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Escola de Gestores da Educação Básica Relato de uma experiência Presidente da República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário Executivo José Henrique Paim Fernandes Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Reynaldo Fernandes Diretora de Tratamento e Disseminação de Informações Educacionais (DTDIE) Oroslinda Maria Taranto Goulart Escola de Gestores da Educação Básica Relato de uma experiência Lia Scholze Fernando José de Almeida Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida (Organizadores) Tarso Genro Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo Nelson Morato Pinto de Almeida Celso Vallin Solange Vera Nunes de Lima D’Água Leila Lopes de Medeiros Francesca Vilardo Lóes Rosângela de Abreu Amadei Duarte Lígia Cristina Bada Rubim Patrícia Passos Gonçalves Palácio Maria Elisabette Brisola Brito Prado Flávio Sapucaia Maria da Graça Moreira da Silva Brasília-DF Inep 2007 Coordenadora-Geral de Linha Editorial e Publicações (CGLP) Lia Scholze | [email protected] Coordenadora de Produção Editorial Rosa dos Anjos Oliveira | [email protected] Coordenadora de Programação Visual Márcia Terezinha dos Reis | [email protected] Editor Executivo Jair Santana Moraes | [email protected] Revisão / Normalização bibliográfica Zippy Comunicação Ltda. Projeto gráfico Marcos Hartwich | [email protected] Diagramação e arte-final Niepson Ramos Raul | [email protected] Tiragem 1.000 exemplares Editoria Inep/MEC – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Anexo I, 4º Andar, Sala 418 CEP 70047-900 – Brasília-DF – Brasil Fones: (61)2104-8438, (61)2104-8042 Fax: (61)2104-9812 [email protected] [email protected] Distribuição Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Anexo II, 4º Andar, Sala 414 CEP 70047-900 – Brasília-DF – Brasil Fone: (61)2104-9509 [email protected] http://www.inep.gov.br/pesquisa/publicacoes A exatidão das informações e os conceitos e opiniões emitidos são de exclusiva responsabilidade dos autores. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Escola de gestores da educação básica : relato de uma experiência / Lia Scholze, Fernando José de Almeida e Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida (Organizadores) ; Tarso Genro ... [et al.]. – Brasília : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007. 243 p. ; il. ISBN 85-86260-50-9 1. Educação básica. 2. Gestão escolar. 3. Formação de gestores. 4. Qualidade do ensino. I. Scholze, Lia. II. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. CDU 37.014 Sumário Apresentação Projeto Piloto Escola de Gestores – uma experiência bem-sucedida Tarso Genro...........................................................................................................................................7 Relato 1 A gestão de uma nova escola nos tempos das novas tecnologias Fernando José de Almeida................................................................................................................11 Relato 2 Resgate histórico de uma experiência de formação de gestores educacionais Lia Scholze..........................................................................................................................................27 Relato 3 O compromisso da formação e da atuação do gestor escolar: qualidade com tecnologia Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida.....................................................................................61 Relato 4 O gestor escolar em uma sociedade em mudança Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo...............................................................................85 Relato 5 Documentação do Curso Piloto Nelson Morato Pinto de Almeida.................................................................................................105 Relato 6 Escola de Gestores: o curso na ótica do professor Celso Vallin......................................................................................................................................127 Relato 7 Os guerreiros da escola pública no curso piloto Escola de Gestores Solange Vera Nunes de Lima D’Água.......................................................................................143 Relato 8 A formação de Gestores Escolares em EAD e a gestão de mídias na escola Leila Lopes de Medeiros / Francesca Vilardo Lóes.................................................................157 Relato 9 Monitoria em educação a distância: apoio e interlocução no processo ensino-aprendizagem Rosângela de Abreu Amadei Duarte.........................................................................................171 Relato 10 Atendimento em larga escala: implantação e manutenção da rede de conhecimentos entre os envolvidos Lígia Cristina Bada Rubim / Patrícia Passos Gonçalves Palácio..........................................185 Relato 11 A formação na ação: abordagem pedagógica do Curso Piloto da Escola de Gestores Maria Elizabette Brisola Brito Prado........................................................................................201 Relato 12 Ferramentas de acompanhamento do ambiente virtual: contribuições aos projetos de educação a distância Flávio Sapucaia / Maria da Graça Moreira da Silva...............................................................213 Relato 13 A formação a distância dos cursistas-gestores Maria da Graça Moreira da Silva...............................................................................................223 Sobre os Autores ...................................................................................................................................241 Apresentação Projeto Piloto Escola de Gestores – uma experiência bem-sucedida Tarso Genro* Entre as iniciativas desenvolvidas durante os últimos três anos do governo do Presidente Lula e sob a atual administração do Ministro Fernando Haddad para alcançar a qualidade no ensino fundamental podemos citar: o acréscimo de um ano de escolaridade; o repasse de recursos para a requalificação profissional dos educadores por meio de educação a distância e presencial; a oferta de licenciatura a professores que necessitem concluir sua formação, pois 60% desses profissionais não concluíram o ensino superior; e a formação dos diretores das escolas por meio da criação da Escola de Gestores. * Relato de uma experiência Ministro de Relações Institucionais. Esteve à frente do Ministério da Educação no período de implantação do projeto (2003-2005). 7 As atuais discussões sobre gestão escolar têm como dimensão e enfoque de atuação, a mobilização e a articulação das condições materiais e humanas para garantir o avanço dos processos socioeducacionais, priorizando o acesso ao conhecimento e o aperfeiçoamento das relações internas e externas da escola. O objetivo final da gestão é a garantia dos meios para a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos. Parte-se da noção de que não é apenas na sala de aula que se aprende, mas em todos os espaços da escola, e que todos os membros da comunidade escolar têm responsabilidade pelo aprendizado do aluno. É necessário que a escola seja, em seu conjunto, um espaço favorável à aprendizagem, e a garantia de que ela se efetive depende, em boa medida, da atuação do diretor. Deve-se criar na escola um ambiente de efervescência em busca do conhecimento, de curiosidade em relação ao mundo, e os professores são os intermediários dessa busca. São eles que deverão procurar capturar o conhecimento que circula na sociedade e trazê-lo para dentro da escola, interagindo com essa mesma sociedade, recuperando o papel da escola na formação dos indivíduos e da coesão social. Pensando a partir dessas questões, o Projeto Piloto da Escola de Gestores foi desenvolvido tratando de duas questões básicas, ou seja, o conceito de gestão escolar em uma perspectiva não puramente administrativa, porém contando com o diretor da escola como parceiro no projeto plural de nação que está sendo construído e no qual a escola tem papel fundamental, e a necessidade de o diretor assumir cada vez mais a função de líder comunitário. Além disso, pretendeu desenvolver a 8 Escola de Gestores da Educação Básica idéia da criação de uma rede de troca de experiências entre os participantes, possibilitando a busca de soluções dos problemas que eles enfrentam no cotidiano de suas escolas. O modelo de escola, nessa perspectiva, deixa de ser estático para assumir um paradigma dinâmico, descentralizado e democrático, que poderá ajudar a definir os rumos necessários para reverter os quadros dramáticos apresentados pelo Censo Escolar e pelo Saeb.1 A experiência vivida nesse tipo de escola permite ao aluno passar a ser um cidadão participativo da sociedade, uma vez que o conhecimento construído na troca e na participação constitui-se valor estratégico para o desenvolvimento da sociedade e condição importante na qualidade de vida das pessoas. O diretor pode e deve assumir a condição de dirigente desse movimento, considerando o caráter de pluralidade cultural da escola pública, administrando as controvérsias que nela se manifestam e estabelecendo uma rede de relações entre alunos, professores, funcionários e pais e comunidade do entorno da escola. A participação da comunidade como co-gestora, por meio dos conselhos escolares e da comunidade escolar, na construção do projeto político-pedagógico, no gerenciamento financeiro dos recursos da escola, na definição das relações que 1 Relato de uma experiência Saeb é o Sistema de Avaliação da Educação Básica desenvolvido pelo Inep que pretende medir as competências e habilidades do estudante brasileiro em relação à língua portuguesa e à matemática. 9 a escola tem com seus alunos e com a própria comunidade, como bem público e a serviço desse mesmo público, é fundamental, passando à condição de centro dinamizador da comunidade. O termo público deve ser entendido no sentido de apropriação republicana, na qual o cidadão se integre como sujeito ativo da escola e diga o que dela espera. Sob a coordenação do Inep, por ser um instituto de pesquisa integrando diferentes Secretarias do MEC, como a Secretaria de Educação a Distância, a Secretaria de Educação Básica e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, e contando com a participação da União de Dirigentes Municipais de Educação, das Secretarias Municipais e Estaduais de Educação e universidades, foram envolvidos 400 diretores de escolas básicas em um curso de 100 h/a desenvolvido por meio de cinco módulos presenciais e a distância, por intermédio do ambiente colaborativo do MEC e-ProInfo. Pela primeira vez o MEC assumiu a responsabilidade de formar os diretores, porque acredita que sua atuação irá ajudar a transformar a educação brasileira em uma educação significativa e de resultados para os estudantes. Este livro traz a público um breve apanhado do que foi essa relevante experiência democrática e republicana de educação. Temos aqui registrados diferentes olhares dos atores que atuaram nessa primeira etapa. Através de um constante esforço de qualificação, espera-se que este projeto ganhe a dimensão que as urgentes necessidades demandam e que esse piloto seja o embrião da instalação de uma política de formação para esse segmento, que é de vital importância dentre tantas outras iniciativas que compõem a revolução que está sendo implantada na gestão do Presidente Lula para a educação. 10 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 1 A gestão de uma nova escola nos tempos das novas tecnologias Fernando José de Almeida Agora temos todas as crianças dentro da escola. Pronto! Partimos do princípio de que no nosso País algo diferente – e bom – está acontecendo. Vamos partir de dados simples, quase grosseiros, mas significativos. Em 1950, 82% da população brasileira não tinham nenhuma escolaridade. Éramos então 30.129.000 brasileiros. Em 2005, essa cifra baixou para 16%, os que nunca tiveram nenhuma escolaridade. A melhoria meramente numérica é de 510%. Diriam os mais pessimistas: “Demoramos muito para começar a resolver esse compromisso com a população de nosso País”. Diriam os que querem fazer algo para que essa taxa de escolarizados chegue a 100%: “Agora chegou a nossa vez de trazer para a escola todos os brasileiros e dar-lhes uma educação de qualidade”. Mas o nosso artigo não quer opor otimismo a Relato de uma experiência 11 pessimismo antes de trazer alguns outros dados que são mais duas constatações numéricas. Em 1950, estava na escola, entre alunos da educação infantil, do ensino fundamental e do atual ensino médio, apenas 17,2% da população. Isso quer dizer que de 30.249.000 brasileiros, apenas 5.504.000 freqüentavam a escola nessas três modalidades. Em 2000, 80% está na escola nesses graus escolares. Como a população brasileira nesses 50 anos cresceu para 120 milhões, significa que a escola atende hoje 96 milhões de alunos. Embora estejamos em retardo com relação à maioria dos países do mundo, temos que pensar nas dificuldades de infra-estrutura que tal crescimento da população causou. O crescimento é da ordem de 17,5 vezes. Ou seja, para cada escola, na década de 50 do século XX, 17 outras escolas deveriam ter sido construídas para dar conta do total de alunos. Para cada professor de matemática, português, química ou física, ou para cada alfabetizador, 17 outros teriam que ser formados. Para cada diretor, 17 diretores novos e competentes deveriam ter sido formados e estar à disposição das escolas. Será que as escolas e os laboratórios para sua formação foram construídos e os currículos foram adequados a tantas mudanças?1 1 12 www.inep.gov.br Escola de Gestores da Educação Básica Além do mais, como foi a qualidade do crescimento da população e do desenvolvimento do País nesse tempo? Harmônico, igualitário, com aumento de renda para todos, com controle sobre a evasão do campo, com criação de infra-estrutura para as cidades, com políticas de distribuição justa de renda? A análise do crescimento da escola pública brasileira só pode ser feita a partir desta equação: a variável do crescimento da população com a variável do desenvolvimento econômico. Por que trago isso em um livro sobre gestão da escola e tecnologia? Porque é preciso evitar a tentação fácil na qual caem os educadores, muitos economistas e analistas aligeirados, e principalmente nós gestores, de enfrentar as dificuldades de nossas tarefas sem distribuí-las com os demais atores sociais que fazem parte da solução. Explico. A escola tem recebido nos últimos 30 anos inúmeras incumbências que lhe cabem apenas parcialmente. Parte das tarefas da educação religiosa, educação sexual, educação para o controle de doenças recaem sobre a escola (enquanto escrevo este artigo estou na África, em Moçambique, e vejo nas teses de meus alunos – professores de escolas públicas – repetir-se esse quadro de atribuição de inúmeras tarefas sociais à escola, já tão sobrecarregada de problemas, como o combate à Aids, a conscientização sobre a devastação do meio ambiente, como as queimadas, sobre o controle da malária, a educação para o trânsito, entre outras). E por que denuncio isso? Relato de uma experiência 13 Por dois motivos. O primeiro é que muitas dessas tarefas ditas educativas – e o são de fato, conforme seu encaminhamento – são de responsabilidade primeira da família, ou de órgãos da sociedade civil ou do Estado, dos partidos políticos, assim como o são das igrejas ou dos setores produtivos. Está sendo muito cômodo para tais setores descomprometerem-se de suas tarefas e atribuírem à escola a sua resolução. Um exemplo típico é que as famílias descomprometem-se até da educação religiosa dos filhos pelo fato de os terem em escolas religiosas. O segundo motivo é que ensinar a ler, escrever, contar, despertar a curiosidade científica, fazer ciência embrionária, mostrar os valores da literatura e da cultura, apresentar os rigores dos códigos lingüísticos, estabelecer os elementos básicos do diálogo lógico, todas essas tarefas não serão cumpridas por outros agentes sociais – a não ser de modo informal e fragmentado. E mais. A eficácia de tais resultados será cobrada da escola, sem desculpas. A escola brasileira – assim dizem quase todas as pesquisas estampadas nas primeiras páginas dos jornais – é de péssima qualidade, pois produz analfabetos funcionais, e seus rendimentos matemáticos, lingüísticos e científicos encontram-se entre os menores do mundo. Ora, essa missão, que é nossa de verdade, é intransferível nessa hora, mas compartilhada em outras. É dessa armadilha que, como gestores, devemos escapar. Claro que minha afirmação não tem no fundo o descompromisso da escola com a realidade que a rodeia. Ao contrário. É parte intrínseca de seu projeto políticopedagógico (PPP), anualmente refeito, conter um amplo diagnóstico da realidade da 14 Escola de Gestores da Educação Básica vida de seus alunos, da comunidade que a cerca, da região que a abriga, do seu solo pátrio e das grandes questões mundiais, como a fome, a paz, a luta contra a discriminação, etc. Mas como esse planejamento entra no seio das disciplinas, do currículo, das metodologias, dos planos didáticos e das práticas de seus alunos, professores, funcionários e gestores? Certamente tais compromissos com a sociedade em forma de contribuições na área da saúde, sexualidade, preservação ambiental, entre outras, não se darão pela introdução de conteúdos curriculares com cargas horárias específicas no dia-adia dos alunos. Isso pode e deve ser feito com filosofia, história, português, matemática, ciências e suas linguagens e códigos, mas não com as diferentes temáticas sociais que não constituem áreas epistemológicas do saber. Elas são, sim, áreas da vivência humana nas quais as várias áreas epistemológicas se banham. Sendo assim, na literatura, pode-se tratar da sexualidade, do afeto, do respeito, da relação construtiva entre pessoas, não sendo necessário abrir um espaço para uma temática específica da educação sexual que não é outra coisa senão a educação para o afeto e para o relacionamento humano. Claro que a biologia, a química, a poesia, a higiene e as condições econômicas interferem e compõem a sexualidade, mas ela não se reduz a nenhuma delas. É como se o conhecimento dos aparelhos reprodutores fosse suficiente para garantir a educação sexual. Assim vale para a preservação ambiental, que não é um campo específico da geografia ou da biologia, mas é uma responsabilidade interdisciplinar da matemática, da história, da literatura, Relato de uma experiência 15 da botânica ou da poesia. É por isso que as redações, mesmo que de textos poéticos ou dissertativos, podem falar da preservação ambiental, assim como um texto literário encomendado aos alunos pode falar da cidadania, do trânsito ou da sexualidade, no sentido da transcendência que se dá na história, em um espaço cultural ou geográfico. A física é política, assim como a matemática é lúdica, assim como a natureza tem sua linguagem. E o que isso tem a ver com o trabalho dos gestores? Todas as novas encomendas que a sociedade faz à escola são tarefas para seus dirigentes enfrentar, por meio de um corajoso diagnóstico, e verificar com os professores e educadores da sua escola, e também com a comunidade, como tais apelos são atendidos no interior do currículo, por meio de projetos. O ensino e a aprendizagem por projetos são formas modernas – embora Dewey, em sua vasta obra, já falasse deles no início do século passado, assim como Anísio Teixeira – de fazer frente às demandas das sociedades e dos alunos, sem deixar perder a riqueza das ciências, da língua, das artes, do conhecimento do corpo e da matemática. Anísio Teixeira2 (1930, p. 2-30), parafraseando Dewey, diz: Para a nova escola, a matéria é a própria vida, distribuída por “centros de interesse ou projectos”. Estudo – é o esforço para resolver um problema ou executar um 2 16 Anísio Teixeira é a grande referência no nosso País para o entendimento das diversas questões referentes a Dewey. Consulte mais no site: http://www.prossiga.br/anisioteixeira/ visita.htm Escola de Gestores da Educação Básica projecto. Ensinar – é guiar o alumno na sua actividade e dar-lhe os recursos que a experiência humana já obteve para lhe facilitar e economizar esforço . Ele chega mesmo a dizer que: Nessa nova ordem de mudança constante e de permanente revisão, duas cousas ressaltam que alteram profundamente o conceito da velha escola tradicional: A. Precisamos preparar o homem para indagar e resolver por si os seus problemas; B. Temos que construir a nossa escola, não como preparação para um futuro conhecido, mas para um futuro rigorosamente imprevisível. Sendo assim, nossas propostas atuais são resultados de longas investigações e sedimentadas políticas públicas brasileiras. Retomando nossa questão inicial Tudo isso para dizer que estamos no auge da vivência de uma nova escola. Uma escola de massa que precisa conquistar a qualidade democrática e social. Muitos saudosistas dizem que a escola pública antiga dos anos 50 é que era boa. “Era pequena, os prédios eram exemplo de arquitetura, eram melhores que as escolas particulares”. Mas educação para poucos não pode ser chamada de qualidade, mas de privilégio. Os primeiros anos do século XXI colocam a nós, gestores e cidadãos em geral, o desafio de tomar uma escola que abriga 98% da população de 6 a 14 anos de uma cidade como São Paulo e fazer nela uma educação de qualidade social e democrática. Desafio enorme, mas possível de ser enfrentado. Nosso trabalho parte do princípio de que é possível equacionar a nossa parte. Este livro trata de experiências e reflexões vividas a partir de um grande experimento realizado com dez Estados brasileiros com o objetivo de formar 400 gestores de suas escolas para algo novo em Relato de uma experiência 17 seu conjunto. Cada componente deste trabalho talvez já seja conhecido de todos, mas sua arrumação é nova. Os 13 artigos que compõem este livro vão descrevendo lenta e profundamente cada uma das variáveis que formaram o nosso trabalho. E como? Nosso curso está organizado com fundamentos nos seguintes passos metodológicos: 1. Elaboração de diagnóstico da escola e da realidade circunvizinha a partir de instrumentos como os Indicadores da Qualidade na Educação (Indique)3 e o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE)4, elaborados democraticamente e com ampla participação da comunidade; 2. Aproximação dos gestores das dinâmicas e finalidades pedagógicas como parte da competência do diretor e sua equipe gestora: a preocupação com o rendimento escolar, evasão, repetência, formação de seu quadro docente; 3. Aumento da participação da comunidade na gestão da escola: alunos, funcionários, pais e sociedade civil; 3 4 18 Agências envolvidas: Ministério da Educação, Inep, Unicef, Pnud e Ação Educativa http:// www.acaoeducativa.org.br/indicadores/ Orientação dada nos cursos do Progestão, que se encontra no site do Fundescola, http:// www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=/fundescola/fundescola.html ou um arquivo que descreve o PDE http://portal.mec.gov.br/seb/index2.php?option=content&do_pdf=1&id=545&banco Escola de Gestores da Educação Básica 4. Uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) instrumentalizadas para fins pedagógicos, legais, de diagnóstico e de comunicação; 5. Constituição de rede virtual de comunicação entre gestores – em rede nacional ou estadual – que viabiliza a formação contínua do gestor, assim como um imenso banco de dados que fornece elementos para pesquisa e tomada de decisões, e de diagnóstico em rede para a solução dos problemas. Dimensão 1 da Metodologia Os gestores já sabem fazer diagnósticos, já organizam suas comunidades por meio de projetos, muitos criaram indicadores para acompanhar o crescimento de suas escolas, outros já usam a tecnologia para a gestão administrativa e pedagógica das aulas, mas a novidade do projeto é tentar fazer tudo isso articuladamente e com um clima de profunda troca entre eles. Além do mais, a formação proposta tinha como ponto de partida e de chegada a prática que os gestores já vêm realizando em suas escolas, e eles deveriam concluir o curso com a apresentação de um projeto de interferência nas ações de melhoria da sua escola, que tivesse sido debatido com a comunidade escolar, dentro de um verdadeiro espírito de planejamento participativo. O conceito mais usado pelos educadores para retratar nossa perspectiva é a relação teoria-prática. O que se busca com essa articulação é que o gestor, no auge do dia-a-dia de sua escola, sem dela se afastar, faça um profundo exercício de Relato de uma experiência 19 reflexão e de troca de experiências entre colegas. Essa troca, precedida de reflexão coletiva, tende a levar o gestor, pela dinâmica do curso, a uma consciente transformação das práticas escolares. Dimensão 2 da Metodologia Os gestores das escolas brasileiras vêm de diversas formações e experiências. Em alguns Estados, são eleitos pela comunidade por dois anos; em outros, são nomeados com o cargo de confiança do Secretário da Educação, e em outros, são cargos providos por concurso. Em cada um, suas vantagens e seus defeitos. Por sso, o nosso curso se abre também para o diagnóstico e o debate das dimensões pedagógicas da gestão. O que isso quer dizer? A maioria dos gestores das escolas de todas as redes fica assoberbada pela enome quantidade de tarefas político-administrativas – todas elas importantes e urgentes – e delegam (quando não descuidam) as dimensões pedagógicas de sua função. Porisso, muitas vezes, a avaliação do rendimento dos alunos, o índice de repetência ou de evasão, a formação dos professores, os procedimentos didáticos vão ficando para a equipe pedagógica, como se não fossem de competência e responsabilidade do gestor. Insisto que ele, o gestor, é a alma da escola exatamente porque sua função máxima é gerir a pedagogia da escola. Ou seja, organizar a escola como um local de aprendizagem, a partir do qual o senso ético se exercita, a cidadania se vivencia, os 20 Escola de Gestores da Educação Básica valores estéticos se desenvolvem. E nada melhor para entendermos a nossa função de gestores do que retomarmos a origem etimológica da palavra. A palavra gestor origina-se do latim dando origem a muitas palavras correlatas que nos ajudam a entender nossa função. “Gestar, gerir, gesto, gerar, [in-gerir, exa-gerar], gestação, gerenciar, digestão, genuíno, Eugênio [o que é bem gerado], etc.” Em sua base, todos os sentidos significam “dar a vida, alimentar, proteger, fazer crescer, até o momento de dar à luz.” Vamos dividir cada uma dessas acepções da palavra e ver como tal gestão deve e pode entrar em nossa concepção de educação e de como organizá-la. Tratase aqui da acepção: “dar vida”. E é nesse sentido que a boa gestão de uma escola dá vida a algo novo e bom. A escola se articula para viabilizar tal projeto e cada membro dela se articula para que tal vida aconteça. Mas essa vida é basicamente a vida do conhecimento. A palavra contém em si o aspecto de alimentar. Se é assim, podemos perguntar: como o gestor se organiza para que essa “alimentação” aconteça? Sua função é também, proteger, abrigar, dar à luz... Este artigo é, na verdade, uma gestação, uma sugestão, uma ingestão, um genuíno processo de gestação de conhecimento e entendimento vivenciado do que seja a gestão do conhecimento do gestor. Não de um conhecimento genérico, abstrato, mas de um conhecimento que se produz nas várias práticas sociais sempre tendo como objetivo aquele do sistema escolar. Relato de uma experiência 21 E é aí que acontece a vida da aprendizagem, da qualidade do ensino, da formação dos docentes e da avaliação significativa. Enfim, a responsabilidade pela qualidade pedagógica da escola é, inicial e primordialmente, do gestor. Dimensão 3 da Metodologia O trabalho tem início com atividades que valorizam os momentos altos das práticas de gestão de cada escola. Este modo de enfoque tem como perspectiva levantar os aspectos de êxito da escola pública, tão submetida em sua história recente a críticas que servem mais para rebaixar sua auto-estima do que para ajudála a fazer um diagnóstico de seus problemas e encaminhar suas soluções. Acontece no primeiro momento do curso o levantamento das atividades às quais o gestor de cada escola sente maior orgulho em sua gestão. Pergunta-se: o que ele fez que foi um sucesso, que foi criativo, que contou com a colaboração de todos, que resultou em eficácia da melhoria do ensino, da avaliação e da aprendizagem? Os relatos são descritos e partilhados pelos vários grupos no ambiente virtual. A partir daí, devem ter visão de conjunto dos problemas das escolas de seus Estados pela ótica das soluções. O próximo passo é o levantamento, a partir do diagnóstico já feito – pelos procedimentos do Indique ou do PDE –, de algum problema pontual que ele queira 22 Escola de Gestores da Educação Básica enfrentar com sua comunidade durante o curso. Os demais passos estarão descritos nos artigos posteriores. Dimensão 4 da Metodologia Aqui aparece a dimensão tecnológica do curso e da formação. Não nos interessou, dentro dessa metodologia, começar o curso com a formação complexa e abrangente na área do domínio da tecnologia, como quase todos os cursos o fazem. Optamos por começar pelas questões postas à prática dos gestores para depois verificar que contribuições as tecnologias de informação e comunicação (TICs) podem dar a essa prática. Mesmo que se parta de um nivelamento de todos nas primeiras 12 horas do uso do computador, como uso de Internet, abrir e-mails, usar um arquivo ou navegar em um ambiente virtual, o importante seria a clareza dos propósitos e o discernimento do uso. Em que de fato, e não por mero modismo, as TICs podem ajudar? Certamente aparecem dimensões, como: comunicar-se com a comunidade com rapidez, ter acesso a informações para tomada de decisão, registrar a memória da escola e das suas conquistas, divulgar os produtos e tarefas docentes, contatar com a comunidade, acessar bancos de dados das secretarias, agilizar a prestação de contas públicas, acessar rapidamente o rendimento das classes, controlar despesas, etc. Relato de uma experiência 23 Dimensão 5 da Metodologia A ênfase do projeto piloto e deste artigo é dada ao caráter nacional dos resultados previstos e atingidos. Não se trata, portanto, de realizar apenas uma pesquisa encomendada pelo Inep, mas de operar um projeto de criação de um laboratório de investigação participativa cujos conteúdos e procedimentos serão fornecidos e manipulados pelos próprios gestores, a partir das práticas, diagnósticos, soluções que vivem em seus Estados e em todo o País. Havendo sua continuidade, poderemos ter o maior laboratório de pesquisas e informações sobre gestão escolar e tecnologias do mundo. E tudo dentro de um ambiente produzido pelo Ministério da Educação (MEC), com possibilidade de ser acessado por todas as escolas brasileiras. Foi criado pela nossa equipe de concepção e operação um ambiente virtual de trabalho dentro do e-ProInfo que permite transparência a todos os participantes de cada momento do projeto. Todos os participantes têm acesso ao que todos os grupos estão vivendo e discutindo, por meio de fóruns, troca de e-mails e acesso a banco de dados. As metodologias de trabalho propuseram que os gestores não trabalhassem sozinhos em suas unidades; mas, como dinâmica interna das ações, cada um faria sempre debates, fóruns, projetos, elaborados juntamente com colegas que passavam por idênticos problemas ou que tinham tido sucesso em suas resoluções. 24 Escola de Gestores da Educação Básica Todo o material produzido era trocado e incrementado a partir do ambiente virtual de aprendizagem e-ProInfo, que ficava sob o controle da Secretaria de Educação a Distância do MEC. As encomendas dos ajustes, de adição de conteúdos, de mudanças de procedimentos, de acréscimos de agendas eram solicitadas pelos técnicos assessores do projeto. Tal trabalho está descrito detalhadamente em outros artigos deste livro. O conjunto do projeto é apresentado nos demais artigos deste livro que se encarregam de tomar cada um dos temas e operações e prestar conta deles para que, sendo registrado na história do Inep, torne-se um banco de reflexões e dados para pesquisas e práticas posteriores. E qual o sentido de tudo? O sentido do nosso trabalho é o de colaborar para a formação dos gestores para a construção de uma melhor qualidade social e democrática da educação brasileira. Esta colaboração é vista e trabalhada a partir das realidades múltiplas de tão amplo e diversificado País, respeitando-lhe as culturas locais e os ritmos de implantação de inovações. De outro lado, os gestores não se afastaram de suas realidades para fazer o percurso de sua formação. Antes, partiram do seu cotidiano e para ele voltaram dando-lhe dimensão de caráter nacional, uma vez que a sua formação para a gestão e para o uso das TICs foi construída em ampla troca transparente com os demais gestores de seus Estados e dos outros nove Estados que compuseram o experimento. Relato de uma experiência 25 26 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 2 Resgate histórico de uma experiência de formação de gestores educacionais Lia Scholze Recuperando a trajetória O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 10.172, de 9/1/01, destaca, entre suas diretrizes, “[...] uma gestão democrática e participativa, especialmente no nível das escolas [...]” (11.2.2.), justificando a implantação do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica a partir da referida diretriz, dos resultados obtidos pelo Censo Escolar e pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que apontam para o baixo desempenho dos alunos da educação básica, bem como do pressuposto de que o trabalho do diretor de escola possui interferência direta e fundamental para a modificação desse quadro, e pela política de gestão adotada nos sistemas de ensino e nas escolas. Relato de uma experiência 27 A relevância do Programa justifica-se pelo fato de os novos caminhos para a gestão escolar caracterizarem-se pela contextualização da ação política, pela mobilização dos atores e pela conquista da inserção da comunidade no projeto político-pedagógico da escola. Isso implica maior autonomia da escola para decidir sobre a alocação de seus recursos financeiros, materiais e humanos, tornando a gestão mais condizente com suas especificidades locais e regionais. Pretende também resgatar conceitos relevantes para uma abordagem de gestão participativa, passível de assimilação pelos agentes e de sua aplicação no âmbito da escola e de promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos gestores das unidades escolares, visando à melhoria da qualidade do contexto educacional e do processo de ensino e aprendizagem, contemplando a concepção do caráter público da educação e a busca de sua qualidade social, baseada nos princípios da gestão democrática, olhando a escola na perspectiva da inclusão e da emancipação humana. Constituiu-se, assim, uma proposta aberta, para atender à diversidade de características regionais e socioculturais do País. Considerando que fatores influenciam o resultado da aprendizagem do aluno, desde a sua origem socioeconômica, passando pela infra-estrutura das escolas, pela formação e satisfação docente, pelo estilo pedagógico implementado pelos professores e, ainda, pela política de gestão adotada nos sistemas de ensino e nas escolas, essa proposta teve como princípio fundamental a radicalização da democracia, que se expressa nas práticas participativas e na socialização de conhecimentos, na tomada de decisões e na atitude democrática das pessoas em 28 Escola de Gestores da Educação Básica todos os espaços de intervenção organizada, o que se constitui importante estratégia de superação do autoritarismo.1 Nessa perspectiva foi buscada a possibilidade de interação, discussão e construção de novos espaços para a gestão, seja ela presencial ou a distância – a distância apenas no contato físico, mas presencial e interativa nas múltiplas possibilidades de formação intelectual e processual. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), na pessoa do seu então presidente professor Eliezer Pacheco, assumiu o desafio de promover e coordenar um estudo de viabilidade como referência para a implementação de uma política de formação de gestores escolares, tendo como coresponsáveis a Secretaria de Educação Básica (SEB), a Secretaria de Educação a Distância (Seed) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Com esse objetivo, foi realizada uma série de encontros que envolveram representantes das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e de organismos governamentais e não-governamentais nacionais e internacionais, professores especialistas em Gestão Educacional e Educação a Distância e representantes de universidades. Para ampliar sua área de alcance, o Programa lançou mão do ambiente de formação a distância, somando-se às demais políticas do Ministério da Educação, que têm em vista a formação continuada e a valorização dos profissionais da educação. 1 Relato de uma experiência Carta de São Paulo. Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública . São Paulo, abril de 2002. 29 O Programa teve início em meados de 2004, a partir de uma manifestação do ex-ministro da Educação, Tarso Genro, de que uma política de formação de gestores escolares deveria fazer parte da agenda de ações prioritárias do MEC, uma vez que estudos e pesquisas indicam haver uma forte relação entre a melhoria da qualidade da educação nas escolas públicas brasileiras e a gestão escolar. O Programa recebeu o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e da Fundação Victor Civita e teve sua matriz teórica e os seus eixos norteadores desenvolvidos a partir do Encontro Nacional de Gestores,2 coordenado pelo Inep. Esse encontro, realizado nos dias 26, 27 e 28 de outubro de 2004, em Brasília, contou com a participação de dois diretores de escola por Estado, sendo um da rede estadual e outro da rede municipal, com o propósito de iniciar a discussão sobre o conteúdo do curso a ser implantado. Ele possibilitou uma ampla troca de experiências, com a problematização de aspectos relevantes nos estudos realizados em grupo, quando as pessoas tiveram possibilidade de contribuir para a construção do conteúdo do curso a partir de suas experiências e interesses. 2 30 O Encontro Nacional de Gestores contou com representantes indicados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Em sua sessão de encerramento, foi aprovada a Carta de Brasília, que contém as principais sugestões dos participantes em relação à Escola de Gestores. Escola de Gestores da Educação Básica Foram levantados dados concernentes à caracterização do perfil do gestor e da escola; à estruturação de cursos de formação continuada na área de gestão; à avaliação de temáticas a serem implementadas no curso de formação para gestores; e à produção de relatos de experiências exitosas implementadas nas diferentes unidades Federativas, nos níveis estadual e municipal. Os principais eixos/temas indicados pelos gestores foram: • articulação das políticas educacionais às demais políticas sociais; • democratização das relações escolares e implementação de ações concretas buscando a autonomia escolar; • construção coletiva do projeto político-pedagógico da escola; • papel do Estado e as responsabilidades dos entes federativos na oferta de uma educação básica de qualidade socialmente referenciada; • relações democráticas entre os sistemas de ensino e as unidades escolares; • política de formação e valorização do profissional da educação; • legislação e organização do sistema educacional brasileiro; • financiamento da educação e gestão dos recursos financeiros da escola; • relações democráticas entre a escola, os conselhos de educação e os conselhos de controle social; Relato de uma experiência • currículos e avaliação institucional; • espaços de participação coletiva nos processos decisórios da escola; • utilização de recursos das tecnologias de informação e comunicação; 31 • gestão do patrimônio da escola; • responsabilidade do Estado em garantir as condições físicas, pedagógicas, materiais e tecnológicas das unidades escolares; e • relação ética e cidadania. É oportuno destacar a preocupação dos gestores em garantir a estruturação efetiva do Programa, de forma articulada à realidade nacional da educação básica e às políticas dos sistemas de ensino; a efetivação de propostas de gestão democrática, que considerem as especificidades dos níveis e modalidades da educação básica e das características das propostas de gestão já vivenciadas; a busca de organicidade entre a proposição do Programa e a realidade educacional urbana e rural, considerando a complexa realidade educacional brasileira para um diálogo com essas dinâmicas nos processos formativos; e o levantamento dos diferentes processos/ cursos de formação continuada realizados para diretores de escolas públicas no País, bem como das ações do MEC nessa área. Os indicativos apresentados consideraram, entre outras, as seguintes questões, fundamentais na concepção do Programa: 1. O fato de ainda não termos, em nosso País, diretrizes e propostas de governo que dêem conta da política de gestão democrática das escolas de educação básica, a partir da nova configuração da educação brasileira definida na Constituição Federal (art. 206, inciso VI), na Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (arts. 12, 13, 14, 15 e 30, 32 Escola de Gestores da Educação Básica inciso VIII), e no Plano Nacional a) de Educação (PNE), instituído pela Lei nº 10.172/2001 (capítulo V – 11.3.2, itens 22, 24, 28, 34 e 35); 2. As grandes diversidades e desigualdades que caracterizam nosso País, no que se refere às suas especificidades regionais e aos formatos dos processos de formação dos profissionais da educação, especialmente das equipes gestoras das escolas públicas brasileiras. Visando referendar a proposta, em 8 de dezembro de 2004 foi realizada uma reunião para a qual foram convidados os secretários de Estado da Educação que estariam envolvidos no Projeto Piloto – todos enviaram representantes. Contouse também com a presença de representantes das Secretarias do MEC (SEB e Seed), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed). Nessa reunião foi apresentada a primeira proposta construída a partir do Encontro Nacional de Gestores e de reuniões entre a equipe técnica MEC/Inep/FNDE/Fundo Nacional de Fortalecimento da Escola (Fundescola) e consultores especialistas em gestão escolar e cursos em educação a distância (EAD). Essa proposta foi enriquecida e transformou-se no Projeto Básico, que foi apresentado, em janeiro de 2005, ao diretor do Escritório do Banco Mundial para o Brasil, em reunião com a equipe do Fundescola (FNDE), com o objetivo de receber apoio financeiro do referido órgão. Simultaneamente, foi encaminhada correspondência aos Estados solicitando que fosse feita a seleção e indicação dos cursistas. Os critérios para seleção desses gestores foram: ser gestor, em exercício, de escola Relato de uma experiência 33 pública municipal e/ou estadual de educação básica; ter disponibilidade, no mínimo, de dez horas semanais para dedicar-se ao curso; mostrar-se disposto a compartilhar o curso com o coletivo da escola; evidenciar disposição para construir, com a comunidade escolar, o Projeto de Gestão Escolar no estabelecimento de ensino onde atua.3 A Undime foi solicitada a colaborar na indicação dos cursistas das redes municipais. As vagas foram divididas, ficando 200 para as redes estaduais e 200 Em julho de 2005 foi assinado o Termo de Adesão dos Estados, sendo a para as redes municipais. Undime a representante da rede municipal, em ato com a presença do ministro Tarso Genro, representantes dos secretários estaduais, da Undime e dos responsáveis do MEC/Inep/Fundescola. O projeto básico foi reformulado visando atender às exigências do Banco Mundial e, finalmente, teve seu financiamento aprovado. Como os recursos do Banco destinaram-se apenas às ações desenvolvidas nas Regiões Norte, Nordeste e CentroOeste, os recursos para as Regiões Sul e Sudeste foram disponibilizados pelo Inep, garantindo, assim, o âmbito nacional ao Projeto. 