31 - SINCTA
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A rolar! REVISTA APCTA.VOL4 #31. ABR15 Licenciamento CTA – O novo regulamento ENTREVISTA: Jussi Myllärniemi INTERNACIONAL: Competências e desempenho em CTAs SINCTA/APCTA: A Década Fundadora – Os Sindicatos HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO: SA330 Puma FACTORES HUMANOS: DESTINO: Austrália – On the (Great Ocean) Road Flight Level Revista da APCTA Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Presidente do SINCTA: Pedro Barata Presidente da APCTA: Paulo Encarnação Director: Carlos Valdrez Coordenação Editorial: Andreia Lopes Colaboradores: Leonor Casanova, Nuno Catarina, Nuno Chambel, Mário Coelho, Rita Costa, Bruno Figueira, Ana Cristina Lima, Rui Marçal, Pedro Matos, Abel Paraíba, Nuno Simões, Luís Tojais Tradução: Rita Costa Correspondentes: Delegações da APCTA Propriedade: APCTA (Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo) Rua de Matola 4 – 1800-270 Lisboa Distribuição: Gratuita aos Sócios Design gráfico: FPreto – graphic design for closed and open media Impressão: TEMAS / PESSOAS / LOCAIS CONTRIBUA COM IDEIAS E SUGESTÕES PARA: [email protected] Grafisol - artes gráficas Periodicidade: Trimestral Tiragem: 650 exemplares Lisboa, Abril de 2015 EDITORIAL REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo p.1 Pedro Barata Presidente do SINCTA Já muito foi dito e escrito acerca do fatídico vôo 9525 da Germanwings, mas não é com especulações técnicas ou outras que iremos ocupar este espaço. A especulação é um “mercado” onde a concorrência é feroz e não é nesse segmento que nos posicionamos… Importa, pelo contrário, reflectir sobre as consequências que a especulação e o insaciável desejo por informação instantânea - muitas vezes vezes desconexa e até contraditória podem trazer ao futuro da aviação. A indústria do transporte aéreo cresceu até ao ponto onde hoje se encontra muito em resultado da abordagem cuidadosa e pedagógica que sempre teve em relação às suas próprias falhas, incidentes e acidentes. A máxima de que de cada ocorrência de segurança devem surgir ensinamentos para a melhoria global do sistema é um pilar fundamental do desenvolvimento seguro e sólido da aviação em todas as suas vertentes. Uma ocorrência de segurança em aviação sempre foi vista como um acumular de factores que, cada um com a sua importância relativa, contribuem para um resultado diferente do esperado ou desejado. Importa, por isso, descobrir e analisar cada um desses factores e encontrar as soluções que permitem evitar a sua repetição. Este trabalho de pesquisa e análise requer tempo e cuidado. SUMÁRIO 02 06 12 14 18 24 30 34 36 Internacional: Licenciamento CTA – O novo regulamento Entrevista: Jussi Myllärniemi Factores Humanos: Competências e desempenho em CTAs Por cá: TWR/APP Madeira SINCTA/APCTA: A Década Fundadora – Os Sindicatos Históricos da Aviação: SA330 Puma Destino: Austrália – On the (Great Ocean) Road Ecos da Imprensa: Uma seleção de interesse ATC Breves: 4º SPA Cup / 40º GFL / Ab-Initio FI001 / Ab-Initio FI013 Ora, este tempo e cuidado parece ser incompatível com a avidez com que os media procuram recolher e difundir informação de forma instantânea, mesmo que esta esteja deturpada ou seja totalmente incorrecta. Erros e distorções informativos que ficaram patentes, desde a primeira hora, no caso do voo 9525 da Germanwings, criando múltiplas especulações sobre as causas do acidente. Mas a aviação é, hoje, um meio de transporte massificado e, por isso mesmo, interessa a todos. Todos parecem habilitados a pronunciar-se sobre segurança em aviação e a especular sobre ocorrências desta natureza. Assim sendo, o recato - diria técnico - com que no passado decorria a investigação e análise das ocorrências de segurança parece ter os dias contados. Em particular quando os factos ocorrem no coração de um continente onde é suposto tal não acontecer e onde a velocidade da informação choca com tal recato. Isto conduz à atribuição imediata de responsabilidades e ao apontar de “culpados” forma mais simples e até primária de não ir à procura dos tais “factores contributivos”. Não vale a pena investigar… A investigação e “sentença” fica concluída em 48 horas - na melhor das hipóteses, dura uma semana. E no caso em apreço, contando até com a contribuição dos órgãos de investigação judicial, num caso flagrante de violação dos princípios da Cultura Justa. Não é, em nossa opinião, esta a melhor forma de consolidar e aprofundar a segurança da aviação. Aparentemente, depois de todo o espectáulo mediático a que assistimos, a própria IATA parece partilhar desta opinião já que, nas palavras do seu CEO, Tony Tyler, a forma como o processo Germanwings foi conduzido é “muito pouco habitual” e “não deve estabelecer um precedente” para futuras acções de investigação. Parece que todos concordam… Vamos esperar para ver os resultados deste consenso. p.2 INTERNACIONAL Carlos Valdrez Licenciamento CTA O NOVO REGULAMENTO Se durante algumas décadas os desenvolvimentos regulamentares no âmbito do licenciamento CTA foram parcos, os últimos 15 anos têm sido muito produtivos, provavelmente até demasiado! Digo isto porque num sector vital para a segurança, as constantes alterações podem resultar numa miríade de normas e no proliferar de auditorias aos diversos sistemas implementados, com possível prejuízo para o foco na actividade. A ICAO e o Eurocontrol foram, até há bem pouco tempo, as entidades internacionalmente reconhecidas, no sector da aviação civil, com recursos para estabelecer critérios para o licenciamento de pessoal. As autoridades supervisoras nacionais utilizavam estes standards para criar os seus próprios sistemas pois o detalhe oferecido era muito reduzido. Com o surgimento do primeiro pacote do Céu Único Europeu (SES) em 2004, a Comissão Europeia (CE) pretendia também harmonizar as normas aplicadas ao espaço aéreo europeu, tendo em 2006 publicado a Directiva 2006/23/CE no sentido de proporcionar ajuda aos Estados, oferecendo uma ferramenta, a transpor para a respectiva legislação nacional. Em 2009, a CE consegue fazer aprovar o segundo pacote do SES (SES2) e alargar as competências da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) às áreas ATM/ ANS e aeroportos. Neste âmbito é criado um grupo de trabalho (EASA ATM.003) com o objectivo de estabelecer um conjunto de normas para o licenciamento CTA. Curiosamente, é também este o ano em que é transposta a directiva para a lei nacional (Lei n.º 6/2009). Usando como argumento a inexistência de resultados a nível europeu, quer por inconsistências na transposição, quer inclusive pela sua ausência, a CE ordenou a execução de um processo denominado “fast-track” com o objectivo de “transpor” a directiva num regulamento europeu, e com isso implementou todas as medidas previstas de uma forma inequívoca, no ano de 2011, através do Regulamento (UE) n.º 805/2011. Enquanto isso, o grupo de trabalho continuou com a discussão, de tal for- p.3 REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo da EASA (EASAC) e do SES (SSC), e de escrutínio, por parte do Parlamento Europeu e do Conselho, pudessem ter lugar. Esperava-se que a publicação do novo regulamento ocorresse no final de 2014 mas por diversos motivos, entre os quais problemas no departamento de tradução, temos assistido a sucessivos atrasos. No passado dia 6 de março foi publicado o Regulamento (UE) 2015/340 da Comissão e parece-nos importante aproveitar este momento para fazer uma avaliação comparativa entre o que estava em vigor e aquilo que será aplicável a partir de 30 de junho. Interessa porém fazer uma ressalva no sentido de que os Estados-membro podem decidir não aplicar, total ou parcialmente, as disposições incluídas nos anexos ao regulamento, até ao dia 31 de dezembro de 2016, desde que notifiquem a Comissão e a Agência até ao dia 1 de julho. a uma avaliação das competências necessárias para o início da formação operacional. O cumprimento da eventual formação resultante dessa mesma avaliação é crucial para o início da formação operacional. Os requisitos para a obtenção da licença de controlador de tráfego aéreo vão deixar de incluir uma idade mínima apesar desta ser, ainda assim, indirectamente limitada pela licença de instruendo. Qualificações e averbamentos de qualificação A estrutura das qualificações e averbamentos de qualificação também sofreu algumas actualizações. A qualificação de Controlo Regional Convencional (ACP) passa apresentar a possibilidade de incluir o averbamento de qualificação de Controlo Oceânico (OCN). Esta situação QUALIFICAÇÕES 2002 ESARR 5 ed. 2 2004 Man. Eur. Licenc. 2005 Orient. UTP ed. 2 2006 Anexo 1 ed. 10 Directiva 23 2008 Espec. CCC IT Reg. 216 2009 Reg. SES II Reg. 1108 2010 AE CTA 2011 Anexo 1 ed. 11 Reg. 805 2012 NAV IS 012 NPA 2012-18 2013 CRD NPA 2012-18 Opinion 11-2013 Orient. CCC IT Reg. SES ADV ADI 2015 Reg. 340 AIR RAD GMC GMS TWR GMS RAD APP Lei 6/2009 PAR APS Licenças A obtenção da licença de instruendo de controlador de tráfego aéreo deixa de ter requisitos educacionais, no entanto, as organizações de formação podem exigir testes de aptidão e/ou requisitos educacionais para iniciar a formação inicial, finda a qual é feito o pedido de emissão dessa licença. A falta do exercício da licença de instruendo, por um período superior a um ano, obriga SRA TCL INAC CIA 18 Decision 2015-10-R ma que no final de 2012, a EASA publicou uma proposta (NPA 2012-18) para consulta pública. Quase um ano depois foram publicadas as respostas (CRD NPA 2012-18) a todos os comentários e foi ainda possível reagir às novas propostas durante um curto período de tempo. Foi no final de 2013 que a EASA enviou o seu parecer (Opinion 11-2013) à CE, de modo a que os procedimentos legais, nomeadamente o processo de comitologia, pelos comités AVERBAMENTOS DE QUALIFICAÇÃO ACP ACS OCN TCL OCN não estava prevista na Directiva, onde o averbamento de qualificação de Controlo Oceânico se associava apenas à qualificação de Controlo Regional de Vigilância (ACS). O Regulamento (UE) n.º 805/2011 já incluía uma derrogação, permitindo continuar a utilizar as soluções encontradas por cada Estado, aquando da transposição da Directiva para a legislação nacional, algo que tinha acontecido no caso português. p.4 Proficiência linguística O averbamento de proficiência linguística de nível superior (nível 6) tinha uma validade ilimitada, mas esta foi reduzida para 9 anos, apenas para a língua inglesa, mantendo-se ilimitada para as restantes línguas. A formação linguística também saíu do âmbito da formação contínua e deixou de se aplicar apenas quando necessária. Agora, o prestador de serviços de navegação aérea deve disponibilizar a formação para que o nível exigido seja mantido, nomeadamente para os detentores de averbamentos de proficiência linguística de nível operacional (nível 4) e para os titulares de licenças que não tenham a possibilidade de utilizar regularmente as suas aptidões. As qualificações Controlo de Aproximação de Vigilância (APS) e Controlo Regional de Vigilância (ACS) passam a incluir implicitamente os antigos averbamentos de qualificação Radar (RAD) e Vigilância Automática Dependente (ADS). Desta forma, os averbamentos de qualificação deixam de considerar as ferramentas de vigilância, focando-se nos diferentes métodos de controlo de vigilância: a qualificação APS pode ter associados os averbamentos de qualificação Aproximação Radar de Precisão (PAR), Aproximação de Vigilância Radar (SRA) e Controlo Terminal (TCL); enquanto a qualificação ACS pode ter associados o Controlo Oceânico (OCN) e o Controlo Terminal (TCL). Incapacidade temporária O regulamento anterior focava a possibilidade de degradação da condição física ou mental como incapacitantes para o detentor da licença exercer devidamente e com segurança, os privilégios da licença. Neste âmbito eram consideradas as situações de influência das substâncias psicoactivas, a toma de medicamentos incapacitantes e o incumprimento dos requisitos associados ao certificado médico. O novo regulamento centraliza todas estas questões no conceito de incapacidade temporária, incluindo ainda o incumprimento do requisitos contidos no plano de competências do órgão de controlo e situações de lesão, fadiga, doença e stress. São também dadas orientações para a elaboração dos procedimentos para declarar e gerir o impacto operacional da incapacidade temporária, assim como para informar a Autoridade Competente. Revalidação/renovação do averbamento de órgão O novo regulamento clarifica os requisitos para a obtenção, revalidação, renovação e exercício das prerrogativas dos averbamentos. A validade dos averbamentos de órgão passa a ser definida no plano de competências do órgão de controlo (UCS), não podendo ultrapassar os 3 anos, quando até hoje era fixada em 12 meses. No entanto, os meios de conformidade aceitáveis (AMC) incluem disposições no sentido de serem necessárias medidas que assegurem a competência dos controladores de tráfego aéreo quando a validade do averbamento de órgão excede os 12 meses. Além disso, os órgãos que propuserem aumentar o período de validade terão de efectuar uma avaliação de segurança. O novo regulamento também coloca a avaliação das competências práticas dos controladores de tráfego aéreo como um dos requisitos para a revalidação dos averbamentos de órgão. No entanto, a novidade prendese com a existência de um AMC que define essa avaliação como tendo de ser realizada em situações de tráfego real e também em dispositivos de treino artificial (simuladores), durante as reciclagens (refrescamentos). Estas últimas são uma das componentes da formação contínua e incluem a formação sobre práticas e procedimentos normalizados; situações anómalas e de emergência; e factores humanos. Instrução Se o regulamento anterior só contemplava os instrutores na posição de trabalho, agora somos confrontados com um enquadramento totalmente diferente. A instrução é dividida entre teórica e prática. Os instrutores de teoria têm de ser titulares de uma licença de controlador de tráfego aéreo ou de uma qualificação profissional adequada ou ainda, demonstrar o seu conhecimento e experiência à organização de formação. Só os detentores de um averbamento de instrutor na posição de trabalho (OJTI) ou de instrutor em dispositivos de treino artificial (STDI) podem ministrar formação prática. Para obter o averbamento OJTI, o requerente deve ser titular de uma licença de controlador de tráfego aéreo, com um averbamento de órgão válido, ter exercido as prorrogativas dessa licença, durante um período mínimo de dois anos imediatamente anteriores e, no ano que antecede o pedido, ter concluído com aproveitamento um curso prático de técnicas de instrução. No entanto, para exercer as prerrogativas do averbamento OJTI, o titular deve ter exercido a qualificação e o averbamento de órgão, objecto de instrução, durante, pelo menos, dois anos e num período imediatamente anterior de, pelo menos, 6 meses, respectivamente, e ter experiência pedagógica ao nível dos procedimentos sobre os quais deve incidir a instrução. O detentor de um averbamento OJTI pode exercer as prerrogativas do averbamento STDI. REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo A obtenção do averbamento STDI pressupõe o exercício das prerrogativas de uma licença de controlador de tráfego aéreo em qualquer qualificação durante, pelo menos, dois anos e, no ano anterior ao pedido, ter concluído com aproveitamento um curso prático de técnicas de instrução. No entanto, para exercer as prerrogativas do averbamento STDI o titular deve ter exercido a qualificação objecto de instrução durante, pelo menos, dois anos, ter demonstrado conhecimento das práticas operacionais vigentes e prática de técnicas de instrução ao nível dos procedimentos. Ambos os averbamentos de licença são válidos por três anos e podem ser revalidados pela conclusão com aproveitamento de uma formação de reciclagem em práticas pedagó- INSTRUTORES Teoria Prática STDI OJTI gicas. No caso do averbamento STDI acresce a reciclagem em práticas operacionais vigentes. Quando a validade expirar, qualquer dos averbamentos pode ser renovado pelo cumprimento dos critérios para a revalidação, acrescidos de uma avaliação de competências do instrutor. Foi também criada a autorização