a
morte, é condizente com a compreensão cristã da vida e da morte?]
* Mestre em Teologia e professor da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana e
do Centro Universitário La Salle. Também atua na
capacitação teológico-pastoral de lideranças eclesiais no meio popular.
Juventude [ WhatsApp
F/reprodução
U
m programa que utiliza a Internet principalmente para
enviar mensagens instantâneas e fotos. O WhatsApp é usado especialmente
em telefones celulares.
WhatsApp voltou ao centro da atenção mundial quando, em meados de novembro de 2014, habilitou um sistema
que permite saber se o destinatário das
mensagens enviadas pelo sistema leu
ou não: se o remetente vê em seu telefone dois tracinhos azuis, significa que
o receptor leu a mensagem.
Já em 2013, um estudo do
“Cyberpsychology: Journal of Psychosocial Research on Cyberspace” mostrava que o WhatsApp tinha sido motivo para a ruptura
de uns 28 milhões de casais. As
pessoas enviavam mensagens,
mas também esperavam uma
resposta imediata. Com a nova modalidade de comprovar a leitura das mensagens, essa “expectativa de
resposta” fica ainda mais acentuada e,
compreensivelmente, com consequências não só nas relações dos namorados.
Sabe-se que, como sugerido por
alguns psicólogos (p. ex., Henry Echeburúa, da Universidade do País Basco)
WhatsApp pode gerar o mesmo vício de
uma droga. Uma droga que apresenta
sintomas externos, como a incapacidade
de não deixar de ver permanentemente
o telefone durante o dia, mas também
durante a noite; droga que incapacita para relacionar-se e olhar nos olhos
do outro; droga que faz experimentar
sensações como a impressão de que o
telefone vibra sempre ou que cria a necessidade de estar sempre conectado,
disponível e reagindo imediatamente
aos estímulos que vêm “do outro lado
do telefone”. De acordo com o estudo “A
Comunicação dos estudantes por meio
do WhatsApp”, um a cada três estudantes de 15 a 19 anos usa o WhatsApp, em
média, durante seis horas por dia...
Em geral, as redes sociais e serviços de mensagens instantâneas como
o WhatsApp criaram uma “forma mentis” nova nos modos e tempos de inte-
ração humana. Sendo estes estímulos
sincrônicos e intempestivos, exigem,
para muitos, uma forma de resposta
nas mesmas categorias.
Que isso passe depois ao âmbito dos sentimentos só é um reflexo de
que, na verdade, as experiências digitais supõem também reações afetivas
que suscitam rejeição ou reforçam laços humanos porque, em última análise, as tecnologias são o que são os seres humanos que as usam.
De acordo com dados do WhatsApp,
até agosto de 2014 esse serviço tinha
600 milhões de usuários. Só em abril
do mesmo ano, tinha superado os 500
milhões. Números como estes manifestam claramente não só a penetração que
esses serviços têm nos seres humanos,
mas que também as relações humanas
mudam nas suas formas. Sendo as relações humanas o ponto de partida (enquanto são a nossa primeira experiência de alteridade, ou seja, de tratamento com outros), é compreensível que,
consequentemente, condicionem para
bem ou para o mal a nossa capacidade
de relacionar-nos com Deus.
Considere um exemplo simples, mas
profundo: a oração. Em termos claros,
[ 20 • olutador [ fevereiro ] 2015
ela supõe o diálogo entre duas pessoas: a própria pessoa e Deus. Nesse diálogo, na maioria das vezes, somos nós
que formulamos uma petição e esperamos a resposta. A era das tecnologias é
também a era da impaciência: esperamse respostas e soluções imediatas. Mas
na vida de fé esse não é normalmente o
caminho pedagógico que Deus usa para ajudar-nos em profundidade. Não é
verdade que existe o risco de não saber
esperar, também na vida de união com
Deus, de nos cansarmos e ir alimentando uma espécie de apatia religiosa ante
a falta de respostas imediatas?
“Se não te respondo, é porque estou fazendo uma pausa” – era um dos
cartazes da marca KitKat após a implementação do sistema de WhatsApp em
novembro de 2014. No fundo, mostrava
algo bastante real: o homem não está
feito só para respostas imediatas a estímulos inesperados, mas também para refletir as suas respostas. E isso nos
leva a pensar como a as respostas que
não contam com o apoio da reflexão,
que tantas vezes está unida à pausa e
ao silêncio, dificilmente dão os melhores resultados.]
[Veja texto completo em Zenit.org]
Juventude [ "em canto"
P
ROCuRAnDO oferecer subsídios à ação litúrgica e pastoral junto à juventude e à comunidade eclesial, O Lutador apresenta esta nova
seção: “Em canto”. Será um espaço de divulgação de um trabalho de qualidade vindo de pessoas
simples, gente de nossas comunidades, que, a partir
da vivência da fé e do cultivo da espiritualidade, compõe canções de cunho litúrgico pastoral.
[ 2 ] A vida de comunidade (Oferendas) (Fá+)
(L. e M.: Jakson Moreira de Almeida – Pega Bem – Tarumirim, MG)
Dm
1. Os frutos do nosso trabalho,
C
F
O trigo que o homem plantou.
Dm
C
Bb
F
A oferta do coração
[ 1 ] Sinal da Cruz (Lá+)
F
A uva que foi amassada, / recebe, Senhor.
Bb
C
(L. e M.: Crisógono Sabino – Aracuí – Castelo, ES
Se torna oblação, aqui no altar.
Estamos unidos em comunidade,
“Eu vim para servir”, não vou desistir,
De fé e de vida, na fraternidade.
eu vou me entregar! / Senhor!
Somos batizados buscando sustento
2. A vida de comunidade,
O sonho de um mundo melhor.
O gesto de fraternidade, / recebe, Senhor!
A
D
Bb
A
E
C
E7
A
Pra nossa missão.
A7
D D# º
A
Vamos celebrar, vamos celebrar:
A
e do Espírito Santo. Amém.
D
Bb
F
3. Igreja e sociedade,
A busca de um bem maior,
A vida nova partilhada, / recebe, Senhor.
E7
Em nome do Pai, do Filho,
F
A
(Este canto expressa a unidade das pessoas que, pelo Batismo, se tornam irmãos e se reúnem em comunidade diante do Senhor. Traz à consciência a missão que se nutre e se
fortalece ao celebrar a fé trinitária. Liturgicamente, é relevante pelo fato de não repetir o Sinal da Cruz. Pode-se optar por cantar apenas o refrão.)
(Embora o canto para apresentação das ofertas seja opcional, ele é muito frequente em nossas comunidades. Este canto conjuga a expressão comunitária em suas estrofes: a comunidade traz as oferendas do trigo e da uva, os sonhos de
uma vida melhor pela presença da Igreja na sociedade. Por
sua vez, o refrão contempla a dimensão pessoal do orante
que faz a oferta de si mesmo ao Senhor.)
[ As músicas desta seção podem ser baixadas
no nosso site: olutador.org.br
Cantando Igreja e Sociedade
57 Cânticos para celebrações litúrgicas e encontros
Os livros cifrados, os livrinhos de cânticos
e os Cds podem ser tratados diretamente
com Paulo Felix Delesposte
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olutador [ fevereiro ] 2015 • 21 ]
[Apoio: Sonorplay
Criação e evolução
dom f e r n a n do ar ê as r i fa n
A
lguns ficaram injustamente escandalizados
com a afirmação do
Santo Padre, o Papa Francisco, em
seu discurso de
27/10/2014, sobre
a teoria da evolução, pensando até
que o Papa estivesse
defendendo o evolucionismo ateu. Há que
se distinguir entre teoria
da evolução, defensável e
aceitável, e o evolucionismo,
ideologia materialista que ensina a evolução total com a ausência do Criador. (Marx e Engels utilizaram a teoria da evolução de Darwin para propagar o materialismo
ateu do comunismo).
Também é necessário distinguir
entre criacionismo, ideologia que
defende erroneamente a interpretação literal da Bíblia como parâmetro
da ciência, e a teoria da Criação, verdade que a Igreja, e nós com ela, defendemos e ensinamos.
Na verdade, o Papa Francisco afirmou que “a evolução na natureza não
contrasta com a noção de Criação, porque a evolução pressupõe a criação dos
seres que evoluem”. Ele explica que Deus
“criou os seres e deixou que se desenvolvessem segundo as leis internas que
Ele deu a todos, para que se desenvolvessem, para que chegassem à sua plenitude. Ele deu autonomia aos seres do
universo ao mesmo tempo em que assegurou Sua presença contínua, dando
o ser a toda a realidade”. Ou seja, Deus
criou o mundo e o acompanha com as
leis que Ele criou. É o que chamamos
a Divina Providência.
Além disso, o Pontífice explicou
que é aceitável a teoria que explica o
começo do universo através de uma
grande explosão, aventada pelo sacerdote católico belga Georges Lemaître
e chamada de Big Bang. Aliás, o Pontífice afirmou que “o começo do mundo não é obra do acaso, mas que deriva diretamente de um Princípio supremo que cria por amor”.
Já em 1951, o Papa Pio XII havia
acolhido com simpatia a teoria do Big
[ 22 • olutador [ fevereiro ] 2015
Bang, afirmando ser ela perfeitamente compatível com o ensino da Igreja sobre a criação do mundo por
Deus, “a obra da onipotência criadora, cuja força, saída do potente ‘fiat’ pronunciado há milhões
de anos pelo Espírito criador, se
propagou no universo, chamando à existência com um gesto
de amor generoso a matéria exuberante de energia. Realmente, parece
que a ciência moderna,
olhando para milhões de
séculos atrás, conseguiu
tornar-se testemunha daquele primordial Fiat lux
[Faça-se a luz], pelo qual do
nada irrompe, com a matéria, um mar de luz e radiação, enquanto as partículas
químicas dos elementos se separam e
se reúnem em milhões de galáxias”. (Pio
XII, discurso de 22/11/1951.)
O evolucionismo, materialista ateu e
marxista, acaba transformando a matéria
em deus. A matéria seria perfeitíssima,
conteria todas as perfeições nas quais
se transformaria, eterna, onipotente,
criadora por si mesma do céu e da terra:
mas essa é a definição de Deus! E quem
provocou a tal explosão inicial, onipotente, inteligente e organizadora? Na ânsia de negar o Deus pessoal inteligente,
chega-se ao deus matéria cega e bruta.
Como seríamos contraditórios,
se negássemos a Deus! E mais crentes, pois é preciso ter mais “fé” para ser
ateu, crendo no absurdo, do que para crer em Deus Onipotente e eterno,
com uma Fé lógica e racional.]
F/reprodução
Horizontes [ Papa Francisco, e o discurso de 27/10/2014...
O
Centro de Acolhida
Betânia (CAB) é uma
obra social da Comunidade
Missionária de Villaregia desde
1987, como resposta à presença de crianças e adolescentes que pediam comida, roupa,
atenção, escola, ACOLHIDA. O
CAB atende diariamente, em
horário alternativo à escola,
220 crianças e adolescentes de
6 a 16 anos, visando a melhoria
das condições econômicas, sociais e humanas deles e de suas
famílias!
A acolhida e o respeito das diferenças são pilares da formação
oferecida que ajudam na promoção humana da pessoa. O
Centro visa a formação integral
da pessoa, acreditando em seu
valor e em suas potencialidades, e proporciona a crianças
e adolescentes uma autêntica
experiência de família.
O Centro de Acolhida oferece
também alimentação, atendimento às famílias, atendimento
odontológico, oficinas de artes,
esporte, apoio pedagógico, jogos pedagógicos, literatura, informática, dança e música.
O CAB se sustenta por meio
de doações econômicas, de
alimentos, de material de limpeza e de higiene, de material
escolar e pedagógico, roupas e
do serviço voluntário.
Ajude-nos!
Colabore para sustentar
o Centro de Acolhida Betânia através:
da destinação do imposto de renda
Banco do Brasil
Conta: 17538-2
Agência: 4282-X
Doação por meio de carnê
Ven ha
fazer
parte d
a
nossa a
colhida
!
F/rEProdução
Espiritualidade [ É necessário termos olhos de fé...
Anselm grün:
um monge no
Século XXi
Nascido na Baviera, Alemanha, em janeiro de 1945, ANSELM GRÜN
é um dos autores espirituais mais lidos nos últimos tempos.
Monge beneditino, trabalha também como orientador espiritual.
Para ele, a questão da fé é essencial para nosso tempo.
e
m sua edição de outubro de
2014, a revista “Feu et Lumière”
entrevistou o monge beneditino Anselm Grün, já conhecido no Brasil graças a várias
edições de seus livros em português.
Desde sua primeira comunhão,
aos 10 anos de idade, ele experimen-
[ em cada um está
presente um mistério
que o ultrapassa, um
núcleo divino; e mais,
Deus mesmo mora
em cada ser humano.
tou um chamado ao sacerdócio. Apoiado pelo pai e animado pelo exemplo
de um tio, monge na Abadia de Münsterschwarzach, foi ali aceito com a idade de 19 anos.
“Certamente, às vezes duvidei, em
especial na puberdade ou antes da faculdade. Pensei em partir como missionário. De fato, nós somos beneditinos missionários, presentes na África e na Coreia. Eu pensei em ir para a
Coreia.”
Em 1973, Anselm Grün escreveu
sua tese de doutorado: “A redenção pela Cruz – Contribuição de Karl Rahner
para uma compreensão contemporânea da redenção”. Em 1978, escreveu
um primeiro opúsculo: “Oração e conhecimento de si”. Na época, diz ele, alguns jovens religiosos buscavam uma
aproximação entre a sabedoria dos primeiros monges e a psicologia moderna.
Grün comenta: “O ano de 1968 não
foi apenas o ano da revolução dos estudantes. Também no mosteiro nós
nos rebelamos contra os antigos rituais, contra uma espiritualidade transmitida sem levantar questões. Também
nós queríamos perguntar como poderíamos levar uma autêntica vida monacal e que coisa a sabedoria dos monges
tinha para dizer ao mundo”.
Os trabalhos de Anselm Grün estendem vínculos entre a fé, a filosofia,
a psicologia e o desenvolvimento pessoal. “Para mim – diz ele – a fé permanece central. Mas a fé exige ser provada e a experiência vivida modela a personalidade e o psiquismo. Eu procuro
seguir meu santo padroeiro, Anselmo
de Cantuária, que dizia: ‘Fides quaerens intellectum [a fé que busca a Inteligência]. A fé leva a uma compreensão
racional mais inteligente’. Para mim, a
psicologia tem duas funções. Por um
lado, a psicologia de C. G. Jung nos encorajou a guardar a fé nos símbolos e
rituais cristãos; por outro lado, a psicologia constitui uma possibilidade de
descobrir minha própria verdade, de
olhar de frente as profundezas de meu
inconsciente e levar em consideração
[ 24 • olutador [ fevereiro ] 2015
o meu lado de sombra Isto corresponde ao caminho de humildade que São
Bento descreve. A seguir, eu apresento
a Deus aquilo que percebi em mim. A
cura nos vem no encontro com Deus
ou com Jesus Cristo. Encontrar Jesus
Cristo é também me encontrar, com
tudo aquilo que me constitui.”
