Nanotecnologias em saúde - iceubi2015

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Nanotecnologias em saúde - iceubi2015
FICHA TÉCNICA
DIRETOR
Fernando Barbosa
DIRETORA EXECUTIVA
Carla Santos Silva
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CHEFE DE REDAÇÃO
Carlos Pinto dos Santos
59
CONSELHO DE REDAÇÃO
Abraão Ribeiro
Adelino Besteiro
J.Durão Carvalho
Pascoal Faísca
Santos Cardoso
Victor Pais
REDAÇÃO
Cátia Vilaça
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GRAFISMO
Ana Pereira
em colaboração com Publindústria, Lda
MARKETING E PUBLICIDADE
Vera Oliveira
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DIREÇÃO EDITORIAL
ATEHP
Associação de Técnicos de
Engenharia Hospitalar Portugueses
Rua Dos Ratinhos S/N,Trouxemil
3025 – 258 Coimbra
Tel. e Fax 239 724 733
[email protected]
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O admirável mundo das nanopartículas
4
COLABORARAM NESTE NÚMERO
Ana Cristina Pinheiro, Ana Tavares,
António Augusto Vicente, António Jorge
Ferreira, António Lúcio Baptista, Carla
Mendes, Carla Silva, Ema Leite,
Henriqueta Louro,Iola Duarte, J. Graça
Rocha, Liliana Pereira, Luís Inácio, Maria
João Silva,Miguel Ângelo Cerqueira, Sílvia
Carvalho, Tito Trindade
EDITOR
dossiê
Nanotecnologia na saúde
12
Nanotecnologias e saúde pública
16
Nanomedicina: aplicações e perspetivas futuras
22
Nanotecnologia como ferramenta para produzir novos alimentos
funcionais: vantagens e precauções
26
Nanopartículas inorgânicas: novos materiais em biomedicina
31
Nanotecnologias em saúde
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António Malheiro
PROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃO
entrevista
Vasco Teixeira
REDAÇÃO E EDIÇÃO
Engenho e Média, Lda.
Grupo Publindústria
Tel. 225 899 625 | Fax 225 899 629
www.engenhomedia.pt
editorial
A Nano-Biotecnologia têxtil para utilização em terapêutica auxiliar
no tratamento e de úlceras de pressão
Publindústria
Produção de Comunicação, Lda
Praça da Corujeira, 38 – Apartado 3825
4300-144 PORTO – PORTUGAL
[email protected]
www.publindustria.pt
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projeto ECO.AP
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notícias
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produtos e tecnologias
PUBLICAÇÃO PERIÓDICA
52
eventos
Registo no I.C.S. n.o 121 722
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1645 - 9431
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Os artigos assinados escritos no antigo Acordo
Ortográfico estão-no por vontade expressa dos
seus autores.
editorial
O admirável mundo das nanopartículas
As nanotecnologias aplicadas à área da Saúde constituem o essencial desta edição
da Tecnohospital.
Para além de um diversificado e bem documentado dossiê sobre o tema, coordenado pelo membro do Conselho de Redação, Engº Abraão Ribeiro, publicamos
uma entrevista com o Prof. Vasco Teixeira, Pró- Reitor da Universidade do Minho,
que é o coordenador do Projeto Nanovalor, liderado pela sua Universidade e que
agrega, sob a forma de consórcio, diversas instituições e empresas com atividades
de investigação, desenvolvimento e produção de nanotecnologias, na Eurorregião
Norte de Portugal - Galiza.
Para os leitores menos familiarizados com o tema, recordamos que a nanoescala
se situa entre 1 e 100 nm (1x 10-9 metros). Em algumas partículas desta dimensão
observam-se propriedades únicas e pouco comuns a nível físico, químico e biológico.
Na designação «nanotecnologia» inclui-se a modelagem e manipulação da matéria,
à escala atrás referida.
São muitas as aplicações destas propriedades das nanopartículas, sendo de
destacar a sua utilização em setores de tanta importância para a vida de todos nós,
como a energia, a defesa, as comunicações, purificação de água, criação de novos
materiais, redução da poluição ambiental, e naturalmente, a área da Saúde.
No dossiê que apresentamos nesta edição, refere-se amplamente a utilização
das nanopartículas no diagnóstico e tratamento de patologias, como o cancro ou
doenças infecciosas, no transporte e entrega de fármacos, na obtenção de imagens
por ressonância magnética e imagem bimodal, bem como na biomarcação de células
e biomoléculas, em técnicas de diagnóstico clínico.
A produção e desenvolvimento de nanomateriais nos EUA (quase 50%, do total
mundial) e na União Europeia (cerca de 30 %), tem sofrido um incremento muito
significativo.
Segundo dados publicados em 2011 e relativos ao ano de 2010, em Portugal tinham sido pedidas 14 patentes. Hoje há, em Portugal, um conjunto muito relevante
de Universidades, Centros de Investigação, Laboratórios e Empresas que têm vindo
a aumentar esse número de patentes e criaram, sobretudo à volta da Eurorregião
Norte de Portugal - Galiza, um polo de excelência a nível mundial em Nanotecnologia, «traduzindo-se numa alta taxa de conversão do potencial de I&D em novos
produtos, processos e serviços de alto valor acrescentado».
Na última Edição da Tecnohospital, em entrevista que publicámos com o Dr.
António Lúcio Baptista, um dos promotores desta plataforma que procura ligar a
investigação ao produto inovado, foram apresentadas algumas das aplicações das
nanotecnologias na área da Saúde, como as meias elásticas, o calçado com nanossensores incorporados ou as pistas check-up.
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tecno hospital 59 SET /OUT 2013
editorial
No dossiê desta Edição, o Dr. António Baptista, juntamente
com duas investigadoras, aborda diversos aspetos das nano-
de Engenharia e Gestão da Saúde, única revista portuguesa
que tem conseguido sobreviver nestas áreas de atividade.
tecnologias em Saúde, destacando o projeto que está a ser
A primeira e mais significativa constatação é a satisfação
desenvolvido na Universidade do Minho, pelo FMRG-Fibrous
por ter sido possível manter este projeto editorial, como
Material Research Group, com vista ao desenvolvimento de
um stent multifuncional híbrido à base de materiais fibrosos
parceria da ATEHP – Associação dos Técnicos de Engenharia
Hospitalar Portugueses, com a Engenho e Média, editora de
«capaz de eliminar ou minimizar as desvantagens dos stents
livros e revistas técnicas, sem qualquer hiato ou perda de
metálicos, comercializados atualmente, aumentando a vida útil
qualidade.
dos stents e o bem estar do paciente» a quem foram colocados, em consequência de enfartes do miocárdio.
Passando das 4 edições anuais do início para as 6 atuais,
sempre num percurso ascensional, no que diz respeito ao
Em dois dos textos do dossiê, aborda-se, igualmente, os
conteúdo, ao aspeto gráfico e à diversidade e qualidade das
eventuais efeitos toxicológicos colaterais, quer para os utentes
dos serviços de saúde, quer para os profissionais que os aplicam, dos nanomateriais manufaturados, que não são, ainda,
suficientemente bem conhecidos.
Como escreve o Dr. António Jorge Ferreira, médico do
CHUC-H.U. Coimbra, no final do seu texto, «a área das nanotecnologias, enquanto ciência emergente, ainda se encontra
colaborações que se publicam.
Com os constrangimentos inevitáveis, impostos pela crise
económica que há anos assola o país, e a consequente dificuldade em manter os apoios publicitários, para um publicação
em suporte papel, em tempos de paperless e de novas tecnologias na comunicação.
rodeada de alguma aura de mistério e de ficção científica: o
Mantemos o propósito de inovar e de nos adaptar aos
novos tempos, mantendo intactos os ideais e objetivos que
futuro trará, possivelmente, a consolidação de algumas das
estiveram na génese da criação da Revista - colaborar na in-
certezas atuais, nomeadamente a nível da nanomedicina,
mas adensará também algumas das dúvidas mais prementes
formação e formação dos profissionais, ligados às tecnologias
no que diz respeito à nanotoxicologia, às interações nos sis-
da Engenharia, Arquitetura e Gestão dos serviços de saúde.
O nosso reconhecimento ao grupo do Conselho de Redação
temas humanos e aos fenómenos de exposição ocupacional
que nos acompanha, quase todo, desde o início da Revista, à
e ambiental».
Para reforçar a importância do tema do dossiê desta edição,
Equipa de produção, chefiada pela Diretora Executiva, Eng.ª
ouvimos em entrevista o Professor Vasco Teixeira , coordena-
Carla Silva, bem como às empresas que anunciam nas nossas
páginas.
dor do consórcio Nanovalor, um expert nestas matérias e um
E, naturalmente o nosso profundo agradecimento aos qua-
dos «militantes» mais reconhecidos deste importante setor da
Ciência e Tecnologia. Aconselhamos vivamente a sua leitura.
lificados colaboradores que enriquecem a Revista com os seus
A 1ª edição da Tecnohospital foi publicada em setembro
textos e comentários, bem como aos leitores, sem os quais a
Tecnohospital não faria qualquer sentido.
de 1998. Sendo esta a edição de setembro/outubro de 2013,
gostaríamos de tecer breves considerações que marquem os
outubro 2013
15 anos de publicação ininterrupta da Tecnohospital - Revista
PUB
MOVENSIS
entrevista
Vasco Teixeira
“No futuro, talvez dentro de 10 a 15 anos, podemos imaginar
ter um verdadeiro laboratório clínico num chip”
Entrevista conduzida por Fernando Barbosa e Carlos Pinto dos Santos | Jornalismo por Cátia Vilaça
Vasco Teixeira é pró-reitor para a investigação na Universidade do Minho. É licenciado em Física e Química e tem um
Doutoramento na área de revestimentos multifuncionais. Pertence ao grupo de revestimentos funcionais do Centro de
Física da Universidade de Minho. É o coordenador do projeto Nanovalor, um polo de competências ibérico dedicado à
Nanotecnologia.
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tecno hospital 59 SET/OUT 2013
entrevista
TecnoHospital (TH): Fale-nos do Projeto Nanovalor.
dos procedentes da atividade de I&D em Nanotecnologia na re-
Vasco Teixeira (VT): O Nanovalor é um projeto em desenvolvimento
por um consórcio de parceiros institucionais financiado pelo POC-
gião do Norte de Portugal - Galiza. Parte deste êxito encerra na
sua base um esforço continuado por parte das instituições des-
TEP [Programa de Cooperação Transfronteiriça Portugal/Espanha
tas duas regiões, capazes de desenvolver investigação científica
2007-2013]. O projeto NanoValor pretende ser um motor de alavancagem de uma Euroregião de Excelência em Nanotecnologia
cada vez mais competitiva, eficiente, colaborativa e articulada.
pela dinamização de uma rede de cooperação efetiva entre os
A Universidade do Minho considera a área da nanotecnologia
como estratégica. No domínio da Nanotecnologia decorrem
seus principais atores-chave. Como projeto da Eurorregião norte
atualmente algumas dezenas de projetos de I&D com financia-
de Portugal-Galiza, junta vários parceiros académicos - Universidade do Minho, Universidade do Porto, Universidade de Santiago
mento europeu e nacional e envolvendo parceiros industriais.
de Compostela, INL e centros de interface participados pelas uni-
Englobam áreas onde a Universidade detém competências científicas e tecnológicas em bionanotecnologia, nanomedicina, na-
versidades, como é o caso da TecMinho e FEUGA e associações
noelctrónica e nanomateriais (produção e nanocaracterização).
industriais (AIMEN). Entretanto, centros tecnológicos e empresas
de nanotecnologia, bem como empresas que pretendem utilizar a
Por coincidência ou não, a maior parte dos investigadores que
nanotecnologia para melhorar alguns dos seus produtos, poderão
têm muito sucesso na captação de financiamento europeu e em
quem as empresas depositam interesse para a resolução dos
participar como membros associados.
seus problemas tecnológicos, têm estado no norte. No último
O projeto, cuja duração é de dois anos e meio, tem como principal
missão reforçar os laços institucionais entre os atores-chave da área
Programa Quadro, mais de 50 por cento dos projetos financia-
da nanotecnologia na eurorregião Norte de Portugal-Galiza, e pre-
dos pela Comissão Europeia vieram para a região norte de Portugal (Universidade do Porto e Universidade do Minho). O próxi-
vê-se que, no final, seja criada uma associação sem fins lucrativos.
mo Programa Quadro, que se vai chamar Horizonte 2020, vai ter
um orçamento de cerca de 70 mil milhões de euros. Na área das
TH: A ligação entre o norte de Portugal e a Galiza tem sido fácil?
VT: na minha área, ligada a nanomateriais, tem sido bastante produtiva. Nós já estamos habituados a trabalhar em consórcios eu-
nanotecnologias e fotónica, o valor anterior, que era de 3500 mil
milhões, aumentará para cerca de 6 mil milhões. Por esta aposta de investimento já se antevê que o impacto económico e na
ropeus e, no caso deste projeto ibérico, temos tido muitas ativi-
qualidade de vida dos europeus que a nanotecnologia terá de
dades em congressos internacionais e interação nas redes sociais,
representar vai ser muito grande, caso contrário a Comissão Europeia não afetaria este montante.
e isso faz com que outros polos de outras regiões nos conheçam
e contactem para perceber o funcionamento deste polo regional.
Houve, em julho deste ano, uma conferência em Dublin que juntou
TH: Que aplicações existem no campo da nanotecnologia?
vários projetos financiados pela Comissão Europeia (por convite) e
VT: A nanotecnologia é muito ampla e pode ser utilizada em
Portugal esteve representado pelo Nanovalor.
Como se caracterizam os recursos humanos da Nanovalor?
diversas áreas. Temos nanomateriais em produtos do dia-a-dia e
O projeto Nanovalor é financiado em 1,4
milhões de euros, distribuídos pelos vários
parceiros que constituem o consórcio. Parte
deste financiamento destina-se a contratar
recursos humanos altamente especializados.
Nós contratámos dois gestores de projeto
que são pagos pelo projeto. Depois há recursos humanos das instituições – temos contributos da Escola de Ciências, da Escola de
Engenharia, da Escola de Ciências da Saúde,
nem nos apercebemos. Muito embora o impacto da nanotecno-
[Na] “libertação controlada de fármacos, o volume
de negócios à escala mundial é da ordem dos 180 mil
milhões de dólares. Se as nossas empresas ligadas
aos equipamentos médicos e produtos farmacêuticos
pudessem estar neste mercado, podíamos ter aqui
um contributo bastante grande para o PIB nacional“
do Instituto de Ciências Sociais e da Escola de Economia e Gestão.
Todos estes recursos humanos têm algum tipo de relação com a
Galiza para a área de nanotecnologia.
logia ainda não seja totalmente mensurável, os produtos que a
TH: Por que surgiu este interesse pela nanotecnologia na re-
há praticamente 10 anos que vão fazendo parte de muitos dos
gião de Braga e no norte da Galiza?
nossos produtos. O exemplo mais evidente será a evolução dos
VT: Tem-se observado nos últimos anos um importante desen-
telemóveis, dos monitores que temos em casa ou dos computadores portáteis, uma vez que os nanomateriais utilizados na
volvimento relativo à transferência de conhecimento de resulta-
incorporam representam atualmente um enorme mercado que
não pode ser ignorado. Os nanomateriais e a nanotecnologia já
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entrevista
pele ou chegam ás células mais rapidamente; se forem funcionalizados podem
ir diretamente para a célula doente.
No futuro, o tratamento do cancro e de
doenças neuronais pode ser mais efetivo com a ajuda da nanotecnologia. Já
há muitos estudos e muitos grupos de
investigação – alguns cá, na Universidade
do Minho – que funcionalizam nanopartículas, de modo a que elas, através da
corrente sanguínea, só irão localizar-se
em células doentes, o que permite diminuir a dose química. Todos estes projetos
contribuem para uma nova área: a nanomedicina.
TH: Essas possibilidades já estão a ser
aplicadas?
VT: Estão a ser estudadas em laboratórios. A própria imagiologia médica tem
avançado muito e cada vez vai evoluir
forma de películas finas permitiram au-
sença de uma bactéria, como a E. coli, e
mais porque vai utilizar nanopartículas
mentar a capacidade de resolução do ecrã
se for possível imprimir aquelas nanopar-
ou obter ecrãs táteis. Os chips para as me-
tículas numa pequena folha de papel, à
mórias e os microprocessadores são outro
semelhança do que acontece com os me-
exemplo – são dispositivos que antes eram
didores de pH e sensores clínicos, então a
muito grandes e agora estão cada vez mais
pequenos. A própria evolução do armaze-
área do diagnóstico quer para aplicações
em Medicina quer em qualidade e segu-
namento das memórias e o aparecimento
rança alimentar vai beneficiar muito.
das memórias RAM e dos USB deve-se à
Atualmente,
e sistemas nanoestruturados, como os
pontos quânticos, que não são mais do
que cristais semicondutores, com capacidade de emitir luz quando irradiados com
radiação UV, ou chips com nanomateriais
que possibilitam a radiografia digital de
elevada resolução utilizando doses de radiação mais baixas.
microeletrónica, que se agora se aproxima
cada vez mais do interface com a nanoele-
doenças temos de fazer análises e exames complementares muito caros, que
trónica. Outro exemplo são as impressoras
exigem ir a várias clínicas e por vezes até
TH: E não haverá aspetos toxicológicos
perigosos para os utentes e para os pro-
a jato de tinta. Um tinteiro dispõe de um
utilizar radiação. No futuro, talvez dentro
fissionais que utilizam esses meios de
sistema de microtecnologia muito avançado com micro furos e filmes finos como
de 10 a 15 anos, podemos imaginar ter
um verdadeiro laboratório clínico num
diagnóstico ou terapias?
resistências elétricas para aquecer a tinta e
chip, chamado lab-on-a-chip (já existe
injetá-la através de microgotas ou até na-
no mercado mas ainda é muito limitado
nogotas, compostas por uma dezena de
nanogramas.
no número de análises). No próprio consultório médico, com uma pequena gota
do comparados com a radiação, mas a
questão que levanta tem a ver com a
indústria em geral. A utilização de nanopartículas levanta outros dois problemas:
A tecnologia digital já adaptou os tinteiros
de sangue ou de saliva, será possível des-
para poderem imprimir diretamente nano-
pistar entre 10 a 100 doenças em poucos
um é o facto de elas se poderem libertar,
serem inaladas e irem para o sistema
partículas e tintas especiais – condutoras e
segundos por um custo irrisório. Já vão
sanguíneo ou, mesmo sendo inorgânicas,
coloridas – porque a resolução é tão gran-
existindo empresas a nível mundial, algu-
entupirem os bronquíolos ou entrarem
de que podemos pensar em produzir, com
mas até cotadas em bolsas tecnológicas,
tintas especiais, biossensores de baixo
como é o caso do NASDAQ, com siste-
na corrente sanguínea e afetarem algum
órgão. Por isso, existem grupos de in-
custo para utilizar e deitar fora. Se houver
mas já patenteados para detetar 10 doen-
vestigação que estudam processos para
uma nanopartícula com capacidade sensorial para detetar, em poucos segundos,
ças num chip.
As nanocápsulas e nanopartículas - os
entender a interação das nanopartículas
pela mudança de cor, por exemplo, a pre-
chamados nanofármacos - penetram na
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tecno hospital 59 SET/OUT 2013
se
quisermos
despistar
VT: Os riscos poderão ser menores quan-
com as células, para ver até que ponto
uma nanopartícula que se libertou para
entrevista
o ambiente ou para a água e poderá ser
TH: A nível do nosso país, qual é o estádio
perigosa para a saúde humana.
de desenvolvimento da nanotecnologia?
Temos patentes registadas nos EUA e em
muitos outros países assim como proje-
Quando as nanopartículas forem usadas,
Será que também teremos empresas e
tos inovadores que são únicos na Europa.
significa que passaram os testes, tal como
centros de investigação suficientemente
fortes para competir a esse nível?
Considero que Portugal está muito bem
muita investigação e estão para ser pu-
em todo o país na área da nanotecnologia.
blicadas muitas diretivas para limitar, tam-
No norte eu destaquei uma medida quan-
posicionado no I&D em nanotecnologia.