temporária de instrutor na posição de trabalho para situações nas quais o requisito relativo ao averbamento de órgão não pode ser cumprido. A Autoridade Competente poderá conceder esta autorização tomando como base uma análise de segurança e apenas a detentores de um averbamento OJTI válido. Avaliação e exames Para a aprovação nos exames teóricos quer da formação inicial, quer da formação operacional, os candidatos têm de alcançar pelo menos 75% da pontuação desse exame. p.5 A avaliação prática só pode ser efectuada Foi também criada a autorização temporápor detentores do averbamento de avaliador ria de avaliador para situações nas quais o reque, para a sua obtenção, devem ter exercido quisito relativo ao averbamento de órgão não as prerrogativas de uma licença de controla- pode ser cumprido. A Autoridade Competente dor de tráfego aéreo durante, pelo menos, dois poderá conceder esta autorização tomando anos e, no ano anterior ao pedido, ter concluí- como base uma análise de segurança e apenas do com aproveitamento um curso de avaliador. a detentores de um averbamento de avaliador São considerados diversos momentos de e um averbamento de órgão com a corresponavaliação: durante a formação inicial para a dente qualificação relevante válidos. emissão de uma licença de instruendo de controlo de tráfego aéreo ou de uma nova quali- Formação ficação ou averbamento de qualificação; de No âmbito da formação é mantida a estrucompetências anteriores aquando da falta de tura com a formação inicial composta por forexercício da licença de instruendo ou das qua- mação de base e de qualificação, a formação lificações; para a emissão de um averbamento operacional constituída pela fase de transição, de órgão ou de qualificação a um instruendo; fase prévia ao OJT e OJT, a formação contínua para a emissão, revalidação e renovação de com a formação de reciclagem e de conversão um averbamento de órgão a controladores de e a formação de instrutores e de avaliadores. tráfego aéreo; e aos candidatos a instrutores de formação prátiF OR MA Ç Ã O F OR MA Ç Ã O F OR MA Ç Ã O F OR MA Ç Ã O INIC IA L OP E R A C IONA L C ONT ÍNUA A DIC IONA L ca ou avaliadores. Plano de Plano de Plano de formação competência do Para exercer as prerrogatiformação inicial operacional órgão vas do averbamento de avaliador FORMAÇÃO FORMAÇÃO DE FORMAÇÃO DE FORMAÇÃO DE BÁSICA TRANSIÇÃO RECICLAGEM INSTRUTOR para emissão, revalidação ou renovação de um averbamento FORMAÇÃO DE FORMAÇÃO DE FORMAÇÃO DE PRÉ-OJT CONVERSÃO AVALIADOR QUALIFICAÇÃO de órgão, o avaliador deve ser OJT titular desse averbamento de órgão durante um período imediatamente anterior de, pelo menos, um ano. No entanto, qualquer avaLICENÇA DE LICENÇA CTA INSTRUENDO liação com o sentido de emitir ou renovar um averbamento de órgão implica que o avaliador seja também detentor do OJTI ou que um OJTI esteja Foram ainda detalhados os conteúdos dos presente durante a prova. planos de formação inicial, operacional e de Para exercer as prerrogativas do aver- competências que deverão ser homologados bamento de avaliador para a emissão ou re- pela Autoridade Competente. novação de um averbamento de OJTI, STDI ou avaliador, o avaliador deve ser titular desse Futuro mesmo averbamento durante um período de Estamos assim numa fase durante a qual pelo menos, três anos. terão de se realizar alguns ajustes aos proceO averbamentos de avaliador é válido por dimentos de formação e de avaliação. No entrês anos e pode ser revalidado pela conclusão tanto, a existência de um período de tempo que com aproveitamento de uma formação de reci- antecede a entrada em vigor da totalidade do clagem em aptidões de avaliação e em práticas regulamento e a possibilidade dos Estado reoperacionais vigentes. quererem a existência de uma transição, torna Nos casos em que a validade tenha expira- este processo mais exequível. O acompanhado, a sua renovação, além do cumprimento dos mento da APCTA terá de ser uma constante até critérios para a revalidação, acresce a neces- porque para algumas das alterações terão de sidade de uma avaliação de competências de ser revistos alguns dos acordos existentes com avaliador. a NAV. Obter qualificação e averbamento de qualificação Obter averbamento de qualificação e de órgão . Manter averbamento de órgão Obter e manter averbamento de licença p.6 ENTREVISTA Carlos Valdrez INTERVIEW Jussi Myllärniemi Head of ATM/ANS and Aerodromes Department at EASA (entrevista conduzida à distância e realizada por escrito) Nesta edição, optámos por entrevistar uma figura ligada ao licenciamento CTA. Jussi Myllärniemi liderou o projecto do novo regulamento no seio da EASA. Este finlandês chefia o departamento ATM/ANS desde a sua criação em 2009 e trouxe consigo a experiência nacional no regulador/prestador e internacional enquanto membro da representação permanente em Bruxelas. Trata-se de uma entrevista abrangente que nos dá, acima de tudo, uma perspectiva do que a EASA tem procurado fazer no nosso sector. REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo How do you think your professional experience has influenced your role in EASA? What has been your role in the development of the agency for the past 10 years? I worked a long time for the Finnish CAA which at that time contained also the ANSP – service provider for the Finnish ANS system and 25 airports serving the national network. I worked in several different positions for the ANSP. I was in charge of the implementation of the national MSSR network and the renewal of the national ATM system, but the longest continuous task, and maybe of the biggest impact for my current job, was the almost 8 years when I was leading the ANS Centre for South-Finland (including the Tampere ACC). After this I acted as the CAA’s ANS director, before moving to Belgium in 2000. In Brussels I worked as a transport attaché at the Finnish Permanent Representation to EU. This was professionally very interesting time during which (among other things) both the EASA Basic Regulation and SES framework were established in the co-decision process between the EU Council (States) and European Parliament. In 2005 I moved to EASA where my first task was preparing the extension of its remit to cover both ATM/ANS and aerodromes. EASA competences are defined clearly and in a detailed manner in its founding rule; The leading principle in proposing and making the legal decision on centralisation, is whether there are safety reasons or other clear benefits of the European level which would be better achieved via centralised solution. Such decisions have been done in all aviation domains and for example in airworthiness this was very crucial as EASA became the competent authority in Europe for aircraft design. Basic Regulation. And this Basic Regulation, initially adopted in 2002, had to be amended to cover both ATM/ANS and aerodromes. For this purpose it had to define the safety objectives in the different areas of these two domains, the necessary implementing rules, the regulated professions included and the competent authority responsible for oversight and certification in different areas. The extension of the Basic Regulation to these domains was in public consultation in different phases over 20062007 and was finally adopted by the States and European Parliament in 2009. For me personally, and for achieving those goals, it was crucial that I had a fairly broad experience both of the actual ATM system but also of the EU aviation regulatory system. p.7 With EASA expanding its competence to the ATM/ANS and airport, the second SES package concentrated a big part of the aviation sector within the same organization. What benefits has this centralization brought? Indeed, one of the elements in extending EASA’s competences into ATM/ANS and aerodromes was the question if, and in that case which, tasks should be centralised for EASA to undertake. Decentralisation and subsidiarity is the normal case – centralisation is an exception. The leading principle in proposing and making the legal decision on centralisation, is whether there are safety reasons or other clear benefits of the European level which would be better achieved via centralised solution. Such decisions have been done in all aviation domains and for example in airworthiness this was very crucial as EASA became the competent authority in Europe for aircraft design. In ATM/ ANS only some tasks were centralised for EASA to certify and/or oversee; when the service is provided on pan-European basis (available in all EU States) or provided in Europe by a nonEU ANSP. EASA also oversees the non-EU ATCO training schools when used by an European ANSP. How many people started working in ATM/ANS and what is the amount of Human Resources currently involved? What is the percentage of resources allocated to ATM/ANS within the whole agency? EASA’s resources in ATM/ANS have been built progressively since 2005 and consists today of around 30 experts coming either from the national authorities or ANSPs and who are directly assigned to various ATM/ANS regu- p.8 latory or oversight tasks. In addition we have naturally many colleagues, who serve all aviation domains, which is very crucial for example in safety analysis tasks. When considering the amount of resources, one should first notice that such an organisation as EASA cannot gain and maintain all the totality of the necessary technical knowledge. Therefore, as an example, most of the regulatory tasks are conducted using rulemaking groups, where the invited external experts may come from the national authorities, industry or professional/labour organisations. Different pools of external experts are also used in standardisation (of the State authorities) and in oversight. Additionally, lot of cooperation exists in this field with the other relevant European organisations. The overall need for resources in different domains depends significantly of the tasks, where EASA is the competent authority and which are financed through related fees and charges. Regulatory and standardisation activities are financed through an EU subsidy. A rough estimate would suggest that around 5-10% of our resources stem from ATM/ANS needs. One of the first projects within the ATM/ANS was the ATCO licensing, but the Commission demanded top priority in this process creating a fast-track program which transposed the 23/2006 Directive in the Regulation 805/2011. Didn’t this delay even further the so sought-over harmonization? The so-called fast-track process transposing Directive 2006/23 into Regulation 805/2011 might in my mind be seen containing pros and cons (which often is the case with the most of any decisions). On the negative side it indeed delayed slightly the reach of some objectives that the European system sought for. However, there were also clear benefits achieved. The swift establishment of a common rule with a When considering the amount of resources, one should first notice that such an organisation as EASA cannot gain and maintain all the totality of the necessary technical knowledge. Therefore, as an example, most of the regulatory tasks are conducted using rulemaking groups, where the invited external experts may come from the national authorities, industry or professional/labour organisations. Different pools of external experts are also used in standardisation (of the State authorities) and in oversight. directly binding nature allowed EASA since 2012 to standardise all the EU States and also several other associated European States in the domain of ATCO licensing. This has rapidly brought in many concrete improvements and corrective actions at different European States, which work indirectly towards reaching the required level of harmonisation. Moreover, the swift establishment and generally positive acceptance of the fast-track Regulation created the level-playing field, on which further improvements and developments could be built. REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo The new ATCO licensing will bring many changes to this process. Which do you think are more important? In my mind it ensures that the necessary high level of safety in this important profession is maintained, when the whole ATM area is subject to many fundamental changes (de-fragmentation, new ATM concepts, etc.). It also promotes significantly the opportunity for ATCO mobility. Offering different ATCO training requirements tailored to the level of harmonisation required, that are forming a consistent system, as well as a necessary harmonisation of the qualifications and privileges of the trainers and assessors, are also important benefits. Training has been considered a priority to facilitate ATCO mobility. Since EASA is in charge of aviation safety, shouldn’t there be a bigger focus in Human Factors, namely in the management of stress and fatigue? Human Factors is definitely an important area of aviation safety and therefore of great importance to EASA’s activities. Already the Basic Regulation since 2009 contained certain safety objectives related to stress and fatigue in ATC. At the same time I admit that this is a very demanding and further developing area of expertise. Also the question of selecting a right balance of measures (safety promotion, training, regulation, etc.) and understanding what would need to be done on centralised level (by EASA) are challenging issues. Because of these reasons EASA follows carefully also the work done at a global level by ICAO and is willing to closely engage with its stakeholders to find the most appropriate responses to these challenges. European unions have been involved in the work groups and public consultations. What do you think about this participation and the relationship between EASA and European ATCOs? Don’t you think that, regarding some issues, the subjects of these regulations should have a more active role? I am very pleased with the cooperation we have had between EASA and the European ATCOs when developing the ATCO Regulation and at the many consultation events we held over this period. I am also happy that in addition to different consultations EASA meets quite regularly the delegations of European ATCO unions or professional organisation. This all in my mind helps us in maintaining the necessary knowledge of the operational challenges and environments. All this was present when the new ATCO Regulation was developed and which in my mind reflects well the positive and very constructive relations we have. Any good cooperation naturally requires mutual dutyof-care and EASA is definitely willing to further develop its dialogue with ATCOs. EASA has published other NPAs in the ATM area. One of the last Opinions sent to the Commission is on the service provision and oversight thereof. Can you explain to us what will this proposal change? A good answer would necessitate more ‘space’ than this interview. Anyway, let me emphasise some of the important aspects. On the ANSP side the proposal sets up requirements of how the different organisations manage the safety of their services, taking also into account which ATM/ANS services they provide. A specific attention here has been put into the assessment of changes to the functional ATM system, which is a crucial element in the management of safety and where the European practises currently seem to vary quite a lot. Similarly the Opinion puts its emphasis on the oversight requirements with an aim to ensure that (among other things) all critical elements of the State safety programmes are fully implemented. What is new also is to propose com- p.9 mon rules on the ANS services. This proposal includes common requirements on MET services and transposes the latest amendments of the ICAO Annex 3. EASA is trying to harmonize European Airspace. What is the advantage of imposing rules at an European level if the ICAO system already has a set of rules and procedures all States have adopted? What conclusions have been reached from a cost-benefit perspective, for example, when transposing the Rules of the Air into European Legislation? If the ICAO system would have been seen fulfilling all the objectives set for the European aviation system as regards high and uniform level of passenger safety and free movement, one could have