3 34 Esses critérios nem sempre foram seguidos pelas secretarias responsáveis pela indicação dos cursistas, dificultando o cumprimento de forma ampla do objetivo proposto. Ainda assim, a avaliação do aproveitamento dos cursistas foi considerada positiva. Escola de Gestores da Educação Básica Também ficou definido que a disseminação ficaria a cargo da SEB e que o Inep coordenaria apenas a fase do Projeto Piloto, por se tratar de um estudo de viabilidade. Ao Departamento de Projetos Educacionais(DPR)/SEB/MEC ficou destinada a função de avaliar o Projeto Piloto. Uma equipe de consultores ficou responsável pelo design do curso, a administração do ambiente colaborativo, o planejamento das estratégias e a metodologia. Professores orientadores (um por Estado) acompanharam o desenvolvimento do curso nos Estados. As secretarias indicaram coordenadores estaduais e municipais para garantir a realização dos encontros presenciais (Módulos I, III, V), e os professores que atuam Estrutura Operacional Fonte: Folder Escola de gestores 2005 Relato de uma experiência 35 nos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs) garantiram a efetiva participação dos cursistas, ajudando-os a superar toda sorte de dificuldades detectadas ao longo do curso. Cada turma de 40 cursistas esteve acompanhada por um professor orientador e quatro professores assistentes (um orientador e quatro colaboradores por estado), além dos coordenadores estaduais e coordenadores municipais que garantiram a infra-estrutura. Foram realizados em Brasília, em junho de 2005, uma reunião para apresentar o curso aos coordenadores estaduais e municipais e um encontro com os professores orientadores, para que eles recebessem orientações dos consultores sobre o conteúdo e iniciassem a integração do trabalho com os professores tutores, chamados de professores assistentes. Alguns Estados enviaram representantes das universidades locais, convidados a participar como observadores e, eventualmente, colaborar na implantação do Projeto Piloto, preparando-se para uma atuação mais efetiva nas etapas de disseminação. O início do curso ocorreu em agosto de 2005, mediante um encontro presencial (Módulo I) antecedido de um ato político, com a presença de autoridades locais e de representantes do MEC, devido à importância da instalação de um curso dessa natureza e da sua relevância no conjunto de políticas implementadas, visando garantir cada vez mais a qualidade da educação básica no País. 36 Escola de Gestores da Educação Básica O que é o Programa Pretendeu-se também proporcionar aos gestores participantes do Programa espaços sistemáticos de reflexão conjunta e investigação, no contexto da gestão escolar, acerca das questões enfrentadas pelo coletivo, bem como propiciar a discussão e reflexão sobre os problemas da gestão escolar, da articulação do projeto políticopedagógico com a proposta curricular, e das formas de mobilização da comunidade em torno de um projeto social e educativo de escola. O curso semipresencial proposto lançou mão de toda a metodologia necessária (estudos individuais, discussões em grupos, atividades de pesquisa, elaboração coletiva do Projeto de Gestão Escolar, etc.). Isso se fez necessário para que os objetivos de aprendizagem fossem alcançados com qualidade, minimizando as dificuldades, desmotivações ou o sentimento de isolamento que os cursistas pudessem apresentar na leitura e estudo individual do material impresso ou no manuseio do computador. A finalidade mais ampla do Programa foi a de elevar a competência dos gestores e sua capacidade de compreensão e intervenção sobre a realidade da escola sob sua direção, considerando a realidade social, política, econômica e cultural na qual está inserida. A partir desses objetivos, entende-se que a formação do gestor deve contribuir para desenvolver nesse profissional a habilidade de integrar e motivar todas as equipes, visando garantir a melhoria dos processos de trabalho na escola e, conseqüentemente, nos resultados esperados dessa instituição. Relato de uma experiência 37 O total de gestores escolares existentes no Brasil é de aproximadamente 174 mil, número correspondente à quase totalidade de escolas públicas atendidas e que oferecem educação básica nos sistemas estaduais e municipais nas cinco regiões do País. De acordo com dados do Censo Escolar 2004,4 das “[...] 174.896 escolas públicas brasileiras, 105.892 têm diretoria e 69.004, não”. Tabela 1 – Número de escolas de educação básica que possuem diretor por rede de ensino, segundo as Regiões Geográficas – Brasil 2004 Total geral Unidade geográfica Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Total Sim Rede Não 210.095 139.118 70.977 26.197 9.451 16.746 89.261 51.473 37.788 57.553 47.444 10.109 26.778 21.624 5.154 10.306 9.126 1.180 Total 174.896 24.889 78.924 41.026 22.100 7.957 Pública Sim 105.892 8.294 41.828 31.670 17.271 6.829 Não Total 69.004 35.199 16.595 1.308 37.096 10.337 9.356 16.527 4.829 4.678 1.128 2.349 Privada Sim Não 33.226 1.973 1.157 151 9.645 692 15.774 753 4.353 325 2.297 52 Fonte: Censo Escolar 2004. Informativo Inep, ano 3, nº 72, divulgado em 12/1/2005. O Censo Escolar revelou, também, importantes dados sobre o grau de formação dos diretores escolares, por região geográfica, como mostra a Tabela 2. 4 38 A opção pelo conceito de gestor deveu-se ao fato de que muitas escolas não possuem a figura de diretor escolar. Escola de Gestores da Educação Básica Tabela 2 – Número de diretores de escolas de educação básica por grau de formação, segundo as Regiões Geográficas – Brasil 2004 Unidade geográfica Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Total 139.118 9.451 51.473 47.444 21.624 9.126 Total geral Fund. Fund. Médio s/ Médio c/ Superior s/ Superior c/ Pós-grad. incompleto completo magistério magistério licenciatura licenciatura 394 838 3.266 37.523 5.099 60.058 31.940 5 59 230 3.464 466 3.135 2.092 219 469 1.604 23.365 1.887 16.340 7.589 116 171 644 5.389 1.738 30.708 8.678 43 119 471 3.926 642 6.488 9.935 11 20 317 1.379 366 3.387 3.646 Fonte: Censo Escolar 2004. Informativo Inep, ano 3, nº 72, divulgado em 12/1/2005. Considerando questões como nível de formação e interesse dos cursistas, pensou-se que o desenho curricular do curso deveria prever sua oferta em dois formatos: extensão – sem pré-requisito, obedecendo a formação e a vontade do cursista em se atualizar; caso já tenha formação na área será oferecido um curso em nível de especialização. O cursista deveria poder, no caso de extensão, cursar qualquer conteúdo de seu interesse, fazendo o seu próprio itinerário formativo. Assim, o curso teria, inicialmente, a duração de aproximadamente cem horas, sendo aberta a possibilidade de continuação, completando no mínimo 375 horas. Essa proposta de formação não foi levada a efeito no Projeto Piloto, mas poderá ser adotada no curso a ser implantado futuramente, a partir da conclusão desse Projeto Piloto. Relato de uma experiência 39 Objetivos do Programa Entre os objetivos propostos, podemos destacar: • propiciar formação continuada ao gestor escolar para o efetivo exercício da liderança como mediador, integrador e catalisador dos esforços da escola como um todo para a realização de suas propostas educativas; • desenvolver instrumentos para a qualificação dos processos e procedimentos da gestão escolar, tendo em vista a melhoria da qualidade do ensino; • oportunizar o conhecimento e a aplicação de processos de trabalho com a utilização da tecnologia como ferramenta gerencial no cotidiano da escola; • assegurar processos de gestão escolar compatíveis com a proposta e a concepção da qualidade social da educação; e • incorporar a formação continuada como princípio organizativo da prática profissional dos gestores escolares. Avaliação do desempenho dos gestores-cursistas A avaliação do gestor-cursista visou ao mapeamento do seu desenvolvimento profissional durante o Programa. Por possuir um caráter dinâmico, procurou detectar os avanços e as necessidades de intervenções para correção dos percursos no processo de aprendizagem em sua formação. Caracterizou-se, assim, como um 40 Escola de Gestores da Educação Básica processo formativo, com foco na perspectiva qualitativa, permanente e contínua da avaliação. As avaliações processuais consideraram as atividades práticas desenvolvidas no período do curso, sendo analisadas e comentadas pelo professor orientador que avaliou o cursista, ainda, por meio de relatórios que traduziram o índice de aproveitamento desse nas ações propostas. Um dos pontos altos do Projeto foi a obrigatoriedade do gestor em conceber e colocar em prática um Projeto Aplicativo.5 O projeto aplicativo, obrigatório, foi condição para a obtenção do certificado de conclusão, tendo sido construído ao longo do desenvolvimento do curso. Aplicado durante o curso, articulou conteúdos teóricos com ações práticas nas unidades escolares nas quais os cursistas estiveram atuando, objetivando verificar as ações e resultados alcançados em termos de qualidade da aprendizagem dos alunos. Nesse projeto, o cursista deveria evidenciar o aproveitamento, dentro das possibilidades de cada escola, dos recursos de informática, visando a sua aplicação ao processo de gestão. Cada cursista realizou auto-avaliação. 5 Relato de uma experiência O projeto aplicativo foi desenvolvido ao longo do curso, iniciado com o diagnóstico e concluído com uma apresentação ao final do V Módulo, com utilização da tecnologia por meio de datashow. Foi surpreendente a assimilação dos cursistas, devido ao fato de que, no início do curso, muitos não sabiam sequer conduzir o mouse. Foram utilizados instrumentos com os Indicadores de Qualidade da Educação da Unicef (Indique) e o Plano Nacional da Educação (PNE), já conhecido principalmente nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. 41 Em termos quantitativos, foi exigido um índice de 75% de freqüência do cursista nos encontros presenciais. Metodologia – dinâmica de trabalho A triangulação da cooperação entre o MEC, as Secretarias Estaduais e Municipais e eventualmente as universidades locais garantiram total apoio aos cursistas e levaram a bom termo o Projeto Piloto do Programa. Esses profissionais passaram por curso de capacitação de 40 horas no primeiro semestre de 2005, visando ao conhecimento da proposta e familiarização com o ambiente e-ProInfo da Seed/MEC. Secretarias de Educação Inep/SEB/Seed/ FNDE/Dipro Cursistas Universidades Fonte: Folder Escola de gestores 2005 Os coordenadores estaduais e municipais, bem como os professores orientadores, formaram o grupo de indicados pelas Secretarias Estaduais e/ou Secretarias Municipais de Educação – neste segundo caso, via União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Os referidos professores foram escolhidos 42 Escola de Gestores da Educação Básica por sua experiência em programas de natureza similar, como, por exemplo, o Programa de Capacitação a Distância para Gestores Escolares (Progestão), desenvolvido pelo Consed, e/ou outros. A disponibilização dos coordenadores estaduais e municipais e professores assistentes foi uma contrapartida das Secretarias de Educação participantes do Programa, e pode ser considerada como um dos elementos decisivos para seu êxito. Conteúdos do curso do Projeto Piloto Os conteúdos foram apresentados atendendo a alguns quesitos fundamentais como: texto básico abordando os temas, acrescido de indicação de leituras complementares; atividade de problematização e aprofundamento de textos, sugerindo pesquisas e estudos de casos; metodologia fundada na reflexão teórica sobre a prática do gestor para ressignificá-la, na perspectiva da ação-reflexão-ação; abordagem de conteúdos que permitam atender às diversidades cognitivas e operacionais de cada gestor e de sua escola; diálogo com o cursista, revelando vocabulário acessível, com glossário, se necessário. Os materiais de ensino e aprendizagem utilizados no Programa abordaram as concepções e fundamentações teóricas necessárias à atuação do gestor na coordenação e mobilização dos vários segmentos na escola, admitindo-se, porém, a produção e estudo de outros conteúdos de acordo com demandas e necessidades detectadas ao longo do curso, bem como a partir da manifestação da vontade dos cursistas. Relato de uma experiência 43 O processo de elaboração do Projeto Aplicativo e as atividades práticas propostas levaram os cursistas a revelarem, entre outras, capacidade para: • compreender a função social da escola e suas demandas no mundo contemporâneo, articuladas às necessidades da comunidade na qual está inserida; • coordenar a elaboração participativa do projeto pedagógico da escola; • utilizar resultados de avaliação da aprendizagem no processo de aperfeiçoamento do projeto pedagógico da escola; • estimular, articular e participar da elaboração de projetos com a comunidade escolar; • identificar aspectos que ajudem a tornar a aprendizagem dos alunos eficiente e bem-sucedida, considerando-os na gestão da escola; • articular prática pedagógica e projeto pedagógico da escola; • analisar os resultados de desempenho dos alunos visando ao aprimoramento do planejamento pedagógico; e • desenvolver e impulsionar mecanismos de gestão colegiada na escola; planejar e liderar o processo da construção da democracia coletiva na escola. No que se refere à Gestão Financeira e Avaliação, os cursistas desenvolveram capacidade para: • motivar professores e funcionários no desenvolvimento da melhoria do padrão de qualidade da escola e da aprendizagem dos alunos; 44 Escola de Gestores da Educação Básica • definir, coordenar e avaliar ações coletivas que contribuam para a valorização dos profissionais da educação; • promover o desenvolvimento profissional da equipe escolar, assegurando relações de confiança e de respeito mútuo; • identificar as fontes do financiamento da educação básica e os principais problemas relativos à sua aplicação; • acompanhar e desenvolver a gestão financeira, de acordo com os princípios de ética e responsabilidade administrativa; • planejar e executar a gestão dos recursos físicos e do patrimônio da escola; • gerir o quadro de pessoal, atendendo aos quesitos administrativos, legais e pedagógicos; e • planejar a utilização dos recursos físicos e do patrimônio da escola de forma a favorecer o convívio entre os vários segmentos. As mudanças esperadas na gestão da escola Os conteúdos desenvolvidos foram elaborados com a intenção de provocar mudanças na gestão das escolas a que se vinculam os gestores-cursistas: elaboração ou revisão coletiva do projeto aplicativo; desenvolvimento de avaliação institucional; experiência de formação continuada na própria escola; maior envolvimento dos pais no processo de aprendizagem dos alunos; dinamização das instâncias colegiadas da escola; apoio ao desenvolvimento de organizações estudantis, de pais e de professores Relato de uma experiência 45 na escola; iniciativas de avaliação de desempenho profissional; melhoria da gestão financeira, patrimonial, do espaço físico e dos servidores da escola; criação e avaliação de mecanismos para a democratização das informações; atuação cooperativa da equipe pedagógica na organização escolar. Níveis de execução e responsabilidades específicas Um dos fatores que podem ser considerados relevantes para o êxito do programa foi a sinergia entre o MEC/Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, cada um cumprindo seu papel; outro foi a contratação de um grupo de especialistas de alto nível em gestão escolar e em EAD. E, dentro do MEC, a ação conjunta entre o Inep, as secretarias do Ministério da Educação – SEB e Seed – e o FNDE (Fundescola). A parcela de responsabilidade de cada uma dessas instâncias ficou assim distribuída: Inep – Coordenação Nacional do Programa e apoio técnico e financeiro; SEB/DPR – avaliação externa do Programa, a partir dos resultados alcançados, após a realização do Projeto Piloto, de acordo com os indicadores de resultados e as orientações metodológicas para a execução das atividades definidas no escopo do projeto básico; Seed – plataforma do projeto, formação dos assistentes e discussões com especialistas em EAD; FNDE – repasse de recursos, elaboração técnico-financeira; cooperação técnico-financeira, convênios com instituições financeiras. O Programa foi executado contando com o apoio de diferentes órgãos, dentre os quais se destaca a Undime, cuja participação foi decisiva para a garantia da implementação do Projeto Piloto. 46 Escola de Gestores da Educação Básica Financiamento – FNDE O FNDE financiou a elaboração e desenvolvimento dos materiais instrucionais, em parceria com o Inep/Seed/MEC. Garantiu os recursos para o deslocamento, alimentação e diárias para os especialistas que definiram os conteúdos e elaboraram os materiais instrucionais, bem como para as equipes técnicas e demais especialistas envolvidos no projeto, em todas as fases em que isso se fez necessário. Componente estadual/municipal: Secretarias de Educação Em cada Estado e município participante foi organizado, com apoio do Inep, um núcleo centrado na Secretaria de Educação, com o propósito de planejar e conduzir a implantação do Programa, segundo suas prioridades/peculiaridades. No caso das Secretarias Estaduais de Educação, esse núcleo contou com a participação dos Coordenadores Estaduais da Seed/MEC, lotados nos referidos órgãos, obedecendo aos critérios previamente definidos. Especificamente, em relação aos grupos de formação de gestores-cursistas, os referidos órgãos foram responsáveis pelo(a): • cadastramento (inscrições) desses profissionais no curso, criando uma base de dados, que foi usada pelo Inep para o gerenciamento da execução do Programa; • organização das sessões presenciais coletivas, oferecendo condições materiais para o planejamento e viabilização dos encontros – agenda; • Relato de uma experiência infra-estrutura; e 47 • equipe de apoio, deslocamento e alimentação aos cursistas (alimentação/diária/transporte). Coube às Secretarias de Educação: • apoiar o processo de implementação do Programa no Estado e/ou no município; • cooperar com o Estado e/ou município no processo de internalização e sustentabilidade da implementação do Programa; • apoiar a coordenação local na articulação do Programa com outras ações que desenvolve, relacionadas à área da gestão; • apoiar os professores-orientadores no acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos cursistas; • apoiar o processo de implantação na parte administrativa e gerencial do Programa; • manter o FNDE/Diretoria de Programas (Dipro) informado sobre os quantitativos de gestores participantes vinculados à rede estadual/ municipal; • participar dos encontros de formação dos coordenadores e professores orientadores; • organizar encontros e reuniões de avaliação da implementação do Programa; • identificar dificuldades na implementação do Programa e orientar para providências corretivas; 48 Escola de Gestores da Educação Básica • elaborar informes de desenvolvimento dos trabalhos; • apoiar as ações de coordenação/supervisão da implementação do Programa; e • identificar e disseminar as experiências de sucesso, promovendo intercâmbio entre as escolas a que se vinculam os gestores-cursistas. Sistema de tutoria – professores orientadores Considerando a formação coordenada pelo Inep, para os tutores do Programa, coube a esses atores estimular o desenvolvimento pessoal e profissional dos gestorescursistas, realizando atividades como: • apoiar a divulgação e implementação do Programa; • planejar o atendimento aos gestores-cursistas e o processo de avaliação diagnóstica da aprendizagem desses; • participar da apresentação e divulgação do Programa; • realizar o acompanhamento da prática profissional dos gestores-cursistas; • organizar instrumentos de avaliação do desempenho dos cursistas com os coordenadores; • acompanhar ou orientar o estudo individual do gestor e a implementação das atividades de apoio à aprendizagem; • estudar as leituras indicadas nos módulos, participando dos grupos de estudos ligados à sua função; Relato de uma experiência 49 • listar as dificuldades e demandas mais correntes na implementação do Programa nas escolas e sugerir medidas de correção; • avaliar o desenvolvimento do gestor-cursista, registrando e analisando indicadores de desempenho e os procedimentos de implementação do Programa; • manter o coordenador local do Programa atualizado, apresentando relatórios e resultados das avaliações; • comentar os trabalhos desenvolvidos pelos gestores-cursistas; auxiliar a compreensão dos cursistas sobre os materiais do curso; e • prestar informações por telefone, fax e e-mail. Das ações dos atores envolvidos no projeto piloto A execução do Projeto Piloto da Escola de Gestores da Educação Básica aconteceu por meio do envolvimento de todos os atores no processo de aprendizagem dos gestores. Nesta etapa, a Equipe de Consultores de conteúdo elaborou o design do curso, administrou o Ambiente Colaborativo de Aprendizagem e-ProInfo, planejou as estratégias para o desenvolvimento dos conteúdos e a metodologia utilizada nos encontros presenciais e a distância. Ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira coube a responsabilidade de disponibilizar materiais impressos, e consultores do Programa para garantir a interface com as Secretarias Estaduais e Municipais; e as 50 Escola de Gestores da Educação Básica Secretarias do Ministério da Educação – SEB, Seed, DPR/SEB e o FNDE, disponibilizaram seus técnicos para o acompanhamento aos encontros presenciais e a distância. Os encontros presenciais nos Estados foram agendados de acordo com a disponibilidade das Secretarias de Educação Estaduais e Municipais, dos professores orientadores, dos consultores e da equipe técnica. Tanto a organização dos encontros presenciais como o deslocamento dos cursistas aos locais dos encontros nas capitais dos Estados ficaram sob a responsabilidade das respectivas Secretarias. Tendo em vista que a proposta do Programa é assegurar um padrão comum de qualidade durante o processo de educação continuada, e considerando as situações concretas de acesso à Internet de modo que o cursista possa, nos módulos a distância, desenvolver estudos autônomos e independentes, os coordenadores estaduais e municipais foram orientados a selecionar gestores que trabalhassem em um raio de 60 km do NTE mais próximo. Na etapa a distância, os Estados e municípios organizaram-se no sentido de minimizar as dificuldades dos cursistas em acessar a plataforma. As coordenações estaduais e municipais detectaram a dificuldade dos cursistas em processar suas informações no ambiente e promoveram encontros extraprograma para facilitar sua participação no curso. Esses encontros aconteceram com a presença e atuação dos professores assistentes dos NTEs e, em alguns locais, com a participação efetiva dos professores colaboradores das universidades federais ou estaduais. A Seed disponibilizou uma equipe interna para acompanhar os professores orientadores, os coordenadores estaduais/municipais e os cursistas no acesso à Relato de uma experiência 51 plataforma e-ProInfo. Constatou-se que, apesar de a equipe estar conectada ao longo do desenvolvimento das atividades, muitos dos Núcleos de Tecnologia Educacional dos Estados e dos municípios não dispunham de equipamentos necessários e adequados para o rápido acesso ao ambiente de aprendizagem eProInfo. Em alguns Estados, os NTEs estão sucateados, com computadores de versões ultrapassadas e acesso lento, com necessidade de adaptações que proporcionem aos cursistas condições mínimas para o desenvolvimento do curso a distância. As inadequações de infra-estrutura estadual e municipal foram minimizadas durante os encontros, bem como as dificuldades dos cursistas em acessarem o ambiente eProInfo e de interagirem entre si. As avaliações das ações do Projeto Piloto foram realizadas por meio de reuniões com as equipes dos Estados e municípios antes e após os encontros presenciais. Além dessas reuniões, o Departamento de Projetos Educacionais (DPR) da Secretaria de Educação Básica (SEB) disponibilizou, para aplicação, após cada um dos encontros presenciais, questionários de reação e um roteiro de observação. Com relação à avaliação e acompanhamento da equipe de consultores internos e externos e equipes do MEC, foram realizadas reuniões durante o desenvolver do curso para: análise geral das turmas do curso piloto, considerando a vivência nos módulos presenciais e a distância; definição de datas dos presenciais, bem como definição de providências em relação à estrutura local e à participação dos cursistas; atendimento e orientação pedagógica e tecnológica para os professores-orientadores (plantão de dúvidas para aqueles que demonstraram necessidade). 52 Escola de Gestores da Educação Básica Em relação ao alcance do curso, uma dificuldade manifestada pelos diretores foi a falta de tempo para se dedicar a ele. Constatou-se que não existia a prática de estudo por parte dos diretores das escolas. Um dos critérios previstos no Projeto Piloto indicava a necessidade de disponibilização de dez horas semanais de dedicação ao curso, o que nem sempre ocorreu, visto que a cada encontro presencial o(a) professor(a) orientador(a) utilizava os primeiros momentos para a postagem de atividades no ambiente, pois os cursistas não haviam finalizado as tarefas do módulo anterior, a distância. Os gestores mencionaram falta de tempo para realizar as atividades durante o período de trabalho nas escolas, além de falta de infra-estrutura nos seus locais de trabalho. Apesar de as orientações terem sido explicitadas em documentos encaminhados pela Coordenação do Programa aos secretários de Educação, e aos coordenadores estaduais e municipais, constatou-se, por meio das fichas de inscrição, que alguns gestores não atenderam aos critérios de seleção, acarretando dispersão geográfica e dificultando o acesso dos cursistas à tecnologia de suporte do curso. A partir dessas constatações, as Secretarias dos Estados foram substituindo os gestores inicialmente selecionados e propuseram alternativas de inserção e acompanhamento ao curso, tais como distribuição do material impresso relativo ao primeiro módulo; agendamento de horários nos NTEs para o recebimento pelos cursistas de treinamento no Ambiente Colaborativo de Aprendizagem; e contato direto com o professor-orientador responsável pelo Estado, no intuito de superar as situações adversas vividas ao longo do curso e de estabelecer adequações no sistema de Relato de uma experiência 53 apoio e acompanhamento aos cursistas, oportunizando a participação efetiva dos gestores matriculados no referido Programa, exceto em casos de desinteresse ou doença. Ressalte-se a necessidade de chamar a atenção dos gestores das Secretarias de Educação Estaduais e Municipais para a importância de garantir ao gestor escolar um tempo para a sua educação continuada. Por outro lado, e apesar do pequeno espaço de tempo para realizar as atividades, os cursistas construíram o Projeto Aplicativo, a ser desenvolvido no ano de 2006. Nos relatos dos cursistas fica evidenciado que os objetivos do Projeto Piloto foram alcançados no que se refere à necessidade da formação continuada dos gestores, da realização do trabalho em equipe e da utilização de indicadores detectados por meio de instrumentos aplicados nas escolas, para a elaboração de planejamentos que minimizem situações conflituosas no cotidiano e em longo prazo, e que apontem para o alcance da qualidade da educação na unidade escolar na qual o gestor atue. Saliente-se que os gestores mencionaram as mudanças pessoais significativas que ocorreram ao longo do processo, especialmente no campo das relações humanas. Considerações finais É uma iniciativa importante e inadiável do poder público oportunizar um espaço de construção coletiva para que as escolas e seus profissionais problematizem e ressignifiquem, a partir de suas práticas e de suas concepções pedagógicas, as 54 Escola de Gestores da Educação Básica questões inerentes à gestão democrática. Certamente, isso implica a formulação de uma política nacional de gestão que oriente a formação permanente das equipes gestoras escolares, proposta e coordenada pelo MEC em conjunto com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e as instituições formadoras de professores (universidades e outras instituições de ensino superior). É importante considerar, na troca e no diálogo respeitoso, o esforço e os saberes historicamente acumulados pelas instituições de ensino superior, pelos sistemas de ensino e pelas próprias escolas. Somente aqueles que estão comprometidos com as problemáticas e culturas próprias de suas comunidades terão condições de formular uma proposta de gestão que redimensione, requalifique e aprofunde o processo de participação dos diferentes segmentos da comunidade escolar na busca de qualidade do ensino, com a seriedade, responsabilidade social e reflexão teórica necessárias. Lembramos a recomendação dos educadores latino-americanos, quando reafirmam que os governos e as sociedades da América Latina precisam, com urgência, [...] recuperar a liderança e a iniciativa em matéria educativa, desenvolvendo uma massa crítica de profissionais e especialistas de máxima qualidade, consolidando uma cidadania informada, capaz de participar ativamente no debate e na ação educativa. Depois de um período de forte uniformização da política educativa e de simplificação dos processos educativos, é indispensável recuperar a capacidade para pensar e atuar a partir do melhor do conhecimento acumulado das especificidades de cada contexto nacional e local. (Pronunciamento Latino-Americano sobre Educação para Todos, Dacar, 2000). Relato de uma experiência 55 Temos ricas experiências de gestão democrática que precisam ser resgatadas, bem como uma produção teórica nessa área que carece de uma maior e mais adequada socialização para chegar à escola. Uma Escola de Gestores que considere o papel social da escola em uma perspectiva de inclusão, de qualidade social e de emancipação humana pretende, com educadores, coordenadores pedagógicos, equipes diretivas e conselhos escolares, contemplar a discussão: • da relação do processo de democratização do País e das políticas públicas educacionais com a economia de mercado, no sentido de vislumbrar os mecanismos de subordinação e/ou de ruptura a essa configuração da sociedade; • do papel do Estado na garantia dos direitos sociais e da escola; • das formas organizativas do interior da escola, que possibilitem a reconstrução da democracia participativa e não a reprodução de práticas político-clientelistas e burocráticas que apenas visam à reorganização da velha escola; • das transformações profundas no processo de gestão, reconstruindo o sentido da escola de qualidade para os setores populares na conquista dos direitos fundamentais e da cidadania; • das experiências alternativas de educação e de gestão presentes nos movimentos sociais que têm a educação como foco principal de sua atuação; e 56 Escola de Gestores da Educação Básica • das questões curriculares visando produzir uma nova organização do campo do conhecimento como um todo, no respeito à diversidade e na construção de um currículo democrático. Iniciativas de Estados e municípios têm levado à realização de diversos projetos visando à formação do gestor, porém faz-se necessária uma política nacional permanente de formação continuada, não apenas centrada no papel do gestor, mas na equipe diretiva, que oriente suas práticas cotidianas pela experiência da ação/ reflexão/ação e a discussão necessária com a comunidade escolar (pais, professores, alunos e funcionários) dos encaminhamentos e direcionamentos coletivos e participativos da escola. Os novos caminhos para a gestão escolar caracterizam-se pela contextualização da ação política – organização, articulação e mobilização – dos atores envolvidos nos processos educativos da escola e da comunidade, atuando e construindo, coletivamente, o projeto político-pedagógico que norteia toda ação efetiva da escola. Com a sociedade (comunidade) organizada – por intermédio de órgãos colegiados –, a escola terá maior autonomia pedagógica, administrativa e financeira para decidir sobre os seus recursos materiais e imateriais. Assim, o planejamento dos seus processos e procedimentos de gestão, incluindo o uso das ferramentas disponibilizadas pelas novas tecnologias da informação e comunicação, estarão de acordo com suas demandas imediatas e de longo prazo. Relato de uma experiência 57 A pertinência da proposta e a resposta dada pelos cursistas possibilitaram que, dos 400 cursistas matriculados, 91,23% fossem certificados, apresentando um baixo índice de abandono, se considerada a modalidade de educação a distância desenvolvida no curso. Esses resultados positivos são oriundos de aspectos que foram identificados ao longo do desenvolvimento do curso, tais como: • interação do professor-orientador, no ambiente virtual e nos encontros presenciais, com os cursistas; • participação constante do professor-colaborador no aprendizado dos cursistas, especialmente aqueles que apresentavam dificuldades de acesso ao ambiente; e • interação constante entre professores-orientadores e professorescolaboradores, por meio do ambiente e-ProInfo. A elaboração do Projeto Aplicativo ao longo do curso, o uso do Indique para diagnosticar o estado da arte da gestão da escola do cursista e o uso da tecnologia na gestão mostraram, mesmo em se tratando de um Projeto Piloto, que existe a necessidade de correção de rota e, considerando o número de cem horas bastante reduzido, percebeu-se um avanço significativo dos cursistas em relação ao domínio da tecnologia. Percebeu-se também um avanço na compreensão da importância do uso da tecnologia como ferramenta de gestão, da necessidade de acompanhamento do desempenho da escola em relação aos sistemas de avaliação desenvolvidos pelo Inep e uma melhor compreensão do conceito de gestão e de sua importância 58 Escola de Gestores da Educação Básica concreta na democratização das relações da comunidade escolar, na alteração dos resultados da educação e no sucesso da aprendizagem pelos alunos. Pode-se afirmar que o esforço desprendido alcançou pleno êxito nessa etapa do programa, ficando provado para todos os que participaram dessa etapa inicial que o curso se mostrou extremamente necessário, e que, ao apostar na figura do diretor, se está realmente atingindo um dos principais elementos de educação; que existe por parte desses atores vontade, interesse e disposição para o estudo e para a mudança, que, quando são oferecidos espaços de discussão e participação, o envolvimento das pessoas é significativo. A formação permanente é necessária, pois a escola faz parte da sociedade e, ambas, estão em constante mudança. Seus atores devem estar preparados para acompanhar essas mudanças, quiçá, até mesmo para capitaneá-las. Espera-se que o curso de formação ofertado no Projeto Piloto possa ser aproveitado como parte de um curso de especialização e, como previsto em seu projeto original, venha a fazer parte da agenda de ações prioritárias do Ministério da Educação, de Estados e municípios, e que essa experiência seja o embrião para a instalação de uma política de capacitação permanente de gestores escolares. Relato de uma experiência 59 60 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 3 O compromisso da formação e da atuação do gestor escolar: qualidade com tecnologia Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida Era uma vez... No meu tempo de estudante da escola primária quando bastava lápis, borracha e papel, boca fechada, olhos e ouvidos bem abertos para acompanhar as aulas e fazer as lições. Ganhar uma caneta tinteiro representava o máximo da sofisticação para alguém que passava a ser considerado um iniciado no mundo das letras! Hoje tudo mudou a nossa volta! Vivemos em um tempo repleto de informações! Novos produtos e inovações tecnológicas surgem e se transformam rapidamente, interferindo em nosso modo de vida, nas atividades cotidianas, em comportamentos e atitudes, provocando novas relações na maneira como nos relacionamos com as pessoas e com os artefatos com os quais convivemos em nosso dia-a-dia. Relato de uma experiência 61 Nesse contexto contemporâneo emergem conflitos que indicam o desafio fundamental de melhorar a qualidade da educação por meio de situações que propiciem aprender a viver, sobreviver e conviver com a diversidade, a tolerância e a solidariedade; aprender a atribuir significado às informações e aplicá-las para reconhecer problemas contextuais e buscar alternativas de soluções; aprender a identificar espaços para o desenvolvimento da autonomia na articulação de conhecimentos oriundos de diferentes locais e tempos e na (re)construção de conhecimentos que promovam o desenvolvimento pessoal e social. Surge assim como tema central das políticas públicas educacionais a diversidade cultural, a flexibilidade, a abertura de suas estruturas e currículos e a construção da cidadania democrática. Mas cidadania não pode ser ensinada em disciplinas específicas e sim experienciada em termos de vivência solidária, de compartilhamento de valores, conteúdos e instrumentos culturais que favoreçam o desenvolvimento de estruturas cognitivas, emocionais, éticas e de convivência democrática. Embora se reconheça que a escola não pode fazer todas as transformações sociais, alguma mudança ela pode provocar (Freire, 1996). Cabe então ao poder público criar condições políticas, organizacionais, físicas e instrumentais nos espaços educativos para viabilizar aos alunos o acesso aos bens culturais e aos instrumentos simbólicos da sociedade no sentido de proporcionar a qualidade social da educação e a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem. Desse modo, a escola retoma o seu lócus privilegiado de construção da cidadania e de desenvolvimento de sujeitos 62 Escola de Gestores da Educação Básica críticos que tenham condições de compreender o mundo e intervir em sua realidade fazendo uso de todos os instrumentos disponíveis, integrando distintas linguagens e códigos sociais. Nesse processo é imprescindível considerar as contribuições das velhas e novas tecnologias à educação, bem como priorizar políticas públicas voltadas à preparação de educadores – professores e gestores – para incorporar as tecnologias ao seu fazer profissional de modo que os artefatos tecnológicos possam agregar valor às atividades escolares e aos processos de formação continuada e em serviço, em uma perspectiva reflexiva fundada na articulação entre a prática a teoria (Almeida, 2004). Tecnologias na formação dos gestores e a interação multidirecional A formação continuada de gestores em exercício, atuantes em escolas públicas municipais e estaduais, propiciada pelo curso piloto, teve como eixo central a escola, espaço social e político de formação, com a ótica de gestão intimamente associada ao processo de educação emancipadora (Freire, 1976). A formação, considerada como intervenção intencional na produção do ser humano concreto e dialógico, adotou como finalidade primeira a reflexão sobre o sentido histórico-cultural e contextualizado da prática educativa escolar, buscando criar condições para refletir sobre as contradições e ambigüidades com que os gestores se deparam no cotidiano das atividades em busca de construir uma sociedade democrática. Relato de uma experiência 63 Essas referências foram trabalhadas por meio de um curso implantado no ambiente de aprendizagem e-ProInfo com o uso de recursos hipermediáticos, o que favorecia o desenvolvimento de atividades individuais e em grupo envolvendo cursistas oriundos de diferentes locais e o constante diálogo com os professores (orientadores e assistentes) que acompanhavam o percurso individual de aprendizagem dos cursistas, registrado no ambiente virtual, identificavam seus avanços e dificuldades, realizavam as intervenções fornecendo novos subsídios e orientações adequadas ao desenvolvimento do trabalho (Almeida, Prado, 2003). Esse curso piloto baseou-se em uma metodologia de formação, com suporte em ambiente virtual, que permite integrar práticas dos profissionais em seu ambiente de trabalho com análises e debates em fórum com colegas do curso que desenvolvem experiências correlatas e integradas com estudos teóricos que ajudam a criticar e compreender tais práticas. A par disso, as atividades da formação caracterizam-se por focos específicos e eixos articuladores que permitem interligar as atividades fazendo com que uma seja subsídio para o desenvolvimento das que a sucedem. Essa metodologia é viabilizada pelo diálogo constante entre os profissionais das equipes de coordenação e gestão do projeto com as equipes de professores (orientadores, assistentes e colaboradores). Portanto, ressalta-se a importância de prever na estrutura organizacional de projetos correlatos a participação de profissionais que tenham o papel de acompanhar o andamento dos trabalhos nas turmas e de resguardar a articulação entre as atividades, principalmente se os novos projetos se expandirem para cursos 64 Escola de Gestores da Educação Básica estruturados em diferentes disciplinas, núcleos de trabalho ou salas ambiente, que são mais complexos do que o curso piloto em sua implementação e correm o risco de encapsular os distintos espaços de trabalho. A fim de melhor compreender as contribuições do curso piloto, foram analisadas as respostas de 30% do universo de cursistas ao questionário de avaliação do curso aplicado no seu encerramento, as quais evidenciam a ênfase atribuída pelo curso piloto às interações entre todos os participantes, conforme os Gráficos 1, 2 e 3 apresentados a seguir. No Gráfico 1, obtido a partir das respostas à questão sobre a interação do cursista-gestor com seus colegas (questão 2.1), o diálogo com os colegas de outras escolas é um aspecto relevante. Esse fato é interessante porque se contrapõe ao senso comum de que em cursos a distância o aluno trabalha solitário e o foco do curso incide sobre a aprendizagem autônoma. Entretanto, no caso do curso piloto em análise, o ambiente virtual foi um aliado para a concretização da abordagem embasada no diálogo com os colegas, no compartilhamento de experiências, na investigação sobre a própria realidade de trabalho, na colaboração e na produção de conhecimentos. O Gráfico 1 indica o grau de importância para as interações com os colegas (89% entre muito satisfatório e satisfatório), o que é potencializado pelo registro das trocas no ambiente virtual, que podem ser lidas, relidas, comentadas e reelaboradas a qualquer momento a que o participante tenha acesso ao ambiente virtual. A tecnologia digital traz contribuições efetivas à organização, recuperação e inserção de novas idéias, bem como às trocas de experiências e desenvolvimento de produções em colaboração com os pares que têm a oportunidade de fazer e pensar em conjunto. Relato de uma experiência 65 50% 45% 20% 15% 10% 5% 0% NÃO OCORREU = 3% 25% ESPORÁDICA = 7,9% 30% SATISFATÓRIO = 47,5% PORCENTAGEM 35% MUITO SATISFATÓRIO = 41,6% 40% OPÇÕES DE RESPOSTAS Gráfico 1 – Interação dos cursistas com os colegas O Gráfico 2, evidencia mais fortemente a importância da interação nesse curso piloto, já que 93% dos cursistas consideram satisfatório e muito satisfatório a interação com o professor-assistente. O Gráfico 2 mostra a importância do papel do professor-assistente nesse curso piloto, uma vez que cabe a esse professor assegurar o apoio presencial ao cursista no que se refere ao uso dos recursos tecnológicos e à identificação das dificuldades inerentes ao contexto escolar. A par disso, o diálogo e a orientação do professor-orientador fortalece a compreensão do assistente em relação aos propósitos do curso e respectivas atividades, bem como sobre o significado das concepções embasadoras. Há que se orientar e prover condições para a compreensão dos professores-assistentes sobre os pressupostos da educação a distância (EAD) que se pretende desenvolver e sobre concepções de gestão escolar democrática e voltada à melhoria do ensino com vistas à aprendizagem dos alunos, à articulação com a comunidade e a eqüidade do ensino público. 