De novo, temos a velha necessidade incentivando a nós
Transcrição
De novo, temos a velha necessidade incentivando a nós
Padronização da produção de matrizes Comentário sobre Donald Mardsen, da ULANO De novo, temos a velha necessidade incentivando a nós articulistas, chamar a atenção do povo para o fato que, tudo o que se faz todo dia, fica melhor se feito de forma organizada e, fundamentalmente, se o resultado independer do humor do operador, do clima, do “...ooops”, e das demais variáveis. Já pensou se o seu restaurante predileto te apresentasse uma gororoba e o maitre viesse explicar que o chef hoje está meio estressado? Ou que deu um probleminha com o fogão? Ou que os hortifrutis estavem meio passados? No mínimo seu restaurante deixaria de ser o predileto. Na hora de preparar a matriz serigráfica, se você faz isto como serviço “pra fora”, provávelmente já pratica alguma forma de padronização. Mas se faz matrizes internamente, seu cliente é interno – mas ainda assim é cliente. Se o encarregado do laboratório for “gente importante”, sempre pode calar a boca do impressor dizendo que o problema está na área da impressão, mas quando a qualidade da comida é posta em dúvida, a predileção sofre – e um belo dia o restaurante, o chef, ou o maitre serão substituídos. Saiu na Screenweb um artigo do Donald Marsden em novembro, sobre padronização. Como o santo da casa nunca faz o milagre, em vez de repetir o venho dizendo hã 28 anos, quando deixei a linha de produção e passei a ser consultor – vou destacar os pontos do artigo dele e colocar minha colherinha. Donald se formou na universidade Princenton, trabalha atualmente na Ulano, é palestrante e articulista de serigrafia, presidente emérito da Academia de Tecnologia Serigráfica nos USA. (1) Filosofia - Pensar em si como um fabricante de um produto, e não como um “serígrafo”. Um fabricante de produto procura não deixar nada do que se refere ao seu produto ao acaso. Serígrafos tem a tendencia a ficar fazendo experimentações (como um artista criador) e isto é detrimental à “qualidade da comida”. Comprar materiais confiáveis de fontes confiáveis (e não a oferta “da hora”). Obtendo uma melhoria na forma de fazer, documentar e medir objetivamente os resultados. Conseguindo otimizar a produção, insistir na conferencia de cada passo e colocar listas de checagem documentadas como procedimentos internos. Isto tudo é o primeiro passo básico na padronização. (imagem = Ari, o famoso filósofo grego) (2) Condições ambientais – A maioria dos trabalhos pode não requerer uma estrutura de Sala Limpa, mas o pó sempre será o inimigo no. 1 de quem trabalha com imagem. Já a temperatura e umidade impactam diretamente no resultado da produção de matrizes, e a eliminação destes fatores como variáveis é importante em qualquer tipo de matriz. (imagem = Dois pontos de poeira) Publicado na “Empresário Serigráfico” Padronização da produção de matrizes Comentário sobre Donald Mardsen, da ULANO (3) Esticagem de telas – A tela é selecionada primeiramente conforme a quantidade ou carga de tinta desejada, e em segundo lugar obedecendo os limites da fineza de detalhes ou retícula empregada. (não adianta usar uma tela finíssima que deixa as cores “lavadas” e depois ficar culpando o fabricante da tinta). O quadro tem que suportar a tensão sem se deformar, ceder, empenar. A tensão afeta a distancia de foracontato (quanto mais tensão, mais baixo pode ser o foracontato) e esta distancia afeta a deformação da imagem impressa. Tensões iguais, deformações iguais e vice-versa. A quantidade máxima de tensão para um tecido serigráfico é informado pelo fabricante (consulte sempre); use uma tensão compatível com o processo de impressão ao qual a matriz se destina, e estabeleça valores medindo com o tensiômetro (nada de tamborim, que não é carnaval, é produção de matriz). (imagem = medindo a força de esticagem de arco e flechas). (4) Dmin, Dmax, nitidez – Se você (provavelmente) não usa equipamento CTS (compiuter-to-screen), então usa fotolitos. Na parte transparente a luz deve passar, e na parte da imagem deve ser bloqueada – QUANTO???? - é a pergunta que não quer calar. A densidade ideal onde a luz “não passa” é 4,0 (representa que apenas 0,001% da luz chega a passar). (nota – se você compra filme fotolito por metro quadrado, esqueça isto, desconheço fornecedores do gênero que atendem a este requisito). A densidade é medida com um densitômetro de transmissão, nas escolas de artes gráficas você pode fazer medições