RESUMO WINNICOTT

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RESUMO WINNICOTT
RESUMO WINNICOTT
DR WINNICOTT – O HOMEM E A OBRA
“Peguei meu taco de críquete (com tamanho de trinta centímetros, pois eu não tinha mais de três anos),
e destruí o nariz da boneca de minhas irmãs. Aquela boneca havia se convertido para mim em uma
fonte de irritação, pois meu pai não deixava de brincar comigo. Ela se chamava Rosie e ele, parodiando
uma canção popular, me dizia (com uma voz que me exasperava):
Rosie disse a Donald/Eu te amo/Donald disse a Rosie/Eu não creio
Winnicott formulou algumas de suas ideias durante o período da guerra baseado em suas observações
sobre o funcionamento mental de pessoas envolvidas no conflito vivendo experiências traumáticas. Na
Segunda Guerra Mundial, ele foi consultor para uma região no interior da Inglaterra que recebia
crianças e adolescentes evacuadas de Londres e que eram acolhidas em lares ou em instituições. Essa
experiência lhe permitiu formular o conceito de tendência anti-social, ao estudar os efeitos da
separação de crianças e adolescentes da família. Para ele, a delinquência é uma tendência anti-social
“que não foi tratada”.
“CONSULTA TERAPÊUTICA”
Desenvolveu o “jogo dos rabiscos” e a “consulta terapêutica” “quando posso, faço a análise
standard, senão faço algo orientado analiticamente”. Ele se esforçava para tornar a consulta significativa
para criança, dando-lhe alguma coisa para levar e que pudesse ser utilizada ou destruída. No campo da
psicanálise, manteve sempre, uma posição independente, não se envolvendo nem com os partidários de
Melanie Klein e, tampouco, com os seguidores de Anna Freud, mantendo uma relação satisfatória com
ambas. Durante toda a sua vida teve uma “filiação” dentro da tradição Freudiana. Suas ideias foram
desenvolvimento do pensamento psicanalítico Freudiano.
A concepção de que o pensamento de Winnicott representou uma ruptura com a criação Freudiana, a
psicanálise, antes de representar um reconhecimento teórico e clínico do autor, nos remete à conhecida
e antiga resistência ao conhecimento psicanalítico. O próprio Winnicott escreveu que “ninguém pode
ser original senão baseado na tradição”. Ele foi, fundamentalmente, um clínico, nunca pretendendo ser
um mestre, como MK ou Lacan. Para ele, a experiência e a clínica eram soberanas e não pretendia fazer
“filosofia”, advertindo, inclusive, que tomássemos cuidado com os “filósofos de poltrona”.
O GRUPO DE BLOOMSBURY
A formação cultural e psicanalítica aconteceu próxima a um grupo intelectual inglês conhecido como
Bloomsbury. Donald e Claire Winnicott não tiveram filhos e, ao perceber que sua situação clínica se
tornava mais difícil, ele registrou que “é muito difícil um homem morrer quando não teve um filho para
mata-lo na fantasia e poder sobreviver a ele, proporcionando assim a única continuidade que os homens
conhecem”.
Claire Winnicott comentou sobre o trecho da descrição imaginária de sua morte feita por Winnicott que
se pode ter uma ideia da capacidade dele para compor brincando com a realidade de dentro e de fora,
de modo a permitir um indivíduo suportar a realidade evitando a negação e podendo realizar tão
plenamente quanto seja possível a experiência da vida, seja um bebê que nasce ou um velho que morre.
Tem um estilo paradoxal, mostrando a importância do paradoxo em sua obra. Ele buscava escrever de
forma a ser compreendido pelo “homem comum”. Praticamente não citava autores e dizia, brincando
que “primeiro escrevia e depois tratava de saber quem havia roubado determinada ideia”.
Ao longo dos mais de quarenta anos que exerceu sua clínica, atendeu cerca de 60 mil pacientes.
André Green escreveu que o pensamento de Winnicott forma uma rede, um tecido de fios
entrecruzados, distinguindo-se como principais os seguintes: (1) teoria da situação psicanalítica cujo
modelo é o setting; (2) teoria das pulsões, que introduz novos conceitos sobre a agressividade “com a
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noção de uma destrutividade sem cólera”, e sobre a sexualidade (com a ideia de “elemento feminino
puro” e “elemento masculino puro”); (3) teoria do objeto, enfocada pelas relações entre o objeto
subjetivamente concebido e o objeto objetivamente percebido: eu corolário é o objeto transicional; (4)
teoria do Self, com os conceitos de verdadeiro Self e falso Self; (5) teoria do espaço, pela noção da área
intermediária, espaço potencial e transicional, fonte da sublimação e da experiência cultural, criada
através do brincar; (6) teoria da comunicação e da não-comunicação; (7) teoria do desenvolvimento,
que introduz a noção de ambiente facilitador “mãe suficientemente boa” e a evolução da dependência à
independência.
Massud Khan – enfoca os seguintes aspectos: conceito de realidade interna versus o fantasiar: do
objeto transicional ao uso do objeto; regressão, manejo e o brincar no setting psicanalítico: a
estruturação e a formação da pessoa total.