66 Escola de Gestores da Educação Básica 70% 20% 10% NÃ O R E SPO ND E U = 2% 30% E SPO R Á D IC A = 5% 40% SA T ISF A T Ó R IO = 27,7% PO R C E NT A G E M 50% MU IT O SA T ISF A T Ó R IO = 65,3% 60% 0% OPÇÕES DE RESPOSTAS Gráfico 2 – Interação dos cursistas com os professores-assistentes Nas respostas ao item sobre a interação com os professores-orientadores (Gráfico 3), observa-se que os cursistas também atribuem importância à interação e ao acompanhamento pelos professores-orientadores. Chama a atenção a equivalência entre os graus de satisfação pela interação com os professores-orientadores (92% no Gráfico 3) e com os professores-assistentes (93% no Gráfico 2) ao longo de todo o curso. Tal fato leva a reafirmar a importância da interação como um dos fundamentos da EAD. 70% 20% 10% 0% NÃ O O C O R R E U = 3% 30% E SPO R Á D IC A = 5% 40% SA T ISF A T Ó R IO = 26,7% PO R C E NT A G E M 50% MU IT O SA T ISF A T Ó R IO = 65,3% 60% OPÇÕES DE RESPOSTAS Gráfico 3 – Interação dos cursistas com os professores-orientadores Relato de uma experiência 67 O Gráfico 3 mostra também que 8% dos cursistas indicaram que a interação com os professores-orientadores foi esporádica ou não ocorreu, o que se aproxima do porcentual de cursistas que declararam ter participado com alguma dificuldade de algumas discussões dos fóruns, de acordo com o que mostra o Gráfico 5. Tal dado será melhor investigado na inter-relação com as categorias identificadas nas respostas abertas às questões 5 (dificuldades para utilizar o ambiente e-ProInfo) e 8 (tempo para desenvolvimento do curso). Evidencia-se que a integração e a interlocução entre professor-orientador e professores-assistentes é fundamental para garantir a qualidade do curso, o compartilhar dos fundamentos teórico-metodológicos entre o professor-orientador (especialista no conteúdo e na metodologia) e os professores-assistentes. A par disso, o professor-assistente vai sendo formado para atuar em outros cursos. A interação entre professor e alunos e entre os alunos, viabilizada pelo ambiente virtual efetivou-se na troca de mensagens de correio eletrônico; em fóruns e chats, para os debates assíncronos e síncronos quando todos os participantes podiam ler e dialogar com as intervenções dos colegas. A navegação entre os recursos e as ferramentas do ambiente virtual, os registros das intervenções realizadas, os materiais de apoio e referências para leitura viabilizaram-se entre camadas de informações expressas por meio de distintas mídias (som, imagem, animação, texto verbal, vídeo, etc.) criando um movimento de ir e vir de um recurso a outro, ao clicar o mouse, de modo não-linear. Tudo isso acontecia a partir de atividades propostas no ambiente que remetiam os cursistas aos distintos espaços de interação e 68 Escola de Gestores da Educação Básica ferramentas, provocando a circularidade dialógica, a troca de experiências, o apoio mútuo, a descentralização do papel do professor e a alternância na liderança da mediação conforme o tema em discussão ou a relevância da experiência relatada pelo cursista. A participação e o compromisso com a qualidade da formação Gestão democrática e participativa concretizam-se no trabalho cotidiano na escola a partir de reflexões sobre práticas significativas experienciadas pelos gestores no contexto de sua escola durante a formação e que se tornem referência de uma ação de gestão escolar comprometida com a qualidade da educação para todos. Com essa perspectiva, o curso piloto oportunizou aos gestores a reflexão sobre as contradições, conflitos e paradoxos de sua realidade concreta e o desenvolvimento de estratégias de ação que desencadearam nesse lócus o trabalho coletivo para o diagnóstico dos problemas que afligem sua comunidade e a eleição de prioridades e ações para resolvê-los. Assim, ao mesmo tempo em que os gestores mobilizavam em sua escola processos participativos para a criação do Plano Estratégico de Gestão Escolar com o uso de instrumentos eficazes de registro, eles eram acompanhados pelos professores no ambiente virtual onde desenvolviam atividades interativas e produziam conhecimento sobre as práticas em realização a partir de leituras que fundamentavam suas ações. Evidencia-se assim que a participação permeava simultaneamente a formação e a atuação do gestor, o que foi identificado pelas respostas dos cursistas ao Relato de uma experiência 69 questionário de saída. O Gráfico 4 indica a participação efetiva dos cursistas nas atividades, pois, conforme se verifica, pouco mais de 83% dos cursistas realizaram todas as atividades, embora 11% tenham encontrado alguma dificuldade na sua execução. 80% 72,28% FEZ SATISFATORIAMENTE TODAS AS ATIVIDADES 70% FEZ COM DIFICULDADE TODAS AS ATIVIDADES PORCENTAGEM 60% FEZ SATISFATORIAMENTE AL GUMAS ATIVIDADES 50% FEZ COM DIFICULDADE ALGUMAS ATIVIDADES 40% 30% 20% 10,89% 11,88% 10% 4,95% 0% OPÇÕES DE RESPOSTAS Gráfico 4 – Participação dos cursistas nas atividades propostas no curso O Gráfico 5 mostra que 65% dos cursistas responderam ter participado de todas as discussões propostas nos fóruns temáticos e pouco mais de 25% participaram de algumas discussões. PARTICIPOU SATISFATORIAMENTE DE TODAS AS DISCUSSÕES 60% 52,48% PARTICIPOU COM ALGUMA DIFICULDADE DE TODAS AS DICUSSÕES PORCENTAGEM 50% PARTICIPOU SATISFATORIAMENTE DE ALGUMAS DISCUSSÕES 40% PARTICIPOU COM ALGUMA DIFICULDADE DE ALGUMAS DISCUSSÕES SEM RESPOSTA 30% 25,74% 20% 12,87% 10% 7,92% 0,99% 0% OPÇÕES DE RESPOSTAS Gráfico 5 – Participação dos cursistas nos fóruns 70 Escola de Gestores da Educação Básica Em relação às leituras (Gráfico 6), as respostas dos cursistas indicam que mais de 71% realizaram todas as leituras indicadas, dos quais 59% fizeram também algumas leituras complementares sugeridas. Aproximadamente 27% fizeram parte das leituras que fundamentaram as discussões e as práticas realizadas, além de outras leituras sugeridas. Tais resultados são importantes quando se considera um curso piloto que teve duração aproximada de três meses. FEZ TODAS AS LEITURAS INDICADAS E ALGUMAS SUGERIDAS 70% PORCENTAGEM 60% 59,41% FEZ TODAS AS LEITURAS INDICADAS 50% FEZ ALGUMAS LEITURAS INDICADAS E ALGUMAS 40% FEZ ALGUMAS LEITURAS SUGERIDAS SUGERIDAS 30% 26,73% 20% 11,88% 10% 1,98% 0% OPÇÕES DE RESPOTSAS Gráfico 6 – Realização de leituras pelos cursistas durante o curso Evidencia-se, como aspecto que merece atenção em formações congêneres, que 8% dos cursistas participaram com alguma dificuldade de algumas discussões dos fóruns (Gráfico 5), o que pode indicar a necessidade de se enfatizar o sentido do debate em fóruns de discussão nas ações iniciais de um curso com suporte em ambiente virtual, pois se esta participação fosse decorrência da falta de leitura (pouco menos de 2% não fizeram as leituras) ou da não-realização das atividades (quase 5% fizeram com dificuldade algumas atividades), tais valores deveriam se aproximar. Esse fato ocorre nas participações parciais em que se observa a proximidade numérica Relato de uma experiência 71 entre os cursistas que declararam ter participado de algumas discussões em fóruns (quase 26%) e aqueles que fizeram apenas algumas leituras (pouco mais de 26%). Portanto, a análise das respostas sobre as interações entre os participantes, a realização das atividades propostas e a participação em fóruns indica participação efetiva dos cursistas no acompanhamento do curso, por meio da realização de leituras (mais de 71% responderam que realizaram todas as leituras propostas e 27% fizeram parte das leituras), entrega de atividades (mais de 83% declararam que fizeram todas as atividades e 11% também o fizeram com alguma dificuldade) e participação em fóruns (mais de 65% mostram ter participado de todos os fóruns e 25% participaram de parte dos fóruns). Esses resultados podem validar a média geral de aproveitamento de 91,23% apresentada no final deste artigo, que considera também a avaliação das produções individuais e grupais, de responsabilidade dos professores das turmas. A articulação teoria e prática, ações presenciais e virtuais De acordo com essa concepção de formação e características da tecnologia digital de suporte ao curso, foi criada uma metodologia baseada na prática concreta desenvolvida pelo gestor na realidade da escola, que incentivava o gestor a desenvolver ações integradas com a comunidade para repensar a escola no coletivo, descentralizar decisões e desenvolver a autonomia em relação à seleção de prioridades que contemplassem a resolução de suas principais problemáticas. 72 Escola de Gestores da Educação Básica Assim, as estratégias propostas pelo curso contemplavam estudos individuais, discussões em grupos, atividades de pesquisa, trabalho coletivo na escola para a elaboração de Plano Estratégico de Gestão Escolar, fazendo uso de diferentes recursos e materiais de apoio tais como Indicadores de Qualidade na Educação (Ribeiro, Kaloustian, 2005), em versão impressa e digital em CD-ROM especialmente adaptada para uso neste Programa, vídeos da TV Escola – Um Salto Para o Futuro, textos de fundamentação teórica sobre temas relacionados à gestão escolar e outros. A articulação entre teoria e prática no desenvolvimento dos módulos proporcionou o envolvimento do cursista em ações que impulsionavam o exercício da gestão democrática e participativa integrando as interações no ambiente virtual com conteúdos teóricos e com práticas realizadas na unidade escolar de trabalho, partindo das necessidades, demandas e condições da sua realidade. A proposta de avaliação diagnóstica e de intervenção no contexto com o uso de indicadores de qualidade propiciou ao gestor o desenvolvimento de ações com a participação de sua comunidade escolar, fazendo uso de instrumentos que favoreceram a análise e o registro das condições contextuais identificados pela comunidade e a seleção conjunta de prioridades emergenciais e respectivas ações de curto prazo (Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE, e Indicadores da Qualidade na Educação – Indique), bem como a elaboração de planos estratégicos e possíveis realizações. Embora o curso tenha como suporte um ambiente virtual, o domínio das tecnologias empregadas não se constituiu como pré-requisito. Para propiciar ao cursista a imersão no espaço virtual, sem se sentir tolhido pela pouca familiaridade com a Relato de uma experiência 73 tecnologia digital, nas atividades do Módulo I presencial, o cursista teve a oportunidade de criar uma conta de e-mail pessoal, navegar no ambiente virtual, interagir com os recursos desse ambiente, explorar suas ferramentas utilizadas no curso e dialogar com os colegas por meio dessas ferramentas. O uso do ambiente virtual nos módulos presenciais foi fundamental para impulsionar o desenvolvimento de habilidades de domínio das tecnologias em uso e para identificar as dificuldades e respectivas providências no sentido de viabilizar as condições de acesso às tecnologias a partir dos postos de trabalho dos cursistas. Os dados de acesso dos alunos ao ambiente virtual coletados de informações diretamente fornecidas pelo e-ProInfo indicam a utilização desse ambiente em todos os módulos do curso. Nota-se quantidade significativa de acessos ao ambiente virtual e-ProInfo pelos cursistas-gestores durante o transcurso das atividades a distância, embora há que se considerar as dificuldades de acesso em alguns estados ou em determinados locais. É importante reconhecer e distinguir os acessos ao ambiente virtual nos módulos presenciais e a distância, fazendo a distinção entre os dois momentos, conforme respostas ao questionário de saída e analisado nos Gráficos 7 e 8, os quais mostram as análises das respostas sobre o acesso ao ambiente virtual eProInfo. Esse acesso foi considerado satisfatório (Gráfico 7), embora se tenha clareza das dificuldades dos cursistas de disponibilidade de computadores e Internet em seus postos de trabalho. Tal fato fica evidenciado no Gráfico 8 (acesso nos módulos a distância) na qual os gestores responderam que conseguiram acessar, mas eventualmente enfrentaram problemas. 74 Escola de Gestores da Educação Básica 70% 30% 20% 10% 0% ESPORÁDICA = 5% 40% SATISFATÓRIO = 59,4% 50% MUITO SATISFATÓRIO = 35,6% PORCENTAGEM 60% OPÇÕES DE RESPOSTAS Gráfico 7 – Acesso ao ambiente e-ProInfo – Atividades presenciais A análise das respostas dos cursistas sobre os acessos ao ambiente virtual e-ProInfo nos módulos presenciais e a distância, conforme os Gráficos 7 e 8 levam a constatar altos porcentuais de satisfação, embora a junção de muito satisfatório e satisfatório indique em torno de 14% superior para os acessos nos módulos presenciais. Essa discrepância se explica pelas dificuldades dos cursistas relacionadas com a falta de computadores e de acesso à Internet em seus postos de trabalho, como fica evidenciado no Gráfico 3 em que 8% indicaram que a interação com os professoresorientadores foi esporádica ou não ocorreu, assim como no Gráfico 5 em que responderam que conseguiram acessar os fóruns, mas eventualmente enfrentaram problemas. No Gráfico 7, pode-se observar que mais de 35% dos cursistas consideraram muito satisfatório o acesso ao ambiente, mais de 59% o consideraram satisfatório e apenas 5% tiveram acesso esporádico durante os módulos presenciais quando contavam com a orientação dos professores. Relato de uma experiência 75 60% 20% 10% 0% RESTRITO = 18,8% 30% SATISFATÓRIO = 49,5% 40% MUITO SATISFATÓRIO = 31,7% PORCENTAGEM 50% OPÇÕES DE RESPOSTAS Gráfico 8 – Acesso ao ambiente e-ProInfo – Atividades a distância O Gráfico 8 mostra que perto de 32% dos cursistas consideraram muito satisfatório o acesso ao ambiente e mais de 49% o consideram satisfatório, embora perto de 19% tenham considerado o acesso restrito, fato esse que merece ser levado em conta para que se possa prover condições aos cursistas de acesso às tecnologias de suporte ao curso, bem como de utilização de outras mídias como suporte às atividades, tais como material impresso, vídeos, CD-ROM. A evidência dessa dificuldade no andamento do curso levou à produção e distribuição de um material impresso com o conteúdo do curso piloto (textos de apoio e atividades), minimizando as dificuldades enfrentadas. Ao ter como foco de estudos a gestão democrática e compartilhada, considerou-se como pressuposto que democracia se faz com acesso e uso competente dos instrumentos simbólicos culturais, entre os quais a tecnologia digital, uma vez que por meio dessa tecnologia o gestor tem acesso a informações importantes para o exercício de sua prática profissional e para situar sua escola no contexto global do 76 Escola de Gestores da Educação Básica sistema de ensino ao qual pertence e no panorama nacional. Evidenciou-se assim o esforço desse curso também no sentido de propiciar aos gestores a democratização do acesso à Internet e à informação, e, sobretudo, o desenvolvimento de competências que lhes permitam desenvolver criticamente a fluência tecnológica para a própria formação, a aprendizagem e a atuação como gestor de escola pública. Nessa ótica, a participação neste curso piloto de multiplicadores que atuam nos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs) como professores-assistentes da formação propiciou a criação de condições favoráveis à inclusão crítico-social dos cursistas e ao desenvolvimento de uma fluência tecnológica que lhes permitiu conectar as exigências de participação no curso com as crescentes demandas do mundo do trabalho em relação ao uso de tecnologias para o acesso à informação, à produção e à divulgação de conhecimentos. A participação dos profissionais dos NTEs, na atuação em parceria com o professor-orientador para o acompanhamento dos cursistas no desenvolvimento das atividades e na implementação dos projetos desenvolvidos nas escolas durante os módulos a distância, forneceu o apoio necessário tanto no que diz respeito ao acesso ao conteúdo do curso quanto ao uso das ferramentas tecnológicas para a participação no curso e para o desenvolvimento de outras atividades escolares. A par desse acompanhamento e interação constantes, as ferramentas do ambiente virtual do curso proporcionavam o debate com argumentações focadas no assunto em discussão, a organização dos materiais de apoio para as atividades realizadas, o registro das produções dos cursistas – individuais e em grupo. Tais Relato de uma experiência 77 ferramentas também viabilizaram o compartilhamento de experiências e reflexões durante as atividades desenvolvidas nos módulos presenciais e a distância, propiciando com isso a construção de uma rede humana de aprendizagem colaborativa, que se estendeu para além das trocas no ambiente virtual e do espaçotempo do curso piloto. Essa rede se entrelaçou com outros nós que perpassam os demais contextos de atuação do cursista, especialmente com o espaço escolar em que ele desenvolvia as práticas propostas no curso, cujos relatos da realização registrados em documentos digitais e disponibilizados na biblioteca do curso foram objeto de reflexão de todos os colegas, que contribuíam com comentários e sugestões e encontravam referências importantes para a sua própria atuação na escola. Dessa forma, o espaço virtual funcionou como suporte às atividades e como registro da memória e compartilhamento das ações em realização, comunicações, significados expressos e produções, cuja recuperação instantânea possibilitou analisá-las, compreender avanços e dificuldades da formação, tratando-as como objeto de análise e reformulação no andamento das atividades. Dito de outro modo, a abordagem de reflexão sobre a realidade da escola e a própria prática encontra nos registros digitais instrumentos potencializadores para aprender na ação por meio da avaliação contínua do próprio trabalho e com a colaboração do grupo (colegas e professores) para produzir novos saberes e reformular adequadamente suas práticas. Assim, o professor também utiliza esses registros para propor estratégias de trabalho que possam provocar os alunos a dialogar com as idéias e produções 78 Escola de Gestores da Educação Básica dos colegas, dar feedback e espelhar-se nessas produções para reelaborar as próprias idéias e práticas. Além disso, a recuperação desses registros permitiu à equipe de consultoria e concepção do projeto desenvolver avaliações consistentes fundamentadas em dados fidedignos, o que propiciou reconhecer a complexidade das atividades em andamento, obter a consolidação imediata dos dados para visualizar o panorama global do curso e compreender as especificidades das turmas, viabilizando as orientações adequadas aos professores para garantir o respeito à identidade e diretrizes gerais do curso e o atendimento a demandas inerentes do movimento de cada turma. Considerações finais As ações realizadas no ambiente virtual, o registro das experiências desenvolvidas no contexto da prática do gestor e inserido no ambiente e os dados de acompanhamento quantitativo em relação à freqüência podem ser recuperados a qualquer momento e de todos os lugares com acesso à Internet, o que permite novas análises e compreensões mais afastadas e isentas em relação ao momento da ação e expressão dos pensamentos. Desse modo, pode-se descontextualizar as ações do espaço e tempo originários, apropriar-se das ações e recontextualizá-las em outras situações, criando referências para ações correlatas. A análise dos instrumentos de acompanhamento especialmente criados para esse curso, conforme ressaltado no capítulo 12 deste livro, trouxe subsídios para orientações complementares da equipe de consultoria e concepção do projeto aos Relato de uma experiência 79 professores e destes para seus alunos, propiciando a alteração de rotas com a finalidade de conduzir adequadamente o andamento do curso. Assim, a revisita aos dados e instrumentos do curso, focando o olhar sobre o acontecido com lentes direcionadas para aspectos específicos, levam o projeto a constituir-se em um amplo instrumento de pesquisa para estudos sobre a formação e a criação de referências para experiências correlatas. Nos módulos presenciais (I, III e V), a freqüência dos cursistas-gestores foi bastante alta como mostra o Gráfico 9, cujos índices de freqüência são superiores aos considerados satisfatórios até mesmo em cursos presenciais, atingindo a média no último módulo de 88,1%. A diminuição nos índices de participação ao longo do curso foi pequena; apenas os Estados do Espírito Santo e Piauí tiveram um decréscimo acentuado no decorrer dos módulos. Por conseguinte, os cursistas desses dois Estados tiveram um índice de reprovação mais elevado, ou seja, de 27,5% (Espírito Santo) e 17,9% (Piauí), como mostra o Gráfico 10. As dificuldades relatadas pelos alunos eram de inadequada infra-estrutura de apoio nos módulos presenciais e também devido às grandes distâncias entre as escolas em que trabalhavam e o local de realização dos encontros, contrariando a orientação dada para a seleção dos cursistas sobre as condições necessárias para a participação no curso. Observa-se no Gráfico 10 que o índice geral de aprovação dos cursistasgestores é de 91,23%, sendo que em sete Estados a reprovação foi inferior a 10%. O menor aproveitamento permanece superior a 72%, o que pode ser considerado satisfatório. 80 Escola de Gestores da Educação Básica 98,72 89,40 88,10 100,00 90,00 100,00 97,50 95,00 90,00 89,74 92,31 89,74 100,00 100,00 92,50 92,50 87,18 74,36 80,00 70,00 79,49 74,36 100,00 TO 80 100,00 87,50 97,50 100,00 95,00 97,50 R Á 100,00 100,00 95,00 95,00 PORCENTAGEM 100 IA 120 60 40 20 U R ÉD IA /T M C A N TI M N A S R IN A A TA SA N A R G R IO C E N D D D E N R A G MÓDULO I R IO TA O D N O A M TO SU L R TE O PI A U Í O B U C SS O N PE R M A TO G R O SA N EA ES PÍ R IT O C B A H 0 MÓDULO III TURMAS MÓDULO V Gráfico 9 – Freqüência nas turmas durante os módulos I, III e V – Módulos presenciais O alto índice de aprovação apresentado no Gráfico 10 pode ter sido influenciado pela constante interação com o professor-orientador no ambiente virtual e nos encontros presenciais, bem como pelo apoio dos professores-assistentes que algumas vezes se deslocavam até as escolas onde trabalhavam os cursistas-gestores a fim de lhes oferecer suporte e orientação. O uso do ambiente virtual no desenvolvimento do curso vai muito além da distribuição de materiais de apoio e entrega das atividades realizadas pelos alunos, pois proporcionou a organização e o registro dos relatos das atividades realizadas no contexto escolar, o compartilhamento dessa experiência com os colegas do curso, a contínua orientação da equipe formadora e o aprofundamento de reflexões apoiadas em leituras dos textos de fundamentação teórica relacionados aos conteúdos previstos Relato de uma experiência 81 80 91,00 100,00 92,50 89,74 97,50 97,50 82,05 72,50 84,62 95,00 100 TURMAS N S 9,00 C U R D O C A N TI TO M ÉD IA TA C A TA RI N A SU L D O SA N G RI O N D E R A G R IO R A N D E D O N O PI R TE A U Í C O O SS A M B U PE R N R O M A TO G SA N TO R Á ES PÍ R IT O C EA B A H IA 0 SO 0,00 7,50 10,26 2,50 2,50 5,00 20 17,95 40 15,38 27,50 60 2,50 PORCENTAGEM 97,50 120 APROVADO NÃO APROVADO Gráfico 10 – Índices de aproveitamento por turma ou a outros conceitos emergentes nas atividades desenvolvias pelos gestores. As sistematizações realizadas nos encontros presenciais permitiram aos cursistasgestores projetar planos pedagógicos estratégicos para soluções de problemáticas de seu cotidiano. No que se refere à entrega de atividades realizadas pelos cursistas e a participação em fóruns, há que se destacar as contribuições diferenciadas do ambiente virtual devido às características intrínsecas da tecnologia digital de propiciar a interação multidirecional, o registro e a recuperação dos documentos para socialização e comentários de todos os participantes, os debates coletivos ou em pequenos grupos. É evidente que as propriedades intrínsecas dessa tecnologia por si mesmas não garantem a efetividade da interação, mas tais propriedades aliadas à abordagem pedagógica socioconstrutivista criam condições favoráveis para a interação e a produção de conhecimento colaborativo pelos alunos. 82 Escola de Gestores da Educação Básica Assim, para a expansão dessa modalidade de formação de educadores que lhes propiciem desenvolver “a capacidade educativa e cultural de utilizar a Internet” (Castells, 2003, p. 266), evidencia-se como um dos aspectos fundamentais a definição de políticas públicas que viabilizem a infra-estrutura básica da Internet nas escolas, o acesso gratuito a todos e a criação de condições que lhes permitam participar efetivamente de programas de aperfeiçoamento de suas práticas profissionais sem a ocorrência de prejuízos pelo tempo de seu trabalho que foi dedicado à formação. É importante ressaltar que investir no gestor, significa investir nas lideranças dos processos de mudança das escolas, sem o que tais iniciativas correm o risco de se tornarem ações isoladas de educadores que lutam bravamente pelas transformações, mas não encontram eco em seus pares. Cabe ao gestor escolar liderar o processo coletivo de busca e interpretação de informações sobre a escola, fazendo uso de bases de dados oficiais e de informações geradas em seus espaços, transformando-as em conhecimentos para reconhecer a identidade da escola, suas necessidades, sonhos e projetos. Por meio da inclusão digital dos líderes educacionais buscou-se a gestão democrática e a melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem. Desse modo, podem-se criar condições favoráveis para a inclusão social de todos os envolvidos com a vida escolar, o que implica necessariamente na participação de todos os setores e segmentos que compõem a estrutura das redes de ensino, sendo a escola o espaço fundamental de trabalho com o conhecimento, de vivência democrática e de construção da cidadania e, portanto, de acesso à cultura, às artes e às informações atualizadas. Relato de uma experiência 83 Referências bibliográficas ALMEIDA, M. E. B. Inclusão digital do professor. Formação e prática pedagógica. São Paulo: Editora Articulação Universidade Escola, 2004. ALMEIDA, M. E. B.; PRADO, M. E. B. P. Redesenhando estratégias na própria ação: formação do professor a distância em ambiente digital. In: VALENTE, José Armando; ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de; PRADO, Maria Elisabette B. Educação a distância via Internet: formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2003. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Relatório Final I do Curso Piloto da Escola de Gestores da Educação Básica – MEC/ INEP. Brasília: Inep, 2006. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 14. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ______. Pedagogia do oprimido. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. MOTA, L. Programa vai capacitar diretores de escolas. RNP na mídia. Brasília: Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, 2004. Disponível em: http://www.rnp.br/noticias/ imprensa/2004/not-imp-041025.html Acessado em: jun. 2006. 84 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 4 O gestor escolar em uma sociedade em mudança Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo A melhoria na qualidade de ensino está intimamente ligada à dimensão da gestão nas unidades escolares, capaz de sustentar e dinamizar ações conjuntas, associadas e articuladas às condições materiais e humanas disponíveis no contexto escolar, de modo a atingir a efetiva e significativa aprendizagem dos alunos. Dentro desse dinâmico contexto, a compreensão mais acurada do profissional em gestão escolar acerca dos desafios e das possibilidades da inovação educacional deve ocorrer de modo que possa estabelecer direcionamentos adequados para a construção de uma escola de boa qualidade. Na perspectiva de que a educação acontece por meio de um processo contínuo, ininterrupto, em todos os lugares, na interação entre os seres humanos, a Relato de uma experiência 85 educação centrada especificamente na graduação constitui um dos degraus que proporcionam a visão do universo em que se insere o educando. Entretanto, para superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, o educador necessita investir na expansão do próprio conhecimento. Para compreender o processo da gestão escolar em uma perspectiva mais abrangente, e para que a ação educadora aconteça durante o processo de formação, faz-se necessário um aprofundamento na relação normal da gestão escolar, por meio de uma atitude reflexiva, concomitante à atitude de investigação científica, considerando o gestor um sujeito epistêmico que analisa a relação consigo próprio e com o ambiente de atuação profissional, utilizando teorias e metodologias de que se serve o mundo do conhecimento. Segundo Santos (2002, p. 27), a gestão da educação, como função atípica e desigual de qualquer atividade ou profissão de gerência empresarial, depende da filosofia e da política educacional do País e da postura na organização do trabalho pedagógico assumido nas escolas. Se a concepção de Instituição Social parte do conceito do instituído e, portanto, da educação como repassadora de valores e padrões [...] Ao contrário, partindo de uma concepção de Instituição Social inspirada na dialética do instituído-instituinte, a escola, mais que uma função de transmissão, tem também uma função de vivência. Com base na proposta de construir-se uma gestão democrática nas escolas brasileiras, em uma perspectiva da inclusão e da emancipação humana, foi concebido o Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica. Nessa dimensão, 86 Escola de Gestores da Educação Básica buscou-se a interação, discussão e construção de novos espaços de formação de gestores da educação básica, tendo em vista a valorização dos profissionais em serviço, localizados em dez Estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, Pernambuco e Tocantins. Com o intuito de atingir o objetivo de promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos gestores das unidades escolares, visando à melhoria da qualidade do contexto educacional e do processo de ensino e aprendizagem, a Coordenação Geral do Programa Nacional Escola de Gestores realizou uma série de encontros com representantes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), da Secretaria de Educação a Distância (Seed/MEC), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/Diretoria de Programas – Dipro), das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e de diversos segmentos educativos, consolidando, assim, o Projeto Básico do referido Programa, com o objetivo de atingir a Meta/Etapa 1 (Piloto): Meta/Etapa 1 (Piloto) – Formar 400 (quatrocentos) gestores escolares, em exercício em escolas públicas estaduais e municipais, vinculadas a 10 (dez) Estados, assim distribuídos por região: Região Norte (Pará e Acre); Região Nordeste (Ceará, Pernambuco, Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte); Região Centro-Oeste (Mato Grosso); Região Sudeste (Espírito Santo) e Região Sul (Rio Grande do Sul), sendo 40 (quarenta) cursistas por Estado, a partir do segundo semestre de 2005 (Inep, 2005, p. 14). Relato de uma experiência 87 Fundamentada nessa proposta, a Coordenação Geral (Inep) estabeleceu contato com os secretários de Educação dos Estados escolhidos, com o intuito de disponibilizar 40 vagas para cada um deles. Entretanto, os Estados do Pará e Acre não aderiram ao Programa, abrindo espaço para que Santa Catarina e Tocantins participassem efetivamente do Projeto. Ressalte-se que os 40 cursistas oriundos do Tocantins foram indicados pela Undime. A partir da assinatura dos Termos de Adesão, a Coordenação do Programa matriculou 400 gestores, sendo 20 de escolas estaduais e 20 de escolas municipais, exceto o Estado do Tocantins, em que foram matriculados 40 cursistas das redes municipais de ensino, iniciando, assim, o processo de implantação do Projeto. Projeto Piloto: uma proposta ousada na educação brasileira Os caminhos a serem trilhados na implantação para atingir os objetivos propostos no Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica na etapa do Projeto Piloto foram definidos por meio de ações que viabilizaram a implantação, execução, acompanhamento e avaliação do Programa. Em cada uma das etapas o compromisso com os princípios do programa foi preservado, tais como: compromisso com a melhoria da qualidade do ensino público e com a capacitação e a valorização do gestor escolar; respeito ao princípio de eqüidade; atendimento ao princípio democrático de integração com a comunidade, descentralização do poder e autonomia da escola; e formação de uma rede que possibilite a troca de informações, experiências, vivências e integre os gestores escolares de todo o País. 88 Escola de Gestores da Educação Básica A concepção da proposta pedagógica do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica é resultado da necessidade de se refletir sobre a importância da gestão democrática no processo global de democratização da escola em particular e da sociedade em geral. Partindo desse pressuposto, define-se como um programa de formação continuada e em serviço, organizado na modalidade a distância, para gestores escolares que se encontram em exercício nas escolas públicas estaduais e municipais do País. Sua preocupação básica é melhorar a formação desses profissionais e, conseqüentemente, o desempenho das unidades escolares onde eles atuam e a aprendizagem dos alunos (Inep, 2005). Constata-se que o desenvolvimento do Programa contribuiu efetivamente para a reflexão dos gestores sobre a importância da gestão democrática na modalidade a distância, visto que os relatos dos cursistas foram favoráveis a respeito da melhoria do seu desempenho nas unidades escolares em que atuam, apesar do espaço de aproximadamente quatro meses para o estudo, elaboração de ações, implementação e apresentação dos resultados. A professora-orientadora do Estado do Mato Grosso, em seu relatório final das atividades, ressaltou o relato de um cursista acerca das mudanças propiciadas pelo curso: Abriu horizontes para reflexão do cotidiano escolar, credibilidade, saber ouvir e falar, diálogo aberto, olhar com outros as ações ocorridas, repensar projetos realizados, implantação de computadores e Internet, inclusive para a comunidade, transparência em prestação de contas, descentralização de responsabilidade, trabalho em equipe num ambiente colaborativo (Martino, 2001, p. 41). Relato de uma experiência 89 Tal relato indica que o desenho do curso na modalidade de educação a distância (EAD) proporcionou aos cursistas experienciar diferenciadas metodologias de aprendizagem, conforme previsto no Projeto Básico (Inep, 2005), por meio do Ambiente Colaborativo de Aprendizagem e-ProInfo e dos três encontros presenciais realizados nas capitais dos Estados. Segundo Sousa e Nunes (2003, p. 138), a utilização das novas tecnologias da informação por professores bem capacitados possibilita a abertura de um novo mundo de oportunidades educativas a partir do [...] [...] momento da animação ao estudo, passando pela ampliação do raio de atuação dos alunos e por maior facilidade em comunicação com cada aluno, completando o processo de aprendizagem com uma nova relação professor-aluno, onde a orientação pode ser mais individualizada, e atendendo aos anseios e características de cada um dos alunos. No ambiente colaborativo de aprendizagem desenhado para o Projeto Piloto, por meio da plataforma e-ProInfo, foram disponibilizadas ferramentas, como: diário de bordo, fórum, webmail, chats, biblioteca, materiais, atividades, entre outros. Tanto no ambiente virtual quanto nos encontros presenciais, as metodologias adotadas para a realização dos cinco módulos foram desenvolvidas de maneira que os cursistas pudessem explorar os materiais de referência do Programa e participar de discussões, reflexões e interações. Ressalte-se que a maioria dos cursistas apresentou dificuldades quanto ao uso do computador. Constatou-se a ausência de conhecimentos indispensáveis para que as atividades propostas no Projeto fossem desenvolvidas, além da indisponibilidade de computadores ligados à rede da Internet. Contudo, conforme 90 Escola de Gestores da Educação Básica previsto no Projeto Básico, o curso semipresencial proposto lançou mão de toda a metodologia necessária (estudos individuais, discussões em grupos, atividades de pesquisa, elaboração coletiva de Projeto de Gestão Escolar, etc.). Essas metodologias de aprendizagem foram essenciais para que os objetivos de aprendizagem fossem alcançados com qualidade, minimizando as dificuldades, desmotivações ou o sentimento de isolamento que os cursistas pudessem evidenciar na leitura e estudo individual do material impresso, em seu processo de formação continuada (Inep, 2005). Segundo Prado (2005, p. 23), as reflexões dos cursistas registradas na plataforma do Ambiente Colaborativo de Aprendizagem e-ProInfo, por meio da ferramenta “Diário de Bordo”, demonstraram “que a abordagem de EAD usada permitiu efetivamente que os princípios educacionais do curso piloto fossem contemplados”, conforme exemplifica com o relato de um cursista: Estou muito feliz por estar participando deste curso. Para mim foi um presente. Muitas vezes me sentia desmotivada diante de tantas dificuldades que encontrava na escola. O encontro com outros gestores foi algo muito valioso para mim, pois vi que a minha realidade não era diferente das outras. As leituras que fiz nestes módulos me impulsionaram a realizar algumas atividades neste período. Foi muito interessante a elaboração do projeto para 2006. Discutimos em nossa escola uma questão que para nós é de fundamental importância: “O incentivo à leitura e à produção textual”. E daí elaboramos o nosso projeto. A participação foi excelente. Saímos motivados a realizar o nosso plano (cursista-gestor da turma da Bahia). Indiscutivelmente, a partir da sistematização do conhecimento já concebido ao longo da vida, bem como na interação com outros gestores, agregado ao conhecimento abstraído no Projeto Piloto Escola de Gestores, o gestor escolar Relato de uma experiência 91 encontrou subsídios para compreender os fatores favoráveis e outros que bloqueavam o seu potencial como um todo. Relacionado aos fatores que bloquearam o potencial dos cursistas, pode-se destacar o critério previsto no Projeto Piloto indicando como essencial a disponibilidade de dez horas semanais de dedicação ao curso. Constatou-se que esse critério não foi totalmente efetivado, visto que a cada encontro presencial o(a) professor(a) orientador(a) dispunha dos primeiros momentos para a postagem de atividades no ambiente colaborativo de aprendizagem. Os gestores mencionaram falta de tempo para realizar as atividades durante o período de trabalho, além de falta de infraestrutura nos municípios de origem. Entretanto, nos relatos dos cursistas fica evidenciado que, apesar das dificuldades mencionadas anteriormente, os objetivos do Projeto Básico foram alcançados no que se referem à necessidade da formação continuada, do trabalho em equipe e da utilização de indicadores, suscitados por meio de instrumentos aplicados nas escolas, para a elaboração de planejamentos que minimizassem situações conflituosas no cotidiano e em longo prazo. Saliente-se que os gestores mencionaram as mudanças pessoais significativas que ocorreram durante o processo, especialmente com relação ao campo das relações humanas. Os bastidores do Programa Escola de Gestores na etapa piloto No escopo do Projeto foram definidas as principais ações a serem desenvolvidas pelos diversos agentes para elaboração, aprovação, execução e avaliação da implementação e disseminação do Programa: 92 Escola de Gestores da Educação Básica a) definição de políticas e estratégias para sua implantação e implementação em nível nacional (Inep, 2005, p. 14). Para viabilizar a implantação do referido Programa na etapa do Projeto Piloto, foi elaborado um Projeto Básico tendo em vista a contratação de uma instituição de ensino superior (IES) especializada para execução de serviços, compreendendo: • elaboração de estudo para apontar metodologia adequada para um Programa de Capacitação de Gestores em exercício de escolas estaduais e municipais da rede pública; • o pressuposto é de que esses gestores devem receber formação que garanta seu crescimento pessoal e profissional e aplicação imediata dos conteúdos recebidos com resultados mensuráveis em curto prazo; • a partir do estudo e dos conteúdos definidos pela contratante, planejar e executar um Projeto Piloto com 400 gestores cursistas visando testar a metodologia e conteúdos propostos; • avaliar os resultados obtidos e propor ajustes visando à elaboração de Programa para a disseminação do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica. A elaboração do Projeto Básico possibilitou a organização das ações que a Contratada deveria desenvolver para a implantação do Projeto Piloto nos dez Estados. Contudo, o tempo de no mínimo quatro meses para que os trâmites legais do processo de contração da IES especializada fossem efetivados inviabilizaria a implantação do referido Projeto no ano de 2005. Relato de uma experiência 93 Com base na impossibilidade de contratação de uma IES, a Coordenação do referido Programa iniciou um processo de negociações com o FNDE e o Inep contemplando as contratações, na modalidade produto, de Consultores, ProfessoresOrientadores e Gestores Pedagógicos, bem como de serviços tecnológicos especializados, para atender aos objetivos do Programa. A destinação orçamentária para a etapa do Projeto Piloto havia sido estimada, inicialmente, em R$ 1.045.640, sendo R$ 370.790,00 do orçamento do Inep e R$ 674.850,00 do orçamento do FNDE. O Inep ficou com a