Maio - Nosso Lar

Transcrição

Maio - Nosso Lar
Sumário
4 chico
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
14 capa
21 história
duas horas com chico xavier
Pregadores da doutrina cristã
6 estudo
16 instrução
22 esclarecimento
Inseguranças em relação ao futuro
Recuperação de uma suicída
Dúvidas sobre a vida espiritual
10 confiança
19 ensinamento
24 homenagem
Cura espiritual
Dramas de um obsessor
Um Espírita convicto
12 mediunidade
20 mensagem
26 com todas as letras
Questões sobre mediunidade
A fé que salvou
Importantes dicas da nossa língua
portuguesa
originais do livro - o mandato
mediúnico
Zeloso guardião desse tesouro
espiritual
como é morrer?
o socorro de bezerra
diretrizes de segurança
Edição
Centro de Estudos Espíritas
“Nosso Lar” – Depto. Editorial
Jornalista Responsável
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Projeto Gráfico
Fernanda Berquó Spina
Revisão
Zilda Nascimento
Administração e Comércio
Elizabeth Cristina S. Silva
Apoio Cultural
Braga Produtos Adesivos
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os doze apóstolos
breve recordação da mediunidade
cartomante
homenagem a cairbar schutel
a fé e o amor
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EDITORIAL
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
PODEROSA ADVERTÊNCIA FAZ 50 ANOS
Há 50 anos, por meio da inesquecível médium
Yvonne A. Pereira, o espírito de Inácio Bittencourt
oferece à humanidade poderosa advertência que, apesar
do tempo, continua grave e atualíssima. Transcrita pelo querido confrade Augusto Marques de
Freitas em seu estupendo livro Yvonne do Amaral Pereira:
O Voo de uma Alma pág. 125 - 127; convidamos você,
amigo leitor, para conosco apreciar, refletir e meditar
sobre a preocupação dos bons espíritos com a Doutrina
Consoladora no mundo...
-0(...) Inácio Bittencourt, num desabafo doloroso, ele,
que se tornava um tanto quanto “azedo, quando em jogo
o bom nome do Espiritismo”, encontrou em Yvonne
Pereira o médium ideal para confessar (e protestar) sua
enorme decepção ante os espetáculos de arremedo teatral,
pantomimas, etc.
Anotemos, aqui, algumas das valiosas linhas
registradas pelo cérebro e lápis da médium de Rio das
Flores, provindas do espírito de Inácio Bittencourt, em
sua Resposta à consulta de um amigo, amigo esse que
se tornara Orientador de Mocidade, e que agora lhe
indagava se seria lícito fazer-se de uma Casa Espírita um
auditório de teatro ou sala de concerto, etc.:
O que, porém, eu, como Espírito desencarnado hoje, e
ontem como espírita que dedicou toda a sua vida a serviço
da Causa, não creio seja lícito é consentires que quem quer
que seja leve para o Centro que diriges a profanação das
festas mundanas, dele fazendo não mais um receptáculo das
inspirações divinas, como devem ser os Centros Espíritas bem
orientados, mas uma platéia heterogênea onde a mediocridade
de arte apresentada fará atrair os pândegos e paspalhos do
invisível, em vez dos abnegados obreiros de Jesus, os quais, assim
sendo, de forma alguma poderão descer das suas sublimes tarefas
a prol da salvação da humanidade, para bater palmas aos
desvirtuamentos de solenidades sérias, cuja abertura tem sempre
como chave máxima o nome sacratíssimo do Todo-Poderoso e
de Nosso Senhor Jesus Cristo!
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O que, outrossim, não me parece ainda lícito é tu, que te
confessas orientador de “Mocidades”, permitires futilidades
no seio da Doutrina, a jovens inexperientes que deverão antes
desejar a luz do saber e a sublimação do espírito!
O que não posso aplaudir em ti, meu filho, é consentires
que os teus jovens, abastardando a Doutrina com festividades
de mau gosto, abastardem também as Artes, pois que (perdoame a aspereza da expressão) não vejo artistas entre os teus
pupilos, e sim, Espíritos que, ao reencarnarem, prometeram ao
Divino Mestre Zelar pelo Consolador e engrandecê-lo com o
devotamento inspirado no Evangelho.
Não, meu amigo, não faças do teu Centro Espírita um
palco, uma ribalta, um ambiente confuso, onde se abrem
trabalhos em nome de Deus e de Jesus, para depois se permitirem
festanças e teatralices que nos entristecem, a nós outros,
trabalhadores do lado de cá, pois que, ainda que apresentasses
NOTURNOS do melodioso Chopin, SONATAS do erudito
Beethoven e CONCERTOS do incomparável Mozart, ainda
assim não te poderíamos aplaudir, porque a Humanidade
precisa mais do amor do Cristo e da ciência de si mesma do que
das peças de qualquer desses três gênios... e, em seguida, porque...
a música, o teatro, as festas que o invisível nos proporciona, a
nós desencarnados, são de tal ordem que até mesmo Chopin,
Beethoven e Mozart pareceriam insípidos diante delas... e ainda
porque, meu querido amigo, não será através dos já citados
forrobodós, das “soirrés” e noitadas “artísticas” dentro dos
Centros Espíritas que tu e todos os demais espíritas alcançarão
um local feliz no Além-túmulo, mas com o verdadeiro Amor,
o verdadeiro Trabalho e o verdadeiro Conhecimento em favor
uns dos outros e pelo amor da Verdade!
Espera meu amigo... Lembrei-me de uma coisa:
- Não tarda a volta do esposo... Relê, estudando, a parábola
das Virgens Loucas e das Virgens prudentes... Esse ensinamento
é de muita atualidade... e vejo que tu precisas dele para
ensinares os teus pupilos a obter o azeite para que tenham
a candeia bem acesa...
Do teu velho amigo,
Inácio Bittencourt
(Mensagem recebida pela médium Yvonne A. Pereira,
em 28/05/1959)
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chico
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
Originais do livro O Mandato Mediúnico
por Suely Caldas Schubert
7-12-1943
(Wantuil estava há pouco na
Presidência, à qual ascendera em
vista da sua escolha após a desencarnação, a 26-10-1943, do Dr. Luiz
Olímpio Guilion Ribeiro. Wantuil
era o Gerente do “Reformador”.
Chico Xavier dirige-lhe palavras de
estímulo, referindo-se ao apoio que
está dando o novo Presidente ao
programa do Esperanto, a cargo de
Ismael Gomes Braga, que, por isso,
sente-se muito feliz. Chico agradece, outrossim, o envio do primeiro
número de “Reformador” da edição
já sob a responsabilidade do novo
Presidente e que contém palavras
referentes à desencarnação de seu
antecessor, cujo retrato foi estampado na primeira página. As referências de Chico Xavier a Guillon
são muito carinhosas: “generoso
orientador que nos antecedeu na
grande jornada.”)
“(...) Relativamente aos originais dos
nossos humildes trabalhos mediúnicos,
para mim será muito mais interessante
que a Federação os guarde nos arquivos
da Casa. Fico muito grato ao seu carinho. Havia pedido a restituiçdo dos
mesmos, porque tendo tido necessidade
em 1942 de rever algumas páginas de
4
“Paulo e Estêvão”, pedi à Livraria me
emprestasse o original do livro, crendo
que estivessem sendo arquivados, mas
fui informado de que os originais, após a
publicação, eram inutilizados. Felizmente, ainda tínhamos aqui uma cópia que
descobri, depois, por ter sido guardada
por um companheiro de doutrina, que
muito me ajuda no serviço de datilografia
e pude, assim, fazer a consulta. Desde
então, pedi ao nosso amigo ,Sr. Carvalho
que me enviasse os originais de que não
precisasse, porque ficariam guardados
conosco. Tenho aqui apenas o original
de “Renúncia”, porque os anteriores a
esse livro não foram arquivados. O meu
amigo daqui, porém, ao qual já me referi
linhas acima, tem cópias a carbono e isso
me alegra porque tinha receio de não
ficarmos com cópia alguma dos trabalhos
senão as publicações. Já que Você, porém,
quer fazer o grande obséquio de arquivar
aí os originais, creia, meu bom Wantuil,
que isto me conforta e alegra muitíssimo.
Não digo isto por mim, pois bem sei que
de nada valho, mas é que a obra de
Emmanuel costuma ser atacada, de vez
em quando, pela ignorância de algumas
criaturas sem a claridade do Evangelho
e será sempre útil que tenhamos esses
originais em mão para qualquer exame,
não acha Você? (...)“
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chico
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
Chico Xavier não é apenas o médium, o meio para a comunicação
dos Benfeitores Espirituais, mas,
também, o zeloso guardião desse
tesouro espiritual, atento e vigilante
em todos os instantes, para que a
obra não seja atingida.
O mandato mediúnico e, no caso
de Chico Xavier, o mediumato, é
muito mais abrangente do que se
poderia supor. O mediumato confere ao médium a responsabilidade
de ser co-partícipe de toda uma
planificação do Mundo Maior. Ele
não será somente o instrumento,
mas parte integrante de um programa que a Espiritualidade Superior
traçou, portanto, plenamente identificado com os objetivos a serem
alcançados e pelos quais labora de
comum acordo e sintonia com os
que, na esfera espiritual, também
sejam partes dessa programação, O
médium torna-se o representante
dos Espíritos Benfeitores no plano
terrestre. Assim, desde o instante
em que os ensinamentos vertem do
Mais Alto e pelos canais mediúnicos
se expressem nas dimensões terrenas, ele — o médium — torna-se-lhe
o guardião, o depositário, que terá,
a partir desse momento, de cuidar
para que a obra projetada tenha o
curso esperado.
Para que isto se dê, evidentemente, outros companheiros são
convocados à colaboração entre
os encarnados, cada um deles com
tarefas definidas e que somarão seus
esforços para que o programa seja
executado.
Essa é a primeira carta, sob nosso
exame, da correspondência mantida
entre Chico Xavier e Wantuil de
Freitas, no decorrer dos anos em
que este ocupou o cargo de Presidenassine: (19) 3233-5596
te da Federação Espírita Brasileira.
Quando Chico Xavier endereçou-a a Wantuil de Freitas, este
acabara de assumir a Presidência,
Dirige-lhe então palavras de estímulo.
Na realidade, Chico está saudando em Wantuil de Freitas o companheiro que assumira, juntamente
com ele, a grandiosa tarefa de difundir o livro espírita em nosso país. A
nobre tarefa do livro — a qual ambos
se comprometeram, ainda no Plano
Espiritual Maior, a desenvolver na
Pátria do Evangelho.
O médium
torna-se o
representante
dos Espíritos
Benfeitores no
plano terrestre
Wantuil de Freitas chega na hora
certa à Presidência da Casa de Ismael. O trabalho mediúnico de Chico
Xavier se ampliava. A partir daquela
data, livros e mais livros sairiam de
suas mãos abençoadas, transmitidos
pelos Espíritos de Luz, para que a
missão do Consolador Prometido
por Jesus se estendesse e, sobretudo,
se tornasse mais acessível a todas as
criaturas.
O programa está traçado. Todos
seriam atendidos e consolados,
independentemente de seu nível
sócio-econômico e cultural. Haveria
consolo para todos os corações, farse-ia luz para todas as consciências
e a palavra de Jesus prosseguiria
ecoando em todos os quadrantes
da Terra.
Para isto, a figura de Wantuil
de Freitas é peça essencial nessa
grandiosa programação. É o homem
talhado para abrir o caminho e
implantar definitivamente a estrutura que os Altos Planos Espirituais
requeriam.
É o programa de Ismael — o Guia
Espiritual do Brasil — a se ampliar.
Atendendo ao seu chamado,
vários obreiros disseram “presente”
e colocaram mãos à charrua para
a edificante tarefa da sementeira
de luz.
Por certo que Chico Xavier se
sente feliz e sossegado quando reconhece em Wantuil aquele coração
amigo e companheiro do seu, ao
qual poderia entregar o imensurável
tesouro que Ismael lhe confiara.
Sabe ele, Chico, que há agora uma
equipe a postos, unindo esforços nos
dois planos da vida, sob a tutela de
Emmanuel, garantindo assim o êxito
da tarefa do livro espírita no Brasil.
Chico Xavier fica profundamente feliz, pois entende que Wantuil
de Freitas, ao pretender a guarda
na Federação dos originais dos
livros o está auxiliando a zelar por
toda a obra. Em sua característica
humildade diz ao final: “Não digo
isto por mim, pois bem sei que de
nada valho, mas é que a obra de
Emmanuel costuma ser atacada, de
vez em quando, pela ignorância de
algumas criaturas sem a claridade do
Evangelho (...)”.
Fonte:
SCHUBERT. Suely Caldas. Testemunhos de
Chico Xavier. Págs. 23 – 26. Feb. 1998.
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estudo
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
Como é Morrer?
por Allan Kardec
O PASSAMENTO
A
certeza da vida futura
não exclui as apreensões
quanto à passagem desta
para a outra vida. Há muita gente
que teme não a morte, em si, mas
o momento da transição.
Sofremos ou não nessa passagem? Por isso se inquietam, e com
razão, visto que ninguém foge à lei
fatal dessa transição.
Podemos dispensar-nos de uma
viagem neste mundo, menos essa.
Ricos e pobres, devem todos fazê-la,
e, por dolorosa que seja a franquia,
nem posição nem fortuna poderiam
suavizá-la.
2. Vendo-se a calma de alguns moribundos e as convulsões terríveis de
outros, pode-se previamente julgar
que as sensações experimentadas
nem sempre são as mesmas. Quem
poderá no entanto esclarecer-nos a
tal respeito? Quem nos descreverá o
fenômeno fisiológico da separação
entre a alma e o corpo? Quem nos
contará as impressões desse instante
supremo quando a Ciência e a Religião se calam? E calam-se porque
lhes falta o conhecimento das leis
que regem as relações do Espírito
e da matéria, parando uma nos
umbrais da vida espiritual e a outra
nos da vida material. O Espiritismo
é o traço de união entre as duas, e
6
só ele pode dizer-nos como se opera
a transição, quer pelas noções mais
positivas da natureza da alma, quer
pela descrição dos que deixaram
este mundo. O conhecimento do
laço fluídico que une a alma ao
corpo é a chave desse e de muitos
outros fenômenos.
3. A insensibilidade da matéria
inerte é um fato, e só a alma experimenta sensações de dor e de prazer.
A alma tem
sensações
próprias cuja
fonte não reside
na matéria
tangível
Durante a vida, toda a desagregação
material repercute na alma, que por
este motivo recebe uma impressão
mais ou menos dolorosa.
É a alma e não o corpo quem
sofre, pois este não é mais que
instrumento da dor: — aquela é o
paciente. Após a morte, separada a
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alma, o corpo pode ser impunemente mutilado que nada sentirá; aquela, por insulada, nada experimenta
da destruição orgânica. A alma
tem sensações próprias cuja fonte
não reside na matéria tangível. O
perispírito é o envoltório da alma e
não se separa dela nem antes nem
depois da morte. Ele não forma
com ela mais que uma só entidade,
e nem mesmo se pode conceber
uma sem outro.
Durante a vida o fluido perispirítico penetra o corpo em todas
as suas partes e serve de veículo às
sensações físicas da alma, do mesmo
modo como esta, por seu intermédio, atua sobre o corpo e dirige-lhe
os movimentos.
4. A extinção da vida orgânica
acarreta a separação da alma em conseqüência do rompimento do laço
fluídico que a une ao corpo, mas
essa separação nunca é brusca.
O fluido perispiritual só pouco
a pouco se desprende de todos os
órgãos, de sorte que a separação só
é completa e absoluta quando não
mais reste um átomo do perispírito
ligado a uma molécula do corpo.
“A sensação dolorosa da alma, por
ocasião da morte, está na razão direta da soma dos pontos de contacto
existentes entre o corpo e o peris-
assine: (19) 3233-5596
estudo
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
pírito, e, por conseguinte, também
da maior ou menor dificuldade que
apresenta o rompimento.” Não é
preciso portanto dizer que, conforme as circunstâncias, a morte pode
ser mais ou menos penosa. Estas
circunstâncias é que nos cumpre
examinar.
5. Estabeleçamos em primeiro
lugar, e como princípio, os quatro
seguintes casos, que podemos reputar situações extremas dentro de
cujos limites há uma infinidade de
variantes:
1º Se no momento em que se
extingue a vida orgânica o desprendimento do perispírito fosse
completo, a alma nada sentiria
absolutamente.
2º Se nesse momento a coesão
dos dois elementos estiver no
auge de sua força, produz-se uma
espécie de ruptura que reage dolorosamente sobre a alma.
3º Se a coesão for fraca, a separação torna-se fácil e opera-se
sem abalo.
4º Se após a cessação completa
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da vida orgânica existirem ainda
numerosos pontos de contacto entre o corpo e o perispírito, a alma
poderá ressentir-se dos efeitos da
decomposição do corpo, até que o
laço inteiramente se desfaça.
Daí resulta que o sofrimento,
que acompanha a morte, está subordinado à força adesiva que une o
corpo ao perispírito; que tudo o que
puder atenuar essa força, e acelerar
a rapidez do desprendimento, torna
a passagem menos penosa; e, finalmente, que, se o desprendimento
se operar sem dificuldade, a alma
deixará de experimentar qualquer
sentimento desagradável.
6. Na transição da vida corporal
para a espiritual, produz-se ainda um
outro fenômeno de importância capital — a perturbação. Nesse instante
a alma experimenta um torpor que
paralisa momentaneamente as suas
faculdades, neutralizando, ao menos
em parte, as sensações. É como se
disséssemos um estado de catalepsia,
de modo que a alma quase nunca
testemunha conscientemente o
derradeiro suspiro. Dizemos quase
nunca, porque há casos em que a
alma pode contemplar conscientemente o desprendimento, como
em breve veremos. A perturbação
pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e
perdurar por tempo indeterminado,
variando de algumas horas a alguns
anos. À proporção que se liberta,
a alma encontra-se numa situação
comparável à de um homem que
desperta de profundo sono; as idéias
são confusas, vagas, incertas; a vista
apenas distingue como que através
de um nevoeiro, mas pouco a pouco
se aclara, desperta-se-lhe a memória
e o conhecimento de si mesma. Bem
diverso é, contudo, esse despertar;
calmo, para uns, acorda-lhes sensações deliciosas; tétrico, aterrador e
ansioso, para outros, é qual horrendo pesadelo.
7. O último alento quase nunca
é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de inconsciência, mas a alma sofre antes
dele a desagregação da matéria, nos
estertores da agonia, e, depois, as
angústias da perturbação.
Demo-nos pressa em afirmar que
esse estado não é geral, porquanto a
intensidade e duração do sofrimento estão na razão direta da afinidade
existente entre corpo e perispírito.
Assim, quanto maior for essa
afinidade, tanto mais penosos e prolongados serão os esforços da alma
para desprender-se. Há pessoas nas
quais a coesão é tão fraca que o desprendimento se opera por si mesmo,
como que naturalmente; é como se
um fruto maduro se desprendesse
do seu caule, e é o caso das mortes

calmas, de pacífico despertar.
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7
estudo
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
8. A causa principal da maior
ou menor facilidade de desprendimento é o estado moral da alma.
A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à
matéria, que atinge o seu máximo
no homem cujas preocupações dizem respeito exclusiva e unicamente
à vida e gozos materiais.
Ao contrário, nas almas puras,
que antecipadamente se identificam
com a vida espiritual, o apego é
quase nulo. E desde que a lentidão
e a dificuldade do desprendimento
estão na razão do grau de pureza e
desmaterialização da alma, de nós
somente depende o tornar fácil ou
penoso, agradável ou doloroso, esse
desprendimento.
Posto isto, quer como teoria,
quer como resultado de observações, resta-nos examinar a influência do gênero de morte sobre
as sensações da alma nos últimos
transes.
9. Em se tratando de morte
natural resultante da extinção das
forças vitais por velhice ou doença, o desprendimento opera-se
gradualmente; para o homem cuja
alma se desmaterializou e cujos
pensamentos se destacam das coisas
terrenas, o desprendimento quase
se completa antes da morte real, isto
é, ao passo que o corpo ainda tem
vida orgânica, já o Espírito penetra
a vida espiritual, apenas ligado por
elo tão frágil que se rompe com a
última pancada do coração. Nesta
contingência o Espírito pode ter já
recuperado a sua lucidez, de molde
a tornar-se testemunha consciente
da extinção da vida do corpo, considerando-se feliz por tê-lo deixado.
Para esse a perturbação é quase
8
nula, ou antes, não passa de ligeiro
sono calmo, do qual desperta com
indizível impressão de esperança e
ventura.
No homem materializado e sensual, que mais viveu do corpo que
do Espírito, e para o qual a vida espiritual nada significa, nem sequer
lhe toca o pensamento, tudo contribui para estreitar os laços materiais,
e, quando a morte se aproxima, o
desprendimento, conquanto se opere gradualmente também, demanda
contínuos esforços. As convulsões
da agonia são indícios da luta do
A causa
principal da
maior ou menor
facilidade de
desprendimento
é o estado moral
da alma
Espírito, que às vezes procura romper os elos resistentes, e outras se
agarra ao corpo do qual uma força
irresistível o arrebata com violência,
molécula por molécula.
10. Quanto menos vê o Espírito
além da vida corporal, tanto mais
se lhe apega, e, assim, sente que ela
lhe foge e quer retê-la; em vez de se
abandonar ao movimento que o
empolga, resiste com todas as forças
e pode mesmo prolongar a luta por
dias, semanas e meses inteiros.
Certo, nesse momento o Espíri-
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
to não possui toda a lucidez, visto
como a perturbação de muito se antecipou à morte; mas nem por isso
sofre menos, e o vácuo em que se
acha, e a incerteza do que lhe sucederá, agravam-lhe as angústias. Dáse por fim a morte, e nem por isso
está tudo terminado; a perturbação
continua, ele sente que vive, mas
não define se material, se espiritualmente, luta, e luta ainda, até que
as últimas ligações do perispírito se
tenham de todo rompido. A morte
pôs termo à moléstia efetiva, porém,
não lhe sustou as conseqüências, e,
enquanto existirem pontos de contacto do perispírito com o corpo, o
Espírito ressente-se e sofre com as
suas impressões.
11. Quão diversa é a situação
do Espírito desmaterializado, mesmo nas enfermidades mais cruéis!
Sendo frágeis os laços fluídicos que
o prendem ao corpo, rompem-se
suavemente; depois, a confiança do
futuro entrevisto em pensamento
ou na realidade, como sucede algumas vezes, fá-lo encarar a morte qual
redenção e as suas conseqüências
como prova, advindo-lhe daí uma
calma resignada, que lhe ameniza
o sofrimento.
Após a morte, rotos os laços,
nem uma só reação dolorosa que o
afete; o despertar é lépido, desembaraçado; por sensações únicas: o
alívio, a alegria!
12. Na morte violenta as sensações não são precisamente as
mesmas. Nenhuma desagregação
inicial há começado previamente
a separação do perispírito; a vida
orgânica em plena exuberância de
força é subitamente aniquilada.
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estudo
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
Nestas condições, o desprendimento só começa depois da morte e não
pode completar-se rapidamente. O
Espírito, colhido de improviso, fica
como que aturdido e sente, e pensa,
e acredita-se vivo, prolongando-se
esta ilusão até que compreenda o
seu estado. Este estado intermediário entre a vida corporal e a espiritual é dos mais interessantes para
ser estudado, porque apresenta o
espetáculo singular de um Espírito
que julga material o seu corpo fluídico, experimentando ao mesmo
tempo todas as sensações da vida
orgânica.
Há, além disso, dentro desse
caso, uma série infinita de modalidades que variam segundo os conhecimentos e progressos morais do
Espírito. Para aqueles cuja alma está
purificada, a situação pouco dura,
porque já possuem em si como que
um desprendimento antecipado,
cujo termo a morte mais súbita não
faz senão apressar. Outros há, para
os quais a situação se prolonga por
anos inteiros. É uma situação essa
muito freqüente até nos casos de
morte comum, que nada tendo de
penosa para Espíritos adiantados,
se torna horrível para os atrasados.
No suicida, principalmente, excede
a toda expectativa. Preso ao corpo
por todas as suas fibras, o perispírito faz repercutir na alma todas as
sensações daquele, com sofrimentos
cruciantes.
13. O estado do Espírito por
ocasião da morte pode ser assim
resumido: Tanto maior é o sofrimento, quanto mais lento for o
desprendimento do perispírito; a
presteza deste desprendimento está
na razão direta do adiantamento
assine: (19) 3233-5596
moral do Espírito; para o Espírito
desmaterializado, de consciência
pura, a morte é qual um sono breve,
isento de agonia, e cujo despertar é
suavíssimo.
14. Para que cada qual trabalhe
na sua purificação, reprima as más
tendências e domine as paixões,
preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro,
visto como, para identificar-se com
a vida espiritual, encaminhando
para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta
crer, mas compreender. Devemos
considerar essa vida debaixo de
um ponto de vista que satisfaça ao
mesmo tempo à razão, à lógica, ao
bom-senso e ao conceito em que
temos a grandeza, a bondade e a
justiça de Deus. Considerado deste
ponto de vista, o Espiritismo, pela
fé inabalável que proporciona, é,
de quantas doutrinas filosóficas
que conhecemos, a que exerce mais
poderosa influência.
O espírita sério não se limita
a crer, porque compreende, e
compreende, porque raciocina; a
vida futura é uma realidade que
se desenrola incessantemente a
seus olhos; uma realidade que ele
toca e vê, por assim dizer, a cada
passo e de modo que a dúvida não
pode empolgá-lo, ou ter guarida
em sua alma. A vida corporal, tão
limitada, amesquinha-se diante da
vida espiritual, da verdadeira vida.
Que lhe importam os incidentes da
jornada se ele compreende a causa e
utilidade das vicissitudes humanas,
quando suportadas com resignação?
A alma eleva-se-lhe nas relações com
o mundo visível; os laços fluídicos
que o ligam à matéria enfraquecem-
se, operando-se por antecipação um
desprendimento parcial que facilita
a passagem para a outra vida. A
perturbação conseqüente à transição pouco perdura, porque, uma
vez franqueado o passo, para logo
se reconhece, nada estranhando,
antes compreendendo, a sua nova
situação.
15. Com certeza não é só o
Espiritismo que nos assegurarão
auspicioso resultado, nem ele tem
a pretensão de ser o meio exclusivo,
a garantia única de salvação para
as almas.
Força é confessar, porém, que
pelos conhecimentos que fornece,
pelos sentimentos que inspira,
como pelas disposições em que
coloca o Espírito, fazendo-lhe
compreender a necessidade de
melhorar-se, facilita enormemente a salvação. Ele dá a mais, e a
cada um, os meios de auxiliar o
desprendimento doutros Espíritos
ao deixarem o invólucro material,
abreviando-lhes a perturbação pela
evocação e pela prece. Pela prece
sincera, que é uma magnetização
espiritual, provoca-se a desagregação
mais rápida do fluido perispiritual;
pela evocação conduzida com sabedoria e prudência, com palavras de
benevolência e conforto, combatese o entorpecimento do Espírito,
ajudando-o a reconhecer-se mais
cedo, e, se é sofredor, incute-se-lhe
o arrependimento — único meio de
abreviar seus sofrimentos. 
Fonte:
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Págs. 166
– 174. Feb. 1992.
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
9
CONFIANÇA
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
O Socorro de
Bezerra
por Ramiro Gama
L
embrando a lenda do coelho que voltou à toca...
Não há ninguém que
não tenha, em sua vida, um Caso
Espírita, revelando um ato de misericórdia de Deus.
Poucos, todavia, são aqueles
que têm o desassombro de os revelar ou permitir que corram mundo
nas asas da publicidade...
De muitos conhecidos nossos,
que se dizem crentes e obsequiados
pelo Espiritismo, ouvimos:
- Contamos-lhe isto, aqui, entre vós, em segredo... Mas não vá
publicá-lo...
Temem, ainda, perder amigos,
afrontar os preconceitos, contrariar os parentes...
Querem ser servidos mas não
querem Servir, testemunhar a
Verdade e dar de si um exemplo
de gratidão e humildade...
Também, agraciados, melhorados no físico, não se dão pressa
de lutar pela sua melhoria espiritual...
E quando menos esperam, visto
que não entenderam a advertência
10
amorosa do Aguilhão Bendito, no dizer de Humberto
de Campos, a enfermidade
volta maior e mais grave
para que traduzam a palavra de
Vida do Divino Mestre, quando
recomendava ao beneficiado pela
sua Bondade:
— Vai e não peques mais...
É por isto que sem o aguilhão
bendito seria impossível, ainda no
dizer do inspirado e querido Irmão
X., tanger o rebanho humano das
lamas da Terra para as culminâncias do Céu.
Uma melindrosa
operação
evitada pelo
Espírito de
Bezerra
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
***
O nosso Irmão M., residente
no Rio, há tempos que vinha recebendo graças preciosas através
do Espiritismo.
Fazia-se mau entendedor para
não extremar nas dádivas recebidas
o chamado ao Bom Combate, ao
caminho estreito e íngreme, à necessidade de sua reforma moral...
E isto era dificílimo...
Em 1943, num domingo de
maio, sua esposa adoece gravemente. Tratava-se de uma inflamação
nos ovários, que se agravara e
se complicara com outras enfermidades antigas e que, no dizer
dos Médicos, pedia intervenção
cirúrgica imedita, urgentíssima, se
bem que considerada melindrosíssima e com poucas esperanças de
êxito...
Dois dias correram.
E na terça-feira, à tarde, depois
de tudo preparado para a operação
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CONFIANÇA
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
inevitável no dia seguinte e visto
que a doente piorava, sofrendo
dores alucinantes, o nosso Irmão
M., em estado de desespero, sai de
casa, deixando todos os familiares
inquietos. E bate às portas da Casa
de Ismael.
Eram 20 horas. A Sessão doutrinária e pública havia começado.
M. Quintão prelecionava sobre o
tema da noite:
Doentes e Doenças à luz do
Espiritismo, mostrando, com clareza e erudição e a uma assistência
numerosa e homogênea, a Causa
e os efeitos de nossas mazelas físicas
e Espirituais.
Nosso Irmão M. é tocado no
imo da alma.
Minha filha,
tenha fé em
Jesus. Em seu
nome e por
intercessão da
Virgem, vamos
medicá-la
Ajoelha, ali mesmo, o Espírito
enfermo, aflito, desgovernado. E
pede com fé, entre o pranto sincero, que caroávei Bezerra, o Médico
dos pobres, o Amigo dos desesperados e condenados pela Medicina
da Terra, por misericórdia de
Jesus, por intercessão da Virgem,
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fosse ao seu lar e medicasse sua
mulher e, se possível, que lhe
evitasse a operação premeditada
para a madrugada seguinte...
E assim fica, em Prece, até o
fim da Sessão.
Somente sai de seu estado de
profunda concentração e súplica, quando alguém lhe toca no
ombro.
Era M. Quintão, médium sensível, que lhe captou o pedido,
que lhe sente o caso doloroso e
lhe diz:
— Vá, meu Irmão, em Paz e
agradeça a Jesus que, pelo Espírito
de Bezerra de Menezes, como pediu, acaba de medicar sua esposa
e evitar-lhe a operação melindrosa... Procure ser digno da Graça
recebida...
Nosso Irmão M., coração aos
pulos, com o rosto banhado de
lágrimas, agradece a M. Quintão
e desce a escadaria da Federação
e, daí a uma hora, chega ao lar.
Encontra-o em silêncio profundo..
Surpreende-se amedronta-se. Pensa
no desencarne da companheira. E
entra, pé ante pé, suando, assustado. E, uma de suas cunhadas, vemlhe ao encontro e sussurra-lhe:
— Silêncio, está dormindo desde as 20 horas, depois que você
saiu. Parece que houve algum milagre porque deixou de gemer...
Horas depois a enferma acorda,
já melhorada, e diz:
— Depois que meu marido
saiu, momentos após, vi chegar
à minha frente um velhinho
simpático, vestido de branco com
barbas grisalhas. Colocou as mãos
à minha testa e diz: Minha filha,
tenha fé em Jesus. Em seu nome e
por intercessão da Virgem, vamos
medicá-la. Fui como que anestesiada e não vi mais nada. E a verdade
é que dormi e agora não sinto mais
dores. Acho-me melhor. Graças a
Deus!
No dia seguinte bem cedo, a
ambulância e os Médicos do Gafree
chegam à casa do Irmão M.
Os facultativos examinam a
doente e surpreendem-se, entreolham-se, admirados, constatando
sua melhora e a desnecessidade
da operação.
E um, dentre eles, indaga ao
Chefe da casa:
— Que houve em nossa ausência, de ontem para cá?
Nosso Irmão sorri e silenciase.
Teme afrontar preconceitos,
contar a graça recebida...
Como o coelho da lenda, contada por Viriato Correia, depois
do benefício recebido e chamado a
um testemunho, entrou, de novo,
na toca..., no clima das sombras,
na vida sem Roteiro salvacionista,
sem deveres libertadores e com a
mente obnubilada pelas trevas do
orgulho, à espera de outro toque,
de uma outra chamada, de um
outro empurrão maior, na pessoa
do Aguilhão Bendito...
E quantos, por esse Mundo de
Deus ainda assim procedem!... 
Fonte:
GAMA, Ramiro. Lindos Casos de Bezerra de
Menezes. Págs. 111 – 114. LAKE. 1983.
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11
MEDIUNIDADE
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
Diretrizes de Segurança
por Divaldo Franco e Raul Teixeira
64. Pode-se dizer que a responsabilidade do
doutrinador é do mesmo nível da dos demais
médiuns participantes da sessão?
Raul – É quase o mesmo que se indagar se a responsabilidade do timoneiro é a mesma da tripulação
de um navio.
O Livro dos Médiuns, no seu item 331 (capítulo
29º), na palavra esclarecida de Allan Kardec, assevera
que “a reunião é um ser coletivo”. Em sendo assim,
não poremos dúvida de que todos são grandemente
importantes no desenrolar da sessão.
Sem laivos de dúvida, as responsabilidades se
equiparam, sendo que cada qual estará atendendo
as suas funções, mas todas são do mesmo modo
importantes.
Se o timão estiver bem conduzido e a casa de
máquinas mal cuidada ou relaxada, poderão decorrer
graves acidentes. O Contrário também ensejaria sérias conseqüências. Assim, médiuns, doutrinadores,
aplicadores de passes precisarão estudar e renovarse, para melhor atender aos seus deveres.
65. Haverá necessidade de que, no início
das sessões mediúnicas, todos os médiuns
recebam seus mentores particulares, para
garantirem suas presenças ou para deixar
cada qual sua mensagem?
Raul - Não, não há. As leituras e meditações feitas
na abertura da sessão, seguidas pela oração contrita
e objetiva, assim como a predisposição positiva dos
participantes dão-nos a garantia da presença e da
conseqüente assistência dos Espíritos-Guias, sem
necessidade de que cada médium receba o seu
mentor em particular.
Há circunstâncias em que o espírito responsável

12
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assine: (19) 3233-5596
MEdiunidade
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
pelo labor a desenrolar-se comunica-se, após a abertura da sessão, para alguma mensagem orientadora,
comumente versando sobre as lides a se processarem, concitando à atenção, ao aproveitamento, etc.
Doutras vezes, vem ao final das tarefas para alguma
explicação, conclamação ao encorajamento e à perseverança, desfazendo quaisquer temores em função
de alguma comunicação mais preocupante. Contudo,
a comunicação de todos os guias, no mínimo, é desnecessária e sem propósito.
lução. Porque se os Espíritos Superiores devessem
eqüacionar os nossos problemas, seria desnecessária
a nossa reencarnação. Isto facultaria a esses espíritos
o progresso e não a nós. Se o professor solucionar
todos os problemas dos alunos, estes não adquirirão
experiência nem conhecimento para um dia serem
livres e lúcidos. A tarefa dos Benfeitores é a de inspirar, guiar, de apontar os caminhos. E a do homem
é a de reconquistar a Terra, vencer os empeços,
discernir e de aprimorar-se cada vez mais.
66. O que pensar do médium que espera
tudo do seu guia e do guia que faz tudo para
o seu médium?
Quando alguém diz que o seu guia lhe resolve os
problemas, esses são guias que necessitam ser guiados. São entidades terra-a-terra, mais preocupadas
com as soluções materiais, em detrimento das questões relevantes, que são as questões do espírito.
Divaldo - Que esse médium não está informado
pela Doutrina Espírita. A mediunidade não é uma
faculdade de que o Espiritismo se fez proprietário.
A mediunidade, sendo uma faculdade do espírito,
expressa na organização somática do homem, é uma
função fisiopsicológica.
O Espiritismo possui a metodologia da boa
condução da mediunidade. Por isso, há médiuns
não-espíritas e espíritas não-médiuns.
O fato de alguém dizer-se médium não significa
que esse alguém seja espírita. Quando se espera que
os guias assumam as nossas responsabilidades, nós
nos omitimos do processo de crescimento, de evo-
Referiu-se Raul às lágrimas diárias de Chico
Xavier, demonstrando que os Benfeitores não lhe
resolvem os problemas. Ensinam-no a solucioná-los
mediante sua autodoação, que lhe exige o patrimônio
das lágrimas.
O médium que não haja chorado por amor, por
solidariedade, que não haja padecido o escárnio da
incompreensão e ainda não tenha sido crucificado
no madeiro da infâmia é apenas candidato, ainda não
tem as condecorações do Cristo, isto sem qualquer
masoquismo de nossa parte, mas fruto de observações e experiências. 
Fonte:
FRANCO, Divaldo P. TEIXEIRA, Raul J.
Diretrizes de Segurança. Frater, 2002.
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13
capa
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
Duas Horas com Chico Xavier
por Ary Lex
A
no de 1965. Fim de semana, com
comemoração em Uberaba. Emílio
Manso Vieira, mineiro de Alfenas,
grande expositor espírita e membro da diretoria
da FEESP, convida-me para ir com ele, em seu
carro, passar três dias em Uberaba e visitar o
Chico.
Lá, ficamos em hotel, onde encontramos outros espíritas paulistas, entre os quais o Dr. Luiz
Francisco Giglio, orador espírita muito procurado na época, então Juiz de Direito da cidade de
Brotas, próxima a Bauru.
Fomos assistir à reunião habitual das sextasfeiras, na Comunhão Cristã, onde Chico Xavier
trabalhava. Após a reunião, enquanto o Chico
atendia as dezenas de visitantes, Manso Vieira
falou com a auxiliar que programava as atividades
do Chico e solicitou que ele atendesse a nós três
(Manso Vieira, Dr. Giglio e eu), no sábado pela
manhã, reservando-nos uns 20 ou 30 minutos, no
que foi atendido. (Naquela época era possível)
No sábado, às 8h00, já chegávamos à casa do
Chico. O Waldo Vieira estava presente e ambos
nos receberam com muita gentileza, no próprio
dormitório de ambos. De início, impressionounos profundamente a simplicidade do local:
camas rudes, com colchão de capim, cadeiras
cujo assento era de tábuas serradas. Sabíamos que
o Chico tivera infância modesta, mas o Waldo,
14
médico recém-formado, jovem, bonito, com um
mundo de atrações pela frente, morar com o Chico em condições tão simples! O ambiente espiritual era extremamente elevado e agradável, como
não poderia deixar de ser. Os dois nos deixaram
à vontade, estimulando-nos às perguntas.
Após algumas considerações sobre a Doutrina,
tive a ousadia de me dirigir ao Chico, dizendo
que, embora apreciasse muito suas obras psicografadas, tinha encontrado dificuldades com o livro
Nosso Lar, publicado alguns anos antes, havendo
mesmo coisas com as quais eu não concordava.
Ele pediu-me que citasse algumas e eu, com o
atrevimento que hoje não teria,enumerei: coro
das mil vozes, ônibus aéreo, barba que cresce,
aves que devoram formas-pensamento e alguns
aspectos do Umbral.
Logicamente, esperava algum protesto ou
advertência por parte dos dois, acostumados que
estavam a serem paparicados e quase endeusados
pelos espíritas. Mas isso não aconteceu: o Chico
parou, concentrou-se e disse-me: André Luiz está
presente e não se sente magoado com a análise
que você faz. A análise demonstra que a obra foi
tomada na devida consideração e deve ser sempre
bem recebida. O livro é fruto de um curso que eu
e o Waldo fizemos, às noites, em desprendimento, com recursos áudio-visuais e clareza de ensino
formidável. Para mim, que não sou um mestre,
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assine: (19) 3233-5596
capa
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
mas simples repórter (e é assim que
Herculano Pires o chamava), tornava-se difícil transmitir para vocês
encarnados aqueles nobres ensinos,
considerando as minhas limitações e
as dificuldades relativas à linguagem
humana imperfeita e as imagens difíceis de serem traduzidas. Entendi
perfeitamente e pedi tolerância para
minha ousadia. Chico continuou:
André Luiz é totalmente fiel à codificação e gosta que seus ensinos sejam
confrontados com ela. Diz ele que se
alguns de seus ensinos discordarem
da Codificação, devem ser jogados
no lixo e fiquemos com Kardec. Fiquei simplesmente embevecido com
aquela humildade e aquela fidelidade à codificação. André Luiz subiu
ainda mais no meu conceito.
Já em 1967, quando escrevi um
capítulo para o livro de Roque Jacinto: Chico Xavier, 40 anos no mundo
da mediunidade (página 181), eu
dizia: Para quem sente o problema,
poderá André Luiz dar a impressão
de que avança o sinal, de que faz
afirmações fantasiosas. Nós, contudo, não endossamos semelhante
juízo. Concordamos que ele se arroja no campo que apresenta, sem
preocupação constante de fornecer
a base científica de tudo. Mas se ele
pretendesse se justificar cientificamente, na base de conceitos atuais,
sua liberdade de informações ficaria
restrita, sem possibilidade de transmitir-nos os ensinamentos como
ele o faz, ensinos notadamente no
campo moral. Ele tem a liberdade,
portanto, de não ficar à espera de
que a Ciência prove uma determinada ocorrência.
Com sua visão de tempo, faz afirmações que no momento poderão
chocar, mas que virão a ser comproassine: (19) 3233-5596
vadas em detalhes no decorrer dos
anos ou dos séculos.
Essa orientação é perfeitamente
estribada dentro da codificação.
Voltemos à nossa conversa com
Chico. Ele ainda se dispunha a
nos trazer ensinos; entretanto, eu
olhando o relógio lhe disse: Você
nos concedeu meia hora: está cheio
de gente lá fora o esperando e nós
estamos aqui há quase duas horas!
A resposta foi surpreendente: Vocês
três têm graves problemas familiares e de doenças (Era verdade:
minha mãe vivia seus últimos dias)
Fiquei
simplesmente
embevecido com
aquela humildade
e aquela fidelidade
à codificação
e nenhum veio aqui para solicitar
que os Espíritos os livrassem das
provas. Vocês vieram se esclarecer
sobre Doutrina e, por isso, o Mundo
Espiritual lhes concedeu todas essas
explicações e todo esse tempo.
Magnífica lição que jamais esqueci e que tenho divulgado.
A enorme maioria das pessoas
que procura o Chico vai em busca
de benefícios pessoais ou familiares. Se se trata de doenças graves,
muitas vezes depois de esgotados
os tratamentos médicos e quiçá os
recursos financeiros, esperam que os
espíritos, por um golpe de mágica,
os curem rápida e completamente
e diríamos ainda, sem despesas.
Se se trata de problemas pessoais,
discórdias de família, dificuldades profissionais, geralmente em
grande parte por falha de conduta
ou descuidos morais, querem que
os espíritos, contrariando a lei de
causas e efeitos, os livrem imediatamente dessas provas, apagando as
faltas, e para isso eles se apresentam
“humildezinhos”, de cabeça baixa
e ares de santidade. Se se trata de
entes queridos, que são os casos
mais freqüentes, cuja ausência no
plano físico os deprime muito,
solicitam sua presença permanente
a seu lado, esquecendo-se de que
os Espíritos têm tarefas outras no
Mundo Espiritual. De qualquer
forma, solicitam benesses e mais
benesses, e durante as entrevistas,
sugam as energias magnéticas e espirituais do médium extraordinário.
Supõem que os Espíritos nada têm
a fazer senão resolver os problemas
dos peregrinos. O apoio espiritual
é realmente importante e os nossos
irmãos desencarnados de certo grau
evolutivo estão sempre prontos a
dá-lo, mas não queiramos fazer os
Espíritos de muletas, sem as quais
não podemos caminhar. O ensino
e o conforto que eles nos trazem
são preciosos, mas não podem
afastar as nossas provas, porque as
merecemos.
Saímos da casa do Chico Xavier
radiantes, bem dispostos, mais aptos
a enfrentar as provas do dia-a-dia.
Aquelas duas horas foram para mim
duas das melhores da minha vida. 
Fonte:
Jornal Espírita – Maio/2001
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
15
instrução
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
Breve Recordação da
Mediunidade
por Yvonne A. Pereira
(...) Despertei, pela madrugada,
vendo à beira do meu leito o Espírito de uma jovem a quem conheci
bastante em minha mocidade, irmã
de um amigo meu, já também falecido, chamada Carmelita. Pelo ano
de 1938, essa moça suicidou-se por
amor, em uma longínqua cidade
de Minas Gerais, onde eu residia
então.
Diante do meu leito, ouvi que
ela me dizia, numa expressão dramática, mas visivelmente resignada
e serena ante a própria situação:
- Yvonne, venho agradecer-lhe as
preces que tão caridosamente você tem
dirigido a Deus em minha intenção há
quase quarenta anos. Ouvi-as sempre,
assim como as leituras evangélicas para
minha instrução. Consolaram-me muito
e reanimaram-me, alguma coisa útil
aprendi nessas leituras, as quais me
ajudam. Venho despedir-me, pois vou
reencarnar a fim de expiar e reparar
meu pecado...
Com uma prece, agradeci a
gentileza, enquanto ela pedia para
não esquecê-la jamais em minhas
orações, pois a sua nova existência
será amarga, duríssima.
(...) Conforme dizia, a irmã do
meu amigo chamava-se Carmelita,
era gentil e mimosa, com aqueles
16
cabelos louros bem tratados e os
olhos luminosos de um puro azul
celeste.
Como toda jovem sonhadora, ao
completar os vinte anos de idade,
Carmelita desejou casar-se, mas foi
infeliz na sua pretensão, porque o
candidato não a amava: ele amava,
sim, a uma sua irmã de nome Alice,
a qual jamais se interessara por ele.
Contudo, firmaram o contrato de
O melhor
antídoto para a
dor de um amor
infeliz sempre foi,
em toda parte,
o advento de um
outro amor
casamento e os preparativos para as
bodas; em três meses, encontravamse preparados, inclusive o vestido
tradicional e até os doces para os
convidados.
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
Na entrevéspera do casamento,
porém, o noivo desapareceu de nossa cidade, fugindo para São Paulo,
sem deixar sequer uma explicação,
e nunca mais soube dele. O que
Carmelita sofreu é fato que eu não
saberia descrever aqui. Além de
tudo, para maior martírio da pobre
moça, cuja família lhe era um tanto
hostil, seus irmãos a ridicularizavam
com gracejos pesados e remoques
irritantes, relembrando a fuga do
noivo, que não a considerara nem
mesmo com uma explicação do seu
covarde gesto.
Não obstante, Carmelita recuperou-se. Passou a freqüentar sessões
de estudos evangélicos em um Centro Espírita onde encontrou amigos
que a aconselharam e consolaram
muito fraternalmente.
O melhor antídoto para a dor
de um amor infeliz sempre foi,
em toda parte, o advento de um
outro amor, que então passa a ser
considerado o mais querido. Outro
candidato apareceu, e Carmelita,
sentimental, dirigiu a esse segundo
noivo as emoções mais puras do
seu coração. Mas, assim entretida e
feliz, não mais se lembrava das doces reuniões evangélicas no Centro
Espírita que a confortara nos dias
assine: (19) 3233-5596
instrução
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
adversos. E três anos se passaram
por entre dedicações, esperanças,
carinhos edificantes, e também
temores, ânsias, insônias.
Estavam noivos e finalmente
iam se casar.
Um dia, porém, ao final de
três anos de blandícias e ternuras,
o noivo declarou-lhe que retirava
a palavra empenhada. O pai, capitalista soberbo, não aprovava a
união e declarara que o deserdaria
se teimasse em se unir àquela criatura tão inferior a ele em fortuna e
posição social.
Então, Carmelita desesperouse.
Após algumas vãs tentativas para
a reconciliação, atormentada pelos
irmãos, que lhe não perdoavam o
novo fracasso, coberta de vergonha
diante dos amigos, inconsolável
ante o futuro, que se delineava sombrio, a pobre moça ingeriu terrível
corrosivo: soda cáustica de mistura
com iodo. Levou dois meses a
morrer, durante os quais, imóvel
sobre o leito, sofrendo dores incalculáveis nas entranhas corroídas
assine: (19) 3233-5596
pelo tóxico, desfazia-se em vômitos
de envolta com os quais viam-se
fragmentos do próprio estômago e
da garganta, para desespero de sua
pobre mãe.
E quando o féretro passou diante da vivenda do ex-noivo, por quem
se desgraçara diante de Deus, com o
ato do suicídio, este, que palestrava
com um amigo, na porta da rua,
não se virou sequer para, educadamente, homenagear a morta, que
seguia para o Campo Santo.
Creio inútil informar que nós,
diretores do Centro Espírita que
a acolhera quando do primeiro
drama de sua vida, oramos por ela
meses a fio, em lágrimas, suplicando
ao Senhor misericórdia para o seu
Espírito.
***
Cerca de seis meses após seu
trágico decesso, despertei, pela madrugada, vendo em meu aposento
o vulto venerável de Padre Vitor,
um dos amados protetores do nosso
núcleo espírita, que em vida fora
considerado apóstolo da caridade.
Disse-me ele:
- Necessito, minha filha, do teu
auxílio para Carmelita. Vem comigo, por obséquio.
Caí em transe e segui, desdobrada, o fiel discípulo da Caridade.
Reconheci-me, em seguida, no
cemitério da cidade e percebi as
cruzes que se elevavam aqui e ali,
assinalando os túmulos. Absolutamente nenhum constrangimento
me enervava. Era naturalmente
que eu me conduzia junto àquele
apóstolo.
Vi-me, então, diante de Carmelita: ela sentava-se ao lado do
túmulo onde fora sepultado seu
corpo, servindo-se de um banquinho, reprodução mental do que
existia em sua casa paterna, e que
lhe pertencera na infância. Parecia estranhamente traumatizada,
tolhida nos movimentos, extática,
olhando, para o vácuo sem sequer
uma vibração que demonstrasse
vida; os olhos, antes tão luminosos
e expressivos, agora apagados, como
que cegos. Seu dramático vulto espiritual mostrava-se trajado como fora
o corpo sepultado: o traje nupcial
acrescido de um manto azul e uma
grinalda de rosas na fronte. Padre
Vítor, que ela não destacava do
nevoeiro dos seus olhos, disse-me,
pois eu ali nada mais era do que o
seu médium, como o era em nossas
sessões mediúnicas:
- Fala-lhe por mim!
Então, meu Deus! Coragem
estranha acionou-me e eu exclamei,
dirigindo-me a ela, enquanto se
destacavam uma pequena lata de
soda cáustica e um vidro de iodo,
que a infeliz entidade segurava com

as mãos crispadas:
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
17
instrução
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
- Carmelita, minha amiga querida! Volta a ti, em nome de Deus!
Vem conosco, atira de tua mente
essa lata e esse vidro que te estigmatizam! Não podes ficar aqui, eleva
teu pensamento a Jesus, ora, minha
filha, e levanta-te daí! Sabes que não
possuis mais esse corpo, é preciso
separar-te dele definitivamente!
Deus é misericordioso, certamente
que te ajudará!
Mas ela respondeu, como que
automaticamente:
- Deus não existe. É mais uma
ilusão que se desfez em minha vida.
Tanto orei, pedi seu socorro para
meus ideais! Fui esquecida também
por ele!
- Desperta, Carmelita! Raciocina, ora comigo! Levanta-te daí, vem
conosco e sentirás alívio!
- Não posso despegar-me “dele”.
“Ele” é meu, tenho que vigiá-lo até
o fim para que o não profanem.
Preciso reavê-lo para continuar a
vida de outra forma!
- Isso acontecerá mais tarde,
quando te reanimares. A misericórdia do eterno dar-te-á um novo
ensejo com um novo corpo, esse
que aí está não te servirá mais, está
apodrecido, morto!
E eu via, com efeito, o corpo,
decompondo-se no fundo da cova,
pois, para a visão espiritual não existem barreiras materiais. No entanto, ela parecia não me compreender,
tal era a sua perturbação.
Dez anos mais tarde, Carmelita
apresentou-se em uma sessão do
nosso núcleo espírita, acompanhada de Padre Vítor, seu protetor em
Além-Túmulo. Não chorava. Seu
palavreado era grave, discreto, e
disse, servindo-se de um caridoso
instrumento mediúnico.
18
- Agradeço-vos o interesse pela
minha sorte. Vossas preces, as
leituras aqui ouvidas, fizeram-me
imenso bem. Compreendo tudo.
Eu desejava tornar à Terra a fim de
expiar o meu erro. Foi lamentável o
que fiz, porque o ser que me amava
não estava na Terra e sim aqui, à minha espera. Eu nascera para servir
ao Bem, a fim de merecê-lo. Meu
gesto infame, porém, separou-me
Foi lamentável o
que fiz, porque
o ser que me
amava não
estava na Terra
e sim aqui, à
minha espera
dele por mais um século.
O pai Eterno, no entanto, permitiu-me um estágio longo aqui,
onde me encontro, a fim de, amparada por meus anjos protetores,
instruir-me acerca das leis divinas e
fortalecer-me para resistir nos dias
de expiação que viverei na Terra,
os quais serão difíceis e decisivos.
Reencarnarei bem longe dos cenários onde desgracei-me, na França,
pátria essa que também foi minha
em várias existências passadas, e
serei cega de nascença, irremediavelmente doente a vida inteira. Orai
por mim. Necessito do auxílio dos
corações caridosos.
Nosso presidente, interessado
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
nas instruções que o caso trazia
sobre o suicídio, adveio:
- É, minha filha... Perdoaste
aqueles que amarguraram a tua
vida? É necessário perdoar...
- Nem sequer lembro-me deles.
Não existem em minhas recordações. Foram ingratos e covardes.
E, depois desse dia, trinta e oito
anos se passaram, durante os quais
ela permaneceu no mundo espiritual, preparando-se para o futuro.
Nos primeiros dias do mês de
maio último, Carmelita apresentouse à minha visão espiritual. Estava
serena, confiante, fortalecida pela
esperança.
- Adeus, minha boa amiga!
Obrigada pelas suas preces tão perseverantes. Somente agora encontro-me em condições para resistir às
provações que me esperam. Sofrerei
intensamente. Mas é preciso que
seja assim, a meu próprio benefício.
Não me esqueça em suas orações.
Outro corpo foi-me concedido pela
bondade de Deus...
E lentamente desapareceu de
minha vidência.
E assim foi, meu leitor. Não há
condenação eterna, porque Deus
não repeliria a sua própria criação.
O que há é o cumprimento de uma
lei. E, tal como ela é, precisaremos
aceitá-la para nossa própria salvação. 
Fonte:
PEREIRA, Yvonne A. Cânticos do coração. Cap.
IV. Págs. 43 - 50. Celd. RJ/RJ. 1994.
assine: (19) 3233-5596
ensinamento
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
Cartomante
por Lamartine Palhano Jr.
N
ão posso deixar de
registrar aqui o caso de
obsessão de encarnado
para desencarnado que acompanhei
durante sete sessões mediúnicas
apropriadas para desobsessão. Na
primeira sessão, observei que a
médium, D. Amyres de Maria Pinto Ester, influenciada por alguma
entidade, demonstrava uma ação
psíquica, como se carteasse com um
baralho. Suas mãos, com agilidade,
pareciam jogar cartas sobre a mesa.
Aproximei-me e perguntei à entidade que se manifestava o porquê
de sua vinda até nosso ambiente.
Respondeu-me:
- Quer saber o seu futuro? Posso
ler o seu passado, seu presente e o
seu futuro!
- Não, não... Estou aqui em
nome de Deus para atender e
ajudar a todos os que aqui vêm.
Se você precisa de ajuda, aqui é o
lugar certo. Não queremos os seus
serviços, pode ficar tranqüilo. Mas,
se você está precisando de alguma
coisa, pode falar. A mediunidade
aqui é útil e gratuita, nunca mera
curiosidade. Entendeu?
A entidade relutou um pouco
e disse que ia pensar. Na sessão seguinte, através da mesma médium,
o espírito jogador de cartas voltou
e insisti que ele estava entre amigos
e todos estávamos ali em preces por
ele. Envolvi-o em sinceras vibrações
assine: (19) 3233-5596
de amizade e desejo de ajudá-lo.
Foi aí que ele parou de cartear e
suplicou:
- Ajudem-me, então, já não
agüento mais. Há vinte anos que
estou preso a essa mulher que não
me deixa partir.
Perguntei-lhe:
- O que aconteceu, amigo?
- Eu estava por aí, sem destino,
quando a encontrei e senti que ela
podia perceber-me. Comecei, então,
a ditar para ela coisas curiosas a respeito das pessoas amigas e parentes
dela. Sem que eu tomasse conta,
ela começou a receber pessoas em
sua casa para que eu esclarecesse
sobre as questões dos consulentes.
Cada vez mais sentia-me orgulhoso
em demonstrar o quanto eu podia
fazer através da clarividência dela.
Por um bom tempo ficamos assim.
Não havia hora, sempre que aparecia alguém ele me chamava, jogava
as cartas, e eu ia descrevendo os
intrincados problemas alheios.
Um dia, senti-me cansado de tudo
aquilo e resolvi ir embora, aquelas
coisas não mais me interessavam.
Tomei novo rumo. No dia seguinte,
já estava longe, buscando outros interesses, quando fui violentamente
arrastado e, aturdido, percebi que
estava imantado à cartomante, que
me evocava decidida a atender mais
um cliente que queria respostas às
suas dúvidas. Desde então, há vinte
anos, estou preso a ela. É uma situação infernal.
Diante de tal situação, pedi-lhe
que tivesse calma, pois todos estávamos ali, justamente para ajudálo. Disse-lhe que ele haveria de se
libertar e comecei a evangelizá-lo.
Apliquei-lhe passes e ensinei-o a
recorrer a Deus e a buscar Sua ajuda. Isso prosseguiu por mais cinco
sessões, até que ele disse não estar
mais sendo atraído pelas evocações
da cartomante. Pedi aos bons espíritos que o encaminhassem para
refazimento e novas orientações
em lugares apropriados do mundo
espiritual. 
Fonte:
PALHANO JR, Lamartine. Diário de um espírita.
Pág. 127. Lachatre. RJ/RJ. 1994.
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
19
MENSAGEM
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
A Fé e o Amor
por Cairbar Schutel
“Uma mulher que havia doze anos padecia de uma hemorragia e que tinha sofrido bastante às mãos de muitos médicos e gastado tudo o que possuía, sem nada aproveitar, antes
ficando cada vez pior, tendo ouvido falar a respeito de Jesus veio por detrás entre a multidão e
tocou-lhe a capa; porque dizia: se eu tocar somente as suas vestes, ficarei curada. E no mesmo
instante cessou sua hemorragia, e sentiu no seu corpo que estava curada do seu flagelo.
“E Jesus disse-lhe: Filha, a tua fé te curou; vai-te em paz, e fica livre de teu mal.”
(Marcos, V. 25-34.)
S
abedoria e santidade são
os dois atributos para a
aquisição da felicidade.
A Luz dá sabedoria, a Religião dá
santidade, mas só o Amor resume
toda a Lei e a Profecia.
A Esperança consola e anima;
a Caridade robustece e ampara; a
Fé salva; o Amor anima todas estas
virtudes; o Amor é a Lei.
Os homens titubeiam; a Humanidade degrada; tudo parece perdido como a nau batida pela tempestade! Eis que aparece o Amor e faz
ouvir sua voz convincente: tudo se
acalma!
A bonança sucede à impetuosidade dos ventos e à fúria dos mares!
a luz sucede às trevas como o dia
sucede à noite!
Não há o que melhor manifeste
a Lei de Deus do que o Amor. Seu
nome, escrito unicamente com quatro letras, indica os quatro pontos
20
cardeais da felicidade espiritual;
suas letras são luzes; sua luz brilha
mais e aquece melhor que o Sol!
A Esperança está ligada à Imortalidade; mas a Fé é inseparável do
Amor.
A mulher enferma, cheia de fé,
aproxima-se do Senhor, toca-lhe as
vestes. “Assim fazendo, pensou, ficarei
curada do mal que há muitos anos me
aflige”. E o milagre efetuou-se!
Assim também sucederá a todos
aqueles que tiverem fé e de Jesus se
aproximarem: “O que me seguir não
verá trevas.”
Todos os que tiverem Fé, e com
Fé buscarem vencer as dificuldades,
triunfarão porque o Amor coopera
com a Fé para abater barreiras,
destruir domínios, aniquilar empecilhos e suprimir dificuldades.
“Se tiveres fé, disse Jesus, dirás
a este monte: passa-te para lá e ele
passará.”
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
“Se tiveres fé, dirás a esta figueira:
transplanta-te para além, e assim
acontecerá.”
A missão exclusiva de Jesus foi
reviver os corações na Fé, para que
as almas cheguem às alturas do
amor de Deus.
Em todas as suas excursões, o
Mestre semeava Fé, para que as gentes, com o seu produto, granjeassem
os tesouros do Amor.
É assim que, cultivando seus
ensinos, nós alçaremos os mundos
de luz que se movimentam no Éter
acionados pela vontade de Deus.
A Luz dá Sabedoria e salva; Jesus
é o Caminho a Verdade e a Vida;
o Amor é a Lei. 
Fonte:
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de
Jesus. Págs. 214 – 215. Casa Editora O Clarim.
1979.
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Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
HISTÓRIA
Os Doze Apóstolos
por Claire Llewellyn
J
esus tinha muitos discípulos. Desses
ele escolheu doze para serem seus fiéis
amigos e ajudarem em seu trabalho.
Eram eles: Tiago e seu irmão João, Pedro,
André, Mateus, Filipe, Simão (o Zelota),
Bartolomeu, Tomé, Tiago (filho de Alfeu),
Tadeu e Judas Iscariotes.
Os doze apóstolos tinham diferentes
meios de vida. Quatro deles – Tiago, João,
Pedro e André – eram pescadores, e Mateus
era um coletor de impostos. Todos deixaram
seus trabalhos para seguir Jesus, porque foram
inspirados por suas palavras e ações.
Quanto mais os apóstolos conheciam Jesus, mais crescia a fé que tinham nele. Todos
acreditavam que ele era o Messias e viram os
muitos milagres que ele fez.
Certa noite, Pedro, Tiago e João viram
Jesus, numa luz resplandecente, na companhia
dos grandes profetas Moisés e Elias. E ouviram
a voz de Deus chamá-lo de “meu Filho”.
Na última semana da vida de Jesus, houve
uma festa importante dos judeus, chamada
Páscoa. Jesus comemorou a Páscoa comendo
com seus apóstolos em Jerusalém. Seria a
última ceia em que estariam juntos. Jesus
revelou que um deles ia traí-lo e entregá-lo
a seus inimigos. Ele disse: “Aquele a quem
eu der este pão será o traidor”. E deu o pão
para Judas.
No dia seguinte, Judas guiou os soldados
romanos até um horto, onde Jesus rezava, e
mostrou quem ele era dando-lhe um beijo.
Os soldados levaram Jesus.
Os apóstolos ficaram profundamente tristes com a morte de Jesus, mas continuaram
a pregar o que ele tinha ensinado e a falar
sobre sua vida. 
Fonte:
LLEWELLYN, Claire. 70 Personagens da Bíblia. Pág. 48 – 49. Larousse do Brasil. 2003.
assine: (19) 3233-5596
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
21
ensinamento
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
Incredulidade
por Viana de Carvalho / DIvaldo P. Franco
O
problema da incredulidade do homem
a respeito da vida espiritual resulta de muitos fatores
que têm caráter imediatista. Primeiro, do engodo propiciado por
algumas crenças religiosas que,
pretendendo explicar a Divindade,
lhe atribuíram natureza humana
22
com humanas paixões. Segundo,
porque, despertando após a morte
do corpo, no mundo da consciência, os discípulos e fiéis de ditas
crenças não encontraram o proclamado paraíso, derrapando em
funda amargura ao constatarem a
continuação da vida nos moldes em
que fora plasmada no organismo
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
físico, sem o acumpliciamento de
milagres transformadores das paisagens íntimas, a golpes de subornos
emocionais. Ainda, também, em
razão do atavismo animal, pela fixação nas manifestações sensoriais
de que, somente através de esforços
contínuos no sentido da elevação
pessoal, se conseguirá libertar. Em
suma, por injunção dos homens
preconceituosos, que, se dizendo
amantes da Ciência, mesmo quando animados de propósitos nobres,
pesquisam e indagam, resolvendose, porém, por uma atitude sempre
cética, mesmo após defrontarem
as aneladas constatações que procuram, apressadamente, dar outro
conteúdo explicativo, fugindo à
realidade da sobrevivência do ser a
destruição da tecelagem material.
Tão normal e exclusivo parece
o mundo sensorial ao homem que,
defrontado pela manifestação da
realidade parafísica, se deixa fascinar pelo anelo de impor-lhe regras
caprichosas e metodologia especial,
malgrado reconheça viver numa
expressão orgânica que é efeito
de outra, mesmo não lhe sabendo
explicar a causalidade.
Quando defrontado pelo fenômeno mediúnico ou anímico,
assine: (19) 3233-5596
esclarecimento
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
paranormal em qualquer expressão,
propõe especificidade de manifestação, armando-se de ardis e suspeitas
que chegam, não raro, ao absurdo,
senão ao ridículo. Acautelam-se
e propõem fórmulas, desconsiderando a possibilidade de que os
agentes desses fenômenos sejam
portadores de uma natureza espiritual, homens, portanto, apesar
da ausência corporal, caprichosos
uns, arrogantes outros, como os
próprios examinadores... Todavia,
quando constatam a legitimidade
de uma informação mediúnica de
ordem intelectual apelam ora para
a telepatia, ora para a hiperestesia,
asseverando que tal informe não
é válido porque já conhecido por
alguém. E se não o podem comprovar, ei-lo negado por ausência de
sustentação probante da sua validade. No que tange aos fenômenos
de natureza objetiva, recorrem aos
poderes psicocinéticos da mente,
atribuindo-lhe caráter quase divino
e força criadora absoluta, capazes
de acionar, mediante mecanismos
complexos e inexplicáveis, os corpos sólidos, interpenetrá-los, materializá-los e desconectá-los...
Se defrontam uma forma espiritual materializada, recorrem desde
à alucinação aos misteriosos ardis
do subconsciente, sempre negando
a causa. Quando registrados por
aparelhagem sensível da eletrônica,
filmados e medidos, reagem de
início à possibilidade do princípio
imortalista, recorrendo a sofismas
bem armados e à presunção de que
os fatos já observados, discutidos e
catalogados não bastam.
Nunca, porém, conseguem
uma forma de examinar o fenômeno, senão afirmando sempre
assine: (19) 3233-5596
tratar-se de uma burla da mente
que, apesar disso, se obstina em
confirmar a procedência espírita,
embora a sistemática negação dos
que o promovem ou dele se fazem
instrumento. Os fatos, porém, são
severos, e estes, a pouco e pouco,
vão rompendo a vaidosa casca em
que se refugiam os incrédulos que,
espicaçados pela dor ou pela curiosidade, vencidos pela sofreguidão
das complexas engrenagens da alma
É a vitória do
homem sobre
si mesmo que
o faz valoroso,
cheio de
coragem e fé
em aturdimento ou da pesquisa
honesta, vão cedendo campo e
reconhecendo a própria pequenez
em que labutam diante da grandiosidade da Vida na qual estão,
inapelavelmente, engajados.
Criticados os mais audaciosos
que se resolvem pela honestidade das afirmações resultantes de
laboriosos anos de investigação e
estudos, fazem-se, todavia, pioneiros fáceis de serem imitados pelos
que os sucedem.
Médicos, genetas, biólogos, psiquiatras, psicólogos, neurólogos,
patologistas, parapsicólogos e tantos outros estudiosos das ciências
da vida relatam suas experiências,
dão-se as mãos e superam as chulas zombarias da empáfia como
da acomodação, as vãs e ridículas
agressões de periodistas mal informados, que vivem a soldo do
escândalo e da aventura, somando
e documentando fenômenos que
se transformam em inamovíveis
bases das suas afirmações. Cautelosos, vêm a público, a princípio
em monografias, em conferências
entre seus pares como a discreta
madrugada sobre a noite dominante, e, por fim, superando barreiras,
em livros, reportagens, congressos
e conferências públicas.
É a vitória do homem sobre si
mesmo que o faz valoroso, cheio
de coragem e fé nas altas e nobres
expressões da Humanidade.
Por fim, a morte soberana e
fatalista, dominadora das funções
transitórias do corpo somático, se
aproxima e consome a todos, facultando aos calcetas e renitentes a
constatação, embora a longo prazo,
da causalidade e sobrevivência, não
raro, a pesado tributo de amargura,
arrependimento tardio e sombra...
Mesmo nesse caso, porque vigem
o amor e a misericórdia de Deus,
o futuro se abre promissor a todos,
facultando-lhes recomeço para a
ascensão e reinício de lutas para a
liberdade, a fim de lograr as altas
metas do existir. 
Vianna de Carvalho
Fonte:
FRANCO, Divaldo P. Sementes de Vida Eterna.
Págs. 31 – 34. Livraria Espírita “Alvorada”
– Editora. 1978.
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
23
HOMENAGEM
FidelidadESPÍRITA | Maio 2009
Homenagem a
Cairbar Schutel1
por Orson Peter Carrara
F
oi no dia 30 de janeiro
de 1938 que ele retornou à pátria espiritual.
Nascido no Rio de Janeiro, em
22 de setembro de 1868, fixou-se
posteriormente em Matão, onde
plantou as sementes do bem,
conforme registra a história do
grande seareiro.
Mais que lembrar a data de
desencarnação, vale destacar o
esforço empreendido pelo notável
Cairbar Schutel, em Matão, na
divulgação do Espiritismo, o que
deixou clara sua posição de grande
comunicador.
Tomando conhecimento dos
ensinos trazidos pelo Espiritismo, o moço que viera do Rio de
Janeiro e se instalara no pequeno
município paulista que ele mesmo
auxiliara emancipar-se politicamente, não teve dúvidas: lançouse de corpo e alma para que tais
ensinos se tornassem conhecidos
e pudessem beneficiar mais e mais
pessoas.
A partir da fundação de um
Durante os
próximos 33 anos,
de 1905 a 1938,
dedicou sua vida
completamente
à divulgação e
à vivência do
Espiritismo
centro espírita e de um jornal
que já é centenário, sua atuação
1. Adaptação do título original
24
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
extrapolou os limites da então
pequena Matão, projetando-se
através das décadas para o cenário
internacional, principalmente
após o surgimento de sua querida
RIE, fundada em 1925.
Da distribuição avulsa pelas
ruas da cidade, nos trens de passageiros, na remessa a cidades
vizinhas e na postagem que se
ampliou gradativamente para todo
o Brasil, o pequeno jornal foi um
farol a despertar consciências
adormecidas para a realidade da
imortalidade da alma, da pluralidade das existências e da comunicabilidade dos espíritos, entre
outros princípios da Doutrina
Espírita.
Vale acentuar que, em 1905,
quando Schutel iniciou seu apostolado, sua idade era de apenas
36 anos. Durante os próximos 33
anos, de 1905 a 1938, dedicou sua

assine: (19) 3233-5596
HOMENAGEM
Maio 2009 | FidelidadESPÍRITA
vida completamente à divulgação
e à vivência do Espiritismo.
É importante destacar também
o aspecto de vivência. Afinal ele
foi um autêntico cristão, nunca
desprezando ou ignorando quem
quer que o buscasse. Jamais teve
atitudes de indiferença ou discriminação quanto aos pobres e
necessitados que o procuravam
em busca de consolo moral ou em
busca do socorro material.
Mas sua grande marca foi
mesmo o de comunicador. Além
dos periódicos que publicou, dos
livros que escreveu, das palestras
proferidas, do incentivo doutrinário distribuído, ele igualmente
influenciou expressivamente toda
uma geração de espíritas. Seu
exemplo, seu estímulo, a notável
seqüência pioneira dos programas
radiofônicos (depois transformada
em livro), fizeram dele um comunicador por excelência.
Há que se destacar também
que, mesmo após a desencarnação, seu trabalho continua. Ditou
várias mensagens, por diferentes
médiuns, já foi identificado igualmente mediunicamente em locais
onde o assunto é divulgação espírita e, por relatos idôneos, pode-se
afirmar que ele é um dos espíritos
coordenadores da expansão do
pensamento espírita, inclusive no
âmbito internacional.
Cairbar percebeu de imediato a
proposta do Espiritismo, exposta
com clareza por Allan Kardec em
O Livro dos Espíritos, obra que
alcançou seus 150 anos de publicação em 2007, pois que lançada
em 18 de abril de 1857.
Cairbar percebeu
de imediato a
proposta do
Espiritismo,
exposta com
clareza por Allan
Kardec
Fica claro perceber o alcance
da comunicação espírita. Ela, a
Doutrina Espírita, não é estanque,
mas dinâmica. Sua própria índole
cristã é comunicativa. Surgiu com
a publicação de livros, projetou-se
através de livros e comunicação
verbal, alcançou respeito pela
comunicação vivida na prática
e atualmente vive a realidade de
ver seus temas essenciais serem
tratados abertamente pela mídia.
Ora, o trabalho iniciado pelos
espíritos, percebido por Allan
Kardec – que lhe organizou metodicamente os ensinos –, vitalizado
pela marcante presença de Chico
Xavier, mas igualmente estimulado pelo trabalho de homens da
fibra de Cairbar Schutel, entre
tantos anônimos ou conhecidos,
do presente ou do passado, é fator
que nos convida à reflexão.
Que atuação estamos tendo
para continuar referido empreendimento, cujo objetivo é espiritualizar o ser humano? Especialmente na condição de dirigentes
e coordenadores das instituições
inspiradas pelo ideal espírita...
Exemplos não nos faltam.
Entre eles, um comunicador por
excelência: Cairbar de Souza Schutel (1868-1938). 
Fonte:
http://www.orsonpcarrara.k6.com.br/
Fachada antiga da redação do jornal O Clarim em Matão
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25
com todas as letras
FidelidadESPÍRITA |Maio 2009
Assista sempre ao
Jogo
por Eduardo Martins
S
aber se um verbo pede ou não preposição e,
se pede, qual deve ser usada é uma das principais dificuldades de quem escreve ou gosta
de falar com correção o português. Até porque, em
muitas ocasiões, a forma vernácula, correta, diverge
da coloquial ou popular. Esse é o caso, por exemplo,
do verbo assistir.
No seu sentido mais comum, o de ver ou estar
presente, exige sempre a preposição a. Assim: O
torcedor garantiu que vai assistir à final do campeonato.
/ Ninguém quis assistir ao show. / Os fiéis assistiram à
missa. / Os amigos não pensavam que um dia iriam assistir
à sua ruína.
Como não existe voz passiva com verbos transitivos
indiretos (que pedem complemento com preposição),
são erradas estas construções: O jogo “foi assistido”
(presenciado) por 60 mil pessoas. / Era o telejornal mais
“assistido” (visto) do País.
Ainda sobre um jogo ou espetáculo, não se pode
dizer: Perdi o jogo, mas queria tanto “assisti-lo”. / Saiu para
ir à missa, mas não pôde “assisti-la” por causa da chuva.
Como se explicou, pelo fato de ser indireto, o verbo
rejeita o o (ou sua variação lo) como complemento. O
certo, então: Perdi o jogo, mas queria tanto assistir a ele.
/ Saiu para ir à missa, mas não pôde assistir a ela.
Nesse sentido, ainda, assistir é um dos verbos
que, embora indiretos, não admitem o pronome lhe
(outros são ajudar, recorrer, aspirar e presidir). Dessa
forma, quem assiste a uma sessão ou a um espetáculo
não pode dizer que “lhe assistiu”, embora o verbo se
construa com a preposição a, mas apenas que assistiu
a ela ou a ele.
Assistir é transitivo direto e, portanto, dispensa o
a quando é sinônimo de ajudar, socorrer: O governo
assistiu os flagelados. / O hospital não assistia doentes
sem recursos. Nesse caso é correto o uso da passiva:
Os flagelados foram assistidos pelo governo. E também se
pode recorrer à forma assisti-lo. Veja como: Garantiu
ao amigo que iria assisti-lo no que fosse necessário. / Visitou
os feridos porque queria assisti-los com roupas e alimentos.
O verbo pode ser indireto (com preposição) em
outro de seus significados, o de caber (direito, razão) a
alguém: Não assistia direito algum aos reclamantes. /Não
lhes assistia razão no protesto. Repare: este é o único caso
em que assistir admite lhe.
O exemplo literário
Um sentido muito pouco conhecido de
assistir e presente praticamente na literatura,
apenas, é o de morar, residir, habitar.
O gramático Celso Cunha cita dois
exemplos.
Um de Guimarães Rosa: “Você então está
assistindo por aqui, neste começo de Gerais?”
E outro de Afonso Arinos: “Dois daqueles
assistiam no termo de Vila Nova da Rainha.”
Fonte:
MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras. Pág.
27. Editora Moderna. São Paulo/SP, 1999.
26
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O Povo e o Evangelho
“E não achavam meio de lhe fazerem mal, porque
todo o povo pendia para ele, escutando-o.”
(Lucas, 19:48.)
A perseguição aos postulados do Cristianismo é de todos os tempos.
Nos próprios dias do Mestre Divino, nos
círculos carnais, já se exteriorizavam hostilidades de todos os matizes contra os movimentos
da iluminação cristã.
Em todas as ocasiões, no entanto, tem
sido possível observar a gravitação do povo
para Jesus. Entre Ele e a multidão, nunca se
extinguiu o poderoso magnetismo da virtude
e do amor.
Debalde surgem medidas draconianas da
ignorância e da crueldade, em vão aparecem
os prejuízos eclesiásticos do sacerdócio, quando sem luz na missão sublime de orientar;
cientistas presunçosos, demagogos subornados por interesses mesquinhos, clamam
nas praças pela consagração de fantasias
brilhantes.
O povo, porém, inclina-se para o Cristo,
com a mesma fascinação do primeiro dia.
Indiscutivelmente, considerados num
todo, achamo-nos ainda longe da união
com Jesus, em sentido integral. De quando
em quando, a turba experimenta pavorosos
desastres. Tormentas de sangue e lágrimas
varrem-lhe os caminhos.
A claridade do Mestre, contudo, acena-lhe
a distância. Velhos e crianças identificam-lhe
o brilho santificado.
Os políticos do mundo formulam mil promessas ao espírito das massas; raras pessoas,
entretanto, se interessam por semelhantes
plataformas.
Os enunciados do Senhor, todavia, em
cada século se renovam, sempre mais altos
para a mente popular, traduzindo consolações
e apelos imortais.
Emmanuel - Chico Xavier
Vinha de Luz
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1º Ano: Curso de Iniciação
ao Espiritismo com aulas e
projeção de filmes (em telão)
alusivos aos temas. Duração
1 ano com uma aula por semana.
14/02/2009
Aberto ao Público:
Necessário Inscrição:
3386-9019 / 3233-5596
1º Ano: Curso de Iniciação
ao Espiritismo com aulas e
projeção de filmes (em telão)
alusivos aos temas. Duração
1 ano com uma aula por semana.
sábado
14h00 - 15h00
domingo
10h00 - 11h00
15/02/2009
Aberto ao Público:
Necessário Inscrição:
3386-9019 / 3233-5596
2º Ano
3ª Feira
20h00 - 22h00
03/02/2009
Restrito
2º Ano
Sábado
16h00 – 18h00
07/02/2009
Restrito
2º AnoDomingo
09h00 – 11h00
01/02/2009
Restrito
3º Ano
4ª Feira
20h00 - 22h00
04/02/2009
Restrito
3º Ano
Sábado
16h00 – 18h00
07/02/2009
Restrito
Evangelização da Infância
Sábado
14h00 – 15h00
Fev / Nov
Aberto ao público
Evangelização da Infância
Sábado
16h00 – 18h00
Fev / Nov
Aberto ao público
Evangelização da InfânciaDomingo
10h00 – 11h00
Fev / Nov
Aberto ao público
Mocidade EspíritaDomingo
10h00 – 11h00
ininterrupto
Aberto ao público
ininterrupto
Aberto ao Público
Atendimento ao público
Assistência Espiritual: Passes
2ª Feira
20h00 - 20h40
Assistência Espiritual: Passes
4ª Feira
14h00 - 14h40
ininterrupto
Aberto ao Público
Assistência Espiritual: Passes
5ª Feira
20h00 - 20h40
ininterrupto
Aberto ao Público
Assistência Espiritual: PassesDomingo
09h00 - 09h40
ininterrupto
Aberto ao Público
Palestras PúblicasDomingo
10h00 - 11h00
ininterrupto
Aberto ao Público

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