Em um de seus livros publicados no
Brasil [“Se quiser experimentar Deus”,
Ed. Vozes, 2001], Anselm Grün observa
que “não é só em Jesus que podemos
ter a experiência de Deus, mas também em cada ser humano”. E ainda:
“Quem reconhece o próprio Cristo no
rosto de quem sofre necessidade, há de
ir ao seu encontro de uma forma diferente e tratá-lo de maneira diferente.
Não podemos ver Deus diretamente
no ser humano. É necessário termos
olhos de fé para nesta pessoa concreta
vermos mais do que meus olhos veem.
Tenho que meditar profundamente no
mistério do ser humano. Em cada um
está presente um mistério que o ultrapassa, um núcleo divino; e mais, Deus
mesmo mora em cada ser humano”.]
* * *
Alguns livros de Anselm grün
– Oração e autoconhecimento – Ed. Vozes
– Imagens bíblicas de redenção – Ed. Vozes
– O céu começa em você – Ed. Vozes
– A fé dos jovens – Ed. Vozes
– O que vem após a morte – Ed. Vozes
Caderno
de Cidadania
Doando
ações
FOTOS/ARQ. SDN
ANO 12 * Nº 263 * FEVEREIRO * 2015 * BELO HORIZONTE * MG
❝ Doar,
proteger
e preservar,
tornam-se
imperativos
para a defesa
e preservação
da vida
e do meio
ambiente. ❞
obreviver de doação. Esta é a realidade de muitas instituições filantrópicas de Belo Horizonte, de Minas Gerais e do Brasil. A possibilidade de parcerias com o Poder Público não é descartada, mas não pode ser dada como
certa, já que estas dependem do preenchimento de determinados requisitos em editais e são
limitadas pelo tempo.
As doações são, portanto, o porto seguro das instituições. Pode até parecer algo instável, já que são voluntárias e, na maioria das vezes,
sem qualquer compromisso com a regularidade.
A realidade das doações, entretanto, é outra. Realmente, não há garantia de doação presente e
futura. As instituições trabalham, então, com estratégias que tentam garantir essa regularidade.
Apadrinhamentos, proximidade com
os doadores, doações via conta de luz, telemarketing, parceria com instituições e ONGs internacionais. Tudo isso pode dar alguma segurança para
que as entidades executem e programem suas
atividades. Mas elas fazem mais que isso. É frequente a realização de eventos, como almoços e
jantares, para arrecadar recursos, bem como os
bazares que contam com doações de produtos e
objetos. As doações não precisam ser apenas de
roupas, brinquedos e próteses, podem ser também de trabalho. Todas as instituições filantrópicas ressaltaram que precisam de trabalho voluntário. Ou seja, tempo e vontade.
Nosso Caderno de Cidadania apresenta também o trabalho da AFEC, que atende 120
famílias em situação de vulnerabilidade social
e crianças vítimas de traumas na Região Norte
de Belo Horizonte. Ela precisa e conta também
com doações para manter suas atividades. Confira ainda a participação do IDH, que nos apresenta o bonito trabalho do Instituto Milho Verde
- IMV na defesa e preservação do meio ambiente, mas sofre grande perseguição por parte daqueles que lucram com a devastação.
Assim, “doar”, “proteger” e “preservar” tornam-se imperativos para a defesa e preservação da vida humana e do meio ambiente,
e isso é responsabilidade comum aos três setores sociais: Estado, Mercado e Sociedade Civil.*
[2
*
Parabéns
aos nossos profissionais gráficos
Dia 07 de fevereiro é o dia do Gráfico. Johan
Guttenberg, o “pai da imprensa”, é considerado por muitas pessoas como o primeiro gráfico, e foi ele que imprimiu a primeira Bíblia, livro mais vendido e mais lido em todo o mundo. Assim, é dia de homenagear as pessoas que deixam a nossa
vida mais colorida. É nas mãos do gráfico
que as ideias se tornam realidade. Obrigado por colocar as nossas ideias “no papel”! Parabéns aos gráficos da Editora O
Lutador, de Minas e do Brasil!*
Gráfica e Editora
www.olutador.org.br
Escolha unificada
dos Conselheiros Tutelares
Atenção Conselheiros de Direitos da Criança e
do Adolescente!
Em 2015, ocorrerá o primeiro processo de escolha
unificada dos Conselheiros Tutelares em todo território nacional a partir da vigência da lei
12.696/12. Medida foi regulamentada
pela Resolução n° 152/2012 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA).*
X Conferência dos Direitos
da Criança e do Adolescente
Já tem data a X Conferência Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente. Anote aí, evento acontecerá entre os dias 14 e 18
de dezembro de
2015 com o tema “Política e Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes- fortalecendo os Conselhos
dos Direitos da Criança e do Adolescente”*
olutador [ fevereiro ] 2015 [ Caderno de Cidadania ]
Doando ações
Instituições que sobrevivem apenas de doações incentivam
apadrinhamento, mantêm bazares, realizam eventos
e pedem voluntários
A
padrinhamento, contato constante com doadores, realização de
eventos e bazares.
Estas são algumas
das estratégicas de
instituições filantrópicas para manter suas atividades. Todas
as instituições ouvidas pelo Caderno de
Cidadania relatam o trabalho duro para conseguir recursos para as ações filantrópicas.
Uma fonte de recurso são as parcerias com o Poder Público. Entretanto, a grande maioria das instituições filantrópicas não mantém parcerias, ou
o faz raramente. Elas sobrevivem exclusivamente de doações. Eventualmente,
firmam uma parceria, mas as atividades
são mantidas principalmente por meio
de doações.
É o caso do Grupo IUNA de Capoeira
Angola. O IUNA oferece acompanhamento escolar, aulas de instrumentos musicais (violão, flauta), de informática e, cla-
ro, de Capoeira Angola, para qualquer
pessoa a partir de seis anos. No final de
2014, chega ao fim a parceria com a Secretaria Estadual de Cultura e o Ministério da Cultura, que transformou a sede
do IUNA em um Ponto de Cultura. Desde
2010, depois de ter disputado um edital
público, o Grupo IUNA recebeu equipamentos e transformou-se num telecentro no bairro Alto Vera Cruz.
Mesmo com o fim da parceria, as atividades do IUNA vão continuar. Isso porque o grosso dos recursos vem de doações da Comunidade Santo Ângelo, de
Milão, na Itália. A presidente do IUNA,
Cássia Rita de Faria Silva, diz que a Instituição está aberta para receber doações não apenas em dinheiro ou recursos, mas também de trabalho. “A gente
precisa de voluntários”, diz ela. “Aqui é
um bairro de trabalhadores, então, é difícil ter voluntários”, explica.
Fundada nos anos 70 pelo Padre Cornélio Kita, da Congregação Verbo Divino
- SVD, a Casa do Homem de Nazaré começou seu trabalho atuando como abri-
olutador [ fevereiro ] 2015 [ Caderno de Cidadania ]
*3]
go, acolhendo crianças que viviam em
situação de rua. Chegou a ter nove casas. Hoje, a Casa ampara, educa e instrui
crianças e adolescentes, dos seis aos 18
anos, e suas famílias em situação de risco social. O trabalho se dá por meio de
atividades complementares às da escola, como acompanhamento escolar, ar-
[▶
[▶
Camila Vieira Dutra posa para foto com atendidos da Casa do Homem de Nazaré
[▶tes, informática, atividades lúdicas, es-
Daniela Dumont, da Casa Aura
Acompanhamento escolar é um serviço
oferecido pela Casa do Homem
de Nazaré e pelo Grupo IUNA-IMG
portivas, culturais e recreativas.
A Casa do Homem de Nazaré é uma
instituição filantrópica que vive basicamente de doações. Em sua maior parte,
as doações são dos padrinhos e madrinhas que contribuem com os apoiadores que nos ajudam a transformar a vida de crianças, adolescentes e famílias
em situação de risco social. E contamos
ainda com os nossos parceiros. A Casa
do Homem de Nazaré também participa
de eventos, como feiras, para divulgação
dos trabalhos produzidos pelas crianças
e adolescentes e na captação de novos
colaboradores. “A gente recebe ajuda
da comunidade em geral”, conta Camila Vieira Dutra, responsável pelo setor
de comunicação.
A Casa de Apoio Aura também vive basicamente de doações. A gestora administrativa da Casa, Daniela Dumont, explica que eles também trabalham com algumas parcerias, “mas
a maior parte é doação”. Dois veículos utilizados pela Casa Aura são fruto de convênios com o Poder Público,
que também vai ajudar na construção
da sede própria. O terreno para construção, entretanto, foi doado por um
conselheiro da Casa Aura.
“O dia a dia funciona com doação.
Doação por telemarketing, depósitoem
banco e por meio de contas da Cemig e
Copasa”, explica Daniela. Assim como no
[4
*
Grupo IUNA, a Casa Aura precisa, além do
dinheiro, de doação de trabalho. Qualquer pessoa pode inscrever-se no site da
instituição - http://aura.org.br/ - para ser
voluntário. “O problema é que a maioria só pode comparecer aos sábados e
domingos. Nesses dias, as crianças vão
pra casa”, diz ela. “É em dia de semana
que a gente precisa.”
A Casa Aura é um espaço em que
crianças e adolescentes que estão em
tratamento contra o câncer ficam hospedados, juntamente com os acompanhantes. Em geral, são crianças e adolescentes que moram no interior e não têm
recursos nem lugar para ficarem em Belo
Horizonte, onde funciona a Casa. Além
da hospedagem, são oferecidos serviços como fisioterapia, apoio psicológico e fonoaudiologia. Os atendidos também recebem doações de próteses (principalmente de pernas e olhos) e cadeiras de rodas. *
Com o
c on tr i b ui r
Casa do Homem de Nazaré
Rua Boninas, 425 - Bairro Esplanada
Belo Horizonte, MG
Doações: Fone (31) 3463-0315
http://chn.org.br/
Casa de Apoio Aura
Rua Fernando Lobo, 462
Bairro Paraíso - Belo Horizonte, MG
Doações: Fone (31) 3236-5900
http://aura.org.br/
Grupo IUNA
de Capoeira Angola
Rua Dr. Brochado, 1500
Bairro Alto Vera Cruz
Belo Horizonte, MG
Doações: Fone (31) 3483-5301
olutador [ fevereiro ] 2015 [ Caderno de Cidadania ]
O afeto
da AFEC
❝ Ela decidiu
abrir a associação
para atender
a crianças e famílias
vítimas de traumas. ❞
120 famílias em situação
de vulnerabilidade social e crianças
vítimas de traumas são atendidas pela
AFEC na região norte de Belo Horizonte
A
AFEC – Associação
Fátima Educar e
Crescer é uma associação sem fins
lucrativos, voltada
para atendimento
psicológico, psicopedagógico e aumento da oportunidade de qualificação
profissional para o mercado de trabalho,
por meio de cursos de qualificação para crianças, adolescentes e famílias vítimas de traumas.
São atendidas crianças e adolescentes de 3 a 17 anos, além de membros de
suas famílias, sem idade limite. Os encaminhamentos dos atendidos são feitos
pelo Conselho Tutelar, escolas, CRAS- Centro de Referência da Assistência Social e
regionais da área Norte e Venda Nova da
Prefeitura de Belo Horizonte.
O trabalho da AFEC começou como
uma clínica particular. “Eu comecei a perceber que as pessoas que procuravam
não tinham condições de pagar”, conta
Ludmila de Castro Batista, psicóloga, presidente da AFEC. Ela decidiu abrir a associação para atender a crianças e famílias vítimas de traumas. Os casos são os
mais variados, vão de estupro a envolvimento com drogas e violência doméstica. “Às vezes a gente acha que não, mas
são muitos casos”, diz Ludmila.
O objetivo da Instituição é promover
atendimentos psicológicos individuais,
A AFEC conta com o trabalho de diversos voluntários para funcionar
Ludmila, a presidente, é a terceira em pé da esquerda para a direita
em grupo, atendimentos psicopedagógicos e cursos de qualificação profissional, sempre buscando aumentar a autoestima e a qualidade de vida dos atendidos. Os atendidos são pessoas em situação de vulnerabilidade social, vítimas de
traumas, dificuldades de aprendizagem
e dependentes químicos.
olutador [ fevereiro ] 2015 [ Caderno de Cidadania ]
*5]
Ela explica que a ideia é ocupar toda a
semana da criança com acompanhamento e qualificação, elevando a autoestima
delas. “Aí, não fica na rua.” Os cursos de
qualificação oferecidos são de informática,
culinária, departamento de pessoal e inglês. Além disso, as crianças e adolescentes
recebem acompanhamento psicológico.
[▶
[▶A AFEC possui consultório psicológico,
sala de Informática, duas salas de aula,
cozinha, copa, varanda para cursos de
culinária e artesanato e dois banheiros.
Atualmente, 120 famílias em situação de
vulnerabilidade social são atendidas no
local. A AFEC não conta com parcerias
públicas ou de empresas, não tem quadro de funcionários e funciona graças ao
trabalho voluntário.
Depoimentos
Kaíque Braian Soares, 11 anos
Há dois anos frequentando a AFEC, Kaíque é o “secretário da Ludmila”. Ele vai à
Instituição às terças, quintas e sábados.
Na festa de Natal promovida pela AFEC,
Crianças se aglomeram para abraçar o Papai Noel na festa de final de ano
foi o Papai Noel. “Eu gosto de tudo”, frisa
ele. “Nas aulas de computação, aprendi
Internet e passar as letras”. O que Kaíque
chama de “passar as letras”, os adultos
chamam de “digitar”.
Geralda Regina é conselheira tutelar
e tem dois filhos atendidos pela AFEC
Geralda Regina de Souza,
conselheira tutelar
e mãe de atendido
Conselheira tutelar na região de Venda
Nova, Geralda Regina conhece o trabalho
da presidente da AFEC, Ludmila de Castro
Batista, há cinco anos. “Ela é uma ótima
profissional. O que me trouxe aqui foi o
trabalho dela”, diz Geralda Regina, que
tem dois filhos atendidos e recomenda
a Instituição. “Como conselheira, já encaminhei vários casos para serem acompanhados pela AFEC. O retorno é muito bom. “Um ótimo suporte para a comunidade.”
Bruna Diniz, voluntária
Voluntária da AFEC há um ano, Bruna mora na região do Céu Azul e cursa o segundo período do curso de Psicologia. Ela
comentou com a amiga Carol, também
voluntária, que precisava fazer um estágio. A amiga recomendou a AFEC. “Acho
o trabalho maravilhoso. O que a Ludmila faz é inexplicável”, elogia ela. Bruna
atende as crianças duas vezes por semana, quando faz o acompanhamento delas na escola. “Quando eu venho pra cá,
são meus melhores dias”.
Kaíque Braian Soares,
Papai Noel mirim da AFEC
[6
*
As amigas Bruna e Carol,
voluntárias da instituição
Ana Carolina da Silva, voluntária
Carol, como é conhecida, tinha 12 anos
quando começou a ser atendida pela AFEC.
Hoje com 17 anos, é voluntária na instituição como secretária e, como ela diz, faztudo. “A forma como ela ajuda as pessoas
me fez querer ajudar como ela. É um trabalho difícil, mas no final é gratificante.”
