Boa leitura! - Núcleo de Estudos Espíritas "Amor e Esperança"

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Boa leitura! - Núcleo de Estudos Espíritas "Amor e Esperança"
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Órgão divulgador do Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança” - Ano 8 - nº 66 - Abril/2007
Distribuição Gratuita
Anália Franco
Nesta edição:
O Livro Espírita
O Caminho Certo
A Brevidade da Vida
Previsão do desencarne nos sonhos. É possível?
Leituras
Fazer o bem sem ostentação
Paciência, renúncia e boa vontade
Editorial
editorial
Falemos do aborto.
Não da forma banal que muitos meios de comunicação utilizam. Principalmente a
televisão, que mostra imagens de famílias de baixo poder aquisitivo, com muitos filhos
e sem condições de oferecer o mínimo para a sobrevivência. Outros relatam casos de
falta de atendimento médico nos postos de saúde e pronto-socorros, com as crianças
(sempre de famílias pobres) sofrendo a espera de atendimento. Há ainda a clássica
imagem das famílias que vivem nas áreas atingidas pela seca, com muitos filhos e
nada dentro das panelas para comer, algumas até disputando a comida que é dada
para o gado.
Perguntamos: no que estas cenas estão relacionadas com o aborto?
Estes são problemas sociais que não vão ser resolvidos com a legalização do
aborto. A fome, a falta de atendimento médico e outras mazelas sociais são geradas
pelo egoísmo humano.
Sabemos que a legalização do aborto atende mais aos interesses econômicos de
determinadas atividades do que às famílias carentes.
Por que, ao invés de gastarmos tempo tentando legalizar o aborto, não
aproveitamos toda esta disposição para esclarecermos as famílias sobre como
educar moralmente os seus filhos, levar educação escolar para todos e,
principalmente, evangelizar as famílias?
Desta forma, o que Jesus disse se concretizará:
“Conheça a verdade e ela te libertará.”
O Espiritismo não condena as atitudes das pessoas, mas esclarece, mostrando
que a vida física de uma pessoa não começa no ato do nascimento. Desde a união
sexual do casal, já há a ligação do espírito que irá ocupar aquele corpo, portanto, ao
interrompermos a gestação, estaremos tirando a oportunidade de vida de um filho de
Deus, ou seja, estaremos interferindo nos Planos Divinos.
Convém lembrarmos as palavras de Chico Xavier:
“Compete-nos honrar os compromissos de natureza sexual com todas as forças da
alma, mesmo porque, através do sexo, não só efetuamos a continuidade da espécie
no mundo, mas também recebemos forças dinâmicas que nos podem sustentar a vida
espiritual e física, na execução do trabalho a que fomos trazidos à Terra.”
Por estas palavras vemos o quão importante é perseverarmos no caminho do Bem,
seguindo os exemplos de Amor de Jesus.
Diz-nos André Luiz, no livro “Missionários da Luz”, que o aborto muito raramente se
verifica obedecendo a causas da esfera de ação dos Espíritos. “Em regra geral,
origina-se do recuo inesperado dos pais terrestres, diante das sagradas obrigações
assumidas ou aos excessos de leviandade e inconsciência criminosa das mães,
menos preparadas na responsabilidade e na compreensão para este ministério
divino.”
No mesmo livro encontramos uma séria advertência:
“Daí, a razão de existirem muitos casais humanos, absolutamente sem a coroa dos
filhos, visto que anularam as próprias faculdades geradoras. Quando não procederam
de semelhante modo no presente, sequiosos de satisfação egoística, agiram assim,
no passado, determinando sérias anomalias na organização psíquica que lhes é
peculiar. Neste último caso, experimentam dolorosos períodos de solidão e sede
afetiva, até que refaçam, dignamente, o patrimônio de veneração que todos nós
devemos às leis de Deus.”
Lembremos, finalmente, da amantíssima figura de Maria de Nazaré, que mesmo
sendo ainda muito jovem, confiou em Deus, assumiu a maternidade com todo o amor
e trouxe ao mundo aquele que seria o Caminho, a Verdade e a Vida.
Por isso devemos valorizar a vida, pois ela é uma dádiva que Deus nos oferece.
Não sejamos nós os responsáveis por mais este ato cruel.
Equipe Seareiro
ÍNDICE
2
GRANDES PIONEIROS: Anália Franco - Pág. 3
ATUALIDADE: Leituras - Pág. 13
CANTINHO DO VERSO EM PROSA: O Livro Espírita - Pág. 14
TERCEIRA IDADE: O Caminho Certo - Pág. 15
TEMA LIVRE: A Brevidade da Vida - Pág. 15
KARDEC EM ESTUDO: Fazer o bem sem ostentação - Pág. 16
CLUBE DO LIVRO: Amor e Renúncia - Traços de Joaquim Alves - Pág. 16
CONTOS: O cachorro e o coelho - Pág. 17
SONHOS: Previsão do desencarne nos sonhos. É possível? - Pág. 18
FAMÍLIA: Paciência, renúncia e boa vontade - Pág. 18
LIVRO EM FOCO: Migalha - Pág. 19
Seareiro
Publicação Mensal
Doutrinária-espírita
Ano VIII - nº 66 - Abril/2007
Órgão divulgador do Núcleo de
Estudos Espíritas Amor e Esperança
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Diagramação e Arte
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Tiragem
12.000 exemplares
Distribuição Gratuita
Seareiro
Grandes Pioneiros
grandes
pioneiros
Anália Franco
Entre os séculos de
XVI a XVIII, quando o
Brasil era colônia, a
mulher era considerada
inútil perante a cultura e a
tudo que não fosse
regido pela mão do
homem.
Recebendo a
influência da Europa,
principalmente de
Portugal, a mulher era
tratada com austeridade
e sem permissão para
receber qualquer tipo de
ensino instrutivo. Tanto
que os documentos em
que deveria constar a
assinatura feminina
traziam a explicação nos
seguintes dizeres: “por
ser do sexo feminino e
não saber ler”. E consta
entre os historiadores
que a primeira mulher
brasileira a assinar um
documento em público, por ser alfabetizada, fugindo das
regras instituídas nessa época, foi a senhora Leonor Góis
Siqueira, em 1699, causando grande escândalo e
maledicência entre as honradas famílias brasileiras.
Eram funções das mulheres, portanto, serem educadas
para saberem se comportar como companheiras omissas
e cuidar do lar e dos escravos que trabalhassem dentro da
casa. Só poderiam tomar parte de uma conversação com
os visitantes se os maridos permitissem e isso só era
compreendido por olhares entre ambos.
Com a vinda de D. João VI para o Brasil-colônia,
surgiram os primeiros colégios particulares no Rio de
Janeiro. Isso porque com o número de senhoras vindas
com a Corte de D. João VI, da França e de Portugal, muito
as preocupou a educação dos filhos, pois na Europa eram
outros os precedentes educativos, tanto na alfabetização
quanto da cultura, que, segundo elas, predominavam na
formação da personalidade e do caráter infantil.
Tudo foi iniciado com muita precariedade, porém a
educação para a mulher aconteceu ainda no período do
Brasil-colônia, em São Paulo, exatamente com a
formação vinda do clero, com a abertura dos Conventos,
onde poderiam dedicar-se a exercer a religião católica
somente as mulheres. E o ensino de períodos escolares
seriam ministrados em aulas também particulares pelas
próprias freiras, pois muitas vindas da Europa tinham
profundo cabedal de ensino não só na alfabetização como
em aulas de etiquetas, moral religiosa e conhecimentos
gerais.
Órgão divulgador do Núcleo de Estudos
Espíritas Amor e Esperança
As formandas que aí
foram educadas eram
capazes de tudo realizar
num ambiente doméstico.
Formavam-se em artes,
música, pintura, teatro,
tudo no maior requinte
exigido pela Corte dessa
época.
Ano de 1852.
O Brasil lentamente
absorvia o progresso
relativo ao ensino. Era
evidente que só obtinham
um curso superior as
famílias da classe média
para a alta aristocracia da
Corte.
Nesse ano um jovem
casal consorciava seus
ideais de viverem unidos
pela lei do amor. Ele, o
senhor Antônio Mariano
Franco Júnior, formado
em contabilidade, que na
época era a profissão do
“guardador de livros”, era funcionário de uma repartição
empresarial de bom nível. Termo usual na época, para os
empresários bem sucedidos.
Ela, dona Thereza Emília de Jesus, que, venceu todos
os obstáculos, era formada e exercia o cargo de
professora primária. Esse acontecimento fora no dia 20 de
abril de 1852, na matriz da cidade de Resende, estado do
Rio de Janeiro.
Enquanto esse casal se reunia não só pelas leis da
Terra, mas principalmente pelos laços espirituais, o Alto já
preparava para retornar ao plano físico um espírito que
teria a missão de abrir caminhos para o aprendizado do
conhecimento, não só pelas letras mas também para a
Evangelização de espíritos que precisariam da força
dessa mulher, designada por Deus, para fornecer esses
princípios tão equivocados pelos homens.
Esse espírito teria que renascer nesse ambiente cheio
de mistérios formados pelo Clero, assim como Francisco
de Assis, Antônio de Pádua, Thereza D'Ávila, Santo
Agostinho e outros eméritos baluartes que viveram na
época do Cristo e tiveram que retornar para continuar a
obra de esclarecimento do “Cristianismo”, não só das
religiões do deus pagão.
E no dia 1º de fevereiro de 1853, retorna a esse plano
físico uma bela menina, de olhos arregalados para o
mundo que a recebe ao aconchego do seio maternal. Os
pais não cabiam em si de contentamento. Acreditavam
que Deus os abençoava com essa luz que se acendera
nesse lar já tão feliz.
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Deram-lhe o nome de Anália Emília Franco.
que mulheres: “Vencemos, amigas, porém, esse é só o
começo do que nós, mulheres, poderemos fazer para
Todos os amigos que visitavam o casal para conhecerclarear a mente obscura desses que se dizem os
lhes a filha eram unânimes em afirmar que algo havia de
intelectuais do futuro.”
diferente nos olhos e nas expressões daquele bebê, pois
dava a nítida impressão de que gostaria de contar alguma
Daí para frente, Anália foi se revelando e deixando toda
coisa, tal a agitação que
a sociedade de boca aberta.
demonstrava. Os pais diziam
Seu nome começou a ser
que Deus saberia fazê-la
pronunciado por toda a
acalmar-se. Realmente,
Europa, onde os jornais a
Anália teria muito que
chamavam de “A Dama Maior
realizar. E era já visto que ela
da Educação Brasileira”. Seus
não seria uma criança igual a
ensinos pedagógicos
tantas na fase infantil. Ela,
começaram a incomodar os
nos primeiros anos de vida,
“velhos professores”, que
“revivia”, por assim dizer, o
relutavam em aceitar os novos
seu passado. Com seus três
métodos de ensino.
anos, juntava as sílabas das
Anália demonstrava, na
palavras que sua mãezinha
prática, que os alunos não
lhe indicava, espantada ao
deveriam ser separados,
Cidade de Resende, Rio de Janeiro.
ver a precocidade da filha.
divididos em classes
Anália não fora a única filha do casal Franco. Tiveram mais
masculina e feminina. Era preciso acabar com a malícia
dois filhos, sendo o do meio, Antônio Mariano Franco, e a
que só existia, dizia ela, nas cabeças mal formadas de
caçula de nome Ambrosina Franco. E a diferença de
princípios morais.
atitudes de Anália para com os irmãos tornava-se mais
Para tanto, ela colocava no currículo escolar as aulas
saliente ainda. Embora a diferença de idade entre eles não
de religião, pois, dessa forma, desde cedo, a criança
passasse de ano e meio, era sempre ela que educava os
começa a entender e a respeitar seu semelhante.
irmãos, no falar e no comportamento.
Outra exigência que Anália achou por bem introduzir no
O potencial de conhecimento na menina Anália a todos
ensino da época foi a aula de higiene aplicada, pois
assustava. Seu arquivo espiritual desabrochava
nenhuma criança poderia entrar em classe sem estar
rapidamente.
devidamente limpa. Ela conseguira, com muito esforço,
Seus primeiros estudos foram realizados em Resende,
que as próprias mães dos alunos a ajudassem nesse
sob o olhar sempre orgulhoso dos pais. Dona Thereza,
quesito. Como o banho era difícil, pois havia a
que lecionava na mesma escola, ouvia constantes elogios
necessidade de a água ser retirada dos poços e colocada
ao desenvolvimento e comportamento da filha, que, por
em bacias, achavam as pessoas que só com a lavagem
vezes, sofria deboches das amiguinhas que assim
das mãos, dos pés e do rosto já estavam asseadas. Mas
procediam por sentirem ciúmes e até mesmo inveja pela
Anália, através de cartazes feitos por ela própria,
distinção da menina em classe. Esse era apenas o
mostrava as doenças de pele, as infecções, os piolhos,
começo de quem teria muitos percalços em meio à
enfim, tudo o que poderia acontecer por falta de banho.
reencarnação. Mas Anália não ligava.
Com esse procedimento, as crianças assimilavam com o
Quando olhava para sua mãezinha e a via triste pelas
maior interesse, pois sentiam o bem-estar causado após o
coleguinhas não a chamarem para as brincadeiras, ela
banho. Com isso, elas próprias passaram a ensinar os
dizia:
pais a importância do banho e a limpeza no aspecto total.
“— Não fique brava e nem triste, mãezinha. Elas não
Essa idéia da educadora causou a maior revolução no
sabem que a minha idade não combina com a delas.”
Brasil. O povo não estava acostumado a tanta higiene. A
duras penas, Anália conseguiu, após longas lutas, ter uma
Dona Thereza não entendia e talvez nem Anália, mas
classe de alunos limpos, sem problemas de micoses e
ela tinha mesmo a maturidade acentuada pela sua pouca
piolhos.
idade física.
O Humanismo também fazia parte do ensino dessa que
Por necessidade de trabalho, Dona Thereza e Sr.
nascera para revolucionar a cadeira educativa das
Antônio precisaram deixar Resende e se transferir para
escolas. A pedido de muitos professores, que gostariam
São Paulo. Anália já tinha seus doze anos e acompanhava
de entender o porquê das aulas dadas por ela serem tão
Dona Thereza no ensino primário.
eficientes, Anália ministrou cursos de Pedagogia e
Em 1876, Dona Thereza e família mudaram-se para o
Humanismo Educacional. Eles aprenderam que, acima de
vale paraibano de Guaratinguetá, onde passou a lecionar,
tudo, o professor deveria ser respeitado e não temido.
tendo como assistente sua filha Anália. Esta, com toda a
Para isso, deveriam tratar os alunos como filhos, com
experiência obtida no ensino primário e colocando em
energia e brandura, como ensinava Jesus aos seus
prática o que havia de suas lembranças da espiritualidade,
discípulos, dizia ela. As aulas deveriam ser alegres e as
tornou-se uma excelente educadora. Foi então designada
crianças serem levadas, sempre que possível, a terem
para lecionar em Jacareí, embora ainda não tivesse
aulas ao ar livre para sentirem e respeitarem a Deus.
diploma, o que aconteceu em 1877, com a reabertura da
Fazê-las plantar uma semente, uma muda de flores e
Escola Normal em São Paulo, que, por efeitos políticos e
acompanharem o desenvolvimento de uma árvore, seus
preconceitos com referência a mulher, fora fechada. Com
ramos e seus frutos.
isso, Anália voltou a São Paulo e conseguiu o seu tão
Como exímia compositora, fazia versos e ensinava as
almejado diploma de educadora. Uma vitória, como disse
crianças a cantá-los em coral, orientando também os
em sua formatura, ainda composta mais de homens do
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Seareiro
professores a encenar peças infantis.
humanitário das mulheres, mostrando a
Simples atos onde as crianças se
capacidade feminina em manter um lar e um
desenvolveriam perante o público, tornandotrabalho digno. Todas elas tornaram-se
as mais extrovertidas.
escritoras e, como Anália, sofreram as
pressões dos homens, principalmente dos
E, para tanto, Anália não iniciava suas
políticos locais.
aulas sem as crianças cantarem um “Hino
de Deus”, que, como dizia aos meninos,
Com essa ajuda, Anália ampliou e
além do canto, era uma prece em louvor a
desenvolveu mais seu potencial de escritora.
Deus. Eis aqui os versos:
Lançou o “Álbum das Meninas”, uma revista
literária educativa. Nela, Anália educava as
É nosso Pai Celeste
jovens através de uma leitura agradável e leve
O Deus que adoramos
sobre assuntos relativos aos jovens e
É a Ele a quem primeiro
adolescentes. A revista foi bem aceita nos
Josefina
Álvares
de
Azevedo
O nosso afeto damos
meios literários.
O céu, o mar, a terra
Alguns anos depois, Anália Franco foi
E tudo quanto existe
convidada a visitar a cidade de São Carlos, no
São obras do seu poder,
interior de São Paulo. Visitando os locais de
Que só no bem consiste
ensino, percebeu ela a necessidade de fundar
Ergamos um hino de glória
ali um colégio. Como sua vontade em realizar
A esse Deus Onipotente
projetos educativos era necessária,
Que lá do céu nos volve
conseguiu edificar um colégio que funcionava
em regime de externato e internato. Deu-lhe o
O seu olhar clemente.
nome de “Santa Cecília”, santa esta de sua
A grande preocupação de Anália Franco
devoção. Esse colégio funcionava com o
era o de fazer com que as mulheres que
ensino primário e o secundário. Deu a
começavam a lutar para trabalharem fora das
educadora novas experiências que lhe
lides domésticas crescessem. Sempre que
serviram muito nos educandários seguintes
podia, agrupava as senhoras que conhecia e
que estariam por vir e as associações que
as mães dos alunos a auxiliarem-na no
Zalina Rolim
surgiriam.
preparo das aulas, do teatrinho de
Isso aconteceu no dia 17 de novembro de 1901,
marionetes e nas visitas que fazia às senhoras que
quando foi notificada pela Assembléia Geral que esta
apresentavam um quadro de depressão pela vida que
aprovara seus estatutos para inaugurar a “Associação
eram obrigadas a ter, retendo em seus interiores a
Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São
vontade de viver e lutar por algum ideal de liberdade.
Paulo”.
Sob a influência de Anália, muitas das senhoras que se
Essa Associação amparava e iria instruir e educar as
tratavam com remédios para as suas frustrações
crianças pobres e abandonadas da capital paulista, não
conseguiram sair desse estágio doentio para se tornarem
havendo aí nenhuma distinção de raça ou fé religiosa. A
úteis ajudando-a nos trabalhos artesanais, nas visitas aos
maior finalidade dessa obra era, para Anália, atrair as
doentes carentes e no atendimento às crianças
senhoras da sociedade local para um serviço de alto teor
deficientes e, principalmente, às crianças abandonadas
evangélico, oferecendo as horas ociosas em benefício de
pelas ruas.
um ser relegado pela sociedade. Não teria vínculo político
Essa era para Anália a maior preocupação. Enquanto
e nem fins lucrativos. Apenas o objetivo de oferecer um
aquelas que podiam e freqüentavam a escola já recebiam
teto, um prato de comida, roupas limpas e instrução
orientação, outras desfavorecidas nada tinham, nem
escolar. Por essa época, Anália Franco já estava em
mesmo o calor materno.
contacto com a Doutrina Espírita. Ouvira falar de Kardec,
Para tanto, pensava ela que sua luta estava apenas
da mediunidade e dos fenômenos das mesas girantes,
começando. Precisaria fundar escolas ou creches para
mas era liberal e tolerante com todos os credos. Não fazia
abrigar essas crianças, fossem quais níveis sociais que
diferença para ela que seus ajudantes professassem a
tivessem, o importante é que a nenhuma criança fosse
religião que quisessem, apenas que aceitassem a idéia de
negada a instrução e, mais ainda, deveriam sentir-se
que Deus é o Pai Eterno e a Inteligência Suprema.
amadas, tendo um lar, onde fossem respeitadas.
Esse era o ensino fundamental em suas obras.
Para tanto, Anália precisava tornar-se mais conhecida
Despertava
nos corações infantis o Amor a Deus e a
no jornalismo para criar outras oportunidades, pelas quais
Jesus, sobre todas as coisas, e o amor e o respeito ao
pudesse conseguir meios financeiros e voluntários para a
próximo, fosse criança ou adulto.
campanha de benemerência.
Rodeada por colaboradores e com muita luta,
Em Taubaté, interior de São Paulo, ela começou sua
continuava
a obra educativa, encontrando muitas pedras
idéia de penetrar no meio jornalístico. Através do jornal
pelo
caminho.
Como sempre, não faltavam as más línguas
literário “A Família”, começou a escrever seus artigos
a
destilar
venenos
e calúnias.
sobre Educação Infantil.
Principalmente
por
ser mulher, Anália sofria ataques de
Seu ideal de ensino, baseado em Pestalozzi, tomou
todos os lados. Até as mulheres ciumentas não permitiam
vulto entre as colunistas de um jornal, mantido por
que seus maridos dela se aproximassem, pois diziam que
senhoras do Rio de Janeiro, de nome “Eco das Damas”.
ela era capaz de tudo para alcançar seus propósitos, nem
Tal periódico fora fundado por Dona Josefina Álvares de
que para isso fizesse a ruína de um lar.
Azevedo, ao lado de outras amigas como Zalina Rolim e
Anália silenciava. Suas auxiliares achavam que ela
Amélia Carolina, que procuravam manter o espírito
Órgão divulgador do Núcleo de Estudos
Espíritas Amor e Esperança
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deveria responder escrevendo sua defesa através dos
gratuitamente, ganhando experiência e orientação da
jornais que editavam seus artigos. Mas, sempre paciente,
mestra Anália, que ocupava o coração e o respeito de
ela dizia que Deus sabia de seu procedimento. Nada
todos.
ouviriam de sua boca ou manifestos escritos. Como sua
Em Santos, após a inauguração do Liceu, quando
norma era “conceber o bem não basta, é preciso fazê-lo
Anália fazia rigorosa inspeção com alunos e professores,
frutificar”, o importante é que suas obras cresciam.
recebeu a visita do Secretário dos Negócios do Interior e
A Associação Feminina crescia rapidamente. Anália se
da Justiça de São Paulo, o senhor Dr. Bento Bueno. Esse
desdobrava fazendo tarefas acumuladas para atender a
tece-lhe muitos elogios pela coragem e por ser tão culta e
todos os lados onde sua presença era necessária.
desprendida dos bens e títulos materiais. Dizia estar ali
para apoiá-la no que fosse preciso. Seus préstimos
O Dr. Paulo Egídio de Oliveira Carvalho, senador
chegaram em boa hora, pois Anália estava na fase final da
paulista, e notável jurisconsulto e literato, convidou Anália
primeira escola maternal na cidade de Santos. Dr. Bento
Franco para comparecer ao Senado para tratar de
Bueno, ajudado pelos professores e simpatizantes das
assuntos de seu interesse. A educadora prontamente
obras da educadora, no ato da inauguração, levantou a
atendeu ao convite e sua surpresa foi maior quando o Dr.
placa. Para surpresa de Anália a escola recebera o
Egídio, ocupando a tribuna, falou:
seguinte nome: “Escola Maternal Anália Franco”
“— Aos representantes dos estados brasileiros aqui
Agradecendo e dizendo-se insignificante diante dessa
presentes, gostaria que conhecessem uma mulher
homenagem, ela pediu licença para um ato de louvor para
corajosa, guerreira e professora, Dona Anália Emília
aqueles que foram realmente os pioneiros no ensino aos
Franco, que, como escritora e educadora, está realizando
primeiros habitantes do Brasil: Padre José de Anchieta e
não só em São Paulo, como também em outros estados, a
Padre Manoel da Nóbrega, que muito fizeram diante
maior revolução no ensino desse País. Aqui, no estado de
dessa bela Natureza, nessas cidades praianas, Santos e
São Paulo, mais propriamente na Capital, a Associação
São Vicente.
Instrutiva criada por ela já conta as inúmeras atividades ali
realizadas e o abrigo para crianças de zero até a juventude
Toda a imprensa brasileira, em todas as cidades e
e o acompanhamento escolar com métodos ativos nos
estados, fazia matérias sobre os feitos da educadora “dos
ensinos de externatos e internatos, criados por ela.”
tempos novos” no ensino. Salientavam as inúmeras
creches e abrigos com fotos para evidenciar a veracidade
E, apontando para Anália, que estava sentada à sua
do empenho de Anália em colaborar para a irradiação da
frente tentando manter o controle de suas emoções,
liberdade em aprender a ler sem definição de sexos.
continuou:
“Deus criou as pessoas para poderem crescer e evoluir”.
“— Essa jovem batalhadora vale muito mais que todos
Essa frase Anália repetia constantemente para adultos e
nós juntos. Ela não só planeja como executa sem temor.
crianças.
Como ela mesma diz, Deus está ao seu lado, pois o
Quando o clero tomou conhecimento de que a famosa
benefício que faz não é para o seu próprio bem, mas para
educadora propagava a Doutrina Espírita, sendo ela
todas as mulheres e crianças que, alfabetizadas, terão um
própria defensora e adepta do Espiritismo, fizeram uma
futuro promissor.”
infamante crítica sobre ela, em vários órgãos católicos.
Após os aplausos, o Dr. Egídio faz seu brilhante final:
Atacaram de maneira sórdida a “Associação Feminina”.
“— Por esse motivo, pela abnegação à causa da
Diziam que essa tal “Associação” era uma maneira oculta
instrução pública, no estado de São Paulo, que solicito aos
de ganhar a vida com o nome de Caridade e que as
senhores do senado maior consignação de verba para a
creches, abrigos e escolas maternais eram
“Associação Feminina Beneficente e Instrutiva. Temos
profundamente nocivas às crianças, pois, através da
certeza de que nunca uma verba será tão bem aplicada
religião espírita, o demônio as dominaria no futuro. Por
como esta em favor daqueles que serão os brasileiros de
esse motivo, o povo católico sentia-se incomodado com a
amanhã.”
propalação das idéias revolucionárias, principalmente
Sob forte emoção, Anália Franco sobe à tribuna e
com as mulheres, onde o perigo estaria na destruição dos
agradece ao senador e a todos, convidando-os a visitarem
lares.
a Associação.
Vieram em defesa de Anália e
E os frutos dessa obra já
das Instituições os órgãos da
mostravam seu desempenho,
imprensa, como o Correio de Jaú
pois estavam sendo mantidas e
e o Atibaiense, sendo que esse
orientadas 22 escolas maternais,
último fez publicar no dia 15 de
sendo 5 escolas no interior de
março de 1908 um artigo que
São Paulo, e instruções dadas
muito emocionou Anália.
para 2000 crianças pobres. E
Comparou-a com Joana D'Arc, a
ainda o funcionamento de um
quem Anália tinha profunda
Liceu Feminino que, em período
admiração pela fé e coragem que
noturno, formava professoras,
teve em defender as verdades
que cursavam-no em São Paulo
cristãs. E por ter sido ela escolhida
e em Santos. Foram eles
pelo plano espiritual superior a
fundados e inaugurados no dia
Na década de 30, neste casarão antigo funcionava a
25 de janeiro de 1902, em São Associação Feminina Beneficente e Instrutiva Lar Anália representar o valor altruístico da
mulher.
Franco, um orfanato dedicado ao ensino de crianças
Paulo, e no mesmo dia em
carentes,
no
bairro
do
Tatuapé,
na
Zona
Leste
de
São
O artigo ainda descrevia o
Santos.
Paulo e que acabou dando nome ao bairro. Atualmente potencial da educadora em trazer
Graças a esse Liceu, as este casarão foi restaurado para abrigar o campus Anália
de volta a fé no coração dos
Franco da Universidade Cruzeiro do Sul.
formandas trabalhavam
6
Seareiro
descrentes, em fazer do ser humano um ente que faz parte
de uma coletividade, mesmo sendo de condição humilde.
E de tirar as crianças das ruas e da cruel realidade dos
vícios, dar-lhes um lar e a alegria de se sentirem
protegidas.
E o artigo terminava com essas palavras:
“Onde o erro dessa mulher? Que fez ela de
condenável? Foi o de fazer envergonhar uma sociedade
hipócrita, repleta de homens cheios de orgulho e que nada
mais fazem do que viver ignorando que muitos morrem à
míngua, até mesmo em nome da religião.”
“Quem estiver livre de pecados, atire a primeira pedra,
pois se assim o fizer, temos a certeza de que essa se
tornará uma bela rosa, transformada em luz sobre a
cabeça dessa abençoada mulher.”
O conceituado médico Dr. Alberto de Melo Seabra
também escreveu em seu artigo publicado pela revista
“Educação”, de São Paulo, no dia 12 de outubro de 1908,
de que a “Associação Feminina” e suas Instituições muito
realizavam em favor da instrução, não só de crianças,
como do povo, ávido de aprendizado e de retorno à fé.
Esse ato tão humanitário só pode trazer aplausos à causa
da mulher brasileira.
Nada conseguia demover ou desanimar essa alma que
retornara para incentivar o trabalho grandioso que lhe fora
confiado por Jesus. Instruída pelo Alto, Anália conseguiu
inaugurar o primeiro Abrigo-Creche, entre os muitos que
viriam com o decorrer do tempo.
Esses abrigos amparavam as viúvas, as mães
abandonadas e seus filhos, e os órfãos, principalmente
aquelas criancinhas que eram encontradas à porta do
Abrigo, em caixas de papelão ou cestinhas.
Nesses lares, Anália fazia funcionar tipografia,
costuras, arranjos em flores, oficinas de chapéus (muito
usados na época) e ainda sala de música e aulas de
escrituração (contabilidade).
Ela também pensou nos andarilhos, essas pobres
criaturas que, por algo do passado, não conseguem
conviver com os familiares, somente o andar incansável
pelas vias públicas é que parece ajudá-los a sentirem
melhor a vida. Porém, Anália, com a ajuda das pessoas de
bons princípios, inaugurou em algumas cidades
Albergues Noturnos. Em alguns lugares mais amplos,
muitos eram os albergados que recebiam banho, roupas e
calçados e, antes de irem para o repouso noturno,
tomavam um prato de sopa. Tudo isso, Anália conseguia
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com voluntários que se contaminavam, por assim dizer, do
entusiasmo que essa valorosa mulher transmitia através
de seu carisma e abnegação.
Sempre que podia, ela estava presente, nos Abrigos,
Creches, Albergues, levando seu coração repleto de
ternura. Ela nunca permitia que trabalho algum se
iniciasse ou terminasse sem uma prece. Passava, com
isso, a todos os funcionários e voluntários, que Deus
estaria em primeiro plano. Nunca deveria ser esquecida
ou deixada a prece para “o depois”.
Há um fato importante que, aliás, poderia ser
classificado como o início da ligação de Anália com o plano
espiritual. Seria para ela a confirmação de que estava
agindo de acordo com os princípios divinos.
As Instituições estavam num começo dificultoso, como
já mencionado.
A Associação Feminina procurava meios para poder
manter as creches já instaladas, principalmente as do
interior de São Paulo. Anália estava na Associação que,
naquela época, teve seu funcionamento na Rua dos
Estudantes, nº 19 (hoje a conhecida Rua 15 de
Novembro), quando a senhora Dona Genebra de Barros
Leite, baronesa, viúva do Brigadeiro Luiz Antônio, que por
sua integração à Regência Trina da Província fora
aclamado Senador, Barão e finalmente condecorado
Visconde e, após, Marquês de Monte Alegre fez-lhe uma
visita. Essa nobre dama ficara ciente dos benefícios
prestados à sociedade por Anália e, como havia sofrido
um rude golpe por ter sido seu filho morto por afogamento,
resolveu conhecer e fazer algo em nome de seu amado
filho, cuja falta lhe era muito penosa. Naquele dia, Anália
levantara com uma leve sensação de bem-estar. Quando
Genebra é conduzida à sala de Anália, esta alegremente a
abraça e lhe diz:
“— Que prazer em vê-la, eu já aguardava sua visita.”
Dona Genebra, admirada, retribuindo o abraço,
exclamou:
“— Como? Não disse a ninguém que aqui viria! Posso
até dizer-lhe que tomei essa atitude improvisadamente.
Nem mesmo o lacaio (expressão da época, que quer dizer
“empregado”) que me acompanha sabia para onde
viríamos!”
Anália, sorrindo e convidando para irem conhecendo a
Associação, dizia-lhe:
“— Não se espante com o que vou lhe contar. Esta
noite, deitei-me apreensiva por saber que hoje as crianças
teriam uma escassa alimentação por falta de recursos,
aqui na Associação. Acontece que, após minhas orações,
adormeci e vi um moço loiro, de traços serenos, que me
dizia: “Tranqüilize-se, breve terás o necessário”. Vendo-a,
senhora, e conhecendo-a pelas fotos dos jornais, cheguei
à conclusão de que os recursos viriam pelas suas mãos,
além do mais, o moço loiro é bem parecido com a
senhora.”
Dona Genebra, já emocionada, tira da bolsa um
pequeno álbum de fotos e lhe diz:
“— Veja se reconhece em meio a esses familiares
aquele que viu em seu sonho.”
Anália olha atentamente e aponta o rapaz loiro.
“— É esse, tenho certeza! Embora aqui ele esteja mais
jovem.”
Dona Genebra olhou-a fixamente, dizendo:
“— Senhorita Anália, esse jovem é o meu filho. Sei
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agora porque o seu trabalho me emocionou. Ele era
dinâmico e tinha grandes ideais para o futuro, mas foi
colhido por uma fatalidade. Gostava de nadar. E indo com
os amigos para se divertirem, afogou-se no rio Tietê.
Todos os jornais publicaram a notícia que causou grande
consternação entre nossos amigos.”
Anália não escondeu seus olhos rasos de lágrimas.
A senhora abriu novamente a bolsa, guardou o álbum e,
retirando uma quantia de dinheiro, passou-a para Anália,
dizendo-lhe:
“— É meu filho que doa essa quantia, pois era parte de
sua herança. E é em nome dele que passarei a compra de
um terreno que será a sede principal de suas tarefas. E,
creia-me, que enquanto viver, suas crianças não passarão
mais necessidades por falta de alimento.”
E assim foi feito, sob a proteção de Jesus, dizia Anália.
A senhora Baronesa Genebra foi uma das muito
competentes colaboradoras de Anália. Ajudou-a a
inaugurar muitas escolas maternais. E as CrechesAbrigos foram se espalhando por todos os estados e
cidades dos interiores: São Paulo, Santos, Jundiaí, São
Vicente e Ribeirão Preto, foram as primeiras. O estado do
Rio Grande do Sul contou com a colaboração e
presidência do Abrigo por dona Andradina de Oliveira,
poetisa, e auxiliar nos artigos redigidos por Anália. Em
Santa Catarina, o Abrigo foi inaugurado numa chácara
doada por Dona Maria Marta Hoffman. Em Minas Gerais, a
responsabilidade do Abrigo foi entregue para Dona
Vicentina Scoles, uma educadora tão humanitária quanto
Anália. E assim foram se tornando cada vez mais
avançadas as idéias de Anália em fazer com que a mulher
mostrasse a sua capacidade de usar as horas ociosas em
benefício de vidas que estavam começando a
reencarnação.
O trabalho se agigantava. Anália atendia a tudo e a
todos. Seu tempo andava escasso e as contas, as
doações, as compras, tudo isso ela procurava trazer em
dia. Seu conhecimento em Contabilidade (que aprendera
com seu pai) lhe dava um amplo acesso a disciplinar os
“livros de crédito e caixa”, porém já há algum tempo ela
não conseguia a mesma organização. Como as escolas
maternais estavam sempre visadas pelas calunias, de que
ela se apossava do dinheiro da Associação, fazia
aumentar sua preocupação.
Auxiliando Anália, Dona Thereza, sua mãezinha, que
sempre acompanhava os trabalhos da filha, sugeriu para
que ela procurasse por uma pessoa chamada Francisco
Antônio Bastos. Ele, ainda muito menino, havia ajudado o
pai de Anália com os livros de contabilidade. Gostando da
profissão, soubera Dona Thereza que ele, Antônio Bastos,
havia conseguido seu diploma de “guarda-livros”. Quem
sabe, dizia Dona Thereza a Anália, esse jovem Sr. Antônio
não viria ajudá-la?
Anália mostrou-se entusiasmada com a idéia. E
batendo palmas veio beijar as faces de sua mãezinha e
concluiu:
“— Vou agora mesmo procurar o senhor Bastos,
mamãe. Tentarei encontrá-lo no principal escritório,
próximo ao Fórum. Alguém poderá conhecê-lo, pois
sabemos que são poucos os guarda-livros nessa cidade.
E, para encontrá-los, é só irmos ao escritório chamado
“Agência dos Contabilistas”, não é, mamãe?”
“— Claro, minha filha. Deus irá ajudá-la, como sempre.”
Anália despediu-se de sua mãezinha e foi ao encontro
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ou reencontro de seu futuro marido. Isso porque ambos,
ao se olharem, sentiram o pulsar agitado de seus
corações, sintomas do chamado “amor à primeira vista”.
Após os cumprimentos, Anália ainda sob o efeito dos
olhares ardentes de Antônio, colocou-o a par de seu
problema. Antônio ouviu a tudo com atenção e aceitou
trabalhar como seu contabilista e voluntário nas causas
humanitárias às quais ela se dedicava e que ele tanto
admirava. Em seguida, beijando as mãos de Anália,
comprometeu-se a começar a tarefa no dia seguinte pela
manhã. Daí para frente, a grande amizade que fez parte
dessas duas almas, voltadas para o trabalho grandioso do
plano espiritual, uniu essas criaturas em matrimônio, no
dia sem referências na história,
sendo o ano de 1910 ou 1912.
Antônio Bastos já era espírita
desde menino. Por sua própria
vontade, procurava ler as obras
de Bozzano, Leon Denis,
Kardec. Lia, principalmente, o
Livro dos Espíritos. Esse livro
era a principal referência para
seu desenvolvimento, pois,
além de responder todas as
suas dúvidas, levou-o a
procurar a Doutrina, ainda muito
jovem. Com o passar do tempo,
animou-se junto a outros Francisco Antônio Bastos
companheiros a fundarem um
Centro Espírita. Sabiam que teriam a proteção do Alto.
Agora casado com sua amada Anália e sabendo-a
espírita, procurou-a para juntarem-se também na fé
doutrinária. Propunha Bastos que as reuniões que Anália
fazia acontecer numa pequena sala da Associação
fossem transferidas para o “Centro Espírita São Paulo”,
sendo que esse centro, dirigido pelo Sr. Bastos, foi o
pioneiro na junção do movimento espírita, que começara a
dar sinais de propagação da doutrina.
Com esta aproximação mais intensa de Anália e Bastos
pela Doutrina, fortaleceram os laços de amizade entre
outros trabalhadores do Espiritismo como: Dr. Militão
Pacheco, médico homeopata, que passou a colaborar
profissionalmente, dando assistência médica em
ambulatórios criados pelo casal, favorecendo a classe
carente do povo e as crianças; Batuíra, que procurava
assistir as crianças deficientes em lugares apropriados
para elas, com exercícios de fisioterapia e passes; Caibar
Schutel, que uma vez por mês visitava as crianças, vindo
de Matão e dando a elas muita alegria, com suas belas
histórias sobre Jesus, evangelizando-as com o teatrinho
de marionetes.
Anália continuou suas
palestras, pois Bastos, seu
companheiro querido a
incentivava. Para tanto,
enquanto ela viajava
atendendo aos convites, ele
cuidava, junto com as
voluntárias, de não deixar
faltar todo amparo necessário
às crianças e às famílias.
Anália também continuou
a escrever livros, que foram
publicados tanto em páginas
Caibar Schutel
Seareiro
no “Álbum das Meninas”, como vários títulos
públicas, cantando e pedindo, os donativos
editados: “Uma Vida Modelo, Maria
apareciam ou então alimentos também eram
Santíssima, As Preleções de Jesus”.
doados e enviados para as instituições.
E junto com seu esposo, veio a público um
Em 1918, outra tragédia surgira para
opúsculo que ambos acharam importante
juntar-se ao mal da guerra, ocasionando
redigir porque, na época, a bibliografia
mortes, por vezes ceifando famílias inteiras.
espiritista era muito precária. E esse
Era a terrível “gripe espanhola”. Espalhandoopúsculo, cujo nome era “Habilitação à
se por toda a parte, fez com que as escolas
Assistência nas Sessões de Espiritismo”,
fossem fechadas e as casas que eram
trazia explicações sobre a prática da
atacadas pelo mal eram incendiadas com os
Doutrina, de leitura fácil e didática. Eram
mortos que ali estivessem. Não havia onde
perguntas e respostas, dando ao leitor
enterrar tanta mortandade. Quem podia e que
Batuíra
informações preciosas sobre o tema. Eram
não tinha se contaminado fugia, tentando
esses opúsculos enviados a quem quisesse
escapar da doença.
obtê-los, pois o envio era gratuito.
As Instituições também foram atingidas e as crianças
Foram também responsáveis por alguns anos pela
tinham que ser socorridas. Anália e seu marido Bastos não
publicação de um jornal, com o título de “A Nova
tinham recursos suficientes para a compra de remédios.
Revelação”, que também era oferecido gratuitamente e
Reunindo-se ao companheiro e antevendo a catástrofe
enviado para várias localidades.
que estava para acontecer se não achassem uma saída,
ela, recebendo a intuição do Alto, aludiu ao companheiro:
Anália foi um marco em sua época, pela versatilidade
de seu espírito pioneiro. Para trazer recursos ás escolas,
“— Bastos, nosso único recurso é buscarmos o nosso
creches-abrigos, ambulatórios etc., ela escrevia
médico-irmão, Jesus, nosso Mestre. Peçamos, através da
romances, poesias, peças teatrais, compunha músicas
água, o remédio que, com certeza, Ele nos enviará e, com
infantis e versos. Em tudo ela fazia questão de que as
a permissão de Deus, as nossas meninas se reerguerão
crianças participassem. Elas representavam as peças
em saúde, assim como todos nós que cuidamos delas.”
teatrais, tocavam em bandas e corais. As crianças dos
E Anália passou a reunir os voluntários nos quartos das
Abrigos e Escolas de Anália Franco eram muito
crianças e também nas Instituições, num geral, orando e
conhecidas e respeitadas. Para ajudar na manutenção de
pedindo auxílio a Jesus e aos mentores espirituais. As
toda essa tarefa, foi criado por parte das voluntárias o
águas ferviam nos recipientes e, após o gesto alterado,
“Bazar da Caridade”. As meninas e as mães assistidas
demonstrando o poder da fé daquele coração maternal, as
pelas Instituições aprendiam a bordar, fazer tricô e crochê
crianças e as mães da Colônia Regeneradora, assim
e os produtos eram oferecidos ao público que, sabedor da
como todas as criaturas que batiam às portas das
causa, ajudava até a vendê-los em outros lugares. A
Instituições, foram salvas. Somente algumas crianças que
aceitação era perfeita. Com a fundação da “Colônia
foram trazidas às escolas maternais com a gripe num
Regeneradora Dr. Romualdo”, Antônio Bastos, junto a
estado adiantado é que não conseguiram a cura. Anália
outros trabalhadores da causa, principalmente Batuíra,
consolava os familiares, dizendo que, se não se salvaram
conseguiu trazer para a Colônia as chamadas “mulheres
na vida material, seria porque Deus lhes dera a vivência
de vida fácil” que, no dizer de Batuíra, “que de fácil nada
necessária na Terra e retornaram à pátria de origem, para
havia”, por serem portadoras de terríveis equívocos
se fortalecerem para o futuro reencarnatório.
morais e necessitadas de amparo.
Com o estado de guerra, o governo aproveitou para
Essa Colônia causou enormes dores de cabeça para
satisfazer a exigência do clero, cortando os pagamentos
Anália. Mais uma vez foi ela alvo de calúnias e
mensais que Anália recebia como professora, por lecionar
perseguições. Diziam que seu marido arranjara um meio
em diversas escolas estaduais. Como o número de
de se “fartar entre as mulheres”.
professores era limitado, a educadora trabalhava para que
Antônio Bastos e Batuíra levaram desde o delegado
os recursos fossem maiores. Agora, com esse corte feito
local até o juiz e representantes de órgãos públicos para
por maledicência, os débitos foram aumentando. Bastos
que passassem um dia todo na Colônia e verem de perto o
também se revezava entre ajudar nas instituições e atuar
trabalho ali realizado, desde o atendimento médico,
profissionalmente, atendendo o comércio como
dirigido pelo Dr. Militão Pacheco, até as aulas de
contabilista.
alfabetização e de higiene que eram dadas pelas
Com as preces e a fé ardorosa desses dois corações
senhoras da sociedade local, muitas com
que vieram para auxiliar os abandonados
título de nobreza da corte remanescente.
materialmente, Anália recebeu do Alto a
Passa mais essa fase difícil, quando tudo
mensagem de seu amigo e protetor, o espírito a
parecia tranqüilo, eis que irrompeu a triste
quem Anália sempre rogava auxílio. Agostinho,
notícia da Primeira Guerra Mundial. O Brasil
seu protetor, pediu-lhe para que não
começou a sentir os reflexos econômicos e o
esmorecesse, pois Deus estaria ao seu lado. E,
povo a escassez alimentícia. As Instituições
lembrou-lhe que havia em Ribeirão Preto uma
tiveram reduzidas as subvenções e,
pessoa muito caridosa que, de bom grado, a
naturalmente, as doações praticamente
ajudaria. Finda a mensagem, após as preces
foram suspensas.
de agradecimento, Anália e Bastos ficaram
tentando adivinhar “quem seria?”.
Anália continuou a luta. Preparou as
Continuando a percorrer o interior com a
crianças da banda e o coral das meninas, que
bandinha “Operárias do Bem”, chegam a
todos conheciam como as “Operárias do
Ribeirão Preto. Lembrando-se da mensagem
Militão Pacheco
Bem” e, de porta em porta, nas praças
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de Agostinho, Anália, por intermédio de amigos, vem a
preciso da batina, mas você luta para dar às mulheres o
saber que o Padre Euclides Gomes Carneiro era fundador
verdadeiro sentido da vida.”
de várias obras assistenciais pelos arredores das cidades
Anália tinha os olhos rasos d'água e acrescentou:
interioranas e fundara em Ribeirão Preto a “Associação
“— Padre Euclides, eu estou aqui em busca de ajuda.
dos Catequistas Voluntários”, que mais tarde seria a
Alguém que me é muito querido falou-me de sua
“Sociedade Legião Brasileira”.
dedicação aos pobres. Porém, vejo que preciso aprender
A educadora, movida pelos pensamentos de seu amigo
com o senhor a fazer a caridade.”
e protetor, deixara as meninas em companhia dos
O sacerdote calmamente replica:
voluntários e seguiu para o endereço do Padre Euclides.
“— Não, minha filha, engana-se. Estou eu diante da
Todos o conheciam e o amavam pelo bem que realizava.
“Caridade”. Eu é que estou aprendendo. Sei do que
Diziam até que ele curava como Jesus, pois suas bênçãos
realiza, do seu esforço, e, que nesse exato momento, não
faziam voltar a saúde e a paz nas pessoas doentes.
veio pedir para si e sim para centenas de crianças e mães
Porém, Anália começou a sentir as dificuldades que
que encontram guarida em seu coração. Esta batina me
estavam colocando no seu encontro com o padre. Uns
abre muitas portas e os recursos chegam. A sua fé é tão
falavam que ele havia saído para atender aos doentes nos
grande quanto a que eu professo, mas a Doutrina que
sítios vizinhos e que não sabiam dizer a que horas voltaria.
defende é pouco conhecida e incompreendida, por isso as
Outros, que o padre estava recolhido em orações. Enfim,
dificuldades que enfrenta. Mas os nossos caminhos são
Anália sentia-se tolhida em seu propósito de conhecer o
iguais. Ambos procuramos minorar a dor dos
Padre Euclides. Resolveu persistir. Ficou sentada à porta
semelhantes. É isso que é importante para Deus e para
da Sociedade, onde soubera que todas as tardes ele fazia
Jesus.”
suas habituais orações junto aos católicos do local.
No dia imediato, Padre Euclides leva para Anália o
Enquanto ela, ansiosa, esperava pelo padre, ouvia os
primeiro donativo vindo do povo de Ribeirão Preto.
comentários que vinham de dentro da Sociedade, feitos
Profundamente emocionada e agradecida, Anália,
pelos freqüentadores que, olhando pelas janelas,
reunindo as meninas da bandinha, pediu-lhes para que
comentavam: “Imagine se o Padre Euclides vai receber
cantassem para Padre Euclides em forma de
essa representante do demônio”. Outra respondia: “Creio
agradecimento e louvor a Deus.
que o padre vai expulsá-la daí, assim que ele chegar”. E
O tempo foi passando, com horas amargas, horas
continuavam: “Afinal, o que ela vem buscar? Já não chega
boas, entretanto, em todos os momentos, Anália
vir à nossa cidade com essas pobres meninas, que devem
procurava lutar com galhardia apegada em preces quando
ser obrigadas a acompanhá-la para baixo e para cima,
sentia a falta de recursos. E isso estava sempre
para ganharem um pedaço de pão?”
acontecendo, pois eram muitas as Instituições para serem
Caminhando lentamente, Anália vê o Padre Euclides
cuidadas. Muitas vezes, Anália era surpreendida por
chegando. Levantou-se e foi ao seu encontro. Padre
pessoas que trabalhavam nos Abrigos dos interiores de
Euclides, olhando-a respeitosamente, levantou a mão
São Paulo, que lhe comunicavam roubos nos caixas e nos
para que Anália a beijasse e ele a abençoasse. Porém,
mantimentos. Bastos, de imediato, partia para resolver o
vendo que ela apenas apertou-a, dizendo-lhe “Que Jesus
problema, porém pouco adiantava porque o mal já estava
esteja conosco, padre”, pôde ele reconhecê-la e,
feito. Voltava constrangido, mas Anália o confortava,
puxando-a para mais perto, exclamou:
dizendo-lhe que aí é que era o instante do testemunho de
“— Valha-me, Deus, mas esta não é a melhor e mais
fé e para não vacilar.
admiradas das mulheres desse nosso País? Que prazer
Estavam ambos num dia desses de grandes
em abraçá-la, minha filha!”
dificuldades, quando as crianças que brincavam no pátio
As maledicentes, que a tudo observavam das janelas,
de uma das Instituições chamaram com alegria a
ficaram boquiabertas. Esperavam um grande espetáculo
educadora. Bastos e a esposa acorreram para atendê-los,
e esse não acontecera, pelo
quando depararam com uma
contrário, Padre Euclides era
carruagem repleta de víveres. Eram
admirador da professora Anália.
caixas e mais caixas com alimentos,
Mas, o que fazer? O padre já estava
doces, bolos, verduras etc. Anália,
adentrando à Sociedade de braços
com as crianças agarradas às suas
dados com a educadora.
pernas, chorava de contentamento.
Anália correspondia aos gestos
O cocheiro, terminando de
do padre e, endereçando-lhe um
descarregar as encomendas, ia sair
semblante preocupado, arriscou:
quieto, como estivera o tempo todo,
“— Padre Euclides, o senhor já
quando Anália o interpelou:
me conhecia? Sabe que sou
“— Espere, senhor. Diga-me, por
espírita? Como assim fosse, pensei
favor, quem mandou todo esse
Colonia Regeneradora D. Romualdo em São
em não ser recebida e o senhor me
alimento, precisamos agradecer e
Paulo, capital.
proporcionou tanto carinho! Sabe
pessoalmente!”
também o que venho pedir?”
“— Não, senhora. A ordem que tenho é para
Padre Euclides, com sua meiguice, respondeu:
descarregar aqui na Instituição e não dizer nada. É o que
“— Minha filha, o seu trabalho é tão valoroso quanto o
faço agora. Boa tarde, dona Anália. Como a senhora vê,
que tentamos realizar. O seu desenvolvimento em favor
tem gente muito boa nesse mundo de Deus. A senhora é o
da criatura que sofre é idêntico ao nosso. Para Deus não
“Anjo da Caridade”, por isso Deus não vai desampará-la
existem diferenças , minha filha. A nossa obrigação é a de
nunca. E que Deus a proteja.”
requisitarmos almas para aprenderem a se amar. Eu
Subindo à carruagem para a partida, o cocheiro escuta
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Seareiro
de Anália:
“— Deus há de amparar a todos esses que nos ajudam,
inclusive você, meu amigo, que foi o médium de
transporte.”
Anália estava sempre atenta a todos os acontecimento
das Instituições. Incentivava as meninas a escrever-lhe e
ela própria respondia a todas. O interessante é que em
todas elas fazia questão de pedir às meninas e às
dirigentes que não deixassem de orar. Principalmente que
continuassem a se reunir, como ela fazia quando chegava
aos Abrigos e estudar o Evangelho de Kardec. Os livros
como “O Livro dos Espíritos” e o “Evangelho” não
poderiam faltar como lições importantes para que
pudessem elas ter a visão de que a verdadeira felicidade é
quando praticamos a Caridade, Lei de Amor para com
todos os semelhantes.
O tempo corrido marcava abril de 1912.
Kardec já se fazia presente em muitos núcleos
espíritas, que estavam começando a abertura para um
“novo alvorecer”.
Anália preocupava-se muito com as crianças
enjeitadas, os órfãos que eram deixados nas chamadas
“Rodas dos Expostos da Misericórdia”, que eram muito
comuns de se encontrar nas portas das igrejas e dos
conventos. Compunha-se de uma caixa giratória, onde se
costumava deixar correspondências. Com o tempo,
passaram a abandonar crianças, geralmente frutos de
ligações ilícitas ou de mães solteiras; na época, tanto um
quanto outro acontecimento eram motivos de escândalos
e de infâmias para as famílias.
Por esse motivo, Anália e seu companheiro, o senhor
Bastos, resolveram adotar todas as crianças que fossem
deixadas na Roda. Compreendiam Anália e Bastos que
seria terrível para uma criança, ao tomar conhecimento de
sua vida, saber ter sido abandonada na Roda. Com a
aquiescência jurídica, as crianças recolhidas desses
lugares recebiam a adoção do casal e passavam a ter o
sobrenome Bastos.
A respeito desse assunto, eis o resumo de uma dessas
crianças que, adulta, assim descreveu a pessoa de seu
“papai Bastos”:
“Meu nome é Maria Cândida, ex-interna do
Abrigo de meus pais: Senhor Francisco Antônio
Bastos e Dona Anália Emília Franco Bastos.
Portanto, meu nome na certidão de nascimento é:
Maria Cândida Bastos.
Fui criada com todo amor, assim como minhas
irmãs do Abrigo. Meu pai Bastos, todas as manhãs,
quando a mamãe Anália não podia, orava com
todas, buscando as bênçãos de Jesus.
Cresci admirando aquele homem pela
dedicação que tinha para todas as crianças.
Paciente, nunca o vi irritado ou brigando com algum
funcionário ou voluntário, que eram bem diferentes
uns dos outros. Ele estava sempre ao lado da
esposa, carinhoso e presente em todos os
momentos. Os dois se fundiam. Hoje, adulta e já
casada, entendo essa convivência fraterna. O que
eu mais sei é que meu pai Bastos se fazia de um
homem simples. Mas não. Ele era sábio e bom.
Posso dizer, pelo que aprendi com os dois, que a
personalidade forte e inigualável é espiritual.
Vieram para nos ensinar a sermos firmes com todos
os reveses da vida, porque eu nunca os vi reclamar
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ou desanimar. Passamos por muitos momentos
difíceis, porém, nunca nos deixaram perceber. Só
pude tomar conhecimento quando os anos foram
passando e nos tornando mais unidos, numa
enorme família.
Meu casamento, como de outras irmãs do
Abrigo, foi lindo e festivo. Vesti-me de noiva, num
belo vestido branco, confeccionado por mim e pelas
costureiras voluntárias. Aprendemos de tudo:
costurar, bordar, cozinhar, cuidar da casa, dos
quartos e das crianças pequenas. Éramos as
mãezinhas, cuidando dos pequeninos.
Aprendemos com os nosso pais a sermos felizes
com o que temos. Tenho muitas saudades de tudo.
Quem disse que, sendo criada num abrigo, repleto
de paz, amor e religiosidade, não se é feliz? Estou
casada com um ótimo companheiro, também
criado num abrigo. Espero meu primeiro filhinho.
Desejo ardentemente que ele se pareça com o avô,
o papai Bastos.
Não nos desligamos de nossas irmãs, estamos
sempre nos visitando ou escrevendo cartas. Como
fazia mamãe Anália.
Estamos em maio de 1920. Tenho muitas
saudades de mamãe Anália, pois lá no mundo
espiritual há um ano, com certeza, está a nos
cuidar, principalmente de papai Bastos que está
muito doente.
Dou por fé e testemunho
Maria Cândida Bastos”
Pouco antes da partida de Anália Franco para o mundo
espiritual, já muito doente e esgotada em seu físico, quis
dar andamento ao seu desejo de criar mais um abrigocreche na cidade de Uberaba, Minas Gerais. Ela havia se
comprometido com seu grande amigo, pessoa muito
influente na cidade de Uberaba, e que muito a ajudou
quando lá esteve, o Dr. Antônio Ribeiro, em criar um
abrigo. Dizia ele que era de suma importância, pois os
enjeitados ali eram em grande número e ele achava que o
projeto de Anália em criar esses abrigos, fazendo deles
um verdadeiro lar, era o que faltava para que as crianças
não ficassem mais ao desamparo.
Como Anália já não tinha mais saúde para tanto,
passou essa responsabilidade para sua interna amiga,
dona Clélia Rocha que, como professora, lecionando no
Rio de Janeiro e voluntária da escola maternal carioca
fundada por Anália, imediatamente deixou seu estado e
transferiu-se para Uberaba. Acompanhou o
desenvolvimento dessa obra, que foi inaugurada sem a
presença de Anália Franco, que veio a desencarnar em
São Paulo, no dia 20 de janeiro de 1919.
O velório de Anália reuniu centenas de pessoas vindas
de todas as partes do Brasil. De Portugal, onde ela várias
vezes atendeu a chamados para divulgar suas obras,
principalmente demonstrando o seu enorme carinho pelos
semelhantes, pois estava sempre levando em sua
companhia as filhas de seu coração, vieram
companheiros portugueses que homenagearam Anália
cantando em versos a admiração que o povo português
tivera para com a “dama educadora”.
A Dra. Adalzira Bittencourt proferiu palavras
emocionadas dizendo que, embora Anália e o senhor
Bastos não tivesse tido filhos, deixaram uma plêiade
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deles, com muito amor por ambos, talvez maior do que se
seus filhos biológicos fossem.
Publicou também seu livro “A Mulher Paulista na
História”, em 1954, pois era renomada escritora, onde
dedicou a obra em homenagem póstuma a Anália. Entre
vários assuntos referentes a vida dessa grande mulher,
dizia: “A sua energia e dinamismo juntavam-se a um
espírito compreensivo e meigo. As crianças a chamavam
de mãe, desde a mais tenra idade, isso porque seu
coração abrigava sempre mais, nunca dizia que a lotação
da casa estava esgotada.
Dava graças ao Pai, quando seus êxitos eram
alcançados, isso pela sua misericórdia em confiar em
suas mãos as crianças desregradas dos seios maternos.
Sempre fora simples no trajar, sem vaidades
aparentes, pois seu tempo era muito precioso. E isso
refletia em seu rosto, limpo de pinturas, trazendo a tez
clara e os olhos brilhantes como seu espírito batalhador.”
Anália Emília Franco foi jornalista, poetisa, romancista,
musicista, teatróloga, contista, conferencista, além de ter
sido a grande educadora. Um dos opúsculos escritos por
Anália em 1901, intitulado “As Preleções de Jesus”
causou muita repercussão no meio espírita, ainda
acanhado pelas pressões sofridas por outras entidades
religiosas, porque consideravam esses opúsculos como
se fora um tratado moral-filosófico de teor profundíssimo
para a época.
Anália Franco deu por toda sua vida o exemplo de que a
mulher, naquele tempo ainda não emancipada dos
preconceitos seculares, poderia ser mãe, esposa,
companheira, irmã e muito mais ativa e progressista em
todos os seus ideais humanos. Era a sua visão do futuro
feminino, que ela soube trazer para um presente precoce
da época. Por isso seu espírito pioneiro fez valer a
evolução espiritual para as mulheres. Muitas foram as que
souberam colocar na prática o aprendizado deixado por
ela, dando continuidade ao Abrigos “Anália Franco”
espalhados ainda hoje em muitas cidades e estados do
Brasil, alguns com outros nomes, mas baseados na forma
educativa de lar, deixado por Anália.
A saudade deixou profundas marcas no coração de
Antônio Bastos. Para não complicar mais seu estado
físico, continuou as tarefas deixadas por Anália. Tinha ele
o carinho das crianças que tudo faziam para deixá-lo
alegre.
Com o passar do tempo e os fatos acontecendo, o
pobre senhor Bastos começou a sentir na pele, a
maledicência das senhoras que queriam ocupar o lugar
importante na presidência da Instituição ou melhor da
“Associação Feminina Beneficente e Instrutiva”, lugar
ocupado por Anália, não para seu orgulho, mas por
necessidade, porque era daí que todo o trabalho as
creches, escolas, abrigos etc. era planificado e divulgado
aos representantes de cada instituição. Chegara aos
ouvidos do senhor Bastos que ele receberia uma cartaofício do Conselho Executivo da Associação para que ele
saísse da casa onde morava, pertencente à mesma, pois
como viúvo e tendo meninas como moradoras do mesmo
local, não ficaria bem ele permanecer junto delas. O local
teria como moradora atual a senhora Eleonora Cintra,
casada e profunda conhecedora do trabalho de sua
esposa Dona Anália Franco. Seguiu-se o final da missiva,
assinada por várias senhoras.
Bastos ficou apreensivo e dias depois a carta chega às
12
suas mãos, exatamente contendo o que lhe fora
antecipado. Não podendo ele reter as lágrimas que
desceram pelo seu cansado rosto, ele perguntava:
“— Por quê, Senhor? Por que tanta maldade? Sendo
ele um septuagenário, doente, tendo essas meninas como
filhas de seu coração e que só lhe completavam as
lacunas deixadas por sua amada Anália!”
De imediato, foi ele procurado por um escrivão que lhe
pedia deixar o imóvel, assinando um ofício, onde teria que
sair sem exigências. Bastos pediu alguns minutos para
pegar suas roupas e despedir-se das crianças que, afinal,
levavam seu sobrenome. Nem isso lhe foi permitido. Dizia
o escrivão que isso traria constrangimento para as
meninas. Diriam que ele viajaria em visita aos Abrigos e
logo retornaria. Bastos quis retrucar, mas quedou-se em
silêncio. Seria melhor assim. Pegou a mala e olhou pela
última vez aquele local que tanto representou para ele e
Anália. Por certo, ela agiria da mesma forma. Sempre fora
pacífica e desprendida da matéria. A única dor sentida era
o de acenar de longe para as crianças. Essa era a
despedida normal ensinada por Anália, dizendo que breve
voltariam. O escrivão passou um valor às mãos de Bastos,
para a viagem. Esse, recomposto, olhando friamente para
o escrivão, respondeu-lhe: “Não preciso disso. Não
precisa também falar nada. Reponha a quantia de onde
tirou, pois sei que fará falta ao alimento das meninas.”
Secamente, disse-lhe “Adeus”.
Bastos partiu para Juiz de Fora, Minas Gerais. Com a
morte de Anália e esta tendo restabelecido o recebimento
por ser professora e trabalhado como tal, Bastos recebeu
o dinheiro deixado por ela do “Montepio”. Anália já havia
começado a levantar as paredes de um abrigo que
receberia o nome de “Lar de Órfãs Anália Franco”. Com o
dinheiro em mãos e a ajuda de um casal muito amigo,
Senhor Carlos Eugênio e Dona Francisca Ramos, Bastos
terminou a obra. Novamente os revestes acontecem. A
Instituição já estava abrigando bom número de crianças.
Dona Francisca dava todo o apoio necessário a Bastos.
Porém, os recursos estavam definhando.
Quando Dona Francisca, numa manhã de domingo, foi
buscar o donativo em espécie que o açougueiro dava,
esse lhe disse:
“— Sabe, Dona Francisca, diga para “seo” Bastos que é
a última vez que dôo a carne. O pároco daqui veio ao meu
estabelecimento e disse que se eu e os outros aí dos
armazéns continuarmos a abastecer o Lar, ele, o padre, e
as católicas vão pedir para o povo não vir mais comprar da
gente, porque o “seo” Bastos tem parte com o demônio e
está maldando com as meninas. Disse até que vai falar
com os policiais.”
Dona Francisca estava pálida. Mais uma vez o pobre do
Bastos sofria as piores infâmias. Agradecendo ao
açougueiro, foi ter com o esposo e Antônio Bastos.
Colocou-os a par do acontecido.
Bastos ouviu a tudo calado. Seus pensamentos
relembravam as infâmias que Anália sofrera. Olhando
fixamente os amigos, falou:
“— Sabem o que farei? Deixarei que vocês continuem a
obra e cuidem das órfãs. Elas já os vêem como pais. Eu
partirei para o Rio de Janeiro, escreveram-me há uns dias
atrás e disseram que há por lá um boato que eu e as
meninas estávamos passando fome. E a preocupação
deles é grande porque sabem do mal que a calúnia
espalha nos corações desavisados. Não tinha eu dado
Seareiro
importância à carta, mas diante do que você contou-nos,
amiga Francisca, creio que as minhas atividades cessam
por aqui.”
Partindo para o Rio de Janeiro, ali conviveu com
companheiros de ideal que o apoiaram a viver no Lar
Anália Franco, também terminado após o desencarne de
Anália. Antônio Bastos desenvolveu junto aos
cooperadores da Federação do Rio de Janeiro vasto
trabalho assistencial com crianças e ajustes familiares.
Concretizando-se mais esse desejo de sua amada
Anália e tendo suas forças vitais abaladas, partiu esse
notável homem de bem no dia 19 de agosto de 1929, no
Rio de Janeiro.
Deixou, como Anália, grande lacuna entre amigos e
espíritas da época. Bastos, diziam aqueles que
conviveram e o conheciam, nunca se negara a dizer-se
espírita. Renegar a Doutrina entre os interesses de cada
um era normal. Por isso, Bastos e Anália muito sofreram.
Eram fiéis ao Cristo e tudo suportaram numa era em que
principalmente a mulher era subjugada aos desejos
Bibliografia
! Grandes Espíritas do Brasil - Zeus Wantuil - 1ª Edição 1969 - FEB
! Anália Franco - A Grande Dama da Educação Brasileira Eduardo Carvalho Monteiro - 1ª Edição - 1992 - Editora
Eldorado Espírita
! Anália Franco, O Anjo da Caridade - Roque Jacintho - 1ª
Edição - 1996 - Editora Luz no Lar
Atualidade
masculinos e o homem que não tivesse esse
comportamento era rejeitado pela sociedade, pois não
honrava seu potencial masculino. Certo estão juntos,
continuando a luta em transmitir nos dias atuais os
preceitos cristãos nas gerações vindouras e essas que
aqui já se encontram.
Talvez esses vanguardeiros espíritas, como muitos, já
tenham retornado à Terra com reencarnações até ocultas
em seus espíritos mais elevados, para exercerem a
caridade de não se fazerem notar, apenas procurando
reerguer criaturas comprometidas.
Deus age através dos “pobres de espírito”, para chamar
a atenção dos que se julgam intelectuais.
Estejamos atentos. Quantos vanguardeiros poderão
estar reencarnados, para continuarem a luta da reforma
individual?
Que Deus nos dê muitas oportunidades
reencarnatórias para um dia abraçarmos os mensageiros
do Bem e seguirmos com eles!
Eloisa
! Imagens:
" livros “Anália Franco, O Anjo da Caridade” e “Anália
Franco - A Grande Dama da Educação Brasileira”
" www.analiafranco.org.br/analia.html
" www.geae.inf.br/pt
" www.resende.rj.gov.br/page/foto_galeria.asp?cod=12
" www.scielo.br/pdf/hcsm/v10n2/17756.pdf
" www.unicsul.br
atualidade
Leituras
Ler?! Por quê?
Ante a abundância de letras nobres, vertidas por livros
ou periódicos do Espiritismo-cristão, talvez você se tenha
indagado e até dialogado com companheiros sobre a
razão de ver-se procurado, em mil formas diferentes, por
mensagens assinadas por Espíritos ou por irmãos de
romagem terrena.
Ponderemos, porém.
Tão logo você sustente contato com um livro ou uma
simples página escrita, a sua mente se projeta na direção
do campo espiritual escolhido pelo autor, induzindo você a
estagiar no plano mental de quem o grafou.
Esse convite é implícito ao texto.
Assim é que muitos dos que se encontram afastados do
campo da leitura construtiva, seguindo canais duvidosos,
formam a grande legião de almas compromissadas com as
Sombras, alimentando, pelas radiações fluídicas
precipitadas pelo mau texto, um verdadeiro pantanal
umbralino em torno da Terra.
Noticias de guerra o remetem a frente beligerante.
Informações de crimes o colocam na cena da
atrocidade.
A reportagem sobre o repasto de paixões vai situá-lo
diretamente na onda tenebrosa das excitações deletérias,
criando-lhe a volta uma atmosfera miasmática prejudicial.
Em oposição, a boa leitura, insistente, abundante, vai
situar-lhe a mente nos Planos Sublimes do universo,
renovando-lhes as energias combalidas, por desligá-lo
momentaneamente das zonas inferiores da existência.
Lendo uma página edificante, você contribui para a
renovação fluídica de nosso plano, criando, mesmo que
transitoriamente, em torno de si mesmo um novo mundo
espiritual, que porfia em alcançar o imo e renová-lo nos
ideais superiores do Cristianismo Redivivo.
O seu coração, aí, abre-se para um investimento.
Realmente, através de uma simples leitura construtiva,
um tesouro inestimável começa a acamar-se em sua
afetividade e, a pouco e pouco, você começa a sentir uma
quase imperceptível, porém segura, transformação para
melhor.
Por isso, você é constantemente convidado a ler
páginas nobres: para renovar-se.
Roque Jacintho
Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança”
Evangelização Infantil: ocorre em conjunto às reuniões
Reuniões: 2ª, 4ª e 5ª às 20 horas
Atendimento às Gestantes: 2ª às 15 horas
3ª e 6ª às 15 horas
Domingo às 10 horas
Rua das Turmalinas, 56 / 58
Artesanato: Sábado das 9 às 16 horas
Jardim Donini - Diadema - SP
Órgão divulgador do Núcleo de Estudos
Espíritas Amor e Esperança
Tratamento Espiritual: 2ª às 19h45
3ª às 14h45
4ª às 19h45
6ª às 14h45
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Cantinho do Verso em Prosa
cantinho
do
verso
em
prosa
O Livro Espírita
Como homenagem ao Livro Espírita, ou mais especificamente ao Livro dos Espíritos, deixaremos como
matéria especial, ao invés do “Cantinho de Verso e Prosa”, a mensagem de Emmanuel “O Livro Espírita”
contido no exemplar “Doutrina e Vida”, psicografia de Francisco Cândido Xavier / Espíritos Diversos,
comemorando-se no dia 18 de abril os 150 anos do 1º Livro Espírita, por Allan Kardec.
Livro espírita, farol
Brilhando na tempestade...
Divino clarão de sol
Nas sombras da humanidade.
Livro espírita, alimento
A estender-se nobre e puro,
Redimindo o pensamento,
Em marcha para o futuro.
Livro espírita, conforto
Às lutas da multidão,
Surgindo à feição de um porto
De paz e renovação.
Livro espírita, verdade
Sem qualquer tisna de engano,
Roteiro da caridade,
Que eleva o destino humano.
Livro espírita, mensagem
Que verte do Grande Além...
Incitando à coragem
Para a vitória do bem.
Livro espírita, alvorada
Em que a dor cala e descansa,
Procurando nova estrada
De harmonia e de esperança.
Livro espírita, lição
Do Plano Superior
Acordando o coração
Para a riqueza do amor.
O livro espírita, entretanto, emancipa a alma, nos fundamentos da
vida.
O livro científico livra da incultura; o livro espírita livra da crueldade,
para que os louros intelectuais não se desregrem na delinqüência.
O livro filosófico livra do preconceito; o livro espírita livra da
divagação delirante, a fim de que a elucidação não se converta em
palavras inúteis.
O livro piedoso livra do desespero; o livro espírita livra da
superstição, para que a fé não se abastarde em fanatismo.
O livro jurídico livra da injustiça; o livro espírita livra da parcialidade,
a fim de que o direito não se faça instrumento de opressão.
O livro técnico livra da insipiência; o livro espírita livra da vaidade,
para que a especialização não seja manejada em prejuízo dos outros.
O livro de agricultura livra do primitivismo; o livro espírita livra da
ambição desvairada, a fim de que o trabalho da gleba não se envileça.
O livro de regras sociais livra da rudeza de trato; o livro espírita livra
da irresponsabilidade que, muitas vezes, transfigura o lar em
atormentado reduto de sofrimento.
O livro de consolo livra da aflição; o livro espírita livra do êxtase
inerte, para que o reconforto não se acomode em preguiça.
O livro de informações livra do atraso; o livro espírita livra do tempo
perdido, a fim de que a hora vazia não nos arraste à queda em dívidas
escabrosas.
Amparemos o livro respeitável, que é luz de hoje; no entanto,
auxiliemos e divulguemos, quanto nos seja possível, o livro espírita,
que é luz de hoje, amanhã e sempre.
Livro espírita, tesouro
De princípios sublimados,
Alegria, pão e ouro
De todos os deserdados.
O livro nobre livra da ignorância, mas o livro espírita livra da
ignorância e livra do mal.
Emmanuel
Clube do Livro Espírita
“Joaquim Alves (Jô)”
Livro espírita, semente
Da Celeste Primavera,
Evangelho renascente
No rumo da Nova Era...
Buscando o bem de Jesus,
Espíritas, estudai!
Que o livro espírita é luz
Da bênção de Nosso Pai!
Abel Gomes
14
Cada livro edificante é porta libertadora.
Informe-se através:
" Caixa Postal 42 - CEP 09910-970 - Diadema - SP
" (11) 4044-5889 (com Eloísa)
" E-mail: [email protected]
" www.espiritismoeluz.org.br
Receba mensalmente obras selecionadas de
conformidade com os ensinamentos espíritas.
Seareiro
Terceira Idade
terceira
idade
O Caminho Certo
Se sentindo sozinha, a terceira idade busca se juntar
em locais que lhe ofereça a alegria ao lado de pessoas
que, ao chegarem à terceira idade também, se sentem
sozinhas.
São muitos que buscam na dança, nas sociedades de
amigos, que muitos bairros formaram, e que oferecem
passeios em grupos e aulas de artesanato, de culinária
etc.
Tudo isso é válido, pois o idoso precisa muito desse
convívio, mas só isso não basta. O que a terceira idade
precisa realmente é do convívio familiar, do amor e do
carinho de todos que fazem parte da sua família. É um
momento difícil em que o idoso fica frágil e dificilmente
tenta buscar o entendimento e o porquê da vida longa na
Terra.
Deus, Nosso Pai Maior, jamais nos permitiria tantos
anos de vida no físico, se não tivesse uma razão de ser.
Todos nós, vivendo ou não a terceira idade, temos uma
grande necessidade da religião, pois é ela que serve de
Tema Livre
tema
guia para nos levar ao caminho certo. É na terceira idade
que temos um pouco mais de tempo, porque aquela
necessidade de sair cedo de casa para o trabalho, para
garantir o “pão nosso” de cada dia, já faz parte de um
passado. Tendo, portanto, algumas horas vagas, é
chegado o momento de sair de casa em busca dos nossos
irmãos que vivem em asilos, hospitais ou até mesmo em
nossa própria casa, mais necessitados de visitas por não
poderem sair de casa, pois são doentes acamados, ou
têm alguma deficiência, que precisam de uma palavra de
carinho, um abraço, um sorriso e também de nosso amor.
Deus, na Sua perfeição, está sempre a amparar todos;
Ele acredita que todos nós temos a mesma capacidade de
amor, só depende do esforço de cada um. Somos espíritos
eternos e cada reencarnação é uma oportunidade que
temos de trabalhar no campo do bem, errando menos e
tendo um objetivo de crescer, sempre olhando a elevação
espiritual e acreditando na construção de um planeta
melhor para todos. Devemos ter fé porque Deus confia em
todos os seus filhos.
Geni
livre
A Brevidade da Vida
Meus amigos, hoje pela manhã abri o Evangelho ao
acaso e li uma lição que me chamou muito a atenção: ela
falava sobre a brevidade da vida carnal e como, ao vermos
nossa passagem aqui na Terra como transitória, nossas
preocupações deveriam se voltar para os valores que
levamos para a eternidade...
Quanto de nosso tempo dedicamos ao próximo? E não
precisamos ir longe, fiquemos com a família! Quando nos
lembramos de dar um bom dia na pressa de irmos para o
trabalho? Quando nos dispomos a ouvir a dor da esposa
ou do marido ou do filho no cansaço com que chegamos
do trabalho? Nos finais de semana, quanto tempo nos
dedicamos ao diálogo edificante com o qual lapidamos as
nossas arestas e fortalecemos nossos laços fraternos?
Quando a provação bate à nossa porta, quantas vezes
não nos revoltamos contra Deus, achando que fomos
abandonados? Não nos dando conta do chamado
providencial ao reajuste!
Como valorizamos o supérfluo, que deixaremos aqui,
sem nos preocuparmos com os bens espirituais e
intelectuais que levaremos para a eternidade!
Não acreditamos realmente que nossa verdadeira vida
encontra-se na pátria espiritual! Pois, se assim o fosse,
não colocaríamos a matéria em primeiro plano e sim como
instrumento para utilização na aprendizagem dos
verdadeiros valores: aqueles que o Cristo veio nos trazer.
Trataríamos com mais seriedade a nossa reforma
íntima, pela qual assumiríamos o orgulho, o egoísmo, a
vaidade e os vícios tão arraigados dentro de nós,
substituindo-os pouco a pouco pelas virtudes e
sentimentos ensinados no Evangelho.
A evolução é lei divina e nós somos dotados de livrearbítrio; portanto, dependerá unicamente do esforço de
cada um o despertar para os valores da vida eterna.
Guilherme
Material consultado: O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan
Kardec, tradução Roque Jacintho - Capítulo XVI, item 12 - Luz no Lar
Banca de Livros Espíritas “Joaquim Alves (Jô)”
Livros básicos da Doutrina Espírita.
Temos os 414 livros psicografados por Chico
Xavier, romances de diversos autores, revistas e
jornais espíritas. Distribuição permanente de
edificantes mensagens.
Órgão divulgador do Núcleo de Estudos
Espíritas Amor e Esperança
Praça Presidente Castelo Branco
Centro - Diadema - SP
Telefone (11) 4043-4500 com Roberto
Horário de funcionamento: 8 às 19h30
Segunda-feira à Sábado
15
Kardec em Estudo
kardec
em
estudo
Fazer o bem sem ostentação
O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capitulo XIII
“Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” - Item 3
“Fazer o bem sem ostentação é um grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais meritório.
Esta conduta é o sinal de uma grande superioridade moral. ...”
Fazer o bem é dever de todos nós. Agradecer pelo bem
recebido é obrigação para que não nos tornemos ingratos.
Porém, não podemos esperar nada em troca pelo bem
que realizamos. Porque quem espera algo em troca
significa que está mais preocupado com a vida presente,
com o reconhecimento humano do que com aquilo que é
realmente importante: “a aprovação de Deus”.
Diariamente temos inúmeras oportunidades de praticar
o bem, possuímos diversas ferramentas para fazê-lo, no
entanto desperdiçamos a ocasião porque somos levados
pela preguiça, pela má-vontade ou porque aparentemente
ninguém iria ver aquela boa ação.
Que engano imaginar que estamos sozinhos! Mesmo
nos momentos onde só vemos a nossa presença, nos
encontramos sempre cercados por inúmeros espíritos,
ávidos pelos nossos exemplos, e aí está o momento para
demonstrarmos que estamos mudando, fazendo o bem
sem ostentação, sem esperar nada em troca,
independente para quem quer que seja; quando surge a
oportunidade, devemos aproveitá-la para ajudar,
aprender e ensinar.
Lembremos sempre: Deus tudo vê.
Clube do Livro
clube
“Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita”
representa que toda e qualquer ação precisa ser realizada
com humildade, de forma modesta, sem gerar rancor,
melindre ou qualquer tipo de mágoa moral para o
beneficiado.
Aquele que pratica o bem com ostentação, isto é, se
exibindo, está alimentando o seu orgulho e sua vaidade.
Aquele que humilha a quem ajudou, que cobra pelo
benefício realizado, também representa inferioridade
moral, e para todos estes, o bem que praticaram não tem
nenhum valor diante de Deus e suas recompensas são
terrenas e fúteis.
O verdadeiro bem é silencioso, é feito pela satisfação
que se sente no ato de ajudar, sabe se colocar no lugar do
beneficiado, não pede atenção por aquilo que realizou,
fica agradecido pela oportunidade que Deus lhe
proporcionou e é o maior beneficiado pelo bem que
praticou.
Praticando o bem sem ostentação, estamos nos
ajustando para a vida futura.
Silvana Gimenez
Material Consultado: O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan
Kardec - Tradução Roque Jacintho - Luz no Lar - 2004
do
livro
Amor e Renúncia
Traços de Joaquim Alves
No mês de dezembro, os associados do Clube do Livro
têm a oportunidade de receber uma obra desenvolvida
recentemente, março de 2006, que vem a relatar a
Biografia de um grande trabalhador do movimento espírita
que tem estado esquecido entre grande parte dos
simpatizantes da Doutrina.
Relata o caminho e as razões ao qual Joaquim Alves foi
encaminhado ao espiritismo, o início de seus trabalhos e a
ligação que desenvolveu ao decorrer de sua jornada com
inúmeros trabalhadores do mundo espiritual.
Também relata sua grande ligação com Chico Xavier,
seu reconforto nas cartas psicografadas por Chico vindas
de sua mãe Maria do Rosário. O livro traz vários modelos
das cópias de cartas escritas manualmente.
Traz seus gostos pelos trabalhos artísticos e o prazer
que sentia em preparar modelos de capas de livros para
muitos amigos que participavam ativamente de diversos
16
trabalhos dentro do
ideal espírita.
Além de Chico
X a v i e r, g r a n d e
amigo, mostra um
pouco do seu
trabalho ao lado de
g r a n d e s
Nena Galvez
companheiros(as)
Editora CEU
como Yvonne Pereira, Wallace Leal (na
154 páginas
redação do jornal “O Clarim”), Clóvis
Tavares, Divaldo Pereira Franco, José
Herculano Pires e Pietro Ubaldi.
E, completando o trabalho, ainda nos traz o relato das
visitas de Joaquim Alves, já no mundo espiritual, ao
companheiro Chico, antes de seu desencarne, trazendo,
além da alegria do reencontro, a confirmação da
Seareiro
continuidade dos seus trabalhos no mundo espiritual,
onde Jô (como era conhecido pelos amigos) assumira a
direção de uma Casa Transitória ao lado de companheiros
que conhecera no plano físico.
Todos os relatos foram presenteados à Senhora Nena
Galvez, Diretora do Departamento Espiritual do Centro
Espírita União (CEU), pela família de Joaquim Alves, após
Contos
a sua partida para a Pátria Espiritual.
Diante do desenvolvimento de uma tarefa especial e o
esforço de muitos companheiros da Doutrína, fica
registrado o resumo do trabalho de um espírito elevado e
seus exemplos para que possamos entender o verdadeiro
sentido da vida.
Marcelo / Rosangela
contos
poderia achar ruim.
O menino deu-lhe o nome de Tito. Desde esse dia
ficaram inseparáveis, André e o coelhinho e Osvaldinho
e Tito.
Brincadeiras não faltavam. O coelho havia se adaptado
ao cachorro, que quando chamavam Tito, o coelhinho
também corria a atender, pois tinha ciúmes do cachorro
com os meninos.
Certo dia estavam os meninos brincando com os
carrinhos na calçada, quando um gato passa correndo por
eles e atravessa a rua. O coelho e Tito também
acompanhavam as brincadeiras dos meninos, mas
quando viram o gato, correram atrás dele. Quando o gato
viu que estava sendo perseguido, parou e encrespando os
pêlos avançou ferozmente sobre Tito. O coelhinho, vendo
seu amiguinho ameaçado, pulou em cima do gato, mas
esse rapidamente derrubou o coelho e arranhou-lhe todo o
corpinho. Tito desesperado mordeu a orelha do gato, mas
o gato ligeiramente saiu em desabalada corrida, deixando
Tito lambendo o pobre coelhinho que estava todo
machucado.
Os meninos, após a briga ter terminado, correram para
acudir os bichinhos, pois antes ficaram com medo de se
aproximar. André abraçado ao seu animalzinho chorava
tentando reanimá-lo. Tito
acompanhou seu dono,
Osvaldinho, que entrara
correndo para que a mãe viesse
socorrê-los. Ela e dona Flora, a
avó, ao tomarem conta da
situação cuidaram do coelhinho,
limpando os arranhões que
estavam por todo o corpo do
animalzinho.
Apesar de todos os cuidados,
como o coelhinho não
melhorava, Dona Flora, a avó de
Osvaldinho, levou o bichinho para o veterinário, pois ele
não se apresentava bem. Tito não saía da casa de André,
ficava o tempo todo lambendo o coelhinho, parecia que ele
queria agradecer o amiguinho por ter se colocado em
defesa de sua vida.
O coelhinho fora medicado e o veterinário chamando os
meninos que haviam acompanhado dona Flora, falou-lhes
que por pouco o coelhinho não morrera, pois se não
tivesse sido socorrido a tempo, os arranhões teriam
causado uma infecção grave ao coelhinho, porque as
patas com as garras afiadas do gato contêm bactérias, isto
é, bichinhos que podem trazer graves doenças. Disse
ainda o veterinário, que isso pode acontecer com animais
O cachorro e o coelho
Osvaldinho e Tito eram inseparáveis. Companheiros
em todas as brincadeiras.
Tito era o fiel cãozinho que Osvaldinho ganhara de sua
avó no dia de seu aniversário, quando ele completou 5
anos.
Seus pais não gostaram muito desse presente, mas
Osvaldinho vivia reclamando que todos os seus
amiguinhos tinham um animalzinho, só ele não tinha o que
contar das possíveis artes do bichinho, porque seus
bichinhos eram de brinquedo.
E todos os dias quando sua mãezinha o levava para o
quarto e orava com ele antes de dormir, assim que falava
“assim seja”, Osvaldinho já falava da vontade que tinha em
possuir um bichinho.
Certo dia, pouco antes do jantar, ele entra chamando
pelos pais e pela avozinha que jantaria com eles naquela
noite e ouvindo os chamados tão insistentes, correram até
a sala e viram o menino acompanhado do André, seu
vizinho, que trazia nos braços um coelho. As crianças
estavam eufóricas e Osvaldinho falava:
— Está vendo mamãe, o pai
de André deu-lhe esse lindo
coelhinho de presente, veja
como ele é lindo, é tão
malhadinho...
E pulava de lá para cá
passando as mãos no
coelhinho, que estava
assustado e procurava se
esconder nos braços de André.
A mamãe de Osvaldinho,
embora achando o animalzinho
muito lindo, dizia que de
maneira nenhuma queria aquele bicho em casa. Daria
muito trabalho!
Dona Flora, a avó do menino, vendo-o com os olhinhos
rasos de lágrimas propôs:
— Meu netinho, você ficaria contente se eu lhe desse
um cachorrinho?
Osvaldinho, agarrou-se às pernas da avó e beijou-lhe
as mãos:
— Que bom, vovó, daí o meu cachorrinho será amigo do
coelho igual a mim e ao André, não é, vovó?
Embora os protestos da mãe do menino, dona Flora, no
dia seguinte, trouxe-lhe um lindo cãozinho, pelo seu
aniversário, pois dessa forma a mãe de Osvaldinho não
Órgão divulgador do Núcleo de Estudos
Espíritas Amor e Esperança
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ou com gente, por isso seria importante que os meninos
tivessem muito cuidado, mesmo com os animaizinhos
como eles que tinham em casa, o coelho e o cachorro.
Voltando para casa, dona Flora, com carinho, passando
as mãos nas orelhas de Tito que observava atento o
coelhinho dormindo no colo de André, dizia para os
meninos:
— Vejam meus filhos, que bela lição de amizade esses
animaizinhos nos deram. Esse acontecimento nos faz
pensar que o amor sincero não escolhe idade e nem tem
preferências. E vejam que os animais são chamados de
Sonhos
irracionais, quer dizer, que não sabem raciocinar e nós
seres humanos, que sabemos o que fazemos, muitas
vezes agimos com maldade, batendo, ofendendo,
maltratando as pessoas sem respeito e sem educação.
Esse reconhecimento, meus filhos, que assistimos entre
esses bichinhos chama-se “amor ao próximo”.
André e Osvaldinho abraçaram Dona Flora, enquanto
Tito que parecia entender tudo o que a vovó dissera,
pulava e latia como que dizendo de sua alegria, por ver que
tudo estava bem.
Elielce
Imagem: www.homemsonhador.com/CachorroCoelho1.jpg
sonhos
Previsão do desencarne nos sonhos.
É possível ?
É possível a previsão de fatos durante o desenlace
parcial da matéria, ou seja, no sono, uma vez que o
espírito, liberto da matéria, não mais enxerga com os olhos
da carne, favorecendo-se de uma percepção sensorial
mais apurada.
Prever = Dizer de antemão, com antecedência,
previamente.
Nestes instantes, as lembranças vêm à tona e podemos
nos fortalecer ao depararmos com os nossos verdadeiros
objetivos e compromissos a saldar, desde, é claro, que
saibamos bem aproveitar estes momentos de
emancipação da alma.
Assim também, pode ocorrer durante o sono, a
possibilidade de se pressentir a época do desencarne. Não
é fato corriqueiro, nem necessário, pois não temos
equilíbrio para sabermos do futuro em vida, o que dirá
numa vida em outras faixas, ou seja fora desta vida
presente!
Família
Provavelmente, nos desesperaríamos e morreríamos
antes do momento aprazado, antecipando o fato previsto.
Há todo um programa de existência para cada ser
reencarnante, e nesse programa há também o tempo em
que durará a encarnação. Desde que não mudemos a rota
de nossa vida, prejudicando a saúde ou praticando atos
que aceleram o desencarne, ou ainda, se não houver fatos
novos que determinem mudança no programa (isto de
acordo com o entendimento da espiritualidade maior),
haverá a possibilidade de visualizarmos em sonho a época
programada para o desenlace da matéria, o desencarne.
Dependendo da consciência dessa visão, o homem, ao
despertar, terá nítida percepção de quando o fato se
concretizará.
Isso explica algumas passagens relatadas na história,
em que o indivíduo, durante o sono, teve acesso a tais
informações de maneira a conseguir guardá-las
conscientemente em sua memória.
Rosangela
familia
Paciência, renúncia e boa vontade
Qual é o trabalho mais difícil: construir um edifício de
vários andares ou manter a paz familiar?
Ambas são tarefas árduas, sendo que o edifício só
envolve o aspecto material, já a família temos que usar o
que vai em nosso Espírito.
É por esta razão que nos recomendam os amigos
espirituais que, dentro de nosso lar, junto de nossos
familiares, tenhamos paciência, renúncia e boa vontade.
A paciência é o ingrediente que temos que tirar das
mais profundas fibras de nosso Espírito.
Já nos alerta o Evangelho que na família Deus reúne os
Espíritos que têm necessidade da reconciliação.
São os desafetos de vidas passadas que retornam
como pais, mães, filhos, esposa(o), etc., para que o
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convívio mais próximo possa fazer nascer a tolerância, o
entendimento, o respeito e, quem sabe, o amor, pondo um
freio aos rancores, mágoas e ódios fermentados no
Espírito por tantos séculos.
Convenhamos que relutamos muito antes de declarar
que odiamos um familiar próximo. Esta é a função da
família. Refazer os laços que ligam as criaturas,
modificando-os de ódio para amor.
Na prática, para que este benefício seja efetivo,
precisamos ter muita paciência para com aqueles
familiares mais difíceis, que insistem em nos “cutucarem”
com insinuações e “alfinetadas” sempre que podem.
Lembremos que muitos já tiveram paciência conosco
também e, se já entendemos que não devemos dar razões
Seareiro
para discussões e intrigas, eles ainda não chegaram a
este entendimento. Tenhamos paciência e não revidemos.
Oremos por eles.
A renúncia é sublime.
Quando Jesus mencionou o “honrarás a teu pai e a tua
mãe”, ele também incluía aí a renúncia, pois honrar não é
somente respeitar. “Será procurar dar-lhes repouso na
velhice. Será cercá-los de atenções assim como eles
fizeram por você na sua infância.” (O Evangelho Segundo
o Espiritismo)
Por estas palavras podemos analisar que aos pais
velhinhos que necessitam de cuidados especiais
devemos renunciar aos nossos planos e desejos para
atendê-los.
A Justiça Divina cobra a violação desse mandamento.
Quanto não renunciamos por nossos filhos? Deixamos
festas e passeios para podermos dar mais atenção e
carinho para a criança que espera de nós este momento
de atenção.
Hoje vemos meninas de até 11 anos sendo mães.
Esta renúncia será pesada para elas que não têm uma
formação moral e espiritual completa, pois nem chegaram
à adolescência.
Aprendamos a renunciar em favor dos nossos
familiares e deixemos o reconhecimento com Deus.
A boa vontade é o laço que une a paciência e a
renúncia, porque este é o sentimento que nos impulsiona
Livro em Foco
livro
a fazer de tudo pelo bom relacionamento com os nossos
familiares.
Temos sempre na família aquela pessoa que está
sempre disposta a fazer tudo, com alegria e disposição
que nos contagia. Gostamos dela e a procuramos sempre
que queremos realizar algo e precisamos de apoio. Por
que não sermos assim também?
Para completar a construção da paz familiar devemos
harmonizar o ambiente, lembrando de fazer o Culto do
Evangelho no Lar com os nossos familiares (ou até
sozinhos). Esta é uma oportunidade bendita para
conversarmos amigavelmente sobre os ensinamentos de
Jesus.
As sábias palavras de Emmanuel nos esclarecem e
orientam:
“Cultiva o trabalho constante, o silêncio oportuno, a
generosidade sadia e conquistarás o respeito dos outros,
sem o qual ninguém consegue ausentar-se do mundo em
paz consigo mesmo.”
Busquemos nos ensinamentos do Mestre a inspiração
e a diretriz, lendo mais e refletindo sobre o nosso papel
dentro do nosso lar.
Família equilibrada e ambiente doméstico tranqüilo
requerem de nossa parte muito esforço, atenção e
dedicação. Façamos a nossa parte na construção deste
edifício e confiemos no amparo de Jesus.
Wilson
em
foco
Migalha
Esta é uma pequena
grande obra de Emmanuel,
psicografada por Chico
X a v i e r, p e q u e n a n o
tamanho, porém de grande
profundidade moral e
espiritual.
É como um remédio
homeopata
q u e,
administrado em pequenas
doses, desintoxica e cura
sem efeitos colaterais.
Ajuda-nos de maneira
eficaz na nossa reforma
íntima, pois cada lição é como gotas homeopáticas que
vão direto nos nossos pontos adoentados como orgulho,
vaidade, etc., mostrando-nos a necessidade de nossa
vontade e disciplina, orientando-nos que, aos poucos,
todos poderemos colher bons frutos no futuro, começando
hoje no preparo de nosso terreno íntimo, para que
germinem as sementes deixadas pelo nosso Pai, dentro
de cada um de nós, e exemplificadas pelo nosso Mestre
Jesus que, junto com o Plano Espiritual Superior, nunca
nos abandonam e confiam em nós.
Logo, vamos levar conosco esta obra, a qual pode ser
um livro de bolso, podendo ser lido desde o amanhecer,
passando pelo nosso dia e terminando no nosso
Órgão divulgador do Núcleo de Estudos
Espíritas Amor e Esperança
Francisco Cândido Xavier /
Emmanuel
UEM - 52 páginas
descanso, no fim do dia.
Como diz o próprio título, “Migalha”, parece ser tão
simples e tão pequena, porém se formos juntando as
migalhas do dia a dia, teremos logo o correspondente a
uma fatia de pão e, na persistência, teremos um pão, o
qual pode ajudar a amparar um faminto.
Seguem alguns trechos desta grande obra:
“Peçamos ao Senhor que nos sustente as forças na
desincumbência dos compromissos assumidos”.
“...— Amado Mestre, por que não te compadeceste de
mim, se te entreguei toda a minha confiança.”
“...— Ah! Bendito companheiro de minh`alma, por que
não te compadeceste de mim, que te espero com tanto
amor?”
“Convençamo-nos de que não existem corações de
mármore e, sim, corações retalhados de dor.”
“Dor que tires dos outros, prova de que te afastas.”
“Aproveita as tuas oportunidades de trabalho.”
“Quando a sombra te envolver, Deus te ilumine a
estrada.”
“Não faças julgamentos de supostos culpados. O que o
Céu quer saber é o que fazes no bem.”
“Quem para de discutir, começa a compreender.”
“Angústia e depressão? Não desperdices tempo...
Ama, serve e perdoa. Foge à tristeza inútil.”
“O que deres aos outros é o que terás contigo.”
Família Amado
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Reintegrado no serviço postal em ___/___/___
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síndico
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