Claro que o nosso mercado industrial é
muito menor do que a nível mundial ou
europeu. A maior parte das grandes em-
bém, o uso de nanopartículas em certos
setores.
titativa, que foi o bom desempenho que
estes grupos tiveram a captar financia-
presas não vão estar em Portugal, até pela
dimensão do país. Só na área dos produ-
Por exemplo, na área dos alimentos ain-
mento europeu. A nível nacional, há mui-
tos farmacêuticos, em que se utilizam con-
da não há muita legislação que proíba a
tos grupos de investigação de excelência
ceitos da nanotecnologia, como é o caso
utilização de aditivos que sejam de nanopartículas em alimentos. Não havendo
e há empresas de nanotecnologia, bem
como empresas tradicionais, que recor-
da libertação controlada de fármacos, o
volume de negócios à escala mundial é da
legislação, se amanhã alguém, sem fazer
rem à nanotecnologia. Eu diria que a nível
ordem dos 180 mil milhões de dólares. Se
estudos, utilizar certos nanomateriais nos
de investigação nas universidades, pode-
as nossas empresas ligadas aos equipa-
alimentos para que estes durem mais tempo, se evite o crescimento de fungos ou
mos equiparar-nos aos melhores grupos
a nível mundial, hoje em dia. Vê-se isso
mentos médicos e produtos farmacêuticos
pudessem estar neste mercado, podía-
até para conferir sabores especiais, com
pelos próprios projetos europeus, a que
mos ter aqui um contributo bastante gran-
nanopartículas comestíveis que não te-
todos os grupos da Europa concorrem
de para o PIB nacional. Na área da saúde
nham sido testadas, podemos ter um problema muito grave na área da saúde pública. Daí a importância que existam grupos
a estudar os aspetos de nanotoxicologia.
para receberem financiamento. Alguns
grupos portugueses encontram-se nesses
consórcios ganhadores. Eu diria que, mesmo com as condições que nós temos de
e da medicina, em que a aplicação direta
no corpo humano não é muito extensa, o
Quando as nanopartículas são aplicadas
em componentes e estão bem fixadas (te-
subfinanciamento para as universidades,
em ciência também conta muito o grau de
áreas de materiais e eletrónica, estamos a
falar de 300 a 350 mil milhões de dólares.
mos por exemplo embalagens de plástico
inovação e as ideias que temos. A própria
A nível de empresas, a InnovNano, de
com aditivos de nanopartículas) não nos
colaboração internacional contribui tam-
Coimbra, é uma referência ao nível das
fazem mal. Não há nenhuma partícula ou
nanomaterial que se vá libertar.
bém para que os nossos grupos estejam
empresas mundiais com capacidade de
produção industrial, ou seja, várias tone-
passam, hoje, os medicamentos. Estamos
a falar ainda de futuro. Atualmente, há
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VT: Portugal tem grupos de investigação
ao nível dos melhores que há no mundo.
volume de negócios é muito menor - cerca
de 30 mil milhões de dólares. Já para as
entrevista
ladas de nanopartículas são lá produzidas
diariamente. Na região de Braga há já algumas microempresas com parceria com a
Universidade do Minho que tem capacidade de produzir nanocápsulas e que fazem
a funcionalização de nanopartículas. A
Smart Innovation e a Success Gadget têm
capacidade de produzir nanopartículas
para utilização em repelentes de insetos
para evitar a malária ou outras nanopartículas para tratamento dermatológico . Outra empresa, a Nanocor, uma spin-off de
um investigador do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho,
baseada num projeto e numa patente registada por esse investigador, consegue
conferir cor a nanopartículas de óxido de
silício. Aquelas nanopartículas coloridas
podem substituir os corantes da indústria
têxtil de tingimento, que são muito poluentes e gastam muita água. Com essa
tecnologia utiliza-se apenas 10 por cento
da água e consegue dar uma coloração
permanente à fibra têxtil. Temos também
outra spin-off na área da nanomedicina,
que resultou de uma colaboração entre
investigadores dos Departamentos de
Física e de Biologia da Universidade do
Minho. Trata-se da NanoDelivery que utiliza nanomateriais biodegradáveis para encapsular princípios ativos para tratamento
Sensor multicamada baseado em filmes finos de óxidos transparentes e condutores (TCOs) para detecção
de microorganismos patogénicos (p.ex. E. Coli)
Resultados do projecto NanoMediag: “NanoMeDiag-Nanobioanalytical platforms for improved medical
diagnosis of infections caused by pathogen microorganisms”. Portugal-Spain International Nanotechnology Laboratory Nanotechnology Projects Call Leading Institution - Portugal: Prof. Dr. Vasco Teixeira; Leading Institution - Spain: Prof. Dr. Josep Samitier Martí
da leucemia. O mesmo sistema pode tam-
salas limpas e efetuar grandes investimen-
um protótipo. Depois temos o outro meio
bém ser usado em cosmética. Já regista-
tos. Isto é verdade para algumas indús-
de uso da nanotecnologia, que até pode-
ram uma patente internacional e têm em
curso um projeto industrial com uma em-
trias, como é o caso da microtecnologias.
mos designar nanotecnologia “low-cost”
Ao construir um chip para microeletrónica,
presa farmacêutica portuguesa.
se uma daquelas poeiras cai no chip, é o
comparado com os microcomponentes, e
e ecológica. Não são necessários equipamentos que custam várias dezenas de
milhões de euros e não fazem falta salas
ultra-limpas para manipulação das nano-
utilizar a nanotecnologia? É possível pô-la
vai bloquear o circuito elétrico. No caso de
produção de nanocristais, em que o grau
partículas. Nós podemos ter equipamentos de custo standard, por exemplo para
em prática em ambiente normal ou é pre-
de pureza tem de ser muito elevado, se
preparar novos compósitos poliméricos,
ciso ambiente limpo?
VT: Devemos distinguir dois tipos de fabrico de nanomateriais: um onde é neces-
houvesse impurezas no ar as proprieda-
em que a própria matéria-prima já pode
des eletrónicas e magnéticas do material
seriam alteradas. O INL dispõe dessas sa-
vir preparada com as nanopartículas ou o s
nanotubos de carbono.
sário grandes investimentos necessitando
las limpas e esses equipamentos de mani-
de salas limpas e outro onde o investi-
pulação à nanoescala, e pode estabelecer
TH: É uma revolução tecnológica que
mento é bem mais moderado e que está
ao alcance da maioria das empresas. Há
parcerias com empresas para fazer pe-
pode levar a uma indústria completamen-
empresas que acham que a nanotecnolo-
quenas séries e desenvolver projetos de
investigação sem que a empresa tenha de
te diferenciada, portanto…
VT: Sem dúvida. Os implantes que exis-
gia não é para elas porque é necessário ter
investir nesses equipamentos só para fazer
tem atualmente já não são apenas de
equivalente a um grão de areia quando
TH: As nossas empresas tradicionais necessitam de um grande investimento para
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entrevista
ligas de titânio, já têm revestimentos
polida, para que as areias projetadas não
nanoestruturados com rugosidade e
muita porosidade para que as células
risquem o policarbonato. Há também os
nanocatalisadores, que evitam a excessiva
consigam crescer de um modo natural e
emissão de monóxido de carbono e NOx.
dem até sobrepor-se à ideia que os seus
aquele implante não seja visto como um
No interior do automóvel, os tecidos têm
corpo estranho, evitando-se assim possíveis infeções e rejeição. Os potenciais
tratamentos plasma, com nanopartículas
que vão eliminar os odores, como o do
técnicos estão a desenvolver. Podem recorrer a nossa plataforma para fazermos
resultados tecnológicos da bionanotec-
fumo do tabaco.
nologia e nanomedicina que contribuirão
uma doença. Essa empresa não vai investir sem primeiro estudar o que existe a
nível mundial a nível de patentes, que po-
esse estudo de mercado. Podem também
procurar parcerias com grupos de I&D
técnicas de deteção (p.ex. lab-on-a-chip)
zembro. Como está garantida a continuidade?
adequados ao projeto que pretendem
desenvolver já que no Nanovalor também
se identificou e se procedeu ao mapeamento ibérico das competências cientí-
bem como recuperação biológica de ór-
VT: Nós temos vindo a preparar um plano
ficas e tecnológicas em nanotecnologia.
gãos e tecidos. Na indústria médica, as
áreas que se encontram mais avançadas
no uso de nanomateriais são a dos implantes com revestimentos e a dos bio-
estratégico do futuro polo de competi-
ssensores e lab-on-chip. A dos órgãos
sidades. Haverá, obviamente, uma peque-
artificiais e dos nanofármacos ainda está
numa fase inicial de desenvolvimento.
na quota anual para justificar pequenos
para a melhoria da saúde humana incorporam novos biomateriais, dispositivos e
TH: O projeto Nanovalor termina em de-
tividade do cluster de nanotecnologia,
sendo que entrarão na sua constituição
empresas, centros tecnológicos e univer-
TH: O que se pode esperar do INL?
VT: O INL já está em pleno funcionamento, com vários projetos em curso, embora ainda não tenha chegado à fase de ter
o número total de investigadores previs-
gastos correntes mas o polo terá de sobreviver através dos projetos – até 2020
tos no plano. Tem várias áreas estratégi-
TH: Na área da saúde há, portanto, mais
investigação do que aplicações práticas…
vamos ter de nos candidatar a muitos
VT: Há mais investigação do que aplicações comerciais, o que tem a ver com o
projetos europeus (próximo programa
INL aposta em projetos muito aplicados
direcionados para a nanomedicina, por
cas, sendo uma delas a nanomedicina. O
quadro Horizonte 2020) e nacionais como
o Portugal 2020, que será o novo QREN,
e vamos ter, também, um serviço de consultadoria para as empresas associadas
exemplo na área de diagnóstico médi-
e não associadas, com custos diferentes,
para tentar identificar a melhor solução
e agentes patogénicos, quer nos trata-
Já na indústria tradicional, metalomecânica, dos polímeros e automóvel por exem-
para um determinado produto que uma
plo, há cerca de 10-15 anos que existem
uma série de componentes, utilizados comercialmente, baseados em nanomateriais. Hoje em dia, um carro já tem muitos
componentes de nanoeletrónica. Há nanopartículas nas tintas e vernizes para evitar o risco devido às sucessivas lavagens,
os faróis já são de plástico com incorpora-
empresa tradicional pretenda implemen-
cidos. A Universidade do Minho já tem
desde 2010 um protocolo de colaboração com o INL. O protocolo tem como
finalidade o estabelecimento de ações
ção de nanomateriais e de revestimentos
para manter sempre a superfície limpa e
facto de os novos conceitos que têm vindo a ser desenvolvidos demorarem anos
a serem validados e poder entrar no mercado.
tar. O observatório de vigilância de nanotecnologia que implementamos (e que
será um serviço de inteligência competitiva) e a pesquisa internacional de paten-
co, ou seja, sistemas sensoriais de alta
resolução e, sempre que possível, baixo
custo, para deteção rápida de doenças
mentos médicos e regeneração de te-
de colaboração científica e tecnológica
nas áreas relevantes da Nanotecnolo-
tes são serviços que podem ser pagos se
forem muito específicos. Com a assinatura
gia, no âmbito das atividades de I&DT
de protocolos de confidencialidade, uma
mentos integrantes de uma estratégia
empresa pode apostar num novo mate-
global do desenvolvimento científico e
tecnológico.
rial, como um novo chip para deteção de
desenvolvidas pelo INL e UM, como ele-
Vasco Teixeira é pró-reitor para a investigação na Universidade do Minho. É licenciado em Física e Química e tem
um Doutoramento na área de revestimentos multifuncionais. Pertence ao grupo de revestimentos funcionais do
Centro de Física da Universidade de Minho. É o coordenador do projeto Nanovalor, um polo de competências
ibérico dedicado à Nanotecnologia.
10
tecno hospital 59 SET/OUT 2013
dossiê
Nanotecnologias e saúde pública
Henriqueta Louro, Ana Tavares, Ema Leite, Maria João Silva
Os nanomateriais manufaturados (NMs), isto é, fabricados de-
atendendo aos dados de 2010. Relativamente a aplicações da
liberadamente para fins específicos, apresentam propriedades
nanotecnologia para a terapêutica e diagnóstico do cancro, em
físico-químicas únicas (e.g., dimensão, área superficial, funciona-
Portugal foram efetuados, pelo menos, cinco pedidos de pa-
lização) que lhes conferem características mecânicas, óticas, elétricas e magnéticas muito vantajosas para aplicações industriais
tente envolvendo essencialmente nanomateriais lipídicos para
vetorização de fármacos7.
e biomédicas1. Efetivamente, depositam-se grandes expectativas nas tecnologias baseadas nestes NMs, as nanotecnologias,
como impulsionadoras do crescimento económico dos países
industrializados, devido ao seu potencial para melhorar a qualidade e desempenho de muitos tipos de produtos e de processos (Figura 1). Também na área da medicina, os NMs possuem
propriedades promissoras para aplicação em terapêuticas inovadoras, designadamente como plataformas de transporte de
fármacos e em métodos de imagiologia2. Contudo, o desenvolvimento das nanotecnologias contrasta com a insuficiente avaliação de risco para a saúde humana e para o ambiente, sendo
consideradas como um risco emergente para a saúde pública3.
A PRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DE NANOMATERIAIS NA EUROPA E EM PORTUGAL
Figura 1 - Exposição humana e ambiental às nanotecnologias no contexto do ciclo
de vida dos nanomateriais manufaturados.
Tem-se assistido a um incremento significativo no desenvolvimento, produção e utilização de NMs a nível mundial, como se
constata na base de dados da Woodrow Wilson “Nanotechnology Consumer Products Inventory”, onde são identificados 1317
produtos contendo NMs, produzidos por 587 empresas em 30
países (Figura 2).
A maioria da produção e utilização de NMs, especialmente por
grandes multinacionais, tem ocorrido nos Estados Unidos da
América (49%) sendo a União Europeia (UE) responsável por 30%
do mercado produtor5. A atividade de patenteamento na área da
bionanotecnologia em 2003 era liderada por empresas americanas, com 70% de patenteamento6. Cinco anos depois, a atividade
Figura 2 - Evolução do número total de produtos de consumo humano contendo
de patenteamento teve um aumento de 160% com 7399 patentes
nanomateriais existentes na base de dados, incluindo informação até março de 2011
registadas. Em Portugal, foram pedidas apenas 14 patentes 6,
(Fonte: http://www.nanotechproject.org/inventories/consumer/).
12
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
Nanotecnologia
na Saúde
Assim, a investigação em Portugal acompanha a tendência in-
dutos de cosmética e higiene pessoal contendo NM na sua com-
ternacional da aposta nas nanotecnologias para o diagnóstico e
posição. No entanto, a capacidade dos NMs penetrarem (ou
terapia do cancro.
não) na pele permanece ainda por esclarecer, sendo dependen-
Neste contexto, reconhece-se que o crescente desenvolvimento,
produção e utilização de NMs manufaturados tem conduzido a
te de múltiplas variáveis inerentes ao NM em si e às condições
de exposição da pele 14. Ainda assim, num documento recente, o
Scientific Committee on Consumer Safety (SCCS, UE) considera
um aumento real da exposição humana, especialmente no con-
que a absorção dérmica/percutânea dos NMs contidos nos pro-
texto ocupacional. No entanto, a informação sobre os níveis de
NMs a que a população humana pode estar sujeita ainda é es-
tetores solares é desprezável na pele intacta, sendo improvável
que os NMs atinjam as células viáveis da epiderme 15.
cassa.
Também a nanomedicina, enquanto aplicação de intervenções
EXPOSIÇÃO HUMANA A NANOMATERIAIS
MANUFATURADOS
médicas à escala molecular para curar doenças ou reparar tecidos danificados 4, poderá conduzir à exposição dos doentes por
administração sistémica e dos trabalhadores que realizam as
intervenções. Embora atualmente exista disponível apenas um
A exposição humana a NMs pode ocorrer durante as várias fases
número limitado de aplicações de NMs em medicina, existem
do ciclo de vida dos NMs (Figura 1) desde a sua síntese, produção
muitas aplicações em fase final de aprovação pelas agências re-
e inclusão nos produtos (exposição ocupacional), até à utilização
desses mesmos produtos (exposição do consumidor). A elimina-
gulatórias 21. Assim, à medida que as nanotecnologias se expandem, o risco de exposição dos trabalhadores da área da saúde
ção dos NMs e consequente acumulação no ambiente poderá
também aumenta. Porém, existe muito pouca informação sobre
constituir ainda uma fonte de exposição humana (exposição am-
estimativas de exposição nos locais de trabalho ou no ambiente.
biental).
A via inalatória constitui a via de exposição humana a NMs mais
O esforço para delinear uma estratégia de saúde ocupacional relativamente aos NMs pode ser ilustrado pelo projeto conjunto entre
relevante. A reduzida dimensão dos NMs conduz a uma maior de-
a indústria do mobiliário e a investigação científica conduzida pelo
posição destes nas vias respiratórias (revisto em 8 ), podendo ser
instituto holandês “IVAM Research and consultancy on Sustaina-
responsável por efeitos nocivos ao nível local9, e até sistémicos, ao
penetrar por esta via noutros órgãos e tecidos. Efetivamente, num
bility”, em que foi coligida informação relativa à utilização de NMs
no setor, perspetivas de aplicações tecnológicas, exposição ocu-
estudo em ratos verificou-se que, após a eliminação dos NMs dos
pacional e possíveis efeitos na saúde, bem como orientações para
pulmões, parte dos NMs podiam ser detetados nos nódulos linfá-
uma estratégia de proteção da saúde dos trabalhadores, funda-
ticos10. Vários estudos sugerem também a translocação epitelial,
intersticial e neuronal dos NMs insolúveis inalados para outros
mentada no princípio da precaução. No entanto, não são conhecidas medidas semelhantes para a proteção em contexto hospitalar
compartimentos do corpo8 incluindo o cérebro 11. No caso de
e é fundamental que sejam direcionados recursos para esse fim.
NMs de sílica amorfa sintética coberta com polímeros (mas não
no caso da maioria dos NMs estudados) verificou-se a acumulação no baço, demonstrando a sua biodisponibilidade sistémica 10.
NANOTECNOLOGIAS- EFEITOS BIOLÓGICOS
E IMPACTO NA SAÚDE HUMANA
Em relação à exposição por via oral, esta pode ocorrer através
da ingestão de NMs incorporados em alimentos, suplementos
As propriedades dos materiais, em geral, dependem da sua com-
alimentares ou mesmo em embalagens alimentares, bem como
os originários de solos ou águas contaminadas. Existem evidên-
posição físico-química e do meio ambiente na interface (estado
físico, temperatura, pressão). No caso dos NMs, as suas proprie-
cias de que os NMs ingeridos poderão ser absorvidos através do
dades distintas e atrativas devem-se, fundamentalmente, à redu-
intestino de mamíferos 12 originando efeitos sistémicos. Wang et
zida dimensão das partículas e a modificações ao nível da estru-
al. descreveram a acumulação de NMs de dióxido de titânio so-
tura que conduzem a um aumento da área superficial em relação
ao volume, resultando um aumento do número de moléculas/
bretudo no fígado, baço, rins e pulmões de ratinhos após exposição oral, indicando que estes NMs podem ser transportados para
átomos na superfície. Por outro lado, o comportamento dinâmi-
outros tecidos e órgãos após absorção no trato gastrointestinal 13.
co dos nanomateriais, ou seja, a sua capacidade de formação de
A via transdérmica poderá também ser importante 12, quer em
agregados ou aglomerados, determina a dimensão real das partículas que vão interagir com os sistemas biológicos 4, podendo
termos ocupacionais, quer quando se trata da utilização de pro-
condicionar também a sua toxicidade. De fato, propriedades dos
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tecno hospital 59
13
dossiê
NMs tais como hidrofobicidade, funcionalização, carga, estado
de dispersão e adsorção de proteínas na sua superfície são determinantes para a sua aptidão em serem absorvidos, metabolizados
e eliminados ou acumulados no organismo16. Estas propriedades
podem, no entanto, ser modificadas de um modo dinâmico quando em condições biológicas ou ambientais distintas. Por este motivo, mesmo quando o perfil toxicológico dos constituintes de um
NM é conhecido, podem existir casos em que os seus efeitos na
saúde e no ambiente sejam distintos relativamente aos dos mesmos constituintes na forma não nanométrica, existindo muitas incertezas sobre os seus potenciais efeitos lesivos. Nesse âmbito, a
nanotoxicologia4 poderá dar um contributo inestimável no que se
Figura 3 - (A) Resultados obtidos no ensaio de genotoxicidade (teste do micronúcleo)
refere aos efeitos adversos dos NMs, e assim contribuir para uma
em três tipos de células distintas expostas a um nanotubo de carbono de parede múl-
base de conhecimento científico que assegure a sua utilização segura e a minimização dos riscos para a saúde pública.
tipla: linfócitos humanos primários, células do epitélio respiratório (BEAS-2B) e células de adenocarcinoma humano (A549). * Significativamente superior ao controlo,
em linfócitos humanos. (B) Microfotografia de células A549 expostas a um nanotubo
Uma das principais preocupações relativamente aos efeitos ad-
de carbono de parede múltipla, onde são visíveis duas células binucleadas (devido à
versos dos NMs na saúde humana é o seu potencial efeito car-
inibição da citocinese induzida experimentalmente) exibindo um micronúcleo e al-
cinogénico, sugerido por alguns estudos in vitro e em animais
experimentais, mas que até à data não foi inequivocamente com-
guns aglomerados de NMs. O micronúcleo contém fragmentos de cromossomas ou
provada em humanos17. Foram descritos mecanismos de genoto-
os cromossomas.
mesmo cromossomas inteiros e refletem a ação nociva do agente em estudo sobre
xicidade18, consistindo numa interação primária direta ou indireta
dos NMs sobre o genoma ou ainda uma ação secundária, via resposta inflamatória e produção de radicais livres de oxigénio18, 19.
A análise dos resultados globais do projeto demonstrou que é
Contudo, ainda persistem muitas incertezas que justificam uma
ção de genotoxicidade in vitro preconizadas pelas orientações
intensificação dos estudos sobre os potenciais efeitos adversos
internacionais. No entanto, no caso particular dos NMs, o valor
preditivo destes testes para a situação in vivo e para a carcinoge-
destes materiais com vista a uma correta avaliação de risco.
possível utilizar, para os NMs, as metodologias atuais de avalia-
nicidade humana ainda não está completamente validado, sendo
Procurando responder a algumas destas necessidades de co-
necessário prosseguir a investigação.
nhecimento, terminou recentemente a Ação Concertada Europeia “NANOGENOTOX- Safety Evaluation of Manufactured
Nanomaterials by Characterisation of their Potential Genotoxic
Hazard”, na qual o INSA participou. No decurso deste projeto,
CONCLUSÕES
cujo relatório executivo se encontra disponível em http://www.
O incremento significativo no desenvolvimento de nanomate-
nanogenotox.eu/, verificou-se que a colaboração multidisciplinar
riais manufaturados a nível mundial surge como um fator-chave
de inovação em termos de aplicações e produtos, especialmente
é fundamental para garantir uma adequada caracterização físico-química dos NMs e seus efeitos biológicos. De entre os NMs es-
promissor na área da medicina. No entanto, embora vários estu-
tudados (nanotubos de carbono de parede múltipla, sílica amorfa
dos in vitro e in vivo indiciem alguns efeitos biológicos adversos
sintética, dióxido de titânio) observaram-se alguns efeitos positi-
dos NMs com potencial impacto na saúde humana, a informação
sobre os níveis de NMs a que a população humana se encontra
vos relativamente à genotoxicidade em células humanas in vitro.