AFEC - Associação
Fátima Educar e Crescer
Atendimento de crianças e adolescentes
de 3 a 17 anos e membros da família de
qualquer idade. A área de atendimento
é a região de Venda Nova e Norte de Belo
Horizonte.*
Endereço
Rua Água Doce de Mantena, 294
Jardim Leblon - Belo Horizonte, MG
Fone: (31) 2523-3963/ 9229-1348
E-mail: [email protected]
Conta para doações: Banco Santander
Ag.: 3473 / CC.: 01078687-4
olutador [ fevereiro ] 2015 [ Caderno de Cidadania ]
Instituto DH
e a luta pelos
Direitos Humanos
e do Meio Ambiente
M
ilho Verde é um
distrito do Município de Serro, MG,
incrustado no alto da Serra do Espinhaço, e situase nas vizinhanças de Diamantina, banhado pelo Rio Jequitinhonha. Os moradores contam várias histórias sobre a origem do povoado
de Milho Verde, seus aspectos místicos e
também históricos, fazendo referência e
homenagem ao português Rodrigo Milho
Verde, que morou muito tempo naquele
local. Para outros, os bandeirantes que ali
chegaram eram recebidos e presenteados com espigas de milho verde oferecidos pelos índios que ocupavam o ponto
mais elevado do lugarejo.
Registra-se na região a presença de
povos e comunidades tradicionais, que
vivem da colheita e comercialização de
flores do Cerrado, artesanato de bordados
e cerâmica, tudo isto para sustento familiar. Muitos destes grupos tiveram seus direitos violados, assistiram aos cursos dos
rios serem desviados e florestas desmatadas em nome do progresso econômico.
A riqueza cultural e histórica preservada por sua população, em grande parte remanescente de quilombos, mantém
tradições como as Festas do Rosário, com
apresentação de danças, canto dos grupos locais de guarda de congado - os Ca-
topés, Marujos e Caboclos - que encantam com sua dança e canto; a de São Sebastião, de São João, de Nossa Senhora
dos Prazeres (a padroeira da cidade) e a
Folia de Reis.
Ao longo do tempo, com a diminuição das atividades de garimpo, Milho Verde se destaca turisticamente como lugar
de belas cachoeiras (140 nascentes) que
precisam ser preservadas, para que se
garanta volume e qualidade de água ao
longo do Rio Jequitinhonha. No Distrito,
a natureza é exuberante, o povo hospitaleiro e as pousadas são aconchegantes.
Contudo, também é conhecida como lugar da exploração de pessoas por meio de
garimpos, cobiçadores, fazendeiros, grileiros e mineradoras que exploram a natureza com o fim de ampliar seus lucros.
Neste contexto, surge o Instituto Milho Verde – IMV, que durante 14 anos,
através do Festival de Inverno de Milho
Verde, com exitoso trabalho de fomento
cultural na região, empreende propostas
de mudanças para a vida das pessoas - como o trabalho com ervas medicinais e a
consequente criação da farmácia alternativa, eventos culturais e ambientais articuladas com a rede local e outras instituições públicas.
Todo o trabalho do IMV despertou a
atenção de diversas pessoas com as mais
diversas intenções, culminando principalmente em conflitos pela preservação do
olutador [ fevereiro ] 2015 [ Caderno de Cidadania ]
*7]
meio ambiente e na questão fundiária,
o que levou alguns de seus dirigentes a
serem incluídos no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos
– PPDDH, após sofrerem diversas ameaças e atentados contra suas vidas, obrigando-os a se afastarem de suas atividades frente ao IMV.
A sociedade civil organizada e diversas autoridades foram mobilizadas para
a realização de Audiência Pública Mista
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal e da Comissão
de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, com a presença do então deputado estadual Durval Ângelo e do então deputado federal Nilmário Miranda.
Providências foram tomadas para a garantia da segurança dos dirigentes através do PPDDH.*
Maiores informações
podem ser obtidas aqui:
http://www.almg.gov.br/acompanhe/
tv_assembleia/videos/index.html?idVideo=847099&cat=90
http://www2.camara.leg.br/atividade
-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/audiencia-publicano-interior-de-minas-cobra-apuracao-de
-atentados-contra-ativistas-ambientais
❛ Maria Catarina do Carmo,
Gildázio Santos e Antonioni Afonso
Cidadania na realidade carcerária...
Deus,
sei que és
meu
amigo
Deus, sei que és meu amigo,
Que caminhas comigo todos os dias,
Por onde eu passo.
Amigo em quem posso confiar,
Depositar todos os meus sentimentos.
Deus, tu és a luz eterna que nunca
[se apaga.
Deus, tudo que fazes é bom e perfeito.
Deus, és Pai de tudo que vive.
Deus, sei que podes todas as coisas.
Fizeste os céus, a terra e o mar.
Tudo criaste, tudo formaste
Para teu louvor.
Deus!
Desenho de:
Mário Alessandro da Silva
– Presídio Inspetor Martinho Drumond
B.J.R.S.
Presídio
Inspetor José
Martinho
Drumond
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❯ Tiragem 6.500 exemplares
As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.
[8
*
olutador [ fevereiro ] 2015 [ Caderno de Cidadania ]
Liturgia [ cerimônias religiosas...
cerimônia
ou celebração
S e R g i n h O VA L L e *
e
F/arQ. SdN
m tempos idos, a Liturgia era
considerada a cerimônia oficial
da Igreja. Era no tempo em que
os católicos iam à igreja para
assistir missa, ver batizados,
ver a crisma... Era comum, pois, ouvir
falar em cerimônia da Missa, cerimônia do Batismo, cerimônias religiosas.
Há 50 anos, com o Concílio Vaticano II, a Igreja mudou o modo de entender a Liturgia. Você que frequenta
a Liturgia não ouve mais falar de cerimônia litúrgica. Hoje se diz celebração litúrgica; celebração da missa, por
exemplo, celebração do Batismo, celebrar a Penitência.
A cerimônia diz respeito ao modo
exterior de um ato ou de atos ritualizados. Uma série de ritos que alguns realizam e a que outros assistem. Pede
presença, mas pouca participação, como, por exemplo, aplaudir algum discurso. Celebração, ao contrário, envolve a vida da gente e exige participação.
Não se pode pensar em celebração sem
participação, porque a participação é
uma exigência da celebração.
A cerimônia está ligada a formalismos e prescrições. Alguém faz, outros
assistem e se mantêm a certa distância. Vê ritualismos, mas não toma parte nos ritos. É fácil perceber a diferença entre cerimônia e celebração. Mas
o mais importante está no fato de que
toda celebração está ligada à recordação de alguma coisa importante: um
acontecimento, uma pessoa. Por isso,
na Liturgia, celebra-se um acontecimento, celebra-se uma Pessoa.
A este ponto, é evidente que não é
mais possível confundir Liturgia com a
cerimônia oficial da Igreja. A Liturgia é
mais que cerimônia; é memória, recorda
uma pessoa: Jesus Cristo. Recorda um
acontecimento: o Mistério da Salvação
de Deus. Cerimônia não rima com Liturgia. Afinal, nós não fazemos cerimônia
de Jesus Cristo nem da Salvação. Fazemos memória, no sentido teológico de
“memorial”, de tornar atual, atualizar.
Recordar no sentido de (re+cor = trazer
ao coração): trazer de novo para o coração dos celebrantes, para o coração
da Igreja, para o coração do mundo.
Na Liturgia, portanto, celebramos
Jesus Cristo, celebramos a Salvação,
celebramos nossas vidas com Cristo,
por Cristo e em Cristo.]
olutador [ fevereiro ] 2015 • 25 ]
O leigo
e os doutores
A n t ô n i o C arlos S a n t i n i
uando leio os antigos Padres
da Igreja, legítimos doutores da fé na tradição apostólica, não encontro sinal algum de críticas ou de ironias em relação à fé do povo simples.
Ao contrário, aqui e ali há referências
à devoção popular, à robusteza de sua
fé, à sua disposição ao martírio.
Nos tempos mais recentes, nós,
os leigos, não temos encontrado a
mesma acolhida em certos setores
da Igreja, em especial no meio dito “acadêmico”. Quando surgiram
os primeiros grupos carismáticos
e, deles nascidas, as primeiras Comunidades Renovadas, os doutores
modernos se deliciaram em apontar
as falhas (sim, elas existem...), em
criticar suas expressões de piedade
(entusiasmo, emoção, palmas, danças, carismas não habituais) e, o pior,
zombar sem caridade desses novos
agrupamentos.
[ A maneira
de expressar a fé
está presente
de diversas
formas em todos
os setores sociais.
Um famoso teólogo – hoje fora da comunhão eclesial – escrevia no final
dos anos 70 a respeito dos membros
da RCC: “Trata-se de pessoas que não
têm problemas com referência à infra
-estrutura da vida; têm como resolvidos os problemas da subsistência, da
luta terrível e diuturna do ganha-pão
mediante a venda da força do próprio
trabalho”. E definia alegremente a Renovação Carismática: “É um produto
tipicamente de exportação, entrando
pelos caminhos da dominação com a
[ 26 • olutador [ fevereiro ] 2015
F/reprodução
Atualidade [ Expressar a fé...
qual a metrópole mantém dependentes as colônias”.
Se bem entendi, os fiéis que rezam
nos grupos de oração não trabalham,
não enfrentam filas, não sofrem nas
unidades do SUS, são todos burgueses execráveis. Participariam dos grupos de oração como lacaios disfarçados da CIA para entregar o Brasil aos
EUA... Ora, será este o serviço que se
espera dos senhores acadêmicos dos
institutos de teologia?
Pessoalmente, ouvi zombarias grosseiras sobre devoções populares, inclusive a suavíssima oração da “Salve,
Rainha”, com a expressão “neste vale de
lágrimas” sendo motivo de gargalhadas em uma reunião do clero.
Mas não foi esta a lição do Concílio
Vaticano II. Não é esta a exortação do
“Documento de Aparecida” (nº 258):
“O Santo Padre destacou a ‘rica e
profunda religiosidade popular, na qual
aparece a alma dos povos latino-americanos’, e a apresentou como ‘o precioso tesouro da Igreja Católica na América Latina’. Convidou a promovê-la e a
protegê-la. Essa maneira de expressar
a fé está presente de diversas formas
em todos os setores sociais, em uma
multidão que merece nosso respeito
e carinho, porque sua piedade ‘reflete uma sede de Deus que somente os
pobres e os simples podem conhecer’”.
Quanto nós devemos ao Apostolado da Oração, que carregou nas costas
a Igreja do Brasil na primeira metade
do Séc. XX!!! Que exemplo de diaconia cristã sempre realizaram os confrades vicentinos! Quanto bem temos
hoje a esperar do Caminho Neocatecumenal, admirável celeiro de vocações consagradas! Quanto os fiéis têm
sido beneficiados com a participação
nas “Oficinas de Oração” de Frei Inácio Larrañaga!
Se fossem vivos Inácio de Antioquia ou Irineu de Lião, certamente estariam animando os fiéis a aderirem a
estas novas veredas que o Espírito de
Deus inspira ao Povo de Deus. Denegrir estes caminhos é trabalhar contra a Igreja...]
Atualidade [ Fogo no castelo?
s crianças da França gostam de cantar uma historiazinha nada infantil a respeito das notícias que o
mordomo do castelo transmite à Senhora Marquesa. A nobre senhora,
ausente há quinze dias, em lazeres
na Corte, pede notícias ao servidor
que acaba de chegar:
– “Quelles nouvelles?” Que há
de novo?
O mordomo responde:
– Tudo vai bem, Senhora Marquesa! Só há um pequeno incidente a deplorar, uma coisinha à toa,
uma bobagem: a morte do seu jumento. Fora esse detalhe, tudo vai
muito bem...
Claro, a Marquesa quer saber a
causa mortis do seu burro cinzento. E eis o valete a explicar:
– Ele pereceu naquele incêndio
que destruiu vossos estábulos. Mas,
fora isso, tudo vai bem!
É a hora de justificar o incêndio.
Como foi isso?
– Nada grave, Marquesa... É que
o castelo estava em chamas e o fogo
atingiu os estábulos...
– Como assim?! Fogo no castelo?!
– Coisa à toa, Marquesa. Nada
demais! Pois não é que o Senhor
Marquês resolveu suicidar-se e, ao
Tudo vai bem,
Marquesa!
pendurar-se, derrubou os candelabros, incendiando todo o castelo?
Coisinha sem mais importância...
E o vento forte espalhou as chamas
que atingiram o estábulo, causando a morte do jumento cor de cinza. Fora isso, tudo vai bem, Senhora Marquesa...
* * *
Então, tudo vai bem?
Tudo vai bem, diz nossa Marquesa.
Problemas? Coisinha à toa. Inflação
subindo, água faltando, violência na
rua. Umas bobagens. Os cidadãos acuados atrás das grades e do portão eletrônico. Uma correnteza de propina
a correr nos oleodutos. Nada demais!
Faltam vagas nos presídios. Autoridades revendem as terras da reforma agrária. Licitações e vestibulares
fraudados. Nada sério. Tudo vai bem,
meu precioso mordomo...
Isto faz lembrar aquela passagem
da 1ª Carta aos Tessalonicenses, quando Paulo apóstolo escreve: “Quando
todo mundo estiver dizendo: ‘Paz e
segurança’, então, de repente, cairá
sobre eles a ruína, como as dores da
mulher grávida. E não conseguirão
escapar”. (1Ts 5,3.)
Alguma coisa me diz que não entendemos a lição de Saint-Exupéry:
“Construir a paz é construir o estábulo bastante grande para que todo
o rebanho possa ali dormir. É construir o palácio com umas dimensões
tais, que todos os homens ali possam
caber, sem terem de abandonar seja
o que for das bagagens. Não se trata
de os amputar para os meter lá dentro. Construir a paz é conseguir que
Deus empreste o seu capote de pastor para receber os homens em toda
a extensão dos seus desejos. É o que
se verifica com a mãe que ama os filhos”. (Cidadela, p.59.)
Agora, sim, tudo vai bem!]
F/reprodução
C arlos S c h e i d
olutador [ fevereiro ] 2015 • 27 ]
Crônica [ Maria
Fila de espera
– Será que é aqui?
– Temos que esperar... Não podemos furar a fila...
E os dois chegantes, cansados do longo voo, sentaram-se em uma nuvem fresquinha, antes que tentassem outra vez...
– Temos de esperar. Só depois de revistarem nossa bagagem, nos darão o visto...
– E dizem que são ranzinzas até dizer chega!
Enquanto esperavam, puseram seus
tesouros ali por perto: a fila estava enorme e nada de a porta ser aberta...
Lá também havia uma revista rigorosa de documentos e pertences: apesar
de ser no infinito lindamente azul, o lugar de origem não recomendava ninguém,
apesar de ser outro lugar lindamente azul:
a Terra...
Havia anjos escalados para a tarefa.
Uns separavam documentos:
– Veja aqui, Querubim! Não tenho
mais lugar para guardar tantos cartões de
crédito... E carteira de identidade, e cartões de vacina...
– E eu não sei onde colocar tantos celulares! Alguns até choram por causa deles... Veja que emaranhado de aparelhos!