questioned from the start any need for common European rules in aviation. Common rules do not supersede ICAO SARPs, but provide a common transposition of them among the European States belonging to our aviation system. On the Rules of the Air, before adopting the SERA Regulation, European States had notified several hundreds of differences towards ICAO, and most likely much more differing practises were in place. It is quite obvious that the cost-benefit perspective of maintaining over 30 different sets of national rules would have been negative. Until recently, Member States were allowed to legislate and supervise according to international laws. EASA changed this scenario and States are losing their local power. Isn’t the role of NSAs fundamental, not only to divulge these rules but also to contextualize them at a national level? What role will NSAs have in the future? I think that the basis of this question may not be fully correct. As regards the rules it is quite obvious that maintaining several dozen p.10 different set of national rules on the same subject, even if in line with high-level international obligations, cannot be regarded as an optimal solution for the role of the NSAs. It is the European States and the European Parliament who decided that common rules in aviation are needed for the high level of safety (EASA) and also in different areas of ATM (SES framework). Then certain powers were assigned to EASA to prepare and issue proposals and means of compliance on how to implement these objectives agreed on the highest political level. Following your question, yes, the role of NSAs is fundamental, as they are and remain responsible for the oversight at national level of the ATM/ANS services. EASA’s oversight tasks may increase in the future when new centralised services may be available and Member States may have an opportunity to request EASA to overtake a specific oversight task, if seen necessary and so wished. Last year the SES2+ package has been widely debated. Despite all the amendments proposed during the Italian presidency, what do you think about EASA having had its responsibilities increased? The ATM system in Europe will face changes in the future; it will provide for a higher capacity and the new concepts of operation will make the system more efficient. At the same time the overall system may become more complex. In my view a strong safety regulator is needed to ensure, also on the centralised level, that the overall high level of safety can be maintained, especially when changes in the system are evident. I am therefore pleased to see that The ATM system in Europe will face changes in the future; it will provide for a higher capacity and the new concepts of operation will make the system more efficient. At the same time the overall system may become more complex. In my view a strong safety regulator is needed to ensure, also on the centralised level, that the overall high level of safety can be maintained, especially when changes in the system are evident. I am therefore pleased to see that many political obstacles have seemingly been removed, which otherwise could have prevented reinforcing the common aviation system we have in Europe. many political obstacles have seemingly been removed, which otherwise could have prevented reinforcing the common aviation system we have in Europe. Increased responsibilities of EASA are of course a challenge which we have to face. But it is easier for us, if the aviation community as a whole is united and agrees on the direction to take. In this regard a single aviation regulatory authority is in my mind a must for Europe. Member States of Eurocontrol have to pay for the activities developed, especially in training and studies. With EASA taking this role on from Eurocontrol, won’t Member States end up paying for activities twice? How will this interaction between the two agencies be managed and defined? How will EASA implement some of these changes when Human Resources and the know-how belong to other organizations? I don’t think that one should say that EASA takes the role of Eurocontrol. There may be some tasks today, which could be better served, if they formed a part of our common European aviation system, but this is not the case with Eurocontrol core tasks such as service provision, NM, IANS, Bretigny research center, etc. It is obvious that EASA cannot maintain by itself a very detailed expertise for example in ATM/ ANS service provision. Therefore, when needed, this expertise has to be ensured through cooperation from where it is best available. This could be the case with the national authorities, industry (ANSPs) or indeed via Eurocontrol. In the latter case an appropriate arrangement is indispensable, which naturally would need to prevent any situation of double charging. How is EASA financed? When staff organizations stop being financed by EASA, how do you expected these non profit organizations will finance their participation in the process? Is this a strategy to alienate associations and unions from the regulation process? As explained already earlier, EASA’s financing comes mainly from the EU subsidy (rulemaking, standardisation, safety analysis) and from the fees and charges (oversight/certification). Acknowledging the need for the widest-possible knowledge-base for our regulatory work the system is built to allow for the involvement of external expertise. This involvement shall however be flexible and ready to adapt to the needs and priorities. The targeted expert’s profile remains to be determined by the required field of knowledge and technical expertise, rather than the attachment to any particular stakeholder organisation. The Agency itself is in the course of adapting its procedures to the changing p.11 REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo needs of the aviation (and ATM) society, processes become simplified and shortened. Now that the regulatory framework in the ATM domain has been established, the Agency counts on a more proactive stakeholder involvement, that is giving guidance on the further regulatory needs, if any, and that is also responsive in providing inputs and expertise tailored to those needs. Also regarding the financing of EASA, it’s public knowledge that the European Council rejected the proposal for EASA to be financed by route charges. How will EASA be financed, especially now that it is expected to have more responsibilities? EASA’s financing means and resources remain as they are today, if no further decisions will be made concerning its financing basis. The impact of that proposal would not have been immediate. Even if further prioritisation in EASA’s work programme has to be done, it would be premature to do so now. The route charges issue should however be also considered in the wider context of charging for certain tasks and responsibilities undertaken or accomplished on behalf of the States, as you have pointed out in one of your questions previously. EASA helped to create the performance system, especially the guidance material for the Safety Performance Indicators from the second reference period. How do you evaluate these indicators? Are they true safety indicators or a mere bureaucratic formality? How can safety have a major rule in the performance system for RP3? In my view the existing Safety Performance Indicators have their important legacy role and purpose. But at the same time I agree that they may measure more of the processes than are addressing directly safety. EASA has already begun working to develop SKPIs for the third reference period. I personally believe that the Acknowledging the need for the widest-possible knowledgebase for our regulatory work the system is built to allow for the involvement of external expertise. This involvement shall however be flexible and ready to adapt to the needs and priorities. The targeted expert’s profile remains to be determined by the required field of knowledge and technical expertise, rather than the attachment to any particular stakeholder organisation. safety performance in RP3 would be better measured using a combination of qualitative, leading indicators and quantitative, lagging indicators. This would provide a view both of the level of organisational safety performance and a direct measure of the actual safety performance in Member States during the reference period. No formal rulemaking task has been set up, but I assume that the final proposals should be available in the first half of 2016. Director Ky restructured EASA. Despite this, the ATM/ANS sector still doesn’t have its own management, being included in flight standards. How can this restructuring make the management of ATM/ANS more efficient? Now we have within the same department all colleagues dealing with regulation, standardisation (of the States) and oversight (of organisations) within ATM/ANS. In my mind this is a huge asset for us and there are already concrete benefits achieved through this reorganisation. I also believe that EASA’s role especially in ATM/ANS has been growing and that this has been visible through our whole organisation up to its highest level. As being responsible for the ATM/ANS (and aerodromes) department, I feel that our department has the full support and trust by our top management. . Jussi Myllärniemi / Professional Profile CAREER TO DATE (2009 – present) Head of Department, European Aviation Safety Agency, Cologne, Germany (2005 – 2009) Rulemaking officer, European Aviation Safety Agency, Cologne, Germany (2000 – 2005) Transport attaché, Permanent Representation of Finland to EU, Brussels, Belgium (1998 – 2000) Director Air Navigation Services, Finnish Civil Aviation Administration, Vantaa, Finland (1997 – 1998) Assistant Director Programmes, Finnish Civil Aviation Administration, Vantaa, Finland (1992 – 1997) Chief, Air Navigation Services Centre for South-Finland, Tampere, Finland (1991 – 1997) Project manager, Finnish Air Traffic Management Integration (1990 – 1991) Radar engineer / Project manager, Air Navigation Services Centre for South-Finland, Tampere, Finland (1985 – 1990) Product manager, Pikosystems Oy, Tampere, Finland EDUCATION (1985) Master of Science, electrical engineering and data communications, Tampere University of Technology, Finland p.12 FACTORES HUMANOS Rui Gomes Competências e desempenho EM CONTROLADORES DE TRÁFEGO AÉREO Competência Para os serviços de tráfego aéreo, competência pode ser definida, de forma concisa, pela posse de um nível base de conhecimentos, capacidades, experiências e, quando necessário, a proficiência em Inglês, que permita a prestação segura e eficiente de serviços ATM. Neste âmbito, importa saber identificar as diversas competências envolvidas e o que faz um controlador competente quando está a trabalhar. Só assim se consegue afirmar que um controlador é competente ou ainda não é competente, em contextos como alunos a frequentar “AB-INITIO”. É a partir do conhecimento da função desempenhada pelos controladores que conseguimos criar estruturas de formação e de avaliação que permitem desenvolver mais competências nos controladores. Deve-se realçar que o desenvolvimento de competências é um processo gradual, e por isso é normal que aconteça que, no início, o mínimo de competência adquirido não seja equivalente ou não corresponda aos níveis mais elevados de experiência que encontramos em instrutores, ou controladores com larga experiência nas suas qualificações. A atenção de um avaliador deve-se concentrar na garantia de que existe competência para o nível estabelecido para trabalhar em segurança. Desempenho A performance humana pode ser representada por um banco com três pernas fortalecidas e estáveis. Designamos essas três pernas por: Emocional, Física e Técnica. A primeira perna, a emocional, refere-se à forma como os seres humanos lidam com as emoções que todos possuem. A segunda perna, a física, está relacionada com a condição física de cada um. REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Novas instalações do Centro de controle de tráfego aéreo de Lisboa, uma das salas está preparada e equipada para o Briefing e Debriefing durante a fase de OJT Posição completa de trabalho, sector Área, do ACC de Lisboa p.13 Novos equipamentos, recentemente instalados nos Jardins do ACC de Lisboa Avaliação Por exemplo, pode traduzir simples aspetos como a disponibilização de fruta no local de trabalho ou a existência de uma boa sala de descanso ou de um ginásio. Por último, a parte técnica, onde habitualmente se investe muito, relacionada com os equipamentos e meios técnicos disponíveis. Em resumo, para obter uma boa performance humana, as “três pernas do banco” devem estar de igual modo fortalecidas. Obter ou ganhar um bom desempenho é normalmente um processo rápido. Já, o declínio ou a perda do desempenho é normalmente um processo lento e algumas vezes difícil de observar, perceber e detetar. De facto, os erros são mais difíceis de ver, aparecem em menos quantidade e frequência. No entanto, por vezes, o declínio também pode ser rápido. Por exemplo, uma pessoa “em apuros” rapidamente começa a demonstrar uma diminuição da capacidade para lidar com a carga de trabalho e redução na capacidade de avaliação e de eficácia das suas decisões, acontecendo que reagem mais às situações, em vez de as controlarem. A diminuição no desempenho, de um indivíduo observado durante um período de tempo, não é uma indicação clara de perca de competência, mas pode acontecer essa possibilidade, se o desempenho não for melhorado. É importante, no entanto, não criar estereótipos, que em nada ajudam a melhoria do desempenho individual. A Avaliação é um processo de recolha de evidências e apreciação sobre a qualidade global do trabalho. A avaliação tem como principais objetivos: confirmar que um ATCO é competente; fornecer feedback ao indivíduo e ao sistema, informação que é de grande valor; validar o processo de formação, com introdução de possíveis alterações nos processos, metodologias e estratégias; e possibilitar a obtenção de um averbamento oficial que comprova o profissionalismo. Este processo de avaliação está definido e detalhado em documentação legal. É também importante realçar que em caso de insucesso numa avaliação se deve motivar a mudança e oferecer mais treino, dando a oportunidade ao elemento avaliado de melhorar os seus “standards”. No entanto, não esquecer que tal como a vida que é subjetiva, a avaliação também encerra em si mesma algumas barreiras e subjetividades, e neste sentido, o processo de avaliação deve ser encarado com “bom senso”. Os avaliadores devem possuir qualidades pessoais essenciais para o desempenho da sua difícil função. Devem possuir elevados padrões de conduta pessoal, demonstrarem uma elevada atitude profissional e terem permanentemente um compromisso com a melhoria da qualidade do serviço. Devem ainda exibir integridade, confidencialidade e compreensão. Possuírem um bom relacionamento com todos os elementos, uma grande capacidade de comunicação, demonstrarem respeito pelos colegas e serem justos, são outras das capacidades que se esperam ver num avaliador. Assim, é fundamental fornecer formação específica aos avaliadores para que estes estejam preparados para a função. Estes devem desenvolver o processo de avaliação sem surpresas, com à-vontade, e explicando todos os elementos de forma detalhada - são estas as boas práticas de um avaliador. No fundo, devem ser eles a ajudar os colegas “adultos” a mostrar que desempenham bem a sua função – espera-se que no final todos possam festejar! A avaliação envolve muitas vezes lidar com um stress diferente! O stress durante um exame é por vezes superior ao stress do trabalho regular, porque sabemos quando vai acontecer, porque não queremos falhar e porque temos um profundo orgulho na nossa profissão. Pelo contrário, na operação do dia-a-dia, não sabemos quando iremos ter um pico de stress – isso faz parte da nossa vida e é por isso que gostamos do nosso trabalho. De facto, no desempenho da nossa função, as diferentes condições externas, a complexidade e o volume de tráfego exigem aos controladores constantes adaptações. Mas no fim, é quase sempre a variável humana que resolve as situações mais difíceis! É este mesmo fator que