No entanto, esses efeitos genotóxicos, por exemplo, o número
exposta em contexto ocupacional ou ambiental é escassa. Por
de quebras nos cromossomas, observaram-se a níveis reduzidos,
este motivo, as necessidades “societais” previstas para o futuro
ainda que superiores aos controlos negativos, e a sua reprodutibi-
dos nanomateriais manufaturados relacionam-se, por um lado,
com o desenvolvimento de novas aplicações e, por outro lado,
lidade era dependente do sistema experimental utilizado (Figura
3). Por outro lado, foram verificadas diferentes respostas na genotoxicidade induzida por um conjunto de NMs da mesma classe
com o desenvolvimento de um paradigma de nanotoxicologia
em cada linha celular, refletindo a influência de pequenas varia-
durante todo o seu ciclo de vida22 (Figura 4) garantindo a sua uti-
ções nas propriedades físico-químicas destes, aspeto que deve
lização segura. Para isso, preconiza-se a realização de uma ava-
ser considerado ao efetuarem-se generalizações em contexto de
análise de risco20.
liação de risco ao longo do ciclo de vida dos NMs, desde a sua
síntese e produção até à sua eliminação, com a ponderação dos
14
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
preditiva que permita evitar os seus potenciais efeitos adversos
Nanotecnologia
na Saúde
riscos colocados a todos os intervenientes em contexto ocupacional, ambiental ou de consumidor/utilizador (Figura 4).
3.
4.
5.
Relativamente à exposição ocupacional, é pois urgente efetuar
o registo de trabalhadores expostos a NMs e, logo que possível,
6.
fazer uma caracterização da sua exposição e estabelecer estraté-
7.
gias de saúde ocupacional específicas para os NMs.
8.
9.
Por outro lado, importa prosseguir os estudos laboratoriais no sentido de caracterizar a eventual toxicidade desses NMs. Os estudos
10.
de genotoxicidade poderão fornecer evidências quanto ao poten-
11.
cial de os NMs contribuírem para o desenvolvimento de doenças
12.
crónico-degenerativas e genéticas e, em particular, de cancro. Esta
plataforma de evidência permitirá abordar de forma científica este
13.
desafio que surge para a Saúde Pública: permitir a inovação minimizando o seu impacto na saúde pública, possibilitando uma abor-
14.
dagem safe-by-design, através da produção de NMs com efeitos
adversos reduzidos, que facilite o progresso tecnológico e “societal” que a aplicação dos novos nanomateriais prenuncia.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
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22.
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Henriqueta Louro é bioquímica e trabalha na Unidade de Investigação e
Desenvolvimento do Departamento de Genética Humana do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Lisboa, onde desenvolve investigação
na área da Toxicologia Genética.
Figura 4 - Enquadramento da nanotoxicologia nas necessidades “societais” atuais
Ana Tavares é bióloga e trabalha em investigação científica no Departa-
para garantia da saúde pública.
mento de Genética Humana do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo
Jorge.
AGRADECIMENTOS
Ema Leite é médica do trabalho e pneumologista doutorada em saúde
ocupacional. É professora na Escola Nacional de Saúde Pública e Diretora
Projeto cofinanciado pela EU Grant Agreement 2009 21 01
do Serviço de Saúde Ocupacional do Hospital de Santa Maria/CHLN.
(NANOGENOTOX), Health Programme e pelo INSA.
Maria João Silva é investigadora da Unidade de Investigação e DesenREFERÊNCIAS
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volvimento do Departamento de Genética Humana do Instituto Nacional
de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Lisboa, onde é responsável pelo grupo de
investigação em Toxicologia Genética.
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dossiê
Nanomedicina:
aplicações e perspetivas futuras
António Jorge Ferreira
Desde a segunda metade do século XX, vive-se uma era verda-
A maioria das nanopartículas atualmente em uso é constituída
deiramente revolucionária e emergente no âmbito das Nanotec-
por metais de transição, silício, carbono (nanotubos de carbono
de parede única ou múltipla e fulerenos) bem como óxidos de
nologias.
metal (dióxido de zinco e dióxido de titânio).
Através da investigação a nível atómico, molecular ou macromolecular, diferentes materiais, sistemas e estruturas têm sido desenvolvidos de forma a permitir novas aplicações em inúmeros campos.
A Nanotecnologia ainda é um campo emergente. Há suspeitas
e incertezas sobre as formas e graus em que os nanomateriais
apresentam riscos para a saúde ocupacional e ambiental, sobre-
A nanoescala é dimensionalmente inferior a 100 nm (1×10−9 me-
tudo por via inalatória.
tros). Propriedades únicas e incomuns a nível físico, químico e biológico podem ser observadas com partículas destas dimensões. A
Algumas características das nanopartículas podem determinar
Nanotecnologia envolve, essencialmente, modelagem e manipulação da matéria nesta ordem de grandeza. Alguns dos usos mais
os seus efeitos em sistemas biológicos, tais como o seu tama-
promissores dessas tecnologias surgem em diversos setores fun-
dade e grau de aglomeração. Atendendo a que essas características podem constituir um risco potencial à saúde, medidas
damentais, como a energia, defesa, comunicações, purificação de
água, redução da poluição ambiental, criação de novos materiais
mais resistentes e no vasto campo médico e biomédico.
nho, forma, superfície, carga, propriedades químicas, solubili-
gerais de precaução são, desde já, plenamente justificadas, e
inúmeros estudos têm surgido no sentido de melhor caracterizar
os efeitos potenciais das nanopartículas.
Além de vários usos industriais e domésticos, as nanopartículas
podem ser usadas em Medicina (estabelecendo a criação do novo
campo da Nanomedicina) no tratamento e diagnóstico do cancro,
em doenças infecciosas, nas novas estratégias de imunização, em
PRINCIPAIS ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO
DA NANOMEDICINA
modernos sensores de imagiologia e ainda no diagnóstico e rastreio precoces de múltiplas doenças.
Três aplicações das nanotecnologias são particularmente adequadas à Medicina: novos fármacos, técnicas de diagnóstico e
A Nanotecnologia é um setor da indústria de alta tecnologia que
design de novos materiais para próteses e implantes.
já criou um mercado multimilionário e é amplamente esperado
que possa crescer para valores de um trilião (1018 ) de dólares em
Existe um aumento gradual do interesse nas aplicações bio-
2015.
médicas exteriores ao corpo humano tais como sensores para
16
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Nanotecnologia
na Saúde
diagnóstico e técnicas de “lab on a chip” que são adequadas
mação de materiais inertes e biossistemas (não vivos e vivos),
para a análise de sangue e outras amostras e para a inclusão
para fins médicos, tais como a síntese de fármacos, a compreen-
em instrumentos analíticos no desenvolvimento e investigação
são do cérebro, a substituição de partes do corpo, a visualização
de processos biológicos e a criação de ferramentas para inter-
farmacológica e de biossensores.
venções médicas.
A pesquisa recente sobre biossistemas em nanoescala tem
criado uma das mais dinâmicas áreas interdisciplinares. Aqui se
inclui uma melhor compreensão de processos biotecnológicos
revolucionários, síntese de novos medicamentos e sua distribuição direcionada a alvos específicos, medicina regenerativa, engenharia neuromórfica e génese de materiais biocompatíveis.
Os nanobiossistemas e a investigação biomédica são, atualmente, prioridades nos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Austrália, Japão, Suíça, China, entre outros países e organizações regionais.
Curiosamente, todos os sistemas biológicos e artificiais têm os
seus primeiros níveis de organização na nanoescala (nanocristais, nanotubos e nanobiomotores), onde as suas propriedades
e funções fundamentais são definidas. O objetivo central da nanotecnologia pode ser descrito como a capacidade de rearranjar moléculas, transformando-as em objetos úteis e hierarquicamente integrados ao longo de diversas escalas de tamanho e,
em seguida, após o seu uso, possibilitar a desmontagem destas
Adaptado de Duncan, R. (2005). European Science Foundation (ESF) Forward Look
nanoestruturas novamente em moléculas; é precisamente isto
que ocorre espontaneamente na natureza, em sistemas vivos e
on Nanomedicine.
no meio ambiente.
A integração da nanotecnologia com a biomedicina e a biologia,
e com a tecnologia de informação e as ciências cognitivas será
Reorganizar a matéria à nanoescala, usando interações moleculares “fracas” tais como forças de van der Waals, ligações H,
dipolos eletrostáticos, e várias forças de superfície, requer baixo
uma das grandes áreas de desenvolvimento científico das próximas décadas. A convergência da ciência em nanoescala com
consumo de energia e permite posteriores alterações reversíveis.
a biologia moderna e a medicina é uma tendência que deve ser
refletida nas decisões de política científica.
A Nanobiomedicina é precisamente um campo que aplica os
Um desafio importante é a compreensão dos processos dentro
princípios e técnicas da nanoescala na compreensão e transfor-
das células e dos sistemas neuronais. Os nanobiossistemas na-
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dossiê
turais são verdadeiras fontes de inspiração e fornecem modelos
aplicáveis ao desenvolvimento de nanobiossistemas artificiais.
um veículo para transportar e orientar com maior precisão os
Só agora estamos a começar a entender as interações de com-
Para evitar vários efeitos secundários, um fármaco ideal teria a
capacidade de aumentar a sua concentração até ao nível consi-
ponentes subcelulares e as próprias origens moleculares das
doenças.
agentes terapêuticos envolvidos para o local de ação desejado.
derado eficaz, imediatamente após a dose ter sido administrada, manter esse nível constante durante um determinado perío-
Como seria esperado, as empresas farmacêuticas já investem
fortemente em nanotecnologia. Os analistas previram que, em
do de atividade farmacológica, e regressar ao nível original logo
após o período de tratamento, de modo a não interferir com a
2014, o mercado de aplicações farmacêuticas da nanotecnologia aproximar-se-á de um valor de 18 mil milhões de dólares por
dose subsequente.
ano.
As três tecnologias de libertação controlada disponíveis no momento e que já aplicam conhecimentos provenientes da nano-
Debrucemo-nos agora com um pouco mais de detalhe nos campos da Nanofarmacologia e do Nanodiagnóstico.
tecnologia são:
¬ “Pulse release” - uma quantidade exata de fármaco é liberta-
NANOFARMACOLOGIA
A tecnologia envolvida nesta área pode ser classificada em três
campos: tecnologias de libertação de fármacos, tecnologias de
da durante um intervalo de tempo constante.
¬ “Feedback release” - o fármaco é libertado após o comando
prévio de um sinal físico.
¬ “Constant release” - o fármaco é libertado a uma taxa constante.
alvo (“drug targeting”), e transporte controlado membranar.
Quanto à dinâmica tecnológica para atingir alvos farmacológiNa procura contínua de melhores medicamentos para doenças
potencialmente fatais e debilitantes, existem atualmente duas
cos, dois tipos essenciais têm sido desenvolvidos:
abordagens distintas:
¬ De tipo ativo, utilizando um peptídeo sinalizador, uma reação
A primeira relaciona-se com a descoberta de novos fármacos e
baseia-se na identificação de novos alvos moleculares que podem ser usados para projetar moléculas “perfect fit “, com uma
¬ De tipo passivo, por exemplo usando o aumento da permeabilidade e retenção farmacológicas nas áreas de proximidade
antigénio-anticorpo, ou um recetor/ligando.
atividade terapêutica mais específica.
de tecidos tumorais – EPR (“enhanced permeation and retention”). Dentro da área tumoral, determinadas macromoléculas podem facilmente penetrar os neovasos sanguíneos que
na identificação de potenciais candidatas com atividade farma-
proliferam durante o crescimento do tecido neoplásico. Ao
mesmo tempo, essas macromoléculas sofrem dificuldades à
cológica e a preparação de fármacos de baixo peso molecular
sua saída do órgão pelos linfáticos. Como resultado, são re-
cuidadosamente desenhados.
tidas por períodos mais prolongados dentro do tumor, exer-
Aqui destaca-se o uso de moléculas produzidas naturalmente
cendo apenas aí os seus efeitos.
A segunda abordagem, complementar, consiste na criação de
sistemas de distribuição de fármacos que possam atuar como
“Quantum dots são das
nanoestruturas mais promissoras
e já utilizadas em aplicações de
diagnóstico. Trata-se de nanocristais
semicondutores caraterizados por
uma forte absorção de luz e que
podem ser usados como marcadores
fluorescentes para biomoléculas."
18
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
Entre os exemplos atuais deste tipo de macromoléculas cita-se
a SMANCS (polistireno-co-maleil-n-butilato neocarcinostatina),
uma macromolécula com um peso molecular de 15000, usada
em vários tipos de terapêutica tumoral e ainda a nanofabricação
de polímeros de polietilenoglicol (PEG) com capacidade de alterarem a adesão celular e a adsorção proteica.
Várias nanopartículas poliméricas têm sido usadas com fins terapêuticos. Trata-se de partículas coloidais, com dimensões entre
os 10 e 1000 nm e que, funcionalizadas com diversos fármacos,
podem atingir os órgãos-alvo de forma preferencial e com as
concentrações pretendidas.
Nanotecnologia
na Saúde
Algumas outras aplicações de nanopartículas incluem possível reconhecimento da disfunção endotelial vascular, absorção
zadas por agregação a diversas moléculas-vetor e a fármacos,
permitindo ultrapassar as inerentes dificuldades da farmacolo-
oral de insulina, medicamentos de alvo neurológico para a te-
gia clássica.
rapêutica de doenças neurodegenerativas, tais como a doença
de Alzheimer, e nanopartículas sensíveis ao pH para melhorar a
biodisponibilidade oral de fármacos, tais como a ciclosporina A.
Entre estas partículas, citam-se dendrímeros (polímeros sintéticos extremamente ordenados, esféricos, com grande nú-
Os lipossomas, com diâmetros entre os 50-100 nm, têm sido uti-
mero de grupos funcionais reativos, cuja estrutura dendrítica
lizados no transporte de fármacos, nomeadamente através da
resultante é altamente ramificada e com um grande número de
barreira cutânea e vários estudos também estão a ser efetuados
agrupamentos funcionais na superfície), nanopartículas lipídi-
na administração pulmonar por nebulização; a distribuição de
fármacos inalados mediada por lipossomas promove um au-
cas sólidas (SLN – “solid lipid nanoparticles”, usadas na administração de doxorubicina e tobramicina), micélios poliméricos
mento no tempo de retenção no pulmão com uma redução nos
(com um interior hidrofóbico e exterior hidrofílico, podendo
efeitos colaterais extra-pulmonares, invariavelmente resultando
incorporar fármacos pouco hidrossolúveis), nanocápsulas (es-
em melhor eficácia terapêutica.
truturas esféricas ocas rodeadas por uma membrana de polímero), nanoemulsões (usadas por exemplo em formulações
Como terapêutica genética no cancro do pulmão, lipossomas
de libertação prolongada a nível subcutâneo), nanopartículas
catiónicos surgiram recentemente como principais vetores não-
cerâmicas e metálicas e nanomateriais de carbono (fulerenos
-virais em ensaios clínicos de terapia génica.
e nanotubos de carbono, com capacidade, por exemplo, de
atravessar a membrana celular e exercer efeitos a nível mito-
Uma vasta área em grande desenvolvimento é a criação de um
condrial, ou serem usados como vetores de distribuição far-
grande número de nanopartículas que podem ser funcionali-
macológica).
SET /OUT 2013
tecno hospital 59
19
dossiê
Entre inúmeros fármacos já desenvolvidos e em desenvolvi-
logias de pill-cam, na qual o doente pode deglutir uma cápsula
mento e que fazem uso de nanotecnologias ou nanopartículas,
citam-se, a título de exemplo, os seguintes:
que contém um LED para iluminação, um CMOS (semiconductor complementar de metal-óxido) uma micro vídeo-câmara,
uma bateria e um transmissor, com possibilidade de captação
¬ Anfotericina B lipossómica (terapêutica de infeções fúngicas),
e transmissão wireless de 30 imagens de 2 megapíxeis por se-
doxorubicina lipossómica (cancro do ovário), paclitaxel nanotransportado (cancro da mama, entre outros), PEG-interferon
gundo.
(hepatite, melanoma, carcinoma renal, leucemia mieloide
Certas nanopartículas magnéticas, ligadas a um anticorpo ade-
crónica, PEG-L-asparaginase (leucemia linfoblástica aguda),
quado, são usadas para etiquetar moléculas específicas, estru-
PEG-GCSF (prevenção da neutropenia do doente oncológico), daunorubicina lipossómica (sarcoma de Kaposi), morfina
turas ou microrganismos.
lipossómica, estradiol lipossómico (menopausa), beractant
A nível da Imagiologia médica, nanopartículas magnéticas são
lipossómico (deficiência de surfatante pulmonar), sirolimus
usadas atualmente em agentes de contraste para ressonância
em estrutura nanocristalina (imunossupressor), aprepitant em
estrutura nanocristalina (anti-emético), entre muitos outros.
magnética (RM) na deteção de metástases hepáticas e mostram
NANODIAGNÓSTICO
A Nanotecnologia aplicada a equipamentos de diagnóstico já
possui o potencial de analisar genomas inteiros em tempo record.
um potencial considerável em ensaios clínicos no que diz respeito à identificação precoce de metastização tumoral. Novas
aplicações incluem rotulagem ex-vivo de células com nanopartículas, a que se segue ressonância magnética in vivo, uso de
nanopartículas magnéticas como biossensores de relaxamento
magnético para medição de uma variedade de marcadores biológicos in vitro e uso de nanopartículas magnéticas com biomoléculas para a obtenção de alvos moleculares específicos iden-
Com base em sequências de ADN que se encontram alteradas
tificáveis por RM.
relativamente ao normal, será possível determinar a predisposição de um indivíduo face a um tipo específico de cancro ou ou-
Quantum dots são das nanoestruturas mais promissoras e já utili-
tra doença. A investigação atual está a tornar possível integrar
zadas em aplicações de diagnóstico. Trata-se de nanocristais se-
um certo número de procedimentos complexos de diagnóstico
em dispositivos simples que serão capazes de fornecer diagnós-
micondutores caracterizados por uma forte absorção de luz e que
podem ser usados como marcadores fluorescentes para biomo-
ticos rápidos.
léculas. São cada vez mais usados a nível da imagiologia celular.
Uma das áreas mais promissoras do nanodiagnóstico é o desenvolvimento de nanochips com potencial de análise multifatorial
As nanopartículas de ouro também podem ser usadas na deteção muito sensível de ADN e de determinadas proteínas presen-
rápida de ADN através de técnicas de hibridização eletronicamente mediadas.
tes em fases da doença.
Outra área envolve o uso de sistemas de microfluidos (“micro-
Podem ser usadas, por exemplo, na “rotulação” de ADN ou de
proteínas (incluindo anticorpos), que se irão posteriormente li-
fluidics”) conhecidas como “lab-on-a-chip”. Nestes, numerosos
processos de análise de ADN são combinados num único chip
composto de vidro e um substrato de sílica. Todo o nanoequi-
gar aos respetivos alvos.
pamento é composto por canais de fluidos, sensores de tem-
“bio-barcode assay”) têm vindo a destacar-se e poderão vir a
substituir as metodologias mais clássicas de PCR – “polymerase
peratura, aquecedores, câmaras eletrofoéticas e detetores de
flouorescência com capacidade para a análise de amostras de
ADN à escala dos nano-litros.
Outros sistemas são conhecidos como MEMS (“microelectromechanical systems”), que se distinguem dos sistemas de micro-
Novas tecnologias de ensaio por bio-código de barras (BCA –
chain reaction”. Uma das áreas com resultados promissores é a
da deteção ultrassensível de PSA no carcinoma da próstata e
de ADDL (“amyloid-derived diffusible ligands”) na Doença de
Alzheimer.
fluídos por não necessitarem de reagentes ou de um substra-
O potencial do nanodiagnóstico surge do facto de a maioria das
to fluido para reagirem posteriormente. Os MEMS são usados
moléculas biológicas e organelos celulares se encontrar dentro
da escala nanométrica. Por exemplo, a proteína típica possui um
essencialmente a nível da distribuição de fármacos, mas uma
das suas utilizações no diagnóstico são as já conhecidas tecno-
20
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
tamanho de 5 nm. As nanopartículas utilizadas para a deteção
Nanotecnologia
na Saúde
“Alguns dos usos mais promissores
dessas tecnologias surgem em
diversos setores fundamentais,
como a energia, defesa,
comunicações, purificação de água,
redução da poluição ambiental,
criação de novos materiais mais
resistentes e no vasto campo
médico e biomédico"
de alterações biológicas podem ser sintetizadas para estar dentro deste mesmo domínio de tamanhos.
O que o campo do nanodiagnóstico tem para oferecer é essencialmente a melhoria do diagnóstico clínico através da sensibilidade aumentada e de deteção mais rápida. Como a nanotecnologia evolui para inclusão da automação e de economias de
escala, o custo destes processos tenderá a diminuir e a ser competitivo face às metodologias mais clássicas.
No entanto, e não obstante o imenso potencial das nanotecnologias aplicadas ao setor da Saúde, inúmeras questões continuam sem ser efetivamente abordadas:
¬ Quais são as propriedades específicas dos nanomateriais que
devem ser caracterizadas para aplicações nanomédicas?
¬ Que dados estão disponíveis sobre a toxicidade das nanopartículas usadas na Nanomedicina, formas de exposição e
destino ambiental?
¬ Como é que as características de nanomateriais contribuem
para a toxicidade em relação às aplicações nanomédicas?
¬ Qual é o papel potencial das exposições simultâneas a
múltiplos nanofármacos?
Seguramente, assistiremos nas próximas décadas a um exponencial desenvolvimento nesta área, sendo certo que os enormes benefícios potenciais só poderão surgir a partir do ético e
cuidadoso desenvolvimento suportado em pilares de segurança
e sustentabilidade. A área das nanotecnologias, enquanto ciência emergente, ainda se encontra rodeada de alguma aura de
mistério e de ficção científica; o futuro trará possivelmente a
consolidação de algumas das certezas atuais, nomeadamente
a nível da nanomedicina, mas adensará também algumas das
dúvidas mais prementes, nomeadamente no que diz respeito à
nanotoxicologia, às interações nos sistemas humanos e aos fenómenos de exposição ocupacional e ambiental.