Numa tentativa de desenvolver e ampliar os esquemas apresentados, Júlio de Mello Filho, introdutor há
cerca de 40 anos do pensamento de Winnicott no Brasil, junto com Luís e Prego Silva, do Uruguai,
resume o conjunto de contribuições desse autor em seu livro “O Ser e o Viver”:
Teoria do Desenvolvimento, com um estudo pormenorizado da relação mãe e filho e das influências da
família e do ambiente, postulando a interação de processos inatos de maturação com a presença de um
ambiente facilitador, desde uma fase de dependência absoluta à independência humana.
Teoria dos Impulsos, em que reestuda os papéis da sexualidade (elemento feminino e elemento
masculino) e da agressividade, relacionando-os em seus primórdios ao desenvolvimento motor e
questionando a existência de um instinto de morte. Aqui também é importante a noção de
agressividade sem cólera através da qual o bebê se desliga da mãe em um abandono de catéxis sem
uma intencionalidade em si destrutiva.
Teoria do objeto, que postula a existência de um objeto subjetivo (inicial) e de um objeto objetivo
(posterior), como também de um objeto transicional formulando o conceito de fenômenos transicionais
em psicanálise.
Teoria do espaço, em que formula a existência de um espaço potencial, de uma zona intermediária
entre a realidade interna e a realidade externa, onde se realizam o jogo e o brincar, origem de todas as
atividades sócio-criativo-culturais.
Teoria do Self, da polarização entre um verdadeiro Self, espontâneo e criativo, fonte da alegria e da
saúde mental, em oposição ao falso Self, artificialmente constituído por submissão e excessiva
adaptação ao meio.
Teoria da comunicação, na qual estuda as formas de comunicação e os seus contrários, e o problema da
incomunicabilidade humana e da esquizoidia, e onde afirma que o núcleo verdadeiro Self é um
santuário inviolável que nunca se comunica com o exterior.
Teoria da regressão, na qual estuda o problema da regressão no setting analítico a etapas primitivas de
sobrevivência absoluta, possibilitando descongelar situações iniciais de fracasso ambiental e retomar
com um novo sentido de viver.
Teoria do setting, na qual estuda a reestruturação, significação e função, e seu manejo pelo analista,
incluindo a possibilidade de sua ruptura parcial ou transgressão.
Teoria da contratransferência, na qual afirma que ao lado da contratransferência comum e habitual,
existe outra “verdadeira e objetiva”, representada pelo amor e pelo ódio do analista, que se justifica
uma situação clínica. O autor também estuda o problema das falhas do analista e da possibilidade de
seu uso pelo paciente.
Teria psicossomática, baseada na existência inicial de um psique-soma instintivo-filosófico, do qual se
desenvolve, mais tarde, a mente, com suas complexas funções. A doença psicossomática, caracterizada
por múltiplas cisões, encerraria, contudo, uma tentativa de retorno “aspecto positivo à situação de
integração inicial”.
Teoria da tendência antissocial, consequente de uma deprivação inicial, e representada pelo roubo e
pela destrutividade, condutas de desafio ao meio que contém, paradoxalmente, um sinal de esperança
de que o indivíduo ainda confia que o ambiente possa corrigir aquelas falhas que possibilitaram o
surgimento desta tendência.
Acredito que uma forma, complementar a dos autores acima referidos, de pensar e sistematizar o
pensamento, e a clínica deWinnicott pode ser feita como se segue, enfocando principalmente o
desenvolvimento emocional primitivo.
Em primeiro lugar, o caminho da dependência à independência, com este percurso, possuindo 3 etapas:
(a) dependência absoluta – conceito de narcisismo primário de Freud, e relacionada à mãe ambiente,
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objeto subjetivamente concebido no seu momento de ser, experiência possibilitada por seu elemento
feminino puro, (b) dependência relativa – emergência do campo fusional com a mãe, surgimento da
mãe-objeto/objeto objetivamente percebido, mãe-outro, ou como brincava Winnicott, a m/other
momento do fazer, possibilitado pelo elemento masculino puro, (c) caminhando em direção à
independência, enfatizando que esta nunca é absoluta. O indivíduo sadio nunca se torna isolado, mas se
relaciona ao ambiente de tal modo que se pode dizer que o indivíduo e o ambiente se tornam interdependentes. O conceito de caminhando em direção à independência pode ser melhor compreendido
se utilizarmos uma metáfora: “quando um navegante se orienta por uma estrela, ele sabe que não irá
alcança-la, mas tomará se rumo na direção da estrela”.
Em segundo lugar, o conceito de não integração e integração. Esses conceitos se referem, em princípio,
à saúde, enquanto a desintegração se refere à doença, como reação, por exemplo, a uma experiência
traumática.
Em terceiro lugar, o conceito de personalização. Personalização significa a integração pisque-soma à
constituição de uma “trama psicossomática, ou seja, a psique habitando o soma”. Esse processo é
possível quando a mãe exerce com o bebê a preocupação materna-primária.
Um quarto ponto nos remete à passagem do estágio de pré-preocupação ao estado de preocupação
“concern”.
“Preocupação é um termo utilizado por Winnicott a fim de destacar os aspectos positivos do sentimento
de culpa. O estágio de preocupação constitui-se quando o bebê passa a sentir-se preocupado com a
mãe, que é a quem seu amor implacável havia sido até então dirigido. A capacidade do bebê de sentir
preocupação com sua mãe marca o episódio do desenvolvimento que é a passagem do pré-remorso
para o remorso.”
