Volume 7 - número 1 - Fatec Taquaritinga

Transcrição

Volume 7 - número 1 - Fatec Taquaritinga
ISSN 1807-3980
INTERFACE TECNOLÓGICA
volume 7 - número 1 - 2010
t
q
CENTRO PAULA SOUZA
COMPETÊNCIA EM EDUCAÇÃO PÚBLICA PROFISSIONAL
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga
ISSN 1807-3980
INTERFACE TECNOLÓGICA
volume 7 – número 1 – 2010
TAQUARITINGA
Interface Tecnológica
v. 7
n. 1
p. 1 - 152
2010
CENTRO PAULA SOUZA
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – FATEC-Tq
Av. Dr. Flávio Henrique Lemos, 585 – Portal Itamaracá
15.900-000 – Taquaritinga – SP – Brasil
Fone: (16) 3252-5250 - (16) 3252-5152 - Fax: (16) 3252-5193
www.fatectq.edu.br
Governador do Estado de São Paulo
Alberto Goldman
Secretário de Desenvolvimento
Luciano Almeida
Presidente do Conselho Deliberativo
Yolanda Silvestre
Diretora Superintendente do Centro Paula Souza
Laura M. J. Laganá
Vice-Diretor Superintendente
César Silva
Assessor para Assuntos de Educação Superior
Angelo Luiz Cortelazzo
Diretor
Luciana Aparecida Ferrarezi
ISSN 1807-3980
INTERFACE TECNOLÓGICA
volume 7 – número 1 – 2010
TAQUARITINGA
Interface Tecnológica
v. 7
n. 1
p.1 - 152
2010
CONSELHO EDITORIAL
Elaine Therezinha Assirati
Gilberto Aparecido Rodrigues
Luciana Aparecida Ferrarezi
Nivaldo Carleto
Osvaldo Lázaro Mendes
Paulo Francisco Sprovieri
EDITORA RESPONSÁVEL
Elaine Therezinha Assirati
CONSULTORES
Angelita M. S. Gasparotto
Daniela Gibertoni
Elaine Therezinha Assirati
Luiz Roberto Wagner
Mara Regina Mellini Jabur
Mirela L. Piteli
Nivaldo Carleto
PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E CAPA
Fabio José Moretti
Plínio Nogueira de Arruda Sampaio
ISSN 1807-3980
INTERFACE TECNOLÓGICA
volume 7 – número 1 – 2010
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Desejamos estabelecer permuta
We wish to establish exchange
IMPRESSÃO E ENCADERNAÇÃO
Santa Terezinha gráfica & editora
Gráfica Multipress Ltda.
Av. Carlos Berchieri, 1671 – N. Jaboticabal
14890-200 – Jaboticabal – SP
Fone/Fax: (16) 3202-2246
www.graficasantaterezinha.com.br
Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores.
6
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
APRESENTAÇÃO
Quem presenciou o nascimento da Interface Tecnológica e acompanhou seu desenvolvimento é testemunha de que um sonho somado a muitas horas de trabalho e suor resulta inevitavelmente numa obra
de qualidade. Sinto-me lisonjeado em participar desse momento histórico, mas fazer a apresentação
desse sonho tornado realidade não é tarefa simples. Por isso gastei mais tempo do que me deram.
É publicamente notável o interesse e procura dos autores para participar das edições da Interface
Tecnológica da Fatec Taquaritinga, brilhantemente concebida, organizada e conduzida pela Profa.
Dra. Elaine Therezinha Assirati. A cada nova edição, percebemos um novo degrau de maturidade
alcançado em seu desafiador objetivo de oferecer um espaço abrangente, de modo que todas as áreas
científicas possam mostrar seus recentes avanços. E a Interface Tecnológica, no seu sétimo volume,
conseguiu atingir esse objetivo com bastante competência.
Dentro desse vasto e eclético espaço, o leitor pode se aventurar e identificar os principais aspectos da
sustentabilidade empresarial, além de conhecer as atuais estratégias corporativas empregadas pelas
empresas nacionais e americanas. Ainda dentro do ambiente empresarial, discute-se com propriedade
a motivação nas organizações, acompanhado também de um estudo da importância do ERP como
ferramenta estratégica para a competitividade.
O leitor mais voltado para a área ambiental pode concentrar-se no interessante texto sobre as alterações de comportamento de diferentes espécies de garça que vivem nas cidades. A gestão ambiental
também é discutida, juntamente com um peculiar artigo sobre o Mercado de Fertilizantes.
Os textos relacionados à área educacional estão voltados mais diretamente para os aspectos do aperfeiçoamento discente, o trabalho voluntário e a educação financeira.
E como não poderia deixar de faltar, a área computacional explora o setup de uma máquina impressora, discorre sobre a gestão da segurança e a tecnologia da informação. E para demonstrar as constantes melhorias proporcionadas pelas máquinas, há um estudo de caso que descreve a relação da
Agricultura Familiar e a Tecnologia.
Assim é a Interface Tecnológica no presente volume: uma experiência singular de leitura onde os
aficionados e ansiosos por novos saberes poderão conhecer e navegar entre as diversas faces do atual
mundo tecnológico. Boa viagem. Boa leitura a todos.
Prof. MSc. Aparecido Doniseti da Costa
7
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
8
SUMÁRIO
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
ARTIGOS
A gestão da segurança da informação e seu alinhamento estratégico na organização
Marcelo Teixeira Torres
Marcelo Wilson Anhesine
Walther Azzolini Júnior ............................................................................................................ 11
n
n
Uma proposta de melhoria de setup de uma máquina impressora em uma indústria do segmento
têxtil de embalagens
Angela de Brito Perez
Walther Azzolini Júnior
Eduardo de Brito Perez
Simoni Renata e Silva Perez ..................................................................................................... 23
Indústria do segmento têxtil de embalagens: um estudo de caso como proposta para aumento
da produtividade de uma impressora com a implantação da tecnologia da informação
Angela de Brito Perez
Walther Azzolini Júnior
Eduardo José Alóia ................................................................................................................... 31
n
n
Análise do mercado de fertilizantes no Brasil
Daltro Cella
Mário César de Lima Rossi ...................................................................................................... 41
Aspectos da sustentabilidade empresarial: a construção de um modelo dominante na indústria
sucroalcooleira
Martin Mundo Neto
Elizabeth Aparecida Baraldi ….…………………….............………………………......…… 51
n
Grupos brasileiros que atuam no Brasil e na New York Stock Exchange (Nyse): análise das
estratégias corporativas
Martin Mundo Neto
Wellington Afonso Desiderio ................................................................................................... 63
n
n
Agricultura familiar e tecnologia: um estudo de caso do produtor de limão do município de
Fernando Prestes
Marcelo Rodolfo Picchi
Renato Zaniboni ….……...................................……………………....................................... 75
9
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
n
Constatações de alterações comportamentais de diferentes espécies de garça em ambiente
urbano, no município de Jaboticabal - SP
Gilberto Aparecido Rodrigues
Elaine Therezinha Assirati .…….......................……………………....................................... 85
Motivação nas organizações: um estudo de caso no correio de Bebedouro/SP
Naiara Fenerick Oliveira
Angelita Moutin Segoria Gasparotto ….…….........…………………....................................... 93
n
Um estudo de caso sobre o trabalho voluntário em entidades no município de Taquaritinga
Elis Regina de Grande
Angelita Moutin Segoria Gasparotto .................……………………....................................... 103
n
n
n
n
Sistemas de gestão ambiental: compatibilização dos objetivos econômicos, estratégicos,
sociais e ambientais nas organizações empresariais
Wilma Aparecida Rodrigues ...............................……………………....................................... 111
Sistemas ERP como ferramenta estratégica para nova realidade competitiva: um estudo de
caso
Vinicius Augusto Mendonça
Angelita M. S. Gasparotto .................................……………………....................................... 123
Educação financeira
Elaine Cristina Martins Silva
Luciana Ap. Ferrarezi .................…………………….............................................................. 133
Programa de aperfeiçoamento discente: relato de uma aplicação na Faculdade de Tecnologia
de Taquaritinga
Ana T. C. Trevelin ...............................................……………………....................................... 143
n
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO ................................................................................... 151
10
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
A GESTÃO DA SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO E SEU ALINHAMENTO
ESTRATÉGICO NA ORGANIZAÇÃO
Marcelo Teixeira TORRES*
Marcelo Wilson ANHESINE**
Walther AZZOLINI JÚNIOR***
RESUMO
É inegável que a Tecnologia da Informação (TI) tem proporcionado às empresas, grandes ou pequenas, maior eficiência e rapidez na troca de informações e tomada de decisões. A TI evoluiu de um suporte administrativo para um papel estratégico dentro de uma organização. No entanto, esse ambiente
é extremamente complexo, heterogêneo e distribuído, dificultando a gestão de questões referentes à
Segurança da Informação. Este trabalho faz o levantamento histórico da Segurança da Informação e
sua contextualização empresarial, discutindo os impactos que podem ser causados devido a sua falha.
Os pontos críticos da Gestão da Segurança da Informação são apontados e ainda é proposta a aplicação de um código de boas práticas, no sentido de conscientizar as empresas no tocante à adoção de um
Sistema de Gestão da Segurança da Informação. São discutidos, neste artigo, a análise e tratamento
de riscos de segurança da informação; a adoção de uma política de segurança da informação; a gestão
de ativos da informação e seus proprietários; a segurança da informação vinculada a recursos humanos; a segurança física do ambiente corporativo; o gerenciamento das operações e das comunicações;
os controles de acesso físico e lógicos; a aquisição, desenvolvimento e manutenção dos sistemas de
informação e a gestão de incidentes de segurança da informação. Ainda serão ponderados ao final do
trabalho os aspectos legais da propriedade intelectual relacionados à proteção dos registros organizacionais.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão da Segurança da Informação. Alinhamento Estratégico de TI. Tecnologia da Informação. Análise e avaliação de riscos de Segurança da Informação.
ABSTRACT
Clearly, the Information Technology (IT) has provided businesses, large or small, more efficient and
rapid exchange of information and decision making. IT has evolved from an administrative support
for a strategic role within an organization. However, this environment is extremely complex, heterogeneous and distributed, making the management of issues relating to Information Security. This
______________________________
* Bacharel em Sistemas de Informação e Mestrando do curso de mestrado Profissional em Engenharia de Produção do
Centro Universitário de Araraquara (UNIARA), [email protected].
** Professor do Centro Universitário de Araraquara (UNIARA), coordenador do curso de Pós-graduação: MBA em
Administração da Produção e Operações do Centro Universitário de Araraquara (UNIARA) e coordenador do curso de
Engenharia Bioenergética do Centro Universitário de Araraquara (UNIARA), [email protected].
*** Pesquisador do GEOPE, Coordenador do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia de Produção do Centro
Universitário de Araraquara (UNIARA), e Coordenador do curso de Graduação em Engenharia de Produção do Centro
Universitário de Araraquara (UNIARA), [email protected].
11
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
work is the historical survey of Information Security and its business context, discussing the impacts
that may be caused due to their failure. The critical points of the Management of Information Security are pointed out and yet it is proposed to implement a code of best practices in order to educate
companies regarding the adoption of a Management System of Information Security. Are discussed in
this article the analysis and processing of information security risks, the adoption of a policy of information security, asset management information and its owners, the security of information linked
to human resources, physical security of the corporate environment ; management of operations and
communications, physical access controls and software, acquisition, development and maintenance
of information systems and management of information security incidents. Still be considered the final
work on the legal aspects of intellectual property related to the protection of organizational records.
KEYWORDS: Information Security Management. IT Strategic Alignment. Information Technology.
Analysis and risk assessment of Information Security.
INTRODUÇÃO
Segundo dados corporativos globais (PANDA SOFTWARE, 2010), os agentes ameaçadores aos ambientes computacionais estão em constante evolução, seja em número ou em forma. Novos vírus,
mais potentes que seus antecessores, surgem a uma velocidade quase exponencial. A Figura 1 demonstra a curva de crescimento e tendência de crescimento dos vírus de computador desde 1983, data
da classificação do primeiro vírus conhecido.
A maioria dos ataques é direcionada às empresas, com intenção de roubo de informações e identidades. Segundo a Symantec, em seu relatório anual sobre ameaças na Internet, o Brasil é o terceiro país
no mundo em números de atividades maliciosas, atrás somente dos Estados Unidos e da China. O
aumento significativo dos números do Brasil, no referido relatório, se deve ao crescimento da infraestrutura de Internet banda larga (Tabela 1). O nível crescente de atividades de códigos maliciosos que
afetam o Brasil também resultou na proposta de uma nova lei do cibercrime1 no país (SYMANTEC
CORPORATION, 2010).
1
[Neo.]. Designação geral para os delitos cometidos, mediante a utilização da Internet. Ex. invasão de servidores e
computadores para alteração ou roubo de dados, desvio de dinheiro em contas bancárias, fraudes com cartão de crédito,
violações de propriedade intelectual, pedofilia, protestos políticos com dimensões criminosas, etc.
12
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Figura 1 - Evolução dos vírus de computador
Fonte: Adaptado de (PANDA SOFTWARE, 2010)
Tabela 1 - Atividade Maliciosa por Países
Fonte: (SYMANTEC CORPORATION, 2010, p. 7)
Sob constantes ataques de criminosos, cerca de 320 redes de computadores do governo federal – entre elas sistemas de grande porte, como o do Banco do Brasil e o Serviço de Processamento
(Serpro), que cuida do coração da economia e do mercado financeiro – geraram uma nova demanda
para os órgãos de segurança e de inteligência. Um inquérito que corre em segredo na Polícia Federal,
em Brasília, investiga a atuação de uma quadrilha internacional que penetrou no servidor de uma
estatal, destruiu os controles, trocou a senha e, depois de paralisar todas as atividades da empresa,
exigiu um resgate de US$ 350 mil (FOLHA DE S. PAULO, 2009).
Os ataques às instituições governamentais são frequentes ao redor do mundo. Em 2008, uma agência estrangeira de espionagem comandou um ataque digital ao Pentágono, sede do Departamento de
Defesa dos Estados Unidos, causando a mais significativa violação já ocorrida na segurança digital
das Forças Armadas norte-americanas. O ataque teve início depois que um pendrive contaminado foi
13
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
inserido em um notebook militar, em um quartel do Oriente Médio. O vírus contido nesse pendrive
foi transferido até o Comando Central do Pentágono, penetrando sistemas sigilosos e não sigilosos. O
ataque serviu de alerta ao Pentágono, que depois disso criou o Comando Cibernético e tomou medidas para reforçar suas defesas digitais (G1 TECNOLOGIA & GAMES, 2010).
Instituições financeiras sofrem prejuízos financeiros e de imagem consideráveis devido às violações
de suas informações. Os prejuízos financeiros do setor bancário com crimes eletrônicos, incluindo Internet e cartões de crédito e débito, somaram cerca de R$ 450 milhões no primeiro semestre de 2010.
O prejuízo total do setor bancário em 2009 foi de R$ 900 milhões. No ano passado, os investimentos em segurança na Internet atingiram R$ 1,94 bilhão. Os prejuízos na imagem dessas instituições
não podem ser medidos, pois possuem desdobramentos em diferentes variáveis (G1 ECONOMIA e
NEGÓCIOS, 2010).
Normalmente, esses ataques começam com algum reconhecimento por parte dos atacantes. Isso pode
incluir pesquisar informações publicamente disponíveis sobre a empresa e seus empregados, como
dos sites de relacionamento pessoal. Essa informação é então utilizada para criar métodos de captura,
conhecidos como phishing, que induzem funcionários e pessoas comuns a clicar em links maliciosos,
entrarem em sites contaminados, etc. De acordo com a Symantec (2010), 95% das exposições de
identidade poderiam ser evitadas adotando alguma política de segurança da informação. O cenário
atual sugere que a maioria das organizações deveria se preocupar mais em gerenciar seus recursos
de informação do que controlar a execução de programas não autorizados (ANGELL e SPYRIDON,
2009).
Apesar de as empresas afirmarem informalmente que o assunto segurança da informação é importante, essa declaração fica muito distante das ações. A Figura 2 mostra que a 78% das violações de dados
(hacking, política insegura e perda/roubo) possivelmente seriam evitadas com uma boa política de
gestão da segurança da informação (SYMANTEC CORPORATION, 2010).
Figura 2 - Causa das violações de dados empresariais
Fonte: Adaptado de (SYMANTEC CORPORATION, 2010, p. 9)
14
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Em 2009, 98% das ameaças à confidencialidade das informações teve algum componente de acesso
remoto. Este foi um aumento de 83% em relação aos números de 2008. O contínuo aumento é provavelmente devido à adição de funcionalidades de acesso remoto (bem como outras ameaças de informações confidenciais) nos softwares empresariais e sistemas operacionais. A sofisticação e eficácia
de kits de ferramentas de criação de softwares maliciosos também contribuíram para o aumento desse
número.
Dos ataques bem sucedidos, ou seja, com captura de alguma informação e onde dados confidenciais e
estratégicos das empresas foram expostos, 72% obtiveram acesso a dados de sistema das empresas e
86% instalaram programas espiões, como keyloggers2 (SYMANTEC CORPORATION, 2010).
Na contramão do crescimento das ameaças, o interesse global por segurança da informação vem
reduzindo lentamente, ano a ano, conforme dados do Google (2010). Em fevereiro de 2004, ano em
que o Google iniciou a tabulação de seus dados, das pesquisas mundiais categorizadas com interesse
em computadores e aparelhos eletrônicos, as buscas por information security representaram 100%
das palavras-chave. Em maio de 2010, essas palavras aparecem em apenas 37% das pesquisas, como
mostra a Figura 3 (GOOGLE, 2010).
Figura 3 - Interesse mundial por information security
Fonte: Adaptado de (GOOGLE, 2010)
O Brasil ainda demonstra relativo interesse pelo assunto segurança da informação, se comparado à
média mundial, devido principalmente ao aumento da atividade maliciosa na Internet, como relatado no anual da Symantec, subir da 5ª para a 3ª posição no ranking mundial e da 5ª para a 2ª posição
no ranking dos países que mais enviam spam3, coforme Tabela 2 (SYMANTEC CORPORATION,
2010).
______________________________
2
Programa capaz de capturar e armazenar as teclas digitadas pelo usuário no teclado de um computador (CENTRO DE
ESTUDOS, RESPOSTA E TRATAMENTO DE INCIDENTES DE SEGURANÇA NO BRASIL, 2006).
3
Termo usado para se referir aos e-mails não solicitados, que geralmente são enviados para um grande número de pessoas. Quando o conteúdo é exclusivamente comercial, essa mensagem também é referenciada como UCE - do Inglês
Unsolicited Commercial E-mail (CENTRO DE ESTUDOS, RESPOSTA E TRATAMENTO DE INCIDENTES DE SEGURANÇA NO BRASIL, 2006).
15
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Tabela 2 - Classificação de países com maior envio de spam
Fonte: (SYMANTEC CORPORATION, 2010, p. 80)
A Figura 4 mostra o interesse do Brasil em pesquisas sobre “segurança da informação” no Google,
com dados até maio de 2010, baseado nas pesquisas relacionadas à categoria computadores e aparelhos eletrônicos. O auge da busca pelo tema foram os meses de abril e maio de 2004, quando as
palavras “segurança” e “informação” estavam presentes em 100% das pesquisas. No mês de maio de
2010, essa porcentagem foi de 53% (GOOGLE, 2010).
Figura 4 - Interesse nacional em “segurança da informação”
Fonte: Adaptado de (GOOGLE, 2010)
Sistemas de gestão da segurança da informação
Nos dias atuais, a informação e os processos de apoio, sistemas internos e redes de dados são ativos
essenciais a uma organização, seja ela pública ou privada. Protegê-las tornou-se algo indispensável,
principalmente em um ambiente cada dia mais interconectado. Como resultado do aumento dessa
interconectividade, a informação se expõe a um infindável número de ameaças e vulnerabilidades.
Definir, alcançar e manter a segurança da informação se tornou atividade vital para estabelecer a com16
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
petitividade, o fluxo de caixa, a lucratividade, os requisitos legais e uma boa imagem da organização
junto ao mercado (LAHTI e PETERSON, 2006).
Segurança da Informação é a proteção da informação contra vários tipos de ameaças, com finalidade
de garantir a continuidade do negócio, minimizando seus riscos e maximizando o retorno sobre os
investimentos. A Segurança da Informação é obtida através da adoção de um conjunto de controles
adequados, que devem ser estabelecidos, implantados, monitorados, analisados e melhorados constantemente, a fim de garantir que os objetivos estratégicos do negócio e da segurança da informação
sejam atendidos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
Muitos sistemas de informação não foram projetados para serem seguros, uma vez que a Segurança da Informação não pode ser alcançada apenas por meios técnicos. Para ser plenamente eficaz, a
Segurança da Informação deve estar apoiada por uma gestão e por procedimentos apropriados. Os
mecanismos de controle devem ser detalhadamente implementados. A implantação deve acontecer de
cima para baixo (arquitetura Top-Down4), atingindo desde a mais alta direção, passando por todos os
funcionários e abrangendo clientes, fornecedores e acionistas. Uma consultoria externa especializada
pode ser útil no momento de sua implantação (LAHTI e PETERSON, 2006).
É fundamental a uma organização identificar seus requisitos de Segurança da Informação, os quais
são identificados por meio de análises sistemáticas dos riscos da Segurança da Informação. Todos
os investimentos com controles precisam ser ponderados conforme os danos causados aos negócios
gerados pelas potenciais falhas de segurança. Os resultados das análises de risco ajudarão a direcionar
e estabelecer as ações apropriadas e as prioridades gerenciais dos riscos da Segurança da Informação, na implementação dos controles definidos para proteção contra esses riscos. A análise de riscos
deve ser periodicamente repetida para atender a e prever quaisquer mudanças que podem modificar
os resultados da gestão da Segurança da Informação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2005).
Uma vez identificados os requisitos de Segurança da Informação, seus riscos e tenham sido definidas
as decisões para o tratamento dos riscos, devem ser escolhidos e implementados controles apropriados a cada risco, para que eles sejam reduzidos a níveis toleráveis dentro da estratégia organizacional.
Tais controles podem ser selecionados a partir de uma norma vigente ou criados em separado, visando a atender a uma necessidade específica. A decisão de cada controle de segurança da informação
depende da decisão estratégica da organização, devendo estar em conformidade com a legislação
e regulamentações específicas, nacional e internacional, relevante à área de atuação (ANGELL e
SPYRIDON, 2009).
Experiências na adoção de um plano de gestão da segurança da informação têm mostrado alguns
fatores críticos de sucesso, dentro de uma organização. Entre eles, destacam-se: boas políticas de
segurança da informação são aquelas que se mostram alinhadas com as estratégias de negócios; a estrutura de implementação, manutenção, análise e melhoramento da segurança da informação deve ser
agregada à cultura organizacional; a implantação e adoção devem ocorrer em todos os níveis organi-
______________________________
4
Mostra o sentido que alguma ordem, implementação ou mudança é realizada dentro da empresa, neste caso, da direção
para os funcionários. Seu inverso é Botton-up.
17
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
zacionais; a organização deve conhecer todos os requisitos de segurança da informação, seus riscos e
procedimentos a serem adotados em casos de não conformidade; divulgação das normas de segurança
da informação e a conscientização de sua adoção a todos os níveis da organização e terceiros envolvidos; provimento de recursos financeiros para todas as atividades relacionadas à gestão da segurança
da informação e à implementação de um sistema de medição de eficiência da gestão da segurança da
informação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
Normas ABNT
Na tentativa de normatizar a Gestão da Segurança da Informação, a ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas) elaborou, em parceria com a ISO (International Organization for Standardization), um conjunto de normas técnicas que: definem um código de prática para Gestão da Segurança
da Informação; estabelecem alguns requisitos para construção de Sistemas de Gestão de Segurança da
Informação; estabelecem diretrizes para gestão de riscos de Segurança da Informação e desenvolvem
métricas para aferição da eficácia de um Sistema de Gestão de Segurança da Informação.
As normas que abordam o tema deste trabalho são:
• ABNT NBR ISO/IEC 27002:2005 – Código de prática para gestão de segurança da informação, em vigor desde 30/09/2005. Esta norma estabelece diretrizes e princípios gerais
para iniciar, implementar, manter e melhorar a gestão da segurança da informação em
uma organização. Os objetivos definidos nessa norma proveem diretrizes gerais sobre as
metas geralmente aceitas para a gestão de segurança da informação.
• ABNT NBR ISO/IEC 27001:2006 Versão Corrigida:2006 – Sistemas de gestão de segurança da informação – Requisitos, em vigor desde 20/04/2006. Esta norma cobre todos
os tipos de organizações (empreendimentos comerciais, agências governamentais, organizações sem fins lucrativos, etc.). Esta norma especifica os requisitos para estabelecer,
implementar, operar, monitorar, analisar criticamente, manter e melhorar um SGSI documentado dentro do contexto dos riscos de negócios globais da organização. Ela especifica
requisitos para a implementação de controles de segurança personalizados para as necessidades individuais de organizações ou suas partes.
• ABNT NBR ISO/IEC 27005:2008 – Gestão de riscos de segurança da informação, em
vigor desde 07/08/2008. Esta norma fornece diretrizes para o processo de gestão de riscos
de segurança da informação.
• ABNT NBR ISO/IEC 27004:2010 – Gestão da segurança da informação – Medição, em
vigor desde 01/05/2010. Esta norma fornece diretrizes para o desenvolvimento e uso de
métricas e medições a fim de avaliar a eficácia de um Sistema de Gestão de Segurança
da Informação (SGSI) implementado e dos controles ou grupos de controles, conforme
especificado na ABNT ISSO/IEC 27001.
18
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Gestão da Segurança da Informação
A primeira etapa para adoção de um Sistema de Gestão da Segurança da Informação (SGSI) é levantar os riscos de quebra da segurança da informação. A análise de riscos deve ser estabelecida pelo
comando da empresa, em conjunto com o departamento de TI. Essa análise deve incluir sistemas para
estimar o impacto do risco e sua significância. Para cada risco identificado deve ser estabelecida uma
decisão para seu tratamento (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
Após o levantamento dos riscos, deve-se elaborar um documento, aprovado pela direção, que descreva para todos os funcionários e pessoas externas relevantes, a política de segurança da informação.
Esse documento deve declarar o comprometimento da organização na gerência da segurança da informação. Essa política de gestão da segurança deve ser analisada, de forma criteriosa, em intervalos
de tempo predefinidos ou quando houver mudanças críticas que comprometam sua pertinência ou
eficácia (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
Todos os ativos de informação devem ser identificados, assim como seus respectivos proprietários.
Aos proprietários desses ativos deve ser atribuída a responsabilidade pela manutenção da sua segurança. Os ativos de informação estão classificados, de acordo com a ABNT (2005), em: ativos de
informação, ativos de software, ativos físicos, serviços, pessoas e intangíveis.
Os papéis de responsabilidade pela segurança da informação de funcionários, fornecedores e terceiros
envolvidos devem ser documentados conforme a política do SGSI, a fim de reduzir o risco de furto,
fraude ou mau uso dos recursos. Essas responsabilidades devem ser estabelecidas antes da contratação, estabelecendo um termo de uso da informação. Recomenda-se que funcionários com acesso a
informações sensíveis sejam adequadamente analisados e testados antes de sua contratação. Deve ser
prevista também uma forma de retirar direitos de acesso e de devolução de ativos, caso o contrato de
um funcionário ou terceiro seja encerrado (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
Prevenir o acesso físico não autorizado aos ativos previne danos e interferências nas informações.
O processamento de informações críticas ou sensíveis deve ser mantido em áreas seguras, com perímetro definido e com controle de acesso apropriado. Toda proteção física deve ser compatível com
o risco identificado. Deve ser estabelecida também a proteção contra ameaças externas e do meio
ambiente, como proteção contra incêndios e enchentes ou outras formas de desastres naturais ou causados pelo homem (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
Proteger a integridade dos sistemas de software e da informação por eles manipulados também deve
fazer parte da política de gestão da Segurança da Informação. O SGSI deve ser capaz de identificar a
introdução de códigos maliciosos ou códigos móveis não autorizados. Os usuários devem ser conscientizados sobre os perigos dos códigos maliciosos. Os gestores dos ativos devem estar capacitados a
prevenir, detectar e remover qualquer código malicioso que penetrar o sistema. O SGSI deve permitir
gerar cópias de segurança dos dados e sua respectiva restauração em tempo aceitável, a fim de não
prejudicar o bom andamento das atividades da empresa (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
19
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
O acesso à informação, seus recursos de processamento e os processos críticos de negócio devem ser
controlados e criteriosamente autorizados para uso. Todas as regras de usuário e grupos devem ser
expressamente claras, fornecendo aos usuários e provedores uma visão nítida do controle de acesso.
Todo equipamento com acesso a rede e/ou sistemas organizacionais devem ser identificados física
e logicamente, de modo que sejam facilmente localizados em caso de incidentes (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
É recomendável que apenas os sistemas internos da empresa sejam capazes de ler e gravar informações nos arquivos de dados. A adoção de política de controle de autenticidade, confidencialidade ou
integridade deve ser estabelecida por meio de criptografia das informações. O acesso aos códigosfonte dos sistemas de informação deve ser estritamente controlado e restrito apenas à equipe de desenvolvimento a fim de que sejam evitadas mudanças não autorizadas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
Quando ocorrerem incidentes de segurança, as ações de recuperação estabelecidas no documento de
políticas de gestão da segurança da informação devem ser implementadas em tempo hábil. Todos os
funcionários, fornecedores e terceiros envolvidos devem estar cientes dos procedimentos de recuperação. Um plano de recuperação eficiente deve ser capaz de minimizar o impacto sobre a organização
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
O SGSI deve evitar violações de quaisquer obrigações legais, estatutárias ou contratuais. A implantação de um SGSI e da política de gestão da segurança da informação deve contar com suporte jurídico
ou de profissionais qualificados sobre os aspectos legais e seus requisitos. Toda a legislação aplicável
à regra de negócios da empresa deve ser identificada como forma de garantir os direitos de propriedade da informação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A informação passou a ser o eixo central das empresas a partir das últimas décadas do século XX.
Para alcançar o sucesso competitivo, as organizações precisam cumprir novas exigências no ambiente
da informação. Investir, gerenciar e explorar o conhecimento passou a ser um fator crítico de desenvolvimento.
Proteger a informação significa proteger o patrimônio organizacional. Na atual formação mercadológica a Segurança da Informação desenha um degrau sutil entre o sucesso e o fracasso. A perda de
informações pode causar prejuízos irreparáveis, sejam financeiros ou de imagens, às instituições afetadas. Cada vez mais a Gestão da Segurança da Informação deve fazer parte da estratégia da empresa.
Este artigo propôs a adoção da Gestão da Segurança da Informação, através das normas regulatórias
descritas pela ABNT, como forma viável de proteger um dos ativos intangíveis mais importantes das
organizações. Com uma breve descrição sobre as boas práticas para a gestão da segurança da informação, este trabalho sugere que cada vez mais empresas protejam seus patrimônios intelectuais e de
informação.
20
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
REFERÊNCIAS
ANGELL, I. O.; SPYRIDON, S. The Risk of Computerised Bureaucracy. Journal of Information
System Security, 2009. 3 - 25.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO/IEC 27002:2005. São
Paulo, p. 120. 2005.
CENTRO DE ESTUDOS, RESPOSTA E TRATAMENTO DE INCIDENTES DE SEGURANÇA
NO BRASIL. Cartilha de Segurança. cert.br, 2006. Disponível em: <http://cartilha.cert.br/glossario/>. Acesso em: 20 jun. 2010.
FOLHA DE S. PAULO. Folha on line, 25 ago. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.
br/folha/informatica/ult124u614597.shtml>. Acesso em: 13 jun. 2010.
G1 ECONOMIA E NEGÓCIOS. Globo.com, 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/08/crimes-eletronicos-dao-prejuizo-de-r-450-milhoes-para-bancosem-2010.html>. Acesso em: 31 ago. 2010.
G1 TECNOLOGIA & GAMES. Globo.com, 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/
noticia/2010/08/espioes-usaram-virus-em-pendrive-para-atacar-rede-do-pentagono.html>. Acesso
em: 27 ago. 2010.
GOOGLE. Google Insights, 2010. Disponível em: <http://www.google.com/insights/
search/#q=information%20security&cmpt=q>. Acesso em: jun. 2010.
LAHTI, C. B.; PETERSON, R. Sarbanes-Oxley: Conformidade TI usando COBIT e ferramentas
open source. Rio de Janeiro: Alta Books, 2006.
PANDA SOFTWARE. List of Viruses, 13 jun. 2010. Disponível em: <http://www.cloudantivirus.
com/en/listofviruses/>. Acesso em: 15 abr. 2010.
SYMANTEC CORPORATION. Symantec Global Internet Security Threat Report - Trends for 2009.
Mountain View, CA - EUA, p. 98. 2010.
21
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
22
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Uma Proposta de Melhoria de Setup de uma Máquina Impressora
em uma Indústria do Segmento Têxtil de Embalagens
Angela de Britto Perez*
Walther Azzolini Júnior**
Eduardo de Britto Perez***
Simoni Renata e Silva Perez****
RESUMO
Este artigo apresenta uma proposta metodológica para reduzir o tempo de preparação (setup) de
uma máquina impressora e, assim, diminuir o tamanho dos lotes de produção minimizando tempos não-produtivos do processo de impressão. A troca rápida de ferramentas (TRF) foi abordada,
neste artigo, segundo a metodologia de Shigeo Shingo (SMED – single minute exchange of die),
que é referência principal quando se trata de redução de tempos de setup. O estudo está sendo
desenvolvido em uma indústria têxtil sediada na cidade de Ribeirão Bonito-SP, região de Araraquara, que de acordo com o Planejamento e Controle da Produção (PCP) baseado na Theory of
Constraints (TOC), levou-nos a concluir que o gargalo da produção concentra-se na impressora.
PALAVRAS-CHAVE: Produtividade. Planejamento e Controle da produção (PCP). Metodologia
SMED. Setup. Troca Rápida de Ferramentas.
ABSTRACT
This article presents a methodology to reduce the preparation time (setup) of a printer and thus
decrease the size of production batches of minimizing non-productive time of the printing process.
The rapid exchange of tools (TRF) has been addressed in this article, according to Shigeo Shingo
methodology (SMED - Single Minute Exchange of Die), which is the main reference when it comes
to reducing setup times. The study is being conducted in a textile company based in Ribeirão Bonito,
SP, Araraquara region, which according to the Planning and Production Control (PPC) based on the
Theory of Constraints (TOC), led us to conclude that the bottleneck of the production is concentrated
in the printer.
KEYWORDS: Productivity. Production Planning and Control. SMED Methodology. Rapid Exchange
of tools.
______________________________
* (FATEC – TQ/Brasil), [email protected] – Av. Dr. Flávio Henrique Lemos, 585, Portal Itamaracá, 15900-000,
Taquaritinga – SP, Brasil.
** (UNIARA /Brasil), [email protected] – Rua Carlos Gomes, 1338, Centro, 14801-340, Araraquara – SP, Brasil.
*** (3M /Brasil), [email protected] – Rua Germania, 270, Bonfim, 13070-770, Campinas – SP, Brasil.
****Mestranda (UNESP – Rio Claro/Brasil), [email protected] – Rua Germania, 270, Bonfim, 13070-770, Campinas
– SP, Brasil.
23
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
INTRODUÇÃO
Com a globalização, surgem novas exigências do mercado consumidor atreladas ao aumento significativo da variedade de produtos e a uma acirrada competição global em todos os setores industriais.
Às mudanças nas exigências dos mercados relativamente a custos, prazos e qualidade, têm forçado
muitas empresas a se adaptarem e a se reestruturarem de forma a permanecerem competitivas. Esta
adaptação passa pelo correto conhecimento dos custos de produção permitindo uma correta formação
dos preços de venda e um aumento dos níveis de qualidade com redução dos tempos de fabricação e
prazos de entregas (lead time).
Segundo SLACK (1997), et al, a redução do lead time proporciona aproximação entre requisitos do
cliente e reposta da empresa, resultando em fidelidade de clientes e em menor complexidade gerencial. O tempo ganho com a redução do lead time é um investimento na satisfação do consumidor e na
redução dos custos da manufatura.
Atualmente as empresas de manufatura operam sob pressão para atender o mercado com preços competitivos e produtos que venham a atender a necessidade do consumidor final. Neste contexto operam
com recursos escassos de produção e financeiros em função da redução do ganho gerado pela venda
dos produtos fabricados e da necessidade de manter uma estrutura enxuta. É importante ressaltar que
nesse contexto surge o papel importante do Planejamento e Controle da Produção (PCP), responsável
em administrar informações vindas de diversos departamentos e também da manutenção que é a área
responsável em manter máquinas e equipamentos em boas condições de uso.
De acordo com o exposto, a adequação do fluxo de informações dessas empresas deve garantir um
menor tempo de resposta ao fluxo de produção, mediante ajustes de processo a partir do monitoramento com o uso da tecnologia de coleta de dados.
O artigo se propôs em estudar os princípios atuais de preparação de uma máquina impressora (setup)
no chão de fábrica de uma indústria do segmento têxtil de embalagens. Os dados gerados, através do
monitoramento de um trabalho já concluído, apontam um tempo total de 805,9167 horas, com um
tempo total de setup de 406,52 horas de tempo improdutivo, ou seja, 50,44%. Do tempo improdutivo
identificado pelo sistema, 246,32 horas são do setup, ou seja, 61,74% do tempo improdutivo e 30,56%
do total.
Além dos resultados apresentados, cabe analisar que neste período a impressora ficou parada 50.44%
do tempo e em produção 49.56% do tempo total. A impressora dentro do período ficou parada 61.74%
em setup, 7.98% outros motivos, 3.76% em manutenção, 0.05% falta de energia, 8.3% parada para
refeição, 0.41% para reposição de solvente, 4.22% para troca de turno, 12.58% para troca de bobina,
0.96% como motivos inválidos.
É evidente, através dos resultados demonstrados, que há a necessidade de se rever e sistematizar os
procedimentos de setup a fim de adequar a produtividade da empresa com foco até na programação
da produção, pelo fato de a máquina impor a capacidade de produção da fábrica.
24
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
1. Proposta Metodológica para Troca Rápida de Ferramentas (Smed) - Single minute exchange
of die
Shingo criou sua metodologia, que na versão em inglês recebeu a sigla SMED, iniciais de “singleminute exchange of die”. Esta sigla traz aglutinado um conceito e uma meta de tempo: troca de matrizes em menos de dez minutos.
Shingo (2000), a troca rápida de ferramentas pode ser descrita como uma metodologia para redução
dos tempos de preparação de equipamentos, possibilitando a produção econômica em pequenos lotes,
o que geralmente exige baixos investimentos no processo produtivo.
1.1. Etapa preliminar
Na etapa preliminar não se distingue setup externo de interno, oferece apenas os parâmetros de tempo
inicial das atividades realizadas no setup. Para obter os tempos das atividades, Shingo (1985) indica a
possibilidade do uso do cronômetro, do estudo do método, de entrevista com operadores ou da análise
da filmagem da operação.
1.2. Etapa 1: separando setup interno e externo
Esta etapa busca separar o setup interno, aquele que é realizado com a máquina parada e setup externo, aquele que é realizado com a máquina em produção. A respeito disso, Shingo comentava:
[...] se for feito um esforço científico para realizar o máximo possível da operação de setup
como setup externo, então, o tempo necessário para o interno pode ser reduzido de 30 a 50%.
Controlar a separação entre setup interno e externo é o passaporte para atingir o SMED.
(SHINGO, 1985).
1.3. Etapa 2: conversão do setup interno em setup externo
Para atingir a meta de tempo proposta pela metodologia SMED, é necessário analisar se alguma operação tenha sido erroneamente alocada e fazer um esforço para convertê-las em setup externo.
1.4. Etapa 3: melhoria sistemática de cada operação básica do setup interno e externo
Shingo (1988) oferece uma definição ao seu terceiro estágio conceitual: “Melhoria sistemática de
cada operação básica do setup interno e externo”. Esta abor­dagem apresenta uma compreensão melhor do alcance do estágio e permite visualizar o SMED como melhoria contínua.
A busca do single-minute (dígito único) pode não ser alcançada nos estágios anteriores, sendo necessária a melhoria contínua de cada elemento, tanto do setup interno como externo.
25
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
RESULTADOS PARCIAIS
2.1. A Empresa em Estudo
O estudo de caso está sendo realizado em uma indústria do segmento têxtil de embalagens, indústria
de transformação com produtos de ráfia. A empresa está situada na região de Araraquara, mais precisamente em Ribeirão Bonito – SP. Este artigo é uma síntese do trabalho de pesquisa que hoje é um
projeto aprovado e financiado por órgãos de fomento e incentivo à pesquisa (CAPES). Atualmente, a
empresa possui, no banco de dados do sistema, 28 clientes, totalizando 102 produtos.
O objeto social é a fabricação de embalagens de ráfia de polipropileno e suas vendas são restritas ao
mercado interno, basicamente para as indústrias de ração animal, usinas de açúcar entre outras. Com
o mercado de sacaria de ráfia em ascensão, a empresa buscou ampliar seu mercado adquirindo 12
teares da Índia para a produção da sacaria de polipropileno (ráfia). Atualmente, a empresa possui no
banco de dados do sistema 28 clientes totalizando 102 produtos.
2.2. Processo de Fabricação
O polipropileno é uma resina muito resistente ao calor, o que possibilita a sua dobra, repetidas vezes,
sem se romper. É colocado na extrusora onde o material é derretido e lançado em um recipiente com
água para formar o filme de polipropileno. Após a extrusão do polipropileno em filmes, estes são recortados em tiras e passam por duas estufas para serem esticados. Estes fios são enrolados em tubos,
e utilizados nos teares para fabricação do tecido. A laminadora une o tecido de polipropileno a um
filme impermeável de mesmo material, aumentando sua resistência. As bobinas de tecidos vão para
a impressora, onde podem ser feitas impressões até quatro cores e depois para a máquina automática
de corte e costura.
A Figura 1 ilustra os processos de fabricação com tempos de setup definidos em cada processo.
Figura 1 - Mapeamento do Estado Atual da Indústria Estudada
Fonte: Próprio autor
26
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
2.3. Descrição do procedimento de setup da troca do clichê da máquina impressora por atividade
O processo de setup para a troca do clichê da máquina impressora envolve atividades executadas com
a particularidade de setup interno e externo e ocorre somente para atender a impressão de pedidos
de clientes diferentes ou quando para um mesmo cliente, há mais de um clichê dependendo do mix
de produtos atendidos. É descrito as atividades inerentes do setup externo e interno sendo que para o
procedimento descrito há somente a primeira atividade como setup externo, sendo as demais caracterizadas como setup interno.
O fato é que há a possibilidade após o detalhamento do processo de transferir atividades que hoje são
realizadas com a máquina em funcionamento para o setup externo: como a seleção ou separação de
componentes da máquina como engrenagens e cilindros para estarem próximos do equipamento no
momento da troca e não como executado atualmente com a máquina parada.
2.3.1. Tipos de Setup
O processo de impressão contempla vários tipos de setup:
•Setup de impressão de 1 cor (troca de 1 cilindro);
•Setup de impressão de 2 cores (troca de 2 cilindros);
•Setup de impressão de 3 cores (troca de 3 cilindros);
•Setup de impressão de 4 cores (troca de 4 cilindros);
•Setup de inversão: frente/verso ou verso/frente.
2.3.2. Materiais para a Preparação da Máquina Impressora
•Chave Alien – 5mm;
•Chave Alien – 6mm;
•Chave Alien – 8mm;
•Chave Fixa – 17;
•Chave Fixa – 3/8;
•Alicate de bico; e
•Carrinho para transporte do cilindro.
A Tabela 1 demonstra a quantidade de engrenagens para impressão da frente e do verso com suas
respectivas medidas (cm). A Tabela 2 demonstra a quantidade de cilindros com suas medidas em
centímetros (cm).
27
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Tabela 1 – Engrenagens
Tabela 2 - Cilindros
Engrenagens da Impressora
Frente
Quantidade
4
4
5
4
4
1
4
4
4
2
2
4
3
3
Cilindros
Verso
Medida (cm)
69
75
80
84
89
94
95
97
99
101
104
105
109
120
Quantidade
2
2
2
2
2
0
2
2
2
0
0
2
2
1
Medida (cm)
69
75
80
84
89
94
95
97
99
101
104
105
109
120
Quantidade
4
4
4
4
4
1
4
4
3
2
2
4
3
3
Medida (cm)
69
75
80
84
89
94
95
97
99
101
104
105
109
120
Fonte: Próprio autor
Segundo Shingo (1988) a etapa preliminar deve ser realizada através do estudo dos tempos de cada
atividade com a utilização de cronômetro, filmagens, estudo dos métodos e entrevistas. A etapa um
(1) separa o setup interno, aquele que é realizado com a máquina parada, do setup externo, aquele que
é realizado com a máquina em produção. O presente estudo também contempla os tempos envolvidos
em cada atividade com a utilização de filmagens, cronômetro e fotos e a separação dos tipos de setup
de cada atividade, através da análise das atividades.
A Tabela 2 identifica todas as atividades realizadas durante o processo de setup, a classificação quanto
a ser setup interno e externo e o respectivo tempo de execução.
Tabela 2 – Descrição das atividades com dois operadores (Setup de 1 cor)
Atual
Proposto
Seq. Atividade
Descrição
Interno/externo
Interno/externo
Tempo (min.)
01
Trocar a dupla face do clichê
interno
externo
6’26’’
02
Remover a caixa de tinta
interno
interno
0’35’’
03
Remover o clichê do cilindro
interno
externo
0’34’’
04
Remover as engrenagens
interno
interno
1’03’’
05
Remover o cilindro
interno
interno
2’35’’
06
Colocar o cilindro
Colocar as engrenagens no
cilindro
Colocar o clichê
interno
interno
0’51’’
interno
interno
1’20’’
interno
externo
1’38’’
07
07
28
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
10
Retornar a caixa de tinta e avançar
o cilindro até o tambor
Fazer o ajuste fino utilizando o
calibrador
Troca da tinta
11
12
08
09
interno
interno
2’33’’
interno
interno
1’25’’
interno
interno
7’20’’
Ajuste da cor de impressão
interno
interno
1’25’’
Ajuste final no material para teste
interno
interno
9’12’’
26’59’’
34’57’’
Tempo de Setup Total