responsabilidade das Regiões Sul e Sudeste, abrangendo os Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, e o Fundescola/FNDE assumiu as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, abrangendo os Estados de Tocantins, Mato Grosso, Bahia, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco. O relatório das despesas demonstrou que o custo do Projeto ficou aquém das expectativas, visto que o seu valor total foi de R$ 705.688,14. O saldo credor do Projeto totalizou R$ 339.951,90. O valor de R$ 16.916,52 a maior ocorreu em razão da inexistência de pessoal por ocasião do início do Projeto Piloto na Seed, que daria o suporte tecnológico ao curso, por meio do e-ProInfo, aos professores orientadores, aos professores assistentes e aos alunos, em cada um dos dez Estados. Foi contratada uma empresa de prestação de serviços, alterando com isto os gastos em relação à previsão orçamentária. As despesas com materiais instrucionais ficaram na ordem de R$ 42.557,00, assumidas integralmente pelo Inep. 94 Escola de Gestores da Educação Básica Previa-se no Projeto Básico do Programa a execução de mais duas ações na Etapa Piloto, relativas à realização de um Seminário Internacional de Gestores Escolares e a uma Pesquisa sobre o Perfil do Gestor e da Gestão Escolar no Brasil. Essas ações não foram executadas porque a liberação dos recursos ocorreu apenas no mês de novembro de 2005, não havendo, portanto, tempo hábil para tal na etapa do Piloto. Fontaine (1984, p. 27) afirma que, para a identificação os custos e benefícios do projeto, que são pertinentes à sua avaliação, é necessário definir uma situação base ou situação sem projeto; a comparação do que ocorre com projeto versus o que teria ocorrido sem projeto definirá os custos e benefícios pertinentes ao mesmo. Partindo desse pressuposto, em um projeto desenvolvido durante o período de quatro meses, não foi possível realizar uma avaliação que atenda ao rigor do julgamento sobre ações, comportamentos, atitudes ou realizações humanos. II. O investimento em recursos humanos, obviamente, tem um horizonte de médio e longo prazos e responde tanto às necessidades da clientela, que requer capital humano para satisfazer suas necessidades por si mesma, como às demandas da sociedade, que exige uma população em condições de assegurar sua continuidade e desenvolvimento. O princípio de eqüidade rege estas ações, em relação ao curto prazo e à clientela, enquanto que o princípio de eficiência predomina a médio e longo prazos e em relação aos interesses societários (Cohen, Franco, 2004, p. 26). Definidas, as contratações, em âmbito nacional, dos atores que estariam efetivamente responsáveis pelas consultorias e serviços técnicos, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação/Undime selecionaram os atores (coordenadores estaduais, municipais, dos NTEs e os professores assistentes), que participaram de Relato de uma experiência 95 duas Oficinas de Capacitação realizadas em Brasília, em 27 de junho de 2005, no Inep/MEC, e 22 e 23 de agosto, no Centro de Treinamento do Ministério da Educação (Cetremec), com o propósito de formação da equipe técnica para o acompanhamento da implantação do Projeto Piloto nos Estados. A partir dessas capacitações, as coordenações estaduais e municipais monitoraram o processo de implantação e implementação do Programa. Ressalte-se que esses atores acumularam funções dentro das Secretarias, de modo que não atenderam ao critério de “disponibilidade de 20 horas semanais” (Inep, 2005, p. 21) proposto no Projeto Básico. Esse fato desencadeou uma sobrecarga de trabalho aos tutores (professores assistentes) nos Núcleos de Tecnologias Educacionais. Com relação aos NTEs, os critérios de escolha foram estabelecidos pela coordenação do Projeto Piloto/Inep em conjunto com a Seed/MEC. Os Estados foram escolhidos com base na infra-estrutura dos NTEs, e os cursistas, indicados pelas Secretarias Estaduais e Municipais, delimitando os gestores, que residiam em um raio de, no máximo, 60 quilômetros para o acesso ao e-ProInfo, por meio do NTE. Constatou-se que em alguns Estados esses critérios não foram preservados, gerando, portanto, as dificuldades dos cursistas em manter um nível de aproveitamento satisfatório nos Módulos a distância, preservando a proposta pedagógica do curso. A proposta pedagógica do curso piloto Para viabilizar a fundamentação teórica do curso, a Coordenação do Programa partiu do pressuposto de que as publicações impressas ou virtuais relacionadas à 96 Escola de Gestores da Educação Básica gestão escolar seriam utilizadas com a devida permissão dos autores. Para tanto, disponibilizou vídeos do Programa TV Escola que abordam temas relacionados à gestão escolar, sites, artigos publicados em revistas científicas e livros escritos por teóricos que se dedicam ao estudo da gestão escolar, bem como hipertextos produzidos pela equipe de consultores externos. Os conteúdos foram compilados e disponibilizados em CD e no ambiente virtual aos cursistas, bem como por meio de kits pedagógicos impressos, contendo os seguintes materiais: • GESTÃO escolar e formação de gestores. Em Aberto, Brasília, v. 17, n. 72, jun. 2000. • NEUBAUER, Rose; SILVEIRA, Ghisleine Trigo; BOCHIXIO, Cleide Bauab. Ofício de Gestor: Escola de A a Z. São Paulo: Fundação Victor Civita, 2003. • RIBEIRO, Vera Masagão; KALOUSTIAN (Org.). Indicadores da qualidade na educação. Brasília: Inep, 2005. Versão adaptada para o programa Escola de Gestores da Educação Básica. • INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Catálogo de Publicações. Brasília: Inep, 2005. • INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Manual do Curso. Brasília: Inep, 2005. • Folder contendo: Justificativa, Objetivos do Programa, Princípios; Público-alvo; Metas; Metodologia; Estrutura do Curso; Dinâmica de Trabalho, Avaliação. • Tutorial da Escola de Gestores. Disponível no site www.eproinfo.mec.gov.br Relato de uma experiência 97 CD contendo o seguinte Menu: • Manual do Curso Piloto Escola de Gestores (pdf). • Indicadores de Qualidade da Educação – Indique (pdf). • Como Elaborar o Plano de Desenvolvimento da Escola. • Projeto de Melhoria da Escola – PME (pdf). No que tange aos Módulos presenciais, estes foram agendados de acordo com a disponibilidade das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, dos professores orientadores, dos consultores e da equipe técnica. A organização foi de responsabilidade das respectivas Secretarias, bem como o deslocamento dos cursistas aos locais dos encontros nas capitais dos Estados. Em contrapartida, o Inep responsabilizou-se em disponibilizar os professores-orientadores, materiais impressos, consultores do Programa e equipe técnica das Secretarias do Ministério da Educação – SEB e Seed –, para o acompanhamento e avaliação dos cursistas nos encontros presenciais. Ao longo dos encontros presenciais foram identificadas as dificuldades emergenciais, como: acesso aos computadores, acesso à Internet, falta de computador pessoal e na escola; dificuldades em informática; e falta de tempo para a elaboração de atividades. Na etapa a distância, os Estados e municípios organizaram-se no sentido de minimizar as dificuldades dos cursistas em acessar a plataforma. As coordenações estaduais e municipais detectaram as necessidades de cada um dos cursistas em 98 Escola de Gestores da Educação Básica processar suas informações no ambiente colaborativo de aprendizagem e promoveram um encontro extraprograma. Esses encontros aconteceram com a presença e atuação dos professores assistentes dos NTEs e, em alguns locais, com a participação efetiva dos professores colaboradores das universidades federais ou estaduais. Com isso, os obstáculos de infra-estrutura estadual e municipal foram minimizados durante os encontros, bem como as dificuldades dos cursistas em acessarem o ambiente eProInfo e a interagirem entre si. Apesar de as orientações terem sido explicitadas em documentos encaminhados pela Coordenação do Programa Escola de Gestores aos secretários de Educação, coordenadores estaduais e municipais, constatou-se, por meio das fichas de inscrição, que alguns gestores não atenderam aos critérios de seleção, acarretando dispersão geográfica e dificultando o acesso dos cursistas à tecnologia de suporte ao curso. Com base nesses obstáculos, as Secretarias dos Estados foram substituindo os gestores inicialmente selecionados e propuseram alternativas de inserção e acompanhamento ao curso, tais como: distribuição do material relativo ao primeiro módulo, agendamento de horários nos NTEs para o recebimento de treinamento no Ambiente Colaborativo de Aprendizagem e contato direto com o professor-orientador do Estado. Outro fator que contribuiu sobremaneira está relacionado ao suporte técnico e tecnológico da Seed/MEC, que disponibilizou uma equipe para acompanhar os professores orientadores, os coordenadores estaduais/municipais e os cursistas no Relato de uma experiência 99 acesso à plataforma e-ProInfo. Constatou-se que, apesar de a equipe estar conectada ao longo do desenvolvimento das atividades, os Núcleos de Tecnologia Educacional dos Estados e dos municípios não disponibilizam equipamentos necessários e adequados para o rápido acesso ao ambiente de aprendizagem e-ProInfo. Em alguns Estados, os NTEs estão sucateados, com necessidade de adaptações que permitam aos cursistas as mínimas condições para o desenvolvimento de um curso a distância. Todos esses aspectos evidenciados anteriormente foram identificados nas avaliações realizadas por meio de reuniões com as equipes dos Estados e municípios antes e após os encontros presenciais. Além dessas reuniões, o Departamento de Projetos Educacionais da Secretaria de Educação Básica/MEC disponibilizou, para aplicação, após os três encontros presenciais, questionários e um roteiro de observação a ser preenchido ao longo do encontro. A equipe de consultores externos da Coordenação do Curso Piloto da Escola de Gestores também elaborou uma documentação composta por planilhas para acompanhar e avaliar o desenvolvimento pedagógico do Projeto Piloto: Lista de presença ação presencial por Módulo Documento contendo os nomes dos cursistas matriculados no Projeto Piloto. Consolidação das Planilhas de Acompanhamento Planilha contendo os resultados das atividades realizadas pelos cursistas por Estado e a porcentagem de participação dos respectivos gestores. 100 Escola de Gestores da Educação Básica Relatório Analítico dos Diários de Bordo Documento contendo o detalhamento das produções dos cursistas na ferramenta “Diário de Bordo” disponibilizada no Ambiente Colaborativo de Aprendizagem e-ProInfo. Consolidação das respostas do questionário inicial Instrumento contendo a síntese das respostas obtidas a partir dos questionários respondidos pelos gestores-cursistas sobre a sua gestão escolar. Gráfico de Atividades Composto por índices de avaliação referentes à elaboração das atividades dos cursistas-gestores por Estado. Instrumento composto por uma planilha referente aos resultados obtidos com base no número de atividades realizadas, bem como a porcentagem de participação dos cursistas-gestores nos Estados. No âmbito da Coordenação Nacional, a avaliação e o acompanhamento do Projeto Piloto foram realizados por meio de reuniões com os consultores internos, externos e professores orientadores para análise geral das turmas do curso piloto, considerando a vivência dos Módulos presenciais e a distância, definição de datas dos presenciais e providências de infra-estrutura e necessidade local. Considerações finais As ações executadas na implantação e implementação do Projeto Piloto do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica em dez Estados da Federação garantiram a proposta de assegurar um padrão comum de qualidade durante o processo de educação continuada, e, apesar das situações concretas evidenciadas ao longo do curso relativas ao acesso do cursista à Internet nos Módulos a distância, materializou-se o desenvolvimento de estudos autônomos. Relato de uma experiência 101 Independentemente das situações adversas celebradas ao longo do curso e por se tratar da implantação de um Projeto Piloto, o estabelecimento de adequações no sistema de apoio e acompanhamento aos cursistas oportunizou a participação efetiva dos gestores matriculados no referido Programa, exceto em casos de desinteresse ou doença. As reflexões decorrentes das análises dos resultados dos recursos materiais selecionados e impressos para fundamentar teoricamente o Curso da Escola de Gestores, na etapa 1 – Projeto Piloto, sugerem um acompanhamento tutorial mais detalhado que suscite indicadores para uma nova análise de materiais e aborde a gestão escolar com base na realidade dos cursistas na etapa de disseminação do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica. Um fator positivo que deve ser ressaltado refere-se ao comprometimento dos Estados/municípios em manter a qualidade do curso, uma vez que ofereceram aos cursistas – que ainda não haviam desenvolvido habilidades tecnológicas satisfatórias para o acompanhamento ao curso – capacitações nos NTEs dos Estados e municípios durante o módulo a distância. As novas estratégias criadas pelos Estados e municípios, com a participação efetiva dos professores assistentes dos NTEs, para o desenvolvimento do Curso Escola de Gestores nos módulos a distância, foram bem-sucedidas. Constata-se um esforço além do previsto para a superação dos obstáculos de infra-estrutura física, dispersão geográfica dos cursistas e equipamentos tecnológicos. 102 Escola de Gestores da Educação Básica Os direcionamentos e adequação às situações de impasse que ocorrem ao longo do desenvolvimento do curso foram construídos com os atores envolvidos, de modo a favorecer um bom desempenho dos cursistas e a preservação da metodologia adotada de educação a distância. Destaca-se a contribuição do Projeto Piloto do Programa Nacional Escolas de Gestores da Educação Básica nos dez Estados da Federação em produzir resultados satisfatórios que permitem, efetivamente, a formação de gestores escolares em exercício nas escolas públicas estaduais e municipais do País por meio de uma política pública para o setor. Referências bibliográficas FONTAINE, E. Evolución social de proyectos. Santiago: Ediciones Universidad Católica, 1984. FRANCO, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Projeto Básico do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica: formação continuada de gestores escolares. Brasília: Inep, 2005. MARTINO, Mariluce Alves. Relatório referente ao produto 2/PNUD/INEP. Brasília: Inep, 2001. PRADO, Maria Elisabette Brisola Brito Prado. Relatório referente ao produto 2/PNUD/ INEP. Brasília: Inep, 2001. SOUSA, Maria de Fátima Guerra de; NUNES, Ivônio Barros. Abordagens técnicohistóricas em educação a distância. Brasília: Sesi, 2003. Relato de uma experiência 103 104 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 5 Documentação do Curso Piloto Nelson Morato Pinto de Almeida Documentar é registrar pelos diversos meios disponíveis, escrita, imagens e desenhos, os acontecimentos, fatos, episódios ocorridos e deixá-los grafados para que em um tempo futuro possam ser vistos e revistos. A documentação tornou-se aos poucos parte integrante dos grandes momentos históricos e das grandes atividades desenvolvidas pelo homem desde seus primórdios, e hoje é parte essencial e sistemática de atividades e profissões que a humanidade desenvolve e desempenha. Documentar é também criar condições de acompanhar o desenvolvimento de uma atividade ou de um projeto, possibilitando verificar e analisar o encaminhamento das atividades ou das fases desse projeto, comparar resultados, mudar o rumo do desenvolvimento esperado e corrigir os desvios necessários. Relato de uma experiência 105 Os meios de comunicação hoje existentes, as facilidades de registro e os equipamentos que a humanidade tem à disposição contribuem para facilitar e tornar cada vez mais importante o ato de documentar e registrar, pois permitem ao ser humano obter conhecimento do que foi feito ontem, ressignificar o ocorrido hoje e aplicar no amanhã, emergindo dessa maneira o movimento intrínseco do processo de aprendizagem do homem moderno. Uma introdução ao ato de documentar Documentar, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é registrar (acontecimento, fato, episódio, etc.) por meio da escrita, imagem, desenho, deixando esses acontecimentos grafados para serem vistos ou revistos em algum tempo no futuro. É instruir e esclarecer alguma situação ou atividade acontecida ou desenvolvida. Assim sendo, no processo de documentar, torna-se fundamental o registro de tudo o que ocorreu ou ocorre em uma atividade, fato ou projeto, seja de domínio público ou de caráter privado, e que possa ser resgatado em qualquer época como história, fonte de informações ou de pesquisa, de modo que possa ser analisado para rever trajetórias, corrigir rumos e identificar novos horizontes. O registro dos feitos dos homens remonta à pré-história, quando eles desenhavam nas paredes das cavernas imagens e figuras que representavam seus combates com os animais ou com as tribos rivais, deixando como legado essas imagens e figuras para as futuras gerações sobre os acontecimentos ocorridos. 106 Escola de Gestores da Educação Básica Na antiguidade, a civilização egípcia desenvolveu o uso do papiro como instrumento de registro dos feitos dos faraós e dos reis, documentando a existência de uma civilização desenvolvida para as gerações futuras reconhecerem sua cultura. Os povos antigos, de modo muito freqüente e de distintas maneiras, deixaram documentados seus desenvolvimentos, suas lutas, suas histórias em diferentes meios de registros disponíveis para a época, de forma que gerações futuras pudessem ter conhecimento e referendar suas histórias e seus antepassados. A primeira documentação por meio da escrita da história do mundo foi a Bíblia, que compilou registros sobre a humanidade no Antigo e no Novo Testamento, e que fundamentou a base cristã de diversas religiões no mundo, as quais se desenvolveram inspiradas nos apontamentos dos escribas e escritores através dos tempos. Na época das grandes navegações, as expedições possuíam sempre um escrivão responsável por registrar, anotar e descrever os acontecimentos, as descobertas e as experiências vividas pelos navegadores, que apresentavam esses documentos em forma de resultados e os entregavam aos financiadores das expedições para a análise e qualificação do grau de interesse exploratório em oportunidades futuras. Assim, como exemplos dessas anotações, podemos citar a carta de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil e diversos diários de bordo, como os de Marco Pólo. Dessa maneira, o homem foi aos poucos se habituando e criando rotinas documentais e de registro das situações cotidianas desde os primórdios de sua existência quando desenhava nas paredes das cavernas seus feitos e experiências, Relato de uma experiência 107 até nossos dias, com registros escritos ou eletrônicos das atividades desenvolvidas, procurando deixar para o futuro a história de um trabalho, de um projeto ou do seu próprio desenvolvimento. A documentação nos dias atuais Diante da necessidade de documentar a trajetória e as ocorrências de uma atividade para posterior utilização desses registros, palavras alusivas aos locais de registros, tornaram-se comuns nos relatórios e nos escritos que abordam o tema. Assim, os termos e citações como, diário de bordo, diário de atividades, agenda de compromissos, data sheet,1 memorial de cálculo, memorial técnico, memorial descritivo entre tantos outros se tornaram comuns para representar um local ou denominar um documento onde se registram e se fazem as anotações das ocorrências, das atividades ou do trabalho em desenvolvimento. Entre as áreas profissionais mais conhecidas, as administrativas, financeiras e as de base técnica são as que mais se utilizam do recurso da documentação de suas atividades ou experimentos como forma de descrever as condições iniciais, acompanhar o desenvolvimento e produzir a documentação final do trabalho, 1 108 Data sheet: é utilizado para compilar informações técnicas acerca de um produto, equipamento ou projeto. Pode ser considerada como: 1) Folha de dados que apresenta todas as informações sobre um determinado projeto ou equipamento. 2) Ficha de informações acerca do produto. 3) Dados técnicos de um equipamento compilados em folhas. 4) Resumo das informações técnicas de projeto. Escola de Gestores da Educação Básica registrando no seu decorrer os desvios, as correções introduzidas e os objetivos alcançados. Nas diferentes áreas da engenharia, é muito comum existirem projetos onde é obrigatória a apresentação de uma documentação do seu desenvolvimento e do seu histórico. Para os equipamentos cuja operação de trabalho é sob pressão ou nas atividades de risco pessoal e de contaminação do meio ambiente, é obrigatória a elaboração de um dossiê técnico em que devem constar os cálculos estruturais, a seleção e relação de materiais aplicados, os métodos de determinação de suas tensões de ruptura e suas partes frágeis, os resultados de teste de operação e as condições de entrega do equipamento. A relação dos componentes auxiliares aplicados no projeto, bem como os elementos previstos para o trabalho também fazem parte dessa documentação denominada data sheet. Tal documentação deve ser registrada em órgão fiscalizador competente para o exame do projeto e fornecida uma cópia a ser entregue ao proprietário do equipamento. Da mesma forma, nas áreas de economia e administração, é comum a elaboração de estudos financeiros e de desembolso de caixa de um projeto como documentação de controle da sua elaboração. Tal documento, composto de diversos outros documentos, registra ao longo do tempo todas as tomadas de posição em função do seu andamento, desembolso financeiro, fluxo de caixa e etapas cumpridas, sendo fundamental tanto para o acompanhamento e as decisões no andamento do projeto, como para o relatório do que foi empenhado. Técnicas específicas podem fornecer aos controladores de um projeto a linha do caminho crítico para subsidiar as Relato de uma experiência 109 análises de percurso e indicar as etapas que podem comprometer o andamento do projeto, causando prejuízos financeiros e operacionais. Diante da complexidade, do tamanho e de números de variáveis de um projeto, podem ser utilizados softwares especialmente desenvolvidos para a realização do acompanhamento e gerenciamento das etapas. A verdade é que o homem vem sistematicamente buscando registrar e aprimorar seus procedimentos de registro para acompanhar seus projetos, corrigindo e alinhando suas etapas e fases para levar adiante sua execução, ao mesmo tempo em que deixa um histórico das ocorrências que podem contribuir para reflexões futuras. Na educação, também se registram os acontecimentos de uma atividade ou de um projeto. Esse registro é de forma documental e histórica e geralmente é feito após a conclusão da atividade, ou seja, não se faz o acompanhamento dos acontecimentos no momento do acontecimento, o que impede modificações e correções no seu andamento. Historicamente na educação, o registro das atividades executadas é feito posteriormente, devido ao fato de o professor tornar-se conhecedor das atitudes e das reações dos seus alunos, o que facilita o registro de suas atividades em um momento posterior ao ocorrido. Talvez o documento de registro mais comum nas escolas do Brasil é o diário de classe, onde o professor coloca as matérias abordadas, a freqüência e o desempenho do alunado ao longo do bimestre, semestre ou ano letivo, tudo vinculado 110 Escola de Gestores da Educação Básica a um plano de aula elaborado no início do ano letivo, coordenado pelos órgãos agregadores das escolas com base em documentos gerais de acordo com os parâmetros curriculares nacionais, e em documentos de políticas públicas estabelecidas para aquele grupo de escolas ou para um determinado Estado. Embora largamente utilizado nas escolas brasileiras, o diário de classe, entretanto é pouco utilizado como instrumento de análise do andamento da disciplina, funcionando como um documento somente de registro e cuja finalidade tornou-se burocrática. O mais importante, ao se criar uma política pública ou uma série de recomendações ou orientações educacionais, é propiciar uma forma de recuperação rápida das informações para poder obter o retorno das atividades propostas e em realização, tratá-las rapidamente de forma que se possa, se necessário, promover correções ou modificações no seu andamento. E é justamente nesse aspecto que o setor educacional perde o grande potencial do registro, pois a recuperação dos dados é lenta, muitas vezes com vários erros, o que faz despender mais tempo para corrigir do que para realizar a atividade; e, quando se chega a uma análise consistente dos resultados, descobre-se tardiamente que havia a necessidade de promover modificações para o sucesso do projeto. Muitas vezes a descoberta da necessidade de se promover modificações acontece quando o projeto ou a atividade já se encontra na fase final e não há mais tempo disponível para essa correção. Tal realidade gera entre os participantes o descrédito no projeto, a frustração em relação aos resultados alcançados e o sentimento de perda de Relato de uma experiência 111 tempo, fazendo com que eles muitas vezes não sejam receptivos a novos projetos ou abandonem a prática do registro fidedigno que possibilita revelações de erros de percurso. Muitos são os projetos que se encontram nessa situação. Projetos promissores e com grandes possibilidades de trabalho e resultados efetivos foram abandonados e deixados de lado pelo fato de não ter sido possível corrigir seus desvios a tempo e mudar sua trajetória de modo rápido e dinâmico. Outros projetos conseguem produzir resultados significativos, cuja repercussão se evidencia ao olhar atento, mas, pela falta de uma documentação apropriada e consistente com o registro de sua história, são submetidos a avaliações esparsas, que não retratam processos e resultados, limitando-se a analisar dados aleatórios coletados a duras penas após a realização das atividades. Documentar um projeto educacional é parte de um processo que deve se realizar concomitante ao seu andamento, sem criar situações que possam emperrar as atividades voltadas para a obtenção de respostas em tempo hábil e na dinâmica do desenvolvimento do projeto, de modo que, ao surgirem entraves e se evidenciarem necessidades de correção, as informações desses documentos possam auxiliar a tomada de decisão e a implantação de modificações necessárias para o sucesso dos resultados do projeto. O curso piloto escola de gestores MEC/Inep – um breve resumo O projeto do curso Escola de Gestores MEC/Inep foi desenvolvido por um grupo de especialistas em educação a distância para ser ministrado em cinco módulos, 112 Escola de Gestores da Educação Básica sendo três com atividades presenciais nos Estados escolhidos e dois com atividades a distância, buscando a participação e a integração dos gestores alunos do curso. Diante da existência de dois módulos a distância, seria necessária uma pronta e rápida recuperação das informações sobre o que estivesse ocorrendo nas turmas, o tratamento dos dados deveria ser ágil para subsidiar as análises do grupo de especialistas e promover, caso necessário, possíveis correções ao longo do curso. Para isso foram desenvolvidos documentos e planilhas eletrônicas disponibilizadas no ambiente virtual de aprendizagem, de forma que os professoresorientadores pudessem rapidamente capturar esses documentos, providenciar seu preenchimento com as posições de suas turmas e postar para os gestores da Equipe de Consultores Externos (ECE). Assim, após o recebimento das informações, os dados seriam tratados e as informações analisadas pelos gestores (ECE) de forma a verificarem os resultados das etapas dos módulos do curso e promoverem, caso necessário, correções de rota no seu desenvolvimento. O curso apresentava a seguinte estrutura geral: Tabela 1 – Estrutura dos módulos do curso piloto Estrutura do curso piloto Modalidade Carga horária Relato de uma experiência Duração Módulo I Módulo II Módulo III Presencial – nos Estados A distância – ambiente digital Presencial – nos Estados 16 horas 40 horas 16 horas 2 dias 2 meses 2 dias Módulo IV Módulo V A distância – ambiente digital Presencial – nos Estados 16 horas 12 horas 3 ou 4 semanas 1 e meio dia 113 Equipe de consultores externos da coordenação A equipe de Consultores Externos da Coordenação do curso piloto, composta de elementos com notório saber na área de educação e especificamente na área de educação a distância, atuou como apoio à Coordenação do Inep, garantindo e desenvolvendo atividades e orientações para: • · Desenvolver, conceber a metodologia e o design, e implementar o curso piloto no ambiente virtual e-ProInfo, cuidando e selecionando os conteúdos em conjunto com a Equipe de Gestores do Inep. • · Prestar orientação à equipe de professores-orientadores responsáveis pelas atividades presenciais e a distância. • · Elaborar relatórios das etapas, se necessário, durante o desenvolvimento do curso. Equipe auxiliar dos consultores externos Além da equipe de Consultores Externos da Coordenação, o curso piloto teve ainda a Equipe Auxiliar dos Consultores Externos, cuja ação se restringiu a etapas internas do desenvolvimento do curso piloto, foi responsável pelo desenvolvimento e elaboração dos materiais utilizados e publicados no ambiente eProInfo, e pela disponibilização dos documentos de gestão do curso em todos os módulos previstos. Fazia parte também das ações dessa equipe a elaboração dos documentos utilizados durante o curso piloto em seus cinco módulos, bem como o tratamento 114 Escola de Gestores da Educação Básica dos dados e a confecção dos gráficos, tabelas e apresentação de resultados consolidados das diversas etapas do curso. Equipe de professores-orientadores A equipe de professores-orientadores, cuja seleção foi de responsabilidade da Coordenação do Curso de Gestores do Inep, atuava como elemento motivador e mediador das atividades presenciais e das atividades a distância propostas no ambiente virtual e-ProInfo, atuando também como ativadores e mediadores dos debates ocorridos nos Fóruns, nas orientações aos cursistas-gestores 3 e questionamentos propostos. Havia um professor-orientador por turma, que atuava na orientação aos professores-assistentes e dos cursistas-gestores durante os encontros presenciais e nos diversos espaços de interação do ambiente virtual, quatro professores-assistentes4 por turma, que atuaram no acompanhamento das ações dos cursistas-gestores, desenvolvidas presencialmente em suas respectivas escolas, e das discussões no ambiente virtual, e um professor colaborador5 convidado e interessado em participar do acompanhamento do curso. 3 4 5 Relato de uma experiência Cursistas-gestores são os gestores selecionados pela Coordenação do Curso de Gestores Inep para fazerem o curso piloto. Professor-assistente é vinculado aos núcleos de tecnologia educacional (NTEs) dos Estados. Professor-colaborador é ligado a uma universidade local. Cabe ressaltar que nem todos os Estados tiveram a presença desse professor. 115 Cursistas-gestores Os cursistas-gestores, com suas indicações pela Coordenação do Curso de Gestores em parceria com as Secretarias Estaduais de Educação, foram distribuídos em diversas turmas, sendo uma turma por Estado escolhido, e essa turma composta de 40 cursistas-gestores (diretores de escolas). A escolha dos Estados também foi definida pela Coordenação do Curso de Gestores e acompanhou a seguinte escala: Tabela 2 – Estados elegidos pela Coordenação do Curso de Gestores e quantidade de alunos por turma Turma BA ES CE MT PE PI RN RS SC TO TOTAL Nº de alunos 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 400 Estado Bahia Espírito Santo Ceará Mato Grosso Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Santa Catarina Tocantins Equipe de coordenadores e especialistas do Inep A coordenação geral do curso piloto estava a cargo da equipe de especialistas do Inep que atuava na Coordenação Geral do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica, sendo responsável pela definição de conteúdo e pela condução da parceria com os consultores externos, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e equipe de professores, acompanhando as ações nos encontros presenciais e nos diversos espaços do ambiente virtual. 116 Escola de Gestores da Educação Básica Como se pode notar, existiam três equipes de trabalho atuando em diferentes objetivos do curso piloto e todas elas necessitavam de informações e resultados dos módulos e das atividades desenvolvidas pelos cursistas-gestores durante os encontros presenciais e nos diversos espaços existentes no ambiente virtual. As informações e os resultados necessitavam ser tratados pela Equipe Auxiliar que estava responsável pela tarefa de publicar os gráficos e as estatísticas sobre o andamento do curso e para isso deveria ter agilidade tanto no preenchimento como na disponibilização no ambiente virtual do curso. Um outro fato é que, independentemente do tratamento dos dados pela Equipe Auxiliar, essas informações não-sistematizadas estavam no ambiente virtual do curso e poderiam servir como base de estudos ou para alguma análise a ser realizada pelas equipes de trabalho envolvidas no curso piloto. Em resumo, os dados estavam disponíveis, embora não-sistematizados, para qualquer uma das equipes executarem as análises de seu interesse. Para a sistematização dos dados e informações, foram criados documentos e folhas de dados e informações destinados a fornecer e recuperar informações sobre as etapas de desenvolvimento do curso que atendessem aos professoresorientadores com relação aos cursistas-gestores, tanto nos encontros presenciais como nas atividades no ambiente virtual utilizado. Era necessário que esses documentos e folhas de informações pudessem espelhar de forma plena as atividades desenvolvidas durante o curso, quer fossem presenciais ou no ambiente virtual. Cabe aqui ressaltar que, para uma escala piloto, ou melhor dizendo, até 500 participantes, a elaboração de documentos baseados em planilhas eletrônicas e Relato de uma experiência 117 editores de texto é viável e interessante pois permite rápidas alterações que forem necessárias ao bom andamento do curso. Já para os cursos que envolvem um público maior, é interessante constar no seu orçamento a previsão de recursos suficientes para o desenvolvimento, programação e implantação de um sistema de banco de dados, cuja atualização, por ser online e em tempo real, propicia maior eficiência nos dados e relatórios. Outra facilidade do banco de dados é a criação de níveis de acesso às pessoas de suas informações e dos relatórios, em níveis pré-estabelecidos e compatíveis com a segurança do sistema. A seguir, serão apresentados os diversos documentos criados para o curso piloto e alguns exemplos desses documentos. Documentos criados para o curso piloto Para registrar e acompanhar as atividades dos cursistas-gestores desenvolvidas ao longo do curso piloto, foram criados documentos específicos que atendessem aos diversos módulos previstos para o curso. Embora esses documentos tenham sido criados para cada módulo, buscou-se uma padronização deles para que os responsáveis pelo preenchimento não utilizassem diversas formas, tipos e modelos de documentos, causando dificuldade e complexidade no momento de se preencherem as informações e publicá-las no ambiente. Dessa maneira, diversos documentos foram criados especificamente para os módulos do curso piloto e outros tantos para uso comum, estando todos caracterizados na Tabela 3. 118 Escola de Gestores da Educação Básica Relato de uma experiência 119 Planilha de Acompanhamento do Módulo II Plan04_XX Planilha de Acompanhamento do Módulo V Questionário de Saída Plan10_XX Plan12_XX Relaprov_XX Formulário de Andamento – Módulos I até V (instruções contidas no próprio documento) Relação dos Aprovados Formulário de Consolidação Questionário de Saída Presencial Planilha de Acompanhamento do Módulo IV Plan09_XX Plan11_XX Ambiente virtual Planilha de Acompanhamento do Módulo III Plan08_XX Ambiente virtual Ambiente virtual Equipe auxiliar Ambiente virtual Ambiente virtual Ambiente virtual Lista de Presença – Módulos I, III e V Plan07_XX Equipe auxiliar Acompanhamento da ação do cursista realizada na escola Equipe auxiliar Ambiente virtual Ambiente virtual Ambiente virtual Presencial Utilização Plan06_XX (instruções contidas no próprio documento) Planilha de Consolidação do Questionário de Entrada Relatório Analítico dos Diários de Bordo Plan03_XX Plan05_XX Planilha de Acompanhamento do Módulo I Questionário de Entrada Denominação Plan02_XX Documento nº Módulo Módulos de I a V Módulo V Módulo V Módulo V Módulo V Módulo IV Módulo III Módulos I, III e V Módulo II Módulo I Módulo II Módulos de I a V Módulo I Módulo I Tabela 3 – Documentos criados no curso piloto Word Planilha Excel Access Word Planilha Excel Planilha Excel Planilha Excel Planilha Excel Planilha Excel Planilha Excel Planilha Excel Planilha Excel Planilha Excel Word Utilizado Software Folha de instruções No documento No documento Instrução verbal Folha de instruções Folha de instruções Folha de instruções Folha de instruções Folha de instruções No documento Folha de instruções Folha de instruções Folha de instruções Instrução verbal Instruções Dos documentos apresentados na Tabela 3, o Questionário de Entrada foi desenvolvido para colher dos cursistas-gestores suas expectativas e receptividade com relação ao curso, à metodologia e ao que seria ministrado. O questionário foi distribuído em todas as turmas, mas sem vincular as respostas dos cursistas-gestores às turmas em que eles estavam inscritos e sem análise das respostas por turma. A análise feita a partir das respostas do Questionário de Entrada foi ampla, envolvendo todos os cursistas-gestores sem a especificidade por turma ou por Estado. Da mesma forma que foi medida a expectativa do cursista-gestor no início do curso-piloto, houve a medição do grau de satisfação desse mesmo cursista ao final do curso. Para isso, foi elaborado o Questionário de Saída que buscou interagir com os cursistas-gestores na busca de obter informações sobre como eles observaram as etapas do curso piloto. Os demais documentos da Tabela 3 foram criados para o acompanhamento específico de cada turma e para análise e acompanhamento individual das turmas e dos cursistas-gestores. O preenchimento correto de tais documentos, bem como a utilização dos códigos e critérios de avaliação das atividades que os cursistasgestores desenvolveram nos encontros presenciais e nas atividades do ambiente virtual estavam contidos nas instruções de preenchimento do documento que eram publicadas no ambiente juntamente com o documento criado. Portanto, com exceção dos questionários de entrada e de saída, todos os demais documentos foram dotados de instruções individuais de preenchimento, como 120 Escola de Gestores da Educação Básica forma de eliminar as principais dúvidas, equalizar e harmonizar as respostas, as informações e o preenchimento. Os documentos criados – finalidades Na seqüência, serão mostrados os documentos criados e um breve resumo sobre a sua utilização dentro do curso piloto. Documentos Plan02_XX; Plan04_XX; Plan08_XX; Plan09_XX e Plan10_XX Correspondem às Planilhas de Acompanhamento dos Módulos I até V e tinham como objetivo registrar e avaliar a participação dos cursistas-gestores nas atividades desenvolvidas no módulo avaliado, quer fossem as presenciais quer nos ambientes virtuais. Esses documentos possuíam campos de preenchimento, cuja responsabilidade era do professor-orientador que se utilizava de códigos para a uniformização da informação e o correto preenchimento desses campos. Esses códigos eram apresentados em tabelas de codificação existentes nas instruções de preenchimento de cada documento e publicados no ambiente virtual com o documento. Documento Plan03_XX O documento Plan03_XX, também intitulado Diário de Bordo, foi utilizado ao longo de todos os módulos do curso piloto e destinava-se a lançar pelos professoresorientadores os resumos das observações que os cursistas-gestores deixavam registradas nos diversos espaços do ambiente virtual. Ao final de cada módulo, os Relato de uma experiência 121 professores-orientadores buscavam essas observações e faziam o resumo no documento criado e o publicavam no ambiente como produção da turma. A Equipe de Consultores Externos, de posse desses resumos dos professoresorientadores, fazia um novo resumo envolvendo as diversas turmas, cuja finalidade era obter a essência das observações dos cursistas-gestores. Documento Plan05_XX Esse documento, de uso interno da Equipe Auxiliar, serviu para consolidar as respostas e obter os resultados do Questionário de Entrada aplicado aos cursistasgestores no encontro presencial do Módulo I. Seus resultados serviram de balizamento para o desenvolvimento de atividades dos módulos subseqüentes, buscando compatibilizar a metodologia do curso piloto com as aspirações dos cursistas-gestores. Por ser de uso interno, as instruções estavam contidas no próprio documento. Documento Plan06_XX Na metodologia do curso piloto havia uma atividade na qual os cursistasgestores deveriam propor ações a serem realizadas na sua escola. O documento Plan06_XX foi criado para que os professores-assistentes pudessem acompanhar e verificar a implantação dessas ações nas escolas dos gestores, informando em qual documento e dimensão a ação se baseou, apresentando as principais dificuldades surgidas e reportando os avanços realizados. 122 Escola de Gestores da Educação Básica Essas informações eram analisadas pela Equipe de Consultores Externos no sentido de verificar se o curso estava sendo compreendido pelos alunos (cursistasgestores) ou se era necessário promover alguma correção de curso. Documento Plan07_XX O documento Plan07_XX foi criado para controlar a presença dos cursistasgestores nas atividades presenciais dos Módulos I, III e V, previstas no desenvolvimento do curso-piloto. Esse documento tinha dupla finalidade, pois servia para colher assinaturas dos cursistas-gestores nas atividades presenciais (um único documento para todas as atividades presenciais) e, ao mesmo tempo, a partir das assinaturas colhidas e postadas pelos professores-orientadores, de veículo de informação da freqüência nas atividades presencias (um documento para cada atividade presencial). Documento Plano11_XX Tal como o documento Plan05_XX, este documento de uso interno da Equipe Auxiliar serviu para consolidar as respostas e obter os resultados do Questionário de Saída aplicado aos cursistas-gestores no encontro presencial do Módulo V. Seus resultados serviram de balizamento para o desenvolvimento de gráficos e tabelas que representavam como os cursistas-gestores viram o desenvolvimento do curso piloto, suas aspirações e preocupações a partir desse curso e a avaliação sobre todo o desenvolvimento das atividades dos módulos. Relato de uma experiência 123 Documento Plano12_XX Embora esse documento seja considerado como criado no Módulo II, ele já havia sido utilizado no Módulo I pela Equipe de Consultores Externos, com a finalidade de avaliar o desenvolvimento do curso piloto e dos cursistas-gestores, e por isso teve sua utilização ampliada para todos os módulos. Por ser um documento autoexplicativo, não foram desenvolvidas instruções de preenchimento. Planilhas de consolidação dos dados recolhidos do ambiente A criação dos instrumentos e dos documentos citados anteriormente deuse pela necessidade de se obterem informações e dados, tratá-los de forma adequada para que possibilitassem o acompanhamento rápido e seguro das atividades do curso, a elaboração de recomendações e novas orientações, a proposição de outras atividades, bem como as correções necessárias para o curso piloto. Para tanto, e buscando subsidiar as tomadas de decisão da Equipe de Consultores Externos à Coordenação do Curso Piloto Escola de Gestores, foram criados alguns documentos internos destinados à consolidação das informações recebidas dos professores-assistentes. Esses documentos consolidados espelham a realidade ocorrida nas turmas, balizam o desenvolvimento das mesmas, quer na especificidade da turma analisada, quer no conjunto de turmas do curso piloto, e trazem subsídios para a condução de trabalhos futuros. 