periódicamente para checar a qualidade do seu fornecedor. Na parte transparente, a densidade deve ser idealmente 0,5 ou menos. (se você usa filmes de base leitosa ou fotolitos velhos amarelados pelo enxofre que devia ter sido removido por uma lavagem adequada por quem o fez, esqueça este requisito também e “boa sorte”). Filmes fotolito processados fora das recomendações dos fabricantes de filme fotográfico podem apresentar uma auréola que divide as áreas de imagem e não imagem. O tamanho máximo para esta auréola deve idealmente ser difícil de detectar mesmo sob microscópio de 50X. (nota – não há valores de normas, mas algo tão pequeno como 10 micra vai impactar no resultado de uma retícula por exemplo). Meça de vez em quando – se o resultado do seu fornecedor for variável, o prato do seu restaurante também vai ser. (imagem = vazamento....) Publicado na “Empresário Serigráfico” Padronização da produção de matrizes Comentário sobre Donald Mardsen, da ULANO (5) Prensa de contato – Precisa falar da limpeza do vidro...? Uma fórmula de limpa-vidros é apresentada ao lado. Ou compre um bom limpa-vidros comercial. O lençol de borracha preta é melhor, caso contrário use um cartão preto no verso da tela ao fotografar. A pressão do vácuo deve ser de 500 mm/hg, acima disso podem haver problemas como anéis de Newton afetando retículas e distorções da imagem fotografada. (anéis de newton são uma forma de moiré que pode afetar a fotografia de imagens reticuladas, ver figura ao lado) A fonte deve ter intensidade de UV adequada à emulsão e camada aplicada, e a geometria da luz deve ser idealmente 1,5 vezes a diagonal da imagem (com a distancia igual à diagonal da imagem, a perda de intensidade nas bordas pode chegar a 20% - sem refletor). Além disso, a intensidade de UV depende da alimentação (195 volts é diferente de 225 volts, óbvio. Mediu a alimentação durante o decorrer do dia...? Boa sorte...?). De 200 para 220 V temos 10%, mas na saída de UV isto pode representar mais de 25% de diferença – o efeito dos transformadores na conversão da tensão é multiplicativo. Quer tranquilidade? Compre uma fonte chaveada eletrônica. Não dá pra fazer o investimento agora? Dê um jeito de medir a eletricidade que entra e a potencia do UV que sai. Um radiômetro do tipo que calibra curadoras UV pode ser adaptado para medir a expositora. Idealmente, use um integrador ao invés de temporizador na fotografia de telas. Mesmo o integrador vai falhar se a energia de entrada variar muito. Quer REALMENTE não ter que pensar nisso? Os equipamentos CTS de exposição direta o fazem em áreas pequenas por varredura e por isso tem (por construção) muito menos variação na exposição... (6) Especificações da reprodução – depois e mais além do tecido, fotolitos, e fotografia da tela, o primeiro passo direto na direção da padronização é a seleção do sistema de estencil adequado a tamanho da tiragem, propriedades da reprodução e infra-estrutura existente. Os produtos devem suportar o tipo de solvente usado na tinta e limpeza na impressão, velocidade de exposição, e as principais medidas da qualidade da imagem: acutancia, ou nitidez de bordas, definição ou desvio direcional dos detalhes, e resolução ou tamanho do detalhe reproduzido. Estas especificações podem ser medidas independentemente – por exemplo uma tela feita com filme de recorte pode apresentar excelente acutancia e uma resolução baixa. Por outro lado nada adianta usar uma tela finíssima que apresenta um serrilhado, embora bem pequeno por causa da contagem de fios. A medição da acutancia é difícil de fazer, requer microscopia especial. Publicado na “Empresário Serigráfico” Padronização da produção de matrizes Comentário sobre Donald Mardsen, da ULANO (7) Espessura de emulsão e Rz – A espessura de emulsão aplicada acima da superfície dos fios (em inglês EOM – emulsion over mesh) afeta o nivelamento da superfície do estencil ou Rz, e a espessura de tinta nas bordas de imagem (em uma área com cerca de 0,4 mm ao redor das bordas). Espessura demasiada afeta a definição dos traços e reduz a margem para o ajuste da viscosidade da tinta. Qualquer espessura na face interna da tela é detrimental na desmoldagem da impressão e definição das bordas da imagem. A impressão de detalhes finos com emulsão espessa é muito difícil de fazer. A espessura teórica ideal é algo próximo ao zero para impressão de cromias (espessura quase = zero não é possível com emulsões líquidas, só com indiretos ou capilares). Steven Abbot PhD em artes