torna a profissão tão motivante! . p.14 POR CÁ Pedro Matos / Nuno Chambel TWR/APP Madeira Continuando o percurso desta rubrica pelos órgãos de controlo de tráfego aéreo da NAV, trazemos desta vez aos nossos leitores a torre do Aeroporto da Madeira. Breve História O aeroporto da Madeira (códigos IATA e ICAO respectivamente FNC e LPMA) situa-se a cerca de 13km a Este da cidade do Funchal, num pequeno planalto junto à costa da ilha. Os estudos para a construção de um aeroporto na ilha iniciaram-se em 1944, sendo que a sua acidentada orografia não tornou fácil encontrar um local adequado. Após várias hipóteses terem sido consideradas e eliminadas, em 1956 acabou por ser seleccionada uma área situada a Nordeste de Santa Cruz, junto à Ponta de Santa Catarina, a uma altitude de 60m, na qual seria possível construir uma pista com cerca de 1.600m. No entanto, esta localização tinha um grande contra – a ocorrência algo frequente de ventos com alguma intensidade e que causariam, provavelmente, alguma turbulência no espaço aéreo à volta do aeroporto. Escolhido o local, as primeiras obras de terraplanagem para a construção de uma pista experimental começaram sem demora, o que permitiu que logo em Julho do ano seguinte (1957) se efectuasse o primeiro voo a partir de solo Madeirense. De facto, a 13 de Julho chega ao Funchal, a bordo do navio “Lima”, um avião Auster J1/B da Direcção Geral da Aeronáutica Civil (DGAC), registo CS-ADY, apropriadamente baptizado “Santa Catarina”, transportado para a ilha com o objectivo de efectuar os primeiros testes de voo na zona do novo aeródromo. Após a preparação do avião, o seu primeiro voo na Madeira ocorre às 11 horas do dia 18 de Julho de 1957, e, segundo rezam as crónicas da altura, perante uma pequena multidão de espectadores entusiasmados. Os voos do CS-ADY representaram apenas um de vários estudos minuciosos (e consequentemente, algo demorados) acerca das condições meteorológicas peculiares da zona, principalmente em termos de ventos. Além disso, algumas dificuldades nas expropriações dos terrenos e atrasos no projecto do aeroporto levaram a que as obras para a sua construção se iniciassem apenas em Junho de 1961, sendo a empresa responsável a Construtora do Tâmega, a mesma que havia sido encarregue da construção do aeroporto de Porto Santo. Ainda antes da conclusão das obras, a 6 de Junho de 1963 a nova pista recebe o seu primeiro movimento, com a chegada de Lisboa de um Douglas DC-3 da DGAC (em cuja tripulação se incluía pessoal da TAP), especialmente equipado para testar as condições operacionais do novo aeroporto. Estes testes decorreram até ao fim do mês mas, não tendo sido encontradas condições de vento forte, foram retomados no fim de Agosto do mesmo ano, e permitiram desta feita definir os limites da operação em função das condições (direcção, intensidade e rajada) de vento. Dado que planeava utilizar o Lockheed Constellation nos serviços para a Madeira, a TAP efectuou, ainda antes da abertura do aeroporto, vários testes no local com este avião. Decorrendo em Novembro de 1963 e Junho de 1964, nesta última data já com a pista terminada, o Connie “passou” na prova sem problemas, tendo os pilotos constatado a sua menor sensibilidade aos ventos, e consequente maior facilidade da operação, comparativamente ao DC-3. A inauguração oficial do aeroporto, baptizado com o nome “Santa Catarina”, ocorre a 8 de Julho seguinte, com a aterragem do Constellation CS-TLC da TAP proveniente de Lisboa, transportando cerca de 80 convidados para a cerimónia; no entanto, a personalidade mais importante presente no evento foi o Almirante Américo Thomaz, Presidente da República, que se encontrava na ilha durante uma escala numa viagem marítima entre o continente e Moçambique. Por curiosidade, esta importante obra custou na altura aos cofres do Estado cerca de 180.000 contos (900.000€). O lay-out do aeroporto nesta data era muito simples: além da pista, com 1.600m×45m (orientação 06/24), dispunha de uma placa de estacionamento, ligadas por um caminho de circulação. Durante vários anos não houve aqui alterações significativas, contudo há que REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo registar, em 1973, a substituição da aerogare original por uma nova estrutura, capaz de processar 500.000 passageiros por ano. Nos primeiros tempos de operação, a TAP efectuava cinco ligações semanais para a Madeira, número que rapidamente aumentou à medida que a importância da ilha como destino turístico crescia. Note-se que a ligação aérea directa, em substituição do voo para Porto Santo complementado com a sempre demorada (e por vezes incómoda) travessia de barco para a ilha principal, deverá ter contribuído significativamente para o aumento do número de turistas na ilha. E não demorou muito até o novo aeroporto ser visitado por um avião a jacto: mal tinha passado ano e meio após a sua inauguração quando, a 21 de Fevereiro de 1966 aterrou em Santa Catarina o Boeing 727 D-ABIK da Lufthansa. Não se tratava, contudo, de um voo comercial, dado que, fretado pelo construtor, a sua deslocação à Madeira tinha como objectivo testar a sua operacionalidade no aeroporto, tendo em conta o interesse da TAP em adquirir este avião para as rotas de médio curso. Dado o reduzido comprimento da pista e os problemas meteorológicos que por vezes se verificam (tectos baixos, turbulência e wind shear), o aeroporto da Madeira ganhou rapidamente fama de ser um local de difícil operação…e o acidente com o Boeing 727-200 Sacadura Cabral (CS-TBR) da TAP em 19 de Novembro de 1977, em que pereceram 131 pessoas (ainda hoje, o pior acidente de sempre de uma companhia Portuguesa), muito ajudou a que esta fama se mantivesse até à actualidade. Note-se que já há alguns anos se havia constatado quão limitativo era o aeroporto para a operação de jactos comerciais, com diversos sectores da sociedade local a exigirem obras que o tornassem mais acessível a este tipo de aviação (nomeadamente, a ampliação da pista), e assim aumentar o tráfego de turistas na ilha. Inclusivamente, a DGAC havia, já em 1975, encomendado um estudo sobre este assunto, o qual considerou a obra possível… mas complicada e, consequentemente, cara. Após este acidente, evidentemente que aumenta a pressão para que se proceda à ampliação da pista. E, baseando-se em estudos do Prof. Edgar Cardoso (que previam a expansão do aeroporto em duas fases: “Projecto de Segurança”, do qual constava o aumento do comprimento da pista em 200m, e “Aeroporto Intercontinental”, de que se falará mais à frente), as obras referentes à primeira delas iniciam-se em 1982, ficando terminadas no início de 1986. Além da pista, é também ampliada a placa de estacionamento, que fica agora capaz de receber nove aviões. Mesmo assim, a pista continua a não ter o comprimento desejável, e a importância crescente da Madeira como destino turístico “pede” um novo aeroporto…e as obras da sua construção iniciam-se no princípio de 1995. E é mesmo um novo aeroporto, com uma nova pista, com eixo rodado 3°37’ para Norte relativamente ao da pista original (o que alterou a sua designação para 05/23), e comprimento aumentado para 2.781m, conseguido à custa de construir o seu topo Norte, não sobre terreno, mas sim sobre uma estrutura de 1000m p.15 de comprimento e 180m de largura, sustentada por 180 pilares de betão, com cerca de 60m de altura, assentes num aterro conquistado ao mar. Esta obra baseou-se nos estudos efectuados na década de 70 pelo Prof. Edgar Cardoso, referentes à parte “Aeroporto Intercontinental”, mas revistos e adaptados pelo Prof. António Segadães Tavares. Dada a sua grande complexidade técnica, recebeu várias distinções internacionais, sendo provavelmente a mais importante o prémio OStrA (Oustanding Structures Award) da IABSE (International Association for Bridge and Structural Engineering), em 2004. Para além da nova pista – inaugurada a 15 de Setembro de 2000 pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio – também a placa de estacionamento foi aumentada, dispondo actualmente de 16 lugares de estacionamento de aeronaves, dos quais dois para “wide-bodies”. As obras do novo aeroporto da Madeira incluíram ainda novos acessos automóveis e uma nova aerogare, capaz de processar 3,5 milhões de passageiros por ano. Esta foi oficialmente inaugurada a 6 de Outubro de 2002, sendo a data marcada pela primeira (e cremos que única) visita à Madeira de um Boeing 747, no caso um aparelho da Air Atlanta, registo TF-ABA, especialmente fretado para a ocasião. Registe-se que, após a conclusão das obras, tanto o código ICAO como o nome oficial da infraestrutura foram alterados, de LPFU para LPMA e de Aeroporto de Santa Catarina para Aeroporto Internacional da Madeira, respectivamente. E tornou-se a operação no aeroporto mais fácil com a nova pista? Sem dúvida, dado o seu maior comprimento permitir maior margem de erro e manobra aos pilotos…mas os ventos continuam presentes (para quem desconhece o que se pode passar na Madeira, recomendamos a visualização de https://www.youtube.com/ watch?v=IP1Rh39Mtzw, que tem como ponto alto a aterragem do Boeing 737 da TuiFly, aos 5:00). LPMA hoje Como já foi referido, o aeroporto da Madeira possui actualmente uma pista de razoável comprimento – 2.781m – e uma placa de estacionamento com capacidade para 16 aviões “narrow body” (ou 12 deste tipo mais p.16 VERAM OBESA dois “wide body”), ligadas por dois caminhos de rolagem. A sua aeronave crítica é o Boeing 747-200. A torre de controlo da Madeira presta serviços de tráfego aéreo numa área centrada no VOR SNT e com 75 MN de raio, entre GND/MSL e FL245, área esta que, excluindo a CTR e a TMA da Madeira (que engloba), é delegada pelo ACC de Lisboa (ver figura). Em termos de separação horizontal mínima entre aeronaves, dentro da TMA esta é de 10MN, aumentando para umas vetustas (e penalizantes) 20MN na área delegada. Para apoiar a navegação aérea, existem na ilha da Madeira o NDB MAD e o DVOR-DME FUN, se bem que alguns procedimentos também sejam apoiados nas ajudas-rádio instaladas na ilha do Porto Santo (NDB PST e o DVOR-DME SNT). E, sendo o aeroporto da Madeira um local de operação peculiar, são mesmo estabelecidos no AIP de Portugal (parágrafo AD 2.20 LPMA Local Aerodrome Regulations) os requerimentos para os pilotos das aeronaves, com capacidade superior a 10 passageiros, que efectuem voos comerciais para a ilha. O tráfego e o funcionamento de LPMA Em 2013, último ano de que existem estatísticas completas, a TMA da Madeira registou 23.205 movimentos de aeronaves, o que representou uma subida de 3,1% relativamente ao ano anterior, mas ainda longe dos 27.951 movimentos do ano recordista, o já longínquo 2003. Aliás, desde este ano, tem-se registado uma tendência quase constante para a diminuição do tráfego: mesmo com algumas subidas pontuais, se fizermos as contas, entre os anos referidos regista-se uma queda de 17%. Pensamos que a explicação para esta descida reside principalmente na utilização pelos operadores de aviões de maior capacidade, tanto na ligação LPMA – LPPS como nas ligações com o exterior (neste caso, a inauguração da nova pista deve ter dado uma ajuda…). A capacidade declarada da TMA é de 16 aeronaves/hora, sendo que no caso do aeroporto o número é de 14, com 8 aterragens no máximo, números que reflectem diversos constrangimentos operacionais, que detalharemos mais à frente. Obviamente, o máximo diário não pode atingir os valores dos aeroportos continentais: em 2013, o dia mais movimentado – 26 de Agosto – registou 114 movimentos. Por curiosidade, nas estatísticas disponíveis à data de escrita destas linhas (até Agosto de 2014), observa-se que no ano passado este valor foi ultrapassado: a 11 de Agosto registaram-se 122 movimentos, registando-se também uma ligeira subida – 1,3% – do total acumulado no período. O tráfego é predominantemente IFR civil (acima de 92% nos últimos três anos), sendo os principais operadores a TAP Portugal e a easyJet, com respectivamente 34,9% e 10,1% dos movimentos em 2013. Não muito longe desta última vinha a Sata Air Açores, principalmente devido à operação da ligação Madeira – Porto Santo, na qual foi, em 2014, substituída pela Aerovip. Como nos aeroportos continentais, a maioria dos aviões que opera em LPMA são jactos bimotores de tamanho médio, sendo que mais de metade dos movimentos pertencem a aeronaves da família Airbus 320; também a família Boeing 737 é visita frequente ao aeroporto, representando quase um quarto dos movimentos. Em termos de principais destinos servidos a partir de LPMA, e mesmo se excluirmos a ligação a Porto Santo, a maioria (52,8%) referemse a ligações com aeroportos nacionais – principalmente, Lisboa. E, dada a popularidade da ilha no Norte da Europa, também se registam importantes fluxos para as Ilhas Britânicas e Alemanha. No que toca a constrangimentos colocados ao tráfego que demanda a ilha, se, por um lado, não há problemas causados por espaços aéreos vizinhos, por outro, e como já foi referido diversas vezes, a meteorologia pode ser problemática, ocorrendo por vezes tectos de nuvens baixos, que dificultam (ou impossibilitam mesmo) a parte final da aproximação, e, claro, o famoso vento com turbulência / wind shear associa- MARUM VABEM NA MANOX NAVIX KOXAS PECKY GALPA RULET IRKID LIDRO RAKUN PELUS 75NM DEGUN NIKAV ABUSU FUSUL KEKOS ABALO XERON NIDUL TABOM XEGEN MADAT GOSGA NELSO DIRUP ORTIS BIMBO dos. Por esta razão, na aproximação à pista 05, os pilotos são informados do vento não só na zona de toque, mas também no Rosário (situado a cerca de 2km do início da pista). Se a meteorologia causa dificuldades ocasionais, a orografia da ilha implica um constrangimento permanente, uma vez que apenas permite circuitos de tráfego sobre o mar. Assim, para a pista 05 apenas existe circuito direito, sendo esquerdo para a 23. Adicionalmente, no que toca à pista 05, o desenho actual do procedimento de aproximação a partir do IAF (ponto ABUSU) não contempla separação horizontal com as aeronaves a descolar, pelo que, dada a necessidade de precaver um possível “borrego”, tem de existir um intervalo de 7 minutos entre duas aeronaves a livrar o IAF. No solo, também existem alguns constrangimentos…dado que os caminhos de circulação não ligam a placa aos topos da pista, existe sempre a necessidade de os aviões fazerem “backtrack”, manobra sempre limitadora da capacidade de um aeroporto, e especialmente, no caso da Madeira, se estiver em uso a pista 23 (note-se que, quando esta pista está em uso, GIKAR REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo não são necessários os 7’ entre aproximações para protecção de um eventual “borrego”). Por outro lado, um avião a efectuar a manobra de “push-back” bloqueia a circulação na placa de estacionamento. A torre de LPMA ASAS NARTA A torre de controlo de LPMA situa-se sobre a aerogare, numa posição central relativamente à placa de estacionamento, e que lhe permite uma boa visão sobre esta e sobre a pista (excluindo o início da 05, parcialmente tapado pelo quartel de bombeiros). No entanto, esta localização tem um problema: para visualizar as aeronaves no vento de cauda para a pista 05, o CTA tem de se virar para trás… Os equipamentos postos à disposição dos nossos colegas não fogem ao que é habitual noutras torres. Apenas constatámos a existência de mais uma informação de vento (Rosário) no écran da meteorologia, bem como da existência de um novo software no sistema TWRATM, no caso a versão 2.2+, recentemente instalada à data da nossa visita, mas que, para já, só recebeu elogios dos colegas, que a consideraram bem melhor que a anterior. No que toca às condições de trabalho, e apesar de estarem globalmente satisfeitos, os CTA locais gostariam de poder contar com uma Aterrar na Madeira A opinião do piloto A operação no aeroporto da Madeira tem fama de ser uma das mais complicadas a nível mundial, sendo LPMA presença obrigatória nos primeiros lugares das listas que procuram estabelecer uma classificação dos aeroportos mais “perigosos” do Mundo. Bom, aqui na Flight Level, como gostamos de ser exactos, resolvemos perguntar a quem de facto sabe…ou seja, a um Comandante sénior de uma companhia aérea da casa. Aqui ficam as suas palavras: “Trata-se de facto de um aeroporto no qual é complicado operar, devido principalmente à