124 Escola de Gestores da Educação Básica Assim sendo, tornou-se necessária a criação de planilhas específicas de consolidação dos dados que serviram de base para a geração de gráficos e tabelas de acompanhamento ou de análise do desempenho específico de cada turma ou do panorama geral de todas as turmas do curso. A seguir, encontram-se listadas as principais planilhas e tabelas criadas cuja finalidade foi de agrupar os dados e gerar tabelas. Nem todas as planilhas são de utilização geral. Algumas são específicas para tratar alguns dados escolhidos. Nome Analisando Consolidação das planilhas de Acompanhamento Plan02 Participação dos cursistas -gestores nas atividades do Módulo I Consolidação das planilhas de Acompanhamento Plan04 Participação dos cursistas -gestores nas atividades do Módulo II Consolidação das planilhas de Acompanhamento Plan08 Participação dos cursistas -gestores nas atividades do Módulo III Consolidação das planilhas de Acompanhamento Plan09 Participação dos cursistas -gestores nas atividades do Módulo IV Consolidação das planilhas de Acompanhamento Plan10 Participação dos cursistas -gestores nas atividades do Módulo V Consolidação das planilhas de relatório analítico Plan03 Consolidação dos relatórios analíticos do Módulo I Consolidação dos principais aspectos do relatório de andamento do Módulo I Resultado: Índices de participação nos Módulos Presenciais Resultado: Índices de aproveitamento dos cursistas gestores por turma Consolidação dos relatórios de andamento Plan12 Consolidação das planilhas de freqüência Plan07 Consolidação das planilhas Relaprov Consolidação das respostas dos questionários de saída Resultado: Índices de resposta s do questionário Geração de gráficos 6 gráficos analisam a participação dos cursistas gestores 7 gráficos analisa m a participação dos cursistas gestores 5 gráficos analisam a participação dos cursistas gestores 4 gráficos analisam a participação dos cursistas gestores 3 gráficos analisam a participação dos cursistas gestores Não gera gráficos para análise Não gera gráficos para análise 1 gráfico de freqüência referente aos Módulos presencia is 1 gráfico de aproveitamento dos cursistas-gestores por turma 7 gráficos sobre as questões analisadas a partir do questionário de saída Outras tabelas criadas para análises diversas Os documentos criados para o curso piloto, tanto de utilização no ambiente virtual como de uso interno da Equipe de Consultores Externos, foram desenvolvidos especificamente para a aplicação nesse curso piloto, e, portanto, sem a generalização para outros cursos em ambientes virtuais. Portanto, a documentação de um projeto Relato de uma experiência 125 pode, além de registrar os acontecimentos ocorridos, pode auxiliar no desenvolvimento de atividades em ambientes virtuais pela velocidade de retorno das informações nesses ambientes. Referências bibliográficas ALMEIDA, M. E. B. Inclusão digital do professor. Formação e prática pedagógica. São Paulo: Editora Articulação Universidade Escola, 2004. ALMEIDA, M. E. B.; PRADO, M. E. B.B. P. Redesenhando estratégias na própria ação: formação do professor a distância em ambiente digital. In: VALENTE, José Armando; ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de; PRADO, Maria Elisabette B. Educação a distância via Internet: formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2003. INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Ed. Objetiva, 2001. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Relatório Final I do Curso-Piloto da Escola de Gestores da Educação Básica – MEC/ Inep. Brasília: Inep, 2006. 126 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 6 Escola de Gestores: o curso na ótica do professor Celso Vallin Como foi atuar como professor no curso Escola de Gestores do MEC? Lecionar ou participar de cursos de formação para gestores escolares cujas escolas estejam situadas próximas ao local onde o professor vive e conhece já é uma situação desafiadora. Isso porque o trabalho do gestor escolar é bastante complexo e delicado. Dessa forma, organizar um ambiente de aprendizagem para esses gestores escolares requer que se saia do trivial. Propostas simples, como as que apresentam informações, dão explicações, propõem a exercitação de procedimentos e memorização, não satisfazem. No curso piloto Escola de Gestores, o desafio foi maior porque envolveu gestores escolares de dez Estados brasileiros. Cada professor, ao atender 40 gestores de um dado Estado, com escolas da capital e do interior, escolas da rede estadual e municipal, precisava primeiramente ter um Relato de uma experiência 127 mínimo conhecimento sobre a cultura local, seu jeito de viver e de fazer a escola. A proposta pedagógica do curso era a mesma para os dez Estados. Isso fez aumentar a necessidade de o curso ser verdadeiramente dialógico para atender a tais características tão diversas a partir de uma única proposta pedagógica. As propostas apresentadas, e a maneira como foram desenvolvidas, tinham de ser, com mais razão ainda, propostas abertas, no sentido de poder acolher o que cada um trazia em sua experiência anterior, em seu jeito de ser diretor de uma escola. O saber das pessoas, que ali se colocavam como alunos, precisava ser apresentado, ouvido, sentido e considerado. O professor, nos momentos iniciais do curso, precisava se colocar muito mais sensível, muito mais aberto, para apreender essa realidade e poder partir dela com os gestores escolares. Mas essa abertura e sensibilidade eram ao mesmo tempo contrapostas pela necessidade de conduzir uma intencionalidade dada pelos objetivos da formação. O curso e o professor não podem só criar o ambiente de troca de experiências. Devem também confrontar as teorias e os saberes trazidos (na proposta pedagógica) com as experiências apresentadas pelos alunos, e desenvolver as atividades de modo que os cursistas-gestores também confrontem teoria e prática, suas e dos colegas de curso, apropriando-se verdadeiramente das teorias trazidas, e não somente dizendo que as viram e ouviram e que por isso as conhecem. Qual o significado da expressão “dar aulas” para uma pedagogia atual? Fernando Almeida, um dos consultores do curso, questiona e responde. O professor não pode se colocar como mero observador. Ele não é apenas um “facilitador”: 128 Escola de Gestores da Educação Básica Facilitar é, na verdade, baratear o trabalho intelectual de aprender o que é complexo, que exige presença contínua, compreensão dos processos internos do aprendiz, provocação, desequilíbrio, colocação de novas questões e de conteúdos inacessíveis espontaneamente pelos alunos, etc. Ora, esse trabalho não é “facilitador”. Pode-se chamá-lo de provocador, estimulador, organizador, encantador, articulador, tudo isso é tarefa nobre e nada fácil. Nem para ele [professor] nem para o aluno. (Almeida, 2006, p. 84) Os desafios que se apresentavam eram estes: conhecer a cultura local, a situação em que viviam as escolas e os cursistas-gestores de um dado Estado brasileiro, e ajudá-los a fazer a ponte entre o conteúdo da proposta do curso e a situação encontrada. Como se espera que seja um curso a distância usando um ambiente de apoio pela Internet? Usar um ambiente de apoio ao curso na Internet cria uma série de dificuldades, porque ainda hoje o uso desses ambientes não é comum a todas as pessoas nos mais variados lugares. No curso Escola de Gestores, muitos gestores escolares não sabiam manejar o mouse e não apresentavam quase nenhuma habilidade no uso do computador. Mas, apesar de parecer desaconselhável usar o computador e a Internet como apoio em uma situação como essa, os resultados foram muito bons. O ambiente usado na Internet, o e-ProInfo, assim como outros ambientes de apoio a cursos, permitem às pessoas e ao curso certos registros e certas leituras que provocam muito mais reflexão e facilitam muito mais a troca de experiências do que aconteceria em um curso com simples aulas presenciais. Além disso, os gestores viam essa fragilidade, de não saberem usar o computador nos dias de hoje, como um desafio a ser vencido. Então, a dificuldade no uso do computador, em vez de ser um obstáculo Relato de uma experiência 129 ao curso, acabou se tornando uma energia a mais para as pessoas se entusiasmarem e crescerem. O uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) foi um fator a mais de crescimento dessas pessoas. Nesse sentido, para poder usar o computador e aquele ambiente na Internet como forma de apoio ao curso, em um universo em que muitas pessoas não tinham nenhuma experiência anterior, a participação dos assistentes foi decisiva, importantíssima. Os assistentes eram pessoas que viviam na região em que o curso se desenvolveu, trabalhavam nos NTEs1 municipais e estaduais e puderam, durante o curso, fazer vários atendimentos presenciais, conforme a necessidade e possibilidade dos cursistas-gestores. Sempre que eles precisavam, podiam contar com o apoio dos assistentes, que de forma presencial os atendiam e os auxiliavam no uso do computador. O uso do ambiente de apoio e-ProInfo mostrou bons resultados pela comunicação por meio de registros escritos. O diálogo deu-se com a criação de registros escritos e com o compartilhamento desses registros entre cursistas-gestores e professores que foram se conhecendo cada vez mais e melhor. Assim, professores e alunos, juntos, foram estudando a realidade das escolas, seus problemas e soluções. 1 130 Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) criado a partir da parceria do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo) da Seed, do MEC. Os NTEs são unidades descentralizadas, nas quais atuam professores multiplicadores, encarregados de preparar educadores para o uso pedagógico das TICs, assessorar as escolas nos aspectos técnicos e pedagógicos envolvidos no uso das TICs e capacitar alunos para auxiliar na manutenção de equipamentos e softwares Escola de Gestores da Educação Básica Cada um expressava suas idéias por meio de registros escritos que eram disponibilizados para todo o grupo no ambiente de apoio ao curso pela Internet. O registro escrito tem um caráter diferente da conversa falada. Ao se colocarem para escrever sobre seus problemas na escola e sobre a maneira como os enfrentaram, as pessoas passam logo nesse primeiro momento por um processo de reflexão. A escrita, a criação do texto que terá esse uso social exige momentos de introspecção que proporcionam a reflexão sobre a realidade que se deseja descrever. A construção do texto é diferente da construção da conversa falada e faz com que as pessoas organizem o pensamento de forma mais aprofundada, recolham as informações disponíveis retidas na memória e ordenem essas informações para a construção do texto. São textos pequenos – que vão se tornando complexos no decorrer do curso – e que vão compondo o relato da pessoa para os colegas de curso e para os professores a respeito de sua realidade. Assim, no primeiro momento, o gestor-aluno escreve seu depoimento solitariamente. O gestor-aluno, dando-se à introspecção e à reflexão individual, analisa sua situação. A proposta do curso já previa iniciar os trabalhos por essa reflexão individual. As atividades iniciais propostas desafiavam o gestor-aluno que, por isso, embarcou nessa introspecção e reflexão individual ao ter de contar para seus colegas e professores alguns aspectos de sua realidade. Os cursistas-gestores também liam relatos de colegas. Desse modo, começava a haver a interação entre colegas de turma, e a reflexão que começara individual Relato de uma experiência 131 passava a ser coletiva. O relato de uns influenciava na reflexão de outros, que produziam novos relatos e novas reflexões. O uso do computador e do ambiente e-ProInfo para apoiar o curso não se tratava simplesmente de um modernismo. Ele trouxe para o curso e para a dinâmica pedagógica elementos diferentes daqueles que existiriam se o curso fosse somente presencial. Também nos cursos presenciais podem ser propostas atividades de troca de textos escritos. O efeito pode ser parecido, mas o computador mostra-se melhor para esse tipo de atividade por diversos motivos. Primeiro, porque oferece a plasticidade da edição eletrônica, que ajuda a formular e reformular o texto. Depois, porque recebe, arquiva e organiza os relatos, para estarem disponíveis a todos, serem lidos e relidos. Há também a vantagem de que pela Internet existe uma liberação dos limites de tempo e espaço. Cada um pode usar o momento e o local que desejar, dentro da complicada dinâmica da vida contemporânea. O curso não acontece online como muitos dizem. As comunicações não são simultâneas, mas ficam disponíveis para todos, para cada um no seu tempo, no lugar em que estiver. Outras análises sobre os efeitos do diálogo com texto escrito podem ser vistas em Vallin (2004, p. 177). 132 Escola de Gestores da Educação Básica Como articular o trabalho de professor a distância, com o trabalho e orientação de uma equipe de quatro assistentes pertencentes à estrutura local dos Estados e dos municípios? Este era outro desafio: a integração do trabalho do professor com o dosquatro professores-assistentes,2 formando uma verdadeira equipe de formação. Isso requereu que, primeiramente, o professor desenvolvesse alguns laços de confiança com os assistentes. Antes do curso, o professor não conhecia os quatro assistentes. Nunca haviam trabalhado juntos. Por isso, foi necessária uma dedicação, principalmente nos momentos primeiros do curso, para escutar e compreender essas pessoas e ao mesmo tempo, ao trabalharem juntos no desenvolvimento das propostas do curso, construir e reforçar esses laços de confiança e de grupo. Somente com essa confiança e sentido de grupo seria possível fazer um bom trabalho conjunto. De certa forma, o professor precisava dedicar metade dos seus esforços e cuidados no estabelecimento de relações com os assistentes, restando somente a outra metade para a relação direta com os cursistas-gestores. 2 Relato de uma experiência Professores-assistentes eram professores que trabalhavam no NTE local. No caso do Piauí, dois assistentes trabalhavam no NTE estadual e dois no municipal, ambos na capital. Muitos cursistas-gestores também moravam em Teresina, e outros precisavam viajar até 150 km para ter ajuda presencial. Os assistentes também atendiam os gestores-cursistas comunicandose pelo ambiente e-ProInfo, por e-mail e por telefone. 133 Havia quatro assistentes, e cada um atendia preferencialmente a dez dos cursistas-gestores (ver figura a seguir). Eles ficavam mais próximos dos alunos. Assim, o cuidado que o professor tinha na relação com os assistentes revertia em favor do trabalho deles com seus cursistas-gestores. Essa é uma relação que nem sempre é bem conhecida. Muitas vezes não está claro que o professor deve dedicar metade do seu cuidado na orientação, na leitura e no diálogo diretamente com os alunos, e a outra metade na orientação dos assistentes, no acompanhamento do seu trabalho, na animação e também na orientação sobre como eles devem trabalhar as propostas pedagógicas do curso e como devem tratar os cursistas-gestores. Os resultados foram positivos. Depoimentos constantes dos cursistas-gestores diziam a importância do ânimo trazido pela participação paciente e inclusiva dos assistentes, e que sem isso eles teriam desistido do curso. Os assistentes tinham experiência e habilidade no uso do ambiente de apoio pela Internet, o que foi fundamental. Pelo depoimento dos cursistas-gestores: [...] os professores [...] além de ensinarem eles dão oportunidades aos alunos de aprenderem; de pensar, adotando uma postura mediadora que favoreça a problematização dos conteúdos, o confronto de idéias, o diálogo enriquecedor como estratégias metodológicas. Além disso, comprometem-se com o sucesso e não com o fracasso dos alunos. Como estabelecer relações de confiança com cursistas-gestores tão distantes (fisicamente) e com tanta dificuldade para lidar com as TICs? Essas relações de confiança eram necessárias e foram estabelecidas logo no primeiro momento. Para isso, o curso, que contava com cinco módulos, teve o 134 Escola de Gestores da Educação Básica ASSISTENTE ASSISTENTE ASSISTENTE ASSISTENTE PROFESSOR Figura 1 – Relação entre 1 professor, 4 assistentes e 40 cursistas-gestores primeiro, terceiro e quinto módulos desenvolvidos no presencial. Os módulos dois e quatro foram a distância. Mas todos os cinco módulos eram apoiados pelo uso do computador e pelo ambiente e-ProInfo. Os módulos presenciais foram bem aproveitados no sentido de ganhar confiança, não só em relação à pessoa do professor, mas também na proposta do curso que o professor trazia, e a confiança dos gestores neles mesmos, criando condições para que eles conseguissem ter êxito na realização das propostas apresentadas. Relato de uma experiência 135 O que os cursistas-gestores tinham a dizer? O curso propunha que os cursistas-gestores usassem os “Indicadores de Qualidade na Educação”, o Indique,3 e que, conforme aqueles critérios, em conjunto com a comunidade escolar (professores, alunos, pais, funcionários), identificassem os problemas ou desafios mais urgentes de cada unidade escolar. Depois, com um plano de ação, desenvolvessem na prática ações que colaborariam para a melhoria dos aspectos apontados como problemáticos. As escolas conheciam e usavam o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE).4 Assim, alguns dos gestores mostraram resistência em usar uma metodologia nova. Como um dos conteúdos que desenvolvíamos no curso era a gestão democrática, por coerência, nós também permitimos que alguns gestores usassem o PDE no lugar dos indicadores propostos pelo curso Escola de Gestores. Isso trouxe resultados interessantes. Os gestores que usaram o Indique puderam compará-lo com o PDE e apontaram que o Indique 3 4 136 Indique – O objetivo principal dos Indicadores da Qualidade na Educação é o engajamento da própria comunidade escolar na luta pela melhoria da qualidade da escola. Na forma de um manual, os Indicadores permitem que os participantes da comunidade avaliem a escola, identificando seus pontos fortes e fracos. Os indicadores são sinais de qualidade, que orientam a reflexão da comunidade sobre a escola. Veja mais em: http://www.acaoeducativa.org.br/ indicadores/ PDE – O Fundescola estimula a elaboração do Plano de Desenvolvimento da Escola. Ao elaborar o PDE, a escola realiza um diagnóstico de sua situação, identificando, a partir dessa análise, seus valores e definindo sua visão de futuro e missão, bem como traçando objetivos, estratégias, metas e planos de ação a serem alcançados em longo, médio e curto prazos, respectivamente. Veja mais em http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=/ fundescola/fundescola.html Escola de Gestores da Educação Básica era mais simples e objetivo, e que com ele puderam cumprir um ciclo mais dinâmico e rápido de diagnóstico e intervenção, o que foi bastante pedagógico para a comunidade escolar. Em dois meses, foi possível mobilizar a comunidade, realizar reuniões para chegar aos problemas e prioridades, estabelecer plano de ação e colocá-lo em prática. Os diretores escolares relataram que suas comunidades se sentiram animadas com a melhoria e a participação efetiva nos destinos da escola. Já os diretores que preferiram manter o PDE, ao lerem os depoimentos dos colegas e saberem de seus bons resultados, puderam fazer comparações e saíram do curso dispostos a conhecer melhor o Indique. Os objetivos do curso foram então alcançados nos dois casos, e também o trato pedagógico-democrático foi respeitado. Encontramos em muitos casos entre os cursistas-gestores uma carência de infra-estrutura tecnológica muito grande. Alguns gestores, antes de iniciar o curso, tinham recebido a promessa de que poderiam usar o computador da prefeitura de suas cidades. Relataram que havia um único computador na cidade e que esse era usado por vários secretários e outras pessoas da prefeitura. Depois, durante o curso, acabaram preferindo ir à capital (mais de cem quilômetros em alguns casos) para usar o computador, porque o da prefeitura era muito disputado, e porque na capital contariam com a presença e ajuda dos assistentes do curso. Em sua rotina semanal de diretores, já era costume viajarem à capital para resolução e encaminhamento de outras demandas. Dessa forma, aproveitavam para também participar do curso. Nesse caso, a participação do gestor-aluno no ambiente e-ProInfo dava-se uma vez por semana, quando ele ia à capital. Relato de uma experiência 137 No depoimento dos próprios cursistas-gestores: Melhoramos a metodologia do trabalho em equipe. / Aprendemos a trabalhar de forma conjunta no ambiente escolar. / A comunidade e o Conselho Escolar já estão mais envolvidos. / Foi um desafio pesado. Internet para mim era coisa de outro mundo. Agora acho que não saberei viver sem pelo menos um pouco de acesso ao computador. / A nossa escola depois do estudo do Indique parece que acordou. / Esse curso nos oportunizou sistematizar um trabalho coletivo diante da comunidade escolar como um todo. Antes a nossa escola já trabalhava com a coletividade, mas o Escola de Gestores veio dar mais vida ao nosso trabalho. / O texto de Naura Syria C. Ferreira, Gestão Democrática da Educação... nos deu um embasamento bem mais seguro sobre a participação da sociedade nas decisões políticas em que são inseridas. O professor tem o papel importante na gestão democrática motivando a importância do planejamento participativo. / O que mais achei interessante foi o antes e o depois do curso. Antes eu achava que já estava “pronto” para exercer uma gestão democrática plena, hoje, com uma nova visão, vejo que ainda tenho muito a aprender e a fazer. / O meu desenvolvimento no curso Escola de Gestores está sendo espetacular, estou me sentindo além das minhas expectativas. Estou gostando muito de todo o desenrolar do curso, a minha mente está mais aberta em relação a muitas coisas que acontecem na escola, que antes me sentia perdida sem saber como resolver, mas agora está tudo mais fácil. Vendo também as experiências dos colegas cursistas percebo que tudo pode ser possível, basta que você tenha interesse e responsabilidade. Desde já agradeço a todos vocês professores pelo empenho com os cursistas e a paciência que tiveram principalmente no início do curso, período em que eu estava “voando” em muitos sentidos, no que diz respeito ao desenvolvimento com sucesso de uma escola. (Diário de Bordo, e-ProInfo, turma do Piauí do Escola de Gestores, 2005) Os cursistas-gestores perceberam, por meio do curso, que era possível ter um diálogo próximo, mesmo entre pessoas fisicamente distantes e mesmo dispensando a reunião presencial, que requer que todos estejam com disponibilidade de agenda em um mesmo momento e local. Assim, mostraram o desejo de que a relação entre eles e os gestores dos sistemas de ensino e o pessoal de suporte da Secretaria de Educação (pedagógico ou administrativo) fosse também mais próxima. Desejavam o estar junto virtual (Prado, Valente, 2002) praticado nesse curso. Essa proximidade expressa era no sentido de poderem expor seus desafios e dificuldades 138 Escola de Gestores da Educação Básica e desenhar soluções em conjunto, com acompanhamento próximo e estreito. Mostraram-se bastante ressentidos com o isolamento em que desenvolviam seu trabalho de gestor escolar. Acreditamos que os gestores que trabalham nos sistemas de ensino também podem aprender a usar as TICs para apoiar e estreitar as relações entre eles e os gestores escolares, bem como entre os próprios gestores escolares. Isso representaria um enorme ganho para a educação. A distância atual deve-se à aparente dificuldade das pessoas de encontrarem-se pessoalmente com regularidade. Essa relação pode ser melhorada se houver, além de momentos presenciais de troca de experiências e de construção conjunta, o uso de sistemas de apoio à comunicação pedagógica a distância pela Internet. Durante o curso, os gestores vivenciaram a possibilidade de uma educação continuada que lhes permitia mostrar sua identidade, sua situação, seus problemas, para elaborarem conhecimento em conjunto a partir da troca de experiências, de suas vivências e de suas situações cotidianas. Eles gostaram disso. Gostaram de ser sujeito, porque levaram sua participação para a construção do conhecimento. Gostaram de estar participando de uma teoria que era ligada à prática, de uma sistematização teórica que dava conta dos problemas cotidianos que eles estavam vivendo e dos problemas mais urgentes que eles tinham nas escolas. Para finalizar, é natural que se pergunte: o que é necessário para que os gestores escolares possam continuar seus estudos dessa maneira, participando de uma construção de conhecimento conjunta com apoio das TICs e contando com uma Relato de uma experiência 139 orientação organizadora? O que será necessário para que estejam próximos uns dos outros e de todos os agentes da organização dos sistemas de ensino? Um fator evidente é a melhoria da infra-estrutura tecnológica de apoio à comunicação e registro. Hoje não são necessários grandes recursos para isso. Mas não bastaria a infra-estrutura tecnológica. É preciso que as pessoas da organização dos sistemas de ensino (suporte pedagógico e administrativo) municipal e/ou estadual aprendam a explorar essas possibilidades de interação e construção conjunta, tanto no presencial como a distância, tanto na conversa falada como no diálogo por meio de mensagens escritas. É preciso que aprendam a explorar as possibilidades das TICs na educação continuada. No curso piloto Escola de Gestores, foi formada e utilizada uma rede colaborativa, como aponta Amaral ao falar de outro curso. Para ela, a rede colaborativa... [...] resgata as possibilidades de trocas ao dar oportunidade aos gestores de adquirirem habilidades e competências para a ação da gestão, ligadas à liderança e à motivação. Há um “re-olhar” para a prática e, conseqüentemente, uma mudança de atitude e de valores. A comunicação é a estratégia-chave para todos os processos institucionais, permitindo a circulação multilateral de informação, a consolidação de modelos mentais e os insumos para a aprendizagem institucional dialetizada. Esse deverá ser o novo perfil do gestor que ultrapassa a tarefa de gerenciamento e alcança a posição de liderança democrática da sua comunidade escolar. (Amaral, 2006, p. 50-51) Referências bibliográficas ALMEIDA, Fernando José de. Liderança como prestação de serviço. In: ALMEIDA, Fernando José de; ALMEIDA, Maria Elizabeth B. B. de (Coord.). Liderança, gestão e tecnologias: para a melhoria da educação no Brasil. São Paulo: [s. n.], 2006. AMARAL, Maria Tereza Marques. Práticas educativas informatizadas. In: ALMEIDA, Fernando José de; ALMEIDA, Maria Elizabeth B. B. de (Coord.). Liderança, gestão e tecnologias: para a melhoria da educação no Brasil. São Paulo: [s. n.], 2006. 140 Escola de Gestores da Educação Básica PRADO, Maria Elizabette B. B.; VALENTE, José Armando. A educação a distância possibilitando a formação do professor. In: MORAES, M. C. (Org.). Educação a Distância, Fundamentos e Práticas. Campinas, SP: Unicamp; Nied, 2002. VALLIN, Celso. Projeto CER: Comunidade Escolar de Estudo, Trabalho e Reflexão. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004. Disponível em: http://pontodeencontro.proinfo.mec.gov.br/Vallin_2004.pdf. Relato de uma experiência 141 142 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 7 Os guerreiros da escola pública no Curso Piloto Escola de Gestores Solange Vera Nunes de Lima D’ Água Ao tomar conhecimento do edital nº 1/2005 Projeto BRA/1111 – Especialista Orientador em Educação, publicado no Correio Braziliense em 9/8/2005, fui instigada pelas atribuições, levando em consideração a proposta de trabalho com os gestores de escolas públicas. Explicando melhor, minha trajetória na educação teve suas raízes no ensino público, desde meu ingresso no ‘parque infantil’ até minha formação no magistério. Em seguida, ingressei na escola pública como professora, depois em trabalhos no sistema municipal como professora, gestora e assessora da Secretaria de Educação. Essas etapas foram certamente cartografadas em minha vida e deram consistência e significado na busca constante de um processo de formação contínua; afinal, lidar com a diversidade e a multiplicidade da educação mobiliza fazeres e saberes imprescindíveis à ação educativa. Relato de uma experiência 143 O Curso Piloto “Escola de Gestores” de certa forma possibilitava conhecer outras realidades, perscrutar colegas de ofício, e simultaneamente contemplava a inserção de questões ainda incipientes na educação brasileira, no caso o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs). A modalidade de educação semipresencial vislumbrava inúmeros desafios aos gestores, educadores, equipes de apoio do sistema público, e ao mesmo tempo parecia uma “aposta” necessária diante da realidade do mundo atual. Após a seleção dos educadores realizada por meio do edital, fomos convidados a trabalhar como professores-orientadores; para isso, faríamos uma oficina preparatória em Brasília com as equipes de consultores internos e externos do Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), onde seriam transmitidas as concepções pedagógicas, as concepções em educação a distância (EAD), a plataforma virtual e-ProInfo e onde também seriam apresentados os representantes dos dez Estados que participariam do projeto piloto, escolhendo na ocasião nossas respectivas turmas.1 A mim foi designado o Estado do Ceará, e a equipe de representantes estaduais apresentou-se (um coordenador e cinco professores-assistentes2 do 1 2 144 Turma de 40 cursistas-gestores. Representando regionais do Estado – Centro Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede), órgão regional articulador e executor da política educacional do Estado. Escola de Gestores da Educação Básica Estado), mostrando-se, desde o primeiro contato, comprometidos e plenamente empenhados para que o projeto pudesse atingir toda a sua dimensão. Tivemos cem horas de curso, sendo: 44 horas de encontros presenciais (num total de quatro encontros) e 56 horas a distância. Em meu primeiro encontro presencial com os cursistas-gestores, foi solicitado, como estratégia, que eles se apresentassem relatando suas experiências e expectativas para o curso. Talvez tenha sido nesse exato momento que se descortinaram para mim todos os desafios que certamente viriam pela frente.3 No início das apresentações, o ambiente de trabalho “foi tomado por um clima tenso”: os gestores colocavam-se como um grupo de pessoas que estavam no curso em detrimento à sua insuficiência, pois, pelos indicadores de qualidade do Estado do Ceará, suas unidades escolares estaduais e municipais detinham o maior índice de reprovação e evasão do sistema de ensino. Dessa forma, inicialmente não entendiam sua participação como algo positivo e de construção, mas como uma ação punitiva, caracterizada pelo processo de exclusão ao qual estavam subjugados. Vale ressaltar que essa foi a estratégia utilizada pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará, visando à melhoria do desempenho de suas unidades escolares; 3 Relato de uma experiência Pelos critérios MEC/Inep, anteriormente acordados com os Estados que fariam parte do projeto, os gestores participantes deveriam ter minimamente um ‘suporte tecnológico’ em suas unidades de trabalho (pelo menos uma máquina) e mínima familiaridade com as ferramentas da Web 145 contudo, somente no decorrer do curso essa questão foi sendo refletida e compreendida pelos gestores. Alguns depoimentos iniciais expressavam esse sentimento: “... não estamos aqui ganhando um curso... este curso não é um presente... este grupo representa as piores escolas do Ceará... estamos sendo chamados para aprender... e temos a obrigação de melhorar...” (Relato de um gestor no primeiro encontro presencial). Essa condição demonstrada pelo grupo trazia em sua envergadura inúmeras considerações que subliminarmente delineavam, além dos desafios colocados pela própria natureza do curso, marcas impressas pelo processo de exclusão, tanto de seus alunos como da própria instituição escolar. Nesse sentido, nossa interação constituía-se em um campo de maior complexidade: primeiro ouvir, atentar para esses sentimentos e posições, para depois intervir, discutir e repensar as contradições trazidas pelos gestores. Estava evidente que somente depois seria possível entrar no cerne do curso e ressignificar, dentro do contexto daqueles gestores, uma meta, um projeto possível e exeqüível, dando a eles ao mesmo tempo um lugar de credibilidade, legitimidade e respeito. Em outras palavras, esses profissionais estavam diante de desafios não “desenhados ou programados” inicialmente para os objetivos de um curso piloto, mas suas questões traziam uma multiplicidade de fatores que de certa forma representava o paradoxo de nosso sistema de ensino: singularidade x pluralidade – teoria x prática que tanto questionamos em nossos estudos, dissertações, teses e teorias. 146 Escola de Gestores da Educação Básica Foi a partir desse contexto que pude repensar formas de mediação e de interlocução que pudessem ser significativas para aquelas pessoas. A história da minha trajetória profissional era conclamada como força vital para que sustentasse a interface com esses sujeitos a partir de uma autoridade legitimada pela experiência vivida e construída mediante uma coerência ética, moral e fundamentalmente pautada na prática consolidada no trabalho com a rede pública de ensino. A construção dessa relação com os gestores foi acontecendo de forma gradual, permeada pelo respeito ao ser e à sua condição. Formamos um grupo que se reconhecia em suas dificuldades, facilidades e potencialidades, respeitando-se mutuamente e compreendendo a importância do trabalho parceiro, colaborativo e coletivo. A ausência e a insuficiência iniciais deixaram de ser um empecilho ao trabalho, tornando-se um potencial a ser revertido e almejado por todos. O que no início parecia insolúvel foi se ampliando para outros horizontes. Seguem relatos registrados na ferramenta “Diário de Bordo”: Nos dias 1º e 2 de setembro de 2005, aconteceu ... o 1º Encontro Presencial dos cursistas-gestores. Diante dos relatos dos próprios... foi um momento de muita interação, onde os mesmos conheceram sua orientadora, monitores e colegas, como também socializaram experiências e conheceram o ambiente que irão trabalhar, o eProInfo. Para eles foi um momento de muita valia, para começar do maravilhoso lugar no qual foi oferecido o curso. E o que me chamou a atenção foi a preocupação e companheirismo dos cursistas, pois quando tinha um colega com dificuldade, o outro do lado tentava ajudar de todas as maneiras... (Relato A – professor-assistente) ... Aspectos significativos do Módulo I: a) Conhecimento para nós cursistas-gestores, principalmente para mim que tenho pouca experiência em gestão escolar (oito meses); b) Integração e interação entre cursistas-gestores; c) Conhecimentos repassados para gestores por professoras capacitadas (orientadora e assistente); d) Organização no conteúdo e no ambiente onde foi realizado o estudo; e) Participação de todos, buscando novos conhecimentos, principalmente nas máquinas, já que não tenho habilidade em informática; f) Trabalho em grupo fazendo com que suas experiências fossem revividas. (Relato B – cursista-gestor) Relato de uma experiência 147 A Secretaria do Estado do Ceará optou, em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), que nesse curso piloto, as vagas seriam divididas igualmente entre as escolas públicas estaduais e municipais. O grupo foi constituído por cinco professores-assistentes que fariam o acompanhamento de oito unidades escolares estaduais e municipais localizadas em zonas urbanas e rurais. Alguns gestores da mesma região se conheceram nesse primeiro momento presencial e os professores-assistentes (que eram somente da rede estadual) já iniciaram um trabalho de interação e socialização desses profissionais que visava estabelecer aproximação e vínculo para o trabalho futuro. Tivemos a oportunidade de conversar antecipadamente com esses profissionais que estariam no trabalho conjunto, salientando a importância dessa relação e ao mesmo tempo a necessidade de estabelecermos aproximações afetivas, despertando “no outro” o sentimento de acolhimento e respeito à alteridade. Olá, caríssima professora, espero que estejas bem. Interessante que enquanto eu escrevia este pequeno cumprimento, me lembrei da sua voz serena e do seu semblante calmo. Acho que foi uma das melhores impressões que tive a seu respeito naqueles dois dias em Fortal. Sua pergunta “será mesmo que está participando do curso?” mexeu imensamente comigo. Digo melhor, me deixou inquieta. Acredito que preciso melhorar meu tempo. De uns dias para cá, tenho me detido mais à leitura da coleção Ofício de Gestor. Ela tem sido uma fonte rica de orientação para um projeto que estamos desenvolvendo para o próximo ano, uma proposta de trabalho que venha a melhorar a distorção idade-série e conseqüentemente os nossos índices de aprovação e permanência na escola. Penso que estarei melhorando progressivamente no sentido de estar mais relaxada quando da realização das inúmeras atividades que temos agendadas para a escola. O meu maior problema é que gosto de estar acompanhando tudo de perto. Adoro ver a construção, o desenrolar passo a passo das atividades que eles estão incumbidos de fazer. Acho interessante quando eles aparecem com uma sugestão, com uma idéia e que nos dispomos a acatar. Nos dias 1º, 2 e 3 de dezembro próximo, estaremos realizando a segunda edição de uma feira intitulada Dom Bosco todo Prosa e Versos. Essa feira contará com a participação de todos os membros da escola, e uma inovação deste ano é que as nossas merendeiras 148 Escola de Gestores da Educação Básica estarão também com estande falando sobre Segurança Alimentar. Elas estão empolgadas e ao mesmo tempo inseguras, dizem que nunca fizeram isso e não sabem se terão condição de fazer. Cá para nós, elas sabem e vão se surpreender quando se depararem com os resultados. Sempre divido tarefas e confio no poder de realização da maioria dos nossos colegas de trabalho. (Relato C – cursista-gestor) Outro aspecto importante que deve ser ressaltado é que a Secretaria do Estado já havia desenvolvido um documento denominado Gestão Integrada da Escola (Gide), composto pelos referenciais: Projeto Político-Pedagógico (PPP), Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) e Programa de Modernização e Melhoria da Educação Básica (PMME). Alguns gestores estaduais presentes no curso já haviam discutido esse documento; outros, porém, tanto da esfera estadual como municipal ainda não o conheciam. No curso piloto “Escola de Gestores”, seriam apresentados aos cursistasgestores diversos subsídios teóricos e documentos oficiais do MEC/Inep, entre eles o Indicadores da Qualidade na Educação (Indique). Assim, eles poderiam articular esses instrumentos, realizando um trabalho fundamentalmente participativo, oportunizando o diálogo entre a escola e a comunidade, em um esforço comum de ações concretas por meio da construção de parcerias, e buscando soluções que pudessem ser aplicadas e inscritas em suas respectivas unidades, mesmo após o término do curso piloto. Tendo em vista a proposta de gestão democrática a qual fundamentava o trabalho, a nossa mediação concedia plena liberdade aos cursistas-gestores, independente do vínculo institucional Estado/município, para analisarem e escolherem o instrumento que melhor responderia às suas necessidades. O ponto de convergência de todas as escolas estava circunscrito nas questões relativas à evasão e reprovação de alunos (tanto no ensino fundamental como no Relato de uma experiência 149 ensino médio). Tendo em vista um dos objetivos do curso piloto “Escola de Gestores”, nossa intervenção pautou-se primeiramente na importância do diagnóstico de cada unidade escolar em que se pretendia que cada gestor se apropriasse da “radiografia de sua escola” (alunos, professores, equipe gestora, equipe de apoio, comunidade), compreendendo pontualmente onde estavam localizados os problemas. E a partir desses dados, qual seria a dimensão e quais as ações que poderiam ser planejadas objetivando minimizar ou pretensamente buscar soluções em médio prazo para essa problemática. Nesse processo de construção vale salientar as inúmeras interações, reflexões, leituras e apropriação de subsídios realizados por pessoa na construção individual e no trabalho coletivo e colaborativo utilizado por meio da ferramenta virtual “Fórum”: O nosso horizonte hoje na escola é a Gestão Integrada da Escola (Gide); através de uma junção com os segmentos escolares para formar uma comissão de elaboração da Gide, convidamos a comunidade local e escolar para aplicações de formulários e pesquisar os indicadores a fim de angariar dados suficientes para nos orientarmos para indicar a escola que temos e prepararmos uma escola que queremos traçando plano de ações em cima das dificuldades para conseguirmos atingir as metas. Percebemos que há uma necessidade de melhorar a qualidade da educação, mas não porque se tenha alcançado a qualidade e se precise conseguir com maior eficiência os ideais de preparar pessoa para o mercado de trabalho. A má qualidade da atual educação expressa a falta de escolas com condições de funcionamento; por outro lado, a ausência, em nosso sistema de ensino, de uma educação comprometida com uma formação de ser humano, que ultrapasse os propósitos da mera sobrevivência, se articula com objetivo de viver bem. A educação inclusiva tem se caracterizado pelo: “compromisso com a educação, a igualdade de oportunidades e a participação de todos os alunos, devendo ser assumida com responsabilidade por todos os gestores e a comunidade escolar, permitindo um avanço e aperfeiçoamento nos processos de atendimento à diversidade e aos desejos dos alunos com a eliminação de barreiras relacionadas ao currículo, avaliação, formação de professores, prática pedagógica, atendimento educacional especializado e acessibilidade