gráficas, (da McDermid-Autotype) desenvolveu na escola de Leeds um conceito de ganho de ponto dinâmico (que chamou de PITS - piling ink tone skewing = desvio tonal por relevo de tinta), fenômeno que só ocorre na impressão de serigrafia e que sofre influência direta da espessura de emulsão. Alguns autores falam em 25 a 30% da espessura do tecido como parâmetro para obter o melhor nivelamento Rz, o que é particularmente verdade para emulsões com baixo teor de sólidos (isto significa de 15 a 20 micra de espessura para telas de 120 a 150 fios). Para cromias, espessuras de 5 a 7 micra tem sido recomendadas, e com filmes capilares é possível obter telas consistentemente (repetidamente) com espessuras por volta de 2 a 3 micra. Obter repetitividade de espessuras usando emulsões líquidas não é possível manualmente, a menos que uma tolerancia acima de 25% seja aceitável. Obter repetitividade de espessuras com o emulsionamento mecanizado tampouco é possível se não houver uma padronização das tensões – telas mais frouxas “capturam” mais emulsão a cada passada do que as mais tensionadas (para não mencionar a questão de uniformidade das tensões e diferenças de espessura na área da tela...). Algumas máquinas emulsionadoras tem sido desenvolvidas tendo calhas aplicadoras com controle do nível da emulsão para melhorar a consistencia da camada. Para conferir resultados, tem que medir a espessura (por ex com um medidor usado para medir camadas de tintas em pinturas) e tem que fazer isto ao longo da área da tela, se quiser declarar que está uniforme e consistente com as especificações (senão, o prato de hoje ficou um pouco mais salgado, etc...). (Acima - medidor indutivo de camadas, abaixo - rugosímetro) Medir o Rz (média de medições de rugosidades médias Ra em cinco amostragens) requer um rugosímetro, instrumento relativamente dispendioso – afortunadamente Rz é conceito universal de metrologia (normatizado no Brasil pela NBR 6405/1988), e uma boa escola técnica de mecânica costuma ter este tipo de instrumento para você fazer suas medições periódicas. É sempre bom lembrar que o curso da amostragem tem que ser feito em um ângulo de 22,5 graus em relação aos fios da tela. Publicado na “Empresário Serigráfico” Padronização da produção de matrizes Comentário sobre Donald Mardsen, da ULANO (8) Emulsionamento capilar – usar filmes permite obter resultados “de máquina” sem o investimento em equipamento emulsionador sofisticado, além de permitir espessuras menores para impressões com a maior resolução possível. Entretanto, aqui é o ponto onde a poeira é inadmissível, o desengraxe é uma atividade técnica de tratamento de superfície (e não um lava-rápido “tapinha” com detergente “da hora”), e a técnica do spray manual é um convite à inconsistência de resultados. Assim como a tela faz a dosagem de tinta na impressão, faz também a dosagem da água na disssolução superficial do filme capilar. Por isso, desengraxantes especiais com agentes químicos umectantes fazem parte integrante e indissolúvel do sistema. O “caríssimo” sistema capilar de preparação de matrizes pode se igualar em custo ao emulsionamento manual acima de 50 telas de 1,0 x 1,0 metros se considerados os custos operacionais – tem que fazer a conta, matéria para artigos próximos. (9) Secagem antes da fotografia – O teor de umidade na emulsão no momento da fotografia influencia a sensibilidade fotográfica e também a resistencia química da tela na impressão. Uma estufa para secar telas deveria extrair umidade e não apenas soprar ar quente sobra as telas (algumas apenas aquecem o ar e deixam que ele procure as telas por conta própria...). Muito calor prejudica a sensibilidade fotográfica, sendo que a temperatura da emulsão idealmente não deveria ultrapassar os 30 graus Celsius. Enquanto água estiver sendo evaporada desde a emulsão, esta não se aquece, mas quando não houver mais água, o aquecimento ocorre rápidamente. Medidores de umidade por contato adequados para telas ainda não são comuns, e os modelos similares de baixo custo para papel e madeira não servem, porque trabalham no fundo da escala – muito próximos do zero – para permitir um controle eficiente. A solução que permite a consistencia de resultados sem medir a umidade é manter a tela por mais tempo em estufa com temperatura baixa (por ex 35 graus). (10) Otimização da exposição e processamento – Controlar a exposição é uma forma de garantir a durabilidade, resistencia e qualidade geral da matriz. Mas, conforme a espessura da