– Pois eu... – disse uma anjinha com
voz de violino – eu não sei onde colocar
mais tantos batons, tantos estojos de maquiagem... O Departamento Feminino é
o mais volumoso... Vejam ali naquela nuvem cor-de-rosa...
A nuvem era um verdadeiro caos: bolsas de todos os tamanhos, de todos os modelos, de todas as cores se misturavam a
mil marcas, a mil franjas, a mil pedrarias,
lantejoulas e miçangas... Sapatos de todos os tipos, rasteirinhas, sandálias, botas... Uns modelos eram tão altos, tão estranhos, que um anjo velho resmungou:
– Isso se parece mais com uma poltrona
do que com um sapato. Valha-me Deus!
Anjinhas pequenas escapuliam de suas mamães-anjas e se esbaldavam provando roupas, passando pinturas, experimentando sapatinhos coloridos, brincando de ser gente...
O Serafim do Departamento de Joias
estava literalmente sumido em meio a colares, anéis, pulseiras, pingentes e tiaras...
Havia algumas peças tão prosaicas, que
ninguém sabia pra que serviam... Seria para ser pendurada no nariz? Nas orelhas?
No umbigo? Vai ver o que pensa aquele
povinho lá da Terra! Só eles entendem pra
que tanta bugiganga... Enfim, tenho que
fazer meu trabalho e não posso nem piscar: essas anjinhas não são anjos...
São Rafael, de espada em punho, guardava o imenso cofre, cheio de dólares, pesetas, euros, reais, dinares, dobras, francos,
libras, patacas... Era só um descuidozinho para o povão tentar invadir o cofre...
Mais adiante, bem perto do sol, uma
nuvem quase não aparecia, tamanha era
sua carga... Uma anja-professora escrevera uma placa, com letras de raios de
lua: Loja de Roupas da Terra. Era tanta
confusão, que na sua porta havia verdadeiro exército de anjos e santos... E a todo momento havia ameaças de invasão...
A cozinha do infinito já não conseguia
servir tantos pratos, todos feitos à base de
sorvetes e cremes de nuvens, sopas de estrelinhas cozidas ao vapor de raios de sol...
E nada de a fila andar!
Outra seção movimentada era a do
WhatsApp, novo invento do povinho da
Terra: os anjos da guarda eram muito pacientes e não se cansavam de explicar que,
lá no infinito, não precisavam daquele aplicativo... Mas não adiantava nada, o chororô era geral...
Coitado do galo do presépio! Já estava rouco de tanto cantar, anunciando
mais chegantes... São José até precisou pas[ 28 • olutador [ fevereiro ] 2015
sar um pito no Menino Jesus, que brincava de roda com anjinhos que estavam
treinando pequenos voos com suas asinhas nascentes:
– Que que é isso, Jesus? Estão rindo
do coitado do galo?
– Uai, papai, ele tá desafinado... (Esqueci de explicar: o Jesusinho gostava de
falar em mineirês...)
Outra porta nem dava para ser vista, de tanta gente tentando entrar: era o
Brechó Dourado. Preços módicos, havia
de um tudo: qualquer freguês encontrava um produto, mesmo que não soubesse para que servia... Era o velho costume da Terra.
Porém, numa nuvem meio cinzenta, escondida em névoa fria, havia uma
enorme barraca que ninguém procurava: os guardiães até cochilavam à porta da nuvem. Uma velha enxerida puxou
a sentinela pela manga da túnica e quis
saber qual era a mercadoria estocada ali,
sem procura, sem oferta. Em cima da porta esquecida, podia-se ver uma inscrição
com letras graúdas: Doações.
A velha ajustou os óculos para enxergar melhor e nem se assustou com o que
via – igualzinho ao que acontecia cá embaixo: eram montes e montes de livros...
Livros!!! De todos os tamanhos, de todas
as épocas, de todas as matérias e de todos
os autores do mundo.
– Por que ninguém pega livros?
O Guardião-Mestre explicou com
voz triste:
– É a tecnologia, agora só querem saber de livros virtuais... E olha que muita
gente, em outros tempos, já furou a fila
com pequenos pacotes de livros.
A velha até ouviu o suspiro antigo do
Guardião-Mestre (pelo visto, a tecnologia
e a informática já chegaram até aqui)...
Desanimada, a senhora idosa sentouse e acomodou suas tralhas mais importantes em seu colo magro. Sabiamente,
concluiu baixinho:
– Pensei que ia fazer um sucesso com
meus livros... Pensei que ia ser das primeiras a passar... Mas também vou ter de esperar minha vez...
E eis que o milagre aconteceu! A porta
foi aberta por dois anjos-tocheiros, e lin-
Foi uma festa no céu! Anjinhos corriam atrás de formigas e borboletas e beija-flores e caracóis e caramujos e minhocas e passarinhos cantantes... As estrelinhas formavam desenhos e letras no infinito azul... Cá na Terra, todos puderam
ler entre nuvens e raios de luar:
– “Foi sem querer querendo.” “Prezo
insetos mais que aviões.” “Prefiro morrer
do que perder a vida.” “Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Sou um apanhador de desperdícios: amo os restos como as boas moscas.
Porque eu não sou da informática.”
Fez-se um silêncio só interrompido
por cânticos e sons de harpas e flautas.
Bolaños e Manoel de Barros, constrangidos, passaram à frente de todos e foram
recebidos com honras por Nossa Senhora:
– Podem entrar... A Poesia e a Ingenuidade têm preferência na porta do infinito...
Então, São Pedro, o dono das chaves
celestes, fechou as pesadas portas e os chegantes continuaram esperando sua vez...]
F/reprodução
dos! Cada um segurava uma tocha luminosa para clarear o caminho da Virgem
Maria que vinha, pessoalmente, receber
os dois chegantes mais ilustres.
Tanta majestade, tanta luz chamaram a atenção de todos e os cochichos
corriam soltos pelas nuvens:
– Quem serão eles? De que reino
vieram?
– Que tesouro poderoso eles trouxeram para tanta importância?
– Aposto que é algum magnata ou
alguma miss...
– Pois eu aposto que é algum político com delação premiada...
Então, uma trombeta soou e os nomes dos poderosos foram ouvidos pelas
potestades do infinito azul:
– Manoel de Barros, pode entrar!
– Bolaños, pode entrar!
Todos abriram alas e puderam ver os
tesouros nas mãos de cada um... E ficaram sem entender nada: Manoel de Barros trazia mil bichinhos, e Bolañhos trazia um barril vazio...
Livro
indicado
[ Uma bela Obra,
as crônicas de 'Maria',
publicadas em olutador ]
maria
O livro de crônicas
de MARIA
[Maria das Dores Caetano Guimarães].
Em cada página,
a arte da cronista
que extrai do cotidiano
o lampejo de uma descoberta.
Em cada crônica,
o passado recuperado
com o olhar da infância.
Em um só volume,
as páginas saborosas
publicadas em O Lutador.
FORMATO: 15,5x22,5cm, 320p.
R$ 30,00 + Porte
Pedidos
0800-031-7171
olutador.org.br
olutador [ fevereiro ] 2015 • 29 ]
A
sinfonia
do mundo
D om H é ld e r C â mara
uando, de um ponto alto da
Cidade, se contemplam as
Casas, altas horas da noite,
quanto motivo de meditação e de prece!...
Certamente, há Casas felizes em que
os Amigos, reunidos, cantam, para algum Aniversariante, parabéns pra você...
Quem sabe, ali adiante se festeja o nascimento do primeiro filho ou,
em casa dos Avós, do primeiro neto!?...
O champanhe espocou ali: o dono da Casa foi promovido na Firma em
que trabalha.
Adiante não há champanhe, mas
está correndo guaraná, pois chegou do
Sul, para uma temporada aqui, em Pernambuco, quem, depois de trinta anos
fora do Nordeste, continua nordestino na
alma, nos gestos e, sobretudo, na fala...
Contemplada daqui a Cidade, claro que há de haver Casas felizes. E é
importante rezar pelos felizes: não
só porque a felicidade é ave assusta-
diça, que vem e se vai com facilidade, mas porque é importante, na hora em que se é feliz, pensar em Deus
e agradecer!
Mas daqui deste ponto alto da Cidade, debaixo destes telhados que daqui divisamos, quanto sofrimento esperando nossa prece de irmãos!
Em vários lares há pessoas enfermas, causando preocupação. Há uma
luta entre a vida e a morte. Há Agonizantes quase partindo desta vida...
Quanto sofrimento nos Hospitais!
Só quando se chega lá é que se vê como, a cada hora e a cada instante, há
Gente se torcendo de dor!...
Mas debaixo destes telhados vistos daqui, ou dentro destes edifícios, ou
nestes Conjuntos Residenciais, quantos dramas!...
Já pensaram como é duro voltar
para Casa e ter de comunicar que se
recebeu aviso prévio?...
Ou chegar em Casa e ter que dizer
que o dia todo procurando emprego só
deu em não?...
[ 30 • olutador [ fevereiro ] 2015
F/reprodução
Páginas que não passam [ Casas felizes...
Será demagogia dizer que, em muitas
Casas, o alimento rareia, há subalimentação ou mesmo, abertamente, fome!?...
Debaixo destes tetos contemplados daqui, quanto sofrimento moral!
Desentendimentos entre Esposos, choques entre Pais e Filhos, Esposas abandonadas, solidão, solidão, solidão!
Espírito do Senhor! Sopra entendimento e paz em todos os lares! Sopra calor humano, amizade, amor em
todos os lares! Sopra esperança, coragem, alegria em todos os lares!
Sopra pensamentos positivos em todas
as mentes. Sopra bons sentimentos em
todos os corações. Envia sono tranquilo a
todos os insones. Sê, tu mesmo, Companhia, Alento e Fé para todos os que sentem vencidos na vida, esmagados e sós!
E permite que, alargando o coração e
vendo, através de nossa Cidade, todas as
Cidades do Mundo, façamos, com tua ajuda
e por meio do Cristo, chegar ao Pai uma
estranha e imensa Sinfonia do Mundo!]
(Do livro “Um Olhar sobre a Cidade”,
Civilização Brasileira, São Paulo, 1977)
F/PiNtura dE GrEG olSEN
Roteiros
Pastorais
Leitura Orante / G. Reflexão 32 • Catequese 34
Família 36 • Juventude 36 • Homilética 37
olutador [ fevereiro ] 2015 • 31 ]
Roteiros [ Para reflexão ou leitura orante
[ Reflexão da Palavra: caminho de animação bíblica da Pastoral
1. Uma Igreja presente nas periferias
2. Uma Igreja pobre e dos
Iniciando o encontro
Canto de um refrão, invocação à Trindade, oração ao Espírito Santo.
Iniciando o encontro
Canto de um refrão, invocação à Trindade, oração ao Espírito Santo.
A - Situando o texto
A Conferência de Aparecida fala da necessidade de “passar de um eterno esperar, a um constante buscar”. Para o
Papa Francisco, “a posição do discípulo missionário não é uma posição de
centro, mas de periferias”. Ainda como
Bispo em Buenos Aires, o Cardeal Bergoglio criticava “as pastorais distantes”,
sem proximidade, sem ternura, nem
carinho. Ignora-se, dizia ele, a “revolução da ternura”. Jesus não veio para os sãos, mas especialmente para os
doentes, os excluídos das instituições
rígidas, para resgatar o que estava perdido, para redimir, e não para julgar e
condenar. Vamos, com calma e atenção, ouvir o que o Senhor nos vem falar.
B - O que o texto diz em si
Ler na Bíblia: Marcos 1,29-39.
Chave de Leitura:
1. Qual a atitude de Jesus diante das
situações de enfermidade?
2. Qual a grande atitude missionária
de Jesus neste texto?
3. Temos cultivado em nós e em nossas
comunidades este espírito missionário?
C - O que o texto diz para nós
Jesus é zeloso da vida do povo. Ele veio
para que todos tenham vida. No entanto, Jesus não reduziu sua missão a
curar as pessoas. O anúncio do Reino
vai muito mais longe. Jesus não perde o foco de sua missão. As curas que
Jesus realiza estão em função do despertar da fé, por isso, Ele segue adiante vai a outras aldeias da redondeza.
A Boa Nova do Reino não pode parar.
Ele segue adiante com seus discípulos, pois quer verdadeiros discípulos
missionários, prontos para levar a Boa
Nova sempre adiante.
Cantando: Eu sou semeador / Vou semeando a Palavra do Senhor. (bis)
Aparecida desafia a Igreja ser “companheira de caminho” de toda a humanidade, especialmente dos pobres e dos
que sofrem. No discurso aos bispos do
CELAM, por ocasião de sua visita ao Brasil, o Papa Francisco falava da necessidade “de uma Igreja que não tenha medo de entrar na noite deles e seja capaz
de encontrá-los no caminho que estão
percorrendo [...]. Hoje, precisamos de
uma Igreja capaz de fazer companhia,
de ir para além da simples escuta”. Uma
Igreja samaritana e capaz de despertar
discípulos para a missão nas periferias.
Cantando: Eu sou semeador / Vou semeando a Palavra do Senhor. (bis)
Segundo os bispos latino-americanos,
“grande parte dos católicos nasce, vive
e morre sem a presença da Igreja”. Diferente da atitude de Jesus, diante dos
necessitados de seu tempo. Urge passar do centro para as periferias. “Vamos
para outros lugares...” – é o convite incessante do Senhor a cada um de nós.
– O que mais chamou a sua atenção no
texto bíblico e no comentário acima?
D - O que o texto nos faz dizer a Deus
a) Senhor, despertai em todos os cristãos o verdadeiro espírito missionário. Rezemos:
Todos: Senhor, ajudai-nos a avançar
para as periferias.
b) Senhor, que nossa Igreja seja verdadeiramente samaritana, capaz de cuidar dos doentes e ser presença junto
aos sofredores. Rezemos:
E - O que o texto sugere para hoje
– Somos discípulos que avançam para as
periferias ou do tipo acomodado? Por quê?
F - Tarefa concreta
À luz da reflexão de hoje, que tal visitar
alguma família doente ou que se afastou da comunidade?
Encerramento: Pai-Nosso e pedido de
bênção a Deus.]
[ 32 • olutador [ fevereiro ] 2015
A - Situando o texto
O Papa Francisco expressou um sonho
incômodo: “Como eu gostaria de uma
Igreja pobre e para os pobres!” E começou
por ele mesmo: pagando suas contas no
dia seguinte à sua eleição, simplificando seus trajes, trocando o trono por uma
cadeira, conservando sua cruz peitoral
e seus sapatos pretos, utilizando carro
modesto... “A Igreja deve sempre lembrar
que não pode afastar-se da simplicidade.” Prestígio e poder são classificados
por ele como “mundanismo”, pois afasta
a Igreja da proposta evangélica do Reino
de Deus, inaugurado e mostrado por Jesus de Nazaré. Vamos, com calma e atenção, ouvir o que Senhor nos quer falar.
B - O que o texto diz em si
Ler na Bíblia: Marcos 1,40-45.
Chave de Leitura:
1. Qual a reação de Jesus diante do leproso?
2. O que faz o leproso depois de curado?
3. O que este texto tem a dizer para nós, hoje?
C - O que o texto diz para nós
O leproso era marginalizado, obrigado a viver fora da cidade, distante de
tudo e de todos. Jesus se aproxima, toca, cura. Jesus fica irado contra a sociedade que gera a marginalização, que
despreza as pessoas. Curado, o leproso
torna-se um testemunho vivo do anúncio do Reino. Ele foi curado não apenas das feridas de seu corpo, foi curado
também de uma ferida social e agora
pode voltar ao convívio da sociedade.