física e nas comunicações. A evolução do pensamento da gestão, com uma visão compartilhada, aprendizagem 150 Escola de Gestores da Educação Básica contínua, valorização da diversidade e interações sociais, favorecendo uma relação adequada entre gestão e educação.” (sic) (Relato A – Fórum: cursista-gestor) Baseado no Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) de nossa escola, que é um processo gerencial de planejamento estratégico que a mesma desenvolve para a melhoria da qualidade do ensino, elaborado de modo participativo por representantes da comunidade escolar. O PDE define “o que é a escola”, “o que ela pretende fazer”, “aonde ela pretende chegar”, “de que maneira e com quais recursos”, assim o mesmo busca transformar a visão da escola em realidade da maneira mais eficiente e eficaz. Para sua elaboração, foi necessário um amplo planejamento, onde o primeiro passo a ser dado foi uma conscientização com toda comunidade escolar, mostrando a importância do mesmo para a melhoria da qualidade de ensino da escola. A partir daí, elaboramos um cronograma com as datas das reuniões que seriam necessárias para a realização das atividades no que diz respeito à formação das equipes, à organização das etapas, materiais necessários, priorizando um espaço físico na escola para a realização das reuniões. Após esse primeiro momento, várias vezes nos reunimos para a realização das etapas, ou seja, a preparação, a análise situacional, a definição da visão estratégica e do plano de suporte estratégico, a execução, o acompanhamento e controle. Dessa forma, conseguimos realizar o nosso PDE. (sic) (Relato B – Fórum: cursista-gestor) As discussões feitas por meio das ferramentas do ambiente virtual mostravam a seriedade com que os cursistas-gestores se relacionavam com os demais colegas, expunham suas singularidades e questões pontuais e aguardavam com ansiedade a contribuição dos demais participantes do curso. Nesse sentido, percebeu-se a construção de uma “nova cultura entre o grupo”, que chegou “estereotipado pela exclusão” e que por meio da identificação e do acolhimento mútuo não mais temia discutir suas situações reais, independente de corresponderem ou não aos “modelos socialmente esperados”. Nesse sentido, o uso das TICs e suas possibilidades foram direcionados às questões pedagógicas com a intenção de propiciar maior comunicação entre os cursistas-gestores. Foi recuperada a auto-estima e o reconhecimento como sujeitos ativos que buscavam incessantemente a superação de suas questões. A mobilização estava Relato de uma experiência 151 estabelecida, bem resolvida, e eles passaram a entender a sua participação no curso piloto como oportunidade de resgate e legitimidade em seu fazer profissional. Vejam só... quem diria: Prezado diretor Raul Vaz da Silva Neto , quem passou seu contato foi a Coordenadora do Programa Escola de Gestores do Ceará... Sou repórter do Ministério da Educação e gostaria de conversar com o senhor sobre a Escola de Gestores: quero saber qual sua expectativa com a formação, que proveito já teve neste primeiro módulo, quais as maiores dificuldades encontradas na gestão escolar e como o curso poderá ajudar . A entrevista será por telefone e a conversa não passará de dez minutos. É importante lhe informar que meu prazo é até amanhã, sexta-feira 23/9, preferencialmente pela manhã, a partir das 8h até às 14h. Caso esteja disponível, pode responder informando o telefone e horário que podemos conversar. Atenciosamente, Sandra Fontella, Radiojornalismo MEC Fones 61 2104 9241 Que tal... pois no mesmo dia que a repórter telefonou, 22/9, por volta das 15h, respondi às perguntas solicitadas. Agora queria ter acesso a essa entrevista para ver como ficou... (Relato compartilhado no Diário de Bordo: cursista-gestor) O relato acima representa os sentimentos, as emoções e o espírito de realização e aprendizagem que se instaurou no grupo de cursistas-gestores. Estava sendo construída por cada um deles em sua unidade uma identidade profissional diferenciada que lhe atribuía um lugar de reconhecimento. Afinal, o processo pelo qual foram “escolhidos inicialmente” para participarem do projeto piloto indicava internamente um lugar de “discriminação”, de sorte que, ao iniciarem sua participação, os dados de maior relevância constituíam-se subjetivamente em seus próprios fracassos como gestores escolares. Esses sujeitos foram se permitindo rever a si mesmos como pessoas, reconhecer suas fragilidades e ao mesmo tempo expor essas sensações, buscando alternativas no trabalho colaborativo. Abaixo, alguns registros dos cursistas-gestores ao final do curso: 152 Escola de Gestores da Educação Básica – O trabalho colaborativo é viável e benéfico para todos os envolvidos no processo de aprendizagem, e foi acreditando nessa idéia que alunos, professores e núcleo gestor da escola Adail Freitas Marinho engajam-se no projeto... – É um sonho antigo meu enquanto... professora da escola que hoje eu dirijo... – ... Pretendo completar as atividades com maior presteza. O curso é maravilhoso, não quero ficar à margem... – É impressionante como esse curso nos leva a refletir cada vez mais o nosso papel como gestor. Estou aprendendo muito, pena que os momentos presenciais passam tão rápido, mas é de uma riqueza enorme compartilhar experiências com os colegas de profissão. – As trocas de experiência nas atividades realizadas nas escolas nos fizeram refletir sobre a nossa atuação, e o papel do gestor na escola nos fortaleceram nas tomadas de decisão. – É uma coisa bem interessante! Aprendemos como é importante adquirir conhecimentos valorizando os saberes diferenciados de cada segmento da comunidade escolar. – O material que recebi é riquíssimo e me orientou bastante no que diz respeito ao trabalho coletivo e às formas de organização do trabalho pedagógico. Ao acompanharmos os gestores durante esse processo, tivemos a oportunidade de registrar, tanto nos momentos presenciais, como em nossa interlocução a distância, o quanto os gestores de maneira geral se sentem isolados em suas unidades escolares, uma vez que compartilhar, trocar e aprender com o outro não são práticas usuais entre nós educadores. E ao mesmo tempo, o quanto os gestores carecem de uma rede de comunicação que, mesmo que virtual, possa estreitar relações e propiciar a troca de informações, contribuindo para um processo de formação contínua entre os gestores de diferentes locais, colaborando para a tomada de decisões. Não obstante nosso discurso seja de trabalho em equipe, dificilmente isso acontece na prática; esse sem dúvida era um dos objetivos a serem alcançados no curso piloto “Escola de Gestores”, e embora cobremos nossos alunos, professores, Relato de uma experiência 153 equipes de trabalho das escolas e a comunidade circundante, o fazer do gestor ainda continua atrelado às questões burocráticas e administrativas. Muitas vezes o gestor não tem a dimensão da sua “autoridade” e de seu “potencial” de ser agente efetivo da tão almejada mudança na educação. Discutir processos de formação com professores certamente é essencial no sentido de formação continuada e reflexão da própria ação, mas discutir a abrangência da gestão escolar, suas inúmeras vertentes e as infinitas possibilidades que este profissional encontra para promover a mudança é algo excepcional. Para os cursistas-gestores o fazer pedagógico foi certamente repensado, não em moldes previamente planejados, mas a partir da constatação de suas realidades circunscritas. Por meio de seus relatos e participações puderam se resgatar como verdadeiros educadores, pessoas envolvidas e comprometidas com as questões sociais, culturais, históricas, políticas e econômicas. Muitos deles “saíram de suas salas” e passaram a andar pela escola, observar os acontecimentos, relacionar-se de forma diferenciada com suas equipes. Alguns passaram a visitar as famílias dos alunos, a conversar com pais e com os jovens para discutir formas de permanecerem na escola, oferecendo a eles uma nova chance na instituição escolar. A gestão passou a conceber sua totalidade na instituição escolar e seus instituintes passaram a se responsabilizar, de modo a ressignificar sua ação nas finalidades docentes que são imprescindíveis ao seu papel e à função social da escola. A cada relato, a cada descoberta, esses profissionais envolviam-se mais e mais, acreditando nas possibilidades de mudança que a escola e seus agentes 154 Escola de Gestores da Educação Básica poderiam operar. As palavras eram ditas ou escritas com peso, com força vital, e essa constatação podia ser contemplada pela mudança de cada um, pela mudança daquele grupo. Uma jovem gestora de uma escola rural, com seus 20 e poucos anos, para acessar a Internet, participar das atividades, discutir com seus colegas em reuniões que se realizavam com a condução da professora-assistente, saía de sua casa às 3h30, pegava carona em um “pau-de-arara” e chegava à cidade mais próxima às 7h, deixando em sua casa um bebê recém-nascido que ainda estava em fase de amamentação. Essa jovem gestora, em nenhum momento presencial ou a distância, colocou publicamente essa situação; ficamos sabendo pela professora-assistente, que a acompanhava e vibrava com sua dedicação e perseverança. Vale aqui ratificar a necessidade de investimentos na formação dos gestores do País, e de políticas públicas que viabilizem a informatização das escolas, acesso à Internet, até porque, somente a partir dos princípios de eqüidade, teremos legitimidade para discutir questões relativas à inclusão. O desejo de partilhar esse caso em especial e as demais experiências desses educadores com os leitores pretende não apenas mostrar situações reais dos cursistasgestores do Estado do Ceará, mas também representar tantos outros profissionais dos Estados brasileiros que, ao participarem desse curso piloto, perseveraram, lutaram e buscaram valer a pena cada momento vivido, cada atividade realizada, cada oportunidade de inclusão. Relato de uma experiência 155 Em nossa mente ficaram registradas as mais diversas expressões, as mais caras esperanças de uma educação autenticamente emancipadora, democrática e cidadã. Em minhas palavras finais, ao término dessa experiência ímpar, única, por ocasião da entrega dos certificados aos 40 cursistas-gestores que concluíram o curso piloto “Escola de Gestores”, recordei com eles nosso primeiro encontro: [...] olhos assustados, rostos temerosos..., mas ao mesmo tempo o sentimento de coragem que emergia de cada um... e nesse momento como que num encantamento, fiz menção a um cearense4 que canta e encanta seus admiradores... foi nele que me inspirei ao dizer aos “meus gestores”: [...] Guerreiros são pessoas... são fortes... são frágeis... guerreiros são meninos no fundo do peito... precisam de um descanso... precisam de um remanso... precisam de um sonho que os tornem refeito... Guerreiros são vocês... Gestores do Ceará... pessoas... fortes e frágeis... mas pessoas que continuam na luta... Finalmente não posso deixar de mencionar o legado originalmente freiriano, que nos ilumina e nos incentiva a continuarmos na luta como “guerreiros da educação brasileira”: “A escola não pode tudo, mas sem a escola a mudança não acontece.” 4 156 Refiro-me à canção de Raimundo Fagner, Guerreiro Menino. Escola de Gestores da Educação Básica Relato 8 A formação de gestores escolares em EAD e a gestão de mídias na escola Leila Lopes de Medeiros Francesca Vilardo Lóes Não teríamos ultrapassado o nível de pura adaptação ao mundo se não tivéssemos alcançado a possibilidade de, pensando a própria adaptação, nos servir dela para programar a transformação (Paulo Freire). As mídias e o cotidiano escolar Quem observa uma sala de aula convencional, na qual a ênfase seja a exposição do professor, constata, rapidamente, a pertinência da parábola do viajante no tempo que Papert relata em A máquina das crianças (1994). Alguém que chegasse diretamente do século passado estranharia – e muito – a maioria dos ambientes, mas se sentiria absolutamente à vontade em uma sala de aula tradicional: professor, quadro de giz e alunos enfileirados de olhos e ouvidos atentos, ou não, ao professor. Relato de uma experiência 157 Nesse modelo, assume-se que o professor detém o saber e a ele compete transmiti-lo aos alunos, o que Paulo Freire chamava de modelo de “educação bancária” (1987). Embora, do ponto de vista de gestão do ambiente de aprendizagem, a transmissão baseada fortemente na fala do professor e em alguns textos escolares demande o mínimo de recursos, os resultados dessa estratégia podem ser questionados nas estatísticas oficiais demonstradas no quadro a seguir, extraído do Sistema de Estatísticas Educacionais – Edudata Brasil do Inep, no endereço www.edudatabrasil.inep.gov.br, com dados de 2004. Quadro 1 Alunos matriculados Alunos concluintes Ensino fundamental 34.012.434 2.462.319 Ensino médio 9.169.357 1.879.044 Educação de jovens e adultos 4.577.268 1.218.967 As mídias e o modelo pedagógico Não se trata aqui de assumir uma posição simplista. O fato de a escola dispor de variados recursos midiáticos não altera, por si só, a percepção do professor sobre o processo de ensinar e de aprender, muito menos os resultados desse processo. No entanto, pesquisas têm mostrado que a apresentação da informação em diferentes suportes (texto escrito, áudio e imagem) amplia a possibilidade de compreensão de quem a recebe. Segundo Glasser (1993), aprendemos, aproximadamente, 10% do que lemos; 20% do que ouvimos; 30% do que vemos; 50% do que vemos e ouvimos; 70% do que discutimos com outras pessoas; 80% do 158 Escola de Gestores da Educação Básica que experimentamos; 95% do que ensinamos a outras pessoas. Esses dados não só reforçam a importância do uso de diferentes suportes para os conteúdos de aprendizagem como chamam a atenção para os resultados alcançados quando se produz conteúdo, numa perspectiva autoral, bem distante do “modelo bancário” (Freire, 1987). Quando esses suportes são disponibilizados como instrumentos de autoria, a aprendizagem passa a ter um sentido especial, de apropriação e de verdadeira (re)construção do conhecimento. Não se garante educação de qualidade pelo simples acréscimo do aparato tecnológico, mas a tecnologia pode ajudar a ampliar – e muito – a qualidade do trabalho realizado. Essa disposição de tornar a escola um local de pesquisa e de experimentação de quem aprende, de apropriação de conteúdos utilizando diferentes fontes, suportes e recursos, de estímulos à expressão por meio de múltiplas linguagens marca o que vem sendo denominado “pedagogia da autoria”. Segundo Neves (2006), [...] a pedagogia da autoria busca concretizar desafios lançados por Paulo Freire, Vigotsky, Piaget, Morin e outros educadores que põem em relevo a complexidade e totalidade do ser humano e sua capacidade de construir significados e de gerar projetos e conhecimentos socialmente relevantes. Trata-se de uma proposta pedagógica que convida professores e estudantes a participarem do processo pedagógico como produtores de informações, utilizando as mídias e as tecnologias disponíveis para essa produção. Nessa perspectiva, textos escritos, vídeos e áudios podem ser utilizados tanto para a produção de materiais de Relato de uma experiência 159 estudo quanto para materializar a aprendizagem, a compreensão dos estudantes sobre os conteúdos estudados. E o produto da aprendizagem ganha visibilidade, publicidade, caracterizando efetivamente o trabalho autoral. Não é nova a idéia de reconhecimento da autoria na escola. Há muito as exposições de trabalhos e cartazes, as feiras de ciência e outras iniciativas desse tipo abrem espaço para a exposição do que se produz lá. No entanto, a complexidade da produção, envolvendo diferentes mídias (rádio, TV, impressos e informática), em que recursos como texto, imagem e som podem ser combinados para apresentar uma idéia, exige e estimula a formação de habilidades para muito além da memorização e da reprodução de informações. Outro aspecto importante é o impacto que essas produções provocam, tanto em quem produz quanto em quem consome a informação. Quando se pensa no uso de computadores dotados de recursos multimídia e conectados à Internet, amplia-se o potencial de articulação midiática e de visibilidade alcançada com a publicação do que é produzido. Uma rádio escolar, por exemplo, pode tornar-se um recurso importante para a apropriação de conteúdos relacionados ao domínio da língua, de história, geografia, ciências e o que mais a criatividade indicar. Valores éticos, estéticos, senso de cooperação, de responsabilidade e disciplina, além da formação de leitores, autores de textos radiofônicos, produtores de conteúdos e programadores musicais podem ser trabalhados de forma concreta, com os estudantes descobrindo soluções para os desafios que se apresentam. Se essa rádio for organizada utilizando a Internet, rapidamente os estudantes descobrem que o limite de sua produção passa a ser o acesso ao recurso em todo o 160 Escola de Gestores da Educação Básica mundo. Pode-se imaginar a diferença de dedicação a um trabalho que será lido pelo professor ou que será tornado público dessa forma. Surgem, no entanto, questões importantes sobre essa estratégia pedagógica, a respeito da disponibilidade dos recursos envolvidos e da preparação de professores para tal. Esse é um aspecto da maior importância e vem sendo enfrentado, do ponto de vista do Ministério da Educação a partir de duas ações principais. Uma, que leva às escolas a TV, o DVD e o computador, e outra que provê a capacitação de professores para o uso pedagógico desses equipamentos. Um programa voltado à inserção de computadores na escola como recurso pedagógico – ProInfo – e uma TV que chega às salas de aula com programação inteiramente dedicada ao ensino e à aprendizagem de professores e estudantes – TV Escola – são exemplos da inserção de recursos tecnológicos na escola. Os números a seguir dão uma idéia do que vem sendo alcançado nos dois programas: Quadro 2 Computadores em escolas públicas: 52.039 escolas públicas (29,8%) com 308.539 computadores: 27.664 escolas públicas (15,8%) usam para fins pedagógicos; 23.719 escolas públicas acessam a Internet (13,6%):; 31,7% em banda larga; 2.139 municípios sem acesso à Internet nas escolas; 106 municípios com 100% das escolas públicas conectadas; 15.248 usam laboratórios; 10.227 escolas públicas (5,8%) têm mais de dez computadores; 79% com computadores instalados há menos de cinco anos; ProInfo: 4.901 escolas públicas; 9,4 % do total de escolas públicas equipadas; 32,1% das escolas usam laboratórios; 47,9% das escolas têm mais de dez computadores. Televisão, vídeos, antenas em escolas públicas: 83.532 escolas públicas com 167.712 aparelhos de TV; 75.172 escolas públicas com 129.276 videocassetes; 52.302 escolas públicas com 58.522 antenas parabólicas; 47.732 escolas públicas com kits completos; 168 municípios sem kits. Fonte: Boletim Técnico do Senac – Versão Eletrônica – Volume 31, nº 3 set./dez., 2005. Relato de uma experiência 161 Para garantir a apropriação dos recursos que chegam à escola, é preciso, fundamentalmente, capacitar os professores e, com isso, estimulá-los a desenvolver as habilidades básicas para sua utilização e elaborar estratégias pedagógicas alinhadas ao contexto em que a escola e os estudantes estão inseridos e à perspectiva autoral, com vistas à melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Para potencializar as ações de capacitação, além da formação continuada de professores, faz-se necessário formar agentes capazes de se responsabilizar pela formação de outros professores. É preciso, também, formar profissionais que dêem suporte técnico às atividades nas mídias disponíveis. Uma estratégia que viabiliza a formação simultânea de grandes contingentes de professores é a opção pela modalidade de educação a distância. Ela permite, ainda, que os professores não sejam afastados de suas atividades profissionais durante a formação, e o conhecimento desenvolvido em centros de excelência ultrapasse barreiras geográficas, chegando a todos que dele possam se beneficiar. Uma outra característica dessa formação continuada a distância que merece destaque é que ela se vale das mídias e das tecnologias que constituem o seu objeto de estudo, fazendo com que os professores experimentem, desde a sua formação, os recursos para cujo uso estão sendo formados. Os dados a seguir demonstram os esforços que vêm sendo realizados nesse sentido. São cursos realizados no ambiente colaborativo de aprendizagem e-ProInfo, promovidos pela Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação em parceria com diversas instituições de ensino superior. 162 Escola de Gestores da Educação Básica Quadro 3 Ação Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação Curso de Especialização em Tecnologias na Educação Inscritos 1.200 no projeto piloto 10.000 1.700 A gestão das mídias na escola Levar o computador, a TV, outras mídias e recursos tecnológicos para a escola, provendo a adequada formação aos professores, ainda não garante o uso pedagógico dos mesmos. São passos fundamentais em uma longa cadeia de ações que compreendem desde aspectos curriculares até a organização dos espaços físicos e das rotinas escolares. Bernardo Sorj e Julie Remold (2005) relatam algumas dificuldades enfrentadas. A separação física de computadores em laboratórios de informática apresenta desafios adicionais para a integração curricular. Um grande número de professores opta por não usar os laboratórios de informática em virtude da dificuldade em integrar os trabalhos no computador com o ensino regular de sala de aula. Em muitas escolas, esse fato é formalizado quando um professor é dispensado das suas tarefas rotineiras para incluir, em sua programação, um horário semanal no computador. Em escolas que não oferecem aulas de informática como atividade opcional, a maioria dos professores que utiliza o laboratório o faz para ensinar habilidades no computador ou para substituir as aulas de arte, permitindo que as crianças usem programas de desenho. Os professores reconhecem a importância da integração curricular, e muitos lamentam o fato de terem recorrido ao computador ou às aulas de arte em vez de integrar o uso do computador ao programa. Alegam que o tempo de planejamento limitado e o acesso restrito aos computadores fora de aula dificultam o planejamento de atividades relevantes às metas educacionais. Um currículo que privilegie a produção e a publicação de conhecimento implica em arranjos especiais dos recursos, das disciplinas e até mesmo do trabalho dos professores e dos alunos. Para elaborar um vídeo ou criar um site na Internet, por exemplo, são necessárias várias competências que se complementam, algumas Relato de uma experiência 163 referentes à mídia, outras ao conteúdo. Para a realização de projetos com tal nível de complexidade, costumam se reunir professores e turma, rompendo com a lógica do confinamento em salas, em disciplinas e em horários rígidos. Projetos inter ou transdisciplinares obrigam a escola e os professores a reverem suas certezas e práticas usuais, sua lógica de ocupação dos ambientes, além da linearidade das propostas curriculares. A professora Léa Fagundes, em entrevista publicada no site Midiativa (s.d), analisando a produção dos alunos, desafiados a buscar e a produzir conhecimento com o auxílio das Tecnologias de Informação e Comunicação – as TICs –, afirma que [...] quando a intervenção é ética, acolhedora e imaginativa, a liberdade é compartilhada, o processo de desenvolvimento se expressa em múltiplas formas: a curiosidade pelo conhecimento, o desejo de aprender, o desejo e a habilidade de formular questões, o respeito aos diferentes, as competências para realizar trocas usando diferentes sistemas de códigos, o trabalho colaborativo em grupos, a competência para buscar as informações relevantes, para fundamentar suas escolhas, de planejar, realizar e documentar seus próprios projetos de pesquisa, a apropriação dos recursos tecnológicos para utilizar em suas próprias produções, a criatividade na autoria e na publicação de suas produções, etc. O trabalho realizado por professores e estudantes de forma cooperativa, interdisciplinar, com uso de recursos midiáticos, costuma demandar alterações significativas nos horários e na dinâmica das aulas. É comum que dois ou mais professores precisem compartilhar um mesmo ambiente, conforme os conteúdos e habilidades envolvidos. Laboratórios de informática, bibliotecas e outras áreas comuns da escola podem se transformar em verdadeiras oficinas de produção coletiva. Grupos de trabalho, câmeras, microfones, entrevistas, movimentação de estudantes e 164 Escola de Gestores da Educação Básica convidados podem mudar completamente a aparência da escola, aproximando-a dos ambientes de pesquisa e de trabalho. Isso significa que, além dos estudantes e dos professores, a escola precisa mudar, ela mesma, para dar lugar ao trabalho cooperativo, autoral e complexo. O que pode garantir que a escola compreenda e adote uma postura de apoio à exploração das mídias, em última instância é a disposição do gestor escolar. Ele precisa perceber as implicações dessa prática, disponibilizando recursos e espaços para sua concretização. Cabe ao gestor escolar estimular um trabalho que, por assim dizer, “derrube” as paredes das salas de aula, reunindo profissionais de diferentes formações e revelando aos estudantes um mundo de conexões impensado. Câmeras, microfones, computadores multimídia e seus diversos insumos passam a fazer parte do cotidiano escolar. Os espaços de informática, isolados das atividades usuais dos alunos, geralmente silenciosos e reservados, passam a ter papel fundamental no tratamento dos conteúdos, na realização das tarefas escolares, e o mural da escola pode ser a própria Internet. Mas como preparar os gestores para mudanças que vão muito além da estrutura física da escola? Aprender a fazer, fazendo Da mesma forma que os professores, os gestores necessitam de formação continuada que os ajude a compreender o impacto do uso pedagógico das mídias na escola. Essa formação precisa, por tudo o que foi aqui exposto, ir além do gerenciamento de equipamentos, espaços e horários. Relato de uma experiência 165 É fundamental que o gestor reconheça seu papel nesse novo encadeamento de dinâmicas e perceba, com clareza, que sua função maior não é o gerenciamento da escola, mas da aprendizagem que ali tem lugar. Ter como meta a qualidade da formação dos estudantes, incentivar a formação continuada dos docentes e se comprometer com todos os esforços voltados para tal podem fazer toda a diferença nos resultados da escolarização. Participar, ativamente, do processo pedagógico, mantendo-se também em formação continuada, ajuda o gestor escolar a se dividir, de forma mais harmoniosa, entre as inúmeras responsabilidades que a função administrativa acarreta e a função de gerir a aprendizagem em uma perspectiva mais ampla, provendo-a de todos os recursos que a viabilizem. Quando os gestores vivenciam a formação continuada a distância e são desafiados a, eles mesmos, utilizarem os recursos tecnológicos na sua formação, essa compreensão é facilitada. O uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) em programas de educação continuada a distância, além das vantagens que a própria formação apresenta, aumenta as chances de o gestor tornar-se um incentivador do uso pedagógico dessas tecnologias e das mídias disponíveis na escola, condição indispensável para que esses recursos se tornem aliados da melhoria da qualidade da educação escolar. A experiência desenvolvida no Projeto Piloto do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica pelo Ministério da Educação, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em parceria com 166 Escola de Gestores da Educação Básica a Secretaria de Educação Básica (SEB), a Secretaria de Educação a Distância (Seed) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) reforçou essa hipótese. Desenvolvido nos Estados da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins, possibilitou aos gestores escolares uma experiência ímpar de aprendizagem do e por meio do uso das TICs. A participação em momentos presenciais e o contato com os gestoresestudantes, bem como a análise dos relatórios da experiência, permitiram algumas observações preliminares significativas para futuros estudos sobre o tema. Para muitos dos participantes do programa, a representação do computador não ia além de uma máquina sofisticada de emitir relatórios, estatísticas e cumprir tarefas burocráticas, em geral, bem distantes de sua prática cotidiana. Não foi incomum encontrar profissionais que tiveram, durante a formação, seus primeiros contatos diretos com o computador, sobretudo como instrumento de pesquisa, comunicação e aprendizagem. Conversar com esses gestores-estudantes ajudou a perceber o impacto que a realização de seus estudos, utilizando computadores conectados à Internet, traria à sua percepção do uso pedagógico de tais recursos. Chamou a atenção a forma como os gestores-estudantes se apropriaram do computador para, por meio da Internet, estabelecer sua rede de comunicação, de ajuda mútua nos estudos e para além do espaço de formação, para apoiar sua própria tomada de decisão. A oportunidade de criação de uma rede virtual de gestores, ultrapassando as atividades previstas no curso, era uma das propostas do programa. Foi interessante constatar como a hipótese de que, disponibilizado o recurso e Relato de uma experiência 167 estimulada sua utilização, a comunicação realmente se efetivou, podendo ser comprovada a partir do relato direto dos participantes e da superação das atividades propostas. Outra observação importante foi a maneira como se organizaram para superar problemas como a disponibilidade de computadores para estudar, nas suas escolas, a dificuldade de acesso à Internet, o contato com os tutores, a disponibilidade de tempo para estudar, enfim, as tarefas que quaisquer estudantes enfrentam em situação semelhante. O importante é que esses gestores-estudantes têm o privilégio de tomar decisões que impactam, diretamente, a utilização pedagógica de recursos desse tipo nas suas escolas e a experiência com o curso pode interferir positivamente nessas decisões. A gestão da aprendizagem Para enfrentar a complexidade das questões que a tarefa educativa assume, hoje, uma das principais características de um gestor escolar deve ser a consciência de sua responsabilidade como educador. A reflexão sobre o modelo de educação e, conseqüentemente, de aprendizagem que responde aos desafios da vida contemporânea antecede e dá sentido às estratégias gerenciais e administrativas que venha a assumir. A formação continuada de gestores escolares, em programas a distância, com uso de recursos tecnológicos – computador em rede, conteúdos multimidiáticos e ferramentas de interatividade – que estimulem o intercâmbio de informações e a 168 Escola de Gestores da Educação Básica construção cooperativa, compartilhada, de soluções gerenciais, pode contribuir para que valorizem e se transformem em incentivadores da utilização de recursos e estratégias semelhantes em suas escolas. Desenvolver e estimular na comunidade escolar uma visão de educação voltada para a autonomia, a cooperação, o trabalho autoral e a interatividade, além de constituir-se em uma ação gerencial da maior importância, repercute na sala de aula, que se transforma, efetivamente, em um espaço de co-autoria, de co-criação. Nessa perspectiva, o trabalho de gestores e de professores se complementa em favor de uma educação mais participativa, mais preocupada com a qualidade da aprendizagem e do conhecimento que se pode construir, coletivamente, na escola. Em seu livro Sala de aula interativa, Marco Silva (2001) destaca que o professor, [...] em sala de aula, pode garantir a confrontação coletiva e a aprendizagem atentando para a teia de interações constituída por ele mesmo, pelos alunos, conteúdos curriculares e instrumentos pedagógicos (meios de comunicação, equipamentos de ensino, etc.). Ao mesmo tempo, garante a materialidade da ação comunicacional disponibilizando e provocando a participação livre e plural, o diálogo e a articulação de múltiplas informações e conexões. Nesse ambiente de gestão da aprendizagem, de profunda interação e cooperação de toda a comunidade escolar, poderá se desenvolver uma educação que responda, mais adequadamente, às exigências contemporâneas da sociedade e da própria condição humana. Referências bibliográficas FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. Relato de uma experiência 169 GLASSER, W. The Quality School Teacher. New York: Harper Collins, 1993. MIDIATIVA. Léa Fagundes: “O professor deve tornar-se um construtor de inovações”. Entrevista publicada eletronicamente. Disponível em: http://www.midiativa.org.br/ index.php/. Acesso em: 14 ago. 2006. NEVES, Carmen M. C. Pedagogia da Autoria. Boletim Técnico do Senac, v. 31, n. 3, set./dez. 2005. Disponível em: http://www.senac.br/informativo/BTS/313/boltec313b.html Acesso em: 13 ago. 2006. PAPERT, S. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Tradução: Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. SILVA, M. Sala de aula interativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2001. SORJ, B.; REMOL, J. Exclusão digital e educação no Brasil: dentro e fora da escola. Boletim Técnico do Senac, v. 31, n. 3, set./dez. 2005. Disponível em: http://www.senac.br/ informativo/BTS/313/boltec313b.html Acesso em: 14 ago. 2006 170 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 9 Monitoria em educação a distância: apoio e interlocução no processo ensino-aprendizagem Rosângela de Abreu Amadei Duarte Final de agosto de 2005, tarde do segundo dia do Encontro Presencial, primeiro módulo do curso Escola de Gestores. Em meio ao murmurinho da sala do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE), a gestora-cursista chamou-me e em voz baixa, como se pedisse licença para falar, me perguntou: Relato de uma experiência - Professora, a senhora assiste à novela das oito? - Assisto às vezes, por quê? - Sabe aquele menino chamado Rick? - Sei, o que tem ele? 171 - Quando eu vejo ele conversando com os amiguinhos pelo computador eu fico pensando... será que um dia eu vou poder fazer a mesma coisa? E antes que eu respondesse, ela continuou, apontando para a máquina: - Olha, professora, chegou o dia! O ponto final para esse diálogo ela mesma colocou: um sorriso e olhos molhados. E eu, que àquela hora já tinha vivido quase dois dias de grandes desafios, entendi plenamente o que estava fazendo ali. Durante os dois dias do Encontro Presencial/Módulo I do curso, fui percebendo a dimensão e a importância de nosso trabalho, percepção que culminou com o diálogo relatado. O curso, cuja modalidade educacional foi híbrida, de momentos presenciais mesclados com momentos a distância, demandou cuidado especial no planejamento da atuação docente porque a maioria dos cursistas da turma não tinha familiaridade com o computador, tampouco com as ferramentas do ambiente digital de aprendizagem, eProInfo, onde se desenvolveram dois módulos do curso a distância. Felizmente não estava sozinha nessa empreitada e pude contar com vários colegas; juntos constituímos uma grande equipe que viabilizou o trabalho. Dessa grande equipe de profissionais, faço um recorte para uma equipe de formadores que se responsabilizou por uma das turmas do projeto. Dela destacarei a atuação dos professores-assistentes, meus monitores. 172 Escola de Gestores da Educação Básica Assim, com este artigo, tenho a intenção de apresentar e analisar a vivência educativa inserida no projeto Escola de Gestores, que reuniu cinco educadores em um trabalho em equipe para a formação de uma turma de aproximadamente 40 cursistasgestores, profissionais da rede pública de ensino. A equipe era composta pela professora da turma, autora deste artigo, e quatro professores-assistentes, duas moças e dois rapazes, que em um movimento contínuo de aprender e ensinar, conviveram durante quatro meses e juntos percorreram um caminho passo a passo. O processo de análise da experiência referida, que vem a seguir, fez-se a partir do relato das ações desenvolvidas por essa equipe de formadores à luz do que Antoni Zabala se refere como “a influência da concepção construtivista na estruturação das interações educativas” e “o conjunto de relações interativas necessárias para facilitar a aprendizagem” do qual “se deduz uma série de funções dos professores” (Zabala, 1998, p. 92). Depoimentos dos cursistas-gestores, escritos ao longo do curso e retirados de seus diários de bordo, fazem parte do corpo da análise e corroboram as ideias desenvolvidas. Das funções destacadas pelo citado autor, foram escolhidas as relacionadas abaixo que fundamentaram a análise apresentada a seguir: • Aplicar o planejamento com plasticidade: planejar a atuação docente de uma maneira suficientemente flexível para permitir a adaptação às necessidades dos alunos em todo processo ensino-aprendizagem; Relato de uma experiência 173 • Ajudar os alunos a encontrarem sentido no que fazem, para que conheçam o que têm que fazer, sintam que podem fazê-lo e que é interessante fazê-lo; • Oferecer ajudas contingentes adequadas no processo de construção dos alunos, para os progressos que experimentarem e para enfrentarem os obstáculos com os quais irão se deparar; • Estabelecer um ambiente e determinadas relações que promovam a auto-estima e o autoconhecimento presididos pelo respeito mútuo e pelo sentimento de confiança; • Promover canais de comunicação que regulem os processos de negociação, participação e construção; • Potencializar a autonomia e possibilitar que os alunos aprendam a aprender; • Avaliar os alunos conforme suas possibilidades reais e incentivar a auto-avaliação de suas competências. Aplicar o planejamento com plasticidade No final do Módulo I/presencial, tendo conhecido o perfil da turma, as motivações e expectativas dos gestores em relação ao curso, e as condições para a participação deles, reuni-me com os professores-assistentes, meus monitores, a fim de juntos estabelecermos estratégias para acompanhar e auxiliar os alunos a realizarem as atividades. 174 Escola de Gestores da Educação Básica Dividimos o grupo de cursistas em quatro subgrupos. Cada professorassistente assumiu um subgrupo e se comprometeu a acompanhá-lo bem de perto no ambiente virtual de aprendizagem, ou presencialmente se fosse necessário. No entanto, a dificuldade dos cursistas em acessar o computador e a Internet, demonstrando pouca intimidade com a informática, era maior do que havíamos diagnosticado; portanto, muitas ações planejadas tiveram que ser revistas e alteradas ao longo do processo. Dessa forma, no Módulo II/a distância, cada professor-assistente desempenhou fundamentalmente o papel de mediador para o uso adequado das ferramentas do e-ProInfo. Ao contrário do que havíamos planejado, essa interlocução com os alunos não foi feita somente pelo e-ProInfo. Diria até que nesse momento, nada foi feito dessa forma. Para os que estavam próximos ao NTE, foram feitos muitos atendimentos presenciais nesse local e para os que estavam distantes, o apoio foi dado por telefone. Simultaneamente, meus monitores mantinham-me informada sobre os atendimentos que estavam realizando e as dificuldades dos alunos em interagirem no ambiente. Aos poucos fui notando a eficácia desse trabalho com o aumento da frequência dos cursistas em nossa aula virtual. Se vale uma imagem, os monitores encaminharam os alunos ao e-ProInfo pela mão. O curso no início me causou medo por não ter conhecimentos, ainda, na área de informática mas, com a continuação e colaboração da professora, dos instrutores Relato de uma experiência 175 do NTE, colegas cursistas e do trabalho tive um avanço relevante. A proposta é muita boa e o aprendizado significativo, favorecendo um trabalho qualitativo com êxito no rendimento escolar. S. A partir de então, com os alunos mais seguros no manuseio das ferramentas, a mediação pôde se dar também via e-ProInfo. Ajudar os alunos a encontrarem sentido no que fazem Os cursistas-gestores tinham clareza sobre sua realidade e contexto; eram conscientes da importância da formação em serviço e do desenvolvimento profissional que ela possibilita. Muito envolvidos com as questões educacionais revelavam disposição para análise e reflexão sobre sua prática gestora. Estavam abertos a novos desafios; portanto, encontraram nos professores-assistentes que os acompanhavam o apoio necessário para superarem as dificuldades; também estabeleceram vínculos com o novo conteúdo que se apresentava, com o qual desenvolveram nova forma de comunicação e interação reconhecida no processo como nova maneira de aprender. Não foram poupados esclarecimentos sobre as atividades que deveriam desenvolver no curso, as ferramentas do ambiente que poderiam utilizar e a razão por que elas foram escolhidas. Assim, sentiram que o trabalho estava ao seu alcance e viram motivos para realizá-lo, apesar dos muitos obstáculos que encontraram. “Tive muitas dificuldades de acessar o ambiente devido à falta de recursos tecnológicos; porém, apesar das dificuldades, o curso proporcionou uma aprendizagem ampla e significativa para minha vida.” E.M.L 176 Escola de Gestores da Educação Básica A maneira respeitosa e afetiva como os cursistas eram vistos pelos professoresassistentes e a abertura que tiveram para o diálogo constante lhes deram o clima favorável e indispensável à aprendizagem significativa. Oferecer ajudas contingentes Conforme já mencionado, o curso foi uma formação em serviço de gestores escolares da rede pública de ensino que exigiu deles envolvimento pessoal, tempo e esforço. Para isso precisaram de muita ajuda, como se pôde verificar nos depoimentos anteriores. No entanto, essa ajuda não poderia ser de qualquer natureza. Dada a diversidade dos alunos da turma e das atividades do curso, a ajuda que lhes foi prestada não teve sempre a mesma natureza, nem interveio da mesma forma em cada um deles. Isso só foi possível porque a equipe de formadores, meus monitores e eu, tínhamos o mesmo objetivo e trabalhamos unidos e afinados para tomarmos decisões de organização de grupo, de tempo, de espaço, de conteúdos; esse conjunto de iniciativas possibilitou o atendimento às necessidades individuais de nossa turma. Cara professora, estamos evoluindo a cada dia. No princípio tivemos muitas dificuldades, chegamos até a ficar desanimadas, mas nosso monitor é um doce e tem tido muita paciência conosco. Agora estamos numa nova fase, animadas, familiarizadas e felizes com o desenrolar de nossas atividades. Nesse momento estamos desenvolvendo as atividades do Módulo II. Em breve faremos novos contatos. S. Relato de uma experiência 177 Constituímos um grupo de trabalho calcado no respeito mútuo, na troca constante, na sinceridade, na confiança construída ao longo do tempo. Estabelecer um ambiente e determinadas relações que promovam a auto-estima e o autoconhecimento Os temas abordados neste curso foram de supraimportância, pois auxiliaram-me no meu cotidiano na unidade escolar, mudando a prática e fortalecendo a teoria que exercíamos no dia-a-dia; os meus colegas da instituição adoraram as mudanças ocorridas em minha prática, aperfeiçoando mais os projetos realizados na instituição e principalmente as parcerias que pelas trocas de experiências com as demais gestoras de outros municípios ajudaram-me a abrilhantar o meu trabalho de gestora municipal. Estou feliz por estar tendo a oportunidade de compartilhar e demonstrar o que aprendi. A.N.S. Sabíamos que, para potencializar a aprendizagem, para não perdermos nossos alunos pelo caminho e podermos levar a termo nossa tarefa, tínhamos que oferecer a eles igual oportunidade de participarem, em um clima interativo que levasse à cooperação e provocasse a coesão do grupo. Nossa ação foi direcionada para criar um ambiente motivador que produzisse nos cursistas-gestores confiança em seu potencial para enfrentar dificuldades e desafios. Durante o processo, era dado retorno constante aos cursistas, o que contribuiu para melhorar sua auto-imagem e desenvolver uma atitude favorável à aprendizagem. No decorrer do curso de gestores, eu e minhas colegas gestoras interagimos com mais frequência comunicando-nos umas com as outras e trocando figurinhas. Essa sensação é muito importante, pois adquire-se mais aprendizagem e coleguismo pessoal e informal. Este curso não caiu de pára-quedas, mas chegou na minha porta vindo da mão de pessoas competentes e capacitadas, abrindo-me a oportunidade de aperfeiçoar e transferir uma auto-estima profissional. 178 Escola de Gestores da Educação Básica Tive o cuidado de fazer o mesmo com meus monitores que, com o tempo, mostraram mais compromisso e qualidade no trabalho. Também cresceu a auto-confiança e a segurança mútua. Sem contar o afeto que temperou a relação interpessoal e fortaleceu nossos laços. Promover canais de comunicação A rede de aprendizagem, que pouco a pouco se criou, vingou porque não nos descuidamos da comunicação e trabalhamos para manter a rede comunicativa baseada no compartilhamento de uma linguagem comum, do entendimento mútuo, do estabelecimento de canais eficazes. Este encontro foi como o “Brilho do Sol”. Tal metáfora se dá pelo fato de que neste encontro ficamos felizes, aconchegados, sentimos mais segurança tanto no ambiente quanto na relação aluno/aluno. Levando para o lado do sol, podemos afirmar que estamos irradiando alegria, pois neste módulo pudemos compartilhar conhecimentos, dificuldades e anseios com colegas, professora e monitores. As cursistas: E., M. e R. Nesse processo, a ação dos professores-assistentes foi vital. O contato entre eles e o deles comigo foi intenso e diversas ferramentas de comunicação concorreram para isso: o fórum do ambiente e-Prolnfo, um messenger, o correio eletrônico e o telefone. A comunicação entre os professores-assistentes e os alunos não foi menos intensa e se deu, sempre que necessário, presencialmente, ainda que tivessem que viajar alguns quilômetros para isso, por telefone e também pelo fórum do ambiente e-Prolnfo. Relato de uma experiência 179 Potencializar a autonomia e possibilitar que os alunos aprendam a aprender Toda a ajuda oferecida desde o primeiro módulo foi sendo progressivamente retirada, e tivemos em resposta o processo de elaboração pessoal dos cursistas-gestores e a aplicação e utilização de maneira autônoma dos conhecimentos construídos. No momento em que fui informada que iria participar de um curso sobre gestão, fiquei feliz. No primeiro momento não imaginei que seria pela Internet, pois quase não tinha acesso à informática. Foi ótimo, pois tivemos todo acompanhamento da professora e sua equipe maravilhosa. Iniciei com dificuldades, mas elas foram desaparecendo com a ajuda dos tutores. A.S. S.P.C. Notei o mesmo em relação aos procedimentos e atitudes dos professoresassistentes que, no início do curso, se diziam inseguros e pouco preparados para o acompanhamento dos cursistas, e no final, mostraram-se mais independentes, criativos e ousados na busca de soluções para os entraves que nesse momento encaravam como parte do processo e não mais como impossibilidade de trabalho. Avaliar os alunos conforme suas possibilidades reais e incentivar a auto-avaliação de suas competências Conscientes da necessidade de que os cursistas-gestores fossem sujeitos de sua aprendizagem e de que durante o processo pudessem perceber suas dificuldades, rever suas ações e avançar, entendemos a avaliação não como meio, 180 Escola de Gestores da Educação Básica mas como fim, não como julgamento, mas como retorno efetivo, para depuração dos equívocos, para promoção da auto-estima e motivação para continuar aprendendo. Assim, presenciei muitas vezes a postura impecável dos professores-assistentes, que levando em conta a situação pessoal de partida dos cursistas, demonstraram confiança no esforço deles, compreenderam os obstáculos que tiveram que superar, prestaram assistência constante, favoreceram o processo de autonomia progressiva, promoveram na turma a capacidade de aprender a aprender. Ao longo do curso, nas suas últimas etapas, e principalmente no último encontro presencial, pudemos avaliar o resultado das ações educativas que se desenvolveram no processo. Hoje estamos participando do último encontro presencial do curso Escola de Gestores e devo confessar que já estou com saudades. Foi muito bom essa interação com outras pessoas que trabalham na mesma função que a gente e no entanto não se conheciam. Agradeço aos professores pelo apoio, pela dedicação e paciência com os cursistas pois muitos de nós(eu) não tínhamos contato nenhum com a máquina, e com este curso nos despertamos pela importância das tecnologias. Eu até me despertei e comprei um computador, e está sendo uma experiência ímpar na minha vida e na dos meus filhos que ficaram mais felizes com esta compra. Por isso só tenho a agradecer. Muito obrigadooooooooooooooooooooooooo. Beijos para todos. M. R. Início de dezembro de 2005, manhã do segundo dia do encontro presencial, quinto módulo do curso Escola de Gestores, cerimônia de certificação dos alunos e dos professores-assistentes. Em meio a muita emoção, rompendo o silêncio da sala, finalizei o diálogo registrado no início deste artigo. Reportei-me não apenas à gestora que o provocou, mas a todos de quem, naquela ocasião, ela certamente foi porta-voz. Relato de uma experiência 181 Como conclusão deste artigo, reproduzo-o aqui: Não há um ano igual ao outro. Alguns são insuportavelmente parecidos. Este foi diferente. Especialmente o segundo semestre dele. Projeto novo. Novos alunos: espaço a conquistar, relações a construir. No início, planejar. Mas como planejar antes de conhecer? No caso foi preciso, não havia tempo. Em seguida, conhecer: olhar, ouvir, sentir. É prudente falar pouco, mas que não seja tão pouco. É preciso deixar-se conhecer. Depois do conhecimento... Avaliar, replanejar, agir. Não é assim que sempre se dá? Então, onde estava a diferença? A diferença estava dentro de cada um de vocês, minhas alunas, meus alunos, meus monitores, cujos olhos inquietos me perguntavam, será que vamos conseguir? É, eu tinha um desafio. Mudar a metodologia seria a solução? Rubem Alves afirma: “O problema não está nos métodos de ensino. O problema se encontra naquilo que é ensinado. Aquilo sobre o que se fala tem de estar ligado à vida. O conhecimento que não faz sentido é prontamente esquecido.” O que vocês pediam com os olhos e com a boca é que durante o curso, nos momentos presenciais na sala de informática e nos períodos a distância no ambiente digital e-Prolnfo, eu não esquecesse a vida do lado de fora. E ao trazer a vida para as minhas aulas, vocês me reconheceram como parte do grupo e me aconchegaram no abraço da confiança que me permitiu ousar e me entregar numa dedicação apaixonada. No entanto, o trabalho não foi fácil e novamente Rubem Alves me alertou: “[...] as inteligências dormem. Inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumentos do desejo: elas são ferramentas e brinquedos do desejo. A tarefa do professor é pois mostrar a frutinha. Comê-la diante dos olhos dos alunos. Provocar a fome. Erotizar os olhos. Fazê-los babar de desejo. Acordar a inteligência adormecida. Aí a cabeça fica grávida: engorda com ideias. E quando a cabeça engravida, não há nada que segure o corpo”. Para cumprir a tarefa fiz algumas escolhas. Tive medo de muitas delas, porém nunca pensei em desistir. Sou apaixonada pelo meu trabalho, apaixonei-me por vocês e na paixão encontrei motivos para continuar. 182 Escola de Gestores da Educação Básica É hora de expulsar a cria do ninho, mas isso não significa esquecer. Os alunos não passam pela minha vida porque me sinto eternamente grávida deles. Carrego-os nos meus pensamentos, nos meus planos, nas leituras que faço, nos filmes a que assisto, nos lugares que me encantam, nas músicas que ouço, nas minhas falas. Assim... sinto-me realmente feliz! Minhas alunas, meus alunos, meus monitores, o curso termina com gosto de vitória porque já não somos os mesmos. Acordamos a inteligência adormecida. Enchemos a cabeça de idéias. Caminhamos. Crescemos mais um pouco. Vivemos. Muito obrigada a todas as pessoas que contribuíram para que pudéssemos viver essa experiência, especialmente aos colegas de trabalho que reforçaram em mim o valor de educar e o de fazê-lo em equipe. Finalmente a vocês, cursistas-gestores amados, e monitores, fiéis escudeiros, agradeço e peço desculpas pelas vezes em que, por descuido, fui apenas professora e deixei a vida do lado de fora. Referências bibliográficas ALVES, Rubem. Cenas da Vida. Campinas, SP: Papirus, 1999. QUINTANA, Mário. A cor do invisível. São Paulo, SP: Globo, 2005. ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre, RS: ArtMed, 1998. Relato de uma experiência 183 184 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 10 Atendimento em larga escala: implantação e manutenção da rede de conhecimentos entre os envolvidos Lígia Cristina Bada Rubim Patrícia Passos Gonçalves Palácio Apresentação Este artigo apresenta a implantação e manutenção da rede de conhecimentos entre os envolvidos no Projeto Escola de Gestores da Educação Básica, tendo em vista o seu possível atendimento em larga escala e em diferentes localidades. Em geral, a modalidade de educação a distância mesclada com a presencial tem sido justificada pela ampla capacidade de alcançar um grande número de pessoas em locais distintos, além de se constituir em um poderoso ferramental para a formação continuada de profissionais. Entretanto, o que se constitui em uma vantagem traz também consigo um desafio aos gestores de projetos dessa natureza: o de buscar a Relato de uma experiência 185 coerência entre o que foi planejado e o que ocorre em cada turma criada, ou seja, como o objetivo geral do projeto chega ao público a quem é dirigido. É nesse sentido que o estabelecimento da rede de conhecimentos entre os envolvidos se faz necessário. Uma rede que possibilite a ligação de todos com todos, o que implica acompanhamento, orientação, negociação, abertura para diferentes olhares, diferentes níveis de percepção da realidade, mas que busque o alcance de objetivos comuns: a formação do gestor escolar em consonância com a proposta do projeto. Mas, afinal, quem estará ligado ao outro? A identificação dos participantes da rede a ser estabelecida é fundamental, assim como o reconhecimento de que ela é constituída por diversas pessoas que exercem diferentes funções. Em específico, o Projeto Escola de Gestores da Educação Básica contou com o envolvimento de sete consultores externos, dez professores-orientadores, quatro professoresassistentes por Estado, totalizando 57 pessoas, e cinco colaboradores para o atendimento a 400 cursistas-gestores distribuídos em dez Estados brasileiros: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins. A clara definição dos papéis e o envolvimento de cada um são elementos importantes que permitem a ligação entre os diferentes participantes da rede. Outra pergunta ainda cabe ser respondida por gestores de projetos de tal natureza: de que maneira a rede será estabelecida? As condições estruturais oferecidas pelas instituições envolvidas precisam ser identificadas e usadas na 186 Escola de Gestores da Educação Básica construção de estratégias que permitam alcançar os participantes e ligá-los entre si, visando atingir os objetivos comuns. No Projeto Escola de Gestores, dada a quantidade de participantes e a amplitude do atendimento em diferentes localidades, foi necessário criar espaços e formas diferenciadas de atendimento para a criação da rede de conhecimentos entre todos, como poderá ser visto ao longo do artigo. Enfim, o estabelecimento da rede de conhecimentos entre os envolvidos sugere que os gestores de projetos, que atendem ao público em larga escala e em diferentes localidades, tenham clareza sobre “para que” a rede é necessária, “quem” faz parte dessa rede e “de que maneira” ela pode ser criada e mantida. É nesse sentido que apresentamos a seguir como a confluência entre esses três aspectos aconteceu no Projeto Escola de Gestores da Educação Básica. A experiência do Projeto Escola de Gestores da Educação Básica a) Para que formar a rede? A necessidade do estabelecimento da rede de conhecimentos surgiu no sentido de buscar a manutenção dos princípios pedagógicos e metodológicos do curso piloto, em um atendimento em larga escala. Esses princípios enfatizaram dinâmicas individuais e em grupos, buscando oferecer o aprendizado na ação de maneira reflexiva e compartilhada, bem como a articulação entre a prática do profissional e teorias educacionais voltadas especialmente à gestão escolar, em um processo de ação-reflexão e depuração das vivências compartilhadas. Esse acompanhamento somente seria possível se todos os participantes se organizassem Relato de uma experiência 187 de forma que as visões macro e micro das ações de formação pudessem ser compartilhadas entre todos de modo horizontal. b) Quem compõe a rede? Diversos foram os atores envolvidos no Projeto, exercendo diferentes funções: • Consultores externos: equipe gestora do Projeto, responsável por desenvolver o conteúdo do curso, criar as estratégias pedagógicas, definir o design educacional, realizar ações de acompanhamento, orientar o uso de tecnologias, organizar a logística de atendimento e documentar as ações do Projeto. Essa equipe mantinha contato direto com os Coordenadores e Especialistas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que definiam o conteúdo e acompanhavam as turmas nos Estados. • Professores-orientadores: equipe responsável pelo encaminhamento dos módulos presenciais e a distância em relação às atribuições dos cursistas-gestores e professores-assistentes.1 1 188 Em quatro Estados houve também a participação de professores universitários com notável experiência em gestão escolar e em educação a distância (EAD) para o acompanhamento do Projeto. Escola de Gestores da Educação Básica • Professores-assistentes: profissionais dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs), indicados pelos Coordenadores Estaduais do NTE, em acordo com a Equipe Gestora do Curso-Piloto do Inep. • Cursistas-gestores: diretores de escolas da rede pública de ensino dos dez Estados envolvidos na formação. c) De que maneira a rede pode ser estabelecida? Diversos elementos podem ajudar a compor a rede no atendimento em larga escala: ações de orientação às equipes formadoras, documentação do projeto, estratégias pedagógicas do curso, registro de processo, organização das informações no ambiente virtual, uso das tecnologias para comunicação, acompanhamento e troca de experiências e certamente o comprometimento de todos. Esses elementos podem ser mobilizados em diferentes momentos, com e entre diferentes atores e contextos, como se pode acompanhar a seguir. Para o estabelecimento da rede entre equipe de consultores externos e professores-orientadores foi criado um espaço virtual no ambiente e-ProInfo (Figura 1) chamado Espaço de Professores e Consultores da Escola de Gestores, permitindo que fossem realizadas as comunicações, a troca de informações e de idéias entre as equipes de coordenação e de professores, além da publicação centralizada e padronizada de toda a documentação necessária para o acompanhamento qualitativo e análise quantitativa de processos e resultados do curso. Relato de uma experiência 189 ----- Original Message ----From: [email protected] Subject: Abertura de Espaço no e-ProInfo Olá Pessoal Já abri um espaço no e-ProInfo para explorarmos e concentrarmos nossas discussões. Ainda é preciso abrir espaços como fóruns, salas de chat, etc, mas já é possível navegar pelo ambiente que mudou muito visualmente, ao menos para mim. O endereço é http://www.eproinfo.mec.gov.br/ Coloquem seu usuário e senha e cliquem em entrar. (...) Figura 1 A possibilidade comunicativa e informacional dos ambientes virtuais de aprendizagem pode contribuir para que o compartilhamento de intenções e experiências entre os participantes se constitua durante a execução do projeto. Essa estratégia tem semelhança com a “sala de reunião”, mas nesse caso ela é permanente, uma vez que permite o contato síncrono e assíncrono de toda a equipe durante todo o tempo do curso. No nível informacional, foi elaborada uma documentação composta por vários instrumentos postados pela equipe de consultores na Biblioteca a cada módulo. Essa documentação possuía diferentes objetivos: orientação pedagógica ao professororientador, acompanhamento da turma pelo professor-orientador, acompanhamento das turmas pela equipe gestora do Projeto (consultores). Cada documento possuía uma instrução geral e outra específica de preenchimento. Dessa forma, pôde-se estabelecer uma linguagem comum entre todos os participantes, permitindo maior compreensão, clareza e objetividade nas informações postadas, o que possibilitou uma melhor comunicação entre todos os 190 Escola de Gestores da Educação Básica envolvidos e o estabelecimento de uma rede com o mínimo possível de ruídos. Cabe esclarecer, porém, que essa documentação não visava à uniformidade das ações, mas sim a uma atuação coletiva que respeitasse os diferentes caminhos, mas para alcançar um só objetivo.2 No nível comunicacional, o espaço criado no ambiente virtual também foi usado para troca de mensagens eletrônicas entre a equipe de consultores externos e professores-orientadores, de modo que a informação chegasse rapidamente aos endereços eletrônicos pessoais. As mensagens tinham por objetivo informar as novidades no ambiente, explicitar ou esclarecer dúvidas que pudessem ser comuns a todos os professores-orientadores, como mostra a Figura 2: Figura 2 2 Relato de uma experiência Sobre a documentação do Projeto, ler o artigo de Nelson Morato neste livro. 191 Também foram disponibilizados aos professores-orientadores os telefones de contato da equipe de consultores externos, caso precisassem de algum auxílio ou orientação mais imediata, sendo esse recurso poucas vezes utilizado. Além de permitir a criação do Espaço de Professores e Consultores, o ambiente virtual e-ProInfo disponibiliza um login de administrador do sistema por meio do qual é possível realizar um acompanhamento estreito de todo o movimento do curso. Este é um recurso importante em projetos de larga escala. A equipe de consultores utilizou os dados gerados pelo ambiente para observar detalhes sobre o acesso de professores e cursistas e gerar relatórios detalhados de interação em cada uma das ferramentas, possibilitando identificar prováveis problemas e encaminhar tomadas de decisões, conforme a Figura 3.3 From: [email protected] Sent: Wednesday, September 07, 2 005 7:04 PM Subject: Escola de gestores - biblioteca/material do aluno Olá Professores-Orientadores Envio esta mensagem porque verifiquei algumas turmas e existem materiais pendentes nas bibliotecas dos alunos. No e-ProInfo, o aluno, ao enviar material para a biblioteca, este não fica imediatamente disponível. É necessário que o professor valide este material, tornando-o público ou não. Para isto, é necessário que entrem na biblioteca do aluno e cliquem em validar Material localizado no canto superior direito da tela (ao lado da ajuda). Vocês terão acesso então à lista dos materiais enviados pelos alunos, com a informação da situação... Figura 3 Sobre o uso de dados quantitativos para o acompanhamento qualitativo das turmas, ver o artigo de Flávio Sapucaia neste livro. 3 192 Escola de Gestores da Educação Básica Enfim, para o estabelecimento da rede de conhecimentos entre a equipe de consultores externos e os professores-orientadores, destacam-se o uso das tecnologias de informação e comunicação, a recuperação de registros quantitativos para orientações qualitativas, a documentação do Projeto e o envolvimento dos participantes: a equipe de consultores externos, que atuou com uma visão macro do Projeto por meio das orientações e do acompanhamento em consonância com a visão micro, trazida pelos professores-orientadores de cada turma. Para o estabelecimento da rede de conhecimentos entre os professores- orientadores e os professores-assistentes cada equipe formadora estabeleceu o contato da maneira mais viável, devido às características específicas de cada Estado. De modo geral, o estabelecimento da rede foi realizado por meio de troca de e-mails entre os envolvidos, uso do bate-papo no ambiente virtual e de recursos de mensagem instantânea, como o MSN, e também uso de telefone. Dessa maneira, professores orientadores e assistentes puderam estabelecer uma proximidade comunicativa que lhes permitiu acompanhar a participação dos cursistas-gestores, trocar idéias, buscar soluções conjuntas e realizar as intervenções necessárias para lhes dar apoio técnico e pedagógico, bem como expandir a rede estabelecida entre professores-orientadores e consultores externos. Abaixo, destacamos a fala de uma professora-orientadora: Conforme já relatado, os professores-assistentes foram importante suporte para o trabalho da professora e dos cursistas-gestores. [...] Colaboraram com a professora fornecendo relatórios periódicos de acompanhamento dos cursistas. Dificuldades detectadas foram discutidas e para elas foram encontradas junto com a professora novas estratégias para superá-las. [...] O telefone foi o maior aliado para a comunicação entre cursistas e professores-assistentes. A professora também se valeu desse instrumento para a orientação dos professores-assistentes. Também foi feita uma sessão de bate-papo pelo ambiente para orientação de cursistas e professoresassistentes. (sic) (Formulário de Andamento – Módulo II – TO) Relato de uma experiência 193 Enfim, os mesmos recursos também foram usados no estabelecimento da rede de conhecimentos entre equipe formadora e cursistas-gestores. Os professoresorientadores fizeram um uso maior das ferramentas disponíveis no ambiente virtual, como Bate-papo, Quadro de avisos, Webmail, para a comunicação, acompanhamento e orientações pedagógicas aos cursistas-gestores. Os professores-assistentes buscaram estabelecer um contato maior por telefone e até mesmo pelas Oficinas de Informática, oferecidas nos NTEs para capacitação técnica dos cursistas-gestores que haviam sentido mais dificuldades no manuseio do computador e navegação no ambiente virtual. A superação dessas dificuldades foi apontada pelos professores em seus relatórios enviados a cada módulo. Segue abaixo a fala de uma professoraorientadora no relatório do módulo II: Neste curso, a maioria dos diretores tiveram o primeiro contato com o Windows, Word e e-ProInfo. No Módulo I observamos dificuldades, como por exemplo: no manuseio do mouse, na digitação, para abrir e salvar arquivos. Durante o Módulo II pudemos observar avanços significativos, pois estavam interagindo bem nas ferramentas do e-ProInfo. No Diário de Bordo chegaram a relatar os avanços feitos em função das oficinas promovidas pelos professores-assistentes. (Formulário de Andamento – Módulo II – BA) É importante destacar que o bom uso da tecnologia não pode ser um critério a priori de inscrição dos cursistas nas turmas. Entretanto, ao ser identificada a dificuldade de uso do computador ou navegação no ambiente virtual do curso pelos inscritos, é necessário que se busque desenvolver ações de formação e apoio. No caso da Escola de Gestores, o apoio da própria estrutura dos Núcleos de Tecnologia Educacional dos Estados e seus profissionais, bem como as orientações e 194 Escola de Gestores da Educação Básica acompanhamento dos professores-orientadores mostraram ser um importante elo para o estabelecimento da rede de conhecimentos técnicos dos cursistas-gestores. A organização das informações no ambiente virtual para os cursistas-gestores também é imprescindível para a busca de unidade dentro da turma. A disponibilização de orientações sobre a dinâmica de cada fase dos módulos na Agenda, bem como o acesso ao conteúdo do curso e às estratégias de aprendizagem na ferramenta Módulo – Atividades do Módulo, permitiu que os cursistas-gestores pudessem construir o ritmo da turma e acompanhá-lo no processo de desenvolvimento do curso. É a busca da maestria no coletivo da turma. Porém, interessante foi perceber um movimento que partiu dos alunos no estabelecimento de um contato mais individual com o professor, via ferramenta Diário de Bordo4 do ambiente virtual, a partir da qual relatavam para o professor-orientador suas experiências, dúvidas, conflitos e avanços. Abaixo, segue o depoimento de uma professora-orientadora sobre o uso dessa ferramenta em sua turma: O Diário de Bordo passou a ser um canal de comunicação ativo, onde tanto os gestores como os professores-assistentes usaram para ter uma interação e discussão mais próxima comigo. Assim, tivemos muitas conversas individuais com a maioria dos gestores. (Formulário de Andamento – Módulo II – CE) 4 Relato de uma experiência O Diário de Bordo é uma ferramenta disponibilizada no ambiente e-ProInfo, que permite o registro do processo de vivência do curso pelo próprio aluno. 195 Dessa forma, é possível observar que no estabelecimento da rede é necessário cuidar tanto do coletivo, de modo que todos possam receber as mesmas informações, orientações e apoio, como também do individual, abrindo-se para perceber as especificidades que os cursistas-gestores trazem de suas experiências de vida pessoal e profissional. Além de todo suporte técnico, informacional e humano no curso piloto, considera-se ainda como fator importante no estabelecimento da rede de conhecimentos as estratégias pedagógicas utilizadas. Durante o planejamento e implementação da Escola de Gestores, houve o cuidado de se criarem situações de aprendizagem que possibilitassem a troca de experiências e idéias entre os cursistasgestores, de modo que no compartilhamento de suas vivências pudessem crescer conjuntamente, tanto durante o curso piloto como na continuidade de suas ações após seu término. Dessa maneira, durante os períodos a distância, as estratégias do curso privilegiaram a participação dos cursistas-gestores nos Fóruns de discussão e na disponibilização de suas produções aos demais cursistas na Biblioteca do ambiente virtual. Alguns depoimentos dos professores-orientadores mostram o avanço dos cursistas-gestores na disponibilidade e abertura para compartilhar e contribuir com o outro: As dinâmicas são ricas e de fato fazem o gestor pensar no trabalho colaborativo como uma prática necessária no seu papel como articulador e dinamizador de mudanças na escola. As dinâmicas permitem que o gestor perceba que a gestão escolar é um processo complexo, que supõe a existência de informações a partir das quais são tomadas decisões que afetam a vida escolar. (Formulário de Andamento – Módulo III – MT) 196 Escola de Gestores da Educação Básica Cabe observar ainda que o uso do computador e acesso à Internet são fatores que influenciam no estabelecimento dessa rede quando se trata de atividades a distância. Seja de ordem pessoal ou de estrutura das localidades onde se encontram os cursistas-gestores, a falta de habilidade ou o acesso restrito ao ambiente virtual não impedem, mas dificultam a participação de alguns dos envolvidos nessa rede de conhecimentos. Isso mostra a importância, no nível macrossocial, de se efetivarem as políticas públicas de acesso ao computador e à Internet, e no nível micropedagógico, de se realizarem ações de apoio aos cursistas-gestores. Foi o caso da abertura dos NTEs estaduais, da articulação do curso online com o material impresso, do uso dos encontros presenciais para a formação dos cursistas-gestores, da participação em ambientes online e das visitas às escolas realizadas pelos professores-assistentes. Essas ações podem minimizar os fatores dificultadores e ao mesmo tempo permitir que todos sejam incluídos da melhor forma no curso e que participem das situações de aprendizagem propostas nas estratégias pedagógicas. Em relação aos presenciais, as estratégias pedagógicas tinham por intenção possibilitar o compartilhamento entre todos os envolvidos. No depoimento abaixo, é possível perceber o envolvimento dos cursistas-gestores em poder conhecer as experiências das demais escolas e trocar idéias, formando uma rede de ajuda mútua. [...] todos os gestores se apropriaram de um dos Indicadores de Qualidade – Indique – PDE – ou Gide, e as discussões em grupo passaram a ser bastante ricas e diversificadas, respondendo às questões emergentes de cada realidade escolar. Houve por parte do grupo a construção de um trabalho colaborativo e conjunto para que pudessem se apropriar desses instrumentos e utilizá-los em suas respectivas escolas. (Formulário de Andamento – Módulo III – CE) Relato de uma experiência 197 Por fim, completando a ligação entre os fios da rede de conhecimentos estabelecida entre consultores externos, professores-orientadores, professoresassistentes e cursistas-gestores, faz-se necessário mostrar, ainda, o alcance dessa rede de conhecimentos na realidade escolar, fim último da formação dos gestores escolares. Este alcance foi permitido pelas estratégias pedagógicas utilizadas que privilegiaram atividades diagnósticas da realidade escolar com o uso de indicadores de qualidade da escola, a busca de soluções conjuntas com a comunidade escolar, bem como sua intervenção no sentido de vivenciar a gestão compartilhada a partir das necessidades evidenciadas nos seus contextos de atuação. As ações realizadas durante o Módulo II, os relatos e reflexões realizados demonstram o entendimento da importância de desenvolver processos de gestão escolar a partir de indicadores de qualidade. Os próprios cursistas-gestores surpreenderam-se de ver como os pais, alunos e professores entenderam o Indique e como os resultados aconteceram. O instrumento mais usado no desenvolvimento das ações apresentadas foi o Indique, por ser mais simples e objetivo. (Síntese do Formulário de Andamento – Módulo III) Conclusão O estabelecimento da rede de conhecimentos entre os envolvidos no curso piloto Escola de Gestores foi possível a partir da criação de espaços tecnológicos (no ambiente virtual e-ProInfo) para a interação entre os participantes, do uso de outros recursos já disponíveis na rede de computadores (MSN, grupos de discussão, e-mail), bem como a articulação com outras tecnologias (telefone). O uso da estrutura dos Núcleos de Tecnologia Educacional de cada Estado participante também foi de 198 Escola de Gestores da Educação Básica fundamental importância. Além dos aspectos tecnológicos, destaca-se ainda o fator humano no diagnóstico das situações encontradas em cada realidade, na busca de soluções conjuntas, na disposição em trabalhar no sentido de criar estratégias de inclusão, na construção de uma rede de comunicação que permitiu a participação de todos os atores. Enfim, articuladas a esses fatores, encontram-se também as estratégias pedagógicas do curso que buscaram enfatizar o compartilhamento das situações de aprendizagem dos cursistas-gestores e a extensão de suas vivências para o interior da sua realidade escolar. Relato de uma experiência 199 200 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 11 A formação na ação: abordagem pedagógica do Curso Piloto da Escola de Gestores Maria Elisabette Brisola Brito Prado As preocupações com a melhoria da qualidade da educação ganharam nos últimos anos uma nova dimensão, envolvendo propostas de formação continuada e em serviço voltadas para os diferentes protagonistas da comunidade escolar. Essa perspectiva da formação, de envolver a escola, vem sendo preconizada por vários autores que enfatizam a escola como uma organização aprendente (Fullan, Hargreaves, 2000). Isso implica um processo de repensar a própria prática e de assumir uma postura de abertura para novas compreensões e ações, desenvolvendo atitudes no âmbito pessoal e profissional, de aprender ao longo da vida. Uma organização que aprende requer pessoas que ensinam e aprendem umas com as outras. Para desenvolver essa postura é necessário trabalhar em uma Relato de uma experiência 201 perspectiva de aprendizagem em rede, que tem como princípio norteador o compartilhamento de experiências, reflexões, questionamentos e de buscas de soluções para resolver problemas específicos de cada realidade. Para viabilizar essa forma de aprender em rede, contemplando as singularidades dos contextos de atuação dos profissionais da educação, os programas de curso precisam redesenhar uma metodologia que integre o uso de ambientes virtuais de aprendizagem, aliados a uma abordagem pedagógica que privilegia as interações entre professor e aluno e entre os alunos, bem como as atividades reflexivas, desencadeadoras de novas reconstruções do conhecimento sobre a própria ação profissional (Prado, Almeida, 2006). No contexto virtual, a formação continuada de educadores pode ser viabilizada na ação, ou seja, contemplando nas atividades do curso as reflexões sobre os elementos constituintes da realidade do cotidiano do educador. O aprendizado na ação ou contextualizado lida com os fatos. Essa característica, sendo um dos princípios do curso de formação continuada, favorece ao educador reconhecer a funcionalidade sobre aquilo que está aprendendo-fazendo e, conseqüentemente, atribuir significado e sentido para a própria aprendizagem (Almeida, 2004; Prado, Valente, 2002). Essa forma de aprender permite ao profissional da prática ter uma compreensão localizada sobre o universo da sua atuação. Por sua vez, essa compreensão, retratada pelo diagnóstico da realidade escolar, pode ser discutida e 202 Escola de Gestores da Educação Básica analisada com seus pares nos espaços do ambiente virtual, pautando-se em suas próprias experiências e nos fundamentos teóricos abordados no curso. No diálogo com seus pares, amplia-se o escopo de reflexão e permite-se o estabelecimento de novas relações, envolvendo diferentes níveis de influências que atuam no seu entorno de ação. Isso significa que no ambiente virtual o educador pode aprender de forma localizada, focando aspectos reais do seu próprio contexto e, quase simultaneamente, aprender de forma global, envolvendo um novo universo de reflexão, constituído por diferentes interpretações contextuais (Prado, Valente 2002; Prado, 2003). Daí a necessidade de entender que as novas características de aprendizagem implicam novas estratégias para a elaboração de uma proposta de um curso a distância, a qual se desenvolve ancorada em concepções educacionais. Tais concepções educacionais, as quais nortearam a criação do curso piloto da Escola de Gestores, enfatizam o ato de aprender por meio das interações e do desenvolvimento de atividades reflexivas e de autoria, favorecendo o processo de reconstrução do conhecimento. Nesta abordagem, a mediação pedagógica centra-se no acompanhamento e na interação do professor com o aluno e entre os alunos. O professor, com base no acompanhamento investigativo do processo de aprendizagem dos alunos, faz as intervenções necessárias, recriando novas estratégias pedagógicas, desafiando cognitivamente os alunos na busca de superações e de novos patamares de aprendizagem. No contexto do curso piloto, o envolvimento de 400 cursistas (diretores de escolas), de 10 Estados do País, demandou a participação de diversos profissionais Relato de uma experiência 203 e, conseqüentemente, a recriação de novas estratégias de trabalho na equipe e entre as diversas equipes, visando com isso viabilizar os princípios da abordagem de EAD no planejamento da metodologia do curso e na sua realização. Gestão do Projeto de um curso e as inter-relações entre as equipes A criação de um curso semipresencial ou a distância envolve a gestão de um projeto que se constitui em diversas etapas de trabalho e da participação de profissionais de diferentes áreas do conhecimento. No entanto, a concretização do projeto requer estrutura que permita e proporcione ações inter-relacionadas entre os membros das equipes, bem como uma postura aberta que enfatiza o diálogo e parcerias profissionais e institucionais para lidar com o conhecimento e as competências na perspectiva da complementaridade. As inter-relações entre as equipes envolvidas na gestão do projeto do Curso Piloto da Escola de Gestores, relacionadas à sua produção e operacionalização, estão representadas pela figura a seguir: A Figura 1 ilustra a organização da gestão do projeto do Curso Piloto da Escola de Gestores. A figura do círculo de fundo claro retrata a constituição das principais ações que antecedem a realização do curso (design didático e tecnológico do curso). A figura do círculo de fundo escuro retrata as ações voltadas à operacionalização do curso piloto (apoio técnico e pedagógico entre todos os protagonistas do curso). Nota-se que os dois círculos estão interligados pelas ações constantes das equipes de logística e de suporte técnico. Essa organização, no 204 Escola de Gestores da Educação Básica Gestão do projeto Design Curso (conteúdo, estratégias) Inep Inep Gestão Operacional Logística Produção Web Hipermídia Midiateca Produção de materiais Suporte Técnico Curso Piloto Professores Tutores Professores colaboradores } Professores Assistentes Oficina Preparatória Coordenadores Estaduais,SEE Diretores das escolas Apoio Pedagógico Relatório Concepção Planejamento Equipe Gestão Colegiada Implantação Avaliação Figura 1 – Inter-relações entre as equipes de produção e operacionalização do curso piloto entanto, encontra-se ancorada por ações e acompanhamentos constantes da equipe de gestão colegiada participante do processo de concepção, planejamento, implantação, avaliação e da elaboração de relatórios do curso piloto, que trabalhou de modo integrado, respeitando as especificidades das áreas de atuação e criando espaços de diálogo e produção compartilhada, com vistas a atingir as metas do curso piloto. Abordagem educacional de EAD na ação No contexto de EAD, o planejamento do curso, que se organiza na elaboração do design educacional, e o seu desenvolvimento, que acontece pela mediação pedagógica do professor, que interage, orientando e fazendo as regulações apropriadas Relato de uma experiência 205 no processo de aprendizagem do aluno, estão diretamente relacionados a uma concepção pedagógica. No Curso Piloto da Escola de Gestores a concepção pedagógica baseada nos conceitos da gestão democrática e compartilhada norteou o planejamento e criação do design educacional constituindo uma estrutura curricular de cinco módulos1 alternados, presenciais e a distância, totalizando uma carga horária de 100 horas (sendo 56 horas a distância e 44 horas presenciais) realizadas no período de quatro meses. A metodologia utilizada, desenvolvida pela equipe de consultores externos,2 enfatizou a aprendizagem contextualizada, o exercício da gestão democrática, a articulação entre teorias educacionais e a prática profissional, a interação entre todos os participantes e o trabalho colaborativo e a autoria no processo de aprendizagem. O desenvolvimento de atividades com o uso dos indicadores de qualidade pela comunidade no contexto escolar, concomitante com as interações no ambiente virtual, permitiram o compartilhamento de experiências com os colegas 1 2 206 Módulo I presencial (16 horas em dois dias, realizado nos Estados dos cursistas-gestores), Módulo II (40 horas em oito semanas, realizado no ambiente e-ProInfo), Módulo III (16 horas em dois dias, realizado nos Estados dos cursistas-gestores), Módulo IV (16 horas em três semanas, realizado no ambiente e-ProInfo) e Módulo V (12 horas em um dia e meio, realizado nos Estados dos cursistas-gestores). Os consultores externos responsáveis pelo desenvolvimento da metodologia do curso-piloto foram: Prof. Dr. Fernando José de Almeida, Prof. Ms. Flávio Sapucaia, Profa. Dra. Maria da Graça Moreira da Silva, Profa. Dra. Maria Elisabette Brisola Brito Prado e Profa. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, conforme consta no Relatório Final II do Curso Piloto da Escola de Gestores da Educação Básica do MEC-Inep/2005. Escola de Gestores da Educação Básica do curso, a contínua orientação da equipe formadora3 e o aprofundamento de reflexões apoiadas em leituras dos textos de fundamentação teórica. As sistematizações foram realizadas nos encontros presenciais, permitindo aos cursistasgestores projetar planos pedagógicos estratégicos para soluções de problemáticas de seu cotidiano. Para ilustrar a metodologia do curso piloto, apresento a seguir algumas das atividades propostas com algumas considerações: A primeira atividade proposta no Módulo I, descrita nas telas abaixo, foi apresentada por um cenário objetivando trabalhar com dois focos. Um foco visando proporcionar ao cursista-gestor o aprendizado de forma contextualizada das ferramentas do ambiente virtual do curso e dos outros recursos computacionais. Nessa atividade, como pode ser visto nas telas, os cursistas-gestores deveriam utilizar os recursos do editor de texto, do programa de apresentação ou de outro software disponível para descrever a situação da sua escola, ao mesmo tempo em que se apropriava das ferramentas do ambiente virtual. O outro foco da atividade visava mobilizar o cursista-gestor a olhar para sua escola buscando identificar uma marca 3 Relato de uma experiência A equipe de formadores de uma turma de 40 cursistas-gestores foi constituída por um professororientador e quatro professores-assistentes (multiplicadores do NTE). A interação do professororientador aconteceu em duas direções: uma com a equipe de gestão operacional e outra multidirecional voltada para dois focos diferentes: um para os professores-assistentes e outro para os cursistas-gestores. Os professores-assistentes interagiram com o professororientador e com os cursistas-gestores da turma. 207 positiva e explicitá-la. Essa era uma ação instigadora da reflexão sobre o próprio contexto de atuação do cursista-gestor. É justamente nesse sentido da reflexão sobre a realidade escolar que a abordagem educacional utilizada procurou enfatizar nas atividades propostas durante o curso piloto. Exemplo 1 Cenário: TV regional e a marca positiva da escola 208 Escola de Gestores da Educação Básica Exemplo-2 Definindo prioridades Relato de uma experiência 209 A atividade definindo prioridades foi realizada no Módulo II com o propósito de propiciar ao cursista-gestor a aplicação dos instrumentos de avaliação na sua comunidade escolar, para identificar uma prioridade emergencial que pudesse ser resolvida em curto prazo, ou seja, durante o curso piloto. Essa ação foi realizada em cada unidade escolar – no contexto do cursista-gestor e acompanhada pelo professororientador por intermédio do ambiente virtual. Para isso, foram desenvolvidas estratégias de mediação pedagógica que pudessem favorecer o registro do processo que estava sendo desenvolvido na comunidade escolar, o compartilhamento e a análise dessa vivência com os seus pares e os professores (orientador e assistentes) do curso. Em seqüência a essa atividade, outras foram feitas com a mesma característica. O cursista-gestor no seu contexto de atuação realizava as atividades: fazendo o diagnóstico, definindo prioridades, planejando e implementando uma ação na sua realidade escolar com a comunidade e, concomitantemente, interagindo no ambiente virtual por meio do registro do processo da ação, da discussão com seus pares, da análise da própria prática e das práticas compartilhadas, à luz das teorias abordadas no curso. Algumas considerações Essa abordagem educacional de EAD voltada para formação na ação propiciou que o cursista-gestor não se afastasse da sua escola nem da sua problemática cotidiana. Não separou a teoria de sua prática diária. As teorias eram estudadas 210 Escola de Gestores da Educação Básica para iluminar a compreensão da prática e por sua vez, a prática instigava a busca de novas teorias, as quais eram debatidas, reinterpretadas e explicitadas nas ferramentas de comunicação do ambiente virtual e-ProInfo com os participantes do curso. As atividades enfatizavam a reflexão sobre a própria prática, a autoria da produção, do trabalho em grupo no contexto escolar e no coletivo da turma. A dinâmica interativa na turma foi um ponto fundamental no curso piloto para a criação de vínculos entre os profissionais e o estabelecimento de trocas e de parcerias na busca de soluções para as problemáticas locais e globais. A postura de parceria e de co-responsabilidade entre as equipes da coordenação do MEC-Inep, os consultores externos e os professores-orientadores, construída na trajetória da concepção, produção, implementação, realização e avaliação do projeto de gestão do Curso Piloto da Escola de Gestores, deixou marcas significativas de aprendizagem para todos os envolvidos nessa empreitada inovadora de ensinar e aprender. Referências bibliográficas ALMEIDA, M. E. B. Inclusão digital do professor. Formação e prática pedagógica. São Paulo: Editora Articulação Universidade Escola, 2004. FULLAN, M.; HARGREAVES, A. A Escola como uma organização aprendente – buscando uma educação de qualidade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Relatório Final I do Curso Piloto da Escola de Gestores da Educação Básica – MEC/ INEP. Brasília: Inep, 2006. Relato de uma experiência 211 PRADO, M. E. B. B. Educação a Distância e Formação do Professor: redimensionando concepções de aprendizagem. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Currículo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003. PRADO, M. E. B. B.; ALMEIDA, M. E. B. Estratégias em Educação a Distância: a plasticidade na prática pedagógica do professor. In: VALENTE, J. A.; ALMEIDA, M. E. B. de (Org.). Formação de Educadores a distância e Integração de Mídias. São Paulo: Avercamp, 2006. PRADO, M. E. B. B.; VALENTE, J. A. A educação a distância possibilitando a formação do professor com base no ciclo da prática pedagógica. In: MORAES, M. C. (Org.). Educação a Distância: fundamentos e práticas. Campinas, SP: Unicamp; Nied, 2002. 212 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 12 Ferramentas de acompanhamento do ambiente virtual: contribuições aos projetos de educação a distância Flavio Sapucaia Maria da Graça Moreira da Silva Ambientes virtuais de aprendizagem, também conhecidos como sistemas de gerenciamento de aprendizagem, constituem o local privilegiado no ciberespaço onde se desenvolve o processo de ensino e aprendizagem a distância por meio da Internet. Sistemas de gerenciamento de aprendizagem (learning management system) são programas desenvolvidos especialmente para a gestão de cursos a distância pela Internet. São utilizados também para diversas atividades educacionais que envolvem o uso desses sistemas para apoio ao processo de ensino e aprendizagem presencial ou a distância, tais como comunidades virtuais de aprendizagem, comunidades de prática, debates e atividades avaliativas. Relato de uma experiência 213 Esses sistemas apresentam alguns serviços que permitem a operacionalização das atividades educacionais. Os principais serviços oferecidos são os de cunho didático, administrativo e de comunicação. Os didáticos são aqueles que envolvem a apresentação de conteúdos educacionais, como programas de curso, aulas, materiais de apoio, biblioteca de mídias, endereços eletrônicos, textos, hipermídias e outros recursos. Os serviços administrativos são os que favorecem a organização da sala de aula virtual, como agenda, cronograma, boletim eletrônico, sistema de cadastro e matrícula dos cursistas e professores, entre outros. Os serviços de comunicação são aqueles que permitem a comunicação e interação entre os participantes, como os fóruns de discussão, as salas de bate-papo, os portfólios, o acesso aos professores, projetos colaborativos, áudio ou videoconferências e outras ferramentas voltadas ao processo de ensino e aprendizagem. Além das ferramentas voltadas diretamente para o processo de ensino e aprendizagem, outro importante recurso presente na maior parte dos sistemas para gerenciamento da aprendizagem é a capacidade de registrar as informações referentes ao acesso e à participação dos cursistas e dos formadores. Esses registros contribuem para o monitoramento e acompanhamento do curso por parte da equipe de gestão, provendo-a de informações fundamentais para o processo de avaliação continuada e também para a tomada de decisões. Os ambientes virtuais de aprendizagem são sistemas computacionais dotados principalmente de um banco de dados para o registro, o armazenamento, a organização e a distribuição de 214 Escola de Gestores da Educação Básica informações. Esses sistemas geram diversos tipos de relatórios sobre o acesso, a navegação ou as atividades desenvolvidas. Existem diferentes sistemas de gestão de aprendizagem disponíveis no mercado educacional, e cada um deles apresenta características particulares de funcionamento segundo as concepções educacionais e computacionais de seus autores e de seus desenvolvedores. As ferramentas que permitem o acompanhamento dos cursistas também diferem, desde as mais básicas, que registram o horário de entrada (login) e de saída (logout) do cursista no ambiente, até as mais sofisticadas, que informam as páginas acessadas, as atividades enviadas, as participações em fóruns e chats e até as diversas interações entre os participantes. Uma das mais importantes etapas no processo de ensino e aprendizagem a distância é a de acompanhamento e avaliação, que coincide com a mediação pedagógica dos professores e a participação dos cursistas. O acompanhamento dessa etapa permite a identificação de problemas de acesso ou de operação, das dificuldades de organização dos cursistas ou de outro fator que dificulte ou impeça a participação no curso. Os projetos de educação a distância, principalmente aqueles com atendimento em larga escala, demandam o trabalho de uma equipe de profissionais para acompanhamento e avaliação dos cursistas, equipe essa geralmente composta de professores formadores, monitores, gestores e profissionais para suporte técnico. Dessa forma, os recursos e ferramentas que facilitam esse acompanhamento são fundamentais para o bom andamento dos cursos. Relato de uma experiência 215 Como conseqüência, é importante que os ambientes virtuais de aprendizagem permitam a recuperação dos registros de modo que a equipe de acompanhamento possa avaliar o acesso e as atividades das diferentes turmas. Infelizmente, muitos ambientes não dispõem de ferramentas eficazes para esse acompanhamento. As equipes envolvidas no acompanhamento e avaliação utilizam os relatórios estatísticos gerados pelo ambiente virtual de aprendizagem para diversas finalidades, conforme pontuado a seguir. A equipe de suporte técnico utiliza as informações estatísticas do acesso ao curso pelos participantes especialmente no início do curso, pois esse é o período mais crítico na participação dos cursistas. Essas informações são importantes devido a dois fatores fundamentais: o cadastro dos cursistas no ambiente virtual, que gera a senha e permite o acesso ao curso; o outro fator, igualmente importante, deve-se ao fato de que muitos cursistas não possuem familiaridade com os computadores e, em especial, com esses ambientes. Desse modo, as informações sobre o aceso dos cursistas no início do curso possibilitam a intervenção rápida do suporte, que, por meio dos dados registrados nos cadastros dos alunos, tenta contatá-los por e-mail, telefone ou outro meio de comunicação, de modo a viabilizar o acesso. A equipe de mediação pedagógica da turma – os professores-orientadores e monitores – utiliza os dados emitidos pelo ambiente virtual sobre a participação dos cursistas para analisar a trajetória da turma e também para acessar o perfil dos cursistas. Esses dados podem ser cruzados com outros dados, qualitativos. A trajetória da turma em cada um dos módulos do curso é um dado fundamental para os 216 Escola de Gestores da Educação Básica professores-orientadores, pois é importante conhecer a movimentação, o acesso e a participação dos cursistas ao longo do tempo. É possível verificar, por meio dos registros, em que dias e horários os cursistas são mais freqüentes, contribuindo, por exemplo, com o planejamento da comunicação para marcar um chat, ou identificar os dias mais propícios para lançar alguma nova informação, um aviso ou um módulo do curso. As ferramentas estatísticas permitem também a identificação dos diversos perfis de alunos, possibilitando a intervenção de forma diferenciada a cada um deles. Existem alunos que são freqüentes ao ambiente, acessam os fóruns, bibliotecas, atividades, mas não postam nenhuma contribuição. Existe o perfil do aluno que não acessa ou o faz com pouca freqüência. Existe ainda o perfil do aluno que acessa os fóruns, mas nada posta. Há ainda o aluno que apenas posta as tarefas nas bibliotecas, não interagindo com os demais colegas por meio das ferramentas de interação, como fórum e chat. Em cada caso, a intervenção do professor-orientador será diferente. A equipe de design de conteúdo e do ambiente virtual utiliza os dados estatísticos na análise de quais ferramentas os alunos mais acessam. Esses dados são úteis, pois as equipes podem, por exemplo, colocar orientações em uma determinada ferramenta ou analisar outros recursos para orientar os alunos no desenvolvimento das atividades. Relato de uma experiência 217 A experiência do Curso Piloto Escola de Gestores O Curso Piloto Escola de Gestores da Educação Básica utilizou o ambiente virtual colaborativo de aprendizagem e-ProInfo, desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância do MEC,1 para apoio às atividades presenciais e a distância. O e-ProInfo, como os demais sistemas de gerenciamento de aprendizagem, apresenta os serviços didáticos, de comunicação e administrativos, com ferramentas que permitem veicular os conteúdos, apresentar atividades de aprendizagem e promover a interação entre os participantes. Foram selecionadas para o curso as seguintes áreas do ambiente e-ProInfo: Apoio, Interação, Biblioteca e Módulo. Cada área apresenta diferentes opções de ferramentas que podem ser selecionadas pelos autores para o desenvolvimento de cursos. Foram selecionadas as seguintes áreas e ferramentas para o curso piloto: 1 218 • Apoio – Agenda e Referências. • Interação – Bate-papo, webmail e Fórum. • Biblioteca – Material professor e material aluno. • Módulo – Atividades Módulo. Mais informações em www.eproinfo.mec.gov.br (Acesso em 25 de agosto de 2005). Escola de Gestores da Educação Básica Figura 1 – Menu de ferramentas do ambiente virtual de aprendizagem e-ProInfo O ambiente virtual e-ProInfo possui duas ferramentas estatísticas disponíveis no espaço de administração do ambiente: as estatísticas-alunos, que apresentam informações referentes aos alunos do curso, e as estatísticas-colaboradores, que apresentam informações referentes aos participantes com perfil de suporte ao curso, como os monitores, professores e suporte técnico. Por meio dessas ferramentas foi possível levantar informações importantes referentes aos participantes do curso, de acordo com seu perfil, nos diversos momentos do curso. Os relatórios estatísticos contribuíram para uma análise mais efetiva por parte da equipe gestora do projeto e para a coordenação, uma vez que permitiram fazer comparativos entre as turmas, buscando identificar as que necessitavam de orientações pedagógicas ou técnicas relacionadas aos recursos e ferramentas tecnológicas disponíveis no ambiente virtual. Foram emitidos diversos relatórios ao longo de todo o curso piloto e analisadas conjuntamente as informações de acesso ao curso e ferramentas do curso. Foram utilizados também os relatórios de acompanhamento dos colaboradores nas ferramentas do ambiente e-ProInfo, a fim de identificar possíveis evasões. Alguns exemplos de relatórios gerados são apresentados nas Figuras 2 e 3, a seguir: Relato de uma experiência 219 Figura 2 – Exemplo de relatório de acesso do ambiente e-ProInfo Figura 3 – Exemplo de relatório de postagem de mensagens no Fórum Durante o curso piloto, as ferramentas de acompanhamento de acesso dos colaboradores não estavam funcionando adequadamente; dessa forma, foram utilizadas apenas as que identificavam o acesso ao curso, o que foi de grande colaboração. As informações dos relatórios quantitativos foram complementadas pelas informações qualitativas obtidas pelos professores-orientadores por meio de planilhas desenvolvidas pela equipe de gestão do curso objetivando o acompanhamento sistemático dos cursistas. 220 Escola de Gestores da Educação Básica As análises quantitativas ainda provocam desconfiança por parte dos professores-orientadores, que questionam o papel das estatísticas no acompanhamento dos alunos, alegando que os dados quantitativos não refletem a qualidade das atividades por esses desenvolvidas, bem como das interações ocorridas no ambiente. Mas, para as equipes de suporte, acompanhamento e coordenação, essas ferramentas foram essenciais para a identificação dos focos de problemas a serem investigados com mais profundidade pelas equipes de orientação e de acompanhamento e avaliação, devido à dificuldade de acompanhar mais de perto todas as turmas a todo momento. Uma vez identificados os problemas dos cursistas, como a falta de acesso às ferramentas de interação ou ao conteúdo dos módulos, a equipe de coordenação pôde fazer um cruzamento com os dados qualitativos levantados nas turmas e criar estratégias de intervenção em algumas delas, tanto em nível de professores como de coordenação local dos Estados, quando identificados problemas de infra-estrutura, por exemplo. Acredita-se que o uso dos recursos de análise quantitativa disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem para o acompanhamento de cursos a distância é um agente de fundamental importância para a análise da participação dos cursistas e professores, bem como das ferramentas indispensáveis para as equipes de suporte técnico e de monitoria, principalmente em projetos com grande número de alunos e de turmas. A contribuição das análises quantitativas somadas às analises qualitativas oferece um panorama completo e único, suprindo de informações todas as equipes envolvidas e contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem a distância. Relato de uma experiência 221 222 Escola de Gestores da Educação Básica Relato 13 A formação a distância dos cursistas-gestores Maria da Graça Moreira da Silva Por que formar gestores escolares a distância? A educação a distância tem se mostrado uma proposta potencial para a formação continuada de educadores sem a necessidade de um longo período de afastamento da comunidade escolar e de seu contexto de atuação, principalmente em países com vasto território e grande dispersão geográfica dos cursistas, como no caso da rede de escolas públicas brasileiras. Geralmente considerada como uma educação diferente da convencional, uma alternativa ou modalidade não-tradicional, a educação a distância manteve-se afastada da educação praticada nas escolas e, conseqüentemente, dos gestores, Relato de uma experiência 223 professores e alunos. Em contraposição à educação presencial, a educação a distância possui, durante parte de sua história, uma trajetória própria, sem que, em toda ela, tenha havido intersecções diretas na educação presencial. No entanto, incorpora as tendências tecnológicas e o contexto político, social e histórico de cada época, vindo a convergir, por ocasião da disseminação de estudos, para pesquisas e discussões do uso, do papel e do impacto da rede mundial nos processos de ensino e aprendizagem, tanto em atividades de apoio presencial como a distância. Entretanto, a educação a distância não é uma educação diferente, como corrobora Lobo Neto (1998): A educação a distância sempre deverá ser considerada no contexto da educação e, portanto, como a educação, necessariamente vinculada ao contexto histórico, político e social em que se realiza como prática social de natureza cultural. A educação a distância de modo algum pode ser concebida como um distanciamento da educação. Dessa forma, ela não se constitui uma educação diferente da presencial. É então entendida como uma modalidade da educação que se realiza em diferentes espaços ou ambientes de aprendizagem. Muitas vezes implica diferentes práticas, segundo as características que esses ambientes conferem ao processo de ensino e aprendizagem. Assim, acredita-se que a implantação de projetos de formação a distância traduz as concepções, abordagens e práticas que estão relacionadas ao contexto socioistórico em que eles estão inseridos e à sua intencionalidade política. 224 Escola de Gestores da Educação Básica Essa modalidade educacional já completa 100 anos de atividades no Brasil e é parte significativa de projetos educacionais de grande alcance. Mesmo centenária, é pouco familiar para boa parte dos professores e alunos e da comunidade escolar em geral, embora quase todos possam citar alguma experiência ou apontar um amigo ou parente que tenha participado de curso a distância. Algumas das iniciativas são bem conhecidas da população, como os cursos por correspondência, iniciados nos anos 40 e que funcionam até os dias de hoje, os programas de rádio, como o Projeto Minerva nos anos 60, e os programas do Telecurso, entre outros. As primeiras manifestações de educação a distância no País foram voltadas à educação de jovens e adultos e geralmente promoviam cursos profissionalizantes baseados no ensino por correspondência. Com o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, diferentes projetos foram sendo elaborados utilizando o rádio, a televisão, o videocassete e o computador para o desenvolvimento de cursos ou projetos de formação a distância. Nos últimos dez anos, com o advento da Internet, novas possibilidades foram descortinadas para a educação em diferentes níveis e principalmente para a educação continuada. A rede mundial de computadores trouxe novas perspectivas para o processo de ensinar e aprender a distância, entre elas a possibilidade de interação entre o professor e os alunos e dos participantes entre si. Por outro lado, a escola deixa de ser o único ambiente adequado para ocorrer a educação, podendo-se aprender em diferentes ambientes, como os ambientes virtuais. Relato de uma experiência 225 Por meio da Internet é possível promover atividades em que o aluno se sinta parte de um processo educaciomatizado, desde o passe de ônibus até o acesso às contas de banco, o vale-refeição, entradas de cinema, a previsão do tempo, etc. Gradativamente, os computadores e a Internet vêm ocupando espaço na comunidade escolar e na criação de ambientes virtuais de aprendizagem. A educação a distância passa, dessa forma, a ficar mais próxima; passa a ser objeto de estudo e a ser entendida como uma modalidade importante e viável de ser integrada à prática pedagógica. Porém, para utilizar pedagogicamente e aproveitar o potencial dessas tecnologias e estender as oportunidades às escolas e a todo o País, faz-se necessária a inclusão digital dos gestores, professores e alunos e dos membros da comunidade que a ela não têm acesso e ainda não estão instrumentalizados para usá-las. Por oportunidades pode-se entender a democratização do acesso às diversas formas de situações de ensino, escolarizadas ou não, a processos inovadores de formação, à melhora da qualidade do ensino, à disponibilidade democrática do acesso à informação, à mudança curricular, entre outras. As oportunidades podem também se traduzir na ampliação do número de vagas em instituições de ensino, no aumento da razão aluno/professor, na modernização da oferta da educação, na facilidade de distribuição de informações e novas oportunidades de negócios ou no barateamento da educação. As tecnologias sempre fizeram parte do cotidiano e da evolução social do homem. A cada época, a emergência e a predominância de diferentes e novas 226 Escola de Gestores da Educação Básica tecnologias caracterizam e ao mesmo tempo transformam a cultura individual e dos grupos sociais, atingindo todas as atividades, inclusive as relacionadas à educação. A tecnologia não é entendida como determinante dos processos de mudanças na educação. Vale lembrar: “a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar a seu potencial tecnológico.” (Castells, 1999, p. 34). As tecnologias de informação e comunicação são, em concordância com Kenski (2003 p. 21), articuladas às tecnologias da inteligência que, “por meio de seus suportes (mídias, como o jornal, o rádio, a televisão...), realizam o acesso, a veiculação das informações e todas as demais formas de ação comunicativa, em todo o mundo”. Essas tecnologias, portanto, uma vez articuladas às da inteligência, não se limitam a ser suportes, mas “interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirirmos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade” (Kenski, 2003, p. 23). A integração das tecnologias que fazem parte do dia-a-dia será cada vez mais utilizada para a aprendizagem, pois os aparelhos celulares, a televisão e novos ambientes serão cada vez mais usados pela educação. O maior impacto das tecnologias atuais é a possibilidade de reunir diversas mídias anteriores, como som, imagem, vídeo, texto, em uma só mídia, acrescida da possibilidade de autoria pelos diferentes usuários e da interação entre eles. Relato de uma experiência 227 Embora os ambientes virtuais se mostrem como agentes importantes para os processos de inclusão digital e social e acesso à educação, as novas tecnologias de informação e comunicação, porém, não substituem completamente as mídias convencionais e com as quais devem conviver harmonicamente. Os livros, os materiais impressos e as reuniões presenciais também devem ser utilizados e planejados de acordo com a realidade de cada projeto e com o público a ser atendido. Em vista desse cenário, o curso piloto visou formar a distância 400 gestores escolares dos Estados da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins. Esse foi o desafio inicial encontrado no curso piloto Programa Escola de Gestores da Educação Básica. Cada equipe de gestores das escolas participantes possuía realidades distintas, como condições de infra-estrutura tecnológica e de acesso a computadores e à Internet, diferentes vivências no uso de tecnologias de informação e comunicação e de educação a distância, uso de diversos instrumentos para gestão escolar e diferentes dinâmicas e práticas profissionais. A construção do curso piloto a distância O curso piloto do Programa Escola de Gestores da Educação Básica foi concebido, planejado e construído de forma colaborativa, contando com a participação de diferentes parceiros, como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), as Secretarias Estaduais de Educação, as Secretarias Municipais de Educação, 228 Escola de Gestores da Educação Básica universidades públicas estaduais e federais, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a Secretaria de Educação Básica (SEB) e a Secretaria de Educação a Distância (Seed). Desde a sua concepção, ficou clara a necessidade da formação em ação dos cursistas-gestores, respeitando as realidades das diferentes regiões dos envolvidos, considerando a história e a trajetória já percorrida dos participantes, bem como o seu repertório sobre gestão e acesso às tecnologias de informação e comunicação. Tendo em mente o desafio de contemplar essa diversidade, a metodologia utilizada no curso-piloto baseou-se nos princípios norteadores que enfatizaram dinâmicas, individuais e em grupos, que propiciam o aprendizado na ação de maneira reflexiva e compartilhada, bem como a articulação entre a prática do profissional e as teorias educacionais voltadas especialmente à gestão escolar. A construção dos materiais A construção dos materiais buscou contemplar a diversidade de mídias, objetivando potencializar o uso de publicações dos órgãos governamentais às quais as escolas poderiam ter acesso com facilidade, a articulação de programas desenvolvidos pelo MEC, como vídeos da TV Escola, textos desenvolvidos pela equipe de consultores e outros materiais impressos, digitais, ou ainda a indicação de endereços eletrônicos. Relato de uma experiência 229 O desenvolvimento do curso deveria também prever, em sua dinâmica, a escalabilidade, isto é, a possibilidade de estender o curso piloto, que contou com 400 participantes, para um grande número de cursistas. Por outro lado, os materiais não poderiam ser herméticos. Não se buscava desenvolver um material autoinstrucional, mas um curso com interação entre os participantes, que proporcionasse um ambiente favorável a trocas e à construção coletiva e, também, que incentivasse a formação de uma rede de conhecimentos que pudesse se estender para além do próprio curso. O papel dos professores-orientadores não poderia ficar restrito ao cumprimento de um programa de curso pré-concebido pela equipe de autoria ou à participação nos Fóruns e correção de atividades. O design do curso deveria ser flexível de forma a privilegiar a mediação pedagógica, permitindo que os orientadores acompanhassem o ritmo e o estilo de aprendizagem das turmas, bem como possibilitando o uso de diferentes ferramentas de gestão, a inclusão de materiais, a indicação de leituras adicionais ou a sugestão de temas para debate. Dessa forma, o grande desafio nessa etapa foi a concepção de um curso com design educacional que permitisse o andamento segundo um roteiro comum a todas as turmas, mas que ao mesmo tempo possibilitasse a cada um dos professoresorientadores desenvolver a mediação pedagógica de sua turma segundo diferentes ritmos cronológicos e de acordo com a realidade e o contexto. 230 Escola de Gestores da Educação Básica Materiais para o ambiente virtual Para a construção dos materiais, partiu-se do pressuposto de que os gestores teriam acesso à Internet, mesmo que ocasionalmente, em suas escolas ou nas Secretarias Municipais de Educação. Os materiais foram organizados de forma que os cursistas pudessem acessá-los por meio de computadores com diferentes sistemas operacionais e configurações. A organização dos materiais teve como articulador um material hipermidiático apresentado no ambiente virtual de aprendizagem, organizado com vista a viabilizar o processo de formação a distância pela Internet. O ambiente virtual colaborativo de aprendizagem utilizado para acesso às estratégias de aprendizagem e para interação entre os participantes foi o e-ProInfo, desenvolvido pela Seed do próprio Ministério da Educação. Nesse ambiente virtual, os participantes puderam acessar conteúdos (hipermídia e midiateca), informações e atividades organizadas por módulos, além de interagir com os professores-orientadores e com os outros envolvidos na equipe. O ambiente foi utilizado também para contribuir com a formação da rede de conhecimentos, troca de idéias e experiências entre os participantes. Os conteúdos da hipermídia apresentaram um texto básico, materiais de referência e materiais para leitura complementar, bem como indicações de endereços eletrônicos. A organização dos conteúdos buscou considerar a diversidade de cada escola e das diferentes regiões, experiências anteriores e estilos cognitivos dos cursistas-gestores. Relato de uma experiência 231 As atividades foram desenvolvidas segundo estratégias que privilegiassem a problematização, a análise de diferentes cenários, estudos de caso, pesquisas, aprofundamento teórico e a articulação entre teoria e prática. Dessa forma, foram organizadas de modo a provocar o levantamento e a avaliação da realidade da comunidade escolar, o planejamento, a intervenção e a análise das propostas de intervenção. Essas estratégias estavam alinhadas com a metodologia do curso, fundada na reflexão teórica sobre a prática do gestor para ressignificá-la, na perspectiva da reflexão-ação. Dessa forma, foram propostas atividades individuais, em grupos virtuais e entre as turmas de cursistas. Foram também propostas atividades para serem realizadas nas comunidades escolares envolvendo outros atores, como professores, pais, coordenadores e alunos. O design tecnológico das páginas concebido para o material hipermidiático buscou levar em consideração o perfil do público a ser atingido, gestores de escolas públicas de diferentes Estados, as condições de acesso à Internet, aos laboratórios de informática e a disponibilidade de uso de microcomputadores pelos cursistas, bem como as características do sistema de gerenciamento de aprendizagem utilizado. O design gráfico das páginas foi desenvolvido segundo critérios de design para cursos a distância pela Internet e de acordo com a identidade visual da Escola de Gestores, as características do público participante e as características do ambiente e-ProInfo. 232 Escola de Gestores da Educação Básica Dessa forma, optou-se por um desenho com a cor azul predominante, em tons claros. O azul-claro corresponde à cor de um dos bonecos do logotipo da Escola de Gestores. A ilustração dos bonecos foi aplicada ao design das páginas de forma lúdica, sendo que em cada um dos módulos do curso eles estão em diferentes localidades da tela, provocando movimento e, também, facilitando a identificação pelos usuários. A área de conteúdo apresenta fundo branco com fonte preta, a fim de permitir melhor visualização do texto, e com contraste satisfatório para impressão. As páginas de conteúdos contavam com textos, imagens (fotos e figuras) e pequenas animações, e evitou-se utilizar o rolamento de página. Os materiais foram distribuídos em cinco módulos. Todos os módulos iniciavam com uma proposta de Agenda, que corresponde às telas de apresentação do módulo e organização do conteúdo e das atividades. As telas seguintes de cada um dos módulos eram relacionadas aos conteúdos em si, às propostas de atividades e orientações para o desenvolvimento das atividades pelos cursistas. Além da hipermídia, o ambiente virtual foi utilizado para apresentação da Midiateca, com uma seleção de textos, sugestões de endereços eletrônicos e materiais indicados pelos professores-orientadores ou pelos cursistas-gestores. Materiais em CD-ROM Os materiais desenvolvidos em CD-ROM apresentavam conteúdos diferentes dos apresentados no ambiente virtual. Os objetivos da distribuição de materiais em CD-ROM foram: possibilitar o acesso a conteúdos sem a necessidade de conexão à Relato de uma experiência 233 Figura 1 – Design da página do curso piloto Figura 2 – Interface gráfica e de navegação utilizada no ambiente virtual e-ProInfo 234 Escola de Gestores da Educação Básica Internet; evitar download; disponibilizar para consulta ou impressão, para acesso rápido, conteúdos extensos e de leitura inadequada na tela de um computador; possibilitar a portabilidade de alguns materiais. O CD continha: Guia do Participante; versão do material Indique em hipermídia; textos e artigos. O Guia do Participante apresentava informações gerais sobre o programa de curso, a proposta pedagógica, as estratégias e etapas de implementação, bem como os diferentes atores e seus papéis no processo de ensino e aprendizagem a distância. Foram também incluídas algumas informações sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação. O material digital apresentava também uma versão em formato de hipermídia do instrumento de avaliação Indique. Essa versão permitia que os cursistas utilizassem o material nesse formato de modo a facilitar o registro e o intercâmbio de informações. O CD-ROM continha também textos e artigos produzidos por especialistas para o referido curso piloto, já publicados pelo Inep, e/ou outros de referências para facilitar o acesso à leitura e impressão dos arquivos. Materiais impressos Os participantes contaram também com um conjunto de materiais impressos: livros, os instrumentos de avaliação que seriam utilizados durante o curso, textos e o Guia do Participante, organizados de forma a permitir o melhor aproveitamento de publicações anteriores, do MEC, sobre o tema. Relato de uma experiência 235 Os materiais impressos mostraram-se necessários, como o CD-ROM, devido à diversidade de condições de acesso a computadores e à Internet pelos cursistas; a impropriedade de leitura de longos textos na tela do computador e a portabilidade dos materiais impressos. Esses materiais colaboraram também para a diminuição do tempo de conexão à Internet e o tempo de download. O conjunto de materiais impressos continha: • Guia do Participante; • Instrumentos de avaliação: Indique (versão impressa); PDE ou outro que já tenha sido definido pela Secretaria do Município da região; • Textos produzidos por especialistas para o referido curso piloto, já publicados pelo Inep e/ou outros de referências; • Livros e materiais. No início do Módulo I, com as atividades presenciais, identificou-se que grande parte dos cursistas possuía pouca experiência no uso de microcomputadores e Internet e não possuía contas de correio eletrônico ou experiência em atividades educacionais ou de gestão usando tecnologias de informação e comunicação. Tendo em vista as diferentes realidades, durante as atividades do curso, cada professor-orientador buscou soluções diferenciadas para as situações encontradas, como a impressão dos textos, das atividades e das agendas, a distribuição de materiais impressos e as orientações sobre a utilização de microcomputadores e Internet pelos monitores dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs), entre outras estratégias. 236 Escola de Gestores da Educação Básica Lições aprendidas Algumas lições aprendidas durante o curso piloto poderão orientar as futuras versões e turmas, como as sugestões a seguir: • a distribuição dos conteúdos apresentados na Web (atividades e orientações), por meio de materiais impressos, objetivando facilitar o acesso às informações; • a organização das estratégias de aprendizagem, privilegiando o uso da Internet para interação entre os participantes, fóruns de discussão, envio de atividades, acesso aos comentários dos professores e colegas, sessões de atividades síncronas, entre outras; • as atividades introdutórias e atividades presenciais deverão incluir oficinas para orientação aos cursistas sobre utilização de microcomputadores, como: manipulação de arquivos e diretórios, aplicativos de produtividade, como processadores de textos, planilhas eletrônicas e programas de edição de imagens e de apresentação; • os NTEs locais poderão promover as oficinas de uso de computadores, Internet ou outros aplicativos, de acordo com as demandas; • o curso deverá prever a formação dos gestores, também, sobre o papel das tecnologias de informação e comunicação na gestão escolar. Quando se trata de atender à diversidade de situações e condições locais de acesso às tecnologias no âmbito da realidade no Brasil, observa-se a necessidade da integração de diferentes mídias no contexto de formação semipresencial. O material Relato de uma experiência 237 impresso, articulado a recursos audiovisuais, especialmente às produções da TV Escola, deve ser utilizado como elemento facilitador para o acesso às informações e conteúdos do curso. Além disso, o uso do ambiente virtual é vital para a interação contínua dos professores com os cursistas-gestores e dos cursistas entre si, proporcionando a criação de redes colaborativas de aprendizagem a partir do acompanhamento e intervenção do professor, assim como a troca de experiências e idéias entre os participantes do curso. Desse modo, ao mesmo tempo em que se favoreceu a participação dos cursistas-gestores oriundos de todas as regiões do Brasil, por meio de distintas mídias para acesso ao conteúdo do curso, foi-lhes propiciada a inserção no mundo digital. A par disso, criaram-se condições mais favoráveis para que as escolas possam usufruir efetivamente dos recursos tecnológicos disponíveis, dos mais convencionais às novas tecnologias, além de prepará-las nos aspectos tecnológico, pedagógico e de gestão, para que possam se inserir na sociedade da informação e realizar seus processos de gestão social do conhecimento. Recomenda-se traçar diretrizes e criar mecanismos que permitam aumentar a escala de forma gradual e crescente, para garantir a qualidade da formação e a quantidade do atendimento. Além disso, é importante prover condições de acesso às tecnologias de informação e comunicação e outros recursos tecnológicos nos espaços escolares, para que os gestores possam participar de processos formativos a distância sem a necessidade de se deslocarem para participar das interações virtuais. Dessa forma, estará havendo a criação de uma cultura de gestão participativa 238 Escola de Gestores da Educação Básica e compartilhada, assim como um impulso ao desenvolvimento profissional do corpo docente das escolas, disseminando gradativamente a inserção da comunidade escolar (gestores, professores, funcionários, alunos e comunidade de seu entorno) na sociedade da informação. É preciso estar atento às potencialidades e contribuições de novas tecnologias que venham a surgir nos processos de ensinar, aprender, comunicar e gerir os sistemas educacionais, as unidades escolares e as salas de aula. Para tanto, questões de ordem técnica, de organização, orientação e conteúdo devem ser discutidas, analisadas e implementadas, para se alcançarem os objetivos propostos de forma segura com base nos conceitos da educação a distância. Referências bibliográficas CASTELLS, Manuel. Sociedade em Rede: a Era da Informação, Economia. Vol.1. São Paulo: Paz e Terra, 1999. KENSKI, Vany M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas: Papirus, 2003. LOBO NETO, Francisco José. Educação a distância: regulamentação, condições de êxito e perspectivas. 1998. Disponível em: http://www.intelecto.net/ead_textos/ lobo1.htm. Acesso em: 1 jul. 2005. Relato de uma experiência 239 240 Escola de Gestores da Educação Básica Sobre os Autores Tarso Genro Ministro de Relações Institucionais. Esteve à frente do Ministério da Educação no período de implantação do projeto (2003-2005). Fernando José de Almeida Doutor em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde leciona no Programa de Pós-graduação em Educação: Currículo. [email protected] Lia Scholze Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); coordenadora-geral de Linha Editorial e Publicações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) e coordenadora nacional do Projeto Piloto do Programa Nacional Escola de Gestores (abril de 2004 a dezembro de 2005). [email protected] Maria Elisabeth Bianconcini de Almeida Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é professora do Departamento de Ciência da Computação e do Programa de PósGraduação em Educação: Currículo, linha Novas Tecnologias, e coordenadora do Projeto de Formação de Gestores Educacionais “Gestão Escolar e Tecnologias” dessa Universidade. [email protected] Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo Consultora do Projeto Piloto da Escola de Gestores pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). [email protected] Relato de uma experiência 241 Nelson Morato Pinto de Almeida Pós-graduado em Engenharia de Segurança e Higiene do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Produção de Açúcar e Álcool pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep); mestre em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo (Unicid); trabalha com documentação para cursos on-line e de EAD. [email protected] Celso Vallin Doutor em Educação: Currículo, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); professor e orientador de professores em cursos de pós-graduação a distância, para formação de professores em serviço e gestores escolares, via Internet, pela PUC-SP, entre 2000 e 2006. [email protected] Solange Vera Nunes de Lima D’ Água Mestre e doutoranda em Educação: Currículo – Formação de Professores, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); consultora, orientadora e professora em projetos de educação inclusiva e de educação a distância na formação de professores, gestores e dirigentes municipais. [email protected] Leila Lopes de Medeiros Diretora do Departamento de Produção e Capacitação em Programa de Educação a Distância (Seed/MEC). [email protected] Francesca Vilardo Lóes Coordenadora-Geral de Capacitação e Formação em Educação a Distância (Seed/ MEC). [email protected] Rosângela de Abreu Amadei Duarte Doutoranda em Educação: Currículo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); professora e consultora técnico-pedagógica em projetos de educação a distância e formação de professores. [email protected] 242 Escola de Gestores da Educação Básica Ligia Cristina Bada Rubim Doutoranda em Educação: Currículo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); consultora pedagógica em projetos de educação a distância e formação de professores. [email protected] Patrícia Passos Gonçalves Palácio Mestre em Educação: Currículo; especialista em Comunicação e Educação; professora no ensino superior e docente responsável por cursos de extensão em Informática para a Melhor Idade; professora e consultora técnico-pedagógica em projetos de educação a distância e formação de professores. [email protected] Maria Elisabette Brizola Brito Prado Doutora em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), atua como professora nessa Universidade; pesquisadora colaboradora do Nied-Unicamp e consultora em tecnologia educacional, formação de educadores e educação a distância. [email protected] Flávio dos Santos Sapucaia Doutorando em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); orientador de design web e de equipes de suporte técnico em projetos de educação a distância e formação de educadores. [email protected] Maria da Graça Moreira da Silva Doutora em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); docente do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas e supervisora da habilitação em Educação a Distância do curso de Tecnologias e Mídias Digitais dessa Universidade; consultora da Fundação Yoshpe. [email protected] Relato de uma experiência 243