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António Jorge Ferreira é especialista em Pneumologia e em Medicina do Trabalho e Mestre em Saúde Ocupacional. É responsável pela consulta de Doenças Respiratórias Profissionais do CHUC- HUC e assistente convidado da Faculdade de Medicina
de Coimbra- Instituto de Higiene e Medicina Social. Tem um Diploma Interuniversitário Europeu em Lasers Médicos.
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tecno hospital 59
21
dossiê
Nanotecnologia como ferramenta
para produzir novos alimentos funcionais:
vantagens e precauções
Ana Cristina Pinheiro, Miguel Ângelo Cerqueira e António Augusto Vicente
ALIMENTOS FUNCIONAIS: UM CAMINHO A SEGUIR
corporação desses compostos bioativos em alimentos não têm
sido eficazes, pois apresentam muitas vezes problemas relacio-
São inúmeros os fatores que afetam a qualidade da vida moderna, mas a incidência de problemas de saúde relacionados, por
nados com solubilidade, degradação, agregação, coalescência
exemplo, com acidentes cardiovasculares, cancro, acidente vas-
seu efeito funcional seja diminuído e até mesmo perdido antes
cular cerebral, arteriosclerose e problemas hepáticos está inti-
de chegar ao consumidor.
mamente ligada aos hábitos alimentares. Além disso, o interesse
do consumidor numa alimentação saudável e a evidência cientí-
A nanotecnologia tem sido apresentada nos últimos anos como
fica de que os alimentos funcionais têm efeitos positivos sobre a
uma das formas de solucionar alguns desses problemas. A nano-
saúde e bem-estar fazem com que o consumo de alimentos fun-
tecnologia envolve a produção, o processamento e a aplicação
de sistemas à nano-escala através do controlo da sua forma e
cionais seja visto como um dos caminhos a seguir para melhorar
a qualidade de vida. O consumidor exige, assim, cada vez mais,
e interação com as matrizes alimentares, que fazem com que o
tamanho. Recentemente tem havido um grande interesse no es-
novos e melhores produtos alimentares capazes de aliarem a ca-
tudo do comportamento de nanossistemas como veículos para
racterísticas organoléticas únicas características funcionais que
a incorporação, proteção, transporte e libertação controlada de
compostos bioativos, para aplicações alimentares e farmacêuti-
possam trazer uma melhoria da sua saúde (traduzida na redução
da incidência de doenças e a manutenção do bem-estar físico e
mental), garantindo simultaneamente a sua segurança.
cas (Acosta 2009; Huang et al. 2010). Neste contexto, uma das
principais aplicações da nanotecnologia na indústria alimentar
passa por desenvolver sistemas de libertação de compostos
bioativos à nano-escala, que devido ao seu tamanho nanométri-
LIBERTAÇÃO DE COMPOSTOS BIOATIVOS
co podem melhorar a solubilidade, biodisponibilidade (bastante
importante sobretudo para compostos com baixa solubilidade
mentar tem feito um esforço para disponibilizar alimentos que,
em matrizes aquosas) e aspetos sensoriais desses compostos,
assim como permitir que estes sejam libertados de uma forma
para além da sua função vital, possam ter uma vertente funcio-
controlada. Este comportamento está não só associado com
nal. Uma das estratégias passa pela incorporação de compostos bioativos em alimentos durante a sua produção, tais como
a razão elevada entre área superficial e volume, característica
Com o objetivo de responder a estes desafios, a indústria ali-
curcumina, carvacrol, retinol, α-tocoferol, resveratrol, quercetina,
destes sistemas, mas também com as interações físico-químicas
entre materiais à nano-escala que influenciam as suas proprie-
β-caroteno, e minerais (ex. ferro, cálcio). No entanto, as tecnolo-
dades finais (ex. permitem um aumento das forças de adesão à
gias e os processos utilizados pela indústria alimentar para a in-
mucosa intestinal, aumentando o tempo de permanência no in-
22
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
Nanotecnologia
na Saúde
testino e, com isso, a sua biodisponibilidade) (Weiss et al. 2006;
eficácia dos ingredientes funcionais depende da preservação
Chaudhry et al. 2010; Acosta 2009).
da sua biodisponibilidade. A biodisponibilidade e consequentemente os potenciais benefícios para a saúde humana dos com-
SEGURANÇA DOS MATERIAIS NA INDÚSTRIA
ALIMENTAR
postos bioativos podem ser comprometidos pelo insuficiente
tempo de residência no trato gastrointestinal, pela sua baixa
permeabilidade e/ou solubilidade, assim como pela sua instabilidade quando submetidos às condições encontradas durante o
No entanto, na indústria alimentar a legislação aplicada é muito
processamento alimentar ou no trato gastrointestinal (Leonard,
rigorosa, exigindo que todos os materiais utilizados sejam considerados seguros para consumo humano (i.e., com o estatuto
2000).
GRAS - Generally Recognized as Safe). Sendo assim, um dos
A avaliação do comportamento dos nanossistemas face a dife-
grandes desafios para a utilização de nanossistemas para apli-
rentes condições (ex. pH, temperatura e força iónica) no trato
cações alimentares é a utilização de materiais com o estatuto
GRAS e que permitam o desenvolvimento de sistemas com a
gastrointestinal, assim como do destino dos compostos bioativos encapsulados é bastante importante para otimizar a bio-
funcionalidade desejada. Alguns dos materiais utilizados para
disponibilidade destes compostos e para assegurar a sua fun-
alcançar esse objetivo são polissacarídeos, proteínas e lípidos,
cionalidade e segurança quando usados para consumo humano
encontrados em muitos alimentos e que devido à sua biodegradabilidade e não toxicidade, podem ser utilizados para cons-
(McClements e Xiau, 2011). Nos últimos anos, têm-se utilizado
diferentes modelos de digestão in vitro para estudar o compor-
truir sistemas à nano-escala. Estes nanossistemas podem ser
tamento físico-químico das nanoestruturas no trato gastroin-
classificados de acordo com os materiais usados no seu fabrico,
testinal. O nosso grupo construiu recentemente um sistema
método de produção (ex. bottom-up ou top-down), forças predominantes do sistema (ex. eletrostáticas, ligações de hidrogé-
gastrointestinal dinâmico que simula os principais eventos que
ocorrem durante um processo de digestão e consiste em qua-
nio), propriedades do sistema (ex. propriedades mecânicas ou
tro compartimentos, o estômago, o duodeno, o jejuno e o íleo
óticas) e energia livre associada ao sistema (ex. sistema estável
(Figura 1).
do ponto de vista termodinâmico ou cinético) (Morris 2010; Silva et al. 2012). Nos últimos anos têm-se desenvolvido diversos
nanossistemas através da combinação de diferentes formas de
produção, da mistura de materiais e da utilização de forças durante o processo de produção por forma a alcançar as funcionalidades desejadas (Yu et al. 2006, Hu et al. 2008; Lertsutthiwong
et al. 2008; Choi et al. 2011).
Por exemplo, os autores Zimet e Livney (2009) verificaram que
os ácidos gordos polinsaturados podem encapsular-se em nanohidrogéis compostos por β-lactoglobulina e pectina, e que
este nanossistema é estável e capaz de proteger o DHA (ácido
docosa-hexaenóico) contra a oxidação. Outro dos exemplos são
as nanoemulsões produzidas pelo nosso grupo (Silva et al., 2011)
contendo β-caroteno usando a técnica de emulsificação-evaporação. Estas nanoemulsões mostraram boa estabilidade durante
o armazenamento e uma vez que a sua produção não recorre ao
uso de um homogeneizador de alta pressão, esta metodologia
aparece como uma alternativa de baixo custo para a produção
de nanoemulsões de β-caroteno pela indústria alimentar.
Figura 1 - Sistema gastrointestinal dinâmico: (A) compartimento gástrico, (B) com-
Desta forma, a encapsulação de compostos bioativos ou ingredientes que promovem a saúde (nutracêuticos), tais como
partimento duodenal, (C) compartimento jejunal, (D) compartimento ileal, (E) ca-
vitaminas, péptidos bioativos e antioxidantes em nanossistemas
membranas de fibras ocas, (J) banho de água, (K) bombas peristálticas, (L) controla-
e a sua posterior incorporação em sistemas alimentares é uma
dores das bombas, (M) recolha dos filtrados do jejuno e do íleo e da fração do íleo
forma simples de desenvolver alimentos funcionais. Contudo, a
que não é filtrada.
misa de vidro, (F) parede flexível, (G) elétrodos de pH, (H) bombas de seringa, (I)
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23
dossiê
Demonstrou-se em estudos recentes
que o comportamento de nanoemulsões
no trato intestinal pode ser alterado pelas suas características iniciais, tais como
tamanho, tipo de emulsificante e óleos
usados. Em geral, a taxa e a extensão
da digestão dos lípidos aumenta com a
diminuição do diâmetro das partículas
das emulsões, o que está relacionado
com o aumento da área superficial dos
lípidos exposta à ação das lipases. Para
além disso, a biodisponibilidade dos
compostos bioativos também aumenta
com a diminuição do tamanho das emulsões, uma vez que as emulsões de maior
tamanho apresentam uma maior quantidade de óleo não digerido, que faz com
que o composto bioativo fique retido na
emulsão (Salvia-Trujillo et al., 2013). Re-
Figura 2 - Influência do tipo de emulsificante na morfologia das nanoemulsões de curcumina à medida que pas-
centemente, num trabalho desenvolvi-
sam pelo sistema gastrointestinal in vitro. (Pinheiro et al. 2013 - Reproduced by permission of The Royal Society
do pelo nosso grupo, foram produzidas
nanoemulsões contendo curcumina (um
of Chemistry).
composto bioativo para o qual está re-
Com base nas suas características únicas, a nanotecnologia pode resolver alguns
portada uma vasta gama de proprieda-
dos problemas associados à incorporação de compostos funcionais em alimentos.
Desta forma, podem desenvolver-se nanossistemas para o transporte e libertação de
des funcionais – antioxidantes, anti-inflamatórias e anticancerígenas), que foram
estabilizadas usando diferentes emulsifi-
compostos bioativos resolvendo problemas como a compatibilidade com as matrizes
cantes. Neste trabalho verificou-se que
estabilidade e sabor do produto; transporte e libertação que deve ser controlada e
a carga do emulsificante tem um papel
apenas ativada quando o sistema for consumido (i.e. muitos dos compostos bioativos começam a ser libertados quando misturados com o produto alimentar o que
significativo na digestão dos lípidos e
na biodisponibilidade deste composto
alimentares (ex. agregação e separação de fases) que influencia a aparência, textura,
faz com que percam a sua atividade); e a perda de atividade destes compostos que
(Figura 2), uma vez que o emulsificante
pode acontecer também com a incidência de luz, presença de oxigénio e tratamento
altera a capacidade dos sais biliares e
térmico. Apesar disso, o conhecimento relativamente ao destino dos nanossistemas
ingeridos é ainda incipiente, sendo por isso necessário um estudo mais profundo
da lipase se adsorverem à superfície das
emulsões (Pinheiro et al., 2013). Outros
autores avaliaram o comportamento de
nanopartículas poliméricas contendo
luteína (composto bioativo com propriedades antioxidantes e oftalmoprotectoras) no trato intestinal in vitro e in vivo,
usando micelas mistas como controlo
(Arunkumar et al., 2013). Estes autores
verificaram que a biodisponibilidade da
luteína nas nanopartículas é significati-
de forma a determinar a sua segurança e produzir sistemas de transporte e libertação adaptados a cada aplicação (isto é, com bioatividade maximizada). Para além
disso, sendo inviável o uso de sistemas in vivo (custos elevados e restrições éticas
frequentemente envolvidos), há a necessidade do uso de modelos gastrointestinais
in vitro mais realistas, isto é, modelos que consigam simular com precisão os processos físico-químicos e fisiológicos complexos que ocorrem no sistema gastrointestinal humano. Aliados a estes modelos torna-se necessária, também, a avaliação
da interação desses sistemas com o trato gastrointestinal. Uma das propostas tem
sido a utilização de modelos epiteliais celulares (ex. linha celular Caco-2), que se
têm mostrado muito úteis para avaliar a toxicidade e permeabilidade (podendo dar
vamente maior do que para o controlo
indicações da adsorção e biodisponibilidade) desses novos nanossistemas (Coco et
e que os níveis de luteína no plasma, fígado e olhos dos ratos alimentados com
al., 2012; He et al., 2013).
luteína nanoencapsulada são significati-
Os alimentos funcionais obtidos pela incorporação de compostos bioativos em na-
vamente superiores comparativamente
noestruturas poderão vir a ser colocados à venda num futuro próximo. No entanto, é
absolutamente necessário fornecer ao consumidor elementos que lhe permitam ter
com o controlo.
24
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
Nanotecnologia
na Saúde
“Os alimentos funcionais obtidos pela incorporação de compostos
bioativos em nanoestruturas poderão vir a ser colocados à venda num
futuro próximo ”
um conhecimento adequado das vantagens e cuidados associados à sua utilização. De facto, apesar dos grandes avanços
¬
¬
feitos no que concerne à caracterização e avaliação em sistemas
in vitro, é necessário que estes modelos sejam validados in vivo
¬
como forma a dar resposta às precauções e receios dos consumidores e legisladores.
¬
¬
¬
AGRADECIMENTOS
¬
¬
O autor Miguel A. Cerqueira agradece à Fundação para a Ciên-
¬
cia e Tecnologia (FCT, POPH-QREN e FSE Portugal) a bolsa concedida (SFRH/BPD/72753/2010).
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Ana Cristina Pinheiro formou-se em Engenharia Biológica pela Universidade do Minho e possui o Doutoramento em Engenharia
Química e Biológica pela mesma Universidade. É investigadora no centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho.
Tem dedicado a sua atividade de investigação a temas relacionados com nanotecnologia aplicada a sistemas alimentares, mais
concretamente ao desenvolvimento de nanoestruturas para incorporação e libertação de compostos funcionais e à avaliação do
comportamento destas nanoestruturas in vitro (i.e. quando submetidas a um processo de digestão num sistema gastrointestinal
modelo).
António Vicente é Engenheiro Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, no Porto,
Doutor em Engenharia Química e Biológica pela Universidade do Minho e Agregado em Engenharia Química e Biológica pela
Universidade do Minho.
Tem estado envolvido em vários projetos de investigação nacionais e internacionais, juntamente com parceiros industriais, como
participante e coordenador. É Professor Associado com Agregação e Investigador no Departamento de Engenharia Biológica
da Universidade do Minho.
Miguel Ângelo Cerqueira é licenciado em Engenharia Biológica pela Universidade do Minho e possui o Doutoramento em
Engenharia Química e Biológica pela Universidade do Minho. Atualmente é investigador de Pós-Doutoramento no Centro de
Engenharia Biológica da Universidade do Minho. Tem dedicado a sua atividade de investigação ao desenvolvimento de novos
produtos para a indústria alimentar, nomeadamente revestimentos comestíveis para a conservação de alimentos e micro e nanoestruturas para incorporação de compostos funcionais e sua libertação controlada em sistemas alimentares.
SET /OUT 2013
tecno hospital 59
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dossiê
Nanopartículas inorgânicas:
novos materiais em biomedicina
Iola Duarte, Tito Trindade
INVESTIGAÇÃO EM NANOMATERIAIS
tíveis, com afinidade específica para determinados sistemas biológicos e eventualmente associadas a novas funcionalidades.[5-7]
Nas últimas duas décadas assistiu-se a um desenvolvimento sem
precedentes ao nível da investigação em Nanociências e Nanotecnologias. Uma das forças motrizes no progresso verificado
nesta área do conhecimento científico tem sido a investigação
Este artigo apresenta exemplos de investigação em NPs inorgânicas com interesse especial para aplicações biomédicas (Figura
1). Optou-se pela seleção de sistemas que simultaneamente su-
em novos nanomateriais, nomeadamente estudos que envol-
mariam investigação em curso no Laboratório Associado CICE-
vem partículas com dimensões nanométricas. As nanopartículas (NPs) apresentam dimensões típicas entre 1-100 nm, origi-
CO e são de potencial interesse em Biomedicina. Finalmente,
nando propriedades distintas dos materiais convencionais, que
a sua relevância na avaliação do binómio “benefício+risco” na
produção e aplicação de nanomateriais em diversos contextos.
decorrem das suas dimensões e razões de superfície/volume
conclui-se com uma secção dedicada à Nanotoxicologia, dada
elevadas. As propriedades únicas observadas nestes materiais
finamente divididos têm sido exploradas em vários domínios, no
sentido de formular novos produtos, desenvolver processos de
fabrico mais eficientes e fabricar dispositivos tecnológicos com
elevado desempenho, entre outras possibilidades.
A investigação de NPs inorgânicas em contexto biomédico
emergiu com particular acuidade a partir da década de noventa do século passado. Os desenvolvimentos marcantes ao nível
da síntese de nanocristais coloidais que se verificaram na altura
em muito terão contribuído para que este tipo de partículas fossem entendidas como plataformas potenciais para técnicas de
diagnóstico inovadoras e novas modalidades terapêuticas.[1-4]
Atualmente existem métodos de síntese que permitem ajustar
de um modo rigoroso o tamanho e natureza de superfície de
NPs, de modo a controlar as suas propriedades numa gama de
tamanhos comparáveis às de diversos objetos biológicos. Além
disso, as NPs apresentam elevada área de superfície por volume, com possibilidade de serem decoradas quimicamente com
Figura 1 - Exemplos de nanopartículas inorgânicas coloidais e de aplicações bio-
moléculas específicas e outros materiais, tornando-as biocompa-
médicas.
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tecno hospital 59 SET /OUT 2013
Nanotecnologia
na Saúde
BIOAPLICAÇÕES DE NANOPARTÍCULAS INORGÂNICAS
Entrega de fármacos
O potencial de nanopartículas (NPs) inorgânicas no transporte e entrega de fármacos tem sido explorado extensamente,
A combinação de propriedades magnéticas e óticas num único
nanomaterial tem também sido intensamente estudada, com o
intuito de desenvolver nanossistemas multifuncionais para imagem bimodal. Agregando propriedades luminescentes e paramagnéticas únicas, os iões lantanídeos (Ln3+) constituem sondas
bifuncionais especialmente promissoras, cuja incorporação em
tirando partido da versatilidade das propriedades físico-quí-
nanossistemas tem sido explorada através de diferentes estra-
micas destas NPs, facilmente moduláveis através da manipu-
tégias. Por exemplo, a preparação de NPs de sílica nanoporosa com complexos de Ln3+,[18,19] cuja emissão de luz pode ser
lação de características como o tamanho, a forma ou a química da superfície.[8] Um dos avanços mais promissores nesta
aumentada através da inclusão de ligandos aromáticos à su-
área consiste na incorporação de NPs inorgânicas em hidro-
perfície,[19] ou a dopagem com iões Ln3+ de NPs de óxido de
géis poliméricos propícios à retenção e libertação controlada
zircónio encapsuladas em nanomicelas poliméricas.[20] Outras
de fármacos por meio de estímulos como o pH ou a temperatura. A introdução de NPs inorgânicas em hidrogéis permi-
estratégias incluem a preparação de: nanocristais de ortofosfatos contendo iões Ln3+ de modo a combinar a emissão no visível,
te reforçar a estrutura dos géis e/ou conferir-lhes funciona-
gerada por excitação com luz infravermelha, com propriedades
lidades adicionais, oferecendo vantagens únicas na entrega
magnéticas;[21] NPs de octacionamolibdato e iões Ln3+ estabili-
controlada de fármacos. Esta estratégia tem constituído uma
linha importante de investigação no CICECO. Por exemplo, a
zadas em quitosano;[22] suspensões aquosas de redes metalo-
imobilização de nanopartículas de ouro (AuNPs) em hidrogéis
de kappa-carragenana [9] ou gelatina [10] permitiu modificar
a microestrutura e força dos géis e demonstrou potencial
para a libertação ativada por luz, devido à atividade ótica e
-orgânicas (MOFs) contendo iões Ln3+.[23]
Biomarcação
efeitos fototérmicos das AuNPs. Já a incorporação de NPs
A utilização de compostos fotoluminescentes para marcação
de células e biomoléculas é habitual em técnicas de diagnós-
magnéticas (Fe3O4) em géis de kappa-carragenana revelou-
tico clínico. Os biomarcadores convencionais são constituídos
-se promissora para o desenvolvimento de sistemas em que
a libertação da carga terapêutica pode ser controlada por
por corantes orgânicos fluorescentes. Algumas desvantagens
um campo magnético externo.[11] Noutros tipos de NPs inor-
no uso de corantes orgânicos fluorescentes são a baixa fotoestabilidade, bandas de emissão relativamente largas e emissão
gânicas em desenvolvimento no CICECO para a entrega de
associada a tempos de vida curtos. Os nanocristais de semicon-
fármacos, destacam-se ainda as NPs de hidroxiapatite para
regeneração óssea. [12,13]
dutores (quantum dots) surgiram recentemente como alternati-
Imagem por ressonância magnética e imagem
bimodal
vas em biomarcação, dado que apresentam propriedades óticas
muito interessantes neste contexto.[24,25] Estes nanomateriais
em meio fisiológico são mais robustos quimicamente e apresentam bandas de emissão de luminescência estreitas. As suas
O desenvolvimento de agentes de contraste para imagem por
dimensões encontram-se numa gama de tamanhos para a qual
se observam efeitos quânticos de dimensão. Assim, é possível
ressonância magnética (MRI) é um dos focos de investigação
obter bandas de emissão cujos máximos ocorrem a diferentes
onde diferentes NPs inorgânicas assumem especial relevância.