Quem socorre o marginalizado encontra-se com o próprio Jesus.
Cantando: Eu vim para que todos tenham vida, / que todos tenham vida
plenamente. (bis)
O Papa Francisco faz dos pobres uma
questão central na vida da Igreja. Por isso, sua preocupação primeira não é sua
(3 encontros seguindo os Evangelhos dos domingos 8, 15 e 22 de fevereiro)
pobres
autoridade ou imagem pública, nem a
doutrina ou os discursos bem arquitetados, mas o sofrimento e a causa dos pobres no mundo, que são a causa de Deus.
A sua prioridade não é a religião, mas a
vida minguada e ameaçada de dois terços da humanidade. Nisto está a essência do Evangelho, que recolhe o modo de
relação de Jesus com o sofrimento dos
doentes, dos pobres, dos desprezados.
Cantando: Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente. (bis)
Há, hoje, a tentação de espiritualizar
a pobreza e virtualizar os pobres. Disse o Papa Francisco numa obra social
em Roma, e repetiu-o no Brasil: “Vocês, os pobres, são a carne de Cristo”.
Eles prolongam a Paixão de Cristo na
paixão do mundo. Por isso, “é nas favelas, nas vilas de miséria, onde se deve ir buscar e servir a Cristo”.
– O que mais lhe chamou a atenção no
texto bíblico e no comentário acima?
D - O que o texto nos faz dizer a Deus
a) Senhor, dai-nos a graça de alcançar
a simplicidade e o espírito de pobreza,
para que nossa Igreja seja uma Igreja
pobre e dos pobres, rezemos:
Todos: Ajudai-nos, Senhor, na nossa
conversão.
b) Senhor, para que a exemplo de Jesus
sejamos próximos e solidários dos pobres e necessitados, rezemos:
Outras preces espontâneas...
E - O que o texto sugere para hoje
– Os pobres e necessitados são valorizados em nossas comunidades? Dê
exemplos?
F - Tarefa concreta
À luz da reflexão de hoje, procurar ser
mais presente na vida dos pobres de
nossa comunidade.
Encerramento: Pai-Nosso e pedido de
bênção a Deus.]
3. Uma Igreja acidentada por sair às ruas
Iniciando o encontro
Canto de um refrão, invocação à Trindade, oração ao Espírito Santo.
A - Situando o texto
Diz o Papa Francisco: “Uma Igreja que
não sai de si mesma, cedo ou tarde adoece, em meio à atmosfera pesada do
seu próprio fechamento. Também é
verdade que uma Igreja que sai às ruas pode sofrer o que qualquer pessoa
na rua pode sofrer: um acidente. Diante desta alternativa, quero dizer-lhes
francamente que prefiro mil vezes uma
Igreja acidentada a uma Igreja doente”.
Diante disso, vamos, com calma e atenção, ouvir o que o Senhor nos vem falar.
B - O que o texto diz em si
Ler na Bíblia: Marcos 1,12-15.
Chave de Leitura:
1. Para onde o Espírito enviou Jesus e
o que Ele fez lá?
2. Qual a atitude de Jesus diante da prisão de João Batista?
3. O que este texto tem a dizer para nós hoje?
C - O que o texto diz para nós
Jesus é o nosso modelo, nosso referencial de vida cristã. Depois de um longo período de preparação no deserto,
ele vê na prisão de João Batista a indicação de que era hora de sair às ruas.
Era chegado o tempo do anúncio do
Reino e do apelo à verdadeira conversão. Durante toda a sua vida pública,
Jesus sempre caminhou de lugar em
lugar, anunciava a Boa Nova a todos
e nos mais variados lugares. Ele ia ao
encontro das pessoas e não esperava
que elas viessem a ele.
Cantando: Vai missionário, vai evangelizar de um jeito novo, novo jeito de
amar e fazer ressoar a Palavra de Deus
na vida do povo. (bis)
Com Aparecida, o Papa Francisco frisa
que a missionariedade da Igreja exige
uma reforma de suas estruturas, dentro de um processo de conversão pastoral: “fazer com que todas as estrutuolutador [ fevereiro ] 2015 • 33 ]
ras da Igreja se tornem mais missionárias; que a pastoral seja mais expansiva e aberta; que coloque os agentes de
pastoral em constante atitude de saída
e favoreça, assim, a resposta positiva
de todos aqueles a quem Jesus convoca à sua amizade”.
Cantando: Vai missionário, vai evangelizar, de um jeito novo, novo jeito de
amar e fazer ressoar a Palavra de Deus
na vida do povo. (bis)
Seguindo a proposta de Francisco, “o que
derruba as estruturas caducas, o que leva
a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade”. E conclui: “Se
a Igreja inteira assume este dinamismo
missionário, deve chegar a todos, sem
exceções. Porém, a quem privilegiar?
Quando lemos o Evangelho, nos encontramos com uma orientação: não tanto
aos amigos e vizinhos, mas, sobretudo,
aos pobres e enfermos, aos costumeiramente desprezados e esquecidos, àqueles
que não têm com que recompensar-te”.
– O que mais chamou a sua atenção no
texto bíblico e no comentário acima?
D - O que o texto nos faz dizer a Deus
a) Senhor, ajudai a nós e à nossa Igreja a
abrir-nos mais para a missão. Rezemos:
Todos: Dai-nos, Senhor, um verdadeiro espírito missionário.
b) Senhor, que nossos dirigentes e catequistas sejam mais missionários e colaborem para que toda a Igreja seja verdadeiramente missionária. Rezemos:
Outras preces espontâneas...
E - O que o texto sugere para hoje
– Nossa comunidade é do tipo missionária ou do tipo acomodada? Por quê?
F - Tarefa concreta
À luz da reflexão de hoje, que tal ver alguma forma de despertar nossa família
e comunidade para a missão?
Encerramento: Pai-Nosso e pedido de
bênção a Deus.]
Catequese [ Roteiros para Catequese [3 encontros seguindo os Evangelhos
1. Jesus
cura
e anuncia
a Boa Nova
(5º Dom.
Comum)
Objetivo: Conscientizar-se de que Jesus nos ama e quer a vida para todos.
Material: Bíblia, um coração grande
e corações pequenos com o nome de
cada participante.
1 – Ver (Ver a realidade)
Dinâmica: No coração grande está escrito: “Jesus é a Vida”. Colocar no centro do círculo, virado para ele. Distribuir os corações pequenos, de modo que ninguém receba o seu próprio
nome. Cada um lê o nome do colega e
diz o que deseja de bom para a vida do
colega. Depois coloca o coração pequeno ao redor do grande. A seguir,
o (a) catequista explica: existe um coração que ama todos estes corações. É
o coração de Jesus, cheio de vida para todos. Vira o coração grande e cada um pode colocar o seu coraçãozinho no grande.
Experiência de Vida: Há pessoas que
fazem o contrário do que nós fizemos.
Só sabem falar os defeitos dos outros e
desejar o mal. As boas qualidades elas
só descobrem em si mesmas...
2 – Iluminar (ensinamentos de Jesus)
Canto: Eu vim para que todos tenham
vida. / Que todos tenham vida plenamente.
Palavra de Deus: Mc 1,29-39 (Ler devagar e com expressão)
Perguntar:
a) Qual a atitude de Jesus diante da sogra de Pedro?
b) Quais as duas atitudes de Jesus no
outro dia pela manhã?
Refletir: Jesus cura a sogra de Pedro que
“estava de cama, com febre” (v. 30). Jesus “aproximou-se” da sogra de Pedro
e tomou a iniciativa de libertar a mulher daquele sofrimento. Ele tomou a
doente pela mão e “levantou-a”, devolvendo-lhe a vida. Depois, a mulher “começou a servi-los”. Quem se encontra
com Jesus recupera a vida e coloca-se
a serviço dos irmãos.
No segundo quadro (vv. 35-38),
Marcos apresenta-nos Jesus retirado,
em oração. A oração faz parte da vida de Jesus. É na oração que Jesus encontra a força para se libertar da tentação da fama e continuar avançando
na missão. “Vamos a outros lugares...”
Guardar no coração: “Vamos a outros
lugares a fim de pregar, porque foi para isso que Eu vim”.
3 – Celebrar
(Colocar os corações ao redor da Bíblia.)
Incentivar os catequizandos para agradecerem a Deus pela vida e pela missão de cada um.
Rezar: Senhor Jesus, estamos felizes
porque o Senhor nos ama e cuida de
nós. Ajude-nos a colocar a nossa vida
a serviço da vida. Faça-nos mais missionários, animados com o anúncio
do Evangelho!
4 – Agir (a realidade nos convoca para...)
Compromisso: Procurar visitar catequizandos que ainda não voltaram para
a catequese.
Final: Terminar o encontro rezando
um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um
canto a sua escolha.]
[ Textos: Ir. Mª Martha Johanning,
Sirlei Maria Cichelero – Sinop, MT
e Pe. José Renato Vendrusculo, cs
[ 34 • olutador [ fevereiro ] 2015
2. Jesus
veio curar
as feridas
(6º Dom.
Comum)
Objetivo: Ajudar a compreender que
Jesus cura as feridas exteriores e interiores para que sejamos pessoas melhores.
Material: Cartaz com desenho de uma
criança, papéis menores em forma de
feridas.
1 – Ver (Ver a realidade)
Dinâmica: Fazer um cartaz com o desenho de uma criança. Nele colar vários
papéis em formato de ferida, atrás de
cada papel uma atitude que fere a vida:
Ex.: “Mentira”, “inveja”, “medo”, “maldade”, “violência”, “desobediência”, “preguiça”... As crianças são convidadas a
tirar um papel de cada vez. Motivar para que cada um explique porque aquela atitude representa uma lepra, uma
ferida em nós.
Experiência de Vida: O catequista ajuda
para aprofundar a reflexão mostrando
que Além das feridas da pele, temos as
feridas interiores. Jesus quer nos libertar de todas as nossas feridas.
2 – Iluminar (ensinamentos de Jesus)
Canto: Eu vim para escutar / tua Palavra, tua Palavra, / tua Palavra de amor.
Palavra de Deus: Mc 1,40-45 (Ler devagar e com expressão)
Perguntar:
a) Como o homem pede a cura a Jesus?
b) Como Jesus reage? E o que ele pede depois?
dos domingos 8, 15 e 22 de fevereiro]
Refletir: O texto nos mostra um Deus
cheio de amor, de bondade e de ternura. Ele vem trazer vida nova e nos convida a viver em comunhão com Ele. É
um Deus que não exclui ninguém. A
atitude de Jesus em relação ao leproso
(bem como aos outros excluídos da sociedade do seu tempo) é uma atitude
de proximidade, de solidariedade, de
aceitação. O gesto de Jesus de estender a mão e tocar o leproso é um gesto que denuncia uma Lei de exclusão
e de sofrimento.
Como Jesus, não podemos conformar-nos com situações que geram a
exclusão das pessoas. Além de curar
as feridas sociais, Jesus nos ajuda também a curar as nossas feridas interiores como as apresentadas na dinâmica acima.
Guardar no coração: “Se quiseres, podes curar-me.” Jesus, disse: “Eu quero:
fica limpo!”
3 – Celebrar
Preparar um altar, acender uma vela
e lembrar nossa fé em Jesus. Depois,
passando a vela de mão em mão, cada um faz uma prece a partir do encontro de hoje.
Rezar: Senhor, o pecado é como uma
lepra no nosso coração: ele suja o nosso coração com inveja, ciúme, raiva,
mentira, preguiça e desobediência.
Jesus quer que a gente fique livre do
mal, por isso Ele já nos libertou por sua
morte e ressurreição! Ajudai-nos a caminhar na vossa presença hoje e sempre. Amém.
4 – Agir
(a realidade nos convoca para...)
Compromisso: Procurar visitar uma
pessoa doente e rezar com ela.
Final: Terminar o encontro rezando
um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um
canto a sua escolha.]
3. As tentações (1º Dom. da Quaresma)
Palavra
de Deus:
Mc 1,12-15 (Ler devagar e com expressão)
Perguntar:
a) O que aconteceu
com Jesus no deserto?
b) O que Jesus fez depois que João Batista
foi preso?
Objetivo: Ajudar a descobrir maneiras
de resistir às tentações.
Material: Bíblia, balas (bombons ou
pacotinho para cada criança), tira de
pano ou barbante.
1 – Ver (Ver a realidade)
Dinâmica: Pedir às crianças que se coloquem em duas fileiras. Amarrar, com
uma tira, uma das pernas de uma criança à perna de outra criança. Proceder
dessa forma com todas elas. Colocar
a bala ao lado de cada criança, a uma
distância de aproximadamente três
metros. A um sinal do catequista, as
crianças podem começar a pegar suas
balas. O catequista não sugere nada.
Ao terminar, deixar as crianças refletirem sobre o que aconteceu.
Experiência de Vida: Se algumas delas
conseguiram pegar os pacotes porque
caminharam juntas, pegando primeiro um pacote e depois o outro, descobrirão que esse é o caminho. Se isso
não aconteceu, então o Catequista poderá orientar: “Quem cuida só de si...”
“Sempre somos tentados a pensar em
nós mesmos.”
2 – Iluminar (ensinamentos de Jesus)
Canto: Fala, Senhor, fala, Senhor, /
Palavra de Fraternidade. / Fala, Senhor, fala, Senhor! / É luz da humanidade.
olutador [ fevereiro ] 2015 • 35 ]
Refletir: O quadro da “tentação no deserto” nos diz que Jesus foi tentado a
escolher caminhos contrários aos planos de Deus. Ele teve de escolher entre
viver na fidelidade aos projetos do Pai
ou frustrar os planos de Deus e seguir
um caminho de egoísmo, de poder, de
autossuficiência. Jesus escolheu viver
– de forma total – na obediência às propostas do Pai.
Os discípulos de Jesus são confrontados a todos os instantes com as mesmas opções. Seguir Jesus é procurar fazer sempre a vontade de Deus, e não a
vontade dos homens. O nosso empenho
na construção do “Reino de Deus” nos
leva a remar contra a maré individualista e consumista do mundo.
Guardar no coração: “O Reino de Deus
chegou. Arrependei-vos e crede no
Evangelho.”
3 – Celebrar
Fazer um círculo. Cantar um canto penitencial e, depois, rezar o Pai-Nosso,
repetindo a frase: “Não nos deixeis cair
em tentação”.
4 – Agir (a realidade nos convoca para...)
Compromisso: Procurar identificar
qual tentação eu preciso vencer na
minha vida.
Final: Terminar o encontro rezando
uma Ave-Maria e um canto a sua escolha.]
Tudo em Família [ 14 – Para reunião de casais
F/REPRODUÇÃO
Rugas para
beijar...
1. Coisas que acontecem
Solteira, ela passava dos quarenta.
Talvez chegando aos 50. Olhos tristes, semblante marcado pela depressão. Procurou a equipe de aconselhamento da paróquia e começou a falar
de sua angústia:
– “Não aguento mais!”