A atividade 1 descreve o processo de troca da dupla face do clichê. O operador com auxílio de uma
tesoura retira a fita dupla face do clichê, abre o rolo de fita e cola o clichê na fita dupla face. Após este
procedimento, recorta a fita do tamanho do clichê que será utilizado no seu respectivo lote de impressão. As atividades 2,3 e 4 remove a caixa de tinta, o clichê e as engrenagens para retirar o cilindro.
Após retirar o cilindro as outras atividades repetem-se como atividades de montagem da máquina
para impressão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com dados analisados através de fotos e filmagens, observou-se que a execução da troca
de clichê está sendo desenvolvido como setup interno (máquina parada), e como proposto, o ideal
seria que fosse realizado como setup externo para otimização do processo. Foi mensurado um tempo
através de cronômetro de 6’26’’para preparação de um clichê, sendo que este tempo pode ser eliminado trabalhando este processo como setup externo. O cilindro também pode ser preparado fora da
máquina por operadores e, assim, encontrar-se pronto para a montagem diminuindo o tempo de setup.
A organização também é fator importantíssimo no processo de otimização dos processos e será trabalhado no decorrer deste estudo. A troca de tinta, que hoje está com um tempo de 7’20’’, pode chegar
em até 2’26’’com a aplicação de um processo organizacional. Será proposto um processo de troca de
bobinas, por um sistema pneumático ou hidráulico de movimentação e a troca de parafusos por um
sistema de pino com rosca.
REFERÊNCIAS
ARGENTA, C. E. B. e OLIVEIRA, L. R. Análise do Sistema Kanban para Gerenciamento da Produção com Auxílio de Elementos de Tecnologia da Informação. Disponível em: <http://www.abepro.
org.br/biblioteca/ENEGEP2001_TR12_0856.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2010.
FERNANDES, F. C. F.; TAHARA, C. S. Um sistema de controle da produção para a manufatura
celular. Parte I: Sistema de Apoio à Decisão para a Elaboração do Programa Mestre de Produção.
Gestão & Produção. V. 3, n.2, p. 135-155, ago. 1996.
MACHADO, L. D. O Planejamento de Recursos de Manufatura na Cadeia Produtiva Têxtil. Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção para obtenção do Título de Mestre, Florianópolis, 2004, 177p.
SHINGO, S. A Revolution in Manufacturing: The SMED System. Productivity Press. Cambridge,
MA, 1985.
______. Non-stock production: the Shingo system for continuous improvement. Productivity Press,
29
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Cambridge, MA, 1988.
______. O Sistema de Troca Rápida de Ferramentas. Porto Alegre: Bookman Editora, 2000.
SLACK, N. Vantagem competitiva em manufatura. São Paulo: Atlas, 1993
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. São Paulo: Bookman, reimpressão 2003.
30
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Indústria do Segmento Têxtil de Embalagens: Um estudo de
caso como proposta para aumento da produtividade de uma
impressora com a implantação da Tecnologia da Informação
Angela de Britto Perez*
Walther Azzolini Júnior**
Eduardo José Alóia***
RESUMO
A globalização acirrou a competitividade entre as indústrias têxteis, segundo dados da Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e, para sobreviverem nesse mercado as indústrias
precisam diminuir sua margem de lucro e compensar com o aumento da produtividade. Este artigo
apresenta um estudo desenvolvido em uma indústria têxtil sediada na cidade de Ribeirão Bonito-SP,
região de Araraquara, que de acordo com o Planejamento e Controle da Produção (PCP) baseado
na Theory of Constraints (TOC), levou-nos a concluir que o gargalo da produção concentra-se na
impressora. Por se tratar de uma indústria de transformação, perdas efetivas são encontradas ao longo
de todo o sistema produtivo; com os objetivos de manter um fluxo de produção mais uniforme e
balanceado e analisar a relação de interdependência entre a máquina e os demais processos produtivos,
implantou-se na impressora uma ferramenta de tecnologia de informação (TI).
PALAVRAS-CHAVE: Produtividade. Tecnologia da Informação (TI). Planejamento e Controle da
produção (PCP).
ABSTRACT
Globalization has intensified competition among the textile industries, according to the Brazilian
Association of Textile and Clothing (ABIT) and, to survive in this market industries need to reduce
their profit margins and offset with increased productivity. This article presents a study carried out
in a textile industry located in the city of Ribeirao Bonito-SP, Araraquara region, which according
to the Planning and Production Control (PPC) based on the Theory of Constraints (TOC), led us to
conclude the bottleneck in production is concentrated in the printer. In the case of a manufacturing
industry, actual losses are found along the entire production system; with the objective of maintaining
a production flow more uniform and balanced and analyze the interdependence between the printer
and the other processes, implemented this is a tool of the information technology (TI).
KEYWORDS: Productivity. Information Technology (TI). Planning and Production Control (PCP).
______________________________
* (FATEC – TQ/Brasil), [email protected] – Av. Dr. Flávio Henrique Lemos, 585, Portal Itamaracá, 15900-000 –
Taquaritinga – SP, Brasil.
** (UNIARA – SP/Brasil), [email protected] – Rua Carlos Gomes, 1338, Centro, 14801-340 – Araraquara – SP,
Brasil.
***(FATEC – TQ/Brasil), [email protected] – Av. Dr. Flávio Henrique Lemos, 585, Portal Itamaracá, 15900-000
– Taquaritinga – SP, Brasil.
31
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
INTRODUÇÃO
De acordo com dados atualizados no ano de 2009 pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil
e de Confecção (ABIT), entidade que representa toda a cadeia produtiva têxtil, estimou-se em 30
mil empresas têxteis e de confecções no Brasil entre elas: fiações, tecelagens, malharias, tinturarias,
estamparias. Essas empresas ocupam a posição de sexto maior produtor têxtil e o segundo maior
empregador da indústria de transformação brasileira e gerador do primeiro emprego, dos quais 75%
são de mão de obra feminina em 1,65 milhões de empregados. O faturamento da cadeia têxtil e de
confecção estima-se em US$ 43 bilhões (crescimento de 4% em relação a 2007, quando registrou
US$ 41,3 bilhões). As exportações somaram US$ 1,7 bilhão, enquanto as importações foram de US$
3,7 bilhões (ABIT, 2009).
A maior área de concentração da cadeia têxtil e de confecções no estado encontra-se na região de
Americana com aproximadamente 700 tecelagens, responsáveis por 85% da produção nacional de
tecidos planos de fibras artificiais e sintéticas, além de cerca de 2500 confecções (ABIT, <www.abit.
org.br/imprensa/polo_americana.shtml>. Acesso em 28 jul. 2010).
Por outro lado, de acordo com dados de 2010 da Associação Brasileira dos Produtores de Fibras
Poliolefínicas (AFIPOL), registra-se que o primeiro trimestre da indústria de ráfia de polipropileno
foi bom, mas poderia ter sido melhor. O setor ainda sente os reflexos que começou no final de 2008
com a crise mundial quando o volume de produção de ráfia foi de 27,4 mil toneladas, representando
um crescimento de 42,6% em relação ao mesmo período de 2009 quando ocorreu o auge da crise
mundial.
A produção de sacaria convencional (sacos de 25, 50 e 60 kg) nesse período, de 191,4 milhões de
sacos, representou um crescimento de 16,3% em relação ao mesmo período de 2009 e uma redução
de 3,1% se comparado ao mesmo período de 2008, confirmando a tendência de migração dessas
embalagens para os contentores flexíveis, mais conhecidos como big bags, que superaram a marca
de 3,6 milhões de unidades produzidas no primeiro trimestre. As exportações de sacos e telas de
ráfia, que continuam sofrendo os efeitos da crise mundial, tiveram uma expressiva queda de 23% em
relação ao mesmo período em 2009 e de 32% em relação ao mesmo período em 2008, o que deve
comprometer, segundo a AFIPOL, o crescimento do setor em 2010 devido à queda das exportações.
(AFIPOL - http://www.afipol.org.br/noticias_afipol.htm. Acesso em: 03 ago. 2010).
De acordo com a AFIPOL (2010), a indústria de ráfia de polipropileno tem sido muito afetada pelos
sucessivos aumentos do preço da matéria-prima, que já subiu cerca de 20% desde o início do ano. A
Braskem, única fornecedora da matéria-prima, exporta cerca de 30% da resina produzida a preços
internacionais para competidores do setor no mercado nacional, o que torna o produto transformado
lá fora mais competitivo do que o produzido no Brasil, devido ao câmbio valorizado e a alta carga
tributária. Os reflexos já se fazem sentir com a queda acentuada de nossas exportações. A situação
no mercado doméstico não é muito diferente, pois dificilmente as empresas conseguem repassar os
aumentos da matéria-prima para o mercado.
De acordo com o exposto, a adequação do fluxo de informações dessas empresas deve garantir um
32
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
menor tempo de resposta ao fluxo de produção, mediante ajustes de processo a partir do monitoramento
com o uso da tecnologia de coleta de dados, havendo a necessidade de se avaliar a Tecnologia da
Informação (TI) mais adequada.
1. METODOLOGIA
O método empregado no presente estudo é de natureza exploratória e explicativa, o qual foi realizado
por meio de um estudo de caso, com abordagem qualitativa de dados.
A pesquisa-ação será utilizada em uma segunda fase do projeto, quando após coletado os dados e
analisados, e de acordo com autorização do responsável da empresa, terá a participação do pesquisador
para implantar melhorias no processo produtivo da impressora com aplicações de técnicas produtivas
específicas. Para Cervo e Bervian (1996), a pesquisa exploratória “é responsável por observar, registrar,
analisar e correlacionar os fatos ou fenômenos sem manipulá-los”. De acordo com Gil (1991), a
pesquisa explicativa “visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos
fenômenos. Aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o ‘porquê’ das coisas”.
O estudo de caso está sendo desenvolvido em uma indústria do segmento têxtil de embalagens de
polipropileno estabelecida na região de Araraquara, com objetivo de coletar e analisar dados através
de um software implantado para controle da produção de uma máquina impressora. Yin (2003, p. 21)
observa que o estudo de caso permite “uma investigação para se preservar as características holísticas
e significativas dos eventos da vida real”. De acordo com Raupp e Beuren (2006), o estudo de caso
predomina nas pesquisas em que se desejam aprofundar conhecimentos a respeito de uma situação
específica. Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos fenômenos, o
estudo está sendo desenvolvido em um ambiente que preconiza a abordagem qualitativa.
A pesquisa qualitativa ajudará a entender o processo e analisá-lo. Segundo Gil (1991), a pesquisa
qualitativa “considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em
números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de
pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte
direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores
tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de
abordagem”. A coleta de dados está sendo desenvolvida com a utilização da Tecnologia da Informação
(TI), através de um software de monitoramento da produção e utilizará para análise técnica de
observação para melhor compreensão do processo produtivo da empresa.
2. RESULTADOS
2.1 A Empresa em Estudo
A empresa objeto de estudo é do segmento têxtil de embalagens de polipropileno, indústria de
transformação com produtos de ráfia. A empresa está situada na região de Araraquara, mais
precisamente em Ribeirão Bonito-SP. Este artigo é uma síntese do trabalho de pesquisa que hoje é um
projeto aprovado e financiado por órgãos de fomento e incentivo à pesquisa (CAPES).
33
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
O objeto social é a fabricação de embalagens de ráfia de polipropileno e suas vendas são restritas ao
mercado interno, basicamente para as indústrias de ração animal, usinas de açúcar entre outras. Com
o mercado de sacaria de ráfia em ascensão, a empresa buscou ampliar seu mercado adquirindo 12
teares da Índia para a produção da sacaria de polipropileno (ráfia).
Atualmente, a empresa possui no banco de dados do sistema 28 clientes totalizando 102 produtos. A
Figura 1 ilustra uma planilha parcial de produtos cadastrados com seus respectivos campos referentes
àquele produto.
Figura 01 - Planilha de Produtos
Fonte: Sensoft (2010).
A célula prod_cod indica o código do produto; prod_diam indica o diâmetro do produto; prod_
ncoresfrente indica o número de cores que será impresso na frente do produto; prod_ncoresverso
indica o número de cores que será impresso no verso do produto; prod_marcacao indica o logotipo
que será impresso, com as cores relacionadas anteriormente, na frente do produto; prod_codcliente
indica o código do cliente. Nessa planilha, apresentamos apenas 4 clientes como uma demonstração
do cadastro feito pela empresa.
Podemos analisar que cada cliente tem um número de marcações (layout da impressão com descrição
do produto), que na verdade é o logotipo que será impresso nas embalagens prontas para depois serem
enviadas ao cliente.
2.2 Linha de Produção
Segundo Fernandes (1996), “uma empresa de sistema de produção semi contínuo pelo fato de ter
sub processos contínuos que fornecem sub-produtos entre eles até a finalização do produto acabado”.
Entre os processos:
34
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Figura 2 - Processo de Extrusão
a) Extrusão – fabricação das fitas de polipropileno (trama e urdume) de acordo com a Figura 2.
Fornece esse subproduto ou produto intermediário para a tecelagem. Processo contínuo se observado
individualmente, não no contexto da fábrica.
Figura 3 - Processo de Tecelagem
b) Tecelagem – fabricação do tecido em bobinas de acordo com a Figura 3. Fornece esse subproduto
ou produto intermediário para a laminação. Processo contínuo se observado individualmente, não no
contexto da fábrica.
35
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Figura 4 - Processo de Impressão
c) Laminação – adiciona uma película de filme plástico sobre a ráfia em bobina a fim de vedar os
orifícios entre trama e urdume do tecido de acordo com a Figura 4. Processo contínuo se observado
individualmente, não no contexto da fábrica. Fornece esse subproduto ou produto intermediário para
o processo de impressão.
Figura 5 - Processo de Impressão
d) Impressão – processo de impressão da arte da embalagem do cliente com altos tempos de setup e
de baixa produtividade. O processo representado pela Figura 5 é considerado um processo restrição
pelo baixo índice de produtividade em função das perdas de tempo ao longo da operação da máquina.
O estudo está sendo desenvolvido nessa máquina.
36
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Software para Monitoramento da Produção de uma Máquina Impressora
O artigo aborda um sistema de apontamento onde foi instalado um CLP (Controlador Lógico
Programável) na máquina impressora, que armazena, de acordo com seu programa em memória, todas
as informações dos sensores e se comunica através de uma porta serial com um software (protótipo do
MES) para monitoramento da produção, indicando assim, as paradas e os motivos das paradas para
análise de um indicador de produtividade e de utilização.
A Figura 6 apresenta a interface do software desenvolvido para o controle da produção em uma
máquina impressora, objeto de estudo.
Figura 6 - Sistema de Monitoramento da Produção.
Fonte: Sensoft (2010).
O sistema de apontamento apresenta em sua base de dados doze motivos de parada, mas apenas
nove motivos são acionados pelos operadores, para indicar a correspondente parada. Os outros
motivos são acionados automaticamente pelo sistema. A Figura 7 ilustra os motivos de parada
utilizados para monitoramento da produção da máquina impressora, da empresa objeto de estudo.
Fonte: Sensoft (2010).
Figura 7 - Motivos de Parada.
Fonte: Sensoft (2010).
37
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
De acordo com a Figura 7, é possível concluir que quando o operador precisa indicar um desses nove
motivos, ele o faz após a máquina impressora ser desligada dentro de um tempo de três minutos,
quando o CLP alerta o operador através de um bip. Esses dados são armazenados em um banco
de dados do sistema e a visualização é feita através de gráficos e de tabela. Para monitorarmos a
produção da impressora, foi necessário inserirmos todos os produtos na base de dados do software,
conforme mostra a Figura 8.
Figura 8 - Base de Dados.
Fonte: Sensoft (2010).
O processo de cadastro dos produtos com seus respectivos clientes encontra-se no momento
concluído, mas sempre que surgem novos clientes é necessário atualizar a base de dados. Os campos
para inserção de um novo produto é composto de código do produto, diâmetro do produto, número de
cores que será impresso na frente do produto, número de cores que será impresso no verso do produto,
marcação do produto (logotipo) e código do cliente.
Os resultados do monitoramento são disponibilizados em dois gráficos, onde o primeiro aponta o tempo
(horas/minutos) em que a máquina impressora está em produção ou parada, e o segundo aponta o tempo
que a máquina fica parada para reposição de solvente, setup, manutenção, troca de bobina, refeição,
etc. A tabela é composta por dez colunas que indicam a data do monitoramento, hora, o estado atual da
máquina (Produção ou Parada), motivo de parada, o código do produto, lote, código do cliente, marcação
(Logotipo do Produto), número de peças por ciclo e número de peças acumulada. Para análise matemática,
o gráfico também demonstra em porcentagem o tempo que a máquina se encontra em produção ou parada.
3. RESULTADOS PARCIAIS DO MONITORAMENTO
O monitoramento da produção da impressora no período de 01/06/2010 a 11/08/2010 é ilustrado
como mostram as Figuras 9 e 10.
38
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Figura 9. Gráfico da Produção.
Fonte: Sensoft (2010).
Figura 10. Gráfico da Produção.
Fonte: Sensoft (2010).
Os dados gerados no período ilustrado apontam um tempo total de 805,9167 horas com um tempo
total de setup de 406,52 horas de tempo improdutivo, ou seja, 50,44% de acordo com a Figura 9. Do
tempo improdutivo identificado pelo sistema 246,32 horas são do setup, ou seja, 61,74% do tempo
improdutivo e 30,56% do total.
Além dos resultados apresentados, cabe analisar que nesse período a impressora ficou parada 50.44%
do tempo e em produção 49.56% do tempo total, a impressora dentro do período ficou parada 61.74%
em setup, 7.98% outros motivos, 3.76% em manutenção, 0.05% falta de energia, 8.3% parada para
refeição, 0.41% para reposição de solvente, 4.22% para troca de turno, 12.58% para troca de bobina,
0.96% como motivos inválidos.
É evidente através dos resultados demonstrados que há a necessidade de se rever e sistematizar os
procedimentos de setup a fim de adequar a produtividade da empresa com foco até na programação
da produção, pelo fato de a máquina impor a capacidade de produção da fábrica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além dos dados fornecidos pela ABIPOL, quanto ao aumento da matéria-prima para o setor têxtil
de embalagens de ráfia, é importante considerar também que por se tratar de empresas de estrutura
organizacional familiar, na grande maioria, carecem de uma gestão da produção mais efetiva a fim de
monitorar perdas a partir de um controle mais efetivo de seus processos.
O presente artigo trata de resultados parciais de um projeto mais amplo a ser desenvolvido na empresa
objeto de estudo havendo a necessidade de se estender a todos os processos da fábrica.
39
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
No processo de impressão, a sistematização de procedimentos, padronização das atividades
desenvolvidas e o desenvolvimento e implantação de um projeto piloto da aplicação da metodologia
SMED (troca rápida de ferramenta) devem ser propostos a fim de avaliar a operação da máquina
impressora e minimizar as perdas geradas além de uma programação da produção mais efetiva.
Por se tratar de empresas de transformação, perdas efetivas são encontradas ao longo de todo o
sistema produtivo dessas empresas, devendo ser avaliados a partir da ferramenta de TI implementada
na impressora os demais processos produtivos de modo a integrá-los com o objetivo de manter um
fluxo de produção mais uniforme e balanceado.
Contudo, o uso da tecnologia da informação, não somente para a gestão da produção a partir de
registros existentes, mas também com foco na coleta de dados e na manutenção dos registros deve
garantir resultados surpreendentes como exposto ao longo do artigo.
Referências Bibliográficas
ABIT. Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção. Disponível em: <http://www.abit.
org.br/imprensa/polo_americana.shtml>. Acesso em 28.07.2010
AFIPOL. Associação Brasileira dos Produtores de Fibras Poliolefínicas. Disponível em: <http://
www.afipol.org.br/noticias_afipol.htm>. Acesso em 20.07.2010.
<http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2001_TR12_0856.pdf>. Acesso em 29/07/2010.
CERVO, A.L.; BERVIAN, A. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. 4. ed.
São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1996.
FERNANDES, F. C. F.; TAHARA, C. S. Um sistema de controle da produção para a manufatura
celular. Parte I: Sistema de Apoio à Decisão para a Elaboração do Programa Mestre de Produção.
Gestão & Produção. V. 3, n.2, p. 135-155, ago. 1996.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.
RAUPP, F.M.; BEUREN, I.M. Metodologia da pesquisa aplicável às ciências sociais. In: BEUREN,
Ilse Maria (Org.) Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2006, p.76-97.
SENSOFT. Disponível em: < http://www.sensoft.com.br/empresa.html>. Acesso em 28.07.2010
YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. São Paulo: Bookman, reimpressão 2003.
40
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
ANÁLISE DO MERCADO DE FERTILIZANTES NO BRASIL
Daltro Cella*
Mário César de Lima Rossi**
RESUMO
A expansão da agricultura brasileira gerou dificuldades para a indústria nacional de fertilizantes
em acompanhar o ritmo de crescimento da demanda. As importações de matéria-prima foram
à solução encontrada para atender à demanda crescente do mercado interno. Como consequência
dos fenômenos apontados, buscou-se mapear quem são os principais produtores e consumidores de
fertilizantes formulados à base de nitrogênio, fósforo e potássio. Outro problema levantado foi a
diferença no comportamento dos preços durante o primeiro e segundo semestres de cada ano. Por fim,
procuraram-se descrever algumas estratégias para reduzir a dependência de matéria-prima importada
para a elaboração dos fertilizantes formulados à base de nitrogênio, fósforo e potássio.
PALAVRAS-CHAVE: Mercado de fertilizantes. Preço dos fertilizantes. Fertilizantes formulados.
Concentração de mercado.
ABSTRACT
The expansion of Brazilian agriculture has generated difficulties for the domestic fertilizer industry
to keep pace with growing demand. Imports of raw materials were the solution to meet the growing
demand of domestic market. As consequence of the phenomena pointed out, we attempted to map out
who are the main producers and consumers of fertilizer formulated based on nitrogen, phosphorus
and potassium. Another problem raised was the difference in price behavior during the first and
second semester of each year. Finally, we sought to describe some strategies to reduce dependence
on imported raw material for the production of fertilizers formulated based on nitrogen, phosphorus
and potassium.
KEYWORDS: Fertilizer market. Prices of fertilizers. Fertilizer Formula. Market concentration.
* Mestre em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo
(Esalq/USP). Docente da Faculdade de Tecnologia de Catanduva e Taquaritinga (Fatec). Coordenador do curso de Administração de Empresas da Faculdade de Taquaritinga – Uniesp.
** Bacharel em Administração de Empresas. Assistente Comercial da Cooperativa de Cafeicultores e Citricultores de São
Paulo – Coopercitrus, filial de Taquaritinga/SP.
41
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
1. METODOLOGIA
A metodologia do presente trabalho baseou-se em pesquisa bibliográfica disponível na literatura a
respeito do tema proposto, ou seja, oferta e demanda de fertilizantes no Brasil e no mundo, as alterações
na composição da estrutura de mercado, sobre o comportamento dos preços dos fertilizantes formulados
durante o ano agrícola e quais as estratégias para a redução da dependência das importações de
matéria-prima. Os dados quantitativos foram levantados junto à Associação Nacional para a Difusão
de Adubos (ANDA), Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA) e Organização das
Nações Unidas para Alimentação (FAO/ONU).
2. INTRODUÇÃO
Para os pesquisadores Souza et al. (2007), os cinco maiores problemas da humanidade nos próximos
cinquenta anos serão: aquecimento global; água; alimentos; energia e combate à pobreza. O Brasil terá
papel relevante, pois é um grande produtor agrícola mundial. De acordo com dados da Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em 2008 produzimos 135 milhões de
toneladas de grãos. Estamos abaixo da produção norte-americana com 422 milhões de toneladas, da
produção chinesa de 401 milhões, da União Europeia com 247 milhões de toneladas e da Índia com
204 milhões de toneladas. Estão todos à nossa frente, mas nenhum desses países tem o potencial
de crescimento do Brasil. Em 2008 cultivamos 70 milhões de hectares e temos pelo menos mais 90
milhões de hectares ocupados com pastagens, que poderão, com o tempo, ampliar a área agrícola.
As projeções do agronegócio brasileiro apontam para um crescimento da área plantada, da produção
e da produtividade. Entretanto, existem fatores críticos capazes de afetar a competitividade das
“commodities” agrícolas brasileiras no mercado internacional. Os fertilizantes podem ser considerados
de maior relevância por serem insumos necessários à produção e que vem sofrendo aumento no preço
afetando o custo de produção.
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise do comportamento do mercado de
fertilizantes no Brasil e no mundo. Este estudo pretende apresentar a situação da oferta e demanda
mundial por esse insumo agrícola, analisar o comportamento dos preços durante o ano e descrever
algumas estratégias para reduzir a dependência de matéria-prima importada para a elaboração dos
fertilizantes formulados à base de nitrogênio, fósforo e potássio.
3. OFERTA DE FERTILIZANTES NO BRASIL E NO MUNDO
Malavolta et al. (2002, p.11) definem que os principais fertilizantes utilizados para adequação dos
solos às necessidades nutricionais das plantas são os chamados macronutrientes nitrogênio, fósforo
e potássio. As principais matérias-primas utilizadas na produção de fertilizantes são o petróleo e gás
natural (para produção de adubos nitrogenados); enxofre e rocha fosfática (para produção de adubos
fosfatados) e rocha potássica para produção de adubos potássicos.
Os fertilizantes nitrogenados, de acordo com Gonçalves et al. (2008), tem em sua composição o
nitrogênio como nutriente principal e se originam da fabricação da amônia anidra, que é a matéria42
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
prima básica de todos os nitrogenados sintéticos. Para obtenção da amônia, utilizam-se petróleo e
gás natural. As atuais fábricas de amônia para fins fertilizantes no Brasil utilizam gás natural, gás de
refinaria ou resíduo asfáltico como matéria-prima. Portanto, a amônia é o é o principal insumo para
obtenção dos fertilizantes nitrogenados, e suas unidades produtivas geralmente são instaladas perto
de refinarias petroquímicas.
De acordo com dados da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA, 2010), a dependência
brasileira de fertilizantes nitrogenados importados deve aumentar de 71% do consumo em 2009 para
82% em 2020, caso nenhuma providência seja tomada. Conforme projeções da ANDA, o consumo
de nitrogenados pela agricultura brasileira deve aumentar de 3,7 milhões de toneladas em 2009 para
6 milhões de toneladas em 2020. Os principais exportadores de nitrogênio para o Brasil são os países
da Ásia (42,4%), com destaque para a Rússia e a Ucrânia; do Leste Europeu (14%); Estados Unidos
(9%); Argentina (3,5%); China e Venezuela ambos com (3,3%) do nitrogênio importado pelo Brasil.
O fósforo é um mineral essencial para a agricultura brasileira, uma vez que nossos solos são carentes
deste nutriente. Pode ser encontrado na natureza como fosfatos de rocha nas jazidas que há por todo
o mundo (Gonçalves et al., 2008). As maiores reservas mundiais estão em países como Marrocos
(60%), China (15%), Estados Unidos (4%), África do Sul (4%) e Jordânia (2%), que detêm 85% das
reservas da rocha. Os três maiores produtores mundiais são os Estados Unidos, a Rússia e Marrocos.
O Brasil é o sétimo produtor mundial de fosfato e tem as maiores jazidas nos Estados de Minas Gerais
(73,8%), Goiás (8,3%) e São Paulo (7,3%). (ALBUQUERQUE et al, 2005). Os principais países
fornecedores de fósforo para o Brasil são Marrocos (24%), a Rússia (21%), Estados Unidos (17%),
China (16%) e Israel (12%) (FAO, 2009).
Segundo a Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA, 2009), as reservas mundiais
de potássio estão estimadas em aproximadamente dezesseis bilhões de toneladas. O Canadá com 60%
e a Rússia com 14% são os países que mais detêm reservas. O Brasil possui a oitava maior reserva
de potássio do mundo. Essas reservas situam-se no Amazonas (difícil exploração) e em Sergipe, nas
regiões de Taquari/Vassouras e Santa Rosa de Lima. Juntas, essas reservas somam cerca de 1,5 bilhões
de toneladas de mineral bruto, sendo um bilhão de toneladas lavráveis, contendo quase 200 milhões
de toneladas de potássio (OLIVEIRA, 2007). Dentre os principais nutrientes, o potássio é aquele de
maior restrição futura no Brasil, pois atualmente importa da Rússia e Belarus 41%; do Canadá, 34%;
da Alemanha e de Israel, 12% e Espanha, 1%.
4. DEMANDA DE FERTILIZANTES NO BRASIL E NO MUNDO
De acordo com Alcarde, Guidolin e Lopes (1989), a produção agrícola depende de uma série de fatores
limitantes, como clima, solo, planta, práticas culturais, incidência de pragas e doenças. Sendo que o
clima e o solo determinam o potencial agrícola da região. No Brasil, o clima é bastante favorável,
dispondo em abundância de radiação solar, temperatura adequada e água, além de possuir também
área agricultável em abundância, apesar de algumas deficiências corrigíveis do ponto de vista técnico
como falta de uniformidade pluviométrica e solos com acidez elevada e pobre em nutrientes.
Os fertilizantes formulados à base de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), são fundamentais
43
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
para alavancar a produção de alimentos. De acordo com a Associação Internacional da Indústria de
Fertilizantes (IFA, 2009), os maiores consumidores desses fertilizantes minerais no mundo são: a China
(30%), a Índia (13%), os Estados Unidos (12%) e o Brasil na quarta posição consumindo 6% de todo
o fertilizante utilizado no mundo. A produção nacional atende somente a 2% da produção mundial, ou
seja, temos que importar mais de dois terços de nossas necessidades de fertilizantes minerais.
Gonçalves et al (2008) revisaram a produção nacional dos nutrientes separadamente, constatando que
a produção de nitrogênio (N) no período 1950-58 era de 5,63% e 5,56%; em 1959, foi 24% e hoje
apenas 25% do que o Brasil consome. A produção de fósforo (P) no período 1950-64 aumenta de
12,45% para 72,77%, porém recua para 34,33% em 1972, correspondendo hoje a 49% do consumo
nacional. Já o potássio (K) no período entre 1950-1985 não teve produção no Brasil. De l985 em
diante, inicia-se a produção que chega a 15,19% em 1999 e hoje não representa mais que 9%.
Para atender à demanda de consumo interno, o Brasil importou, em 2008, de acordo com relatórios da
Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA, 2009), 73% dos fertilizantes nitrogenados,
46% do fósforo utilizado pela nossa agricultura e 92% do potássio.
Conforme avaliação de Boteon e Lacerda (2009), os principais fatores que valorizaram os fertilizantes
no Brasil foram: o crescimento econômico e o consequente aumento no consumo de alimentos em
países em desenvolvimento; o encarecimento do frete para a matéria-prima chegar ao Brasil, devido
às distâncias do ponto de extração até o local de consumo; as barreiras protecionistas chinesas, que
elevaram o tributo de exportação da matéria-prima em 135% para evitar uma possível escassez de
oferta local e o aumento no preço do barril de petróleo elevando o custo do frete.
Portanto, é necessário equacionar o suprimento dos fertilizantes a custos competitivos para as
diversas cadeias produtivas, sendo que a agricultura brasileira passa por um processo de expansão,
motivada por um crescimento da demanda externa e interna. Outro fator é o aumento da demanda por
biocombustíveis, com destaque para o etanol proveniente da cana-de-açúcar e do milho, aumentando
ainda mais o consumo de fertilizantes formulados à base de NPK.
Grande parte da produção de fertilizantes destinava-se a grãos como trigo e arroz, componentes
fundamentais de uma dieta básica. No entanto, recentemente, com o crescimento econômico mundial
em torno de 5% ao ano, centenas de milhões de pessoas passaram a ganhar dinheiro suficiente para
comprar mais carne de animais engordados com grãos (soja, milho), exigindo o aumento de produção
e de produtividade. O consumo global de fertilizantes aumentou em média 137% de 1970 a 2007,
passando de 69,15 milhões de toneladas para 163,90 milhões, impulsionado por uma expansão
da demanda nos países em desenvolvimento, segundo a Associação Internacional da Indústria de
Fertilizantes (IFA, 2008).
A China é o principal país consumidor de fertilizantes, com um total de 48,80 milhões de toneladas,
seguido pela Índia, Estados Unidos, Brasil com aproximadamente 25 milhões de toneladas e União
Europeia, porém esse consumo tende a estagnar em países da União Europeia, Índia, China, EUA e
Rússia, pois esses países não possuem áreas para expansão da agricultura ou, se possuem, as mesmas
não podem ser aproveitadas. Ao contrário, países africanos, e principalmente o Brasil, podem e vêm
44
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
aumentando sua área agrícola.
De acordo com dados da ANDA para o ano de 2007, o Estado de Mato Grosso foi o que respondeu
pela maior quantidade das entregas de fertilizantes representando 15,29%, seguido por São Paulo
com 13,42%; Paraná, 13,38%; Minas Gerais, 11,43%; Rio Grande do Sul, 10,49%; Goiás, 8,37%;
Bahia, 5,79%; Mato Grosso do Sul, 4,18% e demais estados com 8,93%. Ou seja, 82% de toda a
demanda nacional provêm dos oito estados maiores produtores agrícolas do Brasil.
A Figura 1 apresenta as culturas que mais consomem fertilizantes no Brasil. Pode-se observar que
73% da demanda por fertilizantes provem das lavouras de soja, milho, cana-de-açúcar e café.
FIGURA 1 - Consumo de fertilizante por cultura no Brasil em 2008.
Fonte: Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA, 2009).
5. COMPORTAMENTO DOS PREÇOS DURANTE O ANO
Existem alguns fatores que interferem no mercado de fertilizante, conforme aponta Heberli et al
(2008), sendo um deles a influência da sazonalidade. Outro fator crítico é a análise de tendências
e a produção de matérias-primas, pois o complexo produtor de fertilizantes envolve uma série de
atividades que começa pela extração de matérias-primas minerais até a formulação ou composição
de alguns componentes nutricionais para as plantas diretamente aplicadas na atividade agrícola
produtora.
O mercado nacional de fertilizantes se caracteriza como tomador de preços no mercado e funciona
como outros mercados de commodities, flutuando conforme a oferta e demanda. O Brasil tem um
perfil basicamente importador (cerca de 70% importado e 30% nacional) e uma participação de 2% na
produção mundial (consumo de 6%). Com isso, os preços são formados pelo mercado internacional e,
consequentemente, sujeitos às volatilidades decorrentes da oferta e demanda mundial.
Até o ano de 2002, Nicolella, Dragone e Bacha (2005) identificaram tendência de queda dos preços dos
fertilizantes. Após 2002, o fim da âncora cambial, a desvalorização do real e a elevação do preço do
45
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
produto no mercado internacional, contribuíram para inverter a tendência de queda esperada e elevar
o preço do produto no mercado interno. Para Saab e Paula (2008) não se pode levar em consideração
apenas a variação cambial e o aumento nos preços das matérias-primas e sim, tem que ser analisada a
estrutura de custos que compõem a cadeia dos fertilizantes. Além do aumento dos principais minerais
utilizados na produção de fertilizantes, houve um acentuado aumento nos insumos secundários que
influenciam diretamente nos custos de produção, como energia elétrica, enxofre e petróleo.
Gazzoni (2008) salienta que os preços dos fertilizantes aumentaram devido ao desequilíbrio entre
oferta e demanda. A oferta foi afetada principalmente pelo aumento do barril do petróleo (interferindo
no preço dos nitrogenados), o fechamento de fábricas nos Estados Unidos (EUA) por questões
ambientais (afetou a produção de fosfatados), e inundação da principal mina da Rússia (reduziu a
oferta de potássio). As elevações das alíquotas de exportação em importantes países produtores de
fertilizantes como a China e a Rússia com receio de um desabastecimento do mercado interno também
contribuíram para reduzir a oferta de fertilizantes no mercado internacional.
Do lado da demanda, os autores destacam a elevação do consumo nos EUA, Índia e China. A opção
americana de produzir etanol também aumentou os preços da soja e do milho e, consequentemente,
gerou maior demanda por fertilizantes. O aumento da demanda mundial provocou a alta dos preços,
consequentemente, houve uma queda do consumo.
Além da queda no consumo, a redução do preço do barril do petróleo que passou de US$ 140,00
para US$ 40,00 e a desvalorização do dólar frente ao real, contribuíram para a queda nos preços
dos fertilizantes para a safra agrícola de 2008/2009. Para enfrentar esse cenário desfavorável, já que
os estoques das indústrias de fertilizantes foram comprados com dólar e petróleo em alta, houve a
necessidade não só de baixar os preços para que os estoques fossem escoados, como também preparar
os depósitos para receberem novos carregamentos de matérias-primas. As empresas não acreditavam
na retração do consumo somente porque os preços estavam subindo, porém com o agravamento
da crise financeira mundial no segundo semestre de 2008, os compradores desapareceram, e algo
precisaria ser feito para diminuir os estoques que, segundo a ANDA, eram de 6,4 milhões de toneladas.
No mercado brasileiro, o preço dos fertilizantes sofre interferência devido à concentração da demanda
por esse insumo nas regiões produtoras agrícolas distantes (centro-oeste brasileiro) e em curto espaço
de tempo antes do início da nova safra agrícola, que geram sérios problemas logísticos, aumentando
o custo do frete. Especificamente para o estado de São Paulo, Daher (2009) aponta o “frete dobrado”
pago pelas usinas que aproveitam os altos preços do açúcar no mercado internacional para exportarem
o máximo possível e assim, pagam frete em dobro para que o caminhoneiro vá com açúcar até o porto,
descarregue e volte vazio logo em seguida para carregar na usina novamente.
Informações obtidas junto à ANDA, mostram que na média histórica do mercado brasileiro, o
primeiro semestre tem sempre uma menor pressão de demanda do que o segundo semestre. De 1990 a
2007, as entregas de adubos realizadas entre os meses de julho-dezembro variaram de 62% a 72% do
total entregue. Isso pode ser explicado pelo fato de os financiamentos agrícolas (crédito rural) serem
liberados somente no segundo semestre para os produtores brasileiros.
46
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Daher (2009) ainda aponta a dívida agrícola como componente que influencia a sazonalidade no
mercado de fertilizantes. Entre 1997 e 2007, a dívida agrícola total dos produtores mais que dobrou.
Esse aumento no endividamento dos produtores reflete nas compras dos fertilizantes, pois o empresário
rural precisa esperar por esses recursos, seja via bancos,seja cooperativas, para adquirir os fertilizantes
e insumos.
Em 2008, as entregas foram bem-distribuídas: 51% no primeiro semestre e 49% no segundo. Essa
antecipação nas compras foi a forma que os agricultores encontraram para fugir da alta nos preços dos
fertilizantes que começaram a aumentar no final de agosto de 2007 atingindo o ápice no final de 2008.
Essa situação colaborou para que as entregas de fertilizantes em 2008 tivessem um ritmo diferenciado
dos anos anteriores, pois os agricultores aproveitaram os preços e anteciparam suas compras. O ano
de 2009 foi atípico para a comercialização de fertilizantes. Devido à variação cambial, os produtores
que deixaram para comprar fertilizantes no segundo semestre conseguiram preços melhores para os
insumos. Mas esse ano foi uma exceção à regra dos últimos 15 anos, segundo dados apresentados
pela ANDA.
A ANDA aponta em relatório estatístico anual, que 2008 foi o ano em que a relação de troca entre
os preços dos fertilizantes químicos e os dos produtos agrícolas estiveram menos favoráveis aos
agricultores. Isso fica evidente na relação de troca da cana-de-açúcar que passou de 21,9 toneladas
em 2005 para 36,4 toneladas em 2008, um aumento de 89,58%. A cultura que apresentou menor
variação no aumento médio na relação de troca entre 2008 e os quatro anos anteriores foi a soja com
um aumento de 30,20%, impactando de forma significativa no custo de produção.
6. ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR A DEPENDÊNCIA DAS IMPORTAÇÕES
Stipp & Prochnow (2008) citam que a escassez de matéria-prima para a produção de fertilizantes e
o forte aumento nos preços dos insumos tem levado os países em desenvolvimento, em especial o
Brasil, a buscar alternativas para aumentar a eficiência dos nutrientes.
A Associação Nacional para Difusão de Fertilizantes (ANDA, 2009) apresenta algumas alternativas
para minimizar os efeitos negativos do aumento no preço dos fertilizantes e diminuir a crescente
dependência externa de matéria-prima para formulação dos mesmos.
Para os fosfatados, estão em andamento investimentos para duplicar a capacidade de produção de
fósforo no Brasil. Projetos como de Minas Gerais (Patrocínio), Goiás, Santa Catarina e Ceará devem
ampliar o volume da produção nacional de fosfato, podendo aumentar a produção brasileira em 2,4
milhões de toneladas até 2012. Esses investimentos estariam destinados ao atendimento da grande
demanda de fosfato para a produção de fertilizantes aplicados no setor do agronegócio brasileiro.
Além desses investimentos, a Vale, em parceria com a americana Mosaic (controlada pela Cargill) e
a japonesa Mitsui, inaugurou em agosto de 2010 a mina de rocha fosfática de Bayóvar, no deserto de
Senhora, no Peru. Sua capacidade de produção é de 3,9 milhões de toneladas por ano (Jornal Valor
Econômico, 2010).
De acordo com informações da Associação Nacional para Difusão de Fertilizantes (ANDA, 2009), o
47
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
consumo de fosfatados em 2006 era de 3,6 milhões de toneladas e em 2009 deve atingir 4,5 milhões
de toneladas. Com a conclusão em 2012 dos investimentos citados, a dependência externa do Brasil
por fósforo deve cair para 20%.
No caso do nitrogênio, que depende da disponibilidade de gás natural, o problema, neste caso
especificamente, é que a distribuição do gás natural é monopólio do Estado, e existe não só a
dependência do fornecimento de gás da Bolívia, como também uma expectativa futura quanto às
reservas do pré-sal, que ainda estão distantes de uma realidade efetiva.
Para a produção de fertilizantes à base de potássio, as principais minas de cloreto de potássio estão
em Sergipe. Existem três novos projetos também da Companhia Vale e o Projeto Carnalita entre
Taquari-Vassouras/SE prevê a ampliação para extração de 1,2 milhões de toneladas. O potássio
encontra-se a 1.100 m de profundidade, dificultando sua extração e exigindo investimento inicial da
ordem de US$ 800 milhões para começo do projeto, tendo previsão para extração em 2012. O Projeto
Santa Rosa de Lima em Sergipe estima uma produção de 500 mil toneladas. Faz-se necessário um
investimento inicial de US$ 500 milhões, e o início de extração está previsto para 2013. Nos últimos
15 anos, reduzimos em torno de 10% as importações, mas continuamos importando 90% de nossas
necessidades de potássio. Esses projetos poderão reduzir a dependência brasileira da importação do
potássio de 91% a 65%, em 2015. Para atender ao mercado interno, a Companhia Vale poderá importar
cloreto de potássio da Argentina (Mendoza e Neuquén), do Canadá (Saskatchewan) e Marrocos.
De acordo com o Jornal Valor Econômico (2010), a empresa Vale volta a se interessar pelo mercado
de fertilizantes ao fechar a compra em 2010 de 100% da empresa Bunge Participações e Investimentos
S.A., que detinha um portfólio composto por minas de rocha fosfática e unidades de processamento de
fosfatados. Além da Bunge, a Vale adquiriu também a Fosfértil, maior fabricante de matérias primas
para adubos formulados. Isso é positivo para o setor no Brasil por tratar-se de um grande grupo
econômico de capital nacional que tem aporte de capital para realizar os investimentos necessários,
uma vez que cada projeto leva de sete a dez anos para a maturação.
CONCLUSÕES
Constatou-se que a produção nacional atende aproximadamente a 30% da demanda total do setor.
Isso é preocupante levando-se em conta as projeções feitas de que o agronegócio brasileiro deve
crescer ainda mais nos próximos anos, aumentando ainda mais nossa dependência das importações,
caso não sejam feitos investimentos para aumentar a capacidade de extração mineral e produção de
fertilizantes.
No setor de rochas fosfáticas o Brasil possui a melhor situação, pois produzimos 49% do que
consumimos com perspectivas significativas de diminuição de importações. As reservas nacionais,
os investimentos previstos em ampliação da produção das atuais minas e a abertura de novos polos
de extração podem, a médio e longo prazo, tornar o país menos dependente das importações desse
mineral, reduzindo as importações para 20% de nossas necessidades. Mas, para isso, deverão ocorrer
mudanças nas leis ambientais, que estão dificultando a exploração das reservas locais.
48
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
O setor de potássicos é o mais crítico, importamos 91% do que consumimos. Toda a produção
nacional está nas mãos da Companhia Vale e, apesar do aumento da produção nos últimos anos e da
existência de reservas localizadas no estado do Amazonas e em Sergipe, o começo da exploração será
lento devido a problemas ambientais que podem atrasar os projetos. Se conseguirmos resolver estes
problemas, as importações devem diminuir, todavia, continuaremos eternamente dependentes das
importações, pois nossas reservas são até o momento insuficientes para atender ao consumo interno.
A dependência brasileira de fertilizantes nitrogenados importados deve aumentar de 71% do consumo
em 2009 para 82 % em 2020, caso nenhuma providência seja tomada. A alternativa para reduzir essa
dependência externa é aumentarmos a produção de gás natural, regularizar o fornecimento de gás
pela Bolívia e acelerar a exploração do gás natural do pré-sal.
Conclui-se que o Brasil não será autossuficiente na produção de matéria-prima para elaboração
de fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos. O que o país pode é formular e implementar
algumas estratégias que irão reduzir nossa dependência da importação de insumos de outros países.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, G.A.S.C.; AZAMBUJA, R.S.L.; LINS, F.A.F. Rochas e minerais industriais:
usos e especificações. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Centro de Tecnologia Mineral – Ministério da
Ciência e Tecnologia, 2005.
ALCARDE, J.C.; GUIDOLIN, J.A.; LOPES, A.S. Os adubos e a eficiência das adubações. São Paulo,
Anda, 1989. 35p. (Boletim Técnico 3). Disponível em: <http://www.anda.org.br/boletins/boletim_03.
pdf>. Acesso em: 25 set. 2010.
ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES (IFA). Disponível em:
<http://fertilizer.org/ifa/content/view/full11423>. Acesso em: 25 set. 2010.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS (ANDA). Disponível em: <http://
www.anda.org.br>. Acesso em: 25 set. 2010.
BOTEON, M.; LACERDA, M.P. Análise do impacto dos preços de fertilizantes no setor hortícola.
47º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Porto Alegre,
julho de 2009.
DAHER, E. Quando comprar fertilizantes? DBO Agrotecnologia – maio/junho 2009 27p. Disponível
em http://www.anda.org.br/artigos/conjuntura.pdf. Acesso em: 25 set. 2010.
Gazzoni, d.l. Alimento e biocombustíveis: uma análise completa. Disponível em:
<http://www.biodieselbr.com/colunistas/gazzoni/alimento-biocombustiveis-analisecompleta-28-04-08.htm>. Acesso em: 25 set. 2010.
GONÇALVES, J, S.; FERREIRA, C, R, R, P, T.; SOUZA, S, A, M. Produção nacional de fertilizantes,
processo de desconcentração regional e maior dependência externa. Informações Econômicas IEA
SP, v.38, n.8, ago. 2008.
HEBERLI, J.R.; GODOY, J.T.B.; ARIENE. M.; GIULIANI, A.C.; SPERS, E. E.; O marketing lateral
como ferramenta de inovação em um ambiente competitivo: estudo de caso da Bunge Fertilizantes.
Disponível em <http://www.sober.org.br/palestra/2/437.pdf>. Acesso em: 25 set. 2010.
JORNAL VALOR ECONÔMICO. Disponível em: http://www.valoronline.com.br/. Acesso em: 25
set. 2010.
49
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
MALAVOLTA, E.; PIMENTEL-GOMES, F.; ALCARDE, J.C.; Adubos & adubações. São Paulo:
Nobel, 2002. 200 p.
NICOLLELA, A. C.; DRAGONE, D. S.; BACHA, C. J. C.; Determinantes da demanda de fertilizantes
no Brasil no período de 1970 a 2002. Revista de Economia e Sociologia Rural, Rio de Janeiro, vol.
43. n. 1, p. 81-100, jan./mar. 2005.
OLIVEIRA, B.R.G.; Panorama brasileiro dos principais minerais industriais utilizados na produção
de fertilizantes. XV Jornada de Iniciação Científica – CETEM 2007. Disponível em:
<http://www.cetem.gov.br/publicacao/serie_anais_XV_jic_2007/Bernardo.pdf>. Acesso em: 25 set.
2010.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA – FAO.
Disponível em <http://fas.fao.org/>. Acesso em: 01 out. 2010.
SAAB, A.A. & PAULA R.A. O mercado de fertilizantes no Brasil: Diagnóstico e Propostas de
Políticas. Assessoria de Gestão Estratégica (AGE-MAPA 2008) Disponível em: <www.valdircolatto.
com.br/index.php.option.com_docman_ fertilizantes1709.pdf>. Acesso em: 25 set. 2010.
SOUZA, D.M.G; GOEDERT, W.T.; LOBATO E.; REIN, T.A.; Desafios e perspectivas da fertilidade
do solo brasileira. XXXI Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. 2007. Disponível em: <http://
www6.ufrgs.br/cbcs/trabalhos/simposios/simp_016.pdf>. Acesso em: 25 set. 2010.
STIPP, S. R.; PROCHNOW, L. I. Maximização da eficiência e minimização dos impactos ambientais
da adubação nitrogenada. Informações Agronômicas IPNI Nº 124, dezembro 2008. Disponível em:
<http://www.inpofos.org/ppiweb/brazil.nsf/87cb8a98bf72572b8525693e0053ea70/4eac3d6afc6798
af03257537007fac91/$FILE/Page1-7-124.pdf >. Acesso em: 25 set. 2010.
50
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Aspectos da Sustentabilidade Empresarial: a construção de um
modelo dominante na indústria sucroalcooleira
Martin Mundo Neto*
Elizabeth Aparecida Baraldi**
Resumo
O objetivo deste trabalho é compreender o que os grupos sucroalcooleiros têm divulgado para justificar sua sustentabilidade e apresentar algumas dimensões ambientais que estariam sendo desconsideradas pelos principais grupos industriais ou como, paradoxalmente, práticas potencialmente poluidoras estariam sendo apresentadas como exemplo de boas práticas ambientais. Para tanto, constituímos
uma amostra formada pelos sete maiores grupos privados do país e a maior cooperativa de grupos
sucroalcooleiros operando no país. Foi constituído um conjunto de atributos considerados sustentáveis, a partir do próprio material divulgado pelas empresas analisadas. O objetivo foi identificar se
haveria um modelo de sustentabilidade predominando na indústria. Os dados confirmariam a constituição de um modelo de sustentabilidade fundamentado na idéia de mercado de crédito de carbono.
Também foi possível constatar que práticas contraditórias, como a utilização de resíduos industriais
como insumos sustentáveis, notadamente a “Torta de Filtro” e a “Vinhaça”. O Estado, por meio da
BNDESPar, junto com os representantes da indústria, estaria orquestrando a difusão do modelo de
sustentabilidade sucroalcooleira.
Palavras-Chave: Sustentabilidade empresarial. Indústria sucroalcooleira. Crédito de carbono.
Abstract
Aspects of corporate sustainability: building a dominant model in the sugarcane industry.
The goal of this work is to understand what agents have disclosed groups to justify its sustainability
and present some environmental dimensions that were being disregarded by the major industrial
groups or as, paradoxically, potentially polluting practices were being presented as an example of
good environmental practice. To create a sample both, formed by seven largest private groups in the
country and the cooperative agents industrial groups operating in the country. Was constituted a set
of attributes considered sustainable from own material disclosed by companies analysed. Verified
whether the occurrence of these attributes in the groups sample agents to check whether there is a
sustainability model predominating in the industry. The data should confirm the establishment of a
sustainability model based on the idea of carbon credit market. Also it was found that contradictory
practices, such as the use of industrial waste sustainable as inputs, notably the “torta de filtror” and
* Prof. Pleno I da FATEC-TQ (curso de Tecnologia em Agronegócios) e Doutorando em Engenharia de Produção pela
UFSCar. Email: [email protected]; [email protected]
** Dra. em Engenharia Hidráulica e Saneamento (USP-EESC) e Profa. da Escola Técnica de Taquaritinga (ETEC Dans),
Centro Paula Souza, atuando como docente nos cursos técnicos de Química e Alimentos. Email: [email protected]
51
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
“Vinhaça”. The State, through BNDESPar, along with industry representatives, would be orchestrating the diffusion of the sustainability in the sugarcane industry.
Keywords: Corporate sustainability. Sugarcane industry. Carbon credit.
Introdução
No Brasil, a indústria sucroalcooleira, assim como outros setores agroindustriais, teriam se modernizado durante o período compreendido entre 1930 a 1980, sob forte intervenção estatal (GARCIA
JR. (2002); LEITE (2005). Para a indústria sucroalcooleira, também foi um período marcado pela
propriedade e o controle dos negócios concentrados entre representantes de famílias tradicionais,
tanto na região Nordeste como, posteriormente, na região Centro-Sul. Este período também foi marcado pela intensa participação do Estado na organização dos mercados sucroalcooleiros. Na década
de 1930 foi criado o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) que seria responsável pela modernização
da indústria. O IAA definiu grande parte das instituições do mercado do açúcar e do álcool, ao definir
as regras da produção e comercialização desses produtos, ao controlar a ampliação da capacidade
produtiva via abertura de novas unidades, e ao fornecer os recursos para o financiamento das atividades produtivas. Na década de 1970, foi criado o Programa do Álcool Combustível (PROÁLCOOL),
operacionalizado pelo IAA. Nesta época, por meio da PETROBRÁS, ainda 100% estatal, o Estado
subsidiava a distribuição do novo combustível. A modernização da indústria sucroalcooleira deslocou
o centro de poder da indústria canavieira do Nordeste brasileiro, para o Centro-Sul, notadamente para
o Estado de São Paulo. Entretanto, a partir do o inicio da década de 1990, a estrutura e modelo de negócio da indústria sucroalcooleira vem se transformando quando comparada com o período anterior
(MUNDO NETO, 2009(c)).
Durante os anos de 1990, os industriais deste espaço enfrentaram desafios, seja em relação mercado
do açúcar (como as oscilações de preços internacionais) como em relação ao do álcool (dependência
de um mercado interno em contração). Além dos problemas comerciais, o setor enfrentava severas
críticas quanto aos impactos ambientais gerados pelas atividades produtivas e quanto a questões trabalhistas, como as denuncias sobre condições desumanas de trabalho e trabalho escravo (MUNDO
NETO, 2007).
As instituições de mercado, no sentido indicado por FLIGSTEIN (2003)1, estariam mudando, confirmando o processo de transformação dos mercados sucroalcooleiros. Entre as principais mudanças
institucionais que caracterizariam as recentes transformações que ocorrem neste espaço industrial,
destacam-se as mudanças em relação ao direito de propriedade, à concepção de controle das empresas e à forma como o Estado vem se posicionando em relação à indústria (MUNDO NETO, 2009(a);
2009(c)).
1 Segundo Fligstein (2003), as instituições determinantes na formação dos mercados são definidas em função dos direitos de propriedade, fundamentais porque “constituem relações sociais que definem quem tem direito aos lucros de uma
empresa.”; das estruturas de governança, relacionadas às normais gerais, formais e informais, que interferem nas relações
entre as empresas e a forma de organizar a própria empresa; das concepções de controle que “referem-se aos entendimentos que estruturam as percepções de como funciona o mercado e que permitem aos atores uma interpretação do seu mundo
e o controlo sobre as situações”; e das normas de transação que “definem quem pode negociar com quem e estipulam as
condições sob as quais se processam as transações.” (FLIGSTEIN, 2003, pg. 195-197
52
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Uma das mudanças mais evidentes, sobretudo em termos de retórica, seria a preocupação dos representantes da indústria sucroalcooleira com a sustentabilidade de suas atividades em geral, com o
objetivo particular de apresentar o álcool combustível, agora etanol, como biocombustível sustentável. Entre os novos investidores, destaca-se o Estado que, por meio da BNDES Participações2 (BNDESPar), têm realizado investimento nos moldes da indústria de capital de risco, e se tornado sócio
de grupos industriais sucroalcooleiros (MUNDO NETO ( 2008; 2009(c)). O Estado estimula novas
formas de organização dos negócios, uma vez que aqueles que recebem investimentos da BNDESPar
são orientados a abrir seu capital. De acordo com Jardim; Mundo Neto (no prelo), o Estado
brasileiro estaria ocupando a posição de coordenador das finanças, fazendo delas um mecanismo de
ordenação do capitalismo brasileiro, atuando via BNDESPar e em sintonia com os principais fundos
de pensão brasileiros. O Estado estimula a adoção da concepção de empresa que valoriza os acionistas3 e a governança corporativa seria a ferramenta de gestão para estas empresas.
No Brasil, conforme indicado por GRÜN (2003; 2005), a Governança Corporativa (GC) se difunde
e ganha traços próprios. Uma destas características seria a incorporação do ideário da Responsabilidade Social Corporativa e da Responsabilidade Ambiental como atributos da GC (GRÜN, 2005).
No mercado financeiro, em 2005, foi lançado o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), índice
construído nos moldes dos principais mercados financeiros internacionais, com o objetivo de indicar
as empresas sustentáveis. Resumidamente, o ISE seria função de um conjunto de variáveis relacionadas a quatro questões centrais: 1) a natureza do produto e ou serviços predominantes na empresas; 2)
a Governança Corporativa apresentada; 3) a Responsabilidade Social Corporativa e 4) a Responsabilidade Ambiental Corporativa (BM&FBOVESPA, 2009).
No espaço sucroalcooleiro, a dimensão ambiental tem sido medida, fundamentalmente, em função
das emissões de gases que provocam efeito estufa. O foco está no balanço do ciclo do elemento Carbono, valorizado a partir do Protocolo de Kyoto. O mercado de crédito de carbono ilustraria o que
GRÜN (2009) denominou de “financeirização”, ou a dominação das finanças sobre outras esferas da
sociedade, inclusive espaços, historicamente, hostis às finanças, como o espaço que discute soluções
para os problemas ambientais da sociedade. O mercado de crédito de carbono seria uma solução
de “natureza” financeira para parte dos problemas ambientais do capitalismo contemporâneo. Para
viabilizá-lo operacionalmente, tem sido sugerido às empresas os Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo, popularizados como projetos MDL, aqueles que explorariam o potencial das atividades produtivas em termos de geração de créditos de carbono.
No âmbito da indústria sucroalcooleira, a UNICA (União das Indústrias de Cana-de-açúcar) tem atuado em defesa e divulgação do etanol e da co-geração de energia, como atividades sustentáveis, tanto
no ambiente doméstico como no internacional. Sua missão é “liderar o processo de transformação
do tradicional setor de cana-de-açúcar em uma moderna agroindústria capaz de competir de modo
sustentável no Brasil e ao redor do mundo nas áreas de etanol, açúcar e bioeletricidade”, e suas prioridades concentram-se em iniciativas para tornar o etanol uma commodity e as empresas associadas
2 Subsidiária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que atua na lógica do capital de
risco seja na vertente de venture capital (participação societária em negócios inovadores e em fase inicial) como na de
private equity (participação societária em grandes negócios consolidados).
3 Shareholder Value Conception of Control (FLIGSTEIN, 2001).
53
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
“modelos de sustentabilidade sócio-ambiental”4. A UNICA estaria realizando uma espécie de Governança Corporativa no âmbito da indústria sucroalcooleira, sendo que, o modelo de sustentabilidade
desta, seguiria aquele que predomina em âmbito internacional, principalmente, entre grandes corporações. (MUNDO NETO, 2009(b)).
Para atrair investidores as empresas precisam demonstrar viabilidade econômica, mas também são
cada vez mais questionadas quanto à compatibilidade de suas ações em relação às dimensões ambientais e sociais. A “sustentabilidade” passa a ser um requisito obrigatório. A plasticidade do termo
e o embate para definição do conceito de “sustentabilidade” no espaço econômico refletem parte da
luta pelo poder no seio da sociedade. Para compreender essa disputa recorreremos ao conceito de
polissemia, apresentado por Bourdieu (1989) e sintetizado por Donadone & Grün (2001) no contexto
da teoria das organizações como sendo
o sentido parcialmente compartilhado para um determinado conceito, sob o qual os entendimentos implícitos em torno de sua definição se fixam. Este compartilhamento apenas parcial
garante um mínimo de acordo e evita uma crise na relação entre os contendores, para depois
evoluir como conflitos simbólicos, em que cada parte tenta registrar como correta a sua versão específica (DONADONE & GRÜN, 2001:113).
Para os estudos sobre sustentabilidade empresarial o espaço sucroalcooleiro fornece material ímpar:
de atividade agrícola objeto de críticas dos movimentos ambientalistas e de direitos humanos ela torna-se ícone de produção de energia sustentável. Os grupos sucroalcooleiros, por meio de estratégias
orquestradas pelas organizações de representação dos industriais do setor, particularmente a União
da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA), procuram cada vez mais se distanciar da imagem de vilões
ambientais e do histórico negativo em termos de relações sociais (seja nas relações trabalhistas seja
naquelas com as comunidades no seu entorno) para tornarem-se exemplo de negócios sustentáveis
(MUNDO NETO, 2009; 2010). A Responsabilidade Social Corporativa e a Gestão Ambiental que,
segundo Grün (2005), tornaram-se pilares da Governança Corporativa brasileira estão presentes nos
comunicados institucionais da maioria das empresas do espaço, mesmo aquelas que não participam
diretamente do mercado de capitais.
2. Objetivo e aspectos metodológicos
O objetivo deste trabalho é compreender o que os grupos sucroalcooleiros têm divulgado para justificar sua sustentabilidade e apresentar algumas dimensões ambientais que estariam sendo desconsideradas pelos principais grupos industriais. Como também, paradoxalmente, práticas potencialmente
poluidoras estariam sendo apresentadas como exemplo de boas práticas ambientais.
Para tanto, constituímos uma amostra formada pelos sete maiores grupos privados do país e uma
cooperativa de grupos industriais: o grupo COSAN, maior grupo privado do país, e que, segundo os
dados estatísticos divulgados pela UNICA, seria responsável pelo processamento de aproximadamente 10% do total da cana-de-açúcar cultivada no Brasil; o grupo LDC-SEV, segundo maior grupo
da indústria, com capacidade produtiva próxima a 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, responsável por cerca de 8% do total de cana-de-açúcar processada no país; o grupo BÜNGE que
4 www.unica.com.br.
54
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
ocuparia a terceira posição, com capacidade produtiva próxima a 20 milhões de toneladas por safra.
Os outros quatro grupos teriam capacidade produtiva próxima a 17 milhões de toneladas por safra:
grupo SANTA TEREZINHA, grupo SÃO MARTINHO, grupo GUARANI e grupo ETHbioenergia.
Completa a amostra a Cooperativa de Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado
de São Paulo (COPERSUCAR), cooperativa que congrega 39 grupos industriais, responsáveis pelo
processamento de 74 milhões de toneladas na safra 2009/2010. Todos os grupos da amostra possuem
mais de uma unidade produtiva, de tal forma que a somatória totaliza mais de uma centena de plantas
industriais. Considerados conjuntamente, representam, aproximadamente, 25% do total de unidades
produtivas do país e são responsáveis pelo processamento de praticamente a metade de toda a canade-açúcar cultivada no país.
Além do exposto anteriormente, o artigo é composto pela exposição de um conjunto de questões ambientais que estariam ausentes tanto do discurso como das práticas dos grupos industriais analisados.
Em seguida estão os dados sobre a sustentabilidade nos grupos sucroalcooleiros. As considerações
finais indicam algumas das questões suscitadas pelos resultados encontrados.
3. Aspectos ambientais da indústria sucroalcooleira
Nos últimos anos o Brasil tornou-se o maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do mundo. Embasado na teoria de que o biocombustível não polui o meio ambiente, o etanol, da cana-de-açúcar
tornou-se a grande promessa limpa para a substituição dos combustíveis fósseis, já que, tais combustíveis, na sua combustão liberam para a atmosfera principalmente dióxido de carbono afetando
de forma irreversível o ciclo do carbono na natureza e causando mudanças climáticas globais (efeito
estufa) que podem comprometer o futuro da população mundial.
O etanol tem sido chamado de combustível verde porque sua combustão não apresenta o mesmo potencial de acumulação de carbono na atmosfera que o liberado na combustão de combustíveis fósseis,
uma vez que, o carbono liberado com a utilização deste tipo de combustível é novamente absorvido
pela planta durante seu crescimento. Tal fato justifica um balanço de massa igual a zero. Porém, etapas produtivas e processos da fabricação do etanol precisariam ser exaustivamente discutidos antes de
considerar o etanol de cana-de-açúcar uma opção energética sustentável, baseada apenas no critério
de créditos de carbono, o que torna esse parâmetro frágil, uma vez que, danos e impactos ambientais
locais, não entram neste cálculo.
No Brasil, a exceção de alguns estudos realizados pela Embrapa Monitoramento por Satélite (2010),
poucos são os trabalhos de pesquisa voltados para uma avaliação do impacto ambiental (AIA) de
forma circunstanciada e abrangente da localização atual do cultivo da cana-de-açúcar. O parque sucroalcooleiro nacional possuía, em 2009, 423 usinas de beneficiamento de cana-de-açúcar em atividade no país, sendo que a maioria produzia açúcar e álcool. A distribuição territorial dessas unidades
indica que quase metade delas localizam-se no Estado de São Paulo e este Estado seria responsável
pelo processamento de mais de 60% do total de cana de açúcar processada no país (UNICA, 2010).
Segundo Embrapa Monitoramento por Satélite (2010), no estado de São Paulo o estudo desses impactos, considera, simultaneamente, os problemas ambientais causados no cultivo da cana (subsistema
55
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
agrícola), sua transformação em açúcar e álcool (subsistema industrial) e o subsistema de transportes.
Desta forma, são consideradas, as conseqüências dessas mudanças sobre o meio ambiente, assim
como as comunidades das regiões atingidas direta ou indiretamente, que apesar de sua magnitude e
importância para o país, tais conseqüências, ainda são globalmente desconhecidos.
Durante a produção do etanol vários problemas ambientais gerados ainda não foram solucionados
e outros nem mesmos apontados. A indústria sucroalcooleira apresenta, ainda hoje, um grande potencial de impactos ambientais divididos em três esferas do ambiente: as emissões atmosféricas, as
contaminações de solo e de corpos d’água.
Em relação à contaminação de corpos d’água e de solo, uma situação preocupante, descrita por Piacente (2005), é em relação à utilização indiscriminada da vinhaça na fertirrigação de solo, utilizada
pelas próprias usinas, para o plantio da cana de açúcar. A vinhaça, resíduo líquido gerado durante
produção de etanol, tem sido fonte de inúmeros estudos pelo seu alto potencial poluidor Vazzoler
(1995). Entretanto, seu uso na fertirrigação, mostrou-se inicialmente promissor pelo fato de promover
um bom desenvolvimento da planta com redução de custo ligado a diminuição do uso de insumos.
Porém, sua utilização excessiva e mal dimensionada tem contaminado solos e águas subterrâneas
com altas concentrações de amônia, magnésio, alumínio, ferro, manganês, cloreto e matéria orgânica,
passando de uma alternativa ecológica frente aos insumos químicos, a um problema ambiental e que
pode repercutir na saúde da população local e atingir dimensões extraterritoriais, caso atingir águas
subterrâneas de um aqüífero intercontinental, como por exemplo, o Guarani.
Outra prática, teoricamente ecológica, adotada pela indústria sucroalcooleira relacionada à destinação
de seus resíduos, trata-se da disposição da “torta de filtro”, resíduo do processo de clarificação do açúcar, usado como substituto de insumos tradicionais. Segundo Ramalho (2001) esta prática acarretou
um aumento significativo de zinco, cobalto, cromo, cobre, níquel e estanho, e ainda assim, esses metais apresentam-se em concentrações acima de 65% de formas químicas poucos móveis, ou seja, não
disponível para a absorção desses elementos pelas plantas, mas com alto potencial de contaminação
de águas subterrâneas por tais elementos, extremamente nocivos a saúde em doses elevadas.
Ainda ressaltando os problemas ambientais da produção do etanol, destaque deve ser dado à prática
das queimadas da cana, que fornece a liberação de gases altamente poluentes, em especial o gás carbônico e ozônio que em baixas altitudes apresenta alto grau poluidor com efeitos tóxicos as plantas e
seres vivos. Além destes gases a dispersão de fuligem, material particulado liberado durante a queima
de compostos carbônicos que pode dar origem a 40 tipos de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos,
com propriedades mutagênicas e cancerígenas.
Atualmente a principal discussão de poluição ambiental esta na questão das emissões de dióxido de
carbono (CO2) com conseqüentes alterações climáticas, criada por ações antropogênicas provocando
interferências no ciclo do carbono. Além deste, outros ciclos biogeoquímicos estão sendo afetados
pelos processos produtivos atuais que podem provocar desequilíbrios catastróficos. O ciclo do nitrogênio, assim como o hidrológico, do oxigênio, do carbono e do fósforo são ciclos bem equilibrados
em termos globais pela sua capacidade de se ajustarem às mudanças. No entanto, existem limites a
esse ajuste.
56
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
De acordo com Cunha-Santinho (2010), no ecossistema os elementos químicos tendem a circular
entre a biosfera, a atmosfera, a litosfera e a hidrosfera em caminhos específicos, denominados ciclos
biogeoquímicos. Dos 103 elementos químicos descritos, sabe-se que 30 a 40 são necessários a vida.
Alguns desses elementos são conhecidos como macro nutriente (aqueles necessários em grandes
quantidades) e os micronutrientes ou elementos traço (usados em pequenas quantidades) (Tabela 1).
Tabela 1 – Elementos essenciais para as plantas.
Fonte: adaptada de Smith & Smith (20095) apud Cunha-Santinho (2010)
Elementos essenciais
Macro nutriente
Micronutrientes
C, H, O, N, Ca, P, Mg, S, K
Cl, Fe, Mn, B, Cu, Mo, Zn, Ni
Segundo Cardoso (2008) o processo de adubação que incorpora macro nutriente como enxofre, nitrogênio, fósforo e potássio anualmente no solo acabou com o balanço igual a zero para esses elementos.
Isto resulta em outros ciclos biogeoquímicos alterados como o ciclo do nitrogênio.
O nitrogênio é o elemento mais abundante na atmosfera (N2, 78% na composição do ar seco). Sua
importância esta na formação de aminoácidos e proteínas e seu principal reservatório é a atmosfera,
onde embora seja o elemento mais abundante, por ser uma molécula estável, não reage facilmente
com outros elementos e não pode ser absorvido e utilizado diretamente pelas plantas. Estas, só assimilam quando na forma de nitrato (NO3-) e utilizam na forma de íon amônio (NH4+). Esta transformação
natural do N2 em NO3- e NH4+ é realizada bactérias específicas em processos de fixação e o inverso
por outros grupos de microrganismos em processos de assimilação, nitrificação e desnitrificação que
constitui etapas do ciclo do nitrogênio.
Pode-se representar o nitrogênio presente no planeta basicamente em duas formas, uma inativa, o
nitrogênio gasoso, N2, inerte. A outra forma, ativa, que são aqueles com atividades químicas e biológicas que podem modificar as propriedades físicas do meio ambiente ou da biota. Estes se apresentam
na forma de gases, NO, NO2, N2O e NH3 ou compostos solúveis em água, como NH4 e NO3- nos quais
sua ação não esta limitada ao local onde foi produzido (Cardoso 2008).
Estima-se que no cultivo da cana-de-açúcar adiciona-se em média 100 Kg por ano de fertilizantes
nitrogenados por hectare de solo e parte deste fica perdida no ambiente podendo ser levado a N2 pelos
microrganismos e liberados na atmosfera. Outra parte arrastada pela chuva chega aos rios. O que fica
no solo pode, através do processo de combustão, que gera calor, sofrer reação com O2 atmosférico
originando nitrogênio ativo (NO e NO2). E, ainda, acredita-se que no Estado de São Paulo a queima
da palha da cana libera 46 mil toneladas de nitrogênio ativo para a atmosfera por ano.
Por outro lado, o nitrogênio disperso no ambiente, como parte do adubo usado, é levado para corpos d
água que muitas vezes já carregam compostos nitrogenados provenientes de lançamentos de águas residuárias tratadas ou não. Nas águas residuárias industriais de vários setores, inclusive nas indústrias
de fertilizantes, os compostos nitrogenados são encontrados em altas concentrações em comparação
5 Smith, H.M.; Smith, R.L.: Elements of Ecology. San Francisco: Benjamin Cummings/Pearson, 2009. 649p.
57
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
ao esgoto sanitário em geral, que as concentrações são baixas, com a predominância de N-amoniacal
(60%) e N-orgânico (40%), formas ativas, sendo que a fração de nitrito e nitrato corresponde a menos
de 1% (BARNES e BLISS, 1983; SEDLAK, 1991).
O nitrogênio pode se apresentar em diversas formas e em distintos estados de oxidação, como listado
na tabela a seguir.
Tabela 2 – Formas predominantes do nitrogênio em águas residuárias
Fonte – Modificado de VON SPERLING (1997)
Forma
Amônia
Íon amônio
Nitrogênio gasoso
Íon nitrito
Íon nitrato
Fórmula
Estado de oxidação do nitrogênio
NH3
NH4+
N2
NO2NO3-
-3
-3
0
+3
+5
Entretanto, o excesso de nitrogênio ativo favorece o crescimento de plantas e algas em corpos d’águas
provocando a eutrofização, aumento acima do normal no número de algas que consomem o O2 dissolvido na água e liberam toxinas.
Em relação à poluição atmosférica causada pelo aumento da liberação de gases como o dióxido de nitrogênio (NO2) que em contato com a água, na forma de vapor, leva a formação de ácido nítrico HNO3
e conseqüentemente à chuva ácida, com modificação do pH de solos e rios. O NO2 pode catalisar reações atmosféricas em presença de luz e formar ozônio (O3). De acordo com Cardoso (2008) valores
de O3 na região de Araraquara SP, durante o período de safra da cana de açúcar, foi próximo a valores
obtidos em grandes centros com a fumaça dos carros. Além dos gases poluentes (nitrogênios ativos:
NO e NO2) liberados pela queima da palha e material particulado, a queima do etanol combustível em
motores também emite formaldeído e acetaldeído, que são vapores tóxicos.
Ainda é preciso destacar que o processo industrial de produção de fertilizantes nitrogenados usa o nitrogênio do ar como matéria prima, processo Haber-Bosch, que transforma o nitrogênio do ar (inerte)
em amônia (ativo) e posteriormente em nitrato NO-3. E o uso crescente deste passou de 1,3 para 15
Kg de nitrogênio por pessoa entre 1950 e 1990.
Portanto é necessário esclarecer que o cultivo da cana-de-açúcar, a produção, e utilização do etanol
têm aumentado de forma espantosa a formação e dispersão do nitrogênio ativo no ambiente. Porém,
diferente dos problemas ambientais de preocupação Global, como o aumento e acúmulo do dióxido
do carbono, os compostos de nitrogênios, inicialmente, afetam os ecossistemas locais ou regionais.
Desta forma, estabelecer o quanto essas atividades perturbam o ciclo natural do nitrogênio e outros
elementos químicos é tão fundamental quanto às emissões de carbono. Sabe-se que a atividade humana já dobrou a quantidade natural de nitrogênio ativo. Este valor é indicativo de que várias regiões de
nosso planeta já estão comprometidas com o excesso de nitrogênio ativo.
58
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
4. Dimensões da Sustentabilidade divulgadas pela indústria sucroalcooleira.
Para testar se haveria um modelo de sustentabilidade predominando entre os grupos sucroalcooleiros
e contribuir para o entendimento do que seria a sustentabilidade sucroalcooleira, foi verificada, entre
os grupos da amostra, a ocorrência ou não de um conjunto de atributos ou práticas divulgadas pelos
grupos como sustentáveis, a saber: 1) apresenta a Responsabilidade Ambiental; 2) Indica controle de
queimadas e tendência à mecanização da colheita; 3) utiliza da torta de filtro6 na produção de cana de
açúcar; 4) utiliza vinhaça7 como fertirrigação; 5) desenvolve ações de preservação e/ou recuperação
ambiental; 6) preocupa-se captação de carbono (MDL e crédito de carbonos); 7) valoriza qualidade
e certificações; 8) atua em educação ambiental; 9) apresenta a Responsabilidade Social Corporativa
(RSC); 10) segurança do trabalho como RSC; 11) apoio a cultura; 12) parceria com ONGs /Fundações; 13) apresenta GC; 14) Adota a Metodologia internacional para apresentar relatórios de sustentabilidade empresarial, GRI (Global Reporting Initiative).
Os dados foram obtidos junto às publicações institucionais divulgadas pelos grupos empresariais
estudados, notadamente aquelas veiculadas nos respectivos sites institucionais. A correspondência
eletrônica também foi utilizada para solicitar informações específicas e não disponíveis. O Quadro
– 1 reúne, sinteticamente, os dados referentes a cada empresa da amostra. A ausência para um determinado atributo, indicada como “Não”, significa que não foi encontrado divulgação sobre o item
considerado.
QUADRO 1 - Atributos da sustentabilidade divulgados pelos sete maiores grupos sucroalcooleiros privados e pela maior cooperativa sucroalcooleira, em operação no Brasil, no ano de 2010.
Grupos Empresariais
Atributos da
Sustentabilidade
Resp. Ambiental
Red. Queimadas/Mecan.
Torta de filtro
Vinhaça
Preservação/ Rec. Amb.
Captação de carbono
Qualidade/certificações
Educação ambiental
Resp. Social (RSC)
Seg. Trab. como RSC
Investimento Cultura
Ongs/fundação (parceria)
Gov. Corporativa
Metodologia GRI
Cosan
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
LDC
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
Não
√
√
Não
Bünge
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
S. Mart.
Guarani
ETH
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√
Não
√
√
Não
Não
√
√
√
√
√
√
Não
√
√
Não
√
Não
Não
Não
√
Não
Não
√
√
Não
Não
√
Não
Não
S. Ter. Coper.
√
Não
Não
Não
√
Não
√
√
√
Não
Não
Não
Não
Não
√
√
Não
Não
√
√
√
√
√
Não
Não
√
√
Não
Fonte: elaborado pelos autores.
6 e 7 Resíduo industrial
59
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Uma análise inicial dos dados permite identificar uma forte semelhança das estratégias de sustentabilidade dos quatro maiores grupos sucroalcooleiros, ocorrendo atributos “unânimes”, ou seja, presente em todos os grupos, como por exemplo, Responsabilidade Ambiental e Responsabilidade Social
como empresas em que todos os atributos estão presentes, como no grupo Cosan e no grupo Bünge.
Tanto a utilização da Torta de Filtro como da Vinhaça foi citada como prática sustentável nos quatro
maiores grupos. A captação de carbono destaca-se entre as estratégias sustentáveis mais específicas.
Entre os grupos recém chegados no espaço industrial, o grupo ETHBioenergia destaca-se pela pouca
importância dada à temática da sustentabilidade, quando comparada com os demais grupos líderes e
“novatos” na indústria, principalmente pelo fato dela ter incorporado o grupo Brenco, arranjo de private equity que se destacou também pela critica ao setor sucroalcooleiro tradicional e pelo modelo de
sustentabilidade focado na captação de carbono, na mecanização e em considerar a saúde e segurança
no trabalho como prática de responsabilidade social corporativa (RSC) (MUNDO NETO, 2008).
Talvez este “retrocesso” em termos de sustentabilidade apresentada pelo grupo ETHbioenergia esteja
relacionado ao pouco tempo de consolidação da operação de incorporação do grupo Brenco.
Três dos oito grupos estudados investem em cultura como prática sustentável e apenas dois adotam a
Metodologia GRI, uma certificação de “marca” internacional, divulgada na indústria sucroalcooleira
brasileira, sobretudo pela UNICA. Destaca-se também a relevância que ONGs e Fundações passaram
a ter para a indústria sucroalcooleira, notadamente na operacionalização de algumas ações “sustentáveis”. A heterogeneidade das ações consideradas sustentáveis dentro de um mesmo atributo ilustra a
polissemia em torno da definição de “sustentabilidade” neste espaço industrial.
Considerações finais
Os esforços no sentido de demonstrar a sustentabilidade sucroalcooleira estariam sendo orquestrado
por um conjunto de atores relevantes neste espaço industrial. Destacam-se a UNICA, representando
os interesses dos industriais e o Estado, por meio da BNDESPar, vinculando o apoio à adoção do
padrão de empresa dominante no capitalismo contemporâneo, a empresa de acionista, FLIGSTEIN
(2001), explicitando as peculiaridades do caso brasileiro. Tratar a sustentabilidade como dimensão
estratégica e diferencial seria uma das características das empresas do capitalismo contemporâneo.
Sob a perspectiva apresentada e defendida pelos representantes da indústria sucroalcooleira, as atividades sucroalcooleiras, seriam naturalmente mais sustentáveis quando comparada com os combustíveis fósseis. A avaliação da sustentabilidade é sempre comparativa, ou seja, o quanto de emissões
estaria sendo evitado.
A produção em larga escala de biocombustíveis, notadamente o etanol, deveria ser criteriosamente
analisada sob o ponto dos impactos ambientais, sobretudo no Brasil, o maior produtor de etanol de
cana-de-açúcar do mundo e em especial no Estado de São Paulo. Os prejuízos ambientais locais ainda
são obscuros e até estes serem esclarecidos, as populações locais podem estar acumulando prejuízos
pela falta de conhecimento que tais práticas podem implicar. Além das contradições nas práticas
declaradas sustentáveis, a exemplo da utilização de torta de filtro e da vinhaça, que podem se tornar
potencialmente poluidoras ambientais, o uso de fertilizantes nitrogenados nem se quer ocupa lugar
algum no discurso de sustentabilidade da indústria.
60
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
As disputas pela definição da sustentabilidade das sociedades contemporâneas teriam ganhado novos
contornos com a participação de representantes do mundo empresarial. Se por um lado estaria ocorrendo avanços, uma vez que representantes dos principais responsáveis pelos impactos ambientais
se propuseram a contribuir para solucionar problemas ambientais, por outro, a forma como eles escolhem as suas ações “sustentáveis”, estaria enviesada pela lógica financeira potencializando novos
contenciosos e debates.
Referências
BARNES, D.; BLISS, P.J. (1983) Biological control of nitrogen in wastewater treatment. New York:
E&F Spon.
CARDOSO A. A, MACHADO C. M. D, PEREIRA E. A. (2008) Biocombustível, o Mito do Combustível Limpo. Química Nova Na Escola. N.28, 05/2008.
DONADONE, J. C.; GRÜN, R. Participar é preciso! Mas de que maneira? Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 16, n. 47, 2001, pp. 111-126.
FLIGSTEIN, N. The Architecture of Markets: An Economic Sociology of Twenty-first-century. Princeton University Press, 2001.
_____. O mercado enquanto política: Uma abordagem político-cultural às instituições de mercado.
In: MARQUES, R.; PEIXOTO, J. (org.). A Nova Sociologia Economica: uma antologia. Oeiras:
Celta Editora, 2003.
GARCIA JR., A. A Sociologia Rural no Brasil: entre escravos do passado e parceiros do futuro. Estudos Sociedade e Agricultura, 19, outubro, 2002: 40-71.
GRÜN, R. (2003). Atores e Ações na construção da governança corporativa brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.18, n. 52, pp. 139-161.
_____. (2005). Convergência das Elites e Inovações Financeiras: a governança corporativa no Brasil.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.20, n. 58, 2005, pp. 67- 90.
_____. Difusão dos fundos de private equities (PES) e transformações do capitalismo no Brasil recente. In: CARLETTO et. al. Sociologia econômica e das finanças: um projeto em construção. São
Carlos: EdUFSCar, 2009.
JARDIM, M. A. C.; MUNDO NETO, M. O Estado enquanto categoria central: contribuição à teoria
sociológica contemporânea. (no prelo).
LEITE, S. P. Estado, padrão de desenvolvimento e agricultura: o caso brasileiro. Estudos Sociedade
e Agricultura, outubro 2005, vol.13, no.2, p. 280-332.
MELLO, F. O. T. As metamorfoses da rede de poder agroindustrial sucroalcooleira no Estado de
São Paulo: da regulação estatal para a desregulação. São Carlos: UFSCar, 2004. 1750. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Universidade
Federal de São Carlos.
MUNDO NETO, M. Setor Sucroalcooleiro e espaço financeiro: a construção do mercado de “bioenergia”. I Seminário Temático Centralidade e Fronteiras das Empresas no Século XXI, na UFSCar,
de 19 a 21 de novembro de 2007.
_____. Desenvolvimento do mercado do etanol: aproximação da indústria sucroalcooleira e da indústria de capital de risco no Brasil. 32º Encontro Anual da ANPOCS, de 27 a 31 de outubro de 2008,
Caxambu, MG;
__________. Transformações no campo sucroalcooleiro: uma análise das relações com o Estado. I
61
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Seminário Nacional De Sociologia Econômica. UFSC, Florianópolis, 19 a 22 de maio de 2009a.
_____. Atores na construção do mercado do etanol: a UNICA com foco da análise. XIV – Congresso
Brasileiro de Sociologia 28 a 31 de julho, Rio de Janeiro (RJ), 2009b.
_____. De sucroalcooleiro a sucroenergético: a construção de um campo organizacional. 33º Encontro Anual da ANPOCS, de 26 a 30 de outubro, Caxambu, MG, 2009c.
PIACENTE F J (2005) Agroindústria canavieira e o sistema de gestão ambiental: O caso das usinas
localizadas nas bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Dissertação de Mestrado, Instituto de Economia, Universidades Estadual de Campinas – UNICAMP
RAMALHO , J. F., AMARAL SOBRINHO, N. M. (2001) Metais pesados em solos cultivados com
cana de açúcar pelo uso de resíduos agroindustriais, Revista Floresta e Ambiente v.8, n.1 jan/dez.
SEDLAK, R. (1991). Phosphorus and nitrogen from municipal wastewater: principles and practice.
Chelsea: Lewis Publisher.
VAZZOLER R F (1995) Avaliação do ecossistema microbiano de um biodigestor anaeróbio de fluxo
ascendente e manta de lodo, operado com vinhaça sob condições termofílicas. São Carlos. 259p.
Tese EESC, USP
VON SPERLING, M. (2005) Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias v. 1, 452 p.
In: Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte 3a ed.
http://www.cana.cnpm.embrapa.br/index.html Embrapa monitoramento Satélite- Impacto Ambiental
da Cana-de-Açúcar. Acesso em Outubro de 2010.
Relação de sites institucionais das empresas ou organizações tratados no trabalho.
www.cosan.com.br
www.ldc.com
www.bunge.com
www.saomartinho.ind.br
www.acucarguarani.com.br
www.eth.com
www.usacucar.com.br
www.copersucar.com.br
www.bndes.gov.br
62
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
GRUPOS BRASILEIROS QUE ATUAM NO BRASIL E NA NEW YORK STOCK
EXCHANGE (NYSE): ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS CORPORATIVAS
Martin MUNDO NETO*
Wellington Afonso DESIDERIO **
RESUMO
Este artigo trata das estratégias corporativas de um conjunto de empresas particulares: as empresas
que atuam no Brasil e na New York Stock Exchange (NYSE). O foco do artigo foi analisar a estrutura
acionária dos grupos. O objetivo foi testar se as tendências do capitalismo contemporâneo, indicadas
por Folkman et al (2006); Froud & Williams (2007), estariam presentes entre as principais corporações brasileiras. Destaca-se a ampla presença dos fundos de Private Equities enquanto intermediários
financeiros, notadamente a BNDESPar. Outro resultado do estudo foi confirmar os Fundos de Pensão
entre os principais Investidores Institucionais dos grupos analisados.
PALAVRAS-CHAVE: Estratégia Corporativa. Governança Corporativa. Sociologia dos Mercados.
ABSTRACT
This paper deals with the corporate strategy of a set of private companies: companies operating in
the national capital market (BM&FBOVESPA) and in the New York Stock Exchange (NYSE). The
focus of the paper was to analyze the ownership structure of groups. The goal was to test whether the
trends of contemporary capitalism, indicated by Folkman et al (2006); Froud & Williams (2007)),
would be present among the main brazilian corporations. Note the huge presence of Private Equities
funds as financial intermediaries, notably BNDESPar. Another outcome of the study was to confirm
the Pension Funds between major Institutional Investors of the groups analysed.
KEYWORDS: Corporate Strategy. Sociology of Markets. Corporate Governance.
INTRODUÇÃO
Nas últimas duas décadas o espaço empresarial brasileiro tem passado por mudanças significativas.
Dezalay & Garth (2000) afirmam que as mudanças estariam relacionadas a questões de ordem mais
geral. As economias em desenvolvimento, particularmente as latino americanas, estariam importando
o modelo do capitalismo dominante entre os países centrais, notadamente os Estados Unidos.
Transformações de natureza financeira, relacionadas à reconfiguração da estrutura de propriedade das
grandes corporações e à justificativa para as estratégias corporativas como fusões e aquisições redefiniram a estrutura dos mercados norte-americanos a partir dos anos de 1970 e tornam-se referência
*Professor Pleno I da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga, [email protected]
**Discente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga, [email protected]
63
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
para outras economias (FLIGSTEIN, 1990; 2001). Hirsh & De Souce (2006) indicam que a reestruturação organizacional pode ser entendida como uma ferramenta conceitual que, historicamente,
vem sendo utilizada para alterar as definições societárias e a interpretação do trabalho assalariado,
seja pelo papel retórico seja pelas implicações para a organização do trabalho corporativo. A reestruturação organizacional é aplicada na esfera privada, mas também estaria presente nas propostas e
discursos políticos.
No Brasil, as mudanças das leis das Sociedades Anônimas (S.A.) e a criação do novo mercado da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA) destacam-se entre as principais mudanças institucionais do final dos anos noventa e início desta década. Grün (1999) indica como o modelo de gestão
empresarial, calcado na lógica industrial, na eficiência produtiva e na qualidade total, dominante até
o inicio dos anos de 1990, foi sendo substituído pelo modelo da lógica financeira, da reengenharia e
da maximização do retorno dos investimentos.
De acordo com Donadone & Swnelzer (2004) a dinâmica organizacional brasileira dos anos noventa
foi marcada pelas privatizações de empresas estatais e pela intensificação das operações de fusões e
aquisições de empresas. Este processo, envolvendo empresas brasileiras e investidores institucionais,
nacionais e internacionais, seria típico do capitalismo no qual a lógica financeira estaria predominando. Ela seria responsável pela orientação estratégica dos principais grupos econômicos, nos diversos
espaços industriais (FLIGSTEIN, 2001). Grupos especializados como os bancos de investimento, os
escritórios de consultoria em gestão e direito corporativo, os representantes da indústria de capital de
risco (gestores de venture capital e private equity - fundos de participação privada), estariam entre os
principais investidores institucionais, desta fase do capitalismo. Eles representam a vanguarda em termos de estratégias financeiras. Juntamente com demais investidores, sobretudo os fundos de pensão
e o Estado, estariam entre os principais responsáveis pelas reestruturações socioeconômicas em diversas esferas das sociedades capitalistas (Folkman et al (2006); FROUD & WILLIAMS (2007)).
Este artigo trata sobre as estratégias corporativas de um conjunto de empresas particular: as empresas
que operam, simultaneamente, no mercado de capitais nacional, BM&FBOVESPA, e no norte-americano, na New York Stock Exchange (NYSE). O foco do artigo foi analisar a estrutura acionária dos
grupos que operam no Brasil e abriram capital na NYSE. Procurou-se identificar as particularidades
da GC deste grupo específico de empresas, analisando a composição dos seus respectivos conselhos
de administração. O objetivo foi testar se as tendências do capitalismo contemporâneo, indicadas por
(Folkman et al (2006); FROUD & WILLIAMS (2007)), estariam presentes entre as principais
corporações brasileiras.
Metodologia e referencial teórico
A partir de conceitos propostos pela análise institucional das organizações e da sociologia econômica
pretende-se contribuir para o entendimento das recentes transformações que estariam ocorrendo entre
as grandes empresas brasileiras. Para ingressar em mercados de capitais, particularmente nos EUA,
as empresas têm que atender regras específicas. Muitas delas estariam sendo tratadas no âmbito da
Governança Corporativa. O estudo está focado em uma amostra de vinte e sete empresas que operam
no Brasil e ingressaram na NYSE (Tabela 1). Por operarem em mercados de capitais, estes grupos
64
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
empresariais disponibilizam as informações sobre a sua GC. Para analisar a composição acionária
das empresas foram consideradas as seguintes categorias de acionistas: fundos de private equity,
fundos de pensão, a BNDESPar (subsidiária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social - BNDES) e investidores ligados a famílias industriais tradicionais (Familiar). Os dados foram
coletados junto às publicações institucionais das empresas analisadas, às informações publicadas
pela BM&FBOVESPA e na NYSE, bem como aquelas divulgadas pelas agências governamentais
correlatas. Foi dada atenção especial à estrutura de capital das empresas, à composição dos acionistas majoritários e controladores, bem como às características da GC apresentadas pelas empresas.
Grande parte das informações foi obtida nos sites das empresas onde estão divulgadas as respectivas Governanças. Para cada membro do conselho de administração e das diretorias executivas está
disponibilizado um mini currículo dos executivos. Enfatizam aspectos da formação acadêmica, da
experiência profissional, da atuação na esfera política, da experiência internacional.
Bourdieu (2005) sugere que a economia seja tratada como ciência histórica. O mercado deveria ser
entendido como uma construção social, do qual o Estado, por meio de seus representantes, tem papel
fundamental, particularmente no que se refere aos aspectos jurídicos. Bourdieu (2005) sugere a noção de campo econômico para os estudos da economia e dos mercados. O campo entendido como um
campo de forças no qual um determinado agente econômico contribui e sua força específica é função
do volume e da estrutura dos capitais que ele detém. O capital de determinada ator econômico (grupo
ou indivíduo) apresenta-se simultaneamente sob diferentes dimensões, notadamente a financeira, a
cultural, a tecnológica, a jurídica, a organizacional, a comercial e a simbólica. A noção de campo, pode
ser aplicada para entender as relações sociais no âmbito mais geral (economia mundial, nacional), no
nível intermediário de análise (um ramo da indústria) ou no nível micro-analítico (uma empresa, uma
organização). Permite que sejam estabelecidas relações entre os diferentes campos organizacionais e
o campo que os engloba, assim como cada empresa pode ser entendida como um campo relativamente autônomo, mas também inserida num determinado campo organizacional. Os diferentes campos