[14] Entre estas, as nanopartículas superparamagnéticas de
comprimentos de onda pela variação do tamanho médio de
óxido de ferro (SPION) são as mais bem estabelecidas, persis-
partícula. Por exemplo, é possível obter cores por luminescência
em toda a gama do visível utilizando coloides de nanocristais de
tindo grande interesse em otimizar a sua biocompatibilidade e
CdSe caracterizados por diferentes tamanhos médios (2-12 nm).
eficácia. Para isso, torna-se fundamental conhecer mais aprofundadamente a influência da estrutura e propriedades destas
Por outro lado, associando características de bio-seletividade a
NPs no seu desempenho global. Este objetivo tem sido prosseguido no CICECO, por exemplo, através do estudo sistemá-
realizar a biomarcação simultânea de diferente material biológico nas mesmas condições de irradiação. Apesar de estes bio-
tico da influência da espessura da camada de sílica a revestir
SPIONs nas suas propriedades de relaxação.[15,16] Num outro
rar outro tipo de nanopartículas inorgânicas que não contenham
trabalho, foi avaliada a relação entre o tamanho, as proprieda-
nanocristais com distribuições de tamanho distintas, é possível
marcadores visarem técnicas in vitro, existe interesse em explo-
des magnéticas e a eficiência do contraste para nanocompó-
cádmio na sua composição.[26] No CICECO, decorre investigação que visa desenvolver sistemas alternativos para biomarca-
sitos ferrofluídos, consistindo num centro de maguemite com
revestimento polimérico (PVP e PEG).[17]
compostos luminescentes de lantanídeos (Figura 2).[27-29] Es-
ção, como por exemplo nanoesferas de SiO2 amorfa contendo
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dossiê
tes sistemas apresentam a vantagem de
os tempos de emissão serem relativa-
acordo com a proporção Eu3+/Tb3+) com uma incerteza de 0.5 graus. Combinando
mente longos pelo que podem ser explo-
possa ter aplicações muito úteis em biomedicina, por exemplo no mapeamento não
rados em processos de biomonitorização
invasivo da distribuição de temperatura em tecidos tumorais aquando da libertação
de calor induzida por hipertermia magnética. Mais recentemente, uma outra nanopla-
por luminescência resolvida no tempo.
Adicionalmente, exploram-se estratégias
preparativas que visam o acoplamento
propriedades luminescentes e paramagnéticas, antecipa-se que este nanotermómetro
taforma multifuncional foi desenvolvida para combinar a produção de calor por nanopartículas de ouro (mediante a irradiação com luz infravermelha) e a monitorização da
de nanoestruturas magnéticas a sistemas
temperatura local por nanobastonetes de (Gd,Yb,Er) 2O3, resultando num sistema com
luminescentes de modo a obter plataformas multifuncionais, por exemplo para
grande potencial em hipertermia e imagem ótica de tecidos.[33] Destaca-se ainda a
bioseparação magnética e marcação óti-
preparação pelo método de microemulsão reversa de nanobastonetes de redes metalo-orgânicas contendo Eu3+ e Tb3+, que apresentaram excelente desempenho como
ca.[30]
nanotermómetros luminescentes à temperatura fisiológica (Figura 3).[34]
Figura 2 - Nanopartículas luminescentes sob irradiação
UV. As imagens de microscopia eletrónica de transmissão mostram que cada partícula é constituída por um
núcleo de polioxolantanotungstato de európio (III) revestido por uma carapaça de sílica amorfa.
Nanotermometria
O desenvolvimento de nanotermómetros
Figura 3 - Redes metalo-orgânicas contendo iões Eu3+ e Tb3+ para aplicação em nanotermometria. Figura reproduzida com permissão da referência [34]. Copyright (2013) American Chemical Society.
Superfícies antimicrobianas
luminescentes com elevada resolução esemergente que abre inúmeras novas pos-
A ação da prata e seus compostos como agentes antimicrobianos é desde há muito
tempo reconhecida.[35] A utilização destes produtos caiu em desuso com o desenvol-
sibilidades no estudo de microprocessos
vimento de antibióticos eficientes e seguros resultantes da farmacologia moderna. Por
bioquímicos em meio biológico.[31] Em
outro lado, existe uma preocupação crescente com determinadas estirpes de micro-
2010, investigadores do CICECO reportaram o desenvolvimento de um termó-
-organismos que tendem a desenvolver resistência à administração de antibióticos
convencionais. A prata é um antibiótico de largo espetro que tem sido investigada em
metro molecular consistindo em com-
diversos laboratórios de investigação para aplicações específicas, como por exemplo
plexos de iões lantanídeos (Eu3+/Tb3+)
em material e equipamento hospitalar. As nanopartículas de prata surgem neste con-
incorporados em nanoclusters (100-400
nm) com um centro de maguemite e re-
texto como especialmente vantajosas, nomeadamente pela elevada área de superfície
disponível por volume e porque permitem a redução de custos associados à quantida-
vestimento à base de sílica.[32] Este sis-
de de metal a utilizar. O laboratório CICECO tem investigado novos nanocompósitos
tema demonstrou elevada sensibilidade
contendo prata visando a sua utilização como materiais antibacterianos e antifúngicos.
e fotoestabilidade, permitindo medições
Estes compósitos são constituídos por matrizes de celulose[36] ou outros polisacarídeos,[37] nos quais se encontram dispersas as nanopartículas de prata, e apresentam
pacial constitui uma área de investigação
absolutas na gama 10-350 K (ajustável de
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tecno hospital 59 SET /OUT 2013
Nanotecnologia
na Saúde
especial interesse para revestimentos de superfícies e materiais
compreender melhor a interação de diferentes NPs com molé-
de embalagem, entre outras aplicações.
culas biológicas, células e organismos vivos.
ASPETOS TOXICOLÓGICOS NA UTILIZAÇÃO
DE NANOPARTÍCULAS
O aumento exponencial da produção de nanopartículas e nanomateriais (NPs/NMs) com vista a aplicações industriais e
A avaliação toxicológica destas NPs reveste-se, no entanto,
de desafios experimentais únicos.[39,40] Propriedades como
o tamanho, a forma, a área superficial, a carga da superfície, o
estado de aglomeração ou a solubilidade são altamente dependentes do meio e têm uma influência determinante na sua
reatividade biológica. Logo, um dos maiores desafios na área da
biomédicas, bem como a incorporação disseminada em produ-
nanotoxicologia prende-se com a caracterização detalhada das
tos de uso comum, têm suscitado apreensão crescente sobre
os seus possíveis efeitos adversos na saúde humana e no meio
propriedades físico-químicas das NPs em condições próximas
do ambiente biológico que irão encontrar, para que seja possí-
ambiente. A nanotoxicologia visa o estudo desses efeitos e a
vel estabelecer correlações fiáveis entre as essas propriedades
avaliação dos riscos associados à exposição a NPs/NMs, seja ela
e os efeitos biológicos produzidos. A escolha de modelos celu-
ocupacional, ambiental ou deliberada (por via de produtos bio-
lares apropriados e a definição criteriosa da dose e duração da
médicos ou nanomedicamentos).[38] As NPs inorgânicas têm
sido alvo de inúmeros estudos toxicológicos em modelos celu-
exposição, fundamentada em informação biocinética, assumem
também um papel crítico, podendo condicionar a relevância
lares e animais.[39] Muitos destes trabalhos reportaram efeitos
dos resultados in vitro no que diz respeito à avaliação dos ver-
citotóxicos, genotóxicos, respostas inflamatórias e/ou indução
dadeiros riscos para os ecossistemas ou a saúde humana. Outro
de stress oxidativo, alertando para a necessidade premente de
importante desafio consiste no desenvolvimento de métodos
dossiê
de avaliação da toxicidade que sejam mais sensíveis e menos
suscetíveis a interferências do que os ensaios toxicológicos convencionais. Estudos emergentes de genómica, proteómica e
metabolómica mostram-se particularmente promissores a este
respeito, nomeadamente na identificação de novos marcadores
de resposta a NPs e no avanço da compreensão mecanística dos
seus efeitos biológicos.[41-43]
CONCLUSÕES
Este artigo pretendeu demonstrar a relevância de nanopartículas inorgânicas sintéticas em medicina. Para tal, descreveu-se
sumariamente um conjunto de exemplos de investigação em
nanopartículas para aplicações biomédicas, atualmente a decorrer na nossa unidade de investigação. Verifica-se que existe
conhecimento bem estabelecido ao nível da química preparativa e estudo de propriedades óticas e magnéticas, entre outras,
de nanomateriais com características morfológicas e estruturais
distintas. Contudo, ao nível de aplicações biomédicas faz sentido considerar as nanopartículas como entidades híbridas mais
complexas, devido à presença de biointerfaces de composição
química muito variável. Este é um campo que indiscutivelmente
impulsiona a investigação interdisciplinar, nomeadamente pelo
envolvimento de competências na área da ciência de nanomate-
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no desenvolvimento de novos nanomateriais para medicina,
surgem com igual relevância aspetos nanotoxicológicos que de-
tório Associado CICECO, Departamento de Quí-
vem ser ponderados e têm sido também objeto de investigação
mica da Universidade de Aveiro. Concluiu o Dou-
nos nossos laboratórios.
toramento em Química na mesma Universidade,
Iola Duarte é Investigadora Auxiliar no Labora-
em 2003, tendo-se especializado na aplicação de
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30
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
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composição metabólica de amostras biológicas
(metabolómica).
Tito Trindade é Professor Associado com
Agregação na Universidade de Aveiro (UA).
Concluiu em 1996 o doutoramento no Imperial
College de Londres e tem desenvolvido investigação no âmbito das atividades do Laboratório
Associado CICECO, onde atualmente coordena uma linha de investigação. É docente do
Departamento de Química da Universidade de
Aveiro. Atualmente desempenha as funções
de Diretor do Programa Doutoral em Nanociências e Nanotecnologia da Universidade de
Aveiro.
Nanotecnologia
na Saúde
Nanotecnologias em saúde
António Lúcio Baptista, Sílvia Carvalho, Carla Silva
“A nanotecnologia abre um leque imenso de possibilidades e soluções
na medicina, na indústria, no desporto, e em outras tantas áreas, que
pode abrir caminho para melhorar a segurança, os cuidados de saúde
e a qualidade de vida da população. Ao mesmo tempo, permite inovar
e preencher necessidades ou lacunas no mercado através de técnicas
de nanofabricação, abrindo caminho a novos mercados, a novos negócios
e ao consequente crescimento da economia e do emprego."
NANOTECNOLOGIA, SAÚDE E INOVAÇÃO - A TERCEIRA
ONDA
A Saúde, como todas as grandes áreas envolvendo diversos se-
humores para produzir energia elétrica e alimentar, por exemplo, um pacemaker.
Outra área com grande potencial diz respeito à farmacêutica e à
tores, sofre evolução muitas vezes disruptiva. Desde a primeira
cosmética. Nesta área trabalha-se, entre outras coisas, na criação
onda - há 30 anos, ou seja, a época dos grandes equipamentos
de medicamentos nano encapsulados para aplicações específicas.
hospitalares de serviços centralizados - à segunda onda, de há
20 anos para cá, que foi a euforia do ambulatório - uma exigên-
O norte de Portugal e a Galiza são já considerados uma eurorre-
cia dos cidadãos - várias foram as inovações implementadas.
gião de excelência para a nanotecnologia, daí que haja grande expectativa em torno dos próximos fundos europeus para a garantia
Estamos agora na terceira onda. Esta onda representa a passagem, para os cidadãos, da responsabilidade de cuidarem da
de coesão, desenvolvimento regional e criação de emprego. O
projeto ibérico Nanovalor, liderado pela Universidade do Minho,
sua própria saúde. Representa também uma nova e importante
é um exemplo de aposta na nanotecnologia e no reforço de laços
necessidade que é a de fornecermos, cada vez mais, equipa-
institucionais entre os vários atores-chave na área da nanotecnolo-
mentos que ajudem os cidadãos na avaliação e no tratamento. É
o caso dos MDDE (Medical Devices and Diagnostic Equipment),
gia do norte de Portugal e Galiza.
que incluem dispositivos médicos, consumíveis e material im-
A nanotecnologia é considerada, atualmente, uma das áreas de In-
plantável, como próteses, por exemplo.
vestigação e Desenvolvimento (I&D) mais promissoras e uma área
É nestes materiais que a nanotecnologia é fundamental. Têxteis
em rápida ascensão. O projeto Nanovalor está focado em seguir
uma estratégia bem estruturada e em criar vínculos entre inovação,
funcionalizados, como meias elásticas ou mangas nas quais se
tecnologia e I&D, indispensáveis para aproveitar ao máximo as
incorporam nanossensores para determinar parâmetros vitais
inúmeras possibilidades em nanotecnologia, criando, assim, cres-
ou libertar medicamentos, próteses vasculares ou cardíacas com
sensores capazes emitir alertas à distância ou medir o ritmo car-
cimento, valor acrescentado, competitividade, desenvolvimento e
riqueza aos vários setores onde a nanotecnologia pode ser aplica-
díaco, ligamentos biodegradáveis ou biobaterias que usam os
da, que são imensos.
SET /OUT 2013
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dossiê
Para além deste, proliferam os programas
enxertos in vitro para implantes, libertação controlada de fármacos, dispositivos nano e
de incentivo e apoio à nanotecnologia e
microeletrónicos, dispositivos fotovoltaicos e blindagem eletromagnética e uma enorme
os intervenientes, tais como a cooperação
gama de sensores baseados em nanofibras.
transfronteiriça Espanha-Portugal, o Fondo
Europeo de Desarrollo Regional, TecMinho,
Na área médica houve um grande desenvolvimento ao nível da monitorização dos sinais
CeNTI, INL, Feuga, USC, UPorto, Inesc Por-
vitais, novas fibras com funcionalidades e materiais implantáveis. Também materiais cirúr-
to, múltiplos centros e empresas, como a
gicos implantáveis beneficiam da incorporação de nanotecnologia, como é o caso dos
tendões artificiais, stents, válvulas cardíacas, próteses, dispositivos extracorporais, coração
CCDR-N e a AEP, por exemplo.
e pulmões artificiais e até ao nível de materiais mais comuns como as gazes, algodão, penOs materiais à base de fibras tornaram-
sos, batas, gorros, etc.
-se verdadeiros materiais de engenharia
para várias aplicações. Muitos destes materiais fibrosos tornaram-se inteligentes,
A nanotecnologia abre um leque imenso de possibilidades e soluções na medicina, na
com capacidade de responder a estímulos
segurança, os cuidados de saúde e a qualidade de vida da população. Ao mesmo tempo,
externos, como a atuação de sensores, a
permite inovar e preencher necessidades ou lacunas no mercado através de técnicas de
nanofabricação, abrindo caminho a novos mercados, a novos negócios e ao consequente
transferência de calor, mudanças de cor,
memorização da forma. A incorporação
de nanotecnologia permite, ainda, integrar
meios de comunicação pessoal e, a partir
da medicina genética, influenciar a proteção pessoal, os transportes e o desporto,
entre outros.
indústria, no desporto, e em outras tantas áreas, que pode abrir caminho para melhorar a
crescimento da economia e do emprego.
NANOTECNOLOGIA ASSOCIADA ÀS FIBRAS NA MEDICINA
Vivemos num mundo onde as fibras assumem um papel cada vez mais importante, em
que a sua vasta gama de características e propriedades específicas permitem responder a
A rebelião científica e tecnológica que atin-
diversos tipos de solicitações de ordem mecânica, química, biológica, térmica e acústica,
ge as universidades e cientistas, bem como
as empresas de alguns clusters, necessita
entre outras. Na realidade, estes materiais estão a revolucionar o nosso quotidiano por via
de "armas" e "munições". Os rebeldes, es-
dos avanços registados recentemente em tecnologias associadas à genética, à biologia, à
eletrónica e, claro está, à nanotecnologia. A possibilidade de produzir ou funcionalizar fi-
ses, estão dispostos a tudo a bem do país,
bras à nanoescala tem levado o homem a alargar fortemente os seus horizontes e a encon-
da criação de produtos exportáveis para o
mercado global, de alto valor acrescenta-
trar soluções para problemas anteriormente assumidos como quase irresolúveis. No caso
do. Estamos ainda esperançados no Hori-
específico da medicina, a nanotecnologia associada aos materiais fibrosos tem-se destacado pelo seu enorme potencial em vários campos, como diagnóstico, regeneração, terapia,
zonte 20-20 e no "cortar barreiras", repto
construção de equipamentos, libertação mais eficaz e controlada de medicamentos, entre
que lançamos ao Sr. Ministro da Economia,
Saúde e Turismo.
outros, contribuindo decisivamente para a melhoria global do bem-estar do ser humano.
A redução da escala permite identificar nanotubos e nanofibras de carbono com proprie-
NANOTECNOLOGIA E NANOFIBRAS
As nanofibras são normalmente produzidas
dades únicas a nível mecânico, elétrico e geométrico que os tornam ideais na construção de diferentes tipos de elétrodos à nanoescala e de biossensores. Estas propriedades
podem ser alteradas e melhoradas quer no seu processo de síntese quer durante a sua
funcionalização.
por fração eletrostática. Os polímeros base
normalmente utilizados são o polietileno,
Neste sentido, a Universidade do Minho tem explorado a possibilidade de utilização de
polipropileno, polibenzimidazole, poliacri-
nanofibras e nanotubos de carbono como elementos de sensorização em diversos dispo-
lonitrilo, poliamida e poliéster, entre outros.
sitivos utilizados em áreas distintas, incluindo os dispositivos médicos. Assim, utiliza-se a
capacidade piezorresistiva destes materiais para correlacionar a sua resistividade elétrica
Concebidos à escala nanométrica, têm elevada área suportável e potencial biomimé-
com a deformação provocada por uma determinada carga, quer seja em dispositivos implantáveis ou não implantáveis.
trico. Podem aplicar-se em campos muito
diversos como filtros de alta performance,
Esta tecnologia está a ser utilizada na monitorização de próteses endovasculares com ca-
materiais fibrosos, ultra-absorventes, compósito reforçado, produtos biomédicos,
pacidade de monitorização do seu posicionamento, durabilidade e das pressões a que
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tecno hospital 59 SET /OUT 2013
está sujeita no interior do vaso sanguíneo.
Nanotecnologia
na Saúde
Por outro lado, com o crescente número de aneurismas, torna-se fundamental avaliar e caracterizar os materiais fibrosos que
mentando a capacidade de descobrir e identificar alterações ao
possam ser integrados em stent-grafts, bem como desenvolver
nível do DNA, do RNA, de proteínas e outras biomoléculas em
tempo real. A maior sensibilidade e seletividade dos métodos
sensores que possam ser integrados nesses materiais, de modo
de deteção baseados em nanotecnologia permitirá o reconhe-
a monitorizar as mudanças de pressão e detetar movimentos do
dispositivo no interior do corpo humano. Neste caso, as fibras
cimento de biomarcadores que abrem oportunidades extraor-
apresentam a capacidade não só de reforço mas também de mo-
dinárias na análise biológica de sistemas de deteção eficazes
de doenças numa fase precoce, possibilitando a melhoria dos
nitorização.
resultados terapêuticos. Trata-se, sem dúvida, de uma ferramenta potente para alcançar o almejado objetivo da medicina
Da mesma forma, nanofibras e nanotubos de carbono estão a ser
individualizada.
utilizadas para reforço e monitorização de ortóteses produzidas
em material compósito. Neste âmbito, as nanofibras levam à pro-
No caso da engenharia de tecidos, também aqui as nanofibras
dução de um compósito não-homogéneo em que estes materiais
são apenas colocados nas zonas sujeitas a maiores esforços, como
poderão desempenhar um papel fundamental, já que as matri-
forma de aumentar a durabilidade da prótese e o bem-estar do
zes são desenvolvidas para suportar as células, promovendo a
sua diferenciação e proliferação para a formação de um novo
utilizador. Por outro lado, as mesmas nanofibras são utilizadas
tecido. Tais estratégias permitem a produção de construções
para monitorizar o estado de tensão/deformação da prótese durante a sua utilização, permitindo o seu reposicionamento e uma
híbridas que podem ser implantadas em pacientes para induzir
intervenção de manutenção atempada, em caso de necessidade.
a regeneração de tecidos ou substituí-los, caso se verifique um
funcionamento insuficiente dos órgãos. As nanofibras de polímeros naturais oferecem a vantagem de serem semelhantes às
NANOFIBRAS FUNCIONALIZADAS
macromoléculas biológicas, em que o seu ambiente biológico
está preparado para reconhecer e lidar com os mesmos. Devido
à sua semelhança com a matriz extracelular (ECM), os polímeros
Sob o ponto de vista da funcionalização das fibras a partir da nanotecnologia, com vista a possibilitar que estas desempenhem
naturais podem também evitar a estimulação de inflamação cró-
funções acrescidas, refira-se o projeto que está ser levado a cabo
tetados com polímeros sintéticos. A exploração das vantagens
na Universidade do Minho pelo FMRG - Fibrous Materials Resear-
únicas introduzidas pela nanotecnologia permite ultrapassar
limitações até aqui inultrapassáveis, nomeadamente as associa-
ch Group, que visa o desenvolvimento de um stent multifuncional híbrido, à base de materiais fibrosos, capaz de eliminar, ou
nica ou reações imunológicas e toxicidade, frequentemente de-
das à HAp (hidroxiapatite), assim como aquelas que são relati-
minimizar, as desvantagens dos stents metálicos, comercializados
vas ao fabrico de scaffolds nanoestruturados para mimetização
atualmente, aumentando a vida útil do stent e o bem-estar do
óssea detalhada, a nível estrutural e dimensional. As nanopartículas de HAp podem ser usadas nas seguintes aplicações: 1)
paciente.
Revestimentos bioativos em materiais bioinertes, permitindo a
Além disso, a principal inovação do estudo é a incorporação de
formação de filmes finos aderentes, que não afetam significa-
nanopartículas de material antibacteriano (ex. prata) na superfície
tivamente a morfologia do substrato ou a topografia; 2) Preparação de compósitos com outros materiais como o quitosano,
do stent, para que este seja libertado de um modo controlado,
proporcionando um efeito antimicrobiano contínuo e prevenindo
a infeção do stent.
colagénio, entre outros polímeros, possibilitando o reforço da
matriz e ao mesmo tempo promovendo a osteocondução; 3) Sistemas de libertação controlada de fármacos; 4) Terapia genética
para certos tipos de tumores.
