O RIO DA VIDA NO HABITAT RESTAURADO

Transcrição

O RIO DA VIDA NO HABITAT RESTAURADO
Capítulo 1
O RIO DA VIDA NO HABITAT
RESTAURADO
“Então, me mostrou o rio da
água da vida, brilhante como
cristal, que sai do trono de
Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1).
O capítulo 22 de Apocalipse começa tratando de dois
elementos que nos remontam ao jardim de Deus, conforme
registrado em Gênesis 1 e 2: um rio e uma árvore. Vamos
falar agora sobre o rio da vida e, no próximo capítulo, sobre a árvore da vida. O último livro da Bíblia remete-nos de
volta ao primeiro ao descrever o paraíso restaurado.
O rio do paraíso original é substituído pelo rio da vida
no paraíso restaurado. Já estudamos, em publicação anterior, sobre o rio que nascia no Éden para regar o jardim
o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
de Deus, o paraíso original.1 É importante observar que o
rio que regava o jardim não nascia dentro deste, mas vinha
de outra parte do Éden. Não havia rio da vida no paraíso
original, somente um rio que nascia no Éden para irrigar
o habitat original dos homens. Já o rio da vida nasce no
paraíso restaurado e procede do trono de Deus.
Depois do deslocamento do paraíso para o céu2, não
mais temos notícia desse rio mencionado em Gênesis.
Diferentemente do rio do Éden que vinha regar o paraíso
original, o rio da vida nasce no paraíso restaurado e irriga
toda a nova terra.
O rio da vida é uma inovação do paraíso restaurado.
Não há nada em toda a revelação histórica, tanto no paraíso original como na presente terra, que se assemelhe a ele.
Alguns dos cenários mais belos que já vi em minha
vida têm a presença de um rio cruzando uma cidade ou
serpenteando entre montanhas, formando um vale encantador. Os rios sempre dão beleza a uma paisagem, mesmo
neste mundo sob maldição. O Brasil é cruzado por uma
infinidade de rios, um mais belo que o outro por seu tamanho e encanto. Nenhum país do mundo tem tantos rios
com tamanha riqueza para os olhos.
No entanto, nada que há neste mundo poderá ser
comparado às provisões divinas no seu mais cristalino rio,
o rio da vida! Este é belamente diferente porque não depende da chuva, nem do derretimento da neve, nem de afluentes para que possa correr sempre belo pela nova terra.
No paraíso original, que tem conexão com a primeira
criação, encontramos um rio que “saía [...] do Éden para
regar o jardim...” (Gn 2.10). No paraíso restaurado, em conexão com a nova criação, também encontramos um rio,
CAMPOS, Heber Carlos de. O habitat humano – o paraíso criado. São
Paulo: Hagnos, 2011, p. 49-66.
2
CAMPOS, Heber Carlos de. O habitat humano – o paraíso perdido. São
Paulo: Hagnos, 2012, p. 352-361.
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O rio da vida no habitat restaurado
um rio sem nome, simplesmente designado como rio da
vida.
O RIO DA VIDA FOI EXIBIDO A JOÃO
POR UM ANJO
“Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como
cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1).
Esse anjo que fala com João e lhe mostra a cidade é
um dos “sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos” (Ap 21.9). Tal anjo é designado por Deus
para tirar João dessa presente realidade e transportá-lo a
uma época futura para lhe revelar as novidades da nova
criação e a totalidade das obras divinas na cidade. Ele faz
uma espécie de city tour3, apresentando a João as maravilhas do paraíso restaurado. Através da ação desse anjo,
portanto, Deus mostra a João, no último capítulo do Novo
Testamento, um rio denominado “rio da água da vida”, que
corta a grande praça da cidade.
A expressão “me mostrou” (o verbo deiknumi) aparece
oito vezes no livro de Apocalipse4, três delas no capítulo
em estudo. Esse verbo significa “mostrar, exibir, tornar conhecido”. Deus fez questão de dar a João vislumbres dessa
paisagem onde um rio desponta maravilhosamente.
Nessa visão, João se depara com o lugar de onde
procedem as provisões e a nutrição dos cidadãos da nova
Jerusalém.
Essa é uma expressão usada por John MacArthur em seu sermão
sobre Apocalipse 22, encontrado no site http://www.gty.org/Resources/
Sermons/66-84.
4
Apocalipse 1.1; 4.1; 17.1; 21.9,10; 22.1,6,8.
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o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
O RIO DA VIDA SERÁ UM LUGAR DE ENCONTRO
DOS CRISTÃOS
Conforme o ensino do apóstolo João, o rio da vida tem
nascedouro no trono de Deus e do Cordeiro; o rio passa
pela praça da cidade, dividindo-a em duas grandes partes.
Imagino que esse lugar, em frente ao trono e na praça, será
enorme, a ponto de comportar todos os remidos para a chamada assembleia dos santos. Essa assembleia vai cantar
louvores ao Senhor perante seu trono, ao lado do rio.
“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que
ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos,
povos e línguas, em pé diante do trono e diante do
Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas
mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus,
que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.
Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos
e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram
sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém!
O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças,
e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus,
pelos séculos dos séculos. Amém! Um dos anciãos tomou
a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras
brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu
Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que
vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as
alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.9-14).
Todas as criaturas vivas estão na nova Jerusalém, que
é o lugar do trono governante de Deus. Elas estão diante
do trono a fim de participar de uma reunião já marcada
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O rio da vida no habitat restaurado
por Deus para um grande dia, um dia de doçura e de esplendor para o seu povo de todas as épocas e lugares aos
quais a redenção chegou. Eles estarão às margens do rio,
em frente ao trono do Pai e do Cordeiro. Será a maior celebração da igreja, porque nunca ela esteve reunida na sua
plenitude. Lá estarão a igreja triunfante, composta dos que
já partiram, e a igreja militante, que hoje ainda luta neste
mundo. Uma reunião inimaginável!