seriam caracterizados por uma estrutura invariavelmente polarizada entre dominantes e dominados.
No campo econômico, as grandes empresas, conjuntamente com o Estado, seriam as principais fontes
de força do campo. Para compreender a dinâmica de um determinado campo, Bourdieu (2005) sugere o estudo das principais fontes de força que o compõe, a partir de uma perspectiva histórica. No
âmbito deste estudo, a escolha dos grupos que operam tanto na BM&FBOVESPA como na NYSE foi
motivada pelo fato de que assim estaria constituída uma amostra contendo parte dos principais grupos
econômicos do capitalismo brasileiro, ou seja, grupos dominantes do campo econômico brasileiro.
Outro aspecto que contribuiu para a escolha deste critério é o fato de que tais organizações disponibilizam as informações mínimas necessárias para o desenvolvimento da análise aqui proposta.
De acordo com Fligstein (1990), para existirem campos organizacionais é preciso que os atores se
reconheçam mutuamente e compartilhem concepções de ações legítimas. Os campos organizacionais
teriam a função de promover a estabilidade, uma espécie de mecanismo de controle do ambiente
externo. Os gerentes e empreendedores atuariam mais no sentido de garantir a sobrevivência e o
crescimento das grandes corporações, do que como maximizadores de lucros. Estas ações derivam
da visão de mundo desses atores ou, como indicado por Fligstein, das concepções de controle dos
atores econômicos, ou da “visão totalizante do mundo dos gerentes ou empreendedores que os levam
a filtrar os problemas do mundo num certo sentido” (FLIGSTEIN, 2001:10). Segundo Fligstein,
65
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Uma estratégia organizacional refere-se aos objetivos atuais da organização e as políticas
adotadas para alcançar aqueles objetivos. A concepção de controle refere-se a porque gerentes enxergam aquelas estratégias como apropriadas para o que à empresa deve fazer. (FLIGSTEIN, 1990:10-11).
Para se manterem no novo espaço (mercado de capitais), as novas empresas, oriundas de diferentes
campos organizacionais (indústria(s) específica(s) onde atuam) passam a adotar a GC para ampliar
sua legitimidade no campo financeiro, uma vez que esta se tornou uma espécie de capital simbólico
que sinalizaria menos riscos aos investidores. Fligstein (2003) indica que além da concepção de controle, as principais instituições que fundamentam os mercados seriam os direitos de propriedade, as
regras das transações e a estrutura de governança predominante.
Na década de 1980, a crise econômica, as altas taxas de inflação, o baixo crescimento econômico e o
baixo desempenho financeiro das grandes corporações norte-americanas geraram uma nova onda de
fusões que sinalizou a emergência da concepção de empresa baseada no valor dos acionistas. As grandes empresas teriam deixado de ser lucrativas para seus acionistas (os reais proprietários) e parte de
seus lucros estariam sendo absorvidos pela alta gerência (fruto da revolução dos gerentes, marca do
capitalismo industrial), ou seja, os gestores não estariam gerenciando os ativos de modo a maximizar
o que veio a ser denominado “o valor dos acionistas” (shareholders value) (FLIGSTEIN, 2001:147).
Segundo Fligstein (2001) a concepção de controle baseado no valor dos acionistas (Shareholder value
conception of control) seria dominante no capitalismo contemporâneo. Entre as grandes empresas, o
reflexo desta concepção de controle pode ser percebido na medida em que o modelo de empresa de
acionistas (no Brasil, é a forma jurídica conhecida como Sociedade Anônima (S.A.) de capital aberto,
equivalente à public corporation, nos Estados Unidos da América) se difunde e a governança corporativa passa a ser o modelo de gestão empresarial atualizado. Na nova configuração das empresas,
cuja propriedade estaria dividida entre um conjunto de investidores institucionais e minoritários, a
GC passou a ser o modelo de gestão para as empresas dos mercados de capitais. Considerada como
ferramenta de gestão empresarial,
E originalmente ela,
Ela engloba um conjunto de dispositivos, cada vez mais díspares quanto ao seu escopo e lógica interna, mas todos concorrendo para estabelecer ou manter uma relação entre acionistas
e dirigentes das empresas, considerada satisfatória para os primeiros. (GRÜN, 2005:68)
Irá rezar que os aumentos de eficiência das organizações, das empresas em particular, seriam
frutos da qualidade da vigilância (governança) que seus proprietários efetivos exerceriam
sobre suas operações, e que essa qualidade é função de um ambiente institucional adequado
para tal, salientado o papel de um mercado de capitais semelhante ao norte-americano e, mais
genericamente, a um quadro legal respeitoso dos diretos de propriedade individual (GRÜN,
2005:70).
Historicamente, o problema do controle das empresas esteve no centro das questões que preocupam
aqueles ligados ao universo empresarial. De acordo com Boltanski; Chiapello (2009),
Pode-se considerar a história da gestão empresarial como a história da sofisticação permanente dos meios de dominar aquilo que ocorre na empresa e em seu ambiente. Se, em Taylor e
66
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Fayol, considerados os fundadores da gestão empresarial como disciplina, os seres humanos
são o ponto principal de aplicação dos controles (o par homem-máquina em Taylor, organização geral em Fayol), mais tarde, a vontade de domínio, com certas subdisciplinas da gestão
empresarial, se estenderá para além do controle das máquinas e do pessoal. Com a estratégia
empresarial, desenvolveu-se o domínio dos mercados e da concorrência; com o marketing, o
domínio do circuito de distribuição, dos clientes e de seus comportamentos aquisitivos; com
a gestão de compras, o controle dos fornecedores; com as relações públicas, o da imprensa e
dos poderes políticos. Do mesmo modo, no pessoal, cada categoria passou a ser alvo de dispositivos específicos: o taylorismo foi inventado para controlar os operários, e a administração por objetivos, para enquadrar os executivos; hoje em dia, os dispositivos da “governança
corporativa” (corporate governance) destinam-se ao controle dos mais altos dirigentes das
grandes empresas. (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009:109).
Na década atual, o mercado de capitais brasileiro ganhou relevância e a Governança Corporativa
(GC) tornou-se o modelo de gestão empresarial a ser seguido (GRÜN, 2003). No Brasil, a GC se difunde e ganha traços próprios, uma vez que diversos atores, com interesses distintos, contribuem para
sua institucionalização, num processo descrito por Grün (2005) como “Convergência das Elites”.
Para as empresas que adotam a GC, os conselhos de administração e as diretorias executivas tornamse um componente vital. Os conselhos passaram a ser considerados peças chaves para o sucesso da
GC. Quanto mais conselheiros independentes (aqueles que não possuem vínculo histórico com a
empresa) mais as empresas seriam bem vistas pelos avaliadores de sua GC. O oposto, ou o predomínio de conselheiros historicamente ligados à empresa, notadamente membro da família controladora,
não é considerado boa prática de GC. Neste trabalho a categoria de acionista Familiar seria o mesmo
que acionista tradicional, ou os representantes de famílias que historicamente estiveram à frente dos
negócios.
Fligstein (2009) apresenta a idéia de atores sociais hábeis para explicar a formação, estabilização
e transformação dos diferentes campos organizacionais. Para Fligstein, a habilidade social seria “a
habilidade de motivar os outros a tomar parte em uma ação coletiva”, “que se prova crucial para a
construção e reprodução de ordens sociais locais.” (FLIGSTEIN, 2009:71). Os mercados financeiros
seriam campos organizacionais e os participantes dos conselhos de administração e as diretorias executivas potenciais atores sociais hábeis. A valorização do conselheiro independente seria uma forma
de identificar quais empresas estariam sendo dirigidas de forma a atender os interesses de todos os
investidores. Os conselheiros independentes protegeriam os interesses dos acionistas minoritários.
Para ser conselheiro independente o executivo teria que ter um conjunto de capitais, no sentido de
Bourdieu (2005), que o credenciaria a ocupar esta posição.
Para abrirem seu capital na NYSE, as empresas devem adotar um conjunto de regras particulares ao
mercado de capitais norte-americano. Essas normas foram aprovadas pela Securities and Exchange
Commission dos Estados Unidos da América (“SEC”) em novembro de 2003. A SEC é o órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais norte-americano, equivalente, no Brasil, à Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). De acordo com essas regras constituídas pela SEC, emissoras privadas
estrangeiras cujos valores mobiliários estejam registrados na NYSE devem divulgar as diferenças
67
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
principais entre as suas práticas de governança corporativa e os padrões de governança corporativa
estabelecidos pela NYSE. As principais diferenças entre os padrões de governança corporativa da
NYSE, segundo a SEC, são as seguintes: independência dos conselheiros e testes de independência; sessões executivas; comitês de nomeação/governança corporativa e de remuneração; comitê de
auditoria e requisitos adicionais do comitê de auditoria; aprovação dos acionistas para os planos de
remuneração em ações; diretrizes sobre governança corporativa; código de conduta empresarial; requisitos de certificação. A regra de independência dos conselheiros e testes de independência exige
que as companhias de capital aberto tenham uma maioria de conselheiros independentes e determina
os princípios segundo os quais uma companhia de capital aberto pode verificar se um conselheiro é
independente.
Teve início também nos EUA, em 2002, a lei Sarbane Oxley (SOX), assinada pelo senador Paul
Sarbanes e o deputado Michael Oxley. Essa lei foi instituída com o intuito de evitar o esgotamento e
evasão dos investidores do mercado financeiro que poderia acontecer devido aparente insegurança a
respeito da governança adequada das empresas, que havia sido originado pelos escândalos financeiros
corporativos (dentre eles o da Enron, que acabou por afetar drasticamente a empresa de auditoria Arthur Andersen). Essa lei visa garantir a criação de mecanismos de auditoria e segurança confiáveis nas
empresas, incluindo ainda regras para a criação de comitês encarregados de supervisionar suas atividades e operações, de modo a mitigar riscos aos negócios, evitar a ocorrência de fraudes ou assegurar
que haja meios de identificá-las quando ocorrem, garantindo a transparência na gestão das empresas.
Grupos brasileiros na nyse: apresentação dos dados empíricos
Vinte e sete empresas que operam no Brasil abriram o capital na NYSE. Trata-se de empresas de diferentes setores indústrias. Seis empresas são da indústria de telecomunicações, constituindo o maior
subgrupo da amostra. O ingresso de empresas brasileiras na NYSE pode ser associado a dos períodos
distintos. O primeiro estaria relacionado à década de 1990, época do apogeu das privatizações das
grandes empresas estatais brasileiras, notadamente da indústria de telecomunicações, de energia elétrica e siderurgia. O segundo período, da década atual, estaria relacionado à valorização do mercado
de capitais brasileiro, com base na nova lei das S.A.s e da constituição do “Novo Mercado” da Bolsa
de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA). Na Tabela 1, são apresentados os vinte e sete grupos
brasileiros na NYSE. Na Figura 1 está indicado, para cada ano, o número de empresas que ingressaram na NYSE.
TABELA 1 – Grupos empresariais brasileiros na NYSE e as respectivas estruturas de capital em
função dos tipos de acionistas considerados na análise. Dados coletados entre janeiro e abril de 2010
Fonte: elaborado pelos autores, a partir das informações disponibilizadas nos respectivos sites
das empresas.
Grupo
1.
2.
3.
68
Bradesco
Itaú Unibanco
Br. Telecom
Bancos de Investimentos
Gestores de Private Equity
Fundos de Pensão
BNDESpar
Grupos
familiares
Não possui
5,3%
63,3%
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
43,6%
Não possui
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
Gol
Tam
Petrobrás
Vale
Embraer
Cia.Br. Distribuição
Cemig
Copel
CSN
Gerdau
Sabesp
BRF
CPFL
Fibria
Cosan
Ultra
Telebrás
Ambev
Santander
Braskem
Gafisa
Telesp
Tim
Vivo
Não possui
12,5%
2,6%
15,3%
35,2%
25,6%
Não possui
6,5%
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
25,6%
Não possui
26,2%
28,1%
Não possui
2,4%
46,6%
22,7%
38,5%
87,9%
66,2%
68,6%
Não possui
Não possui
3,1%
32,3%
13,7%
Não possui
Não possui
Não possui
4,7%
Não possui
Não possui
28,1%
43,7%
Não possui
Não possui
6,6%
Não possui
Não possui
2,4%
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
7,6%
4,2%
5,3%
Não possui
Não possui
23,9%
3,8%
3,5%
Não possui
Não possui
Não possui
33,5%
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
5,3%
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
*
46,2%
**
Não possui
Não possui
19,8%
**
**
46,2%
45,3%
**
Não consta
Não possui
29,3%
39,7%
23,9%
**
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
Não possui
‫٭‬Na empresa Gol, o grupo Asas é o gestor de private equity criado pela família controladora que possui 63,6% do capital da empresa.
‫٭٭‬Empresa na qual o Estado é o acionista majoritário.
FIGURA 1 – Ano de ingresso e número de empresas brasileiras na NYSE.
Disponível em www.nyse.com.
69
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Estrutura de capital: os principais acionistas das empresas brasileiras na NYSE
A Figura 2 indica a frequência das modalidades de acionistas na amostra analisada. É marcante a
presença dos investidores institucionais ligados à indústria de capital de risco (private equity e BNDESPar). Se considerados conjuntamente, ou seja, ocorrência de private equity ou BNDESPar, 81%
da amostra tem a participação deste tipo de investidor, confirmando a hipótese de que este grupo
de empresas estaria seguindo as tendências do capitalismo financeiro contemporâneo indicadas por
Folkman et. al. (2006) e Froud; Williams (2007).
FIGURA 2 - Frequência das modadidades de acionistas nas empresas brasileiras
listadas na NYSE. Amostra de 27 empresas. Dados coletados em abril de 2010
O processo de constituição da empresa GOL linhas aéreas, contou com a participação da AIG investimentos que se tornou um exemplo bem sucedido para a indústria de capital de risco (MUNDO NETO,
2007). Assim como a participação do grupo Gávea Investimentos na COSAN Limited está entre as
mais importantes participações de gestores de private equity na indústria sucroalcooleira (MUNDO
NETO, 2008; 2009).
Outra característica do grupo de empresas brasileiras em termos de estrutura de capital é a presença
dos fundos de pensão e das famílias tradicionais (elites industriais). Há empresas com estratégias
financeiras agressivas como a GOL e a COSAN, vinculadas aos fundos de private equities, mas com
forte presença do acionista Familiar. Alguns membros das famílias tradicionais se reconvertem à nova
forma de organizar os negócios, mas ao mesmo tempo não deixam de contribuir para a construção da
versão brasileira da GC, conforme indicado por (GRÜN, 2005).
Na Figura 3 estão indicadas as ocorrências de duas ou mais categorias de acionistas numa mesma
empresa, considerando apenas os investidores institucionais (fundos de private equities, fundos de
pensão e BNDESPar(Estado)).
70
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
FIGURA 3 – Frequência simultânea de acionistas de diferentes modalidades nas empresas
brasileiras listadas na NYSE. Amostra de 27 empresas. Dados coletados em abril de 2010.
A ocorrência simultânea de mais de uma categoria de investidores institucionais indica a proximidade
entre representantes dos gestores de private equities tanto em relação ao Estado como aos fundos de
pensão. Se o Estado e os fundos de pensão aderem à lógica financeira e a GC como forma de realizar
o desenvolvimento da sociedade como um todo, não é sem incluir suas contribuições nestes novos
instrumentos. Tanto o Estado como os fundos de pensão, forçaram a adoção de padrões rigorosos de
governança corporativa nos negócios nos quais participam. Segundo Jardim (2007), no Brasil do governo atual, os fundos de pensão passaram a ocupar um papel central na economia. Eles teriam sido
um dos instrumentos utilizados para domesticar o “capitalismo selvagem” no Brasil. A ocorrência das
três categorias de acionistas simultaneamente em uma mesma empresa indica o compartilhamento,
pelo menos parcial, de estratégias entre eles. Um dos principais quesitos da GC são os conselhos de
administração, onde os investidores estariam representados.
Conselhos de administração e atores sociais hábeis
Entre os grupos da amostra fica evidente a preocupação com a composição dos Conselhos de Administração (CA). Além dos acionistas majoritários que pelo montante de capital têm direito a representante no CA, os grupos empresariais procuram compor seus CAs com conselheiros independentes
e com prestígio no mercado de capitais. Destacam-se os executivos que acumulam experiência profissional, preferencialmente em mercado de capitais, formação acadêmica, experiência internacional
e capital político, ou seja, ter ocupado alguma posição política de prestígio (ministério, presidência
de organizações publicas como Banco Central, BNDES, CVM, etc.). Dentre os executivos que atendem esse perfil temos na empresa GOL, Antônio Kandir; na COSAN, Mailson da Nóbrega e Pratini
de Moraes; no Santander, Mendonça de Barros; na TIM, Mailson da Nóbrega; na CPFL, Pedro Parente; na BRF, Luis Fernando Furlan, Nildemar Secches; no ULTRA, Nildemar Secches; no grupo
GERDAU, Afonso Celso Pastore e André Pinheiro de Lara Resende; na CSN, Fernando Perrone; na
VALE, Luciano Coutinho; na Petrobrás, Guido Mantega e Luciano Coutinho e no Itaú Unibanco, Alcides Tápias. Como indicado, alguns dos conselheiros se repetem entre os grupos da amostra. Entre
os grupos com forte participação familiar é notória a escolha de conselheiros com ampla experiência
no mercado de capitais, particularmente em bancos de investimentos e gestoras de capital de risco.
71
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Sustentabilidade, Governança Corporativa e Sistemas ERP.
De acordo com Grün (2005) um dos traços que caracterizaria a GC brasileira seria a incorporação das
dimensões ambiental e social. Em 2005 foi instituído o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)
na BOVESPA. Trata-se de um indicador, equivalente ao Dow Jones Sustainability Index (DJSI),
cujo objetivo é sinalizar quais empresas do mercado de capitais atendem aos critérios estabelecidos
para medir a sustentabilidade empresarial. No ISE os critérios estariam ligados a quatro dimensões:
ambiental, social, econômica e a natureza do produto. Nas empresas, a versão atualizada da gestão
estratégica é a criação de uma área da sustentabilidade, incorporada na GC das empresas. Nas publicações institucionais das empresas o espaço dedicado à sustentabilidade empresarial tem crescido substancialmente. Na amostra, cinco empresas (18,5%) estão listadas no DJSI, das quais quatro
estão no ISE. A Petrobrás teria figurado no ISE até pouco tempo, mas denuncias sobre elevada taxa
de enxofre no óleo diesel, teria sido decisivo para a sua exclusão do índice. Pouco tempo depois a
empresa foi confirmada no DJSI, minimizando os efeitos do episódio anterior, e colocando a empresa numa situação que a permite deixar de responder aos críticos pela sua exclusão do ISE, uma
vez que o DJSI conferiria maior legitimidade. Apenas duas empresas da amostra não estão listadas
no IBOVESPA (Santander e Telebrás), principal índice da bolsa brasileira. No ISE estão presentes
12 empresas (45%). Os índices de sustentabilidade seriam uma espécie de capital que diferencia seu
detentor dos competidores, essa diferença poderia influir na escolha dos investidores a seu favor. Em
grande parte das empresas passou a existir uma área dedicada à sustentabilidade. E essa, por sua vez,
é constituída de tal forma que as dimensões que compõe os índices de sustentabilidade (DJSI e ISE),
estejam contempladas.
Quanto aos sistemas de informações ERP utilizados pelos grupos empresarias da amostra, percebeuse, que 90% (Esse número corresponde a 14 empresas que compõe a amostra, as informações concernente aos ERPs das demais empresas ainda não foram informados) das empresas ou usam sistemas
ERPs das empresas SAP ou Oracle. Esses grupos ao avançarem aos mercados de capitais norteamericanos acabam tendo que aprimorar ou implantar sistemas de gestão integrados para estarem em
para estar em conformidade com a Lei Sarbanes-Oxley.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo exploratório permitiu confirmar que numa amostra dos principais grupos econômicos
brasileiros, as tendências do capitalismo contemporâneo estão presentes. Destaca-se a ampla presença dos fundos de private equities e dos fundos de pensão como investidores institucionais de grandes
grupos econômicos brasileiros. Os primeiros representariam à vanguarda das finanças e da lógica de
mercado. Os últimos representariam, na esfera financeira, os interesses mais amplos da sociedade
como um todo e dos trabalhadores em particular.
Destaca-se no caso das empresas brasileiras a forte presença do Estado por meio da BNDESPar,
demonstrando que além de regular o mercado financeiro, o Estado participa diretamente do mercado
de capitais, contribuindo para a institucionalização da nova concepção de controle (empresa de acionistas) que predomina nas economias desenvolvidas. O Estado demonstra assim sua participação na
criação e difusão de novas categorias de pensamento (JARDIM & MUNDO NETO, em julgamento).
72
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Se durante a década de 1990 a dinâmica organizacional brasileira foi marcada pelas privatizações,
fusões e aquisições de empresas, na década atual as fusões e aquisições continuam e o Estado redefine sua forma de participação na economia. O banco estatal (BNDES) amplia sua forma de atuar
na economia. Além da forma tradicional, fornecendo financiamento aos grandes grupos econômicos
brasileiros, o BNDES torna-se um dos principais atores da indústria de capital de risco, por meio da
subsidiária BNDESPar, cujo principal objetivo é fortalecer o mercado de capitais brasileiro, incentivado as empresas na qual ela participa a adotar a estrutura de empresa de acionista e ingressar no
mercado de capitais.
REFERÊNCIAS
BOLTANSKI, L.; CHIAPELLO, E. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
BOURDIEU, P. O Campo Econômico. Política & Sociedade, n. 6, 2005, pp. 15-57.
DEZALAY, Y; GARTH, B. A Dolarização do Conhecimento Técnico Profissional e do Estado: processos transnacionais e questões de legitimação na transformação do Estado, 1960-2000. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, vol.15, n. 43, 2000, pp. 163-176.
DIMAGGIO, P.J. e POWELL, W.W. The iron cage revisited: institucional isomorphism and collective rationality in organisational fields. In: POWELL W.W.; DI MAGGIO, P.J.(org.). The Neoinstitutionalism in organization analysis. Chicago: Chicago Press, 1991.
DONADONE, J.C.; SZNELWAR, L.I. Dinamica Organizacional, crescimento das consultorias e
mudanças nos conteúdos gerenciais nos anos 90. Revista Produção v. 14 n.2, 2004.
FLIGSTEIN, N. The transformation of corporate control. Cambridge: Harvard University Press,
1990.
_____. The Architecture of Markets: An Economic Sociology of Twenty-first-century. Princeton University Press, 2001.
_____. “O mercado enquanto política: Uma abordagem político-cultural às instituições de mercado”. In: MARQUES, R.; PEIXOTO, J. (org.). A Nova Sociologia Economica: uma antologia. Oeiras:
Celta Editora, 2003.
_____. Habilidade social e a teoria dos campos. In: MARTES, A.C.B. (org) Redes e sociologia econômica. São Carlos: EdUFSCar, 2009.
FOLKMAN ET. AL. Working for themselves?: Capital market intermediaries and present day capitalism (CRESC, The University of Manchester. November 2006. http://www.cresc.ac.uk/publications/documents/wp25.pdf
FROUD, J.; JOHAL, S.; LEAVER, A.; WILLIAMS, K. Financialization and Strategy: narrative and
numbers. Routledge: New York, 2006.
FROUD, J.; WILLIAMS, K. Private equity and the culture of value extraction. CRESC, The University of Manchester. Version 2 – February 2007.
GRÜN, R. Modelos de Empresa, Modelos de Mundo: Sobre Algumas Características Culturais da
Nova Ordem Econômica e da Resistência a Ela. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.14, n. 41,
1999, pp. 121-140.
_____. (2003). Atores e Ações na construção da governança corporativa brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.18, n. 52, pp. 139-161.
_____. Convergência das Elites e Inovações Financeiras: a governança corporativa no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.20, n. 58, 2005, pp. 67- 90.
HIRSH, P. M.; DE SOUCEY, M. Organizational Restructuring and Its Consequences: Rhetorical
and Structural. Annual Review of Sociology, p.171-189, 2006.
JARDIM, M. A. C. Entre a solidariedade e o risco: sindicatos e fundos de pensão em tempos de governo Lula. Tese de Doutorado. São Carlos: UFSCar, 2007.421f.
73
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
JARDIM, M. A. C.; MUNDO NETO, M. O Estado enquanto categoria central: contribuição à teoria
sociológica contemporânea. (em julgamento).
MUNDO NETO, M. O mercado do transporte aéreo e a lógica financeira: das famílias aos acionistas. 31º Encontro Anual da ANPOCS, de 22 a 26 de outubro de 2007, Caxambu, MG;
_____. Desenvolvimento do mercado do etanol: aproximação da indústria sucroalcooleira e da indústria de capital de risco no Brasil. 32º Encontro Anual da ANPOCS, de 27 a 31 de outubro de 2008,
Caxambu, MG;
_____. De sucroalcooleiro a sucroenergético: a construção de um campo organizacional. 33º Encontro Anual da ANPOCS, de 26 a 30 de outubro, Caxambu, MG, 2009.
Outras fontes:
Sites consultados
www.nyse.com;
www.bmfbovespa.com.br;
www.sustainability-index.com;
www.cvm.gov.br;
Site das empresas
www.bradesco.com.br;
www.itau.com.br;
www.brasiltelecom.com.br;
www.voegol.com.br;
www.tam.com.br;
www.petrobras.com.br;
www.vale.com;
www.embraer.com.br;
www.grupopaodeacucar.com.br;
www.cemig.com.br;
www.copel.com;
www.csn.com.br;
www.gerdau.com.br;
www.sabesp.com.br;
www.perdigao.com.br;
www.cpfl.com.br;
www.fibria.com.br;
www.cosan.com.br;
www.ultra.com.br;
www.telebras.com.br;
www.ambev.com.br;
www.santander.com.br;
www.gafisa.com.br;
www.telefonica.com.br;
www.tim.com.br;
www.vivo.com.br;
www.braskem.com.br
74
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
AGRICULTURA FAMILIAR E TECNOLOGIA: UM ESTUDO DE CASO DO
PRODUTOR DE LIMÃO DO MUNICÍPIO DE FERNANDO PRESTES
Marcelo Rodolfo PICCHI*
Renato ZANIBONI**
RESUMO
O objetivo do presente artigo é analisar como o agricultor familiar de Fernando Prestes enxerga e se
posiciona diante dos atuais avanços tecnológicos. A metodologia utilizada para garantir o objetivo
proposto partiu de uma revisão bibliográfica complementada por um estudo analítico exploratório por
meio de entrevistas a agricultores familiares do município. Percebeu-se como o índice de escolaridade, influencia no comportamento e na gestão da propriedade dos agricultores familiares e consequentemente, no uso da tecnologia. Seus relacionamentos com agentes envolvidos no setor mostraram-se
instáveis, principalmente pela resistência a mudanças ao cooperativismo entre agricultores, o uso de
políticas governamentais de apoio à agricultura familiar mostrou-se pouco difundida entre os agricultores familiares. Concluiu-se que a agricultura familiar em Fernando Prestes necessita de apoio
financeiro, tecnológico e principalmente cultural para que possam gerenciar de forma eficiente e
competitiva suas propriedades.
PALAVRAS-CHAVE: Agricultor familiar de Fernando Prestes. Índice de escolaridade. Uso da tecnologia. Resistência a mudanças.
ABSTRACT
The aim of this paper is to analyze how the family farmer Fernando Prestes bed and stands before
the current technological advances. The methodology used to ensure the proposed goal came from
a literature review complemented by an analytical study through exploratory interviews with family
farmers in the municipality. It was perceived as the index of educational influence on the behavior
and property management of small farmers, hence the use of technology. His relationships with stakeholders in the sector proved to be unstable, mainly due to the resistance to change among cooperative
farmers, the use of government policies to support family farmers were reluctant disseminated among
farmers. It was concluded that family in Fernando Prestes need of financial support, technological
and cultural mainly so they can manage in an efficient and competitive properties.
Keywords: Farmer family of Fernando Prestes. Level of education. Use of technology. Resistance
to change.
* Docente FATEC-Taquaritinga - [email protected]
** Graduando do curso de Tecnologia em Agronegócio da FATEC-Taquaritinga
75
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Introdução
Nos últimos anos o advento da tecnologia nos ambientes empresariais tem se tornado constante. Devido à sua incrível capacidade de reduzir custos, a tecnologia ganhou legitimidade, e não se tornou
essencial somente nas indústrias, mas também na sociedade, de modo que o modelo de vida atual é
sustentado pelas descobertas vindouras das tecnologias.
A tecnologia tornou-se tão importante para as empresas que existem departamentos de Pesquisa e
Desenvolvimento, as quais tem o objetivo, através de pesquisas, desenvolverem inovações que gerem
aumento da produtividade. Dessa forma, aquele que possui maior desenvolvimento possui menores
custos de produção e torna-se mais competitivo.
Diante desse contexto, que engloba todos os setores da economia, está a agricultura familiar. Essa, por
ser de famílias geralmente de baixa renda, possui na maioria das situações pouco desenvolvimento
tecnológico. E, além disso, a maioria desses produtores tem dificuldade de se adequar ao avanço da
tecnologia.
Na cidade de Fernando Prestes, interior de São Paulo, onde a produção de limão é referência no Brasil
devido à quantidade produzida, os agricultores são organizados segundo o modelo de gestão familiar,
seguindo a tendência, já afirmada no parágrafo anterior, de possuírem baixa renda e baixo índice de
tecnologia na sua produção.
Na legislação brasileira, a definição de propriedade familiar está consignada no Inciso II do artigo 4°
do Estatuto da Terra, estabelecido pela Lei n° 4.504 de 30 de novembro de 2004. Na definição da área
máxima, a lei n° 8629, de 25 de fevereiro de 1993, estabelece como pequena propriedade os imóveis
rurais com até 4 módulos fiscais GONÇALVES & SOUZA (2005). Segundo dados do INGRA (2004)
o valor do módulo fiscal no município de Fernando Prestes é de 14 ha. Segundo dados do Projeto Lupa
(2007/2008), do total de 690 propriedades agrícolas do município, 439 delas possuem área menor ou
igual a 10,2 ha, e 179 possui área igual a 20,5 ha, ou seja, 618 das 690 propriedades do município de
Fernando Prestes se enquadram na definição de propriedades familiares, o que justifica a importância
do uso da tecnologia no desenvolvimento do agricultor familiar no município de Fernando Prestes.
O objetivo do presente trabalho é analisar como o agricultor familiar de Fernando Prestes enxerga e
se posiciona diante dos atuais avanços tecnológicos nos setores de produção. Além disso, mostrar o
grau de tecnologia utilizada por esses indivíduos nas suas respectivas produções, e seus projetos para
implantar novas tecnologias.
O presente trabalho está amparado nos preceitos do conceito de Agribusiness (Davis & Goldberg,
1957), do conceito de Sistemas Agroindustriais (BATALHA, 2001) e do conceito de analise de filières
ou Cadeias de Produção Agroindustriais (BATALHA, 2007).
A metodologia utilizada para obtenção de informações que servirão de base na elaboração do artigo
foi a pesquisa bibliográfica e um estudo analítico exploratório em forma de entrevista aos atores envolvidos na produção de limão em Fernando Prestes, os entrevistados foram 20 produtores de limão
76
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
do município, as entrevistas foram realizadas aleatoriamente entre propriedades espalhadas pelo município.
A importância da tecnologia no século XXI
Para as empresas sobreviverem em um mercado globalizado onde os avanços tecnológicos levam a
mudanças cada vez mais rápidas é extremamente necessário a reorganização dos modos de gestão
empresarial com a finalidade de compatibilizar a organização com os padrões mais avançados de qualidade e produtividade (Basso, 1998). Em consequência as empresas adotam novas formas de gestão
do trabalho, inovam na preocupação de se ajustar às exigências mundiais e adquirirem habilidades
que ainda não possuem.
O sucesso das empresas depende dos níveis de qualidade que as mesmas procuram estabelecer como
forma de aperfeiçoar e inovar sua tecnologia nos serviços e produtos. A qualidade é um item importante para o mercado consumidor, não adianta fazer algo que tenha custos menores se a mesma não
possui qualidade significativa para atender as expectativas do consumidor. Utilizar a tecnologia de
forma que ajude a empresa a manter seus níveis de qualidade superior, leva credibilidade e valorização aos seus serviços e produtos oferecidos.
Inovar significa não somente pensar em lucratividade, mas em sustentabilidade e responsabilidade,
devemos utilizar tecnologia para mantermos sustentáveis o meio ambiente e socialmente. A tecnologia não veio substituir o homem, mas ajudar no processo produtivo na diminuição dos custos e da
poluição. Tecnologia deve ser utilizada para o bem da sociedade, não contra ela.
Atualmente vivemos na evolução do gerenciamento da informação, outra forma de tecnologia que
ajuda pequenas e grandes empresas a desenvolver projetos voltados para a formação das pessoas e
na gestão de seus negócios. Por que não buscar dados e transformá-los em informações que possam
ajudar sua empresa no atendimento e na prestação de serviços? É através dos dados que conseguimos
decifrar informações preciosas sobre o perfil dos nossos clientes internos e externos.
O crescimento da qualquer empresa configura atualmente no processo de informação e tecnologia
que submerge. Ter tecnologia não é suficiente, mas desenvolver e gerenciar informações que possam
contribuir nesta inovação, é o que faz a diferença (RODRIGUES, 2009).
Histórico da tecnologia nas indústrias
O surgimento da tecnologia está diretamente ligado com as indústrias, pois ela surgiu para satisfazer
as necessidades destas organizações. Seguindo a linha do tempo, foi com a Revolução Industrial, no
século XVIII, que a tecnologia apareceu – invenção da máquina a vapor.
Durante a primeira Revolução Industrial e a segunda, a tecnologia foi evoluindo gradativamente. No
século XX seu impulso foi revolucionário, pois Henry Ford criou seu famoso modelo, o fordismo que
fornece um avanço muito grande para o período moderno, de modo que os custos de produção de
carro da Ford foram drasticamente reduzidos (SLACK, 1996).
77
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
A terceira mudança de peso causada pelos avanços tecnológicos foi no período pós-guerra, em 1950,
com a criação da Teoria Sistêmica, que tinha a cibernética por base. Nesse novo modelo a informática
passa a ser utilizada nos ambientes empresariais, e a empresa agora é vista como uma organização
aberta ao cotidiano. Torna-se possível se comunicar com qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, em questão de segundos (SLACK, 1996).
Seguindo esse modelo, surgiram os avanços das tecnologias de ponte, por exemplo, a biotecnologia.
Esse período ficou conhecido como Revolução Tecno-científica.
Conceito e importância da agricultura familiar
O uso da expressão agricultura familiar no Brasil é muito recente. Há poucos anos atrás, os documentos oficiais usavam como noção equivalente “agricultura de baixa renda”, “pequena produção”,
quando não “agricultura de subsistência”. (ABRAMOVAY, 1997).
Pequena produção, agricultura de baixa renda ou de subsistência envolvem um julgamento prévio
sobre o desempenho econômico destas unidades. Em última análise aquilo que se pensa tipicamente
como pequeno produtor é alguém que vive em condições muito precárias, que tem um acesso nulo
ou muito limitado a um sistema de crédito, que conta com técnicas tradicionais e que não consegue
se integrar aos mercados mais dinâmicos e competitivos. Que milhões de unidades chamadas pelo
Censo Agropecuário de “estabelecimentos” estejam nesta condição, disso não há dúvida. Dizer, entretanto, que estas são as características essenciais da agricultura familiar é desconhecer os traços mais
importantes do desenvolvimento agrícola tanto no Brasil como em países capitalistas avançados nos
últimos anos. (DENARDI, 2000).
Um bom exemplo da importância da agricultura familiar é o que ocorre nos 17 municípios da microrregião de Francisco Beltrão, no sudeste do Paraná, onde 95% (16.881) de um total de 17.776 estabelecimentos rurais são familiares. Eles respondem por 69,1% da área total e 74,5% do Valor Bruto
da Produção (VBP). No conjunto dos três Estados sul-brasileiros, 90,5% dos estabelecimentos são
familiares, respondendo por 57,1% do VBP. (FAO/INCRA, 2000).
Para GASSON & ERRINGTON (1993) há seis características básicas que definem a agricultura familiar.
1. A gestão é feita pelos proprietários.
2. Os responsáveis pelo empreendimento estão ligados entre si por laços de parentesco.
3. O trabalho é fundamentalmente familiar.
4. O capital pertence à família.
5. O patrimônio e os ativos são objetos de transferência intergeracional no interior da família.
6. Os membros da família vivem na unidade produtiva.
78
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Agricultura familiar e tecnologia
Conforme já mencionado, quando a tecnologia está em todos os pólos desenvolvidos da economia.
Em pleno século XXI, qualquer empresa é obrigada a investir em tecnologia. Segundo essa tendência,
cabe aos agricultores familiares acompanhar as mudanças do mundo.
O agricultor familiar que investe em tecnologia pode se tornar mais competitivo, mais rentável, mais
eficiente, etc. É interessante que esses agricultores invistam também em pesquisa e desenvolvimento,
para que, dessa forma, consiga criar inovações que lhe traga benefícios. É interessante também, em
relação ao P&D, desfrutar do apoio de órgãos governamentais que incentivam essa idéia, como, por
exemplo, EMBRAPA e APTA.
As tecnologias relacionadas às formas de gestão e organização devem também fazer parte do cotidiano desse agricultor, visto que ela também proporciona benefícios fantásticos relacionados à rentabilidade e produtividade do produtor.
Estudo de Caso: O agricultor familiar de Fernando Prestes e a Tecnologia
A cidade de Fernando Prestes, localizada no interior de São Paulo, possui pouco mais de cinco mil
habitantes. Nesse município a produção de limão é destaque, uma vez que a cidade é a terceira maior
produtora de limão do estado de São Paulo (IBGE, 2005). Os produtores seguem um modelo de
gestão familiar, encaixam-se nos requisitos de agricultura familiar propostos por Gasson e Errington
(1993). Abaixo segue uma tabela que demonstra o perfil do produtor.
Tabela 1 – Perfil do produtor do município de Fernando Prestes
Fonte: Elaborado pelos autores
SIM
NÃO
A família toda vive na propriedade?
100%
0%
O capital pertence à família?
100%
0%
A família trabalha na propriedade?
100%
0%
Já fez ou pretende fazer algum curso sobre produção de limão?
30%
70%
Já fez ou pretende fazer algum curso sobre gestão?
-
100%
Durante o período de entrevistas, percebemos, através do resultado das amostras, que o desenvolvimento tecnológico não tem sido explorado pelos agricultores familiares de Fernando Prestes. Uma
das explicações desse desenvolvimento limitado é o baixo nível de escolaridade desses agricultores.
Veja a ilustração abaixo que demonstra o nível de instrução desses indivíduos.
79
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Ilustração 1 – Escolaridade do produtor de Fernando Prestes
Fonte: Elaborado pelos autores
Consequentemente a baixa escolaridade gera baixo nível de informação. Portanto o agricultor acaba
não tendo a devida preocupação com a tecnologia. As próximas duas ilustrações mostram isso, o
primeiro mostra o resultado da seguinte pergunta feita ao agricultor: qual é o nível de tecnologia utilizada na sua produção? O segundo ilustra os números da seguinte questão: há projetos para investir
em tecnologia nos próximos anos?
Ilustração 2 – Nível de tecnologia utilizado na produção
Fonte: Elaborado pelos autores
Ilustração 3 – Projetos de investimento em tecnologia
Fonte: Elaborado pelos autores
80
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Na última pergunta feita aos produtores tentamos descobrir se eles acreditavam que investimentos
em tecnologias poderiam trazer lucros no futuro. Abaixo segue a ilustração com a porcentagem das
respostas. Apenas 30% dos entrevistados acreditam que o investimento em tecnologia pode trazer
retorno financeiro desejável para a propriedade.
Ilustração 4 – opinião dos agricultores sobre investimento em tecnologia e lucro
Fonte: Elaborado pelos autores
Considerações finais
Entende-se que a produção de limão é problemática, devido a sua produtividade não ser estável. Esse
fruto é extremamente sazonal, pois nos períodos de safra a produtividade é alta e na entressafra, baixa. A tecnologia poderia se utilizada para amenizar ou resolver esse problema. Através de técnicas
de manejo tecnologicamente avançadas poderíamos encontrar uma solução viável. Ou seja, é preciso
investir em pesquisa e desenvolvimento.
No entanto, como vimos no artigo, o agricultor familiar caracteriza-se como sendo de baixa renda,
por isso muitas vezes torna-se difícil, analisando financeiramente, o investimento em tecnologia.
Para resolver esse problema nossa sugestão é que seja criado um vinculo de união entre os produtores
para que eles façam investimentos em conjunto, de modo que o investimento individual seja menor,
e todos sejam beneficiados.
Porém, como mostram as ilustrações a seguir, os laços de união no município de Fernando Prestes, exemplo empírico desse artigo, o agricultor familiar não tem se interessado muito neste tipo de parcerias.
Ilustração 5 – Laços entre produtores
Fonte: Elaborado pelos autores
81
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Ilustração 6 – Parcerias entre produtores
Fonte: Elaborado pelos autores
Falta, portanto, criar uma cultura que preze a união. Além disso, falta conhecimento para esses produtores (como já visto na Ilustração 1).
Outra possibilidade para induzir o investimento em tecnologia é utilizar o apoio de políticas governamentais para conseguir crédito para esse tipo de atividade. Contudo, como mostrará a próxima
ilustração, esses produtores também não desfrutam desses privilégios.
Ilustração 7 – Desfrute de políticas de apoio
Fonte: Elaborado pelos autores
Concluímos que é necessário que haja um investimento por parte do governo na educação, principalmente a educação administrativa, para esses agricultores, para que, com isso, eles possam gerir suas
propriedades de forma eficiente.
Bibliografia
ABRAMOVAY, R. De volta para o futuro: mudanças recentes na agricultura familiar. In: Seminário
Nacional do Programa de Pesquisa em Agricultura Familiar da EMBRAPA – Anais, Petrolina – Pro82
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
grama Sistemas de Produção na Agricultura, 1997.
BASSO, M. Joint ventures manual prático das associações empresariais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1998.
DENARDI, R. A. et al. Fatores que afetam o desenvolvimento local em pequenos municípios do
estado do Paraná. Curitiba: Emater/PR, 2000. 60p.
FAO/INCRA. Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil redescoberto. Brasília, 2000.
GASSON, R; ERRINGTON, A. 1993 - The farm family business - Wallingford, Cab International.
GONÇALVES, J. S.; SOUZA. S.A.M. Agricultura familiar: limites do conceito e evolução do crédito. IEA – Instituto de economia agrícola. São Paulo, 2005.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2005
INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. 2004.
Projeto LUPA – Levantamento de Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo. Dados Consolidados do Estado 2007/08. Disponível em: <http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa> Acesso em: 10 Jan. 2010.
RODRIGUES, M. A importância da tecnologia no crescimento empresarial. Disponível em: <http://
www.sistemasymbio.com.br/noticia9.php> Acesso em: 10 Jan. 2010.
SLACK, N. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1996.
ZYLBERSZTAJN, D. ; NEVES. M. F. Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo:
Pioneira, 2000.
ANEXO I: cadeia produtiva do limão de Fernando Prestes
Fonte: Elaborado pelos autores
O Anexo I mostra a cadeia produtiva do limão em Fernando Prestes, desde a entrada dos insumos
até a chegada do limão ao consumidor final, o foco do trabalho foi no setor denominado “dentro da
porteira”, representado no Anexo I como “produtor”.
83
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
ANEXO II: variação do preço do limão de 2003 a meados de 2006
Fonte: IEA
O Anexo II Ilustra a variação do preço do limão entre os anos de 2003 a março de 2006, no primeiro
semestre dos anos analisados, a variação do preço mostrou-se pouco oscilante e em baixos valores,
entretanto, no segundo semestre a variação é maior e com preços desejáveis para os produtores.
ANEXO III: Variação do preço do limão no mês de novembro de 2009
Fonte: Elaborado pelos autores
O Anexo III mostra como o valor pago aos produtores de limão do município de Fernando Prestes
oscila em um curto espaço de tempo, a ilustração mostra a variação do preço pago a um produtor
do município no mês de novembro de 2009, como a ilustração teve por base as informações de uma
única propriedade, o eixo “Dias do mês 11/09” contém apenas os dia que a propriedade comercializou limão para packing houses do município.
84
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
CONSTATAÇÕES DE ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DE DIFERENTES
ESPÉCIES DE GARÇA EM AMBIENTE URBANO,
NO MUNICÍPIO DE JABOTICABAL - SP
Gilberto Aparecido RODRIGUES*
Elaine Therezinha ASSIRATI**
RESUMO
O objetivo deste trabalho é de quantificar e identificar as diferentes espécies de garças, particularmente as espécies Ardea alba, Egretta tula e Bulbucus íbis, em ambiente lacustre urbano modificado, na
cidade de Jaboticabal. As observações foram realizadas em cinco dias consecutivos, feitas contagens
totais dos indivíduos, e apenas identificação das ocorrências das espécies através de observação visual, com auxilio de binóculos e de guias de campo, no período invernal do ano de 2009. Essas aves
desenvolveram o hábito de pernoitar, em uma das ilhas do lago, sem se importar com a movimentação de transeuntes no período da tarde, uma vez que o local é destinado a caminhadas por parte da
população. Constatou-se que a chegada das aves acontece próximo ao escurecer, entre 18h e 19horas
e, na manhã seguinte, essas aves retornam a locais indefinidos, em diferentes orientações cardeais,
sugerindo que as mesmas se deslocam para aterros sanitários e lixões, ainda presentes na maioria das
cidades do interior de São Paulo, onde já foram avistadas garças compartilhando o local com outras
aves, Urubus e Carcarás, evidenciando, provavelmente pela facilidade de ingestão de resíduos orgânicos urbanos, demonstrando a preocupação do poder público em dar destino adequado de resíduos
urbanos e reverter o comportamento destas aves.
PALAVRAS- CHAVE: Garças. Biguás. Avifauna.
ABSTRACT
The goal of this work is to quantify and identify the different species of herons, particularly species
Ardea alba, Egretta tula and Bulbucus ibis species in urban lake environment, modified in Jaboticabal. The observations were conducted in five consecutive days, made total counts of individuals, and
only identification of occurrences of species through visual observation and with the aid of binoculars
and field guides, in winter period of year 2009. These birds have developed the habit of staying in one
of the islands of the Lake, regardless moving passers in the afternoon, once the site is intended for
hiking on the part of the population. It was found that the arrival of birds occurs near dusk, between
18 and 19 hours, and next morning , these birds return to places undefined in different cardinal orientations, suggesting that they move into landfills and dumps, yet present in most cities in the interior of
São Paulo, where herons have been spotted sharing with other birds, vultures and caracaras, probably do to easy of ingestion of municipal organic waste , highlighting the concern of the government
* Professor Pleno-FATEC-Taquaritinga-Curso Superior em Tecnologia de Agronegócio- [email protected]
** Professor Pleno-FATEC-Taquaritinga- Curso Superior em Tecnologia de Agronegócio e Processamento de Dados
[email protected]
85