meteorologia (a Posições de trabalho e dotação nova sala de operações, obra que eventualmente poderia ser feita a acompanhar uma outra, de manutenção da estrutura da torre (que se prevê que se inicie em breve), e que irá, só por si, criar alguns constrangimentos ao trabalho dos CTA. Foi-nos confessado que o ideal seria mesmo a construção de um novo edifício da torre, independente da ANA, o que terminaria a necessidade de coabitação com esta empresa, algo que parece não ser muito fácil em ambos os aeroportos do arquipélago madeirense. No entanto, nos tempos que correm, não se acredita que a NAV considere efectuar este investimento. Por outro lado, aguarda-se a remodelação das áreas de lazer da torre (quarto de descanso, sala de debriefing e casas de banho), obra já orçamentada e cujo início se espera para breve. Melhoramentos que os CTA locais gostariam de ver… Tal como no ACC de Lisboa, na Madeira julga-se muito importante a melhoria do sistema de vigilância ATM na zona, o que se espera para breve, dado estar prevista a entrada em funcionamento de um sistema multilateration no primeiro trimestre de 2016, que complementa- qual, além de nos brindar frequentemente com ventos fortes e tectos baixos, também prima por ser bastante variável), sendo necessário treino prévio em simulador, ou fazer alguns voos acompanhado por um instrutor, antes de um Comandante ser largado na Madeira.” (N.R.: é sempre o Comandante do avião que está aos comandos durante a aterragem e descolagem neste aeroporto). “As dificuldades começam cedo, uma vez que no Missed Approach Point, (MAPt), que para a pista 23 é no FUN, sendo na Rad211/3,6MN do mesmo no caso da 05 (com mínimos de altitude de 1.300ft e 940ft, respectivamente), temos de ter contacto visual com o aeroporto, o que nem sempre é possível quando o tecto de nuvens está baixo, caso em que tem que se interromper a aproximação. E, por vezes, rá a antena radar de Porto Santo, e que permitirá continuar o serviço de vigilância em caso de avaria ou necessidade de manutenção desta (note-se que os colegas da Madeira não têm experiência em controlo convencional). E talvez este sistema permita a tão desejada (pelos CTA da Madeira…e do ACC de Lisboa) redução de separação horizontal para 8MN… E, tal como em outros aeroportos nacionais, na Madeira gostaria de se ter um caminho de circulação paralelo a toda a pista…o que, tal como em outros aeroportos nacionais, nos parece que nunca irá passar de um sonho, quanto mais não seja, neste caso, pelo custo astronómico que tal obra teria. No lado operacional, foi-nos referido que existem estudos de procedimentos de aproximação para resolver o problema, ligado à pista 05, da necessidade do intervalo actual (7’) entre duas aterragens. Mas, dado que seria resolvido à custa de procedimentos de aproximação mais longos (menos económicos), a passagem da teoria à prática esbarra na resistência dos principais operadores, que parecem preferir as aproximações mais directas, mesmo sabendo que existe o risco de eventuais holdings. A Flight Level agradece a inestimável colaboração prestada pelo TWRFUN João Gaio na elaboração deste artigo. as nuvens e a chuva também tornam difícil manter o contacto visual com a pista após o MAPt.” “Durante a aproximação, não é raro verificarmos que as mangas de vento do aeroporto apontam em sentidos completamente diferentes…e por vezes, opostos!” “No caso da pista 05, além de termos de voar boa parte do segmento final de aterragem offset com o eixo da mesma (só alinhamos cerca de meio minuto antes de tocar), é frequente, durante a volta para a final, que o vento empurre o avião para cima da ilha. E, quando já estamos sobre a pista, podemos apanhar correntes de ar tanto ascendentes como descendentes.” “Na aterragem na pista 23, temos de fazer boa parte da aproximação final à esquerda do seu eixo, devido ao terreno elevado (Pico do Facho). E o vento Na torre de LPMA existem três posições de trabalho: para além das destinadas às posições de aproximação (tanto à Madeira como ao Porto Santo) e torre, existe uma de stand-by. Habitualmente, funcionam ambas das 8.00 às 16.30, sendo que no resto do dia apenas existe a posição torre…menos às segundas-feiras, dia de mais tráfego, em que o turno da tarde é reforçado, o que permite manter as p.17 . que desce o vale onde se situa a cidade do Machico pode causar windshear severo, na final curta e mesmo sobre a pista; julgamos também que os pilares de suporte do topo Norte da pista contribuam para este fenómeno.” “A pista 23 causa outro problema nas aterragens, dada a inclinação apreciável (a descer) a partir de 1/3 do seu comprimento, o que dificulta a travagem, principalmente se estiver molhada.” “Não posso deixar de focar que é um dos aeroportos em que é mais importante a disciplina de cockpit / CRM para o sucesso das aproximações.” “Finalmente, as partidas em ambos os sentidos implicam voltas logo após a descolagem, para afastamento do terreno, o que, em condições de instabilidade (wind shear), não é agradável.” duas posições em funcionamento até às 22.00. A dotação da torre da Madeira compreende 16 CTA, sendo que à data da escrita destas linhas temos 15 colegas a prestar serviço neste órgão. A sua rotação “semanal” foge ao que é habitual na maior parte dos outros órgãos da nossa empresa, uma vez que, em vez de ser de cinco dias, a “semana” na Madeira é de… doze dias p.18 SINCTA/APCTA Abel Paraíba A DÉCADA FUNDADORA Colaboração, neste artigo, dos CTA: Raúl Teixeira, Fernando Carranca, António Correia e José Chaves Este será o segundo de três artigos sobre o período fundador que determinou aquilo que hoje somos e temos, como classe profissional. Enquanto o primeiro se centrou na APCTA e no seu glorioso trajecto, no presente artigo iremos assistir ao aparecimento dos novos sindicatos (SITAVA e SINCTA) e ver como se transitou dos sindicatos que existiam e a relação de forças entre aqueles dois. OS SINDICATOS: TEMPOS DE TRANSIÇÃO E DE CONFRONTAÇÃO A transição entre sindicatos Vale a pena lembrar que antes do 25 de Abril os sindicatos eram permitidos, organizados por profissões, o que, nas empresas grandes, gerava uma natural dispersão dos trabalhadores. Eram tolerados e usados pelo regime para orientar as relações dos trabalhadores às conveniências da parte patronal. A sua acção era reduzida e as direcções controladas, não havendo direito à greve. A administração pública não tinha direito sequer a ter sindicato. Só em 1975 vai surgir um grupo Coordenador do movimento sindical da Função Pública (FP), que chegará a sindicato no ano seguinte e a Federação Nacional dos Sindicatos da FP, em 1978. É no maior destes Sindicatos da FP que se inscreveram os trabalhadores que transitarão em 1 de Janeiro de 1978 da DGAC para a ANA-EP, até porque irão manter o vínculo à FP após essa data (e também à ADSE e ao regime disciplinar da FP, importantíssimo, porque defendia dos despedimentos). Reparem que se tratava de um organismo ainda em fase inicial, o que ex- plica, no que respeita aos CTA, que tenha sido a APCTA a liderar as convulsões laborais nos dois anos seguintes, agindo este sindicato apenas como cobertura legal para firmar acordos e declarações de greve. O representante deste sindicato era o CTA Fernando Rica, um verdadeiro sindicalista a tempo inteiro (representava toda a empresa). Mais tarde passará para a direcção do SITAVA, onde se incluirão mais dois CTA: Carlos Felizardo (por Faro) e José Maria Brandão (por Ponta Delgada). Foi outro, o caminho seguido pelos trabalhadores contratados já pela ANA-EP, sem vínculo à FP. Tiveram de escolher uma outra solução, aliás óbvia, apesar de hoje parecer bizarra. Foi o “Sindicato da Marinha Mercante, Aeronavegação e Pescas” que os acolheu, o que tinha como paralelo a inscrição destes trabalhadores na chamada “Caixa de Previdência da Marinha Mercante Nacional”. Ao contrário do Sindicato da FP, recém-formado, o Sindicato da Marinha Mercante tinha décadas de existência, o que se explica por abarcar duas actividades antiquíssimas e com muita gente REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo (navegação marítima e pescas), sendo a “aeronavegação” um apêndice que se aceitava por ser residual o número de trabalhadores ligados a esta actividade e que não eram da FP. A experiência deste Sindicato era relevante, tendo um passado de luta, inclusive antes do 25 de Abril quando apoiou lutas na TAP, onde tinha alguns associados. Uma nota para o futuro: o nosso elemento de ligação deste sindicato era João Franca, o qual, após 1986, foi contratado pelo SINCTA, onde desempenhará um importante papel em termos de organização e suporte à direcção, durante mais de 20 anos. Tudo irá mudar num espaço de tempo reduzido. Com o início da gestão da ANA em Janeiro de 1978, passou a existir uma massa de milhares de trabalhadores, a juntar a todos os da TAP e outros, que justificava o corte com os dois sindicatos atrás referidos (pacificamente aceite), iniciando-se um processo, que foi demorado, de constituição de um Sindicado abrangente no sector da aviação - o futuro SITAVA (em 1980) e que absorveu trabalhadores de 32 sindicatos! Mas ao arrepio deste projecto de grande sindicato vertical e unitário, no qual os CTA se deviam integrar, vai surgir uma iniciativa contrariando esta ideia, na sendo dos p.19 Pilotos que conseguiram fundar o seu próprio sindicato logo em Outubro de 1976 (o SPAC) e se tornou um paradigma de modelo que irá ser seguido, primeiro pelos CTA, que fundaram o SINCTA (1980/81) e depois, anos mais tarde, por outros. Como se verá, o debate vai ser vivo e sobretudo, para muitos, de caracter ideológico, em linha com a grande batalha perdida pela CGTP (que vinha desde 1972) quando não conseguiu impedir o aparecimento, em 1978, de uma central sindical alternativa - a UGT. Em suma, dos CTA que começaram pelo Sindicato da FP ou pelo Sindicato da Marinha Mercante, uns transitaram primeiro para o SITAVA e depois para o SINCTA (com meses de intervalo), outros não chegaram a passar pelo SITAVA, enquanto alguns (poucos) ficaram no SITAVA por vários anos. Também houve muitos cuja primeira sindicalização vai ser no SINCTA, conseguindo este sindicato, a meio da década de 80, a proeza de reunir a quase totalidade dos CTA (e ainda os antigos “Assistentes de Tráfego Aéreo”, actuais TICA, situação que se mantém). A organização representativa dos trabalhadores (ORT) Era geral a consciência do estado calamitoso em que se encontravam, na DGAC, os serviços ligados à aviação. A situação tinha sido atenuada pelo decréscimo do tráfego (só em 1978 se volta a atingir os níveis de 1973). Coincidindo com a retoma, a partir de 1976, a grande medida tomada (pelo 1º governo constitucional) vai ser a reestruturação da DGAC, que levará à criação da ANA-EP (a primeira empresa pública criada de raíz – as anteriores vieram de nacionalizações revolucionárias) separada de uma nova DGAC, como já bem sabemos. Não mais haverá descanso do lado dos trabalhadores, num processo contínuo e em crescendo de acção e num trabalho colossal, com envolvimento generalizado. Os anos de 1977/79 foram intensos, com lutas acesas para se ganhar protagonismo nas organizações representativas dos trabalhadores (ORT), que se tornaram estruturas desmesuradas pela imensidão de “delegados”, pelos debates intermináveis e consecutivos, tendo estes um cunho político e de subordinação ideológica ou mesmo de alinhamento partidário. p.20 Como exemplo, a Assembleia Geral de Delegados nos dias 4 a 6 de Janeiro de 1977, teve a presença de 76 delegados, representando 8 áreas, 7 aeroportos e 22 carreiras profissionais. A acta, (nota: está na biblioteca APCTA/SINCTA, como a maior parte dos documentos que vamos citar), muito detalhada, ilustra bem a sua época. Recorda os passos dados desde 1974, os objectivos anteriores (sindicalização, saneamento de estruturas corruptas da DGAC, estabelecimento das carreiras profissionais aeronáuticas, reestruturação técnica), indica algumas vitórias alcançadas (citando-se o DL 503/75 como uma delas, para fazer face a “… um dos pior apetrechados serviços de tráfego aéreo da Europa, se não o pior …”). Começam a aparecer as preocupações com a iniciativa do governo (estamos a 4 meses do DL 122/77 e a um ano do início da ANA-EP). Por isso se decidiu criar um grupo de trabalho para acompanhar o processo e apoiar os trabalhos de reestruturação das carreiras (que já era a questão mais importante, mas será omnipresente daí em diante). Os delegados da APCTA apresentaram um curioso documento, no qual, com confiança, assumem que a sua associação constitui “um grupo coeso e poderoso dentro da DGAC…” e manifestam preocupação com a possibilidade de “proliferação de sindicatos de carácter profissional exteriores à administração pública…”. Acusam que nesta assembleia se está a fugir ao tema, mas será um facto consumado a curto prazo se não se agir em contrário! Premonitório … (Nota: o SPAC tinha acabado de ser criado). Estatutos de pessoal Depois da publicação do Dec-Lei 122/77, intensifica-se a movimentação do lado das ORT, incluindo agora reuniões com a Comissão Instaladora da ANA. Entrando em 1978, as negociações com a administração intensificamse com vista à concretização do disposto no artº 29º daquele diploma: “1. O estatuto do pessoal, bem como as disposições legais que lhe introduzam modificações, constituirão parte integrante do presente Estatuto, a partir da data da respectiva publicação”. A inconstitucionalidade decretada pelo “Conselho da Revolução” em Agosto de 1978, deixa a ANAEP gerida apenas por um “Conselho de Gestão” (até Julho de 1979), o que serviu de desculpa para muitos atrasos. Muitas são as tentativas para se alcançar uma proposta, do lado das ORT, onde a dificuldade estava na conciliação dos interesses divergentes das carreiras profissionais (foram entregues 8 projectos de estatutos profissionais). Para representar os CTA, foi criada a “Comissão Negociadora do Estatuto dos Controladores de Tráfego Aéreo” (CNECTA), reconhecida pelos sindicatos. Os nossos dois negociadores foram, os CTA, Raúl Teixeira, figura carismática que emerge após a sua transferência de Faro para Lisboa (1978), assumindo desde então a liderança e a defesa dos interesses dos CTA e da Navegação Aérea durante quase três décadas, tendo a seu lado, inseparável, o não menos influente e combativo António Albuquerque. Este processo vai arrastar-se até Dezembro de 1979 quando, finalmente, o Conselho de Gerência (CG) entregou ao Ministério dos Transportes e Comunicações o projecto de Estatutos de Pessoal. Foi o acto final da ges- REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo tão presidida pelo Engº Viana Batista, que logo a seguir passou para ministro dos Transportes, cabendo-lhe a aprovação (a 12 de Fevereiro de 1980) … desta mesma proposta de estatutos. A insatisfação foi generalizada porque este documento não correspondia às expectativas (criadas pelo Engº Viana Batista, que não cumpriu) e avança-se para a greve. Muitos sectores da empresa aderiram, alguns, até ao fim, mas os CTA tinham uma agenda própria muito além do que movia os restantes. Por isso foram o alvo do governo e da opinião pública. O pré-aviso de greve foi subscrito pelos sindicatos da FP e Marinha Mercante, mas sob a coordenação firme da CNECTA (e da APCTA). Greve com plenário final numa madrugada! O primeiro período de greve foi de 4 dias (11/12 e 14/15 de Fevereiro de 1980), com 100% de adesão. O impacto foi tremendo porque abrangia todo o tráfego (sobrevoos, chegadas e partidas), com salvaguarda apenas para voos ambulância e militares - o que levará o governo, sem grande sucesso, a promover voos com o C130 para as ilhas – que estavam isoladas (imaginem a pressão que sofreram os nossos colegas das ilhas). Novo período de mais 5 dias foi anunciado. Na véspera desse segundo período de greve, que se iniciou no dia 20 de Fevereiro, o governo, através do CG, adiantou algumas promessas num documento intitulado “Projecto de Protocolo”, quase todo centrado nas reivindicações dos CTA, onde admitia abertura em aspectos nucleares como: criação da remuneração de qualificação (antecessora da ROP), progressão por fases, aposentação antecipada e efeitos da perda de licença. Eram “só princípios”, que não foram suficientes para impedir a continuação da