Os processos referidos se organizam na medida em que exista a preocupação materna primária, ou seja,
a capacidade da mãe “adoecer sadiamente” quando dos cuidados com seu bebê. Esses cuidados são
denominados como as funções de holding (sustentação), handling (manejo), e a apresentação de objeto
(ou seja, a mãe estar disponível para as demandas de seu bebê, quando e como ele necessitar).
Winnicott escreveu sobre as relações precoces entre a mãe e o bebê, mas ele inúmeras vezes tratou,
também da questão do pai.
Esta mãe que desenvolve a preocupação materna primária é denominada mãe suficientemente boa,
mãe devotada comum ou ambiente facilitador.
As modificações que Winnicott propõe ao setting terapêutico dizem respeito a pacientes que sofreram
falhas ambientais nas primeiras etapas do desenvolvimento. Para essas pessoas, André Green comenta
que o “Setting de Winnicott é uma metáfora de cuidados maternos”. Para aqueles que atingiram a
organização edípica ou para os que chegaram ao estado de preocupação ou à posição depressiva.
Winnicott sugere a análise standard, a análise tal como Freud propõe, e que suas modificações de
setting visam possibilitar, se possível, que esses pacientes possam se beneficiar da análise standard.
CONSTITUIÇÃO DO SI MESMO E TRANSICIONALIDADE
Tem aumentado na clientela que nos procura o número de pacientes que se queixam de faltas de
contornos precisos, dificuldade de sentir prazer na vida e nos relacionamentos, etc.
As teorias e práticas mais habituais pareciam não dar conta desses pacientes, que frequentemente
sofrem crises psicóticas durante a análise. Winnicott se ocupou de momentos formativos do indivíduo,
dizendo que a teoria desenvolvida por Freud e por Klein tinha como premissa uma maternagem
suficientemente boa, ou seja, pressupunha uma criança que já havia passado por fases críticas da
constituição do ser. Entretanto, muita coisa importante deve-se passar até que o sujeito forme uma
membrana divisória entre o Eu e o não-Eu, até que o estágio do Eu Sou seja alcançado.
As perturbações desse desenvolvimento produzem a sensação de falta de fronteiras no corpo, ameaças
de despersonalização, angústias impensáveis, ameaças de desintegração e despedaçamento, de cair
para sempre, e falta de coesão psicossomática. O referencial do sujeito, outras vezes, deixa de ser
pessoal e elabora um falso Self defensivo e submisso, cujo referencial é de outra pessoa; ao mesmo
tempo, queixa-se de falta de uma diretriz na vida, de continuidade, sua comunicação é vazia e
monótona. É incapaz de aprender com a experiência da vida, funciona por imitação. Se for inteligente,
usa essa capacidade dissociada de sua existência psicossomática para obter algum sucesso, mas é
sempre acompanhado de vazio e fracasso afetivo.
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- formular um estado de não separação inicial mãe-bebê, na fase de dependência absoluta da criança
em relação aos cuidados maternos. Do ponto de vista de Winnicott, só nos tornamos pessoa em virtude
da relação com outra pessoa, como é o caso da relação mãe-bebê nos primórdios da vida.
Nesse estado de indiferenciação mãe-bebê, as falhas maternas e as reações a elas não despertam
frustrações, mas angústias de aniquilação, angústias inomináveis que ameaçam a continuidade de ser.
- salientou a importância do corpo. Tomando o potencial psicossomático herdado sob os cuidados de
uma mãe suficientemente boa, sua ênfase recai no processo de individuação, que se inicia numa fase de
independência absoluta, que corresponderia ao Narcisismo primário ou estado fusional do bebê com a
mãe. Winnicott afirmou “não existe uma coisa como um bebê... se você me mostrou um bebê, você
certamente mostra alguém cuidando do bebê”. Mais tarde, ele diria que o centro de gravidade do ser
não se inicia com a criança, mas com a mônada mãe-bebê, e que esta é a unidade de estudo dos
primórdios, se quisermos saber como se constitui o ser pelas técnicas da mãe suficientemente boa, de
um holding e um manejo geral manternos. No início, o ser só é possível com outro ser humano. Durante
esta fase, a continuidade do ser é um sentimento que resulta da fusão da mãe suficientemente boa com
o bebê.
Ele postula que nesta fase o Self infantil é não integrado, não há vínculo entre o corpo e a pisque e não
há lugar para a realidade não eu. Com o empréstimo do Ego materno, que nessa fase tem adaptação
quase perfeita às necessidades do bebê, se inicia um processo de elaboração psíquica das funções
corporais, no ritmo próprio do bebê. Nessa fase, não tem sentido falar em pulsões, mas em
necessidades. Essa perfeita adaptação deve-se ao que ele chamou de preocupação materna primária,
que é uma doença saudável da mãe que promove uma “sensibilidade especial” em relação ao seu bebê.
Esse apoio materno funciona como uma concha protetora que, com o desenvolvimento do Ego infantil,
vai sendo gradualmente retirada. O cerne assim protegido inicia o processo de se tornar um ser de
dentro para fora.
- fracasso materno – invasões que provocam reações por parte do bebê – ameaça de romper o sigilo do
silencioso isolamento do núcleo o Self com ameaça de aniquilação; são as agonias impensáveis porque
não existe Ego suficiente na criança para pensa-las.