Os mais interessados nessa visão do trono na cidade
são os remidos, porque o cântico que eles entoam diz respeito ao grande Deus e à maravilhosa salvação de que são
beneficiários. Eles estão em traje de gala – roupas brancas
lavadas no sangue do Cordeiro. É uma cerimônia festiva que,
creio eu, se repetirá muitas vezes porque sempre os remidos
se lembrarão do que foi feito em seu lugar e em seu favor.
Não sou capaz de vislumbrar a paisagem grandiosa
do trono de onde sai o rio da vida e de todos os remidos
reunidos para celebrar seu louvor a Deus. Não será uma
paisagem bucólica, romântica, mas um cenário deslumbrante, indescritível, de tal forma que João não deu conta
de expressar detalhes!
Você e eu estaremos ali, humildes e agradecidos por
tão grande obra que foi feita em nós e por nós. Ali, naquele
lugar esplendoroso, contemplaremos a beleza da cidade
construída pelo Cordeiro junto ao rio da vida! Você já pensou nisso? Esta é uma verdade a seu respeito que você
deveria conhecer cada vez mais!
A ANTECIPAÇÃO DO RIO DA VIDA NO ANTIGO
TESTAMENTO
Existem algumas alusões a um rio especial no Antigo
Testamento, mas elas não indicam tudo o que o rio da vida
significa.
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o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
“Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente
das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o
manancial da vida; na tua luz, vemos a luz” (Sl 36.8,9).
Esses versículos mencionam a “torrente das tuas delícias”, que poderia ser comparada a um rio de prazeres,
mas não é esta a ideia completa do texto de Apocalipse.
Já o versículo 9 afirma que em Deus “está o manancial da
vida”. Se ligamos Deus a esse rio, então ele é o rio da vida,
mas a informação do texto é muito vaga.
Um outro Salmo diz:
“Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus,
o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no
meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde
antemanhã” (Sl 46.4,5).
O salmista menciona um rio que está na cidade de
Deus e que a torna alegre, um rio de delícias. Certamente
essa cidade não é a Jerusalém terreal, porque ali não existe sequer um riacho digno de nota, mas é uma referência a
uma cidade no estado de glória. Não há outra maneira de
entender o encanto que o salmista tem por esse rio! Nessa
cidade Deus habita; é uma cidade firme e que recebe desde
cedo a proteção do Senhor. Nada a abala. Esses versículos
apontam para um rio na cidade de Deus, mas o contexto
não indica que isso se refere à nova terra. Contudo, não há
nenhum impedimento exegético de ver o rio da vida com
essas conotações.
“Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os
teus olhos verão a Jerusalém, habitação tranquila,
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O rio da vida no habitat restaurado
tenda que não será removida, cujas estacas nunca
serão arrancadas, nem rebentada nenhuma de suas
cordas. Mas o SENHOR ali nos será grandioso, fará as
vezes de rios e correntes largas; barco nenhum de remo
passará por eles, navio grande por eles não navegará”
(Is 33.20,21).
“Naquele dia, também sucederá que correrão de
Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar oriental,
e a outra metade, até ao mar ocidental; no verão e no
inverno, sucederá isto. O SENHOR será Rei sobre toda a
terra; naquele dia, um só será o SENHOR, e um só será o
seu nome” (Zc 14.8,9).
Com toda a probabilidade, esse texto de Zacarias é uma
referência à nova Jerusalém, não à presente. O conteúdo
dos versículos aponta para um rio com propriedades singulares e para o reinado absoluto do Senhor sobre o trono.
“E há de ser que, naquele dia, os montes destilarão
mosto, e os outeiros manarão leite, e todos os rios de
Judá estarão cheios de águas; sairá uma fonte da Casa
do SENHOR e regará o vale de Sitim” (Jl 3.18).
Essa mesma ideia expressa por Joel, em referência a
um rio que procede da Casa do Senhor, que é o templo de
Deus, está presente em Ezequiel.
Talvez a alusão mais próxima e mais detalhada ao
rio da vida no Antigo Testamento esteja no livro do profeta
Ezequiel. As referências de João ao rio da vida podem ser
melhor entendidas ao estudarmos a menção que Ezequiel
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— o paraíso restaurado 2
faz a um rio especialíssimo que ele contemplou em suas
visões.
Alguns aspectos relacionados ao rio da vida estão
prefigurados na descrição de Ezequiel. Obviamente, a sua
visão ainda é nebulosa, e não há como equalizá-la ao rio
da vida, mas há uma grande proximidade nos detalhes.
ANÁLISE DE TEXTO
“Depois disto, o homem me fez voltar à entrada do
templo, e eis que saíam águas de debaixo do limiar do
templo, para o oriente; porque a face da casa dava para
o oriente, e as águas vinham de baixo, do lado direito
da casa, do lado sul do altar. Ele me levou pela porta
do norte e me fez dar uma volta por fora, até à porta
exterior, que olha para o oriente; e eis que corriam as
águas ao lado direito. Saiu aquele homem para o oriente,
tendo na mão um cordel de medir; mediu mil côvados e
me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos
tornozelos. Mediu mais mil e me fez passar pelas águas,
águas que me davam pelos joelhos; mediu mais mil e
me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos
lombos. Mediu ainda outros mil, e era já um rio que eu
não podia atravessar, porque as águas tinham crescido,
águas que se deviam passar a nado, rio pelo qual não
se podia passar. E me disse: Viste isto, filho do homem?