Lamentou o recente abandono pelo amante, famoso cirurgião:
– “Disse que eu estou velha demais
para ele...”
Não havia lágrimas visíveis, mas
ela chorava por dentro:
– “Eu queria ser amada, abraçada, beijada... Mas estou cheia de rugas... Ninguém vai querer me beijar
assim...”
2. Pensando juntos
Em geral, a solidão não acontece por
acaso. Ela resulta de escolhas feitas no
passado, ou de escolhas que deixaram
de ser feitas. Se alguém se fecha em seu
próprio mundo e não aceita correr o
risco de se encontrar, se doar, participar da vida dos outros, certamente
acabará sem companhia.
Naturalmente, a equipe de aconselhamento não disse àquela mulher
solitária que, apesar das rugas, ela poderia ser abraçada e beijada, se tivesse
filhos e netos. Os netos adoram beijar
uma vovó cheia de rugas...
Mas ela havia escolhido outro caminho: uma vida independente, sem
compromissos com família, um lar,
trabalhos domésticos. Sem tal semeadura, não é possível chegar à colheita.
3. Para uma reunião de casais
– Você conhece homens ou mulheres
que optaram livremente por não se casar, tendo em vista a carreira profissional ou um sonho de ampla liberdade pessoal?
– Você acha possível conciliar a vida de
família com a vida profissional?
– Que você diria à mulher solitária do
episódio acima descrito?
– Conhece pessoas que se casaram e,
mesmo assim, também experimentam a solidão?
– É mais fácil envelhecer no seio de uma
família? Que pensa você?]
Deixar-se encharcar pela Palavra de Deus — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 12
Objetivo: Fazer o grupo refletir de que
forma assimilamos a Palavra de Deus
em nossas vidas.
Material: uma bolinha de isopor, um
giz, um vidrinho de remédio vazio,
uma esponja e uma vasilha com água.
Descrição: Primeiro se explica que a
água representa a palavra de Deus e
que o objeto somos nós. Depois, coloca-se a água na vasilha e alguém mergulha o isopor. Após ver o que ocorre
com o isopor, mergulhar o giz, depois
o vidro de remédio e, por último, a esponja. Recordar que a água é a Palavra de Deus e os objetos somos nós. Dê
um objeto para cada pessoa.
– Colocar primeiro a bolinha de
isopor na água. Refletir: o isopor não
afunda, nem absorve a água. Como nós
absorvemos a Palavra de Deus? Somos
também impermeáveis?
– Mergulhar o giz na água. Refletir: o giz retém a água só para si, sem
repartir. E nós?
[ 36 • olutador [ fevereiro ] 2015
– Encher de água o vidrinho de remédio. Despejar toda a água de que ele
se encheu. Refletir: o vidrinho tinha água
só para passar para os outros, mas sem
guardar nada para si mesmo. E nós?
– Mergulhar a esponja e espremer a água.
Refletir: a esponja absorve bem a água
e, mesmo sendo espremida, ela continua molhada.
Iluminação Bíblica: Is 40,8; Mt 7,24;
2Tm 3,16.
Pastoral da Juventude – Diocese de Leopoldina, MG
Homilética [ 15•02•2015
6º Domingo
do Tempo
Comum
Leituras da semana
F/REPRODUÇÃO
[ dia 16: Gn 4,1-15.25; Mc 8,11-13
[ dia 17: Gn 6,5-8; 7,1-5.10; Mc 8,14-21
[ dia 18: Jl 2,12-18; Mt 6,1-6.16-18
[ dia 19: Dt 30,15-20; Lc 9,22-25
[ dia 20: Is 58,1-9a; Mt 9,14-15
[ dia 21: Is 58,9b-14; Lc 5,27-32
"Eu quero, fique purificado." [Mc 1,41b]
Leituras:
Lv 13,1-2.44-46;
1Cor 10,31-11,1;
Mc 1,40-55
1. “Eu o quero: seja curado!” O encontro de Jesus com o leproso que lhe
pede ser curado mostra o caráter inteiramente novo de seu comportamento
em relação ao comportamento veterotestamentário e rabínico. Um leproso
não era somente excluído da comunidade civil – o que, compreensivelmente,
está de acordo com as prescrições higiênicas do Pentateuco -, mas os rabinos
declaravam que graves pecados eram a
causa da doença e proibiam aproximarse de todo doente, o qual, caso ele mesmo se aproximasse, seria recebido com
pedradas.
Jesus deixa que ele se aproxime e
faz algo impensável para um judeu:
toca-o com a mão. Ele é precisamente o Salvador enviado por Deus que,
não apenas como médico, ocupa-se dos
doentes espirituais (já que as pessoas saudáveis não precisam de médico
– cf. Mt 9,12), mas indica, ao tocar o
leproso, que ele não teme o contágio.
E mais ainda: que ele toma sobre si,
conscientemente, a enfermidade dos
homens, o seu pecado.
A propósito do comportamento de
Jesus, Mateus cita a palavra sobre o Servo de Deus: “Ele assumiu nossas enfer-
midades e carregou com nossas doenças”
(Mt 8,17; Is 53,4). Mas isto não acontece de modo sereno; o texto grego fala
de uma cólera de Jesus diante da miséria
dos homens que Deus não quis.
E para obedecer à prescrição da Lei,
ele encaminha o homem curado ao sacerdote, que deve verificar a cura. “Para lhe servir de atestado” significa duas coisas: a fim de que reconheçam que
eu posso curar doentes, e também reconhecerem que eu não aboli a Lei, mas
vim cumpri-la.
O fato de o homem não observar o
dever de silêncio que lhe foi imposto, é
uma desobediência que torna mais difícil a atividade de Jesus: ele já não pode “entrar abertamente em uma cidade”,
não quer ser visto como um curandeiro.
2. “Impuro! Impuro!” A primeira leitura recorda as prescrições da Lei sobre
a lepra. Para o doente, são medidas extremamente severas que o obrigam não
só a isolar-se da comunidade, a não se
cuidar, mas também a gritar: “Impuro!
Impuro!” a todo homem que se aproxime dele.
É isto, propriamente, que um grande pecador deveria fazer na Igreja, um
homem que, enquanto conserva o seu
pecado, arrisca-se a contaminar outros
e não deveria dissimular hipocritamente sua separação de fato da “comunhão
dos santos”.
olutador [ fevereiro ] 2015 • 37 ]
Na qualidade de impuro, que ele é,
deveria, se possível, cair aos pés de Jesus
e dizer: “Se tu quiseres, podes me curar”.
3. “Como eu mesmo sou imitador
de Cristo.” Na segunda leitura, o Apóstolo procura assemelhar-se ao Senhor
tanto quanto possível; ele não pode realizar a obra única, tomar sobre si os
pecados dos homens (“Teria sido Paulo que foi crucificado por vós?” cf. 1Cor
1,13), mas bem que pode encarregar-se
dos doentes físicos e sobretudo espirituais e, na força de Jesus, dar-lhes a cura.
Sua dedicação aos doentes e aos fracos não é uma condescendência, mas
pura atitude de serviço, que pode chegar até uma participação na Paixão de
Jesus, que se pôs no lugar dos pecadores (cf. Cl 1,24).]
[Comentários de:
hans urs von balthasar
Tradução:
a. c . s ant ini]
Homilética [ 22•02•2015
1º Domingo
da Quaresma
Leituras da semana
F/pintura de Greg Olsen
[ dia 23: Lv 19,1-2.11-18; Mt 25,31-46
[ dia 24: Is 55,10-11; Mt 6,7-15
[ dia 25: Jn 3,1-10; Lc 11,29-32
[ dia 26: Est 4,17n.r.aa-bb.gg-hh; Mt 7,7-12
[ dia 27: Ez 18,21-28; Mt 5,20-26
[ dia 28: Dt 26,16-19; Mt 5,43-48
"Convertei-vos e crede na Boa Nova." [Mc 1,15b]
Leituras:
Gn 9,8-15;
1Pd 3,18-22;
Mc 1,12-15
1. “Crede na Boa Nova!” O Evangelho, a Boa Nova que Jesus proclama para
começar, e que será uma Notícia para o
mundo inteiro, o mundo aqui de baixo
e o mundo do além, inicia-se por seu jejum de quarenta dias. Ele não o assume
sob um impulso pessoal, como exercício
ascético, mas é impelido ao deserto pelo Espírito de Deus. Do mesmo modo,
ele não sofrerá a cruz (no fim do tempo
da Quaresma) por ascetismo, mas em
pura obediência ao Pai.
A fecundidade inaudita, ilimitada,
da obra de Cristo pressupõe, no início e
no fim, uma renúncia inédita. Por mais
de um mês, ele vive sem nenhum alimento, mas unicamente da palavra e da
missão do Pai. “Meu alimento é fazer a
vontade daquele que me enviou e cumprir sua obra.” (Jo 4,34.)
Seguindo Jesus, todos os santos cuja
pregação será frutuosa deverão, de um
modo ou de outro, estar vazios de tudo
o que lhes é próprio para anunciar com
eficácia a proximidade do Reino de Deus.
O Senhor que jejua vive entre os
animais selvagens e os anjos, “que o serviam”, entre o perigo físico e a proteção
sobrenatural. Ele vive entre os extremos
de toda a Criação. Ao se esvaziar daqui-
lo que preenche o cotidiano da vida humana, ele toma consciência das dimensões do cosmo que ele deve, enquanto
Salvador do mundo, reconduzir a Deus.
A partir desta preparação que permanece escondida ao mundo – renúncia
a tudo, mesmo ao necessário para a vida
– Jesus pode entrar em cena e anunciar:
“Os tempos se cumpriram”.
2. “Eis o sinal da aliança.” As duas
leituras mostram as dimensões do mundo
que é preciso resgatar. A primeira descreve a aliança fundamental de Deus
com Noé. É a promessa de uma definitiva reconciliação de Deus com o mundo. A inundação do castigo impiedoso é
um passado que jamais voltará.
No fim da tempestade de cólera, o
sol reapareceu e formou a arco-íris que,
apoiando-se sobre a terra, estende-se até
o céu e recorda a Deus sua aliança com
“todos os seres animados, todos os seres
de carne”. Esta aliança não foi abolida
nem diminuída pela aliança com Israel e,
mais tarde, a “Nova Aliança” de Cristo.
3. “Ele foi pregar aos espíritos na
prisão.” A segunda leitura dá uma resposta, por mais que ela seja misteriosa,
à questão do destino dos defuntos précristãos. “Jesus morreu pelos injustos”,
para os reconduzir a Deus. É por isso
que ele, corporalmente morto, mas espiritualmente vivo, foi aos “espíritos na
[ 38 • olutador [ fevereiro ] 2015
prisão” nos infernos para pregar a eles,
levar-lhes a mensagem de salvação, pois
antes de sua morte e descida aos infernos ninguém podia chegar a Deus (cf.
Hb 11,40).
Antes da ressurreição de Jesus, também não havia um batismo que nos teria
preservado desse Sheol veterotestamentário, dessa “prisão” dos mortos, que era
uma parte do mundo ainda não plenamente resgatado.
Entretanto, para chegar até os mortos, Jesus devia, ele mesmo, sofrer a morte, da qual fazemos memória no final da
Quaresma e pela qual ele pôde tornar
verdadeira a promessa feita na aliança
com Noé: submeter a si o mundo inteiro, incluído “o último inimigo, a Morte” (1Cor 15,26), para “depositar todas
as coisas aos pés de seu Pai”.]
[Comentários de:
hans urs von balthasar
Tradução:
a. c . s ant ini]
Homilética [ 1º•03•2015
2º Domingo
da Quaresma
Leituras:
Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18;
Rm 8,31b-34;
Mc 9,2-10
1º LEITURA
Uma grande prova de fé. Uma fé
vivida no silêncio. Confiança, sim. Mas
talvez mais do que confiança, a fé é uma
entrega, Deus tirou o chão dos pés de
Abraão e ele continuou a acreditar. Prometeu-lhe longa descendência e pedelhe o único e possível (!) herdeiro em sacrifício. A essa altura encheríamos Deus
de perguntas; arriscaríamos até blasfêmias, pois muitos o fazem por razões
menores. Abraão silencia-se e prepara
a oferta. É a grande prova.
Em silêncio doloroso, Abraão prepara a entrega total. Entregar o filho
único é entregar tudo, todo o futuro. É
quase devolver a Deus tudo o que Deus
prometera. Mas Abraão conservou a fé
na providência de Deus. Quando Isaac
pergunta sobre a vítima do sacrifício,
Abraão responde: “Deus providenciará”. No momento do sacrifício, Abraão
revela o trágico desígnio de Deus. A vítima será o filho Isaac. Isaac aceita, obediente. Caberia bem uma pergunta naquele momento. Só uma: Será que Deus
não vai intervir? É isso mesmo que ele
quer? Mas a grandeza da fé do grande
patriarca o faz engolir em seco as razoáveis perguntas naquele momento fatal e
fúnebre. Abraão não reserva nada para
si. Esvaziou-se até mesmo de perguntas. Entregou tudo. Exatamente neste
momento Deus intervém. Abraão superou a grande prova. Isaac é substituído por um cordeiro. Assim a lei mosaica
exigia para o resgate do primogênito.
Deus recompensa a grande fé do
patriarca: abundância de bênçãos, des-
Leituras da semana
[ dia 02: Dn 9,4b-10; Lc 6,36-38
[ dia 03: Is 1,10.16-20; Mt 23,1-12
[ dia 04: Jr 18,18-20; Mt 20,17-28
[ dia 05: Jr 17,5-10; Lc 16,19-31
[ dia 06: Gn 37,3-4.12-13a.17b-28; Mt 21,33-43.45-46
[ dia 07: Mq 7,14-15.18-20 ; Lc 15,1-3.11-32
cendência numerosa. “Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque tu me obedeceste”.
Jesus Cristo, descendente de Abraão, é
bênção de Deus para todos os povos. O
sacrifício de Isaac é prefiguração do sacrifício de Cristo.
2ª LEITURA
Vida cristã no Espírito: “A lei do Espírito da vida em Jesus Cristo te libertou
da lei do pecado e da morte”. Começa
assim o capítulo trazendo-nos um profundo conforto espiritual e animando
a nossa esperança de continuar na luta
contra tudo que conduz à morte. Nossa certeza, nossa confiança, nossa esperança se fundamentam no amor de
Deus. É o que vai dizer o nosso texto:
“Se Deus é por nós, quem poderia ser
contra nós?”
Por nós ele deu a vida, por nós ele ressuscitou. Está sentado à direita de Deus
para interceder por nós. Podemos caminhar tranquilos: se Deus é por nós, quem
será contra nós?
EVANGELHO
Transfigurou-se. A Transfiguração é
um oásis para a sede dos discípulos. Os
discípulos acompanham Jesus e percebem que o povo não o entende. Nem eles
o entendem. Só em 8,29, Pedro, em nome dos discípulos, consegue dizer: “Tu
és o Cristo”. Mas isto não estava significando ainda muita coisa para Pedro,
pois, logo em seguida, Jesus o repreende severamente chamando-o de satanás, adversário do projeto de Deus. Palavras duras!