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
to give proper destination to municipal waste and revert the behavior of the birds.
KEYWORDS: Birds. Behavior. Disposition of residues.
INTRODUÇÃO
A garça vaqueira (Bubulcus íbis), é originária da África e da Europa (principalmente do sul), mas
tornou-se amplamente estabelecida nas Américas e apresentavam um comportamento peculiar de
pousarem no dorso de ruminantes, hábito que, segundo Sick (1997), é adotado por elas para ampliar
seu campo de visão em pastagens de gramíneas, em estágio de crescimento avançado. Grande parte
da expansão desta espécie está relacionada com a criação de gado e agora ocorre como espécie exótica naturalizada na América do Sul, Central, do Norte e Austrália. É considerada a mais terrestre das
garças e capaz de prosperar em áreas agrícolas e urbanizadas (HANCOCK e ELLIOTT, 1978).
A Bubulcus ibis é altamente adaptável e capaz de viver em um número de ambientes antropizados,
agrícolas e urbanos. Tem uma dieta constituída principalmente de insetos e invertebrados terrestres,
enquanto que outras garças consomem principalmente peixes e invertebrados aquáticos. Quando o
ruminante deita para ruminar, as garças levantam vôo e procuram outros rebanhos que estejam em
movimentação. Neste aspecto, as observações de Menezes et al (2004), mostraram que mesmo o
gado estando deitado, as garças continuavam à sua volta ou até mesmo em cima deles. A presença e
mudança de comportamento de várias espécies de garças vem há muito sofrendo mudanças, pela diminuição e alteração de seus habitats naturais, e pela diminuição de rebanhos de grandes ruminantes.
Nos estudos de Della Bella e Azevedo-Junior( 2004) foi possível notar a presença de outras espécies
de garça, Ardea alba (Linnaeus, 1758) junto com Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758). Entretanto, esta
duas espécies podem apresentar estratégias de comportamento para reprodução, alimentação e pernoite bem distintos. (KENT, 1987).
As garças vaqueira criam-se em colônias, que são frequentemente encontrados ao lado de outras espécies e famílias de garças. Há um grau de promiscuidade na espécie, onde o acasalamento de machos,
com mais de uma fêmea, é bem frequente na época de reprodução (MCKILLIGAN 1990). Dugger et al
(2004) confirmaram que a Bubulcus ibis foi a mais abundante das aves aquáticas a manter-se nas proximidades de ambientes lacustres na estação chuvosa, durante pesquisas realizadas entre 1996 e 1998.
Miranda e Collazo (1997) relataram que mais de 90% das garças branca pequena, em seus estudos de
hábitos alimentares, ocorreram em agregações mistas. Nos relatos das observações de Kent (1987),
a Egretta thula predava peixes e ao mesmo tempo as garças branca pequena empregava métodos
de partilha de recursos alimentares, juntamente com outros grupos mistos de garças, que predavam
animais de classes de menor tamanho, como camarões e peixes.
A eficiência de forrageamento varia entre as várias espécies de aves aquáticas, e particularmente o
comportamento de forrageamento da garça branca pequena, mostra-se altamente plástico e correlacionado com o tipo de presa. Quando as presas preferidas se tornam escassas devido a alguma mudança ambiental, as garças branca pequena alteram o seu hábito de forrageamento e eliciaram estratégias
de alimentação, a fim de continuar a encontrar suas presas preferenciais, diferindo de outras espécies
86
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
de aves aquáticas como a garça-branca-grande (Egretta alba), Garça-azul (Egretta caerulea), que
ampliam sua dieta incluindo mais espécies de presas (SMITH et al, 1999).
Frequentemente, a estruturação das comunidades de aves aquáticas é relacionada à composição florística e à natureza fitofisionômica da vegetação, associada ao ambiente aquático e a aspectos abióticos. Por
sua vez, a variação temporal dos recursos hídricos em uma determinada área interfere na distribuição de
uma comunidade de aves aquáticas, e, neste contexto, padrões comportamentais relacionados à atividade
diária de algumas espécies deste grupo também têm sido estudados por Gimenes e Anjos (2007).
MATERIAL E MÉTODOS
O município de Jaboticabal, apresenta um ambiente lacustre, com paisagem modificada, de coordenadas 21º15’17”08 S e 48º 18’35”92 O, composto por um lago de água doce de aproximadamente
um hectare, dominado em sua área central por duas ilhas, reflorestadas com espécie nativas há 20
anos, inicialmente dominada por gramíneas. Foram feitas contagens por cinco dias alternados, em
horários que antecederam a chegada desses animais, por volta das 17h e estendendo até próximo das
18h e 20 minutos, durante período em que a luz natural já havia se extinguido.
As contagens dos bandos basearam-se em observações visuais no momento imediatamente próximo
do pouso, no ponto de pernoite (PONTO A). Foram ainda anotadas as direções cardeais de deslocamento desses bandos no momento da chegada (PONTO A). A contagem escolhida foi o total de
indivíduos, pois com a aproximação da noite, a identificação das aves prejudica a identificação e
contagem das espécies, além do fato de haver bastante semelhança entre B. íbis e E. thula. A identificação de ocorrência das espécies foi possível pela observação com binóculos, ZOS Optics, 10 vezes
de ampliação e 50 mm o diâmetro da objetiva, comparando-se as aves observadas em um guia de
campo, embasados nos estudos de Sick (2004). Cadernetas de campo serviram também para anotações de comportamento e outras ocorrências (PETERSON, 1980). Foi ainda utilizado para registro
visual, Máquina Fotográfica Digital SONY V1, de 5 mega pixels e zoom óptico 4 vezes. Em observações recentes feitas por Soares (2008), em aterro sanitário controlado, distante deste do ponto A, 28
km, constatou-se a presença de garça Bulbucus íbis e outras aves carniceiras, motivando a realização
deste estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em observações visuais não publicadas a partir de 2002 observou-se o inicio da presença de algumas
espécies de garças, Ardea alba, Bulbucus íbis e Egretta tula, utilizando o ponto (PONTO A, FIGURA
1) da ilha menor, como ponto de pernoite. Inicialmente, o grupo de aves era de poucos indivíduos,
número este que foi aumentando ao longo do tempo, a ponto de no mês de julho de 2009 motivou as
contagens deste aves, no momento de sua chegada ao Ponto A, que normalmente ocorre no fim da
tarde, muito próximo ao escurecer.
Nestas observações realizadas recentemente, verificou-se que a chegada dos bandos de aves acontecem em números variáveis, sendo desde um individuo até bandos maiores, compostos por até 30
indivíduos. O intuito de anotar a provável direção de chegada das aves foi para verificar uma possível
87
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
correlação da direção de deslocamento destas aves com os aterros controlados e lixões, que predominam num raio de 60 km de Jaboticabal. Isto foi idealizado pelo fato de que nos aterros de Taquaritinga, citado por Soares (2008), foi registrado as presenças dessas aves em tais locais, seguramente
ávidas por busca de alimentação fácil, mostrando alterações do comportamento de forrageamento
destas e outras espécies.
Em nossa observação foi possível identificar o crescimento desta população em ambiente urbano de
forma significativa, como mostra a Figura 1. As direções de deslocamento de tais aves sugerem que a
maioria pode estar se deslocando para o local de pernoite, vindo principalmente de aterros e lixões,
onde tais espécies podem ser avistadas com frequência.
Neste estudo, foi observado um número considerável de garças brancas, Aedea alba, em número de
oito indivíduos. No entanto, no momento da chegada e pouso para pernoite, essas preferem as copas
mais altas, posicionando-se marginal ao bando de maior número, ficando assim mais isoladas.
Foi possível verificar de forma inusitada a presença de biguás (Phalacrocorax brasilianus, Gmelin,
1789) (MONTEIRO; AMATO; AMATO, 2006) em número de 84 indivíduos, no segundo dia de
observação. Este fato pode ser considerado uma surpresa por número tão expressivo e, na avaliação
seguinte este número caiu para 22 indivíduos. A vocalização destas espécies é bem característica no
momento de chegada de cada bando. Foi observado também que mesmo depois do pouso, há uma
movimentação das aves a outros pontos da mesma árvore, para posterior acomodação. Em nossas
observações notou-se a presença de Egretta thula em quantidade considerável, partilhando o mesmo
espaço com outras aves da família Ardeidae, conforme os achados de Moreno et al (2005) e Gimenes
e Anjos (2007).
A presença de indivíduos da família de Pelecaniformes, Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789)
conhecido como Biguá (BRANCO, 2002), em número que ainda não tinha sido observado e compartilhou do mesmo espaço para pernoite com outras espécies. (MONTEIRO; AMATO; AMATO, 2006).
88
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Figura 1 – - Esplanada do lago, município de Jaboticabal mostra o
ponto de observação(B), em (A) ponto observado e as orientações
cardeais das cidades das circunvizinhas de Jaboticabal.
Em nossas observações constatamos que a maioria das garças que utilizaram o ponto A de pernoite
(FIGURA 1), se importaram muito pouco com as movimentações antrópicas ao redor da esplanada
do lago, coincidindo no período vespertino com as caminhadas das pessoas próximas a este espaço.
É possível que este ambiente proporcione aparentemente uma segurança em relação aos predadores
naturais. (FIGURAS 2 e 3)
Tabela 1 – Número de indivíduos de Egretta thula e Bulbucus íbis
Fonte: O autor (2009)
Horário de
Observação das aves
Contagem
11-08-09
Contagem
13-08-09
Contagem
14-08-09
Contagem
26-08-09
Contagem
02-09-09
Até as 17h: 44min
17h: 44min às 17h: 49min
17h: 49min às 17h: 55min
17h: 55min às 18h: 04min
18h: 04min às18h: 09min
18h: 09min às 18h: 17min
18h: 17min em diante
TOTAIS
75
61
74
141
46
51
26
474
91
73
68
121
25
38
12
428
81
47
57
107
33
63
13
401
41
16
71
64
81
55
121
449
07
20
81
53
173
153
59
546
89
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
FIGURA 2 - Vista frontal do ponto avistado (B), antes da
chegada para pernoite das aves
Fonte: O autor (2009)
FIGURA 3 - Vista frontal do ponto avistado (B), depois da chegada
para pernoite das aves
Fonte: O autor (2009)
90
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
CONCLUSÃO
Neste estudo onde a presença de biguás, Phalacrocorax brasilianus, em grande número, aves de
hábitos estritamente aquáticos, passa também a intrigar ainda mais os deslocamentos destas aves no
período de fim das tardes de inverno, de forma semelhante às outras espécies de garças. A presença
de grande número de Bubulcus íbis e Egretta thula pode esta relacionada com a manutenção de
aterros controlados e lixões nas cidades próximas à Jaboticabal, onde resíduos orgânicos se mostram
em abundância. No entanto, uma quantidade considerável destas aves compartilha o mesmo espaço.
Observações em lixões e aterros podem dar mais subsídios para compreender melhor as alterações
comportamentais das aves observadas neste estudo.
REFERÊNCIAS
BRANCO, J.O. Flutuações sazonais na abundância de Phalacrocorax brasilianus no estuário do Saco
da Fazenda, Itajaí, SC. Revta Bras. Zool. 19(4)1057-1062, 2002.
DELLA BELLA S. & AZEVEDO-JÚNIOR S.M.. Considerações sobre a ocorrência da garça-vaqueira, Bubulcus ibis (Linnaeus) (Aves, Ardeidae), em Pernambuco, Brasil. Revta Bras. Zool. 21:57-63,
2004.
DUGGER, K. M., J. FAABORG, W. J. ARENDT, AND K. A.HOBSON. Understanding survival and
abundance of overwintering Warblers: Does rainfall matter? Condor 106:744-760, 2004
GIMENES, M. R. & ANJOS, L. DOS Variação sazonal na sociabilidade de forrageamento das garças
Ardea alba(Linnaeus, 1758) e Egretta thula (Molina, 1782) (Aves: Ciconiiformes) na planície alagável do alto rio Paraná, Brasil Revista Brasileira de Ornitologia 15(3):409-416, setembro de 2007.
HANCOCK, J. ; ELLIOT, H.,. As garças do mundo. Harper and Row Publishing, Nova York. 1978,
304 p.
KENT, M.. Effects of varying behavior and habitat on the striking efficiency of egrets. Colonial
Waterbirds 10: 115–119,1987.
MC KILLIGAN,N.G.. Promiscuity in the cattle egret (Bubulcus ibis). Auk:107:134-341. 1990
MENEZES, I.R. de et al. Comportamento alimentar da garça vaqueira (Bulbucus íbis, Lineus 1758)
(Aves Ardeidae ): um estudo preliminar .Revista de Ciência e Biologia da Terra, vol. 4, no. 1, 1º semestre de 2004.
MONTEIRO, C. M. 2; AMATO, J. F. R.; AMATO, S B. Primeiro registro de Syncuaria squamata
(Linstow) (Nematoda, Acuariidae) em biguás, Phalacrocorax brasilianus (Gmelin) (Aves, Phalacrocoracidae) no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 23 (4): 1268–1272, dezembro 2006.
MORENO, A.B.; LAGOS, A.R.; ALVES, M, A. S. Seleção de profundidade da água durante o forrageamento e eficiência na captura de presas por Casmerodius albus e Egretta thula (Aves, Ardeidae) em
uma lagoa urbana no Estado do Rio de Janeiro, Brasil Porto Alegre, Iheringia, Sér. Zool.,,vol.95 no.1,
mar. 2005. PETERSON, R.T. Um guia do campo aos pássaros. Houghton Mifflin Company, Boston., 1980,384
p.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Editora: Nova Fronteira, Ed. 2004, 912 p.
SMITH, G. R.; RETTIG, J. E. ; MITTELBACH, G. G. The effects of fish on assemblages of amphibians in ponds: a field experiment. Freshwater Biology, 41: 829–837. 1999.
SOARES, D. H. Estudo de caso: análise da disposição final dos resíduos sólidos no município de
91
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Taquaritinga. Centro Estadual Educação Tecnológica Paula Souza. Faculdade de Tecnologia de
Taquaritinga. Curso Superior de Graduação em Tecnologia de Produção (Monografia), 2008,50p.
92
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
MOTIVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO DE CASO
NOS CORREIOS DE BEBEDOURO/SP
Naiara Fenerick OLIVEIRA*
Angelita Moutin Segoria GASPAROTTO
RESUMO
A motivação é a arte de incentivo interno e externo, ou seja, cada pessoa deve estar motivada tanto na
sua vida pessoal, como no trabalho, pra que as suas necessidades básicas sejam supridas. O processo
da motivação organizacional funciona em direção a um determinado propósito, que são as metas
definidas e conseguidas, para isso os colaboradores devem ser motivados através de estímulos e
incentivos para que os objetivos da empresa sejam alcançados e para que os colaboradores estejam
satisfeitos. Nesse contexto, o objetivo deste artigo, é demonstrar como a motivação é importante
para satisfazer as necessidades dos colaboradores e da organização, que juntos são essenciais para
os resultados. A metodologia utilizada neste trabalho foi uma pesquisa bibliográfica, seguida por
um estudo de caso na empresa Correios na cidade de Bebedouro/SP. Conclui-se que a motivação é
extremamente essencial tanto para a organização que necessita das metas alcançadas, como para os
colaboradores que é a ferramenta principal para alcançar os objetivos junto à organização, para que
ambos satisfaçam as suas necessidades.
PALAVRAS–CHAVE: Motivação. Organizações. Colaboradores.
ABSTRACT
Motivation is the art of encouraging internal and external, that is, each person must be as motivated
in his personal life as in the work that, their basic needs are met. The process of organizational
motivation works towards a given purpose, which are the goals set and achieved, so that the
collaborators should be motivated through incentives to business objectives are achieved and that
collaborators are satisfied. In this context, the aim of this paper is to demonstrate how motivation is
important to meet the needs of collaborators and the organization, which together are essential for
the results. The methodology used was a literature search, followed by a case study in post office in
the city of BEBEDOURO/SP. Therefore the motivation is extremely essential for the organization that
need the achievements, as for collaborators who are the primary tool for achieving the goals with the
organization to both meet their needs.
KEYWORDS: Motivation. Organizations. Collaborators.
* Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. Av. Dr. Flavio Henrique Lemos, 585 – Portal Itamaracá. CEP 15900 – 000.
Taquaritinga SP. [email protected].
93
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
INTRODUÇÃO
A motivação nas organizações é necessária, para que os resultados sejam positivos, e para que seus
colaboradores estejam satisfeitos. Um dos instrumentos que vem para auxiliar é a motivação que atua
nas organizações como uma ferramenta capaz de aumentar a produtividade e a auto-estima de seus
colaboradores (MASCARENHAS et al., 2009).
A motivação é uma finalidade do comportamento humano que sempre estará orientado e dirigido para
algum objetivo da organização, dentro deste comportamento existe um impulso, um desejo e uma
necessidade (CHIAVENATO, 1994).
Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica. Segundo Lakatos e Marconi (2009), uma
pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada publica em relação ao tema de estudo, desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, monografias, teses, material cartográficos.
Posteriormente foi realizado um estudo de caso na empresa Correios. De acordo com Yin (2005), um
estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de
seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos.
2. MOTIVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
Segundo Maximiano (2008), a palavra motivação vem do latim motivus, movere, que significa
mover, a palavra indica o processo pelo qual o comportamento humano é incentivado, estimulado ou
energizado por algum tipo de motivo ou razão.
O comportamento humano é motivado por um desejo de atingir algum objetivo. A motivação de
uma pessoa depende da força de seus motivos, como necessidades, desejos e impulsos (SILVA;
RODRIGUES, 2007).
Segundo Chiavenato (2007), de modo geral, motivação é tudo aquilo que impulsiona a pessoa a agir
de determinada forma ou, que dá origem a um comportamento específico.
Segundo Bergamini (2008), há fatores que causam a satisfação e a insatisfação como:
•Situações que trazem satisfação motivacional: Oportunidade de trabalhar em grupo; Usar
seus talentos para o desenvolvimento da organização; Ser tratada de igual para igual; Sentir o
reconhecimento da sua importância; Contar com um ambiente flexível.
•Situações que trazem insatisfação motivacional: Tratamento impessoal; Não ser reconhecido em
suas ações; Conviver em clima de falsidade; Sentir-se de lado e isolado; Estar num ambiente
sério demais.
Para Maximiano (2008), a motivação é resultante dos motivos internos e externos:
•Motivos Internos: são aqueles que surgem das próprias pessoas como: aptidões, interesses,
valores e habilidades da pessoa.
94
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
•Motivos Externos: são aqueles criados pela situação ou ambiente em que a pessoa se encontra.
São estímulos ou incentivos, que satisfaçam as necessidades ou a recompensa a ser alcançada.
3. TEORIAS MOTIVACIONAIS
3.1. Teoria da Hierarquia das Necessidades
Segundo Spector (2002), a hierarquia das necessidades de Maslow, onde a satisfação das necessidades
humanas é importante para a saúde física e mental do indivíduo, pois elas estão numa hierarquia com
necessidades físicas, sociais e psicológicas.
Maslow partiu da premissa de que para o desenvolvimento pessoal possa ocorrer, é preciso que
as necessidades inferiores sejam pelo menos em partes satisfeitas e as necessidades superiores
apresentam-se como motivadoras (SILVA; RODRIGUES, 2007).
A hierarquia das necessidades de Maslow é uma lista com cinco necessidades básicas do indivíduo.
Ilustração 1 – A Hierarquia das Necessidades Humanas, segundo Maslow
Fonte: Chiavenato (2007).
Segundo Chiaventao (2007), a hierarquia das necessidades humanas é classificada em:
•Necessidades fisiológicas: ar, comida, repouso, abrigo.
•Necessidades de segurança: proteção contra o perigo ou privação.
•Necessidades sociais: amizade, inclusão em grupo.
•Necessidades de estima: reputação, reconhecimento, auto-respeito, amor.
•Necessidade de auto-realização: realização do potencial, utilização plena dos talentos individuais.
3.2. Teoria ERC (Existência Relacionamento Crescimento)
Segundo Novaes (2007), Clayton Alderfer, na tentativa de corrigir algumas das deficiências da
hierarquia das necessidades de Maslow, redefiniu as cinco necessidades hierarquizadas e as agrupou
em três ERC´s, conforme Ilustração 2:
1 Existência (E) que inclui as necessidades de bem-estar, fisiológicas e de segurança;
2 Relacionamento (R) que reúne as necessidades sociais e de estima;
95
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
3 Crescimento (C) que equivale às necessidades de auto-realização, desejo de crescimento e
desenvolvimento pessoal.
Ilustração 2 – Necessidade de Existência, Relacionamento e Crescimento de Alderfer
Fonte: Spector (2002).
3.3. Teoria dos Dois Fatores
A teoria da motivação de Herzberg faz a distinção entre satisfação no trabalho que são denominados
higiênicos, ou seja, estão relacionados com as condições em que o trabalho é realizado e motivação no
trabalho onde são aqueles relacionados com a tarefa ou o trabalho (SILVA; RODRIGUES, 2007).
Segundo Chiavenato (2007), Herzberg define uma teoria de dois fatores:
1. Fatores Higiênicos: referem-se às condições que rodeiam o empregado enquanto trabalha,
englobando as condições físicas e ambientais de trabalho, salários, os benefícios sociais, as
políticas da empresa, o clima entre a direção e os empregados.
2. Fatores Motivadores: referem-se às tarefas relacionadas com o cargo em si, trazendo
sentimentos de realização, de crescimento e de reconhecimento.
4. ESTUDO DE CASO
A empresa brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi fundada em 20 de março de 1969, onde seu
trabalho é garantir o melhor tratamento e entrega de correspondências, encomendas e documentos em
qualquer ponto do território nacional.
A missão da empresa é fornecer soluções acessíveis e confiáveis para conectar pessoas, instituições e
negócios, no Brasil e no mundo. A visão da empresa é ser uma empresa de classe mundial. Os valores
da empresa é a ética, respeito às pessoas, compromisso com o cliente e sustentabilidade.
Em uma das agências dos Correios de Bebedouro, onde foi realizado o estudo, possui 25 funcionários,
sendo 2 gerentes, 2 supervisores e 21 carteiros.
Os Correios estudado está localizado em Bebedouro/SP na Rua Allan Kardec, 1451-Centro, o horário
de funcionamento é de segunda à sexta das 9:00 às 17:00 horas.
4.1. Principais Produtos e Serviços
•SEDEX Mandou, Chegou: é o serviço de entrega expressa. Com ela a sua encomenda é entregue
no mesmo dia, da postagem.
•CARTA: é o mais tradicional serviço postal dos Correios, é o meio de comunicação pela troca
96
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
de mensagens escritas.
•TELEGRAMA: é o serviço que permite o encaminhamento de mensagens urgentes para pessoas
ou empresas, em âmbito nacional e internacional.
•MALOTE SERCA: é o serviço de coleta, transporte e entrega de malotes, ideal para remeter
objetos de correspondências do dia-a-dia de uma empresa.
•MALA DIRETA: é o serviço oferecido pelos Correios para grandes campanhas ou desenvolvimento de ações impactantes, enviando malas diretas personalizadas.
•PAC: é o serviço de encomenda da linha econômica para o envio exclusivo de mercadoria, onde
o prazo de entrega é indeterminado.
O estudo realizado na empresa Correios, foi feito através de um questionário de múltipla escolha,
onde foi aplicado 10 questões referentes à motivação na organização, em 25 funcionários da empresa.
4.2. Questionário
1- Como você avaliaria a sua satisfação com a empresa.
Em relação à satisfação dos funcionários com a empresa, foi constatado que 64% dos funcionários
estão satisfeitos, 20% estão totalmente satisfeito e 16% pouco satisfeito. De maneira geral, a empresa
está conseguindo satisfazer os seus colaboradores, mais poderia melhorar em alguns aspectos para
que a satisfação fosse total.
2- Como você avaliaria o ambiente em que você trabalha.
97
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Com relação ao trabalho realizado na empresa, percebe-se que uma porcentagem considerável de
76% acham o ambiente de trabalho satisfatório, 12% acham muito satisfatório e outros 12% acham
pouco satisfatório. O resultado de tal satisfação é devido ao agradável ambiente, onde o trabalho pode
ser realizado da melhor maneira possível.
3- Você se sente satisfeito com a forma que seu superior trata você.
Dos entrevistados 56% estão satisfeitos com a forma que são tratados pelos seus superiores, 28%
estão raramente satisfeitos e outros 16% não estão satisfeitos. Com esses dados cabe uma análise por
parte dos superiores, para saber o que falta para cativar o restante do grupo, isso para a empresa é uma
questão importante, existir a interação entre funcionários e seus superiores.
4- A empresa valoriza e dá valor nos seus funcionários.
De acordo o gráfico, 48% dos funcionários acreditam que sim, 32% disseram que raramente, e
20% disseram que não. Apesar de a maioria acreditar que a empresa valoriza e dá valor aos seus
funcionários, a empresa deve ficar atenta nesse aspecto, pois os funcionários são importantes para que
a empresa possa atingir os seus objetivos e metas.
98
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
5- A empresa proporciona espaço para os funcionários darem opiniões e sugestões.
O gráfico demonstra uma situação em que os entrevistados ficaram muito divididos, onde 48%
disseram raramente, 32% afirmaram que sim a empresa proporciona espaço para que os funcionários
dêem sugestões. Apesar de não haver muita diferença entre as resposta, é importante salientar que a
maioria está descontente com a sua participação dentro da empresa.
6- A empresa costuma dar treinamento e cursos para capacitar seus funcionários.
De acordo com o gráfico, a diferença de porcentagem foi pequena, onde 44% afirmaram que a empresa
costuma dar treinamento e cursos, 32% disseram raramente e 24% disseram que não. Neste caso, a
empresa deve ficar atenta para que todos os seus funcionários se sintam motivados lembrando que
funcionários bem treinados são mais competentes e mais produtivos.
99
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
7- A empresa utiliza seus talentos para o desenvolvimento da organização.
Em relação a essa questão observou-se que 48% dos entrevistados disseram que a empresa raramente
utiliza os talentos dos funcionários, 32% afirmaram que sim e outros 20% disseram que não, portanto
na maior parte a empresa deixa a desejar quando o assunto são os talentos dos seus funcionários, no
qual demonstra que este ponto deve ser melhorado.
8- Considerando os benefícios que a empresa dá aos seus funcionários, como você avaliaria a sua
satisfação.
De acordo com os benefícios que a empresa oferece 48% afirmaram estarem satisfeitos, 32%
disseram estarem muito satisfeitos, 12% afirmaram estarem pouco satisfeitos e outros 8% disseram
estarem insatisfeitos. O gráfico mostra que os entrevistados ficaram divididos, porém a maioria diz
estar satisfeito com os benefícios, a empresa deve oferecer boas condições de trabalho para que as
necessidades dos funcionários sejam atendidas.
100
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
9- Você se sente motivado no seu trabalho.
De acordo com o gráfico 48% disseram que sim, 32% afirmaram que raramente se sentem motivados
no seu trabalho e outros 20% disseram não. Mesmo com resultado positivo a empresa deve conquistar
o restante, motivando os seus funcionários na suas necessidades.
10- Você se sente mais motivado quando.
Este gráfico demonstra claramente, que 64% dos funcionários afirmaram estar motivados no seu
trabalho quando realmente o seu superior lhe trata com respeito, lhe dá oportunidades para participar
das decisões, e são reconhecidos, os outros 36% disseram estar motivados apenas quando recebe um
aumento de salário.
CONCLUSÃO
A motivação surge do interior das pessoas, ninguém pode motivar ninguém, e nas empresas o líder
deve ser capaz de mostrar para seus colaboradores que elas são importantes para a organização, pois,
com colaboradores motivados a organização irá conseguir obter resultados positivos e a produtividade
irá aumentar. Portanto a organização e os seus colaboradores devem estar motivados pra que todos os
objetivos sejam alcançados e para que as necessidades sejam atendidas.
Através do estudo realizado, verifica-se que a maioria dos funcionários da empresa pesquisada estão
satisfeitos com o seu trabalho, isso é um resultado positivo para a empresa, porém a empresa deve
101
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
ficar atenta e tentar conquistar os outros funcionários para que os resultados sejam cada vez mais
alcançados e satisfatórios, tanto para a organização como para os colaboradores.
REFERÊNCIAS
BERGAMINI, C. W. Motivação nas organizações. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2008.
CHIAVENATO, I. Recursos humanos na empresa. São Paulo: Atlas, 1994.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2009.
MASCARENHAS, C. C. et al. Motivação: uma ferramenta de gestão nas organizações. São Paulo, 2009.
Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2009/anais/arquivos/RE_0102_0412_01.
pdf> Acesso em: 3 de agosto. 2010.
MAXIMIANO, A. C. Introdução à administração. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NOVAES, M. V. A importância da motivação para o sucesso das equipes no contexto organizacional.
Alagoas, 2007. Disponível em: <http://www.pesquisapsicologica.pro.br/pub01/marilia.htm> Acesso
em: 10 de agosto. 2010.
Disponível em: http://www.correios.com.br Acesso em: 12 de outubro. 2010.
SILVA, W. R.; RODRIGUES, C. M. Motivação nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007.
YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.
______. Administração de recursos humanos. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2007.
102
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
UM ESTUDO DE CASO SOBRE O TRABALHO VOLUNTÁRIO
EM ENTIDADES NO MUNICÍPIO DE TAQUARITINGA
Elis Regina de GRANDE*
Orientadora: Angelita Moutin Segoria GASPAROTTO
RESUMO
O trabalho dos voluntários vem sendo cada vez mais importante, pois contribui no desenvolvimento
da sociedade e da localidade onde cada indivíduo está inserido. Esse trabalho colabora muito com as
entidades que apóiam pessoas das mais diversas formas, trazendo alivio para suas inquietações pessoais e sociais. Este artigo tem como objetivo demonstrar que o trabalho voluntário é de fundamental
importância às entidades de Taquaritinga que apóiam pessoas das mais diversas formas, visando o
bem estar das mesmas e apoiando-as em suas necessidades. O método de pesquisa utilizada foi uma
pesquisa bibliográfica em torno do assunto e um estudo de caso realizado em três entidades no município de Taquaritinga. Os resultados obtidos com o estudo de caso foi que realmente e comprovadamente o trabalho voluntário é muito importante e de grande ajuda as entidades, trazendo benefícios
como recursos, tanto financeiro como humano, para que continuem atendendo com qualidade as
pessoas, apoiando-as em suas necessidades, dando-lhes assim uma melhor qualidade de vida.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho Voluntário. Entidades. Sociedade.
ABSTRACT
The work of volunteers is becoming more important as contributes to the development of society and
the location where each individual is inserted. This work contributes to the very entities that support
people in many different ways, bringing relief to their personal concerns and social. This article
aims to demonstrate that volunteerism is fundamental to Taquaritinga entities that support people
in many different ways, for the well being of themselves and supporting them in their needs. The research method used was a literature around the subject and a case study conducted in three entities
in Taquaritinga. The results obtained with the case study that was actually proven and volunteering
is very important and helpful entities, bringing benefits such as resources, both financial and human,
to continue assisting with quality people, supporting them in their needs, giving them a better quality
of life.
KEYWORDS: Work volunteers. Entities. Society.
* Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. Av. Dr. Flavio Henrique Lemos, 585 – Portal Itamaracá. CEP 15900-000.
Taquaritinga SP. [email protected].
103
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
INTRODUÇÃO
O voluntário é a pessoa que doa o seu trabalho, suas potencialidades em uma função que a desafia e
gratifica em pról da realização de uma ação de natureza social (DOHME, 2001, p.17).
Segundo Araújo (2008) o voluntariado é um conjunto de indivíduos que realiza um trabalho social
junto ao setor privado ou público, sem remuneração, visando o bem das pessoas.
O objetivo deste artigo é demonstrar que o trabalho voluntário é de fundamental importância às entidades de Taquaritinga que apóiam pessoas das mais diversas formas, visando o bem estar das mesmas
e apoiando-as em suas necessidades.
O método de pesquisa utilizado no artigo foi uma pesquisa bibliográfica que segundo Lakatos; Marconi (2009, p 185) [...] abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo,
desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, monografias, teses, material cartográficos [...] e um estudo de caso realizado em três entidades no município de Taquaritinga.
De acordo com Yin (2005), um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.
2. REVISÃO DA LITERATURA
Este tópico abordará a definição de voluntariado, bem como sua importância, motivações e benefícios.
2.1. Voluntariado
O voluntariado é uma característica facilmente encontrada no ser humano, muitas são as pessoas que
querem trabalhar em um serviço voluntário, mas às vezes acaba somente na expectativa de exercer
um trabalho que esteja de acordo com sua capacitação profissional. Porém o que se vê nas últimas
décadas é um voluntariado cada vez mais organizado e profissionalizado contando com voluntários
de todo o segmento da sociedade (LUZ et al, 2004).
Segundo Domeneghetti (2001) o trabalho do voluntariado é muito importante, pois pode proporcionar no desenvolvimento da sociedade o bem estar da localidade, e os interesses pessoais da cada
indivíduo.
O voluntário é uma pessoa capaz de angustiar-se com as situações sociais, acredita que algo possa ser
feito para se mudar a realidade (ARAUJO, 2008).
2.2. Definição de Voluntariado
Reis (2001) define voluntariado como pessoas que pelo interesse pessoal e seu estado cívico, dedica
104
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
um pouco de seu tempo, sem remuneração, a formas diversas de atividades, organizadas ou não, de
bem estar social, ou outros campos.
Segundo Araújo (2008) o voluntariado é um conjunto de indivíduos que realiza um trabalho social
junto ao setor privado ou público, sem remuneração, visando o bem das pessoas.
O voluntário é a pessoa que doa o seu trabalho, suas potencialidades em uma função que a desafia e
gratifica em pról da realização de uma ação de natureza social (DOHME, 2001, p.17).
Fazendo uma análise da definição de voluntariado encontramos elementos como qualificação, satisfação, doação e realização. Esses elementos seguem:
•Qualificação: o voluntariado moderno executa um trabalho qualificado, pois se levam em conta
habilidades e talento de quem o faz;
•Satisfação: quem realiza esse trabalho o faz com prazer e da um sentimento de plenitude. Buscando a obtenção de resultados sociais de acordo com os valores pessoais e a visão de futuro para
a localidade onde esta inserida;
•Doação: é doar parte de seu tempo e de sua vida em pról do próximo, da comunidade, é conseqüência de um amor que transborda materealizando-se em ação;
•Realização: é um trabalho que busca o sucesso do objetivo proposto.
Pode-se dizer que o trabalho voluntário é um ato de qualidade, feio com amor, buscando a solução
que nem sempre tem que ser grandiosa, mas eficiente. É a somatória dos sucessos obtidos que se fará
diferença em nossa comunidade, país e mundo (DOHME, 2001).
2.3. Motivação para o Voluntariado
O que motiva as pessoas a serem voluntárias é o desejo de melhorar a comunidade e auxiliar as pessoas que nem se quer se conhece (AZEVEDO, 2007).
A motivação na visão dos voluntários segundo uma pesquisa feia por Silva e Feitosa (2002) apud
Azevedo (2007) aponta cinco categorias distintas:
1. Assistencial: ajudar o outro, pois eles têm carência de afeto, coisas materiais e conhecimento;
2. Humanitária: contribuir com o outro tendo uma visão de semelhança, proximidade, podendo
incluir o crescimento espiritual;
3. Política: exercício da cidadania;
4. Profissional: experimentar conhecimentos adquiridos na universidade, aplicação de conhecimentos ou até mesmo obter empregos em ONGs (Organizações Não Governamentais);
5. Pessoal: vinculada a tratamento terapêutico, retorno emocional, relacionamento interpessoal.
Para Dohme (2001) o que motiva o trabalho voluntário é um sentimento que coloca o interesse do outro acima do seu próprio, mas sem querer o voluntário espera usufruir algo, tem expectativas, são elas:
105
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
•Fazer diferença trabalhando como voluntário em organizações que trabalhem por uma causa
justa, construindo um futuro que atenda a sua visão pessoal;
•Usar habilidades que o voluntário tenha e goste muito, porém, não tem onde realizá-la;
•Ter desenvolvimento pessoal, buscando no trabalho voluntário experiência, maior capacitação
em sua profissão e estar mais bem preparado para o futuro;
•Satisfação em fazer parte de um grupo que tenha o mesmo tipo de pensamento e de valores semelhantes;
•Identificação pessoal com a causa por já terem utilizado a organização ou um parente próximo e
por não querer que aconteça com os outros o mesmo que aconteceu contigo.
2.4. Benefícios do Trabalho Voluntário
Segundo Barros (2006) há três pontos importantes nos benefícios do trabalho voluntário, são eles:
1. De quem realiza a ação, pois por meio desse trabalho se conhece pessoas, relaciona-se com as
mesmas e há um sentimento de sentir-se útil;
2. De quem recebe a ação, retribuindo e divulgando essas ações incentivando novas pessoas a fazer
o mesmo;
3. E a localidade, que se beneficia com ações que ajudam a mudar a situação da localidade como nas
escolas, creches, clubes e entidades.
Como podemos ver são inúmeros os benefícios do trabalho voluntário. O mesmo ajuda as instituições
a se organizarem no apoio às pessoas necessitadas, trazendo alivio as suas inquietações no que se
refere aos problemas sociais.
Na próxima seção serão apresentados exemplos de trabalho voluntário na ajuda às entidades do município de Taquaritinga.
3. ESTUDO DE CASO
O estudo de caso foi realizado em três entidades no município de Taquaritinga, tendo como objetivo
demonstrar a importância do trabalho voluntário para as entidades que ajudam as pessoas necessitadas.
3.1. Caso 1: AVCC (Associação de Voluntários no Combate ao Câncer)
Após o exercício na cidade da rede feminina de combate ao câncer, um grupo de pessoas se uniu
para desenvolver um trabalho solidário e voluntário em pról dos pacientes e familiares que buscavam
tratamento na fundação PIO Xll de Barretos. Este grupo de apoio presidido pelo agricultor Marco
Antônio Orrico fundaram a AVCC de Taquaritinga no ano de 1999. É uma entidade sem fins lucrativos, não descrimina credo ou religião e não tem finalidade política. Tem uma missão que é o apoio
psicológico, espiritual, medicamentoso, nutricional através da solidariedade e apoio da sociedade
buscando a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
106
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
A AVCC tem como público alvo todos os pacientes em qualquer faixa etária, sendo de Taquaritinga
ou distritos, que estejam se tratando em qualquer centro oncológico e que buscam a entidade para o
auxilio no tratamento da doença.
Para a entidade que é sem fins lucrativos seria impossível sobreviver sem o trabalho de voluntários,
pois se luta pela vida, se combate o câncer e para isso é preciso de muito carinho, trabalho unido e
medicamentos que nem sempre estão disponíveis no poder público. A tarefa maior desse trabalho é
angariar fundos, alimentos, roupas, promover eventos e fornecer medicamentos aos pacientes. A caridade humana é fonte de vida a todos os voluntários e a importância de ajudar o próximo é alimento
para a alma. É esse trabalho voluntário o pilar de sustentação da entidade.
Atualmente a AVCC conta com 185 voluntários, sendo a diretoria que cuida de todos os interesses
da entidade e sua administração, 23 equipes de cozinha divididas em grupos de 6 a 8 pessoas que
diariamente durante a madrugada preparam as refeições aos pacientes e seus acompanhantes que se
deslocam para Barretos em tratamento, refeições essas que são feitas com os alimentos doados em
campanhas, grupo de psicólogos que apóiam os pacientes e familiares, criação de grupo de auto ajuda, enfermeiros encarregados da assistência, acompanhamento e manutenção dos pacientes, casa de
apoio, local onde é dado todo o suporte aos pacientes em Barretos, equipes de eventos encarregadas
de dar suporte nas quermesses, cantinho da sobremesa, eventos de pizza, bailes, equipes de bazar ,
onde são vendidas as roupas doadas e outras equipes sendo tudo uma maneira pratica de conseguir
fundos e ao mesmo tempo preservar a união e a participação dos voluntários.
O voluntariado da entidade é formado por pessoas de todas as classes sociais, pessoas que passaram
por tratamento e estão recuperadas ou em recuperação, na sua maioria em uma faixa etária alta, de
todos os credos e religiões, sendo a maioria do sexo feminino e a adesão de jovens é mínima.
Os voluntários trabalham sem um limite de horário por se tratar de um trabalho diário e permanente
de doação total, dia ou noite. Representam uma instituição envolvida por uma causa nobre e séria em
que a procura de pessoas doentes é cada vez maior.
Os benefícios do trabalho voluntário para a entidade é a manutenção a custo zero pelo serviço prestado, trabalho que é feito com dedicação, seriedade e transparência resultando na credibilidade do
público alvo, pacientes em tratamento e familiares, que vem em busca de apoio no tratamento. Somente com a credibilidade gerada pelo voluntariado é que se torna possível a geração de recursos para
a sustentação e funcionamento da mesma. Toda a entidade se beneficia com o trabalho voluntário a
partir do princípio ético de que o voluntário não se beneficie da entidade.
A AVCC é muito importante, abrange aspectos como saúde e assistência social. Na área da saúde principalmente no município de Taquaritinga onde são escassos os recursos do poder publico,
torna-se incondicional o apoio da sociedade, na área social o envolvimento entidade, voluntariado
e sociedade geram um resultado eficaz no sentido de apoio aos mais necessitados. Nota-se também
a necessidade da sociedade participar em conjunto com a causa “câncer”, com isso a convicção da
pratica humanitária de todos, num ato solidário em pról de uma justiça social.
107
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
O papel da entidade é fundamental, porém se tornaria inviável e impossível caso não houvesse o
apoio de todos em beneficio de um bem comum, a vida.
3.2. Caso 2: Lar São Vicente de Paula
A construção do asilo São Vicente de Paula de Taquaritinga foi iniciada em 21 de fevereiro de 1961
pelo Bispo Dom Ruy Serra e o Padre Lourenço Cavalini, visando atender idosos que não tinham condições de se manter. A partir dos anos 80 não podendo mais usar o nome de asilo passou-se a chamar
Lar São Vicente de Paula.
Nos anos 90 chegou-se a ter 96 idosos internados no Lar, hoje há novas normas para os lares que são
regidas pelo conselho metropolitano de São Carlos, onde é estabelecido que o Lar pode receber no
máximo 62 idosos. Atualmente o Lar atende 48 idosos com um quadro de funcionários de 40 pessoas sendo distribuídos em turnos, 4 de enfermagem, 2 de faxina, 2 de cozinha e os da administração.
Contam ainda com voluntários que ajudam à entidade.
O público alvo que o Lar atende são pessoas idosas, acima dos 60 anos que não tenham filhos nem
condições de se sustentar. Esses idosos também contribuem com a entidade deixando 70% do seu
ganho para os seus gastos e os outros 30% são depositados em uma instituição financeira em uma
conta no nome do idoso.
Para ajudar a complementar os gastos e nos serviços que a entidade tem com a sua manutenção e com
os idosos, há o trabalho voluntário realizado por 20 pessoas, em média, sendo esse trabalho muito importante, pois ajudam levando os idosos a passeios, fazem artesanatos, organizam eventos para conseguir captar fundos para a entidade e ainda tornam a vida dos idosos mais feliz. Esses voluntários,
em geral, são pessoas caridosas e atenciosas, trabalham cerca de 10 horas semanais recebendo em
troca carinho e gratidão dos idosos e da entidade, sendo que esse trabalho proporciona colaboração,
parceirismo e um estreito laço entre a comunidade e o Lar São Vicente de Paula.
Para a sociedade a entidade se torna importante, pois está fazendo o trabalho que deveria ser realizado pelo município ou Estado, mas o grande intuito da sociedade São Vicente de Paula não é de fazer
assistencialismo e sim levar a palavra de fé cristã aos que necessitam, pois o Lar é uma extensão da
Igreja Católica Apostólica Romana.
3.3. Caso 3: Lar São João Bosco
O Lar São João Bosco foi fundado a mais de 50 anos, atende diariamente 280 crianças e adolescentes
com idade entre 1 a 16 anos, provenientes de diversos bairros da cidade de Taquaritinga e são membros de famílias carentes.
O horário de atendimento é das 7:30min. às 17:00min., sendo que as crianças acima de 7 anos permanecem na entidade pela manhã e à tarde frequentam a rede de ensino regular, os demais ficam em
período integral.
108
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
O Lar desenvolve um plano de trabalho contando com equipes, parte cedida pela prefeitura municipal
e parte contratada pela entidade, são desenvolvidas atividades educacionais, promocionais de cultura
e arte, lazer e esporte, com ênfase na formação da criança para o exercício da cidadania.
As famílias também são envolvidas no atendimento, recebendo orientações, encaminhamentos e
atendimentos de acordo com cada necessidade.
O público alvo que a entidade atende são crianças provenientes de famílias de baixa renda que trabalham e não tem onde deixar os filhos com segurança.
Na ajuda à entidade há o trabalho voluntário que supre as necessidades de prestar atendimento de
qualidade às crianças, uma vez que os recursos financeiros são sempre insuficientes se comparado
às despesas. Esse trabalho é realizado por pessoas da comunidade, que realizam importantes eventos
visando arrecadar fundos para a manutenção da entidade, por mães que por ocasião do desemprego
auxiliam nas tarefas da casa como na cozinha, lavanderia e limpeza, contam também com cabeleireiras, psicólogas e as irmãs Franciscanas. Esses voluntários são pessoas comprometidas com o trabalho
social desenvolvido. Não há como definir o perfil dos mesmos, pois a cada campanha ou situação
eles se sucedem, também não há uma carga horária estabelecida. Pode-se assegurar que o trabalho
voluntário é definido como parceiros na busca da melhoria no atendimento a população.
O Lar São João Bosco constitui-se um importante apoio aos pais que necessitam trabalhar e não tem
onde deixar seus filhos. Entende-se que a importância maior da-se na medida em que um grupo de
pessoas, sob a coordenação das Irmãs Franciscanas, presta atendimento às pessoas necessitadas, suprindo dessa forma uma lacuna deixada pelo poder público no que tange às políticas sociais públicas.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos com o estudo de caso foi que realmente e comprovadamente o trabalho voluntário é de fundamental importância e de grande ajuda as entidades, trazendo benefícios como recursos,
tanto financeiro como humano, para que continuem atendendo com qualidade as pessoas, apoiandoas em suas necessidades, dando-lhes assim uma melhor qualidade de vida.
Ao término deste artigo pode-se fazer uma comparação entre as entidades, que mesmo atendendo públicos alvos diferentes, tem as mesmas semelhanças como ajuda ao próximo, melhora de qualidade de vida
das pessoas assistidas, a geração de credibilidade à causa que cada entidade defende e respeito à vida.
Sem dúvida o trabalho voluntário é um recurso humano que traz contribuições às entidades, pessoas
e a sociedade onde cada indivíduo está inserido. Traz uma lição de doação, amor ao próximo e um
grande comprometimento com a causa que cada um defende.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, J.M. Voluntariado: na contra mão dos direitos sociais. São Paulo: Cortez, 2008.
AZEVEDO, D.C. Voluntariado corporativo - motivações para o trabalho voluntário. Disponível em:
109
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
<http://producaoonline.org.br/index.php/rpo/article/viewFile/55/55> Acesso em 30 mar. 2010.
BARROS, K. Valor do trabalho voluntário. Disponível em:
<
http://www.assema.org.br/artigos2.php?id_artigo=7> acesso em 30 mar. 2010.