greve. Conseguem imaginar o espaço aéreo totalmente sem tráfego e a TAP parada, durante p.21 Na sexta feira dia 22 as ameaças são tais, que levam os sindicatos a hesitar em continuar a dar suporte à greve. Raúl Teixeira revelou-nos agora, para este artigo, o que poucos saberão: o governo ameaçou declarar a TAP em “situação económica difícil”, podendo levar a despedimentos em massa; os CTA podiam contar com uma intervenção que podia levar à “militarização”. No final desse dia, a CNECTA, perante estes perigos e da greve poder deixar de ter cobertura legal, convoca um Plenário absolutamente insólito – início às 3 da manhã, na Rua da Palma, em Lisboa (numa sede do sindicato da FP). Porquê esta hora? O ultimato do governo, antes de tomar as medidas, era o fim da greve “até ao 1º noticiário da manhã”! tantos dias? A tensão subiu a limites impensáveis neste segundo período de greve. Nunca se tinha visto nada igual no país, com a economia quase paralisada em alguns sectores (era o governo que o afirmava em notas oficiosas nos jornais) e ameaças aos CTA. A jovem democracia não ouvira tal até aí (era o governo conservador de Sá Carneiro a querer marcar a diferença). A resposta dos CTA foi … mais um período de 5 dias para continuar a greve, sem interrupção! Na sexta feira dia 22 as ameaças são tais, que levam os sindicatos a hesitar em continuar a dar suporte à greve. Raúl Teixeira revelounos agora, para este artigo, o que poucos saberão: o governo ameaçou declarar a TAP em “situação económica difícil”, podendo levar a despedimentos em massa; os CTA podiam contar com uma intervenção que podia levar à “militarização”. No final desse dia, a CNECTA, perante estes perigos e da greve poder deixar de ter cobertura legal, convoca um Plenário absolutamente insólito – início às 3 da manhã, na Rua da Palma, em Lisboa (numa sede do sindicato da FP). Porquê esta hora? O ultimato do governo, antes de tomar as medidas, era o fim da greve “até ao 1º noticiário da manhã”! A participação foi elevada, entusiástica e repartida, revelador do sentido de responsabilidade do momento que se vivia. Decidiu-se pela suspensão da greve, sendo um facto ineludível que, dos que queriam que se continuasse a greve, ainda nessa madrugada, alguns, acusando os 2 sindicatos que nos tiraram o apoio, clamaram pela criação de um sindicato de classe. p.22 A suspensão da greve foi habilmente gerida pelos nossos negociadores e criou as condições para o governo cumprir a sua parte. Contase que, na reunião do Conselho de Ministros, quando Viana Batista anunciou o fim da greve, houve palmas dos restantes … tal o alívio que representou. Em Julho estava pronto e era assinado, o documento conjunto dos ministros dos Transportes e do Trabalho: “Normas Específicas para os Controladores de Tráfego Aéreo”. Vejamos o que consagrou (nota: marcado a escuro o que era novo): A progressão profissional por 4 Fases; horário de trabalho (folgas, intervalos, descansos, tempos máximos e mínimos, limitações); trocas; a remuneração de qualificação (relacionando-a com os órgãos divididos em “Famílias” I, II e III, conforme o volume e complexidade de tráfego); normas para a reconversão em caso de perda de licença, seguro de licença e direitos específicos, como o de independência total em relação a interferências ilegítimas, salvaguarda em caso de inquérito por acidente ou incidente, garantia de não haver acesso às gravações e reprodução sem aprovação do órgão competente. Como é fácil deduzir, estas normas, mais tarde vertidas para os Acordos que se seguiram, são “fundadoras” dos direitos adquiridos, muitos deles ainda válidos mais de 3 décadas passadas, ganhos com uma dura luta e enorme vontade numa conjuntura difícil. O artº 35º destas “normas específicas” referia-se ao regime de aposentação antecipada para coincidir com o limite da idade operacional (52 anos), o qual carecia da intervenção de outro ministério (Assuntos Sociais), fixando-se um prazo de 120 dias para ser implementado. O prazo foi contestado (ver cópia desse documento em anexo, que vale historicamente pelas assinaturas …) mas não vai resultar e será necessária nova ameaça de greve, em 14 de Janeiro de 1981, para finalmente se consagrar esse regime tão relevante para os CTA. Será o SITAVA, recém-criado, que vai dar cobertura a esta greve, à qual voltaremos. A criação do SINCTA Após o fim da greve de Fevereiro de 1980, vão surgir iniciativas concretas para a criação do “sindicato de classe”, como então se dizia. O CTA Fernando Carranca, será o rosto único da iniciativa durante largos meses e o mais combativo por esta ideia. Aos poucos, com muita tenacidade e arrojo, vai conseguindo um número de seguidores que dão dimensão a este projecto, o que faz surgir iniciativas contrárias de grupos de CTA (ver cópia das primeiras páginas) defendendo ideias que apontavam para o SITAVA como a melhor solução para os CTA. O próprio Conselho Directivo (CD) da APCTA, que obteve a garantia do SITAVA que esta associação seria a voz dos CTA mesmo em matéria laboral, divulga a sua opinião nesse sentido. A Comissão Instaladora do SITAVA (as primeiras eleições serão em Novembro de 1980) também vai alertando contra os perigos de “divisionismo” em comunicados veementes aos CTA. As posições ficam extremadas, sobretudo quando os adeptos do sindicato de classe fazem um “referendo” por sua iniciativa, após o qual lançaram um comunicado elucidativo: “Foi posta aos CTA’s a alternativa clara: O SITAVA desenvolveu a propaganda que entendeu. Foi às urnas – e Perdeu!” (…) os CTA disseram maioritariamente que preferiam um Sindicato Profissional! Que não queriam ser representados pelo SITAVA mas pelo (…) SINCTA!” (nota: não encontrámos documentos originais da Comissão Organizadora do SINCTA, pelo que retirámos esta passagem de uma citação). Alegando falta de esclarecimentos aos CTA sobre ambas as posições, o CD da APCTA rejeita este referendo e … convoca outro, marcado para o dia 5 de Setembro. Entretanto já se conheciam, além de Fernando Carranca, os seus mais visíveis apoiantes: os CTA Maria Adelaide, António Correia e José Lourenço e Freitas (este do Funchal e os anteriores de Lisboa). Era o auge do nosso “verão quente” de 1980. A APCTA fala de “mau ambiente onde as más relações se instituíram”. Do lado oposto, recorda-nos Fernando Carranca em depoimento expresso para este artigo que “…foram tempos contro- p.23 REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Fernando Carranca em depoimento expresso para este artigo: “…foram tempos controversos. Tudo se vivia vertiginosamente: o país mudava todos os dias e nós éramos todos jovens, assertivos, determinados a fazer vingar ideias cheias de futuro. As polémicas sucediam-se e, com elas, os exageros da disputa. Recebi ameaças telefónicas, o meu Renault 5 foi sabotado mais do que uma vez …” O tempo da divisão (APCTA e SITAVA versus SINCTA) Raul Teixeira e Fernando Carranca versos. Tudo se vivia vertiginosamente: o país mudava todos os dias e nós éramos todos jovens, assertivos, determinados a fazer vingar ideias cheias de futuro. As polémicas sucediam-se e, com elas, os exageros da disputa. Recebi ameaças telefónicas, o meu Renault 5 foi sabotado mais do que uma vez …” O resultado da votação, onde os votos dos CTA da Madeira foram decisivos, deu a vitória aos adeptos do SINCTA por uma diferença de 18 votos, em 231 votantes. O CD da APCTA, aceitou estes resultados, mas o CD seguinte, eleito em Dezembro, irá considerar que esta votação foi equilibrada e mantém a sua posição de apoio ao SITAVA como melhor solução, face aos grandes embates que aí vinham (nomeadamente a negociação do Acordo Colectivo de Trabalho, daí a poucos meses, que sucederia ao Estatuto de Pessoal). Sustentavam a maior preparação dos seus quadros e sua estrutura bem organizada. Por oposição, apontavam a inexperiência da Comissão Instaladora do SINCTA. Para este CD da APCTA, o que não deixa lugar a dúvidas, é que foi “… o desmoronar da unidade e o fim da força reivindicativa, senão até a perca de regalias e posições alcançadas ou ao alcance”. Entretanto, decorria a elaboração dos estatutos do SINCTA a qual ficou envolta em controvérsia pelo apoio dado pelo SPAC, o qual via nesta iniciativa uma oportunidade de vencer o isolamento em que caíra. Fernando Carranca confirma que “depois de muita ponderação, acabámos rendidos, maioritariamente, ao modelo estatutário do SPAC e, com o discreto e incansável apoio da sua direção e do seu assessor jurídico, Ponce Leão”. A troco de quê, este apoio, questionavam a APCTA e o SITAVA. Até ao final do ano (1980) vai avançarse para a Assembleia Constituinte do SINCTA (mais um facto “fundador”), a qual terá lugar no dia 16 de Dezembro, no Hotel Lutécia, em Lisboa. São aprovados os Estatutos e eleita a Comissão Instaladora, com os nomes atrás indicados, além de outros (um de cada órgão). José Lourenço, que assumiu a condução da Assembleia Constituinte, fica como Presidente da Mesa da Assembleia Geral e Fernando Carranca como líder da Comissão Instaladora. A prova da divisão criada foi evidenciada, logo a seguir quando se recorreu à greve pela Reforma Antecipada aos 52 anos, marcada para 14 de Janeiro de 1981 e apoiada pelo SITAVA, como vimos atrás. O ministro Viana Batista vai tentar boicotar essa luta convocando o líder da Comissão Instaladora do SINCTA (com o qual tinha a afinidade política, invocada pelo ministro), pretendendo que se furasse a greve com recurso aos CTA oriundos do Quadro Geral de Adidos. A manobra falhou porque um grupo destes se opôs, mas a unidade que sempre existiu nas lutas dos CTA esteve ameaçada. Este exemplo extremo e grave fez reflectir até os incondicionais adeptos da opção SITAVA. Todas as tentativas que tinham feito para convencer os CTA por esta opção não tinham sido bem sucedidas e o projecto do SINCTA estava agora enraizado e o modelo tinha ganho aceitação muito alargada. Não admira por isso que, no início de 1981, os mesmos subscritores dos apelos anteriores (com poucas excepções) tenham decidido que a solução passava pela adesão colectiva ao SINCTA, com a intenção de apresentar uma lista e disputar as eleições com um programa que seria necessariamente diverso do que defendia a Comissão Instaladora. O que se pretendia salvaguardar era voltar a ter a unidade que foi sempre o bem mais precioso, sem a qual, os CTA não teriam alcançado os resultados positivos que foram conseguidos. A mudança de posição tão radical deste grupo, que tinha o seu eixo em torno dos membros da ex-CNECTA, enfureceu o SITAVA e desorientou a Comissão Instaladora do SINCTA, a qual vai arrastar a marcação das eleições por muitos meses, num processo que trataremos no próximo (e último artigo), que mostrará como se passou de uma situação de divisão que parecia irreparável e definitiva, para uma unidade quase absoluta no final desta “década fundadora”, que estamos a revisitar. . p.24 HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO Pedro Matos SA330 Puma Existem duas boas razões para trazer a esta rubrica, pela primeira vez, um helicóptero: assinala-se este ano o 50º aniversário do seu primeiro voo, e teve uma carreira longa – mais de quatro décadas – e distinta no nosso País. Caros leitores, convosco o Aérospatiale SA330 Puma. REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Origem O SA330 Puma foi projectado e construído pela empresa francesa Sud Aviation, em resposta a um requerimento do exército Francês para um helicóptero de dimensões médias, destinado a missões de transporte táctico, capaz de operação em quaisquer condições meteorológicas e de visibilidade. Optando por desenhar uma aeronave completamente nova, denominada provisoriamente Alouette IV, a Sud Aviation começou a trabalhar neste projecto em 1963 (para o que recebeu financiamento governamental), e cerca de dois anos depois já tinha o primeiro de dois protótipos em testes, com o 1º voo a ocorrer em 15 de Abril de 1965. O trabalho da Sud Aviation resultou num helicóptero com fuselagem semi-monocoque construída em metal, motorizado por duas turbinas Turbomeca Turmo IIIC4, montadas no topo da mesma (cada uma com cerca de 900kW de potência) e à frente do rotor principal, de quatro pás; na extremidade traseira encontrase o rotor vertical, de cinco pás, e um estabilizador horizontal. No que toca às principais dimensões, apresentava 18,15 metros de comprimento e 5,14 de altura, sendo de 15 metros o diâmetro do rotor principal. Tripulado por dois pilotos, o Puma foi concebido para transportar até vinte soldados totalmente equipados ou, alternativamente, 2.500kg de carga, que tanto pode viajar dentro da fuselagem (se o volume permitir), como suspensa externamente. p.25 Uma outra característica interessante da concepção do Puma reside na facilidade com que é possível transportá-lo num avião de carga, dado que não só as pás do rotor principal podem ser desmontadas, mas também a parte traseira da fuselagem pode ser separada do corpo principal, o que permite “encaixá-lo” sem problemas num avião de transporte táctico, como o Lockheed C-130 Hercules ou o Transall C-160. Projectado para executar as suas missões com apenas uma das turbinas operativas, o Puma dispõe assim, em condições normais, de um razoável excesso de potência disponível, o que lhe permite o voo a alta velocidade (250km/h em cruzeiro, o que é muito razoável para um helicóptero) e boa performance em condições “hot and high”. Durante o período de testes, o bom desempenho revelado pelo Puma despertou a atenção da força aérea Inglesa (Royal Air Force, RAF), que mostrou interesse em contar com o helicóptero no seu inventário. Conversações entre os dois países levaram a um acordo entre a Sud Aviation e a empresa Inglesa Westland, em que foi estabelecido que esta última participaria na construção do Puma, produzindo diversos componentes nas suas fábricas, para além de se encarregar da montagem das quarenta unidades encomendadas pela RAF. Além dos dois protótipos, a Sud Aviation construiu ainda seis unidades de pré-produção (denominadas SA 330A), a última das quais voou pela primeira vez em 30 de Julho de 1968. Esta unidade já estava muito perto da versão definitiva, pelo que o primeiro Puma de produção surgiu apenas dois meses depois, com as entregas ao exército Francês a começarem no início de 1969. p.26 Além da função principal (transporte táctico de tropas ou carga), o Puma veio a revelar grande versatilidade, o que sem dúvida contribuiu para o sucesso das suas vendas: com o equipamento adequado, pode desempenhar eficazmente muitas outras missões, como busca e salvamento, evacuação sanitária (consegue transportar seis macas mais quatro pacientes em cadeiras), transporte VIP, ataque ao solo (missão para a qual é montado, no exterior da fuselagem, um canhão ou um par de metralhadoras), luta anti-submarino, patrulhamento e posto de comando avançado. Em produção – variantes militares e civis As primeiras unidades de produção do Puma receberam as designações SA 330B e SA 330C, respectivamente para as versões interna e de exportação, sendo que os Puma montados na Westland também são conhecidos por SA 330E; entre as versões francesa e inglesa não existem diferenças de maior, mas o SA 330C dispunha de motores mais potentes – Turmo IVB com 1.044kW de potência. Em 1973 surge a primeira evolução, denominada SA 330H, que recebe motores mais evo- luídos (Turmo IVC com 1.174kW) e pás do rotor principal em material compósito, substituindo a liga de alumínio dos modelos anteriores. Esta versão é substituída em 1976 pelo SA 330L, com maior peso máximo à descolagem (MTOW). As qualidades do Puma tornaram-no um sucesso de vendas a nível mundial, tendo servido com as forças armadas de inúmeros países. Sendo fastidioso enumerar todos, podemos referir que entre os melhores clientes da Sud Aviation (que foi integrada numa nova empresa – Aérospatiale – criada em Julho de 1970) figuraram as seguintes nações: Argentina, Abu Dhabi, Chile, Alemanha, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Paquistão, Portugal, África do Sul e Zaire…além, claro, da França e da Inglaterra. No que respeita aos Puma fabricados pela Westland para a RAF, estes receberam a designação Puma HC Mk1, tendo o primeiro voado em 25 de Novembro de 1970, com as entregas a iniciarem-se a 29 de Janeiro seguinte. Em 1979, a RAF viria