Invasões intensas e reiteradas levam à sensação de aniquilação do Self e defesas do tipo falso-Self que
encapsulam o núcleo do verdadeiro Self. O indivíduo se desenvolve, agora, a partir da casca defensiva,
com referencial alheio ao seu ser.
A reação promove o enclausuramento do cerne do Self, sensação de aniquilação, e interrompe o goingon-being.
O Self central é o potencial herdado que está experimentado, ao seu próprio modo e velocidade, uma
realidade psíquica e um esquema corporal. A proteção desse experienciar é dada pelos cuidados
maternos que facilitam o going-on-being, e o potencial herdado dará origem ao indivíduo,
determinando o sentido do ser e da existência autêntica. A criança que se desenvolve a partir do seu
centro de gravidade, e não com base nas invasões maternas “como ocorre, por exemplo, no caso da
mãe narcísica e psicótica”, vai se tornar capaz de apercepção criativa do mundo, o que a faz se sentir
real e sentir que a vida vale a pena. A mãe narcísica só consegue se ver, seu bebê deve ser seu
prolongamento ou sua salvação. O crucial para o bebê é: (eu sou visto, logo existo). Esse é o foco
primário da identidade.
A mãe suficientemente boa é a “mãe devotada comum”, é a mulher da realidade, não é projeção de
objeto interno (mãe boa e mãe má, no sentido Kleiniano). É aquela que proporciona à criança ser-o-seio.
Vai ao encontro do gesto espontâneo do bebê, fornecendo a ilusão de onipotência infantil. Se
correspondido, o gesto espontâneo encoraja a criança a desenvolver seu senso de Self (que é o
verdadeiro Self em ação).
As falhas maternas repetidas levam à cumplicidade e submissão onde o gesto da criança é substituído
pelo gesto materno. As falhas, sentidas como invasões, provocam reações que fazem cessar going-onbeing (a elaboração imaginativa das funções, inicialmente somáticas e, posteriormente, psíquicas).
Quando as reações às invasões são eventuais e passageiras, ela será incorporada ao desenvolvimento,
no voltar-se para a realidade. A criança se recobra e retoma o going-on-being.
Nessa fase de dependência absoluta a criança cria o seio e ela deve estar lá onde foi criado. A mãe
mantém a ilusão de onipotência necessária, e a criança-é-o-seio. Mais tarde, de acordo com o
desenvolvimento do Ego infantil, quando este puder lidar com a incompletude, ela irá gradualmente
desiludindo seu bebê.
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No caso de invasões excessivas, o estado de narcisismo primário não pode produzir um indivíduo que se
desenvolve de seu cerne, mas como uma extensão da casca e o meio ambiente invasor – o falso self.
Como nessa fase não existe o não eu, os fracassos ambientais são sentidos como ameaças à existência
pessoal e às angústias. O falso Self não pode fazer o sujeito sair do mundo irreal em que vive e que, por
ter origem na falha ambiental, ele não é do sujeito: é reativo.
Após a fase da dependência absoluta, segue-se à de dependência relativa. Com a desilusão gradual por
parte da mãe, o bebê vai ocupando um espaço separado dela e personalizado. Nesse ponto surgem o Eu
e o não-Eu, e a afirmação Eu Sou em que a criança se reconhece como um ser com interior e exterior, e
começa a ter identidade. Ela vai se alocar em seu corpo com uma membrana limitadora, um interior e
um sentir-se real. Sentir-se real é mais do que existir, é encontrar um caminho próprio de existir e de
relacionar consigo mesma e com os outros e ter um Self para se recolher em relaxamento.
Para Winnicott, tanto homens como mulheres têm elementos masculinos e femininos. O elemento
masculino está ligado ao fazer, e o feminino é o ser. A mãe com seu elemento feminino puro permite ao
seu bebê ser, ou seja, se apossar o objeto subjetivo seio (ou mãe). A criança se torna o seio. A mãe
fornece o holding do ser, permitindo a relação de objeto subjetivo do elemento feminino puro que
estabelece a mais simples das experiências: a experiência de ser.
A mãe suficientemente boa consegue captar as peculiaridades do ser em desenvolvimento e respeitálas. Não se confunde com o bebê, não impõe seu gesto, empresta seu sonhar para que a individualidade
se constitua.
Ainda em gestação, o feto já tem essa íntima singularidade que Winnicott chama de Self Nuclear, cujas
potencialidades vão ou não se efetivar no período de desenvolvimento. Os cuidados do holding
incorporados estarão disponíveis para os vários nascimentos: infância, adolescência, maturidade,
decadência física, velhice e morte. Para Winnicott a morte faz parte do processo de vida.
O processo maturacional pode ser obstado pelas invasões e reações, e formam identificações que levam
ao Self Atuante, uma cópia de alguém, que leva ao ocultamento do verdadeiro Self, que então fica
privado de experiência viva.
Atingido o Eu Sou, é necessário um grande trabalho para atingir o Eu Sou e Você É, que pertence à
elaboração da realidade externa, a passagem do objeto subjetivamente apercebido para o
objetivamente percebido.