emulsão, a quantidade de exposição terá que variar para se chegar à exposição ideal. A escala de densidades de 21 passos (stouffer) é uma tira de filme de 5 -10 mm que, fotografada em conjunto numa área da tela fora da imagem fornece um indicativo da qualidade da exposição. Esta análise não é exata porque a avaliação é feita no limiar da retenção da emulsão (em um dos degraus de densidade) onde a pressão da água da revelação interfere. Se um equipamento de revelação de telas com pressão, temperatura da água e tempo for empregado, esta ferramenta pode dar uma indicação mais precisa, onde cada passo (degrau) de densidade corresponde à metade do tempo de exposição empregado. Típicamente é considerado para telas serigráficas o degrau 7- 8 (médio) da escala stouffer. É claro que se trata de uma análise útil para o trabalho continuado, onde qualquer ajuste será feito na próxima tela a fotografar. Publicado na “Empresário Serigráfico” Padronização da produção de matrizes Comentário sobre Donald Mardsen, da ULANO (11)A melhor ferramenta para a determinação do tempo de exposição é um filme com uma escala combinada de densidades junto a um teste de resolução de imagem. Com esta ferramenta, uma exposição prévia de teste tem que ser feita com tempo de exposição extendido. As janelas de densidades usualmente trazem números de guia, que multiplicados pelo tempo de exposição empregado no teste, indicarão o tempo correto a utilizar para telas preparadas nas mesmas condições do teste. Uma forma de interpretação dos resultados é verificar a mudança de coloração entre o fundo e as áreas das janelas de densidade, porque os sensibilizantes (corantes) diazóicos mudam de cor quando expostos ao UV. Assim, se não há diferença de cor entre o fundo da janela de densidade e a área externa da imagem, significa que a totalidade do sensibilizante foi químicamente convertida na exposição correspondente ao tempo empregado menos a quantidade de luz retida pela densidade controlada pela janela do filme teste. Adicionalmente, as imagens teste de resolução que se repetem para cada janela de densidade permitem avaliar a performance da emulsão junto com a infra-estrutura de fotografia, em termos de quantidades de detalhe em função da exposição. A melhor exposição é a que rende a melhor quantidade de detalhe com a melhor resistencia química (a maior exposição possível). No caso dos filmes indiretos a análise é ligeiramente diferente, porque com uma exposição muito grande a aderencia irá falhar. Para filmes indiretos (Autotype Five-star, Novaplus, Ulano Pulsar, Chromaline Reflex) a melhor referência é a espessura da base da imagem nas janelas de densidade (medir com o micrômetro), e/ou a resolução obtida. Nos filmes indiretos a redução da exposição não causa redução da resistencia química, e sim uma espessura menor do estencil até o limite da perda de detalhes, porque a aderencia na tela é feita após o processamento da imagem. A subexposição de emulsões diretas e filmes capilares para tentar obter mais detalhes é uma receita para o desastre, a inconsistência e os problemas cardíacos associados às surpresas nos resultados da produção. Reexposição e endurecedores químicos tem um limite nos resultados que também dependem de todos os fatores mencionados até aqui. A subexposição faz com que emulsão na área exposta seja parcialmente dissolvida na revelação, restando menos material para ser endurecido pelo produto químico. (12) Conclusão – Preparar matrizes serigráficas com qualidade significa não dar oportunidade para a sorte ou azar na forma de produzir. O olho não tem régua interna, os dedos não tem sensores de pressão calibrados em gramas ou quilos, as aparências enganam e, como dizia o filósofo - “a confiança mata o homem e engravida à mulher”. Tudo o que se produz tem formas de quantificar, e se queremos ter consistência (fazer sempre igual e da melhor forma possível) temos de padronizar. Qualidade é atender às medidas especificadas, na unidade de medidas, na quantidade pedida e nas tolerâncias permitidas. O resto é opinião subjetiva – todo mundo tem direito à sua própria, mas não se chega a acordo comercial profissional desse jeito, e sob argumentação subjetiva o cliente ficará sempre insatisfeito. Ary Luiz Bon … teimoso, insistente, teórico demais, muito rígido nos conceitos, metido, sabichão, intolerante, e fica “puto da vida” quando ouve falar que a culpa é da serigrafia, que o processo é atrasado ou primitivo. Publicado na “Empresário Serigráfico”