Então, me levou e me tornou a trazer à margem do rio.
Tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia grande
abundância de árvores, de um e de outro lado. Então,
me disse: Estas águas saem para a região oriental,
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O rio da vida no habitat restaurado
e descem à campina, e entram no mar Morto, cujas
águas ficarão saudáveis. Toda criatura vivente que vive
em enxames viverá por onde quer que passe este rio,
e haverá muitíssimo peixe, e, aonde chegarem estas
águas, tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por
onde quer que passe este rio. Junto a ele se acharão
pescadores; desde En-Gedi até En-Eglaim haverá lugar
para se estenderem redes; o seu peixe, segundo as suas
espécies, será como o peixe do mar Grande, em multidão
excessiva. Mas os seus charcos e os seus pântanos não
serão feitos saudáveis; serão deixados para o sal. Junto
ao rio, às ribanceiras, de um e de outro lado, nascerá
toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não
fenecerá a sua folha, nem faltará o seu fruto; nos seus
meses, produzirá novos frutos, porque as suas águas
saem do santuário; o seu fruto servirá de alimento, e a
sua folha, de remédio” (Ez 47.1-12).
A visão do profeta Ezequiel pode ser entendida como
uma referência a uma cidade perfeita, cujos rio e árvores
se assemelham às descrições de João em Apocalipse 21 e
22. Conquanto haja similaridades, há também diferenças
entre as duas visões. Como um hebreu saudoso de sua
terra e do templo, Ezequiel pensa na restauração do que
eles possuíam, ao mesmo tempo que deseja para o futuro
coisas maravilhosas que nunca os judeus experimentaram. Os dois profetas tratam do mesmo período, mas com
perspectivas diferentes, motivados por motivos diversos e
a partir de diferentes níveis de revelação acumulada. O
conhecimento revelado a Ezequiel é muito menor que o de
João, e suas descrições se assemelham a coisas conhecidas em sua época, mas com grandes melhoras.
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As referências feitas por Ezequiel têm um tom fortemente judaico. A sua linguagem é típica de um profeta no
exílio, saudoso de coisas que lhes foram tiradas, como o
templo, por exemplo, e esperançoso em relação a coisas
sonhadas que eles nunca chegaram a possuir, como um
rio tão maravilhosamente poderoso que tornaria saudáveis
as águas do mar Morto.
1. O TEXTO DE EZEQUIEL FALA DE UMA CIDADE
Embora a cidade não seja nomeada, podemos deduzir
que se trata de Jerusalém, onde sempre esteve localizado
o templo. Na linguagem de Ezequiel, é do templo que sai o
rio de água viva.
Obviamente, o profeta Ezequiel não está se referindo
à Jerusalém do seu tempo, mas a uma Jerusalém nunca
antes conhecida, jamais sonhada, uma cidade que é regada por um rio espantosamente maravilhoso!
A Jerusalém incrustada no deserto da Judeia não
possuía água. A maioria das grandes e importantes cidades do mundo foi construída às margens de um rio, mas
não a cidade de Jerusalém. Esta sempre foi árida, rochosa
e carente de água por toda a sua história. Num de seus
sermões, o pregador batista Criswell levantou a seguinte
pergunta: “Você se lembra de que Pôncio Pilatos enfureceu
os judeus quando tomou dinheiro do tesouro do templo e
construiu um aqueduto vindo dos poços de Salomão para
trazer água para a cidade?”5 Jerusalém sempre foi carente
de água. É até difícil pensar na cidade de Jerusalém com
abundância de água no presente habitat. A referência de
Ezequiel é a uma cidade que possui um precioso e longo
rio, portanto a Jerusalém da nova terra.
Criswell, perguntas feitas num sermão sobre o texto em estudo,
encontrado no site http://www.wacriswell.com/index.cfm/FuseAction/
Search.Transcripts/sermon/1925.cfm.
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O rio da vida no habitat restaurado
2. O TEXTO DE EZEQUIEL TRATA DE UM TEMPLO
O templo de Jerusalém sempre foi a sede da revelação
divina na religião do Antigo Testamento. No templo havia o
altar, que era o lugar do sacrifício, a parte central do culto
a Deus.
Além disso, Deus se apresentava gloriosamente ao
sumo sacerdote no templo. Ali estava o centro do culto
judaico. Portanto, não é de estranhar que Ezequiel tome
o templo como o lugar mais elevado da presença de Deus.
Todavia, nunca houve nem haverá um templo como esse.
Há teólogos que querem colocá-lo no milênio, mas isso
não faz sentido, porque a existência de um novo templo no
presente habitat seria um retrocesso revelacional, já que o
templo físico é tipo do templo espiritual, que é a igreja de
Deus. Contudo, não podemos ignorar que, para o profeta,
o templo era a mais elevada aspiração dos judeus, já que
o haviam perdido por causa dos seus pecados, através
da ação do Império Babilônico. Na mente de Ezequiel, a
reconstrução de um templo da forma como ele viu seria
a realização do maior sonho de todo judeu piedoso. Na
verdade, Deus não deu a Ezequiel todas as peças para
construir a realidade futura, apenas algumas delas.
Diferentemente de Ezequiel, João diz que não há mais
templo. O lugar central da revelação divina e do seu governo está num trono, onde duas pessoas se assentam – Deus
Pai e Deus Filho encarnado, o Cordeiro.
3. O TEXTO DE EZEQUIEL TRATA DE ÁGUAS QUE
FLUÍAM DO TEMPLO
“Depois disto, o homem me fez voltar à entrada do
templo, e eis que saíam águas de debaixo do limiar do
templo, para o oriente; porque a face da casa dava para
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o oriente, e as águas vinham de baixo, do lado direito da
casa, do lado sul do altar” (Ez 47.1).