Definição do self dada por Winnicott: o self não é o ego, é a pessoa que você é. Possui uma totalidade
baseada na operação do processo maturativo, ao mesmo tempo, tem partes. Tais partes se aglutinam
num sentido interior-exterior do curso do processo maturativo, auxiliado pelo ambiente humano, que
cuida dele e o facilita de forma ativa. Depois de bastante incorporação e introjeção de representações
mentais que se organizam em forma de uma realidade interna viva, o self atinge significativa relação
entre a criança e a soma das identificações. A relação do menino ou menina com sua própria
organização psíquica interna se modifica de acordo as expectativas manifestadas pelos pais e por
aqueles que se tornaram importantes.
A TRANSICIONALIDADE
Apesar do eu-sou ser atingido pelo processo maturacional, as relações entre o eu e o não-eu, entre o
sujeito e o mundo, não tem fronteiras rígidas. Cada ser cria um mundo e é criado por esse mundo num
jogo imaginativo. Winnicott mostrou que entre o eu e o não-eu, o subjetivo e o objetivo, etc., não há
limites estanques.
Desde o momento em que a criança vive a ilusão de onipotência na fase denominada dependência
absoluta ou dupla dependência, a ilusão proporcionada pela mãe dá ao bebê a possibilidade de ser o
seio emprestando seu próprio ser para que o bebê seja.
Mais tarde, quando ela percebe que o seu bebê já pode ser desiludido em sua onipotência, ela vai
retirando os cuidados de acordo com a sua sensibilidade. Daí a denominação “mãe suficientemente
boa”, porque caso ela prossiga mantendo a ilusão, não permitirá que o seu bebê descubra o mundo
exterior. A fase em que a onipotência vai sendo dissolvida é chamada de “relativa”. Nessa fase, a ilusão
não é destruída, pois os objetos do relacionamento do bebê (inicialmente pai e mãe) são
subjetivamente apercebidos. A criança está ingressando no espaço transicional (o potencial) assim
chamado por fazer parte do processo maturacional ligado à transição da dependência absoluta para a
dependência relativa. Nessa etapa, a criança elege um objeto que é chamado objeto transicional
(exemplo: fralda). Esse objeto vai se localizar na zona intermediária na separação entre a mãe e o bebê,
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permitindo que o processo de separação seja tolerado. Mais importante do que simbolizar a mãe, é o
fato de ser a primeira posse, não eu. O objeto transicional é tratado com amor, mas também
agressividade, eles ajudam a tolerar a angústia de separação e a ausência materna.
Dependência absoluta e identificação primária: bebê e objeto são uma só unidade. Através do OT, o
bebê passa a possuir o objeto.
Se houver afastamento da mãe além do tolerável pelo bebê, o objeto perde o sentido. E se tudo vai
bem, com o evoluir do processo de maturação, o OT será esquecido. Isso significa que a criança já está
se adiantando na simbologia cultural e o objeto foi substituído pelo espaço potencial ou transicional.
Outra etapa importante inicia-se após a posse do objeto transicional que é a de passar do objeto
subjetivamente apercebido para o objeto objetivamente percebido. Nessa nova etapa, é o objeto
subjetivo que é destruído na fantasia da criança, porém é destruído pela agressividade da criança em
relação à mãe, que deve sobreviver à destruição (não retaliar, não esquivar). Essa é a fase mais difícil e
aflitiva para o par mãe-bebê. Esse processo dura para toda a vida.
A CRIAÇÃO DA EXTERNALIDADE DO MUNDO
Uma das questões que interessava a Winnicott era saber como o ser humano chegava a criar a
externalidade do mundo. Considerava que somos seres do mundo e é nele que nos realizamos como
pessoas.
Se por um lado há o bebê que nasce com um potencial criativo, buscando um encontro, por outro, há a
mãe devotada comum, com uma disponibilidade total. Quando tudo começa bem, ela pode se
identificar com as necessidades do bebê, e é possível o desenvolvimento de uma área de superposição e
comunicação psíquica entre eles. Ao enfatizar a importância do fator motivacional e o papel da mãe
suficientemente boa, Winnicott inclui o pai, os ancestrais e a cultura em que todos estão inseridos.
É por meio do exercício de determinadas funções psíquicas como o holding que a mãe suficientemente
boa oferece condições favoráveis para o atendimento das condições básicas do ser humano.
- integração: permite o eu-sou e o início da constituição do si-mesmo.
- personalização: permite o desenvolvimento do si mesmo.
- realização: permite o início das relações interpessoais e se refere ao caminho que o ser humano deverá
percorrer até chegar ao reconhecimento de um mundo independente com leis próprias.
- Davis e Walpridge: a fonte da espontaneidade é a liberdade da vida instintiva, e ela depende da
sobrevivência da mãe que não se vinga, juntamente com o pai que venha a representar o ambiente
indestrutível dentro do círculo familiar.
- problemas de aprendizagem: traço característico: inibição intelectual: a teoria da criatividade de
Winnicott vem permitindo compreender como falhas no holding/handling e a função de apresentação
de objetos implicam problemas de atenção, concentração, sentimentos de tédio, irrealidade, etc.
Winnicott relaciona o brincar criativo das crianças com a capacidade de concentração do adulto. O
tema do brincar tem relação direta com o da criação de externalidade do mundo. Para ele, a palavra
criatividade está ligada ao estar vivo, ao colorido de toda atitude com relação à realidade externa; em
contraste ele diz que a submissão é uma base doentia para a vida. Estabelece uma diferenciação entre
criatividade artística e psíquica; esta se refere ao desenvolvimento da capacidade de formar símbolos, e
encontrar formas de expressão por meio das próprias ideias, no diálogo com o mundo de realidade
compartilhada. É o colorido dado pela maneira pessoal de aprender a realidade externa devido ao
processo de percepção criativa que organizará a capacidade de perceber posteriormente a realidade
externa do mundo.
Winnicott funda as bases do seu pensamento no ato de criar, pois o objeto subjetivo e objetivo da
realidade compartilhada são frutos da criação do indivíduo. Winnicott fala que o caminho do
desenvolvimento criativo ocorre no campo da transicionalidade. Ao apontar o caminho a ser percorrido,
o da transicionalidade, que se refere ao longo e completo percurso que o bebê tem que fazer desde o
encontro com o objeto subjetivo até a criação do sentido da externalidade do mundo, salienta o caráter
de acontecimento desse processo ao longo do desenvolvimento. O ser humano necessita constituir a
própria subjetividade, e nesse caminhar, criar a externalidade do mundo de realidade compartilhada
para estabelecer pontes e assim transitar entre ambas. No processo evolutivo a primeira tarefa da mãe
é permitir a ilusão do bebê de que o mundo é uma criação sua, alimentando sua onipotência, e a
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segunda é favorecer a instauração de um processo gradativo de desilusão. Toda e qualquer função
psíquica só se desenvolve na presença do outro.
É a relação de objeto em termos de elemento feminino puro que permite a constituição do ser, e é
também a base para a autodescoberta e para o sentimento de existir, o elemento feminino É, enquanto
masculino, FAZ. À medida que se desenvolve a capacidade perceptiva do bebê, a noção de presença e
ausência vai sendo adquirida, graças ao estabelecimento do espaço potencial, porque a mãe vai e vem
dentro do tempo de tolerância do bebê. Quando isso não acontece, ele vive com os objetos maus que
Melanie Klein descreveu.
MOVIMENTO DE CRIAÇÃO
O espaço potencial é uma possibilidade psíquica que implica a capacidade de tolerar a ausência da mãe
e encontrar algo da realidade pelo uso da capacidade imaginativa. Temos então a entrada no campo dos
fenômenos objetos transicionais. Winnicott salienta a importância do fenômeno da ilusão como
possibilidade de o bebê lidar com o vazio e suportar a ausência. O objeto transicional é, ao mesmo
tempo, eu-outro, dentro-fora, realidade-fantasia. Esse é o movimento de criação e permite a abertura
da relação de objeto que põe em marcha a função da relação de conhecimento. Primeiro movimento no
entre, no espaço interpessoal, cria algo da realidade impulsionando o indivíduo à criação da
externalidade e ao mesmo tempo permitindo a continuidade do ser. No segundo momento, com a
entrada no campo dos fenômenos transicionais, é a relação de objeto em termos do elemento
masculino, apoiado pelo impulso instintivo que impulsionará ainda mais a separação entre eu e não eu.
O brincar tem uma história, uma origem de desenvolvimento que começa nas primeiras relações entre
mãe e bebe, ressaltando inclusive a importância de ser visto e respeitado na própria singularidade.
Brincar é uma atividade sofisticadíssima na criação da externalidade do mundo, e condição para o viver
criativo, no qual se desenvolve o pensar, conhecer e aprender significativos. É brincando que se aprende
a transformar e a usar os objetos do mundo, podemos manipular e colorir fenômenos externos com
significados e sentimento oníricos, dominar a angústia, controlar ideias ou impulsos, e dar escoamento
ao ódio e à agressão. Envolve uma atitude positiva diante da vida.
A MÃE DEVOTADA E SEU BEBÊ
O bebê sozinho não existe, enfatiza a absoluta dependência que tem o bebê dos cuidados maternos.
Sua teoria do desenvolvimento segue dois caminhos, que frequentemente se entrecruzam. Um deles se
refere ao crescimento emocional do bebê e corresponder à jornada do latente, da dependência
absoluta à independência, passando antes pela independência relativa, ou à jornada do princípio do
prazer ao princípio da realidade, e do autoerotismo às relações objetais. Outro caminho se refere ao
cuidado materno, suas características e adaptações às necessidades específicas de cada fase do
desenvolvimento do lactente.
PROCESSOS DE MATURAÇÃO E AMBIENTE DE FACILITAÇÃO
Três aspectos são considerados no início do processo de desenvolvimento emocional:
(1) hereditariedade
(2) o ambiente (cuidado materno), que pode apoiar falhar ou traumatizar.
(3) e no meio, onde está o bebê, vivendo a acumulando experiências.
Ao nascer, o bebê traz consigo suas tendências hereditárias que inclui o processo de maturação, que é
um impulso biológico para a vida e o desenvolvimento. Mas o crescimento físico e emocional depende
do ambiente de facilitação, cuja característica é a adaptação às necessidades.
Inicialmente, a mãe suficientemente boa é o ambiente favorável; ela reconhece a dependência do bebê,
e se adapta às suas necessidades, criando um setting onde o bebê pode viver uma experiência de
onipotência e prosseguir no seu desenvolvimento no sentido da integração. O ambiente, quando
suficientemente bom, possibilita o processo de maturação, isto é, a evolução do ego e seus mecanismos
de defesa, o desenvolvimento do self, a história do ID, das pulsões e de suas vicissitudes. A mãe
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suficientemente boa ama, mas também se permite odiar seu bebê, sendo, entretanto capaz de conter
seu ódio sem se vingar.
-O início da vida psíquica: Começa num momento em que o ego passa a se desenvolver.
DESENVOLVIMENTO EGÓICO E MÃE DEDICADA
Durante o período de dependência absoluta, o progresso continuado dos processos de maturação
possibilita, quanto ao desenvolvimento egóico, três realizações:
(1) integração
(2) personalização
(3) início das relações objetais
Essas realizações são independentes e sobrepostas, e para serem alcançadas dependem dos cuidados
proporcionados pela mãe suficientemente boa, cujas funções são: holding, manejo e apresentação dos
objetos.
INTEGRAÇÃO E HOLDING
Não integração primária do ego do bebê: logo nas primeiras 24 horas de vida esse estado não integrado
se torna uma integração estruturada. A tendência à integração faz parte do potencial herdado do bebê,
podendo se revelar a partir da capacidade de holding da mãe. Por fornecer uma sustentação adequada,
a mãe possibilita que fragmentos da vida motor e sensorial, que fazem parte do bebê, e fundamentam o
narcisismo primário, comecem a se juntar. Nos primeiros estágios do desenvolvimento, a integração
está mais associada a estados afetivos e emocionais denominados estados excitados por Winnicott, tais
como os momentos de amamentação.
Gradualmente a integração se torna um fato estabelecido, e só então que o bebê tem condições de se
aperceber de que aquele que chora, dorme e se alimenta, é o mesmo indivíduo, e que as várias figuras
de mães são na verdade uma só mãe.
Durante os momentos calmos de contato mãe e bebê se constitui uma relação de ego entre os dois,
favorecendo a identificação do bebê com a sua mãe, apesar de que, para o bebê, não existe nada além
dele próprio, pois a mãe é parte dele mesmo.
A função de holding associa-se à confiabilidade e à responsabilidade através de um holding adequado, a
mãe protege o bebê de agressões fisiológicas (ex.: auditiva); protege o bebê de invasões ambientais; de
coincidências e choques capazes de leva-lo a um sentimento de confusão e angústia; possibilita uma
transição gradativa entre o estado calmo e o estado excitado, entre o sono e o estado desperto, etc., e
cria uma rotina específica para aquele bebê.
Assim como o cuidado materno adequado conduz à integração do ego, as falhas do cuidado levam à
desintegração.
PERSONALIZAÇÃO E MANEJO (HANDLING)
Com a integração periódica do ego, aspectos da psique e do soma se envolvem num processo de interrelação denominado personalização.
Ao adquirir a capacidade de habitar o próprio corpo e apreciar suas funções, um desenvolvimento
adicional pode ocorrer; o bebê passa a ter uma membrana limitante (a pele), que se coloca entre o eu e
o não-eu. O bebê tem agora um interior, uma realidade interna, um esquema corporal e um exterior,
torna-se possuidor de um corpo, residência de seu self, com base nas funções corporais de incorporação
(introjeção) e eliminação (projeção), o mundo externo, que é a realidade compartilhada passa a ser
enriquecido pelo potencial interno, enquanto o mundo potencial interno passa a ser enriquecido pelo
contato com o mundo externo.
Para que a inserção psicossomática se estabeleça, o bebê necessita de uma mãe capaz de se envolver
emocionalmente com seu corpo e suas funções, apresentando e reapresentando o corpo e a psique um
ao outro. Essa função constitui o manejo (handling) adequado. É através do cuidado com o corpo e da
satisfação de suas necessidades que a mãe oferece experiências afetivas e físicas ao bebê.
Um manejo adaptativo deficiente, quando não corrigido, provoca no lactente, angústias em razão do
atraso, fracasso ou perda de uma união entre a psique e o corpo. Essas falhas aparecem na clínica
Resumo de Winnicott – Fonte: O Livro de Ouro da Psicanálise
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psiquiátrica como despersonalização. As necessidades de uma adaptação ativa e cuidadosa da mãe não
duram muito tempo, pois rapidamente o bebê se torna capaz de compensar as deficiências de sua mãe
através do surgimento de atividade mental.
Certos tipos de fracasso na maternagem produzem uma hipertrofia da atividade mental; a mente se
desvincula da psique-soma, passando a controlar e organizar os cuidados maternos faltantes. A psique,
atraída pelo funcionamento mental se afasta do soma, e a vida do bebê passa a se construir em torno da
mente; entretanto essa vida é sentida como falsa e real, pois está desligada do funcionamento corporal
(soma), o que dificulta o envolvimento total do bebê com sua realidade interna e realidade
compartilhada.
Caso o ambiente não adaptado persista, maiores e mais intensas serão as reações do bebê; a
hiperatividade da mente não consegue mais compensar as invasões do meio ambiente, ocorrendo
estados confusionais, ou deficiência mental aparente (sem lesão orgânica).
INÍCIO DAS RELAÇÕES AMBIENTAIS E RELAÇÃO DOS OBJETOS
O período de ilusão – a individualidade e a perseguição: ao alcançar a integração por períodos mais
longos e ter sua psique inserida no corpo, o lactente atinge o momento delicado e precário, pois um
novo fenômeno se coloca em evidência exterior. Ao reconhecer a pele como membrana limitante entre
o eu e o não-eu, e se perceber como eu sou um afeto específico com colorido persecutórios inerente à
ideia de repúdio do não-eu é experimentada.
A mãe dedicada, através do holding, cria um estado de isolamento, não permitindo que o não-eu invada
o self do bebê. A mãe dá ao bebê a ilusão que existe uma realidade externa correspondente à sua
capacidade criativa.
A relação de objeto está inteiramente vinculada a apresentação que a mãe faz de cada pedacinho do
mundo para o lactente. Vagarosamente, ela vai aumentando a proporção de realidade compartilhada
que apresenta ao bebê, satisfazendo a crescente capacidade da criança de usufruir do mundo, sempre
tomando cuidado de preservar certa porção de ilusão.
Se a mãe for bem sucedida em capacitar o bebê para usar a ilusão, ele estará preparado para aceitar
com facilidade os momentos de desilusão gradual. O estado de fusão mãe-bebê começa a se desfazer e
a mãe passa a ser percebida como separada de seu self. É um momento de estabelecimento do selfautônomo. O lactente começa a acreditar na realidade externa, pois se dá conta de que o seio bom não
é apenas uma projeção sua, mas algo pertencente ao meio ambiente, externo ao self.
Objetos e fenômenos transicionais:
- a experiência que o bebê adquire, constantemente repetida de que há fim para a frustração.
- um crescente sentido de processo
- os primórdios da atividade mental
- o emprego de satisfações auto eróticas
- recordar, reviver, fantasiar, sonhar, integrando passado, presente e futuro.
- os fenômenos e os objetos transicionais que surgem e possivelmente se espalham por todo o espaço
potencial
-A área intermediária de ilusão e objeto transicional: no estágio da ilusão relacionado temporalmente
com os fenômenos auto eróticos com a sucção do punho e do polegar, algum objeto ou fenômeno surge
e adquire uma grande importância na vida do lactente. O objeto é usado na hora de dormir como defesa
contra a ansiedade.
O objeto transicional inicia o bebê em uma área intermediária de ilusão que vai possibilitar a separação
entre o mundo dos objetos e o self. Winnicott postula a existência de uma terceira área (as outras duas
são a realidade psíquica e a realidade compartilhada), um espaço potencial entre o bebê e a mãe, entre
o objeto subjetivo e o objeto objetivamente percebido que tanto une quanto separa o bebê, e o não eu.
-O self verdadeiro e o falso self: ao proporcionar um holding físico e psicológico, um manejo corporal
adequado, e permitir a experiência de onipotência do bebê, a mãe permite que o self verdadeiro se
revele. O self verdadeiro só se torna uma realidade de vida se a mãe repetidamente satisfizer o gesto
espontâneo.
O ESTÁGIO DA PREOCUPAÇÃO (CONCERN)
Resumo de Winnicott – Fonte: O Livro de Ouro da Psicanálise
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Normalmente a partir do sexto mês, grandes alterações começam a se processar no bebê, que se torna
capaz de compreender que tem um mundo interno e um exterior de onde pode receber coisas
(introjeção), tendo também a capacidade de se livrar (projeção) dos objetos que não mais deseja.
Associada a essa compreensão, o lactente começa a admitir que sua mãe também tem um interior, e
isso começa a preocupa-la. Toda essa evolução leva o bebê a uma aceitação da responsabilidade por
toda a destrutividade que está ligada ao viver, a raiva e a frustração, e a um relacionamento com uma
pessoa total; conquistas da posição depressiva que Winnicott descreve como estágio da preocupação. O
lactente acredita ter duas mães: a mãe objeto e a mãe ambiente com as quais se relaciona de forma
diferente. Nos períodos de tranquilidade, a mãe ambiente adapta-se às necessidades do bebê; o
lactente conhece e introjeta a técnica e outras características maternas, como cheiro e voz; essa é a mãe
afetuosamente amada e introjetada pelo bebê. Por outro lado, durante os momentos de tensão
instintual, a mãe objeto é atacada pelo bebê excitado que se deixa levar pela pulsão à procura de alívio.
Com o desenvolvimento emocional, o bebê descobre que a mãe objeto e a mãe ambiente
correspondem a dois usos diferentes que ele faz a mesma mãe, então as duas mães se unem na mente
do bebê. O amor e ódio passam a coexistir no seu mundo interno tornando-o capaz de experimentar a
ambivalência e o sentimento de culpa. Tornar o sentimento de ambivalência é penoso, pois ele precisa
aceitar que a mãe das fases tranquilas é a mesma que tem sido atacada nas fases excitadas.
Na época em que a capacidade de preocupação está se desenvolvendo (6 meses a 2 anos), qualquer
quebra ou falha no estabelecimento e continuidade do círculo benigno devido à privação ou perda da
mãe pode ocasionar consequências desastrosas para o bebê. A não sobrevivência da mãe-objeto ou o
fracasso da mãe-ambiente em proporcionar uma oportunidade para reparação desfaz o círculo benigno
tornando o sentimento de culpa intolerável.
Pai: Para Winnicott, o pai aparece como uma extensão da figura materna durante a fase da dependência
absoluta.
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