a encomendar mais 8 unidades, elevando assim o número total produzido pela Westland para 48. E o Puma parece estar para durar em terras britânicas, uma vez que no fim de 2013 a RAF iniciou um programa de melhoramentos em 24 unidades – a ser designadas HC Mk2 – com o objectivo de manter a sua operacionalidade pelo menos até 2025. Este programa inclui a montagem de turbinas Turbomeca Makila 1A1 com 1.300kW de potência, maior capacidade de combustível, glass cockpit, e novos sistemas de comunicações e auto-defesa. Não se limitando ao mercado militar, a Sud Aviation fabricou também variantes do Puma adaptadas à operação civil, sendo a primeira destas denominada SA 330F. Equipada com motores Turmo IVA debitando 1.070kW de potência, voou pela primeira vez em 26 de Setembro de 1969, tendo recebido a certificação em Outubro do ano seguinte. REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo p.27 A meio da década de 80, o Puma foi substituído na gama do fabricante por uma versão mais evoluída (SA-332 Super Puma), tendo sido entregues em 1987 as últimas unidades de uma produção total de 697 helicópteros, das quais um número razoável continua em operação, desempenhando missões tanto civis como militares um pouco por todo o Mundo. Construção sob licença (ou não…) noutros países A produção do Puma não se efectuou apenas em França e em Inglaterra; sob licença do fabricante, foram também construídos na Indonésia e na Roménia, com as designações IPTN NAS 330J e IAR 330L, respectivamente. Note-se que o número de unidades construídas pelos dois países foi muito diferente: enquanto na Indonésia apenas se produziram 11 unidades, da fábrica romena estima-se que tenham saído, até à data, mais de 150 helicópteros, e julga-se que a linha de montagem ainda se encontra activa. E, tal como as versões militares, também estas foram sendo evoluídas ao longo dos anos. Logo em 1973, surge o SA 330G, sendo a grande diferença para o seu antecessor a montagem das turbinas Turmo IVC de 1.175kW. Três anos depois, esta é substituída pela versão J, em que as pás do rotor principal são construídas em material compósito, apresentando também maior MTOW. Não atingindo o número de vendas das versões militares, mesmo assim o fabricante conseguiu produzir um total de 126 unidades das diversas variantes civis…o que não nos parece nada mau, atendendo a que o Puma foi concebido para utilização militar. No que toca à produção romena, há um facto curioso: apesar de a sua maior parte ter como destinatários as forças armadas do país, várias dezenas dos Pumas lá fabricados foram vendidos para o estrangeiro, principalmente para exércitos de África e do Médio Oriente. Por seu lado, a África do Sul, inicialmente um cliente da Sud Aviation, começou a sofrer um embargo das Nações Unidas em 1977, o que dificultou a compra de novas unidades e de peças sobressalentes. Como tal, o país teve a necessidade de fazer “em casa”, através da empresa Altas Aircraft Corporation, os “upgrades” necessários a manter a sua frota de Pumas em serviço. p.28 Ao fim de algum tempo, a Atlas decidiu incorporar as alterações entretanto desenvolvidas num helicóptero construído de raiz, mas quase totalmente baseado no Puma, denominado Oryx, que beneficiou ainda da montagem de motores mais potentes (Turbomeca Makila 1A1, com 1.400 kW). O seu primeiro voo ocorreu em Setembro de 1987, e julga-se que tenham sido construídas cerca de 50 unidades. O Puma em Portugal Envolvidas em diversos teatros de operações nas ex-colónias no fim da década de 60 do século passado, era sentida pelas forças armadas nacionais a falta de um helicóptero com maior capacidade de transporte de pessoal e maior alcance do que o disponível na altura – o Sud Aviation Alouette III, com capacidade apenas para cinco passageiros. Verificando que o mesmo fabricante produzia o Puma, adequado às necessidades verificadas na operação (comparativamente ao Alouette III, era capaz de transportar mais do triplo de passageiros, e com autonomia muito superior), Portugal adquiriu 13 unidades da versão SA 330C, entregues entre 1969 e 1971. Destes, cinco foram colocados na Base Aérea (BA) nº9, em Luanda, e seis na Aeródromo Base nº7, em Tete (Moçambique). Durante a sua permanência em África, os Puma desempenharam missões de transporte aéreo táctico e geral, evacuação médica e apoio logístico. Infelizmente, nem todos sobreviveram à guerra, tendo um sido destruído num acidente, a 18 de Dezembro de 1973, durante uma missão de transporte de tropas. Não foi esta, contudo, a única perda sofrida pela Força Aérea Portuguesa (FAP), dado que uma acção de sabotagem na BA3 (Tancos), em Março de 1971, levou à destruição de um Puma, juntamente com diversas outras aeronaves da FAP. Terminada a guerra em África, os Puma foram colocados nas BA4 (Lages) e BA6 (Montijo), passando a ser utilizados principalmente, para além de transporte aéreo táctico e logístico, em missões de busca e salvamento marítimo (caso em que a tripulação contava também com um operador do guincho e com um nadador-recuperador). Outra missão importante, especialmente no caso da BA4, consistiu no apoio à população civil. Pouco tempo depois, em 1979, inicia-se nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, em Alverca, a sua modernização para a versão SA 330H. Entre outros melhoramentos, neste trabalho destacou-se a montagem de flutuadores insufláveis e de novo equipamento de navegação e de voo por instrumentos. Em 1988 voltam novamente aos hangares para novas alterações, em que se destacam a troca das turbinas originais pelas Turbomeca Makila A1A, com maior potência (1.465 kW), bem como a montagem de novas pás do rotor principal, agora em material compósito. Com o passar do tempo, a idade da frota começa a fazer-se sentir, e, após três décadas e meia de bons serviços, a FAP começa a sua retirada da operação a partir de 2005, à medida que vão sendo recebidos os AgustaWestland EH-101 Merlin. Oficialmente retirados a 3 de Fevereiro de 2006 no continente e a 30 de Novembro do mesmo ano nos Açores, e excluindo uma unidade transferida para o Museu do Ar da FAP, os restantes Puma pareciam condenados a aguardar a sua sorte num armazém da Base Aérea de Beja (BA11)… …mas infelizmente a operação do EH-101 nos Açores, por diversas razões, não estava a correr da melhor maneira, pelo que a FAP decide, de forma a manter uma esquadra operacional no arquipélago, reactivar quatro dos Pumas REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Operação em conflitos O SA-330 foi utilizado em vários teatros de operações ao longo dos anos, tendo Portugal a (duvidosa) distinção de ter sido o primeiro país a utilizá-lo numa situação de conflito, como referido no parágrafo “O Puma em Portugal”. Nos anos seguintes, o Puma serviu em alguns dos conflitos mais importantes das últimas décadas, tendo marcado presença, por exemplo, nas Ilhas Falklands (1982), na 1ª Guerra do Golfo (1991), na intervenção da NATO na Jugoslávia (1991-1999) e no Iraque (2003-2009). DADOS TÉCNICOS Comprimento Altura (inclui rotor de cauda) Diâmetro do rotor principal Motores Peso em vazio MTOW SA-330H PUMA 18,15m 5,14m 15m (2x) Turbomeca Makila A1A (1.465kW) 3.615kg 7.400kg Velocidade máxima 273km/h Velocidade de cruzeiro 258km/h Tecto de serviço 6.000m Raio de acção 580km Autonomia 5 horas e enviá-los para a BA4 (tarefa apropriadamente denominada “Operação Fénix”), onde chegam no dia 11 de Setembro de 2008. Esta reactivação permitiu que em 2009 se registassem duas efemérides: os 40 anos da operação do Puma em Portugal e 70.000 horas de voo ao serviço da FAP. p.29 Os helicópteros mantiveram-se activos nos Açores até Abril de 2011, altura em que, resolvidos os problemas que os afectavam, os EH101 reentram formalmente em serviço. Assim, terminada a sua “segunda vida”, os Puma destacados regressam à BA11, onde aterram a 14 deste mês, e onde agora descansam. Parece ter chegado definitivamente ao termo a sua longa e distinta carreira no nosso País, onde serviram com brilhantismo, tanto em missões militares como de apoio à população civil, tendo a seu crédito a salvação de milhares de pessoas – em 2009, na celebração dos 40 anos de operação, a FAP anunciou que os Puma haviam salvo 4280 vidas (!), e podemos supor que até Abril de 2011 este número terá aumentado. Este passado ilustre garantiu-lhe um lugar de honra no Museu do Ar, situado na BA1 (Sintra), onde se encontra exposta uma das unidades retirada do activo em 2006 (número de cauda 19512). . p.30 DESTINO Mário Coelho ON THE (GREAT OCEAN) ROAD REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo p.31 Mas não se deixem enganar pelo nome já que esta estrada é muito mais do que a Costa que percorre pois atravessa florestas tropicais, durante troços consideráveis, intercalando-as com Surf Towns, reservas e parques naturais, comunidades hippies, praias e falésias compostas de calcário e arenito, bichos, muitos bichos e vinhas. Este é um dos trajectos mais famosos da Austrália com o inconveniente de estar, claramente, cheio de turistas e de armadilhas para os agarrar, quero dizer, locais que por serem demasiado famosos perderam muito do encanto que certamente já tiveram, tendo em contraponto ganho a loja de souvenirs “made in china”. Um dos livros que me marcou na adolescência, foi o “ON THE ROAD” do Jack Kerouac onde o que interessa na viagem é o trajecto, não o destino. Jack, também por tua causa, tenho uma veia de nómada, uma enorme vontade de partir e não chegar. Neste pequeno texto partilho convosco alguns dos melhores momentos e imagens da viagem que fiz ao longo da Great Ocean Road na costa sudeste da Austrália entre as cidades vitorianas de Torquay e Allansford. Esta estrada foi contruída após a Primeira Guerra Mundial por soldados regressados entre 1919 e 1932 tendo sido dedicada aos soldados mortos, sendo o maior memorial de guerra do mundo e uma das mais importantes atrações turísticas no país. Espero que gostem, que façam as malas e venham ver vocês mesmos. Vale a pena! Saímos de Allansford e rapidamente encontramos uma clara indicação de que esta estrada tem muitos mais turistas do que outros locais em Victoria dada a quantidade de sinais de perigo relembrando os condutores que aqui se conduz do lado esquerdo da estrada. Imagino a quantidade de turistas que alugam um carro e que a fazem transpondo em locais mais desertos para o lado certo da mesma e dando de caras, mais tarde, com outro carro de “biquesas”… A estrada tem só duas faixas e é muito sinuosa (uma em cada sentido), percorrendo aquelas que são conhecidas como a costa dos naufrágios (à data de hoje existem 638 registos de navios afundados entre Allansford e Cabo Otway) e a Costa do Surf (entre Cabo Otway e Torquay). Começo pelo ponto mais fraco, na minha opinião, desta viagem e que é precisamente a imagem icónica da mesma, os TWELVE APOSTLES (Doze Apóstolos). Pouco interessante, apinhado de turistas, parecia um qualquer local de peregrinação em dia de procissão… Muitos autocarros, venda industrial de bugigangas, um autêntico flop. Pior que visitar este local só mesmo vir num autocarro em excursão a partir de Melbourne… tenham medo, muito medo! Para mim representou o que esta viagem não é, já que convida a alguma contemplação pela imponente beleza natural da grandiosidade das suas florestas e reservas naturais, pelas suas falésias e mar implacável e até pelas pessoas que a vivem. Aqueles milhares de turistas que chegam e partem de autocarro, a loja de souvenirs, aquela correria e agitação não são, de todo, representativas desta estrada. p.32 Até o raio do nome do sítio é uma aldrabice…passo a explicar… O nome original era a The Sow and Piglets (A Porca e os Leitões) mas em 1922 e por motivos meramente turísticos renomearam este conjunto de ilhéus como os Twelve Apostles (Doze Apóstolos) apesar de só ter (em 1922) nove elementos. Em 3 de julho de 2005, um ilhéu com 50 metros de altura desabou, deixando os oito restantes que se mantêm hoje em dia. Durante a viagem, vimos vários animais, de criação e selvagens, desde ovelhas e vacas, a cangurus e cobras (estas só vimos achatadas na estrada – felizmente) com muitos sinais de perigo a alertar para a sua presença. Um conselho que os locais me deram e que procuro seguir é tentar evitar conduzir à noite pois aparentemente alguns destes bichos vão para a estrada e um Kanguru, que pode pesar umas dezenas largas de quilos, pode fazer uma grande mossa num carro ou até, num caso limite de atropelamento de um com maior porte, causar ferimentos aos ocupantes da viatura. Algo que não queremos, definitivamente, no meio de nenhures. Chegando ao Great Otway National Park começamos a ver demasiados sinais de perigo a avisar que havia koalas, o que me comecou a cheirar a marketing (as t-shirts têm que vender e esta é uma Estrada para turistas, certo?). Pois bem, qual não é o meu espanto quando os putos gritam “um koala!!” Paramos o carro e lá estava o artista a cerca de dois metros de altura agarrado ao tronco de um eucalipto mesmo ao lado da estrada como se nada fosse e nós ali a olhar babados para o bicho no relax. Rapidamente percebemos que quase todas as árvores circundantes tinham muitos destes encantadores marsupiais no chill-out. Chegados ao mar, a estrada fica muito sinuosa com as vistas renovadas após cada curva, algumas com precipícios cuja proximidade à estrada impõe respeito. Dos vários miradouros onde paramos o que mais me impressionou foi a LONDON BRIDGE, claramente merecedor de visita e de contemplação. Ao ver a rocha (vejam foto anexa) percebi o porquê do nome (pensava eu) mas de facto o nome foi dado para a composição original que já não existe, visto que em 15 de Janeiro REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo de 1990 desabou a “verdadeira ponte”, tendo dois turistas ficado retidos na ilhota que sobreviveu à derrocada, posteriormente resgatados de helicóptero. Se eu achei esta rocha e o mar que a rodeia espetacular, imagino como terá sido antes da derrocada. Sem turistas e com tudo o que interessa o barulho do mar e do vento e uma agradável e simultaneamente assustadora sensação de que somos uma formiga neste planeta. Um dos sítios mais bonitos que visitamos. Em Warrnambool, encontramos uma belíssima vila piscatória que parecia ter parado no século XIX tal a perfeição do seu estado de conservação; só faltava cruzarmo-nos com o Captain Cook. Continuando viagem chegamos a LORNE, mais uma vila muito agradável com a cultura surf e chill out bem presente. O restaurante que escolhemos (mais ditado pela fome do que por qualquer pesquisa cuidada) era acolhedor mas, apesar disso a nossa atenção ficou rapidamente presa ao que se passava no jardim e nas árvores em frente, cheias com dezenas de papagaios, deliciando pequenos e graúdos. Não sei se escolhemos bem, mas pedimos mais uma dose de batatas para a bicharada e, claro, lá fomos nós para o meio deles. Não é que os bichos eram disciplinados? Esperavam pacientemente que se lhes desse a comida no bico…pareceu-me que se ficasse ali tempo suficiente (e se bebesse uma cervejolas) poderia ter umas conversas engraçadas com eles. Mas teria que ser a sós com eles, eles iriam perceber…outros não sei… Passadas mais cerca de duas horas chegamos ao fim (ou o início) da Estrada em Torquay, uma das capitais do Surf na Austrália (e onde está situado o museu dedicado ao tema – que não tivemos tempo de visitar). Ainda fomos a tempo de dar um mergulho para acabar o dia e tenho que vos disser o que constatei em várias praias da Austrália… DICAS DE VIAGEM: • Voar com a Emirades reduz uma escala em relação a todas as outras companhias aéreas... Num voo de 30-35H é um fator importante a considerar! • Programar uma viagem de no mínimo 20 dias... O país é enorme e com muitas atrações... e 3 dias são gastos em viagem... p.33 Sempre associei o surf a jovens sem barriga, autênticos atletas (a maioria loiros ou loiras)…pois bem, não é nada disso…também os há mas muitos (e são mesmo muitos) são gordos, velhos carecas, elas de celulite e banha. No entanto, de prancha debaixo do braço, sorriso, entram na água e provam que a sabem usar. Existem estradas para fazer mas esta é para viver não bastando para isso um par de dias e digo isto porque foi precisamente o que fiz tendo deixado a estrada com a sensação de que os dois dias