DOHME, V.D.A. Voluntariado: equipes produtivas: como liderar ou fazer parte de uma delas. São
Paulo: Mackenzie, 2001.
DOMENEGHETTI, A.M.M.S. Voluntariado: gestão do trabalho voluntário em organizações sem fins
lucrativos. São Paulo: Esfera, 2001.
LAKATOS, E.M; MARCONI, M.A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2009.
LUZ, A.A.CH et al. Voluntariado empresarial como ferramenta de gestão de pessoas. Disponível
em:<http://www.idis.org.br/biblioteca/pesquisas/voluntariado_empresarial_final.pdf/view> acesso
em 30 mar. 2010.
REIS, J.T. Trabalho voluntário e os direitos humanos. Disponível em: <http://portaldovoluntario.org.
br/documents/0000/0212/109699924691.pdf> Acesso em 16 mar. 2010.
YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.
110
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL: COMPATIBILIZAÇÃO DOS OBJETIVOS
ECONÔMICOS, ESTRATÉGICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS
NAS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS
Wilma Aparecida RODRIGUES*
RESUMO
Atualmente, os aspectos sociais e econômicos estão cada vez mais intrínsecos, mostrando que o
avanço tecnológico pode deixar de ser um vilão e passar a ser um aliado nos processos produtivos. O
objetivo deste artigo é delinear a trajetória que o ser humano vem percorrendo, admitindo que suas
necessidades e objetivos estejam cada vez mais ligados a harmonia dos “seres vivos” com o “ambiente”. O estudo foi realizado por meio de revisão bibliográfica. Com a implantação de Sistemas de
Gestão Ambiental, fica evidente que a transparência e a credibilidade podem fortalecer o segmento,
projetando a organização internacionalmente.
Palavras-Chave: Gestão Ambiental. Estratégia. Organizações.
ABSTRACT
Currently, the social and economic aspects are increasingly intrinsic, showing that technological advances can only be a villain and becoming an ally in production processes. The aim of this paper is to
outline the path that the human being has gone through, assuming that your needs and goals are increasingly linked to the harmony of the “living” with the “environment”. The study was conducted through
literature review. With the implementation of environmental management systems, it is evident that
the transparency and credibility can strengthen the thread, designing the organization internationally.
Keywords: Environmental Management. Strategy. Organizations.
REVISÃO DA LITERATURA
Nas últimas décadas testemunhamos o mais rápido avanço tecnológico da humanidade, junto com
as maiores agressões ao meio ambiente, porém o conceito ecológico e a busca de um equilíbrio do
homem com a natureza já eram perceptíveis nos últimos séculos.
As ações globais de maior relevância e seus objetivos serão apontados como “marcos” em busca
de diversas metas, para que o conjunto de ações ligadas a proteção ambiental, projetos filantrópicos
e educacionais, planejamento da comunidade, equilíbrio nas oportunidades de emprego, serviços
sociais em geral e de conformidade com o interesse público, tornassem parâmetro e referencial de
excelência para as empresas.
* Discente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga, [email protected]. Avenida Dr. Flávio Henrique
Lemos, nº. 585, Portal Itamaracá – Taquaritinga/SP.
111
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Após um levantamento das principais práticas e políticas ambientais, faremos um esboço das recomendações, normas e certificações para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, como um
recurso de sucesso.
A importância da natureza e os cuidados ambientais
De acordo com Resk (2009) a reflexão sobre questões ecológicas, já eram perceptíveis pelo filósofo
e socialista alemão Karl Marx , quando esboçava sobre seus escritos, a necessidade de cuidados com
a natureza, mostrando que o homem era parte integrante dela, falava da importância do consumo
consciente, de uma economia equilibrada, justiça social e da manutenção da qualidade do meio ambiente; questões ambientais e ecológicas já preocupavam o filósofo no século XIX e nos assola com
os graves problemas que vivenciamos hoje. Estes conceitos remetem aos temas hoje muito discutidos,
de Desenvolvimento Sustentável, Mudanças Climáticas e Aquecimento Global, que surgiram principalmente a partir dos anos 1970.
Em Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844 encontramos uma declaração significativamente importante para a época:
O homem vive da natureza, isto é, a natureza é seu corpo, e tem que manter com ela um diálogo ininterrupto se não quiser morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está ligada
à natureza significa simplesmente que a natureza está ligada a si mesma, porque o homem é
parte dela. (MARX, 1844 apud RESK, 2009)
Löwy (2005) nos mostra que é justamente em O Capital (1867), que o filósofo alemão afirma que o
sistema capitalista esgotava as forças do trabalhador e da terra, com este conceito, sugere que o homem faz parte do meio ambiente e tem como dever a responsabilidade de preservá-lo.
Barbieri (2008) deixa evidente que nos primórdios, não havia preocupação do homem e seu relacionamento com a natureza; para ele, seu domínio era eterno e o esgotamento dos recursos não aconteceria, a natureza iria servi-lo eternamente, de maneira estática. Com o passar dos tempos, começaram
surgir indícios de que esta visão era míope, e a necessidade de controle e preservação era inevitável.
Assim o respeito ao Planeta Terra, com todos os seus elementos, naturais e artificiais, condicionam a
existência de todos os seres vivos e o dever de gerenciá-los.
Resk (2009) confirma que este diálogo apresentado por Marx, entre o homem e a natureza, refere-se
ao tratamento recíproco que o mesmo deve manter, não só recebendo, mas principalmente doandose, no intuito de mantê-la como aliada, afirma também que: o homem socializado e os produtores
associados precisam governá-la de modo racional, por meio do controle coletivo em vez de um poder
cego. Desta forma, as concepções de sustentabilidade já estavam sendo semeadas.
Política nacional do meio ambiente
Através da Lei 6938/81 em seu Art.2º nasce A Política Nacional do Meio Ambiente tendo por obje112
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
tivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia a vida, assegurando no
País, condições para o desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional com
a proteção da dignidade humana.
Buscando a compatibilização do desenvolvimento econômico com o equilíbrio ecológico, a Política
Nacional do Meio Ambiente inovou quando impôs ao poluidor, a responsabilidade objetiva obrigando-o a indenizar ou reparar qualquer dano causado ao meio ambiente.
De acordo com Barbieri (2008) embora sua aprovação tenha sido em 1981, a lei só se efetivou no
final da década, quando houve a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual representou um
avanço significativo no contexto ambiental, incorporando a partir de então o conceito de desenvolvimento sustentável, ampliando os mecanismos para defesa da natureza, conferindo a qualquer cidadão
o direito de propor ação popular para proteger o meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural,
dando também maior autonomia ao Ministério Público para defesa de questões socioambientais.
Gestão ambiental
A Constituição Federal, em seu Art. 225 rege que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.”
“Os termos administração, gestão do meio ambiente, ou simplesmente gestão ambiental são entendidos como as diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como, planejamento,
direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos
sobre o meio ambiente, quer reduzindo ou eliminando os danos ou problemas causados pelas ações
humanas, quer evitando que eles surjam”. (BARBIERI, 2008, p. 25).
Donaire (2008) expõe que pelo ponto de vista econômico das empresas, os custos produtivos para
adaptar-se a qualquer providência relacionada à variável ambiental são altos. Esta concepção tem
provado que há controvérsias; mesmo não sendo uma empresa atuante no “mercado verde” alterando condições internas com criatividade, consegue-se inverter certas situações à favor da própria
organização, que além de estar cumprindo com o dever de sustentabilidade, gera desde economia à
oportunidade de novos negócios. Mostra que a gestão ambiental é tão importante quanto necessária,
torna-se uma responsabilidade global, e para enfrentar seus problemas dependemos de diversos acordos multilaterais, participação e ação de pessoas e órgãos intergovernamentais para administrá-los,
concebendo-se uma gestão principalmente de respeito à natureza.
Antonius (1999) revela que, de modo geral, o gerenciamento ambiental pode ser conceituado como a
integração de sistemas e programas organizacionais que permitam:
•O controle e a redução dos impactos no meio ambiente;
•O cumprimento de leis e normas ambientais;
•O desenvolvimento e uso de tecnologias apropriadas para minimizar ou eliminar resíduos indus113
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
triais;
•O monitoramento e avaliação dos processos e parâmetros ambientais;
•A eliminação ou redução dos riscos ao meio ambiente e ao homem;
•A utilização de tecnologias limpas (clean technologies), visando minimizar os gastos de energia
e materiais;
•A melhoria do relacionamento entre a comunidade e o governo;
•A antecipação de questões ambientais que possam causar problemas ao meio ambiente e, particularmente, à saúde humana.
A regulação representa iniciativas tomadas pelas empresas ou setores da indústria para
empreender e disseminar práticas ambientais que promovam uma maior responsabilidade das
empresas quanto às questões ambientais, mediante a adoção de padrões, monitorações, metas
de redução da poluição e assim por diante. Num sentido mais amplo, pode-se dizer que é uma
das diversas maneiras de equilibrar as forças de mercado e distribuir de maneira mais justa,
em termos monetários, os danos que a sociedade está suportando como efeito da modificação
da qualidade do meio ambiente (SANCHES, 2000, p.77).
Sanches (2000) nos mostra que a auto-regulação também se estende a empresas agindo por sua
própria iniciativa e interessadas no desempenho de seus próprios negócios. Nesse sentido, empresas
industriais adotam posturas proativas em relação ao meio ambiente mediante a incorporação dos fatores ambientais nas metas políticas e estratégias da empresa, considerando os riscos e os impactos
ambientais não só de seus processos produtivos, mas também de seus produtos.
Buchholz (1992) apud Sanches (2000) descreve algumas características estratégicas para a gestão
ambiental nos negócios de uma empresa:
•Coloca uma tendência ou oportunidade atual ou prospectiva;
•Surge de alguma tendência ou desenvolvimento interno ou externo;
•Pode ter um impacto potencial importante no crescimento, na rentabilidade ou na sobrevivência
dos negócios;
•O curso ou impacto da questão pode de alguma forma, ser influenciado pela ação da empresa.
Sob esse prisma, Sanches (2000) expõe que a agenda de negócios das empresas proativas distingui-se
sobre duas óticas distintas: o meio ambiente como base de negócios ou de desenvolvimento de idéias,
apresentando oportunidades; e o meio ambiente como ameaça para os interesses dos negócios.
Ações globais relacionadas à gestão ambiental
De acordo com Barbieri (2008), as primeiras manifestações de ações ligadas a gestão ambiental,
ocorreram quando surgiram problemas com a escassez de certos recursos; só após a Revolução Industrial que começaram a ser tratados sistematicamente, quase exclusivamente de caráter corretivo,
só enfrentavam o problema depois que havia sido criado (embora hoje ainda vivenciamos este tipo
de situação), somente a partir da década de 1970 é que começaram surgir políticas governamentais
114
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
para introduzirem ações preventivas. Esta projeção concebeu-se após a Conferência de Estocolmo
em 1972 onde a Confederação das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, projetou a necessidade de posicionamento ao modelo de desenvolvimento vigente na época, que consideravam
os recursos naturais inesgotáveis. Em 1987 é criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a
Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente (CMDM), no relatório apresentado
“Nosso futuro comum” deixa explicito que o novo modo de pensar em desenvolvimento está vinculado ao meio ambiente: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”.
Entre os principais objetivos estavam:
•A erradicação da pobreza;
•Crescimento mais justo, eqüitativo e menos intensivo em matérias-primas;
•Atender as necessidades humanas essenciais como: emprego, alimentação, energia, água e saneamento;
•Manter um nível populacional sustentável;
•Conservar e melhorar a base de recursos;
•Reorientar a tecnologia e administrar os riscos, e
•Incluir o meio ambiente e a economia no processo decisório.
Posteriormente, com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992, conhecida também como Eco 92 tiveram participação 178 países que aprovaram documentos importantes, tais como: a Carta da Terra, a Declaração
do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Convenção sobre Mudanças Climáticas, a Convenção da Biodiversidade e a Agenda 21.
Considerando que a Agenda 21 foi uma das principais contribuições desta fase, pois se configurou
um conjunto de recomendações para: orientar governos de países, regiões e cidades, instituições de
ensino e pesquisa, organizações e grupos da sociedade, nos seus processos de desenvolvimento sustentável; distribuídos em quatro sessões distintas:
•Aspectos sociais e econômicos do desenvolvimento;
•Aspectos ambientais e gerenciamento de recursos naturais;
•Fortalecimento do papel dos principais grupos sociais e
•Os meios de implementação.
Estruturou-se assim a facilitação para que estes acordos consolidassem suas práticas.
Com o protocolo de Kyoto (Japão), medida adotada a partir de 1997 elaborou-se um acordo global
para que a redução de emissões de gases poluentes fosse de pelo menos 5%, baseado nos dados registrados de 1990, para o período de 2008 a 2012; sendo que em 2005 já fossem comprovadas medidas
progressivas para que este acordo fosse honrado.
115
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
[...] a harmonização pode ser analisada dentro de um espectro que vai desde a harmonização
total, com a uniformidade de padrões, a fases intermediárias, com o estabelecimento de padrões máximos ou a definição de padrões essenciais, ou se chegar apenas a fase de padrões
mínimos ou padronização segmentada por setores, ou ainda, a de estabelecimento apenas de
convergência de padrões. (THORSTENSEN, 1998, p.36, apud QUEIROZ, 2005)
Passados dez anos da CNUMAD (1992) realizada no Rio de Janeiro, a ONU promoveu em Johanesburgo na África do Sul (2002), outro encontro para avaliar o avanço das ações relativas a nova postura
do desenvolvimento do planeta. A Rio+10 estabeleceu metas para que nos próximos dez anos, com o
Programa das Áreas Protegidas da Amazônia, fossem triplicados os parques e reservas de suas áreas
protegidas até 2012.
A partir daí, a ONU vem promovendo convenções, com representantes de diversas partes do mundo
para que sejam delineadas metas de caráter urgente como a luta contra mudança climática, entre outras. Em dezembro de 2009 em Copenhagen, essas intenções e compromissos para a diminuição de
emissão de carbono, reconheceram a importância da transferência de tecnologias, visando a preservação dos sistemas florestais como principal elemento para este combate.
Em dezembro de 2010 em Cancun, houve a última conferência da ONU, a COP16, e entre os acordos
firmados destacamos o “Fundo Verde”. Visando ajudar os países em desenvolvimento, este acordo
de proteção tem como meta a conservação das florestas tropicais e a redução as emissões de CO2 .
Gestão ambiental e a responsabilidade social
Retomando o conceito de respeito a natureza, conforme Longenecker (1981) apud Donaire (2008), as
empresas devem reconhecer primeiramente sua parcela de responsabilidade social perante o público
em geral, muito além das responsabilidades com seus clientes.
“A responsabilidade social ou responsabilidade socioambiental empresarial (RSE), termo que vem
sendo mais utilizado, é o conjunto de ações socioambientais desenvolvidas por uma determinada empresa. Estas ações visam a identificar e minimizar os possíveis impactos negativos resultantes de sua
atuação, bem como desenvolver ações para construir uma imagem positiva, fortalecendo as condições
favoráveis aos negócios da empresa. Uma das definições de responsabilidade social (seja ela corporativa, organizacional, com ou sem outros adjetivos) é a constituição de uma relação ética e transparente da organização com sua cadeia de relações – as quais por sua vez, também são compostas de
grupos de pessoas com seus valores, identidades e inter-relações – em direção ao desenvolvimento
sustentável. A responsabilidade social empresarial pode se estabelecer por meio de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade e do planeta.” (NASCIMENTO;
LEMOS; MELLO, 2008, p.46)
De acordo com o Instituto Ethos (2010), RSE é a forma de gestão que se define pela relação ética e
transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e também pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e
116
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
promovendo a redução das desigualdades sociais.
Tachisawa (2009) nos propõe um modelo de gestão ambiental e de responsabilidade social iniciandose pelo delineamento estratégico das organizações, com base na análise da missão e dos aspectos inerentes ao mercado; a concorrentes; a fornecedores; a órgãos normatizadores; e a produtos e processos
sistêmicos. Procura-se estabelecer a compreensão do funcionamento de uma orgazinação no contexto
ambiental que está inserida, importantes para o êxito e a sobrevivência dos negócios; com estratégias
de sustentabilidade, incluindo a necessária preocupação dos efeitos das atividades desenvolvidas sobre a comunidade, e com as escolhas dos gestores em suas interações: organização versus ambiente
com setor econômico. Esta política ambiental deve seguir exigências legais pertinentes a seus objetivos, adequação e padronização às certificações legais de acordo com seu estágio de vida, para que
seus gestores possam elaborar estrategicamente os processos decisórios, genericamente exemplificamos algumas ações de gestão ambiental e responsabilidade social:
•Redução de energia ou substituição da fonte;
•Recuperação e/ou reciclagem das descargas líquidas e da água;
•Cuidados na composição e embalagem dos produtos;
•Reciclagem de sucatas, resíduos ou refugos;
•Seletividade de fornecedores/distribuidores ambientalmente corretos;
•Habilitação da organização para rotulagem ambiental, e
• Projetos sociais em educação, saúde e meio ambiente.
TACHISAWA (2009), afirma ainda que a responsabilidade perante a sociedade é enfatizada por princípios empresariais que estabelecem compromissos dos colaboradores com a comunidade em que a
empresa atua. Tal postura reforça o comportamento ético, assegurando o cumprimento da legislação
e da regulamentação governamental em um contexto de permanente interação com a comunidade.
Sistemas de gestão ambiental (ISO 14001 e 14004)
Para Callenbach (1993) apud Kraemer (2004), as empresas são sistemas vivos, cuja compreensão não
é possível apenas pelo prisma econômico. Como sistema vivo, a empresa não pode ser rigidamente
controlada por meio de intervenção direta, porém, pode ser influenciada pela transmissão de orientações e emissão de impulsos. Esse novo estilo de administração é conhecido como administração
sistêmica. Os sistemas de gestão ambiental (SGAs) têm sido uma das alternativas utilizadas pelas
empresas que necessitam reduzir seus custos e adequarem seus produtos e processos produtivos, com
inovações tecnológicas de sustentabilidade e incentivo a melhoria contínua, possibilitando a redução
da emissão de resíduos e o menor consumo de recursos naturais.
De acordo com Donaire (2008), um dos primeiros sistemas de gestão ambiental surgiu através da
experiência desenvolvida na empresa Ernest Winter & Sohn em 1972, quando foi publicado, oficialmente, o objetivo do que seria a proteção do meio ambiente. A partir daí, a empresa passou a elaborar
e implementar uma série de atividades até chegar a um modelo de sistema de gestão ambiental que
ficou conhecido pelo nome de seu criador, Winter.
117
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
O Sistema incorpora a questão ambiental em todos os setores da empresa, uma vez que, é parte integrante de seus objetivos principais. O modelo Winter também destaca que gestão ambiental não é
algo que surge de forma espontânea ou imediata, para que tenha efeito. Deve ser sistemático e planejado levando em conta aspectos econômicos, tecnologia, processo de produção, cultura da empresa
e recursos humanos disponíveis. Deve conter etapas seqüenciais, integradas, e implementadas com
vigor.
Em 1996 foi lançada internacionalmente a série de normas ISO 14000, auxiliando as organizações a
cumprir com seus compromissos ambientais, estabelecendo diretrizes para implantação de um SGA
com as ISO 14001 e ISO 14004.
Em definição, a Norma ISO 14001 requer que uma organização:
•Estabeleça uma política ambiental apropriada;
•Identifique os aspectos ambientais decorrentes de atividades passadas, existentes ou planejadas
da organização, produtos e serviços, para determinar os impactos ambientais significativos;
•Identifique os requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela organização;
•Identifique prioridades e estabeleça objetivos e metas ambientais apropriados;
•Estabeleça uma estrutura e programa(s) para implementar a política e atingir objetivos e metas;
•Facilite as atividades de planejamento, controle, monitoramento, ação preventiva e corretiva;
auditoria e análise, de forma a assegurar que a política seja obedecida e que o sistema da gestão
ambiental permaneça apropriado, e
•Seja capaz de adaptar-se à mudança de circunstâncias.
Antes de iniciar um sistema de gestão ambiental uma organização deve fazer uma análise de todos os
aspectos relacionados ao ambiente que está inserida, com:
• Identificação de aspectos ambientais, incluindo aqueles associados às condições normais de
operação e condições anormais, incluindo partida e parada, situações de emergência e acidentes;
• Identificação de requisitos legais aplicáveis e outros subscritos pela organização;
•Exame de todas as práticas e procedimentos da gestão ambiental existentes, incluindo aqueles
associados com as atividades de aquisição e de contratação de serviços;
•Avaliação de situações de emergência e acidentes anteriores.
Os métodos para realização desta análise podem ser feitos através de listas de verificação, entrevistas, inspeção e medição direta, resultados de outras auditorias, de acordo com a natureza da organização.
Donaire (2008) demonstra que na ISO 14001 definem-se as diretrizes para implementação de um
SGA, pode ser viabilizada onde já se aplica a ISO 9001, e se integra a qualquer tipo ou parte da
organização, sendo que seu resultado depende do comprometimento de todos os níveis e funções,
principalmente da alta administração, tendo como objetivo maior o processo de melhoria contínua. Já
na ISO 14004 são especificados os princípios e os elementos integrantes deste SGA:
118
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
•Comprometimento e política: através de uma avaliação inicial, defini-se a política ambiental a
ser implantada, assegurando o comprometimento e a liderança da Alta Administração;
•Planejamento: é a formulação do projeto para implantação da política ambiental, avaliação, requisitos, critérios e objetivos para o programa;
•Implementação: é o desenvolvimento da capacitação e dos mecanismos de apoio necessários
para atender tanto os recursos humanos, físicos e financeiros, harmonizando as atividades e
integrando-as ao SGA;
•Medição e avaliação: é o controle de monitoramento e avaliação do desempenho que busca
ações corretivas e preventivas com registros do SGA e gestão de informação,
•Análise crítica e melhoria: é a análise crítica para o constante aperfeiçoamento de seu SGA com
objetivo de melhoria contínua.
“A norma ISO 14000 auxilia a organização no que é necessário para desenvolver um novo sistema
de gestão ambiental ou melhorar o já existente, visando a obter a certificação por terceiras partes.
Entretanto, a organização também pode utilizar a norma ISO 14001 internamente, apenas para fins
de auto-declaração e como cláusula nos contratos da organização. Já a norma ISO 14004 é destinada
ao uso interno, servindo como um guia para o estabelecimento e a implementação de seu SGA, e não
enseja a certificação.” (NASCIMENTO; LEMOS; MELLO, 2008, pg.206).
Barbieri (2008) afirma que é a política ambiental que dará sentido às incontáveis ações que serão
realizadas na empresa, indicando o comprometimento da organização com os problemas ambientais
e apontando o rumo, a orientação e os princípios de ação desse comprometimento.
Auditoria ambiental
Barbieri (2008) nos mostra que as auditorias ambientais surgiram em meados do século XX com
os trabalhos de avaliação dos grandes desastres da época, ocasionados por explosões, vazamentos e
contaminações de algumas organizações. Porém, é a partir da década de 1970 que começa realmente
a utilização deste recurso com objetivo de avaliar para fazer cumprir as novas leis ambientais.
De acordo com Donaire (2008) este início concebeu-se nas grandes organizações industriais, onde a
repercussão ambiental era de maior relevância, atualmente as empresas desenvolvem seus próprios
programas de Auditoria para controle de geração de resíduos ou utilizam-se de profissionais externos.
Para Barbieri (2008) a Auditoria do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) integra-se ao próprio sistema como elemento do ciclo PDCA, e está dividida em dois tipos, a Auditoria do SGA Interno e a
Auditoria do SGA externo, demonstradas a seguir:
• 1. INTERNAS: ou de primeira parte. São conduzidas pela própria organização, ou em seu nome,
para propósitos internos, podendo emitir autodeclaração de conformidade com os requisitos do
sistema.
• 2. EXTERNAS:
2.1. De segunda parte. São conduzidas pelas partes que tem interesse pela organização (clientes).
2.2. De terceira parte. São conduzidas por organizações externas independentes. Tais organi119
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
zações fornecem certificados ou registros de conformidade com os documentos normativos,
como os das normas NBR ISO 9001 e ISO 14001.
“Embora a maioria das organizações veja a Auditoria Ambiental dentro de uma perspectiva de legalidade e de estreita abordagem técnica, buscando adequar seu processo produtivo ao exigido pela
legislação, seu espectro de utilização é bem amplo, pois possibilita a preocupação pró-ativa de buscar
alternativas melhores em relação a insumos e produtos que sejam menos agressivos ao meio ambiente. Seu objetivo principal de assegurar que o sistema operacional funcione dentro dos padrões estabelecidos permite a utilização de mecanismos para melhorar essa performance.”(DONAIRE, 2008,
p.122)
CONCLUSÃO
A Gestão Ambiental é necessária para que consigamos manter o meio ambiente como fonte de nossos
recursos. O monitoramento dos resíduos produzidos, as estratégias ecológicas, a sustentabilidade e a
responsabilidade social, são cada vez mais relevantes para as organizações.
As manifestações de ações ligadas a gestão ambiental, norteiam os governos para que possam ser
implantadas políticas públicas que favoreçam uma postura global de eficiência no tratamento do
controle ambiental de maneira correta e saudável. Mudanças, baseadas na combinação de eficiência
tecnológica com a evolução de práticas gerenciais, incorporam as novas tendências mercadológicas.
Reconhecemos que, as questões ambientais devem ser priorizadas, devendo integrar-se a políticas,
programas e práticas em todos os negócios como elementos indispensáveis de administração em toda
e qualquer função de uma corporação, sendo de fundamental importância a disposição e o comprometimento da Alta Administração dinamizando e principalmente sensibilizando seus colaboradores
em abraçar este compromisso. Com um SGA eficaz, os benefícios econômicos garantem economia de
custos e incremento de receita, melhoram a imagem institucional da empresa e aceleram a criatividade para enfrentar novos desafios. A nova gestão também pode ampliar o relacionamento com órgãos
governamentais, comunidades, grupos ambientalistas, assegurando o acesso ao mercado externo, impulsionando cada vez mais seu sucesso.
REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Sistemas de Gestão Ambiental. Requisitos
com orientações para uso – ABNT NBR ISO 14001:2004. Disponível em htt://www.abnt.org.br/
m3.asp?cod_pagina=1130. Acesso em 14 de dezembro de 2010. ANTONIUS, P. A. J. A Exploração
dos Recursos Naturais Face a Sustentabilidade e Gestão Ambiental: uma reflexão teórico conceitual.
Belém: NAEA, 1999, 30p.
BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial. 2.ed. atualizada ampliada. São Paulo: Saraiva, 20
08.
CALLENBACK, E. et al Gerenciamento Ecológico. São Paulo: Cultrix, 1993.
DONAIRE, D. Gestão Ambiental na Empresa. São Paulo: Atlas, 2008.
KRAEMER, M. E. P. A Busca de Estratégias Competitivas Através da Gestão Ambiental. 2006.
Disponível em < http://www.abdir.com.br/doutrina/ver.asp?art_id=798&categoria=Contabilidade>
120
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Acesso em 19 de agosto de 2010.
NASCIMENTO, L. P.; LEMOS, A. D. C.; MELLO, M. C. A. Gestão Socioambiental Estratégica.
Porto Alegre: Artmed, 2008.
QUEIROZ, F. A. Ambiente & Sociedade (Print Version ISSN 1414-753X) vol.8 nº2. Campinas July/
Dec 2005. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-; Acesso
em 18 de outubro de 2010.
RESK, S. S. A Ecologia de Marx. Revista Ciência e Vida Filosofia. São Paulo, n.41, p.17-23. 2009.
SANCHES, C. S. Gestão Ambiental Proativa. Revista de Administração de Empresas (RAE). São
Paulo, v.40, n.1, p.76-87. 2000. Disponível em http://www16.fgv.br/rae/artigos/363.pdf. Acesso em
07 de agosto de 2010.
TACHIZAWA, T. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social. São Paulo: Atlas, 2009.
TERRA NOTÍCIAS. Ban Ki-moon diz que Conferência de Cancún foi ‘sucesso importante’. Ciência
e Tecnologia. 2010. Disponível em <http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2010/12/11/
ban-ki-moon-diz-que-conferencia-de-cancun-foi-sucesso-importante/>. Acesso em 15 de dezembro
de 2010.
121
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
122
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
SISTEMAS ERP COMO FERRAMENTA ESTRATÉGICA
PARA NOVA REALIDADE COMPETITIVA: UM ESTUDO DE CASO
Vinicius Augusto MENDONÇA*
Angelita M. S. GASPAROTTO**
RESUMO
Este artigo tem como objetivo abordar o sistema Enterprise Resource Planning (ERP), como uma
ferramenta estratégica para nova realidade competitiva mundial. Nos últimos anos os sistemas ERP
passaram a ser largamente utilizados pelas empresas e sendo apresentados como fator tecnológico
diferencial para a “solução” dos problemas empresariais. Divididos em tópicos para melhor compreensão, foi realizado uma breve introdução, em seguida foi tratado sobre o sistema ERP, a nova
realidade competitiva, o ERP como ferramenta estratégica e por fim um estudo de caso qualitativo
em uma empresa privada. Através do estudo de caso pode-se entender como a competitividade das
empresas industriais pode ser potencializada com a introdução de sistema de ERP, pois os resultados
obtidos no estudo de caso mostraram que a empresa pesquisada obteve um retorno positivo com o uso
do sistema. Ressaltando que não é objetivo deste esgotar o tema, mas dar uma visão ampla e rápida
do que é o sistema e o que este preconiza.
PALAVRAS-CHAVE: Sistema Enterprise Resource Planning (ERP). Ferramenta Estratégica. Nova
Realidade Competitiva.
ABSTRACT
This article aims at tackling the system Enterprise Resource Planning (ERP), as a strategic tool for
new reality competitive world. In recent years the ERP systems have become widely used by companies and are presented as a factor technological differential for “solution” corporate problems.
Divided into topics for a better understanding, we will make a brief introduction, then we will come
on the system ERP, the new reality competitive, the ERP as strategic tool and finally a qualitative case
study in a private company. Through the study of case may be construed as competitiveness of industrial undertakings may be potencializada with the introduction of a system of ERP, since the results
obtained in the case study showed that the company investigated obtained a return positive with the
use of the system. Emphasizing that it is not objective of this impoverish the topic, but give a broad
vision and rapid than is the system and that it advocates.
KEYWORDS: Enterprise Resource Planning (ERP). Strategic Tool. New Reality Competition.
* Discente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. Av. Dr. Flavio Henrique Lemos, n° 585 – Portal Itamaracá. Cep
15900-000. Taquaritinga-SP. E-mail: [email protected]
** Docente da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – [email protected]
123
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
No atual cenário empresarial mundial, as empresas buscam cada vez mais aumentar a sua competitividade, seja pela redução de custos, pela melhoria do produto, agregando mais valor ao cliente e
se diferenciando da concorrência ou pela especialização em algum segmento ou nicho de mercado.
A competição tem escalas globais, sendo que acontecimentos ocorridos em países distantes podem
trazer conseqüências instantâneas para a indústria local.
A velocidade com que ocorrem as mudanças, e conseqüentemente a velocidade com que a empresa
tem de responder a elas, aumentou consideravelmente nos últimos anos. O mundo industrializado
vem enfrentando a transição de uma economia industrial para uma economia de informação e, nas
próximas décadas, a informação, mais do que a terra ou o capital, será a força motriz na criação de
riquezas e prosperidade.
Segundo Colangelo Filho (2001) , dentro de um contexto no qual os clientes tornam-se cada vez mais
importantes para as empresas, qualquer nova tecnologia que possa incrementar os negócios empresariais, reduzindo custos operacionais e melhorando a fidelização dos clientes, é bem vinda. Dentro da
vasta gama das tecnologias da informação, o sistema Enterprise Resource Planning (ERP), é caracterizado como um sistema que objetiva a integração das informações e do tratamento do conhecimento
gerado na organização, o ERP tem se evidenciado como uma das principais ferramentas tecnológicas
utilizadas pelas empresas que almejam patamares elevados de competitividade.
O presente trabalho tem por objetivo inicial descrever o sistema Enterprise Resource Planning (ERP),
seus pontos positivos e os ganhos decorrentes de sua aplicação. Em seguida irá estudar o novo cenário
competitivo mundial, sua interferência nos negócios empresariais e o papel do ERP como ferramenta
estratégica em vista da nova realidade competitiva. Por último, com base nos assuntos levantados até
então, foi realizada um estudo de caso na empresa Citrosuco Paulista, empresa usuária de um sistema
ERP.
Para o alcance do objetivo foi realizada pesquisas bibliográficas em livros, artigos e na internet, além
de um estudo de caso do tipo qualitativo, como base nas informações através de entrevista realizada
com um representante da empresa pesquisada.
2. O Sistema Enterprise Resources Planning (erp)
O sistema Enterprise Resource Planning ou Planejamento dos Recursos Empresariais é um software
aplicativo que permite a empresa automatizar e integrar seus processos de negócios em um único
banco de dados. O ERP também possibilita compartilhar dados e uniformizar processos de negócios
e produzir e utilizar informações em tempo real. (COLANGELO FILHO, 2001).
O ERP surgiu de uma evolução do MRP II Manufacturing Resources Planning (Planejamento dos
Recursos da Manufatura), que por sua vez foi uma evolução do MRP Material Requirements Planning (Planejamento das Necessidades de Materiais). O MRP permitia que as empresas calculassem
quantos materiais de determinado tipo são necessários e em que momento. Já o MRP II, não calculava
124
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
apenas as necessidades de materiais, mas também as necessidades de outros recursos do processo de
manufatura. (BRANDÃO JUNIOR; FERREIRA, 2006)
O ERP possui, porém, mais funcionalidade e interatividade que o MRP e o MRP II, pois uma empresa
não é constituída somente por máquinas e materiais, e sim, parte integrante e controlada por módulos financeiros, contábil e pessoas. Daí que surgiu a necessidade de integrar todos os departamentos
empresariais, alavancando o surgimento dos Sistemas Integrados de Gestão, onde foram acrescentados diversos módulos que permitem a administração não somente da manufatura, mas de toda a
organização. O ERP Enterprise Resource Planning ou Planejamento dos Recursos Empresariais é o
novo nome dado a este tipo de solução: a integração e informatização de todos os processos da empresa, sejam eles contábeis, financeiros, de RH, estoques, custos, compras, produção, faturamento,
etc. (HABERKORN, 2003).
Para Colangelo Filho (2001), o sistema ERP transformou a maneira de administrar a organização,
pois os primeiros sistemas foram desenvolvidos, visando apoiar apenas as tarefas desempenhadas em
uma área da empresa, a comunicação destes sistemas era inexistente ou mínima, e havia redundância
de dados e inconsistência entre conceitos.
Segundo o mesmo autor, é um grande desafio construir um único programa de software que supra as
necessidades do departamento financeiro, assim como dos trabalhadores de recursos humanos e também do depósito e é isso que o ERP faz, e este sistema está presente em praticamente todas as áreas
da empresa, desde as relacionadas ao setor de produção até aquelas que estão diretamente ligadas às
decisões estratégicas e ao posicionamento empresarial no mercado.
3. A nova realidade competitiva
Com a queda de importantes barreiras alfandegárias protecionistas e o surgimento de novos concorrentes bastante capacitados alavancaram a crescente pressão por competitividade que o mercado
mundial tem demandado das empresas. Atualmente já não basta que as empresas nacionais consigam
superioridade competitiva em relação a seus concorrentes nacionais. É necessário superar os concorrentes em escala mundial. (CORRÊA; GIANESI, 2009)
De acordo com Nadin (2000), o cenário de competição atual é também muito mais agressivo e exposto às novas tecnologias de produção e as empresas estão sendo forçadas a reinventar soluções que
assegurem sua própria sobrevivência. No centro de todas essas mudanças fabris e administrativas,
nota-se a presença de um fator comum, o software. Ele é a grande novidade por trás dos investimentos e dos ganhos de produtividade. Essa ferramenta coloca nas mãos do administrador informações
instantâneas sobre todas as etapas do processo produtivo.
Pelo mesmo autor, o objetivo final das empresas usuárias de Sistemas de Informação, ao contrário do
passado, já não é reduzir custos ou cortar pessoal. Trata-se de acelerar o ciclo de vendas e conquistar
fatias maiores de mercado, como exigem os novos tempos.
125
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
4. O ERP como ferramenta estratégica
Como discutido anteriormente às empresas, buscam, na superioridade competitiva, a excelência por
seus negócios. Nesta corrente, o elo dos sistemas ERP é de fundamental importância.
Os sistemas ERP, conforme Mandal e Gunasekaran (2003) apud Lima Maçada e Rios (2005), têm
recebido ultimamente muita atenção pelo seu potencial em prover maior eficiência na tomada de decisão. Muitas companhias estão implementando pacotes de ERP como um meio de reduzir custos de
produção, aumento da produtividade e melhoria na prestação de serviços agregados.
Conforme Contador e Nanini (2004), o sistema ERP é uma fonte de informação segura e eficiente
para gestão de negócios, atendendo aos requisitos de agilidade e segurança do processamento da comunicação corporativa, que estão sendo exigidos pela competitividade econômica atual.
A utilização do sistema ERP não se restringe apenas às grandes organizações, sendo acessível também às empresas de médio e pequeno porte. Para tanto basta saber escolher o software apropriado ás
suas necessidades e ao ramo de atividade e optar por um fornecedor com solidez no mercado, preparado para garantir uma implantação sem traumas e, ao mesmo tempo, assegurar manutenção contínua
ao sistema.
Haberkorn (1999) destaca outros ganhos estratégicos que um sistema ERP pode trazer para os negócios:
•Maior controle e gerenciamento dos processos internos da empresa;
•Agilidade nos negócios com a integração dos processos empresariais e transações em tempo real;
•Melhor comunicação interna com a padronização da informação;
•Facilidade em integrar outras soluções de negócios como BI (Business Intelligence) e CRM
(Relacionamento com o Cliente);
•Relatórios financeiros com mais precisão para tomada de decisão;
•Gestão mais rigorosa sobre o inventário para agilizar giros de estoque;
•Redução do custo da mão-de-obra com automação de processos, já que serão necessárias menos
pessoas para suportar a operação da empresa.
Na visão de Resende e Abreu (2001), a gestão empresarial com uso de ERP pode ser eficiente, desde
que, a infra-estrutura e os recursos humanos da empresa possuam todas as informações necessárias
para gerenciar suas unidades de negócio. Além de possuir todas as informações com respectivas
infra-estruturas tecnológicas, os recursos humanos da empresa devem estar plenamente capazes para
usufruir desta tecnologia.
Oliveira (2007), destaca ainda, que investir em um Sistema de Gestão Empresarial significa, antes de
tudo, saber exatamente do que se necessita e onde se quer chegar com essa solução. Assim, antes de
embarcar na aventura dos Sistemas de Gestão Empresarial, a organização deve estar consciente da
necessidade de mudança e dos esforços e dificuldades para tais mudanças.
126
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
5. Estudo de Caso
O presente estudo de caso foi realizado na empresa Citrosuco Paulista, unidade localizada na cidade
de Matão-SP. Para o estudo foi realizada uma entrevista qualitativa com senhor Wilson Alexandre
Garcia, responsável pelo departamento de Supply Chain - Planning & Control.
A Citrosuco é uma empresa pertencente ao Grupo Fischer, que tem como negócio a produção de suco
de laranja pronto para beber e suco de laranja concentrado e congelado, e seus subprodutos. Além
da planta industrial de Matão, a empresa conta com instalações industriais em Bebedouro, Limeira
e Videira, no Brasil, e Lake Wales, na Flórida (USA). A Citrosuco conta também com um moderno
terminal de exportação no porto de Santos, e com terminais de recepção e distribuição em Ghent
(Bélgica), Willmington (USA) e Toyohashi (Japão).
A fábrica de Matão onde foi realizado o presente estudo de caso é a sede industrial da empresa, sendo
esta a maior fábrica de suco de laranja do mundo, e por onde passam mais de 1000 caminhões de
laranja por dia. A tecnologia existente na empresa engloba desde o plantio das árvores da laranja, até
a entrega dos produtos.
5.1. O Sistema Erp da Citrosuco
O ERP utilizado pela Citrosuco desde 2005 é o sistema SAP R/3. Este sistema é integrado, permite
um planejamento e controle do negócio, visto que possui um número de atividades já moldadas e
prontas para serem utilizadas. O R/3 não é um sistema simples, pelo contrário, é um sistema de alta
complexidade decorrente do fato de que ele considera como processo de negócio a totalidade da cadeia funcional envolvida no desenvolvimento do mesmo.
Segundo o entrevistado, destacou-se a necessidade de uso deste tipo de ERP após uma análise das
ferramentas disponíveis no mercado, levando em consideração aderência ao processo, custo, suporte
a nível mundial, solides da empresa fornecedora e nível de risco na continuidade da ferramenta.
O objetivo do R/3 é colaborar na gestão e administração dos processos do negócio, simplificando, ao
máximo, as tarefas envolvidas nesta administração e gestão. Na Citrosuco, as funções de trabalho
estão divididas em áreas organizacionais; o SAP também está dividido desta forma, possuindo vários
módulos ou blocos de funções do R/3. Os módulos são os menores conjuntos de funções que podem
ser adquiridos e implementados separadamente no sistema.
O sistema ERP da Citrosuco é composto por um conjunto de módulos de software integrados iterativamente. O sistema pode tratar atividades desde a cadeia produtiva até relacionamentos com clientes
da organização.
O sistema SAP R/3 da Citrosuco é composto pelos seguintes módulos:
•Contabilidade Financeira: aplica-se à contabilidade principal automática e aos relatórios, à
contabilidade de clientes e de fornecedores e à administração de outras contas do ledger com
127
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
planos de contas definidos pelo usuário.
•Contabilidade de Custos: abrange os movimentos dos custos e das receitas da empresa.
•Contabilidade do Imobilizado: destina-se à administração e ao controle dos aspectos do ativo
imobilizado.
•Sistema de Projeto: destina-se ao apoio do planejamento, controle e supervisão de projetos
complexos a longo prazo com objetivos definidos.
•Workflow: liga os módulos de aplicação R/3 do sistema SAP tecnologias, ferramentas e serviços
para todas as aplicações.
•Solução Setorial: ligam os módulos de aplicação do sistema R/3 da SAP com funções adicionais
específicas do setor.
•Recursos Humanos: planeja, registra e avalia todos os dados relativos aos empregados.
•Manutenção: apóia o planejamento, o processo e a execução de tarefas de manutenção.
•Administração de Qualidade: representa um sistema destinado ao controle de qualidade e à
informação, apoiando o planejamento de qualidade, o controle de qualidade e o controle de produção e de suprimento.
•Planejamento de Produção: aplica-se ao planejamento e ao controle das atividades de produção da empresa.
•Administração de Materiais: apóia as funções de suprimento e de manutenção de estoques
necessários para os processos empresarias diários.
•Vendas e Distribuição: apóia a otimização de todas as tarefas e atividades que ocorrem na venda, no fornecimento e no faturamento.
•APO: é um conjunto de ferramentas de otimização da cadeia, demanda, produção, distribuição
e suprimentos.
Tais módulos são divididos em subsistemas que executam uma ou mais tarefas e processos para um
determinado departamento da empresa. Cada um deles é composto de um ou mais programas de computador escritos numa linguagem própria. Os programas interagem com os usuários do sistema, recebendo, processando e devolvendo os dados sobre fatos e eventos que ocorrem devido a uma interação
entre o usuário e o sistema informatizado. Movimentos de estoque, produção, vendas, recebimentos,
compras e pagamentos são alguns fatos que podem ser exemplificados.
5.2. Implantação e abrangência do sistema
Para a implantação do ERP, foi mobilizada uma equipe com representantes de cada área da empresa,
entre gerentes e supervisores para desenhar os novos processos, e também ouve auxilio de uma consultoria da empresa desenvolvedora do Software a SAP. O tempo de implantação do sistema levou
três anos, onde todos os módulos foram implantados ao mesmo tempo em todas as fábricas do Brasil,
e em seguida o Rollout (cópia da configuração) para as unidades do exterior.
A princípio, o uso do ERP na empresa gerou um incomodo nas pessoas que estavam acostumadas
com processos antigos, este incomodo causou uma resistência a adaptação, o que foi perfeitamente
normal e rapidamente superado. É preciso lembrar que barreiras devem ser vencidas e resistências
amenizadas para que não haja desperdício de dinheiro e de tempo.
128
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
A abrangência do sistema tem dimensão geográfica, o ERP foi implantado no Grupo Fischer a nível
mundial (Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia), na visão de processo a aplicação do sistema ERP
utilizado pela Citrosuco se estende nos quatro macros processos: suprimentos, produção, estocagem
- distribuição e comercialização.
5.3. O ganho estratégico da utilização do sistema
Apesar da empresa já trabalhar com outro ERP antes do modelo R/3 da SAP, a implantação deste
novo ERP propiciou a integração dos vários processos da empresa a nível mundial. A simples implantação deste ERP por si só já trouxe alguns benefícios como, por exemplo, a padronização de processo
e terminologias, visibilidade na cadeia produtiva e otimização de ativos ao longo da cadeia.
Um simples exemplo esta na visualização do inventário mundial em tempo real o que permite melhor
gerenciamento do mesmo e conseqüentemente o custo de carregar inventários. Outro ponto importante é a velocidade na coleta da demanda mundial e consolidação dos planos de produção, suprimentos,
distribuição e comercialização.
Dos ganhos estratégicos adquiridos pelo uso do sistema ERP na empresa, a seguir foram listados os
principais, sendo:

Aumento do nível de integração da empresa: pois um dado produzido em qualquer ponto da
cadeia é centralizado, o que eliminou redundâncias e favoreceu uma integridade da informação
e com isto reduziu e até eliminou o re-trabalho, otimizou os recursos da cadeia produtiva, o que
significou uma redução de custo e aumento da competitividade.

Apoio à gestão/decisão: pode combinar informação interna e/ou externa e assim produzir resultados para a gestão do negócio, por meio de módulos de análise e apoio à gestão da empresa.
Produtividade e eficiência: uma melhor utilização do tempo produtivo, economizado pela disponibilidade de informações, eficiência e tempo de resposta mais rápido, aumentando o alcance
de processos empresariais para conectar a mais pessoas, em tempo real, dentro e fora da empresa,
disponibilizando acesso rápido para visualizações consolidadas e consistentes dos processos.

Segurança das informações: pela existência de uma única base de dados;

Modularidade e flexibilidade: proporcionou uma divisão em módulos aplicativos que permitiu
a implementação evolutiva de componentes.

Maior ganho em TI: os gastos com Tecnologia da Informação foram otimizados, eliminando
custos de integração elevados e a necessidade de comprar produtos adicionais de terceiros, implementando novas soluções adicionais à medida que for precisando.

Sistema aberto: possibilita adotar diferentes plataformas de hardware, software, tipos de banco
de dados, sistemas operacionais. Pode ser flexibilizado por meio de parametrização e customização (modificação e desenvolvimento de programas aplicativos).
Os benefícios proporcionados por um sistema ERP, fica evidenciado dentro dos objetivos de uma
organização que busca no mercado atual principalmente: competitividade, eficiência, segurança, qualidade e rapidez.
129
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
6. Resultados e discussão
Pode-se perceber que o sistema ERP trouxe a possibilidade de ganhos relevantes e reais de eficiência na empresa, pelo controle que proporciona e pela sincronização das atividades que obrigam seu
melhor planejamento. Claramente os sistemas ERP propõem-se a melhorar a eficiência da empresa,
sendo isso obtido pela integração.
É importante destacar também, que o sistema oferece um ótimo controle sobre aquilo que se faz,
desde que, haja disciplina quanto a sua utilização, ou seja, toda a organização deve executar suas atividades em conjunto, um setor suportando o outro, para o lançamento correto das informações. Para
tanto, é necessário que haja um planejamento prévio de todas as tarefas que precisam ser executadas
e de todas as informações que devem ser geridas dentro da empresa, pois as ordens têm de ser lançadas corretamente no sistema para que ele ofereça o suporte necessário para que todas as atividades
ocorram conforme o esperado. Desse modo, o sistema é flexível a mudanças ambientais, tais como:
o lançamento de uma nova linha de produtos, a mudança de matéria-prima, um novo equipamento,
desde que seja administrado por profissionais competentes e que tenham um conhecimento aprofundado da tecnologia e das ferramentas que o software oferece.
O ERP utilizado pela empresa Citrosuco tem a capacidade de direcionar todas as informações necessárias ao processo produtivo da organização e se adaptar às mudanças desde que as informações
sejam lançadas corretamente. É um sistema responsável pela excelência da empresa em termos de
apontamento de custo, manutenção, controle de qualidade, controle de inventário, controle de estoque
e controle logístico, de forma que toda a estrutura da empresa circula em torno deste sistema. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após estudo feito para realização deste artigo, chega-se à conclusão de que a Tecnologia de Informação cumpre um papel muito significativo e decisivo nas organizações, onde já não tem apenas um
papel de pano de fundo, mas se revela como ferramenta estratégica importante para competir com
mudanças de mercado, políticas e estratégias no mundo competitivo atual.
As empresas para se tornarem mais competitivas estão utilizando os Sistemas de Gestão Empresarial (ERP), porém, elas precisam antes se preparar para utilizar esta ferramenta e se preocupar com
a maneira que será conduzida as operações. Em outras palavras, como ela conduzirá esta tecnologia
com maior eficiência do que os seus outros concorrentes, desenvolvendo-a da maneira que melhor se
adapte aos objetivos da empresa. Para isso, é necessário que a alta direção da organização participe
do processo e considere uma complexa rede de fatores que podem determinar o sucesso ou o fracasso
de sua utilização devendo, portanto, estar atenta às mudanças do seu ambiente interno e externo. Ela
deve considerar um amplo contexto ambiental que envolva as estratégias, a organização com todas as
suas concepções, os dados, as tecnologias, as qualificações e o conhecimento. Este contexto deve ser
processado analiticamente para que se desenvolvam os subsídios necessários à tomada de decisão,
cujos resultados se traduzem em novos modelos de comportamento, iniciativas, mudanças no processo e impactos financeiros.
130
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Como podemos verificar em todo o desenvolvimento do trabalho, o sistema ERP reduz custos operacionais e elimina erros e faz com que os negócios sejam melhores controlados através da integração,
assim como foi identificado no estudo de caso, os benefícios estratégicos do ERP citados neste artigo
são os mesmos na empresa pesquisada. O sistema SAP R/3 utilizado pela empresa Citrosuco mostrou-se eficiente em atender satisfatoriamente no suporte como instrumento para gestão estratégica.
Podemos observar ainda que a implantação de um sistema ERP possa ser complexa e sujeita a turbulência caso não esteja adequada ao ambiente da empresa, em razão das mudanças provocadas. Todos
estes riscos podem ser minimizados com a seleção adequada do fornecedor da solução, um bom projeto e bom gerenciamento.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus, pelo seu amor, misericórdia e graça.
Aos nossos pais que nos incentivaram a concluir mais este degrau de desenvolvimento acadêmico.
Aos demais que de alguma forma colaboraram e incentivaram para a execução deste trabalho.
Muito Obrigado.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO JUNIOR, R. S.; FERREIRA, L. N. Avaliação de um Sistema ERP-SAP R/3 como Instrumento para Gestão Financeira na Área de Contas a Pagar em Uma Empresa de Telecomunicações.
Bacharelado em Ciências Contábeis. Brasília, 2006. Disponível em: <http://www.contabeis.ucb.br/
sites/000/96/00000066.pdf>, Acesso em 12 nov. 2010.
CITROSUCO. História da Empresa. Disponível em: <http://www.citrosuco.com.br/fischer/fischer/
sites/fischer/portal_grupo/grupo_fischer/historia_paginada.html>, Acesso em: 13 nov. 2010.
COLANGELO FILHO, L. Implantação de Sistemas ERP: Um Enfoque de Longo Prazo. São Paulo:
Atlas, 2001.
CONTADOR , J. C.; NANINI, H. J. V. Os Sistemas de Sistemas de Enterprise Resource Planning
(ERP) Tornam as Empresa mais Competitivas. Caderno de Pós-Graduação, São Paulo, v.3, n.2, especial RAI, p. 163-172, 2004. Disponível em: http://portal.uninove.br/marketing/cope/pdfs_revistas/
cadernos_posgraduacao/cadernosv3n2adm/cdposv3n2adm_esp2b.pdf, Acesso em: 08 nov. 2010.
CORRÊA, L. H.; GIANESI, N. G. I. Just In Time, MRP II e OPT: Um Enfoque Estratégico. 2 ed. São
Paulo: Atlas, 2009.
GARCIA. W. A. Depoimento sobre o ERP da Citrosuco. Matão-SP, 2010. Utilização de questionário.
Entrevista concedida a Vinicius Augusto Mendonça.
HABERKORN, E. Gestão Empresarial com ERP. São Paulo: Microsiga, 2003.
HABERKORN, E. Teoria do ERP: Enterprise Resource Planning. 2 ed. São Paulo: Makron Books,
1999.
NADIM, J. P. A Implantação de Sistemas ERPS como Estratégia Competitiva. Artigo. Faculdade de
Campo Limpo Paulista (FAACAMP). Campo Limpo Paulista, 2000. Disponível em: <http://www.
131
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
faccamp.br/apoio/lucianab/Analise/erp.pdf>, Acesso em: 05 nov. 2010.
REZENDE, A. D. Tecnologia da Informação: Aplicada a Sistemas de Informação Empresariais. 2
ed. São Paulo: Atlas, 2001.
132
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Elaine Cristina Martins Silva*
Profª Drª Luciana Ap. Ferrarezi**
RESUMO
Este trabalho de pesquisa procura abordar a Educação Financeira no Brasil no que diz respeito à ausência de conhecimento financeiro que gera grave repercussão tanto na vida do cidadão quanto na do
país. Seguindo uma tendência mundial o governo brasileiro estuda desde 2007 uma Estratégia Nacional de Educação Financeira - ENEF, e reconhece a Educação Financeira como ferramenta de inclusão
social de melhoria da vida do cidadão e de promoção do sistema financeiro do país, de modo que
estes possam tomar decisões fundamentadas e seguras considerando o planejamento realizado de suas
finanças e saibam distinguir dentre as várias opções de investimentos existentes aquela que melhor
condiz com os riscos e retornos pretendidos. Para tanto, as instituições financeiras devem criar um
modelo de responsabilidade social capaz de conciliar os seus interesses e os da sociedade. Para o êxito
do programa ENEF, é necessário a participação dos educadores, das empresas, de ações do governo,
das instituições financeiras e das organizações não governamentais. De acordo com o estudo de caso
apresentado neste trabalho a partir dos dados da Instituição Educacional Ivoti, notamos que é possível
alcançar resultados expressivos na mudança de atitude dos alunos, que se tornam mais conscientes
no ato de comprar, economizar e que passam a ter um posicionamento mais ético e participativo em
relação aos problemas sociais.
Palavras-chave: Educação Financeira. Investimentos. Planejamento.
ABSTRACT
This research seeks to address the Financial Education in Brazil with regard to the lack of financial
knowledge that leads to serious repercussions both in the life of the citizen and in the country. Following a global trend, the Brazilian government studies since 2007 a National Strategy for Financial
Education - ENEF, and recognizes the financial education as a tool for social inclusion to improve the
life of the citizen and to promote the country’s financial system, so that they can make informed and
safe decisions considering the planning on their finances and distinguish among the various investment options available that one which best matches the risks and returns required. For this, financial
institutions must create a social responsibility model able to reconcile their interests and society. For
the success of the ENEF program it’s necessary the participation of educators, businesses, government action, financial institutions and non-governmental organizations. According to the case study
presented in this project based on data from the Educational Institution Ivoti, we note that it’s possible
* Tecnóloga em Produção Industrial pela FATEC/TQ - Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. elaine_martinss@
yahoo.com.br
** Docente da FATEC/TQ -Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. [email protected].
133
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
to achieve significant results in changing attitudes of students, who become more aware in the act of
buying, saving, leading then to a more present and ethical positioning in relation to social problems.
Keywords: Financial Education. Investments. Planning.
introdução
Devido às fortes mudanças ocorridas no âmbito econômico e social dos últimos anos, e buscando
adequar-se aos modelos internacionais já existentes, o governo brasileiro vem adotando medidas e
criando um grupo de trabalho para fomentar a cultura financeira no país. As medidas são para proteger os consumidores dos produtos financeiros, por meio de regulação e fiscalização, serão tanto mais
efetivas quanto maior for a sincronia com os esforços educacionais. Além disso, a existência de maior
grau de conhecimento de finanças tende a promover uma maior formação de poupança. A educação
pode atuar diretamente nas variáveis pessoais e sociais, contribuindo para formar uma cultura de
planejamento de vida.
O artigo busca tratar da Gestão Financeira e de sua importância em aplicar o planejamento como
alicerce, tanto no cotidiano empresarial como para gerenciar os orçamentos familiares, bem como
a definição de investimentos e acúmulo de bens, tornando claro que investimentos geram lucros e
bens geram despesas. O papel das Instituições Financeiras também se destaca dentro do processo de
desenvolvimento da educação financeira e responsabilidade social, sendo que o modelo de educação
financeira que abordamos será o implantado na Instituição Educacional Ivoti.
Gestão financeira
A gestão financeira, ou conhecida como administração financeira, através de suas técnicas e procedimentos, direciona as ações do responsável pelas finanças a trilhar caminhos mais rentáveis. Amparados por ações seguras e com menor incidência de riscos, esta gerência financeira contribui para
evidenciar a melhor forma de captar, investir e distribuir corretamente os valores monetários que se
encontram em seu poder.
De acordo com Hoji (2009, p.12), “a empresa é um sistema de geração de lucros”.
Do ponto de vista dos acionistas, uma empresa pode ser visualizada como um sistema que
gera lucro e aumenta os recursos nela investidos. A empresa, representada por seus administradores (diretores e gerentes) e empregados em geral, interage com os agentes econômicos
do ambiente em que está inserida, gera os resultados econômicos e financeiros e remunera os
acionistas pelo investimento realizado.
O objetivo econômico e financeiro de uma família é, também, de longo prazo e não difere, em sua
essência do conceito aplicado em empresas. Guardadas as suas devidas proporções, o sistema de geração de lucro pode ser transportado para o ambiente da família.
134
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Ilustração 1: Visão da Empresa como sistema de geração de lucro
Fonte: Hoji, 2009.
Comparando as relações existentes entre os componentes da ilustração 1 com a realidade da família,
podemos confirmar suas semelhanças.
Concorrendo no mercado de trabalho ou com negócio próprio, você e sua família geram
renda, pagam tributos, tomam empréstimo bancário, faz aplicação financeira, compra, vende
etc, e no fim, pode retribuir quem investiu em você, participando de uma cadeia em um processo contínuo. Muitas pessoas nunca conseguem aposentar-se efetivamente, pois precisam
continuar trabalhando mesmo após o início da aposentadoria oficial, para complementar os
recursos necessários para a própria sobrevivência. Por isto é necessário ter um planejamento
financeiro de longo prazo, constantemente monitorado, para poder aposentar-se e usufruir a
riqueza acumulada durante sua vida de trabalhador. (HOJI, 2009, p.14).
Após comparações, percebe-se que existe um elevado grau de semelhança entre a entidade familiar
e a empresa. A função atribuída ao gestor financeiro empresarial (diretores e executivos) é a mesma
atribuída ao gestor financeiro familiar (chefe da família). Assim, suas responsabilidades são de tomar
decisões, baseadas em análise, planejamento e controle financeiro.
O processo decisório diz respeito às etapas do ciclo de planejamento e a seleção das alternativas mais
apropriadas para o cenário do mercado. Em resumo, é a partir do modelo de gestão que definimos a
estrutura organizacional e o processo decisório.
Investimentos financeiros
Em linguagem financeira, o termo investimento pode ser definido de forma abrangente como aplicação de dinheiro e título, ações, imóveis, maquinários etc., com o propósito de obter ganho (lucro).
Segundo Kiyosaki (2000, p.65), “a principal causa da dificuldade financeira está simplesmente no
desconhecimento da diferença entre um ativo e um passivo”.
135
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Ilustração 2: Fluxo de Caixa Ativo e Passivo
Fonte: Kiyosaki (2000)
A ilustração acima é uma demonstração de renda, muitas vezes chamada de Demonstração de Lucros
e Perdas. O diagrama de ativos e passivos é um balanço, porque representa o equilíbrio entre ativos e
passivos. As setas no diagrama representam o movimento do dinheiro ou fluxo de caixa, ou seja, para
uma vida financeira independente o fluxo deve ser ativos que geram renda.
De uma forma ilustrativa, Kiyosaki (2000, p.13) descreve o processo como “Corrida dos Ratos” fazendo uma associação com o jogo financeiro de tabuleiro chamado de Cashflow. O objetivo do jogo
é sair da pista interna chamada de Corrida dos Ratos e alcançar a pista externa ou Pista de Alta Velocidade, que simula o jogo dos ricos na vida real.
Se você observar a vida das pessoas de instrução média, trabalhadoras, você verá uma trajetória semelhante. A criança nasce e vai à escola. Os pais se orgulham porque o filho se destaca,
tira notas boas e consegue entrar na faculdade. O filho se forma, talvez faça uma pós-graduação, e então faz exatamente que estava determinado: procura um emprego. Geralmente o
filho começa a ganhar dinheiro, chega um monte de cartões de crédito e começam as compras. O filho casa, a mulher e o marido trabalham. Eles se sentem bem sucedidos, seu futuro
é brilhante, e eles decidem comprar uma casa e ter filhos. Eles trabalham mais arduamente,
voltam a estudar para obter especialização e ganhar mais dinheiro. Suas rendas crescem, a
alíquota do imposto de renda, o imposto predial, as contribuições para a Seguridade Social.
(KIYOSAKI, 2000, p.14-15).
A maioria das pessoas adota este tipo de comportamento, trabalham cada vez mais para alcançar objetivos que na grande maioria das vezes trará mais gastos. Estão condicionadas a pensarem dessa forma
porque tiveram esses ensinamentos dos pais e de toda a sociedade. Conclusão, seus filhos também
adotarão a mesma conduta.
Ilustração 3: Fluxo de Caixa Contracheque
Fonte: Kiyosaki (2000)
136
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
A única maneira de sair da Corrida dos Ratos é adquirir conhecimento financeiro, principalmente na
área de investimentos. O diagrama abaixo retrata o fluxo de caixa dos investidores, e podemos concluir que a geração de renda está nos investimentos, onde os ativos trabalham para gerar mais renda.
Com o recebimento dos dividendos e juros, o investidor paga suas despesas. A grande diferença em
relação ao fluxo de caixa de quem não investe. É que, no caso dos ativos, o valor só tende a crescer,
enquanto no fluxo do contracheque, após pagar suas despesas, não restará nenhuma renda.
Ilustração 4: Fluxo de Caixa Baseado em Ativos
Fonte: Kiyosaki (2000)
Todos esses diagramas estão obviamente bastante simplificados. Mas, ilustram o comportamento
adotado pela maioria das pessoas em relação ao dinheiro. E esclarece a diferença entre investimentos
(geram lucro) e bens (geram despesas).
O papel das Instituições Financeiras
Quando se fala em dinheiro e crédito, uma das primeiras palavras a serem lembradas é o Sistema
Financeiro. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam o Sistema Financeiro não é formado apenas por um conjunto de bancos e entidades poderosas. O fluxo do dinheiro envolve principalmente
a sociedade. É baseado no comportamento dos cidadãos que compram, poupam e adquirem bens e
serviços que o Sistema Financeiro Nacional regula as regras para o Mercado Financeiro.
O mercado financeiro existe porque alguns agentes poupam mais do que investem, enquanto outros
agentes investem mais do que poupam, sendo necessária a transferência de recursos entre tais agentes, ou seja, o mercado financeiro é o mercado onde o uso do dinheiro disponível na sociedade é
trocado entre pessoas e empresas que precisam de dinheiro.
Para Musa (2006, p.85) o mercado financeiro é constituído por todas as pessoas que movimentam
dinheiro e que, diariamente, essas pessoas (cada um de nós) assume um ou mais dentre três papéis sociais: poupadores, emprestadores (ou circuladores) e creditados. Para o autor os poupadores são todas
as pessoas que guardam dinheiro nos bancos, os emprestadores são todas as instituições financeiras,
e os creditados são as pessoas que tomam dinheiro emprestado.
Evidentemente existem muitos conflitos de interesse entre cada um desses agentes. Enquanto os
poupadores querem ver seu dinheiro crescer, os creditados negociam para pagar menos juros aos
137
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
poupadores e emprestadores e, frequentemente não gostam de prestar informações pessoais nem para
os emprestadores nem para o sistema de proteção ao crédito. Já os emprestadores precisam dessas
informações para aumentar a garantia de suas operações e também querem ser bem remunerados pelo
trabalho que prestam, de preferência, ficando com uma fatia dos ganhos que ajudaram os poupadores
a obter.
Atualmente, vivemos em um momento de expansão de crédito. As facilidades oferecidas pelo mercado impulsionam o crescimento das vendas, principalmente devido a certa estabilidade da inflação.
Segundo Neto (2009, p.76) “as diversas negociações financeiras têm como referência comum a taxa
de juros, como a moeda de troca dos mercados financeiros”.
Por outro lado, as pessoas sentem dificuldades em calcular as taxas de juros, desconhecem seu mecanismo e na hora de efetivar a compra só analisam se o valor da prestação cabe em seu orçamento.
Essa atitude resulta no aumento da inadimplência e consequentemente no aumento dos juros. Os juros
altos inibem a atividade produtiva, restringem o consumo, aumentam o desemprego e levam ao baixo
crescimento.
Muitas vezes os estabelecimentos comerciais ganham mais emprestando dinheiro a juros (embutidos
nas prestações) do que no comércio propriamente dito. É a moda do “pagamento parcelado sem juros”. É natural que um negociante busque maior ganho possível.
A dinâmica do mercado é muito complexa para que apenas a legislação resolva tudo. Além de fazer
valer as leis que coíbem abusos, o consumidor consciente deve sempre estar atento aos juros, recusar
ofertas que não estejam totalmente claras, controlar a ansiedade e buscar alternativas.
Segundo Giannetti (2005, p.232), o conceito de juros vai além das fronteiras da ciência econômica,
está totalmente ligado ao nosso psicológico. Argumenta que os juros são ditados por duas atitudes
que, em relação às trocas do tempo, se complementam: pagar agora, viver depois (posição credora)
ou viver agora, pagar depois (posição devedora).
A primeira atitude foca o futuro, e expressa à preferência de cuidar do amanhã, ou seja,
antecipar custos em troca do aumento dos benefícios futuros. A segunda atitude se esforça
para melhorar as condições do presente, aproveitar as oportunidades imediatas e desfrutar o
momento. É claro que, quanto maior o tempo, maior acréscimo do custo. Por outro lado, a
vida é agora. A impaciência em desfrutar as coisas boas da vida, aliada a uma visão confiante
do futuro, pode perfeitamente, levar a sociedade a consumir sem delongas o que produz.
(GIANETTI, 2005, p.239).
Percebemos que o tamanho das taxas de juros praticadas pelo mercado financeiro resulta de decisões
humanas. E isso não se faz com palavras, mas com atitudes. De nada adianta reclamar dos juros altos
e, ao mesmo tempo, aceitar pagá-las, simplesmente por não ser capaz de conter o desejo de comprar.
Para o mercado valem os números e as decisões reais.
138
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Responsabilidade Social
A Responsabilidade Social é um fenômeno que se instalou no Brasil, principalmente na última década, entre as organizações de uma forma geral. As organizações bancárias brasileiras desenvolveram
um vínculo com o compromisso social, o que evidencia um reposicionamento do setor e levanta dúvidas sobre seus interesses particulares.
O setor bancário sempre foi dito como vilão na sociedade, o engajamento dos bancos no movimento
pela Responsabilidade Social é uma tentativa de modificar a imagem negativa. Um dos motivadores
para a inclusão dos bancos no movimento pela Responsabilidade Social foi o aumento da participação
dos bancos com controle estrangeiro.
Os bancos têm construído um modelo de Responsabilidade Social específico capaz de conciliar os
seus interesses, ou melhor, estratégia de sobrevivência, associado aos interesses da sociedade. Hoje
o setor figura nas publicações especializadas como grande investidor social, a busca por espaço na
mídia e por premiações tornou-se uma forma de autenticar as empresas diante da sociedade, o que
pode amenizar a imagem negativa, gerada em função da exposição sofrida em relação à divulgação
de lucros exorbitantes.
O conceito de Responsabilidade Social pode variar bastante, conforme o enfoque desejado. Em geral,
as instituições bancárias têm seguido o conceito definido pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2004), para o qual Responsabilidade Social:
é a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e solidária da empresa com
todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresarias
compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a erradicação das desigualdades sociais. (CAPRI, 2008, p.07).
A Responsabilidade Social passou ao longo da última década, a ser uma ação planejada nas organizações bancárias, ao mesmo tempo em que transformou em valor social capaz de contribuir para a legitimidade do setor. As instituições bancárias têm como alvo para seus investimentos, principalmente
a educação financeira.
Gestão pública e controle social
As mudanças econômicas, sociais e tecnológicas dos últimos anos têm apontado para a urgência na
implementação de ações com o objetivo de educar financeiramente a população, e não apenas no
Brasil. No mundo inteiro, o mercado financeiro está cada vez mais sofisticado e novos produtos são
oferecidos continuamente ao público.
Órgãos internacionais passaram a estudar o assunto com maior profundidade, e o conceito sobre
Educação Financeira foi elaborado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico).
139
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Educação Financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram
a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que com
informação, formação e orientação claras possam desenvolver os valores e as competências
necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos
e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda, adotar outras
ações que melhorem o seu bem-estar e, assim, tenham a possibilidade de contribuir de modo
mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos
com o futuro (Salito, 2008 p.63).
Consciente da necessidade de investir na cultura financeira do país, o governo brasileiro constituiu
em novembro de 2007, um grupo de trabalho com representantes do Banco Central do Brasil, da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), para desenvolver uma proposta de Estratégia Nacional
de Educação Financeira (ENEF), prevendo uma promoção de um inventário nacional de ações e de
projetos de Educação Financeira do país, além de uma pesquisa que mapeie o grau de conhecimento
financeiro da população brasileira.
A estrutura da ENEF foi apresentada em Brasília dia 29 de outubro de 2009 pela COREMEC (Comitê
de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiros, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização) com a finalidade de promover a coordenação e o aprimoramento da atuação das entidades da administração pública federal que regulam e fiscalizam as atividades relacionadas à captação
pública da poupança popular.
O Programa está sendo oferecido como projeto-piloto para algumas escolas selecionadas. O Programa é apresentado por intermédio de materiais didáticos – Livro do Aluno e Livro do Professor – concebidos a partir das diretrizes definidas pelo Grupo de Trabalho instituído para propor a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). O Livro do Aluno é composto por diversas situações didáticas que contextualizam os conceitos de educação financeira, buscando identificar a presença do sistema financeiro nacional no dia-a-dia.
De acordo com o projeto de Lei 206/2009, são nove os fatores que tornam relevante a Educação Financeira no país:

Orientar sobre o uso correto do crédito e demais produtos financeiros para evitar o endividamento e a inadimplência;

Planejar o uso dos recursos financeiros, pessoas e familiares;

Despertar o interesse e a consciência sobre gestão financeira em busca de um diagnóstico da
situação pessoas e familiar;

Entender a importância do controle do orçamento doméstico por meio do conhecimento de conceitos como receita bruta, receita líquida, custos e despesas;

Desenvolver mentalidade e a atitude de economizar, investir e poupar visando ao equilíbrio financeiro;

Evitar o desperdício e valorizar o consumo com base em critérios racionais;

Dar embasamento às decisões de investimento e financiamento;
140
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010

Evitar que o consumidor se torne vítima de propagandas enganosas;

Preparar novas gerações para o uso inteligente e responsável do dinheiro.
Esse processo implica na elaboração de programas e currículo voltado ao desenvolvimento de habilidades ligadas à formação de poupança, à obtenção de crédito, às decisões de aposentadoria, ou seja,
conteúdo sobre os quais os indivíduos apresentam conhecimento em nível inadequado.
Estudo de Caso - Instituto de Educação Ivoti – IEI
O Projeto de Educação Financeira do Instituto de Educação Ivoti, na cidade de Ivoti no Rio Grande
do Sul, existe desde 2002 e é uma realização da Luterprev em parceria com a rede Sinodal de Educação. O Projeto é desenvolvido em 16 instituições do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e tem como
objetivo despertar crianças jovens e adultas o raciocínio financeiro, a visão ética e de responsabilidade social necessários para a construção de uma sociedade sustentável.
Nas escolas, as atividades do Projeto podem ocorrer durante as aulas, em diversas disciplinas, ou em
oficinas específicas, conforme a abordagem pedagógica escolhida por cada uma. As crianças aprendem a entender a função do dinheiro, sua relação com o dia-a-dia e com o futuro. Os conteúdos são
ministrados de acordo com as idades e as séries de cada grupo de crianças e adolescentes, adequando
os ensinamentos à sua realidade e grau de compreensão e entendimento específicos. Orientados pelos
professores habilitados pelo Projeto, os alunos refletem sobre valor do salário, relações de consumo,
compras a prazo e à vista, a importância de economizar, consumismo e outros pontos igualmente
importantes, possibilitando que tracem perspectivas éticas e sociais do dinheiro.
No Instituto Ivoti, que será motivo de estudo, o projeto abrange os alunos de 2º a 4º série com enfoques temáticos integrados ao programa curricular obrigatório, de 5º a 8º série aborda planos de
estudo de matemática, ética, história e informática. E para os alunos do ensino médio possui projetos
interdisciplinares. Neste caso o Projeto de Educação Financeira tem uma carga horária de duas horas
semanais, e os alunos se inscrevem espontaneamente. A escola oferece várias possibilidades de disciplinas além das matérias regulares. São as chamadas disciplinas facultativas, nas quais o aluno se
matricula se tiver interesse no conteúdo/programa da disciplina. Isso evidencia um aspecto da Educação oferecido pela Instituição: o aluno precisa decidir-se por qual caminho seguir, já que se oferecem
muitas possibilidades de formação.
No andamento do Projeto, os alunos são incentivados a fazer pesquisa e levantamento de dados junto às suas famílias quanto ao orçamento doméstico. Com base nas porcentagens da renda familiar
fazem comparações e tentam aperfeiçoar o uso do dinheiro de cada família, discutindo os gastos e
encontrando alternativas para redução. Esse é o primeiro passo do projeto que busca alertar os alunos
quanto ao uso consciente dos recursos naturais como água e luz. Dentre as soluções apresentadas
pelos alunos encontram-se o processo de economia e o processo de reciclagem de materiais.
O projeto cria condições para que os estudantes, independente da idade, possam refletir a respeito da
responsabilidade de cada um no planejamento e administração econômica, aprendendo a dar importância ao ato de economizar, gerando consciência de investimentos em qualidade de vida.
141
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
conclusão
Infelizmente, no Brasil não existe uma cultura voltada à gestão financeira e planejamento, isso é resultado da ausência de debates e ações sobre o tema educação financeira. A falta de conhecimento da
população sobre a melhor forma de utilizar os produtos financeiros existentes, e o alto crescimento de
produtos oferecidos pelas instituições, causa os altos índices de endividamento da população, gerando aumento das taxas bancárias e crescente inadimplência dos brasileiros.
Esses fatores contribuem para o entrave do crescimento do país, portanto, ao contrário do que pensa
a maioria das pessoas, a falta de planejamento no orçamento familiar ou planejamento empresarial
não traz consequências negativas apenas pessoais, mas também influencia nas decisões do governo,
afetando a estrutura de um país.
Buscando enquadrar-se nos modelos internacionais, o governo brasileiro cria estratégias para incluir
a educação financeira como tema obrigatório nas escolas, e desenvolve projetos de ensino para todas
as idades. O projeto está sendo implantado em algumas escolas-piloto e foi resultado de um inventário nacional de ação que teve o objetivo de cadastrar projetos já existentes.
Através da experiência do Instituto Educacional Ivoti e dos resultados obtidos, podemos afirmar que
o projeto cria condições do aluno diferenciar os produtos financeiros mais rentáveis, saber analisar os
riscos e estar mais preparado para tomar decisões e cumprir compromissos financeiros. A longo prazo
espera-se que essas ações transformem esses jovens em cidadãos financeiramente preparados e que
exerçam uma postura ética dentro da sociedade.
REFERÊNCIAS
CAPRI, C. B. T. Responsabilidade Social Corporativa. Instituto Ethos. 2008. 28 p. Disponível em:
<www.ethos.org.br>. Acesso em: 11 abr. 2010.
GIANETTI, E. O Valor do Amanha: ensaio sobre a natureza dos juros. 1 ed. São Paulo: Editora
Schwarczs, 2005.
KIYOSAKI, R. T. LETCHTER, S. L. Pai Rico Pai Pobre. 64 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
HOJI, M. Administração Financeira na Prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MUSA, R.A. et al. Caderno temático- O consumo Consciente do dinheiro e do Crédito. 123 p. São
Paulo: Instituto Akatu, 2006.
NETO, A. A. Mercado Financeiro. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
142
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO DISCENTE: RELATO DE
UMA APLICAÇÃO NA FACULDADE DE TECNOLOGIA DE TAQUARITINGA
Profa. Dra. Ana T. C. Trevelin – [email protected]
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – FATEC/CEETEPS
Av. Dr. Flávio Henrique Lemos, 585 – Portal Itamaracá
CEP. 15900-000 – Taquaritinga – São Paulo
RESUMO
Trata-se da apresentação de um programa tutorial presencial desenvolvido na Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga-Fatec/CEETEPS. Por tutoria entende-se o processo de desenvolver no estudante
condições de aprendizagem de valores, atitudes e habilidades que contribuam para sua formação
geral, como cidadão e específica, como profissional capaz de oferecer soluções sociais e economicamente produtivas. Para tanto, o papel do professor tutor reveste-se da maior importância e transcende
os limites da sala de aula porque passa a ter a missão de estimular a aprendizagem ativa de seus alunos através de vivências, discussões e reflexões num clima de informalidade e cooperação. Relatase neste artigo a experiência de um trabalho conduzido com esse objetivo. Foram selecionados dez
alunos do primeiro ciclo do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas para a
aplicação inicial e experimental. O Programa, nesta fase, teve duração de 20 horas, com sessões quinzenais, presenciais, extra-classe, de duas horas. Através da discussão de temas transversais, tais quais:
a fome, o desafio do primeiro emprego, as implicações do uso de drogas, quarto poder e a juventude
e seus desafios, pretendeu-se estabelecer o desenvolvimento integral de cada participante pautado na
pedagogia do cuidado, com base na precaução e na análise de impactos sócio-econômicos. Os resultados obtidos, de maneira qualitativa, são apresentados no decorrer do texto e permitiram rearranjar as
ações. Pretende-se a criação de diferentes programas tutoriais envolvendo diferentes alunos e professores nos diversos cursos de graduação. O simples fato de se oferecer a oportunidade de discussão de
temas transversais, num atendimento interpessoal direto, fora da formalidade das aulas foi constatado
ser bastante positivo.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Superior. Tutoria. Temas Transversais.
INTRODUÇÃO
Hoje, em função da alta competitividade, mais do que nunca tem-se valorizado o talento humano na
busca para soluções de problemas. A necessidade do uso da criatividade, da inovação e da flexibilidade, exige mais a integração do conhecimento. Neste contexto, o papel da universidade se faz cada vez
mais presente no sentido de preparar os profissionais para uma atuação na sociedade e também para
as exigências do mercado de trabalho.
Simão et al. (2008), apontam que não se pode mais aceitar o papel do ensino superior como um mero
adicionador de conhecimentos teóricos e científicos, a aprendizagem deve ser vista como um processo ativo, cognitivo e construtivo, o que significa pensar em novos modelos acadêmicos.
143
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
A universidade, segundo SEABRA e Monteiro (2009), encontra-se atualmente confrontada com uma
crescente heterogeneidade cultural, social e ética de seus alunos cada vez mais difícil de gerir. Assim,
desafia-se o tradicional modelo e novas propostas pedagógicas surgem a fim de nortear a ação pedagógica no sentido de suprir essas diferenças.
Destas novas propostas surge a Pedagogia do Cuidado proposta por Geib (2000), como concepção teórica orientada para o processo de humanização e construção de soluções solidárias. E é à partir desta
idéia do cuidado com o alunado que se propõe o desenvolvimento de um Programa Tutorial Acadêmico na Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga que caracteriza-se por oferecer ao estudante um
suporte no sentido de auxiliá-lo no desenvolvimento de competências para aproveitar melhor a vida
acadêmica, profissional e social. Neste programa são desenvolvidas competências como capacidade
de expressão, comunicação oral e escrita, interpretação de informações, desenvolvimento do espírito
crítico e também a atuação profissional pautada pela ética e cidadania através da discussão de temas
transversais. Além disso, valores como responsabilidade social, espírito de cooperação, identidade
cultural, proteção ao meio ambiente, defesa dos direitos humanos, valores humanistas e apoio à paz e
à solidariedade e disposição para continuar aprendendo são valores e atitudes aprendidos.
Entende-se por sistema tutorial um método centrado no aluno que cria a oportunidade de aplicação
de atividades extra-curriculares para o desenvolvimento integral do aprendiz. O tutor ocupa posição
central no programa, pois é ele que estabelece o elo de ligação entre o estudante e a própria estrutura
acadêmica.
Segundo Bonorat, Castaño e Ruiz (2007), existem várias formas de tutorias espalhadas e aplicadas
em universidades, dentre as quais: a dimensão tutorial legal (prescrita na legislação); a dimensão tutorial docente ou curricular (que diz respeito ao conteúdo e aos programas curriculares); a dimensão
tutorial acadêmica ou formativa (referente a ajuda dada ao aluno para que este desenvolva integralmente sua vida acadêmica); dimensão tutorial personalizada (professor tutor orienta o aluno em caso
de dificuldades pessoais; dimensão tutorial em período de práticas (para determinados cursos como
educação, medicina, enfermagem que requerem prática); dimensão tutorial a distância (para cursos
de EAD não presenciais; dimensão da tutoria como atenção à diversidade (porque acolhe diferentes
alunos com perfis diferentes); dimensão da tutoria entre pares (existentes em universidades estrangeiras, é a realizada por outro estudante com a supervisão de um professor).
Desta forma, não existe um único modelo tutorial a ser seguido e seja qual for o tipo de tutoria aplicado, o professor universitário tutor é visto como o professor de referência do grupo de alunos que
vai acompanhar.
Carrasco e Perez (2005) apontam ser possível encontrar nas diferentes concepções de tutoria universitária um conjunto de características comuns, tais como: tutoria como uma ação de orientação para
desenvolvimento integral do estudante; como uma função docente que personifica a educação universitária em função de um acompanhamento individualizado que permite aos estudantes construírem e
amadurecerem seus conhecimentos e atitudes; como uma ação que permite a integração ativa e a preparação do estudante na instituição universitária, garantindo o uso dos diferentes recursos que a instituição oferece. O Quadro 1 abaixo, classifica os sistemas tutoriais, de acordo com cada dimensão.
144
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Quadro 1 - Aspectos sistematizados dos programas de tutoria. Adaptado de Simão et al. (2008).
DIMENSÃO
MODALIDADE
INDICADORES
Acadêmica, extra-curricular, personalizada, etc.
OBJETIVO
Melhorar o desenvolvimento pessoal e acadêmico do aluno, promover o
desenvolvimento de competências, etc.
CONTEÚDO
Curricular, temas transversais, etc.
GRUPO
Aluno individual, alunos com dificuldades de adaptação, alunos com interesse em
atividades extra-classe, etc.
TIPO
HORÁRIO
Presencial, a distância, obrigatório, facultativo
Alternativo às aulas, nos finais de semana, no horário de aula, etc.
NATUREZA
Encontros formais: aulas ou encontros informais: fora da universidade.
CARACTERÍSTICAS
Turmas de, no máximo, 10 alunos; duplas; etc.
TUTOR
Professor da universidade, professor do curso, aluno do último ano, etc.
AVALIAÇÃO
Individual, aos pares, por turma, dos alunos sobre o programa, etc.
Cabe ressaltar que cada universidade vai construindo seu programa tutorial de acordo com a sua realidade pautada nas características e peculiaridades de seus alunos, professores e da própria estrutura
acadêmica.
2. HISTÓRICO
De acordo com Seabra e Monteiro (2009), historicamente, a tutoria é uma prática já existente na antiguidade e que tem evoluído até os dias atuais.
Topping et al. (1997) apontam que a tutoria anglo-saxônica dava destaque para a tutoria de pares, ou
seja, a tutoria realizada por outro estudante com a supervisão de um professor, prática esta que surge
em função da carência de professores e da falta de competências pedagógicas.
Segundo Geib et al. (2007), entre os séculos XVI e XVIII, as universidades tiveram uma queda de
prestígio que se caracterizava por perda de monopólio, aumento de instituições, concorrência de colégios, perda de qualidade e emergência do pluralismo à partir de novas verdades. Neste contexto,
as formações obtidas fora das universidades tiveram muita importância, principalmente nos colégios
sob a orientação de um tutor.
No século XIX, a evolução da universidade sofreu o impacto da Revolução Francesa e da Revolução
Industrial, surge na França a chamada “universidade imperial” tendo como característica o monopólio do Estado, a docência aplicada por um único mestre e regida com rigorosa disciplina, corpo
docente à serviço do imperador, criação de faculdades e carreira pelo diploma.
Nesta época a universidade abre as portas para as mulheres e sofre uma expansão para os cinco continentes. Essa expansão favorece o aparecimento de novos modelos.
No século XX, tanto nas universidades britânicas como nas norte-americanas, a tutoria entre pares
145
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
assume novamente especial relevância, sobretudo entre os negros que ingressaram nas universidades
na década de 60 e apresentavam insuficiência de aprendizagem, conforme salientam Toppping et al.
(1997).
No Brasil, as pesquisas e discussões acerca dos programas de tutoria têm sido pouco realizadas,
limitando-se quase que exclusivamente aos Programas de Educação Tutorial (PET), que foram criados para apoiar atividades acadêmicas no sentido de integrar ensino, pesquisa e extensão. Formado
por grupos tutoriais de aprendizagem, o PET propicia aos alunos participantes, sob a orientação de
um tutor, a realização de atividades extracurriculares que complementem a formação acadêmica do
estudante e atendam às necessidades do próprio curso de graduação. O estudante e o professor tutor
recebem apoio financeiro de acordo com a Política Nacional de Iniciação Científica.
3. Os diferentes modelos tutoriais
Foram vários os modelos tutoriais propostos pelas universidades de todo o mundo. Quatro deles merecem destaque, segundo Geib et al. (2007)
3.1. Modelo francês
Orientou-se com a concepção de universidade a serviço do Estado. A universidade formava os profissionais que o Estado necessitava. A opressão e a submissão de docentes e alunos contrapunham-se
às iniciativas libertadoras presentes apenas nas sociedades secretas. Programas tutoriais davam a vez
para a tirania estatal e o monopólio do diploma.
3.2. Modelo inglês
Este modelo tem por característica a universidade que busca a formação moral e preparação profissional e está pautada em princípios como de liberdade, eqüidade, ponderação, moderação e sabedoria.
Coerente com esses princípios, mantém internatos e tutorias nas universidades com o propósito de
formar o gentleman, possuidor de inteligência cultivada, gosto refinado, espírito leal, justo e severo,
conduta nobre e cortês, acompanhadas por um vasto saber.
3.3. Modelo norte-americano
A universidade Americana, inspirada no modelo inglês, inicialmente incorporou o sistema de internato, o ensino de literatura e o religioso e o sistema tutorial, a fim de garantir a formação moral, considerada tão importante quanto a intelectual. Aos poucos foi desenvolvendo a interação universidadeempresa e a preocupação com a liberdade e a educação moral foi esmaecendo, assim como a função
tutorial.
3.4. Modelo alemão
Orientado pela filosofia de busca da verdade como direito da humanidade. O ensino era visto como
decorrente da pesquisa e tinha como função estimular a reflexão pessoal. Professor e aluno trabalham
146
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
juntos, como iguais, livres e responsáveis. A tutoria torna-se um processo mediador na formação
acadêmica, pois o estudante assume a responsabilidade por si próprio, enquanto o professor o faz
participar pela sua liberdade da criação intelectual.
O modelo alemão é o que mais se aproxima da concepção de modelo tutorial utilizado para o desenvolvimento deste trabalho por ser o professor o mediador entre o conhecimento e o aluno.
4. Aplicação do programa
Os cursos superiores de tecnologia garantem para o estudante uma formação rápida para atuar no
mercado de trabalho. Embora garantam o desenvolvimento de competências, não são oferecidas outras oportunidades de aprendizagem e orientação ao aluno. Desta forma, é fundamental o encorajamento de práticas que ofereçam aos estudantes oportunidades para o desenvolvimento de atividades
extra-curriculares e formação de novas competências.
É preciso preparar o futuro profissional para necessidades de curto e de longo prazos. Voltando-se
para a sociedade, esta formação deve estar ligada a sua própria cidadania, a formação do profissional
como ser social, como parte integrante de uma comunidade, em contrapartida a formação do profissional para o mercado, pois devido ao grande avanço tecnológico, este se depara constantemente com
problemas que nunca lidou antes. A universidade tem, neste caso, o papel de formá-lo para trabalhar
com problemas que ainda não ocorreram para lidar com o novo. (COLENCI, 2000)
Cassiani et al. (1998), apontam que uma atividade que tem se destacado e motivado os alunos é a
participação em pesquisas científicas conduzidas por um docente e financiadas por órgãos de fomento
e concedidas através de bolsas de iniciação científica. Esta atividade tem como objetivo a aprendizagem de métodos científicos, induzindo o questionamento crítico e o espírito científico embora em
alguns casos o aluno seja utilizado como mera mão-de-obra para coletar dados sem participação
efetiva na investigação.
O programa tutorial merece destaque porque tem por objetivo melhorar no estudante condições de
aprendizagem de valores, atitudes e hábitos que contribuam para sua formação geral voltada tanto
para a sociedade como para o mercado de trabalho. Em algumas universidades o programa é financiado por órgãos de fomento, o que não é o caso em questão. Para dar início as atividades, foram
selecionados dez alunos que ingressaram no programa através de um processo seletivo tendo como
requisitos: estar cursando o primeiro ou segundo semestre do curso de graduação, ser uma pessoa
de espírito crítico disposta a entender a concepção de mundo atual. O professor tutor também foi
selecionado levando-se em consideração um perfil que incluísse: experiência na orientação formal e
informal de alunos, vida acadêmica destacada, visão ampliada do curso de graduação, bom relacionamento com o corpo docente, com o corpo discente e os funcionários da unidade e identificação com
a filosofia do programa.
O tutor tem a missão de estimular a aprendizagem ativa de seus membros através de vivências, discussões e reflexões num clima de informalidade e cooperação para atingir os objetivos específicos do
programa: orientar os estudantes em suas dúvidas, acompanhar o desenvolvimento acadêmico dos
147
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
estudantes, aprofundar conteúdos ministrados, oferecer ao aluno atividades extra-curriculares que
possibilitem o desenvolvimento de um espírito crítico, possibilitar maior integração do aluno com
a estrutura acadêmica, com professores, colegas e funcionários da faculdade. Este professor, pode
inclusive acompanhar e orientar o estudante durante toda a sua vida acadêmica.
Considerando-se que o conhecimento é construído socialmente conforme salienta Vygotsky (2000),
ou seja, que o desenvolvimento humano é concebido à partir das relações sociais que a pessoa estabelece no decorrer da vida, o tutor pode ser visto como um orientador que constrói um conceito junto
com o aluno na medida em que auxilia este o aluno a recriar, reinterpretar e reconstruir os temas que
lhe são apresentados, segundo Dotta (2006).
Essa idéia pode também se apoiar no conceito de dialogia proposto por Barkhtin (2004) que diz que
um enunciado sempre se relaciona com enunciados produzidos anteriormente. Isso faz com que um
discurso traga vários pontos de vista e que uma mesma realidade possa ser vista de vários ângulos,
permitindo a ampliação de visão de quem participa de tais rodas de discussão.
Para o sucesso da aplicação do programa, é importante também levar em consideração o aspecto motivacional do aluno e a criação de vínculos, conforme salienta Barboza (2008). Para isto, é importante
o contato direto com o aluno, chamando-o pelo nome e abordando assuntos que são de seu interesse
sem restrições ou idéias pré-concebidas.
4.1. Atividades do programa
O Programa propiciou a orientação de um tutor, condições para o desenvolvimento de atividades
extra-curriculares e desenvolvimento de estudos relacionados à graduação. Entre suas atividades
destacou-se: cinco encontros presenciais de duas horas, através de reuniões quinzenais no período de
dois meses e meio para discussão de temas diversos previamente estabelecidos: 1º encontro - Fome
no mundo: um desafio a ser superado; 2 º encontro - O primeiro emprego: oportunidades e desafios; 3º
encontro - As drogas e suas implicações; 4º encontro - Mídia: o quarto poder, 5º encontro – A juventude e seus desafios, temas estes propostos pelos próprios alunos. Além desses encontros, os alunos
realizaram atividades não-presenciais para pesquisa dos temas subsequentes.
Para o desenvolvimento das atividades, utilizou-se uma sala de aula, um computador com projetor
data show, mesas e cadeiras móveis para as discussões em círculo e uma caixa de som. Inicialmente,
em cada sessão foi apresentado um vídeo relacionado ao assunto e também uma música abordando o
tema, em seguida os alunos liam um texto e era aberta a discussão onde todos colocavam suas dúvidas, idéias e posicionamento sem restrições.
A avaliação foi feita ao final de cada encontro. Cada aluno fez uma auto-avaliação e depois confrontou-a com a do professor tutor para juntos, buscarem ações de melhoria ao desempenho do estudante.
Além disso, os alunos avaliaram o programa de maneira bastante positiva. Todos eles afirmaram que
gostariam de participar novamente de programas deste tipo. O professor tutor relatou ter achado a
experiência bastante positiva e se colocou a disposição para novos encontros.
148
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
Ao final do semestre, foi expedido um certificado de participação tanto para os alunos, como para o
professor tutor.
5. CONCLUSÃO
Historicamente, o professor tutor tem assumido diferentes papéis, seja para auxiliar na formação
moral do aprendiz ou para gerar competências, esta prática existe desde os primórdios da civilização.
Atualmente, nas universidades, não existe um modelo tutorial único a ser seguido. Cada instituição o
desenvolve de acordo com a sua realidade, assim é possível encontrar diferentes aplicações.
No Brasil, além do Programa de Educação Tutorial (PET) apoiado pelo governo, muitas universidades têm aplicado o programa de tutoria no ensino à distância. São poucas as que aplicam o modelo
no ensino presencial. Assim, o papel desempenhado pelo tutor encontra-se quase desconhecido nas
universidades presenciais, papel este fundamental para o desenvolvimento integral do aluno uma
vez que esta modalidade de ensino torna-se importante porque desafia o paradigma de ensino tradicional e cria oportunidades para a produção de novos conhecimentos, de novos diálogos e dialogia e
também no processo de mediação emocional, ou seja, de novas formas de relacionamento até então
desconhecidas.
Na FATEC/CEETEPS, aplicou-se um modelo experimental que visou a formação geral do aluno no
sentido de criar oportunidades para o desenvolvimento de competências. As atividades extracurriculares que compõem este programa têm como objetivo garantir aos alunos do curso formas de vivenciar experiências que não estejam presentes em estruturas curriculares convencionais.
Por se tratar de um programa não-remunerado, os alunos envolvidos se interessaram em participar
voluntariamente almejando um diferencial em sua formação acadêmica, inclusive pediram a continuidade do programa por perceberem uma mudança para melhor em sua vida acadêmica, tanto no
sentido de formação geral como também de maior sociabilidade com os demais colegas e com o
próprio professor, que acabou tornando-se na visão dos estudantes, um amigo. Os demais estudantes
mostraram-se curiosos e pediram para participar do programa em novas oportunidades. Em entrevista, o professor tutor afirmou ter se interessado em participar almejando a superação de um novo desafio e o encorajamento dos alunos na superação de obstáculos e na construção de uma nova realidade.
Pretende-se a criação de diferentes programas tutoriais envolvendo diferentes alunos e professores
nos diversos cursos de graduação. O simples fato de se oferecer a oportunidade de discussão de temas
transversais, num atendimento interpessoal direto, fora da formalidade das aulas foi constatado ser
bastante positivo.
REFERÊNCIAS
BARBOZA, L. C. O diálogo professor-aluno em interações medidas pela internet: contribuições
para a gênese de um processo de tutoria dialógica. São Paulo, 2008 Dissertação (Mestrado) Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo.
BARKHTIN. Marxismo da filosofia e da linguagem. São Paulo: Hucitec. 2004
149
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
CARRASCO, E. V.; LAPEÑA PEREZ, C. La Acción Tutorial en la Universidade de Alicante. Investigar el Diseño curricular: redes de docencia en el Espacio Europeo de Educación Superior. V. 2.
Alicante: Universidade de Alicante, pp. 329-358, 2005.
CASSIANI, S. H. de B.; RICCI, W. Z.; SOUZA, C. R.. A experiência do programa especial de treinamento na educaçäo de estudantes de graduaçäo em enfermagem / The experience of the special training program in the education of undergraduate nursing students. Rev. Latino am. enferm;6(1):63-9,
jan. 1998.
COLENCI, A.T. O ensino de engenharia como uma atividade de serviços: a exigência de atuação
em novos patamares de qualidade acadêmica. São Carlos, 2000. Dissertação (Mestrado) Escola de
Engenharia de São Carlos – EESC/USP.
DOTTA, S.. Elementos constitutivos do diálogo virtual em interações discursivas medidas por um
serviço de tutoria pela internet. In: anais do VI Encontro Paranaense de Informática Educacional.
Foz do Iguaçu: UNIOESTE, 2006.
GEIB L. Educare: a pedagogia do cuidado. Passo Fundo (RS): Ediupf, 2000.
GEIB, Lorena Teresinha Consalter et al . A tutoria acadêmica no contexto histórico da educação.
Rev. bras. enferm., Brasília, v. 60, n. 2, Apr. 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S00341672007000200017&lng=en&nrm=iso>. access on 18 Mar. 2010. doi: 10.1590/S0034-71672007000200017.
SEABRA, I. L; MONTEIRO, I. Tutoria...Tutoriais. Ozafaxinars e-revista ISSN 1645-9180. n. 5. O
papel do professor tutor, 2009.
SIMÃO, A. M. et.al. Tutoria no ensino superior: concepção e práticas. Revista de Ciencias da educação. N. 7. set/dez 08. ISSN 1646-4990, 2008.
TOPPING, K. et al. Peer Tutoring for Flexible and Effective Adult Learning. Sutherland (ed.) Adult
Learning: A. Reader. London UK & Stirling VA: Kogan Page, 1997.
VYGOTSKY, L.S.A. Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
150
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
Natureza das colaborações
A Revista INTERFACE TECNOLÓGICA ISSN 1807-3980 publica artigos científicos (publicação
com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas
diversas áreas do conhecimento), artigos originais (publicação que apresenta temas ou abordagens
originais), e artigos de revisão (publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas), na
área tecnológica e outras áreas, bem como resenhas e relatos de experiência, de autoria de pesquisadores
da Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – FATEC/Tq, e de outras Instituições.
Mecanismos de seleção dos trabalhos
A publicação dos artigos dependerá da observância das Normas Gerais do Conselho Editorial da Revista
INTERFACE TECNOLÓGICA, cabendo a este julgar os trabalhos, aprovando-os ou sugerindo as
alterações que considerar necessárias.
Os trabalhos publicados são de exclusiva responsabilidade do Autor.
ARTIGO CIENTÍFICO
1.
2.
3.
4.
Deverá ser inédito e destinar-se exclusivamente a esta revista.
Limitar-se a um máximo de dez páginas digitadas.
Ser escrito em Língua Portuguesa, na ortografia oficial, ou em Língua Inglesa.
Usar apenas nomenclaturas oficiais e abreviaturas consagradas, não empregando abreviaturas no
título (exceto quando forem imprescindíveis).
5. Ser estruturado dentro dos seguintes itens e ordem:
- Título;
- Autor e sua filiação científica;
- Resumo;
- Palavras-chave ( máximo de cinco);
- Abstract;
- Keywords;
- Metodologia;
- Resultados;
- Discussão;
- Conclusões;
- Agradecimentos (se houver);
- Referências.
Os itens Resultados, Discussão e Conclusões poderão ser colocados em uma única seção, salvo
entendimento contrário do Conselho Editorial.
6. Apresentar, obrigatoriamente, dois Resumos, nos idiomas português e inglês, não devendo
ultrapassar 250 palavras, seguidos das Palavras-chave e Keywords, respectivamente.
ARTIGO ORIGINAL / DE REVISÃO
1. Observar os itens acima mencionados, excetuando-se o item 1 apenas para os artigos de revisão.
2. Não deverão ser subdivididos em seções (Introdução, Metodologia, etc), mas deverão apresentar,
obrigatoriamente, dois Resumos em português e inglês, com Palavras-chave e Keywords,
respectivamente, além das Referências.
151
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.7 - n.1 - 2010
RESENHA
Poderá ter no máximo cinco laudas, espaço duplo, ou três laudas, espaço 1,5 – fonte Times New Roman,
tamanho 12.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Deverá ter de três a sete laudas e estar relacionado com um dos eixos temáticos. A formatação do trabalho
deverá respeitar as seguintes orientações: papel A4, letra Times New Roman, tamanho 12, espaçamento
1,5 entre linhas. Margens superior, inferior, direita e esquerda de 2 cm. As partes que compõem o trabalho
são:
1. Título;
2. Nome do Autor principal;
3. Nome do Coautor;
4. Nome da Instituição;
5. Nome da Instituição de fomento;
6. E-mail de contato;
7. Resumo;
8. Palavras-chave;
9. Introdução;
10.Objetivo geral;
11. Objetivos específicos;
12.Metodologia;
13.Resultado;
14.Considerações finais;
15.Referências.
APRESENTAÇÃO DE ARTIGO
1. Digitação: original e CD-ROM, devidamente identificado com o título do artigo e nome do Autor
e três cópias impressas (em uma das cópias não deverá constar o nome do Autor); deverá ser
impresso em formato A4, espaço simples entre linhas e um espaço a mais entre os parágrafos, que
deverão ser alinhados à esquerda (em blocos, estilo americano) e justificados à direita. As margens
serão de 2,5 cm, fonte Times New Roman, tamanho 12 e numeração consecutiva de páginas. O
editor a ser utilizado deverá ser Word for Windows.
2. Primeira página: todo artigo deverá ter, na primeira página, o título do artigo e nome do Autor. O
rodapé desta página deverá mencionar a Instituição de origem do Autor, seu endereço completo e
e-mail, para onde deverão ser encaminhadas as correspondências. Observar que unicamente nesta
página conste a identificação do Autor.
3. Deverão ser seguidas as ABNTs: citações (NBR 10520), referências (NBR 6023), apresentação de
artigo em publicação periódica (NBR 6022).
A correspondência e os artigos para publicação deverão ser encaminhados a:
Profa. Dra. Elaine T. Assirati
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – FATEC-Tq
Av. Dr. Flávio H. Lemos, 585. Portal Itamaracá.
15.900-000 – Taquaritinga – SP- Brasil.
Fone/fax: (16) 3252-5250
[email protected]
152

Documentos relacionados