Ezequiel viu um rio que saía de debaixo do templo
(Ez 47.1). Esse sonho de rios fluindo do templo foi compartilhado também pelos profetas Joel (3.18) e Zacarias
(14.8). Como mencionei anteriormente, o templo era o
máximo da revelação divina, e eles não mais o tinham
quando escreveram as suas profecias. Deus, então, acalenta o sonho deles, mostrando que aconteceriam coisas
maravilhosas, mas não revelou todas as realidades, apenas suas sombras. Deus falou mais dos tipos que dos
antítipos.
Os profetas sempre creram que o santuário de
Jerusalém era a fonte de todas as bênçãos. Na mente dos
profetas, seria maravilhoso o rio da vida proceder “de debaixo do limiar do templo”! Não havia glória maior em que
um profeta podia pensar naquele tempo de exílio. Deus
levou Ezequiel a entender que a maior glória de Israel poderia proceder do templo, mas não contou a Israel que o
lugar central do culto não mais seria o templo, e sim o seu
trono. Essa verdade foi revelada somente a João.
Aos profetas do Antigo Testamento, Deus falou claramente de águas vivas que haveriam de surgir na cidade
(nova Jerusalém). Elas não procederão de debaixo do templo, mas do trono. Na verdade, o lugar central do culto na
nova terra será o trono, junto à praça da cidade, porque
àquela altura, depois do completamento da redenção, não
haverá mais templo. Todavia, não podemos nos esquecer
de que João, com toda a probabilidade, tinha as palavras
do profeta Ezequiel em mente quando escreveu as suas
visões, porque ele usa muitos elementos da descrição de
Ezequiel no livro de Apocalipse.
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4. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE O RIO É
MARGEADO POR ÁRVORES
“E me disse: Viste isto, filho do homem? Então, me levou
e me tornou a trazer à margem do rio. Tendo eu voltado,
eis que à margem do rio havia grande abundância de
árvores, de um e de outro lado” (Ez 47.6,7).
Nessa parte, o texto de Ezequiel pode ser comparado ao de Apocalipse. A pequena diferença entre as duas
narrativas é que Ezequiel fala em “grande abundância
de árvores”, ao passo que João fala em “árvore da vida”
(Ap 22.2). Há árvores em ambas as margens do rio.
Ezequiel e João veem a mesma verdade de perspectivas
ligeiramente diferentes. Note que não há duas verdades,
mas uma só. As narrativas podem ser consideradas iguais
quando entendemos que João fala de um tipo de árvore,
“a árvore da vida”, que está plantada nas duas margens
do rio. Então, podemos compreender que essa mesma
árvore da vida é uma planta que margeia todo o rio da
vida. É curioso que a espécie “árvore da vida” tenha o seu
nascedouro junto ao “rio da vida”. É espantoso pensar
que, se não houvesse o rio da vida, não haveria a árvore da
vida! No presente habitat, as árvores crescem às margens
dos ribeiros de águas; na nova terra, o mesmo processo se
dará. Essas são belas combinações criadas por Deus tanto
em nosso habitat atual como no futuro.
5. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE ESSE RIO TEM
ÁGUAS MIRACULOSAS
“Então, me disse: Estas águas saem para a região
oriental, e descem à campina, e entram no mar Morto,
cujas águas ficarão saudáveis” (Ez 47.8).
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Obviamente, na nova terra não haverá o chamado
mar Morto. A citação do profeta é para mostrar o poder vivificador das águas que procedem do templo. O mar Morto
está localizado na antiga região de Sodoma e Gomorra. Em
sua fúria, Deus sepultou tais cidades no fundo misterioso
dessas águas. O mar Morto surgiu de uma maldição divina sobre essas cidades, que foram destruídas com fogo e
enxofre vindos do céu. Ali Deus criou esse reservatório de
água extremamente salgada, cujo nome é perfeitamente
apropriado. A salinidade do mar é tão grande que nenhum
animal aquático pode sobreviver nele. É uma impossibilidade a vida nesse reservatório aquoso!
Todos sabemos que o rio Jordão desemboca no mar
Morto, e as águas desse mar continuam no mesmo estado.
A água do Jordão não produz nenhuma mudança no mar
Morto. No entanto, as águas do rio da vida que procedem
do templo produzem um efeito maravilhoso: tornam saudável o chamado mar Morto. Há uma ilustração do poder
da água da vida melhor do que essa? Não existirá mais um
mar Morto, porque a morte será suplantada pela vida!
6. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE ESSE RIO
PRODUZIRÁ VIDA NAS CRIATURAS
“Toda criatura vivente que vive em enxames viverá por onde
quer que passe este rio, e haverá muitíssimo peixe, e, aonde
chegarem estas águas, tornarão saudáveis as do mar, e
tudo viverá por onde quer que passe este rio” (Ez 47.9).
O profeta Ezequiel é transportado para a beira desse
rio extraordinário e vê coisas incríveis, que só o poder de
Deus pode produzir. Esse rio que procede do templo deixa
rastros de vida por onde passa. As águas absolutamente
impróprias do mar Morto do presente habitat se tornarão
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O rio da vida no habitat restaurado
em águas que produzem vida e saúde no habitat futuro.
A ideia no texto é que onde havia o sinal de morte haverá
sinais maravilhosos de vida! Onde não havia peixes haverá
abundância deles! E ainda mais: todos os animais que vivem em bandos, em grupos, em comunidades ou enxames
serão vivificados. Isso é algo extremamente maravilhoso e
incrível que acontecerá no habitat restaurado! As águas
vivificadoras produzidas por Deus serão uma bênção indizível! Imagino que essa visão parecia um sonho para o
profeta que vivia exilado e sem conforto para sua alma em
tempos de cativeiro.
7. O TEXTO DE EZEQUIEL DIZ QUE ESSE RIO
PRODUZIRÁ PEIXES ABUNDANTEMENTE
“Junto a ele se acharão pescadores; desde En-Gedi até
En-Eglaim haverá lugar para se estenderem redes; o seu
peixe, segundo as suas espécies, será como o peixe do mar
Grande, em multidão excessiva” (Ez 47.10).
Em primeiro lugar, nas cercanias de Jerusalém não
há rio de espécie alguma. En-Gedi e En-Eglaim ficam
nas regiões opostas de oeste e leste do mar Morto, regiões de extrema aridez onde não há qualquer rastro de rio.
Portanto, não faz sentido estender redes onde não há rios.
É uma quimera pensar que haverá, no presente habitat,
rios da natureza apresentada pelo profeta. Alguns estudiosos pensam que esse rio mencionado por Ezequiel aparecerá no milênio6, mas certamente não haverá grandes
mudanças no presente habitat para que ele venha a existir. Portanto, essa visão não diz respeito ao habitat atual.
Cf. a opinião de um famoso pregador batista de Dallas, W. A. Criswell,
em seu sermão sobre Ezequiel 47.1-12, encontrado no site http://www.
wacriswell.com/index.cfm/FuseAction/Search.Transcripts/sermon/1925.cfm.
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A ideia do texto é que o lugar onde hoje prevalecem
a sequidão e a estiagem, um dia, se tornará rico em água
da mais pura qualidade, a qual terá poderes nunca imaginados. Nos lugares áridos nascerão plantas maravilhosas por causa da abundância de águas vivificadoras! Um
paraíso de beleza inigualável a qualquer coisa do presente
habitat será restaurado!
Somente na nova terra será possível que esses lugares áridos venham a ser objeto de tão grande transformação! Será uma mudança maravilhosa e cheia de glória.
Portanto, essa visão se refere aos dias finais e definitivos,
quando se dará a morada eterna dos remidos de Deus na
nova terra.
Além da beleza exuberante da região por onde passa o
rio da vida, o texto diz que esse rio produzirá abundância
de peixes. A comparação que o profeta faz é curiosa. Ele
não tem outra medida de aferição senão o mar Grande,
que é o mar Mediterrâneo, o qual abastecia todas as populações com a abundância do seu peixe. As águas do rio da
vida serão tão saudáveis a ponto de o profeta falar dos seus
peixes “em multidão excessiva”. Esse versículo de Ezequiel
pode ser um indicativo de que, àquela altura, vamos nos
alimentar fartamente das carnes dos peixes, pelo menos, e
não apenas das frutas das árvores.
É provável que a visão desse rio pelo profeta Ezequiel
apresente a ideia que mais se aproxima do rio da vida mencionado por João em Apocalipse.
A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA
“Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante
[lampro.n] como cristal, que sai do trono de Deus e do
Cordeiro” (Ap 22.1).
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O rio da vida no habitat restaurado
1. A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA É DE ÁGUA REAL
Esse rio tem aparência de água ou é realmente água
(H2O)? MacArthur tende a pensar que a água do rio da vida
não tem nada a ver com a água que conhecemos hoje. Veja
a razão pela qual ele descarta a água desse rio como sendo
H2O:
A fim de haver um ciclo hidrológico, para existir um rio
como nós o conhecemos, teria de haver um mar, porque
o rio iria para algum lugar e, então, teria de se dissolver
em alguma coisa, ser evaporado e trazido de volta para
as fontes das águas para formar o rio novamente. Teria
de haver um ciclo que movesse a água. Mas não há
nenhum mar. Não há nenhuma criação hidrológica como
a conhecemos. Assim, ele é uma espécie diferente de rio.
E está claro que este rio está cheio do quê? Da vida. Ele
não é de H20.7
É verdade que a expressão “água da vida” tem uma
conotação espiritual no Novo Testamento. Em dois lugares específicos, Jesus se referiu a si mesmo como sendo a
água da vida. À mulher samaritana, ele disse que “Quem
beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que
beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo
contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a
jorrar para a vida eterna” (Jo 4.13,14). Jesus também
disse, com respeito ao Espírito Santo, que aqueles que
nele cressem teriam “rios de água viva” fluindo de seu
interior (Jo 7.37-39). Portanto, Jesus se descreve como
John MacArthur, em seu sermão sobre Apocalipse 22.1, encontrado no site
http://www.gty.org/resources/sermons/66-84/the-capital-city-of-heavenpart-2 (itálicos acrescidos), acessado em setembro de 2013.
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a fonte de água viva. Se ligarmos o rio da vida a Jesus,
então certamente esse rio é miraculoso e possui uma significação diferente. A linguagem empregada no evangelho
de João tem uma conotação espiritual, sem qualquer noção de fisicalidade.
De modo diferente, o rio da vida descrito em Apocalipse
é de natureza física, e o texto está tratando da renovação
da natureza física, não da natureza espiritual. Apocalipse
21 e 22 abordam a restauração do paraíso original, que era
físico. Nesse paraíso havia um belo rio que regava o jardim
de Deus. Da mesma forma, quando trata do paraíso restaurado, João menciona um rio que banha não um jardim,
mas uma cidade. É um rio de água verdadeira, clara como
cristal, apontando para sua pureza e glória inomináveis!
Se dissermos que a água é de natureza espiritual, a
árvore da vida também será espiritual, bem como a cidade
e toda a nova terra e os novos céus. Talvez para fugir dessa “espiritualidade” da água, MacArthur afirme de modo
estranho que a água do rio da vida “literalmente lampejará
como belo vidro de cristal”.8 Para ele, o rio da vida não tem
a água real de que o homem precisa para viver.
Se a água do rio de Apocalipse 22 não tiver a composição de H2O, ela deixa de ser física e, então, não é mais
água que corre num leito físico de uma cidade física.
Podemos (e até devemos) admitir que o rio da água da
vida é símbolo de coisas puras, santas e gloriosas, mas é
um rio de água. Todavia, se dissermos que o homem não
mais precisará de água (que é a maior parte da sua composição física), de que será composta a fisicalidade humana
na nova terra?
John MacArthur, em seu sermão sobre Apocalipse 22.1, encontrado no site
http://www.gty.org/resources/sermons/66-84/the-capital-city-of-heavenpart-2, acessado em setembro de 2013.
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O rio da vida no habitat restaurado
2. A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA É SINGULAR
Nunca se ouviu falar de um rio tão puro, tão limpo,
tão brilhante como esse rio do paraíso restaurado. Nesse
sentido, ou seja, em sua aparência, ele é uma inovação na
criação de Deus, mas é água real da melhor qualidade.
Em seu sermão sobre Apocalipse 22.1, Horatius
Bonar disse que o rio da vida
“é um rio de esplendor, de esplendor divino e celestial.
Nenhum rio terreno teve um brilho tão reluzente pelo
sol radiante terreno, nem pode se igualar a este. Ele é
brilhante sobre todos e comunica o seu esplendor para
aqueles que moram em suas margens. Ele os faz brilhar
como o sol. É um rio de glória – Deus o ilumina, e o
Cordeiro é a fonte do seu esplendor.”9
João usa a palavra “brilhante” [lampro.n] e cita o cristal
[kru,stallon] como modelo de esplendor. A ideia de cristal
também aponta para a pureza da água. Daí chamarmos
uma água pura de cristalina. O esplendor desse rio é
inegável, e talvez não exista uma gema que expresse tão
bem a ideia de brilho como o cristal. Todavia, não podemos
nos esquecer de que a água do rio é água real, e o seu
brilho pode ter uma explicação na natureza vigente na
nova terra. Devemos considerar também que a nova terra
terá o brilho da glória de Deus (Ap 21.23), e essa glória pode
ser a razão da reflexão esplendorosa desse rio semelhante
ao brilho do cristal.
Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http://
gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012.
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o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
3. A APARÊNCIA DO RIO DA VIDA É INCOMPARÁVEL
Alguns rios da terra são lindos e cantados em verso
e prosa. Pergunte aos egípcios qual é o rio mais belo. A
resposta será o Nilo; pergunte aos indianos, e a resposta
será o Ganges; pergunte aos iraquianos, e a resposta será
o Eufrates; pergunte aos brasileiros, e eles vão mencionar,
entre muitos, o Amazonas.
No entanto, não existe neste mundo um rio que se
equipare em beleza e formosura ao rio da vida. O salmista e o profeta Ezequiel tiveram sonhos e visões de rios
que, no máximo, apontavam para o que João descreve em
Apocalipse. Eles sonharam ou viram apenas vislumbres
da glória do rio que todos os cristãos vão conhecer e ver
pessoalmente. Se a visão de Ezequiel diz respeito ao rio da
vida, quem sabe até daremos uma pescadinha nele, já que
produzirá abundância de peixes. Isso é apenas um sonho
por enquanto!
AS PROPRIEDADES DO RIO DA VIDA
O texto não fala especificamente de nenhuma propriedade do rio, mas a forma como ele é chamado oferece
alguns indícios que devemos considerar.
1. ELE É UM RIO DE VIDA
No presente habitat natural, toda vida naturalmente
cessa sobre a terra se não há água. A vida desaparece da
terra na falta desse elemento vital. Há várias regiões desérticas no mundo, por onde não passa nenhum rio. Ali a
vida praticamente inexiste. Somente o silêncio, a aridez,
a desolação e a morte reinam nessas regiões. Apenas a
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O rio da vida no habitat restaurado
irrigação artificial pode trazer alguma esperança para tais
ambientes inóspitos.
Certa vez, sobrevoei o rio Nilo desde o Cairo até a cidade de Luxor, a antiga Tebas. Foram cerca de 700 quilômetros de voo em que pude contemplar a enorme diferença
entre uma terra irrigada e uma terra sem água. Na parte
do solo regada pelo Nilo (cerca de 500 metros de cada lado
da margem), havia abundância de árvores e até animais,
porque a água gera e sustém a vida. Onde as últimas gotas
da enchente do Nilo chegavam, o deserto não prevalecia.
No entanto, na parte mais distante da margem, onde as
cheias do rio não chegavam sequer um dia do ano, havia
somente areia e terreno pedregoso. Não havia plantas, animais nem seres humanos. A desolação é algo terrível de se
ver. A falta de água é sinônimo de morte!
No habitat restaurado, a água ainda se fará necessária. A água é essencial para a geração e a manutenção
da vida. Não me refiro aqui à vida espiritual, mas à vida
natural. Os homens, os animais e as plantas viverão nesse
novo habitat e precisarão da água real, dessa composição
de hidrogênio e oxigênio que é essencial para a vida. A nova
criação não elimina a nossa composição química que carece desesperadamente de água. Por essa razão, Deus providenciou a água que nos mantém a vida natural perfeita.
Se o rio visto por Ezequiel é uma alusão, ainda que
limitada, ao rio que foi apresentado a João, então podemos
dizer que as águas desse rio despertam e vivificam todos
os seres que entram em contato com elas.
“Toda criatura vivente que vive em enxames viverá por
onde quer que passe este rio, e haverá muitíssimo peixe,
e, aonde chegarem estas águas, tornarão saudáveis as
do mar, e tudo viverá por onde quer que passe este rio”
(Ez 47.9).
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o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
As águas do rio da nova Jerusalém têm essa capacidade de dar vida a todas as coisas. Cada gota dessa água
manifesta a vida eterna, porque a realidade da vida está
presente nesse rio, como seu nome indica.
Aqueles que bebem desse rio vivem eternamente. Essa
parece ser a ideia do texto pelo simples fato de as águas
desse rio procederem do trono do Pai e do Filho.
É curioso que Deus use os elementos naturais para
explicar os sobrenaturais. A água natural simboliza coisas
espirituais. Como a água natural limpa e purifica, assim
a água da palavra de Deus, quando usada pelo Espírito
Santo, lava o coração do pecador (Ef 5.26). O natural é
tipo do sobrenatural. Contudo, precisamos ter o cuidado
de não eliminar o natural da nova terra. Ela é a mesma
criação renovada, sem as maldições. As águas que ali existirem nunca acabarão porque o rio da vida tem propriedades infindáveis. Todos nós precisaremos beber água natural, não simplesmente espiritual. Ainda que o natural
na Bíblia prefigure o sobrenatural, quando o sobrenatural
chega, o natural não desaparece. Se o natural desaparecer,
então não será mais a nova terra, mas um local de morada
diferente, sem qualquer conexão com o habitat original do
homem, o jardim de Deus.
2. ELE É UM RIO DE PUREZA
No texto grego usado pela Versão Revista e Atualizada,
não aparece a palavra “pura”. Todavia, quando utilizamos
outro texto grego como fonte de tradução, encontramos a
palavra “pura” com referência à água. O texto grego bizantino apresenta as palavras potamo.n [rio] kaqaro.n [puro] u[datoj
[água] zwh/j [vida], que significam literalmente “um rio puro
de água da vida”. Ainda que o original grego não contivesse o termo “puro”, não se poderia pensar coisa diferente a
respeito desse rio.
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O rio da vida no habitat restaurado
Creio que essas realidades apresentadas em Apocalipse
são uma referência à obra de purificação que os sacerdotes faziam no Antigo Testamento e que o Sumo Sacerdote
perfeito fez nos dias de sua carne. Horatius Bonar disse
que
“a palavra ‘puro’ quase invariavelmente se refere à
purificação sacerdotal ou sacrificial. Esse rio, então,
deve sua pureza ao mesmo sangue que torna brancas as
roupas dos remidos; e exatamente como o ouro da cidade
é chamado de ouro puro, como um cristal puro, assim o
rio recebe uma designação semelhante.”10
Os rios desta velha terra são impuros, mas não o rio
da nova terra. Este, por sua pureza, limpa tudo o que o
cerca e entra em contato com ele. Devemos pensar que a
função do rio não é conceder vida em si mesmo ou limpar o que está impuro, porque não haverá coisas impuras
dentro da cidade santa. Quando dizemos que ele é o rio de
vida, rio de pureza, estamos afirmando que ele mantém
as coisas purificadas e limpas. Não permite que nada de
imundo penetre em nosso organismo ou mesmo em nossa
vida interior. A função desse rio é a manutenção da vida e
da pureza. As águas desse rio nos preservarão eternamente em pureza, assim como a árvore da vida não concede
vida, mas torna eterna a vida conseguida por Cristo.
O rio da vida atravessa a cidade santa e não poderia
ser menos do que puro e santo. Nada impuro ou imundo
pode passar pela cidade, quanto mais o seu rio, que procede do trono do Pai e do Filho.
Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http://
gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012.
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o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
“Pensem frequentemente nesse rio, vocês que sentem
a impureza de sua alma; devaneiem pela fé para as
margens desse rio agora mesmo; refresquem-se com suas
águas translúcidas; porque não está prometido que eu
darei livremente ao que tem sede da fonte da água da
vida? A garantia disso, podemos ter agora mesmo; mas
a plena realização está reservada para o dia em que ‘o
Cordeiro que está no meio do trono nos conduzirá para
as fontes das águas’.”11
Aqueles que bebem desse rio e nele se banham manifestam e mantêm pureza para sempre, porque as suas
águas são absolutamente puras (daí a designação “cristalinas”). Esse rio que procede de Deus e do seu Filho nos faz
recordar a purificação de nossos pecados. Como o sangue
e o corpo de Jesus Cristo, esse rio também é pura comida e
pura bebida. Poderemos comer dos seus peixes e beber de
suas águas sem qualquer temor de contaminação, porque
suas águas são purificadoras.
3. ELE É UM RIO DE GRAÇA
Essa não é uma propriedade do rio explicitada no texto, que nem menciona a palavra “graça”. Mas só temos
acesso ao rio da vida pela graça, porque tudo o que temos
de maravilhoso vem da parte do Deus trino, sem que façamos jus a nada. Esse rio é expressão da graça porque
procede do trono de Deus e do Cordeiro. Aliás, enfatizando
a ideia da graça que o rio produz, Bonar diz:
Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http://
gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012.
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O rio da vida no habitat restaurado
“O Cordeiro é, de todos os nomes de Cristo, aquele que
mais explicitamente expressa graça, e o canal através
do qual essa graça flui para nós. Mencione apenas o
Cordeiro, e você proclama o amor de Deus a pecadores,
suas riquezas de graça para com os mais indignos dos
seres humanos. O Cordeiro é o nome pelo qual Cristo é
mais comumente mencionado neste livro; e isto parece
ser feito a fim de que nós possamos, no meio dos terrões
e glórias dos quais ele está cheio, sentir a graça de Deus
que é derramada sobre os moradores desta pobre terra.
E esta graça atravessa a eternidade; há graça para ser
trazida a nós na revelação de Jesus Cristo. Há a graça da
terra, há a graça do céu. Há a graça da primeira vinda e a
graça da segunda vinda.”12
O rio da vida é a manifestação definitiva da graça de
Deus que vem sendo acumulada no decorrer dos séculos.
As águas desse rio gracioso vão nos preservar para sempre em graça a fim de que nossa existência seja de vida e
pureza reais!
A PROCEDÊNCIA DO RIO DA VIDA
“Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como
cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1).
O que torna esse rio da vida tão importante como um
rio de vida, de pureza e de graça, rico, abundante e brilhante como cristal, é o fato de ter o seu nascedouro sob
Horatius Bonar, “The River of Life”, sermão encontrado no site http://
gracegems.org/19/r56.htm, acessado em fevereiro de 2012.
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o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
o trono de Deus. A procedência do rio é fator fundamental
para lhe conferir tão grande importância. O trono de Deus
e do Cordeiro é o cerne do paraíso restaurado. Ali está o
centro nervoso de toda a administração da nova terra, que
tem como sede a cidade santa.
A procedência desse rio indica que é um rio cheio de
poder. Por essa razão é dito que ele mantém a vida, conserva a pureza e manifesta a graça com que Deus nos trata.
A procedência do rio aponta para a autoridade do Pai
que é compartilhada pelo Filho, porque ambos possuem
um trono. Porque o rio provém do trono, podemos dizer
que a água da vida, a água pura e a água graciosa procedem do Pai e do Filho, que são a fonte do rio da vida.
Esse rio procedente do trono certamente infunde algum tipo de poder em nós, o qual se manifesta em vida,
pureza e graça. Todo que bebe desse rio vindo do trono tem
garantias eternas. Viver às margens desse rio será uma
indizível bem-aventurança; beber dele será uma poderosa
manutenção de vida abundante; banhar-se nele será uma
ação de purificação. Participar das bênçãos desse rio é realmente estar no paraíso!
Na verdade, em última instância, se entendemos que o
paraíso (a cidade santa) desceu do céu (e pessoalmente eu
creio nisso!), podemos dizer, sem margem de erro, que esse
rio gracioso tem as suas fontes no céu, onde hoje está o
trono de Deus. Então, esse paraíso trazido para cá vem com
o mesmo trono, e desse trono as águas resplandecentes,
vitalizadoras, purificadoras e graciosas continuam a jorrar.
Semelhantemente à árvore da vida colocada no jardim original, no Éden, o rio da vida é bom para dele se
beber porque é puro, é agradável aos olhos porque é brilhante, é desejável porque é gracioso. Nenhum rio deste
mundo, por mais belo e limpo que seja, pode ser comparado ao rio da vida que João descreve, porque não possui
as qualidades e as glórias manifestas nele. Nem o Jordão,
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O rio da vida no habitat restaurado
nem o Nilo, nem o Eufrates ou mesmo o extraordinário
Amazonas podem ser comparados ao rio da vida que procede do trono do Pai e do Cordeiro! Aqueles são rios da
velha terra, este é o rio da nova terra. Nesse caso, diferentemente do vinho, o novo é preferível.
A LOCALIZAÇÃO DO RIO DA VIDA
“No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio,
está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o
seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para
a cura dos povos” (Ap 22.2).
No coração da porção seca, onde Deus plantou pessoalmente um jardim para o deleite das suas criaturas, passava um rio. Esse primeiro rio mencionado na Escritura
atravessava o jardim de Deus e tinha nascedouro no Éden,
a grande porção seca chamada terra.
“E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se
dividia, repartindo-se em quatro braços” (Gn 2.10).
O rio entrava no jardim procedente de outra parte do
Éden, e dali se dividia em quatro braços. O rio não nascia
no jardim, mas passava pelo jardim de Deus, o paraíso.
Nessa visão de João há outro rio, que não corre no
meio de um jardim, mas de uma cidade, chamada cidade
santa ou nova Jerusalém. Não podemos nos esquecer de
que a cidade santa é substitutiva do jardim que havia no
Éden. Diferentemente do primeiro rio, o rio da vida tem
as suas fontes no trono de Deus e do Cordeiro, que está
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o habitat humano
— o paraíso restaurado 2
no coração da cidade, em seu setor central de governo. A
fonte desse rio é divina, e suas águas são brilhantes como
cristal.
A cidade é dividida em duas partes pela passagem do
rio. Toda ela recebe os benefícios salutares desse rio puro
e de águas tranquilas e belas. Há um sentido em que as
águas desse rio “alegram a cidade de Deus” (Sl 46.4) e produzem abundante alimento vitalizador para todos os seus
habitantes (Ez 47.9). Esse rio que banha a cidade contém
todas as bênçãos físicas que um rio pode oferecer porque
tem sua fonte na divindade. Também é indicativo de todas
as bênçãos espirituais advindas do Deus trino. Por essa
razão, podemos dizer que esse rio da cidade é uma torrente das delícias de Deus (Sl 36.8). Suas bênçãos físicas e espirituais não têm nascedouro em qualquer fonte terrena:
nem nas montanhas nevadas, nem na rocha do deserto
ferida por Moisés, nem mesmo no santuário (Ez 47.1), mas
no trono de Deus e do Cordeiro.
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