que aqui passei só serviram para ficar com a certeza de que tenho que voltar, com tempo, porque deixei muito por ver e por viver na Great Ocean Road. Acabo de terminar esta viagem e estou outra vez com vontade de partir…raios te pelem Kerouac… . • Ter muito cuidado nos parques naturais e no mar, respeitando os sinais... a quantidade de animais venenosos e perigosos é elevada (incluindo cobras, tarântulas, crocodilos e alforrecas). • Entrar no espírito descontraído dos australianos e aproveitar o contacto com a natureza, desfrutar dos churrascos, da cerveja... e estar preparado para receber um cumprimento: hei Mate! p.34 ECOS DA IMPRENSA Nuno Catarina Promoção da comunicação de incidentes e respectiva protecção da fonte Uma seleção de interesse ATC Reportes de incidentes de segurança por parte dos colaboradores são uma valiosa fonte de informação para formar e informar em questões desta natureza. No entanto por forma a dinamizar esta partilha de informação, as organizações têm que fomentar uma cultura na qual os seus colaboradores tenham a certeza de um tratamento justo aquando da divulgação dessa mesma informação. Em 2014 foi elaborado pela CANSO o “Gudelines on Just Culture in 2014” que visa promover linhas de orientação aos seus membros nesta matéria. É objectivo da CANSO juntamente com a ICAO assegurar que os reguladores e legisladores protejam devidamente este género de informação e as suas respectivas fontes. Estabelecimento de indicadores de desempenho de segurança padrão Segurança ATM Fonte – www.atc-network.com A CANSO anunciou a publicação do Guia de Implementação do Sistema de Gestão de Segurança, o qual irá contribuir para para a melhoria da segurança em toda a indústria ATM. De acordo com Jeff Poole, director geral da CANSO, este novo guia será inovador em relação aos desafios futuros na área da segurança, na partilha de boas práticas e produzirá linhas de orientação e treino, dando um excelente contributo ao setor. CANSO, ICAO, Estados Membros e parceiros estratégicos da indústria aeronáutica irão trabalhar em cinco áreas prioritárias: Implementação de sistemas de gestão de segurança eficazes O Guia prevê linhas padrão step-by-step a serem implementadas pelos membros CANSO, por forma a atingir niveis crescentes de segurança. O Guia está em completa sintonia com as normas e prácticas recomendadas pela ICAO no Anexo 19 no que diz respeito à gestão de segurança, havendo lugar a uma estreita relação de trabalho entre os dois organismos por forma a garantir que os principios de segurança estarão devidamente contemplados; garantindo assim a sua total implementação pelos Estados. Redução de Runway Incidents A CANSO está a trabalhar na redução dos Runway Incidents através de uma série de programas e iniciativas. A CANSO Runway Safety Iniative foi lançada em 2013 e fornece ferramentas prácticas para melhorar a segurança através de check lists para controladores e pilotos, da “runway safety maturity checklist” e uma aplicação móvel. Nos últimos 10 anos a CANSO tem vindo a reunir informação vital tendo em vista a avaliação do desempenho de segurança e identificação de áreas problemáticas. Neste sentido a CANSO tem incentivado a ICAO a utilizar esta informação por forma a harmonizar os indicadores de desempenho de segurança através de parâmetros mensuráveis e definições consistentes. Troca de informações relativas a segurança A CANSO pretende uma cooperação ainda mais efectiva com a ICAO na troca de informação relativa a segurança onde se inclui o desenvolvimento de um modelo para a “aviation safety intelligence”, conforme descrito no memorando de cooperação ICAO-CANSO. Controle de tráfego aéreo holandês pioneiro Fonte – www.airtrafficmanagement.net A empresa de Controle de Tráfego Aéreo holandesa LVNL, tornou-se na primeira organização do ramo a comunicar publicamente o seu desempenho de segurança e incidentes potencialmente graves nas suas operações. A partir de agora, a LVNL irá fornecer informações gerais sobre a segurança de suas operações no seu site (www.lvnl.nl). O site divulgará informações concretas sobre incidentes específicos, nomeando causas e efeitos, bem como as medidas tomadas para reduzir o risco de incidentes semelhantes no futuro. O site também divulga uma série de estatísticas que demonstram a influência de um incidente sobre o desempenho de segurança da LVNL. A empresa, que já comunica regularmente e em detalhe o seu desempenho de segurança a parceiros na aviação e no setor, como o Safety Board holandês, a autoridade supervisora holandesa, o aeroporto internacional de Schiphol e a KLM, anunciou que decidiu assumir a responsabilidade de informar o público em geral sobre as questões relacionadas REVISTA APCTA. VOL4 #31. ABR15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo com o desempenho de segurança o mais rapidamente possível. Segundo os seus representantes a publicação do desempenho de segurança é adequada numa organização que fornece um serviço público essencial e está empenhada em lidar com profissionalismo e responsabilidade aos incidentes que podem ocorrer devido à natureza das operações. Segundo Paul Riemens, CEO da LVNL, para alcançar e manter um alto nível de segurança, uma organização precisa estar disponivel e apta a aprender e melhorar. Para ganhar a confiança do público, uma organização precisa de ser transparente sobre seu desempenho de segurança. Para Tony Licu, responsável pela unidade de segurança da Eurocontrol, ao abrir este capitulo sobre transparência e segurança ao público em geral a LVNL demonstra que a aprendizagem é mais eficaz do que a punição. Ele também fornece um exemplo desafiador para os outros prestadores europeus de serviços de navegação aérea, estabelecendo uma verdadeira liderança na forma como se lida com a segurança na gestão do tráfego aéreo e na “just culture”. Quanto a Patrick Ky, o diretor-executivo da EASA afirma que este passo da LVNL em publicar não só o que aconteceu, mas também porque aconteceu, assinala um importante passo em frente e vai reforçar a confiança do público em geral na capacidade de auto-aprendizagem dos prestadores de serviços de navegação aérea. Tecnologia Fonte - www.airport-technology.com, www.atc-network.com, www.atwonline.com O aeroporto de Frankfurt introduziu uma nova tecnologia. Taxibot é o nome dado a este novo e inovador trator de reboque de aeronaves. Trata-se de veículo hibrido-eléctrico, semi-robótico e que pode ser controlado pelo piloto directamente a partir do cockpit. Foi desenvolvido pela Israel Aerospace Industries (IAI) e aprovado pela EASA, sendo agora utilizado pela Lufthansa Leos (subsidiaria da Lufthansa Technik). A utilização do Taxibot permite a rolagem das aeronaves entre o stand e a pista com os motores desligados reduzindo desta forma os custos em combustível (de acordo com a IAI 2.700T anuais em Frankfurt), as emissões de carbono e os níveis de ruído. A redução do congestionamento de aeronaves na área de manobra é outra das vantagens apontadas pelos seus criadores pois este novo trator dispõe de um inovador encaixe na roda do nariz do avião que “interpreta” os comandos vindos do cockpit e transmite para as oito rodas do Taxibot expeditando desta forma o início da rolagem. Desta forma e logo após o push-back o piloto fica efectivamente no comando da situação utilizando o “Pilot Control Mode”. Ainda em teste e aguardando certificação está a versão para p.35 Wide Body (nomeadamente B747 e A380) tendo a IAI já assinado um memorando de entendimento com a Lufthansa Leos para os respectivos testes. A Atlantic Arways, transportadora aérea nacional das Ilhas Faroé, foi aprovada pelas autoridades dinamarquesas para operar un inovador procedimento de aproximação falhada. Trata-se de uma aproximação com transição de ILS para aproximação falhada baseada em RNP AR 0.1 e que será implementada no aeroporto de Vagar, uma das ilhas do arquipélago.Numa mesma parceria com a Airbus ProSky esta companhia já havia sido pioneira no espaço aéreo europeu aquando do lançamento das primeiras três aeronaves (A319) equipadas com RNP AR 0.1. O objectivo principal ao juntar as duas tecnologias (Performance Based Navigation e ILS) é o de maximizar ambas, permitindo uma redução significativa do “weather minima”. Comparando o novo procedimento com o ILS convencional os mínimos baixaram 225 pés, sendo ainda de salientar que a transição entre RNP e ILS é totalmente gerida pelo piloto automático. O tráfego aéreo de e para o Aeroporto Internacional do Dubai foi no passado dia 23 de Janeiro interrompido durante quase uma hora, devido ao uso recreativo de drones na zona da terminal do mesmo. A decisão foi tomada pelos controladores de aeródromo obrigando alguns voos a divergir para outro aeroporto, o Dubai Al Maktoum Airport. Um portavoz dos aeroportos do Dubai informou que as operações normais foram interrompidas durante cerca de 83 minutos, sendo o facto justicado oficialmente pela “presença de tráfego não tripulado e não autorizado em espaço aéreo restrito para fins recreativos”. De acordo com DCAA (Dubai Civil Aviation Authority), o uso destes aparelhos nas proximidades do aeroporto foi irresponsável e avisou que acções legais serão tomadas contra os infratores. Já para o porta-voz dos aeroportos do Dubai é necessária a criação de licenças de utilização e o estabelecimento de procedimentos e legislação para um uso responsável e seguro dos drones. Ainda neste domínio, a NATS assinou recentemente uma parceria com a ARPAS UK (associação comercial representante dos operadores e stakeholders de drones), que visa promover uma utilização segura e adequada destes aparelhos cujas versões mais recentes podem atingir os 2000 pés. Embora o uso comercial de drones já esteja devidamente regulamentado, com qualificações e autorizações específicas de operação, a extrema facilidade de aquisição e utilização dos mesmos por pessoas não qualificadas exige uma regulamentação eficaz. Embora os incidentes com estes gadgets sejam ainda raros, devido ao aumento exponencial na sua utilização é importante que os seus utilizadores entendam as suas responsabilidades como pilotos desta excitante e emergente tecnologia. p.36 BREVES de várias fontes 4º SPA CUP por: Andreia Lopes Da esquerda para a direita: Nuno, Júlio, Mafalda, João, Isabel e Hugo Realizou-se no passado dia 6 de Março, mais uma SPA CUP, desta vez a quarta edição, no hotel Vila Galé em Paço de Arcos. O programa era ambicioso, especialmente devido à forte adesão feminina. Começámos o dia com uma aula de Tai Chi, que serviu para equilibrar energias e libertar o stress. Seguiuse um programa de relaxamento com massagens, sauna, banho turco e piscina. As mais ousadas ainda aproveitaram para um treino matinal no ginásio do hotel. Ainda houve tempo para um banho de sol junto à piscina exterior e um mergulho na água gelada para as mais corajosas. Seguiu-se o habitual almoço convívio que se prolongou até meio da tarde. O sucesso da iniciativa demonstra-se pela forte adesão ao evento, 24 CTA que em parte ou na totalidade aderiram ao evento. Uma palavra de agradecimento à APCTA, pelo apoio disponibilizado e à Marta pela excelente organização! AbInitio FI013 por: Hugo Ângelo No passado dia 23 de Janeiro tivemos o privilégio de receber os nossos novos colegas do Ab-Initio FI013. Depois de uma manhã animada a conhecer a nossa querida sede, a Matola, e a conhecer um pouco da história da APCTA/SINCTA, seguiu-se um almoço de convívio entre colegas novos e “velhos”. Após conclusão da formação inicial, os nossos colegas foram integrados nos órgãos ATC para completar a sua primeira qualificação. A Flight Level dá as boas-vindas à Isabel Mesquita (Flores), à Mafalda Silva (Horta), ao Nuno Ferreira (Cascais) e ao Hugo Pacheco, João Oliveira e Júlio Teixeira (Santa Maria), desejando-lhes as maiores felicidades nas suas carreiras. Ab-Initio FI001 por: Rui Marçal No passado dia 28 de Março o Ab-Initio FI001 fez os seus 10 anos. Toda a família reuniu-se em Alverca para celebrar esta importante data, acompanhados dos respectivos comes e bebes habituais. A saber, este curso é composto pelos colegas Hugo Angelo, Bruno Gama, Susana Barros, Nádia Silva e João Gonçalves do ACC de Lisboa, Celso Pereira, Rui Marçal e Bruno Boal do APP de Lisboa, Rui Ladeiro da Torre de Lisboa, Miguel Correia e Francisco Santos da Torre do Funchal e Ana Melro da Torre de Ponta Delgada. 40º GFL por: Francisco Leitão O 40º GFL , organizado pelos nossos colegas franceses, teve lugar na estância Alpina de Les Arcs, numa das várias aldeias construídas de raíz nas encostas do maciço montanhoso do Monte Branco. Cada aldeia é identificada com um número de acordo com a altitude a que foi construída. A nossa era a Les Arcs 1950. Apartamentos de 5 estrelas que fazem jus a essa classificação. Calçávamos os skis à porta do apartamento, e no regresso a descida terminava no mesmo sítio. Um domínio esquiável de várias centenas de KM, com pistas para todos os gostos onde as mais compridas podiam levar 30m a descer! Um sítio idílico para a práctica do SKI mas talvez não muito apropriado para um GFL. Cerca de 700 pessoas, espalhadas por todos os apartamentos e sem um espaço grande e confortável onde, à noite, a malta se pudesse juntar. Assim, todas as noites tínhamos de subir a pé cerca de 400m de uma pista de ski (!), para nos encontrarmos todos numa tenda gigante montada propositadamente para as festas. E, claro, a coisa até funcionou mais ou menos. Mas no dia da tempestade de neve a tenda fechou e ficámo-nos pelos bares da aldeia onde não cabíamos todos… A equipa Portugal Snow Team, foi chegando ao longo do 1º dia, uns com mais sorte, outros nem tanto. Num dos autocarro vinham uns AbInitios da equipa de Praga, a dar na Rakia o tempo todo (aguardente da região). Como resultado, parámos várias vezes para pedir a ajuda do Gregório e para fazer limpezas da alcatifa da camionete… mas o GFL é assim mesmo e o pessoal vai-se habituando. Os 12 magníficos portugueses que compuseram a delegação deste ano, estiveram mais uma vez à altura dos acontecimentos. Alguns estrearam-se, outros não faltam nunca. E quem foi pela primeira vez assegura que vai passar a ir todos os anos. O GFL é realmente um acontecimento fantástico, cada vez mais global. Aos poucos vão aparecendo equipas que vêm dos EUA, do Dubai e das Caraíbas !! Este ano os vencedores das várias provas tiveram direito a escutar o Hino Nacional (grandes emoções). Espera-se que para o ano que vem possamos escutar a Portuguesa, uma vez que a nossa estrela Fernando Dutra tem vindo a coleccionar pódiuns. Este ano arrancou um grande 2º lugar em condições extremamente adversas, numa prova de snowboard nocturna à temperatura de -16 oC e com a pista cheia de gelo. Grande Dutra. O programa das festas teve este ano 2 eventos temáticos, a noite branca e a noite dos 70’s. Na primeira alguns foram de preto….só para contrariar, mas estava lá o Papa que tudo perdoou. Já a noite dos 70’s foi demais com troppers starwars, bob marleys, elvis pélvis, teletubies, ABBA, calças à boca de sino, grandes cabeleiras, enfim toda a gente se esmerou. O problema é que havia uma tempestade de neve….. e não podíamos ir para a tenda gigante. Ficámos então pela aldeia, numa discoteca em que só cabiam 200 pessoas. Mas o pessoal fez a festa na mesma, na rua (!) e nos bares circundantes. A banda UFO abrilhantou algumas noites e fechou a festa final. Uma bateria, um baixo, uma guitarra e 3 raparigas que cantavam e encantavam. Para o ano há mais, organizado pelos nossos colegas Italianos o GFL será em Bruneck/Kronpaltz na fronteira Italo-Suíça. Preparem-se ! Devo enaltecer o grande trabalho (mais uma vez) do nosso chefe de equipa David Dias. Sempre disponível e com toda a informação. Também um grande elogio ao nosso “pintor” Tó Leal que desenhou as nossas T-shirts, em que pôs um eléctrico lisboeta a fazer de teleférico nos picos do Monte Branco. Lindo, lindo! Ficam os nomes da equipa de elite que este ano representou Portugal, o Portugal Snow Team: David Dias, Tó Leal, Catarina Frazão, Fernando Dutra, Frederico Dutra, Sofia Roena, Nuno Peixoto, Sílvia Oliveira, José Leitão, Hélio Sales, João Braz e Joana Guerreiro. Até 2016! HUMOR EM BANDA Leonor Casanova REVISTA APCTA. VOL4 #31. JAN15 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo