Anexo 1

Transcrição

Anexo 1
RELATÓRIO DE VIAGEM AO NORDESTE DO JAPÃO
Agradeço aos irmãos e intercessores os inúmeros emails enviados durante esse tempo
de crise pós-catástrofe no Japão e também as ofertas em prol do Japão. A nação está
vivendo tempos difíceis depois do terremoto e tsunami de 11 de março e com a crise
nuclear que ainda não foi solucionada. Os mortos e desaparecidos somam cerca de 28
mil pessoas. Nos primeiros dias o numero de desabrigados chegou a 500 mil
pessoas. Hoje reduziu para cerca de 140 mil pessoas. Algumas pessoas foram
deslocadas para outras regiões. Outras pessoas preferiram permanecer em suas cidades
esperando a reconstrução de suas cidades e vilas. Há locais que não poderão mais ser
reconstruídas porque não há condições de segurança. A zona de exclusão por causa da
radioatividade também é outro problema sério.
Muitas pessoas da comunidade brasileira estão assustadas com a situação atual,
principalmente com a questao da radioatividade, além de estarmos vivendo em clima de
incerteza
quanto
ao
futuro
da
comunidade
decasségui. Alguns setores estão operando quase que
normalmente, mas algumas fábricas estão operando no
mínimo e outras estão paradas por falta de peças. Ouvimos
comentários de que serão necessários cerca de seis meses
para que a produção seja normalizada. E o período de
reconstrução deve durar cinco anos.
Porém, a situação de crise que temos vivenciado também
tem sido o tempo propicio para evangelização e queremos
aproveitar cada oportunidade que Deus tem nos dado nos
envolvendo em atividades que possam cooperar para que
mais pessoas venham a conhecer o Salvador do Mundo, o
Único que pode nos dar a verdadeira paz e segurança.
Ao mesmo tempo a comunidade brasileira tem se envolvido em campanhas para ajudar
as vitimas da região nordeste. No entanto, não é nada fácil ajudar por causa dos entraves
burocráticos. Tudo aqui no Japão tem que ter autorização. As iniciativas particulares não
são muito bem-vindas.
Como igreja do Senhor Jesus no Japão cremos que temos que nos envolver de maneira
prática para ajudar os que sofrem.
Nos dias 8/9 de abril, a AMEJ (Associação de Ministros Evangélicos no Japão – entidade
da qual faço parte) organizou um treinamento de Socorro Emergencial ministrado pela
REDE SOS GLOBAL que trouxe uma equipe do Brasil liderada pela Miss. Margaretha
Adiwardana, a presidente da Rede. Tivemos a participação de 123 pessoas nos dois dias
e nesse curso formamos uma equipe que partiu no dia 10 de abril com 14 pessoas da
província de Aichi, Shizuoka e Fukui: pastores, missionários, leigos e quatro membros da
equipe da SOS GLOBAL para uma viagem de dois dias de reconhecimento na região
nordeste do Japão, visando desenvolver projetos voltados para ajudar as igrejas
japonesas ali. E outra equipe vinda da província de Gunma se juntou a nós e a equipe
cresceu para 30 pessoas. Estivemos em duas cidades duramente atingidas pelo
terremoto: cidade de Iwaki, província de Fukushima (cerca de 50 km da Usina Nuclear
Fukushima Daiichi) e a capital da província de Miyagi, Sendai. Os carros também foram
carregados de doações (arroz, água, mantimentos, etc.) para serem entregues às
vitimas. Elas foram entregues a uma familia cristã que vai entregar aos moradores de sua
região que retornaram as suas casas e por isso não recebem ajuda oficial.
Participamos de serviço voluntário trabalhando na limpeza de entulhos na cidade de
Iwaki. Fomos divididos em quatro equipes. Na equipe que participei ficamos
responsáveis pela retirada de entulhos de duas casas. Éramos em 11 brasileiros. O
serviço era pesado, inclusive para as mulheres. Recolher os entulhos: pedaços de
concreto, blocos, telhas e outros materiais trazidos pelo tsunami e carregar num
caminhão. No final o quintal ficou limpo e os donos das casas ficaram agradecidos. Em
particular nessa vila as ondas foram baixas, atingindo somente o primeiro andar das
casas, foi de mais ou menos um metro de altura, mas estragou os móveis, geladeira,
máquina de lavar, etc. porque a água trouxe consigo muitos entulhos recolhidos ao longo
do caminho. As construções continuam em pé. Mas somente a alguns metros da vila
vêem-se casas totalmente destruídas e muitas vidas perdidas. Nesses locais só entram
as equipes de resgate especializado: o exercito, bombeiros e polícia. Ainda continuam
encontrando corpos sob os escombros. E a limpeza terá que ser feita com equipamento
pesado e levará muito tempo.
À tarde, enquanto estávamos nos dirigindo à zona litorânea de Iwaki, fomos
surpreendidos no meio do caminho por um terremoto de 7.1 graus, cujo epicentro foi na
cidade em que estávamos e em seguida foi dado o alerta de tsunami que foi retirada
algum tempo depois. Nós que não estávamos acostumados tivemos uma experiência e
tanto, pois a cidade parou, as linhas telefônicas e celulares foram cortadas e houve
blecaute (as luzes se apagaram, o trem parou, os semáforos não funcionavam e o transito
ficou um caos) que foi restabelecida uma hora depois. E durante toda a noite e
madrugada houve réplicas de menor grau.
No dia seguinte, as vias expressas de acesso a região foram bloqueadas por medida de
segurança. A equipe partiu para a cidade de Sendai, capital da província de Miyagi, por
outro caminho e lá também fizemos o trabalho de serviço voluntário nos registrando no
centro de voluntariado local que também servia de centro de desabrigados. Nesse
período pudemos ver um ônibus chegando ao local trazendo desabrigados de outras
áreas. Eles chegavam com olhares tristes, trazendo somente uma sacolinha com os seus
pertences. Tudo o que possuíam estava ali. Nesse abrigo parece haver melhores
condições (água, luz, chuveiros, fica no centro da cidade, etc.), mas a vida nos abrigos
não é fácil, pois eles ainda não têm o que fazer. Muitos são idosos e para eles é mais
difícil recomeçar. São pessoas que perderam tudo: casas, famílias, bens acumulados a
vida toda e estão sem esperança.
Outra impressão forte da nossa viagem de reconhecimento foi que nas duas cidades
visitadas os locais mais distantes da praia pareciam não ter sido muito afetadas. As
construções nas cidades de Iwaki e Sendai continuam em pé e em funcionamento, pelo
menos aparentemente. Somente em algumas edificações se viam rachaduras e também
em algumas ruas. A idéia que se tinha era que as cidades da região de Tohoku estavam
totalmente destruídas e as estradas intransitáveis. Mas a destruição que se vê na mídia é
das cidades e vilas litorâneas mais próximas do mar. É incrível como as estruturas
puderam agüentar um terremoto de grau 9.0 na escala Richter, o quarto maior desde que
se começou a medir - sem desabar. Na história há outros terremotos de menor grau em
outras regiões que causaram maior destruição e mortes.
Soubemos pelos informativos japoneses que 90% das vitimas fatais desse triplo desastre
(terremoto, tsunami e crise nuclear) morreram afogadas pelo tsunami. Sendo que 62%
eram pessoas com mais de 60 anos de idade.
Depois do serviço voluntário fomos visitar a área
mais devastada da cidade de Sendai. E a visão que
tivemos nos chocou, a devastação foi grande. A
não ser por alguns prédios que ficaram ainda em pé,
a maioria das construções foi literalmente levada
pelas águas. A limpeza dos entulhos da área ainda
não começou. O cheiro é terrível. Muitos corpos
continuam desaparecidos e agora entendemos que
realmente não há como encontrá-los no meio dos
escombros. Somente as forças armadas, bombeiros
e policia têm acesso ao local para esse tipo de
limpeza. Em meio à devastação encontramos uma
cruz que antes sinalizava uma Igreja evangélica: Seaside Bible Chapel. Ali realizamos
uma pequena reunião com a equipe de voluntários para orar por um avivamento na nação
japonesa, pelas famílias das vítimas, pela reconstrução da região.
E no nosso coração fica a esperança que diante de toda essa catástrofe o coração dos
japoneses se volte para o Criador. O Japão é um dos países menos alcançados pelo
Evangelho dentre os países do mundo desenvolvido. O orgulho, a prosperidade
financeira, a alta tecnologia, a capacidade intelectual, etc. têm sido os seus deuses, mas
hoje eles têm percebido que tudo isso é vão diante das perdas de vidas e bens. Por
enquanto estamos buscando a direção de Deus para saber como ajudar a igreja japonesa
nessa hora. Temos procurado contatar a liderança, mas não temos conseguido um canal
para que possamos efetivar essa ajuda. Muitos irmãos de várias igrejas brasileiras têm a
disposição de fazer trabalho voluntário e temos planejado de que maneira podemos fazêlo de forma a abençoar a igreja japonesa.
Contamos com as suas orações nessa etapa de nosso ministério no Japão.
Em Cristo
Elisa Kiyan
Missionária da APMT (Agencia Presbiteriana de Missões Transculturais)
Igreja Presbiteriana da Penha - SP