A perfeição da Natureza e os anos de evolução que toma de
avanço diante do Homem ainda não permitem mimetizá-la na
perfeição. Contudo, com os avanços na ciência e tecnologia,
mormente com a introdução das nanotecnologias, o caminho a
percorrer vislumbra-se mais curto.
Figura 1: stent desenvolvido pelo grupo FMRG da universidade do minho.
O futuro dos biomateriais de substituição óssea e da implantoO desenvolvimento de nanomateriais e nanodispositivos abre
logia terá de passar, obrigatoriamente, pelo desenvolvimento e
novas oportunidades para melhorar o diagnóstico molecular, au-
otimização de superfícies, com uma micro, sub-micro e nanotoSET /OUT 2013
tecno hospital 59
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dossiê
pografia controlada e padronizada, de forma a ir de encontro à
de pesquisar nanotecnologias que permitam, genericamente,
estrutura óssea natural.
melhorar as propriedades dos materiais, ou dotá-los de funcionalidades acrescidas com elevado interesse para o consumidor
NANOTECNOLOGIA NO DESENVOLVIMENTO
DE NOVOS PRODUTOS INDUSTRIAIS
final, sem no entanto descurar as suas propriedades técnicas
iniciais, como sejam a sua resistência, durabilidade, textura, flexibilidade e outras propriedades macroscópicas.
Nos últimos anos, a nanotecnologia tem tido um papel prepon-
Como exemplos, salientam-se materiais de fácil limpeza, an-
derante em todas as inovações industriais. As nanociências e
tibacterianos e com elevada resistência à abrasão e uso (vul-
nanotecnologias permitem o estudo dos fenómenos naturais
garmente designados como materiais funcionais), bem como
materiais capazes de responder a estímulos externos desenca-
e a manipulação dos materiais na escala atómica, molecular e
macromolecular. De facto, a nanotecnologia é uma designação
abrangente para várias tecnologias de investigação e produção
na escala nanométrica (desde nanoestruturas, nanorrevestimentos, nanofibras, nanoencapsulação, nanocircuitos, nanossensores e nanopartículas, entre outras).
deando uma determinada ação (vulgarmente designados como
materiais inteligentes). Para o sucesso do CeNTI muito tem contribuído a existência de tecnologias de ponta, algumas únicas na
Europa, uma equipa multidisciplinar e com elevada formação e
uma visão de investigação orientada ao produto/processo com
escalabilidade industrial. Por outro lado, o estabelecimento de
Atualmente, a nanotecnologia e os nanomateriais são cada vez
parcerias estratégicas e a participação em projetos estruturan-
mais utilizados no desenvolvimento de novos produtos e em
tes neste domínio (como o projeto i-Nanotool, que pretende o
desenvolvimento de uma ferramenta interativa para auxiliar os
aplicações industriais. Alguns exemplos são aplicações na área
da eletrónica, das energias renováveis, do ambiente, do automóvel/aeronáutica, da saúde, e da defesa, entre outras. Diversos produtos do nosso quotidiano, como os protetores solares,
cosméticos, medicamentos, automóveis, tecidos, telemóveis e
calçado desportivo, contêm alguma forma de nanotecnologia
produtores de nanopartículas a implementar a legislação em vigor) tem permitido ao CeNTI manter-se na vanguarda da investigação e desenvolvimento de novos produtos e/ou processos
a nível mundial.
e/ou nanomaterial na sua composição. A perceção de que a na-
As figuras seguintes mostram alguns dos produtos desenvolvi-
notecnologia e a nanociência representam um novo patamar de
dos pelo CeNTI, em parceria com empresas, com potencial de
aplicação no setor médico-hospitalar.
conhecimento, com imensos e ainda não devidamente mensurados impactos científicos e económicos, levou os países líderes a
desenhar iniciativas nacionais ou regionais de incentivo e financiamento privilegiado para esta área, visando não só alcançar
produtos com elevado conteúdo tecnológico bem como novos
patamares de competitividade para as empresas.
Perante a importância desta área científico-tecnológica para
o desenvolvimento industrial que se prevê nos próximos anos,
torna-se imperativo promover a troca de conhecimento e a articulação entre o desenvolvimento da nanotecnologia e as necessidades da indústria no geral. Esta tem sido, desde a sua criação
em 2006, até aos dias de hoje, a visão do CeNTI, o Centro de
Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes,
sediado em Vila Nova de Famalicão.
De facto, o CeNTI tem trabalhado diretamente com o tecido
industrial nacional e internacional no desenvolvimento de novos produtos e/ou processos que incorporam, de alguma forma, nanotecnologia e/ou nanomateriais, em substratos que vão
desde tecidos, passando pela cortiça e madeira, até à cerâmi-
Figura 2 - Nanofibras produzidas por electrospinning, a partir de polímeros na-
ca e materiais poliméricos ou metálicos. Uma condição basilar
de todos os substratos citados prende-se com a necessidade
turais biodegradáveis, com potencial de aplicação em engenharia de tecidos e
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tecno hospital 59 SET /OUT 2013
implantes.
Nanotecnologia
na Saúde
Figura 3 – Fibras bicomponentes com geometria complexa (tipo islands-in-the-sea),
“a nanotecnologia é uma designação
abrangente para várias tecnologias
de investigação e produção
na escala nanométrica (desde
nanoestruturas, nanorrevestimentos,
nanofibras, nanoencapsulação,
nanocircuitos, nanossensores
e nanopartículas, entre outras)"
produzidas por extrusão a partir de biopolímeros, com potencial de aplicação para
libertação de fármacos.
biente e com menores consumos energéticos, além de oferecer
produtos funcionais e de maior valor acrescentado, que certamente causarão a obsolescência de diversos produtos e processos que hoje estão em uso.
Espera-se, assim, que a nanotecnologia contribua de forma
significativa para o desenvolvimento industrial mundial, tendo
fortes repercussões no norte de Portugal em particular, dada a
centralização de alguns setores tradicionais da indústria nesta
região do país, tornando-os mais sustentáveis do ponto de vista
económico, social e ambiental. De facto, a exploração comerFigura 4 – Sensores biométricos produzidos no CeNTI, para monitorização e controlo remoto de sinais vitais.
cial dos materiais funcionais desenvolvidos permitirá abrir novos
mercados, estimular a substituição de materiais "tradicionais"
por materiais funcionais e adicionar valor aos produtos exis-
Prevê-se que, num futuro próximo, a nanotecnologia esteja
tentes. Todas estas sinergias contribuirão, sem dúvida, para a
amplamente presente, mesmo nas indústrias mais tradicionais,
como a indústria têxtil e da construção, tornando os processos
geração de negócio e para o aumento da competitividade das
empresas, sendo o CeNTI um parceiro de referência para todos
de produção mais baratos, menos agressivos para o meio am-
estes desafios que se avizinham.
António Lúcio Baptista é médico especialista em Cirurgia Cardiotorácica com grande experiência na área vascular. É
fundador e presidente da Altec – Associação de Laserterapia e Tecnologias Afins e membro da direção da ELA – European Laser Association. É fundador e CEO da Iberia Advanced Healthcare, uma empresa que constitui uma plataforma
científica e tecnológica, fazendo a ponte entre ciência e inovação e o setor empresarial para criar produtos inovadores
de valor acrescentado para a exportação.
Carla Silva é licenciada em engenharia biológica e doutorada em química têxtil pela universidade do Minho. Trabalha
desde 2007 como investigadora sénior, sendo atualmente gestora da área dos materiais funcionais & soluções do CeNTI.
Sílvia Carvalho é investigadora do projeto FIBRENAMICS – O Novo Mundo dos Materiais à Base de Fibras, assumindo
as funções de coordenação das atividades relacionadas com divulgação científica e de ligação aos meios empresarial e
académico. Obteve, em 2011, o grau de Mestre em Micro/Nano Tecnologias, pela Universidade do Minho, com dissertação em materiais fibrosos auto-limpantes para aplicações diversas.
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dossiê
A Nano-Biotecnologia têxtil
para utilização em terapêutica auxiliar
no tratamento e de úlceras de pressão
Carla Mendes
COMBATE ÀS ÚLCERAS DE PRESSÃO
nível do material para pensos. A constante procura de uma solução
de tratamento ideal, tem dado origem à colocação no mercado de
O envelhecimento acelerado da população, o número de acamados exis-
uma vasta variedade de produtos com vista ao tratamento desta
patologia (1).
tentes atualmente no nosso país é,
sem dúvida, um fator de preocupção
Por definição, uma UPr é uma alteração degenerativa na pele e teci-
para as instituições de saúde que ten-
dos subjacentes, resultando por norma, da combinação de pressão
tam combater uma das consequênci-
excessiva com forças de fricção e deslizamento. Trata-se de uma
as deste envelhecimento e baixa mobilidade, as úlceras de pressão.
lesão cutânea que se produz em consequência de uma redução do
fluxo sanguíneo no sistema microvascular que reveste uma saliência óssea, nas zonas em que esta foi pressionada contra uma cama,
Consciente desta situação, pretende-se, no âmbito de um projec-
uma cadeira de rodas, um molde, uma tala ou outro objeto rígido
to de investigação a decorrer na Universidade da Beira Interior
durante um certo período de tempo (2).
(Dissertação para a obtenção de Grau de Doutor, na área da Engenharia Têxtil) utilizar a nano-biotecnologia têxtil no desenvol-
Segundo os dados recolhidos pelo GAIF, os únicos indicadores fiá-
vimento de um conjunto de estruturas têxteis que poderão ser
veis para esta patologia em Portugal foram produzidos por Ferreira
usadas em pensos inovadores para o manuseamento e tratamen-
(2007), onde é indicado que a prevalência média das Upr, em meio
to destas feridas crónicas. A utilização de biopolímeros com propriedades específicas, o recurso à nanotecnologia e aos têxteis
hospitalar, é de 11,5%, com uma incidência média de 10,16%. Com
uma população cada vez mais envelhecida, as Upr são, sem dúvida,
funcionais constituem os vetores essenciais ao desenvolvimento
um problema de saúde ao qual se deve prestar toda a atenção.
desses pensos, que se pretende poderem vir a ser uma alternativa
de excelência aos produtos existentes no mercado.
A seleção do penso mais adequado para o tratamento da UPr
por parte dos profissionais de saúde deve ter em consideração
Palavras-chave: Úlceras de Pressão, nanotecnologia, nanofibras,
as características intrínsecas e extrínsecas de um determinado
biopolimeros, pensos, têxteis inteligentes, colagénio, quitosano e
paciente, bem como a especificidade da ferida em causa. A sis-
alginato de sódio.
tematização das características de um penso ideal foi definida
por Turner, e baseia-se nas seguintes premissas:
FORMAÇÃO DE ÚLCERAS DE PRESSÃO
¬ Capacidade de manter o leito da ferida húmido, mas não molhado;
Existem muitas recomendações de diversas fontes para a prevenção das úlceras de pressão e muitas alternativas de tratamento ao
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tecno hospital 59 SET /OUT 2013
¬ Capacidade de remover o excesso de exsudado e de produtos tóxicos;
Nanotecnologia
na Saúde
¬ Permitir trocas gasosas;
¬ Permitir isolamento térmico;
em compósitos, sistemas reativos, libertação controlada de químicos e, ainda, armazenamento de energia.
¬ Capacidade de proteger de infeções secundárias;
¬ Ser livre de contaminantes;
Ao nível de aplicações têxteis, esta tecnologia tem sido utilizada
¬ Não libertar partículas;
¬ Ser de fácil remoção, sem causar trauma no paciente.
na produção de nanofibras, vestuário mimético e com mudança
de cor, vestuário anti-nódoas, vestuário anti-vincos, fabricação
de filtros de alta performance, etc (3,4).
O envelhecimento acelerado da população, com o consequente
aumento da incidência e do número de casos de Upr, tem vindo
Devido à sua elevada relação superfície/volume e o seu notá-
a estimular e a orientar o mercado para o desenvolvimento de
vel desempenho mecânico, estas nano-fibras demonstram um
novos pensos no tratamento de feridas crónicas.
grande potencial para aplicações na medicina, tais como a rege-
Pretende-se, com este projeto, juntar sinergias, nomeadamente
neração de tecidos humanos, fabrico de sensores ou vestuário
de proteção.
a Engenharia Têxtil e a bio-nanotecnologia para o desenvolvimento de dispositivos médicos que respondam às necessidades
deste tipo de doença.
NANOTECNOLOGIA TÊXTIL
Nanotecnologia, de acordo com o National Nanotechnology
Initiative (NNI), é definida como a utilização de estruturas com
Várias pesquisas com vista à aplicação da nanotecnologia na
medicina têm proposto novos produtos para aplicação em tecidos moles e próteses.
Neste estudo, e através do processo de eletrofiação, pretende-se a criação de um véu compósito de nanofibras à base de biopolímeros específicos, para serem depositados numa camada
fina, homogénea e porosa, sobre uma estrutura de tecido duro,
pelo menos uma dimensão de tamanho nanométrico, utilizados
(ligadura/gaze), para ser implantado sobre a pele como material
na construção de nanomateriais, dispositivos ou sistemas com
para penso. Este tecido será preparado previamente através de
um tratamento de plasma, que ao modificar a superfície desse
propriedades novas ou significativamente melhoradas devido
ao seu tamanho nano.
tecido o torna mais recetivo à deposição das nanofibras.
Atualmente, a nanotecnologia pode ser agrupada em três grandes campos de aplicação: Nanoeletrónica, Nanomateriais e
Nanobiologia. Os nano-materiais possuem uma muito elevada
O autor acredita que as excelentes propriedades dos biopolímeros utilizados e as características inerentes aos tecidos e ao
superfície específica, o que os torna ideais para serem utilizados
tipo de matérias primas utilizadas, nomeadamente o custo, a
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dossiê
resistência, extensibilidade, flexibilidade, permeabilidade ao
ar, gestão de humidade, estrutura e dimensão, permitirão con-
Os biopolímeros usados foram escolhidos pelas suas características, sendo já muito utilizados por esse motivo em áreas
ceber estruturas simples ou compósitas que otimizam o penso
da medicina.
para uma aplicação específica.
METODOLOGIA
O quitosano é um polímero natural valioso que apresenta
excelentes propriedades bioativas. Provém das carapaças
de caranguejos, crustáceos, camarão e lagosta, insetos (por
exemplo asas das borboletas) e também medusa, algas e al-
O processo geral de desenvolvimento da nova solução tecnológica encontra-se dividido em três fases:
guns fungos. Os produtos produzidos à base de quitina são
anti-bacterianos, antivirais, antifungícos, não-tóxicos e anti-alérgicos. Possuem ainda outras qualidades, tais como a
1. Eletrofiagem dos biopolímeros (quitosano, colagénio e policaprolactona)
2. Construção das nanoestruturas compósitas para formação da
matriz ativa dos novos pensos.
suavidade, respirabilidade, absorvência, existência de superfícies lisas e ausência de aditivos químicos, o que, na perspetiva do autor, os torna ideais para a utilização no tratamento
de feridas.
3. Análise de desempenho para validação dos novos pensos.
Primeira fase - Eletrofiação dos biopolímeros
O colagénio foi escolhido por se tratar da classe mais abundante de proteínas do organismo humano, sendo fundamental à cicatrização. O colagénio usado neste projecto foi obtido industrialmente através dos bovinos.
Nesta fase, já concluída, foi utilizado um dos métodos mais
versáteis para a produção de nanofibras dos biopolímeros uti-
Os alginatos são uma família de hidrocoloides naturais, pro-
lizados, a eletrofiação. Neste processo, foram usados campos
duzidos a partir de algas marinhas da espécie Laminaria. São
elétricos de alta tensão (5-50KV) e baixa corrente (0,5-1µA) para
produzir um campo elétrico entre a extremidade de uma agulha
solúveis em água e utilizados principalmente como espessan-
carregada eletricamente e a painel coletor. Um jato de material
fluido é acelerado e estirado através de um campo eléctrico pro-
e são compostos por sais de sódio, cálcio ou ácido algínico.
São utilizados em pensos para tratamento de feridas, já que
duzindo fibras de diâmetro muito reduzido (5).
auxiliam na limpeza destas, sendo que a libertação dos iões
No sentido de alcançar uma deposição mais uniforme e para a
permite acelerar a cicatrização. Na presença do exsudado no
leito da ferida, ocorre uma troca de iões entre o penso e o só-
produção de um véu de nanofibras mais regular e homogéneo,
dio do exsudado que origina a formação de um gel hidrofílico
utilizou-se um sistema automático deposição com movimento
circular e tangencial (figura 1).
que ajuda na cicatrização.
tes, estabilizantes e gelificantes. São altamente absorventes
Segunda fase – Construção
de nano estruturas compósitas
Após a produção dos véus de nanofibras, estas serão depositadas numa estrutura de gaze de tecido e gaze de não tecido,
tratada num sistema de plasma de baixa pressão.
O plasma consiste, segundo Sir William Crooks, 1879, no 4º
estado da matéria, sendo este conceito mais tarde referenciado por Irving Langmuir pela primeira vez como “Plasma”
para uma experiência de descarga elétrica em tubos de gás.
É considerado uma mistura gasosa ionizada (contém eletrões,
iões e partículas atómicas neutras e/ou moléculas), com partículas de cargas opostas com uma carga elétrica quase nula.
Figura 1 - Pormenor do protótipo de eletrofiação disponível no D.C.T.T., da Universidade da Beira Interior
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Com este pré-tratamento das gazes ocorrerá a ativação, funcionalização e revestimento das superfícies, modificando
Nanotecnologia
na Saúde
morfologicamente a sua estrutura, tornando-a mais apta à
deposição das nanofibras. Esta deposição será efetuada no sistema automático de deposição.
Esta fase está neste momento a ser iniciada.
Terceira fase – Análise do desempenho do penso
Será ainda efetuada uma avaliação do desempenho do penso,
tendo em conta os seguintes parâmetros:
¬ Parte 1: Absorção
¬ Parte 2: Permeabilidade ao vapor de água dos pensos com
Figura 2 – Pormenor das nanofibras de colagénio obtidas com recurso a uma fonte
uma película permeável
¬ Parte 3: Resistência à penetração de água
¬ Parte 4: Conformidade / Adaptabilidade
¬ Parte 5: Propriedades como barreira bacteriana
¬ Parte 6: Controlo do odor
Pretende-se, com esta análise, identificar a estrutura que apresenta o melhor desempenho.
RESULTADOS
Este projeto está, atualmente, a iniciar a segunda etapa. Assim,
em virtude dos ensaios de eletrofiação realizados, e para os bio-
de tensão.
“ Os nano-materiais possuem uma
muito elevada superfície específica,
o que os torna ideais para serem
utilizados em compósitos, sistemas
reativos, libertação controlada de
químicos e, ainda, armazenamento
de energia."
polímeros já testados, os valores obtidos para as nanofibras são:
Colagénio
Quitosano
Tabela 1 – Condições experimentais para a eletrofiação do colagénio
Tabela 2 - Condições experimentais para a eletrofiação do quitosano
Solvente para o colagénio
0,1% de solução 0,1 N Ácido
Solvente para o Óxido
acético
Polietileno (PEO)
Água Destilada
Condições dissolução
Com agitação a frio
Fonte de Tensão
1ª Fonte: Tensão: 30 KV
Intensidade: 0,05µA
Solvente para o quitosano
Solvente para o Óxido
Polietileno (PEO)
Condições dissolução
Fluxo de alimentação
Concentrações (Wt%)
(Colagénio - PEO)
Distância extremidade
da agulha - arco Distância
Fonte de Tensão
5 ml/min.
Fluxo de alimentação
1,5 - 2
Concentrações (Wt%)
(Colagéneo - PEO)
4 cm
Ácido acético 2% V/V
Água Destilada
Com agitação a frio
1ª Fonte: Tensão: 30 KV
Intensidade: 0,05µA
15 µl/min.
1 – 1,5
10,5 cm
Distância extremidade
da agulha - placa coletora
12 cm
Tempo de processo (horas)
1
Tempo de processo (horas)
1
Diâmetro das nanofibras
1ª Fonte: 109 nm a 159 nm
Diâmetro das nanofibras
1ª Fonte: 109 nm a 159 nm
arco – placa coletora
SET /OUT 2013
tecno hospital 59
39
dossiê
CONCLUSÕES
O projeto de investigação aqui apresentado é objeto de uma
tese de Doutoramento em curso, encontrando-se esta já numa
fase adiantada. Com base nos resultados preliminares obtidos
(obtenção dos filmes de nanofibras de biopolímeros), o autor
acredita que o trabalho apresenta um elevado potencial de sucesso. Se os objetivos propostos forem alcançados é previsível
que as novas estruturas possam contribuir para evitar a progressão das UPr para estádios mais avançados e promover a sua cicatrização de uma forma mais acelerada. Consequentemente,
os tempos de hospitalização poderão ser reduzidos e o recurso
Figura 3 – Pormenor das nanofibras de quitosano obtidas com recurso a uma fonte
de tensão.
a técnicas mais dispendiosas (tratamento cirúrgico) evitadas.
Também a qualidade de vida e o conforto dos pacientes e das
suas famílias serão significativamente melhorados.
Alginato de Sódio
REFERÊNCIAS
Tabela 3 - Condições experimentais para a eletrofiação do Alginato de sódio
1.
2.
Solvente para o colagénio
Solvente para o Óxido
Água Destilada
4.
5.
Polietileno (PEO)
Condições dissolução
Fonte de Tensão
Fluxo de alimentação
Concentrações (Wt%)
(Quitosano - PEO)
Distância extremidade
da agulha - placa coletora
3.
Com agitação
a quente – 70ºc
6.
Rocha, J.; Miranda, M.; Andrade, M.;(2006), Abordagem terapêutica das úlceras de pressão- Intervenções baseadas na evidência. Serviço de Fisiatria do Hospital Geral de Santo António, S.A.
Porto
Goulart, F.; Ferreira, J.; Santos, K.; Morais, V.; Filho, G. “ Prevenção de úlceras por pressão em
pacientes acamados: Revisão de literaura; Instituto Superior de Rio Verde
Engo, H.(2005). Nanotecnologia na Indústria Têxtil: onde estamos e para onde vamos,Nanotec;
São Paulo.
Grupo ETC. Nanotecnologia – os riscos da tecnologia do futuro, L&PM Editores, 198p. 2005.
Portela P., (2010), “Montagem e Automatização de um sistema de Electrospinning”. Dissertação
para obtenção do grau de mestre em Engenharia Electrónica Industrial e Computadores, U.M.;
Huang Z., Zhang Y., Kotaki M., Ramakrishna S., (2003), “A review on polymer nanofibers by electrospinning and their applications in nanocomposites”. Departmente of Engineering Mechanics,
Tongji Universite, china.
1ª Fonte: Tensão: 30 KV
Intensidade: 0,05µA
15 µl/min.
1 - 1,5
10 cm
Tempo de processo (horas)
5
Diâmetro das nanofibras
1ª Fonte: 15 nm a 21nm
“ Se os objetivos propostos forem
alcançados é previsível que as novas
estruturas possam contribuir para
evitar a progressão das UPr para
estádios mais avançados e promover
a sua cicatrização de uma forma
mais acelerada."
Carla Mendes é licenciada em Engenharia Têxtil pela Universidade da Beira Interior, é Mestre
em Gestão de Produção Têxtil e frequenta o
Doutoramento na área dos têxteis médicos,
também na Universidade da Beira Interior.
No ano de 2009 passou também a exercer funções como responsável da Qualidade do Serviço de Instalações e Equipamentos do Centro
Hospitalar Cova da Beira EPE. É Sócia fundadora da Associação Portuguesa de Hotelaria Hos-
Figura 4 – Pormenor das nanofibras de alginato de sódio obtidas com recurso a uma
pitalar e responsável pela área do tratamento
fonte de tensão.
de roupa desde 2010.
40
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
PROJETO ECO.AP
Será possível poupar 6 800 000 euros?
Ranking de eficiência energética
e hídrica 2012
Liliana Pereira e Luís Inácio
Liliana Pereira, coordenadora da implementação do PEBC e ECO.AP ao nível do Ministério da Saúde e do Comité de boas práticas para a sustentabilidade da ACSS, IP.
Luís Inácio, Gestor Local de Energia e Carbono, colaborador da ACSS, IP.
ENQUADRAMENTO DO PROGRAMA ECO.AP
¬ Gestor Local de Energia e Carbono (GLEC): foi nomeado
um por cada entidade do Ministério da Saúde, tratando-se
Ao nível do Ministério da Saúde, a definição da estratégia de
implementação do Plano Estratégico do Baixo Carbono (PEBC)
e do Programa de Eficiência Energética na Administração Públi-
dos elementos centrais de coordenação técnica e acompanhamento do PEBC e do ECO.AP. Em termos de organização
interna do MS, foi criada uma rede de GLEC com o objeti-
ca (ECO.AP) está a ser coordenado pela Administração Central
vo de garantir o acompanhamento e a implementação das
do Sistema de Saúde, IP (ACSS, IP), tendo por base a legislação europeia e nacional (Resolução do Conselho de Ministros
n.º 93/2010, de 26 de novembro, e Resolução do Conselho de
ações. Até à data, grande parte dos GLEC do setor da saúde
tiveram oportunidade de frequentar uma ação de formação
financiada, sobre a implementação do ECO.AP, ministrada
Ministros n.º 2/2011, de 12 de janeiro), assim como orientações
pela ADENE, encontrando-se previstas mais ações com o in-
estabelecidas em despachos de Sua Excelência o Senhor Secretário de Estado da Saúde (Despacho n.º 1729/2011, de 21 de
janeiro, Despacho n.º 8662/2012, de 21 de junho e Despacho n.º
tuito de possibilitar a frequência de todos.
4860/2013, de 9 de abril).
Os principais objetivos da implementação do PEBC e ECO.AP
no setor da saúde são a redução das emissões de gases com
efeito de estufa e o aumento da eficiência nos consumos de
energia, água e na produção de resíduos dos edifícios do setor
público da saúde, através de medidas que resultem simultaneamente em benefícios económicos e na melhoria da prestação
de serviço.
Desde 2010, foi desenvolvido:
¬ Guia de Boas Práticas para o Setor da Saúde: este Guia foi
publicado pela ACSS, IP e pretende identificar um conjunto
¬ Plano Estratégico do Carbono e da Eficiência Energética:
projeto-piloto que decorreu em três unidades de saúde (dois
hospitais e um centro de saúde), que teve como principal ob-
de ações comportamentais e de gestão dos respetivos edifícios, de baixo custos de investimento, que podem ser implementadas em todas as entidades públicas do setor da saúde,
jetivo sistematizar um conjunto de iniciativas que resultassem
com o objetivo de ter um impacto na redução das emissões
simultaneamente na diminuição das emissões de gases com
de carbono e na melhoria da eficiência, reduzindo os consumos de energia, água e produção de resíduos.
efeitos de estufa e dos custos da Saúde, e que permitissem
avaliar o método, antes de uma possível expansão aos restan-
¬ Contratos de Gestão de Eficiência Energética: foram se-
tes estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
lecionadas 4 unidades hospitalares piloto que irão celebrar
Este estudo resultou num relatório com medidas concretas
estes contratos com Empresas de Serviços Energéticos
para implementação por cada uma das unidades, permitindo
(ESE), sendo estas últimas responsáveis pela implementação
e financiamento de um conjunto de medidas de eficiência
a identificação de um conjunto de 26 iniciativas que se organizaram em seis grupos: compras, energia, operações, águas
& resíduos, transportes e doentes.
energética nos edifícios públicos e remuneradas ao longo do
contrato, em função da efetiva e verificada redução de consu-
A secção PROGRAMA ECO.AP conta com a colaboração da
41
PROJETO ECO.AP
“De acordo com essa estimativa (...) seria possível obter uma
poupança de cerca de 6 milhões de euros através da redução
dos consumos de energia e de cerca de 800 mil euros através
da redução dos consumos de água.”
mos de energia. O Ministério da Saúde
¬ Definiu atribuições para os GLEC do MS;
(MS) é visto como um dos Ministérios
mais avançados e empenhados na im-
¬ Determinou a elaboração do Guia de Boas Práticas para o Setor da Saúde e do
Ranking de Eficiência dos Hospitais do SNS.
plementação efetiva deste programa,
bem como dos Ministérios com maior
potencial de poupança associada.
¬ Monitorização de consumos e custos
com energia, água e produção de
resíduos: os GLEC de todas as enti-
¬ Apresentação do nível de eficiência com que cada uma das entidades hospitalares
utiliza recursos energéticos e hídricos;
dades do MS enviam para a ACSS, IP
informação relacionada com os consu-
¬ Evolução dos consumos e custos entre os anos de 2011 e 2012;
mos e custos com energia, água e pro-
drica;
¬ Promoção de uma política de benchmarking de eficiência energética e hídrica
dução de resíduos, desde 2011, que
permitem a respetiva monitorização
e análise da evolução. Em 2011 e 2012
a informação foi recolhida numa base
anual. Contudo, a partir de 2013 a in-
¬ Identificação das potenciais oportunidades de racionalização energética e hí-
entre entidades do SNS.
Em termos metodológicos, este foi desenvolvido em quatro etapas: recolha de informação das entidades hospitalares, agrupamento das entidades em grupos de
formação passou a ser recolhida numa
base trimestral para que se possa
acordo com a região do país e/ou características dos edifícios, construção de mapas
atuar o mais precocemente possível.
energética e de eficiência hídrica.
RANKING DE EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA E HÍDRICA
DOS HOSPITAIS DO SNS
Conforme indicado no enquadramento,
a ACSS, IP procede à monitorização de
consumos e custos com energia, água e
produção de resíduos desde 2011. A sua
divulgação enquadra-se no Despacho
n.º 4860/2013, de 9 de abril, do Senhor
Secretário de Estado da Saúde, que:
¬ Estabeleceu metas de redução de
consumos para 2013, relativamente a
2011:
a. Consumos de eletricidade e gás:
-10%;
b. Consumos com água: -5%;
c. Produção de resíduos: -5%.
42
O Ranking de Eficiência dos Hospitais do SNS é uma ferramenta que visa promover a
redução dos consumos e dos custos com energia e água através da:
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
de evolução de consumos entre 2011 e 2012 e construção dos rankings de eficiência
A construção do ranking permitiu verificar que o custo total com as utilities (eletricidade, gás e água) dos hospitais do SNS em 2012 foi de cerca de 93 milhões de euros,
sendo que o peso de cada uma na fatura anual dos hospitais do SNS corresponde,
aproximadamente, a 52% para a energia elétrica, 30% para o gás e 18% para a água.
PROJETO ECO.AP
A evolução de consumos de energia e
água, entre 2011 e 2012, foi realizada
por região de saúde (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve)
e por entidade hospitalar. Em termos
nacionais, verificou-se uma redução dos
consumos com a energia ativa de cerca
de 2,6%. A despesa com energia elétrica aumentou cerca de 18,1% no mesmo
período, facto que se deveu, fundamentalmente, ao aumento das tarifas e do
IVA (de 6% para 23% em outubro de
2011).
O consumo de água diminuiu no período analisado em cerca de 1,9%, enquanto que os custos aumentaram em cerca
de 6,2%, devido ao aumento das respetivas taxas e tarifas.
O Ranking de eficiência energética foi
realizado para 6 grupos: grupo I (região
de saúde do Norte), grupo II (região de
saúde do Centro), grupo III (região de
saúde de Lisboa e Vale do Tejo), grupo
IV (região de saúde do Alentejo e Algarve), grupo V (institutos de oncologia), grupo VI (entidades hospitalares
com centrais de cogeração). Para cada
grupo são apresentados os resultados
discriminados por entidade hospitalar,
com o respetivo indicador de dimensão
do edifício (kgep/m 2 ) e indicador de
produção do serviço (kgep/doente padrão), assim como a respetiva variação
de eficiência, face à média do grupo.
Evolução do consumo anual de Água
O Ranking de eficiência hídrica foi rea-
6.000.000
-1,9%
lizado para 4 grupos: grupo I (região
Consumo anual de Água
[m³]
5.000.000
de saúde do Norte), grupo II (região de
saúde do Centro), grupo III (região de
saúde de Lisboa e Vale do Tejo), grupo
4.000.000
3.000.000
2.000.000
IV (região de saúde do Alentejo e Algar-
-2,0%
2011
2012
-1,1%
1.000.000
+3,0%
entidade hospitalar, com o respetivo in-
+3,3%
0
I. Região de Saúde
do Norte
II. Região de Saúde
do Centro 1)
ve). Tal como no ranking de eficiência
energética, para cada grupo apresentam-se os resultados discriminados por
-3,2%
III. Região de
Saúde de Lisboa
e Vale do Tejo 2)
IV. Região de Saúde
do Alentejo
V. Região de Saúde
do Algarve
Total Nacional 3)
dicador de dimensão do edifícios (m3 /
43
PROJETO ECO.AP
“Os principais objetivos da implementação do PEBC e ECO.AP
no setor da saúde são a redução das emissões de gases com
efeito de estufa e o aumento da eficiência nos consumos de
energia, água e na produção de resíduos dos edifícios do setor
público da saúde (...)”
guns casos, poderão ser mitigados com a
implementação de soluções de correção
do fator de potência.
Tendo em conta o potencial de redução
de consumos e custos para cada entidade hospitalar, apresenta-se também uma
estimativa do potencial de redução de
consumos energéticos e hídricos, tendo
por base o Despacho n.º 4860/2013, de 9
de abril, que determina as metas de redução de consumos a observar em 2013. De
acordo com essa estimativa, e considerando como pressuposto a manutenção
dos preços unitários atuais da energia e
água, seria possível obter uma poupança
de cerca de 6 milhões de euros através da
redução dos consumos de energia e de
m 2 ) e de produção do serviço (m 3 /doente padrão), e, ainda, a variação face à média
do grupo.
cerca de 800 mil euros através da redução
dos consumos de água.
Também foram analisados os custos com a energia reativa, tendo-se concluído que
O Ranking de eficiência energética e hí-
o encargo com esta energia corresponde a cerca de 1% da fatura anual de energia
elétrica do SNS. No Ranking são também apresentados os custos e pesos relativos
drica dos hospitais do SNS encontra-se
publicado na página da internet da ACSS,
nos consumos totais de energia elétrica de cada entidade hospitalar, que, em al-
IP: www.acss.min-saude.pt
Tabela 1: Principais conclusões do Ranking de eficiência energética e hídrica do SNS.
Energia
Reduções potenciais
Consumos
[KWh]
Água
Custos
Consumos
[%]
[€]
[%]
Custos
[m3 ]
[%]
[€]
[%]
I. Região de Saúde do Norte
-25.802.755
31
-2.020.772
33
-76.895
29
-260.750
32
II. Região de Saúde do Centro
-18.476.094
22
-1.149.485
19
-44.729
17
-144.650
18
III. Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo
-33.048.517
40
-2.388.571
39
-123.518
47
-330.261
41
IV. Regiões de Saúde do Alentejo
-3.030.292
4
-281.798
5
-9.578
4
-29.315
4
V. Regiões de Saúde do Algarve
-2.262.589
3
-220.137
4
-9.096
3
-48.626
6
Total Nacional
-82.620.247
100
-6.060.763
100
-263.815
100
-813.603
100
44
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
PROJETO ECO.AP
Opinião por J. Graça Rocha
O país a dois ritmos
J. Graça Rocha é Membro Sénior da Ordem dos Engenheiros e especialista em Climatização
“O cidadão que se desloca aos serviços de saúde encontra-se
fragilizado ou potencialmente afetado por alterações do seu
estado físico e deve ser recebido em condições ambientais que
o protejam(...)”
teórico, também no que se refere ao conforto e qualidade do ar
E não venham argumentar com a crise e a falta de dinheiro porque
algumas destas histórias são antigas e resultam da incapacidade
dos espaços interiores das unidades de saúde.
de quem gere de entender que esses sistemas, além de neces-
Persiste entre nós o desfasamento entre a realidade e o debate
sários, requerem contratos de manutenção como qualquer equidemonstram a nossa capacidade e qualidade na atualização per-
pamento médico, pois participam, como sabemos, quando bem
projetados, no controlo das condições da assepsia e das infeções
manente de conhecimentos, na produção de artigos científicos,
cruzadas dos locais onde se prestam serviços de saúde.
Participamos e organizamos debates técnicos e científicos que
iniciativas e investimentos do maior interesse para a comunidade,
mas a diferença entre o que lemos, o que sabemos e debatemos,
e o dia-a-dia, deixa espaço para a necessidade de alguma refle-
Reconheço que a criação de Unidades Locais de Saúde, envolvendo na sua estrutura organizacional os serviços de manutenção das
xão e atenção sobre o que fazemos pelo povo a que pertencemos
unidades de saúde da região, com base nos serviços técnicos do
e de que maneira colocamos o que sabemos ao seu serviço.
hospital, veio resolver a situação das respetivas unidades de cuidados de saúde primários sob a sua administração.
O cidadão que se desloca aos serviços de saúde encontra-se
fragilizado ou potencialmente afetado por alterações do seu es-
Por outro lado, nos casos em que essas unidades dependem das
tado físico e deve ser recebido em condições ambientais que o
protejam individualmente e aos que se encontram nos mesmos
novas estruturas criadas pelo conceito de “agrupamento” ou que
espaços de espera e de atendimento.
mantêm as antigas condições de dependência funcional, continuamos a assistir à incapacidade de gerir o que parece simples, mas
que só a falta de atenção de quem manda, pelas coisas “meno-
A inexistência ou deficiência de funcionamento dos sistemas de
controlo de temperatura e das adequadas taxas de renovação do
ar interior, não são admissíveis no nosso país, onde se tem as-
res” do seu pelouro, ou a falta de conhecimento dos atores diretos,
pode explicar. Claro que estamos em crise, os próprios hospitais
têm dificuldades financeiras na contratualização de serviços, mas
sistido ao longo de décadas ao desenvolvimento e permanente
também é certo que a resolução deste assunto requer mais organi-
modernização das instalações e equipamentos de saúde, quer
zação e atenção do que verbas significativas, se comparadas com
públicas quer privadas, que nos colocam a par do que de melhor
se faz na comunidade internacional.
os investimentos globais na saúde.
Não gostaria de ver a ventoinha e a salamandra a substituir os siste-
No entanto, em pequenas unidades que prestam cuidados de
mas adequados, enquanto, noutros setores, se exagera no dimen-
primeira linha (denominados cuidados de saúde primários) permanece alguma incapacidade de resolver estes pequenos pro-
sionamento e utilização dos sistemas de conforto. Também aqui
blemas.
se espera uma melhor distribuição de recursos, por respeito aos
nossos concidadãos mais carenciados.
A secção PROGRAMA ECO.AP conta com a colaboração da
45
notícias
24,3 por cento dos doentes que morreram em 2011 em Portugal Continental tinham infeção
hospitalar
A percentagem divulgada no relatório Portugal – Controlo de Infeção e Resistências aos Antimicrobianos em números, do Programa
de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) - inclui mortes devidas à infeção hospitalar e
óbitos para os quais a infeção foi um fator contributivo
Os dados divulgados pela Direção-Geral de Saúde demonstram que, em 46.733 óbitos ocorridos em 2011 no continente,
11.357 estiveram associados à infeção hospitalar. O relatório do
PPCIRA salienta, no entanto, não ser possível conhecer a medida
exata de mortalidade associada à infeção hospitalar. Se “num pequeno número de casos” o óbito de pode dever à infeção, noutros “pode não ser a causa mas apenas um fator contributivo para
tras são, de acordo com o relatório, “preocupantemente crescentes”, como a infeção do local cirúrgico, nomeadamente na cirurgia
a morte”. Há também situações em que a morte se fica a dever à
patologia primária, sendo a presença da infeção irrelevante para o
do cólon, da vesícula biliar e da prótese do joelho.
resultado final.
higiene das mãos, mas ainda insuficiente e heterogénea entre os
vários grupos profissionais. De 2009 a 2011, a adesão entre os en-
O relatório revela também que Portugal é o país europeu com
mais elevada taxa de Staphylococcus aureus resistente à meticilina e está entre os países com taxa mais elevada de Enterococcus
faecium resistente à vancomicina, de Escherichia coli resistente às
O relatório refere também uma adesão crescente à prática de
fermeiros foi de 43 por cento, seguido dos assistentes operacionais, com 39 por cento, outros profissionais, com 22 por cento, e
quinolonas e de Acinobacter com resistência extensiva e apenas
por fim médicos, com 18 por cento.
Face a estes resultados, os autores do relatório aconselham,
suscetível à colistina. O consumo hospitalar de antimicrobianos
entre outras recomendações, a tomada de medidas de redução
em Portugal parece ser superior à média europeia e apresenta
dismorfias, como o excessivo, apesar de decrescente, consumo de
de consumo de antimicrobianos, evitando o seu uso inadequa-
quinolonas na comunidade, o elevado consumo hospitalar de car-
do através da criação obrigatória de programas de assistência à
prescrição antibiótica, quer no setor hospitalar, quer nos cuidados
bapenemes, a excessiva duração da profilaxia antibiótica cirúrgica
de saúde primários e nos cuidados continuados. É também reco-
e, provavelmente, a excessiva prescrição e duração da terapêutica
antimicrobiana.
mendada a inclusão crescente, nos curricula pré-graduado e pós-
No que toca ao tipo de infeção, as infeções associadas a cateter
-graduado de médicos, enfermeiros, veterinários e farmacêuticos,
do ensino de “prevenção e controlo de infeção e de resistências
venoso central, as infeções urinárias, as bacteriemias e as pneumo-
aos antimicrobianos”, definindo uma creditação nesta área, pelo
nias adquiridas em UCI e UCI neonatais diminuíram, enquanto ou-
menos para médicos e enfermeiros.
INL vai desenvolver biossensores e nanomarcadores para diagnóstico e terapia de cancro
e doenças neurológicas
O projeto InveNNta resulta de uma iniciativa conjunta entre o La-
a monitorização e acompanhamento de pacientes com doenças
boratório Ibérico de nanotecnologia (INL) e o Instituto de Investiga-
complexas, com um significativo impacto económico e social, de
acordo com os novos modelos de saúde.
ción Sanitaria de Santiago (IDIS) e vai decorrer até meados de 2015.
Terá um orçamento de 2,8 milhões de euros.
O projeto tem também como objetivo treinar investigadores e
Os novos dispositivos e nanoestruturas serão essencialmente
técnicos na área da nanomedicina, transformando o IDIS e o INL
aplicados ao diagnóstico e terapia do cancro e doenças neurológi-
em polos relevantes para a nanotecnologia aplicada à medicina, o
diagnóstico e a terapia.
cas, bem como à área da imagiologia, através do desenvolvimento
de marcadores com funcionalidades de contraste melhoradas.
A iniciativa irá, segundo o que se pode ler no site do INL, con-
A iniciativa tem como objetivo dar resposta a problemas de Saú-
tribuir para a construção de uma rede de excelência em nanotec-
de numa lógica de cooperação no seio da Eurorregião Galiza-Nor-
nologia na Eurorregião Galiza-Norte de Portugal, que irá funcionar
te de Portugal. Outro dos objetivos passa pela aplicação de dispositivos desenvolvidos com base em nanotecnologia, que apoiam
como uma plataforma para futura participação em projetos europeus.
46
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
notícias
Controlo e vigilância da Legionella discutidos em seminário
Teve lugar dia 23 de setembro, em Sintra,
domínios, nomeadamente na manutenção,
o seminário sobre Controlo e Vigilância da
Legionella, promovido pela Grundfos com a
uma vez que são extintos todos os trabalhos
de manutenção extraordinária, em choques
participação da Associação Portuguesa de
térmicos e em tratamento de águas para
Engenharia Hospitalar.
consumo.
Estiveram reunidos membros de autoridades locais de saúde, especialistas estrangeiros e responsáveis de hotéis e hospitais,
O estudo da Legionella no Brasil
No Brasil, a Legionella passou a ser motivo
com o objetivo de discutir os riscos para a
de preocupação e alvo de legislação após a
saúde pública desta bactéria, bem como os
morte de Sergio Motta, antigo ministro das
métodos de prevenção e combate.
No capítulo dos métodos de tratamento,
comunicações, por legionelose, em 1998. A
partir daí, ficou estabelecido que todos os
Vincenzo Rocca, da Grundfos, abordou tra-
sistemas HVAC deveriam ter um plano de
tamentos preventivos e tratamentos correti-
manutenção. Apesar disto, as análises clíni-
vos, tendo enfatizado que, no que concerne
cas são realizadas apenas em alguns hospitais e os seus resultados não são oficiais.
ao uso de bactericidas, o dióxido de cloro é
o único que mata todas as espécies de bac-
A Legionella propaga-se através de tor-
térias da Legionella, sendo também o único
res de arrefecimento, chuveiros, aquece-
que destrói o biofilme (fina camada que se
forma no interior das tubagens das redes prediais e onde outros
dores de água, fontes ornamentais, balneários, nebulizadores por ultra-som e outros sistemas. Pode estar
agentes patogénicos também se reproduzem). De acordo com
presente em qualquer fonte de água natural, sendo que existem
este especialista, o dióxido de cloro é reconhecido como agen-
diversos elementos que promovem o crescimento desta bac-
te desinfetante em todas as aplicações, quer se trate de novas
instalações ou instalações antigas. O uso de dióxido de cloro foi
téria, nomeadamente a temperatura, contaminação microbiológica, nutrientes, contaminação do processo e estagnação da
também recomendado pelo facto de trazer poupança em vários
água.
Tempos de espera para cirurgia oncológica aumentaram em 2012
O ano passado houve uma diminuição da produção cirúrgica na
vertente oncológica, o que implicou um agravamento dos tempos
de espera. Esta é uma das conclusões do relatório da Direção-Geral da Saúde sobre a capacidade instalada e Atividades em Oncologia nas Unidades Hospitalares do SNS em 2012.
Isto acontece apesar de se ter registado um aumento da produção cirúrgica total. Outro aspeto vincado no relatório é a tendência de alguns grandes hospitais recusarem doentes pelo facto
de residirem fora da sua área de influência. Os autores do relatório
realçam que a liberdade de escolha do doente deve ser respeitada
e que a prioridade “é o acesso e não a área de residência, particularmente no contexto de doenças oncológicas”. O relatório aconselha uma monitorização mais “apertada” da produção cirúrgica,
para que seja possível reagir adequadamente.
Na área da quimioterapia, o relatório da DGS aponta a existência de capacidades muito díspares. Existem centros com menos de
1000 sessões por ano, o que é classificado de “atividade vestigial”
pela DGS, pelo que se sugere a obrigatoriedade de alguns centros
de menor volume estarem afiliados em centros de maior dimensão.
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tecno hospital 59
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notícias
Descentralização pode contribuir para melhorar prestação de cuidados de saúde
Os resultados preliminares de um estudo levado a cabo por
As despesas mais elevadas num cenário de descentraliza-
investigadores da Universidade Nova de Lisboa demonstram
ção podem, também, refletir custos mais elevados, relaciona-
que a devolução de autoridade política e fiscal aos governos
locais parece aumentar as despesas em cuidados de saúde
dos, por exemplo, com a duplicação de inputs (duas regiões
vizinhas com uma oferta semelhante de serviços, que poderia
mas também melhorar resultados, essencialmente medidos
ser partilhada), falta de economia de escala ou custos associa-
através da mortalidade infantil.
dos à implementação de sistemas locais de saúde provisórios.
O estudo “Consequências em eficiência e equidade da descentralização na saúde: uma perspetiva económica” teve por
Também por via da análise do caso espanhol, os investigadores concluíram que a descentralização pode ter favorecido
base experiências recentes de descentralização levadas a cabo
a equidade, uma vez que constataram que a desigualdade
no Canadá, Itália, Espanha e Suíça.
nos cuidados de saúde era menor nas regiões com mais au-
A equipa de investigação partiu da teoria económica, segundo a qual a descentralização pode potenciar a competição
tonomia. Já no caso da Suíça e Itália, verificou-se uma forte relação entre os rendimentos auferidos nas regiões e as
entre jurisdições para aumentar a atratividade das regiões e,
despesas com cuidados de saúde, o que leva a uma maior
deste modo, aumentar a pressão sobre os governos locais,
heterogeneidade.
uma vez que os cidadãos avaliam a sua performance com base
na dos seus homólogos vizinhos.
A equipa concluiu que os mecanismos de solidariedade
das autoridades locais são relevantes para evitar a emergên-
Através da literatura empírica, os investigadores concluíram
cia de grandes desigualdades nas regiões na prestação de
que o aumento da competição incentiva os decisores locais
cuidados de saúde e nas despesas. No entanto, a redistribui-
a gastar mais com os cuidados de saúde (race to the top) ao
invés de procurar descidas de custos, como a diminuição de
ção de fundos também reduz a responsabilidade financeira
das jurisdições, em possível prejuízo das despesas e com
impostos (race to the bottom), o que produz um impacto favo-
consequências ambíguas ao nível da eficiência. Este último
rável na Saúde. O caso de Espanha é paradigmático, pois ficou
aspeto é de particular importância num cenário em que as
demonstrado que o aumento das despesas em cuidados de
jurisdições competem pela prestação de cuidados de quali-
saúde foi maior nas regiões com autonomia fiscal.
dade e não através da diminuição de taxas.
Enquadramento da atividade do farmacêutico
O Gabinete do Secretário de Estado da Saúde publicou, a 5 de
novembro, um despacho que cria um grupo de trabalho que
deverá proceder à análise do enquadramento da atividade do
farmacêutico.
O objetivo é ponderar o modelo conceptual que deverá nortear o posicionamento do farmacêutico no universo dos profissionais de saúde, face às necessidades sentidas no âmbito do
Serviço Nacional de Saúde.
O grupo de trabalho deve considerar o âmbito e áreas de
atividade, a existência de dois regimes contratuais (contrato de
trabalho em funções públicas e contrato individual de trabalho),
a formação pré-carreira e a atribuição do título de especialista e
intervenção da Ordem dos Farmacêuticos.
De acordo com o diploma, na área do medicamento, assume
relevância particular a intervenção na utilização dos medicamen-
o Ministério da Saúde, a atividade do farmacêutico justifica uma
tos, agindo sobre a prescrição, dispensa e monitorização, dan-
análise e avaliação do enquadramento profissional consentâneo
do prioridade ao desenvolvimento de orientações terapêuticas
para os serviços hospitalares e de ambulatório, apoiadas em ba-
com as suas responsabilidades e o impacto da sua intervenção
na eficiência da gestão do medicamento.
ses sólidas de farmacologia clínica e evidência da economia da
saúde sobre custo - efetividade. Neste âmbito, e de acordo com
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tecno hospital 59 SET /OUT 2013
www.portaldasaude.pt
produtos
e tecnologias
Sonda Endotics da Era Endoscopy
O sistema Endotics foi inspirado no movimento das lagartas. A
sonda Endotics avança autonomamente no interior do cólon,
imitando os movimentos das lagartas e satisfazendo, em simultâneo, as exigências do paciente, conforme se pode ler no site
do fabricante, a Era Endoscopy.
A empresa garante que este sistema elimina a dor e os riscos
de infeção e de perfuração do intestino. Este tipo de locomoção
permite que a sonda se adapte de forma dinâmica às curvas do
cólon, reduzindo ao mínimo as deformações intrínsecas a uma
colonoscopia convencional. A parte periférica da sonda pode
orientar-se em qualquer direção (180º sobre cada um dos eixos)
para facilitar a deslocação nas curvas do cólon. O sistema de
orientação junto a uma câmara de vídeo CMOS com alta resolução integrada num sistema de luz fria permite, segundo a empresa, uma visibilidade ótima, quer frontal, quer posterior.
O objetivo desta tecnologia passa por ter um dispositivo
to do aparelho podem ser controlados através de uma consola.
descartável, totalmente comandado através de um sistema
canhotos.
Com um clique, o aparelho adapta-se a utilizadores destros ou
pneumático muito suave e flexível. A propulsão, a gestão das
imagens e todos os comandos que coordenam o funcionamen-
www.endotics.com
Ecógrafo X-Porte da Sonosite
O novo X-Porte da Sonosite caracteriza-se, essencialmente, pela
O interface com o utilizador
imagem de alta resolução, existência de guias clínicos animados
é uma superfície de limpeza
em 3D.
O aparelho tem marcação CE e está disponível nas variantes
fácil, com um mínimo de reentrâncias para facilitar o controlo
estática e removível. Este ecógrafo foi concebido para servir um
de infeção. A superfície de vi-
largo espetro de utilizadores, inde-
dro foi testada contra salpicos
pendentemente de terem muita ou
pouca experiência. O principal avan-
acidentais e permite a limpeza
com um largo espetro de de-
ço deste dispositivo é a incorporação
sinfetantes, sem deteriorar.
da tecnologia Extreme Definition
Este dispositivo foi conce-
Imaging (XDI), propriedade da Sonosite.
bido para múltiplos ambientes,
tendo altura ajustável e carac-
Esta tecnologia foi criada depois
terizando-se pelo transporte
de 35 anos de investigação, e caracte-
fácil em corredores ou ao lado
riza-se pela significativa redução da interferência visual. De modo
a maximizar a utilidade desta tecnologia, o X-Porte proporciona
das camas dos pacientes. A
estrutura central do ecógrafo
facilidade de utilização e interoperabilidade através dos seus
pode ser facilmente removi-
guias de aprendizagem visuais. O dispositivo proporciona uma
da do restante aparelho e as
imagem de alta resolução em sincronia com animações em 3D
que permitem tirar o máximo partido do dispositivo. Estes mó-
atualizações podem ser feitas
dulos de aprendizagem podem ser usados em simultâneo com a
execução da ecografia para otimizar a performance e a consistência do utilizador. Cada módulo foi concebido com o contributo de
um consórcio de professores de Medicina.
através de simples updates de
software.
O dispositivo apresenta garantia de 5 anos.
www.sonosite.com
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tecno hospital 59
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produtos
e tecnologias
Sensor CMOS para endoscopia da Fujifilm
gem, tornando-a mais brilhante e detalhada, disponibilizando 60
fps em formato vídeo progressivo.
A série 600 permite focagem a partir de 2 a 100mm para visualização próxima e distante, e disponibiliza uma imagem FICE mais
nítida e clara para permitir uma fácil diferenciação entre lesões e
tecido não afetado.
Esta nova série de endoscópios beneficia ainda do ColoAssist
II para os EC-600WM/WI/WL, onde tanto o torque como a transmissão de força foram melhorados, com a adaptação da rigidez
progressiva: mais macio na parte distal e mais rígido na parte de
operação.
Endoscopia de Duplo Balão
Em 2004 a Fujifilm tornou real a possibilidade de examinar e
tratar todo o intestino delgado. Agora, esta possibilidade é substancialmente melhorada com a introdução do novo Enteroscópio
A Divisão de Endoscopia da Fujifilm Medical Systems Europe
de duplo balão EN-580T, também apresentado na UEGW, com
apresentou, no decurso da UEGW em Berlim, que decorreu
de 12 a 16 de outubro, um novo line-up de produtos e diversos
um canal de trabalho aumentado para 3,2mm, melhorando o desempenho da sucção. Um novo sensor de imagem garante alta
avanços tecnológicos, entre os quais se destaca o novo sensor
qualidade, resolução e nitidez. Utilizado em combinação com
de imagem CMOS, que proporciona, de acordo com a empresa,
FICE, permite fácil diferenciação entre lesões e tecido não afe-
uma elevada qualidade da imagem endoscópica.
Este sensor é usado na nova série 600 de endoscópios e co-
tado. Um novo conetor ‘one-touch’ e o reposicionamento da alimentação de ar do balão melhoram a ergonomia e operabilidade
lonoscópios (EG-600WR e EC-600WM/WI/WL), e produz, se-
do enteroscópio.
Esta linha de produtos já se encontra disponível em Portugal.
gundo a Fujifilm, imagens em super alta resolução. Pelo facto
de a tecnologia CMOS efetuar a conversão de analógico para
digital no próprio sensor, reduz drasticamente o “ruído” da ima-
www.fujifilm.pt
Pano com nanopartículas de prata da Vileda
O NanoTech micro é um pano totalmente composto por ultramicrofibras com nanopartículas de prata de efeito antibacté-
O pano caracteriza-se pelo seu baixo
rias. Foi desenhado para hospitais, clínicas, casas de saúde,
peso que, aliado à efi-
infantários, hotéis e restaurantes, ou seja, áreas onde a higiene
cácia de limpeza das
tem uma importância fulcral.
As microfibras de poliéster são embebidas com nanopartíte efeito antibactérias durante todo o período de vida útil do
microfibras e à possibilidade de antecipar
a
pré-preparação,
permite uma poupan-
pano (> 200 lavagens/usos), conforme certificado do Instituto
Alemão Hohenstein.
ça considerável de
tempo, mantendo os
É aplicável a todo o tipo de superfícies, a húmido com o
elevados níveis de higiene. Por outro lado, o uso do NanoTech
culas de prata que garantem, de acordo com a Vileda, um for-
método pré-preparado ou com pulverizador.
micro ajuda a prevenir a proliferação de bactérias e a sua lon-
As partículas de prata deste produto impedem o desenvolvimento de bactérias no pano húmido, garantindo, segundo a
ga duração reduz consideravelmente a emissão de resíduos,
quando comparado com panos tradicionais ou descartáveis.
Vileda, máxima higiene durante o período de uso ou mesmo
durante o armazenamento sem secar.
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http://vileda-professional.com/pt-PT
produtos
e tecnologias
Laborial vence Prémio Cleanroom Award 2013
A superfície de trabalho interativa para laboratórios Blautouch,
do público presente, que elegeu a Blautouch como Cleanroom
desenvolvida pela Laborial, foi a grande vencedora do prémio
Award 2013.
Cleanroom Award organizado pela Reinraum Akademie GmbH
A Blautouch é uma superfície de trabalho interativa para labo-
a propósito da 2ª exposição Cleanzone, evento na área dos ambientes controlados, que teve lugar entre os dias 22 e 23 de outu-
ratórios desenvolvida em parceria com a Edigma e com a FEUP,
no decurso do projeto IDI “Intellab – Laboratórios Inteligentes”
bro em Frankfurt.
financiado pelo QREN. Construído por materiais resistentes aos
O produto foi inicialmente selecionado para um grupo de 5
reagentes e aos desinfetantes mais agressivos, e desenvolvido
finalistas nomeados por um colégio de especialistas internacionais, entre várias candidaturas ao prémio. Os finalistas, nomeada-
segundo as mais recentes diretrizes do “hygienic design”, a Blautouch permite substituir dispositivos como computadores, tecla-
mente a Berner International GmbH que apresentou “A próxima
dos e ratos, que são grandes focos de contaminação existentes
geração
nas salas brancas e nos espaços críticos
de câmaras de fluxo laminar”; a Albany
Door Systems GmbH, que apresentou “A
laboratoriais e hospitalares.
Para José Branco, administrador da
primeira porta certificada para salas bran-
Laborial, este prémio “consolida o reco-
cas”; a Curasan AG, que apresentou um
nhecimento internacional do trabalho da
“Conceito inovador para salas brancas:
maximização da eficiência energética e
Laborial, particularmente importante num
minimização das emissões de CO2 do ar
período pós-fundação da subsidiária na
Suíça e em que se pretendem aumentar
condicionado das salas brancas através
as vendas no mercado europeu.”
do uso combinado de refrigeração, aquecimento e corrente elétrica”, a CO2Nexus Inc., que apresentou
uma “Solução de lavandaria para salas brancas TersusTM com
A Blautouch é, neste momento, comercializada na Alemanha pela Basan GmbH, empresa do grupo
VWR dedicada ao segmento de produtos para sala branca.
CO2 líquido” e ainda a Laborial, que apresentou a Blautouch,
apresentaram as suas soluções durante o evento para votação
www.laborial.com
IBM lança solução colaborativa na área da oncologia
A IBM, após um ano de parceria com o Centro Universitário de
Oncologia MD Anderson, da Universidade do Texas, nos EUA, um
cuidados de saúde.
protótipo baseado na capacidade analítica do sistema Watson da
alargada de outros centos e unidades de saúde, a partir do Centro
IBM, que funcionará como uma ferramenta colaborativa de suporte
Universitário de Oncologia MD Anderson, através de uma plataforma online disponível também para dispositivos móveis compa-
à prestação de serviços na área da oncologia, o Oncology Expert
AdvisorTM.
O Oncology Expert AdvisorTM estará disponível para uma rede
tíveis. Esta tecnologia fornecerá aos médicos – e, por sua vez, aos
A nova solução está desenhada para integrar o conhecimento
pacientes – o acesso imediato em todo o mundo a conhecimento,
de médicos e investigadores do MD Anderson e reforçar o objetivo
experiência e recursos do MD Anderson, a partir da capacidade
cognitiva do sistema Watson em extrair rapidamente informações
do centro em avançar com tratamentos mais eficazes e seguros, de
acordo com o conhecimento e as evidências disponíveis. Com mais
de 100 mil pacientes atendidos todos os anos, o centro acumulou
essenciais a partir de grandes e complexos volumes de dados.
uma vasta quantidade de informação, o que representa um desa-
putação, em que os dados acumulados não serão mais um desafio,
fio significativo para extrair conhecimento a partir destes dados.
mas sim um catalisador para implantar de forma mais eficiente os
novos avanços no diagnóstico e tratamento dos doentes”, subli-
Desta forma, consegue-se agora aceder a detalhes importantes
sobre ensaios clínicos e sintomas dos pacientes que nem sempre
são partilhados.
A abordagem inicial foca-se no tratamento da leucemia. A ferramenta permite que os médicos desenvolvam, observem e melhorem os planos de tratamento, levando, por exemplo, os doentes a
reconhecerem possíveis efeitos adversos durante a prestação dos
“O sistema Watson da IBM representa uma nova era da com-
nhou Manoj Saxena, General Manager do IBM Watson Solutions.
“Ao ajudar os investigadores e médicos a melhor compreenderem
o significado de algumas informações, estamos a contribuir para
novas descobertas na área da saúde”.
www.ibm.com/pt
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tecno hospital 59
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eventos
IV Conferência Anual do Health Cluster
Portugal
4º Congresso de Qualidade em Saúde
e Segurança do Doente
As questões relacionadas com a Qualidade em Saúde e a Segurança do Doente têm constituído, de há uns anos a esta parte,
uma crescente preocupação para as organizações de saúde, para
os decisores políticos, para os profissionais de saúde e para os
doentes/utentes e suas famílias. A aposta na formação e na investigação sobre estas temáticas reveste-se de um caráter crucial
para a inovação em saúde.
nidades e desafios para o setor na abertura de um novo ciclo é o
A segurança do doente, enquanto componente chave da qua-
tema da conferência que se realiza a 28 de novembro na Faculda-
lidade dos cuidados de saúde, assumiu grande relevância, tanto
para os doentes e seus
de de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Com a presença de Maria da Graça Carvalho, eurodeputada re-
familiares que desejam
latora do programa específico de execução do Horizonte 2020, a
sentir-se
conferência contará com comunicações sobre o desafio societal
seguros, como para os
profissionais de saúde
“Saúde, alterações demográficas e bem-estar” e também sobre
o Turismo de Saúde em Portugal.
confiantes
e
cuja “missão” principal consiste na prestação de cuidados com
Daniel Bessa fará uma comunicação sobre os desafios para em-
elevado nível de efetividade, eficiência e baseados na melhor evi-
presas, instituições de I&D e hospitais no âmbito das novas agen-
dência disponível.
Na lógica de prossecução destes objetivos, realiza-se a 23 e 24
das nacionais e europeias e Manuel Castro Almeida, secretário de
Estado do Desenvolvimento Regional, falará sobre o novo QREN
de maio de 2014, em Lisboa, a 4ª edição do Congresso de Quali-
/ Portugal 2020.
dade em Saúde e Segurança do Doente.
healthportugal.com
www.qualitysafetyportugal.eu
Evento
Temática
ICEUBI 2013 - International
Conference on Engineering
UBI2013 – Engineering for
Economic Development
Investigação/
Engenharia
Covilhã
27 a 29
de novembro
de 2013
Faculdade de Engenharia da UBI
IV Conferência Anual do HCP
A Saúde nas agendas
nacionais e europeias
para 2020 - oportunidades e desafios para
o setor na abertura de
um novo ciclo
Lisboa
28
de novembro
de 2013
Health Cluster Portugal
XIV Congresso Nacional
de Medicina Nuclear
Medicina Nuclear
Porto
5a7
de dezembro
de 2013
News Farma
PhyCS 2014
Conferência
Internacional
de Sistemas
para Computação
Fisiológica
Lisboa
7
de janeiro
de 2014
Health Cluster Portugal
SeGAH 2014
Aplicações para Saúde
Rio de Janeiro, Brasil
14 a 16
de maio
de 2014
IPCA
4º Congresso de Qualidade
em Saúde e Segurança do
Doente
Qualidade e Segurança
em Saúde
23 e 24
de maio
de 2014
ENSP
Lisboa
52
tecno hospital 59 SET /OUT 2013
Local
Data
Organização
www.ubi.pt
healthportugal.com
www.newsfarma.pt
healthportugal.com
www.ipca.pt/segah2014/
www.qualitysafetyportugal.eu
As informações deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, deverá contactar a Organização.
A Saúde nas agendas nacionais e europeias para 2020 - oportu-