Agora Jesus os consola. Ele escolhe
os três mais difíceis para subir o monte com ele. Jesus investe mais em Pedro,
Tiago e João. Eles precisam mais. Jesus
olutador [ fevereiro ] 2015 • 39 ]
"Este é o meu
Filho amado."
[Mc 9,7b]
se transfigura. A brancura e o esplendor
das vestes vão indicar a vitória de Jesus
sobre o mal e a morte. É uma amostra
antecipada da sua ressurreição gloriosa.
Moisés representa a Lei. Representa a
libertação do Egito.
Pedro quer fazer três tendas lá em
cima. O povo lá embaixo comemorava
a festa das Tendas, que lembrava a caminhada do deserto e esperava o Messias libertador. Pedro esquece a luta do
povo. Lá em cima está tão bem, que até
se esquece de si e de seus companheiros.
As tendas são para perpetuar a visão de
Moisés, Elias e Jesus. Mas ele não sabe o que fala. O evangelista faz questão
de salientar a ignorância dos discípulos em todo o Evangelho. A nuvem é a
presença divina; a voz vem do Pai para mostrar que a autoridade compete,
agora, não a Moisés nem a Elias, mas
ao Filho amado. É a ele que todos devem ouvir daqui para frente. Mais uma
vez o evangelista responde à pergunta:
Quem é Jesus?]
[Comentários de:
dom emanuel messias de oliveira
Bispo Diocesano de Caratinga
Fone Cúria: (33) 3321-4600
[email protected]]
Homilética [ 08•03•2015
3º Domingo
da Quaresma
Leituras:
Ex 20,1-17;
1Cor 1,22-25;
Jo 2,13-25
1ª LEITURA
Os dez mandamentos. Para facilitar a
memorização, a Igreja apresenta, em dez
frases, os mandamentos dados após a libertação do Egito. Os mandamentos são
a proposta de vida que Deus apresenta
ao povo. Sem vivê-los, correm o risco de
voltar à opressão e morte. Assim, o centro dos mandamentos é: “Não matarás”.
Deus é o único Senhor, o libertador,
e propõe uma sociedade justa, fraterna e
solidária, que promova a vida. O 1º mandamento, expressa o amor a Deus sobre
todas as coisas. Qualquer amor, mesmo
o de pais, de filhos, de cônjuges, se maior
do que o amor a Deus, é idolatria. Isto
nada tem a ver com a imagem dos nossos
santos, pois ela nos lembra exatamente
que vale a pena dar a vida pelos irmãos
como fizeram os santos. Os santos são
considerados santos porque viveram radicalmente o 1º mandamento.
O 2º mandamento proíbe usar o nome de Deus para testemunhar mentira,
acobertar a fraude, a escravidão e a morte. O 3º diz respeito ao dia de descanso
que, para a religião judaica, era o sábado.
Proibir o trabalho num dia de semana é
sinal de libertação e de vida, um basta à
ganância e à exploração. O povo de Deus
não é mais escravo. Também no Segundo
Testamento o novo povo de Deus foi libertado da escravidão e da morte. Precisa
tomar consciência disso e cultuar o Deus
de Jesus Cristo, que o libertou com sua
ressurreição no 1º dia da semana, que foi
chamado “domingo”, o “Dia do Senhor”.
O 4º mandamento é honrar pai e mãe
como fonte da vida. A vida vem de Deus
Leituras da semana
[ dia 09: 2Rs 5,1-15a; Lc 4,24-30
[ dia 10: Dn 3,25.34-43; Mt 18,21-35
[ dia 11: Dn 4,1.5-9; Mt 5,17-19
[ dia 12: Jr 7,23-28; Lc 11,14-23
[ dia 13: Os 14,2-10; Mc 12,28b-3
[ dia 14: Os 6,1-6; Lc 18,9-14
através dos nossos pais, e não através do
faraó do Egito e suas divindades pagãs.
O 5º mandamento é uma espécie de eixo,
de centro e de síntese dos mandamentos, pois tudo o que impede a vida deve ser proibido como gerador de morte.
O 6º mandamento é a promoção da vida em família. O adultério destrói a relação familiar. Com a formulação: “não
pecar contra a castidade”, a Igreja amplia
o respeito à vida do corpo e do espírito
além das relações familiares.
O 7º mandamento - “não roubar”
- é também mais amplo do que parece. Implica promoção e respeito à vida
da pessoa com tudo o que lhe pertence: seus bens, sua dignidade, sua liberdade. O salário minguado, a falta de
condição digna de trabalho, a escravidão são um roubo ou um assassinato,
pois isto destrói a vida. Por outro lado,
quem rouba para matar sua fome não
está pecando.
“Não levantar falso testemunho” o 8º mandamento - é a preservação da
vida através de julgamento e sentenças
justas nos tribunais. Que dizer de nossos advogados, de nossos juízes, de nossa
justiça? Os dois últimos mandamentos
condenam a cobiça como a raiz de todos os males e injustiças.
2ª LEITURA
Jesus Solidário. Decepcionado depois
de falar para homens cheios de sabedoria humana em Atenas (cf. At 17,2234), Paulo entende a loucura do Crucificado, pois Jesus quis ser solidário com
aqueles que a sociedade crucifica. Judeus consideram o suplício da cruz como uma maldição (cf. Gl 3,13), e buscam uma religião de milagres, fácil, sem
compromisso, sem solidariedade com o
pobre e o sofredor. Para judeus Jesus é
[ 40 • olutador [ fevereiro ] 2015
"Destruam esse Templo
e em três dias
Eu o levantarei."
[Jo 2,19]
escândalo, para os pagãos, loucura. Mas
para todos os que atendem ao chamado de Deus, judeus ou gregos, Cristo é
a expressão do poder, da sabedoria, do
amor, da misericórdia de Deus. A loucura do amor de Deus, manifestada na
fraqueza da encarnação, paixão e morte
de Jesus na cruz, supera toda a sabedoria e fortaleza dos homens.
EVANGELHO
Jesus é o novo Templo. Para S. João,
a Páscoa tinha deixado de ser a celebração da libertação do povo. As lideranças religiosas e políticas manipulavam,
controlavam e exploravam o povo através da religião, dos sacrifícios do Templo. Jesus não concorda com este tipo de
religião opressora.
Ao expulsar os animais usados no sacrifício, Jesus declara inválidos todos estes
sacrifícios, como também o culto explorador: os líderes religiosos estavam vendendo o perdão do Deus da gratuidade.
O gesto de Jesus suscita duas reações.
Jesus veio para substituir o Templo, mas
os discípulos estão pensando que ele veio
para reformar o Templo. Para Jesus, entretanto, o Templo já não está cumprindo
mais suas funções. Agora o novo Templo é o corpo de Jesus, que os judeus vão
destruir, mas que Jesus vai de novo ressuscitar. A segunda reação é dos donos
do Templo, os judeus (que representam
os dirigentes) que pedem um sinal para
justificar a conduta de Jesus. O sinal que
Jesus dá é o sinal da sua morte e ressurreição: “destruam este Templo, e em três dias
eu o levantarei”. O evangelista registra
que Jesus falava do Templo de seu corpo.]
[Comentários de:
dom emanuel messias de oliveira
Bispo Diocesano de Caratinga]
Homilética [ 15•03•2015
4º Domingo
da Quaresma
Leituras:
2Cr 36,14-16.19-23;
Ef 2,4-10;
Jo 3,14-21
1ª LEITURA
Síntese da história do povo de Deus.
O cronista destaca de um lado a infidelidade do povo e, do outro lado, a fidelidade de Deus. Por que Judá foi parar
no exílio? Por causa da má conduta dos
seus dirigentes políticos e religiosos, e
também do povo: infidelidade, idolatria
e profanação.
Deus tinha dó do povo e enviavalhe continuamente mensageiros. Mas
qual era a reação? Zombarias, desprezo, gozação. Deus usa uma pedagogia
diferente. Ele permite que o povo sofra
as consequências da própria irresponsabilidade. Assim, Jerusalém foi destruída pelo inimigo, que era a Babilônia,
e o Templo de Deus foi incendiado. O
povo foi deportado e se tornou escravo
(ano 586 a.C.).
A citação de Jeremias lembra que
um dos pecados das elites de Judá foi
não respeitar a lei do repouso da terra
a cada sete anos (cf. Lv 26,34-35). A
terra era de Deus e não podia ser fonte da exploração do povo por parte da
ambição dos ricos. A terra tem assim
um repouso forçado. Parece que está
tudo acabado por causa da infidelidade do povo.
Mas o projeto de uma vida fraterna
e solidária não é do homem, é de Deus;
é promessa de Deus para o homem, e
Deus nunca é infiel em suas promessas.
Deus faz renascer a esperança do povo
usando o rei da Pérsia, Ciro, para libertar
o seu povo (ano 538 a.C.) e recomeçar a
reconstrução do Templo, o povo vai recomeçar a ter liberdade e vida.
Leituras da semana
"Quem acredita Nele,
não está condenado."
[ dia 16: Is 65,17-21; Jo 4,43-54
[ dia 17: Ex 47,1-9.12; Jo 5,1-16
[ dia 18: Is 49.8-15; Jo 5,17-30
[ dia 19: 2Sm 7,4-5a. 12-14a.16; Mt 1,16.18-21.24a
[ dia 20: Sb 2,1a.12-22; Jo 7,1-2.10.25-30
[ dia 21: Jr 11,18-20; Jo 7,40-53
2ª LEITURA
Deus é muito bom. Ele nos ama profundamente não por causa do que fazemos de bom, mas por causa de nós mesmos, pois somos criaturas dele, criados
em Cristo Jesus; sem Deus estamos mortos. Sua bondade, seu amor se traduzem
em misericórdia e perdão, através de Jesus Cristo que nos fez reviver.
O que nos salva não é o que fazemos, mas o que Cristo fez por nós. Duas vezes o autor salienta que é pela graça que somos salvos. Então, a gente não
deve fazer nada de bom? É claro que deve. O que a gente não deve é fazer nada
de mal, pois nós não fomos criados para fazer o mal, mas o bem. “Somos criados em Cristo Jesus para as boas obras”.
Assim, não podemos nos gloriar de
nossas boas obras, pois o mérito não é
nosso, mas do Pai. Mas, sempre que fazemos boas obras, tomamos consciência
de que aceitamos a salvação de Deus e de
que já estamos de certo modo “ressuscitados no céu em Cristo Jesus”.
EVANGELHO
Jesus com Nicodemos. Podemos destacar os seguintes pontos:
1º. No deserto foi preciso que Moisés
levantasse uma serpente de bronze, para
que quem fosse mordido por cobra ficasse curado olhando para a serpente (Nm
21,8-9). Uma observação sobre as imagens. É curioso que a serpente sempre foi
símbolo de idolatria. Por que o Primeiro
Testamento conserva este texto perigoso,
quando na maioria das vezes proíbe fazer
imagens para adorar? É que essa imagem
da serpente não está curando por força
própria, mas pelo poder de Deus. Por isso não pode ser confundida com ídolo.
A imagem dos santos é muito menos perigosa e tem um papel muito mais
olutador [ fevereiro ] 2015 • 41 ]
[Jo 3,18]
fraco, pois apenas lembra que o santo foi
totalmente consagrado ao único Deus
de poder e de amor que se manifestou
em Jesus Cristo. As imagens na Igreja apontam todas para um único Deus
e Senhor. Portanto, o uso das imagens
nada tem de idolatria.
Voltando à comparação da serpente levantada por Moisés, Jesus mostra
que ele também será levantado numa
cruz para curar, dar a vida eterna a todos aqueles que foram mordidos pela
serpente do pecado e da morte.
2º. Como a gente alcança a vida
eterna? Sabendo reconhecer e acolher
na vida a grandeza do amor misericordioso de Deus, que foi capaz de entregar
seu Filho único para dar a vida aos que
nele crerem. Este reconhecimento e esta
acolhida significam a adesão de fé à pessoa de Jesus crucificado e ressuscitado.
3º. Para que Jesus veio ao mundo?
Para trazer-nos salvação, não condenação. A decisão se dá pela fé aqui e agora;
crer é ser salvo, não crer é ser condenado. É bom lembrar que o núcleo da fé
é a ressurreição; quem nega a ressurreição, nega Jesus. O que dizer dos espíritas e das religiões que acreditam na reencarnação?
4º. Como se dá o julgamento? O julgamento acontece não por decisão, decreto de Deus, mas por decisão do homem. É uma questão da preferência do
homem que aceita Cristo como luz que
ilumina nossas ações. Quem faz boas obras
acha bom, porque a verdade de suas ações
aparece. Quem faz más obras acha ruim,
porque se sente condenado, desmascarado e por isso odeia a luz.]
[Comentários de:
dom emanuel messias de oliveira
Bispo Diocesano de Caratinga]
Variedades [ dicas de português & Humor
huMOR
[ Não tropece na língua
taxista inglês
Aconteceu na cidade inglesa de Manchester...
Um muçulmano barbudo entra no
táxi. Uma vez sentado, pede ao taxista
para desligar o rádio porque não quer
ouvir música por motivo religioso:
– No tempo do profeta não havia
música, especialmente essa sua música ocidental, que é música dos infiéis.
O motorista do táxi educadamente desliga o rádio, sai do carro dirigese à porta do lado do cliente e a abre.
O barbudo pergunta:
– O que você está fazendo?
Resposta do taxista:
– No tempo do profeta não havia
táxis... por isso saia e espere pelo próximo camelo.
i n Fi n i ti VO : O R A C I O NA L + V ER , DA R , L ER , ES TA R
***
Mais um
No pátio do hospício, sentado num banquinho, o doido segura uma vara de
pescar mergulhada num balde de água.
Passa o diretor do hospício, sorri e pergunta:
– O que você está pescando? Lambaris?
– Não. Estou pescando otários, doutor.
– E já pegou algum?
– Com o senhor, já são cinco...]
Qual a frase certa: O correto é dizer
ou O correto é se dizer?
CMAB, Ouro Preto, MG
Nesse caso não use o pronome “se”, pois
ele aí não tem nenhuma função sintática;
não é caso de voz passiva nem de sujeito
indeterminado. O sujeito dessa oração
é o infinitivo [dizer é o correto = o correto é dizer]. Outros exemplos:
– O mais importante é ter amigos. [e
não: “é ter-se amigos”]
– É bom viajar.
– Não é saudável fumar.
– É preciso viver com fé.
O infinitivo só vem acompanhado do
pronome [me, te, se, nos] quando é verbo
pronominal, como queixar-se, arrepender-se, preocupar-se e outros:
– O mais importante é não se arrepender do que passou.
– O correto é nos preocuparmos com
os outros.
– Não é bom queixar-se a toda hora.
gostaria de saber como usar as formas
ver/vê; dar/dá; ler/lê; estar/está.
Ana Paula Campos, Belém, PA
Quando se deve escrever está ou estar?
J.R.S., Itabuna, BA
Se existe problema em distinguir ESTÁ de ESTAR ou VER de VÊ, a primeira
causa é a nossa pronúncia. Acontece que,
no mais das vezes, ao falar descompromissadamente, “comemos” o r final do
infinitivo: *vou vê isso, *é bom vê isso logo, *vou dá uma olhada, *você vai ficá lin-
CuL
inÁRiA
Mousse
de maracujá
Ingredientes
1 lata de leite condensado; 1 lata (de medida) de suco de maracujá; 1 pacote de gelatina branca; 3 claras em neve.
Modo de Fazer
Dissolver a gelatina como indicado na embalagem. Deixar esfriar. Bater no liquidifica-
[ 42 • olutador [ fevereiro ] 2015
da, *podes me fazê um favor?, *não tem
jeito de gostá dela, *vamo(s) vendê a casa, *quero lê o jornal agora, *preciso está
lá ao meio-dia, *é melhor falá com ele...
O segundo fato é que essa pronúncia
do infinitivo sem o r fica igual à pronúncia da 3ª pessoa do presente do indicativo de alguns verbos como ver, ler, dar
e estar: ele vê, ela lê, você dá, a senhora
está. Já não se faz confusão, no entanto, com centenas de outros verbos, como por exemplo gostar, falar, vender,
cumprir, porque eles mudam o acento
no presente do indicativo, ficando paroxítonos: gosta, fala, vende, cumpre.
Assim sendo, o correto pela norma
culta é escrever e pronunciar o r quando o verbo está no infinitivo e principalmente quando usado com outros verbos, no que se chama de locução verbal:
– Vou ver isso. É bom ver isso logo.
– Vou dar uma olhada.
– Você vai ficar linda.
– Podes me fazer um favor?
– Não tem jeito de gostar dela.
– Vamos vender a casa.
– Quero ler o jornal agora.
– Preciso estar lá ao meio-dia.
– É melhor falar com ele.
E devemos usar o acento gráfico quando empregamos os verbos ver, dar, ler e
estar na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo, caso em que ele estará sozinho, sem outros verbos de apoio:
– Ela vê tudo com bons olhos.
– Ana Maria dá suas receitas para
todos.
– Você está bem?
– Ele lê dois livros por mês.]
dor o leite condensado com o suco de maracujá e a gelatina dissolvida. Acrescentar
as claras em neve, misturando levemente.
Levar à geladeira.
Do livro
“Cozinhando sem Mistério”,
de Léa Raemy Rangel & Maria Helena M. de Noronha
Ed. O Lutador, Belo Horizonte - Pedidos: 0800-031-7171
FotoS/rEProdução
Mensagens [ Poesia & Sabedoria...
Livro
indicado
[ Palavra
de Sabedoria
“Na ausência de Deus,
a alma se aproxima dele;
na noite, ela o descobre...
Não deve, pois, perder o ânimo.
Deus está tão próximo dela que,
se se deixasse ver,
ela se admiraria
por vê-lo tão perto.”
y v e s r agu i n
Soneto xxxII
das estrelas
“Cozinhar não é mistério.
Mas tem seus truques.
não é só uma questão
de receitas.
é uma questão de amor.”
g u i L h e R M e D e A L M e i DA
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
o livro traz receitas simples, boas
e baratas, mas também há outras
mais sofisticadas ou trabalhosas
que podemos usar em “dias especiais”. Para os que não querem se
privar das delícias, mas também
não querem engordar, as autoras
dão dicas de "Pratos que não engordam"
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço, e hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
ForMato: 15x22cm, 200p.
R$ 12,00 + Porte
perfeitamente, exatamente iguais...
— Que os meus barquinhos,
[lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Pedidos
0800-031-7171
olutador.org.br
[ Do livro Messidor, 1935
olutador [ fevereiro ] 2015 • 43 ]
Sociedade [ Falta de água?
M y r i am Ba h i a L op e s e Br u n o d e O l i v e i ra B i a z at t i
Á
gua potável é um recurso finito e vulnerável, fundamental
à vida, ao desenvolvimento
humano e ao meio ambiente. A sua essencialidade e a importância do
acesso a este recurso garantem que a
água seja um direito
humano?
Hoje, aproximadamente 884 milhões de
pessoas não possuem
acesso à água potável e
cerca de 1,5 milhões de
crianças com menos de
cinco anos morrem anualmente devido à falta de
água. Além disso, por ano,
a falta de água mata mais
crianças do que a AIDS, a
malária e o sarampo combinados.
O direito humano à
água garante o acesso
físico a este recurso na
quantidade suficiente,
de forma segura e com
preço acessível para uso
pessoal e doméstico. Tal
F/reprodução
[ No período
em que o país vive
crise hídrica,
vale examinar
conquistas
da humanidade
que, em teoria,
proíbem Estados
de interromper
abastecimento.
Os
fundamentos
do direito
à água
[ 44 • olutador [ fevereiro ] 2015
direito é regulado de forma incidental e/ou implícita em outros direitos
humanos. Um exemplo de regulação
implícita é o direito a vida.
Atualmente, tal direito é interpretado de forma ampla, incluindo a obrigação estatal de tomar medidas positivas para assegurar uma vida digna e segura, através do fornecimento de água
potável, pois este é um dos elementos
mais fundamentais para a existência
da vida de qualquer ser humano.
A falta de água pode caracterizar
tratamento cruel e degradante, quando ocorre. Pois, a sede, quando intensa e prolongada, corresponde a uma
profunda agressão à integridade físi-
O direito humano à água
garante o acesso físico
a este recurso na quantidade
suficiente, de forma segura
e com preço acessível
para uso pessoal e doméstico.
ca e a dignidade da pessoa humana. A
privação de água jamais pode ser usada como medida disciplinar ou punitiva contra detentos.
Destacamos também o direito à
saúde, que impõe aos Estados o dever de prevenir a exposição de indivíduos a recursos hídricos tóxicos, e o
direito à subsistência que compreende o acesso aos meios necessários ao
sustento pessoal, incluindo o direito à
água para irrigação de lavouras ou dar
de beber aos rebanhos.
Além das referências subentendidas no direito à água, atualmente
três tratados universais sobre direitos humanos o mencionam de forma
expressa e incidental. O primeiro deles
é a Convenção Internacional sobre os
Direitos da Criança, cujo artigo 24(2)
(c) determina que os Estados devem
combater doenças e a desnutrição de
infantes através do fornecimento de
água potável.
A Convenção Internacional sobre a eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Mulheres, em seu art.14(2)(h), determina
que os Estados devem tomar todas
as medidas positivas e apropriadas
para eliminar a discriminação feminina nas zonas rurais, de forma a garantir a elas, em particular, acesso à
água. Esse dispositivo visa a aliviar
as mulheres do fardo de se deslocarem por quilômetros, diariamente, a
fim de buscar água para as necessidades domésticas. A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, no artigo 28(2)
(a), expressamente assegura o direito
à água como parte integrante da proteção social dos deficientes.
Observamos um engajamento dos
Estados na efetivação do direito à água
na promulgação de leis nacionais que
garantem este direito. A nova Constituição da Tunísia, adotada depois da
Primavera dos Povos árabes, em 26 de
janeiro de 2014, é um exemplo. Em seu
artigo 44, o povo tunisiano estabeleceu que “o direito a água é garantido.
A preservação da água e sua utilização racional são deveres do Estado e
da sociedade”.
Diversos outros Estados também
reconhecem explicitamente este direito em seus ordenamentos jurídicos internos, tais como Quênia, África do Sul, República Democrática do
Congo, Angola, Níger, Burkina Faso,
Bolívia, Equador, Nicarágua, Argentina, Canadá, Uruguai, Ilhas Maldivas,
Camboja, Sri Lanka, Bélgica, França
e Ucrânia.
Nas normas convencionais universais, o direito à água é assegurado de maneira implícita e incidental. Este direito é, dessa forma, elemento normativo inseparável do
Direito Internacional dos Direitos
Humanos e vinculante aos Estados
da Comunidade Internacional, incluindo o Brasil.]
Fonte: Outros Quinhentos
olutador [ fevereiro ] 2015 • 45 ]
'Livro indicado
para aprofundar na
questão da água'
P E . M Á R C I O A N T Ô N I O PAC H EC O
como socorrer um planeta que pode morrer
de sede? Água pode ser mecadoria? ou
será um dom para toda a humanidade?
No livro "a SEdE da tErra", a resposta
vai além dos recursos físicos e chega
ao patamar da ética e da teologia. um
"contrato mundial da água" envolve a
construção de novos paradigmas, onde se
juntam valores como responsabilidade,
compaixão e cuidado. a bibliografia
remete o leitor a textos essenciais para
a compreensão do fenômeno que, se
descuidado, significaria a eliminação
da vida em todo o planeta.
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Mundo [ Um terço dos os alimentos produzidos
Aproveitando ao
máximo os alimentos
C la i r e Ha n coc k *
V
ivemos num mundo de contrastes extremos, onde mais
de 840 milhões de pessoas
não têm o suficiente para
comer e 1,4 bilhões de pessoas sofrem perigosamente de excesso de peso (relatório das Nações Unidas, 2012). Esse é um mundo em que
uma em cada oito pessoas vai dormir
com fome. Contudo, a quantidade de
alimentos necessária para alimentar
esse mesmo número de pessoas é perdida e desperdiçada. Assim, a energia,
a água, o fertilizante e a terra usados
para produzir esses alimentos também
são todos desperdiçados.
A população mundial deverá aumentar para 9 bilhões até 2050. Embora a produção agrícola tenha aumen-
tado constantemente ao longo dos últimos 50 anos, os efeitos da mudança
climática e a demanda cada vez maior
pelos recursos limitados disponíveis
para produzir alimentos (por exemplo,
água, terras e energia) tornarão difícil alimentar a nova população global.
Precisamos ser mais eficientes no
aproveitamento dos alimentos que temos, sejam eles alimentos que nós mesmos cultivamos ou alimentos que compramos. Isso pode ser feito através da
melhoria da nutrição, do processamento ou conservação de alimentos para
aumentar seu valor, bem como da redução do desperdício de alimentos.
Alimentos que nos fortalecem
Aproveitar ao máximo os alimentos
também significa garantir que os alimentos que consumimos nos permi-
[ 46 • olutador [ fevereiro ] 2015
tam ser saudáveis e levar uma vida ativa. Para isso, os alimentos devem ser
de boa qualidade e ter um bom valor
nutricional. Os micronutrientes, como
as vitaminas e os sais minerais, são importantes para uma dieta saudável. Um
terço da população global não consome
a quantidade certa de micronutrientes,
como vitamina A, iodo, ferro e zinco.
Por exemplo, se você não consumir vitamina A suficiente, poderá sofrer de cegueira evitável. Porém, o consumo de certos alimentos pode fornecer a vitamina A de que você precisa
(peixe, ovos, batata-doce de polpa alaranjada etc.).
A boa nutrição é especialmente importante para as crianças e os jovens
que estão passando pela puberdade,
pois ela afeta seu crescimento, desenvolvimento e chances de sobrevivên-
a cada ano é perdido ou desperdiçado...
cia no futuro. Também há outros grupos de pessoas com necessidades alimentares especiais, tanto em termos de
nutrição quanto de tipos de alimentos
que conseguem consumir. Entre esses
grupos, estão as mulheres (especialmente durante a gravidez), as pessoas idosas e as pessoas que vivem com
HIV e AIDS. É importante estar ciente das necessidades alimentares desses grupos para garantir que todos tenham o equilíbrio certo de alimentos
para uma vida saudável.
lor mais alto, como, por exemplo, fazer
pães, pratos ou lanches para vender na
rua. Os produtos processados geralmente têm um valor mais alto do que
os produtos não processados.
Uma cadeia de valor examina as
diferentes etapas para transformar a
matéria-prima num produto finalizado
e pronto para a venda. Em cada etapa
da cadeia, o produto geralmente aumenta de valor.
Isso frequentemente é conhecido
como “fazer o produto subir na cadeia
de valor”. Refletir sobre a cadeia de valor
de diferentes produtos pode ajudar as
pessoas a ver se há formas de aumentar os rendimentos através da agrega-
Transformando
os alimentos numa fonte de renda
Além de produzir alimentos para suas
próprias necessidades, muitas pessoas de áreas rurais e urbanas também
vendem uma parte daquilo que cultivam como fonte de renda para outras
necessidades domésticas. Uma forma
de agregar valor ao produto é processar uma matéria-prima para fazer outro produto, como transformar frutas
em geleia ou suco.
Pode-se também agregar valor aos
alimentos secando-os, fermentando
-os, assando-os ou misturando vários
produtos para fazer um produto de va-
Comece uma
campanha para
reduzir o desperdício
de alimentos, todos
podem contribuir.
ção de valor aos seus produtos ou da
remoção de elos da cadeia.
F/reprodução
Na estação e fora da estação
Através da conservação ou do armazenamento de alimentos, podemos usufruir os benefícios do produto ao longo
do ano. Com a conservação de frutas e
legumes pode-se garantir que, mesmo
durante os meses em que esses produtos estão em falta, ainda assim seja
possível obter vitaminas e sais minerais importantes através de conservas.
Geralmente todos os membros de
uma comunidade colhem seus produtos na mesma época. Assim, os preços
de mercado caem na época da colheita, dificultando a obtenção de um bom
preço. Se um produto for armazenado,
ele poderá ser vendido em outra época do ano, quando os preços de mercado estiverem mais altos.
Reduzindo o desperdício de alimentos
Além de aproveitar ao máximo os alimentos que temos, também temos a
olutador [ fevereiro ] 2015 • 47 ]
responsabilidade de reduzir a quantidade de alimentos perdidos ou desperdiçados. Um terço de todos os alimentos produzidos a cada ano é perdido ou desperdiçado.
Essa perda de alimentos ocorre em
vários níveis do sistema alimentar global. Em muitos países, essa perda geralmente ocorre durante a colheita ou
quando os produtos são transportados,
armazenados ou processados.
Por exemplo, na China, quase metade de todo o arroz produzido é perdido
antes de chegar às tigelas das pessoas.
Alguns alimentos apodrecem devido ao
mau armazenamento, especialmente
em climas mais quentes. As pragas (como gafanhotos ou elefantes) atacam
as culturas, enquanto elas aguardam
a colheita nos campos, ou consomem
os alimentos armazenados.
Nos países com economias mais
desenvolvidas, a maior parte da perda
de alimentos ocorre durante o processamento e no âmbito doméstico. Na Europa e nos Estados Unidos, entre 30 e 50
por cento de todos os alimentos comprados pelos consumidores são jogados fora antes de serem consumidos
(relatório do Instituto de Engenheiros
Mecânicos, 2013).
Há várias abordagens práticas que
podem ajudar a evitar que os alimentos
sejam desperdiçados, mas também é
importante mudar as atitudes das pessoas. Pelo mundo inteiro estão sendo
formados movimentos para conscientizar as pessoas sobre o desperdício
de alimentos e fazer campanhas para
a redução da fome global.
Os alimentos são uma dádiva que
precisa ser tratada com cuidado, e pequenas mudanças de comportamento
podem fazer a diferença. Seja começando a fazer mais conservas com seus
tomates, seja começando uma campanha para reduzir o desperdício de
alimentos na sua região, todos podem
contribuir para garantir o desperdício
mínimo dos alimentos.]
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[ 48 • O Lutador [ outubro ] 2014
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dade e a vastidão de sua caridade; o
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coração, extremamente terno e amoroso para com os pobres e os seus filhos e filhas espirituais; o incansável
batalhador pela causa dos indigentes
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tempo; a criatividade fecunda de suas iniciativas; a riqueza dos dons com
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