DIACONIA: AMOR EM AÇÃO
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DIACONIA: AMOR EM AÇÃO
Ester Persike DIACONIA: AMOR EM AÇÃO Curitiba * FTBP 2007 1 *Faculdade Teológica Batista do Paraná INTRODUÇÃO A ideia de escrever sobre Diaconia veio da vontade de conhecer melhor o que essa palavra significa e de um profundo desejo de viver de forma mais autêntica a missão dada por Jesus aqueles que foram e seriam seus discípulos e isso inclui a igreja de nossos dias. O trabalho está dividido em 03 capítulos: 1 - Diaconia na Bíblia 2 - Diaconia de Jesus 3 - Diaconato feminino e a obra diaconal de Theodor Fliedner ( de onde surgiu a inspiração para o modelo que exercemos). Este trabalho foi escrito no ano de 2007 e já avançamos em estudos, no conhecimento e entendimento sobre Diaconia , mas convido a todos a lerem para que assim como eu sejam impactados pela forma como Jesus realizou sua Diaconia. Jesus Cristo é considerado um exemplo, por excelência, do que é o serviço de diácono. Ele serviu a Deus em obediência, e isto incluiu sua visita até nós para servir a humanidade, ensinando-a assim a conduta de humildade para o serviço. Ser servo não é ser menor, pelo contrário, se observarmos os ensinamentos de Jesus com seus discípulos, podemos ver exatamente o contrário. “Quem quiser tornar-se importante entre vós, deverá ser servo” (Biblia, N.T. Mc 10.43). O termo diaconia tem uma abrangência muito grande, fazendo-se necessário verificar os vários textos que Jesus e outros autores biblícos usaram para mostrar a diaconia. No Antigo Testamento apenas é possível observar reflexos de diaconia, pois o termo propriamente dito não é encontrado, salientando que essa possibilidade é viável devido ao conceito que o Novo Testamento traz sobre a diaconia. A diaconia que Jesus realizou será tratada mais especificamente, porque Ele foi o 2 maior diácono e é a partir de Jesus que estes conceitos (diaconia e servir) ganham um significado claro e específico, sem contar que o exemplo de Jesus realizando diaconia é o que pode ser chamado de amor em ação. Jesus servia às pessoas de forma abnegada, livre e não se importava se eram amigas ou estrangeiras. Ele tinha a sensibilidade de poder detectar a necessidade das pessoas e ajudava não só naquele momento que as pessoas se chegavam a Ele com suas necessidades, mas conseguia levá-las à reflexão de nova possibilidade de vida. A atitude de doar-se em favor do outro, de servir em amor, o qual era a origem e o alvo da diaconia de Jesus deveria influenciar cada pessoa que é discípulo de Jesus. A obra diaconal de Theodor Fliedner será vista devido a ser um exemplo prático de resultados efetivos de diaconia e também por ser um influenciador e renovador do ministério das diaconisas no século XIX, tornando-se um instrumento chave de Deus para este ministério dentro de uma fé evangélica. Fliedner tinha uma paixão em servir as pessoas excluídas da sociedade em sua época, por exemplo presidiárias. As crianças também eram uma grande preocupação dele e de sua esposa, que os levou a fundar e inspirar outros a criar instituções que pudessem acolher e ajudar aqueles que necessitavam. Para isso apostou firmemente no ministério de mulheres chamadas de diaconisas, as quais se sentiam chamadas para realizar tal obra, e esta não seria tão bem sucedida sem a ajuda coragem dessas mulheres, que e a na fase inicial estas atividades abrangiam a assistência nos asilos e prisões. 1. DIACONIA NA BÍBLIA De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (DTNT) a palavra diaconia deriva do vocábulo grego diakoneo (verbo) e diakonia (substantivo) que por sua vez comportam os seguintes significados: servir, apoiar, serviço, cargo, ajuda, sustento, distribuição de esmolas, assistência e também 3 cargo de diácono ( DTNT, 2000, p.2341-2342). A igreja descrita no Novo Testamento possui uma forte ligação com o início do ministério diaconal. Ainda que o Antigo Testamento tenha o conceito do serviço e contenha o mandamento do amor ao próximo (Lv 19.8), e que Israel conhecesse atos de caridade, assim como no Oriente Médio antigo de modo geral, diakoneo não se acha na LXX (GLAAB, 2005, p.42; DTNT, 2000, p. 2342). Isso indica que não havia um ensino claro e evidente que pode ser identificado objetivamente como diaconia no Antigo Testamento. Porém é possível encontrar menção de atividades de diaconia em Israel antes de Jesus. Isso só é possível ser verificado mediante o conceito de diaconia que o Novo Testamento apresenta de forma objetiva e efetiva. O mundo judaico, pela versão da LXX, não conhece o termo diaconia, porque o judaísmo não via que o servir era algo importante, a não ser que servisse a alguém de grande importância ou ao próprio Deus (GLAAB, 2005, p.42). Flavio Josefo dá 3 sentidos à diaconia como: serviço à mesa, obedecer ou prestar serviço sacerdotal (BEYER, Diakoneo. In. GLNT). No seu testemunho sobre os essênios JOSEFO menciona que eles não se casavam, não tinham servos, antes ministravam uns aos outros (JOSEFO, Antiguidades Judaicas 18,21). No DOCUMENTO DE DAMASCO 14.12 menciona as contribuições singulares para os necessitados, pobres e idosos como diaconia. No judaísmo da época de Jesus as responsabilidades sociais eram levadas a efeito principalmente mediante as esmolas, não por serviços conforme Lc 10.30-35. O serviço humilde, por exemplo, servir à mesa, era considerado abaixo da dignidade de um homem livre de acordo com Lc 7.36-50. Havia no entanto cuidados organizados para os pobres onde esses recebiam dinheiro suficiente para as refeições de uma semana a cada sexta-feira; também os estrangeiros recebiam comida diariamente, comida esta coletada antes, de casa em casa, dos oficiais aos pobres (JEREMIAS,1983, p.159-169). Na 4 diáspora, as sinagogas frequentemente estabeleciam uma comissão de sete para seu serviço. Este grupo era chamada de parnasim, palavra que significa alimentar, nutrir, sustentar, governar. O parnas, ou diácono, era uma espécie de juiz da sinagoga e de cada um deles se requeria doutrina e sabedoria, a fim de que pudessem discernir e passar jugalmento justo, tanto nas questões sagradas quanto civis (MARTINS, 2002, p.58), e especialmente deve ter sua referência ligada diretamente ao serviço à mesa em geral (DTNT, 2000, p. 2342). No Antigo Testamento, não aparece a palavra diakonia, por ser uma palavra de origem grega. Mas partindo do conceito que diaconia é servir ao próximo, movido pelo amor de Deus, e que isso envolve também cuidado, envolvimento e comprometimento é possível perceber o conceito de diaconia presente em textos do Antigo Testamento. De certa forma, todos os profetas foram servos do Senhor, pois estavam à serviço de Deus para o próximo, ou seja, estavam realizando diaconia. Os levitas também eram servos: não só do templo, de Deus, mas também das pessoas porque cuidavam da casa de Deus e ensinavam as pessoas. Mas é no Novo Testamento que esse conceito, na pessoa de Jesus, adquire maior sentido. Como já visto, quem servia eram os escravos, as mulheres, pessoas que não tinham direito a nada; pessoas sem liberdade e que eram obrigadas a prestar serviço (BORTOLINI, p. 38). Na verdade elas não serviam, prestavam serviço, o que é diferente. Jesus inverteu essa situação, sendo o próprio exemplo de servir por amor e voluntariedade. Quando Jesus se aproxima das mulheres, dos pobres, dos doentes, dos excluídos, dos cobradores de impostos, que eram considerados nada, mas que de alguma maneira precisavam de algum auxilio, era a diaconia que falava mais alto, o amor a essas pessoas que estavam à margem da sociedade. Jesus não somente serviu aos pobres, mas a todos que cruzaram seu caminho e que precisavam dele. Realmente Jesus dinamizou o conceito da diaconia, estendendo a todas as pessoas necessitadas, 5 sejam quais fossem as necessidades. Quando Jesus lava os pés dos discípulos (Jo 13 1.17), ensina uma grande lição: “quem quiser ser o maior deve ser o menor, o que lava os pés dos outros”. Os seus discipulos puderam ter uma grande lição de diaconia e assim levar este conceito por onde quer que fossem. Os discípulos aprendem o sentido de servir e ser servido que é diaconia. Após a morte de Jesus, os discípulos enviados eram itinerantes, e foram instruídos a não levar nada, além do necessário, contavam então com a diaconia das pessoas por onde passavam, tanto para continuar seu trabalho como para atendê-los, como foi o caso de Dorcas que atendia às pessoas carentes, costurando e fazendo boas obras (At 9) e Lídia que hospedou Paulo (At 16 11-15). Então percebe-se que a diaconia ganha uma abrangência maior do que simplesmente servir às mesas, cada um conforme o dom que recebeu pode e deve praticar a diaconia, umas às outras, cumprindo o mandamento do Senhor que é amar ao próximo como a si mesmo. Os discípulos aprenderam a abrir mão da sua ambição, a exemplo de Jesus, que nunca se fez grande, nem o maior, e serviram (BIBLIA, N.T. Fp 2.6-8). Essa lógica de servir é contrária a do mundo; é sinal de libertação. Se todos os seguidores de Jesus a seu exemplo servissem como Ele, todo o quadro social seria diferente. Jesus através da diaconia libertou, e liberou o fermento da transformação, no qual todos que cruzaram Seu caminho foram resgatados de sua situação de miséria, seja ela qual for. 1.1 Diakoneo (verbo): Este verbo é encontrado no Novo Testamento como significado de “servir à mesa” em Mt 8.15, Mc 1.31, Lc 4.39; 10.40; Jo 12.2, At 6.2. Acha-se também com o sentido de “cuidar de” em Mt 27.55, Mc 15.41, Lc 8.3 no contexto de servir a 6 indivíduos, em 2 Tm 1.18; Hb 6.10; 1 Pe 4.10-11 no contexto da igreja. No Evangelho de Lucas 10.40 o serviço doméstico, o qual era realizado para preparar refeições aos convidados, basicamente servir as mesas era chamado de diaconia: “Marta, porém estava ocupada com muito serviço [diakonia]. Então aproximando-se de Jesus perguntou: Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sózinha com o serviço [diakoneo]? Dize-lhe que me ajude”. Diakoneo era usado para se referir ao serviço de distribuição de alimentos aos necessitados, por exemplo o atendimento às viúvas: “Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: 'Não é certo negligenciarmos o ministério da Palavra de Deus, afim de servir [diakoneo] às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheio do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos a oração e ao ministério [diakonia] da palavra'” (Biblia, N.T. At 6.2-4). Muitos enxergam aqui o início do “cargo” de diáconos na igreja. Também é daqui que se conclui de que o trabalho do diácono é essecialmente atender pessoas com necessidades físicas e materiais. Provavelmente [diakoneo] tem um significado mais amplo, de maneira geral, também diz respeito ao ter cuidado por pessoas que necessitam de auxílio: “E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos” [diakoneo]? (BIBLIA, N.T. Mt. 25.44). Era serviço prestado aos irmãos na igreja: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o Meu nome, pois servistes [diakoneo] e ainda servis [diakoneo] aos santos” (BIBLIA,N.T.Hb 6.10). Muitas vezes quando se faz referência à pregação e ensino do Evangelho de 7 Cristo o termo referente a esta atividade também é [diakoneo] em At 6.4, 1 Pe 1.12, e também como pode ser visto nas palavras de Paulo: “Estando já manifestos como Carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério [diakoneo] escrita não com tinta, mas pelo Espirito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações”. (BIBLIA, N.T. 2 Cor 3.3). O verbo servir ganha sentido mais real na pessoa de Jesus Cristo e do Seu Evangelho, pois Jesus foi aquele que serviu de maneira intensa, tanto ao Pai, quanto a humanidade. Jesus usou para descrever o seu trabalho e ministério: “Pois o Filho do Homem não veio para ser servido [diakoneo] mas para servir [diakoneo] e dar sua vida em resgate de muitos”.(BIBLIA,N.T. Mc 10.45). Esta declaração indica que ele não buscou seus próprios interesses, mas estava disposto a dar sua vida pelo resgate dos seres humanos da situação de escravidão e miséria. Teológicamente a morte é consequência da diaconia de Jesus para com os pecadores, doentes, deficientes e toda espécie de excluídos do sistemas romano e judaico (GLAAB, 2005, p.39-40). O serviço de Jesus às pessoas e aos discípulos foi uma demonstração de amor, o qual é a essência de como Deus deseja que as pessoas sejam. Jesus discursou bem isso: “Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor, e aquele que dirige seja como o que serve [diakoneo]. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve [diakoneo]? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve [diakoneo]” (BIBLIA,N.T. Lc 22.27; ver também Mt 20.28; Jo 13.15). Jesus serviu com a sua própria vida. Os discípulos de Jesus entendiam que o exemplo do mestre deveria ser seguido a ponto de uns darem a vida pelos outros: “Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos. Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavras nem de boca, mas em ação e em verdade” 8 (BIBLIA,N.T. 1 Jo 3.16-18). Isso indica que o dar a vida significa que não é objetivamente morrer pelos irmãos, mas dar de sua vida, ou seja, dispor dos seus bens, dos seus recursos para ajudar os irmãos em necessidade. Afinal de contas seria uma incoerência obrigar a pessoa a dar o seu bem mais precioso que é a sua vida sem que ela antes estivesse disposta a dar de seus bens menores, como alimentos, roupas, dinheiro, etc. Pedro usa [diakoneo] para designar serviço realizado no uso dos dons espirituais na igreja: “Servi [diakoneo] uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (BIBLIA,N.T. 1 Pe 4.10). Portanto, [diakoneo] é o amor em ação em favor das pessoas, derivado do amor de Deus e demonstrado por Jesus de forma prática (Mc 10.45) evidenciado na comunidade dos discípulos pelo servir uns aos outros através dos dons do Espírito dados por Deus. Assim, alguns servem com seus bens materiais, outros visitando doentes e presos, sendo hospitaleiros, enfim, dispondo aos necessitados toda ajuda que têm conforme a graça concedida a cada um. 1.2 - Diakonia (substantivo) O substantivo [diakonia], segundo o Dicionário VINE pode referir-se ao cargo e trabalho de um diácono. No entanto é usado cerca de 34 vezes no Novo Testamento de diferentes maneiras, contextos e sentidos. A princípio tem um sentido geral de serviço amoroso em 1 Cor 16.15, que pode ser expresso como o levantamento de ofertas em At 11.29, 12.25, Rm 15.31, 2 Cor 8.4, onde a graça de Cristo é declaradamente vista como motivo para tal. Também se usa para a proclamação da palavra e a missão cristã em 2 Tm 4.11, At 20.24, 2 Cor 11.8; para todo serviço na comunidade cristã em Ef 4.12; para o serviço mediante anjos em Hb 1.14; para o cargo carismático em At 1.17, Rm 11.13, 2 Cor 3.7-8, Col 9 4.17, 2 Tm 4.5. Sendo que cada serviço e cada cargo, no entanto, acha seu significado na unidade orgânica do corpo de Cristo: “assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros. Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção de sua fé. Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine” (BIBLIA, N.T. Rm 12.5-7). A importância da [diakonia] no Novo Testamento desenvolve-se a partir do reconhecimento do sacrifício de Cristo por parte da igreja (DTNT, 2000, p.2343-2344). Paulo denomina as funções que são exercidas dentro da igreja de “serviços” [diakonia] 1 Corintios 12.5 – e também há diversidade nos serviços [diakonia]. Como também pode se referir a um único dom (Rm 12.7) se é ministério [diakonia] dediquemo-nos ao ministério. Paulo amplia mais o conceito de diaconia quando se refere a toda obra de Cristo como sendo uma [diakonia] de Deus em Cristo a favor dos seres humanos. No Antigo Testamento também pode-se dizer que havia essa diaconia de Deus, mas no sentido de lei, e por isso, de morte, de condenação em 2 Cor 3.7-9. Mas com Jesus o ministério da [diakonia] vai além; é um ministério de reconciliação em 2 Cor 3.8-9 (BORNSCHEIN, 2005, p.10-14). Quando Cristo se manifestou era para que os seres humanos tivessem comunhão com Deus e foi através da diaconia (servir) que Ele demonstrou e realizou sua missão. 1.2.1 Diakonos (substantivo) O termo [diakonos] deriva do substantivo [diakonia] e seu significado primeiramente traz à mente um sentido de “servo”, que pode ser tanto o que faz trabalhos servis, como o ajudante que presta serviços voluntários, por isso não deve ser confundido com [doulos], que significa escravo. [Diakonos] encara o servo com relação ao seu trabalho, enquanto [doulos], em relação ao seu mestre. Este substantivo é usado cerca de 29 vezes no Novo Testamento, usado de 10 diferentes maneiras: a) àquele que serve à mesa:Jo 2.5-9; b) aquele que serve num sentido amplo:Mt 20.26; c) Paulo se designa como diácono da Nova Aliança (2 Cor 3.6), diácono do Evangelho (Col 1.23), diácono de Cristo (2 Cor 11.23), diácono da igreja (Col. 1.24-25), diácono de Deus (2 Cor 6.4), diácono junto com Apolo (1 Cor 3.5), d) Paulo designa também seus companheiros de diáconos (Ef 6.21, Col 1.7, 1 Tess3.2); Cristo também foi chamado de diácono (Rm 15.8); as autoridades são diáconos de Deus (Rm 13.4); cargo na igreja junto com os bispos (presbíteros) (Fp 1.1); mulheres são chamadas de diaconisas (Rm 16.1) (DTNT,2000, p.2343-2346). 1.3 Diaconia: encaminhamentos para uma definição As expressões [diakoneo], [diakonia] e [diakonos] são empregadas no mundo biblico sempre em um contexto geral de serviço, seja ele, obrigatório ou voluntário, no que tange à sociedade em geral. Por conseguinte, tal serviço não tem implicações teológicas práticas para a igreja. Porém no sentido teológico verificado na maioria das vezes que os termos ocorrem na Bíblia, como serviço da parte de Deus, de Jesus, dos anjos e dos discípulos de Jesus, oferecem uma referência prática para o cumprimento da missão por parte da igreja cristã contemporânea. Diaconia desenvolveu-se na igreja do Novo Testamento desde At 6 onde era visto como uma deliberação para resolver os problemas materiais da comunidade, até o ponto de ser visto como um cargo especial, como relatam Fp 1.1 e 1 Tm 3.8-13. Esta particularidade da diaconia não é via dessa pesquisa, assim todas as demandas oriundas da instituição do cargo de diácono na igreja não serão tratadas aqui. Para mais esclarecimentos deste tema ver trabalho introdutório de Jaziel Guerreiro Martins em seu “Manual do Pastor e da Igreja”(MARTINS, 2002, p.57-61). Aqui interessa o conceito estreito para o cuidado material e espiritual da igreja para com todos aqueles que necessitam. Isto implica dizer que a diaconia 11 nesse sentido não se restringe ao um grupo especial de pessoas dentro da comunidade, mas à todos os cristãos. Substancialmente a diaconia envolve a tarefa de servir com amor à igreja, aos irmãos e às pessoas, seja por meio da diaconia da palavra ou da diaconia das ações. Pedro disse: “servi [diakoneo] uns aos outros, conforme o dom que recebeu” (BIBLIA, N.T. 1 Pe 4.10), sendo assim diácono ou diaconisa é alguém que serve, que ministra de acordo com o dom que recebeu. Aqueles que servem, servem a partir do grande Diácono que é Cristo que continua a obra de diaconia, de servir, que é a obra de Cristo. Deste modo quem serve está envolvido na obra da salvação das pessoas. Esta preocupação com o bem das pessoas envolve o corpo e a alma. Paulo empenha-se tanto na coleta para os irmãos pobres da Judéia 2 Cor 8.4, como para a pregação da Palavra. Estas são inseparáveis: pregação e ação de ajuda. 2. A DIACONIA DE JESUS Como já visto, Jesus pode ser considerado o maior exemplo para a diaconia. Um fator impressionante na diaconia de Jesus é que Ele servia as pessoas sem qualquer reserva, elas podiam ser amigas ou não, israelitas, estrangeiras, de qualquer classe social, de qualquer faixa etária, sob qualquer necessidade. O importante para Jesus era detectar as necessidades que cada pessoa tinha e assim servi-la. Na análise de sua diaconia como reflexo de Isaias 53 -- o servo sofredor -- relacionando com o Evangelho de Marcos onde há várias indicações do servir de Jesus às pessoas carentes e necessitadas constata-se que isso gerava desconforto nas autoridades (Mc 2.1-12; 13-17; 23-28). Vale a pena salientar que na dinâmica de Marcos a diaconia de Jesus parece conduzi-lo ao resultado de sua morte e isso faz com que muitas vezs se confunda sofrer e servir. Não se quer dizer que sofrer é sinônimo de servir, mas apenas no caso de Jesus, o servir aos pobres e excluídos tornou-se uma afronta aos poderosos e 12 isto trouxe sofrimento. Jesus não salvou por ter sofrido mas por ter assumido a vida de servo (GLAAB, 2005, p.39). Parece estranho, porque para o mundo antigo a morte não era vista com bons olhos, e em algumas vezes era considerada fruto de pecados e mesmo assim Jesus praticou a diaconia sabendo que poderia morrer por isso. Para os demais “morrer” era algo passivo, para Jesus não, era ação e serviço. Jesus não apenas beneficiou Israel, ou até somente seus discípulos, mas “os muitos” (Mc 16.15-20), ou seja, todos foram beneficiados. Assim, os evangelhos procuram mostrar que o morrer de Jesus não foi algo digno de comiseração, mas de coroação do seu serviço. A morte para Jesus representa o emblema do serviço ofertado para libertar e resgatar. Parece incoerente mas não é; por isso Evangelho é diaconia, pois é boas novas àqueles que estavam em situação de sofrimento e miséria. Marcos começa seu evangelho com João Batista anunciando a missão de Jesus com uma diaconia que traz salvação. O profeta Isaias faz referência ao reino messiânico (Is 42.1-7), que agora em Jesus se torna o reino de Deus, então pode-se perceber que Jesus proclama o evangelho como diaconia, mas não pelo sofrer, mas pelo servir (Mc 10.45). Com a chegada da modernidade muitas vezes a igreja apega-se ao fato do sacrifício de Jesus pelos pecados da humanidade e reduz sua diaconia a este único fundamento, como se Jesus não tivesse realizado outra coisa senão isto. Tenta-se fazer uma relação entre fé e razão, na procura de obter respostas às questões sobre a alma, esquecendo-se do ser humano completo que vive “no mundo”. A igreja parece ignorar que enquanto estava aqui, Jesus curou, mudou a vida das pessoas, comeu, andou, e falou com pessoas das quais alguns religiosos sentiriam vergonha de acompanhar. Na ceia com seus discípulos, esse conceito de entrega fica mais evidente (Jo 13). Quem tinha privilégios, devia abrir mão dos mesmos, se alguém possuía bens, deveria compartilhar com quem não tinha, e quem se julgava superior tinha de entender que deveria se igualar aos outros e assim por diante, isso era diaconia, 13 entrega, que agora estava evidente na vida dos discípulos, de maneira prática. O Evangelho de Marcos e também Mateus trabalham a diaconia como entrega de vida, como sendo o cerne do serviço. Jesus se entrega “como prêmio do resgate por (em lugar e em favor de) muitos (todos). Nestes textos, servir, serviço e entrega, fornecem um parâmetro para poder imaginar a transformação que estava ocorrendo na vida das pessoas e dos discípulos que agora tinham de enfrentar uma nova situação de vida como seguidores de Jesus. Os quais deveriam ter as características do mestre, exercer a diaconia como ele exerceu. Enfim a dedicação ao próximo não é apenas uma força de expressão, ela está contida na vontade e essência de Deus; é sua natureza. É possível afirmar que quando Jesus estava ensinando sobre o servir, estivesse discutindo sua forma de liderança, voltando-se para a liderança da comunidade. Ambas enfatizam o fato de que os maiores, deveriam tornar-se os últimos (servir). Marcos 9.35 mostra esse paradigma que Jesus está quebrando: criança e servidor, eram na época os últimos na escala da pirâmide social. Esse era o modo de Jesus liderar, servindo e não dominando as pessoas, passando assim àqueles que se dizem seus seguidores, tendo a mesma responsabilidade de agir conforme seu mestre. “Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o vosso [diakonos]; e quem quiser ser o primeiro entre vós, sera doulos (escravo) de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser diaconado (diakonetênai), mas para diaconar (diakonésai) e dar a sua vida em resgate por muitos” (BIBLIA,N.T. Mc 10.43-45). Ched Myers percebe neste contexto que Marcos se esforça para pôr em evidência a construção de uma nova ordem social por parte de Jesus, que é válida para todas as áreas da relação humana, já que a prática da dominação infectou tão profundamente as relações humanas que ela precisa ser erradicada, sendo a diaconia um grande antítodo para essa dominação,pois a diaconia visa a liberdade, onde cada um respeita e age como servo, não visando seus interesses, 14 mas o do outro.(MYERS, 1992, p.146). Josef Ernst tambem está convencido de que a ênfase dada pelos evangelhos e ditos de Jesus sobre os atos de dominar e servir (Mc 10.42-45; Mateus 20.25-28. Lucas 22.24-27) ou à renúncia a títulos autoritários (Mateus 23.8.11) significa que pelos menos um dos empregos do conceito de diaconia no Novo Testamento se refere à “organização interna da vida comunitária”. Contextualizando esta constatação, o autor afirma que as reflexões sobre diaconia na comunidade devem hoje começar “por aquelas formas e nomes de trato mútuo e onde necessário, mudar estruturas” (ERNST, 1993, p. 93). Jesus demonstra que nos vários segmentos da comunidade existe dominação e tenta “desmascarar” essa forma de conviver, vivendo a diaconia. No texto de Mc 9.33-41 – quando Jesus mostra a criança e diz que todo aquele que quiser ser o maior deve ser como uma criança, está demonstrando que apesar das crianças representarem o ponto mais baixo na escala social, deveriam ser recebidas no reino de Deus. Então, ao acolher as crianças e colocando-as no centro ( no meio deles), demonstra que a criança representa uma categoria atual de pessoas exploradas e oprimidas e tenta desfazer essa realidade de dominação dentro da comunidade e também dentro das famílias. A família deve entender que não se pode dominar, mas sim servir, e a partir daí criam-se relações de amor e respeito umas pelas outras. Em relação ao matrimônio, a diaconia, resgata o valor da mulher, que também representava outro segmento inferior da sociedade judaica. A esposa era propriedade do marido, podendo ele, devolver assim que não queria mais ficar com ela. No ensinamento de Jesus aos seus discípulos sobre esse assunto, coloca homem e mulher em condições iguais em termos de culpa pela separação. Chedd Myers lembra que Marcos procura mostrar com clareza à sua comunidade que ela só pode ser protegida se não for mais tratada como objeto mas como sujeito igual, na solução de situações de conflito” (MYERS,1992, 15 p.312). Ao mesmo tempo que anuncia uma comunidade nova, que adota como valor fundamental a igualdade de direitos, como está escrito nas palavras: “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o vosso diakonos” (BIBLIA, N.T. Mc 10.43). Jesus propõe uma mudança radical de valores e ensina a seus discípulos a fazerem o mesmo. Em relação ao poder econômico, a diaconia de Jesus, também entra em ação. Quando o jovem rico chega e de uma maneira bajulativa, chama Jesus de bom mestre, recebe uma palavra invertida. Jesus não se rende a isso e deixa claro que não se pode ignorar a intenção das pessoas .No decorrer do diálogo com o jovem, Jesus pergunta se ele conhece os mandamentos da Lei, ele diz que sim e que sempre os guardou. Jesus o confronta na sua religiosiodade: “vai, vende o que tens e dá aos pobres e terás um tesouro nos céus” (BIBLIA,N.T. Mc 10.21). Ele ficou triste, porque tinha muitos, bens. As suas riquezas estavam amarrando a si mesmo. O texto parece não deixar os leitores esquecerem que quando Jesus estava quebrando essas barreiras, estava apenas em caráter prático, quebrando barreiras exclusivistas que existiam na sociedade, impedindo que as pessoas tivessem uma vida digna e permitindo que a diaconia em favor dos “pequenos” dos “últimos” fosse exercitada dentro da comunidade, alterando seus valores, mostrando que na comunidade dos discípulos deveriam ser diferente. Pode-se perceber que a diaconia de Jesus era voltada para pessoas que estavam necessitadas, não somente os pobres e miseráveis, mas também aos ricos que tinham necessidades. Isso só é possível quando se ama profundamente porque foi amado também. Dedicar-se ao próximo – praticar diaconia – é fruto de uma experiência de ser alcançado por Deus – de ser amado por Ele, de pertencer a Ele de forma filial. É fruto de quem se converteu ao projeto de Deus de autoentrega e serviço em favor daqueles que são vítimas de poder dos outros: a criança excluída, a mulher vitimizada de uma sociedade androcêntrica, o explorador de pobres, que é desafiado a distribuir seus tesouros acumulados à suas vítimas. 16 Um fator interessante na diaconia de Jesus é que ele não espiritualiza os problemas, muito menos os enfrenta com discurso meramente religioso, antes contribui efetiva e eficientemente para a resolução dos problemas que afligem o ser humano em sua vida terrena. Jesus não projeta a esperança dos que buscam sua ajuda somente para um tempo vindouro, mas ao contrário, materializa o objeto da esperança e assim serve ao necessitado ao mesmo tempo que ensina de forma prática seus discípulos a tratarem estas situações que até nos dias atuais são um desafio para aqueles que seguem a Jesus e entendem que são as pessoas o alvo da nossa diaconia. Os discípulos de Jesus compreenderam que a partir da cruz de Cristo, entendese uma nova ordem na vida da comunidade das pessoas que seguem a Jesus. A cruz mostra renúncia e entrega, mas por amor. Não tem valor quando se entrega sem amor. Por isso quando Isaias diz que “como ovelha muda foi ao matadouro” (BIBLIA, A.T. Is 53.7), isso não deve ser interpretado como um sofrimento sem sentido, mas como um sofrimento por amor em benefício de todos os que estavam aflitos e necessitados, tristes, presos ou seja , Jesus é o diácono que cuida e ama o ser humano por inteiro. Praticar diaconia fazia parte do ser de Jesus, de sua natureza. Quando Jesus praticava a diaconia e quebrava barreiras entre as pessoas, estava quebrando o isolamento social que acometia aquela sociedade. As pessoas “diferentes” poderiam conviver entre si numa relação de respeito, através da prática da diaconia, que leva em consideração essas diferenças e faz com que o orgulho e ambição sejam deixados de lado. Assim, a missão da igreja e de cada cristão não é assegurar um lugar no céu, mas ser um sinal visível da presença do Senhor em meio aos anseios por liberdade e à luta por uma sociedade mais humana e justa (OFTESTAD, 2006, p.25). Todos tem direito a ter uma vida digna, e a diaconia, se praticada, principalmente 17 entre os seguidores de Jesus, com certeza pode contribuir para que a sociedade se torne mais humana. Se a diaconia for um estilo de vida e de liderança, como era para Jesus, pode-se suspeitar que a sociedade teria uma alternativa para enfrentar seus problemas, sendo transformada em uma comunidade diaconal, de ajuda recíproca e constante entre seus membros. Esse parece ter sido jeito de Jesus ser e de liderar. Servir é o papel de quem lidera na comunidade: o servir e não o dominar é a tarefa daquelas pessoas que assumem responsabilidade com outros (HUNTER,2004, p.57-71; WILKES,1999, p.21-27). Servir nunca foi para Jesus um fator de reconhecimento, mas sim um estilo de vida e uma regra importante para se viver em sociedade: “Se alguém quer ser o primeiro, será o ultimo e o diakonos de todos”(BIBLIA,N.T. Mc 10.43). A diaconia que Jesus praticava era inclusiva; ele atendia tanto a pobres e necessitados, como a ricos (Zaqueu, Lc 19.1-10). As pessoas eram sempre o alvo da diaconia de Jesus. 3. DIACONATO FEMININO E A OBRA DIACONAL DE THEODOR FLIEDNER Segundo o Novo Testamento o conceito de diaconia que o próprio Jesus conheceu era um trabalho que, quando não exigido de escravos e escravas, era atribuído às mulheres. Nordstokke faz referência a Luise Schottroff que chama a atenção para um dado já mencionado, mas com maior profundidade: [diakoneo], quando não executado por escravos e escravas própriamente, é realizado por mulheres. Isso pode ser verificado nos textos do Novo Testamento, como por exemplo Marta (Lc 10.38-42): ela realiza aquele trabalho doméstico que se faz necessário para a hospedagem de um visitante, que em si é o mesmo que se exigia dos escravos e das escravas e este trabalho é designado no texto de diakoneo . Apesar de Jesus ter colocado em igualdade homens e mulheres, a realidade patriarcal não permitia que o homem fizesse tal serviço, o de servir as 18 mesas. Essa prática foi transferida para dentro da comunidade cristã que considerava normal que fossem as mulheres que realizassem a diaconia. Por isso, ainda continuava, de certa forma uma discriminação contra as mulheres, evidenciando que havia uma diferença entre a diaconia praticada pelos homens e a diaconia praticada por mulheres (NORDSTOKKE, 2003, p.84-106). Theodor Fliedner foi um grande instrumento de Deus na instituição do diaconato feminino no século XIX. Sobre seu túmulo que se encontra no cemitério da instituição diaconal em Kaiserswerth, está escrito as seguintes palavras: “D.Theodor Fliedner, pela graça de Deus renovador do ministério apostólico das diaconisas”. Sua capacidade intelectual, sua praticidade, seu espírito observador, seu temperamento impulsivo e determinante, com uma fé firme no Evangelho de Jesus Cristo, o levaram a desenvolver esta grande obra. Todavia ele não teria conseguido se não fosse a participação de outras pessoas, sobretudo das mulheres, que o inspiraram com seu exemplo de vida e colocando seus dons a serviço da causa diaconal. Elas são protagonistas nesta história, mesmo que seus nomes não apareçam, ou não sejam citados frequentemente (BRAKEMEIER,1998, p.13-46; NORDSTOKKE,1995, p. 56; NORDSTOKKE,2003, p.191). Para Fliedner o termo diaconisa, referia-se principalmente a Febe: “Recomendolhes nossa irmã Febe, serva (diaconisa) da igreja em Cencréia” (BIBLIA, N.T. Rm 16.1), o que ele adotou para designar as mulheres que juntamente com ele realizaram o trabalho em Kaiserswerth, como veremos em seguida. Em janeiro de 1822, com 22 anos, Theodor Fliedner, chegou a Kaiserswerth, para assumir o pastorado de uma pequena comunidade de mais ou menos 200 pessoas. Quatro semanas após, a fábrica de veludo que foi aberta no início do século, como alternativa de sustento para a população faliu, colocando a sobrevivência da comunidade em risco, não tendo como sustentar o pregador. Fliedner não queria abandonar seu trabalho por motivos financeiros e então resolveu sair em viagem 19 para angariar dinheiro. Foi bem sucedido nesta viagem, inclusive esteve na Holanda e Inglaterra. Voltou após 14 meses de viagem, com o dinheiro e muitas experiências espirituais. Ficou admirado com as várias instituições beneficentes que visitara, por causa da fé viva em Cristo, como estavam sendo administradas. Havia visitado em Londres o presídio de Newgate, que havia sido reformado e era administrado por uma mulher, Elisabeth Fry. Fliedner ficou admirado e grato por poder ver todas as “maravilhas de amor, provindas da fé”, mas também sentiu-se envergonhado pelo fato de que os homens na Alemanha dedicavam-se tão pouco ao trabalho caritativo e às prisões (BRAKEMEIER, 1998, p.13-14). Em 1825 teve a permissão de acompanhar esipiritualmente os presos evangélicos na Casa de Detenção de Dusseldorf. Ele ia fielmente de 14 em 14 dias, aos domingos à tarde e percorria duas horas a pé para celebrar um culto com os detentos e atendê-los individualmente. Recebeu também licença para visitar outras instituições carcerárias da Provincia. Fundou uma instituição para poder melhorar as condições dos encarcerados. Uma sociedade de mulheres também foi fundada para dar maior amparo às mulheres presas, pensando também como seria a vida delas após serem soltas. Esta instituição daria amparo para que pudessem ficar, afim de poder se prepararem para viver fora do presídio. Eram preparadas para conseguirem ter um emprego. Contou com a ajuda de sua esposa, Friederike Fliedner, que o animou a fundar esta instituição. Quando a primeira ex-detenta chegou, Mina Enders, em 17 de setembro de 1833, Catharina Gobel, amiga de juventude de Friederike, era a primeira diretora. Não foi fácil manter o trabalho financeiramente, mas com o crescimento do trabalho havia a necessidade de contratar pessoas para auxiliar. Como as exdetentas não possuíam parentes que pudessem ajudá-las a institiuição sobrevivia de doações. Porém o aspecto mais difícil foi o psico-pedagógico-social. A maioria das ex-detentas foram criadas em lares muito ruins, ou não tiveram nenhum lar e nem formação escolar. Eram desprezadas pela sociedade e não 20 havia quem desse emprego a elas. Fliedner também considerava que eram pecadoras e que deveriam se arrepender para melhorarem de vida, acompanhando-as na sua vida espiritual (BRAKEMEIER, 1998, p.14). Após nove anos de experiência, Fliedner escreveu “Principios Norteadores”, que era um documento ou relatório que descrevia seu trabalho com as ex-detentas, como elas eram assistidas, o ingresso, a permanência e o egresso delas, porque seu desejo era que houvessem mais instituições que prestassem esse serviço. Era uma idéia um tanto avançada para a época e quando Catharina Gobel, por motivos de saúde, não pode mais continuar no trabalho, a direção da instituição foi assumida por diaconisas. A infância abandonada era também outra grande preocupação do casal Fliedner, que procuraram ajuda para saber como poderiam fazer algo em favor dessas crianças. Em 1835, também em Kaiserswerh, nasceu uma Escola de tricô para crianças pobres. A liderança foi assumida por uma mulher solteira cristã, chamada Henriette Frickenhaus (BRAKEMEIER, 1998, p.15). Em 1836 essa escola foi transformada em “Escola para crianças pequenas”. Fliedner dizia que era preciso ajudar os pais na educação das crianças, tanto aqueles que precisavam trabalhar fora, como aqueles que foram criados sem amor e que não sabiam como ensinar e educar seus filhos em amor. Fliedner era um homem preocupado com a educação e com a saúde das crianças. Ele escreveu grandes relatórios também na intenção de que mais escolas fossem criadas. E assim aconteceu. Em 1837, já haviam mais de 10 escolas, que somavam 708 crianças, 1 professor, 9 professoras e 7 auxiliares. Fliedner apostou na qualificação das mulheres para a educação das crianças, o que era uma novidade para a época, porque o magistério era considerado uma profissão masculina. No entanto, Fliedner era convencido de que as mulheres eram mais apropriadas para educar as crianças, achava que ficava mais maternal e mais simples. Assim como o outro trabalho de Fliedner, este cresceu e ele 21 continuava a investir no preparo dessas professoras, criando cursos preparatórios e realizando encontros para manter contato com elas. A palavra de Jesus: “estive enfermo e preso e vocês não me visitaram” (Mt 25.43) ecoava aos ouvidos de Fliedner e lembrava de como mulheres haviam sido corajosas cuidando dos soldados feridos durante as Guerras de Libertação de 1813 a 1815, e o exemplo de Elizabeth Fry o motivava a confiar no potencial feminino e talvez o que mais o inspirava era a figura da diaconisa da Igreja primitiva sem contar que as mulheres haviam se mostrado bem mais eficientes no trabalho de cuidado com as expresidiárias e com as crianças, fazendo com que Fliedner tivesse pressa em reaplicar as forças femininas no serviço para o Senhor. Fliedner achou importante fundamentar sua obra sobre uma base eclesiástica sólida, fundando em maio de 1836, a “Sociedade de Diaconisas da RenâniaWestfália”, e a diretoria seria composta de representantes do governo e da Igreja. Para a reunião de fundação desta Sociedade, Fliedner trouxe um anteprojeto mostrando que o objetivo seria prestar ajuda às pessoas carentes e sofredoras, principalmente aos doentes pobres, por intermédio de enfermeiras evangélicas, que iriam exercer seu ministério como diaconisas, segundo a concepção apóstólica, tanto em hospitais como nas residências das mesmas. Era mais um projeto inovador. As enfermeiras seriam preparadas e os pacientes seriam tratados gratuitamente. Em 11 de outubro de 1836, começa a funcionar, ainda em condições precárias, o lugar onde as enfermeiras seriam treinadas e os pacientes atendidos. Este trabalho, assim como os outros, cresceu e no ano de 1886, no ano de jubileu de ouro, o número de irmãs diaconisas, como também eram chamadas, havia crescido eram 715 e tinham 202 campos de trabalho, sendo que 8 ficavam no exterior. As diaconisas eram mulheres dedicadas em servir às pessoas. Faziam movidas pela compaixão. Eram mulheres corajosas, não temiam os serviços mais difíceis que haviam, apesar do alto risco que as vezes eram expostas. Fliedner sempre 22 oferecia os trabalhos das diaconisas quando via que a presença delas era importante em algum lugar. Nos anos de 1845 a 1848, havia epidemais de tifo em vários lugares e diaconisas foram enviadas para ajudar os doentes. As diaconisas não cuidavam dos doentes somente em hospitais. Havia albergues, casas para doentes pobres e abrigos para empregadas domésticas. Em 1852, em Kaiserswerth foi fundado um sanatório para mulheres depressivas e com doenças mentais. Fliedner tinha também um grande desejo de que as irmãs diaconisas atuassem como servas nas igrejas evangélicas no sentido apostólico. Isso aconteceu rapidamente e a igreja foi beneficiada, porque estas mulheres, diaconisas, estavam dispostas a dedicar-se e tinham uma qualificação profissional para os trabalhos diaconais na comunidade. As comunidades começaram a contratar diaconisas para trabalhar, servindo como mulheres capazes de demonstrar o amor cristão à comunidades, junto aos seus membros mais fracos e abadonados, carentes do amor e cuidado maternos. As diaconisas não deveriam trabalhar independentes, mas como irmãs das pessoas que se dedicavam também ao cuidado dos pobres em suas comunidades, sendo esta a “coroa do trabalho da diaconisa”. Fliedner foi uma pessoa que acreditou no potencial feminino e que também ajudou a mulher solteira a ter uma vida útil, rompendo barreiras tão sólidas para as mulheres solteiras na época. Como Fliedner achava que as diaconisas deveriam atuar no âmbito eclesiástico, em 1856 escreveu um “Parecer sobre a Diaconia e o Diaconato” solicitado pelo Conselho Superior Eclesiástico em Berlim, trazendo os seguintes argumentos: “Deve o diaconato estar organicamente inserido no estatuto da comunidade, ou deve ele, por enquanto, estar implantado no solo da associação livre? Fliedner achava importante inserir o diaconato na estrutura da comunidade. Ele faz um traçado da história do diaconato desde os apóstolos até a sua época citando At 6.1-7, textos de Paulo e as atividades dos 23 diáconos na igreja antiga. Após mencionar o ministério e as atividades de várias mulheres da igreja antiga, Fliedner relata que o ministério das diaconisas conservou-se até o século XII na igreja ortodoxa e na igreja romana até o século VIII, declarando que o ministério dos diáconos “como ministério de amor e serviço” acabou mais cedo, devido ao crescimento do poder dos bispos, tornando-se servos destes, e fazendo parte do clero. Fliedner diz que os pastores (inclusive ele) deveriam ter a humildade de reconhecer que estão sobrecarregados, e assim instituir a diaconia, (diáconos e diaconisas) para auxiliá-los em assuntos pertinentes ao diaconato. Observando a história de Fliedner e de como ele desenvolveu seu trabalho diaconal, é possível perceber a importâcia desse ministério para a sociedade, e para a igreja, que sempre teve dificuldades em cuidar de seus membros mais fracos e doentes, por serem muitos e poucos os que voluntariamente se dedicam a ajudar. Fliedner dedicou-se à expandir, valorizar e renovar o ministério das mulheres, mas aos homens também cabe praticar a diaconia da mesma forma que as diaconisas segundo o modelo de Kaiserswerth. A história mostrou que este modelo, que se tornou conhecido como o modelo de Kaiserswerth, foi muito relevante para a época, pois na virada do século XIX já havia mais diaconisas do que pastores na Europa. Na Alemanha havia 50 casas Matrizes de Diaconisas, 30 em outros paises da Europa e 3 nos Estados Unidos. O modelo das diaconisas foi considerado importante durante muito tempo, podendo-se dizer que era um modelo por excelência, mas ele não continuou como modelo único. Apesar de que algumas mulheres não queriam adotar o mesmo estilo de vida das diaconisas conseguiam trabalhar juntas, porém a vida comunitária era um fato relevante para aquelas que queriam ser diaconisas (NORDSTOKKE, 1995, p.56). Diaconia é poder servir voluntariamente com amor ao próximo; com alegria para 24 que a presença de Cristo seja lembrada através de atos de amor. De nada adianta dizermos que amamos e nos preocupamos se não temos uma atitude a respeito, nem que seja de somente dizer uma palavra de conforto. A igreja de Cristo tem perdido grandes oportunidades de praticar a diaconia. Devido ao modernismo, a tecnologia, o contato pessoal tem ficado de lado. Usa-se computadores, telefones, deixando de ter a presença física, que é na verdade o grande diferencial, ou seja, estar presente. Fliedner tentou, a sua maneira, dentro da sua época, resgatar o valor e a dignidade daqueles que eram excluídos, através da diaconia institucional, mas ele sempre quis que a igreja abraçasse também esse ministério. Evidentemente, nem tudo era perfeito na obra de Fliedner, mas ele tinha em mente a essência da diaconia, do serviço cristão em favor do próximo. Enquanto Fliedner no século XIX através do seu trabalho de “renovação do ministério diaconal, principalmente o feminino”, no Brasil aconteciam muitas coisas importantes, pois foi um século decisivo na formação política, econômica, social e cultural do Brasil, pois foi ao longo do mesmo que se delinearam as estruturas do Brasil atual, além de preparar o surgimento de um Estado Nacional. No Brasil as primeiras diaconisas no modelo que Fliedner idealizou, chegaram em 1913, devido, em grande parte ao dinamismo e à visão de Wilhelm Zollner. Ele acreditava na capacidade da mulher para o desempenho da diaconia e quando ainda trabalhava em Kaiserserth havia recebido cartas de comunidades brasileiras pedindo que enviassem diaconisas para auxiliar no trabalho. Atendendo aos pedidos de socorro, que vinhas das regiões onde os alemães estavam colonizando, a Ordem Auxiliadoras de Senhoras Evangélicas, na Alemanha, em 1908, em sua Assembléia Anual, decidiu criar uma organização que tinha como objetivo especifico formar diaconisas para o exterior. As diaconisas eram preparadas para trabalhar no Brasil como educadoras, 25 obstetras e enfermeiras. Seu número chegou a 70 em 1934. Elas eram chamadas de diaconisas e de irmãs evangélicas. Além de atuarem na educação, também atuaram na área da saúde, onde havia a busca de ajuda de pessoas que se dedicassem aos doentes. Observando a história e o modelo de Kaiserswerth, vemos que diaconia é ação prática, é amor praticado por ações e a igreja pode muito bem assumir esse papel, porque “a missão da igreja não é somente assegurar às pessoas um lugar no céu, mas ser um sinal visível da presença do Senhor em meio aos anseios por liberdade e à luta por uma sociedade mais humana e justa” (OFTESTAD, 2006, p.25). Não só as diaconisas tiveram uma participação importante, mas também todos aqueles que dirigiram como diretores e outros, e também aqueles que sonharam em renovar o ministério diaconal. O que Fliedner e outros envolvidos no trabalho de diaconia realizaram, serve para reflexão de como nos dias atuais a diaconia é compreendida. O que se tem feito, de forma prática com os ensinamentos de Jesus, o qual vivia e era severamente criticado por praticar o amor e a diaconia ao próximo. Entendendo que Jesus é o diácono que cuida do ser humano de forma integral e que voltou-se para os rejeitados, os leprosos, os paralíticos, os doentes crônicos, os aleijados, os cegos e os surdos; também para aqueles que não eram bem vistos pelas sociedade, quem se diz discípulo de Jesus deve seguir o sem exemplo de amor ao próximo que não somente fazia a diferença na vida daqueles que ajudava mas dava a oportunidade delas resgatarem sua dignidade. Fliedner compreendeu isso e a partir daí começou a sua obra diaconal, tentando se aproximar da concepção que Jesus tinha da diaconia (BRAKEMEIER,1998, p.; NORDSTOKKE, 1995, p.56). Jesus não entrava na vida das pessoas de forma violenta, mas permitia que as pessoas O convidassem. Ele perguntava às pessoas o que elas queriam. Jesus não agia no lugar das pessoas, e frequentemente dizia: “a tua fé te salvou”. Havia a reflexão que a pessoa podia e tinha a sua parte a fazer. Quando Jesus cura o 26 paralítico de Cafarnaum (Mc 2. 1-12). diz: “levante-se pegue a sua maca e vá para casa” , nem Jesus ou seus discípulos carregaram o paralítico, mas este pôde por si mesmo andar. Que alegria este homem deve ter sentido quando levantou e foi ao encontro dos seus, curado, podendo trabalhar e ter uma vida digna. Agora não precisava nem ele e nem seus familiares mendigar o pão de cada dia. Jesus era muito criticado porque fazia com que as pessoas que eram excluídas pudessem ter dignidade. Não somente os pobres e doentes, mas outros, como Zaqueu (Lc 19) que também era excluído, não pelo trabalho em si, mas porque deixou que a ganância tomasse conta. Jesus olha, ama e chama Zaqueu. Agora sim. É possível retornar. Alguém dá o primeiro passo em direção a e este agarra a oportunidade e muda de vida. A diaconia deve fazer isso: estender a mão para que a própria pessoa tenha a oportunidade de poder segurar e a partir daí começar uma nova etapa na sua vida. É importante percebermos a diferença que a diaconia faz porque é muito fácil confundir diaconia com ação social, caridade, ou outros. Muitos fazem caridade; assistência social. Ajudam as pessoas, mas não permitem que as mesmas se levantem “ e vão em paz para a sua casa”. Assim a prática diaconal defende a dignidade e os direitos das pessoas na sociedade e aposta na formação do seu futuro (NORDSTOKKE, 1995, p.15) Fliedner percebeu que se as pessoas excluídas não tivessem o apoio de alguém para poder recomeçar, não conseguiriam facilmente, podendo talvez, voltar ao estado de antes. O que Fliedner queria era isso: que as pessoas pudessem se sentir dignas e reintegradas à sociedade, por isso o exemplo de Fliedner pode ser considerado importante, porque podemos ter um exemplo concreto, que deu certo, lembrando que não era um modelo perfeito, tinha sim suas falhas, mas a essência da diaconia estava presente na obra de Fliedner e esta sim pode ser copiada. A diaconia, o serviço de Deus ao próximo, tem como objetivo ser a presença de 27 Deus concreta entre as pessoas. Diaconia é um sinal de Deus conosco, o Emanuel (Is 7.14), o qual se dá através da ação. Isso é uma inversão dos valores atuais da sociedade que a cada dia se torna mais egoísta e infelizmente a igreja de Cristo tem se deixado envolver distanciando-se da missão de servir ao próximo. Não se tem uma fórmula para realizar diaconia, mas é possível dentro da realidade de cada pessoa atribuir os valores de Cristo. De um lado alguém fazendo diaconia e do outro alguém recebendo diaconia. A fé em Cristo transforma pessoas e a diaconia pode ser um elemento importante dentro dessa transformação, porque transformação implica em agir, ação. Agir em nome de Deus e isso não pode somente ficar na boa vontade, tem que acontecer algo real. A diaconia como agente de transformação não pode modificar os valores do mundo inteiro, isso é impossível, mas podemos nos questionar como estamos fazendo diaconia nos dias atuais? Jesus quando estava exercendo diaconia, se aproximava dos leprosos, que eram excluídos do convívio, dos doentes, das mulheres, das viúvas, dos pescadores analfabetos e todos os demais grupos que não eram aceitos pela sociedade. É possível trazer as pessoas que estão caminhando em trevas para a luz. A diaconia valoriza estes gestos que as vezes são considerados tão pequenos, mas que é o necessário para salvar uma vida. Por esse motivo nos dias atuais é preciso entender melhor o que é diaconia, que ultrapassa o ofício de diácono ou diaconisa dentro das igrejas, mas que vai ao encontro das pessoas necessitadas e estão esperando por um gesto (diaconia) de amor. Entende-se que no Novo Testamento não existe uma contradição entre amor e liberdade. Um cria possibilidades para o outro. Então quando amamos podemos servir ao outro de forma livre, assim como receber livremente o serviço do outro e uma pessoa não é livre quando não pode tecer relacionamentos com os outros. A diaconia não pode aprisionar ninguém. Se assim for não é diaconia é tirania. 28 Jesus nunca aprisionou as pessoas, pelo contrário, Ele sempre dizia: Vai, e não peques mais; vai, volta para sua casa, e assim por diante. O amor de Deus revelado em Cristo Jesus, cria uma nova condição de liberdade ao ser humano, mas uma liberdade que torna as pessoas “servas umas das outras, pelo amor” (BIBLIA,N.T. Gl 5.13). Quem quiser servir a Deus deve ser primeiramente servo Dele e também deve servir as pessoas, em amor. O Pastor Marcos Souza Borges, da Igreja Evangélica Ágape, no ano de 1995, repetia sempre uma expressão um tanto radical: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. A diaconia não deve ser praticada por alguém entendendo que é uma tarefa que lhe foi dada por Cristo, mas sim porque a diaconia faz parte da vida cristã e da igreja como corpo de Cristo. O grande desafio para a diaconia atualmente é ser uma diaconia que transforma. Se a diaconia é serviço realizado e motivado pelo amor de Deus em favor das pessoas em seu contexto, como podemos transformar a sociedade que vivemos? Estendendo a mão e ajudando o outro a levantar e poder lutar pelos seus direitos exercendo cidadania, transformando o “não saber” em “saber”. A diaconia também é limitada. Os recursos humanos são de extrema importância para que se realize a diaconia. Os recursos financeiros também influenciam o desenvolvimento do trabalho diaconal. É difícil fazer diaconia sem dinheiro. Há muitos desafios, mas a exemplo de Abrãao , que se dispôs a ir e sacrificar seu filho sempre com a certeza de que “Deus mesmo iria prover” (BIBLIA, A.T. Gn 22.8), é necessário confiar em Deus que proverá buscar recursos e capacitará as pessoas que desejam realizar o trabalho diaconal. Quando há o encontro do sofrimento e do amor, aí é possível realizar diaconia. A vida e o ensino de Jesus apontam para uma inversão de todas as relações de poder entre as pessoas, questionando as posições de poder e de submissão da sociedade. Jesus aponta para uma estrutura de comunidade bem distinta da que 29 era modelo então, apresenta um novo critério para apreciar as relações entre os seres humanos. Portanto, diaconia tem um sentido mais amplo do que o servir à mesa, e descreve o relacionamento das pessoas entre si, o relacionamento de Jesus para com as pessoas. Jesus como um grande diácono que foi conseguiu cumprir a sua missão: ao mesmo tempo que perdoava pecados restabelecendo seu relacionamento com Deus, também curava pessoas e restabelecia relacionamentos entre pessoas que se sentiam excluídas, e outras que estavam marginalizadas pela sociedade. Diaconia é o serviço que é relizado pelas pessoas que seguem Jesus Cristo em favor das pessoas colocadas em situação de sofrimento, por consequência de uma opressão por parte de outras pessoas ou outros motivos. Esse serviço tem uma dimensão ampla, pois visa a transformação de situações injustas e age em situações de necessidades materiais, físicas e socias, apresentando alternativas viáveis, curativas e preventivas em favor da vida, da dignidade e da liberdade que cada pessoa deseja ter. O exemplo de Theodor Fliedner em Kaiserswerth mostra também diaconia na prática. Ele conseguiu junto com sua esposa, com amigos e diaconisas mudar a face do sofrimento que as pessoas tinham em sua época; sendo assim é importante nos dias de hoje olhar para testemunho de Fliedner e para o exemplo de Jesus e praticar diaconia, dando esperança de que pode existir “novos céus e nova terra onde habita a justica” (BIBLIA,N.T. 2 Pe 3.13). 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEULKE, G. Diaconia em Situação de Fronteira. Série: Diaconia na América Latina, v.2. São Leopoldo/RS:Sinodal. 2001. 149p. BIBLIA SAGRADA. Nova Versão Internacional. São Paulo: Ed. Vida Nova, 2001. BOFF, L. Do Lugar do Pobre. 2 ed. Vozes. 1984. 151p. 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